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I RESUMO
O karatê, como esporte, é disputado em provas de kata e kumitê. O
I
kumitê é a luta, o combate propriamente dito. Neste artigo foi enfocada a
parte técnica do combate esportivo, em que aspectos de distância,
.
concentração e formas de se treinar o kumitê foram contemvlados., vara
I reflexão dós leitores.
UNITERMOS: Karatê-esporte, kumitê, esportes de luta.
JUSTIFICATIVA DO TEMA
A seleção do tema "KUMITE para a elaboração deste artigo
justifica-se pela sua fundamental importância dentro doAesportekaratê; ou
seja, para se chegar ao kumitê esportivo (SHIAI KUMITE), é preciso passar
por todas as fases de treinamento deste esporte, fechando então o ciclo dessa
arte. O kumitê significa o ápice do karatê; não se quer dizer com isto que, ao
ser alcançada a fase do combate, o praticante nada mais tenha a aprender.
Pelo contrário, alcança-se o topo da sua estrutura hierárquica, mas nos
planos técnico e filosófico sempre haverá mudanças a serem aprendidas e
analisadas, que variam de mestre para mestre, mesmo porque " o ser homem
é um ser que jamais esgota suas possibilidades de crescimento, nunca
explora todas as potencialidades, nem alcança um estado definitivo de
desenvolvimento."
Por outro lado, é comum, nas áreas de Educação Física e Esportes,
nas diversas publicações brasileiras, alusões a técnica, tática, treino e prática
de alguns esportes (handebol, voleibol, futebol, natação, capoeira, atletismo,
etc.), e pouco se vê sobre o karatê (aliás, são raros os artigos que tratam de
lutas, em geral, em nosso país). Há alguns artigos nas áreas de biomecânica,
fisiologia, aprendizagem motora e psicologia que enfocam as lutas orientais
como estudo (judô, karatê e kendô, principalmente), porém pouco a respeito
da técnica esportiva. Este artigo pretende contribuir para o preenchimento
desta lacuna.
Ainda, o kumitê é a parte do karatê que trata do combate, da
aplicação prática do treinamento, da verificação das habilidades esportivas e
técnicas treinadas no cotidiano deste esporte.
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38 R. min. Educ. Fis., 4 (1): 37-44, 1996
LASSERE (1969) divide o kumitê em três graus de treinamento :
1". Tan - shi - ki kumitê = kumitê simples - trata-se do estudo de um ataque
e da respectiva defesa, ou seja, são antecipadamente convencionados. Tori
ataca e uke se defende; uke contra-ataca e tori cai ou se dá por eliminado
(parado).
2". Fuku - shi - ki kumitê = kumitê duplo - sempre estudando o ataque e a
defesa rigorosamente preestabelecidos. Tori ataca uke; uke se defende e
contra-ataca; tori se defende e contra-ataca; uke cai ou fica parado.
3". Jiyu - kumitê = kumitê livre, ou kumitê de estilo livre - neste treinamento
os ataques, as defesas e os contra-ataques não são decididos
antecipadamente; são realizados no estilo de livre escolha dos praticantes.
Pode tornar-se um kumitê perigoso se os praticantes não atentarem para as
normas de segurança ou não tiverem o tempo suficiente de rática para tal. E
bom lembrar que os golpes se detêm a poucos centímetros9do alvo proposto
nestes treinamentos e que somente após obter-se êxito na execução dos katas
é que se pode passar gradualmente ao kumitê. Segundo o autor, são várias as
combinações possíveis, bastando apenas estabelecê-las no tan-shi-ki kumitê
e fuku-shi-ki kumitê, e posteriormente praticá-las no jiyu-kumitê.
SASAKI (1978) estabelece que o kumitê é classificado, de acordo
com seu objetivo, em:
1". Gohon - kumitê - em que o objetivo, a partir do treino corpo a corpo, é
fortalecer as bases3, a potência do soco, a aprendizagem da distância ideal
na execução do golpe, a firmeza no corpo e no espírito. A execução
acontece da seguinte forma, estando os praticantes em duplas, em frente
para o outro: tori estabelece a direção do soco (jodan, tiudan ou gedan) e o
efetua em oi - zuki (soco direto), realizando uma seqüência de cinco
repetições, fazendo uma pausa breve entre cada uma. O defensor, uke, se
defende, também cinco vezes, recuando no último instante de cada soco. Na
quinta defesa realiza o contra-ataque.
2". Kihon - ipon - kumitê - o atacante realiza um único golpe, comunicando
ao parceiro antecipadamente o tipo e a direção deste. O defensor irá esperar
o máximo possível (noção de tempo e distância) o golpe desferido e,
simultaneamente, treina o reflexo e esquiva-se em um ângulo de 45",
posicionando o corpo ao lado do atacante, dando ênfase a postura e
potência, firmando a base. Posteriormente, nesta mesma sincronia, podem-se
alterar os tipos e as direções dos golpes desferidos por tori, sempre avisando
antes.
3". Jiyu - ipon - kumitê - o qual se assemelha ao kihon - ipon - kumitê,
porém o atacante possui liberdade de movimentação e escolha do ângulo de
ataque, impedindo ou destruindo a defesa de uke. O defensor corresponde
Nos torneios e nas competições oficiais convencionou-se uma medida de 0,lO m para esta
distância.
Bases. em karatê, são as diversas formas de se posicionar os pks e a postura para
determinada orática.
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escolhendo o melhor ângulo para a defesa e o contra-ataque. Tori comunica
o tipo de golpe que irá efetuar, concentrando vigorosamente contra uke. Este
treinamento proporciona precisão de golpe, potência, fase de estudo,
reflexo, dentre muitos outros fatores importantes para a formação básica do
kumitê.
4". Jiyu - kumitê sem força - também conhecido como "treino de sombra".
Depois das saudações dos karatekas, o combate é iniciado de forma livre, na
tentativa de se encaixar o golpe desejado. O objetivo será o treino de
reflexos, ataques e, ou, defesas. Os atletas (ou praticantes) deverão se
descontrair e evitar a inibição ou tensão emocional, na tentativa de dominar
os mais variados tipos de golpes, tanto os de ataque quanto os de defesa,
evitando contusões e ferimentos.
5". Jiyu - kumitê com força - depois das saudações, lutar em estilo livre. O
objetivo é um atleta tentar o domínio do outro, livremente, porém com
golpes mais firmes e fortes, exigindo maior força de concentração, para
evitar acidentes.
6". Shiai - kumitê, ou kumitê-competição - é a luta esportiva que visa a
conquista de pontos, de acordo com regulamentos do karatê-esporte. No
confronto entre dois atletas o objetivo é dar o golpe eficaz, que será freado
bem próximo do alvo desejado (ver anotação sobre distância em nota de
rodapé), de tal forma que, se prosseguisse, realmente derrubaria o adversário
ou o colocaria em nocaute. Neste tipo de competição é terminantemente
proibido acertar, ou fazer contato, com o atleta adversário. Assim sendo,
cabe ao atleta a aquisição de maior aprimoramento de freio do golpe,
precisão e conhecimento dos golpes e das técnicas que recebem maior
pontuação. Somente serão admitidos em competições de karatê lutadores
que possuem essa habilidade de controle exato de golpes, constatando-se,
assim, a ausência de iniciantes em torneios.
Ainda de acordo com SASAKI, são estes os fatores que influenciam
na luta:
Distancia
E um tema que pode ser explicado de duas formas. A primeira é a
distância em que os golpes possam atingir o alvo. O atacante deve conhecer
perfeitamente o poder de alcance do seu próprio golpe e reconhecer a
distância ideal de cada um. Normalmente pode-se calculá-la pela
envergadura e pelo porte físico mais a distância de impulso'. Cada atleta
possui características diferentes, e o conhecimento destas características
seria o conhecimento da própria capacidade no que diz respeito as
possibilidades de alcançar o alvo no ataque. A segunda forma seria a
distância do adversário de acordo com as idéias mencionadas, ou seja, para
um bom contra-ataque deve-se medir o poder de alcance do adversário,
neutralizando-o e se posicionando na distância adequada para a realização
deste contragolpe.
Quando o atleta resolve atacar, psicologicamente enxerga o alvo do
oponente mais perto do que uma distância real, talvez pela tensão ou
ansiedade. Sugere-se não arriscar muito no cálculo da distância. Quando o
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atleta resolve contra-atacar, ele enxerga o adversário mais longe do que a
distância real, sendo necessária muita calma e atenção no contragolpe.
Como estratégia, pode-se escolher uma distância relativamente
longa, para poder descontrair proporcionando menos perigo e para permitir
atacar com golpes de surpresa, com o uso de fintas ou de sobrepassos
maiores. Isso oferece menor risco no ataque e no contra-ataque. O atleta
novato que enfrenta o adversário psicologicamente superior pode adotar esta
distância, do mesmo modo que para aquele que possui a força do impulso
privilegiada.
O atleta que tem muita confiança nas técnicas de defesa, ou o atleta
mais pesado, pode adotar uma distância curta que tenha pouca possibilidade
de arranque ou impulso. Neste caso, deve-se treinar bastante as técnicas de
defesa, de esquiva, de neutralização de golpes, de bloqueio de golpes, de
amortecimento e de desvio do golpe adversário.
E importante, como estratégia, dominar e treinar. todas essas
distâncias, para poder usar a longa distância contra o adversário que prefere
a curta e vice-versa. Assim, o atleta conseguirá ritmo, atrapalhando o
desempenho e rendimento do adversário, conseguindo vantagens nos
combates. Contudo, não esqueçamos o principal requisito, que é o de auto-
conhecimento na escolha da distância ideal.
Tempo
Outro aspecto para o qual SASAKI chama a atenção diz respeito ao
tempo ou momento de aplicar o golpe, que pode ser dividido (em termos
didáticos) em três formas:
SEN-SEN-NO-SEN - quando perceber uma onda mental de agressividade
no oponente, por exemplo, tentar iniciar um ataquerou contra-atacar antes
que o opositor realize qualquer ação neste sentido. E uma forma de ataque
em um tempo, com antecipação total em forma de reação e aplicação de
golpe;
TAI-NO-SEN - quando o adversário já iniciou o ataque, espera-se um
tempo e logo em seguida contra-ataca em meio-tempo, antes que ocorra o
segundo ataque do adversário. Pode-se definir como um tempo e meio;
GO-NO-SEN - quando se permite o ataque do adversário, defendendo-se
com impacto, com desequilíbrio, com desvio ou então com bloqueio do
golpe; contragolpear em seguida (em dois tempos).
De acordo com LUBES (1991), o kumitê classifica-se em duas
formas clássicas :
1" Sanbon, gohon e ipon kumitê (básico); e
2" Jiyu-ipon e jiyu-kumitê (livre).
O sanbon-kumitê é um combate a três golpes e tem a finalidade de
tornar as técnicas fortes no ataque e na defesa, equilibrar o corpo (sem
perder a elasticidade nos movimentos) e manter um ritmo harmônico nas
seqüências. Os praticantes devem se posicionar um na frente do outro, a 1
(um) metro de distância. Após a saudação na posição e base musubi-dati,
eles assumirão a base hachi-dati, em que a distância entre eles diminuirá
cerca de 0,80 m, ficando na posição yoi. O atacante e o defensor iniciarão os
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golpes ao comando do professor, sucessivamente, podendo ou não alterar o
alvo e o tipo de golpe usado. O mesmo procedimento é realizado para o
gohon-kumitê e o ipon-kumitê, apenas alterando a quantidade de golpes
executados, sendo cinco e uma vez, respectivamente.
O jiyu-ipon-kumitê e o jiyu-kumitê são ainda outras formas de luta,
segundo o autor, em que o estilo livre prevalece e os praticantes são
obrigados a dominarem um certo número de técnicas antes de se lançarem a
este tipo de treinamento.
Em aulas de karatê no curso de Educação Física da Universidade
Federal de Viçosa adota-se a seguinte configuração para a prática do kumitê:
I". Yakusoku - kumitê -, ou seja, o kumitê de estudo, dividindo-o em fases
de crescimento gradual, segundo o nível de complexidade, em:
KIHON IPON KUMITE;
KIHON NIHON KUMITÊ (ian-shi-ki e fuku-shi-ki);
KIHON SANBOM KUMITE (tan-shi-ki e hku-shi-ki); e
KENKYU KUMITE.
2 O . Jiyu - kumitê -,ou seja, o kumitê de estilo livre, em que não se antecipa o
tipo ou a direção do golpe, apenas a quantidade de movimentos, golpes e
técnicas. Divide-se em:
JIYU IPON KUMITÊ;
JIYU NIHON KUMITÊ;
SHIAI KUMITE; e
JIYU KUMITE.