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ANTROPOLOGIA E BIOLOGIA

UNIDADE IV
ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA
Elaboração
Paulo Renato Lima

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE IV
ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA..................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
ASPECTOS GERAIS DA BIOTECNOLOGIA ............................................................................................................................ 5

CAPÍTULO 2
BIOTECNOLOGIA E BIOMARCADORES............................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 3
BIOTECNOLOGIA, SAÚDE, BIOÉTICA E BIOSSEGURANÇA.......................................................................................... 20

PARA (NÃO) FINALIZAR................................................................................................................................28

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................36
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ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA
E BIOTECNOLOGIA
UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
ASPECTOS GERAIS DA BIOTECNOLOGIA

A Biotecnologia e o homem: as perspectivas


biotecnológicas
A biotecnologia contribuiu muito para as mudanças globais antropológicas, além
de colaborar para o desenvolvimento sustentável do planeta, especialmente
por meio da biotecnologia ambiental. Os processos biotecnológicos têm sido,
cada vez mais, estudados como uma espécie de “futuro da humanidade”, a
chamada Civilização 2.0 que está diretamente envolvida com as questões gerais
relacionadas à Quarta Revolução Industrial (Indústria 4.0). Essas pesquisas são
essenciais para a sobrevivência humana e para a satisfação de várias necessidades
em toda a cultura humana, uma vez que, por exemplo, os primeiros processos
biotecnológicos que envolviam microrganismos têm sido usados por vários
milhares de anos.

Fabricação de cerveja, cozimento do pão etc. são exemplos de processos


biotecnológicos feitos pelo homem, os quais estão presentes, ainda, no quarto
milênio a.C. Outro exemplo é voltado para os chineses, os quais descobriram um
método para destilar o etanol no segundo milênio a.C. Com efeito, sabe-se que
a biotecnologia assumiu uma face mais moderna no século XIX, quando houve
progresso na compreensão dos sistemas biológicos, dos seus componentes
e das suas interações. Os primeiros processos de fermentação significativos,
nomeadamente a biossíntese de ácido cítrico e a penicilina, foram conduzidos
no início do século XX.

A figura 8, a seguir, traz uma breve visão geral da história da biotecnologia.

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Figura 8. Marcos no desenvolvimento da biotecnologia.

Quarto/terceiro milênio a.C. Panificação e fabricação de cerveja (Egito).


AC
Segundo milênio a.C. Destilação de etanol BC (China).

Século XVII Invenção do microscópio (A. von Leeuwenhoek, Holanda).

Século XVIII Primeira vacinação na Europa (varíola bovina) (E. Jenner, Reino Unido).
Esterilização por calor de alimentos e materiais orgânicos (Spallazani, Itália).

1860–90 A maioria dos aminoácidos isolados, primeira tirosina (J. von Leibig, Alemanha).

Década de 1890 Síntese e extração in vivo de hormônios do tecido animal.

1921 Insulina isolada de pâncreas de porco (F.G. Banting e C.H.Best, Toronto, Canadá).

Década de 1920 Mutação de microrganismos por raios-X e produtos químicos (por exemplo, H.J. Mueller, EUA)..
1923 Produção comercial de ácido cítrico (Pfizer, EUA)
Década de 1940 Produção de penicilina por fermentação (EUA).

Década de 1950 Projeto e aumento de escala de grandes fermentadores aerados


Elucidação dos princípios da filtração de ar estéril.

1953 Descoberta da dupla hélice de DNA (J. Watson e F. Crick, EUA).

1972 Enzimas de restrição (W. Arber, Suíça).

1973 Primeiro organismo de DNA recombinante (S. Cohen e H. Boyer, EUA).

1975 Anticorpos monoclonais (G.J.F. Kohler e C. Milstein, Reino Unido/Alemanha).


1976 Genentech, primeira empresa especializada em biotecnologia.

Década de 1980 Reação em cadeia da polimerase (PCR).


Purificação de proteínas em grande escala de microrganismos recombinantes.

1982/1983 Primeiro produto geneticamente modificado: insulina humana (Eli Lilly/Genentech).

1982 Primeira vacina de rDNA aprovada na Europa..

1986 Liberação de planta geneticamente modificada

1995 Primeiro sequenciamento do genoma bacteriano (Haemophilus influenzae).

1998 Isolamento de células-tronco embrionárias humanas.

2000/2001 Sequência do genoma humano.

Fonte: Gavrilescu, 2011, p. 918.

Exemplos atuais, acerca da relação, diretamente, entre Biotecnologia e questões


antrópicas, são aquelas relacionadas à terapia e à engenharia genética, incluindo
a Fertilização In Vitro (Fiv), bem como tudo o que pode estar liagdo a uma
possível eugenia humana, uma vez que as possibilidades de modificação genética
do embrião, por meio das técnicas CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas
Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), pela edição genética, faz-se, cada vez
mais, precisa e interessante.

As possibilidades, segundo Metzl (2020), as quais trazem essas questões em sua


interessantíssima obra, “Hackeando Darwin: engenharia genética e o futuro da
humanidade”, são inúmeras, como vemos a seguir.

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» Edição da cor da pele.

» Edição genética da cor do olho.

» Verificação das probabilidades de um embrião ou outro ter ou não variadas


síndromes ou doenças. Com isto, permite que os pais escolhas outro
espermatozoide para fecundação).

» Possiblidade dos pais poderem escolher a propensão genética para esportes,


música ou outras habilidades de seus filhos no futuro.

» Possibilidade da escolha do QI (Quociente de Inteligência).

Tudo isto envolve profundas implicações (bio)éticas, uma vez que o nazismo,
por exemplo, não pensava diferente, porque restringia as imperfeições, como
problemas físicos diversos, o que é comum a toda humidade e, fundamentalmente,
nos faz humanos. O nazismo focava em uma só raça, a ariana, a qual não é criação
de Hitler, mas algo do passado grego. Isso aniquilava de modo perverso e diabólico
judeus, homossexuais, negros etc.

A diversidade é o que sustentou a carga genética humana, pois, se ela fosse baixa, a
reprodução seria limitada, incorrendo em altíssimas chances de o ser humano não
ter chegado até aqui. É a diversidade que nos faz humanos. Com efeito, as aplicações
biotecnológicas, às questões de saúde, devem ser vistas com rigor necessário, pois
sempre temos dois lados da moeda: não teria o nascituro o direito de, quando na
possibilidade de não ter altas chances de doenças e patologias diversas, assim, ser
escolhido por seus pais para que não tenha isso?

Questões, como estas e muitas outras, envolvem um sério debate, pois o direito das
pessoas de nascerem com boa saúde e baixas propensões às doenças, o que inclui
inclinações para um dom/talento ou outro, é algo que, se pensado repentinamente,
todos desejam (METZL, 2020).

Há uma questão mais delicada ainda. Há certo consenso social que não é fácil ser
homossexual em sociedades ditas como “atrasadas” ou “retrógradas”. Pois bem,
se os pais, mesmo não sendo homofóbicos, pensarem que, para o bem-estar do
futuro filho, seria interessante que este não tivesse propensões homossexuais,
então, eles escolheriam a informação genética para que não haja essa inclinação.
A pergunta filosófica que fica é: qual a diferença deste resultado se comparado
ao pensamento nazista que alcançava o mesmo resultado eliminando a população
gay? Pensando em termos pragmáticos, não seria, basicamente, a mesma coisa,
em termos de resultados efetivos?

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As implicações bioéticas não param por aí, tampouco a própria biotecnologia


não se limita a isto. Aspectos diversos, ligados aos estudos voltados para o
envelhecimento, têm sido pauta de pesquisas biotecnológicas há muito tempo.
Os telômeros, como já é sabido, são a principal consequência do envelhecimento
humano. Se fosse preservador, conseguiríamos atingir um grau maior de
permanência neste mundo. Porém, se chegarmos a 300, 500 ou 1000 anos, será
que teríamos uma sociedade saudável?

Instrumentos biológicos e tecnologia


Com base nos entendimentos até aqui, está claro que, para o bem ou para o
“mal”, a biotecnologia já afetou, substancialmente, os cuidados de saúde, a
produção e o processamento de alimentos, a agricultura e o florestamento, a
proteção ambiental e a produção de materiais e os produtos químicos; conforme
é apresentado no quadro 3 a seguir.

Quadro 3. Biotecnologia, diferentes aplicações, produtos e processos.

Grupos Características Produtos e processos


A biocatálise e a engenharia metabólica
» Variedades de milho transgênico de alto rendimento, com amido
estão impulsionando a transformação
facilmente acessível para hidrólise enzimática em glicose.
da indústria química convencional.
Técnicas de engenharia genética e
biologia molecular: usadas para obter
» Etanol e ésteres de celulose de matérias-primas agrícolas
enzimas modificadas com propriedades
renováveis.
aprimoradas em comparação com suas
Produtos químicos básicos. contrapartes naturais.
A engenharia metabólica, a » Ácido succínico e etilenoglicol.
manipulação em nível molecular das » Enzimas projetadas para uma bioconversão muito melhorada de
vias metabólicas no todo ou em parte, amido em açúcares.
está fornecendo aos microrganismos, » Recuperação de etanol usando bioprocessamento de alta eficiência
às culturas transgênicas e aos animais e de baixo custo.
novos e aprimorados os recursos para a » Microrganismos tolerantes ao etanol geneticamente melhorados,
produção de produtos químicos. os quais podem fermentar, rapidamente, os açúcares em etanol.

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Grupos Características Produtos e processos


Processos de fermentação.
» Drogas estabelecidas e precursores de drogas.
» Biofármacos (alfa-1-antitripsina).
» Principalmente proteínas recombinantes, vacinas e monoclonais.
» Vitaminas (processo de seis etapas para a produção de vitamina B2
substituído por um processo de fermentação de uma etapa, com
menor impacto ambiental e custos reduzidos).
» Proteínas (insulina e ativador do plasminogênio tecidual).
Processos enzimáticos.
» Catálise enzimática altamente específica.
» Cerca de 75% do uso de enzimas por valor representado pelas
indústrias de processamento de detergentes, de alimentos e de
amido.
» Aumentar o uso no desenvolvimento de novos medicamentos, de
diagnósticos médicos e de vários outros usos analíticos.
» Enzimas extremofílicas (extremozimas) estão encontrando uso
industrial crescente.
» Gorduras e óleos modificados enzimaticamente, lipídios
Cerca de 60% do valor total das vendas estruturados e ésteres de sabor.
Produtos especializados e de relacionadas à biotecnologia para os » Produção e biotransformação de enantiômeros únicos de
ciências da vida. produtos químicos finos, e entre 5% e compostos quirais (talidomida).
11% para os produtos farmacêuticos.
» Conversão de amido de milho em xarope de milho com alto teor de
frutose.
Plásticos e outros polímeros.
» Biopolímeros biodegradáveis e renováveis com propriedades
aprimoradas.
» Escherichia coli, geneticamente modificada, converte o açúcar do
amido de milho em 1,3-propanodiol em uma fermentação de alto
rendimento. Biopolímeros não plásticos: espessantes, gelificantes e
lubrificantes.
» Cosméticos, produtos de higiene, sabonetes e detergentes.
» A lacase é usada em produtos de tintura de cabelo.
» A indústria de sabões e de detergentes usa matéria-prima derivada
de biomassa e de enzimas (óleos e gorduras derivados de plantas e
animais).
» Detergentes contendo enzimas podem ser formulados com menos
fosfato, para reduzir, significativamente, a liberação desse agente
de eutrofização para o meio ambiente.
» Estima-se que a protease alcalina de Bacillus lentus (BLAP) reduziu a
poluição ambiental associada aos detergentes em mais de 65%.

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Grupos Características Produtos e processos


Produtos úteis que podem substituir
os agroquímicos convencionais ou
Biopesticidas.
aumentar sua eficácia de modo que seu
consumo geral seja reduzido.
» Tendem a ser altamente específicos para o alvo, não deixam resíduos
tóxicos, e reduzem o risco de desenvolvimento de resistência nas
espécies-alvo.
» Produzem um impacto geral menor no meio ambiente do que os
Químicos agrícolas. pesticidas químicos convencionais.
Alimentos para animais com melhor » Entomopatógenos bacterianos formadores de esporos e não
qualidade nutricional e manutenção, esporulados estão sendo usados ou avaliados para uso biopesticida.
para melhorar a sustentabilidade da Biofertilizantes e inoculantes do solo.
produção animal
» Bactérias rizóbios fixadoras de nitrogênio encontradas naturalmente
nos nódulos das raízes de legumes.
» Espera-se que contribua, significativamente, para reduzir a poluição,
a energia e o consumo de recursos associados ao uso de fertilizantes
convencionais.
Biopulpagem: o tratamento de cavacos de madeira com fungos que
degradam a lignina antes da polpação reduz a demanda por energia
e por produtos químicos, melhora a qualidade do papel e diminui o
impacto ambiental da produção de celulose.
Polpa auxiliada pelas enzimas, pelo papel e pelo processamento têxtil.
» Biobranqueamento da celulose para redução do consumo de cloro.
» Desidratação e destintamento da polpa.
» Remoção de pitch.
* Degradação de orgânicos dissolvidos e suspensos em efluentes
concentrados de moinhos.
» Fibrilação aprimorada para dar um papel mais forte.
» Redução do uso de produtos químicos e energia e melhoria da
qualidade do produto.
» Eliminação das etapas de processamento, sua simplificação e
O uso de microrganismos e enzimas redução da gravidade do tratamento.
Fibra, celulose e projetados pode deslocar muitas das
» Uso de catalase para converter peróxido de hidrogênio residual em
processamento. práticas ambientalmente adversas
água e em oxigênio.
usadas no processamento de celulose.
» Uso de tratamento com xilanase para reduzir o consumo de dióxido
de cloro e os custos associados.
» Uso de celulases para melhorar as taxas de desidratação da polpa.
Atinge-se a reciclagem total da água nas fábricas de papel.
» Tratamento de efluentes de fábricas de papel, para reciclagem total.
» Reduz, significativamente, o impacto ambiental da disposição de
efluentes.
Biotecnologia para reciclagem de papel.
» Reduz a entrada de novos recursos na indústria de celulose e de
papel.
» Alternativa de biotecnologia baseada em enzimas para
destintamento químico.
» Desidratação enzimática da polpa e da remoção de contaminantes,
sem reduzir a resistência da fibra da polpa reciclada.

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Grupos Características Produtos e processos


» Bioconversão de amido em açúcares » Etanol produzido a partir de resíduos do processamento de açúcar
para a produção de bioetanol. de cana e de beterraba.
» Resíduos orgânicos de aterros sanitários e fazendas podem ser
» Digestão anaeróbica de resíduos
convertidos em biogás combustível (∼55% metano e 45% dióxido
orgânicos em metano.
Bioenergia e biocombustíveis. de carbono) por meio da digestão anaeróbica.
» A mistura de gasolina com bioetanol
reduz, diretamente, o consumo de » Combustíveis de hidrocarbonetos líquidos podem ser produzidos a
combustíveis fósseis e a poluição partir de óleos vegetais, animais e microbianos.
ambiental.
» A mudança das matérias-primas
de hidrocarbonetos fósseis para
a matéria derivada de plantas
reestrutura, drasticamente, a
fabricação de produtos químicos para
permitir a produção sustentável.
» Os recursos incluem matéria vegetal,
Bioprocessamento de animal e microbiana renováveis.
biomassa para produção de » Disponibilidade local de
----
produtos químicos industriais. matéria-prima.
» Redução da demanda de energia para
processamento.
» Menor necessidade de eliminação de
resíduos e de produção eficiente.
» Reduções líquidas na emissão de
gases de efeito estufa.
» Tratamento de águas residuais municipais pelo método de lodo
ativado.
» Estabilização aeróbia de resíduos orgânicos sólidos por meio de
compostagem.
» Micro-organismos e enzimas usados em aplicações de
Biotecnologia Ambiental. ----
biorremediação.
» Processos de biorremediação foram estabelecidos para tratamento
in situ e ex situ de solo e de água subterrânea contaminados.
» A biorremediação tem se mostrado útil na redução das emissões de
vapores de compostos orgânicos.
As plantas transgênicas (soja, milho,
algodão, canola, abóbora e mamão) » Uso biofarmacêutico e produção de fármacos em plantas.
oferecem vantagens.
» Rendimentos superiores.
» Menor demanda por fertilizantes e
pesticidas.
Plantas e animais transgênicos. » Melhor tolerância aos ambientes » As oleaginosas podem ser projetadas para produzir óleos
adversos e às pragas. lubrificantes industriais menos tóxicos e biodegradáveis, para
» Melhor nutrição. reduzir a dependência do setor de lubrificantes de produtos
» Capacidade de gerar os produtos derivados do petróleo.
que uma cultura não produz
naturalmente.
» Custo de produção reduzido.
Fonte: Gavrilescu, 2011, pp. 919-921.

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Sugerimos a leitura do livro de Jamie Metzl, “Hackeando Darwin: engenharia


genética e o futuro da humanidade”.

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CAPÍTULO 2
BIOTECNOLOGIA E BIOMARCADORES

Avanços biotecnológicos
Em se tratando de saúde ainda, para o eficiente diagnóstico de patologias, de acordo
com Resende (2015), são necessários biomarcadores (presença de moléculas,
expressão gênica ou caracteres morfológicos diferenciais com o estabelecimento da
doença), os quais sejam, altamente, específicos, minimamente invasivos, de rápida
análise e o mais precoce, com relação à manifestação da enfermidade, possível.

Pensando nessas necessidades, os miRNAs vêm de encontro à


definição de “biomarcador ideal”, pois prontamente refletem
o status de diversos sistemas orgânicos através de seus níveis
séricos e são de rápida análise por meio da PCR (polymerase
chain reaction, ou reação em cadeia da polimerase) em tempo
real. A elucidação de perfis de expressão de miRNAs (também
denominados “miRNomas”, do inglês miRNome) em variados
contextos fisiológicos e fisiopatológicos apontam que muitos
miRNAs são diferencialmente expressos frente ao estabelecimento
de diversas doenças, desde as de caráter traumático, como
acidentes vasculares cerebrais e infarto do miocárdio, até as de
caráter crônico e progressivo, como diabetes mellitus e os mais
diversos tipos de cânceres (RESENDE, 2015, p. 360).

À luz da antropologia, os biomarcadores podem ser utilizados para inúmeros


fins, especialmente os ambientais que embarcam aquela relação mesológica que
comentamos (homem-meio ambiente). Com efeito, vale ressaltar que um marcador
genético, segundo Mangolin (2013, p. 51), é uma “[...] característica qualitativa
com herança mendeliana simples, de fácil reconhecimento, e sua expressão não é
influenciada pelo ambiente.”

A utilização das análises, com marcadores morfológicos, foi aquela em que,


primeiramente, foram usados como marcadores genéticos. Antes de 1960,
segundo Mangolin (2013, p. 51), “[...] os estudos de polimorfismos (ocorrência
de dois ou mais tipos de formas) nas populações baseavam-se em avaliações
de diferentes fenótipos morfológicos dos organismos.”, contudo “[...] o pequeno
número de parâmetros fenotípicos morfológicos disponíveis classificava as
populações como geneticamente homogêneas.”

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Chiarelli e Massa (2014, p. 425) nos informam acerca das questões relacionadas às
diferenciações existentes entre os aspectos fenotípicos e genotípicos, como vemos a
seguir.

» Fenótipo: trata-se do aspecto exterior de um indivíduo, não é mais do que o


resultado da ação do meio sobre a expressão do seu genótipo.

› O meio constitui um fator muito importante para a determinação da


variabilidade individual.

› Mesmo que a ação do meio, em que o indivíduo está inserido, exprima-se


nele, ela manifesta os seus efeitos mais importantes ao nível de população.

› Os indivíduos pertencentes a uma população diferem, em geral, daqueles


que pertencem a uma outra, por um conjunto mais ou menos extenso de
caracteres, denominados de polimórficos.

Quanto à ação do meio, ainda, segundo as autoras supracitadas, considerando


que o meio altera o fenótipo humano, aponta-se os seguintes pontos.

» Todos os fatores climáticos da biosfera são agentes seletivos potenciais, eles


acabam por criar diferenciações genéticas.

» Quantidade e qualidade da alimentação representam outros agentes seletivos


importantes, bem como a abundância da alimentação que influencia na
sobrevivência e sua variabilidade. Isso, por sua vez, influencia na ocorrência
ou não de patologias humanas.

» O meio influencia e modela as populações, ele diferencia umas das outras.

» O fenótipo de um indivíduo é o resultado de uma montagem específica de


genes transmitidos pelos pais, isto é, pelos gametas.

É, com a utilização das técnicas da biologia molecular, que estão sendo criados,
cada vez mais, marcadores moleculares, em termos quantitativos. Mangolin
(2013, p. 52) diz que as “[...] técnicas permitiram um acesso direto da sequência
de nucleotídeos da molécula de DNA, logo a avaliação do polimorfismo genético
pode ser estudada diretamente na molécula de DNA.”. Com isto, segundo esta
professora, “[...] os marcadores genéticos moleculares são provenientes da
análise do polimorfismo presente no próprio DNA.”.

Há diversas vantagens no uso dos marcadores moleculares. Uma delas está associada
à sua utilização de maneira neutra quanto aos efeitos fenotípicos, uma vez que

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apresentam grande cobertura do genoma. Isto oferece um número ilimitado de


polimorfismo, e não somente isto, mas, também, “[...] podem ser estudados em
todos os tecidos e estágios de desenvolvimento em que o organismo se encontra.”
(MANGOLIN, 2013, p. 52).

Os marcadores moleculares têm sido utilizados para detectar e para


analisar a variabilidade genética em nível molecular, e essa forma
de estudo tem aumentado a eficiência dos processos de avaliação
genética. A quantificação da variabilidade genética é fundamental
para estudos evolutivos, para quantificar a diversidade genética, inter
e intra populacional, inter e intra específia (essas informações são
fundamentais para o estudo de melhoramento genético, orientando
a eficiência dos cruzamentos e dos processos de seleção) e para
assessorar e aumentar a eficiência dos programas de conservação
e uso dos recursos genéticos. Quando um marcador molecular está
ligado a uma característica de importância econômica, ele também
pode ser utilizado para estudar e para acompanhar de forma indireta
essa característica e esse procedimento é utilizado nas diferentes
estratégias de seleção assistida por marcadores. Com o surgimento de
técnicas modernas da biologia molecular, foram elaborados diversos
métodos de detecção de polimorfismo genético no DNA, superando
a expressão do fenótipo e a influência do ambiente sobre o genótipo.
O desenvolvimento de marcadores moleculares é dependente de
métodos para isolamento de DNA, do desenvolvimento de técnicas
modernas de biologia molecular e de infraestrutura tanto de
equipamentos como de material de consumo (MANGOLIN, 2013,
p. 52).

Ademais, são diversos, também, os métodos de detecção de polimorfismo


genético. Dentre os avanços biotecnológicos, são, basicamente, empregados,
segundo Mangolin (2013, p. 52), os que consistem na classificação dos marcadores
moleculares, em duas classes, logo abaixo.

» Marcadores que não utilizam PCR (Polymerase Chain Reaction): ou


técnicas que são baseadas em digestão do DNA com enzimas de restrição e de
hibridização. Exemplo: RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism).

» Marcadores que são baseados em PCR: esses foram desenvolvidos


após a elaboração da reação em cadeia da polimerase por Mullis e Faloona,
em 1987. Esta classe pode ser dividida em duas categorias.

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› Marcadores que usam primers arbitrários para a PCR, ou que não são
específicos. Exemplo: RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA).

› Técnicas baseadas em uso de primers, que são específicos para sequências


alvo no genoma. Exemplo: microssatélite.

O quadro 4, a seguir, apresenta os principais marcadores moleculares que são


utilizados para desde o teste de paternidade até para os estudos de populações.

Quadro 4. Marcadores moleculares.

Esse marcador foi desenvolvido após a descoberta das enzimas de restrição. Essas enzimas cortam
as ligações fosfodiésteres das moléculas de DNA em pontos específicos, denominados sítios de
restrição. Estes são sequências de quatro a oito nucleotídeos distribuídos na molécula de DNA.
O polimorfismo, observado pelo RFLP, é proveniente da perda dos sítios de restrição. A perda
do sítio de restrição ocorre em função de substituição ou de modificação de bases (mutação),
RFLP (Restriction ou em função dos rearranjos de sequências de nucleotídeos do DNA. Esses rearranjos envolvem
Fragment Length deleções, inserções, inversões ou translocações. Todas essas alterações modificam a distância
Polymorphism) entre dois sítios de restrição adjacentes. Apesar de essas vantagens, RFLP é um processo caro e
laborioso, e, por isso, necessita de grande quantidade e qualidade do DNA.
VANTAGEM E DESVANTAGEM
Esse marcador é codominante, isto é, possibilita a distinção dos indivíduos homozigotos dos
heterozigotos e apresenta alta reprodutibilidade. Apesar dessas vantagens, RFLP é um processo
caro e laborioso, necessita de grande quantidade e qualidade do DNA.
RAPD ou AP-PCR é um marcador que utiliza apenas um primer, geralmente com 10 nucleotídeos
de comprimento e de sequência arbitrária. Este se anela em todas as regiões complementares
e arbitrárias do genoma e, a partir do anelamento, são sintetizados múltiplos produtos de
amplificação. Para que um fragmento de DNA seja amplificado, duas regiões do genoma
complementares ao primer devem estrar separadas por até 4.000 pares de base (pb) e em
orientações opostas. Assim, são amplificados fragmentos de DNA distribuídos ao acaso no
genoma, sem conhecimento prévio da sequência. A detecção dos produtos de amplificação é
RAPD (Random
feita em eletroforese, geralmente em gel de agarose corado com brometo de etídio, ou em gel
Amplified Polymorphic de poliacrilamida, visualizados por autoradiografia ou corado com prata. Marcadores moleculares
DNA), RAPD se comportam como dominantes, ou seja, não é possível distinguir indivíduos homozigotos
ou AP-PCR (Arbitrarily de heterozigotos em uma população.
Primed Polymerase VANTAGEM E DESVANTAGEM
Chain Reaction)
As grandes vantagens desse marcador são sua fácil execução, a rapidez na obtenção de resultados,
seu custo relativamente reduzido e o não requerimento de conhecimento prévio do genoma a
ser estudado; além de apresentar a possibilidade de automatização dos procedimentos. Como
esse marcador é dominante e sua leitura é realizada como presença e ausência do fragmento
amplificado, ele apresenta baixo conteúdo de informação genética. Se as condições de
amplificação não forem bem estabelecidas, esse marcador apresenta baixa reprodutibilidade
entre laboratórios.

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Os microssatélites são repetições de poucos pares de bases de DNA (2 - 6 pb) em sequências,


onde as repetições mais abundantes são os dinucleotídeos (repetições de 2 pb). Essas
sequências repetidas são distribuídas aleatoriamente através do genoma, fornecendo grande
quantidade de marcadores. As sequências de DNA, que flanqueiam os microssatélites ou loci
SSRs, são conservadas e utilizadas para construir as sequências de primers, para serem usados na
amplificação dos loci SSRs, com o uso do método da PCR. Quando um par de primers construído,
para as regiões flanqueadoras, é utilizado para amplificar o locus SSR em vários genótipos, ele
poderá revelar polimorfismo no referido locus. Esse polimorfismo é observado na forma de
diferença no comprimento do segmento de DNA amplificado. Cada segmento ou a sequência de
DNA, que é produto da amplificação, separado por eletroforese em gel de poliacrilamida, ou em
gel de agarose ultrapura (Figura 1C), ou por sequenciador automático, representam um alelo do
Microssatélites ou locus. As diferenças, no tamanho dos microssatélites, são atribuídas às variações no número de
SSR (Simple Sequence unidades de repetição em um locus de SSR em particular.
Repeat)
VANTAGEM E DESVANTAGEM
Esses marcadores possuem características de multialelismo e de codominância, apresentando
um elevado conteúdo de informação genética por locus. A característica de codominância
permite que sejam detectadas as diferentes contribuições parentais nas progênies. Outra
vantagem dos microssatélites é que eles requerem uma pequena quantidade de DNA, sendo,
portanto, extraídos de qualquer material biológico, como sementes ou plântulas em diferentes
fases do desenvolvimento; o que permite uma avaliação precoce e eficiente. Os marcadores
SSR constituem a classe mais polimórfica de marcadores moleculares atualmente disponíveis. A
desvantagem é o custo e o trabalho os quais são envolvidos para o desenvolvimento dos primers,
assim, necessita-se de construção de bibliotecas genômica, de sequenciamento e de triagem dos
melhores primers.
Os marcadores moleculares ISSR representam uma das classes mais recentes e foram
desenvolvidos a partir da necessidade de explorar repetições microssatélites sem a utilização
de sequenciamento do DNA. ISSR são fragmentos de DNA de 100 a 3.000 pb amplificados por
PCR, utilizando somente um primer de 16 a 20 pb. Esses primers são construídos a partir de
sequências de microssatélites. Os produtos da amplificação são separados por eletroforese em
gel de poliacrilamida e visualizados por autoradiografia ou coloração com prata. Eles podem
ser, também, separados em gel de agarose corado com brometo de etídio sob luz ultravioleta.
Portanto, são facilmente detectados com o uso de poucos equipamentos; são bastante variáveis
e fornecem grande número de dados por um custo razoável para o pesquisador.
ISSR (Inter Simple
VANTAGEM E DESVANTAGEM
Sequence Repeats)
O marcador ISSR é uma técnica simples rápida e eficiente, apresenta alta reprodutibilidade,
possivelmente devido ao uso de primers longos; o que permite o uso de alta temperatura de
anelamento. A desvantagem desse marcador é o seu comportamento genético dominante,
não sendo possível diferenciar os indivíduos heterozigotos dos homozigotos e estudá-los. O
marcador ISSR tem sido utilizado para estimar a extensão da diversidade genética em nível inter e
intraespecífico em uma ampla variedade de espécies. Devido à sua abundância e à sua dispersão
no genoma, tem sido muito empregado para estudar relações entre duas populações muito
relacionadas. Também, tem sido utilizado em estudos de fingerprinting, de seleção assistida por
marcadores, de filogenia e de mapeamento genético.

17
UNIDADE iv | ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA

O marcador AFLP é uma das metodologias mais utilizadas para a obtenção de um grande número
de marcadores moleculares, distribuídos tanto em genomas de eucariotos como de procariotos.
Para que bons resultados possam ser obtidos com esse marcador, é fundamental que a digestão
do DNA seja completa, pois a digestão parcial pode revelar falsos polimorfismos. Para a obtenção
da digestão total, é necessário usar DNA de alta pureza. A técnica se baseia na propriedade
de certas enzimas de restrição em deixar, após a clivagem do DNA, extremidades coesivas de
sequências conhecidas.
VANTAGEM E DESVANTAGEM
AFLP (Amplified
Fragment Length O AFLP pode ser usado em estudos de diversidade genética, especialmente por não requerer
qualquer informação prévia do genoma a ser analisado, por possuir alta repetibilidade e por
Polymorphism)
detectar grande número de fragmentos polimórficos em poucos experimentos. O AFLP é
importante para estudo de fingerprint de DNA, ele pode ser aplicado em estudos genéticos de
plantas, de fungos e de bactérias, com inúmeras aplicações; as quais são: monitoramento de
herança de caracteres, diagnóstico de doenças geneticamente herdadas, análise de pedigree,
identificação de clones e de cultivares, mapeamentos de genes, incluindo QTLs (Quantitative
Trait Loci) e grupos de ligação, análise de biodiversidade e coleções de germoplasma, estrutura
populacional, identificação de híbridos e em estudos filogenéticos de espécies estreitamente
relacionadas.
Marcadores SNPs se baseiam na detecção de polimorfismos resultantes da alteração de uma
única base no genoma. O polimorfismo gerado pelos SNPs é muito abundante, sendo gerado
pela substituição de uma base ou por pequenos eventos de inserção ou de deleção; 90% do
polimorfismo encontrado nos genomas são provenientes desse marcador. São marcadores
bialélicos considerados como a principal fonte de variabilidade fenotípica, o que permite
diferenciar os indivíduos dentro de uma espécie. Estão presentes tanto em sequências expressas
como em não expressas. Muitas vezes, a substituição de um único nucleotídeo leva à substituição
do aminoácido na proteína e, em consequência, leva à perda da funcionalidade e à modificação
SNP (Single Nucleotide fenotípica. Devido à alta frequência e à distribuição, SNPs têm sido utilizados para a obtenção de
Polymorphism) mapas de alta resolução, o que abre novas possibilidades de seu uso no melhoramento assistido
por marcadores, no mapeamento de EST (Expressed Sequence Tags) e na integração de mapas
físicos e genéticos. Eles podem ser usados, também, em estudos populacionais.
VANTAGEM E DESVANTAGEM
Os marcadores SNPs têm sido utilizados na análise de genes e na descoberta da base genética
molecular de várias características. Têm sido utilizados, também, em estudos de genética
de população e filogenia. As principais desvantagens desse marcador é a necessidade de
conhecimento prévio de sequência do gene de interesse, o custo e a infraestrutura requerida para
a técnica.
Fonte: Mongolin, 2013, pp. 53-58.

Há, no mercado, inúmeros marcadores moleculares, cujos fins são diversos.


Como é o caso dos marcadores bioquímicos, nos quais são utilizadas isoenzimas
para estimar, segundo Takasusuk (2013, p. 66):

» a variabilidade genética e a estrutura de populações naturais;

» o fluxo gênico entre populações e processos de hibridização natural;

18
ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA | UNIDADE iv

» a dispersão de espécies e a análise de filogenias;

» a identificação de variedades ou de espécies.

Além disso, também, usa-se para saber como proceder com a introgressão
gênica e avaliação de germoplasma. Segundo Takasusuk (2013), a técnica de
eletroforese desnaturante, em géis de poliacrilamida (SDS-PAGE), que é uma
forma de marcar bioquimicamente uma amostrar, é uma ferramenta bastante
útil que pode ser empregada por muitas áreas, como a própria bioquímica, mas,
também, para Antropologia Biológica, claro, para análise forense, genética em
geral, biologia molecular e biotecnologia; a fim de separar proteínas de acordo
com sua mobilidade eletroforética.

Os marcadores isoenzimáticos são caracterizados como codominantes, isto é, “[...]


a partir do perfil detectado após a coloração e a elaboração de um zimograma
(esquema representativo das isoenzimas), podemos identificar o padrão dos
homozigotos e dos heterozigotos.” (TAKASUSUK, 2013, p. 66).

Takasusuk (2013, p. 61-62), por fim, aborda algumas informações gerais acerca do
histórico dessa técnica.

As técnicas para detecção de marcadores bioquímicos iniciaram


em 1937, quando Arne Tiselius desenvolveu o método que ele
denominou de eletroforese livre, que lhe rendeu um prêmio Nobel.
Essa tecnologia foi sendo melhorada e modificada até que, em
1955, Smithies desenvolveu a eletroforese em géis de amido, e
Hunter e Markert (1957) acoplaram procedimentos histoquímicos
de coloração para identificar atividade enzimática sobre o suporte
eletroforético. Esses procedimentos possibilitaram verificar
que muitas enzimas existiam em formas moleculares múltiplas.
Com a demonstração de que há controle genético da síntese de
proteínas, não foi surpreendente observar diferenças na estrutura
de enzimas ou de proteínas homólogas sintetizadas por indivíduos
de diferentes espécies ou por indivíduos com diferentes genótipos
dentro de uma mesma espécie [...]. Em 1970, foi desenvolvida por
Laemmli a eletroforese em géis desnaturantes de poliacrilamida
com duodecil sulfato de sódio (SDS, Sodium Dodecyl Sulfate), que
permite identificar os polipeptídeos solúveis presentes em uma
amostra [...]. Atualmente, empregando eletroforese bidimensional
e espectrometria de massa, é possível desenvolver estudos de
proteômica para identificar, quantificar e estudar as modificações
pós-traducionais das proteínas expressas por um genoma.

19
CAPÍTULO 3
BIOTECNOLOGIA, SAÚDE, BIOÉTICA E BIOSSEGURANÇA

Biotecnologia aplicada à saúde


Em resposta à grande influência que a saúde pública tem alcançado em nossos
tempos devido aos avanços da biomedicina e aos seus respectivos avanços na
biotecnologia, ao poder de ação do Estado no domínio público e às forças de
mercado, a saúde tem se tornado, cada vez mais, um domínio especializado.

A história da saúde pública foi marcada por grandes avanços na saúde da


população no século XIX e no início do século XX, por meio de melhorias
sanitárias e do local de trabalho, da habitação e da nutrição. A saúde pública
mudou a prioridade da medicina social para a promoção da saúde direcionada
individualmente.

O lançamento e a conclusão do maior projeto de biologia já concebido, o


mapeamento e sequenciamento do genoma humano, há duas décadas, liderados,
especialmente, por Francis Collins no fim da década de 1990, acelerou esse
processo de individualização da saúde em relação ao perfil genético de doenças
e ao aumento das informações prognósticas. Por exemplo, chips de silício,
embutidos com pedaços híbridos de DNA que podem testar várias condições
genéticas em indivíduos, estão atualmente em desenvolvimento.

Essas ferramentas de diagnóstico estão mudando o foco da prática médica da


intervenção para análises de fatores de risco e prevenção de doenças. Em relação
às doenças às quais os indivíduos podem estar predispostos, como eles podem
reagir a determinados medicamentos e quais comportamentos promotores da
saúde, tudo isso é formas para prevenir doenças futuras e todos estão incluídos
nesta revolução.

A informação genômica e a multiplicidade de sequências genômicas representam


novos alvos para intervenção terapêutica. Em suma, a “indústria das ciências
da vida”, o conhecimento do código genético e sua manipulação e os avanços
terapêuticos estão transformando a saúde pública e o conhecimento biológico.

A perspectiva de testes genéticos generalizados suscitou preocupações sobre


como essas informações estão sendo usadas para discriminar aqueles rotulados
como tendo riscos genéticos, em termos de restrição ou de negação da cobertura
de seguro, como já é o caso que envolve mulheres que são BRCA1 ou BRCA2

20
ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA | UNIDADE iv

positivas. Esses desenvolvimentos, também, destacam a profundidade da


demanda por “saúde”. Eles atestam o poder da biomedicina como uma
racionalidade na vida cotidiana, na organização da assistência e da prestação de
saúde, dos procedimentos legais, da análise de políticas. Isto esbarra em outras
formas de conhecimento, como a religião, as quais coexistem com estruturas
de poder mais antigas relacionadas à família, ao gênero, à etnia e à classe
(RESENDE, 2015).

A saúde, como mercadoria, a ser comprada e vendida no mercado, levou às novas


liberdades para buscar a saúde, mas, também, levantou os dilemas e criou novos
riscos; como: quem é o guardião da informação genômica?; e quem terá acesso
às terapias genéticas? Essas questões destacam alguns dos perigos relacionados
aos usos sociais do conhecimento genético na era genômica e no pós-genômica;
eles tornam difícil dizer o que conta como sucesso neste impulso para a saúde
e os lucros, um impulso que tem fontes e consequências sagradas e seculares. O
equilíbrio entre os benefícios, para os indivíduos e os riscos para as populações de
qualquer nova tecnologia, também, deve ser cuidadosamente avaliado.

O xenotransplante, que promete acabar com a chamada escassez de órgãos


de doadores por meio da engenharia de órgãos animais transplantáveis, é um
exemplo importante. Embora essas tecnologias inovadoras possam salvar a vida
de alguns, elas podem ser perigos para as populações em termos de cepas virais
resistentes e de anticorpos que podem se desenvolver como resultado de tais
procedimentos de transplante (RESENDE, 2015).

Outro exemplo de como o avanço científico produz novos riscos sociais é


encontrado no caso de o tráfico de órgãos humanos. Esse tráfego tem sido
proporcionado pela disponibilidade de ciclosporina, entre outras coisas. Essa
disponibilidade, combinada com a demanda por órgãos humanos, transformou
populações vulneráveis ​​no Brasil, na África do Sul e na Índia, em potenciais
fornecedores de órgãos.

Inconsistências, em todo o mundo em relação aos direitos dos doadores, bem como
a falta de acompanhamento de muitos deles levaram ao sofrimento prolongado
ou às mortes prematuras, ou ambos casos. Os processos, relacionados com a
globalização da indústria das ciências da vida, exigem atenção etnográfica aos
avanços técnicos em termos de seu desenvolvimento e sua difusão; os padrões
de acessibilidade e as diferenças em melhores resultados na saúde entre os
pobres e os que não são; e as novas formas de saúde e a vulnerabilidade que
esses avanços engendram.

21
UNIDADE iv | ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA

Doença e cura se tornaram meios de comunicação essenciais, uma “salvação


frágil”, por meio da qual sociedades e grupos lutam com valores e crenças centrais
e negociam o progresso social e político. A invenção e a implementação de técnicas
de melhoria da saúde assumiram muitas formas, incluindo:

» controle de epidemias;

» erradicação de doenças;

» combinações de mudanças ambientais;

» comportamentais individuais e avanços médicos diversos.

No entanto, as definições de saúde dependem de valores normativos e, muitas


vezes, conflitantes. A saúde, como objetivo individual, coexiste com novas ameaças
à saúde em todo o mundo. A disseminação da propaganda de cigarros ou o despejo
de medicamentos vencidos, em países de baixa renda, fazem parte da globalização
das doenças.

Sob tais condições, o que antes era saúde, agora, torna-se doença. A manutenção
e a promoção da saúde, antes um conceito tão influente, podem ser prejudicadas
devido às novas realidades políticas e econômicas. Os próprios contextos de
saúde estão passando por mudanças e são influenciados por transformações na
economia e na política, na ciência e na tecnologia e na cultura. Esses contextos
moldam as condições de saúde e, por sua vez, são afetados por ela. Esses processos
demonstram que a saúde, como experiência, é irredutível a um conjunto de
normas de atividade fisiológica e mental ou se restringe a um conjunto de
diferenças culturais.

Somente por meio de entendimentos concretos de mundos específicos de


sofrimento e da maneira como são moldados pelas histórias locais e pelas
economias políticas, podemos chegar a um acordo com as complexas dimensões
humanas que protegem ou minam a saúde. A saúde, assim vista, é uma construção
e, também, uma forma contestada de estar no mundo.

Por fim, vale mencionar as doenças ligadas ao reparo do DNA (incluindo a


incorreta replicação), as quais, à luz da biotecnologia, podem ser estudadas e
solucionadas. Uma das síndromes (além da famosa de Down, que já é bastante
conhecida e não trataremos aqui) é a Síndrome de Cockayne, na qual ocorre a
mutação em uma das proteínas CSA ou CSB (reconhece complexos de transcrição
parados). Isto leva à célula à apoptose, incorrendo ao envelhecimento precoce
(TAKASUSUK, 2016).

22
ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA | UNIDADE iv

Há, também, o Xeroderma pigmentoso que não consegue reparar danos causados
nas células devido à mutação nas proteínas XPB ou XPD. O acúmulo de mutações
leva ao desenvolvimento de câncer.

O quadro a seguir traz mais algumas delas.

Quadro 5. Doenças humanas causadas por defeitos no reparo do DNA.

Defeito em 1 dos 8 genes do sistema de reparo por excisão de nucleotídeo (grupo de


XERODERMA PIGMENTOSO
complementação); câncer de pele e anomalias neurológicas.
Causa aumento nos rearranjos de DNA, retardo de crescimento, vasos sanguíneos
SÍNDROME DE BLOOM dilatados (telangiectasias) na pele particularmente na face. Taxa aumentada de câncer
(antes dos 30 anos). Também, há forte sensibilidade à luz UV.
Deleções cromossômicas, envelhecimento prematuro cujo efeito exato, ainda, não foi
SÍNDROME DE WERNER
identificado.
Deficientes no reparo preferencial do DNA ativamente transcrito, defeito em uma das
proteínas que se associam à transcrição e ao reparo. Defeitos de danos de reparo induzidos
SÍNDROME DE COCKAYNE
por luz UV, sensibilidade à luz UV. Isso causa, também, nanismo e envelhecimento
prematuro (progeria).
Deficiência no reparo de ligações interfilamentares. A principal causa dessa anomalia não
ANEMIA DE FANCONI está bem estabelecida. Tem como características a baixa estatura, hiperpigmentação,
aplasia radial, nível reduzido de constituintes sanguíneos e leucemia.
É caracterizada pela perda do sistema de reparo de mau pareamento. Sistema imune
ATAXIA TELANGIECTASIA e nervoso: linfomas antes dos 20 anos. Em casos graves, ocorre o retardo mental
(Falta de coordenação dos progressivo e câncer de colorretal não polipose hereditário (autossômico dominante),
movimentos voluntários) e descoordenação muscular. Ocorrência se dá em 1 a cada grupo de 200 pessoas no
ocidente.
Fonte: Takasusuk, 2016.

Em humanos, existe alguns relatos de caso de síndrome de triploidia e, geralmente,


os bebês que têm maior sobrevivência são mosaicos de células com o número
normal de cromossomos e de células triploides. A triploidia corresponde a 20%
dos abortos espontâneos. O bebê, com três meses, abaixo, é um mosaico com
cariótipo feito de células da pele (46, XY/ 69, XXY); caracterizando síndrome
de triploidia. O cariótipo à direita corresponde a um triploide do sexo feminino
(TAKASUSUK, 2016).

Por fim, ainda, temos outros tipos, dentre muitos exemplos de doenças
relacionadas à questões genéticas, isto é, ligadas ao gene e/ou à hereditariedade.

» Ataxia telangiectasia.

» Anemia de Fanconi: mostrando aplasia radial.

» Síndrome de Bloom.

» Síndrome de Werner.

23
UNIDADE iv | ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA

Exemplos de doenças autossômicas hereditárias dominantes.

» Doença de Huntington.

» Retinoblastoma.

» Neurofibromatose ou Doença de Von Recklinghausen (tumores benignos no


sistema nervoso).

» Acondroplasia.

De acordo com Takasusuk (2016), a fibrose cística (Mucoviscocidose) é outro


exemplo, porém não mais dominante, mas recessiva, localizada no cromossomo
7: gene da proteína CFTR, que é o regulador de condutância transmembranar de
fibrose cística. Ele regula a passagem de sódio e de potássio pelas membranas
celulares. Os sintomas principais são: o acúmulo de secreções densas nos pulmões
e no trato digestivo; e o excesso de cloro no suor. Com isso, pode-se desenvolver
doenças hepáticas (cirrose biliar), diabetes, infecções pulmonares e infertilidade.
A doença de Tay-Sachs, por sua vez, localizada no cromossomo 15, é uma doença
nos lisossomos (hexosaminidase A), na qual ocorre o acúmulo de gangliosídios
(lipídios das células nervosas), o que degenera o sistema nervoso.

Exemplos de Herança ligada ao cromossomo X de caráter dominante são listados


abaixo.

» Dentina Marrom.

» Raquitismo hipofosfatêmico: raquitismo resistente a vitamina D. Túbulos


renais tem dificuldade em reabsorver o fosfato filtrado. Produto gênico
defeituoso é uma endopeptidase.

» Deficiência de ornitina-transcarbamilase: letal nos meninos, logo após,


o nascimento; alterações no ciclo de ureia. Os sintomas, observados em até
48 horas de vida, são letargia, sonolência acentuada, hipotonia, vômito e
instabilidade térmica.

» Síndrome de Rett: retardo mental acentuado; letal em meninos e impede a


reprodução em mulheres heterozigotas (TAKASUSUK, 2016).

Por fim, abaixo, são exemplos de herança mitocondrial, de acordo com Takasusuk
(2016).

» Atrofia óptica hereditária de Leber: perda visual (central) na segunda ou


terceira década de vida.

24
ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA | UNIDADE iv

» MELAS: Encefalopatia Mitocondrial; Acidose Lática e Acidente Vascular


Cerebral. Causa AVCs antes dos 40 anos, demência, enxaqueca e convulsões.

» MERRF: Epilepsia Mioclônica com Fibras Vermelhas Rotas. Causa epilepsia


mioclônica, ataxia (perda de coordenação dos movimentos musculares
voluntários), miopatia, neuropatia, demência).

» Oftalmoplegia externa progressiva: causa ptose, fraqueza dos músculos


extraoculares e membros.

» Miopatia com cardiomiopatia Hipertrófica: causa fraqueza muscular e


miopatia;

» Diabete com Surdez: causa diabetes melito II e surdez neurossensorial.

Bioética
É o fundamento da aplicação filosófica da teoria ética, às questões relacionadas à
saúde é a ética médica. Um exame das regras que definem a conduta adequada e
boa entre médico e paciente. No entanto, desde 1960, um novo campo da ética, a
bioética, está respondendo aos desafios contemporâneos, como:

» casos de abuso em pesquisas com seres humanos;

» paternalismo médico;

» ascensão dos movimentos do paciente como consumidor e dos direitos dos


pacientes;

» novas tecnologias de saúde destinadas a melhorar ou prolongar a vida, por


exemplo, fertilização in vitro ou diálise renal.

Dessa forma, bioética é entendida como o estudo dos princípios de comportamentos


certos e errados que orientam a pesquisa e as práticas médicas com humanos e
animais. É um campo interdisciplinar que se concentra, principalmente, nas
questões morais e éticas; as quais surgem da aplicação na vida cotidiana de
inovações biotecnológicas nas ciências da vida, na medicina, na genética, na
biologia, na demografia, na saúde reprodutiva e no meio ambiente.

Assim, a bioética pode ser subdividida nas seguintes áreas.

» Ética em pesquisa: é o estudo de problemas relacionados à conduta correta e


apropriada de pesquisa em saúde baseada em laboratório, clínica e campo.

25
UNIDADE iv | ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA

» Ética clínica: preocupa-se com os desafios do atendimento ao paciente.

» Ética em saúde pública: é o estudo dos valores e das normas que norteiam
a pesquisa, a ação e a política de promoção da saúde da população e a
prevenção de doenças.

Muitas universidades, agora, oferecem programas especializados de estudo de


ética, alguns levando aos graus avançados em bioética. A maioria dos governos
nacionais e organizações internacionais têm comissões formais para investigar as
implicações sociais e éticas das inovações em biotecnologia.

Os bioeticistas são empregados pelas universidades, pelos hospitais, pelas


empresas privadas de biotecnologia e pelos governos, mas a prática e os recursos
disponíveis, para a bioética, variam de país para país.

Biossegurança
A biossegurança excede o campo de competência da saúde pública. A biossegurança
fornece as políticas e as práticas para evitar a liberação não intencional ou acidental
de agentes biológicos e toxinas específicos; enquanto a segurança biológica
fornece as políticas e as práticas para evitar a liberação intencional ou negligente
de materiais biológicos ou a aquisição de conhecimento, de ferramentas ou de
técnicas; as quais poderiam ser usadas para causar danos.

[...] biossegurança pode ser entendida como uma série de ações,


procedimentos, técnicas, metodologias e dispositivos com o
objetivo de prevenir, minimizar ou eliminar riscos envolvidos na
pesquisa, na produção, no ensino, no desenvolvimento tecnológico
e na prestação de serviços, os quais podem comprometer a saúde
do ser humano, dos animais e do meio ambiente, bem como a
qualidade dos trabalhos desenvolvidos [...] é necessário um
“estado de biossegurança”, que ele define como a harmonia entre
o homem, os processos de trabalho, a instituição e a sociedade na
área da saúde. Nessa área, devido à transmissão microbiológica,
o acidente de trabalho tem um caráter grave, visto que pode
envolver não apenas o trabalhador, mas também os pacientes, os
visitantes e as instalações em que essas pessoas irão passar. Dessa
forma, a biossegurança tem um papel de extrema importância na
promoção da saúde, tendo em vista que envolve o controle de
infecções para a proteção dos trabalhadores, dos pacientes e do
meio ambiente, de forma a reduzir os riscos à saúde (FRANÇA,
2017, p. 112).

26
ANTROPOLOGIA, FILOSOFIA E BIOTECNOLOGIA | UNIDADE iv

Assim, por fim, o risco “[...] pode ser entendido como uma condição de natureza
biológica, química ou física que pode apresentar dano ao trabalhador, ao
paciente ou ao ambiente.”. Assim, na área de atendimento à saúde, “[...] os
agentes biológicos são os maiores fatores de risco ocupacional e constituem uma
parte importante das normas de biossegurança. Essas normas dizem respeito a
procedimentos de armazenamento, de esterilização e de proteção individual e
coletiva.” (FRANÇA, 2017, p. 113).

27
PARA (NÃO) FINALIZAR

Não pare no meio do caminho!


Ingenuidade é acreditar que um assunto se encontra esgotado sempre ao final de
algum livro, um material ou um estudo. Este é um meio de pesquisa para que seus
estudos continuem e prossigam sempre avançando.

E é, dessa maneira, para enriquecer os conhecimentos do aluno dedicado, que nos


esforçamos em oferecer o conteúdo de grande valia para o aprimoramento de seu
curso e de sua disciplina. Claramente, não é uma forma de esgotar o conteúdo,
uma vez que o conteúdo e os artigos, aqui citados, estão baseados em outros, os
quais, por sua vez, tomaram por consulta outros e, assim, sucessivamente.

Indicamos, portanto, a seguir, os conteúdos não tratados ou não necessariamente


aprofundados neste Material de Apoio, a fim de dar cadência aos seus estudos.

Sobre a Biologia das Populações Humanas, estude os seguintes tópicos.

» Reprodução.

› Órgãos reprodutores femininos e masculinos.

› Comportamento reprodutivo e cio.

› Comportamento sexual das populações humanas de transição.

» Família e reprodução social.

› Primatas: babuínos, gibões e chimpanzé.

› Populações humanas.

› O sistema ancestral.

› Nascimento nas sociedades humanas.

› Implicações para as populações humanas de transição.

» Desenvolvimento fetal.

› Dimensões cerebrais.

› Dimensões da bacia e implicações obstétricas.

» Nascimento e período post-partium.

28
Para (não) finalizar

» Aceleração do crescimento pubertário.

» Diformismo sexual.

» Desenvolvimento esquelético e dentário.

» Evolução do atraso da maturação do homem.

» Cultura e comunicação.

» Reprodução diferencial.

» Comportamento e repouso.

Sobre Antropologia e Saúde, estude o que se segue abaixo.

» Antropologia, saúde e envelhecimento. Disponível em: static.scielo.org/


scielobooks/d2frp/pdf/minayo-9788575413043.pdf.

» Antropologia da saúde: traçando identidade e explorando fronteiras. Disponível


em: static.scielo.org/scielobooks/by55h/pdf/alves-9788575414040.pdf.

» Construção da identidade da antropologia na área de saúde: o caso brasileiro.


Disponível em: books.scielo.org/id/by55h/03.

» Antropologia, saúde e doença: uma introdução ao conceito de cultura aplicado


às ciências da saúde. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rlae/v18n3/pt_23.pdf.

» Antropologia da saúde e da doença: contribuições para a construção de novas


práticas em saúde. Disponível em: pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=S2175-25912012000200003.

Sobre a Paleoantropologia, estude o que se segue abaixo.

» Sobre o comportamento de chimpanzés: o que antropólogos e primatólogos


podem ensinar sobre o assunto? Disponível em: www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832010000100012.

» Entre ossos e cientistas: um mergulho na pré-história americana. Disponível em:


www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702009000300016.

» A cor dos ossos: narrativas científicas e apropriações culturais sobre “Luzia”,


um crânio pré-histórico do Brasil. Disponível em: www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132009000200005.

29
Para (não) finalizar

Sobre a Eugenia, estude o que se segue abaixo.

» Eugenia: a higiene como estratégia de segregação. Disponível em: www.scielo.br/


scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601996000100015.

» Eugenia: a mente sob os desígnios da hereditariedade. Disponível em: pepsic.


bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352015000200014.

» Doping Genético e Eugenia: Diálogos além do esporte. Disponível em: www.


scielo.org.co/pdf/rlb/v16n2/v16n2a06.pdf.

» Arquivo de Antropologia Física do Museu Nacional: fontes para a história da


eugenia no Brasil. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&
pid=S0104-59702009000300012.

» Ciência e miscigenação racial no início do século XX. Disponível em: humanas.


blog.scielo.org/blog/2016/10/19/ciencia-e-miscigenacao-racial-no-inicio-do-
seculo-xx/.

Veja, também, os seguintes temas.

» Problema bioéticos atuais: abordo, anencefalia, infanticídio, eutanásia etc.

» Genética médica e eugenismo.

» A eugenia individual e livremente consentida.

» Conflitos de interesses: religiosos e laicos.

» Terapia gênica.

» Genética de populações.

Sobre Ergonomia, estude os seguintes tópicos.

» Modelo projetado, modelo do organizador e a imagem do sistema.

» O meio técnico, legislativo, organizacional e cultural.

Sobre Antropologia Biológica geral, estude os seguintes temas.

» Métodos osteológicos.

› Antropometria do crânio.

› Esqueleto pós-craniano: a pélvis.

› Novos métodos e técnicas em osteologia.

30
Para (não) finalizar

» Métodos biométricos.

› Amostras.

› Tipos de variáveis e escalas de medida.

› Distribuição e redução dos dados.

› Normalidade de distribuição dos caracteres antropométricos.

› Comparação de populações.

› Associação entre variáveis.

› Regressão linear e curvilinear.

› Análise de covariância.

› Análise multivariada.

» Avaliação da forma corporal: somatótipo.

› Antecedentes históricos.

› Somatótipo sheldoniano.

› Somatótipo antropométrico de Heath-Carter.

› Variabilidade do somatótipo durante o processo de crescimento.

› Hereditariedade do somatótipo.

› Somatótipo, atividade física e desporto.

» Diagnóstico da idade no momento da morte e determinação do sexo.

› Juvenis:

◦ estado de erupção dentária;

◦ estado das fusões ósseas;

◦ curvas de crescimento ósseo.

› Adulta:

◦ estados de obliteração das suturas cranianas;

◦ relevo da facie symphysialis do púbis;

◦ grau de desgaste dos dentes;

◦ métodos histológicos e radiográficos.

31
Para (não) finalizar

› Determinação do sexo:

◦ observar bacia, crânio e ossos longos.

» Antropologia forense.

› Osteologia forense:

◦ morfologia facial;

◦ reconstituição facial e sobreposição de imagens.

› Somatologia forense:

◦ dermatóglifos;

◦ obtenção das impressões e dos traços;

◦ fisionomia.

› Identificação do DNA:

◦ tipos de amostras biológicas;

◦ problemas com a amostragem.

» O microdesgaste dentário: regime alimentar das populações antigas através de


microestrias dentárias.

» Análise química e regimes alimentares.

› Elementos vestigiais e os isótpos.

» Paleopatologia humana.

› Bases anatomopatológicas das lesões ósseas às articulares.

› Bases metodológicas em paleopatologia: recolha dos dados e ação diagnóstica.

› Principais afeções deletadas em paleopatologia óssea e articular.

» Escala do tempo: cronologia relativa.

› Sequência climática.

› Sequências cronológicas continentais: curva polínica.

› Métodos de cronologia absoluta:

◦ dendrocronologia;

◦ método de potássio-árgon;

32
Para (não) finalizar

◦ método urânio-tório;

◦ método de vestígio de fissão;

◦ métodos de datação por luminescências;

◦ métodos de ressonância eletrônica de SPIN.

› Método de racemização e outros:

◦ racemização dos aminoácidos;

◦ hidratação da obsidiana e os perfis do flúor.

› Método do radiocarbono.

» Sobre a sistemática da ordem dos primatas.

› Classificação com uma visão tradicional (gradística): promssímios-símios.

› Classificação com uma visão cladística: estrepsirríneos e haplorríneos.

» Primatas atualmente vivos.

› Distribuição geográfica.

› Prossímios.

› Os símios: platirríneos (ou no Novo Mundo).

› Os macacos catarríneos.

» A evolução da bacia humana.

› O que é bipedia humana?

› O efeito do peso sobre a bacia.

› As especializações da bacia humana nas condições estáticas da bipedia.

› As especializações da bacia humana nas condições dinâmicas da bipedia.

› A aquisição da bipedia nos australopitecos.

› As especializações obstétricas próprias do homem e dos seus antepassados.

» Os fósseis humanos de Atapuerca e o modelo de evolução humana durante o


último milhão de anos.

› A linhagem europeia: os fósseis de Sima de lo Huesos.

› A descoberta de Gran Dolina e dos fósseis de TD-6.

33
Para (não) finalizar

› Homo antecessor, a nova espécie.

» Estudos da consanguinidade e seus efeitos.

› Cálculo dos coeficientes de consanguinidade.

› Frequências teóricas dos diferentes tipos de casamentos consanguíneos.

› Variação geográfica da consanguinidade.

› Isonimia.

› Efeitos da consanguinidade e do fardo genético.

» Sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários humanos.

› ABO e sistemas de grupos sanguíneos aparentados.

› Sistemas de grupos sanguíneos Rh.

» História útil das populações reais.

› Abordagem dinâmica e microanalítica.

» Pigmentação da pele humana: natureza, medicação, variabilidade e significado


biológico.

» Crescimento de desporto.

› Atividade física normal e deporto regular durante o crescimento.

› Modulação fisiológica do crescimento.

› Mudanças dos parâmetros fisiológicos: resposta metabólica.

› Efeitos do treino sobre as variáveis somatotipológicas.

› Mudanças na composição corporal induzias pelo desporto.

› Mudança de maturação.

» Envelhecimento.

› Indicação de mudança fenotípica ligados à idade e à metodologia adequada.

› Envelhecimento dos ossos e osteoporose.

› Envelhecimento cerebral.

› Mudanças não universais ligadas ao envelhecimento.

› Ecologia do envelhecimento.

34
Para (não) finalizar

» Antropologia clínica.

› As origens da antropologia clínica e a evolução histórica das suas definições.

› Diálogo entre antropologia, medicina e antropologia clínica.

› Os sistemas médicos e a etnomedicina.

› Antropologia da saúde e das doenças: perspectivas para novas realidades


multiétnicas e pluriculturais.

» Ecologia humana.

› Ecologia e ecossistema humano.

› O meio geográfico, biológico, cultural.

› Ciclos energéticos e funcionamento dos ecossistemas.

› Os processos de ajustamento individual ao meio durante o ciclo vital.

› A capacidade de ajustamento em função de fatores de idade e de fatores


sexuais (biológicos e culturais).

› As mudanças nos processos de ajustamentos biológico: indicadores de


mudança ambiental.

› Ecologia humana e saúde.

› O crescimento das populações como problema ecológico: mudanças dos


modos reprodutores e os mecanismos de transmissão diferencial dos genes.

35
REFERÊNCIAS

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