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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

EXTENSIVO

ENEM
2023
Aula 01 – Redação
Tema, projeto de texto, tese e esboço

Prof. Fernando Andrade

AULA 01 – REDAÇÃO 1
estretegiavestibulares.com.br vestibulares.estrategia.com
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 4

1. ATITUDE INICIAL 4

1. O TEMA NO ENEM 5

1.2.Temas que já caíram 6


1.2.1. Análise dos temas 7

1.3. Interpretação apropriada do tema 12

2. TEXTO E CONTEXTO 13

3. LEITURA DA COLETÂNEA E RECORTE 17

3.1. Leitura comentada da coletânea 17

3.2. Recorte 20

4. PROJETO DE TEXTO 21

5. PONTO DE VISTA E TESE 22

5.1. A Estrutura da Tese 26

5.2. A tese no Enem 27


5.2.1. Tipos de manifestações textuais da tese 29

5.3. Redação exemplar 30

6. ESBOÇO 31

6.1. Brainstorming 31

6.2. Esboço 34

6.3. Material de repertório 36

7. O PARÁGRAFO 37

7.1. Respostas dissertativas 38

8. TÓPICO FRASAL 40

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8.1. A unidade do parágrafo 41

8.2. Criando e desenvolvendo um tópico frasal 42

8.3. Gênero Comentário 47

8.4. Exercício: Comentando uma coletânea 48

9. LINGUAGEM: A FRASE OU DE QUANTAS MANEIRAS SE PODE DIZER QUASE A


MESMA COISA 52

9.1. Estilo 54

10. PROPOSTAS DE REDAÇÃO 56


Proposta 1: UFPR 2017 56
Proposta 2: Enem 2016 57

10.1. Possibilidade de encaminhamento da proposta 59


Proposta 1 59
Proposta 2 62

12.CONSIDERAÇÕES FINAIS 67

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Atenção: essa é a primeira versão, sem revisão do texto final. Você pode encontrar alguns
erros e faltam pelo menos um exercício e um tópico.
A atualização será disponibilizada dentro de 24h. Não se esqueça de substituir os cadernos.
Grato pela compreensão.
Fernando

Introdução

Salve,

Esse é o pdf 01 de Redação voltada para o Enem. Vamos juntos. No primeiro pdf,
procurei reunir as informações mais relevantes para quem está se preparando para o exame.
Fiz uma leitura dirigida da "Cartilha do Candidato”. Mas isso em si mesmo não é lá de grande
valia, afinal, você poderia ler sozinho as recomendações do INEP que, aliás, são muito boas.
O que você encontrou de efetivo no pdf anterior foram os exercícios e a explicitação da lógica
que direciona a escolha temática do ENEM.

Considerei alguns tópicos importantes e que serão frequentemente retomados: projeto


de texto, situação-problema e mundo ideal. Para mim redação é prática. Nesse caso, os
conceitos discutidos, se não se traduzirem em exercícios e prática de escrita, de nada valem.
Na aula anterior, esses três conceitos foram mencionados para que você entendesse melhor o
ENEM. Neste pdf, voltaremos a eles para discutir a produção de tese, algo até simples no caso
do ENEM, mas valioso para qualquer tipo de dissertação.

O nosso foco agora é prestar atenção ao caminho que leva à escrita: interpretação do
tema, confecção do projeto de texto, definição de tese e produção de rascunho.

Este pdf é sobre isso e muito mais, na medida em que você vai encontrar material para...

treino, muito treino....

Boa aula; bons textos e boa escrita.

1. Atitude inicial

Eu entendo. Escrever é árduo e muitas vezes humilhante. Você faz um texto irado, pede
que alguém leia, e o máximo de reconhecimento que recebe é “tá legal”. Caramba, “tá legal” é
a pior coisa que alguém gostaria de ouvir quando deixa aquele filhinho chamado texto na mão
de qualquer um. Por isso, vai um conselho de Yoga que acho perfeito para quem escreve.

Na Yoga, você não deve olhar para os outros. Deve olhar para dentro de si e desafiar
seus próprios limites, colocar-se à prova para conhecer seus limites numa espécie de processo

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de conhecimento. Olha que ideia perfeita para redação. Escreva para melhorar suas
habilidades, reconhecer seus limites e descobrir capacidades expressivas próprias.

A melhor maneira de fazer isso, nesse momento, é procurar temas que você domina.
Um dos autores sobre redação que acompanho contou uma experiência interessante. Em uma
sala em que os alunos tinham bastante resistência para escrever, ele fez uma proposta
indecente: “escrevam o texto das suas vidas, sobre algo que você sabem fazer”. Um dos
alunos, que basicamente nunca escrevia, entregou um texto sobre como fazer uma prancha de
surf. Não era qualquer texto. Realmente, o rapaz tinha soltado o verbo. Ficou muito claro para
o professor que a maior dificuldade para a escrita é o objeto do texto. Deixe o escritor se
expressar sobre o que ele realmente conhece, e o texto será o outro.

A sugestão, portanto, nesse começo de percurso de estudo, é que você escolha, por
ora, os temas que você domina. Deixe sua linguagem fluir.

1. O Tema no Enem

A perspectiva de formação escolar é cartesiana. Isso significa que o tipo de discurso que
circula em qualquer área da ciência vale-se dos pressupostos de René Descartes (1596-1650),
filósofo que lançou as bases do método científico. Bom, o pensador era também matemático,
então você já viu...

Ele postulou que a verdade poderia ser alcançada e, para isso, bastaria recolher
evidências, reuni-las pelo pensamento linear, obedecer às regras de dedução e o resultado
seria a coação de outras mentes. O bordão do rapaz era: “aquilo que for pensado de forma
clara e distinta será verdadeiro.”

O ENEM, além de cartesiano, ainda é iluminista, como vimos no pdf anterior. A banca
seleciona uma situação-problema que de alguma maneira fere os direitos humanos e pede que
o candidato escreva um texto sobre isso. Ou seja, o tema no Enem se identifica com uma
situação que deve servir como ponto de partida para a reflexão. Qual a importância do tema?

Como diz o renomado professor Whitaker Penteado:

Selecionado o tema central, seu desenvolvimento vai disciplinando as ideias, organizando-as


em uma sequência de operações intelectuais – como se as colocássemos em uma linha de
montagem e, na medida de sua movimentação, fossem submetidas a sucessivas operações
mecânicas (p.224). 1

Nesse sentido, o ENEM não oferece nenhuma dificuldade. O tema é claro e explícito,
mas isso não significa que a apreensão das nuances do tema sejam fáceis, pois a banca
considera que o candidato deva perceber a profundidade da questão abordada.

1
Penteado, J.R. Whitaker. A Técnica da Comunicação Humana. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 8ª edição, 1982

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1.2.Temas que já caíram

O que é, o que é... o que é que vai cair no Enem?


Devido à dificuldade óbvia em determinar isso, que tal observarmos o que já caiu?

Temas Ano Tema Eixo


1998 Viver e Aprender Ética
1999 Cidadania e participação social Ética
2000 Direitos da criança e do adolescente: como Questão social/
enfrentar esse desafio nacional direitos
2001 Desenvolvimento e preservação ambiental: como Meio ambiente
conciliar interesses em conflito?
2002 O direito de votar: como fazer dessa conquista um Política
meio para promover as transformações sociais
que o Brasil necessita?

2003 A violência na sociedade brasileira: como mudar Questão social


as regras desse jogo?
2004 Como garantir a liberdade de informação e evitar Questão
abusos nos meios de comunicação social/direitos
2005 O trabalho infantil na realidade brasileira Questão
social/direitos
2006 O poder de transformação da leitura Educação
2007 O desafio de se conviver com a diferença Ética
2008 Como preservar a floresta Amazônica. Questão ambiental
2009 O indivíduo frente à ética nacional (houve Ética
vazamento)
2009 “Valorização do idoso”. Questão
(2ª social/direitos
aplicação
2010 O trabalho na construção da dignidade humana. Questão
(houve erro de impressão) social/direitos
2010 Ajuda Humanitária Ética
(2ª
aplicação)
2011 Viver em rede no século XXI: os limites entre o Ética
público e o privado
2012 O movimento imigratório para o Brasil no século Ética
XXI
2013 Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil Questão
social/Direitos
2014 Publicidade infantil em questão no Brasil Questão
social/direitos
2015 A persistência da violência contra a mulher no Questão social/
Brasil. direitos
2016 Caminhos para combater a intolerância religiosa Questão social/

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no Brasil. direitos
2016 Caminhos para combater o racismo no Brasil. Questão social /
(2ª direitos
aplicação)
2017 Desafios para a formação educacional de surdos Questão social/
no Brasil. direitos
2017 (2ª Consequências da busca por padrões de beleza Ética
aplicação) idealizados.
2018 Manipulação do comportamento do usuário pelo Questão social/
controle de dados na internet. direitos
2019 Democratização do acesso ao cinema no Brasil. Questão social/
direitos
2020 O estigma associado às doenças mentais na Quesão social/
sociedade brasileira' direitos

1.2.1. Análise dos temas


Podemos mapear os grandes núcleos temáticos e perceber o que mais caiu no ENEM.

Temas

Direitos Ética Meio ambiente Outros

Os dois grandes temas desse exame giram em torno dos direitos garantidos pela
Constituição e pelo tema da ética. Surpresa?

A polêmica em torno do ENEM, como um tipo de exame esquerdista ou ideológico,


obscureceu o fato de que simplesmente procura-se realçar aquilo que foi determinado pela
Constituição. Lógico que se percebem temas “mais quentes” durante a era petista, discussão
de direitos ligados a minorias que lutavam abertamente na arena política. Mas após a mudança
de governo, a lógica constitucionalista do exame permitiu que se considerassem temas mais
amenos que tinham as mesmas características dos anteriores: considerar algum direito
garantido pela Constituição que não tivesse sido conquistado de fato.

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Ora, não é difícil de encontrar de pequenas a grandes violações no cotidiano. A


conquista do direito é uma utopia. Sempre haverá alguém que, na tentativa de se autoafirmar
ou adquirir vantagens, usará da violência para submeter ou humilhar uma outra pessoa. Isso
atinge todos os espectros sociais, do cidadão comum ao presidente da república. Sempre
haverá circunstâncias injustas que não serão percebidas pela maioria, por serem invisíveis à
massa.

O Enem já considerou os grandes temas da violação, como a violência contra a mulher


ou o racismo, mas também já considerou questões não tão abrangentes, como o direito dos
deficientes auditivos ou mesmo o direito de acesso ao cinema.

Para quem deseja ver no ENEM um exame político, vai dar com os burros n’água ao
fazer uma análise isenta. A questão política só foi abordada diretamente uma vez.

O outro grande tema é o da Ética. Faz sentido. Trata-se de uma perspectiva cidadã
discutida no pdf anterior. Ou seja, o senso comum de que tudo é culpa do governo não cola
nesse exame. Logicamente, o poder público tem um papel importante nas ações de
intervenção de grande impacto, mas quem efetiva práticas que fazem a diferença são os
cidadãos comuns.

A questão do meio ambiente, a violência urbana, questões relacionadas com a


educação e com valores éticos serão lembradas de alguma forma.

Em todo caso, algumas grandes áreas temáticas merecem ser explicadas com mais
detalhes.

Ética

O tema “ética” é mais complicadinho, né? Afinal, o que é isso?

A palavra vem do grego ethos que se associa à forma de comportar-se. Pode-se falar
em ethos pessoal, por exemplo, “a honestidade é o ethos de tal indivíduo”. De forma mais
ampla, pode-se usar a palavra para um tipo de comportamento próprio de uma sociedade, por
exemplo, “o ethos do brasileiro é a malandragem”.

Esse uso bastante peculiar decorre do sentido que Aristóteles atribui ao termo. Ele
escreveu um tratado sobre o tema, no qual ele aconselhava seu filho Nicômaco a como se
comportar para ser feliz. O texto girava em torno da análise das virtudes e dos hábitos como
maneira de prescrever uma forma segura para viver bem no cotidiano. Digamos que essa ética
é a mais particular, a do indivíduo.

Contudo, a partir do Iluminismo, a questão ética ganha outras dimensões. A perda do


poder social da religião com suas normas morais tornou necessário que outro tipo de regras
mais elásticas fosse discutido e posto em prática. As condutas não deveriam ser mais pautadas
pelo código bíblico. Qual seria o novo parâmetro? O critério dos humanistas liberais. Esses
critérios baseiam-se na igualdade de direitos entre os homens, mas eles não estão
especificados em detalhes em nenhuma tábua de mandamentos. Eles são flexíveis e dignos de
discussão, pois podem redundar em condenação social ou em leis que são promulgadas em
nome de uma ética social.

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Oi...não entendi nada...

Vou dar um exemplo, corujinha singular. Pense um pouco nas inovações no campo da
medicina e da biologia. Hoje, é possível mapear o DNA e até mesmo manipulá-lo. É possível
fazer clones e selecionar algumas características físicas de nossos descendentes. Essa é uma
possibilidade técnica, mas poderia ser adotada indiscriminadamente de acordo com a vontade
de cada um? O uso dessa tecnologia não tornaria o convívio social mais agressivo e
excludente? Até onde a manipulação da natureza em nosso favor pode ir sem prejudicar a
própria natureza ou a espécie humana a longo prazo?

Essas questões são éticas e sociais porque a resposta a elas gera leis e regras que vão
além do âmbito subjetivo de como viver bem. Mesmo que não gere leis, elas acabam por
pautar valores e julgamentos, servindo de parâmetros para decisões judiciais. Considere um
tema como “A questão do idoso no Brasil”.

Não se trata de uma questão particular. Você pode tratar mal o idoso e ainda ser feliz de
uma forma bastante egoísta. A questão é mais ampla, pois discutem-se, na verdade, os
parâmetros sociais dos tipos de comportamento que serão aceitos socialmente ao se avaliar a
relação que cada brasileiro estabelece com os idosos.

Essa discussão pode gerar regras, leis e até estatutos como, de fato, ocorreu. Contudo,
mesmo havendo um estatuto do idoso e regras para proteção da terceira idade, o desrespeito é
flagrante no cotidiano. A proposta leva o candidato a pensar em como deve ser o
comportamento das pessoas de forma coletiva para que a vida social não seja insuportável.

O Enem parte do pressuposto de que o cidadão é aquele que promove a solidariedade


no seu comportamento. Algo essencial em uma sociedade pautada pelo individualismo. A ética
torna-se uma questão de adotar determinados comportamentos que promovam a solidariedade
pautados em critérios racionais de cidadãos que entendem que a vida em comum só pode ser
possível se as pessoas manifestarem preocupação com o outro. Em época de coronavírus, por
exemplo, isso se tornou extremamente claro. A autorrestrição de quem não pertence ao grupo
de risco é essencial para salvar vidas de outras pessoas. Em um caso de pandemia, se cada
um exercer sua liberdade sem se preocupar com o outro, o colapso de toda sociedade torna-
se uma realidade.

Questão social - direitos

A expressão “questão social” se relaciona de forma direta com conflitos gerados por
tensões entre grupos sociais ou pelo reconhecimento de situações de vitimação decorrentes da
desigualdade social aguda. Ao longo do século XX, o termo foi ganhando relevância.

Inicialmente, estava associada às condições degradantes dos operários no Europa. A


tensão entre trabalhadores e burgueses, que agitou a Europa entre os séculos XIX e XX, levou
a ações políticas voltadas para a minimização do conflito. Em meados do século XX, a
“questão social” passou a englobar outras situações de desigualdade. O termo se estendeu

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para grupos que historicamente tiveram seus direitos negados: mulheres, negros,
homossexuais etc.

Temas como “conflito agrário”, “cotas para negros”, “violência contra a mulher” são
considerados temas sociais e, dependendo do encaminhamento, podem também ser do âmbito
da política.

Mas esses são os grandes temas das questões sociais.

Quando consideramos a Constituição, percebe-se a configuração de pequenos direitos a


que todos deveriam ter acesso, mas que, ou não são concedidos, ou são violados. O Enem
pode tanto solicitar que o candidato pense nos grandes temas sociais quanto nas
circunstâncias mais específicas que afligem um pequeno grupo de pessoas, mas que, por
estarem garantidas pela Constituição, deveriam ser efetivadas.

Política

Política é fácil de entender o que significa: questões que giram em torno de ações que
envolvem a ação do Estado em alguma medida. Tome-se como exemplo a questão agrária.
Ações relacionadas ao problema agrário no Brasil só podem ser resolvidas com decisões de
alguma instância do governo: executivo, legislativo e executivo. No Enem, quando caiu um
tema desse naipe foi sobre participação política. Uma questão que tem agitado os meios
acadêmicos e pensantes nesses dois últimos anos tem sido a da democracia: limites, validade
e corrosão dessa forma de governo.

Educação

Dentro desse tópico, a Banca costuma considerar coisas muito pontuais, como por
exemplo, o próprio exame pediu para que o candidato dissertasse sobre O poder de
transformação da leitura. Os resultados negativos do Brasil nessa área e a recente mudança
na Lei de Diretrizes e Bases do MEC tornam esse tema bastante atrativo para um exame que
pede ao candidato que pense em propostas de intervenção

Mídia e Arte

Entre o final do século XIX e começo do XX, a arte se torna o campo da consciência
crítica, ou seja, escritores e artistas fazem questão de trazer para dentro do seu ofício os temas
sociais mais delicados além de uma condenação explícita à burguesia. Basta considerar as
características gerais do Realismo, das Vanguardas Europeias ou mesmo do Modernismo
brasileiro entre 1920 e 1940.

Contudo, alguns sociólogos perceberam que o desenvolvimento técnico da


reprodutibilidade dos meios de disseminação de música, livros, imagens etc, limita o alcance
crítico da arte. A partir da década de 50, a televisão, no mundo inteiro, dissemina durante horas
imagens e programação ficcional capazes de impactar o espectador sem que isso produza

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consciência social significativa. A arte passa a ser produto de consumo prazeroso e não forma
de reconhecimento crítico do social.

Um dos temas com uma certa frequência nos Vestibulares diz respeito à influência da
mídia de massa na vida das pessoas. O Enem, de forma indireta, abordou essa questão
quando, na segunda aplicação de 2017, solicitou que o candidato refletisse sobre os padrões
de beleza.

Além desse tema, outra questão quentíssima diz respeito à liberdade de expressão.
Esse tópico não se restringe às mídias tradicionais, mas pode ser abordado relacionado às
redes sociais, que nos últimos anos começaram a chamar a atenção por levantarem dilemas
éticos devido à nova forma de se relacionar que se tornou planetária.

Internet e Redes Sociais

Em 2004 e 2018, a banca do Enem elaborou propostas que, de uma forma ou de outra,
eram atravessadas pela discussão em torno da internet: “Como garantir a liberdade de
informação e evitar abusos nos meios de comunicação (2004) e manipulação de dados da
internet (2018). Trata-se, na verdade, de um novo meio de interligar pessoas. Significa que a
internet amplia todos os temas próprios de outras áreas, tornando-os mais evidentes e
ampliando as consequências éticas, políticas e sociais de outras questões. Há bullying? Pois,
na internet, isso é amplificado pelo cyberbullying; há pedofilia no mundo real? Na internet, isso
ganha outras dimensões; mentiras são espalhadas pelo senso comum? Na internet, as fake
News ganham ares de verdade. ]

O outro tópico que deve se tornar recorrente nos vestibulares é o da manipulação de


informações e o do controle social associados à internet.

Meio Ambiente

Quando foi cobrado o tema, a perspectiva adotada foi a da preservação da natureza.


Tema bastante debatido. Há outras possibilidades ainda não exploradas: a sustentabilidade e o
aspecto social da degradação da natureza. Várias previsões feitas pela ONU destacam que os
mais pobres sofrerão com as mudanças climáticas.

Além disso, dissemina-se a tese de que a natureza e a sociedade não devem mais ser
analisadas de forma separada. Todo sistema necessita de energia para seu funcionamento. A
sociedade obtém sua energia da natureza. Os biossistemas fazem parte de uma estrutura
semiaberta porque tudo gira em torno da energia externa do sol. Através das plantas, a
energia solar é utilizada pelos seres humanos . De forma cega estamos destruindo as bases
do sistema.

É importante que você faça redações de cada uma dessas


áreas, assim, você não se prepara para o tema específico (algo
impossível), mas se prepara de forma geral e abrangente.

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1.3. Interpretação apropriada do tema


Bom, corujinha Enem, você já percebeu que o tema nesse exame é “mamão com
açúcar”, no sentido de não exigir grandes malabarismos interpretativos. Ele vai estar bem claro
na sua prova, em letras destacadas.

Em todo caso, nunca é demais relembrar que você pode escorregar feio nesse exame.

Opa... agora vamos à seção que dá até arrepios: fuga total ou parcial do tema, um show
de horror, que você deve evitar a todo custo.

Interpretar erroneamente a proposta

Fuga do tema Considerar um subtema como o mais importante

Não considerar o subtema proposto

O primeiro caso ocorre por desatenção. Em 2017, logo depois da aplicação do Enem,
circulou, nas redes sociais, uma suposta mensagem de “Whatsapp” de alguém que afirmava ter
se enganado. Escrevera sobre cegos, quando o tema era sobre os “desafios para a formação
educacional de surdos no Brasil”. Claro que isso não vai acontecer com você, corujinha esperta
que está se preparando forte para o Vestibular.

O que pode ocorrer é a segunda situação. Em um dos vestibulares da UNICAMP, foi


proposto aos candidatos que falassem a respeito da escassez de água no planeta. Havia
alguns textos de apoio que deveriam servir como fonte para reflexão. Um deles expunha dados
sobre o rio Tietê, cuja água era potável até meados do século XX. Um dos candidatos fez uma
dissertação em que começava a falar da água, mas depois, evidentemente, empolgado com a
argumentação sobre o Tietê, desenvolveu a história do rio, discutindo sua importância para o
estado de São Paulo. É lógico que um rio é feito de água, mas as semelhanças temáticas entre
um texto que fale sobre escassez de água e um que fale sobre a história do Tietê param aí.

Mas pode acontecer o contrário.

Você pode ser obrigado a incluir um subtema e não fazê-lo, o que configura fuga parcial.
Em 2015, o Enem propôs o seguinte tema: “A persistência da violência contra a mulher no
Brasil”. Suponha alguém que discutisse com propriedade o tema da violência contra a mulher
a partir de dados atuais, mas não considerasse a palavrinha capciosa que acompanha o tema
“persistência”, obviamente, o candidato não teria sua redação zerada, mas fugiria parcialmente
do tema. Então, cuidado!!!

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FICA A DICA

Uma das maneiras de saber se você está fugindo do tema ou não é contar a ocorrência das
palavras-chave no texto. Se você deve dissertar sobre “violência”, “mulher” e “persistência”,
esses vocábulos devem aparecer no mínimo umas quatro vezes num texto de 30 linhas.
Falar sobre “violência” sem usar a palavra “violência” não é tarefa humana ou é brincadeira
de mímica. Claro que você pode usar sinônimos, mas observe que essas palavras devem
estar presentes quase em cada parágrafo.

2. Texto e Contexto
Para entender essa questão, observe a propaganda abaixo.

(disponível em
https://www.propagandashistoricas.com.br/2014/04/yamaha-rd-50-primeira-moto-
brasileira.html, consultado em 12.03.2019)

Aparentemente, essa propaganda parece bastante simples. Mas algumas palavras


utilizadas no corpo do texto têm sentidos mais profundos quando se observa a época em que
foi feita. O cartaz é de 1975, dois anos após a crise do petróleo.

Os países exportadores aumentaram o preço do combustível comprometendo o “milagre


brasileiro” – termo que se refere ao período de 1969 a 1973, no qual o Brasil cresceu em média
10% ao ano. Após a crise, a inflação acelerou, houve arrocho salarial e o ufanismo brasileiro
ficou comprometido. Nos anos precedentes, o governo militar promovera slogans como

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“Ninguém segura esse país”. A impressão que se tinha era a de que, finalmente, o país faria
parte do seleto grupo de nações desenvolvidas.

A primeira frase “lançada a primeira moto brasileira” fazia referência ao fato de a


empresa nipônica ser a primeira a produzir uma moto em solo pátrio. Mas veja, seria mais
exato dizer “lançada a primeira moto fabricada no Brasil”. Ao fazer questão de utilizar o adjetivo
“brasileira”, a propaganda dialogava com o ufanismo ferido dos brasileiros.

A mesma lógica presidiu a construção da segunda frase, “a Yamaha mais moderna do


mundo”. Transmite-se a ideia de rendição de um país desenvolvido ao potencial nacional, já
que a empresa resolveu montar a moto “mais moderna” aqui, no Brasil. Isso sem falar no apelo
da palavra “moderna”, termo atrativo para um povo que perseguia a modernização desde o
começo do século XX.

Ao mesmo tempo, a peça publicitária não deixa de considerar a grave situação


econômica do país. Embaixo das letras em amarelo “RD 50”, é possível ler as seguintes
palavras: “poupança em duas rodas”. Tratava-se de um grande apelo para uma população que
empobrecia.

Todo texto incorpora as ideias de uma dada época devido às práticas e as


circunstâncias que envolveram a produção do texto.

Então, vou ter que conhecer um pouco da cultura no momento da


produção do texto?

Seria bom, mas não extremamente necessário. Lembre-se de que a banca do Enem
elabora situações-problema. A ideia é de que, se você não souber muita coisa sobre o
assunto, mas receber dados, que serão dados pela coletânea, você será capaz de reconstruir
um contexto que permita fazer bom texto dentro do que o Enem espera.

Fazer um bom texto sem saber nada? Eles estão loucos?


Calma, corujinha ansiosa. Dentro da lógica do Enem, isso é perfeitamente possível.
Lembre-se de que o seu texto deve girar em torno do eixo mundo ideal e mundo real. Os dados
oferecidos pela coletânea devem dar a dimensão do problema, a partir daí você deve refletir
percebendo o quão agressiva aos cidadãos é a violação relatada. A partir dessa percepção, o
desenvolvimento textual não requer muito conhecimento prévio.

A título de exemplo, vamos considerar a proposta do Enem de 2012

Proposta de redação

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma

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padrão da língua portuguesa sobre o tema O MOVIMENTO IMIGRATÓRIO PARA O


BRASIL NO SÉCULO XXI, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos
humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
para defesa de seu ponto de vista.
TEXTO I
Ao desembarcar no Brasil, os imigrantes trouxeram muito mais do que o anseio de refazer
suas vidas trabalhando nas lavouras de café e no início da indústria paulista. Nos séculos
XIX e XX, os representantes de mais de 70 nacionalidades e etnias chegaram com o sonho
de “fazer a América” e acabaram por contribuir expressivamente para a história do país e
para a cultura brasileira. Deles, o Brasil herdou sobrenomes, sotaques, costumes, comidas e
vestimentas.
A história da migração humana não deve ser encarada como uma questão relacionada
exclusivamente ao passado; há a necessidade de tratar sobre deslocamentos mais
recentes.
Disponível em: http://www.museudaimigracao.org.br. Acesso em: 19 jul. 2012 (adaptado).

TEXTO II
Acre sofre com invasão de imigrantes do Haiti
Nos últimos três dias de 2011, uma leva de 500
haitianos entrou ilegalmente no Brasil pelo Acre,
elevando para 1 400 a quantidade de imigrantes
daquele país no município de Brasileia (AC). Segundo
o secretário-adjunto de Justiça e Direitos Humanos do
Acre, José Henrique Corinto, os haitianos ocuparam a
praça da cidade. A Defesa Civil do estado enviou
galões de água potável e alimentos, mas ainda não
providenciou abrigo.
A imigração ocorre porque o Haiti ainda não se
recuperou dos estragos causados pelo terremoto de
janeiro de 2010. O primeiro grande grupo de haitianos
chegou a Brasileia no dia 14 de janeiro de 2011. Desde
então, a entrada ilegal continua, mas eles não são
expulsos: obtêm visto humanitário e conseguem tirar
carteira de trabalho e CPF para morar e trabalhar no
Brasil.
Segundo Corinto, ao contrário do que se imagina, não
são haitianos miseráveis que buscam o Brasil para
viver, mas pessoas da classe média do Haiti e profissionais qualificados, como engenheiros,
professores, advogados, pedreiros, mestres de obras e carpinteiros. Porém, a maioria chega
sem dinheiro.
Os brasileiros sempre criticaram a forma como os países europeus tratavam os imigrantes.
Agora, chegou a nossa vez — afirma Corinto.
Disponível em: http://www.dpf.gov.br. Acesso em: 19 jul. 2012 (adaptado).

TEXTO III

Trilha da Costura
Os imigrantes bolivianos, pelo último censo, são mais de 3 milhões, com população de
aproximadamente 9,119 milhões de pessoas. A Bolívia em termos de IDH ocupa a posição
de 114º de acordo com os parâmetros estabelecidos pela ONU. O país está no centro da
América do Sul e é o mais pobre, sendo 70% da população considerada miserável. Os
principais países para onde os bolivianos imigrantes dirigem-se são: Argentina, Brasil,
Espanha e Estados Unidos.

AULA 01 – REDAÇÃO 15
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

Assim sendo, este é o quadro social em que se encontra a maioria da população da Bolívia,
estes dados já demonstram que as motivações do fluxo de imigração não são políticas, mas
econômicas. Como a maioria da população tem baixa qualificação, os trabalhos artesanais,
culturais, de campo e de costura são os de mais fácil acesso.
OLIVEIRA, R.T. Disponível em: http://www.ipea.gov.br. Acesso em: 19 jul. 2012 (adaptado).

Quando essa proposta foi dada, o movimento imigratório de haitianos estava


começando, poucos alunos tinham ideia do que isso significava. Também a questão
envolvendo os bolivianos era partilhada por alguns alunos e, sobretudo os de São Paulo, que
acompanhavam notícias esporádicas de uso da mão de obra desses imigrantes de forma
abusiva.

O que a Banca esperava que o aluno fizesse? Que refletisse em relação a esse
problema dentro da chave humanista apontada no texto 1, afinal se os imigrantes foram
importantes para a formação do Brasil, qual é a lógica de, neste momento, demonizar a
imigração? Com esse texto, a banca queria lembrar ao candidato que ele também é fruto de
imigração, já que quase todos os brasileiros têm algum ascendente que imigrou para o país.
Que lógica há em criticar severamente imigrantes se nossos avós fizeram a mesma coisa?

Apesar disso, havia espaço para a crítica à política de imigração no Brasil, mas
qualquer que fosse, deveria se dar dentro da justificativa humanista, de solidariedade. Você
poderia defender que o Brasil precisaria restringir um pouco a entrada desses imigrantes por
não ter como recebê-los de forma humanitária; ou defender que o Brasil deveria abrir os braços
para os imigrantes.

Isso significa fazer uma interpretação temática a partir do contexto, que nesse
caso inclui entender os pressupostos desse exame que já foram inclusive discutidos no pdf
anterior. Com uma proposta de fechamento das fronteiras por motivos xenófobos, você tiraria
zero no quesito proposta de intervenção.

A partir dessa leitura de contexto do excerto I, você deveria fazer uma leitura
atenta para ter a dimensão do problema. O texto II descreve a imigração de haitianos. Eles
saem da América Central e viajam milhares de quilômetros para entrar no Brasil pelo Acre com
finalidade de continuar a viagem até o sul. É muito sacrifício e envolve muitos gastos. Isso é
confirmado pela reportagem que faz um perfil socioeconômico dos haitianos que chegam aqui,
eles pertencem à classe média e têm boa formação.

O texto III apresenta o retrato de outro grupo de imigrante: os bolivianos. Eles


não têm qualificação e chegam aqui para fugir da miséria em seu país. Acabam por trabalhar
em atividades que requerem baixa qualificação e que são recusadas até por brasileiros natos.

Como ler esses dois textos?

Eles mostram qual a situação dos imigrantes. São seres humanos que estão
fugindo ou de desastre natural, ou da miséria. Fazem um tremendo esforço para encontrar uma
situação mais favorável em outro lugar, algo que qualquer um faria se não tivesse mais
perspectivas em seu país de origem.

Novamente a leitura de contexto deve ajudá-lo a ler a coletânea. Lembre-se da


lógica do Enem. As pessoas deveriam usufruir o direito de ir e vir e de viver e o de ter como
adquirir o mínimo para as necessidades básicas. Diante desse ideal, a realidade se mostra

AULA 01 – REDAÇÃO 16
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

terrível, essas pessoas têm o direito de ir e vir, mas estão à procura de um lugar no qual
possam ter um futuro.

A contraposição, implícita, entre mundo ideal e mundo real deve ajudá-lo a ler a
proposta e configurar um percurso argumentativo.

3. Leitura da Coletânea e Recorte

Aqui entra um outro componente importante no seu processo de interpretação da


proposta: o recorte temático que deve aparecer no jogo entre tema e textos da coletânea. A
Banca, portanto, amplia o tema e, ao mesmo tempo, oferece elementos de recorte do assunto
que devem ser observados.

Consideremos a prova do Enem 2020 . A Banca, depois de elencar dois textos e uma
imagem, solicitava que o aluno produzisse uma dissertação em prosa, sem deixar explícito o
tema: "O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”

Sem a leitura atenta da coletânea, o candidato poderia se enroscar na ideia geral de


que é preconceituoso estigmatizar as pessoas com doenças mentais

A coletânea
Quem vai me salvar do
senso comum?

3.1. Leitura comentada da coletânea


Para exemplificar como considerar a coletânea como recorte e estímulo, vamos
considerar proposta aludida. O ideal é fazer pequenos comentários a lados dos textos, para
depois recolher todas as ideias e perceber qual é a perspectiva da banca, para dialogar com
ela. Mesmo que você não queria seguir o caminho indicado nos textos de apoio, eles oferecem
reflexão e recorte que induzem a produção de um texto mais complexo. É isso que os
corretores verificam quando consideram “leitura do tema”. Uma tese ou argumentação simples
indica um leitura pobre do que se ofereceu como estímulo.

Primeiro texto

Texto I
A maior parte das pessoas, quando ouve falar em "saúde mental'. Esse texto
pensa em ‘doença mental". Mas a saúde mental implica muito mais que problematiza “o que
a ausência de doenças mentais. Pessoas mentalmente saudáveis é doença metal?”
compreendem que ninguém é perfeito, que todos possuem limites e
que não se pode ser tudo para todos. Elas vivenciam diariamente uma
série de emoções como alegria, amor, satisfação, tristeza, raiva e
frustração. São capazes de enfrentar os desafios e as mudanças da

AULA 01 – REDAÇÃO 17
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

vida cotidiana com equilíbrio o e sabem procurar ajuda quando têm


dificuldade em lidar com conflitos, perturbações, traumas ou transições
importantes nos diferentes ciclos da vida. A saúde mental de uma
pessoa está relacionada à forma como ela reage às exigências da vida
e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições,
ideias e emoções. Todas as pessoas podem apresentar sinais de
sofrimento psíquico em alguma fase da vida.

Pergunte-se: qual a relação entre esse texto e o tema? “O estigma associado às


doenças mentais?

Esse texto lembra uma questão que não deveria passar “batido”: é muito
difícil estabelecer a linha divisória entre saúde e doença no que diz respeito a questões
psicológicas. Além disso, nos lembra que quando lidamos como transtornos desse tipo,
sentimentos variados estão envolvidos.

Texto II

A origem da palavra "estigma" aponta para marcas ou cicatrizes


deixadas por feridas. Por extensão, em um período que remonta à
Definição de estigma
Grécia Antiga, passou a designar também as marcas feitas com ferro
em brasa em criminosos, escravos e outras pessoas que se desejava
separar da sociedade "correta" e "honrada". Essa mesma palavra
muitas vezes está presente no universo das doenças psiquiátricas. No
lugar da marca de ferro, relegamos preconceito, falta de informação e
tratamentos precários a pessoas que sofrem de depressão, ansiedade,
transtorno bipolar e outros transtornos mentais graves.

Pergunte-se: qual a relação entre esse texto e o tema e texto anterior? O texto
anterior mostrava claramente que era difícil fazer uma distinção entre doente e são.
Este define estigma. Pense o que acontece na nossa sociedade...O diagnóstico de
ser portador de uma doença mental leva o paciente a ser rotulado de frouxo, por
aqueles que não acreditam em doença mental, mas fraqueza da vontade; e de incapaz por
aqueles que acreditam que existem males da alma.

AULA 01 – REDAÇÃO 18
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Números da depressão

Pergunte-se: E agora, com esses números, o que a banca sugere?


Observe que os números não dizem respeito à transtornos graves, mas à
depressão que exemplifica claramente o que diz o texto 1. Todo mundo
pode ficar deprimido em algum momento da vida, mas estar doente de
depressão exige compreensão dos outros.

E agora, o que eu faço com isso?

Que tal ligar os pontos?

Eu tentei. Ficou assim:

AULA 01 – REDAÇÃO 19
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A dita doença mental embuti um problema terrível: como determinar quando uma tipo de
traço próprio do comportamento normal se torna excessivo e, portanto, sintoma de uma
doença? Essa compreensão do problema deveria nos levar a ser mais cuidadosos em nomear
alguém como “doente mental”, até porque, essa palavra marca o indivíduo que passa a ser alvo
de vários tipos de preconceito. Imagine o que isso representa, num mundo em que um único
distúrbio psicológico como a depressão acomete mais de 11,5 milhões de brasileiros.

Essa brincadeira já nos dá ideia de como a coletânea tem o poder de interagir com o
leitor tornando seu texto e sua expressão sobre a ideia muito mais complexas e interessantes.

3.2. Recorte
No caderno de Competência 2, a banca diz textualmente, “Para avaliar o texto na
Competência II, é fundamental sabermos diferenciar uma abordagem temática completa de
uma incompleta.” O que o Inep queria dizer com abordagem incompleta? O desprezo do leitor
pelo recorte do tema. Para exemplificar, a Instituição lembrava que “no caso do Enem 2018,
considerava-se abordagem completa se o participante mencionasse “o controle de dados na
internet” E “a manipulação do comportamento” e/ou as consequências, os efeitos e os
exemplos do ato de manipular o usuário.

Para que fique mais claro, vale a pena transcrever a explicação.

“Por outro lado, é considerada incompleta a abordagem que se limita a


assuntos parcialmente relacionados à proposta, isto é, textos em que o
participante menciona apenas:
• internet ou elemento do universo da internet (rede, browser,
navegador, plataforma virtual, sites, e-mail, WhatsApp, Netflix, Spotify,
hackers, haters, trolls, fake news etc.);
• a manipulação do comportamento do usuário na e/ou pela internet,
sem menção ao controle de dados;
• controle de dados na internet, sem menção à manipulação do
comportamento do usuário.
Já sacou, né? Você deve dar conta dos dois termos escolhidos por quem elaborou a
proposta. É só você ler com atenção as propostas anteriores que vai perceber essa fixação do
Enem por duas palavras-chave.

Surdos e

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Você já deve ter reparado que as propostas do Enem sempre se sustentam sob duas palavras
importantes, uma que representa o assunto e outra o recorte.

4. Projeto de texto

Depois de fazer uma boa leitura dos texto de apoio e apreender muito bem o tema, hora
de começar a esboçar o que será seu texto. No caderno do Inep, já citado na aula passada, a
banca usa o termo “projeto de texto” como critério de avaliação e apresenta a definição que
volto a repetir agora neste pdf.

“Projeto de texto é o planejamento prévio à escrita da redação. É o esquema que se


deixa perceber pela organização estratégica dos argumentos presentes no texto. É nele que
são definidos quais os argumentos que serão mobilizados para a defesa de sua tese, quais os
momentos de introduzi-los e qual a melhor ordem para apresentá-los, de modo a garantir que o
texto final seja articulado, claro e coerente. Assim, o texto que atende às expectativas
referentes à Competência 3 é aquele no qual é possível perceber a presença implícita de um
projeto de texto, ou seja, aquele em que é claramente identificável a estratégia escolhida por
quem está escrevendo para defender seu ponto de vista.”

Isso parece bastante vago, não é mesmo?

Bom bora para um exemplo. Observe o texto abaixo.

Quanto vale o show? Sequência


coringa

Com o surgimento do pensamento moderno, o Iluminismo prometeu


emancipar o homem moderno de sua ignorância. Não obstante, ao logo Introdução
dos séculos até o cenário hodierno, o que se vê é a utilização irracional padrão
dos recursos tecnológicos. A manipulação do comportamento pelo
uso da internet, mediado por algoritmos é uma prova disso. Tema

Em primeiro lugar, é preciso destacar que as pessoas que utilizam Três ideias são
cada vez mais a internet são cerca de 64,7% entre 10 anos ou mais. desenvolvidas:
Isso mostra o que Habermas constata: a crescente capacidade de uso amplitude do uso,
da razão instrumental e tecnológica. Além disso, o consumismo típico
razão instrumental,
consumismo
AULA 01 – REDAÇÃO 21
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da sociedade líquida, segundo Bauman, leva as pessoas se


conectarem.

Ademais, há que se levar em conta a ideia de Kant: o homem tem que Uso aleatório de
caminhar em direção a sua maioridade. Contudo, o que vemos são Kant. Volta ao
pessoas se valem de sites, que usam algoritmos. Ficam escravas do
consumismo, sem
consumo, não procuram desenvolver sua interioridade.
ligar à manipulação
Você já reparou que não vale muito. O texto ficou confuso. pela internet.

Percebe-se nitidamente, que o autor tinha algumas frases coringas que ele tentou
encaixar no tema, preocupando-se mais com o repertório do que com a unidade do texto. O
texto ficou sem projeto. Como se fosse um saco de ideias que comportassem qualquer
pensamento legal, contato que ligasse da alguma maneira ao tema.

Nesse meu itinerário de professor, houve uma vez que


dei aula particular para uma aluna viciada em Enem. Dou esse
apelido àquelas candidatos que decoram sequências coringas
para colocar no texto. Mas ela não tinha boa memória e queria na
verdade que eu a ajudasse com um esqueleto.

Depois de muito pelejar, construímos um esqueleto (uma estrutura geral que pode
servir para vários temas) juntos e aí veio a iluminação: o texto continuava ruim. Não era a
falta de citação ou mesmo de frases de ligação que dariam a nota acima da média, ela
entendeu. Virou um dia para mim e perguntou, para minha surpresa: está faltando projeto de
texto, né?

Não vou dizer que o final tenha sido o mais feliz do universo. Ela não tirou mil.
Mas tirou um nota melhor do que tiraria se tivesse continuado a usar aquele esquema de
amontoado de ideias. Além disso, ela foi segura para prova porque entendeu que não é
decorando frases que o texto seria bom.

Moral da história? Não comece um texto sem projeto.

Na verdade, o projeto comporta todo o processo de ter ideias, a formulação da


tese e do esboço. Como a parte mais importante para dar norte ao texto é a tese, vamos
começar por esse tópico.

5. Ponto de Vista e Tese

Em 2013, o jornal O Globo publicou algumas redações que alcançaram a nota máxima
no Enem. Observe a introdução de uma redação publicada.

1
Ao ser trabalhada a questão da imigração com destino ao
Brasil, muito se pensa nos acontecimentos e nos fluxos ocorridos ao
longo da história. No entanto, a nação brasileira constitui-se, no Introdução do
século XXI, uma potência econômica em crescimento e ganha tema

AULA 01 – REDAÇÃO 22
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notoriedade a partir da popularização do conceito dos BRICS, países


de maior prosperidade econômica. Desse modo, pode-se dizer que
os movimentos de imigração para o Brasil no século XXI são uma
decorrência de sua realidade econômica e causam influências em
outros campos como a cultura e a qualidade de vida.

O verbo “pode-se” introduz a ideia que o autor do texto quer defender. Tendo feito
uma boa leitura de contexto, inclusive do encaminhamento humanista da Banca, o autor
defende que a imigração é importante para o Brasil e decorre da situação de potência
econômica. É interessante que isso é expresso de forma bastante neutra, como se fosse uma
constatação expositiva, mas a escolha dos “campos da cultura” e da “qualidade de vida”
manifestam de forma sutil a escolha do autor.

Há outro expediente, o de expressar de forma mais enfática o julgamento que você


atribuir a questão levantada pela banca. Em 2008, a FUVEST publicou algumas das melhores
redações daquele ano. Não vou nem dizer qual era o tema e o posicionamento do autor,
porque você notará que o texto foi capaz de configurar tema e ponto de vista (tese) de forma
bastante clara.

2
A chamada era da informação apresenta diversas falhas. A
veracidade dos fatos que chegam ao conhecimento da população é
uma delas, visto que, com a alta tecnologia do século XXI, há
Tese clara e
variados meios de comunicação pelos quais as notícias são
transmitidas nem sempre correspondendo à realidade. Em vista da contundente
resolução desse problema, deve haver ações por parte do Estado,
dos próprios meios de comunicação e, principalmente, do indivíduo
que recebe as informações.

Esse excerto é direto. Logo nas duas primeiras linhas, o autor já define seu
posicionamento: “A chamada Era da Informação apresenta diversas falhas.” Essa opinião
desperta o interesse do leitor, que fica curioso: quais falhas? Ele terá que ler o texto para
descobri-las.

Nos 2 fragmentos, você percebeu que o autor expressa sua opinião e posicionamento.
Isso pode ocorrer de forma mais desenvolvida ou expositiva ou mais breve e contundente.

Sacou a importância da opinião e da tese?

O que é tese?

A tese nada mais é do que a sua opinião sobre o tema, expressa verbalmente e
estruturada em uma ou mais frases articuladas com sujeito, verbo e complemento. Um termo
como “a necessidade de vigilância em relação às fake News” não configura tese. Isso expressa
um tema.

AULA 01 – REDAÇÃO 23
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No mínimo, você pode ter como regra


escrever o tema e acrescentar um verbo que
expresse um julgamento sobre o tema. Exemplo: “A
vigilância em relação às fake News é necessária em
um mundo marcado pelo excesso de informação.

Essa tese parece ser a mesma do tema “a necessidade de vigilância em relação


às fake News”, pois eu simplesmente troquei “necessidade” por “é necessária”, mas note que
essa troca tem consequências, pois no momento que eu coloco o verbo, sou obrigado a
complementar a frase com “em um mundo marcado pelo excesso de informação”. Teses com o
verbo “ser” são mais simples. Quando for possível, seria interessante usar um verbo mais
informativo. Teríamos uma tese mais complexa em “A necessidade de vigilância em relação às
fake News expressa um mundo no qual a informação tornou-se entretenimento”.

Tema Verbo Complementos


Tese
Quanto mais clara, específica e interessante for a tese, mais fácil será para você
desenvolver o texto. Em outras palavras: se você pudesse resumir a sua dissertação inteira (de
30 linhas) numa única frase, essa frase seria a tese (a ideia principal do texto).

Onde a tese deve aparecer?

A dissertação possui três tipos de parágrafos: o de introdução, o de desenvolvimento e o


de conclusão. A tese precisa aparecer logo no primeiro parágrafo (introdução).

Normalmente, a expressão escrita da opinião é feita no momento do rascunho. Ela não


precisa aparecer como você a formulou pela primeira vez, mas precisa ser expressa em sua
essência.

Um leitor não pode começar a ler um texto tentando adivinhar qual a opinião do escritor,
pois, nessa circunstância, não poderia avaliar se os argumentos se sustentam.

Quando a tese é ruim?

Um texto deve ser interessante para o leitor. Uma tese óbvia demais ou aquela
que “chove no molhado” não permitirá um desenvolvimento interessante. Toda tese que poda a
capacidade do escritor de mostrar seu valor na argumentação é ruim.

Às vezes, quando a tese é muito simples, vale a pena mencionar o seu oposto,
para valorizá-la e transformar o texto numa espécie de discussão que vai despertar o interesse.
Suponha que você simplesmente queira defender a ideia de que a tal “vigilância epistêmica” é
importante. Essa ideia parece óbvia e desnecessária. Para chamar a atenção do leitor, pode-se
começar com a ideia oposta. Algo como: “Muitos acreditam que vivemos no maravilhoso

AULA 01 – REDAÇÃO 24
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mundo da informação, no qual até mesmo fotos documentais de difícil acesso podem ser
disponibilizadas através das redes sociais, contudo, dada a forma como circula a informação no
mundo, é necessário bastante cuidado ao acessar informações.”

Ficou comprido, né? Mas observe que agora a tese ficou interessante e já aponta
uma possível trajetória.

O que se deve evitar?

Não fique em cima do muro.

Afirmar que uma questão tem dois lados, sem dar ênfase a qualquer dos aspectos ou
fazer simplesmente uma enumeração de argumentos favoráveis e contrários é um “tiro no pé”.

Então, eu NUNCA posso falar dos dois lados?

Corujinha, em Redação, a palavra “nunca” raramente é empregada. Uma das redações


publicadas partia da tese que, nesse caso, o melhor era o caminho do meio. Ou seja, o autor
defendia a ideia de que “navegar era preciso”, mas com os cuidados epistêmicos necessários.
Ele argumentou a favor e contra, mas veja que o acento enfático recaía sobre os cuidados.
Isso não é ficar em cima do muro.

Lembre-se de que o corretor quer avaliar sua capacidade argumentativa, não quer
avaliar sua competência de contabilizador de argumentos, aquele cara que começa a redação
dizendo “por um lado a informação na internet pode levar ao engano....” e, depois de despejar
os argumentos sobre isso, começa outro parágrafo com “ por outro lado também pode nos
informar...”e faz a mesma coisa.

Mas e se eu não tiver uma opinião sobre o assunto?


O Enem, pelo contexto do que você deve ter
entendido que é a lógica do exame e pela escolha dos
textos da coletânea, deixa claro quais as opções de
opinião. Lembre-se: é um exame que exercita sua
capacidade de lidar com situações-problema.
Alguém que aprendeu a lógica matemática é capaz
de fazer um exercício se os números forem outros e se a
circunstância se alterar um pouco. Alguém que aprendeu a
argumentar e defender um ponto de vista, saberá se
posicionar a partir dos dados em mãos, mesmo que não
tenha enfrentado o tema ainda.

AULA 01 – REDAÇÃO 25
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5.1. A Estrutura da Tese


Observe as 3 formulações sobre o assunto “atividade física”.

Atividade física sem acompanhamento de alguém da área da


saúde pode ser prejudicial

Atividade física é

Fonte: Showeet e Pixabay


Os males da atividade
fí i
A atividade física pode ser prejudicial devido a
fatores como intensidade e falta de
acompanhamento profissional

Qual dessas formulações pode ser encarada como tendo


característica de tese? Faça a sua aposta....

Se você respondeu, a terceira, errou. Linguisticamente, a expressão é um tema. Os


termos são amplos, não há verbo, portanto, não se afirma nada. Ora, se não há afirmação de
uma ideia não há nada sobre o que argumentar, concorda?

A segunda formulação também não é muito apropriada. Qualquer afirmação assentada


em um verbo de ligação expressa um situação que geralmente seria desenvolvida de forma
expositiva, ou seja, você faria um texto informacional que exige muito mais conhecimento do
assunto do que capacidade argumentativa.

Ficamos entre a primeira e a última. Qual seria melhor?

A última, sem dúvida nenhuma. Por quê? Você deve estar se perguntando! Na frase em
amarelo, faz-se um julgamento, “a atividade física pode ser prejudicial”, e aponta-se dois
motivos que dão força argumentativa ao que foi dito, há dois fatores que concorrem para tonar
o exercício físico perigoso.

A forma tradicional de se formatar uma tese que torna mais fácil o trabalho de escrita é
esta:

Afirmação
sobre o tema
Argumento 1 Argumento 2 Tese

AULA 01 – REDAÇÃO 26
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Forma tradicional da tese


Atenção, isso, não significa que você irá escrever desse jeito no texto. Essa expressão deve
estar dentro da sua cabeça. É o seu mapa. Ela já diz tudo para você que vai escrever o
texto e, antes de começar a escrita, é disso que você precisa: uma bússola para não
escrever um amontoado de palavras.
A tese é uma coisa engraçada, é o ponto de chegada e de partida ao mesmo tempo. Depois
de você refletir sobre um determinado assunto, o resultado deve ser a tese, pois você deve
estar pronto para defender uma afirmação para a qual você tenha argumentos.

Tendo chegado à tese, agora você deve começar a escrever.

O que é tese?
· Aquilo que vai ser defendido no texto;
· Resumo do texto a ser produzido;
· Responde ao tema, considerando inclusive as palavras principais do tema.

A tese aparece no texto?


· Não do jeito que você a descreve para você;
· Ela aparece desenvolvida no texto;
· No fundo, ela representaria o resumo de tudo o que você quis dizer.

Quais são as características de uma boa tese?


· Clareza;
· Objetividade;
· Concisão;
· Abordagem de todos os itens do tema.

Existem teses certas e erradas? NÃO.


· Existem teses boas e ruins;
· Tese boa: aquela que permite um bom desenvolvimento argumentativo;
· Tese ruim: óbvia demais.

5.2. A tese no Enem


Depois de explicar em detalhes o que é uma tese bem feita, de tal maneira que você
estava se preparando para o trabalho duro de produzir uma tese para o Enem, vou ter que ser
sincero com você, o ideia que você vai defender, no caso da prova de redação desse exame, já
é dada, você não precisa ficar horas pensando de que lado deverá ficar na polêmica.

AULA 01 – REDAÇÃO 27
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Basicamente, como já mostrei no primeiro pdf, trata-se de uma situação-problema, na


qual está implícita a seguinte afirmação a ser provada: x é um problema que deve ser
enfrentado. Sendo “x” qualquer violação de direito.

Então, para que discutir o esquema de tese no tópico anterior?

Obrigado pela pergunta, corujinha desatenta. Para lembrá-la de que os complementos


da afirmação inicial podem não estar no texto, mas deverão estar no seu rascunho para sua
produção tenha unidade.

Para explicar melhor, considere essas duas teses textuais que tirei de duas redações
nota 1000 do Enem:

Teste textual 1

“Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de


dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de enfrentamento.”

Teste textual 2

“(...)se tornou 13frequente a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de


dados na internet, nas diversas relações cotidianas. Isso ocorre, ora em função do despreparo
civil, ora pela inação das esferas governamentais para conter esse dilema. Assim, hão de ser
analisados tais fatores, a fim de que se possa liquidá-los de maneira eficaz”.

Note que a primeira tese manifesta bem o espírito do Enem. Mas isso é o que está
escrito. O texto a seguir demonstra que ele tinha um projeto. Ele desenvolveu a ideia a partir
do contraste entre os princípios constitucionais e filosóficos e a realidade. Tese dele se fosse
expressa de forma plena deveria ficar assim: “a manipulação do comportamento de usuários
pela seleção prévia de dados é inconcebível, já que opõe os princípios de direito às práticas de
fato. Nesse caso, ele teria colocado o argumento 1 (princípios de direitos) e o argumento 2
(práticas de fato).

Embora, ele não tenha escrito isso, o texto estava estruturado dessa forma, ou seja, a
tese estava na cabeça dele.

No caso da segunda tese, o autor deixou o caminho indicado.

AULA 01 – REDAÇÃO 28
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Qual é o melhor? Se o projeto estiver bem definido dentro da sua cabeça, quaisquer
dos dois caminhos levam à nota 1000.

5.2.1. Tipos de manifestações textuais da tese

Com uma tese na cabeça e um caneta na mão, os parágrafos de introdução podem


apresentar variações na exposição do que se deseja defender no texto. Fiz um análise dos
tipos de tese e cheguei a 5 tipos diferentes. A brincadeira é simples. Você tem os tipos de
tese, e logo em seguida exemplos desses tipos. Relacione apropriadamente uma ao outro.

Tipos de tese

1) Tese simples, condenatória.

2) Tese condenatória mas com conceito que pode ser desenvolvido.

3) Indicativo geral do desenvolvimento do texto.

4) Indicativo de proposta de intervenção.

5) Tese com argumento 1 e argumento 2.

Teses

( ) Os mecanismos tecnológicos têm contribuído para alienação dos cidadãos,


sujeitando-os aos filtros de informações impostos pela mídia.

( ) Nesse cenário, a falsa liberdade de escolha e a padronização dos pensamentos


emergem como empecilhos para a manutenção de uma sociedade dialógica e igualitária.

( ) Diante disso, é imprescindível discutir novas metodologias ativas no intuito de


estimular o desenvolvimento do senso crítico dos cidadãos e eliminar as mazelas trazidas pela
problemática.

( ) Os usuários da internet são constantemente influenciados por informações


previamente selecionadas, de acordo com seus próprios dados. Nesse contexto, questões
econômicas e sociais devem ser postas em vigor, a fim de serem devidamente compreendidas
e combatidas.

( ) Contudo, diferentemente desse contexto, atualmente, utiliza -se, muitas vezes, a


tecnologia não para o bem coletivo, como no filme, mas para vantagens individuais, mediante a
manipulação de dados de usuários da internet. Destarte, é fundamental analisar as razões que
tornam essa problemática uma realidade no mundo contemporâneo.

Comentário.

AULA 01 – REDAÇÃO 29
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Primeira afirmação, tese 2 . Trata-se de uma tese condenatória que indica um


desenvolvimento pois traz o conceito de “alienação” que não é claro para o leitor, abrindo a
oportunidade de se desenvolver o texto a partir desse mote.

Segunda afirmação, tese 1. Trata-se de uma forma de dizer que o problema trazido pela
banca fere algum direito; ela é simples, não indica para o leitor à primeira vista qual deve ser o
desenvolvimento.

Terceira afirmação, tese 4. Essa frase do final do primeiro parágrafo deixa claro que é
preciso fazer alguma coisa, discutir e aplicar metodologias ativas.

Quarta afirmação, tese 5. Ao falar em questões econômicas e sociais, o autor do texto


aponta para duas causas que ele deve trabalhar em cada um dos próximos parágrafos.

Quinta afirmação, tese 3. Quando o autor diz que é fundamental analisar, ele apenas
indica que subdividirá o tema, sem indicar se considerará causa, consequência, comparação
ou outro caminho qualquer. Ele faz uma indicação genérica.

Ordem de cima para baixo: 2,1, 4, 5,3.

5.3. Redação exemplar

Para deixar claro uma ver por todas como o projeto de texto funciona, resolvi
considerar uma redação nota 1000 um tanto quanto manhosa para olhares incautos.
Normalmente, os caçadores de esqueleto, alunos que olham para as redações procurando as
citações interessantes, deixam de perceber o projeto de texto. Essa candidata usou e
abusou da citação, mas o texto tem projeto. O desafio é o seguinte: você conseguiria repor a
tese dela? Conseguiria dizer de qual tese, ela deve ter partido?

Por consequência da Revolução Científica, o acesso à


tecnologia favorece contato com uma farta veiculação de informações, Tese que aponta para
as quais são constantemente manipuladas. Nesse sentido, o controle proposta de
de dados presente da internet reverbera uma arquitetura de intervenção
comportamento da sociedade, sendo imperiosa a ampliação de
medidas a fim de minimizar os impactos ocasionados por esse cenário. Frase genérica que
Ademais, é fulcral ressaltar a ausência de pensamento crítico como inclui um novo
causa, bem como os prejuízos sociais fomentados em decorrência subtema pensamento
disso. crítico
Em primeiro plano, urge analisar a falta de criticismo dos
usuários mediante a internet. Nesse contexto, a falta de percepção
crítica acerca das informações adquiridas nas redes por parte dos
indivíduos implica uma falsa ideia de liberdade de escolha, já que os
meios de comunicação definem a noção de mundo do seus usuários.
Com efeito, tal conjuntura é análoga a “menoridade intelectual”,
proposta por Kant, a qual caracteriza a falta de autonomia dos

AULA 01 – REDAÇÃO 30
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

indivíduos sobre seus intelectos, uma vez que a sociedade torna-se


refém da manipulação de dados da internet e, consequentemente, tem
seu comportamento moldado.
Outrossim, questões sociais estão intimamente ligadas ao
controle de informações na internet. Nesse âmbito, a cegueira moral,
fenômeno exposto por José Saramago em sua obra ”Ensaio sobre
Cegueira“, caracteriza a alienação da sociedade frente às demais
realidades sociais, a qual é fomentada pela restrição do pleno acesso à
informação pelos meios de comunicação. Dessa feita, as redes sociais
propiciou a formação de “bolhas sociais“, de modo a manipular o
comportamento do indivíduo, além de restringir sua ideia acerca da
conjuntura vivida.
Em síntese, medidas devem ser efetivadas a fim de mitigar os
impactos causados pelo controle de dados na internet. Desse modo, as
escolas devem promover a educação em informática, por meio de
aulas sobre uso consciente da tecnologia e da informação — as quais
utilizam computadores e celulares — com vistas a induzir o
pensamento crítico desde a infância. Além disso, cabe à sociedade
efetivar o uso consciente da internet, por intermédio do policiamento
acerca da obtenção de informações, as quais devem ser originadas de
fontes confiáveis — com o intuito de assegurar uma mudança de
pensamento social. Dessa forma, garantir-se-á o combate à
manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na
internet. "
Iohana Freitas

O texto é um pouco chato pelas palavras que a autora faz questão de usar, meio
arcaica, como fulcral (fundamental), isso não é necessário no Enem, embora haja lendas de
que uma boa redação deve ter esse tipo de linguagem.
Apesar disso, o texto tem um projeto bem criativo. Basicamente, qual é o núcleo do
texto 2? O falta de autonomia e o conceito de menoridade de Kant. E qual é a base do outro
parágrafo? A metáfora da cegueira de Saramago. Juntando as duas ideias defendidas,
percebe-se a lógica: a manipulação do dados da internet promovem a menoridade intelectual
do indivíduo e a cegueira metafórica. Ela não amontou ideia bonitinhas, com citações
impactantes sem nenhuma finalidade. O texto foi bem pensado.

6. Esboço

Estou denominado de forma genérica esboço o processo todo, que pode ser dividido em
brainstorming e as mal traçadas linhas que antecedem a primeira escrita do texto.

6.1. Brainstorming

AULA 01 – REDAÇÃO 31
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

Esse termo, Brainstorming, foi utilizado


pelo publicitário Alex Osborn (1888-1966) para nomear
um método criativo necessário para que uma equipe de
trabalho pudesse desenvolver campanhas que não
trilhassem os caminhos do que seria óbvio. A tradução
em português seria algo como tempestade mental.

A proposta de Osborn era voltada para o


trabalho em grupo. Contudo, podemos fazer
adaptações para a elaboração de uma dissertação, já
Fonte: Pixabay que se trata de um texto que exige uma certa
criatividade. Fiz algumas adaptações.

A finalidade do Brainstorming em uma redação é evitar que você fique apenas


com uma ideia na cabeça e que faça um texto pobre ou redundante, aquele em que você fica
“enchendo linguiça”.

Vamos aos passos considerando a proposta do Enem de 2020.

Compreenda a proposta

Prepare-se para escrever, estando certo de que você entendeu bem a proposta. Anote
as palavras, doença mental e estigma. Depois pense nos tipos de doença mental, saberia o
nome de algumas delas? Considere, então, o que diz o texto 1, é possível delimitar com
certeza quais os critérios entre normalidade de doença? Qual critério seria?

Fragmente-a

Considere os termos da proposta, separando cada um e associando a ele definições. O


que é “doença”? O que é “mente”? O que é “doença mental”? O que é “estigma”?

Puxar Palavras

Agora, é um momento de um pouco de diversão com palavras aleatórias. A criatividade


é um bichinho que vive solto. Coloque no centro de uma folha em branco duas ou três palavras
importantes para o tema. A partir daí, faça uma livre associação com todas as palavras que
surgirem na sua cabeça, até as palavras “proibidas”, não se reprima.

Uma palavra puxa a outra e nos leva a ter pensamentos mais complexos. Carlos
Drummond dizia “Penetra surdamente no reino das palavras./
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.” Podemos fazer uma adaptação, “penetra no

AULA 01 – REDAÇÃO 32
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universo do vocabulário do seu tema, lá estará seu texto esperando que a ligação entre os
vocábulos o faça nascer.

Para exemplificar, deixei no quadro abaixo a meu puxa-palavras...

Louco, gato, palhaço, circo, riso, tristeza, sofrimento, CAPES, depressão, pressão, grito,
dormir, sentir, não sentir, remédio, Alice no país das maravilhas...

Pensamento Lateral

Force-se a pensar fora do pensamento linear que você começou a trilhar. Há algumas
técnicas:
 Combine ideias. Doença mental pode se associar com que outros conceitos ou termos?
Bioética? Comportamento? Saúde? Medicina? Com qual você conseguiria juntar?
 Analogia. Pense no tema associando-o a uma metáfora, a uma comparação, ou a uma
ilustração. Pode-se comparar um doente mental como alguém que caminha contra a
multidão. Essa comparação é interessante porque dá a ideia de alguém que talvez seja
incompreendido por não seguir massificado.
 Inversão. Imagine como seria ver como os mesmos olhos rigorosos com que olhamos
os ditos doentes mentais, as pessoas comuns e suas manias. Há um livro interessante,
Ensaio sobre a Loucura de Erasmo de Roterdam, em que o autor faz exatamente isso.
Ele imagina a loucura falando sobre a forma de se comportar dos homens.
 Exagero. Pense em situações-limite: se todos fossemos loucos?
 Reordenação. Esse passo deve ser posterior à fixação escrita do seu brainstorming,
tem a ver com a escolha de qual ramificação de ideia você vai desenvolver primeiro.
Portanto, tem a ver com aquele momento próximo da escrita do texto. Você deve alterar
a ordem dos argumentos, trocando-as de lugar. Por exemplo, vamos supor que você
tivesse pensado em começar pelas causas do estigma em relação aos doentes mentais,
que tal começar pelas consequências?
Depois de ter forçado o processo criativo e ter enchido uma folha em branco com palavras
soltas, agora é a hora da “colheita”:
 Coloque o tema no centro da folha.
 Olhe para a folha com as palavras que você rabiscou. Procure aglutiná-las a partir de
alguma lógica em comum: algumas se referem às causas, outras, às consequências,
outras podem ser usadas para criar uma analogia ou comparação etc.
 Use a lógica da organização por categoria para fazer as grandes ramificações. Por
exemplo, ao falar sobre causas do estigma, você pode considerar a causa história, a
psicológica a econômica.
 Desenvolva cada ramificação e, quando possível, indique exemplos, fatos etc.
 Feita a primeira versão desse primeiro esboço, elimine as ideias que são muito difíceis
de desenvolver ou as que não são adequadas à sua tese.
 Se precisar, volte ao estágio do brainstorming e deixe “chover” ideias no seu texto.

AULA 01 – REDAÇÃO 33
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 Ao final do processo, no caso do Enem, você deve ter material para produzir uma tese
completa, aquela que indica para você qual caminho seguir no texto,
Observação: esse é uma espécie de pré-esboço. Olhando para as ideias que você conseguiu
provocar, agora, você deve organizá-las de maneira que possam ir se estruturando de maneira
que você veja claramente como serão as partes do texto.

6.2. Esboço
Um esboço é um planejamento que inclui o processo de brainstorming, a
elaboração da tese e a indicação dos argumentos que serão usados. Deve ser uma espécie de
“mapa da mina”, no caso, da escrita, pois esse mapa vai sendo reelaborado conforme você vai
escrevendo o texto.

Funciona mais ou menos assim: tendo um plano de saída, você começa a escrever
tentando seguir o planejamento, mas a escrita é marota e, às vezes, leva você para outros
argumentos não previstos. Você não precisa reelaborar o esboço, ele foi um plano de saída,
mas o caminho pode ser diferente. Ele garante que você tenha pensando em várias
possibilidades de escrita do texto, mesmo que você descubra outras no processo.

O que estou oferecendo a você é uma série de possibilidades de planejamento do texto.


Você pode usar o brainstorming, o esboço de forma parcial ou o esboço mais completo.
Experimente-os e utilize aquele que melhor se adequa ao seu tipo de planejamento.

Somente não comece um texto como se o espírito de Machado de Assis tivesse


incorporado em você. Não comece um texto sem planejamento. E esse planejamento não deve
ser mental. Faça um rascunho escrito, pode ser rabiscado ou mais elaborado, sempre de
acordo com as suas técnicas e predileções.

Então chegou a hora de fazer um projeto de texto ou esboço. Segue um modelo que
inclui os dois momentos de criação do esboço. A primeira parte refere-se ao brainstorming, a
segunda parte seria o esboço propriamente dito.

AULA 01 – REDAÇÃO 34
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Observe que esse esboço tem duas


partes: uma para o brainstorming e
outro para o pré-projeto.

Lembre-se de que seu texto deve


dialogar com os discursos que
circulam na sociedade. Pense em
todas as ideias do senso comum:
ditados, frases prontas, defesas
simplistas do tema etc.

Preencha o quadro com os


argumentos favoráveis e contrários
à sua possível tese, é importante
que você esteja ciente dos
argumentos.

Anote nessas linhas qualquer tipo


de repertório que possa ser usado:
fatos históricos, citações, exemplos,
estatísticas etc.

Finalmente, pense na tese. Olhe


para os argumentos que você
enumerou e decida, a partir do
que você possui como informação,
qual tese você vai defender

Agora é só fazer o
inverso. Escreva qual
é a tese, os
argumentos e o
repertório.

AULA 01 – REDAÇÃO 35
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6.3. Material de repertório


Tem ocorrido com frequência, por causa da popularidade dos esqueletos, estruturas de
texto que parecem servir para qualquer tema (falarei disso bem mais a frente), uma certa
inversão no processo de criação do texto.

O natural é que o candidato pense no tema, faça o brainstorming chegue a tese e pense
de forma geral nos argumentos, para daí começar a procurara repertórios para preencher
como argumento de sustentação.

Muitos estão querendo começar pelas citações de filósofos ou pensadores para depois
preencher com argumentação geral. Isso não é garantia de sucesso e nem é unanimidade. É
verdade que boa parte dos alunos que tiraram nota mil, usaram o recurso da citação, mas isso
aconteceu por um certo modismo. Disseminou-se a ideia de que o uso de estruturas fixas com
citações de filósofos e palavras rebuscadas dava nota elevada no Enem, e, em consequência
disso os alunos com boa capacidade descritas adotaram esse sistema. Ou seja, não dá pra
saber se as notas elevadas tem como causa o uso desse receituário, ou se o receituário parece
dar certo porque alunos bem preparados o usam, e nas mãos deles, dá certo.

Só para se ter uma ideia, resolvi trazer um redação nota 1000 de 2012, quando a moda
ainda não tinha começado. Observe que o texto é simples e quase lembra uma redação
qualquer.

AULA 01 – REDAÇÃO 36
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7. O parágrafo

Esse é o básico que serve para você expressar ideias bastante simples, afinal um
período não dá conta de ideias mais complexas. Suponha o seguinte microtexto:

A tragédia se abateu sobre as nações, com consequências evidentes


em relação à desigualdade e a incerteza.

As informações são poucas, mas poderosas. Fazem o leitor imaginar quase o


apocalipse. O autor não dá muitos detalhes e deixa que o leitor imagine sozinho. Qual é a
tragédia? Quais são as consequências? Que tipo de desigualdade? Digamos que esse texto
abre a possibilidade de uma leitura ambígua e coparticipativa, afinal, diante de tais palavras, o
leitor pode completar a informação como lhe “der na telha”.

Normalmente, nos vestibulares, exige-se um texto completo. O autor deve deixar claro
qual é a sua ideia sobre o assunto, deixando pouco espaço para que o leitor preencha com sua
experiência o que não foi dito. Tomemos a primeira frase “ A tragédia se abateu sobre as
nações”, um escritor detalhista passaria a explicar a afirmação.

AULA 01 – REDAÇÃO 37
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No final de 2019 e começo de 2020, o que parecia uma ameaça – o


surgimento de uma gripe de vírus desconhecido – tornou-se
rapidamente uma tragédia do ponto de vista econômico e sanitário.

Essa informação basta? Provavelmente, não. O leitor ficaria curioso em relação a:


quais problemas relacionados à saúde ou à econômica o autor vai selecionar?

No final de 2019 e começo de 2020, o que parecia uma ameaça – o


surgimento de uma gripe de vírus desconhecido – tornou-se
rapidamente uma tragédia do ponto de vista econômico e sanitário. A
covid rapidamente mudou o cenário das grandes cidades, limitando a
circulação das pessoas e, como consequência, os gastos das famílias.
A paralisação levou ao maior tombo do PIB nas economias mais
desenvolvidas desde a grande depressão de1930.

Agora sim o parágrafo conduz o leitor e expressa exatamente o que o escritor imaginou.
O que colaborou para isso? A capacidade de discriminar as ideias gerais que estavam na
primeira frase do parágrafo. Observe novamente o parágrafo, como ele está organizado?

O primeiro período contém a ideia núcleo da qual saíram todos as frases subsequentes.
Escrever parágrafos ou texto curto através dessa técnica é um bom jeito de ir organizando o
texto, aliás qualquer tipo de texto.

7.1. Respostas dissertativas


Esse uso de um período curto no começo do parágrafo em que resumo o que vai ser
dito pode ser usado para dar respostas dissertativas, pois ajuda a organização das ideias.
Para exemplificar, vou considerar aqui uma questão dissertativa da UNICAMP, pois tal banca
publica posteriormente um caderno de comentários em relação ao que era esperado em cada
questão, o que permite ter uma noção de qual o tipo de organização textual os corretores
privilegiam.

A questão de 2020 era a seguinte:


Leia atentamente o trecho da carta escrita em 1830 por Simón Bolívar
ao General J. J. Flores. A partir da leitura e de seus conhecimentos,
responda às questões.
Meu querido General: V. Ex.ª sabe que governei durante vinte anos e
deles tirei apenas pouco resultados certos: 1º) a América é
ingovernável para nós; 2º) aquele que serve a uma revolução ara no
mar; 3º) a única coisa que se pode fazer na América é emigrar; 4º)
este país cairá infalivelmente em mãos da multidão desenfreada, para
depois passar a pequenos tiranos quase imperceptíveis, de todas as
cores e raças; 5º) devorados por todos os crimes e extintos pela
ferocidade, os europeus não se dignarão a nos conquistar; 6º) se uma
parte do mundo voltasse ao caos primitivo, este seria o último período
da América.

AULA 01 – REDAÇÃO 38
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(Adaptado de Simón Bolívar, Escritos políticos. Campinas, SP: Editora


da Unicamp, 1992, p. 32.)
a) Identifique dois aspectos políticos do processo de independência
da América espanhola.
b) Explique como o texto contradiz o projeto político inicial de Bolívar
para a América.
Em meados de 2020, a banca publicou o comentário. Em relação a essas questões, o
comentário incluía a resposta. Observe

QUESTÃO 14
A questão valoriza a habilidade da leitura e interpretação de texto, a
partir de um tema clássico de História: as Independências na América.
Assim como a questão anterior, exige a compreensão das relações
entre acontecimentos simultâneos no mundo atlântico.

a)
O processo de Independência da América Espanhola, como aponta
Simón Bolívar no trecho citado, foi multifatorial. Derivou da crise do
Antigo Regime e da circulação de ideais liberais na América, sendo Frase inicial que
seguido pela desintegração das colônias espanholas em países resume a resposta
fragmentados. Descontentamentos nas colônias levaram a
questionamentos e reivindicações por igualdade de representação
política perante a Espanha. As elites locais, desejosas de ampliar seu
poder, aproveitaram-se disso para propor transformações como o
liberalismo econômico. Destaca-se a ocorrência de mobilizações
populares, sendo o período marcado por intensas guerras e conflitos
civis, como os mencionados no documento.

b)
O texto expressa a insatisfação de Bolívar perante a não
concretização do projeto político pan-americanista. Dentro desse
projeto, enunciado, por exemplo, no Congresso do Panamá, em
1826, havia a proposta de criação de uma confederação de países Frase inicial que
hispano-americanos independentes. Apesar da adesão da Grande resume a resposta
Colômbia, México, Peru, Bolívia e Guatemala, o projeto não
conseguiu ser consolidado.

AULA 01 – REDAÇÃO 39
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8. Tópico frasal

Até aqui estava brincando de “adivinha do que estou falando”.


Considerei a frase inicial do parágrafo sem dizer o nome técnico desse
recurso: “tópico frasal”. Inicia-se o parágrafo com uma frase curta que
resume tudo o que será dito nesse núcleo temático.

Um parágrafo escrito a partir da técnica do tópico frasal é chamado


de padrão, ocorre em cerca de 60% dos casos, segundo Othon M. Garcia
(1975,p.192 (Garcia, 1975).Para o autor

Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais


eficaz – o que justifica seja ensinado ao principiantes - , consta, sobretudo na dissertação
e na descrição, de duas e, ocasionalmente três partes: a introdução, representada na
maioria dos casos por um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de
maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o que passaremos a chamar daqui por diante
de tópico frasal); o desenvolvimento, isto é, a explanação mesma dessa ideia-núcleo; e a
conclusão, mas rara, normalmente nos parágrafos pouco extensos ou naqueles em que a
ideia central não apresenta maior complexidade.

É desejável que um parágrafo tenha algumas características:


- unicidade;
- organização;
- coerência.

Tá muito abstrato, como eu faço isso?

Observe o parágrafo abaixo, corujinha.

Observe que o autor do parágrafo começa com uma frase que será o fio condutor desse
fragmento. A ideia é de que atravessar uma fronteira não é fácil e ele escolheu como
argumento o vestibular. A seguir, ele vai descrevendo o vestibular, como já fizemos em outros
exercícios e, assim, ele configura um argumento.

AULA 01 – REDAÇÃO 40
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8.1. A unidade do parágrafo


Como falar sobre o racismo? No caso do Brasil, que tem uma história manchada pela
escravidão isso não é tão difícil, mas talvez seja difícil organizar as ideias.

Observe o parágrafo abaixo.

De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal de 1988, todos são


iguais perante a lei. No entanto, a sociedade brasileira permanece
excludente, haja vista a desproporcionalidade de cargos entre negros e
brancos no mercado de trabalho. Ainda na temática, de acordo com
Aristóteles, é necessário tratar desigualmente os desiguais na exata
medida das suas desigualdades, como ocorre nas cotas raciais -
medida que prevê uma parcela de vagas de um determinado espaço
da sociedade a esse grupo. Todavia, tal medida no ramo trabalhista e
nas universidades ainda causam incômodo em parcela da população
que não sente os efeitos da isonomia deficitária. Sob essa ótica, faz-se
necessário analisar a persistência da desigualdade racial
principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho e
providências à problemática levantada.

Primeira pergunta que deve ser feita é: qual é a ideia núcleo do parágrafo? Parece que a
ideia era: apesar de haver o direito reconhecido de igualdade, os negros ainda sofrem com a
exclusão. Contudo, o autor do parágrafo ficou perdido repetindo informações sem deixar claro
qual era a ideia central.

Direito
De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal de 1988, todos são
iguais perante a lei. No entanto, a sociedade brasileira permanece
Não é cumprido
excludente, haja vista a desproporcionalidade de cargos entre negros e
brancos no mercado de trabalho. Ainda na temática, de acordo com
Aristóteles, é necessário tratar desigualmente os desiguais na exata Direto
medida das suas desigualdades, como ocorre nas cotas raciais -
medida que prevê uma parcela de vagas de um determinado espaço
da sociedade a esse grupo. Todavia, tal medida no ramo trabalhista e
nas universidades ainda causam incômodo em parcela da população
que não sente os efeitos da isonomia deficitária. Sob essa ótica, faz-se Não é cumprido
necessário analisar a persistência da desigualdade racial
principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho e
providências à problemática levantada.

Note que o autor repete a mesma estrutura preenchendo com repertórios diferentes, o
que não permite que o leitor perceba claramente aonde ele quer chegar.

O texto ficaria bem melhor e mais organizado se ele anunciasse a intenção do


parágrafo no primeiro período, depois apresentasse a ideia de direito, seja pela constituição,
seja pela filosofia, para em seguida mostrar que isso não se cumpre no Brasil. Exemplo? Leia
como ficaria se fosse mais organizado.

AULA 01 – REDAÇÃO 41
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

Apesar de haver o direito reconhecido de igualdade, os negros ainda


sofrem com a exclusão. De acordo com a Constituição Federal de
1988, todos são iguais perante a lei. Esse direito reflete o pensamento
filosófico do ocidente. Aristóteles dizia que era necessário tratar
desigualmente os desiguais para que houvesse justiça, quando há
distorção na sociedade. Na sociedade brasileira, esses princípios não
são observados como se deveria, algo que pode ser observado no
mercado de trabalho.

8.2. Criando e desenvolvendo um tópico frasal


O tópico frasal tem sempre característica de afirmação e aponta o que será
desenvolvido. A melhor maneira de se fazer um tópico inicial é generalizando a ideia que será
apresentada. Seguem-se alguns tipos de desenvolvimento de parágrafos.

Explicação de uma definição

O primeiro período apresenta uma definição e no resto do parágrafo, você explica, dá


exemplo etc.

Evolução tem um significado próprio relacionado a desenvolvimento progressivo.


Na maioria dos livros científicos a palavra se refere à evolução orgânica, ou seja, à teoria da
evolução aplicada a seres vivos. Essa teoria diz que as plantas e animais se modificaram
geração após geração e que ainda estão se modificando hoje em dia. Uma vez que essa
mudança tem-se prolongado através das eras, tudo o que vive atualmente na Terra descende,
com muitas alterações, de outros seres que viveram há milhares e até milhões de anos atrás.
(Enciclopédia Delta Universal, vol. 6, p. 3134.)

Percurso histórico

A primeira frase já inclui algo da tese e apresenta qual o momento histórico que você irá
selecionar de forma bastante geral. No desenvolvimento, você detalha.

A evolução como um desenvolvimento ordenado, como sabemos, foi um conceito


típico do século XIX. Surgiu nas ciências da natureza, e depois, por analogia, se estendeu às
ciências do homem. (...) Do ponto de vista das ciências do homem em geral, a plenitude era
entendida como o advento de um estado de civilização superior, e os povos eram vistos como
seguindo fases evolutivas até chegar a uma final, superior, que seria o ápice de sua evolução.
(Mattoso Câmara, 1977. Introdução às línguas indígenas brasileiras.( Rio de Janeiro, Ao Livro
Técnico. p. 66.)

Confronto

Uma forma interessante de começar seu parágrafo é apresentar a ideia a partir da


oposição. Depois desenvolva cada um dos termos opostos.

AULA 01 – REDAÇÃO 42
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A evolução tecnológica ocorreu ao mesmo tempo em que parece haver uma


regressão dos valores humanos. No século XX, observou-se a criação de várias máquinas
maravilhosas que começaram a fazer parte de nossa vida: o carro, o avião, a geladeira etc.
Contudo, foi, também nesse século, que duas bombas atômicas foram detonadas matando
milhares de pessoas e outros artefatos químicos foram inventados com a finalidade de
exterminar seres humanos.

Causa/Consequências

No primeiro período apresente de forma geral uma causa ou uma consequência e a


desenvolva a seguir.

O progresso humano tem consequências danosas para a natureza. Algumas vezes,


as mudanças provocadas pelo homem parecem pequenas e simplesmente como um mal
menor, mas tomemos o caso das rãs e das salamandras nas Ilhas Britânicas. Os invernos
estão mais quentes nessa região, devido a mudanças de clima causadas pelos seres humanos.
Isso significa que as lagoas onde aqueles animais se reproduzem estão mais quentes. Assim,
as salamandras (Triturus) começaram a se acasalar mais cedo. Mas as rãs (Rana temporaria)
não. De modo que a desova das rãs está virando almoço das salamandras. É possível que as
lagoas britânicas em que há salamandras continuem por dezenas e dezenas de anos cada vez
com menos rãs. E então, um dia, o ecossistema da lagoa desmorona... (Adaptado de Alanna
Mitchell, “Bad Evolution”, The Globe and Mail Saturday, 4/5/2002.)

Q1. O texto abaixo é um fragmento adaptado do artigo de Vladimir Safatle “Talvez haja algo
limitador em tratar uma vida plena como uma vida feliz” publicado na Folha em 18.08.2017.

Para os gregos, o conceito de felicidade tinha outra dimensão. Não era uma palavra que se
conjugava no particular. Aristóteles, por exemplo, lembrava que a felicidade (eudaimonia)
era a atividade de acordo com a virtude.
O pensador estabeleceu um critério. Haveria uma excelência a alcançar por meio do
exercício de virtudes, atividade esta que nos permitiria evitar os extremos e alcançar a justa
medida, o que aparece como a condição para realizarmos o que nos seria melhor.
Tais virtudes não eram, no entanto, meras determinações normativas dos comportamentos
individuais. As virtudes dos indivíduos eram as mesmas virtudes da pólis, ou seja, eram as
mesmas disposições de conduta e julgamento necessários para a conservação da pólis.
Com o advento do pensamento liberal, houve uma mudança. A partir do século 17, a
felicidade começou a se associar à liberdade do indivíduo frente à sociedade. Cada um é
visto como portador de sistemas particulares de interesses, como agente maximizador de
prazer e de afastamento do desprazer, o indivíduo liberal é, inicialmente, alguém que calcula
os resultados de suas ações a partir dos benefícios oferecidos.
A própria noção de "interesse" é elucidativa nesse contexto. "Interesse" é o nome que
daremos, a partir de então, às paixões submetidas ao cálculo, enunciadas sob a forma de
determinações conscientes que produzem deliberações conscientes, representações que
poderiam ser assumidas como projetos que claramente dou para mim.

AULA 01 – REDAÇÃO 43
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(Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2017/08/1910722-
talvez-haja-algo-limitador-em-tratar-uma-vida-plena-como-uma-vida-feliz.shtml, acessado
em 18.04.2019)

Exercício 1. Grife as informações mais importantes de cada parágrafo.


Exercício 2. Qual a técnica utilizada para desenvolver o tópico frasal?

Q2. O próximo texto é uma adaptação feita a partir do texto de Wagner Carelli, publicado
pela revista Carta Capital (15: 12-15, out. 1995) e replicado por Platão & Fiorin (1996, p.34
[2]). Propositalmente foram retiradas as primeiras frases de cada parágrafo. Você as
encontrará abaixo do texto. Assinale a alternativa que apresenta de forma coerente
sequência correta dos tópicos frasais.
O malcriado brasileiro

No Brasil, uma parte da elite faz questão de adotar um tipo de comportamento marcado pela
indiferença social, arrogância, ostentação e desprezo pela miséria. São pessoas ricas que
fazem questão de ignorar o país em que vivem.
___________________________________________________.Michel Lind, em seu livro
The Next American Nation, cunhou o termo “ brasilianização” para explicar “a crescente
retirada das classes superiores para trás das barricadas de uma própria nação-dentro-da-
nação, um mundo de bairros privados, escolas privadas, polícia privada, saúde privada e até
ruas privadas, muradas contra a miséria ao redor.
___________________________________________________.Há, segundo ele, evidências
ainda escassas – que considera ameaçadoras – da tendência nos Estados Unidos, mas
reconhece no Brasil sua origem e sua forma. As classes mais altas optam, sem qualquer
vergonha, pela separação social visível espacialmente.
___________________________________________________. No dia a dia esse fato pode
ser verificado. Tomemos o caso de Marcos G., publicitário bem-sucedido, rico, 38 anos que
deu uma mountain bike importada - preço por volta de seus R$500,00 - para o filho Bruno
G., 9 anos. Era um presente de aniversário. Marcos e família moram em Alphaville, um
condomínio da alta classe média da região periférica de São Paulo, concebido dentro dos
padrões dos melhores subúrbios americanos. Passada uma semana do aniversário, Marcos
notou que o filho brincava a pé. Perguntou pelo presente, e o menino desconversou.
Confessou depois muito embaraçado que a bicicleta fora, digamos, expropriada por Pedro
A. C., 10 anos, filho do bem-sucedido empresário da construção civil Carlos Alberto C., rico,
por volta, dos 40, 42 anos, morador de uma casa enorme na quadra de cima. Marcos bateu
à casa de Carlos Alberto. O próprio Carlos Alberto atendeu. "Vim buscar a bicicleta do
Bruno, que o Pedro tomou emprestada", disse Marcos. Carlos Alberto não gostou: "Me diz o
preço dessa m... aí que eu pago". Marcos disse que a bicicleta não estava à venda, entrou
para pegá-la, e voltou para casa.
____________________________________________________. Sob a rubrica de um
egoísmo terminal – que não apenas usa o outro, mas o elimina ou o ignora – é possível
sistematizar um rol de atitudes típicas. O caso do lixo, por exemplo: na cabine do carro –
de preferência importado -, o lixo não fica; fora, na rua, pode ficar. Abre-se a porta do
elevador e o malcriado não espera que as pessoas saiam de lá de dentro: ele caminha
diretamente rumo ao fundo do elevador, como se entre almas.
Tópicos frasais
I.O afastamento do espaço social leva tais indivíduos a atitudes egoístas que negam a
possibilidade de convivência.
II. Esse tipo de comportamento chegou a ser observado além-fronteiras e nos Estados
Unidos mereceu uma tese.
III. Lind pensa no fenômeno como uma tendência geral.
IV. Não só essa atitude, mas outras do nosso dia a dia, configuram o que podemos chamar
de malcriado brasileiro.
Assinale a sequência correta dos tópicos que completam o início de cada parágrafo.

AULA 01 – REDAÇÃO 44
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

a) I, II, III e IV.


b) II, III, IV e I.
c) III, II, IV e I.
d) IV, I, III e II.
e) I, IV, II e III.

parâmetros para a escrita

Q1. O texto abaixo é um fragmento adaptado do artigo de Vladimir Safatle “Talvez haja algo
limitador em tratar uma vida plena como uma vida feliz” publicado na Folha em 18.08.2017.

Para os gregos, o conceito de felicidade tinha outra dimensão. Não era uma palavra que se
conjugava no particular. Aristóteles, por exemplo, lembrava que a felicidade (eudaimonia)
era a atividade de acordo com a virtude. O pensador estabeleceu um critério. Haveria uma
excelência a alcançar por meio do exercício de virtudes, atividade esta que nos permitiria
evitar os extremos e alcançar a justa medida, o que aparece como a condição para
realizarmos o que nos seria melhor.
Tais virtudes não eram, no entanto, meras determinações normativas dos comportamentos
individuais. As virtudes dos indivíduos eram as mesmas virtudes da pólis, ou seja, eram as
mesmas disposições de conduta e julgamento necessários para a conservação da pólis.
Com o advento do pensamento liberal, houve uma mudança. A partir do século 17, a
felicidade começou a se associar à liberdade do indivíduo frente à sociedade. Cada um é
visto como portador de sistemas particulares de interesses, como agente maximizador de
prazer e de afastamento do desprazer, o indivíduo liberal é, inicialmente, alguém que calcula
os resultados de suas ações a partir dos benefícios oferecidos.
A própria noção de "interesse" é elucidativa nesse contexto. "Interesse" é o nome que
daremos, a partir de então, às paixões submetidas ao cálculo, enunciadas sob a forma de
determinações conscientes que produzem deliberações conscientes, representações que
poderiam ser assumidas como projetos que claramente dou para mim.
(Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2017/08/1910722-
talvez-haja-algo-limitador-em-tratar-uma-vida-plena-como-uma-vida-feliz.shtml, acessado
em 18.04.2019)

Exercício 1. Grife as informações mais importantes de cada parágrafo.


Exercício 2. Qual a técnica utilizada para desenvolver o tópico frasal?
Comentário:
Exercício 1. Observe que os trechos mais importantes em cada parágrafo são os tópicos
frasais que resumem tudo o que virá depois.
Exercício 2. Os dois primeiros parágrafos são desenvolvidos por contraste entre o que
pensamos a respeito da felicidade e o que pensava Aristóteles. O terceiro parágrafo é
desenvolvido por percurso histórico e, no último, o autor desenvolve a definição.

Q2. O próximo texto é uma adaptação feita a partir do texto de Wagner Carelli, publicado
pela revista Carta Capital (15: 12-15, out. 1995) e replicado por Platão & Fiorin (1996, p.34
[2]). Propositalmente foram retiradas as primeiras frases de cada parágrafo. Você as
encontrará abaixo do texto. Assinale a alternativa que apresenta de forma coerente
sequência correta dos tópicos frasais.

AULA 01 – REDAÇÃO 45
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

O malcriado brasileiro

No Brasil, uma parte da elite faz questão de adotar um tipo de comportamento marcado pela
indiferença social, arrogância, ostentação e desprezo pela miséria. São pessoas ricas que
fazem questão de ignorar o país em que vivem.
___________________________________________________.Michel Lind, em seu livro
The Next American Nation, cunhou o termo “ brasilianização” para explicar “a crescente
retirada das classes superiores para trás das barricadas de uma própria nação-dentro-da-
nação, um mundo de bairros privados, escolas privadas, polícia privada, saúde privada e até
ruas privadas, muradas contra a miséria ao redor.
___________________________________________________.Há, segundo ele, evidências
ainda escassas – que considera ameaçadoras – da tendência nos Estados Unidos, mas
reconhece no Brasil sua origem e sua forma. As classes mais altas optam, sem qualquer
vergonha, pela separação social visível espacialmente.
___________________________________________________. No dia a dia esse fato pode
ser verificado. Tomemos o caso de Marcos G., publicitário bem-sucedido, rico, 38 anos que
deu uma mountain bike importada - preço por volta de seus R$500,00 - para o filho Bruno
G., 9 anos. Era um presente de aniversário. Marcos e família moram em Alphaville, um
condomínio da alta classe média da região periférica de São Paulo, concebido dentro dos
padrões dos melhores subúrbios americanos. Passada uma semana do aniversário, Marcos
notou que o filho brincava a pé. Perguntou pelo presente, e o menino desconversou.
Confessou depois muito embaraçado que a bicicleta fora, digamos, expropriada por Pedro
A. C., 10 anos, filho do bem-sucedido empresário da construção civil Carlos Alberto C., rico,
por volta, dos 40, 42 anos, morador de uma casa enorme na quadra de cima. Marcos bateu
à casa de Carlos Alberto. O próprio Carlos Alberto atendeu. "Vim buscar a bicicleta do
Bruno, que o Pedro tomou emprestada", disse Marcos. Carlos Alberto não gostou: "Me diz o
preço dessa m... aí que eu pago". Marcos disse que a bicicleta não estava à venda, entrou
para pegá-la, e voltou para casa.
____________________________________________________. Sob a rubrica de um
egoísmo terminal – que não apenas usa o outro, mas o elimina ou o ignora – é possível
sistematizar um rol de atitudes típicas. O caso do lixo, por exemplo: na cabine do carro –
de preferência importado -, o lixo não fica; fora, na rua, pode ficar. Abre-se a porta do
elevador e o malcriado, não espera que as pessoas saiam de lá de dentro: ele caminha
diretamente rumo ao fundo do elevador, como se entre almas.
Tópicos frasais
I.O afastamento do espaço social leva tais indivíduos a atitudes egoístas que negam a
possibilidade de convivência.
II. Esse tipo de comportamento chegou a ser observado além-fronteiras e nos Estados
Unidos mereceu uma tese.
III. Lind pensa no fenômeno como uma tendência geral.
IV. Não só essa atitude, mas outras do nosso dia a dia, configuram o que podemos chamar
de malcriado brasileiro.
Assinale a sequência correta dos tópicos que completam o início de cada parágrafo.
a) I, II, III e IV.
b) II, III, IV e I.
c) III, II, IV e I.
d) IV, I, III e II.
e) I, IV, II e III.
Comentário:
Frase II para o segundo parágrafo. Esse parágrafo apresenta a tese de Michel Lind, portanto
o tópico frasal seria aquele que primeiro menciona o fato de o fenômeno ter merecido uma
tese.
Frase III para o terceiro parágrafo. Veja, no terceiro parágrafo, amplia-se a observação
passando do Brasil para os EUA, portanto, o autor pensa nisso como tendência geral.
Frase IV para o quarto parágrafo. Esse parágrafo descreve o cotidiano e o tópico frasal IV
fala do nosso dia a dia.

AULA 01 – REDAÇÃO 46
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

Frase I para o quinto parágrafo. O quinto parágrafo é mais geral no começo e afirma o
egoísmo como traço do brasileiro. Essa generalização está presente no tópico I.
Gabarito: B”

8.3. Gênero Comentário


No pdf anterior, consideramos a paráfrase como elemento básico para a escrita de um
texto. Que tal brincar mais um pouco com esse recurso? Alguns vestibulares pedem que o
candidato faça um comentário crítico de um texto, um gráfico ou mesmo uma charge.
Na próxima seção, você vai encontrar uma proposta de redação com uma com seleção
de excertos. A ideia é que você, a partir da paráfrase ampliada, seja capaz de fazer um texto
curto, com estrutura dissertativa para comentar o texto dado.

Vai encarar?

Meu desafio: interprete os textos da coletânea, mas não de qualquer maneira. Faça um
comentário escrito. Lembre-se: Redação é a escrita para o outro e, ao tentar comentar um
fragmento na forma dissertativa, você estará se exercitando nesse tipo de linguagem que
necessariamente deve ser dominado.
Outro detalhe é que, muitas vezes, a interpretação solicitada numa prova de Redação
não é restrita como aquela que você faz quando resolve questões de Português. A Banca
escolhe textos capazes de estimular sua reflexão, ou seja, sua interpretação deve ser ampla e
associativa. Enquanto estiver lendo o excerto, pense em exemplos concretos, relacione com
teorias sociológicas, lembre-se de notícias de jornais afins, considere as causas e
consequências do fenômeno analisado etc. A partir dessa tempestade mental, que você deve
se habituar a exercitar, escreva um comentário.

Como eu faço um comentário?

Comentário é um gênero curto que mostra a capacidade do articulista de relacionar


sequências expositivas com sequências argumentativas como se fosse uma pequena
dissertação. Você vai perceber que, em alguns casos, ao fazer o comentário do fragmento,
você obtém um projeto de texto completo. Outra
vantagem em se exercitar nesse modelo textual é
que muitas questões dissertativas das humanidades
devem ser respondidas nesse formato, ou seja, você
vai se preparando para as discursivas da segunda
fase. Então, nem pense em pular esse exercício. Se
você tem dúvidas de como começar, siga a seguinte
estrutura:

AULA 01 – REDAÇÃO 47
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

No primeiro e segundo períodos*, faça um resumo do conteúdo


sem mencionar o texto original, resuma a ideia (sequências
expositivas).

Identifique o problema central com o qual o texto dialoga.

Associe a discussão temática do excerto a alguma das


ideias de expansão do tema -explicação de pontos
obscuros, causa, consequência, fatos afins, exemplos etc
(sequências argumentativas).

Relacione o tópico levantado com outros problemas/temas.

* Só para lembrar: período gramatical é configurado pelo intervalo entre letra maiúscula
e o ponto.

A seguir, você vai encontrar uma proposta de redação. Não faça a redação completa
ainda. A atividade consiste em fazer comentários de partes da coletânea. Para que você não
fique perdido, você encontrará exemplos e instruções de como fazer.

8.4. Exercício: Comentando uma coletânea


A proposta que se segue apresenta 7 textos de apoio. É mais generosa, pois oferece
vários pontos de vista. Ao fazer o comentário de cada fragmento, você vai perceber que as
ideias vão surgindo, facilitando o trabalho posterior de produzir um texto completo.

FUVEST/2001
Um dia sim, outro também. Duas bombas, suásticas nazistas e muitas mensagens pregando
a tolerância zero a negros, judeus, homossexuais e nordestinos marcaram a Semana da

AULA 01 – REDAÇÃO 48
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

Pátria em São Paulo. O primeiro petardo foi direcionado na segunda-feira 4, para o


coordenador da Anistia Internacional. Tratava-se de uma bomba caseira, postada numa
agência dos Correios de Pinheiros com endereço certo: a casa do coordenador. Uma hora e
meia depois, foi a vez de o secretário de Segurança e de os presidentes das comissões
Municipal e Estadual de Direitos Humanos receberem cartas ameaçadoras. Assinando "Nós
os skinheads" (cabeça raspada), os autores abusaram da linguagem chula, do ódio e da
intolerância. "Vamos destruir todos os viados, pretos e nordestinos", prometeram. Eles
asseguravam também já terem escolhido os representantes daqueles que não se
enquadram no que chamam de "raça pura" para receberem "alguns presentinhos".

Como prometeram, era só o começo. No dia seguinte, terça-feira 5, o mesmo grupo mandou
outra bomba, dessa vez para a associação da Parada do Orgulho Gay.
(Isto é, 08/09/2000)
Desde então [os anos 80], o poder racista alastrou-se por todo o mundo numa torrente de
excessos sanguinolentos. Também na Alemanha, imigrantes e refugiados foram mortos
friamente por maltas de radicais de direita em atentados incendiários. Até hoje, a esfera
pública minimiza tais crimes como obra de uns poucos jovens desclassificados. Na verdade,
porém, o poder racista à solta nas ruas é o prenúncio de uma reviravolta nas condições
atmosféricas mundiais.
(Robert Kurz)
Um dos eventos realizados no final de abril deste ano no Chile foi uma conferência
internacional secreta de militantes extremistas de direita e organizações neonazistas
planejada e divulgada pela Internet. Foram convidados a participar do "Primeiro Encontro
Ideológico Internacional de Nacionalismo e Socialismo" representantes do Brasil, Uruguai,
Argentina, Venezuela e Estados Unidos.
(Isto é, 08/09/2000)
(...) Nos últimos anos, grupos neonazistas têm se multiplicado. Tanto nos Estados Unidos e
na Europa quanto aqui parece existir uma relação entre o desemprego estrutural do sistema
capitalista e a ascensão desses grupos de inspiração neonazista.
(Página da Internet)
Toda proclamação contra o fascismo que se abstenha de tocar nas relações sociais de que
ele resulta como uma necessidade natural, é desprovida de sinceridade.

(Bertolt Brecht)
Considerar alguém como culpado, porque pertence a uma coletividade à qual ele não
"escolheu" pertencer, não é característica própria só do racismo. Todo nacionalismo mais
intenso, e até mesmo qualquer bairrismo, consideram sempre os outros (certos outros)
como culpados por serem o que são, por pertencerem a uma coletividade à qual não
escolheram pertencer. (...)
(Cornelius Castoriadis)
"A violência é a base da educação de cada um."

(Resposta de um cidadão anônimo entrevistado pela TV sobre as razões da violência)


Estes textos (adaptados das fontes citadas) apresentam notícias sobre o crescimento do
neonazismo e do neofascismo e, também, alguns pontos de vista sobre o sentido desse
fenômeno. Com base nesses textos e em outras informações e reflexões que julgue
adequadas, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, procurando argumentar de modo claro
e consistente.

AULA 01 – REDAÇÃO 49
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

Q1. O tema é neonazismo e, segundo o parágrafo final das instruções da proposta, você
deveria pensar na questão sob a perspectiva do “crescimento do movimento”, do “sentido
histórico do fenômeno” e dos “pontos de vista sobre ele”. A partir do fragmento 1 da
coletânea, faça um comentário autoral considerando a amplitude do movimento e o alvo
desse novo fascismo.
A Semana da Pátria de 2000, em São Paulo, foi marcada por manifestações violentas de
cunho neonazista. Duas bombas foram enviadas para defensores dos direitos humanos com
mensagens de ódio contra negros, gays e nordestinos. Não é um fato de menor importância.
Se no Brasil, país marcado pela mistura racial, houve um movimento desse porte, imagine o
que está ocorrendo na Europa, continente no qual o orgulho racial ainda prevalece.Vivemos
tempos sombrios, questões que acreditávamos superadas estão retornando de forma
incompreensível.

Comentário: Observe que, nos dois primeiros períodos, eu resumi o fato descrito no texto de
origem sem mencionar a experiência de tê-lo lido.
Quando se pede um exercício desse tipo ou mesmo uma dissertação que tenha como
suporte um fragmento textual é comum o candidato comece o texto mencionando a fonte,
mais ou menos assim no texto acima, o autor fala de uma manifestação nazista ocorrida na
Semana da Pátria . Evite. Essa forma de se referir ao tema dá um caráter subjetivo ao texto,
manifestando desconhecimento das regras da dissertação.
Meu resumo inicial é uma paráfrase curta, fato que não compromete a avaliação do meu
texto. Na verdade, ela é necessária, pois só assim meu leitor poderia entrar em contato com
o tema que eu irei comentar.
Essa também é uma regra para o texto dissertativo completo. O parágrafo de introdução
pode conter paráfrases curtas, muitas vezes, fundamentais para que o leitor entenda
posteriormente seu argumento. No terceiro período, ao dizer “isso não é um fator de menor
importância”, apresento um mote para problematizar o fenômeno ocorrido. Desejei mostrar o
grave problema que o fato revela, o retorno de práticas historicamente condenáveis. A
comparação entre Europa e Brasil, que vem logo a seguir, configura o momento de
expansão do tema.

Q2. A partir do fragmento 2, comente o crescimento do Movimento Neofascista e tente


explicar o trecho “prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.”

Q3. Tendo como base o fragmento 3 da coletânea e considerando a premissa de que o


neofascismo, por motivos óbvios, é um fenômeno prioritariamente europeu, comente a
contradição desse engajamento dos americanos no movimento neofascista.

Q4.
Considere os fragmentos 4 e 5 e desenvolva a ideia de que a causa do neonazismo é social.
Se for necessário, pesquise o que é “desemprego estrutural do sistema capitalista”.
Os movimentos neofascistas têm se multiplicado no mundo. Qual a causa desse fenômeno?
Acreditar que isso se deve à maldade humana ou à ignorância das pessoas é um forma
simplista ou ingênua de tratar a questão. Ações violentas geralmente são respostas a um
tipo de pressão insuportável para o indivíduo e, no mundo contemporâneo, não há tensão
maior do que a necessidade de se integrar à sociedade de consumo através de uma
colocação no sistema produtivo. Ora, a situação de pleno emprego é impossível. Surge
assim um ressentimento daqueles que se acreditam capacitados para um lugar ao sol na
sociedade, mas que se sentem relegados a segundo plano, circunstância que se configura
como solo fértil para esses movimentos de ódio.

AULA 01 – REDAÇÃO 50
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

Comentário: A estrutura dessa resposta é um pouco diferente. Como o texto fonte não
relatava nenhum fato mais extenso, ao contrário, era um texto curto e opinativo, a solução
foi resumir toda ideia no primeiro período e problematizar o tema através de uma pergunta e
da negação do senso comum de que a maldade ou a ignorância seriam a causa do
neonazismo. Esse é um tipo de excerto que exige a ampliação das ideias pela causa.
Explicar toda a cadeia causal de um fenômeno dá trabalho e consome número significativo
de linhas.

Q5. Os dois últimos excertos fazem referência ao nacionalismo e ao bairrismo como causa
desses movimentos de ódio. Como se desenvolve o nacionalismo? Qual o pressuposto
básico desse sentimento? Como ele reforça o ímpeto neofascista?

parâmetros para a escrita

Q2. A partir do fragmento 2, comente o crescimento do Movimento Neofascista e tente


explicar o trecho “prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.”

Comentário: O excerto de Robert Kurz permite fazer uma pequena paráfrase, já que ele
relata, de forma geral, fatos associados ao crescimento do neofascismo. Você nem precisa
quebrar muito a cabeça para problematizar a questão, pois a própria frase dele “prenúncio
de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais” já é uma baita problematização,
bastaria interpretá-la. A curiosidade do leitor fica por conta de saber como você irá
desenvolver essa ideia. Kurtz fez uma metáfora que permite muitas especulações. As
“condições atmosféricas” podem se referir a circunstâncias sociais, políticas, econômicas e
culturais. Ele acredita que o neofascismo é uma espécie de sintoma revelador de que algo
não está funcionando muito bem na sociedade. Escolha algum problema social que pode
ser associado a essa violência e o explore.

Q3. Tendo como base o fragmento 3 da coletânea e considerando a premissa de que o


neofascismo, por motivos óbvios, é um fenômeno puramente europeu, comente a
contradição desse engajamento dos americanos no movimento neofascista.

Comentário: Seu texto poderia seguir o modelo dado. Você poderia fazer a paráfrase sobre
as reuniões neofascistas na América. A seguir, valeria a pena problematizar a questão,
considerando vários fatores que tornam a América diferente da Europa: miscigenação,
imigração, transferência de populações de forma compulsória (escravidão). A própria
problematização abriria o leque de expansão argumentativa do seu texto.

Q5. Os dois últimos excertos fazem referência ao nacionalismo e ao bairrismo como causa
desses movimentos de ódio. Como se desenvolve o nacionalismo? Qual o pressuposto
básico desse sentimento? Como ele reforça o ímpeto neofascista?

Comentário: Novamente, temos pela frente fragmentos muito curtos, apenas opinativos, sem
nenhum relato de algum fato ou fenômeno. A estrutura do parágrafo deve ser semelhante à
da resposta da questão 4. Você faz uma paráfrase da ideia principal (algo sobre o
nacionalismo ou sobre a violência como forma de educação). A seguir cabe problematizar a

AULA 01 – REDAÇÃO 51
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

opinião apresentada, isso sempre pode ser feito através de uma pergunta. Depois disso, o
trabalho consiste em reconstituir o raciocínio argumentativo que vai do nacionalismo até o
neofascismo. Essa relação embora pareça óbvia, não é. Afinal, o nacionalismo foi um
conceito construído na Europa como forma de exclusão e de acirramento de animosidades
seja entre os próprios europeus (entre franceses e alemães) ou entre europeus e
colonizados. Lembre-se de que o nascimento do nacionalismo se dá no terreno da crença
da superioridade.

9. Linguagem: A frase ou de quantas maneiras se pode


dizer quase a mesma coisa

Qual é o núcleo do parágrafo? A oração e a frase, com certeza.

Oração: enunciado que conte´m um verbo

Frase: enunciado com sentido completo

Período: trecho compreendido entre letra


maiúscula e ponto fintal, que pode conter várias
orações e tem sentido completo.

Opa, uma receita de quantas orações ou períodos usar por parágrafo?

Nada disso, corujinha burocrática. Sem receitas, melhor do que decoreba é a


compreensão. Como essas unidades de escrita ajudam a escrever o parágrafo?

O uso desses recursos tem a ver com o pensamento e com o estilo. Imagine a seguinte
diálogo:

AULA 01 – REDAÇÃO 52
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

O que o senhor acha de


aumentar a gasolina para
manter a economia? O pessoal da economia
não liga para a vida da
gente.

Observe a resposta, ela é simples, uma oração com sentido que faz a vez de frase
também. Ela revela uma reflexão rápida sobre um assunto. Óbvio que se o nosso entrevistador
fosse estimulado a dizer mais, a refletir mais sobre o que estava falando, ele teria que
acrescentar circunstâncias que tornariam mas complexa sua fala. Podemos começar pelo
básico, o que ele diz se aplica a que época e para quem e para que regiões?

Os economistas liberais de países mais desenvolvidos elegem a eficiência como


parâmetro de sucesso e não o justiça social.

Essa frase é constituída de uma oração, tem quase a mesma informação da anterior,
mas está recortada por circunstâncias que lhe dão mais consistência e manifestam uma
reflexão mais profunda. Mas vamos supor que o nosso entrevistado tivesse mais detalhes
sobre essas circunstâncias e quisesse ser ainda mais preciso, somente expressões acopladas
às palavras com conjunções como “de” e “como” (“de países...”; “como parâmetro”). Ele teria
que transformar essas circunstâncias em outras orações.

Os economistas liberais, que desenvolveram teorias em países mais


desenvolvidos, elegem a eficiência, baseada em números do mercado financeiro,
como um parâmetro de sucesso, desprezando os números que revelam a
desigualdade social.

Agora o texto manifesta uma análise mais detalhada que exigiu do nosso entrevistado
recortes como aquele que se observa depois de “economistas liberais”, uma oração
subordinada explicativa. Como fazer a crítica aos liberais que não vivem em países em
desenvolvimento e que fazem teorias que parecem se adequar à realidade deles? Com a
oração subordinada nosso enunciador consegue acrescentar essa informação.
Observe ainda, o uso do gerúndio “desprezando”. Como se sabe, o gerúndio é usado
para apresentar ação concomitante, como ocorre na frase “os economistas defendem medidas
duras, recebendo altos salários”. Mas em textos dissertativos, o gerúndio pode assumir o
sentido de uma ação consecutiva como acontece no trecho “desprezando os números que
revelam a desigualdade social. A preocupação com sucesso financeiro tem como
consequência o desprezo pelas questões sociais.

Daí surge um problema. Às vezes, você tem muita informação sobre o assunto e isso
acaba por tornar sua ideia um pouco confusa. O reflexo é imediato. Seu parágrafo não terá

AULA 01 – REDAÇÃO 53
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fim, manifestando um número enorme de relações lógicas e circunstâncias que para você
podem parecer claras, mas para o seu leitor se tornam insuportáveis.
Nesse caso, você deve estar começando a entender como o jogo entre simplicidade e
complexidade de um parágrafo construído por tópico frasal torna o texto mais agradável e
compreensível para o leitor. Vamos deixar nosso entrevistado reelaborar mais uma vez a sua
ideia.

Os economistas liberais cometem falhas de análise. Suas teorias são


elaboradas em países desenvolvidos e ajustadas à realidade particular dessas nações.
Eleger a eficiência baseada em números do mercado financeiro pode fazer sentido para
eles, mas esse procedimento é perigoso para países que têm elevada desigualdade social.

O que deve ter ficado bastante claro para você? O manejo de orações, frases e períodos
deve ser balizado por 3 elementos:
- complexidade do pensamento;
- clareza;
- estilo.
Falta falar de estilo...

9.1. Estilo

Othon M. Garcia, na sua incrível “bíblia”, Comunicação em prosa moderna, faz uma
análise do uso da construção da frase como recurso de produção de sentido, ou seja, de
estilo. Ele dá como exemplo 7 tipos de frase: de arrastão, entrecortada, de ladainha, labiríntica,
fragmentária, caótica, intercalada. Mas para efeito de compreensão do efeito que a construção
frasal pode dar ao seu texto, vou considerar apenas 3: de arrastão, labirítintica e intercalada

Frase de Arrastão

No seguinte período por frases coordenadas

O estereótipo dos economistas é o da “ciência lúgubre”, preocupados


sobretudo com “eficiência”, não se interessam com questões de
justiça ou equidade e deixam de lado a distribuição das renda.

as orações se enfileiram na ordem das ideias sem conectivos lógicos.


Segundo Othon, “Esse processo de estruturação de frase, que exige pouco esforço
mental no que diz respeito à inter-relação das ideias, satisfaz plenamente quando se trata de
situações muito simples. Por isso, é mais comum na língua falada, em que a situação concreta,
isto é, o ambiente físico e social, supre ou compensa a superficialidade dos enlaces
linguísticos”. Trata-se de “uma enfiada de orações independentes muito curtas que se vão

AULA 01 – REDAÇÃO 54
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

arrastando uma às outras, tenuamente atadas entre si por um número pouco variado de
conectivos coordenativos: e, mas, aí, mas aí, então, mas então.”2
Não que tal recurso não possa ser usado, mas com bastante cuidado. O texto ganha
dinamicidade, mas perde complexidade própria de reflexões mais elaboradas.

Frase labiríntica

É aquilo que Othon chama de período tenso. O escritor apresenta uma oração que é
interrompida criando expectativa até que afinal ela se completa. O leitor é obrigado a prestar a
atenção, nas informações novas, ao mesmo tempo que espera o desfecho da informação
inicial. Considere o período abaixo.

Por conta dessa ideia econômica, marcada fortemente pelo argumento


de “fazer o bolo crescer” para despois distribuí-lo, tese que perdurou
pela segunda metade do século XX e moldou políticas econômicas que
impulsionaram a concentração de renda, a grande questão da
exclusão social foi sendo postergada como algo a ser enfrentado num
futuro que nunca chega.
Note como o trecho inicial “Por conta dessa ideia econômica” joga o leitor na procura da
oração principal que só se completa na penúltima linha “a grande questão da exclusão
social...” O recurso é perigoso se isso se arrasta por várias linhas, pois o leitor pode se perder
na enxurrada de informação que precede a finalização da frase.

Frase intercalada

Esse tipo de frase, segundo Othon “Existe, no âmbito da justaposição (rever 1.4.2 e
1.4.3), uma classe de orações que não pertencem propriamente à sequência lógica das outras
do mesmo período, no qual se inserem como elemento adicional, sem travamento sintático e,
frequentemente, se não predominantemente, com propósito esclarecedor. Múltiplas nas suas
acepções, elas denunciam, na maioria dos casos, um como que segundo plano do raciocínio,
uma espécie de pensamento em surdina.”
A desigualdade que se verifica até hoje, tem ares de endêmica (por
mais que os “especialistas” digam o contrário, e apontem
malabarismos estatísticos para manter o otimismo), fato que leva a
uma certa condescendência com aquilo que prejudica o
desenvolvimento do país. 3
A frase entre parênteses permite uma certa crítica da crítica, momento em que se
reforça a tese, pois o autor se permite enfatizar seu ponto de vista.

2
Garcia. O.M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2011
3
Idem, ibidem.

AULA 01 – REDAÇÃO 55
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10. Propostas de Redação

As propostas estão escalonadas da seguinte forma:

A Proposta 1, da UFPR, pede que candidato faça um texto curto de resposta a ideia de
Jason Brennar sobre Epistocracia. É um texto para se exercitar.

Já a proposta 2 é desafiante, mas nem tanto. Escolhi uma proposta do Enem sobre um
tema que você já deve ter discutido ou mesmo já discutiu: o racismo.

Para mais propostas, consulte o caderno de propostas.

Divirta-se.

Proposta 1: UFPR 2017

Para o filósofo norte-americano Jason Brennan, os três casos são símbolo de


problemas na tomada de decisões políticas. Esses impasses favorecem a
participação das pessoas em detrimento do conhecimento que elas têm sobre a
realidade em questão
– o que leva, segundo ele, a escolhas irracionais.
Este é o caso específico do “brexit”, na visão de Brennan, em que as pessoas
tomaram “uma decisão estúpida” porque não tinham informações sobre a realidade
britânica. E é o modelo que aproximou Trump da Presidência dos EUA, apesar de
fazer campanha com pouco apego a fatos reais e a mentir em 71% das suas
declarações, segundo o site PolitiFact, que checa discursos políticos. [...]
Em entrevista à Folha, por telefone, Brennan falou sobre suas críticas aos
sistemas democráticos, reunidas no recente livro “Against Democracy” (contra a
democracia), em que sugere a implementação de um sistema político diferente: a
epistocracia. Ele defende que apenas uma elite com conhecimento aprofundado
sobre temas de relevância nacional possa tomar decisões.
Criticado por sua visão de mundo “elitista”, ele diz que a democracia ainda é o
melhor sistema de governo, mas que isso não significa que não precise evoluir.

Epistocracia (ou epistemocracia, como também aparece citado em trabalhos acadêmicos no


Brasil), é um conceito de sistema político baseado na ideia de epistem. O termo foi usado
por Platão na filosofia grega, no século 4º a.C., para se referir ao “conhecimento verdadeiro”,
em oposição à opinião infundada, sem reflexão.
Por esse sistema, o poder político não deveria ser distribuído igualmente a todos os
cidadãos, em contraposição à democracia, mas sim estas nas mãos das pessoas sábias.

AULA 01 – REDAÇÃO 56
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – REDAÇÃO

(Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/11/1829957>)

Escreva um texto argumentativo posicionando-se em relação à proposta apresentada


por Jason Brennan. O seu texto deve:

 ter de 10 a 12 linhas;

 explicitar em linhas gerais as ideias de Jason Brennan;

 assumir uma posição contra ou a favor dela, contrapondo argumentos se for


contra, ou reforçando os já apresentados se for a favor

Proposta 2: Enem 2016

INSTRUÇÕES PARA A REDAÇÃO

• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.

• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.

• A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do


Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para
efeito de correção.

Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:

• tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “texto insuficiente”.

• fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.

• apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.

• apresentar parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto.

TEXTOS MOTIVADORES

TEXTO I

Ascendendo à condição de trabalhador livre, antes ou depois da abolição, o negro se via


jungido a novas formas de exploração que, embora melhores que a escravidão, só lhe
permitiam integrar-se na sociedade e no mundo cultural, que se tornaram seus, na condição de
um subproletariado compelido ao exercício de seu antigo papel, que continuava sendo
principalmente o de animal de serviço. [...] As taxas de analfabetismo, de criminalidade e de
mortalidade dos negros são, por isso, as mais elevadas, refletindo o fracasso da sociedade
brasileira em cumprir, na prática, seu ideal professado de uma democracia racial que
integrasse o negro na condição de cidadão indiferenciado dos demais.

AULA 01 – REDAÇÃO 57
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RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia


das Letras, 1995 (fragmento).

TEXTO II

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989

AULA 01 – REDAÇÃO 58
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10.1. Possibilidade de encaminhamento da proposta

Proposta 1

Proposta e tema

A construção da proposta está fundamentada na leitura e opinião sobre um único texto,


em que se apresenta uma visão bastante polêmica de um filósofo norte-americano Jason
Brennan, o qual defende a ideia de que as decisões políticas tomadas nos últimos tempos têm
sido duvidosas e fruto de escolhas muito ruins, fundamentadas na desinformação ou na

AULA 01 – REDAÇÃO 59
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facilidade de acreditar naquilo que se apresenta como verdade. É um tema muito interessante
que levanta ideias muito variadas para a construção de um texto (aqui, acho sacanagem ter
que escrever sobre isso em no máximo 12 linhas).
Por um lado, os acontecimentos políticos do mundo, nos últimos tempos, têm
demonstrado um enorme despreparo, por parte do povo, para a tomada de decisões. Temos
vivenciado, em todo mundo, a ascensão de governos que fundamentam suas campanhas em
“verdades” fundamentadas em informações falsas, que conseguem propagação rápida pelas
redes sociais. Isso, segundo o texto, acontece na relação de eleição de Donald Trump, nos
Estados Unidos, e no plebiscito britânico acerca da saída da Comunidade Europeia, o famoso
“Brexit”. Para o autor, essas duas decisões foram fundamentadas em relações de
desconhecimento das realidades envolvidas, que, claramente, foram manipuladas por
interesses externos, ou nem tão externos assim.
É interessante notar que, ao olharmos por esse lado, encontramos certa lógica naquilo
que o filósofo defende, contudo, nos deparamos com dois problemas. Primeiro, com a
desinformação inclusive dessa classe considerada mais sábia que a popular, visto que é
comum que encontremos, hoje, pessoas que se dizem estudiosas e “cientistas”, mas que,
ainda assim, “compram” ideias anticientíficas, como a ideia de que a Terra é plana ou de que
as vacinas são construções feitas para aumentar o número de doentes pelo mundo, em lugar
de prevenir as doenças que promete combater. Apesar do conhecimento que essas pessoas
dizem ter, o processo ideológico influencia diretamente nas decisões. Não é segredo, para
nenhum de nós, que vivemos em momento de polarização ideológica, em que os dois lados
compram verdades de forma muito fácil, cada um olhando para os interesses mais próximos
aos seus.
Além disso, apesar de ser uma ideia, em determinados momentos, tentadora, a noção
apresentada pelo filósofo afasta o elemento central da democracia: o povo. Solucionar o
problema extirpando aquilo que o causa, nesse contexto, é privar de decisão aqueles que,
como a classe “sábia” (que nem considero tão sábia assim), também fazem parte da sociedade
e são cidadãos. Claro que isso nos coloca em um impasse que, sinceramente, deixarei para a
reflexão de vocês: apesar de democrática, a participação de todos não tem conseguido
resolver os problemas de todos. Você deve estar achando que eu fiquei doido e apresentei
uma ideia sem sentido, né? Na realidade, o que quero dizer é que as decisões não estão
sendo tomadas pensando em todos, senão em privilégio de alguns.
Com relação ao texto em si, você deverá escrever um texto dissertativo-argumentativo,
mas com um espaço muito pequeno de linhas. Dessa forma, como apresentaremos a seguir,
talvez seja mais interessante que você apresente seu texto organizado em um parágrafo-
dissertativo, com caráter, claro, argumentativo. Não se preocupe que esse tipo de construção
não se diferencia demais da organização de um texto maior, visto que apresenta todas as
partes necessárias à construção dissertativa-argumentativa.

Texto motivador

Como você pôde perceber, essa proposta apresenta somente um texto motivador
extremamente importante para a construção de seu texto, visto que ele contém as informações
que deverão ser discutidas em seu texto. Dessa forma, é muito importante que você o leia com
atenção, para que possa depreender o pensamento do filósofo e, assim, poder se posicionar
sobre ele. Faça dessa leitura uma constante na sua escrita. Os textos motivadores, via de
regra, nos direcionam para o tema e nos auxiliam a construir um pensamento mais próximo da
realidade, fugindo, muitas vezes, daquilo que chamamos de senso comum. A seguir, para te
ajudar nessa compreensão, apresentamos os pontos mais importantes do texto.

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Gênero textual

Como comentei rapidinho anteriormente, a melhor ideia para a sua produção de texto
nessa proposta é a produção de um parágrafo-dissertativo, muito utilizado em certames que
apresentam questões subjetivas e que exigem respostas mais objetivas. Para a construção
desse parágrafo, pensaremos em um texto organizado não em parágrafos, mas em períodos
dentro de um parágrafo, mantendo a ideia de construção de introdução, desenvolvimento e
conclusão, somente adaptada à necessidade de espaço. A seguir, apresentamos um resumo
das características desse tipo de produção.

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Destaco, ainda, que esse exemplo colocado na análise deve ser visto apenas como um
exemplo, não o tome como um modelo a ser seguido, visto que isso não existe em teoria
textual. Contudo, siga a estrutura apresentada para exemplificar esse texto menos usado por
nós.

Teses

Para a construção de seu texto, você deverá se posicionar acerca da ideia apresentada
pelo filósofo Brennan. Dessa forma, você deverá concordar com ele ou discordar dele, de
forma bastante clara e objetiva. Recomendamos, inclusive, que você não permaneça “em cima
do muro”, visto que o texto é curto para que você deixe sua ideia clara para esse
posicionamento. Na análise do tema, apresentamos alguns elementos mais próximos da
argumentação para que você fundamente suas ideias. Pense em seus argumentos
antecipadamente e escreva o seu texto deixando tudo muito claro. Só sucesso!

Proposta 2

Tema e proposta

O tema “Caminhos para combater o racismo” é um imbróglio que assola o Brasil desde
os tempos de Escravidão no Brasil. Quando nos deparamos com esse tema, a primeira
perspectiva é que depois de tantos anos da Escravidão, ainda precisamos procurar políticas
para combater o racismo, pois ele não foi superado. Isso se constata, tanto nas diversas

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reportagens que denunciam atos de racismo nas diversas esferas da sociedade, quanto ao
analisamos os índices de emprego oferecidos a negros e a brancos, os quais nos mostram que
os cargos altos se encontram, em sua maioria, em posse de pessoas brancas. Também o
assunto nos lembra que o maior índice de assassinatos está sobre os corpos negros, que a
maioria das pessoas que moram em favelas também o são, demonstrando que a Escravidão
acabou, mas não houve assistência do Estado para atender essas pessoas. Assim, têm-se no
Brasil um grande problema, que envolve uma parte muito grande de nossa sociedade.

Percebam que o racismo pode ser trabalhado a partir de variadas perspectivas. Um


caminho possível para o desenvolvimento de seu texto é pensar os impactos que o racismo
leva à vida das pessoas. Observe que o racismo é um preconceito de cor que leva em
consideração apenas a cor da pessoa para discriminá-la. A pessoa já é excluí-la sem levar em
consideração o que ela é, sua capacidade intelectual, seu modo de vida. Portanto, tensionar o
preconceito em seu texto é um modo mais fácil de você conseguir desenvolver suas ideias.

Diante disso, esperamos que você, em sua redação, focalize uma das posições
seguintes: ou fale acerca do preconceito como fator de segregação, ou argumente sobre a
ineficiência da ação estatal para acolher e inserir a comunidade negra na sociedade Brasileira.
Observe que se você escolher a primeira opção argumentativa, você pode falar sobre a
Escravidão, sobre como os negros eram tratados pela sociedade daquela época e como essa
herança se transpõe até os dias atuais, levando, inclusive, a certa parcela da sociedade
acreditar que por a pessoa ser negra, já não é confiável, é criminosa. Por sua vez, caso você
queira trabalhar com a segunda opção, você pode resgatar a ineficiência do Estado em acolher
as pessoas negras após a Escravidão, como isso fortaleceu as desigualdades que assistimos
até os dias de hoje. Também você pode apontar que a ausência de assistencialismo implica em
uma educação precária para essa parcela da social, que diretamente os conduz para
empregos mais desvalorizados socialmente.

Pensando no exame, a produção da redação do ENEM se fundamenta em uma trinca de


características essenciais.

AULA 01 – REDAÇÃO 63
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Para a redação do ENEM, sobremaneira com as competências 2 e 3, é necessário


apontar uma tese clara e argumentar sobre ela, como apresentaremos a seguir.

Assim, em sua introdução, você deverá delimitar o seu tema, visto que, como
comentamos acima, é amplo, e apresentar a sua tese. Quando pensamos na competência 3 do
ENEM, a do projeto de texto, é interessante mostrar, logo antes de argumentar, qual o seu
caminho opinativo, ou seja, qual a tese que você apresentará em seu texto. Pense que o seu
leitor, ainda que seja um corretor, não “conhece” o seu tema. É como se estivesse entrando em
contato com ele ela primeira vez. Tudo caminha para que ele compreenda o tema a partir do
seu texto. Se, por acaso, você costuma se perder na argumentação, principalmente quando
tratamos da organização dos argumentos na cabeça, indique, logo na introdução, os
argumentos e, como diria Marília Mendonça, seja fiel a eles.

Por sua vez, no desenvolvimento, você deverá apresentar seus argumentos.


Comumente, recomendamos dois argumentos pela extensão da redação. Pode parecer muito,
mas 30 linhas, para um texto bem, bem desenvolvido acaba sendo pouco. Assim, com dois
argumentos, fica um pouco mais fácil de desenvolver as ideias como deve. É importante
destacar que o repertório deve estar presente, fundamentando seus argumentos de forma clara
e produtiva. Sempre coloque repertório em seus argumentos e apresente, claramente, a
ligação entre as duas partes: a sua afirmação e o repertório.

Por fim, apresentamos a solução para os dois problemas apresentados durante a


redação. Isso não significa que você deverá apresentar duas propostas de intervenção. Você
precisa, necessariamente, resolver os dois problemas apresentados nos argumentos. Inclusive,
essa necessidade de resolver os problemas que você apresentou é essencial em sua cabeça
para que você possa “segurar a mão” nos argumentos, em termos de quantidade, visto que, se
você apresentar 3 problemas, terá de resolver os três e assim por diante. Não se esqueça,
ainda, de que sua proposta deve apresentar cinco elementos: agente, ação, meio/modo, efeito
e detalhamento. Normalmente, o detalhamento é o que mais atrapalha sua nota máxima na
competência 5, por isso, coloque claramente detalhes de como ocorrerá, quando, quem fará.

AULA 01 – REDAÇÃO 64
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Coletânea de textos

O ENEM utiliza textos considerados necessariamente motivadores, ou seja, não


podemos utilizar os argumentos encontrados neles e, de forma alguma, utilizar partes desses
textos em sua produção. Busque utilizar os textos como direcionadores dos seus pensamentos.
Muitas vezes, vocês apresentam a ideia de que não podem ler os textos motivadores porque
ocorrem essencialmente dois problemas: ou vocês descobrem que todos os argumentos que
têm estão colocados nos textos; ou sentem uma incontrolável necessidade de usar aqueles
argumentos que ficam fixos no seu inconsciente. Para resolver isso, só treinando muito a
produção textual. Treine e treine e, quando cansar de treinar, treine mais um pouco. Escrever
nós realmente aprendemos escrevendo.

Assim, abaixo, apontamos para você as ideias centrais dos textos apresentados nesta
coletânea.

TEXTO I

TEXTO II

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Tese e argumentos possíveis

Observe que na construção de sua argumentação, você precisa criar uma tese para ser
comprovada ao longo de sua redação. Portanto, essa tese, a partir do tema exposto, pode
partir da necessidade de se criar políticas para combater o racismo no Brasil. Em vista disso, é
preciso pensar em argumentos que não simplesmente vão reafirmar a existência dessa
necessidade, mas vão apontar os problemas que levaram a essa necessidade.

Além disso, é interessante perceber que trabalharemos com um tipo diferente de tese, a
que chamo de “tese causativa”, ou seja, precisaremos definir o porquê existe a necessidade de
combater o racismo e, em seguida, apresentamos argumentos que se ligam à ideia das causas
e consequências, por exemplo, dessa existência. É, literalmente, construir a motivação da
existência da necessidade de combater o racismo e, por isso, argumentamos em favor de
comprovar a existência.

A seguir, apresentamos algumas possibilidades de argumentação. O objetivo não é


apresentarmos uma verdade absoluta, mas somente indicar um caminho para que vocês
possam argumentar mais claramente, visto que este costuma ser um problema para muitos
estudantes. Apresentaremos argumentos para a tese que, como dissemos anteriormente, é
indicada pelos textos motivadores e pelo próprio tema.

Para enriquecer sua argumentação, e também é uma necessidade do Enem, é


interessante que você utilize repertórios. Esses podem ser compostos de dados estatísticos, de
falas de sociólogos, escritores, podem ser referências de filmes, livros que você tenha lido e
que se articule à ideia que você está desenvolvendo. Lembre-se que, desde que seja bem
articulada ao que você está desenvolvendo, as possibilidades de referências externas são
muitas, e o uso produtivo dessas referências vai enriquecer sua argumentação e possibilitar
uma nota mais elevada.

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12.Considerações finais

Chegamos ao final desta aula do nosso curso de Redação. Expliquei com o máximo de
detalhes o significado e a importância do tema na produção do seu texto.

Estou certo de que você, que me acompanhou e fez as atividades sugeridas, teve um
ótimo aproveitamento .

Confira comigo. Ao final desta aula, espera-se que você tenha compreendido a
necessidade de:

- habituar-se a ser cuidadoso na apreensão do tema;

- elaborar um projeto de texto com tese clara;

- fazer esboço.

Faça uma autoavaliação e verifique se você alcançou o esperado para a aula.

Até a próxima aula ou, mesmo antes, no Fórum de dúvidas.

Saudações e bom estudo.

Lembre-se: continue escrevendo.

Professor Fernando Andrade

@filosofia.do.portuga Redaçao e Filosofia


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Blog de crônicas :

https://www.outrasvias.com/

Versão Data Modificações


1 20/03/2021 Primeira versão do texto.

AULA 01 – REDAÇÃO 68

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