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ACASO

Acaso vem do latim, a casu. Casu deriva de cadere, que significa, literalmente, cair. Não é
interessante ver o acaso como algo que cai na nossa frente, do nada?

Até que é uma palavra bonita... tente pronuncia-la fortemente até o “ca” e faça o “so”
fechando a boca em um biquinho. Fica um som legal, né? Você fez isso, né? Bobo.

Ok... vamos começar, então. Segue o primeiro parágrafo do prólogo de O Andar Do Bêbado:

“Alguns anos atrás, um homem ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que
terminava com o número 48. Orgulhoso por seu “feito”, ele revelou a teoria que o levou à
fortuna. “Sonhei com o número 7 por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 é 48.” Quem
tiver melhor domínio da tabuada talvez ache graça do erro, mas todos nós criamos um olhar
próprio sobre o mundo e o empregamos para filtrar e processar nossas percepções, extraindo
significados do oceano de dados que nos inunda diariamente. E cometemos erros que, ainda
que menos óbvios, são tão significativos quanto esse.”

Nesse livro, Leonard Mlodinow (o autor) critica a forma como sempre queremos encontrar
uma causa para as coisas que acontecem, ignorando a presença do acaso.

Vamos contar uma historinha agora: um aluno estuda por muitas horas para uma prova que
ele terá no dia 11. No dia 11, ao receber a prova, ele fica abismado por ver que a prova era de
História, mas ele estudou para Biologia. Então, ele acaba tirando uma nota péssima.

Podemos dizer que isso foi acaso? Eu diria que não: Não é por acaso que a prova de História
caiu no dia 11, pois foi calculado a quantidade de matéria de história e o tempo necessário
para ensiná-la e assim foi feito o calendário de provas. Não foi por acaso que o aluno estudou
a matéria errada, pois ele não prestou atenção nas datas. Não foi por acaso que ele tirou uma
nota baixa, já que tanto focou em Biologia que esqueceu de revisar as outras matérias.

Mas e se ele tivesse tirado uma boa nota, teria sido acaso? Eu também acho que não. Talvez
ele tenha prestado atenção nas aulas de história, ou gostou da matéria, ou achou a mesma
fácil ou qualquer outra coisa.

Hm.... acabo de perceber... no infinito das possibilidades para qualquer coisa que aconteça, a
que for “escolhida”, será escolhida por acaso. Eu até apagaria tudo o que já escrevi, mas daí
vou ter que escrever novamente e vai ficar cada vez pior.

Um cara tropeçou numa pedra, bateu a cabeça e morreu. Mas ele não morreu por acaso,
morreu porque tropeçou na pedra, tropeçou na pedra porque ele estava olhando para o céu,
estava olhando para o céu porque estava passando o avião que carregava sua filha, sua filha
estava no avião porque estava indo fazer intercâmbio, estava indo fazer intercâmbio porque
foi eleita pela escola, foi eleita pela escola porque se destacou por suas notas, se destacou por
suas notas porque o pai a incentivou estudar, o pai a incentivou estudar porque ele queria que
ela pudesse ter um futuro melhor, queria que ela pudesse ter um futuro melhor porque as
condições em que viviam eram precárias, as condições em que viviam eram precárias porque
eles vinham de uma família de escravos, vinham de uma família de escravos porque
antigamente havia escravos, havia escravos porque.... e assim vai, até o início do mundo. A
morte de um indivíduo entre 7 bilhões não foi por acaso por houve uma sequência gigante de
causas anteriores que levaram a isso. E também pode-se pegar outra linha de pensamento:
tropeçou na pedra porque tinha uma pedra, tinha uma pedra porque um garoto rolou-a morro
abaixo, rolou-a morro abaixo porque estava brincando com seus amigos, porque estava de
férias, porque é normal que se dê férias, porque as pessoas precisam descansar, porque nosso
organismo assim funciona.

Mas isso quer dizer que o acaso não existe?

Existe. O homem que ganhou na loteria pode ter errado a conta porque não decorou a
tabuada, porque não gostava de tabuada, porque seus pais colocaram na cabeça dele que
matemática era chato, porque seus pais eram de humanas, porque... até o infinito. Mas foi por
puro acaso que um erro matemático por parte do homem resultou no número sorteado.

Acho então que acaso seria tudo aquilo que não tem um padrão definido, como o andar de um
bêbado, os números de um bilhete de loteria, as gotas de chuva, as manchas no pelo de algum
animal, a quantidade de folhas de uma árvore... tudo aquilo que não é consequência de uma
causa anterior.

Mas mesmo assim... Duas amigas de infância que se encontram numa manifestação com
milhares de pessoas... as causas foram que ambas gostavam de manifestações e que ambas
estavam livres naquele dia e foram às ruas. E ficaram no mesmo metro quadrado e acabaram
se encontrando... mas o fato de elas terem ficado no mesmo metro quadrado não parece ser
consequência de causa alguma e é muito tentador dizer que foi por acaso.

Eu realmente não gosto de pensar em algo como acaso e muito menos destino. Isso
provavelmente está me impedindo de pensar de forma clara...

Isso ainda vai longe...

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