Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/308904220
CITATIONS READS
0 5,418
1 author:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Use of Segmented Mechanics to Achieve an Ideal Smile Arc and Rejuvenated Dental Appearance View project
All content following this page was uploaded by Andre Wilson Machado on 06 October 2016.
INTRODUÇÃO
A busca por tratamentos estéticos é uma constante para todos os profissionais que
oferecem este tipo de serviço. Seguindo esta tendência, os pacientes odontológicos
vêm buscando os profissionais com o objetivo primário de melhorias na estética do
sorriso2,3,11-14. Por esta razão, o objetivo deste capítulo é apresentar o protocolo de
avaliação do sorriso intitulado: “os 10 mandamentos da estética do sorriso”, publicado
recentemente15.
É notório o aumento do número de pacientes que buscam aprimoramentos do sorriso
nos consultórios ortodônticos. Além disso, percebe-se que, recentemente, especial des-
taque nos principais meios de comunicação tem sido direcionado à diversos artistas e
pessoas famosas que têm realizado tratamentos odontológicos com vistas à reabilitação
do sorriso. E por que isso tem acontecido? Por que, mais do que nunca, as pessoas têm
buscado melhorias no sorriso?
O primeiro estudo que pode responder esse questionamento foi conduzido no século
passado, pelo cientista Alfred Yarbus24, que desenvolveu um equipamento que regista-
va o movimento dos olhos humanos em diversas situações. Seus estudos demonstraram
que, durante a análise de fotografias faciais, as duas áreas da face que mais chamam a
atenção dos olhos humanos são a boca e os olhos.
Dentre as razões que podem explicar esta hipótese, destaca-se, principalmente, o dina-
mismo dos olhos e boca comparado às outras estruturas estáticas da face, bem como
o contraste de cores nos olhos, entre a íris, a pupila e a esclerótica, e na boca, entre
os lábios, o tecido gengival, os dentes e o “fundo” preto15. Assim, podemos instituir o
primeiro aspecto na avaliação da estética do sorriso: a dominância do sorriso na estética
facial.
Durante a realização de diversas pesquisas no Curso de Especialização em Ortodontia
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ainda tínhamos esta dúvida: até que ponto
o sorriso realmente é mandatório na avaliação da estética global da face? Assim,
em diversos trabalhos5,16,19, imagens manipuladas foram submetidas à avaliação de
ortodontistas e leigos, por meio de duas tomadas: face total e sorriso aproximado.
Os resultados demonstraram não haver diferença estatisticamente significante entre
essas duas formas de avaliação (p > 0,05). Isso mostra que, na avaliação da estética
do sorriso, numa vista total da face (incluindo nariz, cabelo, olhos, contornos faciais,
etc.) ou numa vista aproximada, destacando somente o sorriso, há o mesmo grau de
percepção, sugerindo não haver influência da face na avaliação estética de diversas
características do sorriso. Esses dados reforçam a soberania do sorriso no contexto da
estética global facial.
Após perceber a importância do sorriso no contexto facial, podemos extrapolar ainda
mais. O sorriso não só é decisivo na percepção da atratividade da face, como está re-
lacionado também com a percepção de diversas características psicológicas dos indiví-
duos. A presença ou não de alterações deletérias no sorriso tem influência significativa
sobre como se percebe e se avalia outros indivíduos21. A exemplo disso, recentemente
Pithon et al.17 publicaram um estudo bastante interessante, demonstrando que pessoas
com sorrisos considerados esteticamente ideais são consideradas mais inteligentes e,
assim, possuem maior chance de encontrar um emprego.
Todas essas razões justificam o por quê do aumento expressivo da procura por trata-
mentos estéticos odontológicos. Quando mudanças estéticas no sorriso são realizadas,
os pacientes não só ficam mais atraentes, mas também mais jovens e com mudanças
positivas no âmbito psicológico.
ABOR 2015
171
A B C
Figura 1 (A-C) – Ilustração do sorriso: A) design ideal; B) zona estética do sorriso – em azul e C) dominância dos incisivos centrais (Fonte:
Machado, 201415).
ra 3)4. O segundo ponto está não só na beleza, mas também em outra característica
fundamental: a jovialidade. Quanto mais arqueado o contorno incisal dos dentes ante-
rosuperiores, maior aparência de jovem terá o sorriso e, quanto mais plano, denotará
aparência de sorriso mais envelhecido. Em adição a isso, segundo a literatura22, quanto
mais idade, menor a exposição de incisivos superiores e maior a exposição de incisivos
inferiores, tanto no sorriso, em repouso ou durante a fala.
A B C
Figura 2 (A-C) – Diferentes tipos de arco do sorriso: A) convexo ou curso; B) reto ou plano e C) invertido ou reverso (Fonte: Machado,
201415).
Figura 3 – Design ideal do contorno incisal dos dentes na zona estética (Fonte: Machado, 201415).
Na sociedade contemporânea, grande associação tem sido feita entre estética e joviali-
dade, onde, muitas vezes, o belo e o jovem estão interligados. Algumas características
estéticas vêm sendo bastante observadas em artistas de televisão, cantoras e modelos
e, dentre estas, uma maior exposição de incisivos superiores em repouso. Este aspecto
tem sido associado à beleza, jovialidade, sensualidade e sexualidade. É possível inferir
que o padrão atual de beleza é composto não só por belos sorrisos, mas também por
ABOR 2015
173
Capítulo 14
A B
174
C D
E F
G H
Figura 4 (A-H) – Ilustração do impacto positivo na estética do sorriso gerado pela correção da posição vertical dos centrais superiores:
A-B) sorriso e vista frontal da oclusão antes do tratamento; C-D) durante o tratamento ortodôntico; E-F) após o tratamento ortodôntico e
G-H) final após tratamento estético.
ABOR 2015
175
A B C
Figura 5 (A-C)– Diferentes proporções largura/altura de centrais: A) proporção ideal entre 75-85%; B) dentes longos com proporções <
75% e C) dentes curtos ou quadrados com proporções > 85% (Fonte: Machado, 201415).
A Figura 6 ilustra uma situação clínica de uma paciente que apresentava a queixa prin-
cipal de possuir “dentões” na zona estética. O central direito apresentava 9.7 mm de
largura e 10.5 mm de altura, e o central esquerdo, 9.4 mm de largura e 10.5 mm de
altura, gerando uma proporção L/A de 92% e 89%, respectivamente. Durante o trata-
mento ortodôntico foram realizados desgastes interproximais nos centrais (0,9 mm no
direito e 0,6 mm no esquerdo), seguido de fechamento ortodôntico do espaço. Com
isso, alcançou-se uma adequada proporção L/A dos centrais (83%), que em conjunto
com sua adequada posição vertical (1° mandamento) ilustram um resultado estético
bastante satisfatório.
A busca por simetria entre centrais é baseada na opinião clínica de que, quanto mais
próximo da linha média, maior a necessidade de simetria e, quanto mais distante, leves
assimetrias são aceitáveis, clinicamente4. Com o objetivo de testar esta hipótese, publi-
camos uma pesquisa que avaliou o impacto estético de assimetrias incisais, em centrais
e laterais, no sorriso de duas mulheres14. Os resultados encontrados corroboram essa
hipótese, pois uma leve assimetria de 0.5 mm na incisal de um central superior,foi de-
tectada como antiestética.
Com isso, em situações clínicas de finalização ortodôntica, sugerimos tratamentos mul-
tidisciplinares para obtenção de máxima simetria entre os centrais superiores.
Capítulo 14
A B
176
C D
Figura 6 (A-D) – Ilustração do impacto positivo na estética do sorriso gerado pela correção da proporção L/A dos centrais superiores: A-B)
sorriso e vista frontal da oclusão antes do tratamento e C-D) após o tratamento ortodôntico.
A B
Figura 7 (A-B) – Sorriso com a proporção áurea (62%) entre os dentes na zona estética (Fonte: Machado, 201415).
ABOR 2015
177
A B
Figura 8 (A-B) – Dois diferentes tipos de design das margens gengivais: A) clássico – margens dos caninos e centrais niveladas e dos
laterais levemente abaixo e B) modificado – margens dos centrais abaixo dos caninos e margem dos laterais niveladas com os centrais ou
levemente abaixo desses (Fonte: Machado, 201415).
ABOR 2015
179
damento) pode ser muito mais deletéria do que a exposição de tecido gengival15.
A Figura 10 ilustra uma paciente com alterações importantes na estética rosa (manda-
mentos 5° e 6°). Embora a foto do sorriso inicial não representar o seu sorriso espon-
tâneo, percebe-se pela avaliação na avaliação intrabucal frontal que o design gengi-
val encontra-se alterado, bem como o posicionamento vertical das bordas incisais (1°
mandamento) e a proporção L/A dos centrais (1° mandamento). Durante o tratamento
ortodôntico, foi corrigido a posição vertical dos incisivos (Figura 10B) e, após cirurgia
periodontal, alcançou-se um excelente resultado estético gengival, adequando o design
gengival (5° mandamento) e a quantidade de exposição gengival no sorriso (6° manda-
mento). Percebe-se que o resultado estético global foi bastante positivo, contemplando
os mandamentos descritos anteriores.
A B C
Figura 9 (A-C) – Diferentes linhas do sorriso segundo Tjan et al. A) sorriso alto, caracterizado pela exposição total das coroas clínicas
20
e uma faixa contínua de tecido gengival; B) sorriso médio, quando tona-se visível grande parte (75%) ou a totalidade (100%) das coroas
clínicas e apenas as papilas interdentárias ou interproximais; C) sorriso baixo, caracterizado pela exposição de menos de 75% das coroas
clínicas e nenhum nível de tecido gengival (Fonte: Machado, 201415).
Capítulo 14
A B C
Figura 10 (A-C) – lustração do impacto positivo na estética do sorriso gerado pela correção da estética rosa (qualidade e quantidade): A)
sorriso e vista frontal da oclusão antes do tratamento, B) durante o tratamento ortodôntico e C) após resultado final pós-cirurgia periodontal.
180
A definição de corredor bucal é o espaço bilateral entre a superfície vestibular dos den-
tes superiores posteriores visíveis e a comissura labial, durante o sorriso (Figura 11A)4,18.
Basicamente, existem três tipos de corredores bucais: a) amplos – aqueles que costu-
mam ser acompanhados por arcos dentais maxilares estreitos (Figura 11B), b) interme-
diários – acompanhados por arcos com dimensões transversais intermediárias (Figura
11C), e c) estreitos ou inexistentes – quando associados a arcos dentais bastante amplos
transversalmente (Figura 11D).
A literatura é controversa sobre o impacto estético desses tipos de corredores bucais
no sorriso, com alguns trabalhos mostrando que diferentes tipos de corredores bucais
não afetam a estética do sorriso e outros que afetam. Em outra pesquisa conduzida na
UFBA16, encontramos que corredores intermediários são mais estéticos quando com-
parados aos amplos e estreitos. Seguindo esta mesma tendência, corredores bucais
amplos são os mais antiestéticos.
De fato, quando comparamos esta característica com as descritas anteriormente, per-
cebemos que o corredor bucal não é aspecto tão crítico na estética do sorriso. Mesmo
assim, o 7° Mandamento estabelece que corredores bucais intermediários são os ideais,
seguido dos estreitos ou inexistentes. Assim, nos casos de corredores bucais amplos,
sugere-se a expansão rápida da maxila e/ou expansão dentária, quando bem indicada,
para auxiliar na otimização da estética do sorriso15.
A B
C D
Figura 11 (A-D) – Corredor bucal e seus tipos: A) localização do corredor bucal no sorriso; B) corredor bucal amplo; C) corredor bucal
intermediário e D) corredor bucal estreito (Fonte: Machado, 201415).
ABOR 2015
181
Semelhante ao corredor bucal, o papel dos desvios de linha média na estética do sorriso
é controverso. Quando o desvio de linha média está presente, é pouco perceptível aos
leigos. Segundo a literatura, desvios de até 3-4 mm não são detectados pelos leigos7.
Isso pode explicar porque alguns artistas e modelos famosos possuem desvios de linha
média grosseiros e, mesmo, assim, são tidos como modelos de identificação de beleza.
Se por um lado desvios de linha média são pouco perceptíveis aos leigos, alterações nas
angulações dentais na zona estética, individuais ou em grupo, são muito mais deleté-
rias ao sorriso. Segundo a literatura8, alterações nas angulações dos dentes anteriores,
numa vista frontal, de 2.0 mm, já são detectadas como antiestéticas pelos leigos e,
assim, devem ser tratadas. Para a correção dessas discrepâncias angulares, o ponto de
partida deve ser uma orientação clínica clássica na literatura estética odontológica: a
linha das bordas incisais dos centrais deve ser paralela à linha interpupilar4,18.
A Figura 12 ilustra um sorriso com ambos os problemas: desvio de linha média e impor-
tante desvio no plano incisal em detrimento à linha interpupilar. É facilmente perceptível
que o segundo problema é mandatório em detrimento do primeiro. Foi utilizado uma
miniplaca para a intrusão do segmento direito para a correção das angulações altera-
das. Torna-se perceptível que, devolvendo o paralelismo entre as bordas incisais e a
linha interpupilar, o ganho estético é notório.
Embora a literatura estabeleça o limite de percepção pelos leigos entre 3-4 mm para a
detecção de desvios de linha média e até 2.0 mm para alterações nas angulações, o 8°
Mandamento sugere que desvios de linha média a partir de 2.0 mm e qualquer nível de
angulação dental alterada devem ser corrigidos.
Capítulo 14
A B
Figura 12 (A-B) – Exemplo do impacto positivo na estética do sorriso após a correção do plano incisal em relação ao plano interpupilar
(linha branca). A) situação inicial com o plano incisal (linha vermelha) bastante inclinado e B) após a correção (linha verde).
182
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O protocolo apresentado – “10 mandamentos da estética do sorriso” – serve como
um ponto de partida para os ortodontistas que desejam alcançar estética máxima nos
tratamentos. Dentre os aspectos analisados, especial atenção deve ser direcionada aos
quatro primeiros mandamentos, relacionados à dominância dos incisivos centrais no
sorriso.
REFERÊNCIAS
1. Bukhary SMN, Gill DS, Tredwin CJ, Moles DR. The influence 8. Kokich VO, Kokich VG, Kiyak HA. Perceptions of dental
of varying maxillary lateral incisor dimensions on perceived professionals and laypersons to altered dental esthetics:
smile aesthetics. Br Dent J. 2007;22(12):687-93. asymmetric and symmetric situations. Am J Orthod Dento-
2. Camara CA. Estética em Ortodontia: seis linhas horizontais facial Orthop. 2006 13(2):141-151.
do sorriso. Dental Press J Orthod. 2010 15(1)118-31. 9. Levin EI. Dental esthetics and the golden proportion. J Pros-
3. Camara CALP. Estética em Ortodontia: Diagramas de Refe- thet Dent. 1978;40(3):244-52.
rências Estéticas Dentárias (DRED) e Faciais (DREF). R Dental 10. Machado AW, Santos TC, Araujo TM, Gandini Jr LG. In-
Press Ortodon Ortop Facial. 2006 11(6)1308-56. tegração Ortodontia e Dermatologia na busca da excelên-
4. Chiche G, Pinault A. Esthetics of anterior fixed prosthodon- cia na estética labial. Rev Clin Ortodon Dental Press. 2010
tics. Chicago: Quintessence; 1994. 9(3):47-56.
5. Correa BD, Bittencourt MAV, Machado AW. Influence of 11. Machado AW, Santos TC, Araujo TM, Gandini Jr LG. The
maxillary canine gingival margin asymmetries on the per- role of orthodontics as an auxiliary tool to lip augmenta-
ception of smile esthetics among orthodontists and layper- tion. An Bras Dermatol 2011 86(4):773-77.
sons. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2013 145(1):55-63. 12. Machado AW, McComb R, Moon W, Gandini Jr LG. In-
6. Kokich VG. Adjuntive role of orthodontic therapy. St Louis: fluence of the vertical position of maxillary central incisors
Saunders – Elsevier; 2006. on the perception of smile esthetics among orthodontists
7. Kokich VO, Kiyak HA, Shapiro PA. Comparing the percep- and laypersons. J Esthetic Rest Dent. 2013 25(6): 392–401.
tion of dentists and lay people to altered dental esthetics. J 13. Machado AW, Moon W, Campos E, Gandini Jr LG. Influen-
Esthet Dent. 1999 11(6):311-324.. ce of spacing in the upper lateral incisor area on the percep-
ABOR 2015
183
Capítulo 14