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APELADO: ZILKAR MENEZES WEBER
RELATOR(A): DESEMBARGADOR FEDERAL CÂNDIDO RIBEIRO - 4ª TURMA
I
RELATÓRIO
Trata-se de apelação interposta pelo Ministério Público Federal contra
sentença prolata pelo MM Juízo Federal da 17ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária da
Bahia (id. 177640555) que pronunciou a prescrição da pretensão punitiva do
Estado, declarando extinta a punibilidade do delito atribuído a Zilkar Menezes Weber e Zilda
Maria de Menezes, nos termos do Art. 107, inciso IV, c/c o Art. 109, III, ambos Do Código
Penal.
De acordo com o MPF, entre agosto de 1992 e julho de 2016, Zilkar Menezes
Weber e Zilda Maria De Menezes, obtiveram, para si e para outrem, vantagem ilícita em
prejuízo do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, consistente nos saques, após o óbito
do titular, de parcelas do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, titularizado
por Karlos Weber Filho, pai do primeiro e esposo da segunda denunciada. A obtenção da
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vantagem somente foi possível porque os denunciados dolosamente ocultaram do INSS a
morte de Karlos, ocorrida em 24/08/1992, o que permitiu que o órgão pagador, induzido em
erro, continuasse depositando os valores atinentes ao benefício de aposentadoria
Informou ainda que com essa conduta, os agentes causaram um prejuízo à
União estimado em R$ 979.819,32 (novecentos e setenta e nove mil, oitocentos e dezenove
reais e trinta e dois centavos), atualizado até 15/08/2017.
Convém destacar que, em sede de alegações finais, o MPF requereu a
condenação apenas de Zilkar Menezes Weber pela prática do crime, tendo em vista que
restou comprovado que Zilda Maria de Menezes não foi autora de saques indevidos.
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Em suas razões recursais (id. 177640560), sustenta o MPF a
inocorrência da prescrição da pretensão punitiva e a existência de provas suficientes para
comprovar que o apelado Zilkar Menezes Weber praticou o delito do art. 171, §3º, do
Código Penal, merecendo, portanto, reforma a sentença proferida pelo d. juízo.
A defesa apresentou contrarrazões (id. 177640570) e os autos foram enviados
para o TRF da 1ª Região.
É o relatório. Passo à manifestação.
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Bradesco encontrou algo na conta do falecido. Ao revés, a ausência de
resposta da instituição financeira, que recebeu o ofício do INSS em
21/08/2017, conforme faz prova o AR à fl. 3 do id. 194129371, é um indício
de que não houve estorno por parte do banco e que, portanto, os saques
perduraram até 31/05/2016, razão pela qual não há que se falar em
prescrição da pretensão punitiva.
Com efeito, é certo que uma informação tão importante quanto o
estorno de vultosa quantia acumulada na conta do falecido por 13 anos
faria parte dos autos caso esse valor realmente tivesse sido encontrado
pelo banco."
Passemos, então, a análise da prescrição.
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O recebimento da denúncia deu-se em 28/02/2020 (id. 177640088, fl. 02),
sendo o primeiro marco interruptivo da prescrição. A sentença foi proferida em 24/04/2021
(id. 177640555).
Considerando que houve interposição de recurso por parte da acusação quanto
a absolvição do acusado, o prazo prescricional regula-se pela pena cominada em abstrato.
Na situação em tela, como a pena máxima aplicada ao crime é de 5 (cinco)
anos aumentada em 1/3 (um terço) pelo art.171, §3º do CP, de acordo com o art. 109, inciso
III
MÉRITO
O recurso de apelação da acusação deve ser provido.
Segundo o Parquet, entre agosto de 1992 e julho de 2016, Zilkar Menezes
Weber obteve vantagem ilícita em prejuízo da União, ao ocultar, dolosamente, do INSS, a
morte de Karlos Weber Filho, ocorrida em 24/08/1992, o que permitiu que o órgão pagador,
induzido em erro, continuasse depositando os valores atinentes ao benefício de aposentadoria.
A materialidade está amplamente demostrada pelas provas juntadas aos
autos: Procedimento Administrativo do INSS, Certidão de óbito do beneficiário Karlos
Weber Filho (id. 177640084, fl. 19), extrato de histórico de benefício (id. 177640084, fls.
09/10), o qual registra a atualização da conta de depósito e de endereço, posteriores ao
falecimento do beneficiário (id. 177640084, fl. 19), a relação de valores recebidos
indevidamente (id. 177640084, fls. 22/30) e, especialmente, o depoimento
da testemunhas Karla Santos Weber, e, os interrogatórios dos denunciados, provas que
demonstram, sem dúvida, a vontade livre e consciente do apelado em praticar o crime dos
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autos.
Nesse ponto, destaca-se trecho das razões recursais do Ministério Público
Federal, o que ora ratifica em todos os seus termos, que bem esclareceu tais circunstâncias
(id. 177640560):
"A autoria delitiva por parte de ZILKAR MENEZES WEBER encontra-se
devidamente comprovada. Diferentemente do quanto entendido pelo Juízo a
quo, o fato de não constar nos autos prova documental que aponte
especificamente para o réu como autor dos saques não é suficiente para
concluir pela ausência de autoria, notadamente porque o consistente
depoimento de Karla Santos Weber aliado às inconsistências nos
depoimentos em sede policial e em Juízo do réu, apontam para
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ZILKAR como autor dos saques.
O Juízo a quo entendeu que o depoimento de Karla não poderia ser usado
como prova em razão do grau de parentesco e a animosidade existente entre
ela e o réu, seu pai, além de ter sido a única prova oral produzida pela
acusação. Todavia, não merece prosperar o argumento do Juízo.
Isso porque, uma vez não havendo prova documental do fato, já que
inexistia procurador cadastrado junto ao INSS, a prova testemunhal ganha
especial relevância, principalmente no caso em apreço em que a questão se
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KARLOS. Como não tinha conhecimento, Karla acreditou na informação,
pois achava que, para o INSS, não era suficiente o reconhecimento da união
estável. Ela e sua avó então ficaram alheias a quaisquer outras questões
envolvendo o INSS, afinal, quando ZILKAR se dirigiu ao INSS,
presumiram que ele informou o óbito de KARLOS.
A declarante então explicou que somente em 2016 ficaram sabendo que a
aposentadoria de KARLOS ainda estava ativa, quando sua avó, após ser
expulsa da própria casa por ZILKAR, foi morar com ela e Karla passou a
cuidar dos proventos de ZILDA, que era aposentada pela Prefeitura e pelo
Estado. Em um almoço familiar, Karla comentou com a mãe de sua amiga
ÚRSULA HID DA SILVA – que, em Juízo, confirmou os fatos (cf. Arquivo
de vídeo de id. 473677488), dando credibilidade às declarações de Karla –
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que o INSS disse que sua avó ZILDA não tinha direito à aposentadoria do
seu falecido avô. A mãe de ÚRSULA, que era funcionária aposentada do
INSS, achou estranho a informação e pediu os dados de KARLOS para
verificar com algum amigo do INSS que ainda estava na ativa. Foi então que
Karla recebeu a informação de que a aposentadoria de seu avô KARLOS
ainda estava ativa, ou seja, que alguém estava recebendo os proventos do
benefício do falecido.
Assim, com receio de que sua avó fosse acusada de estar fazendo esses
saques e para demonstrar sua boa-fé, Karla, orientada pela vizinha e
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contradizer o que Karla havia declarado, no sentido de que o dinheiro das
aposentadorias de ZILDA era todo empregado nas despesas domésticas, o
réu declarou que a única despesa paga por sua mãe era o condomínio, em
contradição com o que havia declarado à autoridade policial. Tal
circunstância já coloca em cheque a verossimilhança das suas alegações e
corrobora o consistente depoimento de Karla.
Além disso, ZILKAR disse em seu interrogatório judicial que quando seu
pai faleceu ele mesmo orientou sua mãe e Karla a irem ao banco para
receber o benefício de aposentadoria do seu falecido pai, mas que sua mãe
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Weber foi o responsável pelos trâmites do inventário bem como pelo reconhecimento da
União estável entre seu pai falecido (Karlos) e sua mãe (Zilda), dirigindo-se ao INSS,
posteriormente, a fim de verificar a possibilidade de Zilda receber os valores, por ser
companheira supérstite. Permaneceu com todos os documentos do falecido, inclusive cartões
e senhas, a fim de realizar os citados procedimentos, sendo o único capaz de receber os
valores sacados indevidamente, já que Zilda, mal conseguia arcar com as despesas básicas do
mês, em que pese também recebesse uma aposentadoria. Conforme documento juntado pela
testemunha Karla, Zilkar quem sacava a aposentadoria de sua mãe e depois depositava apenas
parte desta quantia para a mesma.
Ademais, repita-se, "se fosse verdadeiro o quanto dito por ZILKAR, ZILDA
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não teria demorado tanto para começar a receber o benefício – o que somente aconteceu em
2018, após ação judicial, pois o INSS negou administrativamente – e Karla não teria
registrado denúncias no próprio INSS e na polícia ao descobrir que o benefício seu avô
ainda estava ativo. Além disso, não faz sentido acreditar que ZILDA se prestaria a receber o
benefício de forma irregular durante tanto tempo, sendo que ela sabia que tinha direito a
ele".
Assim, ante à comprovação da autoria e materialidade delitiva a sentença
IV
CONCLUSÃO
Tais as circunstâncias, o Ministério Público Federal manifesta-se pelo
conhecimento e provimento da apelação.
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