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REFLEXÕES

SOBRE A
HISTÓRIA DA
CAPOEIRA
Grida
NOTAS IMPORTANTES
Este documento não é uma revisão factual dos
acontecimentos. É apenas a forma que eu encontrei de dividir
e organizar a forma como penso sobre a Capoeira

A informação vai estar incompleta

Mantenham o pensamento crítico em tudo o que ouvirem ou


lerem sobre a Capoeira
Capoeira dos Escravos

• até 1888 – Abolição

Divisão Capoeira Marginal

cronológica • até 1937 – Descriminalização da Capoeira

em 3 partes Capoeira Académica

• Criação das primeiras academias e


desenvolvimento dos vários estilos de
Capoeira
CAPOEIRA DOS ESCRAVOS

África é considerada o berço das artes marciais. Os exércitos eram exímios na forma de
se organizarem e lutarem, tendo desenvolvido variados estilos de luta, com e sem
armas.

Exemplos de lutas seculares criadas em vários países africanos.


CAPOEIRA DOS ESCRAVOS

No Brasil, os povos indígenas também desenvolveram formas de lutar.

Briga de Galo – Manchineri (Acre)

Luta Marajoará – Aruás (Mato Grosso)


CAPOEIRA DOS ESCRAVOS

• Durante a colonização, os portugueses traficaram pessoas oriundas de Moçambique,


Congo, Angola, Nigéria, Guiné e Costa do Ouro

• Cada pessoa era roubada da sua cultura e grupos eram formados misturando
desconhecidos que não falavam a mesma língua. Isto era uma forma de
desumanização, retirando todas as conexões identitárias e impedindo que se
formassem qualquer tipo de ligações entre cada um

• Todas as pessoas que sobreviveram ao tráfico foram escravizadas


CAPOEIRA DOS ESCRAVOS

• Os escravos eram mantidos em senzalas e obrigados a trabalhar em


condições deploráveis

• Alguns conseguiram fugir, refugiando-se na selva onde viviam os


povos indígenas
CAPOEIRA DOS ESCRAVOS

• Os povos indígenas ajudaram os escravos refugiados a conhecer a


selva e a criar a sua sociedade – Quilombos

• Os portugueses não tinham como encontrar os escravos, não


conheciam a selva e o sistema de defesa dos quilombos era muito
forte
CAPOEIRA DOS ESCRAVOS

• Quilombo – símbolo de resistência territorial, social e cultural. Ali se


preservou a cultura de cada pessoa que se refugiava.

• Incluiu a integração da cultura indígena


CAPOEIRA DOS ESCRAVOS

• Assim se começou a desenvolver uma nova forma de lutar fortemente


influenciada por todas as culturas que tinham um inimigo em comum –
os portugueses

• A guerra entre os Quilombos e as senzalas não está bem documentada.


Podemos só imaginar quantas pessoas foram libertadas da escravidão
através da resistência de um povo que criou uma nova forma de lutar que
fica a ser conhecida como Capoeira
Significa “o que foi mata” – conexão dos
termos ka'a (mata) e pûer (que foi).
CAPOEIRA
Alusão às áreas de mato raso do interior do
Brasil, onde era feita a agricultura indígena
Escravos Malês
• Quem são os malês?
Escravos nagôs cuja origem étnico-linguística é
maioritariamente da Nigéria, de religião muçulmana.
Eram escravos letrados, com grandes conhecimentos de
matemática, e raramente eram escravos de campo.

• O que significa “malê”?


Do iorubá imalê, significa muçulmano
Do hassuá málami, significa professor
Pintura de Jean Baptiste Debret, retrato de um negro nagô

Iorubá e Nagô é a mesma coisa


Revolta dos Malês
• Aconteceu a 25 de janeiro de 1835 – foi a maior
revolta de escravos

• Os Malês organizaram uma revolução que pretendia


acabar com a exploração de povos africanos no Brasil
e devolver a sua liberdade religiosa

• Não tiveram sucesso, tendo sido denunciados antes do


acontecimento

Esta revolta foi o gatilho para que outras acontecessem cada vez com mais frequência
Abolição
• Com a constante pressão do acréscimo do número de
revoluções de escravos e a guerra dos quilombos, a
princesa Isabel decretou o fim da escravidão
13 de maio de 1888 – assinatura da Lei Áurea

• Deixar de ser escravo significa deixar de ter dono. Mas


é preciso haver integração na sociedade, e as pessoas
escravizadas não tinham meios de sobrevivência

• Tinham de sobreviver através do crime ou manter-se


em trabalhos forçados na casa onde viviam
Princesa Isabel, erroneamente conhecida como
redentora dos escravos
CAPOEIRA MARGINAL

• Como o desenvolvimento da Capoeira se deu nos quilombos, era uma prática associada à
marginalidade.

• Foi penalizada em 1890:

"Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação
Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando
tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal; Pena de prisão
celular por dois a seis meses. A penalidade é a do art. 96. Parágrafo único. É considerada circunstância agravante
pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças, se imporá a pena em dobro."
CAPOEIRA MARGINAL

• A Capoeira era praticada de forma escondida, passada de ex-escravos para os


restantes “marginais” da época – era conhecida como Capoeiragem

• Tendo influências das artes marciais africanas e religiões como o Candomblé e


Umbanda, era comum a prática ser feita acompanhada de instrumentos de
percussão

• A percussão era considerada como uma fonte de energia para o guerreiro


Nas práticas de rua, os instrumentos
teriam de ser de fácil transporte para
que, quando a polícia se aproximasse, a
fuga não fosse dificultada pelo peso do
material

O berimbau ainda não fazia parte da


coleção de instrumentos
CAPOEIRA MARGINAL

• Inúmeros praticantes de Capoeira dessa época foram presos, seja por


apenas praticarem Capoeira, seja por usarem as técnicas que conheciam
para cometer crimes.

• Foi nesta altura que se desenvolveu a tradição de usar alcunhas para


praticar Capoeira – era uma forma de não saber a verdadeira identidade
da pessoa, não sendo possível fazer uma denúncia.
A 23 de novembro de 1899 (ou 1900) nasceu
Manoel dos Reis Machado, que tinha Bimba
como sua alcunha desde bebé

Aos 12 anos, Bimba é introduzido à prática da


Capoeira pelo Bentinho, seu mestre

Mais tarde, já adulto, Bimba introduz na


Capoeira uma prática menos folclórica e mais
marcial, desenvolvendo uma luta influenciada
pelo Batuque (arte marcial angolana)
Foi a partir daí que mestre Bimba começou a
desenvolver um metido de ensino que facilitasse a
aprendizagem de Capoeira enquanto prática
estruturada.

Desenvolveu então a Luta Regional Baiana

Essa prática incluía um código de ética muito


firme, com o objetivo de alterar a reputação da
Capoeira.

Mestre Bimba não aceitava qualquer pessoa na


sua turma, tendo o aluno de corresponder a várias
características:
• não ter registo criminal
• ser de classe social média-alta
• ter estudos
• etc
Após uma apresentação ao Governador
Juracy Magalhães, Mestre Bimba
consegue demonstrar a importância
cultural da Capoeira.

Sem poder chamar-lhe Capoeira, funda


em 1932 a primeira Academia de Luta
Regional Baiana.

Em 1937 o presidente Getúlio Vargas


descriminaliza a Capoeira, dando a
Mestre Bimba o primeiro alvará de
funcionamento da Capoeira Regional
A 5 de abril de 1889 nasce Vicente Ferreira Pastinha

Foi introduzido à capoeira pelo seu mestre, Benedito, com


cerca de 10 anos

“(…) Encontrei um menino que era rival meu. Então, nós entrávamos em
luta. E, na janela de uma casa, tinha um africano apreciando a minha
luta com esse menino. Então quando acabava de brigar, que eu
passava, o velho me chamava: ‘Meu filho, vem cá!’ Eu cheguei na janela
e ele, então, me disse: ‘Você não pode brigar com aquele menino.
Aquele menino é mais ativo do que você. Aquele menino é malandro!
Você quer brigar com o menino na raça, mas não pode. O tempo que
você vai pra casa empinar raia, você vem aqui pro meu cazuá.’ Então,
aceitei o convite do velho, que pegava a me ensinar capoeira (…)”
Na vida adulta, Pastinha ensinava a Capoeira que aprendeu do
seu mestre aos colegas do Liceu e, mais tarde, da marinha.

Em 1910 decide envergar apenas no ensino da Capoeira,


ministrando as aulas no quintal da sua casa às escondidas. Em
1941 foi convidado pelo seu antigo aluno Aberrê a ministrar as
aulas na Gengibirra:

“O Aberrê me convidou pra eu ir assistir a ele jogar (…) Quando


eu cheguei lá, ele procurou o Amorzinho, que era um guarda civil.
O Amorzinho no aperto da minha mão foi e entregou a capoeira
pra eu tomar conta, dizendo: ‘Há muito que o esperava para lhe
entregar esta capoeira para o senhor mestrar’. (…) Tomando a
palavra o Sr. Antônio Maré disse-me: ‘Não há jeito, não,
Pastinha, é você mesmo quem vai mestrar isto aqui’. Como os
camaradas deram-me o seu apoio, aceitei.”
Mestre Pastinha funda então, nesse mesmo ano, o
CECA – Centro Esportivo de Capoeira Angola, a
primeira academia de Capoeira Angola. O CECA foi
oficializado em 1952.

Aqui, o seu objetivo era preservar a Capoeira dos


escravos, tendo-a o mais próximo ao que aprendeu
de seu mestre

Mestre Pastinha defendia que a Capoeira não


deveria ser violenta
“Para bater não é preciso tocar”
A partir da academia de Mestre Pastinha, outras
foram criadas para divulgar a Capoeira Angola.

De acordo com o Mestre Pastinha


Capoeira é tudo o que a boca come
Esta foi uma informação muito reduzida sobre mestre Bimba e
mestre Pastinha, e a sua importância para a Capoeira. Se vos calhar
esta pergunta, não se baseiem só aqui!
CAPOEIRA ACADÉMICA

• A mestre Bimba e a mestre Pastinha devemos a despenalização e


divulgação da Capoeira, não só enquanto arte marcial, mas também
enquanto meio de preservação cultural e meio de divulgação da história
do Brasil

• Hoje em dia existe também a Capoeira Contemporânea, que pode ser


caracterizada como a união da Capoeira Angola e Capoeira Regional,
desenvolvida nos anos 70
Foi considerada Património Imaterial
da Humanidade em 2014 pela
UNESCO

Hoje em dia a Capoeira está


espalhada pelo mundo e pode ser
praticada por qualquer pessoa

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