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Amor ao próximo e o respeito às opiniões alheias

Quando estamos do lado da verdade, quando temos uma opinião baseada no estudo
criterioso dos fatos, não devemos ter medo de transmiti-la, mesmo que ao ouvinte, esta
opinião soe uma loucura. Quem capricha demais em parecer normal, das duas uma: ou é um
psicopata manipulador com uma conversa de raposa tranquilizando as galinhas, ou é um
medroso que para não perceber o óbvio foi acometido da Síndrome do Piu-Piu: “Será que
eu vi um gatinho?”. Não tenha medo de parecer louco quando descreve com racionalidade
objetiva uma situação louca.
Muitas das vezes somos levados a repetir ou concordar com a opinião alheia,
mesmo sem termos estudado com profundidade a respeito. Isso acontece, pois é natural no
ser humano o desejo de sentir que é bom, que maus são os outros. A maneira mais óbvia de
obter esse efeito hoje em dia é aderir, da boca para fora ou sinceramente, o papel de amigo
da espécie humana. Acontece que, em cem por cento dos casos, aderir a um ideal sem tê-lo
examinado criticamente e comparado honestamente com outros ideais possíveis, sobretudo
sem ter avaliado, no confronto com a História dos milênios, os possíveis efeitos concretos
da sua realização, é sobrepor um símbolo convencional da bondade à bondade genuína, que
requer prioritariamente o amor à verdade. É aderir a alguma mentira fácil e reconfortante
para não ter de arcar com as responsabilidades da inteligência humana.
Mesmo discordando de alguém, não devemos condená-lo sempre. É absurdo,
quando alguém faz algo de certo, desvalorizá-lo pelo que fez de errado. Isso é um hábito
nacional, mas é horrível. Pessoas, enquanto tais, não são geralmente nem boas nem más (há
exceções, é claro), mas os atos bons são bons e os maus são maus. Nossa capacidade de
julgamento moral não passa daí. Julgar pessoas em vez de atos é querer tomar o emprego de
Deus. No instante em que alguém faz uma canalhice ou fala comprovadamente um absurdo,
é justo chamá-lo de canalha, mas se no instante seguinte ele faz uma coisa boa é preciso
elogiá-lo com a mesma sinceridade com que o xingamos.
Uma maneira de evitar muito conflitos, até mesmo judiciais, é praticar o perdão.
Que sentido teria a palavra “perdão” se cada merda que um sujeito faz ficasse fedendo para
sempre? E quando os maus nos atacam, é preciso reduzi-los à impotência primeiro, e
perdoá-los em seguida. Perdão é obra do amor. Nunca evite ajuda a quem lhe procura
pedindo socorro. A coisa mais horrível do mundo é a maldade dos bons. Quanto mais grave
e complexo o drama íntimo do sofredor, menos as pessoas desejam pensar a respeito.
Imagine Simão Cireneu encorajando Jesus em estilo brasileiro: ‘Vamos lá, deixe disso, você
é fortão, que é que custa carregar essa cruzinha de nada. Se você não deu a uma pessoa
querida, o amor que deveria ter dado, não perca seu tempo pedindo desculpas. O
arrependimento verdadeiro não tem nada a ver com essas cenas melosas ou deprimentes.
Simplesmente faça agora, em dose tripla, o que deveria ter feito antes.

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