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DISFONIA INFANTIL: PERCEPÇÃO DA QUALIDADE VOCAL EM

CRIANÇAS INSERIDAS NO JARDIM DE INFÂNCIA DA CRECHE


ESCOLA TIDA FARIA NO DISTRITO DE BOA VENTURA

Bruna da Silva Rodrigues1

Graduanda em Fonoaudiologia

Daianny Souza Silva2

Graduada em Fonoaudiologia

Resumo

A voz, é um instrumento essencial na comunicação do ser humano. Contudo, quando


há um mau funcionamento de um sistema ou estrutura que atua no processo de
vocalização ocorre um quadro de disfonia. Na infância, pode-se observar que umas das
disfonias mais comuns são as funcionais. Por isso, o estudo teve por objetivo analisar o
comportamento vocal de crianças e apresentar os impactos causados em relação à
disfonia, através da aplicação de um questionário semiestruturado aos pais e
educadores de crianças inseridas no Jardim de Infância da Creche Escola Tida Faria no
Distrito de Boa Ventura – RJ, a fim de analisar a percepção dos mesmos diante ao
padrão vocal das crianças. Diante dos dados recolhidos, pode-se observar que uma
parte significativa das crianças apresenta fala inadequada e com volume de voz
elevado, apresentando cansaço vocal. Portanto, este estudo contribui para uma boa
percepção e sensibilização sobre a disfonia infantil e comportamento vocal.
Palavras-chave: Disfonia infantil; educação; saúde vocal; desenvolvimento infantil.

Abstract

The voice, is an essential instrument in human communication. However, when there is


a malfunction in a system or structure that acts in the vocalization process, dysphonia
occurs. In childhood, it can be observed that one of the most common dysphonias is
functional dysphonia. Therefore, the study aimed to analyze the vocal behavior of
children and present the impacts caused in relation to dysphonia, through the application
of a semi-structured questionnaire to parents and educators of children enrolled in the
Kindergarten at Creche Escola Tida Faria in the District of Boa Ventura – RJ, in order to
analyze their perception of the children’s vocal pattern. In view of the data collected, it
can be observed that a significant part of the children present inadequate speech and
with a high volume of voice, presenting vocal fatigue. Therefore, this study contributes
to a good perception and awareness about childhood dysphonia and vocal behavior.
Keywords: Child dysphonia; education; vocal health; child development.

1 Graduanda em Fonoaudiologia, UniRedentor, Itaperuna/RJ, bsrodrigues27@gmail.com


2 Graduada em Fonoaudiologia, UniRedentor, Itaperuna/RJ, daianny.silva@uniredentor.edu.br

1
INTRODUÇÃO

A voz é um instrumento essencial na comunicação do ser humano. Ela é


produzida na laringe, onde estão localizadas as pregas vocais, que vibram no momento
da expiração. Ademais, o som produzido é amplificado pelas caixas de ressonância, as
quais produzem várias ondas harmônicas. Vale ressaltar que cada indivíduo apresenta
individualidades acerca das caixas de ressonância, sendo assim, há uma variabilidade
na qualidade vocal (SOUZA, et al. 2015).

A execução da voz é concernente a fatores biológicos e genéticos, assim como,


culturais e psicossociais como menciona Souza, et al (2015). Para mais, a forma que o
indivíduo se encontra emocionalmente, a sua personalidade e a maneira com que ele
expressa suas emoções, afetam a diferenciação da sua voz.

De acordo com o autor referido anteriormente, a voz saudável é classificada


como eufonia, no qual há a produção de um som equilibrado entre a intensidade do ar
e a musculatura das pregas vocais. Contudo, quando há um desequilíbrio, essa
alteração é denominada como disfonia. A qual é considerada um distúrbio da
comunicação, decorrente de um mau funcionamento de um sistema ou estrutura que
atua no processo de vocalização, podendo ser de origem orgânica, funcional ou
orgânico-funcional (SOUZA, et al. 2015).

Conforme apontam estudos epidemiológicos, a disfonia é um sintoma comum


em adultos, assim como na infância, tendo impacto significativo na vida do indivíduo,
como na eficácia da comunicação, desenvolvimento socioeducativo e participação.
Ademais, na infância pode afetar adversamente as atividades escolares em grupo por
exemplo (MAIA, et al. 2014).

Na disfonia infantil, pode-se observar que uma das mais frequentes são as
funcionais, que estão relacionadas a comportamentos abusivos, uso indevido da voz,
sendo o nódulo vocal a patologia mais frequente. Esses comportamentos vocais
anormais são o resultado de uma combinação de fatores anatômicos, fisiológicos,
sociais, emocionais ou ambientais. Além do mais, nas creches e/ou escolas, as crianças
estão propícias ao abuso vocal, visto que estão constantemente expostas ao ruído, que
ocasiona a competição vocal; a poeira, que torna o trato vocal seco; e a participação em
atividades esportivas em grupo, onde o controle vocal é dificultado (TAKESHITA, et al.
2009).

Desta forma, se faz necessária uma maior promoção da saúde na infância, visto
que a comunicação é uma necessidade humana fundamental para o desenvolvimento

2
integral. Uma vez que, as alterações provenientes da disfonia infantil vão além da voz,
pois interferem na inserção e interação social, nos processos de desenvolvimento e
aprendizagem (FERREIRA, 2016).

Isto posto, a inserção do profissional fonoaudiólogo é imprescindível, já que a


intervenção fonoaudiológica deve levar em consideração além das alterações
existentes, os aspectos sociais e emocionais, sendo necessário o envolvimento dos pais
no tratamento, uma vez que o seu comportamento e o ambiente familiar em que essa
criança está inserida podem influenciar na eficácia dele. Outro aspecto importante é a
necessidade de uma adequada higiene vocal. Para mais, deve-se conscientizar a
criança sobre o assunto, apesar das dificuldades de comunicação, para uma boa
absorção das informações (REZENDE, et al. 2020).

Por isso, o estudo teve por objetivo analisar o comportamento vocal de crianças
e apresentar os impactos causados em relação à disfonia.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa prospectiva de caráter quantitativo e qualitativo. A


qual, realizou-se a aplicação de um questionário semiestruturado, na Creche Escola
Tida Faria, com 27 pais de alunos e 6 educadores, no distrito de Boa Ventura - RJ.

No qual, apresentou perguntas relacionadas a disfonia e o comportamento vocal


de crianças tanto no ambiente escolar quanto em suas casas, sob a perspectiva dos
pais e educadores.

Com a aprovação do comitê de ética e pesquisa, (74441623.9.0000.5648)


apresentou-se a todos os sujeitos da amostra, que aceitaram participar de forma
voluntária, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). E após, o
questionário a ser preenchido.

Ao preencherem o mesmo, ocorreu-se a análise e discussão dos dados obtidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o estudo, foram entrevistados 27 (90%) responsáveis, já que 3 (10%)


participantes não responderam ao questionário. Para a complementariedade da
amostra, foram abordados 6 (100%) professores que atua na escola (Creche Escola
Tida Faria), a qual as crianças estão inseridas.

3
Sendo assim, tanto os pais, quanto os professores preencheram um
questionário, acerca do comportamento vocal das crianças.

Isto posto, os responsáveis foram questionados sobre o gênero e a idade das


crianças, como mostra o gráfico 1 e 2.

Gênero Idade

22% 22%
48% 52%
22%
34%

Feminino Masculino 3 Anos 4 Anos 5 Anos 6 Anos

Gráfico 01 – Gênero dos alunos Gráfico 02 – Idade dos alunos

Fonte: Os autores (2023). Fonte: Os autores (2023).

Em seguida, questionou-se aos responsáveis e educadores acerca do


comportamento vocal da criança em sua casa e no ambiente educacional, como mostra
o gráfico 3 e 4.

Gráfico 03 – Comportamento vocal em casa

Fonte: Os autores (2023).

4
Qual é o comportamento vocal que seus alunos
apresentam no âmbito educacional
0%
33%
67%

A maioria fala com um volume adequado, sem esforço vocal.


A maioria fala muito alto e/ou com esforço vocal.
A maioria fala muito baixo e/ou sussurra frequentemente.
Outro (especifique)

Gráfico 04 – Comportamento vocal no âmbito educacional

Fonte: Os autores (2023).

As respostas obtidas a partir dos responsáveis, revelam que a maioria das


crianças (67%) apresentam um comportamento vocal na qual o volume de voz é
considerado adequado dentro de suas casas.

Todavia, uma parcela considerável (22%) relatou que seus filhos abusam do
volume de voz, emitindo a mesma com esforço e de maneira inadequada em alguns
momentos. Ademais, houveram relatos de o filho variar a emissão vocal em volume
adequado e volume baixo ou sussurrando; falar muito rápido, apresentando gagueira
em alguns momentos, e outro mencionou que perceber uma entonação diferente na fala
de seu filho.

Em relação aos professores, ao serem questionados sobre o comportamento


vocal da turma 67% relataram que seus alunos falam com um volume adequado, sem
esforço vocal. Enquanto que 33% relataram que a maioria dos seus alunos fala muito
alto e/ou com esforço vocal.

Esses dados, indicam uma variedade de comportamentos vocais em casa e na


escola, demonstrando a importância de avaliar e monitorar de perto o desenvolvimento
vocal das crianças. Paixão et al. (2012), afirma que no que diz respeito à disfonia infantil,
pode-se levar em consideração o ambiente familiar na qual a criança está inserida, visto
que famílias numerosas e o hábito de falar com volume elevado são apontados como
fatores de risco. De igual forma, o ambiente escolar contribui para o mau uso da voz,
uma vez que o grande ruído ocasionado pelos alunos faz com que a criança fale mais
alto para chamar a atenção.

5
O autor referido anteriormente, expõe que as crianças são influenciadas pelo
comportamento vocal dos que estão ao seu redor, portanto, se seus familiares e/ou os
colegas da escola tem a adoção de maus hábitos vocais, tais como gritar e falar muito
alto, muitas vezes, por conta de competição proveniente do ambiente ruidoso, há a
possibilidade dessa criança querer imitá-los e, assim, prejudicar sua voz.

O indivíduo que fala com um volume de voz adequado e sem esforço vocal,
apresenta uma voz “eufônica”. Todavia, o indivíduo que fala com um volume de voz
elevado e com esforço, pode apresentar um quadro de “disfonia”. A mesma, é
considerada como um disturbio vocal, tendo em vista que é uma dificuldade para a
produção da voz, que por sua vez não consegue ter uma boa emissão para a
disseminação da mensagem verbal (BEHLAU, 2001).

Estes ainda foram questionados quanto ao esforço ou cansaço vocal das


crianças após atividades que requerem o uso da voz, como apresentado os dados nos
gráficos 5 e 6.

Você percebe algum esforço Você percebe algum esforço


ou cansaço vocal na criança ou cansaço vocal nos
após atividades vocais educandos após atividades
prolongadas, como cantar ou vocais prolongadas, como
falar por um longo período de cantar ou falar por um longo
tempo? período de tempo?

8%
17%
11%

50%
59% 22%
33%

0%

Sim, frequentemente. Às vezes. Sim, frequentemente. Às vezes.


Raramente. Não percebo. Raramente. Não percebo.

Gráfico 05 – Esforço vocal Gráfico 06 – Esforço vocal

Fonte: Os autores (2023). Fonte: Os autores (2023).

A partir da análise das respostas, observou-se que a maioria dos pais (59%)
afirmaram que não percebem o esforço ou cansaço vocal de seus filhos após atividades
vocais prolongadas. Entretanto, notou-se que 11% relataram observar que, às vezes
6
seu filho apresenta cansaço, enquanto 22% dos responsáveis mencionaram que isso
ocorre raramente. A quantidade de pais que responderam que percebem o cansaço
vocal frequentemente foi de 8%.

No que diz respeito a percepção das educadoras, observou-se que 17%


afirmaram que perceberam esforço ou cansaço vocal frequentemente nos seus alunos,
indicando que algumas crianças enfrentam desconforto vocal após atividades que
requerem o uso de suas vozes a longo prazo. Ademais, 33% mencionaram notar isso
às vezes, sugerindo que a alteração ocasionalmente acontece com algumas crianças.
Por fim, 50% relataram não perceber tal esforço ou cansaço vocal em seus alunos.

Os achados mostram que embora a maioria dos pais e educadores não


observem características de esforço ou cansaço vocal após tarefas prolongadas, alguns
notam estes sinais. Fato este que deve ser levado em consideração como coloca
Oliveira et al. (2011). O qual relata que, existem alguns fatores que podem contribuir
para o cansaço vocal sendo alguns deles as atividades desenvolvidas na creche/escola,
como jogos e brincadeiras e a participação de atividades esportivas e musicais, visto
que nessas atividades é comum o aumento no volume de voz, sendo no esporte o
esforço ao gritar enquanto realiza a brincadeira e na musical o uso inadequado da voz
ao tentar cantar mais alto. Outro fator a ser considerado, é a presença de ruído no
ambiente em que essa criança está, pois há o risco de haver competição sonora.

Em seguida, questionou-se aos responsáveis e educadores sobre as suas


percepções quanto a notoriedade da voz rouca de seus filhos, como mostra no gráfico
7 e 8.

Você já notou seu filho Você já observou alguma


com a voz rouca? criança com a voz rouca?

15% 0%
26%
33%
59%
67%

Sim, já observei meu filho com voz


rouca.
Sim, já observei isso em algumas crianças.
Não, nunca notei esse tipo de alteração
vocal. Não, nunca observei.
Sim, as vezes quando grita. Não tenho certeza.

Gráfico 07 – Percepção sobre a Gráfico 08 – Percepção sobre a


saúde vocal saúde vocal
Fonte: Os autores (2023). Fonte: Os autores (2023).
7
Os achados sobre a ocorrência de voz rouca nas crianças indicam que a maioria
dos pais (59%) nunca observou esse tipo de modificação vocal em seus filhos. Contudo,
26% já notaram tal alteração, e 15% relataram que seus filhos.

No entanto, observa-se que 67% dos professores relataram já terem percebido


crianças na creche que apresentam alterações vocais, enquanto que 33% afirmaram
nunca terem observado essas alterações em suas crianças. Isso mostra que tais
alterações não são desconhecidas e sim observadas por um bom número de
educadores.

Diante das respostas coletadas, observa-se que muitas crianças apresentaram


voz rouca quando gritaram, sugerindo assim, que o mau uso da voz foi um dos fatores
para tal disfunção. Em suas pesquisas, Oliveira, et al. (2011) relata que a disfonia infantil
é proveniente dos desajustes da fonação, sendo assim, ela pode estar diretamente
ligada ao comportamento vocal apresentado pela criança. Ademais, estudos
comprovam que os principais fatores da disfonia são a rouquidão e a soprosidade.

Em associação à questão anterior, perguntou-se aos pais sobre as medidas


tomadas para resolver os possíveis problemas provenientes da alteração vocal
apresentadas pelas crianças, assim como apresentado no gráfico 9.

Se a sua resposta anterior for sim, você já procurou


ajuda profissional para avaliar a voz da criança?

29%

71%

Sim, já consultei um fonoaudiólogo ou médico. Ainda não, mas pretendo procurar ajuda.

Gráfico 09 – Medidas tomadas

Fonte: Os autores (2023).

Ao serem questionados, se já observaram alteração vocal em seus filhos, 19%


dos pais que responderam a pergunta, apenas 4% relataram que já observaram,
afirmando ainda ter o desejo de procurar ajuda profissional futuramente. Todavia, uma

8
parcela considerável (15%), pontuou já ter consultado seus filhos com um fonoaudiólogo
ou médico.

Vale ressaltar que 19% das crianças em consulta, apenas 4% apresentava


queixa de disfonia, enquanto que 15% apresentavam um quadro de “atraso de fala” ou
“língua presa”.

Takeshita et. al. (2009) salienta a necessidade de procurar suporte profissional,


afim de oferecer as crianças uma melhor qualidade de vida. E perante os dados obtidos,
observa-se nos pais uma predisposição positiva para resolver qualquer que seja o
problema vocal que possivelmente "apareça" em seus filhos.

O mesmo autor, ainda expõe sobre a necessidade de realizar uma investigação


criteriosa em relação a ocorrência de distúrbios vocais na infância. Considerando que,
tais alterações aconteçam em um momento de desenvolvimento da personalidade da
criança.

No gráfico 10, é possível obter informações dos tratamentos realizados com


essas crianças que apresentaram modificação vocal.

Caso tenha procurado ajuda profissional,


quais tratamentos foram realizados?

20%
40%

40%

Terapia fonoaudiológica. Cirurgia. Nenhum tratamento foi realizado.

Gráfico 10 – Tratamentos realizados

Fonte: Os autores (2023).

Nos dados obtidos através do questionamento, observou-se que o único


responsável (4%) que relatou queixa de disfonia de seu filho, não realizou tratamento
algum para sanar esse problema. Enquanto isso, as duas crianças (7%) com queixa de
atraso de fala realizaram terapia fonoaudiológica e duas realizaram frenectomia lingual.

De acordo com o que foi observado, ressalta-se a falta de procura do


responsável que relatou a disfonia de seu filho. A negligência perante o distúrbio

9
apresentado, pode acarretar em diversos prejuízos para a criança, quanto a questões
de desenvolviemento de sua comunicação oral. Logo, deve-se destacar a importância
da consciêntização a cerca da necessidade de se procurar suporte fonoterapêutico para
crianças com disfonia. Guerra, et al. (2014), salienta acerca do trabalho do
fonoaudiólogo em orientar às famílias nas fonoterapias, pois muitos não vêem
necessidade em realizar o tratamento ou acham que as alterações vocais são algo
“normal”.

Posteriormente, perguntou-se acerca do conhecimento dos pais e educadores


sobre o termo “disfonia”.

No qual, os resultados obtidos mostraram que a maioria dos pais (67%) declarou
não está familiarizada com o termo “disfonia”. No entanto, 29% afirmaram conhecer o
termo, porém expressaram o desejo de terem um conhecimento mais amplo no assunto.
E apenas 4% dos pais relataram ter um conhecimento elevado sobre disfonia.

Por outro lado todas as professoras (100%) relataram que já ouviram falar sobre
o termo, mas gostariam de saber mais sobre o assunto.

Visando os dados obtidos através das respostas dos pais, ressalta-se a


importância da conscientização sobre as questões vocais. Por isso, Ferreira (2016)
chama a atenção para a necessidade de uma maior promoção da saúde na infância,
uma vez que a comunicação é imprescindível para o desenvolvimento integral. Visto
que, a disfonia infantil é uma alteração que prejudica não só a voz, mas a socialização
e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.

Logo após, questionou-se aos pais e educadores se eles acham que há relação
entre o cuidado vocal e o desenvolvimento comunicativo. Onde, apenas 4% dos
responsáveis relatou que não tem certeza se há relação entre o cuidado vocal e
desenvolvimento comunicativo e 96%, relatou que acredita nessa relação. Já as
educadoras, todas (100%) afirmaram que um cuidado adequado com a voz das crianças
pode ser importante para seu desenvolvimento comunicativo.

Conforme apontam estudos epidemiológicos a voz disfônica pode ocasionar em


um impacto significativo na vida do indivíduo, como na eficiência de sua comunicação
oral, no seu desenvolvimento socioeducativo e afetivo-emocional, pois uma voz
alterada, pode comprometer o entendimento das pessoas à sua fala. (MAIA, et al. 2014)

10
Todos os responsáveis e educadores (100%) relataram que acham importante
que eles tenham informações sobre os cuidados com a voz das crianças. Assim como
todos (100%) afirmaram que acreditam que um bom cuidado vocal na infância pode
prevenir problemas de voz futuros.

A voz influencia na formação da personalidade do indivíduo e maturação de suas


habilidades comunicativas, visto que esses processos ocorrem na primeira década de
sua vida. Logo, o cuidado com a voz da criança pode prevenir muitos prejuízos a longo
prazo (GOULART, et al. 2011).

Ademais, Ferreira (2016) expõe sobre como as alterações desencadeadas pela


disfonia infantil vão além da voz, pois influenciam diretamente no convívio social da
criança e nos processos de desenvolvimento.

Para a conclusão dos dados dos responsáveis, questionou-se se há


necessidade de mais informações sobre como cuidar da voz da criança. Na qual 92%,
afirmaram que gostaria de mais informações sobre o assunto, enquanto que 7%
relataram que tem algumas dúvidas, porém não sabem por onde começar.

Logo, vê-se a necessidade de uma boa orientação aos responsáveis, visto que
apresentaram o desejo de aprenderem sobre um assunto que pode trazer uma melhor
qualidade de vida para seus filhos.

Oliveira, et al. (2021), ainda vai destacar sobre a importância do trabalho em


conjunto do fonoaudiólogo e a família do paciente e da necessidade em orientar os pais,
visto que, pelo fato de muitos pais não terem o conhecimento necessário, não sabem
como ter um comportamento vocal satisfatório e um bom cuidado com a voz da criança.

A fim de complementar a pesquisa, questionou-se aos professores dos alunos,


acerca da idade média dos seus alunos e concomitantemente, questionou-se sobre a
perspectiva dos professores quanto ao perfil da turma, como mostram os gráficos 11 e
12.

11
Qual a idade média dos Sua turma é considerada:
seus alunos?
0%17%
0%
17% 16%

17% 83%
50%
Calma Agitada
3 Anos 4 Anos 5 Anos 6 Anos Falante Não identifiquei o perfil

Gráfico 11 – Média de Idade dos alunos Gráfico 12 – Características da turma

Fonte: Os autores (2023). Fonte: Os autores (2023).

Sendo assim, pode-se observar que a maioria das turmas é considerada


“falante” (83%). Enquanto que 17% considera sua turma calma.

Isso indica que, as crianças são comunicativas e propensas a interagir


verbalmente no ambiente da creche. As crianças são influenciadas pelo meio em que
estão inseridas, então a criança tende a agir da maneira que seu colega age. Vale
ressaltar que não se deve apenas observar o quantitativo da fala, como também o
qualitativo. Uma vez que o padrão de voz da criança sofre influência do modelo de voz
nos locais em que elas estão inseridas, os alunos tendem a abusar de sua voz e gritar
quando algum colega de turma começa a gritar (PAIXÃO et. al, 2012).

O gráfico 13, relata se o educador já observou alguma criança com dificuldade


de comunicação devido a problemas vocais.

Você já observou alguma criança com


dificuldade de comunicação devido a
problemas vocais?
0%
33%
67%

Sim, já observei isso em algumas crianças.


Não, nunca observei.
Não tenho certeza.

Gráfico 13 – Percepção sobre dificuldades comunicativas

Fonte: Os autores (2023).


12
Coletou-se que, 67% das professoras mencionam que já observaram crianças
enfrentando desafios quanto à comunicação provenientes dos problemas vocais.
Entretanto, 33% afirmaram que nunca observaram tais desafios em seus educandos.
Essa diferença nas observações, indica que as dificuldades na comunicação vocal são
reais em alguns alunos, porém para outros não é algo que atrapalhe. É de suma
importância, que haja uma conscientização de reconhecimento precoce para que esses
alunos com dificuldades tenham o suporte necessário a fim de desenvolver suas
habilidades de comunicação e aprendizado (TAKESHITA, et al. 2009).

Sobre a percepção dos educadores, se os problemas/alterações na voz podem


afetar o desempenho acadêmico das crianças, 67% dos educadores acreditam que as
modificações e problemas vocais podem afetar o desempenho acadêmico dos alunos.

Todavia, 33% professoras relataram não ter uma opinião formada acerca desse
assunto.

De acordo com Maia, et al. (2014), a disfonia tem um impacto significativo na


vida do sujeito, visto que ela pode interferir diretamente na eficácia da comunicação,
desenvolvimento social, educativo e participação. Ademais, a disfonia infantil pode
afetar as dinâmicas escolares em grupo, comprometendo seu desenvolvimento
acadêmico..

Por fim, verificou-se acerca da vontade dos pais e educadores de receberem


materiais informativos sobre a disfonia e cuidados vocais na infância. Na qual todos
(100%) relataram o desejo de aprenderem mais sobre o assunto.

É imprescindível a necessidade de pais e educadores terem acesso a


informações pertinentes a hábitos que prejudicam a voz de seus alunos/filhos e disfonia
infantil. Uma vez que, assim, eles possam identificar sinais de alterações vocais e
contribuir para um possível diagnóstico e tratamento desse distúrbio, proporcionando,
assim, uma melhor qualidade de vida para a criança (GOULART, et al. 2011; OLIVEIRA,
et al. 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que, uma parte significativa de crianças inseridas na Creche Escola


Tida Faria, apresentam comportamentos vocais abusivos. Visto que, de acordo com os
resultados analisados, muitas crianças demonstram cansaço vocal e fala inadequada

13
com volume elevado. Esse comportamento vocal tem grandes chances de acarretarem
em desafios na comunicação, interação social e no desenvolvimento da linguagem,
aspectos fundamentais para a evolução acadêmica e psicoemocional da criança.

Ademais, reforça-se a necessidade da promoção da saúde na infância. A fim de


compreender a disfonia infantil como uma questão que está além da saúde vocal, mas
como um aspecto que pode afetar a qualidade de vida das crianças.

Logo, torna-se imprescindível o apoio fonoaudiológico na saúde vocal. Devido


ao mesmo ser o profissional que cuidará da voz do paciente trazendo para ele uma
melhor emissão vocal, contribuindo para o seu bem estar.

Portanto, este estudo contribui para uma boa percepção e sensibilização sobre
a disfonia infantil e comportamento vocal. Ao destacar a necessidade da
conscientização da disfonia infantil, salienta-se sobre a importância de ter-se ações
preventivas e intervenções precoces no intuito de ofertar as crianças uma voz saudável
e um bom desenvolvimento.

REFERÊNCIAS
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http://www.fumec.br/files/6814/3337/6578/Voz_humana-v7.pdf. Acesso em: 18 mar.
2023.

TAKESHITA, Telma Kioko; AGUIAR-RICZ, Lílian; ISAAC, Myriam de Lima; RICZ, Hilton;
ANSELMO-LEMA, Wilma. Comportamento vocal de crianças em idade pré-escolar. Arq.
Int. Otorrinolaringo./Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo, v.13, n.3, p. 252 – 258,
2009. Disponível em: http://www.arquivosdeorl.org.br/conteudo/pdfForl/13-03-03.pdf.
Acesso em: 18 mar. 2023.

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AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a Deus por ter me proporcionado a oportunidade de me
graduar nessa área tão linda que é a Fonoaudiologia. Agradeço a Deus, pois foi
graças a Ele que eu não desisti perante todas as adversidades enfrentadas. Foram
momentos difíceis, onde achei que não conseguiria e não era capaz de terminar, mas
o Senhor me sustentou em todos os momentos.
Agradeço também a minha família e ao meu namorado por todo apoio e toda
ajuda, financeira e emocional, ofertada. Também sou grata a todos os meus amigos
que me auxiliaram e não me deixaram desistir.
Agradeço a instituição UniRedentor e, principalmente, todos os professores que
estiveram comigo ao longo desses 4 anos. As preceptoras de estágio: Daianny,
Amanda, Jaylla e Luana, muito obrigada por todo conhecimento, paciência e puxões
de orelha. Vocês foram essenciais na minha formação, tanto profissional, como
pessoal.
Por fim, sou eternamente grata pela vida da minha orientadora Daianny. Sou
grata por toda a paciência, cobranças e aprendizado. Foi um ano difícil, mas com o
apoio e orientação dela, consegui vencer.
A Deus seja dada toda honra, toda glória e todo o louvor. Amém!

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