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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

FABRÍCIA SAMPAIO SILVA

TRABALHO E UNIVERSIDADE: UMA ANÁLISE SOBRE A RELAÇÃO ESTUDOS


E TRABALHO NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

FORTALEZA – CEARÁ
2023
1

FABRÍCIA SAMPAIO SILVA

TRABALHO E UNIVERSIDADE: UMA ANÁLISE SOBRE A RELAÇÃO ESTUDOS E


TRABALHO NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Serviço Social do Centro de
Estudos Sociais Aplicados da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial para
a obtenção do grau de Bacharelado em Serviço
Social.

Orientadora: Profª. Dra. Elivânia da Silva


Moraes.

FORTALEZA – CEARÁ
2023
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Ficha catalográfico
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FABRÍCIA SAMPAIO SILVA

TRABALHO E UNIVERSIDADE: UMA ANÁLISE SOBRE A RELAÇÃO ESTUDOS E


TRABALHO NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Serviço Social do Centro de
Estudos Sociais Aplicados da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial para
a obtenção do grau de Bacharelado em Serviço
Social.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________
Profª. Dra. Elivânia da Silva Moraes (Orientadora)
Universidade Estadual do Ceará – UECE

_________________________________________
Profª. Dra. Paula Raquel da silva Jales
Universidade Estadual do Ceará – UECE

_________________________________________
Profª. Dra. Daniele Eduardo Rocha
Universidade Estadual do Ceará – UECE
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AGRADECIMENTOS

Não posso deixar de agradecer a quem tanto me ajudou não só nesse percurso da pesquisa, mas
também de vida: Aos meus pais, por me deixarem livre para eu escolher ser o que eu quisesse
ser, mas sempre me orientando e mostrando a importância de estudar e trabalhar. As minhas
irmãs, que sempre me ensinaram sobre tudo, principalmente nesses últimos meses, me
mostraram através das adversidades da vida sobre ser forte e não desistir. Ao meu noivo, que
insistiu para que eu voltasse a escrever e finalizar essa etapa. Ao meu cunhado Samuel, que está
sempre disposto a me ajudar no que eu preciso. Aos meus sobrinhos, que são minha dose diária
de alegria, e também aos amigos que permaneceram e se fizeram presente nesta caminhada
longa e solitária.
Agradeço imensamente à minha orientadora Elivânia, por não ter desistido de mim, e por ser
sempre tão solícita e compreensiva. Obrigada por sua paciência e dedicação em me auxiliar na
construção deste trabalho, e principalmente por sua orientação experiente e humanizada. Suas
considerações e sugestões foram de valor inestimável para o meu crescimento acadêmico.
Gostaria de agradecer também as profissionais da banca avaliadora, que inclusive foram minhas
professoras nesta graduação, contribuindo de alguma forma para que eu pudesse chegar até
aqui. Agradeço também as entrevistadas que participaram deste estudo, compartilhando seus
conhecimentos, experiências e percepções valiosas; suas contribuições foram fundamentais
para a realização desta pesquisa. Por último, mas não menos importante, a Deus, por nunca me
desamparar.
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RESUMO

A pesquisa desenvolvida reflete a relação entre trabalho e universidade, dando ênfase aos alunos
do curso de Serviço Social noturno na Universidade Estadual do Ceará. Na tentativa de
compreender esse fenômeno, procuramos conhecer suas condições de vida e de trabalho: Como
esses estudantes que precisam trabalhar para se sustentar financeiramente podem ter uma
formação profissional de qualidade se a maior parte do seu tempo é dedicado ao trabalho? Como
poderá elevar suas capacidades de pensar e repensar os temas trabalhados em sala de aula se
não há condições favoráveis de estudos? Através desses e outros questionamentos que serão
apresentados no desenvolver dessa pesquisa, tentaremos compreender os impactos do trabalho
para a formação acadêmica desses estudantes trabalhadores. Tratou-se de uma pesquisa
bibliográfica embasada nos conceitos de alguns autores como Marx, Antunes, Chaui; e de
campo, no qual foram entrevistados 7 estudantes a fim de relacionar as teorias com as vivências,
sendo realizada durante os anos de 2018 a 2023, tendo uma pausa de um pouco mais de 1 ano
por conta da pandemia do COVID. Os resultados revelaram a necessidade de medidas concretas
por parte da universidade e políticas públicas para apoiar esses estudantes, promovendo uma
educação mais inclusiva e acessível. A valorização da experiência dos estudantes trabalhadores
e o reconhecimento de suas demandas são fundamentais para reduzir a evasão e promover a
equidade e qualidade no ensino superior noturno.

Palavras-chave: trabalho; universidade; estudante-trabalhador; ensino noturno; formação


profissional.
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ABSTRACT

The developed research reflects the relationship between work and university, focousing to
Social Service students at the State University of Ceará. In an attempt to comprehend this
phenomenon, we have tried to understand their living and working conditions: How can these
students who need to work to support themselves financially have quality professional training
if most of their time is dedicated to work? How can they improve their abilities to think and
rethink the topics learned in the classroom if there are no favorable studying conditions?
Through these and other questions that will be presented along this research, we will try to
understand the impacts of working on the academic education of these working students. It was
a bibliographic research based on the concepts of some authors such as Marx, Antunes, Chaui;
and fieldwork, in which 7 students were interviewed in order to list theories to experiences,
carried out from 2018 to 2023, with a break of just over 1 year due to the COVID pandemic.
The results revealed the need for concrete measures by the university and public policies to
support these students, promoting a more inclusive and accessible education. Valuing the
experience of working students and recognizing their demands are essential to reduce dropout
rates and promote equity and quality in higher education, specially in night shift.

Keywords: work; university; student worker; night shift teaching; professional qualification.
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 8
2 UM OLHAR PANORÂMICO DA RELAÇÃO ENTRE TRABALHO
E ENSINO SUPERIOR.......................................................................... 12
2.1 Aproximação com a temática ................................................................. 12
2.2 Objetivos da investigação....................................................................... 1
2.3 Percurso Metodológico............................................................................ 14
2.4 Campo social da pesquisa....................................................................... 18
2.5 Perfil dos entrevistados .......................................................................... 22
3 TRABALHO E UNIVERSIDADE: O ENSINO NOTURNO COMO
ALTERNATIVA. .................................................................................... 29
3.1 Conceitos de trabalho .............................................................................. 31
3.2 Estudante trabalhador na universidade ................................................ 42
4 RESISTÊNCIA: DESAFIOS ENFRENTADOS POR ESTUDANTES
TRABALHADORES. .............................................................................. 48
4.1 Fatores Motivadores a condição de estudante trabalhador.................. 49
4.2 Estratégias desenvolvidas para conciliar trabalho e universidade. .... 52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 60
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 64
APÊNDICE A- INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS........... 67
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO...................................................................................... 68
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1 INTRODUÇÃO

Uma inquietação que me acompanha desde o momento em que pude frequentar o


ensino superior é a necessidade de entender melhor como os estudantes trabalhadores
conseguem concluir um curso de graduação, apesar das várias dificuldades impostas pela
necessidade do trabalho. Vivendo uma realidade em que as condições concretas da vida
cotidiana limitam e, muitas vezes, impedem o prosseguimento dos estudos, essa questão se
tornou central para mim.
Com este trabalho, meu objetivo não é apenas relatar as dificuldades que os
estudantes trabalhadores enfrentam ao conciliar trabalho com estudos, mas também
compreender os desafios enfrentados por esses estudantes trabalhadores do curso de Serviço
Social da UECE, em especial, turno noturno, analisando as dificuldades que impactam o ensino
e aprendizagem desses estudantes. Além disso, a pesquisa busca identificar e investigar as
estratégias de resistência adotadas por esses estudantes para superar os obstáculos enfrentados.
Acredito que trazendo essa discussão para nossa realidade atual, poderemos obter um
conhecimento mais aprofundado sobre o impacto que o trabalho gera na vida dos estudantes e,
assim, contribuir para a melhoria dessa realidade em alguns aspectos.
Ao longo da história, o trabalho sempre existiu, porém, à medida que a sociedade
se desenvolveu e se intensificou devido aos processos de modernização, as relações e formas
de viver também se diversificaram. A busca por educação em diversas especialidades e
modalidades passou por ampliação e novas exigências, visto que o acesso à educação deixou
de ser restrito à burguesia e passou a ser visto como preparação de recursos humanos para
impulsionar o capitalismo. No entanto, nem todos conseguiam seguir esse caminho, e muitos
precisavam, antes de tudo, garantir uma renda para se sustentar durante os estudos. Foi onde
então surgiu a conciliação entre trabalho durante o dia e estudo durante a noite, uma nova
realidade na qual trabalhadores se inseriram.
Sendo uma trabalhadora estudante, comecei a observar e me sentir instigada em
saber se outros colegas do curso também enfrentam dificuldades semelhantes. Ao conversar
com eles, percebi que muitos relataram as mesmas adversidades e desafios. Essa constatação
reforçou a relevância dessa pesquisa, uma vez que esses estudantes não são uma minoria no
curso de Serviço Social. No entanto, essa temática geralmente não é discutida de forma a
promover transformações no currículo e estabelecer medidas institucionais que modifiquem
essa realidade. Além disso, a falta de dados sobre o perfil dos estudantes do curso de Serviço
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Social que são trabalhadores demonstra como essa questão não é valorizada ou discutida
adequadamente.
Considero, portanto, que esse trabalho de pesquisa é de extrema importância para
refletir sobre a formação profissional do assistente social. Afinal, o curso de Serviço Social se
dedica ao estudo da classe trabalhadora, o que parece contraditório, pois, embora se discutam
melhorias para essa classe, não é dado o devido espaço para que os alunos trabalhadores tenham
as mesmas oportunidades que os alunos que se dedicam exclusivamente aos estudos. Se esses
estudantes precisam trabalhar muitas horas por dia para se sustentarem (pois sabem que, se não
estudarem, terão menos chances de conseguir melhores empregos), esse conflito se manifesta
como uma contradição, uma vez que se esforçam justamente por necessidade e esperança de
um futuro melhor.
Dados de uma pesquisa realizada em 2015 pelo MEC (Ministério da Educação) em
parceria com o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira)
revelaram que, dentre os 447.056 alunos que responderam ao questionário aplicado em mais de
oito mil cursos de diferentes áreas do ensino superior brasileiro, 49% dos alunos trabalhavam
mais de 40 horas por semana. Ou seja, é possível afirmar que quase metade dos universitários
também são trabalhadores, de acordo com essa pesquisa.
Um dos maiores desafios das Instituições de Ensino Superior é proporcionar um
ambiente de ensino e aprendizagem que articule os referenciais teóricos que sustentam o projeto
nacional de formação profissional do Assistente Social no Brasil com as exigências e
competências necessárias, além de posicionar-se criticamente em relação ao que é exigido pelo
chamado "mundo do trabalho".
No contexto da competitividade do mercado, cada vez mais há uma busca por
graduações e especializações. No entanto, nem sempre é possível abrir mão do emprego para
dedicar-se exclusivamente aos estudos, e isso força muitas pessoas a conciliarem as duas
atividades. Diante desses fatos, convido você a refletir: quais são os impactos do trabalho na
formação acadêmica dos estudantes trabalhadores?
Para embasar a discussão sobre essa temática, utilizei a pesquisa bibliográfica,
fundamentada nos conceitos elaborados por autores como Marx (1976), Antunes (1995), Chaui
(2001) e outros, que tratam do assunto. Além disso, foram abordadas outras questões relevantes
para a pesquisa. Portanto, este trabalho reflete a vivência diária de uma estudante trabalhadora
que se preocupou com os possíveis impactos dessa realidade, uma vez que, para muitos, o
ensino noturno é a única forma de conciliar trabalho e estudos em busca de um futuro melhor.
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Essa pesquisa constitui-se também como um estudo de campo com abordagem


quali-quantitativa, utilizando métodos como observação direta, diário de campo e entrevistas
com uso de gravador para registrar o máximo de informações.
Não podemos deixar de mencionar os impactos causados pela pandemia de
COVID-19 ao longo do processo de construção desta pesquisa. A pandemia, que teve início no
final de 2019 e se intensificou em 2020 e 2021, trouxe consequências e modificações
significativas em diversas áreas da vida, incluindo a educação e o mercado de trabalho. A
propagação global do vírus SARS-CoV-2 resultou em medidas de restrição, como o
distanciamento social, lockdowns e o fechamento de estabelecimentos comerciais. Isso
estabeleceu uma crise sanitária de proporções globais com consequências econômicas e sociais.
No contexto da UECE, os estudantes do curso de Serviço Social que trabalham durante o dia e
estudam à noite enfrentaram desafios adicionais durante o período pandêmico. Além de
equilibrarem suas responsabilidades profissionais com as demandas acadêmicas, tiveram que
lidar com o aumento do trabalho remoto, o medo de perder o emprego, a sobrecarga emocional
causada pelo impacto da crise sanitária, o aumento das tarefas domésticas e a preocupação com
a saúde e segurança pessoal e familiar. Além disso, também sentiram a necessidade de se
adaptar a novas formas de ensino, como as aulas online, enfrentando a pressão de cumprir
prazos e participar de atividades virtuais. Para muitos, a falta de uma estrutura adequada em
casa para o estudo e a necessidade de gerenciar o tempo de forma eficiente foram alguns dos
obstáculos enfrentados. Foi nesse cenário que desenvolvemos nossa investigação.
A apresentação da pesquisa está organizada em quatro capítulos, cada um
abordando aspectos específicos relacionados ao tema. O primeiro capítulo, a introdução,
fornece um resumo sucinto do conteúdo que será abordado na pesquisa. Ele estabelece o
contexto geral do estudo e apresenta uma visão geral dos tópicos a serem explorados.
O segundo capítulo concentra-se em aspectos gerais da pesquisa, incluindo a
problematização e a relação com a temática em questão. Nesse capítulo, também são discutidos
o campo social em que a pesquisa está inserida, as perspectivas metodológicas adotadas e os
procedimentos utilizados para coleta e análise dos dados. Além disso, o perfil dos entrevistados
é apresentado, oferecendo informações importantes sobre a amostra da pesquisa.
O terceiro capítulo, intitulado "Trabalho e universidade: o estudo noturno como
alternativa", aprofunda a discussão sobre a relação entre trabalho e universidade. Neste capítulo,
são apresentadas as bases teóricas relevantes relacionadas ao tema, que foram articuladas com
o material verbal coletado por meio das entrevistas. Essa abordagem permite uma análise mais
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aprofundada da experiência dos entrevistados e uma compreensão mais ampla da temática em


questão.
No quarto capítulo, discutiremos os motivos que levaram os entrevistados a
conciliar trabalho e universidade, bem como os desafios enfrentados por eles e as estratégias
adotadas para se manterem no curso. Essa seção fornece uma visão mais detalhada das
experiências dos participantes e contribui para uma compreensão mais completa dos aspectos
práticos e emocionais envolvidos na conciliação entre trabalho e estudo.
Por fim, na conclusão, busco consolidar as principais conclusões desta pesquisa.
Com base nas interpretações dos dados socioeducacionais coletados e nas informações relatadas
pelos entrevistados, junto com as leituras realizadas ao longo de todo o processo de construção,
apresentarei as principais descobertas e contribuições do estudo. Essa seção será uma
oportunidade para reafirmar os objetivos da pesquisa, destacar os principais resultados e
oferecer percepções para pesquisas futuras na área.
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2 UM OLHAR PANORÂMICO PARA A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO E ENSINO


SUPERIOR

Neste capítulo abordaremos o início da pesquisa, os caminhos metodológicos


adotados, o campo social e o perfil dos entrevistados. Faremos uma contextualização da relação
entre trabalho e ensino superior, com ênfase na importância do trabalho na vida dos estudantes
universitários e sua relevância para os estudantes trabalhadores do curso de Serviço Social da
UECE.
É importante destacar que o trabalho se tornou uma realidade comum na vida dos
estudantes universitários, pois muitos deles precisam conciliar os estudos com atividades
profissionais para arcar com suas despesas pessoais, mensalidades e outros custos relacionados
à sua formação acadêmica. Essa relação entre trabalho e estudo é especialmente relevante para
os estudantes trabalhadores do curso de Serviço Social noturno, e é sobre essa perspectiva
específica que iremos nos aprofundar.
Ao explorar essa temática, buscamos compreender como o trabalho influencia a
vida acadêmica desses estudantes, os desafios que enfrentam, as estratégias que adotam para
conciliar suas responsabilidades e as políticas e práticas institucionais adotadas pela UECE para
apoiá-los nessa jornada. Ao evidenciar a importância do trabalho na vida desses estudantes,
buscamos trazer à tona reflexões sobre os impactos dessa realidade na formação acadêmica, no
desempenho acadêmico, na participação em atividades extracurriculares e na saúde emocional
desses estudantes trabalhadores.
No decorrer deste capítulo, examinaremos esses aspectos de forma mais detalhada,
fornecendo uma visão panorâmica da relação entre trabalho e ensino superior, com enfoque nos
estudantes trabalhadores do curso de Serviço Social noturno da UECE.

2.1 Aproximação com a Temática

Como estudante trabalhadora, pude vivenciar de perto os desafios de conciliar


trabalho e estudos após uma experiência de trabalhar durante o dia e estudar à noite. Enfrentei
dificuldades como chegar atrasada devido a distância, trânsito, engarrafamento, onde a maioria
das vezes eu já chegava cansada e estressada na aula, dificultando assim o entendimento do que
estava sendo ensinado em sala de aula. Além disso, a falta de disciplinas disponíveis no meu
horário de trabalho me obrigou a deixá-las para o final do curso, atrasando minha formação,
chegando ao ponto de precisar abrir mão do meu trabalho para poder estudar e estagiar, se não
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eu não iria conseguir concluir, e foi durante esse período que percebi a diferença entre
estudar/trabalhar, e somente estudar, e principalmente como isso impacta diretamente na
formação acadêmica.
Uma questão importante é a falta de tempo para participar de atividades
complementares, como palestras e cursos da semana universitária, devido à incompatibilidade
de horários. Queixas como: “Nunca era possível participar de palestras e cursos da semana
universitária, pois na maioria das vezes, o horário não conciliava”, é o que mais se pode ouvir
quando se fala sobre esse assunto. Isso limita a oportunidade de enriquecer o conhecimento e o
envolvimento do estudante com a universidade. Além disso, o cansaço mental e as
preocupações em conciliar estágios, trabalho, provas e seminários afetam a saúde emocional,
consequentemente o desempenho acadêmico. Essas dificuldades também se estendem à escolha
de estágios, que muitas vezes estão restritos apenas à área da saúde ou são limitados ao fim de
semana, restringindo as oportunidades de explorar outros campos de atuação e ampliar a
experiência profissional.
Ao debater sobre essas questões com outros estudantes trabalhadores, percebi que
compartilhamos experiências semelhantes e despertou em mim um interesse em compreender
melhor os desafios e demandas desse grupo. Surgiram questionamentos sobre como esses
estudantes trabalhadores conseguem se formar se não há tantas atividades complementares
disponíveis no seu turno? Essa formação será apenas para conseguir um lugar na sociedade com
seu diploma na mão ou para realmente trabalhar com o que tanto lutou para conseguir? Entre
vários outros assuntos que serão trabalhados no decorrer da pesquisa. Mesmo sendo um assunto
que me sinto pertencente, ainda sim foi uma construção difícil, pois é preciso muita leitura,
concentração, está com a mente boa para conseguir expressar da melhor forma e ser
compreendida pelo leitor, o que para quem concilia trabalho e estudos, exige um pouco mais.
Essas reflexões e a minha própria experiência me motivaram a investigar mais a
fundo essa temática, contribuindo para uma compreensão mais clara dos impactos da jornada
de trabalho dos estudantes na sua disponibilidade para atividades acadêmicas e no seu
desempenho geral. Ao compartilhar essas questões e vivências, espero fornecer percepções
valiosas e sensibilizar sobre os desafios enfrentados por esses estudantes.

2.2 Objetivos da investigação

Através de todos os questionamentos citados acima, pude observar a importância


de investigar mais a fundo a temática dos estudantes trabalhadores no curso de Serviço Social
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noturno da UECE. Inicialmente, constatei uma lacuna na literatura acadêmica sobre o assunto,
porém, ao longo dos anos, percebi um aumento significativo de pesquisas relacionadas, o que
indica que a temática está ganhando mais espaço e reconhecimento.
Diante dessa constatação, os objetivos da pesquisa são definidos com o intuito de
aprofundar o entendimento sobre os impactos da jornada de trabalho dos estudantes no seu
desempenho acadêmico, na participação em atividades extracurriculares e na saúde emocional.
Esses objetivos têm como foco principal explorar o impacto da jornada de trabalho dos
estudantes sobre sua disponibilidade para atividades acadêmicas, como estágios, projetos de
pesquisa e participação em eventos acadêmicos. Pretende-se compreender os desafios
enfrentados por esses estudantes trabalhadores do curso de Serviço Social noturno da UECE,
analisando as dificuldades que impactam o ensino e aprendizagem desses estudantes. Além
disso, a pesquisa busca identificar e investigar as estratégias de resistência adotadas por esses
estudantes para superar os obstáculos enfrentados.
Outro aspecto importante é explorar as políticas e práticas institucionais adotadas
pela UECE para apoiar esses estudantes trabalhadores. Essa análise permitirá compreender
como a universidade está atuando no sentido de oferecer suporte e criar um ambiente favorável
para conciliar trabalho e estudo. A investigação dessas políticas e práticas institucionais será
fundamental para identificar possíveis melhorias e recomendações que possam contribuir para
o aprimoramento do apoio aos estudantes trabalhadores.
Dessa forma, os objetivos da pesquisa são estruturados em torno da compreensão
dos desafios enfrentados pelos estudantes trabalhadores, da identificação das estratégias de
resistência adotadas por eles e da análise das políticas e práticas institucionais da UECE. Essa
abordagem busca contribuir para o conhecimento acadêmico sobre o tema e fornecer subsídios
para a implementação de medidas que promovam a qualidade de vida e o sucesso acadêmico
desses estudantes

2.3 Percursos metodológico

De acordo com Minayo (1994 p.23), entende-se pesquisa como um processo no


qual o pesquisador tem [...] "uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define
um processo intrinsecamente inacabado e permanente", pois realiza urna atividade
de aproximações sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta "uma carga histórica" e
reflete posições frente à realidade.
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Pesquisando sobre métodos, verifiquei que o que atende aos objetivos da pesquisa
é o método materialismo histórico dialético de Marx, pois:

O materialismo dialético é a base filosófica do marxismo e como tal realiza a tentativa


de buscar explicações coerentes, lógicas e racionais para os fenômenos da natureza,
da sociedade e do pensamento. Por um lado, o materialismo dialético tem uma longa
tradição na filosofia materialista e, por outro, que é também antiga concepção na
evolução das idéias, baseia-se numa interpretação dialética do mundo.” (TRIVIÑOS,
1928)

A partir de algumas observações do real na sociedade, vi que o que estava


acontecendo comigo, também estava acontecendo com outros estudantes, ou seja, não era um
fato isolado que representava somente aquilo, mas que o fato de estar acontecendo, tem seu
motivo, o que me gerou uma consciência, questionamentos, que para poder respondê-los foi
preciso pesquisar, conhecer de fato a realidade além do que estar exposto. Materialismo pelo
fato de ter a materialidade da análise, ou seja, não é um acaso, tem sua explicação; histórico
pelo fato da história nos dizer muita coisa, onde pode ir se transformando e dialético pelo fato
das contradições em relação à profissão defender a classe trabalhadora, e não ser capaz de
oferecer suporte para seus próprios estudantes continuarem na luta.
A pesquisa trata-se de uma abordagem quali-quantitativo, que unem as duas
modalidades para a obtenção de uma análise mais profunda do assunto da pesquisa. Embora as
pesquisas qualitativas e quantitativas sejam comumente estudadas separadamente, sabemos que
elas podem se complementar. Esse tipo de pesquisa permite um cruzamento de dados maior, e
o valor da pesquisa cresce juntamente com a validação das informações.
A combinação dessas abordagens qualitativa e quantitativa possibilitará uma
compreensão mais completa e abrangente da relação entre trabalho e universidade, bem como
dos desafios enfrentados pelos estudantes trabalhadores do curso de Serviço Social noturno da
UECE. Essa abordagem permitirá explorar tanto as perspectivas subjetivas e individualizadas
dos participantes, quanto fornecer informações quantitativas que contribuirão para uma análise
mais ampla dos aspectos investigados.
Utilizou-se durante todo o processo a pesquisa bibliográfica, etapa fundamental em
qualquer trabalho acadêmico. Ela envolve a busca, seleção, leitura e análise de diversos
materiais bibliográficos, como livros, artigos científicos, teses, dissertações e outras fontes de
informação relevantes para a temática.

A pesquisa bibliográfica é então feita com o intuito de levantar um conhecimento


disponível sobre teorias, a fim de analisar, produzir ou explicar um objeto sendo
investigado. A pesquisa bibliográfica visa então analisar as principais teorias de um
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tema, e pode ser realizada com diferentes finalidades”. (CHIARA; KAIMEN, et al.,
2008, p. 56).

Dessa pesquisa bibliográfica consideramos importante destacar as categorias:


Trabalho, universidade e ensino noturno, trazendo alguns autores como Marx (1976), Antunes
(1995), Chaui (2001), dentre outros, para dialogar com as falas dos entrevistados.
Paralelo a pesquisa bibliográfica realizamos a pesquisa de campo, uma etapa
importante da pesquisa, pois é responsável por extrair dados e informações diretamente da
realidade do objeto de estudo, sendo de forma exploratória, pois são pesquisas que têm como
objetivo o aprofundamento do conhecimento do pesquisador sobre o assunto estudado.
Primeiramente vem sendo feito observação direta, critério que “[...] utiliza os
sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Consiste de ver, ouvir e examinar
fatos ou fenômenos” (MARCONI, LAKATOS, 1990), de forma não sistemática, ou seja,
observação diária sem critérios científicos, e quando percebo alguma informação relevante,
escuto alguns comentários de estudantes, faço anotações para que possa utilizá-las mais a frente.
Segundo Gil (2008, p. 45):

O método observacional difere do experimental em apenas um aspecto: nos


experimentos o cientista toma providências para que alguma coisa ocorra, a fim de
observar o que se segue, ao passo que no estudo por observação apenas observa algo
que está acontecendo ou já aconteceu.

Essas anotações me serviram como diário de campo, instrumento importante para


que eu pudesse registrar as observações que estive fazendo durante todo o processo. Nele
colocava comentários que escutava sobre os corredores do bloco de curso, indagações e
questionamentos que vinham na minha mente enquanto lia algumas pesquisas científicas,
monografias, teses e até mesmo na minha vivência acadêmica.
Feito isso, prosseguimos com a entrevista, ou seja, “encontro entre duas pessoas, a
fim de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto.”
(MARCONI; LAKATOS, 1999, p. 94). As coletas foram feitas em dois momentos: No
primeiro, antes da pandemia, no final do ano de 2019, onde consegui captar as entrevistadas
perguntando aos colegas de sala se eram ou tinham algum conhecido nesse perfil de trabalhar
durante o dia e estudar no período noturno, e também foi desenvolvido um link que foi enviado
nos grupos de whatsapp do curso. Após isso, dei início às coletas na UECE, nos horários de
intervalo das aulas, de forma bem descontraída, onde durou entre 10 a 15 minutos.
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No segundo momento, pós pandemia, aconteceu no ano de 2023, participando de


um curso sobre Capitalismo contemporâneo, onde estavam presentes, principalmente,
estudantes do turno diurno, percebi a oportunidade de entrevistar estes também afim de fazer
um contraponto com a realidade do discente do turno da noite. De início foi perguntado aos
ouvintes (que não eram poucos), se tinha algum estudante do curso de serviço social do período
da noite que trabalhasse durante o dia, mas não tinha (como de esperado). E fazendo isso,
conseguimos perceber não só a diferença de vivência de aluno diurno e noturno, mas também
perceber que alunos da manhã, também tem suas dificuldades e queixas, pois muitos também
trabalham, mesmo que sejam com cargas horárias menores.
O roteiro da entrevista foi elaborado de forma semi-estruturada, pois de acordo com
Manzini (1990/1991, p.154), este tipo de entrevista está focalizada em um assunto sobre o qual
confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões
inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode
fazer emergir informações de forma mais flexível e nos dando a liberdade de conhecer melhor
sobre o assunto, e até mesmo trazendo problemáticas ainda não conhecidas. Pretendo aplicar a
entrevista com a técnica bola de neve, em que os indivíduos selecionados para serem estudados
convidam novos participantes da sua rede de amigos e conhecidos para também participarem
da pesquisa.
Para nenhuma informação passar despercebida, pedi autorização aos entrevistados
para fazer o uso de um gravador de voz durante a entrevista, pois para Gil (1999, p. 76):

[...] o único modo de reproduzir com precisão as respostas é registrá-las durante a


entrevista, mediante anotações ou com o uso de gravador. A anotação posterior à
entrevista apresenta dois inconvenientes: os limites da memória humana que não
possibilitam a retenção da totalidade da informação e a distorção decorrente dos
elementos subjetivos que se projetam na reprodução da entrevista.

Assim consegui prestar atenção, manter olhos nos olhos e observar todas as
expressões faciais e corporais e até os silêncios e pausas feitas, sem me preocupar em esquecer
as falas ao passar para o papel. As entrevistas foram norteadas por um roteiro com perguntas
de forma semiestruturada, ou seja, perguntas previamente definidas com a flexibilidade de
explorar temas emergentes durante a conversa. Essa abordagem proporciona uma maior
profundidade e compreensão do fenômeno estudado, deixando o entrevistado livre para entrar
em outros assuntos, por isso, ao detalhar os entrevistados no tópico a seguir, provavelmente
será possível notar diferença, pois até mesmo suas compreensões sobre as perguntas feitas são
diferentes, tendo que reformular as perguntas em algumas delas.
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2.4 Campo social da pesquisa

O estudo terá como cenário a Universidade Estadual do Ceará (UECE), uma


instituição de ensino superior pública localizada no estado do Ceará, Brasil, fundada em 1975,
que tem como objetivo principal promover a formação de profissionais qualificados, contribuir
para o desenvolvimento científico e tecnológico da região e promover a inclusão social por
meio da educação. É reconhecida como uma das principais universidades estaduais do país e
oferece uma ampla variedade de cursos de graduação, pós-graduação e extensão nas mais
diversas áreas do conhecimento. Seus cursos abrangem ciências humanas, ciências exatas,
ciências biológicas, ciências da saúde, ciências agrárias, engenharias e outras áreas relevantes
para o desenvolvimento socioeconômico da região.

Figura 1- Entrada principal da UECE

Fonte: elaborado pela autora

A universidade conta com 5 campis nas cidades do estado para que possa
proporcionar acesso à educação superior de qualidade, contribuindo assim para a
democratização do ensino. Sendo eles: Campus Itaperi: Localizado em Fortaleza, é o campus
principal da UECE e abriga a reitoria, a maioria das unidades acadêmicas e diversos setores
administrativos; Campus do Itaperi - Centro de Ciências e Tecnologia (CCT): também situado
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em Fortaleza, é onde se concentram os cursos voltados para as áreas de Ciências Exatas,


Tecnológicas e Engenharias; Campus Fátima: localizado em Fortaleza, abriga o Centro de
Educação e o Centro de Estudos Sociais Aplicados, oferecendo cursos nas áreas de Educação e
Ciências Sociais; Campus Mombaça: situado na cidade de Mombaça, no interior do Ceará, esse
campus abriga o Centro de Ciências da Saúde, oferecendo cursos na área da Saúde e Campus
Quixadá: localizado na cidade de Quixadá, no interior do Ceará, esse campus abriga o Centro
de Ciências e Tecnologia, oferecendo cursos nas áreas de Ciências Exatas, Tecnológicas e
Engenharias.
Essa pesquisa será feita especificamente no Campus do Itaperi, que conta com uma
estrutura acadêmica sólida, docentes qualificados e infraestrutura adequada para o
desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Figura 2 - Campus Itaperi-Bloco I-salas de aula do curso de graduação em Serviço


Social

Fonte: elaborado pela autora

A criação do curso de Serviço Social teve origem na Escola de Serviço Social


vinculada ao Instituto Social de Fortaleza e administrado pela Congregação da Sociedade das
Filhas do Coração de Maria, tendo como data oficial de sua criação 25 de março de 1950. Ainda
em seus primeiros anos, o curso esteve agregado à Universidade Federal do Ceará – (UFC),
permanecendo durante longos 18 anos, quando foi integrada à Fundação Educacional do Estado
20

do Ceará (FUNECE) que tomou as diligências necessárias à sua incorporação, através do


Decreto nº 11.233/75 de 10/03 do então Governador César Cals de Oliveira. Com a
incorporação à Universidade Estadual do Ceará (UECE), a partir de 1975, o Curso de Serviço
Social passou a integrar o conjunto de cursos do Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA).
De acordo com informações cedidas pela coordenação, o curso conta atualmente com 34
professores, e 09 laboratórios de pesquisa, sendo eles: Centro de Estudos do Trabalho e
Ontologia do Ser Social (CETROS);Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética
(LABVIDA); Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família
(NUAFRO); Laboratório de Estudos e Pesquisas em Seguridade Social (LASSOS); Laboratório
de Pesquisas e Estudos em Serviço Social (LAPESS); Núcleo de Acolhimento Humanizado às
Mulheres Vítimas de Violência (NAH); Núcleo de Pesquisas Sociais (NUPES); Observatório
Juventude, Educação Profissional e Trabalho (JEPTRA); Observatório de Violência contra a
Mulher (OBSERVEM).
O fluxo curricular conta com 9 semestres, com duração de 4 anos e meio, como
podemos ver na imagem abaixo:

Figura 3 - Fluxo curricular atual.

Fonte: elaborado pela autora

Em 2019, no período pandêmico, a instituição ficou alguns meses sem ter aula até
encontrar estratégias para dá continuidade ao ensino a fim de conter o aumento da evasão, e
21

uma delas foi a transição para o ensino remoto emergencial, onde deu continuidade às
atividades acadêmicas, e juntamente também vieram algumas dificuldades pelo fato dessa
transição ter sido de forma repentina, exigindo uma adaptação imediata tanto por parte da
instituição, como também dos professores e estudantes para a utilização de plataformas online
e metodologias de ensino à distância, sendo importante ressaltar o impacto sobre a interação
entre professores e estudantes, pois com a ausência do ambiente presencial, como a sala de aula
e a interação direta, afetou a dinâmica de ensino e aprendizagem, bem como a troca de
experiências e o desenvolvimento de habilidades sociais.
Não podendo esquecer a questão de acesso desigual à tecnologia, e principalmente
a questão dos desafios emocionais e psicológicos, pois a pandemia trouxe consigo um impacto
significativo na saúde mental e emocional dos estudantes e professores, por conta das
preocupações em não saber a real situação, e principalmente por conta do isolamento social, o
que inclusive prejudicou a questão das atividades práticas e estágios, pois as instituições
parceiras adotaram algumas restrições, levando até ao fechamento.
Além de toda essa conjuntura acontecendo, ainda tivemos o fato de que no governo
do ex presidente Jair Bolsonaro houve uma falta de priorização e investimento adequado na
área da educação, principalmente, no ensino superior, pois não foi dado suporte tecnológico e
recursos financeiros para garantir a continuidade das atividades acadêmicas necessárias, para o
apoio às instituições de educação como um todo, e particularmente a educação superior.
Resultando em corte de bolsas de assistência estudantil, que são importantes para auxiliar
financeiramente os estudantes em suas despesas básicas, e de bolsas de extensão e de pesquisas
científicas, que são de extrema importância para o desenvolvimento do estudante e para as
inovações científicas que são importantes para o avanço do país.
Após a pandemia ser controlada, as aulas presenciais foram retomadas de forma
gradual, adotando protocolos de segurança e determinações específicas para o retorno seguro
dos servidores e alunos da Universidade Estadual do Ceará.
Abaixo temos uma tabela retirada do site da uece, conhecida como “UECE em
números”, onde conta com informações gerais da universidade atualizadas até 2021:
22

Figura 4 – UECE em números 2021

Fonte:file:///C:/Users/sam/Downloads/UECE_em_Numeros_2021_bysan_A_VERSA%CC%83O_FINAL01__1
_.pdf

De acordo com os dados fornecidos, o total de profissionais docentes na


Universidade Estadual do Ceará (UECE) em 2021 é de 1.059, considerando tanto os docentes
efetivos como os docentes com contratação temporária. É importante ressaltar que esses
números podem variar ao longo do tempo devido a contratações, aposentadorias e outras
mudanças na equipe docente.

2.5 Perfil dos entrevistados

No período em que a pesquisa foi iniciada, em 2018, a Universidade Estadual do


Ceará (UECE) contava com um total de 15.030 alunos matriculados, dos quais 746 estavam no
curso de Serviço Social. Dentre esses estudantes, 383 pertenciam ao período noturno, enquanto
os demais frequentavam as aulas no período diurno. Desde então, o número de estudantes
matriculados na universidade aumentou para 17.146, sendo 837 no curso de Serviço Social,
com 435 deles no turno noturno, de acordo com as informações fornecidas pelo DEG
(Departamento de Ensino de Graduação).
23

Com o intuito de garantir a representatividade da amostra, a seleção dos


entrevistados foi baseada em critérios específicos. Priorizamos a inclusão de estudantes
matriculados no curso de Serviço Social noturno, uma vez que esse grupo enfrenta desafios
particulares devido ao horário de aulas e à necessidade de conciliar os estudos com o trabalho
diurno. Além disso, buscamos abranger uma variedade de perfis, considerando fatores como
idade, gênero, tempo de trabalho, carga horária e área de atuação profissional.
Ao todo, foram convidadas sete alunas do curso de Serviço Social da UECE para
participar da pesquisa. Dessas, quatro eram estudantes do período noturno, como mencionado
anteriormente, e trabalhavam de 6 a 8 horas por dia. As outras três alunas pertenciam ao período
diurno, sendo que duas delas não trabalhavam e uma trabalhava apenas no período da tarde.
Essa abordagem permitiu explorar as diferenças existentes entre os dois grupos e compreender
as particularidades dessa dinâmica
É relevante mencionar que, ao longo dos semestres, as turmas do curso de Serviço
Social têm uma redução no número de alunos no período diurno, enquanto o período noturno
tende a ter um aumento no número de matrículas, além das solicitações de matrículas dos
estudantes originários do turno diurno nas disciplinas e outros componentes curriculares
noturnos. Isso ocorre devido a diversos fatores, sendo o principal deles a necessidade dos alunos
de conciliarem o trabalho com os estudos. Essa realidade contribui para uma dinâmica
específica, apresentando desafios únicos para os estudantes que escolhem essa modalidade.
Estudar à noite exige uma gestão cuidadosa do tempo e dos compromissos diurnos, uma vez
que os alunos precisam conciliar suas atividades profissionais durante o dia com as demandas
acadêmicas durante a noite. Além disso, a concentração e o foco podem ser comprometidos
após um longo dia de atividades, exigindo disciplina adicional para manter o desempenho
acadêmico.
O curso de Serviço Social da UECE foi um dos primeiros cursos oferecidos pela
universidade, e ao longo de sua trajetória, foram observadas algumas mudanças significativas
no perfil dos estudantes. Inicialmente, o curso era predominantemente frequentado por
mulheres. Isso se deve à própria história da profissão, que emergiu como uma resposta às
demandas sociais femininas, principalmente no contexto de urbanização e industrialização. As
mulheres encontraram no Serviço Social uma oportunidade de inserção no mercado de trabalho,
atuando em áreas como assistência social, saúde e educação. No entanto, ao longo dos anos,
esse cenário tem passado por transformações, reflexo dos movimentos feministas que têm
ganhado espaço na sociedade. Assim, é possível observar um aumento, ainda que pequeno, da
24

presença de estudantes do gênero masculino no curso. Abaixo temos uma tabela com as
características das entrevistadas:

Tabela 1- Perfil socioeconômico das entrevistadas


NOME IDADE ESTADO CIVIL COR RENDA FAMILIAR

Entrevistada A 32 Solteira Parda 1 a 3 salários mínimos

Entrevistada B 22 Solteira Parda 1 salário mínimo

Entrevistada C 22 Solteira Parda 4 a 5 salários mínimos

Entrevistada D 38 Solteira Preta 1 a 3 salários mínimos

Entrevistada E 22 Solteira Branca 2 a 4 salários mínimos

Entrevistada F 21 Solteira Parda 1 a 3 salários mínimos

Entrevistada G 20 Solteira Preta 1 a 3 salários mínimos


Fonte: elaborado pela autora

Após a realização das entrevistas, foi feita a transcrição das falas dos entrevistados,
a fim de coletar os dados necessários para relacioná-los aos conceitos e teorias discutidos. Em
seguida, os dados foram analisados, destacando-se as principais descobertas, tendências
identificadas e contribuições para a compreensão da temática em questão. O objetivo foi obter
uma visão abrangente das experiências e desafios enfrentados por esses estudantes na
conciliação entre trabalho e universidade.
É importante ressaltar que todas as informações compartilhadas pelos entrevistados
foram tratadas de forma anônima e confidencial. Os nomes e quaisquer outros detalhes
identificáveis foram mantidos em sigilo, a fim de preservar a privacidade dos participantes. Os
resultados e as conclusões da pesquisa serão apresentados de forma agregada, sem expor a
identidade individual dos entrevistados.
A seguir, descreveremos o perfil de cada entrevistado, destacando alguns pontos
principais de suas experiências, a fim de proporcionar uma visão mais detalhada sobre os
estudantes trabalhadores envolvidos nesta pesquisa.

Entrevistada A- É do sexo feminino, 32 anos, heterossexual, parda, natural de Limoeiro do


Norte, mas aos 22 anos veio morar em Fortaleza com suas tias em busca de uma vida melhor,
mas hoje em dia já mora sozinha, solteira, não sabe informar o semestre que está por conta do
25

atraso que teve referente às greves, aos horários ofertados pelo curso onde a mesma não pôde
realizar por conta do trabalho e também por motivos pessoais. Começou a trabalhar antes de
ingressar na UECE, quando ainda tinha só 18 anos e considera que o trabalho afeta o rendimento
e a participação no curso, especialmente no período noturno. Trabalha de 08h30min às
18h30min como consultora de vendas, onde sua renda é variável, pois depende das comissões,
oscilando entre um e meio e três salários mínimos. Relata que consegue estudar nos seus
períodos de tempo livre no trabalho, e também no final de semana. Acredita que a instituição
não facilita a vida do estudante trabalhador, pois muitas atividades são disponibilizadas apenas
durante o dia.

Entrevistada B- É do sexo feminino, 22 anos, parda, heterossexual, mora com sua mãe, duas
irmãs e três sobrinhos. Trabalha de 07h30min as 17h30min como atendente em um consultório
de odontologia, onde sua a renda familiar é um pouco mais de um salário mínimo, pois recebe
também o valor de três bolsas família e pensão dos sobrinhos. Quando entrou na UECE já
trabalhava, mas como jovem aprendiz, e quando finalizou teve que procurar outro emprego,
tendo que mudar seu turno de estudos, pois primeiramente era diurno, mas por conta do novo
emprego passou a ser noturno para conseguir conciliar, o que lhe proporcionou alguns atrasos,
inclusive já era para estar formada. A estudante afirma que já pensou em desistir de estudar
para somente trabalhar, pois é cansativo, estressante e não está vendo muitas expectativas no
curso, porém não desistiu ainda por conta da realização pessoal e profissional.

Entrevistada C- É do sexo feminino, 22 anos, parda, heterossexual, natural de Maranhão, mas


reside em Fortaleza á uns 10 anos, mora com a mãe, padrasto e irmã, chegam a ter uma renda
familiar entre 4 a 5 salários mínimos. Quando ingressou na UECE já trabalhava como jovem
aprendiz pela manhã, mas ao ser efetivada, teve dificuldades em conciliar a carga horária.
Acredita que o trabalho pode interferir no processo de ensino-aprendizagem e que as
oportunidades são diferentes para aqueles que têm disponibilidade integral. Concilia os estudos
nos intervalos de almoço, finais de semana, feriados e durante o trajeto de ônibus. Relata que
não consegue participar de nenhuma atividade complementar que a universidade oferece e que
também está com alguns semestres atrasados, impactando no seu desenvolvimento acadêmico.
Vê a relação entre trabalho e estudos como desafiadora e enriquecedora, pois a academia
fornece teoria, enquanto o trabalho oferece uma visão de mundo mais ampla.
26

Entrevistada D- Sexo feminino, 38 anos, negra, heterossexual, mora com o irmão. Começou
a trabalhar antes de ingressar na universidade. Atualmente trabalha de 06h00min às 14 horas
de domingo a domingo como operadora de caixa e faz estágio obrigatório nas quartas-feiras o
dia quase todo. Relata que está atrasada no curso por conta do trabalho, e que esse fator também
interfere na sua capacidade de aprender, afirmando ser muito cansativo, mas que não pensa
desistir, porque vê progresso a cada semestre e por necessidade financeira. Vê o trabalho e a
universidade como essenciais para seu futuro e busca algo melhor, como um concurso público.
Relata que a instituição não facilita a vida dos estudantes trabalhadores, especialmente com a
nova grade curricular e a obrigação de cursar disciplinas atrasadas.

Entrevistada E- Sexo feminino, 22 anos, branca, heterossexual. Mora em uma região


metropolitana de Fortaleza, vai e volta para a UECE todos os dias. Optou por não trabalhar
enquanto estuda na UECE, pois teve experiências negativas no ensino médio, onde o trabalho
atrapalhou seu desempenho, dessa forma, recebe ajuda financeira dos seus pais. Relata perceber
diferenças entre o turno diurno e noturno, começando pela carga horária, e que não acha que a
instituição considere essas condições específicas dos estudantes trabalhadores. Acredita que o
trabalho pode trazer cansaço e desmotivação, e conhece pessoas que desistiram ou trancaram a
faculdade por conta disso. Afirma que até o momento só vê trabalho como fonte de renda. Por
fim, considera que sua formação acadêmica será um diferencial no mercado de trabalho.

Entrevistada F- Sexo feminino, 21 anos, heterossexual, está no quarto semestre do período


diurno, trabalha das 13 às 17 horas em um projeto da prefeitura, para poder conseguir se manter
no curso, já que não conseguiu nenhuma bolsa na universidade ainda. Sua renda é destinada
principalmente para despesas relacionadas à faculdade, como transporte, cópias e alimentação.
Começou a trabalhar no terceiro semestre e sempre esteve envolvida em atividades
extracurriculares, como dar reforço escolar. Relata que atualmente está fazendo 1 cadeira no
período da noite, e que é notório a diferença da aprendizagem, e que seu dia fica bem mais
corrido quando tem a aula a noite. Afirma que se pudesse só estudava, pois o curso requer muita
atenção, leitura, o que é bem difícil para conciliar. Acredita que a instituição não considera as
condições específicas dos estudantes trabalhadores, com eventos, palestras e reuniões
realizados em horários incompatíveis com o trabalho.A formação superior é importante para
ela tanto em um aspecto pessoal, sendo uma das primeiras em sua família a entrar em uma
universidade pública, quanto para o profissional, pois deseja trabalhar na área em que estuda.
27

Entrevistada G- sexo feminino, 20 anos, bissexual, está no quarto semestre do período diurno.
Já foi bolsista durante 10 meses, e após ficar sem a bolsa começou a trabalhar para continuar se
mantendo, mas devido a dificuldade de conciliar, decidiu abrir mão do trabalho e se dedicar
apenas aos estudos, focando encontrar outra bolsa dentro da universidade para que não precise
ficar dependendo dos familiares. Acredita que o trabalho interfere no processo de ensino-
aprendizagem, pois o cansaço dificulta a atenção nas aulas e o rendimento acadêmico. Já fez
disciplinas à noite e percebeu que as pessoas estão mais cansadas e menos propensas a participar
das aulas devido ao cansaço. Afirma que a instituição não pensa nos estudantes trabalhadores,
citando os horários das palestras e a dificuldade em obter horas complementares para aqueles
que estudam à noite.A importância do trabalho para ela está relacionada à renda, e que a
formação superior é importante para ela por uma questão de representatividade, sendo a
primeira em sua família a ingressar em uma universidade pública. Acredita também que a
universidade abrirá portas para conquistar um futuro melhor, e que deseja trabalhar na área,
pois se isso não acontecer se sentirá frustrada.
De acordo com os dados coletados na pesquisa e referências teóricas analisadas,
fica evidente que o curso de Serviço Social apresenta uma forte predominância do gênero
feminino, como já foi comentado acima. De acordo com alguns autores, isso se deve a fatores
históricos, estereótipos de gênero, já que o curso se deu início através de cuidados e assistências,
tarefas culturalmente destinadas às mulheres.
Ao analisar o perfil socioeconômico dos estudantes do curso de Serviço Social,
constatei que muitos deles possuem rendas semelhantes, situando-se em uma faixa de 1 a 3
salários mínimos. Essa observação revela uma importante característica do grupo de estudantes
e aponta para possíveis reflexões. Em primeiro lugar, é importante considerar que a renda dos
estudantes pode influenciar diretamente suas condições de acesso à educação superior. Para
aqueles com renda familiar mais baixa, materiais didáticos, transporte e despesas relacionadas
podem representar um desafio significativo. A necessidade de conciliar estudos e trabalho para
custear os estudos também pode impactar a disponibilidade de tempo e energia para o
envolvimento acadêmico. Essa concentração de estudantes com rendas similares no curso de
Serviço Social também pode refletir uma busca por formação profissional que esteja em
sintonia com as realidades e demandas das classes trabalhadoras e grupos vulneráveis, já que
essa área tem como foco a promoção da justiça social e a defesa dos direitos humanos, e
estudantes vindos de contextos socioeconômicos mais modestos podem se sentir motivados a
contribuir e intervir nas situações de desigualdade que permeiam suas próprias vidas e
comunidades.
28

Diante desse perfil socioeconômico dos estudantes do curso de Serviço Social, é


fundamental que as instituições de ensino e os profissionais da área estejam atentos às
necessidades específicas desse grupo para investir cada vez mais em políticas de assistência
estudantil, como bolsas de estudo, programas de auxílio financeiro e acesso a serviços de apoio,
pois são de extrema importância para garantir a igualdade de oportunidades e a permanência
desses estudantes no curso. Além disso, é relevante que o currículo do curso de Serviço Social
aborde de forma sensível e crítica as questões relacionadas à desigualdade socioeconômica, à
pobreza, ao acesso aos direitos sociais e ao trabalho, para que possa contribuir a modo que esses
estudantes problematizem e compreendam as realidades que vivenciam, buscando caminhos de
transformação social por meio do exercício profissional.
Das 7 entrevistadas, 6 se consideram pardas, e 1 negra, o que me fez refletir que é
fundamental reconhecer que a predominância de estudantes pardos no curso de Serviço Social
é reflexo da composição étnico-racial da população brasileira e das desigualdades sociais
presentes no país. A população parda no Brasil é ampla e compreende uma diversidade de
experiências e vivências, sendo historicamente afetada pela discriminação e pela exclusão
social.
Não podemos deixar de destacar a notória diferença de idade entre essas alunas
escolhidas, pois como pode-se observar na tabela, temos alunas com 20, 21,22,32 e até mesmo
38 anos, e de acordo com os dados analisados, pode-se dizer que alunos com idades menores,
tiveram um acesso menos demorado a Universidade pelo fato de terem tido dos pais ou
familiares que custeasse seus estudos, não precisando ser a fonte principal de renda da casa,
diferentes desses alunos mais velhos, que muitas vezes precisam primeiramente trabalhar para
conquistar uma moradia, uma certa estabilidade, para depois investir nos estudos. É importante
destacar que essas são apenas algumas possíveis razões, baseadas nas alunas entrevistadas, e
que essa diversidade de faixas etárias entre os estudantes do curso de Serviço Social pode variar
de acordo com o contexto geral da UECE e da população estudantil. Apesar dessas
circunstâncias, é importante salientar que mesmo com realidades diferentes, há algo em comum
entre todas elas:o objetivo é o mesmo, conseguir um diploma a fim de conseguir um futuro
melhor.
29

3 TRABALHO E UNIVERSIDADE: O ENSINO NOTURNO COMO ALTERNATIVA

Este capítulo, intenciona realizar um apanhado geral sobre a discussão dos


conceitos trabalho e universidade a partir da concepção dos autores que discutem tais temáticas
situando-as no contexto contemporâneo brasileiro, onde serão aprofundados ao longo do
desenvolvimento do capítulo.
Entre as muitas abordagens que vêm sendo feitas sobre esta ordem de questões,
Chauí (1999) traz importantes contribuições ao avaliar as implicações da relação da
universidade com o mundo do trabalho e com os processos formativos no âmbito da sociedade.
A fragilidade e as tensões com que as universidades vêm-se deparando, ultimamente, frente às
exigências da sociedade, que apresentam, de um lado, déficits em relação à aprendizagem e ao
conhecimento, e de outro, problemas de interação com o desenvolvimento social e com o
mundo do trabalho, revelam contradições que estão comprometendo tanto a universidade
quanto as instituições da sociedade. É de extrema importância ressaltar que quando Chauí
(1999) fala “universidade de resultados”, ela refere-se à questão da falta de preocupação com a
qualidade do ensino, pois está sendo direcionada para a pesquisa, produtividade e
competitividade, ou seja, adotando o modelo do mercado para determinar a qualidade e a
quantidade das pesquisas. Segundo Chauí (1999) a universidade desempenha um papel crucial
na formação de profissionais e intelectuais, sendo responsável por desenvolver o pensamento
crítico, a capacidade de reflexão e a promoção da transformação social. Ela ressalta que a
formação universitária não deve se restringir apenas à aquisição de conhecimentos técnicos,
mas também deve estimular a consciência social e a participação ativa na sociedade.
A relação interna ou expressiva entre a universidade e a sociedade é a que explica
o fato de que a universidade pública sempre foi, desde o início, uma instituição social. Isto é,
uma ação social, uma prática social baseada no reconhecimento público da sua legitimidade e
das suas atribuições, fundada em um princípio de diferenciação que lhe assegura autonomia
com respeito a outras instituições sociais. É estruturada de acordo com a legislação, normas,
regras e valores do reconhecimento e legitimidade internos.

Em um contexto econômico caracterizado por mudanças e pelo surgimento de novos


paradigmas de produção baseados no conhecimento e suas aplicações, e no tratamento
da informação, os vínculos entre educação superior, mundo do trabalho e outros
setores da sociedade deveriam ser fortalecidos e renovados. (UNESCO, 1999).
30

Essa citação ressalta a importância de uma estreita relação entre a educação


superior, o mundo do trabalho e outros setores da sociedade, visando atender às demandas do
contexto econômico, promover a inovação, e contribuir para o desenvolvimento social e
econômico do país, compreendendo que, diante das transformações econômicas e tecnológicas,
a relação entre a educação superior e o mundo do trabalho precisa ser repensada e fortalecida.
Isso significa que as instituições de ensino superior devem estar atentas às demandas e
necessidades do mercado de trabalho, buscando uma formação acadêmica que esteja alinhada
com essas mudanças. Nesse sentido, a universidade não deve se limitar apenas ao ensino e à
pesquisa, mas também deve estar engajada em questões sociais, econômicas e culturais,
contribuindo para o desenvolvimento da sociedade como um todo.
As relações entre educação superior e mundo do trabalho, setor produtivo e
sociedade civil, de modo geral, são desafios enfrentados pela educação superior. O tema das
relações entre universidade e setor produtivo está estreitamente relacionado com a pertinência
da educação superior, a saber, sua capacidade de responder às necessidades de todos os setores
da sociedade, entre eles ao mundo do trabalho ou emprego. Sem dúvida, as instituições de
educação superior precisam ver com muita atenção a natureza mutável do mundo do trabalho,
pois “As exigências do mundo do trabalho” deixaram claro: a “empregabilidade” requer ênfase
nas capacidades e flexibilidade na formação. Embora o mercado de trabalho demande
habilidades cognitivas básicas, ele atribui também grande importância às habilidades afetivas e
comportamentais. O perfil do profissional universitário desenhado pelos estudos da
Organização Europeia para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) é o de um profissional
preparado dentro de um currículo flexível, com capacidade cognitiva de resolução de
problemas, adaptável às mudanças e a novos processos tecnológicos, com boa dose de
criatividade e atitude mental que aceite a educação por toda a vida.
Compreende-se aqui que a relação entre trabalho e educação é indissolúvel, pois os
processos de formação da subjetividade humana estão diretamente relacionados à objetividade
de sua existência. Não se pode desvencilhar a atividade de transformação do mundo do processo
de formação do ser. Saviani, sobre essa relação, observa que:

[...] O homem não nasce homem. Ele se forma homem. Ele não nasce sabendo
produzir-se como homem. Ele necessita aprender a ser homem, precisa aprender a
produzir sua própria existência. Portanto, a produção do homem é, ao mesmo tempo,
a formação do homem, isto é, um processo educativo. A origem da educação coincide,
então, com a origem do homem mesmo (SAVIANI, 2006, p. 4).
31

O autor enfatiza que o homem precisa aprender a ser homem e a produzir sua
própria existência. Isso significa que a formação humana está intrinsecamente ligada ao
processo educativo, pois é por meio da educação que o indivíduo adquire conhecimentos,
habilidades e valores necessários para se desenvolver plenamente como ser humano. A
separação da dimensão produtiva do homem da sua dimensão formativa, de “trazer à luz”, tem
origem na divisão social e técnica do trabalho. Tomar esta separação como natural representa
assumir que a alguns cabe à tarefa de produzir e a outros a tarefa de pensar.

3.1 Conceitos de trabalho

O trabalho, analisado no seu conjunto é compreendido como fenômeno social, não


desaparece; sofre metamorfoses. A diminuição do trabalho estrutural, particularmente na
indústria tradicional, e sua expansão no setor de serviços é consequência das transformações no
chamado mundo do trabalho ocasionado, principalmente pelas modificações do sistema fordista
para o toyotismo e da chamada liofilização orgânica do capital, ou seja, a substituição do
trabalho vivo pelo trabalho morto, pela inserção massiva do uso da tecnologia.
Braverman (1974) identifica o trabalho como uma atividade transformadora,
consciente, social e ontológica. Para este cientista social é por meio do trabalho que o ser
humano transforma a matéria-prima da natureza em produtos úteis, agindo de forma consciente
e intencional, diferentemente dos outros animais cujo trabalho é guiado por instinto, destacando
que o trabalho é uma atividade que permeia a experiência humana em diferentes contextos e
relações sociais. Além disso, ele argumenta que o trabalho não apenas transforma o mundo
externo, mas também modifica a própria natureza humana, conferindo-lhe uma função
ontológica. Em outras palavras, o trabalho não é apenas uma atividade produtiva, mas também
uma atividade que molda e define a própria identidade e essência do ser humano:

O trabalho é sobretudo, um fenômeno que une o homem e a natureza. Um fenômeno


no qual o homem adapta, dirige e controla a troca de matéria que faz com a natureza.
Age perante a matéria natural como uma força natural. As forças naturais que
pertencem ao seu corpo, os seus braços e as suas pernas, a sua cabeça e as suas mãos,
movimenta-se para se apropriar da matéria natural sob uma forma que possa servir a
sua própria vida. Agindo sobre a natureza que lhe é exterior através desse movimento
e transformando-a, transforma também sua própria natureza (MARX, 1977, p. 197).

Marx nos mostra que o trabalho é um elemento central na relação do ser humano
com a natureza, não apenas como uma atividade econômica, mas também como um meio de
auto realização e transformação tanto da natureza quanto do próprio ser humano. O trabalho é,
32

portanto, o fundamento da vida humana, é a atividade de mediação entre o homem e a natureza


e resulta como produto do trabalho humano não apenas os objetos e serviços úteis, mas também
o Estado, as cidades e as nações. Compreende-se assim o trabalho enquanto atividade
consciente e social por meio da qual o homem regula e transforma a natureza em bens
necessários à sua sobrevivência e, como resultado deste metabolismo, o homem acaba por
construir a si próprio e a estrutura social com seu arcabouço jurídico-político.
A alteração dos meios de trabalho, alterando também as relações entre os homens,
muda as condições sociais em que a produção ocorre. O trabalho cria o homem, potencializa
sua força produtiva e lança as bases em que se estabelecem as relações sociais (RUY, 1997).
Para se compreender a sociedade, portanto, sua estrutura social, jurídica e política, é necessário
que se volte os olhos para as relações de trabalho, para o modo e os meios com que se realiza a
produção material, pois os meios de trabalho não são só medidores do grau de desenvolvimento
da força de trabalho humano, mas também indicadores das condições sociais nas quais se
trabalha (MARX, 1983).
O surgimento da sociedade de classes fez surgir ainda no mundo antigo dois tipos
de educação, dois processos diferenciados de formação humana. Um para elites, orientado para
o desenvolvimento de capacidades intelectuais superiores, e outro voltado para os
trabalhadores, focado no próprio processo de trabalho, capaz de desenvolver apenas
capacidades elementares e instrumentais. Portanto, não é ao trabalhador que interessa a
cristalização desta separação entre trabalho e educação ou entre educação para o trabalho e
educação para a governança.
À proporção que a sociedade se desenvolve, o sistema normativo é substituído por
formas mais complexas, por necessidades mais complexas, dado que, surge a propriedade
privada, a divisão social do trabalho, a sociedade de classes, que irão apresentar novas
exigências de integração social. Pode-se observar que nas sociedades de classes, já não se é
mais possível valores comuns. Nas comunidades primitivas, a integração social significava a
unidade entre os membros da comunidade, mas também uma subordinação do indivíduo ao
coletivo, de tal forma que não existia praticamente a individualidade. Não significa dizer que
todos pensassem da mesma forma, mas as condições de representar o bem comum, se tornaram
uma forma dominante.
A existência desses valores homogêneos tornou-se um fator limitador do
desenvolvimento moral, pois propagava poucas possibilidades de escolhas e alternativas. Esses
indivíduos eram subordinados ao coletivo. Quando surge a sociedade de classes e seus
antagonismos, assume-se outras formas ideológicas e outros modos de ser. O indivíduo já nasce
33

em uma sociedade cercada de normas e valores e através da escola, da família, ele aprende uma
série de comportamentos e valores que passam a fazer parte do seu referencial moral e de seu
ethos ou caráter, que irão influenciar e orientar suas escolhas. Apesar do indivíduo estar
subordinado socialmente a determinadas exigências morais, não significa que ele aceita tudo o
que está posto, muitas vezes, ele se opõe. Nenhuma sociedade se reproduz sem normas de
convivência (BARROCO, 2008).
“Quando afirmo ou nego, convivo, proíbo ou aconselho, amo ou odeio, desejo ou
abomino, quando quero obter ou evitar alguma coisa, quando rio, choro, trabalho, descanso,
julgo ou tenho remorsos [...]” (BARROCO, 2008, p. 64). Essa passagem afirma que em todas
as ações, atitudes, o indivíduo é sempre orientado por algum valor. No dia a dia, nas relações
sociais, seja no trabalho, na família, etc, o indivíduo é sempre confrontado com algumas
exigências, que põem em movimento seus sentimentos, consciência, racionalidade,
subjetividade, enfim. Na qual ele pode ou não responder moralmente a tais questões. Podendo
agir ou não também. Todo homem é um ser ético, quer se manifeste ou não.
Assim sendo, todo indivíduo é simultaneamente singular e humano-genérico. Como
ser singular, volta-se para as bases de autoconservação de si mesmo. O trabalho será uma parte
significativa, em termos do desenvolvimento humano-genérico e expressa a universalidade do
ser social e a sua singularidade alienada, no cotidiano. Não é na singularidade que o ser humano
se expressa como representante do gênero humano, pois este responde de forma própria a
dinâmica de integração social (BARROCO, 2008).
A utopia de uma sociedade do trabalho, dos trabalhadores, exige um modelo
formativo que reconheça o trabalho como atividade criadora de bens e serviços, mas, também,
criadora do próprio homem. Trata- se de valorizar o trabalho e o trabalhador. Também isto é
uma exigência para quem pensa a formação de professores à luz da necessidade de um sistema
educativo, incluindo a universidade, que interessa aos trabalhadores.
Na sociedade atual, transformações complexas do trabalho aparecem como fonte
geradora de tensão e sobrecarga física e psíquica, sendo que tais transformações refletem nos
sistemas educativos, afetando em maior ou menor grau seu quadro docente, prejudicando
relações profissionais e interpessoais, levando deterioração crescente da qualidade de vida nos
diversos âmbitos do trabalho humano.
Analisando as falas das entrevistadas, muitas falam sobre saúde mental, temática
bastante discutida atualmente pelo fato de ter aumentado de forma significativa, podendo ser
ocasionada por diversos fatores, incluindo o contexto socioeconômico, as demandas
acadêmicas, a pressão por desempenho, a competição, as incertezas em relação ao futuro e os
34

desafios pessoais. Os estudantes enfrentam uma série de exigências, como cumprir prazos, lidar
com a carga horária de estudos exaustivas, conciliar vida acadêmica e pessoal, e enfrentar o
estresse e a pressão relacionados às avaliações e notas. Além disso, as expectativas sociais e
familiares em relação ao desempenho acadêmico podem aumentar o nível de estresse e
ansiedade, tornando os problemas de saúde mental entre os estudantes cada vez mais comuns.
A ansiedade, o esgotamento emocional, o cansaço físico e a falta de vontade de interagir, são
alguns dos desafios enfrentados e relatados pelas entrevistadas quando é perguntado sobre quais
as maiore dificuldades enfrentadas no curso:

“A gente abre mão de uma vida social, abre mão de lazer. Estou estagiando
agora e está uma coisa de louco. Uma semana que a gente tem trabalho, aula,
você ainda ter que fazer 238 horas de estágio por semestre é loucura.”
(ENTREVISTADA A).
“No primeiro momento tem a questão da exaustão né. A pessoa já chega com
uma rotina de 8 horas, não só exaustão física, mas também a mental.”
(ENTREVISTADA B).
“Não participar de todos os espaços, todos os eventos, principalmente em
relação a essas horas complementares.Muita gente adquire essas outras com
os eventos que a uece proporciona, mas quem trabalha o dia todo não tem essa
oportunidade de tá aqui, lógico que tem a noite, mas é muito complicado,
porque se tem um diazinho que não tem aula você já quer ir pra casa para
descansar. (ENTREVISTADA C).
“Em relação às dificuldades, é o tempo mesmo, que não tenho. O cansaço, a
carga horária do estágio. Então não tenho tempo pra estudar.”
(ENTREVISTADA D).
“Eu acho que principalmente cansaço e desmotivação, porque tem muita gente
que conheço do nosso curso que acabou desistindo ou trancou a faculdade por
conta do trabalho, não conseguiu aguentar.” (ENTREVISTADA E).
’’Cansaço mental, e um pouco físico também, mas principalmente mental.”
(ENTREVISTADA F).
“Como você fica desgastada, você não consegue nem prestar atenção direito
nas aulas. Acorda cedo, só dá vontade de dormir nas aulas, não tem como ter
uma boa aprendizagem.” (ENTREVISTADA G).

A fala da entrevistada “A” evidencia a necessidade de abrir mão de aspectos


importantes da vida pessoal, como vida social e lazer, devido à sobrecarga de atividades,
destacando também a carga horária exigida pelo estágio, que é considerada excessiva, gerando
uma rotina intensa e estressante.
Nessa fala da entrevistada “B” ela destaca a exaustão como uma questão central,
ressaltando que os estudantes trabalhadores enfrentam não apenas cansaço físico, mas também
exaustão mental, já que chegam à universidade após uma jornada estressante de trabalho.
A fala da entrevistada “C” ressalta a dificuldade enfrentada pelos estudantes que
trabalham em participar de todos os espaços e eventos oferecidos pela universidade,
especialmente no que diz respeito à obtenção de horas complementares. Ela menciona que
35

muitas pessoas conseguem adquirir essas horas participando dos eventos promovidos pela
UECE, porém, para aqueles que trabalham durante o dia, essa oportunidade se torna limitada.
Mesmo considerando a possibilidade de participar de eventos à noite, a entrevistada destaca
que é bastante complicado, pois após um dia inteiro de trabalho, há o desejo de retornar para
casa e descansar, tornando difícil a disponibilidade para frequentar tais atividades. Além disso,
a fala ressalta a necessidade de se valorizar o descanso e o equilíbrio entre trabalho e estudo,
reconhecendo que os estudantes trabalhadores precisam de tempo para se recuperar e se dedicar
tanto às atividades profissionais quanto acadêmicas.
A fala da entrevistada “D” destaca a falta de tempo como uma das principais
dificuldades enfrentadas pelos estudantes trabalhadores. A carga horária do estágio e o cansaço
contribuem para a falta de tempo dedicado aos estudos, o que pode afetar o desempenho
acadêmico.
A entrevistada “E” também menciona o cansaço e a desmotivação como fatores que
influenciam na evasão dos estudantes trabalhadores. Ela destaca que muitos colegas de curso
desistiram ou trancaram a faculdade devido às dificuldades em conciliar trabalho e estudo.
A entrevistada “F” destaca o cansaço mental como a forma predominante de
exaustão enfrentada pelos estudantes trabalhadores. Ela ressalta que o esforço mental para lidar
com as demandas acadêmicas após um longo dia de trabalho pode ser desafiador.
A fala da entrevistada “G” destaca o impacto do desgaste físico e mental causado
pela jornada dupla de trabalho e estudo. Ela menciona que essa exaustão afeta sua capacidade
de prestar atenção nas aulas e dificulta o processo de aprendizagem. Ressalta que acordar cedo
e lidar com o cansaço durante as aulas compromete sua habilidade de se concentrar e absorver
o conteúdo de forma adequada. Essa entrevistada é aluna da manhã, que atualmente não trabalha
pois não conseguiu conciliar trabalho com estudos, ainda nessa fala, ela fez uma diferenciação
de quando fez cadeiras pela noite e pela manhã, afirmando que os estudantes diurnos são mais
“enérgicos”, enquanto os da noite parecem não ter energia para participar das aulas.
Essas análises individuais destacam a prevalência do cansaço, tanto físico quanto
mental, e a falta de tempo como principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes
trabalhadores. Esses desafios podem levar à desmotivação e à evasão dos cursos. É fundamental
considerar esses aspectos ao pensar em medidas de apoio e suporte para os estudantes
trabalhadores, visando melhorar sua experiência acadêmica e promover a conclusão do curso.
Como já falamos acima, o trabalho é fundamental para a subjetividade humana por
ser uma das fontes de realização de importantes necessidades do indivíduo, tanto do ponto de
vista da produção material da vida, quanto da manutenção de relações interpessoais e da auto
36

realização. A parte de ser importante no quesito das realizações das necessidades ficou bastante
claro na fala das entrevistadas, porém sobre o “trabalho dignificar, transformar o homem”, não
foi lembrada, como se elas só enxergassem o trabalho apenas como renda, não aprofundando o
real sentido no qual muitos autores trazem. Nas falas abaixo, expressam esse pensamento, senão
vejamos:
Não posso deixar de trabalhar, porque eu me sustento (ENTREVISTADA A).
Eu já pensei em desistir de trabalhar, só para estudar… Só que aí vem a
questão financeira, porque minha mãe não vai me sustentar…
(ENTREVISTADA C).
Eu não posso ficar sem trabalhar, e também não posso ficar sem estudar,
porque almejo algo melhor pra mim, porque sou operadora de caixa.
(ENTREVISTADA D).

Provavelmente essa limitação pode se dá pelo fato de que as entrevistadas podem


ter vivenciado experiências de trabalho que foram predominantemente voltadas para a obtenção
de renda, sem muitas oportunidades de desenvolvimento pessoal e realização, consequência de
condições precárias de trabalho, baixos salários e falta de oportunidades de crescimento, sendo
compreensível que vejam o trabalho principalmente como uma fonte de renda.
Segundo Marx (1978), trabalho improdutivo é trabalho que não produz mais-valia.
Para ele o trabalho produtivo é contratado pelo capital no processo de produção com objetivo
de gerar mais-valia, assim os empregados do comércio são improdutivos porque não participam
da produção, mesmo que suas atividades gerem lucros para seus empregadores (MARX, 1978).
Nos aprofundando um pouco mais na análise do mundo do trabalho, é possível
chegar a algumas definições segundo alguns autores. Karl Marx, dizia que o trabalho completa
o homem, pois é uma relação com a natureza em troca de sobrevivência, o que explica a teoria
de Web Marx, que diz que o trabalho dignifica o homem. O que nos preocupa é a forma como
a humanidade vem procurando por essa sobrevivência: mercado de trabalho cada vez mais
competitivo, exigências de currículos cada vez mais extensos, o que nos levar ao conhecido
“exército industrial de reserva”, também conhecido como desemprego estrutural (MARX,
1978).
Para atender as exigências do mercado, o trabalhador tenta produzir cada vez mais,
em menos tempo, operando várias máquinas ao mesmo tempo, se tornando um trabalhador
“multifuncional”. De acordo com Alan Bihr (1991, p.89) está acontecendo uma
heterogeneização do trabalho e uma subproletarização, na expansão do trabalho parcial,
gerando assim, uma precarização na remuneração e na regulamentação das leis trabalhistas,
pois mexe com a base da classe trabalhadora, deixando-a fragmentada (MARX, 1978).
37

É importante lembrar como elevou-se a educação: com o surgimento das


propriedades privadas, foram criadas classes sociais, onde a educação coincidia com o processo
de trabalho, nascendo uma classe de proprietários que não precisavam trabalhar, e enquanto
essa classe tinha esse privilégio. (MARX, 1978).
Na investigação ontológica de Lukás (apud. LESSA, 2012), o conceito de trabalho
comparece em uma acepção muito precisa: é a atividade humana que transforma a natureza nos
bens necessários à reprodução social. Nesse preciso sentido, é a categoria fundante do mundo
dos seres humanos. É no trabalho que se efetiva o salto ontológico que retira a existência
humana das determinações meramente biológicas. Sendo assim, não pode haver existência
social sem trabalho. Marilda Iamamoto (2010) diz que o ato de trabalho não se reduz à relação
homem x natureza, divergindo-se com Lessa (2000).
Nos primeiros anos do século XIX, Hegel (apud. IENA, 1982) sustentou a tese
segundo a qual, na relação do ser com a natureza, o trabalho funciona como elemento mediador,
fornecendo o suporte para a formação de uma consciência humana. Em outras palavras, é
através do trabalho que o homem é capaz de decodificar a natureza de modo a aproveitá-la
instrumentalmente. O trabalho, portanto, funciona como uma ação intencional, consciente e
reflexiva, capaz de libertar o indivíduo da tirania da natureza.
Na sociologia desenvolvida por Weber, a categoria trabalho também ocupou lugar
central. O autor também tornou central em sua análise e procurou evidenciar o papel do trabalho
na composição da racionalidade capitalista, mostrando como a racionalidade estratégica do
cálculo capitalista tornou-se a força motora dominante da racionalização, desvinculando o
trabalho de todos os critérios de referência doméstica e de satisfação pessoal do indivíduo.
Para Marx (1985) o trabalho é a base da sociedade e do homem, pois este transforma
a natureza para sobreviver, sendo assim essencial para a permanência do homem. Sendo assim,

A base da sociedade, assim como a característica fundamental do homem, está no


trabalho. É do e pelo trabalho que o homem se faz homem, constrói a sociedade, é
pelo trabalho que o homem transforma a sociedade e faz história, o trabalho torna-se
categoria essencial que lhe permite não apenas explicar o mundo e a sociedade, o
passado e a constituição do homem, como lhe permitem antever o futuro e propor uma
prática transformadora ao homem, propor-lhe como tarefa construir uma nova
sociedade (ANDERY, 2012, p.399).

Em outras palavras, o trabalho deixa de assumir uma posição estratégica na


sociedade, tal como ocorria entre o fim do século XVIII e o término da Primeira Guerra
Mundial, já no século XX, época dos autores clássicos da Sociologia. De fato, o conjunto de
transformações ocorridas a partir do último quartel do século XX, como o declínio das
38

ocupações do setor secundário, o desemprego estrutural, o avanço da racionalidade técnica e a


diminuição do emprego assalariado, evidência, segundo Offe (1989), a crise da sociedade do
trabalho, bem como a perda do trabalho assalariado como fator de integração social.
As mudanças ocorridas no mundo do trabalho nas últimas décadas resultaram na
constituição de um exército de trabalhadores mutilados, lesionados, adoecidos física e
mentalmente, muitos deles incapacitados de forma definitiva para o trabalho (ANTUNES,
2010). Pois com essa reformulação da produção capitalista, ocasionou uma intensificação e
extensão do tempo de trabalho, ou seja, para responder a tais exigências, é preciso estender a
jornada de trabalho, o que causa esse cansaço no trabalhador. Além de trabalhar, muitos desses
indivíduos também estudam o que acaba tornando a rotina mais exaustiva ainda. Abaixo
trouxemos algumas frases que relatam a dificuldade de conciliar trabalho com estudo:

‘Almejo um futuro melhor, e para isso preciso estudar, mas também preciso trabalhar
para me manter no curso, e essa conciliação é bem cansativa.” (Entrevistada E).
“... tentar conciliar tudo, e principalmente o financeiro, porque se você tem que
trabalhar é porque você está precisando daquele dinheiro. É complicado ter que
conciliar os gastos daqui (UECE), gastos pessoais, de dentro da sua casa...
(ENTREVISTADA F).

Essas falas refletem a realidade de muitos estudantes trabalhadores que buscam um


futuro melhor através da educação, mas enfrentam o desafio de conciliar os estudos com o
trabalho. Podemos entender que existe o reconhecimento da importância de se dedicar aos
estudos para alcançar seus objetivos e aspirações, mas também está ciente da necessidade de
trabalhar para se sustentar durante o curso. Quando a entrevistada “E” fala: “almejo um futuro
melhor" indica que tem metas e sonhos para sua vida e vê a educação como um caminho para
alcançá-los. No entanto, a frase também revela o cansaço e a dificuldade dessa conciliação entre
estudo e trabalho. Ela reconhece que essa jornada pode ser desgastante, exigindo um grande
esforço físico e mental para dar conta de todas as responsabilidades, ressaltando os desafios
enfrentados pelos estudantes trabalhadores, que muitas vezes precisam lidar com uma carga
horária intensa, pressão acadêmica e responsabilidades financeiras ao mesmo tempo. E na fala
da entrevistada F, ressalta a complexidade de conciliar diversas demandas, principalmente as
financeiras, ao lidar com os gastos relacionados à universidade, despesas pessoais e
responsabilidades domésticas. Ela destaca que a necessidade de trabalhar está diretamente
relacionada à necessidade de obter renda para suprir essas demandas financeiras. Essa
conciliação pode levar ao cansaço e à sobrecarga, afetando a qualidade de vida e o bem-estar
desses estudantes.
39

O trabalho representa um valor importante, exerce uma influência considerável


sobre a motivação dos trabalhadores e também sobre sua satisfação e sua produtividade
(HERZBERG; HACKMAN; SUTTLE, 1977). O trabalho passa a ser uma necessidade natural
e eterna nas relações sociais, sendo um ponto de partida da humanização do homem, refinando
suas faculdades e aumentando o domínio de si mesmo. E será por meio do trabalho, que o
homem dominará a natureza, criará novas alternativas, dará novas respostas sociais, por
exemplo, a fome, o ser humano buscará formas diferenciadas de satisfação, indicando outros
costumes e culturas, construídos socialmente. O trabalho que gera comunicação, cooperação e
sociabilidade (BARROCO, 2008).
A sociabilidade, é constitutiva do ser social, na sua interação nas atividades
humanas, com sua reciprocidade social, no reconhecimento mútuo de seres da mesma espécie
que dependem uns dos outros para viver. Para produzirmos, precisamos ter o papel ativo da
consciência, mas para transformar a natureza, é preciso conhecer sua dinâmica, por exemplo, o
fogo, para conseguir manuseá-lo, o ser humano precisa conhecer corretamente o seu
funcionamento. Porém nem sempre o produto da práxis resulta na projeção ideal construída no
consciente, a realidade é dinâmica. Logo, causas e feitos fogem do controle humano, pois as
circunstâncias sociais ultrapassam a subjetividade dos indivíduos. Os homens são produtores
de sua consciência. E, portanto, a práxis será uma intervenção consciente, que resultará em
produtos, objetos antes inexistentes. " [...] não existe trabalho sem a projeção ideal do que será
realizado [...]" (BARROCO, 2008, p. 23)
A capacidade ontológica, se torna essencial para o homem, pois ele não realiza o
trabalho sem essa capacidade de projetar idealmente suas finalidades e meios para efetivar tal
projeção, e também sem um mínimo de cooperação, de comunicação, de linguagem,
conhecimento e domínio sobre a natureza. Logo, a consciência será uma especificidade do
homem, pois só ele é capaz de formular novas perguntas e novas finalidades (BARROCO,
2008).
O trabalho realiza um duplo movimento, sendo estes: a atividade teleológica (que é
a projeção da finalidade e dos meios) e a criação de uma realidade nova e objetiva (que foi
resultante da transformação humana). Esse produto constitui a objetivação do sujeito, que se
reconhece como autor de sua obra e que altera a natureza através de sua ação. O produto passa
a ter uma existência separada e independente daquele que o criou, mas não da práxis da
humanidade, pois é resultado de conhecimentos acumulados na prática social (BARROCO,
2008).
40

O ser humano cria alternativas, com a sua ação transformadora, abrindo


possibilidades de escolha, gerando uma liberdade, com finitas opções que podem ser positivas
e/ou negativas, com valores que não necessariamente possuem um valor moral. O modo de
produção capitalista, representou grandes avanços para o desenvolvimento do ser social. Pois,
a sua emergência e consolidação, em especial das forças produtivas levaram o homem a buscar
maiores patamares de produção e expansão do capital, não significando que tais processos
foram totalmente benignos a sociedade em geral. Ao comparar com as sociedades pré-
capitalistas, notamos o baixo nível de domínio sobre a natureza, que de certa forma, as relações
produtivas e sociais eram concebidas como "relações naturais". Logo, o domínio humano sobre
a natureza, permitiu que o ser social tomasse consciência de si como sujeito histórico
(BARROCO, 2008).
Apesar dessas relações sociais ampliarem a capacidade e as possibilidades
humanas, ela conduziu a contradições entre o desenvolvimento do ser social e a alienação, na
qual ao nascer a propriedade privada, separa-se o produto do trabalho do produtor e, ainda mais,
ela deixa de conhecer a totalidade desse produto, que passa a ser alheio a ele. Por conseguinte,
o resultado da atividade se aliena do sujeito ativo. Na qual, nas sociedades pré-capitalistas, não
acontecia tal processo. Marx (1993) ressalta que no capitalismo "o trabalhador fica mais pobre
em função da riqueza que produz; cria mercadorias e se torna - ele mesmo - uma mercadoria
como outra qualquer." (BARROCO, 2008, p. 32). Essa análise de Marx destaca as contradições
do sistema capitalista, em que o trabalho, ao invés de ser uma fonte de realização humana, pode
resultar na alienação do trabalhador e na apropriação da riqueza por parte dos proprietários dos
meios de produção.
O trabalho exerce sua própria negação, pois, ao invés de se objetivar como
manifestação da vida, se realiza como alienação da vida. Existem duas formas de atividade
humana: a práxis e sua negação. O processo de trabalho é desigual, dado que o trabalhador entra
de forma desigual nesse processo, visto que os meios de produção não lhe pertencem e o
processo de trabalho é fragmentado e parcializado, donde não lhe permite conhecer a totalidade
do produto. E ainda mais, o operário cria um valor excedente (a mais-valia), que lhe é exterior
(BARROCO, 2008). Sobre isso, tem uma música que retrata bem essa questão:

Tá vendo aquele edifício, moço?


Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
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Hoje depois dele pronto


Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz, desconfiado
Tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Zé Ramalho, Cidadão.

Esse trecho da música apresenta uma crítica social e reflete sobre a desigualdade
presente na sociedade. A letra faz referência a um edifício que foi construído em um tempo de
dificuldades e sacrifícios, a relação do eu lírico com o trabalho retratado na música, reflete uma
dinâmica comum no contexto capitalista. O eu lírico desempenhou um papel ativo na
construção do edifício, contribuindo para o seu surgimento. No entanto, mesmo após o término
da construção, ele não é beneficiado ou reconhecido como parte do resultado final. Em vez
disso, ele é tratado com desconfiança e suspeita.
Compreendemos que todo esse mecanismo de exploração tira do ser social a
consciência de si mesmo e do significado do trabalho, muitas vezes visto como algo sem
importância, limitando-se a mediação da subsistência. Apoiados nas leituras de Lukács,
sabemos que o trabalho não se limita ao simples dispêndio de energia para confecção de um
bem material, suas bases estabeleceram-se desde os primórdios da história da humanidade,
quando o homem descobriu as técnicas da agricultura e passou a se utilizar delas para melhor
suprir suas necessidades, tanto alimentares, quanto à possibilidade de sair da condição de
nômade para residir em um local específico (LESSA, 2012). Conforme argumentado por
Lukács, o trabalho vai além de ser simplesmente um dispêndio de energia para a produção de
bens materiais. Suas bases estão enraizadas na história da humanidade, desde os primórdios,
quando as técnicas da agricultura foram descobertas e utilizadas para atender às necessidades
alimentares e também possibilitar que as pessoas deixassem de ser nômades e se estabelecessem
em lugares específicos. Essa visão ampliada do trabalho ressalta sua importância não apenas
como uma atividade econômica, mas também como uma dimensão fundamental da existência
humana. O trabalho envolve habilidades, criatividade, relações sociais e a transformação da
natureza para atender às necessidades e aspirações humanas. No entanto, no sistema capitalista,
esses aspectos mais amplos do trabalho podem ser obscurecidos devido à lógica da exploração
e da busca pelo lucro. Isso pode levar à alienação e à perda da consciência do verdadeiro
significado e potencialidade do trabalho humano.
Como já visto, o trabalho é a gênese da sociabilidade, da consciência, da liberdade,
da universalidade, das relações sociais. Esse processo se caracteriza como uma atividade prática
positiva, uma vez que é criada pelos próprios homens. Todas as atividades, tanto individuais
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como coletivas, exigem trabalho social. É interessante destacar que, no trabalho alienado, os
homens apesar de trabalharem juntos, não se reconhecem como seres de uma mesma espécie,
não se percebem integrantes da mesma classe, não se veem explorados da mesma forma; ao
contrário, se estranha e criam formas de sociabilidade fragmentadas (BARROCO, 2008).
"Quando a atividade humana é alienada, seu caráter social e consciente é negado
[...]" (p. 35), ou seja, sua liberdade e universalidade objetivam-se de maneira limitada, em razão
que o trabalhador depende do trabalho para existir, não obstante a sua vida genérica é negada,
pois o trabalho passa a ser apenas um instrumento de pura sobrevivência. O trabalho,
desenvolve todos os sentidos humanos, como o amor, o tato, a visão, a vontade, a percepção,
ou seja, o homem é rico de sentidos. Porém, quando os seus sentidos são aprisionados pela
alienação, temos um empobrecimento dos sentidos, que equivale a desumanização ao outro.”
(BARROCO, 2008).
As determinações fundantes da alienação são: a propriedade privada, a divisão
social do trabalho, as trocas, a valorização de posse e o dinheiro. Na sociedade capitalista
alienada, o homem busca no dinheiro as formas de satisfação de suas necessidades e vontades
egoístas, tornando-o cada vez mais pobre como ser humano, visto que os seus sentidos se
desumanizam. O trabalho, produz contradições também, ao mesmo tempo que produz riqueza,
produz miséria, enquanto produz maravilhas para os ricos, produz escassez para os
trabalhadores. Por conseguinte, a alienação nasce da propriedade privada e da divisão social do
trabalho, quando o trabalho se converte em meio de exploração para enriquecimento de alguns
e quando o seu produto se torna um objeto alheio.
É importante ressaltar que, a mercadoria será o objeto estranho ao trabalhador,
sendo esta um objeto que pode satisfazer as necessidades espirituais ou materiais dos homens,
seu valor é determinado pelo seu valor de uso e pelas carências que supre. Para que algo seja
considerado uma mercadoria é necessário que seja reproduzido repetidamente e satisfaça as
necessidades sociais. É necessário que seja trocada, que tenha valor de troca. E ainda mais, ela
só se torna mercadoria ao se efetivar na circulação (BARROCO, 2008).

3.2 Estudante trabalhador na universidade

Educação etimologicamente significa educare (conduzir). Pode ser compreendida


como processo de formação (condução) do homem. Poderíamos afirmar que educação, do verbo
educar, significa “trazer à luz a ideia” ou filosoficamente fazer a criança passar da potência ao
ato, da virtualidade à realidade (MARTINS, 2009). Na antiguidade os processos educacionais
43

não se distinguiam dos processos de trabalho, mas, ainda na Grécia antiga, surgem os espaços
reservados especificamente para a educação, a escola (etimologicamente lugar do ócio).
Na década de 1920 o debate sobre a criação de universidades não se restringia mais
a questões estritamente políticas como no passado, mas ao conceito de universidade e suas
funções na sociedade. As funções definidas foram as de abrigar a ciência, os cientistas e
promover a pesquisa. Ela tem a missão não apenas de possibilitar aos alunos a obtenção de um
diploma, um emprego e remuneração satisfatória, mas principalmente deve ser capaz
de produzir novos conhecimentos e aplicá-los a realidade social, considerando a necessidade
de ser acessível a toda a sociedade, em todos os níveis sociais para que haja inclusão social,
exercendo quanto uma função social quanto política. Outra função da universidade é auxiliar
os alunos para que eles tenham uma opinião formulada e crítica diante da realidade social para
que haja um avanço científico, tecnológico e cultural (MARTINS, 2009).
As primeiras escolas de ensino superior fundadas no Brasil foram em 1808, com a
chegada da família real portuguesa ao país. Até a proclamação da república em 1889, o ensino
superior desenvolveu-se muito lentamente, seguia o modelo de formação dos profissionais
liberais em faculdades isoladas, e visava assegurar um diploma profissional com direito a
ocupar postos privilegiados em um mercado de trabalho restrito além de garantir prestígio
social. Com a independência política em 1822 não houve mudança no formato do sistema de
ensino, nem sua ampliação ou diversificação, pois a elite detentora do poder não vislumbrava
vantagens na criação de universidades.
As instituições privadas surgiram da iniciativa das elites locais e confessionais
católicas. No período de 1945 a 1968 assistiu à luta do movimento estudantil e de jovens
professores na defesa do ensino público, do modelo de universidade em oposição às escolas
isoladas e na reivindicação da eliminação do setor privado por absorção pública. Estava em
pauta a discussão sobre a reforma de todo o sistema de ensino, mas em especial a da
universidade. Uma das principais transformações do ensino superior no século XX consistiu no
fato de destinarem-se também ao atendimento à massa e não exclusivamente à elite.
Alguns historiadores consideram a era Vargas com a chegada da modernidade no
Brasil. Isso pode ser verdade, mas não se aplica a educação universitária, pois exatamente
quando acaba a ditadura Vargas, em 1945, é que se criar rede de universidades federais. Logo
em 1946, foram inauguradas instituições semelhantes em todo país, notadamente a
Universidade do Rio de Janeiro, a Universidade da Bahia e a Universidade de Recife (SANTOS,
1999).
44

Em relação à inclusão do ensino público noturno no Brasil, tem-se como marco o


inciso VI do Artigo 208 da Constituição Federal de 1988, que estabeleceu a “oferta de ensino
noturno regular, adequado às condições do educando” (BRASIL, 1988). Um ano após a base
legal nacional, destaca-se o dever das universidades estaduais no Art. 253 da Constituição
Paulista de 1989, que busca “a ampliação do número de vagas oferecidas no ensino público
diurno e noturno, respeitadas as condições para a manutenção da qualidade de ensino e do
desenvolvimento da pesquisa” (SÃO PAULO, 1989, Art. 253).
Nesse sentido, a lei que trata das Diretrizes da Educação Nacional traz a educação
básica como elementar, fundamental e imprescindível à formação do sujeito no Art. 4o da
referida lei, que assevera os direitos à educação:

Art. 4o. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis
anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com
características e modalidades adequadas às suas necessidades e
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de
acesso e permanência na escola;
VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação
e assistência à saúde;
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e
quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

O texto apresentado pertence ao Artigo 4º da Constituição Brasileira de 1988, que


trata do dever do Estado com a educação escolar pública. Esse artigo estabelece uma série de
garantias e direitos relacionados à educação, visando assegurar a todos os cidadãos brasileiros
o acesso a uma educação de qualidade. Algumas das garantias mencionadas incluem o ensino
fundamental obrigatório e gratuito, a extensão progressiva da obrigatoriedade e gratuidade ao
ensino médio, o atendimento educacional especializado gratuito para alunos com necessidades
especiais, o acesso às creches e pré-escolas para crianças de zero a seis anos de idade, e a oferta
de educação escolar regular para jovens e adultos, considerando suas necessidades e
disponibilidades. Além disso, o artigo estabelece a importância de oferecer programas
45

suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde aos


alunos, assim como garantir padrões mínimos de qualidade de ensino. Essas disposições
refletem o compromisso do Estado brasileiro em promover uma educação inclusiva, equitativa
e de qualidade para todos os cidadãos.
As garantias mencionadas nesse artigo têm como objetivo assegurar que todas as
pessoas, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso a uma educação
de qualidade, desde a educação infantil até os níveis mais elevados de ensino, pesquisa e criação
artística, sendo de extrema importância pelo fato de reconhecer a educação como um direito
fundamental e essencial para o desenvolvimento pleno dos indivíduos e para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária. Ao estabelecer o ensino fundamental obrigatório e
gratuito, a extensão da obrigatoriedade ao ensino médio, o atendimento especializado para
estudantes com necessidades especiais e o acesso às creches e pré-escolas, o artigo busca
promover a universalização da educação básica e garantir condições igualitárias de
aprendizagem. Além disso, o artigo reconhece a importância da oferta de educação noturna,
programas de educação para jovens e adultos e a disponibilização de recursos suplementares,
como material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde, para garantir o
acesso e a permanência dos alunos na escola.
Segundo Miguel Angel Escotet: a principal transformação profissional à nossa
frente vai exigir padrão interdisciplinar mais elevado, revitalização do grupo de disciplinas
relacionadas com a ética, a estética e a comunicação, e mudança na atividade do professor e do
estudante, quando se trata de mudar a ideia de uma educação final para a educação ao longo de
toda a vida. Em outras palavras, o profissional do futuro estará preso por toda a vida a educação,
e educação e trabalho estarão de mãos dadas, e não uma às expensas do outro (ESCOTET,
1998).
A função da universidade é uma função única e exclusiva. Não se trata, somente,
de difundir conhecimentos. O livro também os difunde. Não se trata, somente, de conservar a
experiência humana. O livro também a conserva. Não se trata somente, de preparar práticos ou
profissionais, de ofícios ou artes. A aprendizagem direta os prepara, ou, em último caso, escolas
muito mais singelas do que as universidades. (TEIXEIRA, 1998, p. 35).
Segundo Severino, no contexto da cultura brasileira contemporânea, o ensino
universitário tem sua importância proclamada tanto pela retórica oficial como pelo senso
comum predominante no seio da sociedade. É-lhe atribuída significativa participação na
formação dos profissionais dos diversos campos e na preparação dos quadros administrativos e
das lideranças culturais e sociais do país, sendo visto como um poderoso mecanismo de
46

ascensão social, cabendo destacada valorização para o ensino oferecido pelas universidades
públicas. (SEVERINO, 2012).
A reconfiguração da educação superior brasileira é parte de intenso processo de
reformas, no interior de um radical movimento de transformações político-econômicas em nível
mundial, com profundas repercussões no Brasil. Suas consequências para a identidade
institucional da universidade brasileira serão inevitáveis, se concretizar as tais mudanças
conforme as diretrizes emanadas originalmente desses organismos multilaterais, em geral
também traduzidos domesticamente pelos responsáveis oficiais pela reforma do estado e da
Educação Superior em nosso país.
Nesse contexto de transformações necessárias, mas sob direcionamento forçado, as
universidades públicas “lutam, portanto, entre ajustar-se às políticas de educação superior e às
demandas do mercado e desenvolver o projeto político pedagógico próprio, coerente com a
construção de sua autonomia.” (OLIVEIRA, 2007, p. 18). O risco que ela corre é o de tornar-
se, por força desse processo induzido de ajuste e regulação do sistema, uma universidade muito
dependente das imposições políticas e das metas do poder executivo do país, mercantilizando
sua produção acadêmica.
A extensão universitária em uma dimensão de mudança social na direção de uma
sociedade mais justa e igualitária tem obrigatoriamente de ter uma função de comunicação da
universidade com seu meio, possibilitando assim, a sua realimentação face à problemática da
sociedade, propiciando uma reflexão crítica e uma revisão permanente de suas funções de
ensino e pesquisa. Deve representar, igualmente, no serviço às populações, com as quais os
segmentos mais conscientes da universidade estabelecem uma relação de troca ou confronto de
saberes. (GURGEL, 1986, p.170).
Além disso, a universidade deve ser capaz de retribuir um investimento que recebe
da comunidade, desenvolvendo estudos, pesquisas e projetos de extensão compatíveis com as
reais necessidades da população em benefício comum, ou seja, deve contribuir para solucionar
os atuais problemas da sociedade, tendo como função principal o dever de estar comprometida
com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A função social da universidade frente ao mundo do trabalho sob esta perspectiva
integradora da educação e do trabalho compreende que o princípio unitário pugnado por
Gramsci para a escola não incide somente sobre a escola, mas também sobre as relações entre
trabalho industrial e trabalho intelectual e diz respeito a toda vida social e a todos os organismos
de cultura. O horizonte que deve nortear um projeto educacional desta natureza é a de um tipo
de educação que assegure o acesso aos fundamentos científicos gerais de todos os processos de
47

produção, fazendo da universidade um ambiente cultural por meio da qual seja possível
estabelecer o diálogo, em igualdade de condições, entre a comunidade universitária e a
sociedade em geral, em torno dos conhecimentos que são produzidos e socializados e que
devem favorecer ao enfrentamento dos diferentes problemas que afetam a todos.
Por fim, “pensar a educação é pensar sociedade”, tendo como parâmetro o ser
humano, é resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com trabalho, as suas
possibilidades criativas e emancipatórias”. (MÉSZARÓS, p. 206). A educação desempenha um
papel crucial na formação dos indivíduos, no desenvolvimento de suas habilidades,
conhecimentos e valores. Ela é responsável por promover a socialização, o desenvolvimento
cognitivo, emocional e ético, e preparar os indivíduos para uma participação ativa na sociedade.
Ao reconhecer a interconexão entre educação e trabalho, é possível explorar as
potencialidades que a educação oferece para promover a criatividade, o pensamento crítico e a
capacidade de transformação social. A educação pode ser um instrumento de empoderamento
e emancipação, permitindo que as pessoas se tornem agentes ativos em suas vidas e na
construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, é fundamental refletir sobre a
importância da educação como um processo contínuo de aprendizagem ao longo da vida, que
vai além da mera transmissão de conhecimentos, ela deve ser concebida como uma ferramenta
para a formação integral do indivíduo, fortalecendo sua capacidade de pensar criticamente, agir
de forma ética e contribuir para o bem comum. Ao resgatar o potencial emancipatório da
educação e sua relação intrínseca com o trabalho, podemos buscar práticas educacionais mais
significativas, inclusivas e transformadoras, capazes de promover uma sociedade mais justa e
humanizada.
48

4 RESISTÊNCIA: DESAFIOS ENFRENTADOS POR ESTUDANTES


TRABALHADORES

Aprofundando-nos um pouco mais nessa relação entre trabalho e universidade,


percebe-se o quanto a temática nos mostra variadas expressões da Questão Social que viemos
enfrentando, trazendo grandes impactos que afetam tanto diretamente quanto indiretamente na
vida desses estudantes e futuros profissionais, ocasionando o significado mais concreto da
palavra “resistência”. Dentro dessa temática é possível discutir sobre diversos assuntos,
inclusive sobre o adoecimento desses estudantes, que por possuírem um cotidiano
sobrecarregado de obrigações, acabam até mesmo ao abandono da vida acadêmica.
Como prova disso é que dados do Ministério da Educação apontam que menos de
um milhão de estudantes conseguiu concluir a faculdade em 2013, o que representa uma queda
de 5,7% com relação ao ano de 2012, e a explicação mais plausível, foi justamente o fato de ser
elevado de números estudantes que estudam e trabalham ao mesmo tempo. Por isso nesse
contexto, a palavra "resistência" adquire um significado concreto, relacionado à capacidade dos
estudantes trabalhadores de se adaptarem, conciliarem suas responsabilidades no trabalho e nos
estudos, lidarem com sobrecarga física e psicológica, enfrentarem a falta de tempo e a pressão
financeira, além de superarem barreiras estruturais e sociais que possam existir.
De acordo com leituras e pesquisas feitas, uma grande porcentagem desses
estudantes do período noturno precisa trabalhar para tentar se sustentar, pois a universidade
infelizmente não dá suporte necessário que poderia vir via políticas estudantis, acarretando uma
série de problemas. Diante dessa realidade, é compreensível que em situações de necessidade
financeira imediata, muitos estudantes escolham priorizar o trabalho ao invés dos estudos, e
isso ocorre como uma forma de sobrevivência dentro do sistema capitalista, que valoriza a
lógica do trabalho remunerado como meio de subsistência.
Dessa forma, esse aluno que por motivos maiores é "obrigado" a desistir da sua vida
acadêmica torna-se parte do índice de pessoas que não possuem um nível superior, o que
possivelmente trará dificuldades em conseguir outro emprego, como efeito, torna-se parte
do conhecido "exército industrial de reserva", termo utilizado por Karl Marx na sua obra de “O
Capital” (1976), para descrever uma reserva de trabalhadores disponíveis para o mercado de
trabalho, onde refere-se à parcela da população que está desempregada ou subempregada, mas
pronta para entrar no mercado de trabalho quando houver demanda por mão de obra. O termo
"exército" sugere uma analogia com as forças militares, onde os soldados estão prontos para
serem mobilizados quando necessário. Da mesma forma, o "exército industrial de reserva" é
49

composto por pessoas que estão disponíveis para serem empregadas quando há necessidade de
mais trabalhadores nas indústrias ou outros setores produtivos. Sendo assim, no contexto da
relação entre trabalho e universidade, quando estudantes trabalhadores são obrigados a
abandonar seus estudos e se juntam a esse "exército”, isso reforça a reprodução de
desigualdades sociais, pois eles ficam presos em empregos de baixa remuneração e com poucas
oportunidades de ascensão social, perpetuando ciclos de pobreza e exclusão.
Outro assunto que merece ser discutido é a precarização do ensino noturno, pois os
alunos da manhã conseguem ter um melhor aproveitamento e acesso às diversas dimensões da
formação profissional que não só o ensino, mas também pesquisa e extensão, enquanto no
período noturno além da carga horária se tornar menor, ela não é totalmente cumprida, pois
quase nunca se tem início no horário marcado por conta da maioria dos alunos não conseguirem
chegar a tempo justamente por saírem de seus trabalhos às 18 horas e ainda enfrentar
engarrafamento para chegar até a UECE, e também por conta do perigo que os alunos ficam
expostos ao saírem às 21h30min, quase todos os professores liberam mais cedo, então é notório
a diferença de carga horária. Objetivamos neste ponto verificar os fatores que levam os
trabalhadores a também serem estudantes ou os estudantes ter que desenvolver um trabalho a
partir de entrevista concedidas pelos mesmos.

4.1 Fatores motivadores a condição de estudante trabalhador

Este ponto aborda os fatores motivadores que impulsionam os estudantes a


assumirem a condição de estudante trabalhador, conciliando suas atividades acadêmicas com o
emprego remunerado. Examinaremos essa tomada de decisão e como impactam suas trajetórias
acadêmicas e profissionais. Ao considerar esta realidade de equilibrar tantas responsabilidades,
é fundamental compreender os motivos que os levam a assumir essa dupla jornada para alcançar
essas determinantes, para que assim seja possível desenvolver soluções e estratégias que os
apoiem na busca pela qualidade da formação acadêmico e profissional.
Como já foi citado nos capítulos acima, partindo das teorias propostas por alguns
autores e pesquisas trabalhadas durante essa construção, entre os fatores que impulsionam os
estudantes a assumirem a condição de estudante trabalhador, destacam-se a necessidade
financeira, a busca pela auto superação, a independência, a busca por experiência profissional,
entre outros, o que foi confirmado nas falas das entrevistas que iremos trabalhar adiante. Então
agora iremos nos concentrar na análise dos fatores motivadores que impulsionam a condição
50

de estudante trabalhador, explorando as particularidades dessa realidade e os desafios


enfrentados por esses indivíduos em sua jornada.
A maioria das entrevistadas relatam que trabalham pela necessidade de se sustentar,
ajudar financeiramente em casa e até mesmo para manter os estudos, já que existem custos com
xerox, passagem, alimentação, entre outros, trouxemos algumas falas para exemplificar:

Não posso deixar de trabalhar, pois me sustento. (ENTREVISTADA A).

Foi tão sofrido entrar aqui que eu não penso em desistir nem tão cedo, mas eu já pensei
em deixar o trabalho, mas aí vem à questão financeira, porque minha mãe também
não vai me sustentar, porque ela tem as prioridades dela e também porque não queria
ser mais um fardo. (ENTREVISTADA C).

Tanto para a trabalhadora A quanto para a trabalhadora C, o trabalho é fundamental


para sua subsistência. Elas mencionam que não podem deixar de trabalhar, pois dependem dessa
renda para se sustentar e para arcar com os custos básicos, como transporte e materiais de
estudo. Essas frases ilustram como a questão financeira e a necessidade de sustento têm um
impacto direto na relação entre trabalho e estudos dessas trabalhadoras. A dependência
econômica, a pressão financeira e a busca por recursos para custear as atividades acadêmicas
são fatores que influenciam suas decisões e desafiam sua permanência e sucesso na vida
universitária. Isso destaca a importância de políticas e programas de apoio que abordem essas
questões financeiras e ofereçam suporte adequado aos estudantes trabalhadores.
Pela necessidade de trabalhar para suprir as necessidades básicas e por isto, não
conseguirem se dedicar somente aos estudos conforme as falas acima, Antunes (2000) e
Modesto (2012) afirmam que o trabalho se torna um meio para suprimento dos custos que
advém da vida acadêmica, seja para deslocamento, materiais, insumos, entre outros.
Uma das entrevistadas relata que pelo trabalho possui independência financeira, e
por esse motivo não pretende ficar sem trabalhar para não precisar voltar a depender dos pais.
A esse respeito a Entrevistada C afirma: “Eu sai do ensino médio e desde lá eu trabalho, então ficar sem
trabalhar ia ser uma tortura.” (ENTREVISTADA C).
Essa perspectiva revela a importância do trabalho não apenas como uma forma de
subsistência, mas também como um meio de garantir a autonomia e a liberdade financeira. A
Trabalhadora C expressa seu desejo de não depender mais dos pais, evidenciando a necessidade
de se manter no emprego para assegurar sua independência econômica. Essa visão reflete a
realidade de muitos estudantes trabalhadores que, além de conciliarem trabalho e estudos,
também valorizam a estabilidade financeira e a sensação de controle sobre suas próprias vidas.
51

A preocupação em não voltar a depender dos pais demonstra uma busca por autonomia e a
intenção de manter sua própria sustentação.
Em relação aos fatores que motivaram o ingresso no Curso de Graduação,
verificamos que estudam para que alcancem futuramente um salário maior, com vistas à
melhoria de sua condição financeira.

“É fundamental, pois não tenho profissão, sou consultora de vendas, mas não tenho
diploma, carreira, como profissional graduada, e é em busca disso que estou, em busca
de uma graduação, para que eu possa ter outras oportunidades no futuro.”
(ENTREVISTADA A).
“Eu posso trabalhar sem estudar, mas para minha formação pessoal, eu não quero
morrer naquela função, por isso acho que trabalho e educação estão ligados.”
(ENTREVISTADA B).
“Não posso ficar sem trabalhar, mas também não posso ficar sem estudar, não posso.
Eu quero conseguir almejar algo melhor para mim, porque sou operadora de caixa, e
operadora de caixa na minha visão é bom para quem está iniciando seu primeiro
emprego, mas eu já tô velha para operadora de caixa, eu não tenho que tá mais ali e
eu quero concurso público.” (ENTREVISTADA D).

As falas das entrevistadas evidenciam que uma das principais motivações para
ingressarem no curso de graduação é a busca por um salário melhor e a melhoria de sua
condição financeira. Elas reconhecem a importância de ter um diploma e uma formação
profissional para abrir portas e obter melhores oportunidades no mercado de trabalho. A
Trabalhadora A destaca que atualmente é consultora de vendas, mas não possui um diploma
nem uma carreira consolidada. Ela vê a graduação como uma forma de adquirir outras
habilidades e competências que possam abrir portas para oportunidades futuras. A perspectiva
de ter um salário mais elevado e uma posição profissional mais valorizada motiva seu empenho
nos estudos; a trabalhadora B também relaciona trabalho e educação, destacando que, embora
possa trabalhar sem estudar, ela não quer se limitar a uma função específica. Ela busca uma
formação pessoal e profissional que lhe proporcione crescimento e não fique restrita a uma
única função. Nesse sentido, a educação desempenha um papel crucial em sua busca por
melhores oportunidades e perspectivas de carreira; a trabalhadora D expressa seu desejo de não
apenas ficar limitada a sua função atual como operadora de caixa. Ela menciona o objetivo de
realizar um concurso público e alcançar um emprego com melhores perspectivas de crescimento
e estabilidade. A graduação é vista como um meio para adquirir conhecimentos e qualificações
que possam impulsionar sua ascensão profissional.
52

A partir das falas, podemos relacioná-las ao desejo de buscar melhores condições


de vida através dos estudos, tanto para crescimento profissional, quanto crescimento pessoal, e
como consequência aumentar probabilidade de receber remunerações maiores para estabilidade
financeira familiar, segundo Antunes (2000) para tal está a importância das instituições
educacionais para funcionarem como alavancas para o gênero humano.
Ao analisar as entrevistas, verificamos que antes mesmo de serem estudantes,
muitos deles já eram trabalhadores, não só pela necessidade de independência, mas em alguns
casos para compor a renda familiar, e que as condições materiais determinam a impossibilidade
de deixarem de serem trabalhadores e se dedicarem tão somente ao estudo.
Vale ressaltar que a busca por melhores condições materiais de vida e
remunerações maiores pela qualificação adquirida na graduação também compõe um dos
fatores que levam os trabalhadores a serem estudantes, ou seja, em sua maioria buscam
reafirmar sua condição de trabalhadores, no entanto com mais qualidade. E ainda, o desejo de
trabalhadores estarem em espaços intelectuais e de formação continuada.
A seguir serão pautadas estratégias utilizadas pelos entrevistados desta para
pesquisa para permanência no curso de serviço social noturno da Universidade Estadual do
Ceará.

4.2 Estratégias para permanência no curso de Serviço Social

Neste ponto, concentramos nossa análise nas estratégias adotadas pelos estudantes
trabalhadores do curso de Serviço Social para enfrentar os desafios decorrentes da conciliação
entre trabalho e estudos. Reconhecemos que esses estudantes estão inseridos em uma realidade
em que a necessidade de trabalhar para garantir sua subsistência coloca-os diante de múltiplas
demandas e obstáculos que podem comprometer sua permanência e sucesso acadêmico. Diante
desse contexto, compreender as estratégias utilizadas por esses estudantes torna-se fundamental
para identificar práticas que possam contribuir para a promoção de condições mais favoráveis
à conciliação dessas esferas e para o fortalecimento de sua trajetória acadêmica. Abaixo,
analisaremos algumas falas citadas:

“Estudo no fim de semana, e sou liberada um pouco mais cedo para chegar na hora da
aula. mas ele não diminui as minhas metas por essas cargas horárias que eu saio, ele
cobra de mim o mesmo que cobra de quem está lá o tempo todo, então eu me desdobro
no tempo que tô lá para compensar quando não estou.” (TRABALHADORA A)
53

Nessa fala, a entrevistada A menciona que utiliza o fim de semana para estudar, o
que indica que ela reserva esse período para se dedicar aos estudos de forma mais intensa. Além
disso, ela relata que consegue sair um pouco mais cedo do trabalho para chegar a tempo das
aulas. No entanto, é importante destacar que ela ressalta a necessidade de se desdobrar para
compensar o tempo perdido no trabalho, mostrando sua determinação em cumprir suas metas
acadêmicas.

“Sobrando um tempinho no almoço ...no meu horário de almoço quando ta em


atendimento não dá pra nada, se eu comer mesmo as vezes eu tiro horário de almoço
quatro horas da tarde porque não dá tempo. Agora quando ele não ta em atendimento
eu consigo mais ter uma liberdade, por exemplo: já teve caso de no dia da prova da
professora Samily, como não tinha atendimento, eu pedi para ele para sair mais cedo,
e ele super deixou, e ainda disse que eu podia ficar dentro do consultório estudando,
porque as vezes só de se deslocar para ir para casa, você já perde duas horas, ai eu
fiquei lá estudando sozinha. “(ENTREVISTADA B).

A entrevistada B destaca a importância de aproveitar o tempo disponível durante


o horário de almoço para estudar. Ela menciona que, quando há atendimentos, o tempo é
limitado, mas quando não há, ela consegue ter mais liberdade para se dedicar aos estudos. Além
disso, ela exemplifica uma situação em que conseguiu sair mais cedo do trabalho em um dia de
prova, ressaltando a importância de obter flexibilidade por parte do empregador. Essa
flexibilidade permitiu que ela permanecesse no local de trabalho e estudasse, evitando o
deslocamento e otimizando seu tempo.

“No horário de almoço eu consigo dar meus pulos, mas é muito complicado, eu deixo
mais para os finais de semana, feriado e nos ônibus. Venho nos ônibus lendo um texto,
mas não consigo ler todos os textos porque é complicado.” (ENTREVISTADA C).

A entrevistada C menciona que utiliza o horário de almoço para estudar, embora


ela enfatize que é uma tarefa complicada. Ela relata que prefere reservar os finais de semana e
feriados para se dedicar mais intensamente aos estudos. Além disso, ela aproveita o tempo nos
ônibus para ler textos, mas reconhece que nem sempre é possível ler todos eles devido às
limitações de tempo e espaço. Como a Entrevistada D afirma: “Se eu não tiver aula ou outras coisas
para resolver, dá para estudar alguma coisinha, nesse período de tempo entre a tarde e o começo da noite.”
A entrevistada D menciona que utiliza o período entre a tarde e o começo da noite,
quando não tem aulas ou outras obrigações, para estudar. Ela reconhece que é importante
aproveitar qualquer tempo disponível para realizar alguma atividade acadêmica, mesmo que
seja apenas uma pequena parte do conteúdo.
54

Essas análises destacam as diferentes estratégias adotadas pelas entrevistadas para


conciliar trabalho e estudos. Embora cada uma delas enfrente desafios e limitações em relação
ao tempo disponível, elas demonstram iniciativa e esforço para encontrar momentos adequados
para se dedicar aos estudos. A flexibilidade, o uso de intervalos no trabalho e a otimização do
tempo livre são algumas das estratégias mencionadas, evidenciando a importância da
organização e do comprometimento para a permanência no curso de Serviço Social.
Boa parte dos entrevistados classificou também como estratégia indispensável à
própria força de vontade, foco e controle mental.

“É muito difícil, eu acho que ainda consigo porque ainda não tenho filho, eu consigo
porque enfim coloquei isso como prioridade, mas não é para qualquer um não, a gente
abre mão de uma vida social, a gente abre mão de muito lazer.” (ENTREVISTADA
A).
“No primeiro momento tem a questão da exaustão, porque a pessoa já chega com a
rotina diária de oito horas, que não é só a exaustão física, tem a exaustão mental, então
já chego aqui nos finalmentes. Às vezes eu renovo as energias aqui, porque eu já
venho cansada, ai vejo a galera, me animo e tal, mas a mente você tem que ter muita
cabeça para se manter focado.” (ENTREVISTADA B).
“Eu preciso estudar, e meu foco está aqui na UECE mesmo.” (ENTREVISTADA D).

As falas acima podem ser relacionadas a estratégias para conclusão da graduação


pois almejam possíveis melhoras após o término do curso. Podemos verificar que mesmo com
as dificuldades, são criadas estratégias pela necessidade de alterar a condição de vida e assim
permanecer na graduação até a formação. Essas análises mostram que a força de vontade, o
foco e o controle mental são aspectos fundamentais para os trabalhadores estudantes
enfrentarem os desafios de conciliar trabalho e estudos. A capacidade de abrir mão de atividades
sociais e de lazer, bem como a habilidade de renovar as energias e manter a concentração
mesmo diante da exaustão, são características importantes para garantir a continuidade e o
sucesso no curso de Serviço Social.

É relevante ressaltar que a maioria dos entrevistados compartilhou a percepção de


que, embora a instituição não ofereça facilidades específicas para os trabalhadores estudantes,
alguns professores demonstram compreensão em relação às circunstâncias desse grupo. Esses
professores compreendem os possíveis atrasos nas aulas e prazos de entrega de trabalhos,
levando em consideração os desafios enfrentados por esses estudantes que precisam conciliar
trabalho e estudos.
55

“Hoje em dia os professores que a gente diz que são temporários, eles são bem
mais compreensíveis, eles entendem muito bem.” (ENTREVISTADA A).
“Tem professores que acabam iniciando às 19 horas porque sabem que tem
gente que tá vindo do trabalho.” (ENTREVISTADA E).

Essa compreensão por parte dos docentes é vista como um suporte importante para
os trabalhadores estudantes, pois reconhece as dificuldades enfrentadas e oferece alguma
flexibilidade diante das exigências acadêmicas. Essa abertura por parte dos professores
contribui para a motivação e engajamento dos estudantes, permitindo que eles se sintam
apoiados e encorajados a superar os desafios inerentes à sua condição. Embora a instituição
como um todo possa não fornecer políticas específicas para os trabalhadores estudantes, a
atitude compreensiva e flexível de alguns professores é valorizada pelos entrevistados como
um fator positivo que contribui para a permanência e o sucesso acadêmico desses estudantes.
Essa compreensão individualizada dos docentes demonstra a importância do apoio institucional
e da sensibilidade em relação às necessidades e limitações dos trabalhadores estudantes.
Todo esse mecanismo de exploração tira do ser social a consciência de si mesmo e
do significado do trabalho, muitas vezes visto como algo sem importância, limitando-se a
mediação da subsistência. Apoiados nas leituras de Lukács, sabemos que o trabalho não se
limita ao simples dispêndio de energia para confecção de um bem material, suas bases
estabeleceram-se desde os primórdios da história da humanidade, quando o homem descobriu
as técnicas da agricultura e passou a se utilizar delas para melhor suprir suas necessidades, tanto
alimentares, quanto à possibilidade de sair da condição de nômade para residir em um local
específico (LESSA, 2012).
Para além dessa concepção, o trabalho também possibilitou ao homem a
sociabilidade e o desenvolvimento da razão, logo, o trabalho, como atividade teleológica,
permite ao homem modificar a natureza e a si mesmo e gerar relações humanas cada vez mais
complexas. Percebemos aqui a importância do trabalho na esfera social e vemos, em
contrapartida, por meio da análise das condições de vida e de trabalho das entrevistadas, que
suas atividades laborativas estão distantes do significado original de trabalho, restringindo-se
ao mecânico manuseio do computador para realizar os procedimentos solicitados pelos clientes
ou pelos supervisores, caracterizando-se como um alienado trabalho (LESSA, 2012). Essa
realidade expõe como as relações de trabalho podem distorcer o propósito original do trabalho,
transformando-o em uma mera atividade de reprodução econômica, desvinculada das
potencialidades humanas de criação, desenvolvimento pessoal e social. Essa alienação no
trabalho reflete-se na falta de consciência dos estudantes trabalhadores sobre o verdadeiro
56

significado e potencial transformador do trabalho, perpetuando assim um ciclo de exploração e


limitação de suas capacidades. Portanto, é fundamental refletir sobre essas questões e buscar
formas de resgatar o significado do trabalho, valorizando suas dimensões sociais, criativas e
emancipatórias. Isso envolve não apenas ações individuais, mas também transformações
estruturais que promovam condições de trabalho dignas, acesso equitativo a oportunidades
educacionais e a valorização do trabalho como uma atividade essencial para o desenvolvimento
pleno do ser humano e da sociedade como um todo.
É importante também ressaltar o fato de que muitos desses estudantes que
conseguem chegar ao ensino superior não conseguem dar continuidade ao curso mesmo que
seja público, pois é necessário condições financeiras para se manter ao longo do processo (ex:
passagens, alimentação, xerox, entre outros) (GUIMARÃES, 2006).

“Em primeiro momento, assim, eu não tenho mais meu pai, ele faleceu, ele também
era financeiro da casa, ele era taxista, então ele ajudava no dia a dia, então o que eu
precisasse, eu podia pedir, então eu tinha a possibilidade de pensar: vou sair do
trabalho, e meu pai vai me dá pelo menos o dinheiro da passagem, e da xerox. E agora
não tenho, então se eu sair do trabalho, eu nem venho pra faculdade.”
(ENTREVISTADA B).
“O lado bom é que tenho dinheiro para tirar xerox, que não são poucas e de dinheiro.”
(ENTREVISTADA D).

A entrevistada B menciona a dependência anterior que tinha de seu pai, que ajudava
com despesas como xerox e passagem. No entanto, após a perda dessa ajuda, ela ressalta a
necessidade de trabalhar para ter uma renda própria e conseguir frequentar a faculdade. Já a
entrevistada D, destaca o lado positivo de ter um trabalho, que é a possibilidade de ter dinheiro
para cobrir despesas como xerox. Isso ressalta a importância do aspecto financeiro na vida
acadêmica, em que pequenos custos, como cópias de materiais, podem representar um desafio
para quem não tem recursos financeiros suficientes. Ou seja, apesar dos avanços no acesso à
educação superior, ainda existem barreiras sociais e econômicas que dificultam a permanência
e o sucesso acadêmico dos estudantes de origem popular. Essas questões apontam para a
necessidade de políticas e apoio institucional que visem a equidade e a inclusão, a fim de
garantir oportunidades igualitárias para todos os estudantes, independentemente de sua origem
socioeconômica. Por isso que quando Adam Smith fala “Instrução para os trabalhadores,
porém, em doses homeopáticas”, ele refere-se exatamente a essa “educação seletiva”, pois não
é de interesse para ordem capitalista, que os trabalhadores tenham mais que o mínimo
57

necessário à manutenção dessa classe, pois como já dizia Epicteto: “Só a educação liberta”
(GUIMARÃES, 2006).
O que faz esses estudantes trabalhadores se dedicarem a conciliar essas duas
funções ao seu dia a dia, além, claro da realização pessoal/profissional, é a crença de que um
trabalho qualificado irá levá-lo a níveis de renda cada vez mais elevados.” (GUIMARÃES,
2006). Podemos entender melhor esse pensamento através das falas que serão analisadas a
seguir:

“É difícil, às vezes me sinto perdida, porque você tem que manter o foco, eu
preciso estudar mais para trabalhar melhor, eu fico muito nesse impasse, eu
acho muito desafiador e enriquecedor ao mesmo tempo. Acredito que quando
eu sair daqui para o mercado de trabalho, eu vou ter um diferencial.”
(ENTREVISTADA C).
“Eu quero concurso público e eu preciso estudar. Então meu foco tá aqui na
UECE mesmo.” (ENTREVISTADA D).

A crença da entrevistada C de que essa experiência pode facilitar sua vida está
relacionada à ideia de que adquirir uma formação superior pode abrir portas para uma carreira
mais promissora, com maior acesso a empregos qualificados e melhores perspectivas de renda
e estabilidade profissional. A entrevistada D menciona a sua intenção de se preparar para
concursos públicos. Essa motivação indica a busca por uma carreira estável e com melhores
perspectivas de remuneração e benefícios. A dedicação aos estudos na universidade é vista
como um caminho para alcançar esse objetivo específico. Portanto, além da realização pessoal,
a entrevistada reconhece a importância de investir em sua formação acadêmica como parte de
sua estratégia para obter um trabalho qualificado e alcançar melhores condições financeiras.
Quando Carvalho (2001, p.93) afirma que para jovens do ensino noturno o trabalho
que caracteriza a vida pois é ele que fixa os limites dos estudos, lazer e descanso, ele quis dizer
que para o estudante trabalhador o que determina as atividades do seu dia a dia é a sua
disposição de acordo com a realidade do seu dia, onde muitas vezes esses estudantes já
chegam cansados, irritados, com fome, na aula, e tem dias que não consegue da nem o seu
mínimo. Essa realidade implica que os estudantes trabalhadores enfrentam desafios adicionais
em comparação aos estudantes que não precisam conciliar trabalho e estudo, podendo afetar
sua disposição e capacidade de se envolver plenamente nas atividades acadêmicas,
prejudicando seu desempenho e o aproveitamento dos estudos. Além disso, o autor também
menciona que há dias em que esses estudantes não conseguem nem mesmo cumprir o mínimo
necessário devido às circunstâncias desafiadoras em que se encontram, isso evidencia as
dificuldades enfrentadas pelos estudantes trabalhadores, que precisam lidar com uma carga de
58

responsabilidades e demandas que muitas vezes ultrapassam seus limites físicos e emocionais,
como podemos ver a seguir:

“.. Você passa a manhã e tarde se desgastando, quando chega a noite suas energias já
estão baixíssimas, seu pique já está baixíssimo, então a noite para aprender, para ter
rendimento já é nas últimas.” (ENTREVISTADA A).
“Cansaço mental, e um pouco físico também, mas principalmente mental. Eu to no
trabalho e fico pensando nas coisas da faculdade, fico pensando nos prazos, um monte
de coisa ao mesmo tempo. E se você não se organizar bem, você fica doido da cabeça.”
(ENTREVISTADA F).
“Saúde mental, perda de conhecimentos e oportunidades. De alguma forma você fica
um pouco afastada do que o curso pode te proporcionar.” (ENTREVISTADA G).

As falas das entrevistadas evidenciam os desafios enfrentados pelos estudantes


trabalhadores, especialmente no que diz respeito ao desgaste físico e mental decorrente da
conciliação entre trabalho e estudos. A entrevistada “A” destaca o cansaço e a falta de energia
que ocorrem após um dia inteiro de trabalho, o que impacta negativamente seu desempenho
acadêmico durante a noite. Isso ressalta a dificuldade de manter o rendimento e a concentração
quando as energias já estão esgotadas. A entrevistada “F” menciona o cansaço mental como um
dos principais desafios enfrentados, relatando a sobrecarga de ter que lidar com as demandas
do trabalho e da faculdade simultaneamente, o que resulta em uma constante preocupação com
prazos e múltiplas responsabilidades. Essa pressão mental pode afetar a saúde emocional e a
capacidade de concentração. Já a entrevistada “G” destaca as consequências negativas dessa
sobrecarga, incluindo o impacto na saúde mental, a perda de conhecimentos e a limitação das
oportunidades oferecidas pelo curso. Essa percepção indica que, devido à necessidade de
conciliar trabalho e estudos, os estudantes trabalhadores podem ficar distantes de aproveitar
plenamente as experiências e recursos disponíveis no ambiente acadêmico, o que pode
prejudicar seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Essas falas corroboram para a ideia de que a combinação de trabalho e estudos
exige um esforço adicional por parte dos estudantes, resultando em desgaste físico e mental,
além de possíveis impactos na saúde e na experiência acadêmica.
Alguns autores em seus estudos sobre estudantes, falam sobre as diferenças entre
eles. Lucia M. Teixeira Furlani “A claridade da noite: os alunos do ensino superior noturno”
(1998), afirma que existem três tipos de estudantes, sendo eles:
59

O estudante em tempo integral é mantido totalmente pela família, podendo dedicar-se


somente ao estudo, seja ele cursado no período diurno, integral ou noturno. [...]
O estudante-trabalhador ou, literalmente, o estudante que trabalha, continua sendo em
parte mantido pela família.
O trabalhador-estudante diferencia-se do anterior por não depender financeiramente
da família, mas, pelo contrário, colaborar para o orçamento doméstico (FURLANI,
1998, p. 41).

Fazer essa diferenciação é super válido para o entendimento deste trabalho, pois
como vimos nas falas de alguns entrevistados, para cada tipo, é um peso diferente, podendo
impactar de diversas formas, pois suas características variam de acordo com suas vivências,
enquanto estudante, trabalhadores e cidadãos.
60

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como principal objetivo explorar o impacto da jornada de


trabalho dos estudantes sobre sua disponibilidade para atividades acadêmicas, analisar os
desafios enfrentados por esses estudantes trabalhadores, apurar as estratégias de resistência
adotadas por eles e investigar as políticas e práticas institucionais adotadas pela Universidade
Estadual do Ceará (UECE) para apoiá-los.
Através das entrevistas realizadas com sete estudantes do curso de Serviço Social
da UECE, sendo quatro do turno noturno e três do diurno, foi possível obter informações
valiosas sobre a relação entre trabalho e estudo. No que diz respeito ao primeiro objetivo desta
pesquisa, que visava compreender as consequências do trabalho para a vivência acadêmica dos
estudantes trabalhadores, as entrevistas realizadas revelaram informações valiosas: ficou
evidente que o trabalho exerce um impacto significativo no rendimento e na participação dos
estudantes no curso de Serviço Social, em especial o turno noturno, por conta das suas
particularidades.
Durante as entrevistas realizadas, as estudantes enfatizaram as dificuldades que
enfrentam ao conciliar os horários de trabalho e estudo. Ao examinar os desafios enfrentados
pelas estudantes trabalhadoras, foi possível identificar uma série de questões, como a
sobrecarga de responsabilidades, a falta de tempo para se dedicarem plenamente às atividades
acadêmicas e os impactos na saúde mental e emocional. A sobrecarga de responsabilidades é
uma preocupação recorrente entre as estudantes trabalhadoras, uma vez que elas precisam
equilibrar as demandas do trabalho e do curso. Essa situação muitas vezes resulta em atrasos na
conclusão do curso, prolongando a jornada acadêmica além do tempo inicialmente planejado.
Além disso, a escassez de tempo disponível para se envolver em atividades complementares,
como participação em eventos, estágios e projetos de pesquisa, limita a experiência de
aprendizado e o crescimento profissional das estudantes. Esses fatores, por sua vez, têm um
efeito negativo no desempenho acadêmico das estudantes trabalhadoras, tornando-se um
obstáculo para que alcancem seu pleno potencial.
É importante ressaltar que esses desafios não devem ser atribuídos unicamente à
falta de organização ou dedicação por parte dos estudantes trabalhadores. Pelo contrário, eles
refletem a necessidade de se criar condições adequadas para que esses estudantes possam
conciliar de forma mais equilibrada as demandas do trabalho e da universidade. A
implementação de políticas e medidas institucionais que promovam a flexibilização dos
horários, ofereçam suporte financeiro e acadêmico e valorizem a experiência dos estudantes
61

trabalhadores é essencial para garantir uma formação de qualidade e uma vivência acadêmica
mais satisfatória.
Aos demais objetivos desta pesquisa, que buscava identificar as estratégias
desenvolvidas pelas estudantes trabalhadoras para conciliar trabalho e universidade, os relatos
obtidos revelaram a resiliência e a determinação desses estudantes em superar os desafios
enfrentados. Ao analisar as entrevistas, fica evidenciado que essas estudantes encontram formas
criativas de aproveitar os períodos de tempo livre no trabalho, e até mesmo o trajeto de ônibus
para se dedicarem aos estudos. Relatam que utilizam o tempo no trabalho de forma estratégica,
aproveitando momentos de menor demanda para realizar leituras, revisar materiais e até mesmo
assistir aulas online. Além disso, muitas delas fazem uso dos finais de semana como períodos
intensivos de estudo, dedicando longas horas para a leitura de textos acadêmicos, a elaboração
de trabalhos e a preparação para as avaliações.
No entanto, mesmo diante desses esforços individuais das estudantes trabalhadoras,
ficou evidente que a instituição universitária não oferece facilidades para esse grupo específico.
As atividades acadêmicas, como aulas, reuniões, palestras e eventos, ainda são
predominantemente oferecidas durante o dia, dificultando a participação plena e a integração
desses estudantes. A falta de flexibilidade nos horários de algumas disciplinas, aliada à
indisponibilidade de suporte e recursos específicos para os estudantes trabalhadores, cria
barreiras adicionais que comprometem sua experiência acadêmica e limitam seu potencial de
aprendizado e desenvolvimento.
É importante reconhecer que as políticas e práticas institucionais desempenham um
papel fundamental no apoio aos estudantes trabalhadores. Embora a abordagem flexível de
horário combinada entre alunos e professores do curso noturno na UECE seja um passo
positivo, ainda há lacunas a serem preenchidas. A pesquisa destaca a necessidade de aprimorar
as políticas institucionais, aumentando o suporte financeiro específico para estudantes
trabalhadores, fortalecendo os serviços de apoio psicossocial, sensibilizando os professores e
orientadores sobre as necessidades desses estudantes e desenvolvendo estratégias de ensino
adaptadas às suas particularidades e desafios.
Nesse sentido, é fundamental que as políticas institucionais sejam revistas e
aprimoradas, com a implementação de medidas específicas para apoiar os estudantes
trabalhadores. Isso inclui a disponibilização de bolsas de estudo e programas de auxílio
financeiro direcionados a esse grupo, o fortalecimento dos serviços de apoio psicossocial,
mentorias, sensibilização dos professores e orientadores sobre as particularidades e desafios
enfrentados pelos estudantes trabalhadores, bem como a adaptação das estratégias de ensino
62

para atender às suas necessidades, a implementação de políticas de flexibilização de horários,


a oferta de atividades noturnas e aos finais de semana. Essas medidas são indispensáveis para
garantir que esses estudantes tenham condições igualitárias de participação e desenvolvimento
no âmbito universitário.
Além disso, é fundamental que haja uma sensibilização mais ampla sobre a
importância e os benefícios de promover a inclusão dos estudantes trabalhadores. Esses
estudantes trazem consigo uma riqueza de experiências e conhecimentos adquiridos por meio
de suas responsabilidades profissionais, o que enriquece o ambiente acadêmico e contribui para
uma formação mais abrangente e contextualizada.
Esta pesquisa revelou a complexa realidade dos estudantes trabalhadores do curso
de Serviço Social da UECE, em especial, o turno noturno, e os desafios enfrentados ao conciliar
trabalho e estudo. Portanto, é necessário que a comunidade acadêmica, incluindo professores,
funcionários e colegas de classe, se mobilizem em prol da igualdade de oportunidades e da
valorização dos estudantes trabalhadores. Ao reconhecer e apoiar suas necessidades, podemos
criar um ambiente de aprendizado mais inclusivo, equitativo e enriquecedor para todos.Dessa
forma, ao reconhecer as estratégias adotadas pelas estudantes trabalhadoras para conciliar
trabalho e universidade, e ao evidenciar as limitações impostas pela instituição, fica clara a
necessidade de uma maior sensibilização e de uma ação efetiva por parte da universidade.
Somente por meio da implementação de políticas inclusivas e do apoio institucional, será
possível criar um ambiente acadêmico mais acolhedor, acessível e propício ao pleno
desenvolvimento dos estudantes trabalhadores do curso de Serviço Social noturno da UECE.
Este trabalho nos permitiu compreender as condições de trabalho enfrentadas pelas
estudantes entrevistadas e refletir sobre a qualidade de vida e as relações sociais que são
afetadas por essas condições. Na realidade social brasileira, marcada pelo avanço neoliberal, é
importante reconhecer a exploração vivenciada pelos estudantes que trabalham e buscar formas
de resistência e transformação. A resiliência e a determinação desses estudantes, assim como o
apoio mútuo e o suporte da comunidade acadêmica, são aspectos inspiradores que evidenciam
a importância de uma abordagem sensível e inclusiva no ensino superior. Sendo assim, a
pesquisa destacou a necessidade de medidas concretas e políticas estruturais para apoiar os
estudantes trabalhadores, visando garantir uma educação de qualidade e a promoção de
condições dignas de trabalho. Ao reconhecer e valorizar a experiência desses estudantes,
podemos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
É importante ressaltar que este estudo não encerra a discussão sobre o tema, mas
oferece uma base sólida para futuras pesquisas e reflexões. Recomenda-se a continuidade dos
63

estudos nessa área, ampliando a amostra e explorando outras áreas de conhecimento, para que
se possa aprofundar ainda mais a compreensão dos desafios enfrentados pelos estudantes
trabalhadores e propor soluções efetivas.
Com base nos resultados encontrados, sugere-se que as instituições de ensino
superior, os governantes e os projetos políticos educacionais considerem a inclusão e o apoio
aos estudantes trabalhadores como uma prioridade. É essencial promover uma educação que
seja acessível a todos, independentemente de suas condições de trabalho, e que valorize a
diversidade de experiências e perspectivas dos estudantes.
Por fim, é importante ressaltar que a luta pela valorização e pela inclusão dos
estudantes trabalhadores é um esforço coletivo, que envolve toda a sociedade. É necessário que
todos, incluindo instituições de ensino, governo, empregadores e comunidade em geral,
reconheçam a importância desses estudantes e trabalhem juntos para criar um ambiente que
promova a equidade, a justiça social e a igualdade de oportunidades. Somente assim poderemos
construir um futuro mais justo e inclusivo para todos
64

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https://www.uece.br/institucional/uece-em-numeros/ Acesso em: 5 abr. 2023.
67

APÊNDICE A- INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Dados de identificação:
Nome: ________________________________________________
Idade:_________________________________________________
Etnia:__________________________________________________
Sexo: __________
Orientação sexual: _________________
Situação econômica do estudante:
Trabalha de carteira assinada? ( ) sim ( ) não
Se sim, local de trabalho:
Jornada diária de trabalho:
Função:________________
Renda:________________
Durante o curso sempre foi aluno(a) trabalhador(a)?
Em que horário estuda?
Quantas horas semanais dedica aos estudos?
II Trabalho e Universidade:
1-Está cursando qual semestre?
2-Quando entrou na UECE já trabalhava?
3-Sentiu alguma diferença?
4-Você acha que o trabalho pode interferir no ensino/aprendizagem do aluno?
5-Como você concilia o trabalho com estudos? Consegue no trabalho tirar algum tempo para os
estudos? Caso não, em que momento você tem tempo para estudar?
6-Você já pensou em desistir de estudar para apenas trabalhar? Ou desistir do trabalho para se
dedicar apenas aos estudos? E por qual motivo não colocou a opção em prática?
7-Qual impacto que você acha que o trabalho pode trazer na vida do estudante trabalhador?
Quais são as dificuldades mais presentes?
8- Você acha que a instituição pensa nas condições específicas do estudante trabalhador?
9-Os professores compreendem as dificuldades expostas?
10-E no trabalho, o seu patrão compreende a importância que os estudos representam para você?
11-Como você vê a relação trabalho e estudos?
12-Qual a importância do trabalho?
13-Qual a importância da formação na educação superior?
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ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O (a) Sr (a) está sendo convidado (a) a participar da pesquisa TRABALHO E


UNIVERSIDADE: A RESISTÊNCIA DE ESTUDANTES TRABALHADORES/AS DO
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL NOTURNO DA UECE que tem por objetivo geral
compreender o impacto que o trabalho traz na vida do estudante trabalhador. A pesquisa é
realizada pela(o) estudante Fabrícia Sampaio Silva, do curso de Serviço Social da Universidade
Estadual do Ceará (UECE), sob orientação da professora Ms. Cláudia Maria Inácio Costa.
A sua participação não é obrigatória e, a qualquer momento, poderá desistir da
entrevista. Com relação aos riscos quanto à sua participação, considerando que possa haver
mal-estar, retraimento, a pesquisadora empenha-se em prezar sempre pelo o respeito para
minimizar os riscos da sua participação e garantir a boa condução da pesquisa.
Assim sendo, pedimos sua contribuição na pesquisa de forma a responder uma
entrevista sobre a temática supracitada, que será gravada, caso o Sr (a) dê permissão. Você não
receberá remuneração pela participação, a identidade do Sr (a) não será revelada, todas as
informações serão mantidas em sigilo e os dados coletados serão somente para este estudo.
Ressaltamos que todos os participantes desta pesquisa poderão receber qualquer
explicação acerca do estudo. Para isso, o Sr (a) está recebendo uma cópia deste termo onde
consta o telefone do pesquisador principal, podendo tirar dúvidas agora ou a qualquer momento.
Para contatos e dúvidas: Entrar em contato com Fabrícia (85) 987699339
email:fabriciasampaios@hotmail.com.
Eu, ____________________________________________________ fui
esclarecido(a) e aceito participar desta pesquisa.

Fortaleza, ______ de ___________________________ de 2019.


___________________________________________________
Assinatura do (a) Participante
________________________________________________________
Assinatura da Pesquisadora

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