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“FREI LUÍS DE SOUSA” – LINGUAGEM E ESTILO

Obra escrita em prosa e com uma linguagem dominada, frequentemente, pelos sentimentos,
encontramos nesta peça as marcas fundamentais do modo que constitui o diálogo, pelo que as
estruturas discursiva e frásica apresentam características próprias da coloquialidade e da oralidade.

Atente-se nos vários aspetos que estruturam a linguagem e o estilo da obra em epígrafe:

 Ao nível lexical:

É de relevar as repetições (repetições anafóricas) e a carga emotiva que encerram determinados


vocábulos trágicos e outros (desgraça, engano, terror, medo, escárnio, amor,…); a utilização de
classes de palavras como a interjeição e as locuções interjectivas (“Ah”; “ Meu Deus”) como
tradutoras da ansiedade e angústia, medos e receios das personagens e a repetição do advérbio de
tempo “hoje” que torna mais denso o ambiente trágico; por vezes, uma palavra substitui uma
frase, dado que concentra, de forma expressiva, a trama de sentimentos que invade uma
personagem, numa determinada situação – é o caso do pronome indefinido “Ninguém” que fecha o
segundo acto, proferido pelo Romeiro, ou do aparte do Telmo na cena I ,do ato I, “Terá…”, a sugerir
o quanto Telmo duvida da morte de D. João de Portugal; emprego de alguns arcaísmos que
contribuem (tal como as referências históricas, o cenário e o guarda-roupa) para a criação
da cor epocal.

 Ao nível sintáctico e rítmico:

Predominam as frases curtas, entrecortadas e/ou inacabadas, que traduzem as hesitações ou


a intensidade das emoções das personagens (marcas da coloquialidade / oralidade).

 Registo de língua :
Coexistem o familiar e o cuidado. O formal e informal

 Prosódia:
- a entoação (inter-relação entre as unidades acentuais) , essencialmente traduzida pelos
diferentes tipos de frase. É de salientar o recurso ao tipo de frase exclamativo e interrogativo
como forma de expressão dos sentimentos que dominam as personagens e da entoação
conferida às subunidades discursivas;
- as pausas evidenciam os constrangimentos das personagens, a sua dor e as suas hesitações;
ao nível sintático, manifestam-se, por vezes, na construção frásica inacabada.

 Pontuação:
É de considerar a ocorrência das reticências e dos pontos de exclamação com sugestão da
tensão emocional e dramática.
De acordo com as situações vividas pelas personagens e com os momentos da ação, podemos
sintetizar as características da linguagem em relação a cada personagem:

D. Madalena:
 Frases inacabadas, de tipo exclamativo e interrogativo; a sugerir o seu temperamento
 Utilização de interjeições e de locuções interjectivas; apaixonado, o seu receio, a sua vulne-
 Formas verbais no presente e pretérito imperfeito rabilidade, o seu pavor perante as circuns-
do indicativo e imperativo. tâncias.

Manuel de Sousa Coutinho:


 Frases de tipo exclamativo e imperativo; a sua linguagem revela cultura e objetividade, assim
 Registo de língua cuidado; como uma faceta didática, exteriorizando a sua força
 Formas verbais no presente do indicativo. e segurança. No terceiro ato, porém, dada a situação
A partir do Ato III: de sua filha, é o descontrolo, o desespero que marca
 Frases de tipo exclamativo; o seu discurso.
 interjeições e locuções interjetivas.

Maria de Noronha:
 Frases de tipo exclamativo e declarativo; estas marcas linguísticas apontam para o caráter
 Linguagem conotativa; fantasista de Maria e para a sua perceção
 Adjetivação; subjetivada dos acontecimentos, assim como
 Formas verbais no presente e no futuro para a sua faceta profética e sebastianista.
do indicativo.

Telmo Pais:
 Frases de tipo exclamativo, declarativo e interrogativo estas caraterísticas evidenciam o
(interrogativa retórica); seu temperamento romântico e
 Frases inacabadas; traduzem a sua divisão entre
 Adjetivos; o passado e o presente.
 Maleabilidade discursiva (adapta o seu discurso ao
recetor do mesmo);
 Formas verbais no presente e pretérito imperfeito
do indicativo.

Frei Jorge:
 Frases de tipo declarativo (predominantemente); estes aspetos remetem para o eruditismo
 Vocábulos da esfera lexical da moral e da religião católica; e para a objetividade da personagem; pa-
 Registo de língua cuidado; ra a sua função de conselheiro que tenta
 Formas verbais no presente do indicativo. proporcionar o equilíbrio e a paz de espí-
rito às outras personagens.

Romeiro:
 Frases de tipo exclamativo, declarativo; as falas do Romeiro tem função informativa e reve-
 Linguagem metafórica (“lágrimas de sangue”) lam o seu sofrimento e angústia perante um destino
 Registo de língua cuidado; implacável, que o votou ao anonimato.

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