Aquilo que é recordado dos sonhos já se trata de algo
mutilado. O pensamento consciente, por sua vez, preenche lacunas para conferir algum sentido e lógica, com o que colabora com o processo de distorção do conteúdo.
Ao intérprete dos sonhos compete encontrar os pontos
nodais que conectam aquilo que é recordado com o que é, de fato, o conteúdo latente e esquecido. Assim, os traços mais insignificantes passam a adquirir imenso valor, assim como cada nuance da expressão linguística com que o sonho foi narrado.
Ora, se o sonho já é uma produção pautada pelo disfarce e
distorção, esses elementos também podem se apresentar na fala do sonhador (elaboração secundária). Ora, partindo dessa premissa, bem como do determinismo psíquico, nessa segunda cadeia de pensamentos oníricos está também presente, ainda que, e também, de forma deslocada e condensada, o elemento deixado indeterminado anteriormente. Portanto, perdura uma relação associativa a ser considerada pelo analista.
Freud apresentou como sugestão pedir ao analisando repetir
a narrativa do sonho, de modo a comparar as descrições. Os pontos em que houver mudança são os pontos fracos do discurso a serem explorados. Ademais, ao lhe ser anunciado que haveria, por parte do analista, um empenho ainda maios para identificar interpretar os detalhes do sonho, a resistência, agora operando em estado de vigília, tenderá a ainda mais proteger os disfarces do pensamento onírico. O que foi trocado ou deixado de lado indica o caminho a ser percorrido.
Sonho – distorção de valor para subtraí-lo – o banido sinaliza
o que foi reprimido pela censura.
Do sonhador – exige-se que abandone toda certeza. Esse
desdém produz uma reação psíquica de que representações involuntárias que se encontrarem por detrás dele possam vir à lume. O efeito da dúvida desmascara o elemento derivado e a serviço da resistência.
A interpretação fracionada do sonho pode se mostrar
importante quando não se obtém êxito em fazê-la de uma só vez. Além disso, uma superinterpretação pode se efetivar em face da abundância das cadeias inconscientes de ideias que vão ressurgindo com o tempo da análise. O umbigo do sonho, porém, sempre existirá, isto é, o ponto em que ele se assenta no desconhecido.