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Crítica | Legalmente Loira 2 -


Plano Crítico
Leonardo Campos

5–7 minutos

Sequências são coisas garantidas na indústria do cinema.


Nós, consumidores, gostamos, e assim, os produtores
investem em mais, mesmo que a qualidade diante do
ponto de partida seja menor, tanto nos quesitos estéticos
quanto nos dramáticos. É assim que vejo Legalmente
Loira 2, um filme que é divertido, tem até os seus
momentos interessantes, mas deixa a desejar como
narrativa, se ofertando para os espectadores como um
entretenimento menos interessante que o seu antecessor.
Para situar o leitor: farei um breve panorama da base
estrutural desta comédia sobre uma patricinha em luta
contra os estereótipos que a circundam e, que, na maioria
das vezes, ela mesma retroalimenta, num circuito de
ironias que beira ao excesso. Dentro deste universo, Elle
Woods (Reese Whiterspoon) é uma jovem que após ser
humilhada pelo namorado aprovado em Direito, decide
também entrar para a faculdade, tendo em vista
comprovar o seu valor, algo que vai além das dicas de
maquiagem, figurinos e outras coisas consideradas
“afetividades” por quem preza por um mundo mais
intelectual e menos consumista.

Em sua jornada, ela atravessa portais de


autoconhecimento e descobre, nos estudos, todo o seu
potencial. Dribla alguns preconceitos e flerta com o seu
lado intelectualizado em Harvard, sem deixar de lado a
paleta rosada de tons que definem o seu estilo de moça
loira, rica, mas inteligente. O primeiro filme, lançado em
2001, tinha tudo para ser uma comédia passageira, mas
acabou rendendo muito e ganhando simpatia da crítica e
do público. Com o tempo, se tornou um símbolo
cinematográfico feminista. Dois anos depois de sua
chegada aos cinemas, o cineasta Charles Herman-
Wurmfeld foi contratado para dirigir a continuação,
escrita por Kate Kandell e Dennis Drake. Agora casada,
feliz e bem estabelecida em um importante escritório de
advocacia, a protagonista interpretada com charme,
carisma e maestria pela ótima Reese Whiterspoon precisa
lidar com novos desafios. Ela é demitida. Os motivos?
Acompanhe-me, caro leitor.
Ao defender o veto em relação aos testes com animais pela
indústria cosmética, considerados como crueldade, ela
bate de frente com as ações de um dos mais altos clientes
da empresa. Com isso, é desconsiderada, mesmo com o
seu talento. Ela tem um cão de estimação e no
desenvolvimento da história, descobre que a mãe do
animal é uma das cobaias para testagem de cosméticos. A
ação? Partir para a batalha e tentar aprovar uma lei que
defenda as vítimas de tais atos, considerados como cruéis.
O seu marido Emmett Richmond (Luke Wilson) assume a
postura de homem que apoia a esposa em qualquer
circunstância. A relação dos dois é apresentada na
abertura, numa proposta em álbum de fotografias que
resume o filme anterior e nos leva ao que será esta
sequência, narrativa que traz Sally Field como uma
parceira de trabalho supostamente apoiadora da loira
espevitada, mas que traz viradas até o desfecho.

Divertido, cor de rosa e com alguns diálogos relevantes, de


maneira geral, Legalmente Loira 2 é um filme mediano.
Há uma tentativa de brincar com os excessos, criticar a
politicagem do sistema e os nossos preconceitos diante de
todas as coisas que nos circundam, mas os realizadores
pecam no elogio ao kitsch. Há, além do montante de rosa e
apetrechos que decoram cada espaço atravessado pela
protagonista, a inserção de discursos repletos de pieguice,
prejudiciais para o assertivo estabelecimento da ironia.
Elliot Davis entrega uma direção de fotografia cuidadosa,
Missy Stewart dá conta dos excessos visuais delineados
pelo roteiro e os figurinos de Sophie De Rakoff, apesar de
também rosados demais, trajam bem a personagem
carismática. A lição, no final das contas, é até edificante.
Terminamos os 95 minutos de trama com a mensagem
sobre não desistir diante daquilo que sonhamos, além da
reflexão sobre como devemos evitar carimbar as pessoas
com estereótipos negativos em ambientes pessoais e
profissionais. Tudo muito bonito, com exceção da
execução, falha, mesmo que funcione.

Legalmente Loira 2 (Legally Blonde 2: Red, White


& Blonde, EUA, 2003)
Direção: Charles Herman-Wurmfeld
Roteiro: Kate Kandell, Dennis Drake
Elenco: Reese Witherspoon, Luke Wilson, Matthew
Davis, Jennifer Coolidge, Sally Field, Regina King, Bruce
McGill
Duração: 93 min.

Leonardo Campos
Tudo começou numa tempestuosa Sexta-feira 13, no
começo dos anos 1990. Fui seduzido pelas narrativas que
apresentavam o medo como prato principal, para logo
depois, conhecer outros gêneros e me apaixonar pelas
reflexões críticas. No carnaval de 2001, deixei de curtir a
folia para me aventurar na história de amor do musical
Moulin Rouge, descobri Tudo sobre minha mãe e,
concomitantemente, a relação com o cinema.

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