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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

JÚLIA OLIVEIRA ROCHA (Nº USP: 11817568)

A REPRESENTAÇÃO DO RETORNO E DA ESPERANÇA NA PEÇA


TEATRAL “FREI LUÍS DE SOUSA”, DE ALMEIDA GARRETT E NO ÉPICO
GREGO “ODISSÉIA”, DE HOMERO

Avaliação apresentada à
disciplina de Literatura
Portuguesa II, ministrada pelo
Prof. Paulo Fernando da Motta
Oliveira, para obtenção da nota
semestral.

São Paulo, 21 de dezembro de 2022.


Neste trabalho analisaremos duas obras que dialogam entre si apesar da enorme
diferença entre eras. A primeira, Frei Luís de Sousa, escrita por Almeida Garrett, estreado em
1843 e publicado em 1844 com notas do autor, é um drama teatral dividido em três atos
baseado livremente na vida de Frei Luís de Sousa - nome adotado por frade Manuel de Sousa
Coutinho - e que narra uma história de paixão, culpa, receio e redenção. Adiante, a segunda
produção é o clássico poema épico grego Odisseia, atribuídos a Homero, lançado no século
VIII a.C.. É clara as influências que os clássicos exercem sobre as escrituras mais atuais e a
escrita de Garrett nos demonstra muito bem isso. No decorrer dos poemas, é possível perceber
as semelhanças com a peça portuguesa, partindo do ponto de que, numa interpretação
conjunta, as obras de Garrett e Homero contam estórias de jornadas, batalhas em campo e
internas e volta para casa, na qual todos os personagens reagem àquilo de uma forma muito
particular e característica. Dentre eles culpa-inocência da figura da mulher, fidelidade,
esperança, etc.
Ao ler a obra de Garrett percebe-se que como pano de fundo ela é uma ode aos
clássicos que tanto influenciaram a escrita de diversos autores da época. Iniciando então a
leitura deparamo-nos com um monólogo da personagem D. Madalena que já referencia um
clássico conhecido por nós: Os Lusíadas. Ela compara o amor de Inês de Castro e Pedro ao
amor que nutre por Manuel de Sousa Coutinho, o mito do amor trágico, infeliz e proibido.
Manuel é um fidalgo que após o desaparecimento D. João de Portugal se casa com Maria.
Este início é um perfeito exemplo da intertextualidade que será utilizada por Garret ao longo
desta peça.
A Odisseia se trata da a jornada heroica de Odisseu, que lutou na guerra de Troia e
agora inicia a volta com seus companheiros para seu reino, em Ítaca, após as batalhas
terminarem. Ele é obrigado a ir à guerra de Troia e deixa para trás sua esposa e seu filho de
um mês de idade, Telêmaco. A guerra dura 10 anos e seu regresso quase 20. A esposa
Penélope, que acreditava na volta do seu rei e marido, estava sendo pressionada por um grupo
de pessoas que queria tomar o poder. Esse grupo dizia que Odisseu estava morto e que ela
deveria se casar com um dos “pretendentes” ao cargo de rei.
Enquanto isso, Odisseu, por uma série de peripécias, tem seu regresso muitas vezes retardado,
mas eventualmente, com a ajuda de seu filho Telêmaco e Athena regressa à sua terra natal na
qual Penélope o aguardava ansiosamente por todos esses anos.
Ao sabermos a história da Odisseia muitas semelhanças e diferenças já se mostram
evidentes. Primeiramente gostaria de falar sobre os “heróis” de cada uma destas histórias:
D.João e Odisseu. D. João é um gentil e um fidalgo corajoso e de certa forma se mostra como
uma figura misteriosa mas ao mesmo tempo heroica por conta de seu desaparecimento na
batalha de Alcácer Quibir. O mesmo acontece com Odisseu que ficou por anos longe de sua
casa e família também. Em ambos os casos passaram-se quase 20 anos de desaparecimento
nos quais suas famílias, amos e demais pessoas se perguntavam “teria ele sido capturado ou
até mesmo morrido em batalha?”. A grande diferença é que em Odisseia o personagem foco é
de Odisseu, o leitor acompanha a sua jornada, mas no caso de Frei Luís de Sousa não
podemos dizer o mesmo, já que não acompanhamos as aventuras de retorno do nosso
cavaleiro.
Contrariamente a isso temos uma história que mostra a angústia eterna da ex-esposa de
D. João de Portugal. Seu medo profundo a corria a medida que tinha medo de sua volta por se
considerar uma pecadora, por ter se casado com outro homem, um fidalgo de seu ex-marido.
Mas Penélope mostra um lado diferente: ela estava determinada a não se ceder pressões de se
casar com outros pretendentes, manteve-se fiel e tinha fé na sobrevivência de Odisseu. A
esperança de madalena é obscura, é um mau presságio. Ela nao quer q seu ex-marido volte.
Isso tiraria a legitimidade de seu casamento, consequentemente de sua filha e tornaria a sua
culpa de amar Manuel de Sousa Coutinho ainda mais realista. Todo o peso de anos viria, de
fato, à tona. Curiosamente nota-se que na história de Odisseia, na verdade aquele que se sente
culpado é o próprio Odisseu por passar tempo com suas amantes nas ilhas do caminho e estar
tão longe de sua amada e seu filho e, portanto, demorar para voltar para casa.
Por último é possível fazer um breve comparação lexical entre as palavras “romeiro” e
“ninguém” usadas por D. João e Odisseu consecutivamente. Ambos utilizam da manobra de
ocultação de identidade, mas, por motivos diferentes.
Como visto, tanto as histórias de Frei Luís de Sousa quanto a de Odisseia se
distanciam apenas em idade. Quando postos em conjunto, além de as analogias se
aproximarem e expandirem as significações presentes em ambos, eles são uma experiência
que nos diz onde nos basearmos ao escrevermos histórias. Almeida Garrett se mostra, de fato,
respeitoso aos clássicos ao retratar uma narrativa de uma jornada mas por um ponto de vista
diferente da do herói e com uma esperança angustiante. Em ambas as obras nota-se que o
religioso teve de certa forma sua influência, ainda que de maneiras diferentes, sendo uma para
aconselhar na jornada e a outra para a expiação dos pecados como forma de perdão. Enfim, as
narrativas em questão mostram a esperança de pontos de vistas diferentes sendo a de
Madalena não como demonstração de fé, mas sendo involuntariamente fruto da consciência
pesada e do pecado.
Referências bibliográficas

VASQUES, Eugénia. Para uma leitura renovada do Frei Luís de Sousa. Teatro Nacional D.
Maria II: Ano das Comemorações do Bicentenário do nascimento de Almeida Garrett,
Lisboa, 15 jan. 1999.

ODISSEIA. [S. l.], 29 maio 2005. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Odisseia.


Acesso em: 28 nov. 2022.

A ODISSEIA │Literatura. Gravação de Canal reVisão. [S. l.: s. n.], 2018. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ObHG3_YsvDM. Acesso em: 28 nov. 2022.

FREI Luís de Sousa, Almeida Garrett. Estuda assim para os Testes e Exames!. Roteiro: Sara
Couto. Portugal: [s. n.], 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=H1Qsx5llG3c. Acesso em: 28 nov. 2022.

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