quarta-feira, 19/7/89 o Cidade o 5

JORNAL DO BRASIL

Industrial é seqüestrado e paga resgate no banco Jm.

chegou à agência, na avenida Vicente
JL
trial, Válter dos Santos, para a recusa
\rnmJ %, Sérgio Moraes

Israel Tabak de Carvalho 1585, acompanhado de do casal em conversar com o repórter.

0 senhor não acha perigoso levar
tanto dinheiro no bolso?
Não tem problema. Estou com o
meu segurança.
O diálogo entre o gerente do Banco
dois dos assaltantes. O mais bem vesti-
do transformou—se cm segurança, con-
forme o combinado. O outro sentou-se,
tranqüilamente, num banco dentro da
agência. O gerente, ao tomar conheci-
mento do montante do saque, objetou
O delegado Nilton Gama disse que, na
sua circunscrição, roubar residências
já é uma rotina. A novidade foi o tem-
po de permanência dos assaltantes e a
ida posterior ao banco. Ele suspeita de
gente que já trabalhou na casa ou '"^MÊmmãM -*¦¦>' J^| _______!_____________ EÜR "**at&*ül ^B^"Mk -bjfU^i&^XWiljM RMMMMMbMMMMlII

Real (agência Vicente de Carvalho, na
Leopoldina) e o industrial Armando
Álvares Gonçalves foi por volta de
10h30 de ontem. O segurança, bem ves-
tido, de paletó, era um dos quatro ho-
mens que haviam invadido a casa de
Armando, de madrugada. Do lado de
fora da agência um PM montava guar-
da com o seu pastor alemão, sem des-
confiar de nada. Os bandidos fugiram
com NCzS 16.500, no carro do indus-
trial. E ele voltou para casa de táxi.
Em casa, a mulher da Armando e o
filho de seis anos já estavam livres. Os
dois homens que ficaram lá — enquan-
to o segurança com um ajudante acom-
panhavam o industrial ao banco — ha-
viam fugido. A invasão ocorreu de
madrugada, por volta de 3h. Os quatro,
armados, pularam o muro (baixo) da
casa, na Vila da Penha (subúrbio da
Leopoldina) e quebraram a fechadura
da porta da sala. Sem bravatas, comu-
nicaram o assalto e passaram a procu-
rar por objetos de valor. Ficaram frus-
trados. Não encontraram nada que
merecesse ser levado, além do apare-
lho de som, do videocassete e de algu-
mas jóias da mulher de Armando.
Perguntaram pelo dinheiro. Arman-
do disse que não guardava dinheiro em
casa. Sem perder a calma, um dos as-
saltantes argumentou que, nesse caso,
aguardariam até que o banco abrisse e
o industrial tirasse todo o seu dinhei-
ro. O industrial, 80 anos (parece ter
bem menos) dono da fábrica de pães e
doces Aniversário, contou ao delegado
Nilton Gama, da 27° Delegacia, que,
nas sete horas, que se passaram até
que o banco abrisse, os assaltantes fo-
ram até muito educados. Nada de co-
"Até fi-
ronhadas, ameaças, gritaria:
caram brincando com o meu garoto".
E, com a mesma educação, renderam
•os três empregados da casa, à medida
que iam chegando, pela manhã.
Às lOh, a ida ao banco no discreto
fusca placa ZZ-7392 do industrial. Ele.
que seria melhor o industrial fazer um
DOC (documento de crédito) para o
banco do favorecido. Foi então que
Armando falou do segurança.
Os três sairam da agência, embarca-
ram no fusca e o proprietário do carro
foi deixado algumas quadras adiante.
Quando Armando voltou para casa, já
havia uma aglomeração, com patru-
Ihinha na porta. Até por volta de lOh,
nenhum vizinho desconfiava de nada:
"Estava tudo tão calmo; nem dava
pa-
ra desconfiar", explicou Alvanir Bon-
fim, vizinha da casa 146 da Rua Marco
Polo (a família assaltada mora ao la-
do, no 156).
Em casa, apesar de toda a educação
dos assaltantes, Armando e sua mu-
lher Lilian Ramos Santos, de 47 anos,
"estavam muito abalados, à base de
calmantes". Essa era, pelo menos, a
explicação do concunhado do indus-
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A casa do industrial foi invadida de madrugada por quatro homens
mantém contatos com os atuais em-
"porque os assaltantes co-
pregados
nheciam pormenores da vida do pro-
prietário".
No banco, o gerente não quis se
identificar. Seus colegas, irritados, dis-
seram que têm ordem da direção para
não dar seus nomes. A irritação era
explicável. A agência foi tão assaltada
no ano passado que, a partir de dezem-
bro, o 16° batalhão da PM resolveu
colocar, permanentemente, urn solda-
do ajudado por um cão pastor. À tarde,
o soldado David, que substituiu o seu
colega da manhã, comentava que os
assaltos praticamente acabaram, depois
que foi instituído esse novo tipo de
policiamento. No caso do industrial, no
entanto,"não dava mesmo para fazer
nada", argumentou. Mas, por precau-
çâo, pediu para"Énão ser fotografado
junto à agência: prá evitar a gozação
dos colegas", argumentou.
Mauro Nascimento
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M reconheceu Sapo e mais duas mulheres prometeram ao delegado apresentar queixa por estupro
'Sapo' é acusado de estupro
Seqüestrador de
garotos também
violentou mulher
Carlos Antônio da Silva, de 38 anos,
o Sapo, foi reconhecido ontem â tarde
por uma empregada doméstica, que ele
estuprou e roubou domingo dia 9, na
mesma galeria escura sob o viaduto de
São Cristóvão em que manteve preso
os garotos Roberto Gustavo Lima Pe-
reira, de 7 anos, e Renato Raoni Wer-
neck Affonso, de 8 anos, libertados em
troca de um rádio de pilha. Outras
duas vítimas Sapo fizeram contato com a
18a Delegacia Policial (Praça da Bandei-
ra, Zona Norte) prometendo ir lá apre-
sentar queixa de estupro.
O seqüestrador e estuprador foi pre-
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so na madrugada de segunda-feira na
galeria, pouco depois de ameaçar nor
telefone a mãe de Roberto, Maria Bea-
triz Moura Pereira, que denunciou o
seqüestro à polícia. A prisão preventi-
va de Sapo será pedida nas próximas
horas, em razão de sua periculosidade:
além do seqüstro e dos estupros, já
cumpriu pena e é acusado de matar um
companheiro de cela no Presidio Eva-
risto de Morais, na Quinta da Boa Vis-
ta.
A empregada doméstica MCS, dc 27
anos, tem um casal de filhos e mora
em Belford Roxo (Baixada Fluminen-
se). Ela reconheceu Sapo nos noticia-
rios de televisão e nas fotos dos jornais
e ontem tomou coragem para ir à dele-
gacia apresentar queixa contra ele. Foi
acompanhada do marido, o pedreiro PC,
de 29 anos. Ela teve uma crise nervosa e
chorou muito, ao ser colocada frente a
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frente com estuprador. Mas não teve
dúvidas ein reconhecê-lo como o homem
que. na noite de domingo, dia 9, a estu-
prou na galeria escura do viaduto dc Sào
Cristóvão. Sapo nào mexeu um músculo
da face c olhou fixamente para as càme-
ras, como a desafiar os repórteres. O
marido de M nào se conteve e pergun-
tou: "E agora esperto, vai fazer o que?"
M havia trabalhado em uma casa em
Vila Isabel e se dirigiu a estação de
Sào Cristóvão, onde tomaria o trem
para casa em Belford Roxo. Sapo se
aproximou dela e simulando ter uma
arma por baixo da camisa disse que
havia sido condenado a seis anos de
cadeia por que o filho dela o denuncia-
ra a polícia. O criminoso mandou que
M o seguisse até encontrar um irmão
dele, que confirmaria a história. Era
nienti.ra,

Mauro Nascimento

Ladrões não Uberati

Operários são,
respeitam salvos por
nem policial mr V^-^yÊiiÉÉl
duas mulheres
O descuido de não trancar a por- Uni dia depois da morte do servente
^^*^^ Marcelo Gomes Maciel, que despencou
ta, depois da chegada, fez com que a de um andaime do 15° andar de um
detetive da Delegacia de Mulheres, ^| Ew^Al J*\* edifício em construção em Copacaba-
Sônia de Sousa, além de ter a casa
assaltada, levasse um grande susto.
"Só
pensava nas crianças que ainda
chamaram os assaltantes de bonzi-
nhos", comentou Sônia, referindo-se
_________________K^Í__1 na, mais dois operários quase perde-
ram as vidas, ontem, em outra obra na
Zona Sul. Eles ficaram pendurados pe-
los cintos de segurança, no 4o andar do
edifício Martori, na Rua Antônio Viei-
ra, 5, no Leme.
aos dois filhos da amiga Sônia Regi-
na Doreste, de 35 anos, com quem Os pedreiros Gilmar Ferreira de Mo-
divide a casa da Rua Duarte Vas- _____________________ *'*' -___l HhKÇ ,v rais, de 25 anos, e Ânderson da Silva,
Mi' MU de 19 anos, depois de cairem do andai-
queanos, 104, Piraquara, em Realen- m\ WjF. - me acabaram resgatados pela morado-
go (Zona Oeste). As crianças deixa- ________________________________________________________________^^^^^V^^H_ Mm ____R__í_
mmW^''--' Mr'- '!___________
W__ mmM mmmW^^Í^M
Mm BB^.>^^mB mmWw^^^i,-- W&P& ra do 402, a psicanalista Ana Lúcia

ram a porta aberta, como de
costume, após chegarem da padaria.
O assalto durou menos de 10 mi-
nutos. Levaram televisão, dois vio-
lões, aparelho de som, e o que mais
Sônia lamentou, cerca de 100 LPs de
^cantores da MPB. Segundo a deteti-
Vê, os dois homens, encontrando a
porta aberta, invadiram a casa, "Os às
6h40, anunciando logo o assalto.
assaltantes disseram que queriam as
armas do meu marido e ouro", lem-
brou Sônia. A mãe de Sônia Regina,
as duas amigas e as crianças foram
colocadas num dos quartos, com a
exigência de que não gritassem. De-
pois do susto, a detetive foi registrar
queixa na 33a DP de Realengo, la-
mentando o esquecimento de manter
a porta sem tranca.
Polícia apura
discriminação
de empregada
Embora considerando que nâo está
bem formulada e, em principio, não
deixa caracterizada a discriminação ra-
ciai alegada, o delegado titular da 16" DP
(Barra da Tijuca), Frederico Henning,
mandou ontem que sejam feitas investi-
gações para verificar a procedência da
informação constante da petição de Ro-
sinéia Oliveira Reis, de 19 anos. Ela acu-
sa a proprietária de um salão de beleza
que funciona no condomínio Riviera Dei
Fiori — ela nào sabe o nome da acusada
— de tê-la impedido de fazer as unhas,
sábado passado, apesar de ter reservado
horário com antecedência.
Segundo o delegado, a petição não
individualiza e também não deixa cia-
ro se o tipo de discriminação alegado
pela jovem, foi racial ou social. Rosi-
néia que trabalha como doméstica e
reside na casa de Elizeth Castro de
Oliveira, admite que já havia sido atendi-
da ali. anteriormente, numa terça-feira,
normalmente. No sábado, já estava para
ser atendida quando foi informada pela
manicure de que nào poderia ser atendi-
da por ser empregada doméstica e que
funcionários do condomínio e domésti-
cas só podem freqüentar o salào nas
terças e quartas-feiras, pela manha
Os negócios da morte
Médicos assinam
atestados sem
examinar morto
Tim Lopes
s atestados de óbito das pes-
soas que morrem ou a cami-
nho dos hospitais públicos e clínicas
particulares ou quando chegam nes-
sas instituições nào são confiáveis.
Técnicos da Secretaria de Saúde do
Rio de Janeiro dizem que a freqüen-
te omissão dos médicos em atestar
óbitos de pessoas que morrem nas
salas de emergências, facilita a ação
dos papa-defuntos em conluio com
médicos inescrupulosos: os agentes
funerários se dizem solidários com
os parentes e oferecem declaração de
óbito fornecida por médicos que, sc-
quer, examinaram o morto. Nesses
casos, a causa mortis, para as pes-
soas com mais de 40 anos. é, quase
sempre, acidente cardiovascular ou
infarto; para as crianças, pneumo-
nia.
A médica Maria Helena de Mel-
lo, da Faculdade de Saúde Pública
de Sào Paulo, autora, junto com o
subreitor da Universidade de Sào
Paulo, Rui Laurenti. do livro Ates-
tado dc Óbito, acha que os atestados,
dados sem que a causa da morte seja
bem analisada, distorcem nào só as
estatísticas, como também qualquer
estudo sobre a mortalidade nos
quais se baseiam as secretarias de
saúde para estudar as causas das
mortes no Brasil.
O diretor da Divisão Nacional de
Epidemologia do Ministério da Saú-
de, Roberto Augusto Becker, nào
acredita que esses registros cheguem
a influir no padrão geral de mortali-
dade no Brasil e, muito menos, dis-
torcer estatísticas. Reconhece, entre-
tanto, que existem médicos ligados a
funerárias que até preenchem atesta-
dos de óbitos em branco.
No Rio. o médico Marcelino de
____________________________
Oliveira Filho, registrado no Conse-
lho Regional de Medicina sob o nú-
mero 16.614, é o campeão em ates-
tar óbitos: só em janeiro deste ano,
ele atestou 213 óbitos, aproximada-
mente 4% das 5.336 mortes registra-
das pelo Departamento de Dados
Vitais da Secretaria de Saúde do
Estado. O Conselho Regional de
Medicina do Rio de Janeiro (Cre-
merj) já abriu processo para anali-
sar a atuação de Marcelino de Oli-
veira. E o presidente do Conselho,
Laert Andrade de Vaz Mello, acre- "que
dita que existe uma quadrilha,
envolve muita gente", atuando no
fornecimento de atestados de óbito.
Esse comércio de atestados, que
são negociados juntos com caixões,
flores e jazigos, prejudica, além de
amigos e parentes dos mortos, as
estatísticas no Rio. Na última delas,
feita pela Secretaria de Saúde em
1986, dos 97.652 óbitos, 37 mil têm
como causa mortis problemas no
aparelho cardio-vascular, o que sig-
nifica um percentual de 38%. Intri-
ga a técnicos da secretaria o fato de
a proporção de mortes por doença
do aparelho circulatório seja igual
tanto no município do Rio, como
em Nilópolis, na Baixada Fluminen-
se: 42%.
O secretário de Saúde do Estado,
José Noronha, acredita que o pro-
cesso de informatização permitiu de-
teclar com mais precisão, os profis-
sionais médicos que assinam um
número elevado de atestados de óbi-
to. "Os que mais sofrem com essa
exploração são as pessoas carentes.
Elas já tem a dificuldade da falta de
serviço de saúde, nâo tem uma ficha
clinica e. quando morrem, caem nas
garras desses agentes que fazem da
morte um bazar e nào um oficio"
diz o secretário.
Uma das maneiras de acabar
com essa atuação nociva é a instala-
çào de pequenos escritórios da San-
ta Casa nos oito hospitais públicos
do município, o que já está sendo
feito pela secretaria de Saúde.
mmYA M mWm£i^x$m.-
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H^^ *** mi mmmw * * '"*
__P ^!^B™^B^^^H iBf Barros, ajudada por sua secretária Ana
______.# JmM tw Jkj^H
<OT| WLt • yjjáill Maria Pereira Fernandes. As duas puxa-
__fir ^Bí mr^ ram os operários pelos braços, para o
interior do apartamento.
O responsável pela obra é o próprio
sindico do prédio, o engenheiro Anlo-
nio Morais, morador do 701. Ele afir-
mou que os dois rapazes
"sào contra-
tados como pedreiro e servente do
. condomínio Martori, e trabalhavam no
prédio há apenas duas semanas, com
todas as condições de segurança".
i—I O operário Juarez Paulo da Sil-
'—' va, de 23 anos, morreu ontem, ao
cair, do 19° andar, por volta das 16h,
de um andaime em que trabalhava,
reformando a fachada do edifício Mio-
zotis (Bloco II), do Condomínio Rivic-
ra dei Fiori, na Avenida das Américas,
...... . .___, Wm*íf>&!i8SÍfà&$i^viS-sÉ
na Barra da Tijuca.
As duas mulheres puxaram os operários pela janela do apartamento
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