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TERESINA – PIAUÍ
AGOSTO - 2013
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RESUMO
O presente artigo constitui-se em pesquisa de história política. Está focado na cidade de Altos-Piauí, no período
que vai de 1930 a 1945. Analisa o rodízio de Prefeitos ocorrido no Município durante a Era Vargas, observando
o perfil político-administrativo desses gestores e como suas concepções se desdobraram em práticas a favor da
coletividade, através da realização de obras na saúde e educação, especialmente, e as mudanças e permanências
verificadas na política de então. Assim, traçaremos um perfil da evolução da cidade no decorrer da década de
1930 e os primeiros cinco anos da década de 1940, observando as transformações que ocorreram no município
em seus diversos aspectos. São objetivos deste trabalho: relacionar os gestores nomeados e eleitos para reger a
cidade de Altos no período em estudo, identificando a que grupos pertenciam e seus ideais administrativos;
analisar o impacto de suas deliberações políticas no desenvolvimento sócio-econômico da cidade; e contribuir
para a construção da historiografia local, tão escassa em publicações nesse sentido. Partimos de um levantamento
bibliográfico acerca do tema a nível nacional, estadual e municipal, tendo sido realizada pesquisa documental
nos arquivos da Prefeitura e Câmara Municipal de Altos, Arquivo Público do Piauí, termos de posse de
autoridades municipais e entrevistas com pessoas contemporâneas. Utilizamos ainda fontes iconográficas e
matérias de jornais, decretos, leis e portarias municipais e estaduais, além do Diário Oficial do Piauí. A leitura e
análise dos dados coletados serviu como ponto de problematização e levantamento das possíveis soluções para
os questionamentos feitos.
1. Introdução
_______________
* Graduando do curso de Licenciatura Plena em História - 2ª graduação (UFPI/PARFOR-Teresina-PI)
** Professor do Departamento de Geografia e História (UFPI/CCHL/PARFOR)
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A chamada Era Vargas foi o período em que Getúlio Vargas, mediante um golpe
político, assumiu e se manteve no poder, governando a nação por 15 anos. Este capítulo da
história do Brasil divide-se em três fases: Governo Provisório (1930-1934), Governo
Constitucional (1934-1937) e Estado Novo (1937-1945).
Francisco M. P. Teixeira (2005, p. 260) afirma que “suas linhas básicas de atuação
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O General Moysés Castello Branco Filho assinala que foram mobilizados mais de 2.000
homens para a Revolução no Piauí e que
Uma grande onda de prisões de destacadas autoridades ordenada por Arêa Leão visava
assegurar o controle sobre o novo estado político deflagrado. Tais prisões iam do Governador
ao Comandante da Força Pública, incluindo membros do Poder Legislativo municipal da
capital, bem como de representantes de órgãos federais no estado.
Dentre os primeiros atos oficiais está o Decreto Estadual nº 1104, de 04.10.1930,
dispondo sobre a dissolução dos Conselhos (Câmaras de Vereadores) Municipais em todo o
Piauí e criando o cargo de Prefeito, em substituição ao de Intendente, e lhe definindo as
atribuições. No artigo 02 deste Decreto ficam bem claras as regras da nova conjuntura: o
Prefeito, de livre nomeação do governo estadual, exercerá o mandato até a definitiva
organização do Estado. Os novos prefeitos deveriam enviar, mensalmente, ao governo
estadual os balancetes das municipalidades, contendo toda a movimentação financeira e
administrativa das Prefeituras, e todas as nomeações para funções públicas teriam que passar
pelo crivo do Interventor Federal, acentuando-se a redução no número de funcionários.
cidade após o golpe de 1930: Vicente Soares da Silva Pestana, servidor público e Capitão da
Guarda Civil Nacional. Era irmão do literato e advogado Clodoaldo Freitas, e outrora ocupara
as importantes funções de Coletor Federal, Inspetor de Ensino e Conselheiro da antiga
povoação dos Altos. Ademais, o quase septuagenário personagem era avô de Edith Pestana
Sales, casada com o comerciante do ramo de tecidos Pedro Ferreira Sales, primo legítimo do
Interventor Federal no Piauí, Tenente Landry Sales Gonçalves.
O grau de parentesco mencionado não deixa de ter sido decisivo quando da escolha do
novo administrador para a cidade. A nomeação de Pestana se deu dois dias após a deflagração
do movimento revolucionário, através do Decreto n° 1.104, de 06 de outubro de 1930. Pelo
mesmo Decreto foram também nomeados outros 22 novos prefeitos para diversos municípios
piauienses.
Figura 03 - Cap. Vicente Pestana Figura 04 - Prefeitura Municipal de Altos, de 1922 à década de 1960
Fonte: Acervo de Edith P. Sales Fonte: Acervo do ex-Prefeito José Gil Barbosa
4. Parentocracia e Cunhadismo
Com efeito, o que a cidade e o Estado verão naquele começo dos anos 30,
entre as idas e vindas da dança dos interventores, e até mesmo após o fim
delas, em 1945, é a volta ao poder dos grupos tradicionais, com suas idéias e
práticas, afinal só superáveis com mudanças mais profundas, o que não foi o
caso. (TAVARES, 2002, p. 141).
Um dos primeiros atos de Lourenço Barbosa à frente da Prefeitura no ano de 1934 foi
arrumar uma vaga de professora para sua prima Modestina Rosa do Monte, que passou a
lecionar na Escola Singular Mista do Povoado Coivaras, então município de Altos. (DO de
23.04.1934).
Plínio Mozart de Morais era Sargento da Polícia Militar do Piauí. Foi o sucessor de
Vicente Pestana na Prefeitura de Altos, governando como Prefeito em Comissão no período
de outubro de 1930 a setembro de 1931. Na sua administração, seu cunhado Odorico de
Almeida Saraiva exerceu o cargo de Procurador-Tesoureiro da Prefeitura, nomeado por ato de
22 de julho de 1931. Este mesmo ato nomeava também Anísio Ferreira Lima para exercer a
função de Agente Distrital de Alto Longá e Benedito dos Reis Cavalcante (B. Reis) para a
mesma função em Beneditinos. Ambos eram correligionários do grupo do Prefeito. As duas
cidades citadas haviam sido extintas pelo Decreto n° 1.279, de 26.06.1931, passando a
Distritos Administrativos Municipais e tendo suas terras anexadas ao território de Altos.
Tendo sido nomeado Prefeito de Picos-PI, o Sargento Plínio “passa” a administração
de Altos ao seu cunhado Odorico Saraiva, nomeado Prefeito em 29 de setembro de 1931,
através de Decreto do Interventor Federal no Piauí, Tenente Landry Sales Gonçalves. O
mandato do novo Prefeito terminou em abril do ano seguinte.
Futebol Clube, o primeiro time de futebol da cidade (1939), de cuja agremiação esportiva foi
presidente. Podemos elencar como obras de seu governo a conservação das estradas estaduais,
a continuação da obra de construção do Mercado Público de Altos e a construção dos
mercados públicos de Alto Longá e Beneditinos, então Distritos Administrativos de Altos.
Assim como na cidade de Altos, em Picos o novo Prefeito Plínio Mozart encontrou
inúmeras dificuldades no setor educacional, com professores primários nomeados pelo
município sem formação normalista, o que causava repulsa nas famílias, que preferiam
mandar seus filhos estudar em outros centros, não obstante as despesas decorrentes da
mudança. Em relatório acerca dessa situação, apresentado ao Interventor Federal do Piauí,
datado de 1º de dezembro de 1931, ao destacar a carência educacional e acentuar a qualidade
do ensino ministrado pelas professoras normalistas em Picos, o Prefeito nomeado assinala
que:
[…] naquele distrito os pais que têm recursos retiram seus filhos a fim de
estudarem em Crato-CE, e os pobres preferem que os seus filhos fiquem
analfabetos a aprender com quem não tem habilitação. Toda esta gente apela
para mim no sentido de conseguir normalistas que rejam estas escolas ou
pessoal com a devida competência. (SOUSA, 2008, p. 11)
Plínio Mozart permaneceu como Prefeito de Picos até abril de 1932, retornando ao
cargo de Prefeito de Altos. Esta segunda fase de sua gestão durou dois anos, tendo terminado
em 16 de abril de 1934, quando foi exonerado, a pedido, por ato governamental, de 16 de
abril, assinado pelo Interventor Federal Landry Sales. (DO de 24.04.1934). Foi substituído
pelo Coronel Lourenço Saraiva Barbosa, que governaria a cidade até o final do regime, em
1945, por longos 11 anos.
Quais as causas de sua renúncia? Por que um Prefeito, com todas as regalias e
prerrogativas, renuncia à função de chefe do Executivo Municipal? Por que essa dança
administrativa entre as prefeituras de Altos e Picos? Que ações administrativas inquietaram a
população ou os interesses da elite dominante nas duas cidades por ele administradas? Essas
são indagações para as quais ainda se buscam respostas, vez que nos parcos documentos
pesquisados não foram encontradas informações que ajudem na solução destas questões.
Entende-se que seu autoritarismo militar, aliado à prepotência e modo àspero no trato social,
tenha desagradado ao povo ou à elite política de então, causando sua saída das prefeituras.
Enquanto Prefeito de Altos, Plínio Mozart iniciou a construção do Mercado Público da
cidade, tendo realizado a transferência da feira livre para a frente do local da obra, numa área
próxima à igreja matriz de São José, onde fica atualmente o calçadão da Praça Cônego
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Honório. Em 1932 Altos recebe do Governo do Estado a verba de 30:000$000 (trinta contos
de réis) para investimentos em obras contra as secas, destinados à abertura de poços e açudes,
que o então Prefeito levou a cabo, em benefício da população.
Figura 07 - Feira livre de Altos, nos anos 60, vendo-se ao fundo, à esquerda, o
Mercado Público, cuja obra foi iniciada pelo Prefeito Plínio Mozart de Morais
Fonte: Arquivo do autor
Altos – Em nome do município, faço votos a Deus para que o novo anno seja
de grandes prosperidades para o Estado e completo reconhecimento ao
Governo patriotico de V. Excia. Saudações.
a) Lourenço Barbosa, Prefeito. (DO de 13.01.1938, p. 04).
Altos – Desejo feliz anno novo, com muitas prosperidades.
a) João Simeão. (DO de 13.01.1938, p. 04).
Altos, 10: Congratulo-me com V. Excia. pela data de hoje em que se festeja
jubilosamente 4º aniversário do Estado Novo que tanto há concorrido para
progresso e felicidade do nosso querido Brasil. a). Lourenço Barbosa,
Prefeito Municipal. (DO de 21.11.1941, p. 03).
A eleição de Cândido Porto, bem como a posse de um suplente depois, que não
receberam nenhuma votação, são explicadas pelo sistema eleitoral vigente na época:
quociente eleitoral, segundo o qual
O total dos votos recebidos pelas legendas dos partidos é que decidia o
número dos eleitos. Candidatos com votação insignificante eram
considerados eleitos se o total da votação dada ao partido o permitisse. [...]
Seriam eleitos tantos candidatos quantas vezes o quociente eleitoral estivesse
contido no total da votação (MELLO, 1976, p. 17).
Figura 09 - O Interventor Landry Sales (no centro, fardado), na posse dos novos
Prefeitos (1934). Lourenço Barbosa é o primeiro em pé, na 2ª fila, da esquerda
para a direita.
Fonte: Acervo Batista Teles
Nesta fase de sua vida pública, Lourenço governou o município por 11 anos. Podemos
elencar como suas principais realizações: transferência do matadouro municipal para um lugar
mais apropriado; construção de necrotério no cemitério público; construção de uma “sentina”
na Prefeitura, que também recebeu serviços de conservação, adaptação e limpeza; construção
do prédio próprio da Prefeitura; criação e instalação da Biblioteca Pública Municipal João
Bastos (1936); construção do prédio da Unidade Escolar Governador Landry Sales Gonçalves
(1939); construção da Usina Elétrica São José, movida à lenha (1944); reforma e ampliação
do Cemitério São José; construção do Mercado Público Municipal; aquisição de maquinário e
outros materiais para a Prefeitura; perfuração de um poço público; construção de 24 km da
estrada carroçável ligando Altos a Beneditinos e a Alto Longá; criação de 03 escolas
municipais, dentre as quais uma na localidade rural Cruzeiro; reconstrução de um poço
público; e construção de uma ponte de madeira sobre o rio Camurugipe, na estrada Altos-
Beneditinos.
Em relatório datado de 30.04.1935, apresentado ao Presidente da República, Landry
Sales presta contas de seu governo no estado do Piauí no período de 1931 a 1935,
assinalando, quanto ao município, que:
Fazendo eco à ação do Chefe do Executivo Nacional, acentua Mello (1976, p. 305) que
sua preferência por estes setores se justifica pelo fato de que “sem saúde e sem instrução (o
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ser humano) não produz com eficiência, não faz a sua felicidade, não concorre para o
progresso do Estado e, às vezes, nem serve à Pátria” (grifo nosso). Note-se o ufanismo do
Interventor, cativando em seu discurso o amor ao país, aliado ao sentimento de defesa
nacional.
Em 1934 o Interventor Federal Landry Sales cria mais 50 escolas nucleares no interior
do Estado. Dentre as salas criadas estava uma situada no lugar Morro da Arara, zona rural de
Altos (Decreto n° 1.514, de 22.01.1934). Percebe-se que houve intensa preocupação em
disseminar o ensino e dotar as escolas rurais com professores, preferencialmente formados
com habilitação plena ao exercício do magistério. A Escola Nuclear do Povoado Boca do
Coco, por exemplo, deste município, teve como professora a senhora Tecla Soares Cavalcanti,
nomeada pelo Diretor Geral da Instrução Pública do Estado (DO de 23.04.1934, p. 03).
Quase um ano depois, a 09 de janeiro do ano seguinte, é decretada a criação de mais 40
escolas nucleares, sendo a cidade de Altos contemplada com uma, instalada para atender o
alunado das localidades rurais Barcelona e Anajás (Decreto n° 1.605, de 09.01.1935). Em
1939, numa política de expansão do ensino público no estado, já na gestão Leônidas Mello,
foi criado em Altos o Grupo Escolar Governador Landry Sales Gonçalves, funcionando no
centro da cidade, com 03 salas de aula. Seu prédio ficava localizado na Avenida João de
Paiva, onde funciona atualmente a U. E. Cézar Leal. Servia também como clube e teatro. A
primeira professora do educandário foi Aclese Barbosa, e a escola funcionava em um só
turno, com as classes do 1º ano A e B e 2º ano, possuindo mais de 100 alunos. O citado grupo
escolar continuou ativo até meados da década de 1980, quando foi extinto.
Conforme relatório da Diretoria Geral de Estatística do Estado do Piauí, no ano de 1934
a educação em Altos era ofertada em uma escola agrupada (Afonso Mafrense), contando-se
04 classes, 01 escola singular e 01 escola particular, não subvencionada pelo governo. O
corpo docente apresentava 02 professores lotados em escolas estaduais, nenhum em escola
municipal e 01 professor particular. Havia 03 professores estaduais diplomados e 05 leigos.
Quanto ao quadro de matrículas, estavam inscritos 247 alunos de ambos os sexos nas escolas
estaduais e 52 nas escolas particulares. No quadro que trata da promoção e conclusão do
curso, o número de promoções era de 47 na rede estadual e 19 na particular; destes alunos, 22
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concluíram o curso primário nas escolas estaduais e nenhum nas escolas particulares. (PIAUÍ,
1935, p. 36; 37).
O crescente número de alunos e a consequente extensão da rede de ensino levou à
nomeação de várias profissionais – formadas – para ministrar aulas nas escolas públicas
localizadas nas zonas urbana e rural do território altoense.
Nos anos finais do governo Lourenço Barbosa, conforme dados do Departamento
Estadual de Estatística, no ano de 1943 a educação oferecida no município de Altos era
limitada ao ensino primário, oferecido em 12 estabelecimentos de ensino. Isso para uma
população de 15.238 habitantes, dos quais apenas 2.509 residiam na sede municipal (PIAUÍ,
1944). Conforme Ligório (1994, p. 61), o mesmo entusiasmo com a educação foi dedicado à
saúde pública, “com a criação de postos de higiene, como se denominavam os postos de
saúde, que passaram a funcionar como mini-hospitais no interior”.
Altos sempre teve atendimento precário no setor da saúde pública. Nem sempre foram
desenvolvidas políticas sérias no sentido de amenizar as vicissitudes por que a comunidade
passa nesse campo. Na Era Vargas não era diferente, e a adoção de medidas paliativas foi uma
constante para acorrer às necessidades da população.
Telegrama do Secretário de Governo do Estado, datado de 15 de maio de 1934, autoriza
o Prefeito Lourenço Barbosa a criar na municipalidade uma taxa de 5% com a denominação
de saúde. O imposto seria cobrado sobre os talões expedidos pela Prefeitura, sendo destinado
à compra de medicamentos e material de expediente para as Delegacias de Saúde, porquanto
não havia verbas suficientes para isso nos orçamentos municipais. Na capital, o valor da taxa
era apenas de 3%, pois a dotação orçamentária supria mais facilmente essa carência. (DO de
15.05.1934, p. 05).
Com o término do governo Vargas, o país adquiriu sua redemocratização antes atingida
pelo golpe, vivendo novamente o exercício pleno da democracia. Esse período foi o tempo
suficiente para a reorganização do país, que, a partir daí, realizou eleições diretas para a
escolha de dirigentes nos Estados e municípios, que voltavam novamente a escolher seus
representantes por meio de eleições, passando, porém, por um curto período de transição.
Ligório (1994, p. 52) afirma que “em 1946, o primeiro ano da redemocratização, todos
os aparelhos da ditadura já haviam sido desmontados pelo substituto de Leônidas Mello, o cel.
Leôncio Ferraz. Pensava-se apenas na reconstrução democrática”. Acentua o autor que o que
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estava em voga no mundo era o anseio de paz e que o Piauí aguardava esperançosamente por
dias melhores.
Neste período, foram nomeados para os cargos de Prefeito Municipal de Altos:
Francisco Raulino (17.11.1945-07.04.1946), José Fortes Sobrinho, o Zozô (08.04-
18.05.1946), Luiz Marques de Holanda (18.05.1946-07.05.1947), José Francelino de Morais,
o Zé Baú (07.05.1947-20.02.1948) e Antônio Ribeiro da Silva (20.02-21.04.1948), quando
assumiu o primeiro Prefeito eleito pelo voto direto após a redemocratização do país, Francisco
Raulino. Este, que retorna ao comando municipal, governaria a cidade até 31 de janeiro de
1951.
Tais prefeitos, porém, eram diretamente ligados ao esquema político desmontado, sendo
até sua nomeação submetida à apreciação dos velhos mandatários de outrora. José Gil
Barbosa (1918-2013) conta um fato curioso ocorrido na época da indicação do Prefeito José
Fortes Sobrinho para a Prefeitura de Altos: Zozô era grande amigo do advogado Walter
Alencar, a pedido de quem o Interventor Federal no Piauí, José Vitorino Correia, resolveu
nomeá-lo para o Executivo Municipal. Lourenço Barbosa, o maior líder político do lugar, é
convocado pelo Interventor à fazenda Buritizinho, propriedade do futuro prefeito Zozô. O
diálogo teria se desenrolado nestes termos:
“– Lourenço, tenho de nomear o prefeito de Altos. Eu queria nomear o Zozô.”
Partidário de outro nome – ou mesmo querendo o cargo para si –, Lourenço teria
retrucado ao Interventor:
“– Então, por que mandou me chamar?” (BARBOSA. Entrevista, 2012).
E foi logo saindo sem mais nada dizer nem ouvir.
Vitorino Correia nomeou José Fortes Sobrinho, que passou apenas 40 dias na Prefeitura,
tendo assumido no dia 08 de abril de 1946, governando até o dia 18 de maio do mesmo ano.
Dizia que aceitou a nomeação no “desejo de bem servir ao povo altoense” (FORTES, 2003, p.
48). Renunciou ao cargo por conta da tentativa de intromissão em seu governo por parte de
algumas lideranças locais. O Coronel Zozô, como era tratado, alegou que não poderia “mexer
em uma panela em que muitos pretendiam meter a mão” (FORTES, 2003, p. 48) e que não
admitia benesses especiais a quem quer que fosse. Foi substituído na Prefeitura por Luiz
Marques de Holanda.
Analisando criticamente a reorganização política no município, Aguiar apud Kruel e
Moraes (2011) assim define a conjuntura instaurada na nova gestão, capitaneada por Luiz
Marques de Holanda, agora correligionário de Lourenço Barbosa, a quem cegamente
obedecia:
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O Prefeito não é o mesmo do tempo de Leônidas Mello, mas, pior que isto, é
o tal Luiz Marques, simples testa de ferro, quase analfabeto, que assina de
cruz tudo quanto o chefe lhe manda assinar. O homem mora no lugar
Tabocas, distante três léguas da cidade, onde só vem aos sábados para fazer
a feira. Terminadas as compras, arrastando as esporas, lá vai o Prefeito à
Prefeitura e borra com uma garatuja, que diz ser a assinatura, os papéis que
Lourencinho lhe apresenta.
Há alguns anos, Luiz Marques, por motivo que não vem ao caso relembrar
no momento, foi forçado a mudar de residência, transferindo-se para o
Amazonas. Cessada a causa que o obrigou a mudar de terra, o homem voltou
aos penates. Diz ele que a coisa mais bonita que viu por onde andou, foi a
doca de “Ver-o-Peso” em Belém do Pará e que há de fazer uma, igualzinha,
em Altos, bem de frente da casa do Lourencinho, para fazer pirraça ao
Pestana.
Quando o major Vitorino Correia tomou posse da Interventoria, declarou que
vinha ao Piauí fazer administração e não política. Em Altos, nem uma nem
outra coisa está fazendo o governo. Ciente e conscientemente a Interventoria
restaurou a politicagem suja de Leônidas Mello, na florescente cidade,
incontestavelmente merecedora de uma administração operosa e honesta.
(AGUIAR apud KRUEL e MORAES, 2011, p. 187).
7. Considerações finais
Não se pode vislumbrar a Revolução de 1930 como uma luta por reformas políticas
sérias e profundas, mas como uma disputa pelo poder, uma briga pelo comando do país e, de
resto, todos os municípios brasileiros. As mudanças políticas observadas eram de caráter
revanchista, pois eram retirados elementos ligados ao grupo deposto e colocados adesistas ao
movimento „revolucionário‟, provocando uma reviravolta na administração pública. Os
Interventores Federais Leônidas Mello e Landry Sales procuraram se vincular politicamente
aos chefes políticos municipais, às tradicionais oligarquias, garantindo, desta forma, seu
enraizamento no poder ao longo de mais de 15 anos.
Durante a Era Vargas verificou-se na cidade de Altos uma alteração da ordem pública,
com importantes mudanças na administração municipal, notando-se um rodízio de 05
prefeitos, que se revezaram no comando da cidade. Ressalte-se, no entanto, que houve apenas
uma mudança de agremiação política e não de concepção ideológica, vez que as
características do grupo que se efetivou no poder a partir de então pouco diferiam da
conjuntura da República Velha, a quem sucediam, até porque muitos dos que passaram ao
comando do município eram oriundos da velha prática coronelista, cujo poder era assegurado
pela troca de favores, assistencialismo e pelo voto de cabresto.
Fazendo da administração pública uma extensão de seus domínios, os novos prefeitos
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RESUMEN
En este artículo se presenta una investigación en la historia política. Se centra en la ciudad de Altos Piauí, en el
período 1930-1945. Alcaldes examina el giro producido en la ciudad durante la Era Vargas, observando el perfil
de estos gestores políticos y administrativos y la forma en que sus conceptos se desarrollaron las prácticas en
favor de la comunidad, mediante la realización de obras en materia de salud y educación, en particular, y de los
cambios y queda marcada en la política después. Por lo tanto, vamos a trazar un perfil de la evolución de la
ciudad durante la década de 1930 y los primeros años de la década de 1940, teniendo en cuenta los cambios que
se produjeron en la ciudad en sus diferentes aspectos. Los objetivos de este trabajo: la de relacionar los gerentes
nombrados y elegidos para gobernar la ciudad de Altos, en el período objeto de estudio, identificar qué grupos
pertenecían administrativa y los ideales, analizar el impacto de sus deliberaciones sobre políticas en materia de
desarrollo socio-económico de la ciudad, y contribuyen a la construcción de la historiografía local, por lo escaso
de las publicaciones en consecuencia. Comenzamos con una literatura sobre el tema a nivel nacional, estatal y
local, y se viene desarrollando la investigación documental en los archivos del ayuntamiento y de los mayores,
Archivo Público del Piauí, los mandatos de las autoridades municipales y las entrevistas con la gente
contemporánea. También utilizamos fuentes iconográficas y los informes periódicos, decretos, leyes y
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ordenanzas municipales y estatales, más allá de la Gaceta Oficial de Piauí. Lectura y análisis de los datos
recogidos sirven como punto de cuestionamiento y estudio de posibles soluciones a las cuestiones planteadas.
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