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Faculdade Amadeus
ISBN - 978-65-89619-17-8
CDD: 370.114
CDU: 17/47 (7.0)
Augusto Cesar
ARACAJU
2024
SUMÁRIO
TEMA 1 – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA (HÁ UM PONTO DE PARTIDA?) 5
1. APRESENTAÇÃO 5
2. O CONHECIMENTO FILOSÓFICO 5
3. A VERDADE E A LÓGICA 8
4. A AUTENTICIDADE DO PENSAMENTO 11
5. OS PENSADORES DO COMEÇO E A CONSOLIDAÇÃO DO ENSINO DA FILOSOFIA 12
REFERÊNCIAS 64
5
TEMA 1 – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
(HÁ UM PONTO DE PARTIDA?)
1. APRESENTAÇÃO
2. O CONHECIMENTO FILOSÓFICO
FILOSOFIA E CIDADANIA
6 ideias. É preciso especificar os elementos que estão relacionados na compre-
ensão do que seja o conhecimento filosófico.
Mas a definição de filosofia não é assunto simples de ser descrito e
consolidado. Já naquele tempo e até hoje é mais fácil falar da filosofia por
aquilo que ela não é, pelo que não pode ser taxado com o timbre de filosófico.
Daí, haver sempre uma necessidade de distingui-la de outras formas de saber.
Maura Iglesias nos auxilia no intento de compreender essa problemática com
a seguinte consideração:
(...) para dizer e entender o que é a filosofia. É preciso já estar dentro
dela. “O que é a física” não é uma questão física, “o que é a química”
não é uma questão química, mas “o que é a filosofia” já é uma questão
filosófica – e talvez uma das características da questão filosófica seja
o fato de suas respostas, ou tentativas de resposta, jamais esgotarem
a questão, que permanece assim com força de questão, a convidar
outras respostas e outras abordagens possíveis.
E já que os filósofos não vão mesmo entrar num acordo, deixemos
de lado o problema da definição. Entremos de uma vez na filosofia
(...) (AZEVEDO, 2019, p.13)
A filosofia se distingue do mito e da sabedoria, pois se reveste de um
elemento racional predominante, mas não se confunde com essa racionalida-
de, conforme será explicado nos próximos capítulos. Do mesmo modo, se
distingue da mera opinião, que em lugar de construir unidade, na estruturação
das ideias, recai na dispersão. A opinião, o que os gregos chama de doxa,
compreende o falatório tão comum na esfera pública, mas fica como simples
relato acerca de algo, muito relacionada ao gosto de cada um. Podemos dizer
que são tantas opiniões que não há como conciliá-las.
Há preocupações dentro da filosofia que não repercutem, por exemplo,
no senso comum, pois este possui uma resposta muito pautada nas impressões
e nas percepções mais imediatas, nas generalizações que englobam e devoram
as peculiaridades do pensamento analítico, daquele modelo de reflexão tão
importante para o filosofar. Nunca se aventurando a analisar a realidade pela
sistematicidade da razão, mas por respostas rápidas e também ligadas ao gosto.
Há sempre um mistério que envolve esses tipos de conhecimento, o
senso comum e a opinião, primando muito por certas capacidades, mas nun-
ca descrevendo sistematicamente o que pode acontecer. O crivo da lógica
não é reivindicado para estar presente em tais demonstrações, apenas um
certo ar de resolução e um gosto por acreditar nas mesmas. Embora o senso
comum traga uma resposta se processa certa desordem intelectual naquilo
que é posto. Pois sempre há de existir um entrave. Corre-se muito para uma
concordância ao modo da adesão, com bases mais políticas e morais que in-
telectivas. Recaindo num respeito aos resultados pautado pela tradição e não
aos critérios peculiares que estruturam a análise.
FILOSOFIA E CIDADANIA
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FILOSOFIA E CIDADANIA
8 A metodologia científica que aprendemos no processo de formação
numa universidade serve como uma “propedêutica construtiva” para que pos-
samos aprender com uma perspectiva criativa. É justamente neste lugar que
o conhecimento da Filosofia e seus temas nos serve de ponto de apoio para
a reflexão crítica e para romper com limitações existenciais com as quais as
pessoas mais próximas já se encontram inseridas.
A filosofia chegou aos nossos dias muito marcada pela compreensão
de sua generalidade. Ela se interessa por questões essenciais, consideradas
mais gerais, porém ela não se perde numa compreensão geral, ou por gene-
ralidades. Muito facilmente hoje falamos que algo é filosófico ou sem filoso-
fia quando nos referimos a situações outras que não aquelas que realmente
caracterizam a filosofia. Ela diz respeito a sutilezas, o que chamamos como
espírito humano, porque procura penetrar na razão dos fatos estruturando um
olhar racional sobre a realidade.
Quando surge esta forma de conhecimento que é a filosofia logo se
percebe que esse conhecimento se organiza compondo um conjunto de dis-
cussões e de interesses, o que chamamos de sistematizações e além disso, por
análises detalhadas de fatos, acontecimentos e reflexões. Esse conhecimento
se diferencia da sabedoria milenar de povos e grupos sociais que resguarda-
ram reflexões e afirmações preciosas para suas gerações. Preceitos importan-
tes para que se sentissem parte daquele grupo social, mas também elos de
ligação entre teorias e conjuntos de pensamentos que cada vez mais tornam-
-se o obeto de análise dos filósofos que vieram em seguida. Um estudioso da
filosofia corre para encontrar a verdade daquela teoria e depois corre para a
partir dos seus preceitos superá-la e atingir um redimensionamento do pensa-
mento, uma inovação das suas consequências,
3. A VERDADE E A LÓGICA
FILOSOFIA E CIDADANIA
questão histórica que une e amplia a concepção de verdade, que é a história
do próprio Ocidente.
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“Para a atitude crítica ou filosófica, a verdade nasce da decisão e da
deliberação de encontrá-la, da consciência da ignorância, do espanto,
da admiração e do desejo de saber. Nessa busca, a Filosofia é her-
deira de três grandes concepções da verdade: a do ver-perceber, a
do falar-dizer e a do crer-confiar. (CHAUÍ, 2018, p.98)
A verdade que compreendemos habitualmente nos escritos da forma-
ção acadêmica, busca uma concordância, seja entre pensamento e fatos, seja
na elaboração de representações que expliquem de maneira mais adequada
o caos que muitas vezes se constitui no mundo. A verdade abre clareiras em
meio às tantas coisas que precisamos compreender, mas ela mesma já é a
clareira, porque nos situa, nas buscas existenciais e inquietações intelectuais.
Quando há uma concordância se estabelece a unidade tão indicada por tantas
teorias de diferentes pensadores. Desde os antigos a verdade é o elemento
essencial para que o mundo se torne inteligível.
O modo como historicamente o pensamento filosófico se deteve na
busca pela verdade estende à filosofia a peculiaridade de consolidar um co-
nhecimento que se estabeleceu pelo Ocidente, pelos povos que seguiram o
modelo de racionalidade ocidental. A Filosofia é a base a partir da qual outras
formas de conhecimento se estruturam, a exemplo da ciência. Desse modo, se
ela não pode ser confundida com a ciência, podemos dizer que elas se vincu-
lam pela base filosófica que a ciência moderna possui. Compreendemos esse
vínculo dizendo que toda ciência tem na sua base uma questão filosófica que
só a filosofia pode se apropriar em prol de construir novos significados. Toda
ciência quando entra em crise ela busca essa base, ambas possuem uma dife-
rença que não é estanque, a filosofia se dirige em busca de universalidades,
a ciência se especializa em busca de demarcar cada vez mais seu objeto de
análise. Ambas se ampliam em vista de sentidos diferentes.
Epistemologicamente ambas, Filosofia e Ciência, interligam-se, pois
essa relação serviu de suporte e de referência para elaboração do conheci-
mento racional que se estende até os nossos dias, embora seja um conheci-
mento já bem diferente daquele primeiro, com questões, interesses, aborda-
gens completamente distintas, como foi dito.
O maior símbolo de expressão desse legado epistemológico que a Filo-
sofia nos apresenta é o nosso interesse por aplicar uma lógica nas coisas com
as quais lidamos, ou então, para identificar a lógica naquilo que é apresentado.
Ainda hoje recorremos à filosofia para compreender a realidade, para sairmos
da imposição das verdades midiáticas ou da limitação histórica na qual nos
inserimos e observarmos neste modo de conhecer a realidade uma capacida-
de incrível de se renovar a partir daquela base inicial. Há uma atualidade na
filosofia que nos surpreende cada vez que buscamos trazer esse conhecimento
para a nossa realidade. Há uma peculiaridade nos escritos filosóficos que não
os torna antigos, ou melhor, não os torna antiquados. Em função disso, com-
preende-se que por mais atual que seja um filósofo de hoje ele não perde de
vista a necessidade de resgatar elementos desta base de conhecimento, ainda
FILOSOFIA E CIDADANIA
10 que as consequências da sua teoria sejam totalmente novas e inusitadas. Há
uma relação bem interessante entre o que é antigo e o que é novo na filosofia.
E que surpreende sempre qualquer pesquisador. Não é que sejam as mesmas
coisas, mas a filosofia muito mais do que um jogo de busca pelo mais atual se
revela como uma base sempre grávida de possibilidades para os investigado-
res que se organizaram no decorrer de todo esse tempo histórico.
FILOSOFIA E CIDADANIA
Os conceitos servem para que possamos dar nomes às ideias, ou para
que possamos dar vida à problematizações com as quais nossa existência já
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lida. A advertência para com o estudante que chega agora num curso superior
e que nunca leu nada da filosofia é, perceba que do que vamos falar, você de
certo modo, já tem uma ideia, ainda que vaga e sem nomeação da problemáti-
ca que ela sugere. Isso porque a Filosofia está tão entranhada na nossa cultura,
que embora não sejamos filósofos, já conhecemos, de alguma forma, um pou-
co do que seja filosofar, já conhecemos suas questões, porque são questões
inerentes ao cotidiano das pessoas. Já lidamos com o elemento central a partir
do qual surge toda a filosofia, a vida humana e seus desdobramentos.
4. A AUTENTICIDADE DO PENSAMENTO
FILOSOFIA E CIDADANIA
12 “A existência humana, em todos os seus aspectos, humildes e ele-
vados, certos e errados, está na questão do ser. Sentimos no mais
íntimo de nós que somos toados para a busca. Partimos então para
a existência no mundo, buscamos cá fora, orientados a partir de
dentro. (BUZZI, 2019, p. 18)
Há um elemento interior, subjetivo, que nos joga na questão do ser.
Até porque o entrelaçamento entre mundo e nós é costurado pelas linhas da
existência. A re-velação das coisas, o que já temos como certo e aquilo ao qual
nos arriscamos buscar. A filosofia é sempre uma “amizade”, nunca uma posse.
A infinidade da experiencia humana como caracterização do pensar e as evo-
luções do pensamento que sempre traz algo novo, ainda que daquilo muito
velho, constituem essa trama existencial que nos faz remeter à Filosofia. Não é
à toa que ela tem sobrevivido e buscado sempre dar suporte para as questões
novas e devastadoras que surgem nos novos tempos.
A existência não é um mero peso que se estende sobre a vida das pessoas,
ela é um ponto de apoio a partir do qual se remete toda e qualquer filosofia. O
diálogo socrático escrito por Platão é resgatado até pelos autores contemporâ-
neos que encontram no “logos” do “diálogo”, na dialética, a forma de resgatar
esse elemento fundamental. Podemos chamar, a partir dessa perspectiva exis-
tencial, de metafísica, a ciência do existente humano, dos primeiros princípios,
de uma condição transcendente. Caracterizadora do conhecimento filosófico. E
que caracteriza o filósofo na sua ação sobre o mundo que o cerca.
5. OS PENSADORES DO COMEÇO
E A CONSOLIDAÇÃO DO ENSINO
DA FILOSOFIA
FILOSOFIA E CIDADANIA
pois quando lemos sobre os mitos há sempre uma ação inicial que fez com que
a realidade se estabelecesse daquele modo, está presente a figura do herói,
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aquele que altera a realidade, ainda que seja castigado pelo seu ato, mas dig-
no de feitos notáveis. Assim se estrutura o mito. A compreensão da realidade
ultrapassa a base e se consolida no mágico, em algo além. Mas as explicações,
e o tipo de investigação elaborada pelos mitos não davam conta do que Tales
de Mileto, Pitágoras de Samos, Heráclito de Éfeso, entre outros, estavam por
elaborar.
Estes pensadores não convergiam para os mesmos elementos para
explicar a origem e o princípio e, consequentemente, encontravam estratégias
lógicas bem distintas, o que os unia era a explicação da realidade através da
compreensão dos princípios e das origens. Contudo para cada pensador havia
uma diferente significação para a Physis. O interesse por tal base de pensa-
mento se estende e repercute em novas formas de observar e em situar novos
elementos que são obtidos na identificação desse princípio, da arché.
Nasce uma cosmologia, uma Filosofia da Physis. A filosofia, em seu nas-
cimento, em seu momento primordial, lida com a natureza e a natureza como
essência do humano. Ambas interligadas e indicando o mesmo ponto de ori-
gem, a Physis. Estruturando um novo modelo de reflexão em prol de encontrar
a arché, a origem de todas as coisas expressa na physis. Destacamos alguns
dentre os vários pré-socráticos.
FILOSOFIA E CIDADANIA
14 Estes pensadores escreveram pouco, sua linguagem era muito peculiar
pela capacidade de condensar os pensamentos em poucas palavras, diferen-
temente de hoje em que, quanto mais detalhado for o pensamento, melhor a
compreensão dos elementos estudados. O que se sabe é que muito do que
pensaram foi transcrito ou referenciado por pensadores bem pósteros, mo-
delo de estudo que chamados de doxografia, pois se refere à legitimidade
de um escrito, mas já transcrito por um outro indivíduo. Os estudos acerca
de tais escritos buscam saber da originalidade do pensamento ali presente
ou da ordem das ideais que são sequenciadas para chegar a compor um livro.
O escrito na íntegra foi perdido, como boa parte dos escritos de períodos
remotos da antiguidade, mas restaram trechos ou referências importantes de
autores mais próximos. As lacunas não abafaram as notícias e informações a
respeito destes personagens, pensadores e inauguradores de uma filosofia.
Eles inauguram a história da filosofia e por isso vão possuir uma interpretação
que será definitiva. Os escritos compõem relíquias históricas, mas bastante
fragmentados em vista de diversos fatores, o fato de que naquele momento
histórico se escrevia muito pouco.
Historicamente eles ficam conhecidos como pensadores, em sua espe-
cificidade, pois reuniram os fundamentos para se compreender a realidade
por aquele novo ângulo de abordagem. Daí saírem da mera definição de pré-
-socráticos, para pensadores originários, para que não sejam restritos a serem
os antecessores de Sócrates, mas aos que se preocuparam com uma investi-
gação nova, original. São os responsáveis pelo estudo da origem da realidade,
primeiros pensadores que inauguraram a filosofia como um pensamento cos-
mogônico e não mais mitológicos.
Esta nova forma de compreender a realidade é de grande importância
para a filosofia que segue para as formulações teóricas de Sócrates e Platão,
que não mais se interessam pelo cosmos e pela origem das coisas, mas passam
a se interessar pela vida humana, pela essência que caracteriza o real. A partir
dessas preocupações surgem boa parte das filosofias da antiguidade grega
que serão, estilísticas do “bem viver”, da busca contínua pela felicidade, pela
arte de conviver e decidir acerca dos destinos e interesses da cidade. É um
pensamento que busca atingir as questões universais e não se deter em parti-
cularidades. Que compreende que a realidade pode ser analisada de maneira
lógica e não ao simples sabor das impressões.
A filosofia é sempre devedora de tantas sabedorias que já existiram e já
circularam por toda a região do seu nascimento. Tais sistemas de pensamento
como o de Platão ou Sócrates surgem de interesses relacionados a uma cultura
que assimila, mas também envolve todo o conteúdo em critérios, racionaliza
os saberes dispersos que eram trocados em situações específicas, como as
escolas de ensinamento, as instituições públicas voltadas para o exercício da
cidadania, as tradições e muitas outras fontes culturais de obtenção do conhe-
cimento.
Entre os gregos atenienses, a instituição que iniciou a veiculação da Fi-
losofia como estudo dentro de determinados parâmetros formais e com uma
tradição que se sucedeu ao seu mentor, foi a Academia, inaugurada por Pla-
FILOSOFIA E CIDADANIA
tão, no jardim de Akademos, nos arredores da Pólis, num espaço que aco-
lheu o como primeiro centro de estudos do pensamento filosófico platônico.
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Sabemos que uma instituição na antiguidade, inevitavelmente, possui várias
distinções para com as instituições atuais de ensino, mas lá se aprendia filo-
sofia, havia uma forma de ingresso específica que já demarcava as exigências
para o tipo de conhecimento, consolidada uma metodologia e textos a partir
os quais se poderia aprender e difundir o pensamento filosófico. Entre outras
instituições de ensino figurava como distinta com suas atividades didáticas
voltadas para a especulação filosófica, buscando chegar à verdade através da
maiêutica ensinada por Sócrates.
Era uma escola que não privilegiava interesses lucrativos na difusão do
aprendizado, distinguindo-se dos cursos ofertados pelos sofistas, diferencian-
do-se também com as técnicas que estes ensinavam, comprometidas com efi-
cácia de argumentação no âmbito político, enquanto disputa de interesses.
Além do que Platão mantinha uma desconfiança acentuada com a política pre-
dominante no seu espaço social, levando em consideração o corrido com seu
mestre Sócrates.
O aprendizado obtido pelos debates figura como um tratamento que
se deve estender à palavra e à elaboração das concepções de realidade. Há
um tratamento para com o pensamento que diz respeito à fundamentação em
princípios claros, em conceitos bem estruturados e seguros para que o alvo a
ser analisado não escape. A inspiração socrática em maior ou menor grau, con-
forme os textos da maturidade de Platão, permanece como ponto de partida.
Enquanto perquiridor de consciências não há como abrir mão da crítica e do
primado da verdade. Não apenas um exercício de pensamento e não apenas
um debate, a busca de atingir a essência daquilo que é posto como alvo do
conhecimento. Malato (2009) assevera que:
Na alegoria da caverna, o filósofo afasta-se inicialmente do convívio
dos homens para procurar a luz. Também Platão, que regressa da
Sicília e funda nos arredores de Atenas uma escola, é a ilustração
desse filósofo que tendo conhecido a luz volta ao local das som-
bras, aquele em que tem de convencer os outros homens, iludidos
pela aparência das coisas.
Em obras como a República, através do mito da caverna, Platão apre-
senta como se dá a ação daquele espírito devidamente educado e daquele
que não recebeu, ou não passou por tal processo de aprendizado. A contem-
plação das coisas sublimes, aquilo que diz respeito às formas perfeitas, não é
acessado apenas com um ato de curiosidade, mas por um esforço em compre-
ender as formas perfeitas, a ideia.
A teoria das ideias se constitui como base para este conhecimento. A
constatação de que existe um belo em si, um bem em si e o grande em si,
conduz o estudioso para algo inusitado no seu modo de compreender a reali-
dade. O que separa Platão do seu mestre Sócrates, a autonomia de uma teo-
ria autenticamente sua, paradoxalmente o vincula a ele pelo aprendizado da
filosofia. Assim, analogamente, A imortalidade da alma, tão importante para
os princípios da teoria das ideias, também se configura na perpetuação de
FILOSOFIA E CIDADANIA
16 Sócrates como filósofo e mentor das teorias que buscava circunscrever. É do
diálogo socrático que Platão propõe o seu pensar autêntico. E aquele modelo
posto pelo grande mestre se dirige a outras gerações de filósofos. Há de se
preparar no exercício da razão para que estes elementos sejam devidamente
compreendidos, adverte o mestre aos seus discípulos.
FILOSOFIA E CIDADANIA
pela razão, pela atitude crítica e pela desconfiança para com procedimentos
padronizados. E quando se dá ênfase nestes elementos comuns não os limita-
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mos apenas à informação, ao conjunto de estudos, ao aprendizado no sentido
mais acadêmico, falamos da formação da pessoa.
O conhecimento ensinado na academia visa conduzir o efebo, o estu-
dante, a atingir a plenitude de consciência pelo esforço do pensamento pelos
percalços da razão. A filosofia de Platão mantém historicamente a liberdade
que ultrapassa as exigências da ideologia da época, percebendo-se inaugural
pela sua popularidade e pelas questões que são utilizadas como requisitos
para o estudo da Filosofia.
Quando descreve a conversação de seu mestre, Platão, implanta um
estilo para a filosofia, demarcando uma ética para resolução de problemas
filosóficos. Inevitavelmente a separação entre theoria e práxis, tão comum nos
nossos tempos não representa algo parecido com aqueles tempos. Na teoria
das ideias se estabelece um princípio e isso faz o estudioso se dirigir para
a verdade que está em consonância com ele, é o método dos geômetras,
o elemento matemático com o qual seu saber reforça-se por trabalhar com
consequências lógicas. Hipóteses interligadas que fazem o conhecimento bus-
car o incondicionado, intuito maior de obtenção da verdade. Há um absoluto,
campo possível de ser alcançado pela razão através do trato com as ideias que
são arquétipos perfeitos das formas imperfeitas com as quais nos deparamos
no mundo. As ideias são reais, perfeitas, imperecíveis, eternizando-se como
paradigmas na compreensão de tudo o que existe.
Com Platão temos a compreensão de que as questões humanas passam
a ter uma diferenciação das questões cosmogônicas. Essa separação está pre-
sente na compreensão da “ideia” como elemento determinante para que o
mundo verdadeiro seja acessado. Interessante pensar que a dualidade sobre
a razão tanto parte do elemento fundamental do diálogo, mas também recai
num elemento em que intelecto e mundo se distinguem e se separam para
uma melhor compreensão da realidade. O predomínio da compreensão racio-
nal se sobrepõe na construção do conhecimento ocidental de forma a repro-
duzir dualismos na sequência de teorias e pensamentos, da antiguidade até a
modernidade. O dualismo iniciado com o pensamento platônico se estrutura
em vários outros períodos de diferentes maneiras.
A consolidação do pensamento antigo se estende aos autores con-
temporâneos que irão retornar aos antigos não apenas por uma curiosidade
acerca dos elementos que foram analisados naquele momento, mas por uma
profunda necessidade de encontrar aspectos nunca explorados, por vezes,
esquecidos pelo estabelecimento de padrões morais dos historiadores da
modernidade. A necessidade também de romper com os cânones da moder-
nidade do ideal de racionalidade e encontrar algumas saídas metodológicas
para o pensamento atual. Dentre estes pensadores que se interessam pro-
fundamente pela antiguidade Nietzsche e Heidegger. O primeiro, Nietzsche,
por buscar inversões de perspectivas no pensamento ocidental, invertendo o
pensamento platônico, saindo de uma condição que ele chama de apolínea e
adentrar uma nova condição, dionisíaca. Constituindo a contemporaneidade
FILOSOFIA E CIDADANIA
18 num espaço de abertura para o conhecimento da vida, sem estigmas e en-
quadramentos racionalistas. O segundo autor, Martin Heidegger, vai buscar
entre os pensadores da antiguidade um “passo de volta” ao pensamento que
foi abandonado pela tradição no decorrer da história, propondo através da
leitura dos antigos um encontro com a condição originária, com a originarie-
dade do pensar, conduzindo-nos para um novo olhar, uma autenticidade que
desconfia do império dos modismos ou do estabelecimento da técnica como
único modo de desenvolvimento. É neste sentido que essa experiencia inicial
não pode ser desprezada da atenção do pesquisador atento que percebe a
contemporaneidade buscá-lo. E, na verdade, o sentido da filosofia, identifi-
cado neste momento inicial é o de conduzir o indivíduo a pensar como quem
se cura, pensando palavras como quem pensa em remédios para as doenças
instituídas pelo tempo.
FILOSOFIA E CIDADANIA
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Cornford ainda destaca a referência a discípulos como
Platão e Aristóteles demostrando como ao tempo em
que estes absorvem a teoria do mestre mais autônomos
se tornam na construção do seu pensamento e da
propriedade do seu sistema teórico. A postura socrática
influencia não apenas num novo modo de filosofar, mas as
diversas incursões realizadas por pensadores posteriores,
estendendo-se até os dias atuais.
FILOSOFIA E CIDADANIA
20 Para Refletir
Retomar a origem do pensamento filosófico constitui, de certo
modo, a busca em compreender a base a partir da qual se consti-
tuiu o pensamento ocidental. Leva-nos a enveredar em tantas evo-
luções, compreendendo que há um legado a ser apropriado, em
meio a tantas novas invenções, em meio a tantas novas descober-
tas. O passado não refreia o presente, ao contrário, potencializa-o.
Ressaltamos que alguns pontos são importantes para pensarmos
o surgimento da filosofia. Desse modo, para refletirmos acerca
dessa base filosófica elaboramos os seguintes questionamentos:
• Como podemos encontrar e mapear as diversas influências que
os gregos receberam de outros povos para chegar à elaboração
do pensamento filosófico?
• Em que situações a Filosofia estabelece relações com outras
áreas do conhecimento?
FILOSOFIA E CIDADANIA
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TEMA 2 – A FILOSOFIA NO MUNDO DO
HOJE (O QUE FAÇO COM ISSO?)
1. APRESENTAÇÃO
A filosofia não é um conhecimento que se fixa e se restringe ao passado,
pois se encontra cada vez mais reavivada na atualidade, reivindicada quando
nos deparamos com tantos entraves e situações paradoxais. Não precisa mui-
to para que vocês percebam como este tempo no qual nos encontramos é
tão revestido de situações problemáticas e experiências que não haviam sido
levadas em consideração ainda pelo pensamento e pela reflexão. Daí essa rei-
vindicação da Filosofia nos nossos tempos.
Diante dos impasses da vida contemporânea convidamos a reflexão filo-
sófica para nos fazer compreender um pouco mais acerca da realidade. Diante
da pergunta, o que faço com esse conhecimento? Nos aventuramos a tratar
neste capítulo uma análise do lugar da filosofia e das aberturas que ela oferece
para esse período considerado um tempo de desenraizamento.
2. DESCENTRALIZAÇÃO DO SUJEITO
A filosofia atual se consolida com a “descentralização do sujeito” do
conhecimento e uma necessidade de rever o lugar de racionalidade no qual
todas as certezas foram estabelecidas. Quando estas bases se tornam abala-
das, ou seja, quando há uma revisão das formas de pensar e do lugar central
na qual a racionalidade foi posta “o sujeito do conhecimento” entra em cri-
se, porque perde a centralidade na qual esteve durante toda a modernidade.
Aliás, a contemporaneidade se inicia quando se abandona o paradigma da
centralidade da razão em nossas vidas. Porque a contemporaneidade entende
que existem outros parâmetros importantes para elaboração do pensamento
verdadeiro, que não apenas a racionalidade ao modo tradicional. Podemos até
dizer que há uma percepção de que a verdade não pode mais ser absoluta ou
se estabelecer num princípio.
Cabe muito mais na contemporaneidade um pensamento fraco, con-
forme propõe Gianni Vattimo, um pensamento que entende de tal modo o
momento histórico no qual se encontra que abrange todas as questões, mas
não se fecha numa única interpretação, possui como traço a abertura e as
possibilidades plásticas de ressignificação
FILOSOFIA E CIDADANIA
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FILOSOFIA E CIDADANIA
3. O ESTATUTO DA RAZÃO 23
Ilustração antiga do fogo na estação ferroviária de Toulon, França. Criado por Blanchard e
Cosson-Smeeton, publicado em L 'Illustration, Journal Universel, Paris, 1868
FILOSOFIA E CIDADANIA
24 A modernidade, enquanto momento histórico se constitui centrada
num processo de organização, classificação e ordenamento da compreensão
da vida, porque ela é formuladora de parâmetros, instigando processos extre-
mamente otimistas em relação ao poderio e a presença da razão na vida dos
indivíduos. A razão, esta preciosidade que distingue os humanos, torna-se o
elemento definitivo a partir do qual se estruturam diversas formas de conhe-
cimento, a ciência, por exemplo, mas também ações significativas do mundo
político, a consolidação de instituições como o Estado. E a organização da vida
pública através do estabelecimento de leis, como elementos laicos de ordena-
mento da vida comum.
A razão , a partir da modernidade, constitui-se como o centro a partir
do qual se organiza a compreensão de realidade do mundo, a consciência
humana, a própria cognição, e inevitavelmente, a centralidade do “sujeito pen-
sante”. Estamos falando de um período em que o Teocentrismo é substituído
pelo Antropocentrismo. E o marco que define a Filosofia é o que professa
Descartes quando se arroga do poder que possui a razão, a frase “penso, logo
existo” é recepcionada como a verdade na qual todos os humanos se reconhe-
cem, em vista do poder da razão.
Só para exemplificar as mudanças que foram estabelecidas pelo adven-
to da modernidade podemos caracterizar essas mudanças com uma ilustra-
ção que diferencie um e outro momento, é como se antes da modernidade o
mundo se constituísse como uma feira, pensem comigo: barracas espalhadas,
lugares não necessariamente simétricos, pessoas circulando, gente gritando
oferecendo seu produto, gente pechinchando, produtos sendo furtados sutil-
mente por larápios, necessidade de circular para conseguir o melhor preço...
Com o advento da modernidade é como se o mundo se tornasse um grande
supermercado, vamos recorrer à metáfora: sessões que separam produtos em
vista da sua funcionalidade, prateleiras com produtos devidamente selecio-
nados, preços expostos bem demarcados, sessões com a organização des-
tes produtos, sistemas de trocas, regras, agentes específicos para orientar o
cliente, propagandas anunciando a promoção de alguns produtos indicando
sua localização, caixas, filas, organização... Inevitavelmente, na passagem da
Idade Média para a modernidade, o mundo mudou. O que se pode aprender
com essa metáfora é que a modernidade foi extremamente importante para
consolidação do modelo de racionalidade como elemento definitivo para esta-
belecimento de critérios e padrões.
Trazendo essa metáfora para uma linguagem filosófica, ocorre que, a
modernidade é marcada pelas pesquisas científicas, pelo desenvolvimento das
grandes cidades, pelo desenvolvimento da sociedade de consumo e embora
tais mudanças apontem para um contínuo progresso, isto chega a uma espécie
de exaustão. No decorrer de todo o seu desenvolvimento relações de poder,
formas de exploração, simulacros com intenções pouco gentis, anexaram-se
ao cotidiano da vida. Daí a retomada dessas bases filosóficas para reavaliar e
impetrar um novo modelo de sociedade, concomitante a um novo modelo de
pensamento. Inaugura-se nesta reflexão e nesta crise, a contemporaneidade.
FILOSOFIA E CIDADANIA
4. A CRISE DA RAZÃO MODERNA 25
FILOSOFIA E CIDADANIA
26 “(...) temos a ilusão de que estamos pensando e agindo com nossa
própria cabeça e por nossa própria vontade, racional e livremente, de
acordo com nosso entendimento e nossa liberdade, porque desco-
nhecemos um poder invisível que nos força a pensar como pensamos
e agir como agimos. (CHAUÍ, 2018, p.99)
A ideologia nos lança numa esfera espectral de pensamentos e senti-
mentos que não correspondem à nossa própria realidade, fruto de interesses
outros que se agregam à vida cotidiana do trabalhador, num processo em que
a submissão se justifica como um encaminhamento para a melhora.
Significa dizer que para pensar a humanidade é necessário pensar as es-
truturas econômicas, políticas, sociais e históricas como fundamento de toda
a conduta, ou seja, o humano é resultado da ação desses elementos. Dentro
dessa perspectiva interessa entender o papel do Estado, enquanto gerador
de ideologias, manipulador de ideias, dominador de corpos e mentes. Pois, à
medida em que institui ideias que garantam o domínio de uma classe, a bur-
guesia, explora as efetivas condições materiais de sobrevivência, reduzindo a
dignidade da classe trabalhadora.
Assim sendo, ao invés de o Estado garantir o bem comum, reforça atra-
vés de mecanismos a exploração a divisão de classes na sociedade, permitindo
aos ricos se tornarem cada vez mais ricos, e aos pobres se distanciarem dos
bens promovidos pela vida social. Por isso, é que para Marx, o Estado se trans-
forma também num instrumento de repressão e dominação.
A crise do modelo de racionalidade se encontra na obra de Freud, no
conjunto de saberes aprofundados pela psicanálise com a descoberta do in-
consciente e de todos os elementos relacionados, forças que abrangem a
compreensão da consciência como algo de uma maneira totalmente inusitada.
Há um impacto epistemológico extremamente significativo com a formulação
dessa nova ciência, mas há um impacto social tão forte quanto, com a compre-
ensão de que o inconsciente tanto diz respeito ao plano individual, quanto ao
plano social. Joel Birman reforça que a psicanálise formula um descentramento
com o conjunto de saberes que ela estrutura o que estende um diálogo muito
interessante com a filosofia.
FILOSOFIA E CIDADANIA
A descentralização provocada pelo pai da psicanálise traz à tona ele-
mentos que precisam ser revistos na tradição intelectual e acadêmica, mas
27
também em novas formas de convivência. Inevitavelmente a aproximação para
com a filosofia se dá especialmente por um afastamento específico que a psi-
canálise opera com seu conjunto de saberes da submissão ao âmbito científi-
co. Na tentativa de enquadramento epistemológico a psicanálise considera a
medicina parte do poder normativo que envolvia conjuntamente outras insti-
tuições do campo da ciência, primando pelo disciplinamento de corpos e de
posturas. Interrelacionando saber e poder como formas de estabelecer um
critério normativo e consequentemente racional para o encaminhamento de
tratamentos e obtenção de cura dos sintomas patológicos. Hoje em dia cada
vez mais se evidencia o quanto a psicanálise e a prática médica estão em luga-
res distintos, ainda que possam manter o mesmo intuito terapêutico.
Através das descobertas de Freud se inaugura uma nova subjetividade o
alvo dos pressupostos e pesquisas do pensamento psicanalítico que se esten-
de. Há um novo horizonte de percepção do humano que se mostra incompleto
não por ser apenas um pecador, mas por possuir instâncias psíquicas que o
fazem perceber sua incompletude e buscar compreender a dimensão desta.
Uma falta que busca ser preenchida em diversas situações pontuadas teorica-
mente, mas observadas na clínica e nas instâncias do imaginário e da fantasia.
O plano simbólico é extremamente importante para percebermos o humano
que não mais se retém à definição da razão. Não é mais o simbólico enquanto
representação ou espelhamento da natureza, é uma ordem bem mais primiti-
va, primordial. Através das suas descobertas, Freud:
(...) mostrou que os seres humanos têm a ilusão de que tudo quanto
pensam, fazem, sentem e desejam, tudo quanto dizem ou calam
estaria sob o controle de nossa consciência porque desconhecemos
a existência de uma força invisível, de um poder – que é psíquico
e social – que atua sobre nossa consciência sem que ela o saiba.
(CHAUÍ, 2018, p.99)
O inconsciente, essa descoberta que altera completamente os rumos da
contemporaneidade vai de encontro aos dualismos da racionalidade tradicio-
nal porque demostra o descentramento do modelo de consciência. É um sujei-
to dividido, marcado pela ruptura. Ligado fundamentalmente à palavra como
recurso terapêutico e não como decreto, lei e normatização. As funções da
linguagem se alteram, assim como se altera as perspectivas metodológicas uti-
lizadas em várias outras ciências, é que tal descoberta não se restringe apenas
à psicanálise. Através da psicanálise se constitui uma cadeia de significantes
, reconduzindo-nos a perceber que não há um mistério no âmbito geral, mas
fundamentalmente no âmbito particular que precisa ser compreendido por
instâncias outras de compreensão, na esfera do simbólico e da interpretação.
Influenciando novos modelos para reestruturação da vida social e das tensões
sociais que provocam sintomas patológicos. A sociedade é sempre o pano de
fundo das questões que sugere para aprofundamento, pois através dela se mantém
um “mal-estar”, uma condição outra que necessita ser estudada para que a vida
em comunidade não se restrinja a ser algo plausível e detalhado, mas nunca
alcançado, uma espécie de fracasso que só se realiza num plano ideal.
FILOSOFIA E CIDADANIA
28 5. A SOCIEDADE DE COMUNICAÇÃO
GENERALIZADA
O início da contemporaneidade é uma questão que gera diversas con-
siderações desde a demarcação histórica de um período que começa com
a Revolução Francesa até os dias atuais, às considerações econômicas que
destacam as mudanças no sistema capitalista do final do século XIX, como o
elemento definitivo para o início de tal período. Como o período já nasce em
meio à polêmica, esta estende-se pelos diversos desdobramentos da contem-
poraneidade até o momento em que estamos agora.
Em meio a estes marcos definitórios há o surgimento de um modelo novo
de sociedade, chamado sociedade de massa ou mass mídia, ou melhor, “socie-
dade de comunicação generalizada”, que nesta abordagem é tomada como
elemento definitivo para a compreensão da contemporaneidade. O século XX,
especialmente pela metade deste século constatamos nele o surgimento da
sociedade da imagem, regida pelo espetáculo e pelos diversos simulacros que
se adequam à vida comum das pessoas, suscitando movimentos, incitando a
reflexão e convidando os desavisados para adentrarem um novo tempo.
“As imagens que se destacaram de cada aspecto da vida fundem-se
em um fluxo comum, no qual a unidade dessa mesma vida já não
pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente
apresenta-se em sua própria unidade geral como um pseudomundo
à parte , objeto de mera contemplação.” (DEBORD, 2019, p.06)
Uma nova história, que se sucede em suas diversas passagens, reco-
nhecemos, por exemplo, a absorção da inteligência artificial na atualidade,
as polêmicas que esse fenômeno tem nos colocado, para entendermos que a
sociedade da comunicação generalizada é a aquela na qual fixamos a instabi-
lidade e a fixidez do nosso “modo de ser contemporâneo” através de tecno-
logia, mas também através da crítica à tecnocracia. Algo tão interessante que
quanto mais avançamos no futuro, mais entendemos acerca do que a filosofia
contemporânea adverte e expõe nas suas reflexões analíticas.
Há conquistas contínuas e riscos iminentes, como o de abrir espaço para
discursos e governos autoritários, como as tecnocracias do século passado,
que avançaram sobre diversos territórios, inclusive sobre o Brasil, construin-
do uma ditadura amparada na tortura e na aniquilação de discursos que não
reproduzissem suas aspirações absolutas de poder. Quando se espera que a
experiência traumática destas vivências amplie os diálogos, vem um novo mo-
delo de sociedade que nos coloca em reflexão, é esta, verdadeiramente, uma
sociedade transparente?
Surge uma sociedade fragmentada, marcada pelo abandono de formas
tradicionais, mas ao mesmo tempo sem muitas possibilidades de superação
FILOSOFIA E CIDADANIA
deste modelo que ela própria critica. Gianni Vattimo é um destes autores que
observa as novas formas do contemporâneo reforçando que:
29
“A intensificação das possibilidades de informação sobre a realidade
nos seus mais variados aspectos, torna cada vez menos concebível a
ideia de uma realidade” (VATTIMO, 2019,p. 18)
Este caminho peculiar trilhado pela sociedade contemporânea e seu
modelo tão aficionado à informação massiva até de detalhes e modos de ser
que figuram apenas como idiossincrasias, tem repercussões sobre o embate
com o pertencimento às aparências. Os limites entre realidade e aparências
não apenas se estreitaram, mas criaram formas de ver o mundo.
A questão da imagem se amplia alçando comportamentos marcados
pelo “narcisismo contemporâneo”, ocasionado em especial por este modo de
acesso ao real. Motivado pelo processo de personalização na qual a socieda-
de contemporânea se estabelece em vista do atendimento às necessidades
individuais e aos interesses de consumo. Há neste fenômeno uma deserção
generalizada de valores comuns, de interesses sociais. Pode-se observar uma
despolitização dos interesses e das lutas em comum. Do mesmo modo uma
dessindicalização, abandono dos elementos ligados a conquistas dos traba-
lhadores.
De um modo geral as formas de relacionamento são desvitalizadas.
Cada vez mais o sistema tecnocrático e toda tecnociência exalta sistemas com
aparência humana voltados unicamente para satisfação pessoal, para o prazer,
para o destaque dos seus possuidores, exaltando o caráter mercadológico.
Há apenas uma sensibilização epidérmica na qual as coisas são experimenta-
das, mas não vivenciadas, o que prevalece é a superficialidade como modo de
desvinculamento e como forma de proteção. Há uma proteção de si, da inten-
sidade, como se a própria vida fosse, ela mesma, um programa controlado e
mantido sob controle dos riscos.
Observamos uma relação muito peculiar entre a instrumentalização da
razão e o consumo, expressa no narcisismo contemporâneo. Destaca-se um
sentido voltado para o que podemos chamar de capitalismo hedonista que
oscila entre capitalismo libidinal devido ao caráter de sedução com que tudo é
apresentado e consumido desenfreadamente dentro deste sistema, que Lipo-
vetsky chama de “sexdução”, uma espécie de abdução pelo caráter sedutor
das coisas. O indivíduo se encontra num presente eterno, meio que inaugural,
sem considerar o passado como fonte importante de informações e experi-
ências, sem considerar o futuro na perspectiva da mudança e das revoluções
necessárias para algo ser alcançado, O narcisismo contemporâneo ressalta o
indivíduo preso a sua imagem, parecendo libertar-se, enquanto não encontra
outra saída a não ser a exaltação da própria imagem, muito presente no texto
do próprio mito, Donaldo Schuler traduz o texto de Ovídeo que relata quando
o jovem Narciso aproxima-se da fonte para aplacar sua sede:
FILOSOFIA E CIDADANIA
30 Bebendo, prende-o a imagem da
formosura vista, ama esperança
sem corpo, reputa corpo o que é
sombra. Extasiado face a si
mesmo, imóvel, ao mesmo vulto
preso, como se fora estátua
talhada em mármore pário.
6. A INSTRUMENTALIZAÇÃO DA RAZÃO
Se a contemporaneidade é marcada pela desconstrução, precisamos
saber acerca do que ela está a se referir quando reforça tal desdobramento.
Pois é a partir destes elementos que podemos falar de uma crise da razão. Ela
se estende à visão que se tem da realidade, desdobrando-se como uma crise
da visão. O grande exercício do pensamento contemporâneo é justamente de
se desenvolver um novo olhar, ou de conseguir desprender o olhar de uma
compreensão homogênea e estigmatizante. A crise também se estendo para
os modelos prontos, para as formas acabadas.
FILOSOFIA E CIDADANIA
A crise da razão diz respeito a insatisfação com o modelo de sociedade,
primordialmente à insuficiência de uma tomada de consciência mais ampla da
31
condição humana. Critica o modo como se constrói conhecimento, pois se fa-
lamos de uma crise da razão referimo-nos fundamentalmente ao modo como
se constitui a ciência no contexto da sociedade atual. Motivando o exercí-
cio de desconstrução no âmbito epistemológico, mas também institucional. A
desconstrução e a reformulação do pensamento contemporâneo não podem
ser confundidas com o abandono do conhecimento, com a desqualificação
da sua necessidade. É algo que não autoriza crendices e teses absurdas de
ganharem ênfase, ainda que se destaquem nos espaços midiáticos sob o selo
da renovação.
Há uma questão com os modelos de ciência que se estenderam até
a contemporaneidade, todos eles desaguam na tecnociência, como se esta
fosse a própria culminância maior de sua elaboração. Contudo, os modelos
continuam de algum modo a reivindicar, no lugar que ocupam, o seu reconhe-
cimento como um conhecimento neutro, imparcial e objetivo, por excelência.
É na tecnociência que se faz presente a “razão instrumentalizada”, em vista
dos resultados que esta pretende apresentar, há uma sugestão de onipotência
com a qual a tecnociência se estende aos mais variados âmbitos. Constitui-se
implicitamente por uma lógica de poder, através do quadro referencial para o
qual se estabelece a visão da realidade sugerida.
FILOSOFIA E CIDADANIA
32 A razão instrumentalizada tem um desdobramento bem específico no
campo da tecnociência. Quando este humano é restituído, por vezes enqua-
drado. para uma perspectiva naturalista, ele é retirado do seu campo de totali-
dade. É nesta perspectiva que se constrói uma imagem que serve de ilustração
do poder desse campo de conhecimento, que não é apenas uma representa-
ção, mas que também configura um simulacro. Institui-se uma representação
auto-referencial que de certo modo perde a própria imagem do humano, man-
tendo-se apenas enquanto “imagem da própria imagem”, fazendo-nos per-
ceber a própria anulação da realidade, em lugar de uma oferta incontestável
dessa realidade. Tal situação pode ser identificada nas situações mais cotidia-
nas. Certa vez alguém passando na frente de um hospital viu estendida sobre
a grade da instituição uma faixa com uma afirmação que funcionava como uma
reivindicação, dizia, vamos “Humanizar o Pronto Socorro”. Cada um de nós
entende bem o que quer dizer a frase da faixa, já tivemos experiencia com os
atendimentos em locais como este. A pergunta que sobressai é, porque este
lugar, ainda que mantido e habitado por humanos, ainda que com todo apara-
to tecnológico e com procedimentos técnicos realizados pelos seus agentes,
não é humanizado. Em diversos outros setores da vida do trabalho essa rei-
vindicação, por uma humanização, continua a fazer todo o sentido, quando
se reconhece que nestes espaços a razão foi instrumentalizada a ponto de se
perder o traço característico que nos define, a humanidade. Para entender o
estabelecimento do modelo de razão instrumental, Heidegger apresenta o
modelo:
A riqueza da terra desabriga-se agora como reserva de carvão, o
solo como espaço de depósito de minerais (...) O campo é agora
uma indústria de alimentação motorizada. O ar é posto para o
fornecimento de nitrogênio, o solo, para o fornecimento de mi-
nério, para o fornecimento de urânio, este, para a produção de
energia atômica. (...) (HEIDEGGER, 1997, p. 57)
FILOSOFIA E CIDADANIA
No desenraizamento há uma libertação das diferenças, enlaces que se
constroem ou se desfazem, sem precisarem se justificar, pelo simples desejo
33
de experimentar, de criar inovações. Vattimo adverte que “ não é necessaria-
mente o abandono de toda e qualquer regra, a manifestação bruta do ime-
diato” 17 É um modo de tomar a palavra no conjunto do debate público, nas
esferas democráticas, na busca por inserção na vida e na vigência das leis que
defendem e reconhecem o surgimento dos grupos socialmente organizados,
suas pautas e sua presença em meio ao caldo cultural. E neste movimento que
oscila e por vezes se vê frágil e faltoso, a possibilidade que temos de nos ver-
mos como humanos e desse modo agirmos como tal.
Em relação aos sistemas de controle político vão destacar o risco de se jus-
tificar a barbárie como forma de naturalizar o mal. A instrumentalização da razão
se fez presente no jogo das guerras que marcaram o século XX. A guerra revela
um modelo de racionalidade incompatível com nosso processo civilizatório. Em
lugar de progresso o que se reivindica para a história é a emancipação e não a
submissão aos sistemas de controle. Pois a história não é um curso unitário, cons-
truímos uma historiografia que transforma o sentido dinâmico da história em algo
estático porque constrói nexos causais, sistemas de correlação, encenando uma
representação que na verdade encobre, muito mais do que mostra.
Uma história emancipatória é aquela que identifica os sistemas de con-
trole, os expõe e os ultrapassa através das iniciativas sociais. Ingênuo pensar
que há um ponto a partir do qual pode se construir o discurso acerca de feitos
e acontecimentos. São vários os pontos que se percebem na sua fragilidade, a
mesma, sem um se sobrepor. Insurge sempre um elemento etnográfico, quan-
do qualquer escrita é ensaiada, mesmo a escrita do nosso presente. O ideal da
Europa é mais um dentre outros, ocorre o mesmo com o ideal estaduniden-
se. E isso é estabelecido especialmente pelo advento da comunicação. Pelas
possibilidades de realizar várias transmissões, de observar por vários ângulos
e termos vários diálogos incrementando a plurivocidade dos nossos tempos.
Quebrando visões estereotipadas, derrubando heróis e reconstruindo outros,
conforme os nossos interesses coletivos e sociais.
A contemporaneidade é marcada pelo advento crescente de novas tec-
nologias. Estas constituem um importante instrumento para consolidação do
mundo globalizado no qual nos encontramos, seja no que diz respeito à infor-
mação, seja no que diz respeito à comunicação. Elas constituem e compõem
uma realidade incontornável que envolvem neste processo de expansão, pois
se percebe que o conhecimento requer dos seus promotores a habilidade em
se comunicar e estar continuamente informado. Quebra-se um antigo paradig-
ma de que o filósofo seria um pensador ensimesmado, fechado no seu campo
de reflexão. Há uma ampliação do campo de visão de quem busca o conhe-
cimento, este insere o conhecedor curioso num caleidoscópio de percepções
e compreensões. Desde autores mais otimistas que exaltam as características
da realidade virtual até autores mais críticos que observam a expansão do
império da técnica , as novas tecnologias surtem como um tema importante
pelo seu poder de integração interconectando o local ao global, reconfigu-
rando as geopolíticas e a capacidade criativa das reflexões acerca do mundo
contemporâneo.
FILOSOFIA E CIDADANIA
34 Indicação de Leitura Complementar
LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo
contemporâneo. São Paulo: Manole, 2003.
FILOSOFIA E CIDADANIA
Para Refletir 35
Diversas questões da contemporaneidade dizem respeito ao modo
como compreendemos este momento histórico marcado pelo pre-
domínio de imagens e de situações que não podem ser considera-
das reais. Uma sociedade que promove o hedonismo em suas mais
variadas manifestações e vivências. Como se a vida se transformas-
se num grande parque de diversões.
Ressaltamos que alguns pontos são importantes para pensarmos a
atualidade da filosofia. Desse modo, para refletirmos acerca desse
lugar filosófico elaboramos os seguintes questionamentos:
• Como podemos nos considerar verdadeiramente informados
nesta sociedade em que a informação cada vez mais nos falta?
• Como é possível construir um certo olhar crítico sobre a nossa re-
lação com a tecnologia, com o consumismo e com as sutis formas
de dominação?
FILOSOFIA E CIDADANIA
36
TEMA 3 – A POLÍTICA COMO EXPRESSÃO
DA CIDADANIA (QUEM É ESSE
SER FILOSÓFICO?)
1. APRESENTAÇÃO
FILOSOFIA E CIDADANIA
para se defender das adversidades. A visão sobre a natureza humana oscila
muito entre os pensadores que a definiram como boa, ou como uma natureza
37
má. Em ambas a situações estes pensadores destacam o lugar primordial da
política para que o equilíbrio social se estabeleça.
A política existe para que os conflitos que nos movem não sejam resol-
vidos pela ação da força, pela ação guerreira, que em lugar de nos fazer parar
para conversar, incitaria a violência de uns para com os outros. Realizamos po-
lítica para através do diálogo forte e elaborado possamos chegar a um ponto
de convergência. Isso não significa dizer que iremos pensar do mesmo modo,
mas que diante daquela situação tomamos a mesma decisão.
Um e outro, seres sociais, abriram mão em troca de uma negociação,
em troca de um bem. A política funciona como um “bem comum”, como uma
ação que interliga indivíduos nas suas diferenças. Nenhum partido, nenhuma
associação, nenhum grêmio estudantil funciona com pessoas que pensam do
mesmo modo e creditam a solução dos problemas à mesma medida a ser
tomada, porém, estas pessoas, por estarem na vivência política estabelecem
critérios em prol de se chegar num ponto de concordância. Numa consciência
comum. André Comte-Sponville define toda essa situação do seguinte modo:
FILOSOFIA E CIDADANIA
38 dentro do rol de conflitos que falávamos a pouco. Na política temos uma pá-
tria, temos um território, há uma pauta e um grupo representado. O equilíbrio
da ação política é a promoção da cidadania e o bem-estar para o cidadão.
Entendemos que não é apenas um ato de generosidade acabar com a miséria
e com a exclusão, mas um embate de forças que se colocam em nome de uma
legitimidade.
FILOSOFIA E CIDADANIA
3. A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 39
COMO FATO POLÍTICO
FILOSOFIA E CIDADANIA
40 A ação dos seres humanos na sociedade é um tema que surge como
uma questão central no mundo constituído, tornando-se uma preocupação
da filosofia a partir do século IV a.C.. Platão e Aristóteles debruçam-se sobre
a tarefa de justificar racionalmente a existência social do humano. E como o
pensamento antigo encontra na cidadania uma inserção necessária para que
os indivíduos conquistem sua plenitude existencial, as obras sobre a política
envolvem reflexões sobre estratégias, mas sobre os diversos setores da socie-
dade, sua organização e sua estruturação. A lição que fica dos gregos é de que
a política está intimamente ligada à construção do espaço público, muito mais
do que as urnas, a democracia é representada pelo comício, pela propaganda
eleitoral, pelo corpo-a-corpo dos políticos, dialogando com seu eleitorado.
Nos dias atuais autores como Zygmunt Bauman se preocupam com
uma espécie de liquefação do Estado-nação, pois as questões públicas não
estão sendo absorvidas pelo Estado, ficando a sociedade de fora daquela
proteção oferecida e que dá sentido mesmo ao Estado. É um mundo crivado
por “auto-estradas da informação”, mas à mercê de outras forças que não
aquelas advindas do governo.
FILOSOFIA E CIDADANIA
4. A QUESTÃO DO PODER COMO 41
OBJETO DA POLÍTICA
FILOSOFIA E CIDADANIA
42 se mostra, mas sempre oculta mais do que mostra. Desconstruindo em alguns
momentos os limites entre o privado e o público. O grande risco dessa ten-
dência é a afronta ao ideal democrático que deve estar presente em todo o
governo. Diz Bobbio:
FILOSOFIA E CIDADANIA
provocou grande impacto negativo no fortalecimento dos sindicatos, diluindo
qualquer consciência acerca das formas coletivas de reivindicação. Vende a
43
iniciativa individual como chave do sucesso, mas entende, sub-repticiamente,
que isolado o trabalhador é mais submisso e vulnerável às exigências da ex-
ploração. A política institucionaliza-se em prol de uma setorização das ações,
em nome da funcionalidade, são várias as formas de fragmentação em que a
própria unidade política, a reivindicação coletiva não faz presença. A visão de
conjunto soçobra como desnecessária ou dispendiosa, funciona uma lógica de
mercado como parâmetro de organização da própria sociedade. Milton Santos
faz o seguinte comentário acerca dessa condição:
“A vida assim realizada por meio dessas técnicas é, pois, cada vez
menos subordinada ao aleatório e cada vez mais exige dos homens
comportamentos previsíveis. Essa previsibilidade de comportamento
assegura, de alguma maneira, uma visão mais racional do mundo e
também dos lugares e conduz a uma organização sociotécnica do
trabalho, do território e do fenômeno do poder. Daí o desencanta-
mento progressivo do mundo.” (SANTOS, 2009, p.46)
FILOSOFIA E CIDADANIA
44 5. A PREOCUPAÇÃO SOCIAL COMO
PREOCUPAÇÃO POLÍTICA
Nos dias atuais cada vez mais pensamos na relação necessária entre
cidadania, implantação de políticas públicas, seguridade social e participação
do Estado na vida dos cidadãos. Desde muito tempo se percebe a neces-
sidade de estabelecer redimensionamentos para a política social em nosso
território nacional, na tentativa de sanar os limites que se estendem ao Estado
de chegar a certos espaços sociais, mas também às barreiras que fazem com
que estes agentes não cheguem a apresentar suas pautas num contexto de
planejamento de políticas. Percebemos, no mais das vezes, como as políticas
sociais restringem-se a espaços segregados compondo cada qual o seu méri-
to, isoladas no seu virtuosismo particular. Há impasses em que nem o Estado
alcança esses grupos e nem esses grupos constituem representatividade para
apresentação de suas pautas. E pior ainda, com o isolamento, os recursos per-
maneceram concentrados e centralizados, presos a trâmites burocráticos e
medidas administrativas. Um olhar sobre a política social nos faz sempre aten-
tar para os impedimentos estruturais nos quais a política se estabelece, mas
sem uma preocupação com a cidadania.
FILOSOFIA E CIDADANIA
45
FILOSOFIA E CIDADANIA
46 do trabalho vem passando e o surgimento de certas situações de crise nesta
esfera que vem se desdobrando desde o século passado para este atual:
FILOSOFIA E CIDADANIA
47
Manifestação pelas vidas negras ocorreu no Centro de Porto Alegre. Foto: Alina Souza
7. RETROCESSOS E AVANÇOS
DO DIÁLOGO POLÍTICO
FILOSOFIA E CIDADANIA
48 mas bem situadas de formas de intolerância: xenofobias, racismos, machis-
mos, eurocentrismos, entre outras. Uma lógica de demarcação de retrocessos
mistificada e que tende a escamotear suas raízes.
A mistificação diz respeito ao estabelecimento de certos riscos sociais,
como por exemplo, o apelo à ordem, visto compreender a pluralidade como a
instauração de um caos. Há o argumento pautado na própria crise pela qual este
momento histórico passa e que serve de palanque para reivindicações e prolife-
ração de convicções de caráter moralizador. Incorporando elementos econômicos
do neoliberalismo e se atualizando em novas formas, sutis, de exclusão. Entrevendo
em seus resultados o desenvolvimento, o progresso a evolução ligados a uma
única lógica. Conforme Barroco, quando trata da ofensiva neoconservadora:
FILOSOFIA E CIDADANIA
Indicação de Leitura Complementar 49
CORTELLA, Mário Sergio; JANINE RIBEIRO, Renato. Política: para
não ser idiota. Campinas: Papirus , 2010.
FILOSOFIA E CIDADANIA
50 porque ocultada numa herança por vezes exaltada como sinônimo
de força, por vezes esquecida.
Esse imaginário dolorido reforça as ilusões de uma tolerância,
de uma abertura e de uma passividade que facilmente é negada
seja pelos ímpetos conservadores que espreitam a política
nacional, seja pela herança histórica de uma ditadura que trouxe
à tona os subterrâneos de uma cultura autoritária e extremamente
preconceituosa.
A autora se estende aos comportamentos coloniais que se
revestem de comportamentos racistas e excludentes, reforçando
um racismo estrutural enraizado no autoritarismo, retomando
a urgência das pautas relacionadas à justiça social e à busca de
uma cidadania igualitária. Daí também a necessidade de destacar
figuras históricas que reforçaram e suas estratégias de manutenção
de uma lógica de exclusão. Um povo que não conhece ou mascara
a sua história jamais consegue se enxergar.
Para Refletir
Em meio à reflexão acerca da política podemos pensar a necessi-
dade de que o diálogo sempre seja levado em consideração para
a visualização de possibilidades e que possamos pensar a partir de
tais possibilidades a construção de uma sociedade mais plural. Não
há como pensarmos a construção dessa pluralidade sem apresença
da política. Sem o debate político como motriz para o estabele-
cimento de transformações. Desse modo, para refletirmos acerca
das questões política elaboramos os seguintes questionamentos:
• Como olhar para o local e identificar nossas potencialidades?
• Como identificar os sistemas de dominação que ainda fazem par-
te deste novo modelo de sociedade?
FILOSOFIA E CIDADANIA
51
TEMA 4 – A CIDADANIA COMO CONDIÇÃO
ÉTICA (COM QUEM EU FILOSOFO?)
1. APRESENTAÇÃO
2. A REQUISIÇÃO DA ÉTICA
FILOSOFIA E CIDADANIA
52 quência que vincula Filosofia e Ética. Há uma relação muito peculiar entre a
verdade e o bem, no intuito de enfatizarmos que este último, “o bem”, garan-
te à verdade sua importância, implicando desse modo na realização da vida
social, afinal de contas diz respeito a todos, a verdade descoberta. Esta rela-
ção ambivalente em que a verdade e “o bem”, que advém dela, se estabelece
pelos mais variados períodos da história, constituindo diferentes maneiras de
refletir acerca da moralidade vigente e das maneiras com as quais se estabe-
lece a vida coletiva.
A ética, do mesmo modo que a política, requer uma concretização na
vida prática, são desdobramentos da reflexão filosófica consolidando uma uni-
versalidade que sustenta um princípio norteador. A política no que diz respeito
às relações de poder e a ética, no que diz respeito à moral.
FILOSOFIA E CIDADANIA
3. AS REGRAS MORAIS, A EDUCAÇÃO E 53
O APRENDIZADO
FILOSOFIA E CIDADANIA
54 No início deste livro fez-se destaque ao modo como a concepção de
educação grega foi assimilada pelo mundo ocidental. É de lá que vem seu mo-
delo mais significativo ainda quando buscamos compreender essa sociedade e
de certo modo, ainda quando buscamos sua reformulação. Quando buscamos
estudar o início da filosofia é para identificar, nas mudanças, os elementos
implementados desde o modelo de pensamento dos gregos aos traços mais
marcantes que chegaram até nós.
O resgate da cidadania aponta de certo modo para uma tomada de
consciência que creditamos a uma formação plena dos seres humanos para a
vida na sociedade. Uma formação cidadã que extraia da ética os imperativos
e diretrizes de sua convivência. Cumprimos habitualmente com rituais que
nos fazem perceber a dimensão simbólica na qual construímos nosso modo de
ser, ritos que fazem parte da esfera subjetiva que caracteriza nosso universo
interior, mas que também caracterizam toda a produção artística e intelectual
com a qual lidamos por anos na composição da história humana.
Ação de limpa nas praias contou com a participação de vários voluntários. Foto: Lucas Rodrigues
Palma/G1
FILOSOFIA E CIDADANIA
A moral diz respeito a regras que se cristalizaram ou que passam a ser
reconhecidas como verdadeiras. Tem a função de consolidar as expectativas
55
acerca dos outros, daqueles que dividem nosso espaço e ouvem o discurso
que compartilhamos. A convivência é elemento de estruturação da nossa exis-
tência. A moral em alguns momentos direciona-se à necessidade de reco-
nhecimento dos fins da ação, é teleológica. Dentre as formas de moralidade
que se desdobram neste movimento temos o utilitarismo (que se volta para a
aplicabilidade), o hedonismo (que se voltada para o prazer), o eudemonismo (
que se volta para o bem) e a axiologia (que se volta para os valores).
Outra forma de manifestação da moral é quando ela se volta para o dever.
Uma moral deontológica. Tal qual o estoicismo (implicando numa abnegação
para através da indiferença construir sua maior fonte de paz e tranquilidade).
Formamos tradições no decorrer do tempo, ou escolas de pensamento
centrados numa ética. A relação de pertencimento que emana do pensar, im-
plica num fazer, ou melhor num bem-viver que é proferido por tais instâncias
de pensamento, estimuladas e empreendidas por grupos de pensadores que
se sucedem. Regras que já até nos antecedem e se encontram nos nossos ci-
clos desde o nas cimento, outras que são incorporadas, adquiridas, conforme
nossa tomada de consciência. Avançando para estruturação da nossa identida-
de e das possibilidades de convivência que elas implicam.
Desde crianças, através de situações muito simples e que parecem ser
unicamente lúdicas, como através dos contos de fadas, as regras morais são
estendidas para o aprendizado. Histórias como a do Pinóquio que a cada men-
tira, o nariz cresce. Os contos de fada de Hans Christian Andersen, como a
pequena sereia, um ser das águas que quer se transformar em humano e se
dispõe a realizar todos os sacrifícios em nome desse desejo que a realiza. Os
contos de fadas mantém um conteúdo moral que é avaliado internamente por
aquele que os ouve, divisando lados e o preço que devemos pagar por nossas
ações. É uma preparação para a vida adulta. Momento em que precisaremos
demarcar limites, conforme as consequências boas ou más que possam advir.
É uma forma sutil de sair de uma consciência inocente para uma consciência
racional.
FILOSOFIA E CIDADANIA
56 , sendo mais consciente age conforme seus valores morais evitando sentimentos
de remorso e comoção. Consideramos que este sentimento de consciência está li-
gado a aspectos considerados superiores, por isso chamamos a consciência moral
de voz interior, estendendo a cada humano os princípios que o norteia. A consci-
ência moral também dirige-se à política, quando pensamos no interesse do bem
comum enquanto fonte das ações e das percepções do indivíduo.
E por que a racionalidade precisa estar impressa nas nossas ações? Per-
cebemos que logo cedo, no seio familiar já estamos sendo educados para o
mundo, o que se chama de educação do sentimento, as virtudes ensinadas às
crianças, as noções advindas acerca do que é o bem e do que seja o mal. Os
sentimentos que se constituem se desdobram em ímpetos instintivos e em
uma intuição acerca do que se deve ou não fazer. Neste momento o indivíduo
já começa a se perceber sujeito moral. E começa a ficar atento em relação a
ferir ou não a sua consciência moral. Pois podemos até agir conforme outros
interesses, conforme interesses egoístas, por exemplo, mas nos questionamos
se isso vai nos deixar de consciência tranquila ou não.
FILOSOFIA E CIDADANIA
No estabelecimento a contemporaneidade as transformações que foram
sugeridas e o abandono das certezas deixadas pela modernidade não foram
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deixadas facilmente. Tanto pelo risco das incertezas, quanto pela astucia dos
conservadores que foram contra as transformações. Para que tais transfor-
mações não fossem estabelecidas por força de uma mera imposição ou pelo
advento de uma aleatoridade, a contemporaneidade recorreu à ética para que
esta mantivesse uma justificativa válida acerca do seu advento.
A contemporaneidade desfralda a perfeição com a qual a modernidade
havia se pautado. Aponta as estruturas de poder presentes e que se acentu-
avam nos seus dispositivos de opressão e de exploração. Desde toda a bu-
rocracia que foi produzida em nome da organização de setores, ao pesadelo
dos sistemas totalitários que ensejavam um modelo estranho de sociedade.
Desfralda-se assim os critérios de desenvolvimento e evolução. Desfazendo
expectativas ingênuas acerca das ideias de progresso da humanidade ou de
neutralidade do conhecimento científico. Desde as crises que se acentuam
estendendo-se de questões ambientais a instauração de novas formas de
identidade social.
FILOSOFIA E CIDADANIA
58 Há uma relação direta com erosão do próprio princípio de realidade,
mas o foco maior é na composição desse novo modelo de humano e das pos-
síveis relações que este estabeleça para com os seus e para com os outros.
Daí essa racionalidade advinda da reflexão ética começa cada vez mais a se
misturar com as comunidades culturais, étnicas, sexuais, entre outras. Há uma
busca de transcendência na imanência.
5. O ETHOS MUNDIAL
FILOSOFIA E CIDADANIA
A partir deste entendimento, a problemática se dirige para a construção de
um consenso pautado na solidariedade no intuito de uma convergência para
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a diversidade.
Daí o resgate do termo “Ethos”, como um habitar o cuidado, como
corresponsabilidade, interligando injustiça social a injustiça ecológica, por
diversos fatores. Compreendendo de maneira ampla a geografia humana
no sentido de entender que os problemas sociais também repercutem num
abandono para com o mundo e os espaços habitados por estes indivídu-
os. Do mesmo modo que se entende que a injustiça ecológica implica num
sofrimento para as pessoas que habitam determinadas regiões. Isso é tão
frequente que recorremos a uma exemplificação muita próxima do nosso
espaço de circulação, aqui no nordeste brasileiro.
A cidade de Maceió vem vivenciando um caso de crime ambiental que
envolve não apenas danos materiais, mas danos na dimensão da vida e do re-
conhecimento da cidadania a pessoas que além de requererem seus direitos,
pedem de algum modo a responsabilizazçao por danos e o respeito pela sua
condição cidadã. O crime envolve um processo de subsidência do solo, em
função da extração da salgema, fato recorrente por um longo tempo. Em que
as análises técnicas só foram trazidas a público em função da necessidade de
retirar mais de cinquenta e sete mil moradores de quatro bairros vizinhos. Foram
14 mil imóveis desocupados. Famílias deslocadas, prédios históricos condena-
dos, praças e espaços públicos desertificados, uma micro-cidade fantasma em
meio à própria cidade. Direitos não reconhecidos, indenizações minimizadas,
comunidade local isolada, suicídios, choro e muitos discursos de lamentação
acerca da necessidade de abandonar sua casa em função de um crime ambiental
executado por uma empresa no afã da exploração e da obtenção de lucro.
Chegamos num momento da história em que a ONU reconhece o meio
ambiente como direito humano. Boff vem na esteira de pensadores e ativistas
que entendem a preocupação com o planeta como um princípio ético e como
elemento de consolidação de uma vida cidadã. Compeeendendo que o dese-
quilíbrio ecológico atinge a terra enquanto esta é um sistema, integrador de
sistemas. Daí a recorrência a questão do Ethos e a reivindicação de uma ética.
“Por ethos entendemos o conjunto de inspirações dos valores e dos princípios
que orientarão as relações humanas para com a natureza”
A ética se estabelece a partir de uma mudança de paradigmas. Uma ação
que se constitua coma prática libertadora, acrescentando um novo momento a
história da própria sociedade, ao nosso processo civilizador. Uma nova ótica que
advém da capacidade de compreender o mundo. Resta o trabalho com as cons-
ciências, com o reconhecimento, com a repetição de boas práticas sugeridas por
um novo modelo de moralidade. Há uma necessidade urgente de instituições e
de políticas que tenham no centro da sua logística, a preocupação com a terra.
Porque através de uma nova consciência advém uma cidadania planetária. Há
um novo patamar para a história anunciado desde o advento da contempora-
neidade, dessa abertura é que surge o entendimento da terra como totalidade,
reintegrando humanidade e terra nos mesmo discurso, pois constituem um todo
orgânico e sistêmico. Quando a terra é ameaçada, a humanidade sofre.
FILOSOFIA E CIDADANIA
60 Através do reconhecimento da singularidades das culturas abre-se a
cada momento a necessidade de intensificação dos diálogos. Através desses
entre-lugares o eleo sistêmico e universal do qual partimos no contemporâ-
neo. Todos os sistemas foram desfraldados, a fragmentação nos lançou numa
condição niilista a partir da qual o excesso se auto-destrói. Mas através de uma
ética planetária recuperamos uma universalidade nova, ainda que tão antiga.
Ouvimos novos discursos, ainda que silenciados no decorrer da história. O
passo de volta não configura um retrocesso, uma revisita romântica ao passa-
do, mas re-descoberta. Descobrir o que ficou oculto e até esquecido.
6. A CIDADANIA E AS CAMADAS
DA VIDA AUTÊNTICA
FILOSOFIA E CIDADANIA
Através do estudo do nascimento da filosofia percebemos que todo
pensamento implica numa ação, toda ética implica numa moral. A interrelação
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entre o modo de compreender a realidade e a ação prática, cotidiana a serviço
do bem viver é extremamente integradora no sentido de formar um humano
sob a perspectiva do holismo. Sob a perspectiva de totalidade sempre incitada
pelos filósofos no decorrer da história.
FILOSOFIA E CIDADANIA
62 processos educacionais, novos conteúdos, novas diretrizes metodológicas que
funcionam mais do que o aprofundamento dos velhos sistemas de pensamento.
A ética aproxima-se cada vez mais de uma compreensão da vida na terra sob
a ótica de uma interconexão planetária que nos faz reconhecer, em vista do
encurtamento de distâncias, que nos encontramos no mesmo espaço. Não é
algo apenas quantitativo no sentido de uma métrica, mas algo qualitativo no
sentido de um ethos, de uma morada.
A cidadania necessita ser vista nesse sentido amplo, englobando as
regras cotidianas de civilidade e etiqueta, mas também o espírito inquieto e
revolucionário que restitui a cada humano sua autenticidade. Mantendo vigília
sobre as formas sutis de exclusão ainda presentes no nosso contexto e veicu-
lando as formas inovadoras de inclusão, pautadas pela ciência e pela aplicação
consciente da tecnologia, voltada para favorecer a condição humana, indife-
rente da origem ou classe social. Permanecem sob nosso olhar os desafios
inerentes à inclusão social e a instauração de uma sociedade justa. Através
do processo formativo se instauram as primeiras compreensões acerca da im-
portância da nossa profissão, acerca dos elementos necessário para a cons-
trução do bem-estar civil como sinônimo de saúde e de obtenção de direitos.
Configura-se a cidadania como um caminho inerente à conscientização e ao
estabelecimento de laços que passam a nos caracterizar em nossa dimensão
humana e humanizadora.
FILOSOFIA E CIDADANIA
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Implica em respostas urgentes para situações que não são des-
lindadas e que em alguns momentos se naturalizam diante dos
nosso olhar. O caso brasileiro é
Permeado da avanços e recuos. De leis significativas, mas ine-
ficazes frente as desigualdades históricas e a vulnerabilidade
crescente. Acrescenta-se a isso o poder midiático de manipula-
ção das massas e de ocultamento da responsabilização por par-
te de empresas e líderes políticos. É o que faz os autores elabo-
rarem uma obra que busca tratar de frente o tema da cidadania.
Para Refletir
• Por que a cidadania constitui o mais eficaz remédio contra a
violência estrutural?
• Quais são as formas de visualizamos a cidadania de maneira
mais ampla dentro das novas demandas sociais?
FILOSOFIA E CIDADANIA
64 Referências
ARANTES, Paulo. (et. al.) Filosofia e seu Ensino. Petrópolis: Vozes, 2006.
AZEVEDO, Antônio (Org.) Curso de Filosofia. São Paulo: Jorge Zahar Editor,
2017.
BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2020.
CORTELLA, Mário Sergio; JANINE RIBEIRO, Renato. Política: para não ser
idiota. São Paulo: Papirus, 2010.
FILOSOFIA E CIDADANIA
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto.
2019.
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DELEUZE, Gilles; GUATARI, Félix. O que é Filosofia? Lisboa: Edições 34,
2020.
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