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Animais peçonhentos

Animais venenosos X Animais peçonhentos:


Venenosos: São aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho inoculador (dentes, ferrões), provocando
envenenamento passivo por contato (lonomia ou taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).
Peçonhento: São aqueles que possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes ocos, ou ferrões, ou aguilhões,
por onde o veneno passa ativamente.
 Portanto, peçonhentos são os animais que injetam veneno de maneira ativa. Ex: serpentes, aranhas, escorpiões.
Peçonhas: são as secreções formadas por um fluido misto de diferentes enzimas, toxinas e outras substâncias. São produzidas
em glândulas especializadas e secretadas através dos sistemas dispensadores (nematocisto, espinhos, dente inoculador, etc) a
fim de incapacitar a presa ou o predador.
Animais que causam envenenamento no Brasil:
 Ofídios.
 Aracnídeos.
 Insetos.
 Animais aquáticos.

Ofidismo:
Estudo dos venenos de serpentes (ofídios).
Medicina: envenenamento por picada de cobra/serpente.
O diagnóstico clínico é o método mais simples e racional para a abordagem do paciente pela equipe de saúde, uma vez que,
geralmente, não se pode contar com informações corretas/confiáveis sobre o animal.
Cerca de 2400 espécies de serpentes em todo o mundo  200 são perigosas para o homem.
Brasil: 300 espécies conhecidas  70 espécies peçonhentas.
Serpentes brasileiras de interesse toxicológico: (no Brasil, as 70 espécies se distribuem em 4 gêneros):
 Bothrops (Jararaca, jararacuçu, urutu)
 Crotalus (cascavel)
 Lachesis (surucucu-pico-de-jaca)
 Micrurus (coral)
Diferenças entre peçonhentas e não peçonhentas:
A presença de fosseta loreal: Órgão termorregulador localizado entre o olho e a narina, caracteriza o grupo de serpentes
peçonhentas de interesse médico no Brasil, onde se incluem os gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis.
 Como exceção de serpente peçonhenta, o gênero Micrurus (coral verdadeira) não possui fosseta loreal.
 A fosseta loreal tem como função a captação de calor, consegue perceber a presença de outro animal
Peçonhentas geralmente apresentam corpo coberto por escamas em forma de quilha (ponta de flecha)
Serpentes peçonhentas apresentam cabeça com escamas pequenas e as serpentes não peçonhentas apresentam, em geral,
escamas maiores na cabeça.
As serpentes peçonhentas apresentam pupila em forma de fenda, e as não peçonhentas geralmente pupila circular.
Peçonhentas geralmente tem a cabeça mais triangular.

Gênero Bothrops
Mais de 60 variedades encontradas em todo território nacional.
Responsável por mais de 90% dos acidentes.
Veneno de efeito coagulante e necrosante  jararaca, jararacuçu, urutu, calçara e outros.
 Mais de 90% do peso do veneno: proteínas, com grande variedade de enzimas, toxinas não enzimáticas e proteínas
não tóxicas. As frações não proteicas são constituídas por carboidratos, lipídeos, metais, enzimas biogênicas, etc.
 Alguns peptídeos: FPB (Fator Potencializador de Bradicinina) - após estudos de modificação baseados em QSAR,
chegou-se na molécula de captopril.
 Bothropstoxina 1: micotoxina de ação pós-sináptica semelhante à fosfolipase A2.
Aspectos clínicos:
As manifestações incluem edema local firme, dores locais moderada, na evolução do quadro podem aparecer púrpuras,
vesículas, bolhas e necrose de partes moles.
Em casos graves pode ocorrer choque (bradicinina e histamina); frequentemente há aumento do tempo de coagulação e
tempo de tromboplastina parcial, e insuficiência renal aguda (necrose cortical).

Gênero Crotalus:
São 6 variedades, a mais conhecida é a cascavel.
Distribuem-se amplamente pelo território nacional. Serpentes que geralmente ocupam terras secas e ligeiramente elevadas
(campos), não são comuns no litoral.
São identificadas pela presença de guizo ou chocalho na extremidade caudal.
Veneno de efeito neurotóxico e miotóxico.
 Os acidentes são de menor frequência (9% dos acidentes).
 A peçonhenta crotálica é um complexo tóxico-enzimático cujos efeitos biológicos variam nas diferentes espécies
animais  peptídeos, enzimas e toxinas.
Ação miotóxica sistêmica, com lise e necrose de fibras musculares com liberação de enzimas e detecção de mioglobina livre
na urina  mioglobinúria (insuficiência renal aguda).
Ação neurotóxica por agirem na membrana pré-sináptica da junção neuromuscular, impedindo a liberação da acetilcolina.

Aspectos clínicos gerais:


Mal estar, náuseas, sudorese, prostração, sonolência.
Local da picada pode trazer marcas das presas ou escoriações, edema discreto, sem dor ou de pequena intensidade,
geralmente com sensações parestésica (local ou regional, persistente por dias ou semanas).
Sintomas:
 Dificuldade em abrir os olhos
 Visão dupla e pálpebras caídas
 Dor muscular generalizada
 Urina escura/avermelhada

Gênero Lachesis:
Existentes na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica (habita florestas densas). 2 variedades
Veneno de efeito semelhante ao gênero Bothrops, com provável fração neurotóxica  Surucucu (mais agressiva, não foge
quando ver um predador, ela vai atrás pra atacar).
 São acidentes raros (2,1% dos casos no Acre, em 2002).
Serpentes grandes: grande quantidade de veneno, com atividade semelhante ao veneno botrópico, acrescida de atividade
neurotóxica.
Aspectos clínicos:
Local: dor e edema na região da picada, vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou soro-hemorrágico, complicações locais
semelhantes ao acidente botrópico.
Hematológico: consumo de protrombina e fibrinogênio  incoagulabilidade, manifestações limitam-se, em geral, ao local da
picada.
Neurotóxico: distingue o acidente laquético do botrópico, com fenômenos compatíveis com distúrbios do SN autônomo
parassimpático

Gênero Micrurus:
31 variedades em todo o país.
Cobra Coral
Provocam os acidentes mais graves, embora raros (0,5% dos casos).
Veneno de efeito curariforme (causa paralisia na pessoa)
A peçonhenta é constituída por neurotoxina que atuam na junção neuromuscular, com ação tanto pré como pós-sináptica,
dependendo da espécie considerada.
Neurotoxicidade periférica, produzindo bloqueio na transmissão neuromuscular.
Aspectos clínicos:
Geralmente sem sintomas locais (leve formigamento, às vezes)
O efeito neurotóxico manifesta-se por sensação de constrição da laringe, dificuldade para engolir e falar, salivação abundante e
perturbação visual (ptose palpebral e diplopia).
Paralisia dos músculos respiratórios leva à asfixia e óbito.

Cuidados nos acidentes ofídicos


Lave o local da picada de preferência com água e sabão.
Mantenha a vítima deitada. Evite que ela se movimente para não favorecer a absorção do veneno.
Se a picada for na perna ou no braço, mantenha-os em posição mais elevada.
Não faça torniquete. Impedindo a circulação do sangue, você pode causar gangrena ou necrose.
Não fure, não corte, não queime, não esprema, não faça sucção no local da ferida e nem aplique folhas, pó de café ou terra
sobre ela para não provocar infecção.
Não dê a vítima pinga, querosene ou fumo, como é costume em algumas regiões do país.
Leve a vitima imediatamente ao serviço de saúde mais próximo, para que possa receber soro em tempo.
Leve, se possível, o animal agressor mesmo morto, para facilitar o diagnostico.
Soros anti-ofídicos:
Antibotrópico: usado em casos de envenenamento por jararacas (Gênero Bothrops)
Anticrotálico: usado em casos de envenenamento por cascavel (gênero Crotalus).
Antilaquético: usado em casos de envenenamento por surucucu (gênero Lachesis)
Antielapídico: usado em casos de envenenamento por corais (gênero Micrurus) do grupo dos elapíneos.
Antibotrópico/Crotálico (antigo antiofídico): para os casos de picada por jararacas-pintadas ou cascavéis.
Antibotrópico/laquéticos: jararaca e surucucu.

Araneismo

Foneutrismo:
Os acidentes causados pela Phoneutria Sp (aranha armadeira) representam a forma de araneísmo mais comumente observado
no país.

A picada resulta em dor local intensa, frequentemente imediata, edema discreto, eritema e sudorese local, parestesia e
fasciculação muscular.
Pode ocorrer óbito em acidentes graves (raros)

Loxoscelimo
Conhecida como aranha marrom, é encontrada com facilidade nas residências, atrás de quadros, armários, no meio de livros.

Sintomas clínicos:
Forma cutânea: é a mais comum, caracterizando-se pelo aparecimento de lesão inflamatória no ponto da picada, que evolui
para necrose e ulceração.
Forma cutâneo-visceral: além de lesão cutânea, os pacientes evoluem com anemia, icterícia cutâneo-mucosa, hemoglobinúria,
A insuficiência renal aguda; e a complicação mais temida (maior causa de óbito).

Latrodectismo
Viúva negra

Quadro clínico caracterizado por dor local intensa, eventualmente irradiada.


Alterações sistêmicas como sudorese, mialgia (evolui para câimbras), contraturas musculares, agitação psicomotora de
intensidade variável, hipertensão arterial e choque são registradas.

Caranguejeira:

Apesar de se aspeto assustador, não possui veneno.


Sua picada causa alguma dor e pode ser complicada por reações alérgicas - em geral, desencadeados pelo contato com seus
pelos.

Aranha de Jardim

Lycosa
Possui pouco veneno e sua picada ocasiona apenas dor local, que cede com analgésicos comuns.
Soros:
O soro antiaracnídico é utilizado nos acidentes causados por aranhas dos generos Loxosceles e Phoneutria.
O soro antiloxocélico é utilizado nos acidentes causados por aranhas do gênero Loxosceles.
O soro antilatrodético (importado da Argentina) é utilizado nos acidentes causados por aranhas do gênero Latrodectus
Acidentes com phoneutria aumentam na estação fria, e loxosceles aumentam em estações quentes.

Escorpionismo
Os escorpiões possuem uma quantidade muito pequena de veneno na glândula, mas de grande atividade tóxica.
A maior parte dos acidentes em adultos é benigna, mas em crianças e idosos é quase sempre fatal, se não forem tomadas a
devidas providências em curto espaço de tempo.
O veneno é rapidamente absorvido pela pele e músculos, deslocando-se para o sangue, rins, pulmão e sistema nervoso. A
maior ação ocorre no sistema nervoso, com efeitos locais e sistêmicos.
O envenenamento por estes animais causa dor local intensa, que se irradia por todo o corpo podendo ainda ocorrer inchaço e
vermelhidão leves no local da picada.

Tityus serrulatus:

Também chamado escorpião amarelo, pode atingir até 7 cm de comprimento.


Apresenta o tronco escuro, patas, pedipalpo e cauda amarelos, sendo esta serrilhada no lado dorsal.
Considerado o mais venenoso da América do Sul, é o escorpião causador de acidentes graves, principalmente no estado de
MG.

Tityus bahiensis:
Apresenta colorido geral marrom-escuro, às vezes
Tityus stigmurus:
Apresenta colorido amarelo-claro.

Aspectos clínicos:
Manifestações locais: caracterizam-se fundamentalmente por dor no local da picada, às vezes irradiada, sem alterações do
estado geral.
Manifestações sistêmicas: menos frequentes. Além da dor local, alterações sistêmicas como hiper ou hipotensão arterial,
arritmias cardíacas, tremores, agitação psicomotora, arritmias respiratórias, vômitos e diarreia. O edema pulmonar agudo é a
complicação mais temida.
A gravidade no escorpionismo depende de fatores como a espécie e tamanho do escorpião causador do acidente, da massa
corporal do acidentado, da sensibilidade do paciente ao veneno, da quantidade de veneno inoculado e do retardo no
atendimento.
O uso do soro anti-escorpionico (SAEs) deve seguir as mesmas orientações só uso de outros soros heterólogos.

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