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Parnasianismo e Simbolismo

 Parnasianismo

O Parnasianismo foi um movimento literário surgido na França no


final do século XIX, conhecido principalmente por sua contradição ao
Realismo e ao Naturalismo, movimentos surgidos no mesmo século, mas
sobretudo ao Romantismo dentro do contexto brasileiro, além de ter
possuído forte base no modelo e nas temáticas da antiguidade
clássica, tendo também forte interesse na cultura greco-latina.

Essa escola literária é marcada por uma estética preocupada com o


detalhismo no modo como as coisas são representadas e sem
sentimentalismo ou lirismo (que possui caráter subjetivo), enxergando
a arte como algo autoexplicativo e que não precisa ser esclarecida, em
poemas que visam a busca pela perfeição formal que dão preferência a
uma menor quantidade de versos, que nesse caso são os sonetos,
ademais tendo marcante objetivismo, racionalismo, materialismo e
universalismo.

 Simbolismo

O Simbolismo foi um movimento artístico e literário do final do


século XIX caracterizado por uma profunda perspectiva pessimista
relativa a realidade demarcada por desilusão e subjetiva do mundo
cujo qual era descrito a partir da visão dos autores(as) , cujas obras
são definidas por uma linguagem imprecisa, sensorial, expressiva,
onírica (refere-se aos sonhos) e fluida, além de também possuírem
como características a musicalidade, a espiritualidade,
transcendentalismo e a valorização do eu e da psiquê humana. A
composição dos textos simbolistas possuem o uso de linguagem
figurativa como a sinestesia, sendo ela a mistura de sensações, além
da repetição de palavras que possuem encontros consonantais e
vocálicos, das metáforas, comparações, vocabulário litúrgico e por fim
o misticismo, que geralmente se apresenta em obras de cunho
religioso.

 Contexto histórico do Parnasianismo

O Parnasianismo está inserido no contexto histórico de avanços


tecnológicos e científicos da Europa no século XIX, este que foi
destacado pelo desenvolvimento em setores de comunicação e
transporte, ligado por exemplo a invenção do barco a vapor em 1807,
por Robert Fulton, da locomotiva a vapor em 1814, por George
Stephenson e do telégrafo em 1837, por Samuel Morse. Todos esse
avanços e potencialização do pensamento científico contribuíram para
o crescimento econômico em decorrência da Revolução Industrial,
fatores esses que contribuíram para o aumento da desigualdade na
relação entre burguesia e a classe trabalhadora, o proletariado.

No entanto, o movimento parnasiano não sofreu influência direta dos


avanços tecnocientíficos da época, considerando que sua preocupação
estava voltada para a oposição ao Romantismo e ao sentimentalismo,
não relacionada à representação dos avanços científicos ou problemas
sociais, utilizando-se apenas das influências racionalistas e objetivas
para entrar em contradição com o sentimentalismo refletido por
romancistas.

Dessa maneira, esse movimento literário passa a surgir após a


publicação, entre os anos de 1866, 1871 e 1876, da coleção de três
volumes de poesia chamada O Parnaso Contemporâneo, editados por
Alphonse Lemere. A palavra “Parnasianismo” surge justamente a partir
do termo “Parnaso” ou “Parnassus”, que faz uma referência à mitologia
grega, na qual Parnaso era a casa de Ápolo e o lugar onde musas e
ninfas viviam. Essa relação com a antiguidade clássica refere-se a
formação de uma estética ideal e formal, tal qual era considerada a
grega.

 Contexto histórico do simbolismo

Essa estética literária surge em meados de 1882, nas últimas décadas


do século XIX, marcado pela constante e crescente ascensão da
classe burguesa industrial. Nessa época o capitalismo se consolidava
sob influência da Segunda Revolução Industrial, processo de
transformações tecnológicas e científicas que mudaram
significativamente os modos de produção e as dinâmicas industriais
com o uso da energia elétrica e do petróleo, tornando oportunas as
industrializações de vários países principalmente europeus.

Esse procedimento foi incentivado pela unificação da Alemanha e a


Itália, respectivamente em 1870 e 1871, além do início das disputas
entre países como o primeiro citado, a Inglaterra e a Rússia pela
diversificação do mercado, por consumidores e matéria-prima. No
entanto, tais fatores foram os grandes influenciadores do aumento
das disparidades entre as classes sociais.

Paralelo a isso também ocorrera a fragmentação dos continentes


europeu e asiático por intervenção do neocolonialismo e imperialismo
de países europeus industrializados e considerados como grandes
potências mundiais.

São todos esses fatores somados que irão mais tarde resultar na 1°
Guerra Mundial (1914-1918).
Diante disso o Simbolismo surge justamente em oposição a esses
acontecimentos, de forma que ele se opõe às correntes materialistas,
cientificistas e racionalistas, negando a realidade objetiva e se
apegando ao subjetivo com a expressão de emoções.

No Brasil, o Simbolismo começa a partir das publicações das obras e


Cruz e Sousa em 1883, além de ter representado contradição,
insatisfação e insegurança frente aos acontecimentos relativos à
Proclamação da República em 1889 e a transição de Monarquia para
República em conjunto com séries de transformações políticas, a
implantação da República da Espada (pelo fato de que os primeiros
presidentes eram militares), a disputa de poder e crises políticas.

Além disso fatores como a Revolução Federalista (1893-1895), dada


principalmente por diferenças ideológicas entre grupos republicanos,
onde uns defendiam a centralização e outros a descentralização dos
poderes, no sul do país. E a Revolução da Armada (1891-1894), que foi
uma reação da Marinha (naquela época conhecida como Armada)
frente as contradições dos governos de Marechal Deodoro da Fonseca
(1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894).

 Autores e obras do Parnasianismo

Autores e obras nacionais do Parnasianismo

– Alberto de Oliveira (1857-1937) – Também conhecido como príncipe


dos poetas, nascido no Rio de Janeiro, além de escritor, ele foi
farmacêutico, oficial de gabinete e professor. Suas obras apresentam
rigor formal, objetividade e referências greco-latinas.
Obras de Alberto de Oliveira

Meridionais – obra contendo um conjunto de sonetos (poema com 14


versos), a exemplo do a seguir:

- O vaso chinês

Neste soneto o autor descreve um vaso, tendo como objetivo a


exaltação de um objeto.

“Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,

Casualmente, uma vez, de um perfumado

Contador sobre o mármor luzidio,

Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,

Nele pusera o coração doentio

Em rubras flores de um sutil lavrado,

Na tinta ardente de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,

Lá se achava de um velho mandarim

Posta em relevo, a singular figura;

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,


Sentia um bem estar com aquele chim

De olhos cortados à feição de amêndoa.”

– Olavo Bilac (1865-1918) – Poeta nascido no Rio de Janeiro que foi


considerado como o melhor representante do Parnasianismo brasileiro.
Olavo Bilac, antes de aderir a estética parnasiana escrevia poesias que
esbanjavam emoções, e além de suas obras líricas também escreveu
crônicas, livros didáticos e textos publicitários.

Obra de Olavo Bilac

Poesias – Obra na qual o autor demonstra sua identificação com o


Parnasianismo, principalmente com o poema “Profissão de fé”, trabalho
esse que o rendeu o título de “príncipe dos poetas brasileiros” (antes
de Alberto de Oliveira).

– Profissão de fé

Neste poema, Olavo expõe e descreve sua busca pela perfeição


formal de um poema.

Não quero o Zeus Capitolino


Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.
Que outro - não eu! - a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,


Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.

Invejo o ourives quando escrevo:


Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

[...]

Autores e obras portuguesas do Parnasianismo

– Théophile Gautier (1811-1872) – Importante autor francês no


movimento parnasiano internacional.

Émaux et Camées (Esmaltes e Cameos) – Obra que evoca a estética


detalhista do autor ao refletir a ideia de obras de arte preciosas e
ornamentadas.
– À une mendiante rousse (À uma mendiga ruiva)

Poema de Théophile que retrata a imagem de uma mendiga como uma


obra de arte enquanto a descreve de um rico modo detalhista.

Branca menina de cabelos ruivos,

Cujo vestido por buracos

Deixa ver a pobreza

E a beleza

Para mim poeta franzino,

Teu jovem corpo doentio,

Cheio de sardas,

À sua doçura

Você tem mais galância

Que uma rainha de romance

Seus sapatos de veludo

Teus tamancos pesados

Em vez de um trapo muito curto,


Um vestido de corte soberbo

Uma cauda plissada barulhenta e longa

 Autores e obras do Simbolismo

Principal autor do simbolismo brasileiro

– Cruz e Sousa (1861-1898) – Conhecido como o símbolo mais


importante do simbolismo brasileiro, João da Cruz e Sousa nasceu na
capital de Santa Catarina (Florianópolis) que apesar de ser um
intelectual a altura dos de sua época, o fato de ser um homem negro
filho de pais escravizados o submeteu as diversos preconceitos raciais
ao longo da vida, sendo um grande apoiador do abolicionismo.

Broquéis – Obra na qual o autor retrata o “mal” como algo belo com o
uso de palavras rebuscadas e o uso de sinestesias (linguagem que faz
referência à aspectos sensoriais)

– A dor

Esse poema expressar a angústia e a dor humana com o uso de


símbolos místicos.

Torva Babel das lágrimas, dos gritos,

Dos soluços, dos ais, dos longos brados,

A Dor galgou os mundos ignorados,


Os mais remotos, vagos infinitos.

Lembrando as religiões, lembrando os ritos,

Avassalara os povos condenados,

Pela treva, no horror, desesperados,

Na convulsão de Tântalos aflitos.

Por buzinas e trompas assoprando

As gerações vão todas proclamando

A grande Dor aos frígidos espaços...

E assim parecem, pelos tempos mudos,

Raças de Prometeus titânios, rudos,

Brutos e colossais, torcendo os braços!

Principal autor do Simbolismo internacional

– Charles Baudelaire (1821-1867) – Francês que além de poeta e


teórico da arte francesa foi considerado como precursor do
simbolismo internacional.

As flores de mal – Obra na qual Baudelaire explora temas como a


morte, o amor, o exílio, o tédio e a melancolia.
– O albatroz – Poema que faz uma reflexão acerca da condição de
poeta no mundo ao fazer uma associação dele com uma ave chamada
albatroz que possui um pouso desajeitado, o que sugere um tipo de
desconexão entre o mundo material e a mente de um poeta.

Para passar o tempo, homens das equipagens

Pegam o albatroz, uma vasta ave do mar,

Que segue, companheiro indolente de viagens,

O navio no abismo amargo a deslizar.

Mal tenham eles posto uns tantos no convés,

Que esses reis do azul, sem destreza e envergonhados,

Baixam as grandes asas brancas até o rés

Do chão, como, a seu lado, remos arrastados.

Esse viajante alado, assim fraco e sem jeito,

Antes belo, como é risível, incongruente!

Com um cachimbo cutucam o seu bico; feito

Um manco o imitam, pois que não voa, o doente!

O Poeta lembra muito o príncipe dos céus,

Que enfrenta a tempestade e olha o arqueiro com esgar:

Quando em terra exilado, em meio aos escarcéus,

As asas de gigante impedem-no de andar.

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