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Professor Fernando Andrade –

Aula 00: UNICAMP

EXTENSIVO

UNICAMP
2024
Aula 00 - Fundamentos

Exasi
O que é filosofia; Áreas da Filosofia; Nascimento da filosofia; Mito;
Pré-socráticos; Sócrates; Platão; Aristóteles
.

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Prof. Fernando Andrade

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estretegiavestibulares.com.br vestibulares.estrategia.com
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 4
Filosofia no Vestibular 5
Metodologia 6
Quem Sou Eu? 9

PLANO DE AULAS 9
Áreas da Filosofia 10
Programação 11

TEMA 11

CONTEÚDO 11

1. O QUE É FILOSOFIA? 12

1.1 Teoria do conhecimento 14

1.2 Instrumentos de pesquisa 18

2. A RAZÃO 21

2.1 A Importância da Razão 23

2.2 Filosofia Ocidental versus Filosofia de outras civilizações 25

2.3. Questões de fixação 27

2.4 Quadro Sinóptico 31

3. MITO 32

3.1. Funções do Mito 33

3.2. Mito e Religião 34

3.3. A relação entre mito e filosofia 36

3.4. Mito hoje? 37

3.5 Questão de fixação 38

3.6 Quadro sinóptico 39

4. NASCIMENTO DA FILOSOFIA 39

4.1. Pré-Socráticos 40

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4.1.1 Pitágoras 43

4.1.2 Demócrito 43

4.1.3 Parmênides versus Heráclito 43

4.2 Questões de Fixação 46

4.3 Quadro Sinóptico 51

5. MUDANÇA NA FILOSOFIA: SÓCRATES E OS SOFISTAS 51

5.1. Sócrates 52

5.2. Os sofistas 53

5.3. Apologia de Sócrates 54

5.4 Questões de fixação 55

5.5 Quadro Sinóptico 58

6. A FILOSOFIA SISTEMATIZADA: PLATÃO 59

6.1. Platão 60

6.1.1. Platão e a Dúvida Radical: O Mito da Caverna 60

6.1.2. Platão e os Dois Mundos 63

6.1.3. Platão: a Teoria das Formas ou o Idealismo 64

6.1.4. A Ascensão da Alma: o Amor 65

6.1.5 Conhecimento como reminiscência 67

6.2 Questões de fixação 67

6.3 Quadro Sinóptico 71

7. A FILOSOFIA SISTEMATIZADA: ARISTÓTELES 72

7.1. A Reelaboração da Teoria das Formas 72

7.2 O papel da razão 73

7.3 Razão & Experiência: os graus do conhecimento 74

7.4 Classificação das ciências 75

7.5 Como conhecer? 76

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7.6 E o movimento? 77

7.7 Lógica 77

7.8 Questões de Fixação 79

7.9 Quadro Sinóptico 83

8. FILOSOFIA HELENÍSTICA: O CETICISMO 84

8.1 Questão de Fixação 86

8.2 Quadro sinóptico 87

9. QUESTÕES 87

9.1. Gabarito 105

10. QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS 107

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS 136

13. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 137

Apresentação

Prezado vestibulando,

Seja bem-vindo! Você que deseja uma ótima pontuação na UNICAMP. A Comissão Permanente para
os Vestibulares da Unicamp (Comvest) anunciou no dia 21 de março de 2023 que irá introduzir questões
específicas de filosofia e sociologia no vestibular de 2024. Serão 3 questões de cada uma das disciplinas.

Como essa exigência é nova, não se tem ainda o histórico da banca. Nesse caso, o material
apresentado deve ser o mais completo possível dentro do que se espera que um aluno que terminou o Ensino

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Médio domine. A tarefa do Estratégia Concursos é auxiliá-lo nos seus estudos para que seu esforço seja
eficiente

Para determinar o conteúdo, parceiro de viagem, usei como parâmetro questões que já caíram no
ENEM e em vários vestibulares. Isso me permitiu selecionar cirurgicamente aquilo de que você necessita,
para você não se perca no mundo maravilhoso da filosofia (sim, eu gosto muito de filosofia).

Filosofia é um mundo, porque é possível abordar um pensador em diversos níveis analíticos e a


internet traz todos eles, tudo junto e misturado, ou seja, se você recorrer à internetland, estará
irremediavelmente perdido. Minha finalidade: oferecer de forma didática o material completo para que você
possa resolver todas as questões que vai encontrar pela frente.

Obrigado pela sua companhia e confiança. Pode estar certo de que será recompensado.

“Bora lá”?

Filosofia no Vestibular
Há quatro maneiras de se cobrar filosofia nos vestibulares:

✓ Filosofia como adendo da História;


✓ História da Filosofia, com destaque aos principais pensadores e suas ideias;
✓ História da Filosofia a partir de interpretação textual; e
✓ Temas filosóficos.

Filosofia como adendo da História

Trata-se de uma abordagem superficial da Filosofia. Muitos filósofos tiveram papel importante na
mudança de paradigmas sociais e passam a ser estudados por conta disso. Esse é o caso de Platão, de
Aristóteles, dos iluministas, de Marx etc. Em outros casos, a partir do estudo da filosofia, o historiador
percebe a relação entre os dilemas sociais de uma época e a produção cultural. É o caso do vínculo, sempre
discutido, entre democracia grega e nascimento da filosofia.

De qualquer maneira, o conhecimento nesse caso é básico e, muitas vezes o que o professor de
história menciona já é suficiente para resolver as questões.

História da Filosofia

Questões desse tipo são difíceis. A banca cobra o conhecimento das ideias propostas pelos principais
pensadores. As questões da UEL (Universidade de Londrina) apresentam essas características. Não basta
saber conceitos básicos. Deve-se conhecer o nascimento da Filosofia; a Filosofia antiga com seus dois
grandes pensadores, Platão e Aristóteles; a Filosofia medieval; Descartes e começo da Filosofia Moderna; e
a filosofia contemporânea.

Filosofia & Interpretação

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Às vezes, a banca resolve cobrar o conhecimento aplicado, ou seja, o vestibulando deve encarar um
texto com linguagem filosófica e responder questões sobre o texto. Exige-se um certo conhecimento de
filosofia, mas um competente leitor também poderia resolver a questão.

Temas Filosóficos

A disciplina filosofia pode ser ensinada a partir da história do pensamento ou por temas que
envolvem os alunos pela contemporaneidade do que se discute. Isso permite utilizar mais de um filósofo
para discutir o tema.

Contudo, esse tipo de abordagem não pode ser direcionado. Cada professor seleciona um conjunto
de temas que lhe permite desenvolver vários autores de épocas diferente. Esse traço didático desse tipo de
abordagem torna a cobrança de filosofia no vestibular quase impossível.

Pode cair, sim Corujinha ligada, e caí bastante até. A banca pede que o candidato interprete um
texto jornalístico e assinale a alternativa que apresenta um comentário filosófico sobre o fato, por
exemplo.

Metodologia
Para cumprir a tarefa de ofertar um material suficiente para seu preparo, elaborei um curso no
qual:

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História sistematizada Ideias mais importantes


METODOLOGIA
da Filosofia dos principais filósofos

Resolução e
Interpretação de
Simulados comentários de
fragmentos filosóficos
questões inéditas

Resumos

Ao começar um tópico, trato do conceito, depois passo para a parte minuciosa que inclui autores e
pensamento.

Boa parte das questões da prova deve girar em torno do conceito. Se você tiver pouco tempo para
estudar, essa é uma forma de, pelo menos, entrar em contato como as noções mais importantes. Estudar
com atenção o início de cada tópico pode ser importante.

Contudo, filosofia é uma área do conhecimento em que a decoreba mais atrapalha do que ajuda.
Isso significa que, muitas vezes, será necessário explicar de forma bem didática. É a compreensão anterior
da ideia que fará você perceber qual a alternativa está correta, pois, muitas vezes, a diferença entre a
correta e a “quase correta” é de nuance. Algo sutil que só é percebido por quem entendeu a matéria.

Exatamente, prepare-se para ler com qualidade (compreendendo a ideia) e para fazer muitos
exercícios. De qualquer maneira, vou tentar ajudá-lo na tarefa. Ao final de cada tópico importante, você
encontrará algumas questões selecionadas para fixar o que você estudou.

Depois , haverá um quadro sinóptico ( um resumo esquemático), não se esqueça de repassá-lo depois
de fazer os exercícios. Isso ajuda na fixação da matéria. Mas faça também as suas anotações. Na véspera
do exame, consulte os quadros dos pdfs e suas anotações.

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Leia cada tópico, faça suas anotações e anote as dúvidas.

Faça os exercícios de fixação

Leia o quadro sinóptico e veja se você compreendeu os pontos mais importantes.

Faça a bateria de exercícios ao terminar o pdf

Tire as dúvidas através do Fórum de dúvidas

Antes da prova, releia suas anotações e o quadro sinóptico.

O que oferecemos a você:


✓ Livro digital completo com muitos exercícios
✓ Videoaula
✓ Fórum de dúvidas – um canal de comunicação entre o vestibulando e o professor que fica
disponível na área do aluno
✓ Simulados
✓ Sala VIP
✓ Aulas especiais

Atenção: Todo esse trabalho só terá efeito se você tiver uma perspectiva apropriada sobre
essa área do conhecimento. Filosofia é estranha? Pode até ser, mas você deve se esforçar
por entender o conceito ou o raciocínio. Não precisa concordar com a ideia e não deve
decorá-la.

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Quem Sou Eu?


Meu nome é Fernando Andrade. A minha formação acadêmica inclui
duas graduações e uma pós-graduação. Sou Bacharel em Letras
Português/Alemão e Bacharel e licenciado em Filosofia, ambos títulos
obtidos na Universidade de São Paulo (USP). Além disso, sou pós-
graduado em Teoria Literária pela mesma instituição.

Até a minha imersão no Estratégia Vestibulares, fui Professor de


Literatura em um Centro Universitário aqui em São Paulo, de Filosofia em
um importante colégio de cidade e Professor de Redação de um
cursinho tradicional. Tenho mais de 20 anos dedicados ao magistério;
desses, 15 anos passei no tablado de algum curso pré-vestibular, ora
como professor de Redação, ora como professor de Literatura.

Tenho um grande prazer em exercer a profissão que escolhi e, em especial, curto produzir textos.
Escrevi minha dissertação de mestrado, a parte de redação do Manual Luft Globo e materiais diversos para
os cursinhos em que trabalhei. Resumindo, gosto de escrever, estudar e ensinar.

Conte comigo nesse projeto. A minha formação, a dos meus


companheiros de equipe e a minha trajetória servem como base para que

Fonte: Pixabay
eu possa selecionar o que é mais relevante para você nessa empreitada.
Seu esforço será recompensado. Claro que você terá que fazer sacrifícios.
Sei muito bem o que é estudar várias horas por dia, esquecer que finais
de semana são para descanso, riscar do caderno a palavra “balada”, ficar
sem saber do último lançamento cinematográfico. Mas vale a pena.

P.S.: Eu uso pochete e tenho uma tese a ser comprovada de que Sócrates também usava....

Plano de Aulas

Preparei um curso com 3 aulas. Serão bastante informativas e longas, mas darão conta do recado.
Elas estão organizadas de acordo como as áreas da filosofia.

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Áreas da Filosofia
Para começar falar das áreas da filosofia é preciso entender o
básico dessa área de conhecimento ou melhor do desconhecimento.
Lembre-se, apesar de todos os sistemas filosóficos criados, FILOSOFIA
É QUESTIONAMENTO.
1

Ao explicar o que isso significa, Marilena Chauí em Convite à


Filosofia dá um exemplo que acho esclarecedor. No dia a dia,
questionamos as coisas, mas não fazemos isso de forma radical até
porque estamos inseridos num cotidiano prático, no qual a dúvida é
Detalhe do quadro de Salvador Dali
pontual, e as respostas requeridas têm uma finalidade prática e “A persistência da memória”.
definida. Por exemplo, para que você possa organizar suas tarefas
num dia, é preciso que tenha consciência dos horários a cumprir. Eventualmente, você vai perguntar para
alguém: Que horas são? O pensamento filosófico vai além. Há equivalência entre essa convenção em horas,
minutos e segundo e a passagem de tempo? A preocupação com o tempo sempre existiu? Por que perguntar
sobre o tempo? Afinal, o que é o tempo? Ele existe?1

A serventia disso veremos mais à frente. O que interessa agora é para que, para 4 áreas, os filósofos
dirigem essa pergunta radical.

• O que é o falso e o verdadeiro?


Epistemologia • Como reconhecer a verdade? O que é o real?

• O que é o bem e o mal? Como viver? Existe o bem


Ética absoluto? O mal existe?

• O que é o belo e o feio? Existem critérios universais


Estética para o belo? Por que o homem precisa do belo?

• O que é o poder? Por que nos submetemos ao


Política poder? Quem tem o direito de exercer o poder?

• O que é existir? Como definir as características das


Metafísica coisas existentes? Há algo uno ou tudo é múltiplo?

1O quadro de Salvador Dali retrata justamente o tempo sob a perspectiva da subjetividade,que tem outra lógica. Imagem disponível em
https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/, acessado em 08.05.2019.

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O curso está dividido nessas áreas e conforme o peso dessas áreas no Vestibular. A maioria das
questões gira em torno de Epistemologia (teoria do conhecimento) e Ética. Por isso, esses temas serão
trabalhados mais extensivamente.

Além disso, é importante ressaltar que um pensador normalmente desenvolve um sistema filosófico
que contempla dois, três ou até mesmo todos esses campos. Como dividi em áreas para o estudo, serei
obrigado a discutir um pensador mais de uma vez. Tome como exemplo Aristóteles. Vou falar de Aristóteles
em Teoria do Conhecimento, em Ética, em Estética e em Política. É muito Aristóteles, não é verdade? Mas
você verá que serão abordagens diferentes.

Programação

TEMA CONTEÚDO

AULA 00 - Introdução e Nascimento da Áreas da Filosofia. Instrumentos de Estudo. O que é


Filosofia filosofia? Teoria do Conhecimento (definição). Razão.
Lógica. Mito. Pré-socráticos. Sócrates. Sofistas. Platão.
Aristóteles. Filosofia helenística (Ceticismo).

AULA 1 – Teoria do Conhecimento: Da Filosofia medieval: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Idade Média à Idade Moderna Filosofia no Renascimento. Filosofia Moderna: Descartes,
Hume e Kant. Noções Gerais do Iluminismo segundo Kant. A
racionalidade na História: Hegel e Marx.

AULA 2 – Teoria da Conhecimento e a Filosofia Contemporânea. A crise da racionalidade:


crise da razão. Filosofia da Ciência Schopenhauer, Nietzsche e Freud. Filosofia da Ciência. Saber
contemplativo versus saber ativo; o método científico.
Limites entre Filosofia e Ciência. Crítica à ciência.

Aula 3 – Ética e Estética Ética: Platão. Aristóteles. Helenistas. Santo Agostinho.


Montaigne (ceticismo ético). Descartes. Spinoza. Kant. Mill. O
liberalismo como ética (Iluminismo). Freud. Relativismo.
Bioética
Introdução à cultura. Símbolo. O que é arte. Arte e Técnica.
Arte e Religião. Filosofia da Arte. Platão, Aristóteles, Kant,
Schiller e Escola de Frankfurt.

Aula 4 – Política Introdução ao pensamento político: Democracia Grega e


percepções de Platão e Aristóteles; Política na Idade

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Média: a concepção medieval do poder; Renascimento e
Maquiavel; Iluminismo e os Contratualistas; Liberalismo;
Crítica do pensamento político: Marx; Contemporaneidade:
Habermas e Hannah Arendt; Rawls. Considerações sobre a
crise da ideia de política.

1. O que é filosofia?

Para pensar:
O que você quer dizer quando afirma que está
refletindo sobre um assunto?

Para compreender...
Ao final desse tópico, responda:
O que é a filosofia?
Figura 2 : Pixabay

O que a filosofia estuda (seu objeto)?

A palavra Filosofia vem do grego, e estranhamente significa amor/ amizade (filo) à sabedoria (sofia).
Preste atenção nessa tradução, ela, às vezes, frequenta questões. Mas isso diz pouco, porque o próximo
passo é definir sabedoria. No caso da história da filosofia ocidental (a que nasceu na Grécia), sabedoria
significa não se entregar à opinião ou ao achismo. Ou seja, sábio era aquele que não se deixaria levar por
qualquer ideia que fosse divulgada, mesmo que fosse pelo Papa, e olha que nem havia Papa naquela época.
Novamente isso diz pouco. Por quê?

Atenção: Não se define quase nada por uma oração negativa. Se eu digo ”a roupa não
Figura 2 : Pixabay

é amarela”, há uma gama grande de coisas que ela pode ser. Dizer que a filosofia é não
aceitar o senso comum é definição precária.

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Filosofia é um campo do saber humano desenvolvido na Grécia


e caracterizado pela busca sistemática do fundamento dos conceitos.

Obviamente isso é muito...filosófico, abstrato. Então vamos à


explicação, que vai ser um pouco longa. Agora é preciso entender.

Ao explicar o que isso significa, Marilena Chauí, filósofa,


professora aposentada da USP, em Convite à Filosofia, dá um exemplo
que acho esclarecedor. No dia a dia, questionamos as coisas, mas não
fazemos isso de forma radical até porque estamos inseridos num
cotidiano prático, no qual a dúvida é pontual, e as respostas
Detalhe do quadro de Salvador
requeridas têm uma finalidade prática e definida. Por exemplo, para Dali “A persistência da
que você possa organizar suas tarefas num dia, é preciso que tenha memória”.
consciência dos horários a cumprir. Eventualmente, você vai
perguntar para alguém: Que horas são? O pensamento filosófico vai além. Filosoficamente pode-se
perguntar: Há equivalência entre essa convenção em horas, minutos e segundos e a passagem de tempo? A
preocupação com o tempo sempre existiu? Por que perguntar sobre o tempo? Afinal, o que é o tempo? Ele
existe?2

Perguntar por “o que é o tempo” é perguntar pelo fundamento dessa palavra toda vez que a usamos,
mesmo das formas mais corriqueiras. E como podemos responder a essa pergunta? Observando o que
ocorre no mundo não basta. Quanto a isso, Kant (filósofo alemão do século XVIII) tinha toda razão quando
dizia que tempo não existe. Ele não existe na nossa experiência do cotidiano como uma coisa observável.
Onde está o cheiro do tempo? Onde está o som do objeto tempo? Onde está o gosto do tempo? Onde está
a forma que pudesse ser tocada do tempo? Onde está o aspecto visual do tempo?

Você já deve estar dando risada e dizendo: mas é claro que o tempo existe, eu cresci. Verdade, mas
você deduz que o tempo existe porque se lembra de quando era pequeno e percebe que agora, mais velho,
você tem outra aparência. Em outras palavras, o tempo é deduzido. Pois é, a filosofia pergunta pelo
fundamento de nossas ideias que não podem ser determinadas simplesmente pela observação da
realidade. É preciso deduzir “ideias mestras” (parâmetros, conceitos, paradigmas) que devem servir para
suporte de afirmações que não sejam pura opinião.

Ou seja, a filosofia problematiza os conceitos que usamos no cotidiano e estuda os seus


significados.

Você estar pensando que isso é um desperdício de tempo. Não é bem assim. Vamos considerar algo
muito importante para alguém que deseja ser policial. Essa é uma atividade executiva da justiça, executiva
porque põe em prática o que o juiz decidiu. Ora, para saber o que é próprio da atividade de um policial, é

2O quadro de Salvador Dali retrata justamente o tempo sob a perspectiva da subjetividade, que tem outra lógica. Imagem disponível em
https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/, acessado em 08.05.2019.

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preciso saber como definir a tal da justiça. Há várias definições e cada uma produz um efeito diferente. Se
considerarmos, como Rousseau, que a propriedade privada é injusta, um policial que protege a tal
propriedade não está exercendo a justiça.

Por outro lado, posso considerar o que dizia Locke. Para ele, cada ser humano tem direito àquilo que
conseguiu pelo trabalho, sendo sua propriedade. Isso significa que se alguém toma algo de uma vítima, o
prejudicado tem o direito de se vingar. Numa sociedade “civilizada”, diria Locke, esse direito individual foi
dado ao Estado. O policial, portanto, é aquele que, no Estado, faz cumprir a justiça, no caso uma vingança.
Ou seja, por essa premissa, o trabalho policial é justo. Adivinha qual das premissas fundamentam a nossa
Constituição?

Mas voltemos à definição e vou repeti-la para você fixar bem: a filosofia problematiza os conceitos
que usamos no cotidiano e estuda os seus significados. Ela é muito parecida com a ciência, também na
ciência, há problematização do cotidiano. Mas qual a diferença?

Considere a seguinte questão: do que a água é formada? Esse é um problema da ciência ou da


filosofia? Essa resposta é fácil porque você estuda água em química. É uma pergunta científica porque diz
respeito ao mundo natural. A água pode ser observada como coisa no mundo que está aí. O começo do
processo é empírico.

E, nesse momento, gostaria que você assimilasse outra palavra, empirismo. Essa palavra significa
conhecimento que se tem a partir da experiência da realidade. Se você aprendeu trocar a resistência do
chuveiro da sua casa tomando choque, você tem conhecimento empírico, se você aprendeu lendo um livro,
seu conhecimento é teórico. Pois é, o conhecimento científico parte da empiria (realidade), enquanto a
filosofia parte do conceito.

Voltando à nossa questão anterior. Quando eu pergunto “o que é justiça?”, o começo do processo
é conceitual. O que se pode responder? Será preciso um esforço sistemático do pensamento para podermos
responder algo que não seja desmentido pelo mundo empírico.

Todos aqueles problemas que não podem ser respondidos pelo método científico são objeto da
filosofia: deve-se dizer a verdade? Por que esse objeto é belo? Como se dão as relações de poder? Deus
existe? É possível realmente conhecer a realidade?

Essas perguntas nos levam às 5 áreas da filosofia, vistas no começo deste pdf.

1.1 Teoria do conhecimento

Vamos falar de conhecimento? O que é conhecer? Observe duas


explicações sobre o mesmo fenômeno: o dia e a noite.
Fonte: Pixabay

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1ª Explicação
Há muito tempo atrás, só havia dia. A filha da deusa Boiúna, apesar de casada, não
conseguia dormir com seu esposo, pois ela estava aguardando a noite. Então, o
indiozinho pediu a 3 amigos que busquem a noite. Eles foram até o reino da Boiúna,
invocaram-na, e ela lhes entregou a noite num coco de tucumã com ordens expressas
de que eles não deveriam abrir o coco. No retorno, o mais jovem deles, ouvindo os
barulhos do coco, abriu e dexou escapar a noite. A noite foi transformando toda a
realidade, trazendo para o mundo o barulho da noite e os perigos dos animais noturnos.
(Lenda dos Karajás)

2ª Explicação
Como a terra é redonda, a parte voltada para o sol está iluminada (dia) enquanto a
parte de trás fica nas sombras (noite). A passagem de um estado para outro ocorre por
causa do movimento de rotação da terra. No espaço de 24 horas, o que estava iluminado
fica escuro e vice-versa.

Qual dos dois manifestam “conhecimento” do fenômeno? Os dois.


Fonte imagem: Pixabay; gáfico: showweet

Essa arte mostra como se dá o processo de conhecimento. O olhos (ou os sentidos) captam os
fenômenos que são absorvidos pela mente como imagem do real. Basta você imaginar que a imagem
captada pelo olho fica invertida no fundo do olho, fato que exige um trabalho mental para inverter
novamente a imagem. Ou seja, a percepção que temos do real é medida por um jogo corporal que altera a
sensação que temos do real.

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Então, a gente não conhece o real do jeito como ele é ?

Pois é... Corujinha assustada, é impossível que tenhamos percepção do real tal como ele é. Lembre-
se de que algo que é corporal, como a temperatura do corpo, altera toda sua compreensão do que ocorre a
sua volta. Já percebeu que o mundo fica diferente quando você está com febre?
Mas é por isso que entra em jogo a elaboração mental da realidade. As observações de fenômenos
que se repetem levam os homens a produzirem explicações, hipóteses ou teorias. Uma lenda como a do
índio é uma explicação baseada em observações.
A premissa do povo que inventou a lenda é de que tudo o que se modifica é provocado por algo. Ora,
provocações intencionais só podem ser realizadas por seres com consciência. Se o dia e a noite é um
fenômeno de mudança, ele ocorreu motivado por alguém com poder superior: um deus.
Qual o problema dessa hipótese? É que, ao aplicá-la para prever mudanças por exemplo, ela falha.
Então, pode-se começar a desconfiar de que essa explicação não descreve o real como deveria. Ela é uma
ilusão.
Como seria o processo de explicação da teoria da rotação da Terra?
Fonte imagem: Pixabay; gáfico: showweet

Claro, é o mesmo processo. A diferença é que a nova teoria parece prever fenômenos com
mais eficácia, sendo assim deve ser mais verdadeira. Por isso eu disse que tanto o mito como
a explicação da física são conhecimento, no sentido de que ambas proposições são explicações da realidade.
Lógico que o primeiro é um conhecimento ilusório e o outro um conhecimento mais “verdadeiro”.

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Hartmann Schedel. Liber chronicarum (fol. 5v). Xilogravura


3

colorida à mão. Nuremberg, Anton Koberger, 1493.


Só porque o mito tem seres humanos e deuses para
explicar o universo, Corujinha inconformada?
Bem, Aristóteles também elaborou uma teoria sem
deuses e homens. E nem por isso essa teoria era mais
verdadeira. Por meio de um modelo lógico, ele supunha uma
explicação geocêntrica, no qual haveria um mundo sublunar
(abaixo da lua) e outro supralunar (acima da lua). O céu
universo seria composto por esferas celestes e o éter
preencheria o vazio entre a Terra e os outros corpos celestes.
Esse modelo influenciou a astronomia medieval e só
foi alterado no Renascimento. O que determinou que esse
modelo seria ilusório?
De novo, a falha nas previsões. Ou seja, dizer que
alguém conhece (sem ilusões) algo é dizer que essa pessoa
formulou linguisticamente uma ideia que deve ser adequada à realidade. Se for adequada, essa formulação
será considerada verdadeira; se não for adequada (se a teoria falhar nas suas previsões), a formulação será
falsa. Por isso se diz que a questão principal da Teoria do Conhecimento é descobrir como determinar o
verdadeiro e o falso.

Então, como a gente tem certeza de que aquilo que conhece é


verdadeiro?

Parabéns. Você começou a fazer Epistemologia e ou Teoria do Conhecimento. Epistemologia,


segundo o dicionário Houaiss, significa “reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do
conhecimento humano, e nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto
inerte”. Ou seja, a Teoria do Conhecimento é a parte da Filosofia que faz exatamente essa pergunta que você
acabou de fazer.
O desenvolvimento da Epistemologia (Teoria do Conhecimento) foi lento. Os filósofos a formaram
paulatinamente, propondo perguntas e métodos ao longo dos séculos. Cronologicamente, as fases estão
descritas abaixo.

3Disponível em https://filosofiaefilosofiasnorenascimento.wordpress.com/2013/12/21/galileu-filosofia-e-ciencia-parte-ib/,
acessado em 08.05.2019

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Então o que vamos estudar em Epistemologia?
✓ Racionalidade
✓ Nascimento da Epistemologia (e da filosofia)
✓ Os primeiros métodos reconhecidos como sendo aceitáveis para explicar o real: Idealismo e
Realismo
✓ Inatismo, Dogmatismo, Empirismo
✓ Conhecimento científico

1.2 Instrumentos de pesquisa

Ao final desse tópico, você deve responder as


seguintes questões:

O que é pensamento sistemático ?


O que é que senso comum ?
Figura 2 : Pixabay

O que é postura crítica e reflexão filosófica ?


Qual o método filosófico?

É engraçado falar em instrumento de pesquisa em Filosofia porque é tudo “papo cabeça”. Você já
deve ter percebido que o objeto da filosofia é o pensamento, pois conceitos são ideias produzidas pelo
pensamento e o instrumento de pesquisa também passa pelo pensamento.

Vamos retomar a ideia de que filosofia tem a ver com aquela sabedoria que eu expliquei
anteriormente: a sabedoria de não aceitar a primeira opinião, a primeira ideia. Por quê?

Considere uma opinião qualquer.

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Aqui está a opinião. Ela


se manifesta como uma
afirmação sobre o
mundo que dá a
impressão de que a
pessoa que fala sabe do
que está falando.
Figura 3

O que é uma opinião? É uma afirmação que emitimos sobre o mundo. A todo momento emitimos
opiniões, porque elas balizam a nossas atitudes. Por exemplo, se acho que vai chover porque o céu está
escuro, provavelmente, levarei um guarda-chuva. O problema passa a ser quando acreditamos em
afirmações totalmente falsas em momentos que precisamos tomar alguma ação urgente.

Recentemente, no Irã, pessoas morreram porque acreditaram que, bebendo etanol, poderiam se ver
livres da ameaça do coronavírus, que não resiste ao álcool. Lógico que, em outras situações, a opinião é
inofensiva, pelo contrário, serve para unir as pessoas. O que seria de uma festa se as pessoas não
manifestassem opiniões?

O problema é quando opiniões se passam como verdades e, mais ainda, quando se cristalizam em
forma de ideias que não podem de forma alguma ser contrariadas, tornando-se quase um dogma. E preste
atenção a essa palavra. Você tem que saber o que é dogma. Dogma é opinião que alcança o status de verdade
absoluta que não pode ser contestada.

Essa passagem da opinião de fraca evidência para o status de impressão de verdade ocorre quando
opiniões circulam e são repetidas criando um sistema de valores que nem questionamos. Isso é o que
chamamos de senso comum.

O termo já diz tudo , trata-se de um juízo (senso) compartilhado por todos e tão amplamente, que
acreditamos ser verdadeiro, pois todo mundo pensa assim. Qual o problema desse tipo de pensamento? Ele
engana. No quadrinho da Mafalda, acima, a Mãe, apoiando-se em frases feitas, bastante reconfortantes, dá
uma resposta para aquilo que ela não sabe.

“o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os


resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de ideias
que nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar,
julgar e, portanto, agir (ARANHA, 1993, p.35).”

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Segundo Maria L. A. Aranha e Maria H. P.Martins, o senso comum pode ser definido como?
Podemos apontar algumas das características do senso comum que mostram o perigo de se valer
desse expediente quando o conhecimento da realidade se faz necessário.

Ingênuo ou não-crítico: não se pergunta se é verdade ou


não

Fragmentário, parcial: aceita-se como verdade para todos o


que vale para um grupo

Generalizante: diante de uma experiência, considera-se que


aquilo vale para todos

Superficial

Daí para se transformar no ditado “a voz do povo (do senso comum) é a voz de Deus. E qual o
problema? Com Deus não se discute. E a história da ciência mostra muito bem isso. A Terra é o centro do
universo, a doença é provocada pelo desequilíbrio dos humores, o sangue menstrual tem propriedades
mágicas são algumas das ideias do senso comum que impediram, durante algum tempo, a ciência de avançar.

Isso para não falar nos preconceitos. O mais flagrante deles, o de que os negros eram inferiores,
deixou marcas profundas em todo o mundo até hoje.

Como mostrar a falsidade do senso comum? Através dos erros lógicos cometidos pelas pessoas ao
repetirem o senso comum ou ao darem opiniões que simplificam demais a realidade.

O antídoto para isso é o pensamento da filosofia. Diz-se sistemático porque obedece a um método e
também porque a postura filosófica consiste em analisar cada um dos apoios que permitiram a alguém fazer
uma afirmação

Por exemplo, diante da afirmação da mãe da Mafalda de que viemos ao mundo para trabalhar,
podemos perguntar como ela chegou a essa conclusão. Depois podemos apresentar uma contraprova.
Alguém que veio ao mundo e não trabalha, ele não merece viver? Nesse momento, percebemos que seria
importante definir o que é trabalhar. Bom, já comecei a pôr em prática os instrumentos de pesquisa. Vamos
deixar isso mais claro.

Há um método.

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TIRAR CONCLUSÕES LÓGICAS


DO NOVO CONCEITO
SUBMETER O CONCEITO A
UMA CADEIA DE
REFLEXÃO FILOSÓFICA: ARGUMENTOS COERENTES E
CONSTRUIR UM CONCEITO COESOS, VERIFICÁVEIS
QUE DEVE SERVIR DE BASE ATRAVÉS DE REGRAS LÓGICAS.
CRÍTICAR/INDAGAR PARA A NOVA IDEIA
OLHAR PARA AS IDEIAS
PROCURANDO SEUS PONTOS

Fonte: Showeet
FRACOS; PROCURAR OS
FUNDAMENTOS DE UMA
AFIRMAÇÃO
Opinião

2. A razão

Para pensar: Você tem sempre razão? Como você sabe


quando tem razão numa discussão, por exemplo?

Para compreender...
Ao final desse tópico, responda:
Figura 2 : Pixabay

O que é razão ?
Quais características do pensamento racional ?

Esse método filosófico é pautado pelo que costumamos chamar de razão. No senso
comum, ter razão remete a uma luta de opiniões. Ganha quem tem o melhor argumento. De certa forma,
razão realmente se relaciona com o melhor argumento, mas é mais do que isso.

Na filosofia, tal palavra, durante muito tempo, quase se tornou sinônimo de filosofia.

Bom, vamos para a pergunta que qualquer filósofo adora fazer....O que é razão ou lógica?

O senso comum diria que pensar é refletir, pensar. Então passemos para a sessão...

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Fonte: Shutterstock

“Pensar” envolve toda a atividade mental e,


portanto, está muito além da razão. Segundo Marilena Chauí,
a Razão foi uma invenção dos gregos. O que ela quer dizer
com isso?
Fonte: Showeet

Bom, podemos definir quais são as habilidades


mentais, no mínimo, em 6: intuição, emoção, sensações (os 5
sentidos), imaginação, memória, razão etc.

As cinco primeiras são naturais e as exercemos a


todo momento, mas e a razão? A palavra vem do latim e
significa cálculo. Isso aponta para um tipo de habilidade que
o homem adquiriu a partir da união entre intuição, imaginação e memória.

Percebemos qu~~~´-e há fenômenos regulares, como as estações do ano, devido à memória e algo
próprio da mente humana (intuição), que compara momentos diferentes e consegue perceber repetições.
Isso permite que alguém imagine que, na próxima primavera, por exemplo, as plantas irão florir.

As previsões, um tanto quanto intuitivas, em alguns momentos da história, foram sendo


sistematizadas de forma mais abstrata, seguindo de perto o método da matemática.

Quando a matemática surge timidamente no Egito, ela tem uma finalidade prática: a contabilidade
de grãos e a distribuição dessa riqueza. Os gregos irão mais longe. Perceberão na matemática uma linguagem
à parte. Pitágoras vai dizer que tudo é número, acreditando que tudo no universo exala proporção e poderia
ser expresso em fórmula matemática.

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Mas, acima de tudo, o que mais impressionou os pensadores é o fato de que tal área do conhecimento
se vale de uma linguagem perfeita que não admite ambiguidades e que leva a uma conclusão exata e
incontestável.

E se... a linguagem do cotidiano se aproximasse da


matemática? Isso seria perfeito, pois as conclusões sobre a
realidade seriam inequívocas e, finalmente, o problema da
epistemologia estaria resolvido. A razão, portanto, é esse
discurso desnatural. É um método aprendido com muito
custo e esforço, mas capaz de produzir um tipo de discurso
que permite aos indivíduos estarem certos de que aquilo
Fonte: Pixabay

que foi expresso linguisticamente é adequado ao


fenômeno da realidade.

Por que se diz que os gregos inventaram a razão? Óbvio


que esse processo mental pode ser realizado por qualquer ser humano, se não fosse assim, só alguns
aprenderiam matemática. Em outras civilizações, as pessoas também fizeram cálculos ou previsões.
Contudo, esse tipo de atividade era espontâneo de acordo com a exigência do cotidiano.

Os gregos vão eleger essa habilidade mental como a mais importante e vão postular a primazia da
razão diante de todas as outras habilidades. Isso leva a uma pedagogia da razão. Ela deve ser ensinada. Além
disso, a boa ordem social seria aquela que mais se aproximasse do cálculo lógico da razão.

Característica do discurso racional

Quais as características do discurso racional? A finalidade desse tipo


de pensamento é chegar a uma generalização que possa servir para explicar
e prever qualquer situação particular. Quando alguém afirma que um
objeto cai a uma velocidade constante, essa é uma afirmação racional, pois
isso vale tanto para uma pena quanto para uma bigorna. Em outras
palavras, o discurso próprio da razão se vale de abstrações e
conceitualizações.

Para tanto, há um método. Pode ser o método científico que veremos mais à frente, pode ser o
método filosófico que já vimos e que inclui a lógica (que será considerada no final desse pdf). Resumindo,
em filosofia, muitas vezes, razão é essa capacidade humana de ligar ideias para produzir conclusões.

2.1 A Importância da Razão


Afinal, por que tanta discussão e por que tantos homens gastaram tantas páginas para discutir essa
tal de razão?

Nada melhor do que uma história para isso.

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Conta o tio Hesíodo4, que no princípio das eras, Zeus teria dado aos
irmãos Epimeteu e Prometeu a tarefa de criar os seres que habitariam Gaia
(a Terra). Epimeteu reuniu todos os animais para distribuir dons que os
distinguissem: velocidade, coragem, força, asas, dureza etc. Contudo,
Epimeteu não conseguiu distribui-
los com equanimidade e faltaram justo aos homens atributos que
pudessem assegurar a esse ser armado por Prometeu com a
possibilidade mínima de sobrevivência.

Prometeu, então, subiu ao Olimpo e roubou dos deuses o


fogo e entregou-o aos homens. O fogo permitiu ao homem se
aquecer, mudar o sabor dos alimentos, afastar os predadores,
construir armas e instrumentos, cunhar moedas etc. O ser humano,
por fim, tornou-se o senhor acima dos animais. Esse é o mito grego
de Prometeu. Ele tem continuidade, mas por ora, até aqui basta. Curtiu?

O que isso tema a ver com razão?

Pense na história substituindo “fogo” por “razão”, Corujinha atenta. O que Prometeu realmente deu
aos homens foi a capacidade de criar e construir instrumentos com os quais ele poderia modificar o mundo
a seu favor. Nesse sentido, o conhecimento da realidade é fundamental para o homem.

Acho o mito incrível, pois ele descreve a fragilidade do homem sem a razão. A espécie humana é a
mais fraca e desprezível entre todos os animais. O homem não tem nenhuma qualidade física que garanta
sua sobrevivência e proeminência entre os seres na Terra. A racionalidade faz a diferença.

Por quê? Se o homem é capaz de perceber a realidade, ele consegue avaliá-la, prever o que vai
acontecer e se preparar de forma reativa (proteção) ou de forma ativa controlando as forças da natureza a
seu favor. Pense em todas as grandes conquistas humanas de domesticação da natureza, por exemplo, o
controle das infecções. Somente com a invenção do microscópio foi possível descobrir que várias doenças
poderiam ser provocadas por esses microrganismos e, a partir desse conhecimento, foi possível combatê-
los. Observe o gráfico abaixo.

4
Hesíodo, aedo (poeta e uma espécie de profeta) grego que teria vivido entre 750 e 650 a. C. Na obra escrita posteriormente, Teogonia, ele
conta de forma poética as epopeias dos deuses gregos a partir da perspectiva da Grécia arcaica e rural.

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(Disponível em http://miningtext.blogspot.com/2014/07/a-evolucao-da-populacao-mundial-desde.html, acessado em 09.05.2019)

O eixo vertical é o do número populacional e o eixo horizontal é o das eras históricas. Ele apresenta
a evolução da população mundial. A datação começa em 1.000.000 a.C. (estimativas) até 2010 d.C. Observa-
se claramente que a partir de 1750 há um crescimento exponencial da população humana.

As causas para isso têm a ver com a revolução científica que toma o século XVIII e XIX (observe que a
partir de 1750, a população começa a crescer de forma exponencial). Esse é o período das descobertas na
área da biologia e de ações da engenharia na área de saneamento básico, que vão modificar a expectativa
de vida.

Pode-se dizer que somente quando o conhecimento fundado na razão se tornou onipresente na vida
do homem, ele consegue se sobrepor aos seus predadores, sejam eles visíveis e invisíveis. É a partir do século
XIX que a equação se inverte e o homem passa a ser a grande ameaça a todas as espécies animais, por conta
da Razão.

2.2 Filosofia Ocidental versus Filosofia de outras civilizações


Então esse conhecimento tão reverenciado no mundo moderno foi inventado pelos gregos e
desenvolvido pelos europeus? Seria esse tipo de conhecimento um sinal da superioridade dos europeus em
relação ao resto do mundo?

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Pensar dessa maneira significaria ter uma concepção eurocêntrica da realidade. A definição da
Wikipédia é muito boa, segundo o site “o eurocentrismo é uma visão de mundo que tende a colocar a Europa
como o elemento fundamental na constituição da
sociedade moderna, sendo necessariamente a
arges.html, acessado em 09.05.2019)
http://entrelinhas23.blogspot.com/2015/06/ch
(disponível em

protagonista da história do homem. Resumidamente,


trata-se da ideia de que a Europa é o centro da cultura
do mundo.” 5

Qual o problema dessa ideia? Pense um pouco na


charge abaixo.

O tema principal da charge obviamente é


educação. Mas há outro tema, o da concorrência.
Nesse caso, percebe-se que há uma disputa absurda
segundo critérios que só um animal poderia atender.

Aplicando isso à nossa discussão, fica mais fácil entender por que o Eurocentrismo é complicado. Os
europeus estenderam sua forma de vida para o planeta inteiro, estilo fundado nos parâmetros racionais de
avaliação. Pedir que se julguem as outras civilizações por essa régua, que é europeia, significa trapacear no
jogo.

A questão do eurocentrismo contamina a filosofia. O que se estuda no ensino médio é a Filosofia


ocidental, desprezando totalmente o pensamento desenvolvido por outras civilizações. Então a Filosofia
ocidental é melhor?

Que enrascada! Para entender melhor a questão, seria interessante entender os pressupostos de
outras filosofias. Há duas grandes vertentes filosóficas na antiguidade: a indiana (Sidarta Gautama) e a
chinesa (Tao, de Lao-Tsé; as ideias de Confúcio). Essas vertentes têm como ponto em comum a preocupação
ética ou política.

As outras Filosofias da Antiguidade estão misturadas à Religião e subordinadas ao pensamento


voltado para o sagrado.

É nesse ponto que a Filosofia grega se distancia de qualquer outra aventura do pensamento. Os
gregos, inicialmente, ousaram questionar a Religião oficial; depois ousaram questionar tudo o que sabiam e
cultuaram a dúvida acima de tudo. Além disso, elaboraram toda uma discussão sobre o próprio
conhecimento que não encontramos paralelo em qualquer outra civilização e filosofia.

O desenvolvimento da sociedade do conhecimento e a proeminência de um estilo de vida baseado


nesse pressuposto levam-nos a considerar a Filosofia ocidental como o campo por excelência capaz de
discutir os dilemas do mundo contemporâneo, pois é a própria régua criada pelo mundo contemporâneo.
Dentro da filosofia ocidental, cultua-se a dúvida, a separação entre a religião e a razão e a própria crítica da
razão.

Em outras palavras, ela não é melhor que as outras, mas é a mais adequada para esse mundo que
está aí.

5 Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Eurocentrismo, acessado em 09.05.2019).

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2.3. Questões de fixação


1. (Autoral).

Com relação à delimitação do campo da filosofia e de seus instrumentos de pesquisa, analise as afirmativas
a seguir:

( ) A filosofia é o estudo sistemático de perguntas que não podem ser respondidas empiricamente.

( ) O método filosófico difere do científico simplesmente pelo fato de que a conclusão a que se chega não
será dogmática.

( ) O rigor pela tentativa de ir além do senso comum levou a filosofia a desenvolver a lógica.

Sendo V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s), a sequência correta é:

a) F – V – F;

b) F – V – V;

c) V – F – V;

d) V – V – F;

e) F – F – V.

2. Q (Banca IBFC/2017 MT Concurso Professor Ed. Básica/ Modificada)

Leia as afirmativas a seguir:

I. A Filosofa se expressa na busca da compreensão da totalidade do diverso percebido por meio de um


princípio unificador, por um conceito, que deve servir de base para defesa de outras ideias.

II. A Filosofa se expressa como atividade especulativa na busca e na análise dos pressupostos que pretendem
fundamentar uma verdade

III. A Filosofa se expressa como atividade reflexiva na intenção de questionar a produção cultural humana.

IV. A Filosofa se expressa como atividade interlocutora do conhecimento estabelecido em forma de ciência
tematizando a sua fundamentação, a sua justificação.

Estão corretas as afirmativas:

a) I, II e III, apenas

b) II, III e IV, apenas

c) III, IV e V, apenas

d) I,III e V, apenas

e) Todas estão corretas

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3. Autoral

Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora;
perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a
respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo. E
o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em
certo sentido, um filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para
fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária.

(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.)

Assinale a alternativa que melhor comenta a perspectiva aristotélica expressa no fragmento.

a) o trecho manifesta uma certa incoerência de Aristóteles, pois fugir da ignorância é uma função utilitária.

b) Aristóteles não faz qualquer distinção entre o amigo dos mitos e o filósofo.

c) Percebe-se uma visão aristocrática da filosofia, já que o conhecimento nasce da admiração não utilitária.

d) O autor limita a filosofia ao associá-la simplesmente aos fenômenos astronômicos.

e) A filosofia deve ser permeada pela postura modesta de quem sabe que é ignorante em relação à realidade.

Gabarito
1. C
2.E
3. C

Questões comentadas

1. (Autoral).Com relação à delimitação do campo da filosofia e de seus instrumentos de pesquisa, analise as


afirmativas a seguir:

( ) A filosofia é o estudo sistemático de perguntas que não podem ser respondidas empiricamente.

( ) O método filosófico difere do científico simplesmente pelo fato de que a conclusão a que se chega não
será dogmática.

( ) O rigor pela tentativa de ir além do senso comum levou a filosofia a desenvolver a lógica.

Sendo V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s), a sequência correta é:

a) F – V – F;

b) F – V – V;

c) V – F – V;

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d) V – V – F;

e) F – F – V.

Comentário.

Primeira afirmação: verdadeira. A característica da filosofia é ter um discurso rigoroso, baseado em


deduções lógicas, para enfrentar questões que não podem ser respondidas através da experiência
(empirismo).

Segunda afirmação: falsa. O método científico segue um protocolo mínimo que envolve: observação da
realidade, hipótese, experiência, reelaboração da hipótese e divulgação. O método filosófico não tem todas
essas etapas. Além disso, tanto a ciência quanto a filosofia não são dogmáticas (não supõem verdades
absolutas).

Terceira afirmação: verdadeira. O fundamento principal da filosofia é o rigor do discurso; para isso vários
filósofos desenvolveram ferramentas discursivas que garantissem a coerência do que se fala, a mais notável
é a lógica.

Gabarito: C

2. Q (Banca IBFC/2017 MT Concurso Professor Ed. Básica/ Modificada)

Leia as afirmativas a seguir:

I. A Filosofa se expressa na busca da compreensão da totalidade do diverso percebido por meio de um


princípio unificador, por um conceito, que deve servir de base para defesa de outras ideias.

II. A Filosofa se expressa como atividade especulativa na busca e na análise dos pressupostos que pretendem
fundamentar uma verdade

III. A Filosofa se expressa como atividade reflexiva na intenção de questionar a produção cultural humana.

IV. A Filosofa se expressa como atividade interlocutora do conhecimento estabelecido em forma de ciência
tematizando a sua fundamentação, a sua justificação.

Estão corretas as afirmativas:

a) I, II e III, apenas

b) II, III e IV, apenas

c) III, IV e V, apenas

d) I,III e V, apenas

e) Todas estão corretas

Comentário.

Primeira afirmação: verdadeira. A filosofia procura o fundamento das opiniões, as ideias ou conceitos que
servem de base para argumentos, nesse sentido, ela procura ideias que unificam e daí tira consequências.

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Segunda afirmação: verdadeira. “Filo” em grego significa “amor”; “sofia”, sabedoria.

Terceira afirmação: verdadeira. Essas três áreas do conhecimento se pautam pela procura de afirmações
que expliquem a realidade, elas diferem quanto aos métodos e quanto aos objetos. A religião tem como
objeto o sobrenatural; a ciência, a natureza; e a filosofia, as ideias e o pensamento.

Quarta afirmação: verdadeira. A racionalidade é a capacidade humana de fazer cálculos através de regras
precisas, tanto a ciência quanto a filosofia se baseiam em métodos.

Gabarito: E

Questão 3.

Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora;
perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a
respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo. E
o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em
certo sentido, um filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para
fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária.

(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.)

Assinale a alternativa que melhor comenta a perspectiva aristotélica expressa no fragmento.

a) o trecho manifesta uma certa incoerência de Aristóteles, pois fugir da ignorância é uma função utilitária.

b) Aristóteles não faz qualquer distinção entre o amigo dos mitos e o filósofo.

c) Percebe-se uma visão aristocrática da filosofia, já que o conhecimento nasce da admiração não utilitária.

d) O autor limita a filosofia ao associá-la simplesmente aos fenômenos astronômicos.

e) A filosofia deve ser permeada pela postura modesta de quem sabe que é ignorante em relação à realidade.

Comentário.

Alternativa "a" está incorreta. Dentro da perspectiva de um grego, o conhecimento se relacionava com a
contemplação, eles não faziam a relação que nós, modernos, fazemos entre conhecimento, tecnologia e
utilidade.

Alternativa "b" está incorreta. O texto diz que “o amigo dos mitos é, em certo sentido, um filósofo”, ou seja,
ele reconhece uma certa distinção entre esses dois personagens.

Alternativa "c" está correta. Aristóteles manteve a distinção platônica e mesmo grega que separava o
trabalho manual do trabalho intelectual. O último seria superior em relação ao anterior; por esse motivo, o
filósofo faz questão de salientar que a filosofia não tem valor utilitário.

Alternativa "d" está incorreta. A admiração do homem diante dos fenômenos astronômicos são o ponto de
partida para a admiração, mas isso não circunscreve a filosofia.

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Alternativa "e" está incorreta. O texto simplesmente destaca que a consciência da ignorância dá início à
filosofia, mas isso não significa que a própria filosofia seja permeada pela modéstia.

Gabarito C

2.4 Quadro Sinóptico Crítica:


Indagar pelos fundamentos
da ideia apreciada; testá-la.
Reflexão:
Construção de um conceito
melhor para sustentar a
ideia.
Conclusão
Submeter a ideia a uma
cadeia de argumentos
coerentes e lógicos

Meio pelo qual o indivíduo consegue realizar essa reflexão: RAZÃO

✓ A filosofia se opõe ao senso comum “o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos
antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da
experiência vivida na coletividade a que pertencemos.
Trata-se de um conjunto de ideias que nos permite
interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores
que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir (ARANHA,
1993, p.35).”

✓ A filosofia difere da ciência quanto ao objeto.

Mundo mental: Mundo empírico:


conceitos, ideias coisas do mundo

Vocabulário da filosofia:

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Empírico: relativo à realidade, diz-se do conhecimento que se adquire pela experiência.
Dogmático: uma opinião que ganha status de verdade absoluta; crença.

3. Mito

Para pensar:
O mito tem alguma importância na sua vida, ainda
hoje?
Figura 1 : Pixabay

Ao final desse tópico, responda:


O que é mito?
Quais são suas funções
Qual a relação entre mito e ciência?

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.


O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –

(...)
Fonte: Pixabay

Assim a lenda se escorre


A entrar na realidade.
E a fecundá-la decorre.
Embaixo, a vida, metade
De nada, morre.

Fernando Pessoa

A primeira forma de conhecimento que o homem desenvolveu foi o pensamento mitológico. Até
pouco tempo atrás, havia uma certa relutância em se aceitar o mito como uma forma de conhecer.
Normalmente, acreditava-se que tal forma de se relacionar com o mundo era totalmente ilusória e que não
haveria nada de verdadeiro nesse mecanismo que os nossos ancestrais desenvolveram para se situar no
mundo.

Qualquer tipo de explicação nasce da necessidade do homem de aplacar seu medo de estar no
mundo. O ser humano é, sem dúvida, um animal estranho. O medo, que é uma reação natural para defesa
da sobrevivência, no indivíduo homem, deixa de ser totalmente natural. O que o homem teme? Aquilo que
ele não pode conhecer.

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Pense nos crimes que tanto nos assustam. Qual o critério para que o relato deles nos impressione?
Dois critérios: a intensidade da barbárie do ato ou o não conhecimento do que motivou o crime.

O criminoso mais famoso da história, Jack, o estripador, foi um assassino que atuava na periferia de
Londres por volta de 1888. Ele era um assassino em série, alguém que matava sem um porquê. Isso nos
assusta, por isso nos impressiona até hoje.

Então, imagine nossos ancestrais jogados num mundo extremamente hostil, com rigores ambientais
insuportáveis e predadores por todos os lados. Conhecer essa realidade foi uma das formas que nossos
antigos parentes encontraram para conseguir aceitar essa realidade e adequarem-se a ela.

Já mencionei o processo do pensamento mítico. Ele é racional e comparativo. O indivíduo percebe


que tudo o que se movimenta teve como causa algo que o pôs em movimento, então, as coisas não devem
ser diferentes no mundo natural. Se há um vendaval e o ar se movimenta, algum espírito deve ser a causa
desse movimento ou o próprio ar tem um espírito que o anima.

Essa fase se chama animista, porque supõe o momento em que os homens atribuem às coisas
inanimadas poderes semelhantes aos dos homens. O passo seguinte será o de atribuir determinadas
características de personalidade a esses espíritos. Nesse momento, o homem passa do estágio anímico e
entra no estágio mítico.

Em ambos os casos, o homem está à procura de ideias que o confortem diante da realidade e de
técnicas que possam permitir ao indivíduo interferir na natureza e domá-la. Se
o conhecimento racional levou ao desenvolvimento da ciência e de seu braço
prático, a tecnologia, o conhecimento mítico desenvolveu seu lado prático
através da magia. O xamã é aquele que conhece os segredos desse mundo
encantado, conhece os espíritos e sabe o que fazer para invocá-los e exigir que
interfiram na natureza.

Os mitos serão elaborações complexas que revelam a perspectiva de


um povo sobre sua realidade. O poema de Fernando Pessoa acima citado
comenta muito bem o que é esse tipo de relação com a realidade.

O sol como um corpo celeste não tem grande significado. No


pensamento mitológico, ele é Apolo. Em torno dessa figura humanizada, vários
valores serão agregados, ele se torna mais do que é de fato. Se por um lado
Fonte: Pixabay

essa crença não é adequada à realidade, por outro ela é capaz de fecundar a
realidade, fazer as pessoas sentirem-se protegidas, encantarem-se com as
histórias, espelharem-se no deus etc.

3.1. Funções do Mito

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Os mitos não versam simplesmente sobre os deuses. Normalmente, as histórias envolvem homens que
são requisitados a viver aventuras de interesse das deidades, surgem os heróis. Desse jogo entre deuses e
humanos, o mito se presta também a ensinar à geração mais nova alguns valores de socialização passados dos
mais velhos através dessas histórias que vão além da explicação do mundo físico. Abaixo, você encontra um
quadro com as principais funções do mito.

- Explicar a origem: os fenômenos naturais são explicados a partir dos desejos dos
deuses.

- Confortar: acreditando em justificativas que parecem coerentes, o indivíduo se


sente mais confiante.

- Ensinar: as histórias mitológicas vão revelando uma série de regras que devem ser
observadas.
- Dar segurança diante da vida: o mito leva o indivíduo a encarar a desgraça e, ao
mesmo tempo, permite que ele perceba que há uma lei de compensação universal,
há justiça.
- Preparar para a vida cotidiana: as histórias mitológicas oferecem ao sujeito toda
gama de situações que ele deverá enfrentar: a morte, o trabalho, a traição etc; ele se
prepara para a vida.

3.2. Mito e Religião

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Quando se fala em mito, muitos já pensam em Religião, pois ambos têm elementos em comum.
Contudo, é muito importante distingui-los, até porque é necessário que você entenda bem a noção de
Religião.

Vou apresentar de forma esquemática a diferença entre esses campos do conhecimento humano ,
embora a característica mais importante vou deixar para o final...grandes emoções.
Fonte: Showeet

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Bom, Corujinha amiga, isso tudo é para você entender bem o que é religião do ponto de vista
antropológico e filosófico, isso ajuda a entender as questões. Na verdade mesmo, o ponto central sempre
lembrado nas questões sobre epistemologia é o...

Dogmatismo
O que que é isso? A palavra vem de dogma que, segundo o dicionário Houaiss on-line, significa “ponto
fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que
as pessoas aceitem sem questionar.”
Embora a posição dogmática esteja inicialmente relacionada com a religião, ela pode se manifestar
em outras circunstâncias: na própria ciência – quando arrogantemente cientistas não toleram ser
contestados -, na política (em sistemas políticos fundados em alguma verdade) etc.

3.3. A relação entre mito e filosofia


Durante muito tempo, acreditou-se que havia uma relação de ruptura entre mito e filosofia. Por
esse motivo, alguns cunharam a expressão milagre grego. Atualmente, acredita-se na tese da continuidade.
Por quê?

No princípio era o Caos, não se sabe exatamente o que ele era, mas estava lá nada, de bobeira,
junto com outras três forças: Gaia (a terra), Tártaro (o vazio) e Eros (a força que une tudo). Eles
não tinham nada para fazer...Então resolveram fazer sexo. Mas como, você vai perguntar? Ora,
eles são deuses primordiais.
Gaia, que representa a própria Terra, era considerada uma deusa insaciável. Ela gera Uranus,
que é o céu, e eles ficam coladinhos. Uranus era tarado e não dava sossego para Gaia. Dessa
relação de um em cima (céu) e outro embaixo (Terra), todas as coisas vão nascendo.

Doida essa história, né? Nem tanto. Era assim que Hesíodo, poeta grego e responsável por uma das
descrições da mitologia, descreve o começo de tudo. Como isso seria dito, por um filósofo?

Parece que o nome do primeiro corpo tem sido transmitido até os nossos dias desde o tempo
dos antigos que alimentavam concepções idênticas às nossas [...] eles acreditavam que o
primeiro corpo era algo diferente da terra, do fogo, do ar e da água, e denominaram éter à região
mais alta, e lhes deram este nome porque ‘ocorre sempre’ na eternidade do tempo. É que

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Anaxágoras fala de aither em vez de fogo. (ARISTÓTELES, Traité Du Ciel. Traduction par Catherine
Dalimier et Pierre Pellegrin. Introduction par Pierre Pellegrin).

Vamos combinar, é bem mais chato. Nesse fragmento, Aristóteles está comentando a ideia
semelhante à de Aneximandro, um pré-socrático, que defendia uma força ou algo que estava presente no
universo, antes de as coisas serem criadas. Parecidos, não?

Ou seja, é possível perceber que a passagem do mito à filosofia só foi possível por conta de estruturas
de explicação comuns. Entre elas, o ímpeto tanto da filosofia, quanto do mito como da religião, de procurar
uma explicação que unifique os fenômenos que existem no cosmos.

O que explicaria a diversidade que vemos no mundo? A união inicial de 2 elementos, terra e céu para
Heráclito; uma força inicial se dividindo, para Aneximandro; os átomos, para nós modernos.

3.4. Mito hoje?


Tem-se a impressão de que o mito já era. Vivemos numa sociedade tecno-informacional, e levamos
em consideração argumentos racionais na nossa tomada de decisões. Sinto informar que não é isso que se
observa. Pense: quando consideramos nossos projetos de vida, levamos em consideração os fatos ou as
histórias familiares e de circulação na mídia? Quando pensamos em um padrão de beleza, de onde ele vem?
Já pensou na importância das histórias de homens de sucesso que fizeram você pensar me vestibular? Na
política, você acha sinceramente que as pessoas votam por razões racionais? Não é comum os cidadãos
esperarem do governante uma espécie de salvação?

A função fabuladora como fator importante para nossa organização de vida permanece entre nós e
a cada dia mais viva, basta considerar a existência de uma NETFLIX, ou coisa parecida. Projetamos as histórias
assistidas nos nossos ideais de vida. Além disso, precisamos, ainda hoje, de rituais que nos ajudem a
perceber as mudanças que, do ponto de vista emocional, são tão difíceis de encarar: comemorações de
nascimento, passagem de uma série para outra, quinze anos, finalização do Ensino Médio, casamento, ano
novo, natal, aniversário e outras tantas. Ou seja, nosso sentido de vida é, de certa forma, moldado pelos
mitos que nem percebermos que agem sobre nós, pode ser uma pessoa, pode ser a história tão recontada
do mito burguês, o homem que se faz a si mesmo, pode ser o mito religioso de que você tem uma função no
universo etc.

Isso não significa que o mito não seja, em


certa medida, problemático. Ele manifesta dois
traços complicados para a convivência humana: um
certo dogmatismo sem provas e a consequente
produção de um senso comum pautado pelo
preconceito. Por esse motivo, os Iluministas se
colocavam tão assertivamente contra os mitos, a
religião e o senso comum.

Até a própria ciência, ao desbancar a religião


Lição de Alex Gendler, animação de Stretch Films, Inc.(Disponível em
e o mito, passou a se comportar como fonte de https://www.youtube.com/watch?v=1RWOpQXTltA , acessado em 13.05.2019)

mitos, conforme denunciaram os filósofos da Escola


de Frankfurt (isso será considerado em outro pdf).

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3.5 Questão de fixação

Q.UNESP/ 2016

O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em
que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e as origens desse povo, bem como seus valores
básicos. As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição
cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão é
basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de
um determinado indivíduo. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao
questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma
de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos
naturais são explicadas por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina,
a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)

A partir do texto, explique como o pensamento filosófico característico da Grécia clássica diferenciou-se do
pensamento mítico.

Comentário: Essa questão pode ser resolvida pela interpretação de texto pelo negativo. Você lê o que se diz
sobre o mito e logo deduz que o pensamento filosófico é o contrário do que está dito.

Mito Filosofia
Parte da tradição de um povo Ideia de uma pessoa
Não se justifica, crença, dogma A filosofia pode ser questionada, criticada
Causa: sobrenatural Procura de causas naturais
Agora é só elaborar a resposta. Poderia ser algo semelhante ao que se segue.
O pensamento filosófico era expresso por um pensador enquanto o mítico surge como construção
tradicional de uma coletividade, por isso mesmo, tal conhecimento não pode ser questionado sendo baseado
na tradição. Já o conhecimento filosófico parte do pressuposto da dúvida e não depende da crença, mas da
aceitação do argumento. Por último, vale a pena dizer que, quando a filosofia surgiu, ela recusou as
explicações sobrenaturais, supondo existirem causas materiais para a explicação dos fenômenos.

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3.6 Quadro sinóptico

4. Nascimento da Filosofia

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Só pare um pouco para pensar: o que é essa coisa que


chamamos universo? Por que ele se move sem parar?
Qual o seu sentido?

Ao final desse tópico, responda:


O que é arqué?
O que significa passar da Teogonia para a Cosmologia ?
Faça uma relação rápida entre os 4 pré-socráticos mais
Figura 1 : Pixabay

importantes e suas teses.

Mitos Pré-socráticos
Filosofia pós-socrática
Explicação da physis a partir de
Elaboração de um método
Explicação dos fenômenos por elementos da natureza;
para explicação da realidade;
meio de histórias envolvendo procura pelo elemento
preocupação com a realidade
deuses; explicação teogônica. primeiro que constrói toda a
humana
realidade.

A filosofia nasce como questionamento do mito e da Religião. Costuma-se considerar Tales de Mileto
como o primeiro filósofo. Lógico que em algum momento, a representação que os antigos tinham da
realidade através dos mitos ia claudicar. Essa falha em relação ao que se pensa que o mundo é levou a
filosofia de primeira hora a questionar sobretudo a natureza ou, segundo o vocabulário grego, a Physis. Esses
filósofos serão chamados de Pré-Socráticos.

4.1. Pré-Socráticos

Para discutir essa questão vamos aquecer os motores. Que tal um pouco de texto filosófico?

A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a
matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três
razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em
segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela,
embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. NIETZSCHE, F.
Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

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Esse foi o texto escolhido pelo Enem como apoio para uma
das questões da prova. Nesse fragmento, Nietzsche aponta qual é,
em linhas gerais, a característica mais importante do início da
Filosofia. Muda-se a pergunta. A religião e o mito perguntavam a
respeito de “quem criou” todas as coisas. Os primeiros filósofos

Fonte: Pixabay
abandonam a pretensão de saber quem criou e procuram saber
como funciona. Passa-se da teogonia para cosmologia.

Em segundo lugar, os Pré-socráticos se atêm em causas materiais, não mágicas, aquilo que Nietzsche
chama de “fabulação”, ou seja, sem apelar para fatores mágicos. A explicação deve ser mecânica e causal.
Um elemento material deve ser o que causou o movimento das coisas e o que produziu tudo o que
observamos.

Por último, Nietzsche fala de algo um


tanto quanto enigmático: “Tudo é um”. Ele se
refere ao ímpeto desses pensadores de
encontrar o elemento originário ou a arché6. Eles
Fonte: Pixabay

imaginam o universo como se fosse uma


construção de lego. Tudo o que vemos como
variedade deve ter sido montado por peças
iguais, únicas, bastaria reconhecer o que seria esse
“um”.

Como começou essa brincadeira? O próprio Nietzsche mencionou no início do parágrafo. Começou
com Tales de Mileto propondo que tudo é feito de água. O pensador, nascido numa das colônias da Grécia

6
Essa palavra grega está no português em “arquétipo”, o que significa uma ideia originaria que dá origem a outras, por exemplo, o
arquétipo do pai como aquele que cuida e protege, embora também castigue. Essa imagem aparece em quase todas as culturas
como se fossem oriundas de uma ideia única e ancestral.

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em 624 a.C., observou que sem água tudo seca, tudo morre. Além disso, a água parece ser o único elemento
que se encontra nos três estados conhecidos: sólido, gasoso e líquido. Para ele, a peça que constrói tudo é
única; o que vemos como diferença é ilusão, a realidade é feita de um único elemento.

Nem tanto, Corujinha encanada. Veja que ainda não abandonamos muito essa ideia, a ideia de átomo
ou de partículas tem como base a mesma concepção dos antigos gregos. Aliás, quem imaginou pela primeira
vez essa coisa de átomo foi um pré-socrático, o tal de Demócrito.

Obviamente, agora deveríamos considerar cada um dos pré-socráticos. Mas, sinceramente, isso terá
pouco valor nos vestibulares. Quando cai, a lógica é a mesma, a banca dá um texto e pede que o candidato
o interprete. O examinador entende que exigir o conhecimento de cada pré-socrático é transformar a prova
de Filosofia em “decoreba”. Se cair algo sobre o tema, você conseguirá se sair bem com o básico que
apresentei aqui.

Contudo, para que você tenha uma noção geral, segue um quadro dos principais filósofos e qual
elemento eles postulavam como sendo o elementar.

Fonte: Showeet

Há um elemento em comum a todos esses pensadores e muito importante: eles partem do


pressuposto de que o real (o elemento primordial que anima o mundo) é diferente daquilo
que percebemos como real. O mundo da multiplicidade é uma ilusão.

Vamos considerar alguns dos mais importantes pré-socráticos, pela contribuição no pensamento
posterior.

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4.1.1 Pitágoras
Pitágoras nasceu nas Ilha de Samos, em 570 a. C. Foi discípulo de Tales de Mileto. Fundou a Escola
Pitagórica, e, por conta de suas ideias revolucionárias, foi perseguido, tendo que se mudar pelos menos duas
vezes. De Samos para Crotona e, depois, para o Egito, onde criou o seu famoso Teorema de Pitágoras.

O pitagorismo tornou-se uma sociedade de iniciados e teve influência sobre o pensamento de Platão.
Muitas ideias atribuídas a Pitagoras podem ter sido desenvolvidas pelos seus discípulos.

Considerar Pitágoras é muito importante, pois ele dá a base para se entender Platão. O pré-socrático
acreditava que o número era a essência do universo. Ele prova, de certa forma, essa ideia nos seus estudos
de música. Por que determinados sons juntos parecem barulho e outros parecem música? Ele descobre que
aquilo que chamamos de harmonia musical parte da relação entre os comprimentos da corda de uma lira.
Ou seja, os ouvidos percebem como música aquilo que no fundo é matemática.

Essa linguagem perfeita seria prova de um mundo de ideias que agem sobre a realidade imperfeita
em que vivemos. Platão considerará a matemática um meio pelo qual o sábio pode chegar ao conhecimento
das ideias perfeitas.

4.1.2 Demócrito
Demócrito viveu entre 460 e 370 a. C. Ficou bastante conhecido pela sua teoria atomística que foi
retomada na modernidade. Enquanto outros filósofos procuravam um elemento para chamar de arque, ele
teve uma ideia excepcional. Se dividirmos cada objeto, chegaremos a uma partícula que não pode ser
dividida e ela deve formar todas as coisas que vemos, assim como um tijolo forma todas as construções de
uma cidade, embora sejam na aparência bastante diferentes.

Era um materialista, ou seja, acreditava que todos os fenômenos ocorriam pela interação entre os
átomos, até mesmo o pensamento. Explicava a saúde dessa forma, por exemplo. A doença ou a saúde não
existiriam, pois seriam o resultado de uma conformação circunstancial de como os átomos do corpo estariam
interagindo. O indivíduo perceberia como doença ou saúde aquilo que seria simplesmente um produto
material do átomos em composição.

Conta-se que Platão detestava Demócrito, que, aparentemente, era mais famoso que ele.

4.1.3 Parmênides versus Heráclito


Esses dois pré-socráticos merecem especial atenção. Defendem ideias opostas que vão configurar
uma grande questão a ser resolvida na filosofia.
Dentro do pensamento grego, a efemeridade das coisas sempre incomodou os pensadores. Haveria
algo que permaneceria além da mudança ou tudo muda constantemente?

Heráclito

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Heráclito defendia que a mudança era a constante no universo e que nada, absolutamente nada
poderia estar parado. A mudança, para ele, era produto da luta dos contrários que deveria levar à mais bela
harmonia. Não se tratava de dizer que alguma coisa muda, mas
que todas as mínimas partículas não encontrariam descanso.
Fonte: Pixabay

Hoje, sabemos o quanto ele tem razão. Se até mesmo um


muro, que nos parece em repouso, é composto de átomos cujas
partículas vibram (prótons e nêutrons) ou circulam sem parar
(elétrons), então nada encontra repouso nesse universo.
É de Heráclito a famosa frase: “Para os que entram nos
mesmos rios, correm outras e novas águas” ou na sua versão
mais corriqueira, “Não se entra duas vezes no mesmo rio”. O
pensador aponta para o fato de “rio” ser apenas uma palavra que
cria a ilusão de que há algo permanente, quando alguém retorna ao rio do qual acabou de sair, as margens
já mudaram e as águas são outras, aliás, até o indivíduo que entra no rio é outro.

Heráclito elege o fogo como elemento de


transformação das coisas. E por que o fogo? O fogo é o
elemento que permanece sempre o mesmo não importa
quais são os materiais que o sustentam, o que nos faz lembrar
a famosa frase “tudo (as diferenças) é um”. Heráclito chega
a dizer que é o elemento que precede a tudo, “nenhum deus,
nenhum homem o fez, mas era um fogo sempre vivo”. Ou
seja, ele é um arkhé, princípio primeiro que estava presente
como responsável pela geração de tudo. Ele é a própria
encarnação da mudança. A lógica é simples, qualquer ponto
que tomemos como início do universo, embora para Heráclito
o universo sempre tenha existido, ele é início porque marca
o começo de mobilidade e o fogo é motor desse mundo que
não para de alterar as coisas.

Ele é a própria luta de contrários: une carência e


saciedade; morte e vida; destruição e regeneração. Carente de material, cresce e se mantém enquanto tiver
o que queimar. Destrói a diferença entre as coisas, ao mesmo tempo que provoca distinções. Do jeito que
Heráclito descreve, é como se houvesse um fogo operando no universo, promovendo a inexorável mudança.

Por fim, vale a pena destacar o valor que ele dá para o Logos, palavra importante, pois está na raiz de
“lógico” e mostra a diferença entre a vontade dos deuses e a vontade do universo.

Talvez Heráclito tenha sido o maior entusiasta assumido do Logos entre os pré-socráticos, no sentido que
a palavra assumia na sua época. Hoje consideramos que ela seja sinônimo de “estudo” e assunto
encerrado. Sabemos de leve que ela está presente quando dizemos qualquer palavra com os sufixo “logia”
(como fisiologia, por exemplo). Mas, em sua origem, ela representava mais do que isso.

Os gregos começaram usar “logos” para diferenciar os tipos de discurso. Havia o discurso divino e
mítico que explicava tudo e era centrado na narrativa chamado mythos e começou a surgir um outro tipo
de fala que categorizava uma linguagem com pretensão à validade. O termo usado logos representava
uma síntese de três ideias: fala, pensamento e realidade. Em outras palavras, logos é um discurso que
expressa uma ideia correspondente à realidade cósmica.

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Heráclito toma a ideia de cosmos (universo organizado) ao pé da letra, reconhecendo no seu
funcionamento uma ordem que se estabelece à revelia do homem, mas da qual o homem faz parte. Dessa
forma, caberia aos sábios perceberem a lógica que está dentro dele, mas que o ultrapassa porque está em
todos os elementos da realidade.

O cotidiano e a experiência particular captada pelas sensações não permitem que o homem capte
aquilo que “é comum”. Note, o “comum” não é aquilo com o qual todos concordam. Heráclito, de forma
alguma, acredita que “a voz da maioria é a voz de Deus”. O “comum” é aquilo que pode ser encontrado em
todos os seres da natureza se pararmos para considerar o que está além do que vemos de forma particular.

Digamos que, para Heráclito, há duas formas de pensar: uma apreende pelas sensações o que ocorre;
outra percebe na multiplicidade dos fenômenos algo comum, esse é o Logos. Para se chegar ao Logos é
preciso não se deixar levar pela moral dos homens e nem pelas sensações. A consequência? O homem que
ouve o Logos não é reconhecido pelos seus pares. Heráclito era considerado estranho.

Lembre-se dessas palavras-chave em Heráclito:


-mudança;
-luta dos contrários;
-fogo
-Logos

Parmênides

O pensamento de Parmênides é complicado e, estou


certo de que em poucas linhas não é possível dar uma boa ideia
sobre o que ele dizia, aliás, qualquer um tem dificuldade em
expressar o pensamento dele. Mas vou tentar, a ideia do grego
é muito maluca: O que existe é imóvel; o movimento é ilusão.

Óbvio que ele não conseguiria provar isso apelando


para os nossos sentidos. Os olhos nos dizem que o mundo está
em constante transformação. Ele apela para a lógica. O
argumento dele que nos interessa e que interessa à ciência é
que aquilo que muda não pode ser compreendido pela razão.
Note todo conhecimento razoável do mundo deve ser
imutável, deve ser uma lei. Se a lei da gravidade se alterasse,
uma hora puxasse o objeto para cima, outra hora para o lado,
em seguida para baixo, jamais poderíamos fazer uma lei sobre
isso. Nas palavras do pensador “não podes conhecer aquilo
que não é”, aquilo que muda.

Um discípulo de Parmênides tentou através de um raciocínio matemático afirmar que o movimento


era ilusório: o famoso paradoxo de Zenão. O escritor argentino Jorge Luis Borges o apresenta da seguinte
maneira:

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“Aquiles, símbolo de rapidez, tem de
alcançar a tartaruga, símbolo de
morosidade. Aquiles corre dez vezes mais
rápido que a tartaruga e lhe dá dez
metros de vantagem. Aquiles corre esses
dez metros, a tartaruga corre um;
Aquiles corre esse metro, a tartaruga
corre um decímetro; Aquiles corre esse
decímetro, a tartaruga corre um centímetro; Aquiles corre esse centímetro, a tartaruga um
milímetro; Aquiles corre esse milímetro, a tartaruga um décimo de milímetro, e assim infinitamente,
de modo que Aquiles pode correr para sempre, sem alcançá-la.”7

A conclusão é a seguinte, por mais que ele corra, nunca alcançará de fato da tartaruga, portanto, o
movimento não existe.

Então, Corujinha perplexa, não precisa viajar nessa teoria, mas seria importante que você retivesse
a ideia de que a ciência ou o conhecimento necessitam de um critério para poder ter validade: a teoria não
pode ser mutável, algo que depois será chamado de lei da identidade.

Lembre-se da ideia-chave de Parmênides: o que é, é; o que não é, não é. Trata-se do princípio da não-
contradição que pode ser traduzido assim: aquilo que não muda pode ser compreendido pela
razão. O conhecimento racional não pode ser incoerente (ser e não ser ao mesmo tempo)

4.2 Questões de Fixação


1. UNESP 2020

Em 4 de julho de 2012, foi detectada uma nova partícula, que pode ser o bóson de Higgs. Trata-se de uma
partícula elementar proposta pelo físico teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do modelo padrão,
segundo a qual o bóson de Higgs seria a partícula elementar responsável pela origem da massa de todas as
outras partículas elementares.

(Jean Júnio M. Pimenta et al. “O bóson de Higgs”. In: Revista brasileira de ensino de física, vol. 35, no 2,
2013. Adaptado.)

O que se descreve no texto possui relação com o conceito de arqué, desenvolvido pelos primeiros
pensadores pré-socráticos da Jônia. A arqué diz respeito

7
Esse quadrinho e esse texto de Jorge Luis Borges foram apresentados numa questão de matemática da UFF de 2010, disponível em
http://www.vestibular.uff.br/2010/provas/Etapa1/Vestibular%20UFF%202010%20-%20Prova%20Area%20II.pdf, acessado em 15.05.2019.

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(A) à retórica utilizada pelos sofistas para convencimento dos cidadãos na pólis.

(B) a uma explicação da origem do cosmos fundamentada em pressupostos mitológicos.

(C) à investigação sobre a constituição do cosmos por meio de um princípio fundamental da natureza.

(D) ao desenvolvimento da lógica formal como habilidade de raciocínio.

(E) à justificação ética das ações na busca pelo entendimento sobre o bem.

2. Enem 2018

Demócrito julga que a natureza das coisas eternas são pequenas substâncias infinitas, em grande número.
E julga que as substâncias são tão pequenas que fogem às nossas percepções. E lhes são inerentes formas
de toda espécie, figuras de toda espécie e diferenças em grandeza. Destas, então, engendram-se e
combinam-se todos os volumes visíveis e perceptíveis.

SIMPLÍCIO. Do Céu (DK 68 a 37). In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996 (adaptado).

A Demócrito atribui-se a origem do conceito de

a) porção mínima da matéria, o átomo.

b) princípio móvel do universo, a arché.

c) qualidade única dos seres, a essência.

d) quantidade variante da massa, o corpus.

e) substrato constitutivo dos elementos, a physis.

3.Enem 2016

Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes
a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.

HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).

Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e
sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é
perecer? Como poderia gerar-se?

PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).

Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das

a) investigações do pensamento sistemático.

b) preocupações do período mitológico.

c) discussões de base ontológica.

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d) habilidades da retórica sofística.

e) verdades do mundo sensível.

Gabarito
1. C
2. A
3. C

Questões comentadas

1. UNESP 2020

Em 4 de julho de 2012, foi detectada uma nova partícula, que pode ser o bóson de Higgs. Trata-se de uma
partícula elementar proposta pelo físico teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do modelo padrão,
segundo a qual o bóson de Higgs seria a partícula elementar responsável pela origem da massa de todas as
outras partículas elementares.

(Jean Júnio M. Pimenta et al. “O bóson de Higgs”. In: Revista brasileira de ensino de física, vol. 35, no 2,
2013. Adaptado.)

O que se descreve no texto possui relação com o conceito de arqué, desenvolvido pelos primeiros
pensadores pré-socráticos da Jônia. A arqué diz respeito

(A) à retórica utilizada pelos sofistas para convencimento dos cidadãos na pólis.

(B) a uma explicação da origem do cosmos fundamentada em pressupostos mitológicos.

(C) à investigação sobre a constituição do cosmos por meio de um princípio fundamental da natureza.

(D) ao desenvolvimento da lógica formal como habilidade de raciocínio.

(E) à justificação ética das ações na busca pelo entendimento sobre o bem.

Comentário.

Alternativa "a" está incorreta. Os primeiros filósofos eram os pré-socráticos, eles não desenvolveram a
retórica.

Alternativa "b" está incorreta. Os primeiros filósofos procuravam as bases material do universo e não a
base mitológica.

Alternativa "c" está correta. Arqué significava princípio. Os primeiros filósofos gregos procuravam o
elemento que teria dado início ao universo, ao princípio primeiro que deveria orientar a ação da
materialidade do mundo.

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Alternativa "d" está incorreta. A lógica formal foi desenvolvida por Aristóteles.

Alternativa "e" está incorreta. Alguns pré-socráticos até desenvolveram alguma discussão ética, mas a
arqué se relacionava com a physis (com a natureza).

Gabarito: C

2.Enem 2018

Demócrito julga que a natureza das coisas eternas são pequenas substâncias infinitas, em grande número.
E julga que as substâncias são tão pequenas que fogem às nossas percepções. E lhes são inerentes formas
de toda espécie, figuras de toda espécie e diferenças em grandeza. Destas, então, engendram-se e
combinam-se todos os volumes visíveis e perceptíveis.

SIMPLÍCIO. Do Céu (DK 68 a 37). In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996 (adaptado).

A Demócrito atribui-se a origem do conceito de

a) porção mínima da matéria, o átomo.

b) princípio móvel do universo, a arché.

c) qualidade única dos seres, a essência.

d) quantidade variante da massa, o corpus.

e) substrato constitutivo dos elementos, a physis.

Comentário.

Alternativa "a" está correta. Essa é muito fácil, pois a definição de átomo está logo no começo do fragmento:
“coisas eternas são pequenas substâncias infinitas”.

Alternativa "b" está incorreta. “Arché” de forma geral, seria a substância primeira que formou o universo,
nesse sentido, o átomo poderia ser a “arché”, contudo o termo vale para qualquer pré-socrático e não define
a teoria de Demócrito.

Alternativa "c" está incorreta. Nesse caso, fala-se de seres, e o fragmento deixa claro que Demócrito
perguntava pela natureza das coisas, animadas ou inanimadas.

Alternativa "d" está incorreta. Demócrito fala de partículas, não da massa que compõe seres e coisas.

Alternativa "e" está incorreta. A physis ou natureza é um termo bastante geral e não define a especificidade
do pensamento de Demócrito que elege algo em particular, o átomo, para explicar a physis.

Gabarito: A

3.Enem 2016

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Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes
a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.

HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).

Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e
sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é
perecer? Como poderia gerar-se?

PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).

Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das

a) investigações do pensamento sistemático.

b) preocupações do período mitológico.

c) discussões de base ontológica.

d) habilidades da retórica sofística.

e) verdades do mundo sensível.

Comentário:

Alternativa a, falsa. Os trechos não estão investigando o pensamento ou o método, mas a realidade.

Alternativa b, falsa. Os trechos não incluem deuses.

Alternativa c, verdadeira. O problema aqui é saber o que é ontologia, trata-se da especulação sobre o que
existe de fato, o que forma o universo ou dá sentido ao universo. Essa é difícil e deveria ser respondida por
eliminação.

Alternativa d, falsa. A sofística se desenvolveu mais tarde, esses autores são pré-socráticos. De qualquer
forma, a retórica é um discurso belo e encantador e esses são áridos e abstratos demais.

Alternativa e, falsa. Mundo sensível é aquilo que podemos observar pelos 5 sentidos, o que diz Parmênides
não pode ser observado.

Gabarito: C

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4.3 Quadro Sinóptico

Arqué: elemento Explicação sem


natural originário fabulação; linguagem
que compõe a abstrata, articulada a
diversidade do partir de critérios
universo. baseados na coerência
e convencimento.

5. Mudança na Filosofia: Sócrates e os Sofistas

Para pensar:
Existe uma verdade que seja universal para todos? Ou
cada um tem a sua verdade?

Ao final desse tópico, responda:


O que significa: o homem é a medida de todas as coisas?
Figura 1 : Pixabay

Qual era o método socrático?


Explique “uma vida sem reflexão não vale a pena ser
vivida.

A filosofia da Physis caminhava muito bem, obrigado, mas eis que surge em
Atenas um homem que não tomava banho, não usava sandálias, era extremamente feio e ficava
interrogando as pessoas importantes que iam ao mercado. Esse quase mendigo revolucionou a filosofia,
pois ele passou a se preocupar com outro objeto, o próprio homem. Ele dizia que tinha recebido uma missão
dos deuses de fazer com que todos procurassem atender à máxima: “conhece-te a ti mesmo”.

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Essa passagem da filosofia da Physis (natureza) para a filosofia do Antropos (Homem) é a marca do
que chamaremos filosofia socrática e, de certa forma, de toda filosofia desde então. Mas então, vamos
abandonar a Teoria do Conhecimento? Nada disso, ele vai dar mais um passo na determinação de métodos
para se conhecer a realidade.

5.1. Sócrates
Sócrates viveu no auge de Atenas, nasceu em 460 a.C. e
morreu em 399 a.C. Ele não deixou nada escrito e, basicamente,
a sua grande filosofia que mudou os rumos do pensamento estava
condensada na sua forma de agir. Ele acreditava que sua vida só

Fonte: Shutterstock
valeria a pena se ele instasse os seus contemporâneos a refletir.
Como ele fazia isso?

Na época em que ele viveu, os aristocratas se dirigiam ao


mercado ateniense para discutir política, encontrar os amigos ou
participar de rodas de discussão tão apreciadas pelos gregos.
Sócrates dirigia-se para lá e começava a interrogar quem encontrasse pela frente. Ele tinha um método.
Começava com uma pergunta do senso comum e que um ilustre ateniense com todo seu orgulho achasse
que era fácil de responder, como por exemplo, “o que é justiça?”.

Dada a resposta, Sócrates procurava na afirmação feita alguma exceção, alguma falha, e fazia outra
pergunta que expunha a primeira resposta dada como falsa ou incompleta. Vamos supor que alguém
dissesse: “Justiça é dar a alguém aquilo que lhe é devido”. Boa resposta. Mas imaginemos que alguém tenha
emprestado uma faca ao amigo, e agora peça a faca de volta, isso é justo? Todos concordariam que sim.
Nesse ponto, Sócrates diria: “mas vamos supor que o amigo peça de volta a faca num momento em perdeu
a cabeça e está prestes a matar alguém, algo do qual, com certeza, ele iria se arrepender, continua sendo
justo?”

Se o interlocutor de Sócrates dissesse que não, não era justo, ele iria se contradizer. Não haveria
grandes problemas, se o interlocutor não fosse um juiz...Óbvio que nesse momento, a pessoa que estava
sendo questionada ficaria visivelmente irritada e diria para Sócrates, “ok , espertalhão, eu reconheço que
não sei o que é justiça, então diga você o que é?” Ao que ele responderia, provocando irritação maior: “Sei
que nada sei”.

Por dois motivos. Primeiro, ele queria despertar as pessoas do sonho das certezas, mostrar que a
convicção que elas tinham a partir do senso comum era frágil e que elas não poderiam se contentar com tão
pouco. O conhecimento exige inconformismo. Quem se conforma com o que sabe nada sabe. Em segundo
lugar, o filósofo acreditava que cada um tinha que buscar a verdade. Ele tinha pavor da ética de rebanho, ou

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seja, do costume de as pessoas seguirem outras que consideravam mais sábias. Sócrates tinha certeza de
que todos os homens, por serem racionais, seriam capazes de encontrar a verdade, só precisavam de um
método.

Método Socrático

Dialética: através do diálogo que colocava ideias


em disputa, Sócrates despertava o indíviduo para o
encontro com sua sabedoria.

Ironia: método de perguntar sobre uma coisa em


discussão, contradizendo o interlocutor, com a
finalidade de purificar o pensamento, desfazendo
ilusões.

Maiêutica:depois do impasse, o interlocutor era


obrigado a refeletir por si mesmo. Nesse momento,
a pessoa questionada paria uma verdade.
Maiêutica significava a arte da parteira.

5.2. Os sofistas
O milagre “Sócrates” só foi possível porque ele vivia na Democracia grega, mesmo assim era de se
esperar que ele não gostasse do sistema, pois predominava a opinião de pessoas que não se preocupavam
com a verdade.

A regra nesse sistema político é clara, ganha quem tiver mais votos. O sistema é quantitativo e não
qualitativo. Essa nova ordem dava certo desgosto para Sócrates e, ao mesmo tempo, era a fonte de dor de
cabeça para a aristocracia. Até então, a elite política poderia governar autoritariamente simplesmente
valendo-se de sua ancestralidade e riqueza. Com a democracia, a coisa muda de figura. É preciso convencer
a maioria.

Os filhos da aristocracia precisarão aprender a falar em público e a dominar técnicas de


convencimento. Surgem os professores de retórica, ou seja, do bem falar. Esses novos personagens serão
conhecidos como Sofistas. Há vários sofistas importantes, mas o mais respeitado, inclusive por Sócrates era
Protágoras. Ele tinha uma máxima: “O homem é a medida de todas as coisas”.

A ideia que ele defendia era a de que não haveria uma verdade universal e se houvesse, ela não
poderia ser alcançada pelo ser humano, pois cada indivíduo vê a realidade de uma forma e pode defender o
ponto de vista que lhe é mais conveniente. No mundo moderno, essa ideia recebeu o nome de Relativismo.
Toda verdade é relativa.

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Sócrates não poderia concordar com tamanho desprezo pela verdade. Ele até concordava que cada
um tinha que trilhar o caminho do conhecimento por conta própria, contudo, a verdade, por ser como um
sol que brilha, deixaria sua marca em todos aqueles que a procurassem.

Vamos exemplificar da seguinte maneira. Qualquer um


pode acreditar que a terra é plana, mas ao colocar em
prática essa teoria, o confronto com o real é evidente, com
possíveis acidentes. O real tem sua verdade e ele se impõe.
Era assim que pensava Sócrates.

Como você deve ter observado, a discussão em torno das


Fake News, ou da relatividade dos fatos não é nova. O que
pode, talvez, espantar é que esse tema tenha aparecido com
tanta força justamente numa época de grande
desenvolvimento científico. Contudo, a própria história da
filosofia responde esse dilema: a relativismo é próprio da
democracia.

5.3. Apologia de Sócrates


Se os sofistas pareciam se adequar muito bem ao seu tempo, o mesmo não acontecia com Sócrates.
Ele era inconformado, desafiava e incomodava as pessoas bem colocadas na sociedade ateniense e,
portanto, ele era subversivo. Por perturbar a ordem, ele foi condenado à morte por um Tribunal; sua
execução: beber um copo de cicuta, veneno mortal.

Platão, seu jovem discípulo na época,


presenciou seus últimos momentos e narrou esse
momento no texto que tem esse nome: “Apologia de
Sócrates”. Há vários ensinamentos nesse texto, mas
podemos destacar dois, um de ordem ética, outro
próprio à teoria do conhecimento.

O tribunal havia acusado Sócrates de


desencaminhar a juventude e ofereceu ao filósofo
algumas possibilidades de escapar da morte: que ele
ficasse em silencio ou que fosse para o exílio. Ele
recusou as duas. Quando perguntado por que, ele
respondeu que uma “uma vida sem reflexão não vale a (A morte de Sócrates de Jacques-Louis David, 1787
Jacques-Louis David - https://www.metmuseum.org/collection/the-
pena ser vivida.” Essa ideia própria do campo ético collection-online/search/436105
ecoa até hoje. Vale a pena viver por viver? Ou é preciso
uma boa causa?

Mas o que nos interessa nesse momento é a Teoria do Conhecimento. Depois de dizer o que o
motivava a encarar a morte com serenidade, ele acrescentou dois argumentos interessantes. Ele dizia que,
além de tudo, ele não temia a morte. Por quê?

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O que pode ser a


morte?

Há uma vida após a


Uma espécie de
morte; poderemos
sono, descanso
encontrar os amigos

Isso é bom Isso é bom


Fonte: Pixabay

A morte é boa

Observe o método argumentativo de Sócrates. Ele considera as duas possíveis respostas (na época
dele, não havia a crença em inferno). As duas abarcam todas as possibilidades de respostas. Ele responde a
uma delas e chega à conclusão de que a morte é boa; faz o mesmo com o segundo termo e chega à conclusão
idêntica. Então, não resta dúvida. Ele se vale de um expediente analítico e lógico que mais tarde será
sistematizado, sobretudo, por Aristóteles.

5.4 Questões de fixação


1. (Ufpr 2019)

Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto pôs
na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então
significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por
longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma
investigação, que passo a expor.

(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita,
1972, p. 14.)

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O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os
gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:

a) pela transição de um tipo de conhecimento racional para um conhecimento centrado na fabulação.

b) pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por meio da razão.

c) pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade.

d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso.

e) pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso.

2. Enem PPL 2019

Tomemos o exemplo de Sócrates: é precisamente ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no ginásio,
perguntando: “Tu te ocupas de ti?” O deus o encarregou disso, é sua missão, e ele não a abandonará, mesmo
no momento em que for ameaçado de morte. Ele é certamente o homem que cuida do cuidado dos outros:
esta é a posição particular do filósofo.

FOUCAULT, M. Ditos e escritos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

O fragmento evoca o seguinte princípio moral da filosofia socrática, presente em sua ação dialógica:

a) Examinar a própria vida.

b) Ironizar o seu oponente.

c) Sofismar com a verdade.

d) Debater visando a aporia.

e) Desprezar a virtude alheia.

Gabarito

1.B

2.A

Questões comentadas

1. (Ufpr 2019)

Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto
pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então

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significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”.
Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por
uma investigação, que passo a expor.

(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita,
1972, p. 14.)

O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os
gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:

a) pela transição de um tipo de conhecimento racional para um conhecimento centrado na fabulação.

b) pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por meio da razão.

c) pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade.

d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso.

e) pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso.

Comentário.

Alternativa "a" está incorreta. O enunciado deixa claro que se deve considerar a passagem do mito à filosofia,
a alternativa menciona o movimento contrário, do conhecimento racional para o centrado na fabulação.

Alternativa "b" está correta. No fragmento, Sócrates mostra-se inseguro diante das palavras do oráculo, esse
é o ímpeto que leva ao nascimento da Filosofia, reconhecer que há incertezas diante das quais o discurso
mítico não dá conta e torná-las evidentes para começar a pensá-las.

Alternativa "c" está incorreta. Sócrates não aceita de forma passiva, considera o oráculo e, de forma ativa,
tenda desvendá-lo.

Alternativa "d" está incorreta. Nesse fragmento, percebe-se um equilíbrio entre respeito religioso e
liberdade racional.

Alternativa "e" está incorreta. Nada no fragmento indica que Sócrates está sendo irônico. Ou seja, ele
reverencia os deuses. Sabe-se que sua condenação foi uma fraude.

Gabarito: B

2. Enem PPL 2019

Tomemos o exemplo de Sócrates: é precisamente ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no
ginásio, perguntando: “Tu te ocupas de ti?” O deus o encarregou disso, é sua missão, e ele não a
abandonará, mesmo no momento em que for ameaçado de morte. Ele é certamente o homem que cuida
do cuidado dos outros: esta é a posição particular do filósofo.

FOUCAULT, M. Ditos e escritos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

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O fragmento evoca o seguinte princípio moral da filosofia socrática, presente em sua ação dialógica:

a) Examinar a própria vida.

b) Ironizar o seu oponente.

c) Sofismar com a verdade.

d) Debater visando a aporia.

e) Desprezar a virtude alheia.

Comentário.

Alternativa "a" está correta. Sócrates convida as pessoas a examinarem a si mesmas, como se observa no
seguinte trecho: “é precisamente ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no ginásio, perguntando:
‘Tu te ocupas de ti?’”.

Alternativa "b" está incorreta. Sócrates realmente usava da ironia, mas não para “ironizar o seu oponente”,
mas para fazê-lo cair em contradição para que percebesse a necessidade de examinar seus conceitos. Além
disso, o trecho não discute esse traço do método socrático.

Alternativa "c" está incorreta. Sofismar significa usar de uma estrutura lógica para enganar. Sócrates
questionava seus interlocutores, não tentava convencê-los de sua verdade, tampouco tentava enganá-los.

Alternativa "d" está incorreta. Aporia significa chegar a um dilema insolúvel. Ele debatia visando ao
questionamento, a aporia, em alguns casos, era uma consequência de se analisar atentamente os
argumentos apresentados. De qualquer forma, não é isso que Foucault discute nesse fragmento, mas seu
incentivo ao exame subjetivo.

Alternativa "e" está incorreta. O texto não discute virtude, e Sócrates jamais incitaria qualquer pessoa a
desprezar a virtude alheia.

Gabarito: A

5.5 Quadro Sinóptico


Meu interesse é pelos assuntos
humanos, a justiça, a beleza, a
sabedoria. Não imponho nada a
ninguém, mas provoco a todos para
que procurem a verdade.

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Método Socrático

Diálogo: fazia perguntas para despertar o interlocutor

Ironia: Suas perguntas direcionavam o interlocutor a afirmar o


contrário do que tinha dito. Encontrar a
verdade
Maièutica: A contradição deveria levar o interlocutor a
reconhecer que não sabia e a fazer um esforço para parir um
novo conhecimento

6. A Filosofia Sistematizada: Platão


Para pensar:
Por que temos ideia de justiça perfeita se ela não existe e não
aprendemos isso da experiência? De onde vêm as ideias da
matemática? Se um homem inventou, por que todo mundo
consegue entender a matemática do mesmo jeito, chegando às
mesmas respostas?

Ao final desse tópico, responda:


O que é o dualismo platônico?
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O que é idealismo ?
Explique a oposição: mundo sensível x mundo inteligível.
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Figura 1 : Pixabay

O impulso de questionamento dado por Sócrates deu frutos. Acredita-se que, em público, ele não
expressava suas respostas sobre a realidade, mas, em particular, com seus discípulos, ele expressava
algumas de suas opiniões. De qualquer forma, era de se esperar que seus discípulos não ficassem só no
estágio da dúvida, mas que também formulassem respostas para as dúvidas inquietantes propostas pelo
filósofo grego. As respostas dadas pelos dois grandes pilares da filosofia, Platão e Aristóteles, configuraram
todo o caminho posterior da filosofia.

6.1. Platão
Platão viveu em Atenas entre 428 a. C e 348 a.C. Foi discípulo de Sócrates e escreveu A República,
uma coletânea de textos em forma de diálogos, por isso nos referimos muitas vezes à
Fonte: Pixabay

obra dele como “diálogos platônicos”. O filósofo se vale do método socrático como
forma de organização textual. Há uma contextualização em que os personagens do
diálogo são apresentados; a seguir, alguém propõe um tema e, depois, alguém defende
uma tese que será questionada por um interlocutor capaz de ir mostrando as
deficiências do argumento.

Nesses diálogos, ele registra algo dos diálogos que ele testemunhou entre Sócrates e
seus interlocutores, mas na verdade, na maioria das vezes, ele põe na boca do Sócrates
sua própria teoria sobre a realidade. Dizemos, portanto, que nos “diálogos”, o Sócrates que aparece é um
personagem de Platão, com raras exceções.

6.1.1. Platão e a Dúvida Radical: O Mito da Caverna


Dentro da Teoria do Conhecimento, não há nenhum texto mais importante do que o “Mito ou
Alegoria da Caverna” de Platão. Nesse texto, o filósofo imita os antigos por expressar uma verdade através
de uma história fantasiosa, mas com a diferença que ela não deve ser considerada sagrada e deve servir
simplesmente como uma ilustração de uma ideia abstrata bastante complexa. Aliás, esse jeito de Platão de
fazer filosofia contando historinhas é uma das coisas mais atrativas no texto dele. Então, vamos à história,
conforme apresentada no texto de Platão.

“Sócrates: Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação


que ela recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine,
pois, homens que vivem em uma morada subterrânea em forma de
caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os
homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo
pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante

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deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo,
há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao
tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as
marionetes e apresentam o espetáculo.

Glauco: Entendo.

Sócrates: Então, ao longo desse pequeno muro,


imagine homens que carregam todo o tipo de objetos
fabricados, ultrapassando a altura do muro; estátuas
de homens, figuras de animais, de pedra, madeira ou
qualquer outro material. Provavelmente, entre os
carregadores que desfilam ao longo do muro, alguns
falam, outros se calam.

Glauco: Estranha descrição e estranhos prisioneiros!

Sócrates: Eles são semelhantes a nós. Primeiro, você Lição de Alex Gendler, animação de Stretch Films, Inc.(Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=1RWOpQXTltA , acessado em 13.05.2019)
pensa que, na situação deles, eles tenham visto algo
mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos que o fogo projeta na parede da caverna à sua frente?

Glauco: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar com a cabeça
imóvel?

Sócrates: Não acontece o mesmo com os objetos que desfilam?

Glauco: É claro.”

(Disponível em http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf, acessado em 13.05.2019)

Gente presa numa caverna, coisa louca, como eles se


alimentavam?

Também já me perguntei isso, Corujinha cismada, mas, sem viajar muito na história, lembre-se de
que é uma alegoria, ou seja, uma narrativa que tem compromisso com a ideia que ela quer exemplificar. O
que importa nesse enredo todo é que os prisioneiros só têm contato com a sombra das coisas e eles
acreditam que isso é o real. O que cada elemento significa?

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Caverna • Mundo em que vivemos

Prisioneiros • Cada ser humano, todos nós.

Sombras • Como vemos a realidade

O importante nessa história toda é o radicalismo da incerteza. A ideia de Platão é que não podemos
jamais conhecer a realidade das coisas, pois estamos presos no corpo que se conecta com o mundo externo
através dos sentidos.

Então, aquilo que eu vejo não existe?

Existir, existe, mas não do jeito que você está vendo. Claro que a mesa em que você está apoiado
existe e a cadeira onde você está sentado também. Mas como esses objetos se parecem de fato? Como eles
são? Você vê o mundo colorido? Pois é, a física supõe que a cor é uma espécie de ilusão de óptica, pois tem
a ver com a refração da luz. Você vê objetos densos? Ora, a química supõe que tais objetos são formados
por átomos com grandes espaços vazios.

Você acredita que a os objetos são de uma natureza e a energia é de outra? Bem, Einstein propôs
que matéria e energia são iguais... Poderíamos continuar essa brincadeira por várias áreas da ciência,
somente para tentar convencer você de que o mundo em que vivemos é o das sombras.

Não sei se você reparou, mas as conclusões científicas sobre o mundo não podem levar em
consideração o mundo sensível, ou o que nos chega pelas sensações. O mundo da ciência é o do
pensamento, da teoria. Mas lembre-se, você consegue entender isso, porque vive numa época em que essa
diferença é discutida o tempo todo nas ciências. Platão estava sistematizando essa diferença.

Essa dúvida em torno do real funda a Epistemologia. Contudo, Platão ousou dar uma resposta. Como
alguém poderia sair desse mundo das sombras? Ele continua a história.

Sócrates supõe que um dos prisioneiros é liberto (ele não diz como). Surpreso, ele olha para trás e vê
o fogo. Não quer reconhecer o que vê. Olha para além das
chamas e vê uma claridade maior ainda na entrada da caverna.
Dirige-se para fora e, perplexo, é inundado pela luz. Seus olhos
doem e ele não é capaz de olhar para o sol imediatamente.
Primeiro olha para o chão, depois para as árvores e só depois de
se acostumar com “a verdade” é que ele é capaz de olhar para
o Sol. Nesse momento, ele resolve voltar para a caverna e contar
para seus amigos o que viu. Contudo, eles não o compreendem Lição de Alex Gendler, animação de Stretch Films, Inc.(Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=1RWOpQXTltA , acessado em 13.05.2019)
e acreditam acham que ele enlouqueceu e deveria ser morto.

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Sim, é possível sair do mundo das sombras. Mas como?

6.1.2. Platão e os Dois Mundos


Se há um mundo da caverna e um mundo de fora, como
identificá-los?

Há outro mito criado por Platão, bastante estranho, mas


Fonte: Pixabay

também esclarecedor, trata-se do mito de Er. Er era o nome de


um guerreiro a quem foi dada a oportunidade de voltar do
mundo dos mortos, para que ele pudesse falar aos vivos o que
observou no além.

Ele conta que


viu todas as
almas chegando a um lugar onde haveria uma espécie de
triagem. As almas boas seriam encaminhadas para um lugar
elevado, enquanto as más seriam levadas para o

Fonte: Pixabay
subterrâneo, onde deveriam purgar os seus atos injustos.
Depois de mil anos, elas deveriam voltar à Terra, mas antes,
passariam pelo rio Letes, ou rio do esquecimento, sendo
assim, quando as almas voltassem para a Terra estariam
presas ao corpo, ou às sensações e não se lembrariam, a não
ser vagamente, do que tinham visto nesse outro mundo.

Estamos falando de Filosofia ou de Religião?

Filosofia, Corujinha ligeira. Platão conta essa história para


resolver um grande problema da Epistemologia. Como
podemos ter certeza de que aqueles conceitos que elaboramos
mentalmente são verdadeiros?

Vamos tomar como exemplo a matemática. Todo mundo


com o mínimo de informação matemática chega à conclusão de
que 2 + 2 = 4. Ora, e se esse tipo de cálculo for um grande
engano? Se for um defeito mental? Se isso não refletir nada de
consistente no universo?

Se o que nossa mente elabora rigorosamente como


verdade for um grande engano, estaremos irremediavelmente
perdidos, pois não saberemos lidar com os grandes desafios da
realidade.

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Platão resolve isso supondo que existe um plano onde está a verdade. Esse plano, composto
por puras ideias (puros espíritos), seria perfeito, pois seria imutável. O plano terrestre, por ser o plano da
materialidade, estaria submetido à mudança própria de elementos materiais que se degradam.

Platão supõe um mundo espiritual (feito de puras ideias) como forma de fundar uma ontologia, ou
seja, a certeza de que há algo que existe de fato sem que sofra alterações, algo que teria uma existência
perfeita. Se há um substrato de racionalidade na realidade, poderemos fazer teorias e chegar à verdade.

Veja que dessa forma se resolve o grande dilema de Parmênides e Heráclito. No mundo do Er, no
mundo das almas, tudo é estático, imutável; no mundo terreno, os elementos sofrem transformações. Mas
por que tais transformações não degringolam em coisas absurdas, por exemplo, por que uma galinha não se
transforma em uma baleia?

6.1.3. Platão: a Teoria das Formas ou o Idealismo


O mundo das almas não tem somente juízes, deuses e almas. Nesse outro mundo, estão todas as
formas de tudo o que existiu e existirá na Terra. Essas formas não têm materialidade, são simples esqueletos
geométricos, pura matemática e perfeitos, que são a essência de qualquer objeto ou ser que exista aqui na
Terra. Seriam como aquelas forminhas de areia que as crianças ganham dos pais. As formas permitem a
reprodução da mesma figura, mas a materialidade da areia faz com que cada boneco criado seja diferente,
pois apresenta falhas em diferentes pontos.

O quadro ao lado exemplifica isso a partir da


forma gato. Há no outro plano uma ideia de gato,
essa forma que é perfeita, dá origem aos vários
gatos que potencialmente virão à existência no
mundo, isso explicaria por que nenhum deles é
perfeito e, ao mesmo tempo, explicaria a variedade
entre os gatos.

Fontes: Showeet e Pixabay


No vocabulário filosófico, esse mundo ficou
conhecido como mundo das ideias, mundo
inteligível ou mundo das formas. O contrário disso,
o lugar onde habitamos, seria o mundo sensível.

A essa primeira Teoria do Conhecimento,


será dado o nome de Idealismo. O real está na ideia;
aquilo que percebemos pelas sensações como
realidade é sombra, imperfeito.

As ideias para Platão existem e, como são eternas, têm mais consistência do que o mundo material
em que vivemos, onde os objetos deixam de ser com a passagem do tempo. Pode-se dizer, portanto, que as
ideias têm a seguintes características:

✓ Essenciais: são extramentais e têm os traços fundamentais de tudo o que observamos ao


nosso redor.
✓ Universais: para cada objeto, há uma ideia perfeita que é a causa dele.

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✓ Imateriais: ideias não têm materialidade, são puro pensamento, por isso só podem ser
apreendidas pela alma que também não tem materialidade.
✓ Modelares: servem como modelo para as coisas.

Segundo o dicionário Houaiss on-line, IDEALISMO é “ qualquer teoria


filosófica em que o mundo material, objetivo, exterior só pode ser
compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou
subjetiva.”

Agora fica fácil juntar os dois mitos que mencionei acima.

Dentro da Caverna Fora da Caverna

Mundo visto por ER;


Mundo dos mortais
mundo das almas

Mundo sensível; Mundo inteligível;


ilusão mundo da verdade

6.1.4. A Ascensão da Alma: o Amor


A questão permanece: como chegar ao conhecimento do mundo da verdade?

A resposta mais simples e fácil é: morrendo. Depois da morte, a alma se livra do corpo e pode voltar
para o mundo inteligível. Mas óbvio que isso não interessa a Platão, pois ele está tentando fundamentar o
conhecimento neste mundo.

Para entender como isso ocorre, vamos para outro texto famoso de Platão, o diálogo chamado O
Banquete, no qual o filósofo discute o amor.

A situação é a seguinte: vários amigos se reúnem para discutir sobre o que é o Amor. É importante
lembrar que para um antigo, o amor não se referia a esse sentimento romântico que nos encanta hoje, mas
a força que nos leva a ligarmo-nos a algo ou alguém.

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O primeiro palestrante, Fedro, defende que o Amor nos torna melhores, pois o indivíduo quando ama
procura mostrar o seu melhor. Pausânias, logo em seguida, lembra que há outro tipo de amor que não nos
torna melhores, o amor ligado aos apetites sensuais. Intervém Eurixímaco, médico, que propõe o meio
termo. Nesse momento, Aristófanes toma a palavra e conta um dos mais encantadores mitos sobre o amor.

A história, bem resumida, começa com a primeira


criação dos homens por Zeus. O deus do Olimpo teria criado
seres andróginos, que teriam 4 pernas, 4 braços, duas

Fonte: Pixabay
cabeças e dois órgãos sexuais. Esses seres teriam ofendido
Zeus e, por conta disso, foram punidos com a divisão do
corpo. Dessa forma, Zeus condenou toda a humanidade e
cada homem em particular a procurar no mundo a parte que
lhe falta.

Esse mito é fundamental, pois define o que é o Amor para Platão. Zeus condenou os mortais à
incompletude, nunca se sentirão plenos e devem procurar no mundo o que lhes falta.

Para completar a discussão, Sócrates toma a palavra para expor uma teoria da sacerdotisa Diotima.
Se o amor é uma força de procura pelo que falta, essa falta pode ser suprida por vários objetos de acordo
com a alma do indivíduo. Pode ser o desejo por outro corpo, por uma outra pessoa, pela beleza abstrata ou
pelo conhecimento. Há, portanto, uma escala de amores e as pessoas podem ir subindo nessa escala até
chegar ao amor mais perfeito.

Há, portanto, uma possibilidade de se chegar a uma depuração do mundo das sombras, chegando
próximo das ideias perfeitas mesmo vivendo no mundo sensível. Essa progressão que vai do amor pelas
coisas mais sensíveis até o amor pelo conhecimento segue alguns passos.

Episteme:
conhecimento das
Dianóia: Exercício ideias, intuição
de raciocínio, puramente
pensamento intelectual
Dóxa: opinião
sobre as coisas matemático
Eikasía: Imagens sensíveis
das realidades
sensíveis

Essa ideia de Platão tem muitos “furos”, como você deve ter percebido. Se para cada objeto aqui na
Terra, há um modelo perfeito no céu, o céu seria uma espécie de depósito de entulhos? Quem garante que
esse mundo das ideias existe? Apesar de ele supor esse processo de ascensão, o que garante o salto entre
dianóia e episteme?

Por mais que a teoria de Platão pareça falha, é admirável o esforço que ele faz. A ideia dele será
reelaborada por outros pensadores. O que cabe apontar é que o próximo grande filósofo, Aristóteles,
percebeu esses problemas e deu outra resposta muito mais próxima daquilo que hoje ainda aceitamos como
teoria do conhecimento.

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6.1.5 Conhecimento como reminiscência


Vamos à angústia de toda Corujinha que acompanhou até agora a viagem de Platão.

Na verdade, Corujinha sábia, você não chega ao mundo das ideias, ele está dentro de você. Antes
que você se descabele, acompanhe jogo de perguntas e respostas abaixo.

O Universo tem uma lógica sistematizada? Sim.

Essa lógica perpassa todo o universo? Sim.

Essa lógica, então, me perpassa? Sou expressão dela? Sim.

Logo, basta que eu me volte para dentro de mim para entender a lógica do universo? Perfeito!

Essa seria a lógica de Heráclito falando do Logos, como já vimos. Platão vai acrescentar algo a mais.
Não é só porque o universo nos constitui que o conhecimento significa voltar para si, mas também porque
já fomos almas e já tivemos contato com o mundo das ideias.

Dessa experiência de perfeição restaram traços, como a matemática, a concepção de perfeição, a


sensação ruim de nos faltar algo etc. O sábio deverá rememorar essas verdades que estão dentro de si. O
método proposto por Platão leva à depuração da interferência do corpo para que o sábio deva chegar à
verdade, que aliás, em grego,”alethéia”, significa justamente “não esquecer”.

Não se trata de uma meditação para alcançar o nirvana, o nada. Mas um processo mental de treinar
a mente em ideias puras pelos exercícios da matemática de tal forma que o indivíduo consiga perceber o
bem, o belo e o justo como ele percebe uma equação.

6.2 Questões de fixação


1. Enem 2012

Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de
razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou
material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina
das Ideias formava-se em sua mente.

ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).

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O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de
Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?

a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.

b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.

c)Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis.

e) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.

e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.

2. Autoral

Hípias – Como assim, Sócrates? O autor dessa pergunta deseja saber o que é belo?

Sócrates – Penso que não, Hípias; porém o que seja o belo.

Hípias – E em que consiste a diferença?

Sócrates – Achas que não há diferença?

Hípias – Nenhuma.

Sócrates – É certeza saberes melhor. Mas presta atenção, amigo. Ele não te perguntou o que é belo, porém
o que é o belo.

(Platão, Hípias Maior)

Esse trecho é parte do diálogo Hípias Maior, considerado um diálogo socrático. Sobre o texto e as ideias
associadas a ele, são feitas as seguintes afirmações:

I. Diálogo socrático é aquele em que se pauta por uma discussão, e cuja conclusão pode ser ou não
assertiva, mas que deve levar à reflexão sobre o que se acredita saber.

II. A distinção que Sócrates faz do uso da palavra belo associa a discussão à teoria do mundo inteligível.

III. Nesse diálogo, Platão, pela boca de Sócrates, expressa suas dúvidas sem qualquer ideia sobre o
assunto.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmações I e II são corretas.

b) As afirmações I e III são corretas

c) As afirmações II e III são corretas.

d) Somente a afirmação I é correta.

e) Somente a afirmação II é correta.

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Gabarito

1.D

2.A

Questões comentadas

1. Enem 2012

Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de
razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou
material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina
das Ideias formava-se em sua mente.

ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).

O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de
Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?

a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.

b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.

c)Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis.

e) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.

e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.

Comentário.

Alternativa "a" está incorreta. O texto diz que “era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e
objeto sensível”, ou seja, não se advoga um “abismo intransponível entre as duas”.

Alternativa "b" está incorreta. Tanto para Parmênides quanto para Platão, “o objeto de conhecimento é
um objeto de razão”, ou seja, não se devem privilegiar os sentidos.

Alternativa "c" está incorreta. No que diz respeito ao conhecimento, a razão e não os sentidos é
fundamental, ou seja, Parmênides e mesmo Platão não afirmam que razão e sensação são inseparáveis.

Alternativa "d" está correta. No texto pode-se ler que, segundo Parmênides, era necessário privilegiar a
razão e não a sensação.

Alternativa "e" está incorreta. O texto deixa claro que para Parmênides a razão era superior à sensação.

Gabarito: D

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2. Autoral

Hípias – Como assim, Sócrates? O autor dessa pergunta deseja saber o que é belo?

Sócrates – Penso que não, Hípias; porém o que seja o belo.

Hípias – E em que consiste a diferença?

Sócrates – Achas que não há diferença?

Hípias – Nenhuma.

Sócrates – É certeza saberes melhor. Mas presta atenção, amigo. Ele não te perguntou o que é belo, porém
o que é o belo.

(Platão, Hípias Maior)

Esse trecho é parte do diálogo Hípias Maior, considerado um diálogo socrático. Sobre o texto e as ideias
associadas a ele, são feitas as seguintes afirmações:

I. Diálogo socrático é aquele em que se pauta por uma discussão, e cuja conclusão pode ser ou não
assertiva, mas que deve levar à reflexão sobre o que se acredita saber.

II. A distinção que Sócrates faz do uso da palavra belo, associa a discussão à teoria do mundo inteligível.

III. Nesse diálogo, Platão, pela boca de Sócrates, expressa suas dúvidas sem qualquer ideia sobre o
assunto.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmações I e II são corretas.

b) As afirmações I e III são corretas

c) As afirmações II e III são corretas.

d) Somente a afirmação I é correta.

e) Somente a afirmação II é correta.

Comentário.

Afirmação I está correta. Sócrates interrogava as pessoas no mercado de Atenas. Suas perguntas
embaraçavam as pessoas, demonstrando a elas que deveriam reconsiderar seus conceitos. Platão se vale
dessa forma de diálogo para expressar suas ideias; algumas vezes, somente para provocar, outras vezes, ele
finaliza com uma conclusão mais assertiva.

Afirmação II está correta. No diálogo, Sócrates encaminha a discussão para se falar do belo em si, do belo
como ideia perfeita, isso exprime uma concepção própria da teórica platônica de que existem dois mundos,
um sensível (mundo percebido pelas sensações) e outro inteligível (mundo percebido pela razão).

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Afirmação III está incorreta. Ao encaminhar o tema para um conceito do mundo das ideias, Platão demonstra
que deixará implícita uma perspectiva própria sobre o tema, ela não deixará a questão em aberto.

Gabarito: A

6.3 Quadro Sinóptico


Mito da caverna: alegoria para esclarecer sua concepção dualista. Nossas almas vivem presas no
mundo corpóreo que nos engana sobre a essências das coisas.

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7. A filosofia sistematizada: Aristóteles


Para pensar:
Como definir a essência das coisas? Se as coisas têm
essências, por que elas mudam?

Ao final desse tópico, responda:


Como é a teoria das formas de Aristóteles?
Quais são as 4 causas?
Figura 1 : Pixabay

Diferencie Platão e Aristóteles.

Aristóteles viveu entre 384 a. C. e 322 a. C. nasceu em Estagira e morreu em Atenas.


Foi o brilhante discípulo de Platão e um dos cotados para suceder o mestre na Academia
platônica; como isso não ocorreu, o filósofo criou seu próprio liceu. Viveu na época em
que a Grécia perde sua independência e passa a fazer parte do Império macedônio. Aliás,
ele foi o professor de Alexandre, o Grande.

O estagirita foi um grande sistematizador da filosofia e do conhecimento. Enquanto


Platão tinha elegido a matemática como guia do conhecimento, Aristóteles elege a
Biologia. Seu pendor era pela classificação e devemos a ele a divisão do conhecimento pelas áreas: Física,
Metafísica, Ética, Estética e Política. Em relação aos tipos de discurso, ele fez uma separação entre Lógica e
Retórica.

7.1. A Reelaboração da Teoria das Formas


O grande pensador estagirita é conhecido por trazer “as ideias do céu à terra”. Ele acreditava que
Platão tinha ido longe demais na sua teoria das formas ao jogar o suporte do real para um mundo que não
poderia ser conhecido, a não ser na morte. Aristóteles acredita que o conhecimento está aqui mesmo na
Terra. Onde?

Ele percebe que a variedade e as transformações obedecem a certo padrão. Voltamos ao argumento
já usado, um cacto não se transforma em uma baleia. Ele deduziu que o padrão de mudança dos seres e o
padrão do que é permanente devem estar nos próprios seres. Algo interno ao cacto (hoje falaríamos em
código genético) faz com que o cacto em particular que eu vejo pertença a um grupo de seres e tenha um
desenvolvimento próprio desse grupo, mesmo que a planta espinhosa que eu ganhei no dia dos professores
(será que os alunos queriam dizer algo?) seja pequenino, achatado, de formato indefinido, tenha uma flor e
se diferencie bastante do cacto gigante que eu vi na Argentina.

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A resposta de Aristóteles é a seguinte: eles têm a mesma estrutura, a mesma FORMA. O formato
deve ser descrito como um conceito imutável e capaz de diferenciá-lo de outras plantas: trata-se de uma
suculenta, plantas que são capazes de armazenar água, com presença de auréola onde crescem espinhos. O
que é passível de mudança? O material de que essas plantas são feitas.

7.2 O papel da razão


Se a essência das coisas está aqui mesmo e não no mundo das ideias, a forma de conhecer o mundo
está à nossa disposição. Basta que observemos o mundo e, através da razão, consigamos chegar à “forma”
dos objetos. O filósofo dizia “Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos".
Mas como a razão age? De duas formas, primeiro abstraindo os traços de objetos diferentes e depois
selecionando o traço mais importante e descartando o que for acidental. Comecemos pela abstração. Essa
palavra é constituída de “ab”, que significa tirar, afastar, e
“stração” que significa um pedaço. Quando alguém olha
Fonte: Pixabay

diferentes cactos, deve ser capaz de selecionar partes


que parecem se repetir em todos. Devem-se deixar de
lado a altura e o formato, por exemplo, considerar os
espinhos e a capacidade de reserva de água. Deixa-se de
lado uma série de traços particulares, e o pesquisador
concentra-se naqueles que são comuns a todos os cactos.
Mas só isso não basta. Aquilo próprio da materialidade ou das sensações não
deve ser considerado. Por exemplo, para entender o que é o ser humano, devem-se
desprezar os atributos acidentais: cor da pele, cor do cabelo, altura do indivíduo etc, e
procurar o elemento essencial, aquilo que o diferencia de outros seres: o homem é um
animal racional.

Esse valor dado ao que se observa e a crença de que existe uma racionalidade do real levam parte da
crítica a classificar Aristóteles como realista.

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Segundo o dicionário Houaiss on-line, REALISMO (filosófico) é a crença na


"precedêcia do mundo objetivo sobre a cognição humana, que se limita a
fornecer significado ou compreensão a uma realidade autônoma e
previamente existente".

Sem problemas, Corujinha esforçada, realmente, esse vocabulário não ajuda muito. O realista, como
Aristóteles, acredita que a racionalidade já está posta no mundo, o mundo objetivo vem antes da cognição
humana. O homem, detentor da razão, é capaz de se debruçar sobre o real e entendê-lo.

7.3 Razão & Experiência: os graus do conhecimento

Você já deve ter percebido que Aristóteles discorda de seu mestre Platão e não é pouco! Para Platão,
as sensações de nada valem, enquanto Aristóteles começa por aí. Entende que a escada do conhecimento
é outra. Ela começa pela sensação, passa pela memória, que é capaz de relacionar o que se passou e
desemboca na experiência. Essa experiência quando assimilada transforma-se em técnica e em ciência. A
escada agora é esta:

Ciência
Técnica
memória e
experiência
sensações

Para exemplificar isso, vamos considerar uma situação cotidiana. Você cresceu. E agora a outra
pessoa o atrai, sexualmente. Isso é algo novo. Percebe novas sensações e sente necessidade de se
aproximar da vítima dos seus desejos. Até então, eram as pessoas que se aproximavam de você.
Esse impulso faz com que você tente se a aproximar da pessoa escolhida. Não é fácil. As tentativas
serão, no mínimo, risíveis. Mas a partir do que você sente e do que você faz, a memória recolhe as tentativas
atabalhoadas e, por comparação, começa a perceber os padrões de comportamento que dão certo e os que
não dão certo. Até aí, você e uma galinha d’angola estão quase no mesmo patamar. Mas então, você dá um

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passo a mais. Reconhece um padrão que pode ser usado com sucesso. O padrão reconhecido é o que
chamaríamos de experiência, o uso dessa experiência como conhecimento para agir sobre a realidade,
técnica.
Você percebeu que quando se auto-ironiza ou quando faz rir, o alvo de suas investidas se torna mais
simpático a sua pessoa. Aí você começa a elaborar uma técnica infalível de conquista e a põe em prática.
Resultado: final feliz.
Quando surge a ciência? Quando você der um passo a mais e generalizar: “uma relação amorosa se
torna possível quando os parceiros se agradam uns dos outros”.
Note a diferença. A técnica é uma generalização a partir de padrões, mas ainda muito centrada no
“como fazer”. A ciência é o pulo do gato, quando a utilidade perde a importância e conhece-se o próprio
processo.

7.4 Classificação das ciências


Nesse ponto, podemos definir melhor a diferença entre conhecimento técnico e o científico. O
primeiro é voltado para produção de coisas, ele é utilitário. Já a ciência busca as causas e os princípios
primeiros e gerais que agem sobre as coisas. Trata-se de um conhecimento desinteressado, universal. A
partir daí, o filósofo considera uma hierarquia do conhecimento.

Ciências produtivas: são utilitárias e servem para


fabricação de algo.

Ciências práticas: são utilizadas para ações que tem como


objeto a relação como o outro ( tem finalidade ética ou
moral)

Ciências teoréticas: que buscam o saber pelo saber


(metafísica, física, matemática e psicologia)

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7.5 Como conhecer?


Você já tentou definir uma cadeira? Sim, o objeto cadeira. Tente. A

Fonte: Pixabay
brincadeira não é fácil. Se você disser objeto com um assento apoiado em
pés, ou em algum suporte, feito para sentar, não estará definindo grande coisa,
afinal, banco, sofá e poltrona também são feitos para sentar. Aí a brincadeira
vai ficando mais interessante. Para cada nova definição, pode-se colocar uma
objeção. No caso, da cadeira, você deve responder que ela se diferencia da
poltrona por ser feita de uma material menos confortável. E assim por diante.
Não sei se você reparou, mas para definir a cadeira, você usou a finalidade (para sentar), o formato
(assento apoiado em pés) e o material (menos confortável). Pois é, estamos perto de Aristóteles. O filosofo
determinou que para conhecer algo, seria preciso considerar 4 causas:

Causa material: do que o objeto é feito, sua


matéria?

Causa formal: qual o formato?

Causa eficiente: O que foi responsável pela


criação?

Causa final: qual é a finalidade do objeto?

Voltemos à cadeira.
Do que ela é feita? Madeira, ferro ou algum tipo de material mais resistente.
Para que ela é feita? Para se sentar.
Qual o formato dela? Assento apoiado sobre pés (no sentido de 'partes para assentar'), quase sempre
em número de quatro, com um encosto e, muitas vezes, braços (no sentido de 'partes fixas para apoiar ou
descansar os antebraços'), com lugar para acomodar, com algum conforto, uma pessoa.
O que foi responsável pela sua criação? A necessidade de se sentar.
Perceba como a sistematização de Aristóteles é sensacional. Com essas perguntas na cabeça, você
pode sair por aí e fazer um dicionário. Aliás, tente se valer dessas técnicas das 4 perguntas quando precisar
definir algo na sua redação. Não é preciso responder a todas, você verá que isso realmente ajuda.

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7.6 E o movimento?
De forma brilhante, Aristóteles chegou a uma ideia original de como podemos
conhecer a realidade, devemos apreender a sua essência. Mas, lógico que aí
surge uma pergunta: se os objetos têm sua essência, por que eles estão sujeitos
à mudança? Platão tinha resolvido isso, dizendo que, neste mundo, no mundo
da materialidade, observa-se a corrupção própria dos corpos materiais, por isso,
eles se alteram, falta-lhes a substância.
Aristóteles vai por outro caminho.
Fonte: Pixabay

Já vimos que os objetos são compostos pela essência, dada pela forma, e pelo
acidente. Que o cabelo de alguém seja crespo e de outro liso é um acidente.
Considerando o acidente, não se pode dizer que estamos diante de duas
espécies diferentes. Tanto o negro quanto o branco são humanos, pois são
“animais racionais”, por mais que o racismo tente negar isso. Contudo, a
mudança não é exatamente acidente.
Aristóteles elabora o conceito de ato e potência. A essência relaciona-se à potência de um indivíduo.
Por exemplo, um ovo, em potência já é uma galinha. O movimento, o ato, a ação é que levará o ovo a se
desenvolver buscando o formato que melhor realizaria sua potência.

7.7 Lógica
Contudo, apenas supor que a realidade pode ser desvendada não basta, é preciso ter o instrumento
necessário para extrair a verdade do mundo dos fenômenos. Aristóteles faz um estudo da linguagem para
definir quando o discurso vai além de provocar beleza ou expressar emoções e passa a ser utilizado para
descrever com “verdade” o real.

Também nesse ponto, não tenho muito o que desenvolver, dado que os vestibulares raramente
elaboram questões sobre lógica. Então, vamos considerar o
básico, aquilo que o ajudará a resolver questões sobre
Epistemologia. Acredito que a noção de Lógica auxilia na
compreensão dessa coisa abstrata chamada Razão.
Fonte: Pixabay

Para o pensador, a Lógica não é uma ciência, é um


instrumento, um estudo de proposições que alguém deseja
que seja expressão de uma verdade. A finalidade da Lógica
é permitir que se analise como foi montado o raciocínio para emitir um juízo de validação do que foi dito.

O fundamento do raciocínio parte do princípio de identidade proposto por Parmênides: “ o que é, é;


o que não é, não é,”

Nossa....que grande ideia! Isso é óbvio demais.

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Pode até ser, Corujinha iluminada, mas como em filosofia nada é simples, pense no que ele quis dizer
aplicado ao conhecimento. A ideia é de que a ciência não pode abarcar paradoxos e contradições. Um
raciocínio lógico, portanto, exclui completamente a contradição. A título de exemplo, vou relembrar aquele
poema famoso de Camões, “amor é fogo que arde sem se ver”, lembra?

O poema expressa um ponto de vista filosófico sobre o amor. Na primeira estrofe Camões tenta
definir o que é o amor , “é ferida que dói, e não se sente; / é um contentamento descontente/ é dor que
desatina sem doer”, e continua da mesma forma pelas outras estrofes.

Começar um raciocínio pela definição é típico do procedimento lógico, contudo, para ser verdadeiro,
cada vez que o poeta dá uma definição, ele é obrigado a afirmar algo contrário ao que ele afirmou.

Ele tentou, várias vezes, fazer uma definição que não seja contraditória. Depois de vários versos, ele
então conclui que o sentimento não pode causar favor nos corações, “pois tão contraditório a si é o mesmo
amor.” Ou seja, ele expressa a impossibilidade de pensar racionalmente o amor, pois ele não se adequa ao
primeiro pressuposto da lógica: a identidade e, consequentemente, a não-contradição.

Mas isso não basta. O argumento deve ter um formato que o identifique. Aristóteles percebe que um
bom argumento tem pelo menos duas partes, uma afirmação e uma conclusão. A partir daí, ele verifica um
tipo de argumento que é perfeito se o emissor do discurso observar algumas regras básicas assim como faz
um matemático. Esse modelo de perfeição argumentativa ele chamou de SILOGISMO. Para explicar o que
era isso, ele elaborou um exemplo que ficou famoso.

Para se fazer um raciocínio, deve-se começar com uma premissa maior, ou seja, uma afirmação
generalizante que seja capaz de expressar uma ideia sem contradição. A partir daí, constrói-se a premissa
menor, outra afirmação cujo sujeito deve ser um subconjunto do termo amplo da afirmação anterior.
Homem é o conjunto de todos os seres dessa espécie, Sócrates é um ser definido. A partir daí o que for
atribuído ao primeiro pode ser também atribuído ao segundo na conclusão.

Há uma série de regras que tal construção deve obedecer que não serão discutidas aqui. O que
gostaria que você retivesse de tudo isso é que a Razão exige procedimentos metodológicos capazes de
conferir credibilidade àquilo que é dito. A lógica será fundamental para o desenvolvimento da Teoria do
Conhecimento e da ciência.

Por último, é importante destacar a diferença entre dois tipos básicos de raciocínio: a indução e a
dedução.

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Observe que essas duas formas de abordar a realidade definem também os tipos de ciência. Até o

Dedução Indução
As premissas iniciais são As premissas iniciais são
generalizantes, segue-se particularizantes, a conclusão
a particularização. generaliza.

Eu vi um cacto na casa do meu


Todos os cactos têm amigo e ele tinha espinhos.
espinhos.
Eu vi outro cacto no barbearia
A planta que ganhei é e ele tinha espinhos.
um cacto.
Eu vi...outro, ele tinha
A planta que ganhei tem espinhos.
espinhos.
Todos os cactos têm espinhos.

Renascimento, a indução era desconsiderada como fonte de conhecimento. Afinal, pode ser que eu
encontre um cacto sem espinho, e, nesse caso, a teoria seria falsa. A partir do Renascimento, os cientistas
assumirão o risco implícito na indução e vão eleger essa forma de conhecer como a mais eficaz.

7.8 Questões de Fixação

1. Enem 2014

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No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o
conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a :

a) suspensão do juízo como reveladora da verdade.

b) realidade inteligível por meio do método dialético.

c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.

d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino.

e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.

2. Autoral

“Na filosofia, o idealismo é o grupo de filosofias metafísicas que afirmam que a realidade, ou realidade como
os humanos podem conhecê-la, é fundamentalmente mental, mentalmente construída ou
imaterial. Epistemologicamente, o idealismo se manifesta como um ceticismo quanto à possibilidade de
conhecer qualquer coisa independente da mente. Em contraste com o materialismo, o idealismo afirma
a primazia da consciência como a origem e o pré-requisito dos fenômenos materiais. De acordo com essa
visão, a consciência existe antes e é a pré-condição da existência material.”

(Wikipedia disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Idealismo, acessado em 05.09.2020)

Considerando essa concepção de idealismo, pode-se dizer que Aristóteles

a) deu continuidade às teorias idealistas de seu mestre Platão.

b) rompeu com o idealismo, propondo um empirismo absoluto.

c) tornou-se cético, defendendo a impossibilidade de conhecer a realidade.

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d) conciliou o idealismo com o materialismo calcado na observação.

Gabarito

1.B

2.D

Questões comentadas

1. Enem 2014

No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o
conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a :

a) suspensão do juízo como reveladora da verdade.

b) realidade inteligível por meio do método dialético.

c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.

d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino.

e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.

Comentário.

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Alternativa "a" está incorreta. O que se diz nessa alternativa se refere aos céticos. Eles propunham que o
conhecimento seria inalcançável, e, portanto, melhor suspender qualquer julgamento relacionado ao
verdadeiro ou falso. Nenhum cético apontaria para cima.

Alternativa "b" está correta. Platão acreditava no mundo das ideias, onde uma realidade perfeita e
incorpórea servia como modelo para a realidade material em que vivemos. Tal mundo estaria no céu, por
isso, ele aponta para cima. O método para se chegar a essas verdades estando na terra, seria através do
diálogo em que os participantes colocam objeções a serem vencidas (método dialético).

Alternativa "c" está incorreta. O salvacionismo é próprio da filosofia medieval, nada a tem que ver com
Platão que não falava em salvação.

Alternativa "d" está incorreta. Essa alternativa é estranha, pois afirma que no céu haveria a essência das
coisas sensíveis. A essência do sensível seria o inteligível, mas mencionar sensível em relação ao mundo das
ideias é fora de propósito. O erro de verdade ocorre na segunda parte da afirmação. As ideias não estão na
mente de um Deus unificador, elas estão nesse outro mundo, mas sem a ação de um Deus.

Alternativa "e" está incorreta. Platão descarta a sensibilidade como forma de conhecer a realidade última
das coisas e tal capacidade humana estaria relacionada como o mundo físico e não como o mudo das ideias.

Gabarito: B

2. Autoral

“Na filosofia, o idealismo é o grupo de filosofias metafísicas que afirmam que a realidade, ou realidade como
os humanos podem conhecê-la, é fundamentalmente mental, mentalmente construída ou
imaterial. Epistemologicamente, o idealismo se manifesta como um ceticismo quanto à possibilidade de
conhecer qualquer coisa independente da mente. Em contraste com o materialismo, o idealismo afirma
a primazia da consciência como a origem e o pré-requisito dos fenômenos materiais. De acordo com essa
visão, a consciência existe antes e é a pré-condição da existência material.”

(Wikipedia disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Idealismo, acessado em 05.09.2020)

Considerando essa concepção de idealismo, pode-se dizer que Aristóteles

a) deu continuidade às teorias idealistas de seu mestre Platão.

b) rompeu com o idealismo, propondo um empirismo absoluto.

c) tornou-se cético, defendendo a impossibilidade de conhecer a realidade.

d) conciliou o idealismo com o materialismo calcado na observação.

Comentário.

Alternativa "a" está incorreta. Aristóteles rompe com seu mestre, não acredita que para cada objeto na
Terra haja uma cópia perfeita no céu como ideia.

Alternativa "b" está incorreta. O filósofo realmente rompeu com o idealismo, mas não fez isso de forma
radical supondo um empirismo absoluto, ele propõe um meio termo.

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Alternativa "c" está incorreta. Aristóteles acreditava na capacidade humana de compreender o cosmos.

Alternativa "d" está correta. O filósofo desenvolve a teoria da forma e matéria. A forma ou o formato das
coisas é uma ideia, pois trata-se de uma essência aplicável a todos os seres daquela espécie. Por exemplo, o
homem racional, bípede etc. é a forma em que se enquadram todos os homens e isso é uma ideia. Mas a
ideia só pode ser percebida se olharmos para os homens em particular que são concretos. Ou seja, a
realidade é constituída de ideia (ideia) e materialidade.

Gabarito: D

7.9 Quadro Sinóptico

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8. Filosofia Helenística: O Ceticismo

Para pensar:
Você brigaria por uma certeza? Seria possível viver sem
Figura 1 : Pixabay

certezas?

Ao final desse tópico, você deve responder as seguintes


questões:
O que é ceticismo?
Qual é a oposição entre ceticismo e dogmatismo ?

Aristóteles é último grande filósofo a compor um sistema de pensamento e


explicação das coisas de forma tão abrangente. Depois dele, entre a anexação da Grécia à Macedônia e
ascensão de Roma, surgem outras vertentes filosóficas que discutem aspectos diferentes de todo o caldo
filosófico desenvolvido durante o período clássico, por Sócrates, Platão, Aristóteles e mesmo pelos sofistas.

Essa filosofia vai atender a outras necessidades do


momento. A questão mais importante passa a ser:
como viver bem? Ou seja, trata-se de uma preocupação
ética. São várias as escolas que discutirão o tema:
Estoicismo, Epicurismo, Ceticismo e Neoplatonismo.
Todas elas têm grande importância para o campo da
ética, mas uma delas desenvolve uma ideia cara à
Teoria do Conhecimento: o Ceticismo.

Você já deve ter ouvido alguém dizer que fulano é


cético, normalmente como uma nota de crítica. Isso quer dizer que a pessoa em questão dificilmente aceita
alguma ideia. A palavra “cético” vem do grego “skeptikos” e significa “aquele que reflete, que indaga”.

Contudo, a palavra assumiu um valor mais amplo ainda, quando Pirro propôs sob esse termo a
doutrina segundo a qual não é possível qualquer certeza. Isso resulta em uma disposição de duvidar
constantemente sobre qualquer opinião expressa como uma verdade.

Verdade, Corujinha certeira. Nada melhor do que estar certo da própria opinião. Faz bem para o ego,
permite fazer escolhas sem titubear e dá aquela segurança de quem sempre sabe o que está fazendo. Mas
e se....

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Se uma certeza à qual você aderiu fosse baseada numa ilusão? Em 2014, no Guarujá, pessoas dotadas
de certeza lincharam uma mulher vítima de depressão crônica, pois ela teria sequestrado crianças para um
ritual de magia negra. O indivíduo orgulhoso que participou dessa barbárie, hoje, deve ter motivos de sobra
para se envergonhar.

Além disso, quando possuímos a certeza de uma “verdade” que envolve alguma polêmica, é sofrido
perceber que outras pessoas discordam de nossas opiniões ou são indiferentes ao que acreditamos ser algo
importantíssimo. Cada opinião contrária à nossa é como um dardo em nosso coração de certezas.

Melhor seria aprender a viver bem abdicando das certezas. Esse era a opinião de Pirro (360 – 270
a.C), filósofo e pintor grego. Como pintor, ele não foi grande coisa, começou a enveredar pelo pensamento
abstrato. Fez parte das expedições de Alexandre, o Grande, ao Oriente e passou a fazer turismo militar pelo
mundo antigo. Essa experiência pôs à prova sua ideia de que os gregos tinham uma civilização superior.

Conheceu outros povos, pessoas que adoravam animais, que veneravam as estrelas, que
sacralizavam rios. Reconheceu, nos estilos de vida variados e nas verdades alheias, formas de viver que o
impressionaram. Não havia no mundo conhecido verdades iguais e, no entanto, cada povo tinha sua lógica
de vida e poderia encontrar satisfação mesmo naquilo que ele arrogantemente poderia considerar falso.

Quando voltou à Grécia, começou a difundir uma ideia que tinha uma finalidade terapêutica: curar o
homem da doença de sempre querer estar certo. Qual seria a recompensa? A ataraxia, ou o sossego da alma.
As pessoas que se apegam a verdades são beligerantes, encaram conflitos pessoais e gastam uma tremenda
energia para defender sua ideia como se defende uma cidade sitiada.

Como toda terapêutica, a


filosofia cética era prática. Primeiro,
era preciso reconhecer que temos
condição de conhecer qualquer coisa.
Se houver um mundo das ideias, não
somos aptos para alcançá-lo através
de nosso esforço. Somos limitados e
geralmente nos enganamos em
relação à realidade. Segundo, Disponível em http://3.bp.blogspot.com/-4AxkDjQL4xo/TfdXxMQL0aI/AAAAAAAAAKw/NX-
SPpajFzA/s1600/cetico_por_estilo.gif, acessado em 15.05.2019)
deveríamos, de forma
procedimental, sempre contrapor uma tese contrária àquela que se acredita ser verdadeira. Esse
procedimento leva à suspensão do juízo e consequentemente ao abandono das ilusões dogmáticas (ilusões
provocadas pelas certezas absolutas).

Apesar de essa filosofia ser mais voltada para a Ética, para o bem viver, essa terminologia entrará
para a Teoria do Conhecimento e, inclusive, haverá uma distinção entre ceticismo filosófico e científico. A
palavra ceticismo passará a significar “a postura de duvidar e de sempre questionar qualquer ideia ou tese
que for apresentada como verdadeira”.

Por ora, é importante reter esses pares fundamentais que foram sendo construídos na história do
pensamento ocidental:

DOGMATISMO CETICISMO

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8.1 Questão de Fixação

Q.(ENEM 2016)
Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto, e que, da mesma maneira, nada existe
do ponto de vista da verdade, que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto
do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando
do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio
dos sentidos.
LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.
O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:
a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.
b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.
c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.
d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente.
e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo.
Comentário:
Alternativa a, falsa. O fragmento escolhido deixa bem claro que a questão envolve a verdade, e a alternativa
“a” tematiza a obediência à sociedade.
Alternativa b, falsa. Não há qualquer referência ao prazer e desprazer no texto.
Alternativa c, verdadeira. A “impossibilidade de obter alguma certeza” aparece no texto no seguinte trecho
“nada existe do ponto de vista da verdade”; ao dizer que ele não evitou nada e suportou todas as
adversidades sinaliza um comportamento pautado pela indiferença.
Alternativa d, falsa. No texto, o autor não menciona qualquer fonte de esperança, até porque toda esperança
é fundada numa certeza, coisa que o pensador evita.
Alternativa e, falsa. O “bem e o belo” não são tematizados no fragmento.
Gabarito: C

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8.2 Quadro sinóptico

9. Questões

1.(UNESP/ 2021)

A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco, um continente de ideias esquecidas que
merece ser visitado apenas por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnologia,
especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas próximas décadas, sem saberem que, ao
defender esse ponto de vista, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutível.
Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea passaram a ser discutidas pelas ciências. Mas há
outras, no campo da ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a ciência
não tem, até agora, fornecido nenhuma solução.

(João de Fernandes Teixeira. Por que estudar filosofia?, 2016.)

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De acordo com o texto, a filosofia

(A) mostra-se incapaz de lidar com os dilemas das ciências.

(B) contribui para os questionamentos e debates científicos.

C) impede o progresso científico e tecnológico.

(D) evita desenvolver pesquisas e estudos em parceria com cientistas.

(E) pretende oferecer respostas absolutas aos problemas da ciência.

2.(Unesp 2020)
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou
simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é vestida
com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação
experimental, depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São
casos típicos do que se costuma definir como “pseudociência”.

(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. In: Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.)

Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pseudocientíficos por meio


A
da imposição de novos sistemas ideológicos.
B
da confiança em teorias fundamentadas no senso comum.
C
da ampla divulgação de ideias individuais.
D
da preservação de saberes populares.
E
da demonstração de ausência de evidências empíricas

3. (Unesp 2012)
Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço
dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie
de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do
tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.

(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)

O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre outros aspectos,

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a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmissão oral das tradições, dos mitos e da
memória.
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica.
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que viviam.

4. (UNESP 2011)
Parece notícia velha, mas a ciência e o ensino da ciência continuam sob ataque. No portal
www.brasilescola.com há um texto de Rainer Sousa, da Equipe Brasil Escola, que discute a origem do
homem. No final, o texto diz: “sendo um tema polêmico e inacabado, a origem do homem ainda será uma
questão capaz de se desdobrar em outros debates. Cabe a cada um adotar, por critérios pessoais, a
corrente explicativa que lhe parece plausível”. “Critérios pessoais” para decidir sobre a origem do homem?
A religião como “corrente explicativa” sobre um tema científico, amplamente discutido e comprovado, dos
fósseis à análise genética? Como é possível essa afirmação de um educador, em pleno século 21, num
portal que leva o nome do nosso país e se dedica ao ensino?
(Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo, 13.02.2011. Adaptado.)
O pensamento de Marcelo Gleiser é expresso por meio de uma;
a) perspectiva conciliatória entre religião e ciência acerca da origem do homem.
b) abordagem do conflito entre criacionismo e evolucionismo sob um ponto de vista liberal, defendendo a
liberdade individual para escolher qual adotar.
c) pressuposição de que a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin é anacrônica e, portanto,
inapropriada para explicar a origem do homem.
d) crítica da posição adotada pela Equipe Brasil Escola, por seu teor de irracionalismo.
e) pressuposição segundo a qual, no que tange à origem do homem, os critérios subjetivos devem
prevalecer sobre os critérios empíricos.

5. (UNESP 2016)
A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciência.
No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a lâmpada do pensamento
que se ilumina a si própria, criando por si o seu mundo. Que um povo se reconheça livre, eis o que constitui
o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção do nosso ser essencial no sentido de
que a liberdade pessoal é a sua condição fundamental, e de que nós, por conseguinte, não podemos ser
escravos. O estar às ordens de outro não constitui o nosso ser essencial, mas sim o não ser escravo. Assim,
no Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria filosofia. (Hegel. Estética, 2000. Adaptado.)
De acordo com o texto de Hegel, a filosofia
a) visa ao estabelecimento de consciências servis e representações homogêneas.
b) é compatível com regimes políticos baseados na censura e na opressão.
c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da racionalidade.
d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão e de liberdade.
e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de julgamento.

6. (UNESP 2018 )
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou
simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é vestida com

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alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação experimental,
depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São casos típicos do que
se costuma definir como “pseudociência”.
(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. In: Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.)
Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pseudocientíficos por meio
(A) da imposição de novos sistemas ideológicos.
(B) da confiança em teorias fundamentadas no senso comum.
(C) da ampla divulgação de ideias individuais.
(D) da preservação de saberes populares.
(E) da demonstração de ausência de evidências empíricas.

7. (Autoral)
A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de
comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidores e se
montar uma propaganda.
As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático.
(Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000)
Segundo a autora, qual o traço marcante da filosofia?
A) A sistematização metódica análoga a do método científico.
B) Total indiferença em relação ao que as pessoas pensam, sobretudo no mundo atual em que tudo é
reduzido à mercadoria.
C) Adoção de uma metodologia empírica, capaz de ir além do dogmatismo.
D) Uma procura constante de encontrar um discurso capaz de ir além do senso comum.

8. (Autoral)
A metáfora que os gregos usavam para valorizar o conhecimento e a razão era a de um barco à deriva que
precisa de um piloto que saiba como chegar com segurança a um determinado porto. Para eles, o
conhecimento tinha uma função ética (viver bem), estética (viver belamente). Nesse sentido, observar a
natureza era importante por quê?

a) permitiria o conhecimento da realidade exterior e o controle das paixões interiores.


b) ampliaria o sentimento de admiração diante dos deuses que haviam criado todas as coisas.
c) saciaria simplesmente a curiosidade humana.
d) levaria o observador a conhecer os princípios básicos do universo e entender sua harmonia.
e) proporcionaria mais conforto aos homens.

9. (Autoral)

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“A filosofia é o aperfeiçoamento da alma humana através da apreensão das coisas e a confirmação das
verdades especulativas e práticas, de acordo com a capacidade humana. A filosofia relativa às coisas
especulativas, as quais devemos conhecer, mas que não precisamos praticar, é chamada filosofia
especulativa. A filosofia relativa às coisas práticas as quais devemos conhecer e praticar, chama-se filosofia
prática.”
(Avicena. “ A filosofia e sua divisão”. In: Marçal, Jairo (org.). Antologia de textos Filosóficos. Curitiba:
SEED, P. 2009)

“Não é permitido haver nada de hipotético em nossas reflexões. Toda explicação tem que sair e em seu lugar
entrar apenas descrição. E esta descrição recebe sua luz, isto é, seu objetivo, dos problemas filosóficos. Estes,
sem dúvida, não são empíricos, mas são resolvidos por um exame do funcionamento de nossa linguagem,
ou seja, de modo que este seja reconhecido: em oposição a uma tendência de compreendê-lo mal. Estes
problemas não são solucionados pelo ensino de uma nova experiência, mas pela combinação do que de há
muito já se conhece. A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento de nosso intelecto pelos meios de nossa
linguagem.”
(Wittgenstein. “Investigações Filosóficas”. Marcondes, D. "Textos Básicos de Filosofia". Rio de Janeiro:
Zahar Editor Ltda, 2007.)
A partir da leitura dos dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. O texto 1 supõe uma função ética da filosofia, enquanto o texto 2 supõe que a função da filosofia é manter
o senso crítico aceso, ou seja, teria caráter epistemológico.
II. O Avicena, filósofo árabe que viveu entre os século X e XI c. C., valia-se da filosofia para reforçar a fé; algo
contra o qual Wittgenstein se opõe, na medida em que ele supõe ser a filosofia um antídoto contra o
enfeitiçamento religioso.
III. Avicena tem uma concepção bastante ampla de filosofia, enquanto Wittgenstein considera a filosofia a
partir da perspectiva linguística.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e III são corretas.
b) Somente as afirmações I e II são corretas.
c) Todas as afirmações são corretas
d) Somente as afirmações II e III são corretas.
e) Somente a alternativa I é correta.

10. (Autoral)
“O relato mítico surge, então, como expressão do sentimento de separação e como tentativa de restaurar a
unidade e a inocência perdidas. Eis por que todo mito, como sustenta Mircea Eliade, é sempre um relato das
origens com finalidade instauradora. A forma de consciência que o produz apreende o tempo como um agora
permanente que, de algum modo, permanece grudado ao tempo das origens”.
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. Revista Philósophos 7. 35-56, 2002. São Paulo: PUC).

Esse texto revela um concepção do mito

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a) arquetípica e totalizante.
b) fantasiosa e alienante.
c) metafísica e mágica.
d) finalista e fragmentária.
e) mágica e restauradora.

11. (Autoral)
Também aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo.
ARISTÓTELES, Metafísica, A 2, 982 b 18

“É certo que o lógos, assumindo progressivamente, na era clássica, o sentido de “discurso regrado” e, a partir
daí, o de “raciocínio” que remete à “razão”, ao “cálculo” e à “medida”, assumiu um uso filosófico que tendia
a se opor ao mito como narrativa sagrada. Entretanto, antes de chegar a uma oposição, mythos e lógos
estiveram unidos, pelo menos segundo a antiga etimologia que identifica mythos e palavra.”
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. In: Philósophos 2002.)
Comparando os dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. Os textos parecem indicar perspectivas opostas no que se refere à relação entre filosofia e mito.
Aristóteles vê a filosofia como uma continuidade da fase mítica; já o segundo texto aponta para uma
diferença radical entre uma fase e outra: o mito se baseia em narrativas; a filosofia num discurso metódico.
II. O texto II oferece um argumento decisivo contra a perspectiva aristotélica.
III. Tanto o primeiro texto quando o segundo fazem avaliação do mito segundo os mesmos parâmetros.
IV. O uso da expressão restritiva “até certo modo” em Aristóteles nos permite inferir que ele também
acreditava que mito e filosofia se opunham.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e II são corretas.
b) As afirmações I, II e III são corretas.
c) Todas as afirmações são corretas
d) Somente a afirmação I é correta.
e) As afirmações I e III são corretas.

12. (Autoral)
“A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a possibilidade
humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das condições de possibilidade da ação moral enquanto
realizada por liberdade e por dever. Com isso, a Filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e
tornava-se apenas conhecimento do homem enquanto ser racional e moral.”
(Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000),

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A autora, nesse fragmento, considera a passagem da filosofia pré-socrática para a filosofia pós-socrática. O
que marca esses dois momentos é a passagem

a) da metafísica para a física.


b) da física para a filosofia antropocêntrica.
c) do naturalismo para o idealismo.
d) do materialismo para a filosofia espiritual.
e) da ciência para a epistemologia.

13. (Autoral)
“É por isso, Sócrates, que as pessoas nas cidades, especialmente em Atenas, consideram que deliberar sobre
os casos de excelência artística ou bom exercício da profissão é um assunto de poucos entendidos, e se
alguém de fora desse grupo faz qualquer deliberação, eles a rejeitam, como você diz, e com razão, segundo
penso. Mas quando se encontram para um conselho a respeito da arte política, em que devem ser guiados
pela justiça e pelo bom senso, naturalmente permitem as deliberações de todos, já que todos têm de
partilhar dessas virtudes, ou então o Estado não poderia existir.”
(Marcondes, D. “Textos básicos de Filosofia”. Rio de Janeiro: Zahar Editor Ltda, 2007)
Nesse fragmento, tirado de um diálogo de Platão, pode-se ler o embate entre Sócrates, que manifesta ideias
platônicas, e Protágoras, um grande sofista. A partir da leitura do texto e do seu conhecimento sobre as
ideias de Platão e dos sofistas, assinale a alternativa correta.
a) Para Protágoras, a justiça deve ser encontrada no consenso da praça pública, algo com o qual Platão não
concorda.
b) Tanto Platão quanto Protágoras acreditam numa justiça ideal além das circunstâncias cotidianas.
c) Segundo Protágoras, sem um ideal de justiça emanado daqueles que têm a sabedoria, não há genuíno
Estado.
d) Protágoras ironiza o saber proporcionado pela arte e valoriza a política; Platão faz exatamente o contrário.
e) Protágoras deixa claro que há duas espécies de pessoas, os entendidos e a grande massa, somente os
primeiros deveriam ser ouvidos na política.

14. (Autoral)
“De todos os argumentos por meio dos quais demonstramos a existência das ideias, nenhum é convincente.
Alguns dentre eles não conduzem a uma conclusão necessária e outros conduzem a ideias de coisas das
quais, na nossa opinião [sc. nós os platonistas], não pode haver ideias. Com efeito, segundo os argumentos
provenientes da existência das ciências (ἐκ τῶν ἐπιστηµῶν) haverá ideias de todas as coisas das quais houver
ciência; segundo o argumento da unidade de uma multiplicidade (τὸ ἕν ἐπὶ πολλῶν), haverá ideias mesmo
de negações (ἀποφάσεων); enfim, segundo o argumento de que é possível pensar o perecido (τὸ νοεῑν τι
φθαρέντος), haverá ideias de coisas perecíveis, pois podemos ter destas coisas uma imagem.
(Aristóteles. A metafísica)
O texto acima de Aristóteles discute uma postura contrária à do seu mestre Platão no que se refere

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a) à forma de argumentar, já que Platão, por utilizar de analogias e até mitos, não consegue ser convincente.
b) ao apelo a um tipo de ciência que não se baseava em conhecimento observável.
c) à confusão entre unidade e multiplicidade, já que Platão não demarcava com precisão essas duas
categorias.
d) à existência do mundo ideal, já que Platão não conseguiu provar a existência do idealismo.
e) à ideia de negação das coisas perecíveis por Platão, já que para ele aquilo que perece não existe.

15. (Autoral)
Segundo o dicionário, maiêutica significa “método socrático que consiste na multiplicação de perguntas,
induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto”.
Sócrates, ao aplicar esse método, investia contra
a) a relatividade das ditas verdades.
b) a censura da liberdade de expressão.
c) a pseudo infalibilidade dos dogmas.
d) a arrogância do orgulho intelectual.
e) a certeza das ciências naturais.

16. (Autoral)

Para responder a próxima questão, observe o texto abaixo.

"Estou mais interessado no microcosmo do que no macrocosmo. Estou mais interessado em como um homem
vive do que em como uma estrela morre, em como uma mulher abre seu caminho no mundo do que em como
um cometa risca o céu. O mistério humano, e não a condição do cosmos, é o que me fascina" (Sherwin
Nuland)

Assinale a alternativa correta.

a) Esse trecho expressa a ideia de Parmênides, na medida em que o autor fala que o que
interessa é o mistério humano, mistério característico do Ser de Parmênides.
b) Esse trecho expressa a ideia de Heráclito, na medida em que o autor fala vida e da morte do
ser humano, ou seja, do caráter mutável da vida e do universo.
c) Esse trecho expressa a ideia dos pré-socráticos que se preocupavam com a physis, por isso o
autor se refere a morte da estrela.
d) Esse trecho expressa a virada ética, na medida em que o autor se refere a duas formas de
refletir sobre a realidade manifestando preferência pela ética.
e) Esse trecho expressa a visão socrática sobre a morte, pois o autor fala sobre o mistério
humano, ou seja a vida pós a morte, mesma preocupação que Sócrates manifesta no
momento de sua morte quando discorre sobre o que virá depois da vida.

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17. (Autoral)
“Sócrates: [...] Protágoras admitiu que alguns indivíduos superavam outros no que tange ao melhor e ao pior,
sendo esses indivíduos os sábios. [...]
Sócrates: [...] ele diz, não é mesmo “que aquilo que aparece a cada indivíduo efetivamente é para aquele a
quem aparece”.
[...]
Sócrates: [...] então, Protágoras, também expressamos as opiniões de um ser humano, ou melhor, de todos
os seres humanos, e dizemos que ninguém há que não se julgue mais sábio do que os outros em certas
matérias, e outros mais sábios do que ele próprio em outras matérias. [...] E todo o mundo humano, ouso
dizer, torna-se repleto de pessoas que buscam mestres e chefes para si, para outros seres vivos e para a
direção de todas as atividades humanas; e, por outro lado, de pessoas que se julgam qualificadas
para ensinar e para chefiar. E, observando todos esses casos, é imperioso dizermos que os próprios seres
humanos creem que sabedoria e ignorância existem entre os seres humanos.
[...]
Sócrates: E, portanto, julgam que a sabedoria é o pensar verdadeiro e a ignorância, a opinião falsa.
(PLATÃO, Teeteto. In: PLATÃO. Diálogos I: Teeteto (ou do conhecimento), Sofista (ou do ser), Protágoras (ou
sofistas). Tradução, textos complementares e notas de Edson Bini. Bauru/SP: EDIPRO, 2007)

Esse é um fragmento do Teeteto de Platão. Texto no qual, Platão, por meio de seu personagem Sócrates,
expõe sua ideia sobre o que deve ser o conhecimento. No trecho, o autor discute a ideia de Protágoras. Nos
trechos acima apresentados, Platão

a) manifesta a concepção de que a verdade em si mesma é incompreensível para os homens.


b) expressa seu desprezo pelo relativismo sofístico, ao recusar argumentar com seus oponentes.
c) destaca o paradoxo em que se envolvem aqueles que defendem o relativismo.
d) considera a importância de mestres e sábios para que o conhecimento avance.
e) define o conhecimento em termos de escolha, entre seguir sábios ou ignorantes.

18. (Autoral)
As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessária e universalmente, não podendo de modo algum
ser diferente do que é e de como é... As verdades de razão são inatas.
(...)
As verdades de fato são empíricas e se referem a coisas que poderiam ser diferentes do que são, mas que
são como são porque há uma causa para que sejam assim.
((Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000).

Nesse fragmento, Marilena Chauí distingue os dois tipos de verdade, termo que se tornou consagrado
quando se discute os tipos de verdades as quais os homens podem chegar.
A partir das definições apresentadas, assinale a alternativa que exemplificaria uma das verdades
mencionadas.
a) Verdades de fato: a existência de Deus.
b) Verdades de razão: 2 + 2 = 4.
c) Verdades de razão: a terra é redonda.
d) Verdades de fato: O triângulo tem três lados.
e) Verdades da razão: eu estou triste.

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19.(Autoral)
“Em A República, Platão parte do princípio segundo o qual o conhecimento é proporcional ao ser, de
modo que aquilo que é ser em grau máximo pode, com exclusividade, ser perfeitamente conhecido,
posto que o não-ser é absolutamente incognoscível. Entretanto, como existe uma realidade
intermediária entre o ser e o não-ser, isto é, o sensível, que é uma mescla de ser e não-ser enquanto
sujeito ao devir, Platão acaba por concluir que também desse "intermediário" existe um
conhecimento igualmente intermediário entre ciência e ignorância: um tipo de conhecimento que não
se identifica com o conhecimento verdadeiro, cujo nome é "opinião" (doxa).”
Reale, G & Antiseri, D. “História da Filosofia”, vol.I. São Paulo: Paulus, 1990

A partir desse fragmento de um comentador e das ideias de Platão, são feitas as seguintes afirmações:
I. As ideias, por serem perfeitas e imateriais, não podem ser conhecidas, somente intuídas.
II. A opinião é um conhecimento intermediário, no qual verdade e falsidade se mesclam.
III. O mundo em que vivemos, sensível, também é intermediário.
IV. A opinião é apropriada ao mundo sensível; o conhecimento, ao mundo inteligível.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa III é verdadeira.
b) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras

20. (Autoral)

Texto 1

O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples
arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas,
achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos.

(Gilles Deleuze e Félix Guattari. O que é a filosofia?, 2007.)

Texto 2

A língua é um “como” se pensa, enquanto que a cultura é “o quê” a sociedade faz e pensa. A língua, como
meio, molda o pensamento na medida em que pode variar livremente. A língua é o molde dos
pensamentos.

(Rodrigo Tadeu Gonçalves. Perpétua prisão órfica ou Ênio tinha três corações, 2008. Adaptado.)

Os textos levantam questões que permitem identificar uma característica importante da reflexão filosófica,
qual seja, que

(A) a mutabilidade da linguagem amplia o conhecimento do mundo.

(B) a cultura é constituída a partir da especulação teórica.

(C) o conhecimento evolui a partir do desenvolvimento tecnológico.

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(D) a filosofia estabelece as balizas e diretrizes do fazer científico.

(E) os conceitos são permanentes e derivados de verdades preestabelecidas.

21. (Uel 2015)


Leia os textos a seguir.

Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.

Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e
Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá
Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria
sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens.
“A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014.

No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam
Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz, feminino e
masculino, frio e calor, seco e molhado.
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe
Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.

Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as
afirmativas a seguir.

I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que concebem
o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena tudo que
existe.
II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e
impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada
comunidade.
III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar
determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião
provável ao exprimir o vir-a-ser.
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer
correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado.

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Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

22. (Uema 2015)


Leia a letra da canção a seguir.

Nada do que foi será


De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo [...]

Fonte: SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de Janeiro: Sony-BMG,
2004.

Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a realidade passando como uma onda, assim
também pensaram os primeiros filósofos conhecidos como Pré-socráticos que denominavam a realidade de
physis. A característica dessa realidade representada, também, na música de Lulu Santos é o(a)
a) fluxo.
b) estática.
c) infinitude.
d) desordem.
e) multiplicidade.

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23. (Unioeste 2013)


“Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas,
difere da concepção de Tales, que considera a água o princípio original do mundo; seja como for, é evidente
que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as partes da Teogonia,
de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão construtiva e uma perfeita coerência na ordem
racional e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda apresenta uma irreprimível
pujança de criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as doutrinas dos “fisiólogos”, nos
primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia conceber a atividade prodigiosa que se
expande na criação das concepções filosóficas do período mais antigo da ciência.”
Werner Jaeger.

Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo:

I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do uso do pensamento racional.


II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do uso do pensamento mítico.
III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como princípio original do mundo, rompe,
definitivamente, com o pensamento mítico.
IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o mito
do julgamento das almas.
V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da
natureza (Physis).

Das afirmativas feitas acima


a) apenas a afirmação V está correta.
b) apenas as afirmações III e V estão corretas.
c) apenas as afirmações II e IV estão corretas.
d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas.
e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas.

24. (Ufu 2013)


A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada
num exercício especulativo-racional. De fato, “[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito
ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento
epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”.
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.

Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.

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a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua
metodologia.
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático
fundamental para a vida cotidiana.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada,
crítica e radical, baseada no logos.

25. (Ueg 2019)


Considerando a história contada por Platão no livro VII da República, mais conhecida como Mito da Caverna,
podemos deduzir que:
a) o homem, apesar de nascer bom, puro e de posse da verdade, pode desviar-se e passar a acreditar em
outro mundo mais perfeito de puras ideias.
b) não podemos confiar apenas na razão, pois somente guiados pelos sentimentos e testemunhos dos
sentidos poderemos alcançar a verdade.
c) a caverna, na alegoria platônica, representa tudo aquilo que impede o surgimento da consciência
filosófica, que possibilitaria uma ascensão para o mundo inteligível.
d) a razão deve submeter-se aos testemunhos dos sentidos, pois a verdade que está no mundo inteligível só
será atingida mediante a sensibilidade.
e) os homens devem se libertar da crença na existência em outro mundo e buscar resolver seus conflitos
aprofundando-se em sua interioridade.

26. (Unesp 2010)


Texto 1
Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas: ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência,
nenhuma consciência do que quer que seja, ou, como se diz, a morte é precisamente uma mudança de
existência e, para a alma, uma migração deste lugar para um outro. Se, de fato, não há sensação alguma,
mas é como um sono, a morte seria um maravilhoso presente. […] Se, ao contrário, a morte é como uma
passagem deste para outro lugar, e, se é verdade o que se diz que lá se encontram todos os mortos, qual o
bem que poderia existir, ó juízes, maior do que este? Porque, se chegarmos ao Hades, libertando-nos destes
que se vangloriam serem juízes, havemos de encontrar os verdadeiros juízes, os quais nos diria que fazem
justiça acolá: Monos e Radamante, Éaco e Triptolemo, e tantos outros deuses e semideuses que foram justos
na vida; seria então essa viagem uma viagem de se fazer pouco caso? Que preço não seríeis capazes de pagar,
para conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero?

(Platão. Apologia de Sócrates, 2000.)


Texto 2
Ninguém sabe quando será seu último passeio, mas agora é possível se despedir em grande estilo. Uma 300C
Touring, a versão perua do sedã de luxo da Chrysler, foi transformada no primeiro carro funerário

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customizado da América Latina. A mudança levou sete meses, custou R$ 160 mil e deixou o carro com oito
metros de comprimento e 2 340 kg, três metros e 540 kg além da original.
O Funeral Car 300C tem luzes piscantes na já imponente dianteira e enormes rodas, de aro 22, com direito a
pequenos caixões estilizados nos raios. Bandeiras nas pontas do capô, como nos carros de diplomatas, dão
um toque refinado. Com o chassi mais longo, o banco traseiro foi mantido para familiares acompanharem o
cortejo dentro do carro. No encosto dos dianteiros, telas exibem mensagens de conforto. O carro faz parte
de um pacote de cerimonial fúnebre que inclui, além do cortejo no Funeral Car 300C, serviços como
violinistas e revoada de pombas brancas no enterro.
(Funeral tunado. Folha de S.Paulo, 28.02.2010.)

Após análise dos dois textos, pode-se afirmar que:


a) o texto 1 é de natureza fictícia, e portanto não baseado em fatos históricos.
b) Platão não apela a entidades míticas para justificar sua concepção positiva sobre a morte.
c) Platão faz alusão a um fato histórico fundamental para a filosofia ocidental: as circunstâncias da morte
de Sócrates.
d) o texto 2 trata do caráter sagrado e religioso dos funerais em nossa sociedade.
e) o texto 1 evidencia que a morte não é um tema filosófico.

27. (UFU/2015.2)
Somente uns poucos indivíduos, se aproximando das imagens através dos órgãos dos sentidos, com
dificuldade nelas entreveem a natureza daquilo que imitam.
PLATÃO. Fedro. In: ______. Diálogos socráticos. v. 3. Tradução de Edson Bini. Bauru/SP: Edipro, 2008, p. 64
[250b].
Assinale a alternativa que explicita a teoria de Platão apresentada no trecho acima.
A. A teoria materialista que fixa a imagem como o reflexo de corpos físicos que constituem a única
realidade existente.
B. A teoria das ideias que estabelece a distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível, sendo que
as imagens captadas pelos sentidos humanos despertam a alma para as ideias que habitam o mundo
inteligível.
C. A teoria existencialista que delimita o espaço vital do homem e lhe impede de transcender para além do
mundo sensível.
D. A teoria niilista que admite dois mundos, mas que nega qualquer possibilidade de conhecimento das
coisas e das ideias.

28. (UFU/ 2013)


A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada
num exercício especulativo-racional. De fato, ―[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito
ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento
epistêmico de tipo próprio: empírico e racional
‖. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.

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a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua
metodologia.
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber
prático fundamental para a vida cotidiana.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica
elaborada, crítica e radical, baseada no logos.

29. (UFU/ 2013)

De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-socrático expressa um princípio de movimento por
meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe. A doutrina de Parmênides, no entanto, tal como
relatada pela tradição, aboliu esse princípio e provocou, consequentemente, um sério conflito no debate
filosófico posterior, em relação ao modo como conceber o ser.
Para Parmênides e seus discípulos:
a) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em que o movimento está em tudo o que existe.
b) O movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um não-ser.
c) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de imaginação especulativa.
d) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade empírica é puro ser,
ainda que em movimento.

30. (UFU/ 2013)


O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os
seus ensinamentos sob a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo como a forma
por excelência do exercício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima.
De acordo com a doutrina socrática,
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia.
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é, portanto, de natureza
sofística.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos é sanada pelo homem, medida de todas
as coisas.

31.(Enem 2012/2ª aplicação)


Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar
as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, nenhum homem honesto pode ignorar
que uma outra atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em razões e evidências
e questionar tudo o mais a fim de descobrir seu sentido último.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002.
Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado
importante aspecto filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais, refere-se à
a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade.
b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas.

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c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade.
d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade.
e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente.

32. (Enem 2012)


TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que
outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os
ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas,
transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada
ao máximo possível, transforma-se em pedras.

BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).

TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do
mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as
especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro
elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão
de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”.

GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).

Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir
de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval,
têm em comum na sua fundamentação teorias que
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.

33. (Enem 2015/ 2ª aplicação)


Suponha homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se estende
sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, as pernas e o pescoço presos por
correntes, de tal sorte que não podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os grilhões os
impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa ao longe, numa elevada do terreno, brilha por
detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo do caminho, imagine

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um pequeno muro, semelhante aos tapumes que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o
público e sobre os quais exibem seus prestígios.
PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural do pensamento grego antigo, cuja ideia
central, do ponto de vista filosófico, evidencia o(a)

a) caráter antropológico, descrevendo as origens do homem primitivo.


b) sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da sociedade ateniense.
c) vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e cômicos gregos.
d) sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da democracia ateniense.
e) teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo ilusório para o mundo das ideias.

34. (Enem 2015)


A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de
todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro
lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem
imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está
contido o pensamento: Tudo é um.

NIETZSCHE,F. CRITICA MODERNA . IN:OS PRÉ- SOCRÁTICOS. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos


a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
e) A tentativa de justificar , a partir de elementos empíricos, o que existe no real.

35. (2016/ 3ª aplicação)


Estamos, pois, de acordo quando, ao ver algum objeto, dizemos: "Este objeto que estou vendo agora tem
tendências para assemelhar-se a um outro ser, mas, por ter defeitos, não consegue ser tal como o ser em
questão, e lhe é, pelo contrário, inferior". Assim, para podermos fazer estas reflexões, é necessário que
antes tenhamos tido ocasião de conhecer esse ser de que se aproxima o dito objeto, ainda que
imperfeitamente.
PLATÃO, Fédon. São Paulo: Abril Cultural, 1972.

Na epistemologia platônica, conhecer um determinado objeto implica

Alternativas

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a) estabelecer semelhanças entre o que é observado em momentos distintos.
b) comparar o objeto observado com uma descrição detalhada dele.
c) descrever corretamente as características do objeto observado.
d) fazer correspondência entre o objeto observado e seu ser.
e) identificar outro exemplar idêntico ao observado.

36. (Enem 2016 / 3ª aplicação)


Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as
coisas que são agora neste mundo - terra, água, ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste mundo
-, se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, diferente em sua natureza própria e se não
permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças e diferenciações, então não poderiam as coisas, de
nenhuma maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras, nem a planta poderia
brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas não fossem
compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações, de uma mesma
coisa, ora em uma forma, ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
DIÓGENES. In: BORNHEIM, G. A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.
O texto descreve argumentos dos primeiros pensadores, denominados pré-socráticos. Para eles, a principal
preocupação filosófica era de ordem

a) cosmológica, propondo uma explicação racional do mundo fundamentada nos elementos da natureza.
b) política, discutindo as formas de organização da pólis ao estabelecer as regras da democracia.
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores virtuosos que tem a felicidade como o bem maior.
d) estética, procurando investigar a aparência dos entes sensíveis.
e) hermenêutica, construindo uma explicação unívoca da realidade.

9.1. Gabarito

1.B 13.A 25.C

2.E 14.D 26.C

3.A 15.D 27.B

4.D 16.D 28.C

5.D 17.C 29.B

6.E 18.B 30.A

7.D 19.C 31.E

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

8.A 20.A 32.D

9.A 21.D 33.E

10.A 22.A 34.C

11.D 23.D 35.D

12.B 24.C 36.A

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

10. Questões resolvidas e comentadas

1.(UNESP/ 2021)

A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco, um continente de ideias esquecidas que
merece ser visitado apenas por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnologia,
especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas próximas décadas, sem saberem que,
ao defender esse ponto de vista, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutível.
Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea passaram a ser discutidas pelas ciências. Mas
há outras, no campo da ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a
ciência não tem, até agora, fornecido nenhuma solução.

(João de Fernandes Teixeira. Por que estudar filosofia?, 2016.)

De acordo com o texto, a filosofia

(A) mostra-se incapaz de lidar com os dilemas das ciências.

(B) contribui para os questionamentos e debates científicos.

C) impede o progresso científico e tecnológico.

(D) evita desenvolver pesquisas e estudos em parceria com cientistas.

(E) pretende oferecer respostas absolutas aos problemas da ciência.

Comentário.

Outra questão de interpretação de texto, trata-se uma questão sobre os desafios da filosofia.

Alternativa "a" está incorreta. O texto mostra que o avanço das ciências tem deixado pouco espaço para
tal área do saber na teoria do conhecimento. Isso não significa que a filosofia seja “incapaz”, a palavra é
muito forte.

Alternativa "b" está correta. Para se chegar a essa alternativa, seria necessário fazer uma dedução, pois
a ideia expressa na “b” não está explicitamente no texto. A ciência não tem respostas para aplicação de
suas ideias no campo social (ética e política), daí a importância da filosofia, fazer a ponte entre essas
áreas, logo, ela contribui para os debates de como a ciência pode se tornar significativa no mundo ético
do homem.

Alternativa "c" está incorreta. A ciência foi avançando sobre temas filosóficos, como por exemplo, a
neurociência que mostra como a mente processa informações, tema caro aos filósofos, mas não houve
oposição.

Alternativa "d" está incorreta. Não há qualquer indicação de que a filosofia evita a ciência.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 107


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Alternativa "e" está incorreta. A filosofia é antidogmática, ou seja, ela não fornece respostas absolutas
para nada. Apresenta problemas e reflexões a partir de seus modelos.

Gabarito: B

2. (Unesp 2020)
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio,
ou simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é
vestida com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação
experimental, depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São
casos típicos do que se costuma definir como “pseudociência”.

(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. In: Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.)

Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pseudocientíficos por meio


A
da imposição de novos sistemas ideológicos.
B
da confiança em teorias fundamentadas no senso comum.
C
da ampla divulgação de ideias individuais.
D
da preservação de saberes populares.
E
da demonstração de ausência de evidências empíricas

Comentário
Alternativa a, falsa. Novos sistemas ideológicos (crenças) não garantem que a proposição feita sobre a
realidade seja verdadeira.
Alternativa b, falsa. O senso comum é a base do conhecimento pseudocientífico; a ciência é contrária ao
senso comum.
Alternativa c, falsa. O ponto de vista individual é sujeito a erros advindos dos sentidos.
Alternativa d, falsa. Os saberes populares são base da tradição e do preconceito; a ciência nasce do
rompimento com os saberes tradicionais.
Alternativa e, verdadeira. Para saber se a afirmação feita sobre o real é verdadeira, é preciso confrontar
o que se afirma com a realidade; ou seja, contrapor a tese às “evidências empíricas”.
Gabarito: E
3. (Unesp 2012)
Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo
preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma
espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as
partes do tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 108


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)

O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre outros aspectos,


a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmissão oral das tradições, dos mitos e da
memória.
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica.
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que viviam.
Comentário:
Alternativa a, verdadeira. A dificuldade se encontra em não conhecer o que é um Aedo, mas a própria
alternativa explica que era um poeta que deveria transmitir a mensagem dos deuses, tema comentado
no fragmento dado.
Alternativa b, falsa. No fragmento se fala de profecia e não feitiçaria e nem menciona o período de seca.
Alternativa c, falsa. Na verdade, o texto fala de um deus que inspira o Aedo, mas não se diz que tal deus
quer impedir a difusão de cultos.
Alternativa d, falsa. O texto fala da visão e do que eles veem com os deuses, não menciona a escrita,
aliás os Aedos não escreviam, só declamavam, a tradição era oral.
Alternativa e, falsa. Não há referência à cidade-estado.
Gabarito: A
4. (UNESP 2011)
Parece notícia velha, mas a ciência e o ensino da ciência continuam sob ataque. No portal
www.brasilescola.com há um texto de Rainer Sousa, da Equipe Brasil Escola, que discute a origem do
homem. No final, o texto diz: “sendo um tema polêmico e inacabado, a origem do homem ainda será
uma questão capaz de se desdobrar em outros debates. Cabe a cada um adotar, por critérios pessoais, a
corrente explicativa que lhe parece plausível”. “Critérios pessoais” para decidir sobre a origem do
homem? A religião como “corrente explicativa” sobre um tema científico, amplamente discutido e
comprovado, dos fósseis à análise genética? Como é possível essa afirmação de um educador, em pleno
século 21, num portal que leva o nome do nosso país e se dedica ao ensino?
(Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo, 13.02.2011. Adaptado.)
O pensamento de Marcelo Gleiser é expresso por meio de uma;
a) perspectiva conciliatória entre religião e ciência acerca da origem do homem.
b) abordagem do conflito entre criacionismo e evolucionismo sob um ponto de vista liberal, defendendo
a liberdade individual para escolher qual adotar.
c) pressuposição de que a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin é anacrônica e, portanto,
inapropriada para explicar a origem do homem.
d) crítica da posição adotada pela Equipe Brasil Escola, por seu teor de irracionalismo.
e) pressuposição segundo a qual, no que tange à origem do homem, os critérios subjetivos devem
prevalecer sobre os critérios empíricos.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Marcelo Gleiser expõe que ciência e religião têm perspectivas opostas e
não conciliatórias em relação à origem do homem.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 109


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Alternativa "b" está incorreta. Em relação à origem do homem, Gleiser é da opinião que diante de um
tema tão discutido e comprovado por fósseis e genética, não é possível dizer que cada um tem a sua
opinião.
Alternativa "c" está incorreta. Gleiser não menciona Darwin, mas provavelmente leva o cientista em
consideração já que aceita a teoria da evolução das espécies.
Alternativa "d" está correta. Gleiser deixa claro que o ciência se pauta por critérios objetivos, acreditar
que eles são relativos significa abrir espaço para o irracionalismo que nega tais critérios.
Alternativa "e" está incorreta. Gleiser dá a entender que só aceita o que a ciência objetivamente
apresentou como prova da origem do homem e não aquilo que cada um deseja subjetivamente acreditar.
Gabarito: D
5. (UNESP 2016)
A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da
autoconsciência. No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a
lâmpada do pensamento que se ilumina a si própria, criando por si o seu mundo. Que um povo se
reconheça livre, eis o que constitui o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção
do nosso ser essencial no sentido de que a liberdade pessoal é a sua condição fundamental, e de que
nós, por conseguinte, não podemos ser escravos. O estar às ordens de outro não constitui o nosso ser
essencial, mas sim o não ser escravo. Assim, no Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria
filosofia. (Hegel. Estética, 2000. Adaptado.)
De acordo com o texto de Hegel, a filosofia
a) visa ao estabelecimento de consciências servis e representações homogêneas.
b) é compatível com regimes políticos baseados na censura e na opressão.
c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da racionalidade.
d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão e de liberdade.
e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de julgamento.
Comentário.
Alternativa a, falsa. Logo nos primeiros períodos do fragmento, Hegel afirma que a filosofia se relaciona
com “a liberdade da autoconsciência”.
Alternativa b, falsa. Se é necessária a liberdade para o desenvolvimento da filosofia, logicamente, em
sistemas autoritários, ela não prospera. Além disso, o pensador afirma “Que um povo se reconheça
livre, eis o que constitui o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil.”
Alternativa c, falsa. O autor não discute nesse fragmento as paixões.
Alternativa d, verdadeira. No texto, o autor defende a ideia de que “a liberdade pessoal” é condição
fundamental para a filosofia.
Alternativa e, falsa. O autor não discute isso no texto dele, mas sabe-se que Hegel postula uma razão
universal.
Gabarito: D

6. (UNESP 2018 )
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura
ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou
simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres cotidianos é vestida
com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação
experimental, depoimentos de “renomados” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São
casos típicos do que se costuma definir como “pseudociência”.
(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. In: Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.)
Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pseudocientíficos por meio

AULA 0 – FUNDAMENTOS 110


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

(A) da imposição de novos sistemas ideológicos.


(B) da confiança em teorias fundamentadas no senso comum.
(C) da ampla divulgação de ideias individuais.
(D) da preservação de saberes populares.
(E) da demonstração de ausência de evidências empíricas.
Comentário.
Alternativa a, falsa. Novos sistemas ideológicos (crenças) não garantem que a proposição feita sobre a
realidade seja verdadeira.
Alternativa b, falsa. O senso comum é a base do conhecimento pseudocientífico; a ciência é contrária ao
senso comum.
Alternativa c, falsa. O ponto de vista individual é sujeito a erros advindos dos sentidos.
Alternativa d, falsa. Os saberes populares são base da tradição e do preconceito; a ciência nasce do
rompimento com os saberes tradicionais.
Alternativa e, verdadeira. Para saber se a afirmação feita sobre o real é verdadeira, é preciso confrontar
o que se afirma com a realidade; ou seja, contrapor a tese às “evidências empíricas”.
Gabarito: E

7. (Autoral)
A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios
de comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidor e se
montar uma propaganda.
As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático.
(Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000)
Segundo a autora, qual o traço marcante da filosofia?
A) A sistematização metódica análoga a do método científico.
B) Total indiferença em relação ao que as pessoas pensam, sobretudo no mundo atual em que tudo é
reduzido à mercadoria.
C) Adoção de uma metodologia empírica, capaz de ir além do dogmatismo.
D) Uma procura constante de encontrar um discurso capaz de ir além do senso comum.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. É verdade que autora afirma que a filosofia é sistemática, mas não se trata
de uma sistematização “análoga” (semelhante) a do método científico.
Alternativa "B" está incorreta. A filosofia não é indiferente ao senso comum, ela discute o senso comum,
indo além dele.
Alternativa "C" está incorreta. Alguns filósofos foram empiristas outros não, esse não é o traço
fundamental da filosofia.
Alternativa "D" está correta. Logo no começo do fragmento, Marilena Chauí deixa claro que a Filosofia
não aceita o “achismo”, o seja, procura ir além do senso comum.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 111


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Gabarito: D
8. (Autoral)
A metáfora que os gregos usavam para valorizar o conhecimento e a razão era a de um barco à deriva que
precisa de um piloto que saiba como chegar com segurança a um determinado porto. Para eles, o
conhecimento tinha uma função ética (viver bem), estética (viver belamente). Nesse sentido, observar a
natureza era importante por quê?

a)permitiria o conhecimento da realidade exterior e o controle das paixões interiores.


b)ampliaria o sentimento de admiração diante dos deuses que haviam criado todas as coisas.
c)saciaria simplesmente a curiosidade humana.
d)levaria o observador a conhecer os princípios básicos do universo e entender sua harmonia.
e)proporcionaria mais conforto aos homens.
Comentário.
Alternativa "a" está correta. A metáfora sugere que o barco (corpo) precisa de um piloto (razão) para
analisar as situações em que se vive e escolher os melhores caminhos sem se deixar levar pelas
emoções.
Alternativa "b" está incorreta. Essa é uma metáfora filosófica cuja finalidade é explicar a importância da
razão; se a metáfora tivesse a finalidade de provocar a admiração pelos deuses, ela seria religiosa.
Alternativa "c" está incorreta. A função do piloto é prática, chegar a um porto seguro; ou seja, não se
trata de conhecer apenas pelo prazer do conhecimento.
Alternativa "d" está incorreta. Essa alternativa não capta o caráter necessário do conhecimento, não se
trata apenas de contemplação diante do universo, mas entendê-lo para chegar com segurança a um
“porto seguro”.
Alternativa "e" está incorreta. A metáfora não gira em torno de conforto material, mas de saber viver.
Gabarito: A
9. (Autoral)
“A filosofia é o aperfeiçoamento da alma humana através da apreensão das coisas e a confirmação das
verdades especulativas e práticas, de acordo com a capacidade humana. A filosofia relativa às coisas
especulativas, as quais devemos conhecer mas que não precisamos praticar, é chamada filosofia
especulativa. A filosofia relativa às coisas práticas as quais devemos conhecer e praticar, chama-se
filosofia prática.”
(Avicena. “ A filosofia e sua divisão”. In: Marçal, Jairo (org.). Antologia de textos Filosóficos. Curitiba:
SEED, P. 2009)

“Não é permitido haver nada de hipotético em nossas reflexões. Toda explicação tem que sair e em seu
lugar entrar apenas descrição. E esta descrição recebe sua luz, isto é, seu objetivo, dos problemas
filosóficos. Estes, sem dúvida, não são empíricos, mas são resolvidos por um exame do funcionamento de
nossa linguagem, ou seja, de modo que este seja reconhecido: em oposição a uma tendência de
compreendê-lo mal. Estes problemas não são solucionados pelo ensino de uma nova experiência, mas

AULA 0 – FUNDAMENTOS 112


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

pela combinação do que de há muito já se conhece. A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento de
nosso intelecto pelos meios de nossa linguagem.”
(Wittgenstein. “Investigações Filosóficas”. Marcondes, D. "Textos Básicos de Filosofia". Rio de Janeiro:
Zahar Editor Ltda, 2007.)
A partir da leitura dos dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. O texto 1 supõe uma função ética da filosofia, enquanto o texto 2 supõe que a função da filosofia é
manter o senso crítico aceso, ou seja, teria caráter epistemológico.
II. O Avicena, filósofo árabe que viveu entre os século X e XI c. C., valia-se da filosofia para reforçar a fé;
algo contra o qual Wittgenstein se opõe, na medida em que ele supõe ser a filosofia um antídoto contra
o enfeitiçamento religioso.
III. Avicena tem uma concepção bastante ampla de filosofia, enquanto Wittgenstein considera a
filosofia a partir da perspectiva linguística.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e III são corretas.
b) Somente as afirmações I e II são corretas.
c) Todas as afirmações são corretas
d) Somente as afirmações II e III são corretas.
e) Somente a alternativa I é correta.
Comentário.
Afirmação I está correta. A ideia de uma função ética da filosofia aparece no seguinte trecho do texto I
“A filosofia é o aperfeiçoamento da alma humana”; o texto II, por outro lado, supõe que a filosofia tem a
função de criticar a linguagem para não se deixar enfeitiçar por ela.
Afirmação II está incorreta. É possível que ao se colocar contra o enfeitiçamento da linguagem, a
filosofia mantenha uma relação crítica em relação à religião, mas Wittgenstein adverte contra o
enfeitiçamento da linguagem e não da religião.
Afirmação III está correta. Avicena considera a filosofia do ponto de vista especulativo ou prático, ou
seja, ela abarca várias atividades; para Wittgenstein, a filosofia age sobre a linguagem, um campo mais
restrito.
Gabarito: A
10. (Autoral)
“O relato mítico surge, então, como expressão do sentimento de separação e como tentativa de restaurar
a unidade e a inocência perdidas. Eis por que todo mito, como sustenta Mircea Eliade, é sempre um relato
das origens com finalidade instauradora. A forma de consciência que o produz apreende o tempo como
um agora permanente que, de algum modo, permanece grudado ao tempo das origens”.
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. Revista Philósophos 7. 35-56, 2002. São Paulo: PUC).

Esse texto revela um concepção do mito

a) arquetípica e totalizante.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 113


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

b) fantasiosa e alienante.
c) metafísica e mágica.
d) finalista e fragmentária.
e) mágica e restauradora.
Comentário.
Alternativa "A" está correta. A palavra “arquétipo” refere-se a um modelo original, do passado. No texto
dado, o autor afirma que o mito é “um relato das origens”. Quanto ao aspecto totalizante, isso pode ser
conferido no trecho em que o autor afirma que o mito representa a “tentativa de restaurar a unidade e a
inocência perdidas”.
Alternativa "B" está incorreta. Dizer que o mito é fantasioso e alienante são formas de menosprezar esse
tipo de conhecimento. Mircea Eliade faz o contrário exalta o mito.
Alternativa "C" está incorreta. Seria metafísica se o autor discutisse a função dos deuses dentro do mito,
mas nesse fragmento ele apenas discute a função psicológica do mito para as pessoas que acreditam nele.
Alternativa "D" está incorreta. O texto deixa claro que o mito procura restaurar a unidade e não
fragmentar os valores sociais.
Alternativa "E" está incorreta. O autor não destaca a passagem do mito à magia.
Gabarito: A
11. (Autoral)
Também aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo.
ARISTÓTELES, Metafísica, A 2, 982 b 18

“É certo que o lógos, assumindo progressivamente, na era clássica, o sentido de “discurso regrado” e, a
partir daí, o de “raciocínio” que remete à “razão”, ao “cálculo” e à “medida”, assumiu um uso filosófico
que tendia a se opor ao mito como narrativa sagrada. Entretanto, antes de chegar a uma oposição, mythos
e lógos estiveram unidos, pelo menos segundo a antiga etimologia que identifica mythos e palavra.”
(Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. In: Philósophos 2002.)
Comparando os dois textos, são feitas as seguintes afirmações:
I. Os textos parecem indicar perspectivas opostas no que se refere à relação entre filosofia e mito.
Aristóteles vê a filosofia como uma continuidade da fase mítica; já o segundo texto aponta para uma
diferença radical entre uma fase e outra: o mito se baseia em narrativas; a filosofia num discurso
metódico.
II. O texto II oferece um argumento decisivo contra a perspectiva aristotélica.
III. Tanto o primeiro texto quando o segundo fazem avaliação do mito segundo os mesmos parâmetros.
IV. O uso da expressão restritiva “até certo modo” em Aristóteles nos permite inferir que ele também
acreditava que mito e filosofia se opunham.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmações I e II são corretas.
b) As afirmações I, II e III são corretas.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 114


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

c) Todas as afirmações são corretas


d) Somente a afirmação I é correta.
e) As afirmações I e III são corretas.
Comentário.
Afirmação I está correta. Aristóteles considera o amigo do mito, uma espécie de filósofo, ou seja, há
continuidade; o texto II, ao analisar a linguagem, destaca uma diferença bastante grande entre uma e
outra.
Afirmação II está incorreta. O argumento da linguagem não é tão decisivo, afinal uma ideia filosófica
poderia ser expressa em forma mitológica, em alguns momentos Platão se utilizou desse expediente.
Afirmação III está incorreta. As afirmações se valem de premissas diferentes. Aristóteles se refere aos
temas que são comuns tanto a filósofos quanto a amantes do mito; o texto II tem como parâmetro de
julgamento não o tema, mas a linguagem.
Afirmação IV está incorreta. O termo restritivo foi utilizado apenas para salientar que há alguma
diferença, mas no fundo Aristóteles reconhecia que havia uma passagem suave do mito ao pensamento
filosófico.
Gabarito: D
12. (Autoral)
“A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a possibilidade
humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das condições de possibilidade da ação moral enquanto
realizada por liberdade e por dever. Com isso, a Filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e
tornava-se apenas conhecimento do homem enquanto ser racional e moral.”
(Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000),
A autora, nesse fragmento, considera a passagem da filosofia pré-socrática para a filosofia pós-socrática.
O que marca esses dois momentos é a passagem

a) da metafísica para a física.


b) da física para a filosofia antropocêntrica.
c) do naturalismo para o idealismo.
d) do materialismo para a filosofia espiritual.
e) da ciência para a epistemologia.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. A filosofia pré-socrática era sobre a physis, ou seja, ela não era metafísica
(com enfoque no sobrenatural) e a filosofia anterior não deu destaque à física.
Alternativa "b" está correta. A filosofia pré-socrática tinha como enfoque a transformação física do mundo
(algo muito parecido com a finalidade da física atual), com Sócrates, a filosofia “tornava-se apenas
conhecimento do homem enquanto ser racional e moral”.
Alternativa "c" está incorreta. Um conhecimento que se preocupa com a natureza pode ser chamado de
naturalista, nesse sentido, os pré-socráticos eram naturalistas. Contudo, a filosofia posterior era centrada

AULA 0 – FUNDAMENTOS 115


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

nas discussões sobre o comportamento humano e não somente no idealismo. É verdade que Platão era
idealista, mas Aristóteles não era. Essa alternativa restringe demais o significado da filosofia pós-socrática.
Alternativa "d" está incorreta Os pré-socráticos podem ser considerados materialistas, pois procuravam
causas materiais, mas o movimento posterior não era espiritualista.
Alternativa "e" está incorreta. Não se poderia chamar o conhecimento gerado pelos pré-socráticos de
científico, faltava método, e o que se seguiu não pode ser definido só pela epistemologia, como o texto
de Marilena Chauí deixa claro.
Gabarito: B
13. (Autoral)
“É por isso, Sócrates, que as pessoas nas cidades, especialmente em Atenas, consideram que deliberar
sobre os casos de excelência artística ou bom exercício da profissão é um assunto de poucos entendidos,
e se alguém de fora desse grupo faz qualquer deliberação, eles a rejeitam, como você diz, e com razão,
segundo penso. Mas quando se encontram para um conselho a respeito da arte política, em que devem
ser guiados pela justiça e pelo bom senso, naturalmente permitem as deliberações de todos, já que todos
têm de partilhar dessas virtudes, ou então o Estado não poderia existir.”
(Marcondes, D. “Textos básicos de Filosofia”. Rio de Janeiro: Zahar Editor Ltda, 2007)
Nesse fragmento, tirado de um diálogo de Platão, pode-se ler o embate entre Sócrates, que manifesta
ideias platônicas, e Protágoras, um grande sofista. A partir da leitura do texto e do seu conhecimento
sobre as ideias de Platão e dos sofistas, assinale a alternativa correta.
a) Para Protágoras, a justiça deve ser encontrada no consenso da praça pública, algo com o qual Platão
não concorda.
b) Tanto Platão quanto Protágoras acreditam numa justiça ideal além das circunstâncias cotidianas.
c) Segundo Protágoras, sem um ideal de justiça emanado daqueles que têm a sabedoria, não há genuíno
Estado.
d) Protágoras ironiza o saber proporcionado pela arte e valoriza a política; Platão faz exatamente o
contrário.
e) Protágoras deixa claro que há duas espécies de pessoas, os entendidos e a grande massa, somente os
primeiros deveriam ser ouvidos na política.
Comentário.
Alternativa "A" está correta. Protágoras é sofista, defendia que a justiça deveria ser deliberada através
do consenso, como se observa no seguinte trecho: “quando se encontram para um conselho a respeito
da arte política”. Para Platão, a justiça ideal está acima das opiniões.
Alternativa "B" está incorreta. A concepção de uma justiça além das circunstâncias é de Platão; Protágoras
não concordaria com isso.
Alternativa "C" está incorreta. A ideia de que somente sábios podem construir um Estado perfeito é
platônica, não é sofista.
Alternativa "D" está incorreta. Protágoras não ironiza o saber proporcionado pela arte, ele simplesmente
comenta a diferença entre arte e política; em relação à arte, especialistas são capazes de dar o veredito
final; na política, não há especialista. Além disso, Platão não considera a arte superior à política.
Alternativa "E" está incorreta. Essa ideia de uma aristocracia de sábios era defendida por Platão e não
por Protágoras.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 116


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Alternativa: A
14. (Autoral)
“De todos os argumentos por meio dos quais demonstramos a existência das ideias, nenhum é
convincente. Alguns dentre eles não conduzem a uma conclusão necessária e outros conduzem a ideias
de coisas das quais, na nossa opinião [sc. nós os platonistas], não pode haver ideias. Com efeito, segundo
os argumentos provenientes da existência das ciências (ἐκ τῶν ἐπιστηµῶν) haverá ideias de todas as
coisas das quais houver ciência; segundo o argumento da unidade de uma multiplicidade (τὸ ἕν ἐπὶ
πολλῶν), haverá ideias mesmo de negações (ἀποφάσεων); enfim, segundo o argumento de que é possível
pensar o perecido (τὸ νοεῑν τι φθαρέντος), haverá ideias de coisas perecíveis, pois podemos ter destas
coisas uma imagem.
(Aristóteles. A metafísica)
O texto acima de Aristóteles discute uma postura contrária a do seu mestre Platão no que se refere
a) à forma de argumentar, já que Platão por utilizar de analogias e até mitos não consegue ser
convincente.
b) ao apelo a um tipo de ciência que não se baseava em conhecimento observável.
c) à confusão entre unidade e multiplicidade, já que Platão não demarcava com precisão essas duas
categorias.
d) à existência do mundo ideal, já que Platão não conseguiu provar a existência do idealismo.
e) à ideia de negação das coisas perecíveis por Platão, já que para ele aquilo que perece não existe.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Aristóteles não se refere ao uso de analogia e mitos como motivo para
questionar as ideias de Platão.
Alternativa "b" está incorreta. O uso que Aristóteles faz da palavra “ciência” no texto não tem nada a ver
com o conceito de ciência atual e com os requisitos de observação da realidade.
Alternativa "c" está incorreta. Platão circunscreveu muito bem multiplicidade e unidade; o mundo
inteligível era o lugar da unidade; o mundo sensível era o lugar da multiplicidade.
Alternativa "d" está correta. Logo no início do parágrafo, Aristóteles deixa claro qual sua intenção,
questionar a teoria do mundo das ideias, “De todos os argumentos por meio dos quais demonstramos a
existência das ideias, nenhum é convincente.”
Alternativa "e" está incorreta. Platão não defendia que as coisas perecíveis não existem, defendia apenas
que elas eram imperfeitas e sombras de um mundo perfeito.
Gabarito: D
15. (Autoral)
Segundo o dicionário, maiêutica significa “método socrático que consiste na multiplicação de perguntas,
induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um
objeto”. Sócrates, ao aplicar esse método, investia contra
a) a relatividade das ditas verdades.
b) a censura da liberdade de expressão.
c) a pseudo infalibilidade dos dogmas.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 117


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

d) a arrogância do orgulho intelectual.


e) a certeza das ciências naturais.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. Sócrates não tentava, com esse procedimento, mostrar que as verdades
eram relativas, ao contrário, ele acreditava que havia sim verdades a serem descobertas.
Alternativa "B" está incorreta. A censura à liberdade de expressão não era um problema contra o qual se
deveria lutar.
Alternativa "C" está incorreta. Sócrates não investia somente contra dogmas religiosos, se bem que
poderiam também ser alvo de suas perguntas.
Alternativa "D" está correta. As perguntas de Sócrates levavam as pessoas a negarem o que tinham dito
anteriormente; ao final da maiêutica, o indivíduo, humilhado por ter sido incoerente, descobre que nada
sabe sobre assuntos fundamentais.
Alternativa "E" está incorreta. Sócrates não discutia com as pessoas sobre o mundo físico, mas sobre
valores éticos.
Gabarito: D

16. (Autoral)

Para responder a próxima questão, observe o texto abaixo.

"Estou mais interessado no microcosmo do que no macrocosmo. Estou mais interessado em como um
homem vive do que em como uma estrela morre, em como uma mulher abre seu caminho no mundo do
que em como um cometa risca o céu. O mistério humano, e não a condição do cosmos, é o que me fascina"
(Sherwin Nuland)

Assinale a alternativa correta.

a)Esse trecho expressa a ideia de Parmênides, na medida em que o autor fala que o que interessa é o
mistério humano, mistério característico do Ser de Parmênides.

b)Esse trecho expressa a ideia de Heráclito, na medida em que o autor fala vida e da morte do ser
humano, ou seja, do caráter mutável da vida e do universo.

c)Esse trecho expressa a ideia dos pré-socráticos que se preocupavam com a physis, por isso o autor se
refere a morte da estrela.

d)Esse trecho expressa a virada ética, na medida em que o autor se refere a duas formas de refletir
sobre a realidade manifestando preferência pelo ética.

e)Esse trecho expressa a visão socrática sobre a morte, pois o autor fala sobre o mistério humano, ou
seja a vida pós a morte, mesma preocupação que Sócrates manifesta no momento de sua morte
quando discorre sobre o que virá depois da vida.

Comentário:

AULA 0 – FUNDAMENTOS 118


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Alternativa a, falsa. Parmênides, ao falar do ser, fala de algo difícil de compreender, do universo, da
natureza, não do mistério da interioridade humana.

Alternativa b, falsa. O autor fala que está interessado na vida e morte das pessoas e não na vida e morte
das estrelas, ou seja, o tema do texto não é a mutabilidade das coisas, mas o interesse que o mundo
humano desperta no autor.

Alternativa c, falsa. É verdade que há uma alusão a algo parecido que preocupava os pré-socráticos, a
morte de uma estrela, mas o autor se interessa pelo humano e não pelo mundo natural.

Alternativa d, verdadeira. O autor fala do conhecimento da natureza e do conhecimento do mundo


humano e o último o atrai.

Alternativa e, falsa. O fragmento não discute a vida após a morte.

Gabarito: D
17. (Autoral)
“Sócrates: [...] Protágoras admitiu que alguns indivíduos superavam outros no que tange ao melhor e ao
pior, sendo esses indivíduos os sábios. [...]
Sócrates: [...] ele diz, não é mesmo “que aquilo que aparece a cada indivíduo efetivamente é para aquele
a quem aparece”.
[...]
Sócrates: [...] então, Protágoras, também expressamos as opiniões de um ser humano, ou melhor, de
todos os seres humanos, e dizemos que ninguém há que não se julgue mais sábio do que os outros em
certas matérias, e outros mais sábios do que ele próprio em outras matérias. [...] E todo o mundo humano,
ouso dizer, torna-se repleto de pessoas que buscam mestres e chefes para si, para outros seres vivos e
para a direção de todas as atividades humanas; e, por outro lado, de pessoas que se julgam
qualificadas para ensinar e para chefiar. E, observando todos esses casos, é imperioso dizermos que os
próprios seres humanos creem que sabedoria e ignorância existem entre os seres humanos.
[...]
Sócrates: E, portanto, julgam que a sabedoria é o pensar verdadeiro e a ignorância, a opinião falsa.
(PLATÃO, Teeteto. In: PLATÃO. Diálogos I: Teeteto (ou do conhecimento), Sofista (ou do ser), Protágoras
(ou sofistas). Tradução, textos complementares e notas de Edson Bini. Bauru/SP: EDIPRO, 2007)

Esse é um fragmento do Teeteto de Platão. Texto no qual, Platão, por meio de seu personagem Sócrates,
expõe sua ideia sobre o que deve ser o conhecimento. No trecho, o autor discute a ideia de Protágoras.
Nos trechos acima apresentados, Platão

a) manifesta a concepção de que a verdade em si mesma é incompreensível para os homens.


b) expressa seu desprezo pelo relativismo sofístico, ao recusar argumentar com seus oponentes.
c) destaca o paradoxo em que se envolvem aqueles que defendem o relativismo.
d) considera a importância de mestres e sábios para que o conhecimento avance.
e) define o conhecimento em termos de escolha, entre seguir sábios ou ignorantes.

Comentário.
Alternativa “a” está incorreta. Nesse diálogo, Sócrates se coloca contra Protágoras, que defendia a
relatividade das ideias expostas como verdade. Para o oponente de Sócrates a verdade não era acessível

AULA 0 – FUNDAMENTOS 119


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

para os homens. Ideia oposta a de Platão e de Sócrates, autores que acreditavam ser possível chegar à
verdade.
Alternativa "b" está incorreta. O desprezo não fica claro no texto, mas nitidamente, Sócrates está contra-
argumentando, ou seja, é falso que ele estaria se recusando a argumentar.
Alternativa "c" está correta. Sócrates, ao contra-argumentar Protágoras, que defendia o relativismo,
considera que o que há de paradoxal na ideia do seu opositor. O sofista afirma que qualquer verdade é
válida, mas considera que há opiniões melhores. A dedução é clara: se há melhores é porque há aquelas
que são falsas e outras que não são. Para Sócrates, Protágoras é incoerente.
Alternativa "d" está incorreta. A menção a sábios faz parte da argumentação de Sócrates para provar que
há verdades, pois a própria humanidade intuitivamente reconhece como sábio aquele que se aproxima
das ideias melhores.
Alternativa "e" está incorreta. O autor não discute nesse fragmento a relação entre mestres e discípulos.
Gabarito: C

18. (Autoral)
As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessária e universalmente, não podendo de modo
algum ser diferente do que é e de como é... As verdades de razão são inatas.
(...)
As verdades de fato são empíricas e se referem a coisas que poderiam ser diferentes do que são, mas que
são como são porque há uma causa para que sejam assim.
((Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000).

Nesse fragmento, Marilena Chauí distingue os dois tipos de verdade, termo que se tornou consagrado
quando se discute os tipos de verdades as quais os homens podem chegar.
A partir das definições apresentadas, assinale a alternativa que exemplificaria uma das verdades
mencionadas.
a) Verdades de fato: a existência de Deus.
b) Verdades de razão: 2 + 2 = 4.
c) Verdades de razão: a terra é redonda.
d) Verdades de fato: O triângulo tem três lados.
e) Verdades da razão: eu estou triste.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. As verdades de fato devem ser empíricas. As provas da existência de Deus
são dedutivas, logo não podem ser verdades de fato.
Alternativa "b" está correta. A verdade das matemáticas é inata, ou seja, é uma aptidão humana e
universal a todos os homens.
Alternativa "c" está incorreta. A ideia de que a terra é redonda não é inata, se fosse, todas as civilizações
teriam essa mesma teoria sobre a terra. Não pode ser uma verdade de razão.
Alternativa "d" está incorreta. O triângulo ter três lados é como uma verdade matemática, ou seja, é uma
verdade da razão.
Alternativa "e" está incorreta. “Eu estou triste” pode ser uma verdade subjetiva, depende da disposição
de quem fala, ou seja, não pode ser considerada “verdade” no sentido universal, aquilo que vale para
todos.
Gabarito: B

19.(Autoral)

AULA 0 – FUNDAMENTOS 120


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

“Em A República, Platão parte do princípio segundo o qual o conhecimento é proporcional ao ser,
de modo que aquilo que é ser em grau máximo pode, com exclusividade, ser perfeitamente
conhecido, posto que o não-ser é absolutamente incognoscível. Entretanto, como existe uma
realidade intermediária entre o ser e o não-ser, isto é, o sensível, que é uma mescla de ser e não-
ser enquanto sujeito ao devir, Platão acaba por concluir que também desse "intermediário" existe
um conhecimento igualmente intermediário entre ciência e ignorância: um tipo de conhecimento
que não se identifica com o conhecimento verdadeiro, cujo nome é "opinião" (doxa).”
Reale, G & Antiseri, D. “História da Filosofia”, vol.I. São Paulo: Paulus, 1990

A partir desse fragmento de um comentador e das ideias de Platão, são feitas as seguintes afirmações:
I. As ideias, por serem perfeitas e imateriais, não podem ser conhecidas, somente intuídas.
II. A opinião é um conhecimento intermediário, no qual verdade e falsidade se mesclam.
III. O mundo em que vivemos, sensível, também é intermediário.
IV. A opinião é apropriada ao mundo sensível; o conhecimento, ao mundo inteligível.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa III é verdadeira.
b) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras

Comentário.
Para responder a essa questão, era preciso relembrar a distinção que Platão faz entre mundo inteligível e
mundo sensível. O primeiro se refere ao mundo das ideias perfeitas que servem de modelo ao mundo em
que vivemos. Elas são perfeitas e, por isso, a visão delas pode nos levar ao conhecimento. Já aquilo que
nós percebemos pelos sentidos desse mundo material é uma cópia imperfeita da ideias verdadeiras.
Afirmação I está incorreta. Para Platão, as Ideias tinham existência e eram perfeitas, ou seja, elas
representavam o ser das coisas em sua plenitude, por isso elas poderiam ser conhecidas. O comentador
deixa isso claro no seguinte trecho “de modo que aquilo que é ser em grau máximo pode, com
exclusividade, ser perfeitamente conhecido”.
Afirmação II está correta. Pode-se perceber a verdade dessa assertiva nos trechos finais do
fragmento: “um conhecimento igualmente intermediário entre ciência e ignorância: um tipo de
conhecimento que não se identifica com o conhecimento verdadeiro, cujo nome é ‘opinião’".
Afirmação III está correta. Platão, quando fala do nosso mundo, refere-se ao sensível. No texto, o
comentador de Platão deixa claro que, para o filósofo, essa realidade material na qual estamos
inseridos é também intermediária. Isso pode ser comprovado no seguinte trecho: “o sensível, que é
uma mescla de ser e não-ser”.
Afirmação IV está correta. No final do texto, fica claro que, para Platão, a opinião reflete o mundo
sensível; o comentário seguinte é apropriado às ideias de Platão, o verdadeiro conhecimento tem
como objeto as ideias do mundo inteligível.
Gabarito: C

20. (Autoral)

Texto 1

O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma
simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente

AULA 0 – FUNDAMENTOS 121


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar
conceitos.

(Gilles Deleuze e Félix Guattari. O que é a filosofia?, 2007.)

Texto 2

A língua é um “como” se pensa, enquanto que a cultura é “o quê” a sociedade faz e pensa. A língua,
como meio, molda o pensamento na medida em que pode variar livremente. A língua é o molde dos
pensamentos.

(Rodrigo Tadeu Gonçalves. Perpétua prisão órfica ou Ênio tinha três corações, 2008. Adaptado.)

Os textos levantam questões que permitem identificar uma característica importante da reflexão
filosófica, qual seja, que

(A) a mutabilidade da linguagem amplia o conhecimento do mundo.

(B) a cultura é constituída a partir da especulação teórica.

(C) o conhecimento evolui a partir do desenvolvimento tecnológico.

(D) a filosofia estabelece as balizas e diretrizes do fazer científico.

(E) os conceitos são permanentes e derivados de verdades preestabelecidas.

Comentário.

Trata-se de uma questão de interpretação de texto que envolve um pouco de conhecimento da


dinâmica da filosofia: construção, crítica e reelaboração de conceitos. Ora, um conceito é um expediente
linguístico e, como tal, está submetido à cultura.

Alternativa "a" está correta. Se o conceito faz parte da língua, e a filosofia se pauta pela criação de
linguagem, logo, a ampliação da linguagem permite conhecer melhor o mundo.

Alternativa "b" está incorreta. O texto 2 deixa claro que a cultura é como a sociedade “pensa e faz”, ou
seja, ela está acima da produção teórica, é mais ampla que isso.

Alternativa "c" está incorreta. Nenhum dos dois textos menciona qualquer palavra que indicie
tecnologia e ciência. Os temas giram em torno da cultura, língua e conceitos.

Alternativa "d" está incorreta. Não se observa qualquer palavra que relacione os textos à ciência, o tema
central é filosofia e conceito, no caso do primeiro; língua e cultura, no caso do segundo.

Alternativa "e" está incorreta. A ideia de que os conceitos são permanentes não tem apoio no texto,
pelo contrário como se observa na seguinte afirmação: “os conceitos não são necessariamente formas,
achados ou produtos”.

Gabarito: A

AULA 0 – FUNDAMENTOS 122


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

21. (Uel 2015)


Leia os textos a seguir.

Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.

Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e
Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá
Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria
sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens.
“A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014.

No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo
estavam Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz,
feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de
Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.

Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere
as afirmativas a seguir.

I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que
concebem o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena
tudo que existe.
II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e
impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada
comunidade.
III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar
determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião
provável ao exprimir o vir-a-ser.
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de
qualquer correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e
o narrado.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 123


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.


e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Comentário:
Afirmação I, verdadeira. O grande mito de cada civilização começa com os deuses primordiais gerando
outros deuses que ordenarão o mundo dos homens; isso era uma espécie de garantia de que o universo
teria um sentido.
Afirmação II, verdadeira. Por fabuloso deve-se entender uma história cheia de peripécias que apelam para
a imaginação e que envolvem a presença de deuses; esses deuses se envolvem na formação do povo,
como por exemplo, a Guerra de Tróia, que fundou o povo grego.
Afirmação III, verdadeira. Platão desqualifica o mito como fonte única do saber, ele é como uma sombra,
mas a sombra tem algo de verdade; pode-se perceber isso pelo fato de, em muitos diálogos, ele utilizar
como ponto de partida mitos que depois são aprofundados pelo seu raciocínio.
Afirmação IV, falsa. Principalmente como alegoria, o mito sempre permite correspondência com o real.
Por exemplo, o mito de Apolo, ou seja, do céu, tem clara correspondência com o movimento do astro,
afinal o deus tem seu carro de fogo e o dirige todos os dias. Nesse sentido, o mito é uma forma de
expressar o mundo em movimento (o vir a ser).
Gabarito: D
22. (Uema 2015)
Leia a letra da canção a seguir.

Nada do que foi será


De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo [...]

Fonte: SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de Janeiro: Sony-
BMG, 2004.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 124


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a realidade passando como uma onda,
assim também pensaram os primeiros filósofos conhecidos como Pré-socráticos que denominavam a
realidade de physis. A característica dessa realidade representada, também, na música de Lulu Santos é
o(a)
a) fluxo.
b) estática.
c) infinitude.
d) desordem.
e) multiplicidade.
Comentário.
Alternativa "a" está correta. A ideia de que tudo passa, defendida por Heráclito, se relacionava ao fluxo
do tempo, algo claro na metáfora que ele fazia entre a passagem do tempo e o rio, ele dizia “para os
mesmo rios, correm outras águas”.
Alternativa "b" está incorreta. O eu lírico diz “tudo sempre passará”, portanto, para Lulu Santos a
realidade não é estática.
Alternativa "c" está incorreta. É verdade que ao eu lírico fala em infinitude no verso “Num indo e vindo
infinito”, mas observe que esse não é o tema principal, o infinito nesse caso reforça a ideia de passagem
do tempo, já que ele menciona “indo” e “vindo”.
Alternativa "d" está incorreta. Não há palavras na poesia de Lulu Santos que possam ser associadas à
desordem.
Alternativa "e" está incorreta. Só indiretamente, o eu lírico fala de multiplicidade, por mencionar que
aquilo que foi visto há um segundo não se vê mais; esse não é o tema principal.
Gabarito: A
23. (Unioeste 2013)
“Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as
coisas, difere da concepção de Tales, que considera a água o princípio original do mundo; seja como for,
é evidente que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as partes
da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão construtiva e uma perfeita
coerência na ordem racional e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda
apresenta uma irreprimível pujança de criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as
doutrinas dos “fisiólogos”, nos primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia conceber
a atividade prodigiosa que se expande na criação das concepções filosóficas do período mais antigo da
ciência.”
Werner Jaeger.

Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo:

I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do uso do pensamento racional.


II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do uso do pensamento mítico.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 125


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como princípio original do mundo, rompe,
definitivamente, com o pensamento mítico.
IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o
mito do julgamento das almas.
V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da
natureza (Physis).

Das afirmativas feitas acima


a) apenas a afirmação V está correta.
b) apenas as afirmações III e V estão corretas.
c) apenas as afirmações II e IV estão corretas.
d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas.
e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas.
Comentário.
Afirmação I está correta. No começo do texto de Jaeger, observa-se a seguinte afirmação “não é fácil
definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas, difere
da concepção de Tales”, ou seja, não é possível saber se o pensamento racional começou antes.
Afirmação II está correta. A afirmação inicial de Jaeger não permite determinar quando começa a filosofia
e quando termina o pensamento mitológico.
Afirmação III está incorreta. O autor do texto deixa claro que ideia de água de Tales tem conexão com a
ideia expressa nos poemas homéricos de que “o Oceano é a origem de todas as coisas”.
Afirmação IV está correta. Platão se vale muitas vezes da estrutura dos mitos, basta lembrar a alegoria
da caverna, como também de partes das narrativas homéricas.
Afirmação V está incorreta. Os pré-socráticos eram filósofos que se preocupavam com o elemento físico
primordial de composição da natureza.
Gabarito: D
24. (Ufu 2013)
A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada
num exercício especulativo-racional. De fato, “[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito
ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento
epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”.
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.

Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.
a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua
metodologia.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 126


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber


prático fundamental para a vida cotidiana.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica
elaborada, crítica e radical, baseada no logos.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. O texto não afirma que “a mentalidade pré-filosófica grega é típica de um
intelecto primitivo”, afirma, na verdade, que está “ancorada num exercício especulativo-racional”.
Alternativa "b" está incorreta. A filosofia não adotou o método do mito, aliás, não método na explicação
mitológica do mundo.
Alternativa "c" está correta. No trecho “não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe
serve)” dá entender que o mito ainda tem espaço social, mas não tem espaço no que diz respeito a esse
pensamento regrado, ou seja, limita-se a um tipo de expressão de valores práticos.
Alternativa "d" está incorreta. A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões poéticas da perspectiva
mítico-religiosa.
Gabarito: C
25. (Ueg 2019)
Considerando a história contada por Platão no livro VII da República, mais conhecida como Mito da
Caverna, podemos deduzir que:
a) o homem, apesar de nascer bom, puro e de posse da verdade, pode desviar-se e passar a acreditar em
outro mundo mais perfeito de puras ideias.
b) não podemos confiar apenas na razão, pois somente guiados pelos sentimentos e testemunhos dos
sentidos poderemos alcançar a verdade.
c) a caverna, na alegoria platônica, representa tudo aquilo que impede o surgimento da consciência
filosófica, que possibilitaria uma ascensão para o mundo inteligível.
d) a razão deve submeter-se aos testemunhos dos sentidos, pois a verdade que está no mundo inteligível
só será atingida mediante a sensibilidade.
e) os homens devem se libertar da crença na existência em outro mundo e buscar resolver seus conflitos
aprofundando-se em sua interioridade.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. No mito da caverna, a alma já tem em si a Verdade, Beleza e o Bem, mas
o fato de estar presa ao corpo a leva ao desvio em relação à verdade.
Alternativa "b" está incorreta. O mundo inteligível só é acessível pela razão.
Alternativa "c" está correta. A caverna representa o mundo sensível que nos engana e não deixa
enveredar pela razão.
Alternativa "d" está incorreta. Os sentidos estão relacionados ao mundo da caverna.
Alternativa "e" está incorreta. Platão supõe que só o conhecimento do mundo inteligível, o outro
mundo, permite que o indivíduo chegue a realizar uma política perfeita que resolveria os problemas
humanos.
Gabarito: C

AULA 0 – FUNDAMENTOS 127


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

26. (Unesp 2010)


Texto 1
Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas: ou o morto não tem absolutamente nenhuma
existência, nenhuma consciência do que quer que seja, ou, como se diz, a morte é precisamente uma
mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para um outro. Se, de fato, não há
sensação alguma, mas é como um sono, a morte seria um maravilhoso presente. […] Se, ao contrário, a
morte é como uma passagem deste para outro lugar, e, se é verdade o que se diz que lá se encontram
todos os mortos, qual o bem que poderia existir, ó juízes, maior do que este? Porque, se chegarmos ao
Hades, libertando-nos destes que se vangloriam serem juízes, havemos de encontrar os verdadeiros
juízes, os quais nos diria que fazem justiça acolá: Monos e Radamante, Éaco e Triptolemo, e tantos outros
deuses e semideuses que foram justos na vida; seria então essa viagem uma viagem de se fazer pouco
caso? Que preço não seríeis capazes de pagar, para conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero?

(Platão. Apologia de Sócrates, 2000.)


Texto 2
Ninguém sabe quando será seu último passeio, mas agora é possível se despedir em grande estilo. Uma
300C Touring, a versão perua do sedã de luxo da Chrysler, foi transformada no primeiro carro funerário
customizado da América Latina. A mudança levou sete meses, custou R$ 160 mil e deixou o carro com
oito metros de comprimento e 2 340 kg, três metros e 540 kg além da original.
O Funeral Car 300C tem luzes piscantes na já imponente dianteira e enormes rodas, de aro 22, com direito
a pequenos caixões estilizados nos raios. Bandeiras nas pontas do capô, como nos carros de diplomatas,
dão um toque refinado. Com o chassi mais longo, o banco traseiro foi mantido para familiares
acompanharem o cortejo dentro do carro. No encosto dos dianteiros, telas exibem mensagens de
conforto. O carro faz parte de um pacote de cerimonial fúnebre que inclui, além do cortejo no Funeral Car
300C, serviços como violinistas e revoada de pombas brancas no enterro.
(Funeral tunado. Folha de S.Paulo, 28.02.2010.)

Após análise dos dois textos, pode-se afirmar que:


a) o texto 1 é de natureza fictícia, e portanto não baseado em fatos históricos.
b) Platão não apela a entidades míticas para justificar sua concepção positiva sobre a morte.
c) Platão faz alusão a um fato histórico fundamental para a filosofia ocidental: as circunstâncias da
morte de Sócrates.
d) o texto 2 trata do caráter sagrado e religioso dos funerais em nossa sociedade.
e) o texto 1 evidencia que a morte não é um tema filosófico.
Comentário:
Alternativa a, falsa. O texto 1 é baseado em fatos reais, trata-se da narrativa de Platão dos últimos
momentos de vida de seu mestre Sócrates.
Alternativa b, falsa. No texto, Sócrates fala sobre o Hades, que é um lugar mítico, e menciona Orfeu,
personagem lendário dos gregos.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 128


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Alternativa c, verdadeira. A morte de Sócrates coroou os ensinamentos do mestre, pois o fato tornou a
atitude socrática mais digna de louvor, dado que o pensador preferiu morrer a deixar de seguir seus ideais.
Alternativa d, falsa. O texto 2 é um texto publicitário, no qual a morte serve como motivo para incentivar
o consumo ligado ao funeral.
Alternativa e, falsa. Nesse texto, Sócrates faz um discurso que, além de demonstrar como fazer um bom
argumento, ainda expressa vários valores éticos próprios do pensar filosófico.
Gabarito: C
27. (UFU/2015.2)
Somente uns poucos indivíduos, se aproximando das imagens através dos órgãos dos sentidos, com
dificuldade nelas entreveem a natureza daquilo que imitam.
PLATÃO. Fedro. In: ______. Diálogos socráticos. v. 3. Tradução de Edson Bini. Bauru/SP: Edipro, 2008, p.
64 [250b].
Assinale a alternativa que explicita a teoria de Platão apresentada no trecho acima.
A. A teoria materialista que fixa a imagem como o reflexo de corpos físicos que constituem a única
realidade existente.
B. A teoria das ideias que estabelece a distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível, sendo
que as imagens captadas pelos sentidos humanos despertam a alma para as ideias que habitam o
mundo inteligível.
C. A teoria existencialista que delimita o espaço vital do homem e lhe impede de transcender para além
do mundo sensível.
D. A teoria niilista que admite dois mundos, mas que nega qualquer possibilidade de conhecimento das
coisas e das ideias.
Comentário:
A alternativa A está incorreta. A teoria de Platão não é de cunho materialista, mas sim idealista, uma vez
que, para ele, a realidade está no mundo das ideias de maneira perfeita e as coisas, ou objetos do mundo
material, são cópias imperfeitas daquelas ideias.
A alternativa B está correta. A teoria das ideias é aquela que dá conta justamente do que está colocado
por Platão em Fedro. Segundo ela, aquilo a que temos acesso por meio de nossos sentidos é a experiência
das coisas, cópias imperfeitas das ideias absolutas e imutáveis que nesse outro mundo se encontram. É
pelo uso da razão que o homem consegue ascender das percepções falhas às verdades puras.
A alternativa C está incorreta. A teoria platônica não é existencialista, essa corrente filosófica teve sua
existência entre os séculos XIX e XX e, para eles, o pensamento filosófico partia da experiência humana,
enquanto, para Platão, as verdades são inatas, e a própria existência do homem vem desse mundo ideal
e verdadeiro que é transcendente e está além do mundo sensível, é para lá que aponta a razão humana.
A alternativa D está incorreta. O niilismo remonta aos séculos XVIII e, principalmente, XIX e XX. Essa
corrente filosófica é, em sua essência, anti-idealista, nesse sentido, contrária às ideias propostas por
Platão. Segundo essa visão, o que existe é a vida, o que está no mundo, e isso ainda sem um sentido ou
objetivo definido.
Gabarito: B

28. (UFU/ 2013)


A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada
num exercício especulativo-racional. De fato, ―[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito
ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento
epistêmico de tipo próprio: empírico e racional

AULA 0 – FUNDAMENTOS 129


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

‖. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.


Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.
a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua
metodologia.
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber
prático fundamental para a vida cotidiana.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica
elaborada, crítica e radical, baseada no logos.
Comentários:
Alternativa A incorreta. A expressão mitológica e religiosa não corresponde a sociedades selvagens. Trata-
se de uma expressão comum a diversas sociedades.
Alternativa B incorreta. A filosofia institucionalizou uma forma de pensar pautada na racionalidade. O
mito não é a base da especulação teórica; trata-se de dois campos distintos.
Alternativa C correta. O meio religioso grego estava fortemente associado às atividades cotidianas, e
serviam como forma de organização de diversas esferas: plantio e colheita, relacionamentos sociais,
práticas bélicas, dentre outros.
Alternativa D incorreta. A Ilíada e a Odisseia são expressões da mentalidade mítico-religiosa, tendo em
vista que o componente religioso é presente ao longo das duas obras.
Gabarito: C

29. (UFU/ 2013)

De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-socrático expressa um princípio de movimento


por meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe. A doutrina de Parmênides, no entanto, tal
como relatada pela tradição, aboliu esse princípio e provocou, consequentemente, um sério conflito no
debate filosófico posterior, em relação ao modo como conceber o ser.
Para Parmênides e seus discípulos:
a) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em que o movimento está em tudo o que existe.
b) O movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um não-ser.
c) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de imaginação especulativa.
d) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade empírica é puro ser,
ainda que em movimento.
Comentários:
Alternativa A incorreta. A imobilidade, de acordo com Parmênides, é um princípio que permeia o ser.
Alternativa B correta. Enquanto o ser assume uma posição de imutabilidade, o não-ser tem como
correspondência a mudança.
Alternativa C incorreta. Para Parmênides, um ser que jamais muda existe. O ser é uma posição imutável
dentro da teoria de Parmênides.
Alternativa D incorreta. Como expresso nas alternativas anteriores, diferentemente de Heráclito, que
pressupunha a presença de movimento e transformação da matéria, Parmênides defendia que o Ser é
uma instância imutável.
Gabarito: B

30. (UFU/ 2013)

AULA 0 – FUNDAMENTOS 130


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os
seus ensinamentos sob a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo como a forma
por excelência do exercício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima.
De acordo com a doutrina socrática,
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia.
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é, portanto, de natureza
sofística.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos é sanada pelo homem, medida de
todas as coisas.
Comentários:
Alternativa A correta. A visão antropocêntrica está presente em uso metódico da razão de forma a
compreender os assuntos filosóficos. Sócrates defende que uma forma de conhecer é pôr em xeque os
conceitos estabelecidos, questionando-os em busca de uma essência.
Alternativa B incorreta. A especulação filosófica encontra-se no diálogo e na maiêutica.
Alternativa C incorreta. Um dos preceitos da filosofia socrática é “conhece-te a ti mesmo.” Logo,
autoconhecimento não é uma impossibilidade.
Alternativa D incorreta. É possível responder às dúvidas que possuímos através do cultivo do
questionamento (maiêutica).
Gabarito: A

31. (Enem 2012/2ª aplicação)


Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se
desprezar as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, nenhum homem honesto
pode ignorar que uma outra atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em
razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir seu sentido último.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002.
Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do pensamento Ocidental. No texto, é
ressaltado importante aspecto filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais, refere-se à
a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade.
b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas.
c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade.
d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade.
e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Nenhum dos dois autores acreditava na adoção do senso comum com
critério de verdade.
Alternativa "b" está incorreta. Os dois autores acreditavam que a razão era capaz de confirmar o
conhecimento em relação ao mundo.
Alternativa "c" está incorreta. Aristóteles até partia da experiência para chegar a abstrações racionais
sobre o mundo, mas Platão desqualificava a experiência como fonte de conhecimento verdadeiro.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 131


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Alternativa "d" está incorreta. Honestidade é um padrão moral, não se aplica a questões relacionadas ao
conhecimento. Alguém pode ser honesto e não se preocupar se o que se diz é verdadeiro ou falso.
Alternativa "e" está correta. O texto de Zingano explicita muito bem qual foi a novidade do pensamento
filosófico e, portanto, dos fundadores da filosofia, Platão e Aristóteles. Ele afirma que depois da filosofia
grega ninguém mais pode desconsiderar a atitude intelectual de “adotar crenças com base em razões e
evidências”, ou seja, a verdade deve ser justificada pela razão.
Gabarito: E
32. (Enem 2012)
TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e
que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo
que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais
condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e
quando condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras.

BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).

TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do
mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as
especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro
elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a
impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”.

GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).

Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a
partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo
medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. O primeiro texto pode ser associado às “ciências da natureza”, o segundo
não.
Alternativa "b" está incorreta. Refutar é contrariar e conseguir vencer o argumento contrário, nenhum
dos textos faz isso, eles são expositivos.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 132


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Alternativa "c" está incorreta. A fundamentação do texto I se baseia na observação da natureza e a


fundamentação do texto II se baseia em pressupostos religiosos. Nenhum dos textos se apoia na
mitologia.
Alternativa "d" está correta. Eles se referem ao que deve ter criado os fenômenos, as respostas dadas são
contrárias, um postula que os fenômenos decorrem de um elemento primordial da natureza, outro
considera Deus como fonte de todos os fenômenos, mas os dois “postulavam um princípio originário
para o mundo.”.
Alternativa "e" está incorreta. O texto I não postula Deus como a causa dos fenômenos.
Gabarito: D
33. (Enem 2015/ 2ª aplicação)
Suponha homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se
estende sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, as pernas e o pescoço
presos por correntes, de tal sorte que não podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os
grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa ao longe, numa elevada do
terreno, brilha por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo
do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes que os manipuladores de marionetes
armam entre eles e o público e sobre os quais exibem seus prestígios.
PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural do pensamento grego antigo, cuja
ideia central, do ponto de vista filosófico, evidencia o(a)

a) caráter antropológico, descrevendo as origens do homem primitivo.


b) sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da sociedade ateniense.
c) vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e cômicos gregos.
d) sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da democracia ateniense.
e) teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo ilusório para o mundo das ideias.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Trata-se de uma alegoria, ou seja, uma história para ilustrar uma ideia, não
se trata de uma descrição dos homens do passado.
Alternativa "b" está incorreta. Não se sabe o motivo de os prisioneiros estarem lá, e a prisão é só uma
metáfora da situação dos homens que estão presos ao corpo e ao mundo dos sentidos.
Alternativa "c" está incorreta. A referência às marionetes tem a finalidade de provocar a imaginação, para
que o ouvinte imagine uma cena em que objetos de representação em movimento poderiam dar uma
ideia ainda mais errônea da realidade, já que a luz do fogo incidindo sobre os bonecos produziria uma
sombra bastante distorcida.
Alternativa "d" está incorreta. Não se percebe a discussão de exercício de poder. Não há alguém soberano
responsável pelo engano.
Alternativa "e" está correta. Platão diz que os prisioneiros somos nós, que percebemos a realidade
através dos sentidos e, portanto, conhecemos uma realidade distorcida do real. Ele está discutindo o
conhecimento, questionando o que conhecemos de fato.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 133


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Gabarito: E
34. (Enem 2015)
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz
de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em
primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque
o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de
crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.

NIETZSCHE,F. CRITICA MODERNA . IN:OS PRÉ- SOCRÁTICOS. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos


a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
e) A tentativa de justificar , a partir de elementos empíricos, o que existe no real.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. O texto deixa claro que o impulso de Tales era de transformar os elementos
sensíveis em uma verdade racional, procurar um elemento unificador e não “verdades racionais” no
plural.
Alternativa "b" está incorreta. Explicar as coisas usando metáforas seria o equivalente a fazer uso da
“imagem e fabulação”. Ora, Nietzsche afirma que os pré-socráticos evitaram esse caminho, “porque o faz
sem imagem e fabulação”.
Alternativa "c" está correta. Nietzsche deixa claro que os pré-socráticos recusaram a fabulação, portanto,
valiam-se da razão para buscar um elemento natural único para explicar a multiplicidade do real.
Alternativa "d" está incorreta. Os pré-socráticos procuravam o elemento que deveria compor todos os
outros, não se interessavam pela “diferença entre as coisas”; queriam aquilo que unificaria todos os
fenômenos e coisas.
Alternativa "e" está incorreta. Não tem sentido justificar o que já existe no real. Justifica-se uma ideia, não
um elemento físico.
Gabarito: C
35. (Enem 2016/ 3ª aplicação)
Estamos, pois, de acordo quando, ao ver algum objeto, dizemos: "Este objeto que estou vendo agora tem
tendências para assemelhar-se a um outro ser, mas, por ter defeitos, não consegue ser tal como o ser em
questão, e lhe é, pelo contrário, inferior". Assim, para podermos fazer estas reflexões, é necessário que
antes tenhamos tido ocasião de conhecer esse ser de que se aproxima o dito objeto, ainda que
imperfeitamente.
PLATÃO, Fédon. São Paulo: Abril Cultural, 1972.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 134


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Na epistemologia platônica, conhecer um determinado objeto implica

Alternativas
a) estabelecer semelhanças entre o que é observado em momentos distintos.
b) comparar o objeto observado com uma descrição detalhada dele.
c) descrever corretamente as características do objeto observado.
d) fazer correspondência entre o objeto observado e seu ser.
e) identificar outro exemplar idêntico ao observado.
Comentário.
Alternativa "a" está incorreta. Platão não se refere a momentos diferentes, ele fala de algo que se
assemelha a outro ser, mas não menciona o tempo.
Alternativa "b" está incorreta. Platão fala em comparação, mas entre o que se vê e a ideia do ser. Não
menciona a descrição do ser.
Alternativa "c" está incorreta. Platão não valoriza a experiência ou o contato empírico com o objeto, ou
seja, não faria sentido falar em descrição do objeto.
Alternativa "d" está correta. O que está expresso na alternativa pode ser lido no seguinte trecho “é
necessário que antes tenhamos tido ocasião de conhecer esse ser de que se aproxima o dito objeto”.
Alternativa "e" está incorreta. Essa alternativa supõe a procura de um outro objeto no mundo da
experiência, Platão acredita que o mundo dos sentidos não pode ser fonte de conhecimento, ou seja, ele
jamais falaria em procurar identificar outro objeto, pois para ele todos os objetos materiais são
imperfeitos e não refletem o ser.
Gabarito: D
36. (Enem 2016 / 3ª aplicação)
Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se
as coisas que são agora neste mundo - terra, água, ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste
mundo -, se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, diferente em sua natureza própria e
se não permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças e diferenciações, então não poderiam as
coisas, de nenhuma maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras, nem a
planta poderia brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas
não fossem compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações,
de uma mesma coisa, ora em uma forma, ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
DIÓGENES. In: BORNHEIM, G. A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.
O texto descreve argumentos dos primeiros pensadores, denominados pré-socráticos. Para eles, a
principal preocupação filosófica era de ordem

a) cosmológica, propondo uma explicação racional do mundo fundamentada nos elementos da natureza.
b) política, discutindo as formas de organização da pólis ao estabelecer as regras da democracia.
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores virtuosos que tem a felicidade como o bem maior.
d) estética, procurando investigar a aparência dos entes sensíveis.
e) hermenêutica, construindo uma explicação unívoca da realidade.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 135


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Comentário.
Alternativa "a" está correta. O texto tem como objeto os elementos como “terra, água, ar e fogo” e outras
coisas que deveriam formar algo mais complexo, essa discussão da natureza, do cosmos, era própria do
pensamento dos pré-socráticos.
Alternativa "b" está incorreta. O texto não fala das formas de governo e muito menos da democracia.
Alternativa "c" está incorreta. O objeto dos pré-socráticos era a natureza e não o comportamento
humano.
Alternativa "d" está incorreta. Estética é um termo que se refere à discussão do que é belo, ora, o texto
discute a composição das coisas, não a apresentação das coisas para a nossa sensibilidade.
Alternativa "e" está incorreta. Hermenêutica, como se diz, logo sem seguida, é uma palavra que se refere
à explicação da realidade. Os autores procuravam o elemento que deveria constituir a realidade, lógico
que isso permitirá explicá-la, mas a explicação não seria única (unívoca), até porque cada pré-socrático
supôs um elemento diferente para a composição do universo.
Gabarito: A

11. Considerações finais


Corujinha companheira,
Finalizamos nossa primeira aula de filosofia. Uma aula cuidadosamente preparada para que você
tenha todo material de que precisa para estudar, mas com a profundidade que vai ser exigida na
UNICAMP.
O material é o necessário para a prova e para sua compreensão de Filosofia.
Nesta aula, você entrou em contato com noções preliminares de alguns conceitos importantes:
Razão, Idealismo, Realismo, Ceticismo, Dogmatismo, Teoria do Conhecimento.
Na verdade, como eu mencionei anteriormente, caem poucas questões desse período da
filosofia, mas muito do que foi estudado aqui será pressuposto para entender Kant, Hume, Hegel, por
exemplo.
Há muita matéria ainda a ser estudada. Conte comigo nessa
caminhada. Estarei à disposição no Fórum de Dúvidas. Apreciarei
muito suas sugestões, críticas e comentários, o Fórum é o canal
aberto para essa relação pessoal do aprendizado. O importante é
que você tenha apoio para um estudo aprofundado
O esforço é seu, o material e apoio deixe com a gente.
Bom estudo
Espero você na próxima aula.

Fernando Andrade

AULA 0 – FUNDAMENTOS 136


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

Professor Fernando Andrade

@filosofia.do.portuga Redaçao e Filosofia

Blog de crônicas :

https://www.outrasvias.com/

13. Referência Bibliográfica

ARANHA, Maria L. A. & MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed.
Moderna, 1993, 2ª edição.

Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.

AULA 0 – FUNDAMENTOS 137


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – FUNDAMENTOS

AULA 0 – FUNDAMENTOS 138

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