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9/17/21, 6:37 PM De Almodóvar a Pocah, saiba como algoritmos censuram os artistas nas redes sociais - 17/09/2021 - Ilustrada - Folha

CINEMA (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/ILUSTRADA/CINEMA)
INSTAGRAM (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/FOLHA-TOPICOS/INSTAGRAM)

De Almodóvar a Pocah, saiba como algoritmos


censuram os artistas nas redes sociais
Instagram e YouTube apagam clipes, fotografias, pinturas e desenhos numa caça à
nudez que causa prejuízo aos criadores

17.set.2021 às 10h00

Pedro Martins (https://www1.folha.uol.com.br/autores/pedro-martins.shtml)

RIBEIRÃO PRETO Um mamilo dentro do contorno de um olho que chora uma gota
de leite foi considerado transgressivo demais pelo Instagram quando Pedro
Almodóvar deu início à divulgação de seu novo filme, “Madres Paralelas”, que
estreou no Festival de Veneza (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/almodovar-em-veneza-
arranca-aplausos-timidos-para-seu-madres-paralelas.shtml) no início do mês.

O cartaz, que era automaticamente excluído quando compartilhado na


plataforma (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/08/mamilo-com-leite-em-cartaz-do-novo-filme-de-almodovar-
e-censurado-pelo-instagram.shtml), fez com que os olhos dos fãs se voltassem para o debate

sobre a censura que as redes sociais impõem aos seus usuários, principalmente
a artistas que retratam —ou performam— o nu e o seminu.

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/de-almodovar-a-pocah-saiba-como-algoritmos-censuram-os-artistas-nas-redes-sociais.shtml 1/11
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O Instagram (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/instagram/) e o YouTube estão no centro


dessa discussão, enquanto o Twitter, que permite a publicação até de
pornografia, e o Facebook, cada vez menos popular entre os usuários, nem
sequer costumam ser lembrados pelos artistas alvo de censura.

Por exibir um mamilo lactante, cartaz de 'Madres Paralelas', de Pedro Almodóvar, foi censurado
pelo Instagram - El Deseo/Divulgação

Representantes do Instagram e do YouTube afirmam que tentam encontrar um


equilíbrio entre a liberdade de expressão e a segurança dos usuários. Dizem
ainda que os algoritmos estão em mudança constante para melhoria, mas
admitem que erros não são raros. É quando, supostamente, seres humanos
entram em ação para tomar uma decisão definitiva quanto ao conteúdo
excluído.

Foi o caso de Almodóvar, que, com a amplitude de sua voz, conseguiu não só
reverter a decisão do Instagram como fazer a plataforma vir a público com um
pedido de desculpas. "Temos que nos manter em alerta antes que as máquinas

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decidam o que podemos ou não fazer", advertiu o diretor


(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/08/almodovar-diz-que-algoritmo-nao-e-humano-apos-censura-de-cartaz-no-

instagram.shtml) num texto publicado na conta de Penélope Cruz, a protagonista de


"Madres Paralelas" (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/veneza-consagra-filmes-sobre-a-etica-de-ser-
mae-em-um-mundo-injusto.shtml), já que ele próprio não usa redes sociais.

Esta, porém, não é a realidade de todo artista, principalmente dos que não
fazem parte do mainstream, ainda que sejam reconhecidos dentro do circuito
artístico. É o caso de Francisco Hurtz, de 36 anos, que investiga o corpo
masculino em obras que percorreram exposições de peso e estampam a pele de
centenas de admiradores mundo afora.

Acusado de violar a política de nudez do Instagram, Hurtz teve sua conta


excluída na semana anterior à que o mamilo lactante de Almodóvar foi
censurado. Mais de um mês se passou e, diferentemente do diretor, o artista
plástico não conseguiu reaver seu perfil até a publicação desta reportagem.

“Perdi dinheiro, porque uma parcela considerável de colecionadores usa o


Instagram para analisar a coerência entre a vida e a obra do artista.
Negociações foram interrompidas porque, virtualmente, parei de existir para 13
mil pessoas”, diz Hurtz, que tem obras no acervo de Gilberto Chateaubriand,
um dos maiores colecionares de arte brasileira.

O artista diz enfrentar o mesmo problema desde 2012, quando criou seu perfil.
A censura, ele afirma, ocorre de diversas maneiras. Quando não excluem as
imagens, os algoritmos diminuem seu alcance, fazendo com que poucos
seguidores as vejam na linha do tempo.

Na linguagem da internet, a prática é conhecida como “shadowban”, um termo


que pode ser traduzido do inglês como “banimento secreto”, uma vez que o
autor das publicações não é informado da restrição imposta.

“Quando as redes sociais começaram a derrubar as minhas pinturas e tolerar


conteúdo de violência em outras contas, passei a acreditar que os algoritmos
agem para entreter um público majoritariamente conservador
(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/juliana-de-albuquerque/2021/08/livro-aponta-como-tecnologia-pode-colocar-em-risco-

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/de-almodovar-a-pocah-saiba-como-algoritmos-censuram-os-artistas-nas-redes-sociais.shtml 3/11
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e que a disseminação de imagens como as minhas poderiam


nossas-liberdades-civis.shtml)

atrapalhar os lucros da empresa”, diz Hurtz.

Francisco Hurtz posa em frente a parte de sua obra, que investiga o corpo masculino, na Verve
Galeria, em São Paulo - Francisco Hurtz/Acervo pessoal

Para mulheres, a situação pode ser ainda pior, já que, além da genitália, os
mamilos são alvo de censura. É um dos principais transtornos enfrentados por
Luisa Callegari, de 27 anos, que fotografa, pinta e faz intervenções artísticas
usando o próprio corpo em consonância com assuntos ligados à maternidade, à
pornografia e à violência.

De tanto borrar os mamilos, criando versões diferentes de suas obras só para


evitar que elas sejam censuradas, Callegari criou uma série de autorretratos em
frente ao espelho completamente borrados. Apesar de ter gostado do
resultado, ela não deixa de frisar que a experimentação partiu da censura, o
que considera inconcebível.

“É difícil entender essa política, porque essas publicações não têm nada de
violento ou grotesco. É só um corpo, como o de qualquer pessoa que está
naquela plataforma. Parece que o nu só é permitido quando está a serviço do
outro. Nas bancas, tinha revistas pornô. Na internet, tem fotos e vídeos para
qualquer um acessar. Mas, quando a própria pessoa quer postar, não pode”, diz.

Para a obra de Callegari, o problema não se restringe ao Instagram. Um vídeo


em que ela amamenta sua filha, por exemplo, também foi excluído pelo
YouTube, apesar de ambas as plataformas afirmarem em suas diretrizes de
comunidade que fotos e vídeos que exibem mamilos são permitidas no
contexto da amamentação ou da produção artística.

A censura, a artista diz, pode ter causado prejuízo, já que a obra faz parte de
uma exposição virtual da Casa Niemeyer
(https://narrativasdodigital.tumblr.com/post/637600828725805056/luisa-callegari-leite-2018-v%C3%ADdeo-89-para) , da

Universidade de Brasília, que poderia ter sido uma vitrine para o seu trabalho,

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mas ficou fora do ar por dias até que a publicação fosse refeita em plataformas
mais permissivas, como o Google Drive e o Dropbox.

Ambas são uma alternativa à censura, mas não permitem curtidas,


comentários nem qualquer interação. Em outras palavras, é como se a obra
estivesse exposta num museu difícil de ser localizado no GPS, em que até pode
ser fotografada pelo público, mas não compartilhada, numa censura que
Callegari acredita ser um reflexo da sociedade.

“Não dá para culpar só o Instagram ou o YouTube, porque eu não posso sair nas
ruas sem camisa como um homem. Não é só uma proibição virtual. No circuito
das artes, a nudez é aceita, mas, na sociedade em geral, não é, principalmente
no Brasil, com Bolsonaro e a bancada evangélica no poder.”

Luisa Callegari acusa Instagram de censurar imagens em que exibe seus mamilos

Em obra em que amamenta sua filha, artista precisou cobrir os mamilos com uma flor para
barrar os algoritmos censores - Luisa Callegari

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A avaliação de Callegari ecoa na de Élle Bernardini, de 29 anos, que usa sua


vivência como mulher trans para subverter noções pré-concebidas sobre sexo e
gênero (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/03/artistas-trans-querem-hackear-o-mundinho-da-arte-com-joias-
belicas-e-pelucia.shtml),
com obras que, na internet, normalmente só encontram espaço
no Dropbox, em que não há algoritmos barrando o acesso.

É o caso de "Meu Cu É uma Festa", um vídeo produzido para a exposição


"Trabalha-Dores do Cu", que esteve em cartaz em 2015 no Maus Hábitos, um
espaço de intervenções artísticas no Porto. Na performance, Bernardini
penetra o próprio ânus com um pirulito, ironizando a dicotomia entre prazer e
tabu. "O cu une todos nós —homens, mulheres, transexuais ou cisgêneros. É
onde realizamos as mais intensas festinhas do desejo, mas tem que ficar longe
do Sol. É o olho que nada vê", diz.

A artista afirma que não é qualquer galerista ou curador que aceita exibir o
vídeo, e os poucos que permitem pedem que a projeção seja coberta com panos
pretos, como se o espectador precisasse ser avisado antes de assistir à
performance —o que ela não aceita, por não ver a mesma exigência com outras
obras.

A única performance que Bernardini consegue levar com certa facilidade às


exposições é "Dance Comigo", em que ela se cobre, dos pés à cabeça, de mel e
folhas de ouro, pedindo que visitantes a chamem para bailar ao som de bossa
nova e MPB.

O trabalho, ela diz, é um experimento social. "Será que não querem me ver nem
pintada de ouro?", questiona. "Meu corpo é sempre visto como estranho. Serve
para prostituição, drogadição, violência, para tirarem sarro, então será que,
com ele nu, mas coberto como uma 'Globeleza', os espaços se abrem para
mim?"

Parece que sim. A performance, apresentada pela primeira vez na Pinacoteca


do Estado de São Paulo (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/pinacoteca-enaltecera-arte-decolonial-
em-centenario-da-semana-de-arte-moderna.shtml) em 2018, nunca foi barrada em nenhuma rede

social, no que Bernardini acredita ser uma falha dos algoritmos, que se
confundem com as folhas de ouro.

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Ao considerar que qualquer outra imagem que contenha nudez é excluída de


seu perfil, ela descarta a possibilidade de as redes terem aberto uma exceção ou
de os censores terem, enfim, entendido que se trata de uma obra de arte.

"O algoritmo entende de história da arte e consegue diferenciar que aquela


vagina gigante de 'A Origem do Mundo', de Gustave Courbet, é um quadro do
século 19, e não pornografia? Não. Obras como esta e a minha estão sendo
julgadas de maneira leviana e superficial."

A crítica de Bernardini é amparada pelo que dizem os moderadores de


conteúdo de redes sociais em raras entrevistas que dão à imprensa,
normalmente em anonimato, visto que são contratualmente proibidos de
falarem sobre seu trabalho ao público.

Uma reportagem da revista New Yorker (https://www.newyorker.com/magazine/2020/10/19/why-


facebook-cant-fix-itself) revela que eles trabalham em horários insalubres, em contato

constante com conteúdos violentos, de estupro a suicídio, o que chega a causar


traumas, numa experiência que um moderador brasileiro, Martin Holzmeister,
hoje diretor de arte, compara com uma visita a Tchernobil.

O trabalho é "limpar as redes sociais para que todos possam utilizar". Há


manuais, eles dizem, que orientam as ações, mas não são claros e cabe à
subjetividade do moderador ou de seu supervisor decidir se o conteúdo deve
ou não ser censurado.

Muitos dizem ainda que não recebem treinamento adequado para o serviço.
Com isso, não é de se espantar que publicações preconceituosas passem
impunes pelos censores, enquanto obras de arte são derrubadas.

Para além do circuito das artes plásticas, a censura também impacta o trabalho
de cantoras com milhões de seguidores, em que pese seu poder midiático para
levar uma legião de fãs raivosos a protestarem. Foi o caso de Anitta, Luísa
Sonza e Pabllo Vittar com o clipe “Modo Turbo”
(https://f5.folha.uol.com.br/musica/2020/12/luisa-sonza-anitta-e-pabllo-lancam-parceria-e-falam-em-usar-modo-turbo-contra-

preconceito.shtml), lançado no fim do ano passado.

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/de-almodovar-a-pocah-saiba-como-algoritmos-censuram-os-artistas-nas-redes-sociais.shtml 7/11
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O vídeo não foi excluído, mas tampouco era encontrado quando os usuários
buscavam seu título no YouTube, o que o trio diz ter prejudicado a audiência do
clipe e posto em xeque o investimento de R$ 1,5 milhão dedicado à produção,
que, inspirada pelos animês japoneses, usa e abusa de efeitos especiais.

Até hoje, ninguém sabe ao certo o motivo da restrição, mas as cantoras


acreditam se tratar de um preconceito velado contra mulheres e artistas
LGBTQIA+. Sem esclarecer a situação, o YouTube veio a público pedir desculpas
e admitiu que os algoritmos haviam cometido um erro
(https://twitter.com/YouTubeBrasil/status/1346940604907970560).

Um ano antes, Vittar (https://guia.folha.uol.com.br/streaming/2021/06/o-que-saber-de-pabllo-vittar-para-nao-


passar-vergonha-ao-ouvir-o-novo-disco-da-cantora.shtml) já havia enfrentado situação parecida

quando lançou o clipe “Parabéns”, com participação do grupo de pagode


Psirico, que só podia ser visto por maiores de idade. Nesta ocasião, porém, o
YouTube disse que a própria equipe da cantora havia restringido o acesso, o
que ela negou.

“Recebi a restrição porque estou lá segurando um copo de vodca. Tem vários


videoclipes com conteúdo muito mais explícito que não são restritos, não são
banidos, nem sequer são lembrados, mas atacam drag queens a torto e a
direito. Diga não à censura seletiva”, pediu Vittar num vídeo publicado nas
redes sociais que mobilizou uma legião contra a plataforma.

Ex-participante do "Big Brother Brasil" (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/06/do-bbb-a-


fazenda-e-de-ferias-com-o-ex-como-vivem-os-que-pulam-de-reality-em-reality.shtml), Pocah

(https://f5.folha.uol.com.br/musica/2021/08/pocah-prepara-primeiro-album-e-dispara-essa-bunda-tem-muito-para-falar.shtml)

também acredita numa espécie de censura contra minorias sociais. Seu clipe
mais recente, “Muito Prazer”, também foi restringido pelo YouTube
(https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2021/07/pocah-chora-por-censura-do-youtube-a-novo-clipe-revoltada.shtml) ao

ser lançado em julho.

Além de dificultar que o clipe fosse encontrado pelos espectadores, como


ocorreu com Vittar, a restrição impediu que a cantora o patrocinasse para
chegar a mais usuários por meio das recomendações exibidas ao fim dos
vídeos.

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“Tem diversos conteúdos no YouTube racistas, homofóbicos, machistas, que


não são barrados. Se a mesma regra valesse para todos os artistas, tudo bem,
mas é seletiva. Quem mais sofre são as mulheres. Nunca vi um homem passar
por isso. Sempre vão julgar mais a mulher, seja na vida real, seja na internet”,
diz a cantora.
Pocah afirma que, embora não mostre o sexo ou mamilos, o clipe foi barrado
devido à presença de imagens que infringem políticas de nudez. Já o YouTube
diz que a restrição partiu de denúncias de usuários e, ao ser revisada por um
ser humano, foi retirada. A cantora nega.

“Tudo continua igual. O clipe não é recomendado, ainda não consigo pagar
para impulsionar”, diz. “Sei que tem muitas crianças no YouTube, mas são os
pais que devem tomar cuidado com aquilo a que os filhos assistem. Tenho uma
criança de cinco anos em casa, e ela só assiste ao que eu permito.”

O YouTube diz preferir que os algoritmos tenham uma alta taxa de erros a
permitir que conteúdo "potencialmente nocivo" circule pela plataforma. Diz
ainda que os artistas podem contestar a avaliação e os orientam a fornecer o
máximo de contexto para que exceções sejam abertas.

“Não permitimos nudez com objetivo de satisfação sexual, mas há instâncias


em que a nudez pode ser permitida, como um fotógrafo exibindo retratos ou
um clipe com pessoas nuas ou seminuas dançando”, afirma Sandra Jimenez,
diretora de parcerias musicais do YouTube na América Latina.

O Instagram, por sua vez, pediu exemplos de contas que seriam citadas na
reportagem para analisar os casos individualmente, mas retornou dizendo que
não compartilha dados sobre contas de terceiros e afirmou, em nota, que
reavalia suas políticas constantemente.

Os artistas, porém, dizem que na prática a situação é diferente. Vocalista da


banda Teto Preto, Laura Diaz não consegue levar à internet a catarse que
provoca nas pistas paulistanas com seu som eletrônico e hedonísta
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/12/banda-teto-preto-cria-da-festa-mamba-negra-lanca-disco-eletronico-

hedonista.shtml), repleto de críticas sociais (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/12/novo-disco-do-


teto-preto-pedra-preta-alardeia-profecias-abstratas.shtml), visto que as redes não permitem que ela

se apresente nua, como faz nos palcos.

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Sem o poder midiático de Vittar, Diaz perdeu as contas de quantas vezes foi
censurada, tanto ao compartilhar fotos de shows quanto ao tentar se
apresentar virtualmente. Um alento para muitos artistas durante a pandemia,
as lives foram uma dor de cabeça para Diaz, que se recusa a ceder aos
algoritmos. "Eu preciso da minha boceta para me apresentar. Não tem como eu
tirar de mim e guardar", diz. ​

A insatisfação é tamanha que, não fosse a necessidade de promover seu


trabalho, a cantora diz que já teria abandonado as redes. Ela considera que os
algoritmos são programados para obedecer a uma lógica que incentiva a
sexualização quando há possibilidade de gerar lucro, mas não a permite
quando os fins são disruptivos.

“É muito frustrante sempre ter que me censurar e ver mulheres cisgênero


brancas que, apesar de estarem no seu direito, se mostram de maneiras muito
mais sexuais”, diz. “As redes sociais, que poderiam ser fantásticas como uma
maneira de articulação humana e circulação de informações, estão repetindo
hábitos de uma cultura ultrapassada."

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