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Arqueologia
Argueologia Industrial
Industrial
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Paulo
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Fig. 1 -Saladas mêguinas avapordo Museu da Agua de Manuelda Maia.
AROUEOLOGIA INDUSTRIAL
Em 1984, o guatrocentista Moinho de Maré de Arroios,
um dos nucleos do Ecomuseu do Seixal, foi candidato ao Prémio Europeu
do Ano; em 1990 esse galardêo toi arrebatadoa pelo Museu da Agua
de Manuel da Maia, instalado na centendria Estacëo Elevat6ria a vapor
dos Barbadinhos. Para este ano, um outro forte candidato hiso perfila-se
na corrida - o Museu da electricidade - recém inaugurado no melhor lugar
possivel: o notêvel complexo fabril da Central Tejo.
Estes trés casos, gue constituem importantes espécimes do patrimoénio
industrial portuguës, foram trazidos para a luz da ribalta por um (novo)
campo de saberles): A Argueologia Industrial.

ARGOUEOLOSIA INDUSTRIAL:
e preservar os vestigios materiais herdados da Revolucëo
NASCIMENTO E DEFINICAG Industrial.
Vai ser em Inglaterra, berco da Revolucëo Industrial e Em 1955, Michael Rix, professor da Universidade de
vitima material dos “aids” da Luftwaffe, gue a argueologia Birmingham, utiliza a express&o Argueologia Industrial.
industrial vai emergir nos anos 50. A ameaca de destruicao Kenneth Hudson, um dos grandes pioneiros, vai defini-la,
de um dos vestigios dos primêérdios dos caminhos de ferro em 1963 como:
britênicos, o Euston Arch, servirê como catalizador de “Adescoberta, oregistoeo estudo da industriae das
ideias atê af avulsas e dispersas: odesprezodado as obras comunicag6es do passado.” (1)
industriais de interesse cultural e histêrico, como velhas Se numa primeira fase a argueologia industrial se apre-
fabricas, eclusas, mêauinas, minas, pontes metalicas, ins- senta associada exclusivamente ao estudo dos vestigios da
talac6es ferroviërias, comeca a opor-se a ideia de estudar Revoluc8o Industrial, no inicio da década de 70, eainda em
HISTORIA E CULTURA

Inalaterra, alar- pontes, estac6es e apeadeiros ferroviërios, portos, gares,


ga essas imagens eslacies elevatorias, etc.).
Coronol6gicas, gue - 0 mobiliërio industrial pesado (mdaguinas, motores,
alguns entêo preten- guindastes, etc.).
dem "esticar” até - 0 mobiliêrio industrial ligeiro (aparelhos, instrumentos,
@pocas t&Ao remotas utensilios, etc.).
como a Revolucëo Em segundo lugar, constituindo um vasto duadro de
Neolitica. fontes a considerar necessariamente numa investigacao
Até meados dos due se gueira completa: a iconografia, a cartografia, as
anos 70 criam-se, fontes escritas e outras. Esguematizando:
sobretudo na G.B,., -a iconografia,
muitas associac6es independente- EE
dedicadas ao seu mente da nature-
estudo e inicia-se Za da linguagem
Oo inventêrio sis- utilizada (pintura,
tematico dos monu- desenho, foto-
mentos industriais. grafia, cinema)
Em 1973 é inaugu- ou da nalureza
rado no Shropshire, do material gue a
o lronbridge Mu- constikui. E um
seum, hoje lugar de sector chave a
romagemde gual- considerar na in-
guer argue6logo in- vestigacêo em Fig. 3 - Armazéns do
dustrial digno desse argueologia
Fig. 2- Forno de porcelana porto de Hamburgo.
nome... ËÉEsta ê, industrial. Alguns
do sec. XVIl Coalport, Inglaterra
também, a década casos tipicos sêo
da ex pansêoin- os calêlogos de fdbricas, antincios, cartazes, rékulos, o
ternacional da ar- papel Himbrado, os postais.
gueologia industrial. -a carlografia, sobretudo a partir do século XVIIL é outra
Os anos 80, se assistiram a uma afinac&o dos métodos
fonte fundamental nos trabalhos de argueologia industrial,
e técnicas gue sao préprios da argueologia industrial, cor-
localizando as unidades fabris, as estradas, as linhas de
responidem, sobretudo, ao reconhecimento institucional
Agua, etc.
da mesma.
Prolongando uma sensibilidade gue se vinha sentindo
desde os meados dos anos 70 e ague se foi traduzindo na
edicao de alguns livros, na criagao de associac6es, na
Criacê&o museolêgica, na classificacao de imêveis & na
realizacêo de exposic6es de/sobre argueologia industrial,
nasce em 13 de Fevereiro de 1980 a Associacêo de Ar-
agueologia Industrial da Regiëo de Lisboa.

FONTES PARA @ SEU ESTUDO

Muitas e desvairadas - como dizia Fernao Lopes - Sêp as


fontes para o estudo da argueologia industrial. Variando de
industria para industria, de meio de transporte para meio de
transporte elas podem, contudo, “arrumar-se” em dois OFFICINAS & ESCRIPTORIO
—GLENAE-RLUPOS! EED NG
END. TELEGR - JOGAR-LISBOAN”
Raa Fradesso ds gieira. Va?7.- Baade Pascaes.2a5.
ALCANTARA-LISBOA
Em primelro lugar - nao nos esguecamos gue estamos a
falar de (uma) argueologia - os vestigios materiais. Pedra
angular da investigacêo argueol6gica as “evidências de Fig. 4 - Andncios - uma importante fonte para o estudo da argueologia
industrial.
campo” - da fêbrica & habitacao operêria, da toponimia aos
mecanismos, passando pela anêlise da paisagem ou pela
recolha oral - fornecem-nos uma gama de informacêes -as fontes escritas, tanto na vertente dos textos manus-
muitas vezes insubstituiveis por agueloutras guardadas critos como nos impressos, abarcam um sem numero de
Dos argulvos exemplos, como os copiadores de correspondéência, as
escrituras, os contratos, os inguëritos, a literatura técnica,
Podemos considerar gue os vestigios materiais ou fisi- os anuarios, os cafalogos, as monografias regionais, etc.
cos gue interessam & argueologia industrial, se agrupam - outras fontes, todas de três dimensbes, sêo de grande
nos três seguintes blocos: importência na invesligac&o em argueologia industrial:
“0 imobiliario industrial (edificios fabris, habitac6es ope- exemplares da producao das unidades fabris, os modelos
rêrias ou dos patroes, mas também estradas e caminhos, e as maguelas.

DIRAGIIK
EMM
INTERDISCIPLINARIDADE
Apesar da sua juventude, a prêtica da argueologia indus-
trial é (hoje) uma actividade complexa, porgue “a dimensêo
interdisciplinar sobre a gual assenta fundamentalmente a
caracterizacao da argueologia industrial, remete-nos, por
um lado, para os vêrios ramos da histêria - histêria das
técnicas, da arte, da arguitectura e histéria econémica e
social - e, por outro, para os dominios da engenharia , da
geografia, da demografia e da sociologia”.
O esguema da figura 5 traduz com muita clareza essa
situacao. (3)
Centrado no estudo da fébrica - monumento mitico da EE ar”
Revolucêo Industrial- recenceia-nos comrarafacilidade, os NE densOe EE
saberes gue hê gue juntar para um estudo gue se gueira Fig. 6 - Moinho de marê. Estuêrio do Tejo.
aprofundado e de gualidade.
-de existir a archeologia da industria? E certo gue a
PIONEIRISMO PORTUGUËS pré-historia recolhe anciosamente todas as manifestac6es
da civilizacao primitiva, e tanto considera a gigantesca
S&0 duatro, na nossa opiniëo, os momentos em due pedra baloucante como o mais obscuro instrumento do
Portugal se posicionou como pioneiro na construG&o da trabalho rudimentar, mas bom fora gue a serie progredisse
argueologia industrial. Cronologicamente, os dois primeiros e due se applicasse o mesmo carinho e o mesmo espirito
devem-se a Sousa Viterbo, médico de formacao e historia- scientifico a todas as evolus6es da industria” (4), (sublin-
dor e argue6logo de vocacao. Ao terceiro momento corres- hado nosso).
ponde um decreto de 28 de Maio de 1825. O auarto deve- Sessenta anos antes de Michael Rix - o gue é ignorado
se a A. Vieira da Silva, olisipégrafo ilustre. pela generalidade das obras gue se vAo escrevendo - ai
Em 1896, ha auase um sêculo portanto, Sousa Viterbo temos o verdadeiro criador da expressêo argueologia in-
(1845 - 1910) dé a estampa n'O Archeologo Portuguës um dustrial. Estudioso proficuo das nossas artes industriais,
artigo intitulado: “Archeologia Industrial Portuguesa. Os Sousa Viterbo é autor de um outro trabalho de relevancia
Moinhos". nesta area. "Artes e Industrias Portuguesas. O Vidro eo
Afentemos nas suas expressivas palavras: Papel”, publicado em 19802 n'O Instituto de Coimbra.
“E com profunda saudade gue vejo desapparecer pouco Uma das primeiras accêes legislativas em defesa do
a pPouco os vestigios da nossa antiga actividade, da nossa patrimênio industrial, em todo o mundo, remonta a 1925
iNdustria caseira. A machina vae triturando tudo no seu (decreto de 28 de Maio) ao classificar as ruinas da Fabrica
movimento vertiginoso, sem gue mêo piedosa se lembre de de Ferro de Nova Oeiras, construida em Angola, entre 1767
apanhar esses restos, humildes mas gloriosos, deposi- e 1772, como monumento histêrico.(5)
tando-os depois em sitio, onde possam ser cuidadosa- Ha cinguenta anos, A. Vieira da Silva, numa “démarche”
mente estudados e onde a curiosidade Ihes preste o mere- t&o original como pioneira sugere o estudo, em simultêneo,
Cido culto. Existe a archeologia da arte, porgue nio hê- dos chamados “monumentos histéricos”, como os castelos,

A INTERDISCIPLINARIEDADE EM ARCUEGIDCIA INDOSTRIAL

[ECONOMA
ees algeougsra [URBAETEO [soczoroeza] 1 ABU TVEECTUR? ENCENHARIN
[Enguadramento eeonsmieo.]
[. Imlantacao Ë Crgantzacio do espago fabril ]

[socroroer KIvummo social k—I FABR I CA Evolucao teenolêdgica


|UIST. TECNICAS -
[ BNreoroLcena AI ESpaco - Homem -— MEcaina T RECUrsos EnergÊH cos ENGENHARIA

WIST.MENTALIDADESE Bneuadramento istêrieo fier. BEGroNaE |

HIST. JHIST. |HIST. |HIST,


BCONOMIHSCCIAL |INDUS- | TÉCNZ- E
CP TRIAL | CAS

Fig. 8 -A interdisciplinariedade em argueologia industrial

DIE
DIRJDIS
as igrejas e os paldcios, e do due hoje designamos por rumo, valores, normas e& opêes. E preciso gue o Pais
patrimonio industrial: “fabricas, vias plblicas, ascensores entenda -e o Pais sêo as instituicées publicas e privadas,
mecênicos e elevadores publicos, existentes e desapareci- as empresas, as escolas, os grupos e as pessoas individu-
dos, [a] viac&o elêctrica, etc; (6) almente - gue ofuturo do nosso patriménio (industrial, neste
caso) tem gue ser feito hoje, para gue amanha nao seja
possivel repetir as palavras do Professor Vitorinho Maga-
Ihêes Godinho: “O Português gosta da histéria como
A GUISA DE £ONCLUSAG forma de discurso, mas, no fundo, nao é sensivel aos
testemunhos do passado. E dos povos due menos
Sem fantasiar moinhos de vento para fazer afirmacées apreco revelam pelo espdlio cultural da sua terra”, 6
faceis, gostariamos de terminar dizendo gue Portugal apre-:
senta boas condicêes para a realizagao de estudos de * Historiador e Argueëlogo Industrial
argueologia industrial.
“Boas condicées” entendidas no sentido de gue J.M.
Amado Mendes escreveu em 1983 para a zona de Coimbra
e gue, com facilidade, se percebe aplicêvel a (guase) todo
o Pais:
1 . “Longa tradic&o em determinados ramos, como a
cer&Amica e a metalurgia, e a longevidade de algumas
empresas, gue laboram hê dguase meio século, umas, e
outras mesmo hê mais de uma centuria;
2 .Desenvolvimento moderado da industria, com a conse-
guente conservac&o de edificios, parte da tecnologia e
processos de trabalho durante periodos bastante longos;
2. A reduzida dimensêo de algumas empresas e as difi-
Culdades de diversa ordem - capital, gestêo, preparagêo do
pessoal, etc. - com due se debatem tém levado a manutencêo
de uma tecnologia por vezes ja ultrapassada, lado a lado
com outra actualizada;
4. A continuidade gue algumas familias de empresêrios,
ao longe de vêrias geracêes, têm dado as respectivas
unidades industriais @ o gosto com due tém preservado
vestigios do passado”. (7)

Além da dimensao fabril acima referida - due no caso DE EE EE Ee


português remonta aos finais do século XV - inicios do
sêculo XVI com os complexos fabris dedicados a Expansao bridge, ameee Ur
portuguesa, como os arsenais da Marinha (FRibeira das
Naus) e do Exército, a Cordoaria e os fornos de biscoito de
Vale de Zebro - outras dimensêes do patrimênio industrial
esperama sua investigaca&o e, nalguns casos, a sua preser-
vacëo. Dois exemplos conhecidos de todos:
-As vias de comunicacao e os transportes, duer se trate
de caminhos de ferro, estradas, elevadores, portos, etc.;
2 - Os abastecimentos, como os de 4gua, de gas, de
electricidade, etc.. ss Paulo Oliveira. Ram cen
works | iN |Angea, in World. Industrial History
Mas outras condic6es, boas decerto, sêo indispensêveis
para estudar o patriménio industrial de Portugal, seja na
feiturade levantamentos gerais, estudos tematicos, acc6es
de salvaguarda ou projectos de rentabilizacao. Nao basta
existirem argueëlogos industriais e gue estes tenham o seu riossea de Aug
. 1960.
ve Ge ee NEE

ED ees mdustrial de
de Machado de Cast
EE ET ie Es — ii

7 Bl as H

Fig. 7 - Cordoarla da Jungueira (século XVIID).

gear OR

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