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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE ITAJAÍ/SC

Autos por dependência n. 5014732-50.2023.8.24.0033

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, por seu Promotor de


Justiça titular da 9ª Promotoria de Justiça de Itajaí, com fundamento nos artigos 311, 312,
313, todos do Código de Processo Penal, ainda, com base nos documentos que instruem os
Procedimentos Investigatórios Criminais n 06.2023.00002243-6, 06.2023.00002242-5 e
Notícia de Fato n. 01.2023.00019491-7, vem, à presença de Vossa Excelência, requerer a
DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA de FÁBIO LUIZ FERNANDES CASTELO
GUEDES, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Excelência, o presente pedido irá relatar quatro séries de peculatos-desvio


cometidos e ainda em curso, de autoria do requerido Fábio Luiz Guedes, a saber:

a) peculatos-desvio praticados em razão de servidores comissionados da


Câmara de Vereadores de Itajaí, praticados pelo requerido em co-autoria com Thayana de
Souza da Costa, através de exigências de parte dos vencimentos dos servidores
comissionados à disposição do primeiro, para benefício de Thayana e do próprio requerido.

A exigência, para fins de cumprimento mensal, deu-se em desfavor das


servidoras Elenita Kletenberg e Katia Regina Tavares (desde fevereiro de 2021 e, segundo
apurado, seguem ocorrendo); da servidora Maria Helena Spronello (desde fevereiro de 2021
até janeiro de 2022) e Gabriel Felipe Spronello (desde fevereiro de 2022 até maio de 2023).

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b) peculatos-desvio praticados em razão de servidores comissionados da
Prefeitura de Itajaí praticados pelo requerido em co-autoria com Thayana de Souza da Costa,
através de exigências de parte dos vencimentos dos servidores comissionados à disposição
do primeiro, para benefício do próprio requerido.

Até então apurado que a exigência, para fins de cumprimento mensal, dá-se
em desfavor dos seguintes servidores: Joel Antônio Ramos Júnior (desde março de 2023);
Jéssica Tavares Fagundes (entre agosto de 2022 e setembro de 2023); Susiane Cardoso
(desde maio de 2023); Leandro de Souza (mês de agosto de 2022); Samara Regina de
Jesus (desde maio de 2023); Eliane da Cunha (desde abril de 2023); Jairo da Rocha (de
janeiro de 2021 a abril de 2023); Carlos Henrique de Souza (desde janeiro de 2021); Igor
Ritchely Mirana (desde janeiro de 2021); Deivid Navel Mans Paixão (desde janeiro de 2021);
Leonardo de França (desde janeiro de 2021); Mayckon Alexandre Pereira Ramos (desde
janeiro de 2021); Guilherme Fernandes Joaquim (desde janeiro de 2021); Cristiano Castelo
da Silva (desde janeiro de 2021); Simone da Silva (desde junho de 2022); entre outros ainda
sem identificação completa.

c) dos crimes de peculato-desvio e falsos ideológicos referentes a recursos


públicos recebidos da autarquia municipal SEMASA, praticados pelo requerido Fábio
Guedes em co-autoria com o irmão Diego Fernandes e com Kátia Regina Tavares, conforme
será detalhado abaixo.

Em face da extensão do pedido, para fins de fácil localização das descrições


e argumentos segue pequeno sumário:

a) Peculato-desvio referente à Câmara de Vereadores .................................. p. 3

b) Peculato-desvio referente à Prefeitura Municipal ........................................ p. 13

c) Peculato-desvio referente à Autarquia SEMASA ........................................ p. 76

d) Fundamentação do pedido de prisão preventiva ........................................ p. 123

Em junho do corrente ano, aportou nesta 9ª Promotoria de Justiça,


documento que descrevia uma série de fatos criminosos praticados pelo representado Fábio
Luiz Fernandes Castelo Guedes.

Em face dos detalhes de informações e multiplicidade de fatos descritos,


foram instaurados dois procedimentos investigatórios, a saber: PIC n. 06.2023.00002242-5
e PIC n. 06.2023.00002243-6, o primeiro para apurar a práticas de crimes de peculato-
desvio, e o segundo para apurar crimes de peculato-desvio e falsidade ideológica. No âmbito
do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO), a quem
foi solicitado apoio, as investigações receberam o nome de Operação Contracheque.

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Ante o deferimento cautelar de busca e apreensão e quebra de sigilos
diversos, foram amealhados uma série de documentos, além de diversos aparelhos
telemáticos e três computadores, cujas análises foram minuciosamente documentadas em
relatórios abrangentes, nos quais se destacaram fortes e numerosos elementos de prova
quanto à existência dos crimes inicialmente noticiados ao Ministério Público.

Em paralelo, somaram-se às evidências documentais, diversos


depoimentos que deram conta da veracidade dos fatos investigados, inclusive com
esclarecimentos quanto às razões do anonimato da notícia inicial, condição já superada,
quer em face do reconhecimento do denunciante, quer pelos vários depoimentos já
prestados e que ratificam a existência de uma série de crimes de peculato e falsidade
ideológica.

2. DOS FATOS

Diante dos diversos crimes envolvendo o requerido e a vastidão de


documentos comprobatórios, com objetivo de proporcionar uma narrativa didática, de modo
a conduzir à perfeita compreensão, os tópicos abaixo tratarão dos crimes em separado, a
saber: a) dos crimes de peculato-desvio praticados em razão de servidores comissionados
da Câmara de Vereadores de Itajaí; b) dos crimes de peculato-desvio praticados em razão
de servidores comissionados da Prefeitura de Itajaí; c) dos crimes de peculato-desvio e falsos
ideológicos referentes a recursos públicos recebidos da autarquia municipal SEMASA
crimes.

a) Dos crimes de peculato-desvio praticados em razão de servidores


comissionados da Câmara de Vereadores de Itajaí

O requerido, na data de 01 de janeiro de 2021, passou a ocupar o cargo


público de Vereador no Município de Itajaí. Em razão de sua nova função, este teria à sua
disposição três cargos em comissão para livre nomeação, sendo um cargo de Chefia de
Gabinete e dois cargos de Assessoria Parlamentar.

Tais cargos guardam por finalidade a condução dos trabalhos do Gabinete


do vereador e, como qualquer cargo público, atender o princípio da supremacia do interesse
público, em contrapartida, remuneram mensalmente segundo o valor legalmente estipulado
para a função.

Os servidores que inicialmente ocuparam referidos cargos são: Elenita


Kletenberg (Assessora Parlamentar), Maria Helena Spronello (Assessora Parlamentar) e
Kátia Regina Tavares (Chefe de Gabinete).

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Contudo, pese os vencimentos devam servir à remuneração dos prestadores
de serviço, não é o que ocorreu no gabinete do Requerido Fábio, que, no intuito de desvio
de recursos públicos em proveito próprio e alheio, exigiu das três servidoras parte do valor
que por estas era recebido mensalmente, ação conhecida do público como “rachadinha”.

Para o sucesso do desvio de valores o representado contou com o apoio de


Thayana de Souza da Costa, que em parte era responsável por gerenciar o esquema e a
quem era dirigido boa parte dos valores desviados.

A prova dos autos é farta, inicialmente com a confirmação dos fatos pelas
três assessoras, senão vejamos:

Elenita Kleitenberg (30/06/2023) – a partir do minuto 11: "o Fábio ganhou as


eleições então fomos chamadas para ir na casa dele", então Fábio teria
falado que: "eu quero que vocês todas as três ganhem o mesmo valor
de salário e a diferença vocês vão passar pra Thay ...", acresceu a
depoente que como não era Chefe de Gabinete pagava "mais ou menos
540 na época", quanto a Thay esclareceu que "Thayana era a fotógrafa que
ficava o tempo todo com o Fábio", quanto ao nome completo esclareceu que
se trata de Thayana Costa. Perguntado a Elenita se foi dada opção para este
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pagamento esta respondeu: "não ... é isto ou se retiram né ... ou vocês
concordam desta maneira de passar este valor pra ela". Segundo foi
informado por Fábio para Elenita, o valor serviria para pagar o salário de
Thayana para fazer a mídia do Gabinete. A depoente ainda informou que
este repasse vem sendo mensalmente realizado desde fevereiro de
2021, sendo que iniciou tão logo recebido o primeiro salário. Informou ainda
a depoente que este valor vai aumentando conforme os aumentos
concedidos pela Câmara de Vereadores, e que passou ao cargo de Chefe
de Gabinete na primeira parte do ano de 2022, quando passou então a
pagar a quantia mensal de R$ 1.400,00. Sobre a forma de repasse
esclareceu que "tudo através de pix" que seria enviado para a própria
Thayana. Que, desde de 2021, o total de valor mensal que deveria ser
repassado para Thayana pelos servidores comissionados do Gabinete do
representado Fábio é de R$ 2.940,00.

Kátia Regina Tavares: […] que quando iniciou a trabalhar no gabinete de


Fábio começou como chefe de gabinete, que nesta oportunidade ganhava
em torno de 7 a 8 mil, sendo que na época repassava para Thayana Costa
um valor, em torno de mil e duzentos reais; que foi acertado que esse valor
seria repassado para Thay; que é como chamam, porque ela presta serviços
ao vereador na parte de mídias; […]; que o acerto para o pagamento foi feito
no início conforme orientação do vereador Fábio; que perguntada se tinha
a opção de não pagar, respondeu que teria, mas então não estaria
trabalhando para o vereador; […]; que atualmente a função é de assessora
parlamentar sendo que repassa o valor de R$ 786,00 reais para Thay; que
esse dinheiro, no começo de 2021, chegou a passar via pix, mas depois
passou a pagar e efetuar o pagamento em espécie.

Maria Helena Spronello: "que na época que ele (Fábio) chamou para ser
assessora já foi conversado que uma parte do salário iria para auxílio
assistenciais ou para a Thayana; que Thayana é uma assessora extra; que
na época ela trabalhava para o Fábio; que o salário dela os assessores
do gabinete que pagavam; que na época era 600 reais; que fazia pix na
conta da Thayana; que era uma obrigação; que para poder trabalhar
tinha que dar o valor".

Posteriormente, em janeiro de 2022, Maria Helena Spronello deixou o cargo


comissionado, sendo que, em seu lugar, assumiu Gabriel Felipe Spronello.

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De igual forma, visando o desvio de valores em proveito próprio e alheio, em
concurso material de crimes, o representado Fábio exigiu parte do salário do servidor. Do
depoimento de Gabriel extrai-se:

"que quando entrou para substituir a sua irmã; que o Fábio disse que teria
que ser feito essa devolução de valor; que seria para Thay; que Thay é
uma assessora de mídia dele; que tudo ia para essa conta da Thay; que
fazia por pix; que no começo era 620 reais; que era assessor
parlamentar; que o chefe de gabinete pagava a mais; que depois do
reajuste foi para 786 reais; que era em torno de 10% ou 15%; que não
sabe se o dinheiro era para uso só da Thay; que era uma exigência; que
a consequência era ser mandado embora".

A análise dos aparelhos de telefone apreendidos corrobora os testemunhos,


inclusive com a identificação de conversas e documentos que dão conta que mensalmente
os servidores comissionados deveriam entregar valores à Thayana de Souza Costa. Como
bem se observa das mensagens abaixo:

6
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00
Conversa entre Maria Spronello e Katia Regina Tavares

Boa tarde dona Katia

Sabe me passar o valor q ficou de cada uma da Tay


Fábio está pedindo

Ou se passar do valor do seu salário aqui tbm


cálculo

Como preferir

Maria

De 5.800 eu recebi

Está bem, já verifico aqui o cálculo

Maria deu 5.822,60

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00


Conversa entre Katia Regina Tavares e Elenita Kletenberg
Quanto veio do teu décimo?

Deixa eu confirmar

2.030,30

Meu veio 2.271,90

Essa diferença que passamos para a Thay

Vai dar 241,60

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Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00
Conversa entre Kátia Regina Tavares e Thayana Costa

Bom diaaa

Oi
Bom dia

Fábio perguntou do pix

Vou deixar depois lá

dona Kátia fabio me cobrou, que se fosse


desse jeito era pra falar que tem q ser o
pix...
Qq coisa a senhora chama agora por
favor

Bom dia Thay

Segue comprovante “619,00” agora eu


pago o valor da Elenita

Conforme apurado, havia um grupo no aplicativo de troca de mensagens


WhatsApp, nominado de “Assessoria Vereador”, no qual o representado Fabio, entrou
outros assuntos, tratava da exigência do valor aos servidores, senão vejamos:

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Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00
Grupo de Whatsapp com Fabio, Fátia, Elenita, Thayana e Natália - mensagem de Fábio

Não concordo pq não foi isso combinado, não


quero interferir mas quero que seja feito como
acertei com cada uma de vcs se por acaso não
lembrarem do combinado eu tenho tudo anotado

Isso mesmo que passa de 5200 temos que repassa


para a tai como ESSE MÊS NÃO VEIO cheio ela
precisa GANHA proporcional

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Blza

Só vou esperar ver o valor da dona Katia p nos


fazer a divisão

Ela vai ganha 2500 POR MÊS CASO NÃO chegue


NISSO EU tenho como COMBINADO

Olá , bom dia a todos


Acabei de falar com o Fábio e ele solicitou
mudanças. Bem, vamos lá, o décimo da Thay ficou
determinado por ele da seguinte forma R$ 263,00
que é a diferença que eu ganho mais e R$ 120,00 =
R$ 383,00 e vcs R$ 120,00 de cada, metade do ano
(agora) e no final do ano fica R$ 200,00 p cada uma
de nós. Então Kátia e Gabriel precisa transferir p ela
hoje R$ 120,00. Tudo que o Fábio publica no grupo
ou nas paginas da rede social precisa ser
compartilhado tanto no status como nas

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00


Grupo de Whatsapp com Fabio, Fátia, Elenita, Thayana e Natália - mensagem de Fábio (Áudio
001)
Boa noite pessoal, teve um equívoco com
pagamentos da Taí gostaria que vcs
arrumasse isso o mais rápido possível pq ela
trabalho 16 dias a 83 reais da 1300 não 800 ok
e vcs vão ganhar 5200 quanto trabalhem o
mês todo ok não achei justo essa divisão favor
depositar a parte dela correto o mais rápido
possível.

O meu ficou um saldo de “229,37”. Vou sacar


amanhã e te aviso

Vereador pode ter certeza que não foi nossa


intenção tirar de ninguém As 3 do gabinete
estão ciente do acordo firmado. E todos vão
cumprir.

Peço desculpas em nome de sua equipe.

Vou complementar o valor da minha parte na


conta indicada. Desculpa pelo mal entendido.

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O fato que este valor serviria ao pagamento por serviços de terceira pessoa
em nada diminui a gravidade do peculato cometido, ao contrário confirma o crime que faz
previsão do desvio de verba pública quer para o próprio agente dono do cargo, quer para
terceiro, devendo-se levar ainda em conta que Thayana servia a propósitos particulares do
representado Fábio, no caso, a exposição pública através da imagem propagada em mídias
sociais, ou seja, ao fim e a cabo servia a propósitos particulares, ademais que o valor
desviado para Thayana servia também ao representado Fábio, conforme se extrai das
mensagens abaixo:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00


Grupo de Whatsapp com Fabio, Fátia, Elenita, Thayana e Natália - mensagem de Fábio
Boa noite pessoal achei que todas tinha entendido
mas não foi o que aconteceu então amanhã vou
resolver isso blza o combinado é Kátia 5500 Maria
5500 Elenita 5500 O que passa disso favor repassa
para a tai ela vai tirar o 2500 dela o resto vai me
ajudar nas despesas do gabinete por exemplo
Elenita recebeu igual Maria 6.119,43 vcs tiram 5500
e repassam o resto entendeu o da dona Kátia
amanha vou no gabinete ai acertamos também ok
pessoal o combinado não é caro todas vão receber
igualmente 5500
Entendido vereador repassei o da Tay
Eu entendi tbm, amanhã já passo restante de
119.43

Tay bom dia!

Depois saca e da para o Fabio

Bom diaa

Pode deixar

Em mensagem de áudio do dia 21 de setembro de 2021, é possível verificar


como se dava a reação do requerido Fábio quando ocorria algum desajuste de valor ou
atraso dos valores desviados:

“(...) eu acho que eu falei grego eu acho que a nossa reunião não serviu
para merda nenhuma, porque eu chamei todo mundo no gabinete conversei, oh estou
sendo grosso mesmo porque eu estou de saco cheio com isso que está acontecendo

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(...) vocês tem que cuidar do cinco mil e quinhentos de vocês o resto tem que passar
tudo para Thay (...) com gabinete vocês tem que passar esse valor para Thay a Thay
vai tirar o dela e vai repassar o resto para mim, eu acho que fui claro gente, não quero
mais tocar nesse assunto, recebeu de manhã cedo passa no banco saca o dinheiro e
dá pra Thay” e continua “tô falando agora, se acontecer mais uma vez isso eu vou
começar a exonerar gente desse gabinete, ou minha palavra vale, porque quem manda
nessa merda sou eu, eu sou o vereador(...) e eu falei, fui claro com todo mundo(...)
então agora eu vou dizer para vocês o Fabio vai aparecer e vai sair de dentro do inferno
porque ou a coisa vai andar ou se não eu vou começar a ferrar com todo mundo
também (...) ah se já foi combinado tá combinado, merda, porra! (…)

Após o envio do áudio, a servidora Elenita efetuou a transferência dos


valores, como podemos observar às fls. 73/74 do Relatório de Evidências – Celular Kátia.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00


Grupo de Whatsapp com Fabio, Fátia, Elenita, Thayana e Natália - mensagem de Fábio (Áudio 002)

Certíssimo vereador.

As provas colhidas demonstram que o desvio ocorria mensalmente, inclusive


em relação ao 13º salário das servidoras, bem como revelam que não se tratava de mero
pedido de auxílio para alguma eventualidade, mas sim de uma condição a ser cumprida sob
pena de demissão.

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Em suma, o representado possuí a prerrogativa de nomear e exonerar os
servidores do gabinete e, a fim e a cabo tem a disponibilidade sobre o destino do salário
destes servidores, condição esta também observada pelo Ministro Roberto Barroso proferido
na Sessão do Pleno do STF do dia 03/11/2022, em voto de condenação de idêntico caso
apurado no âmbito da Câmara dos Deputados (AP 864).

Não bastassem tais fatos, a prova dos autos revelou que a voracidade do
requerido em obter dinheiro público de forma ilegal e moralmente ilegítima foi além dos
valores desviado dos funcionários lotados na Câmara de Vereadores. Paralelo aos fatos já
narrados, que se circunscrevem ao âmbito de relação hierárquica direta, as investigações
demonstram que o requerido possuí verdadeiro esquema montado para fins de desvio
de dinheiro público que deveriam servir à remuneração de servidores do Município de
Itajaí, o que se dá por desvio de parte dos vencimentos de funcionários contratados no
âmbito do Poder Executivo do Município, e desvio de verbas públicas recebidas por
associação da qual o representado é o chefe de fato, conforme se verificará abaixo.

b) dos crimes de peculato-desvio praticados em razão de servidores


comissionados da Prefeitura de Itajaí

O requerido exerce suas funções na Câmara de Vereadores na qual se


posiciona como aliado do atual governo municipal e, em retribuição, o então Prefeito concede
ao representado um determinado número de vagas de cargos comissionados junto ao Poder
Executivo para que este indique seus ocupantes.

Os depoimentos dos assessores parlamentares ouvidos confirmam esta


relação entre representado e Poder Executivo, senão vejamos: Gabriel Felipe Spronello
informou que: "... pelo que entende ele tinha pessoas com cargos na prefeitura, que eles
também passava valores para ele"; Maria Helena Spronello informou que "os vereadores do
governo indicam pessoas que vão trabalhar na prefeitura"; Kátia Regina Tavares informou
que "que tem um grupo de assessores da câmara e tem um grupo que trabalha no Município;
que ele tinha um conjunto de pessoas que ele indica no executivo", por fim Helenita informa
que "além do grupo da câmara tem o grupo da prefeitura".

Em conversa extraída do telefone celular de Fábio, com o interlocutor


Cristiano Castelo da Silva, servidor comissionado e primo do representado, se extrai que o
representado trata os cargos públicos como uma possessão pessoal.

Em uma conversa inicial Cristiano solicita outro cargo para aumentar seus
ganhos, inclusive propondo aumento do repasse para o representado Fábio:

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Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00
Conversa entre Conversa entre Fábio e Cristiano Castelo da Silva

Meu primo me ajuda com uma promoção


se aparecer

Não vem com risadinha

Me ajuda que eu lhe ajudo

Aumente a mensalidade

Em outra oportunidade Cristiano pergunta se há alguma novidade sobre as


vagas da prefeitura:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Conversa entre Fábio e Cristiano Castelo da Silva

Temos alguma novidade sobre as vagas


da prefeitura

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Em mensagem de áudio o representado enviou resposta:

"... Ces ficam contente com o que vocês tem que ele tá querendo tirar meus cargos
tudo..." (Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00).

Contudo a dinâmica da negociação de cargos é melhor revelada em


conversa de aplicativo de mensagem (Whatsapp) entre o representado e outro vereador
aliado ao Governo Municipal, Paulinho Amândio, senão vejamos:

Em uma mensagem inicial, enviada em 06 de janeiro de 2023, Fábio faz


referência a uma reunião realizada na casa de Erico Laurentino (Secretário da Fazenda) a
respeito da exoneração de vários servidores, possivelmente fazendo menção à exoneração
de servidores indicados por vereadores dos partidos PSC e PSB, conforme veiculado pela
imprensa local, e da distribuição de referidos cargos em comissão entre os seis vereadores
da base, entre eles o ora representado, sendo que algumas nomeações já estariam sendo
feitas sem que Fábio houvesse sido ainda chamado para indicar as pessoas de seu
interesse.

Dias após, o representado envia à Paulinho Amândio, mensagem que dá


conta ter negociado com o prefeito duas secretarias de escola, e dois cargos de gerente:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Conversa entre Fábio e Paulinho Amândio

Boa tarde irmão tudo na paz hoje fui


conversar com prefeito e para não causar
transtornos fechei 2 secretaria de escola 1
gerente ubs Imaruí e 1 gerente em qualquer
secretária foi isso 4 cargos não era o que
esperava mais mostro minha fidelidade e que
sou de verdade blza amigão abraço

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Logo, há uma outorga de cargos à disposição do Poder Executivo Municipal,
por seu mandatário máximo, em favor do representado, para fins de apoio político. Embora
prática questionável, importa ao presente pedido que, neste contexto, em semelhança ao
que acontece na Câmara de Vereadores, o requerido dispõe dos cargos e salários dos
servidores por si indicados, e a exemplo do que ocorre no Poder Legislativo o
representado se utiliza destes cargos para fins de desvio de valores em proveito
próprio e alheio.

E, a semelhança do que ocorre na Câmara de Vereadores, a organização


passa pela pessoa de Thayana da Costa, que recebe os valores e faz os repasses de acordo
com o mando de Fábio.

Anotações apreendidas na residência de Thayana dão conta de parte dos


valores recebidos mensalmente no esquema:

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De igual forma, também foram apreendidas anotações na residência do
representado Fábio, na qual se verificam listas similares, inclusive com a anotação
"Mensalidade":

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De referidas anotações é possível verificar que parte dos valores eram
repassadas por transferências via sistema PIX enquanto outras eram pagas diretamente em
espécie ou "dim dim".

A prova já colhida demonstra a prática com relação diversos funcionários,


conforme análise detalhada abaixo:

1) Joel Antônio Ramos Júnior:

Quanto a Joel Antônio Ramos Júnior, a prova dos autos dá conta que, de
fato, este foi nomeado mediante indicação de Fábio para ocupar cargo na Prefeitura de Itajaí,
sob a condição de entrega de parcela de sua remuneração. O requerido se utilizou dos
serviços de seu gabinete para conduzir a contratação de Joel.

Nesse contexto, a análise realizada no celular apreendido de Elenita revelou


conversa entre a assessora parlamentar e o vereador em que Fábio trata da contratação de
Joel Ramos Junior, senão vejamos:

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Em 13/02/23, Fábio cobra da assessora Elenita que verifique a contratação
de Júnior, pois já estaria acertado com a Dra. Paula (Audio 003). No mesmo dia, o requerido
Fábio compartilha com Elenita outro áudio que recebeu da “Dra. Paula”, no qual ela pede a
documentação do Júnior para a sua nomeação ainda naquela semana. Sendo assim, Fábio
manda Elenita ajudar Júnior com a documentação (Audio 004).

De fato, em um dos computadores apreendidos na Câmara de Vereadores


(Mesa 01), localizou-se o currículo de Joel Antônio Ramos Júnior, demonstrando o esquema
do requerido em gerenciar cargos do Poder Executivo Municipal com o que visa o desvio de
parte dos valores destinados aos salários dos ocupantes destes mesmos cargos.

Na sequência, Elenita envia um áudio em que avisa Fábio que Júnior juntou
a documentação, mas precisa de R$ 100,00 para fazer um exame médico. O requerido Fábio
responde que mande a “THAY” fazer um PIX de R$ 100,00 para Júnior (Audios 005 e 006).

A Autoridade Policial logrou localizar o comprovante de Pix no valor de R$


100,00 que Thay enviou para Joel Antônio Ramos Júnior:

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Após as tratativas, no dia 15/02/23, Joel Antônio Ramos Júnior foi nomeado
para ocupar o cargo de Secretário de Unidade de Ensino de Educação Infantil – CEI Maria
Regina Coppi Vicente.

Os detalhes da nomeação de Joel foram declarados por Elenita nesta


Promotoria de Justiça, quando disse (a partir dos sete minutos):

[...] que ele tem 30 indicados dele dentro da prefeitura, então esse Júnior eu
conheci ele antes de nós começarmos a trabalhar; que ele é conhecido de um
menino que trabalhou comigo quando eu trabalhava na prefeitura, no
almoxarifado da saúde e dai esse rapaz, o Luciano, veio e disse "olha eu to
precisando trabalhar"; que dai disse que iria ajudar na campanha do Fábio
sem remuneração nenhuma; que ele disse "ó tem um menino assim, ele não

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ta pedindo emprego, mas quer ver se futuramente consegue alguma coisa";
que esse Júnior foi prometido lá no primeiro ano; que é indicação do
Fábio dentro da Prefeitura; que o Fábio que prometeu; que eu só fiz a
ponte; que quando foi para contratar o menino ele disse "ó, chama o
rapaz, pede toda a documentação para apresentar na Prefeitura, e tu vai
conversar com ele referentes aos valores que ele tem que me da".

Com a nomeação, a fim de se manter no cargo, Joel teve que devolver


parcela de sua remuneração ao requerido. Joel teria que devolver, ainda, os R$ 100,00
enviados por Thayana para os exames médicos. Tudo isto foi conversado entre Fábio e
Elenita antes de ser publicada a nomeação no Jornal do Município.

No dia 13/02/203, às 18h11min21s, Fábio avisa a Elenita como iria cobrar


do novo servidor os R$ 100,00 que Thayana pagou por ele, via PIX, e o repasse de parte do
salário (rachadinha):

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Elenita Kletenberg (Audio 007 e 010)

Ai, no final do mês, esse daí ele já me paga esse


daí, depois tem que falar com ele sobre a
mensalidadezinha certinho, tá? Beijo, tchau.”

Elenita pergunta a Fábio se ela deveria chamar


o servidor no gabinete para falar sobre a
mensalidade, ao que Fábio logo responde:

Isso tem que ser pessoalmente, e que é pra falar


com ele (Júnior) que todo mundo que trabalha
com FÁBIO tem que pagar mensalidade, que é
fácil de explicar, e pede que a THAY esteja
junto.

mas tranquilo, deixa ele ser nomeado, tudo


certinho, bonitinho, primeiro

Sim

No dia 15/02/2023, às 11h16min27s, Elenita escreve que Júnior iria


conversar com ela naquele mesmo dia às 14h45min, ocasião em que Fábio avisa que ele
mesmo iria atender Joel e comunicar os valores que deveria devolver de seu salário,
conforme se verifica:
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Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00
Conversa entre Fábio e Elenita Kletenberg (Audio 011)

Ah não, esse daí eu vou atender que eu já


vou dizer o preço da mensalidadezinha
dele, vou fazer tudo certinho, tá? Não,
pode deixar, marca tudo pra de tarde
então que eu atendo todo mundo…

Elenita, quando ouvida, explicou que já antes da nomeação, Fábio


mencionou sobre a "mensalidade" que deveria ser paga por Joel. Os valores seriam
referentes a uma parte do salário mais a entrega do cartão alimentação. Veja-se:

[...] que quando foi para contratar o menino ele disse "ó, chama o rapaz,
pede toda a documentação para apresentar na Prefeitura, e tu vai
conversar com ele referentes aos valores que ele tem que me da"; que
não sabe o valor; que o menino não foi falar comigo; que ele conversou com
a Thay e a Thayana conversou com ele sobre o valor que ele ia depositar;
que sabe que ainda Fábio emprestou cem reais para ele; que o Fábio ainda
disse "tu diz para ele pagar esse valor ai e mais a mensalidade do mês senão
vou exonerar ele"; que sempre foi na base disso " se não fizer como eu quero
eu vou exonerar"; que todo mundo da a mensalidade e mais um cartão
alimentação dos funcionários da prefeitura.

Relevante pontuar que, como dito, na residência de Thayana foram


encontradas anotações com os nomes dos servidores da Prefeitura que devolviam parte dos
salários, entre os quais está Joel:

22
Outras conversas foram localizadas tratando da devolução de valores de
Joel, das quais se verifica a participação de Thayana. Em uma das conversas, Thayana fala
diretamente com Joel sobre a "contribuição" de R$ 250,00, ocasião em que Joel diz que iria
depositar R$ 50,00, ao que Thayana diz que teria como o salário veio completo ele deveria
depositar o valor total exigido, senão vejamos:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Joel Junior e Thayana Costa

Sou Joel

Oiee

Pensei que tu já sabia o pessoal da uma


contribuição de R$ 250,00

Sempre no dia que recebe

Pra ta ajudando nas ações sociais

Esse mês posso contribuir com R$ 50 e mês


que vem do esse valor

Pode ser?

Ninguém me falou

Mas tu recebeu o valor cheio?

É igual pra todo mundo

As duas e entraram junto ctgo mês passado


tb não deram, o salário não veio todo

Mas nesse já fizeram certinho

23
Thay, eu já ou mandar uma mensagem aqui
pro Fábio e dai já te retorno já.

Segue comprovante

Ficou certinho ne Thay?

Simmmmm

Outras transferências foram realizadas por Joel, conforme se verifica:

24
Portanto, das conversas extraídas dos celulares, do depoimento de Elenita,
bem como dos documentos apreendidos na residência de Thayana, se extrai o modus
operandi de atuação do representado no esquema criminoso, o qual alcança não apenas
Joel Júnior mas um enorme número de funcionários da Prefeitura Municipal.

2) Jéssica Tavares Fagundes:

Jéssica Tavares Fagundes é filha de Kátia Regina Tavares – assessora


parlamentar do requerido na Câmara de Vereadores.

A contratação de Jéssica pelo município de Itajaí deu-se por intervenção do


requerido Fábio, conforme a seguinte dinâmica:

Em 28 de julho de 2022, Fábio conversa com Kátia a respeito de um cargo


no município, porém, deixa claro que a contrapartida seria o aceite de algumas “condições”.
Aliado a isso, Fábio manda uma mensagem via aplicativo WhatsApp que demonstra
considerar perigoso falar por meio de mensagens, quando escreve: “essas coisas
precisamos ter cuidado”. Em seguida envia um áudio avisando que Jéssica precisaria
“fazer igual a Jairo”, desse modo, vêm à tona indícios de que Jairo provavelmente também
repassa parte de seus salários a Fábio.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.007-00


Conversa entre Fábio e Kátia (Audio 012)

Quanto ao cargo para a filha da senhora lá tá


tudo ok na prefeitura só preciso conversar
com ela pq tem algumas condições ver se ela
aceita para começar hoje

Tranquilo.
Posso marcar

Quando queres falar com ela

25
Falamos depois

Falamos

Fábio fala para Kátia que só precisa ir na


prefeitura para bater o martelo, com isso
a filha de kátia já poderia começar às 13h
da tarde. Só que ela precisaria fazer igual
o Jairo.

Portanto, a contratação de Jéssica foi realizada por indicação de Fábio, em


face de sua influência junto ao Poder Executivo. Após as conversas acima elencadas,
Jéssica Tavares Fagundes foi nomeada, no dia 29/07/22, para o cargo em comissão na
Controladoria-Geral do Município:

Kátia Regina Tavares detalhou como se deu a contratação de Jéssica,


confirmando que foi por indicação de Fábio (a partir dos 9 minutos):

[...] que sua filha era auditora na Controladoria; que sua filha foi exonerada;
que ela era cargo em comissão na prefeitura indicada por Fábio; que o Fábio
já havia outra vez colocado ela na prefeitura para assumir o cargo do suplente
dele; que era o Sandro; que ela ficou 30 dias; que ela ficou na ouvidoria; que
depois ele já tinha prometido que ia conseguir um emprego para ela; que
ele estava em uma situação para fazer a faculdade; que ele não sabia
fazer a faculdade; que em troca era para a Jessica ajudar ele na
faculdade, nas matérias; que dai ele conseguiria o emprego.

Contudo, a exemplo das demais pessoas inseridas por Fábio no serviço


público, também a nomeação de Jéssica não visou o interesse público, mas sim o interesse
do próprio requerido, que visava desviar para si parte do valor do salário dos vencimentos,

26
no caso, este exigiu o repasse mensal de R$ 2.000,00 para que Jéssica se mantivesse no
cargo.

Kátia Regina Tavares confirmou a solicitação da vantagem indevida pelo


requerido Fábio (a partir dos nove minutos):

[...] que dai ele conseguiria o emprego; que depois ele disse "conversa
com o Jairo que ele vai passar o valor"; que era o valor do diretor; que
Jairo passou o valor; que ele disse que o valor era R$ 1.500,00 mais o
cartão; que então teria que dar o cartão mais o dinheiro; que não deixava
sua filha ter contato direto com o Fábio; que fez um acordo com ele de
ficar com o cartão, mas dava o valor em dinheiro; que ele deixou; que
ficou por R$500,00; que ficou R$2.000,00 redondo; que ela dava para
mim; que seis horas da manhã a Thayana já cobrava.

Após o cumprimento do mandado de busca e apreensão, conforme se verá,


o vereador continuou solicitando a devolução dos valores. Embora Kátia efetuou mais dois
pagamentos (julho e agosto) e tão logo disse que não iria mais pagar, sua filha foi exonerada
do cargo que ocupava. Retira-se do seu depoimento (a partir dos 2 minutos):

[...] que começaram a bater de frente; que não iam pagar; que mesmo assim
pagou julho e agosto; que sofreu pressão psicológica; que pagou R$ 786,00
em julho e agosto pagou R$ 586,00; que ele ficou furioso porque acabou
pagando a menos; que em setembro não pagou; que ele chamou e falou "po
dona Kátia, vamos fazer esse pagamento da Thay"; que ele disse "poxa
coloquei sua filha ai para trabalhar"; que disse "opa, minha filha tem um
acordo com você, minha filha paga os dois mil reais"; que era mil e quinhentos
do salário e mais quinhentos do cartão-alimentação; que quanto a conversa
que Fábio enviou dia 7 explica que Fábio mandou Jairo na sua casa; que
foi referente a sua filha; que o leite derramado que eu ia chorar era a
exoneração dela; que ela foi exonerada.

A mensagem mencionada por Kátia se encontra abaixo:

27
E, de fato, as ameaças de Fábio foram concretizadas, porquanto Jéssica foi
exonerada do cargo em comissão:

3) Susiane Cardoso:

No telefone celular do requerido, consta mensagem de áudio de 03 de maio


de 2023 em que Susiane Cardoso, cujo contato está anotado como "susi", na qual esta
agradece pelo emprego que Fábio lhe conseguiu na Prefeitura.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Susiane e Fábio (Audio 013)

“Samara conversou comigo a respeito da vaga, da nomeação


que vai sair desde já minha gratidão pela tua pessoa tá ...
podes ter certeza que tu não vai se arrepender, tu não vai
se decepciona porque estou chegando pra somar..."

Na data de 08 de maio Susiane volta a entrar em contato, enviando então


cópia da portaria de sua nomeação e agradecendo mais uma vez o cargo público:

28
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00
Conversa entre Susiane e Fábio

De fato, Susiane foi nomeada no dia 05/05/23 para ocupar o cargo de


Secretária de Unidade de Ensino e Educação Infantil:

Por sua vez, a solicitação dos valores está demonstrada por conversas
existentes entre Samara da Rocha (com quem Fábio mantém uma relação amorosa) e o
requerido Fábio. Do celular apreendido de Samara, extraiu-se conversas com o vereador
Fábio, tais quais a de 02/06/2023, às 12h04min54s, Fábio pergunta para Samara se sua
amiga Suzi não saberia da mensalidade. Por sua vez, Samara responde que iria
verificar a situação e retornaria com a resposta em seguida. Fábio continua a conversa
dizendo que o valor é 250. Samara retorna com a resposta de que Suzi não teria a chave
PIX cadastrada, e por isso não estava conseguindo efetuar os pagamentos. Fábio desta vez
cita que a Thay já havia falado com Suzi que não poderia mais ser PIX e sim por cédula
(dinheiro). Samara confirma com um “OK”.

29
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00
Conversa entre Samara da Rocha e Fábio

Oi

Nega

Sua amiga Susi não sabe da mensalidade nega?

Já vou ver isso até sabe mas não falei que era cedo

Já ligo lá

250 ta nega.

Ela não tem a chave pix cadastrada não está


conseguindo fim de tarde faz de outra conta

Thay já falou com ela nega não pode mais pix é


cédula ta

Ok

Obrigado ta nega

O modus operandi utilizado foi o mesmo que os anteriores, sendo que o


depósito era feito na conta de Thayana, a qual possuía conversas com Susiane tratando dos
valores. Durante as conversas mantidas entre Thayana e Susiane em 02/06/2023, retira-se
o seguinte teor:

30
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00
Conversa entre Thayana e Susiane

Oi Thay. Bom dia.

Só me esclarece uma coisa, por gentileza. Eu não


sei nem o valor para colaboração todo mês. Você
pode me explicar? É que tô sem informações

Oiii, consegue fazer!? Preciso ir sacar e queria fazer


só 1 vez”

Tay a minha Diretora está doente. Eu estou sozinha


aqui no CEI. Saindo daqui eu chego em casa e já
faço o PIX pra vc, da conta da minha mãe. Depois
eu devolvo pra conta dele

Blzzz

Segue comprovante do PIX

Obrigadoooo

31
No mesmo mês, no dia 16/05/2023, Susiane faz um novo PIX para Thayana,
no valor de R$ 200,00, conforme demonstra a imagem impressa a seguir:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Thayana e Susiane

Oi Tay, boa noite

Minha b ta acabando, daqui a


pouco chego em casa. Vou fazer
o pix na sua conta de R$ 200,00
ok.

32
O nome de Susiane, sob o apelido de Susi, também foi encontrado na
listagem contida nas anotações da "mensalidade" em um caderno apreendido na casa de
Thayana:

Desse modo, inexistem dúvidas de que Susiane foi indicada por Fábio para
exercer cargo em comissão na Prefeitura, porém mediante repasse de percentual de seu
salário, conforme esmiuçado acima.

4) Leandro de Souza

Não bastasse os desvios já narrados, o requerido Fábio solicitou depósitos


de Leandro de Souza, também indicado pelo vereador para ocupar cargo em comissão na
Prefeitura.
As tratativas da indicação política foram verificadas no celular de Fábio e,
juntamente, Fábio tratou da devolução dos valores do salário que iria ser pago a Leandro.
Em uma das conversas Fábio informa que Leandro era sua indicação e que
já estava tudo certo, salientado que o contato de Leandro está registrado como "Marido
primo".

Laudo Pericial n. . 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Leandro de Souza e Fábio

Boa tarde

Tudo certo?

Boa tarde primo tudo certo estou na correria


assim que der um tempo passo ai mas já está
tudo certo vc é minha indicação ok

Entendi

Blz

Não esquenta

33
No início das tratativas, Fábio menciona que o cargo seria para 31 dias e, no
mesmo instante, informa que essa indicação é justamente para rachar o salário. Ou seja,
Leandro foi contratado justamente para o vereador se beneficiar de parcela de seu salário -
diga-se, valores que saíram dos cofres públicos.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Leandro de Souza e Fábio
É assim primo como vou me afastar da Câmara municipal por
31 dias eu não tenho remuneração então essa indicação é
justamente para rachar o salário comigo entendeu? Tenho 2
proposta vc trabalhar os 31 dias e rachamos tudo no meio
ou vc trabalhar os 31 dias ficar com 4 mil e me passar o resto
vc escolhe e se tudo der certo vc será minha próxima
indicação politica já que mimha prima me falou que vc sonha
em trabalhar no serviço público entendeu primo essa é a
conversa se aceitar qualquer uma das duas proposta pode
agilizar a documentação que pego e dia primeiro vc assume
como diretor da praça do cidadão

Entendi

Vamos conversar

Ok

Boa tarde primo podes levar os documentos lá na câmara


hoje as 15 horas?

Gabinete 302, no terceiro andar Gabinete Fabio negão

Após a conversa, Leandro aceitou a proposta de Fábio, tendo em vista que


no mês de agosto de 2022 assumiu o cargo de diretor na Secretaria Municipal da Fazenda:

34
Conforme tratativa anterior, decorridos os 31 dias, Fábio envia uma
mensagem a Leandro cobrando os valores.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Leandro de Souza e Fábio

Boa tarde primo tudo bem se quiser fazer o pix do


nosso acerto é esse aqui blz

Opa bom dia

Obrigado abraço tmj

Bom dia primo tudo bem por ai? Quando der vc pode
fazer o pix do restante agradeço, blza

Tudo certo

35
Nem sabia que tinha mais

E por ai?

Quando eu chegar em casa

Eu faço

Fecho

Obrigado

Dos elementos probatórios transcritos não há dúvidas do crime de peculato-


desvio praticado pelo requerido em desfavor de Leandro de Souza, acertando com o mesmo
o destino de seu salário.

5) Samara Regina de Jesus:

A investigação deu conta da intervenção direta do representado Fábio


Guedes na nomeação de Samara Regina de Jesus, bem como do peculato-desvio de parte
do salário de Samara em favor do representado.

36
Em conversa de 08 de maio de 2023 entre o representado Fábio e a pessoa
de Mayckon, também servidor comissionado indicado, cujo contato se anota com o
pseudônimo de "Mayckon Biriba", há pedido de Fábio para que Mayckon verifique a
nomeação de três pessoas indicadas para ocupar cargo em comissão, dentre eles um cargo
destinado à ocupação de Sâmara Regina de Jesus:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Mayckon e Fábio

Confirma isso pra mim blza

Ok

Na sequência o próprio representado envia o documento de nomeação de


Susiane Cardoso, bem como pede a Mayckon que verifique a nomeação de Samara Regina
de Jesus, sendo, que, minutos após, Maycon envia a portaria de nomeação para ocupar o
cargo de Secretária de Unidade de Ensino de Educação Infantil:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Mayckon e Fábio

37
Acha a nomeação de Samara Regina de Jesus pra
mim

Ok

38
O Portal Transparência do Município de Itajaí confirma a nomeação:

Na sequência de eventos, a exemplo dos demais casos, também para


Samara foi exigido parte de seus vencimentos, como forma de desvio de verbas públicas em
proveito próprio.

No aparelho telefônico de Thayana da Costa, organizadora da arrecadação


dos valores, foram encontradas mensagens de texto e áudios enviados via aplicativo
WhatsApp que provam o delito praticado. Foram identificadas algumas conversas entre a
investigada Thayana com a interlocutora 554799495621@s.whatsapp.Net, identificada nas
conversações como “Samara” (segundo registro de órgão estatal de segurança o número de
telefone pertence a Samara Regina de Jesus) Os diálogos encontrados tra.tam de
pagamentos e transferências de valores, conforme será detalhado doravante.

Em troca de mensagens de texto e áudio, ocorrida no dia 16/06/2023,


Samara pergunta: “Eu queria ver contigo quanto seria. Eu tenho 15 dias trabalhado, né?
Não deu um mês ainda, eu nem sei se caiu o pagamento.” Thayana responde através
de mensagens, via WhatsApp, que o pagamento já havia “caído”, sim, e que o valor a ser
transferido por ela para a conta indicada por THAYANA era R$ 250,00. Samara foi admitida
em 15/05/2023, corroborando com a menção feita pela mesma dos 15 dias trabalhados.
Samara repassa então o valor e comprovante de transferência:

39
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00
Conversa entre Samara e Thayana

O valor é de R$ 250,00

Mando no pix

Isso

05076306962

Ainda na sequência das conversas transmitidas via WhatsApp, Samara


informa Thayana que no mês seguinte iria depositar R$ 350,00:

40
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00
Conversa entre Samara e Thayana

Mês que vem eu deposito 350 ta bom,

Pode ser

Tranquilo

To com uma divida tive q pagar, graças a Deus que


veio esse dimdim, mais mês que vem eu mando o meu
100 ta bom

Por fim, é possível verificar o nome de Samara anotado em meio a lista com
vários comissionados e que se refere aos valores pagos mensalmente por estes em função
do esquema criminoso engendrado pelo representado.

6) Eliane da Cunha:

Segundo prova dos autos Eliane da Cunha alcançou cargo público por
intervenção do representado e, de igual forma, era instrumento para fins de desvio de
dinheiro público.

Em conversa ocorrida entre o representado e Jairo Amorim, esposo de


Eliane, verifica-se que Fabio é responsável pela indicação de Eliane. Em 29 de março de
2023, Fábio retransmite para Jairo uma série de mensagens por si recebidas de alguém da
prefeitura (Fábio fala "de um procurador"), nas quais se solicita que Fábio informe o paradeiro
de Eliane, a qual seria "indicação" de Fábio:

41
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00
Conversa entre Fábio e Jairo

Td certo?

Boa tarde, vereador

Precisamos do contato dela....

Eliane da Cunha

Tem uma servidora que, parece, é sua


indicação

Na sequência Fábio envia mensagem de áudio para Jairo e ordena a


localização de Eliane, a quem chama de "Nani", para que ela leve os documentos. No mesmo
dia Fábio fala para Jairo que Nani deve levar todos os documentos e exame admissional
para Alex ou Carla (Audio 17).

De fato, Eliane da Cunha foi nomeada para ocupar o cargo comissionado de


gerente no CODETRAN, cuja admissão ocorreu em 03 de abril de 2023, com o salário
líquido de R$ 5.074,03.

42
Como parte do esquema de desvio de valores público engendrado, também
a Eliane se exigiu que entregasse ao vereador Fábio parte de seu salário.

No aparelho de telefone calular apreendido com Thayana da Costa foram


encontradas conversas envolvendo pagamentos e transferências com a interlocutora do
telefone número 554788989398@s.whatsapp.net, que, em consulta a órgãos públicos de
segurança, revela como proprietária Eliane da Cunha. Da prova se verifica que em
03/05/2023, Thayana e Eliane mantiveram a seguinte conversa via WhatsApp:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Thayana e Eliane

Bom dia Thay é a nani esposa do Jairo

Pode passar o teu pix por favor

Oiiiiii

05076306962

43
Bom diaaaa

Obrigadaaaa

Oi Tai meu pix ta com problema o Jairo vai fazer do


dele

Tentei varias vezes agora vou lá resolver no banco

No dia 02/06/2023, Eliane da Cunha volta a ter contato com a investigada


Thayana. Segue abaixo o teor da conversa mantida pelo WhatsApp, assim como a imagem
do comprovante do Pix efetuado:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Thayana e Eliane

Oiiii Como já teve pix...dessa vez pode


ser...mas nas próximas pego em mãos

05076306962

Só confirma

É esse o pix

7) Jairo da Rocha:

Segundo prova dos autos Jairo da Rocha alcançou cargo público por
intervenção do requerido e, de igual forma, era instrumento para fins de desvio de dinheiro
público.

Segundo conversas entre o requerido e Jairo, identificado nos contatos do


representado como JAIRO Amorim (conforme número de telefone identificado nos órgãos de
segurança pública), fica evidente que este último atendia uma série de favores e serviços em
prol de Fábio o que demonstra o vínculo entre ambos. Neste sentido é possível identificar
44
uma série de conversas por aplicativo de mensagens registrados no telefone apreendido
com o representado, como exemplo em 03 de novembro de 2022, em que Fábio solicita a
Jairo que verifique a respeito de uma pista de skate que seria construída no bairro Beira Rio
em Itajaí, recebendo como resposta que isto já seria verificado (Audios 15 e 16).

Em 18 de novembro de 2022 conversam sobre os planos políticos de Fábio


e a colaboração mútua para este fim:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Jairo

Deus abençoe

Basta vcs me ajudarem né

De fato, segundo Portal Transparência, Jairo da Rocha ocupou cargo público


no Município de Itajaí, de janeiro de 2021 até o mês de abril de 2023.

45
Por sua vez, embora Jairo se apresentasse como um braço do vereador
Fábio na estrutura da Prefeitura, também a este se exigia o depósito de valores mensais.

Do aparelho de telefone de Thayana Costa há conversas com o mesmo teor


das anteriormente comentadas neste pedido e que foram mantidas entre Thayana e Jairo da
Rocha proprietário da conta 554796983685@s.whatsapp.net.

Foram identificados pagamentos, via PIX, da conta de Jairo para a conta de


Thayana, conforme comprovam as imagens exposta abaixo:

O nome de Jairo também é uma constante nas anotações apreendidas em


residência de Thayana:

De igual forma, nas anotações mantidas juntas com o requerido Fábio:

46
8) Carlos Henrique de Souza (Caveira):

Em primeiro lugar, em face das anotações apreendidas registrarem Carlos


Henrique de Souza por mero apelido de Caveira, necessário esclarecer que se trata da
mesma pessoa.

No aparelho de telefone apreendido com Thayana, esta mantém contato com


o número de telefone 55 (47) 96375362, por sua vez, sabe-se que este número pertence à
Carlos. Por sua vez, este mesmo número, no telefone do representado Fábio, se vincula ao
contato: "Caveira", apelido pelo qual Carlos é tratado nas mensagens trocadas com Fábio.

As mensagens dão conta que Carlos presta contas do trabalho realizado


para Fábio, inclusive quanto à sua participação no COMAD e trabalhos eventuais a serem
realizados na horta comunitária. Por exemplo: Em mensagem de 25 de maio de 2023, Carlos
informa que está atuando no Comad e uma vez perguntado o que é, esclarece ao
representado.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Carlos Henrique

Conselho municipal de políticas públicas

Blza entendi foi online

De fato, segundo relatório apresentado pelo GAECO, Carlos Henrique de


Souza ocupa cargo público no Município de Itajaí, como gerente na Secretaria de
Desenvolvimento Urbano e Habitação:

47
A exemplo dos demais também a Carlos (Caveira) se exigia parte dos
vencimentos.

Do aparelho aprendido com Thayana, gerenciadora do recebimento dos


valores, em conversas mantidas entre Thayana e Carlos, ela diz: “Olha, porque todo mundo
recebeu e todo mundo já pagou”.

Carlos Henrique, então, transfere R$ 600,00, via Pix, para Thayana, e


descreve na transação bancária o seguinte: Mensalidade + horta.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Thayana e Carlos Henrique

Olha, porque todo mundo recebeu e todo


mundo já pagou.

48
Carlos, sob o pseudônimo de Caveira, também é uma constante nas
anotações apreendidas nas residências de Thayana e Fábio:

9) Igor Ritchely Miranda:

No aparelho de telefone apreendido com Thayana, esta mantém contato com


o número de telefone 55 (47) 96524535, por sua vez,sabe-se que este número pertence à
Igor Ritchely Miranda. Por sua vez, este mesmo número, no telefone do requerido Fábio, se
vincula ao contato: "IGOR".

As mensagens trocadas entre Fábio e Igor, dão conta que são pessoas de
relacionamento próximo, e tratam, frequentemente de questões ligadas a futebol e serviços
na horta comunitária, sendo que se denota a obrigação que Igor tem em prestar serviços
junto à Horta, em indício que tal serviço é uma das obrigações de Igor em face do cargo
comissionado que ocupa.

Conforme constatado pelo GAECO, de fato Igor foi nomeado para ocupar
cargo comissionado junto ao município de Itajaí e trabalha exercendo a função de Assessor
I na Secretaria de Desenvolvimento de Itajaí, cargo ao qual foi admitido em 25/01/2021 e
pelo qual recebe o salário líquido mensal de R$ 4.729,93.

49
A exemplo dos demais, também a Igor, como contraprestação pelo cargo
público, se exige parte dos vencimentos.

Seguem abaixo as conversas mantidas entre Thayana e Igor Miranda, além


dos comprovantes de transferências bancárias realizadas.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Igor e Thayana

Faltou a horta

Tu passa pro Fábio

Oiiii

Fábio ta me cobrando a horta

50
Bom dia

Só vou ter dia 11

Virar o cartão da ASP,

Troco e dou

Conseguem passar aqui pela sala?

Tenho só dinheiro em mão

To na correria com o Fábio

Qq coisa deixa depois na casa dele

Bom diaaa

51
Do celular de Thayana ainda possível verificar outros comprovantes de
pagamento realizados por Igor:

52
O nome de Igor também está presente nas listas de pagamentos nas
anotações apreendidas nas residências de Thayana e Fábio:

10) Deivid Navel Mans Paixão (Arroz):

Em primeiro lugar, em face das anotações apreendidas registrarem Deivid


Navel Mans Paixão por mero apelido de Arroz, necessário esclarecer que que se trata da
mesma pessoa.

No aparelho de telefone apreendido com Thayana, esta mantém contato com


o número de telefone 55 (47) 96375362, no qual se anota o como contato a pessoa de
"Arroz", por sua vez, segundo depoimento prestado nesta promotoria, se trata da pessoa de
Deivid Paixão (depoimento de Kátia Regina Tavares). Também no telefone de Fábio, o
contato está registrado sob o apelido de "Arroz".

Deivid Paixão é servidor comissionado, também apadrinhado do Requerido


Fàbio, inclusive, ao receber uma promoção, em mensagens trocadas entre Fábio e o também
comissionado Cristiano, este parabeniza Fábio pelo arranjo.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Cristiano

Opa primo

O arroz é diretor

53
Massa parabéns

Ele merece

Segundo portal transparência, Deivid passou a ocupar cargo público no


mesmo mês que o representado Fábio assumiu a vereança, ou seja, janeiro de 2021, sendo
que foi promovido em abril do corrente ano.

Através da troca de mensagens detectadas no aparelho telefônico do


reuqerido, também evidente que Deivid e Fábio nutrem relação de proximidade, ademais que
Deivid atende a pedidos e serviços como se subordinado hierárquico fosse do vereador
Fábio.

A exemplo dos demais, também a Deivid, como contraprestação pelo cargo


público, se exige parte dos vencimentos. Em conversa mantida entre Thayana e Deivid
possível verificar que houve mudança quanto aos valores a serem pagos, inclusive tratam
da forma do pagamento, sendo que Deivid informa que dificilmente tenha feito PIX:

54
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00
Conversa entre Fábio e Cristiano

Pq?

O normal qual é

Qto tu pagou mês passado

Tu fez pix

Ou deu aqui?
Blza....se foi pix eu olho no extrato pra gente
saber

Acho que foi 1300 não sei

Foi a primeira vez que dei


Ou tu deu na mão dele?

Não lembro

Acho que foi em mãos

Dificil eu fazer pix

Esse foi o último que fiz

Das anotações apreendidas nas residências de Thayana e Fábio é possível


averiguar que Deivid repassava mensalmente o valor de R$ 350,00, passou a repassar R$
500,00 e posteriormente, após sua promoção, passou a repassar R$ 1.300,00 de seus
vencimentos. Ademais que o repasse era feito em espécie, o que se denota da expressão
"dim dim" utilizada em uma das listas:

55
11) Leonardo da França:

Leonardo da França é servidor comissionado, também apadrinhado do


Requerido Fábio, em cujo telefone está registrado sob o apelido de Leo e, em continuidade
das conversas, como Leo Negao.

Mensagem de áudio enviada, em outubro de 2022, do celular de Fábio para


Leonardo dá conta que o representado é quem gerência que cargo será ocupado por
Leonardo, senão vejamos:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Leonardo (Audio 018)

Porra negão tu não consegue guenta a língua dentro


da boca mesmo né cara. Pô a Dulce me chamou lá
ela queria bota outra pessoa na tua gerência cara.
Porra já não falei pra ti que eu vou te colocar em uma
Diretoria mas a tua gerência já é pra colocar outra ...
Que que tu tinha que i la fala pra ela Leo".

56
Em consulta ao portal transparência se verifica que Leonardo ocupava
gerência na Secretaria de Saúde e foi promovido para ocupar cargo de Diretor junto à
Secretaria de Urbanismo.

Também Leonardo se submetia aos pagamentos mensais, conforme


material aprendido no celular de Thayana:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Thayana e Leonardo

Bom dia Thay

1500 minha mensalidade


100 da baga
100 da horta
Procede
?
Okkk

Bom dia

Thay me passa o pix

05076306962

57
Manda pix thay

05076306962

Quando foi exigido a Leonardo um aumento do repasse, o próprio Fábio enviou mensagem
informando, senão vejamos (Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00):

Por fim, Leonardo, que atende pelo apelido de Leo, é figura presente no
controle de recebimento de valores exercido por Thayana e por Fábio, conforme anotações
apreendidas:

58
12) Mayckon Alexandre Pereira Ramos:

Mayckon Alexandre Pereira Ramos é servidor comissionado, também


apadrinhado do Requerido Fábio, em cujo telefone está registrado sob o apelido de Mayckon
Biriba.

Mensagens de áudio e texto trocadas entre Fábio e Mayckon dão conta da


proximidade entre ambos, como por exemplo, mensagem de áudio do último dia 06 de abril
enviada por Mayckon, dando conta que já acertou com o Daniel, proprietário de restaurante,
que forneça refeição ao Fábio, senão vejamos:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Mayckon Ramos (Áudio 019)

Já disse pra ele, meu vereador vai vim ...


acho que esta semana ele vem aí ein,
arreganha um camarãozinho um ... disse
pode vim.

Em consulta ao portal transparência se verifica que Mayckon ocupa cargo


de Assessor junto à Secretaria Municipal de Promoção da Cidadania.

59
A exemplo dos demais, Mayckon Alexandre Pereira Ramos repassava
valores de seu salário ao requerido Fábio.

Observa-se a seguinte conversa de Mayckon com Thayana:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Thayana e Mayckon Ramos

Oiii
Como já teve pix...dessa vez pode ser...mas
na próxima pego em mãos.

Depois vou ai

Por fim, Mayckon, ora pelo nome Maickon, ora pelo apelido Biriba, está
arrolado entre os que mensalmente pagam parte de seus salários em favor do vereador
Fábio, conforme anotações apreendidas:

60
13) Guilherme Fernandes Joaquim:

Guilherme Fernandes Joaquim é servidor comissionado, também


apadrinhado do Requerido Fábio, em cujo telefone está registrado sob o apelido de "Gui".

Mensagens de áudio e texto trocadas entre Fábio e Guilherme dão conta da


proximidade entre ambos, bem como que Fábio exerce influência sobre o trabalho e os
serviços a serem realizados por Guilherme, como por exemplo, mensagem de áudio do
último dia 27 de junho enviada por Fábio em que este orienta onde deve ser prestado serviço
de limpeza, senão vejamos:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Guilherme (Áudio 020)

Boa tarde Gui, tudo certo? Gui, vê se amanhã


você consegue colocar uma equipe ali nesta rua
ali, é só passar e dar uma roçada no canto do
muro ali ...

Em menos de meia hora, Fábio recebe a resposta:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Guilherme (Áudio 020)

Boa tarde negão

Já faço

Amanhã cedo

61
Em consulta ao portal transparência se verifica que Guilherme ocupa cargo
de Assessor II junto à Secretaria Municipal de Obras.

A exemplo dos demais, Guilherme repassava, mensalmente, valores de


seu salário ao requerido Fábio.

Em aplicativo de mensagens do celular apreendido com a gerenciadora dos


valores, Thayana Costa, é possível extrair repasses de valores de Guilherme:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Thayana e Guilherme (Áudio 020)

Boa tarde Gui

62
Inclusive no Computador apreendido na Câmara de Vereadores foi
encontrado comprovante de repasse:

63
Por fim, também Guilherme está arrolado nas listas de controle de Thayana
e Fábio:

14) Cristiano Castelo da Silva:

Cristiano Castelo da Silva é servidor comissionado, também apadrinhado do


Requerido Fábio.

Mensagens de áudio e texto trocadas entre Fábio e Cristiano dão conta da


proximidade entre ambos, bem como que Fábio exerce influência sobre o trabalho e os
serviços a serem realizados por Cristiano, inclusive há mensagens em que Cristiano pede
para que Fábio lhe consiga uma promoção, inclusive Cristiano alega que aumentaria o
pagamento da mensalidade, se referindo à parte de seu salário desviada por Fábio:

64
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00
Conversa entre Fábio e Cristiano

Meu primo me ajuda com uma promoção


se aparecer

Não me vem com risadinha

Me ajude que eu lhe ajudo

Aumente a mensalidade

Kkkk

Claro, quer que eu pague mil

Me bote de diretor

Ai poderia ajudar mais ainda

Sabendo que sou ótimo já

Em consulta ao portal transparência se verifica que Cristiano ocupa cargo


de Assessor II junto à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano:

65
Ademais da conversa já mencionada, há outras provas que Cristiano
repassava parte de seu salário ao requerido Fábio, como comprovante de depósito
encontrado em computador apreendido na Câmara de Vereadores, a saber:

Também Cristiano está arrolado nas anotações aprendidas com Thayana e


Fábio entre os comissionados que pagam mensalmente em favor de Fábio:

66
15) Simone da Silva:

Simone da Silva, em duas oportunidades, foi agraciada com cargo público


por intermediação do requerido Fábio, conforme conversas abaixo extraídas do telefone
celular de Fábio:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Deio

Bom dia amigão tudo certo

Pede para sua esposa deixar a


documentação pronta tem tudo pra ser
secretária de uma escola ali no São Vicente
na frente da igreja

67
Bom dia irmão

Me manda nome completo da sua esposa pq


as coisas vão acontecer hj para amanhã já
blz

Simone da Silva

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Simone

Tudo bem?

É a Simone esposa do Dei

Obrigada!

As conversas se referem ao cargo de Secretária em unidade de Educação


Infantil, conforme se verifica no Portal Transparência do Município de Itajaí:

68
Entre final de 2022 e Início de 2023, o esquema se repete:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Simone

Bom dia Fábio

OK

Bom dia

69
Assim como os demais, também Simone se submete ao repasse de parte do
salário:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Simone (Áudio 021)

Bom dia Simone Fica tranquila quanto a


mensalidade esse mês se vier a rescisão
depois vc paga caso contrário só paga mês
que vem para frente

Está certo Fábio, obrigada! Vou me


informar certinho sobre a rescisão. Uma
ótima sexta-feira para nós.

De igual forma a servidora Simone figura no rol de controle de Thayana e


Fábio:

70
16) Os mesmos fatos ocorrem com outros funcionários comissionados da
Prefeitura de Itajaí, sem que se saiba ainda a qualificação completa, como por exemplo:

a) Fernanda de tal:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa em Grupo de Whatsapp com Kátia, Elenita, Thayana, Natália e Fábio

Mais uma encaixada

b) Theo de tal:

Em 19 de maio de 2023, Fábio conversa com Theo sobre indicação de


Alexandra, ao que Theo responde que já está no "esquema lá" (Audios 022 e 023)

71
c) Dabaga:

Possivelmente Marcelo Luis da Silva, que ocupa cargo comissionado na


Secretaria Municipal de Obras, e que atende a uma série de pedidos do requerido Fábio,
inclusive quanto ao uso de máquinas, possivelmente de uso ou propriedade do Município.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Dabaga

Bom dia depois eu passo no Fábio tou


cem pix blz

Troquei o aparelho não sei colocar kkk

72
Somam-se a estes nomes os prenomes ou seguintes apelidos: Ventura,
Paula, Sabrina, Débora, Bruna e Luciana, os quais podem ser extraídos das anotações
encontradas na residência de Thayana:

73
As provas listadas acima dão conta de organizado esquema que visa o
desvio de verbas publicas em favor do requerido Fábio, o qual se dá ante a exigência de
parte do valor dos vencimentos dos servidores comissionados por si indicados, valores estes
que são recebidos e gerenciados por Thayana Costa.

Muito embora o discurso do requerido seja o auxilio de pessoas carentes, a


realidade das provas demonstra que o dinheiro ilicitamente angariado serve a outros
propósitos. Tal certeza se extrai do fato que, quando faz-se necessário arrecadação
esporádica para auxilios pontuais o requerido, ou se utiliza de bens da Prefeitura (como se
verá adiante) ou faz pedidos pontuais de valores ou bens a seus "subordinados", como por
exemplo a arrecadação para "34 sacolão" (lista apreendida na residência de Fábio Guedes).
Ao contrário, há elementos de prova que demonstram fins muito menos nobres, ao contrário,
egoísticos, como o repasse de valores à Samara da Rocha, com quem o requerido mantém
relacionamento amoroso extraconjugal.

Neste sentido, no dia 01/04/2023, às 17h50min27s, Fábio encaminha para


Samara a foto de um comprovante de pagamento no valor de R$ 3.000,00 cuja pagadora foi
a investigada Thayana de Souza da Costa, e recebedora, a própria interlocutora da conversa
– Samara.

Não foi possível esclarecer qual o motivo da transação financeira, mas


conclui-se que não foi a primeira, pois Fábio comenta na caixa de diálogo enviada juntamente
com o arquivo do comprovante de pagamento: “Mais uma paga”, revelando tratar-se de
pagamento de prestação ou financiamento.

74
De fato, das conversas entre Samara e Fábio denota-se que este paga
contas em favor de Samara, senão vejamos:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.002-00


Conversa entre Fábio e Samara

Gastei minhas economias na sua casa estou pagando


5 mil por mês arcando com meus compromissos de
pai de avô etc cara não faz eu fazer igual fiz com a
Sara abandonei tudo até amizade com os filhos e
parentes terminei não queira isso para vc samara
seja...

Seja homem

A casa você me prometeu

Ademais dos repasses em favor de Samara, há registro de saques e entrega


de dinheiro em espécie ao próprio Fábio:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00


Conversa entre Fábio e Samara (Áudio 24)

Tu vai querer que eu faça algum pix alto pra ti?


Se não vou passar na lotérica para sacar

75
Não não, não vou precisar de pix não, traz
dinheiro, dinheiro vivo, melhor

Em março de 2023, também há mensagem de outras mensagens dão conta


dos repasses em favor de Fábio (Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.006-00):

Por obvio, a forma de uso do dinheiro recebido ilicitamente não diminui a


gravidade dos crimes praticados, contudo a prova dos autos dá conta que o requerido,
inclusive aos próprios servidores comissionados, se utiliza de fraude como forma de ocultar
a real finalidade do desvio.

C) Crimes de peculato-desvio e falsidade ideológica mediante a


utilização da Associação Beneficente Recreativa e de Responsabilidade Social
Desportiva do Bairro Imaruí – ADESI (art. 312, caput, e 299, ambos do Código Penal).

Da investigação, também possível apurar que o requerido Fábio Guedes não


apenas era o responsável por desviar valores relativos aos salários de seus comissionados
ou indicados como também é o responsável pelo peculato de valores destinados, por
fomento, à Associação Beneficente Recreativa e de Responsabilidade Social Desportiva do
Bairro Imaruí – ADESI.

Referida associação é atualmente presidida por Diego Fernandes, irmão do


requerido, contudo, tem servido para desvio de verbas públicas com posterior falso
ideológico na prestação de contas para acobertamento da real destinação dos valores.

76
A ADESI, foi fundada em 28/04/2007, sendo presidida, a partir de 2017, por
Fábio Guedes, conforme o próprio destaca em seu perfil publicado no sítio eletrônico da
Câmara de Vereadores de Itajaí:

No ano de 2021, o requerido renunciou ao cargo de presidente, visto que


logrou ser eleito a vereador desta cidade, conforme se verifica da Segunda Alteração
Estatutária da referida entidade (fl. 182):

77
Após a renúncia em razão da vereança, assumiu a presidência da
associação a pessoa de Kátia Regina Tavares - assessora parlamentar do vereador – e como
vice-presidente a pessoa de Diego Fernandes – irmão do requerido. Logo na sequência, em
21 de agosto de 2021, Diego Fernandes foi eleito presidente da associação e, por sua vez,
o cargo de vice ficou para Kátia. Ainda, da Ata da Assembleia Geral Ordinária, verifica-se
que outros componentes da entidade são aqueles que foram vítimas da "rachadinha"
praticada pelo vereador, tais como Jairo da Rocha, Deivid Navel Mans Paixão, Jéssica
Tavares Fagundes, Eliane da Cunha. Isto demonstra que, mesmo deixando o cargo de
presidente da entidade associativa, o vereador deixou pessoas vinculadas a si, seja por
parentesco, seja por subordinação laboral, seja por favores de indicação política, para
compor a associação (fls. 188/189):

78
Entretanto, em que pese tenha renunciado formalmente ao cargo de
presidente da associação, o vereador continuou a controlar a mesma, sendo o responsável
pelas tomadas de decisões.

Kátia Regina Tavares, no dia 27 de setembro de 2023, explicou


detalhadamente o fato:

[...] que daí eles tiraram a declarante da presidência; que colocaram o Diego;
que quem cuidava de tudo era a declarante; que as ordens vinham do Fabio;
que o Diego só emprestava o nome; que Diego só ficava lá por ficar; que ele
nunca fez nada; que ele sabia o que assinava.

Não ficando somente nas palavras de Kátia, a testemunha Gabriel Spronello,


que já foi assessor de Fábio, explicou:

[…] que Diego é irmão do Fábio; que o Fábio já foi presidente da Adesi antes
de ser eleito; que na associação ele ganhou uma notoriedade; que ele fez
esse projeto da Horta; que quando ele sai ele coloca o irmão dele ali; que o
irmão dele era só uma figura, quem mandava era o Fábio; que a Katia era
vice-presidente; que a Katia é assessora do Fabio; que eu escrevi os projetos
de 2022 e 2023.

79
Maria Helena Spronello relata:

[…] que a horta é da Adesi; que no papel está o Diego, mas o Fábio e a dona
Katia que cuidavam.

As palavras das testemunhas encontram amparo nas conversas extraídas


do celular apreendido de Diego Fernandes, demonstrando que, embora assinasse os
documentos e estivesse ciente dos acontecimentos, não era quem efetivamente mandava
ou gerenciava.

Nas conversas extraídas, Diego se mostra bastante alheio aos


direcionamentos na administração das atividades da horta, não transparecendo um
envolvimento com a sua gestão, aparentemente outorgando a Katia esses poderes.
Identificou-se, inclusive, grupos de Whatsapp com participantes que supostamente seriam
os responsáveis pelas ações, contudo, pouco discutem sobre a condução da horta, mantida
financeiramente, em parte, com um termo de fomento com a autarquia pública SEMASA.

Em conversas de bate-papo diretas, desde meados do mês de novembro de


2022, Katia solicita a Diego algumas assinaturas para a constituição ou atos referentes a
horta, enviando-lhe uma consulta do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica ADESI -
Associação Beneficente Recreativa e de Responsabilidade Social Desportiva do Bairro
Imaruí (conhecida também por Associação Desportiva Imaruí):

Laudo Pericial n.
Conversa entre Diego Fernandes e Kátia

Até amanhã preciso que você assine


documentos

E o William também

Amanhã a noite quando chegar eu aviso

80
Cheque CNPJ

Chegando lá dizer que queres a assinatura


digital

O arquivo em formato .pdf se trata da referida consulta do Cadastro


Nacional da Pessoa Jurídica ADESI - Associação Beneficente Recreativa e de
Responsabilidade Social Desportiva do Bairro Imaruí. Após ter-lhe sido solicitado que fosse
a determinado local para produzir uma assinatura eletrônica, provavelmente necessária para
a firma dos atos da associação, no áudio-resposta, o investigado Diego pouco se situa sobre
a finalidade das orientações, o que aparenta a ausência do conhecimento sobre as condutas
de administrador-presidente da associação: “Tá eu faço o que com isso aqui Dona Katia, eu
faço o que com esse documento?”.

Laudo Pericial n.
Conversa entre Kátia e Diego

Lá você lê os dados da associação

Passa o nr

CNPJ 08.912.846/0001-00

Obrigado

81
A partir do mês de fevereiro do corrente ano, novamente Katia solicita
assinaturas de Diego, inclusive mencionando que enviaria os documentos por meio do
requerido Fábio:

Laudo Pericial n.
Conversa entre Kátia e Diego

Eu vou mandar pelo Fábio


Você assina “amanhã de manhã”

E deixa lá em casa ou no meu irmão no lado

Diego não vou mandar para o Fábio

Amanhã combino com você......pra pegar


“assinatura a noite” pode ser?

Ademais, como prova que o vereador possuía total controle sobre a ADESI,
nos computadores apreendidos em seu gabinete (Mesa 01 e Mesa 02), encontraram-se
minutas de documentos referentes à ADESI, o que demonstra que a entidade era
gerenciada de dentro da Câmara de Vereadores.

Entre os documentos encontrados, está um contrato de prestação de


serviços com a pessoa de Gerson Floriano, cuja criação foi do usuário "Maria Spronello",
servidora em comissão à disposição do requerido Fábio.

82
Ainda, outros arquivos de documentos relativos a mesma associação eram
confeccionados a partir do dispositivo de patrimônio da Câmara de Vereadores de Itajaí.

Nessa linha, localizou-se arquivos de modelos de documentos de assuntos


referentes a horta comunitária mantida pela ADESI, que eram confeccionados se valendo da
estrutura de pessoal e patrimônio da assessoria do investigado Fabio nas dependências da
Câmara de Vereadores de Itajaí, ademais de pedidos de verba diretamente de Fábio:

83
Há vários outros documentos encontrados nos computadores que dão conta
da confusão entre ADESI e Gabinete do Vereador, ora requerido, Fábio Guedes.

Portanto, mesmo renunciando a presidência da associação, resta claro que


o vereador continuou tendo o controle da entidade. Os arquivos produzidos a partir dos
computadores da Câmara de Vereadores revela uma confusão entre os interesses da horta
comunitária e o mandato e obrigações como vereador.

Por fim, o endereço da sede da ADESI é o mesmo da residência do


investigado Fabio, na Rua Dr. Felipe Alencastro, n. 371, Imaruí, Itajaí, demonstrando
novamente seu vínculo com a referida associação:

Com a posse do cargo de vereador, diante da facilidade de acesso ao Poder


Público, inclusive por fazer parte da base governamental na Câmara Municipal, o requerido
logrou firmar parcerias, em nome da ADESI com o SEMASA, resultando em três Termos de
Fomento.

A propósito, quanto à influência de Fábio junto ao Semasa, Gabriel Spronello


alegou (a partir dos 9 minutos):

[...] que o Fábio não escrevia nada, só pedia né; que ele optava pelo fomento;
que ele dizia que iria conseguir o fomento para Adesi; que se dizia que ele
ia conversar com o pessoal do Semasa; que realmente quando os projetos
eram inscritos eram aprovados.

Assim, no ano de 2021, firmou-se o Termo de Fomento n. 014/2021, no valor


de R$ 54.398,62 (fls. 56-62); no ano de 2022, firmou-se o Termo de Fomento n. 003/2022,
no valor de R$ 98.450,54 (fls. 63-65); e no presente ano, firmou-se o Termo de Fomento n.
007/2023, no valor de R$ 34.900,00.

Entretanto, grande parte das verbas públicas recebidas não eram utilizadas
para os fins previstos no projeto anteriormente apresentado, ao contrário, conforme será
narrado em detalhes abaixo, parte dos gastos eram simulados de forma que era possível o
retorno de dinheiro vivo à ADESI, em verdadeira apropriação do dinheiro público. Como

84
forma de justificar o emprego dos valores recebidos, as prestações de contas apresentadas
ao SEMASA eram falsificadas mediante a apresentação de notas fiscais fraudadas, bem
como pagamentos de funcionários que jamais trabalharam na associação.

Passa-se à análise dos crimes praticados em cada Termo de Fomento


firmado com o SEMASA:

c.1) Do Termo de Fomento n. 014/2021

Em meados de 2021, a ADESI elaborou projeto para melhoria da horta


comunitária situada no bairro Imaruí (fls. 126/129), senão vejamos:

85
Juntamente com o projeto foi anexada planilha, dando conta, em detalhes,
de quais seriam os gastos com encargos salariais de supostos funcionários que trabalhariam
na ADESI e seriam necessários para execução do projeto, em resumo se apresentou o
seguinte quadro:

O projeto foi apresentado ante à autarquia pública municipal SEMASA, para


fins de obtenção de auxílio financeiro.

86
Em face do projeto apresentado, a Autarquia Municipal SEMASA firmou com
a referida associação o Termo de Fomento n. 014/2021, no valor de R$ 54.398,62 (fls.
208/216):

Durante a execução do plano de trabalho, Kátia Regina Tavares solicitou que


a "diferença dos valores apresentados no plano de trabalho indicados para a compra de
insumos, seja destinada as despesas com pessoa" (fl. 238):

87
Por sua vez, no início do ano de 2022, foi apresentada a prestação de
contas dos recursos utilizados. Contudo, verificou-se que a prestação de contas era em parte
ideologicamente falsa, em que pese a declaração firmada por Diego Fernandes alegando
que "os recursos públicos foram rigorosamente aplicados segundo o plano de trabalho".

Como prestação de contas a ADESI encaminhou a relação dos supostos


funcionários e as despesas a estes relativas, bem como transferências bancárias de
supostos salários pagos, além de rescisões contratuais. Contudo, a investigação concluiu
que tais funcionários jamais prestaram serviços remunerados à ADESI devolvendo os
salários à própria entidade ou ao requerido Fábio.

Retira-se dos documentos apresentados ao SEMASA que teriam prestado


serviço remunerado à ADESI, os seguintes funcionários:

DEIVID NAVEL MANS PAIXÃO


HILDA KLOCK
TCHAIRA PATRÍCIA FIDÉLIS FERNANDES (filha de Fábio)

88
THAYANA DE SOUZA DA COSTA (assistente particular de Fábio)
LUIZ ZICO FAGUNDES (esposo de Kátia)

A seguir, um exemplo dos documentos apresentados pela ADESI à


SEMASA, sendo que outros do mesmo gênero, relativo a outros meses, compuseram a
prestação de contas:

89
90
91
Pese os documentos apresentados, constatou-se que os funcionários
constavam formalmente no quadro de empregados, mas nem sequer compareciam no local.

Kátia Regina Tavares descreveu como ocorria a fraude (a partir do minuto


22):

[...] quando no primeiro ano a Maria Spronello estava no gabinete, em 2021,


eles que fizeram o primeiro projeto da associação; que eles iam no Semasa
e eles ganharam o primeiro fomento; que a Maria colocou que os
funcionários deveriam ser por CLT; que quem entrou foi a Thay na CLT, o
Deivid Paixão, a mãe da Spronello Hilda; que mais o esposo da declarante
o Luiz; que eu só pedi para meu esposo o nome; que com o dinheiro
pagou o Gerson e as coisas da associação; que é coisa de banco; que
Deivid recebia e passava o dinheiro para o Fábio; que o Luiz Zico não
recebia, o dinheiro era para pagar as contas; que com esse dinheiro
pagava contador, o menino Gerson; que o Gerson ganhava dois mil e
quinhentos reais; que no outro fomento a gente desligou todo mundo porque
por orientação do Semasa não era mais para fazer CLT; que Tchaira é filha
do Fábio; que a Tchaira nunca trabalhou; que ela sacava e dava para o
Fábio; que a Thay é a que fique com ele pra cima e pra baixo; que ela ia
na horta com o Fábio; que ela não pegava na enxada; que a única que
ficou com o pagamento foi a dona Hilda porque a Maria namorava o
Fábio; que a dona Hilda só veio devolver quando houve a briga; que
como os funcionários foram CLT eles tinham fundo de garantia; que quando
da rescisão eles tinham direito de sacar o fundo de garantia; que o fgts
foi tudo para o Fábio; que Daniela é a contadora.

Portanto, verifica-se que as verbas públicas destinadas aos pagamentos de


supostos funcionários da ADESI não foram com estes utilizadas, antes eram devolvidas, ou
à Fábio ou à própria Associação, o que se estendeu, inclusive quanto aos montantes
referentes ao Fundo de Garantia.

A testemunha Gabriel Spronello, que já foi assessor de Fábio, explicou (a


partir dos 8 minutos):

[…] que ele fazia o fomento e desviava o dinheiro; que não sabe valores;
que ele conseguia o fomento da Adesi; que realmente os projetos da Adesi
eram aprovados para receber do Semasa; que auxiliou a escrever o projeto
da Adesi com relação ao Semasa em 2022 e 2023; [...] que Hilda Klock é
sua mãe; que a Hilda fez a questão do fomento um ano antes de entrar; que
sabe que assinou a carteira dela; que acha que era só no papel; que recebia

92
o valor e repassava ao Fábio; que Luiz Zico é marido da Kátia; que imagina
que era a mesma situação da Hilda; que não trabalhava, nem recebia.

Corroborando, no notebook apreendido de Kátia, que secretariava a ADESI,


constavam planilhas que demonstram que, realmente, os valores dos salários eram
devolvidos integralmente, conforme coluna "retornou":

Referentes as rescisões empregatícias, estas também foram devolvidas. E


mais, o Fundo de Garantia dos empregados também retornaram para as mãos de
Fábio. Embora isto esteja na planilha de 2022, parte das rescisões constaram na prestação
de contas referentes ao Fomento de 2021, senão vejamos:

93
94
Inclusive, existia uma planilha sobre os valores pagos relativos a primeira
parcela do décimo terceiro salário de Deivid, Tchaira, Luiz Zico e Thayana no ano de 2021.
Chama a atenção a segunda coluna nomeada por “retornou”, onde é possível verificar que
os valores foram integralmente devolvidos:

Vale observar que o mesmo ocorreu no mês de dezembro de 2021, com


exceção dos honorários da contadora, que, de R$ 1.000,00 (mil reais) por si recebidos,
devolvia R$ 600,00 (seiscentos reais), dando conta que os serviços custavam, de fato,
apenas R$ 400,00 (quatrocentos reais). O serviço de contabilidade era prestado por Daniela
Keiko. Além dos honorários da contadora Daniel, observa-se que seu irmão, Roberto Yukio
Serikiaku, o qual também fez a devolução integral de R$ 2.000,00 (dois mil reais) recebidos
em dezembro de 2021 por uma suposta prestação de serviço.

95
A planilha demonstra que as notas fiscais da S3 Organização Contábil,
apresentadas na prestação de contas de 2021, são inverídicas.

Porém, não é só, observando a mesma planilha, fica claro que Roberto Yokio
também colaborou com o esquema, retornando o valor de R$ 2.000,00 à associação. A nota
fiscal da suposta prestação de serviços de Roberto também foi apresentada na prestação de
contas:

A exemplo da nota acima, também as notas emitidas pela empresa S3


Organização Contábil são ideologicamente falsas quanto ao seu valor, como a nota abaixo
como exemplo:

96
Corroborando que as notas fiscais são fraudadas, retirou-se conversa do
celular de Kátia com a contadora Daniela dos quais tratam de pagamentos e respectivos
comprovantes. Observa-se que Daniela pede o pix de Kátia para transferir valores.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.007-00


Conversa entre Kátia e Daniela

Bom dia

Bom dia

Passa o teu pix que eu já transfiro

Daria para fazer o pix da outra nota tbm?

Do beto?

Dois mil

Sim

É o CNPJ

37395751000164

Roberto Yukio Serikiaku

É no nubank também

Em continuidade da conversa denota-se que Kátia faz a transferência para


o pix de Roberto Yukio para logo receber novamente o dinheiro em sua conta particular, o
que revela sua participação em toda o esquema relativo ao desvio de valores.

97
Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.007-00
Conversa entre Kátia e Daniela

Se fizer agora eu já consigo


transferir pra ti também.
Ele está em casa

Passa o teu pix

Já vou fazer

Passa o teu pix....kkkk

Quero transferir

641.986.429-15

Kátia Regina Tavares

Tive que esperar ele sair do


banho

98
As próximas planilhas convergem com o que foi dito até aqui, tendo em vista
que os valores eram pagos e muitas vezes devolvidos de forma integral, como podemos
observar nas imagens colacionadas abaixo:

Portanto, verifica-se que, no ano de 2021, a fim de dar ares de legalidade


na utilização de verbas públicas oriundas do Termo de Fometo n. 014/2021, o requerido, no
total controle da ADESI, falsificou a relação de funcionários e respectivos comprovantes de
pagamentos relacionados aos mesmos, bem como notas fiscais de prestação de serviços da
empresa S3 Organização Contábil, uma vez que os valores eram devolvidos, parcial ou
integralmente à ADESI.

E, diante dos documentos ideologicamente falsos apresentados, o Semasa,


induzido ao erro, julgou regular a prestação de contas apresentada:

99
À vista do exposto, diante de tais práticas, caracterizados estão os crimes
de peculato-desvio e falsidade ideológica.

Ressalta-se, o Supremo Tribunal Federal já entendeu que caracterizar-se o


crime de peculato no caso de desvio de dinheiro público em Organizações Sociais mediante
a responsabilidade de seus dirigentes (HC 138484, Relator Min. Marco Aurélio, Primeira
Turma, julgado em 11/09/2018).

Em resumo, verifica-se que o falso ideológico dos seguintes documentos


com os respectivos valores falsos, anteriormente desviados:

Documentos Ideologicamente Falsos Verba pública desviada


Folhas de pagamentos referentes aos
funcionários Deivid Navel Mans Paixão, Luiz Zico
Fagundes, Tchaira Patricia Fidelis Fernandes,
Thayana de Souza da Costa e Hilda Klock, bem
como os respectivos recolhimentos de
contribuições previdenciárias. R$ 19.119,71

Termos de Rescisão de contrato de trabalho


referente aos funcionários Deivid Navel Mans
Paixão, Tchaira Patricia Fidelis Fernandes e
Thayana de Souza da Costa.

100
Uma Nota Fiscal referente aos serviços da R$ 600,00
empresa S3 Organização Contábil

Uma Nota Fiscal referente aos serviços de RS R$ 2.000,00


Serviços Administrativos
Total: 21.719,71

No ano de 2022, em concurso material o requerido, com o auxílio de Kátia e


Diego, reiterou na prática criminosa, firmando outro Termo de Fomento com o Semasa,
conforme item abaixo.

c.2) Termo de Fomento n. 003/2022


Prosseguindo com a empreitada criminosa, no dia 10 de fevereiro de 2022,
a Associação Desportiva Imaruí - ADESI, o requerido Fábio patrocinou novo projeto para fins
de solicitação de fomento junto ao SEMASA (fls. 416/420). Sob coordenação de Fábio e
Kátia, Diego Fernandes, por intermédio do Ofício 03/2021, solicitou a inclusão da associação
no Projeto de Apoio as Instituições da Sociedade Civil Organizada promovido pelo SEMASA
(fl. 444):

101
Posteriormente, no dia 26 de abril de 2022, o SEMASA determinou que o
plano de trabalho fosse refeito, bem como a readequação do cronograma de desembolso (fl.
531). Após as alterações, no dia 10 de junho de 2022, o SEMASA firmou com a ADESI o
Termo de Fomento n. 003/2022, no valor de R$ 98.450,54 (fls. 569/576):

102
Contudo, novamente, os valores não contaram com a destinação
anteriormente informada à Autarquia Pública, antes foram desviados para outras finalidades.
Sabe-se que, uma relevante parte do dinheiro recebido não se destinou ao
fim esperado, sendo que várias notas e informações prestadas ao SEMASA quando da
prestação de contas eram apenas fictícios e não encontraram respaldo na realidade.
Na relação de documentos apresentados, novamente, a Adesi listou os
gastos com funcionários que nunca laboraram na entidade, além de fictícios termos de
rescisão de contratos de trabalho, como por exemplo os documentos abaixo:

103
Conforme visto acima, tais funcionários não trabalhavam na entidade e,
segundo apurado, devolviam à Associação o dinheiro recebido. Ainda, juntou-se na
prestação de contas as guias de recolhimentos referentes ao Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (fls. 631/634), valores que na rescisão foram devolvidos ao requerido Fábio,
conforme explicado por Kátia – depoimento transcrito quando do primeiro Termo de
Fomento.
Além disso, mais uma vez, a ADESI apresentou notas fiscais
ideologicamente falsas, a principiar pelas seguintes notas relacionadas aos supostos
serviços de contabilidade, visto que parte dos valores foram devolvidos à instituição e
repassados ao requerido.

104
Importante pontuar que, no dia 11 de junho de 2022, a ADESI contratou a
empresa S3 Organização Contábil, administrada por Daniela Keiku, para prestação de
serviços contábeis referentes ao Termo de Fomento n. 003/2022. No instrumento contratual,
ficou acordado que os pagamentos pelos serviços se dariam em cinco parcelas de R$
1.400,00:

Entretanto, o valor real para fins de pagamento dos serviços era de R$


800,00 reais mensais, sendo que R$ 600,00 eram repassados para a ADESI.
Kátia Regina Tavares informou que (a partir dos 38 minutos):
[...] que quanto as notas de R$ 1.400,00 para a S3 contabilidade explica que
600 ficava para pagar as contas; que ela mandava para minha conta e eu
pagava as contas.

105
No notebook apreendido de Kátia havia planilhas demonstrando que, de fato,
a contadora Daniela sempre devolvia parte dos valores recebidos, inclusive referente Nota
Fiscal no valor de R$ 1.400,00, emitida em julho de 2022:

106
Outras notas fiscais apresentadas e que ficaram comprovadas que são
ideologicamente falsas se referem àquelas em nome de Gerson Floriano, conhecido como
Abelha.
Nesse sentido, no dia 12 de junho de 2022, a ADESI firmou contrato de
prestação de serviços de coordenação, gestão de pessoal, plantio, colheita, distribuição,
assessoria e execução do projeto de constituição da Horta Comunitária, com a pessoa de
Gerson Floriano, referente à colaboração no Termo de Fomento n. 003/2022. No contrato
ficou acordado que Gerson receberia cinco parcelas no valor de R$ 12.290,60 – quantia
resultante do fomento- totalizando o valor de R$ 61.453,00 (fls. 656/660):

107
108
O contrato acima consta na prestação de contas apresentada pela ADESI
ao SEMASA, juntamente com notas fiscais nos valores das parcelas contratadas.
Entretanto, embora o instrumento contratual e as notas fiscais constarem no
valor mensal de R$ 12.290,60, restou comprovado que Gerson recebia efetivamente, o valor
mensal de R$ 2.500,00 em um primeiro momento e R$ 4.500,00 em um segundo momento,
sendo que o saldo era devolvido à ADESI.
A comprovação de que Gerson recebia menor valor do que o apontado nas
notas fiscais pode ser retirado de seu próprio depoimento nesta Promotoria de Justiça, no
dia 30 de junho deste ano:
[…] que em meados de fevereiro de 2022 começou a trabalhar com eles; que
na horta começou sozinho com outro funcionário pago pela Adesi; que
trabalhou com eles até outubro de 2022; que fez um contrato com a Semasa;
que tem empresa; que era repasso um dinheiro para o declarante do Semasa;
que era um contrato com a Adesi e com o Semasa; que da conta tirava o
seu valor e passava o restante para eles; que o valor do declarante era
R$ 4.500,00; que começou com R$ 2.500,00; que recebeu uns seis meses
assim; que depois contratou outra pessoa; que o Semasa passava uns 12 mil
reais; que o dinheiro era devolvido para a Katia; que o valor foi combinado
com o pessoal da Adesi; que tratou com o presidente que é irmão do Fabio
Negão; que eles falaram nós vamos precisar e você para fazer o contrato; que
como tinha uma MEI dai aceitou; que antes de ser vereador ele já trabalhava
com a horta; que com relação aos valores não falou com o Fábio.

Embora o depoente tenha omitido o nome do vereador no desvio do dinheiro,


confirmou que tratou com ele o trabalho na horta, bem como sabia que Fábio já foi presidente
da Adesi, além de que o atual presidente da Associação é irmão do vereador.
Ademais, no celular de Fábio, extraiu-se conversas com Gerson, colocando
por terra as alegações de que o requerido nada sabia dos fatos, visto que ambos trataram
do valor a ser recebido.
As conversas apontam que GERSON combinou com FÁBIO que receberia
o montante de R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensalmente, mais uma marmita diária. Porém,
conforme exposto no parágrafo anterior, GERSON estaria recebendo seis vezes mais
através de sua empresa (R$ 12.290,60) mensalmente, levando-se à conclusão de que
Gerson estaria devolvendo a maior parte dos valores recebidos por sua empresa a FÁBIO.

109
Também resta claro que a responsável por administrar os valores recebidos
seria KATIA. Também foi possível constatar que Gerson (Abelha) já trabalhava para Fabio
em março de 2022, pois o mesmo solicitou adiantamento salarial (“vale”) no dia 18/03/2022.
Vale lembrar que KATIA ocupa cargo comissionado junto ao Gabinete do Vereador FABIO.

No dia 10/06/2022 Gerson novamente solicita a FÁBIO um “adiantamento”,


confirmando mais uma vez que GERSON não administra os valores recebidos pela sua
empresa para prestar os serviços na horta.

No dia 23/06/2022 FÁBIO diz a Gerson: “...acabei de receber a notícia


que o dinheiro caiu na conta... amanhã tem que ver com a dona Katia, pra ver teu MEI
e fazer o contrato...”. Mesmo após ser informado que o dinheiro havia sido liberado, no dia
01/07/2022 Gerson envia uma mensagem a FÁBIO por meio da qual pede a ele “dar uma
cutucada na Katia”, pois já havia solicitado o restante do pagamento havia alguns dias, mas
ainda não tinha recebido.

Já os áudios do dia 11/07/2022 revelam Gerson questionando FÁBIO se o


mesmo não iria mais pagar as suas marmitas. FÁBIO, em resposta, afirma: “...nós não
conversamos? Tu ganhava R$ 2.000,00 e agora tú receberia R$ 2.500,00 e pagaria as
marmitas...” deixando claro que Gerson realmente não administra, muito menos recebe todo
o valor repassado pela prefeitura à sua empresa.

Vale ainda citar que ABELHA sempre solicita a FÁBIO permissão para pedir
algum valor para KATIA, conforme se verifica na conversa do dia 09/09/2022.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00


Conversa entre Fábio e Gerson Floriano

Na vdd já é dia 18 e será que não vai sair o vale


do meio do mês?

110
Boa noite irmão

Esse carrinho quebrou o braço e tive que adaptar


outro pra não parar

Vê o que consegue ai até sair a verba

Boa tarde irmão...!!

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.003-00


Conversa entre Fábio e Gerson Floriano

Boa tarde irmão

Será que tem como vc dar uma cutucada na


Kátia...já solicitei o restante do pagamento dias a
trás e ela nada ainda po...

Já me programei com a Katia

111
Portanto, verifica-se que Fábio e Gerson possuíam contato com relação aos
assuntos da ADESI, inclusive falavam sobre os pagamentos referentes ao salário de
Gerson.

No primeiro depoimento prestado nesta Promotoria de Justiça, Kátia


confirmou a fraude:

No trecho a seguir, Kátia informa que as tratativas de devolução de valores


de Gerson foram feitas por Fábio:

Em setembro do presente ano, Kátia explicou a situação de Gerson (a partir


dos 40 minutos):

[...] que fazia sempre um recibo para ele; que era dois mil e quinhentos; que
o dinheiro retornava; que depois Fábio acordou com o Gerson de dar a
marmita para ele; que era comprado no restaurante da irmã do Fábio.

Pelas conversas analisadas e depoimentos de Gerson e Kátia, não há


dúvidas de que mais que 8 mil reais dos valores mensalmente recebidos eram desviados
para a ADESI e que o contrato apresentado na prestação de contas ao SEMASA contém
falso ideológico quanto a seu valor.

No notebook de Kátia, também constavam planilhas com os pagamentos


realizados a "Abelha", diga-se, Gerson Floriano, após firmar o contrato com a ADESI:

112
113
Logo, do controle de caixa elaborado por Kátia, mais uma vez, confirma-se
que Gerson recebia valor inferior do que constavam nas notas fiscais, o que era do
conhecimento, inclusive, de Gabriel Spronello (a partir dos 13 minutos):

[...] que foi contratado um senhor, o Gerson, conhecido como Abelha;


que o Gerson trabalhava com negócio de abelha e depois ele mudou
atividade da empresa pra cuidar de hortas; que ele foi contratado para
prestar serviços na horta durante o período do fomento; que o valor era
quase quatorze mil reais; que a gente sabia que para ele ia apenas

114
o valor de três mil; que o resto era devolvido para o Fabio; que a
Katia foi com ele abrir conta bancária; que no dia que caia o dinheiro
pegava o valor, repassando a quantia de três mil reais; que o restante
ela trazia e devolvia para o Fábio.
Desse modo, as notas fiscais em nome de Gerson Floriano possuem
inserção de dados falsos, visto que o beneficiário não recebeu todo o valor constante nos
documentos, ao revés, o dinheiro, oriundo de verba pública foi desviado sob gerencia do
requerido.
Ainda na prestação de contas referente ao fomento de 2022,
evidenciou-se que outra nota fiscal era falsa, cuja emitente foi a empresa Celso
Ricardo de Oliveira EPP, nome fantasia, Itapema Jardinagem, no valor de R$ 12.997,54:

115
A falsidade da referida nota fiscal está demonstrada por diversos elementos
colhidos ao longo da investigação dentre eles o depoimento de Kátia Regina Tavares (a partir
dos 46 minutos):
[...] que do Celso só foi pago o imposto; que o resto voltou; que é
a nota de 28.07.22; que esse dinheiro foi pagando coisas que o Fábio
pagava, comprado verdura que são dadas para o pessoal junto com a
colheita da horta; que ele incrementava com essas verduras.

A devolução do referido valor foi encontrada na planilha de controle que Kátia


possuía em seu notebook, onde constava “DEVOLUÇÃO CELSO” no valor de R$ 12.220,00
(doze mil duzentos e vinte reais):

116
Não bastassem as notas falsas até então listadas, a fraude perpetrada pelo
requerido, mediante a utilização da Associação ADESI foi repetida na nota fiscal em nome
de Jucemar Limas Teixeira Ferragens:

117
Ressalta-se, que Jucemar é sócio da empresa Lu Materiais de Construção e
labora na Prefeitura de Itajaí.
Kátia Regina Tavares, pessoa de confiança de Fábio, assim declarou (a
partir dos 51 minutos):
[...] que quanto a nota fiscal de R$ 11.990 em nome do Jucemar informa
que essa foi a que retornou; que só foi paga o imposto; que essa é a
do Lu.
Quanto a referida nota, há conversas entre Kátia e o requerido confirmando
o que até então tem se alegado. Em uma das conversas, Fábio fala com Kátia sobre o
"negócio da nota". Em primeiro lugar, chama a atenção duas mensagens de voz que FÁBIO
envia pelo aplicativo WhatsApp para KÁTIA, afirmando que a loja Lú Materiais de Construção
faria “o negócio da nota que eles precisavam”.
A exemplo do fomento anterior, ante a fraude apresentada, as contas foram
julgadas regulares pelo Semasa, o qual foi induzido em erro:

118
Logo, o requerido, mandante de fato da ADESI, é o responsável pelo
esquema fraudulento criado para desviar recursos públicos, bem como, em comunhão de
esforços, pela fraude na prestação de contas levadas à autarquia pública SEMASA, à qual
se apresentaram documentos particulares ideologicamente falsos, com o fim de alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante, diante da emissão de diversas notas fiscais
descrevendo a prestação de serviços ou aquisição de produtos que jamais existiram, ou que
apenas existiram parcialmente (contabilidade).
Sobressai, portanto, que houve desvio de finalidade quanto ao uso da verba
pública oriunda do SEMASA, bem como uma série de falsos ideológicos que serviram à
prestação de contas.

Em resumo, verifica-se que o falso ideológico dos seguintes documentos


com os respectivos valores falsos, anteriormente desviados:

Documentos Ideologicamente Falsos Verba pública desviada


Folhas de pagamentos e termos de rescisões R$ 13.536,53
referentes aos funcionários Hilda Koock e Luiz
Zico Fagundes
Notas fiscais e pagamentos integrais referentes à R$ 3.000,00
empresa S3 Organização Contábil
Notas fiscais e pagamentos integrais referentes a R$ 48.070,00
Gerson Floriano
Jucemar Limas Teixeira Ferragens R$ 11.990,76
Celso Ricardo de Oliveira Eireli EPP R$ 12.997,54

Total: R$ 89.594,83

c.3) Do Termo de Fomento n. 007/2023


No dia 24 de fevereiro de 2023, o então presidente Diego Fernandes,
solicitou junto ao Semasa, por intermédio do Ofício n. 001/2023, a continuidade do trabalho
social de ampliação e manutenção do Programa Hortas Comunitárias, apresentando o
respectivo plano de trabalho.

119
Diante disso, no dia 9 de maio de 2023, o Semasa firmou com a Associação
o Termo de Fomento n. 007/2023, no valor de R$ 34.900,00:

120
Nada obstante o SEMASA não encaminhou a prestação de contas a esta
Promotoria, há indícios de que o requerido está reiterando na prática criminosa. Tal indício
se denota das palavras de Kátia Regina, que em seu depoimento informou que:

Que Fábio em seguidinha falou rapidamente da Adesi; que ele disse que
havia conversado com o diretor da Adesi que viria dinheiro novamente no
mês de setembro e que iria fazer pagamentos; que então a declarante
perguntou a Fábio “ que dinheiro?”; que a declarante inclusive chamou o
Diego e William pra ir até sua casa porque ia explicar exatamente isso, ou
seja, que acabou o fomento; que Fábio queria que fizesse um novo fomento;
que Fábio disse “A mas a senhora vai fazer um novo projeto né?”; que então
ficou quieta; que disse “não”.

Inclusive, quanto a este último fomento, Kátia entregou à esta Promotoria o


valor de R$ 5.026,00 (cinco mil e vinte e seis reais) em espécie, que seria fruto do esquema
de desvio de finalidade do valor do SEMASA (numerário já depositado em juízo junto aos
autos de Busca e Apreensão).
Ademais, do celular de Kátia, verificou-se conversas recentes entre Kátia e
Jucemar que indicam que o esquema também está funcionando quanto ao último termo de
fomento. Na conversa entre KÁTIA e JUCEMAR que, além de combinarem de se encontrar
pessoalmente no dia 31/05/2023, JUCEMAR estranhamente passa as informações da conta
em nome de sua companheira e também funcionária PERLA FRANCIANE FELICIO (CPF nº
054.137.959-39). Percebe-se, depois, que JUCEMAR passa os dados de sua empresa para
depósito, porém, o envio do número da conta em nome de PERLA é informação que levanta
suspeitas.

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.007-66


Conversa entre Kátia e Jucemar

De repente vou até antes!


Das 10 horas

OK

Te aviso quando estiver a caminho

Bom dia Lu

A caminho

Aqui estão os dados da minha conta na ViACRED

121
CPF/CNPJ 42551860000163
Banco Alios: 085
Agência: 0101-5
Conta 1301719-5
Tipo: conta corrente

Kátia faz só deposito nesse aqui


Conta para depósito
Conta PJ
Viacred
Banco 085
Agência 0101
Conta Corrente 801.209.1
CNPJ 22.058.096/001-81
Assim que chegar a nota eu faço

Por último, como já mencionado, consta uma nota fiscal emitida dois dias
depois (02/06/2023) em nome da Associação ADESI para a empresa Jucemar Limas Teixeira
Ferragens, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais):

122
Logo, há indícios suficientes que o requerido está reiterando na prática
criminosa, utilizando de recursos públicos em favor da ADESI, salientando que as hortas
comunitárias e a própria ADESI são fatores de publicidade para o requerido, conforme é
possível verificar em simples pesquisa de internet.

3. DO PERICULUM LIBERTATIS

Na República Federativa do Brasil, constituída em Estado Democrático de


Direito (CF, art. 1.º, caput), prevalece a liberdade de todo indivíduo, sendo a prisão, enquanto
não houver a prolação de uma sentença condenatória, uma medida de caráter excepcional.
Disso extrai-se outro princípio de grande valia, qual seja, a presunção do
estado de inocência ou da não culpa, consistente na garantia de que "ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória" (CF, art. 5.º,
LVII).
Como acontece com todo princípio constitucional, nem a liberdade, nem a
presunção da não culpa são absolutos, havendo circunstâncias que justificam a segregação
cautelar de uma pessoa.
Vale lembrar que a própria Carga Magna prevê expressamente a
possibilidade da prisão cautelar, não havendo afronta alguma ao dispositivo de cunho
eminentemente penal da presunção da não culpabilidade. É o que se extrai da simples leitura
do artigo 5º, inciso LXI, in verbis: "Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei".
Nesse aspecto, registre-se que o Superior Tribunal de Justiça já pacificou:

PRISÃO PREVENTIVA - Presunção constitucional de inocência não é incompatível


com a cautela - Providência expressamente regulada no art. 5º, LXI, da CF -
Inteligência de seu inc. LVII. Recurso em habeas corpus. Direito Processual Penal.
Prisão preventiva. A (CF, art. 5º, LVII) é relativa ao Direito Penal, ou seja, a respectiva
sanção somente pode ser aplicada após o trânsito em julgado da sentença
condenatória. Não alcança os institutos de Direito Processual, como a prisão
preventiva. Esta é explicitamente autorizada pela Constituição da República (art. 5º,
LXI) (RHC 1.322 - PR - 6ª T. - j. 12.8.91 - rel. Min. Vicente Cernicchiaro - DJU 2.9.91,
in RT 686/388). Por isso, já se decidiu que não afronta o princípio constitucional da
manutenção da prisão em flagrante devidamente homologada, se presentes seus
requisitos autorizadores (STJ - HC 6710/RJ, Rel. Min. Edson Vidigal).

Assim, há que se perquirir se tais medidas restritivas da liberdade se


mostram adequadas e necessárias ao processo, ou seja, se são proporcionais diante das
condutas perpetradas (art. 282, incisos I e II, do Código de Processo Penal). No presente
caso, entende-se que a resposta é peremptoriamente afirmativa.

123
A prisão preventiva, modalidade de medida cautelar pessoal, está
condicionada à presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis. O primeiro
requisito enseja a análise judicial da plausibilidade da medida pleiteada ou percebida como
necessária a partir de critérios de mera probabilidade e verossimilhança e em cognição
sumária dos elementos disponíveis no momento, ou seja, basta a existência de elementos
que confirmem a presença de prova da materialidade e indícios de autoria do delito. E ambos
se fazem presentes, conforme se demonstrou claramente nos vastos tópicos anteriores
deste pedido.
O periculum libertatis, ora examinado, é necessário para o deferimento de
ambas as modalidades de prisão cautelar. O requisito citado caracteriza-se pelo risco
emergente da situação de liberdade do agente. Em outras palavras, compreende o perigo
concreto que a permanência do suspeito em liberdade acarreta para a investigação criminal,
o processo penal, a efetividade do direito penal, a segurança social e a ordem pública.
In casu, a permanência em liberdade do investigado FÁBIO GUEDES,
macula muitos desses importantes valores fundamentais, uma vez que a conveniência da
instrução criminal e a garantia da ordem pública restarão abaladas, conforme se passa a
demonstrar separada e minuciosamente:

3.1 GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA (FATOS NOVOS E CONTEMPORÂNEOS)

A prisão preventiva do investigado FÁBIO GUEDES é necessária para


garantir a ordem pública, em face da gravidade concreta das condutas praticadas, da
quantidade de vezes do seu cometimento, da sua repercussão social e do risco de reiteração
das condutas praticadas, as quais estão hoje em curso diário no município de Itajaí.
Como já demonstrado à saciedade no tópico anterior, o requerido instalou
no município Itajaí uma corrupção sistêmica, a qual, mesmo após a busca a apreensão
mantém em curso. Os fatos são atuais e continuam sendo rotineiramente praticados, a
verba recebida da autarquia SEMASA continua sendo utilizada e aos servidores
comissionados, da Câmara ou Prefeitura, segue a exigência de parte dos salários.
Conforme restou demonstrado, por incontáveis oportunidades, o requerido
exigiu de seus assessores parcela de seus vencimentos. Não é só, o vereador interferiu
diretamente no Poder Executivo Municipal, indicando cargos com o fim unicamente de
receber mensalmente percentual das remunerações, atentando, assim, contra a democracia
e, portanto, à ordem pública, criando sensação social de impunidade.
Em nota jornalística de periódico local, do último dia 25, colhe-se:

124
125
E, de fato, não se trata apenas de divulgação vazia de fontes, eis que a
reiteração criminosa está comprovada, pois, nos depoimentos colhidos na data de 27/09/23,
nesta Promotoria de Justiça, Elenita e Kátia afirmaram que após a busca e apreensão o
vereador chamou as depoentes e “EXIGIU A CONTINUIDADE DOS PAGAMENTOS”,
porque “ISSO NÃO IRIA DAR NADA” – referindo-se as investigações. Além disso, o
vereador disse “Ó a Natalia já pagou”, demonstrando que outros servidores continuam
devolvendo parte dos salários. Segundo as testemunhas, no dia 5 de setembro do corrente
ano, as exigências para a devolução de parte do salário foram reiteradas.
Com efeito, a primeira premissa a se considerar neste pedido é que
nenhuma das demais medidas cautelares previstas na legislação seriam suficientes
para impedir o avanço do sistema, bem como garantir que as investigações
transcorressem como demanda o princípio republicano. Apenas com a medida extrema
da segregação preventiva os direitos dos cidadãos de Itajaí estarão devidamente
resguardados.
Isso porque o Requerido detém, além de notório poder sobre seus
subordinados, influência direta entre vários servidores municipais, razão pela qual restam
insuficientes quaisquer das medidas no art. 319 do Código de Processo Penal.

Sobreleva ressaltar que a garantia da ordem pública se afigura abalada com


a liberdade do requerido, pois demonstrada hodiernamente a reiteração das empreitadas
criminosas.
Neste sentido, ressalta-se que o pedido ora formulado é técnico e o mais
restrito possível diante da magnitude do esquema ora investigado, que se refere a fatos
novos e contemporâneos, totalmente aptos a justificar a decretação da segregação cautelar.
Formam o conceito de garantia de ordem pública, segundo os ensinamentos
de Guilherme de Souza Nucci:

Garantia da ordem pública: […] entende-se pela expressão a necessidade de se


manter a ordem na sociedade, que, em regra, é abalada pela prática de um delito. Se
este for grave, de particular repercussão, com reflexos negativos e traumáticos na
vida de muitos, propiciando àqueles que tomam conhecimento da sua realização um
forte sentimento de impunidade e de insegurança, cabe ao Judiciário determinar o
recolhimento do agente. A garantia da ordem pública, em princípio, deve ser
visualizada pelo binômio gravidade da infração + repercussão social. […] note-se,
também, que a afetação da ordem pública constitui importante ponto para a própria
credibilidade do Judiciário, como vem decidindo os tribunais. Ver: TJSP: “É
providência acautelatória, inserindo-se no conceito de ordem pública, visando não só
prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas acautelar o meio social e a própria
credibilidade da Justiça, em face da gravidade do crime e de sua repercussão,
convindo a medida quando revelada pela sensibilidade do juiz à reação do meio à
ação criminosa […]" (NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal
comentado. 11ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 658).

126
No que diz respeito à hipótese de “garantia de ordem pública”, que autoriza
a segregação preventiva, Renato Brasileiro de Lima esclarece que:

[...] entende-se garantia da ordem pública como risco considerável de reiteração de


ações delituosas por parte do acusado, caso permaneça em liberdade, seja porque
se trata de pessoa propensa à prática delituosa, seja porque, se solto, teria os
mesmos estímulos relacionados com o delito cometido, inclusive pela possibilidade
ao convívio com os parceiros do crime. […] (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de
processo penal. vol. I. Rio de Janeiro: Impetus, 2011. p. 1320).

Ainda, acerca do tema, é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

PRISÃO PREVENTIVA. DENÚNCIA PELO CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA


E OUTROS DELITOS GRAVES DIRECIONADOS AO DESVIO DE VERBAS
PÚBLICAS. DECRETO SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO. GRAVIDADE
CONCRETA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. NECESSIDADE DA PRISÃO
CAUTELAR EVIDENCIADA. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA. 1. Presentes
fortes indícios de que o paciente faria parte de sólido esquema criminoso que tinha
como principal atividade a prática de ilícitos direcionados ao desvio de verbas
públicas, inclusive federais, em proveito dos agentes envolvidos e em detrimento do
município lesado, desbaratado através da denominada "Operação Telhado de Vidro",
e constando ainda que, para que esse fim tivesse êxito, vários crimes eram cometidos
pelo grupo, tais como corrupção, extorsões, advocacia administrativa, falsidades e
outras inúmeras fraudes, especialmente em licitações, que acarretaram enormes
prejuízos aos cofres públicos, não se mostra desfundamentado o decreto de prisão
preventiva e o acórdão que o manteve, sustentados na necessidade do resguardo da
ordem pública, pois há sérios riscos das atividades ilícitas serem retomadas com a
soltura. […] 3. Ordem denegada (HC 111.151/RJ, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 21-5-2009, DJe 3-8-2009).

HABEAS CORPUS. DECRETAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA. PRÁTICA


EM TESE DE CRIMES DE CONCUSSÃO E CORRUPÇÃO PASSIVA
(ARTIGOS 316 E 317 DO CÓDIGO PENAL). PEDIDO DE REVOGAÇÃO.
NÃO CABIMENTO. DECISÃO ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADA.
RISCO À ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.
GRAVIDADE CONCRETA E INTIMIDAÇÃO DE TESTEMUNHAS. 1.
Demonstrada a presença dos requisitos fáticos - garantia da ordem pública e
conveniência da instrução criminal (art. 312, do CPP), e instrumentais -
possível prática de crime doloso punido com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 anos (art. 313, I, do CPP), desponta a necessidade de
manter-se a prisão preventiva do paciente. 2. As circunstâncias que
sobejam dos autos (prática, em tese, dos crimes de concussão e
corrupção passiva, por agente político, ocupante do cargo eletivo de
vice-prefeito, que aproveitou-se da função para exigir das vítimas, em
contrapartida da indicação por ele para serem mantidos ou ocuparem
cargos de confiança ou funções comissionadas, o pagamento de
percentual de seus vencimentos, mensalmente, em espécie, e com isso
assegurar que os ilícitos não fossem descobertos, além de intimidar os
seus indicados com a perda do emprego caso não aceitassem a avença)
indicam a gravidade concreta do evento criminoso.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO. ORDEM
DENEGADA. (TJSC, Habeas Corpus (Criminal) n. 4020735-
79.2019.8.24.0000, de São Bento do Sul, rel. Ariovaldo Rogério Ribeiro da
Silva, Primeira Câmara Criminal, j. 25-07-2019).

127
Reitera a convicção que, sem a intervenção judicial, o requerido continuará
na senda de delitos, o fato que esta não é a primeira ocorrência que o envolve em atividade
criminosa contra a administração pública. O requerido Fábio já foi denunciado nesta
Comarca pelo delito de corrupção passiva nos autos n. 5026387-87.2021.8.24.0033, em
razão de ter exigido do empresário Nelson Nantes vantagem indevida, consistente em
receber valores decorrentes do Contrato n. 005/2015, firmado entre a Empreiteira de
Mão de Obras Nantes Ltda. ME., de propriedade do empresário, e o Município de Itajaí,
para prestação de serviços de jardinagem.

Retira-se da denúncia:

Os requeridos Fábio Luiz Fernandes Castelo Guedes e Benicio Setti,


quando dos fatos, ocupavam cargos comissionados na Secretaria de
Obras de Itajaí, o primeiro na função de Diretor de Praças e Jardins e
o segundo na função de Diretor de Serviço de Atendimento ao
Cidadão.

Em abril de 2019, na localidade conhecida como "Campo do


Matadouro", nessa cidade, ambos os requeridos, em comunhão de
vontades e unidades de desígnios, em razão dos cargos de direção que
ocupavam na Secretaria de Obras, solicitaram ao empresário Nelson
Nantes vantagem indevida, consistente em receber valores
decorrentes do Contrato n. 005/2015, firmado entre a Empreiteira de
Mão de Obras Nantes Ltda. ME., de propriedade da vítima, e o
Município de Itajaí, para prestação de serviços de jardinagem. Segundo
os requeridos os valores serviriam para caixa de campanha1O valor da
vantagem solicitada foi negociado entre os requeridos e empresário, e
seria o equivalente ao valor pago por funcionários que seriam retirados
das equipes de trabalho, ou seja, que não prestariam serviço mas que
estariam presentes fraudulentamente na prestação de contas e pelos
quais o empresario receberia. Neste sentido, nas palavras do
requerido Fábio Guedes "se der para tirar dez (funcionários) nós
vamos tirar dez, se der pra tirar oito nós vamos tirar, se der pra
tirar 12..." (05'25" - áudio) e ainda que "três não dá nada" (06'05" –
áudio) na sequência: "quatro equipe ... dá pra tirar dois de cada
um não dá?" (11'05" – áudio) e segundo o requerido Benicio Setti,
"se cagá por um homem é uma coisa e se cagá por dez homens é
a mesma coisa ... então nós temos que vê o que dá pra nós fazê
dentro do possível" (08'17" – áudio) e ainda: "então tira de duas
equipe, quatro d'uma e quatro d'otra" (13'10" - áudio).

128
Logo, segundo o andamento da negociação os requeridos visavam
receber, a partir do mês de maio de 2019, um valor mensal equivalente
ao recebido pelo empresário em face de 08 (oito) funcionários que
estariam na prestação de contas embora não tivessem prestado o
serviço. É possível estimar que os requeridos visavam a obtenção de
vantagem em torno de R$ 10.000,00 (dez mil reais) mensais.

Como forma de garantir que o empresário não sofreria consequências


pela falta de funcionários no cumprimento do contrato os requeridos
informaram que tinham sob mando o funcionário público Marcos Aurélio
Gonçalves, que, por sua vez, é fiscal do referido contrato. Segundo o
requerido Fábio, referindo-se ao fiscal Marcos, conhecido por
Marcão: "Vou sair da conversa daqui fechada vou chegar lá e vou
dar a nota pra ele ó é assim, assim e assim tais dentro ou não se
tu não tá tu vai fechar boquinha, vai ficar de canto e nós vamô bota
otro no lugar ... o papo é este o papo é comigo eu assumo" (04'24"
a 04'48"). Após preocupação do empresário com a fiscalização o
requerido Benício o informou que: "Mas é assim ó, quem vai
assinar é o Fábio, a equipe ta ali trabalhando em vez de tá esta
equipe de 8 trabalha com 4 e o relatório vai sair ali e então manda
a nota ... Lá o Fábio vai subir lá e falar pra menina no dia 30 ei a
'notinha não foi eu conferi tá tudo certo' ... é isto aí ... Lá eu sei os
caminhos também (06'30" a 07'06").

A denúncia foi oferecida no dia 7 de outubro de 2021 e, mesmo após a


deflagração da Ação Penal, o vereador continuou a delinquir, perpetrando diversos delitos
que não se resumem à corrupção, mas também relacionam-se com exigência de percentual
dos salários de seus assessores e de servidores públicos que compõem o quadro do Poder
Executivo Municipal, patrocínio de interesse particular perante a Administração Pública,
fraude mediante a utilização de associação e desvio de materiais de órgãos públicos,
demonstrando a necessidade de sua prisão como forma de garantia da ordem pública.
Por fim, entendemos que não existe abalo maior à ordem pública que o
enriquecimento ilícito de servidores e agentes políticos às expensas do próprio povo.
Somada à gravidade concreta da conduta levada a efeito pelo investigado e
à repercussão social dessas, há, também, a possibilidade concreta – aliás probabilidade
– de que siga na prática dos delitos da natureza dos já anteriormente narrados, caso
mantida sua liberdade.

129
Diante deste cenário, a possibilidade de reiteração criminosa deve ser
dissipada com a decretação da custódia antecipada do requerido, de modo a evitar a
sequência de delitos e o rombo nos cofres do Município, e como modo de evitar que se siga
com a as reiteradas práticas ilegais como se esta fossem legítimas, quando, ao revés, são
criminosas.
Referente a caso análogo, pode-se transcrever a ementa parcial do seguinte
acórdão do Superior Tribunal de Justiça:

[...] 2. Verifica-se a necessidade da custódia antecipada, ainda, para fazer cessar a


reiteração criminosa, pois consta dos autos que o paciente estaria envolvido em
vários delitos, circunstância que revela a sua propensão a atividades ilícitas,
demonstra a sua periculosidade e a real possibilidade de que, solto, volte a delinquir
(HC 236.924/ES, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, j. em 5-5-2013).

Destaca-se que a segregação cautelar, seja na modalidade preventiva ou


temporária, não deve ser vista como um prejulgamento ou antecipação de pena que poderá
advir ao fim do processo e tampouco fere o princípio da dignidade da pessoa humana. Trata-
se de harmonizar o princípio da não culpabilidade com outro princípio de igual envergadura
constitucional, qual seja, o princípio da justiça penal eficaz.
Há que se destacar aqui a realidade local de modo a demonstrar que a lesão
à ordem pública está fundada em elementos concretos e não meras conjecturas.

Portanto, da análise do exposto, observa-se que a segregação cautelar do


requerido está devidamente fundamentada em dados concretos extraídos dos autos, que
evidenciam de maneira inconteste a necessidade da prisão para garantia da ordem pública.

3.2 Conveniência da instrução criminal

Excelência, nas investigações realizadas em face desse tipo de crime, a


experiência revela que, de regra, as ações investigativas (como a requisição para oitiva de
testemunhas) uma vez do conhecimento do requerido, resultará na perda de elementos de
prova importantes para o sucesso da instrução.

Neste sentido, a liberdade do requerido representa risco concreto para o


deslinde imparcial das investigações e futura instrução criminal. Concretamente, mantendo-
o em liberdade, atuará em conjunto e individualmente para se esquivar da responsabilidade,
sobretudo ante o poder que ora mantém sobre os servidores a quem garante o cargo público.
Pensamento diverso seria contrário à realidade.

130
O poder de influência em razão do cargo de vereador, ocupando posição de
ascendência em relação as dezenas de servidores públicos do Município de Itajaí que foram
por si indicados, certamente influenciará nos depoimentos que ainda serão tomados.

Não bastasse o poder de influência sobre as testemunhas, ainda paira sobre


estes a ameaça contra a integridade física.

Não se trata de mera conjectura. Excelência, todas as


vítimas/testemunhas ouvidas até o momento afirmaram temer por suas vidas,

Elenita foi enfática e dizer:

[…] que procurou um colega e ele pediu para que eu tivesse uma
proteção; que perguntou se ele podia orientar se poderia ter alguma
proteção; que tem medo que aconteça algo com a sua mãe porque
é idosa; que ele tem a fama de ser traficante; que ele continua
sendo traficante; que as pessoas comentam que ele não é flor que
se cheira; que ele tem um passado.

Gabriel, por seu turno, declarou:

[…] que prestou um depoimento em junho; que no dia seguinte que


prestou depoimento veio na Promotoria e pediu sigilo do depoimento;
que tem muito medo de risco de vida pelo teor do depoimento e a
pessoa do Fábio; que ele falava que fulano é respeitado porque manda
matar; que pensou que ele podia fazer algo contra o depoente; que a
representação é de sua autoria; que depois pediu para omitir por
medo.

No final de seu depoimento, quando perguntado pelo Promotor se gostaria


de relatar mais alguma irregularidade, Gabriel disse:

[…] acho que não, só a questão do risco de vida mesmo; da minha


família; deixar bem claro; que é uma pessoa perigosa; que a gente tem
medo né; […]; que sua irmã tem uma medida protetiva contra ele; que
tem conhecimento da vida pregressa dele né; que na prática ele
deixava mensagens que deixava a gente com medo; como quando
dizia que tinha cemitério clandestino; que tem receio, infelizmente.

A vítima Maria Helena, inclusive, possui medida protetiva contra Fábio em


razão de ameaças por outro fato. Entretanto, isso demonstra a periculosidade do requerido,
o qual costumeiramente ameaça pessoas.

131
De igual forma, Katia disse:

[…] que tem medo; que tem medo dele fazer alguma coisa; que ele não
é gente pequena; que mora na mesma rua dele; que ele passa na frente
da sua casa todo dia; que seu marido fez uma cirurgia do coração; que
tem muito medo; que seu marido disse “Kátia cuida, nós não temos
segurança nenhuma”; que o Jairo ficou atrás da depoente antes da filha
ser exonerada; que Jairo ia na sua casa.

Em conversas encontradas no celular do investigado Fábio, destaca-se


convite realizado para Leonardo França:

Laudo Pericial n. 2023.08.09171.23.005-00


Conversa entre Fábio e Leo

“Bom dia, bom dia Leo, tudo certo meu


irmão? O Leo, umas dez e meia eu queria
que tu fosse num lugar comigo, você tem
disponibilidade pra ir resolver um
negócio comigo? Dá um toque aí fazendo
um favor”.

“Bom dia, bom dia, bom dia Fábio. Tudo


certo? Disponível meu irmão. Cume é qui
é. Tem que ir de calça, de camisa? ...
chinelo, bermuda, e aí, qual que é a
situação, fala aí.”

É pra i com bem cara de mau que nós


vamos pegá um bicho de pau hoje ... com
cara de mau eu quero.

132
As mensagens trocadas com a ex-servidora Maria Spronello, com quem o
requerido manteve relações amorosas também dão conta da personalidade deste, conforme
bem se anota em relatório apresentado pelo GAECO:

133
Evidente que se trata de pessoa violenta, que não mede suas palavras, aliás,
o relatório apresentado dá conta de uma série de ofensas em desfavor da ex-servidora Maria
Spronello.

Excelência, por mais grave que seja a privação cautelar de um vereador, não
se pode olvidar que, no caso concreto, o investigado, como revelou detalhadamente a
apuração, foi o maior beneficiário do esquema criminoso por si engendrado,
enriquecendo ilicitamente sob as custas do patrimônio público. Também ficou
evidenciado que Fábio visa ocultar dos olhos da população as condutas por ele praticadas
conscientemente contra a lei, sob o manto da “caridade” e por fim, que apresenta real
ameaça às testemunhas, à investigação e à instrução criminal.

Logo, face dessa sua capacidade de influenciar a colheita escorreita dos


elementos de provas necessários para a conclusão das investigações, bem como instrução
da ação penal que será deflagrada, revela-se imprescindível que seja decretada a prisão
preventiva para conveniência da instrução criminal.

Colhe-se da Jurisprudência:

HABEAS CORPUS. CONCUSSÃO [ART. 316, CAPUT, DO CP].


CORRUPÇÃO PASSIVA [ART. 317, CAPUT, DO CP]. COAÇÃO NO CURSO
DO PROCESSO [ART. 344 DO CP]. PRISÃO PREVENTIVA. PEDIDOS
POSTERIORES DE REVOGAÇÃO DA PROVIDÊNCIA E DE
SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO DOMICILIAR INDEFERIDOS.
INSURGÊNCIA. ALEGADA QUESTÃO DE MÉRITO. ESTREITA VIA DO
HABEAS CORPUS QUE NÃO PERMITE SOPESAR OS DEPOIMENTOS E
AS PROVAS COLHIDAS NA FASE ADMINISTRATIVA. VALORAÇÃO DAS
TESES APRESENTADAS QUE É INCOMPATÍVEL COM A SEDE RASA DE
COGNIÇÃO. CONFLITO DE VERSÕES QUE SERÁ DEBATIDO AO LONGO
DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. NÃO CONHECIMENTO NO PONTO. PRISÃO
PREVENTIVA. FEITO QUE REÚNE BOAS PROVAS DA MATERIALIDADE
E INDÍCIOS SUFICIENTES DA AUTORIA. NECESSIDADE DA MEDIDA
DEMONSTRADA EM FATOS CONCRETOS. RISCO À ORDEM PÚBLICA E
À INSTRUÇÃO CRIMINAL VERIFICADOS. GRAVIDADE CONCRETA DOS
DELITOS AVALIADA PELA ASTÚCIA DO MODUS OPERANDI.
PERICULOSIDADE ACENTUADA. FUNDADO RECEIO DE REITERAÇÃO
DA CONDUTA. COAÇÃO DE TESTEMUNHAS. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. PRECEDENTES. PREDICADOS PESSOAIS QUE NÃO OBSTAM
À SEGREGAÇÃO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA NÃO CONSTATADO. SUPREMA CORTE QUE JÁ
RECONHECEU A COMPATIBILIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA COM O
PRINCÍPIO DA NÃO-CULPABILIDADE. SUBSTITUIÇÃO POR OUTRAS
MEDIDAS DIVERSAS DA PRISÃO. PROVIDÊNCIA QUE NÃO SE MOSTRA
ADEQUADA NO MOMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
VERIFICADO. SEGREGAÇÃO MANTIDA. PEDIDO DE SUBSTITUIÇÃO
POR PRISÃO DOMICILIAR BASEADO NAS PRERROGATIVAS
PROFISSIONAIS DO PACIENTE, NOS TERMOS DO ARTIGO 7º, INCISO V,
DA LEI 8.906/94. ALEGAÇÃO DE QUE O PRESÍDIO REGIONAL DE MAFRA
NÃO ATENDE ÀS DIRETRIZES FIXADAS PELO SUPREMO TRIBUNAL

134
FEDERAL SOBRE O CONCEITO DE SALA DE ESTADO-MAIOR.
IMPROPRIEDADE DOS ARGUMENTOS. DESNECESSIDADE DO
RECOLHIMENTO SE DAR EM SALA DE INSTITUIÇÃO MILITAR.
PRECEDENTES DA SUPREMA CORTE. INFORMATIVO 778.
INFORMAÇÕES PRESTADAS PELO GERENTE DA UNIDADE PRISIONAL
NO SENTIDO DE QUE O PACIENTE ESTÁ RECOLHIDO EM LOCAL COM
INSTALAÇÕES E COMODIDADES CONDIGNAS COM A PROFISSÃO.
AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PRECEDENTES.
APONTAMENTO SOBRE O ESTADO DE SAÚDE DE FAMILIARES
[ESPOSA E FILHOS]. DOCUMENTOS ANEXADOS QUE NÃO EVIDENCIAM
A GRAVIDADE RECLAMADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
VERIFICADO. ORDEM CONHECIDA EM PARTE E DENEGADA. (TJSC,
Habeas Corpus (Criminal) n. 4027655-69.2019.8.24.0000, de São Bento do
Sul, rel. Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer, Quinta Câmara
Criminal, j. 26-09-2019, grifou-se).

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


CONCUSSÃO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO.
PERICULOSIDADE DO ACUSADO. AMEAÇA ÀS VÍTIMAS. ELEMENTOS
CONCRETOS A JUSTIFICAR A MEDIDA. MOTIVAÇÃO IDÔNEA.
OCORRÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INEXISTÊNCIA.
RECURSO DESPROVIDO. 1. Não é ilegal o encarceramento provisório
que se funda em dados concretos a indicar a necessidade da medida
cautelar, especialmente em elementos extraídos da conduta perpetrada
pelo acusado, quais sejam, a periculosidade do agente e o temor das
vítimas, pois a conduta imputada ao réu reflete uma ação audaz e
intrépida em atemorizar as vítimas, sobressaindo o intento de isentá-lo
de qualquer responsabilização criminal, demonstrando, assim, a
necessidade da prisão para a conveniência da instrução criminal. 2.
Recurso a que se nega provimento. (RHC n. 79.882/RR, relatora Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 13/6/2017, DJe de
21/6/2017.)

Portanto, a custódia cautelar também se justifica pela conveniência da


instrução criminal, visto que as testemunhas manifestaram, no curso das investigações,
elevado temor de represálias por parte do requerido, o que, inclusive justificaram e se
demonstra pela prova até então colhida.
Por fim, argumenta-se que, soma-se à necessidade da prisão preventiva,
a suspensão do exercício da função pública, tendo em vista que apenas a cumulação de
ambos os instrumentos é eficaz na contenção da continuidade delitiva e na garantia da ordem
pública, bem como é a única medida eficaz para a descontinuidade da influência do requerido
sobre várias das testemunhas cujos depoimentos ainda estão pendentes.

Destaca-se que necessária a cumulação das medidas, sendo insuficientes


em caso de adoção isolada.

Enfim, com esteio no art. 313, inciso I, do Código de Processo Penal, verifica-
se que está presente hipótese de cabimento da medida, pois, os delitos imputados ao
requerido possuem pena privativa de liberdade abstratamente cominada muito superior a 4
(quatro) anos.

135
Ressalta-se, para arrematar, este país tem sido assolado com crimes cada
vez mais graves praticados por ocupantes de cargos políticos, privando que os entes
públicos exerçam sua missão de possibilitar o bem comum do povo brasileiro, de modo que
se exige dos órgãos públicos, dentre eles o Ministério Público e o Poder Judiciário, forte
atuação repressiva, dando-se à sociedade a resposta que se espera.

Em termos gerais de moralidade, mais que nunca válidas as palavras de


Padre Antonio Vieira em seu Sermão do Bom Ladrão:

“não são só os ladrões que cortam bolsas, ou espreitam os que


vão se banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais
própria e dignamente merecem este título, são aqueles a quem os
reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das
províncias, ou a administração das cidades, os quais já com
manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros
ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os
outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo
...” (apud Helena Regina Lobo da Costa, Corrupção na História do
Brasil: reflexões sobre suas origens no período colonial, p. 15).

4. PEDIDO

À vista do exposto, o Ministério Público, com fundamento nos artigos. 311,


312 e 313, todos do Código de Processo Penal, requer a decretação da prisão preventiva,
cumulada com a suspensão dos direitos políticos, em desfavor de Fábio Luiz Fernandes
Castelo Guedes.

Itajaí, 16 de outubro de 2023.


Assinado digitalmente por MILANI
MILANI MAURILIO BENTO:84879980978
ND: C=BR, O=ICP-Brasil, OU=AC
SOLUTI Multipla v5, OU=
MAURILIO 20181735000176, OU=Presencial,
OU=Certificado PF A3, CN=MILANI
MAURILIO BENTO:84879980978
BENTO:84 Razão: Eu sou o autor deste
documento
Localização:
879980978 Data: 2023.10.16 16:14:36-03'00'
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MILANI MAURILIO BENTO


Promotor de Justiça

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