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FORTALEZA – CEARÁ
2023
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FORTALEZA – CEARÁ
2023
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Ficha catalográfico
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Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Profª. Dra. Elivânia da Silva Moraes (Orientadora)
Universidade Estadual do Ceará – UECE
_________________________________________
Profª. Dra. Paula Raquel da silva Jales
Universidade Estadual do Ceará – UECE
_________________________________________
Profª. Dra. Daniele Eduardo Rocha
Universidade Estadual do Ceará – UECE
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AGRADECIMENTOS
Não posso deixar de agradecer a quem tanto me ajudou não só nesse percurso da pesquisa, mas
também de vida: Aos meus pais, por me deixarem livre para eu escolher ser o que eu quisesse
ser, mas sempre me orientando e mostrando a importância de estudar e trabalhar. As minhas
irmãs, que sempre me ensinaram sobre tudo, principalmente nesses últimos meses, me
mostraram através das adversidades da vida sobre ser forte e não desistir. Ao meu noivo, que
insistiu para que eu voltasse a escrever e finalizar essa etapa. Ao meu cunhado Samuel, que está
sempre disposto a me ajudar no que eu preciso. Aos meus sobrinhos, que são minha dose diária
de alegria, e também aos amigos que permaneceram e se fizeram presente nesta caminhada
longa e solitária.
Agradeço imensamente à minha orientadora Elivânia, por não ter desistido de mim, e por ser
sempre tão solícita e compreensiva. Obrigada por sua paciência e dedicação em me auxiliar na
construção deste trabalho, e principalmente por sua orientação experiente e humanizada. Suas
considerações e sugestões foram de valor inestimável para o meu crescimento acadêmico.
Gostaria de agradecer também as profissionais da banca avaliadora, que inclusive foram minhas
professoras nesta graduação, contribuindo de alguma forma para que eu pudesse chegar até
aqui. Agradeço também as entrevistadas que participaram deste estudo, compartilhando seus
conhecimentos, experiências e percepções valiosas; suas contribuições foram fundamentais
para a realização desta pesquisa. Por último, mas não menos importante, a Deus, por nunca me
desamparar.
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RESUMO
A pesquisa desenvolvida reflete a relação entre trabalho e universidade, dando ênfase aos alunos
do curso de Serviço Social noturno na Universidade Estadual do Ceará. Na tentativa de
compreender esse fenômeno, procuramos conhecer suas condições de vida e de trabalho: Como
esses estudantes que precisam trabalhar para se sustentar financeiramente podem ter uma
formação profissional de qualidade se a maior parte do seu tempo é dedicado ao trabalho? Como
poderá elevar suas capacidades de pensar e repensar os temas trabalhados em sala de aula se
não há condições favoráveis de estudos? Através desses e outros questionamentos que serão
apresentados no desenvolver dessa pesquisa, tentaremos compreender os impactos do trabalho
para a formação acadêmica desses estudantes trabalhadores. Tratou-se de uma pesquisa
bibliográfica embasada nos conceitos de alguns autores como Marx, Antunes, Chaui; e de
campo, no qual foram entrevistados 7 estudantes a fim de relacionar as teorias com as vivências,
sendo realizada durante os anos de 2018 a 2023, tendo uma pausa de um pouco mais de 1 ano
por conta da pandemia do COVID. Os resultados revelaram a necessidade de medidas concretas
por parte da universidade e políticas públicas para apoiar esses estudantes, promovendo uma
educação mais inclusiva e acessível. A valorização da experiência dos estudantes trabalhadores
e o reconhecimento de suas demandas são fundamentais para reduzir a evasão e promover a
equidade e qualidade no ensino superior noturno.
ABSTRACT
The developed research reflects the relationship between work and university, focousing to
Social Service students at the State University of Ceará. In an attempt to comprehend this
phenomenon, we have tried to understand their living and working conditions: How can these
students who need to work to support themselves financially have quality professional training
if most of their time is dedicated to work? How can they improve their abilities to think and
rethink the topics learned in the classroom if there are no favorable studying conditions?
Through these and other questions that will be presented along this research, we will try to
understand the impacts of working on the academic education of these working students. It was
a bibliographic research based on the concepts of some authors such as Marx, Antunes, Chaui;
and fieldwork, in which 7 students were interviewed in order to list theories to experiences,
carried out from 2018 to 2023, with a break of just over 1 year due to the COVID pandemic.
The results revealed the need for concrete measures by the university and public policies to
support these students, promoting a more inclusive and accessible education. Valuing the
experience of working students and recognizing their demands are essential to reduce dropout
rates and promote equity and quality in higher education, specially in night shift.
Keywords: work; university; student worker; night shift teaching; professional qualification.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 8
2 UM OLHAR PANORÂMICO DA RELAÇÃO ENTRE TRABALHO
E ENSINO SUPERIOR.......................................................................... 12
2.1 Aproximação com a temática ................................................................. 12
2.2 Objetivos da investigação....................................................................... 1
2.3 Percurso Metodológico............................................................................ 14
2.4 Campo social da pesquisa....................................................................... 18
2.5 Perfil dos entrevistados .......................................................................... 22
3 TRABALHO E UNIVERSIDADE: O ENSINO NOTURNO COMO
ALTERNATIVA. .................................................................................... 29
3.1 Conceitos de trabalho .............................................................................. 31
3.2 Estudante trabalhador na universidade ................................................ 42
4 RESISTÊNCIA: DESAFIOS ENFRENTADOS POR ESTUDANTES
TRABALHADORES. .............................................................................. 48
4.1 Fatores Motivadores a condição de estudante trabalhador.................. 49
4.2 Estratégias desenvolvidas para conciliar trabalho e universidade. .... 52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 60
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 64
APÊNDICE A- INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS........... 67
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO...................................................................................... 68
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1 INTRODUÇÃO
Social que são trabalhadores demonstra como essa questão não é valorizada ou discutida
adequadamente.
Considero, portanto, que esse trabalho de pesquisa é de extrema importância para
refletir sobre a formação profissional do assistente social. Afinal, o curso de Serviço Social se
dedica ao estudo da classe trabalhadora, o que parece contraditório, pois, embora se discutam
melhorias para essa classe, não é dado o devido espaço para que os alunos trabalhadores tenham
as mesmas oportunidades que os alunos que se dedicam exclusivamente aos estudos. Se esses
estudantes precisam trabalhar muitas horas por dia para se sustentarem (pois sabem que, se não
estudarem, terão menos chances de conseguir melhores empregos), esse conflito se manifesta
como uma contradição, uma vez que se esforçam justamente por necessidade e esperança de
um futuro melhor.
Dados de uma pesquisa realizada em 2015 pelo MEC (Ministério da Educação) em
parceria com o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira)
revelaram que, dentre os 447.056 alunos que responderam ao questionário aplicado em mais de
oito mil cursos de diferentes áreas do ensino superior brasileiro, 49% dos alunos trabalhavam
mais de 40 horas por semana. Ou seja, é possível afirmar que quase metade dos universitários
também são trabalhadores, de acordo com essa pesquisa.
Um dos maiores desafios das Instituições de Ensino Superior é proporcionar um
ambiente de ensino e aprendizagem que articule os referenciais teóricos que sustentam o projeto
nacional de formação profissional do Assistente Social no Brasil com as exigências e
competências necessárias, além de posicionar-se criticamente em relação ao que é exigido pelo
chamado "mundo do trabalho".
No contexto da competitividade do mercado, cada vez mais há uma busca por
graduações e especializações. No entanto, nem sempre é possível abrir mão do emprego para
dedicar-se exclusivamente aos estudos, e isso força muitas pessoas a conciliarem as duas
atividades. Diante desses fatos, convido você a refletir: quais são os impactos do trabalho na
formação acadêmica dos estudantes trabalhadores?
Para embasar a discussão sobre essa temática, utilizei a pesquisa bibliográfica,
fundamentada nos conceitos elaborados por autores como Marx (1976), Antunes (1995), Chaui
(2001) e outros, que tratam do assunto. Além disso, foram abordadas outras questões relevantes
para a pesquisa. Portanto, este trabalho reflete a vivência diária de uma estudante trabalhadora
que se preocupou com os possíveis impactos dessa realidade, uma vez que, para muitos, o
ensino noturno é a única forma de conciliar trabalho e estudos em busca de um futuro melhor.
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eu não iria conseguir concluir, e foi durante esse período que percebi a diferença entre
estudar/trabalhar, e somente estudar, e principalmente como isso impacta diretamente na
formação acadêmica.
Uma questão importante é a falta de tempo para participar de atividades
complementares, como palestras e cursos da semana universitária, devido à incompatibilidade
de horários. Queixas como: “Nunca era possível participar de palestras e cursos da semana
universitária, pois na maioria das vezes, o horário não conciliava”, é o que mais se pode ouvir
quando se fala sobre esse assunto. Isso limita a oportunidade de enriquecer o conhecimento e o
envolvimento do estudante com a universidade. Além disso, o cansaço mental e as
preocupações em conciliar estágios, trabalho, provas e seminários afetam a saúde emocional,
consequentemente o desempenho acadêmico. Essas dificuldades também se estendem à escolha
de estágios, que muitas vezes estão restritos apenas à área da saúde ou são limitados ao fim de
semana, restringindo as oportunidades de explorar outros campos de atuação e ampliar a
experiência profissional.
Ao debater sobre essas questões com outros estudantes trabalhadores, percebi que
compartilhamos experiências semelhantes e despertou em mim um interesse em compreender
melhor os desafios e demandas desse grupo. Surgiram questionamentos sobre como esses
estudantes trabalhadores conseguem se formar se não há tantas atividades complementares
disponíveis no seu turno? Essa formação será apenas para conseguir um lugar na sociedade com
seu diploma na mão ou para realmente trabalhar com o que tanto lutou para conseguir? Entre
vários outros assuntos que serão trabalhados no decorrer da pesquisa. Mesmo sendo um assunto
que me sinto pertencente, ainda sim foi uma construção difícil, pois é preciso muita leitura,
concentração, está com a mente boa para conseguir expressar da melhor forma e ser
compreendida pelo leitor, o que para quem concilia trabalho e estudos, exige um pouco mais.
Essas reflexões e a minha própria experiência me motivaram a investigar mais a
fundo essa temática, contribuindo para uma compreensão mais clara dos impactos da jornada
de trabalho dos estudantes na sua disponibilidade para atividades acadêmicas e no seu
desempenho geral. Ao compartilhar essas questões e vivências, espero fornecer percepções
valiosas e sensibilizar sobre os desafios enfrentados por esses estudantes.
noturno da UECE. Inicialmente, constatei uma lacuna na literatura acadêmica sobre o assunto,
porém, ao longo dos anos, percebi um aumento significativo de pesquisas relacionadas, o que
indica que a temática está ganhando mais espaço e reconhecimento.
Diante dessa constatação, os objetivos da pesquisa são definidos com o intuito de
aprofundar o entendimento sobre os impactos da jornada de trabalho dos estudantes no seu
desempenho acadêmico, na participação em atividades extracurriculares e na saúde emocional.
Esses objetivos têm como foco principal explorar o impacto da jornada de trabalho dos
estudantes sobre sua disponibilidade para atividades acadêmicas, como estágios, projetos de
pesquisa e participação em eventos acadêmicos. Pretende-se compreender os desafios
enfrentados por esses estudantes trabalhadores do curso de Serviço Social noturno da UECE,
analisando as dificuldades que impactam o ensino e aprendizagem desses estudantes. Além
disso, a pesquisa busca identificar e investigar as estratégias de resistência adotadas por esses
estudantes para superar os obstáculos enfrentados.
Outro aspecto importante é explorar as políticas e práticas institucionais adotadas
pela UECE para apoiar esses estudantes trabalhadores. Essa análise permitirá compreender
como a universidade está atuando no sentido de oferecer suporte e criar um ambiente favorável
para conciliar trabalho e estudo. A investigação dessas políticas e práticas institucionais será
fundamental para identificar possíveis melhorias e recomendações que possam contribuir para
o aprimoramento do apoio aos estudantes trabalhadores.
Dessa forma, os objetivos da pesquisa são estruturados em torno da compreensão
dos desafios enfrentados pelos estudantes trabalhadores, da identificação das estratégias de
resistência adotadas por eles e da análise das políticas e práticas institucionais da UECE. Essa
abordagem busca contribuir para o conhecimento acadêmico sobre o tema e fornecer subsídios
para a implementação de medidas que promovam a qualidade de vida e o sucesso acadêmico
desses estudantes
Pesquisando sobre métodos, verifiquei que o que atende aos objetivos da pesquisa
é o método materialismo histórico dialético de Marx, pois:
tema, e pode ser realizada com diferentes finalidades”. (CHIARA; KAIMEN, et al.,
2008, p. 56).
Assim consegui prestar atenção, manter olhos nos olhos e observar todas as
expressões faciais e corporais e até os silêncios e pausas feitas, sem me preocupar em esquecer
as falas ao passar para o papel. As entrevistas foram norteadas por um roteiro com perguntas
de forma semiestruturada, ou seja, perguntas previamente definidas com a flexibilidade de
explorar temas emergentes durante a conversa. Essa abordagem proporciona uma maior
profundidade e compreensão do fenômeno estudado, deixando o entrevistado livre para entrar
em outros assuntos, por isso, ao detalhar os entrevistados no tópico a seguir, provavelmente
será possível notar diferença, pois até mesmo suas compreensões sobre as perguntas feitas são
diferentes, tendo que reformular as perguntas em algumas delas.
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A universidade conta com 5 campis nas cidades do estado para que possa
proporcionar acesso à educação superior de qualidade, contribuindo assim para a
democratização do ensino. Sendo eles: Campus Itaperi: Localizado em Fortaleza, é o campus
principal da UECE e abriga a reitoria, a maioria das unidades acadêmicas e diversos setores
administrativos; Campus do Itaperi - Centro de Ciências e Tecnologia (CCT): também situado
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Em 2019, no período pandêmico, a instituição ficou alguns meses sem ter aula até
encontrar estratégias para dá continuidade ao ensino a fim de conter o aumento da evasão, e
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uma delas foi a transição para o ensino remoto emergencial, onde deu continuidade às
atividades acadêmicas, e juntamente também vieram algumas dificuldades pelo fato dessa
transição ter sido de forma repentina, exigindo uma adaptação imediata tanto por parte da
instituição, como também dos professores e estudantes para a utilização de plataformas online
e metodologias de ensino à distância, sendo importante ressaltar o impacto sobre a interação
entre professores e estudantes, pois com a ausência do ambiente presencial, como a sala de aula
e a interação direta, afetou a dinâmica de ensino e aprendizagem, bem como a troca de
experiências e o desenvolvimento de habilidades sociais.
Não podendo esquecer a questão de acesso desigual à tecnologia, e principalmente
a questão dos desafios emocionais e psicológicos, pois a pandemia trouxe consigo um impacto
significativo na saúde mental e emocional dos estudantes e professores, por conta das
preocupações em não saber a real situação, e principalmente por conta do isolamento social, o
que inclusive prejudicou a questão das atividades práticas e estágios, pois as instituições
parceiras adotaram algumas restrições, levando até ao fechamento.
Além de toda essa conjuntura acontecendo, ainda tivemos o fato de que no governo
do ex presidente Jair Bolsonaro houve uma falta de priorização e investimento adequado na
área da educação, principalmente, no ensino superior, pois não foi dado suporte tecnológico e
recursos financeiros para garantir a continuidade das atividades acadêmicas necessárias, para o
apoio às instituições de educação como um todo, e particularmente a educação superior.
Resultando em corte de bolsas de assistência estudantil, que são importantes para auxiliar
financeiramente os estudantes em suas despesas básicas, e de bolsas de extensão e de pesquisas
científicas, que são de extrema importância para o desenvolvimento do estudante e para as
inovações científicas que são importantes para o avanço do país.
Após a pandemia ser controlada, as aulas presenciais foram retomadas de forma
gradual, adotando protocolos de segurança e determinações específicas para o retorno seguro
dos servidores e alunos da Universidade Estadual do Ceará.
Abaixo temos uma tabela retirada do site da uece, conhecida como “UECE em
números”, onde conta com informações gerais da universidade atualizadas até 2021:
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Fonte:file:///C:/Users/sam/Downloads/UECE_em_Numeros_2021_bysan_A_VERSA%CC%83O_FINAL01__1
_.pdf
presença de estudantes do gênero masculino no curso. Abaixo temos uma tabela com as
características das entrevistadas:
Após a realização das entrevistas, foi feita a transcrição das falas dos entrevistados,
a fim de coletar os dados necessários para relacioná-los aos conceitos e teorias discutidos. Em
seguida, os dados foram analisados, destacando-se as principais descobertas, tendências
identificadas e contribuições para a compreensão da temática em questão. O objetivo foi obter
uma visão abrangente das experiências e desafios enfrentados por esses estudantes na
conciliação entre trabalho e universidade.
É importante ressaltar que todas as informações compartilhadas pelos entrevistados
foram tratadas de forma anônima e confidencial. Os nomes e quaisquer outros detalhes
identificáveis foram mantidos em sigilo, a fim de preservar a privacidade dos participantes. Os
resultados e as conclusões da pesquisa serão apresentados de forma agregada, sem expor a
identidade individual dos entrevistados.
A seguir, descreveremos o perfil de cada entrevistado, destacando alguns pontos
principais de suas experiências, a fim de proporcionar uma visão mais detalhada sobre os
estudantes trabalhadores envolvidos nesta pesquisa.
atraso que teve referente às greves, aos horários ofertados pelo curso onde a mesma não pôde
realizar por conta do trabalho e também por motivos pessoais. Começou a trabalhar antes de
ingressar na UECE, quando ainda tinha só 18 anos e considera que o trabalho afeta o rendimento
e a participação no curso, especialmente no período noturno. Trabalha de 08h30min às
18h30min como consultora de vendas, onde sua renda é variável, pois depende das comissões,
oscilando entre um e meio e três salários mínimos. Relata que consegue estudar nos seus
períodos de tempo livre no trabalho, e também no final de semana. Acredita que a instituição
não facilita a vida do estudante trabalhador, pois muitas atividades são disponibilizadas apenas
durante o dia.
Entrevistada B- É do sexo feminino, 22 anos, parda, heterossexual, mora com sua mãe, duas
irmãs e três sobrinhos. Trabalha de 07h30min as 17h30min como atendente em um consultório
de odontologia, onde sua a renda familiar é um pouco mais de um salário mínimo, pois recebe
também o valor de três bolsas família e pensão dos sobrinhos. Quando entrou na UECE já
trabalhava, mas como jovem aprendiz, e quando finalizou teve que procurar outro emprego,
tendo que mudar seu turno de estudos, pois primeiramente era diurno, mas por conta do novo
emprego passou a ser noturno para conseguir conciliar, o que lhe proporcionou alguns atrasos,
inclusive já era para estar formada. A estudante afirma que já pensou em desistir de estudar
para somente trabalhar, pois é cansativo, estressante e não está vendo muitas expectativas no
curso, porém não desistiu ainda por conta da realização pessoal e profissional.
Entrevistada D- Sexo feminino, 38 anos, negra, heterossexual, mora com o irmão. Começou
a trabalhar antes de ingressar na universidade. Atualmente trabalha de 06h00min às 14 horas
de domingo a domingo como operadora de caixa e faz estágio obrigatório nas quartas-feiras o
dia quase todo. Relata que está atrasada no curso por conta do trabalho, e que esse fator também
interfere na sua capacidade de aprender, afirmando ser muito cansativo, mas que não pensa
desistir, porque vê progresso a cada semestre e por necessidade financeira. Vê o trabalho e a
universidade como essenciais para seu futuro e busca algo melhor, como um concurso público.
Relata que a instituição não facilita a vida dos estudantes trabalhadores, especialmente com a
nova grade curricular e a obrigação de cursar disciplinas atrasadas.
Entrevistada G- sexo feminino, 20 anos, bissexual, está no quarto semestre do período diurno.
Já foi bolsista durante 10 meses, e após ficar sem a bolsa começou a trabalhar para continuar se
mantendo, mas devido a dificuldade de conciliar, decidiu abrir mão do trabalho e se dedicar
apenas aos estudos, focando encontrar outra bolsa dentro da universidade para que não precise
ficar dependendo dos familiares. Acredita que o trabalho interfere no processo de ensino-
aprendizagem, pois o cansaço dificulta a atenção nas aulas e o rendimento acadêmico. Já fez
disciplinas à noite e percebeu que as pessoas estão mais cansadas e menos propensas a participar
das aulas devido ao cansaço. Afirma que a instituição não pensa nos estudantes trabalhadores,
citando os horários das palestras e a dificuldade em obter horas complementares para aqueles
que estudam à noite.A importância do trabalho para ela está relacionada à renda, e que a
formação superior é importante para ela por uma questão de representatividade, sendo a
primeira em sua família a ingressar em uma universidade pública. Acredita também que a
universidade abrirá portas para conquistar um futuro melhor, e que deseja trabalhar na área,
pois se isso não acontecer se sentirá frustrada.
De acordo com os dados coletados na pesquisa e referências teóricas analisadas,
fica evidente que o curso de Serviço Social apresenta uma forte predominância do gênero
feminino, como já foi comentado acima. De acordo com alguns autores, isso se deve a fatores
históricos, estereótipos de gênero, já que o curso se deu início através de cuidados e assistências,
tarefas culturalmente destinadas às mulheres.
Ao analisar o perfil socioeconômico dos estudantes do curso de Serviço Social,
constatei que muitos deles possuem rendas semelhantes, situando-se em uma faixa de 1 a 3
salários mínimos. Essa observação revela uma importante característica do grupo de estudantes
e aponta para possíveis reflexões. Em primeiro lugar, é importante considerar que a renda dos
estudantes pode influenciar diretamente suas condições de acesso à educação superior. Para
aqueles com renda familiar mais baixa, materiais didáticos, transporte e despesas relacionadas
podem representar um desafio significativo. A necessidade de conciliar estudos e trabalho para
custear os estudos também pode impactar a disponibilidade de tempo e energia para o
envolvimento acadêmico. Essa concentração de estudantes com rendas similares no curso de
Serviço Social também pode refletir uma busca por formação profissional que esteja em
sintonia com as realidades e demandas das classes trabalhadoras e grupos vulneráveis, já que
essa área tem como foco a promoção da justiça social e a defesa dos direitos humanos, e
estudantes vindos de contextos socioeconômicos mais modestos podem se sentir motivados a
contribuir e intervir nas situações de desigualdade que permeiam suas próprias vidas e
comunidades.
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[...] O homem não nasce homem. Ele se forma homem. Ele não nasce sabendo
produzir-se como homem. Ele necessita aprender a ser homem, precisa aprender a
produzir sua própria existência. Portanto, a produção do homem é, ao mesmo tempo,
a formação do homem, isto é, um processo educativo. A origem da educação coincide,
então, com a origem do homem mesmo (SAVIANI, 2006, p. 4).
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O autor enfatiza que o homem precisa aprender a ser homem e a produzir sua
própria existência. Isso significa que a formação humana está intrinsecamente ligada ao
processo educativo, pois é por meio da educação que o indivíduo adquire conhecimentos,
habilidades e valores necessários para se desenvolver plenamente como ser humano. A
separação da dimensão produtiva do homem da sua dimensão formativa, de “trazer à luz”, tem
origem na divisão social e técnica do trabalho. Tomar esta separação como natural representa
assumir que a alguns cabe à tarefa de produzir e a outros a tarefa de pensar.
Marx nos mostra que o trabalho é um elemento central na relação do ser humano
com a natureza, não apenas como uma atividade econômica, mas também como um meio de
auto realização e transformação tanto da natureza quanto do próprio ser humano. O trabalho é,
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em uma sociedade cercada de normas e valores e através da escola, da família, ele aprende uma
série de comportamentos e valores que passam a fazer parte do seu referencial moral e de seu
ethos ou caráter, que irão influenciar e orientar suas escolhas. Apesar do indivíduo estar
subordinado socialmente a determinadas exigências morais, não significa que ele aceita tudo o
que está posto, muitas vezes, ele se opõe. Nenhuma sociedade se reproduz sem normas de
convivência (BARROCO, 2008).
“Quando afirmo ou nego, convivo, proíbo ou aconselho, amo ou odeio, desejo ou
abomino, quando quero obter ou evitar alguma coisa, quando rio, choro, trabalho, descanso,
julgo ou tenho remorsos [...]” (BARROCO, 2008, p. 64). Essa passagem afirma que em todas
as ações, atitudes, o indivíduo é sempre orientado por algum valor. No dia a dia, nas relações
sociais, seja no trabalho, na família, etc, o indivíduo é sempre confrontado com algumas
exigências, que põem em movimento seus sentimentos, consciência, racionalidade,
subjetividade, enfim. Na qual ele pode ou não responder moralmente a tais questões. Podendo
agir ou não também. Todo homem é um ser ético, quer se manifeste ou não.
Assim sendo, todo indivíduo é simultaneamente singular e humano-genérico. Como
ser singular, volta-se para as bases de autoconservação de si mesmo. O trabalho será uma parte
significativa, em termos do desenvolvimento humano-genérico e expressa a universalidade do
ser social e a sua singularidade alienada, no cotidiano. Não é na singularidade que o ser humano
se expressa como representante do gênero humano, pois este responde de forma própria a
dinâmica de integração social (BARROCO, 2008).
A utopia de uma sociedade do trabalho, dos trabalhadores, exige um modelo
formativo que reconheça o trabalho como atividade criadora de bens e serviços, mas, também,
criadora do próprio homem. Trata- se de valorizar o trabalho e o trabalhador. Também isto é
uma exigência para quem pensa a formação de professores à luz da necessidade de um sistema
educativo, incluindo a universidade, que interessa aos trabalhadores.
Na sociedade atual, transformações complexas do trabalho aparecem como fonte
geradora de tensão e sobrecarga física e psíquica, sendo que tais transformações refletem nos
sistemas educativos, afetando em maior ou menor grau seu quadro docente, prejudicando
relações profissionais e interpessoais, levando deterioração crescente da qualidade de vida nos
diversos âmbitos do trabalho humano.
Analisando as falas das entrevistadas, muitas falam sobre saúde mental, temática
bastante discutida atualmente pelo fato de ter aumentado de forma significativa, podendo ser
ocasionada por diversos fatores, incluindo o contexto socioeconômico, as demandas
acadêmicas, a pressão por desempenho, a competição, as incertezas em relação ao futuro e os
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desafios pessoais. Os estudantes enfrentam uma série de exigências, como cumprir prazos, lidar
com a carga horária de estudos exaustivas, conciliar vida acadêmica e pessoal, e enfrentar o
estresse e a pressão relacionados às avaliações e notas. Além disso, as expectativas sociais e
familiares em relação ao desempenho acadêmico podem aumentar o nível de estresse e
ansiedade, tornando os problemas de saúde mental entre os estudantes cada vez mais comuns.
A ansiedade, o esgotamento emocional, o cansaço físico e a falta de vontade de interagir, são
alguns dos desafios enfrentados e relatados pelas entrevistadas quando é perguntado sobre quais
as maiore dificuldades enfrentadas no curso:
“A gente abre mão de uma vida social, abre mão de lazer. Estou estagiando
agora e está uma coisa de louco. Uma semana que a gente tem trabalho, aula,
você ainda ter que fazer 238 horas de estágio por semestre é loucura.”
(ENTREVISTADA A).
“No primeiro momento tem a questão da exaustão né. A pessoa já chega com
uma rotina de 8 horas, não só exaustão física, mas também a mental.”
(ENTREVISTADA B).
“Não participar de todos os espaços, todos os eventos, principalmente em
relação a essas horas complementares.Muita gente adquire essas outras com
os eventos que a uece proporciona, mas quem trabalha o dia todo não tem essa
oportunidade de tá aqui, lógico que tem a noite, mas é muito complicado,
porque se tem um diazinho que não tem aula você já quer ir pra casa para
descansar. (ENTREVISTADA C).
“Em relação às dificuldades, é o tempo mesmo, que não tenho. O cansaço, a
carga horária do estágio. Então não tenho tempo pra estudar.”
(ENTREVISTADA D).
“Eu acho que principalmente cansaço e desmotivação, porque tem muita gente
que conheço do nosso curso que acabou desistindo ou trancou a faculdade por
conta do trabalho, não conseguiu aguentar.” (ENTREVISTADA E).
’’Cansaço mental, e um pouco físico também, mas principalmente mental.”
(ENTREVISTADA F).
“Como você fica desgastada, você não consegue nem prestar atenção direito
nas aulas. Acorda cedo, só dá vontade de dormir nas aulas, não tem como ter
uma boa aprendizagem.” (ENTREVISTADA G).
muitas pessoas conseguem adquirir essas horas participando dos eventos promovidos pela
UECE, porém, para aqueles que trabalham durante o dia, essa oportunidade se torna limitada.
Mesmo considerando a possibilidade de participar de eventos à noite, a entrevistada destaca
que é bastante complicado, pois após um dia inteiro de trabalho, há o desejo de retornar para
casa e descansar, tornando difícil a disponibilidade para frequentar tais atividades. Além disso,
a fala ressalta a necessidade de se valorizar o descanso e o equilíbrio entre trabalho e estudo,
reconhecendo que os estudantes trabalhadores precisam de tempo para se recuperar e se dedicar
tanto às atividades profissionais quanto acadêmicas.
A fala da entrevistada “D” destaca a falta de tempo como uma das principais
dificuldades enfrentadas pelos estudantes trabalhadores. A carga horária do estágio e o cansaço
contribuem para a falta de tempo dedicado aos estudos, o que pode afetar o desempenho
acadêmico.
A entrevistada “E” também menciona o cansaço e a desmotivação como fatores que
influenciam na evasão dos estudantes trabalhadores. Ela destaca que muitos colegas de curso
desistiram ou trancaram a faculdade devido às dificuldades em conciliar trabalho e estudo.
A entrevistada “F” destaca o cansaço mental como a forma predominante de
exaustão enfrentada pelos estudantes trabalhadores. Ela ressalta que o esforço mental para lidar
com as demandas acadêmicas após um longo dia de trabalho pode ser desafiador.
A fala da entrevistada “G” destaca o impacto do desgaste físico e mental causado
pela jornada dupla de trabalho e estudo. Ela menciona que essa exaustão afeta sua capacidade
de prestar atenção nas aulas e dificulta o processo de aprendizagem. Ressalta que acordar cedo
e lidar com o cansaço durante as aulas compromete sua habilidade de se concentrar e absorver
o conteúdo de forma adequada. Essa entrevistada é aluna da manhã, que atualmente não trabalha
pois não conseguiu conciliar trabalho com estudos, ainda nessa fala, ela fez uma diferenciação
de quando fez cadeiras pela noite e pela manhã, afirmando que os estudantes diurnos são mais
“enérgicos”, enquanto os da noite parecem não ter energia para participar das aulas.
Essas análises individuais destacam a prevalência do cansaço, tanto físico quanto
mental, e a falta de tempo como principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes
trabalhadores. Esses desafios podem levar à desmotivação e à evasão dos cursos. É fundamental
considerar esses aspectos ao pensar em medidas de apoio e suporte para os estudantes
trabalhadores, visando melhorar sua experiência acadêmica e promover a conclusão do curso.
Como já falamos acima, o trabalho é fundamental para a subjetividade humana por
ser uma das fontes de realização de importantes necessidades do indivíduo, tanto do ponto de
vista da produção material da vida, quanto da manutenção de relações interpessoais e da auto
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realização. A parte de ser importante no quesito das realizações das necessidades ficou bastante
claro na fala das entrevistadas, porém sobre o “trabalho dignificar, transformar o homem”, não
foi lembrada, como se elas só enxergassem o trabalho apenas como renda, não aprofundando o
real sentido no qual muitos autores trazem. Nas falas abaixo, expressam esse pensamento, senão
vejamos:
Não posso deixar de trabalhar, porque eu me sustento (ENTREVISTADA A).
Eu já pensei em desistir de trabalhar, só para estudar… Só que aí vem a
questão financeira, porque minha mãe não vai me sustentar…
(ENTREVISTADA C).
Eu não posso ficar sem trabalhar, e também não posso ficar sem estudar,
porque almejo algo melhor pra mim, porque sou operadora de caixa.
(ENTREVISTADA D).
‘Almejo um futuro melhor, e para isso preciso estudar, mas também preciso trabalhar
para me manter no curso, e essa conciliação é bem cansativa.” (Entrevistada E).
“... tentar conciliar tudo, e principalmente o financeiro, porque se você tem que
trabalhar é porque você está precisando daquele dinheiro. É complicado ter que
conciliar os gastos daqui (UECE), gastos pessoais, de dentro da sua casa...
(ENTREVISTADA F).
Esse trecho da música apresenta uma crítica social e reflete sobre a desigualdade
presente na sociedade. A letra faz referência a um edifício que foi construído em um tempo de
dificuldades e sacrifícios, a relação do eu lírico com o trabalho retratado na música, reflete uma
dinâmica comum no contexto capitalista. O eu lírico desempenhou um papel ativo na
construção do edifício, contribuindo para o seu surgimento. No entanto, mesmo após o término
da construção, ele não é beneficiado ou reconhecido como parte do resultado final. Em vez
disso, ele é tratado com desconfiança e suspeita.
Compreendemos que todo esse mecanismo de exploração tira do ser social a
consciência de si mesmo e do significado do trabalho, muitas vezes visto como algo sem
importância, limitando-se a mediação da subsistência. Apoiados nas leituras de Lukács,
sabemos que o trabalho não se limita ao simples dispêndio de energia para confecção de um
bem material, suas bases estabeleceram-se desde os primórdios da história da humanidade,
quando o homem descobriu as técnicas da agricultura e passou a se utilizar delas para melhor
suprir suas necessidades, tanto alimentares, quanto à possibilidade de sair da condição de
nômade para residir em um local específico (LESSA, 2012). Conforme argumentado por
Lukács, o trabalho vai além de ser simplesmente um dispêndio de energia para a produção de
bens materiais. Suas bases estão enraizadas na história da humanidade, desde os primórdios,
quando as técnicas da agricultura foram descobertas e utilizadas para atender às necessidades
alimentares e também possibilitar que as pessoas deixassem de ser nômades e se estabelecessem
em lugares específicos. Essa visão ampliada do trabalho ressalta sua importância não apenas
como uma atividade econômica, mas também como uma dimensão fundamental da existência
humana. O trabalho envolve habilidades, criatividade, relações sociais e a transformação da
natureza para atender às necessidades e aspirações humanas. No entanto, no sistema capitalista,
esses aspectos mais amplos do trabalho podem ser obscurecidos devido à lógica da exploração
e da busca pelo lucro. Isso pode levar à alienação e à perda da consciência do verdadeiro
significado e potencialidade do trabalho humano.
Como já visto, o trabalho é a gênese da sociabilidade, da consciência, da liberdade,
da universalidade, das relações sociais. Esse processo se caracteriza como uma atividade prática
positiva, uma vez que é criada pelos próprios homens. Todas as atividades, tanto individuais
42
como coletivas, exigem trabalho social. É interessante destacar que, no trabalho alienado, os
homens apesar de trabalharem juntos, não se reconhecem como seres de uma mesma espécie,
não se percebem integrantes da mesma classe, não se veem explorados da mesma forma; ao
contrário, se estranha e criam formas de sociabilidade fragmentadas (BARROCO, 2008).
"Quando a atividade humana é alienada, seu caráter social e consciente é negado
[...]" (p. 35), ou seja, sua liberdade e universalidade objetivam-se de maneira limitada, em razão
que o trabalhador depende do trabalho para existir, não obstante a sua vida genérica é negada,
pois o trabalho passa a ser apenas um instrumento de pura sobrevivência. O trabalho,
desenvolve todos os sentidos humanos, como o amor, o tato, a visão, a vontade, a percepção,
ou seja, o homem é rico de sentidos. Porém, quando os seus sentidos são aprisionados pela
alienação, temos um empobrecimento dos sentidos, que equivale a desumanização ao outro.”
(BARROCO, 2008).
As determinações fundantes da alienação são: a propriedade privada, a divisão
social do trabalho, as trocas, a valorização de posse e o dinheiro. Na sociedade capitalista
alienada, o homem busca no dinheiro as formas de satisfação de suas necessidades e vontades
egoístas, tornando-o cada vez mais pobre como ser humano, visto que os seus sentidos se
desumanizam. O trabalho, produz contradições também, ao mesmo tempo que produz riqueza,
produz miséria, enquanto produz maravilhas para os ricos, produz escassez para os
trabalhadores. Por conseguinte, a alienação nasce da propriedade privada e da divisão social do
trabalho, quando o trabalho se converte em meio de exploração para enriquecimento de alguns
e quando o seu produto se torna um objeto alheio.
É importante ressaltar que, a mercadoria será o objeto estranho ao trabalhador,
sendo esta um objeto que pode satisfazer as necessidades espirituais ou materiais dos homens,
seu valor é determinado pelo seu valor de uso e pelas carências que supre. Para que algo seja
considerado uma mercadoria é necessário que seja reproduzido repetidamente e satisfaça as
necessidades sociais. É necessário que seja trocada, que tenha valor de troca. E ainda mais, ela
só se torna mercadoria ao se efetivar na circulação (BARROCO, 2008).
não se distinguiam dos processos de trabalho, mas, ainda na Grécia antiga, surgem os espaços
reservados especificamente para a educação, a escola (etimologicamente lugar do ócio).
Na década de 1920 o debate sobre a criação de universidades não se restringia mais
a questões estritamente políticas como no passado, mas ao conceito de universidade e suas
funções na sociedade. As funções definidas foram as de abrigar a ciência, os cientistas e
promover a pesquisa. Ela tem a missão não apenas de possibilitar aos alunos a obtenção de um
diploma, um emprego e remuneração satisfatória, mas principalmente deve ser capaz
de produzir novos conhecimentos e aplicá-los a realidade social, considerando a necessidade
de ser acessível a toda a sociedade, em todos os níveis sociais para que haja inclusão social,
exercendo quanto uma função social quanto política. Outra função da universidade é auxiliar
os alunos para que eles tenham uma opinião formulada e crítica diante da realidade social para
que haja um avanço científico, tecnológico e cultural (MARTINS, 2009).
As primeiras escolas de ensino superior fundadas no Brasil foram em 1808, com a
chegada da família real portuguesa ao país. Até a proclamação da república em 1889, o ensino
superior desenvolveu-se muito lentamente, seguia o modelo de formação dos profissionais
liberais em faculdades isoladas, e visava assegurar um diploma profissional com direito a
ocupar postos privilegiados em um mercado de trabalho restrito além de garantir prestígio
social. Com a independência política em 1822 não houve mudança no formato do sistema de
ensino, nem sua ampliação ou diversificação, pois a elite detentora do poder não vislumbrava
vantagens na criação de universidades.
As instituições privadas surgiram da iniciativa das elites locais e confessionais
católicas. No período de 1945 a 1968 assistiu à luta do movimento estudantil e de jovens
professores na defesa do ensino público, do modelo de universidade em oposição às escolas
isoladas e na reivindicação da eliminação do setor privado por absorção pública. Estava em
pauta a discussão sobre a reforma de todo o sistema de ensino, mas em especial a da
universidade. Uma das principais transformações do ensino superior no século XX consistiu no
fato de destinarem-se também ao atendimento à massa e não exclusivamente à elite.
Alguns historiadores consideram a era Vargas com a chegada da modernidade no
Brasil. Isso pode ser verdade, mas não se aplica a educação universitária, pois exatamente
quando acaba a ditadura Vargas, em 1945, é que se criar rede de universidades federais. Logo
em 1946, foram inauguradas instituições semelhantes em todo país, notadamente a
Universidade do Rio de Janeiro, a Universidade da Bahia e a Universidade de Recife (SANTOS,
1999).
44
Art. 4o. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis
anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com
características e modalidades adequadas às suas necessidades e
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de
acesso e permanência na escola;
VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação
e assistência à saúde;
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e
quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
ascensão social, cabendo destacada valorização para o ensino oferecido pelas universidades
públicas. (SEVERINO, 2012).
A reconfiguração da educação superior brasileira é parte de intenso processo de
reformas, no interior de um radical movimento de transformações político-econômicas em nível
mundial, com profundas repercussões no Brasil. Suas consequências para a identidade
institucional da universidade brasileira serão inevitáveis, se concretizar as tais mudanças
conforme as diretrizes emanadas originalmente desses organismos multilaterais, em geral
também traduzidos domesticamente pelos responsáveis oficiais pela reforma do estado e da
Educação Superior em nosso país.
Nesse contexto de transformações necessárias, mas sob direcionamento forçado, as
universidades públicas “lutam, portanto, entre ajustar-se às políticas de educação superior e às
demandas do mercado e desenvolver o projeto político pedagógico próprio, coerente com a
construção de sua autonomia.” (OLIVEIRA, 2007, p. 18). O risco que ela corre é o de tornar-
se, por força desse processo induzido de ajuste e regulação do sistema, uma universidade muito
dependente das imposições políticas e das metas do poder executivo do país, mercantilizando
sua produção acadêmica.
A extensão universitária em uma dimensão de mudança social na direção de uma
sociedade mais justa e igualitária tem obrigatoriamente de ter uma função de comunicação da
universidade com seu meio, possibilitando assim, a sua realimentação face à problemática da
sociedade, propiciando uma reflexão crítica e uma revisão permanente de suas funções de
ensino e pesquisa. Deve representar, igualmente, no serviço às populações, com as quais os
segmentos mais conscientes da universidade estabelecem uma relação de troca ou confronto de
saberes. (GURGEL, 1986, p.170).
Além disso, a universidade deve ser capaz de retribuir um investimento que recebe
da comunidade, desenvolvendo estudos, pesquisas e projetos de extensão compatíveis com as
reais necessidades da população em benefício comum, ou seja, deve contribuir para solucionar
os atuais problemas da sociedade, tendo como função principal o dever de estar comprometida
com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A função social da universidade frente ao mundo do trabalho sob esta perspectiva
integradora da educação e do trabalho compreende que o princípio unitário pugnado por
Gramsci para a escola não incide somente sobre a escola, mas também sobre as relações entre
trabalho industrial e trabalho intelectual e diz respeito a toda vida social e a todos os organismos
de cultura. O horizonte que deve nortear um projeto educacional desta natureza é a de um tipo
de educação que assegure o acesso aos fundamentos científicos gerais de todos os processos de
47
produção, fazendo da universidade um ambiente cultural por meio da qual seja possível
estabelecer o diálogo, em igualdade de condições, entre a comunidade universitária e a
sociedade em geral, em torno dos conhecimentos que são produzidos e socializados e que
devem favorecer ao enfrentamento dos diferentes problemas que afetam a todos.
Por fim, “pensar a educação é pensar sociedade”, tendo como parâmetro o ser
humano, é resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com trabalho, as suas
possibilidades criativas e emancipatórias”. (MÉSZARÓS, p. 206). A educação desempenha um
papel crucial na formação dos indivíduos, no desenvolvimento de suas habilidades,
conhecimentos e valores. Ela é responsável por promover a socialização, o desenvolvimento
cognitivo, emocional e ético, e preparar os indivíduos para uma participação ativa na sociedade.
Ao reconhecer a interconexão entre educação e trabalho, é possível explorar as
potencialidades que a educação oferece para promover a criatividade, o pensamento crítico e a
capacidade de transformação social. A educação pode ser um instrumento de empoderamento
e emancipação, permitindo que as pessoas se tornem agentes ativos em suas vidas e na
construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, é fundamental refletir sobre a
importância da educação como um processo contínuo de aprendizagem ao longo da vida, que
vai além da mera transmissão de conhecimentos, ela deve ser concebida como uma ferramenta
para a formação integral do indivíduo, fortalecendo sua capacidade de pensar criticamente, agir
de forma ética e contribuir para o bem comum. Ao resgatar o potencial emancipatório da
educação e sua relação intrínseca com o trabalho, podemos buscar práticas educacionais mais
significativas, inclusivas e transformadoras, capazes de promover uma sociedade mais justa e
humanizada.
48
composto por pessoas que estão disponíveis para serem empregadas quando há necessidade de
mais trabalhadores nas indústrias ou outros setores produtivos. Sendo assim, no contexto da
relação entre trabalho e universidade, quando estudantes trabalhadores são obrigados a
abandonar seus estudos e se juntam a esse "exército”, isso reforça a reprodução de
desigualdades sociais, pois eles ficam presos em empregos de baixa remuneração e com poucas
oportunidades de ascensão social, perpetuando ciclos de pobreza e exclusão.
Outro assunto que merece ser discutido é a precarização do ensino noturno, pois os
alunos da manhã conseguem ter um melhor aproveitamento e acesso às diversas dimensões da
formação profissional que não só o ensino, mas também pesquisa e extensão, enquanto no
período noturno além da carga horária se tornar menor, ela não é totalmente cumprida, pois
quase nunca se tem início no horário marcado por conta da maioria dos alunos não conseguirem
chegar a tempo justamente por saírem de seus trabalhos às 18 horas e ainda enfrentar
engarrafamento para chegar até a UECE, e também por conta do perigo que os alunos ficam
expostos ao saírem às 21h30min, quase todos os professores liberam mais cedo, então é notório
a diferença de carga horária. Objetivamos neste ponto verificar os fatores que levam os
trabalhadores a também serem estudantes ou os estudantes ter que desenvolver um trabalho a
partir de entrevista concedidas pelos mesmos.
Foi tão sofrido entrar aqui que eu não penso em desistir nem tão cedo, mas eu já pensei
em deixar o trabalho, mas aí vem à questão financeira, porque minha mãe também
não vai me sustentar, porque ela tem as prioridades dela e também porque não queria
ser mais um fardo. (ENTREVISTADA C).
A preocupação em não voltar a depender dos pais demonstra uma busca por autonomia e a
intenção de manter sua própria sustentação.
Em relação aos fatores que motivaram o ingresso no Curso de Graduação,
verificamos que estudam para que alcancem futuramente um salário maior, com vistas à
melhoria de sua condição financeira.
“É fundamental, pois não tenho profissão, sou consultora de vendas, mas não tenho
diploma, carreira, como profissional graduada, e é em busca disso que estou, em busca
de uma graduação, para que eu possa ter outras oportunidades no futuro.”
(ENTREVISTADA A).
“Eu posso trabalhar sem estudar, mas para minha formação pessoal, eu não quero
morrer naquela função, por isso acho que trabalho e educação estão ligados.”
(ENTREVISTADA B).
“Não posso ficar sem trabalhar, mas também não posso ficar sem estudar, não posso.
Eu quero conseguir almejar algo melhor para mim, porque sou operadora de caixa, e
operadora de caixa na minha visão é bom para quem está iniciando seu primeiro
emprego, mas eu já tô velha para operadora de caixa, eu não tenho que tá mais ali e
eu quero concurso público.” (ENTREVISTADA D).
As falas das entrevistadas evidenciam que uma das principais motivações para
ingressarem no curso de graduação é a busca por um salário melhor e a melhoria de sua
condição financeira. Elas reconhecem a importância de ter um diploma e uma formação
profissional para abrir portas e obter melhores oportunidades no mercado de trabalho. A
Trabalhadora A destaca que atualmente é consultora de vendas, mas não possui um diploma
nem uma carreira consolidada. Ela vê a graduação como uma forma de adquirir outras
habilidades e competências que possam abrir portas para oportunidades futuras. A perspectiva
de ter um salário mais elevado e uma posição profissional mais valorizada motiva seu empenho
nos estudos; a trabalhadora B também relaciona trabalho e educação, destacando que, embora
possa trabalhar sem estudar, ela não quer se limitar a uma função específica. Ela busca uma
formação pessoal e profissional que lhe proporcione crescimento e não fique restrita a uma
única função. Nesse sentido, a educação desempenha um papel crucial em sua busca por
melhores oportunidades e perspectivas de carreira; a trabalhadora D expressa seu desejo de não
apenas ficar limitada a sua função atual como operadora de caixa. Ela menciona o objetivo de
realizar um concurso público e alcançar um emprego com melhores perspectivas de crescimento
e estabilidade. A graduação é vista como um meio para adquirir conhecimentos e qualificações
que possam impulsionar sua ascensão profissional.
52
Neste ponto, concentramos nossa análise nas estratégias adotadas pelos estudantes
trabalhadores do curso de Serviço Social para enfrentar os desafios decorrentes da conciliação
entre trabalho e estudos. Reconhecemos que esses estudantes estão inseridos em uma realidade
em que a necessidade de trabalhar para garantir sua subsistência coloca-os diante de múltiplas
demandas e obstáculos que podem comprometer sua permanência e sucesso acadêmico. Diante
desse contexto, compreender as estratégias utilizadas por esses estudantes torna-se fundamental
para identificar práticas que possam contribuir para a promoção de condições mais favoráveis
à conciliação dessas esferas e para o fortalecimento de sua trajetória acadêmica. Abaixo,
analisaremos algumas falas citadas:
“Estudo no fim de semana, e sou liberada um pouco mais cedo para chegar na hora da
aula. mas ele não diminui as minhas metas por essas cargas horárias que eu saio, ele
cobra de mim o mesmo que cobra de quem está lá o tempo todo, então eu me desdobro
no tempo que tô lá para compensar quando não estou.” (TRABALHADORA A)
53
Nessa fala, a entrevistada A menciona que utiliza o fim de semana para estudar, o
que indica que ela reserva esse período para se dedicar aos estudos de forma mais intensa. Além
disso, ela relata que consegue sair um pouco mais cedo do trabalho para chegar a tempo das
aulas. No entanto, é importante destacar que ela ressalta a necessidade de se desdobrar para
compensar o tempo perdido no trabalho, mostrando sua determinação em cumprir suas metas
acadêmicas.
“No horário de almoço eu consigo dar meus pulos, mas é muito complicado, eu deixo
mais para os finais de semana, feriado e nos ônibus. Venho nos ônibus lendo um texto,
mas não consigo ler todos os textos porque é complicado.” (ENTREVISTADA C).
“É muito difícil, eu acho que ainda consigo porque ainda não tenho filho, eu consigo
porque enfim coloquei isso como prioridade, mas não é para qualquer um não, a gente
abre mão de uma vida social, a gente abre mão de muito lazer.” (ENTREVISTADA
A).
“No primeiro momento tem a questão da exaustão, porque a pessoa já chega com a
rotina diária de oito horas, que não é só a exaustão física, tem a exaustão mental, então
já chego aqui nos finalmentes. Às vezes eu renovo as energias aqui, porque eu já
venho cansada, ai vejo a galera, me animo e tal, mas a mente você tem que ter muita
cabeça para se manter focado.” (ENTREVISTADA B).
“Eu preciso estudar, e meu foco está aqui na UECE mesmo.” (ENTREVISTADA D).
“Hoje em dia os professores que a gente diz que são temporários, eles são bem
mais compreensíveis, eles entendem muito bem.” (ENTREVISTADA A).
“Tem professores que acabam iniciando às 19 horas porque sabem que tem
gente que tá vindo do trabalho.” (ENTREVISTADA E).
Essa compreensão por parte dos docentes é vista como um suporte importante para
os trabalhadores estudantes, pois reconhece as dificuldades enfrentadas e oferece alguma
flexibilidade diante das exigências acadêmicas. Essa abertura por parte dos professores
contribui para a motivação e engajamento dos estudantes, permitindo que eles se sintam
apoiados e encorajados a superar os desafios inerentes à sua condição. Embora a instituição
como um todo possa não fornecer políticas específicas para os trabalhadores estudantes, a
atitude compreensiva e flexível de alguns professores é valorizada pelos entrevistados como
um fator positivo que contribui para a permanência e o sucesso acadêmico desses estudantes.
Essa compreensão individualizada dos docentes demonstra a importância do apoio institucional
e da sensibilidade em relação às necessidades e limitações dos trabalhadores estudantes.
Todo esse mecanismo de exploração tira do ser social a consciência de si mesmo e
do significado do trabalho, muitas vezes visto como algo sem importância, limitando-se a
mediação da subsistência. Apoiados nas leituras de Lukács, sabemos que o trabalho não se
limita ao simples dispêndio de energia para confecção de um bem material, suas bases
estabeleceram-se desde os primórdios da história da humanidade, quando o homem descobriu
as técnicas da agricultura e passou a se utilizar delas para melhor suprir suas necessidades, tanto
alimentares, quanto à possibilidade de sair da condição de nômade para residir em um local
específico (LESSA, 2012).
Para além dessa concepção, o trabalho também possibilitou ao homem a
sociabilidade e o desenvolvimento da razão, logo, o trabalho, como atividade teleológica,
permite ao homem modificar a natureza e a si mesmo e gerar relações humanas cada vez mais
complexas. Percebemos aqui a importância do trabalho na esfera social e vemos, em
contrapartida, por meio da análise das condições de vida e de trabalho das entrevistadas, que
suas atividades laborativas estão distantes do significado original de trabalho, restringindo-se
ao mecânico manuseio do computador para realizar os procedimentos solicitados pelos clientes
ou pelos supervisores, caracterizando-se como um alienado trabalho (LESSA, 2012). Essa
realidade expõe como as relações de trabalho podem distorcer o propósito original do trabalho,
transformando-o em uma mera atividade de reprodução econômica, desvinculada das
potencialidades humanas de criação, desenvolvimento pessoal e social. Essa alienação no
trabalho reflete-se na falta de consciência dos estudantes trabalhadores sobre o verdadeiro
56
“Em primeiro momento, assim, eu não tenho mais meu pai, ele faleceu, ele também
era financeiro da casa, ele era taxista, então ele ajudava no dia a dia, então o que eu
precisasse, eu podia pedir, então eu tinha a possibilidade de pensar: vou sair do
trabalho, e meu pai vai me dá pelo menos o dinheiro da passagem, e da xerox. E agora
não tenho, então se eu sair do trabalho, eu nem venho pra faculdade.”
(ENTREVISTADA B).
“O lado bom é que tenho dinheiro para tirar xerox, que não são poucas e de dinheiro.”
(ENTREVISTADA D).
A entrevistada B menciona a dependência anterior que tinha de seu pai, que ajudava
com despesas como xerox e passagem. No entanto, após a perda dessa ajuda, ela ressalta a
necessidade de trabalhar para ter uma renda própria e conseguir frequentar a faculdade. Já a
entrevistada D, destaca o lado positivo de ter um trabalho, que é a possibilidade de ter dinheiro
para cobrir despesas como xerox. Isso ressalta a importância do aspecto financeiro na vida
acadêmica, em que pequenos custos, como cópias de materiais, podem representar um desafio
para quem não tem recursos financeiros suficientes. Ou seja, apesar dos avanços no acesso à
educação superior, ainda existem barreiras sociais e econômicas que dificultam a permanência
e o sucesso acadêmico dos estudantes de origem popular. Essas questões apontam para a
necessidade de políticas e apoio institucional que visem a equidade e a inclusão, a fim de
garantir oportunidades igualitárias para todos os estudantes, independentemente de sua origem
socioeconômica. Por isso que quando Adam Smith fala “Instrução para os trabalhadores,
porém, em doses homeopáticas”, ele refere-se exatamente a essa “educação seletiva”, pois não
é de interesse para ordem capitalista, que os trabalhadores tenham mais que o mínimo
57
necessário à manutenção dessa classe, pois como já dizia Epicteto: “Só a educação liberta”
(GUIMARÃES, 2006).
O que faz esses estudantes trabalhadores se dedicarem a conciliar essas duas
funções ao seu dia a dia, além, claro da realização pessoal/profissional, é a crença de que um
trabalho qualificado irá levá-lo a níveis de renda cada vez mais elevados.” (GUIMARÃES,
2006). Podemos entender melhor esse pensamento através das falas que serão analisadas a
seguir:
“É difícil, às vezes me sinto perdida, porque você tem que manter o foco, eu
preciso estudar mais para trabalhar melhor, eu fico muito nesse impasse, eu
acho muito desafiador e enriquecedor ao mesmo tempo. Acredito que quando
eu sair daqui para o mercado de trabalho, eu vou ter um diferencial.”
(ENTREVISTADA C).
“Eu quero concurso público e eu preciso estudar. Então meu foco tá aqui na
UECE mesmo.” (ENTREVISTADA D).
A crença da entrevistada C de que essa experiência pode facilitar sua vida está
relacionada à ideia de que adquirir uma formação superior pode abrir portas para uma carreira
mais promissora, com maior acesso a empregos qualificados e melhores perspectivas de renda
e estabilidade profissional. A entrevistada D menciona a sua intenção de se preparar para
concursos públicos. Essa motivação indica a busca por uma carreira estável e com melhores
perspectivas de remuneração e benefícios. A dedicação aos estudos na universidade é vista
como um caminho para alcançar esse objetivo específico. Portanto, além da realização pessoal,
a entrevistada reconhece a importância de investir em sua formação acadêmica como parte de
sua estratégia para obter um trabalho qualificado e alcançar melhores condições financeiras.
Quando Carvalho (2001, p.93) afirma que para jovens do ensino noturno o trabalho
que caracteriza a vida pois é ele que fixa os limites dos estudos, lazer e descanso, ele quis dizer
que para o estudante trabalhador o que determina as atividades do seu dia a dia é a sua
disposição de acordo com a realidade do seu dia, onde muitas vezes esses estudantes já
chegam cansados, irritados, com fome, na aula, e tem dias que não consegue da nem o seu
mínimo. Essa realidade implica que os estudantes trabalhadores enfrentam desafios adicionais
em comparação aos estudantes que não precisam conciliar trabalho e estudo, podendo afetar
sua disposição e capacidade de se envolver plenamente nas atividades acadêmicas,
prejudicando seu desempenho e o aproveitamento dos estudos. Além disso, o autor também
menciona que há dias em que esses estudantes não conseguem nem mesmo cumprir o mínimo
necessário devido às circunstâncias desafiadoras em que se encontram, isso evidencia as
dificuldades enfrentadas pelos estudantes trabalhadores, que precisam lidar com uma carga de
58
responsabilidades e demandas que muitas vezes ultrapassam seus limites físicos e emocionais,
como podemos ver a seguir:
“.. Você passa a manhã e tarde se desgastando, quando chega a noite suas energias já
estão baixíssimas, seu pique já está baixíssimo, então a noite para aprender, para ter
rendimento já é nas últimas.” (ENTREVISTADA A).
“Cansaço mental, e um pouco físico também, mas principalmente mental. Eu to no
trabalho e fico pensando nas coisas da faculdade, fico pensando nos prazos, um monte
de coisa ao mesmo tempo. E se você não se organizar bem, você fica doido da cabeça.”
(ENTREVISTADA F).
“Saúde mental, perda de conhecimentos e oportunidades. De alguma forma você fica
um pouco afastada do que o curso pode te proporcionar.” (ENTREVISTADA G).
Fazer essa diferenciação é super válido para o entendimento deste trabalho, pois
como vimos nas falas de alguns entrevistados, para cada tipo, é um peso diferente, podendo
impactar de diversas formas, pois suas características variam de acordo com suas vivências,
enquanto estudante, trabalhadores e cidadãos.
60
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
trabalhadores é essencial para garantir uma formação de qualidade e uma vivência acadêmica
mais satisfatória.
Aos demais objetivos desta pesquisa, que buscava identificar as estratégias
desenvolvidas pelas estudantes trabalhadoras para conciliar trabalho e universidade, os relatos
obtidos revelaram a resiliência e a determinação desses estudantes em superar os desafios
enfrentados. Ao analisar as entrevistas, fica evidenciado que essas estudantes encontram formas
criativas de aproveitar os períodos de tempo livre no trabalho, e até mesmo o trajeto de ônibus
para se dedicarem aos estudos. Relatam que utilizam o tempo no trabalho de forma estratégica,
aproveitando momentos de menor demanda para realizar leituras, revisar materiais e até mesmo
assistir aulas online. Além disso, muitas delas fazem uso dos finais de semana como períodos
intensivos de estudo, dedicando longas horas para a leitura de textos acadêmicos, a elaboração
de trabalhos e a preparação para as avaliações.
No entanto, mesmo diante desses esforços individuais das estudantes trabalhadoras,
ficou evidente que a instituição universitária não oferece facilidades para esse grupo específico.
As atividades acadêmicas, como aulas, reuniões, palestras e eventos, ainda são
predominantemente oferecidas durante o dia, dificultando a participação plena e a integração
desses estudantes. A falta de flexibilidade nos horários de algumas disciplinas, aliada à
indisponibilidade de suporte e recursos específicos para os estudantes trabalhadores, cria
barreiras adicionais que comprometem sua experiência acadêmica e limitam seu potencial de
aprendizado e desenvolvimento.
É importante reconhecer que as políticas e práticas institucionais desempenham um
papel fundamental no apoio aos estudantes trabalhadores. Embora a abordagem flexível de
horário combinada entre alunos e professores do curso noturno na UECE seja um passo
positivo, ainda há lacunas a serem preenchidas. A pesquisa destaca a necessidade de aprimorar
as políticas institucionais, aumentando o suporte financeiro específico para estudantes
trabalhadores, fortalecendo os serviços de apoio psicossocial, sensibilizando os professores e
orientadores sobre as necessidades desses estudantes e desenvolvendo estratégias de ensino
adaptadas às suas particularidades e desafios.
Nesse sentido, é fundamental que as políticas institucionais sejam revistas e
aprimoradas, com a implementação de medidas específicas para apoiar os estudantes
trabalhadores. Isso inclui a disponibilização de bolsas de estudo e programas de auxílio
financeiro direcionados a esse grupo, o fortalecimento dos serviços de apoio psicossocial,
mentorias, sensibilização dos professores e orientadores sobre as particularidades e desafios
enfrentados pelos estudantes trabalhadores, bem como a adaptação das estratégias de ensino
62
estudos nessa área, ampliando a amostra e explorando outras áreas de conhecimento, para que
se possa aprofundar ainda mais a compreensão dos desafios enfrentados pelos estudantes
trabalhadores e propor soluções efetivas.
Com base nos resultados encontrados, sugere-se que as instituições de ensino
superior, os governantes e os projetos políticos educacionais considerem a inclusão e o apoio
aos estudantes trabalhadores como uma prioridade. É essencial promover uma educação que
seja acessível a todos, independentemente de suas condições de trabalho, e que valorize a
diversidade de experiências e perspectivas dos estudantes.
Por fim, é importante ressaltar que a luta pela valorização e pela inclusão dos
estudantes trabalhadores é um esforço coletivo, que envolve toda a sociedade. É necessário que
todos, incluindo instituições de ensino, governo, empregadores e comunidade em geral,
reconheçam a importância desses estudantes e trabalhem juntos para criar um ambiente que
promova a equidade, a justiça social e a igualdade de oportunidades. Somente assim poderemos
construir um futuro mais justo e inclusivo para todos
64
REFERÊNCIAS
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histórica. Rio de Janeiro: Garamond, 2012. 436 p.
BARROCO, Maria Lúcia S. Ética: fundamentos sócio-históricos. São Paulo: Cortez, 2008. –
(Biblioteca Básica de serviço social; v. 4)
BIHR, Alain. Da grande noite à alternativa. São Paulo: Jinkings Ed. Associados. 1991.
287p.
BORDIEU, Pierre; PASSERON, Jean Claude. A reprodução: Elementos para uma teoria do
sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992.
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202 p.ISNB:8522422702
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA D E EDUCAÇÃO MUSICAL, 20., 2011. Vitória, Anais...
Vitória: [S.l.], 2011
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Dados de identificação:
Nome: ________________________________________________
Idade:_________________________________________________
Etnia:__________________________________________________
Sexo: __________
Orientação sexual: _________________
Situação econômica do estudante:
Trabalha de carteira assinada? ( ) sim ( ) não
Se sim, local de trabalho:
Jornada diária de trabalho:
Função:________________
Renda:________________
Durante o curso sempre foi aluno(a) trabalhador(a)?
Em que horário estuda?
Quantas horas semanais dedica aos estudos?
II Trabalho e Universidade:
1-Está cursando qual semestre?
2-Quando entrou na UECE já trabalhava?
3-Sentiu alguma diferença?
4-Você acha que o trabalho pode interferir no ensino/aprendizagem do aluno?
5-Como você concilia o trabalho com estudos? Consegue no trabalho tirar algum tempo para os
estudos? Caso não, em que momento você tem tempo para estudar?
6-Você já pensou em desistir de estudar para apenas trabalhar? Ou desistir do trabalho para se
dedicar apenas aos estudos? E por qual motivo não colocou a opção em prática?
7-Qual impacto que você acha que o trabalho pode trazer na vida do estudante trabalhador?
Quais são as dificuldades mais presentes?
8- Você acha que a instituição pensa nas condições específicas do estudante trabalhador?
9-Os professores compreendem as dificuldades expostas?
10-E no trabalho, o seu patrão compreende a importância que os estudos representam para você?
11-Como você vê a relação trabalho e estudos?
12-Qual a importância do trabalho?
13-Qual a importância da formação na educação superior?
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