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Métodos de Estudo

1. INTRODUÇÃO
As condições de um mercado de trabalho cada vez mais restrito têm indicado os concursos
públicos como uma das melhores opções para a rápida obtenção de estabilidade, status e boa
remuneração. O perfil dos acadêmicos das Faculdades de Direito tem se modificado, e a
intenção de realizar concursos é a marca predominante no alunado, opção que também é
manifestada entre profissionais liberais e empregados do setor privado.
Em conseqüência desse fenômeno, os cursos preparatórios e as listas de inscritos em
concursos estão, a cada dia, mais abarrotados. Não obstante, os índices de aprovação
continuam em patamares incrivelmente baixos, próximos de 1 a 2%. Mesmo os Exames de
Ordem indicam o baixíssimo nível de formação dos bacharéis. Os chefes de Instituições
reclamam incessantemente que não conseguem preencher as vagas por falta de candidatos
habilitados em suficiente número. Assim, paradoxalmente, aumentam os candidatos e diminui
ainda mais o número de aprovados. Por mais que se esforcem, faculdades e cursos
preparatórios têm tido pouco êxito. Mas, qual a razão dessa carnificina ou, quando menos,
como inverter esse lamentável quadro?
O desempenho dos candidatos nos concursos públicos serve como inquestionável
demonstração da baixa qualidade do ensino jurídico. Causas e soluções para tais deficiências
vêm sendo tema de debate entre os profissionais da área e professores, desde longa data,
indicando a necessidade de alguma mudança radical. Os remédios até agora utilizados não
têm se mostrado eficazes contra o mal diagnosticado. As recentes modificações normativas na
educação brasileira e no ensino do Direito indicam a tentativa de busca por soluções para estes
dilemas, embora as tenhamos por ainda tímidas.
2. RACIOCÍNIO OU REPETIÇÃO
Temos para nós que uma das principais falhas do sistema está na forma de ensino do Direito,
voltado quase que exclusivamente para a estéril análise de leis e códigos, sem sequer haver
preocupação com a formação da capacidade de raciocínio jurídico e de espírito crítico nos
alunos. O acadêmico, ao invés de aprender a interpretar as leis, decora a interpretação da
norma vigente. Quando uma lei é revogada, o acadêmico é incapaz de interpretar a norma que
a substitui. Isso ainda fica mais patente hoje, pelo país ter o sistema jurídico de maior
mutabilidade que se tem notícia. Atualmente, existe o direito consuetudinário, o civil law e o
direito brasileiro, onde as Medidas Provisórias são mais rápidas que os costumes, que a lei, a
jurisprudência ou qualquer outra coisa que se move.
Por muito tempo e ainda em muitos lugares, todo o sistema de ensino (jurídico e não jurídico)
nada mais é do que meter um monte de informações na cabeça de alguém, e exigir que este
alguém seja capaz de repetir uma porcentagem disso, na hora da prova. O ensino terminou
sendo atividade de informar, e não de formar pessoas. Educar deixou de ser paixão, alegria,
força, intensidade, curiosidade e crescimento, para ser uma mera atividade de repetição, estéril
e sem graça. Fazem dos alunos roscas, parafusos e roldanas, como peças nas fábricas da era
da industrialização. Felizmente, aos poucos, vai se redescobrindo o estudo como algo
agradável, criativo, inovador. Apenas assim formam-se pessoas e preparam-nas para a vida
real, para o século XXI, para uma vida realmente produtiva.
3. O SUBAPROVEITAMENTO DO CÉREBRO
Mais grave do que a insana opção pelo automatismo intelectual, temos como causa principal
do sofrível desempenho dos nossos alunos o fato de não saberem eles aproveitar o seu
estupendo potencial intelectual. Nossos alunos, em geral, e com honrosas, mas poucas
exceções, não sabem ler com eficiência, não sabem estudar, não possuem suficiente
capacidade de expressão escrita e verbal, em suma, subaproveitam sua quase ilimitada
capacidade cognitiva. Não estou falando apenas de matérias como Metodologia do Ensino e da
Pesquisa, sede onde muito poderia se aprender, mas que permanece desprezada, tanto pelas
instituições quanto pelos alunos. É preciso aprender a aprender.
A verdade é que alguns professores e a maioria absoluta dos alunos não dá importância a
assuntos basilares, tais como as técnicas de aprendizagem e o funcionamento do cérebro, da
memória, da inteligência etc. Em geral, os alunos desprezam pontos da matéria, como a
introdução e os princípios e conceitos fundamentais, pois querem "ir direto para o assunto", não
querendo "perder tempo" com estas partes, que para eles são de somenos importância. Eles
estão viciados em não pensar, a se satisfazerem com um produto final e acabado, sem que
possam ou saibam julgá-lo.
Este comportamento repete a prática mais que comezinha de as pessoas não lerem os
manuais de instrução dos eletrodomésticos que adquirem. Apesar de, lá uma vez ou outra,
alguém fundir um aparelho, via de regra, consegue-se usar um liqüidificador ou videocassete
sem a leitura do manual. Nesses casos, o subaproveitamento da máquina, que decorre da falta
de conhecimento de seu modus operandi, permanece em limites toleráveis. Todavia, quanto
mais complexo o equipamento, maior a necessidade de, mesmo com algum trabalho, estudar-
se o manual, ver como a máquina funciona, sua potencialidade, funções etc. Se isto não
ocorrer, o subaproveitamento será considerável. Como o cérebro é muito mais sofisticado que
o mais avançado dos computadores, é preciso "ler o manual", sob pena de estarmos
condenados a subaproveitá-lo. Os índices de aprovação dos bacharéis em concursos públicos
mostram que o uso do cérebro e da inteligência sem a "leitura do manual" está sendo
insuficiente.
4. QUANTIDADE X QUALIDADE DO ESTUDO
Outro ponto a ser considerado é que, como tudo na vida, importa mais a qualidade do que a
quantidade. Há quem estude 12 horas por dia e seu resultado prático seja inferior ao de outro
que estuda apenas uma hora por dia. Por quê? Por causa de inúmeros fatores, como a
concentração, a metodologia e o ambiente de estudo. Mesmo assim, os estudantes e
candidatos se preocupam apenas com "quantas horas" ele ou o colega estudam por dia, e
quase não se vê a preocupação com o "como" se estuda.
5. OTIMIZAÇÃO DE ESTUDO
Como um dos caminhos para solucionar o fraco desempenho de nossos alunos, entendemos
que deva ser dada atenção ao processo de aprendizagem da aprendizagem, aquilo que
chamamos de Otimização de Estudo. Otimização, como já diz Aurélio, "é o processo pelo qual
se determina o valor ótimo de uma grandeza, é o ato ou efeito de otimizar ". Assim, é tornar
algo ótimo, é buscar o que é excelente, o melhor possível, "o grau, quantidade ou estado que
se considera o mais favorável, em relação a um determinado critério". Através da otimização é
possível estudar uma mesma quantidade de horas, obtendo-se um considerável ganho em
agregação de novos conhecimentos, decorrente do acréscimo de qualidade. Em suma, o
aperfeiçoamento da capacidade de aprendizagem resulta em maior produtividade, exatamente
o que tem faltado aos nossos alunos e candidatos.
6. ACRÉSCIMOS DE INTELIGÊNCIA E DESEMPENHO
Somos educados a pensar que a inteligência e a beleza são dádivas da vida, às quais já
recebemos prontas e acabadas, estando condenados a passar o resto da vida com a
quantidade de uma ou de outra que foi por nós recebida. É óbvio que aquele que do destino já
recebeu beleza e/ou inteligência prontas é um afortunado, com muito mais facilidade e
conforto. Para quem não nasceu genial ou lindo, porém, resta apenas a resignação?
As academias de ginástica, clínicas de beleza e os cirurgiões plásticos já há tempos vêm
provando que a beleza pode ser obtida com esforço pessoal e tecnologia. No que tange à
inteligência, aos poucos vai se firmando não só o seu melhor conceito, mas também, e
felizmente, o fato de que ela pode ser aperfeiçoada. É óbvio que o gênio e o espírito criativo
nascem prontos, contudo, eles podem se aperfeiçoar. As pessoas que não tiveram tal sina
podem aprender técnicas que otimizem suas capacidades, muitas delas aprendidas da
observação dos gênios.
O fato é que é possível aprender a ser mais inteligente, bem como a desenvolver espécies
diferentes de inteligência. Os melhores conceitos de inteligência são aqueles que a indicam
como a capacidade de adaptar-se a novas situações, e como capacidade de buscar a
felicidade. Isto pode ser aprendido. Como já disse Charles Chaplin, precisamos mais de
humanidade do que de inteligência. A inteligência necessária para a felicidade está à
disposição de todos. Além do mais, não existem pessoas burras, existem pessoas que ainda
não tiveram a possibilidade de se educarem e de crescerem intelectualmente. Isto, aliás, é
tarefa moral da sociedade, do Estado e dos que já angariaram um certo grau de inteligência.
7. CONCLUSÃO
Entendemos, assim, ser necessário um esforço, no sentido de desenvolver as inteligências, a
capacidade de aprendizagem e o inesgotável potencial do cérebro humano. Se isto não for
feito, nossos alunos continuarão condenados a níveis insatisfatórios de desempenho. Lidamos,
hoje, com grande quantidade de esforço desperdiçado, baixa produtividade no processo de
ensino e aprendizagem e frustração inteiramente desnecessárias. Antes de ensinar ao aluno a
matéria em si ("o inimigo"), devemos ensiná-lo a conhecer a si próprio e a dominar sua
espetacular capacidade de crescimento humano e cognitivo. Isso foi dito já há 2.500 anos, por
Sun Tzu, excepcional general chinês, na obra "A Arte da Guerra ":
"Se conhecermos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma
centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofreremos
uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas."

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