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Educação Literária

Letras em dia, Português, 12 .° ano

Ricardo Reis
LDIA12DP © Porto Editora

Lê atentamente o poema que se segue.

Sofro, Lídia, do medo do destino.


A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
Meu coração.
5 Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
Sem renovar
Meus dias, mas que um passe e outro passe
10 Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
No anoitecer.

PESSOA, Fernando, 2010. Poesia dos Outros Eus.


2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 166)

Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada.

1 Analisa os sentimentos do «eu» expressos nos seis primeiros versos.

2 Relaciona o sentido dos versos 5-6 com o exemplo do «carro» (vv. 2-4).

3 Refere as normas de vida expostas nos versos 7 a 12, fundamentando a tua resposta com
referências textuais pertinentes.

4 Seleciona a única opção que, em cada um dos itens, permite obter uma afirmação adequada ao
sentido do texto.

4.1. O recurso à apóstrofe, no início do poema, confere ao texto


(A) um carácter persuasivo.
(B) um tom coloquial.
(C) uma dimensão demonstrativa.
(D) uma vertente didática.
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Letras em dia, Português, 12 .° ano

4.2. A comparação com que termina o poema aproxima o envelhecimento do ciclo


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«dia»/«anoitecer» para salientar a sua
(A) artificialidade.
(B) duração.
(C) naturalidade.
(D) imprevisibilidade.

4 Identifica a afirmação que descreve corretamente a estrutura formal do poema.


(A) Poema constituído por doze versos alexandrinos, com rima interpolada.
(B) Poema formado por doze versos, num esquema em que a cada três decassílabos se segue
um trissílabo.
(C) Poema composto por doze versos brancos, num esquema que faz suceder a cada três
decassílabos um tetrassílabo.
(D) Poema constituído por doze versos, quatro deles tetrassílabos e os restantes alexandrinos,
com rima interpolada.

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Sugestões de resolução
Letras em dia, Português, 12 .° ano

Educação Literária

Ricardo Reis, p. 7
1. Nos seis primeiros versos, o sujeito poético revela
o seu sofrimento motivado pelo «medo do destino»
(v. 1) e pelo ódio à possibilidade de mudança (v. 6).

2. Nos versos 5-6, o sujeito poético expõe a sua


aversão à mudança, mesmo que esta seja para
«melhor» (v. 6). O exemplo do «carro», nos versos
anteriores, sustenta esta ideia, destacando o
sentimento de terror de que se sente tomado ao
sentir no veículo o impacto de uma «leve pedra» (v.
2), que lhe sugere uma possível alteração na
regularidade do seu percurso.

3. De acordo com os versos 7 a 12, é importante


viver de forma moderada, tranquila e regular, sem
sobressaltos, aceitando a supremacia dos «deuses»
(«Deixem-me os deuses minha vida sempre/Sem
renovar/Meus dias […]», vv. 7-9) e refreando
envolvimentos ou emoções excessivas («mas que
um passe e outro passe/Ficando eu sempre quase o
mesmo», vv. 9-10). Assim a vida decorrerá de modo
simples, previsível e espontâneo («[...] indo/Para a
velhice como um dia entra/No anoitecer», vv. 10-12).

4.1. (B);

4.2. (C).

5. (C).

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