Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
fJ. . ,\ .
: ! \.
I! manual.do detetive
! CRIMES E
I!
. ~
.. . SEQUESTROS
, '.
li" •••. ...: " I
<I
,
I I
!
. "
I
I
I
I
I I
,
I
\
@
r
\ '
..•
I
I
'i! Iir
I
f
u
. '..
•
CURSO PQ~ CORRESPONDÊN~lA
-,
t I
M'anual Prático
de
Conhecimentos Gerais:
Detetive,
Inspetor de Segurança,
Aperfeiçoamento de Investigações e
Perito em Investigações
. I
Prezado Aluno:
Queremos, antes de tudo, salientar que este curso não se' asse-
melha a nenhum outro no gênero. Nossa preocupação foi a de propor-
cionar a você um curso verdadeiramente útil. Para cada curso expedi-
remos o Certificado de conclusão. de acordo com a opção de V. s.a.
Atenciosamente,
CONHECIMENTOS GERAIS 50.532, de 3/5/61, sendo obrigados ao registro policial. Os detetives
particulares ou detetives profissionais, não têm registro policial. Em al-
DETETIVE guns Estados do Brasil, suas atividades profissionais ainda são desco-
nhecidas das autoridades, salvo se tiverem registro como Agente de In-
Detetive é uma palavra de origem inglesa, que significa detetar formações nos termos dos Diplomas Legais, já citados.
um fato, Investigar, pilhar e desmascarar. As atividades das agências de informações reservadas ou confi-
No terreno policial, é detetive aquele que investiga um fato, suas denciais, comerciais ou particulares, são reguladas pela Lei 3.099 e pelo
circunstâncias e pessoas nele envolvidas. Decreto 50.532, já citados.
Detetive pode ser o exercício de um cargo ou função pública, como Consoante os termos dos referidos diplomas legais, tais agências
Já existe em alguns Estados do Brasil, ou a atividade partic~lar de um somente poderão funcionar depois de registradas no Registro do Co-
profissional autônomo, isto é, registrado de acordo com as leis de cada mércio e na Repartição Policial do local em que operem.
Estado ou Território.
Para obtenção do registro comercial, precisa ser consultada a
Junta Comercial da localidade, porque as exigências variam conforme as
DETETIVE DE POLICIA - AGENTE DA AUTORIDADE
regiões do Pais. Em alguns Estados do Brasil, come, por exemplo, no
Estado do Rio de Janeiro é necessário para o registro comercial, apre-
Detetive de Polícia é o agente de função pública que tem suas sentação de certidões negativas, obtidas em cartórios dos registros de
atribuições definidas através de leis administrativas, regulamentos ou re- Distribuição e de interdições e Tutelas. Já no Estado de São Paulo, basta
gimentos policiais. Pode ser Federal ou Estadual. São n0":1e~dospelo uma declaração assinada e com firma reconhecida, declarando sob' as
Governo Federal ou Estadual, após cursos em escolas esoeclatizadas do penas da lei, que o interessado ao registro comercial, não está sendo pro-
Estado ou habilitados em concursos públicos. São também chamados, de cessado, nem foi definitivamente condenado, em qualquer parte do Ter-
Agentes da Autoridade: ritório Nacional, pela prática de crime cuja pena vede, ainda que de modo
temporário, o acesso il funções ou cargos públicos, ou por crime de pre-
DETETIVE PARTICULAR varicação, falência culposa ou fraudulenta, peita ou suborno, peculato,
ou ainda, por crime contra a propriedade, a economia popular ou a fé
Detetive Particular, também chamado Detetive Profissional ou In- pública.
vestigador Particular é o agente particular que se dedica a investigação Para obtenção do registro policial, exige o decreto n.? 50.532, que
Particular, é o agente particular que se dedica a investigação particular as empresas interessadas apresentem os seguintes documentos:
e comercial sem nenhum vinculo à Lei 3.099, de 24/2/57 ou Decreto
Federal 50.532, de 3/5/61, que dispõem sobre o funcionamento das a) Certidão do Registro Comercial, contendo o inteiro teor da de-
Agências de Informações. claração da firma, ou contrato social:
No Estado da Guanabara, estão enquadrados para efeito de con- b) Folha Corrida e Atestado de Bons Antecedentes dos dirigentes
tribuição do Imposto sobre Serviços, no item 4 da Tabela Constante do das empresas e dos seus auxiliares, a qualquer título, que tra-
Art. 79, da Lei 1.165, de 13/12/66, com redação dada pelo Decreto-Lei balhem nas investigações.
229, de 25/11/69, e, conseqüentemente, sujeitos ao pagamento imposto
anual com os seguintes códigos: EXIG~NCIAS LEGAIS
Código de Atividade 6.319
Código de Cadastro ........... 50 O Decreto, já aludido, exige que qualquer modificação no registro
comercial, bem como a admissão ou dispensa de auxiliares, devem ser
No item 3, da Ordem de Serviço "E" n.O11 - FRS, de 23/02/70, comunicadas no prazo de 48 horas, à repartição policial, onde se acha
com a seguinte determinação: Qualquer pessoa física ou jurldica que se registrada a Agência.
utilize dos serviços desses profissionais, deverá exigir o comprovante
de duas inscrições no Cadastro Fiscal do Estado" . Proíbe a prática de quaisquer atos ou serviços estranhos às fina-
lidades de uma agência de informações e os que são privativos das auto-
ridades policiais, obrigando as empresas a abster-se de atentar contra a
AGENTE DE INFORMAÇÕES- DETETIVE inviolabilidade ou recato dos lares, a vida privada e a boa fama das pes-
soas.
Agente de informações, também chamado de Detetive Particu- Determina ainda, o referido Decreto, que as informações sejam
lar ou Detetive Profissional é o que satisfaz as exigências dos disposi- prestadas por escrito, em papel que contenha impresso o nome da em-
tivos legais vinculados à Lei 3.099, de 24/02/57, e ao Decreto Federal presa e o de um gerente ou diretor pelo menos.
Obriga, de modo geral, fornecer às autoridades policiais cópias das vendas das organizações comerciais e ainda em outras fontes de refe-
informações tornecldas aos seus clientes, quando forem requisitadas pela rências indicadas. Quando se tratar de informações particulares, o le-
policia, prestar também Informações quando solicitadas. vantamento é feito junto ao local de emprego da pessoa visada, lojas on-
de compra ou comprou a crédito e até mesmo junto ao proprietário da
casa onde reside ou onde residiu, nos armazéns, padarias, farmácias,
PENALIDADESLEGAIS açougues e estabelecimentos comerciais das imediações. No caso es-
pecifico de candidatos a emprego, o levantamento é geralmente feito
A agência que não respeitar as leis estará sujeita a suspensão até onde tenha trabalhado anteriormente, junto aos seus conhecidos e nos
seis meses, imposta pelo Diretor do Departamento de Policia Politica ou estabelecimentos comerciais com os quais já trabalhou. Seja entretan-
ao fechaménto, mediante representação das autoridades, pelo Ministro da to qual for o tipo de informação desejada, esta sempre é obtida através
Justiça. de detetives particulares, também denominados de informantes comer-
ciais que trabalham no ramo das investigações particulares.
ATIVIDADESPROFISSIONAIS
CONHECIMENTOSINDISPENSÁVEIS
De um modo geral, as agências de informações são constituldas
por escritórios especializados na realização de levantamentos informa- Os conhecimentos indispensáveis a um bom detetive profissional
tivos através de fichas de informações obtidas junto ao meio comercial
são:
e particular.
1) Noções de Direito Penal e Processual.
As suas atividades visam dar atendimento às solicitações que lhe 2) Noções de Medicina Legal e Policia Técnica.
são feitas por comerciantes, industriais, bancos, embaixadas, outras agên- 3) Noções de Identificação e Datiloscopia.
cias e particulares. Referem-se, amiudamente, a novos clientes que se 4) Ser um bom Relações Públicas, e
candidatam a compras a prazo, ou a funcionários que deverão ser admi-
5) ter conhecimentos gerais.
tidos para o desempenho de funções de confiança. Por outro lado, tais
agên'Ciascolaboram, também, com organizações imobiliárias, colhendo Além disso, deve um bom detetive adquirir o hábito da boa leitura,
informações relacionadas aos candidatos a aluguéis de imóveis no que ser um bom observador e bom memorizador.
diz respeito a lisura, idoneidade e pontualidade nos pagamentos. O nosso curso fornece todo o material necessário a um bom de-
Da mesma forma, efetuam levantamentos concernentes aos fiado- tetive, além de indicar uma vasta bibliografia em todos os ramos de
res. Além disto, os serviços das agências de informações são também conhecimentos humanos.
locados por particulares que, por qualquer razão, necessitam das informa-
ções quanto a um assunto. ESTUDO DA VIDA PREGRESSA
pague as custas da certidão e suas buscas. A POlicia, ao procurar dar cumprimento à determinação transcri-
ta, deve proceder com cuidados especiais e de maneira mais objetiva
MEIOS DE INFORMAÇOES posslvel, porque os dados que levantar e apresentar, sobre a persona-
lidade de criminosos, poderão ter influência na aplicação das penas
Para dar cumprimento às suas finalidades, utilizam-se de diversos (art. 42, do Código Penal), na imposição e execução das penas de muI-
expedIentesos agentes de informações (detetives particulares), corsoante ta (Arts. 37, 38 e 43 do Código Penal no arbitramento de fianças (§ úni-
a natureza do levantamento solicitado. As informações comerciais, por co do art. 325 e arts. 326 e 350, do Código de Processo Penal) e, ainda,
exemplo, são levantadas junto aos cadastros bancários, nas seções de poderão dar margem à aplicação de medidas de segurança.
Recomendamos cuidados especiais, no Estatuto da Vida Pregres-
sa de criminosos, não só em razão da influência apontada como, tam-
bém, porque a tarefa é realmente difícil e delicada, tendo-se em vista
que os policiais, para levá-Ia a cabo, terão que se valer quase que so-
mente de elementos de natureza subjetiva, nem sempre de fácil aprecia,
Outros elementos, porém, poderão ser colhidos, de modo a
se formar um retrato mais completo da personalidade
da criminoso, podendo eles ser:
de ca-
Art. 4.° - As informações serão sempre prestadas por escrito, em papel Parágrafo Único - Os estabelecimentos referidos no artigo anterior com-
que contenha impresso o nome da empresa, e por extenso o preendem as instituições bancárias, as caixas econômicas, e
de um gerente ou diretor, pelo menos. as cooperativas de crédito que funcionem em lojas.
Art. 5.° - Cumpre às empresas fornecer às autoridades policiais cópias Art. 2.0 - Os estabelecimentos de que trata o artigo anterior deverão
das informações fornecidas aos seus clientes e que Ihes forem adotar - no prazo máximo de um ano, contado do inicio da
requisitadas, prestando, também, as informações por elas soli- vigência deste Decreto-Lei - dispositivo de segurança con-
citadas. tra rouho e assaltos, que consistirá, obrigatoriamente, em:
Art. 6.° - As empresas que já se encontram em funcionamento terão o I- Vigilânci 1 cstensiva, realizada por serviço de guarda compos-
pra.zo de 90 dias, a contar da publicação deste decreto, para to de ele llentos sem antecedentes criminais, mediante apro-
satisfazer as suas exigências. vação de seus nomes pela Policia Federal, dando-se ciêrcia
ao Serviço Nacional de Informações;
Art. 7.0 - A inobservância do presente decreto sujeita as empresas à pe-
na de suspensão do funcionamento, de um a seis meses, im- 11 - Sistema de alarme, com acionadores em diversos locais do es-
posta pelo dirigente da Repartição a que se refere o parágra- tabelecimento e em comunicação direta com a Delegacia, Pos-
fo do art. 1.0 to Policial, agência bancária ou estabelecimento de crédito
Art. 8.° - Mediante representação das autoridades federais ou estaduais, mais próximo.
poderá o Ministro da Justiça e Negócios Interiores cassar a
autorização de funcionamento das empresas a que se refere (-) Diário Oficial da União, 21-10-1969.
este decreto.
"
~Y-
As portas e janelas figuram-se por simples interrupções dos traços, To-
dos os corpos terão as .tormas de suas bases ou de seus tempos,
~I ~:::: I -r-r-r-r-"!: : : :
o
FIG, 2 - CI~OQUI DE UM ANDAR,
cessam antes das propriedades dos tecidos musculares e estas, enfim, mento do espelho levado às n arinas e outras provas corriqueiras. De-
desaparecerão antes das reações epidérmicas . Estes conhecimentos tra- saparecendo as mudanças mole ~ulares, cai a temperatura, afirmando La-
zem grande facilidaáe ao entendimento de relevantes questões. cassagne que o termômetro des ~endo a 25 ou 22° na axila ou no ânus,
a morte é certa e pode procede, -se à inumação. Cabe-nos aqui, enfim,
Diz Alberto Pessoa, ilustre criminólogo português, que ao encon- referir-nos à rigidez cadavérica resultante da contração dos músculos, o
trar-se alguém que pareça morto, a primeira coisa que o policial deve que ocorre mais ou menos uma hora depois da morte e se conserva
fazer será ter a certeza disto, pois se houver os mais leves sinais de até umas 30 horas. No estado atual dos conhecimentos cientlficos, diz
vida, a obrigação de prestar socorros se antepõe, evidentemente, a tudo o Professor Jean Planques que a morte é real, quando não se consegue
o mais. Acuda-se, portanto, imediatamente a vítima, embora se altere reanimar o paciente pelo espaço de uma hora. Todas as cautelas de-
o aspecto do local. É exata a afirmativa até certo ponto, porque se o
criminoso estiver ainda presente, ou em fuga, a prisão deste não pode
deixar de ser a tarefa policial mais urgente, Outra qualquer pessoa se-
• vem ser tomadas para que não se confunda a morte real com a morte
aparente. Muitas lendas e histórias lúgubres se contam sobre enterra-
dos vivos e infelizmente nem sempre há fantasia. Assinalam-se casos
rá convocada para socorrer a víti ma. '
de letargia histérica, principalmente em mulheres, e letargias de outras
espécies. Casos têm-se notado de morte aparente que duram horas se-
guidas, até mais de quarenta horas. Indica-se como forma simples de re-
velá-Ias injetar no paciente uma injeção subcutânea de f1uorescina. Se
SINAIS DE MORTE E MORTE APARENTE a circulação não cessou de forma absoluta, o sangue a veiculará. Tour-
des e outros mestres, tendo em vista a porção de ar encerrado nos cai-
Fazer o diagnóstico da morte nem sempre é fácil, embora sejam xões funerários têm procurado calcular quanto tempo de vida pode ter
numerosos os indicados sinais de morte. Lacassagne grupou-os, tendo quem volte a si estando enterrado. Calcula-se em média uma meia ho-
em consideração que a morte se evidencia pelo cérebro, o coração e ra ou pouco mais, que bem poderá considerar-se um século para o infe-
os pulmões. liz que a sofre, adverte Lacassagne.
Dizendo cérebro, quis o notável médico legista referir-se ao sis- As causas da morte também nem sempre facilmente se vislum-
tema nervoso. Verifica-se a perda da inteligência, da sensibilidade e bram. O interesse em conhecê-Ias é manifesto no caso de mortes sú-
do movimento'; os órgãos dos sentidos não funcionam mais. A face ad- bitas. Indispensável será proceder-se sempre à autópsia, seja no Insti-
quire aspecto característico: palidez mortal, fronte enrugada, maxilar in- tuto Médico-Legal, quer em outra parte, no Rio 'de Janeiro, o Instituto
ferior caído, a boca e os olhos abertos. Verifica-se ainda o relaxamen- Anatõmico, quando tudo leve a crer tratar-se de morte decorrente de
to dos estincteres, como resultado da paralisia súbita do sistema mus- alguma enfermidade, mas sem assistência médica.
cular, Eis a causa da expulsão de fezes, esperma e lágrimas. Só erra-
damente há quem afirme que os enforcados cheguem à sensação de
gozo sexual pela expulsão de esperma, ou veja nas lágrimas o pranto
dos moribundos. Os membros, a cabeça, os Ifquidos, tudo enfim, cede
NECROPSIA
à ação da gravidade e por isso tende a cair. Os olhos sofrem senslveis
modificações, da agonia até a putrefação. Na agonia, um dos primeiros
fenômenos é a perda gradativa de visão. A falta de sensibilidade e res- A autópsia ou autopsia e mais propriamente ainda necropse ou
secamento da pele do morto fazem com que esta não demonstre qual- necropsia é uma operação no cadáver, que visa esclarecer a ocorrên-
quer reação a estlmulos exteriores, picadas, queimaduras, etc. Sendo cia de crimes, acidentes de trabalho, enfim, toda e qualquer morte vio-
a pele comprimida, pela falta de elasticidade, mantém, sem apreciável lenta. Outras vezes visa a indagações de finalidade sanitária ou clínica.
modificação, o enrugamento sofrido. Nos Estados (a Guanabara, São Paulo e outros, procedem-se a ne-
A cessação do funcionamento do sistema circulatório dá-nos si- cropsias em todos o ~ casos de morte violenta, isto é, causada por cri-
nais de morte de percepção vulgar: a falta de batidas do coração e a mes de acidentes, su 'cídíos e ainda na hipótese de morte natural sem
falta de pulsação. Das artérias foge todo o sanque . Costuma-se secclo- assistência médica.
nar a artéria radial ou temporal para comprovação da morte ou injetar- A técnica da necropsia é diferente, segundo as variadas clrcuns -
-se um colorante na veia, sem difusão, sendo no cadáver, Por outro tãnclas que cercaram a morte. Como outros mestres, acentua Flamínio
lado, as veias se intumescem de sangue. Também cessa a circulação ca- Fávero, a necroscopla médico-legal obedece comumente a um roteiro
pilar, provocando a descoloração dos tecidos. As partes sobre as quais preestabelecido até em regulamentos policiais, Entre nós, o regulamen-
o corpo repousa tornam-se achatadas e esbranquiçadas . Começa a for- to de policia, de 1934, prescrevia regras minuciosas. Começa esta perí-
mação das hipóstases eu livores, como adiante veremos, cia pelo exame externo, que pode, às vezes, ser sumário. O exame in-
Enfim, da paralisação da função respiratória, temos como sinto- . terno então, Quando a causa da morte seja logo apurada, llrnitar-se-á à
mas, a insensibilidade de uma chama levada aos lábios, o não embacia- cavidade, que esclareça a indagação. O exame interno exige, ordinaria-
LESOES NO MORTO E NO VIVO
mente, a abertura, pelo menos, das três granr'es cavidades: crânio, tó-
rax e abdômen. Terminada a autópsia, proce :le-se à reconstituição do Distinguir as lesões no morto das lesões no vivo é outra importan-
cadáver. te pesquisa médico-legal. Visa evitar erros quanto à verdadeira causa
mortis, que não raro os criminosos procuram disfarçar. As lesões no ca-
As autópsias devem ser, sempre que' .ossfvel, realizadas à luz na- dáver não encontram as naturais reações orgânicas, salvo logo após as
tural. mortes violentas em que ainda se percebem algumas. Não será, por
Nas mortes súbitas é indispensável uma necropsia completa. Vi- isso, dificil a diferenciação. Damos abaixo uns dados em confronto:
sa descobrir qualquer traumatismo disfarçado, inclusive' a entrada dissi-
No Morto
mulada de projéteis ou reveladas embolias do coração ou pulmões. Re-
colhem-se sangue e urina para exames, como também às vezes as vís- 1 - Ausência de coágulos; transbordamento de um líquido sangren-
ceras. to, tênue, de que os tecidos vizinhos não se impregnam.
A necropsia pode logo ser concludente, isto é, dar imediatamente 2 - Ausência de inflamação ou de gangrena.
a explicação da morte. Diante de uma hemorragia abundante verifica-
-se que decorreu de rotura por aneurisma. Males do coração e outros 3 - Ausência de inflamação, bem como pouco afastamento das bor-
podem também ser imediatamente revelados. Casos porém há de au- das das feridas.
tópsias que resultam brancas. Então se indagará se ocorreu alguma in-
toxicação, o que o exame das vlsceras responderá; pode ainda haver No Vivo
ocorrido a morte por inibição e aí as dificuldades aumentam. Sabe-se
que especialmente em casos de afogamento pessoas existem, que por Coágulos bem nítidos e transbordamento do sangue dos ferimen-
predisposição orgânica ou outras circunstâncias ocasionais, como a tos, principalmente nas partes mais internas dos ferimentos mais
exaustação, a embriaguez, o medo, podem ser vítimas de inibição. Jean profundos.
Planques afirma que nos casos de morte por imersão na água, em um 2 Freqüentes supurações, sabido que o pus é a reação dos glóbu-
por dez não ocorre asfixia mas síncope. O homem afunda a prumo iner- los brancos do sangue .contra os micróbios que assaltam a lesão;
te. Não engole água. A morte decorre da suspensão, por inibição, de por vezes gangrena.
funções vitais: o coração ou a respiração param, a tensão arterial sus-
pende-se. Isto se dá, embora raramente, pelo choque provocado pela 3 - Inflamação e afastamento pronunciado nas bordas das feridas in-
imersão em água fria, quando o organismo esteja pouco propenso a de- cisas e tanto mais afastadas quanto mais acentuada for a mor-
fender-se, seja por alguma intoxicação, mais comum a alcoólica, fadiga bilidade da parte alcançada e mais obliquamente em relação às
pronunciada, ou durante a digestão, ou em "Se tratando de pessoas ido- fibras musculares for o ferimento.
sas.
FIG. 8 - Regiões do corpo humano para indicar a localização de ferimento 01. Região parietal.
02. Região occipital.
03. Região da nuca ou cervical.
01. Região supraclavicular.
04. Região supra-escapular.
02. Região clavicular.
05. Região cérvico-espinhal.
03. Região infraclavicular.
06. Região deltoidiana.
07. Região axilar.
08. Região do terço superior do braço.
09. Região do terço médio do braço.
10. Região do terço inferior do braço.
04. Região peitoral ou mamária. 11, Região do cotovelo. .
05. Região esternal. 12. Região do terço superior do antebra-
06. Região deltoidiana. ço.
07. Região axilar. 13. Região do terço médio do antebra-
08. Região do terço superior do braço. ço.
09. Região do terço médio do braço. 14. Região do terço inferior do antebra-
10. Região do terço inferior do braço. ço.
11. Região do cotovelo. 15. Região do punho.
12. Região do terço superior do antebraço. 16. Região da palma da mão.
13. Região do terço médio do antebraço. 17. Região do dorso da mão: .
14. Região do terço interior do antebraço. 18. Região dos dedos (especificar).
15. Região do punho. 19. Região do dorso-espinhal.
16. Região da palma da mão. 20. Região escapular.
17. Região do dorso da mão. 21. Região dorsal.
18. Região dos dedos (especificar). 22. Região lombar.
19. Região epigástrica. 23. Região lombo-espinhal.
20. Região do hipocôndrio. 24. Região glútea.
21. Região umbilical. 25. Região sacro-cocigiana.
22. Região dos flancos. 26. Região do. terço superior da coxa.
23. Região hipogástrica. 27. Região do terço médio da coxa.
24. Região inguinal.
45
•.-t!;~_
28. Região do terço inferior da coxa. ram adotadas medidas limitadoras da velocidade. Nos Estados Unidos
o. total de mortes, nos mesmos anos, anda se aproximando de 40.000,
29. Região poplltea ,
mas convém recordar que neste pais o número de veículos é dez vezes
30. Região do terço superior da perna. maior que naquele. São os E. U .A, um dos palses onde malor é a disci-
31. Região do terço médio da perna. plina do. tráfego e o respeito à lei.
32. Região do terço inferior da perna. Não resta dúvida que nunca se poderão eliminar todas as causas
33. Região maleolar. de acidentes de tráfego, mas as estatísticas em vários palses têm apon-
34. Região do dorso do pé. tado 80% por culpa da conduta humana. Onde os abusos são maiores,
35. Região do talão. como no nosso, a percentagem indicada é bem mais elevada. Há entre
36. Região da planta do pé. nós verdadeiros monstrin!1os,que usam o automóvel, como autêntico Ins-
trumento de crime, para danificar, ferir ou matar. Quem anda pelas ruas
37. Região dos dedos do pé (especificàr). ou tem que viajar em coletivos os vê em toda a parte e, infelizmente,
não pode evitar ser vitima de algum deles.
?utra q~estão importante é a de reconhecer as autolesões, co-
mo meio de simular agressões. Geralmente localizam-se na parte es- Os psicólogos e criminólogos apontam como fatores preponderan-
q~erda do ~_o.rpo.,porque as pessoas canhotas são. raras. Co.mumente tes desse perigoso tipo criminoso a angústia, o complexo de inferiorida-
atingem r~glo.esdo.corpo tidas como. menos perigo.sas. Enfim, ainda nes- de, a rebeldia à lei, o prazer do risco e o profundo egolsmo. No volante
ta apuraçao, vale ressaltar a importância do problema da idade das equi- libertam-se as angústias, adquiridas não só pelos choques, mais fortes,
meses. decorrentes das guerras ou outros fenômenos sociais de acentuada gra-
A ida.de das eq~imoses pede ser obtida cem a po.ssibilidade de vidade, como os ligados à pobreza e condições de vida inadequadas.
err~s de dOIS a tr~s dias. ~ co.nseguida pelo. exame da colocação da Explica isso também a importância que se dão esses infelizes, tomados
eqUl~o.se. ~o. 1.° dia é vermelha, tendendo. para Ifvida; de 2.0 ao. 3.0 es- pelo complexo de inferioridade, quando passam a ter um veiculo pesa-
cu~a, do. 3. ao. 6.° azul; d~ 7.° ao. 12.° esverdeada e, afinal, do. 13.0 ao do nas mãos, principalmente autocargas e coletivos, Tomam ares de po-
20. amarelada. De doze dias a. três semanas os vestlgios de equimose derosos barões feudais, dentro de seus castelos inexpugnáveis. A rebel-
desapa~ecem.Mas a~ caracterlsticas apontadas ainda dependem um pou- dia à lei, como hábito, corre por conta da ausência de policia ostensiva
co da Idade do. paciente e seu estado de saúde, como. de tudo acima, ou a presença de guardas de duvidosa moralidade, tudo isso agravado
adverte Lacassagne. A maior torça da pancada também influi. As man- pela insignificância das multas. Parece que em alguns pontos das cida-
chas provocadas peles beijes com sucção provocam equimoses seme- des os sinais foram somente colocados como enfeites, principalmente
lhantes, mas às vezes de evolução mais curta. nos lugares e horas de menor movimento, onde então ocorrem os mais
violentos desastres; o abuso. é tal que alguns indisciplinados motoristas
A localização das lesões deve ser precisa. Para isso. divide-se o não se satisfazem apenas em desrespeitar os sinais; constrangem tam-
~o.rpo humano em regiões a que se atribuem nomes técnicos (vide as bém a que o façam os veículos à sua frente, por meio de acintes e buzi-
flgs. 7,8 e 9).
nadas irritantes. O prazer do risco já é mais caracterlstico da chamada
fuyeni.,;detransviada, os play-boys, em cuía manada se incluem mental-
mente muitos homens maduros. Enfim, as manifestações egolsticas são
revelações de um sistema de vida atual em que, em todos os setores.
DELITOS DO AUTOMÓVEL. CAUSAS DE ACIDENTES. AS os indivlduos só têm sensibilidade para os seus interesses imediatos e
DEFORMIDADES MORAIS E O PECADO DOS MAUS MO- não Ihes ocorre nunca que os direitos alheios também devem ser respeI-
TORISTAS. A DEFINiÇÃO JURIDICA DOS DELITOS DO AU- tados. A verdade, em resumo, é que o volante revela o caráter em lente
TOMÓVEL. O ALCOOL, O SONO E A FADIGA. AS DES- de aumento e não se pode contestar o conhecido brocardo americano
CULPAS DO'" 'MOTORISTAS. PERICIAS DE LOCAL, A "Um homem dirige como vive."
AÇÃO INVESTIGATóRIA DO DETETIVE. • No empenho da elevação moral do indivlduo, como lorma indis-
pensável de torná-to mais respeitador da vida alheia, a religião vem pres-
O veículo a motor mata maís que os ladrões e os assassinos mes- tando valiosa e direta colaboração. Sua Santidade, o Papa João XXIII
mo entre nós, onde não é tão grande o número de automóveis e' tanto em famosa oração, há poucos anos, chamou atenção que estão em pe-
cresce .a crim~nalidade violenta. Até em países de elevada civilização as cado os motoristas que dirigem perigosamente, porque infringem o man-
astatlsticas sao assustadoras, como na República Federal Alemã, onde damento - Não Matarás. Pouco tempo depois benzera uma frota de 43
om 1955 Ocorreram 12.255. mortes _e 350.000 feridos e no ano seguinte viaturas, que iniciou pelos "cinemóveis" a propaganda de medidas de
12.645 mortos e 672.500 terldos . So em 1957 caíram as cifras, porque fo- segurança do tráfego, em obediência ao Código de Trânsito Italiano.
A,...
pont do d folto d c ráter o educação revelam-se nas ati- mos casos são meios, aliás, de grande disfarce, mas não raro desmas-
tud p rlgos s: excesso de velocidade, desrespeito à preferência os. Dos mais recentes foi o ocorrido na França, do motorista cala-
d p g m, embriaguez no volante, ultrapassagem indevída. São as Dominique Zampagniole, que atropelou uma motocicleta, para matar
c usas mais freqüentes de acidentes nas cidades americanas, segundo ex-namorada. Está sendo acusado de tentativa de homicidio doloso com
as estatfsticas e não devem diferir no essencial, no que se passa nou- . Por outro lado, também dolosos serão os crimes quando
tros países, inclusive: no nosso, Estudos periciais revelaram que um mo- .o motorista saiba que está praticando manobra evidentement~ perigosa
torista atento numa estrada rugosa e dirigindo veículo com bons 'pneus e mesmo sem que seja seu objetivo, assuma o risco de produzir um dano
e freios, precisa cerca de uns 24m para imobilizar o seu carro, indo em , à' vida ou à saúde de alguém. Teremos então ainda homicidio ou lesões
marcha de 60 km horários, Se vai a 90 km, necessitá uns 50m, Estando corporais dolosas ou, então, o crime de perigo previsto no art. 132 do
o carro em más, condições, ou a estrada, ou o motorista desatento, a Código Penal. Quando, enfim, não houve pro~edimento do~oso, ~em rnes-
situação é muito.pipr e vidas humanas são postas em jogo, às vezes, mo na forma que acabamos de apontar, do slmpl~s as~umlr o nsco, .c~~-
por simples décimos de .segundo, Outras causas ainda são 'freqüentes, mado dolo eventual, ainda será de cogitar-se da intração penal.de dirigir
como as manobras' de retorno sem as cautelas devidas, o cansaço, ou pondo em perigo a segurança alheia, prevista no art. 34 ~a Lei ~e Co~-
sono do motorista, o mau estado de conservação dos veículos, etc . travenções Penais. Advirta-se que não basta a prova de simples infração
do trânsito; devem ser indicadas circunstâncias dem?nstrativas dess~ pe-
Os médicos dedicados ao assunto têm observado que o poder nor- rigo, exigido na lei. Prova evidente disto é a embriaguez do motorista.
mal de atenção humana não consegue acompanhar as exigências cada
vez maiores do tráfego de veículos e mormente os olhos não são adap- O álcool é o mais perigoso inimigo do automobilista, proclamou
táveis às velocidades hoje usuais, Muitos outros indivíduos, por sua cons- o recente Congresso Mundial sobre o Alcoolismo reunido em Estocoll!'0'
tituição particular, bom seria nunca fossem admitidos como motoristas. O autorizado criminólogo Seelig adverte que todo condutor de automovel
Devia ser legalmente obrigatório, em toda parte, o exame psicotécnico .~, é obrigado a abster-se, rigorosa~ent~, de: be~id~ alco~lica, mesmo em
para obtenção de carteira de motorista. No entanto há até loucos dirigin- pouca quantidade, porque até as íntoxícaçoes ligeiras sao. c?usadoras de
do, A carteira por tempo determinado, traria a vantagem de obrigar a perturbações de percepção e manobras. Na melho~ das hipóteses. os. re-
exames periódicos, Têm sido assustadoras as revelações dos resulta- flexos tornam-se mais lentos. Deve ser, com urqêncta, chamado o médico-
dos de exames de grupos de motoristas, ao acaso, Às vezes, até um -Iegista para não só o exame clínico ?Omotori~ta co~o as provas de lar
quarto deles foi dado como absolutamente incapaz e muito maior o nú- boratório mais usuais de sangue e unna. Há ainda simples. aparelh~s de
mero de aptos apenas condicionalmente. Ainda outros estudos têm ve- soprar, que permitem a revelação alcoólica. Nos E~tados ~nldos aceita-se
rificado que uma pequena fração de motoristas responde pela maior par- como prova de embriaguez até os frascos de bebida vazIos,. e.ncontrad~s
te: dos acidentes, Estatisticas americanas e alemãs chegaram a conclu- nos carros. Enfim, vale ressaltar que, quanto aos danos mate~lals, só. serao
soes semelhantes - em média 4% de condutores de veículos cometem de interesse penal os que forem dolosos. Se decorrerem de slm~~es Impru-
40% do total de acidentes; 10 vezes mais, portanto, que os outros, Vê- dência, negligência ou imperfcia, culposos, portanto, e sem _vitimas p~s-
-se lo~o que a providencial medida seria cassar-Ihes a carteira, o que, en- soais, apenas poderão dar en~ejo ? ações civei~ de !eparaçao. d.o prejul-
tre nos, infelizmente, não pode ser definitivamente, zo, fora da Justiça Penal. Seria o Ideal que assim na~ fosse, unlc~ meio
de evitar evidentes abusos, mormente dos veiculos maiores. Bastana que
As infrações penais praticadas pelos condutores de veículos são
se considerasse o dano culposo como contravenção penal.
em geral delitos culposos, isto é, decorrentes de imprudência, negligên-
cia e imperícia. Havendo mortos ou feridos, a definição jurídica é de A p.ova dos delitos de automóveis nem sempre é f~cil. Não é
homicídio culposo, cuja pena vai de um a três anos de prisão, ou lesão suficiente a certeza da autoria. Precisa-se ainda a demonstraça? da c~.'pa.
corporal, reprimida com detenção de dois meses a um ano (arts. 121 § Esta se fará pela prova pericial,' que nem sempre ~xiste, e !'lals frequ.e~-
3.° e 129 § 6.0 do Código Penal). Em qualquer caso caberá fiança em fa- temente pelo depoimento de testemunhas. Estas nao raro s,?o pouc.o üéis
vor do acusado, isto é, responderá o processo em liberdade. Se houver e muitas vezes propensas em favor do acusado, quando nao mentirosas,
fuga do acusado para' evitar a prisão em flagrante, ou se deixar de pres- as chamadas testemunhas de defesa. De quando em quando alguma .é
mandada processar por falso testemunho, sujeitando-se à punição_de d~ls
tar imediato socorro à vítima, ou ocorrendo inobservância de regra técnica
a seis anos de prlsãe por ter pretendido favorecer algum acusado de in-
de profissão, bastando a existência de uma só dessas circunstâncias, a
fração muito mais levemente castigada. Mas o abuso prossegue.
pena será aumentada de um terço. Enfim, vale lembrar que não se, positi-
vando ter o acusado agido com culpa, mas, provada a sua fuga indiferen-
A defesa dos acusados invoca em geral:
te à SOrte da vítima, caberá então puni-I o pelo delito de omissão de so-
corro (art. 147 do Código Penal). a) Imprudência da Vítima. Só aproveitar~a a,o acusado se~do exclu-
Pode também um veículo ser usado como instrumento de crime sivamente daquela, porque no direito penal nao há compensaçao ~~ cul-
doloso, ou seja, para intencionalmente danificar, ferir ou matar, Nestes pas, Se o motorista também agiu com imprudência, sua~esponsabllrdade
p n I vld nt . Ninguém Ignora, por oxemplo, que muitos condutores dos aceitaram a prova de percorrer 3 _000 km, com observadores ao lado,
d v Iculos pensam, que o pedestre perdeu o direito à vida, quando te- munidos os veiculos de duplo controle. No fim de 45 horas de volante
nha a audácia de atravessar alguma rua com o sinal desfavorável. É dever contínuo encontravam-se num estado intermediário entre a vigilía e o
dos motoristas prever até certo ponto a imprudência dos pedestres; sono, adormecendo e acordando aos sobressaltos. Demonstravam todos
percepções imperfeitas e nenhum conseguiu parar no último instante a
b) A derrapagem. O asfalto estaria molhado pelas chuvas, principal- que poderiam resistir, dormindo de vez no volante. É o golpe traiçoeiro do
mente leves, ou o óleo comum das ruas de maior trânsito, ou o tráfego sono. Merecem condenação, portanto, os condutores de veiculos, que
sobre os trilhos. Não deve ser aceita a desculpa; o bom entendimento não tenham em vista esta comezinha prudência de parar aos primeiros
da jurisprudência, desde o velho frutuoso Aragão, há mais de 40' anos, sinais de sono ou fadiga. Agem levianamente na defesa da integridade
no seu clássico "Delitos do Automóvel", é o de que "a derrapagem não ffsica própria e alheia.
constitui caso fortuito, por que é previslvel". Realmente, qualquer moto-
rista sabe que o asfalto molhado pela chuva ou sujo de óleo é escorre- O local do acidente é de importância fundamental no esclareci-
gadio, como também o trafegar sobre os trilhos; deve, portanto, evitá-to mento das causas. Se houve mortos ou feridos ou se ocorrem simples
ou diminuir consideravelmente a velocidade, para não sofrerem desliza- danos materiais contra a Fazenda Pública ou mesmo particulares, se re-
mentos; querida a perícia, onde não seja muito intenso o tráfego, deve o detetive
ou qualquer outro policial fazer imediatamente a interdição do local.
c) O ofuscamento. É ainda freqüente alegação, pela farol alto de Ninguém deve alterá-Io, muito menos os interessados, salvo, é lógico,
veIculo em sentido oposto, Também não é imprevisivel. Quando diminui para socorrer os feridos.
a visibilidade a marcha também deve diminuir, tanto mais que todos sa-
bem que se reduz consideravelmente a segurança do tráfego noturno, No local serão encontrados, além das possiveis vitimas, um ou
mais veículos. que se chocaram. Estarão na chamada posição de repou-
mormente nas estradas. Técnicos já chegaram a calculá-to em um quinto
so, ou posição resultante. Mas duas outras posições anteriores são mais
da segurança das viagens diurnas;
importantes: a posição de marcha, que precedeu ao desastre e a posição
d) A falta súbita de freios. Em primeiro lugar, não basta a simples do choque. Estas duas posições é que virão definir as responsabilidades
invocação da desculpa. Deve ser comprovada pela defesa, que a alega. e serão obtidas pela reconstituição dos fatos.
Entretanto, mesmo que seja verdadeira, a violência do choque denuncia, às
Revela a posição do choque de dois ou mais veiculos os frag-
vezes, a velocidade inadequada do veiculo. É mau hábito de motoristas,
mentos de vidro, da pintura, lama seca da parte inferior dos carros, man-
principalmente os profissionais de coletivos, darem freqüentes freadas,
chas de óleo, gotas de sangue, etc. Estes são os vestigios no solo.
por verdadeiro sadismo, à retaguarda de veiculos menores, cuja veloci-
Convém, todavia, sempre observar um pouco para trás, no sentido oposto
dade desabrida querem impor. Não mantêm ainda a distância necessária. ao do movimento do veículo, porque os fragmentos apontados podem ter
É lógico que se freios falharem devem assim mesmo responder pelas con- sido projeta dos a alguma distância pela velocidade do carro e levados
seqüências. Velha também já é a advertência do citado Frutuoso de Ara- por algum tempo, sobre o "capot" ou qualquer outro lugar da carroceria.
gão, de que os freios não são os únicos meios de que dispõe o motorista Mas não basta a fixação do ponto do choque; também importa a maneira
para diminuir ou anular a velocidade. Acrescentava ainda que todos os do choque, isto é, fíxar os pontos dos veiculos que se chocaram. Tome-
bons mecânicos ou condutores de veiculos sabem, perfeitamente, que não -se ar um principio por base - a cada mossa em um carro deve corres-
podem contar com os freios para uma parada súbita, imediata, se previa- ponder um dano ou marca no outro veiculo, ou em algum lugar resis-
mente não tiverem aquela cautela, ainda que à aproximação de lugares tente do ambiente, parede, muro, poste, árvore, etc., ou mesmo o corpo
de vítimas. Mas esteja-se atento com os danos preexistentes.
de parada obrigatória, como cancelas, sinais, etc., devem ir diminuindo
de antemão a velocidade; A posição de marcha é a outra grande investigação pericial. Já
e) Sono e fadiga. A culpa aqui se revela pelo fato de mesmo assim neste caso não há os vestlgios de fragmentos precipitados, supra-referi-
dos. A base das indagações são os sinais sobre a pista de _ rolamen-
insistir o motorista em manter-se no volante. As vezes chega a sou er
tos, in'CIícios tamb~m de gra,lde valor na fixação do ponto de choque.
alucinações semelhantes às dos doentes mentais, isto é, ver ou ouvir o
que não existe. Michel Roche, bom técnico na prevenção de acidentes Os sinais no piso da estrada são os sínais provocados pelos
rodoviários, cita o caso de um industrial francês, responsável pelo aci- pneus deixados no rodar comum, ou pela ação leve dos freios, ou a
dente em que matou a esposa e feriu uma filha, falava sempre numa ca- ação dos freios a ponto de paralisar as rodas, a derrapagem e, enfim,
mioneta vermelha, que o teria ultrapassado indevidamente, o que ninguém as marcaduras de apoio. A marca de pneus em percurso normal, em
viu. O sono ainda pode dar falsas impressões do raio das curvas das pista asfaltada, só ocorre quando esta esteja recoberta de um pouco de
estradas e ainda de estas se afinarem em certos pontos, não permitindo a . lama ou outra qualquer substância de semelhante consistência. A mar-
passagem. Em 1956, na Alemanha, vários motoristas de caminhões pesa- ca pelos freios agindo levemente, fortemente ou chegando a paralisar
a roda na sua rotação, é facilmente visível, indo a ponto de corroer o
asfalto -. .os sinais de derrapagem, além do ziguezaguear, não são mui-
to acentuados, pela ação pouco eficaz dos freios. Mas as marcas são
mais largas, porque as rodas se arrastam no solo obliquamente. Enfim
as marcas de apoio não são duplas e paralelas como as comuns. So-
mente as causam as rodas externas dos veículos nas manobras em cur-
va e só nestas manobras, em conseqüência da velocidade inadequada.
FIG. 11 - A - Marcas da ação violenta dos freios.
Força o peso do carro sobre as duas rodas externas pela força centrífuga.
B - Dano pelo impacto.
Outros sinais oferecem interesse na pesquisa do ponto de cho- C - Arrastamento do auto de passeio.
que, porque indicam o trajeto dos veículos deste -ponto para o final de V - (Velocidade do ônibus na posição de marcha) = A (perda Ini-
repouso. São as arranhaduras de corpos metálicos, do carro já danifica- cial da velocidade pela ação dOI freios) + B (violência do Im-
pacto) + C (velocidade perdida no arrastamento).
do e ainda vestfgios da projeção de corpos pesados, inclusive do corpo
humano. Os testes podem indicar, na falta de outros esclarecimentos, a
direção de marcha de algum motociclista vitimado. Também as teste- A apuração pericial da velocidade é de acentuada importância,
munhas podem ajudar nas indagações de choque e de marcha. seja a do momento do choque, seja a da posição de ,:"archa, isto .é, do
momento em que os veículos entraram na fase do perigo. A velocidade
de marcha é igual à velocidade de choque mais a velocidade perdida
pela ação dos freios. Nisto é fundamental o exame das marcas dos pneus
no solo. Também expressivo na apuração da velocidade de choque é a
verificação do arrastamento dos veículos, após a batida (vide fig. 11).
Enfim, ninguém deve esquecer que dois veículos em sentido oposto,
quando se chocam, a velocidade total do impacto é a soma daquela em
que corriam. Se um bate na traseira do outro, no mesmo sentido, a ve-
locidade do impacto é a diferença. Se os dois carros iam, um a 60 km
----------~~~---~--
o o~ •• i.~~-----
<o~('o"ooo
FIG. 12 - 1 - Barra quebrada em dois lempos. 2 - Corte da fratura após
o choque (N - rotura nova; V - rotura velha). 3 - Mesmo corte
da fratura depois de algum tempo (V - superfície envelheclda uni-
o I formemente) - Bom desenho do técnico italiano A. Batinl.
74
contro de linhas papilares, que formam um figura parecida com a letra Como reveladores dessas impressões latentes. usam-se. o nitrato
grega chamada del~a. Quando não há nenhum delta, classificamos a im- rata vapores de iodo, como também substâncias pulverizadas,. a
pressão, se tratar-se de polegar, pela letra A; sendo outro qualquer dedo de f~a c~rbonato de chumbo e outros reveladores, sobre o que nos dls-
pelo algarismo 1; havendo um delta do lado direito do observador, aco- gr~~artos de maiores comentários, que escaparIa"'! ao caráter elemen-
t~mos no caso de ser dedo polegar a letra I e sendo outro dedo o alga- per deste trabalho. As impressões, mormente em objetos q~e não pode~
nsmo 2; se o delta for do lado esquerdo usa-se E ou 3, conforme se tra- ta r transportados, devem ser fotografadas no local. Os ~bJetos portávels
te de pOlegar ou não; enfim, se houver dois deltas, um de cada lado, as ~:vem ser conduzidos com atenção, como se vê nas flgs. 17, 18 e 19.
convenções V ou 4. A cada um dos quatro tipos de impressão acima Vale acentuar que nos locais de crime dificilmente se encontram
referidos dá-se o nome de arco, presilha interna, presilha externa e ver-
. essões de todos os dedos de alguma das mãos. ~e~,!,o rara é a
ticilo (vide figo 16). As impressões dos dez dedos constituem a ficha ~mp~essão completa de algum dedo. Surge ai a tarefa InicIal ~e rec~-
datiloscópica. Por exemplo:
I~~cimento de que dedo tenha deixado o vestlgio e de que mao, a ?I-
Série V. 1333 n íta ou a esquerda? O dedo polegar é destacável não s6 pela maior
Seção I. 2222 t
~elrg ura como também pelo seu centro, mais deslocado para baixo. Há
bé~ outras caracterlsticas nem sempre decisivas em. face da preca-
rf~ade das impressões, para a facilitação do reconheclm,?nto dos ou-
Série é a indicação dos dedos da mão direita; Seção os da ros dedos. Tudo isso é muito importante nas. comparaçoes e buscas
esquerda. A impressão do polegar da mão direita dá-se o nome de fun- tosteriores. As comparações dão-se entre as Impressões achadas no
damental. É a impressão constante das carteiras e cartões de identidade.
•
A Fotografia do Invislvel, estampa um clichê revelador de manchas de Excederia os limites elementares deste trabalho o estudo dos di-
sangue ainda encontradas num lenço lavado a sabão, não perceptlveis :".~.n
•••
s métodos seguidos para as indagações acima. Basta ao detetive
a olho nu. .
que a serologia está habilitada a fazê-Io. Teceremos, todavia, li-
.. O reconhecimento das manchas de sangue não é simples, quan- comentários sobre estas técnicas. Segundo Cuthbert, autorizado
do perdem a coloração vermelho-escura corriqueira. A cor sofre influ- . da Scotland Yard, constituem provavelmente o maior passo nes-
ência da ação do tempo, à temperatura ambiente e a natureza da subs- últimos trinta anos no campo da investigação científica do crime.
tância sobre que assente. Em fundo escuro são quase lnvíslveís. Ainda
O ponto de partida para os progressos modernos foi a descoberta
absorvem a tinta das paredes ou de qualquer outro suporte. Há outras
1895, por Bordet, de que o soro de sangue de um animal tem a pro-
manchas invislveis à luz natural, mas notadas à luz artificial, ou somen-
edade de aglutinar os glóbulos vermelhos do sangue de qualquer ou-
te pelos raios ultravioletas. Convém ao detetive ser portador, pelo me-
nos, de um "flash-light". . animal de espécie diferente. Seis anos depois, era Landsteiner quem
que o soro sangülneo de certas pessoas não só aglutina
Manchas também existem, que se confundem com as de sangue.
lóbulos vermelhos dos animais, como também os de outras pessoas.
As mais c?muns são de tintas, suco de frutas, ferrugem, vinho, excre ..
fenômeno recebeu o nome de isoaglutinaçio. Não tardaria muito
mento de Insetos e até salpicos de lama. Tudo indica, portanto, a ne-
rtp.~cc)be,rta de que os seres humanos pertencem aos quatro clássicos
cessidade da presença de pessoa com capacidade de realmente reco-
pos sangülneos seguintes: A, 8, AB e O. Há ainda subtipos, além
nhecer, na cena do crime, quais as manchas que de fato são de sangue. outros elementos caracterlsticos.
Mas as conclusões definitivas terão que ser mais tarde nos laborató-
rios, onde serão entregues as peças de pequeno porte, ou as raspaduras Com as noções acima, fácil será concluir o valor destas desce-
dos Suportes de maior tamanho. no campo da investigação criminal. Também no direito civil _
_ O perito de local não pode deixar de considerar a forma, disposi- de passagem, na questão da investigação da paternidade. Veri-
~ao e colocação das manchas. Podem autorizar importantes conclusões, que as caracterlsticas sangülneas se transmitem de pais para f~-
Já.o lembrava o velho Hans Gross. Quando o sangue goteja de um conhecendo-se os fatores sangülneos da mãe e de suposto pai.
fenmento em pessoa, que permaneça em repouso, o sangue caldo num poce-se. de antemão, saber as combinações posslveis a se encontrarem
plano horizontal toma a forma de clrculos e se a altura for apreciável filhos. Por outro lado também, se logra excluir de modo absoluto
serão notados uns sal picos em torno dos clrculos. Se o corpo de onde éxistência de determinadas outras. Por.assim ser, vemos que a prova
pinga o sangue está em movimento, as manchas tomam efeito alongado, Inea se- não é suficiente para assegurar que determinada pessoa
tanto mais pronunciado quanto maior for o movimento, assumindo o filho de outra, porque muita gente existe do mesmo grupo sangülneo
efeito de lágrimas, sendo que a parte mais fina indica o sentido do mo- ser parente, poderá, todavia, com a maior segurança negar a pa-
vimento. A figura n.O 21 dá uma idéia do que acabamos de dizer. dade de que se tenha desconfiado.
,
vezes da maior importância saber-se de que parte do corpo provém
examinado. Assim, por exemplo, o sangue menstrual no exa-
••
crC)SCODICO revelará células epiteliais provenientes do aparelho ge·
Assim também é comum o achado de esperma em hemorragias de
inamentos e pelos do púbis ou ânus nas manchas de sanque ~os
nU'lr",t1n", ao pudor e pederastia, além de reslduos d~ maté!,as tecais ..
quase todos esses casos também oferece boa orientação da P()SI-
das manchas, quer no c~rpo humano quer em peças de vestuário
instrumentos utlllzados.
FIG. 21 - A, B • C - Golae ele •••• IIU. ~[d,e .obre pl,no horizontal, d. ponto lm6v,1
, 8 em, 40 em • 1 m 15 ele ,rtu,., reapec:t1v'mente; D _ Gota de "nllu, Todas as pesquisas citadas são de rotina de todas as Policias
~Id. de ponto .m movimento mala r6pldo.
adiantadas. Os exemplos seriam numeroslssimos, se quisés-
Quando estudamos a prova pericial já fizemos menção a dois
A ciência já hoje permite se façam os peritos os seguintes quesitos: [udlclárlos europeus da maior repercussão, o de Pierre Jaccoud
I - Trata-se de mancha de sangue? de Jean Riga.
1/ - Em caso afirmativo, sangue humano ou de que animal? Outras manchas ainda oferecem relevante interesse. Assim as
1/1 - Se se trata de sangue humano, a que grupo pertence? E se- esperma, cujo reconhecimento nas cenas de crime é, às vezes, mais
rá posslvel reconhecer de que parte do corpo provém o que as de sangue. A atenção do pesquisador deve dirigir-se em
sangue? lar para as roupas de cama, tapetes, cortinas, peças Intimas da
on
•
vitima e o próprio corpo desta, os pelos do púbis, a região anal, coxas PELOS E CABELOS
e nádegas. O número de manchas e sua posição, inclusive de umas em
relação. às outras são bem expressivas na apuração da resistência ofe- Outro aspecto relevante da investigação criminal é a pesquisa
recida pela vftima, muitas vezes condição para a caracterização do crime.
atenta dos pelos e cabelos, mormente efT!casos de homicldios e delitos
As manchas de esperma variam de aspecto, segundo a natureza sexuais. Comumente são encontrados nos locais de crime, no solo, co-
da substância em que se achem. Em panos tornam-se espessas, ligei- lados aos instrumentos de crime, entre os dedos da vftima ou em suas
ramente amareladas e de bordos irregulares, formando o que costumam vestes, nos pentes, escovas e camas. Sob as unhas, inclusive do acusa-
chamar cartas geográficas. Sobre objetos lisos e que não se deixam do, no caso principalmente de atentados sexuais, em que também as
facilmente embeber, apresentam-se com o aspecto de tênue pelfcula bri- partes genitais devem ser examinadas cuidadosamente por um médico.
lhante, parecida com o rasto de caracol ou lesma. Têm cheirocaracte-
rístico assemelhado ao de água sanitária. Os técnicos modernos res- A identificação desses vesUgios é preciosa no esclarecimento dos
saltam a importância do exame do próprio esperma na busca dos ele- fatos. A delicadeza das indagações escapa à tarefa dos detetives, mas
mentos agulutinógenos, que são do mesmo tipo do encontrado no san- devem estes saber o que a ciência é capaz de apurar. Muitas vezes ca-
gue do homem de que provém. Assim sendo, se não é possível garan- be ao detetive o recolhimento desses pelos, nas cenas de crime, onde
tir que o esperma seja de' determinado suspeito, examinando-Ihe o san- não compareçam os peritos. Reconhecê-Ios já não é tão fácil, pela se-
gue em comparação com o esperma da mancha, será fácil chegar-se a melhança às vezes com fibras de lã, seda, algodão, linho e até as pernas
afirmativa oposta, o que já é muito. Talvez fosse desnecessário lembrar de insetos. Um simples microscópio dissipará logo as dúvidas. Os pe-
que o esperma é Ifquido produzido apenas pelos órgãos genitais de ani- los devemser recolhidos em papel branco e limpo ou ainda em provetas,
mais machos. Mas é que há uns bons anos passados houve um Dele- devendo se resguardar também, cuidadosamente, a substância a que es-
gado da então Capital do pafs que, remetendo dados suspeitos ao Ga- teja aderente, mais comuns sangue e esperma. Pelos de comparação de-
binete de Exames Periciais, indagava s,. as manchas eram de esperma, vem ser recolhidos dos cadáveres, por médicos legistas e de várias par-
e em caso afirmativo, poderiam os peritos responder se masculino ou tes do corpo, nos casos em que as circunstâncias o recomendem.
feminino! Mais necessário será lembrar que se a presença de esperma- Os pelos e cabelos vistos em apreciável aumento têm o aspecto
tozóides numa mancha prova ser ela de esperma, o oposto nem sempre semelhanteao de um caule ou um lápis. Constam de três partes diferentes,
acontece. Isto é, há casos de' azoospermia, embora raros; machos que uma camada externa, denominada cutfcula, outra camada mediana, isto
expelem esperma sem nenhum espermatozóide. é, o córtex e afinal a medula. A natureza especial destas três partes é
As manchas de mecônlco constituem um indfcio de infanticldio ou que permite distinguir o pelo humano do pelo animal. Convém lembrar
de outro crime quando esteja desaparecido o recém-nascido. O rnecô- que o pelo dos animais domésticos é.mais diffcil de diferençar do pelo
nio, vulgarmente denominado ferrado, é uma substância inodora expe- humano. Quanto ao aspecto externo os pelos constam de raiz ou bulbo.
lida pelo recém-nascido, em geral entre seis e doze horas depois do par- ponta e zona mediana. O bulbo oferece melhores informações sobre a ori-
to. As manchas variam um pouco de aspecto, pela ação do tempo, de gem do pelo.
brilhante e castanho-escuro, quando espessas e frescas a um tom mate Têm os técnicos chegado a observações preciosas na distinção
e de bordos escamados, quando secas. Outras manchas, de urina, sa- dos pelos e cabelos humanos, quanto ao sexo, a idade das pessoas e
liva podem trazer dados valiosos à investigação, inclusive a de substân- a~ partes do corpo de que provêm e até mesmo se o pelo pertence ou
cias alimentares. nao a determinado indivlduo. Esta última apuração é bem mais diffcil.
Mas insista-se, todas estas perfcias devem ser orientadas com a M_asressaltam Scderman e O'Connell que a semelhança verificada, se
maior probidade e .capacidade técnica, sob pena de conduzir o julgador nao dá a certeza da identificação, pode robustecer a segurança trazi-
a graves erros. Assim, por exemplo, no recente estrangulamento da es- da pelas provas de outra natureza. lembram então o caso de uma se-
tudante de medicina Nicole Arondel, em Nantes, os médicos-Iegistas afir- nhora, encontrada morta apertando em uma das mãos um punhado de
maram que havia ela comido pouco antes massas e saladas, verificando- cab~los cinzentos, que logo se apurou serem dela própria. Entretanto,
-se depois que sua refeição fora de "petits-fours" com pistache. A cin- havia entre os cabelos um fio escuro, da cor e outras caracterlstlcas do
cabelo do indivlduo suspeito. Esta e outras provas oferecem a certeza
cada compensou-se com o recolhimento no lavatório do andar do
prédio em que morava o acusado Patrick Allard, seu namorado e colega g~ que o acusado esteve no local do crime. Nessas indagações, é tam-
e.mde grande valor a verificação de anormalidades do pelo ou cabelo,
de Faculdade, de 13 gramas de terra da mesma composição da do lu-
gar onde fora enterrada a vítima. Esta e outras provas convincentes le- sejam enfermidades, parasitos ou substâncias nele passadas, cosméticos
e outras.
varam Patrick a confessar o crime, alegando motivos passlonals.
0'2
Tr~nscreveremos ~baixo algumas observações técnicas oferecidéls
pelos dois autores referidos e de relevante interesse prático: Acentuemos agora que são ainda os pelos da barba, segundo ob-
servações de Balthazard, um meio de apurar a data e hora aproximada
da morte, quando se conhec~ o momento em que ela foi fel!a. Já o dis-
Quanto à origem: semos noutro ponto deste livro. Sabendo-se que o crescimento é de
0021 mm por hora, salvo entre os adolescentes em que é menor, tudo
homem mulher s~ consegue com uma simples conta de dividir. Basta medir-se o com-
rimento da barba no cadáver, por meio de um compasso adequado.
Canal medular ~ambéril sabendo-se a hora precisa da morte não será diffcil apurar o
Tecido aéreo finamente granuloso. momento em que foi feita a barba, o que em geral oferece menor interesse.
Conteúdo aéreo de vesículas mais
Células modulares invisíveis sem ou menos volumosas. Enfim, convém desfazer-se a errônea crença popular de que a
dissociação prévia. Células' medulares bem aparentes. barba continue crescendo depois da morte. A ciência já há muito o des-
Valor do Indice medular inferior Valor do índice medular superior mentiu.
a 0,3. a 0,5 Em todos os ramos do saber humano, nunca faltam teóricos, que
Escamas delgadas, pouco salientes Escamas espessas, salientes, me-
e bem imbricadas. vivem no "mundo da lua" e perdem o contato com o chão. Assim é que
nos imbricadas. certos criminólogos sustentam a irresponsabilidade de todos os crimi-
Quanto ao sexo: nosos. Acham que todos eles são anormais ou vrtimas da sociedade, que
os gerou. Não percebem que o ser humano não é um joguete sujeito às me-
Os pelos não cortados de comprimento superior a 8 cm devem ser ras leis naturais. Qualquer homem influi no seu destino e pode, em regra,
cabelos femininos. escolher entre o bem e o mal, sejam quais forem as condições em que
O diâmetro médio é superior a 0,10 mm - deve viva. Mormente se se mantiver atento em evitar os primeiros deslizes.
Comprimento entre ser barba. Lembremos que tanto assim é que nem todos os favelados se transfor-
3 a 8 cm Pelos crespos de raiz nodosa - púbis de homem. mam em bandidos. Difere a sorte até entre irmãos, vivendo sob o mes-
Pelos crespos de raiz pequena - púbis de mulher. mo teto e em idênticas circunstâncias. .
Pelos lisos de espessura superior a 0,1 mm bigode. Acentue-se ainda que o direito penal, como qualquer outro ramo
Pelos lisos, inferior a 0,1 e cutfcula intacta. do direito, existe para servir à sociedade nas condições em que ela se
escroto.
encontra. A pena não pode deixar, assim, de ser um castigo, embora possa
Idem de cutfcula esfolada - grandes lábios.
e deva ter outros propósitos, como a reeducação e a recuperação dos
diâmetro superior criminosos, o que muitas vezes é inalcançável. E deve ser castigo, por-
Comprimento inferior extremidade forma 0,08 mm - cüio fe- que este é o único meio de intimidar os indivíduos de maus sentimentos,
a 3 cm fina arqueada minino; para evitar que pratiquem crimes. E assim é desde que o mundo é mun-
d i â m e t r o inferior do e desde que se ameaça a criança rebelde, no lar ou na escola - ficar
0,07 mm - cllio mas- privada de .alqurna distração ou retida um pouco depois das aulas. Por
culino; que há de ser diferente quando essa travessura se chame roubo, este-
forma sinuosa supercilio e pelos do lionato, estupro ou um bárbaro homicídio?
nariz.
Não deve a sociedade ficar desarmada de um meio poderoso de
Quanto à Idade: prevenção, que é a pena como castigo. Desde a multa até a pena de
morte. Está existe em países dos mais civilizados. Não é contra os prin-
Nas crianças os cabelos são os únicos pelos que nelas se en- clpios cristãos. S. Tomás de Aquino e Santo Agostinho a defenderam.
contram. O diâmetro médio dos cabelos e pigmentação deles é menor Vários Papas reconheceram-lha a legaiidade. Em brilhantes trabalhos es-
que nos adultos. A média dos diâmetros vem abaixo indlcada: critos e confért!ncias o têm demonstr ado os padres Emllio 3i1va e Le-
me Lopes. I: evidentemente absurda a afirmativa dos desprevenidos, com
Idade Diâmetro estatlsticas fantasiosas, de que' não seja a pena de morte intimidante,
12 dias 0,024 mm o que seria negar o instinto de conservação, presente até nos irracio-
6 meses 0,037 mm nais, quanto mais nos criminosos frios e calculistas, que são justamente
18 meses 0,038 mm o:, piores. Evidentemente, a pena de morte só deve ser imposta a ~an-
15 anos 0,053 mm dl~os rematados, já reincidentes e contra os quais as provas do crime
sejam absolutas, Estariam assim evitados os perigos de erros judiciários,
Adulto 0,08 mm
que também existem, aliás, para as outras penas. Não sei se não será
[ ..~..
•
Sem pretensão de fazer estudo ,;gcrosamente clentrfico multo me-
muito pior que morrer, expiar anos e anos 110 cárcere, e depois nL:e ompleto das doenças mentais, altnharemos abaixo algumas delas,
sucumbir, paqando -oor um crime que não se cometeu. No entanto, ilin- ~~: ~alor interesse possam oferecer à policia e ao direito penal.
guém de :O-om-senso pretende que sejam abotidas todas as penas. OU2,1-
to ao extromo sentimento de piedade que os criminosos costumam i, s-
plrar, parece-nos oportuno advertir que no 0 levemos tão longe a PO,I-
ídlotla, Imbecilidade e deblUade ma'dal.
to de ..squecerrnos que maior comiseração merecem as vítima" ('. so-
Resuitam tais ·.Ioenç",s de j:.:m:.das ou atrasos do desenvolvi-
bretudo, devemos pensar nas posslveis futuras vitimas de facínoras, que
insistimos e-n poupar. Lembro que está sendo julga::io na Bélq.ca o la- mento psfqu.co . Sào~ ccnseqüênclas, como asslnala Arrânio Pelx?to" de
drão-assass.no René Hebrant, livrado da morte pelo Rei, que' In':! comu- dist(trbios na svolução cerebral durante & concepção ou no~ primeiros
tou a pena, em ,944. Posto em liberdade em julho do ano passado, ôt{> anos de vida, acornpanhados de numerosas andc.",'l!la~ SOM~~C~S, O ,es-
janeiro do corrente ano matou, ainda para roubar. outras cinco r assoas tadu mais aC'3ntuado é a idiotia absoluta. r're omma nos I 10 as o IOS-
no mlnl-no . Mais vítimas por conta da bondade real. E também ne rJri- ,Tnt~ de conse-vação, enquanto o insti~!:o sexua. é l')o~pad: desenvol-
são não podem ser lmred.dos de praticar .irirres. RAcentemente na nos- vido. São dominados por um torpor tíslco ~ não têm/!d\ Intelectual.
sa Penitenciária um .:antenclado fraturou o crânio ,t~ outro só porque R 'gem diante de ligeirc~ estfmulos com violentos movimentos de c6-
desejava 'criar um caso" para a Adrnlnlstração . Não tinha nenhuma ri-
ea que, às vazes, são é.~é espontânuvs.
lora ':\ ver! 'é . j'ICO~, •.
~- ao ,'": a p aze s
valicade com o assassinado! de praticar crimes, que i!\c:jquem rac'oclnlo i6~ICO;, não r~ro sao ,leva-
dos a atentar contra os costumes, confia o patrimõnlo e L lncolumldade
F lógico que devem ser considerados irresponsáveis penais todos pública, notadamente pelo incêndio. ~.Jd9lT\ ter .aluclnações, nunca, po-
os doentes m'lr ••.ils que a0 tempo da infracão não tenham, absot-rtaman- "én, ilusões. A diferença entre aluc'nação E" h~~são é q,L-:'\ nssta, 'por
te, ~ai-lc:jade de entenderem a naturezu dos atos ,'riminosos que pa- def~ito da atc.ição, ou P&;<I predlspostçz;c (?
estadc de ânimo, o pacien-
.iquem. ou embora venbam, Ihes faltem de t000 s capacidaoe de auto- te torne o som ou a imagem de a;guma coisa pc: octra: é uma ~ercep-
determinação, de se controlarem, como se diz em linqnaqem usual. Ve- ção defeituosa, enquanto 8
atuclnação é a par~eoção S?':" 'lbJeto. É
mos logo, que não basta ser doente mental para ficar isento de punicào, toda ela fruto da lrnaqlnação, seja aluclnação Visual, auditiva ou qual-
tarr o ma.s que entre a norrnalld.ide, que é quase ideat, e alou .ura var- quer outra.
I ida ex'ste Lima grande t1istância a percorrer. E quando a canacidace
Como p~enbJa Lacassagne, {: caracterlstíco o rspecto do idiotà.
de entender ou de autodeterrntnação for apenas reduzida, faculta-se '10
iuiz diminuir a pena. É ao que se dá o nome de responsabilidade res- A testa é fugida, a boca aberta transbordando saliva. o riso 1~ldoso. e
trita, mas tecnicamente culpabilidade dirnlnutda . Dentre os criminosos freqüente. Casos há, todavia, 'Jm que, nem a face, nem o crânio apre-
anor mais, são mais freqüentes e periqosas as chamadas personalidades sentam deformidades,
pslcrpáticas e também outros doentes portadores de enfermidad .'5 mais Afrânio Peixoto mostra que, dt. ldlotia à debilidade, há inúmeros
graves, em estado inicial ou elo manifestações atenuadas. São, tonavia. tipos de passaqem , Lembra uma escala proposta p~r Meye,rson" segun-
ern regra, responsáveis do ponto-de-vc.a penal. do a qual :.J idiota atinge c nlvel r"lental de uma 'cnença ue dOIS ano,
Mesmo diante cios i+asponsáveís a sociedaoe não fica c'espro- (re.ações sociais pelo gesto}, imitação dos movimentos elemer.tares, ne-
••num trabalho intelectual; o lmt.ecll va: do. nlvel de dois (l sete anos
teqlda, porque a eler se aplicam as medidas de sr çurança , Nào são
(fala, come sozinho, varre arruma, é capez de f'gum trabalho mental)
penas, não têm v caráter de castigo; visam curar se possível e evitar 2
~ o débil alcrnça a inteligência dos sete a doze anos (pode escrever,
reincidência, indo ao extremo de impor a internação de doente por to.ta
pentear-se, plantar, colher, comparar, atividade pobre, ínca~az de abs-
a vida nos manicômios judiciários. Passaremos abaixo a estudar, em tração). Os débeis rner+als são egoístas, supersticiosos. nao raro pre-
forma sumária, as doenças que maior interesse otrrecern à orlrninotoqia tenslosos . Todos esses anormais pertencem à categoria denominada oli-
e av direito penal. 9vrrênicos.
Como acentua Altavilla, apoiando-so em Giacchettl, a di'crenç8 Epilepsia - Seg,mdo A Peixoto, é do snça menta' de f'm~o ,~~-
principal, para o nc 3D estudo, entre normais e doentes n~~ntaif' é que, ~,enerativo, revelado po : uma autc-lr-toxlcaçãc permanente e ey.clt~. ,,"-
enquanto aqueles dão às representações, criadas pela lmaqinac.ío. uni cade fácil dC1 centros corticais e medulares, que pro'l!c·/em. modlflc~-
valor puramente ideal, podenuo tão-só refletir-se no campo da ;Outo ou
dor sonhos, para os doentes a produção 'rnaqinativa é tomada C')'110 rdJ
ÇÕ"'d fundarnnntals de caráter e
descargas motores, r"nsorlal<i, ~slqUl-
cas ou viscei ais, oe acentuada violêuola (crises ou ataques epiléptl,cos).
lidaoc, fazendo ocrte ir.legral da perso.zitíoad« e da vida md.virua".
Durante esses acessos epilépticos, venílca-se ace.nuado 9nfraqueclm~n-
Nest"3 últimos, 0 delirio, a aiucinaçâo, 'I obsessão são t0pmse;- t:.;õPs
to da consclencla e, neste estado, () doente, automatlcamente. pratica
mentais interpretadas como se fizessem parte da vida exterior _ Ass!m
ação não raro de acentuada gravidade criminosa. Ao enfraqueclmentJ
o sentem os doentes mentais, que deven ser cons+terados irresponsa-
da ;onsciência 'se dá o n .rne de estado crepuscular. A Avoluç 30 desta
veis
terrrvel doença, provocando crises mais frequentes, causa nos enfe cos praticar as mais variadas espécies de crimes, por conta de
um r~~alxamento não s6. d.a i~t~ligência, como do senso de morali~~~s . As mulheres histéricas sobretudo mostram-se perigosas na si-
Como acentua Morei, a Irritabílldada e a cólera são traços salientes d . de atentados sexuais, o que preparam com astúcia e podem
caráter desses doentes. o conduzir a erros judiciários. As vezes fazem encenações de suiel-
escandalosos e podem acabar vitimas deles, perdendo o controle
Os epiléticos ofere~em. acentu!ldo Indice .de criminalidade,' nota-
.conseqüências_ Começam simulando e acabam suicidas mesmo.
damente quanto ~os homicldios. lesoes corporais, rebeliões, ráubos e
vaqabundaçern.Sao tremendamente perigosos, porque nos intervalos das
Esquizofrenia - I: caracterizada por estados de agitação, depres-
cnses, nao raro longos, ~presentam aparência regular e conseguem.
à~ vezes, desfruta.r n.a.soc.ledade lugares de relevo e prestlgio e levam "sãO,reações automáticas, que terminam por causar um relaxamento men-
Vida exemplar. Significa Isto qualquer atenuação de responsabilidad . tal: que conduz à demência _ Ataca indivlduos de inteligência normal e
penal. Foram ~pl~eticos Júlio César, Napoleão, M a o m é, Dostoievsky~ .até mesmo acima do comum. Oferece vários tipos.
Flaubert e o pnncrpe dos escritores brasileiros, Machado de Assis. Aprsenta-se freqüentemente na adolescência no tipo denominado
C:0nvémassi~alar que há epiléticos que não dão ataques com as . ti.~befrenia. Outras vezes na idade adulta. No inicio da doença, o paclen-
c~nhecldas c~nvulsoes; sofrem do denominado pequeno mal. Esta enfer- . te, às vezes logra sofrer as perturbações e as idéias delirantes _ Vai-se
midade é facilmente revelada pela prova médica denominada eletroen- tornando muitas vezes vadio, mau cumpridor dos deveres; mas, finalmen-
cefalograma -. Os crimes de epiléticos são caracterizados pela feroci- te, explosões posteriores podem arma-tos. conduzindo-os a vinganças
terrlveis. Supõem-se, reis, príncipes, profetas, enviados de Deus e re-
dade - Suspeite-se se":,pre dos homicldios com a repetição de gOlpes _
voltam-se porque tais méritos não são reconhecidos por terceiros, que
20, 30 e ~s vezes malO~número de facadas ou punhaladas _ Esclareça-
são por eles considerados como inimigos. I: o perigoso tipo denominado
-~e, todavia, que há muitos perversos plenamente responsáveis, que as- esquizofrenia paranólde ,
sim procedem.
Paranóia - Conceitua-a Afrânio Peixoto, como o estado mental
~~steria - 1:. explicada como uma doença que resulta de estados
de Indtvíduos originariamente desviados pela educação e pela cultura, os
de debilidade do sistema nervoso, caracterizado pela tendência à desa-
gregação ou dissociação dos elementos de slntese mental - vontade quais pelo desenvolvimento incontido da presunção.e arrogância tornam-
~ consciência - I: a definição de Najet, transcrita por A _ Peixoto _ Veri- -se altamente eqocêntricos. Assumem ares de iluminados e acabam ina-
fica-se u~a desprop~rçã<?acentuada entre o estimulo e a reação psíqui- daptados ao meio em que vivem e reagindo contra ele, julgando-se víti-
ca. Intervindo n?s histéricos grandemente a imaginação, as percepções mas. Chegam depois às alucinações e dellrios de caráter altamente pe-
se deformam. DIZ Altavilla que em conseqüência desta desproporção rigoso. São os dellrios de ciúme, com escândalos públicos e não raras
entre o estimulo e a reação, o histérico ao ouvir narrar ou ao ler a des- agressões até o homicldio, os dellrios eróticos de velhos, solteironas
crição de um acontecimento, pode exaltar-se como se tivesse estado pre- feias, que se tomam de amores por pessoas, que às vezes, nem as co-
sente ao seu desenrolar, como se fosse um dos participantes do dra- nhecem. Mas são capazes de intrigas, escândalos e queixas à Polícia ou
ma, e desse movimento emotivo pode derivar que o acontecimento se lhe à Justiça, inventando acusações que podem servir de pasto à má im-
fixe na memória como efetivamente vivido. Observa_ A _ Peixoto que tal prensa e aos esplrltos amantes de sensacionalismo. Ainda os delírios
doença, embora muito espalhada, não é tão freqüente como se divulga. de perseguição, reagindo a supostos inimigos, os dellrios querelantes,
Tem-se chamado até histeria às doenças mentais que os alienistas não
classificam noutros grupos. ' de indivlduos conhecidos em quase todos os Foros, onde sustentam ou
ensaiam ações judiciárias Iantásticas.
Os histéricos nem sempre têm a mesma aparência. Ao lado da
tão comum instabilidade destes doentes, encontra-se, também, noutros Psicose menlaco-depressíva - ~ uma doença que se manifesta
uma extraordinária 'imobilidade mental. Mas tanto nuns como noutros a por sintomas mórbidos de excitação e de depressão isolados, misturados,
fantasia sacrifica muito a credtbltldade de suas afirmativas _ Os histéri- ou alternados, com intensidade e duração variáveis. I: chamada também
cos, segundo Altavilla, pregam men iras inconscientes, ou conscientes e loucura circular. A fase maníaca é a da excitação, em que o doente se
outras que foram conscientes e se tornaram inconscientes. Acabam acre- mostra inquieto, gesticulante, v.erboso, irrequieto. Quando a sua exalta-
ditando nas mentiras que pregam! No caráter deles ressaltam tais ca- ção chega à fúria torna-se perigoso _ Pode também praticar, além de
racterlsticas: o egorsmo exaltado e a instabilidade afetiva. Estas defor- agressões, crimes de natureza sexual. Na fase oposta, a melancólica,
midades do sentimento os conduzem com facilidade ao testemunho fal- atinge um desânimo capaz de impedi-Io dos menores esforços. Mostra-
so, à calúnia e até a auto-acusação, apresentando-se como autores de -se moralmente deprimido, profundamente pessimista, cheio de remor-
crimes rumorosos e que permanecem misteriosos. Assim agem pelo de- sos até do que. nem chegou a fazer. Nesta fase é capaz de praticar deli-
sejo de notoriedade. E, como são facilmente sugestionáveis, podem os tos por confissão de crimes imaginários, outras vezes suicida-se e ain-
da nisto ~á o perigo de atentar. contra a vida de filhos e esposa, movido .' tais simuladores incapazes de atinar que as exagerações grotescas os
pelo sentimento mó~bido de piedade. denunciarão.
Além disso, não sabe o simulador, senão excepcionalmente, que
. ~8rsonalldad~s pslcopáUcas - Constituem, já disseram, a grande
há espécies de enfermidades que não se harmonizam com as diversas
faixa clnz~nta que fica entre as pessoas tidas como normais e os doen-
modalidades de delitos: Por exemplo, o melancólico pode ser levado ao
tes mentais. Foram chamados também fronteiriços semiloucos e loucos
homicídio, mas não por estímulos externos, ou arquitetando um plano
morais, isto é, ind!vfd~os capazes de entender o q~e fazem, possuidores
criminoso, porque a explosão desses doentes se dá por motivos todos
de ce~o grau de inteligência, mas embotados afetivamente; verdadeiros
íntimos, Conta-se o caso de um melancólico que era lixeiro, Certa vez,
a~orals a que o público de indivlduos é de diffcil conceituação psiquiá-
inopinadamente, abandonou a carroça, investiu contra um colega, des-
tríca , Oferece, todavia, a maior importância penal, porque deles saem : t;'!~\
ferindo-lhe um golpe mortal de navalha; em seguida, lavou a arma e na-
?S m~iores criminosos. Praticam delitos sexuais, contra o patrimônio ,.,..
'/
< •• turalmente voltou para a carroça como se nada tivesse ocorrido, Haverá
inclusive roubos, atentados contra a vida, incêndios e muitos outros. '
Q()
QUESTIONARIO
(Extraído do MANUAL DO DETETIVE)
'("f
:,:1 . . ,
\\ .
I ! \.
I' manual.do detetive
! 11 CRIMES E
. SEOUESTROS
...
,
o '•
...: '.
'" ~t
\ .. '
r ,
I~-""""'-'--'-'---~~-~-""~>
I '
<. I
.~. :1 >-_.