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Nota da Autora
PARTE 1
PRÓLOGO
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
PARTE 2
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
PARTE 3
Capítulo 14
PARTE 4
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a Autora
Outros Livros da Autora
Nota da Autora
Esse livro se passa na cidade onde moro, Lages/SC. Embora
boa parte dos lugares descritos existam de fato, o bar Tribuna é
fictício, inspirado em alguns lugares que conheço da cidade. Luiza é
PcD (Pessoa com Deficiência), tem visão monocular, ou seja,
enxerga apenas com um olho. No outro olho ela usa uma prótese
chamada lente escleral, que é fininha, porém cobre todo o olho, até
a parte branca.
Gatilhos: luto, racismo, capacitismo.
Para vocês que acreditam em mim e me dão força
quando penso em desistir. Se ainda escrevo
é por causa de vocês.
PARTE 1
VERÃO
Cheguei.
Theo era bonito, único, especial, luz, acho que foi isso que eu
quis dizer com soft. Mas sabia que ele não era cem por cento do
tempo assim. Ninguém era. Há alguns meses quando seu pai foi
internado, ele ficou mais sombrio, não falava muito e aquele ar
sedutor e caloroso tinha sumido. Ele mal falou comigo durante o
tempo que seu pai ficou internado.
Eu nem conseguia imaginar como devia ser difícil para ele.
Nós mal nos conhecíamos, até ele tinha que concordar com
aquilo.
Era final do expediente quando criei vergonha na cara e
respondi suas mensagens com um:
A gente pode se ver no campus antes das aulas?
Capítulo 07
Eu não estava só me acostumando a ser a “namorada” do
Theo. Eu estava gostando! Ainda não tinha certeza se isso era bom
ou não. Não queria me apaixonar, e se em algum momento ele
simplesmente acabasse tudo porque alcançou seu objetivo?! Theo
tinha me garantido que Enny era somente sua amiga.
Mas eu podia acreditar?
Todos os romances que eu lia os “melhores amigos” de
infância ficavam juntos no final. A não ser que uma das partes fosse
gay ou lésbica, nesses casos amizade entre homem e mulher era a
coisa mais pura do universo!
Existe um companheirismo maior? Para chegar a química era
só um passo bem pequeno, ao meu ver. Até meu irmão pegou a
melhor amiga! Até Yan se considerava meu amigo, e se eu fosse
mais corajosa aproveitaria disso para ser uma Enny em sua vida.
Fiquei com tanta vergonha por Theo pensar que estava com
ciúmes quando eu só estava tentando fazer ele admitir que gostava
da Enny também.
Eu não sentia ciúmes de Theo.
De jeito nenhum.
Não mesmo.
Deus era testemunha…
Melhor não meter Deus nisso.
Estava sentada em uma mesa na lanchonete do campus, tive
uma aula vaga então acabei chegando mais cedo, estava
esperando Theo enquanto Ariana Grande ameaçava estourar os
meus tímpanos cantando Positions.
Precisávamos discutir sobre a próxima remessa de trufas, a
primeira vendeu muito bem, e eu estava disposta a usar o dinheiro
delas para comprar os ingredientes dessa vez. Não me sentia bem
com Enny gastando dinheiro com meus problemas, ainda mais se
ela tinha tanta certeza de que eu magoaria o Theo.
Humpf!
Uma cutucada no meu ombro me despertou dos meus
devaneios. Virei a tela do meu celular para baixo antes que Yan
visse o que eu tentava escrever. Ele estava sentado ao meu lado,
com os cotovelos apoiados na mesa.
Tirei os fones.
— Faz um tempão que eu estou te chamando. — Ele abriu um
sorriso preguiçoso.
— Ah, desculpe. — Olhei ao redor, nenhum sinal de Lucas e
Nanda. Seus olhos cor de mel estavam atentos em mim. — Tudo
bem?
— Oh, sim, com certeza. — Ele meneou a cabeça. Nós nunca
tínhamos muito o que conversar. Geralmente eu ficava nervosa
perto dele e não conseguia raciocinar direito.
— Cadê o Lucas? — perguntei finalmente, não queria que meu
irmão chegasse e se apossasse da mesa. Não queria ele perto de
Theo. Meu namorado não tinha ficado com uma boa impressão
dele, e eu não o julgava.
— Tentando ligar para a Nanda. — Torceu o nariz, como se
não gostasse. Franzi a testa.
— Ela não veio? — Enrolei os fios do fone nos dedos.
— Não. — Pressionou a ponta do nariz. Tinha uma mancha
clara de barba por fazer, eu achava lindo, destacava mais sua
mandíbula, o deixava mais maduro. — Você notou alguma coisa
estranha com a Nanda?
Abri bem os olhos, lembrando dela quase desmaiando na
minha casa… E de como ela ficou brava por eu tentar ajudar.
— Não — menti, balançando a cabeça, meus cachos seguindo
meu movimento.
Yan exalou, frustrado.
— Faz três dias que ela não vem para a faculdade e manda
mensagens muito vagas. — Cruzou os braços, devia estar
preocupado, era a única coisa que explicava sua postura rígida. —
Lucas parece que vai infartar — resmungou a última parte.
— Bem, ela é amiga de vocês, normal ficar preocupados. —
Pressionei os lábios. Eu devia falar, não é? Será que estava
grávida? Mas por que decidiu desaparecer?
Yan se inclinou na minha direção, ficando perto demais.
Pisquei várias vezes, minhas pernas ficaram moles. Era melhor
afastar a cadeira… era? Oras, não! Eu era apenas sua priminha.
Ugh!
— Ela faz falta — falou, os orbes fixos nos meus. — Você
também, Iza.
Soltei uma risada nervosa.
— Como assim? — Minhas mãos começaram a suar.
Maravilha!
— Você sabe. — Não sei, não, eu queria retrucar, mas ele
continuou falando. — Você era parte do nosso quarteto fantástico…
— Nunca me senti parte de um grupo! — Era bom ter você por
perto, sempre foi. — Seu rosto estava tão perto do meu. — Uma
pena que Lucas seja tão ciumento e controlador.
O quê?
Não conseguia processar o que ele estava dizendo. Na
verdade não conseguia nada, só respirar, e com bastante
dificuldade. Meu coração martelava no meu peito. Ele estava tão
perto, mas fiquei com medo de tocá-lo e descobrir que era uma
ilusão.
— Mas ele não está aqui agora — murmurou, desviando o
olhar do meu por apenas um instante, olhando além, então voltando
para mim. No segundo seguinte ele estava com a boca na minha,
segurando meu rosto com as duas mãos. Não fechei os olhos, pelo
contrário. Eu estava em pânico.
Ele recuou, o nariz esbarrando no meu. Suas mãos ainda
seguravam meu rosto. Eu estava quebrando em mil pedacinhos,
meus membros estavam tremendo. Não era assim que eu devia me
sentir quando ele me beijasse.
— O que foi? — sussurrou, abrindo um sorriso torto.
— O Theo… — quando o nome dele saiu da minha boca, a dor
que atingiu meu centro me deixou sem ar por um tempo. — Estou
com o Theo.
Yan afastou as mãos de mim, recuando.
— Pensei que você gostasse de mim — comentou, e pareceu
magoado. Eu fiquei pasma, com a boca aberta piscando sem parar,
desejando que um buraco se formasse sob meus pés e me sugasse
para o centro da terra. — Tudo bem, esquece, eu não devia ter feito
isso.
Ele se levantou, ajeitando a alça da mochila. Observei por
sobre o ombro enquanto ele se afastava.
Me senti estranha. Angustiada, nervosa, levei uma mão ao
pescoço, os batimentos chegavam agitados na base da garganta.
Voltei a olhar ao redor, buscando, buscando, buscando. Obriguei o
ar a entrar nos meus pulmões. Yan tinha me dado um selinho, o que
devia ter me lançado nas nuvens, mas eu me sentia jogada no chão
sem forças para levantar. Voltei a olhar por sobre o ombro, meu
celular caiu no chão. Soltei um resmungo, pegando-o com os dedos
trêmulos. Quando ergui o rosto, vi ele parado no caixa da
lanchonete logo à frente, a atendente estava chamando por ele, mas
seus orbes não se desviavam de mim. De onde eu estava pareciam
tão escuros, sombrios.
Nunca vi Theo tão pálido.
Levantei-me, jogando a mochila nos ombros e seguindo até
ele. Não sei como consegui me aproximar, mas sua expressão… ele
tinha visto. Paguei o seu lanche e o tirei da fila que começava a se
formar.
— Theo… — minha voz saiu arranhada, eu não conseguia
encará-lo diretamente. De repente aquele selinho que Yan me deu
se tornou tão grande, tão destruidor, como se tivesse acontecido
muito mais. Levei nós dois para o lado de fora da lanchonete. Theo
não disse nada, mas seu olhar… eu não estava aguentando. — O
que você viu?
Estiquei a sacola com seu lanche, ele não pegou, não parecia
importar.
A luz amarelada de um poste ali perto iluminava perfeitamente
sua feição congelada.
— Vi você beijando aquele cara — falou por fim.
— Não! — Eu queria gritar. — Foi ele que me beijou! E foi só
um selinho!
— Significou alguma coisa para você? — Ele estava tão frio,
enquanto eu estava quase caindo aos prantos, mexendo as mãos
sem parar. — Você queria que tivesse acontecido mais?
— Theo! — Eu queria quebrar alguma coisa.
— Luiza.
— Eu não sei, tá bom! — gritei, ofegante. Olhei para os lados,
alguns estudantes que passavam nos olharam com curiosidade,
mas seguiram seus caminhos. Theo trincou o maxilar, o olhar ficou
mais duro. Eu estava ficando fora de mim. — Para de me olhar
assim?!
— E como eu deveria olhar?! — retrucou, finalmente
mostrando alguma coisa além daquele semblante congelado. Ele
estava bravo.
— Não sei, mas não me olhe como se eu tivesse te traído! —
Eu tinha? Preferi não pensar naquilo, até porque… — Isso aqui, nós
dois, foi um erro desde o começo. Eu nem queria ser sua namorada
para começo de conversa. Agora você pode ir atrás da Enny e ficar
com ela, tá bom?
Apontei em qualquer direção.
Só percebi que estava chorando quando minha visão ficou
embaçada, mas ainda consegui vê-lo retesando os ombros.
— Eu não quero ficar com a Enny! — esbravejou, dando um
passo atrás. Seu peito subindo e descendo.
— Então por que você estragou o que a gente tinha? Nós
ficávamos e era ótimo assim para nós dois! — Duas semanas atrás
me imaginava dizendo aquelas coisas a ele com calma, na qual me
sentiria aliviada por esclarecer as coisas. Agora a conversa não
estava nem perto de calma. E eu nem um pouco aliviada.
— E por que mais eu te pediria em namoro se eu não
estivesse fodidamente apaixonado por você, caralho?! — ao dizer
aquilo estava furioso, mas ao mesmo tempo tão ferido.
Olhei para os lados, confusa.
Apaixonado por mim?
Não podia ser.
— Meu Deus, você é burra ou o quê? — Ele passou a mão no
rosto, tentando se controlar. Eu fiquei paralisada. Ah, meu Deus!
Não podia ser verdade. Eu pensava que ele só era legal e gentil
comigo por causa do sexo. Eu nem era bonita. — Não escutou o
que eu disse?
A verdade era que eu não queria ter escutado.
— Por quê? — Não fazia sentido.
— Por que o quê?
— Por que gosta de mim? — Nunca um garoto me disse
aquilo. E houve uma época que eu desejei muito, tanto que
machucava.
— Que pergunta é essa? — Franziu o cenho. — Porque é
linda, é gentil, inteligente, determinada, fofa, por causa dos cachos,
porque quando sorri todo o resto desaparece, porque… Por que eu
não deveria gostar de você?
Ele balançou a cabeça, confuso. Meus olhos pinicaram.
— Theo. Theo, eu não sabia… — Droga. Ele não podia gostar
de mim, pois se gostasse ele sairia magoado de tudo aquilo, e eu já
estava me odiando pelas coisas que disse. Não era para ele se
machucar. Não o Theo. — Você devia ter me contado, eu não
sabia…
— Você prometeu que seria sincera comigo — sua voz quase
falhou no final, ele virou de lado para não me olhar, os punhos
estavam fechados com força ao lado do corpo. Suas palavras foram
como um soco na boca do meu estômago. Talvez até mais que um
soco, eu me sentia partindo ao meio.
— Me desculpa, Theo — solucei, limpando as lágrimas que
não encontravam fim. Ainda estava segurando sua sacola. — Eu
não sabia… eu…
Ele me olhou de soslaio, parecia tão vulnerável.
— Você não gosta de mim nem um pouquinho? — balbuciou.
Eu não podia responder.
Eu não podia falar mais nada.
E eu, que sempre me esforcei para manter Theo longe de
Lucas para protegê-lo, fui a primeira a magoá-lo. Me senti tão
horrível. Tinha prometido que seria sincera, mas disse sim porque
não queria que meu irmão usasse meu não para fazer piada de
Theo, disse sim por flagrar Yan rindo de nós. Disse sim porque ficar
com alguém como ele massageava o meu ego. Eu não podia dizer
aquelas coisas, senão ele me odiaria. Não aguentaria se Theo me
odiasse.
Ele estava esperando a minha resposta.
Girei nos calcanhares e corri o mais rápido que consegui,
quando estava a uma boa distância, olhei para trás, ele continuava
no mesmo lugar esperando a minha resposta.
PARTE 2
OUTONO
Summer has come and passed The innocent can never last Wake
me up when September ends — Green Day
Capítulo 09
Olhando para trás, era tão óbvio que Luiza não gostava de
mim.
Eu fiz igual a Enny. Por isso ela tentou tanto abrir meus olhos.
Devia se ver perfeitamente em mim. Pelo menos aprendi uma coisa
com tudo aquilo: Enny estava sempre certa!
Estava deitado em um carrinho debaixo de um carro sobre
uma rampa alta. Já tinha arrumado as suspensões, dos quatro
pneus! Se o dono esperasse mais iria se encontrar com Deus. Tinha
mais mil coisas para fazer. Mas eu estava cansado.
Sofrer cansa, ao que parece.
Soltei o ar pela boca, usando os pés para impulsionar o
carrinho para frente e para trás.
Levou duas semanas para eu conseguir entrar na lanchonete
do campus. Enny mandou manter os olhos só nela que daria tudo
certo. Senti a presença de Luiza, quase palpável. E no único
momento que tirei meus olhos de Enny, eles foram diretamente
atraídos para Iza. Ela estava ótima.
Ela ficou me olhando, como se esperasse alguma coisa de
mim.
Devia odiar ela. Enny disse que se eu a odiasse seria mais
fácil esquecê-la. Guru Enny! Mas não, estava sim muito magoado
por ela ter dito sim quando evidentemente não me queria. E também
tinha muita vergonha por ter me colocado naquela situação. Não era
culpa dela que eu tivesse colocado na cabeça que ela também
gostava de mim.
Quanto mais eu tentava entender o porquê ela disse sim, mais
perdia o sono e minha cabeça doía.
Continuei brincando com o carrinho. Os sons ruidosos da roda
davam um arrepio gostoso na coluna.
Eu vou esquecer Luiza.
Coloquei o antebraço sobre os olhos. Eu sentia falta dela.
Acordava toda manhã como se tivesse despertado de um pesadelo,
então os segundos passavam e a realidade me queimava como
ácido. Era engraçado e ao mesmo tempo torturante como cada
pequeno detalhe me fazia lembrar dela.
Nunca vou esquecer Luiza.
— Theo? — Lúcio me chamou.
Me pus em pé em um pulo, ficando meio grogue pelo
movimento abrupto. Lúcio estava com as mãos no quadril, não
soube dizer se estava prestes a me repreender ou o quê. Ele tinha a
mesma expressão para tudo. Eu costumava segurar o riso quando
via fotos do seu casamento, a noiva sorridente e ele congelado com
os cantos da boca levemente curvados para baixo.
— Eu já ia… — Apontei para trás, olhando por sobre o ombro.
Não tinha nada ali. Segurei um resmungo. Ele não me daria a conta.
Mas, por um átimo, eu torci para que o fizesse. Minha cama era um
lugar bem melhor para sofrer do que um carrinho de oficina duro!
— Theo — repetiu, se fosse me repreender já o teria feito. Ele
estava hesitando. Estreitei o olhar. — Salete ligou, é sobre o pai.
Ah, tá bom.
"Como todo mundo, Lorena tem um segredo, algo que ela jamais
poderá dividir com alguém. Lorena já passou por quatro
reencarnações, sendo esta a quinta. Ela não sabe o porquê se
lembra dessas vidas, e nem como parar com elas. A única coisa que
ela sabe é que sempre acontece a mesma coisa, sempre se
apaixona pelo mesmo cara, um amor nunca correspondido, que faz
Lorena odiar Valentim assim que ele aparece em sua vida atual.
Não seria tão difícil se ele não tivesse caído de paraquedas em seu
ciclo de amizades, e em sua sala de aula na faculdade, e, pior, na
casa de seu namorado, que passa a tratá-la de forma estranha
depois que Valentim entra em suas vidas.
Mas desta vez Lorena está determinada a mudar o fim desta
história. Será que ela vai conseguir?"