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04/03/2024, 10:59 EDUCADORA ITAUNENSE DE PRESTÍGIO ~ ITAÚNA DÉCADAS

EDUCADORA ITAUNENSE DE PRESTÍGIO


15:48 CHARLES AQUINO GOMIDE NO COMMENTS

ELSA NOGUEIRA GOMIDE

Professor Guaracy de Castro NOGUEIRA*

Itaúna é feliz pela qualidade de seus filhos. Entre estes avultam muitas mulheres notáveis. Elsa Nogueira
Gomide, filha de Péricles Gomide e de Eponina Gomide — família de artistas. Gente de teatro, da
imprensa e da literatura. Irmã do saudoso Piu da “Folha do Oeste” e, também, do sempre lembrado e
sempre atual Pancrácio Fidelis, cronista imortal pela verve humorística. Soube relatar com espírito crítico,
mas ameno nosso passado, com seus aspectos humanos e pitorescos.

Elsa, normalista, educadora e corajosa, superando na sua época preconceitos, sempre vitoriosa nos
desafios que enfrentou. No Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves, com a professora Dona Didina do
Capitão Oscar, nunca ganhou menos do que a nota máxima. Terminou o primário com distinção e
medalha de ouro. Continuou com o mesmo sucesso na Escola Normal sob competente direção do
saudoso professor Anselmo Barreto.

Estagiária na arte de ensinar, depois professora primária, nomeada com salários de ontem e de hoje,
sempre pouco condizentes com a importância do magistério, partiu para outras atividades. Aprendeu o
alfabeto Morse com o telegrafista Ernesto e conviveu, no mesmo prédio com seu pai, o Lique, dublê de
dentista e ator teatral, também agente do correio. Foi normalista, através de concurso público, em 1940,
telegrafista para servir em Belo Horizonte. Jovem, solteira, enfrentou a capital, aos 22 anos, numa época
em que as moças viviam agarradas às barras das saias de suas severas e exigentes mães.

Fez brilhante carreira como funcionária pública, jamais apadrinhada por prestígio político de quem quer
que seja. Nos concursos públicos estava sempre nos primeiros lugares, assegurando-lhe nomeação por
sua capacidade e competência. Assim foi para o Rio de Janeiro como escriturária, em pleno regime
ditatorial, para servir na Diretoria do Pessoal no Ministério da Educação e Saúde. Na capital federal, não
perdeu tempo. Nas horas vagas cursava línguas, fez estágio na Biblioteca Nacional.

Voltou para Belo Horizonte a serviço do Setor Pessoal dos Correios. Viveu muitos anos na capital
mineira. Redemocratizado o país, no governo Dutra, enfrentou novo concurso do DASP em 1948,
tornando-se Oficial de Administração. Retornou ao Ministério de Educação, sua casa de trabalho,
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ocupando vários cargos de confiança. Chefe de Seção, também responsável pela fiscalização da vida
escolar dos estabelecimentos federais de todo país.

O Ministro Tarso Dutra precisou de alguém de alto nível e de sua confiança pessoal, fora dos quadros
políticos, para exercer a função de Diretora do Departamento de Assuntos Universitários, em momento
difícil, em que pesavam acusações sobre a pouca transparência naquele importante setor de ensino
superior federal. Afastou os políticos e lá colocou uma técnica de seu ministério. A escolhida foi nossa
ilustre e distinta conterrânea Elsa Gomide, que lá deveria ficar uns dois meses, até que crise fosse
superada. Durante quase um ano e meio o cargo ficou em suas mãos competentes e limpas. Neste
período tornou-se a madrinha da Universidade de Itaúna. Ela abriu as portas do Ministério para a
nascente universidade — considerada até então como clandestina pelo Egrégio Conselho Federal de
Educação — criada pelo Conselho Estadual, à revelia do Conselho Federal.

Deixando o cargo de Diretora do DAU, Elsa continuou como assessora de seu substituto, o ilustre
Professor Edson Machado de Sousa, de quem me tornei amigo, por influência dela, à época em que fiz
parte da Diretoria da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Superior de Minas Gerais. Naqueles
tempos duros e difíceis em que a Universidade vivia sua pobreza franciscana, Elsa, em 1969, concedeu-
nos a primeira verba federal, Cr$ 101.000,00(cento e um mil cruzeiros) — valor da época. Desde então, a
Universidade, ao longo de dez anos, foi aquinhoada com as verbas federais. Nos anos de 1970 e 1971
recebemos, respectivamente, Cr$ 154.745,70 e Cr$ 323.155,00, graças a sua intervenção e prestígio.

Elsa aposentou-se em 1970, mas tamanha sua capacidade técnica e administrativa, continuou servindo,
reconvocada pelos ministros que se sucederam. Tornou-se secretária particular da Ministra Ester de
Figueiredo Ferraz. Com o término do mandato da ministra, Elsa foi requisitada para servir como
assessora do Conselho Federal de Educação. Graças à sua influência, sempre olhando com carinho e
boa vontade aos nossos apelos, essa generosa e notável servidora pública, com honestidade e incomum
senso patriótico, tudo fez para que recebêssemos os seguintes valores do Governo Federal — 1973 (600
mil cruzeiros), 1974 (600 mil cruzeiros), 1975 (700 mil cruzeiros), 1976 (400 mil cruzeiros), 1977 (500 mil
cruzeiros) e 1978 (700 mil cruzeiros).

Elsa aposentou-se em 1988. Foi a itaunense que mais ajudou a Universidade de Itaúna em momentos
difíceis. Criada pelo Governador Magalhães Pinto, através de seu representante para os atos
consultivos, Dr. Miguel Augusto Gonçalves de Souza, a Fundação recebeu do Estado um papel, apólice
da dívida pública, sem correção monetária, que poucos anos depois nada valia. Seu patrimônio ficou
reduzido a zero. Graças aos nossos esforços perante o poder público municipal e ajuda dos
Governadores Aureliano Chaves e Francelino Pereira na área estadual, conseguimos recriar seu
patrimônio — porque fundação não existe sem patrimônio. Recursos financeiros nós só tínhamos os
provenientes das anuidades dos alunos e das verbas conseguidas pela cidadã itaunense Elsa Nogueira
Gomide. A ajuda financeira que recebíamos de empresas e da Prefeitura transformávamos em bolsas de
estudo para operários e alunos carentes.

É enorme a dívida de gratidão dos itaunenses gratos e reconhecidos para com esta notável cidadã,
humilde e simples, que nasceu para servir sem jamais desejar ser servida.

Referências:

Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)*

Fonte e imagem: Jornal Folha do Povo, Ed. nº266 de 21 de setembro 2002, p.2.

Organização, pesquisa e adaptação do texto para o blog: Charles Aquino

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