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A gênese da contabilidade e

evolução do pensamento
contábil
A história da contabilidade é tão
antiga quanto a própria história
da civilização. Está ligada às
primeiras manifestações humanas
da necessidade social de proteção
à posse e de perpetuação e
interpretação dos fatos ocorridos
com o objeto material de que o
homem sempre dispôs para
alcançar os fins propostos.
Deixando a caça, o homem voltou-se à
organização da agricultura e do pastoreio. A
organização econômica acerca do direito do uso do
solo acarretou em separatividade, rompendo a vida
comunitária, surgindo divisões e o senso de
propriedade. Assim, cada pessoa criava sua riqueza
individual.
Ao morrer, o legado deixado por
esta pessoa não era dissolvido, mas
passado como herança aos filhos
ou parentes. A herança recebida
dos pais (pater, patris),
denominou-se patrimônio. O
termo passou a ser utilizado para
quaisquer valores, mesmo que
estes não tivessem sido herdados.
As mais antigas manifestações
do pensamento contábil são as
contas primitivas, ou seja, as
que identificavam os objetos
(geralmente por figuras) e a
quantidade desses mesmos
objetos (geralmente por riscos)
como meios patrimoniais.
Antes, pois, que o homem
soubesse escrever e calcular já
estas manifestações ocorriam.
Algumas têm sido confundidas
com manifestações artísticas,
embora para historiadores famosos,
como Melis, e arqueólogos
consagrados, como Figuier, não
tenham deixado dúvidas quanto a
sua natureza contábil.
Muitos foram os elementos arqueológicos
encontrados em grutas e em rochas, no Brasil, em
Portugal, na França e em outros países.

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Admite-se, pois, que há cerca de 20.000 anos, o
homem já registrava os fatos da riqueza em
contas, de forma primitiva. O homem primitivo
buscava, assim, memorizar aquilo que dispunha e
que não precisava mais buscar na natureza,
porque armazenara.
Calcula-se, pois, que uma História da
Contabilidade deve iniciar-se a partir de cerca de
20.000 anos atrás ou até mais, segundo Masi, nas
eras Pré-líticas.

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Argumenta o mestre que desde que
a célula social nasceu (azienda),
como família, mesmo nas
sociedades mais rudimentares,
nasceu também a necessidade de
conhecer a evolução dos meios
patrimoniais de que aquela
dispunha, para atingir suas
finalidades.
Sabemos que a existência do
homem sobre a terra conta-se por
milhões de anos e que a preservação
da espécie passou sempre pela
organização familiar e isto nos deixa
imensas interrogações sobre como
teriam ocorrido as considerações dos
seres com relação à riqueza primitiva,
mas não podemos duvidar de que as
sociedades primeiras encontram
problemas no controle dos haveres.

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O mais antigo documento
dessa época que se conhece
parece ser o que nos
apresenta Figuier. Foi
encontrado na gruta de
D´Aurignac, no departamento
de Haute Garone, na França;
é uma lâmina de osso de
renda, contendo sulcos que
indicam quantidades.
Sabemos que nos domínios da arqueologia
grandes são as dificuldades de interpretação e de
atribuição de exata finalidade de alguns objetos
encontrados, data a precariedade de provas e de
bases, mas é inquestionável, pela comparação
desses elementos, que se trata, no caso que
comentamos, de peças contábeis.
A era neolítica e seus progressos

Da era neolítica, mais recente, também muito


material foi colhido e estudado, mostrando como aos
poucos o ser humano levou as inscrições para o
campo de uma pré-racionalização, disciplinando os
registros e até já os identificando como os
proprietários dos bens.
Tal época, já contando com produções artesanais,
com um estágio melhor de divisão do trabalho, com
mais definida forma de organização social,
inquestionavelmente, por seu caráter mais evoluído,
também, em decorrência, influiu sobre o progresso e
a qualidade dos registros contábeis.
Mesopotâmia: evolução social e
evolução da escrita contábil

Tudo indica que foram os


desenvolvimentos das sociedades,
apoiados nos dos Estados, dos
Poderes religiosos e de suas
riquezas, somados aos das artes de
escrever e contar, que influíram,
decisivamente, na evolução dos
registros contábeis.
Os arqueólogos, em sua maioria, estão de acordo
em afirmar que foram as imensas riquezas das
Suméria, em Uruk, e também aquelas de Susa, no
sopé das montanhas Zagros, que constituíram
ambiente propício para as bases de um
desenvolvimento da escrita contábil, com qualidade
cada vez maior, embora, na região mesopotâmica,
há muito, já existissem povos que, segundo
estudiosos com Hamdani, formariam bases para
que os sumerianos fossem o que foram.
As dúvidas correm por conta das imprecisões do
conhecimento em torno das autorias dos métodos
contábeis, pois alguns entendem que os templos
religiosos foram os que influíram sobre os
processos de registros, uma vez que a eles cabia o
controle da escrituração contábil e da economia.
A escrita cuneiforme, da
Mesopotâmia, basicamente
contábil, surgindo no IV
milênio antes de Cristo,
sendo mais utilizada nesse
sentido que para qualquer
outros, segundo afirmam
estudiosos da questão, foi
um desses progressos que,
como os da era lítica,
orgulham o conhecimento
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da Contabilidade, por sua
qualidade como expressão
do pensamento.
Os registros eram
feitos em plaquinhas de
argila fresca, sulcadas
por estiletes de madeira,
pontiagudos, com a
ponta prismática, em
base triangular, e tinham
em geral dimensões de 4
cm a 5 cm de
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cm a 3 cm de largura.
A escrita já não era na base de
desenhos, mas de símbolos, e
por sua forma de cunha,
recebeu a denominação de
“cuneiforme”.
As pequenas placas e os traços retilíneos se
justificavam em razão da matéria utilizada para os
registros, que era a argila umedecida, pois esta,
secando-se rapidamente, não recomendava o uso de
grandes unidades, nem de curvaturas nas
inscrições; mais tarde, resumos de tais peças
começaram a ser realizados em pranchas maiores, e
assim nasceu o Diário.

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A racionalização das memórias, para fins de
controle das riquezas, criou, inclusive, critérios
simbólicos de avaliação e ensejou, segundo
alguns estudiosos, as bases para a criação das
moedas.
Apurações de custos, revisões
de contas, controles gerenciais
de produtividade, orçamentos,
tudo isto já era praticado em
registros feitos em pranchas de
argila, nas civilizações da
Suméria e da Babilônia
(Mesopotâmia).

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As escavações arqueológicas respondem pela
descoberta de grande número de tabuletas com
registros patrimoniais, em camadas do solo, pois, as
cidades conquistadas e arrasadas eram abandonadas
e sobre elas, mais tarde, erguiam-se outras, já em
período mais avançado de civilização; assim, os
elementos arqueológicos de Uruk, Jemedt-Nasr, Ur-
Arcaico, Lagash, Accad, Terceira Dinastia de Ur,
Guiti Gudea e outras localidades vão apresentando,
gradativamente, evoluções cada vez maiores, e em
cada uma dessas dinastias e localidades, o progresso
teve também fases que estão estampadas nas peças
contábeis encontradas.
O estudo da questão induz à conclusão de
que a escrita foi cada vez mais adaptando-se
aos interesses contábeis dos templos, dos
palácios e dos comerciantes.
A maior proliferação do uso da escrita contábil,
todavia, foi, segundo Goody, na Terceira Dinastia
de Ur (em aproximadamente 2300 a.C.).

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Cerca de 2.000 anos antes de Cristo, a
Mesopotâmia já adotava o Razão, tinha muitas
demonstrações e sumários de fatos patrimoniais,
possuía orçamentos evoluídos de receita e
despesa pública, cálculos de custos e já produzia
balanços de qualidade.
A escrituração patrimonial, todavia, não era
privativa dos órgãos religiosos e públicos, mas
também adotada por comerciantes e homens de
maior volume de riqueza.
Tão importante era o processo que
escolas de escrituração contábil foram
organizadas na Mesopotâmia e delas boa
quantidade de tábuas de exercícios,
elaboradas por alunos, foram encontradas.
EGITO: O PAPIRO
E OS LIVROS
CONTÁBEIS

O Papiro ensejou a coletânea de folhas e


estas os livros.
O papiro é obtido utilizando a parte
interna, branca e esponjosa, do caule do
papiro, cortado em finas tiras que eram
posteriormente molhadas, sobrepostas e
cruzadas, para depois serem prensadas. A
folha obtida era martelada, alisada e colada
ao lado de outras folhas para formar uma
longa fita que era depois enrolada. A
escrita dava-se paralelamente às fibras.

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A contabilidade dos egípcios deu
passos substanciais evolutivos no
sentido das análises e até no uso de
matrizes contábeis, para efeitos de
distribuição de despesas e por
centros de aplicação delas.

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O completo desenho dos
símbolos, todavia, foi sendo
simplificado, em critérios sempre
evolutivos, beneficiando o tempo
gasto em volumosos registros de
fatos contábeis e administrativos.

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O escriba era considerado como o “máximo
profissional” no antigo Egito, ou seja o mais
digno de todos os profissionais, segundo
White nos informa.
Aos contadores confiavam-se
tarefas administrativas de alto
significado, inclusive diplomáticas
e até militares.
Os regimes tributários, os critérios de pagamentos
de pessoal, tanto na Mesopotâmia quanto na África,
tiveram controles contábeis da melhor qualidade, a
ponto de se estabelecerem registros individualizados
para cada beneficiário.
Creta e os progressos contábeis

Seguindo essa marcha evolutiva, quando os processos


contábeis se desenvolvem em Creta, na época da
civilização pré-helênica, tudo indica que sofreram a
influência das já maduras civilizações do Oriente Médio
e da África.

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Melis escreveu um trabalho específico
sobre o assunto, apresentado vasta
pesquisa que nos mostra tábuas
contábeis, peças de mármore onde se
inscreviam balanços expostos em praça
pública, em suma critérios que mostram
a qualidade dos procedimentos
contábeis.
As contas de mesma natureza, em Hagia, tinham
suas tábuas ligadas por cordões, dando já uma noção
firme do processo de Razão.
Eram também, os registros separados em Débito e
Crédito, por uma linha divisória, seguindo critérios,
todavia, já consagrados no Oriente Médio.
Grécia e a escrita contábil

Masi, sobre os gregos, louva-lhes a iniciativa da


doutrina patrimonialista, ou seja, as primeiras instituições
científicas da Contabilidade, e isto é de relevante
importância, embora não se tivesse constituído em uma
fase ou período científico.

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Para sustentar sua afirmativa argumenta sobre as
classificações feitas para os bens assim como sobre
as referências de Aristóteles e Platão sobre os
conceitos da riqueza, atribuindo aos gregos a
paternidade, como início, de uma doutrina em base
patrimonial.
A contabilidade dos templos e do Estado, na
Grécia, eram independentes, e a pública era gravada
em estrelas de mármore e estas colocadas em praças
para que todos tomassem conhecimento das entradas
e das saídas do dinheiro.
Houve época em o sistema de Caixa era
descentralizado nos serviços burocráticos do Poder,
com balanços de atividades e custos de atividades, e
outras em que tal regime foi repudiado e adotou-se a
centralização.
Também houve época em que os tributos podiam ser
pagos em bens e isto demandava um controle contábil
especial e complexo, havendo, inclusive, colégios de
dirigentes das finanças, compostos de dez membros.
Normalizações contábeis eram adotadas para os
regimes de Caixa, segundo Masi, e os trabalhos
contábeis eram de rara importância no mundo grego,
observados dentro do maior rigor e da maior
seriedade.
Roma e a importância da
contabilidade

A contabilidade dos romanos realizou, nas diversas


fases de sua civilização (fase dos reis, republicana,
imperial, imperial de Deocleciano e Constantino etc.)
diversas evoluções e pode ser identificada como de
excelente qualidade, superior à que herdou de outros
povos, com características marcantes, embora
pouquíssima prova material da mesma tenha chegado a
nossos dias.

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A manutenção de livros para cada atividade, para
cada grupo de fatos específicos, foi basicamente
uma característica romana, embora, com menor
precisão, também seja encontrada no Egito e nas
civilizações mesopotâmicas.
Os registros imediatos
eram gravados em tábuas
com cera e com estiletes
pontiagudos e depois
passados para os livros.
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Em Roma tiveram importância singular a
Contabilidade Pública e a das Colônias; basta supor a
imensidão de seu Império para que se possa ter idéia
do que exigia.
As grandes atividades públicas possuíam gestores
especiais com escrita contábil especial, como as
havidas para as obras públicas, para os serviços de
água etc.
Na maior parte da história romana, a
Contabilidade pública foi
centralizada, integrada, possuindo
um Contador Geral do Estado, que
também era responsável pela gestão
do patrimônio público.
Ao tempo de Marco Aurélio, o
Contador geral era o homem mais
bem remunerado da administração
pública de Roma, com honorários
de 300.000 sestércios ao ano, sendo
o único trecenarius (denominação
dada a quem tinha tal
remuneração).

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A queda do Império Romano não extinguiu o que
já se acrescentara aos progressos do conhecimento
contábil, mas o declínio da riqueza na Europa foi
inevitável no Ocidente. A evolução, todavia, no
mundo árabe, prosseguiria e daria a este novas
oportunidades de comparecer com outras preciosas
contribuições no campo da Contabilidade.

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