Você está na página 1de 3

APRENDER A APRENDER

Fernando Lincoln Mattos

A aprendizagem é contextualizada. Ninguém aprende da mesma forma em qualquer ambiente. Cada


ambiente exige seu próprio esquema de aprendizagem. Nos primeiros anos de vida, desenvolvemos
esquemas de aprendizagem de acordo com o ambiente em que nos encontramos. Nos "acostumamos"
ao ambiente, à sua rotina, sentindo-nos mais à vontade para experimentar, para criar.

Assim acontece no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, onde nos adaptamos a esquemas de
aprendizagem estruturados sob o controle do professor e da direção da escola. A cobrança externa do
aprendizado é bem maior, procurando-se formar hábitos de estudo. Para alguns, esta cobrança inibe o
aprendizado; para outros, estimula.

Entretanto, na Universidade as coisas mudam de figura. Os esquemas são diferentes. O grau de controle
do aprendizado é bem menor. É certo que ainda existem notas e controle de freqüência, mas a postura
do professor e, principalmente, dos alunos, muda bastante: já se trata aqui do ser humano adulto,
buscando o encaminhamento de importantes opções profissionais. Aqui é necessário independência.
Agora é por sua conta.

Alguns professores, é bem verdade, não percebem isto, tentando tratar os alunos com o mesmo nível de
controle. A maioria fracassa. Vejam que não me refiro aqui a "exigências" em provas, mas a controle
do dia-a-dia, na sala de aula;

Por outro lado, vários alunos não compreendem o significado pedagógico da Universidade, insistindo
em agir de acordo com práticas de Ensino Médio. Em poucos semestres, percebem a inadequação de
suas atitudes e tentam adaptar-se ao novo ambiente. Quando isto não acontece, pouco tempo depois de
terminar o curso saem-se com esta: "Só aprendi teoria na universidade; o que foi realmente importante
eu aprendi mesmo foi na prática, com a mão na massa"

Esta é uma compreensão errada do que é uma universidade. Embora também seja papel da universidade
fornecer as técnicas necessárias ao desempenho ótimo da profissão, também é fato de que a
universidade é um local de aprendizagem de conceitos, de teorias que aguçam a criatividade. Quem diz
que só aprendeu "teoria" na universidade não soube extrair o fundamento da profissão, e, o que é pior,
não percebeu que grande parte da responsabilidade do aprendizado era dele mesmo.

Então, como criar as estruturas de aprendizagem necessárias ao Ensino Superior?

Trata-se de aprender a aprender. E todo aprendizado consiste em:

a) Experimentar;

b) Refletir sobre a experiência;

c) Valer-se desta reflexão para enriquecer e ampliar as experiências.

Isto, como diziam os Titãs, "Tudo ao Mesmo Tempo Agora".

Vamos examinar cada uma destas condições de aprendizado:


a) Experimentar

Experimente sua universidade em todos os níveis, o mais cedo possível:

- passeie por todo o campus. Reconheça seu espaço. Faça um "tour" pelos blocos, conheça os Núcleos
de Extensão e Pesquisa nos diversos Centros, os Projetos Experimentais, os Laboratórios de todos os
Centros, a Biblioteca Central. Observe o acervo da biblioteca, vá à videoteca, assista os vídeos em uma
das salas de projeção com telão. Este "reconhecimento de terreno" é importante para o aprendizado,
pois lhe deixa mais à vontade em seu ambiente. Muitos alunos, infelizmente, concluem o curso sem
conhecer 90% da universidade, perdendo boas oportunidades de enriquecer seu aprendizado;

- vá ao Diretório Central dos Estudantes e converse com o pessoal de lá. Informe-se das atividades do
DCE e da melhor maneira de participar. Ao contrário do que dizem alguns, a atividade política
acadêmica, longe de "atrapalhar" os estudos, amplia e enriquece o aprendizado, na medida em que
contextualiza socialmente estudos por vezes preponderantemente técnicos. Procure apoiar a fundação
ou manutenção do Centro Acadêmico em seu curso.

b) Refletir sobre a experiência

- Se possível, acostume-se a permanecer na universidade pelo menos em dois expedientes do dia, todos
os dias, mesmo que não tenha atividades curriculares (exceção feita a atividades de estágio ou
profissionais);

- Não se deixe embriagar por notas altas. Nota alta não quer dizer necessariamente que você será um
bom profissional. Quer dizer que você atingiu satisfatoriamente os objetivos requeridos pelo professor
para aquela prova. Isto é importante, mas não é tudo. No Ensino Médio, parecia ser. No Mercado de
Trabalho, competitivo e faminto por criatividade, não.

- Não se deixe desanimar por notas baixas. O motivo é o mesmo do item anterior, acrescido, é claro, da
necessidade de estudar mais e compreender os aspectos essenciais que norteiam a disciplina. Aluno
nota dez não necessariamente será profissional nota dez, mas aluno de notas baixas dificilmente será
um profissional competente.

- Estude com método. O tempo de estudo não é necessariamente proporcional ao aprendizado. Como já
afirmei antes, toda aprendizagem é contextualizada, por isto, o estudo é apenas parte do aprendizado.
Daí a importância de se viver o contexto.

Dicas para estudo:

1) faça um calendário de estudos, válido para o semestre, compatibilizando-o com o calendário da


universidade e das disciplinas. Não esqueça de cumpri-lo...

2) anote suas dúvidas durante o estudo, para posterior discussão com o professor;

3) faça revisões periódicas do já aprendido, independentemente de provas;

4) use e abuse dos serviços do pessoal da biblioteca, no sentido de auxiliá-lo a pesquisar através do
sistema de índices, por assunto, obra ou autor, bem como a procurar o livro desejado;
5) organize um grupo de estudos. Três ou quatro pessoas, não mais. Estudar em grupo é muito
importante, pois (com)partilha experiências e pontos-de-vista, além de servir de estímulo mútuo
permanente. Algumas pessoas preferem estudar sozinhas. Sem problemas. Experimente as duas
modalidades e defina-se. Prefira estudar em grupo na própria Universidade (na biblioteca) que em casa.
O ambiente é mais propício, além de possibilitar material de pesquisa abundante;

6) utilize os laboratórios de computação da Universidade para preparar trabalhos de qualidade e manter


seu banco de dados particular. Todo aluno e professor da universidade pode ter seu espaço privativo na
rede de computadores. Se você ainda não sabe manejar um computador, procure freqüentar logo um
bom curso de Informática;

c) Ampliar as experiências

- mantenha-se ligado em tudo o que diz respeito à sua futura profissão em geral e às disciplinas que
estiver cursando, em particular. Solicite aos seus professores que encomendem à biblioteca a assinatura
de revistas técnicas sobre o assunto;

- procure relacionar sua futura profissão a outras áreas de estudo (além, é claro, da área que lhe é mais
diretamente afeta), especialmente à Informática e Administração, áreas fundamentais para a formação
de um profissional moderno e atualizado;

- exija de seus professores, da coordenação de seu curso e da diretoria de Centro a promoção de


constantes debates, seminários e o apoio à participação de congressos estudantis e profissionais, além
de outras atividades dinamizadoras do curso;

- proponha e participe de pesquisas e encoraje seus colegas a fazer o mesmo;

- procure por estágios desde o início do curso, não deixe para participar apenas do estágio obrigatório,
ao final do curso. Quanto mais você comparar a experiência com a teoria vista na universidade, melhor.
Estágio é coisa difícil de arrumar, por isto, parta cedo na busca por uma vaga.

Com estas providências, você terá o caminho correto para adaptar-se à vida universitária de forma
consciente e conseqüente, aproveitando ao máximo aquilo que os anos de Academia têm por oferecer.
Aprender a aprender significa compreender o significado da universidade em sua vida profissional,
criando novos hábitos e uma nova mentalidade, mais responsável e independente. Às vezes este
aprendizado será duro, mas sem dúvida gratificante.

Você também pode gostar