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CURSO PQ~ CORRESPONDÊN~lA

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M'anual Prático

de

Conhecimentos Gerais:

Detetive,
Inspetor de Segurança,
Aperfeiçoamento de Investigações e

Perito em Investigações
. I
Prezado Aluno:

Hoje você está recebendo as lições dos cursos de Detetive, Inspetor


de Segurança e Aperfeiçoamento de Investigações.

Queremos, antes de tudo, salientar que este curso não se' asse-
melha a nenhum outro no gênero. Nossa preocupação foi a de propor-
cionar a você um curso verdadeiramente útil. Para cada curso expedi-
remos o Certificado de conclusão. de acordo com a opção de V. s.a.

o seu autor, estudante acurado, e profundo conhecedor da ma-


téria, procurou proporcionar a você tudo aquilo que lhe será necessário
na vida prática. Por esse motivo, estes cursos foram estruturados tendo
como base fundamental as leis do nosso Pais. Isso porque, além de lhe dar
convicção em seu trabalho, lhe permitirá sustentar diálogos com pessoas
cultas, fato cotidiano na profissão.

Mas, por mais profundo que seja o seu conhecimento sobre as


nossas leis, você ainda não terá meios totais para dominar a profissão.
Para tanto, você teria que conhecer milhares de situações com que se
defronta um detetive na vida prática, tais como: assassinatos, suicldios,
roubos, furtos, etc. Poderlamos encher diversas apostilas do nosso curso,
mostrando o "Modus Operandi" de todos os delinqüentes conhecidos.
Porém achamos por bem não fazê-Io, pois dessa forma estarlamos coope-
rando para que você ficasse restringido a esses conhecimentos e impo-
tente para resolver casos inéditos.

Preferlamos ir mais longe! Vamos encaminhá-Io para um verda-


deiro desenvolvimento da sua capacidade mental.

Vamos proporcionar a você um racioclnio lógico e eficiente, assim


como uma memória avantajada, com os quais você estará preparado para
resolver os casos mais intrincados que possam aparecer. Para tanto, a
par das lições normais do curso, remeteremos inteiramente grátis, livros
que o ajudarão a desenvolver o seu raciocínio, assim como, cultivar a sua
memória. Além disso, periodicamente, enviaremos exercícios para que
você se habitue a raciocinar e 11 procura da verdade.

Para você, os nossos desejos de boa sorte e um rápido progresso


nos seus estudos.

E lembre-se: do seu esforço de hoje, depende o sucesso de amanhã.

Atenciosamente,
CONHECIMENTOS GERAIS 50.532, de 3/5/61, sendo obrigados ao registro policial. Os detetives
particulares ou detetives profissionais, não têm registro policial. Em al-
DETETIVE guns Estados do Brasil, suas atividades profissionais ainda são desco-
nhecidas das autoridades, salvo se tiverem registro como Agente de In-
Detetive é uma palavra de origem inglesa, que significa detetar formações nos termos dos Diplomas Legais, já citados.
um fato, Investigar, pilhar e desmascarar. As atividades das agências de informações reservadas ou confi-
No terreno policial, é detetive aquele que investiga um fato, suas denciais, comerciais ou particulares, são reguladas pela Lei 3.099 e pelo
circunstâncias e pessoas nele envolvidas. Decreto 50.532, já citados.
Detetive pode ser o exercício de um cargo ou função pública, como Consoante os termos dos referidos diplomas legais, tais agências
Já existe em alguns Estados do Brasil, ou a atividade partic~lar de um somente poderão funcionar depois de registradas no Registro do Co-
profissional autônomo, isto é, registrado de acordo com as leis de cada mércio e na Repartição Policial do local em que operem.
Estado ou Território.
Para obtenção do registro comercial, precisa ser consultada a
Junta Comercial da localidade, porque as exigências variam conforme as
DETETIVE DE POLICIA - AGENTE DA AUTORIDADE
regiões do Pais. Em alguns Estados do Brasil, come, por exemplo, no
Estado do Rio de Janeiro é necessário para o registro comercial, apre-
Detetive de Polícia é o agente de função pública que tem suas sentação de certidões negativas, obtidas em cartórios dos registros de
atribuições definidas através de leis administrativas, regulamentos ou re- Distribuição e de interdições e Tutelas. Já no Estado de São Paulo, basta
gimentos policiais. Pode ser Federal ou Estadual. São n0":1e~dospelo uma declaração assinada e com firma reconhecida, declarando sob' as
Governo Federal ou Estadual, após cursos em escolas esoeclatizadas do penas da lei, que o interessado ao registro comercial, não está sendo pro-
Estado ou habilitados em concursos públicos. São também chamados, de cessado, nem foi definitivamente condenado, em qualquer parte do Ter-
Agentes da Autoridade: ritório Nacional, pela prática de crime cuja pena vede, ainda que de modo
temporário, o acesso il funções ou cargos públicos, ou por crime de pre-
DETETIVE PARTICULAR varicação, falência culposa ou fraudulenta, peita ou suborno, peculato,
ou ainda, por crime contra a propriedade, a economia popular ou a fé
Detetive Particular, também chamado Detetive Profissional ou In- pública.
vestigador Particular é o agente particular que se dedica a investigação Para obtenção do registro policial, exige o decreto n.? 50.532, que
Particular, é o agente particular que se dedica a investigação particular as empresas interessadas apresentem os seguintes documentos:
e comercial sem nenhum vinculo à Lei 3.099, de 24/2/57 ou Decreto
Federal 50.532, de 3/5/61, que dispõem sobre o funcionamento das a) Certidão do Registro Comercial, contendo o inteiro teor da de-
Agências de Informações. claração da firma, ou contrato social:
No Estado da Guanabara, estão enquadrados para efeito de con- b) Folha Corrida e Atestado de Bons Antecedentes dos dirigentes
tribuição do Imposto sobre Serviços, no item 4 da Tabela Constante do das empresas e dos seus auxiliares, a qualquer título, que tra-
Art. 79, da Lei 1.165, de 13/12/66, com redação dada pelo Decreto-Lei balhem nas investigações.
229, de 25/11/69, e, conseqüentemente, sujeitos ao pagamento imposto
anual com os seguintes códigos: EXIG~NCIAS LEGAIS
Código de Atividade 6.319
Código de Cadastro ........... 50 O Decreto, já aludido, exige que qualquer modificação no registro
comercial, bem como a admissão ou dispensa de auxiliares, devem ser
No item 3, da Ordem de Serviço "E" n.O11 - FRS, de 23/02/70, comunicadas no prazo de 48 horas, à repartição policial, onde se acha
com a seguinte determinação: Qualquer pessoa física ou jurldica que se registrada a Agência.
utilize dos serviços desses profissionais, deverá exigir o comprovante
de duas inscrições no Cadastro Fiscal do Estado" . Proíbe a prática de quaisquer atos ou serviços estranhos às fina-
lidades de uma agência de informações e os que são privativos das auto-
ridades policiais, obrigando as empresas a abster-se de atentar contra a
AGENTE DE INFORMAÇÕES- DETETIVE inviolabilidade ou recato dos lares, a vida privada e a boa fama das pes-
soas.
Agente de informações, também chamado de Detetive Particu- Determina ainda, o referido Decreto, que as informações sejam
lar ou Detetive Profissional é o que satisfaz as exigências dos disposi- prestadas por escrito, em papel que contenha impresso o nome da em-
tivos legais vinculados à Lei 3.099, de 24/02/57, e ao Decreto Federal presa e o de um gerente ou diretor pelo menos.
Obriga, de modo geral, fornecer às autoridades policiais cópias das vendas das organizações comerciais e ainda em outras fontes de refe-
informações tornecldas aos seus clientes, quando forem requisitadas pela rências indicadas. Quando se tratar de informações particulares, o le-
policia, prestar também Informações quando solicitadas. vantamento é feito junto ao local de emprego da pessoa visada, lojas on-
de compra ou comprou a crédito e até mesmo junto ao proprietário da
casa onde reside ou onde residiu, nos armazéns, padarias, farmácias,
PENALIDADESLEGAIS açougues e estabelecimentos comerciais das imediações. No caso es-
pecifico de candidatos a emprego, o levantamento é geralmente feito
A agência que não respeitar as leis estará sujeita a suspensão até onde tenha trabalhado anteriormente, junto aos seus conhecidos e nos
seis meses, imposta pelo Diretor do Departamento de Policia Politica ou estabelecimentos comerciais com os quais já trabalhou. Seja entretan-
ao fechaménto, mediante representação das autoridades, pelo Ministro da to qual for o tipo de informação desejada, esta sempre é obtida através
Justiça. de detetives particulares, também denominados de informantes comer-
ciais que trabalham no ramo das investigações particulares.
ATIVIDADESPROFISSIONAIS
CONHECIMENTOSINDISPENSÁVEIS
De um modo geral, as agências de informações são constituldas
por escritórios especializados na realização de levantamentos informa- Os conhecimentos indispensáveis a um bom detetive profissional
tivos através de fichas de informações obtidas junto ao meio comercial
são:
e particular.
1) Noções de Direito Penal e Processual.
As suas atividades visam dar atendimento às solicitações que lhe 2) Noções de Medicina Legal e Policia Técnica.
são feitas por comerciantes, industriais, bancos, embaixadas, outras agên- 3) Noções de Identificação e Datiloscopia.
cias e particulares. Referem-se, amiudamente, a novos clientes que se 4) Ser um bom Relações Públicas, e
candidatam a compras a prazo, ou a funcionários que deverão ser admi-
5) ter conhecimentos gerais.
tidos para o desempenho de funções de confiança. Por outro lado, tais
agên'Ciascolaboram, também, com organizações imobiliárias, colhendo Além disso, deve um bom detetive adquirir o hábito da boa leitura,
informações relacionadas aos candidatos a aluguéis de imóveis no que ser um bom observador e bom memorizador.
diz respeito a lisura, idoneidade e pontualidade nos pagamentos. O nosso curso fornece todo o material necessário a um bom de-
Da mesma forma, efetuam levantamentos concernentes aos fiado- tetive, além de indicar uma vasta bibliografia em todos os ramos de
res. Além disto, os serviços das agências de informações são também conhecimentos humanos.
locados por particulares que, por qualquer razão, necessitam das informa-
ções quanto a um assunto. ESTUDO DA VIDA PREGRESSA

FONTESDE INFORMAÇOES A expressão pregressa significa anterior. Estudo da vida pregres-


sa é, portanto, o da vida do criminoso, anterior ao crime.
São múltiplas as fontes de informações. Vão desde as informa- Determina o nosso Código de Processo Penal, em seu art. 6.0,
ções particulares até as públicas. Entre as informações particulares des- n.O IX, que a autoridade policial deverá:
tacamos as firmas comerciais, industriais, bancos, agências de informa-
ções, etc. Entre as fontes de informações de caráter público encontramos "Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto-de-vista
todos os cartórios onde se acham os livros dos registros públicos. Qual- individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e es-
quer pessoa do povo, por lei Federal, pode consultar um livro de RegiS- tado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer ele-
tro Público, onde se ache um determinado lançamento, e ainda, pode pe- mentos que contribulrem para apreciação de seu temperamento e cará-
dir por certidão o que se encontra escrito, seja de quem tor, basta que ter.li.

pague as custas da certidão e suas buscas. A POlicia, ao procurar dar cumprimento à determinação transcri-
ta, deve proceder com cuidados especiais e de maneira mais objetiva
MEIOS DE INFORMAÇOES posslvel, porque os dados que levantar e apresentar, sobre a persona-
lidade de criminosos, poderão ter influência na aplicação das penas
Para dar cumprimento às suas finalidades, utilizam-se de diversos (art. 42, do Código Penal), na imposição e execução das penas de muI-
expedIentesos agentes de informações (detetives particulares), corsoante ta (Arts. 37, 38 e 43 do Código Penal no arbitramento de fianças (§ úni-
a natureza do levantamento solicitado. As informações comerciais, por co do art. 325 e arts. 326 e 350, do Código de Processo Penal) e, ainda,
exemplo, são levantadas junto aos cadastros bancários, nas seções de poderão dar margem à aplicação de medidas de segurança.
Recomendamos cuidados especiais, no Estatuto da Vida Pregres-
sa de criminosos, não só em razão da influência apontada como, tam-
bém, porque a tarefa é realmente difícil e delicada, tendo-se em vista
que os policiais, para levá-Ia a cabo, terão que se valer quase que so-
mente de elementos de natureza subjetiva, nem sempre de fácil aprecia,
Outros elementos, porém, poderão ser colhidos, de modo a
se formar um retrato mais completo da personalidade
da criminoso, podendo eles ser:
de ca-

Habilitações profissionais (indicar, aqui, atividades que podem


ser exercidas, tais como motorista, serralheiro, barbeiro, cozi-
l
ção, nheiro, etc.) .
Procurando dar uma orientação, para o cumprimento da dispo- Diversões e passatempos prediletos (indicar se cinema, fute-
srçao legal, oferecemos uma espécie de roteiro, s-em prejuízo, natural- bol, briga de galos, caça, pesca, etc.).
mente, de outros elementos que possam ser recolhidos: Desvios sexuais (ter em vista, pelo menos, a possibilidade de
pederastia ativa ou passiva),
1) Atitude e estado de ânimo, antes e durante o crime (embriaguez Lugares de onde procedeu (podem ser aqueles em que ocor-
voluntária ou involuntária, exaltação, ausência de autocontro- reu o nascimento e criação ou outros, por onde morou).
le, frieza e o estado emocional), Se costuma viajar, para onde e como,
2) Atitude e .estado de ânimo, após o crime (estado emocional, ar- Se costuma reagir a prisões (se mediante força física, com em-
rependimento, não arrependimento, autocontrole, agressivida- prego de armas ou instrumentos ou promovendo escândalos),
de, cinismo, depressão e indiferença). Se costuma andar armado e, em caso positivo, qual o tipo pre-
3) Família de origem (se de união legal ou não e se os pais são dileto de armas. '
conhecidos ou não; se de recursos ou não). Quais os companheiros habituais, no crime.
4) Ambiente de criação (se o da própria família ou não; se a vida Se tem capacidade para chefiar companheiros de crimes e se
dos responsáveis foi ou é harmônica ou desajustada e, neste efetivamente os chefia.
último caso, quais os motivos). Lugares que costuma freqüentar e onde pode ser encontrado.
5) Constituição de família própria (no caso de existir, esclarecer Se registra antecedentes criminais e quais, aqui, em outros lu-
se legalmente constituída ou se só casamento religioso ou gares do Estado, em outros Estados e outros países,
concubinato; se dissolvida, verificar se só separação, se por Se é conhecido por policiais de outros Estados e países.
desquite, divórcio ou anulação de casamento; indicar o tempo Se é conhecido de policiais locais e quais .
de união e o número de filhos, com as idades dos mesmos,
Se possui advogados criminais permanentes e quais .
esclarecendo, ainda, se vivem em sua companhia),
6) Se possui amantes (se ligações passageiras ou duradouras e
Para o estudo da vida pregressa de criminosos, a investigação
e se as sustenta ou é sustentado pelas mesmas).
policial contribui com sua parcela de trabalho, procurando obter informa-
7) Grau .de instrução (se nula, primária incompleta, primária com-
ções, tendo-se em vista que não é de se confiar muito na palavra dos in-
pleta, secundária incompleta, secundária completa, técnico-pro-
vestigados. É aliás, o único terreno das provas complementares em que
fissional, superior, esclarecendo, ainda, se fala outras IInguas e
quais) . é permitida a entrada da investigação propriamente dita.
8) Situação econômica (se miserável, pobreza, pequenos recur- Nesse estudo, úteis poderiam ser os laboratórios de Psicologia,
sos, regulares recursos e abastança. Procura sempre precisar Cabendo a eles se pronunciar sobre a cessação de periculosidade, pode-
o rendimento mensal e se há propriedades, com a estimativa riam, também, examinar os criminosos, logo após a prática dos crimes,
de valores, em caso positivo). quando menores são as possibilidades de simulação ou dissimulação e
9) Sanidade física e mental '(se não for possível pronunciamento quando as conseqüências das ações delituosas estão rnais vivas. As ob-
médico, indicar apenas as anomalias mentais e doenças sobre servações, nessa fase, seriam subsídios para o exame de verificação de
as quais não pairem dúvidas), cessação de periculosidade.
10) Temperamento (introvertido ou extrovertido; apático, frio, erno-
tivo, fanfarrão, impulsivo ou exaltado).
'1) Trabalho (se vaoab.mdo ou vadio, com ocupação ilícita, não
definido ou normal, indicando, nesta última hipótese, a ativi-
dade exercida, com a possível precisão). DECRETO N.o 50.532 - de 3 maio de 1961
12) VIcias (se os possui ou não, esclarecendo, em caso positivo,
ouals) . . Dispõe sobre o funcionamento das empresas de que trata a lei n.o
13) Serviço militar (se o prestou ou não e, em caso positivo, onde, 3.099, de 24 de fevereiro de 1957.
quando e qual o seu comportamento).
Pensamos que o que foi indicado, até agora, é o mínimo que O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere
se deverá procurar esclarecer. o artigo 87, inciso I, da Constituição, decreta:
Art. 9.0 - Este decreto entrar t em vigor na data de sua publicação, re-
Art. 1.° - As empresas de Informações reservadas ou confidenciais, co- vogadas as dlsposiç )es em contrário.
merciais o,u particulares, de que trata a Lei 3.099, de 24 de fe-
vereiro de 1957, de propriedade de pessoas flsicas ou jurldl- Brasflia, 3 de maio a 1 1961, 140.0da Independência e 73.° da
cas, só poderão funcionar depois de registradas no Registro República.
do Comércio e na Repartição Policial no local em que operem. JANIO QUADROS
Parágrafo único - No Distrito Federal, o registro policial, sempre' a ti- Arthur Bernardes Filho
tulo precário, será feito na Divisão de Policia PoHtica e Social
do Departamento Federal de Segurança Pública, e nos Estados Oscar Pedroso Horta
e Territórios, em Repartições congêneres das Secretarias ou
Departamentos de Segurança Pública.
Art. 2.° - Para obtenção de registro policial apresentarão as empresas
os seguintes documentos: DECRETO-LEIN.O1.034- de 21 de outubro de 1969 (*)
a) certidão de Regisbo Comercial, contendo o inteiro teor da Dispõe sobre medidas de segurança para instituições bancárias,
declaração da firma, ou contrato social; Caixas Econômicas e Cooperativas de Crédito e dá outras provi-
b) folha corrida e atestado de bons antecedentes dos dirigen- dências.
tes das empresas e dos seus auxiliares, a qualquer tftulo,
que trabalhem nas investigações. Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica
Militar, usando das atribuições que Ihes corifere o artigo 3.° do Ato Ins-
Parágrafo Único - qualquer modificação do Registro Comercial, bem titucional n.O 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com o § 1.°, do
como a admissão ou dispensa de auxiliares, devem ser comu- Art. 2.°, do Ato Institucional n.o 5, de 13 de dezembro de 1963, decretam:
nicadas no prazo de 48 horas, à Repartição a que se refere o
parágrafo único do artigo anterior. Art. 1.0 - É vedado o funcionamento de qualquer dependência de esta-
belecimento de crédito, onde haja recepção de depósitos,
Art. 3.0 - É vedado às empresas de que trata o presente regulamento à
guarda de valores ou movimentação de numerário, que não
prática de quaisquer atos ou serviços estranhos às suas fina-
possua, aprovado pela Secretaria de Segurança ou Chefatura
lidades e os que são privativos das autoridades policiais, e de-
de Policia do respectivo Estado, dispositivo de segurança con-
verão exercer sua atividade abstendo-se de atentar contra a
tra saques, assaltos ou roubos, na forma preceituada neste De-
inviolabilidade ou recato dos lares, a vida privada ou a boa
fama das pessoas. ereto-Lei.

Art. 4.° - As informações serão sempre prestadas por escrito, em papel Parágrafo Único - Os estabelecimentos referidos no artigo anterior com-
que contenha impresso o nome da empresa, e por extenso o preendem as instituições bancárias, as caixas econômicas, e
de um gerente ou diretor, pelo menos. as cooperativas de crédito que funcionem em lojas.

Art. 5.° - Cumpre às empresas fornecer às autoridades policiais cópias Art. 2.0 - Os estabelecimentos de que trata o artigo anterior deverão
das informações fornecidas aos seus clientes e que Ihes forem adotar - no prazo máximo de um ano, contado do inicio da
requisitadas, prestando, também, as informações por elas soli- vigência deste Decreto-Lei - dispositivo de segurança con-
citadas. tra rouho e assaltos, que consistirá, obrigatoriamente, em:
Art. 6.° - As empresas que já se encontram em funcionamento terão o I- Vigilânci 1 cstensiva, realizada por serviço de guarda compos-
pra.zo de 90 dias, a contar da publicação deste decreto, para to de ele llentos sem antecedentes criminais, mediante apro-
satisfazer as suas exigências. vação de seus nomes pela Policia Federal, dando-se ciêrcia
ao Serviço Nacional de Informações;
Art. 7.0 - A inobservância do presente decreto sujeita as empresas à pe-
na de suspensão do funcionamento, de um a seis meses, im- 11 - Sistema de alarme, com acionadores em diversos locais do es-
posta pelo dirigente da Repartição a que se refere o parágra- tabelecimento e em comunicação direta com a Delegacia, Pos-
fo do art. 1.0 to Policial, agência bancária ou estabelecimento de crédito
Art. 8.° - Mediante representação das autoridades federais ou estaduais, mais próximo.
poderá o Ministro da Justiça e Negócios Interiores cassar a
autorização de funcionamento das empresas a que se refere (-) Diário Oficial da União, 21-10-1969.
este decreto.
"

CONCEITO DE DETETIVE, POlíCIA E PODER DE POLICIA.


§ 1.0 - Caberá à autoridade policial competente vistoriar os estabele-
POLICIA PREVENTIVA. POLICIA JUDICIARIA. INTERPOL E
cimentos de,crédito sob sua jurisdição, encaminhando ao Ban-
-co Central do Brasil, sempre que j' .Jgar necessário, relatório POLlNTER.
sobre a observância do disposto n .ste Decreto-lei, indicando
Detetive é palavra de origem inglesa, derivada do verbo que signi-
as providências complementares q re julgar cablveis.
fica descobrir, desmascarar, pilhar. É detetive aquele que investiga um
§ 2.0 - O funcionamento de qualquer unidade bancária, agência ou fi- fato, suas circunstâncias e pessoas nele envolvidas.
. lial de estabelecimento de crédito, inclusive re-instalação em Pode ser o exercício de um cargo ou função pública, como ocor-
novo local, dependerá de vistoria e aprovação prévias, na for- re no Estado do Rio de Janeiro; em outras unidades da Federação usa-se o
ma prevista no parágrafo anterior. nome investigador. Suas atribuições são as especiticadas nos regimen-
tos ou regulamentos policiais, leis administrativas e, como agente da au-
§ 3.0 - Mediante prévia aprovação do Ministro da Justiça, o Banco toridade, no Código de Processo Penal. São policiais e, assim sendo,
Central do Brasil, quando julgar conveniente, poderá determi- suas atenções estarão sempre dirigidas às infrações penais.
nar outros requisitos de segurança, além dos mencionados nos
Outros detetives exercem tarefas particulares em grandes empre-
incisos I e II deste artigo, tendo em vista, inclusive,.os rela-
tórios a que se refere o § 1.0• sas. Cuidam de investigações ligadas a interesses dos mais variados.
Prevenir e apurar furtos praticados por empregados, ou terceiros, fatos
Art. 3.0 - A dependência de estabelecimento de crédito que não atender usuais no comércio e nas fábricas, empresas de transporte e bancos.
às exigências deste Decreto-Lei, será interditada e seu funcio- Nestes, terão em vista os punguistas e portadores de cheques e moedas
namento pelo Banco Central do Brasil, a menos que seja com- falsificadas. Nas companhias de seguros e empresas de transporte é im-
provada a exigência de razões imperiosas que tenham impedi- portante a investigação dos acidentes, como também o arrolamento de
do seu cumprimento e haja motivos que justifiquem plenamen- testemunhas.
te a dilação do prazo para sua efetivação. Há, enfim, os detetives que trabalham por conta própria como ver-
dadeiros profissionais liberais. Dão-se a investigações de questões pri-
Art. 4.0 - ,?s est~belecimentos de crédito manterão a seu serviço, admi- vadas, pesquisas de relações suspeitas, descoberta de fatos sigilosos e
tidos diretamente ou contratados por intermédio de empresas paradeiros de pessoas e coisas. Muitos organizam-se em empresas im-
especializadas, os elementos necessários à sua vigilância, po- portantes até com filiais. Dispõem de outras categorias de auxiliares e
dendo organizar serviço especial para esse fim, mediante apro- fornecedores de informações. Nos E. U .A. há mais de 20.000 detetives
vação do Ministério da Justiça, ou, quando se tratar de servi- particulares devidamente autorizados. A "Agência Pinkerton", a maior
ço local, do Secretário de Segurança ou Chefe de Polícia. do mundo, estende-se por 27 cidades e emprega mais de 3.500 policiais
§ 1.0 - A Polícia de cada Estado deverá ministrar instruções especiais particulares.
aos elementos de segurança dos estabelecimentos de crédito Vale ressaltar que em todas essas missões deve timbrar O· deteti-
e elaborar recomendações para sua atuação conjugada com ve pela maior correção em seu procedimento. Seja empregado público,
a dos órgãos policiais locais. particular ou trabalhe por conta própria ou até mesmo amador. Manterá
em todos os momentos elevado senso de responsabilidade e respeito
§ 2.0 - Os elementos de segurança dos estabelecimentos de Crédito, pelo direito do próximo, a que não deve ferir, para não transformar-se de
quando em serviço, terão as prerrogativas de policiais. detetive em patife ou criminoso. Há de conhecer bem a lei penal e fazer
do amor à verdade o seu lema.
Art. 5.0 - Este Decreto-Lei entrará em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário. Polícia é palavra cujo' significado sofreu enorme evolução. Já quis
dizer na Antigüidade o próprio ordenamento político do Estado. Hoje
Policia é o órgão do Estado, que visa garantir a segurança dos indivíduos,
Erasília, 21 de outubro ele 1969; 148.0 da Ir.dependêncía e 81.0
da República. assegurar as vantagens e remediar as desvantagens da vida dos homens
em sociedaoe, dizia o Conde de Sodrem.
Augusto Hamann Rademaker Grünewald Quem diz Polícia diz uma grande palavra. Uma nação jamais po-
de passar sem Polícia, como nenhuma cidade sem esgotos, sob pena de
Aurélio de Lyra Tavares apodrecer debaixo das próprias imundícies, são afirmativas de Pierre
Márcio de Souza e Mello Scize, um arguto cronista judiciário francês. Mas também adverte que
não se pode impingir os que trabalham no esgoto como perfumistas, de-
Luís Antônio da Gama e Silva vendo-se assim, saber selecionar os policiais e corrigir-Ihes os excessos.
Antônio Delfim Netto Por esse' mesmo racloclnio, Edmond Locard, um dos maiores policiais-
res dos processos morosos e, quem visse o crime, veria logo o castigo.
-técnlcos do mundo, após lembrar as palavras de seu mestre Lacassagne, E a certeza da punição é o meio mais eficaz de respeito à lei.
para quem "as sociedades têm os criminosos que merecem", acrescenta No regime processual brasileiro em vigor, quanto às contravenções
n o ser menos justo que "os Governos têm a Polícia que merecem". A penais (jogos de azar, porte de arma, vadiagem, embriaguez escandalo-
boa ou má Policia é fiel reflexo da personalidade dos homens que exer- sa ou perigosa, dirigir sem habilitação, ou perigosamente,.etc.) não há
cem o Poder Executivo e seus auxiliares imediatos, mais de perto o Che- inquérito policial. A própria ação penal começa na PoliCia, exercendo
fe de Policia. a autoridade policial verdadeira função judiciária, o que é incontestável
A função policial no Brasil distingue-se bem em Policia Adminis- anormalidade, face aos princlpios constitucionais, onde se assegura a
trativa ou Preventiva e Policia Judiciária ou Repressiva. É tradicional es- rigorosa separação dos Poderes.
sa classificação, e ainda aceita, embora se acentue que só a Polícia Ad- Além da clássica divisão acima apontada, sob outros aspectos po-
ministrativa é a Policia propriamente dita. Em ser preventiva, estaria a demos dividir a PoHcia em: civil, militar, mista e feminina; ostensiva ou
sua principal finalidade. Evitar pela vigilância, mormente dos policiais secreta; terrestre, marltima, aérea e fluvial; simples, montada ou moto-
ostensivos, unitormlzados, que as infrações penais fossem cometidas. O rizada; municipal, estadual, federal e internacional. Ainda outras deno-
policiamento nas ruas, praças, casas de esporte e diversões públicas, minações são usuais.
poHcia de tráfego, fiscalização do comércio de explosivos, armas e en- Na luta contra os criminosos, desde muito tempo cogitam as po-
torpecentes, serviços de estrangeiros para inspecionar a entrada e per· Hticas de todos os países civilizados de se ajudarem reciprocamente.
manência no país e a salda dele e a supervigilância dos marginais, me- Algo demais concreto foi alcançado pela Comissão Internacional de Po-
retrizes, loucos e ébrios, são importantes atribuições da Policia Preven- IItica Criminal (CIPC), da qual fazem parte mais de 35 palses. Com ex-
tiva. As deficiências desta trazem a conseqüência fatal do aumento da ceção da Alemanha Ocidental, os demais filiados adotara~ o endereç.o
criminalidade e da intranqüilidade de todos os cidadãos. telegráfico de INTERPOL. Para colaboração entre as poliCias.estaduais
A Polícia Judiciária só impropriamente se chama repressiva, por- brasileiras temos a POLlNTER, regulada por decreto. Essa ajuda pode
que repressão é função judicial. É Judiciária a Policia que se movimen- ser do maior proveito (troca de informações, de fichas e outros dados de
ta, quando ocorre alguma infração penal. O policial ou qualquer pessoa identidade de criminosos, descobertas de paradeiros, etc.), mas convém
do povo que prende quem é encontrado em flagrante delito põe-se a ser- lembrar que nesse entendimento de PoHcia para PoHcia não podem ser
viço da PoHcia Judiciária, assim como o delegado ao instaurar o inqué- desrespeitadas as formalidades legais, como lastimavelmente às vezes
rito policial ou presidindo o auto de prisão em flagrante, e o escreven- acontece. Assim é que a entrega de um criminoso refugiado num pais
te que manuscreveou datilografa. Enquanto as atribuições da Policia Pre- às autoridades de outro só poderá ocorrer, segundo as regras de extra-
ventiva regulam-se pelas normas administrativas, desde as leis até as ins- dição, cujo exame cabe ao Supremo Tribunal Federal. Mesmo entre os
truções e ordens de serviço, a atividade de Policia Judiciária se cumpre Estados brasileiros as prisões só podem proceder-se, exceto no caso
em obediência, principalmente ao que determina o Código de Processo de flagrante e delito, havendo ordem de prisão da autoridade compe-
Penal. Já aqui, embora sem ser subordinada ao Poder Judiciário, passa tente, que nunca é a Policia; em geral de Juizes e em certos casos de
a Polícia à condição evidente de órgão auxiliar da Justiça. Ministros e raras outras autoridades. Mesmo as buscas e apreensões
A principal atividade da Policia Judiciária brasileira é a feitura do hão de ser requeridas tendo-se em vista as formalidades da lei. Os abu-
inquérito policial, o que focalizaremos melhor adiante. É ele de instau- sos, se às vezes dão impressão de maior vantagem na repressão pen~I,
ração obrigatória sempre que a Policia tenha conhecimento da existên- acabam em regra, redundando em favor do acusado, com a reparaçao
cia de qualquer crime. Mas toda a prova testemunhal colhida no inqué- dos abusos pela Justiça. Não pode esta, nem deve, compactuar c0'!l
rito, inclusive as declarações do ofendido e do acusado, será repetida arbitrariedades. A lei indica os únicos caminhos a trilhar na persequi-
em Juizo, em pura perda de tempo e facilitando a adulteração da verda- ção de suspeitos de crime, muitos dos quais inocentes, e deve de b~as
de. Tem-se pretendido, por isso, a extinção do inquérito policial e cria- intenções, quando não se segue o caminho certo, o inferno está cheio.
rem-se os Juizados da Instrução, como já existem em países dos mais O Poder de Policia é expressão de dois sentidos. Em sentido am-
civilizados. A colheita processual de provas passaria a ser feita, imedia- plo, constitui um meio de defesa social e econômica a cargo do Estado.
tarnente, por um Juiz. A Polícia ficaria reduzida à mera função deteti- No sentido restrito é a atrlbulção dada à POlícia de limitar adequada-
vesca, de prender os acusados e apresentá-Ios à Justiça e proceder a mente õ exercício de direitos e liberdades individuais para salvaguardar
diligências e investigações, além das outras atribuições supra-referidas outros interesses de maior revelância ou de caráter coletivo. Só neste
de caráter preventivo. Ainda bom seria que os pequenos delitos, contra- sentido restrito é tarefa policial, aliás, da Polícia Administrativa ou Pre-
venções ou crimes de mfnima importância, fossem imediatamente resol- ventiva. Exerce-se por meio de ordens administrativas e a exigência. ~e
vidos nos denominados Tribunais de Polícia, obedecendo a um simples licenças, autorizações, determinadas condutas, etc. O Poder de p.ollcla
processo verbal. Esclareça-se bem que Tribunal de Policia não é a Po- absolutamente não se confunde com as arbitrariedades, violência no
licia julgando, o que seria evidente absurdo; é a Justiça funcionando exerclclo da função policial, a decretação de prisões ilegais mesmo a
descentralizada e despida de maiores formalidades, em busca de deci- pretexto de averiguações e o desrespeito a ordens de "habeas-corpus" .
sões rápidas dos casos ocorrentes. Não haveria as canseiras posterio-
Todos esses atos constituem abu '
lizado tornariam os seus respo s~s ~e poder e em qualquer país civi- Flagrante delito ou crime flagrante é aquele que:
passíveis de condenação crimin nls vers, fossem até Chefes de Policia,
, a e perda do cargo, a) está sendo praticado;
Há lugar para o Poder d P r . b) acabou de ser praticado;
sam parecer antagônicas em e o 1~la quando duas ou mais leis pos-
de bens jurídicos, Por exemPI~etermlnadas, clrcunst~nci,a~, na proteção c) quando o acusado é perseguido, logo ap6s o crime, pela auto-
recer a uma Delegacia para p ,ao compell~-se um indivíduo a compa .. ridade, o ofendido ou qualquer pessoa,
ação pública, se de um lado arfs,tar esclarecimentos sobre um crime de
a obrigação de apurar os crirneel g~r~nte ~ qualquer pessoa a liberdade d) quando o acusado é encontrado logo depois do crime, com ins-
este mesmo indivíduo porque s, utto dlfer~nte será manter-se detido trumentos, objetos ou papéis, que façam presumir ser ele autor
rer nas condições e~pressarn q~alqUer espécie de pris,ão só pode ocor- da infração (art , 302 do C6d, Proc. Penal),
geriu elevada dose de bebida e~ e d~termlnad~s, na lei, Se alguém in-
O estado de flagrância dura enquanto esteja o acusado sendo per-
sistindo em movimentá-Io, just~ ~~6~ca e se dirige, a se~ automóvel, in- seguido; sinta-se ele ainda em fuga, sem ter voltado às suas ocupações
detê-Io enquanto não cesse a em ,e ser a Polícia de impedl-lo e até habituais, É erro dizer-se que esta situação dure necessariamente 24
a caracterizar-se a embriague' d I~naguez, embora não tenha chegado horas,
•.. e ituosa.
~ prisão em flagrante de crime ou contravenção também permite
Os atos praticados a prete d
ao exame do Poder Judiciário ~to e Poder de Policia estão sujeitos que se invada a qualquer hora, mesmo à noite, a casa onde esteja sen-
efeitos do ato ainda perdurem no Julgame~t~ de habeas corpus, caso os do cometida a infração,' Fora disso, contra a vontade do dono, que se
nir possíveis crimes funcionai~ o~ na declsa~ d~ ações pe,nais para pu- recuse a entregar um fugitivo, s6 depois de amanhecer será admissivel
ria verificará se a autoridade' essa aprecraçao, a autondade judiciá- a invasão do domlcülo .
mento de atribuição de seu caapo~tada cO,mo coato~a agiu no cumpri- O preso em flagrante deve sempre ser levado com a maior pres-
exigir esse procedimento e, enfi~o, se havl~ algum Interesse público a teza à Delegacia, onde se lavre o auto de prisão logo após; nunca de-
pois de 24 horas de espera, Para a lavratura do auto, basta que além do
dos, S6 o estado de necessidade' se os ~elos usa~os foram os adequa-
condutor do preso exista mais uma têstemunha do crime, Se não hou-
mitem que a autoridade policial e? estrito c~mprlmento do dever per-
ver, serão então ouvidas as chamadas testemunhas de apresentação, is-
cessldada e o cumprimento do :ratlque coaç?~s, mas o estado de ne-
to é, que viram o preso ser apresentado à autoridade policial,
gais, Não estão ao livre arbltrio e~er ~e condiclonam aos requisitos le-
Havendo flagrância, por mais complicado que seja o caso, nada
Poder de Polícia e sim remat d
, ,
? ninçuém . Fora dai nunca teremos
a a violência policial, autoriza deixar-se de lavrar o devido auto, A vantagem disso é que tor-
na legal manobras da defesa ou acusação, Todos se tornam logo es-
cravos do que disserem, inclusive o acusado,
Não havendo flagrância, o acusado só pode ser preso mediante
O DETETIVE EM FACE DE UM CRIME EM FLAGRANTE mandado de prisão de autoridade competente, em geral o Juiz, As cha-
madas detenções para averiguações não têm apoio na lei e são corrigi-
FIANÇA, INQUÉRITO POLICIAL. PRISÃO PREVENTIVA: das pelo habeas corpus.
O acusado depois de autuado deve ser recolhido à prisão, salvo
, Todo policial tem a abri a -
dos em flagrante delito; quem ;ã~ao ,de pr,e~der os acusados, encontra- se for a infração afiançável e preste fiança, ou a infração seja punida so-
cularss, pode também prende É seja pollclal, como ~s detellves parti- mente com multa ou prisão no máximo de três meses (art , 321 do C6d,
Proc . Penal), Neste último caso, o acusado será solto logo depois de
a lei dá a qualquer pessoa Ci~"1 um~ ,faculdade e nao um dever, que
cesso Penal), , ,I ou militar (art. 301, do Código de Pro- autuado, Na primeira hipótese, convém esclarecer-se que são inafian-
çáveis os crimes cuja pena seja de reclusão, salvo se o máximo não
Só não podem ser presos m ' exc~der .de dois anos e o acusado for menor de 21 anos ou maior de 70,
tas estrangeiros acreditados no ' . esmo em flagrante delito, os dlplorna- ASSim também, em regra, não se dá fiança a acusados de jogos de azar,
pals exceto se forem simples apostadores . Também é negada fiança aos rein-
nadares e deputados federais e , qualqll~r que seja o crime, e os se-
o crime for afiançável (art 4 o d~s est,aduals dentro de seu Estado, se cidentes e aos vadios (arts . 323 e 324 do Cód , Proc . Penal), O valor
ção Federal e art . 14 da C~n~titui _CÓdigo Penal e art. 45 da Constitui- da fiança é proporcional à gravidade do crime e na fixação ainda se le-
zam de Imunidades Na-o há çao Estadual), São as pessoas que go .. vará em conta, principalmente, a situação econômica do acusado (arts .
, Outras exc - , 325 e 326 do Cód . Penal), Se o afiançado deixa de comparecer a algum
alta categoria civil ou militar e eçoes, seja o acusado da mais
soas. quem o prenda a mais modesta das pes- ato do processo para que tenha sido intimado quebrará a fiança e será
rec~lhido à prisão, Fora daí, permanecerá solto até condenação, se lhe
for Imposta alguma pena privativa de liberdade,
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o inquérito policial é instaurado sempre que a Polícia tenha co.
nhecimento de algum crime. Se houver prisão em flagrante o auto deste tolerância de qualquer pnsao arbitrária. A apuração de um crime não
será uma das peças. do inquérito policial. justifica o cometimento de outros, torturando-se às vezes até pessoas
. H~ cri'!l~~ ,chamados de ação privada, por exemplo: a calúnia, a inocentes, ora por sadismo, ora para suprir a inépcia funcional de poli-
difamação e rruuna, o dano e o adultério (arts. 138, 139, 140 e 240 do ciais, que não estão à altura de sua nobre função
C,ód, Penal), Nestes,casos só havendo requerimento por escrito do ofen-
dido ~ que se po.de Instau!ar o, inquéri!o policial. Para saber-se quando
um crime é ou nao de açao privada leia-se o artigo que a ele se refere O DETETIVE NO LOCAL DO CRIME. FOTOGRAFIAS E
na.parte, especial do CÓ,digo,Penal. Se silenciar quanto à natureza da
açao, 1~lam-se os demais artigos do mesmo capitulo, Prosseguindo, a CROQUIS. INSTRUMENTOS DO CRIME,
ausêncía ~e qualquer referência à espécie da ação, conclui-se que se
trata de crime de ação pública, o que é a regra. Quando o crime é de Local do crime é o lugar onde ocorreu ou se suspeite há ocorrido
ação privada, ~ lei diz que só se procede mediante queixa. A queixa é alguma infração penal, cujos vestlgios e autoria se procuram. Os locais
sempre oferecida perante a Justiça, nunca à Polícia, não devendo con- de crime são das mais variadas naturezas: de homicldio, latroclnio, furto,
f~ndir-se. ~o!," o reque~imento escrito necessário à instauração de inqué- crime contra os costumes, incêndio, inundações, explosões, acidentes
ritos policiaís, n,os crimes de ação privada, ~ erro muito corriqueiro, de tráfego, suicldio e outros. Também diversos podem ser os lugares
que deve ser evítado. onde se situem: a via pública, uma casa em centro de terreno, aparta-
, O inquérito poticial ainda não é a ação penal. Nos crimes, o ini- mento ou cômodo de habitação coletiva, etc. Procuraremos focalizar a
CIOdesta terá que ser ~ Justiça, baseado, em geral, no inquérito policial. questão de modo geral, ressaltando os conselhos mais oportunos,
~as pode também apoiar-se em outras provas suficientes, que já existam, Em face de algum crime, deve o policial, em primeiro lugar, prender
dlspensa~do-se entao a abertura do inquérito policial. ~ este regulado o acusado e, se fugiu ou já está preso, socorrer a vitima, quando outra
p~lo Código ~e Process~ Penal, nos arts. 4,0 a 23. Todas as suas peças
sao manuscritas ou datllografadas e são capeadas, tomando a forma
de um processo. São peças importantes do inquérito o auto de prisão
em flagrante,. quando em flagrância tenha sido encontrado o acusado
sua folha penal e relato de vida pregressa, para que sejam conhecido~
seus ante~edent~s penais e outros deslizes e bem assim sua personali-
I pessoa não o tenha feito. Tão rápido quanto posslvel deverá resguardar
rigorosamente o local do crime, a fim de que fique isolado de pessoas inte-
ressadas na sua alteração, dos curiosos afoitos e até mesmo policiais igno-
rantes. í
Determina o art. 6.° do Cód. Proc. Penal que a autoridade po-
licial, logo que tenha ciência da prática de alguma infração penal, diri-
dade e meio SOCiala que tenha pertencido. ja-se ao local, se posslvel e conveniente, e ai providencie para que não
, Outras peças de relevância são os laudos periciais, comprobató- se alterem o estado e a conservação das coisas enquanto necessário,
nos d.o chama~o, corpo de delito, autos de apreensão de instrumentos, isto é, até se procederem às perlcias necessárias,
vestlglOs rnatertaís e produtos do crime, além de declarações das pes- Antes de chegarem os peritos, quem estiver respondendo pelo
soas, interessadas no crime, acusado, ofendido e testemunhas, e ainda resguardo do local, se algum vestlgio estiver ameaçado de desaparecer
po~slvel~ente ~u!os de reconhecimento, acareação e outras diligências. pela ação da chuva ou do vento ou outro fato natural, procure cobrir
O In~uérlto p~"?,al dev"eencerrar-se pelo relatório minucioso feito pela O vestlgio com um oleado, matéria plástica ou papel grosso, com a aten-
autorldad~ pollc!al, qu~ ,o 'presidiu, dando conta do que foi apurado. O ção devida, para que ele próprio não o destrua,
prazo dO",nquér~to policial será de dez dias se o acusado estiver preso -, A primeira providência da perlcia será a de conservar indefinida-
e de 30 dla~, so n,este caso prorrogáveis, estando solto o acusado. No mente o aspecto do local, Antigamente procurava-se alcançá-to através
decorr~r ,do inquérito ou ao encerrá-to, pode a autoridade policial reque- de relatórios tão minuciosos e imparciais quanto posslvel; mas que não
rer ao JUIZ a decretação da prisão preventiva. podiam deixar de ser sempre incompletos. Hoje a perturbação do aspec-
• , A pri~ão preventiva será decretada, quando houver prova da êxis- to dos locais se consegue facilmente pela prova fotográfica. Primeiro
tência do crlm~ e. lndlclos suficientes contra o acusado, apontando-o co- toma-se uma vista geral, seja da casa num centro de terreno, ou do in-
m? autor. , Satisfeitos estes requisitos é a prisão obrigatón 3 no caso de terior do aposento, ou o trecho do logradouro público, onde se deu o
crimes cuja pena máxima é igualou superior a 10 anos de reclusão crime" Depois devem ser focalizados aspectos particulares: o cadáver,
com?,_por exemplo, o homicidio doloso, ou o peculato. Noutros caso~ sua posição, os ferimentos, as vestes, manchas, objetos em relação aos
a pnsao. preventiva exige novos requisitos, seja a garantia da ordem pú- quais se encontre, notadamente instrumentos do crime. As portas, ja-
blica, evitar a coação de testemunhas, ou a fuga de acusado. O assunto nelas ou paredes arrombadas, objetos quebrados ou destruidos e ainda
está completamente regulado no Cód. Proc. Penal, nos arts. 311 a 316. as pegadas, marcadas de veículos, além de impressões papilares, pal-
. . Como se, 'vê, a lei assegura os meios adequados de prisão dos mares e outras, que merecerão comentários especiais adiante,
indicados de cn~.es .• Se maior rigor ainda convém, o caminho próprio Há mais de trinta anos já bem afirmava Eliso de Carvalho que a
há de ser a mootncação da lei, o que não é difIcil. Errado, sim, será da fotogrdia pode apreender minúncias das mais insignificantes, mesmo
invisíveis a olho nu, pelo observador mais atento e experimentado, se-
1A
jam impressões latentes, manchas de sangue em panos, tapetes e inú- Os croquis mais minuciosos são conhecidos sob o nome de pia-
meros outros vestígios preciosos, Reiss, o maior policial-técnico suíço, nos de rebatimento. Representam-se o c,hãO, as paredes e o teto num
conseguiu revelar pela fotografia manchas de sangue num pano que mesmo plano (vide fig. 1). Dão esclarecimentos mais completos do lo-
fora várias vezes lavado, A fotografia em alguns casos pode até sobre- cal do crime. Mais fáceis ainda de aprender, procedendo-se da forma
pujar a análise química, Além disso, permite ampliação, aperfeiçoada por Kenyeres. Recorta-se o. desen~o pelo contorno, do-
As Polícias mais eficientes utilizam também a fotografia métrica, brando-o depois nas linhas das arestas. Fica entao arn:'~da a. ~e9~ co-
Nestas tudo é retratado obedecendo uma redução proporcional conhe- mo uma caixa, sem apenas uma das paredes, para permitir a vlstbllldade
cida, eliminando-se os erros de perspectiva, Tomando estas fotografias interna.
como base, poderemos conhecer as dimensões de qualquer objeto ou
as distâncias entre eles, por meio de simples operações, Outros tipos de croquis, seja de um andar inteiro, o~ de u~ apa.r-
lamento de várias peças, ou de uma casa e arredores al~da sao mais
Os papéis que se encontrem ainda queimando, não devem ser apa- simples (fiqs . 2 e 3). Recomendações op~rtunas do clásSICO, profess~r
gados com água, que os destruiria, É preferivel que se queimem total- alemão Hans Gross não devem ser esquecidas: - Nunca aceitar as ~I-
mente, Mesmo depois poderão ser lidos, Desconfiem sempre das es- mensões dadas por terceiros; devem ser tomadas pessoalmente; nao
critas incompreensíveis, ou cujas margens ou entrelinhas sejam anor- fiar-se na memória para fazer correções fora do local; s6 repr~sen!ar
mais, Convém que as olhemos contra a luz, As escritas secretas, mi- no croqui os objetos visivelmente relacio,nados com o cas? e, enfim, in-
crofotografias e tintas simpáticas não são raras, Voltaremos a insistir dicar no croqui os pontos donde foram tiradas as fotografias.
sobre esse importante assunto, E não se esqueça que os papéis, às
vezes, encerram impressões digitais dos culpados e, mesmo limpos, num Os instrumentos do crime também devem ser levados em grande
bloco, podem ter decalques do que foi escrito na folha anterior, E tam- apreço nos locais de crime. Quer o Cód. Proc. Penal nos arts. 6.°, item
bém os mataborrões são facilmente lidos no espelho, 11 171 e 175, que os instrumentos referidos sejam apreendidos pela au-
Embora hoje se fixe o aspecto dos locais pelas fotografias métrr- t~ridade policial, depois, evidentemente, da perícia ~e local, ~e ocorrer,
cas ou comuns, ainda prestam bons esclarecimentos à apuração crimi- Nos crimes com destruição de obstáculo à subtraçao da cOI~a, ou por
nal as plantas ou croquis dos locais, São fáceis de fazer e não exigem meio de escalada, os peritos, além de descreverem os vestlqlos do cri-
maior material que uma fita métrica, uma régua graduada, um esqua- me indicarão com que instrumentos pareçam ter sido praticados e, en-
dro, um transferidor e um compasso, além de papel e lápis, fim: serão periciados os instrumentos apreendidos.
As plantas mais usuais são: a) de um aposento; b) de algum an-
dar inteiro; c) de uma casa e arredores,
Na planta de aposento o primeiro cuidado será o de medir as maio-
res dimensões do local a ser representado para, em face do papel, ado-
tar-se no desenho a escala preferível, As paredes representam-se por
linhas; mas podem ser-Ihes dadas espessuras obedecendo à escala,

~Y-
As portas e janelas figuram-se por simples interrupções dos traços, To-
dos os corpos terão as .tormas de suas bases ou de seus tempos,

~I ~:::: I -r-r-r-r-"!: : : :

o
FIG, 2 - CI~OQUI DE UM ANDAR,

Os ladrões costumam utilizar como instrumento chaves falsas,


gazuas, pinças de várias modalidades, pés-de-cabra, talhadeiras, brocas,
etc. As vezes deixam estes objetos nos locais dos crimes, para não se-
rem achados com eles e identificados como os do crime, pelas marcas
FIG. 1 - PLANOS DE REBATIMENTO DE UM LOCAL DE HOMICíDIO, deixadas no local.
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j
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O DETETIVE DIANTE DE UM CRIME DE MORTE. HOMICIDIOS
DOlOSQS E CUlPOSOS. HOMICIDIOS POR AMBiÇÃO. lATRO-
CINIOS_ HOMICIDIOS PASSIONAIS. HOMICIDIOS SEXUAIS. HO-
MICIDIOS POR COBERTURA, ABSURDO, ETC.

Para o nosso objetivo consideraremos crime de morte ou homicí-


dio qualquer delito em que ao menos um dos resultados seja a mort~.
Incluiremos então o latroclnio, o crime sexual com evento mortal e mais
infrações com o mesmo desfecho, embora não previstos no capítulo do
Código Penal sobre os crimes contra a vida e., sim, noutros. Perante.o
CótJigo Penal, muito mais restrito é o conceito de homlcldlo. ~ dito
doloso quando o agente quer matar alguém ou assume o risco de fazê-
-10 não movido pela intenção de praticar crime de outra natureza. Se
a ~orte se dá por imprudência, negligência ou imperlcia temos, então,
o homicídio culposo. São as duas únicas definições e espécies de ho-
micldios, que a nossa lei penal conhece.
FIG. 3 - PLANO DO LOCAL DO CRI~ FEITO POR LECOQ, UM POLICIAl. Encarando a questão do ponto-de-vista da policia técnica, pode-
MODERNODE ROMANCE,CRIAÇAO DE GABORIAU. A - Ponto de onde um poli- -se adotar a seguinte classificação dos homicídios:
cial ouviu os gritos; B - Janela fechada por cujas aberturas um dos agentes
percebeu a cena do interior; C - Poria arrombada por um dos guardas; O - a) por cupidez;
Escala na qual foi encontrada a viúva Chupin chorando; F - Lareira; H - Me- b) por antagonismo;
.as; T - Porta; K - Segunda porta do cabaré; L - Porta do Jardim dando pa-
ra os terreno. baldio.; M - Pegada. na neve. c) por cobertura;
d) sexual;
e) passional;
Os agressores, na prática de homicídios e lesões corporais, usam f) por absurdo;
instrumentos, muitas vezes, improvisados, que podem ser classificados g) por imprudência.
pele forma de contato e modo de ação contra a vítima, como indica
Flamínio Fávero: instrumentos perfurantes quando o contato se faz por lembre-se, todavia, que em alguns casos a apuração dos moti-
um ponto que atua por pressão, produzindo o afastamento das fibras; vos é impossível. Vários deles podem concorrer; outros são apenas apa-
instrumentos cortantes cujo contato se verifica por uma linha e a lesão rentes ou simulados. O motivo do crime é de grande importância, não
ocorre pelo deslizamento sobre os tecidos; instrumentos contundentes, só como ponto de partida para a apuração da autoria nos crimes miste-
em que o contato se faz por um plano que atua por choque, compressão, riosos, como ainda pelas conseqüências na agravação ou atenuação da
e, às vezes, também por deslizamento. Há outros intermediários. Os pena.
corto-contundentes que cortam e contundem e os pérfuro-condundentes Dentre os homicídios por cupidez, o latrocínio é a forma de crimi-
que perfuram e contundem. nalidade mais primitiva. Os acusados deste crime são em geral desti-
tuídos de qualquer sensibilidade afetiva ou mesmo técnica criminosa. Ne-
Como instrumentos perfurantes indicam-se os alfinetes, os espi- les·o que reSsalta é a força bruta, além da perversidade. Os criminólo-
nhos, as agulhas, a que se dá o nome ainda de punctórios: temos ainda os gos de Ifngua francesa os chamam de escarpes. Provêm de camadas
furadores de gelo, os punhais, etc. Entre os instrumentos pérfuro-cortan- criminais inferiores. Em geral moços, vagabundos, associados casuais,
tes, podemos distinguir os que têm um, dois ou mais gumes. Como não planejam o crime ou o fazem rudimentarmente. Para roubar, ma-
exemplos, temos as facas de ponta ou facas punhais, as limas, etc. Ins- tam sém hesitações. Deixam os locais de crime, em geral, no. maior d~-
trumentos cortantes são, por exemplo, as giletes, navalhas, as facas de salinho e orgia de sangue e horror. São, no entanto, os ladroes que t~-
sapateiro, os vidros, as folhas-de-flandres e o próprio papel. Corto-con- ram menor proveito do crime. Os ladrões mais inteligentes e experi-
tundentes são as foices, machados, dentes, ainda corpos cortantes co- mentados sabem que são muito mais pesados os castigos, quando as
mo uma serra circular impulsionada de alguma velocidade. Enfim, co- vítimas perdem a vida. O latrocínio é o crime punido com a maior seve-
mo Instrumentos contundentes, apontam-se o martelo, o pilão, o cacete, ridade da lei brasileira e o julgamento se faz perante o Juiz togado e
o punho, uma pedrada, o instrumento denominado "box", etc. Os as- não o Júri. Está previsto no art. 157, § 3.o.do.Código"Penal.
poctos caracterfsticos causados por tais instrumentos no corpo humano Nas favelas e outros maus ambientes estão os ninhos dos "escar-
estudaremos em capítulo posterior. pas". Depois dos crimes, se tiraram razoável proveito, não tardam em
demonstrá-to em exibições ou esbanjamentos. São caracteristicamente As formas de exterminio são das mais variadas, sendo o envene-
gozadores e imprudentes. Boa forma, portanto, de descobri-I os será a namento muito comum, os falsos acidentes também. Crimes desta. e_s-
infiltração de policiais disfarçados nestes meios criminosos, como a uti- pécie praticam-se usualmente com requintes bárbaros, pela repetlçao
'i dos golpes. Indica um furor, que superou a pressão oposta em sup.or-
lização dos indicadores alcaguetes, do que, todavia, não se deve abu-
sar. Mas a base inicial da investigação não poderá deixar de ser o ex- tar ofensas e provocações durante anos, bem ressalta o mes~re Henttq .
pressivo local do crime. AI se encontrarão numerosos "cartões de visi- Recorda este autor dois casos ocorridos na Europa, e~ que nln9uém. ha-
ta" dos criminosos. Impressões, sinais de luta e mais vestigios 'e até via percebido a menor tensão entre os espos5'~' Parec~am casais felizes.
coisas perdidas pelos acusados. No caso da sexagenária alemã Babelte por isso, a dúvida pode permanecer no aspínto dos Jur.ados, pela. apa-
Brant, recentemente roubada e assassinada no bairro da Glória, serviu rente falta de motivo do crime e os culpados sejam afinal absolvidos.
de ponto de partida para as investigações uma fatura comercial perdida Os crimes por antagonismo também ocorrem com~ d~sfecho .de
no local por um dos criminosos. O aproveitamento que tiraram estes do rivalidade de vizinhos, ou de moradores de casas de habítação coletiva
latroclnio foi insignificante, um relógio e um anel. Cerca de hora e meia e companheiros de trabalho. Enfim, entre pessoas qu~ se detestam.
depois do crime, um dos ladrões oferecia à venda o relógio, num bar mas se vêem obrigadas a viver e se encontrarem frequentemente em
distante menos de 300 metros da casa da vitima. Noutro rumoroso du- determinado lugar. Acaba de dar-se um crime destes. O ~x-procur~dor
plo latroclnio do casal Soares Pereira, na mansão da Rua Toneleros, os -geral do trabalho Elmar de Aguiar Campos, que assassinou a tiro o
assassinos, três jovens entre 21 e 23 anos, foram descobertos porque procurador Hilo Bastos de Almeida, seu colega de trabalho.
dois ou) três dias depois do horroroso assalto, foram vistos com jóias das O homicídio por cobertura dá-se para encobrir outro crime .. O
vltlmas e dois canários belgas num morro próximo. Um dos assaltan- mais estranho está em que o delito acobertado é geralmente multo
tes saiu do local do crime vestindo uma camisa do assassinado. Os menos grave que um atentado sexual, furto, ou mesmo rou~o. E.m 1948, na
três acusados foram denunciados pela Promotora Maria Regina Parissot Alemanha, registrou-se caso bem absurdo até. Para ficar Impune de
e depois condenados cada um a 60 anos de reclusão na 4.8 Vara Crimi- um atropelamento casual, o acusado matou a única testemunha do fato.
nal, havendo o Juiz Basileu Ribeiro Filho seguido expressamente o pon- Sacrificou-se a vítima, uma testemunha ou o comparsa. Até pes~oas ab-
to-de-vista deste modesto autor, em trabalho doutrinário anteriormente ,\ solutamente inocentes, ou que foram compelidas a prestar serviços. ao~
publicado. A sentença já foi confirmada. criminosos, como médicos, por exemplo. Essa prática de extermínio ~
Ainda 'outros crimes de morte podem ser praticados, movidos pe- adotada pelos gangsters americanos para garantia de se?urança .. ~te
la ambição. Por exemplo, o homicldio de alguém pelo seu herdeiro, ou nas prisões silenciam testemunhas. É a razão por que o Klller proftssio-
a morte do futuro herdeiro, para desviar a ordem da sucessão heredi- nal termina logo com a vida da vítima, utilizando armas pesada~ e exe-
tária. Menos raros não são ainda os assassinos para recebimento de cutando múltiplos disparos, golpes ou punhaladas, acentua Hentig.
seguros. Nesses casos, o modo de agir e a personalidade dos crimino- Todos os países punem com severidade o crime. por cobertu.ra,
sos muito diferem em geral dos autores de latroclnio. Freqüentemente bem indicativo de elevado egoísmo criminal, além da baixeza do motlv?
buscam a simulação de morte natural para a vitima, por meio de veneno atuante. No direito brasileiro é sempre uma agravante e no caso parti-
e outros disfarces, ou os falsos acidentes. Agem costumei ramente com cular do homicidio torna-o qualificado, isto é, passa a ter penas fixadas
argúcia e sabem que estará tudo a perder, ocorrendo o mlnimo descui- em limites mais elevados.
do, o que freqüentemente acontece. Caso dos mais sensacionais aca- O homicidio passional não constitui uma categoria independente
bou de ser julgado na Itália. Para receber um seguro acima de 150 mio nas classificações de assassínios oferecidas por Hentig, Middendorff ~
Ihões de liras, o engenheiro Giovanni Fenaroli empreitou o matador outros criminólogos. Preferem incluí-Io entre os praticados por contli-
Raoul Ghiani o estrangulamento da esposa Maria Martirano. Fora antes to ou antagonismo. Julgam possivelmente semelhante o proces.so PSI-
proposto ao médico assistente da vítima a simulação de um acidente. cológico de todos esses crimes. Realmente, a paixão de cobiça. do
pelo que receberia 10% do seguro, o que não foi aceito e depois reve- ódio ou da vingança podem ser tão cegas quanto a do amor contrariado,
lado em Juizo. Os criminosos foram condenados a prisão perpétua, em- da honra ou paixão politica. Mas não devem ser encaradas da me~n:a
bora Fenaroli fosse defendido por Carnelutti, um dos maiores penalistas do forma peta lei penal. É que enquanto es tas ~Itimas são paixões SOCiaiS,
mundo. baseaáas em senlimentos elevados, necr ssários ao bom convivo da so-
O homicídio por antagonismo ressalta de uma rivalidade que vai ciedade, por outro lado a cobiça, o ódio e o desejo de vingança são
crescendo e acaba na explosão criminosa. Verifica-se muitas vezes no sentimentos baixos, anti-sociais e sempre egoístas.
seio familiar, onde a falta de recursos dificulta o afastamento de inimi- Fica assim entendido que homicídio passional deve ser conside-
gos intimos que muitas vezes são parentes, não raro marido e mulher. rado todo aquele que teve causa num sentimento nobre, embora exa-
O afastamento é uma salda, mas sendo bloqueada inclusive pelo pre- cerbado. A revolta súbita de que é possuído o marido honrado ao sur-
conceito, bem assinala o criminólogo Middendorff, torna o casamento preender a esposa em flagrante adultério; seja. a dor do abandono cau-
insurportável. Um jugo cada dia mais opressivo e oneroso, que leva sado pelo marido ou noivo levianos e surdos às súplicas da pobre aban-
donada. E não tenha afinal suportado o influxo lento, mas constante, de
afinal o criminoso à descrença de outra solução fora do assassínio.
na posse .se~.ual. Há autores que ressaltam ser mais perigoso surpreen-
uma paixão crescente. A nossa lei, muito acertadamente, não isenta de
der o delmquente sexual que o ladrão; as reações daquele são em ge-
punição nem o que .age em estado de emoção, qual no primeiro exem- ral mais violentas.
plo dado; nem no dá paixão como o segundo apontado. Acha que em
nenhuma das duas hipóteses fica o acusado absolutamente incapaz de O homicidio por absurdo é o que em ação criminosa não encon-
racionar. Mas curva-se a lei penal diante da nobreza do sentimento- tra a mlnirna explicação. Às vezes constitui verdadeiro crime gratuito,
-base da reação e admite considerável diminuição da pena. É esse o cri- ação sem finalidade ou utilidade alguma, a não ser matar o tédio do
tério certo defendido por muitos penalistas, inclusive de idéias renova- criminoso. São homicidios praticados pelos delinqüentes chamados ins-
doras do direito penal, como o sábio Enrico Ferri. tintivos. Muitas vezes jovens, impermeáveis a qualquer sentimento bom.
Os casos passionais despertam sempre grande interesse público e Não têm remorsos e são indiferentes à gravidade dos atos, que prati-
são objeto de simpatia exagerada. Muitas vezes pessoas, que deveriam ser cam. Vi muitos chegarem presos em flagrante a Delegacias e logo dor-
mais esclareci das, deixam-se enganar e confundem falsos e verdadei- mirem tranqüilamente, tendo-se de acordá-tos uma hora depois ou pouco
ros passionais. Até o cínlco rufião, que mata a mulher a quem explora, mais, para serem autuados. Foi recentemente aproveitado no cinema o cri-
quando lhe ameaça escapar, toma às vezes ares de infeliz apaixonado me dos estudantes Leopold e Loeb, pertencentes a ricas e respeitáveis
e é acreditado. Não são também passionais os crimes por despeito, vin- famflias americanas, os quais, em 1924, mataram por estrangulamento uma
gança, amor próprio ou suposta idéia de propriedade trazida pelo ca·· criança, apenas para experimentarem sensação da prática de um ho-
samento. Matar por ser preferido, quando antes só se davam demons- micldio. Casos outros podem ser indicados - matar para experimentar
trações de desafeição e desinteresse pela vltima. As invocações à hon- a arma ocorreu na Alemanha, ou para criar um caso à Administração da
ra ultrajada e os ares de slmbolo de marido ou esposa ultrajados, logo Penitenciária, deu-se no nosso Estado, ou por que nAo se passava nada
após à prática do crime não são atos dos verdadeiros passionais. Dizer excitante na região, explicou uma jovem de dezesseis anos, que matou.
que comprou a arma para suicidar-se, mas esqueceu de fazê-Io ou não em 1958 o irmão de quatorze, no Estado da Califórnia, nos E. U .A. Es-
conseguiu encontrar o ouvido, num tirinho de raspão na orelha, quando ses crimes inexplicáveis são, por isso mesmo, muitas vezes difíceis de
não perdeu uma bala a boa distância na vitima. Não poder viver sem apurar. Mesmo a Polícia ou a Justiça custa a admiti-Ios.
o ente amado e continuar vivendo até morrer de velho. Tudo isso é
evidentemente o oposto do verdadeiro passional. Este só rarlssimas ve-
zes chega a matar e quando o faz não se defende, se logo não se sui-
cida ou apenas só se suicida. A princfpio, no auge de seu sofrimento, O CADAVER. SINAIS DE MORTE E MORTE APARENTE. NECROP-
pensa em matar; reflete depois. "E para que continuar vivendo? Mato SIA. DISTINÇÃO DE LESõES NO MORTO E NO VIVO. ÉPOCA
e suicido-me. Mas se vou morrer, para que matar?" E o caso resume- DA MORTE.
-se no suicldio, muitas vezes sem uma palavra ou explicação.
Como há o falso passional amoroso também há o falso passional
Dizer que o cadáver é uma grande vedete da criminologia seria
polltico. Vaidoso também de sangrenta glória ou aventureiros à cata de
melhorias só materiais ou do gozo do poder, revolucionários de todas uma piada tétrica, mas nunca se exagerará a importância das atenções
as revoluções, sem pátria nem bandeira. Muitos desses não passam de que ele desperta. Se na pesquisa das espécies de homlcldio de foca-
doentes mentais, embora nem sempre irresponsáveis perante a lei pe- lizar, encontrará provavelmente o detetive uma pista para investigação,
nal. partindo do motivo do crime, aqui o exame do cadáver é outra fonte pre-
4 ciosa de esclarecimentos.
O homicídio sexual não é também uma classe rara. Infelizmente,
mes?,o na civilizada Europa, continuam ocorrendo com freqüência, in- No campo [urldlco. bem sabemos que a morte é acontecimento
clusive na Inglaterra, mormente na modalidade de sadismo. No homi- da maior relevância. Marca o fim da pessoa ffsica no direito civil; nos
países. que não admitem o divórcio, constitui a única forma de dissolver
cídio sádico a ação destruidora da vida oferece uma excitação sexual
que o criminoso busca. Às vezes é verdadeiro equivalente do coito o vinculo conjugal; fixa ainda o momento em que se dá a sucessão he-
Muitos desses sádicos são, no entanto, de fraca sexualidade. Febrônio reditária, mesmo quando os próprios herdeiros o ignorem. No direito
penal determina o momento da consumação do homicídio, antes do qual
Indico do Brasil, o mais famoso sádico brasileiro, que há mais de trinta
só. se poderia falar em tentativa (3 ainda extingue a punibilidade, isto é,
a~os matou vários menores e a alguns tatuou depois de mortos. não pare-
cia haver com eles praticado nenhuma espécie de cópula. No Manicômio quita o morto com a Justiça. Mas no estudo da morte, é particularmen-
te à medicina legal e à técnica policial que cabe indagar a certeza da
onde se encontra até hoje, logo se tornou pederasta passivo. Foi con-
s~derado.irresponsável penal, um estranho esquizofrênico dificilmente morte, saber como ocorreu, as suas causas e a época em que se deu.
diagnosticado, a ponto de confundir o grande psiquiatra Heitor Carrilho, Antes de encararmos as questões acima, devemos lembrar que
que o classificou como personalidade psicopática. a agonia, fase às vezes longa, que precede a morte, é prova de que o
Há no entanto outros homicídios sexuais, que não são sádicos, - corpo não morre todo ele ao mesmo tempo, como ressalta Lacassagne.
ocorrendo a morte como conseqüência não pretendida das violências A inteligência extingue-se antes da respiração e da circulação; estas
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cessam antes das propriedades dos tecidos musculares e estas, enfim, mento do espelho levado às n arinas e outras provas corriqueiras. De-
desaparecerão antes das reações epidérmicas . Estes conhecimentos tra- saparecendo as mudanças mole ~ulares, cai a temperatura, afirmando La-
zem grande facilidaáe ao entendimento de relevantes questões. cassagne que o termômetro des ~endo a 25 ou 22° na axila ou no ânus,
a morte é certa e pode procede, -se à inumação. Cabe-nos aqui, enfim,
Diz Alberto Pessoa, ilustre criminólogo português, que ao encon- referir-nos à rigidez cadavérica resultante da contração dos músculos, o
trar-se alguém que pareça morto, a primeira coisa que o policial deve que ocorre mais ou menos uma hora depois da morte e se conserva
fazer será ter a certeza disto, pois se houver os mais leves sinais de até umas 30 horas. No estado atual dos conhecimentos cientlficos, diz
vida, a obrigação de prestar socorros se antepõe, evidentemente, a tudo o Professor Jean Planques que a morte é real, quando não se consegue
o mais. Acuda-se, portanto, imediatamente a vítima, embora se altere reanimar o paciente pelo espaço de uma hora. Todas as cautelas de-
o aspecto do local. É exata a afirmativa até certo ponto, porque se o
criminoso estiver ainda presente, ou em fuga, a prisão deste não pode
deixar de ser a tarefa policial mais urgente, Outra qualquer pessoa se-
• vem ser tomadas para que não se confunda a morte real com a morte
aparente. Muitas lendas e histórias lúgubres se contam sobre enterra-
dos vivos e infelizmente nem sempre há fantasia. Assinalam-se casos
rá convocada para socorrer a víti ma. '
de letargia histérica, principalmente em mulheres, e letargias de outras
espécies. Casos têm-se notado de morte aparente que duram horas se-
guidas, até mais de quarenta horas. Indica-se como forma simples de re-
velá-Ias injetar no paciente uma injeção subcutânea de f1uorescina. Se
SINAIS DE MORTE E MORTE APARENTE a circulação não cessou de forma absoluta, o sangue a veiculará. Tour-
des e outros mestres, tendo em vista a porção de ar encerrado nos cai-
Fazer o diagnóstico da morte nem sempre é fácil, embora sejam xões funerários têm procurado calcular quanto tempo de vida pode ter
numerosos os indicados sinais de morte. Lacassagne grupou-os, tendo quem volte a si estando enterrado. Calcula-se em média uma meia ho-
em consideração que a morte se evidencia pelo cérebro, o coração e ra ou pouco mais, que bem poderá considerar-se um século para o infe-
os pulmões. liz que a sofre, adverte Lacassagne.
Dizendo cérebro, quis o notável médico legista referir-se ao sis- As causas da morte também nem sempre facilmente se vislum-
tema nervoso. Verifica-se a perda da inteligência, da sensibilidade e bram. O interesse em conhecê-Ias é manifesto no caso de mortes sú-
do movimento'; os órgãos dos sentidos não funcionam mais. A face ad- bitas. Indispensável será proceder-se sempre à autópsia, seja no Insti-
quire aspecto característico: palidez mortal, fronte enrugada, maxilar in- tuto Médico-Legal, quer em outra parte, no Rio 'de Janeiro, o Instituto
ferior caído, a boca e os olhos abertos. Verifica-se ainda o relaxamen- Anatõmico, quando tudo leve a crer tratar-se de morte decorrente de
to dos estincteres, como resultado da paralisia súbita do sistema mus- alguma enfermidade, mas sem assistência médica.
cular, Eis a causa da expulsão de fezes, esperma e lágrimas. Só erra-
damente há quem afirme que os enforcados cheguem à sensação de
gozo sexual pela expulsão de esperma, ou veja nas lágrimas o pranto
dos moribundos. Os membros, a cabeça, os Ifquidos, tudo enfim, cede
NECROPSIA
à ação da gravidade e por isso tende a cair. Os olhos sofrem senslveis
modificações, da agonia até a putrefação. Na agonia, um dos primeiros
fenômenos é a perda gradativa de visão. A falta de sensibilidade e res- A autópsia ou autopsia e mais propriamente ainda necropse ou
secamento da pele do morto fazem com que esta não demonstre qual- necropsia é uma operação no cadáver, que visa esclarecer a ocorrên-
quer reação a estlmulos exteriores, picadas, queimaduras, etc. Sendo cia de crimes, acidentes de trabalho, enfim, toda e qualquer morte vio-
a pele comprimida, pela falta de elasticidade, mantém, sem apreciável lenta. Outras vezes visa a indagações de finalidade sanitária ou clínica.
modificação, o enrugamento sofrido. Nos Estados (a Guanabara, São Paulo e outros, procedem-se a ne-
A cessação do funcionamento do sistema circulatório dá-nos si- cropsias em todos o ~ casos de morte violenta, isto é, causada por cri-
nais de morte de percepção vulgar: a falta de batidas do coração e a mes de acidentes, su 'cídíos e ainda na hipótese de morte natural sem
falta de pulsação. Das artérias foge todo o sanque . Costuma-se secclo- assistência médica.
nar a artéria radial ou temporal para comprovação da morte ou injetar- A técnica da necropsia é diferente, segundo as variadas clrcuns -
-se um colorante na veia, sem difusão, sendo no cadáver, Por outro tãnclas que cercaram a morte. Como outros mestres, acentua Flamínio
lado, as veias se intumescem de sangue. Também cessa a circulação ca- Fávero, a necroscopla médico-legal obedece comumente a um roteiro
pilar, provocando a descoloração dos tecidos. As partes sobre as quais preestabelecido até em regulamentos policiais, Entre nós, o regulamen-
o corpo repousa tornam-se achatadas e esbranquiçadas . Começa a for- to de policia, de 1934, prescrevia regras minuciosas. Começa esta perí-
mação das hipóstases eu livores, como adiante veremos, cia pelo exame externo, que pode, às vezes, ser sumário. O exame in-
Enfim, da paralisação da função respiratória, temos como sinto- . terno então, Quando a causa da morte seja logo apurada, llrnitar-se-á à
mas, a insensibilidade de uma chama levada aos lábios, o não embacia- cavidade, que esclareça a indagação. O exame interno exige, ordinaria-
LESOES NO MORTO E NO VIVO
mente, a abertura, pelo menos, das três granr'es cavidades: crânio, tó-
rax e abdômen. Terminada a autópsia, proce :le-se à reconstituição do Distinguir as lesões no morto das lesões no vivo é outra importan-
cadáver. te pesquisa médico-legal. Visa evitar erros quanto à verdadeira causa
mortis, que não raro os criminosos procuram disfarçar. As lesões no ca-
As autópsias devem ser, sempre que' .ossfvel, realizadas à luz na- dáver não encontram as naturais reações orgânicas, salvo logo após as
tural. mortes violentas em que ainda se percebem algumas. Não será, por
Nas mortes súbitas é indispensável uma necropsia completa. Vi- isso, dificil a diferenciação. Damos abaixo uns dados em confronto:
sa descobrir qualquer traumatismo disfarçado, inclusive' a entrada dissi-
No Morto
mulada de projéteis ou reveladas embolias do coração ou pulmões. Re-
colhem-se sangue e urina para exames, como também às vezes as vís- 1 - Ausência de coágulos; transbordamento de um líquido sangren-
ceras. to, tênue, de que os tecidos vizinhos não se impregnam.
A necropsia pode logo ser concludente, isto é, dar imediatamente 2 - Ausência de inflamação ou de gangrena.
a explicação da morte. Diante de uma hemorragia abundante verifica-
-se que decorreu de rotura por aneurisma. Males do coração e outros 3 - Ausência de inflamação, bem como pouco afastamento das bor-
podem também ser imediatamente revelados. Casos porém há de au- das das feridas.
tópsias que resultam brancas. Então se indagará se ocorreu alguma in-
toxicação, o que o exame das vlsceras responderá; pode ainda haver No Vivo
ocorrido a morte por inibição e aí as dificuldades aumentam. Sabe-se
que especialmente em casos de afogamento pessoas existem, que por Coágulos bem nítidos e transbordamento do sangue dos ferimen-
predisposição orgânica ou outras circunstâncias ocasionais, como a tos, principalmente nas partes mais internas dos ferimentos mais
exaustação, a embriaguez, o medo, podem ser vítimas de inibição. Jean profundos.
Planques afirma que nos casos de morte por imersão na água, em um 2 Freqüentes supurações, sabido que o pus é a reação dos glóbu-
por dez não ocorre asfixia mas síncope. O homem afunda a prumo iner- los brancos do sangue .contra os micróbios que assaltam a lesão;
te. Não engole água. A morte decorre da suspensão, por inibição, de por vezes gangrena.
funções vitais: o coração ou a respiração param, a tensão arterial sus-
pende-se. Isto se dá, embora raramente, pelo choque provocado pela 3 - Inflamação e afastamento pronunciado nas bordas das feridas in-
imersão em água fria, quando o organismo esteja pouco propenso a de- cisas e tanto mais afastadas quanto mais acentuada for a mor-
fender-se, seja por alguma intoxicação, mais comum a alcoólica, fadiga bilidade da parte alcançada e mais obliquamente em relação às
pronunciada, ou durante a digestão, ou em "Se tratando de pessoas ido- fibras musculares for o ferimento.
sas.

As lesões mortais são as que atingem seriamente os órgãos vitais ou,


mesmo atingindo outras partes do corpo tenham causado uma profunda ÉPOCA DA MORTE
hemorragia. Apontam-se como órgãos vitais o coração, particularmente as
aurfculas, o cérebro na região em que há o centro da respiração e da É, enfim, outra questão do maior interesse. Afirma Lacassagne
circulação e o bulbo raquidiano, do qual depende a função respiratória. que estando bem caracterizados os sinais da morte, mais fácil será fixar
Ainda adverte Jean Planques, que mesmo quando nenhum órgão a sua época. Classifica aqueles em sinais de morte recente e sinais de
vital é atingido e quando todo o sangue não se derrama, a morte é pos- morte antiga, conforme sejam antes ou depois do início da putrefação.
sível, no caso de ferimentos múltiplos e profundos, pelo fenômeno do Esta começa no verão dois dias depois da morte e no inverno oito dias,
c~oqu~, é palavra simples a que não corresponde I ma explicação mé- acrescenta o autorizado autor. No entanto, reconhece ele que tudo de-
dica simples. Nos mortos por choque, a autópsia rEvela um sangue es- pende' das clrcu, stâncias, sendo das rr.aís importantes o clima. Entre
pesso, cujo plasma se derramou nos tecidos em virtude do relaxamento nós, no Rio, a putrefação já se manifesta no fim de 24 horas e nos dias
geral dos vasos tornados demasiadamente permeáveis. mais quentes até mesmo a partir da 15.a hora. Os dados oferecidos pe-
los europeus exigem adaptação ao nosso ambiente.
. Toda vez que as lesões verificadas não têm maior gravidade Pode servir de orientação prática, embora apenas aproximada-
I~cumbe ao médico-Iegista pesquisar na autópsia as outras causas, pree- mente, as seguintes informações para a apuração da época da morte:
xistentes, uma lesão cardíaca, uma cirrose alcoólica, ou qualquer outro
achado mórbido. Uma luta corporal não encarniçada, ou uma emoção 1.0 - Não havendo sequer início de rigidez cadavérica, a mor-
pode apenas ser a causa desencadeante e longe estar de ser a maior ou te ocorreu há menos de uma hora; se a rigidez já se vai generalizando,
.verdadeira causa.
o óbito ocorreu há duas para três horas e cinco a oito horas se já se amento é a suspenção total ou parcial do corpo pelo pescoço por
generalizou. A rigidez perdura ainda uns dois ou três dias após o inl- de um laço preso a um ponto fixo, envolvendo o pescoço e aper-
cio da putrefação." o-o a ponto de causar a morte por súbita astíxla; favorecida ainda
'por perturbações da circulação e da enervação. O peso do corpo é o
2.° - se ainda não apareceu a mancha verde abdominal, que
começa na fossa illaca direita, a morte não terá ocorrido há mais de ,responsável por todas as conseqüências mortais, enquanto na estranqu-
quinze horas até dezoito nos dias mais quentes e vinte
nos outros dias.
equatro .horas
,~açãoo aperto do pescoço ee dá por outra força, as .máo&·assassina;-ou
:a·suaação ouxando as pontas do laço .em torno do pescoço da vitima.
'A primeira forma chama-se também esganação. Exige acentuada supe-
3.° - Se o corpo já se resfriou, para igualar-se ao do meio- rioridade de força do 'criminoso, sobre a vitima. Esta apresenta normal-
-ambiente, mais de vinte horas devem ter transcorridas desde a morte, mente 'unhadas no pescoço enquanto o esganador -equlmoses nos mem-
, 'bras. inferiores, causadas por ,p~ntapés da vftima no s~u,esforço de de-
4.° - Para mortes mais antigas a precisão da pesquisa vai di-
minuindo. Mas outras indagações são experimentadas, como o estudo
.:> fender-se. O enforcamento é tcrma-corrlquelraõe suicídlo.vmas pode
I '~~~. ser o corpo pendurado depois, como,astuciosa manobra ,~. despistamen-
dos fenômenos gastrintestinais, o exame dos cristais de sangue putre- I "·to. Mas os peritos terão em vista que as lesões causadas pela corda
feito, o crescimento dos pelos da barba, sabido que os pelos crescem i ,T devem apresentar as caracterlsticas reações dos terímentos nos vivos,
21 milésimos de milímetros por hora, o estudo da flora e da fauna micro- :' a que já estudamos acima. Assim também nos verdadeiros enforcamen-
biana. Quanto à flora cadavérica, hoje já se chegou a conclusões cien- : tos a corda toma posição sempre diante do osso hi6ide, que fica entre a
tlficas de sua insegurança. Mais prestlgio alcançou o estudo da fauna, laringe e a base da IIngua. Nos falsos enforcamentos nem sempre isto
baseado em que os animais, notadamente insetos, atacam o cadáver se verifica. Assim também é sempre de suspeitar-se a ausência de mor-
numa espécie de turmas de trabalhadores da morte, havendo como que deduras da língua e equimoses, em geral nos membros inferiores, de-
uma sucessão delas. Assim sendo, verificada a espécie dos insetos en- correntes das convulsões dos enforcados. Enfim, se o corpo esteve
contrados, conclui-se qual a fase de putrefação em que já está oca. pendurado por tempo apreciável, em se tratando de verdadeiro enforca-
dáver. Esclareça-se bem que a fauna objeto das mais importantes inves-
do se encontrarão os livores nas suas posições caracterlstlcas, mais
tigações são as do cadáver ao ar livre. Difere a do cadáver enterrado
ou mergulhado n'água. acentuados nos membros inferiores. Os peritos não deixarão nunca de
perceber outras lesões mais graves que existam no cadáver e que pos-
Enfim, também nesta questão merecem referência as hipóstages ou sam ter sido a verdadeira causa da morte e antes do suposto enforca-
livores. Pelo fato de cessar a circulação com a morte, o sangue obede- mento. Mas os peritos também sabem que às vezes quem deseja mor-
cendo à lei da gravidade, procura as zonas de declive e atina! acumula-
rer tenta meios de suicídio não eficazes de pronto e afinal buscam o
-se, formando manchas externas escuras. Nos lugares de clima quente,
enforcamento. Também em outras ocasiões atam asspróprias mãos antes
como o nosso, os primeiros sinais dão-se logo minutos depois da morte,
por um pontuado; bem visíveis serão as manchas a partir de uma hora de se enforcarem.
da morte até duas ou três. Dentro de oito a doze horas tornam-se pra- Pessoas sem conhecimentos técnicos consideram estranho que a
ticamente fixas. Isto é, mudada a posição do corpo, só muito lentarnen-
morte possa ocorrer quando o corpo do enforcado não fique lntelrarnen-
te se dissipam e deslocam. Estando o corpo em posição de decúbito
dorsal aparecem os livores desde a nuca até a face posterior das per- te suspenso. Não sabem que, com o choque do peso do corpo, há uma
nas e coxas, maiores as das costas e nádegas. Nas pessoas de cor são perda imediata da consciência e o paciente, embora continue debaten-
menos visíveis, mas reveladas facilmente por um pequeno corte, que do-se, é incapaz de firmar-se no solo para aliviar-se do laço, seguindo-
se faça na pele, de onde logo escoará o sangue. -se a asfixia mortal. Nas figs,. 4 a 6 indicamos várias formas comuns.
Estas manchas são da maior importância em polícia técnica,
para revelar haver sido o cadáver deslocado da posição em que perma-
neceu por tempo apreciável, a partir da morte.

ESPÉCIES DE MORTE VIOLENTA: ENFORCAMENTO, ESTRANGULAÇAO,


SUFOCAÇAO, ESQUARTEJAMENTO E ENVENENAMENTO.

Completando o nosso estudo sobre o cadáver, passaremos a foca.


lízar as lesões características de algumas das mais freqüentes formas de
figs. 4, 5 e 6 - Formas comuns de enforcamento, em que o
morte violenta. Começaremos pelo enforcamento e a estranqulação . En-
suicida não fica com o corpo pendurado livremente no espaço.
ESTRANGULAÇAO
jamentos são muitas vezes obra de Indivíduos cuja atividade se liga ao
uso de facas ou bisturis. Suspeita-se assim que o terrível Jack, o estri-
Na estranquleção o sulco provocado pelo laço é perpendicular ao pador de Londres, que matou 11 mulheres, no período de dezembro de
eixo do pescoço, e em toda a sua volta, a semelhança de um colarinho, 1887 a setembro de 1889, tenha sido um hábil cirurgião. Mas o mistério
enquanto no enforcamento, tem direção obllqua ao eixo do pescoço e a permanece até hoje. Lacassagne contesta a habilidade técnica deste cri-
forma de ferradura, interrompendo-se na parte posterior dele, O aspecto minoso, como cirurgião. Acha que foi a prática adquirida na repetição
dos pulmões do estrangulado também difere do do enforcado, porque na- dos crimes que o tornou hábil no esquartejamento. É curioso ressaltar
quele se encontram os vestlgios acentuados dos esforços violentos e opri- ainda que na opinião do notável médico-Iegista, Jack não devia ser ne-
midos dá vítima na aflição de expirar e inspirar, Isto porque a fase inicial nhum doente mental irresponsável, porque, senão, teria acabado por re-
do estrangulamento é de resistência e sufocação incompleta; seguem-se velar-se. Acha que o louco é mais honesto que o criminoso responsável
depois as convulsões com a perda da consciência e, afinal, a asfixia total, e acaba confessando. Muitas versões foram dadas aos crimes de Jack
Ainda ao contrário do enforcamento, dificilmente é o estrangulamento pro- e sua personalidade foi mais de uma vez explorada como assunto de ci-
curado pelos suicidas; cita-se, porém, o caso do general francês Pichegru nema.
em 1904, na prisão. É freqüentemente praticado pelos asassinos, como
meio seguro de matar, evitando o derramamento de sangue e os gritos O terrfvel despedaçador alemão Haarmann, chamado o açougueiro
da vítima. Salvo o caso em que esta seja apanhada de surpresa ou em de Hanover, foi executado em 1925, após acusação do assassínio de 27
situação de não poder defender-se, geralmente os estrangulados são adolescentes e crianças. Além de açougueiro, exerceu as profissões de
crianças, mulheres franzinas, velhos ou doentes. Acaba porém de ocorrer vendedor de roupas e detetive particular. Era homossexual e também ca-
em Paris o estrangulamento do comissário Pierre Perol. Tinha apenas 42 nibal, isto é, comia a carne das próprias vitimas.
anos de idade e pesava mais de 90 quilos. Foi estrangulado pela esposa,
De nenhuma atividade ligada a uso de facas ou bisturis foi o terri-
de muito menor compleição, que utilizou para isso o cinto do robe de
charnbre da vitima. É que o surpreendeu quase inconsciente, pela inges- vel Vacher, decapitado em 1898, na França, culpado de 21 mortes e ten-
tão de elevada dose de barbitúrico. tativas, contra mulheres jovens, idosas e crianças, muitas das quais che-
gou a degolar e estripar em seguida, depois de manter com elas relações
sexuais já estando mortas -...,necrofilia. Também de outras profissões to-
ram Troppmann, que matou uma familia inteira de oito membros e Landru,
SUFOCAÇAO o terrlvel Barba Azul, que matou inúmeras mulheres, levando-as a uma casa
de campo, onde as eliminava e incinerava num forno de cozinha as vl-
timas aos pedaços. . '
A sufocação é a asfixia pelo impedimento da entrada de ar até os
pulmões da vitima por algum obstáculo mecânico, excluldos o enforca- Estes últimos esquartejadores tiveram propósitos patrimoniais, co-
mento, o estrangulamento ou o afogamento. A ação pode ocorrer seja mo Pierre Voirbo, que em Paris matou e esquartejou Désiré Bodassé, ex-
tapando a boca e nariz da vitima, mais comum em crianças de tenra idade, pressivo caso descrito pelo comissário G. Macé no "Meu primeiro crime",
seja enfiando-se objetos pelas vias respiratórias, da vitima, ou sendo esta Vale a pena ressaltar a argúcia daquele policial, agindo pelo ano de 1869,
soterrada ou metida em qualquer meio de substância, que invade as vias quando a técnica policial mal engatinhava. O criminoso levantou suspeita
respiratórias, como cinza ou esterco. Enfim, também, a sufocação pode de início, quanto à sua profissão de alfaiate, pela forma de fazer o embru-
dar-se pela compressão do peito e ventre, impedindo a ação dos múscu- lho de alguns despojos da vitima.
los respiratórios. Essa última forma vitima em geral as crianças; quanto
a adultos coexiste não raro com o estrangulamento. Os vestfgios da ação Na Brasil têm ocorrido alguns casos rumorosos de esquartejamen-
criminosa são fáceis de encontrar. tos, a partir do famoso crime de Pontes Visgueiro. Um velho desembarga-
dor maranhense, que em 1873 se apaixonou por uma jovem meretriz, aca-
bando por apunhalá-Ia e cespedaçá-la, enterrando os despojos dentro de
uma mala e no jardim de sua casa, Evaristo de Morais, que fQi um dor
maiores criminalistas brasileiros, afirma que o criminoso era um doente
ESQUARTEJAMENTO mental, portador de demência senil, Mais recentemente tivemos outros
casos de esquartejamento - o famoso caso da mala, cujo criminoso An-
O ecquartejamento é a ação de cortar o corpo do assassinado em tônio Bento, que matou a esposa e depois fê-Ia em pedaços com o auxí-
pedaços, agindo-se por cólera, perversidade ou sadismo, ou para livrar-se lio da amante, já está em liberdade, beneficiado pelo livramento condicio-
do cadáver, a fim de esconder o crime. É a velha distinção feita pelo nal e cumpre pena de 17 anos a criminosa Maria da Penha, servente de
nosso patrlcio Nina Rodrigues, aceita por Reiss e outros mestres, entre . hospital, que há pouco mais de dois anos matouo marido e depois despe-
despedaçamento ofensivo e defensivo. Tem-se notado que os esquarte- daçou-o para livrar-se melhor do cadáver, Enfim, o caso mais recente
Ainda agora abala a opmrao pública européia a reabertura, pela
ainda permanece misterioso, o esquartejamento do motorista Joel Sales
terceira vez, do processo movido contra a enigmática Marie Besnard. É
Ferreira, que estaria jevando vida duvidosa, ligada a contrabandistas e
acusada de haver envenenado nada menos de treze pessoas, em épocas
marginais,- além de dár-se a conquistas de mulher do próximo.
diferentes, a partir de 1947. Todas entre 30 e 72 anos de idade, dentre
as quais estão incluldas o pai, avó, marido, tia e até a própria mãe da
acusada, Principalmente este último crime é que ora está em foco.
Aguarda-se com ansi.edade o julgamento final, que tudo indica, não será
ENVENENAMENTO breve, A primeira acusação deu-se há quase quinze anos e determinou a
I
prisão de Marie Besnard em 1949, mantida no cárcere por cinco anos, mas
o envenenamento é o meio homicida mais característico das mu- depois beneficiada pela liberdade provisória. Em vários dos cadáveres exu-
lheres .e dos covardes, indivlduos menos incllnados à violência mas em mados anos após a morte, encontraram-se vestígios de arsênico. Dúvidas
geral dotados de ;!Igumainteligência e sagacidaCSe e maior'dos~ ainda de no entanto surgiram em seu favor, porque na região do cemitério é o ar-
hipocrisia. 'Estudo recente do professor René Fabre atribui 70% dos en- sênico utilizado como inseticida, para fins agrfcolas. Numa das vitimas
venenamentos às mulheres. Além de crime revoltante é dos mais peri- o arsênico foi também encontrado na cabeça, entre os cabelos, o que
gosos pelo disfarce de que se reveste, surpreendendo a vítima e dificul- não é provável tenha sido por ação criminosa,
tando a sua descoberta. O disfarce ainda acompanha o próprio motivo Houve ainda uma "gaffe" técnica desapontadora no caso Marie
do crime. Se evidente, às vezes, é o interesse econômico, a ambição Besnard. Havendo o perito Beroud afirmado que identificara a presença
polltica ou a vingança manifesta, em outros casos apresenta-se na forma de traços de arsênico, pelos caracterlsticos anéis, que só também se for-
de que se pode chamar crime sem causa. AI, então, maiores são as difi- mam com o antimônio, acrescentando que os deste seria capaz de distin-
culdades da Justiça, titubeante em concluir pela culpa dos acusados guir até a olho nu, o advogado Gautrat pregou-lhe uma peça espetacular.
Também porque esses criminosos dificilmente confessam, Foi assim que Em plena audiência entregou-lhe seis tubos, dizendo que três continham
ficou impune o envenenador Pastre, que fez mais de uma dezena de ví- arsênico e três antimônio e-então os separasse. O técnico depois de aten-
timas na França. Caminha talvez para isso o processo de Marie Besnard, to exame a olho, apresentou dois apenas como contendo arsênico. Des-
a que adiante focalizaremos melhor. Bem advertem o clássico Locard e
mentiu-o logo o defensor da acusada, revelando que não havia realmente
o modernlssimo R. Villeneuve, que as envenenadoras agem não raro por
arsênico em nenhum dos tubos. O mais grave da história é que o perito
mórbida volúpia, prazer sádico contra a vitima desprevenida, a quem às
Beroud goza do maior prestlqíç, como químico, médico-Iegista e concei-
vezes procuram restabelecer, depois de atacá-Ias, para nova investida tuado autor de conhecido manual de criminologia e policia. Mas fora viti-
criminosa, como um gato se diverte com o camundongo. Pode-se admitir ma de sua afoiteza com exibições técnicas, não recomendáveis a qual-
que muitos destes tipos fujam à normalidade mental, mas não são irres- quer perito consciencioso, tudo isso redundando em favor da defesa. Mais
ponsáveis na forma da lei penal. Têm consciência do que fazem e atuam rápido e severo foi o pronunciamento da Justiça francesa, condenando à
com manifesta premeditação, cautela e inteligência, bem demonstrativas guilhotina a envenenadora Berthe Borguet, que matara em janeiro de 1958
da necessidade social de puni-Ios e deles se defender. um sexagenário, doente e pobre, que lhe vendera o terreno onde morava
A freqüência dos envenenamentos, em conluio com a feitiçaria, foi num casebre, com a condição de aí ser mantido, enquanto vivesse, O
muito maior no passado, o que, todavia, Locard contesta _ É certo que marido da acusada, horrorizado com o crime, suicidou-se quando a viu
presa,
numerosos homicídios nunca foram em outro tempo descobertos, mas al-
guns já hoje foram denunciados, Assim é que em 1957 o médico alemão Os venenos podem ser de origem mineral, vegetal ou animal e apre-
Dr. Kerner, após minuciosos estudos, concluiu que o famoso compositor sentam-se sob a forma sólida, líquida ou gasosa. As vezes são alimentos
Mozart foi envenenado em 1791 por outro compositor - diretor teatral ou medicamentos e tornam-se veneno pela quantidade ingerida. Foi talvez
chamado Salleri . Em ,1958, ao ser aberta a tumba do rei sueco Erik, fa- Homero o primeiro a dizê-Io e em forma poética. O álcool é um exemplo.
lecido em 1577, encontraram marcas de arsênico nos ossos, (I que leva a Pode a pção do veneno ser aguda, pela absorção de elevada dose; crônica
crer tivesse sioo envenenado, confirmando uma lenda de sua morte vio- se a ingestão se dá gradualmente e os seus malefícios são progressivos,
lenta, ou podem operar simultaneamente, em doses crescentes, ou a. última
Apesar das dificuldades, ainda atuais, a partir do início do século muito maior que as anteriores. Ainda os venenos, ou operam imediatamen-
passado, muito progrediu a química e a toxicologia, nas pesquisas de te, destruindo os tecidos com os quais entrem em contato, ou a ação será
interesse criminal, Descatou-se neste campo o famoso Orfila, notável to- retardada, após a absorção pelo sangue, como o óxido de carbono e a
xicólogo francês. Não se suponha que não tenha havido maiores dúvidas morfina. Podem agir também simultaneamente como o arsênico e pelas
ou hesitações têcnicas a partir de 1823, quando surgiu a clássica obra de -rnaneiras mais estranhas. Conta-se que Calpurnius liquidava as esposas,
Orfila. dedilhando-Ihes os clitóris e por aí inoculando-Ihes veneno.
I
Venenos há que são mais diffceis de verificação peles peritos; ou-
cessário que ninguém tenha sofrido qualquer dano, basta o perigo. Já
tros pela própria ação se destroem. Essa dificuldade ocorre com os ve-
se alguém for lesado ou morrer, na melhor das hipóteses, existirá crime
nenos .alcalóldes. Mas os peritos experimentados têm meios de surpre- culposo e até mesmo o grave homicídio doloso.
ender algum excesso da dose suficiente. Os autores apontam várias con-
clusões periciais bem convincentes e animadoras, mesmo em casos de Muitos exemplos poderiam ser lembrados. Ainda nos últimos dias
alcalóides. do ano passado, no Ceará, mais de uma centena de pessoas foram sub-
Após a morte a necropsia desempenhará papel relevante, respon-
dendo se a causa foi mesmo o envenenamento ouse houve apenas morte
I metidas a vacinação anti-rábica, cujos vírus não estavam atenuados e,
em conseqüência, cerca de duas dezenas de pessoas morreram. Den-
natural. Todos os resíduos expelidos pela vítima, como vômitos e baba I tre outros culpados aponta-se o farmacêutico Eurico Litton, pela irres-
devem ser examinados e, no caso de não ter havido morte, ainda respon- ponsabilidade com que agiu na fabricação e liberação da partida fatal
derão os peritos se a quantidade de veneno rntnlstrada era suficiente para da vacina. Também em duas escolas primárias, uma nesta Cidade e a
matar. . outra em Campos, houve a intoxicação coletiva de uma centena e meia
Para o esclarecimento de policiais e pessoas interessadas, Sõder- de escolares, num caso por troca de vitamina por barbitúrico e no ou-
man e O'Connell, dois notáveis técnicos, o primeiro sueco e o segundo tro, ao que se supõe, por servirem alimento deteriorado às vítimas. As
americano, indicam os seguintes sintomas de envenenamento (nunca será mesmas referências à lei penal acima feitas, caberiam ser repetidas per-
demais denunciar-se à Policia qualquer caso suspeito, para garantir a feitamente para esses dois últimos casos de manifesto desprezo pela
eficácia da investigação e o castigo dos diabólicos criminosos): vida alheia.

Vômitos - Podem ser causados pelos venenos comuns, tais como


arsênico, antimônio, digitalina e fósforo, em vômitos escuros; são azuis-
-esverdeados os de cobre. Os corrosivos podem tornar os vômitos san- . o DETETIVE DIANTE DO CRIME DE LESõES CORPORAIS.
guinolentos. CLASSIFICAÇÃO DAS LESõES CORPORAIS. HOMICrOIO
Convulsões - Podem ser causa da nicotina, estricnina e óxido de PRETERINTENCIONAL. CONTUSÕES, FERIDAS CONTU-
carbono. SAS, INCISAS, PENETRANTES, LESÕES POR ARMAS DE
Paralisia - É, às vezes, a conseqüência do arsênico, alcoolismo, FOGO. MORDEDURAS; UNHADAS E LESõES DE ATROPE-
chumbo e alimentos deteriorados (botulismo). LAMENTO, AUTO LESõES . A IDADE DAS EQUIMOSES. A
Delírio - Também por arsênico, atropina, os barbitúricos, cânha- LOCALIZAÇÃO DAS LESõES.
mo (maconha), cocaína, morfina, escopolamina e doses excessivas de
álcool. Considera-se lesão corporal, que outros preferiam se chamasse
Dilatação e Contração das Pup~las - Alcool, atropina, barbitúri- lesão pessoal, como faz o Código Penal Italiano, qualquer ofensa à. inte-
cos, cânhamo (maconha), cocaína e escopolamina, quanto à dilatação. gridade corporal ou à saúde de outrem, mas praticada sem intenção de
Ao contrário, a contração pode ocorrer por conta da morfina, ópio e ou- matar, nem assumindo o risco de fazê-Io. A nossa lei vigente nenhuma
tras drogas. referência fez à dor, porque esta não pode ser devidamente verificada
pela perícia e as lesões corporais devem ser comprovadas pelo exame
Cianose (coloração azulada ou escura da pele, ou lividez) - Pe- de corpo de delito, como qualquer outro crime, que deixe vestfgios. Fi-
los cianidos, morfina e ópio.
que também fora de dúvidas que o distúrbio da saúde pode ser trsico
Odor do Hálito - Os cianidos causam o cheiro de amêndoas, ou mental e provocado por ação ou omissão e destas resultar direta ou
enquanto que o odor de alho é característico do envenenamento pelo indiretamente. Exemplos, um soco que produza um ferimento, ou al-
fósforo, também podem decorrer do álcool, clorofórmio ou nicotina. cançando a cabeça, sem ferir, cause um mero distúrbio mental; a tortu-
Salivação - Abundante do envenenamento crônico pelo Mercúrio. ra moral de alguém a ponto de causar-lhe uma enfermidade; deixar uma
criança em lugar insalubre, provocando assim o seu adoecimento; atiçar
Sonolência e Coma .- Podem resultar do envenenamento pelos um cãõ contra outrem ou, tendo a responsabilidade de sua guarda, dei-
barbltúricos, clorofórmio, morfina, ópio, etc. xá-to na rua, do que resulte ser alguém mordido.
Envenenamentos acidentais são todos os dias cada vez mais fre-
A motivação das lesões corporais é semelhante à do homicldio.
qüentes. Ora constituem acidentes de trabalho ou doenças profissionais.
Todos sabem que há indústrias altamente insalubres, inclusive as de ma- Difere, todavia, de algumas espécies, por exemplo, do crime praticado
nipulação de substâncias envenenadoras. Cumpre ar verificar se as con- visando a cobertura de outros crimes, pela eliminação de testemunhas
dlções mlntrnas de higiene do trabalho foram observadas. Se não, bas- ou comparsas. Aí, quando a morte não chega aocorrerr a ação criminosa
ta Isso para poder-se cogitar da punição do responsável pelo crime de -configura em regra _a tentativa de homicídio; isto é, a morte não se deu
xpor a vida ou saúde de outrem a perigo grave e iminente. Não é ne- por circunstâncias independentes da vontade do agente, mas estava na
intenção deste. Por outro lado, outros atos de agressividade que po- te, pelos vestígios deixados. Exige-se às vezes, até mais de um exame.
d~m ~s vezes c~us~r !esultados. mortais, mas com muito maior freqüên- Oportuno será também esclarecermos alguns conceitos da configura-
cia simples lesoes, sao as motivadas pelo temperamento excitável de ção legal. A incapacidade para as ocupações habituais não diz respeito
que são possuídos determinados indivíduos. São pessoas que se encon- apenas ao trabalho, do contrário estaria a lei indiferente às crianças ou
tram" num es!ado crônico de excitação e de tensão. Por isso "explo- outras pessoas que já não mais trabalhassem. Também outras ativida-
dem ao mínimo pretexto e atacam os que estão ao alcance deles. São des sem caráter econômico, tal como andar, falar, etc., são levadas em
os tristeme~te conhecidos .maus vizinhos, a que se refere o crimiríólogo consideração. O perigo de vida impõe um risco concreto e presente
Ernest Seehg, com os quais mesmo as pessoas mais virtuosas não con- de morte; pode ser embora por pouco tempo. Desde que tenha havido
seguem viver em paz. Muitos desses "torpedos humanos" são dados à um momento de perigo, a figura jurídica se consolida, como diz o pro-
ingestão de bebidas alcoólicas, freqüentadores de botequins, mesmo de fessor paulista Veiga de Carvalho. E exemplifica - uma lesão de vaso
luxo, ou os "inferninhos" atuais das grandes cidades. Também entre calibroso, produzindo abundante hemorragia, sendo prontamente aten-
as mulheres encontram-se desse tipo de criminosos, inclinados aos senti. dida de forma a salvar a vitima, permite, no entretanto, a configuração
mentos de ódio. São as tradicionais megeras de modesta ou elevada legal do perigo de vida. É lógico que esse perigo não deve ter sido pro-
classe social, violentas, pornográficas, ou dissimuladas em manobras de vocado intencionalmente pelo criminoso, porque teríamos então o cri-
i~triga, descambando para os crimes de calúnia e difamação. Lembra me de tentativa de homicídio A debilidade permanente é o enfraqueci-
ainda aquele autor que essa espécie de mulher está nas lendas e contos mento, enquanto a perda ou inutilização é a supressão de membro, sen-
antigos de todos os povos desde rainhas e princesas até as modestas tido ou função. o que pode dar-se por mutilação ou amputação, ou o
camponesas e recorda a "má madrasta" da "Branca de Neve". simples comprometimento da capacidade funcional; por exemplo, um
Como os homicídios, também as lesões corporais dividem-se em braço que fique paralítico. Quanto à aceleração do parto e o aborto,
dolosas ou culposas, as primeiras quando o agente quer a lesão ou assu- dá-se o primeiro quando a lesão corporal sofrida pela gestante cause o
me o risco de produzi-Ia e as segundas quando assim não se dá, mas nascimento com vida, antecipado, mas sem maiores conseqüências con-
o agente as causa por imprudência, negligência ou imperícia. tra o recém-nascido. No caso de haver morte, mesmo depois do nasci-
..•. mento, mas em conseqüência da lesão, a figura é da agravação pelo
As lesões corporais dolosas (intencionais) subdividem-se em sim-
aborto, parecendo-nos indiferente a questão da maturidade do feto.
pies ou leves, graves, gravíssimas ou seguidas de morte. Esta classifi-
Não se confunda essa forma agravada de lesão corporal com o crime
cação. tem por base a maior ou menor punibilidade, prevista na lei penal,
no artigo 129 e seus parágrafos. A lesão corporal seguida de morte, que de aborto, isto é, quando este é o objetivo do agente, que pode ser a pró-
outros códigos chamam homicídio prelerintencional, acontece quando o pria gestante, que o queira ou consinta. Enfermidade incurável, como a
agente causa uma lesão de que acarrete a morte e as circunstâncias debilidade permanente; não significa perpétua mas apenas duradoura.
evidenciam que ele não quis este resultado, nem assumiu o risco de Convém lembrar que a enfermidade, no caso, é a falta de uma ou mais
produzi-I o . Queria apenas causar uma lesão sem maior gravidade. Exem- funções, como conseqüência, embora não imediata, de alguma lesão.
plo comum é o do agente que desfere um soco na vítima; esta perde o Assim, por exemplo, a paralisia resultante de uma lesão já curada, pro-
equiHbrio, cai e fratura o crânio no meio-fio, morrendo. Ninguém dando vocada por algum tiro. Deformidade permanente é o dano estético, du-
um soco pode esperar que resulte a morte do agredido, o que escapa radouro e grave, provocado na vítima pela lesão depois de curada, per-
ao que usualmente ocorre. Por isso o nosso Código não o classifica ho- ceptível a pessoa em repouso ou andando. A cicatriz na face, o andar
micldio e, sim, lesão corporal seguida de morte, embora lhe dê punição claudicante, um desvio da coluna vertebral provocador de gibosidade.
mais severa que às outras lesões de menores conseqüências. As vezes uma pequena lesão é suficiente; um dano na orelha ou nariz, etc.
As lesões corporais graves são aquelas de que resulta a incapa-
Enfim completando o nosso ligeiro estudo sobre as lesões cor-
cidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias, perigo de vida,
debilidade permanente de membro, sentido ou função ou aceleração de porais, lembremos as chamadas lesões corporais leves ou simples, pu-
parto. Nestes casos, previstos no § 1.° do art. 129 do Código Penal, nidas com 'prisão de três meses a um ano. Ocorrem quando a lesão
a punição é de 1 a 5 anos. Há porém outros casos, os do § 2.0 do mes- não ~arreta nenhuma das conseqüências supra-referidas.
mo artigo, em que a punição aumenta para 2 a 8 anos, quando ocorre
Acima, vimos apenas as chamadas lesões corporais intencionais.
incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável ou, ao
invés de aceleração de parto, se dê aborto, ou mais além da debilida- ou dolosas: usando linguagem mais técnica. Entretanto, há ainda as
de, acarreta perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Te- chamadas lesões corporais culposas, previstas no § 6.° do art . 129 do
remos ar o que a lei não chama, mas o faz a doutrina - as lesões corpo- Código Penal, ameaçadas com prisão de dois meses a um ano. São as
rais gravrssimas. lesões causadas não intencionalmente, por lmprudêncla, negligência ou
I .. imperícia. São freqüentes nos chamados "delitos do automóvel", foca-
Evidentemente, todas as circunstâncias acima citadas para serem "
lizados noutro ponto deste trabalho, para onde remetemos o leitor.
levadas em conta pelo julgador terão que ser comprovadas pericialmen-
No exame de todas as lesões acima estudadas, será evidente- dando de di reção, não raro de modo sur'pr~endente ~ara o leigo. Afrâ-
mente de maior importância para as investigações a classificação de- nio Peixoto anota casos de balas que atinqlram o pelt?, encon.'rando o
las pela espécie de instrumento. que as causou. Para os tipos de ins- esterno, seguindo depois ao longo de alguma costela, IOdo alojar-se ao
trumentos pode o leitor volver ao estudo anterior sobre local de crime. lado da coluna vertebral; outras que recebidas na test~ rodearam a a?ó··
bada craniana e foram parar na nuca; outras que, detrdas pelas cartila-
A contusão é causada pela ação dos instrumentos contundentes.
gens da faringe, fizeram sobre a pele a volta do pescoço.
Quando pela violência do choque os vasos sangüíneos se rompem, com
derramamento de sangue sob a pele, tem-se a equimose, e quando Enfim os orifícios de saida diferem dos de entrada e não só pelas
incha, o que é freqüente na cabeça, toma o nome de "galo". Dando-se características dos tiros a pequena distância, C?SO em que t~mbém o ~ri-
a ~otura dos tecidos, então se chama ferida contusa. Escoriação é a fício de entrada é em geral maior que o de salda, Já nos tiros de maior
ferida contusa em que ocorre esfoladura dos tecidos superficiais. Quan- distância dá-se o contrário. Outra diferença é que na antrada o~ bor-
do a ação contundente se exerce contra o couro cabeludo, ou na re- dos dos tecidos ficam revirados para dentro, enquanto nos oritlcios de
gião do joelho sobre o osso rótula, o tecido mole estoura formando-se saída ocorre o oposto.
um talho, pela resistência do osso plano logo abaixo. Isto dá a falsa
im~ressã? de ferimento por instrumento cortante. É preciso, portanto, Sem a pretensão de haver esgotado o. estudo ~as espécies de
muito CUidado por parte do detetive, para não enganar-se. Outras es- ferimentos, não encerraremos sem lembrar a Importância de certas le-
pécies de feridas contusas poderíamos indicar. sões de relevante técnico-policial - lesões resultantes de socos, com
sinal de algum anel às vezes acentuadamente volumoso, a~ ~arc~s se-
.Feridas incisas são as causadas pelos instrumentos cortantes, fa- milunares de unhas, as dentadas capazes de dar boas tndlcações e
cas, navalhas, sabres, pedaços de vidro, etc., que dividem os tecidos outras lesões que "falam" ao perito atilado nos "delitos do automóvel".
de forma retilínea, provocando ferimentos longos e de bordos nltidos. O autorizado C. Simonin indica-as:
As vezes o gume da arma não é perfeitamente retilíneo - os malan-
dros costumam, de propósito, dentear o fio da navalha; então os feri- a) lesões de pancada de pára-choques. faróis. radiadores, a diver-
mentos tornam-se irregulares e mais repelentes ainda as cicatrizes. sas alturas do solo;
b) lesões provenientes da queda do corpo da vítima depois de
Feridas penetrantes são as lesões causadas pelos instrumentos
pontlaçudos ~ que não raro também são cortantes pelos gumes late- projetado ao espaço;
c) lesões muito características no corpo por cima do qual pas-
rais - punhais, espadas, floretes, estoques, furadores de gelo, simples
saram veículos, causando às vezes esmagament?s;
pedaços de arame grosso, ponta de compasso, etc.
d) lesões de arrastamento, com o desgaste dos tecidos até dos
São feridas de aparências exteriores pouco impressionante, dan-
ossos nas partes salientes;
do a impressão ao leigo de lesões superficiais; mas na realidade ofere- e) lesões de queimaduras ao contato de tubos de descarga dos
cem acentuado perigo, principalmente as chamadas feridas cavitárias
automóveis,
isto é, as que atingem as cavidades internas do corpo humano. Pro~
vocam os, mais graves distúrbios orgânicos, de fatais conseqüências, co-
mo os ferrmentos por arma de fogo, ao mesmo tempo contundentes e pe-
netrantes. Sobre estes, remetemos o leitor à questão da prova pericial
onde nos referimos à ballstica.
Nas lesões por arma de fogo deve-se ter em vista:
a) o oriflcio de entrada do projétil;
b) o canal de penetração do projétil;
c) o oriHcio de saída do projétil.

No exame do orifício de entrada bem se percebe o aspecto con-


tundente da fenda, sendo de lembrar outras características mormente
dos tiros a ~eq.uena distância, o que mereceu nossas atenções noutro
ponto. Os oriflcios de entrada eram maiores com as armas antigas. FIG. 7 _ Regiões do crânio, face e pescoço para indicar a localizaçiio do ferimento.
O canal de penetração da bala pode não ter saída, isto é, ser de
fundo cego. Outras vezes atravessa o corpo, principalrnerue com as ar-
01. Região frontal.
ma~ modernas, que são capazes de fazer um mesmo projétil atravessar
02. Região orbitária .
mais de um corpo hum.an.? .Ao contrário, as armas menos potentes ex-
03. Região malar.
pelem balas que às resistências encontradas no corpo da vítima vão mu-
04. Região nasal ou do nariz. 25. Região dos órgãos gênito-urinários.
05. Região das, bochechas. 26. Região do terço superior da coxa.
06. 'Região dos lábios ou labial. 27. Região do terço médio da coxa.
.:;.
07. Região maxilar. 28. Região do terço inferior da coxa .
08. Região mentoniana. 29. Região do joelho.
09. Região temporal. 30. Regi'ão do terço superior da perna.
10. Região auricular ou da orelha. 31. Região do terço médio da perna.
11 . Região parietal. 32. Região' do terço inferior da perna.
12. Região occipital. 33. Região -rnaleolar ,
13. Região da nuca. 34. Região 'do dorso do, pé,
14. Região supralarfngea. 35. 'Região do talão.
15. Região laringeamédia. 36. Região da planta do pé.
16. Região infralaríngea. 37, Região dos dedos do pé (especificar).
17. Região carotidiana ou late do pescoço.

FIG. 9 - Regiões do corpo humano para indicar a localização de ferimenlo

FIG. 8 - Regiões do corpo humano para indicar a localização de ferimento 01. Região parietal.
02. Região occipital.
03. Região da nuca ou cervical.
01. Região supraclavicular.
04. Região supra-escapular.
02. Região clavicular.
05. Região cérvico-espinhal.
03. Região infraclavicular.
06. Região deltoidiana.
07. Região axilar.
08. Região do terço superior do braço.
09. Região do terço médio do braço.
10. Região do terço inferior do braço.
04. Região peitoral ou mamária. 11, Região do cotovelo. .
05. Região esternal. 12. Região do terço superior do antebra-
06. Região deltoidiana. ço.
07. Região axilar. 13. Região do terço médio do antebra-
08. Região do terço superior do braço. ço.
09. Região do terço médio do braço. 14. Região do terço inferior do antebra-
10. Região do terço inferior do braço. ço.
11. Região do cotovelo. 15. Região do punho.
12. Região do terço superior do antebraço. 16. Região da palma da mão.
13. Região do terço médio do antebraço. 17. Região do dorso da mão: .
14. Região do terço interior do antebraço. 18. Região dos dedos (especificar).
15. Região do punho. 19. Região do dorso-espinhal.
16. Região da palma da mão. 20. Região escapular.
17. Região do dorso da mão. 21. Região dorsal.
18. Região dos dedos (especificar). 22. Região lombar.
19. Região epigástrica. 23. Região lombo-espinhal.
20. Região do hipocôndrio. 24. Região glútea.
21. Região umbilical. 25. Região sacro-cocigiana.
22. Região dos flancos. 26. Região do. terço superior da coxa.
23. Região hipogástrica. 27. Região do terço médio da coxa.
24. Região inguinal.
45
•.-t!;~_

28. Região do terço inferior da coxa. ram adotadas medidas limitadoras da velocidade. Nos Estados Unidos
o. total de mortes, nos mesmos anos, anda se aproximando de 40.000,
29. Região poplltea ,
mas convém recordar que neste pais o número de veículos é dez vezes
30. Região do terço superior da perna. maior que naquele. São os E. U .A, um dos palses onde malor é a disci-
31. Região do terço médio da perna. plina do. tráfego e o respeito à lei.
32. Região do terço inferior da perna. Não resta dúvida que nunca se poderão eliminar todas as causas
33. Região maleolar. de acidentes de tráfego, mas as estatísticas em vários palses têm apon-
34. Região do dorso do pé. tado 80% por culpa da conduta humana. Onde os abusos são maiores,
35. Região do talão. como no nosso, a percentagem indicada é bem mais elevada. Há entre
36. Região da planta do pé. nós verdadeiros monstrin!1os,que usam o automóvel, como autêntico Ins-
trumento de crime, para danificar, ferir ou matar. Quem anda pelas ruas
37. Região dos dedos do pé (especificàr). ou tem que viajar em coletivos os vê em toda a parte e, infelizmente,
não pode evitar ser vitima de algum deles.
?utra q~estão importante é a de reconhecer as autolesões, co-
mo meio de simular agressões. Geralmente localizam-se na parte es- Os psicólogos e criminólogos apontam como fatores preponderan-
q~erda do ~_o.rpo.,porque as pessoas canhotas são. raras. Co.mumente tes desse perigoso tipo criminoso a angústia, o complexo de inferiorida-
atingem r~glo.esdo.corpo tidas como. menos perigo.sas. Enfim, ainda nes- de, a rebeldia à lei, o prazer do risco e o profundo egolsmo. No volante
ta apuraçao, vale ressaltar a importância do problema da idade das equi- libertam-se as angústias, adquiridas não só pelos choques, mais fortes,
meses. decorrentes das guerras ou outros fenômenos sociais de acentuada gra-
A ida.de das eq~imoses pede ser obtida cem a po.ssibilidade de vidade, como os ligados à pobreza e condições de vida inadequadas.
err~s de dOIS a tr~s dias. ~ co.nseguida pelo. exame da colocação da Explica isso também a importância que se dão esses infelizes, tomados
eqUl~o.se. ~o. 1.° dia é vermelha, tendendo. para Ifvida; de 2.0 ao. 3.0 es- pelo complexo de inferioridade, quando passam a ter um veiculo pesa-
cu~a, do. 3. ao. 6.° azul; d~ 7.° ao. 12.° esverdeada e, afinal, do. 13.0 ao do nas mãos, principalmente autocargas e coletivos, Tomam ares de po-
20. amarelada. De doze dias a. três semanas os vestlgios de equimose derosos barões feudais, dentro de seus castelos inexpugnáveis. A rebel-
desapa~ecem.Mas a~ caracterlsticas apontadas ainda dependem um pou- dia à lei, como hábito, corre por conta da ausência de policia ostensiva
co da Idade do. paciente e seu estado de saúde, como. de tudo acima, ou a presença de guardas de duvidosa moralidade, tudo isso agravado
adverte Lacassagne. A maior torça da pancada também influi. As man- pela insignificância das multas. Parece que em alguns pontos das cida-
chas provocadas peles beijes com sucção provocam equimoses seme- des os sinais foram somente colocados como enfeites, principalmente
lhantes, mas às vezes de evolução mais curta. nos lugares e horas de menor movimento, onde então ocorrem os mais
violentos desastres; o abuso. é tal que alguns indisciplinados motoristas
A localização das lesões deve ser precisa. Para isso. divide-se o não se satisfazem apenas em desrespeitar os sinais; constrangem tam-
~o.rpo humano em regiões a que se atribuem nomes técnicos (vide as bém a que o façam os veículos à sua frente, por meio de acintes e buzi-
flgs. 7,8 e 9).
nadas irritantes. O prazer do risco já é mais caracterlstico da chamada
fuyeni.,;detransviada, os play-boys, em cuía manada se incluem mental-
mente muitos homens maduros. Enfim, as manifestações egolsticas são
revelações de um sistema de vida atual em que, em todos os setores.
DELITOS DO AUTOMÓVEL. CAUSAS DE ACIDENTES. AS os indivlduos só têm sensibilidade para os seus interesses imediatos e
DEFORMIDADES MORAIS E O PECADO DOS MAUS MO- não Ihes ocorre nunca que os direitos alheios também devem ser respeI-
TORISTAS. A DEFINiÇÃO JURIDICA DOS DELITOS DO AU- tados. A verdade, em resumo, é que o volante revela o caráter em lente
TOMÓVEL. O ALCOOL, O SONO E A FADIGA. AS DES- de aumento e não se pode contestar o conhecido brocardo americano
CULPAS DO'" 'MOTORISTAS. PERICIAS DE LOCAL, A "Um homem dirige como vive."
AÇÃO INVESTIGATóRIA DO DETETIVE. • No empenho da elevação moral do indivlduo, como lorma indis-
pensável de torná-to mais respeitador da vida alheia, a religião vem pres-
O veículo a motor mata maís que os ladrões e os assassinos mes- tando valiosa e direta colaboração. Sua Santidade, o Papa João XXIII
mo entre nós, onde não é tão grande o número de automóveis e' tanto em famosa oração, há poucos anos, chamou atenção que estão em pe-
cresce .a crim~nalidade violenta. Até em países de elevada civilização as cado os motoristas que dirigem perigosamente, porque infringem o man-
astatlsticas sao assustadoras, como na República Federal Alemã, onde damento - Não Matarás. Pouco tempo depois benzera uma frota de 43
om 1955 Ocorreram 12.255. mortes _e 350.000 feridos e no ano seguinte viaturas, que iniciou pelos "cinemóveis" a propaganda de medidas de
12.645 mortos e 672.500 terldos . So em 1957 caíram as cifras, porque fo- segurança do tráfego, em obediência ao Código de Trânsito Italiano.
A,...
pont do d folto d c ráter o educação revelam-se nas ati- mos casos são meios, aliás, de grande disfarce, mas não raro desmas-
tud p rlgos s: excesso de velocidade, desrespeito à preferência os. Dos mais recentes foi o ocorrido na França, do motorista cala-
d p g m, embriaguez no volante, ultrapassagem indevída. São as Dominique Zampagniole, que atropelou uma motocicleta, para matar
c usas mais freqüentes de acidentes nas cidades americanas, segundo ex-namorada. Está sendo acusado de tentativa de homicidio doloso com
as estatfsticas e não devem diferir no essencial, no que se passa nou- . Por outro lado, também dolosos serão os crimes quando
tros países, inclusive: no nosso, Estudos periciais revelaram que um mo- .o motorista saiba que está praticando manobra evidentement~ perigosa
torista atento numa estrada rugosa e dirigindo veículo com bons 'pneus e mesmo sem que seja seu objetivo, assuma o risco de produzir um dano
e freios, precisa cerca de uns 24m para imobilizar o seu carro, indo em , à' vida ou à saúde de alguém. Teremos então ainda homicidio ou lesões
marcha de 60 km horários, Se vai a 90 km, necessitá uns 50m, Estando corporais dolosas ou, então, o crime de perigo previsto no art. 132 do
o carro em más, condições, ou a estrada, ou o motorista desatento, a Código Penal. Quando, enfim, não houve pro~edimento do~oso, ~em rnes-
situação é muito.pipr e vidas humanas são postas em jogo, às vezes, mo na forma que acabamos de apontar, do slmpl~s as~umlr o nsco, .c~~-
por simples décimos de .segundo, Outras causas ainda são 'freqüentes, mado dolo eventual, ainda será de cogitar-se da intração penal.de dirigir
como as manobras' de retorno sem as cautelas devidas, o cansaço, ou pondo em perigo a segurança alheia, prevista no art. 34 ~a Lei ~e Co~-
sono do motorista, o mau estado de conservação dos veículos, etc . travenções Penais. Advirta-se que não basta a prova de simples infração
do trânsito; devem ser indicadas circunstâncias dem?nstrativas dess~ pe-
Os médicos dedicados ao assunto têm observado que o poder nor- rigo, exigido na lei. Prova evidente disto é a embriaguez do motorista.
mal de atenção humana não consegue acompanhar as exigências cada
vez maiores do tráfego de veículos e mormente os olhos não são adap- O álcool é o mais perigoso inimigo do automobilista, proclamou
táveis às velocidades hoje usuais, Muitos outros indivíduos, por sua cons- o recente Congresso Mundial sobre o Alcoolismo reunido em Estocoll!'0'
tituição particular, bom seria nunca fossem admitidos como motoristas. O autorizado criminólogo Seelig adverte que todo condutor de automovel
Devia ser legalmente obrigatório, em toda parte, o exame psicotécnico .~, é obrigado a abster-se, rigorosa~ent~, de: be~id~ alco~lica, mesmo em
para obtenção de carteira de motorista. No entanto há até loucos dirigin- pouca quantidade, porque até as íntoxícaçoes ligeiras sao. c?usadoras de
do, A carteira por tempo determinado, traria a vantagem de obrigar a perturbações de percepção e manobras. Na melho~ das hipóteses. os. re-
exames periódicos, Têm sido assustadoras as revelações dos resulta- flexos tornam-se mais lentos. Deve ser, com urqêncta, chamado o médico-
dos de exames de grupos de motoristas, ao acaso, Às vezes, até um -Iegista para não só o exame clínico ?Omotori~ta co~o as provas de lar
quarto deles foi dado como absolutamente incapaz e muito maior o nú- boratório mais usuais de sangue e unna. Há ainda simples. aparelh~s de
mero de aptos apenas condicionalmente. Ainda outros estudos têm ve- soprar, que permitem a revelação alcoólica. Nos E~tados ~nldos aceita-se
rificado que uma pequena fração de motoristas responde pela maior par- como prova de embriaguez até os frascos de bebida vazIos,. e.ncontrad~s
te: dos acidentes, Estatisticas americanas e alemãs chegaram a conclu- nos carros. Enfim, vale ressaltar que, quanto aos danos mate~lals, só. serao
soes semelhantes - em média 4% de condutores de veículos cometem de interesse penal os que forem dolosos. Se decorrerem de slm~~es Impru-
40% do total de acidentes; 10 vezes mais, portanto, que os outros, Vê- dência, negligência ou imperfcia, culposos, portanto, e sem _vitimas p~s-
-se lo~o que a providencial medida seria cassar-Ihes a carteira, o que, en- soais, apenas poderão dar en~ejo ? ações civei~ de !eparaçao. d.o prejul-
tre nos, infelizmente, não pode ser definitivamente, zo, fora da Justiça Penal. Seria o Ideal que assim na~ fosse, unlc~ meio
de evitar evidentes abusos, mormente dos veiculos maiores. Bastana que
As infrações penais praticadas pelos condutores de veículos são
se considerasse o dano culposo como contravenção penal.
em geral delitos culposos, isto é, decorrentes de imprudência, negligên-
cia e imperícia. Havendo mortos ou feridos, a definição jurídica é de A p.ova dos delitos de automóveis nem sempre é f~cil. Não é
homicídio culposo, cuja pena vai de um a três anos de prisão, ou lesão suficiente a certeza da autoria. Precisa-se ainda a demonstraça? da c~.'pa.
corporal, reprimida com detenção de dois meses a um ano (arts. 121 § Esta se fará pela prova pericial,' que nem sempre ~xiste, e !'lals frequ.e~-
3.° e 129 § 6.0 do Código Penal). Em qualquer caso caberá fiança em fa- temente pelo depoimento de testemunhas. Estas nao raro s,?o pouc.o üéis
vor do acusado, isto é, responderá o processo em liberdade. Se houver e muitas vezes propensas em favor do acusado, quando nao mentirosas,
fuga do acusado para' evitar a prisão em flagrante, ou se deixar de pres- as chamadas testemunhas de defesa. De quando em quando alguma .é
mandada processar por falso testemunho, sujeitando-se à punição_de d~ls
tar imediato socorro à vítima, ou ocorrendo inobservância de regra técnica
a seis anos de prlsãe por ter pretendido favorecer algum acusado de in-
de profissão, bastando a existência de uma só dessas circunstâncias, a
fração muito mais levemente castigada. Mas o abuso prossegue.
pena será aumentada de um terço. Enfim, vale lembrar que não se, positi-
vando ter o acusado agido com culpa, mas, provada a sua fuga indiferen-
A defesa dos acusados invoca em geral:
te à SOrte da vítima, caberá então puni-I o pelo delito de omissão de so-
corro (art. 147 do Código Penal). a) Imprudência da Vítima. Só aproveitar~a a,o acusado se~do exclu-
Pode também um veículo ser usado como instrumento de crime sivamente daquela, porque no direito penal nao há compensaçao ~~ cul-
doloso, ou seja, para intencionalmente danificar, ferir ou matar, Nestes pas, Se o motorista também agiu com imprudência, sua~esponsabllrdade
p n I vld nt . Ninguém Ignora, por oxemplo, que muitos condutores dos aceitaram a prova de percorrer 3 _000 km, com observadores ao lado,
d v Iculos pensam, que o pedestre perdeu o direito à vida, quando te- munidos os veiculos de duplo controle. No fim de 45 horas de volante
nha a audácia de atravessar alguma rua com o sinal desfavorável. É dever contínuo encontravam-se num estado intermediário entre a vigilía e o
dos motoristas prever até certo ponto a imprudência dos pedestres; sono, adormecendo e acordando aos sobressaltos. Demonstravam todos
percepções imperfeitas e nenhum conseguiu parar no último instante a
b) A derrapagem. O asfalto estaria molhado pelas chuvas, principal- que poderiam resistir, dormindo de vez no volante. É o golpe traiçoeiro do
mente leves, ou o óleo comum das ruas de maior trânsito, ou o tráfego sono. Merecem condenação, portanto, os condutores de veiculos, que
sobre os trilhos. Não deve ser aceita a desculpa; o bom entendimento não tenham em vista esta comezinha prudência de parar aos primeiros
da jurisprudência, desde o velho frutuoso Aragão, há mais de 40' anos, sinais de sono ou fadiga. Agem levianamente na defesa da integridade
no seu clássico "Delitos do Automóvel", é o de que "a derrapagem não ffsica própria e alheia.
constitui caso fortuito, por que é previslvel". Realmente, qualquer moto-
rista sabe que o asfalto molhado pela chuva ou sujo de óleo é escorre- O local do acidente é de importância fundamental no esclareci-
gadio, como também o trafegar sobre os trilhos; deve, portanto, evitá-to mento das causas. Se houve mortos ou feridos ou se ocorrem simples
ou diminuir consideravelmente a velocidade, para não sofrerem desliza- danos materiais contra a Fazenda Pública ou mesmo particulares, se re-
mentos; querida a perícia, onde não seja muito intenso o tráfego, deve o detetive
ou qualquer outro policial fazer imediatamente a interdição do local.
c) O ofuscamento. É ainda freqüente alegação, pela farol alto de Ninguém deve alterá-Io, muito menos os interessados, salvo, é lógico,
veIculo em sentido oposto, Também não é imprevisivel. Quando diminui para socorrer os feridos.
a visibilidade a marcha também deve diminuir, tanto mais que todos sa-
bem que se reduz consideravelmente a segurança do tráfego noturno, No local serão encontrados, além das possiveis vitimas, um ou
mais veículos. que se chocaram. Estarão na chamada posição de repou-
mormente nas estradas. Técnicos já chegaram a calculá-to em um quinto
so, ou posição resultante. Mas duas outras posições anteriores são mais
da segurança das viagens diurnas;
importantes: a posição de marcha, que precedeu ao desastre e a posição
d) A falta súbita de freios. Em primeiro lugar, não basta a simples do choque. Estas duas posições é que virão definir as responsabilidades
invocação da desculpa. Deve ser comprovada pela defesa, que a alega. e serão obtidas pela reconstituição dos fatos.
Entretanto, mesmo que seja verdadeira, a violência do choque denuncia, às
Revela a posição do choque de dois ou mais veiculos os frag-
vezes, a velocidade inadequada do veiculo. É mau hábito de motoristas,
mentos de vidro, da pintura, lama seca da parte inferior dos carros, man-
principalmente os profissionais de coletivos, darem freqüentes freadas,
chas de óleo, gotas de sangue, etc. Estes são os vestigios no solo.
por verdadeiro sadismo, à retaguarda de veiculos menores, cuja veloci-
Convém, todavia, sempre observar um pouco para trás, no sentido oposto
dade desabrida querem impor. Não mantêm ainda a distância necessária. ao do movimento do veículo, porque os fragmentos apontados podem ter
É lógico que se freios falharem devem assim mesmo responder pelas con- sido projeta dos a alguma distância pela velocidade do carro e levados
seqüências. Velha também já é a advertência do citado Frutuoso de Ara- por algum tempo, sobre o "capot" ou qualquer outro lugar da carroceria.
gão, de que os freios não são os únicos meios de que dispõe o motorista Mas não basta a fixação do ponto do choque; também importa a maneira
para diminuir ou anular a velocidade. Acrescentava ainda que todos os do choque, isto é, fíxar os pontos dos veiculos que se chocaram. Tome-
bons mecânicos ou condutores de veiculos sabem, perfeitamente, que não -se ar um principio por base - a cada mossa em um carro deve corres-
podem contar com os freios para uma parada súbita, imediata, se previa- ponder um dano ou marca no outro veiculo, ou em algum lugar resis-
mente não tiverem aquela cautela, ainda que à aproximação de lugares tente do ambiente, parede, muro, poste, árvore, etc., ou mesmo o corpo
de vítimas. Mas esteja-se atento com os danos preexistentes.
de parada obrigatória, como cancelas, sinais, etc., devem ir diminuindo
de antemão a velocidade; A posição de marcha é a outra grande investigação pericial. Já
e) Sono e fadiga. A culpa aqui se revela pelo fato de mesmo assim neste caso não há os vestlgios de fragmentos precipitados, supra-referi-
dos. A base das indagações são os sinais sobre a pista de _ rolamen-
insistir o motorista em manter-se no volante. As vezes chega a sou er
tos, in'CIícios tamb~m de gra,lde valor na fixação do ponto de choque.
alucinações semelhantes às dos doentes mentais, isto é, ver ou ouvir o
que não existe. Michel Roche, bom técnico na prevenção de acidentes Os sinais no piso da estrada são os sínais provocados pelos
rodoviários, cita o caso de um industrial francês, responsável pelo aci- pneus deixados no rodar comum, ou pela ação leve dos freios, ou a
dente em que matou a esposa e feriu uma filha, falava sempre numa ca- ação dos freios a ponto de paralisar as rodas, a derrapagem e, enfim,
mioneta vermelha, que o teria ultrapassado indevidamente, o que ninguém as marcaduras de apoio. A marca de pneus em percurso normal, em
viu. O sono ainda pode dar falsas impressões do raio das curvas das pista asfaltada, só ocorre quando esta esteja recoberta de um pouco de
estradas e ainda de estas se afinarem em certos pontos, não permitindo a . lama ou outra qualquer substância de semelhante consistência. A mar-
passagem. Em 1956, na Alemanha, vários motoristas de caminhões pesa- ca pelos freios agindo levemente, fortemente ou chegando a paralisar
a roda na sua rotação, é facilmente visível, indo a ponto de corroer o
asfalto -. .os sinais de derrapagem, além do ziguezaguear, não são mui-
to acentuados, pela ação pouco eficaz dos freios. Mas as marcas são
mais largas, porque as rodas se arrastam no solo obliquamente. Enfim
as marcas de apoio não são duplas e paralelas como as comuns. So-
mente as causam as rodas externas dos veículos nas manobras em cur-
va e só nestas manobras, em conseqüência da velocidade inadequada.
FIG. 11 - A - Marcas da ação violenta dos freios.
Força o peso do carro sobre as duas rodas externas pela força centrífuga.
B - Dano pelo impacto.
Outros sinais oferecem interesse na pesquisa do ponto de cho- C - Arrastamento do auto de passeio.
que, porque indicam o trajeto dos veículos deste -ponto para o final de V - (Velocidade do ônibus na posição de marcha) = A (perda Ini-
repouso. São as arranhaduras de corpos metálicos, do carro já danifica- cial da velocidade pela ação dOI freios) + B (violência do Im-
pacto) + C (velocidade perdida no arrastamento).
do e ainda vestfgios da projeção de corpos pesados, inclusive do corpo
humano. Os testes podem indicar, na falta de outros esclarecimentos, a
direção de marcha de algum motociclista vitimado. Também as teste- A apuração pericial da velocidade é de acentuada importância,
munhas podem ajudar nas indagações de choque e de marcha. seja a do momento do choque, seja a da posição de ,:"archa, isto .é, do
momento em que os veículos entraram na fase do perigo. A velocidade
de marcha é igual à velocidade de choque mais a velocidade perdida
pela ação dos freios. Nisto é fundamental o exame das marcas dos pneus
no solo. Também expressivo na apuração da velocidade de choque é a
verificação do arrastamento dos veículos, após a batida (vide fig. 11).
Enfim, ninguém deve esquecer que dois veículos em sentido oposto,
quando se chocam, a velocidade total do impacto é a soma daquela em
que corriam. Se um bate na traseira do outro, no mesmo sentido, a ve-
locidade do impacto é a diferença. Se os dois carros iam, um a 60 km

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o o~ •• i.~~-----
<o~('o"ooo
FIG. 12 - 1 - Barra quebrada em dois lempos. 2 - Corte da fratura após
o choque (N - rotura nova; V - rotura velha). 3 - Mesmo corte
da fratura depois de algum tempo (V - superfície envelheclda uni-
o I formemente) - Bom desenho do técnico italiano A. Batinl.

e o ouro a 40 krn, no primeiro caso a velocidade do impacto é de 100 km


e no segundo de 20 km. Afinal, tarefa importante para os peritos é exa-
minar as condições de segurança dos veículos e conseguir distinguir
FIG. 10 - A e B: Posição da marcha. A1 e B1; Posição de repouso.
os defeitos anteriores e posteriores, causadores ou conseqüências do cho-
que. llma barra podo ter-se rompido em dois tempos. Não será dmcil apu-
rá-Ia (vide fig. 12).
A~ém de Iotoqratlas, sobre o que falaremos adiante, prestam bons
esclareclrnentos a teitura de croquis (vide fig. 10). Aí serão reprodu- Quanto à imprescindível perpetuação dos acontecimentos pelas
zidos to~os os traços, os veiculas na posição de repouso, os cadáve- fotografias, costuma-se tirar, em primeiro lugar, uma foto panorâmica, de
r~s e o~Jetos attnqidos . _Figurarão també~ nos croquis pel~ reconstitui- apreciável distância. Depois as dos ângulos da pista que permitem a
çao, os carros na p~sl.çao de choque. e Igualmente na posição de mar- boa apreciação do choque, ainda fotos dos veículos no que ofereçam de
cha. Quando esta ultima. é esclareclda por testemunhas, indiquem-se interesse, damos, velocímetro, etc. Para evitar. erros de perspectiva, são
os seus nomes. Hav~ndo Incerteza dessa posição, façam-se apenas se- ideais as fotografias métricas, em que a estrada seria fotografada de ci-
tas expressando a direção. ma e em seções.
Na apuração dos fatos e para evitar as manobras de. adulteração alguma mercadoria, pratica um furto, como também aquele que para isso
da verdade, recomenda-se aos policiais observar a atitude dos motoris- arromba uma casa ou um cofre, embora estes dois últimos na forma agra-
tas acus~do~. Po~em,de inl~io, reconhecer a própria culpa ou parte e pas- vada. Mas se para consegui-Io pratica violência flsica ou ameaça a al-
sarem depois a atitude obstinada de defesa, buscando entendimento com guém o crime é de roubo, punido mais severamente que o furto. Mas a
tester:nunhaspresentes ou mesmo tentar fazer mudanças na alavanca de punição é semelhante à da extorsão. Exemplo desta é exigir de alguém
velocidade nos velculos, a~ionarem ou desligarem interruptores nos cho- dinheiro, sob a ameaça de incendiar-lhe a casa, ou matar-lhe um filho.
ques notur~os e. outras atitudes desonestas. Cuidem ainda os policiais Quando nesta infração ou no roubo ocorre lesão corporal grave da vi-
d~ arrolar Imediatamente as melhores testemunhas, que nem sempre tima, a punição aumenta e havendo morte pode elevar-se a trinta anos
sao as que se oferecem e logo Indagar delas o que viram e onde se en- de prisão.
con!ravamno momento do fato, para testar-lhas a veracidade das decla-
raçoes. O estelionato, vulgarmente chamado vigarice, ocorre nos chama-
dos contos-do-vigário. O criminoso agindo só, de outras vezes associa-
. Enfim, a descoberta dos acidentes em' que fogem os responsá- do a outros, consegue obter uma vantagem contra terceiro despreveni-
V~ISlevando os carros é obrigação policial e pericial da maior relevân- do, de boa-fé, mas não raro também agindo de má-fé, supondo-se mais
c~a. Manter e fazer cumprir a obrigação de as oficinas comunicarem ime- esperto que o disfarçado vigarista. Na apropriação Indéblta, a que cos-
dlatame.nt~ ao Serviço de Trânsito o recolhimento de velculos danifica- tuma o homem do povo chamar de abuso de confiança, o acusado re-
=. pnnctpatmente das caracterlsticas batidas. Igual dever de notifi- cebe uma bicicleta, por exemplo, por aluguel ou empréstimo e desapa-
caçao estende-se também às garagens. Por outro lado, todos os dias rece com ela. Enfim, atos de receptação são os dos chamados intrujões.
aumenta":Jos recursos da polfcia técnica no distinguir as mossas moder- Muitos são donos das casas comerciais conhecidas por "ferros-velhos" e
nas e antlga~ nos,carros, como ainda os vestlgios dos reparos. Também, belchiores. Para melhor compreensão do que acima dissemos, recomen-
n~m exa,me Imediato, as manchas de sangue humano, com a classifica- do a leitura dos seguintes dispositivos do Código Penal: Art. 155 -
çao do tipo, para confronto com o das vitimas e bem assim fios de cabe- furto; 157 - roubo; 158 - extorsão; 168 - apropriação indébita; 171 -
lo, fragmentos de pele e de roupas, estelionato; 180 - receptação.
. . :rodas as re~omenda?ões acima não são demais no empenho de A ação do detetive, que ainda encontra o criminoso em flagran-
dlrnlnulr a verdadeira calamidade dos delitos do automóvel em que por te, será a de logo prendê-Io, conduzindo-o à Delegacia com as testemu-
nada, tantos perdem a vida. ' nhas e o ofendido e bem assim a apreensão do dinheiro ou outro valor
sobre que recaia a ação criminosa. No caso de haver arrombamentos,
ou outras violências contra as coisas, ou escalada, isto é, o ingresso em
alguma casa por outra via que não as portas, deve-se proceder à perl-
o DETETIVE DIANTE DE UM FURTO, ROUBO, EXTORSÃO, cia necessária, a fim de que se imponha aos acusados punição maior.
Esta perlcia será ainda mais importante no caso de acusado ignorado.
ESTELlONATO,APROPRIAÇÃOIND~BITA E RECEPTAÇÃO,
Remeto,então, o leitor ao capItulo referente ao detetive no local do crime.
MOEDA FALSA.
Firmadas as noções jurldicas acima, assinalemos que do ponto-
-de-vista de policia técnica, também nos crimes contra o patrimônio, a
São os crimes principais contra o patrimônio. Tecnicamente não classificação adotada pelos autores é diversa da dos juristas. Disso pre-
se conf~ndem. Tanto no furto como no roubo há uma subtração de coi- cisa estar atento o detetive.
sa alheia, contra a vontade do dono. Já na extorsão a coisa é recebida
pelo criminoso, sem subtração; mas em conseqüência de ameaça. As- Os principais tipos de subtração, conforme o ensinamento de
s~m também ocorre no estelionato, em que, todavia, não há ameaça e Reiss, Seeling e outros são os seguintes:
sim um engano ou fraude. Na apropriação indébita a coisa é normalmen-
te entregue ao criminoso, que, todavia, deixa de devolvê-Ia, quando re- I) O furto de mercadorias expostas ao alcance das mãos dos fre-
clama ou no prazo devido, ou pratica atos de verdadeiro dono como ven- sueses : pelas portas das casas comerciais.
dê-Ia, por, e~emplo. Elfim, a receptação é a ação daquele q'ue sabe da li) Subtração por susto e arrebatamento, principalmentã contra
origem criminosa de alguma coisa, comumente um dos crimes acima e senhoras e velhos, sendo os autores jovens, que conseguem fugir com
no e~tanto a compra, aceita como presente ou por troca. Ainda, também, f·acilidade. Em todas as grandes cidades, há pontos de maior movimento
se nao sabe da origem criminosa deveria presumi-Ia pela natureza da coi- de pedestres onde esse crime é mais usual. Também escolhem vItimas
sa, ou a desproporção entre o preço e o valor, ou a condição da pessoa,
que a oferece. , que distraidamente viagem em trens, à partida das estações, arrancando-
-lhes os relógios de pulso. Este tipo de subtração, em que a violência
. Alguns ex~mplos facilitarão a explicação acima. Se alguém, apro- .contra a pessoa parece evidente, considero-a "roubo e não furto, como
veitando-se da distração dos caixeiros de uma casa comercial, subtrai entendem outros. É chamado estição em Portugal.
111)Batedores de carteira, punguistas, ou cartei ristas, desde os é expressivo sinal atacarem as portas junto às fechaduras, quando a
que agem rudimentarmente, em coletivos, mormente nos trens, nas horas menor resistência delas estaria nos seus extremos. Outros gatunos são
de Intenso movimento, muitas vezes acintosamente mesmo, até os ha- chamados de arma leve, os que uti lizam falsas, gazuas, pinças, etc _ Há
bilidosos plck-pockets. Estes são os punguistas de alta linhagem, que ainda os que penetram nas casas pelos telhados e janelas, são por isso
não fazem lance algum sem a certeza de que a vitima leva quantia apre- chamados ventanistas, entre nós e mesmo em Portugal. Enfim, enquan-
ciável em determinado bolso. Esta forma de subtração, chamada furto to todos os ladrões até aqui referidos evitam se defrontarem com as viti-
com destreza, é punida com penas agravadas. Oportuno será acéntuar mas, existem os ladrões escarpadores, os mais brutais criminosos con-
que quando o punguista chega a meter a mão no bolso de alguém, mes- tra o patrimônio, sobre os quais já fizemos referências ao focalizar os
mo visto depois estar vazio, já ocorre a tentativa punível. homicidas. Há também os gangsters, assaltantes de rua, como de casas
IV) O furto de embriagados, chamados balões apagados, quer dor- comerciais, principalmente bancos _ A essa modalidade de roubo os ame-
mindo nas praças públicas, quer levados por prostitutas para lugares sus- ricanos chamam hold-up.
peitos. A esses ladrões os portugueses chamam bate-sornas. As indicações acima, absolutamente não esgotam todas as espécies
V) Os suadores, modalidade de roubo praticado por prostitutas, de roubos e furtos. Por exemplo, furtos contra comerciantes de peque-
freqüentemente ajudadas por ladrões ou caftens. As primeiras atraem a nas casas, em que um dos acusados os desviam das caixas registradoras,
vítima, na suposição de que vão manter relações sexuais, quando são se estiverem sozinhos na loja, enquanto o outro retira o dinheiro registra-
então surpreendidos com o assalto. Não são raros os suadouros pratica- do. Há truques também de cédulas de elevado valor, que o acusado encena
dos por pederastas e aqui, ainda mais que nos outros, muitas vítimas em dar em pagamento, para depois substituir por outra menor. Não vin-
preferem o prejuízo a procurarem a Policia, pela vergonha do aconteci .. do o troco pela maior, então reclama e aproveita-se ainda de um outro
mento. logro. O comparsa paga antes alguma despesa com nota de semelhante
VI) Furtos de automóveis e outros veiculas. Diferem os que se valor, do qual o outro conhece o final do número de cédula e pede en-
entregam a esta atividade criminosa. Desde os ladrões que agem indi- tão verificação na caixa registradora. De outras vezes, ainda com o mes-
vidualmente ou a dois ou três, desordenadamente, para abandonar depois mo artiffcio, em casas de famllia, lança-se mão de um telefonema para
o veiculo danificado ou despojado de peças; os que subtraem o auto- desviar a atenção da única pessoa presente, enquanto outro ladrão age.
móvel, para a prática de outros crimes, em geral furtos ou roubos. En- Juridicamente, temos aí figuras agravadas de furtos com fraude, ou mes-
fim, os que fazem parte de verdadeira organização. Aios automóveis mo estelionato.
como bicicletas, lambretas e outros veículos, de preferência de marcas
mais corriqueiras, são inteiramente ou parcialmente desmontados, sub- A moeda falsa já é um crime classificado contra a fé pública e
metidos a verdadeira transformação, trocadas peças e modificados os não contra o patrimônio, o que evidentemente também é. Assim prefe-
números gravados nos motores e chassis, além de pintados, para em riu o nosso Códi9<7 Penal nos arts. 289 a 291, talvez para não ter que
seguida os destinarem à revenda. O criminólogo Seelig refere que al- condicionar a punição do crime à existência do prejuizo econômico de
guns furtos se fazem até com propósitos esportivos, nas barbas da Polícia. alguém. Simples falsificação de moeda nacional ou sstranqelra já é
crime consumado e pune-se até mesmo a simples posse de petrechos
Várias organizações têm sido descobertas em diversos pontos do
destinados à fabricação de moeda falsa, quer metálica ou papel-moeda.
território brasileiro. A maior dificuldade está na falsificação de docu-
Também é infração penal o ato de haver recebido de boa-fé moeda fal-
mentação necessária à revenda. A propósito de furtos de automóveis,
sa ou alterada como verdadeira e depois procurar restitui-Ia à circulação,
vale a pena recordar a questão jurídica do chamado furto de uso. Este, que
para não sofrer o prejuízo.
não é punido no nosso direito penal, embora o seja em legislações estran-
geiras, como a italiana, deve ficar muito bem comprovado e fora de quais- Enfim, parece oportuno lembrar, que usar moedas falsas ou cír-
quer dúvidas. Não basta a simples alegação do culpado de que pre- culos de metal como moeda, nas caixas telefônicas ou aparelhos auto-
tendia devolver o veículo. Então nunca haveria flagrante delito punível máticos também é crime, como também colocá-Ias em caixas de esmola,
de tal crime, entre nós, como também do furto de qualquer outro objeto. jogar com dinteiro falso ou pagar os favores de alguma prostituta. ~
Seria suficiente dissesse o ladrão que iria apenas usar o relógio, por verdade que os acusados sempre alegam a maior das inocências, mas
exemplo, e logo o traria de volta para o dono. . muitas vezes não passam de santos-do-pau-oco. Essa expressão se de-
riva justamente de uma partida de dinheiro falso introduzida no Brasil,
VII) Subtrações com violência sobre a coisa são atos dos ladrões
há muitos anos, escondida dentro de imagens de santos. Não é crime,
arrombadores, que utilizam instrumentos para roturas brutais, como ala-
porém, a desmonetização, por exemplo, a transformação de moeda em
vancas, pés-de-cabra, que abandonam não raro nos locais para evitar
jóia, ou outro adorno. Sobre o assunto também remetemos o leitor ao
futura prova contra eles, ladrões de arma pesada, na glria policial. Fiam-
que dissemos no capítulo referente à falsidade de documentos.
-se somente na força bruta. Às vezes sem experiência alguma, do que
INC~NDIOS E OUTROS SINISTROS. INC~NDIOS ACIDEN- cações nos estaleiros a fim de reparos e de que se tem suposto atos de
TAIS E CRIMINÇ)SOS,DOlOSOS OU CUlPOSOS. COMBUS- sabotagem, não passam de combustão espontânea. Foi desta causa a
destruição do encouraçado francês lena e acredita-se também o mes-
TÃO ESPONTANEA. MOTIVOS DE INC~NDIO. lOCAIS DE mo quanto ao incêndio do Queen Elizabeth.
INC~NDIO. NOÇOES INDISPENSÁVEIS AO DETETIVE.
Os incêndios criminosos dolosos ou intencionais podem ter por
causa:
A gravidade dos incêndios está não s6 nos danos às vezes con-
a) Vingança - O amante ou o empregado despedidos, às vezes
sideráveis, por eles causados, como também no temor provocado pelo
até, ato de vingança infantil, rebelde a castigos educacionais.
perigo da propagação do fogo. ~ por isso classificado na lei dentre os
crimes de perigo comum, tal como a inundação, a explosão, o desaba- b) Cupidez - Visando o recebimento da indenização garantida
mento e outros. pelo seguro contra o fogo. Recorda locard uma lenda maliciosa segun-
do a qual, em certos campos, as casas têm uma inclinação particular
Os incêndios podem ser acidentais ou criminosos. Estes últimos
a pegar fogo, quando protegidas pelo seguro. De outras vezes o incên-
dividem-se em dolosos (intencionais) ou culposos (por imprudência). Vê- dio é o meio de encobrir a administração fraudulenta de alguma empre-
-se logo a importância da investigação policial e tanto maior porque, sa, pela destruição de livros comerciais e registros denunciadores.
nos incêndios, o chamado local do crime é devorado pelas chamas. Por
isso será oportuno perguntar-se, imediatamente, a quem aproveitaria o c) Incêndios de cobertura - Para fazer desaparecerem os vestl-
incêndio. Se havia seguro, o seu valor em relação ao da coisa incen- gios de outro crime, geralmente homicldio ou roubo.
diada, a data do seguro, saber se os livros comerciais e documentos im- Evidentemente, a classificação indicada não exclui ainda outras
portantes foram carbonizados e onde eles se encontravam teria sido o causas menos freqüentes. Reiss e René Allendy contam casos de incen-
ponto inicial do incêndio ou sua proximidade. diários por vaidade. Um bombeiro que assim procedia para comparecer
em primeiro uniforme, primando pelo zelo e atividade, para brilhar pe-
Os incêndios acidentais podem ter origem nas chamadas causas rante as moças da redondeza. Seelig refere o de outro indlvlduo que
naturais - os raios, por exemplo; então os peritos poderão encontrar chegava ao delfrio sexual diante do espetáculo dos incêndios, que pro-
metais fundidos, ou escurecidos pela oxidação, ou magnetizados ainda; vocava. Nelken, outro experimentado crlmlnôloqo, afirma que os incen-
paredes furadas, ou madeira partida. Curto-Circuito, quando não seja diários são muitas vezes exibicionistas e exempliflca. Aqui já a crlmi-
causado pela negligência ou inépcia de alguém, pois neste caso tería- nalidade se avizinha da anormalidade. Vale a pena então falarmos na
mos um incêndio culposo. Seja, sim, por casos fortuitos, um ramo de piromania. ~ uma espécie de loucura a ser submetida à perlcia psiquiá-
árvore partido pelo vento, que caia sobre dois fios, ou outras causas .
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trica. Mas advirta-se que muitos simuladores há, capazes mesmo de ilu-
imprevisíveis ou inevitáveis. dir alguns pslqu'atras menos atentos. ~ também de lembrar a advertên-
cia do sempre sagaz Reiss de que os médicos alienistas são facilmente
Merece realce a questão da combustão espontânea, que, por ig-
levados a exagerar a importância das anomalias e a declarar irrespon-
norância, tem causado graves prejulzos. Pode dar-se pelo contato de
duas substâncias qulmicas, que ao se combinarem geram calor e fogo sável um indivlduo que, em realidade, não apresente mais taras que as
em conseqüência. Os casos acidentais são raros, porque geralmente verificadas comumente nos homens olhados como normais. René Allendy
as pessoas possuidoras destas substâncias conhecem o perigo delas ressalta que muitos incendiários são ou foram bombeiros. Em 1953, des-
e tratam de mantê-Ias separadas. São mais freqüentes as combustões cobriu-se que o autor de grandes incêndios na cidade de Tours (teatros,
casas comerciais e imóveis) foi um certo Mareei Séjault, antigo cabo
espontâneas acidentais, causadas pela fermentação. O estrume com o
carvão vegetal e a hulha amontoados em lugares pouco arejados, assim de bombeiro. Em 1937, Gabriel Monteau, bombeiro há dois anos, con-
também os montes de feno e outras ervas secas, usadas como forra- fessou ter provocado vários incêndios "sem saber o que se passava em
ge 1"1) , são sujeitos a combustão espontânea. A porosidade do estrume sua cabaça". No ano seguinte três bombeiros incendiaram a case de
um cura' e um outro, clarim de bombeiros, provocou vários outros incên-
ou do carvão torna possível condensar acentuada quantidade de oxigê-
dios "para ver como os companheiros se safavam". É preciso muito eui-
nio do ar, elevando assim a temperatura. No feno e ervas, desencadeia-
-se o calor pela ação das bactérias de fermentação, quando não estão dado na separação do joio do trigo.
completamente secos. Esta mesma propriedade de absorver excepcio- Os locais de incêndio, facilmente se conclui, são portanto da maior
nalmente o oxigênio do ar também possuem certos óleos, como o de li- importância. AI deverão ser encontradas as provas materiais da origem
nhaça, elevando a temperatura até a inflamação, por exemplo, de peda- dos sinistros, dissipando as suspeitas de crime <;luconfirmando-as. Dian-
ços de algodão ou farrapos de pano sujo dele, amontoados em algum .te de um incêndio, as primeiras providências de algum detetive será dar
canto, de onde o fogo possa propagar-se. Vários incêndios de ombar- aviso ao Corpo de Bombeiros, à autoridade policial e ao Pronto Socor-
ro, se houver feridos. A polícia logo tratará de interditar o local, para
permitir a ação dos bombeiros, livre da curiosidade popular e dos as-
saltos dos ladrões, que sempre comparecem. Providência também ime-
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a) O fogo comece simult meamente em vários pontos do edifício;
b) Encontrem-se vestígios de meios de efeito retardado, como ve-
diata é o desligamento da rede elétrica por empregados da Light ou Ias, gravetos, espoletas lUeimadas, mecanismos de relógio, ba-
outra empresa concessionária de luz, força e gás. Outra providência de lõezinhos de gás, etc.;
grande alcance seria o comparecimento imediato de peritos. Até a co- c) Descubram-se substâncias inflamáveis, como parafina, petróleo,
loração e natureza das chamas são de grande interesse de técnica' po- gasolina, etc.;
licial. Todos os autores ressaltam as vantagens do imediato inicio da
pericia, simultânea com atuação das autoridades do Corpo de Bombei- d) No mesmo edifício, já se tenham verificado antes outros casos
ros. Infelizmente, entretanto, pelo menos no Estado da Guanabara, quan- suspeitos de incêndio;
to mais em outros, os peritos do Instituto de Crjminalistica só começam e) Tenham sido destruídos principalmente livros contábeis e re-
seus trabalhos muito depois, quando o local já' está mais do que desfei- gistros.
to e massacrado pela ação dos bombeiros e encerrada a tarefa destes.
Ao final da perícia, quase nunca chegam a conclusões positivas.
Reiss também lembra que o fato de se encontrarem janelas aber-
Uma das primeiras preocupações dos peritos deve ser a de apu- tas ou portas, em horas que normalmente costumam estar fechadas, 9
rar onde começou o incêndio, geralmente o ponto de maior combustão. de desconfiar da origem criminosa do incêndio e bem assim crer-se na
Quando o incêndio foi acudido em tempo, mais fácil será essa tarefa, se- experiência do acusado, sabido que muitos fogos postos deixam de pro-
guindo-se, então, uma pesquisa atenta do que ai reste, os resíduos de gredir por falta de arejamento.
papel, palha, mormente, se mesmo em parte, escaparam de caleinação.
Enfim, os incêndios criminosos por culpa, também podem ser re-
Esta retarda-se quando houve embebimento em petróleo. Ainda o chei-
velados na pericia de local. Alguém que displicentemente atire pontas
ro característico deste combustível e seus derivados pode ser percebi-
de cigarros acesos em local onde existem substâncias altamente infla-
do e todo material suspeito deve ser recolhido para exames de labora-
máveis. Muito mais perigosos são os fósforos jogados ao chão pelos fu-
tório. As Policias mais adiantadas já dispõem de alambiques especiais,
mantes e ainda em chama; o alfaiate ou a dona de casa que deixe o
ferro elétrico ligado, ou qualquer outro aparelho perigoso; enfim, múl-
tiplas são as hipóteses possíveis, inclusive a inépcia na utilização de má-
quinas e aparelhos ou a imprudência no pretender consertá-Ias.
O que acima dissemos sobre incêndios pode ser considerado, ten-
do em vista as. circunstâncias, quanto a outros sinistros, como sejam as
inundações, explosões, desabamentos e mais delitos de perigo comum.

CONCEITO DE PROVA. ESPÉCIES DE PROVA. CONFISSÃO.


FIG. 13 - Tipo de alambique adotado pela Scotland Yard, segundo o es- TORTURAS POLICIAIS. DETECTORESDE MENTIRAS.
quema de Cuthbert. ~ usado para a extração de gasolina ou ou-
tra substância inflamável dos detritos colhidos em um incêndio, Diante da suspeita de alguma infração penal, todo o esforço po-
que se suspeite doloso. A - Recipiente com a água geradora licial e judicial consrsts em demonstrar: a) se o delito ocorreu, ou não
de vapor; B - Grande ampola contendo os detritos; C - Con-
densadpr; O - Funil separador contendo o material volátil;
ocorreu; b) em caso Ifirmativo, quem é o seu autor, ou são autores.
E - Água condensada do vapor gerado em A.
Prova é exatamente a atividade desenvolvida neste objetivo, pri-
meiramente, no inquérito policial, depois na ação penal em juízo . Os
usados para extração de vestígios de gasolina e outras substâncias in- meios desse procedimento, segundo as nossas leis, sãoos seguintes:
flamáveis, que estejam em detritos recolhidos em pontos suspeitos de a) Confissão;
incêndio. Na recente catástrofe do circo de Niterói, teria sido do maior
b) Prova testemunhal;
valor. Na Inglaterra, têm-se chegado a excelentes resultados, inclusive
para confirmar confissões, assinala C. R. M. Cuthbert, destacado dire- c) Prova documental;
tor de laboratório da Scotland Yard, (vide fig. 13). Lembra este autori- d) Prova pericial;
zado perito que devemos suspeitar de todos os incêndios em que: e) Indicios.
Pode a confissão ser judicial, ou extrajudicial, segundo se verifi- Casos têm havido de verdadeiros disparates. Criminosos apontados co-
ca perante a. Ju~tiça· ou fora dela, na Policia, por exemplo. Em qualquer mo inocentes e vice-versa. Além disso, raros são os técnicos realmente
caso, a confissão deve harmonizar-se com as demais provas colhidas. capazes de fazer bom uso dos famosos pOllgrafos, começando pela or-
Se isto não se dá e, mais ainda, quando há manifesta incompatibilidade ganização das perguntas e depois a interpretação das respostas e cir-
c~m o~tras provas mais críveis, deve a confissão ser repelida pelo Juiz. cunstâncias. Recentemente a Policia de São Paulo adquiriu um pollgra-
Nao s~o raros os casos de auto-acusação menti rosa, partida de doentes fo, que veio acompanhado de um técnico americano e a primeira aplica-
mentais ou de acusados que pretendem, pelas mais variadas razões en- ção foi nas investigações da morte misteriosa do cineasta Geraldo Jun-
cobrir o ver~adeiro criminoso, ou assumir sozinho a responsabilidad'e de queira de Oliveira, encontrado morto a balas, em fins de setembro de
um ato praticado por outras pessoas, ou para esconder um alibi deson- 1961. Nada até agora se esclareceu, e as últimas noticias são de que
roso. um dos suspeitos acaba de falecer na prisão, torturado até a morte pela
estupidez policial, posto de lado o pollgrafo.
Se estas considerações dizem respeito às confissões judiciais, on-
de os acusados confessam espontaneamente, são com maiores motivos Entendo que o denominado detecto r de mentiras como outros tes-
suspeitas a.s ~onfissõ.es extrajudiciais. São destituídas de qualquer va- tes a que se submetam os suspeitos, sem a utilização de substâncias ine-
lor, as contissões obtidas pela Policia, quando o acusado se retrata em briantes ou outros meios dos denominados raptos de espírito, podem ser
JUIZO, provando ter confessado sob coação. Infelizmente não são raras de alguma utilidade na descoberta de pistas, na fase policial das apura-
as violências policiais, até em países ditos civilizados. Por exemplo, na ções. Mas sem qualquer valor de prova, capaz de condenar ou absol-
França, em 1952 houve uma onda de violência tal que o Ministro do In- ver alguém, como tem sido o pronunciamento dos tribunais de todos os
t~ri.or ch?gou a baixar enérgica portaria reprimindo os excessos poli- países civilizados. Devem ainda ser precedidos do consentimento do pa-
crars, apos ? caso Deshay. Foi este indivlduo condenado, embora ino- ciente. E não esqueçamos da recomendação da Seção CienHfica do "Clr-
c~nte do c.rlme que lhe imputaram. Submetido a torturas, confessou-o culo Europeu de Bruxelas", em 1951, sugerindo a elaboração de lei que
circunstancialmente, como lhe obrigaram os policiais e embora depois cuide de evitar os abusos e proteger os direitos da pessoa humana.
voltasse atrás perante a Justiça, os jurados não aceitaram a retratação.
Também nos Estados Unidos tem-se deplorado as chamadas aplicações
d~ 3.° gr~,u, ~pesar de Hoover, o devotado diretor do F. B .1. ter sempre PROVA TESTEMUNHAL. SIGILO PROFISSIONAL. FALSO
dito que mais vale um tubo de ensaio, do que um cassetete". Sobre o TESTEMUNHO. RECONHECIMENTOS.
"t~ird degree". há um excelente trabalho do professor Alípio Silveira, pu-
blicado na revista "Garras da Lei". A Inglaterra nisto tudo constitui uma É ainda a prova mais usual e básica, embora sujeita a incontestá-
esplêndida exceção. Lá realmente a pessoa acusada é respeitada. veis defeitos. É de testemunho em testemunho que o policial vai inda-
A nossa lei fixa normas a serem seguidas no interrogatório dos gando sobre o Vi me e seu autor, logo que toma conhecimento do fato.
acusados, dando-Ihes até o direito ao silêncio, embora devendo ser-Ihes Dentre as provas que ouve, seleciona as mais esclarecedoras, cujas de-
clarações serão tomadas por termo em Cartório, no inquérito policial.
advertido que o silêncio pode ser interpretado em seu desfavor. Sendo
Dentre elas, geralmente o Promotor Público escolhe as que lhe arrimarão
assim, vê-se logo que a melhor atitude, mesmo policial, é a de nada per-
a acusação em Jutzo . Ainda a defesa irá, após o interrogatório judicial
guntar ao acusado, cuja resposta não seja imediatamente reduzida a es-
do acusado, arrolar as suas testemunhas. Em Juizo há número máximo
crito, sem desmenti-Io, o que iria favorecê-Io pela eliminação das contra- de testemunhas a serem arroladas.
dições. Melhor que tudo, ainda, seria nem perguntar, para evitar suges-
tões, deixando o acusado falar livremente, taquigrafando ou gravando- Ninguém pode negar-se a ser testemunha, salvo os que são de-
-lhe as declarações. tentores de seqredos profissionais, sendo sobre isto o objeto das apu-
rações. Mas poderão ser dispensados de guardar o segredo pelo inte-
Cabe aqui examinarmos a questão dos detectares de mentiras, tes- ressado e então ficam livres para depor, mas se quiserem. Ainda têm
tes de sinceridade e outros meios indicados pretensiosamente como cien- o direito de não testemunhar determinados parentes próximos do acu-
tíficos para a descoberta da verdade. Os polfgrafos, denominados usual- sado mesmo adotivos, salvo quando não for posslvet, por outro modo,
mente detec.tores, são aparelhos que registram as mudanças fisiológicas obter-se a prova do fato criminoso na inteireza.
quanto à pressão sangüínea, pulsação, respiração e reação eletrodér- Todas as testemunhas, mesmo parentes do acusado, que sejam
mica. As pessoas, conforme o temperamento, reagem de formas diver- obrigados a depor, têm a obrigação de dizer a verdade, sob pena de
sas, submetidas ao exame, que quando falam a verdade. Conclui-se Io- praticarem o crime de falso testemunho, severamente punido. Para isso
ga como é difícil a interpretação dos registros. Vê-se então que os detecto- basta calar a verdade, havendo sido arrolado como testemunha, o que
res de mentiras não são realmente os aparelhos e, sim, os seus utilizado- é diferente do dever de denunciar, que só excepcionalmente nossa lei
res , Mesmo nos Estados Unidos, onde se difundiram tais aplicações nos estipula. Só se livram da responsabilidade penal os menores de 18 anos
meios otimistas, diz-se que há uma margem de mais de 30% de erro. e os doentes mentais. Oqanto aos menores não há limite rnlnlrno de ida-
1I

tolerada em certas circunstâncias e sempre olhada com justa pre-


de para que sejam ouvidos. A eles deve dar o Juízo o 'crédito que me- pe1as pessoas de boa formação moral e bons autores.
recem. Não se pense, porém, que a ingenuidade infantil seja incompativel
com .a mentira judicial. Muito ao contrário, deve-se estar prevenido contra Reconhecimentos - Merecem atenções especiais o de cadáveres.
a fantasia de pouca idade. Lembre-se ainda que nenhuma garantia espe- enganos são comuns, às vezes até por parte dos .parentes mais pró-
cial de verdade se tem nas declarações dos que estão morrendo. Já o mos. Todos sabemos do horror Que os cadáveres provocam nas pes-
velho Brierre de Boismont afirmava que os moribundos mentem tanto do povo, que respondem treqüentemente às perguntas sem fixa-
como os vivos. E a mesma afirmação se pode fazer dos suicidas, assi- o olhar nos defuntos. Os cadáveres são vistos deitados e às vezes
nala o experimentado Altavilla. Cartas há de suicidas contendo estra- quando as pessoas costumavam vê-Ias em posição vertical
nhas simulações de motivos e outras inverdades. , ,e vestidas. Assim tais reconhecimentos devem cercar-se de cautelas,
. , •. inclusive a maquilagem dos cadáveres, por artiflcios especiais.
Desnecessário será aqui alongar-nos muito sobre os defeitos da
prova testemunhal. Além dos erros v o I u n t r i o s, fruto da má-fé, ou
á
~j , Outros enganos não raros dão-se nos 'reconheolmentos fotográfi-
do interesse pessoal, há os depoimentos errados insconscientemente. A \~l;I eos. A fotografia determina certas modificações apreciáveis, prejudican-
percepção dos fatos sofre a influência considerável do estado mental ,:': do a precisão do reconhecimento. E depois do re?onheclmento no retra-
ou mesmo ffsico da testemunha. Já nem falemos da importância da lu~ J? to, pode isso sugestionar outro e~r? no rec?nheclmento pe~soal. Entre-
e outras circunstâncias, como até a posição da coisa ou pessoa vista. ~. tanto todas as repartições policiais das Cidades mais adiantadas têm
o que veremos adiante quanto ao reconhecimento de cadáveres. Ou- coletÂneas de fotografias, as galerias de delinqüentes, que podem pres-
tras imprecisões correm por conta da memória, a que se vão juntando ',. tar bons esclarecimentos nas investigações policiais.
os erros intercalados entre a percepção dos fatos e a sua descrição no Para melhor prova em Juizo; estipula a lei formalidades especiais
curso do interrogatório. Enfim, até a influência do inquiridor, policial ou para os reconhecimentos, lavrando-se um auto próprio. Primeiramente
juiz, que mesmo inconscientemente pode insinuar as respostas. deve a pessoa, que vai fazer o reconhecimento, descrever de antemão
Sobre a mentira Altavilla bem a distingue em mentira-meio e men- aquela a ser reconhecida. Depois a apontará dentre outras que lhe te-
tira-tendência, servindo a primeira para obter uma utilidade qualquer e nham alguma semelhança, podendo fazê-Io sem ser vista, se há lembre-
a segunda como expressão de um temperamento especial, tendendo pa- tes de Altavilla, são de que a demora no reconhecimento não indica im-
ra a morbidez. Tudo isso indica a necessidade de conhecer com a maior precisão. Ainda às vezes, pode-se reconhecer com certeza, sem que se
precisão possível a posição da testemunha. possa descrever de antemão a pessoa, com maior mlnúcla e vice-versa.
r
Outra questão interessante é a profissão da testemunha. Os ho-
teleiros, garçons, botequineiros têm acentuada tendência a dizer que na-- PROVA DOCUMENTAL. ESP~CIES DE FALSIFICAÇAO. A
da viram, como uma espécie de discrição profissional, ou por medo de GIRIA DOS MALFEITORESE ESCRITASSECRETAS.TINTAS
represálias, ou para simplesmente evitar os incômodos dos depoimentos. SECRETAS.MICROFOTOGRAFIAS.MÁQUINAS DE ESCRE-
Mas são pessoas que muito sabem, como os barbeiros, alfaiates e jor- VER E PAPEL-MOEDA
naleiros, precisos elementos, quando querem e são bem manobrados pe-
Na Justiça Penal, muitos menos que na Justiça Clvel, a p~ovado-
las investigações policiais _ Os camponeses são também testemunhas cumentat não é das mais freqüentes. Não é rara, porém, a apreciação de
reticentes pelo receio de se comprometerem. Podem, por outro lado. documentos. Nesta apreciação, muitas vezes precisamos apurar se são
surpreender como boas testemunhas para certas informações, ligadas eles falsos ou autênticos e, na primeira hipótese, Quem os falsificou.
às suas atividades, como em geral, qualquer outro profissional. Mas de- Tudo isso terá que fazer-se, em regra, através de uma perlcia. A nossa
vemos esperar a solidariedade entre eles, quando o acusado ou a víti- lei obriga-a expressamente para exame da letra e firma dos documentos
ma seja da mesma profissão. Enfim, quanto às prostitutas têm-se res- particulares, toda vez que a autenticidade delas seja contestada. Essa
saltado a sua tendência à mentira e também pouco dignos de crédito contestação parte comumente do próprio acusado..
são os delinqüentes. como testemunhas. Até como vítima são íreqüen- I_ôcard e outros crtmlnóloqos ressaltam a dificuldade que mui-
tos as suas relutâncias em esclarecerem que os atacou. Não quer sm tos desses exames oferecem para a identificação do autor. A dificulda-
quebrar as regras do mundo criminal, que os franceses chamam "rnilieu" - de e o perigo são maiores, porque os graf610gos se improvisam por aí.
E sempre esperam praticar a vingança pessoal, por desprezo à autori- não raro, sem o menor lastro de comprovação cientlfica. Até na melhor
dade pública. boa-fé poderá tomar a nuvem por Juno, com graves conseqüências pa-
Duas palavras cabem aqui sobre os chamados alcaguetes, isto é. ra a apuração da verdade.
os indicadores, marginais que informam aos policiais, ou por dinheiro. As falsificações materiais de documentos dão-se mais usualmen-
ou por complacências. quem são os autores ou suspeitos de crimes mis- ·te pela raspagem, a lavagem do texto anterior ou o apagamento por bor-
teriosos, ou as atividades de determinados delinqüentes. ~ prática ape- racha. Suprime-se tão-somente o que estava escrito, ou depois torna-se
cr vor no espaço. A fotografia e as aplicações químicas serão meios como, por exemplo, nas cartas anônimas, são postos em prática os conhe-
.flcl nt para revelar a adulteração, mesmo as mais disfarçadas. Meios cimentos trazidos pela grafoscopia e a grafometria. A pesquisa terá em
....xl I m até para a leitura do texto anterior, que se quis inutilizar. vista as características do modo de cada um escrever. Mesmo quando se
procura disfarçar a escrita a atenção é tralda. Por isso, para obter-se ma-
Podem ainda ocorrer falsificações pelo acrescentamento de le- terial do suspeito, necessário à comparação, costuma-se mandá-to escre-
Ir ou algarismos, ou ainda, de linhas inteiras. Aqui, além da pesquisa da ver, de preferência por ditado, que se prolongue, ou repetindo o texto que
dI! r nça do traço da letra e da substância com que foi feito, geralmentp. seja curto. Um dos taís pontos constantes são os ângulos formados acima
tinI , deve-se ter em vista a questão do traço pós-escrito. Se, por exern- ou abaixo das linhas da escrita, fazendo-se prolongar o eixo das letras. Ou-
pio. alguma palavra acrescentada tem algum traço que passa sobre um tro é a relação de tamanho entre as letras. Nas comparações do texto
traço de palavra ou linha seguinte, só isso comprova ~ fraude. O traço suspeito com a amostra obtida, costuma-se fotografar as palavras ou
m Is denso ou mais escuro é indicio de ser posterior. Nesses exa- letras com aumento de duas ou três vezes, colocando-se umas ao lado
mos são necessárias ampliações totoqráücas; com iluminação lateral, das outras. Muitas outras observações se fazem; até os erros ortográ-
Também nesta espécie de falsificação convém a comparação do tama- ficos são levados em consideração.
nho das novas letras em relação às anteriores e seu espacejamento (VI"
Enfim, devemos lembrar a existência das linguagens corrompidas
de figo 14). dos meios criminais, a glria dos malfeitores. Na França, por exemplo,
constitui verdadeira IIngua à parte. Há também a utilização de alfabe-
tos misteriosos de comunicações entre os presos nas prisões, às vezes,
simples batidas na parede.
Maior importância, todavia, merece a denominada criptografia.
Visa à decifração de escritas secretas cifradas, para desvendar segre-
dos das correspondências diplomáticas e, de modo geral, nas atividades
de espionagem. Os métodos utilizados vão dos mais simples aos mais
complexos, Todo o esforço investigatório está em descobrir a chave,
o que é tanto mais fácil quanto mais longo for o escrito secreto.
FIG. 14' - Nota-se que o traço a 6 posterior. Sua tinia mais forte Infiltrou-
-se no traço b, no local do cruzamento. Ainda fécU é perceber Os métodos adotados são vários, mais usuais e de inversão, depois
que a dobra se fez depois do a e antes de escrever..•e o m. de transposição e enfim o de dicionário. A forma de maior simplicidade
do primeiro consiste em substituir cada letra do texto a disfarçar pelas
Na transferência do traço constrói-se inicialmente um texto com letras correspondentes do alfabeto, adiantadas ou atrasadas de determi-
a utilização de palavras ou letras ou algarismos recortados de escritos nado número de casas na ordem alfabética usual. Por exemplo, a frase:
verdadeiros. Depois reproduz-se o texto por alguma forma, mais fre- Maria fugiu e morreu,
qüente, por litografia, em seguida coberto o traço a tinta. Cita-se um
caso desses, dos mais rumorosos na França, em que terminou condena- adiantando-se
<,
cinco letras teremos:
do a dez anos de reclusão o tabelião Guyard, muito conceituado numa RFXNFKALNAJRTXXJU.
provlncia do oeste francês. A falsificação passou primeiro despercebi-
da, mas depois foi desmascarada pelos peritos Locard e Bischoff. Nes- Tintas simpáticas constituem outra manobra de falsários. Não
sa espécie de falsificação busca-se o traço recoberto, como também a deixam vestrgio a olho nu no papel, onde são utilizadas. Mas o destina-
ligação das letras e palavras, a espessura do traço, sua obliqüidade e tário torna visível a escrita, passando no papel determinados IIquidos,
dimensões comparativas e o espacejamento delas. ~ talvez a modali- sumo de limão, cebola e até saliva ou urina. Geralmente o escrito sigi-
dade fraudulenta mais perigosa. loso é feito nas entrelinhas de uma carta de disfarce. Quando se des-
confie de alguma carta destas, será de vantagem submetê-Ia à luz oblí-
Transparência ou decalque são outras formas de falsificação, atra- qua e aos líquidos supra-referidos além do outras. Se é preferfvel não
vés de vidro, com iluminação no lado oposto, ou utlllzando-se carbono impedir chegue a carta a seu destino, resultados costuma dar o vapor
ou outras formas de calcar o desenho. As fraudes são verificadas peles de iodo, que provoca apenas uma revelação passageira da escrita, oca-
hesitações no traço. O decalque é a forma de menor habilidade crimi- sião em que pode então ser logo fotografada. '
nosa. Há quase um ano foram descobertas duas ou três quadrilhas ope-
rando no Rio e em São Paulo e outras cidades brasileiras, empenhadas As microfotografias permitem num simples ponto encerrar uma fra-
na falsificação de cheques falsos por decalque, com vultosos prejuízos se, o que se verá sendo submetidas ao microscópio. Assim, deve-se
de bancos. Tiveram êxito a princípio. desconfiar numa escrita qualquer, dentre os sinais de pontuação comuns,
algum ou vários pontos um pouco maiores, Outras práticas ainda sã~
Nas imitações da letra a mão livre pode-se perceber a freqüên-
usuais na espionagem internacional principalmente. Recentemente fOI
cia dos recomeças do traço, como também a existência de traços de en-
preso, em São Paulo, o ~spião comunista Josef Werner Leben, com o
saios anteriores. Depois, como também na hipótese de letras disfarçadas,
qual se apreendeu farto m~terial de escrita cifrada. A.s mensagens secre- go de Processo Penal encerra várias outras normas sobre o assunto, pa-
tas faziam-se através .de mlcrotllmes, colocados debaixo do selo das car- ra observância em todo o pais.
tas. A Policia afinal conseguiu revelar as mensagens.
A prova pericial 'deve iniciar-se, sempre que posslvel, logo após ao
Miquln •• de escrever oferecem, textos muito mais fá~eis. de iden- conhecimento do crime. No local deste podem encontrar os peritos ves-
tificar que os manuscritos. Esta pesquisa é às vezes da maior Impo~ân- tfgios preciosos à comprovação de seus autores. Locard chama a estes
cia. Os peritos terão em vista, em primeiro lugar, a natureza dos tlpos, vestfgios de Onlcas testemunhas que nlo se enganam e nunca mentem,
mormente a pontuação. Havendo coincidência, passa~ ao exan:'e das d~- eloqüentes testemunhas mudas. Basta que os peritos saibam encontrá-
formidades, quer no texto examinado, quer na máquina suspeita. Os ti- -Ias, e interpretá-Ias. E acrescenta - um móvel que conservou a marca
pos quebrados, mesmo parcialmente, os que estejam desloca~os e baten- sangrenta em que se percebe uma impressão digital; no fogão onde se
do adiantados ou atrasados, os que estejam gastos, etc. E ainda os téc- ache um papel queimado, mas ainda posslvel de ser lido; sob a unha
nicos examinarão se há sinal de conserto ou adulteração recente da má- do morto, um cabelo arrancado ao criminoso; na mão do suspeito uma
quina. dentada que lhe pratique a vitima; os vestlgios das ferramentas usadas
num arrombamento; na poeira de um móvel onde se apoiou um cotovelo,
Papel-moeda falso não é fácil de ser perfeitamente falsificado, pe-
o desenho do tecido da roupa do criminoso. Isto significa que o acusa-
la dificuldade de obter o papel próprio. Às vezes descoram not~~ verda-
do assinou o crime.
deiras de pequeno valor. Também é diflcil a impressão das flllgrana~,
isto é, dos enfeites em arabescos, que vemos nas cédulas. Por e~sas di- Nessa fase dos acontecimentos os peritos funcionam perfeitamen-
ficuldades os falsários preferem a alteração de moeda autêntica, por te como verdadeiros agentes da policia judiciária, Falhará a justiça pe-
exemplo, nelas colando algarismos recortados de outras, transformand? nal de qualquer pais, onde sejam bisonhos esses serviços fundamentais.
assim notas de Cr$ 10,00 em Cr$ 500,00, outras de Cr$ 1.000,00, aprovei- Há quase meio século, em conferência realizada em São Paulo, contava o
tando a semelhança de cor. Outra prática, menos usual, entre nós, con- professor Reiss que na Sulça foi identificado um ladrão, porque comera um
siste em cortar várias notas verdadeiras, no sentido vertical e em partes pedaço de manteiga, deixando as marcas de seus dentes na sobra, Pre-
sucessivas, colando-as em seguida, subtraindo pequena faixa, o que passa- so um suspeito, fizeram-no trincar outro pedaço de manteiga e tiveram
rá despercebido ao incauto. Depois com essas sobras obtêm uma nova a conjjrrnação da autoria. Rerefe-se o criminólogo Seelig que certa vez
nota, que é li vantagem criminosa. Todos esses embustes podem ser um assalto foi esclarecido porque encontraram caroços de cereja em fe-
percebidos até pelo leigo, bastando que esteja atento toda vez que ~~- zes no local do crime. O fato se dera em ocasião em que só num quin-
ceba dinheiro. Procure sempre sentir a nota pelo tato, olhe bem as. fi 11- tal haviam uma ceréjeira com frutos temporões. O ladrão foi um emprega-
granas, desconfie das emendas e recuse sumariamente as notas suspeitas. do do dono do referido quintal. Vale recordar que há uma superstição
entre ladrões de que dá sorte defecar, onde promovem seus furtos. Dou-
tras vezes assim procedem por perturbações do sistema nervoso de
A PROVA PERICIAL. MEDICINA LEGAL. FrSICA. QUrMICA que são tomados. Em caso dos mais rumorosos dos últimos tempos, na
E BIOLOGIA LEGAIS. BAUSTICA. Suíça, em que afinal foi condenado por homicldio o notável advogado e
ex-deputado Pierre Jaccoud, a prova decisiva foi o encontro de manchas
é de importância nunca exagerada essa espécie de peritos real- de sangue dos grupos sangülneos do acusado e da vitima, não só numa
bicicleta, como no terno e capa do acusado. E o terno já havia sido la-
mente de capacidade técnica. Peritos não se improvisam, é mais do que
vado e seco, sendo as manchas invi.slveis a olho nu, O mais extraordi-
sabido. Do contrário, as conseqüências são justamente opostas. A: pe- nário, ainda, está em que também acharam na dita capa e numa bainha
rlcla errada, produzida por pseudotécnicos ou fruto de má-f~ pode indu- de punhal do acusado células hepáticas e um dos golpes verificados na
zir o juiz a erros a que não incorreria, se até nenhuma perlcla houvesse. vítima fora justamente no fígado. Na Bélgica, muito mais recentemente,
Mas quer a nossa lei, toda vez que a infra~ão deix~ vestlgios, .se faç~ em março de 1961, foi condenado a prisão perpétua Jean Aiga, acusa-
o exame do corpo de delito e de preterêncta procedido por peritos .ofl- do de matar um menor. Uma das provas maís decisivas contra ele foi
cials , Entretanto, onde estes não existam, o e~aborem duas. ~essoas Id~- a mancha de sangue encontrada em peça de seu vestuário, do grupo A,
neas, buscando-se, em primeiro lugar, as que tenham habilitação !écm- coincidente com o tipo do sangue da vitima, quando o do indiciado era
ca. Vê-se, portanto, que ainda será posslvel em nosso pais perícla de de outro grupo. Ressalte-se que os exames foram bem retardados, por-
leigo, o que por todos os meios deve ser evitado. que o corpo da criança só apareceu num charco um mês depois do seu
~ sempre a perfcia indispensável, salvo se os vestlgios do crime desaparecimento. Ainda naquele pais está sendo julgado René Hebrant,
tenham desaparecido. Então se procederá ao chamado co~_ de de~lto o maior criminoso belga do século, acusado de haver matado em menos
Indireto, Isto é, faz-se a prova do dano crimin_oso pela descrtção contida de um ano mais de meia dúzia de pessoas. Foi submetido até à prova
em depoimentos da vitima e testemunhas. Nao há lavra~ura de auto a~- de suor, para comparação qulmica com o da mancha encontrada no for-
gum como muita gente supõe erradamente. Lembro, enfim, que o CÓdl- ro de um chapéu apreendido no local de um dos latrocfnios. Nos Esta-
nas infernais. Acentue-se ainda a importância da quimica legal nas perí-
dos Unidos, os.prodfgios alcançados pela poltcta técnica são ainda maio.
cias de incêndio, como oportunamente explanaremos.
res; ~embrar?1 apenas o famoso rapto do filho de Lindberg. Talvez a
mais Impressionante prova contra Bruno Richard Hauptmann o ca . A física legal cada dia colabora mais profundamente na luta con-
t~iro acusado, .tenha sido .0 depoimento do perito Artur Koehl~r, um
nI~O em madeiras. Examinou a madeira de uma escada usada para o
T~~: t a o crime, nos paises civilizados. O espectrógrafo é instrumento capaz
;e registrar a composição de qual~uer substância, fotogr~fando o ~spec-
crime. ~ provou que parte dela formara antes peça única com outro peda- tro dela derivado. Sabe-se em tíslca que os corpos sólidos, Iíquldos e
ço utilizado pelo a~usado no conserto do soalho de sua casa. Acres- até gasOSOS,quando submetidos a elevada temperatura emitem radia-
cen!ou, perante os Jurados, que a madeira da escada ainda apresentav ções coloridas, que se decompõem ao atràvessar algum prisma, Vêem-
e~trlas, resultantes de defeito da plaina usada e, tirando a plaina apreen~ -se logo as conseqüências, que podem ser tiradas disso no terreno téc-
dida em cas~ de Hauptmann,.passou-a sobre outra parte da madeira e nico. Por exemplo, num 10c~1de arrombamento há sinai~ de haver sido
mostrou aos Ju~adosest~rrecldos que as marças eram iguais, nos míni- usado um instrumento, do tipo chave de fenda, que deixou marcas no
mos caracterlstlcos , E nao tardou a ser eletrocutado o criminoso. verniz. Suspeita-se de alguém que nega a imputação, com quem foi
encontrada uma chave de fenda. Submetendo os resíduos de verniz
Vê-se, portan!o, ~ue a prova pericial é da maior relevância, não
encontrados naquele instrumento, comparativamente com o verniz da por-
s.ónas chamadas pnmel.ras constata~ões, no local do crime, como poste-
ta, pode-se chegar a uma conclusão bastante contribuidor~ da descober-
rlor":lente n?s la.bora~ónospara delicadas indagações ffsicas, químicas
ta da verdade, mesmo que não se chegue a poder-se aporar uma conde-
m~dlco-Ieg.al~, bl.ológlcas a ballsticas. Inúmeras são de complexidade'
cuja descrição ~ao cabe nos limites deste trabalho. Além de muitas ou~ nação exclusivamente nesta prova. No rumoroso caso Jaccoud, ocorrido
tras ~erguntas Importantes dirigidas a esses peritos, dizem respeito (J na Suiça, a que já nos referimos, uma das provas contra o prestigioso acu-
qu~stoes sobre reconhecimento da vítima, saber se houve homicídio sul- sado foi a dos exames espectrais. Um fio de linha preso a um botão en-
c~dlo ou morte natural, ~m que dia ou hora se deu a morte, em que posi- contrado no local do crime e outro fio que ficara na capa do acusado
çao s~ encontrava a vítima quando foi agredida. No caso de mutilação onde faltava um botão, ofereceram os mesmos aspectos.
ou adiantado estado d~ putrefação, esclarecer o sexo, a estatura, idade: Inúmeras aplicações desses métodos podem dar-se nas investiga-
cor e outras caracterfstlca~ da vf~ima;enfim, se há motivos para crer que ções dos delitos de automóveis, na comparação de fragmentos e poei-
o agressor tenha saldo fendo. Sao tarefas corriqueiras da medicina legal. ras, das mais tênues, recolhidas com aspiradores especiais. Evidente-
Na quí"':lica legal, embora os crimes por envenenamento não pare- mente, estamos sempre supondo uma Policia altamente técnica, onde já
çam ter sofrido aume.nto,pelo menos considerável, a missão dos toxicó- são usuais os espechofotômetros e microscópios de comparação. Estes
logos é ~ada vez mais destacada. Toda vez que a causa da morte per- últimos permitem a visibilidade dupla dos objetos em confronto, A bio-
manece I~norada, recorre-se ao exame toxicológico, se se tem motivos logia legal utiliza também os microscópios comparativos. Podem faci-
de. su~peltar da presença de substâncias venenosas. Não são raros os litar conclusões interessantes nas pesquisas de manchas de sangue e
s.Ulcldlospor gás, e crescente é o número dos provocados pelos barbitú· outras, de origem orgânica, como ainda nos exames de pelos e cabelos,
ncos .. Doutras vezes a morte é conseqüência de acidentes, porque muita o que melhor focalizaremos noutra oportunidade.
gente Ignora que um número de comprimidos de soporífero perfeitamen- Enfim a ballstica todos os dias cresce de importância. Além de ou-
te su~ortável, pode matar, sendo ingerido com alguma dose de bebida tras preciosas informações, esforça-se no sentido de esclarecer, partin-
alcoólica.
do de um projétil encontrado no corpo da vitima ou no local do crime,
Não é fácil nem rápida a pesquisa de veneno nas vísceras de um de que espécie de arma provém, se automática ou não, o calibre e até
cadáver, quando não há pista inicial. E os exames diferem conforme a a sua fabricação. As estrias impressas no projétil, sua direção e núme-
natureza dos venenos, metálicos, voláteis ou não, ro são constantes para cada marca de arma. Um projétil é, às vezes, o
ponto inicial das investigações, E outra indagação, não raro decisiva pa-
Outra pesquisa importante é a de terra e poeira comparando-se
a ~os locais do crime com as encontradas nas roupas e ~apatos dos sus- ra apontar o culpado é não saber se o tiro foi disparado por determinada
peitos. O valor dos resultados depende, todavia, do que contenha de in- arma suspeita. A tarefa está ao alcance de qualquer perito mectianamen-
comum na composição. Decisivos são também esses exames no arrom- te capaz. Cada arna produz nos projéteis disparados inúmeras estrias e
~amento de cofres-fortes, Sabemos que nos cofres, entre os dois reves- arranhaduras, quase invisíveis. Esses sinais são caracteristicos, não per-
tlme~tos de aç.o,externo e interno, há o lastro. Compõe-se este de subs- mitindo confusão mesmo entre armas de igual calibre e marca. Embora
tân~la refratária ao fogo e que aumenta o peso do cofre, dificultando saldas da mesma fábrica há irregularidades na parte interior dos canos
assim o furto ou a combustão dos valores guardados, No ato de arrom- e usuais ranhaduras. Para esse exame, são disparados os tiros de pro-
bamento pelos ladrões,.~ific~lmente não se impregnam eles de poeiras do va, a fim de oferecer um dado de comparação (vide fig. 15), E neste
lastro. No caso de ':ltlllzaçao de explosivos, em atos de sabotagem. já confronto, ainda com a melhor eficiência, são utilizados os microscópios
se econ!raram vestíqlos de cl~reto de potássio em roupas dos suspeitos comparadores. '
e é sabido que esta substância é empregada na fabricação das máqui-
71
Como se vê, têm os peritos grave tarefa em buscar as fontes da
'prova e depois, baseados em seus conhecimentos técnicos, chegar a
conclusões, que servirão de auxilio à missão dos julgadores. Convém
lembrar, todavia, que o juiz não está obrigado a decidir segundO o laudo
pericial. Pode dele divergir, total ou parcialmente. Assim entende a lei.
Não por que os juizes devam ser enciclopédicos, como também isto não
é exiglvel dos peritos. Mas, como assinala a melhor garantia contra os
erros periciais. Todo juiz à altura de sua missão deve ter boa dose de
conhecimentos técnicos para saber aceitar ou repelir as conclusões pe-
riciais.

INDICIOS. ALlBI. PRESUNÇOES.

o nosso Código de Processo Penal, no art. 239, dá uma definição de


FIG. 15 - Caixa para dlsparos experimentais. Contém algodlo em todol indlcios: - ~ a circunstlncla conhecida e provada que, tendo relaçAo
os compartimentos e os projéteis 110 dlsparadol pela abertura A. com o 'ato, autoriza, por InduçAo, concluir-se a existência de outra ou ou-
tras circunstâncias. No campo de investigação criminal, poderlamos di-
zer mais restritamente - um fato certo e conhecido do qual poderemos
concluir a autoria de um crime. Exemplos: I - São encontradas no lo-
Também é posslvel reconhecer de que arma procede determinado
cartuc~o. A pesquisa é simples, porque há sinais caracterlsticos bem cal do crime impressões digitais nltidas e com abundantes pontos carac-
marca o~ no caso das armas automáticas, quando são expulsos nos dis- terlsticos coincidentes com as de alguém, que não poderia ter outra ra-
paros . Ainda oferece relevante interesse o de saber se alguma arma dis- zão de haver estado no lugar referido senão como criminoso. 11- Apreen-
parou rece.ntemente, pela presença de traços de vapores de nitrato como dem-se objetos furtados ou instrumentos do crime em casa do suspeito,
a~ contr~no, a presença de lubrificante ou sujo é prova de que ~ arm~ sem que ofereça qualquer explicação plauslvel. 111- Identifica qual-
nao funciona há tempo ~p~eciável. Ainda é indagação de interesse se quer explicação plauslvel. IV - Identificam-se como sendo disparados
c~rta ~rma está em condlçõss de funcionar, sendo essencial a resposta pela arma de "alguém os tiros que mataram o seu inimigo. V - Depois
~flrmatlVa ?ar~ a caracterização da contravenção de porte de arma. En- de uma ameaça de morte, o ameaçado aparece morto. VI - O acusado
fim, questao tao relevante q~anto ditrcil de responder, às vezes, senão de explorar determinado ponto do chamado "jogo do bicho" é um co-
impossjvst, é esc~arecer a distância de que foi disparado o tiro. Fácil nhecido contraventor, muitas vezes condenado por esta infração.
~econhecer nos dls~ar~dos até 45 cm de distância, assim mesmo não se Pela exemplificação acima, vê-se logo que entre os indlcios, al-
es~r~zando as vanaçoes decorrentes da diferença de armas, calibre e guns são mais veementes ou manifestos, conduzindo à maior certeza da
mu.nlçao us~da. Encontra-se, então, uma tatuagem negra rovocada e- autoria procurada, ou, ao contrário, são mais fracos, não autorizando
la Inc~ustaçao de grãos de pólvora não inflamados alé~ ~e uma tê~ue por si sós conclusões seguras. E, acentue-se bem, o indlcio sempre arrima-
cama a d~ fumo, que desaparece à lavagem quand~ empregadas as pól- rá o que se chama uma prova indireta, ou circunstancial, como dizem
voras antlg~s. Caracteriza os tiros denominados a queima-roupa que os ingleses. Não é como a prova testemunhal, que é direta, isto é, diz
~egUndO Reiss, não devem ir além de 20 em. Dá-se também a q~eima que viu A matar ou furtar B. Enquanto, pelos exemplos acima, de indl-
os cabelos e p~I.os da pele. Quando nestes tiros o cano da arma en- cios, aponta-se o criminoso pela conclusão que nos dão os vestígios
costa à pele, venflca-se o estalar desta e a lesão se apresenta de forma verificados, impressões digitais, produto do furto ou instrumentos do fur-
~s~~~a~~ 0tâUe.m dcruz. A tatuagem é menor ou maior, conforme maior ou to na casa do acusado, etc .
r IS ncia a arma, até cerca de 45 ou 50 cm
Embora indireta, a prova indiciária pode muitas vezes ser muito
I As maiores distâncias, só em casos excepcionais podem ser cal- mais robusta e aceitável que a prova testemunhal, que é direta. Já acen-
cu adas . Por exe~plo, no caso de fuzis e outras armas de longo alcan- tuamos os defeitos do testemunho, e por outro lado também mostramos
ce: pela deformaçao dos projéteis. Com as espingardas municiadas com a excelência da prova pericial. Geralmente é esta qué revela os indí-
gd~aosde chumbo, a dispersão desses grãos é tanto maior quanto mais cios. Essa pesquisa, evidentemente, deve ser cercada de atenções e nun-
istante o alvo 8 . .
. . em P!OXI":,O,
pode dar a falsa impressão de projétil úni- ca nos esqueçamos que um indlcio distante só pode ajudar a tirar fir-
de MUitas outras questoes ainda seriam suscitáveis. Esclarecimento útil é o mes conclusões, ligado a outros indlcios manifestos e outras provas.
. e .qduetodos os projéteis em terra ou na água não ricocheteiam quando L O alibi é também um indicio, mas permitindo uma conclusão fa-
mCI em em ângulo maior de 130. '
vorável ao acusado. Por isso mesmo é também prova indireta, pretenden-
do demonstrar a presença do acusado em outro lugar, que o excluiria de -os crescer; podem até recorrer à cirurgia plástica. Dillinger, o famoso
encontrar-se no local do crime. Recomenda-se muito cuidado no apreciar- gangster americano, diz-se que se submeteu a uma dessas operações.
Já muito antes um dos membros do conhecido bando criminoso, Bonnot,
-se urt:l.alibi, muitas vezes falso, preparado maliciosamente de antemão.
Merece desconfiança a atitude do acusado, procurando fazer-se ver por procurou mudar o aspect~ dos olhos, com incisões nos ângulos das pál-
muitas pessoas para encobrir a autoria do crime, praticado imediatamen- pebras. Recentemente, Pierre Jaccoud, famoso advogado suíço, conde-
te antes ou depois. Por outro lado, não é diffcil o depoimento de teste- nado por homicídio, também tentou a fuga, pintando os cabelos. Mas nin-
munhas mentirosas, embora volta e meia seja alguma processada por guém conseguirá modificar as impressões digitais.
falso testemunho, arriscando-se à punição de dois a seis anos de prisão. Quando dizemos que as impressões são imutáveis, isto significa
imodificáveis os desenhos e o número de cristas. Mas evidentemente são
Presunção é o raciocínio que induz chegar-se a uma conclusão
passíveis de-crescimento, acompanhando o desenvolvimento físico de
partindo-se de um indício. Por exemplo - as ameaças de morte sã~
cada pessoa, da infância à velhice.
um indício; o raciocínio que liga esse fato conhecido à ameaça de mor-
te, a suspeitar-se que o ameaçador seja o autor da morte do ameaçado 2.0 - Não há duas pessoas de impressões digitais idênticas. Foi
é a presunção. Quando as presunções são impostas pela lei como cer- isso demonstrado matematicamente por Galton. Pode haver impressões
tas e obrigatórias, temos as chamadas presunções legais. Por exemplo parecidas no aspecto geral, mas muito divergirão passando-se à pesqui-
no direito civil, se alguém é filho de mulher casada - isto é o indício' sa dos pontos característicos, o que veremos mais adiante.
presume a lei seja filho também de marido desta mulher, mesmo se es~
tejam separados; só o marido pode contestá-to e dentro de determinado Servem as impressões digitais à identificação civil dos indivíduos,
prazo. Segundo o Código Penal francês, todo vagabundo em cujo po- como base de carteira ou cartão de identidade, ainda à verificação de
der se encontre quantia superior a cem francos e não possa explicar a antecedentes processuais e da reincidência, sabido que cada vez que
origem honesta, é punido como infrator. O direito penal brasileiro mo- alguém é processado deve ser identificado dactiloscopicamente e, enfim,
derno é contrário às presunções legais. É que entre nós concede-se ao à apuração dos crimes misteriosos.
juiz o princípio do livre convencimento. Quer dizer, aceitar à sua esco-
lha provas que lhe pareçam melhores, repelindo outras se as julgue sem
valia. Apenas terá que esclarecer na sentença as razões do seu enten-
dimento, isto' é, fundamentar. Também ninguém pode ser condenado sem
prova de sua culpa.
Ficam aqui encerradas as noções, que parecem fundamentais na
importante questão das provas. Todo cuidado é pouco neste terreno.
O detetive, como todo policial, deve repelir a improvisação, os jufzos
apressados e desconfiar da evidência. Esta é muitas vezes falsa. Tudo
deve ser bem verificado, adverte léon lerich, Juiz de instrução francês.
ARCO PRESILHA INTERNA
AS IMPRESSOES DIGITAIS E OUTRAS MANCHAS. SEGUEM,
ESPERMA, MECONIO, ETC.

Denominam-se impressões digitais os vestígios deixados pelo con-


tato dos dedos nas superfícies lisas, seja em razão da transpiração dos
poros, seja por que estejam sujos de alguma substância corante ou plás-
tica.

A importância dessas impressões está em que:


PRESILHA EXTERNA VE RTf C ILO
1.° - São imutáveis - Desde antes do nascimento já sa.forrnarn
FIG. 16 - As quatro categorias básicas da classificação datllosc6pica.
nos fetos e permanecem sem alteração depois da morte, até a putrefa-
ção do cadáver. Feridas podem ser capazes de, apenas, temporariamente, Tendo em vista a variedade das impressões, diversos sistemas de
alterá-Ias ou eliminá-Ias; mas depois o desenho tornará a recompor-se. classificação foram imaginados. O mais importante para nós é o chama-
Alguns criminosos conseguem mudar o seu aspecto físico, pintan- do Vucetich, adotado em nosso pafs. Como ponto de partida da classi-
do os cabelos, raspando o bigode ou a barba ou, ao contrário, deixando- ficação consideram-se os denominados deltas, que se formam pelo en-

74
contro de linhas papilares, que formam um figura parecida com a letra Como reveladores dessas impressões latentes. usam-se. o nitrato
grega chamada del~a. Quando não há nenhum delta, classificamos a im- rata vapores de iodo, como também substâncias pulverizadas,. a
pressão, se tratar-se de polegar, pela letra A; sendo outro qualquer dedo de f~a c~rbonato de chumbo e outros reveladores, sobre o que nos dls-
pelo algarismo 1; havendo um delta do lado direito do observador, aco- gr~~artos de maiores comentários, que escaparIa"'! ao caráter elemen-
t~mos no caso de ser dedo polegar a letra I e sendo outro dedo o alga- per deste trabalho. As impressões, mormente em objetos q~e não pode~
nsmo 2; se o delta for do lado esquerdo usa-se E ou 3, conforme se tra- ta r transportados, devem ser fotografadas no local. Os ~bJetos portávels
te de pOlegar ou não; enfim, se houver dois deltas, um de cada lado, as ~:vem ser conduzidos com atenção, como se vê nas flgs. 17, 18 e 19.
convenções V ou 4. A cada um dos quatro tipos de impressão acima Vale acentuar que nos locais de crime dificilmente se encontram
referidos dá-se o nome de arco, presilha interna, presilha externa e ver-
. essões de todos os dedos de alguma das mãos. ~e~,!,o rara é a
ticilo (vide figo 16). As impressões dos dez dedos constituem a ficha ~mp~essão completa de algum dedo. Surge ai a tarefa InicIal ~e rec~-
datiloscópica. Por exemplo:
I~~cimento de que dedo tenha deixado o vestlgio e de que mao, a ?I-
Série V. 1333 n íta ou a esquerda? O dedo polegar é destacável não s6 pela maior

Seção I. 2222 t
~elrg ura como também pelo seu centro, mais deslocado para baixo. Há
bé~ outras caracterlsticas nem sempre decisivas em. face da preca-
rf~ade das impressões, para a facilitação do reconheclm,?nto dos ou-
Série é a indicação dos dedos da mão direita; Seção os da ros dedos. Tudo isso é muito importante nas. comparaçoes e buscas
esquerda. A impressão do polegar da mão direita dá-se o nome de fun- tosteriores. As comparações dão-se entre as Impressões achadas no
damental. É a impressão constante das carteiras e cartões de identidade.

Nos Institutos de Identificação, as impressões digitais dos dez de-


dos de cada individuo são arquivadas pela classificação da ficha dati-
loscópica. É evidente que muitas impressões terão a mesma classificação;
observam-se então as sUbclassificações, segundo princlpios técnicos. A
esses escaninhos se dirigirá o datiloscopista para as buscas necessárias,
toda vez que alguém requeira carteira ou cartão de identidade, folha cor-
rida ou atestado de antecedentes, ou a autoridade policial ou judiciária
solicite, a folha penal dos acusados, sempre pelas suas impressões da-
tiloscópicas. E ficará facilmente evidenciada qualquer duplicidade de
nomes, o que não é raro, mormente entre os delinqüentes.

No campo da policia técnica, cresce dia a dia a importância das


impressões papilares, principalmente as digitais. Mas também valiosas
são as palmares ou plantares, isto é, as impressões papilares, também
caracterlsticas e imutáveis para cada pessoa, deixadas pela palma das
mãos ou a planta dos pés.

Num local de crime, o primeiro problema do datiloscopista está


na pesquisa das impressões papilares existentes. Muitas impressões di-
gitais são latentes, isto é, invisíveis a olho nu. Geralmente, dentre estas,
estão as melhores impressões, porque oferecem desenhos mais precio-
sos que aqueles logo visíveis. A pesquisa, portanto, deve fazer-se com o
máximo cuidado e por pessoa entendida. Todas as atenções dirijam-se
aos objetos cJe superfícies lisas, principalmente as polidas. Impressões
digitais vtstveís são comuns em paredes, móveis, cadáveres, papéis e rou-
pas brancas fi noutros lugares. O experimentado Reiss lembra que se
espiem as superfícies inferiores do fundo das gavetas, sem puxadores, e
as maçanetas de portas. Impressões invislveis são mais encontradiças
em madeíra envernizada, vidros, também em papéis e, de modo geral.
em todas as superflcíes brilhantes. Podem melhor ser notadas, quando
as olhemos em ângulo obllquo e especialmente soprando-se nas faces
suspeitas. Apresentam-se foscas em fundo brilhante, mas pouco depois FIGS. 11, 18 e 19. - . instrumentos de crime e mais objetos,
Mostram como con d uzor I' . I
desaparecem . .
nos quais se suspeitem manchas de interesse t6cnico-po ICla .
local e as tomadas dos indivlduos suspeitos. Esta é a maior importância gar e abrange também as impressões papilares. O Clássico Lacassagne
técnico-policial da .datiloscopia. definia mancha - "toda modificação de coloração, todo sujo, toda adi-
. As ~uscas, se.m partir de determinadas pessoas suspeitas, são pra-
tlcame~te Imposslvels: .ond: não existam arquivos monodactilares, isto
é, arquivos pela classificação de cada dedo e não pelos dez dedos, co-
mo é usual. No Brasil, esses arquivos monodactilares mal estão ensaia-
dos. A importância deles é das maiores nas apurações de crimes con-
tra a propriedade, .como arrom~amento, escada e
outras formas, quan-
do se faça o arquivo monodactllar dos ladrões conhecidos. Umareco-
mendação ao pesquisador de impressões nestes locais de crime é que
procure conhecer de inicio as impressões das próprias vitimas, a fim
de evitar equlvocos ridlculos, isto é, tomar como dos criminosos as im-
pressões deixadas pelas próprias vitimas no local.
Vê-se ultimamente que alguns criminosos têm tido a cautela de
usar luvas. Freqüentemente, no entanto, as despem em meio à prática
do crime, pois são objetos incômodos e que dificultam o manuseio das
coisas. Outras vezes são as luvas, que se rompem, e então não evitam ALGUNS PONTOS CARACTERISTICOS
os vestígios papilares. Já se tem falado também de criminosos astutos INTERRUPÇAO DESVIO BIFURCAÇAO DA LINHA
que teriam deixado nos locais de crime impressões digitais falsas, par~
co~fu~dir as investigações. Além de não ser fácil esta simulação, não ILHOTA GANCHO OLHO OU ANEL-MÉDIO E LATERAL
resísttra à pesquisa de um bom técnico. A poroscopia desmascarará esta FIG. 20
espécie de desdobramento da datiloscopia, em que tanto se destacou
o famoso Edmond Locard. ~ evidente que o simulador não poderá tam-
bém forjar as marcas dos poros, imutáveis para cada pessoa, quanto ção de matérias estranhas, vislveis ou não, na superflcie do corpo, da
ao número e a forma. A poroscopia é de grande aplicação nos casos roupa, de um- instrumento, de um pano, etc., determinado pelo depósito
em que só se tem em local de crime um pequeno pedaço de impressão de algum produto sólido,"mole, ou mais freqüentemente liquido e cuja
digital. natureza ou antiguidade pode servir para estabelecer a identidade de
Enfim, sobre o valor da prova datiloscópica é de ressaltar-se a uma pessoa, as relações ou a intervenção de um objeto qualquer num
sua importância. Embora seja uma prova indireta, em determinadas cir- processo criminal" .
cunstâncias é mais do que suficiente para levar o acusado à condena- Bem adverte Charles Sannié que nos locais de crime não é su-
ção. Esse tem sido o pronunciamento da nossa Justiça e principalmente ficiente observar e descrever as grandes poças de sangue, em que se
de outros palses civilizados. Os Tribunais, já de bom tempo para cá,
encontre o corpo da vitima. Ao contrário, as pequenas manchas, que
vêm acolhendo como irrefutáveis as conclusões de Balthazard e outros podem passar despercebidas, são muitas vezes as mais interessantes à
técnicos em datiloscopia. Sustentam que, encontrados mais de doze investigação. Por exemplo, os salpicos projetados por violenta panca-
pontos coincidentes na impressão deixada no local do crime e na im- da no crânio e que atingirem a parede de algum cômodo, onde, todavia.
pressão tomada de algum suspeito, pode-se ter a certeza da presença
não foi encontrado o cadáver. Estaria a indicar que ali se dera a aqres
do suspeito na cena do crime. Sabe-se também que cada impressão
são, merecendo as maiores atenções.
digital completa oferece comumente uns cem pontos característicos.
Na fig. 20 indicamos alguns pontos importantes. Quando não se chega Achar estas pequenas manchas nem sempre é fácil. Nos lugares
numa investigação policial a encontrar doze dessas características coin- menos imagináveis, podem ser encontradas pelo leigo. Nas bordas de
cicentes, já não se pode falar em certeza contra o acusado e rnerarnen- mesas, no interior de pias e dos canos de escoamento, nos puxadores
te em probabilidade, que pode, todavia, aumentar passando-se à poro.s- de (Javetas ou sob estas, nas unhas dos suspeitos, nas suas roupas €
copia, como bem adverte Locard. sapatos. Várias vezes se achou sangue em sapatos de assassinos, de-
pois de arrancar-Ihes a sola.- Foi o que se deu em 1953 na Inglaterra,
Com o homicida Alfred Whiteway, que matou duas jovens. As pontas de
OUTRAS MANCHAS cigarro ou palitos de fósforos às vezes também estão manchados de san-
gue. Os criminosos, pela excitação nervosa de que são tomados, não
As manchas de sangue são igualmente vestígiOS preciosos nas resistem, freqüentemente, ao desejo de fumar. Desconfie-se também das
investigações criminais. Disse acima outras manchas, porque o concei- peças de vestuário, quando pareçam lavadas recentemente. Reiss, em
to técnico da palavra mancha é bem mais amplo do que o sentido vul- expressivo capitulo de uma de suas obras, a que deu o nome de -


A Fotografia do Invislvel, estampa um clichê revelador de manchas de Excederia os limites elementares deste trabalho o estudo dos di-
sangue ainda encontradas num lenço lavado a sabão, não perceptlveis :".~.n
•••
s métodos seguidos para as indagações acima. Basta ao detetive
a olho nu. .
que a serologia está habilitada a fazê-Io. Teceremos, todavia, li-
.. O reconhecimento das manchas de sangue não é simples, quan- comentários sobre estas técnicas. Segundo Cuthbert, autorizado
do perdem a coloração vermelho-escura corriqueira. A cor sofre influ- . da Scotland Yard, constituem provavelmente o maior passo nes-
ência da ação do tempo, à temperatura ambiente e a natureza da subs- últimos trinta anos no campo da investigação científica do crime.
tância sobre que assente. Em fundo escuro são quase lnvíslveís. Ainda
O ponto de partida para os progressos modernos foi a descoberta
absorvem a tinta das paredes ou de qualquer outro suporte. Há outras
1895, por Bordet, de que o soro de sangue de um animal tem a pro-
manchas invislveis à luz natural, mas notadas à luz artificial, ou somen-
edade de aglutinar os glóbulos vermelhos do sangue de qualquer ou-
te pelos raios ultravioletas. Convém ao detetive ser portador, pelo me-
nos, de um "flash-light". . animal de espécie diferente. Seis anos depois, era Landsteiner quem
que o soro sangülneo de certas pessoas não só aglutina
Manchas também existem, que se confundem com as de sangue.
lóbulos vermelhos dos animais, como também os de outras pessoas.
As mais c?muns são de tintas, suco de frutas, ferrugem, vinho, excre ..
fenômeno recebeu o nome de isoaglutinaçio. Não tardaria muito
mento de Insetos e até salpicos de lama. Tudo indica, portanto, a ne-
rtp.~cc)be,rta de que os seres humanos pertencem aos quatro clássicos
cessidade da presença de pessoa com capacidade de realmente reco-
pos sangülneos seguintes: A, 8, AB e O. Há ainda subtipos, além
nhecer, na cena do crime, quais as manchas que de fato são de sangue. outros elementos caracterlsticos.
Mas as conclusões definitivas terão que ser mais tarde nos laborató-
rios, onde serão entregues as peças de pequeno porte, ou as raspaduras Com as noções acima, fácil será concluir o valor destas desce-
dos Suportes de maior tamanho. no campo da investigação criminal. Também no direito civil _
_ O perito de local não pode deixar de considerar a forma, disposi- de passagem, na questão da investigação da paternidade. Veri-
~ao e colocação das manchas. Podem autorizar importantes conclusões, que as caracterlsticas sangülneas se transmitem de pais para f~-
Já.o lembrava o velho Hans Gross. Quando o sangue goteja de um conhecendo-se os fatores sangülneos da mãe e de suposto pai.
fenmento em pessoa, que permaneça em repouso, o sangue caldo num poce-se. de antemão, saber as combinações posslveis a se encontrarem
plano horizontal toma a forma de clrculos e se a altura for apreciável filhos. Por outro lado também, se logra excluir de modo absoluto
serão notados uns sal picos em torno dos clrculos. Se o corpo de onde éxistência de determinadas outras. Por.assim ser, vemos que a prova
pinga o sangue está em movimento, as manchas tomam efeito alongado, Inea se- não é suficiente para assegurar que determinada pessoa
tanto mais pronunciado quanto maior for o movimento, assumindo o filho de outra, porque muita gente existe do mesmo grupo sangülneo
efeito de lágrimas, sendo que a parte mais fina indica o sentido do mo- ser parente, poderá, todavia, com a maior segurança negar a pa-
vimento. A figura n.O 21 dá uma idéia do que acabamos de dizer. dade de que se tenha desconfiado.

Voltando ao setor especifico da investigação criminal, é não .ra-

,
vezes da maior importância saber-se de que parte do corpo provém
examinado. Assim, por exemplo, o sangue menstrual no exa-

••
crC)SCODICO revelará células epiteliais provenientes do aparelho ge·
Assim também é comum o achado de esperma em hemorragias de
inamentos e pelos do púbis ou ânus nas manchas de sanque ~os
nU'lr",t1n", ao pudor e pederastia, além de reslduos d~ maté!,as tecais ..
quase todos esses casos também oferece boa orientação da P()SI-
das manchas, quer no c~rpo humano quer em peças de vestuário
instrumentos utlllzados.
FIG. 21 - A, B • C - Golae ele •••• IIU. ~[d,e .obre pl,no horizontal, d. ponto lm6v,1
, 8 em, 40 em • 1 m 15 ele ,rtu,., reapec:t1v'mente; D _ Gota de "nllu, Todas as pesquisas citadas são de rotina de todas as Policias
~Id. de ponto .m movimento mala r6pldo.
adiantadas. Os exemplos seriam numeroslssimos, se quisés-
Quando estudamos a prova pericial já fizemos menção a dois
A ciência já hoje permite se façam os peritos os seguintes quesitos: [udlclárlos europeus da maior repercussão, o de Pierre Jaccoud
I - Trata-se de mancha de sangue? de Jean Riga.

1/ - Em caso afirmativo, sangue humano ou de que animal? Outras manchas ainda oferecem relevante interesse. Assim as
1/1 - Se se trata de sangue humano, a que grupo pertence? E se- esperma, cujo reconhecimento nas cenas de crime é, às vezes, mais
rá posslvel reconhecer de que parte do corpo provém o que as de sangue. A atenção do pesquisador deve dirigir-se em
sangue? lar para as roupas de cama, tapetes, cortinas, peças Intimas da
on


vitima e o próprio corpo desta, os pelos do púbis, a região anal, coxas PELOS E CABELOS
e nádegas. O número de manchas e sua posição, inclusive de umas em
relação. às outras são bem expressivas na apuração da resistência ofe- Outro aspecto relevante da investigação criminal é a pesquisa
recida pela vftima, muitas vezes condição para a caracterização do crime.
atenta dos pelos e cabelos, mormente efT!casos de homicldios e delitos
As manchas de esperma variam de aspecto, segundo a natureza sexuais. Comumente são encontrados nos locais de crime, no solo, co-
da substância em que se achem. Em panos tornam-se espessas, ligei- lados aos instrumentos de crime, entre os dedos da vftima ou em suas
ramente amareladas e de bordos irregulares, formando o que costumam vestes, nos pentes, escovas e camas. Sob as unhas, inclusive do acusa-
chamar cartas geográficas. Sobre objetos lisos e que não se deixam do, no caso principalmente de atentados sexuais, em que também as
facilmente embeber, apresentam-se com o aspecto de tênue pelfcula bri- partes genitais devem ser examinadas cuidadosamente por um médico.
lhante, parecida com o rasto de caracol ou lesma. Têm cheirocaracte-
rístico assemelhado ao de água sanitária. Os técnicos modernos res- A identificação desses vesUgios é preciosa no esclarecimento dos
saltam a importância do exame do próprio esperma na busca dos ele- fatos. A delicadeza das indagações escapa à tarefa dos detetives, mas
mentos agulutinógenos, que são do mesmo tipo do encontrado no san- devem estes saber o que a ciência é capaz de apurar. Muitas vezes ca-
gue do homem de que provém. Assim sendo, se não é possível garan- be ao detetive o recolhimento desses pelos, nas cenas de crime, onde
tir que o esperma seja de' determinado suspeito, examinando-Ihe o san- não compareçam os peritos. Reconhecê-Ios já não é tão fácil, pela se-
gue em comparação com o esperma da mancha, será fácil chegar-se a melhança às vezes com fibras de lã, seda, algodão, linho e até as pernas
afirmativa oposta, o que já é muito. Talvez fosse desnecessário lembrar de insetos. Um simples microscópio dissipará logo as dúvidas. Os pe-
que o esperma é Ifquido produzido apenas pelos órgãos genitais de ani- los devemser recolhidos em papel branco e limpo ou ainda em provetas,
mais machos. Mas é que há uns bons anos passados houve um Dele- devendo se resguardar também, cuidadosamente, a substância a que es-
gado da então Capital do pafs que, remetendo dados suspeitos ao Ga- teja aderente, mais comuns sangue e esperma. Pelos de comparação de-
binete de Exames Periciais, indagava s,. as manchas eram de esperma, vem ser recolhidos dos cadáveres, por médicos legistas e de várias par-
e em caso afirmativo, poderiam os peritos responder se masculino ou tes do corpo, nos casos em que as circunstâncias o recomendem.
feminino! Mais necessário será lembrar que se a presença de esperma- Os pelos e cabelos vistos em apreciável aumento têm o aspecto
tozóides numa mancha prova ser ela de esperma, o oposto nem sempre semelhanteao de um caule ou um lápis. Constam de três partes diferentes,
acontece. Isto é, há casos de' azoospermia, embora raros; machos que uma camada externa, denominada cutfcula, outra camada mediana, isto
expelem esperma sem nenhum espermatozóide. é, o córtex e afinal a medula. A natureza especial destas três partes é
As manchas de mecônlco constituem um indfcio de infanticldio ou que permite distinguir o pelo humano do pelo animal. Convém lembrar
de outro crime quando esteja desaparecido o recém-nascido. O rnecô- que o pelo dos animais domésticos é.mais diffcil de diferençar do pelo
nio, vulgarmente denominado ferrado, é uma substância inodora expe- humano. Quanto ao aspecto externo os pelos constam de raiz ou bulbo.
lida pelo recém-nascido, em geral entre seis e doze horas depois do par- ponta e zona mediana. O bulbo oferece melhores informações sobre a ori-
to. As manchas variam um pouco de aspecto, pela ação do tempo, de gem do pelo.
brilhante e castanho-escuro, quando espessas e frescas a um tom mate Têm os técnicos chegado a observações preciosas na distinção
e de bordos escamados, quando secas. Outras manchas, de urina, sa- dos pelos e cabelos humanos, quanto ao sexo, a idade das pessoas e
liva podem trazer dados valiosos à investigação, inclusive a de substân- a~ partes do corpo de que provêm e até mesmo se o pelo pertence ou
cias alimentares. nao a determinado indivlduo. Esta última apuração é bem mais diffcil.
Mas insista-se, todas estas perfcias devem ser orientadas com a M_asressaltam Scderman e O'Connell que a semelhança verificada, se
maior probidade e .capacidade técnica, sob pena de conduzir o julgador nao dá a certeza da identificação, pode robustecer a segurança trazi-
a graves erros. Assim, por exemplo, no recente estrangulamento da es- da pelas provas de outra natureza. lembram então o caso de uma se-
tudante de medicina Nicole Arondel, em Nantes, os médicos-Iegistas afir- nhora, encontrada morta apertando em uma das mãos um punhado de
maram que havia ela comido pouco antes massas e saladas, verificando- cab~los cinzentos, que logo se apurou serem dela própria. Entretanto,
-se depois que sua refeição fora de "petits-fours" com pistache. A cin- havia entre os cabelos um fio escuro, da cor e outras caracterlstlcas do
cabelo do indivlduo suspeito. Esta e outras provas oferecem a certeza
cada compensou-se com o recolhimento no lavatório do andar do
prédio em que morava o acusado Patrick Allard, seu namorado e colega g~ que o acusado esteve no local do crime. Nessas indagações, é tam-
e.mde grande valor a verificação de anormalidades do pelo ou cabelo,
de Faculdade, de 13 gramas de terra da mesma composição da do lu-
gar onde fora enterrada a vítima. Esta e outras provas convincentes le- sejam enfermidades, parasitos ou substâncias nele passadas, cosméticos
e outras.
varam Patrick a confessar o crime, alegando motivos passlonals.
0'2
Tr~nscreveremos ~baixo algumas observações técnicas oferecidéls
pelos dois autores referidos e de relevante interesse prático: Acentuemos agora que são ainda os pelos da barba, segundo ob-
servações de Balthazard, um meio de apurar a data e hora aproximada
da morte, quando se conhec~ o momento em que ela foi fel!a. Já o dis-
Quanto à origem: semos noutro ponto deste livro. Sabendo-se que o crescimento é de
0021 mm por hora, salvo entre os adolescentes em que é menor, tudo
homem mulher s~ consegue com uma simples conta de dividir. Basta medir-se o com-
rimento da barba no cadáver, por meio de um compasso adequado.
Canal medular ~ambéril sabendo-se a hora precisa da morte não será diffcil apurar o
Tecido aéreo finamente granuloso. momento em que foi feita a barba, o que em geral oferece menor interesse.
Conteúdo aéreo de vesículas mais
Células modulares invisíveis sem ou menos volumosas. Enfim, convém desfazer-se a errônea crença popular de que a
dissociação prévia. Células' medulares bem aparentes. barba continue crescendo depois da morte. A ciência já há muito o des-
Valor do Indice medular inferior Valor do índice medular superior mentiu.
a 0,3. a 0,5 Em todos os ramos do saber humano, nunca faltam teóricos, que
Escamas delgadas, pouco salientes Escamas espessas, salientes, me-
e bem imbricadas. vivem no "mundo da lua" e perdem o contato com o chão. Assim é que
nos imbricadas. certos criminólogos sustentam a irresponsabilidade de todos os crimi-
Quanto ao sexo: nosos. Acham que todos eles são anormais ou vrtimas da sociedade, que
os gerou. Não percebem que o ser humano não é um joguete sujeito às me-
Os pelos não cortados de comprimento superior a 8 cm devem ser ras leis naturais. Qualquer homem influi no seu destino e pode, em regra,
cabelos femininos. escolher entre o bem e o mal, sejam quais forem as condições em que
O diâmetro médio é superior a 0,10 mm - deve viva. Mormente se se mantiver atento em evitar os primeiros deslizes.
Comprimento entre ser barba. Lembremos que tanto assim é que nem todos os favelados se transfor-
3 a 8 cm Pelos crespos de raiz nodosa - púbis de homem. mam em bandidos. Difere a sorte até entre irmãos, vivendo sob o mes-
Pelos crespos de raiz pequena - púbis de mulher. mo teto e em idênticas circunstâncias. .
Pelos lisos de espessura superior a 0,1 mm bigode. Acentue-se ainda que o direito penal, como qualquer outro ramo
Pelos lisos, inferior a 0,1 e cutfcula intacta. do direito, existe para servir à sociedade nas condições em que ela se
escroto.
encontra. A pena não pode deixar, assim, de ser um castigo, embora possa
Idem de cutfcula esfolada - grandes lábios.
e deva ter outros propósitos, como a reeducação e a recuperação dos
diâmetro superior criminosos, o que muitas vezes é inalcançável. E deve ser castigo, por-
Comprimento inferior extremidade forma 0,08 mm - cüio fe- que este é o único meio de intimidar os indivíduos de maus sentimentos,
a 3 cm fina arqueada minino; para evitar que pratiquem crimes. E assim é desde que o mundo é mun-
d i â m e t r o inferior do e desde que se ameaça a criança rebelde, no lar ou na escola - ficar
0,07 mm - cllio mas- privada de .alqurna distração ou retida um pouco depois das aulas. Por
culino; que há de ser diferente quando essa travessura se chame roubo, este-
forma sinuosa supercilio e pelos do lionato, estupro ou um bárbaro homicídio?
nariz.
Não deve a sociedade ficar desarmada de um meio poderoso de
Quanto à Idade: prevenção, que é a pena como castigo. Desde a multa até a pena de
morte. Está existe em países dos mais civilizados. Não é contra os prin-
Nas crianças os cabelos são os únicos pelos que nelas se en- clpios cristãos. S. Tomás de Aquino e Santo Agostinho a defenderam.
contram. O diâmetro médio dos cabelos e pigmentação deles é menor Vários Papas reconheceram-lha a legaiidade. Em brilhantes trabalhos es-
que nos adultos. A média dos diâmetros vem abaixo indlcada: critos e confért!ncias o têm demonstr ado os padres Emllio 3i1va e Le-
me Lopes. I: evidentemente absurda a afirmativa dos desprevenidos, com
Idade Diâmetro estatlsticas fantasiosas, de que' não seja a pena de morte intimidante,
12 dias 0,024 mm o que seria negar o instinto de conservação, presente até nos irracio-
6 meses 0,037 mm nais, quanto mais nos criminosos frios e calculistas, que são justamente
18 meses 0,038 mm o:, piores. Evidentemente, a pena de morte só deve ser imposta a ~an-
15 anos 0,053 mm dl~os rematados, já reincidentes e contra os quais as provas do crime
sejam absolutas, Estariam assim evitados os perigos de erros judiciários,
Adulto 0,08 mm
que também existem, aliás, para as outras penas. Não sei se não será
[ ..~..

Sem pretensão de fazer estudo ,;gcrosamente clentrfico multo me-
muito pior que morrer, expiar anos e anos 110 cárcere, e depois nL:e ompleto das doenças mentais, altnharemos abaixo algumas delas,
sucumbir, paqando -oor um crime que não se cometeu. No entanto, ilin- ~~: ~alor interesse possam oferecer à policia e ao direito penal.
guém de :O-om-senso pretende que sejam abotidas todas as penas. OU2,1-
to ao extromo sentimento de piedade que os criminosos costumam i, s-
plrar, parece-nos oportuno advertir que no 0 levemos tão longe a PO,I-
ídlotla, Imbecilidade e deblUade ma'dal.
to de ..squecerrnos que maior comiseração merecem as vítima" ('. so-
Resuitam tais ·.Ioenç",s de j:.:m:.das ou atrasos do desenvolvi-
bretudo, devemos pensar nas posslveis futuras vitimas de facínoras, que
insistimos e-n poupar. Lembro que está sendo julga::io na Bélq.ca o la- mento psfqu.co . Sào~ ccnseqüênclas, como asslnala Arrânio Pelx?to" de
drão-assass.no René Hebrant, livrado da morte pelo Rei, que' In':! comu- dist(trbios na svolução cerebral durante & concepção ou no~ primeiros
tou a pena, em ,944. Posto em liberdade em julho do ano passado, ôt{> anos de vida, acornpanhados de numerosas andc.",'l!la~ SOM~~C~S, O ,es-
janeiro do corrente ano matou, ainda para roubar. outras cinco r assoas tadu mais aC'3ntuado é a idiotia absoluta. r're omma nos I 10 as o IOS-
no mlnl-no . Mais vítimas por conta da bondade real. E também ne rJri- ,Tnt~ de conse-vação, enquanto o insti~!:o sexua. é l')o~pad: desenvol-
são não podem ser lmred.dos de praticar .irirres. RAcentemente na nos- vido. São dominados por um torpor tíslco ~ não têm/!d\ Intelectual.
sa Penitenciária um .:antenclado fraturou o crânio ,t~ outro só porque R 'gem diante de ligeirc~ estfmulos com violentos movimentos de c6-
desejava 'criar um caso" para a Adrnlnlstração . Não tinha nenhuma ri-
ea que, às vazes, são é.~é espontânuvs.
lora ':\ ver! 'é . j'ICO~, •.
~- ao ,'": a p aze s
valicade com o assassinado! de praticar crimes, que i!\c:jquem rac'oclnlo i6~ICO;, não r~ro sao ,leva-
dos a atentar contra os costumes, confia o patrimõnlo e L lncolumldade
F lógico que devem ser considerados irresponsáveis penais todos pública, notadamente pelo incêndio. ~.Jd9lT\ ter .aluclnações, nunca, po-
os doentes m'lr ••.ils que a0 tempo da infracão não tenham, absot-rtaman- "én, ilusões. A diferença entre aluc'nação E" h~~são é q,L-:'\ nssta, 'por
te, ~ai-lc:jade de entenderem a naturezu dos atos ,'riminosos que pa- def~ito da atc.ição, ou P&;<I predlspostçz;c (?
estadc de ânimo, o pacien-
.iquem. ou embora venbam, Ihes faltem de t000 s capacidaoe de auto- te torne o som ou a imagem de a;guma coisa pc: octra: é uma ~ercep-
determinação, de se controlarem, como se diz em linqnaqem usual. Ve- ção defeituosa, enquanto 8
atuclnação é a par~eoção S?':" 'lbJeto. É
mos logo, que não basta ser doente mental para ficar isento de punicào, toda ela fruto da lrnaqlnação, seja aluclnação Visual, auditiva ou qual-
tarr o ma.s que entre a norrnalld.ide, que é quase ideat, e alou .ura var- quer outra.
I ida ex'ste Lima grande t1istância a percorrer. E quando a canacidace
Como p~enbJa Lacassagne, {: caracterlstíco o rspecto do idiotà.
de entender ou de autodeterrntnação for apenas reduzida, faculta-se '10
iuiz diminuir a pena. É ao que se dá o nome de responsabilidade res- A testa é fugida, a boca aberta transbordando saliva. o riso 1~ldoso. e
trita, mas tecnicamente culpabilidade dirnlnutda . Dentre os criminosos freqüente. Casos há, todavia, 'Jm que, nem a face, nem o crânio apre-
anor mais, são mais freqüentes e periqosas as chamadas personalidades sentam deformidades,
pslcrpáticas e também outros doentes portadores de enfermidad .'5 mais Afrânio Peixoto mostra que, dt. ldlotia à debilidade, há inúmeros
graves, em estado inicial ou elo manifestações atenuadas. São, tonavia. tipos de passaqem , Lembra uma escala proposta p~r Meye,rson" segun-
ern regra, responsáveis do ponto-de-vc.a penal. do a qual :.J idiota atinge c nlvel r"lental de uma 'cnença ue dOIS ano,
Mesmo diante cios i+asponsáveís a sociedaoe não fica c'espro- (re.ações sociais pelo gesto}, imitação dos movimentos elemer.tares, ne-
••num trabalho intelectual; o lmt.ecll va: do. nlvel de dois (l sete anos
teqlda, porque a eler se aplicam as medidas de sr çurança , Nào são
(fala, come sozinho, varre arruma, é capez de f'gum trabalho mental)
penas, não têm v caráter de castigo; visam curar se possível e evitar 2
~ o débil alcrnça a inteligência dos sete a doze anos (pode escrever,
reincidência, indo ao extremo de impor a internação de doente por to.ta
pentear-se, plantar, colher, comparar, atividade pobre, ínca~az de abs-
a vida nos manicômios judiciários. Passaremos abaixo a estudar, em tração). Os débeis rner+als são egoístas, supersticiosos. nao raro pre-
forma sumária, as doenças que maior interesse otrrecern à orlrninotoqia tenslosos . Todos esses anormais pertencem à categoria denominada oli-
e av direito penal. 9vrrênicos.
Como acentua Altavilla, apoiando-so em Giacchettl, a di'crenç8 Epilepsia - Seg,mdo A Peixoto, é do snça menta' de f'm~o ,~~-
principal, para o nc 3D estudo, entre normais e doentes n~~ntaif' é que, ~,enerativo, revelado po : uma autc-lr-toxlcaçãc permanente e ey.clt~. ,,"-
enquanto aqueles dão às representações, criadas pela lmaqinac.ío. uni cade fácil dC1 centros corticais e medulares, que pro'l!c·/em. modlflc~-
valor puramente ideal, podenuo tão-só refletir-se no campo da ;Outo ou
dor sonhos, para os doentes a produção 'rnaqinativa é tomada C')'110 rdJ
ÇÕ"'d fundarnnntals de caráter e
descargas motores, r"nsorlal<i, ~slqUl-
cas ou viscei ais, oe acentuada violêuola (crises ou ataques epiléptl,cos).
lidaoc, fazendo ocrte ir.legral da perso.zitíoad« e da vida md.virua".
Durante esses acessos epilépticos, venílca-se ace.nuado 9nfraqueclm~n-
Nest"3 últimos, 0 delirio, a aiucinaçâo, 'I obsessão são t0pmse;- t:.;õPs
to da consclencla e, neste estado, () doente, automatlcamente. pratica
mentais interpretadas como se fizessem parte da vida exterior _ Ass!m
ação não raro de acentuada gravidade criminosa. Ao enfraqueclmentJ
o sentem os doentes mentais, que deven ser cons+terados irresponsa-
da ;onsciência 'se dá o n .rne de estado crepuscular. A Avoluç 30 desta
veis
terrrvel doença, provocando crises mais frequentes, causa nos enfe cos praticar as mais variadas espécies de crimes, por conta de
um r~~alxamento não s6. d.a i~t~ligência, como do senso de morali~~~s . As mulheres histéricas sobretudo mostram-se perigosas na si-
Como acentua Morei, a Irritabílldada e a cólera são traços salientes d . de atentados sexuais, o que preparam com astúcia e podem
caráter desses doentes. o conduzir a erros judiciários. As vezes fazem encenações de suiel-
escandalosos e podem acabar vitimas deles, perdendo o controle
Os epiléticos ofere~em. acentu!ldo Indice .de criminalidade,' nota-
.conseqüências_ Começam simulando e acabam suicidas mesmo.
damente quanto ~os homicldios. lesoes corporais, rebeliões, ráubos e
vaqabundaçern.Sao tremendamente perigosos, porque nos intervalos das
Esquizofrenia - I: caracterizada por estados de agitação, depres-
cnses, nao raro longos, ~presentam aparência regular e conseguem.
à~ vezes, desfruta.r n.a.soc.ledade lugares de relevo e prestlgio e levam "sãO,reações automáticas, que terminam por causar um relaxamento men-
Vida exemplar. Significa Isto qualquer atenuação de responsabilidad . tal: que conduz à demência _ Ataca indivlduos de inteligência normal e
penal. Foram ~pl~eticos Júlio César, Napoleão, M a o m é, Dostoievsky~ .até mesmo acima do comum. Oferece vários tipos.
Flaubert e o pnncrpe dos escritores brasileiros, Machado de Assis. Aprsenta-se freqüentemente na adolescência no tipo denominado
C:0nvémassi~alar que há epiléticos que não dão ataques com as . ti.~befrenia. Outras vezes na idade adulta. No inicio da doença, o paclen-
c~nhecldas c~nvulsoes; sofrem do denominado pequeno mal. Esta enfer- . te, às vezes logra sofrer as perturbações e as idéias delirantes _ Vai-se
midade é facilmente revelada pela prova médica denominada eletroen- tornando muitas vezes vadio, mau cumpridor dos deveres; mas, finalmen-
cefalograma -. Os crimes de epiléticos são caracterizados pela feroci- te, explosões posteriores podem arma-tos. conduzindo-os a vinganças
terrlveis. Supõem-se, reis, príncipes, profetas, enviados de Deus e re-
dade - Suspeite-se se":,pre dos homicldios com a repetição de gOlpes _
voltam-se porque tais méritos não são reconhecidos por terceiros, que
20, 30 e ~s vezes malO~número de facadas ou punhaladas _ Esclareça-
são por eles considerados como inimigos. I: o perigoso tipo denominado
-~e, todavia, que há muitos perversos plenamente responsáveis, que as- esquizofrenia paranólde ,
sim procedem.
Paranóia - Conceitua-a Afrânio Peixoto, como o estado mental
~~steria - 1:. explicada como uma doença que resulta de estados
de Indtvíduos originariamente desviados pela educação e pela cultura, os
de debilidade do sistema nervoso, caracterizado pela tendência à desa-
gregação ou dissociação dos elementos de slntese mental - vontade quais pelo desenvolvimento incontido da presunção.e arrogância tornam-
~ consciência - I: a definição de Najet, transcrita por A _ Peixoto _ Veri- -se altamente eqocêntricos. Assumem ares de iluminados e acabam ina-
fica-se u~a desprop~rçã<?acentuada entre o estimulo e a reação psíqui- daptados ao meio em que vivem e reagindo contra ele, julgando-se víti-
ca. Intervindo n?s histéricos grandemente a imaginação, as percepções mas. Chegam depois às alucinações e dellrios de caráter altamente pe-
se deformam. DIZ Altavilla que em conseqüência desta desproporção rigoso. São os dellrios de ciúme, com escândalos públicos e não raras
entre o estimulo e a reação, o histérico ao ouvir narrar ou ao ler a des- agressões até o homicldio, os dellrios eróticos de velhos, solteironas
crição de um acontecimento, pode exaltar-se como se tivesse estado pre- feias, que se tomam de amores por pessoas, que às vezes, nem as co-
sente ao seu desenrolar, como se fosse um dos participantes do dra- nhecem. Mas são capazes de intrigas, escândalos e queixas à Polícia ou
ma, e desse movimento emotivo pode derivar que o acontecimento se lhe à Justiça, inventando acusações que podem servir de pasto à má im-
fixe na memória como efetivamente vivido. Observa_ A _ Peixoto que tal prensa e aos esplrltos amantes de sensacionalismo. Ainda os delírios
doença, embora muito espalhada, não é tão freqüente como se divulga. de perseguição, reagindo a supostos inimigos, os dellrios querelantes,
Tem-se chamado até histeria às doenças mentais que os alienistas não
classificam noutros grupos. ' de indivlduos conhecidos em quase todos os Foros, onde sustentam ou
ensaiam ações judiciárias Iantásticas.
Os histéricos nem sempre têm a mesma aparência. Ao lado da
tão comum instabilidade destes doentes, encontra-se, também, noutros Psicose menlaco-depressíva - ~ uma doença que se manifesta
uma extraordinária 'imobilidade mental. Mas tanto nuns como noutros a por sintomas mórbidos de excitação e de depressão isolados, misturados,
fantasia sacrifica muito a credtbltldade de suas afirmativas _ Os histéri- ou alternados, com intensidade e duração variáveis. I: chamada também
cos, segundo Altavilla, pregam men iras inconscientes, ou conscientes e loucura circular. A fase maníaca é a da excitação, em que o doente se
outras que foram conscientes e se tornaram inconscientes. Acabam acre- mostra inquieto, gesticulante, v.erboso, irrequieto. Quando a sua exalta-
ditando nas mentiras que pregam! No caráter deles ressaltam tais ca- ção chega à fúria torna-se perigoso _ Pode também praticar, além de
racterlsticas: o egorsmo exaltado e a instabilidade afetiva. Estas defor- agressões, crimes de natureza sexual. Na fase oposta, a melancólica,
midades do sentimento os conduzem com facilidade ao testemunho fal- atinge um desânimo capaz de impedi-Io dos menores esforços. Mostra-
so, à calúnia e até a auto-acusação, apresentando-se como autores de -se moralmente deprimido, profundamente pessimista, cheio de remor-
crimes rumorosos e que permanecem misteriosos. Assim agem pelo de- sos até do que. nem chegou a fazer. Nesta fase é capaz de praticar deli-
sejo de notoriedade. E, como são facilmente sugestionáveis, podem os tos por confissão de crimes imaginários, outras vezes suicida-se e ain-
da nisto ~á o perigo de atentar. contra a vida de filhos e esposa, movido .' tais simuladores incapazes de atinar que as exagerações grotescas os
pelo sentimento mó~bido de piedade. denunciarão.
Além disso, não sabe o simulador, senão excepcionalmente, que
. ~8rsonalldad~s pslcopáUcas - Constituem, já disseram, a grande
há espécies de enfermidades que não se harmonizam com as diversas
faixa clnz~nta que fica entre as pessoas tidas como normais e os doen-
modalidades de delitos: Por exemplo, o melancólico pode ser levado ao
tes mentais. Foram chamados também fronteiriços semiloucos e loucos
homicídio, mas não por estímulos externos, ou arquitetando um plano
morais, isto é, ind!vfd~os capazes de entender o q~e fazem, possuidores
criminoso, porque a explosão desses doentes se dá por motivos todos
de ce~o grau de inteligência, mas embotados afetivamente; verdadeiros
íntimos, Conta-se o caso de um melancólico que era lixeiro, Certa vez,
a~orals a que o público de indivlduos é de diffcil conceituação psiquiá-
inopinadamente, abandonou a carroça, investiu contra um colega, des-
tríca , Oferece, todavia, a maior importância penal, porque deles saem : t;'!~\
ferindo-lhe um golpe mortal de navalha; em seguida, lavou a arma e na-
?S m~iores criminosos. Praticam delitos sexuais, contra o patrimônio ,.,..
'/
< •• turalmente voltou para a carroça como se nada tivesse ocorrido, Haverá
inclusive roubos, atentados contra a vida, incêndios e muitos outros. '

. ~utras doenças ~inda são de grande interesse criminal, como a


,
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j
r
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incontestavelmente simulação, se um indivíduo logo após um acesso ma-
níaco, cair num estado de profunda melancolia. Isto nunca poderia ocor-
paralisia .. ge.ral proqreesiva, a demência senil e outras. A primeira, de rer se não passado tempo apreciável,
causa slfilltica, co~duz nao raramente o enfermo à prática de atos de-
Ainda simulação haverá se alguém fingindo um delírio e falando
sonestos,. atenta!órlos aos costumes e até à vida. Começa muitas vezes
com pessoas inexistentes, logo depois se atira sobre as próprias fezes,
com mamfes!açoe~ de euforia, atos de prodiqalidade, casamentos absur-
de maneira animalesca. O primeiro ato é demonstrativo de algum racio-
dos e n~góclos mlrl~bol~ntes. Apontam-se como vitimas dessa enfermi-
cínio e não condiz com o segundo, próprio das mais baixas formas de
dade o filósofo ale":,ao Nu:~tzsche e o escritor francês Guy de Maupassant.
demência. Assim, quem esta simula será desmascarado, se demonstra,
TB:m~é""! a demência senil oferece algum contlnqente, todavia menor, à
de alguma forma, a normalidade dos processos psíquicos. Conta Alta-
crimlnalidade . Embora nem todos os velhos sofram a demência senil é
villa haver sido desmascarado um indivíduo que simulava demência, pe-
ela cara?terlstica .da idade avançada. Conforme certa variedade de ca-
la habilidade com que conseguia tirar toda a polpa de uma laranja. Era
racterlsticas mórbidas os dementes senis podem praticar delitos sexuais
m~r~ent~ atentado.s ~úblicos a~ pudor. .Pela avareza e idéias de perse~ '. ação que exigia atenção e sentido muscular tão delicados,
se encontrariam num demente.
que nunca
Ainda, não será fácil fingir a apatia e a
gUlçao nao será dlflcll que pratiquem crimes contra a propriedade e até
mesmo homicldios. expressão mímica característica da falta de vida pslquica.
Fingindo epilepsia, poderá o simulador aparentar um ataque, mas
SI~~laçlio 8 ~Isslmulaçlo -
Embora em rápido e incompleto es- ao cair procurará fazê-Io com o cuidado necessário de não ferir-se; em-
tudo" verlflcam.os acima que as doenças mentais oferecem quadro de bora uivando, contorcendo-se e expelindo saliva não poderá modificar o
ac~nt~ada v~nedade. Doenças existem de diagnóstico diflcil, mas os
ritmo do pulso, nem os reflexos pupilares.
psiquiatras na~ d~sconhecem determinados sintomas, caracterlsticos, co-
mo também nao Ignoram quais os crimes que podem correr por conta Quem simula amnésia, muito ao contrário do verdadeiro doente,
de alguma doença e em que circunstâncias. não se atormenta com a lacuna de memória sofrida, nem faz esforços
para integrar esta lacuna; nem faz separação entre recordações úteis
Não será. diflcil, por isso, desmascarar a simulação. Tanto mais e nocivas à defesa. Os contornos do consciente são precisos e tal não
P?rqu~ o conceito vu~ga~ de loucura ressente-se de qualquer precisão ocorre, pelo menos rigorosamente, com o simulador, que não lndica sem-
clent~flca .. Pensa o publico que as doenças mentais têm uma sintoma- pre os mesmos pontos de esquecimento.
toloqía evidente, cheia de atos e estranhos racioclnios e percepções in-
teiramente deformados. Enfim, cabe-nos falar sobre a dissimulação que é o fenômeno
oposto à simulação. Ocorre não raro quando doentes tranqüilos, dese-
. Passemos. a vári.?s observações ressaltadas por Altavilla. Em pri- !ando deixar o manicômio. ou querendo impedir a eventualidade de uma
meiro lugar, a simulação s6 começa depois da prática de delito; às ve- In~e~diç~lo, escondem as enfer:nidads de que são portadores. Um perito
zes. mesmo algum tempo depois, quando o acusado percebe que os pri- hábit e oaciente não tardará em desfazer a burla,
meiros recursos de defesa falharam.

. Diante do perito e de seus instrumentos, o simulador sente-se em


per~go e é conduzido à tendência de sempre mostrar-se insenslvel ou
entao, ~onfessar as ~oisa~ ao contrário do que sente: o quente dizem
q~e é frio e o contrário: nao acusam sentir as pontas do estesiômetro ou
nao têm noção da distância das pontas; afirmam não ter noção de vo-
lume ou forma dos objetos simples que Ihes são entregues. Enfim, são

Q()
QUESTIONARIO
(Extraído do MANUAL DO DETETIVE)

Este questionário deverá ser respondido pelo aluno em papel à


parte. colocando-se simplesmente o número da pergunta e a resposta
correspondente, para ser verificado o aproveitamento do aluno a fim de
ser conferido o respectivo diploma e a identidade de Detetive.

1- Qual a origem da palavra DETETIVE?


2 - Qual o significado da palavra POUCIA ?
3 - O que se entende por POUCIA JUDlCIARIA ?
4 - O que se entende por PODER DE POUCIA?
5 - O que é FLAGRANTE DELITO?
6 - Quando é Instaurado o Inquérito Policial?
7 - Em que condições poderá ser decretada a PRISÃO PREVENTIVA?
8 - O que é LOCAL DE CRIME?
9 - Qual a primeira providência da PERICIA em Local de Crime?
10 - Qual a prova que perpetua o Local do Crime?
11 - O que é NECROPSIAe ao que visa?
./ 12 - O que se considera LESÃO CORPORAL?
13 - O que são Lesões Corporais Graves?
14 - A Moeda Falsa é crime classificado contra a Fé Pública?
_} 1S - Por que o Incêndio é classificado na Lei como Crime de Perigo
Comum?
16 - Tem alguma importância a Investigação Policial em t.ocat de In-
cêndio?
17 - Como se dividem os incêndios criminosos?
18 - Qual a origem dos incêndios acidentais?
19 - Qual a prova m~i.susual e básica, embora sujeita ~ defeitos?
20 - A Lei pune o FALSO TESTEMUNHO?
21 - Qual a definição de INDICIO dada pelo nosso Código de Processo
Penal ?,.
22 - O que se denomina IMPRESSOESDIGITAIS?
23 - Quais são as quatro categorias básicas da classificação datilos-
cópica?
24 - O que é SÉRIE, em datiloscopia ?
2S - O que é SEÇÃO?

Cada pergunta vale 4 pontos. A nota mlnima é de SO pontos. Responda


com clareza. .
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