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Aplicação de SNMP no Centro de Controle da Automação da Eletrosul

Pablo Humeres Flores Diogo Vargas Marcos


Eletrosul Eletrosul
Brasil

RESUMO

O trabalho apresenta uma aplicação do protocolo SNMP na gerência dos sistemas de


supervisão e controle da Eletrosul para permitir a melhoria na disponibilidade dos
equipamentos e sistemas computacionais envolvidos. Será apresentada uma visão geral da
supervisão e controle do sistema elétrico nos seus diversos níveis, e da implantação de um
centro de controle da automação para a gerência e manutenção dos sistemas. Como
principais ferramentas para esta gestão serão utilizadas o SNMP e o SAGE (sistema de
supervisão). Serão apresentados resultados relacionados às estatísticas de falha, tempos
de reparo e disponibilidade.

PALAVRAS CHAVE

Automação, Telecontrole, Sistemas Digitais, SAGE, SCADA, SNMP.

Pablo Humeres Flores, ELETROSUL Centrais Elétricas S.A, Rua Deputado Antônio Edu
Vieira, 999, Pantanal, CEP: 88040-901, Florianópolis – SC, Telefone: (48) 3231-7996,
hpablo@eletrosul.gov.br
1. INTRODUÇÃO
As empresas de energia elétrica no Brasil tem realizado grandes investimentos nos últimos
15 anos na digitalização dos processos de supervisão, controle, medição e proteção do
sistema elétrico. Equipamentos eletromecânicos e fios elétricos foram substituídos por
multimedidores, relés digitais, unidades de aquisição e controle, sistemas computacionais de
suspervisão e controle – scada, switches, e muitas soluções em rede.
As exigências de disponibilidade das informações do sistema elétrico também mudaram.
Existem mais agentes a quem os dados devem ser fornecidos: subestações, centros de
telecontrole, centros de operação, áreas de manutenção e estudos, e outras empresas do
setor. Os dados tem que ser entregues com grande disponibilidade e qualidade.
A Eletrosul Centrais Elétricas SA abrange uma grande área territorial estando presente nos
estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Matogrosso do Sul onde ela atua
como principal agente de transmissão do sistema elétrico em 500, 230 e 138 kV. No caso da
Eletrosul além dos investimentos nos equipamentos e sistemas diretamente responsáveis
pela supervisão e controle do sistema elétrico foram feitos investimentos no suporte a estes
sistemas. Dentro deste conceito foi montado o Centro de Controle da Automação, que
consiste numa estrutura em rede para acesso direto aos equipamentos em campo. O
objetivo é permitir as intervenções para alterações e correções com maior velocidade,
segurança e disponibilidade, além de supervisionar a saúde dos sistemas e gerar
estatísticas de disponibilidade.
Para fazer o acompanhamento do desempenho dos sistemas e equipamentos envolvidos foi
escolhido utilizar o protocolo SNMP (do inglês Simple Network Management Protocol -
Protocolo Simples de Gerência de Rede).
Os principais equipamentos envolvidos são microcomputadores tipo servidor e desktop,
switches e terminal servers. O ambiente de sistema operacional é Linux, tendo assim
facilidade para gerar condições de agente SNMP.

2. O SISTEMA DE SUPERVISÃO E CONTROLE DIGITAL


Os principais elementos num sistema de supervisão e controle digital podem ser agrupados
da seguinte maneira:

Fig. 1 Representação do sistema de supervisão e controle digital

A interface com o processo considerando instalações existentes é normalmente uma lógica


cablada, com relés e conexões elétricas à base de fiação.
Os sinais aquisitados de campo como grandezas elétricas devem ser convertidas em sinais
digitais. O responsável por esta função é a Unidade Terminal Remota, UTR. Em instalações
mais novas isto pode estar de forma distribuída tendo uma Unidade Concentradora da
Subestação, UCS e unidades de aquisição e controle, UAC e Relés digitais.
Através de algum protocolo de comunicação, os dados são aquisitados por um sistema
computacional de supervisão e controle, SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition),
que os disponibiliza para o operador numa interface homem máquina, IHM, a partir da qual é
realizada toda a supervisão e controle da instalação.
A arquitetura típica de um sistema de supervisão e controle esta apresentada na figura 2.

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Fig. 2 Arquitetura do sistema de supervisão e controle digital de uma subestação

Os principais elementos desta arquitetura são:


• Servidores: São os principais equipamentos da arquitetura, sendo constituídos por
computadores com grande capacidade de processamento e hardware projetado para
suportar funcionamento em regime contínuo. Disponibilizadas em estrutura compatível
com rack 19" para alocação nos painéis.
• Terminais de Operação (TO): São os equipamentos de contato entre os operadores e o
sistema elétrico. São computadores Desktops cuja função é apenas processar e
apresentar a interface gráfica do scada, que é disponibilizada via rede pelos servidores.
Todos os programas e comandos são efetivamente executados nos próprios servidores.
• Time Server (gps): Sua função é obter o horário correto via satélite através do sistema
GPS e via rede (serviço NTP) manter uma mesma referência de tempo para o sistema.
• Terminal Server (tsr): Utilizado na comunicação, através da implementação de
interfaces seriais que podem ser acessadas remotamente via tcp/ip pelos servidores.
Dessa forma, este equipamento funciona como um concentrador no qual são plugados
os canais de comunicação assíncronos.
• Unidade Concentradora da Subestação (UCS): São o gateway de comunicação para o
envio das informações para centros os diversos centros: local, controladora, COT, ONS,
ou outros agentes. São sempre redundantes e utilizam uma rede de comunicação
específica para receber os dados das UAC, relés digitais e unidades concentradoras de
proteção.
• Unidade de Aquisição e Controle (UAC): São o meio de interface direta com o
processo controlado, de modo que são esses os elementos que fazem a transformação
dos sinais digitais e analógicos obtidos de campo e recebem comandos recebidos dos
centros de controle.

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Atualmente o sistema de supervisão e controle da Eletrosul está organizado conforme
apresentado na figura 3.

Fig. 3 Configuração telecontrole Eletrosul

Estas informações são utilizadas por diversos agentes para operar, controlar e supervisionar
o sistema elétrico. A figura 4 representa a interligação entre os diversos agentes.

ONS

COSE

CT(1) ... CT(k)

SE(1) SE(2) ... SE(n-1) empresa_y SE(n)

empresa_x

Fig. 4 Hierarquia agentes sistema elétrico

As informações do processo elétrico são distribuídas para diversos agentes do mercado


elétrico, o que exige garantia de serviço. Cada um utiliza para intervenção no sistema e/ou
supervisão para tomada de decisão.
A receita da Eletrosul ocorre em função da disponibilidade do sistema de transmissão, por
isso a supervisão é fundamental para diminuir tempos de interrupção. Além disso, a
indisponibilidade de informações pode acarretar em multas ou impedir a energização de
novas instalações atrasando receitas ou significando penalizações.
Na Eletrosul o SCADA utilizado tanto nas Subestações, Centros de Telecontrole e Centro de
Operação é o SAGE - Sistema Aberto de Gerenciamento de Energia, desenvolvido pelo
CEPEL (Centro de Pesquisa de Energia Elétrica) da Eletrobrás. Este sistema é o mais
utilizado no setor elétrico brasileiro.
Ele comunica em diversos protocolos com as unidades terminais remotas, relés,
multimedidores, principalmente em DNP, IEC 101, IEC 104, ModBus, IEC 61850. Os

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sistemas mais antigos utilizavam comunicação serial RS232. Atualmente a maioria ocorre
em TCP/IP.
Atendendo as necessidades de gerência dos sistemas foi desenvolvido pelo CEPEL o
protocolo SNMP integrado ao SAGE, tanto na função de agente como de gerente SNMP.

3. O CENTRO DE CONTROLE DA AUTOMAÇÃO


O Centro de controle da automação – CCA foi implantado na sede da empresa com os
seguintes objetivos:
• Permitir o monitoramento de todo o sistema digital de supervisão e controle da eletrosul;
• Geração de indicadores de desempenho dos sistemas;
• Permitir o acesso remoto para manutenção;
• Permitir a operação de emergência de qualquer instalação;
Para viabilizar estes objetivos foi necessário criar uma Rede de Gerenciamento Remoto -
RGR e implantar uma infra-estrutura computacional no CCA.
Para atender ao fluxo de dados de tempo real dos sistemas de supervisão e controle foi
implementada uma rede de operação dedicada e fisicamente isolada de outras redes
(corporativa). Basicamente é um anel ótico de 2 Mb entre os Centros de Telecontrole e o
Centro de Operação e duas rotas ponto a ponto entre o Centro de Telecontrole e suas
subestações telecontroladas em 64 kb.
A rede de gerenciamento remoto – RGR utilizada pelo CCA é outra rede, sendo
basicamente um anel de 2 Mb com alguns locais a velocidades mais baixas. A figura 5
ilustra esta rede.
pfu lon
ivp
lgr
are
sta
yta

cno

jl
cba
pal
blu
sede itj

Fig. 5 Rede de Gerenciamento Remoto – RGR

Na sede da empresa foi montada uma sala com os equipamentos para instalação dos
equipamentos e sistemas necessários para o Centro de Controle da Automação.

Fig. 6 Estrutura do CCA


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Existe um servidor que gerencia o acesso à RGR e onde estão instalados os principais
aplicativos. Ele faz o recolhimento de dados seja dos arquivos históricos do SAGE ou do
SNMP.
Foram instalados três postos de trabalho para acesso remoto, geração de relatórios e
eventual operação de emergência.
Basicamente existem três sistemas para a gerência do sistema.
• SAS - Sistema de Acesso Seguro: desenvolvido em Delphi, cria uma interface de
onde se pode acessar qualquer instalação escolhendo um acesso em terminal (telnet)
ou em interface gráfica (Exceed). Ele facilita o acesso e registra todos em arquivos
para auditagem;
• SAD – Sistema de Avaliação de Desempenho: Gerador de estatísticas de
desempenho do sistema de supervisão e controle: Faz o recolhimento diário dos
históricos do SAGE para verificar tempos de indisponibilidade e falhas de comandos.
Desenvolvido em JAVA populando um banco de dados MySQL a partir dos arquivos
do SAGE.
• SAI - Sistema de Avaliação da Infra-estrutura: Supervisão e registro de desempenho
dos equipamentos da plataforma digital. Faz o registro via SNMP de toda a estrutura
de equipamentos fazendo um histórico de diferentes variáveis relacionadas a cada
um: uptime, ocupação de disco, desempenho de memória e processador, velocidade
de coolers, etc. O gerente SNMP foi desenvolvido em PHP, populando um banco de
dados MySQL.

4. O PROTOCOLO SNMP
Para fazer o acompanhamento do desempenho dos sistemas e equipamentos envolvidos foi
escolhido utilizar o protocolo SNMP do inglês Simple Network Management Protocol -
Protocolo Simples de Gerência de Rede. Ele é um protocolo de gerência típica de redes
TCP/IP, da camada de aplicação, e que facilita o intercâmbio de informações entre os
dispositivos de rede.
Oferece uma séria de vantagens para a função de gerência do sistema, já que interfere
minimamente na rede (transporte UDP), é de fácil configuração, muito difundido estando
disponível na maioria dos equipamentos da plataforma digital: computadores (Linux e
Windows), roteadores, terminal server, switches.
Inicialmente era utilizado em ambientes corporativos. Ele é um padrão aberto baseado no
conceito de agente e gerente SNMP. Um agente é qualquer dispositivo que possui a
capacidade de responder a uma requisição feita. As informações são organizadas de acordo
com uma MIB (Management Information Base). Ela fornece informações gerais de
gerenciamento. Através da MIB podemos obter informações como: número de pacotes
transmitidos, estado da interface, entre outras. Podemos ter também uma MIB privada onde
os componentes fornecem informações específicas dos equipamentos gerenciados, como
configuração, colisões e onde também é possível por exemplo reinicializar, desabilitar uma
ou mais portas de um roteador. É um programa executado em uma estação servidora que
permite a obtenção e o envio de informações de gerenciamento junto aos dispositivos
gerenciados mediante a comunicação com um ou mais agentes em SNMP. Existem
implementações em módulo texto e em módulo gráfico.

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Fig. 7 Relacionamento de um gerente com o objeto gerenciado

Existem diversos softwares livres disponíveis tanto para a função de agente quanto de
gerente.

5. SAGE-SNMP
A necessidade de implementação do SNMP no SAGE ocorreu em função de duas
necessidades principais.
A primeira foi permitir a supervisão em hierarquias superiores com relação às condições do
sistema: sub-processos, estatísticas e estado das comunicações, controles sobre o software.
A segunda foi incorporar à supervisão do sistema elétrico as condições dos elementos
principais da plataforma computacional associada.
Hoje o SAGE é um sistema gerenciável e capaz de gerenciar sistemas. Ser gerenciável
significa que o SAGE disponibiliza informações internas para outros softwares de
monitoramento via SNMP. E o SAGE é capaz de ser um gerente já que tem capacidade de
monitorar equipamentos via SNMP.
Como este recurso é recente esta sendo implementado aos poucos na Eletrosul. Já foram
realizados testes em laboratório com sucesso e agora esta em fase de teste em campo na
Subestação Palhoça.

6. RESULTADOS ESTATISTICOS
A estatística de desempenho do sistema pode ser separada em dois grupos: os indicadores
de mantenabilidade da infra-estrutura e os indicadores de qualidade do sistema de
supervisão e controle.

Para gerar os indicadores de mantenabilidade utiliza-se o Sistema de Avaliação da Infra-


estrutura – SAI que atua sobre o conjunto de equipamentos da plataforma do sistema digital
de supervisão e controle conforme apresentado na tabela 1. Nela são mostrados os
equipamentos já em operação e a quantidade final prevista.

Tabela 1 Equipamentos supervisionados

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A figura 8 mostra o fluxo de dados abrangendo desde a fonte de dados, equipamentos do
sistema digital de supervisão e controle até o destino dos dados na forma de relatórios.

Fig. 8 Fluxo da geração de relatórios de supervisão


Onde:
• Equipamentos SDSC: são aqueles presentes nas diversas subestações com finalidade
de supervisão do sistema elétrico.
• SAI: sistema presente no servidor do CCA responsável pela aquisição das informações
via protocolo SNMP.
• Relatórios de Indicadores:arquivos contendo informações sobre condições dos
equipamentos organizado por “famílias”. A figura 9 mostra um exemplo.

Fig. 7 Exemplo de relatório gerado pelo SAI

O Sistema de Avaliação de Desempenho – SAD gera os indicadores de qualidade do


sistema de supervisão. Os principais são:
• DIRS: Duração da Indisponibilidade dos Recursos de Supervisão (horas) representa o
tempo de indisponibilidade dos pontos.
• FIRS: Frequência da Indisponibilidade dos Recursos de Supervisão (quantidade)
representa a quantidade de interrupções das ligações.
Nos dois casos o valor é ponderado: pontos indisponíbilizados em relação ao total de pontos
distribuídos.

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• TFCM: Taxa de falha de comandos (%) representa o percentual de falhas dos comandos
de controle.
Os relatórios gerados são conforme os exemplos a seguir:

Fig. 8 Relatórios de desempenho

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7. CONSIDERAÇÕES GERAIS
A implantação do Centro de Controle da Automação CCA foi programada em etapas. A
estrutura física está finalizada. As aplicações desenvolvidas focaram a viabilidade e
avaliação das soluções pretendidas. Desta maneira a utilização do SNMP provou ser
eficiente e conveniente para a gerência do sistema. Numa próxima etapa vai se implantar o
próprio SAGE para ser o gerente SNMP. Além disso, serão disponibilizados alarmes críticos
relativos à infra-estrutura da plataforma digital para a área de tempo real responsável pela
operação do sistema elétrico. Outra ação em andamento é a integração dos bancos de
dados dos sistemas de avaliação, do SAGE e corporativo para otimizar o fluxo e registro de
informações.

8. CONCLUSÃO
A instalação de um centro de gerência provou ser uma estratégia adequada para melhoria
do suporte aos sistemas de supervisão e controle. As ações são mais rápidas e otimizam
custos. A utilização do SNMP tem confirmado as suas vantagens. Com a implantação do
gerente SAGE entrará em funcionamento um sistema em tempo real otimizando as ações
de manutenção, permitindo ações preditivas e não somente corretivas. Com a integração
dos bancos de dados espera-se ter um histórico melhor dos elementos do sistema, das
ações de manutenção e da política de substituição de equipamentos.

9. BIBLIOGRAFIA
[1] Flores, Pablo H. e Andrade, Luís F.B. “Visão geral da implantação do programa de
telecontrole de subestações da Eletrosul”, II Seminário Nacional de Controle e
Automação - SNCA, 2000.
[2] Flores, Pablo H. “Suporte e desenvolvimento dos sistemas de supervisão e controle
digital na Eletrosul”. I Seminário de Operação e Telecomunicações da Eletrosul -
SEPOP,2005.
[3] Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, “Procedimentos de Rede: Requisito
telessupervisão para a operação, Submódulo 10.19” 2003.
[4] GTMI - Comissão Critérios de Manutenção dos Sistemas Computacionais em Áreas
Industriais, Informe Técnico COPEM/SCMT-006/2006.
[5] GTMI - Comissão Critérios de Manutenção dos Sistemas Computacionais em Áreas
Industriais. Informe Técnico COPEM/SCMT-005/2007.

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