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"Com base nesse diagnóstico, duas soluções são propostas: a racionalização dos recursos
e a diminuição do poder das instituições, argumentando que as instituições democráticas
são suscetíveis a pressões e demandas populares, além de serem vistas como improdutivas
dentro da lógica de mercado. Consequentemente, a responsabilidade pela implementação
das políticas sociais deve ser transferida para a sociedade: os neoliberais advogam pela
privatização (mercado), enquanto a Terceira Via defende a gestão por entidades
não-estatais (sem fins lucrativos) (PERONI, 2006, p. 14)." pág.109;
"De acordo com o redesenho proposto para a reforma do Estado, duas tendências se
destacam: em uma delas, o Estado se afasta da execução direta, mantendo-se como
financiador e avaliador das políticas sociais, agora entregues a diferentes agentes privados,
configurando o que tem sido identificado como propriedade pública não-estatal. Na outra
tendência, embora a propriedade das atividades ou serviços permaneça sob controle do
Estado, eles passam a ser geridos segundo a lógica de mercado, caracterizando o que é
conhecido como o quase-mercado (PERONI; ADRIÃO, 2005)." - pág 109;
"Destacamos dois movimentos que concretizam essa transição na execução das políticas
sociais: através da alteração do status jurídico de uma instituição estatal, que passa a
adotar uma natureza de direito privado (como ocorre nos casos das organizações sociais,
fundações, conselhos escolares transformados em Unidades Executoras etc.); ou por meio
do estabelecimento de parcerias entre o Estado e instituições privadas sem fins lucrativos,
amplamente identificadas como parte do Terceiro Setor, para a implementação das políticas
sociais. Com o quase-mercado, a propriedade permanece sob controle estatal, mas a
gestão é orientada pela lógica de mercado, principalmente devido à crença de que o
mercado é mais eficiente e produtivo do que o Estado, um aspecto da teoria neoliberal
compartilhado pela Terceira Via" - pág. 109-110;
"Há outra maneira pela qual o campo educacional tem se adaptado aos princípios da Nova
Gestão Pública, que é através do financiamento ou subsídio pelo poder público a escolas
e/ou instituições privadas com ou sem fins lucrativos. A justificativa para esse fenômeno é a
necessidade de garantir o direito à educação básica, o que tem levado à proliferação de
programas de 'compra' de vagas em escolas privadas em detrimento da expansão de vagas
em escolas públicas. Essa tendência, historicamente presente no que diz respeito ao direito
das crianças à creche, tem se expandido para a educação infantil, de modo que, em alguns
casos, a própria estatística educacional é comprometida, já que o município considera
como pública a vaga oferecida pela instituição privada, embora subsidiada por ele. Esse
movimento indica uma preocupante ampliação da oferta de atendimento custeada por
recursos públicos, mas subordinada à disponibilidade do setor privado" - pág. 112;
"Embora seja verdade que os sistemas públicos de ensino e as escolas tenham feito pouco
para garantir o direito à educação para a maioria, dada a persistência de vários mecanismos
de exclusão, é igualmente verdade que delegar a entidades fora do setor público, sobre as
quais o controle social é ainda mais difícil, a responsabilidade por atender à demanda e
gerenciar a política educacional não contribuirá significativamente para a extensão do
direito à educação, especialmente porque somente o Estado, por sua natureza universalista
e, ainda que limitada, sua condição contraditória, pode fazer isso" - pág. 113