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PEDRA NEGRA

que ele mais nos interessa. Por


ampliando o número de pala-
essa transformação operada
O vocabulário quimbundo, é vras e retificando-lhe a pro-
com o fim de servir de expres-
evidentemente lacunoso e nuncia e a significação. Princi-
são num ambiente estranho
como acredito que seja a pri- palmente a pronúncia que va-
aquele em que se gerou, adap-
meira tentativa feita no Brasil ria de pessoa a pessoa e a
tando-se e vincando a língua
com o fim de recolher esse im- gente não pode fixa-la porque
do Brasil.
portante material etnográfico, não tem um ponto de referên-
E o vocabulário que organi-
penso que prestará algum ser- cia na literatura escrita, que a
zei, com o auxílio do preto Ma-
viço aos estudiosos do assunto língua não possui.
nuel da Cruz, e dos srs. Serjo-
e concorra para trabalho mais O quimbundo, ou “undaca
bes Augusto de Faria, de Ita-
amplo exigido pela afrologia de quimbundo”, que conhece-
úna, oeste de Minas, e José
brasileira. mos, é um dialeto congoês
Aristides de Sales e João Jus-
O vocabulário que apre- que, em presença do novo
tino, de Belo Horizonte, fixa
sento aos estudiosos brasilei- meio onde se expandiu, há de
justamente esse momento de
ros é evidentemente lacunoso, ter se modificado bastante em
transformação que a “undaca”
mas já constitui uma contribui- relação à pureza original. Mas
sofreu em presença do meio
ção aqueles que melhor apare- é justamente por esse motivo
brasileiro.
lhados quiserem completa-lo,

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O município de Itaúna, sob o
ponto de vista dos estudos ne-
gros, é uma região, digna de
apreço, antes que desapare-
çam os últimos vestígios quim-
bundos que ali tiveram mar-
cada importância. São comuns
na toponímia do município as
palavras bántus como Ca-
tumba, Calambau, Caxambú,
Marimbondo, Cafuringa, etc.
E é coisa curiosa a examinar o
povoado do Catumba, que se
me afigura às ruínas de consi-
derável quilombo. Ainda hoje
só é habitado por pretos que só
falam entre si o quimbundo
[...].
Ainda me lembro bem de vá- Aliás, utilizam esses recursos branco está chegando no ser-
rios tipos populares negros, em casos absolutamente indis- viço ...
hoje desaparecidos, que ser- pensáveis por motivo de cla-
viam de troça para os mole- reza. O dialeto não os possui.
ques de Itaúna. Eram pretos de Quando querem dizer: - “ O [1] É interessante o fenômeno
ascendência africana, si não di- João fala muito bem a língua de que se deu com esta palavra no
reta, pelo menos muito pró- preto”, se expressam assim: - Brasil. Bunda ou M’bunda pe
xima. “João oméra navuro quiapos-
adjetivo gentílico de um povo
E como era costume aditar ao sóca undaca de quimbundo”.
bántu. Por extensão, emprega-
nome do negro o da nação a A formação do feminino tam- vam-na com a significação de
que pertencia, chamavam a es- bém é de simplicidade infantil.
ruim, feio, reles, inferior. E por
ses pretos Vicente Bunda[1], Resume-se em ajuntar a pala-
Chico Bié, Cristina Bunduda, isso é empregada vulgarmente
vra - mulher (ocaia ou man-
sendo que está me parece Ka- dumba) ao subistantivo a ser para designar a anatomia pos-
kuana, pela pequena estatura modificado: - rei (vicóra), Rai- terior aos ossos da bacia (náde-
e a monstruosa esteatopigia[2] nha (ocaia do vicóra) – mulher gas) ...
que apresentava. do rei. Porco (camguro), porca
(mandumba do canguro) [3].
Língua de formação bem rudi-
mentar ainda, o congoês, pelos O número de verbos é reduzi- [2] Esteatopigia é um termo
seus dialetos, não possui os díssimo e nunca flexionam médico que define o acúmulo
atributos e as flexões que apre- para as diversas expressões de de gordura nas nádegas.
sentam as línguas mais evoluí- tempo e modo. A compreen-
das como o português. são exata da frase se consegue
pelo assunto de que trata a [3] Quer me parecer que man-
Por isso, o quimbundo que sur- dumba eles empregam quando
preendi em Minas recorre oração. Cachia, por exemplo, é
o infinito do verbo chegar. se tratam de irracionais e vi-
sempre ao português nos casos córa quando de gente.
em que o dialeto não possui re- E a frase: O cuêto vindêro ca-
curso para a expressão. Estão chia no curimã, que dizer: - o
neste caso os artigos demons-
trativos, as conjunções, etc.
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CATUMBRA
Entre os municípios Itaúna e Pará de Minas Rodovia MG-431

NO IMAGINÁRIO DO CATUMBA
Ainda hoje chamam o lugar de Catumba dos Pretos (parte inferior) e Catumba dos Brancos (parte superior).
Segundo moradores ficou conhecido assim, porque os brancos iam comprando as terras dos pretos.

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(são mais de 150 palavras de A a U)

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REFERÊNCIAS:
Parte do texto: FILHO, João Dornas. A Influência Social do Negro Brasileiro.
Ed. Guaíra, São Paulo, 1942, p.71-72 -74.
Pesquisa, Organização, Arte e Fotografia: Charles Aquino.
Acervo: Prof. Marco Elísio, Charles Aquino, SIAAPM:
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/brtbusca/index.php?action=results&query=DORNAS

Edição Tabloide Histórico:


Charles Galvão de Aquino - Historiador Registro Nº343/MG

PEDRA NEGRA
HISTÓRIA & MEMÓRIA

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