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Possibilidade de aPlicação da Teoria dos PrecedenTes
US
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sisTema
sisT deliberaTivo dos Tribunais suPeriores
the imPossiBility
ility of
of the a
aPPliCation of theory of PreCedents in the Current
O
deliBerative
deliB
deliBerative
erative system of the suPerior Courts
resumo: O presente artigo é fruto de uma discus- absTracT: This article is the result of a discussion
são que vem tomando conta dos operadores do that has been taking account of judiciary, becau
becau-
ST
direito: como é possível cada tribunal julgar de se as each court may judge differently identical
forma diversa matérias idênticas? A resposta se matters? The answer is given to the fact that in
dá ao fato de que, no Brasil, não se buscou ana- Brazil is not intended to analyze the methods
lisar os métodos de formulação dos precedentes, of the precedents, which are so well used in the
os quais são tão bem utilizados no sistema de common law system. What it proposes, in fact,
J
common law. O que se propõe, na realidade, é is to demonstrate that the current legislative
demonstrar que as atuais reformas legislativas reforms are insufficient to generate a safe and
são insuficientes para gerar um Poder Judiciário coherent Judicial Power. It also seeks to demons-
seguro e coerente. Também se busca demonstrar trate the impossibility of applying the theory of
a impossibilidade de aplicação da teoria dos pre- precedents in the current deliberative system of
cedentes no atual sistema deliberativo dos tribu- higher courts.
nais superiores.
Palavras-chave: Sistemas – Jurisprudência – Ci- Keywords: Systems – Jurisprudence – Civil law –
vil law – Precedentes – Common law. Precedents – Common law.
BaRBosa, Claudia Maria; andReassa junioR, Gilberto. A impossibilidade de aplicação da teoria dos precedentes
no atual sistema deliberativo dos tribunais superiores. Revista de Processo. vol. 273. ano 42. p. 377-401.
São Paulo: Ed. RT, novembro 2017.
voltada à codificação.
O que se propõe no presente estudo é demonstrar a aplicação equivocada
da teoria dos precedentes no ordenamento jurídico nacional. Não há como se
ST
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2.1. Conceito
Antes de adentrar ao tema, vale informar que common law e stare decisis
não se confundem. “O stare decisis constitui apenas um elemento do moderno
IV
2. Não obstante pequena parte da doutrina diferenciar o termo stare stare decisis de prece-
ST
dente,, no presente trabalho as nomenclaturas serão tratadas como sinônimo “Comu “Comu-
mente, fala-se de stare decisis e precedente como termos quase análogos, tal como
defende Neil Duxbury (...). Na mesma direção trafega a concepção de Melvin Aron
Eisenberg (...). Contudo, há certa divergência no entendimento defendido por FredeFrede-
rick Schauer, o qual percebe diferenças entre precedente e stare decisis.. Tecnicamente,
J
a obrigação de uma corte de seguir decisões prévias da mesma corte é referida como
sendo stare decisis, e o termo mais abrangente precedente é usado para se referir
tanto a stare decisis, quanto à obrigação de uma corte inferior de seguir decisões de
uma superior” (ODAHARA, Bruno Periolo. Um rápido olhar sobre o stare decisis. In:
MARINONI, Luiz Guilherme. A força dos precedentes: estudos dos cursos de mestrado
e doutorado em direito processual civil da UFPR. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2012.
p. 86-88).
3. MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011. p. 34.
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Pois bem. Embora o termo precedente seja polissêmico, em uma breve lei-
tura dos seus requisitos formais já podemos distingui-lo da jurisprudência.
De forma sucinta, podemos delimitar o precedente como decisão anterior que
funciona como modelo (potencialidade de influência4) para decisões posterio-
US
res (isonomia – treat like cases alike).
alike 5
Para Joel Prentiss Bishop, o common law – que é o sistema que melhor
utiliza a ideia do stare decisis – se funda principalmente na racionalidade
O
(indução), enquanto o civil law e suas codificações se fundam no comando
(dedução).6
Uma “distinção básica entre precedente e jurisprudência reside na circuns
circuns-
EX
tância de que enquanto um precedente é substantivo singular, a jurisprudência
é substantivo coletivo, e, para ser corretamente denominada como tal, deve
se constituir de um conjunto de decisões ou acórdãos uniformes, que reflitam
o pensamento dominante de determinado tribunal ou, se possível, do Poder
CL
Judiciário inteiro”.7
Ronald Dworkin, um dos maiores filósofos da história contemporânea,
direciona a ideia de precedentes como um romance em cadeia, isto é, cada
julgador deve agir como se estivesse escrevendo o capítulo de um romance,
US
4. Quem firma um precedente não apenas deixa registrado como se comportará diante
de novos casos, mas adquire uma grande responsabilidade em relação ao futuro
(BENDITT, Theodore M. The rule of precedent.. Precedent in law. Oxford: Clarendon
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Dworkin ainda cita a força gravitacional dos precedentes9. Para o autor, não
é só o dispositivo da decisão que possui validade e importância jurídica para
casos futuros, mas também os princípios que embasaram o precedente.10 Tal
US
teoria se assemelha muito ao que o Supremo Tribunal Federal chama de trans-
cendência dos motivos determinantes
determinantes.
A jurisprudência encontra seu limite direto na lei, uma vez que prevalece
o sistema do direito escrito. Contudo, não se pode afirmar que no common
O
law o juiz é livre para descumprir a lei. No sistema de precedentes, a tradição
jurídica apenas é mais flexível e leva em consideração outros fatores, como os
princípios, a moral e os costumes.
EX
No common law,, o juiz não possui o poder que os críticos alegam, isso por
por-
que está mais vinculado aos precedentes do que os juízes atuantes no civil law.
Na realidade, quem possui um relativo poder é o grupo de juízes.
CL
Há quem também afirme que no sistema do common law o direito fica enges-
formu
sado, uma vez que os juízes se sentem compelidos a seguir os precedentes formu-
lados pelas cortes superiores. Todavia, os precedentes podem, sim, ser superados,
devendo o juiz apenas partir da ideia já firmada e delimitar os motivos que o
US
9. “Aquele esforço conduzido por juízes, como descrito por Dworkin, está, acreditamos,
ST
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sociológicos, históricos e até psicológicos, sem a qual a decisão não teria sido
proferida daquela determinada forma.
No precedente obrigatório, inclusive, pode haver vários holdings que servi-
US
rão de fundamento (vinculação) para futuras decisões judiciais.
Pierluigi Chiassoni, citado na obra de Lenio Luiz Streck e Georges Abboud,
afirma que é possível elencar sete conceitos cunhados pela tradição sobre ratio
decidendi:
O
É o critério decisional, ou seja, a regra que está subjacente à decisão; é o prin
prin-
cípio de direito adotado para definir o conteúdo da demanda; é a premissa ou
EX
a passagem lógica que se revela necessária para se alcançar a decisão do caso;
é a regra ou princípio que constitui a condição necessária ou suficiente; é o
princípio de direito contido na decisão judicial e que é suficiente para decidir
o caso concreto; é a argumentação explícita ou implícita necessária ou sufi sufi-
CL
ciente para definir o caso e, por último, é a relação entre resolução (motivada)
do caso e o próprio caso, ou seja, o fato e as questões jurídicas inerentes.12
12. PIERLUIGI CHIASSONI apud STRECK, Lenio Luiz; ABBOUD, Georges. O que é isto –
O precedente judicial e as súmulas vinculantes? Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2013. p. 43.
13. Ibidem, p. 44.
J
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Por essa razão, em 1896, no caso Plessy x Ferguson,, a Suprema Corte decidiu
que a segregação nos transportes ferroviários era compatível com o princípio
da igualdade, utilizando o lema “iguais, mas separados” (equal separate já
equal but separate),
ST
tentaram matricular seus filhos em uma escola pública primária exclusiva para
aproxima da ratio decidendi, embora não tenha efeito obrigatório, tem efeito persua-
sivo bastante forte.
16. MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios, p. 393.
17. Disponível em: [http://caselaw.lp.findlaw.com/scripts/getcase.pl?court=us&vol=347&-
invol=483]. Acesso em: 01.11.2016.
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sentido deve ser empregado de forma diversa no sistema jurídico brasileiro. Isso
porque, conforme se verá na sequência, as decisões proferidas pelos tribunais
superiores vinculam – algumas de forma obrigatória, outras não – as demais
J
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demais cidadãos caso o Senado Federal, nos termos do artigo 52, X, da Consti-
Consti
tuição Federal, suspenda, no todo ou em parte, a execução da norma declarada
inconstitucional.
J
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hediondos.
Entendeu o magistrado de primeira instância que a decisão do Supremo
somente teria eficácia a partir da expedição, pelo Senado Federal, da resolução
IV
22. Alguns doutrinadores entendem que, nesse caso, haverá eficácia ex nunc.
nunc
23. Informativo 454 do STF. Rcl. 4.335/AC. Voto: Min. Gilmar Ferreira Mendes. “Consi-
“Consi
ST
derou o relator que, em razão disso, bem como da multiplicação de decisões dotadas
de eficácia geral e do advento da Lei 9.882/99, alterou-se de forma radical a concep
concep-
ção que dominava sobre a divisão de poderes, tornando comum no sistema a deci- deci
são com eficácia geral, que era excepcional sob a EC 16/65 e a CF 67/69. Salientou
J
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tucional. A mudança surgiria por meio de uma nova interpretação do STF com
relação à norma do artigo 52, X, da Constituição da República.
ST
24. STJ, REsp 828.106/SP, Relator: Min. Teori Albino Zavascki, DJ 15.05.2006.
25. Art. 927, CPC/15. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo
Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade […].
26. “É necessário esclarecer que a ratio decidendi das decisões proferidas em sede de ação
direta de inconstitucionalidade têm, por exemplo, valor precedental diante de caso
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em que se questiona lei estadual que possui o mesmo teor da lei estadual já declarada
inconstitucional. Nessa perspectiva, admite-se que os fundamentos determinantes ou
a ratio decidendi da decisão proferida na ação de inconstitucionalidade têm eficácia vin-
culante” (MARINONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas cortes supremas: precedente e
decisão do recurso diante do novo CPC. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 21).
27. MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios, cit., p. 469.
28. STF, Rcl 2.363, Relator: Min. Gilmar Mendes, DJ 01.04.2005.
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29. Ainda que a legislação anterior fosse omissa, o STF já acolhia a interposição do agravo
interno (STF, QO no AgIn 760.358, Relator: Ministro Gilmar Mendes, DJ 19.02.2010;
e Rcl 7.569, Relatora: Ministra Ellen Gracie, DJ 11.12.2009).
30. Art. 1.042, CPC/15. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente
do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo
quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou
em julgamento de recursos repetitivos. (grifos nossos)
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recursais analisadas pelo Supremo Tribunal Federal, que é o órgão que, em tese,
possui legitimidade de alterar seus próprios precedentes. Tal atitude não se
coaduna com os ensinamentos do verdadeiro precedente judicial ((stare decisis).
US
3.1.4. SSúmulas
úmulas31
As chamadas súmulas são a cristalização de entendimentos jurisprudenciais
que predominam nos Tribunais em certo espaço de tempo. A palavra quer indicar
O
as decisões reiteradamente proferidas em determinado sentido pelos Tribunais.
O grande cerne da questão é que, infelizmente, os prolatores das súmulas
não se preocupam em garantir a coerência e/ou previsibilidade. Inclusive, é
EX
costumeiro o descumprimento dos próprios tribunais superiores com relação
às suas súmulas.32
Ademais, a formatação dos enunciados não possui uma lógica e, principal
principal-
CL
mente, não consigna os fundamentos essenciais das decisões que geraram a
súmula33.
Enquanto o precedente judicial, nos moldes do common law, delimita toda
a racionalidade jurídica (ratio),
), a súmula apenas se presta a mencionar um
US
resumo do dispositivo.
31. Art. 927, CPC/15. Os juízes e os tribunais observarão: […] IV – os enunciados das
O
medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi
objeto de juízo de admissibilidade na origem”. Todavia, os ministros do STF sempre
admitiram a ação cautelar, ainda que pendente o juízo de admissibilidade no tribunal
de origem ou mesmo que não admitido o recurso extraordinário e interposto agravo
J
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ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros,
após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a
partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indi-
indi
IV
reta, as esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão
ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
O
deliberação quanto à sua emissão, seja quanto à sua redação, tudo para preve-
preve
nir que ela, ao invés de concorrer para a melhoria da resposta judiciária, não
venha a se constituir em mais um óbice”.36
Inobstante a tentativa de melhoria no Judiciário, percebe-se que a súmula
J
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37. Súmula vinculante 3: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União assegu-
ram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação
ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a aprecia-
ção da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
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Outra crítica deve ser feita com relação ao impedimento na subida de recur-
sos com o desiderato de reformar as decisões proferidas em recursos repetitivos.
Se os tribunais devem rejeitar liminarmente os recursos que possuem temas já
US
julgados em recurso repetitivo, para quem se deve pleitear o overrruling?
O legislador trouxe um meio recursal cabível (art. 1.030, § 2º, CPC/2015),
mas continuou impedindo o jurisdicionado de ver suas razões recursais ana- ana
lisadas pelo próprio Supremo Tribunal Federal, que é quem, em tese, possui
O
legitimidade para alterar seus precedentes.
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destacar o voto proferido pelo até então ministro do STJ – que posteriormente
se tornou ministro do Supremo Tribunal Federal – Teori Albino Zavascki, no
Agravo de Instrumento 1.154.599/SP. Na época, ainda em vigor o CPC/73, a
maioria dos ministros entendeu que o único recurso cabível contra a decisão
US
do presidente do tribunal de origem que negava seguimento ao recurso espe espe-
cial com base no art. 543-C seria o agravo interno. Já o ministro Teori Zavascki
foi o único a votar contra a decisão proferida no recurso. Na visão do ministro,
espe-
a decisão instituiu um requisito negativo de admissibilidade de recurso espe
O
cial não contemplado na Constituição, fonte normativa primária desta matéria,
nem previsto na lei processual.
Zavascki argumentou que, negando-se acesso ao STJ, em casos tais, o que se
EX
faz, na prática, “é conferir aos precedentes julgados pelo regime do art. 543-C
(CPC/73) não apenas um efeito vinculante ultra partes, mas também um cará-
ter de absoluta imutabilidade, eis que não subsistiria, no sistema processual,
outro meio adequado para provocar eventual revisão do julgado”.
CL
compatí-
Mais adiante, o julgador discorreu que “essa deficiência não seria compatí
vel com o nosso sistema, nem com qualquer outro sistema de direito. Mesmo
os sistemas que cultuam rigorosamente a força vinculante dos precedentes
US
orien-
judiciais admitem iniciativas dos jurisdicionados tendentes a modificar a orien
tação anterior, especialmente em face de novos fundamentos jurídicos ou de
novas circunstâncias de fato”.
Em tempo, ao tratar sobre a técnica de solução de recursos repetitivos,
IV
Marinoni afirma que “a diferença entre sobrestar processos à espera de pre pre-
cedente e impor precedente a processo em normal desenvolvimento está em
que, no último caso, o exercício do direito de ação não é obstaculizado – que,
O
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mento das cortes supremas ainda é o das cortes de correção, em que importava
apenas o resultado ou a parte dispositiva da decisão. Esse problema, inclusive,
aponta para a necessidade de o julgamento colegiado ser conformado em diredire-
ção de uma nova realidade . Ou seja, percebe-se que o modelo atual de delibe
40
delibe-
IV
A pergunta a ser feita é: as decisões tomadas pelo STJ e pelo STF realmente
possuem eficácia perante os demais órgãos do Poder Judiciário? Com proprie-
proprie
dade, podemos afirmar que a grande maioria das decisões, infelizmente, não
ST
Fundação Getúlio Vargas (FGV), que utilizou como base dados do projeto Supremo
em Números. O levantamento analisou cerca de 120 mil decisões monocráticas de
2011 a 2013. Ao final, foi demonstrado que os ministros do STF recorrem à técnica
do “copia e cola” em uma a cada três de suas decisões individuais. Disponível em:
[www.valor.com.br/legislacao/4432396/estudo-aponta-textos-identicos-em-decisoes-
-do-stf]. Acesso em: 01.11.2016.
40. “As Cortes Supremas, na generalidade dos sistemas de civil law, foram concebidas
para corrigir – seja mediante cassação ou revisão – a interpretação da lei” (MARI-
NONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas cortes supremas..., cit., p. 14-17).
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com o entendimento da maioria. Ademais, o relatório deveria ser o mais com com-
pleto possível, mormente porque é por meio dele que a sociedade verifica a
situação fática em discussão.
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traordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito brasileiro.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
J
BaRBosa, Claudia Maria; andReassa junioR, Gilberto. A impossibilidade de aplicação da teoria dos precedentes
no atual sistema deliberativo dos tribunais superiores. Revista de Processo. vol. 273. ano 42. p. 377-401.
São Paulo: Ed. RT, novembro 2017.
Pesquisas do ediTorial
BaRBosa, Claudia Maria; andReassa junioR, Gilberto. A impossibilidade de aplicação da teoria dos precedentes
no atual sistema deliberativo dos tribunais superiores. Revista de Processo. vol. 273. ano 42. p. 377-401.
São Paulo: Ed. RT, novembro 2017.