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EDITORIAL
O mundo mudou! A boa ou má notícia é que continuará mudando cada vez mais
velozmente. Mas, qual a novidade? Heráclito, de Éfeso (pólis grega, na atual Turquia,
540 - 470 a.C.) afirmava que “a única constante do Universo é a mudança”. Talvez, o
verdadeiramente novo seja a atual velocidade das mudanças, não acompanhadas da
necessária busca pelos estados superiores de consciência.
Ao longo dos anos, tornamo-nos “humanos, demasiadamente humanos”, como
cita Friedrich Nietzsche (Alemanha, 1844 - 1900) em sua obra de mesmo nome, aler-
tando que “existe verdade e verdade” e que “existe a possibilidade de um futuro se-
guro para a humanidade, desde que depurado das inverdades, das superstições, dos
preconceitos, das religiões impostas e desumanas, da falta de liberdade... depurado
ainda, de tudo que é fantasia (para nós, Maya), pura imaginação, ...”. Gigantesco para-
doxo, uma vez que ele, considerado ateu, defendia a inexistência de Deus e da alma.
Ao longo dos tempos, pouca ou nenhuma atenção vem sendo dada à expressão
que “Não há religião superior à Verdade”, trazida pela teósofa Helena Petrovna Bla-
vatsky (Ucrânia, 1831 – Londres, 1891), sinalizando que deveria ser este o propósito
maior durante a nossa jornada na face da Terra, o de acelerar nosso processo evolu-
tivo.
Há quase cem anos, o professor Henrique José de Souza resgatava e ocidenta-
lizava os ensinamentos da atemporal Sabedoria Iniciática das Idades, a Teosofia, tra-
zendo dentre inúmeros conhecimentos que a maior Lei Universal é a Lei da Evolução,
das quais todas as demais derivam e se subordinam.
Muitos ainda confundem “mudança” com “evolução”, aplaudindo somente os
avanços nas áreas científicas e tecnológicas, em detrimento do que deveria ser a ur-
gente procura pela “divinização do ser humano”.
Mas, como nos “divinizar” ou “espiritualizar” sem buscarmos a “sombra ben-
fazeja de uma árvore mais fértil, para nos abastecer a mente e o coração com os
bons frutos do conhecimento e do amor, que são os maiores tesouros que podemos
alcançar? Essa árvore benfazeja é a sublime sabedoria do Avatara” (Pequeno Oráculo,
pensamento nº 134, Editora Arabutã, 1995).
Em que momento nos perdemos ou disso nos esquecemos? Temos o privilégio
de “desfrutar” de tão nobres conhecimentos, de beber na límpida fonte dos Mistérios
Maiores, legada pelos Grandes Seres e, distraídos pelas múltiplas possibilidades do
mundo digital ou virtual, “desvirtuamos” do Caminho, do TAO, de IO. Pobre de nós!
Numa era na qual praticamente tudo temos em tempo real, nada conquistaremos se
não ousarmos adentrar a Escola Iniciática estabelecida para o presente ciclo, que é a
Sociedade Brasileira de Eubiose.
Há quem diga que muitos são os caminhos. Sim, vários são os caminhos pos-
síveis, mas num mundo ágil, volátil, urge que busquemos a Sabedoria Primordial e,
mais ainda, que coloquemos tão excelsos ensinamentos em atividade no grande palco
do teatro universal.
Yogananda, iogue indiano (1893 - 1952), em texto publicado na revista Dhâranâ
de 1944 sobre “O fim de uma civilização e começo de outra”, afirmava que “as carac-
terísticas da época que atravessamos são de molde a fazer-nos refletir e a levar-nos
à convicção de se aproximar uma mudança radical das velhas concepções de vida e
das relações sociais. Assistimos, evidentemente, à morte de uma civilização velha de
2.000 anos que deverá ser substituída por outra portadora de uma nova cultura, de
uma nova moral e de uma nova ética social. Não é a primeira vez que se verifica tal
mudança no decorrer da longa estrada da evolução. A história da humanidade está
repleta de exemplos...”.
Ainda no atual e instigante artigo continua: “e se o trabalho de destruição de
uma civilização qualquer, quando no período de descida, é preparado e dirigido por
determinados indivíduos ou por determinado povo, é lógico admitirmos que, tam-
bém o advento da civilização imediata ou sucessora, deve ser dirigido, preparado e
anunciado com grande antecedência, por Seres e Colégios Iniciáticos para este fim
designados...”.
Cabe, portanto, a nós nos questionarmos: Estamos aptos para o exercício deste
papel exigido no novo Ciclo? Afinal, o mundo mudou! Mudei eu?
LUCIA HELENA S. CORDEIRO
Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Eubiose

A Terra é visitada periodicamente pelos Missionários da


Paz e da Concórdia
“Segundo a letra das Escrituras Sagradas, a Terra é visitada perio-
dicamente pelos Missionários da Paz e da Concórdia e a sua vinda
é assinalada pelo aparecimento simultâneo de grandes cataclismos,
guerras, miséria, epidemias, perturbações políticas, sociais e religiosas,
tudo isso seguido do torpor natural em que fica o espírito humano,
atordoado pelos flagelos que o assediam e impotente para debelá-los.”
Henrique José de Souza.
Mensagem da Sociedade Dhâranâ ao Povo Brasileiro. Revista Dhâranâ nº 0, 1925.

Freepik
Sumario
05 JESUS E OS TRÊS REIS MAGOS
Pizarro Loureiro

FISIOLOGIA ESOTÉRICA DA
07 RESPIRAÇÃO
Henrique José de Souza

BRASIL FENÍCIO
11
Geni Dubauskas

O QUE SERIA O TEMPO NA


27 QUARTA DIMENSÃO?
Wladimir Ballesteros

35 INICIAÇÃO
Antonio Castaño Ferreira

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Jesus
e os
Três Reis Magos
PIZARRO LOUREIRO
Imagem de Sebastiano Lervolino por Pixabay

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Via, afinal, naquele dia, a luz O segundo falou: Vivo há milhões,
O Setenário humano de uma Cruz, Trago em mim o avatar das tradições,
O doce Rei da quarta Jerarquia. E o tempo de meus passos se irradia.
Uma nova semente germinal Ninguém mais do que eu olhou os Céus,
Ia florir, frutificar – Natal! – Ninguém mais do que eu sentiu a Deus. –
Lançada pelo filho de Maria. Com o INCENSO te dou SABEDORIA.

E, na grandeza de um coral vedântico, E o terceiro falou: Venho da terra


Do coração do mundo ecoou um cântico Que no bojo dos túmulos encerra
De aleluias, de festas, de esplendores. O segredo da vida e da verdade.
Aqui, além, em mil Fraternidades, Venci a morte pelo incorruptível
Saudado foi, com o hino das idades, E o domínio ganhei do invisível. –
O grande primogênito das dores. MIRRA te dou, tens a IMORTALIDADE.

Guiados por estrela flamejante, E depois de adorarem o Menino,


Em busca do presépio desse infante, Regressaram, com ânimo divino,
De bem longe chegaram três reis magos. Ao seu antigo e sempiterno seio. –
Vinham render-lhe a cálida homenagem Para aguardar, no fundo das centúrias,
De quem já fez também essa viagem, Insensíveis aos anos e às injúrias,
Em ciclos que se foram, já tão vagos... Aquele que há de vir... e que já veio!

Vinham trazer ao santo Filho do Homem


Os poderes que os males não consomem,
Patrimônio augural de outras esferas;
Referência bibliográfica:
Aquilo que os milênios que lá vão
Guardaram, com amor, no coração,
LOUREIRO. Pizarro. Jesus e os Três Reis

Ou negaram, depois, no fim das eras. Magos. Revista Dhâranâ n° 113 - 114 -
Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

julho a dezembro de 1942 - Ano XVII


Três tradições, três mundos e três raças.
O primeiro falou: Venho das graças
De um mundo que venceu pelo querer
A força do destino e dominou
Tudo aquilo que a terra germinou. –
Com este OURO que luz, dou-te o PODER.

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I
FISIOLOGIA ESOTÉRICA DA RESPIRAÇÃO
I

HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA

Imagem de 6028523 por Pixabay

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Tipos de respiração

Chama-se de prana-vayu o ar que penetra por Ida (narina esquerda ou lunar) e Pín-
gala (direita, solar). Quando por ambas simultaneamente, Sushumna, a respiração é, como
dissemos, do tipo andrógino. Em ciência médica, a narina lunar está para o vago, assim como
a solar, para o simpático. Logo, mediante semelhantes exercícios, pode-se conseguir o per-
feito equilíbrio do sistema nervoso. Nas crises simpático-tônicas, já alguns médicos mandam
respirar profundamente, ou por ambas as narinas ou, justamente, pela direita; nas vagotô-
nicas, pela esquerda.

A respiração pela narina esquerda chama-se também chandraswara, isto é, respi-


ração lunar (Chandra, lua; swara, hálito). Se pela narina direita, Suryaswara ou respiração
solar (Surya, Sol).

A respiração feita pela esquerda é menos cálida do que pela


direita. Por isso, de um doente febril se deitar sobre o lado direito,
obriga a narina esquerda a funcionar, e a febre diminui dentro de
poucos instantes. Sim, porque Lua, Apas ou água e Sol, Tejas, Agni
ou fogo são respectivamente termos de igual significado. Tudo
quanto está no Macrocosmo se encontra também no Microcos-
mo, segundo a sentença hermética: “O que está em baixo é como
o que está em cima...”.

É isso, a respiração natural. Mas o iogue pode modificar a própria natureza quando
deseja alcançar determinado fim, principalmente quando este se reverte em benefício para
seus semelhantes. Dominada pelo poder da inteligência, a respiração se torna submissa à
vontade do homem.

Fases lunares e respiração


O mês lunar divide-se em duas metades, isto é, nas duas semanas da lua crescente
e nas duas da minguante, o que abrange as quatro fases lunares. No primeiro dia das duas
semanas da lua crescente, deve a respiração passar, ao nascer do sol, pela narina esquerda,
isto no princípio dos três primeiros dias. No sétimo dia, começa outra vez a respiração lunar,
e assim por diante. Vemos, pois, que em certos dias se começa por uma respiração determi-
nada.

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A respiração ora se efetua por uma das nari-
nas, ora simultaneamente por ambas durante um pe-
ríodo de cinco gharis, equivalente a duas horas; fato
que o homem vulgar, para escárnio de seu mental,
ainda não descobriu. Se no primeiro dia das duas se-
manas, na lua crescente, começa a respiração lunar,
deve ser substituída, depois de cinco gharis (ou duas
horas) pela respiração solar, e, passado esse tempo,
novamente pela lunar. Tal coisa se dá naturalmente
todos os dias. No primeiro dia das duas semanas da
lua minguante, começa outra vez a respiração solar,
que muda depois de cinco gharis, durante os três
dias seguintes. Donde se conclui, que todos os dias
do mês são divididos em Ida e Píngala.

A respiração somente corre em Sushumna quando passa de uma para outra narina,
ou na forma natural ou sob condições que explicaremos em nossa próxima obra. Além de ser
ato dessa respiração que o homem pode ligar-se ao seu Raio (Dhyan Choan), pela realização
do êxtase espiritual, era nesse momento que se praticavam determinadas uniões sexuais,
como, por exemplo, entre reis e rainhas do velho Egito, para que seus filhos nascessem deu-
ses, filhos de Ammon, como rezam suas escrituras. Mas não explicam o resto... Um casal
pobre, espiritualizado, poderá, dessa forma, procriar um filho genial, portador de dotes de
grande valor. Se, porém, os cônjuges não forem de alto padrão moral e espiritual, seria vã
qualquer tentativa nesse sentido. Na terceira parte desse livro desenvolveremos estes e ou-
tros temas diretamente relacionados com o título desta nossa obra.

Correspondências entre os chakras


A região genital ou “sagrada”, como indica seu nome, está para a cabeça na razão dos
próprios centros de força ou chakras.

Muladhara (raiz); Sahasrara (coronal); Swadhistana (esplênico); Ajña (frontal);


Manipura (umbilical); Vishuda (laríngeo).
Anahata (cardíaco) é ímpar em relação aos demais; a câmara de Kundalini é um cen-
tro independente, se assim pudermos denominar, por ser nele que se regulam todos os mis-
térios humanos, entre os quais o fato de suas doze pétalas aumentarem para catorze, desde
o momento em que se manifesta o poder de Kundalini para elevar o homem à categoria de
Adepto.

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Características dos tattvas
A tabela abaixo complementa as características dos Tattvas dadas no começo deste
capítulo:
Tattva Sabor Comprimento Natureza Movimento
Prithivi Doce 12 dedos Grumoso Move-se no cen-
(Terra) tro
Apas Adstringente 16 dedos Frio Para baixo
(Água)
Tejas Picante 4 dedos Quente Para cima
(Fogo)
Vayu (Ar) Ácido 8 dedos Sempre em Inclinado
movimento
Akasha Amargo Sem dimensão Onipenetrante Transversal

Os comprimentos podem ser constatados, colocando-se a mão abaixo das narinas até
o máximo que eles possam alcançar, para uma espécie de tensão arterial aplicada ao sistema
respiratório, se um ligado está ao outro, ou melhor dizendo, todos os sistemas estão interli-
gados apesar da diversidade de suas funções.

O fato do Akasha não ter dimensão é natural, pois que a tudo alcança e interpenetra,
e como tal, dando razão a uma nossa assertiva, em parte contrapondo-se à que é dada em
A Doutrina Secreta, de que através desse Tattva fluem outros dois que lhe são superiores.

Conselho aos discípulos


Não se deve tomar por guia as obras tântricas¹. Elas concorrem, na maioria dos casos,
principalmente quando o praticante não se encontra sob a orientação de um mestre, nem
filiado a um colégio iniciático, para ocasionar mais mal do que bem, levando muitas vezes
o incauto pelo caminho perigoso da magia negra. Acrescente-se que jamais se poderia es-
crever um verdadeiro tratado de Ioga, mesmo porque, se alguém tivesse competência para
tanto, teria igualmente consciência dos riscos a que se expõem os seus leitores.

Referência bibliográfica:
SOUZA, Henrique José de. Capítulo 4. In Os Mistérios do Sexo – 3ª edição. Sociedade Brasileira de
Eubiose. 2019. Págs. 129 a 131.

1 - O sentido literal do termo sânscrito - TANTRA - é ritual ou regra, significando também misticismo
ou magia destinada a cultuar o poder feminino personificado em Shakti. Devi, Durgâ (Kali, esposa de
Shiva) é a energia especial relacionada com os ritos sexuais e poderes mágicos, a pior forma de feiti-
çaria ou magia negra. A linguagem adotada nas obras tântricas é altamente simbólica e as fórmulas
são pouco mais que expressões algébricas sem qualquer utilidade. (H.P.B. - Glossário Teosófico).

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Brasil Fenício
GENI DUBAUSKAS

“Há uma diferença muito sensível entre perceber e entender a verdade.


Podemos percebê-la com o coração e entendê-la com o cérebro. Ou melhor,
podemos sentir a verdade intuitivamente e examiná-la intelectualmente.
Se os que vivem neste século cultivassem a faculdade de perceber a ver-
dade com o coração, examinando depois, por meio da inteligência, o que
sentiram, muito breve teríamos por toda parte uma condição melhor e
mais feliz da nossa sociedade. Porém, a desgraça de nossa época consiste
em que as faculdades intelectuais foram elevadas ao último extremo de seu
poder de resistência, para as formas exteriores das coisas, sem perceber
seu caráter espiritual, por meio do poder da intuição.”
Henrique José de Souza

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Quem foram os fenícios?
A Fenícia foi uma civilização que se desenvolveu ao norte da antiga Canaã1, região que
corresponde ao atual Líbano, parte da Síria e Norte de Israel. Os fenícios ocupavam uma es-
treita faixa de terra entre o mar mediterrâneo e as montanhas do Líbano, onde o solo era pe-
dregoso e pouco adequado para a agricultura. No entanto eles se beneficiaram das grandes
florestas de Cedro, uma madeira leve e resistente, ideal para a construção de navios. Graças
a essa vantagem natural, os fenícios se tornaram excelentes comerciantes e navegadores da
antiguidade, estabelecendo rotas marítimas por todo o mediterrâneo e além.
Os fenícios não formavam um Estado unificado, mas sim uma confederação de cida-
des-estado independentes, cada uma com seu próprio governo, cultura e religião. Por isso,
eles não tinham um nome comum para se referir à sua terra ou ao seu povo. Geralmente,
eles eram chamados pelo nome de sua cidade de origem, como Tiro, Sidom ou Biblos. Alguns
estudiosos acreditam que eles se denominavam cananeus, o mesmo nome dos habitantes
originais da região.

Mapa da Fenícia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fenícia#/media/Ficheiro:Phoenicia_map-pt.svg
Uma das maiores contribuições dos fenícios para a humanidade foi a invenção do
alfabeto fonético, que consistia em 22 sinais representando os sons da fala. Esse sistema de
escrita facilitava a comunicação e o registro de informações, além de ser facilmente adaptá-
vel a outras línguas. O alfabeto fenício é considerado o ancestral de todos os alfabetos mo-
dernos, tendo influenciado os sistemas de escrita grego, latino, árabe e hebraico.
Dentre os fenícios encontramos algumas personalidades de destaque como Pitágo-
ras, cujo pai era um comerciante fenício da cidade de Tiro. Pitágoras passou a infância em
Samos embora tenha viajado bastante com seu pai; ele foi treinado pelos melhores pro-
fessores, alguns deles filósofos. Tocava lira, aprendeu aritmética, geometria, astronomia e
poesia. Existem relatos de Mnesarchus, pai de Pitágoras, retornando a Tiro com Pitágoras,
sendo ele ensinado pelos caldeus e eruditos da Fenícia e iniciado nos “Antigos Mistérios”
dos Fenícios c. 548 a.C., tendo estudado por cerca de três anos nos templos de Tiro, Sidon e

1. Canaã correspondia à área atual de Israel, da faixa de Gaza, da Cisjordânia, do Líbano e de parte sul do
litoral da Síria, junto ao mar Mediterrâneo.

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Biblos. Não podemos deixar de destacar também o Rei Hiram, Hiram
Afib e a rainha Gezebel que são citados na Bíblia, a Rainha Dido, que
fundou Cartago e o filosofo e matemático Tales de Mileto, considera-
do por alguns como pai da ciência e da filosofia ocidental.

Constituição política da Fenícia


A Fenícia era formada por um conjunto de cidades-estado au-
Pitágoras tônomas, cada uma com seu próprio rei e leis, sendo as principais Si-
https://upload.wikimedia.org/wikipe- don, Tiro e Biblos. Essas cidades se destacaram por sua importância
dia/commons/1/1a/Kapitolinischer_ histórica, cultural e comercial na região do Mediterrâneo Oriental.
Pythagoras_adjusted.jpg

Sidon
Sidon foi uma das primeiras e mais importantes cidades fení-
cias. Segundo a Bíblia, foi a primeira casa dos fenícios na costa de Ca-
naã. Homero2, poeta épico da Grécia Antiga, elogiou seus habitantes
pela especialização no fabrico do vidro e de tecidos de cor púrpura. Foi
a cidade-mãe de Tiro.
A cidade também teve um papel relevante na história bíblica e
cristã. Jesus Cristo visitou a costa de Tiro e Sidon e muitas pessoas se
aproximaram para ouvi-lo3. O navio que conduziu Paulo de Tarso para
Roma atracou em Sidon depois de deixar Cesareia4.
Ao longo da história foi conquistada por diversos povos como
filisteus, assírios, egípcios, gregos e romanos. Foi saqueada diversas
Arco do Triunfo, Tiro
https://upload.wikimedia.org/ vezes durante as Cruzadas, foi destruída pelos sarracenos (1249), pe-
wikipedia/commons/thumb/a/a5/ los mongóis (1260), ficou sob domínio do Império Otomano (século
Tyre_Triumphal_Arch.jpg/800px-
-Tyre_Triumphal_Arch.jpg
XVII), foi tomada pelos egípcios (século XIX), pelos britânicos durante
a Primeira Guerra Mundial e tornou-se protetorado dos franceses de-
pois da guerra. Hoje é a terceira maior cidade do Líbano5.

Tiro
Uma das primeiras metrópoles fenícias, Tiro é uma das mais antigas cidades conti-
nuamente habitadas do mundo e a quarta maior cidade do Líbano. É o lendário berço de
Europa e seus irmãos Cadmo, Cílix e Fênix, filhos do Rei Agenor. Na mitologia grega, Europa
foi raptada por Zeus, que se disfarçou de touro para que sua esposa Hera não percebesse.
O Deus levou Europa para Creta e Cadmo, na sua jornada de busca pela irmã, fundou Tebas.

2. Homero (928 a.C. - 898 a.C.), poeta épico da Grécia Antiga, autor da Ilíada e da Odisseia.
3. Bíblia Sagrada. Mateus 15:21-28.
4. Bíblia Sagrada. Atos dos Apóstolos 27:3-4
5. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sídon

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Originalmente,
Tiro consistia de dois cen-
tros urbanos distintos: a
própria Tiro, que ficava
numa ilha próxima ao mar,
e a velha Tiro, no conti-
nente. A atual Tiro cobre
hoje grande parte da ilha
original e da calçada cons-
truída por Alexandre, o
Grande (332 a.C.) com as
Reprodução da cidade de Tiro com suas muralhas
ruínas da antiga Tiro con-
Imagem: https://alexandrei0n.wordpress.com/2018/10/08/siege-of-tyre/
tinental para a conquistar.
No ano de 960 a.C.,
Tiro tornou-se a cidade dominante da Fenícia. Tiro é considerada patrimônio mundial cultu-
ral, segundo a Unesco, devido aos vestígios arqueológicos, principalmente da época romana,
incluindo banhos, uma estrada com colunas, um arco triunfal, um aqueduto e um hipódro-
mo.6

Biblos

A cidade de Biblos ou Gubla era famosa por ser a cidade mais antiga do mundo, segun-
do o historiador Fílon de Alexandria, sendo ocupada primeiramente em 8000 a.C. O nome de
Bíblia significa rolo ou livro e, provavelmente, recebeu o nome da cidade de onde o papiro
egípcio era exportado para a Grécia.
Biblos foi a primeira cidade a tornar-se um centro predominante, de onde os fenícios
saíam para dominar as rotas comerciais do Mediterrâneo e do mar Vermelho. A primeira
inscrição do alfabeto fenício foi encontrada no sarcófago de Airã, um rei fenício de Biblos por
volta de 1000 a.C.
No período romano era um centro de adoração a Adônis. No império Bizantino cres-
ceu rapidamente, pois lá se estabeleceu um lugar episcopal. Biblos também foi importante
na época das Cruzadas, sendo uma base militar, e ainda hoje observa-se os imponentes res-
tos do castelo cruzado no seu centro. Posteriormente fez parte do Império Otomano.
A economia fenícia: excelentes comerciantes marítimos
Devido ao solo fenício ser pouco propício para a agricultura, sua principal atividade
econômica tornou-se o comércio, que consequentemente os obrigou ao desenvolvimento
de técnicas de navegação marítima e de tecnologia naval, tornando-os excelentes comer-
ciantes marítimos.
Eles importavam e exportavam mercadorias como cerâmica, joias, armas, perfumes.
Em suas oficinas artesanais se dedicavam à metalurgia, à fabricação de vidro e ao princi-
pal produto, que eram os tecidos tingidos de púrpura. Estes tecidos eram tão famosos que

6. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiro

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o povo que os
co m e rc i a l i za -
va era chama-
do de fenícios
(phoinikes) pe-
los gregos, que
quer dizer púr-
pura.

Rotas comerciais dos fenícios


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/78/Rutas_comerciales_fenicias-pt.
svg/1024px-Rutas_comerciales_fenicias-pt.svg.png

A púrpura de Tiro
A púrpura tíria foi considerada o pigmento mais caro
da antiguidade por ser uma cor muito difícil de se fabricar.
Esse corante era extraído de várias espécies de caramujos
marinhos, envolvendo a coleta de milhares moluscos para
produzir uma pequena quantidade. Alguns viviam em ro-
chas, mas os maiores, Murex, ficavam a profundidades de 45
metros no mar Mediterrâneo. De 12 mil conchas conseguiam
apenas 1,4 gramas, o que dava para tingir apenas as bordas
de uma única peça. Mas o corante era tão maravilhoso, e
produzia uma cor tão exuberante que não desbotava ao sol,
pelo contrário, ficava ainda mais vívido. Portanto o seu preço
era maior do que ouro e prata. Esses elevados custos trans-
formavam os produtos têxteis que utilizavam a púrpura tíria
em símbolos de status. Imagem: ilustração da autora

Na antiguidade existiam leis que proibiam cidadãos comuns de obter determinados


alimentos, roupas ou mercadorias. Na Roma antiga, por exemplo, existia uma lei que proibia
o uso de roupas tingidas com a púrpura de Tiro, sendo permitido apenas para a elite. Nero
chegou a punir com a morte o seu uso.

Fenícios, os maiores navegadores da antiguidade


Os fenícios foram os maiores navegadores da antiguidade e dominaram o Mediter-
râneo, implantando grandes inovações na tecnologia naval, mais avançadas do que todas
as culturas que cercavam o Mediterrâneo. As mais importantes são a quilha, o calafeto e o
birreme.
Foi deles a ideia de construir um navio a partir de um esqueleto posto numa doca
seca, a partir da quilha central, como se fosse uma espinha dorsal7. A quilha é uma peça
estrutural das mais importantes para o funcionamento do barco, permitindo o ganho de

7. Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-fenicios-mercadores-antigui-
dade-mediterraneo-cartago-tiro-comercio.phtml

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velocidade, estabilidade e reforço ao casco. É
como a espinha dorsal do barco. Essa estrutura
é fundamental para que todas as demais peças
fiquem alinhadas em seu devido lugar e para
que o casco tenha o reforço necessário.
Calafetar é uma técnica de vedação utili-
zada para impedir a passagem de líquidos ou de
ar entre as tábuas do casco do navio. Para tal os
fenícios utilizavam betume, uma substância ex-
traída do petróleo e resistente à água, para ve- Navio fenício-púnico, de uma escultura em re-
dar a entrada de água entre as tábuas de seus levo descoberta em sarcófago do século II a.C.
navios. (crédito: www.ancient.eu)
Imagem: http://historia.atlasvirtual.com.br/fenicia.php

Os navios de guerra usados pelos


romanos e gregos eram basicamente uma
criação fenícia. Foram os fenícios que ti-
veram a ideia de distribuir os remadores
em duas linhas, criando a birreme. Os na-
vios de guerra tinham uma popa convexa,
eram impulsionados por uma grande vela
quadrada, num único mastro, e dois ban-
cos de remos (um birreme). Com o birre-
me os remadores extras davam velocida-
de em manobras de abalroagem, ou seja,
bater em outro navio para afundá-lo, que
se tornou a principal forma de guerra na-
val na época.
Armada de birremes
Os navios dos fenícios também fo-
https://pt.wikipedia.org/wiki/Birreme#/media/Ficheiro:Greek_Galleys.jpg
ram os primeiros a ter leme, o mecanis-
mo que controla a direção das embarca-
ções, desviando o fluxo de água.
Com toda essa tecnologia naval eles conseguiram navegar distâncias tão grandes que
foi necessário desenvolver colônias, que atuavam como entrepostos comerciais.
A principal colônia foi Cartago, que se situava onde hoje é a Tunísia. A cidade se de-
senvolveu a partir de uma colônia fenícia para a capital de um Império Púnico que dominou
grande parte do sudoeste do Mediterrâneo durante o primeiro milênio a.C., rivalizando com
Roma, o que deu origem às guerras púnicas.
A lendária rainha Alyssa ou Dido é considerada a fundadora da cidade. Segundo a
tradição, Siqueu, seu marido, foi assassinado por Pigmalião, irmão de Dido, para se apoderar
de seus tesouros. Dido foge da tirania de seu irmão e carregou em segredo os tesouros de
Siqueu em navios, acompanhado por nobres descontentes, que eram seus partidários. Os

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emigrantes se dirigiram para a África, onde foram bem recebidos pelos nativos, e fundaram
a cidade de Cartago.8

Representação artística de Cartago no seu auge


Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartago#/media/Ficheiro:Carthage_Natio-
nal_Museum_representation_of_city.jpg

Fenícios, os criadores do alfabeto


O romano Plínio, o Velho, creditou aos fenícios várias
invenções como a do comércio, sendo eles os primeiros cai-
xeiros-viajantes. Por precisarem de um método eficiente de
manutenção dos registros comerciais, eles inventaram um
alfabeto do qual descendem os alfabetos do mundo.
O alfabeto fenício é um abjad, composto por 22 sím-
bolos. Um abjad, também conhecido como consonantário,
é um sistema de escrita no qual os símbolos das letras re- A escrita fenícia
presentam as consoantes e as vogais são acrescidas quando https://cdn.britannica.com/74/214974-004-
B1E18975.jpg
lidos.
O alfabeto fenício foi precursor das escritas etrusca, latina, grega, árabe, hebraica e
siríaca, entre outras. Também como fonte de escritas Kharoshthi e Brahmi na Índia.9 Assim
podemos observar a sua influência nas localidades onde realizavam suas transações comer-
ciais.
A inovação do alfabeto fenício está em sua natureza puramente fonética, na qual
cada símbolo representa um som, que exige a memorização de apenas alguns caracteres,
diferentemente de outras formas de escrita da época em que caracteres eram utilizados para
representar palavras, fazendo necessário milhares de caracteres, como no caso dos chineses
e japoneses, que exigiam alta especialização para serem aprendidos.10

8. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartago

9. https://phoenicia.org/alphabet.html

10. https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_fenício

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Conexões fenícias

Os fenícios e os reis da Judeia sempre tiveram uma


relação próxima. Hirão, rei de Tiro, foi contemporâneo
dos reis Davi e Salomão. Além de serem excelentes arqui-
tetos e construtores, os fenícios foram responsáveis pela
construção do templo de Jerusalém durante o reinado de
Salomão.
Quando Davi foi constituído rei de Israel, Hirão en-
viou mensageiros com madeira de cedro, carpinteiros e
pedreiros que construíram uma casa para o Rei David. No
reinado de Salomão, o rei de Tiro também manteve boas
relações comerciais com Israel, e, em acordo comercial
Alfabeto fenício e hebreu, segundo Bernardo com Salomão, recebeu várias cidades em troca da provi-
de Azevedo da Silva Ramos são de ouro e pela madeira que serviu para a construção
Fonte: In Inscrições e tradições da América pré-his- do templo.
tórica especialmente do Brasil, página 34, de Ber-
nardo de Azevedo da Silva Ramos

Salomão chegou a dar 20 cidades para


Hirão, mas estas não o agradaram por serem
arenosas e improdutivas, denominadas de
Terras de Cabul11. Estas cidades ficavam en-
tre a fronteira de Fenícia com a Galileia. Elas
foram uma garantia para a provisão de qua-
tro toneladas e meia de ouro para constru-
ção do Templo de Salomão. Após vinte anos,
estas terras foram restituídas a Salomão.
Para apoiar na construção do tempo
de Salomão, o rei Hirão mandou um grande
mestre de obras e artífice, chamado Hiram
Abif, para que esse embelezasse o Grande
Templo12. Hiram Abiff teria sido abordado
três vezes para revelar um segredo na cons-
trução do templo, e teria dito: “Perco minha
vida, mas não revelo os segredos”. Em cada Salomão e o plano para a
uma das vezes ele teria sido ferido e na ter- construção do Primeiro Templo
ceira vez foi morto. No dia seguinte Salomão Imagem https://pt.wikipedia.org/wiki/Salomão
teria mandado procurar por Hiram e seu cor-
po é encontrado embaixo de um pé de acá-
cias.13

11. I Reis 9:13


12. I Reis 7:13 - 51
13. https://pt.wikipedia.org/wiki/Hirão_I

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A chegada dos fenícios ao Brasil
Com toda essa tecnologia naval e conexões importantes, os fenícios teriam tido con-
dições de ter chegado ao Brasil antes de Pedro Álvares Cabral?
Ludwig Schwennhagen, um austríaco naturalizado brasileiro, acredita que sim. Ele foi
um professor de História e Filologia no Nordeste do Brasil, além de escritor e proponente da
Teoria da presença de fenícios no Brasil, no seu livro Antiga História do Brasil – de 1100 a.C.
a 1500 d.C. coloca o primeiro descobrimento do Brasil em torno de 1100 a.C., devido ao fato
de em 1008 a.C. os fenícios terem oferecido ao Rei Davi da Judeia a aliança para exploração
da Amazônia. As evidências dessa chegada ao Brasil se encontram na obra de Diodoro. Como
grego, não era amigo dos fenícios e cartagineses, mas reconheceu o valor dessas nações
navegantes.
Diodoro da Sicília ou Diodoro Sículo foi um historiador grego
que viveu no século I a.C. Ele esteve no Egito, viajou para Roma e
consultou diversos arquivos e registros disponíveis na época. Produ-
ziu uma única obra em grego, a Biblioteca Histórica, com 40 livros,
sendo que somente os livros 1, 5 e 11-20 sobreviveram, praticamen-
te na íntegra; dos outros, restam apenas alguns fragmentos. Nos ca-
pítulos 19 e 20 do 5º livro, ele menciona a viagem de uma frota de
fenícios que teria saído da costa da África, perto de Dakar.
Diodoro escreve sobre uma frota fenícia que saiu da região
de Dakar na África, seguindo ao sul, ao longo da costa da África, e
que sofreu violenta tempestade levando-os ao alto mar. Perseguin-
Diodoro
https://pt.wikipedia.org/wiki/ do a correnteza descobriram uma grande ilha com praias lindas,
Diodoro_Sículo com rios navegáveis, muitas terras no interior, clima ameno, imen-
sas florestas, abundante em frutas, caça e peixe, e com população
amistosa e inteligente.

Primeiro Descobrimento do
Brasil, segundo Diodoro
Imagem: Ilustração da autora

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Eles provavelmente foram parar na corrente marítima Sul Equatorial, que os trouxe
até o Brasil. As correntes marítimas são movimentos de grandes massas de água que fun-
cionam como verdadeiros rios dentro dos oceanos e os teria levado à costa brasileira, entre
Pernambuco e Bahia. Esta rota teria sido a mesma que Pedro Álvares Cabral teria tomado
2.600 anos após para chegar ao Brasil.
Depois de andarem muitos dias nas costas dessa ilha, voltando ao mediterrâneo con-
taram a boa nova aos tirrenos (etruscos) – parentes e aliados de Tiro – que resolveram man-
dar também uma expedição à mesma ilha e fundar uma colônia lá. A partir deste momento
iniciaria a história dos fenícios no Brasil.
Diodoro também fala da viagem de uma frota cartaginesa na costa da África até o
golfo da Guiné, confirmando indiretamente o primeiro descobrimento do Brasil. Essa frota
consistia de 50 navios cargueiros com 30.000 pessoas a bordo para fundar colônias no su-
doeste da África, mas não obtiveram sucesso, pois as condições do país eram tão selvagens
que foram obrigados a retornar. Os cartagineses, rivais de Tiro, invejavam o domínio tírio do
continente brasileiro e desejaram criar domínio igual no sul da África.

Parvaim, Ofir e Tarschichi

Don Enrique Onffroy de Thoron foi um aristocrata francês que estudou a língua dos
povos indígenas do Peru e viajou pelo mundo antes de se estabelecer na América do Sul. Ele
conhecia latim, grego, hebraico, tupi e quíchua. Em 1876 ele publicou em Manaus um trata-
do sobre as misteriosas viagens da frota de Salomão, onde procurou mostrar, por meio da
filologia e da linguística, a passagem de navegadores fenícios e hebreus no Amazonas.
Salomão e o Rei Hirão de Tiro possuíam uma grande amizade. Com apoio do rei Hirão
de Tiro, enviava frotas a cada três anos para Ofir e Tarschichi para procurar ouro e pedras
preciosas. O fato de levar três anos nessa empreitada demonstraria que estas localidades
não eram no Mediterrâneo ou África como alguns autores podem supor, mas sim em um
local bem mais distante.

Templo de Salomão, construído


com o ouro de Ofir
Imagem:https://brasil.elpais.
com/brasil/2018/03/09/al-
bum/1520609572_663984.html#foto_
gal_1

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Na Bíblia encontramos registros dessas viagens, como no trecho de Crônicas 8:18,
que cita que Hirão mandou para Ofir seus servos, navios, e servos práticos do mar, junto
com os servos de Salomão, e tomaram de lá quatrocentos e cinquenta talentos de ouro; e os
trouxeram ao rei Salomão.
Mas onde se situariam as localidades bíblicas Parvaim, Ofir e Tarschichi de onde vinha
o ouro que era trazido para Salomão? Segundo estudos de Thoron, publicados num livreto
Antiguidade da navegação do Oceano, viagens dos navios de Salomão ao Rio Amazonas,
Ophir, Tarschisch e Parvaim, estas cidades se situariam nas bordas do Amazonas.14
Parvaim é pronúncia alterada de Paruaim. Portanto, se referiria aos rios Paru e Apu
Paru, na bacia superior do Amazonas, no Peru, dois rios auríferos, que confundem depois
com o Ucayali, um dos nomes do Amazonas. Os dois rios de nome Paru fazem, no plural, o
Paruim, pois terminação hebraica “im” indica o masculino plural.15
Quando o Rei David morreu deixou a Salomão para
a construção do templo 7.000 talentos de prata e 3.000 de
ouro de Ofir. Em hebraico Ofir é escrito de dois modos: Apir
e Aypir, e, Aypira (Ophira), que é o nome mal pronunciado
de Yapurá, afluente do Amazonas. Com o tempo o nome foi
alterado para Japurá, afluente da margem esquerda do rio
Solimões. Segundo Thoron, apir na língua quíchua significa
mineiros e locais por eles cavados e o aypir, aypira ou Yapu-
ra indica que eles trabalham na água que faz lavagem do
ouro, demonstrando a influência do hebraico na região. Ofir
estaria situado no território brasileiro e colombiano, num
triângulo entre as montanhas Popayan e Condinamarca até
o lago Yumaguari, de outra parte pelo rio Ikiari até a monta-
nha aurífera de onde desce esse rio e pelo rio Japurá.
Com o tempo as viagens trienais a Ofir e Parvaim fo-
ram abandonadas devido às dificuldades da região e passa-
ram mais a oeste do rio Amazonas, em Tarschichi, na alta Possíveis localizações de Parvaim,
Amazônia, onde hebreus e fenícios acharam ouro fino em Ofir e Tarschi, segundo Thoron
abundância. Na língua quíchua, origina-se de Tari, “desco- Imagem: ilustração da autora
brir”, chichy, “colher ouro miúdo”. Logo, Tarschichi é o lugar
onde se descobre e colhe o ouro miúdo.
Outro ponto destacado por Thoron seria em relação ao próprio nome do rio Soli-
mões, que teria sua origem no nome do sábio Rei Salomão, cuja forma popular era Solimão.
Em hebraico Salomão é Solima e em árabe Soliman. Com a chegado dos portugueses eles
teriam trocado o “n” final por “o” (Solimão) e depois por Solimões.

14. “Antiguidade da navegação do Oceano, viagens dos navios de Salomão ao Rio Amazonas, Ophir, Tards-
chisch e Parvaim”. Por Henrique Onffroy de Thoron https://ia800300.us.archive.org/10/items/Antiguidade-
DaNavegacaoDoOceano.ViagensDosNaviosDeSalomaoAoRioDas/onffroy-de-thoron-henrique-viagens.pdf
15. Investigando a localidade atual destes rios identificamos em gravuras antigas que o Rio Apu Paru se situa-
va no Pampa do Sacramento, Peru. Este pampa é uma planície limitada ao norte pelo rio Marañón, a leste
pelo Ucayali, a oeste pelo rio Huallaga e ao sul pelos rios Pozuzo e Mayo.

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Pedra da Gávea, um monumento fenício
Um grande estudioso da passagem dos povos da antiguidade no Brasil, Bernardo de
Albuquerque da Silva Ramos foi arqueólogo, linguista e numismata. Perdeu o pai ainda meni-
no, indo trabalhar na agência dos Correios da cidade. Exerceu diversos cargos públicos a par-
tir dos 21 anos, sendo eleito Intendente Municipal. Com seu poder aquisitivo e vontade de
aprender, ele viajou muito pela Europa e Oriente Médio, percorrendo a Palestina e o Egito.
Conhecia diversas línguas como a hebraica, a fenícia e o sânscrito. Foi fundador do Instituto
Geográfico e Histórico do Amazonas e inclusive há um museu de numismática, em Manaus,
com o acervo que foi organizado por ele.
A sua obra mais importante
é Inscrições e Tradições da América
Pré-Histórica. Nos dois volumes da
obra, o autor aborda a história an-
tiga, a linguística e as decifrações li-
tográficas da América pré-histórica,
com foco no Brasil.
Bernardo Ramos se aventu-
rou pelo Brasil, visitando diversas
litografias que incluiu em sua obra.
Um dos sítios mais interessantes que
sua obra contém, e que é muito co-
nhecido, é a Pedra da Gávea, o maior
monolito à beira mar do mundo e um
Resumo das inscrições da Pedra da Gávea traduzidas por dos mais relevantes pontos turísticos
Bernardo de Azevedo da Silva Ramos. do Rio de Janeiro, com 842 metros
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bf/Silva_Ra- de altitude. É um local muito interes-
mos%2C_Pedra_da_Gavea%2C_interpretation.gif/1280px-Silva_Ramos%2C_
Pedra_da_Gavea%2C_interpretation.gif sante para montanhistas, mas não é
uma escalada fácil, havendo vários
relatos de mortes na empreitada.
Bernardo Ramos em seus estudos identificou na lateral da Pedra da Gávea algumas
escrituras que identificou como inscrições fenícias “TZUR FOENISIAN BADZIR RAB JETHBAAL”
e as traduziu: “Tyro Fenícia, Badezir, primogênito de Jethbaal”. Segundo ele, a escrita refe-
ria-se a Badesir.16
Em 1954 Henrique José de Souza, fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, retifi-
cou essa tradução, modificando o sentido da tradução anterior, interpretando a inscrição do
modo seguinte: “Yetbaal, Tyro Fenícia, primogênito de Badezir”. Portanto a inscrição referia-
-se a Yetbaal, primogênito de Badezir.17

16. Na sua obra Inscrições e Tradições da América, volume 1, capítulo XIV, Bernardo Azevedo da Silva Ramos
explica o método que utilizou para fazer esta tradução. O resumo da tradução das inscrições encontra-se na
página 436 do referido volume, destacando que a escrita fenícia se lê da direita para a esquerda.
17. Fonte: Brasil Fenício, Brasil Ibero-Ameríndio, de Henrique José de Souza

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O que teria acontecido para termos a Pedra da Gávea e as inscrições naquele local?
Segundo o professor Henrique José de Souza, o nome Brasil não se origina da cor
da madeira que tem o nome de “Pau Brasil”, e sim do nome do imperador fenício Badezir
(donde Basil ou Brasil). Como os fenícios já navegavam pelo mundo antigo já era conhecido
o nome de Badezir.
Badezir foi um rei que governou Tiro na Fenícia. Ele possuía oito filhos. Seu primogê-
nito Yetbaal-Bey era dotado de inteligência privilegiada, de um caráter nobre e portador de
excepcionais dotes espirituais. Por isso ele era conselheiro e predileto do rei. Pela proximida-
de de Yetbaal-Bey de seu pai ele era odiado pelos irmãos, que tramavam na corte a expulsão
do imperador e dos seus primeiros dois filhos.

Imagens fenícias
https://phoenician.org/wp-content/uploads/2020/10/phoenician_images.jpg
Imagem: phoenician_images1
https://phoenician.org/wp-content/uploads/2020/10/monkeys-750.jpg
Imagem:monkeys-750

Assim, ocorreu uma revolta na Fenícia e Badezir é desterrado e enviado para o Brasil
com seu filho Yetbaal-Bey e sua filha Yetbaal-Bel; oito sacerdotes, incluindo o Sumo-Sacer-
dote Baal-Zin18; dois escravos núbios fiéis; 222 pessoas da nobreza e 49 militares graduados
que permaneceram partidários do imperador em Tiro.
Chegando ao Brasil a comitiva de Badezir, dividiu-se em duas cortes: Badezir reinava
do Amazonas até Salvador na Bahia, região onde tinham o ouro e efetuavam comércio e Ye-
tbaal-Bel e Yetbaal-Bey governavam da Bahia até o Rio Grande do Sul.
Yetbaal-Bey e Yetbaal-Bel costumavam sair das proximidades da Pedra da Gávea,
atravessando a baía de Guanabara indo até Niterói.
Certa vez, ao fazerem a habitual travessia, ocorreu uma tempestade e a barca condu-
zida pelos escravos núbios naufragou em frente ao Pão de Açúcar, resultando na morte de
todos.

18. O nome Baal-Zin significa o deus da luz ou do fogo. Baal significa senhor. Badezir seria a fusão de Baal e
Esir.

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Badezir, com idade avançada não resistindo ao golpe sofrido pela morte dos seus
filhos, faleceu em seguida.
Seguindo as instruções prévias do imperador, Baal-Zin providenciou o embalsamento
do venerando corpo, o qual permaneceu ainda durante sete anos junto aos dos filhos no
interior da Pedra da Gávea.
Depois desse prazo, o corpo do imperador foi transferido para um Santuário localiza-
do em plena selva amazônica, onde permanece até os dias de hoje.
Um fato interessante é que quando os fenícios faleciam fora das terras deles eles
enterravam seus mortos perto das montanhas. Assim, na realidade, a Pedra da Gávea seria
uma esfinge fenícia.

Imagem: ilustração da autora - A Esfinge da Pedra da Gávea imagem: ilustração da autora - Pão de Açúcar

O Rio de Janeiro teria outra esfinge fenícia que é Pão de Açúcar. Na sua lateral ve-
mos uma ave, que seria a representação de uma íbis, uma ave sagrada no Egito.

O controverso caso das ânforas da Baía de Guanabara

O mergulhador José Roberto Teixeira Coutinho encontrou duas ânforas na Baia da


Guanabara. Essas peças foram enviadas ao Smithsonian Instituto de Washington para a rea-
lização de uma análise e os especialistas concluíram que elas tinham mais de 2.000 anos e
seriam provavelmente ânforas romanas.
Com isso, Robert Frank Marx, americano, autoridade em arqueologia submarina, foi
chamado para investigar.
Nessa época, Américo Santarelli, italiano radicado no Rio de Janeiro, afirma que as
ânforas eram dele, que ele tinha colocado na Baia de Guanabara para envelhecê-las.19
Marx trouxe um especialista, Harold Hedgerton do MIT – Massachusets Institute of
Technology, que, utilizando um Side Scan detectou embarcações antigas submersas em lama
(sete metros de profundidade).
Detectaram uma embarcação portuguesa do século XVI e uma outra provavelmente
romana ou fenícia.
Marx tinha permissão da marinha para pesquisar, voltou aos Estados Unidos para

19. Fonte: https://www.marinha.pt/Conteudos_Externos/Revista_Armada/1989/index.html#p=56

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pegar financiamento, pois o projeto seria muito caro, tendo que
cercar a área, retirar água, e ele tinha aval para fazer os estudos,
mas no meio do caminho ele perdeu esse aval e não conseguir
concluir os estudos. Ele acusou a marinha brasileira de ter coberto
a área com lama e a marinha o acusou de ser contrabandista de
artefatos históricos.20
Marx acusou o governo brasileiro de acobertamento.

No início de 1993, outros dois mergulhadores Raul Cer-


queira e Henrique de Brion21 fizeram um acordo com a Marinha
do Brasil, removeram a âncora do local, fizeram datamento com
carbono 14, confirmando sua origem do século 16.

Hoje a âncora encontra-se na Ilha de Mocanguê, uma


área restrita militar da Marinha, e as ânforas estão no Instituto Os professores Claro Calazans Rodri-
de Arqueologia Brasileira. gues e Ondemar Dias apresentando
as ânforas descobertas na Baía de
Guanabara em 1975
Imagem: https://alvorsilves.blogs.sapo.
pt/cunhas-com-outras-unhas-118711

O fim da Pedra Santa

Para refletirmos mais sobre nosso passado temos o fim da Pedra Santa, que existia na
Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.22
Dom João VI passava por ela quando ia ao Jardim Botânico e tinha medo de passar
por baixo dela, pois passava bem ao lado dela numa estradinha que havia sido feita para sua
passagem. Provavelmente ele se preocupava com a queda da pedra, pois ela ficava muito na
beira.
Em 1837 mandaram um tal padre Souto destruí-la, provavelmente ele seria o reve-
rendo Manuel Gomes Souto, empossado com a criação da freguesia de São João Batista da
Lagoa em 1809.
Este padre também chegou a solicitar ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a
destruição da Pedra da Gávea, para acabar com as lendas do local.
Naquela época já existiam lendas tanto da Pedra Santa quando da Pedra da Gávea,
que provavelmente não foi destruída por seu difícil acesso. Quantas outras evidências da
passagem dos povos antigos pelo Brasil não foram destruídas acobertando nosso passado?

20. Fonte: A Roman Shipwreck in Rio de Janeiro? The Amphorae in Guanabara Bay. https://www.abovetop-
secret.com/forum/thread1042040/pg1
21. Mergulhadores: Hipótese de ânforas fenícias vale, O Globo, 28/3/1983, página 9
22. Fonte: http://cidadedorio.com/o-misterio-da-lagoa-a-pedra-santa/

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Aquarela de Robert Streatfeild intitulada Vista da Lagoa Rodri-
go de Freitas com a Pedra Santa e à esquerda o Corcovado
Imagem: https://www.viafanzine.jor.br/site_vf/arqueo/arqueologia3.htm

Concluindo
Há muito mais que poderíamos ter trazido para esse artigo em relação não só aos
fenícios, mas aos outros povos da antiguidade que por aqui passaram.
Espero que o pouco que foi tratado aqui tenha despertado a sua curiosidade e sirva
para pensar, pesquisar, buscar e descobrir a verdade do nosso passado e de tudo que o cer-
ca, pois a verdade não se modifica. Nós é que nos modificamos quando pesquisamos, pen-
samos e estudamos, pois passamos a ver outros lados daquela verdade.
A nossa história pode se tornar lenda, mitologia, ser desacreditada, mas também
pode ser confirmada, assim como foi Troia que por anos era considerada mito até ser reen-
contrada.
Precisamos conhecer a nossa história e tirar os véus que a acobertam, reconhecendo
a verdadeira grandiosidade de nosso passado e vislumbrando o nosso futuro promissor.

“A Verdade não se modifica: nós, sim, nos modificamos e por isso


se modifica para nós o aspecto da Verdade.”
Henrique José de Souza

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O QUE SERIA

O TEMPO NA
QUARTA DIMENSÃO?
WLADIMIR BALLESTEROS

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... uma vez, porém, que o sexto sentido tenha despertado o sétimo, a luz que se
irradia deste sétimo sentido ilumina os campos do Infinito.
Por um breve espaço de tempo, o homem se torna onisciente; desaparecem o Passado e o
Futuro, o Espaço e o Tempo: tudo se transmuta no Presente.
Helena Blavatsky
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Já percebemos que a constituição do ser humano é muito mais rica e engenhosa do
que a simples aparência do corpo físico, constatada pela nossa visão, também física.

Passemos agora à questão do tempo. Num sentido meta-


físico e científico, o tempo é o outro grande enigma que precisa-
mos decifrar para podermos compreender aquilo que é chamado
de “quarta dimensão” — os planos mais sutis da Natureza, como
o plano astral, por exemplo, no qual o tempo funciona de manei-
ra bem diferente daquela que estamos acostumados a vivenciar
na face da Terra.

Este capítulo ajudará você a compreender aquele mundo que não vemos com os nos-
sos olhos físicos, mas que coexiste com todas as coisas. E o mundo da quarta dimensão para
o qual nos dirigimos todas as noites quando adormecemos. E o mundo que encontraremos
após a ocorrência da nossa morte física.

Minha intenção é apenas estimular sua mente abstrata e intuitiva para que você pos-
sa imaginar e, por que não?, sentir e perceber o tempo numa outra dimensão da Natureza.

O tempo é o grande controlador das nossas atividades aqui na face da Terra. Nas
grandes cidades do nosso planeta, chega a ser o responsável por uma série de doenças cau-
sadas pela ansiedade, estresse e irritação.

Imagine-se preso num daqueles congestionamentos de trânsito, olhando para o re-


lógio, vendo o tempo passar sem poder fazer nada. Quando está atrasado para um compro-
misso, você não tem a sensação de que o tempo corre mais depressa? E em outras situações,
não lhe parece que o tempo se arrasta como uma tartaruga?

Na nossa “era da velocidade”, é bastante comum ouvirmos as pessoas comentarem


que o tempo voa, passa bem mais rápido do que nos “bons velhos tempos”. Estou sempre
ouvindo alguém dizer que o ano mal começou e já está acabando.

Há ocasiões em que os minutos parecem horas. Em compensação, há outras circuns-


tâncias em que as horas parecem minutos. Outro dia, uma amiga se lastimou: “Já faz um ano
que mamãe morreu e ainda me dói tanto que parece que foi ontem.”

É muito comum termos a sensação de que um fato marcante ocorreu há bem menos
tempo do que na realidade. Como disse essa amiga minha, o acontecimento que marcou sua
vida um ano atrás (a morte da mãe) parecia ter ocorrido «ontem». O mesmo ocorre com
coisas que sucederam dez, vinte, trinta anos atrás.

Isso significa que o tempo, no nosso mundo atual, tem um referencial diferente, espe-
cialmente para as pessoas que já viveram numa época bem mais tranquila, quando o ritmo
do progresso era mais lento.

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Vários grupos de cientistas vêm estudando a questão do tempo e a sua influência no
comportamento e no metabolismo humanos, em ambientes onde não haja luz, nem relógios,
nem os estímulos vitais existentes na face da Terra. Vamos examinar algumas experiências
significativas com o tempo.

Na chamada Operação Tatu, um Uma experiência similar foi


grupo de espeleólogos brasileiros entrou realizada na Itália: a jovem Stefa-
numa caverna profunda e lá permaneceu nia Folini foi colocada num módulo
durante 21 dias, sem qualquer contato de 24 m2, a dez metros de profun-
com o mundo exterior. A experiência de- didade, sem luz solar, relógios ou
monstrou que, sem os costumeiros refe- qualquer outra coisa que lhe desse
renciais de tempo, o relógio biológico do
a noção de dia e noite. Ela perma-
ser humano se desgoverna. Na escuridão
neceu no módulo durante quatro
e isolamento da caverna, o grupo chegou
meses. Seu relógio biológico — seu
a trabalhar durante 37 horas ininterrup-
tas, intercaladas por 19 horas de sono. referencial de tempo — alterou-se
Poderíamos dizer que eles experimenta- por completo. As vezes ela traba-
ram um dia de 56 horas (37 de vigília e lhava 30 horas seguidas e depois
19 de sono). Enquanto isso, para nós aqui dormia 24 ou 25 horas. Quando
fora da caverna, passaram-se dois dias e saiu do módulo, pensava que haviam
oito horas. se passado apenas dois meses.

Vamos admitir que Stefania pudesse viver nesse módulo durante cem anos, conside-
rando que cada dia dela vale por dois dias nossos. Depois de um século, ela teria a sensação
de ter vivido apenas 50 anos.

Quem estaria certo na contagem do tempo? Nós ou Stefania? Na verdade, nós e Ste-
fania. Cada um na sua própria perspectiva.
Essas experiências demonstram que a noção de contagem do tempo depende dos
referenciais e das circunstâncias em que cada pessoa se encontra.
A compreensão do tempo exige dois outros conceitos: espaço e velocidade. Até o dia
em que Albert Einstein apresentou ao mundo sua Teoria da Relatividade, era crença geral
que espaço e tempo nada tinham a ver um com o outro.
Mas Einstein demonstrou que tempo e espaço não eram grandezas absolutas e inde-
pendentes dos fenômenos que ocorriam — eram, isso sim, grandezas relativas, vinculadas
aos fenômenos, e dependiam do observador.
Ora, se essas duas grandezas estão vinculadas, o que faz com que você tenha uma
referência diferente da minha com relação a uma mesma coisa que ambos observamos? É a
velocidade. Seja a velocidade da pessoa em relação ao objeto observado, seja a velocidade
do próprio objeto que a pessoa está observando, dependendo da situação em que essa pes-
soa se encontra — parada, andando, dentro de um veículo em movimento, etc.
Para analisarmos a questão do tempo, portanto, devemos ter em mente estas três
grandezas estreitamente interligadas: tempo, espaço e velocidade.
A viagem no tempo, segundo Einstein e sua Teoria da Relatividade, teria de ser ilus-
trada com uma imagem deste tipo:

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Nessa imagem fictícia temos dois irmãos gêmeos
que se reencontram após vários anos. Enquanto o Einstein
“velho” ficou na face da Terra, sujeito às leis convencio-
nais, o “jovem” partiu para uma viagem cruzando o espa-
ço-tempo em altíssima velocidade. Para o Einstein jovem,
pouquíssimo tempo se passou, enquanto que para o Eins-
tein velho, vários anos transcorreram.
Podemos dizer que esse fictício jovem Einstein este-
ve em condições similares às de Stefania no que diz respei-
to à passagem do tempo — para eles dois, o tempo passou
bem mais devagar do que para nós.
Embora isso possa parecer simples ficção científica, os mais recentes estudos da Física
demonstraram, através da análise de uma partícula de múon, que tal fenômeno é possível.
Múon é uma partícula quântica que, colocada na condição de repouso, não vive além de dois
milionésimos de segundos. Viajando à velocidade da luz, esse tempo de vida lhe permitiria
percorrer cerca de 600 metros.
Mas o fato é que essas partículas, deslocando-se à velocidade da luz ou muito pró-
ximo dela, percorrem dezenas de quilômetros e não os 600 metros teóricos na situação de
repouso. Ora, isso demonstra que o seu envelhecimento é retardado durante o percurso. Por
quê?
Parece que a nossa mente racional experimenta uma enorme dificuldade em enten-
der esse assunto, por mais que nos esforcemos.
Muitas vezes acreditamos que um sonho deve ter se estendido por várias horas, mas
talvez tenha durado uns poucos minutos apenas.
São fenômenos que ocorrem na chamada quarta dimensão, na qual tempo, espaço
e velocidade seguem leis totalmente diferentes daquelas que regem nossa vida na face da
Terra. Vamos ver um exemplo bem simples e significativo.
Suponhamos que sete grupos de pessoas decidem se deslocar do ponto A para o pon-
to B, cobrindo uma distância de 60 quilômetros, em linha reta. Para esse deslocamento, cada
grupo usará veículos diferentes. Terminado o percurso, eis os resultados obtidos:
Crupos Veículos Velocidade Duração
média da viagem
Grupo 1 Bicicletas 10 km/h 6 horas
Grupo 2 Automóvel 120 km/h 30 minutos
Grupo 3 Carro de fórmula 1 300 km/h 12 minutos
Grupo 4 Avião a hélice 400 km/h 9 minutos
Grupo 5 Avião a jato 900 km/h 4 minutos
Grupo 6 Caça supersônico 3.400 km/h 1 minuto
Grupo 7 Espaçonave 40.000 km/h 0,09 segundos

Podemos ver que as pessoas que viajaram de bicicleta levaram seis horas para chegar

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ao ponto B, enquanto o grupo que viajou na nave espacial levou apenas nove centésimos de
segundo. O espaço percorrido foi o mesmo; o tempo é que se alterou, em função da veloci-
dade de cada veículo.
Durante essa viagem, cada grupo experimentou diferentes condições de observação
sobre o espaço percorrido, devido às diferentes velocidades de cada um deles. O espaço,
apesar de ser o mesmo para os sete grupos, mostrou-se cada vez menor à medida que o
tempo também se reduzia por causa da velocidade cada vez maior.
E se houvesse um oitavo grupo, com uma espaçonave capaz de atingir uma velocida-
de muito superior à do grupo 7? O tempo que levaria para percorrer aquela distância seria
tão pequeno que esse grupo teria a sensação de chegar ao destino sem praticamente sair do
ponto de partida.
Se avançássemos ainda mais neste nosso exemplo, seria possível imaginar que, em al-
gum momento, não haveria nem espaço e nem tempo. Embora tenha uma certa lógica, essa
hipótese pode parecer absurda à nossa mente racional e concreta.
Vejamos o que pensa a respeito do tempo o maior físico da atualidade, Stephen
Hawking:
“Só quando separados no tempo é que universos distintos podem conviver num
mesmo espaço.”
“O tempo é uma criação psicológica
do intelecto humano.”
“O tempo real não existe.”
“Se não houver um observador contando a passagem do tempo, um milésimo de se-
gundo e 40 bilhões de anos são a mesma coisa.”
O fascínio das ideias de Hawking está na ousadia da abstração. Ele chegou a sugerir
que o tempo se propagaria em duas direções (tal como a luz, que pode ir para um determi-
nado ponto ou vir de um determinado ponto). Quando o Universo chegasse ao ponto máxi-
mo de expansão e a força da gravidade impelisse a matéria de volta para o centro, o tempo
também “andaria para trás” — como um filme passando do fim para o começo.
Por mais fascinante que seja este assunto, o fato é que a nossa mente concreta e racio-
nal não é suficiente para compreendê-lo mais a fundo.
Precisamos utilizar algo mais sutil, algo que realmente nos motive a embarcar numa
jornada além dos limites e padrões tradicionais a que todos nós estamos sujeitos na face da
Terra.
Precisamos ir além. Precisamos começar a empregar mais intensamente a mente abs-
trata, a intuição e a imaginação — elas certamente nos permitem viajar para além das fron-
teiras admitidas pelos sentidos de que dispomos no nosso atual estágio evolutivo.
Se essa proposta não é razoável, por que a comunidade científica mundial ainda dis-
corda quanto à idade do Universo? Alguns cientistas afirmam que o Universo surgiu há 12
bilhões de anos, outros falam em 15 bilhões e haverá quem diga 20 bilhões de anos.
Na prática, pouco nos importa se a diferença é de três ou cinco bilhões de anos, pois o
que de fato estamos buscando é a determinação de um tempo para que nossa mente con-

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creta possa ficar em paz com a ideia de um 30 segundos; no Sol, ela já é “passado”.
começo e de um fim. Nossa mente concre- Esse mesmo raio de luz continua
ta, como é natural, simplesmente não con- sua viagem; minutos depois alcançará o
segue aceitar a ideia do infinito. planeta Marte, depois Júpiter, Saturno,
E agora, usando intensamente a Urano, Netuno e Plutão. Para nós, é o “fu-
mente abstrata, a intuição e a imaginação, turo”.
vamos continuar viajando pelo tempo. Va- Vamos lançar nossa imaginação
mos ter em mente que, sob determinadas mais além.
circunstâncias, pode ser que o tempo não
exista — nesse caso, passado, presente e O que aconteceria se imaginásse-
futuro são a mesma coisa. mos esse raio de luz cruzando as fantás-
ticas distâncias que existem entre uma
Nossos olhos físicos enxergam as galáxia e outra? Nossa “mestra” será uma
coisas por causa das vibrações produzidas garotinha da Terra, de cinco anos, chama-
pelos raios de luz que se projetam no espa- da Aline.
ço e são imediatamente transferidas para
nossas retinas. Portanto, se não houvesse Aline olha para uma estrela muito
luz, de nada valeriam os nossos olhos. distante, cujo raio de luz leva 70 anos para
chegar até a Terra. Nesse exato momento,
A velocidade em que um raio de a estrela explode e se desintegra no espa-
luz se projeta é de 300.000 quilômetros ço. Pois bem, Aline só verá a explosão bem
por segundo (daí a expressão “velocidade mais tarde, quando for uma respeitável
da luz”, uma constante universal), o que vovó de 75 anos. Até lá, sempre que olhar
nos permite identificar instantaneamente para aquela estrela, Aline a verá brilhando
aquilo que estamos olhando. no céu.
Quando as distâncias se tornam E agora a fértil imaginação de Ali-
interplanetárias ou intergalácticas, temos ne a deixa ver, naquela estrela, um grupo
de levar em conta a velocidade da luz para de crianças da sua idade. No momento em
nos referirmos ao tempo e ao espaço a ser que Aline as vê, elas não são mais crianças
percorrido. — isso já é passado, todas elas têm agora
A luz do Sol, viajando à velocidade 75 anos de idade. A imagem delas levou 70
de 300.000 km/s, atinge nosso planeta em anos para chegar da estrela até os olhos de
oito minutos e 30 segundos. Mas, antes de Aline. Simples, não é?
chegar até a Terra, essa luz já terá passado Diante dessas condições cientifica-
pelos planetas Mercúrio e Vênus, que se mente irrefutáveis, seria possível admitir-
Imagem de PayPal.me/FelixMittermeier por Pixabay

encontram mais próximos do Sol. E depois mos a hipótese de um Criador que teria
continuará sua viagem, nessa velocidade diante dos olhos toda a história do mun-
fantástica, chegando até Marte, Júpiter e do, desde o princípio das coisas até seu
os confins do Universo. fim inescapável.
Vamos chamar de “momento pre- Porém, com base nos ensinamen-
sente” o instante em que esse raio de luz tos teosóficos, não creio que seja assim.
parte do Sol. Como estamos aqui na Terra, Acredito que a evolução efetivamente se
só veremos o “momento presente” quan- processa nos diversos planos da Natureza;
do a luz brilhar diante dos nossos olhos caso contrário, a lei universal da evolução
— mas, quando isso acontecer, essa luz já e todas as demais leis universais que re-
deixou de existir no Sol há oito minutos e

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gem a Natureza e tudo o que existe no Uni- ferentes estágios, e a continuidade desse
verso, seriam contestáveis. processo, que ocorreria nos outros planos
Através da visão de Hawking, a da Natureza a que chamamos de quinta,
ciência nos transporta para a mente abs- sexta e sétima dimensões.
trata e fica mais próxima da metafísica e Tal como no exemplo dos sete gru-
da teosofia. Falando sobre o Universo, pos se deslocando entre o ponto A e o
Hawking diz que tudo o que é observável ponto B, tento mostrar o que aconteceria
existe desde sempre: nunca foi criado e à medida que o tempo e o espaço se redu-
nunca será destruído. O Universo é uma zissem devido ao aumento da velocidade
bolha imensa, cujo conteúdo se afasta em que as coisas fossem vivenciadas.
velozmente do centro original e empurra No ponto mais elevado da quarta
para longe seus limites. Nada impede que dimensão — ou seja, o ponto em que as
outros Universos flutuem no espaço, a dis- coisas acontecem com muita rapidez —
tâncias incomensuráveis do nosso, e neles, um segundo equivaleria a 24 horas na face
as leis podem ser totalmente diversas das da Terra, onde vivemos na terceira dimen-
que conhecemos: a gravidade pode repe- são e o tempo tem um compasso marca-
lir, em vez de atrair, e a chuva pode cair do; aqui, tudo está em movimento, mas
para cima. Quanto à matéria, Hawking diz de maneira mais lenta e espaçada que no
que ela não existe e, assim, o mundo físico ponto mais elevado da quarta dimensão.
é uma ilusão. No mundo de Hawking, em
que toda a matéria do Universo pode vir Isso significa que, à medida que vi-
a ser concentrada numa bola do tamanho venciamos as coisas numa condição cada
de uma maçã, o pensamento tem o mes- vez mais próxima à velocidade da luz, o
mo valor da ação. A morte é o mesmo que tempo e o espaço vão se aproximando e
a vida. ficando cada vez menos perceptíveis, até
se unificarem nos planos da Natureza a
Podemos deduzir que, à medida que chamamos de quinta, sexta e sétima
que a matéria do nosso corpo vai ficando dimensões.
cada vez mais sutil e conseguimos utilizar
mais intensamente nossa mente abstrata Podemos dizer que:
e em seguida nossa mente intuitiva (cor- • a terceira dimensão equivale
po búdico), penetramos gradualmente ao nosso corpo físico e à nossa condição
em outros estágios e planos da natureza, na face da Terra;
em outras dimensões nas quais as coisas • a quarta dimensão, nos seus
são vivenciadas numa velocidade cada vez diversos estágios, equivale aos nossos cor-
mais próxima à velocidade da luz. pos astral e mental;
• a quinta, sexta e sétima di-
Na ilustração abaixo, tento de- mensões equivalem ao Espírito, o Eu ver-
monstrar a equivalência do tempo entre a dadeiro do ser humano, formado pelo
terceira e a quarta dimensões, em seus di- triângulo indeformável que habita a per-
sonalidade.
Entre a terceira e a quarta dimen-
sões, há um mundo intermediário que
equivale ao nosso corpo etéreo.
Ou seja, à medida que o centro da
nossa consciência se transfere para outros

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planos da Natureza — como ocorre quando dormimos e sonhamos, ou em certos estados
alterados, ou ainda quando passamos pelo fenômeno da morte —, começamos a vivenciar,
sem percebê-lo, esse processo de redução do tempo e do espaço devido à velocidade em
que as coisas ocorrem na quarta dimensão.
Mas isso não quer dizer que precisamos acompanhar a velocidade acelerada da quar-
ta dimensão para nos sintonizarmos com esse plano. Estaremos empregando outros veícu-
los, outros corpos mais sutis, e, portanto, compatíveis com o plano no qual nossa consciência
estiver focada.
Complementando a ilustração, vamos ver o que acontece com a contagem do tempo
na face da Terra e naquele ponto mais elevado da quarta dimensão:

Na Terra Na 4ª dimensão
dias anos

1 - 1 segundo

60 - 1 minuto

3.600 10 1 hora

86.400 240 1 dia

31.104.000 86.400 1 ano

311.040.000 864.400 10 anos

3.110.400.000 8.640.000 100 anos

Observando essa tabela, percebemos a diferença que existe na contagem do tempo:


um único século no ponto mais avançado da quarta dimensão equivaleria a mais de oito mi-
lhões de anos na face da Terra. Talvez possamos entender porque se diz que “estamos aqui
de passagem”. Ora, viver 70 ou 80 anos na Terra seria o mesmo que viver 1/3 de um único dia
nesse ponto culminante da quarta dimensão.
Alcançar os planos mais sutis da Natureza equivale a dizer que empreendemos uma
viagem do concretismo à abstração, que compreendemos o efeito para buscar sua causa,
que transformamos a energia em consciência.
O tempo é um dos pontos mais intrigantes das condições da quarta dimensão porque
altera significativamente o conceito que dele fazemos nesta nossa terceira dimensão, na qual
vivemos num corpo que experimenta a densidade e a limitação da matéria física necessárias
ao nosso atual estágio evolutivo. Espero que você, usando sua mente abstrata e sua imagi-
nação, tenha enriquecido seus conceitos sobre este tema, apesar da imensa dificuldade, ou
quase impossibilidade, que o ser humano encontra para explicar em palavras a grandiosida-
de do Supremo Arquiteto do Universo.

Referência bibliográfica:
BALLESTEROS, Wladimir. O tempo na quarta dimensão, In: A vida na morte, 1998

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Iniciação Introdução

ANTONIO CASTAÑO FERREIRA

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A progressiva evolução da consciência espiritual do homem até abarcar
a mente infinita, ou o conhecimento no plano universal, pode ser compreen-
dida como uma série de estados de ser, que dão uma ideia de determinado
plano da natureza. Para obter o fim visado pela própria lei do progresso, pas-
sa o homem, ou qualquer outro ser autoconsciente, por modificações que são,
pelos sábios de todas as épocas, classificadas numa série setenária; daí fala-
rem em sete estados de consciência, cada um deles se caracterizando por uma
percepção particular – ou do mundo físico, crosta do Universo, ou do mundo
sensível, alma do Universo – até que realmente mergulhe na consciência espi-
ritual, ou seja, a fusão com a Causa sem causa de todas as manifestações e,
portanto, a plenitude do Ser, a libertação.
A este estado chamamos Moksha ou Nirvana, a suprema realização, a superação ou
a iluminação perfeita, representada pelos “Christos” e pelos “Buddhas”.

Até lograrem a realização derradeira, de acordo com a Lei natural, os seres conscien-
tes deverão atravessar grandes sistemas, denominados “Sistemas Planetários”, em sete eta-
pas de um Universo Solar. Há, entretanto, um meio de, num período curto de algumas vidas,
atingir este supremo estado. É a isto que chamamos de “Caminho direto” ou “Iniciação”. As-
sim, o candidato à Iluminação, sujeita-se a um regime que o aparta definitivamente do meio
e das necessidades dos seus irmãos do mesmo ciclo. Isto porque deverá passar por transfor-
mação radical, não só no mundo psíquico; senão também no próprio físico, que lhe permita
despertar as faculdades indispensáveis, possibilitando a compreensão da natureza essencial
das verdades de ordem universal; verdades estas que o colocam num plano infinitamente
superior ao dos demais homens de sua época. Todos nós sabemos que uma semente vege-
tal, por exemplo, precisa para se transformar numa planta da mesma espécie da que a origi-
nou, de uma determinada quantidade de energia natural que lhe é comunicada, através da
luz, do calor ou do frio; e do produto de certas reações bioquímicas. Para esta transformação
necessita, ainda, de um determinado tempo que se chama o ciclo evolutivo da planta.

Da mesma forma o homem, para desenvolver completamente sua “consciência dis-


criminativa”, e transformá-la em “consciência universal”, única que lhe dá a percepção da
realidade eterna, necessita também de uma quantidade de energia que, normalmente, só
poderia ser armazenada através de kalpas inumeráveis.

Para abreviar a evolução natural, os Iluminados, pertencentes a Jerarquias muito su-


periores à humana, codificaram as leis naturais, facilitando, assim, a obtenção desta energia
infinita que possibilita, num curto ciclo, a realização de todas as transformações interiores
que levarão à consciência total.

Que energia será esta? Como alcançá-la? Como empregá-la? São as perguntas que
todos formulam. Suas respostas só serão possíveis, através de um estudo sistematizado do
processo iniciático.

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No domínio da ciência oficial, o processo da “Iarovização”, descoberto pelo professor
Lysenko, demonstrou essa asserção de ordem oculta. Seu método constitui, essencialmente,
em submeter as sementes de trigo, antes de seu plantio, a um tratamento térmico em estu-
fas conjugado à iluminação artificial de poderosas lâmpadas de luz solar, que comunicam às
sementes energias, que são por elas absorvidas e que lhes abreviam o ciclo vegetativo.

É fato bastante conhecido, principalmente dos viajantes que visitam a Índia, o caso
de faquires que, tomando uma semente de uma árvore frutífera, comunicam através de sua
vontade, as energias que necessita para sua transformação em árvore. Por este processo,
eles reduzem a algumas horas o ciclo vegetativo que normalmente, levaria alguns anos, con-
seguindo ao cabo delas colher do arbusto, que no início da demonstração era apenas uma
semente, frutos maduros.

Também o homem, para conseguir, sua iniciação, utiliza uma energia de ordem cós-
mica, que deveria acumular em uma infinidade de kalpas.

Que energia é esta, afinal?

A Índia, através dos seus Tantras, fala-nos de uma força que está latente em todos
os seres: Kundalini Shakti, a força, serpentina. Kundalini, palavra sânscrita, que se originou
de Kunda, ou seja, o 3º Logos, o Espírito Santo, é a forma pela qual a energia criadora do
Universo se manifesta no mundo fenomênico. A terminação line indica a energia feminina
de Kunda. Os Persas, nas suas obras que tratam das coisas ocultas, em particular, no Avesta
classificam esta força Universal em: a. Vohufryana, o fogo do corpo humano e dos animais;
b. Urvazistâ, o fogo dos vegetais; c. Vohuverazaite ou Bereziçavanha, o fogo interior da terra;
d. Çpenista, o fogo de Ahura, o Fogo Sagrado, o Fogo Divino.

Assim, toda iniciação tem por fim imediato o desenvolvimento e o domínio de Kun-
dalini, que é a grande alavanca capaz de mudar o centro de gravidade da consciência hu-
mana, comum até transcender os limites do Universo manifestado, deslocando-a, portanto,
para o domínio do Eterno. Daí as exigências a que se submete o “Aspirante a Mestrado”, in-
dispensáveis para poder lograr este poder infinito. Estas exigências estão perfeitamente con-
signadas nas regras imutáveis que regem a vida dos discípulos. Podemos resumir, em alguns
itens, o que é indispensável para a qualificação do homem na categoria de discípulo aceito:

a. meios de vida que lhe permita viver em absoluta pureza;

b. vontade inflexível de alcançar o fim a que se propôs;

c. desprendimento absoluto em relação às coisas exteriores.

Isto conseguido, poderá então começar sob a direção de seu Mestre, a modificar por
uma persistente atividade no sentido conveniente, sua natureza física e psíquica.

Segundo as transformações que se forem dando, vai alcançando certas modalidades


de ser, que são simbolizadas por graus iniciáticos, que sempre lhe são conferidos por Aquele
que assumiu, perante a Lei Universal, o dever de orientá-lo. Esta orientação é feita, ape-

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... toda iniciação tem por fim
imediato o desenvolvimento e o domínio de
Kundalini, que é a grande alavanca capaz de
mudar o centro de gravidade da consciência
humana, comum até transcender os limites
do Universo manifestado, deslocando-a, por-
tanto, para o domínio do Eterno.
Foto: acervo da Eubiose

nas, através de sugestões muito sutis, e de temas de meditação, apresentados sempre por
símbolos ou alegorias. Isto porque, segundo o velho adágio de todos os que trilharam este
caminho: “O Adepto se faz e não é feito por ninguém”.

Todavia é preciso notar que ninguém poderá atingir a plenitude de consciência so-
zinho, sem guia, sem a experiência milenar de um Guru, porque os perigos que rodeiam a
todo aquele que levanta seus olhos para o ideal superior, são inumeráveis e muitas vezes
imperceptíveis ao olhar dos menos previdentes.

É esta a razão pela qual é hábito de todo Guru experimentar os candidatos ao disci-
pulado, antes de serem definitivamente aceitos, e sobre este ponto vamos transcrever a pa-
lavra de um destes sublimes instrutores, conhecido por todo o mundo espiritualista, através
das obras de Helena Petrovna Blavatsky, pelo nome de Mahatma Kut-Humi:

“Ninguém entra em contato conosco, ninguém pode conseguir mais conhecimento,


sobre nós, sem que seja submetido a provas. A série de provas a que é submetido na Europa
e na Índia é a da Raja-Yoga; elas têm a finalidade de desenvolver todos os germes bons e
maus que existem latentes em sua natureza. A regra é inflexível e ninguém dela escapa, seja
aquele que nos escreva somente uma carta, seja o que na intimidade de seu coração expri-
ma um forte desejo de obter o conhecimento oculto.

Não é suficiente saber o que o discípulo faz ou deixa de fazer em um momento dado e
em certas circunstâncias durante o período de provação. É preciso conhecer de que é capaz
em diferentes ocasiões.

Cada ser humano contém em si vastas potencialidades, e é dever dos Adeptos rodear
o Aspirante de circunstâncias que lhe permitam tomar o caminho de mão direita, se para isto
tiver capacidade.

Não temos o direito nem de lhe tirar as possibilidades, nem de dirigi-lo no bom cami-
nho. Se hoje é sincero e bom, poderá, amanhã, graças a uma nova cadeia de circunstâncias
revelar-se traidor, ingrato, poltrão e fraco de espírito”.

Referência bibliográfica:
FERREIRA, Antonio Castaño. Iniciação. Revista Dhâranâ nº 141 - julho de 1950 - Ano XXV

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Ano XI – edição nº 34 - novembro de 2023 a fevereiro de 2024

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