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As três fases da teoria lacaniana e suas implicações na prática clínica

O artigo discute as três fases da teoria lacaniana e suas implicações para a prática clínica
do autor e para a orientação de seus alunos. Na primeira fase, a ênfase na imagem e na
construção imaginária do ego levou a uma abordagem clínica mais focada na
compreensão das fantasias e na interpretação das projeções do paciente. Na segunda
fase, a ênfase na linguagem levou a uma abordagem clínica mais focada na
interpretação dos significantes e na análise da transferência. Na terceira fase, a ênfase
no real levou a uma abordagem clínica mais focada na desconstrução do sujeito e na
abertura para o desconhecido e o inesperado na experiência clínica. A evolução da
teoria lacaniana ao longo dessas três fases reflete uma busca constante por uma
compreensão mais profunda da natureza da experiência humana e da psicopatologia.

Teoria lacaniana, clínica psicanalítica, imagem, linguagem, real.

A teoria lacaniana é uma das correntes mais influentes da psicanálise contemporânea.


Ela se desenvolveu ao longo de três fases distintas, cada uma delas com ênfases teóricas
e clínicas diferentes, tendo implicações significativas para a forma como Lacan
conduziu sua prática clínica e orientou seus alunos. Neste artigo, iremos explorar as três
fases da teoria lacaniana e suas implicações clínicas, começando pela ênfase na imagem
e na construção imaginária do ego na primeira fase, passando pela ênfase na linguagem
na segunda fase, e chegando à ênfase no real na terceira fase. Ao longo do texto, será
discutido como cada uma dessas fases influenciou a prática clínica de Lacan e o
desenvolvimento da teoria psicanalítica.

Durante a primeira fase da teoria lacaniana, a ênfase na imagem e na construção


imaginária do ego levou a uma abordagem clínica mais focada na compreensão das
fantasias e na interpretação das projeções do paciente (Roudinesco, 1999). Nesse
sentido, o analista buscava ajudar o paciente a reconhecer e confrontar as projeções
imaginárias que limitavam sua experiência e, assim, liberar seu potencial criativo. Essa
compreensão do ego como uma construção imaginária foi um dos principais conceitos
desenvolvidos por Lacan nessa fase (Fink, 1997).

Na segunda fase da teoria lacaniana, a ênfase mudou para o registro simbólico. Lacan
argumentava que a linguagem é a estrutura fundamental do psiquismo humano e que os
sujeitos são constituídos como tais através do acesso à linguagem (Evans, 1996). Assim,
a abordagem clínica passou a ser mais focada na interpretação dos significantes e na
análise da transferência. O objetivo do analista era ajudar o paciente a identificar as
formas pelas quais as palavras e os símbolos afetam sua experiência e a compreender o
significado dos significantes que os constituem.

Por fim, na terceira fase da teoria lacaniana, a ênfase mudou para o registro do real.
Lacan argumentava que o real é um domínio que escapa à simbolização e que não pode
ser plenamente representado pela linguagem (Miller, 1993). Essa ênfase no real levou a
uma abordagem clínica mais focada na desconstrução do sujeito e na abertura para o
desconhecido e o inesperado na experiência clínica. O objetivo do analista era ajudar o
paciente a enfrentar o real, o que implicava um compromisso com a verdade e a
coragem de se confrontar com as limitações da linguagem e da representação simbólica.

Em conclusão, as três fases da teoria lacaniana tiveram implicações significativas para a


forma como Lacan conduziu sua prática clínica e orientou seus alunos. A mudança de
ênfase da imagem para a linguagem e, finalmente, para o real reflete uma busca
constante por uma compreensão mais profunda da natureza da experiência humana e da
psicopatologia. A teoria lacaniana tem sido uma influência importante na psicanálise e
continua a ser objeto de estudo e debate dentro e fora da área.

Referências:

Evans, D. (1996). An introductory dictionary of Lacanian psychoanalysis. Routledge.

Fink, B. (1997). A clinical introduction to Lacanian psychoanalysis: Theory and


technique. Harvard University Press.

Miller, J-A. (1993). The four fundamental concepts of psycho-analysis. Penguin.

Roudinesco, E. (1999). Jacques Lacan. Columbia University Press.


Na terceira fase da teoria lacaniana, a ênfase foi colocada no registro do real,
que é um domínio que escapa à simbolização e que não pode ser plenamente
representado pela linguagem. Essa mudança na ênfase teórica também teve
implicações significativas na abordagem clínica de Lacan. Nessa fase, a clínica
ficou mais focada na desconstrução do sujeito e na abertura para o
desconhecido e o inesperado na experiência clínica.

O objetivo do analista era ajudar o paciente a enfrentar o real, o que implicava


um compromisso com a verdade e a coragem de se confrontar com as
limitações da linguagem e da representação simbólica. A desconstrução do
sujeito, nessa fase, refere-se a um processo em que o analista ajuda o paciente
a questionar as concepções preconcebidas de si mesmo, que muitas vezes são
baseadas em fantasias e ideais imaginários.

A abertura para o desconhecido e o inesperado na experiência clínica significa


estar aberto para novas descobertas e surpresas durante o processo
terapêutico, em vez de ter uma abordagem rígida e previsível. Essa abordagem
mais aberta pode levar a insights mais profundos e a transformações mais
significativas para o paciente.

Em resumo, a terceira fase da teoria lacaniana trouxe uma abordagem clínica


mais desafiadora e aberta, que encorajava o paciente e o analista a explorar
novas perspectivas e a questionar suposições preconcebidas sobre si mesmos e
o mundo.

Lacan realizava a "abertura para o desconhecido e o inesperado" por meio de


sua abordagem clínica, que valorizava a liberdade do paciente para explorar
seus próprios pensamentos e emoções. Ele acreditava que o analista não
deveria impor suas próprias interpretações ou ideias ao paciente, mas sim ouvir
atentamente o que o paciente tinha a dizer e ajudá-lo a chegar a suas próprias
conclusões.

Além disso, Lacan enfatizava a importância da transferência, ou seja, da relação


entre o paciente e o analista, como um meio de explorar a dinâmica do
inconsciente. Ele encorajava seus pacientes a expressar seus desejos e fantasias
mais profundos, mesmo que esses desejos fossem perturbadores ou
aparentemente irracionais. Isso permitia que o paciente experimentasse esses
sentimentos de uma maneira controlada e segura, o que poderia levar a uma
compreensão mais profunda de si mesmo.

Em resumo, Lacan realizava a "abertura para o desconhecido e o inesperado"


por meio de sua abordagem clínica que valorizava a liberdade e a expressão
do paciente, bem como a relação de transferência entre o paciente e o analista.
Isso permitia que o paciente explorasse seus próprios pensamentos e emoções
de forma livre e segura, o que poderia levar a uma transformação significativa.

Embora Jorge Forbes enfatize o corte e o uso do bisturi como ferramentas da


clínica do real, é importante lembrar que essas abordagens não são
necessariamente contrárias à fala livre que Lacan propunha. Na verdade, o corte
e o bisturi podem ser entendidos como formas de abrir espaço para a fala livre
e permitir que o paciente se confronte com o real.

Ao cortar e questionar certas certezas ou crenças que o paciente possa ter, o


analista pode ajudá-lo a desconstruir sua identidade imaginária e abrir caminho
para a descoberta de novas verdades e possibilidades. Além disso, o uso do
bisturi pode ser entendido como uma metáfora para o processo de análise em
si, que envolve a desconstrução e a reformulação constantes do sujeito e de
suas representações.

Portanto, embora Jorge Forbes enfatize o corte e o bisturi como ferramentas


clínicas, é possível que essas abordagens não sejam contrárias à fala livre
proposta por Lacan, mas sim formas complementares de se alcançar uma
compreensão mais profunda do sujeito e do real.

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