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Tópicos em Psicologia relacionados à Segurança


Pública e Defesa Civil

Créditos

1º Ten PMERJ psicóloga Juliana Ferreira da Silva


1º Ten PMERJ psicóloga Marcela dos Santos Reis
1º Ten PMERJ psicóloga Elaine Polly Veras Vieira

Tópicos em Psicologia relacionados à Segurança Pública e Defesa Civil – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 10/06/2009
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Apresentação

O admirável poeta Carlos Drummond de Andrade, em “O homem; as viagens”, fala


de uma viagem. Não é qualquer uma, é uma viagem que reluta-se em percorrer,
evita-se, deixa-se para depois. Trata-se de uma jornada ao interior de si mesmo, ao
que se experimenta no convívio com o seu inexplorado.

Ao ingressar neste curso, você, caro aluno, comprou seu bilhete para um breve
passeio neste campo desconhecido. Entrou em sua nave interior e aguarda a partida.

O que te trouxe a este terminal de passageiros? A curiosidade, talvez? O acaso? A


necessidade, por que não? Quais são suas expectativas?

No curso serão tratados temas da área de Psicologia que mantém estreita relação
com as atividades de Segurança Pública e Defesa Civil. O objetivo é fazer com que
essas áreas possam dialogar, proporcionando a você, caro aluno, uma reflexão sobre
as experiências vivenciadas no decorrer de sua carreira profissional.

O homem; as viagens
(Carlos Drummond de Andrade)

O homem, bicho da Terra tão pequeno


chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
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Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para te ver?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
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do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

O conteúdo do curso está dividido em 3 módulos:

Módulo 1 – Relações interpessoais no contexto laboral

Módulo 2 – Estresse e atividade de Segurança Pública

Módulo 3 – Pós-trauma

No primeiro módulo você verá que os profissionais de Segurança Pública e Defesa


Civil lidam constantemente com outras pessoas, tanto no desempenho de sua
atividade fim quanto com seus colegas de trabalho, por isso serão abordadas algumas
atitudes e comportamentos que contribuem para a boa interação com o outro. Você
poderá refletir sobre como o conhecimento acerca da dinâmica interpessoal poderá
proporcionar melhoria tanto na qualidade de vida, quanto no desempenho da
atividade de segurança pública.

No módulo 2, você terá a oportunidade de discutir a vulnerabilidade de profissionais


de segurança pública e defesa civil aos efeitos do estresse. Estudará quais são as
fases do estresse, seus aspectos positivos e negativos. Relacionará as reações
psicológicas ao conflito armado, tais como: alterações perceptivas, cognitivas e
mnemônicas concernentes à exposição ao conflito armado. E poderá refletir sobre
algumas recomendações para o manejo do estresse.

No terceiro e último módulo, estudará certas reações psicológicas advindas de


situações impactantes, que acontecem com frequência considerável nas ocorrências
policiais, nas operações de socorros de emergência e ações de defesa civil. Nesse
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módulo será abordado o processo de luto que ocorre frente a situações de óbito e
serão relacionadas as possíveis complicações desse processo. Você também
identificará a reação aguda ao estresse, que advêm do encontro com situações de
forte impacto psicológico e estudará sobre o transtorno do estresse pós-traumático,
que constitui um conjunto de sintomas ocasionados pela dificuldade de elaboração
do trauma.

Como você pôde observar, o curso abrangerá uma gama variada de temas,
propondo sempre a transposição dos tópicos abordados para seu cotidiano.
Bom curso!

Ao final do curso, você será capaz de:


● Praticar a autopercepção e a percepção do outro;
● Empregar estratégias de comunicação eficaz;
● Demonstrar um estilo interpessoal;
● Demonstrar um estilo de liderança;
● Definir estresse laboral;
● Distinguir entre estresse positivo e estresse negativo;
● Descrever as fases do estresse;
● Descrever o princípio fundamental do gerenciamento do estresse;
● Comparar as fases do estresse com sua atual situação emocional e física;
● Aplicar estratégias para o gerenciamento do estresse no cotidiano;
● Incentivar a atenção em saúde coletiva no que se refere ao estresse laboral;
● Diferenciar risco e perigo;
● Reconhecer os efeitos da exposição a acidentes em seu cotidiano;
● Citar as reações psicológicas ao conflito armado;
● Descrever o processo de luto e citar suas tarefas;
● Atender pessoas enlutadas com empatia;
● Identificar a reação aguda ao estresse (RAS);
● Apontar o conjunto de fenômenos que constitui o transtorno do estresse pós-
traumático (TEPT);
● Orientar pessoas em RAS quanto ao fenômeno e às condutas adequadas;
● Orientar e encaminhar pessoas com TEPT para tratamentos adequados; e
● Praticar a autopercepção quanto ao luto, RAS e TEPT.

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Módulo 1 – Relações interpessoais no contexto laboral

Neste módulo, você estudará as relações interpessoais no contexto do trabalho.


Serão abordadas estratégias de comunicação, atitudes no contato com o outro,
bem como estilos de liderança.

O conteúdo deste módulo está dividido em 5 aulas:

Aula 1 – Conceitos fundamentais: grupo, interação grupal e relações interpessoais no


contexto laboral

Aula 2 – Comunicação eficaz: busca de feedback, autoexposição e competência


interpessoal

Aula 3 – Estilos interpessoais

Aula 4 – Atitudes no relacionamento interpessoal

Aula 5 – Estilos de liderança

Para começar leia a letra da música “Não Fale Desse Jeito”, de Ana Carolina e Seu
Jorge. Se preferir assista ao vídeo.
(http://www.youtube.com/watch?v=UNpJyJ9wULc)

Não fale desse jeito


(Ana Carolina e Seu Jorge)
Não fale desse jeito comigo que eu não gosto
Eu tô fingindo calma com a alma carregada
Não fale desse jeito comigo que eu não quero
Não se meta nem comigo nem com o povo que eu paquero
Não fale desse jeito comigo que eu detesto
Tão dizendo nas esquinas, nas quebradas, é que eu não presto
Esse calor que sai de você embaçou o meu retrovisor
Você não quer que eu olhe pra trás e diz que o passado já passou

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Esse calor que sai do cigarro que você fuma falando de amor
Não fale mais, o futuro é a arma da ilusão que foi você que carregou
Que foi você que carregou
Não fale desse jeito comigo que eu atiro
Eu tô num dia lindo com minha nuvem carregada
Que não cruze o meu caminho quem me despreza
Na guerra eu tô no meu direito e já inventei a minha reza
Eu jogo pra ganhar e de ninguém eu tiro
E se não escutou, eu uso o berro, eu uso o grito
Eu uso o berro, eu uso o grito. . .

Cenas como essas narradas por Ana Carolina e Seu Jorge, na música “Não fale desse
jeito”, embora indesejadas, não são raras. Os artistas cantam um processo de
comunicação entre duas pessoas e as coisas não parecem ir bem. O personagem avisa
que está instável emocionalmente, sua “nuvem está carregada”. E que se a
comunicação continuar como está vai partir para a agressão. Ele “usa o berro”, “usa
o grito”, ele “atira”.

Tendo em vista sua experiência profissional, como você analisa a situação acima
descrita?

Resposta:
Uma das ferramentas para o processo de interação interpessoal é a comunicação. Na
situação ilustrada na música o personagem está mostrando ao seu interlocutor que
não lhe agrada a forma como está sendo tratado. Pelo “tom” das palavras ele mesmo
também não é muito polido. Parece que estas duas pessoas estão em conflito.
Dizer para o outro como nos sentimos quando somos tratados de uma ou outra
maneira é uma ferramenta importante para o processo de interação grupal, todavia,
devemos atentar para a forma como esta experiência é expressa.

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Aula 1 – Conceitos fundamentais: grupo, interação grupal e relações interpessoais
no contexto laboral

Nesta aula, você estudará o conceito de grupo em psicologia, a noção de interação


grupal e a definição de relações interpessoais.

Indivíduo e grupo

O conceito de grupo em psicologia possui múltiplas abordagens. De modo geral,


esse conceito encontra como contraponto à noção de indivíduo. Há na literatura
definições objetivas, como o “conjunto de três ou mais indivíduos”, e definições
funcionais, como “a entidade resultante da interação entre os indivíduos”. Para
que compreenda esse campo de estudos da psicologia será apresentado um
contraponto entre uma definição de indivíduo e uma conceituação de grupo.

Observe que nas definições acima mencionadas – “conjunto de três ou mais


indivíduos” e “a entidade resultante da interação entre os indivíduos” –, os
conceitos de grupo e de indivíduo são interdependentes. Isso não parece uma
contradição, definir um conceito pelo que ele não é? Ou seja, indivíduo? Mas esse
enigma fica ainda um pouco mais complexo. O conceito de indivíduo define-se por si
mesmo?

Sigmundo Freud, em “Psicologia das massas e análise do eu” (1921), analisa a


questão por outro ponto de vista. Ele demonstra o quanto a psicologia individual se
mistura com a psicologia de grupo. Assim é também o conceito de indivíduo que
remete, nesse caso, para o de grupo.

“É verdade que a psicologia individual relaciona-se com o homem tomado


individualmente e explora os caminhos pelos quais ele busca encontrar satisfação
para seus impulsos instintuais; contudo, apenas raramente e sob certas condições
excepcionais, a psicologia individual se acha em posição de desprezar as relações
desse indivíduo com os outros. Algo mais está invariavelmente envolvido na vida
mental do indivíduo, como um modelo, um objeto, um auxiliar, um oponente, de
maneira que, desde o começo, a psicologia individual, nesse sentido ampliado, mas

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inteiramente justificável das palavras é, ao mesmo tempo, também psicologia
social.” (Freud, 1921)

A própria noção de indivíduo também possui amparo na de grupo. Observe, agora, o


modo como Zimerman (2007) conceitua grupo:
“Um grupo não é um mero somatório de indivíduos; pelo contrário, ele se constitui
como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos. Todos os
integrantes estão reunidos, face a face, em torno de uma tarefa e de um objetivo
comum ao interesse de todos eles. O tamanho de um grupo não pode exceder ao
limite que ponha em risco a indispensável preservação da comunicação, tanto a
visual, como a auditiva e a conceitual. Deve haver a instituição de um enquadre
(setting) e o cumprimento das combinações nele feitas. Assim, além de ter os
objetivos claramente definidos, o grupo deve levar em conta a preservação do
espaço (os dias e o local certo das reuniões), de tempo (horários, tempo de duração
das reuniões, plano de férias etc.) e a combinação de regras e outras variáveis que
delimitem e normatizem a atividade grupal proposta. O grupo é uma unidade que se
comporta como uma totalidade e vice-versa. Cabe uma analogia com a relação que
existe entre as peças separadas de um quebra-cabeça e desse com o todo a ser
armado.” (Zimerman, 2007)

Com base na exposição teórica, como você conceituaria grupo? Ofereça um exemplo
de um grupo em que você interaja.

Resposta: Nessa resposta procure abordar os seguintes tópicos:


Grupo não é um mero somatório de indivíduos, pois possui leis e mecanismos próprios
e específicos, é uma totalidade.
Num grupo, os integrantes compartilham uma tarefa e de um objetivo comum.
Os membros do grupo têm que poder interagir num processo comunicação, tanto a
visual, como a auditiva e a conceitual.
É necessário que existam espaço e tempo delimitados onde o grupo funcione.

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Aula 2 – Comunicação eficaz: busca de feedback, autoexposição e competência
interpessoal

Nesta aula, você estudará o conceito de comunicação eficaz, que envolve as noções
de feedback, autoexposição e competência interpessoal. Através desses conceitos,
você será capaz de:
● Valorizar a importância de solicitar e receber reações dos outros (feedback);
● Identificar modos de comunicação eficaz; e
● Definir competência interpessoal.

Do ponto de vista acadêmico, a comunicação é um campo do conhecimento que


estuda os processos de comunicação humana. Ela também se refere à forma como o
homem está no mundo e o modo como ele se expressa a esse respeito. É costume
pensar em comunicação pelo primado da palavra: tudo aquilo que expressamos
verbalmente sobre, com e, principalmente, para os outros. No entanto, existem
outras formas de comunicação para além da palavra, como por exemplo, “pela
linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos outros. E eles têm muitas coisas a
dizer para você. Também nosso corpo é antes de tudo um centro de informações
para nós mesmos”. (WEIL, 1986: 7)

A psicologia atenta para toda a palavra dita e para a expressão corporal e atitudes
dos sujeitos, visando conhecer, por esses sinais, um pouco da história consciente
e desconhecida dos mesmos. Da mesma forma, quando você se comunica com o
outro, utiliza palavras e gestos, que funcionam como suporte para que seja
entendendido com eficiência. Essa eficiência é verificada, quando, por exemplo,
preciso usar o único banheiro de casa, ocupado pela filha adolescente. Além de
dizer: ─ Filha, estou apertado! Faço com que ela perceba a urgência com batidas na
porta e grunhidos.

A linguagem gestual é companheira inseparável da comunicação verbal. Não dá


para dar parabéns ao colega promovido para a vaga que você almejava, com olhar
rancoroso. Também não é usual ir a um velório vestindo cores berrantes e
manifestando contentamento. Os gestos e as palavras devem andar casados.

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Veja a seguir como ocorre o processo de perceber e ser percebido denominado
feedback.

Feedback

Literalmente, feedback pode ser traduzido como realimentação, retorno,


resposta. É um processo fundamental para a interação social e nas organizações, se
constitui como poderosa ferramenta facilitadora dos processos de trabalho. Uma vez
que o desempenho de todos os membros de uma equipe está associado ao de cada
um individualmente, torna-se imprescindível que todos informem e sejam
informados, adequadamente, sobre seu desempenho e o que é esperado de cada um
e da equipe. Desse modo, dar e receber feedback tem como objetivo reorientar,
estimular e checar as ações dos indivíduos. No processo de desenvolvimento da
competência interpessoal, o feedback é um valioso recurso que permite a percepção
de como se é observado pelos outros, assim como os resultados de suas ações na
equipe.
Com o objetivo de ilustrar o processo de dar e receber feedback, Joseph Luft e Harry
Igham desenvolveram a Janela de Johari, em 1961. Eles criaram um modelo com
quatro retângulos que ajuda a compreender o processo da percepção de um indivíduo
em relação a si mesmo e aos outros. Veja o modelo a seguir.

As regiões evidenciadas no modelo representam as áreas da personalidade


humana e ilustram as relações interpessoais e os processos de aprendizagem em
grupo. (Moscovici, 1975)

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Veja como Kopittke, Sinzato e Bonzanina (1997) explicam cada uma das áreas.

A área I (o eu público ou aberto) constitui o comportamento conhecido em muitas


atividades pelas pessoas e por qualquer um que as observe. Esse comportamento
varia conforme a estimativa do que é correto em um ambiente específico e com
diferentes grupos de pessoas. É considerada como a parte do relacionamento que
controla a produtividade interpessoal. Em outras palavras, pressupõe-se que a
eficácia interpessoal e a produtividade estão diretamente relacionadas com a
qualidade da troca mútua de informações num dado relacionamento.

A área II (o eu cego) representa as características de comportamento que são


facilmente percebidas pelos outros, mas que, geralmente, não estão cientes para
quem foi observado. Por exemplo, alguma manifestação impulsiva, o
comportamento sob tensão, as relações agressivas em relação aos subordinados, o
desprezo por aqueles que discordam das opiniões, etc. Há evidências de que é nessa
área que, frequentemente, as pessoas são mais críticas com o comportamento dos
outros sem perceber que estão se comportando de forma efêmera. Essa região
pode ser considerada como um ponto inibidor da eficácia interpessoal.

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A área III (o eu secreto) representa as coisas sobre cada pessoa no seu íntimo e
que fica escondido dos outros. Essas coisas podem oscilar desde assuntos
inconsequentes até os de grande importância. Essa área também pode ser
considerada um fator de inibição da eficácia interpessoal. Numa situação fechada ou
relativamente autoritária, é provável que haja muito mais desse aspecto do que
numa situação aberta. Nas áreas do eu secreto e do eu cego algumas modificações
podem ser adquiridas entre indivíduos trabalhando juntos, experimentalmente, com
espírito de cooperação e compreensão.

A área IV (o eu desconhecido) constitui a parte do relacionamento que contém um


tipo de informação desconhecida tanto pelo próprio como pelos outros, englobando
dados psicodinâmicos, potenciais ocultos, idiossincrasias adquiridas e a criatividade
de seu ponto de origem. Essa área pode se tornar conhecida se a eficácia
interpessoal aumentar.

Autoexposição

A autoexposição pode ser compreendida como o oferecimento de informações aos


outros, revelando pensamentos, percepção e sentimentos.

Nunca foi tão fácil mostrar-se ao outro na velocidade e abrangência atuais. Redes de
relacionamento, bate-papos etc., permitem que em fração de segundos você
encontre conhecidos e faça amigos. Numa busca incessante de contatos, mais ou
menos autênticos. O volume de trocas on-line é intenso ao ponto que algumas
empresas, já antenadas nessa vertente, passaram a investir na verificação dos perfis
de candidatos a seus cargos, por meio das comunidades e amigos que o mesmo
mantém em sites de relacionamentos.
Na mesma velocidade surgiram os perfis fake, onde os relacionamentos são
basicamente mentirosos. Parece que a busca por exposição é uma necessidade
humana. Ser percebido e levado em consideração é importante para a maioria dos
sujeitos, mas a modalidade cibernética, que prometia facilitar os contatos, trouxe
também novas formas de isolamento.

Com base no texto, comente como você percebe o processo de autoexposição:


pontos benéficos e dificuldades associadas.

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Resposta: Nessa resposta procure abordar os seguintes tópicos:
A auto-exposição constitui a expressão para o outro do que sentimos, pensamos e
percebemos.
Num grupo, a auto-exposição pode auxiliar o processo de feedback, fazendo com que
o outro possa conhecer a experiência que temos no grupo, como nos sentimos, o que
pensamos de sua conduta, se ficamos motivados ou não a partir de seu
comportamento, dentre outras coisas.
As dificuldades da auto-exposição estão ligadas aos afetos que esse processo pode
gerar. Expor situações desagradáveis pode magoar, gerar sentimento de culpa,
ciúme, vergonha...

Competência interpessoal

Segundo Argyris (1968), competência interpessoal é a habilidade de lidar


eficazmente com relações de acordo com três critérios:

● Percepção acurada da situação interpessoal, de suas variáveis relevantes e


respectiva inter-relação;

● Habilidade de resolver realmente os problemas, de tal modo que não haja


regressões; e

● Soluções alcançadas de tal forma, que as pessoas envolvidas continuem


trabalhando tão eficientemente juntas, pelo menos, como quando começaram a
resolver seus problemas.
Dois componentes da competência interpessoal assumem importância capital para
discernir e aprender a proporção adequada: a percepção e a habilidade
propriamente dita.

O processo da percepção precisa ser treinado para uma visão acurada da situação
interpessoal. Isso significa um longo processo de crescimento pessoal, abrangendo
autopercepção, autoconscientização e autoaceitação como pré-requisitos de
possibilidades de percepção mais realística dos outros e da situação. Esse
treinamento perceptivo não se realiza espontânea nem facilmente, requer
treinamento especial, demorado e, muitas vezes, sofrido, exigindo coragem e
disponibilidade psicológica do treinando no exercício de dar e receber feedback.
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O autoconhecimento só pode ser obtido com a ajuda dos outros, por meio de
feedback, o qual precisa ser elaborado para autoaceitação. Se o indivíduo tem
percepção mais acurada de si, então pode, também, ter percepção acurada da
situação interpessoal.

A habilidade propriamente dita, ou melhor, a forma de fazer, pode ser


desenvolvida de maneira informal através de um espaço coletivo de discussão
acerca das variáveis e dos conteúdos presentes nas relações intra e extragrupo.

Segundo Dejours (1994), é necessário abrir um espaço interno de discussão que vá


além do conhecimento técnico e da divisão do trabalho, “onde o trabalhador possa
discutir as regras de consenso para trabalhar em conjunto e a elaboração de
confiança entre trabalhadores”. É necessário criar grupos em que os sujeitos
apresentem expectativas, determinem objetivos e definam a ordem das atividades e
das relações.

Em sua carreira, você identifica estratégias para relatar ao seu grupo de trabalho a
maneira como está vivenciando a relação interpessoal, assim como para receber o
feedback de sua equipe?

Aula 3 – Estilos interpessoais

Na aula anterior, foram abordadas as estratégias de feedback, autoexposição,


liderança e competência interpessoal.

Nesta aula, você estudará os estilos interpessoais.


Através desse conceito, você será capaz de:

● Definir os quatro estilos interpessoais; e

● Conhecer as características básicas dos estilos interpessoais.

Mulher da lua
Tati Werneck

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Havia uma passagem secreta para dentro de sua cabeça.
Bem poucos sabiam disso.
Por uma fresta minúscula na beira da orelha podia-se invadir,
acompanhar as ideias dançarem, ir e voltar,
imagens, velhas lembranças,
a receita do jantar, o nome do creme, o dia do aniversário da cunhada.
Como num filme sem nexo, lapsos de memória
embaralhavam passagens boas e ruins dando finais de ficção
para sua realidade de ontem.
E isso tudo exposto,
por uma minúscula fechadura a quem acessasse o lugarzinho secreto.

Cada sujeito tem um modo peculiar de utilizar os processos de autoexposição e


feedback. Essas peculiaridades refletem um estilo interpessoal básico de se
comportar.
Nesta aula serão apresentados os quatro tipos básicos, lembrando que todos os
sujeitos portam um pouco de cada. As combinações é que formam o diferencial
que torna cada ser único.

Estilo interpessoal I – Eu desconhecido

Esse estilo se constitui pelo predomínio de potenciais ocultos e da informação


desconhecida tanto pelo próprio como pelos outros sujeitos. O trabalho fundamental
é tornar disponível toda a informação desconhecida do próprio sujeito, o que
contribuirá para o aumento de sua eficácia interpessoal.

Nesse tipo básico de personalidade, há o predomínio das seguintes


características: busca de segurança, criatividade reprimida, relacionamentos
impessoais, rigidez comportamental, aversão a assumir riscos, baixa participação,
aumento da ansiedade e canalização da energia para interesses fechados.

Tais comportamentos tendem a gerar graus variáveis de hostilidade e indiferença


no grupo social.

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Estilo interpessoal II – Eu secreto

Nesse modelo são encontrados os sentimentos, interesses e motivações que, por um


motivo de maior ou menor relevância, encontram-se inacessíveis ao outro. O trabalho
fundamental é a reflexão sobre a permissão de acesso ao outro sobre tal conteúdo
oculto. Muitas vezes é estratégico compartilhar aspectos íntimos com o outro a fim
de alcançar sucesso nos empreendimentos.

Nesse tipo há o predomínio das seguintes características: maior solicitação de


feedback, baixa exposição, o que pode ser interpretado como desconfiança,
demonstrações frequentes de interesse sobre sua imagem perante os outros, o
que eles acham de suas ideias e de seus atos, manutenção de nível razoável de
participação no grupo, busca do conhecimento da posição dos outros antes de se
posicionar.

Tal conjunto de comportamentos tende a gerar no outro reserva e ansiedade, bem


como pode criar um clima de permissividade indevida, em que todos opinam e dão
feedback, sem completar o processo de autoexposição, o que tende a ser
disfuncional na comunicação.

Estilo interpessoal III – Eu cego

Nesse estilo encontra-se o sujeito com grande dificuldade de autopercepção, seu


comportamento é orientado por aspectos inconscientes, mas que é perceptível ao
grupo com razoável facilidade, devido à grande exposição desse sujeito. Nesse caso,
o trabalho fundamental inclui a busca de suporte profissional para que os aspectos
não reconhecidos sejam clarificados.

As características básicas desse tipo são: utilização do processo de autoexposição


com pouca solicitação de feedback, participação atuante no grupo, dando
informações, mas solicitando pouco, por receio de reconhecer sua imagem pelos
outros, baixo aproveitamento da função corretiva do feedback, por medo de
perder o poder, exercício da função protetora em relação ao grupo, provocando
comunicação disfuncional e prejuízos à produtividade do grupo.

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Tal conjunto de comportamentos gera, no grupo, hostilidade e apatia,
contribuindo para a quebra da confiança mútua na situação de trabalho.

Estilo interpessoal IV– Eu aberto

Esse último estilo representa um ideal do comportamento humano, onde há um


equilíbrio entre a autoexposição e a busca de feedback. Nessa situação há pessoas
e relacionamentos mais maduros e equilibrados.

As características predominantes são: utilização equilibrada de busca de feedback


e de autoexposição, franqueza associada à empatia pelas necessidades do outro,
comportamento claro e aberto para o grupo, provocando menos erros de
interpretação por parte do outro.

Esse conjunto tende a gerar relações interpessoais mais autênticas pela franqueza
recíproca e confiança mútua que se estabelece na equipe.

Agora, faça um exercício tentando relacionar os diferentes estilos interpessoais e


encontre aquele que você julga ser mais típico seu.

Resposta: Se você se identificou com o Estilo Interpessoal I – Eu Desconhecido, é


presumível que você sinta dificuldade em expor seus pensamentos, sentimentos e
crenças na interação com o grupo, tenha relacionamentos impessoais por saber
também muito pouco sobre os outros membros. Assim, é necessário desenvolver suas
habilidades para expor suas experiências e buscar o feedback dos outros membros do
grupo.
Se você escolheu o Estilo Interpessoal II– Eu Secreto, é imaginável que você tenha
muita necessidade de saber o que os membros do grupo pensam sobre você, mas
tenha dificuldade expor suas próprias experiências. Dessa forma, é importante
desenvolver suas habilidades de expor suas experiências para os outros membros do
grupo.
Se você optou pelo Estilo Interpessoal III– Eu Cego, é plausível que você seja uma
pessoa bastante expressiva no seu grupo, mas que tenha dificuldade em ouvir como
as outras pessoas se sentem convivendo com você. Assim, ao lado de sua participação

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atuante no grupo, é preciso desenvolver a busca de feedback para que você consiga
reconhecer sua imagem pelos outros.
Se você se aproximou do Estilo Interpessoal IV– Eu Aberto, é admissível que atue no
grupo de forma equilibrada, tanto com relação à exposição de suas experiências,
quanto à busca por feedback sobre sua imagem, gerando uma confiança mútua entre
você e os outros membros do grupo.

Aula 4 – Atitudes no relacionamento interpessoal

Nesta aula, você estudará as atitudes no relacionamento interpessoal, as situações


facilitadoras e seus dificultadores. Ao final, você será capaz de:

● Definir atitudes no relacionamento interpessoal; e

● Citar facilitadores e dificultadores no processo de interação social.

Pode-se definir atitude como reação ou maneira de ser, favorável ou desfavorável,


frente a situações, pessoas ou objetos, reais ou imaginários. A atitude tem três
componentes básicos: a cognição, o afeto e o comportamento.

● O aspecto cognitivo vincula-se ao conhecimento, à percepção consciente.

● O aspecto afetivo relaciona-se às emoções e sentimentos

● O comportamento se expressa diretamente como um fazer, a conduta frente a


situações, pessoas ou objetos.

Diante do trabalho em grupo ou equipe, você com certeza já se confrontou com


algumas atitudes desempenhadas pelos integrantes, que podem contribuir ou não
com o desenvolvimento do trabalho. Ninguém está isento dessas posturas, inclusive
você, portanto, o importante é refletir sobre as atitudes que tem que tomar e sua
ação na equipe. Vale salientar que as realizações sejam com quais forem as
intenções, são atitudes e essas afetam, com maior ou menor impacto, os diversos
grupos nos quais você participa.

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Veja as atitudes que facilitam e as que dificultam os relacionamentos interpessoais.

Algumas atitudes contribuem para relacionamentos interpessoais de qualidade,


como por exemplo:

● A aceitação;
● A valorização e o respeito ao outro;
● A tolerância e a flexibilidade;
● A integridade e a honestidade;
● Evitar julgamentos apressados e sem base na realidade;
● A obediência às regras do grupo;
● A coragem de assumir as decisões tomadas;
● Saber ouvir de forma criativa;
● Controlar a ansiedade;
● Irradiação de confiança ao outro; e
● A tomada de iniciativas.

Já, dentre as atitudes que dificultam o relacionamento interpessoal e que devem


ser abordadas para que ocorra a promoção de ambientes equilibrados que permitam
a realização de sujeitos maduros, é possível destacar:

● O autoritarismo,
● A hostilidade,
● O comportamento defensivo,
● O preconceito,
● A indiferença,
● A arrogância,
● fofoca,
● A falta de comprometimento e
● A comunicação desfocada.

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Aula 5 – Estilos de liderança

Nesta aula, você estudará o conceito de liderança. Ao final da aula, você será capaz
de:
● Definir liderança; e

● Descrever os diferentes estilos de liderança.

Alexandre
(...)
Alexandre
De Olímpia e Filipe o menino nasceu, mas ele aprendeu
Que seu pai foi um raio que veio do céu.
(...)
Feito rei aos vinte anos
Transformou a Macedônia,
Que era um reino periférico, dito bárbaro,
Em esteio do helenismo e dos gregos,
Seu futuro, seu Sol.
O grande Alexandre, o grande, Alexandre
Conquistou o Egito e a Pérsia
Fundou cidades, cortou o nó górdio,
Foi grande;
Se embriagou de poder, alto e fundo,
Fundando o nosso mundo,
Foi generoso e malvado, magnânimo
E cruel (...)

Alexander in Babylon , pintura de Charles Le Brun, 1665. Museu do Louvre.


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Alexandre O Grande, rei da Pérsia, Macedônia, fundador de muitas e grandes cidades
da antiguidade é também reconhecido por muitos como a semente do atual ocidente.
Ele é um grande exemplo de liderança.

De acordo com o trecho da música apresentado na página anterior, comente as


características que faziam de Alexandre um líder.

Leia um conceito de liderança:

Liderança é o processo de conduzir um grupo de pessoas. É a habilidade de motivar e


influenciar uma equipe para que contribua, voluntariamente, da melhor forma com
os objetivos do grupo ou da organização.

Resposta: Na música Alexandre, as características de liderança citadas são


relacionadas ao cumprimento de grandes feitos - Transformou a Macedônia, que era
um reino periférico, dito bárbaro, em esteio do helenismo e dos gregos. Conquistou
o Egito e a Pérsia, fundou cidades, cortou o nó górdio. Trata-se de uma perspectiva
que pensa o sucesso do líder e do grupo sob a perspectiva da tarefa. Como
abordamos no contexto da competência interpessoal, também devem ser abordados
fatores como percepção da situação interpessoal, manutenção da coesão do grupo de
forma que as pessoas envolvidas continuem trabalhando juntas eficientemente, além
da habilidade de resolver problemas ou cumprir tarefas.

Estilos de Liderança

● Liderança autocrática

Na Liderança autocrática o líder é focado apenas nas tarefas. Esse tipo de liderança
também é chamado de liderança autoritária ou diretiva. O líder toma decisões
individuais, desconsiderando a opinião dos liderados. O líder autoritário utiliza
uma técnica rígida e diretiva, favorecendo a dependência.

● Liderança democrática

Chamada ainda de liderança participativa ou consultiva, esse tipo de liderança é


voltado para as pessoas e há participação dos liderados no processo decisório.
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● Liderança liberal ou Laissez faire

Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez


aller, laissez passer, que significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar".
Há controvérsia com relação à conceituação dessa posição como um genuíno estilo de
liderança.
Alguns autores o identificam como o tipo de liderança em que o grupo atingiu a
maturidade e não mais precisa de supervisão extrema de seu líder, de forma que
os liderados ficam livres para pôr seus projetos em prática e o líder liberal só
assume parcialmente a função de análise da situação e a orientação da ação. Há,
contudo, autores que não o identificam como estilo de liderança, afirmando que
se trata de uma liderança inoperante, em que o líder abdica de sua posição,
abandonando o grupo e não sendo capaz de envolvê-lo nas atividades.
(MOSCOVICI, 1997)

● Liderança Paternalista

É uma liderança que visa o fim dos conflitos em grupos, que visa um relacionamento
amável, onde o líder tem uma postura de representante paternal do grupo.

Fela Moscovici (1997) oferece uma interessante perspectiva a respeito de liderança e


participação no grupo. A autora avança na conceituação das funções líder-
participantes, propondo que há nessa interação muito mais do que a distinção entre
aquele que exerce a liderança e os demais que simplesmente participam. Segundo
seu ponto de vista, a liderança não é assumida por um membro do grupo de forma
continuada e única. Em diversos momentos e processos de interação, outros membros
exercem a liderança informal, em relação à etapa de vida do grupo e aos demais
membros. Assim, integram o processo de interação humana variáveis relativas à
dinâmica da personalidade dos membros do grupo e à dinâmica grupal da situação-
momento do grupo.

“Assim, no plano intrapessoal, o indivíduo reagirá em função de sua necessidades


motivacionais, sentimento, crenças e valores, normas interiorizadas, atitudes,
habilidades específicas e capacidade de julgamento realístico; no plano interpessoal,
influirão as emoções grupais, o sistema de interação, o sistema normativo e a cultura
do grupo; no plano situacional, exercerão influência o contexto físico e social
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imediato, o contexto cultural, o sistema contratado de relações e a dimensão
temporal.” (MOSCOVICI, 1997: 125-126)

Moscovici (1997) apresenta um modelo explicativo da interação grupal baseado em


duas dimensões de necessidades do líder:
● A necessidade de controle; e
● A de participação.

Tais necessidades correspondem ao níveis de atividade do funcionamento grupal.


Sua teoria permite identificar mais estilos de lideranças do que as apresentadas
anteriormente, que vão desde a posição de maior uso de autoridade pelo líder até a
de maior área de liberdade dos membros do grupo.

“Sob esse ângulo é possível relacionar o estilo de liderança à estrutura do grupo e


avaliar a diferença entre as necessidades expressas pelo líder e as oportunidades que
ele tem de satisfazê-las na posição que lhe é atribuída nessa estrutura. Pode-se,
ainda, estudar a relação entre os valores de líderes e membros e a satisfação com a
tarefa e a produtividade do grupo.” (MOSCOVICI, 1997: 127)

Tannenbaum e Schmidt (apud MOSCOVICI, 1997) apresentam um quadro


demonstrativo dos vetores de controle e participação na dinâmica grupal, onde é
possível visualizar sete estilos de lideranças, identificados por números.

TANNENBAUM & SCHMIDT, apud MOSCOVICI, 1997: 128 -Fig. 10.1 – Escala contínua de
comportamentos de liderança

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Veja a descrição da postura do líder e da participação dos membros.

1. O líder comunica sua decisão que é aceita sem contestação.


2. O líder ‘vende’ sua decisão antes de obter aceitação.
3. O líder testa sua decisão ouvindo opiniões dos membros do grupo.
4. O líder consulta os membros sobre antes de tomar a decisão.
5. O líder consulta os membros sobre alternativas de decisão.
6. O líder define limites dentro dos quais a decisão será tomada pelos membros.
7. Líder e membros tomam decisões em conjunto, dentro dos limites definidos
pelos superiores.

Agora que você já é capaz de definir liderança de acordo com algumas posições
teóricas, cite as características que você julga serem adequadas para um bom líder e
comente o porquê.

Resposta: Um bom líder deve saber equilibrar os processos de controle e de


participação dos membros do grupo nos processos decisórios, de organização e
execução da tarefa. Assim, é importante que líder e participantes do grupo possam
dialogar sobre suas situações-problema e estratégias de resolução.

Conclusão

Neste módulo, você viu as relações interpessoais no contexto do trabalho, as


estratégias de comunicação, as atitudes no contato com o outro e os estilos de
liderança.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão


do conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas


páginas anteriores.

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1. A frase “conjunto de três ou mais indivíduos” se refere a que tipo de definição
de grupo?

( ) Funcional
( ) Teórica
( ) Objetiva

2. O teórico Zimerman utiliza o jogo de quebra-cabeça para melhor conceituar:

( ) Indivíduo
( ) Grupo
( ) Equipe

3. Ainda de acordo com a teoria de Zimerman, é possível observar que:

( ) Um grupo deve construir diariamente seus conceitos.


( ) Um grupo deve usar regras severas para não desagregar.
( ) Um grupo deve ter os objetivos claramente definidos.

4. O corpo pode representar raiva, contentamento, rancor, tristeza, respeito e


outros sentimentos a todo momento. Isso significa que o corpo possui:

( ) Uma expressão corporal como forma de linguagem.


( ) Uma ideia de linguagem desconhecida.
( ) Uma expressão de gestos representativos.

5. O recurso que permite a percepção de como você é observado pelos outros,


assim como os resultados das suas ações na equipe, chama-se:

( ) Avaliação
( ) Retroação
( ) Feedback

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6. Quando em um grupo é utilizado o feedback está se contribuindo para:

( ) Reorientar, estimular e checar as ações dos indivíduos.


( ) Incentivando a competição saudável entre os indivíduos.
( ) Alimentando as organizações de informações importantes sobre os indivíduos.

7. Nas organizações, o eu público ou aberto está relacionado:

( ) À produtividade interpessoal.
( ) À vulnerabilidade interpessoal.
( ) À avaliação interpessoal.

8. A área onde as coisas sobre cada pessoa no seu íntimo ficam escondidas dos
outros é chamada de:

( ) Eu cego
( ) Eu desconhecido
( ) Eu secreto

9. A competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com relações


de acordo com três critérios, são eles:

( ) Percepção interpessoal, habilidade para resolver problemas, soluções


considerando a união e eficiência do grupo.
( ) Interação interpessoal, visão de grupo e avaliação da eficiência grupal.
( ) Percepção interativa, habilidade situacional, soluções considerando a união e
eficiência do grupo.

10. Marque a alternativa em que todas as atitudes apresentadas dificultam o


relacionamento interpessoal.

( ) Autoritarismo, arrogância, indiferença e preconceito.


( ) Autoritarismo, vingança, indiferença e tolerância.
( ) Autoritarismo, arrogância, indiferença e tolerância.
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11. Uma característica fundamental da liderança é que a contribuição do grupo é:

( ) Voluntária
( ) Compulsória
( ) Facultativa

12. Um chefe deixa as coisas fluírem para “ver no que vai dar”, é um chefe que
exerce a liderança:

( ) Liberal
( ) Autocrática
( ) Democrática

Este é o final do módulo 1 - Relações interpessoais no contexto laboral

Gabarito
1. Objetiva
2. Grupo
3. Um grupo deve ter os objetivos claramente definidos.
4. Uma expressão corporal como forma de linguagem.
5. Feedback
6. Reorientar, estimular e checar as ações dos indivíduos.
7. À produtividade interpessoal.
8. Eu secreto
9. Percepção interpessoal, habilidade para resolver problemas, soluções
considerando a união e eficiência do grupo.
10. Autoritarismo, arrogância, indiferença e preconceito.
11. Voluntária
12. Liberal
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