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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv9n1-077
Rodrigo Berté
Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pelaUniversidade Federal do
Paraná (UFPR)
Instituição: Centro Universitário Internacional Uninter
Endereço: Rua Saldanha Marinho, 131, Curitiba, PR, CEP: 80410-150
E-mail: rodrigo.b@uninter.com
RESUMO
As plantas medicinais são utilizadas tradicionalmente pelo homem através das gerações,
e na atualidade estão presentes também na produção industrial em cuidados com a saúde
e na fitocosmética. Esse artigo tem por objetivo descrever a importância da Moringa
oleífera Lam. nos produtos cosméticos através de uma revisão bibliográfica. Estudos
demonstram que a moringa é rica em compostos fenólicos, flavonoides, óleos essenciais
e glicosídeos livres, como os flavônicos e terpênicos, que conferem as ações antioxidante,
hidratante e fotoprotetora, justificando o seu uso cosmético e medicinal em cápsulas, chás,
óleos, sabonetes, cremes, suplementos, medicamentos e outros. Devido ao seu baixo custo
de produção, fácil cultivo e alto rendimento, a Moringa oleífera L. é uma excelente aliada
para a dermocosmética.
ABSTRACT
Medicinal plants are traditionally used by man across generations, and nowadays are also
present the industry of health care and phytocosmetics. This article aims to describe the
importance of Moringa oleifera Lam. in cosmetic products through a literature review.
Studies show that the moringa plant is rich in phenolic compounds, flavonoids, essential
oils and free glycosides, such as flavones and terpenes, which confer antioxidant,
moisturizing and photoprotective actions, justifying its cosmetic and medicinal use in
capsules, teas, oils, soaps, creams, supplements, medications and others. Due to its low
cost, easy cultivation and high yield, Moringa oleifera L. is an excellent ally for
dermocosmetics.
1 INTRODUÇÃO
As plantas medicinais são um dos recursos terapêuticos mais antigos do mundo
no combate e tratamento de diversas doenças. Desde tempos remotos, o homem, através
da observação dos recursos naturais, buscava a cura e o tratamento para os problemas de
saúde (GIMENIS, 2015). O uso terapêutico da biodiversidade compõe todo um conjunto
de saberes e práticas voltadas à saúde, que forma o que hoje é reconhecido, inclusive, pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), como parte da medicina tradicional praticada em
todos os países (CORADIN et al., 2018).
A OMS criou o programa de Medicina Tradicional e formulou políticas públicas
em defesa dos conhecimentos tradicionais em saúde em 1978, na Conferência de Alma-
Ata. O Brasil, respaldado pelas diretrizes da OMS, aprovou em 2006 a Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, contribuindo para a inclusão de
algumas práticas no Sistema Único de Saúde (SUS). Destaca-se o uso de plantas
medicinais e fitoterapia (BRASIL, 2006).
A industrialização promoveu avanços nos setores farmacêuticos, remédios,
cosméticos e afins, de forma mais sintética que natural, porém o produto natural possui
superioridade de qualidade e eficácia (BRASIL, 2018). Na atualidade, podemos observar
o resgate dos produtos naturais fitoterápicos, mantendo-se a busca por recursos
terapêuticos que vão além do tratamento de doenças. Estes produtos auxiliam no
tratamento estético, ou seja, na manutenção e conservação da pele, entre outros fins
terapêuticos no combate ao envelhecimento precoce, promovendo e resgatando uma
maior qualidade de vida, aumentando a autoestima e garantindo maior eficácia e acesso
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura, com a realização de um estudo detalhado,
descritivo e exploratório de análise e interpretação.
Gil (2002) destaca que “a pesquisa é classificada como exploratória e descritiva,
visto estar ela diretamente relacionada com os fenômenos de atuação prática e por
proporcionar uma nova visão da questão de pesquisa”.
As fontes para a produção e a elaboração deste trabalho científico foram retiradas
das bases de dados de artigos científicos Scielo, Bireme, Pubmed, e Google acadêmico,
documentos e cartilhas.
Os temas pesquisados para a realização do trabalho foram: plantas medicinais
utilização na cosmética, Moringa oleífera L., usos na fitoterapia e fitocosmética,
propriedades da espécie, tecnologias de produção e metabólitos secundários.
Os materiais bibliográficos que não se encontravam diretamente ligados ao escopo
da revisão foram excluídos, embora pudessem apresentar os descritores selecionados e
adicionados materiais complementares como legislações pertinentes ao assunto abordado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as plantas utilizadas na fitocosmética para o desenvolvimento de produtos
encontra-se a família Moringaceae, que está no grupo principal das angiospermas,
apresentando apenas o gênero Moringa, com 14 espécies conhecidas. Nativa do norte da
Índia, ela cresce em vários países dos trópicos (THE PLANT LIST, 2013; PATERNIANI
et al., 2009).
A espécie Moringa oleífera Lam. foi introduzida no Brasil por volta de 1950,
como planta ornamental, conhecida popularmente por "moringa", "quiabo-de-quina" ou
"lírio" (MATOS, 2002), é uma hortaliça perene e arbórea, com aproximadamente cinco
metros de altura, tronco delgado, folhas compostas, flores numerosas e frutos longos
parecidos com uma vagem e que contém muitas sementes (GOMES et al., 2019). Cresce
em regiões subtropicais e tropicais muito secas a úmidas. Embora prefira solos arenosos,
solos pesadamente argilosos podem também ser tolerados, embora encharcamentos
devam ser evitados. A planta é citada como sendo tolerante a geadas leves e pode se
estabelecer em solos levemente alcalinos até um pH 9 (RANGEL, 1999).
Todas as partes da moringa como raízes, folhas, flores, frutos, sementes, caule e
casca possuem aplicação na medicina e nutrição. Outros usos são na cosmética, na
indústria, no tratamento de água e efluentes, produção de energia, biomassa, forragem,
alimentação animal, produção de mel e outros como potencializador do crescimento de
plantas, como quebra-vento e em sistemas agroflorestais (RANGEL, 1999; PEREIRA,
2019).
Os benefícios da M. oleífera L., considerada multifuncional, traz como destaque
o óleo de moringa para produtos cosméticos: a matéria-prima possui elevada estabilidade
química para oxidação e degradação térmica, alto poder de emoliência, brilho e
hidratação, condicionamento capilar, e riqueza constitucional na composição (ácido
oleico, behênico, fitoesteróis, polifenóis, tocoferóis, flavonoides, etc.). Já no aspecto
econômico e comercial, a moringa apresenta apelo comercial e ecológico, possuindo
baixo custo de produção e facilidade de logística por estar distribuída ao longo do Brasil
(PEREIRA, 2019).
A M. oleifera L. é uma planta de fácil cultivo, com alto valor proteico e quase
todas as suas partes podem ser aproveitadas para os mais diversos usos, como tratamento
de água (GASSENSCHMIDT et al., 1995; MOURÃO et al., 2020; MELLO et al., 2021),
alimentação humana e de animais, como suplemento alimentar (FRIGHETTO et al.,
2007) e na cosmética (LOPES ALMEIDA et al., 2017).
A espécie é amplamente cultivada devido ao seu alto valor alimentício,
principalmente as folhas, ricas em caroteno e ácido ascórbico (MAKKAR; BECKER,
1996; BEZERRA et al., 2004), sendo um produto com muito potencial de
desenvolvimento para a indústria da saúde e beleza, mas ainda pouco pesquisado na área
de cosmética.
Suas folhas são utilizadas na área alimentícia devido à presença de vitaminas,
proteínas e aminoácidos essenciais, β-caroteno, compostos fenólicos, flavonoides, óleos
essenciais e glicosídeos livres, como os flavônicos e terpênicos, além de conter
metabólitos bioativos, o que a torna uma excelente fonte de substâncias antioxidantes e
antimicrobianas (FAHEY, 2005; CHUANG et al., 2007; TORRES-CASTILLO et al.,
2013, GOMES et al., 2019).
uso de plantas na composição de produtos para os cuidados com a pele e afins (GIMENIS,
2019).
Um teste realizado com creme contendo o extrato da moringa mostrou que ocorreu
o aumento na formação de colágeno, com melhoras na elasticidade da pele, após três meses
de usos e esses efeitos foram atribuídos pela presença de compostos naturais presentes na
planta (ALI et al., 2014).
A nanotecnologia auxilia no processo de encapsulação dos bioativos extraídos das
plantas e a M. oleífera em lipossomas proporciona um aumento imediato da hidratação
da pele logo após a aplicação do produto cosmético, produzindo uma barreira e
consequentemente impedindo o envelhecimento devido ao estresse oxidativo. A M.
oleifera é uma planta com um potencial hidratante para as peles jovens, mantendo o
equilíbrio de seu pH natural, bem como para recuperar e manter as peles mais
envelhecidas hidratadas por mais tempo (GIMENIS, 2019).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como mostrado no presente artigo, a M. oleifera possui propriedades
reconhecidas e comprovadas cientificamente, o que a torna uma planta que agrega
inúmeros benefícios, dentre funções nutracêuticas e farmacológicas, sua utilização como
biodiesel e no tratamento de água, bem como as suas propriedades em uso na indústria da
beleza. Além disso, é uma espécie que possui alta adaptabilidade a diversos climas e
solos, sendo uma boa alternativa econômica.
No Brasil, a produção de medicamentos à base de plantas é ampla, e o estudo de
fitoterápicos na composição de produtos cosméticos está em fase de expansão no país. A
pesquisa da biodiversidade brasileira e o avanço no uso de plantas medicinais e seus
compostos trazem um universo de possibilidades ao potencializar os benefícios contidos
em todas as partes das plantas, além de auxiliar no desenvolvimento de áreas rurais e no
reflorestamento de áreas degradadas. Faz-se necessário garantir essa inovação, o
desenvolvimento e a descoberta do uso cosmético de novas plantas, por meio das patentes
dos produtos.
Nos últimos anos, o Brasil tem ocupado um lugar de destaque no mercado interno
e externo e, por conseguinte, surgem cada vez mais investimentos em pesquisa na área de
cosmética. A comercialização de produtos naturais é de grande valia para o crescimento
econômico do país, além de atender uma população cada vez mais consciente do que
compram e consomem, e que têm buscado resgatar o uso de produtos naturais no seu dia
a dia, reconhecendo que os ativos vegetais fazem bem para a pele, para a saúde e para o
meio ambiente.
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