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“O conservador pensa na política como um meio de preservar

a ordem, a justiça e a liberdade. O ideólogo, pelo contrário,


pensa na política como um instrumento revolucionário para
transformar a sociedade e até mesmo transformar a natureza
humana. Na sua marcha em direção à Utopia, o ideólogo é
impiedoso.”. As palavras de Russell Kirk, teórico político
americano, podem ser usadas para explicar o que é
conservadorismo.

Alguns consideram que ser chamado de conservador é


ofensa, outros veem nisso um sinal de continuidade na
tradição e valores morais.

O que é conservadorismo?
O conservadorismo pode ser entendido como uma filosofia de
vida que orienta a ação política, econômica e social de
determinados indivíduos ou grupos. Está intimamente ligado
aos valores tradicionais. Opõe-se às mudanças radicais ou
violentas e defende a permanência de instituições que geraram
bons frutos ao longo do tempo.
Exemplos de instituições tradicionais que os conservadores em
geral defendem: a família, a Igreja e a comunidade local, além
de seus usos e costumes.

 Descubra detalhes sobre os três pilares que construíram


a Civilização Ocidental.

A estabilidade, continuidade e liberdade dessas instituições é


um ponto essencial para o conservadorismo.
O pensamento conservador se define como realista por se
basear na observação, na indução e na experiência. Isso
contrapõe o idealismo e utopismo de progressistas ou
reacionários.
Os valores conservadores estão ligados às tradições locais.
Portanto, não são um conjunto fechado de ideias. Eles variam
de acordo com o lugar e com o tempo.
Por exemplo: o conservadorismo francês pode ser diferente do
brasileiro, ou do indiano, uma vez que cada sociedade possui
suas tradições e costumes próprios.
É importante distinguir o conservadorismo da postura
conservadora.
Conservadorismo é um modo de encarar a realidade social,
como está sendo exposto neste artigo. Já a postura
conservadora é exclusivamente uma resistência às mudanças,
podendo ser uma característica atribuída a qualquer lado
político.
De acordo com Quintin Hogg, presidente do Partido
Conservador britânico em 1959:
“o conservadorismo não é tanto uma filosofia, mas uma atitude, uma
força constante, que desempenha função atemporal no
desenvolvimento de uma sociedade livre e correspondente a uma
exigência profunda e permanente da própria natureza humana”.
Alguns valores e algumas instituições são universais dentro do
pensamento conservador.
Liberdade política e econômica

Templo de Atenas.
É comum que os conservadores ocidentais valorizem as
instituições mais antigas de sua própria cultura e que
conseguiram produzir sociedades sólidas.
Nesse caso, valorizam uma ordem social e moral baseadas no
transcendente, representado pela filosofia grega, pelo direito
romano e pelo cristianismo. Estes são os pilares do
conservadorismo.
Em cada exemplo desses, nota-se que a liberdade do indivíduo
é essencial para o funcionamento das instituições econômicas.
Ainda nesses exemplos, os corpos intermédios da sociedade
são a família, a Igreja e as comunidades locais, que se juntam
de modo autônomo.
Em um determinado modelo de construção política e
econômica, a liberdade desses grupos é essencial, além de
dever pautar-se nos valores corretos.
O ataque aos corpos intermédios e à liberdade irrestrita pode
ser visto como o caminho para o autoritarismo, estatismo e
totalitarismo.

Individualidade e nacionalismo, igualdade e


desigualdade
Observando a constituição física e psíquica e as aptidões de
cada pessoa, nota-se uma diferença natural entre cada um.
Também seus interesses, escolhas e decisões contribuem para
essa diferença.
Estudando o que é conservadorismo, não raro encontra-se a
explicação de que o individualismo permite as diferentes
expressões de cada ser humano. Nesse caso, somente é
necessário ter igualdade jurídica para oferecer a mesma
chance a todos.
O coletivo é visto como a expressão natural dos indivíduos, não
como uma tentativa de controlar convicções políticas, sociais,
econômicas e morais. Esse controle feriria a liberdade
individual.
Os conservadores típicos valorizam a cultura nacional, desde
que respeite o conjunto de valores conhecidos como lei natural.
Outro ponto importante para entender o que é conservadorismo
é a ideia de que não existe bom selvagem. Considerando o
homem com uma natureza inclinada ao mal, não fará sentido
projetar sociedades ideais e utópicas.
Se no estudo da tradição é patente que o homem comete um
conjunto de crimes típicos, o pensamento sobre o que é justiça
e ordem social devem se basear nisso, e não na possibilidade
de o homem mudar a própria natureza.

Ordem e moral
O conservadorismo político é visto como sinônimo de política
da prudência. Nem as mudanças e nem o progresso são
descartados. Embora entendidos como elementos necessários,
espera-se que ocorram de forma lenta, pensada e trabalhada.
Outro aspecto dessa visão é o racionalismo político. As
mudanças e reformas vêm após uma comparação com os
valores fundamentais, com um estudo do que a tradição
oferece de experiência.
O desejo de manutenção do essencial e do que funciona
permanece. A política é a arte do possível, não um laboratório
de testes para alcançar as projeções do pensamento humano.

Racionalidade e tradição
Os conservadores buscam guardar a lei natural e tudo o que é
duradouro. Esta lei significa que há princípios e valores
universais inscritos no próprio homem.
Quando a lei natural é entendida como universal para todos os
homens, isso significa que estes valores devem se tornar guias
naturais das posições morais e éticas para uma boa vivência
humana.
No Ocidente, por exemplo, a lei natural está firmada na tradição
da filosofia grega, do direito romano e da religião cristã. A
experiência ao longo da história humana também contribuiu
para essa concepção.
Não há fórmula nem forma certa para ser conservador. Coisas
essenciais devem ser preservadas, mas se, vez por outra,
alguma mudança não trouxer riscos para a sociedade como um
todo, ela pode ser analisada e discutida.
Roger Scruton, pensador conservador contemporâneo, chama
isso de “ordem social contínua”, que é uma sabedoria natural
da civilização humana, construída através de erros e acertos.
Essas sucessões vão aprimorando as experiências humanas,
suas éticas, artes, constituições e leis; fazendo com que o
tempo seja um mestre eficaz e verdadeiro consultor dos
homens prudentes.
Para Gilbert Keith Chesterton, jornalista inglês, o nome dessa
experiência é “democracia dos mortos”. Essa continuidade é a
construção de uma sociedade inteligente, onde colaboram
aqueles que viveram, que vivem e que viverão.
A tradição não é algo estático e inalterável, mas formou-se ao
longo dos anos e permaneceu através das mudanças.

As origens do conservadorismo

Mosaico da Basílica de São Vital, em Ravena Itália. Ao centro


está o imperador Maximiano com seus guerreiros, burocratas e
clérigos.
Alguns conservadores associam seus pensamentos aos
escritos de Cícero e Aristóteles. Todavia, o conservadorismo,
enquanto doutrina política, surgiu nos séculos XVII e XVIII,
período de rápidas transformações na Europa, das grandes
revoluções burguesas, do surgimento de novas doutrinas,
ideologias e políticas.
O termo vem da palavra francesa “conservateur”, que apareceu
durante a Revolução Francesa. Esta expressão designava: os
opositores dos jacobinos, de Napoleão e os que defendiam o
Antigo Regime.

 Você sabia que o surgimento da direita e


esquerda política tem a ver com a Revolução Francesa?

O primeiro uso estabelecido do termo originou-se com


François-René de Chateaubriand em 1818, durante o período
de restauração de Bourbon que procurou reverter as políticas
da Revolução Francesa.
O primeiro grande teórico do conservadorismo é o inglês
Edmund Burke.
Em 1790, ele previu que a Revolução decairia em terror e
ditadura.
Por ter jogado fora instituições testadas pela experiência
humana em troca de promessas e esperanças humanas sem
garantia de algo melhor, David Hume, criador da teoria do
ceticismo político, é também considerado um dos mais
importantes teóricos do conservadorismo.
Desde então, o termo passou a descrever uma ampla gama de
experiências políticas. É uma postura pautada em valores e
crenças, e não uma ideologia.
O termo é historicamente associado à política da direita, mas
compreende diversas experiências e pensamentos.
O próprio Burke criticou veementemente a Revolução
Francesa, embora apoiasse a Revolução Americana.
Conservadorismo político

Estátua representando o grande político romano Cícero.


Na política, o conservador procura conservar as instituições
políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do
tempo. Eles entendem que elas são frutos dos usos, costumes
e tradições daquele povo.
Uma sociedade saudável está aberta a mudanças, contanto
que sejam cautelosas e graduais.
A política do conservador é a política da prudência, preferindo
manter e melhorar as instituições estáveis e testadas; e
recusando tentar rupturas para implantar modelos de
sociedade e instituições que foram imaginadas, frutos de ideias
não provadas pelo tempo.
E como os valores conservadores se relacionam com a
economia?

O conservadorismo na economia
A economia é o principal ponto onde não há consenso entre as
distintas correntes do pensamento conservador. Porém, como
na política, há alguns pontos que são comuns.
A economia deve também ser pautada nos valores imutáveis
da lei natural. Portanto, há uma moralidade a ser respeitada
também no campo econômico.
Os principais aspectos que defendem são:

 propriedade privada;
 protecionismo alfandegário;
 desenvolvimentismo;
 nacionalismo.

Há grupos conservadores que defendem o livre mercado junto


com os liberais. Mas nem todos encaram bem a abertura dos
mercados e a globalização econômica.
Deste assunto fica a pergunta, é possível ser conservador e
liberal ao mesmo tempo?

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Existe um conservadorismo liberal?


Como anteriormente se disse, algumas correntes veem com
bons olhos o mercado à moda liberal. Já outras não
compactuam com a abertura dos mercados e com a
globalização econômica.
Alguns conservadores rejeitam a ideia de Estado mínimo. O
ponto central do debate entre liberalismo e conservadorismo é
o valor da liberdade.
Para o conservador, a liberdade é algo essencial e que se
constrói com o tempo. Para o liberal, é um valor absoluto e o
ponto de partida de qualquer regime.
Assim, é possível compactuar com ideais conservadores e
defender o liberalismo de mercado, mas é impossível juntar
plenamente as duas correntes de pensamento.

 Entenda de fato o que é o sistema econômico capitalista

Autores conservadores
Dentre as referências dos autores conservadores, destacam-
se:

 Edmund Burke (inglês, 1729-1797): grande crítico da


Revolução Francesa, lutou pela república e pela
preservação do cristianismo;
 Joseph de Maistre (francês, 1753-1821): defensor da
monarquia e opositor do movimento revolucionário
francês;
 Louis de Bonald (francês, 1754-1840): defendeu o Antigo
Regime, a Igreja Católica, a restauração da tradição e a
monarquia;
 Alexis de Tocqueville (francês 1805-1959): era defensor
da descentralização do poder, da liberdade ordenada e
dos costumes locais;
 Russell Kirk (americano, 1918-1994): considerava a
política como um meio de preservar a ordem natural, não
como um aparelho ideológico para transformar a natureza
humana. Opunha-se à violência das revoluções;
 Roger Scruton (britânico, 1944-2020): é este uma das
referências contemporâneas, foi um grande escritor
propagador das ideias conservadoras;
 Jordan Peterson (canadense, 1962-…): psicólogo clínico,
professor e ensaísta.
O que é conservadorismo no Brasil?

O conservadorismo no Brasil é disperso. Não há representação


partidária do conservadorismo, cujas pautas se identificam em
alguns partidos de direita. Há uma grande quantidade de
grupos da sociedade civil, de diferentes vertentes, que
assumem a postura conservadora.
De acordo com o professor Olavo de Carvalho, não há partido,
revista, jornal diário, estação de rádio ou universidade
conservadora no Brasil. Isso significa que o povo,
majoritariamente conservador e cristão, não tem
representação.
Ele explica que a esquerda entende que isso é a
democracia. Essa é a razão para que Olavo afirme que o
problema não é a esquerdização, mas a exclusão das
alternativas. Isso o motivou a escrever O Imbecil Coletivo,
1996.
Na ausência de uma única identidade conservadorista
brasileira, alguns liberais econômicos defendem o
conservadorismo, também monarquistas, grupos religiosos, etc.
As pautas estão distribuídas entre diversas influências do
conservadorismo inglês e francês. Assim, o uso deste termo no
Brasil geralmente se refere a defensores das tradições culturais
do direito romano, da filosofia grega, do cristianismo e dos
valores ibéricos.
Alguns importantes autores conservadores brasileiros são:

 João Camillo de Oliveira Torres (1915-1973): escritor,


historiador e jornalista;
 Mário Ferreira dos Santos (1907-1968): filósofo;
 Olavo de Carvalho (1947-2022): filósofo, professor,
ensaísta, escritor e jornalista;
 Otto Maria Carpeaux (1900-1978): jornalista, crítico
literário, crítico artístico, ensaísta;
 Gustavo Corção (1896-1978): escritor, engenheiro,
ensaísta e jornalista;
 Miguel Reale (1910-2006): filósofo, jurista, professor e
poeta;
 Plínio Corrêa de Oliveira (1908-1995): escritor,
conferencista e professor;
 Gilberto Freyre (1900-1987): ensaísta, escritor, poeta e
jornalista;
 José Bonifácio (1763-1838): poeta, estadista e Patriarca
da Independência;
 Oliveira Lima (1867-1928): escritor, crítico literário,
historiador, diplomata e jornalista.

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Críticas ao conservadorismo
As principais críticas às propostas conservadoras são as
seguintes:

 Pautar os valores em uma lei universal barraria a


possibilidade do multiculturalismo nas sociedades;
 A igualdade jurídica é incapaz de atender todas as
demandas sociais, especificamente as das minorias, para
garantir plena igualdade;
 Sua política é um fator limitante ao assistencialismo do
Estado.

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