Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENG 07064
Material estudo
1.1 Definições
“Biochemical engineering is concerned with conducting biological processes on an industrial
scale, providing the links between biology and chemical engineering. (...) The heart of biochemical
engineering lies on the scale up and management of cellular processes.” Aiba, Humphrey, Millis
Biochemical Engineering (1973).
“Processing of biological materials and processing using biological agents such cells, enzymes or
antibodies are the central domain of biological engineering. Success in biochemical engineering requires
integrated knowledge of governing biological properties and principles and of chemical engineering
methodology and strategy. (...) Reaching this objective clearly requires years of careful study and practice.”
Bailey, Ollis Biochemical Engineering Fundamentals (1986).
técnica permite, por exemplo, o enxerto de genes humanos que determinam a produção de insulina em um
microrganismo, possibilitando a produção industrial de insulina humana, substituindo, com grande
vantagem, a insulina bovina ou suína empregadas no tratamento de diabéticos.
A técnica de hibridoma possibilitou a manipulação genética em nível das células vivas onde duas
ou mais células são fundidas para formar novos microrganismos. Na prática, células animais que
produzem anticorpos são incorporadas a outras malignas ou perniciosas resultando em uma nova que se
torna eficiente produtora de anticorpos.
A Tabela 1.1 mostra os principais marcos históricos no avanço científico e tecnológico da
Biotecnologia.
1.3.1 Enzimas
As enzimas são moléculas de proteínas que têm a função de catalisar reações. A principal fonte de
obtenção de enzimas são os microrganismos, embora muitas enzimas de aplicação industrial tenham sua
origem nos tecidos animal ou vegetal: renina, obtida do estômago de bezerros e papaína, obtida do mamão,
por exemplo.
Os principais tipos de enzimas comercializados atualmente são as proteases, as gluco- e -amilase
e a glicose-isomerase.
A Tabela 1.2 mostra os principais tipos de enzimas bem como o seus principais usos:
Enzima aplicação
Protease quebra de moléculas de proteína
Amilase e amiloglucosidase sacarificação do amido
Catalase eliminação da água oxigenada no processamento de alimentos
Glicose-isomerase produção de frutose
Invertase hidrólise da sacarose
Lactase desdobramento da lactose
Lipase desdobramento de óleos e gorduras
Celulase desdobramento da celulose
Glicose-oxidase remoção da glicose
1.3.3 Aminoácidos
Os aminoácidos constituem a unidade básica das proteínas. O ser humano necessita basicamente de
20 aminoácidos para as suas necessidades de metabolismo e desenvolvimento orgânico. Destes, oito não são
sintetizados pelo organismo necessitando, pois, serem ingeridos através de alimentos.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
5
1.3.4 Vitaminas
Tradicionalmente utilizadas como suplemento alimentar para o ser humano e animais, as vitaminas
são, em sua maioria, sintetizadas quimicamente. Entretanto, algumas delas como as do complexo B,
notadamente a B2, são produzidas por biossíntese microbiana. A síntese química da vitamina B12 é muito
complexa sendo que sua produção comercial só é viável por via fermentativa utilizando espécies de
Pseudomonas. A produção de riboflavina por fermentação compete eficazmente com os métodos de síntese e
semi-síntese, sendo que 30% da demanda mundial é produzida por fermentação.
1.3.5 Biopolímeros
Comercialmente entende-se por biopolímeros determinados polissacarídeos excretados por
microrganismos. Os principais biopolímeros encontrados no mercado são as gomas xantana e as dextranas.
As primeiras representam a maior parte do mercado, sendo aplicadas como aditivos em alimentos:
estabilizantes de suspensão líquidas e geleificantes.
Goma Xantana: biopolímero mais importante atualmente em função do volume de produção, utilizada como
gelificante ou estabilizante de suspensões. Produzido por fermentação utilizando a bactéria Xanthomonas
campestris.
Outras gomas:
Alginato: produzido pelo Azetobacter vinelandii;
Pululana: produzida pelo Aureobasidium pullulans;
Escleroglucana: produzida pelo Sclerotinum;
Gelana: produzido pela Pseudomonas elodea
Gomas em geral possuem elevados pesos moleculares e altas viscosidades causando problemas nos
processos de mistura, transferência de massa e calor em fermentadores. Estes aspectos devem ser levados em
conta na hora de escolher ou desenhar um equipamento de fermentação.
Polihidroxibutirato (PHB): poliéster termoplástico acumulado intracelularmente em alguns tipos de
bactérias (Bacillus subtilis, Pseudomonas oleovorans, Alcaligenes eutrophus, entre outras) até um nível de
80% da massa seca celular, sua produção permite a fabricação de plásticos biodegradáveis.
1.3.6 Solventes
Três são os principais solventes orgânicos produzidos por microrganismos: etanol, butanol e
acetona. Destes, o etanol se reveste de especial importância no contexto brasileiro pelo seu destaque no
segmento da economia.
1.3.9 Microrganismos
O primeiro processo industrial para a produção de microrganismos úteis ao homem constituiu-se
na produção de levedura para panificação. Hoje, além da panificação, são produzidos microrganismos para
serem utilizados como inóculos para produção de bebidas alcoólicas e iogurtes, e esporos para utilização
como bioinseticidas.
Além de inóculos, o uso de proteína unicelular - SCP (sigle cell protein) para a nutrição animal
tem-se mostrado atraente. Para ingestão humana, a SCP provoca problemas de digestibilidade devido a
grande quantidade de ácidos nucléicos componentes da SCP. Todavia, muitas indústrias têm construído
fábricas para a produção de proteínas unicelular nos últimos anos, principalmente na Europa, Estados
Unidos e Japão.
1.3.10 Antibióticos
Os antibióticos são empregados no combate a infecções causadas por microrganismos, notadamente
bactérias, tanto no organismo humano como no animal e vegetal. São usados também no controle de
contaminações em determinados processos fermentativos. Atualmente existem mais de 5.000 tipos
diferentes de antibióticos conhecidos, tendo sido a sua produção grandemente impactada pelo
melhoramento genético dos microrganismos utilizados. Dentre os produtos industrializados a maior
contribuição comercial provém das penicilinas e cefalosporinas.
1.3.13 Vacinas
As vacinas representam um importante instrumento no controle de doenças infecciosas. Muitas
doenças podem ser evitadas pela imunidade induzida como a poliomielite, a varíola e o sarampo. As vacinas
podem ser de origem viral, bacteriana, protozoária e mesozoária.
A Biotecnologia, através da técnica do DNA recombinante, tem ampliado esforços no
desenvolvimento de novos agentes imunizantes para influenza tipos A e B, herpes, póliomelite e hepatite A e
B. Vacina de origem bacteriana, para diversos tipos de meningite, tem sido produzida por meio de
fermentação, bem como o componente pertussis da vacina tríplice.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
7
Vacinas Fonte
Difteria Corynebacterium diphtheriae
Tétano Clostridium tetani
Coqueluche Bordetella pertussis
Poliomielite Vírus atenuados em células renais diplóides humanas ou de macacos
Rubéola Vírus atenuados em células renais de hamsters recém-nascidos
Hepatite B Anticorpo de superfície expressado em leveduras recombinantes
1.5 Tendências
As novas técnicas de engenharia genética estão promovendo uma reavaliação de quase todos os
processos industriais que empregam técnicas ou produtos biológicos.
A engenharia genética aplicada à Biotecnologia, além de substituir processos e produtos
tradicionais, apresenta grandes perspectivas de melhorar o bem estar da população por meio de melhores
soluções para problemas de saúde, alimentação, energia, materiais e meio ambiente.
A Tabela 1.4, a seguir, fornece uma indicação parcial da aplicação comercial da nova
Biotecnologia às necessidades da sociedade.
- remédios e vacinas mais eficazes com maior grau de pureza e a um custo menor
Saúde
- diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças genéticas
A Tabela 1.4 demonstra a amplitude e a profundidade de mudanças que deverão advir com o uso
da nova Biotecnologia. Na área da saúde, o desenvolvimento de produtos terapêuticos para o tratamento de
herpes, câncer, hepatite, artrite e outras doenças vislumbra soluções novas. Em outras aplicações da
Biotecnologia à saúde, essas técnicas novas permitem meios baratos e mais sensíveis para diagnosticar
gravidez, doenças venérias e outras condições que atualmente requerem testes de laboratório complexos e
caros. Adicionalmente, essas técnicas possibilitam a dosagem específica de produtos farmacêuticos para
determinados órgãos do corpo.
Na área de materiais, produtos de química fina para medicina e alimentação podem ser produzidos
por microrganismos novos, que tornam possíveis transformações complexas em uma única etapa.
A nova Biotecnologia é um instrumento poderoso, podendo substituir vasto número de processos
industriais atualmente empregados e criando, com isso, novas e melhores soluções para uma grande gama
de problemas.
O papel do engenheiro químico na engenharia de bioprocessos reside no:
- Desenho e operação de biorreatores, esterilizadores e equipamentos para recuperação de
produtos;
- Desenvolvimento de sistemas para automação e controle de processos;
- Projeto de indústrias de fermentação seguras e eficientes.
A Figura 1.2 mostra os passos no desenvolvimento de um novo bioprocesso.
Em muitos processos uma ou mais destas etapas são desnecessárias ou diferentes. Por exemplo, a
produção de etanol por Saccharomyces cerevisae no Brasil é feita sem a esterilização do meio e dos
equipamentos. Já a produção de SCP (single cell protein) dá-se pela ação de uma mistura de
microrganismos, sendo o preparo do inóculo diferente do mencionado acima e as próprias células são
produto desejado.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
11
A eficiência do processo fermentativo pode ser aumentada através de programas de pesquisa e
desenvolvimento atuando principalmente em três das etapas citadas acima: modificando o microrganismo
através de técnicas de mutação e de engenharia genética, e selecionando variações de células mais
produtivas, otimizando as condições do meio durante a reação e desenvolvendo estratégias de separação e
purificação do produto.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
12
2 Microbiologia
O sistema de classificação microbiano, assim como os demais seres vivos, não são estáticos, há uma
abundancia de propostas feitas ao longo dos anos. Tal variedade decorre basiamente do aprofundamento do
conhecimento a respeito da morfologia, fisiologia, bioquimica e genetica dos seres vivos. Robert Whittaker
(1920-1980), um botânico e ecologista norte-amerciano, propôs um modelo que indicava que os seres vivos
estariam classificados em cinco reinos: Plantae, Animalia, Protista (protozoários), Monera (bactérias), Fungi
(bolores e leveduras). Em sua classificação, os microrganismos ficam distribuidos em três reinos: Protista,
Monera, Fungi.
No entanto, com base em descobertas de biologia molecular, de que os seres dos diferentes reinos
evoluiram de forma independente e não a partir de bactérias, que até então eram considerados os seres mais
simples a partir dos quais os demais evoluiram, um novo modelo foi proposto por Carl Woese e seus
coaboradores, que sugeriram a existência de mais um grupo, o Archea, ou arqueobactérias, seres que sobrevivem
em ambientes extremos, como em elevadas temperaturas ou grande concentração de sal. Alguns anos mais tarde,
Woese e colaboradores propuseram um sistema não baseado em reinos, mas em domínios. Tais domínios seriam
apenas três: Bactéria, onde estariam os procariontes, Archaea, com as arqueobactérias, e Eukarya, com os
eucariontes.
A célula é uma unidade fundamental de toda a matéria viva. Uma célula simples é uma entidade
isolada de outras células por uma membrana celular e contem dentro dela uma variedade de estruturas químicas
e subcelulares. A membrana celular é a barreira que separa o interior do exterior da célula. Dentro da membrana
celular estão vários estruturas e químicos que fazem isto possível para a célula funcionar. Estas estruturas são o
núcleo ou nucleóide, onde a informação genética, DNA, necessária para fazer mais células é armazenada, e o
citoplasma, onde a maquinaria para o crescimento e funcionamento da célula esta presente.
Todas as células contem certos tipos de compostos químicos: proteínas, ácidos nucléicos, lipídios e
polissacarídeos. Coletivamente, estes são chamados de macromoléculas. É esta natureza química precisa e
organização de macromoléculas na célula de um organismo que os diferencia um dos outros.
As proteínas são polímeros originados de monômeros denominados aminoácidos. As proteínas são
encontradas por toda a célula, tanto com papel estutural como catalítico (enzimático). Os ácidos nuléicos
correspodem a polímeros de nucleotídeos, encontrados na célula sob duas formas, RNA e DNA. Após as
proteínas, o ácido ribonucléico (RNA) corresponde à molécula mais abudante de uma célula procariótica em
crescimento ativo, isso porque há milhares de ribossomos (“máquinas que geram novas proteínas”) em cada
célula, compostos por RNA e proteínas. O DNA, embora menos abundante, é crucial as funções celulares, pois
corresponde ao componente que armazena as informações necessárias a produção de novas células. Os lipídeos
possuem propriedades hidrofóbicas e desempenham papéis cruciais na estruturação da membrana e como
moléculas de armazenamento de carbono excedente. Os polissacarídeos são polímeros de açúcares, presentes
principalmente na parede cellular, no entanto, assim como os lipídeos, polissacarídeos como o glicogênio podem
corresponder a principal forma de armazenamento de carbono e energia na célula.
Dentro da célula, e contornado pela membrana citoplasmática, encontra-se uma mistura de
substâncias e estruturas chamadas de citoplasma. Estes materiais e estruturas, banhadas em água, realizam as
funções da célula. O maior componente do citoplasma, fora à água, inclui as macromoléculas, ribossomos,
moléculas orgânicas e vários íons inorgânicos. A célula ganha resistência estrutural da parede celular. A parede
celular é localizada fora da membrana e possui uma camada muito mais forte que a membrana da célula.
Células de plantas e a maior parte dos microrganismos têm parede celular. Células animais, entretanto, não têm
paredes, estas células desenvolveram outros meios de suporte e proteção. Dentro do estudo da estrutura interna
das células, dois tipos básicos têm sido estudados: procariótico e eucariótico. Os procariotos são representados
pelas bactérias e Archea enquanto eucariotos incluem algas, fungos e protozoa.
A Figura 2.5 mostra fotos de microscopia de diferentes tipos de bactérias. Algumas bactérias
possuem a capacidade de formar esporos. Os esporos se constituem em uma célula em tamanho menor, com
material nuclear e citoplasma condensado, baixo teor de água, maior quantidade de cálcio e presença do
ácido dipicolínico. Além da membrana citoplasmática, o esporo possui várias camadas de invólucro,
possuindo um revestimento bastante espesso e com considerável resistência à agentes externos, sobretudo
temperatura
A reprodução das bactérias se dá por divisão binária simples, gerando duas células filhas iguais.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
15
As bactérias podem ser divididas em dois grupos chamados Gram-positivos e Gram-negativos. Esta
divisão deve-se a composição de sua parede celular, característica que as diferencia. Na parede das células de
bactéria há uma camada rígida que é responsável pela resistência da parede chamada peptideoglicano ou
mureína. O peptideoglicano corresponde a um enorme polímero complexo que, em bactérias Gram positivas
pode formar até 20 camadas, enquanto em células Gram negativas está presente, formando apenas uma ou duas
camadas. Esta camada é composta por dois derivados de açúcar: N-acetilglucosamina (NAG) e ácido N-
acetilmurâmico (NAM), unidos alternadamente através de ligações do tipo ß-1,4.
Bactérias gram-positivas (Figura 2.6) geralmente contem polissacarídeos acídicos chamados ácidos
teicóicos anexados a parede celular. Ácidos teicóicos são negativamente carregados e são parcialmente
responsáveis pela carga negativa da superfície da célula. Devido a sua carga negativa (grupos fosfato), os ácidos
teicóicos podem ligar-se e regular o movimento de cátions para dentro e fora da célula.
A membrana externa é um componente da parede celular, presente apenas nas bactérias Gram negativas.
A membrana externa corresponde a uma segunda bicamada lipídica (semelhante à membrana plasmática),
localizada acima do peptideoglicano, contendo fosfolipídeos, lipoproteínas, proteínas e também
lipopolissacarídeos. A face externa da membrana externa é rica em lipopolissacarídeos (LPS), inexistente na
membrana citoplasmática. A figura 2.7 mostra a parede celular de organismos Gram negativos, onde a parede
de peptideoglicano é bem menor, quando comparada com a parede de Gram-positivas.
2.2.2 Fungos
São organismos eucarióticos, heterotróficos. Podem ser divididos em leveduras (unicelulares) e
bolores ou mofos.
As leveduras possuem forma esférica, elíptica ou filamentosa, com 1 a 5 m de diâmetro a 5-30
m de comprimento. Bolores são constituídos por células multinucleadas que formas tubos denominados
hifas. Um conjunto de hifas é denominado de micélio.
A célula fúngica possui parede celular, membrana citoplasmática, e membrana nuclear, dentro da
qual existem diversos cromossomos, nucléolo e histonas. O citoplasma possui vacúolos, mitocôndrias,
retículo endoplasmático, ribossomos e material de reserva. A Figura 2.9 apresenta o desenho esquemático de
uma célula eucariótica animal.
A reprodução das leveduras pode ser assexuada, por brotamento ou divisão celular, ou sexuada, via
formação de esporos.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
17
2.3.2.2 Água
Representa 75% de peso celular. É essencial para a absorção dos nutrientes e a remoção de
produtos indesejáveis.
2.3.2.3 Oxigênio
O oxigênio é o receptor final de elétrons na respiração celular. Também altera o potencial de
oxidação-redução das células. Muitos sistemas enzimáticos de células requerem condições extremamente
reduzidas, isto é, um baixo potencial de oxidação-redução, para funcionar. Outros requerem condições
oxidadas, um potencial de oxidação-redução elevado.
Os microrganismos podem ser classificados quanto ao requerimento de oxigênio em:
i) aeróbios - necessitam do oxigênio para a sua sobrevivência. O oxigênio participa do
metabolismo desses microrganismos como receptor final de elétrons. Bacillus, Pseudomonas e Streptomyces
pertencem a esta classe.
ii) anaeróbios - não sobrevivem na presença de oxigênio, que é tóxico para esta classe de
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
19
microrganismos. As espécie do gênero Clostridium incluem-se nesta classe.
iii) anaeróbios facultativos - sobrevivem na ausência ou na presença de oxigênio. Tais organismos
podem ser subdivididos em dois grupos, dependendo se o oxigênio é ativamente metabolizado ou é
meramente tolerado. As bactérias acéticas (Streptococcus, Leuconostoc e Lactobacillus) pertencem ao grupo
que obtém energia exclusivamente de fermentação, embora não sejam prejudicadas pelo oxigênio. Por outro
lado, bactérias coliformes, tal como Escherichia coli, podem obter energia de fermentação ou respiração. O
desenvolvimento ótimo destes microrganismos geralmente acontece em uma das duas condições.
Zymomonas mobilis, p o r e x e m p l o , se desenvolve na presença de oxigênio, porém não o utiliza
no seu metabolismo e a taxa de crescimento é inferior que na sua ausência.
iv) microaerófilos - precisam de oxigênio para sobreviver, mas a concentrações muito baixas.
v) aerotolerantes - são bactérias anaeróbias que crescem em pressões de oxigênio inferiores a da
atmosfera terrestre.
2.4.1 Temperatura
A temperatura ideal para o crescimento do organismo varia de espécie para espécie. Os
microrganismos podem ser classificados de acordo com a temperatura em que o seu crescimento é pleno em
(Figura 2.10):
i) Psicrófilos- se desenvolvem em temperaturas baixas entre -4°C e 15°C. Estes microrganismos,
por sua vez, apresentam taxas metabólicas bastante reduzidas.
ii) Mesófilos - se desenvolvem em temperaturas médias entre 20°C e 40°C
iii) Termófilos - se desenvolvem em temperaturas entre 45°C e 100°C. A principal vantagem
destes microrganismos sobre os outros que crescem em temperaturas inferiores é o metabolismo mais rápido.
Figura 2.10: Classificação dos microrganismos quanto à sua temperatura ótima de crescimento.
Os microrganismos que possam ter interesse industrial podem ser obtidos basicamente das seguintes formas:
- Isolamento a partir de recursos naturais
- Compra de coleções de cultura
- Obtenção de mutantes naturais
- Obtenção de mutantes induzidos por métodos convencionais
- Obtenção de microrganismos recombinantes por técnicas de biologia molecular.
Figura 2.12: Papel do ATP no acoplamento das reações anabólicas e catabólicas. Nas reações catabólicas uma
parte da energia é transferida e estocada no ATP e o restante é liberado na forma de calor. Nas reações anabólicas, o ATP
fornece a energia para a síntese de novas moléculas e outra parte da energia é liberada na forma de calor.
Independentemente da forma como um microrganismo vive ele deve ser capaz de obter energia para
armazená-la na forma de ATP. A fonte dessa energia pode ser de compostos químicos orgânicos, inorgânicos ou
a parti r da luz (Tabela 2.1).
Tabela 2.1: Classificação dos microrganismos quanto à fonte de carbono e energia exigidos.
Tipo Fonte de energia Fonte de Organismos
carbono
Fotoautotrófico Luz CO2 Plantas superiors, algas,
bactérias fotossintéticas
Fotoheterotrófico Luz Compostos Bactérias fotossintéticas
orgânicos
Quimiolitotrófico Oxidação de compostos CO2 Bactérias
químicos inorgânicos
Quimiorganotrófico Oxidação de compostos Compostos Bactérias, fungos,
químicos orgânicos orgânicos protozoários e animais
2.7.2: Glicólise
Geralmente, a glicólise é a primeira etapa no catabolismo dos carboidratos, sendo essa via utilizada
pela maioria dos microrganismos. A glicólise é também chamada de via de Embden−Meyerhof−Parnas (EMP) e
é uma via que acontece em uma sequência de reações enzimáticas. Cada molécula de glicose é oxidada em duas
moléculas de piruvato, contendo cada uma 3 átomos de carbono e a energia liberada é conservada na forma de
duas moléculas de ATP, pela fosforilação ao nível do substrato, e na forma de NADH (redução do NAD+). A
glicólise pode ser dividida em dois estágios, um primário e outro secundário. No estágio primário (ou etapa
preparatória) a glicose é fosforilada por dois ATP e convertida em duas moléculas de gliceraldeído−3−fosfato.
No segundo estágio (ou etapa de conservação de energia) as duas moléculas de gliceraldeído−3−fosfato são
oxidadas por duas moléculas de NAD+ e fosforiladas em reação que emprega o fosfato inorgânico, formando
quatro ATP, até formar duas moléculas de ácido pirúvico. A equação geral da glicólise é:
A glicólise pode ocorrer tanto na presença quando na ausência de O2. Em condições de baixo
suprimento de oxigênio (hipóxia) ou em células sem mitocôndrias, o produto final da glicólise é o lactato e não
o piruvato, em um processo denominado glicólise anaeróbica:
Um esquema geral da glicólise pode ser visto na Figura 2.13. Muitas bactérias possuem vias
alternativas à glicólise para oxidar a glicose. As mais comuns são: via da pentose fosfato e a via Entner-
Doudoroff.
A Via Pentose Fosfato: Essa via também chamada de desvio hexose−monofosfato ou via oxidativa do
fosfogliconato acontece simultaneamente à glicólise; não requer e não produz ATP; e é realizada em condições
anaeróbias. Seus principais produtos são o NADPH (nicotinamida adenina dinucleotído fosfato reduzido), que é
um agente redutor empregado para os processos anabólicos, e a Ribose−5−fosfato, componente estrutural de
nucleotídeos e de ácidos nucléicos. Característica importante dessa via é a produção de importantes pentoses
intermediárias utilizada na síntese de ácidos nucléicos; glicose a partir de dióxido de carbono na fotossíntese; e
certos aminoácidos. As bactérias que utilizam a via pentose fosfato incluem: Bacillus subtilis, E. coli,
Leuconostoc mesenteroides e Enterococcus faecales.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
24
A Via Entner-doudoroff: Essa via utiliza enzimas diferentes daquelas presentes na glicólise, podendo as
bactérias que as possuem metabolizar glicose sem a glicólise ou a via pentose fosfato. O piruvato é formado
diretamente na via Entner-doudoroff. Portanto, assim como as bactérias lácticas, os organismos que utilizam a
via Entner-doudoroff utilizam uma variante da via glicolítica. Essa via gera apenas metade do ATP gerado pela
via glicolítica. A via Entner-doudoroff é exclusiva de algumas baterias gram-negativas, como Rhizobium,
Pseudomonas e Agrobacteruim.
As reações químicas no ciclo de Krebs ocorrem em muitas categorias gerais, como a descarboxilação
do ácido isocítrico (6C) a ácido α-cetoglutárico (5C). Outra categoria geral de reação química é a oxidação-
redução, como a oxidação do ácido isocítrico, do ácido α-cetoglutárico, do ácido succínico e do ácido málico.
Ou seja, átomos de hidrogênio são liberados no ciclo de Krebs e capturados pelas coenzimas NAD + e FAD. Na
cadeia transportadora de elétrons há uma gradual liberação da energia armazenada no NADH e no FADH2, que
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
25
será utilizada na geração quimiosmótica de ATP. Nessa cadeia as moléculas transportadoras podem ser de três
classes: flavoproteínas (uma importante coenzima flavina é a flavina mononucleotídeo – FMN), citocromos
(proteína contendo um grupo ferro) e ubiquinonas ou coenzima Q (transportadoras não-protéicas). Essa etapa da
respiração aeróbia é conduzida nos organismos eucariotos nas mitocôndrias e nos procariotos ocorre na
membrana celular. O primeiro passo na cadeia transportadora de elétrons é a transferência dos elétrons do
NADH ao FMN, sendo este reduzido a FMNH2.
Os dois H+ do FMNH2 atravessam para o outro lado da membrana por transporte ativo
(bombeamento) e dois elétrons são transferidos para a coenzima Q. O segundo passo é a transferência dos
elétrons da coenzima Q aos citocromos, sucessivamente nesta ordem: citb, citc1, citc, cita e cita3. O último
citocromo transfere elétrons para o O2, que, ao se tornar negativo, absorve prótons (H+) do meio intracelular para
formar H2O (Figura 2.15).
Figura 3.1: Configurações de biorreatores (a) STR; (b) coluna de bolhas; (c) air-lift; (d) recirculação de
meio com leito fluidizado.
4 Cultivo Descontínuo
Os cultivos descontínuos clássicos vêm sendo utilizados pelo homem desde a Antigüidade e, ainda
hoje são os mais utilizados para a obtenção de diversos produtos. São também conhecidos como
fermentações descontínuas, fermentações por batelada ou processo descontínuo de fermentação.
Forma de operação:
No primeiro instante, o meio de cultura esterilizado é adicionado ao biorreator. Após é adicionada
o inóculo e inicia-se o cultivo. Ao longo do cultivo podem ser adicionados ar, no caso de cultivos aeróbios,
solução ácida e/ou alcalina, quando se deseja manter o pH constante, e antiespumante. Terminado o tempo
de cultivo, esvazia-se o biorreator e o meio fermentado segue para a etapa de extração e purificação dos
produtos. O biorreator é então lavado, esterilizado e recarregado novamente com meio de cultivo.
4.1 Inóculo
Denomina-se de inóculo, pé-de-cuba ou pé-de-fermentação um volume de suspensão de
microrganismo de concentração adequada capaz de garantir, em condições econômicas, o cultivo de um
dado volume de meio de cultura.
O armazenamento dos microrganismos possui o objetivo de conservar a cepa viável e com
capacidade produtiva, portanto, como o mínimo possível de divisões celulares, evitando desta forma o
aparecimento de mutações. O principais métodos de armazenamento das cepas são em ágar inclinado ou
secas. A manutenção da cepa é tão importante que algumas empresas possuem centros especializados para
manutenção e distribuição das cepas.
O volume de inóculo introduzido em um fermentador normalmente é em torno de 10% de sua
capacidade útil, podendo variar, no entanto entre 0,5% e 50% de sua capacidade conforme o processo.
A Figura 4.1 apresenta as diversas fases de preparação do inóculo.
Nos processos industriais, as bateladas podem ser classificadas conforme seu inóculo em três tipos:
- Cada biorreator recebe um inóculo;
- Processo com recirculação de microrganismos;
- Processo por meio de cortes.
- A disponibilidade e o armazenamento;
- Dificuldade de esterilização;
- A fermentescibilidade;
- O comportamento do meio durante e após o cultivo (ex: formação de espuma);
Exemplos de substratos disponíveis para utilização como meio de cultura industrial: açúcares,
melaços, soro de queijo, celulose, amido, e resíduos como água de maceração de milho, metanol, etanol,
alcanos, óleos e gorduras, etc.
Figura 4.1: Representação esquemática do preparo do inóculo (Fonte: Schmidell et al., 2001)
Fase lag ou de “latência”: durante a fase lag, a taxa de crescimento é nula (X = X0 = cte), pois as
células estão se adaptando ao novo meio de cultura, sintetizando novas enzimas ou componentes estruturais.
A duração da fase lag varia com a concentração do inóculo, com a idade do microrganismo e com seu estado
fisiológico. Conforme a composição e a duração do pré-inóculo é possível que a fase lag nem exista.
Fase de aceleração: é a fase de transição em que se observa o início da reprodução microbiana.
Ocorre um aumento gradual na velocidade de reprodução e, conseqüentemente, na velocidade específica de
crescimento.
Fase exponencial de crescimento: a velocidade específica de crescimento é constante e máxima (
= máx). Desta forma, pode-se concluir, através da equação (4.1), que a velocidade de crescimento é
diretamente proporcional à concentração celular X:
dX máx X
dt
(4.1)
máx S
(4.2)
K S S
onde máx representa a velocidade específica máxima de crescimento do microrganismo e KS é a constante de
saturação. Na equação (4.2), fazendo-se S = KS, tem-se que = ½máx , ou seja, KS é a concentração de
substrato quando é a metade de máx. A equação (4.2) está representada na Figura 4.3 para dois valores
diferentes de KS. Quanto menor for o valor de KS, maior será a duração da fase exponencial de crescimento.
A Tabela 4.1 apresenta valores de KS para diversos microrganismos.
0,16
0,14
0,12
0,10
A
(h )
-1
0,08
0,06
0,04
0,02
0,00
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
S (mg/L)
Figura 4.3: Curvas da equação de Monod para valores hipotéticos de máx = 0,14h-1 e KS = 0,60mg.L-1
(Curva A) e KS = 0,030mg.L-1 (Curva B).
A equação de Monod não leva em conta o efeito inibidor tanto do substrato como do produto
formado, contudo não é o único modelo que tenta explicar a relação entre o substrato limitante e a
velocidade de crescimento microbiano nesta condição de cultivo. Outras equações foram propostas e
merecem ser citadas:
Equação de Teissier:
SK
máx e S
1
(4.3)
Equação de Moser:
Sn
máx (4.4)
K S S n
Equação de Contois e Fujimoto:
S
máx (4.5)
K S X S
Equação de Powell
S
máx (4.6)
K S K D S
A ausência de inibição é, na verdade, uma situação pouco comum na prática, principalmente em
cultivos descontínuos, onde há um crescente acúmulo de metabólitos que acabam interferindo
desfavoravelmente sobre o metabolismo e crescimento microbianos.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
32
O efeito da inibição pelo substrato ocorre quando um alto valor inicial de S, ao invés de aproximar
de máx, provoca o efeito contrário, conforme mostrado na Figura 4.4:
0,14
B
A
(h )
-1
0,00
KS K I,S
S (mg/L)
Figura 4.4: Cinética de inibição pelo substrato (Curva A) e sem inibição (Curva B), conforme a equação de
Monod para máx = 0,14 h-1.
Com o objetivo de explicar esta redução na velocidade específica de crescimento, foi proposta uma
modificação na equação de Monod:
K I ,S
máx S
(4.7)
K S S K I ,S S
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
33
Nesta nova expressão, KS continua sendo a constante de saturação da equação de Monod, e KI,S é a constante
de inibição pelo substrato, que se refere a um valor de S para qual X = ½máx , porém para um valor de S de
cause inibição, sendo assim superior ao valor de S da equação de Monod. Se KI,S é muito maior que S, a
última parte da equação 4.7 fica igual à unidade e não há inibição pelo substrato.
Quando ocorre inibição pelo produto, uma equação semelhante foi proposta:
K I ,P
máx S
(4.8)
K S S K I ,P P
onde KI,P é a constante de inibição pelo produto, com significado semelhante à KI,S da equação 3.20.
Tabela 4.2: Exemplos de produtos conforme sua associação com o metabolismo energético.
Tabela 4.3: Coeficiente de manutenção de diversos microrganismos em glicose como fonte de carbono.
Microrganismo Condição de cultivo mS (kg glicose) (kg células)-1 (s)-1
Saccharomyces cerevisiae anaeróbia 0.036
anaeróbia, 1,0M NaCl 0,360
Azotobacter vinelandii fixação de nitrogênio, tensão de O2 dissolvido: 0,2 atm 1,5
fixação de nitrogênio, tensão de O2 dissolvido: 0,02 atm 0,15
Klebsiella aerogenes anaeróbica, limitação de triptofano, 2g.L-1 NH4Cl 2,88
anaeróbica, limitação de triptofano, 4g.L-1 NH4Cl 3,69
Lactobacillus casei 0,135
Aerobacter clocae anaeróbia, limitação de glicose 0,094
Penicilium crysogenum aeróbia 0,022
Fonte: Doran, 1997
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
35
5 Cultivo Contínuo
O cultivo contínuo caracteriza-se por possuir uma vazão de alimentação contínua e constante de
meio de cultura dentro do biorreator, sendo que o volume de meio de cultura é mantido constante dentro do
biorreator através da retirada contínua de meio cultivado. Nesta operação o biorreator atinge a condição de
estado-estacionário ou regime permanente, no qual as variáveis de processo permanecem constantes ao
longo do tempo.
Vantagens do processo contínuo em relação ao descontínuo:
- aumento da produtividade do processo devido da redução dos tempos mortos e não
produtivos;
- o meio de saída do biorreator é uniforme, facilitando os processos de extração e
recuperação de produto;
- manutenção das células num mesmo estado fisiológico;
- possibilidade de associação com outras operações contínuas da linha de produção;
- menor necessidade de mão-de-obra.
Desvantagens do processo contínuo:
- maior investimento inicial na planta;
- possibilidade de ocorrência de mutações genéticas espontâneas;
- maior possibilidade de ocorrência de contaminações;
- dificuldade de operação do estado estacionário.
20 12
18
16 10
X
14
S 8
Qx (g/(L.h)
X, S (g/L)
12
10 6
8
4
6
4 2
2
0 0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
diluição (1/h)
Figura 5.1: Variação da concentração celular (X) e da concentração de substrato (S) na corrente de saída, e
da produtividade celular (QX) com a taxa de diluição em um cultivo contínuo, com máx = 0,8h-1, S0 = 40g/L,
YX/S = 0,45 e KS = 1g/L.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
36
Figura 5.2: Processo contínuo com um único biorreator e com reciclo de células. F: vazão de alimentação e
de meio transformado; S: concentração de substrato; X: concentração de células e P: concentração de produto (o
índice “o” refere-se à condição inicial; o índice “1” às concentrações na corrente que sai do biorreator e o índice
“2” às concentrações que saem do separador). a: razão de reciclo e Cf: fator de concentração de células. Note que
no separador as concentrações de substrato e produto são as mesmas que saem do biorreator, admitindo-se que não
haja transformação na seção de separação de células.
Figura 5.3: Processo contínuo com biorreatores em serie sem alimentação adicional. Os índices de S; X e P
referem-se aos valores correspondentes à ordem do biorreator da série.
Figura 5.4: Processo contínuo com biorreatores em serie com alimentação adicional. Os índices de F0; S; X
e P referem-se aos valores correspondentes à ordem do biorreator da série.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
37
6 Cultivo Semi-contínuo
O cultivo recebe a denominação de semi-contínuo quando, uma vez colocados no biorreator o meio
de cultura e o inóculo, as operações que se seguem obedecem à seguinte ordem:
1. aguarda-se o término do cultivo
2. retira-se parte do meio cultivado, mantendo-se no reator o restante do meio cultivado
3. adiciona-se no reator um volume de meio de cultivo igual ao volume retirado na operação
anterior (2).
Este processo é chamado semi-contínuo porque são intermitentes tanto o fluxo de entrada de meio
no reator quanto o de saída de material cultivado.
O antigo processo de fabricação de vinagres à partir do vinho é um exemplo típico de processo
semi-contínuo.
Vantagens do processo semi-contínuo
a) possibilidade de operar o biorreator por longos períodos sem que seja necessário preparar um
novo inóculo;
b) possibilidade de aumentar a produtividade do biorreator apenas modificando-se o cronograma
de trabalho;
c) possibilidade de, uma vez conhecidas as condições ótimas de operação, conseguir
produtividade significativamente maior que a obtida em processos descontínuos.
O cultivo em regime batelada alimentada é definido como a técnica em que um ou mais nutrientes
são adicionados ao biorreator durante o cultivo com vazão de alimentação controlada, e os produtos
permanecem no biorreator até o final do cultivo. A vazão de alimentação pode ser constante ou pode variar
com o tempo. Pode ser ainda contínua ou intermitente.
No cultivo em batelada-alimentada, a concentração de um dado substrato pode ser controlada
dentro do biorreator de modo que, por exemplo, o metabolismo microbiano seja deslocado para uma
determinada via metabólica, levando ao acúmulo de um produto específico.
Vantagens do cultivo em baleada-alimentada:
a) minimização da repressão catabólica de enzimas do metabolismo de fontes de carbono
complexas pela glicose e outras fontes de carbono rapidamente metabolizáveis;
b) minimização da repressão catabólica pela glicose sobre a produção de metabólitos secundários
como alcalóides de ergot, cefalosporina C, indolmicina, bacitracina, estreptomicina,
neomicina, novobiocina, penicilina, etc.;
c) inibição da produção de proteases quando o produto é um proteína recombinante extracelular;
d) prevenção da inibição por substratos como etanol, metanol, ácido acético e compostos
aromáticos;
e) minimização da formação de produtos tóxicos do metabolismos celular, como etanol para
leveduras, ácido acético para Escherichia coli e lactato e amônia no cultivo de células animais;
f) minimização de problemas como contaminação, mutação e instabilidade de plasmídeo;
g) adequação do bioprocesso às condições operacionais:
i. formação de espuma
ii. nutriente instável
iii. processos aeróbios de longo período (1 a 2 semanas).
h) estudo da cinética de processos fermentativos.
Os cultivos em batelada alimentada permitem que se trabalhe com cultivos em duas fases, uma de
crescimento e outra de produção de produto e ainda que se obtenham cultivos com grandes concentrações de
células, até 100g/L.
O cultivo em batelada-alimentada repetitiva é aquele em que uma fração constante do volume
da cultura é removida em intervalos de tempos fixos, podendo ser mantido indefinidamente.
O cultivo em batelada-alimentada estendida é aquele em que a concentração do substrato
limitante é mantida constante no meio de fermentação através do suprimento contínuo deste nutriente.
O cultivo em batelada-alimentada ainda pode ser dividido em dois tipos baseado no fato de a
vazão de alimentação ser ou não baseada em um sistema de retro-alimentação. No modo de operação com
sistema retro-alimentado, a vazão de alimentação pode ser controlada através da concentração de substrato
no meio de alimentação (sistema direto) ou em função de outros parâmetros (controle indireto) como
densidade ótica, pH, coeficiente de respiração, concentração de etanol e outros. No modo de operação não
retro-alimentado a vazão de alimentação pode ser intermitente ou contínua, seguindo um padrão pré-
estabelecido.
As alimentações com controle feedback são mais sofisticadas. O controle indireto se baseia em medidas
de parâmetros físicos do cultivo, como oxigênio dissolvido (OD), pH e velocidade de formação de CO 2 para
alterar a vazão de alimentação. O método OD-stat é baseado no fato de que o oxigênio dissolvido no meio
rapidamente aumenta quando há escassez de substrato. A alimentação é adicionada quando o oxigênio
dissolvido ultrapassa um valor pré-determinado. Já o método pH-stat se baseia na observação de que o pH se
eleva quando acaba a fonte de carbono. Quando a fonte de carbono é escassa, o pH se eleva principalmente
como resultado do aumento da concentração de íons amônio excretados pela célula. O sistema adiciona
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
39
alimentação quando o pH passa de um determinado valor. A elevação de pH no meio é mais sutil do que a
variação do oxigênio dissolvido. O sucesso dessas metodologias de alimentação está bastante atrelado à
capacidade de controle do equipamento. Um controlador desajustado, nessas metodologias, pode alimentar em
excesso no início do cultivo provocando inibição do crescimento por excesso de glicose, por exemplo, ou pode
alimentar em escassez e, dessa forma, limitar o cultivo.
Durante o crescimento celular, CO2 é produzido proporcionalmente ao consumo da fonte de carbono.
Monitorando a saída de gases do equipamento com o auxílio de um espectrômetro de massas, é possível, então,
controlar a alimentação. A alimentação necessária também pode ser determinada através da medida da
concentração de células presente no cultivo através de um turbidímetro a laser.
Controle em feedback direto também pode ser utilizado. Utilizando analisador de glicose online, é
possível saber o quanto de glicose está presente no meio de cultivo em um determinado instante. Selecionando o
intervalo em que se deseja trabalhar, o equipamento é capaz de controlar o quanto de glicose será adicionado ao
cultivo.
O uso combinado de mais de uma técnica também é possível. Esse é o caso de Kim e colaboradores
(2004), que utilizaram alimentação exponencial combinada com pH-stat para controlar a velocidade de
crescimento a 0,1 h-1. Utilizando essa estratégia, obtiveram 101 g/L de Escherichia coli. Um resumo das
metodologias de alimentação comentadas é apresentado no quadro1.
Quadro 1 - Metodologias de Alimentação nos Cultivos em Batelada-Alimentação. Fonte: Modificado
de Lee (1996).
Metodologias de Alimentação nos Cultivos em Batelada-Alimentada
Sem controle feedback
Vazão constante
Vazão elevada continuamente
Alimentação exponencial
Com controle feedback
Indireto
• OD-stat
• pH-stat
• Medida de CO2
• Concentração celular
Direto
• Controle da concentração de substrato
Figura 7.2: Cultivo batelada-alimentada com alimentação exponencial combinada com pH-stat de
Escherichia coli K12 com velocidade específica de crescimento controladas em 0,1 h-1 (esquerda) e 0,3 h-1
(direita) (Fonte: Kim et al., 2004)
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
41
Polissacarídeo (1 a 4%) +
células
Partículas contendo
células imobilizadas
diâmetro de 0,5 a 5 mm
250 mg de células / g Solução de KCl ou CaCl2
matriz 0,05 a 0,5M
Agitador magnético
Figura 8.2: Imobilização de células por envolvimento em gel hidrofílico induzida por Ca++ e K+.
Os cultivos com células imobilizadas possuem diversas vantagens sobre os cultivos com células
livres:
atividade e estabilidade prolongada do biocatalisador, pois o suporte de imobilização pode atuar como
uma barreira protetora aos efeitos físico-químicos do pH, temperatura, solvente ou metais pesados;
maior densidade de células por unidade de volume do biorreator, levando a uma maior produtividade
volumétrica, menor tempo de cultivo, eliminação de fases de crescimento celular não produtivas;
maior consumo de substrato e aumento do rendimento;
possibilidade de processamento contínuo;
aumento da tolerância a altas concentrações de substrato e menor inibição pelo produto final;
maior facilidade na recuperação do produto, diminuindo a necessidade de filtração e separação,
diminuindo assim os custo de equipamento e mão-de-obra e o consumo de energia;
regeneração e reutilização do biocatalizador em cultivos batelada, sem removê-los do biorreator,
levando a cultivos semi-contínuos;
redução do risco de contaminação microbiana devido à alta concentração celular;
possibilidade do uso de biorreatores menores, com processos mais simplificados, reduzindo o custo.
5000
atividade lipolítica (U/L)
4000
3000
2000
1000
0
72 96 120
tempo (h)
cél livres alginato de sódio k-carragena poliacrilamida
Figura 8.3: Produção de lipase com células imobilizadas e células livres (Fonte: Ellaiah et al., 2004).
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
45
5,0
produtividade (g EtOH / (L.h))
10
4,0 (a) (b)
8
3,0 6
2,0 4
1,0 2
0,0 0
1 2 3 4 5 6 7 0 5 10 15 20 25 30
batelada vazão de alimentação (mL/h)
Figura 8.6: Biomassa e atividade de bacteriocina em um biorreator contínuo com células livres (Fonte:
Bhugaloo-Vial et al., 1997).
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
46
Figura 8.7: Produtividade de bacteriocina com a taxa de diluição (a) em um biorreator contínuo com células
livres e (b) em biorreator contínuo PBR com células imobilizadas em alginato de sódio (Fonte: Bhugaloo-
Vial et al., 1997).
Figura 8.8: Produção de etanol, evolução de CO2 e consumo de glicose por células de S. cerevisiae
imobilizadas (símbolo cheio) e livres (símbolo aberto) (Fonte: Wendhausen et al., 2001).
Figura 8.9: Produtividade (símbolo cheio) e concentração de etanol (símbolo aberto) em células de S.
cerevisiae imobilizadas em função da taxa de diluição e em função do tempo em um biorreator de leito
empacotado alimentado com 33% de caldo de cana (180 g/L de sacarose) a 30oC (Fonte: Wendhausen et al.,
2001).
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
47
Figura 9.1: Configurações de MBRs: (a) membrana submersa, (b) circulação externa (Fonte: Melin et al.,
2006).
A primeira geração de MBRs foram os sistemas de circulação externa, onde o módulo de filtração
(membranas) é localizado fora do biorreator. A solução efluente é bombeada em alta velocidade
paralelamente às membranas, e a solução concentrada retorna ao tanque de lodo ativado. Os MBRs
desenvolvidos recentemente possuem a configuração de membrana submersa, onde o módulo de filtração é
colocado dentro do tanque de aeração contendo o efluente e o lodo ativado. A característica desta
configuração é o baixo fluxo através da membrana reduzindo as obstruções (fouling) tanto quanto possível e
operando a baixa pressão transmembrana.
Os MBRs com circulação externa normalmente utilizam módulos tubulares de membranas,
enquanto que os de membrana submersa utilizam os módulos de membrana plana (flat plate) ou de fibra-oca
(hollow-fibre). A Tabela 10.1 mostra a comparação entre estes módulos de membranas.
O papel principal da membrana em um MBR é uma barreira contra sólidos suspensos. Contudo,
devido à complexidade do efluente líquido, é possível a remoção de espécies solúveis, conforme o tipo de
membrana: microfiltração (MF), ultrafiltração (UF) ou nanofiltração (NF).
Microfiltração:
- poros: 0,1-0,2 m
- remoção de sólidos suspensos como bactérias
- remoção parcial de vírus e macrossolutos
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
48
Ultrafiltração:
- poros de 0,1 m a 5 nm
- boa remoção de vírus e substâncias poliméricas extracelulares (SPE)
Nanofiltração:
- poros de 2 nm
- retém quase todas as espécies solúveis, com exceção de alguns íons e substâncias
orgânicas de baixo peso molecular.
Tabela 9.1: Comparação das características dos diferentes módulos de membranas utilizados em MBRs.
10 Cultivo Semi-Sólido
Figura 10.1: Influência do tamanho das partículas na velocidade de fermentação de açúcar de beterraba por
Zymomonas mobilis para produção de etanol. (Fonte: Schmidell et al., 2001)
Figura 10.2: Reatores para cultivo semi-sólido industrial (a) tanques circulares; (b) esteira rolante; (c)
reator tubular com agitação interna. (Fonte: Schmidell et al., 2001)
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
52
Para mais detalhes consultar: Durand, A. Bioreactor designs for solid-state fermentation.
Biochemical Engineering Journal 13 (2003) 113-125.
Figura 10.3: Influência do teor de umidade sobre o crescimento de Aspergillus niger. (Schmidell et al.,
2001)
10.4.3 Temperatura
Devido ás atividades metabólicas do microrganismo e dependendo da altura da cama de substrato,
uma grande quantidade de calor pode ser produzida durante o cultivo. Como a temperatura afeta diretamente
a germinação dos esporos, o crescimento e a esporulação dos microrganismos, e a formação de produto, o
calor produzido deverá ser imediatamente dissipado para que o aumento da temperatura não prejudique a
fermentação desejada.
A Figura 10.5 apresenta a velocidade de produção de proteínas por Aspergillus niger em relação à
temperatura empregada no processo.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
53
Figura 10.4: Relação entre a atividade de água e as reações de deterioração dos alimentos.
Figura 10.5: Influência da temperatura sobre o crescimento de Aspergillus niger. (Schmidell et al.,
2001).
10.4.4 pH
O controle do pH durante o CSS, embora crítico, é difícil de ser conseguido devido à
heterogeneidade e a consistência do meio de cultivo. Como tentativa de evitar variações bruscas no pH
utilizam-se substratos com boa capacidade tamponante ou a adição de solução tampão durante a etapa de
umidificação do substrato.
10.4.5 Aeração:
A aeração é necessária para o bom rendimento de praticamente todos os processos produtivos
biotecnológicos, incluindo os via CSS. A oxigenação pode ser realizada via entrada de ar estéril sob pressão
dentro do biorreator. A quantidade de ar que deve ser fornecido ao cultivo depende do microrganismo, da
quantidade de calor metabólico a ser dissipado no processo, da espessura da camada de substrato. Da
quantidade de CO2 e outros voláteis a serem eliminados e da necessidade de oxigênio para síntese dos
produtos.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
54
10.4.6 Agitação
Visa obter uma melhor homogeneização do meio de cultivo, gerando uma melhor distribuição do
inóculo e do meio umidificante, impedindo a formação de agregados e favorecendo tanto a transferência
gasosa como a troca de calor do meio.
10.4.7 Estimativa de crescimento
É realizado a través de metodologias indiretas, pois na maioria das vezes não é possível separar-se
o microrganismo do substrato sólido onde este se desenvolveu. Métodos mais utilizados:
- quantificação da proteína total
- estimativa da quantidade de ATP ou glicosamina;
- medida contínua da quantidade de O2 e CO2 no gás de saída do biorreator.
onde OTR (oxygen transfer rate) é a velocidade de transferência de oxigênio por unidade de volume de
fluido (kg.m-3.s-1), kL é o coeficiente de transferência de massa da fase líquida (m.s-1), a é a área da
interface líquido-gás por unidade de volume do fluido (m2.m-3), C é a concentração de oxigênio no meio de
cultura (kg.m-3), e C* é a concentração de oxigênio no meio de cultura em equilíbrio com a fase gasosa
(kg.m-3), também denominada solubilidade do oxigênio no meio de cultura.
Figura 11.2: Etapas da transferência de oxigênio da bolha de ar para a célula (Doran, 1995. p. 200).
C
ln 1 * k L a.t (11.3a)
C
ou
C
1 e kLa .t (11.3b)
C*
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
57
C
Da equação 11.3a percebe-se que plotando-se os valores de ln 1 contra o tempo obtém-se
C*
uma reta cujo coeficiente angular é -kLa, conforme Figura 11.3. Ainda, não é necessário conhecer o valor de
C*, apenas a fração C/C* que é obtida de um eletrodo calibrado entre 0 e 100%.
Figura 11.3: Determinação do coeficiente volumétrico de transferência de massa da fase líquida, kLa.
Onde mO2 é o coeficiente de manutenção das células para o O2 (g O2 / (g cél . h)) e Y O2 é o fator de conversão de
O2 para células (g cél/gO2). Foram determinados valores de 2 mmolO2/(g cél . h) para mO2 e 1,55 g cél/g O2 para
YO2 de Aspergillus awamori NRRL3112.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
58
QO X (11.8)
Ci C * 2
kL a
Em dado instante ti corta-se a entrada de ar do sistema e monitora-se a queda da concentração de
oxigênio no meio de cultura. Após um tempo de 20 a 60 segundos, abre-se novamente a entrada de ar do
sistema. Cessando o suprimento de oxigênio, temos que o primeiro termo do lado direito da equação 11.7 torna-
se zero, resultando em:
dC
QO X (11.9)
dt 2
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
59
A equação 11.9 pode ser integrada à partir da condição inicial C = Ci quando t = ti:
c t
dC QO2 X dt
ci ti (11.10)
C Ci QO2 X (t ti )
Deste modo, QO2 pode ser facilmente obtido através da inclinação da curva do gráfico C contra
t, mostrado na Figura 11.5. Dividindo-se o valor de QO2X pela biomassa correspondente, a velocidade específica
de consumo de oxigênio, QO2, pode ser calculada.
Figura 11.5: Curva de variação de concentração de oxigênio dissolvido para cálculo de kLa e qO2 conforme o
método dinâmico. Fonte: Ayub, 1991, p. 60.
A aeração é reassumida antes que a concentração de oxigênio dissolvido atinja um valor crítico (em
torno de 5 a 10% da saturação), e a equação 11.7 pode novamente ser utilizada para descrever o processo.
Rearranjando os termos da equação 11.7 obtemos:
dC * QO2 X
C C k L a (11.11)
dt kL a
Figura 11.7: Esquema de um biorreator agitado com turbinas de pás planas. (Fonte: Schmidell et al.,
2001) .
O gráfico da Figura 11.7 apresenta a relação entre o NP e o NRe para o impelidor tipo hélice e para a
turbina de disco com 6 pás planas (turbina Rushton) para tanques com as relações padrão conforme o item
anterior. Para esta situação tem-se que a equação 11.13 fica:
N P f ( NRe ) (11.15)
Na Figura 11.7 pode-se observar três regiões distintas: a região de escoamento laminar (NRe < 10),
uma região de transição e a região de escoamento turbulento (NRe > 104).
Na região laminar tem-se que N P k1 ( NRe )1 , ou seja:
P k1 N 2 Di 3 (11.16)
na região de escoamento turbulento tem-se que N P k2 , ou seja:
P k2 N 3 Di 5 (11.17)
Na região de transição há uma tendência à queda do Np, o que é interessante quando, durante o
cultivo, ocorre um aumento da viscosidade do meio. Assim, se o motor foi planejado para a região turbulenta
não há risco de sobrecarga até o início do escoamento laminar.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
62
P NDi2
Figura 11.8: Número de potência N P em função do número de Reynolds N para
N 3 Di5
Re
12 Esterilização
Em muitos bioprocessos, a presença de microrganismos estranhos, genericamente denominados
contaminantes, pode levar a prejuízos consideráveis. O grau de eliminação de contaminantes com o objetivo de
obter bons resultados depende de cada caso.
Em um processo podem ou devem ser esterilizados os equipamentos (biorreatores, tubulações,
bombas, centrífugas, homogeneizadores, etc.), os meios de cultivo, o ar que entra nos biorreatores e as
embalagens finais.
A esterilização engloba todos os procedimentos físicos, mecânicos e químicos utilizados para
destruir microrganismos contaminantes.
Os métodos químicos englobam o uso de óxido de etileno, aldeídos, gás-plasma de peróxido de
hidrogênio. Os métodos físicos compreendem a utilização de calor e radiações. Ainda podem ser utilizados
agentes esterilizantes e desinfetantes.
Terminologia:
Esterilização: é um processo físico ou químico que destrói ou inativa todas as formas de vida
presentes em um determinado material através de agentes físicos.
Desinfecção: é um processo menos rigoroso de eliminação de microrganismos, objetivando
sobretudo a destruição dos microrganismos patogênicos presentes, envolvendo normalmente o uso de um agente
químico, à temperatura ambiente ou moderada.
Antisséptico: substância que impede a proliferação de bactérias através da inativação ou destruição
das mesmas .
Assepsia: conjunto de métodos utilizados com o intuito de impedir a entrada de microrganismos em
local que não os contenha .
12.1 Modos de atuação dos agentes esterilizantes
Calor úmido:
A temperatura elevada associada com alto grau de umidade provoca a desnaturação das proteínas. Os
carboidratos do meio de cultivo também sofrem alterações, muitas vezes gerando produtos tóxicos.
O calor úmido possui alta penetração, destruindo esporos e bactérias em tempos bastante curtos. É
também econômico e não deixa resíduos tóxicos. Contudo não pode ser utilizado em soluções que formam
emulsões com a água e nem em soluções que possuam ação corrosiva sobre alguns metais.
A esterilização de biorreatores via calor úmido normalmente ocorre via injeção de vapor no
equipamento. A esterilização normalmente é realizada a 121oC e 1 atm em tempos que variam entre 20 minutos
a mais de 1 hora conforme a necessidade.
Calor seco:
Destrói microrganismos através da oxidação de seus constituintes químicos. É utilizado para
vidrarias, metais e sólidos resistentes ao calor. Ocorre em fornos ou estufas que atingem temperaturas maiores
do que 150oC. Contudo, a ausência de umidade torna a transferência de calor mais lenta e os microrganismos
mais resistentes. Desta forma o calor seco necessita de tempos mais longos para atingir o grau de esterilização
desejado, cerca de 3 a 4 horas.
Radiação ultravioleta (UV):
Os efeitos letais estão associados à mutagênese através de transformações fotoquímicas nas bases de
pirimidinas no DNA. A reação principal é a formação de ligações cruzadas entre purinas adjacentes. Também
ocorrem dímeros citosina-timina, citosina-citosina e uracila-uracila (RNA). É produzida por lâmpadas emissoras
de radiação UV. Devido à sua baixa penetração somente é utilizada para a esterilização de superfícies e do ar. O
tempo de exposição necessário é da ordem de horas.
Radiação ionizante:
São as ra
elétrons de alta energia. Estas radiações podem produzir radicais químicos altamente reativos, como peróxidos e
radicais livres, os quais podem alterar grupos químicos e até quebrar fitas de DNA. Dentre estas a radiação
gama é a mais importante.
A radiação gama em geral é produzida por cobalto 60 ou césio 137, e possui um poder de penetração
extremamente alto. Os materiais expostos à radiação gama não guardam nenhum resquício radioativo, tornando
a irradiação um método seguro.
O bombardeio com radiação gama é realizados em câmaras especiais que uma vez postas em
operação, não é mais possível impedir a emissão de radiação, de forma que estas câmaras operam de forma
contínua. Materiais como vidrarias, metais, alimentos, sementes, solo, pós, embalagens podem ser submetidos à
este tipo de esterilização.
Ácido Peracético:
É bactericida, fungicida, viruscida e esporicida. Promove a desnaturação de proteínas e alteração na
permeabilidade da parede celular. Possui como vantagens manter-se efetivo em presença de matéria orgânica e
não promover a formação de resíduos tóxicos. Como desvantagens: é corrosivo e instável após diluído. O ácido
peracético ou peroxiacético, em baixas concentrações (0,001% a 0,02%) apresenta rápida ação contra os
microorganismos, incluindo os esporos.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
65
12.2 Esterilização de equipamentos e meios de cultivo por calor úmido
O meio de cultivo é colocado dentro do biorreator e aquecido à seguir. Deste modo o meio de cultivo
e o biorreator são esterilizados simultaneamente.
Formas de aquecimento:
- vapor passando por uma camisa ou serpentina de aquecimento
- injeção direta de vapor
- aquecimento elétrico do meio dentro do biorreator.
Sendo N o número de microrganismsos vivos existentes no meio após um tempo tde aquecimento do
sistema a uma dada temperatura constante. A constante k é a constante de destruição térmica do microrganismo.
Do ponto de vista cinético, a destruição de microrganismos se comporta como se fosse uma reação
de primeira ordem, isto é:
dN
k d .N (12.1)
dt
Se kd é constante, pode-se integrar a equação (12.1), achando uma expressão para N em função do
tempo:
N N 0 e kd t
(12.2)
ln N ln N 0 kd t
De acordo com a equação (12.2), se a cinética de primeira ordem para morte celular se aplica, a
plotagem de lnN X t dá uma reta com coeficiente angular igual a kd. Medidas experimentais tem confirmado a
relação da equação (12.2). Como exemplo, temos os dados de morte celular de E.coli a várias temperaturas,
como mostrado na figura 12.1.
Figura 12.1:Relação entre temperatura e taxa de morte celular de células vegetativas de Escherichia coli
(Fonte: Doran, 1997).
Se N0 e Nf são conhecidos, pode-se determinar o tempo necessário para reduzir o numero de células
de N1 a N2 considerando a cinética de morte celular. De acordo com a figura (12.2), o número de
microrganismos presentes no meio inicial, ou seja, antes da esterilização, é N0. Após um período de
aquecimento este é reduzido para N1, e no final do período de aquecimento é reduzido para N2, o número final,
após o resfriamento é Nf. Idealmente, Nf é zero, no final do ciclo de esterilização, porém isso pode ser
teroricamente difícil de obter. O cálculo de um processo de esterilização consiste em calcular o tempo de
manutenção necessário para atingir um determinado nível de destruição celular. Desta forma trabalha-se com
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
66
probabilidade de contaminação. Por exemplo: Nf = 10-3 significa o risco de sobrevivência de 1 microrganismo
em cada 1000 bateladas esterilizadas.
A equação (12.1) se aplica a cada estágio do cico de esterilização: aquecimento, manutenção e
resfriamento. Entretanto, como kd é função da temperatura, a integração direta da equação (12.1) é valida
somente quando a temperatura é constante, isto é durante o período de esterilização:
N1
ln
N1 N2
ln kd t hd ou thd (12.3)
N2 kd
Onde thd é o tempo de esterilização, N1é o número de células viáveis no início da esterilização e N2
número de células viáveis no final da esterilização. Kd é analisado como uma função da temperatura pela
equação de Arrhenius:
Ed
kd Ae RT
(12.4)
Onde A é a costante de Arrhenius, Ed é a energia de ativação para a destruição celular, R é a
constante ideal dos gases e T é a temperatura absoluta.
Para usar a equação (12.2) deve-se conhecer N1 e N2. Estes números são determinados considerando
a extensão de morte celular durante os períodos de aquecimento e resfriamento, quando a temperatura não é
constante. Combinando as equações (12.2) e (12.3), tem-se:
dN Ed
Ae RT N (12.5)
dt
Integrando a equação (12.5), tem-se para o período de aquecimento:
t
N 1 Ed
ln 0 Ae RT dt (12.6)
N1 0
E para o período de resfriamento:
tf
N Ed
ln 2 Ae RT dt (12.7)
N f t2
Onde t1 é o tempo no final do aquecimento, t2é o tempo no final da esterilização e tf é o tempo no
final do resfriamento.
Figura 12.2:Perfil típico de temperatura do meio de cultivo e evolução da morte celular em uma esterilização
em batelada (Fonte: Doran, 1997).
M wC pwt 1e
M mC p
T T
T Tci 1 0 ci
e (12.11)
Tci
Onde:
A= área de transferência de calor;
Cp=calor específico do meio de cultivo;
Cpw= calor específico da água;
h= diferença específica de entalpia entre vapor e o meio;
Mm= massa incial de meio de cultivo;
Ms= vazão mássica de vapor;
Mw= Vazão mássica de água;
Q= velocidade de transferência de calor;
T= temperatura;
T0=temperatura inicial do meio de cultivo;
Tci= temperatura inicial de água de resfriamento;
Ts= temperatura do vapor;
t= tempo;
U= coeficiente global de transferência de calor;
Figura 12.4: Equipamentos para esterilização contínua: (a) injeção direta de vapor com resfriamento
flash; (b) transferência de calor utilizando trocadores de calor.
Figura 12.6: Trocador de calor de placas (Fonte: Dairy Processing Handbook, 1995).
Figura 12.7: Trocador de calor tubular (Fonte: Dairy Processing Handbook, 1995).
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
70
13 Enzimologia
13.1- Introdução
Enzimas são catalisadores biológicos, formados por longas cadeias de moléculas pequenas,
chamadas de aminoácidos. São, portanto, um tipo de proteína com atividade catalítica, sendo encontradas
na natureza em todos os seres vivos. Sua função é viabilizar a atividade das células, quebrando moléculas
ou juntando-as para formar novos compostos. A singularidade desses compostos decorre do elevado grau
de especificidade ao substrato em condições moderadas, sob as quais atuam. Algumas enzimas são
específicas para determinado tipo de ligação química, como, por exemplo, a capacidade da -amilase de
romper unicamente as ligações -1,4 das moléculas de amido. Outras são específicas para um tipo
particular de isômero óptico, como, por exemplo, a oxidação da -D-glicose pela glicose oxidase.
“Toda enzima é uma PROTEÍNA, mas nem toda proteína é uma ENZIMA”.
Constituintes básicos:
Carbono 50%
Oxigênio 23%
Nitrogênio 16%
Hidrogênio 7%
Enxofre 3%
A classificação das proteínas dividem-se em duas classes principais: Proteínas fibrosas e proteínas
globulares. As estruturas das proteínas são descritas em níveis: primária, secundária, terciária e
quaternária. As enzimas pertencem a classe das proteínas globulares, tendo como estrutura a terciária.
As proteínas pertencem à classe dos peptídeos, pois são formadas por aminoácidos ligados entre si
por ligações peptídicas. Uma ligação peptídica é a união do grupo amino (-NH2 ) de um aminoácido com o
grupo carboxila (-COOH) de outro aminoácido, através da formação de uma amida. São os constituintes
básicos da vida: tanto que seu nome deriva da palavra grega "proteios", que significa "em primeiro lugar".
A importância das proteínas, entretanto, está relacionada com suas funções no organismo, e não com
sua quantidade. Todas as enzimas conhecidas, por exemplo, são proteínas; muitas vezes, as enzimas existem em
porções muito pequenas. Mesmo assim, estas substâncias catalisam todas as reações metabólicas e capacitam aos
organismos a construção de outras moléculas - proteínas, ácidos nucléicos, carboidratos e lipídios - que são
necessárias para a vida.
Todas as proteínas, independentemente de sua função ou espécie de origem, são construídas a partir
de um conjunto básico de vinte aminoácidos, arranjados em várias seqüências específicas. São as unidades
fundamentais das proteínas.
Todas as proteínas são formadas a partir da ligação em seqüência de apenas 20 aminoácidos;
Existem, além destes 20 aminoácidos principais, alguns aminoácidos especiais, que só aparecem em
alguns tipos de proteínas;
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
71
Os aminoácidos que intervêm na composição das proteínas (existem outros) são número de 20 e
obedecem à estrutura geral representada na figura abaixo:
Quimicamente, enzimas são proteínas com estrutura especial contendo um centro ativo
denominado apoenzima e, às vezes, um grupo prostético (cofator) que pode ser orgânico (coenzima) ou um
íon metálico ativo.
A habilidade com que a enzima se liga ao substrato se denomina “atividade biológica” e
depende:
a) estrutura da proteína;
b) número de cadeias peptídicas;
c) arranjo dessas cadeias na molécula;
d) natureza do substrato;
e) natureza do grupo prostético (se houver).
Cada organismo vivo produz uma grande variedade de enzimas, a maioria delas em pequenas
quantidades. Algumas são produzidas em grandes quantidades por certos microrganismos, que as
excretam para o meio externo. As enzimas extracelulares são capazes de digerir materiais nutritivos
insolúveis, como celulose, proteínas e amido.
Algumas destas enzimas são usadas em alimentos, bebidas, laticínios, nas industrias farmacêuticas,
têxtil e de detergentes. Sua utilização é feita em processos biotecnológicos industriais, ajudando a
reduzir a poluição, muitas vezes substituindo processos químicos nefastos ao meio ambiente.
São produzidas comercialmente em grande escala, por síntese microbiana, através de fungos
ou de bactérias. O processo de produção é normalmente anaeróbico e o meio de cultura similar aos usados
para a fermentação de síntese de antibióticos.
As enzimas são especialmente importantes porque agem em grupos funcionais específicos,
catalisando reações de forma estereoespecífica, formando somente um ou dois enantiômeros possíveis.
Algumas características importantes das enzimas podem ser citadas, tais como:
Altamente eficientes: aumentando a velocidade de reação de 108 a 1011 vezes mais rápida.
Condições brandas.
Embora a enzima participe da seqüência da reação, ela não sofre nenhuma transformação. Sendo
assim, apenas poucas moléculas de E são capazes de catalisar a conversão de milhares de moléculas de S a
P. A existência de um complexo enzima-substrato, ES, foi deduzida:
13.3.4:Influência do pH
Geralmente as enzimas são ativas numa faixa restrita de pH e na maioria dos casos há um pH
ótimo definido. O efeito do pH sobre a afinidade pode ser eliminado utilizando-se altas concentrações de
substrato de modo a se saturar a enzima em todos os valores de pH; e o efeito do pH sobre a enzima deve-se
às variações no estado de ionização dos componentes do sistema à medida que o pH varia. Como as
enzimas são proteínas contém muitos grupos ionizáveis, elas existem em diferentes estados de ionização,
por isso, a atividade catalítica é restrita a uma pequena faixa de pH.
A atividade da enzima deve ser então medida no pH ótimo. A estabilidade de uma enzima ao pH
depende de muitos fatores como: temperatura, força iônica, natureza química do tampão, concentração de
vários preservativos (por exemplo, glicerol, compostos sulfídricos), concentração de íons metálicos
contaminantes, concentração de substratos ou cofatores da enzima e concentração da enzima.
13.3.6: Sistema Unirreacional Simples – Tratamento Em Equilíbrio Rápido (Henri, Michaelis e Menten)
A Figura 13.6 mostra a relação entre [S] e V0 para uma reação enzimática. A curva que expressa esta
relação possui a mesma forma para a maioria das enzimas, sendo expressa pela Equação de Michaelis e Menten,
derivada por estes pesquisadores partindo de sua hipótese básica de que, nas reações enzimáticas, o passo
limitante da velocidade é a quebra do complexo ES para formar o produto e a enzima livre. A Equação de
Michaelis-Menten (Equação 13.1) é a equação da velocidade para uma reação catalisada enzimaticamente e com
um único substrato. É uma expressão da relação quantitativa entre a velocidade inicial V0, a velocidade inicial
máxima Vmáx, e a concentração inicial de substrato [S], todas relacionadas através da constante de Michaelis-
Menten, Km. A constante de Michaelis-Menten é uma constante dinâmica, ou de pseudoequilíbrio, que expressa
a relação entre as concentrações reais no estado estacionário ao invés de concentrações no equilíbrio.
Vmáx [ S ]
V0 (13.1)
kM [ S ]
O perfil cinético apresentado na Figura 13.6 levou Victor Henri a propor, em 1903, que uma enzima
liga-se à molécula de seu substrato para formar o complexo ES, sendo este um passo obrigatório no processo
catalítico enzimático. Esta idéia foi expandida em uma teoria geral da ação das enzimas, especialmente por
Leonor Michaelis e Maud Menten, em 1913. Eles propuseram que a enzima primeiro combina-se
reversivelmente com o substrato, para formar o complexo enzima-substrato, em um passo reversível
relativamente rápido:
k1
E S ES
(13.2)
k1
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
76
A seguir, em um passo mais lento, o complexo ES se rompe com o reaparecimento da enzima livre e
a formação do produto da reação P:
ES
k2
E P (13.3)
A segunda reação (Equação 13.3) é mais lenta neste modelo e, portanto, limita a velocidade da
transformação global do reagente em produto. Disto resulta que a velocidade da reação enzimática deve ser
proporcional à concentração da substância reagente no segundo passo, ES. Em qualquer instante de uma reação,
a enzima existe em duas formas, a não ligada ao substrato, ou a forma livre E, e a forma ligada ES. Em
concentrações pequenas do substrato [S], a maior quantidade da enzima estará na forma livre E. Nestas
condições, a velocidade de reação será proporcional à [S], à medida que [S] aumentar, o equilíbrio será
deslocado na direção da formação de mais ES. A velocidade inicial máxima da reação (Vmáx) será atingida
quando praticamente todas as moléculas da enzima estiverem na forma do complexo ES, e a concentração da
enzima livre E é insignificante. Neste caso, diz-se que a enzima está “saturada” com o substrato e a velocidade
da reação não aumenta mais com os aumentos de [S]. Em solução contendo um excesso de substrato, haverá um
período cinético inicial chamado de estado pré-estacionário, ocorrendo o crescimento da concentração de ES. O
estado pré-estacionário é, usualmente, de duração muito curta. A reação atinge o estado estacionário muito
rapidamente e a concentração do complexo [ES] permanecerá praticamente constante durante o decorrer do
tempo.
Figura 13.6: Efeito da concentração de substrato na velocidade inicial de uma reação catalisada enzimaticamente.
Uma relação numérica importante emerge da Equação de Michaelis-Menten no caso especial quando
V0 é exatamente metade de Vmáx (Figura 13.6). Então:
1
kM [ S ] V0 Vmáx (13.4)
2
Km é equivalente à concentração de substrato na qual V0 é igual à metade de Vmáx, e indica a
“afinidade” de uma enzima pelo seu substrato. Quanto menor for o valor de Km, maior será a afinidade da
enzima pelo substrato.
Obs: Vmáx depende do k2, que é uma constante, e da concentração da enzima na experiência
realizada. Vmáx é proporcional à concentração da enzima (Figura 13.7).
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
77
Obs: Vmáx depende do k2, que é uma constante, e da concentração da enzima na experiência
realizada. Vmáx é proporcional à concentração da enzima (Figura 13.7).
k1
E S ES
k2
E P (13.5)
k1
Todas as enzimas que exibem uma dependência hiperbólica de V0 em relação a [S] são ditas seguir a
cinética de Michaelis-Menten. Entretanto, esta equação não depende do mecanismo de reação relativamente
simples de dois passos. Muitas enzimas possuem mecanismos de reação muito diferentes entre si; como enzimas
que catalisam reações com seis ou oito passos identificáveis, que exibem o mesmo comportamento cinético no
estado estacionário. Portanto, o significado real e a magnitude de Vmáx e Km podem variar de uma enzima para
outra.
O significado real de Km depende de aspectos específicos do mecanismo de reação, como o número
e as velocidades relativas dos passos individuais da reação. Considerando as reações de dois passos:
k2 k1
kM (13.6)
k1
Para a reação de Michaelis-Menten, k2 é o limitante da velocidade; assim, quando k2 << k-1, Km se
k1
reduz ao valor . Onde esta condição prevalece o Km representa uma medida da afinidade da enzima pelo
k1
k2
substrato no complexo ES. Muitas vezes k2 >> k-1, e então km . Em outros casos, k2 e k-1 são comparáveis e
k1
Km permanece com uma função mais complexa do relacionamento entre todas as três constantes de velocidade.
A Vmáx também varia muito de uma enzima para outra. Se uma enzima reage pelo mecanismo de
dois passos de Michaelis-Menten, a Vmáx é equivalente a k2[Et], onde k2 é o passo limitante da velocidade.
Entretanto, o número de passos da reação e a identidade do(s) passo(s) limitante(s) da velocidade podem variar
de enzima para enzima.
V k [E ]
Na saturação, a maior parte da enzima está na forma EP e máx 3 t . Portanto pode-se definir a constante
kcat para descrever a velocidade limitante de qualquer reação catalisada por uma enzima nas condições de
saturação. Cada enzima tem valores ótimos de kcat e Km que refletem o ambiente celular, a concentração do
substrato normalmente encontrado in vivo pela enzima e a química da reação que está sendo catalisada.
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
78
13.3.7: Lineweaver-Burk
Uma transformação muito empregada é obtida de forma simples, invertendo-se os dois lados da
Equação de Michaelis-Menten:
1 kM 1 1
. (13.8)
V Vmáx [ S ] Vmáx
Gráfico de 1 1 :
V S
kM
A linha reta tem inclinação igual a , o intercepto no eixo 1 é igual a 1 e o intercepto no
Vmáx V Vmáx
eixo 1 é igual a 1 .
[S ] kM
Vantagem: permitir uma determinação acurada de Vmáx, o que pode ser feito apenas
aproximadamente em gráficos de V versus [S].
Como o inibidor se liga reversivelmente à enzima a competição pode se tornar favorável ao substrato,
pela simples adição ao meio de reação de mais substrato, tornando mínima a probabilidade de uma molécula de
inibidor se ligar à enzima. A reação, neste caso, exibirá uma Vmáx normal. Entretanto, o valor de Km aumentará
na presença do inibidor. Este efeito no Km aparente e a ausência de um efeito em Vmáx são diagnósticos da
inibição competitiva e é facilmente revelado através de um gráfico duplo-recíproco. A Figura 13.10 mostra um
conjunto de gráficos duplo-recíproco obtidos na ausência do inibidor e em duas concentrações diferentes de um
inibidor competitivo. O aumento de [I] resulta na produção de uma família de linhas com intercepto comum no
eixo 1 , mas com inclinações diferentes. Devido ao intercepto no eixo 1 ser igual a 1 observa-se
V0 V0 Vmáx
que a velocidade máxima não muda quando a reação ocorre na presença de um inibidor competitivo, isto é, em
uma dada reação enzimática sempre haverá uma concentração tão alta de substrato que deslocará o inibidor
competitivo do sítio ativo da enzima, não importando quão alta seja a concentração do mesmo.
A associação enzima-inibidor é não exclusiva. O inibidor não permite ao complexo ternário ESI
evoluir para elaborar o produto. Neste tipo de inibição, a velocidade máxima (Vmáx) e Km são menores que na
ausência de inibidor. A equação da velocidade é dada por:
Vmáx
[S ]
1 [I ]
kI
V (13.13)
kM
[S ]
1 [I ]
kI
Um substrato que se combina irreversivelmente com uma enzima pode assemelhar-se a um inibidor
não competitivo porque Vmáx diminui, ao passo que Km permanece a mesma. A Vmáx diminui porque parte da
enzima é completamente removida do sistema.
Equação de Michaelis-Menten na presença de um inibidor irreversível (Figura 13.17):
[S ]
VI (Vmáx k3[ EI ]) (13.14)
kM [ S ]
ENG – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Daniele M. Rossi
83
14 Referências Bibliográficas
14.1 Livros
1. Bailey J E, D F Ollis. Biochemical Engineering Fundamentals. McGraw-Hill Book Company, 1986.
2. Borzani W, W Schimidell, U A Lima, E Aquarone. Biotecnologia Industrial Vol. 1 – Fundamentos.
Editora Edgar Blücher Ltda, 2001.
3. Doran P M. Bioprocess Engineering Principles. Academic Press, 1997.
4. Lehninger A L, D L Nelson, M M Cox. Principles of Biochemistry. Worth Publishers, 1997.
5. Lima U A, E Aquarone , W Borzani, W Schimidell. Biotecnologia Industrial Vol. 3 – Processos
fermentativos e Enzimáticos. Editora Edgar Blücher Ltda, 2001.
6. Schimidell W, U A Lima, E Aquarone, W Borzani. Biotecnologia Industrial Vol. 2 – Engenharia
Bioquímica. Editora Edgar Blücher Ltda, 2001.
7. Stephen D, Flickinger M. Encyclopedia of Bioprocess Technology. John Wiley, 1999.
8. Marzzoco, A; Torres, B.B. Bioquímica Básica. Editora Guanabara Kogan, 1999.
14.2 Artigos Científicos
1. Bhugaloo-Vial P, W Grajek, X Dousset, P Boyaval. Continuous bacteriocin production with high cell
density bioreactors. Enzyme and Microbial Technology 21 (1997) 450-457.
2. Ellaiah P, T Prabhakar, B Ramakrishna, AT Taleb, K Adinarayana. Production of lipase by immobilized
cells of Aspergillus niger. Process Biochemistry 39 (2004) 525-528.
3. Fane AG. Membrane bioreactors: design & operational options. Filtration & Separation 39 (2002) 26-
29.
4. Gao H, T Tan. Fed-batch fermentation for ergosterol production. Process Biochemistry 39 (2003) 345-
350.
5. Judd S. Submerged membrane bioreactors: flat plate or hollow fibre? Filtration & Separation 39
(2002) 30-31.
6. Kim B S, S C Lee, S Y Lee, Y K Chang, H N Chang. High cell density fed-batch cultivation of
Escherichia coli using exponential feeding combined with pH-stat. Bioprocess and Biosystems
Engineering 26 (2004) 147-150.
7. Kourkoutas Y, A Bekatorou, IM Banat, R Marchant, AA Koutinas. Immobilization technologies and
support materials suitable in alcohol beverages production: a review. Food Microbiology 21 (2004)
377-397.
8. Lesjean B, S Rosenberger, JC Schrotter, A Recherche. Membrane-aided biological wastewater
treatment: an overview of applied systems. Membrane Technology 2004 (2004) 5-10.
9. Melin T, B Jefferson, D Bixio, C Thoeye, W De Wilde, J De Koning, J van der Graaf, T Wintgens.
Membrane bioreactor technology for wastewater treatment and reuse. Desalination 187 (2006) 271-
282.
10. R Amutha, P Gunasekaran. Production of ethanol from liquefied cassava starch using co-immobilized
cells of Zymomonas mobilis and Saccharomyces diastaticus. Journal of Bioscience and
Bioengineering 92 (2001) 560-564
11. Wendhausen R, A Fregonesi, PJS Moran, I Joekes, JR Rodrigues, E Tonella, K Althoff. Continuous
fermentation of sugar cane syrup using immobilized yeast cells. Journal of Bioscience and
Bioengineering 91 (2001) 48-52. ITA02003 – Bioengenharia para Engenharia Química Profa. Rosane
Rech 77