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Estoicismo, a filosofia de 2 Principais notícias

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14 maio 2023
Em 1965, durante a guerra entre Estados Unidos e Vietnã, o piloto da marinha
americana James Stockdale foi abatido ao sobrevoar o país inimigo. O jovem
não sabia que passaria sete anos como prisioneiro de guerra dos vietnamitas. E
que um filósofo que vivera na Grécia no século 1º se tornaria seu grande mestre
e amigo, ajudando-o a suportar sofrimentos inimagináveis.

O filósofo chama-se Epiteto e, sua filosofia, estoicismo. No trecho abaixo, extraído


do livro "Stockdale on Stoicism", o ex-piloto conta como os ensinamentos dessa
escola filosófica o confortaram durante os longos anos no cativeiro:
'Vi a morte de perto': como é
"Tudo o que sei sobre Epiteto eu próprio pratiquei ao longo dos anos", escreveu surfar as ondas gigantes de
Stockdale, em tradução livre. "Ele esteve em combate comigo, teve as pernas Nazaré
acorrentadas junto comigo, passou meses com os olhos vendados, esteve prestes
14 maio 2023
a desistir de tudo, junto comigo."

Como o cinema estigmatiza os problemas de saúde mental

Os benefícios para a saúde de ser antissocial

"Ele me ensinou que o negócio é manter o controle sobre meu propósito moral.
Na verdade, (ele me ensinou) que eu sou o meu propósito moral. Ele me ensinou
que sou totalmente responsável por tudo o que faço e digo. E que sou eu quem
decide e controla minha própria destruição e minha própria libertação."
Como Marília Mendonça
Na matéria a seguir, três especialistas em estoicismo ouvidos pelo programa continua a ser fenômeno após
Forum, do BBC World Service, apresentam, em linguagem simples, algumas das sua morte
ideias centrais do pensamento estóico. E nos oferecem um guia prático para 12 maio 2023
mantermos a calma no meio do caos.

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retirada do útero

O manual de Epiteto 12 maio 2023

Antes de partir para a guerra, Stockdale, que fazia mestrado na Universidade


Stanford, na Califórnia, ganhou de presente de seu professor de filosofia um
pequeno livro de introdução ao estoicismo.

"O que é que um aviador naval, tomador de Martini e jogador de golfe, vai fazer
com um livro desses?", se perguntou em seguida.

Anos mais tarde, entrevistado pela filósofa americana Nancy Sherman, Stockdale As sacerdotisas africanas
disse que, quando viajava a bordo do porta-aviões Ticonderoga, no rio Mekong, no perseguidas pela Inquisição no
sul do Vietnã, acabou memorizando o livreto. Brasil
13 maio 2023
Ele contou que, ao ser abatido, teria pensado : "Não saio daqui em menos de cinco
anos e estou deixando para trás o mundo da tecnologia para entrar no mundo de
Epiteto."

"E de fato, Epiteto foi sua salvação", diz a filósofa à BBC. "Essa ideia de você
minimizar o que está fora do seu controle, mesmo sob tortura, mesmo durante
dois anos e meio em prisão solitária... Para ele, estar na prisão teve um lado bom:
possibilitou que ele aprendesse a utilidade do estoicismo. Mesmo em momentos
em que ele considerou seriamente o suicídio - como esse trecho do livro sugere".
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Essas são as questões centrais do


estoicismo, filosofia criada há mais de 2 mil
5 Quem foi o primeiro cínico da
história (e por que ele foi
chamado assim)
na qual cada vez mais pessoas buscam,
hoje, antídotos para as dificuldades da vida
contemporânea.
6 'Melhora da morte': por que
alguns pacientes graves
melhoram pouco antes de
O estoicismo pregava o valor da razão,
morrer?
propunha que emoções destrutivas eram
Última atualização: 20 junho 2021
resultado de erros na nossa forma de ver o
mundo e oferecia um guia prático para nos
mantermos resolutos, fortes e no controle. Brasil Partido 7 O artista brasileiro que viveu
50 anos em instituições
João Fellet tenta entender como psiquiátricas e é tema de
A escola estóica teve profunda influência brasileiros chegaram ao grau atual de
exposição nos EUA
na civilização grecoromana e, por divisão.

consequência, no pensamento ocidental Episódios


como um todo - e foi mais além. Ela está 8 As mudanças de vida na
Argentina com inflação acima
presente no cristianismo, no budismo e no de 100% ao ano
pensamento de diversos filósofos modernos, como o alemão Immanuel Kant,
além de ter influenciado a técnica contemporânea de psicoterapia chamada
Terapia Cognitivo-Comportamental. 9 'Privilégio' de Lula a
evangélicos no passado
favoreceu 'fundamentalismo',
Hoje, adeptos ou curiosos podem "passar uma semana vivendo como estóicos", diz líder do Conselho de
participar de conferências, integrar grupos de estóicos no Facebook, ouvir Igrejas Cristãs
podcasts de todos os cantos do mundo, comprar livros sobre o tema e aprender
como as práticas e o pensamento estóico podem ser aplicados nos esportes, nos
negócios e na política.
10 Por que bancos centrais estão
comprando ouro no maior
volume em 80 anos

Três pérolas de sabedoria de Epiteto -


escolhidas por filósofos entrevistados
pela BBC
1. "Se devo morrer, morrerei quando chegar a hora. Como, ao que me parece,
ainda não é a hora, vou comer porque estou com fome."

"O que Epiteto está querendo dizer aqui é que "o que tiver de ser será. Mas se não
tenho de lidar com isso agora, vou fazer outra coisa". Massimo Pigliucci, filósofo
italiano e praticante do estoicismo hoje.

2. "Você não é aquilo que finge ser. Então, reflita e decida: isso é para você? Se
não for, esteja pronto para dizer: para mim, isso é nada. E deixe o assunto de lado."

"Deixe para trás as coisas que não estão sob o seu controle e tente trabalhar duro
naquilo que você pode controlar." Nancy Sherman, filósofa americana que estuda
a influência do pensamento estóico sobre a ética militar.

3. "Não espere que o mundo seja como você deseja, mas sim como ele realmente
é. Dessa forma, você terá uma vida tranquila."

"Para quem vê conformismo nessas palavras, uma ressalva: eles não estão
propondo que você seja passivo em relação à vida, mas que aceite as coisas que
estão além do seu controle e que já aconteceram", diz o filósofo e psicoterapeuta
escocês Donald Robertson.

História do Estoicismo
O estoicismo foi fundado no século 3 a.C. por Zeno, um rico mercador da cidade
de Cítio, no Chipre.

Após sobreviver a um naufrágio em que perdeu tudo o que tinha, Zeno foi parar
em Atenas. Ali, conheceu as filosofias de Sócrates, Platão, Aristóteles e seus
seguidores.

"Ele se deu conta de que existia um mundo não material que era mais previsível e
controlável do que o mundo que ele tinha como mercador. Abraçou as ideias
daqueles filósofos e passou a viver uma vida simples e fundou sua própria escola
filosófica", disse Sherman.

Os primeiros estóicos criaram uma filosofia que oferecia uma visão unificada do
mundo e do lugar que o homem ocupava nele. O pensamento era composto de
três partes: ética, lógica e física.

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Relação entre homem e natureza é abordada por filosofia

O estoicismo propunha que os homens vivessem em harmonia com a natureza - o


que, para eles, significava viver em harmonia consigo próprios, com a humanidade
e com o universo. Para os estóicos, o universo era governado pela razão, ou logos,
um princípio divino que permeava tudo. Portanto, estar em harmonia com o
universo significava viver em harmonia com Deus.

A filosofia estóica também propunha que os homens vivessem com virtude, um


conceito que, para eles, estava intimamente associado à razão - como explica o
filósofo Donald Robertson.

"Se pudermos viver com sabedoria, guiados pela razão, vamos florescer e realizar
nosso potencial como seres humanos. Deus nos deu essa capacidade, cabe a nós
usá-la de maneira apropriada", diz ele.

Sêneca: Como nos blindarmos contra o


infortúnio
O estoicismo floresceu durante dois séculos na Grécia Antiga, e por volta do ano
100 a.C., voltou a ganhar popularidade em Roma. Os textos e ensinamentos dessa
filosofia que ainda sobrevivem datam desse período.

Um dos mais conhecidos pensadores dessa época é Sêneca, conselheiro do


infame imperador romano Nero. Em uma carta a seu amigo Lucílio, o filósofo fala
sobre um dos componentes centrais da virtude: a habilidade de nos blindarmos
contra o infortúnio.

"A maioria dos homens míngua e flui em miséria entre o medo da morte e as
dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como
morrer. Por essa razão, torne a vida como um todo agradável para si mesmo,
banindo todas as preocupações com ela. Nenhuma coisa boa torna seu possuidor
feliz, a menos que sua mente esteja harmonizada com a possibilidade da perda;
nada, contudo, se perde com menos desconforto do que aquilo de que, quando
perdido, não se sente falta. Portanto, encoraje e endureça seu espírito contra os
percalços que afligem até os mais poderosos."

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Sêneca falou sobre como 'blindar-se contra o infortúnio'

A ideia central dessa carta é a de que devemos não apenas estar preparados para
enfrentar as dificuldades da vida - devemos também nos preparar sempre para o
pior, explica o italiano Massimo Pigliucci, filósofo e estóico contemporâneo.

"Um exercício muito comum entre estóicos é você se preparar para alguma
situação crucial que deve enfrentar perguntando a si mesmo: qual seria o pior
desfecho possível para essa situação?"

"A lógica por trás disso é, primeiro, se você já sabe qual seria o pior resultado
possível, pode começar a se preparar para ele. Segundo, o exercício serve para
lembrar você mesmo de que, se o pior acontecer, você é perfeitamente capaz de
lidar com isso. E na verdade, na maioria das vezes, o pior não acontece".

Muitos diriam, no entanto, que para Sêneca o pior aconteceu: acusado de


participar de um complô contra Nero, ele acabou cometendo o suicídio por ordem
do imperador. O filósofo, por sua vez, talvez questionasse: "O que é mesmo esse
pior?"

Isso porque, para os estóicos, a morte não é necessariamente ruim, e a riqueza


não é necessariamente boa, explica o escocês Robertson.

"Para os estóicos, a vida não é em si uma coisa boa, é uma oportunidade. E o que
importa é o que fazemos dela. Um sábio, um homem ou uma mulher bons podem
fazer algo útil com suas vidas, uma pessoa má ou tola pode fazer algo ruim com
suas vidas. E o mesmo vale para qualquer coisa que os estóicos consideram estar
fora do nosso controle, como, por exemplo, nossa saúde, nossa riqueza ou nossa
reputação. Essas coisas são vantagens que a vida nos dá, mas não são
intrinsecamente boas. Um homem mau pode usar sua riqueza e reputação para
fazer coisas terríveis. Mas nas mãos de uma pessoa boa, essas coisas podem ser
usadas para fins bons", diz Robertson.

Sêneca e Epiteto: Como lidar com nossas


emoções
Os estóicos também tinham uma visão particular sobre as emoções - chamadas
de paixões - que dividiam em três categorias: emoções boas, ruins e indiferentes.

Eles propunham que devíamos colocar nosso foco nas emoções ruins, ou pouco
saudáveis, aprendendo a lidar com elas.

Admirado por filósofos ao longo dos séculos, o famoso ensaio Sobre a Ira, de
Sêneca, propôs formas de lidarmos com esse sentimento.

"Sêneca sugere o seguinte: Você tem uma visão a respeito de algo ruim que
aconteceu. Mas você pode mudar sua opinião sobre aquilo. (Pode dizer a você
mesmo que) não foi tão mau assim, que foi um acidente, que a pessoa não tinha
essa intenção, ou, que isso não é importante para você", explica Nancy Sherman.

Volta à cena Epiteto, um ex-escravo que viveu no século primeiro da era cristã. No
trecho a seguir, extraído do seu manual, ele reflete sobre esse mesmo tema - as
paixões e como lidar com elas.

"Os homens são perturbados não pelas coisas, mas pelas opiniões que eles têm
delas. A morte, por exemplo, nada tem de terrível, senão tê-lo-ia parecido assim a
Sócrates. Mas a opinião que reina em relação à morte, eis o que a faz parecer
terrível a nossos olhos. Por conseguinte, quando estivermos embaraçados,
perturbados ou penalizados, não o atribuamos a outrem, mas a nós próprios, isto
é, às nossas próprias opiniões. Quem acusa os outros pelos próprios infortúnios
revela uma total falta de educação; quem acusa a si mesmo mostra que a sua
educação já começou; mas quem não acusa nem a si mesmo nem aos outros
revela que sua educação está completa".

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Controle das emoções é um dos pontos abordados pela filosofia

Essas palavras representaram uma verdadeira revelação para muitas pessoas ao


longo dos séculos e até hoje, diz Robertson.

"Ele está dizendo que são nossas opiniões sobre as coisas que vão determinar se
vamos ou não ficar incomodados a respeito delas. Na verdade, são nossas
opiniões que vão determinar nossas emoções mais fortes. E indo ainda mais
longe, são os nossos juízos de valor, baseados em nossas crenças e valores mais
profundos, que nos levam a ficar aborrecidos em relação às coisas".

"Mas em vez de tentar suprimir (essas emoções), devemos confrontar as crenças


que levam a elas, transformando-as em emoções saudáveis", explica o filósofo e
psicólogo Robertson.

E sobre aquela terceira categoria, a das emoções indiferentes, a ideia era


simplesmente ignorá-las.

"Essas são reações emocionais involuntárias. São a sua primeira reação em relação
a algo, talvez algo que pegou você de surpresa, e você sente sua pressão
sanguínea subindo. Para os estóicos, essa não é uma emoção completa, não está
inteiramente sob o seu controle. Então, eles dizem que, em vez de lutar contra
elas, você deve encará-las como naturais, inevitáveis. Devem ser vistas com
indiferença."

Estabeleça suas prioridades e entenda o


que está sob seu controle
A busca do auto-controle é central à filosofia estóica. Mas para isso é importante
sabermos distinguir o que está sob o nosso controle.

Em resposta a essa pergunta, Epiteto criou duas listas.

"As coisas que estão sob nosso controle são nossos julgamentos, opiniões e
valores que escolhemos adotar. E o que não está sob nosso controle é todo o
resto, além de tudo o que é externo", explica o filósofo italiano Massimo Pigliucci.
"O externo aqui inclui minha reputação, minha riqueza e até meu próprio corpo".

"Você pode influenciar seu corpo, manter uma dieta saudável, fazer exercícios. No
final, porém, seu corpo não está sob seu controle. Você pode pegar um vírus ou
sofrer um acidente e quebrar sua perna".

Segundo Pigliucci, essa distinção permite perceber que se as únicas coisas que
estão sob seu controle são seus julgamentos, opiniões e valores, é neles que você
deve manter seu foco.

Estóicos: Igualitários e cosmopolitas


Uma característica importante do estoicismo, explica a filósofa Nancy Sherman, é
seu espírito igualitário.

"Eles foram os criadores do cosmopolitismo. Somos todos iguais, num certo


sentido. Todos compartilhamos uma racionalidade que existe no universo e isso
nos torna iguais. Esse pensamento acaba influindo a filosofia política que nasce
no estoicismo. É um tipo de iluminismo, de certa maneira".

O que resulta dessa forma de ver o mundo é que o ex-escravo Epiteto acabou
influenciando um outro filósofo estóico que vinha de uma classe social
completamente diferente. Trata-se do general e imperador romano Marco
Aurélio.

"É uma grande ironia da história. Marco Aurélio, um homem pleno de poder,
privilégios e status, que liderava tropas, sentia que, de forma a ser virtuoso,
precisava praticar o estoicismo. E se inspirou em Epiteto".

"Enquanto liderava tropas em campanhas no Danúbio, à noite, em sua tenda,


escrevia meditações para si mesmo. Eram exercícios em auto-melhora. Com
frequência (eram reflexões sobre) diminuirmos nosso senso de poder,
percebermos que honra é algo externo a você, é algo que você não pode
controlar. Reputação depende de coisas externas a você e portanto são seus
julgamentos e opiniões que interessam".

Marco Aurélio acreditava também que devíamos nos preparar para lidar com o
lado desagradável das outras pessoas, enfrentando-o com a calma e auto-
controle típicos dos estóicos. Como ele próprio escreveu no texto a seguir.

"Começa a manhã dizendo a ti mesmo: hoje eu me encontrarei com um homem


intrometido, um ingrato, um arrogante, um enganador, um invejoso, um
antissocial. Todas estas coisas acontecem a eles por causa de sua ignorância do
que é bom e do que é mal. Mas eu que compreendo a natureza do bem (que é
desejável) e do mal (que é verdadeiramente odioso e vergonhoso), que sei, além
disso, que este transgressor é meu parente - não pelo mesmo sangue e semente,
mas por participação da mesma razão e da mesma partícula divina - eu não posso
nem ser prejudicado por qualquer deles, pois ninguém pode me fazer incorrer no
que é reprovável, nem posso me irar contra eles, cuja natureza é tão próxima da
minha. Porque nascemos para a cooperação, como os pés, como as mãos, como as
pálpebras, como as fileiras dos dentes superiores e inferiores. Agir um contra o
outro, então, é contrário à natureza; e odiá-los ou rejeitá-los é agir um contra o
outro".

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Um dos preceitos do estoicismo é entender o que está sob seu controle

O Estoicismo e a Terapia Cognitiva-


Comportamental
As lições de resiliência que recebemos dos estóicos inspiraram, mais
recentemente, a técnica de psicoterapia conhecida como Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC).

Na década de 1950, desiludido com a abordagem freudiana, o psicanalista


americano Albert Ellis se inspirou em Epiteto e Marco Aurélio para desenvolver
uma nova técnica de psicoterapia tida como uma precursora da TCC.

Segundo o filósofo e terapeuta Donald Robertson, o estoicismo e a TCC


compartilham uma premissa fundamental:

"A ideia de que nossas emoções não são apenas completamente separadas dos
nossos pensamentos, crenças e juízos de valor. Mas que nossas emoções mais
fortes são, com muita frequência, determinadas pelo tipo de juízos de valor que
fazemos. E esses juízos são crenças que podem ser verdadeiras ou falsas e
portanto podemos aprender a avaliá-las, questioná-las e alterá-las. A terapia
cognitiva moderna usa uma técnica chamada de questionamento socrático. Os
estóicos usavam essa prática também. Para ajudar as pessoas a refletirem
racionalmente sobre suas crenças de forma a transformar suas emoções".

Exercícios em estoicismo para você


praticar
1. Inspirando-se nas Meditações, de Marco Aurélio, escreva seu próprio diário
filosófico (como ensinaram Sêneca e Epiteto).

Antes de ir para a cama, reflita sobre as coisas mais importantes que aconteceram
naquele dia, coisas que são importantes em termos da sua ética pessoal. Pergunte
a você mesmo: O que fiz errado? O que fiz certo? E o que ainda precisa ser feito?

2. Exercícios de autoprivação.

Tome banho frio, embora não todos os dias. Os estóicos faziam alguns exercícios
de autoprivação, como tomar banho frio, sair no frio sem casaco ou jejuar.

Segundo essa ideia, se você se deprivar temporariamente dessas coisas, vai


apreciá-las melhor. Vai sentir empatia com pessoas que são privadas dessas
coisas. E vai lembrar a você mesmo de que pode sobreviver a esse tipo de
situação.

(Massimo Pigliucci é autor do livro "Como Ser um Estóico - usando a filosofia


antiga para viver uma vida moderna")

Frios e conformistas: O que dizem os


críticos do estoicismo?
A importância que os estóicos dão ao uso da racionalidade na vida cotidiana
acabou criando uma imagem do estóico como pessoa fria, desconectada de seus
sentimentos.

Para Robertson, essa é uma interpretação superficial do pensamento estóico.

"Em inglês moderno, o estoico acabou virando sinônimo de pessoa reprimida, sem
emoções. Mas o estoicismo, escola filosófica da Antiguidade, é muito mais
sofisticada e tem uma teoria psicológica bem mais complexa".

O que se busca, explica o filósofo, não é a ausência da emoção e, sim,


trabalharmos sobre as emoções que estão sob nosso controle - aquelas que
derivam de nossos valores pessoais.

Mas ao propor que deixemos de lado e aceitemos tudo aquilo que é externo, que
está fora do nosso controle, essa filosofia não estaria gerando pessoas
politicamente apáticas e conformistas? - rebatem os críticos.

Em coluna na revista britânica The New Statesman, o filósofo Jules Evans


responde que não - pelo contrário:

"O estoicismo cria indivíduos que não podem ser intimidados pelos poderosos
porque não têm medo de abrir mão de tudo ou de morrer. Na verdade, são
treinados por sua filosofia para abandonar a vida sem medo ou arrependimento,
defender seus princípios racionais acima de qualquer ameaça ou suborno".

Para ouvir na íntegra, em inglês, o programa Forum, do BBC World Service, sobre
o estoicismo, clique aqui.

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