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MEMORIES OF A LOST SONG

Written and Directed by

Lucas Matias
DO ESCURO, OUVE-SE O SOM DE PALAVRAS INCOMPREENSÍVEIS.
MENINA (V.O.)
Hmmm... ma. Ma. Mãe. M, A, E...
FADE IN:

1 INT. CASA - QUARTO DE SOPHIA - DIA


Em frente a uma parede, uma MENINA recita palavras
inicialmente sem sentido.

MENINA (V.O.)
Mãe. Memórias. Me. Me. Me...
Vemos a garota de costas. A parede é tomada por post-it,
formando uma onde gigante de palavras prestes a quebrar.
CORTA PARA:

2 INT. CASA - QUARTO DE ANA - DIA


Uma estante cheia de retratos de família. Fotos antigas de um
casal e uma criança tomam conta do móvel.
Ao fundo e em baixo tom, uma conversa de duas pessoas é
misturada por uma melodia musical.
Nós passeamos pelos quadros até chegarmos ao que parece ser o
principal. Este retrato é maior, com uma moldura mais
elaborada, e mostra 3 pessoas abraçadas sorrindo.
MULHER (O.S.)
Então, eu subi no palco e cantei...
cantei bravamente. Todos ficaram...
De longe, vemos uma casal de pessoas mais velhas. Enquanto a
mulher está sentada com uma postura mais encurvada dedilhando
um violão, o homem, com o joelho apoiado no chão, parece
estar atento a cada fala dela. A sintonia deles é notável.
Estes são ANA e JORGE.
ANA, 58 anos, doçura em pessoa, porto seguro e ponte que une
a família.
JORGE, 56, estilo rígido, suas palavras soam como um ataque a
cada instante. A única exceção para sua inflexibilidade é
Ana.
De costas, uma PESSOA aparece e ocupa metade do quadro. A
silhueta indica ser uma garota. Distante, ela fica de pé
apenas observando o casal conversando.
2.

ANA
(sussurrando)
Jorge...
Sem entender, Jorge aproxima a cabeça dela.
Ana coloca o violão de lado e indica com o olhar que tem
alguém que ela não reconhece no quarto.
Jorge olha e acena com a cabeça para a estranha pessoa se
aproximar.
JORGE
Ela está aqui, querida.
Com a aproximação, Ana desvia a atenção da TV e aumenta o tom
de voz.
ANA
Quem?
Silêncio... O rapaz se mantém sem resposta.
JORGE
Sophia... Ela veio nos visitar
ANA
Oh, Jorge... Ainda está cedo.
Sophia deve estar na escola agora.
O olhar de Jorge exala confusão. Sem dizer palavra alguma,
ele apenas para de insistir.

ANA (CONT'D)
O que...?
(em direção à menina)
Minha querida, como posso te
ajudar?
Silêncio...
MENINA (V.O.)
Eu vim, eu, eu. Eu vim. Ver...

SLOW PULL OUT VINDO DA BOCA DA MENINA


MENINA
S-s-s-s-s-s-s-sou eu, m-m-m-m-ã-mã-
m…
O rosto é finalmente revelado; é SOPHIA.
SOPHIA, filha, 26 anos, sofre de uma gagueira severa.
3.

SOPHIA
M-m-m-m-m-mãe, l-l-l-lembra d-d-
e...
As palavras travam. Quando mais tenta, mais frustrante é a
tentativa de arrancar as palavras da boca.
Ao perceber que Sophia está travada, Jorge pega o violão e
entrega a ela.
JORGE
Toca...
A garota pega o violão e, hesitando, começa a dedilhar... A
esperança de ser reconhecida por sua mãe acaba se tornando em
uma batalha perdida.

SLOW PUSH IN ATÉ PRIMEIRO PLANO


Um silêncio ensurdecedor toma conta do ambiente. Nenhuma
palavra sequer, nenhuma frase sai completa da boca de Sophia.
Ao fundo, o som do relógio, da respiração, o ruído sonoro da
TV ecoam na mente de Sophia aumentando a pressão.
ANA
Jorge, o que é isso? Jorge, estou
com medo… Jorge…?
JORGE
Amor, espera um segundo, ela vai
apenas...
ANA
(insistindo)
Não... não. Ela não pode ficar.
Jorge tenta fazer com que Sophia pare de tocar, mas a garota
insiste.
ANA (CONT'D)
Minha querida, por favor… você pode
nos dar licença? Minha filha está
pra chegar e queria ficar só nós
aqui. Por gentileza... Ela é deste
tamanho. A Sophia, ela está vindo.
Aquilo é como um soco que atinge Sophia. Ana está em um
estágio avançado de demência. Sem dizer palavra alguma, a
garota apenas consente com a cabeça, levanta e se dirige em
direção à saída. Antes de cruzar a porta, ela vira a cabeça e
dá um último olhar para seus PAIS.
4.

Da porta semiaberta, nós observamos os pais em um aparente


momento de harmonia e alívio. Sophia toca no colar.
Título:
"UM FILME DE LUCAS MATIAS"
FADE OUT.
Título:
"MEMORIES OF A LOST SONG"
FADE IN:

3 INT. TRABALHO - LIVRARIA - TARDE


A pequenez e insegurança de Sophia é destacada pelo
emaranhado de livros empilhados nas prateleiras velhas.
Ela está sentada organizando uma pilha de livros e, de longe,
observa os clientes sendo atendidos por outro funcionário.
Suas risadas e papos descontraídos são observados
cuidadosamente por Sophia.
No instante que algum cliente vem ao seu encontro, a garota
usa LIBRAS como arma de escape.
CORTA PARA:

4 INT. ESTÚDIO MUSICAL - DIA


Um violão sendo segurado por alguém aparece no quadro.
MÚSICO (O.S.)
1, 2, 3, 4...

TILT UP EM UM PLANO MÉDIO


De início, a melodia soa perfeitamente. Sophia está sentada
no estúdio musical para o que parece uma espécie de
ensaio/gravação.
Ela toca ferozmente o instrumento.
MÚSICO (O.S.) (CONT'D)
(interrompendo)
Não, não, não, não... olha o tempo.
Você está muito rápido.
5.

GABRIEL, um jovem cheio de confiança e que aparente estar


anos luz na carreira musical à frente de Sophia está sentado
ao lado de Sophia ajudando-a.
GABRIEL
No meu tempo, okay?
Sophia afirma com a cabeça.
GABRIEL (CONT'D)
1, 2, 3, 4...
Ela acerta o tempo. O sorriso de Gabriel em sua direção a
deixa confiante e aliviada.
Quando Sophia está prestes a iniciar seu canto, o rapaz dá a
deixa com a cabeça...
SOPHIA
HAVE I REALLY BEEN SO CRAZY TOO? TO
THINK YOUR LOVE WAS MINE...
A princípio, a garota se mostra nervosa. Porém, com a
assertiva de Gabriel, Sophia pega confiança e prossegue
cantando...
Notas limpas... Claras... E então...
SOPHIA (CONT'D)
I DONT CARE WHERE I'M GOING TO.
THIS T-T-T-T-T...
Sophia começa a travar.
O que parecia uma simples gagueira no início da música se
torna um impedimento perceptível que faz o rapaz também parar
de tocar. Seu olhar é direcionado para o chão em completa
decepção.
GABRIEL
Okay, okay... Beleza. Bem, vamos
valendo então?
Sem tempo para Sophia responder, ele sai andando em direção à
cabine de som.
A garota fica lá... imóvel.

5 INT. ESTÚDIO MUSICAL - CABINE - CONTINUAÇÃO


Ao entrar na cabine, vemos Sophia através do vidro. Não é
possível ouvir o que acontece lá dentro.
6.

FUNCIONÁRIO (O.S.)
O que foi isso?
Há um outro homem dentro do ambiente, monitorando o áudio.
FUNCIONÁRIO (CONT'D)
(ironizando)
Esse estúdio ainda tem um pouco de
prestígio, por favor...
Gabriel se aproxima do microfone.
GABRIEL
Tá bom, Sophia. No seu tempo.
Ela respira... Inspira... Expira. Se prepara e começa a
dedilhar o violão.
Quando tenta dizer as primeiras palavras, nada sai de sua
boca. Ela entrar num looping eterno de repetições das mesmas
sílabas.
SOPHIA
D-d-d-d-d-desculpa.
Ela tenta mais uma vez e... falha.
FUNCIONÁRIO
Você está perdendo tempo com essa
garota, Gabriel. Eu tô te
falando...
GABRIEL
Agora não..
O olhar fixo e esperançoso de Gabriel se torna em cabeça
baixa e desanimo.

SLOW PULL OUT VINDO DE UM PRIMEIRO PLANO DE SOPHIA


CORTA PARA:

6 INT. CASA - QUARTO DE SOPHIA - DIA


O silêncio toma conta do ambiente. Em seu quarto, há diversos
artigos musicais de decoração, diversas fotos junto de Ana,
sua mãe, e um violão.
Sophia está sentada na beira da cama do seu quarto, debruçada
sobre o violão, com um notebook e assistindo o vídeo de sua
mãe tocando.
7.

Jorge aparece em pé na porta. Sophia deixa o violão de lado e


olha para seu pai.
Há um clima triste perceptível no ambiente.
JORGE
Está pronto... Vamos?
CORTA PARA:

7 INT. CASA - SALA DE JANTAR - DIA


O clima na sala de jantar é como o de uma dança. Ana é quem
dá o ritmo leve à família. Ela é a ponte entre pai e filha.
Toda a família e alguns parentes estão sentados ao redor da
mesa. Sophia é a única calada e distante.
TIA
Nós ficamos ali por horas e quando
viram que não íamos sair, acabaram
nos dando...
Os risos altos de todos ecoam pelo ambiente, menos Sophia.
ANA
Uau, isso é incrível. E o Luke
conseguiu a bolsa?
LUKE
Hm, isso... Recebi a notícia ontem.
Bolsa integral pra universidade
federal.
Todos aplaudem o sucesso do garoto.
TIA
E Sophia conseguiu o emprego?
ANA
Uhum... Graças a Deus, conseguiu e
tem se saído muito, não é meu amor?
Aliás, ela foi a primeira colocada
num festival de música. Ela tem o
talento da mãe.
Poucos aplausos marcam a conquista.
TIA
Que legal, que legal...
(ironizando)
(MORE)
8.
TIA (CONT'D)
Bem, era só uma competição numa
universidade, mas... estamos
felizes por você, Sophia.
A desaprovação com o menosprezo fica nítido no rosto de Ana,
que prontamente rebate.
ANA
É um grande conquista, Sophia! Não
precisou de pagar pra entrar
participar nem humilhar ninguém
para mostrar seu talento.
A tia recebe o ataque sem digerir.
ANA (CONT'D)
Aliás, vocês sabiam que foi Sophia
quem compôs a música, sabia?
Todos demonstram uma surpresa positiva.
ANA (CONT'D)
É linda... Eu a vi escrevendo com
as minhas letras antigas. Fala
sobre o tempo e memórias. Foi ela
quem compôs, sabiam?
(beat)
Foi ela quem compôs... É uma música
linda; eu a vi escrevendo. Ela quem
escreveu... Ela escreveu a música
todinha.
Os olhares de todos ao redor da mesa começam se misturar. As
pessoas olham umas para as outras como um sinal de pesar.
Ana continua a contar a mesma história de novo e de novo.
As cabeças e olhares pra baixo se tornam o cenário
predominante na mesa de jantar.
Todo o heroísmo de Ana ao proteger sua filha se torna, agora,
sua vulnerabilidade.
CORTA PARA:

8 INT. HOSPITAL - CONSULTÓRIO MÉDICO - TARDE


O consultório é monocromático e exala desânimo. Ana e Sophia
estão na sala de um doutor.
9.

SOPHIA
Ela tem piorado a... a c-c-ca...
cada dia. Ela fica repetindo as m-
m-m-mesmas coisas o tempo todo.
Sophia é quem toma as ações no consultório. Ana apenas fica
em silêncio ao lado da filha.
SOPHIA (CONT'D)
Ás vezes, ela esquece... minha
idade
MÉDICO
Tem alguns métodos que você pode
tentar pra estimular as memórias de
dela. Geralmente, fotografias,
filmes, objetos… coisas que remetam
à sua conexão com ela.
CORTA PARA:

9 INT. CASA - SALA - NOITE


Ana e Jorge estão juntas na sala vendo álbuns antigos de
família. Sophia observa de longe seus pais, que parecem ter
um bom momento de lembrança.
MÉDICO (V.O.)
Sente com ela e tente relembrar
alguns momentos... Tente levá-la a
grupos de apoio para pessoas com
demência, onde elas podem estimular
e tentar recuperar algumas
memórias...
CORTA PARA:

10 INT. TRABALHO - LIVRARIA - DIA


Sophia está no trabalho recolocando alguns livros nas
prateleiras. Seu celular está em cima da mesa.
VRUMMM, VRUMMM! O celular em cima da mesa. Chamada perdida.
VRUMMM, VRUMMM! Sophia não percebe. Mais uma chamada perdida.
Assim que ela vai se movimentando pelo local, ela percebe seu
celular vibrando.
10.

RACK FOCUS DO CELULAR PARA SOPHIA


Sophia percebe a ligação e pega o aparelho. Diversas chamadas
perdidas. Assustada, ela atende a próxima ligação.
SOPHIA
Alô?
POLÍCIA (V.O.)
Sophia? Aqui é o departamento de
polícia do estado de São Paulo. Nós
encontramos Ana Ferreira perdida no
meio da avenida...
Sophia paralisa. Sua respiração acelera.

POLÍCIA (V.O.) (CONT'D)


O seu contato está salvo como
emergência no telefone dela. Por um
instante, ela não sofreu um
acidente grave...
A voz do policial vai ficando cada vez mais baixa na mente de
Sophia e as palavras se embaralham.
CORTA PARA:

11 INT. CASA - SALA - NOITE


Sophia observa sua mãe de longe. Ana está sentada no sofá com
o olhar distante.
JORGE
Sophia, vem aqui.
Seu pai a chama para a cozinha.
CORTA PARA:

12 INT. CASA - COZINHA - CONTINUAÇÃO


Os dois estão sentados na mesa, separados por diversas
cadeiras vazias. A cozinha é mal iluminada, dando ao lugar um
aspecto solitário.
JORGE
Nós precisamos de um cuidador pra
sua mãe...
SOPHIA
Sim... Urgente!
11.

JORGE
O que aconteceu hoje é inaceitável!
E se ela tivesse se machucado?!
Onde nós estaríamos agora?
Sophia não esbanja reação. Ela somente leva as mãos ao rosto.
SOPHIA
Nós p-p-precisamos... de alguém.
JORGE
Você precisa arrumar um outro
emprego. Nós não temos opção...
SOPHIA
O que??? Mas quando? Eu tenho a
livraria, eu tenho... a m-m-
úsica...
JORGE
(atacando)
Tá na hora de você largar essa
coisa de música e achar outro
emprego de verdade.
Sophia sente o golpe.
SOPHIA
Largar a música? P-p-p-or que? Vo-
vo-vo-vo... você dá um jeito.
JORGE
Como? Eu trabalho 12 horas por dia
pra pagar os remédios e o hospital.
Aonde você quer que eu arrume
dinheiro?
SOPHIA
Ma-m-ma-ma-ma-mas isso nã-nã-n...
Jorge bate o martelo. Levantando da mesa, ele dispara.
JORGE
Não tem “mas“. Está decidido...
Enquanto o pai caminha para fora da cozinha, Sophia fica
sozinha sem resposta.
CORTA PARA:
12.

13 INT. CASA - SALA - NOITE


As duas, mãe e filha, estão sentada em frente à TV. O
ambiente é quase todo iluminado pelo eletrônico. Ana está
concentrada no que está passando; seus olhos praticamente não
se movem. Sophia, por outro lado, tem o olhar distraído entre
o aparelho e sua companhia.
Um programa musical de cantores anônimos está passando na
televisão.
De repente, Ana começa a escrever rascunhos de frases em um
pedaço de papel e começa a cantar.
ANA
YOU AND I HAVE A HISTORY BEFORE...
Beat. Com um olhar distante, Ana faz o inesperado.
ANA (CONT'D)
(falando consigo)
Eu e minha mãe costumávamos cantar
essa música quando criança… Nós
colocávamos no rádio enquanto ela
cozinhava o nosso prato favorito.
(leve riso)
Eu fazia o mesmo com você quando
era pequena e não conseguia falar.
Desse tamanho, minha pequena
filha... naquele mesmo instante,
você melhorava...
Surpresa e sem entender muito bem, os olhos de Sophia começam
a ficar marejados. O início de lágrimas são acentuados pelo
brilho da televisão.
Ela vira o rosto em direção a Ana.
SOPHIA
M-m-mãe...? O que você... disse? D-
d-d-do que a senhora m-m-me chamou?
ANA
Minha filha...
(para Sophia)
O que foi, Sophia? Não se lembra
disso?
Sophia não diz palavra alguma.
Ana torna a olhar para o programa musical e a cantar frases
soltas novamente. Ela toca no colar que está usando.
13.

SLOW PUSH IN DA TV. SLOW PUSH IN DE SOPHIA.


Sophia entende! Uma chama brota em sua mente e seu coração
acelera de excitação. Sua atenção é total na nova descoberta.
CORTA PARA:

14 INT. TRABALHO - LIVRARIA - DIA


A tela de um notebook. Alguém digita: “SP Song Fest“.
Sophia pesquisa sobre o programa de música com esperança
contagiante.
CLIENTE (O.S.)
Com licença, moça. Vocês tem
banheiro aqui?
Distraída, Sophia não percebe o cliente falando com ela.
CLIENTE (O.S.) (CONT'D)
Moça?! Moça...?
Em um leve susto, Sophia olha para a pessoa.
CLIENTE (CONT'D)
Eu só queria saber se tem banheiro
aqui?
SOPHIA
S...
A batalha começa. Nenhuma palavra sequer sai de sua boca.
Como sinal de desistência, Sophia apenas fala com LIBRAS.
SOPHIA (CONT'D)
(LIBRAS)
Eu não falo. Desculpa.
O cliente fica sem jeito, se desculpe e vai embora.
Toda sua esperança em relação ao programa musical é
confrontada.
Vemos a tela do computador com o website do SP Song Fest
aberto. É o contraste entre seu desejo e sua decepcionante
realidade.
CORTA PARA:
14.

15 INT. SALÃO - GRUPO DE APOIO - TARDE


O local parece um salão de hotel com um evento finalizado.
Cores monocromáticas sem vida são o padrão do local.
Vemos diversas pessoas sentadas em cadeiras. Composto em sua
maioria por pessoas de idade mais avançada, o grupo de apoio
é focado em estimular memórias perdidas de pessoas que sofrem
de algum tipo de problemas com esquecimento.
Ao fundo, algumas falas sobre histórias antigas ecoam.
PACIENTE (O.S.)
Nessa foto... eu e meu marido
estávamos fazendo uma viagem pelo
interior do país e...
Ana e Sophia estão sentadas na roda quietas enquanto outras
pessoas falam.
LÍDER
Obrigado por compartilhar. Foi
realmente... É uma memória linda.
Por isso é tão importante as
fotografias, meus amigos...
Aplausos.
LÍDER (CONT'D)
Temos algumas pessoa novas aqui
hoje.
(olha para o caderno)
Sophia e Ana... certo?
As duas acenam com a mão.
LÍDER (CONT'D)
Vocês gostariam de se apresentar?
Sophia, você poderia ir primeiro?
A garota dá um sinal negativo.
LÍDER (CONT'D)
(insistindo)
Por favor... Para que surja, é
importante estarmos abertos ao
processo de compartilhar.
Sophia volta a negativar.
LÍDER (CONT'D)
Por favor...
15.

Com a insistência, ela não diz palavra alguma. Apenas recorre


ao seu porto seguro: LIBRAS.
Todos ficam sem entender muito bem e o silêncio incômodo toda
conta do salão. Ana, como uma protetora, se levanta e a
salva.
ANA
Boa tarde. Meu nome é Ana, tenho 58
anos e eu venho lutando contra a
demência há quase 5 anos.
Todos saúdam a chegada da nova integrante.
LÍDER
Você trouxe a fotografia?
Sophia entrega a ela uma foto de Ana e Jorge.
ANA
Oh, sim. É... Essa foto é especial!
Eu e Jorge estávamos na praia, na
nossa lua de mel.
Ana fecha os olhos e continua.
ANA (CONT'D)
Eu me lembro da sensação da areia
entre os dedos dos pés e do vento
gelado se misturar com o calor do
sol...
(leve riso)
Era como se a imensidão do mar
tornasse as coisas mais lentas e
aquele momento durasse pra sempre.
LÍDER
Muito bem, muito bem... Tente outra
foto.
Sophia entrega outra foto. Agora, é mãe e filha.
Ao pegar esta outra fotografia, Ana demora um pouco para
falar algo.
LÍDER (CONT'D)
Bem... nos conte o que é...
ANA
Essa foto... É... ela é... Eu
estava...
Ana começa a olhar ao redor. As outras pessoas começam a
notar a confusão.
16.

Os olhares parecem intimidá-la. Sophia se levanta.


ANA (CONT'D)
Sou eu e...
SOPHIA
S-s-s-s-sua filha...
ANA
Não... É...
Ana levanta a cabeça e olha para as pessoas no salão. Ela
começa a COLAPSAR, a ter um surto.

SLOW PUSH IN DE ANA ATÉ UM PLANO MÉDIO


ANA (CONT'D)
Quem... quem... quem é essa?
SOPHIA
Mãe...
A garota se aproxima da mãe.
O choro de Ana se intensifica. Entre os soluços e lágrimas,
ela se “fecha“ no seu mundo.
ANA
Mãe?
O desespero chega ao seu ápice. Ana começa a tremer e fecha
os braços como se estivesse protegendo.
Sophia tenta fisicamente tocar sua mãe, porém ela se afasta e
continua repetindo as mesmas palavras.
ANA (CONT'D)
Quem... quem... é você? Por
favor...
No desespero, ela não reconhece a própria filha. Sophia sente
o golpe e fica sem ação.
ANA (CONT'D)
Eu quero ir pra casa... eu quero ir
pra casa...
Os outros integrantes chegam para consolar Ana, afastando a
filha.
17.

Vemos Sophia afastada de sua mãe, como se as pessoas


formassem um muro entre elas.
CORTA PARA:

16 INT. CASA - QUARTO - NOITE


Sophia acabara de colocar Ana para dormir. Ela observa sua
mãe deitada na cama de longe.
A garota abre o notebook - "Música como tratamento demência".
Cada palavra da matéria é analisada cuidadosamente.
Em um momento de coragem, ela pega o celular e entra em um
contato específico: Gabriel.
CORTA PARA:

17 EXT. ESTÚDIO MUSICAL - DIA


Vemos a fachada do estúdio.
GABRIEL (V.O.)
É sério que você está me pedindo
isso?
CORTA PARA:

18 INT. ESTÚDIO MUSICAL - DIA


Gabriel se movimenta de forma rápida pelo estúdio; ele domina
o ambiente. Sophia tenta o seguir, mas seu ritmo é mais
lento. Ele está sempre à frente dela.
GABRIEL
Você sabe o impacto que o festival
tem?
SOPHIA
Você t-t-t-t-tem o contato deles ou
n-n-não?
O rapaz continua caminhando pelo espaço.
GABRIEL
Com'on, você sabe quem eu sou...
SOPHIA
Então...
18.

GABRIEL
Sei lá, Sophia... Eu não... Eu não
quero manchar a minha reputação com
ele. Aquilo é um concurso sério
e...
SOPHIA
Eu p-p-preciso, Gabriel.
GABRIEL
Deixa pro próximo ano, sei lá...
SOPHIA
N-n-não posso... Tem que ser a-
agora!
GABRIEL
Por que não?
Ela para de andar e fica em silêncio.
Ainda de costas, Gabriel também para, respira fundo e balança
a cabeça.
GABRIEL (CONT'D)
Okay!
Ele se vira para Sophia.
GABRIEL (CONT'D)
Ele vai tocar nesse bar amanhã. O
nome é Isaac.
Gabriel entrega o pedaço de papel com as informações à
Sophia.
GABRIEL (CONT'D)
Não fui eu quem te deu o contato
dele.
SOPHIA
Obrigado!
O rapaz olha para ela. Seu olhar é de alguém que se importa.
GABRIEL
Você tem certeza?
Sem resposta... Sophia apenas toca no colar.
CORTA PARA:
19.

19 EXT. CALÇADA DO BAR - TARDE


Sophia anda em direção a porta do local passado por Gabriel.
CORTA PARA:

20 INT. BAR - CONTINUAÇÃO


Ao entrar no bar, Sophia vê o palco com um microfone e alguns
instrumentos espalhados. O ambiente tem uma luz alaranjada,
com diversas sombras e é totalmente destoante dos ambientes
que ela costuma frequentar. Grupos de pessoas nas mesas
enchem o salão. Todos olhando para a PESSOA cantando.
Sophia anda até o balcão e pergunta ao barman.
SOPHIA
Tem um... Isaac aqui?
O rapaz dá um leve sorriso sarcástico e olha em direção ao
palco, insinuando algo.
Sophia não capta a mensagem...
BARMAN
Vai querer alguma coisa?
SOPHIA
Algo forte... p-por favor.
Enquanto o rapaz se vira para preparar a bebida, Sophia volta
sua atenção para o palco. O rapaz cantando realmente
demonstra uma presença invejável.
O barman coloca a bebida em frente a Sophia, mas ela nada
bebe. Pega seu celular e vê uma foto sua com sua mãe. É sua
foto favorita. Ana parece bem e feliz.
Aplausos e gritos de exaltação sinalizam o fim da
apresentação. Distraída com o celular, Sophia não percebe uma
aproximação.
HOMEM
É uma bela foto.
Sophia olha para HOMEM sem entender muito bem.
HOMEM (CONT'D)
Essa foto.... É realmente
admirável.
20.

SOPHIA
(LIBRAS)
Ah, obrigado.
HOMEM
(intrigado)
Perdão?!
SOPHIA
(LIBRAS)
Eu só disse "obrigado".
Ao perceber que ele continua sem entender, Sophia arranca
seu bloco de notas que está na bolsa e uma caneta.
SOPHIA (CONT'D)
(escrito)
Eu só disse "obrigado!".
Movido por uma estranha curiosidade, o rapaz continua.
HOMEM
(escrito)
Ah, disponha :)
Sophia o responde com um simples e leve sorriso.
HOMEM (CONT'D)
Você tem nome...?
SOPHIA
(escrito)
Sophia.
HOMEM
Prazer, Isaac.
ISAAC, homem em seus 25 anos, apresenta algo que Sophia
sempre quis ter: uma confiança invejável. Sua presença exala
um tom de superioridade.
Movida por uma curiosidade genuína, Sophia continua - é ele
quem a garota procura?
SOPHIA
(escrito)
SP Song Fest?
Isaac engole a bebida de uma vez e dá um riso superior.
ISAAC
Então, você gosta de música?
21.

SOPHIA
Eu quero... participar.
O rapaz fica curioso. É a primeira vez que ele ouve a voz de
Sophia. Ele não segura um leve risada.
ISAAC
Hm... okay. Eu pensei que...
SOPHIA
Como?
ISAAC
Como o que? Como participar? Você
ao menos sabe cantar?
Sophia o encara. Seus olhares travam um no outro.
ISAAC (CONT'D)
Você sabe quem eu sou? Garota...
Meu festival não é lugar pra
qualquer cantorzinho.
(pausa)
Até poucos instantes atrás, você
não falava e agora já quer...
SOPHIA
Só quando é p-p-p-pre-pre...
Sophia trava. Isaac olha para ela surpreso.
ISAAC
O que é isso? Hahahaha, você está
brincando comigo. Além de estar
nesse lugarzinho mequetrefe, ainda
tem isso…?!
SOPHIA
E onde você... tá agora?
Sophia alfineta Isaac que, ironicamente, ri com a provocação.
SOPHIA (CONT'D)
Eu faço q-q-q-q-q...
Ela respira.
SOPHIA (CONT'D)
Qualquer coisa.
ISAAC
Garota, vai pra casa, assiste pela
TV...
22.

Rápida e firmemente, Sophia põe a mão em cima da mão de


Isaac. No mesmo instante, ele para e a encara.
ISAAC (CONT'D)
Qualquer coisa...?
A troca de olhar tenso deles parece durar uma eternidade.
SOPHIA
Eu sou a m-m-m-m-melhor... aqui!
Beat. Isaac a encara; ele gosta do desafio.
SOPHIA (CONT'D)
Eu te provo ago-g-g-g-gora.
ISAAC
(desafiado)
Olha... se você conseguir subir no
palco e cantar por 15 segundo sem
isso daí, talvez eu considere a
possibilidade de você cantar na
audição.
(pausa)
Mas se você não conseguir... você
NUNCA MAIS volta aqui ou canta no
meu festival.
Pensativa, Sophia toca no colar. Beat.
ISAAC (CONT'D)
O que me diz, senhorita melhor
daqui?
Inicialmente, o silêncio toma conta da conversa...
ISAAC (CONT'D)
Quer saber, deixa pra lá. Se eu
fosse como você também n...
Isaac é interrompido pela garota.
SOPHIA
Fechado!
ISAAC
Tem certeza? Eu não quero...
Sophia não dá ouvidos a Isaac e o interrompe. Ela vira o copo
de bebida que estava sobre a mesa e levanta em direção ao
palco.
ISAAC (CONT'D)
Okay, então.
23.

Isaac levanta, volta para o palco e faz um anúncio para o


público.
ISAAC (CONT'D)
Vocês ainda estão animados aí???
Gritos e aplausos são ouvidos. A plateia segue animada para
mais uma música.
Ao lado do palco, Sophia sente seu coração batendo forte e
rápido como se estivesse prestes a pular pra fora do peito. O
medo e a vontade de se provar tomam conta da garota, que não
tira a mão do colar.
ISAAC (CONT'D)
Yeah! Continuem assim porque agora
teremos um número... hmmm,
diferente. Ela diz ser a melhor
daqui, diz que canta mais do que
todos nós... Vamos ver se é
verdade? Vocês querem que eu a
chame?
O grito das pessoas presentes no bar ecoa na mente da garota.
ISAAC (CONT'D)
Senhoras e senhores, com vocês,
Sophia.
Sophia segue em direção ao microfone se sentindo o menor dos
seres do ambiente. Ela pega o violão e senta no banco.
As luzes apontam impiedosamente para seu olhar, formando uma
barreira entre a garota e o público.
Ela começa a dedilhar o violão...
SOPHIA
"AND I WILL GIVE MYSELF TO S-S-S-S-
SOMETHING BIGGER THAN M-M-M-MYSELF"
Quanto mais Sophia tenta arrancar a palavra, mas sua gagueira
piora.
Ela olha para as pessoas no salão. Seus olhares julgadores e
sussurros penetram na mente de Sophia. O espaço parece cada
vez menor e sufocante. Ao fundo, o som do relógio, da
respiração e dos cochichos ecoam em sua mente.
Um caminho sem volta. Sophia decide abandonar o palco. Ela
deixa o violão de lado, pega sua bolsa e vai embora correndo
sem dizer uma palavra.
Antes de sair, Isaac a interrompe.
24.

ISAAC
Quer saber? Por favor, apareça no
festival... Vai render uma boa
audiência na TV e muitas risadas.
Sem responder, Sophia segue o seu caminho.
CORTA PARA:

21 EXT. CALÇADA DO BAR - NOITE


Sozinha e apressadamente, Sophia volta pra casa.
CORTA PARA:

22 INT. CASA - SALA - NOITE


Sem falar com sua família, Sophia entra em casa chorando e
corre para o quarto. Ana está na sala com um caderno em mãos.
CORTA PARA:

23 INT. CASA - QUARTO DE SOPHIA - CONTINUAÇÃO


Ao entrar no quarto, Sophia, joga sua bolsa no chão e fica em
frente ao espelho. Seu choro impiedoso revela o fracasso em
seu reflexo.
O choro de decepção se transforma em raiva de si mesma e, em
um acesso de fúria, ela grita.
SOPHIA
Que droga...!
Sophia arranca o colar do pescoço, encara-o e joga longe.
Jorge bate na porta e espera sua filha abri-la.
JORGE
Sophia, o que foi?
SOPHIA
Ag-g-g-gora não, pai
JORGE
Eu só...
SOPHIA
N-n-n-não, eu disse q-q-que agora
não.
25.

JORGE
Eu não quero incomodar, só quero
entender o que aconteceu. Por que
você está assim?
SOPHIA
PORQUE EU TENHO UMA VOZ!
Beat. O pai para de insistir. Ele apenas fica de pé ao lado
de fora da porta.
SOPHIA (CONT'D)
N-n-não tem nada que você pode f-f-
azer...
Uma maré de emoções vêm à tona. Jorge ainda lá.
SOPHIA (CONT'D)
ELA SE FOI! MINHA MÃE SE FOI!
(pausa)
Ela n-n-n-ao sequer se lembra de q-
q-qquem eu sou.
Sophia senta no chão e fica com o olhar fixo no vazio.
Quando Jorge parece começar a dizer alguma coisa, ele é
interrompido.
ANA
Jorge...
O pai vai até a sala atender ao chamado de Ana enquanto
Sophia fica na mesma posição.
JORGE (O.S.)
Sophia, pega o remédio da sua mãe
no quarto, por favor.
Sophia se levante e lentamente vai até o quarto de sua mãe.
CORTA PARA:

24 INT. CASA - QUARTO DE ANA - CONTINUAÇÃO


Parada na porta, Sophia hesita em entrar. Ela abre a porta
lentamente e observa os móveis e objetos de cores brancas e
antigas que realçam a sensação de esquecimento do quarto.
A garota caminha pelo quarto e vê os diversos quadros com
fotos de família.
Fuça aqui, mexe dali... Abre um gaveta, abre outra... Nada.
Não encontra o remédio.
26.

Ao lado da cama, há uma mesa de cabeceira. Sophia abre a


gaveta de cima, mas nada há. Começa a vasculhar a bagunça da
gaveta de baixo, olha no fundo e encontra um OBJETO. Ela
lentamente o puxa. É um ÁLBUM DE COLAGENS com aparência de
ter sido usado com a inscrição “MEMÓRIAS“.
Intrigada, a garota vasculha o objeto achado. Ela vê fotos
das duas, Ana e Sophia, ao longo dos anos com diversos
escritos que parecem descrição daqueles momentos.
Os olhos de Sophia se enchem de lágrimas. Ela passa a página
- mãe e filha na infância. Outra página mostra Ana ensinando
a filha pequena a tocar violão... Até chegar na última
página: Sophia na sala com o violão nos DIAS ATUAIS.
Ela entende! Lágrimas rolam. Toda vez que estava bem, Ana
escrevia para se lembrar.
SOPHIA
Todo esse tempo...
CORTA PARA:

25 INT. CASA - SALA - CONTINUAÇÃO


Com o álbum em mãos e visivelmente emocionada, Sophia caminha
até sua mãe.
SOPHIA
(entregando o álbum)
Sou eu... Mãe, sou eu.
Ainda com um olhar pouco perdido, Ana segura o caderno.
Silêncio...
ANA
(para si)
A canção... Nossa canção...
A filha se ajoelha e se aproxima de Ana.
ANA (CONT'D)
(para si)
Fiz essa canção para Sophia. Ela
está para chegar.
Ana toca o COLAR que está usando. É o mesmo da filha.
SOPHIA
Estou aqui... mãe!
Sophia olha para a TV. Fica claro: é o único jeito.
27.

PUSH IN DA TELEVISÃO. ALTERA PUSH IN DE SOPHIA.


Ela pega a música que sua mãe escreveu, vai até o quarto,
pega o colar que havia jogado no chão e, em frente espelho, o
coloca de volta. Sophia vai ao festival.
A garota observa sua mãe antes de partir.
CORTA PARA:

26 EXT. CALÇADA - DIA


Sophia caminha com confiança em direção ao anfiteatro.
CORTA PARA:

27 INT. CASA - DIA (FLASHBACK)


Ana ensina Sophia criança a tocar violão.
END FLASHBACK:

28 EXT. CALÇADA - CONTINUAÇÃO


Vemos Sophia caminhando com violão nas costas.
CORTA PARA:

29 INT. CASA - DIA (FLASHBACK)


Ana mais nova segura bebê Sophia nos ares, brincando.

30 INT. ANFITEATRO - DIA (FLASHBACK)


Sophia adolescente está tocando violão num palco enquanto
Ana, na plateia, grita e sorri.

31 INT. ANFITEATRO - TARDE (FLASHBACK)


As duas estão no teatro assistindo a uma peça. Sophia reclina
a cabeça e deita no ombro da mãe.
END FLASHBACK:
28.

32 EXT. CALÇADA - TEATRO - CONTINUAÇÃO


Sophia está no local do festival.
CORTA PARA:

33 INT. CASA - SALA - DIA (FLASHBACK)


Ana segura bebê Sophia bem perto de seu rosto.

PRIMEIRÍSSIMO PLANO DOS ROSTOS DE ANA E SOPHIA SE TOCANDO


PELO NARIZ.
END FLASHBACK:

34 INT. ANFITEATRO - CONTINUAÇÃO


Sophia chega na porta anfiteatro e fica parada na entrada.
Ela hesita por um segundo. A linha de entrada é o que a
separa do sonho. Sophia fecha os olhos, respira fundo e
entra.

PLANO DETALHE LATERAL DOS PÉS DE SOPHIA ENTRANDO.


Lentamente, ela anda em direção ao palco. O momento parece
estar em um eterno slow motion em sua mente.
Ao subir no palco, há apenas um microfone no pedestal, e um
feixe de luz amarela ilumina o banco. Vemos 3 jurados na
plateia e algumas pessoas espalhadas pelo local.
Com o violão em mãos, Sophia senta e se prepara. Ela não diz
palavra alguma. Apenas fecha os olhos, respira fundo e começa
a melodia.
SOPHIA
"YOU AND I HAVE A HISTORY BEFORE
MINE STARTS
YOU AND I SHARE A HEART SINCE MINE
GAVE UP..."
Seu canto expressa confiança. Ela nunca pareceu ou soou tanto
como uma estrela genuína.
Durante a ponte musical, os olhares de todos presentes são de
admiração. Isaac, jurados e outros concorrentes se
surpreendem pelo talento da garota. Em uma palavra, ela é
fascinante.
29.

Agora, ela é uma nova Sophia!


CORTA PARA:

35 INT. CASA - SALA - CONTINUAÇÃO


Ana e Jorge estão em frente à TV, assistindo ao programa do
festival.
O olhar do pai descreve sua surpresa pela performance da
filha e, com olhos marejados, olha para Ana.
Ana curiosamente encara a tela à sua frente. Por um momento,
ela parece confusa até que...
Em total silêncio, Ana apenas esbanja o relance de uma
lágrima - é Sophia! E, tão sutilmente, por apenas um segundo
fugaz, Ana sorri. É o tipo de sorriso que você pode perder se
piscar - mas é o suficiente para sinalizar que ela reconheceu
a melodia que Sophia tocou.
Ela toca no colar que está usando... É como se seus olhos
estivessem conectados um ao outro.
CORTA PARA:

36 INT. ANFITEATRO - CONTINUAÇÃO


No palco, Sophia continua ferozmente cantando sua música.
Ela toca o colar e...
CORTA PARA PRETO.
Créditos.
FIM.

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