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EXTENSIVO
UNICAMP
2024
Aula 00 - Fundamentos
Exasi
O que é filosofia; Áreas da Filosofia; Nascimento da filosofia; Mito;
Pré-socráticos; Sócrates; Platão; Aristóteles
.
u
Prof. Fernando Andrade
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estretegiavestibulares.com.br vestibulares.estrategia.com
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 4
Filosofia no Vestibular 5
Metodologia 6
Quem Sou Eu? 9
PLANO DE AULAS 9
Áreas da Filosofia 10
Programação 11
TEMA 11
CONTEÚDO 11
1. O QUE É FILOSOFIA? 12
2. A RAZÃO 21
3. MITO 32
4. NASCIMENTO DA FILOSOFIA 39
4.1. Pré-Socráticos 40
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4.1.1 Pitágoras 43
4.1.2 Demócrito 43
5.1. Sócrates 52
5.2. Os sofistas 53
6.1. Platão 60
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7.6 E o movimento? 77
7.7 Lógica 77
9. QUESTÕES 87
Apresentação
Prezado vestibulando,
Seja bem-vindo! Você que deseja uma ótima pontuação na UNICAMP. A Comissão Permanente para
os Vestibulares da Unicamp (Comvest) anunciou no dia 21 de março de 2023 que irá introduzir questões
específicas de filosofia e sociologia no vestibular de 2024. Serão 3 questões de cada uma das disciplinas.
Como essa exigência é nova, não se tem ainda o histórico da banca. Nesse caso, o material
apresentado deve ser o mais completo possível dentro do que se espera que um aluno que terminou o Ensino
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Médio domine. A tarefa do Estratégia Concursos é auxiliá-lo nos seus estudos para que seu esforço seja
eficiente
Para determinar o conteúdo, parceiro de viagem, usei como parâmetro questões que já caíram no
ENEM e em vários vestibulares. Isso me permitiu selecionar cirurgicamente aquilo de que você necessita,
para você não se perca no mundo maravilhoso da filosofia (sim, eu gosto muito de filosofia).
Obrigado pela sua companhia e confiança. Pode estar certo de que será recompensado.
“Bora lá”?
Filosofia no Vestibular
Há quatro maneiras de se cobrar filosofia nos vestibulares:
Trata-se de uma abordagem superficial da Filosofia. Muitos filósofos tiveram papel importante na
mudança de paradigmas sociais e passam a ser estudados por conta disso. Esse é o caso de Platão, de
Aristóteles, dos iluministas, de Marx etc. Em outros casos, a partir do estudo da filosofia, o historiador
percebe a relação entre os dilemas sociais de uma época e a produção cultural. É o caso do vínculo, sempre
discutido, entre democracia grega e nascimento da filosofia.
De qualquer maneira, o conhecimento nesse caso é básico e, muitas vezes o que o professor de
história menciona já é suficiente para resolver as questões.
História da Filosofia
Questões desse tipo são difíceis. A banca cobra o conhecimento das ideias propostas pelos principais
pensadores. As questões da UEL (Universidade de Londrina) apresentam essas características. Não basta
saber conceitos básicos. Deve-se conhecer o nascimento da Filosofia; a Filosofia antiga com seus dois
grandes pensadores, Platão e Aristóteles; a Filosofia medieval; Descartes e começo da Filosofia Moderna; e
a filosofia contemporânea.
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Às vezes, a banca resolve cobrar o conhecimento aplicado, ou seja, o vestibulando deve encarar um
texto com linguagem filosófica e responder questões sobre o texto. Exige-se um certo conhecimento de
filosofia, mas um competente leitor também poderia resolver a questão.
Temas Filosóficos
A disciplina filosofia pode ser ensinada a partir da história do pensamento ou por temas que
envolvem os alunos pela contemporaneidade do que se discute. Isso permite utilizar mais de um filósofo
para discutir o tema.
Contudo, esse tipo de abordagem não pode ser direcionado. Cada professor seleciona um conjunto
de temas que lhe permite desenvolver vários autores de épocas diferente. Esse traço didático desse tipo de
abordagem torna a cobrança de filosofia no vestibular quase impossível.
Pode cair, sim Corujinha ligada, e caí bastante até. A banca pede que o candidato interprete um
texto jornalístico e assinale a alternativa que apresenta um comentário filosófico sobre o fato, por
exemplo.
Metodologia
Para cumprir a tarefa de ofertar um material suficiente para seu preparo, elaborei um curso no
qual:
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Resolução e
Interpretação de
Simulados comentários de
fragmentos filosóficos
questões inéditas
Resumos
Ao começar um tópico, trato do conceito, depois passo para a parte minuciosa que inclui autores e
pensamento.
Boa parte das questões da prova deve girar em torno do conceito. Se você tiver pouco tempo para
estudar, essa é uma forma de, pelo menos, entrar em contato como as noções mais importantes. Estudar
com atenção o início de cada tópico pode ser importante.
Contudo, filosofia é uma área do conhecimento em que a decoreba mais atrapalha do que ajuda.
Isso significa que, muitas vezes, será necessário explicar de forma bem didática. É a compreensão anterior
da ideia que fará você perceber qual a alternativa está correta, pois, muitas vezes, a diferença entre a
correta e a “quase correta” é de nuance. Algo sutil que só é percebido por quem entendeu a matéria.
Exatamente, prepare-se para ler com qualidade (compreendendo a ideia) e para fazer muitos
exercícios. De qualquer maneira, vou tentar ajudá-lo na tarefa. Ao final de cada tópico importante, você
encontrará algumas questões selecionadas para fixar o que você estudou.
Depois , haverá um quadro sinóptico ( um resumo esquemático), não se esqueça de repassá-lo depois
de fazer os exercícios. Isso ajuda na fixação da matéria. Mas faça também as suas anotações. Na véspera
do exame, consulte os quadros dos pdfs e suas anotações.
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Atenção: Todo esse trabalho só terá efeito se você tiver uma perspectiva apropriada sobre
essa área do conhecimento. Filosofia é estranha? Pode até ser, mas você deve se esforçar
por entender o conceito ou o raciocínio. Não precisa concordar com a ideia e não deve
decorá-la.
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Tenho um grande prazer em exercer a profissão que escolhi e, em especial, curto produzir textos.
Escrevi minha dissertação de mestrado, a parte de redação do Manual Luft Globo e materiais diversos para
os cursinhos em que trabalhei. Resumindo, gosto de escrever, estudar e ensinar.
Fonte: Pixabay
eu possa selecionar o que é mais relevante para você nessa empreitada.
Seu esforço será recompensado. Claro que você terá que fazer sacrifícios.
Sei muito bem o que é estudar várias horas por dia, esquecer que finais
de semana são para descanso, riscar do caderno a palavra “balada”, ficar
sem saber do último lançamento cinematográfico. Mas vale a pena.
P.S.: Eu uso pochete e tenho uma tese a ser comprovada de que Sócrates também usava....
Plano de Aulas
Preparei um curso com 3 aulas. Serão bastante informativas e longas, mas darão conta do recado.
Elas estão organizadas de acordo como as áreas da filosofia.
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Áreas da Filosofia
Para começar falar das áreas da filosofia é preciso entender o
básico dessa área de conhecimento ou melhor do desconhecimento.
Lembre-se, apesar de todos os sistemas filosóficos criados, FILOSOFIA
É QUESTIONAMENTO.
1
A serventia disso veremos mais à frente. O que interessa agora é para que, para 4 áreas, os filósofos
dirigem essa pergunta radical.
1O quadro de Salvador Dali retrata justamente o tempo sob a perspectiva da subjetividade,que tem outra lógica. Imagem disponível em
https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/, acessado em 08.05.2019.
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O curso está dividido nessas áreas e conforme o peso dessas áreas no Vestibular. A maioria das
questões gira em torno de Epistemologia (teoria do conhecimento) e Ética. Por isso, esses temas serão
trabalhados mais extensivamente.
Além disso, é importante ressaltar que um pensador normalmente desenvolve um sistema filosófico
que contempla dois, três ou até mesmo todos esses campos. Como dividi em áreas para o estudo, serei
obrigado a discutir um pensador mais de uma vez. Tome como exemplo Aristóteles. Vou falar de Aristóteles
em Teoria do Conhecimento, em Ética, em Estética e em Política. É muito Aristóteles, não é verdade? Mas
você verá que serão abordagens diferentes.
Programação
TEMA CONTEÚDO
AULA 1 – Teoria do Conhecimento: Da Filosofia medieval: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Idade Média à Idade Moderna Filosofia no Renascimento. Filosofia Moderna: Descartes,
Hume e Kant. Noções Gerais do Iluminismo segundo Kant. A
racionalidade na História: Hegel e Marx.
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Média: a concepção medieval do poder; Renascimento e
Maquiavel; Iluminismo e os Contratualistas; Liberalismo;
Crítica do pensamento político: Marx; Contemporaneidade:
Habermas e Hannah Arendt; Rawls. Considerações sobre a
crise da ideia de política.
1. O que é filosofia?
Para pensar:
O que você quer dizer quando afirma que está
refletindo sobre um assunto?
Para compreender...
Ao final desse tópico, responda:
O que é a filosofia?
Figura 2 : Pixabay
A palavra Filosofia vem do grego, e estranhamente significa amor/ amizade (filo) à sabedoria (sofia).
Preste atenção nessa tradução, ela, às vezes, frequenta questões. Mas isso diz pouco, porque o próximo
passo é definir sabedoria. No caso da história da filosofia ocidental (a que nasceu na Grécia), sabedoria
significa não se entregar à opinião ou ao achismo. Ou seja, sábio era aquele que não se deixaria levar por
qualquer ideia que fosse divulgada, mesmo que fosse pelo Papa, e olha que nem havia Papa naquela época.
Novamente isso diz pouco. Por quê?
Atenção: Não se define quase nada por uma oração negativa. Se eu digo ”a roupa não
Figura 2 : Pixabay
é amarela”, há uma gama grande de coisas que ela pode ser. Dizer que a filosofia é não
aceitar o senso comum é definição precária.
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Perguntar por “o que é o tempo” é perguntar pelo fundamento dessa palavra toda vez que a usamos,
mesmo das formas mais corriqueiras. E como podemos responder a essa pergunta? Observando o que
ocorre no mundo não basta. Quanto a isso, Kant (filósofo alemão do século XVIII) tinha toda razão quando
dizia que tempo não existe. Ele não existe na nossa experiência do cotidiano como uma coisa observável.
Onde está o cheiro do tempo? Onde está o som do objeto tempo? Onde está o gosto do tempo? Onde está
a forma que pudesse ser tocada do tempo? Onde está o aspecto visual do tempo?
Você já deve estar dando risada e dizendo: mas é claro que o tempo existe, eu cresci. Verdade, mas
você deduz que o tempo existe porque se lembra de quando era pequeno e percebe que agora, mais velho,
você tem outra aparência. Em outras palavras, o tempo é deduzido. Pois é, a filosofia pergunta pelo
fundamento de nossas ideias que não podem ser determinadas simplesmente pela observação da
realidade. É preciso deduzir “ideias mestras” (parâmetros, conceitos, paradigmas) que devem servir para
suporte de afirmações que não sejam pura opinião.
Você estar pensando que isso é um desperdício de tempo. Não é bem assim. Vamos considerar algo
muito importante para alguém que deseja ser policial. Essa é uma atividade executiva da justiça, executiva
porque põe em prática o que o juiz decidiu. Ora, para saber o que é próprio da atividade de um policial, é
2O quadro de Salvador Dali retrata justamente o tempo sob a perspectiva da subjetividade, que tem outra lógica. Imagem disponível em
https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/, acessado em 08.05.2019.
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preciso saber como definir a tal da justiça. Há várias definições e cada uma produz um efeito diferente. Se
considerarmos, como Rousseau, que a propriedade privada é injusta, um policial que protege a tal
propriedade não está exercendo a justiça.
Por outro lado, posso considerar o que dizia Locke. Para ele, cada ser humano tem direito àquilo que
conseguiu pelo trabalho, sendo sua propriedade. Isso significa que se alguém toma algo de uma vítima, o
prejudicado tem o direito de se vingar. Numa sociedade “civilizada”, diria Locke, esse direito individual foi
dado ao Estado. O policial, portanto, é aquele que, no Estado, faz cumprir a justiça, no caso uma vingança.
Ou seja, por essa premissa, o trabalho policial é justo. Adivinha qual das premissas fundamentam a nossa
Constituição?
Mas voltemos à definição e vou repeti-la para você fixar bem: a filosofia problematiza os conceitos
que usamos no cotidiano e estuda os seus significados. Ela é muito parecida com a ciência, também na
ciência, há problematização do cotidiano. Mas qual a diferença?
E, nesse momento, gostaria que você assimilasse outra palavra, empirismo. Essa palavra significa
conhecimento que se tem a partir da experiência da realidade. Se você aprendeu trocar a resistência do
chuveiro da sua casa tomando choque, você tem conhecimento empírico, se você aprendeu lendo um livro,
seu conhecimento é teórico. Pois é, o conhecimento científico parte da empiria (realidade), enquanto a
filosofia parte do conceito.
Voltando à nossa questão anterior. Quando eu pergunto “o que é justiça?”, o começo do processo
é conceitual. O que se pode responder? Será preciso um esforço sistemático do pensamento para podermos
responder algo que não seja desmentido pelo mundo empírico.
Todos aqueles problemas que não podem ser respondidos pelo método científico são objeto da
filosofia: deve-se dizer a verdade? Por que esse objeto é belo? Como se dão as relações de poder? Deus
existe? É possível realmente conhecer a realidade?
Essas perguntas nos levam às 5 áreas da filosofia, vistas no começo deste pdf.
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1ª Explicação
Há muito tempo atrás, só havia dia. A filha da deusa Boiúna, apesar de casada, não
conseguia dormir com seu esposo, pois ela estava aguardando a noite. Então, o
indiozinho pediu a 3 amigos que busquem a noite. Eles foram até o reino da Boiúna,
invocaram-na, e ela lhes entregou a noite num coco de tucumã com ordens expressas
de que eles não deveriam abrir o coco. No retorno, o mais jovem deles, ouvindo os
barulhos do coco, abriu e dexou escapar a noite. A noite foi transformando toda a
realidade, trazendo para o mundo o barulho da noite e os perigos dos animais noturnos.
(Lenda dos Karajás)
2ª Explicação
Como a terra é redonda, a parte voltada para o sol está iluminada (dia) enquanto a
parte de trás fica nas sombras (noite). A passagem de um estado para outro ocorre por
causa do movimento de rotação da terra. No espaço de 24 horas, o que estava iluminado
fica escuro e vice-versa.
Essa arte mostra como se dá o processo de conhecimento. O olhos (ou os sentidos) captam os
fenômenos que são absorvidos pela mente como imagem do real. Basta você imaginar que a imagem
captada pelo olho fica invertida no fundo do olho, fato que exige um trabalho mental para inverter
novamente a imagem. Ou seja, a percepção que temos do real é medida por um jogo corporal que altera a
sensação que temos do real.
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Pois é... Corujinha assustada, é impossível que tenhamos percepção do real tal como ele é. Lembre-
se de que algo que é corporal, como a temperatura do corpo, altera toda sua compreensão do que ocorre a
sua volta. Já percebeu que o mundo fica diferente quando você está com febre?
Mas é por isso que entra em jogo a elaboração mental da realidade. As observações de fenômenos
que se repetem levam os homens a produzirem explicações, hipóteses ou teorias. Uma lenda como a do
índio é uma explicação baseada em observações.
A premissa do povo que inventou a lenda é de que tudo o que se modifica é provocado por algo. Ora,
provocações intencionais só podem ser realizadas por seres com consciência. Se o dia e a noite é um
fenômeno de mudança, ele ocorreu motivado por alguém com poder superior: um deus.
Qual o problema dessa hipótese? É que, ao aplicá-la para prever mudanças por exemplo, ela falha.
Então, pode-se começar a desconfiar de que essa explicação não descreve o real como deveria. Ela é uma
ilusão.
Como seria o processo de explicação da teoria da rotação da Terra?
Fonte imagem: Pixabay; gáfico: showweet
Claro, é o mesmo processo. A diferença é que a nova teoria parece prever fenômenos com
mais eficácia, sendo assim deve ser mais verdadeira. Por isso eu disse que tanto o mito como
a explicação da física são conhecimento, no sentido de que ambas proposições são explicações da realidade.
Lógico que o primeiro é um conhecimento ilusório e o outro um conhecimento mais “verdadeiro”.
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3Disponível em https://filosofiaefilosofiasnorenascimento.wordpress.com/2013/12/21/galileu-filosofia-e-ciencia-parte-ib/,
acessado em 08.05.2019
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Então o que vamos estudar em Epistemologia?
✓ Racionalidade
✓ Nascimento da Epistemologia (e da filosofia)
✓ Os primeiros métodos reconhecidos como sendo aceitáveis para explicar o real: Idealismo e
Realismo
✓ Inatismo, Dogmatismo, Empirismo
✓ Conhecimento científico
É engraçado falar em instrumento de pesquisa em Filosofia porque é tudo “papo cabeça”. Você já
deve ter percebido que o objeto da filosofia é o pensamento, pois conceitos são ideias produzidas pelo
pensamento e o instrumento de pesquisa também passa pelo pensamento.
Vamos retomar a ideia de que filosofia tem a ver com aquela sabedoria que eu expliquei
anteriormente: a sabedoria de não aceitar a primeira opinião, a primeira ideia. Por quê?
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O que é uma opinião? É uma afirmação que emitimos sobre o mundo. A todo momento emitimos
opiniões, porque elas balizam a nossas atitudes. Por exemplo, se acho que vai chover porque o céu está
escuro, provavelmente, levarei um guarda-chuva. O problema passa a ser quando acreditamos em
afirmações totalmente falsas em momentos que precisamos tomar alguma ação urgente.
Recentemente, no Irã, pessoas morreram porque acreditaram que, bebendo etanol, poderiam se ver
livres da ameaça do coronavírus, que não resiste ao álcool. Lógico que, em outras situações, a opinião é
inofensiva, pelo contrário, serve para unir as pessoas. O que seria de uma festa se as pessoas não
manifestassem opiniões?
O problema é quando opiniões se passam como verdades e, mais ainda, quando se cristalizam em
forma de ideias que não podem de forma alguma ser contrariadas, tornando-se quase um dogma. E preste
atenção a essa palavra. Você tem que saber o que é dogma. Dogma é opinião que alcança o status de verdade
absoluta que não pode ser contestada.
Essa passagem da opinião de fraca evidência para o status de impressão de verdade ocorre quando
opiniões circulam e são repetidas criando um sistema de valores que nem questionamos. Isso é o que
chamamos de senso comum.
O termo já diz tudo , trata-se de um juízo (senso) compartilhado por todos e tão amplamente, que
acreditamos ser verdadeiro, pois todo mundo pensa assim. Qual o problema desse tipo de pensamento? Ele
engana. No quadrinho da Mafalda, acima, a Mãe, apoiando-se em frases feitas, bastante reconfortantes, dá
uma resposta para aquilo que ela não sabe.
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Segundo Maria L. A. Aranha e Maria H. P.Martins, o senso comum pode ser definido como?
Podemos apontar algumas das características do senso comum que mostram o perigo de se valer
desse expediente quando o conhecimento da realidade se faz necessário.
Superficial
Daí para se transformar no ditado “a voz do povo (do senso comum) é a voz de Deus. E qual o
problema? Com Deus não se discute. E a história da ciência mostra muito bem isso. A Terra é o centro do
universo, a doença é provocada pelo desequilíbrio dos humores, o sangue menstrual tem propriedades
mágicas são algumas das ideias do senso comum que impediram, durante algum tempo, a ciência de avançar.
Isso para não falar nos preconceitos. O mais flagrante deles, o de que os negros eram inferiores,
deixou marcas profundas em todo o mundo até hoje.
Como mostrar a falsidade do senso comum? Através dos erros lógicos cometidos pelas pessoas ao
repetirem o senso comum ou ao darem opiniões que simplificam demais a realidade.
O antídoto para isso é o pensamento da filosofia. Diz-se sistemático porque obedece a um método e
também porque a postura filosófica consiste em analisar cada um dos apoios que permitiram a alguém fazer
uma afirmação
Por exemplo, diante da afirmação da mãe da Mafalda de que viemos ao mundo para trabalhar,
podemos perguntar como ela chegou a essa conclusão. Depois podemos apresentar uma contraprova.
Alguém que veio ao mundo e não trabalha, ele não merece viver? Nesse momento, percebemos que seria
importante definir o que é trabalhar. Bom, já comecei a pôr em prática os instrumentos de pesquisa. Vamos
deixar isso mais claro.
Há um método.
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Fonte: Showeet
FRACOS; PROCURAR OS
FUNDAMENTOS DE UMA
AFIRMAÇÃO
Opinião
2. A razão
Para compreender...
Ao final desse tópico, responda:
Figura 2 : Pixabay
O que é razão ?
Quais características do pensamento racional ?
Esse método filosófico é pautado pelo que costumamos chamar de razão. No senso
comum, ter razão remete a uma luta de opiniões. Ganha quem tem o melhor argumento. De certa forma,
razão realmente se relaciona com o melhor argumento, mas é mais do que isso.
Na filosofia, tal palavra, durante muito tempo, quase se tornou sinônimo de filosofia.
Bom, vamos para a pergunta que qualquer filósofo adora fazer....O que é razão ou lógica?
O senso comum diria que pensar é refletir, pensar. Então passemos para a sessão...
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Fonte: Shutterstock
Percebemos qu~~~´-e há fenômenos regulares, como as estações do ano, devido à memória e algo
próprio da mente humana (intuição), que compara momentos diferentes e consegue perceber repetições.
Isso permite que alguém imagine que, na próxima primavera, por exemplo, as plantas irão florir.
Quando a matemática surge timidamente no Egito, ela tem uma finalidade prática: a contabilidade
de grãos e a distribuição dessa riqueza. Os gregos irão mais longe. Perceberão na matemática uma linguagem
à parte. Pitágoras vai dizer que tudo é número, acreditando que tudo no universo exala proporção e poderia
ser expresso em fórmula matemática.
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Mas, acima de tudo, o que mais impressionou os pensadores é o fato de que tal área do conhecimento
se vale de uma linguagem perfeita que não admite ambiguidades e que leva a uma conclusão exata e
incontestável.
Os gregos vão eleger essa habilidade mental como a mais importante e vão postular a primazia da
razão diante de todas as outras habilidades. Isso leva a uma pedagogia da razão. Ela deve ser ensinada. Além
disso, a boa ordem social seria aquela que mais se aproximasse do cálculo lógico da razão.
Para tanto, há um método. Pode ser o método científico que veremos mais à frente, pode ser o
método filosófico que já vimos e que inclui a lógica (que será considerada no final desse pdf). Resumindo,
em filosofia, muitas vezes, razão é essa capacidade humana de ligar ideias para produzir conclusões.
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Conta o tio Hesíodo4, que no princípio das eras, Zeus teria dado aos
irmãos Epimeteu e Prometeu a tarefa de criar os seres que habitariam Gaia
(a Terra). Epimeteu reuniu todos os animais para distribuir dons que os
distinguissem: velocidade, coragem, força, asas, dureza etc. Contudo,
Epimeteu não conseguiu distribui-
los com equanimidade e faltaram justo aos homens atributos que
pudessem assegurar a esse ser armado por Prometeu com a
possibilidade mínima de sobrevivência.
Pense na história substituindo “fogo” por “razão”, Corujinha atenta. O que Prometeu realmente deu
aos homens foi a capacidade de criar e construir instrumentos com os quais ele poderia modificar o mundo
a seu favor. Nesse sentido, o conhecimento da realidade é fundamental para o homem.
Acho o mito incrível, pois ele descreve a fragilidade do homem sem a razão. A espécie humana é a
mais fraca e desprezível entre todos os animais. O homem não tem nenhuma qualidade física que garanta
sua sobrevivência e proeminência entre os seres na Terra. A racionalidade faz a diferença.
Por quê? Se o homem é capaz de perceber a realidade, ele consegue avaliá-la, prever o que vai
acontecer e se preparar de forma reativa (proteção) ou de forma ativa controlando as forças da natureza a
seu favor. Pense em todas as grandes conquistas humanas de domesticação da natureza, por exemplo, o
controle das infecções. Somente com a invenção do microscópio foi possível descobrir que várias doenças
poderiam ser provocadas por esses microrganismos e, a partir desse conhecimento, foi possível combatê-
los. Observe o gráfico abaixo.
4
Hesíodo, aedo (poeta e uma espécie de profeta) grego que teria vivido entre 750 e 650 a. C. Na obra escrita posteriormente, Teogonia, ele
conta de forma poética as epopeias dos deuses gregos a partir da perspectiva da Grécia arcaica e rural.
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O eixo vertical é o do número populacional e o eixo horizontal é o das eras históricas. Ele apresenta
a evolução da população mundial. A datação começa em 1.000.000 a.C. (estimativas) até 2010 d.C. Observa-
se claramente que a partir de 1750 há um crescimento exponencial da população humana.
As causas para isso têm a ver com a revolução científica que toma o século XVIII e XIX (observe que a
partir de 1750, a população começa a crescer de forma exponencial). Esse é o período das descobertas na
área da biologia e de ações da engenharia na área de saneamento básico, que vão modificar a expectativa
de vida.
Pode-se dizer que somente quando o conhecimento fundado na razão se tornou onipresente na vida
do homem, ele consegue se sobrepor aos seus predadores, sejam eles visíveis e invisíveis. É a partir do século
XIX que a equação se inverte e o homem passa a ser a grande ameaça a todas as espécies animais, por conta
da Razão.
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Pensar dessa maneira significaria ter uma concepção eurocêntrica da realidade. A definição da
Wikipédia é muito boa, segundo o site “o eurocentrismo é uma visão de mundo que tende a colocar a Europa
como o elemento fundamental na constituição da
sociedade moderna, sendo necessariamente a
arges.html, acessado em 09.05.2019)
http://entrelinhas23.blogspot.com/2015/06/ch
(disponível em
Aplicando isso à nossa discussão, fica mais fácil entender por que o Eurocentrismo é complicado. Os
europeus estenderam sua forma de vida para o planeta inteiro, estilo fundado nos parâmetros racionais de
avaliação. Pedir que se julguem as outras civilizações por essa régua, que é europeia, significa trapacear no
jogo.
Que enrascada! Para entender melhor a questão, seria interessante entender os pressupostos de
outras filosofias. Há duas grandes vertentes filosóficas na antiguidade: a indiana (Sidarta Gautama) e a
chinesa (Tao, de Lao-Tsé; as ideias de Confúcio). Essas vertentes têm como ponto em comum a preocupação
ética ou política.
É nesse ponto que a Filosofia grega se distancia de qualquer outra aventura do pensamento. Os
gregos, inicialmente, ousaram questionar a Religião oficial; depois ousaram questionar tudo o que sabiam e
cultuaram a dúvida acima de tudo. Além disso, elaboraram toda uma discussão sobre o próprio
conhecimento que não encontramos paralelo em qualquer outra civilização e filosofia.
Em outras palavras, ela não é melhor que as outras, mas é a mais adequada para esse mundo que
está aí.
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Com relação à delimitação do campo da filosofia e de seus instrumentos de pesquisa, analise as afirmativas
a seguir:
( ) A filosofia é o estudo sistemático de perguntas que não podem ser respondidas empiricamente.
( ) O método filosófico difere do científico simplesmente pelo fato de que a conclusão a que se chega não
será dogmática.
( ) O rigor pela tentativa de ir além do senso comum levou a filosofia a desenvolver a lógica.
Sendo V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s), a sequência correta é:
a) F – V – F;
b) F – V – V;
c) V – F – V;
d) V – V – F;
e) F – F – V.
II. A Filosofa se expressa como atividade especulativa na busca e na análise dos pressupostos que pretendem
fundamentar uma verdade
III. A Filosofa se expressa como atividade reflexiva na intenção de questionar a produção cultural humana.
IV. A Filosofa se expressa como atividade interlocutora do conhecimento estabelecido em forma de ciência
tematizando a sua fundamentação, a sua justificação.
a) I, II e III, apenas
c) III, IV e V, apenas
d) I,III e V, apenas
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3. Autoral
Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora;
perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a
respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo. E
o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em
certo sentido, um filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para
fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária.
(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.)
a) o trecho manifesta uma certa incoerência de Aristóteles, pois fugir da ignorância é uma função utilitária.
b) Aristóteles não faz qualquer distinção entre o amigo dos mitos e o filósofo.
c) Percebe-se uma visão aristocrática da filosofia, já que o conhecimento nasce da admiração não utilitária.
e) A filosofia deve ser permeada pela postura modesta de quem sabe que é ignorante em relação à realidade.
Gabarito
1. C
2.E
3. C
Questões comentadas
( ) A filosofia é o estudo sistemático de perguntas que não podem ser respondidas empiricamente.
( ) O método filosófico difere do científico simplesmente pelo fato de que a conclusão a que se chega não
será dogmática.
( ) O rigor pela tentativa de ir além do senso comum levou a filosofia a desenvolver a lógica.
Sendo V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s), a sequência correta é:
a) F – V – F;
b) F – V – V;
c) V – F – V;
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d) V – V – F;
e) F – F – V.
Comentário.
Segunda afirmação: falsa. O método científico segue um protocolo mínimo que envolve: observação da
realidade, hipótese, experiência, reelaboração da hipótese e divulgação. O método filosófico não tem todas
essas etapas. Além disso, tanto a ciência quanto a filosofia não são dogmáticas (não supõem verdades
absolutas).
Terceira afirmação: verdadeira. O fundamento principal da filosofia é o rigor do discurso; para isso vários
filósofos desenvolveram ferramentas discursivas que garantissem a coerência do que se fala, a mais notável
é a lógica.
Gabarito: C
II. A Filosofa se expressa como atividade especulativa na busca e na análise dos pressupostos que pretendem
fundamentar uma verdade
III. A Filosofa se expressa como atividade reflexiva na intenção de questionar a produção cultural humana.
IV. A Filosofa se expressa como atividade interlocutora do conhecimento estabelecido em forma de ciência
tematizando a sua fundamentação, a sua justificação.
a) I, II e III, apenas
c) III, IV e V, apenas
d) I,III e V, apenas
Comentário.
Primeira afirmação: verdadeira. A filosofia procura o fundamento das opiniões, as ideias ou conceitos que
servem de base para argumentos, nesse sentido, ela procura ideias que unificam e daí tira consequências.
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Segunda afirmação: verdadeira. “Filo” em grego significa “amor”; “sofia”, sabedoria.
Terceira afirmação: verdadeira. Essas três áreas do conhecimento se pautam pela procura de afirmações
que expliquem a realidade, elas diferem quanto aos métodos e quanto aos objetos. A religião tem como
objeto o sobrenatural; a ciência, a natureza; e a filosofia, as ideias e o pensamento.
Quarta afirmação: verdadeira. A racionalidade é a capacidade humana de fazer cálculos através de regras
precisas, tanto a ciência quanto a filosofia se baseiam em métodos.
Gabarito: E
Questão 3.
Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora;
perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a
respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo. E
o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em
certo sentido, um filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para
fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária.
(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.)
a) o trecho manifesta uma certa incoerência de Aristóteles, pois fugir da ignorância é uma função utilitária.
b) Aristóteles não faz qualquer distinção entre o amigo dos mitos e o filósofo.
c) Percebe-se uma visão aristocrática da filosofia, já que o conhecimento nasce da admiração não utilitária.
e) A filosofia deve ser permeada pela postura modesta de quem sabe que é ignorante em relação à realidade.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Dentro da perspectiva de um grego, o conhecimento se relacionava com a
contemplação, eles não faziam a relação que nós, modernos, fazemos entre conhecimento, tecnologia e
utilidade.
Alternativa "b" está incorreta. O texto diz que “o amigo dos mitos é, em certo sentido, um filósofo”, ou seja,
ele reconhece uma certa distinção entre esses dois personagens.
Alternativa "c" está correta. Aristóteles manteve a distinção platônica e mesmo grega que separava o
trabalho manual do trabalho intelectual. O último seria superior em relação ao anterior; por esse motivo, o
filósofo faz questão de salientar que a filosofia não tem valor utilitário.
Alternativa "d" está incorreta. A admiração do homem diante dos fenômenos astronômicos são o ponto de
partida para a admiração, mas isso não circunscreve a filosofia.
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Alternativa "e" está incorreta. O texto simplesmente destaca que a consciência da ignorância dá início à
filosofia, mas isso não significa que a própria filosofia seja permeada pela modéstia.
Gabarito C
✓ A filosofia se opõe ao senso comum “o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos
antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da
experiência vivida na coletividade a que pertencemos.
Trata-se de um conjunto de ideias que nos permite
interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores
que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir (ARANHA,
1993, p.35).”
Vocabulário da filosofia:
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Empírico: relativo à realidade, diz-se do conhecimento que se adquire pela experiência.
Dogmático: uma opinião que ganha status de verdade absoluta; crença.
3. Mito
Para pensar:
O mito tem alguma importância na sua vida, ainda
hoje?
Figura 1 : Pixabay
Ulisses
(...)
Fonte: Pixabay
Fernando Pessoa
A primeira forma de conhecimento que o homem desenvolveu foi o pensamento mitológico. Até
pouco tempo atrás, havia uma certa relutância em se aceitar o mito como uma forma de conhecer.
Normalmente, acreditava-se que tal forma de se relacionar com o mundo era totalmente ilusória e que não
haveria nada de verdadeiro nesse mecanismo que os nossos ancestrais desenvolveram para se situar no
mundo.
Qualquer tipo de explicação nasce da necessidade do homem de aplacar seu medo de estar no
mundo. O ser humano é, sem dúvida, um animal estranho. O medo, que é uma reação natural para defesa
da sobrevivência, no indivíduo homem, deixa de ser totalmente natural. O que o homem teme? Aquilo que
ele não pode conhecer.
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Pense nos crimes que tanto nos assustam. Qual o critério para que o relato deles nos impressione?
Dois critérios: a intensidade da barbárie do ato ou o não conhecimento do que motivou o crime.
O criminoso mais famoso da história, Jack, o estripador, foi um assassino que atuava na periferia de
Londres por volta de 1888. Ele era um assassino em série, alguém que matava sem um porquê. Isso nos
assusta, por isso nos impressiona até hoje.
Então, imagine nossos ancestrais jogados num mundo extremamente hostil, com rigores ambientais
insuportáveis e predadores por todos os lados. Conhecer essa realidade foi uma das formas que nossos
antigos parentes encontraram para conseguir aceitar essa realidade e adequarem-se a ela.
Essa fase se chama animista, porque supõe o momento em que os homens atribuem às coisas
inanimadas poderes semelhantes aos dos homens. O passo seguinte será o de atribuir determinadas
características de personalidade a esses espíritos. Nesse momento, o homem passa do estágio anímico e
entra no estágio mítico.
Em ambos os casos, o homem está à procura de ideias que o confortem diante da realidade e de
técnicas que possam permitir ao indivíduo interferir na natureza e domá-la. Se
o conhecimento racional levou ao desenvolvimento da ciência e de seu braço
prático, a tecnologia, o conhecimento mítico desenvolveu seu lado prático
através da magia. O xamã é aquele que conhece os segredos desse mundo
encantado, conhece os espíritos e sabe o que fazer para invocá-los e exigir que
interfiram na natureza.
essa crença não é adequada à realidade, por outro ela é capaz de fecundar a
realidade, fazer as pessoas sentirem-se protegidas, encantarem-se com as
histórias, espelharem-se no deus etc.
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Os mitos não versam simplesmente sobre os deuses. Normalmente, as histórias envolvem homens que
são requisitados a viver aventuras de interesse das deidades, surgem os heróis. Desse jogo entre deuses e
humanos, o mito se presta também a ensinar à geração mais nova alguns valores de socialização passados dos
mais velhos através dessas histórias que vão além da explicação do mundo físico. Abaixo, você encontra um
quadro com as principais funções do mito.
- Explicar a origem: os fenômenos naturais são explicados a partir dos desejos dos
deuses.
- Ensinar: as histórias mitológicas vão revelando uma série de regras que devem ser
observadas.
- Dar segurança diante da vida: o mito leva o indivíduo a encarar a desgraça e, ao
mesmo tempo, permite que ele perceba que há uma lei de compensação universal,
há justiça.
- Preparar para a vida cotidiana: as histórias mitológicas oferecem ao sujeito toda
gama de situações que ele deverá enfrentar: a morte, o trabalho, a traição etc; ele se
prepara para a vida.
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Quando se fala em mito, muitos já pensam em Religião, pois ambos têm elementos em comum.
Contudo, é muito importante distingui-los, até porque é necessário que você entenda bem a noção de
Religião.
Vou apresentar de forma esquemática a diferença entre esses campos do conhecimento humano ,
embora a característica mais importante vou deixar para o final...grandes emoções.
Fonte: Showeet
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Bom, Corujinha amiga, isso tudo é para você entender bem o que é religião do ponto de vista
antropológico e filosófico, isso ajuda a entender as questões. Na verdade mesmo, o ponto central sempre
lembrado nas questões sobre epistemologia é o...
Dogmatismo
O que que é isso? A palavra vem de dogma que, segundo o dicionário Houaiss on-line, significa “ponto
fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que
as pessoas aceitem sem questionar.”
Embora a posição dogmática esteja inicialmente relacionada com a religião, ela pode se manifestar
em outras circunstâncias: na própria ciência – quando arrogantemente cientistas não toleram ser
contestados -, na política (em sistemas políticos fundados em alguma verdade) etc.
No princípio era o Caos, não se sabe exatamente o que ele era, mas estava lá nada, de bobeira,
junto com outras três forças: Gaia (a terra), Tártaro (o vazio) e Eros (a força que une tudo). Eles
não tinham nada para fazer...Então resolveram fazer sexo. Mas como, você vai perguntar? Ora,
eles são deuses primordiais.
Gaia, que representa a própria Terra, era considerada uma deusa insaciável. Ela gera Uranus,
que é o céu, e eles ficam coladinhos. Uranus era tarado e não dava sossego para Gaia. Dessa
relação de um em cima (céu) e outro embaixo (Terra), todas as coisas vão nascendo.
Doida essa história, né? Nem tanto. Era assim que Hesíodo, poeta grego e responsável por uma das
descrições da mitologia, descreve o começo de tudo. Como isso seria dito, por um filósofo?
Parece que o nome do primeiro corpo tem sido transmitido até os nossos dias desde o tempo
dos antigos que alimentavam concepções idênticas às nossas [...] eles acreditavam que o
primeiro corpo era algo diferente da terra, do fogo, do ar e da água, e denominaram éter à região
mais alta, e lhes deram este nome porque ‘ocorre sempre’ na eternidade do tempo. É que
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Anaxágoras fala de aither em vez de fogo. (ARISTÓTELES, Traité Du Ciel. Traduction par Catherine
Dalimier et Pierre Pellegrin. Introduction par Pierre Pellegrin).
Vamos combinar, é bem mais chato. Nesse fragmento, Aristóteles está comentando a ideia
semelhante à de Aneximandro, um pré-socrático, que defendia uma força ou algo que estava presente no
universo, antes de as coisas serem criadas. Parecidos, não?
Ou seja, é possível perceber que a passagem do mito à filosofia só foi possível por conta de estruturas
de explicação comuns. Entre elas, o ímpeto tanto da filosofia, quanto do mito como da religião, de procurar
uma explicação que unifique os fenômenos que existem no cosmos.
O que explicaria a diversidade que vemos no mundo? A união inicial de 2 elementos, terra e céu para
Heráclito; uma força inicial se dividindo, para Aneximandro; os átomos, para nós modernos.
A função fabuladora como fator importante para nossa organização de vida permanece entre nós e
a cada dia mais viva, basta considerar a existência de uma NETFLIX, ou coisa parecida. Projetamos as histórias
assistidas nos nossos ideais de vida. Além disso, precisamos, ainda hoje, de rituais que nos ajudem a
perceber as mudanças que, do ponto de vista emocional, são tão difíceis de encarar: comemorações de
nascimento, passagem de uma série para outra, quinze anos, finalização do Ensino Médio, casamento, ano
novo, natal, aniversário e outras tantas. Ou seja, nosso sentido de vida é, de certa forma, moldado pelos
mitos que nem percebermos que agem sobre nós, pode ser uma pessoa, pode ser a história tão recontada
do mito burguês, o homem que se faz a si mesmo, pode ser o mito religioso de que você tem uma função no
universo etc.
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Q.UNESP/ 2016
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em
que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e as origens desse povo, bem como seus valores
básicos. As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição
cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão é
basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de
um determinado indivíduo. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao
questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma
de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos
naturais são explicadas por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina,
a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)
A partir do texto, explique como o pensamento filosófico característico da Grécia clássica diferenciou-se do
pensamento mítico.
Comentário: Essa questão pode ser resolvida pela interpretação de texto pelo negativo. Você lê o que se diz
sobre o mito e logo deduz que o pensamento filosófico é o contrário do que está dito.
Mito Filosofia
Parte da tradição de um povo Ideia de uma pessoa
Não se justifica, crença, dogma A filosofia pode ser questionada, criticada
Causa: sobrenatural Procura de causas naturais
Agora é só elaborar a resposta. Poderia ser algo semelhante ao que se segue.
O pensamento filosófico era expresso por um pensador enquanto o mítico surge como construção
tradicional de uma coletividade, por isso mesmo, tal conhecimento não pode ser questionado sendo baseado
na tradição. Já o conhecimento filosófico parte do pressuposto da dúvida e não depende da crença, mas da
aceitação do argumento. Por último, vale a pena dizer que, quando a filosofia surgiu, ela recusou as
explicações sobrenaturais, supondo existirem causas materiais para a explicação dos fenômenos.
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4. Nascimento da Filosofia
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Mitos Pré-socráticos
Filosofia pós-socrática
Explicação da physis a partir de
Elaboração de um método
Explicação dos fenômenos por elementos da natureza;
para explicação da realidade;
meio de histórias envolvendo procura pelo elemento
preocupação com a realidade
deuses; explicação teogônica. primeiro que constrói toda a
humana
realidade.
A filosofia nasce como questionamento do mito e da Religião. Costuma-se considerar Tales de Mileto
como o primeiro filósofo. Lógico que em algum momento, a representação que os antigos tinham da
realidade através dos mitos ia claudicar. Essa falha em relação ao que se pensa que o mundo é levou a
filosofia de primeira hora a questionar sobretudo a natureza ou, segundo o vocabulário grego, a Physis. Esses
filósofos serão chamados de Pré-Socráticos.
4.1. Pré-Socráticos
Para discutir essa questão vamos aquecer os motores. Que tal um pouco de texto filosófico?
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a
matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três
razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em
segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela,
embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. NIETZSCHE, F.
Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
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Esse foi o texto escolhido pelo Enem como apoio para uma
das questões da prova. Nesse fragmento, Nietzsche aponta qual é,
em linhas gerais, a característica mais importante do início da
Filosofia. Muda-se a pergunta. A religião e o mito perguntavam a
respeito de “quem criou” todas as coisas. Os primeiros filósofos
Fonte: Pixabay
abandonam a pretensão de saber quem criou e procuram saber
como funciona. Passa-se da teogonia para cosmologia.
Em segundo lugar, os Pré-socráticos se atêm em causas materiais, não mágicas, aquilo que Nietzsche
chama de “fabulação”, ou seja, sem apelar para fatores mágicos. A explicação deve ser mecânica e causal.
Um elemento material deve ser o que causou o movimento das coisas e o que produziu tudo o que
observamos.
Como começou essa brincadeira? O próprio Nietzsche mencionou no início do parágrafo. Começou
com Tales de Mileto propondo que tudo é feito de água. O pensador, nascido numa das colônias da Grécia
6
Essa palavra grega está no português em “arquétipo”, o que significa uma ideia originaria que dá origem a outras, por exemplo, o
arquétipo do pai como aquele que cuida e protege, embora também castigue. Essa imagem aparece em quase todas as culturas
como se fossem oriundas de uma ideia única e ancestral.
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em 624 a.C., observou que sem água tudo seca, tudo morre. Além disso, a água parece ser o único elemento
que se encontra nos três estados conhecidos: sólido, gasoso e líquido. Para ele, a peça que constrói tudo é
única; o que vemos como diferença é ilusão, a realidade é feita de um único elemento.
Nem tanto, Corujinha encanada. Veja que ainda não abandonamos muito essa ideia, a ideia de átomo
ou de partículas tem como base a mesma concepção dos antigos gregos. Aliás, quem imaginou pela primeira
vez essa coisa de átomo foi um pré-socrático, o tal de Demócrito.
Obviamente, agora deveríamos considerar cada um dos pré-socráticos. Mas, sinceramente, isso terá
pouco valor nos vestibulares. Quando cai, a lógica é a mesma, a banca dá um texto e pede que o candidato
o interprete. O examinador entende que exigir o conhecimento de cada pré-socrático é transformar a prova
de Filosofia em “decoreba”. Se cair algo sobre o tema, você conseguirá se sair bem com o básico que
apresentei aqui.
Contudo, para que você tenha uma noção geral, segue um quadro dos principais filósofos e qual
elemento eles postulavam como sendo o elementar.
Fonte: Showeet
Vamos considerar alguns dos mais importantes pré-socráticos, pela contribuição no pensamento
posterior.
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4.1.1 Pitágoras
Pitágoras nasceu nas Ilha de Samos, em 570 a. C. Foi discípulo de Tales de Mileto. Fundou a Escola
Pitagórica, e, por conta de suas ideias revolucionárias, foi perseguido, tendo que se mudar pelos menos duas
vezes. De Samos para Crotona e, depois, para o Egito, onde criou o seu famoso Teorema de Pitágoras.
O pitagorismo tornou-se uma sociedade de iniciados e teve influência sobre o pensamento de Platão.
Muitas ideias atribuídas a Pitagoras podem ter sido desenvolvidas pelos seus discípulos.
Considerar Pitágoras é muito importante, pois ele dá a base para se entender Platão. O pré-socrático
acreditava que o número era a essência do universo. Ele prova, de certa forma, essa ideia nos seus estudos
de música. Por que determinados sons juntos parecem barulho e outros parecem música? Ele descobre que
aquilo que chamamos de harmonia musical parte da relação entre os comprimentos da corda de uma lira.
Ou seja, os ouvidos percebem como música aquilo que no fundo é matemática.
Essa linguagem perfeita seria prova de um mundo de ideias que agem sobre a realidade imperfeita
em que vivemos. Platão considerará a matemática um meio pelo qual o sábio pode chegar ao conhecimento
das ideias perfeitas.
4.1.2 Demócrito
Demócrito viveu entre 460 e 370 a. C. Ficou bastante conhecido pela sua teoria atomística que foi
retomada na modernidade. Enquanto outros filósofos procuravam um elemento para chamar de arque, ele
teve uma ideia excepcional. Se dividirmos cada objeto, chegaremos a uma partícula que não pode ser
dividida e ela deve formar todas as coisas que vemos, assim como um tijolo forma todas as construções de
uma cidade, embora sejam na aparência bastante diferentes.
Era um materialista, ou seja, acreditava que todos os fenômenos ocorriam pela interação entre os
átomos, até mesmo o pensamento. Explicava a saúde dessa forma, por exemplo. A doença ou a saúde não
existiriam, pois seriam o resultado de uma conformação circunstancial de como os átomos do corpo estariam
interagindo. O indivíduo perceberia como doença ou saúde aquilo que seria simplesmente um produto
material do átomos em composição.
Conta-se que Platão detestava Demócrito, que, aparentemente, era mais famoso que ele.
Heráclito
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Heráclito defendia que a mudança era a constante no universo e que nada, absolutamente nada
poderia estar parado. A mudança, para ele, era produto da luta dos contrários que deveria levar à mais bela
harmonia. Não se tratava de dizer que alguma coisa muda, mas
que todas as mínimas partículas não encontrariam descanso.
Fonte: Pixabay
Por fim, vale a pena destacar o valor que ele dá para o Logos, palavra importante, pois está na raiz de
“lógico” e mostra a diferença entre a vontade dos deuses e a vontade do universo.
Talvez Heráclito tenha sido o maior entusiasta assumido do Logos entre os pré-socráticos, no sentido que
a palavra assumia na sua época. Hoje consideramos que ela seja sinônimo de “estudo” e assunto
encerrado. Sabemos de leve que ela está presente quando dizemos qualquer palavra com os sufixo “logia”
(como fisiologia, por exemplo). Mas, em sua origem, ela representava mais do que isso.
Os gregos começaram usar “logos” para diferenciar os tipos de discurso. Havia o discurso divino e
mítico que explicava tudo e era centrado na narrativa chamado mythos e começou a surgir um outro tipo
de fala que categorizava uma linguagem com pretensão à validade. O termo usado logos representava
uma síntese de três ideias: fala, pensamento e realidade. Em outras palavras, logos é um discurso que
expressa uma ideia correspondente à realidade cósmica.
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Heráclito toma a ideia de cosmos (universo organizado) ao pé da letra, reconhecendo no seu
funcionamento uma ordem que se estabelece à revelia do homem, mas da qual o homem faz parte. Dessa
forma, caberia aos sábios perceberem a lógica que está dentro dele, mas que o ultrapassa porque está em
todos os elementos da realidade.
O cotidiano e a experiência particular captada pelas sensações não permitem que o homem capte
aquilo que “é comum”. Note, o “comum” não é aquilo com o qual todos concordam. Heráclito, de forma
alguma, acredita que “a voz da maioria é a voz de Deus”. O “comum” é aquilo que pode ser encontrado em
todos os seres da natureza se pararmos para considerar o que está além do que vemos de forma particular.
Digamos que, para Heráclito, há duas formas de pensar: uma apreende pelas sensações o que ocorre;
outra percebe na multiplicidade dos fenômenos algo comum, esse é o Logos. Para se chegar ao Logos é
preciso não se deixar levar pela moral dos homens e nem pelas sensações. A consequência? O homem que
ouve o Logos não é reconhecido pelos seus pares. Heráclito era considerado estranho.
Parmênides
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“Aquiles, símbolo de rapidez, tem de
alcançar a tartaruga, símbolo de
morosidade. Aquiles corre dez vezes mais
rápido que a tartaruga e lhe dá dez
metros de vantagem. Aquiles corre esses
dez metros, a tartaruga corre um;
Aquiles corre esse metro, a tartaruga
corre um decímetro; Aquiles corre esse
decímetro, a tartaruga corre um centímetro; Aquiles corre esse centímetro, a tartaruga um
milímetro; Aquiles corre esse milímetro, a tartaruga um décimo de milímetro, e assim infinitamente,
de modo que Aquiles pode correr para sempre, sem alcançá-la.”7
A conclusão é a seguinte, por mais que ele corra, nunca alcançará de fato da tartaruga, portanto, o
movimento não existe.
Então, Corujinha perplexa, não precisa viajar nessa teoria, mas seria importante que você retivesse
a ideia de que a ciência ou o conhecimento necessitam de um critério para poder ter validade: a teoria não
pode ser mutável, algo que depois será chamado de lei da identidade.
Lembre-se da ideia-chave de Parmênides: o que é, é; o que não é, não é. Trata-se do princípio da não-
contradição que pode ser traduzido assim: aquilo que não muda pode ser compreendido pela
razão. O conhecimento racional não pode ser incoerente (ser e não ser ao mesmo tempo)
Em 4 de julho de 2012, foi detectada uma nova partícula, que pode ser o bóson de Higgs. Trata-se de uma
partícula elementar proposta pelo físico teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do modelo padrão,
segundo a qual o bóson de Higgs seria a partícula elementar responsável pela origem da massa de todas as
outras partículas elementares.
(Jean Júnio M. Pimenta et al. “O bóson de Higgs”. In: Revista brasileira de ensino de física, vol. 35, no 2,
2013. Adaptado.)
O que se descreve no texto possui relação com o conceito de arqué, desenvolvido pelos primeiros
pensadores pré-socráticos da Jônia. A arqué diz respeito
7
Esse quadrinho e esse texto de Jorge Luis Borges foram apresentados numa questão de matemática da UFF de 2010, disponível em
http://www.vestibular.uff.br/2010/provas/Etapa1/Vestibular%20UFF%202010%20-%20Prova%20Area%20II.pdf, acessado em 15.05.2019.
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(A) à retórica utilizada pelos sofistas para convencimento dos cidadãos na pólis.
(C) à investigação sobre a constituição do cosmos por meio de um princípio fundamental da natureza.
(E) à justificação ética das ações na busca pelo entendimento sobre o bem.
2. Enem 2018
Demócrito julga que a natureza das coisas eternas são pequenas substâncias infinitas, em grande número.
E julga que as substâncias são tão pequenas que fogem às nossas percepções. E lhes são inerentes formas
de toda espécie, figuras de toda espécie e diferenças em grandeza. Destas, então, engendram-se e
combinam-se todos os volumes visíveis e perceptíveis.
SIMPLÍCIO. Do Céu (DK 68 a 37). In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996 (adaptado).
3.Enem 2016
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes
a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e
sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é
perecer? Como poderia gerar-se?
Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das
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d) habilidades da retórica sofística.
Gabarito
1. C
2. A
3. C
Questões comentadas
1. UNESP 2020
Em 4 de julho de 2012, foi detectada uma nova partícula, que pode ser o bóson de Higgs. Trata-se de uma
partícula elementar proposta pelo físico teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do modelo padrão,
segundo a qual o bóson de Higgs seria a partícula elementar responsável pela origem da massa de todas as
outras partículas elementares.
(Jean Júnio M. Pimenta et al. “O bóson de Higgs”. In: Revista brasileira de ensino de física, vol. 35, no 2,
2013. Adaptado.)
O que se descreve no texto possui relação com o conceito de arqué, desenvolvido pelos primeiros
pensadores pré-socráticos da Jônia. A arqué diz respeito
(A) à retórica utilizada pelos sofistas para convencimento dos cidadãos na pólis.
(C) à investigação sobre a constituição do cosmos por meio de um princípio fundamental da natureza.
(E) à justificação ética das ações na busca pelo entendimento sobre o bem.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Os primeiros filósofos eram os pré-socráticos, eles não desenvolveram a
retórica.
Alternativa "b" está incorreta. Os primeiros filósofos procuravam as bases material do universo e não a
base mitológica.
Alternativa "c" está correta. Arqué significava princípio. Os primeiros filósofos gregos procuravam o
elemento que teria dado início ao universo, ao princípio primeiro que deveria orientar a ação da
materialidade do mundo.
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Alternativa "d" está incorreta. A lógica formal foi desenvolvida por Aristóteles.
Alternativa "e" está incorreta. Alguns pré-socráticos até desenvolveram alguma discussão ética, mas a
arqué se relacionava com a physis (com a natureza).
Gabarito: C
2.Enem 2018
Demócrito julga que a natureza das coisas eternas são pequenas substâncias infinitas, em grande número.
E julga que as substâncias são tão pequenas que fogem às nossas percepções. E lhes são inerentes formas
de toda espécie, figuras de toda espécie e diferenças em grandeza. Destas, então, engendram-se e
combinam-se todos os volumes visíveis e perceptíveis.
SIMPLÍCIO. Do Céu (DK 68 a 37). In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996 (adaptado).
Comentário.
Alternativa "a" está correta. Essa é muito fácil, pois a definição de átomo está logo no começo do fragmento:
“coisas eternas são pequenas substâncias infinitas”.
Alternativa "b" está incorreta. “Arché” de forma geral, seria a substância primeira que formou o universo,
nesse sentido, o átomo poderia ser a “arché”, contudo o termo vale para qualquer pré-socrático e não define
a teoria de Demócrito.
Alternativa "c" está incorreta. Nesse caso, fala-se de seres, e o fragmento deixa claro que Demócrito
perguntava pela natureza das coisas, animadas ou inanimadas.
Alternativa "d" está incorreta. Demócrito fala de partículas, não da massa que compõe seres e coisas.
Alternativa "e" está incorreta. A physis ou natureza é um termo bastante geral e não define a especificidade
do pensamento de Demócrito que elege algo em particular, o átomo, para explicar a physis.
Gabarito: A
3.Enem 2016
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Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes
a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e
sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é
perecer? Como poderia gerar-se?
Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das
Comentário:
Alternativa a, falsa. Os trechos não estão investigando o pensamento ou o método, mas a realidade.
Alternativa c, verdadeira. O problema aqui é saber o que é ontologia, trata-se da especulação sobre o que
existe de fato, o que forma o universo ou dá sentido ao universo. Essa é difícil e deveria ser respondida por
eliminação.
Alternativa d, falsa. A sofística se desenvolveu mais tarde, esses autores são pré-socráticos. De qualquer
forma, a retórica é um discurso belo e encantador e esses são áridos e abstratos demais.
Alternativa e, falsa. Mundo sensível é aquilo que podemos observar pelos 5 sentidos, o que diz Parmênides
não pode ser observado.
Gabarito: C
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Para pensar:
Existe uma verdade que seja universal para todos? Ou
cada um tem a sua verdade?
A filosofia da Physis caminhava muito bem, obrigado, mas eis que surge em
Atenas um homem que não tomava banho, não usava sandálias, era extremamente feio e ficava
interrogando as pessoas importantes que iam ao mercado. Esse quase mendigo revolucionou a filosofia,
pois ele passou a se preocupar com outro objeto, o próprio homem. Ele dizia que tinha recebido uma missão
dos deuses de fazer com que todos procurassem atender à máxima: “conhece-te a ti mesmo”.
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Essa passagem da filosofia da Physis (natureza) para a filosofia do Antropos (Homem) é a marca do
que chamaremos filosofia socrática e, de certa forma, de toda filosofia desde então. Mas então, vamos
abandonar a Teoria do Conhecimento? Nada disso, ele vai dar mais um passo na determinação de métodos
para se conhecer a realidade.
5.1. Sócrates
Sócrates viveu no auge de Atenas, nasceu em 460 a.C. e
morreu em 399 a.C. Ele não deixou nada escrito e, basicamente,
a sua grande filosofia que mudou os rumos do pensamento estava
condensada na sua forma de agir. Ele acreditava que sua vida só
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valeria a pena se ele instasse os seus contemporâneos a refletir.
Como ele fazia isso?
Dada a resposta, Sócrates procurava na afirmação feita alguma exceção, alguma falha, e fazia outra
pergunta que expunha a primeira resposta dada como falsa ou incompleta. Vamos supor que alguém
dissesse: “Justiça é dar a alguém aquilo que lhe é devido”. Boa resposta. Mas imaginemos que alguém tenha
emprestado uma faca ao amigo, e agora peça a faca de volta, isso é justo? Todos concordariam que sim.
Nesse ponto, Sócrates diria: “mas vamos supor que o amigo peça de volta a faca num momento em perdeu
a cabeça e está prestes a matar alguém, algo do qual, com certeza, ele iria se arrepender, continua sendo
justo?”
Se o interlocutor de Sócrates dissesse que não, não era justo, ele iria se contradizer. Não haveria
grandes problemas, se o interlocutor não fosse um juiz...Óbvio que nesse momento, a pessoa que estava
sendo questionada ficaria visivelmente irritada e diria para Sócrates, “ok , espertalhão, eu reconheço que
não sei o que é justiça, então diga você o que é?” Ao que ele responderia, provocando irritação maior: “Sei
que nada sei”.
Por dois motivos. Primeiro, ele queria despertar as pessoas do sonho das certezas, mostrar que a
convicção que elas tinham a partir do senso comum era frágil e que elas não poderiam se contentar com tão
pouco. O conhecimento exige inconformismo. Quem se conforma com o que sabe nada sabe. Em segundo
lugar, o filósofo acreditava que cada um tinha que buscar a verdade. Ele tinha pavor da ética de rebanho, ou
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seja, do costume de as pessoas seguirem outras que consideravam mais sábias. Sócrates tinha certeza de
que todos os homens, por serem racionais, seriam capazes de encontrar a verdade, só precisavam de um
método.
Método Socrático
5.2. Os sofistas
O milagre “Sócrates” só foi possível porque ele vivia na Democracia grega, mesmo assim era de se
esperar que ele não gostasse do sistema, pois predominava a opinião de pessoas que não se preocupavam
com a verdade.
A regra nesse sistema político é clara, ganha quem tiver mais votos. O sistema é quantitativo e não
qualitativo. Essa nova ordem dava certo desgosto para Sócrates e, ao mesmo tempo, era a fonte de dor de
cabeça para a aristocracia. Até então, a elite política poderia governar autoritariamente simplesmente
valendo-se de sua ancestralidade e riqueza. Com a democracia, a coisa muda de figura. É preciso convencer
a maioria.
A ideia que ele defendia era a de que não haveria uma verdade universal e se houvesse, ela não
poderia ser alcançada pelo ser humano, pois cada indivíduo vê a realidade de uma forma e pode defender o
ponto de vista que lhe é mais conveniente. No mundo moderno, essa ideia recebeu o nome de Relativismo.
Toda verdade é relativa.
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Sócrates não poderia concordar com tamanho desprezo pela verdade. Ele até concordava que cada
um tinha que trilhar o caminho do conhecimento por conta própria, contudo, a verdade, por ser como um
sol que brilha, deixaria sua marca em todos aqueles que a procurassem.
Mas o que nos interessa nesse momento é a Teoria do Conhecimento. Depois de dizer o que o
motivava a encarar a morte com serenidade, ele acrescentou dois argumentos interessantes. Ele dizia que,
além de tudo, ele não temia a morte. Por quê?
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A morte é boa
Observe o método argumentativo de Sócrates. Ele considera as duas possíveis respostas (na época
dele, não havia a crença em inferno). As duas abarcam todas as possibilidades de respostas. Ele responde a
uma delas e chega à conclusão de que a morte é boa; faz o mesmo com o segundo termo e chega à conclusão
idêntica. Então, não resta dúvida. Ele se vale de um expediente analítico e lógico que mais tarde será
sistematizado, sobretudo, por Aristóteles.
Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto pôs
na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então
significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por
longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma
investigação, que passo a expor.
(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita,
1972, p. 14.)
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O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os
gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:
d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso.
e) pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso.
Tomemos o exemplo de Sócrates: é precisamente ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no ginásio,
perguntando: “Tu te ocupas de ti?” O deus o encarregou disso, é sua missão, e ele não a abandonará, mesmo
no momento em que for ameaçado de morte. Ele é certamente o homem que cuida do cuidado dos outros:
esta é a posição particular do filósofo.
O fragmento evoca o seguinte princípio moral da filosofia socrática, presente em sua ação dialógica:
Gabarito
1.B
2.A
Questões comentadas
1. (Ufpr 2019)
Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto
pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então
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significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”.
Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por
uma investigação, que passo a expor.
(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita,
1972, p. 14.)
O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os
gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:
d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso.
e) pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. O enunciado deixa claro que se deve considerar a passagem do mito à filosofia,
a alternativa menciona o movimento contrário, do conhecimento racional para o centrado na fabulação.
Alternativa "b" está correta. No fragmento, Sócrates mostra-se inseguro diante das palavras do oráculo, esse
é o ímpeto que leva ao nascimento da Filosofia, reconhecer que há incertezas diante das quais o discurso
mítico não dá conta e torná-las evidentes para começar a pensá-las.
Alternativa "c" está incorreta. Sócrates não aceita de forma passiva, considera o oráculo e, de forma ativa,
tenda desvendá-lo.
Alternativa "d" está incorreta. Nesse fragmento, percebe-se um equilíbrio entre respeito religioso e
liberdade racional.
Alternativa "e" está incorreta. Nada no fragmento indica que Sócrates está sendo irônico. Ou seja, ele
reverencia os deuses. Sabe-se que sua condenação foi uma fraude.
Gabarito: B
Tomemos o exemplo de Sócrates: é precisamente ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no
ginásio, perguntando: “Tu te ocupas de ti?” O deus o encarregou disso, é sua missão, e ele não a
abandonará, mesmo no momento em que for ameaçado de morte. Ele é certamente o homem que cuida
do cuidado dos outros: esta é a posição particular do filósofo.
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O fragmento evoca o seguinte princípio moral da filosofia socrática, presente em sua ação dialógica:
Comentário.
Alternativa "a" está correta. Sócrates convida as pessoas a examinarem a si mesmas, como se observa no
seguinte trecho: “é precisamente ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no ginásio, perguntando:
‘Tu te ocupas de ti?’”.
Alternativa "b" está incorreta. Sócrates realmente usava da ironia, mas não para “ironizar o seu oponente”,
mas para fazê-lo cair em contradição para que percebesse a necessidade de examinar seus conceitos. Além
disso, o trecho não discute esse traço do método socrático.
Alternativa "c" está incorreta. Sofismar significa usar de uma estrutura lógica para enganar. Sócrates
questionava seus interlocutores, não tentava convencê-los de sua verdade, tampouco tentava enganá-los.
Alternativa "d" está incorreta. Aporia significa chegar a um dilema insolúvel. Ele debatia visando ao
questionamento, a aporia, em alguns casos, era uma consequência de se analisar atentamente os
argumentos apresentados. De qualquer forma, não é isso que Foucault discute nesse fragmento, mas seu
incentivo ao exame subjetivo.
Alternativa "e" está incorreta. O texto não discute virtude, e Sócrates jamais incitaria qualquer pessoa a
desprezar a virtude alheia.
Gabarito: A
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Método Socrático
O impulso de questionamento dado por Sócrates deu frutos. Acredita-se que, em público, ele não
expressava suas respostas sobre a realidade, mas, em particular, com seus discípulos, ele expressava
algumas de suas opiniões. De qualquer forma, era de se esperar que seus discípulos não ficassem só no
estágio da dúvida, mas que também formulassem respostas para as dúvidas inquietantes propostas pelo
filósofo grego. As respostas dadas pelos dois grandes pilares da filosofia, Platão e Aristóteles, configuraram
todo o caminho posterior da filosofia.
6.1. Platão
Platão viveu em Atenas entre 428 a. C e 348 a.C. Foi discípulo de Sócrates e escreveu A República,
uma coletânea de textos em forma de diálogos, por isso nos referimos muitas vezes à
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obra dele como “diálogos platônicos”. O filósofo se vale do método socrático como
forma de organização textual. Há uma contextualização em que os personagens do
diálogo são apresentados; a seguir, alguém propõe um tema e, depois, alguém defende
uma tese que será questionada por um interlocutor capaz de ir mostrando as
deficiências do argumento.
Nesses diálogos, ele registra algo dos diálogos que ele testemunhou entre Sócrates e
seus interlocutores, mas na verdade, na maioria das vezes, ele põe na boca do Sócrates
sua própria teoria sobre a realidade. Dizemos, portanto, que nos “diálogos”, o Sócrates que aparece é um
personagem de Platão, com raras exceções.
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deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo,
há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao
tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as
marionetes e apresentam o espetáculo.
Glauco: Entendo.
Sócrates: Eles são semelhantes a nós. Primeiro, você Lição de Alex Gendler, animação de Stretch Films, Inc.(Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=1RWOpQXTltA , acessado em 13.05.2019)
pensa que, na situação deles, eles tenham visto algo
mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos que o fogo projeta na parede da caverna à sua frente?
Glauco: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar com a cabeça
imóvel?
Glauco: É claro.”
Também já me perguntei isso, Corujinha cismada, mas, sem viajar muito na história, lembre-se de
que é uma alegoria, ou seja, uma narrativa que tem compromisso com a ideia que ela quer exemplificar. O
que importa nesse enredo todo é que os prisioneiros só têm contato com a sombra das coisas e eles
acreditam que isso é o real. O que cada elemento significa?
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O importante nessa história toda é o radicalismo da incerteza. A ideia de Platão é que não podemos
jamais conhecer a realidade das coisas, pois estamos presos no corpo que se conecta com o mundo externo
através dos sentidos.
Existir, existe, mas não do jeito que você está vendo. Claro que a mesa em que você está apoiado
existe e a cadeira onde você está sentado também. Mas como esses objetos se parecem de fato? Como eles
são? Você vê o mundo colorido? Pois é, a física supõe que a cor é uma espécie de ilusão de óptica, pois tem
a ver com a refração da luz. Você vê objetos densos? Ora, a química supõe que tais objetos são formados
por átomos com grandes espaços vazios.
Você acredita que a os objetos são de uma natureza e a energia é de outra? Bem, Einstein propôs
que matéria e energia são iguais... Poderíamos continuar essa brincadeira por várias áreas da ciência,
somente para tentar convencer você de que o mundo em que vivemos é o das sombras.
Não sei se você reparou, mas as conclusões científicas sobre o mundo não podem levar em
consideração o mundo sensível, ou o que nos chega pelas sensações. O mundo da ciência é o do
pensamento, da teoria. Mas lembre-se, você consegue entender isso, porque vive numa época em que essa
diferença é discutida o tempo todo nas ciências. Platão estava sistematizando essa diferença.
Essa dúvida em torno do real funda a Epistemologia. Contudo, Platão ousou dar uma resposta. Como
alguém poderia sair desse mundo das sombras? Ele continua a história.
Sócrates supõe que um dos prisioneiros é liberto (ele não diz como). Surpreso, ele olha para trás e vê
o fogo. Não quer reconhecer o que vê. Olha para além das
chamas e vê uma claridade maior ainda na entrada da caverna.
Dirige-se para fora e, perplexo, é inundado pela luz. Seus olhos
doem e ele não é capaz de olhar para o sol imediatamente.
Primeiro olha para o chão, depois para as árvores e só depois de
se acostumar com “a verdade” é que ele é capaz de olhar para
o Sol. Nesse momento, ele resolve voltar para a caverna e contar
para seus amigos o que viu. Contudo, eles não o compreendem Lição de Alex Gendler, animação de Stretch Films, Inc.(Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=1RWOpQXTltA , acessado em 13.05.2019)
e acreditam acham que ele enlouqueceu e deveria ser morto.
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Sim, é possível sair do mundo das sombras. Mas como?
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subterrâneo, onde deveriam purgar os seus atos injustos.
Depois de mil anos, elas deveriam voltar à Terra, mas antes,
passariam pelo rio Letes, ou rio do esquecimento, sendo
assim, quando as almas voltassem para a Terra estariam
presas ao corpo, ou às sensações e não se lembrariam, a não
ser vagamente, do que tinham visto nesse outro mundo.
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Platão resolve isso supondo que existe um plano onde está a verdade. Esse plano, composto
por puras ideias (puros espíritos), seria perfeito, pois seria imutável. O plano terrestre, por ser o plano da
materialidade, estaria submetido à mudança própria de elementos materiais que se degradam.
Platão supõe um mundo espiritual (feito de puras ideias) como forma de fundar uma ontologia, ou
seja, a certeza de que há algo que existe de fato sem que sofra alterações, algo que teria uma existência
perfeita. Se há um substrato de racionalidade na realidade, poderemos fazer teorias e chegar à verdade.
Veja que dessa forma se resolve o grande dilema de Parmênides e Heráclito. No mundo do Er, no
mundo das almas, tudo é estático, imutável; no mundo terreno, os elementos sofrem transformações. Mas
por que tais transformações não degringolam em coisas absurdas, por exemplo, por que uma galinha não se
transforma em uma baleia?
As ideias para Platão existem e, como são eternas, têm mais consistência do que o mundo material
em que vivemos, onde os objetos deixam de ser com a passagem do tempo. Pode-se dizer, portanto, que as
ideias têm a seguintes características:
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✓ Imateriais: ideias não têm materialidade, são puro pensamento, por isso só podem ser
apreendidas pela alma que também não tem materialidade.
✓ Modelares: servem como modelo para as coisas.
A resposta mais simples e fácil é: morrendo. Depois da morte, a alma se livra do corpo e pode voltar
para o mundo inteligível. Mas óbvio que isso não interessa a Platão, pois ele está tentando fundamentar o
conhecimento neste mundo.
Para entender como isso ocorre, vamos para outro texto famoso de Platão, o diálogo chamado O
Banquete, no qual o filósofo discute o amor.
A situação é a seguinte: vários amigos se reúnem para discutir sobre o que é o Amor. É importante
lembrar que para um antigo, o amor não se referia a esse sentimento romântico que nos encanta hoje, mas
a força que nos leva a ligarmo-nos a algo ou alguém.
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O primeiro palestrante, Fedro, defende que o Amor nos torna melhores, pois o indivíduo quando ama
procura mostrar o seu melhor. Pausânias, logo em seguida, lembra que há outro tipo de amor que não nos
torna melhores, o amor ligado aos apetites sensuais. Intervém Eurixímaco, médico, que propõe o meio
termo. Nesse momento, Aristófanes toma a palavra e conta um dos mais encantadores mitos sobre o amor.
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cabeças e dois órgãos sexuais. Esses seres teriam ofendido
Zeus e, por conta disso, foram punidos com a divisão do
corpo. Dessa forma, Zeus condenou toda a humanidade e
cada homem em particular a procurar no mundo a parte que
lhe falta.
Esse mito é fundamental, pois define o que é o Amor para Platão. Zeus condenou os mortais à
incompletude, nunca se sentirão plenos e devem procurar no mundo o que lhes falta.
Para completar a discussão, Sócrates toma a palavra para expor uma teoria da sacerdotisa Diotima.
Se o amor é uma força de procura pelo que falta, essa falta pode ser suprida por vários objetos de acordo
com a alma do indivíduo. Pode ser o desejo por outro corpo, por uma outra pessoa, pela beleza abstrata ou
pelo conhecimento. Há, portanto, uma escala de amores e as pessoas podem ir subindo nessa escala até
chegar ao amor mais perfeito.
Há, portanto, uma possibilidade de se chegar a uma depuração do mundo das sombras, chegando
próximo das ideias perfeitas mesmo vivendo no mundo sensível. Essa progressão que vai do amor pelas
coisas mais sensíveis até o amor pelo conhecimento segue alguns passos.
Episteme:
conhecimento das
Dianóia: Exercício ideias, intuição
de raciocínio, puramente
pensamento intelectual
Dóxa: opinião
sobre as coisas matemático
Eikasía: Imagens sensíveis
das realidades
sensíveis
Essa ideia de Platão tem muitos “furos”, como você deve ter percebido. Se para cada objeto aqui na
Terra, há um modelo perfeito no céu, o céu seria uma espécie de depósito de entulhos? Quem garante que
esse mundo das ideias existe? Apesar de ele supor esse processo de ascensão, o que garante o salto entre
dianóia e episteme?
Por mais que a teoria de Platão pareça falha, é admirável o esforço que ele faz. A ideia dele será
reelaborada por outros pensadores. O que cabe apontar é que o próximo grande filósofo, Aristóteles,
percebeu esses problemas e deu outra resposta muito mais próxima daquilo que hoje ainda aceitamos como
teoria do conhecimento.
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Na verdade, Corujinha sábia, você não chega ao mundo das ideias, ele está dentro de você. Antes
que você se descabele, acompanhe jogo de perguntas e respostas abaixo.
Logo, basta que eu me volte para dentro de mim para entender a lógica do universo? Perfeito!
Essa seria a lógica de Heráclito falando do Logos, como já vimos. Platão vai acrescentar algo a mais.
Não é só porque o universo nos constitui que o conhecimento significa voltar para si, mas também porque
já fomos almas e já tivemos contato com o mundo das ideias.
Não se trata de uma meditação para alcançar o nirvana, o nada. Mas um processo mental de treinar
a mente em ideias puras pelos exercícios da matemática de tal forma que o indivíduo consiga perceber o
bem, o belo e o justo como ele percebe uma equação.
Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de
razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou
material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina
das Ideias formava-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).
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O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de
Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?
2. Autoral
Hípias – Como assim, Sócrates? O autor dessa pergunta deseja saber o que é belo?
Hípias – Nenhuma.
Sócrates – É certeza saberes melhor. Mas presta atenção, amigo. Ele não te perguntou o que é belo, porém
o que é o belo.
Esse trecho é parte do diálogo Hípias Maior, considerado um diálogo socrático. Sobre o texto e as ideias
associadas a ele, são feitas as seguintes afirmações:
I. Diálogo socrático é aquele em que se pauta por uma discussão, e cuja conclusão pode ser ou não
assertiva, mas que deve levar à reflexão sobre o que se acredita saber.
II. A distinção que Sócrates faz do uso da palavra belo associa a discussão à teoria do mundo inteligível.
III. Nesse diálogo, Platão, pela boca de Sócrates, expressa suas dúvidas sem qualquer ideia sobre o
assunto.
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Gabarito
1.D
2.A
Questões comentadas
1. Enem 2012
Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de
razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou
material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina
das Ideias formava-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de
Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. O texto diz que “era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e
objeto sensível”, ou seja, não se advoga um “abismo intransponível entre as duas”.
Alternativa "b" está incorreta. Tanto para Parmênides quanto para Platão, “o objeto de conhecimento é
um objeto de razão”, ou seja, não se devem privilegiar os sentidos.
Alternativa "c" está incorreta. No que diz respeito ao conhecimento, a razão e não os sentidos é
fundamental, ou seja, Parmênides e mesmo Platão não afirmam que razão e sensação são inseparáveis.
Alternativa "d" está correta. No texto pode-se ler que, segundo Parmênides, era necessário privilegiar a
razão e não a sensação.
Alternativa "e" está incorreta. O texto deixa claro que para Parmênides a razão era superior à sensação.
Gabarito: D
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2. Autoral
Hípias – Como assim, Sócrates? O autor dessa pergunta deseja saber o que é belo?
Hípias – Nenhuma.
Sócrates – É certeza saberes melhor. Mas presta atenção, amigo. Ele não te perguntou o que é belo, porém
o que é o belo.
Esse trecho é parte do diálogo Hípias Maior, considerado um diálogo socrático. Sobre o texto e as ideias
associadas a ele, são feitas as seguintes afirmações:
I. Diálogo socrático é aquele em que se pauta por uma discussão, e cuja conclusão pode ser ou não
assertiva, mas que deve levar à reflexão sobre o que se acredita saber.
II. A distinção que Sócrates faz do uso da palavra belo, associa a discussão à teoria do mundo inteligível.
III. Nesse diálogo, Platão, pela boca de Sócrates, expressa suas dúvidas sem qualquer ideia sobre o
assunto.
Comentário.
Afirmação I está correta. Sócrates interrogava as pessoas no mercado de Atenas. Suas perguntas
embaraçavam as pessoas, demonstrando a elas que deveriam reconsiderar seus conceitos. Platão se vale
dessa forma de diálogo para expressar suas ideias; algumas vezes, somente para provocar, outras vezes, ele
finaliza com uma conclusão mais assertiva.
Afirmação II está correta. No diálogo, Sócrates encaminha a discussão para se falar do belo em si, do belo
como ideia perfeita, isso exprime uma concepção própria da teórica platônica de que existem dois mundos,
um sensível (mundo percebido pelas sensações) e outro inteligível (mundo percebido pela razão).
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Afirmação III está incorreta. Ao encaminhar o tema para um conceito do mundo das ideias, Platão demonstra
que deixará implícita uma perspectiva própria sobre o tema, ela não deixará a questão em aberto.
Gabarito: A
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Ele percebe que a variedade e as transformações obedecem a certo padrão. Voltamos ao argumento
já usado, um cacto não se transforma em uma baleia. Ele deduziu que o padrão de mudança dos seres e o
padrão do que é permanente devem estar nos próprios seres. Algo interno ao cacto (hoje falaríamos em
código genético) faz com que o cacto em particular que eu vejo pertença a um grupo de seres e tenha um
desenvolvimento próprio desse grupo, mesmo que a planta espinhosa que eu ganhei no dia dos professores
(será que os alunos queriam dizer algo?) seja pequenino, achatado, de formato indefinido, tenha uma flor e
se diferencie bastante do cacto gigante que eu vi na Argentina.
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A resposta de Aristóteles é a seguinte: eles têm a mesma estrutura, a mesma FORMA. O formato
deve ser descrito como um conceito imutável e capaz de diferenciá-lo de outras plantas: trata-se de uma
suculenta, plantas que são capazes de armazenar água, com presença de auréola onde crescem espinhos. O
que é passível de mudança? O material de que essas plantas são feitas.
Esse valor dado ao que se observa e a crença de que existe uma racionalidade do real levam parte da
crítica a classificar Aristóteles como realista.
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Sem problemas, Corujinha esforçada, realmente, esse vocabulário não ajuda muito. O realista, como
Aristóteles, acredita que a racionalidade já está posta no mundo, o mundo objetivo vem antes da cognição
humana. O homem, detentor da razão, é capaz de se debruçar sobre o real e entendê-lo.
Você já deve ter percebido que Aristóteles discorda de seu mestre Platão e não é pouco! Para Platão,
as sensações de nada valem, enquanto Aristóteles começa por aí. Entende que a escada do conhecimento
é outra. Ela começa pela sensação, passa pela memória, que é capaz de relacionar o que se passou e
desemboca na experiência. Essa experiência quando assimilada transforma-se em técnica e em ciência. A
escada agora é esta:
Ciência
Técnica
memória e
experiência
sensações
Para exemplificar isso, vamos considerar uma situação cotidiana. Você cresceu. E agora a outra
pessoa o atrai, sexualmente. Isso é algo novo. Percebe novas sensações e sente necessidade de se
aproximar da vítima dos seus desejos. Até então, eram as pessoas que se aproximavam de você.
Esse impulso faz com que você tente se a aproximar da pessoa escolhida. Não é fácil. As tentativas
serão, no mínimo, risíveis. Mas a partir do que você sente e do que você faz, a memória recolhe as tentativas
atabalhoadas e, por comparação, começa a perceber os padrões de comportamento que dão certo e os que
não dão certo. Até aí, você e uma galinha d’angola estão quase no mesmo patamar. Mas então, você dá um
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passo a mais. Reconhece um padrão que pode ser usado com sucesso. O padrão reconhecido é o que
chamaríamos de experiência, o uso dessa experiência como conhecimento para agir sobre a realidade,
técnica.
Você percebeu que quando se auto-ironiza ou quando faz rir, o alvo de suas investidas se torna mais
simpático a sua pessoa. Aí você começa a elaborar uma técnica infalível de conquista e a põe em prática.
Resultado: final feliz.
Quando surge a ciência? Quando você der um passo a mais e generalizar: “uma relação amorosa se
torna possível quando os parceiros se agradam uns dos outros”.
Note a diferença. A técnica é uma generalização a partir de padrões, mas ainda muito centrada no
“como fazer”. A ciência é o pulo do gato, quando a utilidade perde a importância e conhece-se o próprio
processo.
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Fonte: Pixabay
brincadeira não é fácil. Se você disser objeto com um assento apoiado em
pés, ou em algum suporte, feito para sentar, não estará definindo grande coisa,
afinal, banco, sofá e poltrona também são feitos para sentar. Aí a brincadeira
vai ficando mais interessante. Para cada nova definição, pode-se colocar uma
objeção. No caso, da cadeira, você deve responder que ela se diferencia da
poltrona por ser feita de uma material menos confortável. E assim por diante.
Não sei se você reparou, mas para definir a cadeira, você usou a finalidade (para sentar), o formato
(assento apoiado em pés) e o material (menos confortável). Pois é, estamos perto de Aristóteles. O filosofo
determinou que para conhecer algo, seria preciso considerar 4 causas:
Voltemos à cadeira.
Do que ela é feita? Madeira, ferro ou algum tipo de material mais resistente.
Para que ela é feita? Para se sentar.
Qual o formato dela? Assento apoiado sobre pés (no sentido de 'partes para assentar'), quase sempre
em número de quatro, com um encosto e, muitas vezes, braços (no sentido de 'partes fixas para apoiar ou
descansar os antebraços'), com lugar para acomodar, com algum conforto, uma pessoa.
O que foi responsável pela sua criação? A necessidade de se sentar.
Perceba como a sistematização de Aristóteles é sensacional. Com essas perguntas na cabeça, você
pode sair por aí e fazer um dicionário. Aliás, tente se valer dessas técnicas das 4 perguntas quando precisar
definir algo na sua redação. Não é preciso responder a todas, você verá que isso realmente ajuda.
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7.6 E o movimento?
De forma brilhante, Aristóteles chegou a uma ideia original de como podemos
conhecer a realidade, devemos apreender a sua essência. Mas, lógico que aí
surge uma pergunta: se os objetos têm sua essência, por que eles estão sujeitos
à mudança? Platão tinha resolvido isso, dizendo que, neste mundo, no mundo
da materialidade, observa-se a corrupção própria dos corpos materiais, por isso,
eles se alteram, falta-lhes a substância.
Aristóteles vai por outro caminho.
Fonte: Pixabay
Já vimos que os objetos são compostos pela essência, dada pela forma, e pelo
acidente. Que o cabelo de alguém seja crespo e de outro liso é um acidente.
Considerando o acidente, não se pode dizer que estamos diante de duas
espécies diferentes. Tanto o negro quanto o branco são humanos, pois são
“animais racionais”, por mais que o racismo tente negar isso. Contudo, a
mudança não é exatamente acidente.
Aristóteles elabora o conceito de ato e potência. A essência relaciona-se à potência de um indivíduo.
Por exemplo, um ovo, em potência já é uma galinha. O movimento, o ato, a ação é que levará o ovo a se
desenvolver buscando o formato que melhor realizaria sua potência.
7.7 Lógica
Contudo, apenas supor que a realidade pode ser desvendada não basta, é preciso ter o instrumento
necessário para extrair a verdade do mundo dos fenômenos. Aristóteles faz um estudo da linguagem para
definir quando o discurso vai além de provocar beleza ou expressar emoções e passa a ser utilizado para
descrever com “verdade” o real.
Também nesse ponto, não tenho muito o que desenvolver, dado que os vestibulares raramente
elaboram questões sobre lógica. Então, vamos considerar o
básico, aquilo que o ajudará a resolver questões sobre
Epistemologia. Acredito que a noção de Lógica auxilia na
compreensão dessa coisa abstrata chamada Razão.
Fonte: Pixabay
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Pode até ser, Corujinha iluminada, mas como em filosofia nada é simples, pense no que ele quis dizer
aplicado ao conhecimento. A ideia é de que a ciência não pode abarcar paradoxos e contradições. Um
raciocínio lógico, portanto, exclui completamente a contradição. A título de exemplo, vou relembrar aquele
poema famoso de Camões, “amor é fogo que arde sem se ver”, lembra?
O poema expressa um ponto de vista filosófico sobre o amor. Na primeira estrofe Camões tenta
definir o que é o amor , “é ferida que dói, e não se sente; / é um contentamento descontente/ é dor que
desatina sem doer”, e continua da mesma forma pelas outras estrofes.
Começar um raciocínio pela definição é típico do procedimento lógico, contudo, para ser verdadeiro,
cada vez que o poeta dá uma definição, ele é obrigado a afirmar algo contrário ao que ele afirmou.
Ele tentou, várias vezes, fazer uma definição que não seja contraditória. Depois de vários versos, ele
então conclui que o sentimento não pode causar favor nos corações, “pois tão contraditório a si é o mesmo
amor.” Ou seja, ele expressa a impossibilidade de pensar racionalmente o amor, pois ele não se adequa ao
primeiro pressuposto da lógica: a identidade e, consequentemente, a não-contradição.
Mas isso não basta. O argumento deve ter um formato que o identifique. Aristóteles percebe que um
bom argumento tem pelo menos duas partes, uma afirmação e uma conclusão. A partir daí, ele verifica um
tipo de argumento que é perfeito se o emissor do discurso observar algumas regras básicas assim como faz
um matemático. Esse modelo de perfeição argumentativa ele chamou de SILOGISMO. Para explicar o que
era isso, ele elaborou um exemplo que ficou famoso.
Para se fazer um raciocínio, deve-se começar com uma premissa maior, ou seja, uma afirmação
generalizante que seja capaz de expressar uma ideia sem contradição. A partir daí, constrói-se a premissa
menor, outra afirmação cujo sujeito deve ser um subconjunto do termo amplo da afirmação anterior.
Homem é o conjunto de todos os seres dessa espécie, Sócrates é um ser definido. A partir daí o que for
atribuído ao primeiro pode ser também atribuído ao segundo na conclusão.
Há uma série de regras que tal construção deve obedecer que não serão discutidas aqui. O que
gostaria que você retivesse de tudo isso é que a Razão exige procedimentos metodológicos capazes de
conferir credibilidade àquilo que é dito. A lógica será fundamental para o desenvolvimento da Teoria do
Conhecimento e da ciência.
Por último, é importante destacar a diferença entre dois tipos básicos de raciocínio: a indução e a
dedução.
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Observe que essas duas formas de abordar a realidade definem também os tipos de ciência. Até o
Dedução Indução
As premissas iniciais são As premissas iniciais são
generalizantes, segue-se particularizantes, a conclusão
a particularização. generaliza.
Renascimento, a indução era desconsiderada como fonte de conhecimento. Afinal, pode ser que eu
encontre um cacto sem espinho, e, nesse caso, a teoria seria falsa. A partir do Renascimento, os cientistas
assumirão o risco implícito na indução e vão eleger essa forma de conhecer como a mais eficaz.
1. Enem 2014
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No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o
conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a :
2. Autoral
“Na filosofia, o idealismo é o grupo de filosofias metafísicas que afirmam que a realidade, ou realidade como
os humanos podem conhecê-la, é fundamentalmente mental, mentalmente construída ou
imaterial. Epistemologicamente, o idealismo se manifesta como um ceticismo quanto à possibilidade de
conhecer qualquer coisa independente da mente. Em contraste com o materialismo, o idealismo afirma
a primazia da consciência como a origem e o pré-requisito dos fenômenos materiais. De acordo com essa
visão, a consciência existe antes e é a pré-condição da existência material.”
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d) conciliou o idealismo com o materialismo calcado na observação.
Gabarito
1.B
2.D
Questões comentadas
1. Enem 2014
No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o
conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a :
Comentário.
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Alternativa "a" está incorreta. O que se diz nessa alternativa se refere aos céticos. Eles propunham que o
conhecimento seria inalcançável, e, portanto, melhor suspender qualquer julgamento relacionado ao
verdadeiro ou falso. Nenhum cético apontaria para cima.
Alternativa "b" está correta. Platão acreditava no mundo das ideias, onde uma realidade perfeita e
incorpórea servia como modelo para a realidade material em que vivemos. Tal mundo estaria no céu, por
isso, ele aponta para cima. O método para se chegar a essas verdades estando na terra, seria através do
diálogo em que os participantes colocam objeções a serem vencidas (método dialético).
Alternativa "c" está incorreta. O salvacionismo é próprio da filosofia medieval, nada a tem que ver com
Platão que não falava em salvação.
Alternativa "d" está incorreta. Essa alternativa é estranha, pois afirma que no céu haveria a essência das
coisas sensíveis. A essência do sensível seria o inteligível, mas mencionar sensível em relação ao mundo das
ideias é fora de propósito. O erro de verdade ocorre na segunda parte da afirmação. As ideias não estão na
mente de um Deus unificador, elas estão nesse outro mundo, mas sem a ação de um Deus.
Alternativa "e" está incorreta. Platão descarta a sensibilidade como forma de conhecer a realidade última
das coisas e tal capacidade humana estaria relacionada como o mundo físico e não como o mudo das ideias.
Gabarito: B
2. Autoral
“Na filosofia, o idealismo é o grupo de filosofias metafísicas que afirmam que a realidade, ou realidade como
os humanos podem conhecê-la, é fundamentalmente mental, mentalmente construída ou
imaterial. Epistemologicamente, o idealismo se manifesta como um ceticismo quanto à possibilidade de
conhecer qualquer coisa independente da mente. Em contraste com o materialismo, o idealismo afirma
a primazia da consciência como a origem e o pré-requisito dos fenômenos materiais. De acordo com essa
visão, a consciência existe antes e é a pré-condição da existência material.”
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Aristóteles rompe com seu mestre, não acredita que para cada objeto na
Terra haja uma cópia perfeita no céu como ideia.
Alternativa "b" está incorreta. O filósofo realmente rompeu com o idealismo, mas não fez isso de forma
radical supondo um empirismo absoluto, ele propõe um meio termo.
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Alternativa "c" está incorreta. Aristóteles acreditava na capacidade humana de compreender o cosmos.
Alternativa "d" está correta. O filósofo desenvolve a teoria da forma e matéria. A forma ou o formato das
coisas é uma ideia, pois trata-se de uma essência aplicável a todos os seres daquela espécie. Por exemplo, o
homem racional, bípede etc. é a forma em que se enquadram todos os homens e isso é uma ideia. Mas a
ideia só pode ser percebida se olharmos para os homens em particular que são concretos. Ou seja, a
realidade é constituída de ideia (ideia) e materialidade.
Gabarito: D
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Para pensar:
Você brigaria por uma certeza? Seria possível viver sem
Figura 1 : Pixabay
certezas?
Contudo, a palavra assumiu um valor mais amplo ainda, quando Pirro propôs sob esse termo a
doutrina segundo a qual não é possível qualquer certeza. Isso resulta em uma disposição de duvidar
constantemente sobre qualquer opinião expressa como uma verdade.
Verdade, Corujinha certeira. Nada melhor do que estar certo da própria opinião. Faz bem para o ego,
permite fazer escolhas sem titubear e dá aquela segurança de quem sempre sabe o que está fazendo. Mas
e se....
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Se uma certeza à qual você aderiu fosse baseada numa ilusão? Em 2014, no Guarujá, pessoas dotadas
de certeza lincharam uma mulher vítima de depressão crônica, pois ela teria sequestrado crianças para um
ritual de magia negra. O indivíduo orgulhoso que participou dessa barbárie, hoje, deve ter motivos de sobra
para se envergonhar.
Além disso, quando possuímos a certeza de uma “verdade” que envolve alguma polêmica, é sofrido
perceber que outras pessoas discordam de nossas opiniões ou são indiferentes ao que acreditamos ser algo
importantíssimo. Cada opinião contrária à nossa é como um dardo em nosso coração de certezas.
Melhor seria aprender a viver bem abdicando das certezas. Esse era a opinião de Pirro (360 – 270
a.C), filósofo e pintor grego. Como pintor, ele não foi grande coisa, começou a enveredar pelo pensamento
abstrato. Fez parte das expedições de Alexandre, o Grande, ao Oriente e passou a fazer turismo militar pelo
mundo antigo. Essa experiência pôs à prova sua ideia de que os gregos tinham uma civilização superior.
Conheceu outros povos, pessoas que adoravam animais, que veneravam as estrelas, que
sacralizavam rios. Reconheceu, nos estilos de vida variados e nas verdades alheias, formas de viver que o
impressionaram. Não havia no mundo conhecido verdades iguais e, no entanto, cada povo tinha sua lógica
de vida e poderia encontrar satisfação mesmo naquilo que ele arrogantemente poderia considerar falso.
Quando voltou à Grécia, começou a difundir uma ideia que tinha uma finalidade terapêutica: curar o
homem da doença de sempre querer estar certo. Qual seria a recompensa? A ataraxia, ou o sossego da alma.
As pessoas que se apegam a verdades são beligerantes, encaram conflitos pessoais e gastam uma tremenda
energia para defender sua ideia como se defende uma cidade sitiada.
Apesar de essa filosofia ser mais voltada para a Ética, para o bem viver, essa terminologia entrará
para a Teoria do Conhecimento e, inclusive, haverá uma distinção entre ceticismo filosófico e científico. A
palavra ceticismo passará a significar “a postura de duvidar e de sempre questionar qualquer ideia ou tese
que for apresentada como verdadeira”.
Por ora, é importante reter esses pares fundamentais que foram sendo construídos na história do
pensamento ocidental:
DOGMATISMO CETICISMO
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Q.(ENEM 2016)
Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto, e que, da mesma maneira, nada existe
do ponto de vista da verdade, que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto
do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando
do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio
dos sentidos.
LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.
O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:
a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.
b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.
c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.
d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente.
e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo.
Comentário:
Alternativa a, falsa. O fragmento escolhido deixa bem claro que a questão envolve a verdade, e a alternativa
“a” tematiza a obediência à sociedade.
Alternativa b, falsa. Não há qualquer referência ao prazer e desprazer no texto.
Alternativa c, verdadeira. A “impossibilidade de obter alguma certeza” aparece no texto no seguinte trecho
“nada existe do ponto de vista da verdade”; ao dizer que ele não evitou nada e suportou todas as
adversidades sinaliza um comportamento pautado pela indiferença.
Alternativa d, falsa. No texto, o autor não menciona qualquer fonte de esperança, até porque toda esperança
é fundada numa certeza, coisa que o pensador evita.
Alternativa e, falsa. O “bem e o belo” não são tematizados no fragmento.
Gabarito: C
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9. Questões
1.(UNESP/ 2021)
A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco, um continente de ideias esquecidas que
merece ser visitado apenas por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnologia,
especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas próximas décadas, sem saberem que, ao
defender esse ponto de vista, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutível.
Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea passaram a ser discutidas pelas ciências. Mas há
outras, no campo da ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a ciência
não tem, até agora, fornecido nenhuma solução.
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De acordo com o texto, a filosofia
2.(Unesp 2020)
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou
simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é vestida
com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação
experimental, depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São
casos típicos do que se costuma definir como “pseudociência”.
3. (Unesp 2012)
Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço
dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie
de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do
tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.
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a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmissão oral das tradições, dos mitos e da
memória.
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica.
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que viviam.
4. (UNESP 2011)
Parece notícia velha, mas a ciência e o ensino da ciência continuam sob ataque. No portal
www.brasilescola.com há um texto de Rainer Sousa, da Equipe Brasil Escola, que discute a origem do
homem. No final, o texto diz: “sendo um tema polêmico e inacabado, a origem do homem ainda será uma
questão capaz de se desdobrar em outros debates. Cabe a cada um adotar, por critérios pessoais, a
corrente explicativa que lhe parece plausível”. “Critérios pessoais” para decidir sobre a origem do homem?
A religião como “corrente explicativa” sobre um tema científico, amplamente discutido e comprovado, dos
fósseis à análise genética? Como é possível essa afirmação de um educador, em pleno século 21, num
portal que leva o nome do nosso país e se dedica ao ensino?
(Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo, 13.02.2011. Adaptado.)
O pensamento de Marcelo Gleiser é expresso por meio de uma;
a) perspectiva conciliatória entre religião e ciência acerca da origem do homem.
b) abordagem do conflito entre criacionismo e evolucionismo sob um ponto de vista liberal, defendendo a
liberdade individual para escolher qual adotar.
c) pressuposição de que a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin é anacrônica e, portanto,
inapropriada para explicar a origem do homem.
d) crítica da posição adotada pela Equipe Brasil Escola, por seu teor de irracionalismo.
e) pressuposição segundo a qual, no que tange à origem do homem, os critérios subjetivos devem
prevalecer sobre os critérios empíricos.
5. (UNESP 2016)
A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciência.
No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a lâmpada do pensamento
que se ilumina a si própria, criando por si o seu mundo. Que um povo se reconheça livre, eis o que constitui
o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção do nosso ser essencial no sentido de
que a liberdade pessoal é a sua condição fundamental, e de que nós, por conseguinte, não podemos ser
escravos. O estar às ordens de outro não constitui o nosso ser essencial, mas sim o não ser escravo. Assim,
no Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria filosofia. (Hegel. Estética, 2000. Adaptado.)
De acordo com o texto de Hegel, a filosofia
a) visa ao estabelecimento de consciências servis e representações homogêneas.
b) é compatível com regimes políticos baseados na censura e na opressão.
c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da racionalidade.
d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão e de liberdade.
e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de julgamento.
6. (UNESP 2018 )
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou
simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é vestida com
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alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação experimental,
depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São casos típicos do que
se costuma definir como “pseudociência”.
(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. In: Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.)
Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pseudocientíficos por meio
(A) da imposição de novos sistemas ideológicos.
(B) da confiança em teorias fundamentadas no senso comum.
(C) da ampla divulgação de ideias individuais.
(D) da preservação de saberes populares.
(E) da demonstração de ausência de evidências empíricas.
7. (Autoral)
A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de
comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidores e se
montar uma propaganda.
As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático.
(Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000)
Segundo a autora, qual o traço marcante da filosofia?
A) A sistematização metódica análoga a do método científico.
B) Total indiferença em relação ao que as pessoas pensam, sobretudo no mundo atual em que tudo é
reduzido à mercadoria.
C) Adoção de uma metodologia empírica, capaz de ir além do dogmatismo.
D) Uma procura constante de encontrar um discurso capaz de ir além do senso comum.
8. (Autoral)
A metáfora que os gregos usavam para valorizar o conhecimento e a razão era a de um barco à deriva que
precisa de um piloto que saiba como chegar com segurança a um determinado porto. Para eles, o
conhecimento tinha uma função ética (viver bem), estética (viver belamente). Nesse sentido, observar a
natureza era importante por quê?
9. (Autoral)
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“A filosofia é o aperfeiçoamento da alma humana através da apreensão das coisas e a confirmação das
verdades especulativas e práticas, de acordo com a capacidade humana. A filosofia relativa às coisas
especulativas, as quais devemos conhecer, mas que não precisamos praticar, é chamada filosofia
especulativa. A filosofia relativa às coisas práticas as quais devemos conhecer e praticar, chama-se filosofia
prática.”
(Avicena. “ A filosofia e sua divisão”. In: Marçal, Jairo (org.). Antologia de textos Filosóficos. Curitiba:
SEED, P. 2009)
“Não é permitido haver nada de hipotético em nossas reflexões. Toda explicação tem que sair e em seu lugar
entrar apenas descrição. E esta descrição recebe sua luz, isto é, seu objetivo, dos problemas filosóficos. Estes,
sem dúvida, não são empíricos, mas são resolvidos por um exame do funcionamento de nossa linguagem,
ou seja, de modo que este seja reconhecido: em oposição a uma tendência de compreendê-lo mal. Estes
problemas não são solucionados pelo ensino de uma nova experiência, mas pela combinação do que de há
muito já se conhece. A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento de nosso intelecto pelos meios de nossa
linguagem.”
(Wittgenstein. “Investigações Filosóficas”. Marcondes, D. "Textos Básicos de Filosofia". Rio de Janeiro:
Zahar Editor Ltda, 2007.)
A partir da leitura dos dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. O texto 1 supõe uma função ética da filosofia, enquanto o texto 2 supõe que a função da filosofia é manter
o senso crítico aceso, ou seja, teria caráter epistemológico.
II. O Avicena, filósofo árabe que viveu entre os século X e XI c. C., valia-se da filosofia para reforçar a fé; algo
contra o qual Wittgenstein se opõe, na medida em que ele supõe ser a filosofia um antídoto contra o
enfeitiçamento religioso.
III. Avicena tem uma concepção bastante ampla de filosofia, enquanto Wittgenstein considera a filosofia a
partir da perspectiva linguística.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e III são corretas.
b) Somente as afirmações I e II são corretas.
c) Todas as afirmações são corretas
d) Somente as afirmações II e III são corretas.
e) Somente a alternativa I é correta.
10. (Autoral)
“O relato mítico surge, então, como expressão do sentimento de separação e como tentativa de restaurar a
unidade e a inocência perdidas. Eis por que todo mito, como sustenta Mircea Eliade, é sempre um relato das
origens com finalidade instauradora. A forma de consciência que o produz apreende o tempo como um agora
permanente que, de algum modo, permanece grudado ao tempo das origens”.
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. Revista Philósophos 7. 35-56, 2002. São Paulo: PUC).
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a) arquetípica e totalizante.
b) fantasiosa e alienante.
c) metafísica e mágica.
d) finalista e fragmentária.
e) mágica e restauradora.
11. (Autoral)
Também aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo.
ARISTÓTELES, Metafísica, A 2, 982 b 18
“É certo que o lógos, assumindo progressivamente, na era clássica, o sentido de “discurso regrado” e, a partir
daí, o de “raciocínio” que remete à “razão”, ao “cálculo” e à “medida”, assumiu um uso filosófico que tendia
a se opor ao mito como narrativa sagrada. Entretanto, antes de chegar a uma oposição, mythos e lógos
estiveram unidos, pelo menos segundo a antiga etimologia que identifica mythos e palavra.”
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. In: Philósophos 2002.)
Comparando os dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. Os textos parecem indicar perspectivas opostas no que se refere à relação entre filosofia e mito.
Aristóteles vê a filosofia como uma continuidade da fase mítica; já o segundo texto aponta para uma
diferença radical entre uma fase e outra: o mito se baseia em narrativas; a filosofia num discurso metódico.
II. O texto II oferece um argumento decisivo contra a perspectiva aristotélica.
III. Tanto o primeiro texto quando o segundo fazem avaliação do mito segundo os mesmos parâmetros.
IV. O uso da expressão restritiva “até certo modo” em Aristóteles nos permite inferir que ele também
acreditava que mito e filosofia se opunham.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e II são corretas.
b) As afirmações I, II e III são corretas.
c) Todas as afirmações são corretas
d) Somente a afirmação I é correta.
e) As afirmações I e III são corretas.
12. (Autoral)
“A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a possibilidade
humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das condições de possibilidade da ação moral enquanto
realizada por liberdade e por dever. Com isso, a Filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e
tornava-se apenas conhecimento do homem enquanto ser racional e moral.”
(Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000),
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A autora, nesse fragmento, considera a passagem da filosofia pré-socrática para a filosofia pós-socrática. O
que marca esses dois momentos é a passagem
13. (Autoral)
“É por isso, Sócrates, que as pessoas nas cidades, especialmente em Atenas, consideram que deliberar sobre
os casos de excelência artística ou bom exercício da profissão é um assunto de poucos entendidos, e se
alguém de fora desse grupo faz qualquer deliberação, eles a rejeitam, como você diz, e com razão, segundo
penso. Mas quando se encontram para um conselho a respeito da arte política, em que devem ser guiados
pela justiça e pelo bom senso, naturalmente permitem as deliberações de todos, já que todos têm de
partilhar dessas virtudes, ou então o Estado não poderia existir.”
(Marcondes, D. “Textos básicos de Filosofia”. Rio de Janeiro: Zahar Editor Ltda, 2007)
Nesse fragmento, tirado de um diálogo de Platão, pode-se ler o embate entre Sócrates, que manifesta ideias
platônicas, e Protágoras, um grande sofista. A partir da leitura do texto e do seu conhecimento sobre as
ideias de Platão e dos sofistas, assinale a alternativa correta.
a) Para Protágoras, a justiça deve ser encontrada no consenso da praça pública, algo com o qual Platão não
concorda.
b) Tanto Platão quanto Protágoras acreditam numa justiça ideal além das circunstâncias cotidianas.
c) Segundo Protágoras, sem um ideal de justiça emanado daqueles que têm a sabedoria, não há genuíno
Estado.
d) Protágoras ironiza o saber proporcionado pela arte e valoriza a política; Platão faz exatamente o contrário.
e) Protágoras deixa claro que há duas espécies de pessoas, os entendidos e a grande massa, somente os
primeiros deveriam ser ouvidos na política.
14. (Autoral)
“De todos os argumentos por meio dos quais demonstramos a existência das ideias, nenhum é convincente.
Alguns dentre eles não conduzem a uma conclusão necessária e outros conduzem a ideias de coisas das
quais, na nossa opinião [sc. nós os platonistas], não pode haver ideias. Com efeito, segundo os argumentos
provenientes da existência das ciências (ἐκ τῶν ἐπιστηµῶν) haverá ideias de todas as coisas das quais houver
ciência; segundo o argumento da unidade de uma multiplicidade (τὸ ἕν ἐπὶ πολλῶν), haverá ideias mesmo
de negações (ἀποφάσεων); enfim, segundo o argumento de que é possível pensar o perecido (τὸ νοεῑν τι
φθαρέντος), haverá ideias de coisas perecíveis, pois podemos ter destas coisas uma imagem.
(Aristóteles. A metafísica)
O texto acima de Aristóteles discute uma postura contrária à do seu mestre Platão no que se refere
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a) à forma de argumentar, já que Platão, por utilizar de analogias e até mitos, não consegue ser convincente.
b) ao apelo a um tipo de ciência que não se baseava em conhecimento observável.
c) à confusão entre unidade e multiplicidade, já que Platão não demarcava com precisão essas duas
categorias.
d) à existência do mundo ideal, já que Platão não conseguiu provar a existência do idealismo.
e) à ideia de negação das coisas perecíveis por Platão, já que para ele aquilo que perece não existe.
15. (Autoral)
Segundo o dicionário, maiêutica significa “método socrático que consiste na multiplicação de perguntas,
induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto”.
Sócrates, ao aplicar esse método, investia contra
a) a relatividade das ditas verdades.
b) a censura da liberdade de expressão.
c) a pseudo infalibilidade dos dogmas.
d) a arrogância do orgulho intelectual.
e) a certeza das ciências naturais.
16. (Autoral)
"Estou mais interessado no microcosmo do que no macrocosmo. Estou mais interessado em como um homem
vive do que em como uma estrela morre, em como uma mulher abre seu caminho no mundo do que em como
um cometa risca o céu. O mistério humano, e não a condição do cosmos, é o que me fascina" (Sherwin
Nuland)
a) Esse trecho expressa a ideia de Parmênides, na medida em que o autor fala que o que
interessa é o mistério humano, mistério característico do Ser de Parmênides.
b) Esse trecho expressa a ideia de Heráclito, na medida em que o autor fala vida e da morte do
ser humano, ou seja, do caráter mutável da vida e do universo.
c) Esse trecho expressa a ideia dos pré-socráticos que se preocupavam com a physis, por isso o
autor se refere a morte da estrela.
d) Esse trecho expressa a virada ética, na medida em que o autor se refere a duas formas de
refletir sobre a realidade manifestando preferência pela ética.
e) Esse trecho expressa a visão socrática sobre a morte, pois o autor fala sobre o mistério
humano, ou seja a vida pós a morte, mesma preocupação que Sócrates manifesta no
momento de sua morte quando discorre sobre o que virá depois da vida.
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17. (Autoral)
“Sócrates: [...] Protágoras admitiu que alguns indivíduos superavam outros no que tange ao melhor e ao pior,
sendo esses indivíduos os sábios. [...]
Sócrates: [...] ele diz, não é mesmo “que aquilo que aparece a cada indivíduo efetivamente é para aquele a
quem aparece”.
[...]
Sócrates: [...] então, Protágoras, também expressamos as opiniões de um ser humano, ou melhor, de todos
os seres humanos, e dizemos que ninguém há que não se julgue mais sábio do que os outros em certas
matérias, e outros mais sábios do que ele próprio em outras matérias. [...] E todo o mundo humano, ouso
dizer, torna-se repleto de pessoas que buscam mestres e chefes para si, para outros seres vivos e para a
direção de todas as atividades humanas; e, por outro lado, de pessoas que se julgam qualificadas
para ensinar e para chefiar. E, observando todos esses casos, é imperioso dizermos que os próprios seres
humanos creem que sabedoria e ignorância existem entre os seres humanos.
[...]
Sócrates: E, portanto, julgam que a sabedoria é o pensar verdadeiro e a ignorância, a opinião falsa.
(PLATÃO, Teeteto. In: PLATÃO. Diálogos I: Teeteto (ou do conhecimento), Sofista (ou do ser), Protágoras (ou
sofistas). Tradução, textos complementares e notas de Edson Bini. Bauru/SP: EDIPRO, 2007)
Esse é um fragmento do Teeteto de Platão. Texto no qual, Platão, por meio de seu personagem Sócrates,
expõe sua ideia sobre o que deve ser o conhecimento. No trecho, o autor discute a ideia de Protágoras. Nos
trechos acima apresentados, Platão
18. (Autoral)
As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessária e universalmente, não podendo de modo algum
ser diferente do que é e de como é... As verdades de razão são inatas.
(...)
As verdades de fato são empíricas e se referem a coisas que poderiam ser diferentes do que são, mas que
são como são porque há uma causa para que sejam assim.
((Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000).
Nesse fragmento, Marilena Chauí distingue os dois tipos de verdade, termo que se tornou consagrado
quando se discute os tipos de verdades as quais os homens podem chegar.
A partir das definições apresentadas, assinale a alternativa que exemplificaria uma das verdades
mencionadas.
a) Verdades de fato: a existência de Deus.
b) Verdades de razão: 2 + 2 = 4.
c) Verdades de razão: a terra é redonda.
d) Verdades de fato: O triângulo tem três lados.
e) Verdades da razão: eu estou triste.
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19.(Autoral)
“Em A República, Platão parte do princípio segundo o qual o conhecimento é proporcional ao ser, de
modo que aquilo que é ser em grau máximo pode, com exclusividade, ser perfeitamente conhecido,
posto que o não-ser é absolutamente incognoscível. Entretanto, como existe uma realidade
intermediária entre o ser e o não-ser, isto é, o sensível, que é uma mescla de ser e não-ser enquanto
sujeito ao devir, Platão acaba por concluir que também desse "intermediário" existe um
conhecimento igualmente intermediário entre ciência e ignorância: um tipo de conhecimento que não
se identifica com o conhecimento verdadeiro, cujo nome é "opinião" (doxa).”
Reale, G & Antiseri, D. “História da Filosofia”, vol.I. São Paulo: Paulus, 1990
A partir desse fragmento de um comentador e das ideias de Platão, são feitas as seguintes afirmações:
I. As ideias, por serem perfeitas e imateriais, não podem ser conhecidas, somente intuídas.
II. A opinião é um conhecimento intermediário, no qual verdade e falsidade se mesclam.
III. O mundo em que vivemos, sensível, também é intermediário.
IV. A opinião é apropriada ao mundo sensível; o conhecimento, ao mundo inteligível.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa III é verdadeira.
b) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras
20. (Autoral)
Texto 1
O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples
arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas,
achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos.
Texto 2
A língua é um “como” se pensa, enquanto que a cultura é “o quê” a sociedade faz e pensa. A língua, como
meio, molda o pensamento na medida em que pode variar livremente. A língua é o molde dos
pensamentos.
(Rodrigo Tadeu Gonçalves. Perpétua prisão órfica ou Ênio tinha três corações, 2008. Adaptado.)
Os textos levantam questões que permitem identificar uma característica importante da reflexão filosófica,
qual seja, que
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(D) a filosofia estabelece as balizas e diretrizes do fazer científico.
Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.
Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e
Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá
Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria
sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens.
“A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014.
No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam
Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz, feminino e
masculino, frio e calor, seco e molhado.
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe
Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as
afirmativas a seguir.
I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que concebem
o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena tudo que
existe.
II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e
impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada
comunidade.
III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar
determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião
provável ao exprimir o vir-a-ser.
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer
correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado.
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Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Fonte: SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de Janeiro: Sony-BMG,
2004.
Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a realidade passando como uma onda, assim
também pensaram os primeiros filósofos conhecidos como Pré-socráticos que denominavam a realidade de
physis. A característica dessa realidade representada, também, na música de Lulu Santos é o(a)
a) fluxo.
b) estática.
c) infinitude.
d) desordem.
e) multiplicidade.
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Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo:
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.
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a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua
metodologia.
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático
fundamental para a vida cotidiana.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada,
crítica e radical, baseada no logos.
27. (UFU/2015.2)
Somente uns poucos indivíduos, se aproximando das imagens através dos órgãos dos sentidos, com
dificuldade nelas entreveem a natureza daquilo que imitam.
PLATÃO. Fedro. In: ______. Diálogos socráticos. v. 3. Tradução de Edson Bini. Bauru/SP: Edipro, 2008, p. 64
[250b].
Assinale a alternativa que explicita a teoria de Platão apresentada no trecho acima.
A. A teoria materialista que fixa a imagem como o reflexo de corpos físicos que constituem a única
realidade existente.
B. A teoria das ideias que estabelece a distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível, sendo que
as imagens captadas pelos sentidos humanos despertam a alma para as ideias que habitam o mundo
inteligível.
C. A teoria existencialista que delimita o espaço vital do homem e lhe impede de transcender para além do
mundo sensível.
D. A teoria niilista que admite dois mundos, mas que nega qualquer possibilidade de conhecimento das
coisas e das ideias.
De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-socrático expressa um princípio de movimento por
meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe. A doutrina de Parmênides, no entanto, tal como
relatada pela tradição, aboliu esse princípio e provocou, consequentemente, um sério conflito no debate
filosófico posterior, em relação ao modo como conceber o ser.
Para Parmênides e seus discípulos:
a) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em que o movimento está em tudo o que existe.
b) O movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um não-ser.
c) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de imaginação especulativa.
d) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade empírica é puro ser,
ainda que em movimento.
TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do
mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as
especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro
elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão
de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”.
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir
de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval,
têm em comum na sua fundamentação teorias que
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
NIETZSCHE,F. CRITICA MODERNA . IN:OS PRÉ- SOCRÁTICOS. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Alternativas
a) cosmológica, propondo uma explicação racional do mundo fundamentada nos elementos da natureza.
b) política, discutindo as formas de organização da pólis ao estabelecer as regras da democracia.
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores virtuosos que tem a felicidade como o bem maior.
d) estética, procurando investigar a aparência dos entes sensíveis.
e) hermenêutica, construindo uma explicação unívoca da realidade.
9.1. Gabarito
1.(UNESP/ 2021)
A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco, um continente de ideias esquecidas que
merece ser visitado apenas por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnologia,
especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas próximas décadas, sem saberem que,
ao defender esse ponto de vista, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutível.
Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea passaram a ser discutidas pelas ciências. Mas
há outras, no campo da ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a
ciência não tem, até agora, fornecido nenhuma solução.
Comentário.
Outra questão de interpretação de texto, trata-se uma questão sobre os desafios da filosofia.
Alternativa "a" está incorreta. O texto mostra que o avanço das ciências tem deixado pouco espaço para
tal área do saber na teoria do conhecimento. Isso não significa que a filosofia seja “incapaz”, a palavra é
muito forte.
Alternativa "b" está correta. Para se chegar a essa alternativa, seria necessário fazer uma dedução, pois
a ideia expressa na “b” não está explicitamente no texto. A ciência não tem respostas para aplicação de
suas ideias no campo social (ética e política), daí a importância da filosofia, fazer a ponte entre essas
áreas, logo, ela contribui para os debates de como a ciência pode se tornar significativa no mundo ético
do homem.
Alternativa "c" está incorreta. A ciência foi avançando sobre temas filosóficos, como por exemplo, a
neurociência que mostra como a mente processa informações, tema caro aos filósofos, mas não houve
oposição.
Alternativa "d" está incorreta. Não há qualquer indicação de que a filosofia evita a ciência.
Alternativa "e" está incorreta. A filosofia é antidogmática, ou seja, ela não fornece respostas absolutas
para nada. Apresenta problemas e reflexões a partir de seus modelos.
Gabarito: B
2. (Unesp 2020)
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio,
ou simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é
vestida com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação
experimental, depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São
casos típicos do que se costuma definir como “pseudociência”.
Comentário
Alternativa a, falsa. Novos sistemas ideológicos (crenças) não garantem que a proposição feita sobre a
realidade seja verdadeira.
Alternativa b, falsa. O senso comum é a base do conhecimento pseudocientífico; a ciência é contrária ao
senso comum.
Alternativa c, falsa. O ponto de vista individual é sujeito a erros advindos dos sentidos.
Alternativa d, falsa. Os saberes populares são base da tradição e do preconceito; a ciência nasce do
rompimento com os saberes tradicionais.
Alternativa e, verdadeira. Para saber se a afirmação feita sobre o real é verdadeira, é preciso confrontar
o que se afirma com a realidade; ou seja, contrapor a tese às “evidências empíricas”.
Gabarito: E
3. (Unesp 2012)
Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo
preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma
espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as
partes do tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.
Alternativa "b" está incorreta. Em relação à origem do homem, Gleiser é da opinião que diante de um
tema tão discutido e comprovado por fósseis e genética, não é possível dizer que cada um tem a sua
opinião.
Alternativa "c" está incorreta. Gleiser não menciona Darwin, mas provavelmente leva o cientista em
consideração já que aceita a teoria da evolução das espécies.
Alternativa "d" está correta. Gleiser deixa claro que o ciência se pauta por critérios objetivos, acreditar
que eles são relativos significa abrir espaço para o irracionalismo que nega tais critérios.
Alternativa "e" está incorreta. Gleiser dá a entender que só aceita o que a ciência objetivamente
apresentou como prova da origem do homem e não aquilo que cada um deseja subjetivamente acreditar.
Gabarito: D
5. (UNESP 2016)
A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da
autoconsciência. No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a
lâmpada do pensamento que se ilumina a si própria, criando por si o seu mundo. Que um povo se
reconheça livre, eis o que constitui o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção
do nosso ser essencial no sentido de que a liberdade pessoal é a sua condição fundamental, e de que
nós, por conseguinte, não podemos ser escravos. O estar às ordens de outro não constitui o nosso ser
essencial, mas sim o não ser escravo. Assim, no Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria
filosofia. (Hegel. Estética, 2000. Adaptado.)
De acordo com o texto de Hegel, a filosofia
a) visa ao estabelecimento de consciências servis e representações homogêneas.
b) é compatível com regimes políticos baseados na censura e na opressão.
c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da racionalidade.
d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão e de liberdade.
e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de julgamento.
Comentário.
Alternativa a, falsa. Logo nos primeiros períodos do fragmento, Hegel afirma que a filosofia se relaciona
com “a liberdade da autoconsciência”.
Alternativa b, falsa. Se é necessária a liberdade para o desenvolvimento da filosofia, logicamente, em
sistemas autoritários, ela não prospera. Além disso, o pensador afirma “Que um povo se reconheça
livre, eis o que constitui o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil.”
Alternativa c, falsa. O autor não discute nesse fragmento as paixões.
Alternativa d, verdadeira. No texto, o autor defende a ideia de que “a liberdade pessoal” é condição
fundamental para a filosofia.
Alternativa e, falsa. O autor não discute isso no texto dele, mas sabe-se que Hegel postula uma razão
universal.
Gabarito: D
6. (UNESP 2018 )
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou
simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é vestida
com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação
experimental, depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São
casos típicos do que se costuma definir como “pseudociência”.
(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. In: Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.)
Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pseudocientíficos por meio
7. (Autoral)
A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios
de comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidor e se
montar uma propaganda.
As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático.
(Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000)
Segundo a autora, qual o traço marcante da filosofia?
A) A sistematização metódica análoga a do método científico.
B) Total indiferença em relação ao que as pessoas pensam, sobretudo no mundo atual em que tudo é
reduzido à mercadoria.
C) Adoção de uma metodologia empírica, capaz de ir além do dogmatismo.
D) Uma procura constante de encontrar um discurso capaz de ir além do senso comum.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. É verdade que autora afirma que a filosofia é sistemática, mas não se trata
de uma sistematização “análoga” (semelhante) a do método científico.
Alternativa "B" está incorreta. A filosofia não é indiferente ao senso comum, ela discute o senso comum,
indo além dele.
Alternativa "C" está incorreta. Alguns filósofos foram empiristas outros não, esse não é o traço
fundamental da filosofia.
Alternativa "D" está correta. Logo no começo do fragmento, Marilena Chauí deixa claro que a Filosofia
não aceita o “achismo”, o seja, procura ir além do senso comum.
Gabarito: D
8. (Autoral)
A metáfora que os gregos usavam para valorizar o conhecimento e a razão era a de um barco à deriva que
precisa de um piloto que saiba como chegar com segurança a um determinado porto. Para eles, o
conhecimento tinha uma função ética (viver bem), estética (viver belamente). Nesse sentido, observar a
natureza era importante por quê?
“Não é permitido haver nada de hipotético em nossas reflexões. Toda explicação tem que sair e em seu
lugar entrar apenas descrição. E esta descrição recebe sua luz, isto é, seu objetivo, dos problemas
filosóficos. Estes, sem dúvida, não são empíricos, mas são resolvidos por um exame do funcionamento de
nossa linguagem, ou seja, de modo que este seja reconhecido: em oposição a uma tendência de
compreendê-lo mal. Estes problemas não são solucionados pelo ensino de uma nova experiência, mas
pela combinação do que de há muito já se conhece. A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento de
nosso intelecto pelos meios de nossa linguagem.”
(Wittgenstein. “Investigações Filosóficas”. Marcondes, D. "Textos Básicos de Filosofia". Rio de Janeiro:
Zahar Editor Ltda, 2007.)
A partir da leitura dos dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. O texto 1 supõe uma função ética da filosofia, enquanto o texto 2 supõe que a função da filosofia é
manter o senso crítico aceso, ou seja, teria caráter epistemológico.
II. O Avicena, filósofo árabe que viveu entre os século X e XI c. C., valia-se da filosofia para reforçar a fé;
algo contra o qual Wittgenstein se opõe, na medida em que ele supõe ser a filosofia um antídoto contra
o enfeitiçamento religioso.
III. Avicena tem uma concepção bastante ampla de filosofia, enquanto Wittgenstein considera a
filosofia a partir da perspectiva linguística.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e III são corretas.
b) Somente as afirmações I e II são corretas.
c) Todas as afirmações são corretas
d) Somente as afirmações II e III são corretas.
e) Somente a alternativa I é correta.
Comentário.
Afirmação I está correta. A ideia de uma função ética da filosofia aparece no seguinte trecho do texto I
“A filosofia é o aperfeiçoamento da alma humana”; o texto II, por outro lado, supõe que a filosofia tem a
função de criticar a linguagem para não se deixar enfeitiçar por ela.
Afirmação II está incorreta. É possível que ao se colocar contra o enfeitiçamento da linguagem, a
filosofia mantenha uma relação crítica em relação à religião, mas Wittgenstein adverte contra o
enfeitiçamento da linguagem e não da religião.
Afirmação III está correta. Avicena considera a filosofia do ponto de vista especulativo ou prático, ou
seja, ela abarca várias atividades; para Wittgenstein, a filosofia age sobre a linguagem, um campo mais
restrito.
Gabarito: A
10. (Autoral)
“O relato mítico surge, então, como expressão do sentimento de separação e como tentativa de restaurar
a unidade e a inocência perdidas. Eis por que todo mito, como sustenta Mircea Eliade, é sempre um relato
das origens com finalidade instauradora. A forma de consciência que o produz apreende o tempo como
um agora permanente que, de algum modo, permanece grudado ao tempo das origens”.
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. Revista Philósophos 7. 35-56, 2002. São Paulo: PUC).
a) arquetípica e totalizante.
b) fantasiosa e alienante.
c) metafísica e mágica.
d) finalista e fragmentária.
e) mágica e restauradora.
Comentário.
Alternativa "A" está correta. A palavra “arquétipo” refere-se a um modelo original, do passado. No texto
dado, o autor afirma que o mito é “um relato das origens”. Quanto ao aspecto totalizante, isso pode ser
conferido no trecho em que o autor afirma que o mito representa a “tentativa de restaurar a unidade e a
inocência perdidas”.
Alternativa "B" está incorreta. Dizer que o mito é fantasioso e alienante são formas de menosprezar esse
tipo de conhecimento. Mircea Eliade faz o contrário exalta o mito.
Alternativa "C" está incorreta. Seria metafísica se o autor discutisse a função dos deuses dentro do mito,
mas nesse fragmento ele apenas discute a função psicológica do mito para as pessoas que acreditam nele.
Alternativa "D" está incorreta. O texto deixa claro que o mito procura restaurar a unidade e não
fragmentar os valores sociais.
Alternativa "E" está incorreta. O autor não destaca a passagem do mito à magia.
Gabarito: A
11. (Autoral)
Também aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo.
ARISTÓTELES, Metafísica, A 2, 982 b 18
“É certo que o lógos, assumindo progressivamente, na era clássica, o sentido de “discurso regrado” e, a
partir daí, o de “raciocínio” que remete à “razão”, ao “cálculo” e à “medida”, assumiu um uso filosófico
que tendia a se opor ao mito como narrativa sagrada. Entretanto, antes de chegar a uma oposição, mythos
e lógos estiveram unidos, pelo menos segundo a antiga etimologia que identifica mythos e palavra.”
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. In: Philósophos 2002.)
Comparando os dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. Os textos parecem indicar perspectivas opostas no que se refere à relação entre filosofia e mito.
Aristóteles vê a filosofia como uma continuidade da fase mítica; já o segundo texto aponta para uma
diferença radical entre uma fase e outra: o mito se baseia em narrativas; a filosofia num discurso
metódico.
II. O texto II oferece um argumento decisivo contra a perspectiva aristotélica.
III. Tanto o primeiro texto quando o segundo fazem avaliação do mito segundo os mesmos parâmetros.
IV. O uso da expressão restritiva “até certo modo” em Aristóteles nos permite inferir que ele também
acreditava que mito e filosofia se opunham.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e II são corretas.
b) As afirmações I, II e III são corretas.
nas discussões sobre o comportamento humano e não somente no idealismo. É verdade que Platão era
idealista, mas Aristóteles não era. Essa alternativa restringe demais o significado da filosofia pós-socrática.
Alternativa "d" está incorreta Os pré-socráticos podem ser considerados materialistas, pois procuravam
causas materiais, mas o movimento posterior não era espiritualista.
Alternativa "e" está incorreta. Não se poderia chamar o conhecimento gerado pelos pré-socráticos de
científico, faltava método, e o que se seguiu não pode ser definido só pela epistemologia, como o texto
de Marilena Chauí deixa claro.
Gabarito: B
13. (Autoral)
“É por isso, Sócrates, que as pessoas nas cidades, especialmente em Atenas, consideram que deliberar
sobre os casos de excelência artística ou bom exercício da profissão é um assunto de poucos entendidos,
e se alguém de fora desse grupo faz qualquer deliberação, eles a rejeitam, como você diz, e com razão,
segundo penso. Mas quando se encontram para um conselho a respeito da arte política, em que devem
ser guiados pela justiça e pelo bom senso, naturalmente permitem as deliberações de todos, já que todos
têm de partilhar dessas virtudes, ou então o Estado não poderia existir.”
(Marcondes, D. “Textos básicos de Filosofia”. Rio de Janeiro: Zahar Editor Ltda, 2007)
Nesse fragmento, tirado de um diálogo de Platão, pode-se ler o embate entre Sócrates, que manifesta
ideias platônicas, e Protágoras, um grande sofista. A partir da leitura do texto e do seu conhecimento
sobre as ideias de Platão e dos sofistas, assinale a alternativa correta.
a) Para Protágoras, a justiça deve ser encontrada no consenso da praça pública, algo com o qual Platão
não concorda.
b) Tanto Platão quanto Protágoras acreditam numa justiça ideal além das circunstâncias cotidianas.
c) Segundo Protágoras, sem um ideal de justiça emanado daqueles que têm a sabedoria, não há genuíno
Estado.
d) Protágoras ironiza o saber proporcionado pela arte e valoriza a política; Platão faz exatamente o
contrário.
e) Protágoras deixa claro que há duas espécies de pessoas, os entendidos e a grande massa, somente os
primeiros deveriam ser ouvidos na política.
Comentário.
Alternativa "A" está correta. Protágoras é sofista, defendia que a justiça deveria ser deliberada através
do consenso, como se observa no seguinte trecho: “quando se encontram para um conselho a respeito
da arte política”. Para Platão, a justiça ideal está acima das opiniões.
Alternativa "B" está incorreta. A concepção de uma justiça além das circunstâncias é de Platão; Protágoras
não concordaria com isso.
Alternativa "C" está incorreta. A ideia de que somente sábios podem construir um Estado perfeito é
platônica, não é sofista.
Alternativa "D" está incorreta. Protágoras não ironiza o saber proporcionado pela arte, ele simplesmente
comenta a diferença entre arte e política; em relação à arte, especialistas são capazes de dar o veredito
final; na política, não há especialista. Além disso, Platão não considera a arte superior à política.
Alternativa "E" está incorreta. Essa ideia de uma aristocracia de sábios era defendida por Platão e não
por Protágoras.
Alternativa: A
14. (Autoral)
“De todos os argumentos por meio dos quais demonstramos a existência das ideias, nenhum é
convincente. Alguns dentre eles não conduzem a uma conclusão necessária e outros conduzem a ideias
de coisas das quais, na nossa opinião [sc. nós os platonistas], não pode haver ideias. Com efeito, segundo
os argumentos provenientes da existência das ciências (ἐκ τῶν ἐπιστηµῶν) haverá ideias de todas as
coisas das quais houver ciência; segundo o argumento da unidade de uma multiplicidade (τὸ ἕν ἐπὶ
πολλῶν), haverá ideias mesmo de negações (ἀποφάσεων); enfim, segundo o argumento de que é possível
pensar o perecido (τὸ νοεῑν τι φθαρέντος), haverá ideias de coisas perecíveis, pois podemos ter destas
coisas uma imagem.
(Aristóteles. A metafísica)
O texto acima de Aristóteles discute uma postura contrária a do seu mestre Platão no que se refere
a) à forma de argumentar, já que Platão por utilizar de analogias e até mitos não consegue ser
convincente.
b) ao apelo a um tipo de ciência que não se baseava em conhecimento observável.
c) à confusão entre unidade e multiplicidade, já que Platão não demarcava com precisão essas duas
categorias.
d) à existência do mundo ideal, já que Platão não conseguiu provar a existência do idealismo.
e) à ideia de negação das coisas perecíveis por Platão, já que para ele aquilo que perece não existe.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Aristóteles não se refere ao uso de analogia e mitos como motivo para
questionar as ideias de Platão.
Alternativa "b" está incorreta. O uso que Aristóteles faz da palavra “ciência” no texto não tem nada a ver
com o conceito de ciência atual e com os requisitos de observação da realidade.
Alternativa "c" está incorreta. Platão circunscreveu muito bem multiplicidade e unidade; o mundo
inteligível era o lugar da unidade; o mundo sensível era o lugar da multiplicidade.
Alternativa "d" está correta. Logo no início do parágrafo, Aristóteles deixa claro qual sua intenção,
questionar a teoria do mundo das ideias, “De todos os argumentos por meio dos quais demonstramos a
existência das ideias, nenhum é convincente.”
Alternativa "e" está incorreta. Platão não defendia que as coisas perecíveis não existem, defendia apenas
que elas eram imperfeitas e sombras de um mundo perfeito.
Gabarito: D
15. (Autoral)
Segundo o dicionário, maiêutica significa “método socrático que consiste na multiplicação de perguntas,
induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um
objeto”. Sócrates, ao aplicar esse método, investia contra
a) a relatividade das ditas verdades.
b) a censura da liberdade de expressão.
c) a pseudo infalibilidade dos dogmas.
16. (Autoral)
"Estou mais interessado no microcosmo do que no macrocosmo. Estou mais interessado em como um
homem vive do que em como uma estrela morre, em como uma mulher abre seu caminho no mundo do
que em como um cometa risca o céu. O mistério humano, e não a condição do cosmos, é o que me fascina"
(Sherwin Nuland)
a)Esse trecho expressa a ideia de Parmênides, na medida em que o autor fala que o que interessa é o
mistério humano, mistério característico do Ser de Parmênides.
b)Esse trecho expressa a ideia de Heráclito, na medida em que o autor fala vida e da morte do ser
humano, ou seja, do caráter mutável da vida e do universo.
c)Esse trecho expressa a ideia dos pré-socráticos que se preocupavam com a physis, por isso o autor se
refere a morte da estrela.
d)Esse trecho expressa a virada ética, na medida em que o autor se refere a duas formas de refletir
sobre a realidade manifestando preferência pelo ética.
e)Esse trecho expressa a visão socrática sobre a morte, pois o autor fala sobre o mistério humano, ou
seja a vida pós a morte, mesma preocupação que Sócrates manifesta no momento de sua morte
quando discorre sobre o que virá depois da vida.
Comentário:
Alternativa a, falsa. Parmênides, ao falar do ser, fala de algo difícil de compreender, do universo, da
natureza, não do mistério da interioridade humana.
Alternativa b, falsa. O autor fala que está interessado na vida e morte das pessoas e não na vida e morte
das estrelas, ou seja, o tema do texto não é a mutabilidade das coisas, mas o interesse que o mundo
humano desperta no autor.
Alternativa c, falsa. É verdade que há uma alusão a algo parecido que preocupava os pré-socráticos, a
morte de uma estrela, mas o autor se interessa pelo humano e não pelo mundo natural.
Gabarito: D
17. (Autoral)
“Sócrates: [...] Protágoras admitiu que alguns indivíduos superavam outros no que tange ao melhor e ao
pior, sendo esses indivíduos os sábios. [...]
Sócrates: [...] ele diz, não é mesmo “que aquilo que aparece a cada indivíduo efetivamente é para aquele
a quem aparece”.
[...]
Sócrates: [...] então, Protágoras, também expressamos as opiniões de um ser humano, ou melhor, de
todos os seres humanos, e dizemos que ninguém há que não se julgue mais sábio do que os outros em
certas matérias, e outros mais sábios do que ele próprio em outras matérias. [...] E todo o mundo humano,
ouso dizer, torna-se repleto de pessoas que buscam mestres e chefes para si, para outros seres vivos e
para a direção de todas as atividades humanas; e, por outro lado, de pessoas que se julgam
qualificadas para ensinar e para chefiar. E, observando todos esses casos, é imperioso dizermos que os
próprios seres humanos creem que sabedoria e ignorância existem entre os seres humanos.
[...]
Sócrates: E, portanto, julgam que a sabedoria é o pensar verdadeiro e a ignorância, a opinião falsa.
(PLATÃO, Teeteto. In: PLATÃO. Diálogos I: Teeteto (ou do conhecimento), Sofista (ou do ser), Protágoras
(ou sofistas). Tradução, textos complementares e notas de Edson Bini. Bauru/SP: EDIPRO, 2007)
Esse é um fragmento do Teeteto de Platão. Texto no qual, Platão, por meio de seu personagem Sócrates,
expõe sua ideia sobre o que deve ser o conhecimento. No trecho, o autor discute a ideia de Protágoras.
Nos trechos acima apresentados, Platão
Comentário.
Alternativa “a” está incorreta. Nesse diálogo, Sócrates se coloca contra Protágoras, que defendia a
relatividade das ideias expostas como verdade. Para o oponente de Sócrates a verdade não era acessível
para os homens. Ideia oposta a de Platão e de Sócrates, autores que acreditavam ser possível chegar à
verdade.
Alternativa "b" está incorreta. O desprezo não fica claro no texto, mas nitidamente, Sócrates está contra-
argumentando, ou seja, é falso que ele estaria se recusando a argumentar.
Alternativa "c" está correta. Sócrates, ao contra-argumentar Protágoras, que defendia o relativismo,
considera que o que há de paradoxal na ideia do seu opositor. O sofista afirma que qualquer verdade é
válida, mas considera que há opiniões melhores. A dedução é clara: se há melhores é porque há aquelas
que são falsas e outras que não são. Para Sócrates, Protágoras é incoerente.
Alternativa "d" está incorreta. A menção a sábios faz parte da argumentação de Sócrates para provar que
há verdades, pois a própria humanidade intuitivamente reconhece como sábio aquele que se aproxima
das ideias melhores.
Alternativa "e" está incorreta. O autor não discute nesse fragmento a relação entre mestres e discípulos.
Gabarito: C
18. (Autoral)
As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessária e universalmente, não podendo de modo
algum ser diferente do que é e de como é... As verdades de razão são inatas.
(...)
As verdades de fato são empíricas e se referem a coisas que poderiam ser diferentes do que são, mas que
são como são porque há uma causa para que sejam assim.
((Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000).
Nesse fragmento, Marilena Chauí distingue os dois tipos de verdade, termo que se tornou consagrado
quando se discute os tipos de verdades as quais os homens podem chegar.
A partir das definições apresentadas, assinale a alternativa que exemplificaria uma das verdades
mencionadas.
a) Verdades de fato: a existência de Deus.
b) Verdades de razão: 2 + 2 = 4.
c) Verdades de razão: a terra é redonda.
d) Verdades de fato: O triângulo tem três lados.
e) Verdades da razão: eu estou triste.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. As verdades de fato devem ser empíricas. As provas da existência de Deus
são dedutivas, logo não podem ser verdades de fato.
Alternativa "b" está correta. A verdade das matemáticas é inata, ou seja, é uma aptidão humana e
universal a todos os homens.
Alternativa "c" está incorreta. A ideia de que a terra é redonda não é inata, se fosse, todas as civilizações
teriam essa mesma teoria sobre a terra. Não pode ser uma verdade de razão.
Alternativa "d" está incorreta. O triângulo ter três lados é como uma verdade matemática, ou seja, é uma
verdade da razão.
Alternativa "e" está incorreta. “Eu estou triste” pode ser uma verdade subjetiva, depende da disposição
de quem fala, ou seja, não pode ser considerada “verdade” no sentido universal, aquilo que vale para
todos.
Gabarito: B
19.(Autoral)
“Em A República, Platão parte do princípio segundo o qual o conhecimento é proporcional ao ser,
de modo que aquilo que é ser em grau máximo pode, com exclusividade, ser perfeitamente
conhecido, posto que o não-ser é absolutamente incognoscível. Entretanto, como existe uma
realidade intermediária entre o ser e o não-ser, isto é, o sensível, que é uma mescla de ser e não-
ser enquanto sujeito ao devir, Platão acaba por concluir que também desse "intermediário" existe
um conhecimento igualmente intermediário entre ciência e ignorância: um tipo de conhecimento
que não se identifica com o conhecimento verdadeiro, cujo nome é "opinião" (doxa).”
Reale, G & Antiseri, D. “História da Filosofia”, vol.I. São Paulo: Paulus, 1990
A partir desse fragmento de um comentador e das ideias de Platão, são feitas as seguintes afirmações:
I. As ideias, por serem perfeitas e imateriais, não podem ser conhecidas, somente intuídas.
II. A opinião é um conhecimento intermediário, no qual verdade e falsidade se mesclam.
III. O mundo em que vivemos, sensível, também é intermediário.
IV. A opinião é apropriada ao mundo sensível; o conhecimento, ao mundo inteligível.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa III é verdadeira.
b) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras
Comentário.
Para responder a essa questão, era preciso relembrar a distinção que Platão faz entre mundo inteligível e
mundo sensível. O primeiro se refere ao mundo das ideias perfeitas que servem de modelo ao mundo em
que vivemos. Elas são perfeitas e, por isso, a visão delas pode nos levar ao conhecimento. Já aquilo que
nós percebemos pelos sentidos desse mundo material é uma cópia imperfeita da ideias verdadeiras.
Afirmação I está incorreta. Para Platão, as Ideias tinham existência e eram perfeitas, ou seja, elas
representavam o ser das coisas em sua plenitude, por isso elas poderiam ser conhecidas. O comentador
deixa isso claro no seguinte trecho “de modo que aquilo que é ser em grau máximo pode, com
exclusividade, ser perfeitamente conhecido”.
Afirmação II está correta. Pode-se perceber a verdade dessa assertiva nos trechos finais do
fragmento: “um conhecimento igualmente intermediário entre ciência e ignorância: um tipo de
conhecimento que não se identifica com o conhecimento verdadeiro, cujo nome é ‘opinião’".
Afirmação III está correta. Platão, quando fala do nosso mundo, refere-se ao sensível. No texto, o
comentador de Platão deixa claro que, para o filósofo, essa realidade material na qual estamos
inseridos é também intermediária. Isso pode ser comprovado no seguinte trecho: “o sensível, que é
uma mescla de ser e não-ser”.
Afirmação IV está correta. No final do texto, fica claro que, para Platão, a opinião reflete o mundo
sensível; o comentário seguinte é apropriado às ideias de Platão, o verdadeiro conhecimento tem
como objeto as ideias do mundo inteligível.
Gabarito: C
20. (Autoral)
Texto 1
O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma
simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente
formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar
conceitos.
Texto 2
A língua é um “como” se pensa, enquanto que a cultura é “o quê” a sociedade faz e pensa. A língua,
como meio, molda o pensamento na medida em que pode variar livremente. A língua é o molde dos
pensamentos.
(Rodrigo Tadeu Gonçalves. Perpétua prisão órfica ou Ênio tinha três corações, 2008. Adaptado.)
Os textos levantam questões que permitem identificar uma característica importante da reflexão
filosófica, qual seja, que
Comentário.
Alternativa "a" está correta. Se o conceito faz parte da língua, e a filosofia se pauta pela criação de
linguagem, logo, a ampliação da linguagem permite conhecer melhor o mundo.
Alternativa "b" está incorreta. O texto 2 deixa claro que a cultura é como a sociedade “pensa e faz”, ou
seja, ela está acima da produção teórica, é mais ampla que isso.
Alternativa "c" está incorreta. Nenhum dos dois textos menciona qualquer palavra que indicie
tecnologia e ciência. Os temas giram em torno da cultura, língua e conceitos.
Alternativa "d" está incorreta. Não se observa qualquer palavra que relacione os textos à ciência, o tema
central é filosofia e conceito, no caso do primeiro; língua e cultura, no caso do segundo.
Alternativa "e" está incorreta. A ideia de que os conceitos são permanentes não tem apoio no texto,
pelo contrário como se observa na seguinte afirmação: “os conceitos não são necessariamente formas,
achados ou produtos”.
Gabarito: A
Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.
Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e
Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá
Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria
sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens.
“A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014.
No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo
estavam Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz,
feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de
Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere
as afirmativas a seguir.
I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que
concebem o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena
tudo que existe.
II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e
impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada
comunidade.
III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar
determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião
provável ao exprimir o vir-a-ser.
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de
qualquer correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e
o narrado.
Fonte: SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de Janeiro: Sony-
BMG, 2004.
Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a realidade passando como uma onda,
assim também pensaram os primeiros filósofos conhecidos como Pré-socráticos que denominavam a
realidade de physis. A característica dessa realidade representada, também, na música de Lulu Santos é
o(a)
a) fluxo.
b) estática.
c) infinitude.
d) desordem.
e) multiplicidade.
Comentário.
Alternativa "a" está correta. A ideia de que tudo passa, defendida por Heráclito, se relacionava ao fluxo
do tempo, algo claro na metáfora que ele fazia entre a passagem do tempo e o rio, ele dizia “para os
mesmo rios, correm outras águas”.
Alternativa "b" está incorreta. O eu lírico diz “tudo sempre passará”, portanto, para Lulu Santos a
realidade não é estática.
Alternativa "c" está incorreta. É verdade que ao eu lírico fala em infinitude no verso “Num indo e vindo
infinito”, mas observe que esse não é o tema principal, o infinito nesse caso reforça a ideia de passagem
do tempo, já que ele menciona “indo” e “vindo”.
Alternativa "d" está incorreta. Não há palavras na poesia de Lulu Santos que possam ser associadas à
desordem.
Alternativa "e" está incorreta. Só indiretamente, o eu lírico fala de multiplicidade, por mencionar que
aquilo que foi visto há um segundo não se vê mais; esse não é o tema principal.
Gabarito: A
23. (Unioeste 2013)
“Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as
coisas, difere da concepção de Tales, que considera a água o princípio original do mundo; seja como for,
é evidente que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as partes
da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão construtiva e uma perfeita
coerência na ordem racional e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda
apresenta uma irreprimível pujança de criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as
doutrinas dos “fisiólogos”, nos primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia conceber
a atividade prodigiosa que se expande na criação das concepções filosóficas do período mais antigo da
ciência.”
Werner Jaeger.
Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo:
III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como princípio original do mundo, rompe,
definitivamente, com o pensamento mítico.
IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o
mito do julgamento das almas.
V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da
natureza (Physis).
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.
a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua
metodologia.
Alternativa c, verdadeira. A morte de Sócrates coroou os ensinamentos do mestre, pois o fato tornou a
atitude socrática mais digna de louvor, dado que o pensador preferiu morrer a deixar de seguir seus ideais.
Alternativa d, falsa. O texto 2 é um texto publicitário, no qual a morte serve como motivo para incentivar
o consumo ligado ao funeral.
Alternativa e, falsa. Nesse texto, Sócrates faz um discurso que, além de demonstrar como fazer um bom
argumento, ainda expressa vários valores éticos próprios do pensar filosófico.
Gabarito: C
27. (UFU/2015.2)
Somente uns poucos indivíduos, se aproximando das imagens através dos órgãos dos sentidos, com
dificuldade nelas entreveem a natureza daquilo que imitam.
PLATÃO. Fedro. In: ______. Diálogos socráticos. v. 3. Tradução de Edson Bini. Bauru/SP: Edipro, 2008, p.
64 [250b].
Assinale a alternativa que explicita a teoria de Platão apresentada no trecho acima.
A. A teoria materialista que fixa a imagem como o reflexo de corpos físicos que constituem a única
realidade existente.
B. A teoria das ideias que estabelece a distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível, sendo
que as imagens captadas pelos sentidos humanos despertam a alma para as ideias que habitam o
mundo inteligível.
C. A teoria existencialista que delimita o espaço vital do homem e lhe impede de transcender para além
do mundo sensível.
D. A teoria niilista que admite dois mundos, mas que nega qualquer possibilidade de conhecimento das
coisas e das ideias.
Comentário:
A alternativa A está incorreta. A teoria de Platão não é de cunho materialista, mas sim idealista, uma vez
que, para ele, a realidade está no mundo das ideias de maneira perfeita e as coisas, ou objetos do mundo
material, são cópias imperfeitas daquelas ideias.
A alternativa B está correta. A teoria das ideias é aquela que dá conta justamente do que está colocado
por Platão em Fedro. Segundo ela, aquilo a que temos acesso por meio de nossos sentidos é a experiência
das coisas, cópias imperfeitas das ideias absolutas e imutáveis que nesse outro mundo se encontram. É
pelo uso da razão que o homem consegue ascender das percepções falhas às verdades puras.
A alternativa C está incorreta. A teoria platônica não é existencialista, essa corrente filosófica teve sua
existência entre os séculos XIX e XX e, para eles, o pensamento filosófico partia da experiência humana,
enquanto, para Platão, as verdades são inatas, e a própria existência do homem vem desse mundo ideal
e verdadeiro que é transcendente e está além do mundo sensível, é para lá que aponta a razão humana.
A alternativa D está incorreta. O niilismo remonta aos séculos XVIII e, principalmente, XIX e XX. Essa
corrente filosófica é, em sua essência, anti-idealista, nesse sentido, contrária às ideias propostas por
Platão. Segundo essa visão, o que existe é a vida, o que está no mundo, e isso ainda sem um sentido ou
objetivo definido.
Gabarito: B
O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os
seus ensinamentos sob a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo como a forma
por excelência do exercício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima.
De acordo com a doutrina socrática,
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia.
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é, portanto, de natureza
sofística.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos é sanada pelo homem, medida de
todas as coisas.
Comentários:
Alternativa A correta. A visão antropocêntrica está presente em uso metódico da razão de forma a
compreender os assuntos filosóficos. Sócrates defende que uma forma de conhecer é pôr em xeque os
conceitos estabelecidos, questionando-os em busca de uma essência.
Alternativa B incorreta. A especulação filosófica encontra-se no diálogo e na maiêutica.
Alternativa C incorreta. Um dos preceitos da filosofia socrática é “conhece-te a ti mesmo.” Logo,
autoconhecimento não é uma impossibilidade.
Alternativa D incorreta. É possível responder às dúvidas que possuímos através do cultivo do
questionamento (maiêutica).
Gabarito: A
Alternativa "d" está incorreta. Honestidade é um padrão moral, não se aplica a questões relacionadas ao
conhecimento. Alguém pode ser honesto e não se preocupar se o que se diz é verdadeiro ou falso.
Alternativa "e" está correta. O texto de Zingano explicita muito bem qual foi a novidade do pensamento
filosófico e, portanto, dos fundadores da filosofia, Platão e Aristóteles. Ele afirma que depois da filosofia
grega ninguém mais pode desconsiderar a atitude intelectual de “adotar crenças com base em razões e
evidências”, ou seja, a verdade deve ser justificada pela razão.
Gabarito: E
32. (Enem 2012)
TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e
que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo
que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais
condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e
quando condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras.
TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do
mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as
especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro
elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a
impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”.
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a
partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo
medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. O primeiro texto pode ser associado às “ciências da natureza”, o segundo
não.
Alternativa "b" está incorreta. Refutar é contrariar e conseguir vencer o argumento contrário, nenhum
dos textos faz isso, eles são expositivos.
Gabarito: E
34. (Enem 2015)
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz
de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em
primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque
o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de
crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE,F. CRITICA MODERNA . IN:OS PRÉ- SOCRÁTICOS. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Alternativas
a) estabelecer semelhanças entre o que é observado em momentos distintos.
b) comparar o objeto observado com uma descrição detalhada dele.
c) descrever corretamente as características do objeto observado.
d) fazer correspondência entre o objeto observado e seu ser.
e) identificar outro exemplar idêntico ao observado.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Platão não se refere a momentos diferentes, ele fala de algo que se
assemelha a outro ser, mas não menciona o tempo.
Alternativa "b" está incorreta. Platão fala em comparação, mas entre o que se vê e a ideia do ser. Não
menciona a descrição do ser.
Alternativa "c" está incorreta. Platão não valoriza a experiência ou o contato empírico com o objeto, ou
seja, não faria sentido falar em descrição do objeto.
Alternativa "d" está correta. O que está expresso na alternativa pode ser lido no seguinte trecho “é
necessário que antes tenhamos tido ocasião de conhecer esse ser de que se aproxima o dito objeto”.
Alternativa "e" está incorreta. Essa alternativa supõe a procura de um outro objeto no mundo da
experiência, Platão acredita que o mundo dos sentidos não pode ser fonte de conhecimento, ou seja, ele
jamais falaria em procurar identificar outro objeto, pois para ele todos os objetos materiais são
imperfeitos e não refletem o ser.
Gabarito: D
36. (Enem 2016 / 3ª aplicação)
Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se
as coisas que são agora neste mundo - terra, água, ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste
mundo -, se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, diferente em sua natureza própria e
se não permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças e diferenciações, então não poderiam as
coisas, de nenhuma maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras, nem a
planta poderia brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas
não fossem compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações,
de uma mesma coisa, ora em uma forma, ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
DIÓGENES. In: BORNHEIM, G. A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.
O texto descreve argumentos dos primeiros pensadores, denominados pré-socráticos. Para eles, a
principal preocupação filosófica era de ordem
a) cosmológica, propondo uma explicação racional do mundo fundamentada nos elementos da natureza.
b) política, discutindo as formas de organização da pólis ao estabelecer as regras da democracia.
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores virtuosos que tem a felicidade como o bem maior.
d) estética, procurando investigar a aparência dos entes sensíveis.
e) hermenêutica, construindo uma explicação unívoca da realidade.
Comentário.
Alternativa "a" está correta. O texto tem como objeto os elementos como “terra, água, ar e fogo” e outras
coisas que deveriam formar algo mais complexo, essa discussão da natureza, do cosmos, era própria do
pensamento dos pré-socráticos.
Alternativa "b" está incorreta. O texto não fala das formas de governo e muito menos da democracia.
Alternativa "c" está incorreta. O objeto dos pré-socráticos era a natureza e não o comportamento
humano.
Alternativa "d" está incorreta. Estética é um termo que se refere à discussão do que é belo, ora, o texto
discute a composição das coisas, não a apresentação das coisas para a nossa sensibilidade.
Alternativa "e" está incorreta. Hermenêutica, como se diz, logo sem seguida, é uma palavra que se refere
à explicação da realidade. Os autores procuravam o elemento que deveria constituir a realidade, lógico
que isso permitirá explicá-la, mas a explicação não seria única (unívoca), até porque cada pré-socrático
supôs um elemento diferente para a composição do universo.
Gabarito: A
Fernando Andrade
Blog de crônicas :
https://www.outrasvias.com/
ARANHA, Maria L. A. & MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed.
Moderna, 1993, 2ª edição.