Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
John Kunkel1
University of West Ontario (Department of Sociology)
Introdução
1
Kunkel, J. H. Apathy and Irresponsability in Social Systems. Em Lamal, P. A. (Org) Behavioral Analysis of
Societies and Cultural Practices. New York: Hemisphere Publishing Corporation, 1991.
Este artigo foi traduzido, para uso pessoal, por Maria Amalia e Tereza Maria Sério.
1
usualmente não européias. Mais recentemente, estes termos têm sido usados por sociólogos
também para descrever indivíduos e subculturas nas sociedades urbano‐industriais. Apatia
e fatalismo e, em menor grau, irresponsabilidade freqüentemente têm sidos vistos como
componentes de problemas tais como pobreza, analfabetismo e desemprego (p. ex., Banfield,
1970). Além disso, estes termos são frequentemente usados para descrever fatores internos e
processos internos presumidos que levariam ou a baixos níveis de comportamento ou a
ações que, aos olhos de um observador, são contra‐produtivas. Daí, acreditar‐se que eles
contribuam para uma menor qualidade de vida para muitos indivíduos e famílias.
Numa escala menor, psicólogos sociais recentemente começaram a analisar apatia e
fatalismo como componentes de desamparo adquirido. Em vários experimentos de
laboratório e estudos de campo pesquisadores descobriram determinantes psicológicos e
sociais importantes de baixas taxas de comportamento e, com base nisto têm sido capazes de
sugerir programas preventivos e remediativos (p. ex.; Peterson, Villanova e Raps, 1985).
Apatia e Fatalismo
2
Irresponsabilidade
Este termo é um rótulo que observadores usam para sumarizar atividades que, no seu
julgamento, provavelmente terão mais conseqüências negativas e/ou poucas conseqüências
positivas para o ator e outras pessoas, do que teriam comportamentos diferentes que
poderiam ter sidos emitidos. Estas atividades refletem ou o repertório comportamental de
um indivíduo (talvez limitado), ou uma percepção específica de resultados e de suas
probabilidades. Observadores implicitamente assumem que têm uma melhor compreensão
do mundo e uma visão mais clara dos resultados do que tem o ator.
Para analistas do comportamento, a irresponsabilidade refere‐se à seleção de uma
atividade (ou nível de desempenho) que está ligado a conseqüências negativas altamente
prováveis para o autor ou para outras pessoas, que poderiam ter sido minimizadas ou
evitadas se uma ação diferente (ou nível de desempenho) tivesse sido escolhida. O individuo
que se comporta, obviamente, pode ter uma percepção diferente das conseqüências (e de
suas probabilidades) ligadas a várias atividades e níveis de desempenho dentro do
repertório comportamental.
A amplitude de comportamentos que poderiam ser rotulados como irresponsáveis é,
na realidade, grande e poderia incluir a maioria das ações da vida cotidiana – dependendo
das circunstâncias. Algumas ações estão quase sempre nesta categoria, como quando uma
pessoa bebe em excesso antes e dirigir; aqui, uma ou ambas as ações (e certamente sua
combinação) seria vista como irresponsável. O rótulo de outros comportamentos depende
mais diretamente do conhecimento de uma situação por parte do observador. Podemos
considerar a relação sexual sem proteção comportamento irresponsável quando sabemos que
um casal não desejar ter mais filhos, ou se acreditarmos que eles já têm filhos demais; mas
não usaríamos o rótulo se estivessem tentando ter seu primeiro filho – a menos que
soubéssemos de uma alta probabilidade de transmissão de um defeito genético.
A Variabilidade do Comportamento
3
atividades. Em relação a estes dois aspectos nosso interesse coincide com o de antropólogos,
economistas e sociólogos. Mas como analistas do comportamento não estamos preocupados
com várias condições inferidas internas dos indivíduos, que se supõe serem subjacentes a
várias atividades. Em vez disso, postulamos um pequeno conjunto de princípios
comportamentais que têm um fundamento empírico sólido em centenas de estudos
cuidadosos, realizados durante os últimos 50 anos. Com relação a estes dois aspectos
diferimos enormemente da maior parte dos cientistas sociais.
Os dois exemplos seguintes mostram a operação de princípios de aprendizagem em
sistemas sociais de tamanhos variados. Vemos aqui o papel crucial que as conseqüências
passadas do comportamento desempenham na determinação de ações futuras. A partir
destas análises podemos determinar que modificações devem ser introduzidas em grupos e
comunidades para que o comportamento de seus membros seja mudado. O segundo
exemplo é especialmente significativo por mostrar como uma grande comunidade pode ser
fundamentalmente alterada pela introdução umas poucas contingências novas.
Já há muitas décadas sabe‐se que grupos têm uma variedade de efeitos sobre seus
membros: algumas vezes as pessoas trabalham mais duramente quando estão com outros,
mais frequentemente indivíduos realizam muito menos em grupos do que quando estão
sozinhos. De fato, os últimos resultados são tão predominantes e consistentes que a
“preguiça social” tornou‐se um tópico legítimo de investigação.
Nos estudos originais, realizados em meados de 1880, mas não publicados até 1913, o
agrônomo francês, Max Ringelman, pediu a alunos voluntários do sexo masculino que
puxassem uma corda sozinhos ou com de um a sete companheiros (Kravitz e Martin, 1986).
Na última configuração, indivíduos puxaram apenas com metade da força do que quando
sozinhos. Durante os últimos 20 anos, um conjunto de experimentos foi planejado para
explorar as várias facetas da preguiça social. Os comportamentos estudados em laboratórios
modernos variaram desde esforços físicos (p. ex.; gritar, soprar ar) até tarefas intelectuais (p.
ex; vigilância, resolução de quebras‐cabeças). Decréscimos no desempenho são usualmente
curvilíneos, com um nivelamento em grupos maiores do que quatro pessoas. A preguiça
social é maior quando os membros do grupo desempenham atividades relativamente
simples, inerentemente desinteressantes e rotineiras. Os decréscimos de comportamento
ocorrem em ambos os sexos e não importa se o estudo tem delineamento intra‐sujeitos ou
entre‐sujeitos.
Por mais de um século, pesquisadores têm se perguntado sobre a natureza e as raízes
deste fascinante fenômeno. Por exemplo, de acordo com o experimento clássico moderno
(Latané, Williams e Harkins, 1979), o declínio no comportamento pode ser substancial ‐ 50%
em grupos de quatro pessoas e 60% em grupos de seis pessoas. A análise cuidadosa dos
dados revelou que por volta de metade da redução de desempenho foi resultado de
interferência mútua inadvertida e de dificuldades na coordenação, enquanto que 50% era
resultado dos indivíduos deliberadamente exercerem esforço menor. Desde então, a maior
parte dos experimentos incorporou delineamentos que eliminam as variáveis de
interferência e coordenação, que confundem os resultados. Mesmo assim, os resultados
ainda mostram uma perda de desempenho dos indivíduos em grupo consistente e
significativa ( p. ex; Harkins e Szymanski, 1989). Surge, assim, uma importante pergunta: por
que as pessoas em grupos têm preguiça tão freqüentemente e com tanta intensidade?
4
Uma resposta abrangente emergiu bastante vagarosamente, em parte porque os
primeiros estudos enfocaram processos internos de grupos e indivíduos. Rigelman explicou
seus resultados em termos de problemas de coordenação inerentes a qualquer esforço de
grupo, e esta visão prevaleceu pelos 60 anos seguintes (p. ex; Steiner, 1972). “Processos
sociais problemáticos” não especificados que operam conjuntamente com problemas de
coordenação física também foram considerados como explicações possíveis (p. ex; Ingham,
Levinger, Graves e Peckahm, 1974).
Em uma série de experimentos freqüentemente engenhosos realizados durante os
últimos 15 anos, psicólogos sociais gradualmente descobriram as peças deste interessante
quebra‐cabeça. O passo crucial foi a realização de que na maior parte dos “settings” de
grupo, os desempenhos dos membros são combinados para levar a uma produção do grupo.
Daí, os esforços de qualquer pessoa são bastante anônimos: membros do grupo tipicamente
não recebem qualquer benefício ou culpa por suas atividades. Esta falta de feedback permitiu
aos sujeitos “reduzir seus esforços quando se sentiam menos pessoalmente responsáveis”
(Ingham et al., 1974, p. 382). O grau no qual o comportamento de um indivíduo é
“escondido” depende, obviamente, da natureza da tarefa e do tamanho do grupo – até um
certo ponto (p. ex.; Kerr, 1983). Seguindo esta linha de argumentação, uma série de
experimentos durante os anos de 1980 gradualmente revelou que a preguiça é reduzida e
pode ser eliminada quando certas condições prevalecem dentro de um grupo. Estas
condições se resumem no estabelecimento de contingências significativas para a ação dos
membros do grupo. As condições mais importantes são:
1. Os esforços dos membros individuais podem ser identificados por outros e/ou por si
mesmos (p. ex.; Kerr e Bruun, 1981; Williams, Harkins e Latane, 1981).
2. Os esforços dos membros individuais podem ser medidos e avaliados por outros e/ou
por si mesmos (p. ex.; Harkins e Jackson, 1985). Recentemente descobriu‐se que
avaliação dos produtos do grupo também reduz a preguiça ( Harkins e Szymanski,
1989).
3. Esta avaliação pode ser baseada em critérios objetivos ou pode envolver uma
comparação com os comportamentos (ou padrões) do próprio grupo, de várias outras
unidades sociais (p. ex.; o experimentador) ou do membro individual (p. ex; Harkins
e Szymanski, 1989; Szymanski e Harkins, 1987).
4. Quando a tarefa é difícil e/ou significativa para o indivíduo, ou quando membros do
grupo desempenham tarefas diferentes, a preguiça social é reduzida mesmo quando
não há potencial para avaliação (p. ex; Brickner, Harkins, e Ostrom, 1986; Harkins e
Petty, 1982; Jackson e Williams, 1985).
5. Fatores adicionais foram sugeridos, entre eles o componente criativo da tarefa
experimental, a complexidade do comportamento, os esforços dos companheiros e o
grau de coesão do grupo (p. ex; Jhonson e Harkins, 1985). Mas não está claro como
estas variáveis, e possivelmente outras, influenciam a preguiça social.
5
dos grupos que desempenha tarefas aditivas opera de modo tal que não há contingências
diretas para as atividades dos membros – seja ela preguiça ou trabalho duro. Outras
estruturas e operações de grupo levam as relações diferentes entre os membros e suas ações
(p. ex.; se as contribuições individuais simplesmente são adicionadas ao produto do grupo
ou são contadas antes de serem adicionadas e se, ou não, o contar é acompanhado de uma
comparação com as contribuições de outras pessoas). Na maioria dos experimentos grupos
são conjuntos ad hoc de estranhos, a menos que a variável da “coesão” seja introduzida, por
exemplo, analisando o trabalho de membros de uma agremiação.
Podemos ver os processos de preguiça social em uma larga escala no desastre
econômico da agricultura da Rússia. As fazendas coletivas soviéticas são organizadas de
maneira que encorajam a preguiça social; daí, elas são notoriamente ineficientes. Os poucos
fazendeiros a quem se permite usar pequenos terrenos privados (depois de um dia de
trabalho no lote coletivo) cultivam apenas em torno de 1,3% da terra arável da nação. Ainda
assim eles produzem mais do que 20% de todo o alimento (Feshbach, 1982). Em Israel, por
outro lado, fazendas coletivas são organizadas de uma maneira um tanto quanto diferente e
são bastante eficientes. A diferença crucial é que os Kibutz são habitados por voluntários que
têm uma ideologia unificadora que enfatiza o trabalho e o bem comum.
6
Como o novo patrão, Holmberg foi capaz de fazer mudanças fundamentais nas
operações da fazenda. Mais importante do que tudo, ele aboliu o trabalho não pago e
instituiu um sistema de salário para trabalhadores, pastores e coletas de pedágio. Ele
forneceu melhores sementes de batatas e encorajou métodos agrícolas novos, mais efetivos.
Os pagamentos de empréstimos e de aluguéis dos campos privados foram cuidadosamente
especificados – assim, habitantes que produzissem uma boa colheita mantinham uma boa
parte dela para si. Durante o primeiro ano apenas poucos habitantes aceitaram a oferta de
Holmberg, principalmente porque não acreditavam em sua previsão de um resultado
favorável. Mas quando as colheitas melhoraram enormemente e Holmberg não aumentou os
aluguéis, mais famílias participaram no ano seguinte. Em quatro anos quase todos os
habitantes de Vicos usavam os novos métodos. A colheita de batatas da fazenda também
aumentou enormemente, o que tornou disponíveis fundos para projetos comunitários como
uma nova escola.
Holmberg instituiu mudanças semelhantes nos sistemas educacionais e políticos de
Vicos. Quando bons professores foram contratados e o sistema anterior de exploração de
alunos foi encerrado, a presença e o desempenho aumentaram enormemente. Holmberg
gradualmente transferiu o controle destas instituições para os habitantes da vila, que
aprenderam a administrar a escola bem e logo se tornaram políticos capazes. Em uma
década, a comunidade estava suficiente bem organizada e tinha fundos extras suficientes, da
venda de colheitas abundantes, para comprar a fazenda para a vila. Apatia e
irresponsabilidade haviam desaparecido em menos de meia geração!
O elemento comum em todos os procedimentos relativamente simples que Holmberg
empregou foi o estabelecimento de vários elos entre as atividades dos habitantes da vila e
várias conseqüências (KunKel, 1986). Depois que o tratamento caprichoso do patrão em
relação aos camponeses terminou (p. ex; trabalho não pago, aluguéis variáveis), os habitantes
tornaram‐se capazes de predizer e controlar aspectos importantes de seu contexto social. Em
menos de uma década, mudanças no comportamento, novas atividades, e taxas mais altas de
ação efetivas haviam transformado aquela vila em uma comunidade progressista.
O projeto Vicos é uma ilustração excelente de análise aplicada do comportamento em
uma grande escala (população: 1700). Ele também demonstrou que a apatia, o fatalismo e a
irresponsabilidade são categorias de comportamento que podem ser modificadas bastante
facilmente, em vez de condições internas ou fatores de personalidade, que presumivelmente
são bastante difíceis de mudar. Entretanto, Holmberg foi capaz de mudar a estrutura da
fazenda e sua operação – e portanto alguns elos comportamento‐consequência da vida diária
dos vicosinos que eram cruciais – porque tinham controle completo sobre a fazenda. Se ele
tivesse tido apenas controle parcial, ou se tivesse empregado princípios psicológicos
diferentes, ou se não tivesse sido um ser humano descente interessado no bem estar dos
habitantes, o projeto teria sido muito menos bem sucedido. Infelizmente, os problemas atuais
do Peru, especialmente a violência e os grandes desassossegos dos altos vales andinos
tornam o sucesso ultimo de Vicos questionável. Holmberg poderia muito bem concordar
com Simon Bolivar de que ele havia plantado no mar.
7
expostos. Analisando estas combinações e seus elementos constitutivos podemos determinar
o que poderia ser feito para reduzir os problemas conseqüentes.
Os processos psicológicos envolvidos são os princípios comportamentais básicos
sumarizados em um paradigma bem conhecido:
Sd ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐> R ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐>Sr/a
Sd ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐>Sr
‐‐‐‐‐‐‐> R‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐> R‐‐‐‐‐‐‐‐‐>R‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐>Sd
Sd‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐>Sr
8
sobre eventos posteriores, então, depende não apenas de sua ação e competência, mas
também das conexões entre os indivíduos que são parte da estrutura social.
9
anônimas e de suas ações provavelmente estarão envolvidas – de fato, tantas que eu posso
preferir “esquecer” a menos que o erro seja grande e a meu favor. Quando a cadeia entre
respostas e suas conseqüência é longa, em grande parte desconhecida e consome tempo, o
resultado da ação de qualquer um é provavelmente menos predizível e menos controlável –
ou pelo menos as pessoas terão a percepção de que o é. Apatia, fatalismo e alienação são
aspectos importantes das vidas dos indivíduos em sistemas sociais em que tais elos indiretos
formam componentes significativos da vida diária.
10
Em seu resumo do conhecimento atual a respeito de regras Reese (1989) salienta que
há pelo menos três tipos bastante diferentes de regras que governam o comportamento
humano:
1. Regras naturais refletem o universo físico no qual vivemos (p. ex.; as “leis” dos físicos).
Ilustração: quanto mais rapidamente o carro se move, maior a distância necessária para
parar.
2. Regras normativas refletem prescrições sociais e culturais daquilo que as pessoas deveriam
fazer (p. ex.; as “normas” dos sociólogos). Ilustração: pessoas que dirigem deveriam usar
sinto de segurança.
3. Regras normais refletem aquilo que as pessoas usualmente fazem (p. ex.; na vida diária).
Ilustração: a maior parte das pessoas que dirigem hoje não usa cintos de segurança.
Estes três tipos de regras constituem as ferramentas analíticas efetivas para o estudo
da maioria dos aspectos dos sistemas sociais. Na realidade, antropólogos e sociólogos têm
devotado muito do seu trabalho durante o último século à elucidação de regras normativas e
normais – sua origem, operação e mudanças. Ainda assim poucos pesquisadores atentaram
para a aflitiva questão de por que tantas pessoas freqüentemente desconsideram muitas
regras normativas de tantos modos diferentes. Uma resposta comum é que as pessoas não se
conformam à norma social porque podem estar guiados pelas normas em competição e
conflitivas de sua subcultura. Em vez de se perguntar sobre determinantes adicionais do
comportamento, cientistas sociais simplesmente aceitaram o fato de que apenas uma
porcentagem variável de pessoas conforma‐se, em um grau variável, à grande variedade de
normas de uma cultura.
Tal abordagem é razoável quando a proporção daqueles que aderem a uma norma é
alta, ainda que seja porque explicar as poucas exceções seria bastantes custoso em termos de
hipóteses adicionais. Mas a sabedoria deste caminho fácil torna‐se questionável quando a
proporção de exceções e o grau de variabilidade são altos. Por exemplo, apenas em torno de
um quarto dos americanos (Geller et al., 1987) e em torno de metade dos canadenses
(Malenfant e Van Houston, 1987) usa cintos de segurança. Infelizmente, a aqueles que
estudam sistemas sociais tipicamente faltam ferramentas analíticas que são necessárias para
se buscar – para não falar em descobrir – soluções.
Consideramos o problema de baixa adesão a normas olhando para duas atividades
simples familiares a praticamente todos os adultos. Esperaríamos que as pessoas lavassem
suas mãos depois de usar o banheiro e que usassem o sinto de segurança quando dirigissem.
Afinal de contas, higiene e segurança pessoal são importantes nas vidas da maioria das
pessoas. Ainda assim, muito menos que a metade de todos os motoristas usa cinto de
segurança, mesmo em estados em que isto é exigido por lei (p. ex.; Geller et al., 1987), e quase
não chega à metade o número de indivíduos que usam o banheiro e lavam suas mãos depois
disto. Um estudo revelador indicou que 90% dos usuários lavavam suas mãos quando outra
pessoa estava presente, mas apenas 15% as lavavam quando sozinhos ( Pedersen, Keithly e
Brady, 1986). Assim, nos defrontamos com uma pergunta intrigante: por que alguns
comportamentos muito simples, que todo mundo conhece, ocorrem em taxas tão baixas –
quando seus benefícios são tão claros?
11
Analistas do comportamento têm mais probabilidade de descobrir a resposta do que
cientistas sociais, quanto mais não seja porque sua perspectiva tipicamente focaliza‐se em
indivíduos e suas relações com o ambiente. Mas mesmo esta perspectiva tem limitações, que
refletem as preocupações de pesquisa bastante estreitas do campo e sua relutância de
considerar a pesquisa em outros campos. Para compreender sistemas sociais, analistas do
comportamento precisam considerar o trabalho relevante de investigadores em outras
disciplinas.
Durante os últimos 40 anos, psicólogos sociais têm prestado razoável atenção em
fatos que iluminam a variabilidade de comportamento normativo. Estes pesquisadores
desenvolveram um conjunto de proposições bem fundamentadas e de mini‐teorias que
ajudam a explicar a freqüentemente baixa e variável adesão das pessoas às normas sociais. O
ponto de partida é a realização mencionada anteriormente, de que não é a norma em si
mesma, mas o resultado esperado de ações que determina o comportamento de um
indivíduo. A simples presença de outra pessoa no banheiro, por exemplo, provavelmente
resultará em uma desaprovação implícita se saio do banheiro sem lavar as mãos.
Daí faz sentido falar de um quarto conjunto de regras:
12
princípios comportamentais e aspectos fundamentais do comportamento governado por
regras.
Atribuição Geral
13
Até aqui, analistas do comportamento mostraram pouco interesse pela atribuição
causal de uma pessoa e por suas implicações em relação a eventos posteriores, parcialmente
porque a maior parte de seus estudos enfocaram sujeitos únicos ou uns poucos sujeitos e
ações simples por curtos períodos de tempo. “Diferenças individuais” de resultados são um
aspecto esperado de tal trabalho; na realidade, variações nas atribuições dos sujeitos
provavelmente aparecerão principalmente em taxas diferencias de aprendizagem e assim
podem escapar completamente à atenção dos analistas do comportamento. Mas no estudo de
grandes sistemas sociais, com sua imensa variedade de atividades que são importantes nas
vidas das pessoas, a atribuição se torna uma variável significativa.
A heterogeneidade das populações e a imensa variabilidade de comportamentos nas
sociedades urbano‐industriais dinâmicas deveriam alertar o analista do comportamento para
a complexidade de determinantes até mesmo das simples atividades da vida cotidiana. Um
conjunto de fatores é a variabilidade dos elos percebidos entre comportamento e suas
conseqüências, sumarizados como atribuições. No decorrer dos anos, psicólogos sociais têm
descoberto que a maior parte das pessoas atribui os eventos que as atingem, especialmente
em situações ambíguas, a “causas” cujas características variam ao longo de uma ou mais de
três dimensões (p. ex.; Heider, 1958; Weiner, 1986): (1) global – especifico; (2) estável ‐
instável; (3) pessoal – externo.
A dimensão global‐específico reflete o significado de senso comum destes termos.
Assim, uma atribuição global de sucesso pode enfocar em “meu QI”, enquanto que uma
atribuição específica de um resultado ruim em uma prova poderia incluir “estudo
inadequado para a prova”.
A dimensão estável‐instável mais uma vez reflete o significado de senso comum dos
pólos. Assim pode se atribuir fracasso em Química I a fatores estáveis tais como a noção de
que “eu não tenho uma cabeça para matemática”, enquanto que um dia desastroso pode ser
atribuído a um fator instável como “eu tive uma terrível dor de cabeça”.
A dimensão pessoal‐externo com suas implicações de um contexto controlável é o
aspecto mais significativo da atribuição e, portanto, será discutida separadamente. Na
literatura o rótulo interno‐externo é comumente usado, mas eu substituo a palavra por
“pessoal” para evitar confusão com o significado usual de “interno”, que neste caso é
inadequado.
Não há implicações de que um pólo ou outro de cada dimensão é melhor ou pior;
claramente, tal avaliação depende da natureza do fator envolvido. Se uma atribuição inclui
“minha grande inteligência”, por exemplo, esse fator global, estável e pessoal seria positivo,
enquanto que “minha baixa inteligência” seria negativo, com implicações diferentes para
comportamento futuro.
A maior parte das pessoas é bastante consistente em suas atribuições para os eventos
que as atingem e, especialmente, em relação aos sucessos e fracassos que fazem parte de sua
vida diária; daí, faz sentido falar em um estilo atribucional de uma pessoa. A variedade de
tais estilos é bastante grande: uma pessoa pode atribuir a maioria ou todos os eventos a
fatores com características semelhantes (p. ex.; global, ou instável), enquanto que uma outra
pessoa pode atribuir fracassos a um conjunto de características e sucessos a elementos
bastante distintos. Os exemplos seguintes indicam as variações, poder e implicações das
atribuições.
14
Exemplo 1: Desempenho Acadêmico
O estilo atribucional afeta não apenas a interpretação de eventos passados específicos,
mas também tem implicações para o futuro. Uma citação, dentre dezenas que poderiam ser
citadas, é um estudo sobre o desempenho e humor de estudantes. Em um estudo de campo
longitudinal, Metalsky (1982) e seus colegas descobriram que alunos cujo estilo atribucional a
respeito de eventos negativos enfatizava fatores pessoais e globais (tais como “minha baixa
inteligência”) mostravam uma reação de humano mais depressiva depois de se saírem mal
em uma prova do que alunos cujo estilo enfatizava fatores externos e específicos (tais como
“uma prova injusta”). Outros estudos (sumarizados por Peterson e Seligaman, 1984)
fornecem evidência consistente de que uma grande variedade de “eventos negativos da
vida”, quando combinados com um estilo atribucional pessoal‐global em relação a estes
eventos, são prováveis de levar a sentimentos de desamparo.
15
A pesquisa sobre estilo atribucional e desamparo sugere que as regras que governam
o comportamento de uma pessoa são adquiridas de outras ou inferidas a partir das próprias
experiências. Elas são selecionadas a partir de uma grande amplitude de alternativas e
podem ser mudadas. A formulação de regras é gradual e envolve uma série de passos nos
quais uma regra é tentativamente inferida e testada contra eventos no mundo real,
modificada se necessário e testada de novo, até que a pessoa esteja satisfeita (p. ex.; Hilton e
Slugoski, 1986).
Lócus de Controle
16
completas mostradas na Figura 2. Na realidade as palavras entre aspas não fazem sentido.
Em termos analíticos comportamentais, há poucos, se é que há alguma, ligações entre
atividades e suas conseqüências. Na realidade, não há “conseqüências” como tal, porque este
próprio termo implica uma relação distinta com eventos anteriores. As principais regras que
tais indivíduos subscrevem afirmam: (1) minhas ações não têm conseqüências predizíveis,
definidas; (2) eu não tenho poder sobre eventos que me atingem. Diante de tais regras, ações
“irresponsáveis” e apatia não são sem sentido, afinal de contas.
No decorrer dos anos muitas pesquisas têm se devotado à relação entre a posição de
um indivíduo ao longo da dimensão IE e uma grande variedade de atividades. Por exemplo,
pessoas que acreditam que podem controlar eventos por meio de suas ações tendem a ser
mais independentes e otimistas, têm maior auto‐estima, demonstram maior resistência a
influências externas, confiam mais em outras pessoas e têm maiores expectativas de sucesso
(Strickland, 1989).
As pesquisas indicam, entretanto, que lócus de controle é apenas um dos fatores que
determina comportamento. Um exemplo típico de tais complexidades é a questão da
persistência depois do fracasso. A razão pelo qual pessoas repetem ações bem sucedidas é
bastante simples: sucesso é reforçador. Mas por que algumas pessoas reduzem suas ações
depois de fracassarem, enquanto que outras repetem ou, até mesmo, aumentam suas
atividades depois que fracassam? Parte da resposta está na natureza do comportamento:
indivíduos externamente orientados mostram maior persistência em tarefas cujos resultados
envolvem acaso, enquanto que indivíduos pessoalmente orientados mostram maior
persistência quando os resultados dependem de atividades que exigem habilidades (Gilmor,
1978). Uma outra parte da resposta reflete a atribuição de uma pessoa a eventos negativos. Se
o fracasso for atribuído a fatores pessoais que estão presumivelmente constantes, então é
menos provável que a atividade seja retida. Mas se o fracasso for atribuído a fatores externos
que podem mudar, então é provável que uma pessoa persista (Kemis, Zuckerman, Cohen e
Spadafora, 1982).
Este fator de lócus de controle nas atribuições de uma pessoa com respeito a seus
sucessos e fracassos passados – e expectativas de eventos futuros – é aprendido na infância e
tem implicações significativas daí em diante. Um estudo recente mostrou que crianças
populares de 5ª série vêem seu mundo social como controlável e explicam seu sucesso social
principalmente em termos de características e esforço individuais. Seus colegas menos
populares vêem o mundo como muito menos controlável e atribuem sucesso e fracasso social
principalmente à sorte (Eam e Sobol, 1990). As duas regras muito diferentes, “eu posso
trabalhar para me tornar popular” e “popularidade é uma questão de sorte’,
presumivelmente são aprendidas pela experiência, mas, uma vez formuladas, levam a
(in)atividades e resultados que finalmente sustentam as regras. Há um consenso crescente
entre pesquisadores de LOC que a controlabilidade do mundo é a variável crucial da atribuição,
a qual influencia uma grande variedade de comportamentos muito além do sucesso
acadêmico e da probabilidade de evadir da escola (p. ex.; Lefcout, 1981; Parker e Asher, 1987;
Weiner, 1986).
O Mundo (In)justo
17
pessoas sobre o mundo físico e o sistema social no qual vivem; duas percepções são
especialmente importantes, cada uma implicada em seu próprio conjunto de princípios de
operação (Lerner, 1980). Estes princípios, por sua vez, são o fundamento principal das regras
que governam os comportamentos da vida diária de um indivíduo.
Um conjunto de princípios tem sido chamado “hipótese do mundo justo”. Indivíduos
que têm esta percepção dos sistemas social e físico no qual vivem assumem que o mundo
como um todo é justo. Dois componentes significativos desta percepção são: (1) o mundo é
um sistema coerente de elementos inter‐relacionados, e (2) eventos e relações entre eles são
regulares, predizíveis e podem ser descobertos. As principais implicações desta visão são: (1)
há ações “corretas” ou “apropriadas” (de um indivíduo e outras pessoas) que levam ao
sucesso ou são recompensadas; (2) há ações “incorretas” ou “não apropriadas” que levam ao
fracasso ou são punidas. Daí, faz sentido para o indivíduo estudar o mundo, para descobrir
que ações são apropriadas e para aprender a desempenhá‐las enquanto evita outros atos –
em resumo, comportar‐se “responsavelmente”.
O segundo conjunto importante de princípios foi chamado da “hipótese do mundo
injusto”. Indivíduos que compartilham esta percepção dos sistemas social e físico no qual
vivem assumem que o mundo como um todo é injusto. Dois componentes significativos
desta visão são: (1) o mundo é um conjunto solto de elementos independentes, e (2) eventos
ocorrem randomicamente e não podem ser preditos e muito do mundo não pode ser
compreendido. As principais implicações são: (1) eventos positivos e negativos são
aleatoriamente distribuídos no mundo e não têm ligações necessárias com ações humanas;
(2) não há ações “certas” ou “erradas”, “apropriadas” ou “não apropriadas”. Uma cultura
pode definir algumas ações como “boas” ou “apropriadas”(e o oposto), obviamente, mas as
conseqüências culturalmente planejadas de tais comportamentos freqüentemente não
ocorrem e são difíceis de predizer. Ações “boas” e “erradas” são igualmente prováveis de
serem recompensadas e punidas – pelo menos neste mundo. Daí, há pouco sentido em tentar
compreender o mundo ou descobrir ações “apropriadas” e “efetivas” – na realidade, todos
estes adjetivos são sem sentido e irrelevantes. Consequentemente, faz pouco sentido
aprender ou se preparar, ou até mesmo tentar – qualquer coisa. O resultado pode muito bem
ser (in)ações que um observador rotularia de “apatia” e “irresponsabilidade”.
Mais uma vez, analistas do comportamento vêem implicações claras e definidas para
atividades da vida diária. A descrição do mundo de um indivíduo como (in)justo determina
a ligação presumida (se há alguma) entre ações e suas conseqüências – e assim as regras que
governam o comportamento de uma pessoa. Por exemplo, a grande classe de atividades
chamada “trabalho duro” faz sentido para aqueles que acreditam que o mundo é justo, já
que em tal mundo trabalho duro será recompensado. Inversamente, baixas taxas de
comportamento e mesmo apatia são cursos razoáveis de (in)ação para aqueles que o mundo
é injusto: não importa quanto ou o que uma pessoa faça, conseqüências positivas e negativas
são igualmente prováveis. Em um mundo injusto há poucas grades comportamentais
completas (Figura 2).
Um exemplo de pesquisa nesta área diz respeito à atribuição de problemas e
acidentes (Burger, 1981). A maior parte das pessoas acredita que problemas menores,
incidentes e pequenos acidentes são usualmente resultado de falta de sorte ou acaso, talvez
“de probabilidades de acertando comigo”. Problemas sérios e acidentes severos, por outro
lado, são usualmente considerados como sendo responsabilidade – ainda que falta de – do
indivíduo, que foi descuidado, não fez a coisa “certa”, ou desempenhou a ação apropriada
18
inadequadamente. Culpar a vítima é um procedimento comum e um reflexo da percepção de
uma pessoa do mundo como sendo justo (p. ex.; Rayan.1971).
A hipótese do mundo justo é um outro exemplo de atribuição defensiva que torna a
vida nas sociedades urbano‐industriais dinâmicas suportável. Indivíduos podem agora
explicar, para sua própria satisfação, porque problemas importantes acontecem com algumas
pessoas, mas não são prováveis de acontecer com eles. Se grandes dificuldades e acidentes
severos são resultado de ações não apropriadas ou inefetivas, problemas sérios podem ser
evitados por meio de comportamentos “corretos” – e as pessoas podem, portanto, proteger‐
se a si mesmas.
A origem destas percepções do mundo não foi examinada em detalhe, em grande
parte porque estudos longitudinais de longo prazo seriam necessários. Entretanto, há
indicações de que o número e a proporção de eventos positivos na vida de uma pessoa, e a
freqüência de eventos resposta‐consequência que um pessoa experiencia, auxiliam a modelar
a visão de um pessoa do mundo (p. ex.; Scheire, Weintraub e Carter, 1986). Em relação a isto
é interessante notar a hipótese do mundo‐injusto. Isto poderia ser um reflexo do fato de que
a maioria dos psicólogos sociais são membros da classe média e assim, provavelmente,
gozam de uma boa vida?
Invulnerabilidade Única
19
Estes comportamentos e crenças são contra‐intuitivos e à primeira vista parecem ser
bastante ilógicos. Mas eles fazem sentido para indivíduos cujo comportamento é governado
pelas regras implicadas na ilusão da invulnerabilidade única.
Outros estudos têm mostrado a operação desta ilusão em áreas tais como dirigir. Por
exemplo, muitas pessoas acreditam que embora “pequenos arranhões” sejam aleatoriamente
distribuídos e possam acontecer com qualquer um, acidentes sérios ocorrem principalmente
com outras pessoas (p. ex.; Schneider et al. 1979). Apenas um pequeno passo é necessário
daqui para a conclusão de que “eu não preciso usar o cinto de segurança, mas você deveria
amarrar o seu”. As implicações para dirigir embriagado e acidentes fatais, e atividades
sexuais e AIDS são óbvias.
Alguma evidência indireta desta ilusão é fornecida pelo fato de que motoristas ruins
e pessoas que têm muitos acidentes também têm as menores taxas de uso do cinto de
segurança (Evans e Wasielewski, 1983) – assim como se pode esperar que mulheres
sexualmente ativas que não usam anticoncepcionais têm mais probabilidade de engravidar.
Afinal de contas, a ilusão da invulnerabilidade única não imuniza realmente do desastre.
A significação desta ilusão para análises comportamentais está no fato de que ela
contém regras (p. ex.; “coisas ruins não acontecem comigo”) que reduzem e/ou eliminam as
principais conseqüências de certas atividades. Uma contingência aversiva crucial desaparece
– não usar o cinto de segurança (ou anticoncepcionais) não mais tem qualquer coisa a ver
com o dano, morte (ou gravidez) provável. Um reforçador importante para o uso de cintos
de segurança (ou anticoncepcionais) – esquiva de dano, morte (ou gravidez) também
desaparece. Daí, poder‐se‐ia prever que tais comportamentos, mesmo quando são muito
simples, serão difíceis de estabelecer e de manter. Inversamente, pessoas que não sofrem da
ilusão de invulnerabilidade única estarão bastante prontas para usar cintos e
anticoncepcionais. Atividades que um observador rotularia de “irresponsáveis”, tornam‐se
pelo menos razoáveis por conta desta ilusão.
Psicólogos sociais não afirmam que todo mundo compartilha esta ilusão ou que ela
cobre todas as atividades da vida diária. Daí, não se pode assumir que todo mundo que
desdenha o uso de cintos de segurança, por exemplo, tem esta ilusão. Malott (1988) sem
dúvida está certo quando hipotetiza que algumas pessoas não usam cintos de segurança
porque consideram as conseqüências de sua recusa como sendo altamente improváveis.
Analistas do comportamento que estudam as sociedades complexas, dinâmicas, com
populações heterogênicas devem estar prontos a considerar uma variedade de determinantes
para qualquer ação particular.
A ilusão da invulnerabilidade única acaba sendo bastante diferente da quimera
mentalista usual. Esta “ilusão”, que à primeira vista analista do comportamento podem
considerar estranha e inútil, a partir de um exame detalhado torna‐se um interessante
conjunto de regras – sobre a ausência de conseqüências importantes – que têm implicações
cruciais para as interações diárias para vida de uma pessoa.
O mundo da realidade, que inclui as probabilidades reais de acidentes de gravidez, é
uma coisa; o mundo de invulnerabilidade única é algo bastante diferente. Nem todo mundo
vive no primeiro mundo. Poderia ser que bem menos de metade das pessoas o fazem? Para
os outros, seria razoável usar cintos apenas quando são reforçados a fazê‐lo, ou quando
recebem dicas de muitas maneiras (p. ex.; Williams, Thyer e Harrison, 1989).
20
Conclusão
1. as estruturas sociais complexas nas quais os indivíduos estão inseridos produzem uma
grande proporção de elos indiretos e frequentemente tortuosos entre o comportamento
de uma pessoa e seu resultado último. Quanto maior o número de pessoas e ações
envolvidas na cadeia, maior a chance de erro (deliberado ou aleatório) e maior a escala de
tempo. Daí, as ligações entre muitos comportamentos e suas conseqüências são
enfraquecidas e se tornam nebulosas. Isto tona os resultados de muitas ações
imprediziveis e incontroláveis, levando à apatia e irresponsabilidade. Aqueles que
analisam sistemas sociais argumentam que estes problemas, sendo uma função do
tamanho e complexidade do sistema, são, em medida considerável, endêmicos na
sociedade moderna.
2. as metacontingências que supostamente guiam ações das pessoas não existem apenas nas
normas da sociedade. Um aspecto igualmente importante das metacontingências é a
percepção que as pessoas têm delas. Na realidade, a pesquisa sobre atribuição, por parte
dos psicólogos sociais, leva à conclusão de que tais percepções são cruciais para muitas
atividades: atribuindo causas a eventos que nos atingem, percebemos ou negamos uma
ligação entre o comportamento e seu resultado – e agimos de acordo. Quando a
atribuição reflete a realidade tudo está bem – indivíduos aprendem, por exemplo, que
ações apropriadas levam a resultados positivos, enquanto conseqüências negativas
podem ser evitadas. Mas como psicólogos sociais descobriram, muitas pessoas comentem
erros mais ou menos sistemáticos em suas atribuições. Frequentemente demais seres
humanos constroem ligações comportamento‐resultado que não existem, não reconhece
ligações que ali estão e então comportam‐se de acordo com regras erradas.
21
22