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CASTELLS, Manuel. Movimentos sociais em rede: uma tendência global? In:______.

Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro:


Zahar, 2017.

Pretende avaliar o potencial dos movimentos sociais como agentes da mudança na


sociedade globalizada. Dá também um panorama sobre o Brasil pós-junho de 2013. O
Brasil de 2013-2014 organizava-se em movimentos sociais que possuíam como objetivo
estarem “afirmando a dignidade do povo e reivindicando seu direito de mudar o modelo
de desenvolvimento e as prioridades dos gastos públicos, combatendo ao mesmo tempo
a corrupção na política” (CASTELLS, 2017, p. 168).

Observa-se, portanto, um movimento de muitas pautas, vou elencar novamente para


melhor afixar.

I) Dignidade do povo
II) Mudança do modelo de desenvolvimento
III) Prioridades dos gastos públicos
IV) Corrupção na política.

Chile, México, Rússia e Ucrânia antecessores ao Brasil nesse sentido (Entre 2011 e
2012 seus inícios). Além da primavera árabe que foi muito evocada nos discursos se
bem me lembro. Hong Kong no mesmo período. Movimentos populares na Espanha,
Grécia e Portugal. O bizarro são os resultados disso. No Chile a universidade virou
pública, ponto positivo. Na Rússia não vi muitos resultados positivos. A Espanha e
Portugal se não me engano se polarizaram muito. Em Portugal o governo segue de
esquerda.

Contextos muito diversos, “não apenas em diferentes culturas, ambientes institucionais


e níveis de desenvolvimento, mas em condições econômicas e políticas altamente
divergentes” (CASTELLS, 2017, p. 169). Países árabes = Objetivo era derrubar
ditaduras. Europa e EUA = Crise financeira. Brasil, Turquia e Chile democracias que
tiveram um desenvolvimento econômico substancial na última década.

Brasil. Governo progressista do PT, com Lula e Dilma. Reduz pobreza e melhora nos
padrões de vida da população, porém, há a recessão de 2014. Turquia e Chile há
melhora, porém, há bolsões de pobreza. “Os movimentos sociais não são consequências
diretas de crises econômicas, pobreza ou regimes autoritários. É assim em alguns casos,
mas não em outros” (CASTELLS, 2017, p. 170). Mas há características similares, como
a crise do sistema político. Partidos políticos desprezados na maioria dos países.
Corrupção e políticos profissionais são temas correntes, em que os políticos cuidam de
seus próprios interesses. As pessoas não encontram canais de expressão e representação
adequada nas instituições políticas, sendo a manifestação direta a forma alternativa de
mostrar necessidades e desejos e de reinventar a democracia.

“A interação entre movimentos sociais e instituições políticas torna-se uma questão


fundamental, capaz de alimentar o verdadeiro potencial desses movimentos como
agentes de mudança social” (CASTELLS, 2017, p. 170). Trata melhor desse assunto no
Capítulo 8.

Característica comum do contexto “é a capacidade de comunicação autônoma,


habilidade para se conectar entre participantes e a sociedade como um todo pela nova
mídia social, por intermédios de smartphones e toda a galáxia das redes de
comunicação” (p. 170). Baseados não só na internet, mas em redes sociais e
comunicação sem fio.

Friendster – 2002. Facebook – 2004. Twitter – 2007. Em 2013 havia 1 bilhão de


usuários dessas redes sociais. Porém, redes sociais não são causa dos movimentos
sociais. (Acredito eu que aqui ele vai usar a ideia de repertório de ação).

“Menos de 18% dos internautas usavam as redes em campanhas sociais ou políticas” (p.
171). As redes sociais são um modo de vida da população jovem. Logo, os protestos
também ocorrem ali.

“O uso generalizado da mídia social permite que revoltas individuais se tornem


protestos e, em última instância, movimentos sociais” (p. 173).

Diferentes formas de expressão política. Nem tudo será progressista. Movimentos de


direita, Frente Nacional francesa, Ukip britânico (Independent Party), Aurora Dourada
na Grécia, Verdadeiros Finlandeses na Finlândia, o Tea Party (Republicano) nos EUA.

“Movimentos protossociais poderiam se tornar movimentos sociais num ambiente de


autonomia da comunicação. Mas as revoltas sociais não estão presentes em toda a
sociedade, e algumas delas podem ser canalizadas para a tradição populista da prática
demagógica” (p. 173).
Turquia – Lugar de encontro de gays e lésbicas. Brutalidade policial. Partido do
governo que reprimiu as manifestações ganhou com ampla maioria. Contradição entre
movimento social e opinião pública, explica-se por:

1) Mídia tradicional alinhou-se ao governo.


2) Revelou ampla divisão cultural e social na Turquia.

Introdução de valores mais severos e muçulmanos, especialmente às mulheres.


(Liberdade pessoal ameaçada. Ambientalismo, democracia e tolerância em desacordo a
cultura tradicional.

Brasil – Desafio ao modelo de desenvolvimento, denúncia da corrupção política.

Transporte coletivo como iniciador. 82% da população é urbana. Redução da pobreza e


melhora nas áreas de saúde e educação. Condições piores em meio-ambiente, moradia,
serviços urbanos e transportes.

“Governos locais corruptos, baseados no apadrinhamento político e em conexões


informais com empresas do ramo imobiliário e voltadas para a infraestrutura urbana” (p.
177). Interesses das empresas de construção civil e transportes em detrimento da
qualidade de vida. E isso com aumento de tarifas.

Porto Alegre inicia protestos, histórico de movimento de participação cidadã no


orçamento. Fóruns Sociais Mundiais. Bloco de luta pelo transporte público. Espalhou
primeiro para Amazonas, Rio Grande do Norte e Bahia.

São Paulo – MPL, criado no Fórum Social Mundial de Porto Alegre em 2005 lidera as
manifestações. Juiz suspende o aumento das tarifas, em 6 de junho teve um protesto
coordenado pelo MPL, Anonymous e pela Mídia Ninja. 20 mil manifestantes
bloquearam a principal avenida da cidade com a pauta da gratuidade do transporte
público. Repressão violenta. Manifestações prosseguiram, até 13 de junho com
barricadas erguidas no centro de São Paulo. Chegou ali outros temas: corrupção e
desperdício de verbas públicas para a Copa do Mundo de 2014.

Brasília – 15 de Junho. Na inauguração de um estádio, novos choques violentos e


congresso foi parcialmente ocupado e com danificações do prédio do Ministério das
Relações Exteriores.
Mídia ignorou demandas e concentrou-se nos atos de violência. A atenção da mídia
revelou a opinião públicas as razões dos protestos. E embora condenassem a violência a
maioria apoiou os protestos. “Trocamos dez estádios por um hospital decente”.
Movimento chegou a mais de 100 cidades.

Rio de Janeiro – Liderança da ação e reivindicava maior investimento em transporte,


saúde e educação, exigia fim da corrupção. Vários governos locais voltaram atrás ao
aumento da tarifa. “Não é por 20 centavos é por nossos direitos”.

20 de Junho – 1,5 milhão de pessoas em São Paulo, corrupção política como bandeira.
Dilma se colocou como favorável aos manifestantes, prometendo revisão das tarifas e
cancelamento do aumento de passagens e aumento dos gastos públicos nas áreas
pedidas. Reconheceu as falhas do sistema político, nepotismo, irresponsabilidade dos
partidos e necessidade de uma nova constituição, a ser submetida a referendo,
contornando o controle do Congresso pela classe política.

Pressão do movimento levou a rejeição da PEC 37. 7 de Setembro de 2013 mais


protestos – políticos corruptos. Corruptos locais, Alckmim por exemplo, Rio contra as
forças policiais (Mães de Maio).

Os partidos condenaram as manifestações – incluindo o PT – com exceção de Lula,


Dilma e Marina Silva e a “Rede Sustentabilidade”.

Presença de grupos conservadores e de extrema direita, mais nas redes sociais do que
nas ruas. “Movimento contra a Corrupção”, liderado por Demóstenes Torres, de direita,
indiciado por aceitar propinas. Anonymous até apoiou as manifestações, mas com 7
grupos rivais com esse nome, alguns com disfarces da extrema direita e financiados por
grupos empresariais.

“Quando as redes sociais e as ruas do Brasil foram transformadas em locais de protestos


por centenas de milhares de pessoas, todas as formas de reivindicação social, de
agrupamentos ideológicos e projetos políticos convergiram para esse movimento
multifacetado, tornando-o menos espontâneo e mais ambíguo em sua crítica à ordem
política. A oposição de direita ao governo mais progressista da história do Brasil
misturou-se à posição assumida pelos movimentos sociais contra a corrupção na política
e por novas formas de democracia participativa.” (p. 181).
Caráter contraditório dos protestos se tornou evidente na abertura da Copa do Mundo. A
deslocação de pessoas para a construção dos estádios. Grupos anarquistas radicais e de
conservadores, convergindo a oposição a um governo de esquerda.

Temas da eleição: crítica aos políticos, corrupção na política, funcionamento real da


democracia e defesa da democracia representativa. O desafio ao modelo de
desenvolvimento econômico que as elites políticas e econômicas no Brasil abraçaram
nas últimas décadas. Emprego e renda não são suficientes. Crítica fora dos sindicatos e
dirigida a todos os partidos.

“Embora o movimento não tivesse um programa preciso, muito menos uma liderança
organizada, suas posições indicavam claramente o desejo coletivo de criar um tipo
diferente de sociedade e Estado, baseado na busca de uma qualidade de vida
multidimensional e de uma experiência de democracia participativa” (p. 183).

“Emergência de um padrão comum de mobilização social numa grande variedade de


contextos e com amplo espectro de motivações” (p. 187).

CASTELLS, 2017. A transformação do mundo na sociedade em rede.

“Se as mobilizações sociais e as campanhas políticas são distintas dos movimentos


sociais em rede, ainda que utilizem amplamente as redes sociais, quais são os
componentes específicos desses movimentos que os tornam agentes da mudança social
na sociedade em rede?” (p. 188).

“Ao longo da história, os movimentos socias foram e continuam a ser as alavancas da


mudança social. Geralmente se originam de uma crise nas condições de vida que torna
insustentável a existência cotidiana para a maioria das pessoas. São induzidos por uma
profunda desconfiança nas instituições políticas que administram a sociedade (...)
envolvendo-se na ação coletiva fora dos canais institucionais prescritos para defender
suas demandas e, no final, mudar os governantes e até as regras que moldam suas vidas”
(p. 189).

“A manutenção da ordem social e a estabilidade das instituições políticas expressam


relações de poder exercidas, se necessário, pela intimidação e, em último recurso, pelo
uso da força” (p. 189).

“Os movimentos sociais muitas vezes são desencadeados por emoções derivadas de
algum evento significativo que ajuda os manifestantes a superar o medo e desafiar os
poderes construídos apesar do perigo inerente a suas ações” (p. 190) (Pode-se falar aqui
na abertura de uma janela de oportunidades talvez).

“A mudança social envolve uma ação individual e/ou coletiva que é, em sua essência,
emocionalmente motivada, da mesma forma que todo comportamento humano” (p.
190).

Teoria da inteligência afetiva em comunicação política (Neuman, 2007).

“A raiva aumenta a percepção de uma ação injusta e com a identificação do agente por
ela responsável. O medo desencadeia a ansiedade, associada à evitação do perigo. Ele é
superado pelo compartilhamento e pela identificação com outros num processo de ação
comunicativa. Então a raiva assume o controle, levando ao comportamento de assumir
os riscos” (p. 190).

“Quando se desencadeia o processo de ação comunicativa que induz a ação e a mudança


coletivas, prevalece a mais poderosa emoção positiva: o entusiasmo, que reforça a
mobilização societária intencional. Indivíduos entusiasmados, conectados em rede,
tendo superado o medo, transformam-se num ator coletivo consciente.” (p. 190).

“Mas movimentos sociais não nascem apenas da pobreza ou do desespero político.


Exigem uma mobilização emocional desencadeada pela indignação que a injustiça
gritante provoca, assim como pela esperança de uma possível mudança em função de
exemplos de revoltas exitosas em outras partes do mundo, cada qual inspirando a
seguinte por meio de imagens e mensagens em rede pela internet.” (p. 191).

Castells concorda com a ideia dos aprendizados dos movimentos, ou seja, do repertório
de ação.

“Os movimentos são virais (...). Ver e ouvir protestos em algum outro lugar, mesmo que
em contextos distantes e culturas diferentes, inspira a mobilização, porque desencadeia
a esperança da possibilidade de mudança.” (p. 194).

Nos casos observados, por criticarem as lideranças políticas, cria-se movimentos sem
lideranças também, sendo autogovernado pelos seus membros. Favorece a cooperação e
solidariedade, e reduz a necessidade de lideranças formais.

“É pelo companheirismo que as pessoas superam o medo e descobrem a esperança.” (p.


195).
“Tendem a se engajar na ocupação do espaço público e em táticas contenciosas com o
propósito de pressionar autoridades políticas e organizações empresariais, de vez que
não reconhecem a viabilidade de uma participação justa nos canais institucionais” (p.
196).

Porém, a violência é uma experiência recorrente nos movimentos de ação coletiva,


porém, o tentam ser pacíficos, pois quem é violento é o sistema. As imagens da
violência policial ampliaram a simpatia da sociedade civil pelo movimento e as
reativaram.

“São movimentos sociais voltados para a mudança dos valores da sociedade, e também
podem ser movimentos de opinião pública, com consequências eleitorais. Pretendem
transformar o Estado, mas não se apoderar dele” (p. 197).

“Os movimentos sociais, embora surjam do sofrimento das pessoas, são distintos dos
movimentos de protesto. Eles são essencialmente movimentos culturais, que conectam
as demandas de hoje com os projetos de amanhã.” (p. 199).

“O impacto dos movimentos sociais sobre a sociedade demanda o processamento de


seus valores e necessidades pelas instituições definidas e controladas por atores
políticos.” (p. 203).

Os movimentos do “passado” foram influentes em políticas públicas. Porém, isso


ocorre, pois “para que um movimento seja influente, atores do Estado precisam vê-lo
como potencialmente capaz de facilitar ou prejudicar seus próprios objetivos – ampliar
ou solidificar novas coalizões eleitorais, ganhar a opinião pública, aumentar o apoio às
missões das agências governamentais” (AMENTA el al., 2010, p. 298, apud.
CASTELLS, 2017, p. 203-204).

“A influência direta dos movimentos sociais sobre a política e os programas de


governos depende amplamente de sua contribuição potencial para as agendas
preestabelecidas dos atores políticos” (p. 204).

“A resposta usual das elites aos movimentos de protesto é referir-se à vontade do povo”
(p. 204).

“A influência positiva dos movimentos na área política pode ocorrer indiretamente com
a assunção, por partidos ou líderes políticos, de alguns de seus temas e demandas, em
especial quando estes alcançam popularidade entre amplos setores da sociedade” (p.
204).

Capítulo 8: Movimentos sociais em rede e mudança política.

“As ruas, a presidenta e a presidenta em potencial: manifestações populares e eleições


presidenciais no Brasil”. (p. 219)

A maioria dos partidos e líderes rejeitou os protestos como ameaça à democracia.

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