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9 temas. É isso o que eu tenho.

Exatamente 9 temas, que muito provavelmente se fundirão ao


decorrer da escrita. Não todos, mas alguns em particular. Mas... por onde começar?

Bom, vamos começar pelo medo. Eu estava me lembrando que você tem medo de altura e me
perguntei por que você é portador de medo tão comum. Mas eu percebi, ao me auto-
responder, que o seu medo não é da altura, propriamente dita, e sim das consequências que
esta pode te trazer (como cair...ou... ser atropelado por avião). Eu, por exemplo, não tenho
medo dos cachorros, mas das mordidas que eles podem me dar. Enfim, não temos medo dos
objetos em si, livres no mundo, mas do mal que estes podem nos causar. Mesmo que seja um
cachorro manso ou que o lugar alto tenha toda a segurança, o medo não se manifestará por
causa do que vai acontecer, mas por causa das coisas ruins que PODEM acontecer.

E o medo é causado pelo quê? Por experiências desagradáveis do passado? Bom, pode ser. Um
pequeno trauma, ao certo. Mas nem sempre, pois temos medo do desconhecido. E por que
que temos medo do desconhecido? Bom, eu posso vencer meu medo de cachorro ao ter
experiência com vários cachorros e você pode vencer seu medo de altura se encará-lo. Em
suma, todos os medos são vencidos quando encarados. Percebemos que a grandeza deles é
apenas superficial, que eles existem por nossa permissão. Mas como podemos encarar o
desconhecido? Há muitas pessoas que têm medo da morte. Mas como elas podem temer a
morte se não tiveram experiência com ela?

Vejamos: ter medo de alguém morrer é resultado de já ter tido ou observado coisa do tipo
acontecer. Mas nunca vimos nossa própria morte. Então ela é desconhecida. Se a quiséssemos,
não a temeríamos. Por exemplo, suponhamos que uma mulher queira viajar para um lugar que
nunca foi antes. É um lugar desconhecido para ela, mesmo que o tenha visto por fotos. Mas se
ela quer, ela não sente medo. Talvez um pequeno receio, causado pela ansiedade e pelo
simples fato de ser desconhecido. Suponhamos também que ela não quer, de forma alguma,
desmaiar. Ela terá medo de desmaiar, pois além de ser desconhecido (ela nunca desmaiou) ela
não o deseja.

E como podemos vencer esse medo do desconhecido e não sermos escravos dele? Deixo essa
pergunta em aberto.

Com esse tema, já posso entrar facilmente em outros dois. O primeiro é se devemos evitar
coisas ruins e indesejáveis, mas que vão acontecer de uma forma ou de outra, ou se devemos
encará-las eventualmente, para irmos nos treinando e formando uma armadura, até que tal
coisa não se torne ruim.

Exemplo: imagine que um garoto teve a previsão de seu futuro por uma cartomante. Ela lhe
disse que ele sofrerá, dali dois anos, um acidente que fará muitos cortes por seu corpo. Se ele
não se adaptar com os cortes, sofrerá muito. Esse garoto, crendo na previsão da mulher,
começa a se automutilar para que quando sofrer o previsto acidente, não seja muito
impactado pelos cortes e já se acostume com eles.

O menino vence seu medo de se machucar e até mesmo do acidente. O acidente realmente
aconteceu e ele não sofreu tanto com os cortes. Mas, eu digo que ele, na verdade, não
eliminou a dor que sentiria, apenas a distribuiu em doses menores. Também não digo que ele
sofreu várias vezes sem motivo. Ele realmente desarmou a maior parte dos males do acidente,
distribuindo-o em porções pequenas antecipadamente. Nesse caso ele não fez algo totalmente
errado. Mas isso é apenas uma metáfora e a vidente poderia estar errada. O que quero dizer é
que às vezes nos preparamos para males criados pela “cartomante” de nossa mente e
acabamos por sofrer sem motivo, pois os mesmos acabam não acontecendo. Retomando a
metáfora, se a previsão estivesse errada, o menino não teria dividido sua dor em pequenas
porções, mas sofrido sem necessidade.

E isso me leva ao terceiro tema: expectativas.

Quem disse que nossas expectativas são sempre boas? Tendem a ser (desde que você não seja
um pessimista de renome), mas o significado da palavra não consiste em esperar algo bom, e
sim em esperar, estar confiante em algo.

Dizem que o melhor a se fazer é não criar expectativas e deixar as coisas acontecerem
normalmente para não nos decepcionarmos. Eu discordo por vários motivos. Primeiro que
decepção faz parte da vida, vamos nos decepcionar de uma forma ou de outra. Segundamente
que é simplesmente IMPOSSÍVEL não criar expectativas, nem que seja para as coisas mais
triviais. Por exemplo, imagine que sempre que você vai na casa de sua tia, ela faz uma torta de
maçã espetacular. Quando você está a caminho da casa dela, já cria, inconscientemente a
expectativa da torta. E o terceiro motivo que me leva a discordar da destruição das
expectativas é: criamos nossas metas a partir delas. Por exemplo, quando vamos fazer uma
maquete, nossa expectativa é que saia bem feito, que as pessoas gostem e que seja objetiva
(ou não, depende um pouco da pessoa e do tema). Então, criamos nossa meta a partir disso.
Se não tivéssemos essa expectativa, a maquete poderia sair de um jeito ruim e nem ao menos
nos daríamos ao trabalho de reconstruir. Se sair ruim e formos mentalmente evoluídos, na
próxima vez tentaremos nos superar e fazer melhor, até cumprir nossas expectativas.

Nesse caso, depende muito de nós. Mas há também aquilo que não podemos interceder.
Como não se decepcionar caso dê errado? Minha dica é a seguinte: crie suas expectativas, mas
tenha consciência de que pode dar errado. Pensar no pior não vai ser muito bom para você se
surpreender com o resultado se este for positivo. Apenas saiba que pode dar errado, mas não
deixe de sonhar. E, se der errado, a vida continue, não se preocupe.

Bom... vamos ao ódio, agora.

Vamos começar de uma forma bem peculiar... Por que boa parte das pessoas preferem finais
tristes do que felizes (fictícios, pois na vida real preferem que tudo acabe bem)? Eu acho que é
porque, desde bebês, ouvimos contos de fadas, nos quais tudo acaba bem. E acabamos
enjoando disso. É, por mais que não pareça, ninguém gosta muito de uma mesma coisa por
muito tempo. Por exemplo as músicas, sempre preferimos as partes que não se repetem
muito. É, nós odiamos o repetitivo. Pode-se ver que as pessoas que não inovam e vivem todos
os dias a mesma monotonia, que não influenciam e nem se deixam influenciar pelo mundo,
são as mais tristes.

Repito: nós ODIAMOS o repetitivo. Por quê? Por causa do mal que ele nos causa, talvez?

Odiamos as coisas que vão contra nossos preceitos e princípios, que fazem mal a nós e que são
opostas aos nossos gostos. Percebe-se que é algo subjetivo. Se os gostos são subjetivos, os
desgostos também. Mas há aquilo que todos odiamos, como ser caluniados ou cair e se
machucar.

Acontece que a palavra “ódio” parece bem mais forte do que o verbo “odiar”...

O primeiro parece ser sinônimo de raiva, enquanto o segundo aparenta significar


simplesmente aversão a alguma coisa.
Quando odiamos algo, tentamos evita-lo e fazemos planos para elimina-lo de nossa vida...

Mas, odiar algo é realmente ruim? Bom, se levarmos em consideração o significado “raiva”
que lhe é atribuído, sim. A raiva não é boa, nos faz agir impulsivamente e sem pensar nas
consequências. Mas se formos analisar o significado “aversão a algo ou alguém”, acredito que
não é algo somente negativo. Se odiamos, vamos querer mudar, eliminar. E se eliminarmos ou
mudarmos, melhoras haverão. Até mesmo em nós: podemos odiar algum traço de nossa
personalidade e, então, tentaremos muda-lo. Assim, nos tornaremos pessoas melhores. Se
vermos o ódio como o ponto inicial para um conflito positivo, pode não ser algo tão ruim
quanto parece.

Outra coisa que odiamos: sermos incluídos em estereótipos. Pelo menos eu odeio. Isso porque
quando somos metidos em estereótipos, que vêm como consequência de preconceitos,
perdemos nossa identidade como indivíduo único no mundo. Como você disse, não há
nenhuma pessoa que se encaixe nos estereótipos criados. Então, por que eles existem? Bom,
eles surgem a partir da forma que determinado grupo social ou nação se comporta, em geral.

Por exemplo, quando pensamos no México, já nos vem à mente a imagem de tacos, paletas,
novelas dramáticas, pimenta e aqueles chapéus gigantes. Não é por isso que todos os
mexicanos gostem de tacos, pimentas e paletas, são dramáticos e usam chapéu. Da mesma
forma que nem todo brasileiro gosta de café ou futebol, nem todo filho de rico é mimado, nem
todo caçador vai nos salvar do lobo mal.

Pode haver, no México, pessoas que gostem mais de café e futebol do que os brasileiros. Pode
haver no Brasil pessoas que gostem mais de tacos e pimenta do que mexicanos. O que
determina a personalidade de uma pessoa não é o grupo no qual ela está metida (ou deixa de
estar), e sim ela mesma, suas escolhas e seu jeito de ser. Portanto, classificar e caracterizar
pessoas quanto à raça, renda, religião ou importância social, é um pequeno crime contra a
ética.

“Éramos todos humanos até que... a raça nos desligou, a religião nos separou, a política nos
dividiu e o dinheiro nos classificou” -Deva Nishok

Com a criação de estereótipos preconceituosos de determinado grupo contra outro, cria-se


inimizade, que pode se aumentar, se dilatar e, então, surgem as guerras. Tudo porque não foi
dado valor a cada pessoa individualmente, mas às criações de personalidade dos grupos
alheios para com os outros grupos.

E a marca que essas guerras deixam, são eternas.... Ou não? Essa pergunta é o meu passaporte
para um outro tema: o que fazemos é eterno ou dura apenas instantes?

Depende muito do ponto de vista.

Gostaria de constar que os instantes são eternos. Perduram até o fim de nossas vidas. Bom,
isso o Gato Risonho já disse para Alice, não é mesmo?

“ALICE: Quanto tempo dura o que é eterno?

GATO: Às vezes, menos que um segundo”


O eterno não é necessariamente aquilo que não tem fim, mas o que dura para sempre.
Imagine que, por um instante, uma estrela cai do céu na sua frente e diz oi (nessa suposição,
você pode imaginar que a estrela tem uns cinquenta centímetros). Depois, ela some. Isso
durou cerca de cinco segundos. Um mero instante. Mas isso vai ficar guardado na sua mente
por muitos e muitos anos. Até você morrer, provavelmente. Um instante eterno. Entendeu?

Bom, logo, a vida em si é um pequeno instante. Eterno? Bom, sim. O que fazemos na Terra (ou
fora, né?) vai ficar aqui até depois de morrermos. Os judeus que Oskar Schindler salvou da
morte puderam ter filhos, que por sua vez também tiveram filhos e, por diante, até os dias de
hoje, há descendentes deles. Schindler, embora seu “instante” já tenha acabado, fez algo
eterno. Um engenheiro que participa do projeto de alguma casa, mesmo após morrer, ainda
terá sua obra em pé. Essa poderá ser reformada e dois atos eternos se unirão (do engenheiro e
dos reformadores). As guerras, então, deixam marcas que a eternidade seria incapaz de
apagar. Claro que há muitas casas que foram desmoronadas e não há nem sinal delas, mas
para as pessoas que lá moraram, ela foi eterna. Para quem a fez, também. Digo, mais uma vez,
que a eternidade não é uma questão de tempo cósmico, mas do tempo em nossa memória. As
pessoas também são eternas. Quando morrem ou somem de nossas vidas, nos lembraremos
delas.

Mas, por outro lado, tudo o que fazemos não passa de uma gota no mar. Mas não nos
aflijamos: Madre Teresa de Calcutá disse que “ Por
vezes sentimos que aquilo que
fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria
menor se lhe faltasse uma gota.”
Insignificante diferença no mundo em si, mas grande diferença em cada mundo (pessoa) que
encontramos.

E por que vamos nos preocupar com a diferença que vamos fazer no mundo? Ainda não houve
pessoa que foi capaz de transformar o mundo todo. E creio que não haverá. Reconhecer
nossos limites não é não se superar a cada dia. É não exigirmos de nós mesmo o que não
podemos fazer, mas sempre tentar melhorar o que podemos fazer. É buscar a sabedoria a cada
dia, sabendo que nunca atingiremos uma perfeita sabedoria.

Então, não nos preocupemos com a diferença que vamos fazer ou deixar de fazer no mundo,
apenas saibamos que o que fazemos é tão eterno quanto efêmero.

E falando em buscar a sabedoria sem conseguir atingi-la plenamente, lembro-me da estranha


confusão que fiz com os Eus de Augusto Cury. Ele descreve, em certa parte de um dos seus
livros, os seis tipos de Eus. E eu me identifiquei com os três primeiros. Porém, o primeiro era
totalmente oposto dos outros dois (sendo que o terceiro era apenas um grau mais elevado do
segundo Eu). Depois de muito pensar, percebi que eu realmente sou o segundo ou o terceiro
Eu (um intermediário entre os dois. Espero que esteja passando do terceiro para o segundo e
não o oposto). E o primeiro é apenas a descrição de um Eu ideal. Talvez tenha me identificado
não por ser quem eu sou, mas por ser a minha meta de pessoa. Talvez eu nunca consiga
chegar a isso, mas posso, com certo esforço, me aproximar ao máximo do primeiro Eu. Metas
não foram feitas apenas para serem alcançadas e depois darem um sentido para a vida. Pelo
contrário, o sentido da vida está na busca de atingir uma meta. Se atingirmos todas, o que vem
depois? Viramos semideuses? Sim, perfeitas pessoas. E eu realmente não sei o que uma
pessoa perfeita faria na Terra...
Bom, percebi que não posso chegar ao nono e último tema sem cortar a linha de pensamento
e pegar outra totalmente diferente, então vamos lá:

-Por que ficamos inspirados?

Minha resposta é: quando há em nós uma remexida nas emoções, quando uma delas
“explode”, nós queremos transmiti-la ao mundo de alguma forma. Então, surgem os poemas,
as músicas, os contos, as pinturas, as frases e todo o resto. Mas... podemos ficar inspirados por
sermos alvos de outra manifestação artística? O que causa essa reviravolta nas emoções?

Bom, quando ouvimos uma música ou lemos algo que também revira nossos pensamentos,
mesmo que não percebamos, significa que fomos atingidos pela liberdade de uma inspiração.
Por exemplo, alguém está muito triste com a morte de seu cachorro e faz um poema contando
sua desventura. Quem o lê, se tem um cachorro, vai ficar feliz pelo cachorro estar vivo e triste
por ele poder morrer. Se também for um poeta, fará um poema falando o quanto ama seu
cachorro. E o ciclo continua. Isso acontece porque a pessoa que fez o poema ou música inicial,
conseguiu expor seus sentimentos de tal forma que atingisse outras pessoas. Essas pessoas
ficam inspiradas não por algo que aconteceu na vida delas, mas nas de outras pessoas, que,
mesmo assim, lhes provocou um rebuliço em seu coração. Eu acho que toda a fonte de
inspiração vem disso ou de algo similar. E você, o que me diz?

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