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aumento da produtividade agrícola. É de se notar que algumas dessas
descobertas ocorreram antes do 'lançamento da sexta e última edição
-\:- do Ensaio, em 1826, sem que Malthus se abalasse em modificar suas
I ~I o bom cristão condenado à total abstinência sexual, sempre que im-
possibilitado, por questões financeiras, de contrair matrlmônio.
-Se, em dado momento, houvesse alimento: em abundância, os
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conclusões. freios: ao crescimento da: população seriam afrouxados e o resultado
No tocante à população, a utilização de métodos anticoncepcio-
nais, que Malthus consideraria "vício", já consagrados por volta de
>. 1900, fez com que a população crescesse bem menos do que Malthus
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natural seria, mais cedo ou mais. tarde, a eliminação: do excedente pelo
"poder superior da população".
. Malthus pensava que, estando em equilíbrio.população e alimen-
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esperava. tação, o constante aumento Q~mQgr.áficio:·anteêipan~o-se ao aumento
Desccnsíderando o grave erro na observação das estatísticas, qual dõs-melos de subsistência, acabaria-por Provocar diminuição na remu-
seja a comparação de uma taxa de crescimento da população nos EUA liEl.rªção.dotrabalhador, .enquanto, pela escassez relafivados alirnentos..
com a do crescimento da produção de alimentos na Grã-Bretanha (que 1 subiriam os p_reço~ destes, No período de miséria que adviria dessa
Malthus não explicou convincentemente), é fácil avaliar o resultado ~ situação, a população seria desestimulada a crescer. Ao mesmo tempo,
da discrepância das duas taxas de acréscimo. Em exercício de fácil ij os baixos salários reais induziriam maior emprego na agricultura, com
resolução, verificaríamos que em um século a população estaria mul- o que-cresceria a oferta de produtos de subsistência; O estado de,miséria
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tiplicada por 16 (a evolução estaria ocorrendo em progressão geomé- seria.ientão, abrandado, e a população voltaria a crescer; e tudo se.
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. trica: 1:2:4:8:16:...), em relação ao número de habitantes do início do ~ , repetiria, Cabe então a observação de que ao próprio homem pobre'
período, enquanto a produção de alimentos seria apenas cinco vezes , .I cabea culpa de sua pobreza, E a sua: "natureza" que 0. impele a 'procriar l{
maior (1:2:3:4:5). Com isso, se,de início, havia alimento apenas sufi- -; ~ ! sempre acima do que seria recomendável para uma vida confortável
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ciente para alimentar toda a população, sem nenhum excedente, ao?" , para: si e para a sua família, i
fim do período apenas 5/16 da população encontraria alimentação.
Claro está que: Malthus não supunha ser possível à população
suportar,por tanto tempo, uma diminuição relativa dos alimentos de
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OS ECONOMISTAS 11 MAL'l'HUS
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cairia com o donativo. Em segundo lugar, ao receber o donati~~l ele o
gastaria na compra de mantimentos cuja produção não tinha iido au-
mentada. O resultado óbvio seria um aumento de preços que ~tingiria
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os homens exercerem aquela animada atividade em melhorar sua· con-
dição, que hoje forma a principal causa da prosperidade pübllca?"!
Adicionou que seria um pouco mais aceitável se os benefícios só
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toda a sociedade., :i:,; :1 fossem entregues após uma investigação para "estudar os argumentos
. Enfim, os ricos não poderiam fazer nada de concreto p~ta me- de cada indivíduo e para determinar se ele tinha ou não se dedicado
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. ;:?'lhorar a situação dos pobres. Somente estes, mais. uma vez p~demos 1.í ao extremo", mas "isto seria pouco mais que a repetição, em .larga
y .f inferir, poderiam agir em seu próprio beneficio (díminuindo ji ritmo · •.1
escala, das leis inglesas dospobres e seria totalmente destruidora dos
:,.- ~ e crescimento de seu número). Um pobre que sé casasse sem; estar ;I 'verdadeiros princípios de liberdade e igualdade".
(71 preparado para sustentar sua família poderia ser conside~ado ~i}imigo Considerava Malthus que os resultados não poderiam ser dife-
. de todos os trabalhadores. : ';;'~: rentes daqueles obtidos pelas "Leis dos Pobres" na Inglaterra e, pelos .~~'.
. Malthus confessava que se lhe fosse perguntado o que svgeriria mesmos motivos já expostos, opunha-se também à criação das "Caixas -,:
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para minorar e, possivelmente, eliminar a miséria, teria respondido: de Socorro e Poupança".'
'8.) como medida paliativa, a revogação completa de todas as íéis pá-
Em outro ponto, a argumentação de Condorcet não poderia, se-
roquiais de ajuda aos pobres, aumentando a liberdade de mé.r.hdo e guramente, coincidir com as opiniões de Malthus, Era a referente à
a mobilidade da mão-de-obra; b) a criação e estímulo à exploração de
possibilidade de um quadro de extrema miséria s6 se efetivar, se fosse
novas terras, maiores que os incentivos à indústria e ao cu),Jivo do
:1 o caso, em época extremamente distante no tempo. Malthus reage,
solo,' Ide preferência ao pastoreio. Esperava ele que essas medíâas se-
i 1i::) dizendo que salvo se ocorrer "alguma mudança radical na constituição
, 1.' riam capazes de aumentar o emprego e o produto, elevando 'funda o
física de nossa natureza, a proporção entre o incremento na população
"I preço do trabalho e a própria condição do trabalhador que, e.b~ão,já
l ill não contaria com os "incentivos à inércia" dados pelas "Leis dos ~Qbres".
, Uma outra medida que sugeriria seria a criação de albergues de
e o dos alimentos manter-se-à como semprefoi observado e se consti-
tuirá em causa da miséria periódica".
Ul condado "para os casos de 'extrema miséria", sustentados por impostos b) Críticas de Malthus a Godwin
l~! de todo O reino ... "A comida seria pouca e aqueles que fossem 2~pazes
seriam obrigados a trabalhar". . ;.f Foi o Inquiry de Godwin que motivou o Ensaio da População,
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como o próprio Malthus reconheceu. Àquele livro ele deu especial aten-
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:;:1 a) As críticas de Malthus a Condorcet ção, destinando grande espaço do Ensaio a críticas diretas ao pensa-
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mento do autor.
:] . O pensador francês Marie-J ean Nicholas Caritat, Marq~ês de
Condorcet (1743-1794), liberal, estava condenado à morte por iie aliar
De início, Malthus comenta o livro de Godwin, dizendo tratar-se
:f de "trabalho criativo e proveitoso". Reconhece o "espírito e energia" do
aos girondinos, durante a ditadura jacobina, que reinou na IFrança
. trabalho de Godwin, "a força e a precisão de algumas de suas argu-
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durante a época do terror, quando escreveu seu livro Esqui~~e d'un
-.Tcbleau Historique ties, Progres de L'Espirit Hurnain, em 17~4 (ano.
i mentações, o ardente tom. de seus pensamentos" e... "a sinceridade .
·i que dá um ar de verdade -ao todo", mas contesta: "ele não procedeu .
:1 !I em que se suicidou na prisão). Em seu livro, de deu a ro riedade :
I com a preocupação que a Filosofia' parece requerer". "Suas conclusões
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jl l2.riVada ue considerava estimulante estudo, à e uca ão :.' m 1-.
..YliliiaJ.idade....Achavaque a educação intelectual levaria à perfe~tl5íll- "
I dade humana e, daí, à modificação da ordem social, responsável pela'
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não são, freqüentemente, garantidas pelas' premissas. Ele falha algu-
mas vezes em remover objeções com as quais ele mesmo traz mais
adiante ... E suas conjecturas certamente excedem, de longe, a modéstia
miséria das massas populares. :~:i:,.
da natureza."
d!1 Condorcet ainda propôs a criação de "Caixas de Socorrd.;~ Pou-
pança", por meio das quais a pobreza deixaria de ser humiÜ3;imte e
Em um ponto ele concorda com Godwín e,aí, expõe, mais uma
1 corruptora; a sociedade passaria a ter por objeto e por efeito a felícídade vez limpidamente, seu posicionamentoideológico: "O .exercíeío ilimitado
i de todos os seus membros. .' '. . . :;, de julgamento privado é uma doutrina inexprímívelmente.grandiosa
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Quanto 'às "Caixas de Socorro", Malthus ponderou qu~}'se os
ociosos e negligentes são colocados no mesmo pé de igualdadelern re-
lação a seus créditos e ao sustento futuro de suas esposas e f~Ínílias,
e cativante e tem uma vasta superioridade sobre aqueles sistemas
~ 4 tua, p. 52.
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OS ECONOMISTAS
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. materiaís e a "poderosa lei da.autopreservação" se incumbirá de destruir
onde cada indivíduo é; de certo modo, um escravo do publico"." Era o
Malthus burguês.
o "belô tecido da imaginação". .
:,Enquanto a população vivia em abundância, não importava se
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GodWin pensava: "0 espírito de opressão, o espírito de servidão,
um v,i.#nho trabalhasse menos ou não, se possuísse maior quantidade II
o espírito de fraude, são as conseqüências imediatas da administração
estabelecida da propriedade. Elas são-igualmente hostis ao melhora-
de alimentos ou não. Um estaria desejando ajudar o outro. Mas, quando
cheg~~se a necessidade, tudo seria diferente. É provável que o número I
mento intelectual. Os outros vícios da inveja, malícia e vingança são daqti.ê1es que precisassem ser ajudados suplantasse cada vez mais o I
seus companheiros inseparáveis. Num estágio da sociedade onde os
homens são livres em meio à abundância, e onde todos dividam igual-
mente as dádivas da natureza, esses sentimentos acabariam inevita-
daqu~les que poderiam ajudar. Então, pata aumentara produção, po-
deri~:)er aventada a necessidade de rigorosa divisão da terra, sendo
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assegurada, com rigorosas sanções ~ talvez até a morte -, a completa I
velmente. O princípio mesquinho do egoísmo desapareceria ... Não sendo se~nça dos estoques de cada homem.
nenhum homem obrigado a guardar seu pequeno estoque de provisões <Os que obtivessem superávit não o cederiam sem alguma recom-
ou a prover com ansiedade e dor suas necessidades sem fim, cada um pens~ em troca.i Se eles trocassem esse superávit pelo trabalho de "
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perderia sua existência individual em intenção do bem geral. Nenhum alguém, já seria ,vantajoso para aquele que conseguiria, então, comer .~.
homem seria inimigo de seu vizinho, pois não teria mais objetos de algu~'a coisa. Assim, num período de 25 anos, "a violência, a opressão,
disputa e, em conseqüência, a fílantropía resumiria o império que a a fal~idade, a miséria, todos os vícios odiosos e .todas as formas de
razão lhe atribui. A mente seria libertada de sua perpétua ansiedade apurº~, que degradam e entristecem o presente estado da sociedade,
sobre o suporte corporal e livre para dedicar-se ao campo do pensa- parecem ter sido gerados pelas circunstâncias mais imperiosas, por
mento, que é inerente a ela"," leis r~#erentes à natureza do homem e absolutamente independentes
Godwin ainda argumentava que, como três quartas partes do de tMas as regulamentações humanas"." •
planeta ainda não haviam sido cultivadas àquela época, e como as já :;;1t1althus especula, então, que surgiriam regulamentações da pro-
utilizadas nas tarefas agrícolas seriam suscetíveis de incomensurável prie(f~de privada que não divergiriam muito daquelas conhecidas nos 1
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melhoramento, a terra seria capaz de produzir alimentos suficientes, esbi4'bS civilizados atuais e seriam "o melhor, embora inadequado, re- i
por muitosséculos, para os seres humanos. médiopara os males que estavam pressionando a sociedade't?
(_/ Malthus atacou frontalmente o pensamento de Godwin; em pri- ~;:~stabelecida - ou restabelecida - a divisão da propriedade, as 1:~
.. meiro lugar, por se recusar a admitir sequer a possibilidade de todos famí~(as que aumentassem o número de seus filhos, além do que seria ":i
Y os homens viverem em meio à abundância. Segundo ele, Godwin pintara recomendável, veriam alguns de seus membros à míngua de recursos,
,....um "quadro imaginário" e "uma teoria que admitirá aplicação possi- porqq,e não poderiam demandar, "por questão de.justiça", uma parte ~
velmente não poderá ser justa". Mesmo que fosse possível a eliminação do' superávit de outros. Na expressão de Malthus.iesses membros, "na
por completo de todas as causas da miséria e do vício e também viável grande loteria da vida, tiraram bilhete em branco".· .
a ocorrência, em dado momento, de todos os ·elementos do "quadro (Segundo Malthus, quem tivesse excedente, naturalmente e com ~~.
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lação - miséria, vício, pragas, guerras -, e o solo da Grã-Bretanha • propn:etários capazes de empregar futuramente maior número ·de em- -li
preg~aos. Quem não tivesse senão sua força de trabalho, a ofertaria .:;
seria incapaz de gerar alimentos adicionais em ritmo suficiente para
acompanhar o do aumento. populacional, .. . . . em b~scade alimento indispensável à vida. Surge aí a idéia do fundo
Admitindo-se possível que a produção agrícola dób'ré'em 25 anos de mâuutençêc do trabalhador, que séria a quantidade total de alimento
- tempo estimado para um aumento de 100% na população -, nesse poss@da pelos proprietários de terras, além do necessário para o seu
período nenhum problema mais sério ocorreria à população, mas, logo própri'o consumo.
a seguir, certamente o número de habitantes ultrapassaria a capacidade
iS!:> prosperidade ou a miséria para as camadas mais baixas da po-
pula~o dependeria, em última análise, do acréscimo ou decréscimo desse
do solo em alimentá-Ios todos. Em conseqüência, surgirão necessidades
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fundo. De acordo com as idéias malthusianas, se em dado peri'ódo de prover facilmente uma família numerosa"." Mais uma vez a história
tempo a população crescesse a uma taxa inferior à dos produtç.~ agrí- mostrou-se cruel com os que se atrevem a fazer previsões por um.período
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o que a população deveria se elevar, anulando, assim, o maior berb'iestar dade e ao princípio evidentemente estreito do egoísmo que devemos
. ~.~ : derivado do aumento do fundo. Obviamente, se a população cr~~cesse todas as mais nobres realizações do gênio humano, todas as mais' finas
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mais que os alimentos, haveria miséria e menor preço do traqª,lho. e delicadas emoções da alma, e tudo, enfim, que distingue o estado
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Mas não termina aí a série de objeções de Malthus a Giidwin.
Este pensador achava que se deixasse de dar atenção ao "cométSio 'dos
sexos", se esse comércio fosse livre, ele fatalmente desapareceria. À
civilizado do selvagem ..."16
Embora Malthus considerasse necessária a existência "de uma
classe de proprietários e de uma classe de trabalhadores", sentia que
':1 . contestação desse pensamento, Malthus dedicou o capítulo XI;qo En- não poderia inferir daí, de nenhum modo, "que o estado atual de de-
:1;'. saio. Nesse capítulo, Malthus lança-se ao ataque dos abusos d9:s pra- sigualdade da propriedade é necessário e útil à sociedade. Pelo con- .
:::j \ \ zeres.seXUais. Diz: "o mais saudável e revigorante dos alimentos,;.'.;COinidO trário, deve ser considerado um mal ... mas se um Governo poderia,
,i , com apetite irrestrito, produz fraqueza ao invés de força".lo ""; com vantagens para a sociedade, interferir ativamente para reprimir
•; , Defende ele a idéia de que "a superioridade dos prazeres inte- a desigualdade de fortunas, é questão duvidosa ..."17 .
i~:, lectuais sobre os sensuais consiste mais no maior tempo que :~uram, Malthus faz, ainda, interessante defesa do sistema de trocas; "...0
homem que faz o trabalho de alguns dias tem tanta obrigação perante
ti . na sua maior extensão, na sua menor sujeição à saciedade, do que em
iil' 'serem mais reais ou essencials".'! ;~: mim quanto eu perante ele ... nós fazemos uma troca amigável. O homem
pobre segue ereto, com independência consciente, e a mente de seu
iii Godwín, na opinião de Malthus,idealiza o homem corri,H:m,ao
:d pensar nele como um ser meramente intelectual. Isso porque, da:.jp.esma empregador não é visitada pelo sentimento do poder")8 .
m forma que os atos voluntários são determinados pela mente, ~.s
sen- Mais adiante: "mesmo os maiores inimigos do. comércio e das
manufaturas, e eu não me considero muito amigo deles, devem .reco-
il! ; sações corpõreas afetam poderosamente as decisões que pro~êm da
;::: mente. Assim é que "os apelos da fome,o amor à bebida, o d~g.rjo de nhecer que quando eles foram introduzidos na Inglaterra, a liberdade
veio em seu rastro" .19 .
W. possuir uma bela mulher, forçarão os homens a ações"." Yi
~;I: ,Malthus entendia que "em algum tempo futuro, talvez::r~ real
c) Mclthus e Adam Smith
::I! saciedade dos prazeres .sensuais, ou algumas im~ressões inci:~ie~tais
;;t , 'que despertem as energias da mente, possam efetivar, em umjmês, o Adam Smith, em seu famoso livro An Inquiry into the Nature
'J : que as mais pacientes e hábeis postulações podem ser incap~Jes de and Cci:uses"õf1h-ewealth of Nations (1776), definiu "ri9E..e~e..uma--
'.!; efetuar em quarenta anos".13 i:\ na5-ão" como sendo a rodu ão u de te e ihalho
'.~~ Admitia Malthus que "as classes mais baixas do povo na Êuropa '- "PõncÍérc:u-Malthus que se tomarmos como correta a definição,
:1: podem, em algum período futuro, ser muito melhor instruídasdo que poderemos verificar que de um período de tempo para outro pode ter
\' elas são no presente; podem empregar o pouco tempo livre de'modo havido aumento de riqueza da nação sem que sua classe de trabalha-
:~ muito melhor do que em cervejarias; podem viver, sob as melhores e dores obtivesse qualquer ganho real. Isso porque a riqueza pode ter-se
:ir mais eqüitativas leis até então elaboradas em qualquer pafs,'i~alvez; originado apenas da produção de bens manufaturados. Claro está que
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Ir e posso mesmo conceber possível, embora não provável,14 que fossam os trabalhadores, em posse da renda gerada .pela locação da sua força
'f • ter maior lazer; mas não é da natureza das coisas que eles Jiôssam de trabalho às indústrias rnanufatureiras, poderiam dirigir-se ao mer-
~~ vir a ser .premiados com tanto dinheiro ou subsistênciaque pê~erão, cado e comprar bens de subsistência. Lembremo-nos que são os exce-
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dentes agrícolas, na visão rnalthusíana, que formam o fundo de ma-
todos.• 1es , casar cedo, na plena confiança de que ''''0 ,"p.a. de
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c 10 Ibid., p. 75.
11 lbid., p. 75.
12 tu«. p. 88.
13 Ibiâ., p. 92.
14 . Os grifos são do apresentador.
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lbid., p. 97 .
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17 Ibid., p, 101.
18 Ibid., p. 102.
19 lbid., p. 103.
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nutenção dos ·trabalhadores e que dão a medida do benefício concreto oque~-Aonsome e para repor os estoques do seu patrão; estaria, assim,
paraaclasseobreira.Assim, quando os trabalhadores fossem ao mer- aumentando-a riqueza geral. Outro poderia estar empregado na lavoura
cado para compraralimentos, encontrariam o mesmo estoque. A pressão (fonte-de toda a riqueza para esses' economistas franceses) e produzir
deummaiorpoderde compra sobre uma oferta fixa desses bens eli- metad~ do necessário para alimentar a si próprio. ;E~se estaria sendo
minaria, na realidade, qualquer possibilidade de ganho real para os improdutivo,
:Em defesa, ainda, de. sua proposição de incentivos à agricultura,
trabalhadores.
Coerente com seu ponto de vista, Malthus propunha que o Governo disse 'Malthus: "O encorajamento que tem sido dado à indústria das' p.;
deveria incentivar a agricultura, mais do que a indústria. Assim, haveria cidades e o conseqüente preço mais alto que é pago ao trabalhador 1',1
maior produção agrícola, maior emprego no setor, maior remuneração ao das mânufaturas em relação ao pago àqueles 'empregados na lavoura '1
trabalhador e, com a diminuição nos preços dos produtos agrícolas, maior são provavelmente as razões pelas quais tanto solo europeu permanece J
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ganho real para todos. Os trabalhadores viveriam melhor, pelo menos até íncultívado"."
que a população crescesse. De qualquer forma, se a riqueza smithiana '~,
da nação ocorresse com algum aumento na produção agrícola, haveria, e) M~~thus e os "desígnios da providência" -I
de início, algum ganho real para os trabalhadores. ~os dois últimos c~pítulos do Ensaio temos a 'oportunidade de
Malthus acrescentava que a troca de emprego, da agricultura encontrar, novamente, um Malthus cuja formação religiosa é um forte
para a indústria, representava dano para a saúde do empregado, além )'. ampafó ao seu posicionamento ideológico. :1
da grande incerteza do trabalho manufatureiro, que aumenta "com o )~:.partir dó dito, ainda hoje, em geral, aceito como verdade, de I
caprichoso gosto do homem", com a guerra e outras causas. que "a 'necessidade é a mãe da invenção", Malthus tenta convencer o ,'i
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Malthus admitia a possibilidade de o aumento nos preços dos leitor :!Çleque as vicissitudes por que passam os menos favorecidos :!
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produtos agrícolas induzir investimentos no setor, com o que aumen- fcram-colocadas em seus caminhos pelo Criador que,com sua infinita ;
taria a oferta de alimentos. Dizia, porém, que a variação nesse sentido ,~ bondade, propiciava a necessária oportunidade para a evolução física
seria muito lenta. Além disso, o aumento dos salários teria precedido e mofilJ. " ' • :1;:
o dos preços dos produtos agrícolas, reduzindo os "bons efeitos" para ~ue' esse posicionamento de Malthus ainda encontra defensores
os investimentos. .;;
no mi,j'ndo de hoje parece não haver :dúvida. Ele constitui, porém, um
Admitiu ainda a possibilidade de, via importação, num país pe- dos alvos mais amplos aos ataques de seus opositores.
queno mas com grande Marinha, como a Holanda, que tinha, ainda,
grande capacidade de armazenamento, contornar o problema. Isso seria f) A írJportância do Ensaio Sobre a População '.
difícil, dados .os custos, para países maiores.
o Ensaio é um livro polêmico, com fortes cores emocionais -
d)Malthus'-e os "economistas franceses" algumas mal disfarçadas de teoria positiva - vigentes na época da ij
Primeira Revolução Industrial. Sua leitura, fácil pela simplicidade com ;i
Para os economistas franceses, tendo à frente François Quesnay, que éapresentado, é importantíssima para a compreensão das diver- i!
somente seria produtivo o trabalho aplicado à agricultura. "Eles dizem gência~' filosóficas e ideológicas ainda vigentes. •. .. .
que o trabalho empregado na terra é produtivo porque o produto, após O leitor é levado a uma época em que a aflítiva situação social
pagar totalmente 9 trabalhador e o fazendeiro, fornece uma clara renda dDPO~P comum despertava as. consciências de pensadores, desejosos .
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para o dono da terra..e que trabalho empregado em.uma.peça de de ap~ntar as causas dos males sociais e apontar soluções -nein
tecido rendado é improdutivo porque ele meramente repõe as provisões semP~!i factíveis. ; . . , .: " ,
que o trabalhador tinha consumido, assim como o estoque do seu em- lJ!scrito com indisfarçável pessimismo quanto às possibilidades ;j-
pregador, sem fornecer qualquer nítida renda, qualquer que ela seja" ... de f~gWdade ampla e geral para todos, o Ensaio' serviu de freio, ao
"Ele não terá adicionado nada ao produto bruto da terra: consumiu uma otimismo de muitos pensadores visionários. Por certo, seu amplo su-
porção desse produto bruto e deixou em troca um pedaço de tecido".20 cesso-deveu-se ao fato de apresentar de forma simples problemas da'
Malthus contesta esses economistas, dizendo que uma pessoa em- maicr-importância, tais como as causas da pobreza. .
pregada em manufatura pode produzir acima do necessário para cobrir Oom sua obra, Malthus tem influenciado muitas consciências até
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lectuais sobre os sensuais consiste mais no maior tempo que :~uram, Malthus faz, ainda, interessante defesa do sistema de trocas: "...0
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Godwin, na opinião de Malthus, idealiza o homem com~m, ao pobre segue ereto, com independência consciente, e a mente de seu
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forma que os atos voluntários são determinados pela mente, ~ª;S sen- Mais adiante: "mesmo os maiores inimigos do. comércio e das
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11 Ibid., p. 75. 16 p. 100.
12 tu»; p. 88. 17 lbid .• p. 101.
13 lbid., p. 92. 18 lbid., p. 102.
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r:i a influência recebida das idéias malthusianas. Alfred Russel \Vallace, exemplo, com a noção de medida de valor com base no trabalho, subs-
;':.;: outro grande naturalista, também orientou-se, em sua pesqu}~a, por tituída pela visão subjetiva do valor a partir da utilidade, o corpo de
algumas das idéias de Malthus. ' }\ teoria exposto naquela obra, e que compõe, juntamente com os escritos
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de Adam Smith, Ricardo e Stuart Mill, a estrutura do pensamento
4. CONCLUSÃO .1~:~. clássico, incorporou-se definitivamente à ciência da Economia. A análise
da produção e de seus custos, bem como o desenvolvimento da teoria
. Mais de um século e meio após a primeira apresent~~ão dos da distribuição, por exemplo, na forma pela qual são tratados nos mo- .
~1t . pontos de vista de Malthus a respeito do crescimento popul~i;ional e dernos textos de teoria econômica, ainda que incorporem inúmeros
da insuficiência de alimentos no mundo, o problema continua:~~ preo- aperfeiçoamentos às idéias de Malthus e seus companheiros, conser-
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cupar economistas e cientistas políticos do mundo atual. Hoje, por certo, vam, essencialmente, os mesmos fundamentos da construção científica
':::1:: 'ninguém defenderá a idéia das diferentes progressões máteiriáticas. empreendida pelos economistas clássicos.
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·Ii;) Conhecemos bem a distância entre as pessimistas previsões ifu.althu- . Ao acompanhar a controvérsia que se desenvolve ao longo dos
1 sianas e a experiência histórica dos povos de que se tem not~Çia. Principios de Economia Politica, o leitor viverá a discussão de questões
111 Mas, em muitos países do mundo, na Ásiá, na África e J.\mérica econômicas da mesma natureza daquelas que hoje preocupam os res-
:". ,~ Latina, o crescimento da população sempre preocupa, quand~':se tem ponsáveis pelo destino político das nações do nosso tempo, com dife-
"1":': ~ ';em conta a capacidade de geração de alimentos. Fundamentaríijse, as- renças apenas de grau. O debate lhe será altamente proveitoso, agu-
i:1t! sim, as preocupações com o controle de natalidade, que cheg~ a ser çando seu raciocínio e capacitando-o a uma melhor compreensão de
(li objeto de campanhas -: e ação mais concreta - dos governos g~ Índia situações-problema e a uma percepção mais ampla das alternativas
! e China, para citar exemplos. _ ri!: de solução. I
. Embora sem a dramaticidademalthusiana, um crescimeriF.*muito
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I acelerado da população pode trazer complicações sérias aos sl~temas
de transportes públicos, atendimento de saúde pública, eduéª-ção de
Emane Galvêas
massa, habitação popular, abastecimento, saneamento básico~~tc. Ernane Galvêas (Cachoeiro do Ita-
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".n'1, .1 Além disso, quanto maior a taxa de crescimento demp,gz.áfico, pemirim, ES, 1922) é Bacharel em Ciên-
cias e Letras, advogado e economista. Cur-
tanto mais rápida a transformação na composição' etária da POR,','.U, lação,
1! com a elevação da taxa de dependentes sobre a topulação ecq.nomica- sou o Centro de Estudos Monetários La-
1\ mente ativa. T tino-Americano (México), o Economícs Ins-
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. Também não podemos esquecer que quanto mais rapidamente titute, Wisconsin (EUA), diplomando-se
crescer a população, tanto maior sem o número de jovens dirigindo-se Master in Economics pela Universidade de
;! i anualmente ao mercado de trabalho. Cada tentativa frustrada é, em Yale, Connecticut. Consolidou sua forma-
i!;;Ii potencial, um risco de problemas sociais - insatisfações polít{~~s, cri- ção profissional no Banco do Brasil onde,
li I minalidade etc, Y
': Felizmente, o progresso médico.ique nos trouxe e aperfei~Ja cons-
durante 26 anos, exerceu vários cargos e
serviu na antiga Superintendência da
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I tan~mente os anticoncepcionais, e a transformação social quei)lá mui-
to, ~li.minou proibições com base em argumentos tipo "vicio" de N.!íU.thus,
Moeda e do Crédito, transformada depois
no Banco Central. Presidente do Banco
IJll] têm facilitado muito a tarefa de impedir o povoamento desáconselhável. Central em 1968174 e 1979/80, foi também
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r' .: Por outro lado, o extraordinário progresso técnico' ass9çiado à Diretor Financeiro da Aracruz Celulose e
Presidente do Instituto Brasileiro de Mer-
;/j'.{ produção, tanto de alimentos quanto de outros bens, permitiu que o
\i)\problema da escassez fosse sendo continuamen~e poster~a~o. A,~~sên?ia cado de Capitais (IBMRC). Em janeiro de
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!..i li }d.aquestão, contudo, perm~ece; a/Olp.e mundial constltulU-se~~a prm- 1980, deixou o Banco Central para subs-
l bpal preocupação das Naçoes Unidas. !': tituir Karlos Rischbieter no Ministério da
fi. \ : E quanto ao conteúdo dos Principios de Economia Poj(~ica de Fazenda.
[ Malthus? Embora algumas das construções teóricas encontradas em
I}f seu texto tenham sido abandonadas pelos marginalistas, sUffssores
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