Você está na página 1de 6

Narciso

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Narciso ou O Auto admirador (em grego antigo:
Narciso
Νάρκισσος)[nota 1], na mitologia grega, era um herói do
território de Téspias, Beócia, famoso por sua beleza e
orgulho.

Várias versões do seu mito sobreviveram: a de Ovídio, das


suas Metamorfoses; a de Pausânias, do seu Guia para a
Grécia (9.31.7); e uma encontrada nos Papiros de Oxirrinco,
Chenoboskion, também chamada Oxyrhynchus. Era filho do
deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia do seu
nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria
vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.
Seu equivalente romano é Valentim; ainda que este seja
pouco representado, e comumente confundido com Cupido.

Pausânias localiza a fonte de Narciso na cama juntos em


Donacon, no território dos Téspios. Pausânias acha incrível
que alguém não conseguisse distinguir um reflexo de uma Narciso
Caravaggio, 1594-1596
pessoa verdadeira, e cita uma variante menos conhecida da
Galeria Nacional de Arte Antiga
história, na qual Narciso tinha uma irmã gémea. Ambos se
Pais Cefiso e Liríope
vestiam da mesma forma e usavam o mesmo tipo de roupas e
caçavam juntos. Narciso apaixonou-se por ela. Quando ela
morreu, Narciso consumiu-se de desgosto por ela, e fingiu que o reflexo que via na água era sua irmã.
Onde o seu corpo se encontrava, apenas restou uma flor: o narciso.

Como Pausânias também nota, outra história conta que a flor narciso foi criada para atrair Perséfone, que
era filha de Deméter, para longe das suas companheiras e permitir que Hades a raptasse.

Segundo Frazer,[2] a origem do mito pode ser muito antiga, compartilhada pelos indo-europeus, e
relacionada a lendas de outros povos, como os zulus, segundo os quais o reflexo representa a alma, que é
roubada por bestas da água.

Índice
O mito
Narcisismo
Influência na cultura
Produção literária
Composição musical
Arte visual
Ver também
Notas
Referências
Bibliografia
Ligações externas

O mito
Segundo Ovídio,[3] Narciso era um rapaz plenamente dotado de beleza. Seus pais eram o deus do rio
Cefiso e da ninfa Liríope. Dias antes de seu nascimento, seus pais resolveram consultar o oráculo Tirésias
para saber qual seria o destino do menino. E a revelação do oráculo foi que ele teria uma longa vida,
desde que nunca visse seu próprio rosto.

Narciso cresceu, e se transformou um jovem bonito de Beócia, que despertava amor tanto em homens
quanto em mulheres, mas era muito orgulhoso e tinha uma arrogância que ninguém conseguia quebrar.
Até as ninfas se apaixonaram por ele, incluindo uma chamada Eco que o amava incondicionalmente, mas
o rapaz a menosprezava. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Para dar uma lição ao
rapaz frívolo, a deusa Némesis, (aqui como um aspecto de Afrodite[4]) o condenou a apaixonar-se pelo
seu próprio reflexo na lagoa de Eco. Encantado pela sua própria beleza, Narciso deitou-se no banco do
rio e definhou, olhando-se na água e se embelezando. Depois da sua morte, Afrodite o transformou numa
flor, Narciso.

Até em sua morte, ele tentava ver nas águas do Estige as feições pelas quais se apaixonara.

Uma versão anterior, atribuída ao poeta Partênio de Niceia (atual İznik), composta por volta de 50 a.C.,
foi recentemente redescoberta entre os Papiros de Oxirrinco em Oxford.[5] Como a versão de Ovídio, esta
termina com Narciso cometendo suicídio. Uma versão por Conão, um contemporâneo de Ovídio,
também termina em suicídio (Narrações, 24). Nele, um jovem chamado Amínias apaixonou-se por
Narciso, que já havia rejeitado seus pretendentes. Narciso também rejeitou-o e deu-lhe uma espada.
Amínias suicidou-se à porta de Narciso. Ele tinha rogado aos deuses para dar a Narciso uma lição por
toda a dor que provocou. Narciso passou por uma poça de água e decidiu beber um pouco. Ele viu seu
reflexo, tornou-se fascinado por ele e se matou porque ele não poderia ter seu objeto de desejo.[6]

Um século mais tarde, o escritor viajante Pausânias registrou uma variante da história, em que Narciso se
apaixona por sua irmã gêmea, e não por si mesmo (Guia para a Grécia, 9.31.7).[7]

Narcisismo
O narcisismo tem o seu nome derivado de Narciso e ambos derivam da palavra grega narke
("entorpecido"), de onde também vem a palavra narcótico. Assim, para os gregos, Narciso simbolizava a
vaidade e a insensibilidade, visto que ele era emocionalmente entorpecido às solicitações daqueles que se
apaixonaram pela sua beleza. Mas Narciso não simboliza apenas mera negatividade: "o mito de Narciso
representa (senão para os gregos ao menos para nós) o drama da individualidade"; "ele mostra, isto sim, a
profundidade de um indivíduo que toma consciência de si mesmo" em si mesmo e perante a si mesmo,
ou seja, no lugar onde experimenta os seus dramas humanos.[8]
Influência na cultura
O mito de Narciso inspirou artistas por pelo menos dois mil anos, antes mesmo do poeta romano Ovídio
apresentar uma versão no livro III de suas Metamorfoses.

Produção literária
A parábola de Narciso tem sido uma grande fonte de
inspiração para os artistas há pelo menos dois mil
anos, começando com o poeta romano Ovídio (livro
III das Metamorfoses). Isto foi seguido em séculos
mais recentes por outros poetas como (John Keats), e
pintores (Caravaggio, Nicolas Poussin, Turner,
Salvador Dalí, e Waterhouse). No romance de
Stendhal Le Rouge et le Noir (1830), há um narcisista
clássico na personagem de Mathilde. Diz o príncipe
Korasoff a Julien Sorel, o protagonista, sobre a sua
amada:
Narciso e Eco
Nicolas Poussin, 1629-1630
Ela olha para ela em vez de olhar para ti,
Museu do Louvre
e por isso não te conhece.
Durante as duas ou três pequenas
explosões de paixão que ela se permitiu a
teu favor, ela, por um grande esforço de
imaginação, viu em ti o herói dos seus
sonhos, e não tu mesmo como realmente
és.

O mito tem uma influência decidida na cultura grega homoerótica inglesa vitoriana, por via da influência
de André Gide no seu estudo do mito Traité du Narcisse ("O tratado de Narciso", 1891), e da influência
de Oscar Wilde. Também, muitas personagens dos escritos de Fiódor Dostoiévski (escritor russo do
século XIX) são tipos de Narcisos solitários, tal como Yakov Petrovich Golyadkin em O Duplo [9]
(Publicado em 1846). Ainda na literatura, Paulo Coelho, em O Alquimista, utilizou como prefácio o mito,
usando também a emenda que Wilde escreveu sobre o que ocorreu depois da morte de Narciso.

Composição musical
Na música, Caetano Veloso utiliza o espírito do mito de Narciso em letra de Sampa, onde pretende
explicar o que lhe ocorreu quando diante de São Paulo pela primeira vez:

"[...]
Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto o mau gosto
É que Narciso acha feio
o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda
Não é mesmo velho
Nada do que não era antes
quando não somos mutantes
[...]"

A banda Barão Vermelho também possui um música


chamada Narciso, escrita por Cazuza. A música diz: "
(...) Agora me enfrente/ Como uma imagem no
espelho/ Nenhum bicho ou planta/ Pode ousar assim
(...)" Eco e Narciso
Waterhouse, 1903
Walker Art Gallery, Liverpool
Arte visual
Escavações em uma casa ricamente decorada na antiga
Pompeia renderam a descoberta de um afresco de
Narciso em 2019[10] Narciso tem sido um assunto para
muitos pintores, incluindo: Caravaggio, Poussin,
Turner, Dalí, Waterhouse e outros.

Echo e Narcissus, John


William Waterhouse

Narciso
Benczúr Gyula, 1881
Galeria Nacional da Hungria

Liriope Trazendo Echo e Narcissus,


Narciso Perante Louis-Jean-
Tirésias, Giulio François Lagrenée
Carpioni
Narcissus Narcissus,
na follower of
nascente, Giovanni Antonio
Jan Roos Boltraffio

Ver também
Narcisismo
Narcissus

Notas
1. Entretanto, no grego antigo, a palavra Νάρκισσος só é usada para a flor e nunca para este
personagem. [1]

Referências
html), BBC History Magazine, Vol. 5 No. 5
1. http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text? (May 2004), p. 9 (accessed April 30, 2010);
doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aalphabetic+letter%3D*n%3Aentry+group%3D3%
. 6. «The myth of Narcissus» (http://www.greek
myths-greekmythology.com/narcissus-myth
2. Frazer, J.G (1887). «The Legend of -echo/)
Narcissus» (http://www.jstor.org/stable/284
1524). The Journal of the Anthropological 7. Mario Jacoby, Individuation and Narcissism
Institute of Great Britain and Ireland. 16: (1985; 2006).
344−344. ISSN 0959-5295 (https://www.wo 8. Spinelli, Miguel, p.99
rldcat.org/issn/0959-5295) 9. Dostoiéviski, Fiodor. O Duplo. Tradução:
3. Metamorfoses, Ovídio Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34,
4. «Aprodite Wrath: Narcissus» (http://www.th 2011.
eoi.com/Olympios/AphroditeWrath2.html#N 10. Ancient Fresco of Mythical Narcissus
arkissos) (em inglês). Theoi Found in Pompeii (https://www.livescience.
com/64775-pompeii-fresco-narcissus-foun
5. David Keys, "Ancient manuscript sheds
new light on an enduring myth" (http://www. d.html) por Laura Geggel, 2019
papyrology.ox.ac.uk/POxy/news/narcissus.

Bibliografia
344−344. ISSN 0959-5295 (https://www.wo
FRAZER, J.G (1887). «The Legend of rldcat.org/issn/0959-5295)
Narcissus» (http://www.jstor.org/stable/284
1524). The Journal of the Anthropological Kury, Mario Gama. Dicionário da mitologia
Institute of Great Britain and Ireland. 16: grega e romana. Rio de Janeiro, Editora
Zahar, 2008.
Spinelli, Miguel. "O mito de Narciso". In: O Transição ao Medievo. Caxias do Sul:
Nascimento da Filosofia Grega e sua Ed.Univ. de Caxias do Sul, 2010, p.95ss.

Ligações externas
Plascencia, Ignacio. Narciso (http://educacao.aaldeia.net/narciso.htm). Tradução: Aldeia de
E. Rocha. (http://aaldeia.net/)
Nadvorny, Mauro J. Narciso e o Auto-ódio (http://www.espacoacademico.com.br/038/38ip_n
advorny.htm). Espaço Acadêmico (http://www.espacoacademico.com.br).

Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Narciso&oldid=56440956"

Esta página foi editada pela última vez às 22h53min de 10 de outubro de 2019.

Este texto é disponibilizado nos termos da licença Atribuição-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada (CC BY-SA 3.0) da
Creative Commons; pode estar sujeito a condições adicionais. Para mais detalhes, consulte as condições de
utilização.

Você também pode gostar