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Biografia de um poema-sonar
Alberto Pucheu
É poeta e professor de teoria literária da UFRJ.
O ato-escrita
O pensamento-poesia: resistência
Penso a poesia como um fio, dentre outros, que constituem o tecido social. Por isso, ao mesmo
tempo em que ela se exprime de maneira autônoma através dos elementos formais que a
diferenciam de outras modalidades de discurso, se entrelaça com a sociedade e revela o quanto
há de histórico e concreto em seus próprios elementos formais. Sendo assim, por um lado, a
resistência pode ser vista como algo inerente à poesia, pois ela se articula no interior dos
sistemas de linguagem, propondo representações que transcendem as funções pragmáticas
desses sistemas. Nesse caso, o desejo de desmascarar as armadilhas da linguagem se converte
em força vital da experiência poética. Por outro lado, a historicidade da poesia (que nos recorda
a inevitável historicidade do poeta) pode transformá-la em resposta a contextos específicos. A
resistência, nessa condição, vem a ser o prolongamento das expectativas compartilhadas entre
o poeta e o grupo com o qual ele se identifica. Em geral, essas expectativas se nutrem de certas
tendências ideológicas, cujo rastreamento crítico demonstra, em algumas situações, a frutífera
dimensão política da poesia e, lamentavelmente, em outras, a perda de rumos da poesia,
quando esta é associada a práticas políticas degradantes. Em face desse jogo, permeado de
tensões estéticas e ideológicas, um dos grandes apelos da poesia está nas escolhas a serem
feitas pelo poeta. Pessoalmente, aposto no teor utópico da poesia. Vejo-a como resistência
quando se faz luta contra o abastardamento e a banalização da linguagem e, por extensão, das
formas de pensar e de agir. Pensamento, linguagem e ação são elementos que se entrelaçam
mutuamente. Não permitir que essa aliança se esfacele, tendo a poesia como um canal de
reflexão e partilha estético-afetiva é um modo, acredito, de reiterarmos nossa densidade de
sujeitos históricos que, explicitamente ou não, aspiram a alguma margem de permanência.
Oficina de diálogos I
Minha vivência-e-trabalho com a escrita tem se desdobrado na criação poética através da qual
me arrisco na expectativa de semear uma paisagem onde afloram as experiências com a TWITTER
linguagem, a investigação histórica e antropológica e a perquirição metalinguística; e na
reflexão teórica que me permite analisar, através de estudos de casos, diferentes aspectos das
culturas populares e afrodescendentes a partir de um território específico, as minas gerais.
Tweets por @revistacult
Influências decisivas para minha viagem poética vieram de meus trabalhos com as culturas
populares, incluindo os narradores orais, as ritualidades, os compositores da MPB e os textos Revista Cult
de ciências sociais. As árvores desse pomar são múltiplas, a saber: as poéticas de Nélson de @revistacult
Jacó, Pedro Oscar, Barandão, José Paulino Clemente, Mário Braz da Luz, Synéas Martins Há 195 anos nascia Fiódor Dostoiévski, em
Campello (enfim, uma roda de pessoas do interior das Gerais); as poéticas do Carnaval, Moscou. Leia entrevista, da CULT 163,com o maior
Congado, Jongo, Folias de Reis, ensalmos e de uma míriade de ritos populares; as poéticas de biógrafo do escritor bit.ly/2eL4ia5
Pixinguinha, Geraldo Pereira e Jorge Benjor; e as leituras críticas dos textos de etnografia,
antropologia, história e sociologia. Se há algo que me atrai no ensaio e no poema é sua
condição de incompletude e transitoriedade. Porém, uma vez construídos, esperamos deixar
neles sinais de certos objetivos alcançados. Por isso, solicitamos, direta ou indiretamente, que
sejam lidos como obras para as quais qualquer mudança terá de considerar as formas acabadas
que esses textos exibiram um dia. Em se tratando da escrita textual, essa reivindicação não é
nova. Realimentamos com frequência a metáfora do texto como tecido, levando em conta que
ambos se constituem como presenças e marcas que reforçam, simultaneamente, as ausências e
os vazios. Há muito se sabe que o texto escrito convoca, exatamente por estar escrito, outras
formas textuais (a oralidade, a visualidade, etc) que se não deixaram ver/ouvir na sala de
visitas do papel. E, no entanto, desde suas ausências essas formas textuais acenam para o
leitor, provocando-o, seja para assumir o texto como uma possibilidade de outros textos, seja
para conformar-se com o já visto. O tecido também se realiza como presença incompleta, pois
os fios visíveis que vestimos como proteção e adorno não se conectam absolutamente, de modo
a recobrir o vazio que germina entre eles. Aí, nesse vazio, respira e se entremostra a pele, esse
tecido que o olhar busca com desejo, embora, muitas vezes ele se cubra e se afaste sob as
indumentárias. A metáfora do texto-tecido nos chama para os limites onde confinam o real
objetivo e a subjetivação do real, ou seja, para aquele momento em que a realidade que nos é
dada como pronta e resolvida nos instiga a pensá-la como algo nem oferecido, nem pronto, 37m
nem resolvido. A presença do texto e do tecido insinua sua temporalidade, retidos que estão em
palavras ou fios: por isso, a interpretação que considera o texto e o tecido como formas
Revista Cult
concluídas assina para eles a sentença capital. Felizmente, aquela ausência – metonímia de
@revistacult
outros possíveis textos e tecidos – nutre o desejo pelo texto e o tecido presentes,
transformando-os em pontes que nos permitem transitar por diferentes lugares onde o sentido O objetivo é criar uma plataforma comum de
se torna uma realização possível. debate e construção de programas, projetos e
Incorporar
candidaturas Ver no Twitter
Oficina de diálogos II revistacult.uol.com.br/home/2016/11/q…
Muito do que há em minha escrita poética dialoga com a dinâmica do ensaio em antropologia
vincado, ambiguamente, pela necessidade de fixar os traços da cultura e compreender a sua
inerente capacidade de transformação. Esse tensionamento me impele, em termos de vivênvia
poética, a uma defesa permanente da liberdade para a experimentação estética; a uma busca de
diálogo com as formulações estéticas de certas tradições, bem como de certas articulações
Biografia de um poema-sonar
[…]
[…]
[…]
[…]
[…]
[…]
[…]
Nessa geração
que é minha e pouco decifro
a distância entre o descampado e o pátio
é maior. Das escarificações na face
restou o baralho
a flexão de rugas
sob a fuligem.
Cruzar a cidade é moer mais que mover-se
o amigo e sua bagagem
revestida de selos
quedam num depósito
identificados
como não identificados.
[…]
Edimilson de Almeida Pereira nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1963. É docente
de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Faculdade de Letras
da Universidade Federal de Juiz de Fora. Na área de antropologia social publicou, dentre
outros, os livros Mundo encaixado: significação da cultura popular (1992) e Do presépio à
balança: representações sociais da vida religiosa (1995). Sua obra poética foi reunida nos
volumes Zeosório blues (2002), Lugares ares (2003), Casa da palavra (2003) e As coisas
arcas (2003). Seus livros mais recentes, reunidos sob o título de Novos Poemas são: Relva
(2015), maginot, o (2015) e Guelras (2016). Autor de uma poética caracterizada por diferentes
linguagens e personae, que colocam a poesia em diálogo com a História, a Etnografia e a
Antropologia, Edimilson Pereira teve sua obra analisada em diversos textos críticos, dentre os
quais o livro Recitação da passagem (Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010), de autoria de
Maria José Somerlate, docente de Literatura Brasileira em Iowa.
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