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EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL

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REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

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PACIENTE PRESO - URGENTE

D GO
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:23 EL
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02 AN

Prevenção: Des. Fed. JOÃO PEDRO GEBRAN NETO, HC n° 5042474-53.2017.4.04.0000


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Os advogados ALBERTO ZACHARIAS TORON e FERNANDO DA NÓBREGA CUNHA, brasileiros,


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inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil sob os números 65.371 e 183.378, com escritório
Em 2.03

em São Paulo (SP), na Av. Angélica, nº 688, cj. 1111 respeitosamente, vêm à elevada presença
de Vossa Excelência impetrar
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HABEAS CORPUS
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COM PEDIDO DE LIMINAR


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em favor de ALDEMIR BENDINE, brasileiro, casado, administrador, portador da Cédula de


so

Identidade RG nº 10.126.451 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 043.980.408-62


s

atualmente recolhido na Custódia no Complexo Médico Penal de Curitiba (PR), em razão


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de constrangimento ilegal decorrente do indeferimento do pedido de que fosse garantido


Im

ao Paciente o direito de apresentar seus memoriais após a apresentação dos memoriais pelos
acusados/colaboradores cuja manifestação possui carga acusatória (Processo nº 5035263-
15.2017.4.04.7000/PR).

ALBERTO ZACHARIAS
Assinado de forma digital por ALBERTO ZACHARIAS TORON:05402152870
DN: c=BR, o=ICP-Brasil, ou=Secretaria da Receita Federal do Brasil - RFB, ou=RFB e-CPF
A3, ou=(EM BRANCO), ou=Autenticado por AR Assesto, cn=ALBERTO ZACHARIAS

TORON:05402152870 TORON:05402152870
Dados: 2018.05.28 19:37:41 -03'00'

Av. Angélica, 688 11º andar Cj. 1111 São Paulo SP Cep 01228-000 Tel/Fax: 11 3822-6064
Os impetrantes arrimam-se no disposto no artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal, nos

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artigos 647 e 648, inciso I, do Código de Processo Penal e, ainda, nos relevantes motivos de

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fato e de direito adiante aduzidos.

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Nesses termos, do processamento,
Pedem deferimento.

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São Paulo, 2 de fevereiro de 2018.

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ALBERTO ZACHARIAS TORON
OAB/SP nº 65.371
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FERNANDO DA NÓBREGA CUNHA
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OAB/SP nº 183.378
2/2 - D
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Em 2.03
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Av. Angélica, 688 11º andar Cj. 1111 São Paulo SP Cep 01228-000 Tel/Fax: 11 3822-6064
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO:

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COLENDA 8ª TURMA:

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EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR RELATOR:

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DOUTO PROCURADOR REGIONAL DA REPÚBLICA:

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I — DO CABIMENTO DO WRIT

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Desde 1946, já sob regime democrático, o writ foi regulado de forma mais ampla e generosa
do que na Carta de 1937, sendo suprimida a exigência da iminência da coação ou violência

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para a concessão do habeas corpus. O art. 141, §23, estabelecia:
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Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
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abuso de poder.
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Daí em diante, consoante o abalizado escólio da saudosa Profª. ADA PELEGRINI GRINOVER,
passou-se a entender que “é admissível a tutela antecipada mesmo em situações em que a prisão
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constitua evento apenas possível a longo prazo”1. Como sublinha GUSTAVO BADARÓ, isso tem
Em 2.03

permitido “que o habeas corpus seja, entre nós, um remédio extremamente eficaz para o controle
da legalidade de todas as fases da persecução criminal”2.
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Daí porque, a eg. 5ª Turma do col. STJ ___ preventa para o presente caso ___ mais
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recentemente, reafirmou essa ideia ao julgar o HC n. 160.696:


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Há muito a jurisprudência dos Tribunais Superiores admite a utilização da


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ação mandamental de habeas corpus para afastar constrangimento ilegal de


ordem processual suportado pelo réu no curso da ação penal, desde que
so

presente a possibilidade de lesão à liberdade de locomoção do indivíduo.3


s
pre

1 ADA PELLEGRINI GRINOVER e outros, Recursos no processo penal. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
Im

2009, p. 272. Idem, GUSTAVO BADARÓ, Processo penal. Rio de Janeiro: ed. Campus: Elsevier, 2012, p. 676.
2 Recursos no processo penal, cit., p. 272.
3 5ª T., rel. Min. JORGE MUSSI, DJe 29/8/2011. Na mesma linha, cf. RHC 12.717, rel. Min. VICENTE LEAL, DJ

28/10/2002; RHC 11.338, rel. Min. FELIX FISCHER, DJ 08/10/2001; HC 18.060, rel. Min. JORGE SCARTEZZINI, DJ
26/8/2002; HC 55.986, rel. Min. GILSON DIPP, DJ de 01/8/2006 e, entre muitos outros, HC 31.205, Rel. p/ Ac.
Min. PAULO MEDINA, DJ 26/11/2004.)
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Na dicção da Suprema Corte, “O direito do réu à observância, pelo Estado, da garantia

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pertinente ao ‘due process of law’, além de traduzir expressão concreta do direito de defesa, também

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encontra suporte legitimador em convenções internacionais que proclamam a essencialidade

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dessa franquia processual, que compõe o próprio estatuto constitucional do direito de defesa,

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enquanto complexo de princípios e de normas que amparam qualquer acusado em sede de persecução
criminal, mesmo que se trate de réu estrangeiro, sem domicílio em território brasileiro, aqui

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processado por suposta prática de delitos a ele atribuídos”4. Para o Min. ALEXANDRE DE MORAES,
o habeas corpus, “é meio idôneo para garantir todos os direitos do acusado e do sentenciado

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relacionados com sua liberdade de locomoção, ainda que pudesse, como salienta o Min. CELSO DE
MELLO, ‘na simples condição de direito-meio, ser afetado apenas de modo reflexo, indireto ou

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oblíquo’”5.
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Não por acaso, inúmeros julgados de norte a sul do Brasil, de Tribunais Estaduais, Regionais
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e Superiores têm proclamado a idoneidade do habeas para sanar nulidade processual6


decorrente de inépcia de denúncia7, ou, para exemplificar, a decorrente da determinação da
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realização de interceptação telefônica por autoridade incompetente8 ou da colocação


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indevida de algemas no júri de modo a transmitir a ideia de que o acusado seja perigoso9;
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para evitar o indevido indiciamento10 e, especialmente com relação a questão tratada neste
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writ, para preservar a cronologia das sustentações orais de modo a se impedir a inversão
do contraditório11.
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4 STF, 2ª T., HC n. 94.016, rel. Min. CELSO DE MELLO, DJ 1º/4/2013.


r: 2

5 Direito Constitucional. 31ª ed. São Paulo. ed. Atlas, 2015, p. 135.
6 STJ, 5ª T., HC n. 17.953, rel. Min. GILSON DIPP, DJ 8/4/2002 e, entre muitos outros, RHC n. 13.798, rel. Min.
po

FÉLIX FISCHER, DJ 3/11/03; apud: Alberto Silva Franco em: “Código de Processo Penal e sua interpretação
jurisprudencial”, São Paulo, ed. Revista dos Tribunais, 2ª ed., 2004, vol. I, p. 1150/51.
7 STF, HC n. 70.687, rel. Min. PERTENCE, RT 708/414; apud: A. Silva Franco, ob. cit, p. 1151 e, entre muitos outros,
so

STF: HC 85.948-8/PA, Rel. Min. CARLOS AYRES BRITTO DJ 23.05.2006; RHC n.º 85.658/ES, Rel. Min. CEZAR
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PELUSO, DJ 12.08.2005; HC n.º 83.948-7-SP, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, DJ 07.05.2004; HC n.º 80.549/SP, Rel.
pre

Min. NELSON JOBIM, DJ 24.08.2001. STJ, entre muitos outros, 5ª, T., HC 171.976, rel. Min. GILSON DIPP, DJe
13/12/2010.
8 STJ, 5ª T., HC n. 83.632, rel. Min. JORGE MUSSI, DJ 20/9/2010.
Im

9 STF, Pleno, HC n. 91.952, rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJ 19/12/2008. Sobre o tema, ver ANTONIO MAGALHÃES

GOMES FILHO na Revista Brasileira de Ciências Criminais, dez – 1992, p. 110, Sobre o uso de algemas no
julgamento pelo Júri.
10 STJ, 5ª T., HC n. 58.323, rel. Min. GILSON DIPP, DJ 11/9/06 e STJ, 6ª T., HC n.18.054, rel. Min. PAULO GALLOTTI,

DJ 22/8/01, entre muitos outros.


11 STF, Pleno, HC n. 87.926, rel. Min. PELUSO, DJ 25/4/2008.

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A maior prova da vitalidade e do alcance do writ na proteção do devido processo legal, é a

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hipótese da negativa de vista dos autos ao advogado do investigado na fase do inquérito

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policial, discutida pelo STF no HC n. 82.354. À primeira vista, não há ameaça à liberdade de

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locomoção, todavia, há cerceamento de defesa que, de forma mediata, pode comprometer a

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liberdade com uma futura condenação.

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Não se trata, como deixou assentado a Primeira Turma do STF no HC nº 82.354 relatado
pelo Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, “de fazer reviver a doutrina brasileira do habeas corpus,

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mas sim de dar efetividade máxima ao remédio constitucional contra a ameaça ou a coação da liberdade

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de ir e vir, que não se alcançaria, se limitada a sua admissibilidade às hipóteses da prisão consumada
ou iminente”12. Daí ter recordado o decidido pela mesma Turma no HC nº 79.191, em cujo
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writ se discutia ilegalidade da quebra do sigilo bancário do paciente. A ementa consignou:
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Se se trata de processo penal ou mesmo de inquérito policial, a jurisprudência


do STF admite o habeas corpus, dado que de um ou outro possa advir
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condenação a pena privativa de liberdade, ainda que não iminente, cuja


aplicação poderia vir a ser viciada pela ilegalidade contra o qual se volta a
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impetração da ordem. Nessa linha, não é de recusar a idoneidade do habeas


corpus, seja contra o indeferimento de prova de interesse do réu ou indiciado,
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seja, o deferimento de prova ilícita ou o deferimento inválido de prova lícita13”.


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Mesmo sem a amplidão de outrora, quando se entendia cabível o habeas “sempre que, no curso
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da ação penal, se alega que foi cometida uma ilegalidade em prejuízo do réu”14, assinalou o Min.
r: 2

PERTENCE que “não se controverte sobre o cabimento do habeas corpus contra a simples instauração
de inquérito policial por fato que se pretende atípico (v.g, HC 67.039, 31.10.89, Moreira; HC 68.348,
po

20.3.91, Passarinho) ou como é corriqueiro, contra o recebimento da denúncia; ou para questionar a


so

competência da Justiça ou do Juízo onde corra o processo (HC 75.578, 2ª T., Corrêa, Informativo STF
s

94; HC 77.993, 1ª T., Pertence, 9.3.99)”. Bem por isso, concluiu “não parece ser de recusar a
pre

idoneidade do habeas corpus, seja contra o indeferimento de prova do interesse do réu ou indiciado,
Im

seja contra o deferimento de prova ilícita ou deferimento inválido de prova lícita”.

12 STF, 1ª T., un., DJ 24/09/04.


13 RTJ 171/258, rel. Min. SEPULVEDA PERTENCE, DJ 08/10/1999.
14 LUIZ GALLOTTI, RHC 46.807, RTJ 49/592.

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Essa gama imensa de situações atina com a proteção do devido processo legal que,

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mediatamente, se vulnerado, pode vir a atingir a liberdade do investigado ou réu. Por isso

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a legitimação do manejo do habeas para coibir abusos. É, como se verá, precisamente, a

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hipótese desta impetração na qual se aponta o cerceamento de defesa e violação ao
contraditório por se impedir que o Paciente se contraponha a todas manifestações com carga

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acusatória em seus memorias, sua derradeira oportunidade de defesa na ação penal.

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II — O CONSTRANGIMENTO ILEGAL

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Após o interrogatório do Paciente, a d. Autoridade apontada como coatora declarou
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encerrada a instrução e concedeu às partes oportunidade para apresentação de alegações
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finais escritas. Contudo, fixou prazo comum para a apresentação dos memoriais de todos
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os Acusados (doc. 1).


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Ocorre que os corréus MARCELO, FERNANDO e ÁLVARO são colaboradores e suas


manifestações têm, não por acaso, claro teor acusatório, como se viu no desenrolar da
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presente ação penal — basta ler os interrogatórios, a título de exemplo (docs. 2, 3 e 4).
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O corréu ANDRÉ GUSTAVO, por sua vez, expressamente busca firmar acordo de colaboração.
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Ele adotou clara postura de acusador, aliás, ainda mais incisiva que a dos outros acusados
r: 2

colaboradores, certamente para convencer o MPF que merece o acordo de colaboração que
ele confessadamente almeja. O teor de seu interrogatório (doc. 5) e das manifestações de sua
po

i. Defesa não deixam margem à dúvida.


sso
pre

Ainda com relação ao corréu ANDRÉ GUSTAVO, o MPF requereu “a aplicação da causa de
diminuição de pena prevista no artigo 14 da Lei no 9.807/1999” (doc. 6), que trata justamente da
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aplicação de benefícios penais a acusados que colaborarem para a “identificação dos demais
co-autores ou partícipes”, “no caso de condenação”.

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Fê-lo, como consta dos memoriais ministeriais, porque no “interrogatório em juízo, o acusado

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confessou ter praticado os fatos criminosos imputados neste processo criminal e, espontaneamente,

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prestou esclarecimentos sobre a responsabilidade dos coautores” (cf. doc. 6, destaques nossos).

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NC
É, portanto, evidente, a carga acusatória da manifestação de ANDRÉ GUSTAVO.

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Diante disso, em respeito aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa
(CF, art. 5º, LV), o Paciente requereu que o prazo para apresentação de seus memorias se

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iniciasse após a apresentação dos memoriais pelos referidos corréus, a fim de que lhe fosse
garantido o direito de rebater toda carga acusatória que possa pesar contra si (doc. 7).

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A d. autoridade apontada como coatora indeferiu o pedido. Seus fundamentos, no entanto,
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são representativos de constrangimento ilegal e a decisão merece ser cassada, como será
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detalhadamente demonstrado adiante. Vejamos o decisum no que interessa ao writ, verbis:


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O acusado colaborador não se despe de sua condição de acusado no processo.


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Apenas optou, com legitimidade, por defender-se com a pretensão de colaborar


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com a Justiça.
Acolher o requerimento da Defesa de Aldemir Bendine seria o equivalente a
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estabelecer uma hierarquia entre os acusados, distinguindo-os entre


colaboradores e não colaboradores, com a concessão de privilégios aos últimos
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por não terem colaborado.


A lei estabelece prazo comum para a apresentação de alegações finais, ainda
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que as defesas não sejam convergentes e não cabe à Justiça estabelecer


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hierarquia entre acusados, todos com igual proteção da lei.


Assim, indefiro o pedido por manifesta contrariedade à lei. (doc. 8).
po

Excelentíssimo Relator, mesmo que esses corréus estejam formalmente inseridos no polo
so

passivo da ação penal, sua atuação na ação penal, substantivamente considerada, é a de


s
pre

acusador e se assemelha ao papel de um assistente do Ministério Público. Os corréus


Im

colaboradores devem, pois, oferecer seus memoriais depois do MPF, mas antes do Paciente,
a fim de que este possa contrapor-se à toda carga acusatória que possa pesar contra si.

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Como é cediço, as manifestações de cunho acusatório devem sempre preceder as de caráter

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defensivo. Do contrário, com todo o respeito, haverá verdadeira burla de etiquetas, em

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detrimento do contraditório e da ampla defesa.

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Vale notar que a própria d. Autoridade coatora observou essa lógica ao designar os
interrogatórios nesta ação penal. Os acusados colaboradores foram interrogados antes dos

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demais (doc. 9).

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De fato, o contraditório, como princípio constitucional, há de ser efetivo e isso só se dá, com

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a devida venia, quando o acusado puder se contrapor a todas as cargas acumuláveis contra
si. Eis, no ponto, a lição do saudoso, CANUTO MENDES DE ALMEIDA:
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Praticamente o princípio do contraditório se manifesta na ação penal pela
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ciência tempestiva dada ao imputado de todas as cargas judicialmente contra


ele acumuláveis (In: “Princípios fundamentais do processo penal”, SP, ed.
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Rev. dos Tribunais, 1973, pg. 107).


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Ora, podendo, remarque-se, a manifestação derradeira do MPF, ser “carga contra o


demandado”, já que pode se colocar ao lado da pretensão do Requerente, é evidente, por força
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do contraditório e do princípio da ampla defesa, que não pode ser a última.


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Para se fazer um paralelo, antigamente, mesmo nas apelações do Ministério Público contra
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sentenças absolutórias, o seu representante de segundo grau tinha a primazia de falar por
r: 2

último. Dizia-se, para se legitimar a ofensa ao contraditório, que ele funcionava como “fiscal
po

da lei”, não era parte acusatória. Até que o então jovem Procurador Geral de Justiça do
Distrito Federal, hoje Ministro do STJ, ROGÉRIO SCHIETTI MACHADO CRUZ, pioneiramente,
so

apontou que a situação existente ensejava uma espécie de burla de etiquetas. Assinalou que
s
pre

o atuar como fiscal da lei não retira a eventual carga acusatória do representante do
Ministério Público. Nas suas palavras, “assim como a forma não desnatura a matéria, mas apenas
Im

modifica sua aparência, o parecer do Procurador de Justiça não elimina, mas tão-somente esconde a
sua função acusatória que, nas alegações finais ou na denúncia do Promotor de Justiça, se revela bem
mais nítida. Ou será ___ indaga o ensaísta ___ “que estas últimas peças processuais retiram do
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Ministério Público atuante no primeiro grau a sua função fiscalizadora?” (Atuação do Ministério

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Público no processamento dos recursos dos recursos criminais face aos princípios do contraditório e

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da isonomia, RT 737/495).

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É precisamente a situação dos autos: embora arrolados como acusados, os colaboradores,
ainda que integrantes do polo passivo da ação penal, atuam com carga acusatória. Daí

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porque, com a devida venia, devem se manifestar antes do acusado. Aliás, o Pleno do
Supremo Tribunal Federal, com a sua mais alta autoridade, julgando o HC n. 87.926, da

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relatoria do Min. CEZAR PELUSO, disciplinou a cronologia das falas no campo do processo

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penal de modo a se impedir a inversão do contraditório. A ementa do julgado não deixa
margem a dúvidas:
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AÇÃO PENAL. Recurso. Apelação exclusiva do Ministério Público.


Sustentações orais. Inversão na ordem. Inadmissibilidade. Sustentação oral da
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defesa após a do representante do Ministério Público. Provimento do recurso.


Condenação do réu. Ofensa às regras do contraditório e da ampla defesa,
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elementares do devido processo legal. Nulidade reconhecida. HC concedido.


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Precedente. Inteligência dos arts. 5º, LIV e LV, da CF, 610, §único, do CPP, e
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143, §2º, do RI do TRF da 3ª Região. No processo criminal, a sustentação oral


do representante do Ministério Público, sobretudo quando seja recorrente
único, deve sempre preceder à da defesa, sob pena de nulidade do julgamento
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(DJ 25/4/2008).
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Assim, com todo respeito, não se pretende estabelecer qualquer tipo de hierarquia e muito
r: 2

menos se almeja privilégio, mas apenas a singela — e devida — observância das garantias
po

constitucionais penais, em especial, do contraditório.


sso

O pedido, de resto, não é, absolutamente, contrário à lei. Não há qualquer lei vigente no país
pre

que trate sobre o tema da ordem de apresentação de memoriais entre acusados


Im

colaboradores e não colaboradores. O CPP é anterior à Lei nº 12.850/13 e, portanto,


obviamente, não poderia ter previsto — como, de fato, não prevê — hipótese que não existia
à época de sua edição.

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Além de não tratar do tema específico, o CPP não determina que seja comum o prazo para

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apresentação de memoriais defensivos, como constou na decisão. Para se constatar o

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afirmado, basta a leitura dos arts. 403, § 3º e 404, parágrafo único: “O juiz poderá, considerada

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a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias
sucessivamente para a apresentação de memoriais” e “Realizada, em seguida, a diligência

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determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por
memorial” (destaques nossos).

D
:15 CI
Além disso, para demonstrar que o pedido do Paciente não contraria a Lei processual penal,

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importante levar em conta que o CPP prevê, preferencialmente, a apresentação de alegações
00 D
finais orais (art. 403, caput). Nessa situação, obviamente, as Defesas não poderiam falar ao
4 - IEL
mesmo tempo, por absoluta impossibilidade prática. Portanto, conclui-se que o
02 AN

estabelecimento de ordem entre os corréus para a apresentação de suas alegações finais não
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contraria a lei.
2/0 5

Essa mesma previsão legal também demonstra que a apresentação sucessiva de memoriais
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entre os acusados não cria nenhuma hierarquia e, muito menos, privilégio. Caso contrário, a
Em 2.03

previsão de oferecimento de alegações finais orais seria inconstitucional.


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Muito pelo contrário, aliás, ao impedir o Paciente de se contrapor a toda carga acusatória,
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inclusive a decorrente das manifestações dos referidos corréus, o d. Juízo de piso está
r: 2

prejudicando concreta e seriamente a defesa do Paciente.


po

Com efeito, o d. Juízo pode vir a utilizar argumentos dos referidos corréus e documentos
so

eventualmente juntados por eles em seus memoriais para condenar o Paciente — o que se
s
pre

admite por amor ao debate —, sem que ele tenha tido a oportunidade de rebatê-los e
contestá-los.
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Ante todo o exposto, requer-se a concessão da presente ordem de habeas corpus, a fim de que
seja garantido ao Peticionário o direito de apresentar seus memoriais após a apresentação
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dos memoriais pelos acusados MARCELO, FERNANDO, ÁLVARO e ANDRÉ GUSTAVO, como

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medida de JUSTIÇA!

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III — O PEDIDO DE LIMINAR

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O fumus boni iuris revela-se presente por toda a argumentação acima exposta, na qual se
demonstrou que a determinação de que o Paciente apresente seus memorias no mesmo

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prazo dos corréus colaboradores viola o contraditório e prejudica seriamente sua defesa ao

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impedir que se contraponha a toda carga acusatória que pesar contra si.

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Já o periculum in mora reside no fato de que o prazo comum fixado pelo d. Juízo de piso se
4 - IEL
inicia nesta data — 02.02.2018 — e seu termo final está fixado para 21 de fevereiro p.f. (cf.
02 AN

doc. 1).
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Nessa conformidade e contando com os doutos suprimentos de Vossa Excelência, requer-se


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a concessão da medida liminar para suspender o trâmite da ação penal até o julgamento do
mérito deste writ, ou, desde logo, determinar-se que o Paciente possa apresentar seus
Em 2.03

memoriais após os colaboradores como medida de JUSTIÇA!


.80

São Paulo, 2 de fevereiro de 2018.


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ALBERTO ZACHARIAS TORON


OAB/SP nº 65.371
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FERNANDO DA NÓBREGA CUNHA


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OAB/SP nº 183.378
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11
Av. Angélica, 688 11º andar Cj. 1111 São Paulo SP Cep 01228-000 Tel/Fax: 11 3822-6064

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