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THOMAS ROBERT MALTHUS

PRINCÍPIOS DE ECONOMIA POLÍTICA

",' e Considerações Sobre sua


Aplicação Prática

ENSAIO SOBRE A POPULAçAo

Apresentação de Emane Galvêas


Traduções de Regia de Castro Andrade,
Dínah de Abreu Azevedo e Antonio Alves Cury
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1. QUEM FOI MALTHUS


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~ 'Í'homas Robert Malthus nasceu em 14 de fevereiro de 1766,no
Fundador condado de Surrey, Inglaterra, no seio de uma próspera família. Seu
pai.-Daníel Malthus, era adepto dos:ideais de Jean-Jacques Rousseau ~
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VICTOR CMTA I.
e amigo pessoal' dos pensadores David Hume e Godwin.
(1907 - 1991)
Aos dezoito anos de idade,em 1784, apõsreceber em casa uma r
ampla educação liberal, Malthus foi admitido no Colégio de Jesus, da I
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Universidade de Gambridge. Lá, estudou Matemática; Latim e Grego, , .:
ao mesmo tempo que recebia sua formação sacerdotal; Graduou-se-em I
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Editora Nova Cultural.,
uma divisão do Círculo do Livro Ltda.
178.8 e recebeu o Master of Arts Degree em 179L Em 1793 foi aceito
como membro pesquisador (fellow) da instituição e, em 1797, recebeu 1i
as ordens eclesiásticas, tornando-se sacerdote da Igreja Anglicana, fato
Copyright © desta edição 1996, Círculo do Livro Ltda. que influenciaria decisivamente sua obra, mormente o Ensaio Sobre i
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346 : llQ andar
CEP 01410-901 - São Paulo - SP
a População.
Malthus casou-se em 1804 e, em 1805, tornou-se professor de
História Moderna e Política Econômica no Colégio da Companhia das
Índias Orientais, em Harleybury, Hertfordshire. Provavelmente foi o
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Título original: Principles of Politicai Economy Considered: primeiro professor de Economia Política de que se tem noticia -pelo '"
. with a View to Their Practicai Aplication -
.., An Essay on the Principie of Population:
menos parece ter sido essa a primeira vez em que; uma disciplina \I
acadêmica recebeu tal denominação.
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Ao longo de sua vida, Malthus fundou ou foi aceito como membro j
Direitos exclusivos sobre a Apresentação de autoria de diversas sociedades culturais, tais como a Royal Society (1819),.0
de Emane Galvêas, Editora Nova cultural Ltda.çSão.Paulo. Politieal Economy Club (1821), que incluía nomes como o de Ricardo I
e' o de James Mill, a Royal Society of Literature (1824), a Acadéinie I
Direitos exclusivos sobre as traduções d~ste volume: Française desScíences Morales et Politiques (1833), a Real Academia í
Círculo do Livro Ltda.'· f
'de Berlim (1833) e a Statistical Society of London (1834), da qual foi I
Impressão e acabamento: Gráfica Círculo
um dos fundadores. Malthus faleceu no dia 23 de dezembro de 1834.
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2. A OBRA DE MALTHUS
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.. Malthua ficou famoso por seu Ensaio Sobre a População (1798)~ k \
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! ~. OS ECONOMISTAS MALTHUS
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j:' mas de grande importância foi, também, o Principies of Politibdl Eco- jOrnada de traba,lho - incluindo mulheres e crianças -:- p~ra até 18
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nomy Considered with a View to Their Practical Application, 1820a~ \~
horas; grande numero de desempregados; grande promiscuidade nas
(conhecido como Princípios de Economia Política), Neste livro, Ntalthus I moradias, cada vez mais densamente habitadas, o que facilitava enor-I)
antecipou, em mais de cento e dez anos, algumas das idéias ,,I.:1:J:ásicas memente o aparecimento de epidemias, como as de cólera etifo: miséria; .
publicadas por Keynes em sua Teoria Geral do Emprego, do 'Juro e morte em grande escala.' . \
. daJ4"oeda, de 1836. Propunha Malthus a realização de obras p~!:>licas, Como paliativo para os graves problemas sociais, o Parlamento
, entr~outras medidas de política econômica, para aumentar a "deínanda inglês aprovou as "Leis dos Pobres", que seriam postas em execução
efetiva" - expressão que cunhou e que mais tarde se constiigiu em pelos oficiais das par6qi.ilas" e'iieios' magistrados. Por essas leis, um
peça importante da argumentàção keynesiana. Como Keynes, Malthus pobre poderia ser enviado ª-,uma_'.',casa,.de"trabal4o."(workhous'e), onde
preocupou-se com o excedente da oferta sobre a demanda agregada, o receberia o indispensável para não morrer de fome. Era, também da
que levaria ao declínio das atividades econômicas. )': lei que nenhuma pessoa deveria ser admitida e.~~.cª~!i'~J~rª.de.
Outras obras suas foram publica das, sem, contudo, alcançarem ~1.la_p,aróq.uia.."
a importância das principais. Citam-se: Obseruations on the Effects of Entre os pensadores que apontaram possíveis causas para os
the Com Laias (Obseruações Sobre os Efeitos das Leis do Trigo;,:1814), males que tornavam dramática a situação dos trabalhadores, surgiu
An Inquiry into the Nature and Progress of Rent (Uma Inveetigaçõo William Godwin (1756-1836), que, em 1792, publicou o livro Inquiry
da Natureza e Progresso da Renda; 1815), The Measure ofValue Stated Concerning Political Justice. Godwin foi partidário do "anarquismo fi-
and Illustrated (A Medida de Valor Exposta e Ilustrada, 1823) e De- losófico" e acreditava que a prlncipalcausa de todos os problemas
finitions iri Politica'l Economy (Definições em Política Econômica) 1827). sociais residia na propriedade privada. Acreditava, ainda, ser possível",
ao homem evoluir até um estado de perfeição, quando os homens se', .
3. O ENSAIO SOBRE A POPULAÇÃO ~. :
convencessem de que o "sentido moral da vida" seria "o único que!'
importaria na organização da sociedade". Malthus dedicou grande es-
. Em 1798 foi publicada.ianonimamente, a primeira ediçãO'·de Ali paço do Ensaio da População, a combater as idéias de Godwin a respeito )
,: Essay on the Principie of Populatiori as it Affects the Future lmprope- da possibilidade de perfeição humana em vida.
ment ofSociety, with Remarks on the Speculation of Mr. Goduiin, Mr. ' Malthus, fatalista, considerava ser a pobreza o fim inevitável do
Condorcet, and Other Writers, ou o Ensaio Sobre a População,!ço-ino é homem, visto que a população, cresceria à taxa superior à da produção
. conhecido. :;', de meios de subsistência, Segundo ele, "nos Estados Unidos da América,
Na sua obra mais famosa; ~~~_-ª~I!l.Q!),SJ!:.~l!mp'}.dallLe,!.:!e~ell onde os meios de subsistência têm sido mais amplos, as maneiras do
E9!t~c.~0_n-ª'm.entgjd~.Q16gicp"
sua visãofi,losófica, .e.deixa:patent~ ...s.e1!.p-~1t povo mais puras e, conseqüentemente, menores os obstáculos aos ca-
~\, ,~~tn,ism9 ..g!l~~,p_Qssibilidade ..de.felicidade ..huma.!L&_em_yÜ;la'; samentos precoces do que em qualquer dos modernos Estados da Eu-
;7f ~. Para que melhor se entenda o Ensaio, devemos ter em mente o ropa, foi calculado que a população dobra em 25 anos".' ~í, ..M_a).t.h.u.~
; D'r,:;:):;' momento hist6rico em que foi escrito.lNa Inglaterra estavaem curso concluiu que a população, se não controlada, cresceria. em progressão.
;~ ' a Revolução Industrial, desde, aproximadamente, 1760, trazendo dra- ·~OÜ?-é..t.;jcª(raZãO
2 a cada 25 anos): 1:2:4:8:16:32: ... Enquanto isso, "a
.:~) máticas conseqüências para o sistema produthiA: e para as relações
; .:~~;,\ sociais na produção. Novos inventes eram constantemente empregados,
," tanto na indústria manufatureira quanto na agricultura] .;;"
No setor agrícola, que se mostrava incapaz de gerar 'alime,Atosem
abundância, a mecaniza~um
de trabalhad~
forte motivo adicio~ para' o êxodo
grandes cidades. A população, alijadadas ati-
vidades agrícolas, engrossava a corrente dos que não tinham mais nada
~
ll. produção de alimentos da Ilha ,(Grã-Bretanha) poderia ser aumentada
(1''' a cada 25 anos, por uma quantidade de subsistência igual à que ela
atualmente prcduz''." Estaria, então, crescendo em progressão aritmé-
:'~~ ica de razão 1 (1:2:3:4:5: ...).
. Registre-se que as estatísticas não confirmaram as idéias de Mal-
thus, quer quanto à taxa de crescimento da população, quer quanto à
produção de alimentos. Alguns progressos científicos importantes, como
a oferecer às manufaturas, que se desenvolviam, senão a sua força de as descobertas de adubos químicos e de grãos híbridos, além de técnicas
trabalho. Estavam, assim, criadas as condições para a diminuição dos mais refinadas de cultivo e tratamento do solo.vpermitiram notável
salários reais, que vieram a favorecer a rápida acumulação de ícapitais
..'...., . na Economia, .
MALTHUS, T, R. Population: Tfte First Essay. The University Michigan Press, MicWgan,
'i São dramáticos os registros nos livros de História de sofrimentos
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EUA, 1959, pp, 7, 8.
das ,classes de menor renda nas grandes cidades: prolongamento da Ibid .• p. 8,
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OS ECONOMISTAS MAL~S

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aumento da produtividade agrícola. É de se notar que algumas dessas
descobertas ocorreram antes do 'lançamento da sexta e última edição
-\:- do Ensaio, em 1826, sem que Malthus se abalasse em modificar suas
I ~I o bom cristão condenado à total abstinência sexual, sempre que im-
possibilitado, por questões financeiras, de contrair matrlmônio.
-Se, em dado momento, houvesse alimento: em abundância, os
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conclusões. freios: ao crescimento da: população seriam afrouxados e o resultado
No tocante à população, a utilização de métodos anticoncepcio-
nais, que Malthus consideraria "vício", já consagrados por volta de
>. 1900, fez com que a população crescesse bem menos do que Malthus
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natural seria, mais cedo ou mais. tarde, a eliminação: do excedente pelo
"poder superior da população".
. Malthus pensava que, estando em equilíbrio.população e alimen-

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esperava. tação, o constante aumento Q~mQgr.áficio:·anteêipan~o-se ao aumento
Desccnsíderando o grave erro na observação das estatísticas, qual dõs-melos de subsistência, acabaria-por Provocar diminuição na remu-
seja a comparação de uma taxa de crescimento da população nos EUA liEl.rªção.dotrabalhador, .enquanto, pela escassez relafivados alirnentos..
com a do crescimento da produção de alimentos na Grã-Bretanha (que 1 subiriam os p_reço~ destes, No período de miséria que adviria dessa
Malthus não explicou convincentemente), é fácil avaliar o resultado ~ situação, a população seria desestimulada a crescer. Ao mesmo tempo,
da discrepância das duas taxas de acréscimo. Em exercício de fácil ij os baixos salários reais induziriam maior emprego na agricultura, com
resolução, verificaríamos que em um século a população estaria mul- o que-cresceria a oferta de produtos de subsistência; O estado de,miséria
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tiplicada por 16 (a evolução estaria ocorrendo em progressão geomé- seria.ientão, abrandado, e a população voltaria a crescer; e tudo se.
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. trica: 1:2:4:8:16:...), em relação ao número de habitantes do início do ~ , repetiria, Cabe então a observação de que ao próprio homem pobre'
período, enquanto a produção de alimentos seria apenas cinco vezes , .I cabea culpa de sua pobreza, E a sua: "natureza" que 0. impele a 'procriar l{
maior (1:2:3:4:5). Com isso, se,de início, havia alimento apenas sufi- -; ~ ! sempre acima do que seria recomendável para uma vida confortável
~
ciente para alimentar toda a população, sem nenhum excedente, ao?" , para: si e para a sua família, i
fim do período apenas 5/16 da população encontraria alimentação.
Claro está que: Malthus não supunha ser possível à população
suportar,por tanto tempo, uma diminuição relativa dos alimentos de
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, ~ ; Quanto às "Leis dQ§Pobres"! Malthus não nutria por elas nenhum


apreço: Embora lhes reconhecesse o caráter filantrópico, entendia que
traziam mais malefícios do que benefícios. Seria "sistema, dentre todos
toda sorte,que se constituiria em verdadeiros freios ao crescimento
demográfico. Esses freios poderiam ser de dois tipos: os "positivos" e
os "preventivos". Caso nenhuma providência fosse tomada para deter
a explosão demográfica, e dada a suposição de que a taxa de variação
na produção de alimentos não 'poderia sequer acompanhar a da popu-
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os outros, o mais destinado a enfraquecer esse sentimento (de amor à
independência) e por fim eliminá-I o completamente't'' Ele achava que
as "Liis dos Pobres" estimulavam casamentos entre pessoas que não
estavam preparadas para a constituição de famílias. Essas pessoas,
, não !teriam muita preocupação com a possibilidade de sofrer peno dos
lação, o resultado natural seria: miséria, fome, morte. Em decorrência, \ ~ de miséria, por contarem como certo o auxílio recebido da paróquia.
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ainda, das precárias - e cada vez piores - condições de salubridade \
nas moradias e nos locais de trabalho, epidemias, e pestes teriam curso
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·'·Em segundo lugar, essas "Leis" diminuíam a-mobilidade da mão- I
\ li livre entre os infelizes - .se, e~tes não morressem ant~s, em al~a
de-obra, impedindo que uma pessoa sem emprego-em dada Iocalidade
·se dirigisse a um possível emprego 'em outro ponto do país.
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\--\ guerra. Esses fatores constitwnam o que Malthus. denominava de freios .Fez, ainda, outra observação com respeito aos; alimentos consu- 1
"positivos". , ;, ..' midos, nos albergues. Dizia ele que as pessoas que não recebessem
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. Resta~á~'~empre a possibilidade d~ os homens que se consider~s-
semimpossíbllitados de sustentar condignamente esposa e filhos adia-
· donativos - as que mais trabalhavam - ficariam-em pior situação
1
do q~e .0 necessário, porque 'com a maior escassez' de 'alimentos -
I rem o casamento para uma época mais propícia. Este seria um freio .' deSViados para os albergues -, seus preços subiriam. . !
"preventivo" q~e, embora deve,:'se ser ~bservad~ precipuarnente pelas . ':Maithus não considerou, também, de nenhum proveito, quer para 1
class.es mais baixas da populaçao, também podena atingir os de melhor' j
\ o indivíduo, quer para a sociedade,' o auxílio monetáriodado por um.
\ sorte. Assim é que uma pessoa de posses poderia não desejar casar I
, rico a, um pobre. Em primeiro lugar, porque se um íhomem pobre re- \
para não ver seu status reduzido, já que manter uma família implica, cebessaalguma quantia sem nenhum esforço, poderia se considerar I
certamente, em gastos que deveriam ser subtraídos de uma possível · mais.rico e, daí, trabalhar menos. Em breve ele estaria tão pobre quanto j
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vida cômoda no presente. Seja como for, é de se notar que Malthus, , estay~ antes e a sociedade em geral 'em pior estado, porque a produção j
como sacerdote, não poderia admitir o casamento seguido de controle 1
familiar por qualquer meio conhecido na época - seria "vício", diria i
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ele. Muito menos aceitaria .0 sexo fora do casamento. Estaria, então, · 3 11i!d" p, 24. I
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OS ECONOMISTAS 11 MAL'l'HUS
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cairia com o donativo. Em segundo lugar, ao receber o donati~~l ele o
gastaria na compra de mantimentos cuja produção não tinha iido au-
mentada. O resultado óbvio seria um aumento de preços que ~tingiria
r:1
:1
os homens exercerem aquela animada atividade em melhorar sua· con-
dição, que hoje forma a principal causa da prosperidade pübllca?"!
Adicionou que seria um pouco mais aceitável se os benefícios só
1.
toda a sociedade., :i:,; :1 fossem entregues após uma investigação para "estudar os argumentos
. Enfim, os ricos não poderiam fazer nada de concreto p~ta me- de cada indivíduo e para determinar se ele tinha ou não se dedicado
:>.

. ;:?'lhorar a situação dos pobres. Somente estes, mais. uma vez p~demos 1.í ao extremo", mas "isto seria pouco mais que a repetição, em .larga
y .f inferir, poderiam agir em seu próprio beneficio (díminuindo ji ritmo · •.1
escala, das leis inglesas dospobres e seria totalmente destruidora dos
:,.- ~ e crescimento de seu número). Um pobre que sé casasse sem; estar ;I 'verdadeiros princípios de liberdade e igualdade".
(71 preparado para sustentar sua família poderia ser conside~ado ~i}imigo Considerava Malthus que os resultados não poderiam ser dife-
. de todos os trabalhadores. : ';;'~: rentes daqueles obtidos pelas "Leis dos Pobres" na Inglaterra e, pelos .~~'.
. Malthus confessava que se lhe fosse perguntado o que svgeriria mesmos motivos já expostos, opunha-se também à criação das "Caixas -,:

I
para minorar e, possivelmente, eliminar a miséria, teria respondido: de Socorro e Poupança".'
'8.) como medida paliativa, a revogação completa de todas as íéis pá-
Em outro ponto, a argumentação de Condorcet não poderia, se-
roquiais de ajuda aos pobres, aumentando a liberdade de mé.r.hdo e guramente, coincidir com as opiniões de Malthus, Era a referente à
a mobilidade da mão-de-obra; b) a criação e estímulo à exploração de
possibilidade de um quadro de extrema miséria s6 se efetivar, se fosse
novas terras, maiores que os incentivos à indústria e ao cu),Jivo do
:1 o caso, em época extremamente distante no tempo. Malthus reage,
solo,' Ide preferência ao pastoreio. Esperava ele que essas medíâas se-
i 1i::) dizendo que salvo se ocorrer "alguma mudança radical na constituição
, 1.' riam capazes de aumentar o emprego e o produto, elevando 'funda o
física de nossa natureza, a proporção entre o incremento na população
"I preço do trabalho e a própria condição do trabalhador que, e.b~ão,já
l ill não contaria com os "incentivos à inércia" dados pelas "Leis dos ~Qbres".
, Uma outra medida que sugeriria seria a criação de albergues de
e o dos alimentos manter-se-à como semprefoi observado e se consti-
tuirá em causa da miséria periódica".
Ul condado "para os casos de 'extrema miséria", sustentados por impostos b) Críticas de Malthus a Godwin
l~! de todo O reino ... "A comida seria pouca e aqueles que fossem 2~pazes
seriam obrigados a trabalhar". . ;.f Foi o Inquiry de Godwin que motivou o Ensaio da População,
:;
como o próprio Malthus reconheceu. Àquele livro ele deu especial aten-
-:;:.'.
:;:1 a) As críticas de Malthus a Condorcet ção, destinando grande espaço do Ensaio a críticas diretas ao pensa-
:f:;'
mento do autor.
:] . O pensador francês Marie-J ean Nicholas Caritat, Marq~ês de
Condorcet (1743-1794), liberal, estava condenado à morte por iie aliar
De início, Malthus comenta o livro de Godwin, dizendo tratar-se
:f de "trabalho criativo e proveitoso". Reconhece o "espírito e energia" do
aos girondinos, durante a ditadura jacobina, que reinou na IFrança
. trabalho de Godwin, "a força e a precisão de algumas de suas argu-
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durante a época do terror, quando escreveu seu livro Esqui~~e d'un
-.Tcbleau Historique ties, Progres de L'Espirit Hurnain, em 17~4 (ano.
i mentações, o ardente tom. de seus pensamentos" e... "a sinceridade .
·i que dá um ar de verdade -ao todo", mas contesta: "ele não procedeu .
:1 !I em que se suicidou na prisão). Em seu livro, de deu a ro riedade :
I com a preocupação que a Filosofia' parece requerer". "Suas conclusões
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jl l2.riVada ue considerava estimulante estudo, à e uca ão :.' m 1-.
..YliliiaJ.idade....Achavaque a educação intelectual levaria à perfe~tl5íll- "
I dade humana e, daí, à modificação da ordem social, responsável pela'
:1
I
não são, freqüentemente, garantidas pelas' premissas. Ele falha algu-
mas vezes em remover objeções com as quais ele mesmo traz mais
adiante ... E suas conjecturas certamente excedem, de longe, a modéstia
miséria das massas populares. :~:i:,.
da natureza."
d!1 Condorcet ainda propôs a criação de "Caixas de Socorrd.;~ Pou-
pança", por meio das quais a pobreza deixaria de ser humiÜ3;imte e
Em um ponto ele concorda com Godwín e,aí, expõe, mais uma
1 corruptora; a sociedade passaria a ter por objeto e por efeito a felícídade vez limpidamente, seu posicionamentoideológico: "O .exercíeío ilimitado
i de todos os seus membros. .' '. . . :;, de julgamento privado é uma doutrina inexprímívelmente.grandiosa

I
~
Quanto 'às "Caixas de Socorro", Malthus ponderou qu~}'se os
ociosos e negligentes são colocados no mesmo pé de igualdadelern re-
lação a seus créditos e ao sustento futuro de suas esposas e f~Ínílias,
e cativante e tem uma vasta superioridade sobre aqueles sistemas

~ 4 tua, p. 52.

t;f . da mesma forma que os ativos e trabalhadores) podemos esperar ver


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5 lbid., p. 61.

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OS ECONOMISTAS
~1AL~S II
. materiaís e a "poderosa lei da.autopreservação" se incumbirá de destruir
onde cada indivíduo é; de certo modo, um escravo do publico"." Era o
Malthus burguês.
o "belô tecido da imaginação". .
:,Enquanto a população vivia em abundância, não importava se
.
I
GodWin pensava: "0 espírito de opressão, o espírito de servidão,
um v,i.#nho trabalhasse menos ou não, se possuísse maior quantidade II
o espírito de fraude, são as conseqüências imediatas da administração
estabelecida da propriedade. Elas são-igualmente hostis ao melhora-
de alimentos ou não. Um estaria desejando ajudar o outro. Mas, quando
cheg~~se a necessidade, tudo seria diferente. É provável que o número I
mento intelectual. Os outros vícios da inveja, malícia e vingança são daqti.ê1es que precisassem ser ajudados suplantasse cada vez mais o I
seus companheiros inseparáveis. Num estágio da sociedade onde os
homens são livres em meio à abundância, e onde todos dividam igual-
mente as dádivas da natureza, esses sentimentos acabariam inevita-
daqu~les que poderiam ajudar. Então, pata aumentara produção, po-
deri~:)er aventada a necessidade de rigorosa divisão da terra, sendo
I
!
assegurada, com rigorosas sanções ~ talvez até a morte -, a completa I
velmente. O princípio mesquinho do egoísmo desapareceria ... Não sendo se~nça dos estoques de cada homem.
nenhum homem obrigado a guardar seu pequeno estoque de provisões <Os que obtivessem superávit não o cederiam sem alguma recom-
ou a prover com ansiedade e dor suas necessidades sem fim, cada um pens~ em troca.i Se eles trocassem esse superávit pelo trabalho de "
:~~
..(
perderia sua existência individual em intenção do bem geral. Nenhum alguém, já seria ,vantajoso para aquele que conseguiria, então, comer .~.
homem seria inimigo de seu vizinho, pois não teria mais objetos de algu~'a coisa. Assim, num período de 25 anos, "a violência, a opressão,
disputa e, em conseqüência, a fílantropía resumiria o império que a a fal~idade, a miséria, todos os vícios odiosos e .todas as formas de
razão lhe atribui. A mente seria libertada de sua perpétua ansiedade apurº~, que degradam e entristecem o presente estado da sociedade,
sobre o suporte corporal e livre para dedicar-se ao campo do pensa- parecem ter sido gerados pelas circunstâncias mais imperiosas, por
mento, que é inerente a ela"," leis r~#erentes à natureza do homem e absolutamente independentes
Godwin ainda argumentava que, como três quartas partes do de tMas as regulamentações humanas"." •
planeta ainda não haviam sido cultivadas àquela época, e como as já :;;1t1althus especula, então, que surgiriam regulamentações da pro-
utilizadas nas tarefas agrícolas seriam suscetíveis de incomensurável prie(f~de privada que não divergiriam muito daquelas conhecidas nos 1
~1
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melhoramento, a terra seria capaz de produzir alimentos suficientes, esbi4'bS civilizados atuais e seriam "o melhor, embora inadequado, re- i
por muitosséculos, para os seres humanos. médiopara os males que estavam pressionando a sociedade't?
(_/ Malthus atacou frontalmente o pensamento de Godwin; em pri- ~;:~stabelecida - ou restabelecida - a divisão da propriedade, as 1:~
.. meiro lugar, por se recusar a admitir sequer a possibilidade de todos famí~(as que aumentassem o número de seus filhos, além do que seria ":i
Y os homens viverem em meio à abundância. Segundo ele, Godwin pintara recomendável, veriam alguns de seus membros à míngua de recursos,
,....um "quadro imaginário" e "uma teoria que admitirá aplicação possi- porqq,e não poderiam demandar, "por questão de.justiça", uma parte ~
velmente não poderá ser justa". Mesmo que fosse possível a eliminação do' superávit de outros. Na expressão de Malthus.iesses membros, "na
por completo de todas as causas da miséria e do vício e também viável grande loteria da vida, tiraram bilhete em branco".· .
a ocorrência, em dado momento, de todos os ·elementos do "quadro (Segundo Malthus, quem tivesse excedente, naturalmente e com ~~.

imaginário", estes não se manteriam ao longo do tempo, sustentava


Malthus. Isso porque haveria. grande encorajamento ao aumentada
população, aliado à eliminação das causas de diminuição dessa popu-
justiça, o entregaria de preferência àqueles que se. mostrassem mais
hábeis e desejosos de empregar sua força de trabàlho naprodução.de
· um f\lturo excedente, o que beneficiaria a coletividade e tornaria esses
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lação - miséria, vício, pragas, guerras -, e o solo da Grã-Bretanha • propn:etários capazes de empregar futuramente maior número ·de em- -li
preg~aos. Quem não tivesse senão sua força de trabalho, a ofertaria .:;
seria incapaz de gerar alimentos adicionais em ritmo suficiente para
acompanhar o do aumento. populacional, .. . . . em b~scade alimento indispensável à vida. Surge aí a idéia do fundo
Admitindo-se possível que a produção agrícola dób'ré'em 25 anos de mâuutençêc do trabalhador, que séria a quantidade total de alimento
- tempo estimado para um aumento de 100% na população -, nesse poss@da pelos proprietários de terras, além do necessário para o seu
período nenhum problema mais sério ocorreria à população, mas, logo própri'o consumo.
a seguir, certamente o número de habitantes ultrapassaria a capacidade
iS!:> prosperidade ou a miséria para as camadas mais baixas da po-
pula~o dependeria, em última análise, do acréscimo ou decréscimo desse
do solo em alimentá-Ios todos. Em conseqüência, surgirão necessidades
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6 tua; p. 62. ·8 lyIt p. 67. ;/

7 tua; pp. 62. 63. 9 Ib~., p. 69. ,1

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fundo. De acordo com as idéias malthusianas, se em dado peri'ódo de prover facilmente uma família numerosa"." Mais uma vez a história
tempo a população crescesse a uma taxa inferior à dos produtç.~ agrí- mostrou-se cruel com os que se atrevem a fazer previsões por um.período

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balho se elevaria. Mas, com a melhoria na situação dos trabalh.~'dores,
estes veriam menores impedimentos ao aumento' de suas famm~~, com
indeterminado (ou mesmo um pouco mais longo) de tempo.
Em sua defesa do sistema de propriedade reinante na economia
capitalista, dizia Malthus: "É à administração estabelecida da proprie-
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o que a população deveria se elevar, anulando, assim, o maior berb'iestar dade e ao princípio evidentemente estreito do egoísmo que devemos
. ~.~ : derivado do aumento do fundo. Obviamente, se a população cr~~cesse todas as mais nobres realizações do gênio humano, todas as mais' finas
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Mas não termina aí a série de objeções de Malthus a Giidwin.
Este pensador achava que se deixasse de dar atenção ao "cométSio 'dos
sexos", se esse comércio fosse livre, ele fatalmente desapareceria. À
civilizado do selvagem ..."16
Embora Malthus considerasse necessária a existência "de uma
classe de proprietários e de uma classe de trabalhadores", sentia que
':1 . contestação desse pensamento, Malthus dedicou o capítulo XI;qo En- não poderia inferir daí, de nenhum modo, "que o estado atual de de-
:1;'. saio. Nesse capítulo, Malthus lança-se ao ataque dos abusos d9:s pra- sigualdade da propriedade é necessário e útil à sociedade. Pelo con- .
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•; , Defende ele a idéia de que "a superioridade dos prazeres inte- a desigualdade de fortunas, é questão duvidosa ..."17 .

i~:, lectuais sobre os sensuais consiste mais no maior tempo que :~uram, Malthus faz, ainda, interessante defesa do sistema de trocas; "...0
homem que faz o trabalho de alguns dias tem tanta obrigação perante
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pobre segue ereto, com independência consciente, e a mente de seu
iii Godwín, na opinião de Malthus,idealiza o homem corri,H:m,ao
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veio em seu rastro" .19 .
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:1: podem, em algum período futuro, ser muito melhor instruídasdo que poderemos verificar que de um período de tempo para outro pode ter
\' elas são no presente; podem empregar o pouco tempo livre de'modo havido aumento de riqueza da nação sem que sua classe de trabalha-
:~ muito melhor do que em cervejarias; podem viver, sob as melhores e dores obtivesse qualquer ganho real. Isso porque a riqueza pode ter-se
:ir mais eqüitativas leis até então elaboradas em qualquer pafs,'i~alvez; originado apenas da produção de bens manufaturados. Claro está que

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Ir e posso mesmo conceber possível, embora não provável,14 que fossam os trabalhadores, em posse da renda gerada .pela locação da sua força
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~~ vir a ser .premiados com tanto dinheiro ou subsistênciaque pê~erão, cado e comprar bens de subsistência. Lembremo-nos que são os exce-

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c 10 Ibid., p. 75.
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14 . Os grifos são do apresentador.

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17 Ibid., p, 101.
18 Ibid., p. 102.
19 lbid., p. 103.

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OS ECONOMISTAS MALTHUS

nutenção dos ·trabalhadores e que dão a medida do benefício concreto oque~-Aonsome e para repor os estoques do seu patrão; estaria, assim,
paraaclasseobreira.Assim, quando os trabalhadores fossem ao mer- aumentando-a riqueza geral. Outro poderia estar empregado na lavoura
cado para compraralimentos, encontrariam o mesmo estoque. A pressão (fonte-de toda a riqueza para esses' economistas franceses) e produzir
deummaiorpoderde compra sobre uma oferta fixa desses bens eli- metad~ do necessário para alimentar a si próprio. ;E~se estaria sendo
minaria, na realidade, qualquer possibilidade de ganho real para os improdutivo,
:Em defesa, ainda, de. sua proposição de incentivos à agricultura,
trabalhadores.
Coerente com seu ponto de vista, Malthus propunha que o Governo disse 'Malthus: "O encorajamento que tem sido dado à indústria das' p.;
deveria incentivar a agricultura, mais do que a indústria. Assim, haveria cidades e o conseqüente preço mais alto que é pago ao trabalhador 1',1
maior produção agrícola, maior emprego no setor, maior remuneração ao das mânufaturas em relação ao pago àqueles 'empregados na lavoura '1
trabalhador e, com a diminuição nos preços dos produtos agrícolas, maior são provavelmente as razões pelas quais tanto solo europeu permanece J
"

ganho real para todos. Os trabalhadores viveriam melhor, pelo menos até íncultívado"."
que a população crescesse. De qualquer forma, se a riqueza smithiana '~,

da nação ocorresse com algum aumento na produção agrícola, haveria, e) M~~thus e os "desígnios da providência" -I

de início, algum ganho real para os trabalhadores. ~os dois últimos c~pítulos do Ensaio temos a 'oportunidade de
Malthus acrescentava que a troca de emprego, da agricultura encontrar, novamente, um Malthus cuja formação religiosa é um forte
para a indústria, representava dano para a saúde do empregado, além )'. ampafó ao seu posicionamento ideológico. :1
da grande incerteza do trabalho manufatureiro, que aumenta "com o )~:.partir dó dito, ainda hoje, em geral, aceito como verdade, de I
caprichoso gosto do homem", com a guerra e outras causas. que "a 'necessidade é a mãe da invenção", Malthus tenta convencer o ,'i
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Malthus admitia a possibilidade de o aumento nos preços dos leitor :!Çleque as vicissitudes por que passam os menos favorecidos :!
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produtos agrícolas induzir investimentos no setor, com o que aumen- fcram-colocadas em seus caminhos pelo Criador que,com sua infinita ;
taria a oferta de alimentos. Dizia, porém, que a variação nesse sentido ,~ bondade, propiciava a necessária oportunidade para a evolução física
seria muito lenta. Além disso, o aumento dos salários teria precedido e mofilJ. " ' • :1;:
o dos preços dos produtos agrícolas, reduzindo os "bons efeitos" para ~ue' esse posicionamento de Malthus ainda encontra defensores
os investimentos. .;;
no mi,j'ndo de hoje parece não haver :dúvida. Ele constitui, porém, um
Admitiu ainda a possibilidade de, via importação, num país pe- dos alvos mais amplos aos ataques de seus opositores.
queno mas com grande Marinha, como a Holanda, que tinha, ainda,
grande capacidade de armazenamento, contornar o problema. Isso seria f) A írJportância do Ensaio Sobre a População '.
difícil, dados .os custos, para países maiores.
o Ensaio é um livro polêmico, com fortes cores emocionais -
d)Malthus'-e os "economistas franceses" algumas mal disfarçadas de teoria positiva - vigentes na época da ij
Primeira Revolução Industrial. Sua leitura, fácil pela simplicidade com ;i

Para os economistas franceses, tendo à frente François Quesnay, que éapresentado, é importantíssima para a compreensão das diver- i!
somente seria produtivo o trabalho aplicado à agricultura. "Eles dizem gência~' filosóficas e ideológicas ainda vigentes. •. .. .
que o trabalho empregado na terra é produtivo porque o produto, após O leitor é levado a uma época em que a aflítiva situação social
pagar totalmente 9 trabalhador e o fazendeiro, fornece uma clara renda dDPO~P comum despertava as. consciências de pensadores, desejosos .
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para o dono da terra..e que trabalho empregado em.uma.peça de de ap~ntar as causas dos males sociais e apontar soluções -nein
tecido rendado é improdutivo porque ele meramente repõe as provisões semP~!i factíveis. ; . . , .: " ,
que o trabalhador tinha consumido, assim como o estoque do seu em- lJ!scrito com indisfarçável pessimismo quanto às possibilidades ;j-
pregador, sem fornecer qualquer nítida renda, qualquer que ela seja" ... de f~gWdade ampla e geral para todos, o Ensaio' serviu de freio, ao
"Ele não terá adicionado nada ao produto bruto da terra: consumiu uma otimismo de muitos pensadores visionários. Por certo, seu amplo su-
porção desse produto bruto e deixou em troca um pedaço de tecido".20 cesso-deveu-se ao fato de apresentar de forma simples problemas da'
Malthus contesta esses economistas, dizendo que uma pessoa em- maicr-importância, tais como as causas da pobreza. .
pregada em manufatura pode produzir acima do necessário para cobrir Oom sua obra, Malthus tem influenciado muitas consciências até
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20 Ibiâ.• p. 115. 21 tu«, p. 117.
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balho se elevaria. Mas, com a melhoria na situação dos trabalh~dores,
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derivado do aumento do fundo. Obviamente, se a população cr~~cesse todas as mais nobres realizações do gênio humano, todas as mais finas
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Embora Malthus considerasse necessária a existência "de uma
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podem, em algum período futuro, ser muito melhor instruídasdo que poderemos verificar que de um período de tempo para outro pode ter
l elas são no presente; podem empregar o pouco tempo livre de: modo havido aumento de riqueza da nação sem que sua classe de trabalha-
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muito melhor do que em cervejarias; podem viver, sob as meIflores e
mais eqüitativas leis até então elaboradas em qualquer pafs,'i~alvez;
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originado apenas da produção de bens manufaturados. Claro está que
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ter maior lazer; mas não é da natureza das coisas que eles pôssam
vir a ser premiados com tanto dinheiro ou subsistência que p~~erão,
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de trabalho às indústrias rnanufatureiras, poderiam dirigir-se ao mer-
cado e comprar bens de subsistência. Lembremo-nos que são 08 exce-
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;! ~! hoje! 'O maior nome da teoria da evolução, Charles Darwin, recb~eceu da escola clássica do pensamento econômico, tal como ocorreu, por
r:i a influência recebida das idéias malthusianas. Alfred Russel \Vallace, exemplo, com a noção de medida de valor com base no trabalho, subs-
;':.;: outro grande naturalista, também orientou-se, em sua pesqu}~a, por tituída pela visão subjetiva do valor a partir da utilidade, o corpo de
algumas das idéias de Malthus. ' }\ teoria exposto naquela obra, e que compõe, juntamente com os escritos
:?!:
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de Adam Smith, Ricardo e Stuart Mill, a estrutura do pensamento
4. CONCLUSÃO .1~:~. clássico, incorporou-se definitivamente à ciência da Economia. A análise
da produção e de seus custos, bem como o desenvolvimento da teoria
. Mais de um século e meio após a primeira apresent~~ão dos da distribuição, por exemplo, na forma pela qual são tratados nos mo- .
~1t . pontos de vista de Malthus a respeito do crescimento popul~i;ional e dernos textos de teoria econômica, ainda que incorporem inúmeros
da insuficiência de alimentos no mundo, o problema continua:~~ preo- aperfeiçoamentos às idéias de Malthus e seus companheiros, conser-
,i! ~
cupar economistas e cientistas políticos do mundo atual. Hoje, por certo, vam, essencialmente, os mesmos fundamentos da construção científica
':::1:: 'ninguém defenderá a idéia das diferentes progressões máteiriáticas. empreendida pelos economistas clássicos.
I~!:,

·Ii;) Conhecemos bem a distância entre as pessimistas previsões ifu.althu- . Ao acompanhar a controvérsia que se desenvolve ao longo dos
1 sianas e a experiência histórica dos povos de que se tem not~Çia. Principios de Economia Politica, o leitor viverá a discussão de questões
111 Mas, em muitos países do mundo, na Ásiá, na África e J.\mérica econômicas da mesma natureza daquelas que hoje preocupam os res-
:". ,~ Latina, o crescimento da população sempre preocupa, quand~':se tem ponsáveis pelo destino político das nações do nosso tempo, com dife-
"1":': ~ ';em conta a capacidade de geração de alimentos. Fundamentaríijse, as- renças apenas de grau. O debate lhe será altamente proveitoso, agu-
i:1t! sim, as preocupações com o controle de natalidade, que cheg~ a ser çando seu raciocínio e capacitando-o a uma melhor compreensão de
(li objeto de campanhas -: e ação mais concreta - dos governos g~ Índia situações-problema e a uma percepção mais ampla das alternativas
! e China, para citar exemplos. _ ri!: de solução. I
. Embora sem a dramaticidademalthusiana, um crescimeriF.*muito
J
'11
I acelerado da população pode trazer complicações sérias aos sl~temas
de transportes públicos, atendimento de saúde pública, eduéª-ção de
Emane Galvêas

massa, habitação popular, abastecimento, saneamento básico~~tc. Ernane Galvêas (Cachoeiro do Ita-
~i
".n'1, .1 Além disso, quanto maior a taxa de crescimento demp,gz.áfico, pemirim, ES, 1922) é Bacharel em Ciên-
cias e Letras, advogado e economista. Cur-
tanto mais rápida a transformação na composição' etária da POR,','.U, lação,
1! com a elevação da taxa de dependentes sobre a topulação ecq.nomica- sou o Centro de Estudos Monetários La-
1\ mente ativa. T tino-Americano (México), o Economícs Ins-
!I!f \
. Também não podemos esquecer que quanto mais rapidamente titute, Wisconsin (EUA), diplomando-se
crescer a população, tanto maior sem o número de jovens dirigindo-se Master in Economics pela Universidade de
;! i anualmente ao mercado de trabalho. Cada tentativa frustrada é, em Yale, Connecticut. Consolidou sua forma-
i!;;Ii potencial, um risco de problemas sociais - insatisfações polít{~~s, cri- ção profissional no Banco do Brasil onde,
li I minalidade etc, Y
': Felizmente, o progresso médico.ique nos trouxe e aperfei~Ja cons-
durante 26 anos, exerceu vários cargos e
serviu na antiga Superintendência da
r~;, ,
.j','I
I tan~mente os anticoncepcionais, e a transformação social quei)lá mui-
to, ~li.minou proibições com base em argumentos tipo "vicio" de N.!íU.thus,
Moeda e do Crédito, transformada depois
no Banco Central. Presidente do Banco
IJll] têm facilitado muito a tarefa de impedir o povoamento desáconselhável. Central em 1968174 e 1979/80, foi também
',i.L
I:f!
r' .: Por outro lado, o extraordinário progresso técnico' ass9çiado à Diretor Financeiro da Aracruz Celulose e
Presidente do Instituto Brasileiro de Mer-
;/j'.{ produção, tanto de alimentos quanto de outros bens, permitiu que o
\i)\problema da escassez fosse sendo continuamen~e poster~a~o. A,~~sên?ia cado de Capitais (IBMRC). Em janeiro de
I
I!~:
J
i I
!..i li }d.aquestão, contudo, perm~ece; a/Olp.e mundial constltulU-se~~a prm- 1980, deixou o Banco Central para subs-
l bpal preocupação das Naçoes Unidas. !': tituir Karlos Rischbieter no Ministério da
fi. \ : E quanto ao conteúdo dos Principios de Economia Poj(~ica de Fazenda.
[ Malthus? Embora algumas das construções teóricas encontradas em
I}f seu texto tenham sido abandonadas pelos marginalistas, sUffssores
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