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Volume 2

2004 ·1• · , r

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40
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~ 'º~ m~ iNV
DIVISÃO ODONTOLÓGICA
ÍNDICE

Capítulo 1
Biologia Pulpar ............................................................................ 1
José Antônio Poli Figueiredo
Carlos Alberto de Souza Costa
Josimery Hebling
Carlos Estrela

Capítulo 2
Estruturação do Diagnóstico Endodôntico ........................... 23
Carlos Estrela

Capítulo 3
Diagnóstico das Alterações da Polpa Dentária ..... ............... 57
Carlos Estrela

Capítulo 4
Tratamento da Polpa Dentária Inflamada ........................... 87
Carlos Estrela
Roberto Holland

Capítulo 5
Aspectos Microbiológicos em Endodontia ......................... 149
Lili Luschke Bammann
Carlos Estrela

Capítulo 6
Diagnóstico e Tratamento da Periodontite Apical ........... 175
Carlos Estrela

l
Capítulo 7
r. Planejamento do Tratamento Endodôntico ....................... 235
Carlos Estrela
) Cyntia R.A. Estrela
Julio Almeida Silva
A ugusto C. B. Hollanda
CIÊNCIA EN DOOÔNTICA

Capítulo 8
Controle de Infecção em Endodontia .......................................................................... 267
Cyntia R.A. Estrela
Carlos Estrela

Capítulo 9
Anatomia Interna e Preparo Coronário ....................................................................... 3 15
Carlos Estrela
Jesus Djalma Pécora
Augusto C.B. Hollanda
Daniel Almeida Decurcio

Capítulo 10
Preparo do Canal Radicular ........................................................................................... 363
Carlos Estrela

Capítulo 11
Hipoclorito de Sódio ........................................................................................................ 4 15
Jesus Djalma Pécora
Carlos Estrela

Capítulo 12
Hidróxido de Cálcio ......................................................................................................... 457
Carlos Estrela
1
Roberto Holland v
Capítulo 13
Obturação do Canal Radicular ....................................................................................... 5 39
Carlos Estrela

Capítulo 14
Diagnóstico do Insucesso Endodôntico ........................................................................ 589
Carlos Estrela
Lourdes Aguilar de Esponda

Capítulo 15
Tratamento do Insucesso Endodôntico ........................................................................ 6 19
Carlos Estrela
João Carlos Gabrielli Biffl
Rodrigo Ferreira Dirceu

Capítulo 16
Cirurgia P arendodôntica ................................................................................................. 657
Pedro Felício Estrada Bernabé
Roberto Holland

Capítulo 17
Lesões Traumáticas da Dentição Permanente ............................................................ 799
Maria Ilma de Souza Côrtes
Juliana Vilela Bastos
ÍNDICE

Capítulo 18
Processo de Reparação Tecidual Após o Tratamento Endodôntico ....................... 919
Elismauro Francisco de 1vfendonça
Carlos Estrela

Capítulo 19
Abordagem Contemporânea da Terapia Pulpar em Dentes Decíduos .................. 941
Fernando Borba de Araújo
Carla Moreira Pitoni
Alice Souza Pinto
Maria de Lourdes A . Massara

Capítulo 20
Princípios das Restaurações com Retenção Intra-radicular .................................... 991
Cláudio R. Leles
João Batista de Souza
Adair Luiz Stefanello Busato

• 1

I
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

CARLOS ESTRELA
ROBERTO HOLLAND

• INTRODUÇÃO

As ciências biológicas vivem um expressivo momento histórico, o


qual reflete importantes avanços técnico-científicos, capazes de . impulsio-
nar as necessárias transformações conceituais. A conquista de novos mé-
todos de pesquisa, associada à evolução da biologia celular e molecular,
bioquímica, microbiologia e genética, caracteriza várias evidências desses
avanços da Ciência Endodôntica. Por conseguinte, urge a necessidade, de
modo particular, de uma íntima e indissociável relação entre as ciências
básicas e clínicas, o que permite melhor aproveitamento e entendimento.
O processo de sanificação em Endodontia tem sido pesquisado e dis-
cutido sobre vários enfoques. Ê aceito que um dos fatores condicionantes,
considerado como pré-requisito para a instalação da patologia p ulpar e
periapical é a presença de microrganismos. A determinação e o conheci-
mento dos núcrorganismos predominantes em canais radiculares infecta-
dos representa fator decisivo n a escolha do processo de controle micro -
biano.
A eliminação dos núcrorganismos de canais radiculares infectados
com p eriodontites apicais tem sido uma constante preocupação, demons-
trada por pesquisas que estudaram a microbiota endodôntica, a eficácia da
instrumentação mecânica, a influência da irrigação e medicação intracanal
e sistêmica na busca de alternativas de tratamento antimicrobiano para
esta patologia 1· 350 •
C!ÊNCIA ENDODÔNTICA

Associado a estes especiais habitantes pre- imedia tismo e no fator econômico, não comunga [ ,
~ I ·
sentes nas infecções endodônticas, observa-se com o necessário apoio obtido por fortes evidên-t ·:
que a morfologia da cavidade pulpar impõe difi- cias científicas, oriundas de pesquisas bem 01~i~n -\ ·:
culdades, o que torna complexo o acesso para ta das que se estruturaram ao longo de vanos · ,,
um adequado controle microbiano. A ação tera- anos. ·t
pêutica das substâncias anti microbianas empre- A polêmica de épocas passadas, vivida na
gadas corno auxiliares no preparo do canal radi- fase medicamentosa da endodontia, m1.1ito pro-
cular tem requerido determinado tempo para vavelmente foi justificada devido às indefinições
expressar maior efetividade. Na análise anatômi- nos conceitos de modelagem e sanificação. Poste-
ca, nota-se que por contato direto sobre os mi- riormente, com a melhoria e desenvolvimento
crorganismos presentes na luz do canal radicular, de novos materia is para a confecção de instru-
a efetividade antimicrobiana de uma substância mentos endodônticos, associados ao emprego de
química irrigadora é adequada para reduzir de substâncias químicas dotadas de excelentes pro-
modo expressivo a população microbiana, além priedades antimicrobianas, houve redução no
de favorecer o esvaziamento a partir da dissolu- imperioso destaque que vinha recebendo. Assim
ção tecidual, como acontece quapdo do emprego que foram vencidos obstáculos como esses, defi-
do hipoclorito de sódio. Porém, para uma ação niram -se condutas aplicáveis e funcionais, sendo
sobre os microrganismos que alcançaram e estão que os princípios biológicos da endodontia foram
alojados no interior dos túbulos dentinários, nas resguardados.
ramificações dcntinária s e cm espaços vazios pre- A identificação da microbiota presente nos
sentes em áreas do cemento apical (o que impõe canais radiculares infectados é fator decisivo na
a atividade por contato indireto), n ecessita -se seleção da medicação intracan al. O raciocínio 1 ·
optar por uma medica ção intracanal que possa atual direciona-se ao emprego de medicação in-
atuar à distância e por longo tempo. tracanal dotada de potencialidade de ação eficaz
Paralelo aos fatores decorrentes da complexa frente aos diferentes tipos respiratórios de mi-
morfologia interna e aos agentes agressores m i- crorganismos (aeróbios, microaerófilos e anae -
crobianos, dois renomados obstáculos a serem róbios). O foco de atenção para a eliminação ~
vencidos, ressalta-se a dinâmica e especial res- microbiana está voltado às condições determi-
posta do hospedeiro. Os fatores de suscetibilida- nantes ao crescimento e multiplicação, ou seja,
de de respostas do h ospedeiro jamais deve m ser que apresente influência na atividade enzimáti-
relegados a segundo plano. ca das bactérias, tais como: pR t emperatura,
A dinâmica existente entre microrganismo, pressão osmótica, concentração de oxigênio,
virulência e resposta orgânica incentivou o de- concentração de dióxido de carbono é concen-
senvolvimerno de pesquisas que proporcionam tração de substrato. Por conseguinte, estabelece
explicações e definições mais compreensíveis e um dos quesitos na escolha da medicação intra -
convincentes da Íntima relação entre microbiolo- canal, visto que, o outro quesito é derivado de
gia e patologia. A presença e distribuição de mi- sua inocuidade e favorecimento à reparação te-
crorganismos em canais radiculares infectados e cidual59.
sua influência como expressivo precursor das re- A neutralização de todas as formas de agres-
ações inflamatórias da polpa dentária e dos Leci- são microbiana no ca nal radicular e região peria-
dos periapicais permitiu estabelecer uma impor- pical, imposta pelo estabelecimento de métodos
tante associação de causa e efeito, definindo 1~e- de controle de microrganismos, valoriza o pro-
lhor alguns parâmetros de respostas a diferentes cesso de sanificação do sistema de túbulos denti-
agentes agressores . nários. A sanificação tem sido delegada à fa se do
Baseado na evid ência do papel dos micror- preparo do ca n al radicular - obtenção do esva -
ganismos no desenvolvimento e manutenção de ziamento e preparo da forma do canal radicular,
infecções no canal radicular e na região p eriapi- com a conseqüente neutralização do conteúdo
cal, parece oportuno reporta r que a presença de patogênico, que proporciona a eliminação de
microrganismos d1.irante o tratamento endodôn- restos de matéria orgânica e um grande contin-
tico pode não conduzir ao fracasso, mas certa- gente de microrganismos. Todavia, a instrumen-
mente sua ausência favorece o sucesso . O estabe- tação, isoladamente, não garan te a sua completa
lecimento de condutas simplistas, apoiadas no remoção.
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

Neste sentido, impõe-se a necessidade do o mecanismo de ação da medicação intracanal; a


emprego de uma medicação intracanal, com in - efetividade antimicrobiana - o tempo para atua-
dicações em diferentes momentos : manutenção ção, o alcance na massa dentinária, a resistência
do saneamento conquistado durante o prep aro microbiana, a compatibilidade biológica.
do canal radicular em condições de vitalidade O hidróxido de cálcio é a medicação intraca-
pulpar; controle de microrganismos que resisti- nal mundialmente mais empregada, pois agrega
ram à fase do preparo de canais infectados; con - o maior número de proprie dades desejáveis. A
trole de reabsorções radiculares; auxílio no contro- dissociação iônica do hidróxido de cálcio, em
le de exs udatos persistentes; tratamento de lesões íons cálcio e íons hidroxila, e o efeito destes íons
periapicais extensas; apicificaçõcs e perfurações sobre os tecidos e os m icrorganismos, possibilita-
radiculares 60 . ram tal con sagração, perman ecendo firme às
A evolução nos estu dos da microbiota endo- provas da pesquisa e do tempo .
dôntica permitiu identificar os principais microrga- O alemão Bernhard W. Hermann (Würzburg:
nismos presentes nas infecções endodônticas . Alemanha, 1920) concluiu o doutorado em Ciên-
Sabe-se que estas infecções são mistas, com predo- cias Naturais, com u ma pesquisa pioneira com
minância de bactérias anaeróbias Gram-negativas. o hidróxido de cálci oD1 • D urante muitos anos o
As bactérias anaeróbia s encontradas n estas Calxyl (pasta de h idróxido de cálcio) não encon-
infecções polimicrobianas exercem função pri - trou o necessário reconh ecimento na Alemanha .
mordia l na produção de enzimas e endotoxinas, Entretanto, resultados promissores foram obtidos
mostrando-se responsáveis por diferentes rea- em clínicas universitárias de outros países, como
ções que podem potencializar a infecção: promo- na Suíça, fundamentados por investigações cien-
vem a inibição da qu imiotaxia dos neutrófilos e tíficas275.
fagocitose; garantem a migração de enzimas li- Holland, praticamente há 40 anos atrás, es-
sossômicas; participam da resposta imunológica tudou e posteriormente descreveu em sua tese
,1 do sistema complemento (C 3 e C 5) ; induzem a de doutorado o mecanismo de ação biológica do
i produção de anticorpos, além de interferirem h idróxido de cálcio em tecido conjuntivo (p olpas
com a sen sibilidade antibiótica, resultando n a dentais de cães) 13 3 . Em 19 94 e 1995, Estrela et
manutenção de lesões periapicais dolorosas . Esta al. 85•86 discutiram o provável mecanismo de ação
íntima correlação entre b actéria s presentes em dessa substância sobre os m icrorganismos.
canais radiculares infectados e sintomas clínicos Acredita-se que se u representativo destaque,
característicos de periodontites apicais sintomáti- entre os fármacos endodônticos, expressa-se de -
cas atualmente está melhor esclar e cida 5 ·6, 16 · vido a importantes propriedades, entre as quais:
20, 21,24,32,35, 52, 53, 91 , J 86, 187,228.229, 2 32 ,233,3 11· 3 J 8
inibição de enzimas bacterianas a partir da ação
• 1
O controle microbiano do canal ra dicular é em n ível de membrana citoplasmática, a qual
delegado à sanificação proporcionada pela fase conduz ao efeito antimicrobiano - e a ativação
do preparo do canal radicular. Embora expressi- enzimática tecidual, que motiva o efeito minera -
va redução de microrganismos tenha sido obser- lizador, observada a p artir de sua ação sobre a
vada após a conclusão do processo de sanificação fosfatase alcalina.
e modelagem, a necessidade da medicação intra-
can al entre sessões é sign ificativa, visto poten- HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
cializar o efeito a ntimicrobiano, além de favore- CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS
cer o processo de reparação tecid ual.
Frente a estes aspectos, a seleção da medica- Para a melhor compreensão das p rop rieda-
ção intracanal apresenta como referen ciais três des biológicas e antimicrobianas do hidróxido de
parâmetros principais - sendo um dependente cálcio, torna-se n ecessário uma análise mais de -
do seu potencial antimicrobiano, o outro depen - talhada de suas características químicas.
dente da sua histocompatibilidade e o último re- O hidróxido de cálcio constitui-se de uma
f · !acionado à sua capacidade de estimulação dos base forte (pH 12,6 ), pou co solúvel em água -
I tecidos do hospedeiro, n o sentido de favorecer a 1,2 g/L, obtida a partir da calcinação (aqueci-
! reparação tecidual. Deste modo, deve-se consi- mento) do carbonato de cálcio, até sua transfor-
derar: o conhecimento da microbiota endodônti- mação em óxido de cálcio (cal viva) . Com a hi-
ca - infecção p rimária, secundária ou persistente; dratação do óxido de cálcio chega-se ao hidróxi-
CIÊNCIA ENDODÔNTI CA

do de cálcio 59, t 16 , A rea ção entre este e o gás car-


bônico leva à formação do carbonato de cálcio,
uma vez, que nesse momento, constitui outro
produto (o carbonato de cálcio) 59, 60 • ~ ·,
n'
podendo tais reações serem representadas como A dissociação iônica do hidróxido de cálcio,Ç
está disposto na Figura 12. l. em íons hidroxila e íons cálcio, pode ser explica- ·
As propriedades do hidróxido de cálcio deri- da a p artir das representações químicas exibidas t
vam de sua di ssociação iônica em íons cálcio e nas Figuras 12.2 e 12.3. Levando-se em conta o ·
íons hidroxila, sendo que, a ação destes íons, so- p eso molecular do hidróxido de cálcio, com valo-
bre os tecidos e as bactérias, explica suas proprie- res de 74,08 g, por meio de uma regra de três,
dades biológicas e antimicrobianas. As alterações obtém-se a porcentagem de íons hidroxila en-
nas propriedades biológicas podem também ser contrados no hidróxido de cálcio, que correspon-
esclarecidas pelas reações químicas demonstra- de a 4 5,89%, enquanto que 54, 11 % correspon-
das, uma vez que, o hidróxido de cálcio na pre- de aos íons cálcio. A partir dessas explicações
sença de dióxido de carbon o, transforma-se em entende-se que, quando se coloca hidróxido de
carbonato de cálcio apresen tando características cálcio no canal radicular, 45,89% e 54,11% se
químicas de um óxido ácido fraco. Este produto dissociam respectivamente em íons hidroxila e
formado é desprovido das propriedades ideais, íons cálcio 77 .

· ·Dissociação-- iônicado·Ca(OH);z ···

Ca(OH)2 ~ Ca2+ + OH-

1n Ca2+ =40,08
1"0H·= 17,0 - . 2"0H· = 34,0
Esquema do obtenção do hidróxido de cálcio.
1n Ca(OH)i =7 4,08

• - FIG. 12.2 ----··---·----·-····--···---··-·--·--------------------·-


Dissociação iônico do Co(OHJ2

• - FIG. 12.3 - --------------------· · ------- - - ----


Dissociação iônico do Co(OHJ2
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

Estrela & Pesce 77 analisaram quimicamente a frente à ação de pa stas de h idróxido de cálcio,
liberação de íons hidroxila e íons cálcio de pastas de óxido de magnésio, de fluoreto de zinco e de
de hidróxido de cálcio, com veículos com carac- fluoreto de cálcio. Pôde-se reportar após período
terísticas ácido-base diferentes, na presença de de observação de 30 minutos a 60 dias, que no
tecido conjuntivo em subcutâneo de cão. Os va- período inicial a formação de dentina é vista pelo
lores das porcentagens de íons hidroxila e íons aparecimento de partículas extremamente finas,
cálcio, nos períodos de 7, 30, 45 e 60 dias, indi- com reação positiva à coloração de Von Kossa e
caram maior liberação iônica para as pastas com localizadas subjacentes à camada de n ecrose. Es-
veículos hidrossolúveis aquosos (solução fisioló- tas granulações observadas originam-se a partir
gica e anestésica), quando comparado aos valo- da reação do metal do material capeador com o
res da pasta com veículo hidrossolúvel viscoso dióxido de carbono tecidual. Além do mais, tan -
(propilenoglicol 400) (Gráficos 12.1 a 12.4). to o óxido de magnésio como o hidróxido de
Em outra análise, Estrela & Pesce 78 estuda- cálcio mostraram potente efeito sobre a forma-
ram a formação de carbonato de cálcio, em im- ção de nova dentina. No entanto, relativamente
plantes em subcutâneo de cão, de tubos conten- ao óxido de magnésio, Souza et al.3°0 , após estudo
do hidróxido de cálcio associado aos mesmos morfológico do comportamento da polpa dentá-
veículos hidrossolúveis descritos anteriormente. ria, após pulpotomia e proteção com óxido de
Nos períodos experimentais de 7, 30, 45 e 60 magnésio ou hidróxido de cálcio, relataram ser
dias observou-se que no momento da diminui- remota a possibilidade de obtenção de reparo
ção do processo inflamatório (correspondente quando do emprego do óxido de magnésio. Nas
ao ato cirúrgico para a implantação dos tubos polpas dentais protegidas com hidróxido de cál-
contendo as amostras experimentais) houve cio houve maior eficácia, o que testemunha con-
vestígios da paralisação de carbonato de cálcio tra falhas técnicas, que poderiam ter ocorrido
formado. Considerando esses fatores, pode-se com o tratamento de óxido de magnésio.
'
' ;r admitir, com todo cuidado, uma extrapolação Holland 133 analisou o processo de reparo da
i para a clínica. Uma vez ven cid os os períodos polpa dental após pulpotomia e proteção com
inflamatórios iniciais (como nos casos clínicos hidróxido de cálcio, em estudo morfológico e
de lesões exten sas, traumatismos dentários, api- hisroquímico em dentes de cães. Na zona granu-
cificações etc.), pode -se pensar no aumento dos losa superficial, interposta entre a zona de necro-
períodos de troca das pastas de hidróxido de se e a zona granulosa profunda, ocorreu a pre-
cálcio, como para intervalos de 60 dias (Gráfi- sença de granulações grosseiras, dotadas de sais
cos 12.5 e 12.6) . de cálcio, parte das quais constituída por carbo-
Outras particularidades químicas decorrentes nato de cálcio sob a forma de calcita, bem como
da dissociação iônica do hidróxido de cálcio fo- por complexos cálcio-proteínas. Nessa fração mi-
ram observadas em difer entes experimentos. neral, houve reação positiva ao ácido cloranílico
Sciaky & Pisanti276 e Pisanti & Sciaky251 verifica- e ao método de Von Kossa, evidenciando a parti-
ram a origem dos íons cálcio presentes na ponte cipação ativa dos íons cálcio do material capea-
dentinária, não conseguindo observá-los quando dor no novo tecido mineralizado. Resultados se-
da proteção de polpas dentais expostas de cães, melhantes foram obtidos, posteriormente, por
com hidróxido de cálcio contendo cálcio radioa- Seux et al. 282 .
tivo (Ca 45 ), nem quando da injeção intravenosa, Holland et a/.168 implantaram tubos de denti-
em cão, de solução contendo este mesmo hidró- na contendo óxido de zinco e eugenol ou hidró-
xido de cálcio radioativo. xido de cálcio, por 48 horas, em tecido subcutâ-
Vários trabalhos evidenciaram a participação neo de rato. Realizou -se também o preparo de
ativa dos íons cálcio do hidróxido de cálcio em cavidades em dentes de cães e forramento com
mineralizações (barreira de dentina) osteoce- os mesmos materiais por 48 horas. Posterior ao
m entárias (selamento biológico apical), nos tú- preparo das peças, sem descalcificar, procedeu-se
( bulos dentinários e em outras áreas envolvidas o exame com luz polarizada. No grupo contendo
em mineralizações 133 - 185 • óxido de zinco nada foi observado nas paredes
) Eda 57 estudou por meio de análise histoquí- dentinárias. No grupo contendo hidróxido de
mica, o mecanismo de formação de dentina após cálcio, ob servou-se granulações de calcita nos
proteções pulpares diretas em dentes de cães túbulos dentinários (Figuras 12.4 a 12.9).
CIÊNCIA ENDO OÕNTICA

O comportamento dos tecidos periapicais um excelente comportamento, com estimula - fc: .


obturados com hidróxido de cálcio foi investi - ção ao fechamento biológico (Figuras 12.10 a( ·
gado em outros estudos 163, 140 que demonstram 12.19). Ç

• GRÁFICO 12.1
Liberaçóo de íons hidroxi!a.
/

• f.iR.ÁFICQ 12.2
Liberaçóo de íons hidroxila.
HI DRÓXIDO DE CÁL.CIO

• . GRÁFICO 12.3.
Liberação de íons cálcio.

) • GRÁFICO 1_2.4 ..
Liberação de íons cálcio.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
----·----·--·-----------------------.--------··---·-·-··--·-··-- -----·-·-·-···-----
-,.:_
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( ..
\

i
1.

Formação de carbonato de cá/do.

Formação de carbonato de cálcio.


HI DR ÓXIDO DE CÁLCIO

• ffi_ti. 11.S __
Óxido de zinco implantado em subcutâneo de rato. Representação esquemático do experimento dos
Nodo foi obsetVodo nos paredes dentinárias. 48 horas implantes (Hol!and et ai 168).
(Hol!and et ai. 168J.

- flGS. 12.6 e_ 12.7 _________________ -··--·--·--·- ... _________


Hidróxido de cálcio implantado em subcutâneo de rato. Granulações de colcita nos túbulos dentinários. 48 horas
(Ho/land et ai 168J.

(
) • FIGS. 12.S _e 12.9 __________________________
Cavidades em dentes de cães. Granulações de colcito apenas no superfície dos túbu/os dentinários e não em
profundidade como na dentina em subcutâneo. 48 horas (Ho/lond et ai 168) .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

·,.1..

• HGS. 11.10 e 1Z.11


Representação esquemática de ápice de dente de cão obturado com Ca(OHJ z Detalhes mostrando granulações
de calota e deposição de sais de cálcio (Holland et ai 163).

• . RG, 12.tl_ • HG. '1!::t1


Representação esquemática mostrando selamento Ápice de dente de cão sem descalcificar e obturado
biológico com cemento neoformado (Holland et ai 163) . com hidróxido de cálcio por 7 dias. Notar g/anulações de
colcita à luz polarizada (Holland et ai. 163) •

• lfl~•. 1.ZJ4 • f§G. '12.'l:5


Ápice de dente de cão obturado com hidróxido de Ápice de dente de cão. Obturação com hidróxido
cálcio por 2 dias. Notar granulações de calcito à luz de cálcio por 7 dias. Von Kosso mostra ponte de cemento
pola1izada (Holland et ai 163J. (Holland et ai 163J
H IDRÓXIDO DE CÁLCIO

Ápice de dente de cão, 120


dias após obturação com hidróxido
de cálcio. Selamento biológico
(Holland et ai. 163J.

; • WllG. 12-11 • f!G. 1l,1ft


' /Í
Dente huma- Dente humano
no 180 dias após obturado com hidró-
obturação com hi- xido de cálcio. Corte
dróxido de cálcio. i-......--..e>-. sem descalcificar e
Selamento biológico examinado à luz
(Holland et ai. 110). polarizado. Gronu-
laçõ es de colcito
(Hollond et ai. 140J.

• 1

• Fm.12.19
Dente humano obturado com
hidróxido de cálcio. Corte sem
descalcificar e examinado à luz po-
larizada. Mesmo corte da figura
anterior corado pela técnica de
Von Kossa. Áreas calcificadas
(Holland et ai. 14º).
CIÊNCIA EN DODÔNTICA .~

A importância dos íons cálcio do hidróxido Apenas na dentina protegida com hidróxido d~ ,
de cálcio mereceu destaq ue posteriormente cálcio foi observada urna estrutura altamente bit-·
aos r esultados h istoquímicos evidenciados por refringente à luz polarizada, no interior dos tiô.~-·
Holland 133 • Heithersay 130 admite que tais íons pos- bulos dentinários. Este resultado sugere que 'o:
sam reduzir a p ermeabilidade de novos capilares efeito do hidróxido d e cálcio na dentina é seme,:j,
. t
.
em tecido de granulação de dentes despolpados, lhante ao observado quando em contato com a
diminuindo a quan tidade de líquido intercelular. polpa dental.
Ainda mais, esclarece que uma alta concentração Pashley et al. 247 , estudando o efeito do h idró-
de íons cálcio pod e ativar a aceleração da piro- xido de cálcio na permeabilidade dentinária, evi-
fosfatase, membro do grupo das enzimas fosfata - denciaram que ocorre aumento da concentração
ses, que também constitui função importante no de íons cálcio, provenientes do hidróxido de cál-
1 •

processo de mineralização . cio, no interior dos túbulos dentinários e este


Paralelo aos estudos com o hidróxido de cál- bloqueio físico promove a redução da permeabi-
cio, outros hidróxidos foram alvos de investiga- lidade den tinária.
ções. Holland et al. 154 avaliaram o efeito d os hi- Wakabayashi et al.34 4 , servindo-se da micros-
dróxidos de cálcio, de bário e de estrôncio, após copia eletrônica de varredura e de um microana-
capeamento pulpar, valendo-se de aná lise histo- lisador de dispersão de energia de Raios-X (EDX),
quími ca de polpa s dentais de cão. As observações avaliaram o mecanismo d e calcificação distrófica
nos grupos do hidróxido de bário e de estrôncio induzida pelo hidróxido de cálcio no tecido con-
foram similares às do hidróxido de cálcio, haven- jun tivo da câmara auricular de coelho. As intera-
do deposição de granulações de carbonato de ções e ntre microvasos e o hidróxido de cálcio1
bário e estrôncio, se m elhantes às granula ções foram observadas imediatamente após a aplica-, .
observadas com o hidróxido de cálcio. Em decor- ção e, continuamente por 14 semanas. Os resul-
rência da inexistência de bário ou estrôncio na - tados revelaram, nas fases iniciais da reação teci-
turalm eme no organismo do animal, estas gra- dual, a formação de uma cama da necrólica e cal-
nulações origin am-se do ma terial de capeamen- cificações vistas como precipitação rápida de cris ~-
to . Relatam, ain da, que as largas granulações bir- tais por neutralização e seu pronto crescimento
refringentcs não são observadas com outros hi- em uma barreira (calcificação distrófica ). Obse/
dróxidos, como o hidróxido de magnésio ou só- varam que o cálcio e o fósforo adicionais deposi-
dio, pelo fato da reação de precipitação somente taram-se diretamente sobre as partículas do pre- ,
ocorrer p ara hidróxidos com solubilidade similar cipitado. Pôde-se constatar ainda que os precipi-
à d o hidróxido de cálcio. O hidróxido de magné- tados dos espécimes de 24 horas mostraram não
sio é insolúvel e o de sódio é altamente solúvel somente um pico de cálcio, como também fracos
nos fluídos pulpares. O hidróxido de bário é le- picos de fósforo, enxofre e /ou magnésio, nas
vemente mais solúvel que o de estrôncio, fato porções fundida s en tre os cristais e, sugerem
este que é observado pelas granulações de hidró- que, tais precipitados teriam o potencial de indu-
xido de bário serem encontradas mais profunda - zir calcificação distrófica do tecido, o que está de
mente do que as do hidróxido de estrôncio. acordo com os achados de Holland et al. 154.
Em outra investigação, Holland et al. 168 veri- A difusão de íons hidroxila através da denti-
ficaram o efeito do hidróxido de cálcio na d enti- na foi inotivo de outros estudos4t.6L.84,87, 96, 125.16s,
238, 328
na, analisando tubos de dentina implantados em
subcutâneo de ratos e também em dentes de Tronstad et ai. 328 analisaram a difusão de íons
cães. Na primeira parte do estudo, tubos de den- hidroxila do hidróxido de cálcio através dos tú-
tina obturados com hidróxido de cálcio ou ci- bulos dentinários e o possível aumento do pH
m ento de óxido de zinco e eugenol foram im- nos tecidos. Vinte e sete dentes incisivos superio-
plantados por 48 horas em tecido conjuntivo res e inferiores de macacos, com rizogênese in-
subcutâneo de ra to . Na segunda parte, cavidades completa e completa foram utilizados. Em 12
profundas foram preparadas em dentes de cães, e dentes, um instrumento endodôntico foi intro-
protegidas com hidróxido de cálcio ou cimento duzido por várias vezes no canal radicular até a
de óxido de zinco e eugenol por 48 horas. Os área apical e os outros 15 dentes foram extraí-
espécimes foram preparados para exame histoló- d os, mantidos secos por 1 hora e reimplantados.
gico e analisados com auxílio da luz polarizada. Decorridas 4 semanas, quando a necrose pulpar
HI DRÓXIDO DE CÁLCIO

havia ocorrido em todos os dentes, os canais ra - drossolúveis (solução fisiológica, solução anesté -
diculares foram instrumentados e preench idos sica, propilenoglicol 400). O expe rimento foi
com pasta de hidróxido de cálcio e solução Rin- conduzido em atmosfera inerte de nitrogênio.
ger. Os grupos controle foram constituídos de 8 Observou-se q u e em períodos de 7, 15, 30, 45 e
dentes que n ão receberam o tratamento do canal 60 dias, poucas foram as modificações do pH na
radicular e 5 ·dentes com polpas vitais. Após as lu z do canal radicular e na superfície externa do
extrações dos dentes nos diferentes períodos, de- cemento . Nas pastas cujos veícu los empregados
terminou-se, por m eio de indicadores de pH, o foram a solu ção fisiológica e anestésica, o pH a
pH dos tecidos dentais após a colocação da pasta. 2 mm do vértice apical e na superfície do cemen-
Verificaram que os dentes reim plantados e não to, aos 30 dias estava em torno de 7 a 8, mantida
reimplantados com formações radiculares com- assim até aos 60 dias. No grupo em que o veículo
pletas e tratados com pasta de hidróxido de cál- era o polietilenoglicol 400 observou -se um pH de
cio mostraram valores de pH, na dentina próxima 7 a 8 no cemento apicaL somente aos 45 dias,
à polpa, de 8,0 a l t 1 e, na dentina periférica, de sendo que, também em nada alterou aos 60 dias.
7,4 a 9,6 . Nos dentes com formações radiculares Internamente, na luz do canal radicu lar, todas as
incompletas, toda dentina mostrou pH 8,0 a 10,0 pastas utilizadas apresentaram-se com alto valor
e o cemento 6,4 a 7,0, ou seja, n ão influenciado de pH, por volta de 12,0 durante t odo o período
pelo hidróxido de cálcio . Nas áreas de reabsorção de observação (Gráfico 12. 7).
nas superfícies dentiná rias expostas, pH alcalino Estrela & Sydney84 analisaram a influência
entre 8,0 e 10,0 foi observado. Os dentes não do EDTA no pH da dentina radicular durante
tratados e com necrose pulpar apresentaram pH trocas de pasta de hidróxido de cálcio. Trinta in -
6,0 a 7,4 na polpa, dentina, cemento e ligamento cisivos centrais superiores de humanos foram
periodontal. Frente aos resultados, pode-se con - preparados e irrigados com o hipoclorito de sódio
cluir q ue a coloca ção de hidróxido de cálcio no a 1 %; após a secagem dos canais empregou-se
· ,: canal radicular poderia influen ciar as áreas de EDTA durante 3 minutos. A seguir, os canais fo-
i reabsorção, impossibilitar a atividade osteoclásti- ram novamente irrigados com hipoclorito de só-
ca e estimu lar o processo de reparação. A pre- dio e completamente preenchidos com pasta de
sença de íons cálcio é necessária para a atividade hidróxido de cálcio e solução fisiológica. A análi-
do sistema complemento na reação imunológica, se da difusão dentinária de íons hidroxila foi re-
e a abundância de íons cálcio ativa a ATPase alizada p9r meio do m étodo colorimétrico, utili-
1 (Adenosina trifosfata se) cálcio dependente, à zando solução indicadora universal. A análise foi
qual está associada a formação de tecido duro. feita em intervalos de 7, 15, 30, 45, 60 e 90 dias,
Nerwich et al.238 estudaram as mudanças de sendo que, após cada período realizou-se troca
, pH na dentina radicular de dentes humanos ex- da pasta de hidróxido de cálcio, e empregou -se
traídos, por período de tempo de 4 semanas, EDTA por 3 minutos\ antes do completo preen -
após a utilização do hidróxido de cálcio como chimento dos canais radiculares com a referida
medicação intra canal. Concluíram que esta subs- pasta. Os resultados mostraram mudan ças no pH
tância requer de 1 a 7 dias para alcançar a denti - de 6-7 para 7-8 após 30 dias, permanecendo
na radicular externa e que, no terço cervical. ob- inalterado até 90 dias nos terços apical e m édio .
servou-se valores mais altos de pH, quando com- No terço cervical a mudança de pH foi de 6-7
parado com o terço apical. para 7-8 após 30 dias, mantendo-se neste nível
Estrela et al.87 analisaram a partir de método até 60 dias, e alterando-se de valores 7-8 para 8-
colorimétrico e de uma solução indicadora uni- 9 até 90 dias. Não h ouve diferenças significativas
versal, a difusão dentinária de íons h idroxila de entre os terços e os tempos analisados (Gráfico
pastas de h idróxido de cálcio, com veículos hi- 12.8).

r

CIÊNCIA ENDODÔ NTICA
----· ·--·..-·------

,,
)
l

1 .

• r.,. ;;,!"'IC'O 12.7

pH na supetfície externa da dentina apical após trocas de pasta de Ca(OHJ2 .

• :t.tsisl('o, U,ii!,

Efeito do EDTA no pH da dentina radicular após trocas de pasta de Ca(OHJ7


HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

O pH de pastas de hidróxido de cálcio e de soluções acrescidas ao hidróxido de cálcio foi in-


alguns veículos foi verificado no período de O a vestigada durante o período de 160 dias. Os re-
160 dias por Estrela et al.75. As pastas de hidróxi- sultados não demonstraram diferenças expres-
do de cálcio estudadas foram associadas aos veí- sivas entre elas, como estão expressos nos Gráfi-
culos: água deionizada, Propilenoglicol, Lauril cos 12.10 e 12.11 . Assim, observa-se que solu-
dietileno éter sulfato de sódio O, 1 % , Tween 80 - ções contendo hidróxido de cálcio e detergente
O, 1 %, Paramonoclorofenol canforado, Paramo- não favorecem uma maior dissociação iônica que
noclorofenol + Furacin. Para a análise dos com- aquela preparada com água destilada.
postos não fenólicos, foi utilizado um peagâme- Ao considerar a importância da rnpacida de
tro digital; para os compostos fenólicos o pH foi de penetração das substâncias químicas na inti-
obtido em papel tornassol de análise gradual O - midade dos túbulos e nas ramificações dentiná -
14, sendo os resultados tabulados em planilha rias com vistas a alcançar e combater os microrga-
eletrônica. Além da avaHação de pH das pastas nismos, tornam-se rel evante estudos sobre a ten-
de hidróx ido de cálcio, os veículos fenólicos, são superficial de substâncias preparadas com hi-
PMC C e PMC-Furacin, também foram testados. dróxido de cálcio. Neste sentido, Ózcelik et al. 142 e
Os resultados, descritos no Gráfico 12.9, de- Estrela et al.71 investigaram esta importante pro-
monstraram que as pastas com veículos não fe - priedade.
nólicos (água deionizada, propilenoglicol, lauril ózcelik et al.242 compararam êl tensão super-
dietileno éter sulfato de sódio e tween 80) mos- ficial de misturas de hidróxido de cálcio com os
traram elevados valores de pH (acima de 12), veículos (glicerina, solução de Ringer, salina iso-
enquanto que na pasta cujo veículo fo i o PMCC tônica e solução anestésica). Os resultados apre-
o pH esteve em torno de 7,8 em todo período de sentados no Gráfico 12.12 expressam diferenças
observação, e que o v eículo PMCC, manteve um significantes entre os veículos isolados e as com-
pH de 5. O PMC-Furacin mostrou um pH 7,0 no binações de hidróxido de cálcio. A menor t en são
, ;r período de observação, e a pasta contendo esta superficial foi observada no grupo cujo veículo
l substância evidenciou um pH com valor 1 O. foi a solução anestésica (51 dinas/cm).
A dissociação iônica do hidróxido de cálcio Estrela et al. 11 estudaram a tensão superficial
constitui um expressivo aspecto para seu efetivo e o pH de diferentes substâncias químicas (água
mecanismo de ação. Nesse sentido, estudos de destilada deionizada, paramonoclorofenol canfo-
Safavi & Nakayama268 e Estrela et al. 67 observa- rado, clorexidina a 2 %, Otosporin, Lauril dietile-
ram aspectos importantes relativos aos veículos no éter sulfato de sódio a 3%; Furacin, PMC
que têm sido associados ao hidróxtdo de cálcio. Furacin) associadas e não ao hidróxido de cálcio .
Safavi & Nakayarna268 analisaram a influên- Os resultados estão expressos nos Gráficos
cia de veículos (glicerina e propilenoglicol) na 12.13 e 12.14. Frente aos resultados apresenta-
• 1
dissociação do hidróxido de cálcio em solução, dos, observaram-se valores significa tivos para al-
uma vez que diferentes veículos têm sido mistu- gumas associações quando comparadas a outras.
rados a esta substância. Os resultados do experi- No entanto, deve-se enfatizar que para a análise
mento mostraram que a condutividade do hidró- utilizou-se um tensiômetro, e que os ensaios fo-
xido de cálcio em glicerina pura ou propilenogli- ram realizados a partir de soluções contendo hi-
col foi essencialmente zero. Considerando que o dróxido de cálcio, e não de pastas de hidróxido
E. faecalis (bactéria importante na periodontite de cálcio corno empregadas no canal radicular
apical) é capaz de resistir ao pH 11, 9, em face entre sessões. O fato de uma substância apresen-
dos resultados deste experimento, pôde-se con- tar baixa tensão superficial não quer dizer ne-
cluir que o uso de elevadas concentrações de gli- cessariamente que ela seja possuidora de ade-
cerina ou propilenoglicol como veículos mistura- quada propriedade antimicrobiana. Se realmen te
dos pode decrescer a efetividade do hidróxido de este fato ocorresse, a literatura estaria apontando
cálcio como medicação intracanaL resultados diferentes aos encontrados em vários
( Estrela et al. 61 valeram -se de outras soluções trabalhos que estudaram efeitos antimicrobianos
(Lauril dietileno éter sulfato de sódio O, 1 %, tween e histopatológicos frente ao controle de infecções
;1 80 - O, 1% e água deionizada) que foram associa- endodônticas . De outra parte, alguns veículos
das ao hidróxido de cálcio para a análise de sua abaixam o p H da pasta, quando misturados ao
dissociação iônica. A condutividade molar dessas hidróxido de cálcio, o que parece não ser uma
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

significativa vantage m . As Figuras 12 .20 e com as amostras da Quimis - 5 % e da JT Bake{ ~.


12.21 mostram o tensiômetro e o anel de plati- 6 % (Gráfico 12.15). (,
na utilizado no exp eriment o . A adição de substâncias à pasta de hidróxi~ô-
Outros aspectos químicos importantes estão de cálcio, com função de melhor visualizar o pre-,,
relacionados à qualidade do hidróxido de cálcio, enchimento do canal, incentivou o acréscimo <l<l' -
quanto à procedência, o que poderia indicar au- agentes radiopatizantes a algumas pastas. Estrela
sência de carbonato de cálcio; e os aditivos, com et al.74 compararam a densidade de pastas de hi-
vistas à melhor radiopacidade da pasta. Com este dróxido de cálcio com veículos diferentes (solução
intuito, Estrela et al. 72 ava liaram a p resença de fisiológica, propilenoglicol 400 e PMCC) à densi-
carbonato de cálcio em diferentes amostras dade da dentina, utilizando-se secções de mandí-
de hidróxido de cálcio (Quimis, USA; JT Baker, bulas com dentes de cães (2ru e 32:i pré-molares).
USA; Calen, SSW, Brasil; Vigodent S.A., Brasil; Para tanto, empregaram um penetrômetro (densi- •
Biodinâmica, Brasil; Inodon, Brasil), determi - tômetro I escala de alumínio), com a finalidade de
nando a partir do método de volumetria de neu- graduar a densidade da dentina com a p asta com-
tralização, p elo uso de indicadores alaranjado de pactada no canal radicular. Os resultados não evi-
metila e fenolftaleína, titulado com ácido clorí- denciaram diferenças entre as pastas de hidróxido
drico (0,0109 mol/L- 1). As amostras foram obti- de cálcio. Nos canais em que as pastas estão bem
das de diferentes procedências de clínicas p riva- condensada s, a densidade da dentina torna-se se-
das de especialistas em endodontia, as quais fo- melhante à das pastas, havendo desaparecimento
ram empregadas por período de 2 anos. Os resul- da luz do canal radicular. Desta forma, não há
tados mostraram que o percentual de transfor- necessidade e nem se justifica associar substânciasi
mação do hidróxido de cálcio em carbonato de com características radiopacas às pastas de hidró-t ·
cálcio foi pequeno, variando de 5 % a 11 %, sen- xido de cálcio com vistas a determinar o completo
do que os melhores resultados foram os obtidos preenchimento (Quadro 12.1) .

1
/

• -G.RÁFIC(). 1.~~? -·--


pH de veículos e pastos de hidróxido de cálcio.
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

• GR}\FlCO 1l.1Ç
Condutividade molar de soluções contendo hidróxido de cálcio durante o
;f
1
período de 160 dias.
i

Condutividade molar em função do tempo

6000
5000
4000
3000 -
2000
1000
o
20 40 60 80 100 120 140 160
-+- Lauril - -Tween Água

,,.
f • . GRÁFICO 12.11
1 Condutividade molar de soluções contendo hidróxido de cálcio durante o
!
período de 160 dias.
CIÊNCIA ENDODÔN TICA

~'
,-/ ..
~-·
( ,.

• <GRJ\flCO ·u:.12
Tensão superficial de misturas de hidróxido de cálcio com os veículos glicerina,
solução de Ringer, salina isotônico e soluçôo anestésico (Ôzcel,k et al.242).

• fl~tÁflCt) 12.n
Tensão superficial e o pH de diferentes substâncias químicas associadas ao
hidróxido de cálcio (Estrela et a!.71).
H IDRÓXIDO DE CÁLCIO

• GRÁFKO 1:l.14
Tensão superficial e o pH de diferentes veículos.

' ,.-r
1

• 1
C)

• FiG. 12.21
Anel de platina.

• FIG. 12.20
Tensiômetro.
CIÊN CIA ENDODÔNTJCA

( ..
\

• GRÁFICO 1Z,15
Carbonato de cálcio em amostras de hidróxido de cálcio.

Quadro 12.1
/
DENSIDAD E DE PASTAS E D ENTI N A (VA LOR ES EXPRESSOS EM ALUMÍNIO/EQUIVALENTE/MM).

Pastas
Raízes Dentina
Ca(0Hl 2+ S Ca<OHl 2+ PEG Ca<OHl2 + PMCC

5 5 5 5
2 5 5 5 5
3 5 5 5 5
4 5 5 5 5
5 5 4 4 5
6 4 4 5 5
7 5 5 5 5
8 5 5 5 5
9 4 5 5 5
10 5 5 5 5
11 5 5 5 5
12 5 5 4 5

Averages 58 58 58 60

N Mean
Dentina 12 5,00000
Ca(0Hl2 + S 12 4,83333
Ca(OH\+ PEG 12 4.66667
Ca(OH\ + PMCC 12 4,83333
<Wilcoxon Matched-Pairs signed-ranks test)

Ca(OH)2 - Hidróxido de cálcio; SF - Solução fisiológica; PEG - Propilenoglicol;


PMCC - paramonoclorofenol canforado.
H IDRÓXIDO OE CÁLCIO
-----------.----------·------------------···-----------·-··· --------·-····----------···------------·-··---·--·-·---·-···------···
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO A lipoproteína está ligada de modo covalente
• MECANISMO DE AÇÃO ao peptidioglicano e não covalente à membrana
externa; sua função, inferida de estudos realizados
Características da citologia com amostras mutantes, é estabilizar a membrana
bacteriana externa e ancorá-la à camada de peptídioglicano.
A m embrana externa é uma dupla camada, que
Um aspecto essencial para o conhecimento contém fosfolipídeos e proteínas e apresenta, em
do mecanismo de ação do hidróxido de cálcio é o sua camada externa, o lipopolissacarídio.
entendimento de algumas estruturas das células Entre suas funções, a membrana externa re-
bacterianas. presen ta uma barreira molecular, prevenindo ou
A forma das bactérias pode ser observada dificultando a perda de proteínas periplasmáticas
através de colora ção de Gram que as dividem em e o acesso de enzimas hidrolíticas e certos antibió-
dois grupos: Gram-positivas e Gram-negativas, ticos ao peptidioglicano; possui receptores para
aproximadamente iguais em número e impor- bacteriófagos e bacteríocinas e participa da nutri-
tância. A reação das bactérias à técnica de Gram ção bacteriana. O lipopolissacaridio consiste no
expressa diferentes características, de modo es- lipídio A (endotoxina), ao qual estão ligadas
pecial no que diz respeito à composição química, duas regiões de natureza polissacaríd_ica, respec-
estrutura, permeabilidade da parede celular, fisio- tivamente, o "core" e as cadeias laterais. O lipí-
logia, metabolismo e patogenicidade 35· 239 . deo A é um glicofosfolipídeo cujo papel biológico
A parede da célula Gram-negativa é consti- consiste na participação nos mecanismos de pa-
tuída por estruturas de múltiplas camadas béls- togenicidade da célula bactcriana 35 ·219 •
tante complexas, que não retêm o corante quan- Entretanto, a parede celular das bactérias
do submetidas a solventes nos quais o corante é Gram -positiva e Gram-negativa são diferentes. A
solúvel, sendo descoloradas e, quando acrescen- parede celular da bactéria Gram-positiva é espes-
, ;! tado outro corante, adquire a nova coloração. Já sa, 1O a 50 ~Lm, chegando até a 80 ~Lm e a da
' a parede da célula Gram-positiva consiste de t'.mi- Gram-negativa é menos espessa , 7, 5 a 10 µm. A
ca camada que retem o corante aplicado, não membrana citoplasmática adere fortemente ao
adquirindo a coloração do segundo corante 12 • componente interno da célula bacteriana. A pa -
Nas bactérias Gram-negativas, a parede celu- rede celular da bactéria Gram-positiva é única e
lar está composta por uma camada de p eptidio- consiste de uma camada espessa, composta qua -
glicano e três outros componentes que a envol- se que completamente por peptídioglicano, res-
vem externamente: lipoproteína, membrana ex- ponsável pela manutenção da célula e sua rigi-
terna e lipopolissacarídio. dez. As múltiplas camadas de peptidioglicano ( 15
O peptidioglicano, responsável pela forma das a 50 µm ) das bactérias Gra m -positivas constitu-
células e proteção do citoplasma frente às diferen - em uma estrutura extremamente forte em ten-
ças de pressão osmótica entre os meios externo e são, enquanto que, nas Gram-negativas o pepti-
interno, confere rigidez ao corpo bacteriano. Está dioglicano é apenas urna camada espessa e, con -
formado por dois açúcares aminados, o ácido N- seqüen temeute, frágil239· 295 · 327 •
acetil glicosamina e o ácido N-acetil murâmico, e Como fatores de ataque ou agressão, as célu-
por um tetrapeptídio, sempre ligado ao resíduo de las Gram-positivas e Gram-negativas caracteri-
ácido N-acetil murâmico; as subunidades peptí- zam-se por grau s diferentes de virulência. As
deas de cadeias glicídicas adjacentes são unidas bactérias Gram-negativas são constituídas por
entre si por ligações diretas ou indiretas (pontes uma endotoxina, o LPS, que lhes confere a pro-
de ligação). O peptidioglicano situa-se no espaço priedade de patogenicidade, enquanto nas bacté-
p eriplásmico, localizado entre a membrana cito- ria s Gram -positivas a exotoxina utiliza vários
plasmática (interna) e a membrana externa, onde mecanismos de agressão, entre os quais aqueles
também são encontradas enzimas hidrolíticas dependentes do ácido lipot eicóico, que tem
(fosfatases, nucleases, proteases e outras), que fa- como característica principal a aderência.
cilitam a nutrição bacteriana, proteínas de ligação, O lipopolissacarídio (LPS) representa um ex-
que participam da captação de açúcares e amino - pressivo fator de virulência, determinando efeitos
ácidos a partir do meio, enzimas que inativam biológicos que resultam na amplificação das rea-
certos antibióticos 35 •239 . ções inflamatórias . Esta endotoxina é um antíge-
CIÊNC IA ENOO DÔNTICA

no fraco não específico que é pobremente neutra- Como componente da parede celular das cê-( .
lizado por anticorpos, sendo capaz de ativar a cas- lulas Gram-positivas está o peptidioglicano, cuj,(',
cata do complemento. A ativação do complemen- contagem é 40% da massa das células, ligado def ,.
to envolve a formação de cininas, outro impor- modo covalente ao ácido lipoteicóico. Este é\.
tante mediador da inflamação. Além do mais, ati- composto por polímeros de fosfoglicerol com gli- "t
va plaquetas, mastócitos, basófilos e células endo- colipídeo no final, sendo potente modificador da
teliais. O LPS induz os macrofágos a secretarem resposta biológica. O glicolipídeo e o ácido lipo-
outras proteínas, as interleucinas (IL-1, IL-6 e 11- teicóico se ligam às membranas celulares, parti-
8), fator alfa de necrose t:umoral (TNFa), oxigênio cularmente de linfócitos e macrófagos, resultan-
reativo, nitrogênio intermediário (óxido nítrico), do em ativação celular. São capazes também de
interferon a, j3 e y, fatores ativadores de plaquetas ativar a cascata do complemento, induzindo a
e prostaglandinas. Estes são fatores importantes inflamação pu lpar e periapicaJ52, 53,93, 186,233,279,295,
que causam reabsorções ósseas nas lesões periapi- 313,314
cais. Mesmo quantidades pequenas de endotoxi- As Figuras 12.22 e 12.23 mostram esquema-
nas são capazes de induzir a resposta inflamatória ticamente uma representação do envelope celular
periapical. Uma possível explicação para a multi- das bactérias Gram-negativa e Gram-positiva.
plicidade de achados com endotoxinas é a variabi- Como característica específica da célula bac-
lidade genética do LPS de diferentes microrganis- teriana, ao se comparar com a célula humana,
mos. As endotoxinas são encontradas em maior observa-se a parede celular que, em conjunto
quantidade em dentes sintomáticos que naqueles com a membrana citoplasmática, forma o enve-
assi ntomá ticos35.186,239.295.321. lope celular das bactérias.
1 •

• .. ..FIGº
. ... 12.22
·"' ' " · ··· - ...

/
Envelope celular do bactéria Gram-negoti-
va (modificado de Tortoro et oi. 327).

• flG. 12.ll
Envelope celular do bactéria Grom-positivo
(modificado de Tortora et oi 3 27).
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

O envelope celular das bactérias Gram-nega - proteínas, na replicação cromossômica e no me-


tivas quimicamente consiste de 20 a 25% de fos- tabolismo intermediário. Nessa linha de pensa-
folipídeos e 45 a 50% de proteínas, sendo os mento, poderia ser questionado em que nível o
30% restantes do lipopolissacarídio. hidróxido de cálcio exerce seu efeito controlador.
A membrana citoplasmática localiza-se sub- Adotando-se como referência o conhecimento
jacente à parede celular, é formada por dupla microbiológico e farmacológico do antibiótico e/ou
camada fosfolipoprotéica e é fundamental na es- quimioterápico sobre os microrganismos, e m ais
trutura bacteriana. Atua como barreira osmótica especificamente o seu sítio de ação, o mecanismo
(a substâncias ionizadas e grandes moléculas), é de ação do hidróxido de cálcio, como antimicro-
livremente permeável aos íons sódio e aos ami- biano, poderia ser melhor elucidado. Por estara-
noácidos (permeabilidade seletiva). Acresça-se zão é importante analisar isoladamente o efeito
que esta membrana é sede de importantes siste - do pH sobre o crescimento, o metabolismo e a
mas enzimáticos envolvidos nos últimos estágios divisão celular bacteriana 76·86 .
da formação da parede celular, participantes da A variação do pH reflete no crescimento
biossíntese de lipídeos, e responsáveis pelo trans- bacteriano, uma vez que influencia a atividade
porte de elétrons, assim como enzimas envolvi- enzimática. A velocidade das reações químicas
das no processo de fosforilação oxidativa 35•239 . favorecidas pelas enzimas é influenciada pelo
Como sede enzimática, muitas bactérias pro- substrato. Estas enzimas podem estar presentes
duzem proteinases que hidrolisam as proteínas, tanto extra como intracelularmente. As enzimas
uma vez que as bactérias, geralmente, são inca- extracelulares atuam sobre os nutrientes, carboi-
pazes de utilizar macromoléculas. dratos, proteínas e lipídeos, que por meio das
As bactérias, de modo geral, necessitam de hidrolases favorecem a digesLão . As enzimas lo-
condições físico-químicas favoráveis ao seu cres- calizadas na membrana citoplasmática estão rela-
' cimento e reprodução, e dentre estas encontram- cionadas com o transporte de substâncias para
, 1 se: temperatura, pH, pressão osmótica, concen- dentro e para fora da célula, com a atividade
I trações de substrato, de dióxido de carbono e de respiratória, e com a estruturação da parede ce-
oxigênio 35 . lulàr. O transporte pela membrana é fundamen-
Frente ao conhecimento das estruturas mi- tal, pois, para suas complexas reações metabóli-
crobian as que podem ser afetadas pelo emprego cas, crescimento e reprodução, há necessidade
de uma substância antimicrobiana de uso endo- do controle do fluxo de nutrientes 6 º· 199 ·206, 2 37 ,256 _
dôntico, importa considerar e analisar a dinâmi- Kodukula et al. 199 relataram que em condi -
ca química, biológica e microbiológica desta ções de elevado pH (baixa concentração de íons
substância, cuja preferência atual, dado à inú- H+), a atividade enzimática das bactérias é inibi-
meras pesquisas 59 -s9 , 133 - 185 , recai no hidróxido de da. Alia do a este fato, cada enzima possui um pH
cálcio. ótimo para a sua ação, segundo o qual reage com
uma velocidade máxima. O pH interno das bac-
MECANISMO DE ACÃO I
térias é diferente do pH externo, sendo qu e, in-
ternamente, seu valor oscila em torno da neutra -
A partir do conhecimento da dinâmica quí- lidade. Aliás, o mecanismo que mantém essa
mica do hidróxido de cálcio e de algumas carac- neutralidade ainda é desconhecido. Acrescido a
terísticas da citologia bacteriana, pode -se discutir este fato, a diferença do pH int erior e exterior da
o mecanismo de ação deste fármaco sobre as célula pode determinar o m ecanismo através do
bactérias e os tecidos, que constitui o fundamen- qual a atividade celular é influenciada pela con-
to básico para a seleção de qualquer medicação centração de íons hidrogênio.
intra canal. Considera-se, todavia, a existência de um
De modo geral, as substâncias antimicrobia- gradiente de pH através da membrana citoplas-
nas, do grupo dos antibióticos e/ou quimioterá- m ática, que é responsável por produzir en ergia
picos, promovem dois tipos de efei tos sobre os p ara o transporte de nutrientes e componentes
microrganismos: inibem o crescimento ou a re- orgânicos para o interior da célula. Este gradien-
)
produção, ou induzem à inativação celular. Estes te pode ser afetado pela mudança no pH do
efeitos se expressam na síntese da parede celular, m eio, influenciando o tran sport e químico atra-
na estrutura da membrana celular, na síntese de vés da m embrana.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Neste particular, o efeito do pH sobre o depende da sua seqüência de aminoácidos, e\ ·


tran sporte químico pode ser direto ou indireto. vem, de algun s experimentos a demonstraçãl ' .
( ,·
Será direto quando o pH influe n ciar a atividade que a desnaturação de algumas proteínas é re\-
esp ecífica das proteínas da membrana (combina- versível. Valores extremos de pH causam o de-' :·
ção com grupo quími co específico) . O efeito indi- senrolam ento da maioria das proteína s globula- t
reto pode levar a alterações dos estados de ioni- res e a perda de suas atividades biológicas sem
zação dos nutrientes orgânicos. Os componentes romper ligações covalentes no esquel eto polipep-
não ionizados são muito m ais facilmente trans- tídico. Por vários an os, pensou-se ser irreversível
portados através da m embrana celular do que os o processo de desnaturação das proteínas, Entre-
ioniza dos. Desta form a, conforme o pH, pode tanto, demon strou-se que algumas proteínas glo-
haver aumento da disponibilidade de nutrientes, bulares desnaturadas em decorrência do pH rea-
e um inten so transporte pode induzir inibição e dquirem sua estrutura nativa e sua atividade bio-
efeitos tóxicos sobre a célula 2 u 99 _ lógica, desd e que o pH retorne a valor normal,
O crescimen to bacteriano em pH inferior ao sendo este processo denominado renaturação" 2º6.
seu pH interno faz com que o citoplasma fique Sabe-se, pois, que a configuração tridimensi-
mais alcalino do que o meio; no entanto, quando onal nativa de uma dada proteína é sua configu-
o crescimento ocorre em pH alto, seu citoplasma ração mais estável em condições biológicas de
fica mais ácido 2 1• 199•237 • O crescimento bacteriano temperatura e pH, e q ue essa configuração é
em pH elevado p ode levar a complicações fisioló- conseqü ência automática de sua seqüência espe -
gicas m uito complexas. cífica de aminoácidoss,21,19s,206.237,2s6.
A membrana citoplasmática rela ciona -se a Vá rias proteínas presentes na superfície da
três funções essenciais: metabolismo, crescimen- membrana celular são especializadas n o trans-
to e divisão celular. Além do mais, participa dos porte de ácidos e bases pela membrana. A regu-
últimos estágios da formação da parede celu lar, lação de pH celular é fundamental , uma vez que
participa da biossíntese de lipídios, transporte de mudança s de pH podem desgov ernar e afetar o
elétrons, como en zimas envolvidas n o processo metabolismo celular, atuando na ionização de .
de fosforilação oxidativa, sendo responsável pe- grupos de proteínas pela desconfiguração e alte- ~
los mecanismos de transporte de nutrientes e por ração das su as atividades . O metabolism o celular
etapas da duplicação celular239 . depende do pH para a atividade enzimática, alte-
No que diz respeito ao pH, existem poucas ra o substrato e afeta o crescimento e a prolifera -
espécies que, em pH menor que 2 ou maior que ção celular59, J 9s,n7,256.
1 O, podem crescer. A maioria das bactérias pato - Putnam256, descrevendo a regulação de pH
gênicas cresce melhor em m eio n eutro. Assim, intracelular, relata que o pH influencia diferentes
de acordo com o pH ideal ao crescimento, estas processos celulares, como: a) metabolismo celular;
bactérias podem ser classificadas em três catego - b) citoesqueleto, podendo alterar a forma, a moti-
rias: acidófilas, n eutrófila s e alcalófilas 241 . lidade, a regulação de transp ortadores, a polimeri-
É possível haver um a inativação enzimática zação de elementos; c) ativação de crescim ento e
reversível (temporária), quando colocada em pH proliferação celular; d) con dutibilidade e trans-
acima ou abaixo do ideal para seu funcionamen- porte através da m embrana; e) volume celular
to, uma vez que recolocada em pH ideal, a en zi- isosmótico. Desta forma, muitas funções celulares
m a pode tornar a adquirir sua atividade catalíti- podem ser afetadas pelo pH, dentre estas as enzi-
ca. Sua irreversibilidade pode ser observada ~m mas essenciais ao m etabolismo celular.
condições extremas de pH, por longos períodos Outro processo a ser considerado consiste no
de tempo, promovendo a total p erda da ativida- tran sporte químico p ela m embrana celular, que
de biológica 59, 237 . p ode ser alterado pela quantidade de íons hidro-
"Quase todas as duas m il enzimas já identi- xila presentes, por meio do processo de peroxi-
ficadas são proteínas globulares. Outras proteínas dação lipídica. A p erda da integridade da mem-
globulares funcionam corno transportadoras de brana p ode ser observada através da destruição
oxigênio, de nutrientes e de íons n o sangue. Al - de ácidos graxos insaturados ou fosfolipídios.
gumas são anticorpos, outras hormônios, e ou - Quando íons hidroxila removem átomos de hi-
tras compon entes das m embranas e ribossomos. drogênio de ácidos graxos insaturados, form a-se
A estrutura terciária de uma proteína globular um radical lipídico livre que reage com o oxigê-
HIDRÓXIDO DE CÁLCI O

nio molecular, transformando-se em outro radi- tum; E. coli e Streptococcus sp.) durante intervalos
cal peróxido lipídico. A peroxidação lipídica pode de O, 1, 2, 6, 12, 24, 48, 7 2 horas e 7 dias. A
ser formada n ovamente a partir de um novo in- alteração da integridade da membrana citoplas-
dutor, íons hidroxila, que roubam átomos de hi- mática dos microrganismos analisados ocorreu
drogênio de um segundo ácido graxo insaturado, no período de 72 horas, o qu al possibilitou suas
resultando em outro peróxido lipídico e outro destruições, tanto em culturas puras quanto em
novo radical lipídico livre, transformando em mistas (Gráficos 12. 16 e 12.17). A inativação
uma reação em cadeia 266 . enzimática reversível pôde ser observada em ou-
Frente a todo o raciocínio sobre processos e tro estudo realizado por Estrela et al.81, que avalia-
atividades isoladas do pH em sítios enzimático s ram o efeito antimicrobiano indireto do hidróxi-
essenciais, corno acontece em nível de membra- do de cálcio em túbulos de ntinários infectados
na, torna-se mais esclarecedor associar o hidró- por diferentes m icrorganismos, em intervalos de
xido de cálcio, substância dotada de elevado pH, tempo de O, 48, 72 horas e 7 dias. Os resultados
a efeitos biológicos lesivos sobre a célula bacte- mostraram que o h idróxido de cálcio foi inefeti-
riana, para explicar seu mecanismo de ação. vo por ação à distância (ação indireta) no perío -
Com esta finalidade Estrela et al. 8 5 estudaram o do de 7 dias, sobre vários m icrorganismos (E.
efeito biológico do pH na atividade enzimática faecalis; S. aures; P aeruginosa e B. subtilis) (Gráfi-
de bactérias anaeróbias. Como a localização dos co 12. 18). Estudos adiciona is mostraram os efei-
sítios enzimáticos é na membrana citoplasmáti- tos antimicrob iano s do hidróxido de cál-
ca, e por esta ser responsável por funções essen- cio 13,33.36.56, 59·66, 70, 76,so.s 1. ?o.103.109.119.122, u o.131, 192_244.2ss,261-
ciais como o metabolismo, crescimento e divi- 21J,2ss,2s9-291,293,3o9,319 e O período de tempo ideal
são celular, e participar dos últimos estágios da para adequada efetividade10,so.suss.294_320,32s .
formação da parede celular, biossíntese de lipí- Além destas pesquisas, que respaldam a hi-
dios, transporte de elétrons, como enzimas en- pótese levantada, a difusão dentinária de íons
, ~ volvidas no processo de fosforilação oxidativa, h idroxila do hidróxido de cálcio, com a mudança
1
I acredita-se que os íons hidroxila do hidróxido de pH n a superfície da massa dentinária pode
de cálcio desenvolvem seu mecanismo de ação demorar (Gráficos 12 .7 e 12 .8).
em nível da membrana citoplasmática. O efeito A hidrossolubilidade ou não do veículo em -
do elevado pH do hidróxido de cálcio ( 12,6 ), pregado (diferença d e viscosidade ), a caracterís-
influenciado pela liberação de íons hidroxila, é t ica ácido-base, a maior ou menor permeabili-
capaz d e alterar a integridade da membrana ci- dade dentinária, o grau de calcificação presente
toplasmática por meio de agressões químicas podem influenciar a velocidade de dissociação e
aos componentes orgânicos e transporte de nu- difusão de íons hidro xila . Além do mais, alguns
triente s, ou por meio da destruição de fosfolipí- veículos podem alterar o pH do hidróxido de
dios ou ácidos graxos insaturados da membrana cálcio.
citoplasmática, observado pelo processo de pe- Outra forma de ação antimicrobiana do hi-
roxidação lipídica, sendo esta na realidade, um.a dróxido de cálcio foi demonstrada por Safavi &
reação de saponificação 86 . Nichols 2 69 -270 . Esses au tores, estuda ndo o efeito
A explicação do mecanismo de ação do pH do hidróxido de cálcio sobre o lipopolissacarídio
do hidróxido de cálcio no controle da atividade bacteriano, demonstraram que os íons hidroxila
enzimática bacteriana permitiu que Estrela et al.85 podem hidrolisar o LPS presente na parede celu-
levantassem a hipótese de uma inativação en zi- lar das bactérias, degra da n do o lipídio A e neu-
mática bacteriana irreversível, em condições ex- tralizando seu efeito residual após a lise celular.
tremas de pH, em longos períodos de tempo. E Essa propriedade do hidróxido de cálcio, de
também, uma inativação enzimática bacteriana hidrolisar o LPS, é fundam ental como agente
temporária, quando do retorno do pH ideal à antimicrobiano.
. ação enzimática, havendo volta à sua atividade O lipopolissacarídio é um componente da
l normal. A inativação enzimática irreversível foi parede celular das b actéri as Gram-negativas,
demonstrada por Estrela et af_RO que determina- com o privilégio de estar sup erficialmente locali-
ram in vitro o efeito antimicrobiano direto do hi- zado e ser dotado de ação tóxica, sendo muito
dróxido de cálcio sobre diferentes microrganis - apropriadamente, considerado a endotoxina des-
mos (M. luteus; S. aureus; P aeruginosa; F nuclea- sas bactérias. Além da ação demonstrada sobre o
C IÊNCIA ENDODÔNTICA

LPS, o hidróxido de cálcio inibe as enzimas da Todos esses estudos realizados contribuíram
membra n a citoplasmática tanto das bactérias de modo significativo para o entendimento de
Gram-negativas como Gram-positivas, indepen- que, para que o hidróxido de cálcio possa ex -
dentemente do efeito do oxigênio sobre seu me- pressar as propriedades desejáveis, seu pH deve
tabolismo, que as distribuem em aeróbias, micro- se manter o mais elevado possível. Por conse-
aerófilas e anaeróbias. guinte, o veículo que possibilita essa característi-
Outross im, considerando a discussão em ca deve ser h idrossol úvel (como a água destilada
questão, Estrela et al. 8 6 reportaram que o hidróxi- ou a solução fisiológica).
do de cálcio apresenta duas expressivas proprie- Anterior a toda essa análise antimicrobiana
dades enzimáticas, a de inibir enzimas bacteria- do hidróxido de cálcio, na busca de uma explica-
nas gerando efeito antimicrobiano e a de ativar ção com entendimento mais esclarecedor de seu
enzimas teciduais, corn o a íosfatase alcalina, con- mecanismo de ação, a capacidade desse medica-
duzindo ao efeito mineralizador. m ento de estimular a formação de uma barreira
Torna-se esclarecedor salientar que algumas de tecido duro (tecido mineralizado) foi demons-
bactérias mostram-se mais resistentes e preva- trada em várias pesquisas realizadas por Holland
lentes em determinadas infecções endodônticas et af.133 - 1s5_
(infecção primária, secundária ou persistente; in- O mecanismo de ação biológica do h idróxido
fecção sintomática ou assintomática). de cálcio em polpas dentárias foi estudado por
Os microrganismos são importantes fato res Holland 133 , em 1966. Esse mecanismo de ação,
etiológicos nos fracassos cn dodônticos. No en- anteriormente descrito no Capítulo 4, retrata
tanto, adicional à infecção intrarradicular e ex- uma análise morfológica e histoquímica do pro-
trarradicular, des tacam-se ainda, como agentes cesso de reparo da polpa dentária após pulpoto-
expressivos nos fraca ssos endodônticos, a reação mia e proteção pulpar. No momento em que o
de corpo estranho e cisto com cristais de coleste- hidróxido de cálcio entra em contato direto com
roF32-236 . o tecido, ocorre uma dissociação em íons cálcio e
O Enterococcus faecalis, bactéria facultativa, íons hidroxila. Esses íons hidroxila, à sua vez,
Gram-positiva, capaz de tolerar m eio ambiente produzem uma desnaturação protéica, dado ao /
com pH elevado ( 11 ), tem mostrado ser respon - seu elevado pH. A profun didade dessa atuação
sável por fracassos após o LraLamento endodônti- varia de acordo com o tipo de hidróxido de cál-
co 121. 227 -229. 232-236.240.3 l S • cio empregado (na forma de pó, pasta hidrosso-
Love 211 investigou o possível mecanismo ca- lúvel ou cimento ) e, também, em função do veí-
paz de explicar a capacidade do E. faecalis de so- culo utilizado. Em conj unto com esses ions hi-
breviver e crescer dentro dos túbulos dentinários droxila, penetram íons cálcio, que n o limite en -
e reinfectar um canal radicular obturado. Obser- tre o tecido desnaturado e o teci.do vivo, precipi-
vou-se que o fator de virulência do E. faecalis tam-se na forma de carbonato de cálcio (reação
pode estar relacionado à habilidade para invadir dos íons cálcio com o dióxido de carbono do teci-
os túbulos dentinários e aderir ao colágcno, mes- do), responsáveis pelas granulações de carbonato
mo na presença de soro humano. de cálcio, birrefringentes à luz polarizada. Essas
Um importante estudo sobre o mecanismo granulações de carbonato de cálcio, sob a forma
envolvido na resistência do E. faecalis ao hidróxi - de calcita, podem ser detectadas duas horas após
do de cálcio foi realizado por Evans et al.9º., O o contato do hidróxido de cálcio com o tecido.
estudo desses autores confirmou que o E. faecalis Observam-se também complexos cálcio-proteí-
é resistente ao hidróxido de cálcio em pH igual nas, abaixo dessas granulações de sais de cálcio,
ou inferior a 11, 1. Uma resposta adaptativa ao amorfas, caracterizan do uma área de calcificação
pH alcalino e a síntese de proteínas induzidas por distrófica. Nesse local está presente o material
stress parecem ter um papel menor na sobrevi- aprisionado, ou seja, célu las, vasos e fibras. Desta
vência celular, enquanto o funcionamento da forma, pode-se caracterizar cinco zonas, como
bomba de prótons, que tem a capacidade de aci- resultado do contato do h idróxido de cálcio com
dificar o citoplasma, m ostrou-se crítico à sobrevi- o tecido pulpar: l ) zona de necrose de coagula -
vência dessas bactérias em meios de elevado pH. ção (correspondente à área de desnaturação pro -
O hipoclorito de sódio mostrou -se eficaz para eli- téica do tecido pulpar); 2 ) zona granulosa super-
minar o E. faecalis. ficial (constituída por granulações grosseiras de
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO

carbonato de cálcio); 3) zona granulosa profunda lar. Aos 30 dias o reparo está completo, estando
(exibe finas granulações de sais de cálcio e repre- presente dentina, pré-dentina e a camada odonto-
senta uma área de calcificação distrófica). A in- blástica organizada. A ponte de tecido duro for-
tervalos de 2 a 48 horas, as granulações de carbo- mada apresenta três camadas: granulações de car-
nato de cálcio aumentam em número e tamanho. bon ato de cálcio, área de calcificação distrófica e
Também na zona granulosa profunda, os sais de dentina; 4) zona de proliferação celular; 5) zona
cálcio continuam a ser depositados. É possível que de polpa normal.
com a desnaturação protéica da zona de necrose, Pelo exposto, percebe-se que os íons cálcio
ocorra à liberação de radicais ativos que atrairiam, participam ativamente do processo de reparação.
eletrostaticamente, sais de cálcio p ara sua proxi- As Figuras 12.24 e 12.25 exibem características
midade, contribuindo dessa forma para a precipi - de barreira de tecido duro (mineralizado), após e
tação de sais de cálcio na zona granulosa profun- emprego de hidróxido de cálcio em pulpotomia e
da . Dois dias após a aplicação do hidróxido de pulpectomia. Seux et al. 282 confirmaram esses re-
cálcio, na zona granulosa profunda e imediações, sultados, adicionando hidróxido de cálcio jun-
as fibras do tecido pulpar se dispõem paralela - to ao m eio de cultura para células, quando ob -
mente ao longo eixo do dente. Abaixo da zona servaram o aparecimento de granulações de car-
granulosa profunda surgem numerosas células jo- bonato de cálcio, as quais não surgiram na au -
vens em proliferação, sendo inclusive visíveis cé- sência desse produto. Nota-se desta forma, não
lulas em mitose. Aos 7 dias, as fibras paralelas ao só a participação dos íons cálcio do hidróxido d~
longo eixo do dente parecem torcidas lembrando cálcio na formação dessas granulações, 1 como
as fibras de Van Koff. Alguns odontoblastos jovens também esclarece o seu papel na diferenciação
podem ser visualizados, dispostos de modo irregu- das células da polpa em odontoblastos.

' .A'

• 1

{
· ·-GRÁFKO _12.16_.____________..__

CIÊNCIA ENDODÔNTICA

/
• . FIG•. 12.24 ·---· .. __ .....
Barreira de tecido mineralizado após pu/potomia (Holland, 2003J.

. flG. 12.ZS
Barreira de tecido mineralizado após pu/pectomia (Holland et ai. '5 º, 7998).
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

·. ~
Considera -se que, a Iosfatase alcalina sendo de taxonómica dos microrganismos encontrados ..,.;,.. •

uma enzima hidrolílica (fosio -hidrólise monoes- nas patologias pulpoperiodontais, o que contri-
ter ortofosfórica ), atua por meio da liberação de buiu de forma decisiva para se estabelecer o
fosfato inorgânico dos ésteres de fosfato. Acredi- plano de tratamento.
ta-se na sua relação com o processo de minerali- A determinação dos tipos de microrganismos
zação 112- 1 14.1 1,.2n . presentes e predominantes nas infecções dos ca-
O pH ótimo para a atuação da fosfa tase alca- nais radiculares e tecidos periapicais, representa
lin a varia de acordo com o tipo e a concentração fator imprescindível à adoção de condutas desti-
de substrato, com a temperatura e com a fonte de nadas ao controle microbiano e, conseqüente-
enzima, sendo que os limites estão por volta de um mente, estímulo ao reparo tecidual.
pH 8,6 a 10,3 116·323 . O conhecimento morfológico e fisiológico
Esta enzima p ode separar os ésteres fosfóricos dos microrganismos responsáveis por quadros ál-
de modo a liberar os íons fosfatos, que ficam li- gicos e destruição dos tecidos periapicais inspirou
vres, os quais reagem com os íons cálcio (proveni- algumas tendências terapêuticas, porém diversi-
entes da corrente sanguínea), para formar um ficadas, marcando os diferentes períodos históri-
precipitado na matriz orgânica, o fosfato de cálcio, cos, em que abordagens empíricas foram con-
que é a unidade molecular da hidroxiapatita 277 • frontadas com estratégias cientificamente sedi-
Neste contexto, o hidróxido de cálcio ativa a mentadas.
fosfatase alcalina a partir de seu elevado pH, o O processo evolutivo possibilitou um alicer-
que pode ini ciar ou favore cer a mineraliza- ce científico claro e preciso ao exercício da Endo-
ção221·323·326. Além dessa enzima, outras duas (a dontia, impondo métodos reprodutíveis, com-
adenosina trifosfatase e a pirofosfatase) cálcio- postos por resultados esclarecedores às diferentes
dcpendemes favorecem o mecanismo de repara - formas de pensamento, trocando opiniões cientí-
ção tecidual. O hidróxido de cálcio também pode ficas por fatos científicos que, uma vez não con-
ativá-las 129, 1,o. 1».1 36.12s. firmados, também se enquadrariam num con-
Atualmente nã o se questiona que o hidróxi- junto de ficções científicas, ou meramente no
do de cálcio representa a medicação intracanal campo das hipóteses improváveis. Os avanços /
mais empregada, estudada e discutida, em decor- conquistados e a confirmação pelo tempo mos -
rência, principalmente, de sua ação biológica e tram as tendências atuais para muitas mudanças
antimicrobiana. de conceitos e afirmações.
Desde a introdução do hidróxido de cálcio O primeiro passo para o estabelecimento do
na Odontologia por Hermann 13 1 em 1920, a ação tratamento endodôntico é o conhecimento da
biológica estabelecida po r criar um ambiente fa- inter-relação entre microrganismos e hospedeiro,
vorá vel para a reparação tecidual, tem sido de- em conjunto com a dinâmica química e biológica
monstrada por inúmeros trabalhos 2 c,- 2s, 3oAs -5 o. 57 . 133 - da medicação intracanal.
1ss,224,260.299 -304
Como é do conhecimento endodônlico, as
infecções características dos canais radiculares e
--
O HIDROXIDO DE CALCIO E tecidos periapicais são polimicrobianas, cujos
AS INFEfÇÕES componentes são dotados de acentuado potenci-
ENDODONTICAS al patogênico, com predomínio de bactérias anae-

A dinâmica observada entre a in fecção do


. róbias Gram-negarivas .
Atualmente, o hidróxido de cálcio é a medi-
complexo dcntino -pulpar e o desenvolvimento cação mais empregada, discutida e estudada, e
da periodontite apical, com conseqüente respos- sua consagração foi obtida por inúmeros estudos,
ta do hospe deiro, estimulou avan ços expressi- apoiados em sérias evidências científicas. A busca
vos na busca de melhores alternativas para o e o resgate de informações sobre a medicação
controle da microbiota endodôntica. Critérios intracanal, e em particular o hidróxido de cálcio,
signiiicaUvos para isolamento e identificação de não expressam vícios de indicações, crenças mi-
microrganismos, baseados em p arâmetros mor- lagrosas de efeitos benéficos, n em tampouco ob-
fo lógicos, nutricionais, culturais, metabólicos, jetiva determinar o fármaco capaz de curar todos
antigênicos e gen éticos (a nálise da seqüência de os males . Apenas tenta estabelecer crit érios ade-
DNA e RNA) , possibilitaram definir a diversida- quados para utilização, os limites e as extensões,
HIDRÓXIDO D E CÁLCIO

e valoriza a importância de pesquisas com a fina- diográfico (ausência ou diminu ição de rarefação)
lidade de elucidar fatos ainda não evidenciados não é sinônimo de sucesso histológico.
ou equivocadamente explicados. Muitos estudos histopatológicos e microbio-
Os novos conceitos de modelagem e sanifi- lógicos em dentes com infecções endodônticas e
caçã o do sistema de canais radiculares permiti- periodontites apicais mostraram que o tratamen-
ram avanços expressivos n a conquista do su cesso to endodôntico em duas sessões conduz a me-
do tratamento endodôntico. O desenvolvimento lhores resultados quando comparados aos rea li-
de técnicas que respeitam a biologia periapical zados em sessão única4s.s3,152, 1s3,29s,333 _
em conjunto com o emprego de substâncias quí- Holland et aL 152 compararam, em dentes de
micas, dotadas de propriedades antimicrobianas cães com periodontite apica l, o tratamento endo-
e biológicas, valorizou e qualificou o tratamento dôntico realizado em uma e duas sessões. Qua-
endodôntico, o que p ermite definir e assumir renta e oito ca n ais radiculares (pré-molares e
condutas aplicáveis e funcionais. dentes anteriores) foram abertos e expostos ao
Os efeitos deletérios dos fatores de viru lência ambiente da cavidade bucal por 6 meses antes do
dos microrganismos sobre os tecidos periapi- início do tratamento. Posterior ao estabelecimen-
ca i 5 3.6, 14-20,24.31.n. 52.53,9t.93. 1oo. 11s- 120.196,2 13. 222.223,226- to das lesões periapicais, os dentes foram prepa -
229, 232,2 36,240,252,259.262.21 4 . 279.281- 292. 3 11 - 318. 329.331.345.348 O b-
rados até o limite CDC com uma lima de nº 40
serva dos após a necrose pulpar, motivaram pes- (K-File) e abundantemente irrigados com hipo-
quisas que investigaram a atividade terapêutica clorito de sódio a 2,5 % . Uma sobreinstrumenta-
de diferentes substâncias antimicrobianas i •4.9 - 11-13· ção foi realizada para alcançar o forame principal
15,29,33,36-43,49-50,56.60-66.69-70,76,80-82,89,90, 97,99,l 03-l 05. l 07-109,120- com a lima n º 20 (K-File). Os canais foram nova-
124. l 86, l 92, 200,202, 203,206,209,212,243.26 7 -27 l ,287 -29 4,31 9-32 l ,324 ,33 4
mente irrigados, secado s e preenchidos com
Muitos estudos demonstraram o íntimo envolvi- EDTA por 3 minutos. A seguir, fez-se nova irriga-
mento microbiano na etiologia das doenças peri- ção com hipoclorito de sódio e solução fisiológi-
~ apicais e suas conseqüências. As condições favo - ca, e após a secagem os espécimes foram distri-
I ráveis de baixa tensão de oxigênio, a viabilidade buídos de acordo com o tratamento. No grupo 1,
de nutrientes, as intera ções microb ianas consti- os canais radiculares foram obturados com a téc-
tuem fatores importantes para o estabelecimento nica da condensação lateral com gu ta-percha e
e manutenção de infecções polimicrobianas em Sealapex, em uma sessão; no grupo 2, empre-
dentes com p eriodontite apicaL gou-se pasta de hidróxido de cálcio por 7 dias,
Todavia, inúmeras evidências científicas fo- antes da obturação com guta -percha e Sea lapex;
ram mostradas pela literatura51.6s,10,109,152. I 53,29s,m, no grupo 3, realizou-se os mesmos procedimen-
quanto à necessidade do emprego de uma medi- tos, deixando a medicação intracanal por 14 dias,
cação intracanaL Porém, ainda se observa a defesa seguido da obturação com guta -percha e Sea la-
de tratamentos em sessão única de dentes com pex_ Como controle, doze raízes tiveram suas
infecções endodônticas, em que se valoriza ape - polpas dentárias removidas no início do trata-
nas o canal principal, a técnica endodôntica e o mento, Cento e oitenta dias após o tratamento,
silêncio clínico_ Aliás, silêncio clínico e ausên cia os animais foram sacrificados e as p eças foram
de rarefação periapical detectável por meio de ra- preparadas para a análise histológica _ Os resulta-
diografias n ão são sinônimos de sucesso absoluto_ dos mostraram que o uso do hidróxido de cálcio
Muitos profissionais erroneamente tentam simpli- como m edicação intracan al favorece m elhores
ficar demais todas as variáveis envolvidas no tra- resultados (p< 0,01 ) que o tratamento em urna
tamento endodôntico, em que se nota uma super- única sessão (Figuras 12.26 a 12.31),
valorização dos parâmetros clínicos, a ponto de Holland et al. 153 analisaram sob o ponto de
determinar aceitável uma conduta, Contudo, ob- vista h istológico, o resultado do tratamento en-
serva-se também ausência do emprego de meto- dodôntico em dentes de cães com periodontite
dologias pre cisas para estas análises clínicas, sendo apical realizado em uma e duas visitas_ Assim , os
l desprovidas de estudos longitudinais_ Um a vez dentes foram tratados em uma sessão, 7 e 14
1 que existe uma seqüência de testes de biocompa- dias após a coloca ção de hidróxido de cálcio, sen-
; tibilidade e estes são recomendados e aceitos, de- do o cimento obturador o Sealer 26. Cento e
veriam servir de parâmetro para estes estudos. oitenta dias após o tratamento, os animais foram
Deve-se entender de forma clara, que sucesso ra- sacrificados e as peça s fora m preparadas para a
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

análise histológica. Os resultados mostraram que sessão. Foram observados também melhores re-
o uso do hidróxido de cálcio como medicação sultados (p=005) com o emprego do hidróxido
intracanal favore ce melhores resultados de cálcio por 14 dias comparativamente a 7 dias
(p=0,001 %) que o tratamento em uma única (Figuras 12.32 a 12.38).

FIG.- . 12.27
- '-· -···-~---- -----~-----

Sessão única_ cemento neoformado em paredes do


canal principal moderado reação inflamatória crôntca
(HE- 100)() (Ho//and et a/. 152).

• FIG. _12.28_-·
Cifü<;l<l c<1Gt,<1{e. - Áre.<rs cam reaásacc:,da cementána, Ca(OHJ 1 (4 dias - ComÇJleto fechamento do cana(
microabscessos, reação inflamatória crônica no espaço principal com cemento neoformado. H.E. TOOX (Holfand
periodontol. H.E. 40X (Hollond et oi. 152). et a1. 1s2y_

• FIG. 12.30 .. ....... . ... .. - !~G. ___12.31 ____ · ·--- ..... _....... -_________···--····-----------·----·------------
Ca(OH) 2_ 7 dias - Completo fechamento de canal Ca(OH)2 14 dias - Completo fechamento do canal
do deito opicol ausência de reação inflamatório no liga- principal com cemento neoformado, pequeno
mento periodontal. H.E 200X (Ho//ond et ai. 152)_ sobreobturoção_ HE TOOX (Holland et ai. 152)_
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

• r-1~. 12.~n • FIG. 12.33


Sessão única. Intenso inflltrado inflamatório crônico Sessão única. Intenso infiltrado inflamatório cromco
no ligamento periodontal. H.E 40X (Holland et ai. 153J. no ligamento periodontal. H.E. 40X (Holland et ai '53 ).

• -f~G. ]~.3.4_... • FIG. 12.35


Ca(OHJ 2 - 7 dias. Poucas células inf/amató1ias crôni- Ca(OH\- 7 dias. Selamento biológico completo.
cas. H.E. 100X (Holland et al. 153). H.E. 100X (Ho//and et ai. 153).

Ca(OH)2 - 14 dias. Selamento biológico completo, isento de células inflamatórias. H.E. !OOX (Holland et al. 153).
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

ta polímeros de ribitol fosfato (ácidos teicóicos) e


polímeros de glicerol fosfato (ácido lipoteicóicci ),
enquanto que a p arede celular Gram-negativa
possui, externamente à estrutura básica, uma li-
poproteína, a membrana externa e o lipopolissa-
carídio, dotado de potencial endotóx ico 12 •76, 86 .
Como o sítio de ação dos íons hidroxila do
hidróxido de cálcio envolve as enzimas presentes
na membrana citoplasmática, dependendo de
sua quantidade (íons hidroxila), esta medicação
deve possuir um amplo espectro de ação, agindo,
portanto, sobre uma gama variada e diversa de
• FIG. U.38 microrganismos, independente da capacidade
Maior aumento do Figuro 12.3 7. Selamento bioló- metabólica das bactérias 59 ·60· 64· 76 ·86 • Desta forma,
gico completo, isento de células inflamatórias. H.E !OOX quanto maior a liberação de íons hidroxila e
(Holland et ai. 753). mais elevado for o pH, melhor sua efetividade.
Nesse caso o tempo de permanência da pasta de
hidróxido de cálcio no canal radicular é fator
determinante ao melhor controle microbiano.
A consagração do hidróxido de cálcio foi ob- Safavi & Nichols 269· 210 mostraram um efeito
servada a partir das provas das pesquisas e do específico dos íons hidroxila nas bactérias Gram-
tempo. A linha de pesquisa sobre hidróxido de negativas, os quais poderiam hidrolisar o lipopo- 1
cálcio, desenvolvida por Holland et a/.133 -is5, há lissacarídio presente, degradando o lipídio A e,
muitos anos atrás, evidencia toda uma reação conseqüentemente, neutralizar seu efeito residual
tecidua l benéfica quando de sua utilização. posterior à lise celular.
A tentativa de correlacionar a liberação de É importante considerar ainda alguns fatores
íons hidroxila do hidróxido de cálcio, medicação frente ao emprego do hidróxido de cálcio como /
dotada de elevado pH, com sua influência frente medicação intracanal, principalmente no que
à atividade enzimática dos microrganismos favo- respeita aos veículos e associações de substâncias
receu a explicação do mecanismo de ação desta ao hidróxido de cálcio e ao tempo de permanên-
substância . Com o as funções essenciais (metabo- cia no canal radicular.
lismo, crescimento e divisão celular) requerem a O acréscimo de diferentes substâncias à pas-
participação da membrana citoplasmática, sede ta de hidróxido de cálcio teve por objetivo me-
de importantes sistemas enzimáticos, as altera- lhorar algumas de suas propriedades, como a
ções das atividades naturais dos microrganismos ação antimicrobiana, a velocidade de dissociação
podem ser diretamente influenciadas pela libera- iônica e algumas propriedades físico-químicas, o
ção de íons hidroxila, capaz de alterar a integri- que poderia favorecer as condições clínicas para
dade da membrana citoplasmática por meio de seu emprego. Todavia, tem sido muito discutido
agressões químicas aos compon entes orgâ nicos e qual a melhor opção no momento da seleção do
interferir no transporte de nutrientes; ou por veículo.
meio da destruição de fosfolipídios ou ácidos gra - A partir das propriedades biológicas do hi-
xos insaturados, conduzindo a reação de saponi- dróxido de cálcio, o seu emprego na prática clíni-
ficação86 . ca tem como referência sua eficácia antimicrobia -
Outrossim, é oportuno enfatizar que inde- na associada à capacidade de favorecer o processo
p endente às características morto-tinto-respirató- de reparação tecidual.
rias dos microrganismos, a estrutura da membra- A preocupação em estudar a eficácia antimi-
na citoplasmática é comparável no mundo mi- crobiana de pastas de hidróxido de cálcio com
crobiano, ao contrário do que acontece na pare- ação por contato direto sobre os microrganismos,
de celular, que apresenta características químicas justifica-se como suporte a vários questionamen-
e estruturais distintas, segundo a reatividade à tos ainda existentes no contexto da medicação
coloração de Gram. A parede celu lar da bactéria intracanal. As várias opções de veículos utiliza-
Gram-positiva, além do peptídioglicano, apresen- dos com vistas a aumentar o efeito antimicrobia-
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

no do hidróxido de cálcio devem ser investiga- sente n o interior de canais radiculares de dentes
das, em primeira instância, quanto ao comporta- com polpa necrosada. O hidróxido de cálcio
mento direto, para posteriormente, dentre os mostrou-se extremamente efetivo como curativo
melhores, selecioná-los para análise indireta, ve - de demora, mas não eliminou totalmente E. fae -
rificando a difusibilidade da medicação e a sua calis e, in vitro, foi inibitório para todos os micror-
efetividade antimicrobiana no interior dos túbu- ganismos testad os, in cl uindo-se estes cocos
los e ramificações den tinárias, e a influ ência so- Gram-positivos. A presença de concentrações
bre os fatores de virulência dos microrganismos. subinibitórias desse fármaco reduziu significati-
Bystrom et al.36 avaliaram através de m éto- vamente a produção e/ou atividade de DNases,
dos bacteriólogicos o efeito do p aramonoclorofe- proteases e hemolisinas da microbiota e aumen -
nol canforado, fenol canforado e do hidróxido de tou a suscetibilidade dos isolados ao m etronida-
cálcio no tratamento de canais infectados. Ses- zol, eritromicina e penicilinas G e V, reduzindo a
senta e cinco dentes humanos unirradiculares produção e/ou ativida de de ~-lactamanes. A hi-
portadores de necrose pulpar e evidência radio- drofobicidade celula r, capacidade de hemoagluti-
gráfica de lesão periapical foram seleciona dos. n acão, produção de coagulase e cápsula, além da
Em 20 canais radiculares, a substância química sensibilidade antimicrobiana ao soro não foram
empregada durante preparo do canal foi o hipo- afetadas pela presença de hidróxido de cálcio em
clorito de sódio a 0,5 % e em 15 canais, solução concentrações subinibitórias .
de hipoclorito de sódio a 5 % . Os canais foram Holland et al. 137 estudaram o processo de re-
secos com cones de pap el absorvente e preenchi- paração em 60 raízes de dentes com lesão peria-
dos com pasta de hidróxido de cálcio (Calasept). pical frente ao emprego do hidróxido de cálcio
Os demais 30 dentes foram irrigados com solu- associado à solução fisiológica, ao paramon oclo-
ção de hipoclorito de sódio a 0,5% e desses, 15 rofenol canforado, do paramonoclorofenol asso-
dentes rece beram medicação intracanal de p ara- ciado ao furacin e do paramonoclorofenol canfo -
/f monoclorofenol canforado, e os outros 15, de fe- rado. Os canais radiculares ficaram expostos ao
nol canforado, sendo a seguir, a cavidade de meio bucal por 6 meses para que houvesse con -
acesso selada. Amostras bacterianas foram toma- taminação e in stalação de lesão periapical. Poste-
das após o preparo do canal radicular através de rior ao preparo do canal radicular, os dentes fo -
con es de p apel absorvente e t ra nsferidos para ram mantidos por 3 dias com as medicações in-
um tubo contendo o meio peptone yeast glucose tracanais descritas, sendo que, em um grupo o
(PYG). Os canais radiculares foram irrigados com tratamento endodôntico foi realizado em sessão
solução fisiológica e procedeu-se a coleta das única. Decorridos 6 meses, os animais foram sa-
amostras. Após a secagem, as cavidades de acesso crificados e os espécimes preparados para análise
foram seladas com cimento de óxido de zinco histopatológica. Dentre os parâmetros de análise,
com espessura superior a 3 mm. Em 5 dentes considerou-se três condições bem definidas: a)
medicados com o hidróxido de cálcio, os can ais Au sência de reparação - os espécimes se apre-
foram tratados com solução de EDTA por 10 mi- sentaram com tecido de granulação ocupando o
nutos antes do selamento. Posterior a 2 e 4 dias, espaço do ligamento periodontal apical, e espes-
nova coleta foi realizada como descrito anterior- sura média de 2,2 m m; característica da presença
mente. Todas as amostras foram cultivadas sob de infiltrado linfo-histioplasmocitário, numero-
condições de anaerobiose e o número de bacté- sos capilares e proliferação de fibroblastos; mi-
rias determinado. Os resultados mostraram que croabscessos, principalmente próximos aos fora-
nos casos em que o hidróxido de cálcio foi a mes dos canais em delta apical; áreas de reabsor-
medicação empregada, bactérias foram en contra - ção ativa e inativa no cemento apical; detritos
das em 1 dos 3 5 canais; n os dois outros medica- orgânicos na porção apical, com infiltrado neu-
mentos, bactérias foram observadas em 1O dos trofílico; b) Reparação parcial - processo inflama -
30 canais tratados. As bactérias isoladas foram tório crônico e ligamento periodontal apical de-
f . predominantemente Gram -positivas e anaeróbias. sorganizado, com espessura média de 600 µm ; a
Não houve indicação da presença de bactérias intensidade do processo inflama tório na maioria
) específicas, resistentes ao tratamento. das vezes era moderado; cemcnto ncoformado
Jardim-Jr 192 estudou a suscetibilidade ao hi- reparava áreas previamente reabsorvidas ou ape-
dróxido de cálcio da microbiota anfibiôntica pre- nas recobria o cemento preexistente; eventual-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

mente se observou p equenas áreas de reabsorção de cálcio associada ao PMCC a reparação completa
ativa próximas aos Iorames dos deltas apicais - foi de 20%, 70% de reparação parcial e 20% de
usualmente uma pequena invaginação de tecido ausência de reparação. Quando o tratamento foi
conjuntivo; deposição de cemento neoformado realizado em sessão única houve 40% de ausência
próximo às paredes de alguns canais do delta api- de reparação, 40% de reparação parcial e apenas
cal; c) Reparação Completa - ligamento p eriodon- 20% de reparação total. O Gráfico 12.19 descre-
tal com espessura m édia de 200 µm; ligamento ve os resultados encontrados em todos os grupos
periodontal organizado, com fibras inseridas no experimentais. As Figuras 12.39 a 12.42 mos-
cernento neoformado e osso; ausência de células tram os resultados histopatológicos do processo de
inflamatórias; cemento neoformado reparando to- reparo frente ao emprego da pasta de hidróxido
das as áreas de cemento preexistente; os canais de cálcio associada ao soro fisiológico e associada
em delta apical quando n ã o estavam obliterados ao PMCC.
por cemento neoformado, se observou invagina- Em outro estudo, Holland et al. 151 avaliaram a
ção de tecido conjuntivo, com deposição de neo- reparação dos tecidos periapicais com diferentes
cemento nas paredes dos canais; o tecido conj un- formulações de hidróxido de cálcio (Calen, Calen
tivo invaginado alcançava profundidades va riáveis com PMCC e Ca(OH) 2 com anestésico), em estudo
e terminava frente ao selamento biológico por em dentes de cães. Posterior a períodos de 6 me-
deposição de cemento ou mostrava uma cápsula ses para formação da lesão periapical e de 6 meses 1

fibrosa. Os resultados obtidos indicaram melhores para avaliação histopatológica após o tratamento,
resultados para a pasta de hidróxido de cálcio as- pode-se concluir que o acréscimo de PMCC ao
sociada à solução fisiológica com reparação com- Calen não determinou melhora nos resultados do ,
pleta em torno de 60 % e reparação parcial de tratamento, e que a média de reparo completo
40%, enquanto que para a pasta de hidróxido entre os três grupos foi de 50%.

• GRÁFIÇQ J2,19
Efeito de medicações intracanal no processo de reparo de dentes com lesões
periapicais (Holland et a/ 137, 1999).
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

• Jm.12.39 • nG.1:VW
Ca(OHJ 2 + Soro Fisiológico - Ligamento Co (OHJ 2 + Sor o Fisiológico - Ligamento
peliodontol organizado, ausência de células inflamatórios, periodontol organizado, ausência de células inflamatórios,
reparação completo com cemento neoformodo - H.E. reparação completo com cemento neoformodo - H.E.
40X (Hol/and et ol. 137, 7999). 40X (Holland et oi. 137, 1999).
;
• ;1

• 1

. ..FIG.12.41 _____,,, __ . ------------·-··-·-.. -··· -·--


Co(OHJ 2 + Soro Fisiológico - Reparação parcial, Co(OHJ 2 + PMCC - Ligamento periodontol com
presença de células inflamatórias - H.E. 40X (Hol/and et ausência de organização, presença de células inflamatóri-
{ al. 137, 1999). os do tipo crônico - H.E. 40X (Hollond et of.13~ 1999).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

A ação antimicrobiana do hidróxido de cál- nificativamente no tempo requerido para a inati -


cio -decorrente de seu pH elevado, determinada vação microbiana, podendo assumir papel coadju -
pela liberação de íons hidroxila, requer tempo vante na dissociação iônica, como os veículos com
ideal para a efetiva ação dos microrganismos, características hidrossolúveis. Os Gráficos 12.20 a
quer por contato direto ou indireto (à distância) 12.26 demonstram os resultados obtidos.
no interior dos túbulos dentinários. Haenni et aL. 121 analisaram as propriedades
Estrela et al. 64 investigaram o controle de mi- químicas e antimicrobianas do hidróxido de cál-
crorganismos, por contato direto, de pastas de hi- cio misturado com soluções irrigantes (clorexidi-
dróxido de cálcio acrescidas a diferentes veículos na, hipoclorito de sódio, iodo iodeto de potássio
(solução fisiológica, PMCC, clorexidina, detergen- e solução fisiológica). A adição das soluções irri-
te e Otosporin), sobre os m icrorganismos: S. mu- gadoras te stadas não promoveu aumento no
tans, E. faecalis, S. aureus, P. aeruginosa, B. subtillis, C. efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio,
a!bicans e a mistura destes, em períodos de 1 mi- quando comparada à pasta com solução fis iológi-
nuto, 48 horas, 72 horas e 7 dias. Os resultados ca. Esses resultados estão de acordo com os obti-
mostraram que os veículos não influenciaram sig- dos por Estrela et a!. 64·•

/
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO

• GRÁFICO U.22

1
;(

• GRÁFICO U.24

t
CIÊN C IA ENDODÔNTICA

• GRÍtFICO 12.26 __ _

A partir da ten tativa de explicação do meca- tinários), para que possa expressar seu real efeito
nismo antimicrobiano do h idróxido de cálcio, se controlador sobre os microrganismos 85•86 .
observa, como alvo vulnerável às alterações de Hasselgren et al. 126 utilizaram 70 peças de te-

pH, as enzimas presentes na m embrana citoplas- cido muscular de suínos, com o intuito de avaliar
mática, que podem ser levadas à inativação, re- os efeitos separados e combinados do hidróxido
versível ou irreversível, independente do efeito de cálcio e da solução de hipoclorito de sódio a
do oxigênio sobre seu metabolismo (anaeróbios, 0,5% na dissolução de tecido necrótico. As peças
microaerófilos, aeróbios), da reatividade à colo- foram usadas em grupos de 1O cada, de modo
ração de Gram (Gram-positivos e Gram-negati- que, no grupo 1, as peças eram armazenadas em
vos), ou da forma (cocos, bacilos, etc. ). É claro 20 ml de pasta de hidróxido de cálcio e água; nos
que o efeito antimicrobiano depende da veloci- grupos 2 e 3, armazenados em solução de hipo -
dade de liberação de íons hidroxila, do tempo de dorito de sódio a 0,5%, sendo que, no grupo 2, a
contato de ação direto ou indireto (difusi bilidade mesma solução foi mantida e, no 3, a solução era
destes íons hidroxila no interior dos túbulos den- renovada a cada 30 minutos até a completa dis-
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO

solução da peça; nos grupos 4, 5 e 6, as peças Entre as características químicas, os veículos


foram colocadas em 20 ml de pasta com hidrqx ido apresentam-se como hidrossolúveis (aquosos -
de cálcio e água e, após 30 minutos no grupo 4, soro fisiológico, água destilada) e viscosos (polie-
24 horas no grupo 5, e 7 dias no grupo 6, eram tilenoglicol, propilenoglicol, metil celulose) e não
transferidas para uma solução de hipoclorito de hidrossolúveis (oleosos - paramonoclorofenol
sódio a 0,5%; no grupo 7, foram armazenadas em canforado, óleo de oliva, lipiodol).
20 ml de solução isotônica. Todas as peças foram Um dos fatores polêmicos na escolha do veí-
secas em papel filtro e pesadas após 30, 60 e 90 culo, que tem deixado dúvidas quanto à ação
minutos, 10 e 24 horas. Completando esse tempo, antimicrobiana do hidróxido de cálcio, talvez
o experimento prosseguiu por mais 12 dias até seja a associação com veículos hidrossolúveis
que todo o tecido fosse dissolvido. Os resultados (água destilada ou soro fisiológico ), quando
mostraram que a ação dissolvente de tecido do comparado ao paramonoclorofenol canforado
hidróxido de cálcio é semelhante à do hipoclorito (veículo oleoso).
de sódio, porém, menos intensa e que a presença Deve-se ressaltar que é importante avaliar
prolongada do hidróxido de cálcio no canal radi- medicações intracanais por metodologias dife-
cular, onde desempenha um efeito terapêutico rentes, que permitam estabelecer parâmetros si-
contínuo, pode amplamente compensar esse fato. milares para a atuação destas substâncias antimi-
Observaram também que o efeito dissolvente do crobianas. O modelo experimental empregando
hipoclorito de sódio a 0,5% foi aumentado pelo o teste de exposição direta permite urna análise
pré-tratamento com o hidróxido de cálcio. mais precisa do que a compa ração por medidas
Kontakiotis et al. 200 estudaram in vitro a ação de halos de inibição de crescimento microbiano,
indireta do hidróxido de cálcio sobre a microbio- em testes de difusão em ágar, devido às dificul-
ta anaeróbia (bactérias anaeróbias obrigatórias e dades de difusão que dete rminadas substâncias
facultativas ) isolada de canais radiculares infecta- demonstraram ter no ágar, não favorecendo de-
, 'i dos. Uma placa com as bactérias e outra com monstrar seu real efeito antimicrobiano . O que
I
hidróxido de cálcio foram incubadas em meio precisa ser realçado é que quanto maior a veloci-
anae róbio por 72 horas, constituindo o grupo dade de dissociação e difusão de íons hidroxila,
experimental. Uma placa contendo algumas es- maior o efeito antimicrobiano . Portanto, a esco-
pécies bacterianas incubadas da mesma maneira lha do modelo experimental também é funda-
formou o grupo controle. Após 72 horas os nú - mental em relação a essa variável, uma vez que
I meros de bactérias recuperadas fo ram contados ele pode influenciar na dinâmica da dissociação e
em ambos os grupos. O número de bactérias re - difusão d e íons hidroxila7 6 .
cuperadas no grupo controle foi significantemen - A pasta de hidróxido de cálcio associada à

1
te maior, todavia, nenhuma resistência específica solução fisiológica ou água destilada tem mostra-
ao hidróxido de cálcio foi detectada. Os resulta- do certa resistência frente aos microrganismos ae-
dos su gerem que a capacidade do hidróxido de róbios facultativos (principalmente o E. faecalis).
cálcio em absorver dióxido de carbono pode con- Todavia, necessita-se avaliar bem o tempo para
tribuir para seu efeito antimicrobiano. que esta medicação possa demonstrar sua efetivi-
Gomes et al.107 investigaram in vitro a susceti- dade, além do método pelo qual tem sido compa-
bilidade de alguns microrganismos comumente rado a outras pastas. Por exemplo, em testes de
isolados de canais radiculares ao hidróxido de difusão em ágar, as respostas não são favoráveis
cálcio, em combinação com vários veículos, por quando se utiliza hidróxido de cálcio acrescido a
teste de difusão em ágar. Rela ta ram que as bacté- veículo hidrossolúvel (como a solução fisiológica
rias Grarn-negativas foram mais susceptíveis às ou a água destilada), dado à dificuldade e limita -
pastas de hidróxido de cálcio que os microrganis- ção de sua difusão n a superfície do meio 66 .
mos facultativos Gram-positivos. Considerando a propriedade antimicrobiana
Os veículos que são associados nas pastas de do hidróxido de cálcio, Estrela & Bammann61
I hidróxido de cálcio deveriam ser indicados com discutiram os efeitos enzimáticos do hidróxido
o propósito de acelerar a velocida de d e dissocia- de cálcio, e concluíram que: 1- É necessário ava -
ção iônica, a ponto de favorecer sua penetrabili- liar melhor os m étodos experimentais para que
dade e/ou interagir, potencializando seu reco- seja estudado o efeito antimicrobiano de subs-
nhecido poder antimicrobiano. tâncias com diferentes capacidades de dissociação
C IÊNCIA ENDODÓNTICA

e difusão; 2- O veículo acrescido às pastas de microrganismos e a mistura destes ocorreu após


hidróxido de cálcio assume um papel coadjuvan- 48 horas. Uma análise detalhada nos períodos
te, decorrente de suas características químicas, entre 1 e 72 horas está demonstrada nos Gráfi-
como a capacidade e velocidade de dissociação, cos 12 .27 a 12.32. As zonas de inibição obtidas
difusão e preenchimento; 3- Baseado nestas pro- pelo teste de difusão em ágar, submetidas a
priedades químicas, a melhor opção como veícu- ANOVA e teste de Tukey (a=0, 0 5), para todas as
lo a ser acrescido ao hidróxido de cálcio, é aquele medicaçõe s intracanais in duziram zonas de inibi -
com características hidrossolúveis, como a solu- ção cm torno de 5, 0 a 10,0mm. A atividade anti-
ção fisiológica ou a água destilada; 4- O hidróxi- microbiana da pasta de hidróxido de cálcio e so-
do de cálcio apresenta duas expressivas proprie- lução fisiológica mostrou resultados estatisticamen-
dades, decorrentes do elevado pH, que são a ini- te significantes (9,1 ± 0,3; 8, 1 ± 0,3; 10,0 ± 0,0)
bição de enzimas microbianas, levando ao efeito para E. faecalis, B. subtillis and C. albicans, respec-
antimicrobiano, e a de ativação de enzimas teci- tivamente, quando comparada à pasta com po-
duais, gerando o efeito mineralizador. lietilenoglicol e PM CC; e em relação à pasta com
Estrela et al. 66 avaliaram através de teste de polietilenoglicol para o S . aureus. Para a mistura
difusão em ágar e em teste por exp osição direta todas as pastas mostraram a mesma efetividade
os efeitos antimicrobianos de pastas de hidróxido (5,0 ± 0,0) (Figuras 12.43 a 12.47). As amostras
de cálcio (Ca (OH)2 + solução fisiológica, Ca(OH)2 removidas das placas com zonas de difusão e in -
+ polietilenoglicol e Ca(OH) 2 + PMCC) sobre S. cubadas a 3 7ºC por 48 horas em BHI mostraram
aureus, E. fa ecalis, P aeruginosa, B. suhtillis, C. afbi- resultados positivos (presen ça de crescimento) e
cans e a mistura destes. A atividade antimicrobia- as zonas de inibição resultados negativos (ausên-
cia de crescimento). O Gráfico 12.33 mostra os I
na pelo teste de exposição direta das pastas de
hidróx ido de cálcio (a ssociadas com solução diâmetros das zonas de inibição das pastas estu -
fisiológica, polietilenoglicol e PMC C) para todos os dadas.

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HI DRÓXIDO OE CÁLCIO


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• GRÁFICO 12.30

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CIÊNCIA ENDODÔNTICA

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HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
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• . fiC:iS. _12,43 e 12.44 __


Presença de colônias microbianas, relativas ao tempo de contato do microrganismo com o hidróxido de cálcio.

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1

• fiG. 12.4§_. • ..J :1,§. 1~'.46 ... ........


Presença de colônias microbianas, relativas ao Ausência de colônias microbianas, relativas ao
tempo de contato do microrganismo com o hidróxido tempo de contato do microrganismo com o hidróxido
de cálcio. de cálcio.
• 1

Ca(OH)i
E. faecalis

- fl~ ..._g.4z________
Teste por difusão em
ágar da pasta de hidróxido de
f cálcio sobre o E. faecolis.
CIÊNCIA EN OODÔNTICA

Frente aos resultados obtidos n este experi- No experimento anteriormente descrito 66,
mento, deve-se discutir a importância e a influên- os resultados mostraram que as medicações es-
cia da metodologia nos diferentes resultados. tudadas (Ca(OH) 2 + solução fisiológica; Ca(OH) 2
Nos ensaios, parâmetros similares para a atua- + poliecilenoglicol e Ca(OH) 2 + PMCC) foram
ção dessas substâncias antimicrobianas devem efetivas sobre os m icrorganismos testados. Po-
ser requeridos. Os testes de difusão em ágar, rém, no somatório das propriedades desejáveis
utilizando-se como referência parâmetros de de uma medicação, freme a parâmetros de ati-
medida dos ha los de inibição de crescimento vidade antimicrobiana, de comportamento bio -
microbiano, muitas vezes não oferecem condi - compatível e características químicas, não se ques-
ções de igualdade quando se comparam deter- tiona que o melhor veículo para se associar ao
minadas substâncias com solubilidade e difusi- hidróxido de cálcio deve ser hidrossolúvel aquoso
bilidade diferentes, além da execução correta da como a água destilada ou a solução fisiológica .
técnica microbiológica. Fatores como concen- Essa análise está de acordo a resultados obtidos
tração do ágar, temperatura, pH, ausência de em experimentos histológicos por Holland et
pré- incubação, ressecação do meio de cultura, a/. 137,1 51 .

manutenção em períodos que excedam os per- Georgopoulou et al. 105 estudaram compara-
mitidos para a correta análise favorecem a ob- tivamente, in vitro, a efetividade do hidróxido
tenção de resultados discutíveis. O teste de difu - de cálcio e do paramonoclorofenol (PMCC) so- 1

são em ágar não distingue propriedades bacterios- bre bactérias anaeróbias. Foram isolados e iden-
táticas e bactericida s dos materiais dentários; tificados Llm total de 30 microrganismos de ca-
não oferece informação sobre a viabilidade des- nais infectados de dentes humanos. Das 30 es - 1
te microrganismo; requer cuidado na padroni- pécies isoladas, 12 eram cocos e 18 bastonetes.
zação da densidade do inóculo; viscosidade do A resistência ao PMCC dos anaeróbios em 5
ágar; tamanho e número de espécimes por pla- minutos foi de 93,3 %, aos 15 minutos 60%, aos ;
ca79·324. Deve-se enfatizar as dificuldades na dis - 30 minutos 3,3%, enquanto que aos 60 minu-
sociação e difusão que determinadas substâncias tos, nenhum microrganismo foi identificado. De
demonstraram ter no ágar, não favorecendo ex- outra parte, a resistência ao hidróxido de cálcio /
pressar seu real efeito antimicrobiano. O méto- foi de 30% aos 5 minutos, 6,6% aos 15 minu-
do de avaliação através de testes de difusão em tos, ao passo que aos 30 e 60 minutos nenhum
ágar tem sua validade e é bastante empregado microrganismo foi identificado. Os resultados ·i
em microbiologia, porém, parece não estabelecer mostraram diferenças expressivas entre os dois
1:)'ciÚTl\'ê\iD:i 1)i'êC:\:iD:i Q1.YàTl\1D :,~ Tl~Cfi<:,\\a C:DID1)cl- m.eo\c:am.en'\.D:. nD \em.pD à.e':> m.1nu.\Ds, enq_u.an-
rar substâncias com diferentes características quí- to que aos 30 e 60 minutos não ho~ve diferen-
micas, como a capacidade de dissociação e difu- ças significativas. Analisando os resultados fren-
são no meio cm questão. O método é muito uti- te aos cocos, a resistência ao PMCC aos 5 minu-
lizado em microbiologia, e padrão para o antibio- tos foi de 91,6%, aos 15 minutos 50%, aos 30
grama. O problema é que é menos preciso para minutos 8,35% e zero aos 60 minutos. Quanto
este tipo de análise comparativa, não represen - ao hidróxido de cálcio, aos 5 minutos foi de
tando o método mais apropriado para se compa- 41,6% e nos intervalos seguintes nenhuma re -
rar medicações associadas a veículos hidrossolú- sistência foi observada. Aos 5 e 15 minu tos, o
veis aos que contém composto fenólico. hidróxido de cálcio estatisticamente mostrou-se
Em adição a este fato, resultados dos 'dife- mais efetivo contra os cocos do que o PMCC, e
rentes experimentos devem ser muito bem exa- aos 30 e 60 minutos não houve diferença signi -
minados e interpretados para não ser equivoca- ficativa. Fre nte à ação contra os bastonetes, o
damente e integralmente extrapolados para a PMC C m ostrou resultados de 94,4% aos 5 mi-
aplicação clínica. Jamais se pode esquecer que nutos, 58,8% aos 15 minutos, 11,7% aos 30
os microrganismos apresentam grande habilida- minutos e aos 60 minutos nenhum crescimen-
de para adquirir resistência. A metodologia em- to. O hidróxido de cálcio mostrou um índice de
pregada pode influenciar os resultados, e por 76,4% aos 5 minutos, 11,7% aos 15 minutos e
este motivo, o mod elo experirn.ental deve ser nenhuma resistência nos demais tempos. Ape-
muito bem selecionado, a ponto de não privile- nas no intervalo de 15 minutos houve diferença
giar nenhuma associação . estatística significante. Na ação contra as bacté-
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO

rias Gram-positivas, o PMCC apresentou nos crobiana da pasta de hidróxido de cálcio, as pes-
tempos estudados os valores de 92,8%, 57,1 %, quisas indicariam e esclareceriam a melhor es-
21,4% respectivamente, com nenhuma bactéria colha. Todavia, os resultados das pesquisas ex-
sobrevivendo aos 60 minutos. Os valores obti- p erimentais e clínicas têm sinalizado que o veí-
dos com o h idróxido de cálcio nos dois primei- culo assume papel coadjuvante neste processo,
ros tempos foram de 64,3% e 7, 1 %, sendo que conferindo-lhe características químicas (disso-
em 15 minutos esta medicação foi significante - ciação, difusibilidade e capacidade de preenchi-
mente mais efetiva. Não se observou n enhuma mento) decisivas ao potencial antimicrobiano e
difere n ça n os demais tempos . Em relação às capacidade de reparação ·t~cidu al.
bactérias Gram-negativas, a resistên cia ocorreu Assim, o raciocínio sin aliza a necessidade,
apenas nos tempos de 5 e 15 minutos para o num primeiro momento ao se discutir medica-
PMCC, com índices de 93,75% e 43,7%, sendo ção intracanal, de se conhecer a microbiota do
que para o hidróxido de cálcio apenas no tempo canal radicular infectado e o mecanismo de
de 5 minutos tal fato foi encontrado com valo- ação do que se pretende utilizar corno medica-
res de 62,59%. Apenas nos dois primeiros inter- ção. No entanto, para que o efeito sej a letal
valos houve diferenças estatisticamente signifi- torna-se necessário que a medicação tenha tem -
cantes. Os resultados sugerem uma maior efeti- po hábil de ação para expressar sua efetividade
vidade do hidróxido de cálcio contra a microbi- antimicrobiana, seja capaz de atuar à distância e
ota anaeróbia do cana l radicu lar do que o de neutralizar os resíduos dos agentes agresso-
PMCC . res (fatores de virulência).
Aliás, diferentes estudos têm mostrado a ci- Considerando a invasão dos microrganis-
totoxicidade do PMCC44· 298, e se sabe que um mos no interior dos túbulos dentinários, torna-
dos quesitos na escolha de uma medicação para se necessário à medicação intracanal atu ar nes-
uso intracanal deveria recair na característica de tes locais, para tanto, deve-se considerar sua
; biocompatibilidade. ação por contato direto e indireto (à distância).
l Entre as características químicas dos veícu - É preciso para que o hidróxido de cálcio possa
los, a hidrossolubilidade favorece o aumento da expressar su a to tal detividade, a dissociação e
velocidade de dissociação e difusão iônica n o difusão dos íons hidroxila, necessitando assim,
interior dos túbulos dentinários, podendo in- do correto preen chimento do can al radicular e
flue nciar na ação antimicrobiana. O hidróxido qu e se aguarde o tempo necessário para sua
de cálcio P.A. j á apresenta esta propriedade, atuação . E para tanto, este deve estar preparado
com possibilidad e em uma associação com de- e ampliado para receber a medicação .
terminado veículo, pode n ão manifestar efeito Um problema que deve ser bem analisado
sin é rgico e, talvez, antagônico. A cânfor a quan- relaciona-se aos casos em que n ão se consegu e
do presente no PMC confere a este veículo uma ampliar bem o canal para a colocação da medi -
cara cterística oleosa, o que pode dificultar a dis- cação intracanaL quer em situações de rotina,
sociação iônica quando acrescido ao hidróxido quer n as urgê n cias em endodontia. No entanto,
de cálcio. Acresça -se ao exposto que o PMCC ao con siderar que a m edicação intracanal é r es-
apresenta-se com pH 5, 0 e quando a ssociado ao ponsável por potencializar o processo de sa nifi-
hidróxido de cálcio mostra-se com pH 7,8, com cação in icialmente conquistada pelo preparo do
evidente redução d o pH da pasta de hidróxido can al radicular, entende-se que o mesmo deve -
de cálcio. ria estar esvaziado, sanificado e p reparado. É
As caract erísticas biológicas do hidróxido de importante salientar que as urgências devem
cálcio, representadas pelo exemplar poder anti- ser entendidas como situações especiais, e qu e
microbiano e de re paração teciduaL o elege nem sempre a s condutas locais serão realizadas
como melhor opção te rapêutica como medica- a contento, ficando a terapêutica local, vincula-
ção intracanal. O acréscimo de veículos e subs - da, inicialm ente, às m edidas sist êmicas.
tâncias, com obj etivos de aumentar as reconhe - Para que o efeito seja letal torna-se n eces-
cidas propriedad es biológicas (antimicrobianas e sário que a m edicação tenha um tempo capaz
mineralizadoras), parece não demonstrar real de agir para que possa expressa r sua efetividade
significado 64 . Se realmente o veículo influen- antimicrobiana, e, também, seja capa z de atuar
ciasse de modo expressivo n a atividade antimi- à distância.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

·--;
0rstavik et al. 244 avaliaram o efeito da ins- dias. Os resultados demo n straram que a com-
trumentação excessiva combinada com a medi- pleta eliminação dos microrganismos sob co ndi-
cação intracanal com hidróxido de cálcio. Os ções experimentais in vitro e sem a influência da
autores valeram-se de 23 dentes humanos com substância química irrigadora ocorreu no perío -
lesão periapical, sendo que após o prep aro con - do de 60 dias (Gráfico 12.34).
vencional e in strumentação excessiva, foram Sydney 3 2º identificou a presença de bacté -
medicados com hidróxido de cálcio por 7 dias. rias anaeróbias em canais radiculares de dentes
Amostras para exame bacteriológico foram cole- portadores de polpa necrótica e lesão periapical,
tadas na primeira sessão antes do preparo, e na após seu preparo e o emprego ou não de medi-
segunda após a remoção do hidróxido de cálcio, cação intracanal com pasta de hidróxido de cál-
e nova instrumentação. Os resultados evidencia- cio associada à solução fisiológica. Vinte dentes
ram amostras positivas em 14 dos 23 de ntes na humanos anteriores superiores foram utilizados
primeira, e 8 dos 23 dentes com crescimento e divididos em dois grupos. Nos dentes do gru-
detectável (infecção residual), no final da se- po 1 os microrganismos foram identificados
gunda, e que somente em 1 caso, as bactérias após coleta, transporte e processamento micro-
puderam ser quantificadas. Acrescentam ainda biológico, em que os canais foram instrumenta-
que o hidróxido de cálcio, usado como medica- dos e selados sem nenhum medicamento por
ção intracanal por uma semana após excessiva período de uma a seis semanas, quando novas
instrume ntação, reduz significativamente o coletas microbianas foram realizadas. Nos den-
crescimento bacteriano do canal radicular. tes do grupo 2, após identificação dos microrga-
Sjogren et al. 294 observaram que no período nismos, os canais foram instrumentados e rece-
de 7 dias o emprego de medicação com pasta de beram como medicação intracanal pasta de hi-
hidróxido de cálcio eliminou microrganismos dróxido de cálcio associado à solução fisiológica,
que sobreviveram por 10 minutos . Bystrbm et permanecendo por período de uma a seis sema-
a/. 37 · 39 e Sydney & Estrela 321 verificaram que o nas. Ao término de cada período, novas coletas
recurso exclusivo do preparo químico-mecâni- microbianas foram realizadas. Os resultados
co, mesmo empregando-se o hipoclorito de só- mostraram a importância do emprego da medi-
/
dio como substância irrigadora, n ão promove cação intracanal, tendo o hidróxido de cálcio
eliminação completa dos microrganismos pre - promovido urna redução de 77,8% de micror-
sentes em canais radi culares infectados de den- ganismos após sua permanência por urna sema-
tes humanos, o que impõe para um melhor se- na, e posterior a seis semanas, em apenas 1
larnento biológico do canal radicular o emprego caso, a bactéria identificada foi o E. faecalis.
de medicação intracanal à base d e hidróxido de Silveira 288 , analisando a ação do curativo de
cálcio 138 · 152 · 153 • Estrela et al.81 destacaram que o demora à base de hidróxido de cálcio em dentes
fator determinante da atividade antimicrobiana de cães com lesão periapical, relatou que os me-
da pasta de hidróxido de cálcio, no interior dos lhores resultados das culturas microbianas, após
túbulos e ramificações dentinárias, é a quanti- análises histopatológica e histomicrobiológica,
dade liberada d e íons hidroxila, corno ocorre ocorreram no período de 30 dias.
com os veículos hidrossolúveis, e que, em 7 Outrossim, percebe -se que o tempo é fun-
dias, os microrganismos p ermaneceram viáveis damental para que a medicação intracanal pos-
em túbulo s dentin ários infectados (Gráfico sa exercer sua completa atividade, atuando à
12.8). Em outro estudo, Estrela et al. 1º avalia- distância no interior dos túbulos dentinários e
ram, em túbulos dentinários infectados, o tem- por período prolongado, não apenas com vistas
po para que a pasta de hidróxido de cálcio possa ao efeito antimicrobiano, mas também, direcio-
expressar sua real efetividade sobre S . aureus, E. nado a estimular o processo de reparação teci-
faecalis, P. aeruginosa, B. subtillis, C. albicans e a dual, de atuação frente às reabsorções radicula-
mistura destes, em períodos de 1 minuto a 90 res, etc.
HI DRÓXIDO DE CÁLCIO

;
' ,1

' 1

. .. G.~flÇO 12.35
(Souza et ai. 302
J.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Percebe-se ainda no estudo do hidróxido de tecido conjuntivo. Acrescentam os autores que o


cálcio, que alguns trabalhos têm associado outras acréscimo de aditivos ao hidróxido de cálcio pode
substâncias à pasta com diferentes finalidades. reduzir sua capacidade de estimular a deposição de
Souza et al.3°2 analisaram a reação do tecido tecido mineralizado (Gráfico 12.35).
conjuntivo do rato à implantação de algumas pas- Estrela et al. 68 estudaram o efeito do iodofór-
tas de hidróxido de cálcio (Ca( OH) 2 + água destila- mio no potencial antimicrobiano de medicamentos
da, Calxyl, Pulpdent, DFL Ca(OH) 2 , Formagem, intracanais (Ca (OH)2 + solução fisiológica; Ca(OH) 2
Dycal, MPC, Ca(OH)2 + iodofórmio, Ca (OH) 2 + + iodofórmio ( 1: 1) + solução fisiológica; iodofórmio
PMCC, Calvital, e Pasta A - 4g Ca(OH) 2 + 2g óxido + solução fisiológica). Os resultados mostraram efe-
de zinco + 5 ml de propilenoglicol). Decorridos os tividade antimicrobiana para as pastas contendo
períodos experimentais de 2, 7, 15, 30, 60 e 180 hidróxido de cálcio nos dois métodos experimen-
dias, os animais foram sacrificados e as peças exa- tais. A pasta de iodofórmio foi inefetiva para o teste
minadas. Os resultados obtidos mostraram que o de difusão em ágar sobre todos os microrganismos
hidróxido de cálcio e água destilada, Calxyl, Pulp- analisados, e para o teste por exposição direta,
den t, DFL, Ca(OH)2 + iodofórmio, Ca(OH) 2 + mostrou-se inefetiva sobre B. subtilis e a mistura,
PMCC, Calvital, e Pasta A estimularam a deposição em todos os tempos de exposição (24, 48 e 72
de uma barreira de tecido calcificado nas extremi- horas) (Gráficos 12.36 e 12.37; Figuras 12.48A,
dades dos tubos de dentina, isolando o material do B e 12.49A, B) .

• GRÁFICO 12.37
HID RÓXIDO OE CÁLCIO
'
.--··--- ··~-·----·--·-•- • •n·-........,.•--••-•• ....-,.•...,..._ .. ,,,._.,,.n...., ...,.,._..,....,._.,,,._._.,..,,,,.,.,._.,,,.._ ,...,,............ , '""'-"•.............,• •n·-··-----~·n•-·•--••-n•---·----·-"·~-····~•""

• f~ÇiS~ 12~4$A,~
Teste por difusão em ágar da pasta de hidróxido de cá/cio-iodofórmio sobre o E faecalis e 5. oureus, respectiva-
mente.

. ;1'
1

• 1
Teste por difusão em ágar da pasta de iodofórmio sobre a mistura de microrganismos e sobre S. aureus, respecti-
vamente.

O h idróxido de cálcio atua estimulando os são similares, quando do implante em subcutâ-


tecidos periapicais no processo de reparação. No n eo de ratos.
entanto, Lee et al. 205 e Torabinej ad et al. 325 publi- Wucherpfening & Green 34 6, por meio de um
caram os primeiros trabalhos com um novo m a- abstrac, relataram que o MTA apresentou caracte-
terial denominado de Mineral Trioxide Agregate rísticas idênticas, m acroscopicamente e microscopi-
(MTA), que mostrou excelente cap acidade sela - camente (difração de raios X) ao cim ento Portland.
dora. Embora o MTA tenha sido muito bem dis- Estrela et al.6 2 in vestigaram a ação antimicro-
cutido no Capítulo de cirurgia parendodôntica, biana e química do MTA, cimento Portlan d, pas-
neste m omento cabe ainda alguma análise, com - ta de hidróxido de cálcio, Sealapex e Dycal. Os
:t
Ji- parando-o ao hidróxido de cálcio. indicadores biológicos u tilizados foram : S. aureus,
r' Holland et al. 181 observaram resultados bioló- E. faeca lis, P. aeruginosa, B. subtilis, um fungo, C.
gicos semelhantrs entre o agregado de trióxido albicans, e u ma m istura destes foi empregada .
mineral (MTA) e o hidróxido de cálcio, verifican - Trin ta p lacas de Petri com 20 m L de BHI ágar
do que os mecanismos de ação destas substâncias foram inoculadas com O, 1 m L da suspensão ex-
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

perimental. Três cav idades, cada uma medindo Holland et al. 171 avaliaram a reação do teci-
4 mm de profundidade e 4 m m de diâme tro, foram do conjuntivo do rato ao implante de tubos de
feita s em cada placa u sando um cilindro de cobre dentina obturados com agregado de trióxido
e, em seguida, foram completamente preenchi- mineral (MIA), cimento Portland ou hidróxido
das com os produtos a serem testados. As placas de cálcio. Os animais foram sacrificados após 7
foram pré-incubadas por 1 hora em temperatura ou 30 dias e os espécimes, não descalcificados,
ambiente e, a seguir, incubadas a 37°C por 48 foram preparados para análise histológica com
horas. Os diâmetros das zonas de inibição micro- luz polarizada e técnica de Von Kossa para teci-
biana e de difusão foram medidos. Am ostras dos dos mineralizados. Os resulta dos foram simila-
halos de difusão e inibição foram extraídos de res para os 3 materiais estudados. Próximo à s
cada placa e imersos em 7 mL de caldo BHI e aberturas dos tubos foram observadas granula-
incubados a 37º C p or 48 h oras. A análise quími- ções Von Kossa positivas, birrefringentes à luz
ca dos elementos presentes no MIA e em duas polarizada. Junto dessas granulações foi obser-
amostras de cimen tos Portland foi feita com um vado um tecido irregular na forma de uma pon-
Espectrômetro de Florescência de Raios-X. Os re- te, também Von Kossa positivo. As paredes de
sultados mostraram qu e a a tiv idade antimicro- dentina dos tubos exibiram uma estrutura alta-
biana da pasta de h idróxido de cálcio foi superior mente birrefringente à luz polarizada, no inte-
a todas as outras substâncias (MTA, cimento Por- rior dos túbulos, formando uma camada em di-
tland, Sealapex e Dycal), sobre todos os microrga- ferentes profundidades. Diante do observado, é
nismos testados, apresentando zonas de inibição possível que os mecanismos de ação dos mate-
com 6-9,5 mm e zonas de difusão com 10- 18 mm. riais estudados sejam similares entre si. Nova-
O MIA, o Cimento Portland e o Sealape x apre- mente, em outro estudo, Holland et al. 167 verifi-
sentaram somente zonas de difusão e, dentre es- caram resultados semelhantes entre si, quando
tes, o Sealapex aprese nto u a maior zona. O empregados diretamente na proteção da polpa ,
Dycal n ão apresentou halos de inibição, nem de dentária, após a re alização da pulpotomia.
difusão. Os cimentos Portland contém os m es- Vários estudos realizados mostraram de for-
m os elem en tos quím icos que o MI A, com a ex- m a clara a similaridade entre o MTA e o cimento '
ceção qu e o MTA também ap resenta, na su a Portland62, 167 , 16 9, 1n 1n 1s 1, 346 , Embora os dois 1nate- /
con sti tuição, o b ism uto . Os Gráficos 12.38 a riais apresentem excelente capacidade de esti-
12 .4 2 exibe m e ste s r es ultado s. As Figura s mular a formação de tecido mineralizado, torna -
12 .50A-D exibem por meio de teste de difusão se oport uno esclarecer, a partir de resultados ex -
em ágar o efeito an timicrobiano do MTA e ci- perimentais, que a capacidade antimicrobiana do
m ento Portlan d sobre o E . faecalis e P aeruginosa . hidróxido de cálcio é superior à do MTA.
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

• GRÁFICO 12.40

• i

• GRÁFICO 12.41

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CIÊNCIA ENDOOÔNTICA

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• GRÁF_IÇ0_1_2.42 _

MTA CIMENTO
E. foecolis E. faecalis

• _FIGS. _12.SOA,B
Teste por difusão em ágar do MTA
e do cimento Portland sobre E. faecalis,
respectivamente .

• . Fl~~·-JJ..:_~OC\O
Teste por difusão em ágar do MTA
e do cimento Portland sobre P.
aeruginosa, respectivamente.
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
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Outra substância que tem sido empregada de por estas soluções em todos os períodos de obser-
modo isolado ou misturado ao hidróxido de cál- vação. A concentração inibitória mínima do di-
cio é a clorexidina, por apresentar propriedade glucona lo de clorexidina a 2 % foi igual a
antimicrobiana . Seu maior emprego está relacio- 0,000002% para S. aureus, 0,002% para P. aerugi-
nado à prevenção da placa dental, determinante nosa, 0,02 % para E. faecalis, B. subtilis, C. albicans
envolvido na etiopatogenia da cárie e doença pe- e para a mistura, e no teste por exposição direta,
riodontal1·11 5·2º7·263·264. O emprego, em Endodon- observou -se, em todos os períodos, efetividade
tia, da clorexidina tem sido mais enfatizado antimicrobiana sobre S. aureus, E. faecalis e C. al-
como substância irrigadora 88• 109 . Alguns trabalhos bicans, e inefetividade sobre P. aeruginosa, B. subti-
analisaram os efeitos antimicrobianos da clorexi- lis e a mistura. A solução de hidróxido de cálcio a
dina, isolados e associados ao hidróxido de cál- 1 % apresentou concentração inibitória mínima
cio43,64, 71,s2,s9,109, 121,1s9, 193,201.2so. igual a 1 % para P aeruginosa e, para os demais
Estrela 88 estudou a efetividade de diferentes microrganismos e a mistura. a concentração inibi-
soluções irrigadoras de canais radiculares (hipo - tória mínima foi maior que 1 % . A ação antimi-
clorito de sódio a 1 %, 2% e 5%, digluconato de crobiana por exposição direta foi evidenciada so-
clorexidina a 2 %, solução de hidróxido de cálcio bre S. aureus, E. faecalis e P aeruginosa no período
a 1% e solução de hidróxido de cálcio associada de 30 minutos, sen do que sobre B. subtilis, C. albi-
ao detergente - HCT 20) sobre: S. aureus, E. faeca- cans e a mistura, a solução de hidróxido de cálcio
lis, P aeruginosa, B. subtilis, C. albicans e a mistura a 1% foi inefetiva em todos os períodos. A solu-
destes microrganismos. Com o objetivo de deter- ção de hidróxido de cálcio associada ao detergente
m inar a concentração inibitória mínima (CIM) (HCT20) apresentou concentração inibitória míni-
das soluções estudadas, foi feita a diluição seria- ma igual a 4, 5 mL para S. aureus, P aeruginosa, B.
da na razão de 1 O. No teste de exposição direta, subtilis, C. albicans e a mistura, e concentração ini-
avaliou -se a ação antimicrobiana das soluções ir- bitória mínima maior que 4,5 mL para E. faecalis.
~ rigadoras nos intervalos de 5, 10, 15, 20 e 30 A efetividade antimicrobiana por exposição direta
minutos. Frente aos resultados obtidos, obser- foi verificada no período de 20 minutos para S.
vou -se qu e a concentração inibitória mínima do aureus e no período de 30 minutos para E. faecalis .
hipoclorito de sódio a 1%, 2% e 5% para S . Sobre os demais microrganismos (P aeruginosa, B.
aureus, E. faecalis, P aeruginosa e C. albicans foi subtilis, C. albicans e a mistura) apresentou inefeti-
igual a O, l %, para B. subtilis e a mistura foi igual vidade antimicrobiana, como expresso na Qua-
a 1% . Todos os microrganismos foram inativados dro 12.2 e nos Gráficos 12.43 a 12.48 .

• 1

• GRÁFICO 12.43
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

A clorexidina é um agente catiônico (grupo co característico. O íon potássio, sendo uma enti-
biguanida; 4-clorofenil radical ), o qual exibe ativi- dade pequena é a primeira substância a aparecer
dade antibacteriana. A natureza catiônica do com- quando a membrana citoplasmátíca é danificada.
posto promove conexão com o grupo aniônico na A alteração na permeabilidade da membrana cito-
superfície bacteriana (grupos fosfatos do ácido tei- plasmática promove precipitação de proteínas ci-
cóico nas bactérias Gram-positivas e lipopolissaca - toplasmáticas, por alterar o balanço osmótico da
rídio n as Gram-negativas), sendo capaz de alterar célula, interferir no metabolismo, crescimento, di-
sua integridade. Uma concentração apropriada de visão celular, inibir a membrana ATPase e inibir o
clorexidina causa infiltração em um grupo quími- processo anaeróbioss.1s9.193, 19 4,264 .

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H IDR ÓXIDO DE CÁLCIO

• 1

• GRÁFICO 12.48

{ .

t
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

Quadro 12.2
CONCENTRAÇÃO INI BITÓRIA MÍNIMA DE SOLUÇÕES IRRIGANTES

Microrganismos
I Irrigantes
S. aureus E. faecalis P. aeruginoso B. subti/is e olbicans Mistura

NaOCI 1% 0,1 OJo 0,1 O/o 0,1 O/o 1O/o 0,1 O/o 1O/o

Clorexidina 20/o 0,0000020/o 0,020/o 0,0020/o 0,020/o 0,02 0/o 0,020/o

Ca<OH\ 10/o > 10/o > 1 O/o 1 O/o > 10/o > 1% > 1O/o

HCT 20 4,SmL > 4,Sml 4,Sml 4,Sml 4,Sml 4,Sml

(Estrela 88 )

A presença de bactérias no interior do canal macacos. Neste estudo, observou-se que a clore-
radicular e túbulos dentinários é imperativo para xidina reduziu a reação inflamatória no perio -
o desenvolvimento de reabsorções radiculares in- donto, porém, alguma inflamação persistiu n os
flamatórias, e o hidróxido de cálcio, em função de dentes tratados com clorexidina, o que pode ter
seu elevado pH constitui a medicação de eleição, duas explicações: a clorexidina apresentou al-
uma vez que cria um microambiente insalisfatório gum efeito antibacteriano no canal radiculqr,
para a atividade e multiplicação microbiana. mas não foi capaz de eliminar completamente1a
0rstavik & Haapasalo 24 3 analisaram o efeito influência dos gatilhos das reações inflamatórias
antibacteriano de soluções irrigadoras e medica - periodontais; o canal radicular foi medicado pór
ções intracanais (hidróxido de cálcio (Calasept), l mês com clorexidina, que pode ter sido um
PMC C, clorexidina (Hibitane), iodo-iodeto de po- curto ou longo período de exposição, dependen -
tássio, hipoclorito de sódio e EDTA), empregando do do período ideal para exercer seu efeito an9 -
dentina bovina, infectadas com E. faecalis, S. san - bacteriano.
guis, E. coli ou P. aeruginosa. As peças de dentina Silva287 determinou a efetividade antimicro-'
foram infectadas por períodos que variaram. de 3 a biana do hipoclorito de sódio a 1 % e da cloreJ-9-
6 semanas. Após a aplicação dos medicamentos, dina a 2%, como irrigantes endodônticos, usan-
os espécimes de dentina foram incubados a 37ºC do um modelo de estudo in vivo, em dentes corri
durante 7 dias. Os tubos que não apresentaram canais radiculares infectados. Qua'ndo o hipoclo -
crescimento bacteriano foram reinoculados e in- rito de sódio a 1 % foi utilizado como irrigante,
cubados por outros 7 dias. A eficácia dos vários 16,7% e 83,3% das culturas microbianas eviden-
medicamentos teve uma grande variação, de acor- ciaram resultado positivo no teste microbiológi-
do com a espécie bacteriana estudada. Conside- co, imediatamente e decorridos 7 dias do trata-
rando que a capacidade de infectar os túbulos mento; a irrigação com clorexidina a 2% garan -
dentinários variou de acordo com os microrganis- tiu 8, 3% e 41,7% de dados microbiológicos posi-
mos, os resultados mostraram que o paramono- tivos, no que diz respeito ao efeito imediato e
clorofenol canforado foi, de modo geral, mais efi- residual. Os resultados alcançados indicam que
ciente que o hidróxido de cálcio (Calasept). Den- ambos irrigantes possuem igual potencial antimi-
tre as soluções irrigadoras testadas, o iodo-iodeto crobiano, quando considerada a sua ,ação ime-
de potássio mostrou mais eficiente que o hipoclo- diata, entretanto a clorexidina é mais eficiente
rito de sódio e a clorexidina. O EDTA praticamen- na efetividade residual de 7 dias.
te não apresen tou ação antibacteriana. A presença Gomes et al. 108 analisaram in vitro a atividade
da smear layer diminuiu, mas não eliminou a ação antibacteriana de irrigantes endodônticos (NaO-
dos medicamentos testados. Cl a 0,5 %, 1%, 2,5%, 4% e 5,25%; digluconato
Lindskog et al. 208 estudaram o emprego da de clorexidina na forma líquida e gel a 0,2 %, 1 %
clorexidina como medicação intracanal por 4 se- e 2 % ) na eliminação do E. faecalis. Os resultados
manas no tratamento de reabsorções radiculares mostraram que todos os irrigantes apresentam
inflamatórias em polpas dentárias infectadas de atividade antibacteriana, e que o tempo para eli-
H I DRÓXIDO OE CÁL.CIO

minar o E. faecalis depende da concentração e do na 0,12 %), e Peridex) sobre o E. faecalis em de n-


tipo de irrigante usado. tina radicular. Os resultados sugerem que 1O%
Buck et al. 33 avaliaram a detoxiiicação da en- de hidróxido de cálcio pode ser mais efetivo que
dotoxina por irrigantes endodônticos (clorexidi- o Peridex sozinho, ou associado ao hidróxido de
na, hipoclorito de sódio, cloreto de clorexidina, cálcio para eliminação do E. faecalis em túbulos
etanol, EDTA, água) e hidróxido de cálcio. Os dentinários .
res ultados mostraram que a porção ativa da en- Adiciona -se às características microbianas,
dotoxina, lipídio A, é hidrolisada por substâncias características físico -químicas das substâncias
químicas altamente alcalinas, ou seja o hidróxido empregadas no controle microbiano.
de cálcio ou a mistura de clorexidina, hidróxido de Neste particular, Estrela et al.7 1 encontraram
sódio e etanol. O EDTA, h ipoclorito de sódio, distintos valores de tensão superficial e pH frente
clorexidina, cloreto de clorexidina, etanol e água a Clorexidina a 2%, Ca(OH)2 + Clorexidina a
mostraram pequena ou nenhuma habilidade de 2%, Ca(OH) 2 + Água Destilada, dentre os quais:
detoxificação para o lipídeo A. O hidróxido de Clorexidina a 2% (TS - 55,5 dinas/cm, pH 5,9 ),
cálcio tem a vantagem de ser usado no tratamen- Ca(OH) 2 + Clorexidina a 2% (TS - 58,0 dinas/
to por vários . dias. cm, pH 10,2), Ca(OH)2 + Água Destilada (TS -
Estrela et al. 82 testaram o efeito antimicro- 68,4 dinas /cm, pH 12,8) (Gráficos 12.13 e
biano do hipoclorito de sódio a 2 % e da clorexi- 12. 14) .
dina a 2 % por meio de dois métodos: difusão em A seleção de uma medicação intracanal deve
ága r e exposição direta, com os seguintes indica- ter por base a microbiota endodôntica presente,
dores biológicos: S. aureus, E. fa ecalis, P aerugino- as propriedades biológicas, antimicrobianas e físi -
sa, B. subtilis, C. albicans, e uma mistura. Os resul- co-químicas da substância, o local e condições
tados mostraram efetividade antimi crobiana para adequadas para expressar seu real eieito. Por
as duas soluções irrigadoras testadas. A magnitu- conseguinte, no momento, baseado em todas
. ; de do efeito antimicrobiano foi influenciada pelo evidências apresentadas, não se questiona que a
I
método experimental, pelos microrganismos e melhor opção é o hid róxido de cálcio. As Figu-
pelo tempo de exposição (Gráficos 12.49 e ras 12.52 e 12.53 expressam o excelente com-
12.50; Figuras 12.5la,b,c). portamento biológico da pasta de hidróxido de
Lynne et al. 2 12 avali aram in vitro a atividade cálcio associada ao soro fisiológico no processo
, antimicrobiana de várias medicações (Ca(OH) 2 + de reparação periapica l, e o resultado de um tra-
; água esterilizada, Ca(OH) 2 + Peridex - (clorexidi- tamento endodôntico realizado em sessão única.

: 1

• GRÁFICO 12,49
CIÊNCIA EN OOOÔNTICA

• FIG, 1Z.51A
Teste por difusão em ágar da clorexidina
sobre E. faecalis.

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HIDRÓXID O DE CÁLCIO

• FIG•..'í2.51 S
Teste por difusão em ágar do hipoclorito
de sódio sobre S. aureus.

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1
1

Teste por difusão em agar do hipoclorito


de sódio sobre E. faecalis.

f

;
CIÊNCIA ENOODÔNTI CA

• FIG. 12,52
Selamento biológico. Barreira de tecido
duro completa (Holland et a/. 15~ 1998J.

• r'IG. 12.!'?
Endodontia em sessão única. Processo IÍ?-
llamatório crônico (Holland et ai. ,s1, 2003).
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS (Reometer Digital Brookfield, model DV-III-LV)


correspondendo à consistência de creme dental.
A invasão dos microrganismos no interior As técnicas de preenchimento dos dentes foram
dos túbulos dentinários .impõe a necessidade da divididas em 3 Grupos: Grupo I - colocação com
medicação intracanal atuar mais profundamen- lima ; Grupo II - colocação com McSpadden;
te n a massa dentinária e, p ara tan to, deve -se Grupo III - coloca ção com broca lentulo . Para o
considerar sua ação por contato direto e indire- Grupo I, os canais radiculares foram preenchi-
to (à distância). O tempo de perm anência do dos com a ú ltima lima empregada no preparo.
hidróxido d e cálcio no canal radicular, para que Paralelamente ao movimento de penetração-re-
possa expressar sua to tal efetividade, a dissocia- moção (vai e vem) , e rotação anti-horário da
ção e difusão dos íons hidroxila, é essencia l, lima, a pasta era condensada e compactada, por
como anteriormente discutido. Ou tro fator a ser meio das limas e de cones de papel absorventes
considerado é o correto preenchimento do ca- e condensadores verticais, até se observar o pre-
nal radicular. enchimento do terço cervical, sendo radiografa-
Várias técnicas de colocação de hidróxido de do para comparar a compacta ção da pasta de
cálcio nos canai s radiculares foram propos- hidróxido de cálcio. Posterior ao preenchimen-
tas8A8· 5o.13 . 137· 2 1º·28 6 • Acredita-se que a melhor téc- to, os canais radiculares foram esvaziados com.
nica é aquela que o profissional domina e que lima nº 10 e irrigados com solução fisiológica .
seja capaz de preencher corre tamente o canal Foram realizadas novas radiografias para verifi-
radicular. car o completo esvaziamento, com vistas à sua
Com esta finalidade diferentes recursos têm reutilização . No Grupo II foi usado o compacta-
sido empregados, entre as quais, o emprego de dor de McSpadden nº 45. A pasta de hidróxido
porta-amálgama, condensadores verticais, com- de cálcio e ra colocada com excesso na câmara
pactadores de McSpadden, broca lentulo, limas e pulpar, a broca introd uzida até a profundidade
j condensador es verticais, seringas especiaisMs. de 3mm aquém do limite apical de instrumen-
50, 73, l 3 7, 2 10,286
tação e acionada com v elocidade constante,
Cvek et al. 50 propõe o emprego de seringa movimento de penetração-remoção, girando à
de inj eção ou de broca lentulo, auxiliado por dire ita por 1O segundos. Os movimentos foram
efetiva condensação vertical. Anthony & Senia8 repetidos mais de uma vez até se perceber o
e Lopes et al. 21 º sugerem o em prego de broca preenchimento do terço cervical. Neste momen-
lentulo. Estrela et al.73 descrevem o preenchi- to, valendo-se de um condensador vertical, rea-
mento do canal radicular com o emprego de lizava-se mais u ma compactação vertical. Da
lima, cone de papel e condensador vertical. Si- mesma forma que no Grupo I, procedeu-se exa-
• 1
gurdsson et al. 286 , comparando três t écnicas de me radiográfico, esvaziamento completo do ca -
colocação de hidróx ido de cálcio, espiral lentu- nal radicular, e n ova confirmação radiográfica.
lo, lima endodôntica e seringa, relatam que os Para o Grupo III, a broca Lentulo nº 4 foi em-
melhores resultados foram obtidos com a espiral pregada da mesma maneira que o compactador
lentulo . de McSpadden, como descrito no Grupo II. Fo-
Estrela et al. 73 comparam três técnicas de ram obtidas para cada técnica de preenchimen-
preenchimento do can al radicular com pastas to 3 radiografias periapicais de cada dente ( 1'\
de hidróxido de cálcio. Foram utilizadas 03 inicial; 2•t, radiografia com canal preenchido e
mandíbulas de cães, seccionadas em blocos, en - tela milimetrada; 3,1, radiografia após a remoção
volvendo os 2~ e 3~ pré-molares inferiores (12 total da pasta) . A análise das técnicas foi deter-
canais radiculares) . Os dentes foram preparados minada a partir da quantificação de quadricula-
até a lima k-File nº 50, lmm aquém do forame dos com espaços vazios observados na radiogra-
apical usando a técnica de preparo cervical. fia com a tela milimetrada. O parâmetro estab e-
Posteriormente, os dentes eram mantidos com lecido foi o número de quadriculados apresen-
r
1
EDTA, 17 % (pH 7,2) por 3 minutos, irrigados
novam ente com hipoclorito de sódio-1 % e se -
tando -se totalmente pree nchi d os, e os que
apresentaram esp aços vazios de qualquer tama -
cados. Os 12 canais radiculares foram preenchi- nho. A partir da verificação do n úmero de qua-
dos com pastas de hidróxido de cálcio e solução driculados apresentando-se com espaços, em
fisiológica, com viscosidade de 35 01 cP-0, 1 rpm função das técnicas, pôde-se compará-las, sendo
CIÊNCIA ENDODÔNTI CA

que os resultados estão demonstrad os no Gráfi- concluíram que a espiral lentulo mostrou os me-
co 12.51. lhores resultados, preenchend o em todo o com-
A avaliação das áreas pre enchidas, total ou primento de trabalho.
parcialmen te, com pastas de hidróxido de cálcio A técnica operatória está diretamente relacio-
foi realizada a partir da quantificaç ão de quadri- nada ao adestramen to do profissional , em asso-
culados com espaços vazios, observados na radio- ciação com a anatomia do canal radicular.
grafia com a tela milimetrad a, após os empregos O preenchime nto completo do canal radicu-
das técnicas. Foram considerado s somente os lar é fundamenta l, pois se enquadra em impor-
quadriculad os que mostraram completam ente tante propriedade físico-quím ica.
preenchido s, com au sência de espaços vazios de Consideran do uma discussão mais abran-
qualquer magnitude. Os resultados obtidos de- gente acerca do controle microbiano , a partir da
monstram que o preenchim ento com a última ação do hidróxido de cálcio nas condições in fec-
lima empregada no preparo do canal, auxiliado ções endodôntic as, cabe a inda mencionar que
por cone de papel absorvente e condensado r nas condições clínicas de vitalidade pulpar, que
vertical, promoveu menor número de esp aços não se conseg uiu completar o preparo e a obtu-
vazios nos três terços das raízes, comparada s ração na mesma sessão, pode-se optar por uma
com as outras técnicas. O terço apical é o mais medicação intracanal.
difícil de ser totalmente preenchido . Seguiu- se Holland et ai. 150 analisaram em dentes de
em ordem decrescente de preenchime nto, a co - cães os efeitos biológicos do hidróxido de cálcio e
locação com broca Lentulo e com o compacta- do corticosteró ide-antibiót ico (Otosporin) como
dor de McSpadden . medicação inrracanal em pulpectomi as, após so-
Outro fator que se deve levar em considera- bre-instrum entação, empregand o dois materiais
ção, é que a pasta d e hidróxido de cálcio utiliza- obturadore s - o óxido de zinco e eugenol e o
da não apresentav a substância radiopatiza nte, e Sealapex. Posterior à 180 dias, as interpretaçõ es
que para não haver espaços, realmente a pasta dos resultados permitiram chegar às seguintes
deve ria estar muito bem conden sada no canal conclusões: 1. Usando o Otosporin como medica-
radicular. ção intracanal, o fechamento b iológico do fora- /'
Como a pasta de hidróxido de cálcio utiliza- me apical principal foi observado em 73,35% dos
da apresentava -se como veículo a solução fisio- casos quando o material obturador foi o Seala-
lógica, que lh e atribui o caráter de hidrossolú- pex e 20% com o óxido de zinco e eu genol
vel, torna-se mais difícil sua inserção, fato este (Gráfico 12.52); 2. Usando o hidróxido de cálcio
que necessita do auxílio da compactaçã o com como medicação o fechamento biológico do fora-
cone de papel absorvente e condensado r verti- me apical foi observado em 80% dos canais ob-
cal. A consistência também é outro ponto im- turados com Sealapex (Figuras 12.54 a 12.56) e
portante, pois, na pasta que apresenta-s e como 40% com óxido de zinco e eugenol (Figuras
creme dental, mais espessa, na colocação com a 12.57 e 12.58); 3. Usando hidróxido de cálcio
lima nota-se clinicamen te melhor preenchi- como medicação, não foi observada diferenças
mento. Esta pasta quando é colocada com os em relação aos pequenos canais acessórios entre
instrument os rotatórios, observa-se maior pre- os dois cimentos obturadores ; 4. Quando a medi-
sença de espaços vazios. cação foi o Otosporin , os canais acessórios mos-
O grau de alargament o e a curvatura presen- traram alta incidência de fechamento quando o

te no canal radicular podem influenciar no com- material obturador foi o Sealapex; 5. Quando
pleto ou incompleto preenchime nto. É evidente partículas do Sealapex alcançaram o ligamento
que quanto mais dilatado e reto estiver o canal periodontal, elas cau saram suave reação inflama-
radicular, mais fácil será sua introdução. Esta situ- tória, caracterizad o principalme nte pela reação
ação justifica os resultados obtidos por Sigurdsson macrofágica . Na ausência do fechamento biológi-
et al.286 . Ao comparare m técnicas de colocação co o óxido de zinco e eugenol freqüentem ente
de pastas de hidróxido de cálcio, empregand o a produziu suave reação inflamatóri a crônica.
espiral lentulo, a lima endodôntic a e a seringa As Figuras 12.59 a 12. 76 demonstram casos
(Calasept paste system, Scania Dental, AB) , em clínicos em que a pasta de hidróxido de cálcio e
canais mesiovestib ulares de molares superiores, solução fisiológica foi utilizada como medicação
preparados até o instrument o de número 25, in tracanal.
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

• GRÁFKO 12.51

• 1

• GRÁFIC:.O 12.52
Fechamento biológico observa-
do nos grupos experimentais
(Hol!and et al. 15~ 7998).

. !'

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CIÊNC IA ENDO DÓNTICA

• . FIG . .12.54 . ____ ·-------- ---· ~-··


Otosporin- Sealapex - Fecha-
mento biológico do forame princi-
pal. HE 100X (Holland et a/. 750,
1998).

• F!G. 12.55 /
Ca(OH\-Sealapex - Fecha-
mento biológico do forame princi-
pal. H. E. !OOX (Holland et ai. 15 ~
1998).

• . Fl<i. ]?,.S§_
Ca(OH)2 - Sealapex - Fecha-
mento biológico do forame princi-
pal. H.E. 100X (Holland et ai. 150,
1998).
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO

• .~~ç;,. ·i2.s ·1 .
Co(OHJ 2 - Óxido de Zinco e
Eugenol neoformoção
cementário. HE 100X (Hoflond et
oi. 150, 1998).

~
1

• r~.~ .Jt~?ª
Co(OHJ 2 - Óxido de Zinco e
Eugenol - Presença de raspas de
dentina - Fechamento biológico do , ,
forome principal. HE. !OOX.
(Holland et ai 15 ~ 1998).
,...'
f .ê.
. ~.

Conclusões autocorrige quando n ecessan o. Um fator ex-


pressivo e que deve ori entar as condutas clíni-
As novas tecnologias têm entusiasmado as cas deveria ser o apoio e m expressivas evidên-
mudanças científicas. A literatura demonstrou cias cien tíficas.
ao longo da história da endodontia o apareci- O combate às infecções endodônticas tam-
mento de várias técnicas d e preparo e obtura- bém motivou muitos estudos . Houve destaque
ção do canal radicular. Muitas surgiram e desa - no papel dos microrganismos para o estabeleci-
pareceram repentinamente. Outras p ermane - mento da n ecrose pulpar e periodontite apical,
f ceram ao longo do tempo e foram bem experi- assim como os fato res de virulência dos micror-
mentadas pela pesquisa. Inúmeras tentativas ganismos e a influência destes nas infecções per-
r
;' foram feitas para se alcançar a melhor técnica, sistentes. Na busca de alternativas para o contro-
o melhor resultado b iológico . Entre erros e le microbiano observou -se a presen ça de diferen-
acertos, considera -se qu e a própria ciência se tes medicações intracanais.
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

Inicialmente, um dos estudos p ioneiros rea- res e capacidade de mineralização . Até que apa-
lizados por Hermann 131 em 1920 e, na seqüência, reçam outras alterna ti vas terapêuticas para se
uma linha de pesquisa dese nvolvida por Ho- empregar como me dicação intracanal nas infec-
lland133·185 (1966 - 2003) deixam claro a impor- ções endodônticas, que superem as qualidades
tância do hidróxido de cálcio em endodontia. do hidróxido de cálcio, avaliando-se seu s riscos e
O momento atual continua destacando o hi- benefícios, sem qualquer margem de dúvida e
dróxido de cálcio como a m edicação intracanal baseado em inúmeras evidê ncias científicas e clí-
que apresenta um m aior número de propr ieda - nicas, apresentadas longitudinalmente ao longo
des ideais, quer fren te ao combate às infecções do tempo, o hidróxido de cálcio representa a
endodônticas, controle de reabsorções rad ícula - melhor alternativa.

• fl@S.
. 1l.S9 a 12.6.l..
.. -

Petiodontde apical assintomótica


com extensa rarefação óssea, em
que trocas de pasta de hidróxido de
cálcio foram feitas por 2 anos, com
trocas a cada 60 dias. Observa-se
regressão da lesão óssea penapical,
com controle de 2,5 anos.
H!DRÓXIOO DE CÁLCI O

• ffGS.12.63 a l2.68
Periodontite apical assintomótica com
extensa rarefação óssea, em que trocas de
pasta de hidróxido de cálcio foram feitas
por 2 anos, com trocas a cada 60 dias.
/." Observa-se regressão da lesão óssea
i peliapical, com controle de 3 anos.
CIÊNCIA ENOOOÔNTICA

• f1GS. 12.6 9 e 1J.10


Fratura radicular do terço médio e
ceJVical.

• FJG~. 12.11 e tz.n /

Fraturo radicular em que foram rea-


lizados trocas dos pastos de hidróxido de
cálcio por um período de 3 anos.

Fratura radicular em que foram rea-


lizados trocos dos pastos de hidróxido de
cálcio por um período de 3 anos. Contro-
le de 70 anos.
H IDRÓXIDO DE CÁt.CIO

• . f~GS. í2.75 E! ·tê.16


Periodontite apical assintomática
com extensa rarefação ósseo, em que tro-
cos de pasta de hidróxido de cálcio foram
feitas por 2 anos, com trocas a cada 60
dias. Observa-se regressão da lesão óssea
periapical, com controle de 3 anos.

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1
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OBTURACÃO DO I

CANAL RADICULAR


1
1 CARLOS ESTRELA

INTRODUÇÃO

A obturação do canal radicular complementa o expressivo degrau da


tríade endodôntica (abertura coronária, sanifica ção-modelagem e sela -
mento endodôntico). Assim, reforça o conceito da importância de se eli-
minar espaços vazios no interior do dente.
Neste contexto, proporciona esp ecial oportunidade de reparação teci-
dual, a p artir do repouso oferecido aos tecidos p eriapicais, favorece a
osteogênese (formação de osteocemento), a reestruturação do ligamento
periodontal e a reintegração da lâmina dura. O fantástico objetivo da
obturação biológica constitui o alvo sublime a ser alcan ça do pela moderna
endod ontia.
O conceito acadêmico da obturação do canal radicular valoriza três
aspectos essenciais - a capacidade de preenchimento, o controle micro -
biano e a compatibilidade biológica.
Outrossim, essa fase do tratamento endodôntico reveste-se de deta-
lhes especiais, pois, após a execução bem orientada de cada passo operató -
rio prévio, o destino final dos obj etivos a serem alcançados deve direcio-
nar unicamente aos objetivos p ara se lograr o sucesso, ou seja, à completa
impermeabilização do sistema de túbulos deminários. Uma visão mino-
)
ri tária somente do que está sendo preenchido pode não alcançar o com-
plexo sistema de túbulos dentinários. O con ceito su perla tivo do selamento
en dodôntico impõe ao operador predicados esp ecia is, como a intuição, o
CIÊNCIA EN DOOÔ NTICA

bom senso e a vivên cia. O asp ecto radiográfico Neste sentido, inúmeros trabalhos foram de-
apenas constitui um panorama clínico da quali- senvolvidos avaliando diferentes variáveis e fato-
dade do tratamento executado . res que interferem na eficácia do selamento en-
Em muitas situações, os passos operatórios dodôntico-coronário1·303.
anteriores à obturação fora m bem conduzidos, Todos os esp aços do canal preparado devem
porém, durante essa fase final que pode expres- ser bem preenchidos, evitando -se assim, possível
sar a glória do tratamento acaba por sinalizar os recontaminação. Nesse sentido, Holland et al. 12 7
pontos falhos. verificaram em tubos de dentina implantados em
Paralelo à preocupação científica com o p er- tecido conjuntivo, reação inflamatória intensa,
feito selamento endodôntico e com o objetivo de quando havia espaços vazios de 4 a 8 mm.
resguardá-lo frente a possíveis r einfecções, a Esses locais podem ser preenchidos por mi-
atenção no presente momento direciona-se, crorganismos e líquidos teciduais e representar
também, ao sela mento coronário, como quesito agentes irritantes aos tecidos periapicais 127·27 4 ·275 .
adicional e relevante ao sucesso pleno do trata- Os Esquemas 13.1 e 13.2 mostram, a partir de
mento executado . Vários estudos verificaram a representações esquemáticas, canais radiculares
efetividade do selamento coron ário, buscando obturados sem a presença de espaços vazios, e
explorar os diferentes fatores que pudessem in - canais em que permanecera m espaços vazios. As
fluenciar no su cesso da obturação endodônti- Figuras 13.1 e 13.2 exibem aspectos radiográfi-
c a s. 1 3 . 1 s. 2 1, 4 2 . s 2 . 8 0 , 8 3. s s. 1 02. 1 40 . 14 1, 11 1 -114 , 11 6 . 17 9 . 1 80 , 1 s 2 . cos de dentes adequadamente preparados e ade-
l 92 , l 97 ,224.2 2 5, 229, 238,2 4 6, 25 l ,2 52,260.270,272.276, 27 8 quadamente preenchidos, enquanto que as Fi -
Entende-se, atualmente, que a conclusão guras 13.3 e 13.4 exibem selamento biológico
técnica do tratamento endodôntico encerra-se completo com formação de tecido mineralizado.
após o perfeito selamento coronário . O término A obturação do can al radicular destaca-se
biológico da obturação vincula -se ao sucesso como responsável pelo controle microbiano, o que
majoritário auferido pelo completo processo de realça sua importante participação como contri-
reparo tecidual. buinte decisivo ao processo de reparo teciduaL O
Para que se possa alcançar o sucesso espera- material obturador, que deve estar contido unica-
/
do com o selamento en dodôntico, alguns fatores mente no interior do canal radicular, deve preen-
devem ser bem analisados e bem definidos, como chê-lo completamente, não ser irritante e de prefe-
os reais objetivos da obturação do canal radicu - rência, estimular a cura dos tecidos periapicais.
lar, o momento oportuno para realizá-la, os ma- O selamento endodôntico, além de apresentar
teriais obtura dores, a técnica obturadora e a in- capacidade de controlar os microrganismos, se pos-
fluência do selamento coronário no sucesso do sível, deve apresentar atividade antimicrobiana. O
tratamento endodôntico. papel da obturação é impedir a colonização e a
invasão dos microrganismos para os tecidos vizi-
IMPORTÂNCIA DO nhos e controlar seu potencial de virulência. Todo
• SELAMENTO ENDODÔNTICO espaço preparado deve ser ocupado por um mate-
rial inerte, que impeça a presença de fluído teci-
A obturação do canal radicular corresponde dual e microrganismos. Este fluido, em contato com
à fase final do tratame n to endodôntico, e expres- o cimento endodôntico, pode solubilizá-lo e permitir
sa a qualidade do m esmo p or meio do simples a infiltração. A degeneração do tecido ou fluido no
aspecto radiográfico, que embora de caráter limi- espaço criado estimula o processo inflamatório,
tado, constitui o único recurso disponível para o que por sua vez favorece o fenômeno da anacore-
momento. se, e permite a entrada de microrganismos. É con-
Muitos obj etivos para se preencher comple- senso universal que todo espaço da cavidade pul-
tamente o sistema de túbulos dentinários pode - par que foi submetida ao processo de sanificação e
riam ser enumerados, p orém, uma vez finalizado modelagem deve ser completamente obturado.
o processo de sanificação e modelagem endo- Considera -se que o processo de reparação
dôntica, resta ainda eliminar o espaço anterior- tecidual na região periapical ocorre com m aior
mente ocupado pela polpa de ntária, e impedir, dificuldade na presença de esp aços na obturação
dessa forma, que se transforme em albergu e ideal do canal radicular, uma vez que pode servir de
aos microrganismos. abrigo aos microrganismos.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

• E§QliEN!A 13~1 • E_SQUEl't'U\ ·:3.2


Espaço vazio do cavidade pulpor, posterior ao pro- Espaço do cavidade pulpor com perfeito selomento
cesso de sonificação e modelagem endodôntico. endodôntico coronário.

• ~CiS. 13.•1 e J~i.2 ____ _


Aspectos radiográficos de canais rodiculares mostrando um perfeito selamento.

I
• . flGS. 13.3 e 13.4 .
Se/omento biológico (Permissão Prof Holland, 2003).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Momento Oportuno para a co, admite -se que nessas situações pode-se reali-
Obturação zar na mesma sessão o completo esvaziamento,
preparo e obturação do canal radicular, sem ha-
O número de sessões necessárias para finali- ver comprometimento do processo de reparação
zar o tratamento endodôn tico, bem corno a n e- tecidual 117•127 .
cessidade ou não de medicação intracanal foram Relativamente à influência do cimento obtura-
discutidos anteriormente no capítulo de hidróxi- dor e do número de sessões sobre a prevalência de
do de cálcio. periodontite apical sintomática (traumática) em
Considera-se consenso a idéia de que o canal dentes com polpas vitais, Estrela et al. 65 relataram
deva estar limpo e modelado antes da obturação. que o Sealapex demonstrou menor percentual de
A modelagem realizada deve permitir a acomo- dor pós-operatória (87,5% e 88,6% de ausência
dação do material obturador em toda a extensão de dor, em 1 e 2 sessões) quando comparado com
do canal radicular. Além do mais, para que as o FillCanal (85,7% e 82,3% de ausência de dor,
propriedades físico-químicas ocorram normal- em 1 e 2 sessões), embora sem diferenças estatisti-
m ente o ca nal ·deve estar seco. Nos casos em que camente significativas (Gráficos 13.1 e 13.2).
há exsuda to persistente, a conduta requer n ova Nos casos de necrose pulpar, a situação mo -
colocação da medicação intracanal, e até mesmo difica-se completamente. Como discutido ante -
o emprego de uma medicação sistêmica. Estes riormente, em diferentes estudos realizados por
aspectos foram exaustivamente discutidos no ca- Holland et al.118· 119 , o selamento biológico com-
pítulo referente ao diagnóstico e tratamento da pleto por barreira de tecido mineralizado, ocorreu
periodontite apical. p osteriormente ao emprego da medicação intra -
Em dentes com polpa vital, independente da canal com h idróxido de cálcio, e obturação com
condição inflamatória, têm-se sugerido sempre Seala pex (Figuras 13.3 e 13.4).
que possível, preparar e obturar os canais radicu- O momento ideal para realizar a obturação
lares na mesma sessão. do canal radicular ocorre após a conclusão do
O índice de sucesso no caso de polpa vital processo de sanifica ção, limpeza e modelagem
não se modifica frente a obturação em uma ou do canal radicular. Acresça-se a esses aspectos a /
du as sessões. Sob o ponto de vista histopatológi- necessidade do canal estar seco e assintomático .

• GRÁFICO 13.1
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULA R

,,!
1
MATERIAIS OBTURADORES 6) não deve manchar a estrutura dentária;
1
7) deve ser bacteriostático ou, pelo menos, nã.o facilitar o
Cimentos endodônticos crescimento bacteriano;
8) deve tomar presa lentamente;
A literatura está repleta de trabalhos que 9) deve ser insolúvel frente aos flu idos bucais;
apresentaram e mostraram resultados de pesq ui- 10) deve ser bem tolerado p elos tecidos, isto é, não ser irri-
' sas avaliando diferentes propriedades (físico-quí- tante aos tecidos periapicais;
micas, biológicas e antimicrobianas) de vários 11) deve ser solúvel aos solventes comuns, caso seja neces-
mat eriais recomendados para a obtura ção dos sária a remoção da obturação do canal.
. , canais radiculares 1· 30 1 . A união de diferentes propriedades, especial-
O emprego do cimento e da guta -percha re- mente a adesividade e a compatibilidade biológi-
presenta consenso m undial quanto aos materiais ca, em um mesmo m aterial, ainda representa um
indicados para se obturar o canal radicu lar. ideal promissor. Um m aterial bem tolerado pelos
Várias diferenças de pesquisas são observa - tecidos sem boa capacidade seladora, ou aquele
das frente à seleção do material obturador e téc- que proporcione bom sela mento, porém, com
nica obt uradora ideal. ação irrita nte aos tecidos periapicais, n ão deve
Grossman91 alertou que, independentem en te ser considerado o m e lh or.
do seu tipo, o cimento deveria preencher os se - Wu et al.278 , frente a retrospectiva da literatu-
guintes requisitos: ra sobre estudos de infiltração, observaram que
1) deve ser homogêneo, quando manipulado, a fim de dos trabalhos publicados em endodontia, quase a
promover boa adesividade, entre ele e as paredes do metade se referia a esse tema, com resultados
canal, quando obtida a presa; variados e contraditórios, bem como a m etodolo -
2) deve promover um selamento hermético; gia utiliza da. Sab e-se que todos os dmentos en -
f 3) deve ser radiopaco, para que possa ser visualizado na
radiografia;
dodônticos permitem algum gra u de infiltração
de corante. O p eso e tamanho das moléculas dos
4) as partículas do pó devem ser bem finas, para que se corantes Rodamina B e azul de metileno são
misturem facilmente com o líquido; m enores que a célula bacteriana presente no ca-
5) não deve sofrer contração após o seu endurecimento; n al radicular.
CIÊN CIA ENOODÔNTICA
... ------------"----------------------------·--·-··-------·····----- ···-·---------·--··-----------------------~
-->
Considerando qu e, se o corante somente acrescido de delta-hidrocortisona (0,5 a 2%) e
penetra onde h á espaço, e se todos os cimentos ob servou que os melhores resultados foram as
permitem infiltração , o selamento hermético do grupo com concent ração de 2 % . O objetivo
do sistema de canais radiculares ainda faz parte do acréscimo do corticóid e foi o de minimizar
de um objetivo a ser alcançado. a reação inflamatória inicial2º6 •
Hovland & Dumsha 134 consideram q ue a Figueiredo 7 6 analisou a formação de t atua -
infiltra ção pode ocorrer n as interfaces do ci - gem em mucosa bucal de coelh os, a partir da
mento com a dentina, do cimento com o cone, inj eção submucosa de dois cimentos endodôn-
por en tr e o cimento endodôntico ou pela dis- ticos, o N-Rickert e o Rickert-SP (com e sem
solu ção do mesmo. Entende-se, dessa ma neira, prata precipitada). Posterior a o t erceiro mês de
que um dos pontos críticos está n o cimento observação, n aqu eles casos em que foi injetado
endodôntico. o N-Rickert, todos os e spécimes desenvolveram
Com o objetivo de se conseguir o selamento pigmentação gengival. Quando se inj etou o ci-
ideal surgiram diferentes ci mentos obturadores mento Rickert-SP, até o nono mês n ão foi ob -
de canais radiculares. Destacam -se entre estes serva da tatuagem. A presença de prata na
os preparados à base de óxido de zinco e eu ge- composição do cimento foi determinante para
nol (cimento de Rickert, N- Rickert, cimento de o aparecimento das pigmentações.
Grossman, FillCanal, EndoFill, Tubliseal, Endo - Frente à nova investigação, Figueiredo 77 , ·

methasone ), contendo hidróxido de cálcio (Sea- avaliou a influência da concentração da prata


lapex, Sealer 26, Apexit), cimentos resinosos n a composição d e um cimento endodôntico
(AH 2 6, Diaket, Top Seal, AH Plus) e à base de para causar tatuagem em mucosa bucal. Não só
ion ômeru de vidro (Ketac-Endo) . houve maior número de tatuagens com o ci-
Frente a esta variada quantidade de ci- mento N-Rickert, que possui m aior concentra-
mentos endodônticos, torna-se necessário ana - ção de prata, mas o tamanho das m esmas era
lisar a relação entre suas propriedades . É fun- maior qu e aquelas observadas com o AH-26,
damental salientar que o material obturador que possui menor concentração de prata. Con -
d eve estar confinado somente ao canal radicu - sidera -se ainda o fato de o AH -26 conter prata /
lar preparado . pura, que leva mais tempo para sofrer oxidação,
Entre os cimentos obturadores em discu s- quando comparada com a prata precipitada do
são cabe algumas considerações sobre suas for- N-Rickert. Os cimentos Sealer 26 e Fillcanal,
mulações e propriedades . que ,p ara a avaliação clínica serviram de contro-
O cimento de Rickert foi introduzido na les negativos por n ão possuírem prata na com-
Endodontia em 1927, send o utilizado em vári- posição química, foram incapazes de tatuar a
as partes do mundo até hoje 227 •228 ( Quadro mucosa.
13 .1) . Seu uso se consa grou clinicamente por Grossman 91 idealizou um cimento ba stante
muitos anos, devido às propriedades de estabi- utilizado por endodontistas de todo o mundo,
lidade dimensional, adesão, tempo de presa, cuja fórmula está descrita n o Quadro 13.3.
solubilidade e desintegração, principalmente se Grossman 94 , verifica ndo o tempo de endureci-
comparado a outros cim entos à base de óxido mento do cime nto proposto, ao substituir o
de zinco e e ugenol' 8 · 183 •20º. Dixon & Rickert 50 , eugenol por óleos essenciais de erva -doce, eu -
empregando esse cimento, verificaram em pe - caliptol e óleo de folha de pimenta, observou
ríodos de 7 a 18 meses ausência de dano~ aos que essa m o dificação não altera o t empo de
tecidos periapicais. endurecimento obtido com o cimento original.
Sampaio 235 sugeriu acrescen tar 1 % de del- O conteúdo resinoso dos cim entos é um fator
ta-hidrocortisona ao cimento d e Rickert, obser- importante no tempo de endurecimento e na
vando melhora no estágio do processo de r epa - consistência do material, o que poderia ser
ro. sem alterar suas proprie dades físicas origi- influen ciado pelo contato com os tecidos p eria-
nais . Este novo cimento passou a ser denomi- picais95.
nado N-Rickertrn, (Quadro 13.2 ) . Posteriormente, diferentes versões do ci-
Bombana 27 avaliou a reação do tecido con- mento de Grossman foram difundidas, como o
juntivo subcutâne o de ratos ao implante de tu- FillCanaL EndoFill, Grosscanal, PulpFill, en tre
bos de polietileno contendo cimento de Rickert outras.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADI CULAR

Souza -Neto2 57 analisou o efeito da adição de O Sealapex, cuja composição descrita pelo
diferentes tipos de breus e resinas hidrogenadas fabricante está no Quadro 13 . 7 , demonstrou
ao pó do cimento de Grossman, sobre as seguin- biocompatibilidade e capacidade de induzir o
tes propriedades físico -químicas; escoamento, fechamento apical por deposição osteocemen-
tempo de endurecimento, estabilidade dimensio- tária 126 •
nal, solubilidade e desintegração, espessura do No que se refere à adesão, verifica-se nos
filme e adesividade. Entre os resultados encon- cimentos disponíveis no mercado, que na maio-
trados observou-se qu e os diferentes tipos de ria deles se obtém uma mistura homogênea, des-
breus e resinas hidrogenadas influenciam no de que corretamente manipulados. Entretanto, a
tempo de endurecimento dos cimentos. Quanto adesão ao tecido dentinário constitui tarefa mais
m ais ácido é o breu maior a velocidade da reação complexa . Os cimentos contendo ionômero de
de endurecimento do cimento. Os cimentos obti- vidro possuem boa capacidade de adesão à su-
dos a partir do breu apresentam maior adesivida- perfície dentinária. O mais conhecido desses ci-
de em relação aos cimentos obtidos a partir das mentos é o Ketac-Endo, cuja formulação está
resinas hidrogenadas. contida no Quadro 13.8.
As resinas sintéticas têm sido bem difundi- Os Quadros 13. 1 a 13.9 expressa m a s for-
das e empregadas em endodontia. O cimento mulações dos cimentos de Rickert, N -Rickert,
AH 26 constitui uma combinação macromole- cimento de Grossman , AH 26, AH Plus, Sealer
cular sintética do grupo das resinas epóxicas 249 , 26, Sealapex, Ketac-Endo e Apexit. As Figuras
tendo a composição descrita no Quadro 13.4. 13.5 a 13.16 evidenciam as apresentações co-
Outro tipo de cimento à base de resina epóxi merciais dos cimentos Sealapex®, Apexit®, Sea -
lançado pela Dentsply é o AH Plus, cujos com- ler 26®, EndoFill®, Kerr Pulp Ca nal Sealer®, AH
ponentes estão descritos no Quadro 13.5 . Plus® e Ketac Endo®.
O excelente comportamento do hidróxido
1

,,1
1
de cálcio sobre tecido conjuntivo, ch am o u a
I
atenção de Holland et al. 116• 1 18• 1 19• 126 •127, pela ca-
pacidade de estimular o selamento biológico, a Quadro 13.1
partir da formação de tecido m ineralizado. COMPOSIÇÃO DO CIMENTO DE RICKERT®
Berben' 9 avaliou histologicarneme o com-
portamen to dos tecidos apicais e periapicais em Pó
Prata ..................................................................... 24,74%
dentes de cães após pu lpectomia e obturação
Óxido de zinco ............................................... 34,00%
com AH 26, hidróxido de cálcio ou mistura de Bi-iodo de bi-ti mol <AristoD .......................... 10,55%
ambos. O comportamen to bi ológico do cimen- O leoresinas ......................................................... 30,71 %
• 1
to melhorou muito quando associado ao hidró -
xido de cálcio, sendo que a mist ura de 20% Líquido
Eugenol
dessa substância à composição ofereceu os me-
Bálsamo do Canadá
lhores resultados.
A partir desse estudo realizado por Ber-
bert, a Dentsply lanço u o cimento Sealer 26 ..
Trata-se de um cimento que contém h idróxido
de cálcio, óxido de bismuto, h exametilenote- Quadro 13.2
tramina e dióxido de titânio aglu tinados por COMPOSIÇÃO DO CIMENTO N-RICKERT
r esina epóxica bisfenol (Quadro 13 .6) . O Sea -
ler 26, frente à análise citotóxica 12, m ostrou Pó
apresentar b aixa citotoxicidade, quan do com- Óxido de zinco ................................................. 39,20g
Prata precipitada ............................................... 30,00g
parado com outros cimen tos, entre eles o Fill-
Delta-hidrocortisona ........................................... 2,00g
canal e o N -Rickert. Diiodo ti mo! (aristoD .............................. ... ... 12,80g
A necessidade dos cimentos apr esentarem Colofônia ............................................................ ,, 16,00g
compatibilid ade biológica é aceita pela maioria
dos estudiosos. Nesse sentido, houve o apareci- Líquido
Ó leo de cravo ........................................................ 78ml
mento de cimento s com boa compatibilidade
Bálsamo do Canadá ............................................ 22ml
biológica, a partir do hidróxido d e cálcio.
CIÊNCIA ENDODÔNT!CA

Quadro 13.3
CO MP O SIÇÃO DO CIMENTO DE G ROSSMAN
<VERSÕES COM ERCIALIZADAS - FILLCANAL,
Q uadro 13.7
ENDOFILL®, G ROSSCA N AL®, PULPFILL®)
CO MP O SIÇÃO DO CIMENTO SEALAPEX®

Óxido de cálcio .................................................. 25,0º/o
Protóxido de zinco ....... ..................................... 40,59
Sulfato de bário ................................................... 18,6%
Resina Hidrogenada ............................................... 28g
Óxido de zinco ..................................................... 6,50/o
Subcarbonato de bism uto .................................... 16g
Dióxido de titâ nio ................................................. 5,1O/o
Sulfato de bário ........................................................ 1Sg
Estearato de zinco ................................................ 1,0%
Borato de sódio anidro .............. 1 parte

Estas substâncias combinam -se ao salicilato de


Líquido
isobutila, ao salicilato de metila e a um pigmento.
Eugenol ....................................................................... Sml
Óleo de amendoas doces ................................... 1mi

Quadro 13.4 Q uadro 13.8


CO MPOS IÇÃO DO CIM ENTO A H 26® COMPOS IÇÃO DO CIMENTO KETAC- ENDO®
1 .

Pó: Óxido de bismuto .............................................. 60% Pó


Pó de prata ........................................................... 10% Fluoreto de cálcio .............................................. 34,30/o
Ó x ido de titânio .................................................... 5% Óxido de silício .................................................. 29,00/o
Hexametilenotetramina ..................................... 250/o Óxido de alumínio ............................................. 16,50/o
Fluoreto de sódio .................................................. 3,00/o
Resina-Base: Éter de bisfenol A diglicídico Fluoreto de alumínio ........................................... 7,20/o
Fosfato de alumínio .............................................. 9,90/o

Líquido
Quadro 13.5 Copolímero de ácido maleico e acríl ico
COM POS IÇÃO DO CIMENTO A H PLU S® /

Pasta A
Resina epóxica
Tungstênio de cálcio Quadro 13.9
Óxido de zircónio COMPO SIÇÃO DO CIMENTO A PEXIT®
Aerosil
Óxido de ferro Pasta-base
H idróxido de cálcio ........................................... 0,319g
Pasta B Colofónia hidrogenada .................................... 0,315g
Amina Adamantana Dióxido de silício silanizado altamente
N, N -Dibencil-5-oxanonano-diamina-1,9 disperso ......................................................... 0,081 g
TCD-Diamina Óxido de cálcio ................................................. 0,0569
Tungsteanato de zircónio Óxido de zinco ................................................. 0,0559
Aerosil Fosfato tricálcico ........................... ...................... 0,041 g
Óleo de silicone Polimetilsiloxano ................................................ 0,0259
Estearato de zinco ............................................ 0,0239

Quadro 13.6 Pasta ativadora


Salicilato de trimetilhexamod iol ................... 0,250g
COMPOSIÇÃO DO CIMENTO SEA LER 26®
Carbonato de bismuto básico ....................... 0,1829
Óxido de bismuto ............................................. 0,1829

Dióxido de silício silanizado altamente
Trióxido de Bismuto
disperso .......................................................... 0,1509
H idróxido de cálcio
Salicilato de 1-3 butanodiol ............................ 0,1149
Hexametileno tetramina
Colofônia hidrogenada ................................... 0,0549
Dióxido de titânio
Fosfato tricálcico ................................................. 0,0509
Óxido de ferro
Estearato de zinco ............................................. 0,0149

Resina
Epóxica bisfen ol
Sealapex

Polymerk Gdci.u.01
Uydro.xidc. Rool
ú.n:at &--aler
.u,wvxilk de akl.w,,
p<),\)~j)Qllr
l',w.lüral.t<>à-tk:,. ·~ ·
f!i.d.ro)(tdo óe ~
~ i c u ~ d o-
~ - t.o•:Ucubrd

• FiG. 13,5 • Ffi(t tl.~


Seo/ope~ . Seolope~ .


1

• .fJG.~ flD' • FiG. U.8


Apexit®. Apexit®.

r.t

J

• ..f~(i. 1:i~9 • wm. u.m


Seoler 26®. Seo/er 2 6"').
CIÊNCIA ENDODÓNTICA
·- - - - - - - - - - ----·------- ·- - --------------·-..--,..··· --·----··- ~··- ------·- ·· -----

Co nlc(ldo/Ccntcnido:
Pó/ Polvo~ 129
Líquido: 10m!

• FIG. __13.11 . R_G. 13.12 __


EndoFi/f1fl. EndoFil~.

IILFIG. _13.1,l • f.lG. _JªA4


Kerr Pulp Canal Sealer"". AH Plus®.

1
~ESPE
···· ················
·················· ··
····················
Keta c~-Endo
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Aplicap"
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\ • _flGi~ 13.16
Ketac Endo®
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... (CapMix)_

• FIG. l!.15
Ketac Endo®.
l
O BTURAÇÃO DO CANAL RADICU LAR

ANÁLISE CRÍTICA DAS dentes de cães e macacos. No experimento em


PROPRIEDADES DOS cães, 160 canais de 8 cães de aproximadamente
CIMENTOS OBTURADORES 2 anos foram utilizados. As polpas dentárias fo-
ram removidas em dois diferentes níveis: 1 mm
Os materiais obturadores endodônticos têm aquém do ápice radiográfico (pulpectomia par-
sido analisados sob vários aspectos. Muitos estu- cial) e no próprio ápice radiográfico (pulpecto-
dos investigaram diferentes aspectos desses mate- mia total). No grupo 1, a polpa foi removida com
riais, entre estes o comportamento biológico, os limas Hedstrbem, enquanto que, no grupo 2, a
aspectos físico -químicos, os aspectos antimicrobia- polpa foi removida com limas tipo Kerr, por
nos e clínicos 1• 302 _ Aceita-se que todas essas carac- meio da abertura do forame até a lima de núme-
terísticas merecem ser valorizadas, porém, é es- ro 40. Após a utilização dessa lima, a seqüência
sencial obter um cimento endodôntico capaz de de instrumentação foi realizada O, 5 a 1 mm
favorecer um selamento o mais perfeito e ao mes- aquém para obtenção do batente apical. Todos os
mo tempo ser tolerado pelos tecidos periapicais. dentes foram instrumentados até a lima de nú-
Neste contexto, alguns estudos buscaram mero 60. Após a irrigação final, os canais foram
respostas frente a diferentes cimentos endodônti- secos e preenchidos por m eio da condensação
cos descritos anteriormente. lateral com Sealapex e cones de guta-percha,
Holland ei al. 114 avaliaram a influência dos Kerr Pulp Canal Sealer ou hidróxido de cálcio
cimentos TubliseaL pasta anti-séptica de Maisto, associado à água destilada. O grupo controle não
Pulp Canal Sealer, cimento de Grossman, AH26, foi obturado com nenh u m material. A câmara
Endomethasone, cimento de óxido de zinco e coronária de todos os gru pos foram seladas com
eugenol, N2 e Diaket-A no processo de reparo uma camada de óxido de zin co e eugenol e res-
periapical em dentes de macacos, posterior à ob- tauradas com amálgama, ficando 20 canais para
turação apical com raspas de dentina. O preparo cada grupo experimental. Após 180 dias, os ani -
· ~ do canal foi conduzido até a lima de número 40, mais foram sacrificados e os segmentos de man-
1
1 mm aquém do ápice. Os canais receberam uma díbula preparados para exame histológico da
obturação apical com raspas de dentina coletad as maneira usual. No estudo em macacos, 80 canais
de su as próprias paredes. A seguir, cada canal foi foram utilizados. Os dentes foram tratados sem e-
obturado com os cimentos descritos anterior- lhantemente aos dentes de cães, sendo que, o
mente. Decorridos 90 dias, os animais foram sa- forame foi ampliado somente até a lima de nú-
crificados e as peças preparadas para exame his- mero 2 5 e os dentes instrum entados até a lima
tológico, tendo cada secção uma raiz. Nenhuma número 40. Para cada grupo experimental, 10
diferença no resultado foi demonstrada pelos di- canais foram utilizados, e seguiu-se a mesma téc-
I ferentes materiais obturadores, sendo que os nica descrita anteriormente . Os resultados obti-
mesmos n ão demonstraram influência no pro- dos sugerem que o Sealapex e o hidróxido de
cesso de reparo periapical. A maioria dos casos cálcio induzem fechamen to apical por deposição
mostrou deposição de cemento diretamente so- de cemento. Os casos de p ulpectomia parcial de-
bre a obturação. Em outros, as raspas de dentina monstraram a mesma porcentagem (70%) de fe-
também tinham obturado canais acessórios. chamento apical para o Sealapex e o hidróxido
Houve evidência de área s de cemento e dentina de cálcio. Nos casos de pu lpectomia total, o Sea-
reabsorvidas que foram reparadas por cemento. lapex demonstrou fech amento em 33,3 % dos
Em alguns casos ocorreram deposição de cemen- casos, enquanto que, o h idróxido de cálcio de-
to completamente sobre as paredes do canal ra- monstrou 10% de fechamento. O fechamento
dicular, sem ser evidenciada inflama ção. Nos ca- apical também foi observado no grupo controle
sos em que não h ouve total fech amento apical, a (5%) e no grupo Kerr Pulp Canal Sealer (10%),
obturação estava em contato direto com tecido estando associados à presen ça de raspas de denti-
vivo e usualmente apenas uma pequena infla- na. Tanto o Sealapex q uanto o Kerr Pulp Canal
{ mação crônica foi observada. Apenas 5 casos não Sealer, quando extravasados, provocaram reação
exibiram deposição de cemento. inflamatória crônica n o ligamento p eriodontal;
Holland & Souza 126 estudaram a capacidade entretanto, o Sealapex estimulou a deposição de
do Sealapex de estimular a deposição de tecido tecido m ineralizado n essa área e foi facilmente
mineralizado após o tratamento endodôntico em reabsorvido.
CIÊNCIA ENOODÓNTICA

Tagger et al. 265 es tudaram a liberação de íons mo de 24 horas, os espécimes · foram colocados '\ -~
cálcio e h idroxila d e cimentos contendo h idróxi- em água bi-destilada (pH = 6, 7) por 2 horas, tro- -~_.f_·
do de cálcio (Sealapex, CRCS e Herrnetic) . Bases cada a cada 15 min u tos. As m edidas de pH foram h
analisadas para liberação de íons hidroxila foram efetuadasdapós 15, ~O,d45, ~O, 75, 90, l,°5 e dl 20 ~-
incluídas para fins de comparação, como o Life e m inutos a _co1ocaçao os cimentos em agua es- .i
o Dycal. Os materiais foram manipulados de tilada. A liberação de cálcio e o pH exib idos pelo
acordo com os fabricantes, e produzidos 2 corpos Sealapex foi gradual e prolongado, como o Life e
de prova para cada material com aproximada- o Dycal. Decorridos 60 e 75 minutos, as amostras
mente 7 mm de diâmetro e 3 mm de profundida- de Life e Dycal se desintegraram (Quadros
de . Decorrido o endurecimento e o período míni- 13.10 e 13 .11) .

Quadro 13.10
*LIBERAÇÃO DE ÍONS CÁLCIO EM MG/DL

Material/tempo 15 30 45 60 75 90 105 12 0

Sealapex 1,9 1,3 0,82 0,96 1,44 2,38 0,52


CRCS 0,09
Hermetic 2,56
Life 1,96 0,76 0,48 0,48
Dycal 3,05 1,69 0,71 0,42 0,45

(Tagger et al.26·' )

Quadro 13.11
/
*POTENCIAL DE ALCALINIZAÇÃO DOS MATERIAIS, MEDIDO EM pH <INICIAL DE 6,71

Material/temP,o 15 30 45 60 75 90 105 120

Sealapex 7,35 8,35 8,~ 9,35 9,57 9;52 8,33 10,7


CRCS 7,25 7,6 7,65 7,62 7,65 7,62 7,66 7,62
Hermetic 7,32 6,8 6,77 6,75 6,72 6,72 6,72 6,7
Life 9,27 9,87 9,68 9,77 9,77 9,84 9,68 9,62
Dycal 10,5 10,1 9,89 10,07 10,05 9,65 9,9 9,76

(Tagger et al. 265)

Leal et al.1 6 3 compararam a biocompatibilida- Rickert mostraram resultados semelhantes, com


de dos cimentos endodônticos Sealapex, CRCS, discreta reação tecidu al. O FillCan al demonstrou
Fil}Canal e N-Rickert em tecido conjuntivo sub- irritação tecidual um pouco mais acentuada que
cutâneo de rato. Decorridos os períodos de ob- os demais cimen tos. Dentre os qu atro cimentos
servação (7, 21 e 60 dias), os implantes foram testados, o Sealapex foi o ú nico que mostrou evi-
preparados para análise de microscopia, com cor- dên cias de deposição de sais de cálcio, semelhan-
tes de 6 ~tm de espessura e coloração pela hema- tes às observadas com o hidróxido de cálcio.
t oxilina e eosina. Todos os materia is t estados Barbosa et al.12 verificaram a citotoxicidade
mostraram-se irritantes, sendo que, no período dos cimentos endodônticos (FillCanal, N-Rickert,
inicial o Sealapex e o N-Rickert exibiram resulta - FS Paste e Sealer 26) em células do tecido con -
dos próximos e com características de menor irri- juntivo, através de con tato direto e indireto. As
tação t ecidual do que o CRCS e o FillCanal. No células estudadas foram fibroblastos L929 de ra-
período final (60 dias) o Sealapex, CRCS e N- tos e célu las do ligamento periodontal (PDL), em
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR
1 - - - , - - -.. - , , - - · · · - · - - · - - · - - - - - - - - ' ·-·----,-.-• · - W " ....,W, · - - . -. . .. . . •• ••_ _,_. _ _ • ... · - · - . _ , . ,. ., _ ·• . . . . . . . . . . ..

culturas de 5 a 7 dias. Foram analisados cimen- ocorreu anquilose e reabsorção por substituição.
tos recém espatulados ( 1, 7, e 14 dias após espa- No terço cervica l, cem ento neoformado estava
tulação). Os resultados evidenciaram que todos ausente em 6 espécimes, havendo apenas um
os cimentos recém espatulados causaram danos caso de fechamento total. Inflamação crônica
celulares significantes e severos. A citotoxicidade moderada estava presente em 10 casos.
do Sealer 26 e FS tendem a diminuir após 24 HolJand et al. 12 3 avaliaram a reação dos teci-
h oras quando comparados aos outros cimentos. dos periapicais de dentes de cães posterior à ob-
Holland et al.116 observaram a influência da turação com MTA ou Ketac-Endo. Trinta canais
cicatrização da ferida periodontal frente ao tipo radkulares de 2 cães foram usados no estudo. Os
do material obturador e a localização da lesão canais tiveram o forame apical perfurados e am-
periodontal. Foram utilizadas 24 raízes de 2 cães pliados até o instrumento de número 30, depois
adultos. O tratamento foi feito em duas sessões, um batente foi realizado O, 5 a 1 mm aquém do
e os canais obturados com cones de guta-percha ápice, e então os canais [oram instrumentados
e óxido de zin co e eugenol ou Sealapex, com a até a lima Kerr número 60 sob irrigação com
técnica de condensação lateral. As aberturas co- solução salina. Os canais foram então preenchi-
ronárias foram seladas com cimento de fosfato dos com Otosporin e selados por uma semana
de zinco e amálgama. Na segunda sessão, o teci- com cim ento provisório (IRM). Na segunda ses-
do ósseo foi exposto e duas cavidades foram rea- são os canais foram n ovamente irrigados com
lizadas através do osso, cemento e dentina, atin- solução salina, secos com cones de papel e obtu-
gindo o material obturador. Uma cavidade foi rados com cones de guta-percha e MTA ou Ke-
preparada no terço apical e outra entre o terço tac-Endo. Os cimentos fora m aplicados nos ca-
médio e cervical. As incisões foram suturadas e nais com lentulo e os dentes foram obturados
os animais sacrificados após 6 meses. Alguns es- com a técnica da condensação lateral. A câmara
pécimes foram então fixados, descalcificados e pulpar de cada dente foi coberta por uma cai:µa-
· ; preparados para análise microscópica. A análise da de cimento de óxido de zinco e eugenol e a
1

I dos resultados levou em consideração o cemento abertura coronária foi fechada com amálgama.
neoformado, ligamento periodontal, reação in- Em ·cada grupo experimental 15 dentes foram
flamatória e presença de debris do canal no liga- tratados. Após 180 dias os espécimes foram ana-
mento periodontal. No grupo do Sealapex, no lisados. Os resultados m ostraram ausência de rea-
terço apical, houve deposição cementária com ção inflamatória dos tecidos p eriapicais e o total
, fechamento total em 8 casos, sendo que em ape- fechamento do forame apical de todos os dentes
nas 2 casos não houve nenhuma deposição. O obturados com MIA. Nos dentes obturados com
ligamento periodontal estava livre de inflamação Ketac-Endo, em apenas 2 casos ocorreu fecha-
em 8 casos, e apresentou reação inflamatória m ento parcial e diferentes graus de reação infla-
crônica mediana nos outros casos. Em todos os matória crônica foram observados.
dentes, exceto em 3 casos, houve reinserção do Sacomani et al.2 34 investigaram o comporta-
ligamento periodontal. Em relação ao terço cer- mento dos tecidos periapicais de dentes de cães
vical, cemento neoformado estava ausente em após preparo e obturação com os cimentos Sealer
apenas 1 caso, sendo que em apenas 2 casos 26 e Sealer 26 modificado. Após o preparo os
houve fechamento total. O ligamento periodon- canais foram preenchidos com Otosporin. Decor-
tal estava livre de reação inflamatória na m etade ridos 7 dias, foram secos e obturados com a técni-
dos dentes, sendo que os outros apresentaram ca da condensação lateral de guta-percha e os ci-
reação crônica mediana um pouco mais extensa mentos obturadores. Decorridos 180 dias, os espé-
que o grupo anterior. A reinserção do ligamento cimes foram analisados. Os dois cimentos, quando
periodontal ocorreu em metade dos dentes. O levados aos tecidos periapicais, provocaram reação
grupo do óxido de zinco e eugenoL no terço api- inflamatória crônica observada 180 dias após a
~- cal, apresentou fechamento total por deposição obturação. Excluindo-se os espécimes com detri-
f· de cemento em 5 espécimes, sendo que 3 não tos, os resultados hisLornorfológicos dos dois ci-
demonstraram nenhuma deposição. Não houve m entos não mostraram diferenças significantes
inflamação em 8 casos, e os outros foram seme- entre si, o que leva a conclusão de que as altera-
lhantes ao grupo anterior. A reinserção perio- ções propostas para o cimento Sealer 26 não me-
dontal ocorreu em 5 casos, e em dois espécimes lhoraram suas p ropriedades biológicas.
_____________
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
,

Holland et al. 121 observaram a reação do teci- Lim & Tidmarsh 166 investigaram a infiltração
do conjuntivo subcutâneo de ratos ao implante de do Sealapex e do AH 26 por de longo período de
tubos de dentina preenchid9s com cimentos con- observação, utilizando-se técnica eletroquímica.
tendo hidróxido de cálcio. Tubos de dentina foram Dentes anteriores unirradiculares foram selecio-
preparados a partir de dentes h umanos, sendo ir- n ados, e suas coroas removidas. A técnica de
rigados com EDTA e hipoclorito de sódio, e então preparo foi padronizada, por m eio de uma ins-
lavados com água destilada antes de serem auto- trumentação até a lima nº 40, lmm aquém do
clavados. Os tubos foram então preenchidos com forame apical. Trinta dentes foram divididos em
MTA, Sealapex, CRCS, Sealer 26 e um cimento 2 grupos de 14, e 2 usados como controle. Os
experimental, Sealer Plus. Os tubos foram imedia- dentes foram então obturados através da técnica
tamente implantados na região dorsal de 60 ratos, de conden sação lateral, e desobt urados até per-
1 '
em dois locais diferentes, sendo que tubos vazios manecer 4 mm de obturação, simulando a neces-
foram usados como controle em 10 animais adi- sidade de colocação de pino intracanal. Os den-
cionais. Os animais foram sacrificados 7 e 30 dias tes usados com o controle não foram obturados,
após, o t ubo e tecido adjacente removido e prepa- sendo que o ápice do grupo controle positivo
rado para análise histológica. Algumas seções fo- não foi selado, e do n egativo tota lmente imper-
ram coradas de acordo com a técnica de Von Kos- meabilizado. Um fio de cobre isolado, com 1 mm
sa, e outras foram analisadas através de luz polari- no diâmetro, foi introduzido no canal até que , ·
zada em microscopia para se localizar o material sua extremidade entrasse em contato com o ma-
birrefringente. Algumas seções ainda foram des- terial obturador e fixado com cera, sendo que
calcificadas por 10 minutos em EDTA, arites de nos grupos controle, penetrou 4 mm no canal. Os
serem coradas. No grupo controle, após 7 dias, esp écimes foram então impermeabilizados exter- ,
uma camada de neutrófilos cobria os tubos, sen do namente com exceção do fora me apical, e imer-
observada, próximo a esta área, a presença de fi- sos em solução de cloreto de potássio a 1% junto '
broblastos e células inflamatórias crônicas. Trinta com uma tira do aço inoxidável que agisse como
dias após, os tubos foram preen chidos por tecido o cátodo. Em intervalos semanais, uma diferença
conj untivo e encapsulados por tecido fibroso . Nos potencial constante de 10 V foi aplicada através ~
grupos experimentais, o cimento CRCS foi o úni- do cátodo e ânodo projetados do canal. A corren-
co que não exibiu estruturas calcificadas: aos 7 te através de uma resistên cia externa de 1OOµA
dias, exibiu um exsudato com n eutrófilos ao re - foi observada em intervalos semanais, e os valo- ·1
dor do material, e aos 30 dias, fibroblastos e rea- res médios de fluxo em cada grupo experimental
ção inflamatória crônica. Todos os outros materiais foram determ inados e submetidos à análise esta-
testados exibiram estruturas calcificadas aos 7 e tística . O grupo controle positivo demonstrou
30 dias. A ú nica diferença foi a quantidade dessas correntes num máximo de 684 µA em 13 sema-
estruturas, que foi mais numerosa nos grupos do nas, e caiu devagar ao n ível zero, sendo que o
MTA e Sealapex. grupo controle negativo exibiu, após vários dias,
Pulgar et al. 221 determinaram se o cimento corrente de apenas 7 µA. Nos grup os experimen-
AH 26 e AH Plus possuem efeitos osteogênicos in tais, a an álise estatística não demon strou diferen-
vitro. Células de câncer de mam a MCF-7 foram ça sign ificante no período de 26 semanas, sendo
colocadas em placas com 24 compartimentos que ambos os materiais permitiram infiltração.
com concentração inicial de 10.000 células por Entretanto, considerando apenas as 12 primeiras
compartimento. As células foram deixadas para semanas, h ou ve uma pequena diferença entre os
se unir por .'.44 horas, sendo então diferentes con - mesmos, com menor infiltração para o Sealapex.
centrações dos materiais testados adicionados aos Holland et a/.t 15 estudaram o efeito de algu-
compartimentos das amostras (AH 26 e AH Plus mas variáveis no método de imersão dos dentes
em diluições de 11100 até 1/1 .000.000). O expe- com canais obturados n o corante, empregando
rimento foi observado após 144 h oras. Os auto- ou não o vácuo. Foram empregadas 40 raízes de
res observaram que apenas o cimento AH 26 de- dentes humanos unirradiculares, que tiveram
monstrou efeito osteogênico in vitro. suas coroas removidas. Realizou -se então o pre-
Outras investigações direcionaram à avalia- paro do canal, com sobre-instrume ntação até a
ções das propriedades físico -químicas dos cimen- lima nº 40 e escalonamento até a lima nº 80.
tos obturadores. Concluído o preparo, os dentes foram impermea-
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

bilizados e obturados através da técnica da con- corridas 24 horas, m etade dos espécimes foi inte-
densação lateral com cones de guta-percha e ci- gralmente imersa em água por 75 dias, enquanto
m ento de óxido de zinco e eugenol. Terminada a que a outra metade foi subm etida à solução tra-
obturação, os dentes foram impermeabilizados çadora. Ambos os grupos, de 24 horas ou 75
também em sua porção coronária, ficando ape- dias, foram mergulhadas na solu ção de azul de
n as o forame apical sem ser impermeabilizado. metileno a 2 % sob vácuo. A bomba a vácuo era
Decorridas 24 horas, 10 espécimes foram mergu- acionada, deixando-a funcion ar por 10 minutos,
lhados em azul de metileno a 2 % por 24 horas. quando então os espécimes eram mergulhados
Os demais espécimes foram imersos no corante na solução traçadora e assim p ermaneciam por
em ambiente com vácuo, onde 3 variáveis foram 12 horas. Após esse período, os dentes eram tra-
analisadas: a) decorridos 10 minutos de vácuo, tados, seccionados e procedia-se então a medida
ainda com a bomba funcionando, os dentes fo- das infiltrações marginais ocorridas. A infiltração
ram mergulhados no corante; eliminava-se o vá - marginal aos 75 dias foi maior que a observada
cuo e os dentes permaneciam no corante por às 24 h oras, para todos os cimentos estudados. A
mais 3 horas; b) após os 10 minutos de vá cuo, os ordem de m en or para maior infiltração marginal
dentes foram mergulhados no corante e perma- no tempo de 24 horas, relacionando-se os cimen-
neciam por 1 hora em ambiente com vácuo; c) tos foi: Sealapex, cimento experimental, AH 26,
após os 10 m inutos de vácuo, os dentes foram New B2, CRCS, Rickert, OZE e FillCanal. Já no
mergulhados no corante, eliminou-se o vácuo e tempo pós-operatório de 75 dias, essa ordem foi:
os dentes permaneceram por 24 horas. Concluí- Sealapex, New B2, AH 26, CRCS, cimento expe -
dos os tempos, os dentes foram seccionados e rimental, Rickert, OZE e FillCanal.
analisados quanto à profundidade das infiltra - Limkangwalmongkol et al. 16 8 obse rvaram a
ções marginais ocorridas. Evidenciou-se que com capacida de de selamento dos cim entos endodôn-
o emprego do vácuo, em todas as variáveis estu- ticos - Apexit, Sea lapex, Tubliseal e AH26 - em
1 dadas, ocorreu uma maior infiltração marginal conjunto com a guta-percha condensada lateral-
I quando comparado ao não emprego deste recur- mente em 125 dentes unirradiculares humanos.
so. Já os resultados obtidos com o emprego do O terço apical foi prepa rado por limas que varia-
vácuo, mesmo variando o tempo de permanên- vam de n 2 30 ao n u 50 com escalonamento pro-
cia do espécime no corante, foram semelhantes gressivo. Os dentes foram obturados com a técni-
entre si. ca da condensação lateral e distribuídos em 5
Holland et al. 131 analisaram comparativamen- grupos: 1) Apexit; 2) Sealapex; 3) Tubliseal; 4)
te a eficiência do selamento marginal obtido após AH 26 e 5) Controle (nenhum cimento foi utili-
a obturação pela técnica da condensação lateral, zado). Foram obtidas duas radiografias finais (M -
utilizando-se cones de guta-percha e alguns ci- D e V-L), com o objetivo de verificar a qualidade
mentos obturadores, com ou sem hidróxido de da obturação. A abertura coronária foi selada
cálcio. Foram empregados 160 dentes humanos com Cavit, sendo qu e os dentes permaneceram
unirradiculares extraídos. Após a remoção da co- de 1 a 3 semanas, a 37ºC em 100% de umidade
roa dos dentes, os mesmos foram sobre-instru- relativa. A região externa foi então impermeabi-
mentados 1 mm além do forame até a lima n º lizada, com exceção dos 2 a 3 mm apicais. A
40, seguindo-se o preparo escalonado até a lima seguir, os dentes foram submersos em solução
nll 80. Os dentes foram irrigados com solução de azul de metileno a 2 %, por 3 minutos. Os dentes
Dakin, e concluído o preparo, foram impermea- foram removidos, lavados e incluídos em resina
bilizados respeitando-se a abertura coronária e epóxica, sendo e n tã o seccionados horizontal-
apical. Os dentes foram então divididos em 8 mente em intervalos de 0,5 mm. Nos grupos ex-
grupos de 20, de acordo com os cimentos utiliza- perimentais, em todos os espé cimes foi observa-
dos: Sealapex, CRCS, New B2, um cimento ex- da infiltração do corante, sendo que os menores
perimental desenvolvido pela disciplina de Endo- valores foram demonstrados com o AH 26.
dontia de Araçatuba, óxido de zinco e eugenol, Holland et al. 107 verificaram a propriedade
FillCanal, Pulp Canal Sealer e AH 26. Os canais seladora de alguns m ateriais seladores temporá-
foram então obturados pela técnica da condensa- rios, empregando-se ou não o vácuo, antes de
ção lateral, e depois imersos em água após serem mergulhar os espécim es em e studo na solução
impermeabilizadas suas porções coronárias. De- aquosa azul de m etileno a 2 %. Os materiais
CIÊNCIA END O DÕNTICA

Cimpat e Lumicon apresentaram melhor eficiên- Pilatti & Zardo 2 15 analisaram quantitativa-
cia de selarnento, não existindo diferença estatis- mente a infiltração apical em obturações de ca-
ticamente significante entre _os dois. Há diferença nais radiculares pela técnica da condensação la-
estatisticamente significame entre as médias dos tera l utilizando-se os cimentos Sealapex e Ketac
procedimentos utiliza dos, sendo que o procedi - Endo. Dentre os grupos experimentais, os esp é -
mento com vácuo é o que melhor avaliou a infil- cimes pertencentes ao grupo do Sealapex e irri-
tra ção existente. gação final à base de EDTA a 17 % , foram os
Limkangwalrnon gkol et al.167 estudaram a ca- que apresentaram menores índices de infiltra-
pacidade seladora de quatro cimentos endodôn- ção apical.
ticos (Apexit, Sealapex, Tubliseal e AH 26) em 50 Holland & Murata 109 observaram a efetivida-
dentes humanos unirradiculares. Houve penetra- de da obturação do sistema de canais radiculares
ção do corante em todos os espécimes estudados, com o cimento Sealapex em 30 dentes humanos
com exceção do grupo controle negativo. O menor · unirradiculares. Concluído o preparo simulou-se
nível de penetração ocorreu no grupo do AH 26, um canal lateral efetuando-se uma perfuração da
seguido pelo Apexit, Sealapex, Tubliscal e con- dimensão do instrumento de número 15 no sen -
trole positivo. Em análise estatística, houve dife- tido vestíbulo-lingual e em ângulo reto, do ce-
rença significante em todos os grupos, exceto mento ao interior do canal. Procedeu-se a seguir,
entre o Sealapex e o Tubliseal. nova irrigação e preenchimento do canal com , .
Estrela et al. 63 avaliaram o selamento apical EDTA por 3 minutos. Os canais foram então se-
de dentes obturados at ravés da técnica de con- cos e obturados pela técnica da condensação la-
densação lateral e de Nguyen (condensação late- teral, com cones de guta-percha e os seguintes
ral e vertical), por meio de corante azul de meti- cimentos: N-Rickert, Sealapex e Apexit. Os ci-
leno, utilizando o N-Rickert e o Sealapex. As téc- mentos foram preparados de acordo com os fa-
nicas de Nguyen e da condensação lateral apre- bricantes, e no caso do Sealapex, foi acrescido 1/3 '
sentaram médias de infiltração em torno de de iodorfórmio. Concluídas as obturações, os
0,783 mm e 0,935 mm, quando se empregou o dentes foram radiografados nos sentidos M-D e
N-Rickert, e 0, 76 5 mm e 0,959 mm, quando se V-L, e foram anotadas as penetrações observadas . '
/
empregou o Sealapex, respectivamente. Dos 1O espécimes testados para cada cimento,
Estrela et a l. 64 compararam a infiltração api- todos os cimentos foram capazes de obturar os
cal com azul de m etileno, de diferentes cimentos canais laterais em todos os espécimes, enquanto
endodônticos (FillCanal, N-Rickert, Sealapex e que em relação às ramificações apicais, o Seala-
AH 26) e as técnicas de obturação (condensação pex obtu rou -as em 9 espécimes, enquan to que o
lateral ativa e passiva). Todos os cimentos permi- Apexit e o N-Rickert obturaram -nas em 8 espéci-
tiram infiltração apical, sendo que não h ouve di - mes. Pôde-se concluir que os cimentos à base de
ferença estatisticamente significante entre os ci - hidróxido de cálcio aqui testados possuem escoa -
mentos. Quando se comparo u a infiltração apical mento suficiente para p enetrar no sistema de ca-
entre as técnicas de condensação lateral ativa e nais radiculares durante a obturação pela técnica
passiva, os cimentos FillCanaL Sealapex e AH 26 da condensação lateral.
demonstraram diferenças significantes, com me- Fidel et al.72 estudaram o tempo de endureci-
nores valores p ara a condensação ativa. Já o ci- mento de alguns cimentos en dodônticos conten-
m ento N-Rickert n ã o demonstrou diferenças es- do hidróxido de cálcio e suas fórmulas. Realiza-
tatisticamente significantes entre as técnicas. ram 3 testes para cada cimento testado e deter-
Fidel et al.73 estudaram in vitro a solubilidade minou-se o valor do tempo de endurecimento
dos seguintes cimentos endodônticos que contêm por meio da média aritmética dos 3 resultados
hidróxido de cálcio: Sealapex, CRCS, Sealer 26 e obtidos. O CRCS e o Apexit apresentaram tempo
Apexit. Os cim entos Sealer 26 e Apexit apresenta- médio de endurecimento curto, de 23 minutos e
ram baixo índice de solubilida de e de desintegra- 1 hora e 30 minutos, respectivamente. Já os ci-
ção (0,7 % ), sendo que o cimento Sealçi.pex apre- mentos Sealer 26 e Sealapex apresentaram tem-
sentou alto índice ( 13 % ), totalm ente fora da es- po de endurecimento longo, de 41 horas e 22
pecificação 57 da ADA. Já o cimento CRCS apre- minutos e 45 h oras e 34 minutos, respectiva-
sentou solubilidade e desintegração no limite m á- mente. Apenas o cimento CRCS apresentou tem-
ximo preconizado p ela ADA, ou seja, 3% . po de endurecimento de acordo com o informa -
OBTUR AÇÃO DO CANAL RADICULAR

do pelo fabricante, sendo singular na condição mentos CRCS e FillCanal, cujos resultados foram
de preencher a especificação 57 da ADA. considerados semelhantes entre si. Já a análise
Fidel et al.7 5 estudaram o pH de alguns ci- volumétrica evidenciou resultados semelhantes
mentos endodônticos qu e contêm hidróxido de entre o Sealer Plus e o FillCanal, porém melho-
cálcio em suas composições, no momento de sua res que os obtidos com o CRCS.
espatulação até uma semana após, quando imer- Em outros trabalhos, a preocupação foi dire-
sos no meio aquoso. Os cimentos avaliados fo- cionada à análise do efeito antimicrobiano.
ram o Sealer 26, CRCS, Sealapex e Apexit. Após Canalda & Pumarola 35 estudaram os efeitos
espatulados, mediu-se imediatamente o pH colo- inibitórios, por meio de teste de difusão em ágar,
cando-se 2 gramas do cimento em um tubo de produzidos pelo cimentos endodônticos conten-
ensaio contendo 9 mL de água destilada e deioni- do hidróxido de cálcio, em certas bactérias, com-
zada. Então, centrifugou-se e efetuou- se a medi- parando com os produzidos por outros cimentos
da. Posteriormente, confeccionaram-se corpos de com óxido de zinco e eugenol ou resina epóxi.
prova circulares com 20 mm de diâmetro interno Os cimentos estudados foram: Sealapex, CRCS,
e 1,5 mm de espessura, que foram mantidos em Endométhasone, Tubliseal e AH26, enquanto
ambiente a 37ºC e 95% de umidade relativa até que as seis bactérias u tilizadas foram: S. [3-hemolí-
seu completo endurecimento. Os mesmos foram tico, S . aureus, E. coli, C. albicans, Veillonella sp. e B.
então posicionados no interior de recipientes de fragilis. A leitura após 96 horas demonstrou que
vidro contendo 50 ml de água destilada e deio- a ação inibitória permaneceu no mesmo nível.
nizada, com um valor de pH de 6,3. Decorridas Apenas para S. {3-hemolítico com Endométhasone
3 horas, fazia-se a primeira medição de pH, to - e Tubliseal, e C. albicans para o Sealapex demons-
mando-se medidas subseqüentes a cada 24 horas traram diminuição n o processo inibitório.
por 1 semana . Fez-se a medição em 2 corpos de Estrela et al.61 analisaram comparativamente
prova para cada cimento, dos quais obteve-se a a ação antibacteriana, por m eio de teste de difu-
/1 média aritmética. Todos os cimentos testados são em ágar, de três cimentos obturadores (Sea-
I apresentaram pH alcalino, sendo que o Seala- lapex, Sealer 26 e Apexit), frente a culturas pu -
pex apresentou o pH mais elevado no momento ras de três bactérias aeróbias facultativas: Escheri-
da espatulação. O Sealapex e o Sealer apresenta- chia coli, Pseudomonas aeruginosa e Estreptococcus fa -
ram decréscimo de seus valores ao decorrer do ecalis. Os cimentos obturadores experimentados
tempo, enquanto o CRCS e Apexit apresentaram não evidenciaram potencial antibacteriano quan-
seu s valores entre 10 e 11,2 por todo o tempo do consideradas as bactérias indicadas.
decorrido do experimento. Siqueira-Jr & Gonçalves 25º compararam a ati-
Valera et al. 2 80 analisaram a morfologia das vidade antibacteriana de cim entos endodônticos
partículas dos cimentos Sealapex, Apexit, Sealer (FillCanal, Sealapex, Sealer 26 e Apexit) sobre
• 1
26 e Ketac Endo, através de microscopia de força bactérias anaeróbias (P. endodontalis, P gingivalis, A.
atômica para verificar as características de suas israelii, P acnes, F nucleatum e W recta), além de
partículas após obturação dos canais e após um duas anaeróbias facultativas (S. aureus e A. Naes-
período de seis meses de contato com o plasma lundii). Após a incubação, os diâmetros de inibi-
sangüíneo humano. Os autores observaram que ção foram mensurados em mm, e quatro placas
o plasma sangüíneo humano causou alteração foram utilizadas para cada bactéria testada. O ci-
nas estruturas de todos os cimentos. Entretanto, mento FillCanal demonstrou as maiores zonas de
o Sealer 26 apresentou desintegração mínima inibição para os cimentos testados, sendo que o
após 6 meses, enquanto que o Apexit apresentou Sealer 26 foi ineficaz sobre P endodontalis e P gin-
a maior perda de estrutura, seguido pelo Ketac givalis. Não houve diferença significante entre o
Endo e Sealapex. Sealapex e o hidróxido de cálcio, e o Apexit foi
Holland et ai. 110 observaram a qualidade do ineficiente sobre todas as bactérias testadas.
selamento marginal apical obtida com um novo Duarte et al. 54 avaliaram in vitro a capacidade
cimento à base de óxido de cálcio, o Sealer Plus, anti-séptica, empregando o método de difusão
analisando os resultados através dos métodos li- radial, de alguns materiais empregados na rotina
near e volumétrico. A análise estatística da infil- endodôntica, bem como verificaram se o acrésci-
tração marginal linear mostrou menor infiltração mo de hexametilenotetramina ao pó do cimento
com o cimento Sealer Plus, em relação aos ci- Sealer 26 melhoraria sua capacidade anti-séptica.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Os materiais obturadores analisados nesse traba- suspensão em cada uma das 30 placas de Petri
lho foram: Endomethasone, AH 26, Sealapex, contendo 20 mL de ágar BHI cada. Três cavida-
Sealer 26 e pasta de hidróxido de cálcio acrescido des, medindo 4 mm de profundidade por 4 mm
de soro fisiológico. Ao cimento Sealer 26, ainda de diâmetro foram realizadas e completamente
foram preparadas duas outras versões experi- preenchidas com os materiais testados. As placas
mentais, acrescendo 5% de hcxametilenotetra- foram pré-incubadas por 1 hora à temperatura
mina no grupo experimental 1 e 10% no grupo ambiente, e depois incubadas a 37ºC por 48 ho-
experimental 2. A avaliação foi feita através da ras. Os diâmetros das zonas de inibição foram
difusão radial em ágar, e os microrganismos utili- medidos, e então extraídas amostras dos halos de
zados foram: S. aureus, E. faecalis, S. mutans, P. difusão e inibição, que foram imersas em 7 mL
aeruginosa, Klebsiella s.p. e C. albicans. O cimento de caldo BHI e incubadas a 37ºC por 48 horas.
Endomethasone apresentou ação contra todos os Foram realizados controles positivos e negativos,
microrganismos testados, apresentando os me - e os testes foram realizados em triplicata. A pasta
lhores resultados. O cimento AH 26 foi mais efe- de hidróxido de cálcio demonstrou os melhores
tivo que o Sealer 26, e a adição de 5 ou 10% de resultados, demonstrando zonas de inibição varian-
hexametilenotetramina ao pó do Sealer 26 au- do de 6 a 9,5 mm e de difusão entre 10 e 18 mm. O
mentou seus valores de inibição, principalmente MIA, cimento Portland e Sealapex demonstra-
com 10%. O cimento Sealapex e a pasta de hi- ram apenas zonas de difusão, e entre esses, o
dróxido de cálcio não apresentaram halos de ini- Sealapex obteve as maiores zonas (10 a 18 mm).
bição em nenhum dos microrganismos testados. Já o Dycal não demonstrou zonas de inibição
Estrela et al.60 investigaram a ação antimicro- nem de difusão nos microrganismos testados
biana do MTA, cimento Portland, pasta de hidró- (Gráficos 13.3 a 13.7).
xido de cálcio, Sealapex e Dycal. Os materiais Carrascoza 37 analisou o efeito antimicrobia-
foram testados com os seguintes microrganismos: no de alguns cimentos endodônticos (Sealapex, 1

S. aureus, E. faecalis, P. aeruginosa, E. subtilis e C. Sealer 26, Sealer Plus, EndoFill e N-Rickert), por
albicans. Para o teste de difusão em ágar, os mi- meio de teste de difusão em ágar, sobre S. aureus,
crorganismos foram inoculados em 5 mL de ágar E. faecalis, P aeruginosa, B. subtillis e C.albicans. Os
/
BHI e incubados a 37ºC por 24 h oras. Foram resultados m ostraram que o Sealer 26 eviden-
então diluídas em suspensão salina até obter-se ciou zonas de difusão para todos os cimentos e
uma con centração final de 3 x 108 célu las/mL, e zonas de inibição para P aeruginosa e C. albicans.
1 rnL de uma dessas su spensões puras foi utiliza- O Sealer Plus mostrou zonas de inibição para o S.
da para se obter uma mistura dos microrganis- aureus, E. subtil/is e a mistura. Os demais cimen-
mos testados. Foi então inoculado 0,1 mL dessa tos exibiram apenas zonas de difusão.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

• GRÁFICO 13.4

J • ~"
GRÁFICO
- 13.5-
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

/
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

Duarte et al. 5 4 avaliaram a capacidade anti - bilidade e à relativa facilidade de colocação e re-
microbiana de alguns cimentos endodônticos moção durante o tratamento endodôntico232 • En-
(AH Plus, Sealer 26, Sealapex, Apexit e o Sea- tre as vantagens da guta-percha observa-se a
ler Plus). O método de escolha foi a difusão do possibilidade de condensação e adaptação às irre-
agente de forma radial no ágar. As bactérias gularidades dos canais radiculares, a capacidade
utilizadas foram: S. aureus, E. faecalis, P aerugi- de amolecimento pelo calor ou solventes, ser
nosa, B. subtilis e C. albicans. Os resultados mos- inerte, apresentar aceitável estabilidade dimen-
traram que o AH Plus apresentou a melhor sional, ser tolerada pelos tecidos, não alterar a
ação antimicrobiana, inibindo 4 dos microrga - coloração dentária, ser radiopaca e poder ser re-
nismos testados, seguido pelo Sealapex (inibiu movida do canal.
3 microrganismos) e pelo Sealer 26 (inibição A guta-percha é insolúvel à água, discreta-
de 2 tipos de microrganismos). O Apex it e o mente solúvel ao eucalipto!, solúvel ao éter, xi-
Sealer Plus não inibiram os microrganismos loL benzeno, halotano, terebentina e clorofór-
testados. mio. O capítulo referente às técnicas de retrata-
Miletic et al. 187 avaliaram a penetração de mento discute o emprego dos solventes de guta-
Candida albicans sozinha e uma combinação de percha.
bactérias (S. mutans, P melaninogenica e L. acido-
philus) através de canais obturados com guta- PROCEDIMENTOS PRÉVIOS À
percha e cimento endodôntico AH 26 ou AH Plus, OBTURAÇÃO
em 80 dentes. A infiltração nos dentes testados
ocorreu entre 14 e 87 dias. A infiltração esteve Alguns procedimentos são desenvolvidos
presente em 47% de todas as amostras, sendo previamente à obturação, como a remoção da
que as amostras obturadas com AH 26 infiltra- smear layer, a remoção da medicação intracanal,
ram em 45% com bactérias e 60% com fungos. etc. A remoção da smear layer, tema já discutido
·; Já as amostras com AH Plus, 50% infiltraram nos capítulos referentes ao preparo do canal ra-
com bactérias e 55% com fungos, o que demons- dicular e hipoclorito de sódio, deve ser realizada
trou não haver diferença estatisticamente signifi - anterior à colocação da medicação intracanal.
cante em relação à infiltração por bactérias e Assim sendo, ao remover essa medicação intra-
fungos entre os cimentos testados. can al (hidróxido de cálcio), pode-se realizar a
É inquestionável algumas divergências nos seguir a seleção do cone principal. Torna-se
resultados experimentais, porém é inegável a oportuno reportar que o remanescente do hidró-
importância que os cimentos representam no xido de cálcio pode contribuir reduzindo a per-
contexto do perfeito selamento endodôntico. O meabilidade dentinária 2º7 .
fator biológico deve ser entendido e valorizado
como essencial, pois de nada adianta impermea- Seleção do Cone Principal
bilizar b em e manter uma reação inflamatória
crôn ica. O adequado ajuste do cone principal na ca-
vidade pulpar preparada deve permitir o espaço
CONES DE GUTA- PERCHA mais reduzido para o cimento obturador, de tal
forma que esse material exerça sua única e ex-
A guta-percha é um material presente nos clusiva função de agente impermeabilizante e de
cones p ara a obturação de canais radiculares. A cimentação. O cone principal deveria ser confec-
gu ta-perch a con stitui uma substância vegetal, cionado com o diâmetro de ponta o mais próxi-
obtida a partir de uma árvore da família das Sa- mo do diâmetro do último instrumento que
potáceas, do gênero Pallaquium, existente na Su- atuou na região apical. Como é difícil uma pa-
matra e nas Filipinas. Foi acrescentado à sua fór- droniza ção, procurou-se desenvolver um confor-
mula inicial o óxido de zinco, o carbonato de mador para cones de guta-percha, para uma me-
cálcio, o sulfato de b ário e o sulfato de estrôncio, lhor padronização.
categute pulverizado, ceras, resinas, ácidos tôni- O maior problema dos cones principais rela-
cos, corantes e óleo de cravo. A guta-percha re- ciona-se à sua confecção. O tipo e padrão da fa-
presenta um material de escolha para o preen- bricação depende do rigor no controle de quali-
chimento do canal radicular dado à biocomp ati- dade (Figuras 13.17 a 13.22).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

O travamento do cone principal. ou a justeza mais maleáveis, podem ter seus diâmetros mais
do mesmo nas paredes do canal radicular, favo- facilmente alterados.
rece um melhor selamento endodôntico. O grau Durante a seleção do cone principal, deve-se
de alargamen to e a técnica de instrumentação introduzí-lo no canal inundado de solução irriga-
influenciam na adaptação do cone principal. Para dora. A adaptação. ou seja, o travamento no
que haja boa adaptação do cone principal, toma- comprimento de trabalh o deve proporcionar
se como referência o diâmetro compatível ao uma pressão apical, e oferecer certa resistência à
número do último instrumento utilizado. Toda- remoção. O cone, nessas condições, estará bem
via. o tempo de permanência de uma lima no ajustado.
canal radicular, após a mesma encontrar-se livre As Figuras 13.17 a 13.22 mostram cones
pode alterar essa relação cone-diâmetro do últi- principais e cones de papel absorvente, comer-
mo instrumento. O limite de contração e expan- cializados com diferentes conicidades. As Figu-
são do cone de guta-percha principal torna-se ras 13.23 a 13.28 exibem radiografias de seleção
crítico, pois. uma vez que estes se apresentam de cones principais.

1 .

• FIG. 13.17
Cones principais de guta-percha 1º Série. Cones principais de guta-percha 2º Série.

XF = R7

" · .-: / .:~


Asmaisíndicado:;poroobl\lro.,;~
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Cv,lteOdo; 60 l"omos de 28mm em ;.W-IQ


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28mm

• FIG. U .2@
Cones acessórios. Cones principais, conicidade 0,04 e 0,06 mm.
OBTU RAÇÃO 00 CANAL RA D ICULAR

• fl~~. jl.:?J • FiG, D,ll


Pontas de papel absorvente. Pontas de papel abso,vente, coniodade 0,04 e 0,06 mm

• J'l§~.}3.~3 . • FIG. 11.24


Radiografia para Radiografia para
seleçào de cone. seleção de cone.

• FIG. 13.2.S
1
,)
Radiografia para
seleção de cone. • FIG. 1l.26
Radiografia para se/eçào de cones
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• . FlG._13.21 __ • flG. 13:J? _.


Radiografia para seleção de cones. Radiografia para seleção de cones.

B TÉCNICAS DE OBTURAÇÃO esterilizado. Nesse momento o cone principal e


os cones acessórios são mantidos em uma placa
A literatura exibe diversas t écnicas e siste- de três divisões, imersos em hipoclorito de sódio,
mas de obturação dos canais radiculares (técnica para uma prévia anti-sepsia.
da condensação lateral, técnica da condensação A manipulação do cimento endodôntico va-
vertical, técnica de McSpadden, técnica de Schilder, ria de acordo com o tipo de cimento escolhido. ;
técnica de Tagger, sistema Endotec, system B, Deve -se obedecer à proporção indicada pelo fa -
sistema ThermaFill, sistema Obtura II, sistema bricante. Para os cimentos tipo pasta/pasta, a
UltraFil etc.). Todos estes recursos foram desen - mistura deve ser bem homogênea. Já, para os ~
volvidos no intuito de vencer a rica e complexa cimentos contendo eugenol deve tomar cuidado
morfologia interna, que deverá ser muito bem na proporção pó-líquido, pois, quanto maior a
selada . proporção de líquido no cimento, mais irritante
Paralelo às técnica s de obturação, desenvol- ele se torna.
veu-se técnicas de preparo dos canais radicula- O cimento é levado ao canal radicular com o
res, na busca de uma conicidade contínua, que cone principal, cobrindo toda sua extensão, in-
favoreça a inserção do material obturador, e que clusive sua ponta. Com curtos movimentos de
respeite as particularidades anatômicas dos ca- penetração e ação lateral sobre as paredes, pince-
nais. O adequado seria utilizar uma t écnica para lam-se todas elas. Introduz-se o cone principal
as situações convencionais, e quando se fizer n e- até o comprimento de trabalho. Quando neces-
cessário lançar mão de manobras e técnicas não sário, repete-se a manobra. O objetivo é levar
convencionais. cimento em contato com todas as paredes do ca -
nal radicular.
Técnica da Condensação Lateral O passo seguinte é a colocação dos cones
de Guta- Percha acessórios. Estes devem ser posicionados o m ais
próximo do ápice radicular. Inicialmente, são in -
A técnica da condensação lateral de guta- traduzidos dois ou três cones, estabilizando o
percha é a técnica mais conhecida e utilizada cone principal e, a seguir, abre-se espaço entre
para obturação dos canais radiculares. Após o esses e as paredes laterais com o espaçador, o
preparo do canal, que deve ter formato cônico, m ais próximo possível do limite apical de traba-
realiza -se a seleção do cone principal. A seguir, lho, p ara inserção de mais cones acessórios. É
radiografa-se para confirmar a sua posição no oportun o salientar que o cone acessório penetra-
comprimento de trabalho. Seca-se o canal radi - rá na m esma extensão qu e o espaçador alcançar.
cular e prepara -se o cimento obturador. É opor- Em algumas situações, os 2 ou 3 primeiros
tuno salientar que o cone de papel deve estar cones acessórios podem alcançar a extensão de -
O BTURAÇÃO DO CA N AL RADICU L AR

sejada sem o auxílio do espaçador. Este, então, cones. Se o terço apical a presen tar espaços,
deve penetrar compactando o material obturador pode-se ainda melhorar, ou até remover todo o
contra as paredes de dentina. O espaço criado material obturador e repetir a operação. Os espa-
com a remoção do espaçador deve ser preenchi- ços nos terços cervical e médio podem ser corri-
do imediatamente com um cone acessório de di- gidos com mais conde nsação lateral e até verti-
âmetro condizente com o do espaçador. Repete - cal. Posterior à verifica ção da qualidade final da
se esse procedimento até que o espaçador não obturação, com um instrumento tipo Paiva
encontre espaço para penetrar além do terço cer- aquecido, cortam-se os cones na entrada dos ca-
vical. É conveniente que o cone principal não nais e, com condensadores frios, faz-se ligeira
seja mudado de posição a cada inserção de novos condensação vertical para acomodá-los no inte-
cones acessórios; ou seja, o ideal é que se ele for rior do canal radicular. Os Esquemas 13.3 a
mantido n a vestibular de um dente anterior, 13 .15 e as Figuras 13 .29 a 13.58 demonstram,
deve-se obedecer o mesmo ponto de introdução por meio de representações esquemáticas e as-
do espaçador, e dos cones acessórios. pectos radiográficos, canais radiculares obturados
A qualidade da obturação pode ser verificada por meio da técnica da condensa ção lateral e
por meio de uma radiografia, antes do corte dos vertical de guta-perch a.

• ESQ UEMA 13.l


Obturação do canal com a
técnica da condensação lateral de
guta-percho.

• ESQUJJ','!_A 1~•.4 .,.


/ . Obturação do canal com a
·· técnica da condensação lateral de
J guta-percho.
CIÊNCIA ENDO DÔNTlCA

- -~§QlJEMA 1.~.5 __
Obturação do canal com o téc-
nica da condensação lateral de guto-
percho.

• ESQUEMA 13.6
Obturação do canal com a téc-
nica do condensação lateral de g uta-
percha.

• [:SQUi~~ H',.?'f..
Obturaçào do canal com o téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

• ESQUEMit 11.3
Obturação do cano/ com o téc-
nica da condensação lateral de guto-
percha.

;f
'
1
1

• 1

• ESQUEMA_13.9
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guto-
percho

( ·.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• FUi S. 13.29 e 13.30


Obturação do canal com a técnica da condensação lateral de guta-percha.

• FIGS. 11.31 ~ B.'.i


Obturação do canal com a técnica da condensação lateral de guta-percha.

Obturação do canal com a técnica da condensação lateral de guto-percho.


OBTURAÇÃO D O CANAL RAPICUtAR

• ftt;s.. iJ.l$ i: 11.~Q


Aspectos radiográficos de obturações
de canais radiculares com a técnica da
condensação lateral de guta-percho.

• ~i_(;§. 133? e U~3$


Aspectos radiográficos de obturações
de canais radiculares com a técnica da
condensação lateral de guta-percho.

• f~GS. 11.39 ~· 13-40


Aspectos radiográficos de obturações
de canais radiculares com a técnica da
condensação lateral de guta-percha (Curso
de Especialização ABOJ.
CIÊN CIA ENDODÔNTICA

• F1G$~ Jª~41 e 11.42


Aspectos radiográficos de obturações
de canais rodiculores com o técnico do
condensação lateral de guto-percho.

1 •

• FIGS'. 13.43 e 13.44


Aspectos radiográficos de obturações
de canais radiculares com a técnica da
condensação lateral de guta-percha.

• _AGS. U .45 e 13.46


Aspectos radiográficos de obturações
de canais rodiculores com o técnico do
condensação lateral de guta-percha.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

• ESQUEMA 13.10
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.

• ESQUE~A 13.U
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.

• ESQUEMA 13.12
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guto-
percho.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• ESQUEMA 13.13
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.

1 •

• E5-QlJ~M-~ J3.14 /

Obturação do canal com a téc-


nica da condensação lateral de guta-
percha.

• .ESQUEM.A_13.1S_ -·--· - _ ···- _


Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.
OB'WRAÇÃO DO CANAL RADICULAR

• _IFIGS~ 13.41' e il.43


Aspectos radiográficos de obturações de canais radiculares com a técnica da condensação lateral e vertical de
guta-percha (Curso de Especialização em Endodontia ABOJ_

• --f~~s~_ 11.49_s _n:~º _


Aspectos radiográficos de obturações de canais radiculares com a técnica da condensação lateral e vertical de
, guta-percha.

• flGS.__ J~'._SJ e 13.52


Aspectos radiográficos de obturações de canais radiculares com a técnica da condensação lateral e ve,tical de
guta-percho_
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• f!G$, 13.Sl e 13.54


Aspectos radiográficos de obturações de canais radiculares com o técnico do condensação lateral e vertical de
guta-percha.

Aspectos radiográficos de obturações de canais radiculares com o técnico do condensação lateral e vertical de
guta-percha.

• _f!GS. 13.!H e 13.58


Aspectos radiográficos de obturações de canais radiculares com o técnico da condensação lateral e vertical de
guto-percha (Curso de Especialização em Endodontia ABOJ.
OBTU RAÇÃO DO CANAL RADICULA R

Alternativas e Outras Técnicas e cônica afunilada contínua. Posterior à introdução


Sistemas de Obturação do cimento endodôntico, coloca-se o cone prin-
cipal com mais cimento no comprimento de tra-
Algumas manobras complementares à con- balho. Corta-se o cone na porção coronária com
densação lateral p odem ser utilizadas em deter- instrumento a quecido. Com um con den sador
minadas situações especiais. Em canais extrema- vertical, condensa-se o cone em direção apical.
mente amplos, pode-se fazer u so dos cones rola- Com cspaçadorcs aquecidos (" heat ca rriers"), con-
dos. Estes cones são confeccionados utilizando-se tinua-se cortando 2 a 3 mm de cone, seguido de
2 ou 3 cones de maior calibre. Com duas placas condensação vertical, com ins trumento frio. Este
de vidro, eslando pelo m enos uma delas a queci-' procedimento deve ser repetido, con1 instrumen-
da, desliza-se uma sobre a outra, com os cones tos cada vez mais finos, até qu e reste aproxima-
interpostos, até que o calor os plastifique e os damente 4 mm de guta- percha . Essas manobra s
una. A placa que se movimenta deve estar ligei- são conhecidas como "down -packing" . O objetivo
ramente inclinada para manter o aspecto cônico dessa fase é tornar a região apical suscetível à ação
do novo con e preparado. Adicionando-se mais do calor e da pressão, o que faz a guta-percha fluir
cones, torna-se mais calibroso ainda. Friccionan - para as ramificações e que sejam evidenciadas. Os
do repetidamente, seu diâmetro diminui. O con e terços cervical e médio, agora vazios, são preen -
é, assim, fabricado de acordo com a n ecessidade chidos por pequenos segmentos de guta -percha
do caso, substituindo o cone principa l tradicio- aquecidos, levados ao interior do canal radicular
nal. Os cones acessórios são colocados pela técni - e compactados até que todo o espaço seja preen -
ca de condensação late ral. Com o advento de chido.
con es de conicida de 0,04 e 0,06 mm, a obtura - O controle do extravasam ento do material
ção nestas situações fica n1enos complexa. obturador e a força ex ercida na condensação ver-
Outra manobra que pode ser utilizada com a tical são imprecisos . Estes aspectos críticos repre-
'1 condensação lateral é a moldagem do con e princi- sentam pontos discutíveis da técn ica , passíveis de
; pal. Trata -se do amolecime nto da ponta do cone, predispor a acidentes, como a sobre-obtu ração e
· para um melhor ajuste nas regiões apicais amplas. a fratura vertical.
Usando uma fonte de calor, que pode ser a chama Buscando redu zir o tempo para concluir a
de uma lamparina, aproxima-se o cone mais ou obturação por esta técni ca, a lguns aparelhos fo-
, m en os 2 cm desta e, a seguir, o conduz rapida- ram d esenvo lvidos, como o To u ch'n Heat
1 mente ao canal radicular até o comprimento de (Analytic Technology, USA), o Endotec (Caulk-
trabalho. Faz-se uma marca n o cone (com os Dentsply) e o System B. Estes sistemas constitu-
mordentes da pinça de algodão), para determinar em aquecedores automáticos com pontas de es -
, a posição em que deveria ser colocado novamen- paçador de diferentes diâmetros.
te. O canal é seco e a condensação lateral é reali- McSpadden 184 apresentou uma maneira dife-
zada como de costume na técnica tradicional. rente de aquecer e compactar a guta -percha. A
Diversas manobras podem ser desenvolvidas partir de um instrumen to ro tatório, que lembra
com o intuito de acomodar da forma mais con- uma lima Hedstroem invertida, a guta-percha é
densada e coesa o material no canal radicular. plastificada e compactada em direção ao ápice . A
Assim, pode-se rem over parte da guta -percha força de compactação leva a guta e o cimento
que preenche o terço cervical e méd io e reforça r endodôntico para os canais laterais, e preenche
a condensação vertical da guta -percha (descrita as ramificações, de man eira similar à técnica de
como técnica da condensação lateral e vertical de Schilder. Na técnica original preconizava-se o
Nguyen 4 4 ). uso de um cone principa l de diâmetro ligeira-
Um a técnica bastante difundida é a técnica mente maior do que o ú ltimo instrumento api-
proposta por Schilder. Todavia, deve-se con side- cal, a ser colocado com cimento en dodôntico. O
f rar o número de passos operatórios e a necessi- compactador, de tamanho compatível com o ins-
dade de habilidade e treina!llento por parte do trumento apical, é acionado no sentido horário.
r operador, pois a técnica tornou-se muito popular O cone vai send o plastificado e levado à região
,J
desde sua publicação. apical.
Esta técnica só é possível ser realizada em Essa técnica sofreu alterações. A mais ex-
canais muito bem preparados, com uma forma pressiva delas foi a proposição de Tagger et al. 264
CIÊNC IA EN DODÔNTICA

que associa a técnica da condensação lateral com Wu & Wesselink 294 discutiram a importân-
o uso do compactador de M cSpadden. A técnica cia de selamento coronário como fator determi-
da condensação lateral é levada até que o terço nante para o sucesso do tratamento endodônti-
apical fique repleto de cones secundários . O co. Essa investigação tomou como base a avalia-
compactador é então aciona do lentamente até ção de métodos semi-quantitativos e quantitati-
2 mm do comprimento de trabalho, com o cuidado vos. Os estudos utilizados nessa investigação
de ajustar o motor n o sentido horá rio. Com a avaliaram o fracasso dos tratamentos endodôn-
p lastificação da guta e sua pressão em sentido ticos em função de canais obturados parcial-
apical, o compactador gradualmente é empurra- mente ou pela instrumentação e sanificação
do para fora do canal. O resultado costuma ser inadequada dos mesmos. Os resultados, da maio-
uma obturação compacta e homogênea em toda ria dos estudos de infiltração in vitro, apresen-
a extensão do canal, em um tempo reduzido, e tam significância clínica questionável, pois a
com pequena quantidade de cones acessórios. técnica da condensação lateral utilizada clinica-
Deve-se realçar que o compactador selecionado mente apresenta-se com alto índice de sucesso,
deve ser dois diâmetros acima do cone principal porém resultados de estudos realizados in vitro
de guta-percha. revelam que cerca de 1/3 dos canais obturados
As espiras do compactador de McSpadden com essa técnica apresentam altos níveis de pene-
tiveram suas angulações reduzidas, o que fez tração de corante, variando de 4,16 a 9,25 mm. 1 '

com que a compactação ficasse mais delicada. A Para tentar reduzir as variações de metodologias
ponta tornou-se inativa, o que diminuiu o risco empregadas, o comprimento e anatomia de to-
de fratura do instrumento e de extrusão da guta- dos os dentes deveriam ser semelhantes, o ba-
percha para além do forame apical. tente e diâmetro do forame após a instrumenta-
Outros aparelhos e técnicas foram propos- ção devem ser controlados, o pH das soluções
tos, na tentativa de se valoriza r as vantagens da utilizadas conhecidos e preferencialmente neu -
termoplastificação da gu ta-percha, m esmo con - tros, a fim de se te ntar determinar a r elação
siderando os riscos, especialmente da ausên cia quantitativa entre a infiltração dos produtos
de controle do material plastificado. Entre os bacterianos da microbiota do canal radicular e a /
sistemas, com uso de pistolas com guta -p ercha inflamação do periápice.
termoplastificad a, en contram -se o sistema Ob - Ray & Trope224 avaliaram a relação existente
tura (Texaed -USA), sistema Ultrafil (Hygienic- entre a qu alidade da restauração coronária e da
USA). obturação do canal radicular, com a presença de
O Thermafil (Tulsa-US A) constitui-se de ou- ., patologia periapical. Selecionaram-se 1010 radio-
tra técnica muito difundida, desenvolvida a par- grafias, d e diferentes dentes tratados endodon-
tir de um núcleo sólido, envolto por guta -percha ticamente e portadores de restaurações definiti-
na fase alfa. Colocado em um forno especial, em vas. A avaliação foi realizada por três diferentes
pouco tempo a guta-percha torna -se aquecida, avaliad ores . Dentes portadores de pinos intrarra-
sendo a seguir levada ao interior do can al, após a diculares ou coroas foram excluídos. Os dentes,
colocação do cimento. O núcleo sólido (feito em após a avaliação, foram categorizados de acordo
plástico) é cortado na entrada do canal radicular. com a qualidade da restauração, da obturação
A falta de controle apical e a dificuldade no re- , endodôntica ou de ambos, segundo a seguinte
tratamento são as maiores limitações desse siste- escala: BE - boa endodontia (se todos os canais
ma. estão obturados sem lacunas e com o limite de
... obturação de O a 2 mm aquém do ápice radio-
IMPORTANCIA DO gráfico); EP - endodontia pobre (quando um dos
• SELAMENTO CORONÁRIO critérios de sucesso não puderam ser observa-
dos); BR - boa restauração (presença de sela-
É consenso atual que o tratamento endo- mento radiográfico); RP - restauração pobre (au -
dôntico finaliza com a restauração do dente, ou sência de selamento radiográfico, sobre-extensão
seja, com o selamento coronário definitivo . Por ou presença de cárie). A região do terço apical
conseguinte, considera -se qu e tão importante foi avaliada segundo os seguintes critérios: AIP -
quanto o selamento da região apical é o sela - a usência de inflamação periapical (p resença de
mento coronário. contorno ósseo periapiq 1l, espaço periodontal
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

normal e ausência de material obturador além de sucesso. Como avaliação final foi postulado
do ápice radiográfico); PIP - p resença de infla - que, sob o ponto de vista radiográfico, a q valida-
mação periapical (qu ando um dos critérios de de técnica do tratamento endodôntico foi mais
sucesso não puderam ser observados) . Os resul- imp ortante que a qualidade da restauração coro-
tados mostraram que 61,07% dos dentes avalia - n ária, quando a an álise da região periapical ser-
dos não ap resentaram inflamação periapical. A viu de critério de sucesso.
restauração boa resultou significativamente mais Kersten et al. 154 investigaram a capacidade da
casos de ausência de inflamação periapical quan- obturação em prevenir a infiltração de partículas
do comparados com dentes com boa endodontia de bactérias e de macromoléculas de proteínas, e
(80% versus 75,7% ). As restaurações pobres re - se a penetração de azul de metileno é compará-
sultaram significativamente em mais casos de vel com a de produtos metabólicos bacterianos
presença de inflamação periapical quando com- de tamanhos similares. A endotoxina utilizada
parado com a pobre endodontia (30,2% versus foi E. colí 055:BS lipopolissacarídeo . O ácido butí-
48,6%). A combinação entre boa restauração e rico é um produto metabólico dos microrganis-
boa endodontia resultou em 9 1,4% de casos de mos com poder citotóxico . As partículas de bac-
ausência de inflamação periapical, enquanto térias e macromoléculas de proteínas podem não
que, a combinação de endodontia pobre e res- infiltrar somente com a utilização de cimento e
tauração pobre resu ltou em 18, 1 % de ausência pressão no momento da obturação com guta-
de inflamação periapical. percha. Infiltração de pequenas moléculas, como
Tronstad et al.276 avaliaram a possível relação o ácido butírico, não pode ser evitada n este estu-
entre a qualidade da restauração coronária, a do, independente do m étodo de obturação utili-
qualidade da obturação endodôntica e a saúde zado e que a infiltração do ácido butírico provou
periapical em 1001 dentes tratados endodontica- ser comparável com o azul de metileno.
mente e portadores de restaurações coronárias. Sousa et al.2 56 descreveram através de uma
' j Dentes com e sem pinos foram considerados du- análise comparativa in vitro, a infiltração margi-
1
I rante a análise rad iográfi ca . Os dentes após ava- nal de alguns materiais encontrados no comér-
liação foram categorizados da seguinte maneira : cio, como o Cimpat B®, Cimpat R®, Coltosol®,
BE - boa endodontia (todos os can ais obturados, Restemp® e Zoecim® . Os resultados demonstra -
ausência de lacunas, limite de obturação entre 1 ram que o Cimpat B®, Cimpat R ®, Restemp®,
e 2 mm aquém do ápice radiográfico) ; EP - en- Coltosol®, Zoecim®, não apresenta ram diferença
; dodontia pobre (limite apical de obturação mais significante entre os grupos. Os autores concluí-
do que 2 mm aquém do ápice radiográfico, pre- ram que os cimentos testados não apresentaram
sença de lacuna ou obturação mal dimensionada diferenças estatísticas sendo q ue nenhum pôde
I
ou mal condensada); BR - boa restauração (res- impedir a infiltração marginal.
tauração aparentemente intacta radiografica - Barrieshi et al. 13 analisaram a infiltração bac-
mente); RP - restauração pobre (restaurações teriana coronária por anaeróbios em dentes pre -
com sinais de sobre-contorno, presença de cárie p arados para retentares intrarradiculares. Este
ou margens abertas) . A aparência da região peri- experimento teve com objetivo determinar o
apical loi verificada tom ando-se os seguintes cri- tipo de penetração de cada bactéria e a presença
térios: sucesso - espaço do ligame nto periodontal de bactérias nas paredes dos canais no terço api-
e osso periapical no rmais; insucesso - radiolu- cal. Foram utilizados 40 dentes humanos recém
cência periapical. Os resultados mos tra r am extraídos, preparados endodonticamente à 1 mm
67,4% de sucesso endodôntico . Dentes com pi- do ápice radicular até o instrumento de nº 40. Os
nos intrarradiculares apresentaram um sucesso dentes foram obturados com guta-percha e ci-
de 70, 7%, enq ua nto que aqueles sem pinos mento Roth's® na técnica da condensação lateral,
apresentaram 63,6%. As endodontias boas com- deixando -se 5 mm de remanescente de obtura -
,. _binada s com boas restaurações mostraram 81 % ção apical. Todos os dentes foram montados em
f ·de su cesso; boa endodontia combinada com res- um modelo experimental no qual a coroa dos
tauração pobre mostrou 71 % de sucesso; endo- dentes estava em contato com os microrganis-
) dontia pobre combinada com boa restauração mos e o ápice comunicava -se com um meio de
mostrou 56% de sucesso; endodontia pobre cultura bacteriana, de tal maneira que não hou -
combinada com restauração pobre mostrou 57% ve contato entre os dois ambientes. O selamento
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA

de todo aparato foi realizado com o cianoacrila -


·-
Um dos sérios problemas que têm sido veri- ,;~
to, exceto na porção coronária e n o terço apical. ficado na clínica endodôntica é o período em que >
Os dentes foram então divididos em 3 grupos:
Grupo 1 - obturados e preparados (grnpo experi-
o dente fica com uma restauração provisória até
o tratamento definitivo . Frente a todos os incon-
tf
mental); Grupo 2 - obtura dos e p reparados, po- venientes que ocorrem devido à infiltração coro- {,
rém totalmente selados (controle negativo); Gru- n ária microbiana, observa-se que o tratamento
po 3 - obturados apenas com guta-percha. Os restaurador definitivo deve ser imediatamente
microrganismos u tilizados foram: P micros, C. rec- realizado. A situação torna-se um pouco mais
tus; F nucleatum. Ao final do período experimen- complexa quando o dente re cebe preparo para
tal, observou-se que 80% dos dentes do grupo retentor intrarradicular e acaba permanecendo
experimental mostraram-se infiltrados por C. rec- um período mais prolongado com selamento ou
tus; F nucleatum no período de 90 dias. A pene- coroa provisória. O selamento interno deve ser o
tração ocorreu entre o 48º e o 84º dia. A eletro- mais adequado possível, evitando-se assim uma
microscopia mostrou um biofilme heterogêneo possível reinfecção. Percebe-se que durante o
de cocos e bacilos nas paredes do canal radicular tratamento endodôntico todos os cuidados são
na porção apical. tomados no sentido de se manter uma cadeia
Zucco 3º2 avaliou a infiltração coronária em asséptica. Estes mesmos cuidados devem ser es-
canais obturados (utilizando os cimentos AH tabelecidos como protocolo de rotina, quando ,
Plus, Sealer 26 e Endofill) e prepa rados para passa ao tratamento do canal para receber um
pino, permanecendo 5 mm de obturação rema- retentor inrrarradicular, quer seja por parte de
nescente . O S. aureus foi utilizado como indica- um clínico geral ou mesmo por parte do especia-
dor da ocorrência de infiltração. Os cimentos fo- lista em prótese. O ideal tem sido que o endo- 1

ram incapazes de evitar a infiltração bacteriana, dontista realize o preparo do canal para o reten-
sendo que o cimento AH Plus mostrou o menor tor íntrarradicular e se for o caso cimente o pino. '
percentual (5,3%), enquanto o maior foi encon- Um dos materiais que tem sido bem aceito
trado no Sealer 26 (41,2 % ). O período médio corno restaurador provisório é o ionômero de vi-
para ocorrência de infiltração nos canais radicu - dro (Figura 13.59). Os Esquemas 13.16 e 13.17 /
lares obturados com o Sealer 26 e Endofill foi de exibem restaurações definitivas após a endodon-
54 e 56 dias, resp ectivamente. tia, como finalização do tratamento.

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Mate.dai rest.:mrador/Recons1mctor
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OBTURAÇÃO 00 CANAL RADICULAR
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• \ESQ!J~MA 13.16
Restauração após o tratamento endodôntico.
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• 1

r • ifSQU~MA u.n
Restauração após o trotamento endodôntico.
CIÊNCIA EN D O DÔNTICA

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DIAGNÓSTICO DO
INSUCESSO
ENDODÔNTICO

CARLOS ESTRELA
LOURDES C. AGUILAR DE ESPONDA

• INTRODUCÃO I

Os vestígios do insucesso do tratamento endodôntico, caracterizados


pela presença de lesão periapical e sintomatologia pós -tratamento, são
• 1
importantes indicadores da necessidade de n ova intervenção. Estes aspec-
tos sinalizam a vitória dos microrganismos frente às resistências orgânicas.
O insucesso endodôntico geralmente é decorren te de fatores técnicos
(operatórios), patológicos (alteração presente) ou in fluencia dos pelos fato-
res sistémicos (doenças que dificultam o processo de reparação tecidual).
Durante muitos anos o tratamento de eleição para os insucessos endo-
dônticos era a cirurgia parendodôntica ou a exodontia. O retratamento
endodôntico, a partir da efetividade conquistada pelo processo de sanifica -
ção, m odelagem e obturação do sistema de túbulos dentinários infectados,
reforçou a importância do controle microbian o n as infecções endodônticas.
Os m étodos de diagnóstico e tratamento dos fracassos endodônticos
podem ser melhor definidos. Todavia, as condições patológicas são expressi-
vas na previsibilidade do su cesso ou insucesso do tratamento endodôntico.
A determinação do sucesso deve -se basear em critérios bem definidos,
pois, os recursos disponíveis para se chegar à conclusão de que o trata-
mento foi bem ou mal sucedido (condizentes com o processo de reparação
tecidual da patologia en contrada), são baseados cm critérios clínicos e
radiográficos. Os critérios histológicos, são definidos n um segundo m o-
m ento, m ediante exam e microscópico, quando oportuno e n ecessário.
CIÊNCIA ENDODÕNTICA

A prevenção de complicações futuras decor- dodônticas. O acompanhamento longitudinal é


rentes da manutenção do tratamento endodônti- relevante, pois, a condição da restauração do
co insatisfatório, em dente q ue será portador de dente e saúde geral do paciente podem influen-
restauração metálica fun dida, prótese fixa com ciar no sucesso.
ou sem retenLor intrarradicular, impõe a indica- Bender et al. 6 enumeram alguns critérios clí-
ção imediata de desobturação e/ ou desobstrução nico-radiográficos representativos de sucesso do
do canal radicular, o que justifica, assim, a neces- tratamento endodôntico: 1. ausência de dor e
sidade do retratamento endodôntico. edema; 2 . ausência de drenagem e fechamento
O objetivo deste capítulo é analisar exclusi- de fístula; 3. dente em função, com fisiologia
vamente os fatores etiológicos relativos ao diag- normal; 4. desaparecimento de rarefação óssea
nóstico dos fracassos endod ôn ticos. No capítulo peria picai.
referente ao processo de reparo após o tratamen- O valor da radiografia periapical é significati-
to endodôntico, discu te-se os fatores que podem vo na identificação da qualidade do tratamento
interferir no processo de reparação e, dentre es- endodôntico, contudo, deve-se tomar cuidado,
tes, encontram-se os fa tores locais e os fatores pois algumas lesões periapicais podem estar
sistêmicos. En tre os fa tores locais podem ser presentes, sem serem nítidas ao exame radiográ-
mencionados: 1. infecção; 2. hemorragia; 3. des- fico. Outro aspecto clínico relevante é o contato
truição tecidual; 4. deficiên cia no suprimento prematuro, que está relacionado a sensibilidade
sangüíneo; 5. presença de corpos estranhos; en- à percussão desenvolvida posterior ao tratamen-
tre os fatores sistémicos, destacam-se: 1. nutri- to endodôntico.
ção; 2. estresse; 3. estados debilitantes crônicos; O vestígio para se pensar em um canal es-
4. hormônios e vitam ina s; 5. desidratação; 6. quecido, em dente tratado endodonticamente,
idadern 5, 1º6 . pode ser sinalizado por um teste térmico persis-
tente.
SUCESSO ENDODÔNTICO O conhecimento científico aliado à vivência
clínica permite mapear os principais fatores en-
O su cesso clínico e radiográfico deve ser ob- volvidos no fra casso do tratamento endodôntico. /
servado após adequ ado período de tempo decor- Holland et al. 1 5 , discutindo a influência das
rido do tratamento . lesões periapicais no sucesso do tratamento en-
lngle & TainLor 52 relata ram que, embora os dodôntico, salientaram que o menor percentual
tratamentos endod ôn ticos possam de monstrar de sucesso é observado nos tratamentos endo-
insucessos em períodos de até 1O anos, a maioria dônticos com rarefações periapicais. Os autores
é eviden ciada no período de até 2 anos. Stabholz relacionaram a importância do emprego de uma
& Walton 117 salientaram que o acompanhamento medicação intracanal, especialmente o hidróxido
posterior a o tratam ento deve ser de 1 a 4 anos. de cálcio, no fav orecimento do processo de cura
Algumas implica ções para a ocorrên cia do tecidua] (Quadro 14 .1).
su ce sso endodôntico devem receber especial cui- A associação dos fatores essen ciais relaciona-
dado, como o adequado tratamento restaurador. dos ao sucesso endodôntico, permite resumí-los
O perfeito selamento do sistema de túbulos den - em: 1. silêncio clínico (ausência de dor, edema,
tinários implica no p erfeito selam cnto coronário. fístula); 2. estrutura óssea peria pical normal
O controle longitudinal, valendo -se de sinais e (uniformidade da lâmina dura, espaço periodon-
sintomas, de aspectos radiográficos, constituem tal normal, ausência ou redução de rarefação ós-
os recursos utilizados para se determinar o su ces - sea, ausên cia ou interrupção de reabsorção radi-
so. Como parâmetro clínico e radiográfico inicial, cular); 3. dente em função e presença de sela-
para a verifica ção prévia do resultado do trata- mento coronário perfeito.
mento endodôntico, pode-se estabelecer o perío- As Figuras 14. 1 a 14.28 exibem casos clíni-
do aproximado de 1 an o para os casos de polpa cos tratados endodonticamente sugestivos de su-
vital, e de 2 anos para os casos de infecções en - cesso clínico e radiográfico.
DIAGNÓSTICO DO INS UCESSO ENOODÓNTICO

Quadro 14.1
ÍNDICES DE SUCESSO (O/o) EM CANAIS RADICULARES COM E SEM LESÃO PERIAPICAL

Sucesso SEM Sucesso COM Total de Casos


Autores
Lesão Periapical Lesão Periapical (raízes)

Strindberg 88,8 67,9 479


Grahnen &. H ansson 85,8 69,2 763
Engstrom et af 88,3 66,5 306
Stroms 96,1 83 158
Adeenubi &. Rube 92,2 81,6 767
Kerekes &. Tronstad 93,6 84,3 501
Jokinen et al 61 38 2.459
Heling &. Tamshe 79,4 52,6 213
Grossman et ai. 89,3 76,S 432
Averbacw 97,3 85 211
Buchbinder 88 44 162
Castagnola 73 66 1000
Cool idge 77,6 58 307
Holst 83 64 82
Stein 76 44 116
Morse &. Yates 100 31,8 257
Seltzer et al 92,4 75,6 2.335

' (Holland et al.45 , 1983 ).


'11

• FIGS. 14.1 e 14 .2
Periodontite apical assintomática no dente 12 com tratamento endodôntico, caracterizando o msucesso
tratamento.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• FIGS. 14.3 e .. 14.4


Retrotamento endodôntico no dente
12, tratamento endodôntico nos dentes 11 e
21, e sucesso clínico e radiográfico após con-
trole de 2 anos.

• FIGS. 14.~ e 14.6 /

Periodontite apicol assintomático nos


dente 22, caracte,iz ando o insucesso do tra-
tamento. Retrotamento endodônticos nos
dentes 21, 22 e 23.

- -~!i~~ J4:i 7. ~! _14-,?


Redução quase total da rarefação óssea
pe,iopical existente, sugerindo, inicialm ente,
sucesso clínico e radiográfico, posterior ao
controle de 26 m eses.
DIAGNÓSTICO 00 INS UCESSO EN DODÔNTICO

• f !~S. 14.9 e 14:m ____________________


Periodontite ap ical assintomática no
dente 27, caracterizando o insucesso do tra-
tamento. Retratamento endodôntico nos
dentes 11 e 21. Sucesso clínico e radiográfico
posterior a 2 anos.

• -f.lG.$. 14.11 e 14.12


Periodontite apical assintomática no
dente 12. Sucesso clínico e radiográfico pos-
tenor a 78 meses.

J
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• AGS., 1tU3 ,l 1JU6


Periodontite opical assintomática no dente 46, associado o lesão periodontol de furca, de origem endodôntica.
Reparação completa após o trotamento endodôntico e restauração, com controle de 2 anos. (Pennissõo do Profa.
Lourdes C. Agutfar de EspondaJ.
OiAGNÓS'íiCO DO INSUCESSO ENOODÔNTICO

11

FU}S, 'Mt.11 a 14.22


Insucesso endodôntico do dente 36. Lesão periodontal em nível de furca (com perfuração), e pe,iodontite apicaf.
Retratamento endodôntico. Reparação completa após o tratamento endodôntico e restauração, com controle de 25
anos (Permissão da Profa. Lourdes C Aguilar de Esponda e Dr. Vítor EspondaJ.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
------------·---------··-·-·-------··--··------·----·-··-···-------·-----··-·-··-···-·-·-- ..-···------·-·-·-

Lesão endodôntica e periodontal do dente 46. Tratamento endodôntico, intetVenção oi-úrgica, individualizando as
raízes, colocação de retentares intra-radiculares, e restauração. Reparação teodual com controle de 3 anos (Permissão
do Dr. Vítor Espondo e do Profa. Lourdes C. Agwlar de EspondaJ.
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENOOOÔNTICO

INSUCESSO ENDODÔNTICO ciaram o potencial de reparação pulpar na ausên-


cia de infecção, e a influência dos microrganismos
Os insucessos en dodônticos freqüentemente na formação da lesão periapical.
observados relacionam -se a vários fatores m encio- Nair 81 estudou a microbiota endodôntica e
n ados anteriorm ente . Neste momento, serão dis- periapical de dentes humanos contamina dos, uti-
cutidas as principais causas relacionadas aos fato - lizando-se de microscopia eletrônica de translumi-
res decorrentes de infeções endodônticas. A ma- nação e de transmissão, em 31 lesões de dentes
nutenção ou o desenvolvimento dessas infecções, humanos não tratados endodonticamente e com
muito comumente, está associado às falhas nos comprometimento periapical. Todos os dentes es-
procedimentos op eratórios (abertura e preparo tavam cariados, com polpas n ecrosadas e radiolus-
coronário, processo de sanificação, modelagem, cência periapical. Cinco dentes apresentavam sin-
obturação e selamento coronário), oriundas de tomatologia, sendo que os outros estavam assinto-
processos patológicos ou decorrentes de trauma - má ticos. Das 31 lesões, uma era cisto radicular.
tismos dentários. n inta e um canais radiculares com lesões revela-
Um dos aspectos resp onsáveis pelo adequado ram a presença de uma microbiota mista . Embo-
controle microbiano é a eficácia do preparo do ra, na maioria dos casos a microbiota estivesse
canal radicular, observado a partir de um adequa- restrita ao canal radicular, bactérias intra e extrar-
do esvaziamento e alargamento. A ação mecânica radiculares podiam ser observadas dentro do cor-
obtida pela instrumentação do canal radicular, po de 4 granulomas e do cisto radicular. Estrutu -
objetiva esp ecialmente remover material contami - ralmente, a microbiota endodôntica apresentava
nado do canal principal. A efetividade da solução coleções soltas de bactérias distintas, de morfolo-
irrigante, decorrente de suas prop riedades (capa- gia variada, mas não identificadas - consistiam de
cidade antimicrobiana, de solvência e tolerância cocos, bastonetes e formas filamentosas. A maio-
tecidual), aliada à profundidade de atuação, do .ria da microbiota estava suspensa na aparente
' ; voltl1ne e capacidade de umectação - tensão su- umidade da luz do canal. Menos freqüente, den-
1
I perficial, constituem potentes colaboradores. As- sos agregados bacterianos foram ob servados fixa -
sociado à essa etapa, o emprego de uma medica- dos à parede dentinária do canal radicular ou li-
ção intracanal contribui expressivamente nesse vres no meio de um número vasto de polimorfo-
processo antimicrobiano. nucleares na luz do canal. Morfologicam ente, os
Considerando a microbiota endodôntica pre- grupamentos bacterian os rnistos eram constituí-
sente nas diferentes condições patológicas, tem-se dos de cocos, bastonetes e espiroquetas. Quatro
dividido as infecções endodônticas em: primária granulomas revelaram a presença de bactérias
(infecção observada em dente não submetido ao dentro do corpo da lesão, sendo que um era um
tratamento endodôntico), secundária (infecção caso claro de actinomicose. As outras três lesões
presente em dente submetido ao tratamento en- mostraram a presença de urna pla ca bacteriana
dodôntico), e infecção persistente (processo infec- distinta, aderida à parede dentinária no forarne
cioso que não está respondendo positivamente ao apical. Naqueles casos, o front da microbiota es-
tratamento )n. 81-s6. 111- 1 13.119 . tendido por várias profun dida des dentro do corpo
Alguns estu dos imp ortantes buscaram estabe- das lesões periapicais causou limitado ou extensi-
lecer a etiologia e um padrão de conduta clínica va necrose tecidual e resposta aguda. Caracteristi-
frente aos fracassos endodônticos, entre os quais camente, a microbiota consistia de numerosos co-
destacaram-se Mollander et al.77, Nair8 1. 82, Nair et cos, bastonetes, organismos filamentosos e muitos
al. 83 •8 6, Siren et al. 111, Sjõgren et a!. 112 • 113 , Sundqvist espiroquetas. Os bastonetes mostraram sempre
et a!.i I9 _ paredes celulares Gram -negativas. Uma das lesões
A distribuição de microrganismos em dentes era um cisto radicular qu e mostrou o contorno
necrosados foi demonstrada por Shovelton 109 . O distinto da luz pelo epitélio escamoso estratificado
percentual de microrganismos na região cervical de espessura variada. A cavidade cística continha
foi maior quando comparado com os terços médio n umerosos eritrócitos, polimorfonucleares, e ou-
e apical da raiz. Os dentes portadores de processos tras células nccróticas. Bactérias únicas e grupa-
) crônicos evidenciaram maior proporção de mi- mentos isolados foram observados como sobra
crorganismos que aqueles com processos agudos. suspensa ou interrompida na luz do cisto que
Seguido a esse estudo, Kakehashi et al. 5 5 eviden- continha aparentemente um fluido médio. À mi-
CIÊNC IA ENDÓDÔNTICA

croscopia de transluminação, numerosos neutrófi- Nair et al. 84 , analisando evidências morfológi-


los continham organismos filamentosos em seus cas não microbianas que afetam o processo de
interiores. À microscopia eletrônica, os neutrófilos reparo do periápice após o tratamento endodônti-
revelaram tipos distinLos morfologicamente de Ia- co, destacaram como fatores endógenos a presen-
gossomos contendo bactérias. ça de cristais de colesterol e o cisto verdadeiro.
Sjogren et al. 113 estudaram os fatores que afe- Mollander et al. 77 observaram elevada fre-
tam o resultado do tratamento endodôntico, após qüência de isolamento de enterobactérias nos re-
um período de 8 a 10 anos de tratamento. Verifi- tratamentos endodônticos, quando comparado a
caram, frente ao estado pré-operatório da polpa e dentes tratados pela primeira vez.
dos tecidos periapicais, 96 % de sucesso quando Siren et al.111, investigando a relação entre
não havia lesão periapical, 86% de sucesso quan- procedimentos clínicos e a ocorrência de bactérias
do de sua presença, 98% de sucesso nos casos de entéricas facultativas em infecções radiculares,
retratamento sem lesão periapical e 62% de su- observaram que o Enterococos faecalis representa o
cesso nos casos de retratamento que apresen - grupo de bactérias entéricas mais comun. Em
tavam lesão periapical. Nos dentes com periodon- 33% dos casos, em que o Enterococos faecalis foi
tite apical pré-operatória, quando a instrumenta - isolado, apareceu como uma monoinfecção
ção e obturação do canal ficava até 2 mm do ápi- (Quadro 14.2).
ce, o prognóstico era significativamente melhor
que nos casos de sobre-obturação, ou quando a
Quadro 14.2
obturação estava aquém mais de 2 mm do ápice.
Nair et al. 83 investigaram a infecção extrarra- Espécies Total Monoinfecções
dicular em dentes humanos resistentes à terapia
endodôntica, cujos exames radiográficos, realiza- Enterococcus faecalis 24 8
Enterobacter c/oacae 5 2
dos de 4 a 10 anos após o tratamento mostravam Enterobacter 099/omerans 1
evidências de patologia periapical. Os ápices fo- Enterobacter sakazakii o
ram removidos cirurgicamente, em blocos retan- Klebsie//a oxytoga o
gulares contendo a p orção apical da raiz e a lesão, Acinetobacter sp. o
com uma fina lâmina de osso adjacente. Analisa- Pseudomonas aeruginosa /

dos sob a luz da microscopia óptica e eletrônica (Siren et az. w , 1997)


após processamento adequado, seis dos nove es-
pécimes revelaram a presença de microrganismos Sjogren et al. 112 investigaram o papel da infec-
na porção apical; quatro continham uma ou mais ção no prognóstico da terapia endodôntica, pelo
espécies de bactérias, e dois revelaram a presença acompanhamento de dentes que tiveram seus ca-
de leveduras . Dos quatro casos em que bactérias nais limpos e obturados durante urna única con-
puderam ser observadas, somente em 1 biópsia sulta. Cinqüenta e cinco dentes unirradicu[ares
foram detectadas pela microscopia óptica . Nos ou- com polpas necrosadas e evidência radiográfica de
tros 3 casos, sua presença foi confirmada pela mi- lesões ósseas periapicais foram tratados endodon-
croscopia eletrônica. Dos três casos em que os ticamente. Amostras bacterianas iniciais e pós-ins-
microrganismos não foram encontrados, um deles trumentação foram coletadas do canal e transferi-
mostrou aspecto histológico que sugeria a presen- das para o meio de cultura (caldo de glicose extra-
ça de células gigantes tipo corpo estranho. Tais to de levedura (PYG peptone). Todas as bactérias
resultados foram sugestivos de que, na maioria nas amostras pós-instrumentação foram identifi-
dos dentes humanos com lesões periapicais resis- cadas em nível de espécies. Os pacientes retorna -
tentes ao tratamento endodôntico, os m icrorga- ram anualmente para exame clínico e radiográfico
nismos podem persistir e ter um papel importante dos dentes obturados. Na consulta de retomo, o
no sucesso do tratamento . Nos casos em que tipo de restauração e qualq uer sinal ou sintoma
agentes infecciosos estão ausentes, as lesões peria- clinico associado com os dentes foi registrado. Ra-
picais pós-endodônticas podem ser mantidas por diografias de controle foram realizadas. O trata-
fatores imunológicos, decorrentes do envolvimen- mento foi considerado bem sucedido quando o
to de células gigantes tipo corpo estranho, como contorno, a largura e a estrutura . da margem perio-
resposta do hospedeiro no periápice de dentes tra- dontal estava normal ou quando o contorno pe-
tados endodonticamente. riodontal estava ampliado, principalmente em
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO

torno de um excesso de material de obturação. pical após um período de 3 anos e foi, portanto,
Espécimes de biópsia de três casos que não exibi- programado para cirurgia. Uma amostra bacterio-
ram sinal de cicatrização periapical foram analisa- lógica tirada da região períapical na operação
dos por método histológico. Dois destes espéci- mostrou crescimento de A ctínomyces odontolyticus,
mes, de dentes que estavam infectados no mo- Streptococcus constellatus, Propionibaderium acnes e
mento da obturação do canal, foram enviados uma espécie de Campylobacter. A microscopia dire-
para análise imunohistoquímica. Como bactérias ta da amostra revelou agregados bacterianos com
das espécies Actinomyces israelii foram isoladas dos filamentos interreticulados. Análise histológica da
canais radiculares no momento da obturação do ponta da raiz revelou que o canal radicular estava
canal, a presença da mesma bactéria foi estudada preenchido com guta-percha e que um dos canais
no tecido cirúrgico. O terceiro espécime foi obtido laterais na ponta da raíz estava obstruído com
de um caso onde nenhuma bactéria foi detectada bactérias. A avaliação do nível apical da obtura-
no momento da obturação do canal. O dente era ção radicular revelou ,que a maioria dos dentes
não vital e cariado com radiolucidez extensa no estavam obturados dentro de 2 mm do ápice. Em
periápice antes do tratamento. Após terapia endo- 1O dentes havia uma ligeira sobreobturação, mas
dôntica houve inicialmente uma leve redução no em cada um destes casos a extensão do excesso
tamanho, mas a lesão não mostrou qualquer sinal de material rto tecido periapical foi menos do
radiográfico de melhora após 3 anos, tal que o que 1 mm. Cinco dos dentes sobreobturados ti-
dente foi submetido a cirurgia apical. O dente per- nham amostras positivas e cinco tinham amos -
maneceu sem sintomas durante todo o período de tras negativas no momento da obturação. A leve
acompanhamento . Os resultados mostraram que sobreobturação pareceu não ter influência no re-
bactérias estavam inicialmente presentes nos ca- sultado, uma vez que todos os 1 O dentes obtura-
nais radiculares de todos os 55 dentes tratados. No dos com excessos foram bem sucedidos. O tama -
final da instrumentação, 22 canais radiculares nho, n o pré-operatório, da lesão periapical apa-
(40 % ) ainda continham bactérias recuperáveis e rente n ão teve influência no resultado do trata-
estas foram identificadas para espécies em nível mento. Estes achados enfatizam a importância de
de 20 de 22 canais radiculares. O número de es- se eliminar completamente ba ctérias do sistema
pécies nos canais radiculares com infecção persis- de canais radiculares ante s da obturação. Este
tente variou de 1 a 6, e 93% destas cepas eram objetivo não pode ser con fiadam ente alcançado
anaeróbias. Na maioria dos casos houve baixo num tratamento de uma visita porque não é pos-
número de células bacterianas na amostra, tal que sível erradicar toda a infecção do canal radicular
em oito casos, bactérias foram detectadas apenas sem o suporte de um curativo antimicrobiano
após crescimento enriquecido no meio da amostra entre sessões.
e em 9 outros casos o número de células bacte- Sundqvist et al. 119 determinaram a microbiota
rianas foi 102 -103 . Apenas três amostras tinham endodôntica posterior ao in sucesso do tratamen-
mais de 104 células bacterianas. Cinqüenta e três to endodôntíco em 54 dentes selecionados para
dentes (96%) puderam ser acompanhados. Qua- retratamento. Todos os dentes apresentavam-se
renta e quatro das lesões cicatrizaram completa- assintomáticos, previamente tratados, e com evi-
mente e em 9 casos, todos sem sintomas, foram dências radiográficas de lesão óssea periapical.
julgados serem falhos. Sete das falhas foram en- Os dente s apresentavam história de tratamento en-
contradas entre os 22 casos dos quais a bactéria dodôntico de 4 a 5 anos atrás; e m alguns casos,
tinha sido i,s olada no momento da obturação do os dentes tinham sido regularmente acompanhados
can al. Assim, a taxa de sucesso para dentes com por 2 anos, e durante esse tempo não houve sinal
amostras positivas do momento da obturação ra- de reparo. Exceto em um caso com obturação de-
dicular foi de 68% . A análise histológica dos casos ficiente, todos os dentes tinham obturações que
falhas revelou que microrganismos filamentosos, apresentavam um padrão radiográfico satisfatório.
os quais coraram positivamente com o anti-soro Cinco dos dentes tinham duas raízes com dois ca-
para A. israelii, estavam presentes no tecido peria- nais; os outros dentes tinh am apenas um canal.
pical. Vinte e nove de 31 dentes com amostras Exam es radiográficos foram tomados para deter-
negativas no momento da obturação radicular ci- minar o comprimento do canal e assegurar que a
catrizaram; uma taxa de sucesso de 94%. Um guta-percha tinha sido totalmente removida. O
caso mostrou nenhum sinal de cicatrização peria- canal foi então instrumentado para que a amostra

.,
• ,1
CIÉNCIA ENDODÔNTICA

pudesse ser coletada a partir das paredes. Uma nificantes. O índice de sucesso para os dentes nos
amostra bacteriológica inicial foi coletada do canal quais E. faecalis foi isolado depois da remoção da
por meio do embebimento no fluido com pontas obturação prévia, foi menor (66 % ) que a média
de papel. Os canais foram deixados vazios para para todo o m aterial. Em am ostras tiradas n o
permitir que qualquer bactéria sobrevivente no momento da obturação, microrganismos foram
canal se multiplicasse e chegasse a um nível de- recuperados em 6 canais. Quatro qas lesões asso-
tectável na próxima consulta. As cavidades foram ciadas com esses dentes n ão repararam, sendo
seladas com cimento de óxido de zinco e eugenol. que 3 desses dentes continham bactérias da espé-
Decorridos 7 dias, amostras bacteriológicas foram cie E. faecalis e o quarto Cc,mal abrigava Actinomyces
coletadas, os canais foram instrumentados com li- israelií. Nos 2 dentes em que houve reparo da le-
mas manuais e irrigação com solução de hipoclo- sã o periapical, cepas de E. faecalis foram isoladas
rito de sódio 0,5 %. Depois da irrigação final, os no momento da obturação. Dos dentes com mi-
canais foram preen chidos com pa sta de hidróxido crorganismos não recuperáveis no momento da
de cálcio e a seguir realizou-se o selamento coro- obturação, 35 de 44 dentes repararam - um índi-
nário. Na terceira consulta, 7 a 14 dias dep ois, o ce de sucesso de 80%. A diferença entre o tama-
curativo foi removido e coletou -se uma amostra nho das lesões que repararam e aquelas que não
pós-medicação. A seguir, os canais foram obtura- repa raram teve uma significância. Dos 50 casos
dos com guta -perch a por meio da técnica da con- que puderam ser acompanhados, a maioria (37 ) 1 •

densação lateral. Em 20 casos hav ia crescimento foi obturado entre O, 5 a 2 mm aquém do ápice
de ambas amostras retiradas na consulta inicial e radiográfico. Outros 9 foram obturados até o nível
na segunda consulta. Em um caso, bactérias (Pep- do ápice, e 4 tinham excesso de obturação com
tostreptococcus micros e Fusobacterium nucleatum), menos de 1 mm (Quadro 14.3).
cresceram a partir da amostra tirada na primeira
consulta, mas n ão nas amostras tiradas na segun- Quadro 14.3
da consulta. Em três casos, microrganismos foram MICRORGANISMOS RECUPERADOS DOS
recuperados a partir da amostra tirada na segunda CANAIS RADICULARES APÓS A REMOÇÃO
consulta, depois qu e o canal havia sido deixado DO MATERIAL OBTURADOR
/
vazio, mas n ão na amostra inicial. Os microrganis-
mos isolados a partir desses três canais foram Espécies Microbianas Número de Casos
Streptococcus intermedius, Streptococcus parasanguis, Enterococcus faecalis 9
Lactobacillus catenaforme, e Candida albicans. Em 19 Streptococcus anginosus 2
casos somente uma espécie estava presente, em Streptococcus constellatus
4 casos dois tipos de espécies estavam presentes Streptococcus inte,medius
(S. intermedius e L. catenaforme, Eubacterium alactoly- Streptococcus mitis
Streptococcus parasanguis 1
ticum e Propionibacterium acnes, P micros e Streptococ- Peptostreptococcus micros 2
cus mitis, P micros e F nucleatum), e em um caso Actinomyces israelii 3
havia uma infecção polim icrobiana que consistia Pseudoram1bacter alactolyticus
de 4 espécies (Streptococcus anginosus, Eubacterium Eubacterium timidum
timidum, Propionibacterium propionicum, e Bacteroi- Lactobaol/us cotenoforme
Propionibacterium acnes
des gracillis) . Em todos os 9 casos em que Enterococ- Propionibacterium propionicum 1
cus faecalis foi isolado, este foi o único microrganis- Fusobocterium nucleotum 1
mo presente no can al. Cinqüenta dos 54 casos Bacteroides graci/is 3
tratados (9 3 % ) estavam disponíveis para retorno. Candido a/bicans 2
1rinta e sete das lesões foram completamente re- (Su ndqvist et al. ' 19, 1998)
paradas e 13 casos foram tidos como insucessos -
um índice de sucesso de 74% . Dezoito dos 24 • Nair et al. 35 estudaram as respostas teciduais
dentes (75 %) dos quais bactérias foram isoladas ao colesterol e observaram se os cristais de coles-
após a remoção da obturação, repararam comple- terol podem induzir e sustentar uma reação teci-
tamente, e 19 dos 26 dentes dos quais não havia dual granulomatosa. Para tanto, valeram-se de 24
microrganismos cultiváveis, repararam - um índi- tubos implantados em 6 porcos da Índia. Jrês dos
ce de sucesso de 73 %. A diferença entre os resul- 4 tubos, foram preenchidos previamente por cris-
tados dos 2 grupos não foram estatisticamente sig- tais de colesterol misturados a solução salina e o
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO

quarto tubo foi deixado va zio. Dois animais foram três bactérias foram capazes de invadir a dentina e
sacrificados a cada 2, 4 e 32 semanas, respectiva- se unir para imobilizar o colágeno . O soro huma-
mente. As condições histológicas dos grupos con- n o inibiu a invasão dentinária e a adesão do colá-
trole variaram de acordo com o tempo estudado. geno pelo S. gordonii e S. mutans, enquanto a inva-
Duas semanas após o implante, observou-se teci- são dentinária por E. faecalis foi reduzida na pre-
do conjuntivo rico em fibroblastos na região ex- sença de soro, mas não inibida, e a união ao colá -
terna, com crescimento· através das entradas dos geno foi intensificada. O fator de virulência do E.
tubos e uma cavidade central. O último grupo faecalis no fracasso de dentes tratados endodonti-
continha vasto número de eritrócitos e células camente pode estar relacionado à habilidade das
necróticas. Após 4 semanas, os t ubos foram com- células do E. faecalis manterem a capacidade para
pletamente preenchidos com tecido conjuntivo e invadir os túbulos dentinários e aderir ao coláge-
as estruturas contidas assemelhavam-se aos do no na presença de soro humano.
grupo de 32 semanas. Os cristais de colesterol, em
forma de cogumelo, apresentaram resposta teci- Quadro 14.4
dual granulomatosa bem circunscrita. Após duas CAUSAS RESPONSÁVEIS PELOS
semanas de observaçã o, fendas rombóides apare- FRACASSOS ENDODÔNTICOS
ceram no lúmem dos tubos cercadas periferica- Causas de Origem Microbiana
mente por tecido conjuntivo em crescimento . O
tamanho das fissuras pareciam estar "nuas" no 1. Fator Intra-radicular
interior da cavidade central. Após 4 e 32 semanas, Bactérias
as fendas formaram unidades bem circunscritas Fungos
2. Fator Extra-radicular
completamente cercadas por tecido conjuntivo
Actínomicose
delicado, com aparência saudável. Fibras coláge-
nas em alguns casos dirigiam-se às fendas. As fis- Causas de Origem Não Microbiana
/1 suras foram cercadas por numerosas células, que

i estruturalmente aparentavam ser predominante-


1. Fator Exógeno (reação tipo corpo estranho)
Material de obturação
mente macrófagos. Menos freqüentemente, apa-
Pontas de papel
reciam células gigantes multinucleadas. É impor- 2. Fator Endógeno
tante enfatízar qu e outras células encontradas Cisto
normalmente em quadros inflamatórios como Cristal de colesterol

I neutrófilos, linfócitos e células plasmáticas esta- (Nair 2, 2002)


vam completamente ausentes.
Nair82 relaciona as causas responsáveis por fa- Evans et al.29 analisaram os mecanismos envol-

1
lhas en dodôWicas como sendo de origem micro- vidos na resistência do Enterococcus faecalis ao ele-
biana (infecções intrarradiculares e extrarradicu- vado pH do hidróxido de cálcio. Uma cultura JH2-
lares) e não microbianas (exógenos e endógenos) 2 foi exposta a concentrações subletais de hidróxi-
(Quadro 14.4). do de cálcio com e sem pré-tratamentos. Agentes
Considerando que o E. faecali.s é uma bactéria bloqueadores foram adicionados para determinar
de destaque nas infecções secundárias, cabe ainda o papel da síntese da proteína estresse-indutora e
analisar o seu provável mecanismo de sobrevi- a bomba de próton associada à parede celular. O
vência nos túbulos dentinários e sua resistência E. faecalis é conhecido por suportar elevado pH.
em pH elevado, como o do hidróxido de cálcio. No pH 11,5 ou m aior, o E. faecalis não sobrevive,
Love7 3 analisou o provável mecanismo qu e mas ele ainda pode sobreviver em pH abaixo de
permitisse explicar de que forma o Enterococcus 11,5. Por causa do efeito tampão da dentina, é
faecalis pode sobreviver e crescer dentro dos túbu- improvável que o alto pH do hidróxido de cálcio
los dentinários e reinfectar um canal radicular ob- seja alcançado dentro dos túbulos dentinários
turado. Células de S. gordonii , S. mutans e E. faeca - onde o E. faecalis tem a capacidade de, pelo menos
/r' lis foram cultivadas por 56 dias contendo vários in vitro, penetrar profundamente. Na dentina radi-
valores de soro humano. Os resultados evidencia- cular pode alcan çar somente um pH de 10,3 após
ram que todas as três espécies se mantiveram viá- a m edicação intracanal de hidróxido de cálcio.
veis além do período dos experimentos quando Com o objetivo de determinar o papel da bomba
cultivadas em soro humano. Células de todas as de prótons na manutenção da sobrevivência do E.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

faecalis em um meio de alto pH, CCCP foi usado sentes nas infecções secundárias, destaca-se a ele-
para fechar essa bomba. Os res ultados mostrarnm vada prevalência do Enterococcus faecalis e sua re-
que o fu ncionamento da bomba de prótons, que sistência ao tratamento com hidróxido de cálcio.
governa a entrada de próton s na célula para acidi-
ficar o citoplasma, é crítica para a sobrevivência do CONTROLE DE QUALIDADE DO
E. faecalis em meios altamente alcalinos. Presumi- TRATAMENTO ENDODÔNTICO
velmente, quando a alcalinidade do meio alcança
um pH igual ou superior a 11,5 esse mecanismo O estabelecimento de um padrão para o con -
salva -vidas é sufocado. Esse estudo confirmou que trole de q ualidade do tratamento endodôntico é
o E. faecalis é resistente à morte por hid róxido de importante ao se determinar o sucesso endodônti -
cálcio em pH igual ou inferio r a 11, 1. Uma resposta co. As condutas clínicas devem ser mo nitoradas
adaptativa ao pH alcalino e a síntese de proteínas por protocolos bem definidos, sedimentados por
induzidas por stress parecem ter um papel men or pesquisas bem estruturadas.
na sobrevivência celular, enquanto que o funcio- Um fator relevante a ser considerado, relacio-
namento da bom ba de prótons, que tem a capaci - na-se à seleção de casos. O diagnóstico clínico do
dade de acidificar o citoplasma, mostrou-se crítico à insucesso do tratamento endodôntico realizado
sobrevivência dessas bactérias em meios de elevado pela anamnese, exame clínico e radiográfico , de-
pH. O E. faecalis é eficientemente eliminado pelo termina condições que indicam as opções de tra-
hipoclorito de sódio. Esses achados contribuem tamento. Posterior à constatação do insucesso, o
para esclarecer o entendim ento sobre a resposta do retratamento representa a primeira opção para
E. faecalis a esses agentes antimicrobianos, auxilian- solucionar o problema.
do no signiiicativo processo de erradicação dessa Todavia, deve- se estabelecer parâmetros ao
bactéria de canais radiculares infectados durante o indicar o novo tratamento, dentro de apurada se-
moderno tratamento endodôntico. A sobrevivência leção de casos, evitando-se desta forma, o insuces-
do E. faecalis no hidróxido de cálcio parece não so do retratamento 3 5•36•61·63.
estar relacionada à síntese protéica, mas o funcio- Nas situações clínicas de dentes em que p er-
n amento da bomba de prótons é crítico para a so- dure a dúvida quanto ao sucesso, a opção poderá /
brevivência do E. faecalis em alto pH. recair em seu retratamento. Contudo, o provável
Frente a todos os aspectos analisados, baseado desafio frente a o novo tratamento endodôntico
em todas evidências cie ntíficas mostradas pela li- recai nas dificuldades e complicações inerentes à
teratura1 -140, u m dos asp ectos críticos e majoritá- desobstrução ou desobturação d o canal radicular.
rios a favor do fraca sso endodôntico é a presença O gra u de dificuldade depende do material
de microrganismos. Deve-se considerar também a presente (cimentos, pastas, pinos in trarradicula-
importância de se estabelecer um d etivo protoco- res), da anatomia da cavidade pulpar (anoma lias
lo de controle mi crobian o expressivo para cada de desen volvimento, dilacerações, calcificações,
tipo de infecção endodôntica. Assim, como apre - reabsorções, canal extra) e de iatrogeni as (de -
sentado por Nair 82 , a associação de fatores decor- graus, perfurações, instrumentos fraturados)_ Ali-
rentes dos agentes de virulência microbiana (enzi- a do aos aspectos dentários deve-se analisar o esta-
mas, toxinas, produtos m etabólicos, etc.), reações do de p atologias presentes (local) e o estado sistê-
tipo corpo estranho a materiais odontológicos e mico de saúde do paciente (geral). A vivência, o
agentes endógenos (cristais de colesterol, cisto) bom senso e a habilidade profissional, constituem
constituem as principais ca usas responsáveis pelos outros aspectos a serem considerados.
fracasso endodônticos. Pode-se verificar também Frente à necessidade de nova restauração co-
que é essencial ao su cesso nas infecções endodôn- ronária com presença de retent or intrarradicular,
ticas, o adequado processo de sanificação (esvazia - o retratamento endodôntico deve ser con siderado,
m ento e alargamento do ca nal radicular), o em- pois o insucesso pode ocorrer posterior à restaura-
prego de substâncias antimicrobiana s eficazes ção. Um sucesso aparente do tratamento é passí-
como o hipoclorito de sódio e o hidróxido de cál- vel de fraca ssar a qualquer moment o.
cio24-23_ Destaca-se também a necessidade de se A qualidade do tratamento end odôntico foi
estabelecer um tempo de atuação maior para que analisada en1 vários estudos1 0.1s.16,20.22.24,3l .33-37.39.41 -
o hidróxido de cálcio exerça suas funções com 44, 51,61 -63,71, 72, 75, 77, 78,81-87, 90, 92. 93, 91\, 99, l O 1- 108.110 -J13.115-
maior efetividade. Entre os m icrorganismos pre- 119,124,125.121,132,131-131,140. um aspecto que é considera-
DIAGNÓSTICO 00 INSUCESSO ENDODÔNTICO

do determinante ao sucesso endodôntico relacio- jun tos perfazem 55,6% . No Quadro 14.6, procu-
na-se ao perfeito selamento coronário9 ' · 129• 1' 2 • A rou-se avaliar as obturações endodônticas de den-
condição clínica do selamento coronário e a quali- tes portadores de retentores intrarradiculares que
dade dos retentores intrarradiculares também de- apresentavam lesões periapicais discerníveis radi-
vem ser bem verificados. ograficamente. No to tal de dent es avaliados,
Neste sentido, Lopes et al.68 analisaram radio- 59,4% (297) não apresentaram lesão p eriapical, e
graiicamente em retentores intrarradiculares, o 40,6% (203 ) apresentaram. Dos 203(40,6 % ) tra-
comprimento do pino e a condição da obturação tamentos com lesão periapícaL as obturações em
do canal radicular. Foram examinados 365 radio- 42 (8,4%) casos eram aparentem ente normais,
grafias em um a seleção de 500 dentes, que preen- em 125 (25'Yo), incorretas e em 36 (7,2 %) esta-
cheram as condições: 1. Unirradicular e portador vam ausentes. No Qu adro 14.7 v erifica -se os
de um único canal; 2. Presença de retentor fundi- comprimentos dos pinos. No total dos casos, os
do intra-canal; 3. Para o maxilar superior foram pinos foram considerados curtos em 58,4% (292) ,
escolhidos os incisivos e caninos e, para a mandí- médios em 22, 2% (111) e longos em apenas
bula, os incisivos, caninos e pré-molares. No Qua- 19,4% (97) . Os resultados obtidos de aco rdo com
dro 14.5 observa-se a presença de retentores in- as condições em que se realizou esta avaliação,
trarradiculares em relação aos dentes examinados. p ermitiram concluir que: 1. 80,6% dos casos, os
A predominância ocorreu no m axilar superior, comprimentos dos pinos eram incompatíveis com
cujo percentual atingiu 77%. Outro da do que o princípio de retenção dos retent ares íntrarradi-
deve ser ressaltado é que os dentes com maiores culares; 2. 50,4% dos casos, os retentores foram
incidências de retentares são os incisivos centrais confeccionados sem levar em consideração a con-
(29,4%) e os laterais superiores (26,2°,,·h ), que dição da obturação do ca nal radicular.

Quadro 14.5
DISTRIBUIÇÃO DE RETENTORES INTRA-RAD ICULARES EM R ELAÇÃO AO DENTE EXAMINADO
MAXILAR DENTE

Central Lateral Canino Pré-molar Total

Superior 147 131 107 385


Inferior 17 131 10 78 155
Total 164 141 117 78 500

Quadro 14.6
'1 AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA DA OBTURAÇÃO ENDODÔNTICA DE DENTES
PORTADORES DE RETENTORES INTRA-RADICULARES
PERIÁPICE OBTURAÇÃO

Correta Incorreta Ausente Total

Normal 206 70 21 297


Lesão 42 125 36 203
Tota l 248 195 57 500

Quadro 14.7
COMPRIMENTO DO PI NO; CONDIÇÃO DA OBTURAÇÃO DO CANAL RAD ICULAR
OBTURAÇÃO COMPRIMENTO DO PINO

r
{
Curto Médio Longo Tota l

Correta 157 44 50 248


Incorreta 107 47 41 195
Ausente 31 20 6 57
Total 292 111 97 500
CIÊNCIA ENDODÔNTI CA
·-------··-···-··-·--··-·· --------- --

Alguns fatores merecem ser considerados no patológica atual, a condição periodontal , a condi-
que respeita ao favorecime nto da prevalência de ção oclusal, acidentes operatórios (perda do com-
sucesso frente ao retratament o. Merece destaque primento de trabalho - degrau; perfuração; fratu-
a verificação de diferentes aspectos: a anatomia ra de instrumento), estado geral de saúde do indi-
interna, a efetividade do processo de sanificação, víduo e capacidade e habilidade do profissional.
o limite e qualidade da modelagem e obturação O Quadro 14.8 relaciona vários fatores ope-
do canal, a efetividade do selamento coronário, a ratórios que podem interferir no sucesso ou fra-
condição pulpar anterior à endodontia , a condição casso endodôntic o.

Quadro 14.8
FATORES. OPERATÓR IOS QUE PODEM INTERFERIR NO
SUCESSO OU FRACASSO ENDODÔNT ICO

1. ABERTURA E PREPARO CORONÁRI O


o·ificuldades Técnicas
- Acesso inadequado
- Perfuração
- Fratura de instrumento
- Presença de material restaurador
Dificuldades Anatômicas
- Calcificação
- Alterações anatômicas

2. PREPARO DO CANAL RADICULAR


Dificuldades Técnicas
- Localização do canal
- Enfraquecimento da estrutura dentária
/
- Presença de canal adicional
- Perda do comprimento de trabalho - degrau
- Desvio
- Transporte foraminal
- Alargamento exagerado
- Perfuração
- Fratura de instrumento endodôntico
- Sobre-instrumentação

Dificuldades Anatômicas
- Canal calcificado
- Canal dilacerado
- Dente fora da posição

3. OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR


Dificuldades Técnicas
- Instrumentação excessiva
- Sobre-obturação
- Dor pôs-operatória
- Fratura de espaçador (Lentulo, McSpaddenl
- Cimento com presa rápida

4 . RETRATAMENTO ENDODÔNT ICO


Dificuldades Técnicas
- Presença de pasta
- Presença de cimento
- Cone de guta-percha e cimento
- Cone de prata e cimento
- Presença de retentor intra-radicular
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO

92
A ASSOCIAÇÃO A M ERICANA DE ENDODONT1A Os Esquemas 14.1 a 14.18 apresentam os
descreveu algumas normas para a garantia da aspectos clínicos freq ü entemente e n volvidos
qualidade do tratamento endodôntico, como com o fracasso endodôntico. As Figuras 14.29 a
adaptado nos Quadros 14.9 a 14.11. 14.56 exibem aspectos radiográficos de fracassos
endodônticos.

Quadro 14.10
CRITÉRIOS RADIOGRÁFICOS

Radiograficamente Aceitável
1. Espaço do ligamento periodontal normal a
Quadro 14.9 ligeiramente espesso (< 1 mm)
CRITÉRIOS CLÍNICOS 2. Desaparecimento de área radiotransparente anterior
3. Lâmina dura normal em relação aos dentes
Clinicamente Aceitável adiacentes
1. Nenhuma sensibilidade à percussão ou palpação 4. Ausência de reabsorção
2. Mobilidade normal 5. Obturação tridimensional densa do espaço visível
3. Ausência de fístula ou doença periodontal do canal dentro dos limites do espaço do canal atê
associada aproximadamente 1 mm aquém do ápice
4. Dente em função radiográfico
5. Ausência de sinais de infeçào ou edema
6. Nenhu ma evidência de desconforto subietivo Radiograficamente Questionável
1. Espaço do ligamento periodonta l aumentado
Clinicamente Questionável (< 2 m m)
1. Sintomas vagos esporádicos 2. Área radiotransparente de extensão semelhante ou
2. Sensaçào de pressão ligeira evidência de reparo
3. Baixo grau de desconforto após percussão, 3. Lâmina dura com espessura irregular em relação
palpação ou mastigação aos de ntes ad jacentes
4. Desconforto quando a pressão é aplicada pela 4 . Espaço na densidade da o bturação
língua 5. Extensão do material obturador alé m do ápice
5. Sinusite superposta à região do de nte tratado anatôm ico
6. Necessidade ocasioné!I de analgésicos para a liviar o
mínimo desconforto Radiograficamente Inaceitável
1. Espaço do ligamento periodontal aumentado
Clinicamente Inaceitável (> 2mm)
1. Sintomas persistentes 2. Ausência de reparo ósseo em uma rarefação
2. Fístu la o u edema recorrente periapica l, ou a umento da área rad iotransparente
3. Desconforto previsível com percussão ou palpação 3. Ausência de forma ção de nova lâmina d ura
4. Evidência de fratura irreparável do dente 4. Presença de radiotransparências ósseas em áreas
5. Mobilidade excessiva ou destruição periodontal periapicais onde anteriormente não existiam,
progressiva incluindo radiotransparências laterais
6. Impossibi lidade de mastigar com o dente 5. Espaço do canal visível e patente, que não foi
obturado ou apresenta vazios significativos na
(Adaptado das normas p ara garantia de qualidade obturação
da American Association of Endodontics, 199492 ) . 6. Extravasa me nto excessivo do material obturador,
com espaços visíveis no terço apical do canal
7. Evidência clara de reabsorção progressiva

(Adaptado das normas para garantia de qualidade


( da American Associatio n of Endodo ntics, 199492 ) .

)
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA

Quadro 14.11
CRITÉRIOS HISTOLÓGICOS

Histologicamente Aceitável
1. Ausência de inflamação
2. Regeneração das fibras periodontais adjacentes ao cemento saudável ou inseridas nele Cfibras de Sharpey)
3. Formação ou reparo do cemento com novo cemento na direção do forame apical ou através dele (raro)
4. Reparo ósseo evidente juntamente com osteoblastos saudáveis circundando o osso recém-formado
5. Ausência de reabsorção dentária; áreas que apresentavam reabsorção anteriormente demonstram formação de
cemento

Histologicamente Questionável
1. Presença de inflamação moderada
2. Áreas de cemento sofrendo reabsorção e reparo concomitantes
3. Ausência de organização das fibras periodontais
4. Reparo ósseo mínimo, com evidência de atividade osteoclástica

Histologicamente Inaceitável
1. Presença de inflamação intensa
2. Ausência de reparo com reabsorção concomitante do osso circun jacente
3. Reabsorção ativa do cemento sem evidência de reparo 1 .

4. Presença de bactérias e zonas de tecido necrótico


5. Presença de tecido de granulação e possível proliferação epitel ial

(Adaptado das normas para garantia de qualidade da American Association of Endodontics, 199492) .

ESQUEMAS DE INSUCESSOS ENDODÔNTICOS

/
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNT!CO
1 - '""'""'
CIÊNCIA EN DODÔNTICA

1 •

• ESQUE~'tAS 14.1 a 14.18


Insucessos endodônticos.
DIAGNÓSTICO 00 INSUCESSO ENDO D ÔNTICO

ASPECTOS RAD IOGRÁFICOS DE INSUCESSOS ENDODÔ NTICOS

;!
1
1
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

1 .

/
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

I
DIAGNÓSTICO 00 INSUCESSO ENDODÓNTICO

/
1
j

i • tHGS. 141,.;;t"< ,t 14.$@


Insucessos endodônticos.

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TRATAMENTO DO
INSUCESSO
ENDODÔNTICO
' ;!

CARLOS ESTRELA
JOÃO CARLOS GABRIELLI BIFFI
RODRIGO FERREIRA DIRCEU

' 1

• INTRODUCÃO I

A estruturação do novo tratamento endodôntico, constatado um in-


sucesso, representa uma manobra complexa e requer cuidado especial.
Posterior à discussão dos fatores responsáveis pelo insucesso, urge que
seja realizado o planejamento para a execução operatória da reforma do
tratamento mal sucedido. Qualquer reconstrução impõe muita atenção e
apurada perícia.
O novo tratamento a ser executado compõe -se quase que exatamente
das mesmas fases operatórias do tratamento ini cial. O Quadro 14.8 do
capítulo referente ao diagnóstico do insucesso endodôntico, destaca as
dificuldades técnicas encontradas em todas as etapas deste tratamento. A
/ primeira opção para o tratamento do insucesso constitui o retratamento
endodôntico, que apresenta dificuldades e complicações, as quais tornam
o prognóstico duvidoso.
CIÊNCIA Ei'IDODÔN TICA

Outrossim, deve-se realçar as características cha; cimento e cone de prata, etc. De outra par-
clínicas e radiográficas do sucesso endodôntico. te, pode-se considerar, também, os fatores relati-
Os aspectos fundamentais que se relacionam ao vos ao paciente, como as características das doen-
sucesso endodôntico, podem ser sintetizados em: ças sistêmicas.
1. silêncio clínico (ausência de dor, edema, fístu- Observa-se que a maioria dos dentes indica-
la); 2. estrutura óssea p eriapical normal (unifor- dos para o retratamento endodôntico apresen-
midade da lâmina dura, espaço periodontal nor- tam-se restaurados. A presença de coroa e re-
mal, ausência ou redução de rarefação óssea, tentor intrarradicular obstrui e dificulta o acesso
ausência ou interrupção de reabsorção radicu- coronário. Para o retratamento, torna-se neces-
lar); 3. dente em função e presença de selamento sário, primeiramente, um novo acesso aos ca-
coronário perfeito . As Figuras 15.1 a 15 .8 apre- nais rad iculares, promovido pelo esvaziamento,
sentam um caso clínico de· periodontile apical que compreende a desobstrução e/ ou a desob-
assin tomática com expressiva destruição óssea turação.
periapical, que posterior ao tratamento endo- As restaurações coronárias em dentes trata -
dôntico, com utilizaçzío de hidróxido de cálcio dos endodonticamente podem ser de amálgama,
como medicação intra canal, apresentou sucesso resina composta, restauração metálica fundida,
clínico e radiográfico, posterior a 20 meses do coroa metálica ou de porcelana (com ou sem re-
início do tratamento. tentor intrarradicular), ou outro tipo de prótese .
Um aspecto que de ve r ecebe r atenção redo - As restaurações extensas, coroas e próteses fixas,
brada vincula-se à imperiosa seleção de casos. podem cobrir totalmente a coroa dentária, o que
Os cuidados inerentes a o paciente e ao caso clí- aumentam as possibilidades de acidentes durante
nico em questão, o bom senso, a intuição, a o preparo do coronário para o acesso 51, t t 9, 120 .
vivência e a habilidade profissional são caracte- Todo cuidado é pouco durante as manobras para
rísticas do profissional que devem sempre ser a obtenção de um novo acesso endodôntico,
valorizadas. pois, durante os esforços para remoção de uma
O retratamento endodô ntico, ao ser indica- restauração, de um retentor intrarradicular, sem-
do, deve ser submetido a urna apurada avaliação pre existe certo risco de perfuração do den- /
de riscos e benefícios. Deve -se realizar u m estu- te119,12º. Cuidado especial deve ser tomado toda
do do caso clínico, de ta l sorte que permita bom vez que um dente estiver fora da sua posição
planejamento das ações a serem executadas, ca- habitual.
pazes de se definir as opções terapêuticas mais Certamente, a anatomia do dente é melhor
oportunas, as quais certamente, podem evitar si- visualizada sem a presença da coroa. O preparo
tuações constrangedora s e desagradáveis. da cavidade endodôntica e a remoção da dentina
Os fatores responsáveis pelos insucessos en- cariada devem ser, preferencialmente, realizada
dodônticos e as possíveis a lterna tivas de trata- em dentes sem a coroa protética. O dente pode
mento tem sido bastante discutidos 1· 142 . estar com giroversão e o preparo da cavidade de
Destacam-se, entre os fatores locais que pos- acesso através da coroa pode ser complicada e
sibilitam viabilizar um p rognóstico duvidoso (ou conduzir a e rros, como desvio ou perfura-
que constituem impedimento à correta ação da ção53,ll9,1 20.
técnica endodôntica), os seguintes: 1- fatores É com um a necessidade do retratamento en-
anatomopatológicas (modificações da anatomia dodôntico em dentes portadores de pinos intrar-
interna; dilacerações excessivas; calcificações da radiculares. Sua remoção pode apresentar gran-
cavidade pulpar); 2- fatores decorrentes de aci- des dificuldades, como risco de fraturas dentárias
dentes endodônticos (perda do comprimento de ou perfurações radiculares, principalmente
trabalho - degrau; perfuração radicular; fratura quando existe pouca quantidade de estrutura
de instrumento endodôntico) ; 3- Insucessos en- dentária remanescente. Entretanto, com os re-
dodônticos (presença de pinos extensos; obtura - centes avanços técnicos e de equipamentos, têm
ções somente com cimentos; cimento e guta-per- minimizado essas seqüelas.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENDODÓNTKO

Periodontite apical assintomática nos


dentes 11, 21 e 22. Tratamento endodôntico,
emprego do hidróxido de cálcio como medi-
cação intracanal.

Periodontite apical assintomática nos


dentes 11, 21 e 22. katamento endodôntico,
emprego do hidróxido de cálcio como medi-
cação intracanal.

• f !GS" m.s ,, 1s.'1"i!


Periodontite opical ossintomática no
dente 22. li-atamento endodôntico, empre-
l go do hidróxido de cálcio como medicação
1 intracanal.
)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• _FIG§. t~~-~ 15.8


Sucesso clínico e radiográfico do trota-
mento endodôntico dos dentes 11, 21 e 22,
posterior a 20 meses de controle.

ESVAZIAMENTO DO CANAL A conquista de um acesso livre, capaz de


RADICULAR permitir o completo esvaziamento de todo o ca-
nal radicular, constitui um dos primeiros objeti-
Vários fatores que influenciam no prognósti- vos técnicos, após a definição do diagnóstico do
co do sucesso e do insucesso têm sido discutidos, insucesso endodôntico. Nos retratamentos endo- /
contudo, percebe-se variáveis que induzem à di- dônticos, as manobras de remoção de restaura-
fícil interpre tação dos resultados. Stabholz et ções extensas, de retentares intrarradiculares de-
al. 113 relataram que essas dificuldades incluem vem ser cuidadosas e bem valorizadas, pois, po-
tendências do observador na interpretação radio- dem ser responsáveis pelo fracasso direto ou por
gráfica, níveis variáveis de cooperação do pacien- um prognóstico pouco favorável. Para que seja
te, subjetividade da resposta do paciente, variabi- evitado ou reduzido o número de acidentes (per-
lidade do hospedeiro em responder ao tratamen- furações, fraturas dentárias), a estruturação do
to, validade relativa e reprodutividade do m éto- adequado planejamento e urna boa seleção de
do de avaliação, grau de controle das variáveis, casos, deve ser sempre considerada anterior ao
tal como o tamanho da amostra e as diferenças início do tratamento. Caso a condição clínica in-
nos períodos de observação. viabilize o retratamento endodôntico, dado a jus-
Um fator a ser considerado é que o percen- tificativa de não valer a pena o risco de urna
tual de sucesso é influenciado pelo estado pré- fratura dentária, perfuração ou de não se conse-
opetatório da polpa dentária, associado à presen- guir uma situação melhor do que aquela que se·
ça ou ausência de lesão periapical pré-operatória. apresenta, pode-se considerar diretamente a op-
Lopes et al.69•71 , avaliando a quantidade api- ção de cirurgia parendodôntica. O Capítulo 16
cal de resíduos de m aterial obturador após a discute todos os aspectos reladonados com a ci-
reinstrumentação, verifica ram a presença desses rurgia parendodôntica, indicações, contra-indica-
resíduos cm 93,34% dos dentes analisados. Os ções, limitações, materiais e técnicas.
resíduos após a reinstrumentação endodôntica Durante as duas últimas décadas, percebe-se
podem alterar o selamento hermético durante a diferentes tendências nos procedimentos restaura-
nova obturação do can al radicular e recobrir re- dores, especialmente no que se refere à adesão,
manescentes necróticos ou bactérias, que prova- quer a partir dos sistemas adesivos ou de retenção
velmente, podem interferir no resultado da repa- com os pinos intrarradiculares pré-fabricados. Par-
ração após o retratamento. ticularmente aos retentares intrarradiculares, al-
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENOODÔNTICO

guns aspectos têm sido alvo de investigações, RETRATAMENTO


como o tipo do retentor, o comprimento, o diâ- ENDODÔNTICO
metro, o preparo do canal radicular para receber o
retentor e os cimentos utilizados para a fixação. O O acesso à região apical nos retratamentos
Capítulo 20 discute os princípios de restaurações endodônticos é obtido por m eio do esvaziamento
após o tratamento endodôntico, e relacionam as do canal radicular, a partir da remoção do mate-
indicações e tipos de retentares intrarradiculares rial obturador presente. A n ova modelagem do
com as prováveis situações clínicas presentes. canal depende do acesso livre e direto à região
Convencionalmente, observa-se que os pinos apical.
são fixados, na maioria das vezes, com cimento O material obturador n ormalmente oferece
fosfato de zinco. No entanto, com o surgimento resistência para sua remoção. Essa resistência
de novos materiais com excelente capacidade de não pode resultar em a lterações indesejáveis na
adesão, nota-se algumas inovações frente aos morfologia do canal, pois, os objetivos da terapia
materiais para cimentação. endodôntica devem ser ma ntidos3 4 · 37 , t i s - 120 •
A dificuldade no estabelecimento do novo Os materiais n ormalmente encontrados são
acesso ao canal radicular depende do material as pastas, cimentos, guta -p ercha, cones de prata,
presente, da anatomia da cavidade pulpar, de fragmento de instrum ento endodônlico (lima,
iatrogenias (perda do comprimento de trabalho - broca, espaçador, lentulo). Muitas técnicas têm
degraus, perfurações, instrumentos fraturados), sido indicadas para a rem oção dos materiais ob-
da presença de retentares intrarradiculares (tipo, turadores e/ou para as obstru ções dos cana is ra-
comprimento, diâmetro, cimento). dicu lares 10. t 1,u, t s. 19, 20 . 24.31 . , 4 - ,9.4 8. 5 , -55 .6 0 . 6 1. 6,, M, ,67 . 1,.74.76 -
1s .s2.?o. n . 11 s- 120.124. 126.1 2s . n5. 1,6.1,s -144
O novo tratamento endodôntico busca esva-
ziar o canal radicular, remover completamente o Especialmente entre os recursos disponíveis
material presente, estabelecer o n ovo limite lon- para a remoção dos retentares intrarradiculares,
,1I
gitudinal e transversal de ampliação, obter uma Vani et al. 135 destacaram o em prego de brocas car-
forma adequada e prestigiar um efetivo e poten- bides, o ultra-som, o sistem a acionado por mola,
. te controle microbiano para a infecção secundá- o alicate extrator de pino, o aparelho pequeno
ria presente. gigante, o sistema a cionado pneumaticamente
O planejamento para o retratamento en do- (Coronaflex), o uso do alveolótomo e o sistema
. dôntico parte de um adequado diagnóstico, asso- acionado por pêndulo .
I ciado à refinada seleção de casos. O exame radio- A seguir, serão descritos os passos operatóri-
gráfico é essencial, uma vez que fornece vários os normalmente envolvidos no processo de esva-
aspectos importantes: o provável material obtura - ziamento de canais radiculares com presen ça de
' dor, a qualidade e extensão da obturação, a pre- pastas, cimentos, cones de guta -percha, cones
sença de sub ou sobreobturações, obstruções me- de p rata, instrumentos endodônticos fraturados.
cânicas (cimentos, fragmento de instrumento
endodômico), retentor intrarradicular (tipo, com - Esvaziamento do canal com
primento, diâmetro). Em em face desses fatores, pastas e cimentos
pode-se prever a dificuldade ou facilidade na exe-
cução do esvaziamento do canal radicular. O primeiro passo constitui-se da avaliação
Convém, antes do início do retratamento clínica e rad iográfica do m aterial obturador pre-
endodôntico, esclarecer muito bem o paciente sente (pasta/ cimento), e da quantidade e exten-
dos prováveis riscos e benefícios, além da obten- são apical de material (presença no terço cervi-
ção de um consentimento por escrito para a rea- cal, médio e/ou apical). Nos canais radiculares
lização do novo tratamento. O Capítulo 2, refe- que contêm pastas de hidróxido de cálcio, a re-
rente à estruturação do diagnóstico, discute a moção geralmente não oferece dificuldades. Com
importância do termo de esclarecimento e de instrumento tipo K-fl ex, com manobra de catete-
l consentimento para a realização de qualquer in- rismo, associado à abu ndante irrigação-aspira-
1 tervenção odontológica. ção, desloca-se e remove-se a pasta do interior
! do canal radicular. Quando o canal radicular está
Todavia, como recurso clínico adicional ao
possível insucesso do retratamento, tem -se ainda p reenchido somente com cimento, o caso clínico
a opção da cirurgia parendodôntica. torna-se mais complexo, pois, em algumas situa-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

ções pode-se encontrar cimento à base de óxido n a dos com pequenos movimentos de rotação, ~····-;
de zinco e eugenol, cimento fosfa to de zinco, e valendo-se de lim as tipo Hedstróern, posterior ao ' .
até m esmo resinas autopolimerizáves. Deve-se emprego do trépano, ou das limas tipo K-flex,
estar aten to, pois os mais variados materiais já que abrira m a prim eira via de passagem. Nova -
foram encontrados obstruindo o canal radicular. mente, goteja -se algumas go tas de solvente na
Os cimentos normal mente são de consistência câmara plllpar e, com limas tipo K-flex (nº 15,
dura e requerem o emprego de solvente na ten- 20, 25), procura -se ven cer o material com
tativa de auxílio à degradação e solubilização. pressão apical e movimentos de cateterismo. Pos-
Este material oferece maiores dificuldades em te rior ao esp aço criado por essas limas, pode -se
sua remoção . Como recursos auxiliares para a te ntar a r emoção com auxílio das lima s tipo
remoção de cimento do interior d o canal radicu- Hedstroem (nº 20, 25 ou 30 ). Na região apical,
lar, pode-se valer inicialmente dos instrumentos principalmente nos 3 mm finais de obturação,
rotatórios, como brocas LN, limas modificadas deve-se evitar o emprego do solvente com o ob-
(trépanos/perfuratriz), ou brocas carbidc longas jetivo de se prevenir o possível extravasamento
para contra-ângulo. A utilização desses recursos do material obturador. A guta-percha extruída
impõe um acompanhamento radiográfico, passo para a região periapica l pode atuar como um
a passo, devido ao grande risco de perfuração. potencial irritante.
Outro recurso auxiliar é o emp rego do u ltra - Para os canais radiculares curvos, redobram-
som, como manobra isolada ou associada aos re- se os cuidados, uma vez q ue aumentam-se a s
cursos descritos. Nem todos casos preenchidos ch ances de criação de degra u s, p erfurações,
com cimentos são bem sucedidos em sua com- transportes foram inai s, fraturas de instrumentos. i
pleta remoção24 . Cuida do especial deve ser tomado com as
limas tipo Hcdstroem, pois podem travar nas pa-
Esvaziamento do canal com redes dos canais e fraturar. Nos casos de sobre -
guta-percha obturação, a guta-perch a é removida, como cita-
do anteriormente até 2 a 3 mm aquém do ápice.
O diagnóstico inicial reveste -se de significati- Tenta -se remover o remanescente de guta-per- /
va importância qua ndo se necessita remover cha, que é preserva do sólido, ou seja, sem rece-
guta-percha do canal. A avaliação clínica e radio- ber a influência do solvente, por meio de uma
gráfica da qualidade da obturação presente nos lima Hedstroem, após o emprego da lima K-flex.
três terços da raiz, e do limite apical de preenchi- Vencido o obstáculo uma lima tipo K-flex é leva-
mento do ma te rial obturador presente é essen- da até 0,5 a 1,0 mm além do ápice. Com um giro
cia l. controlado no sentido horário, tenta -se prender
A maioria dos casos mostra obturações con - firmemente na guta-percha, sendo lentamen te
densadas nos terços cervical e médio, com fa- removida. Deve-se tomar o cuidado com a sobre-
lhas no terço apical, com falta de preenchimen- obturação de cimento endodôntico, pois, nos ca-
t o adequado . Após os procedimentos normais sos de retratamentos, o batente apical não apre-
p ara a abertura coronária, emprega-se as b rocas senta-se definido 24 .
Gates-Glidden (alargadores cervicais), esp e cial-
mente n os terços cervical e início do terço mé - Esvaziamento do canal com
dio, o que reduz o volume de material obtu ra - cones de prata
dor. A seguir, utiliza-se um solvente, no espaço
relativo ao terço cervical (como o Xilol, Eucaliptol O acesso ao canal radicular em dente obtu-
ou óleo de laranjeira) e, com movimentos de rado com cones de prata, impõe uma necessida-
cateterismo, com limas tipo K-flex, pressiona-se de prévia de se remover a resta u ração e o m ate-
contra o reman escente de obturação, que está rial obturador presente na câmara coronária.
sob influência do solvente. Inicialmente, po de- Deve-se tomar cuidado para qu e as brocas não
se trabalhar com um trépano sob a ma ssa obtu- danifiquem os cones de prata. Posterior à remo -
radora presente, pois permite uma atuação com ção do selam ento coronário cm torno do cone
certa pressão. de prata, qu e urge ser cui dad oso, deve-se verifi -
Os cones de guta-percha oriundos de canais car se o mesmo está solto ou cimentado firme-
radiculares mal condensados podem ser tracio- mente no interior d o canal. Urna b oa sondagem
TRATAMENTO 00 INSUC!:SSO ENDODÔNTICO

com explorador endodôntico representa a me- sado para permitir a remoção durante o preparo
dida inicial. Se não estiver muito firme, o cone do canal ou o términ o do tratamento sem a sua
de prata deve ser apreendido, utilizando-se de remoção. A ultrapassagem do instrumento fratu -
pinça especial de ponta fina, e tracionado em rado pode ser feita utilizando limas tipo K-flex,
sentido coronário. Caso o cone de prata esteja trépanos ou vibração ultra -sônica . Quando o ca-
cimentado e bem retido no interior do canal, nal estiver preenchido por cone de prata, os cui-
deve-se utilizar o ultra -som para favorecer a dados podem seguir os mesmos indicados para os
desintegra ção do cimento, quando presente, a instrumentos fraturados. Utiliza-se um instru-
fim de facilitar sua retirada. Mesmo assim, após mento de pequeno calibre para ab rir espaço en-
o emprego do ultra -som, deve-se tentar ultra- tre as paredes do canal e o obj eto sólido, tentan-
passar o cone de prata com um instrumento de do ultrapassar o fragmento fraturado. Nos casos
ca libre fino, para que, a seguir realize seu tracio- de cones de prata cimentados, tenta-se desestru-
n amento. Todos os cuidados devem ser tomados turar o cimento com o ultra-som. Sempre pré-
para que o cone de prata não frature no interior curvar os instrumentos na curvaturas. À medida
do canal, o qu e complica mais ainda o caso dí- que se penetra no in terior do canal, abundante
nico24. irrigação-aspfração deve ser realizada e procede -
sc o acompanhamento do traje to do instrumento
Esvaziamento do canal com guia por meio de radiografias, com o objetivo de
instrumentos fraturados verificar possíveis desvios da luz do canal. Uma
vez ultrapassado o obj eto ou ao aproximar do
A fratura de instrumento endodôntico é um término do canal, radiografa-se novamente para
acidente que pode ser obstáculo ao prossegui- estabelecer a odontometria. Com o prossegui-
mento do tratamento, ou mesmo, colocar em ris- m ento do preparo do canal, a partir da lima de
co o sucesso. Os p rincípios que regulamentam o nQ 25, tipo K-flex, p ode-se tentar empregar as
;r correto processo de sanificação e modelagem dos limas tipo Hedstroem para auxiliar na remoção
:Cana is radiculares devem ser rigorosamente se- do fragmento da lima. Este consiste no primeiro
·. guidos, a fim de se evitar esse acidente. recurso para se tentar vencer esse difícil obstácu -
As causas mais comuns de fratura de instru - lo, uma vez que as outras opções foram apresen-
mentos constitu em n o seu manuseio inco rreto; tadas.
força desnecessária nas curvaturas e obstáculos; Outro dispositivo descrito pela literatura é o
; intervir sob premência do tempo; utilização de kit de Masserann. Consiste de um aparelho esca-
instrumento endodôntico fora da seqüência de vador que é aplicado e fechado ao redor do obje-
aum ento de calib re; ausência de inspeção a nte - to . Uma série de brocas cortantes são usadas n o
1
rior e posterior ao uso; emprego excessivo; acesso sentido anti-horário para promover o acesso ao
inade quado; e fa lha n a fabricação do instrumen- objeto. Corno as brocas são grandes e rígidas,
to B.1 ; ,21,31 -39, 53. 11s -1 20 . essa técn ica é restrita a raízes reta s e amplas. O
Con sidera-se, frente à presença de um ins - seu uso tem que ser controlado p or radiografias
trumento fraturado no interior do canal radicu - freqüentes. Essa técnica res ulta em sacrifício
lar, as possíveis op ções terapêuticas para solucio- considerável de dentina radicu lar e enfraquecj-
nar o p robl em a de acesso: a primeira tentati:va é mento do dente, além do risco de t rep an ação ser
de ultrapassar o instrumento fraturado e remo- muito alto15.34-31_
vê-lo; a segunda é de ultrapassá-lo e englobá-lo Se o objetivo al vo, a remoção do fragm ento
ao m aterial obtu rador; a terceira é de obturar até de lima presente n o canal, não for alcan çado
o instrum ento; e a qu arta é de optar por um a com nenhum dos métodos descritos anterior-
cirurgia parendodôntica, para solu cionar proble- mente, deve -se optar pela cirurgia parendodônti-
ma. Um fator importante duran te as tomadas de ca , como complemento do tratam ento.
.~ decisões, refere-se ao estado pré-opera tório da Os Esquemas de 15.1 a 15 .13 demonstram
t polpa dentária . uma seqüência de retra tam en to endodôntico,
Assim, um in strum ento m etálico que não com esvaziamento do canal pree n chido com co-
" possa ser fixado ou tracionado, deve ser ultrapas- n es de gu ta-percha e cimento .
CIÊNCIA EN DODÔNTICA

• ...E.~QlJ.Eh1A __
1S!t . ···--· .. . _
Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.

• ESQ~~M~ 1!>.2
Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.

• E!KlUEMA 15.3
---------·~··"-·-~~-------,.--.-.-..... .. .. .

Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.
TRATAMENTO DO INSUCE SSO ENDODÔN TI CO

• ESQUEMA iS.'-i .
Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.

;l
1
i

• ESQUIEf\U. i5.S
Retromento endodôntico.
Obturação do canal.

• 1

• ESQUEMA 15.6
Retramento endodôntico.
Obturação do canal.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• ~SQ~E.fllA .. 1~~7
Retramento endodôntico.
Esvaziamento do canal.

1 '

• ESQUEMA 15.S
Retramento endodôntico.
Esvaziamento do canal.

• - f;~QlJEfyit\JS.9
Retramento endodôntico,
Esvaziamento do canal.
TRATAMENTO DO IN SUCESSO ENDODÔNTICO

Retramento endodônrico.
Obturação do canal.

• ESQt.MI.tefMt ·ss.n
Retramento endodôntico.
Obturação do canal.

• 1

• ESQUEMA 15.1l
Retramento endodôntico.
Obturação do canal.

,,i
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
- - - - - - - - -- - - - - - - · - · - - - - - - · - - - --·-·-·-------·--------------·-······-··-·-··- ··-··-··-

• ESQUEMA 15.13
Retramento endodôntico.
Obturação do canal e restaura-
ção do dente.

Esvaziamento do canal com saber o tipo de pino, e imaginar ou identificar o


retentor intrarradicular cimento utilizado. A remoção de pino com o ;
sistema ultra-sônico (Figura 15.9) se desenvol-
A prevalência de in sucesso endodôntico · em ve por meio de energia mecânica, com oscila-
dentes portadores de coroas com pinos intrarra- ções transmitidas para o retentor intrarradicu- /
diculares é elevada. Desta forma, surgiram inú- lar, com o objetivo de fragmentar e desestrutu-
meros dispositivos e aparelhos destinados a favo- rar o cimento presente entre o pino e a dentina.
recer a remoção dos retenta res intrarradiculares, Dos cimentos mais empregados, pode-se desta - ·1
permitindo novo acesso e esvaziamento do canal car o fosfato de zinco, o ionômero de vidro e os
radicular. Pode-se destacar diferentes recursos cimentos resinosos.
destinados a essa finalidade: o emprego de broca Oliveira et al. 89 avaliaram in vitro a efetivida-
carbide, o ultra-som, o sistema acionado por de da vibração ultra-sônica na remoção de pinos
mola, o alicate extrator de pino, o aparelho pe- intrarradiculares, em 40 dentes humanos unirra-
queno gigante, o sistema acionado pneurnatica- diculares. Utilizou-se pinos pré-fabricados (Uni-
mente (Coronaflex), o uso do alveolótomo e .o metric 2 l 5 TR 31 OL) cimentados com cimento
sistema acionado por pêndulo. fosfato de zinco. Em um grupo, não houve ne-
nhum tipo de tratamento antes da tração; o ou-
Remocão de retentor tro grupo foi submetido à vibração ultra-sônica
intrarradicular com ultra-som por 3 minutos. A força necessária para a remo-
ção dos pinos foi d eterminada utilizando -se
Nos retratamento endodônticos, durante as uma máquina de teste universal. De acordo
manobras de remoção dos retentares intrarradi- com Silva ll2, o tipo de pino utilizado, fabricado
culares (núcleos/pinos), pode-se deparar com ou moldado, como também a variação do diâme-
desagradáveis acidentes, responsáveis por con- tro nos pinos moldados e fundidos, não influen-
duzir o tratamento ao fracasso direto ou ao ciaram nos resultados, pois o ultra-som foi efeti-
prognóstico desfavorável. Para que se possa evi- vo em qualquer situação. Os resultados mostra-
tar ou diminuir os acidentes operatórios como ram que para os espécimes tratados com vibra-
perfurações e fraturas dentárias, deve-se estru- ção ultra-sônica foram necessárias forças signifi-
turar para cada situação específica um adequa- cativamente menores, quando comparadas com
do planejamento. Para tanto, torna -se oportuno as do outro grupo.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO

Garrido 38 analisou a eficiência da vibração dependendo do tipo de cimento u tilizado para a


ultra-sônica, com e sem refrigeração ar/água, na fixação dos retentares.
remoção por tração de pinos metálicos fundidos, Para a remoção do retentor, inicialmente
fix ados com cimento resinoso em comparação busca-se retirar a coroa protética. Associado a
àqueles fixados com cimento de fosfato de zinco. esse procedimento, deve-se empregar uma bro-
Os 42 dente s humanos analisados foram subme- ca de aço carbide cilíndrica, para diminuir o
tidos ao tracionamento na máquina universal. diâmetro do núcleo possibilitando visu alizar a
Nos grupos cimentados com cimento resinoso, os linha de cimento na entrada do canal. Caso isso
resultados mostraram que a vibração ultra -sôni- venha ocorrer, certamente a remoção torna-se
ca sem refrigeração reduziu em 71 % a força de facilitada .
tração necessária para a remoção dos retentares, Nos pinos curtos e cônicos utiliza-se a ener-
estatisticamente diferente dos valores obtidos gia ultra-sônica sobre o pino aproximadamente
nos grupos com vibração ultra-sônica com refri- por 5 minutos (sendo esse tempo distribuído em
geração e controle, que apresentaram resultados períodos de 1 minuto por face), o que, em várias
semelhantes entre si. Nos grupos cimentados situações é suficiente para removê-lo; caso o
com fosfato de zinco, a vibração ultra-sônica com pino seja longo e de forma cilíndrica é necessário
refrigeração apresentou os m elhores resu ltados, aplicar a ponta do ultra-som durante um período
reduzindo em 75% a força necessária para odes- de 5 a 1 O m inutos.
locamento do retentor. Assim, foi possível obser- Segue uma sugestão para a seqüência téc-
var que a presença ou ausência de refrigeração nica na utilização do ultra-som, de acordo com
interfere na eficiência da vibração ultra -sônica, os Esquemas 15. 14 a 15.16.

11
Esquemas 15.15 e _15.16
SEQÜÊNCIA TÉCNICA DE UTILIZAÇÃO DO ULTRA-SOM

UTILIZAÇÃO DO ULTRA- SOM

Esquema 15
1. Esquema simulando uma raiz com contenção intrarradicular;
2. Inicialmente, com brocas apropriadas desgasta-se o núcleo, ou seja, a porção da contenção e m nível coronário, com
a finalidade de remover o apoio deste na de ntina (seta), deixa ndo-o com o mesmo diâmetro do pino em nível
cervical;
3. Aspecto do núcleo após o desgaste. Nesse momento, passa-se a utilização do ultra-som;
4. Posições recomendadas para a ação do ultra-som: e m nível da lin ha de cimentação lateral e superior. O tempo de
ação do ultra-som deve ser limitado a um minuto por posição;
5. Tracionamento do pino com pinça hemostática ou alicate; no caso de pino pré-fabricado pode-se também tentar a
giroversão no sentido anti-horário.
Observação: Caso o pino não tenha sido removido até o momento, procede-se de maneira descrita no Esquema ·
seguinte.

Esquema 16
6. Com uma broca carbide 112, ou similar de pescoço longo procede-se o desgaste do pino, a brindo-se uma canaleta
no centro deste, evitando-se com isso o desgaste da dentina;
7. O espaço obtido pela broca servirá de apoio para a ponta do ultra-som, permitindo uma vibração m ais próxima da
linha de cimentação;
8. Devido a canaleta é possível por meio de uma sonda pontiaguda o deslocamento lateral de parte do pino, criando-
;, se um espaço entre o pino e a parede do canal;
t 9. Espaço obtido pelo deslocamento do pino;
10. Aplicação do ultra-som no espaço lateral obtido pelo deslocamento do pino.
J' Observação: Caso o pino não seja removido somente com a vibração ultra-sônica deve-se alternar a utilização da
broca com a vibração ultra-sônica e !racionamento.
CIÊN C IA EN D ODÔNTICA

A grande vantagem da técnica sugerida é a preservação do tecido dentinário nas paredes do canal,
durante os procedimentos cl ínicos.

• ESQU~MA 15.14
Retentor introrradicular.

• .. ESQ~EMA 15.15
Remoção de retentor intrarradi-
cular com ultra-som.
/

• .,
léSQUfMA
,. .-· - .
--··
15. •16.
Remoção de retentor introrradi-
cular com ultra-som.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENOODÔNTICO

Remoção com aparelho acionado preparadas nos três sentidos (mésio, orto e disto-
por mola radial), uma análise da inclinação do dente no
arco, um apurado controle de direção da broca, e
A remoção de retentares intrarradiculares boa refrigeração. A relação entre o diâmetro do
com sistema acionado por mola, baseia-se no canal e do pino, o comprimento do pino, o tama-
emprego de uma força mecânica de tração. Para nho da broca, são pon tos que devem ser bem
sua utilização, a remoção prévia da coroa protéti- analisados. A broca deve apresentar diâmetro in-
ca, assim como as manobras clínicas na superfí- ferior ao volume do pino in trarradicular, sendo
cie do pino metálico com vistas a facilitar o en - qu e, no momen to de sua ação deve estar direcio-
caixe da parte ativa do aparelho, se fazem neces- nada para o centro do pino. O desgaste deve ser
sárias. Confecciona-se pequenas canaletas hori- controlado e lento, devendo-se tomar muito cui-
zontais com cerca de 1 mm de profundidade, nas dado para se evitar desgaste desnecessário na
faces livres da porção coronária do pino metáli- dentina radicular. À medida que se aprofunda
co, por meio de brocas esféricas carbide, de diâ - em sentido apical, milímetro a milímetro, obser-
metro compatível com o volume coronário do va-se o sentido do desgaste. Torna-se fundamen-
pino, a ponto de permitir a adaptação e o ajuste tal o acompanhamento radiográfico, n o in tu ito
da referida ponta extratora. Este equipamento de possibilitar um controle do desgaste quanto à
consiste de uma haste com mola no seu interior; sua direção 135 .
na porção superior h á uma pequena mesa na Este m étodo por desgaste tem sido emprega-
qual a ponta extratora específica será rosqueada; do nos casos de pinos metálicos rosqueados, pi-
junto ao corpo há um gatilho, que libera a pres- nos não-metálicos, como os de fibras de carbono.
são da mola, sendo que esta permite diferentes Quando há coroas nas proximais do pino a
graus de força extratora a ser aplicada, depen- ser removido, fica m a is difícil o acesso da broca,
dendo da dificuldade de cada situação clínica, uma vez que a mesma pode tocar nas coroas
ti variando normalmente de 1 ou no máximo 2 adjacentes. Para tanto, estas manobras devem ser
1

I grau s. Previamente ao en caixe da parte extratora bem planejadas. As indicações são para as brocas
na can aleta horizontal, confeccionada na porção longas (de 28 mm) . Torna-se necessário destacar
coronária do pino, aciona-se a mola, a fim de qu e essas brocas apresentam elevado poder de
promover a separação da mesa em relação ao corte, sendo muitas vezes o desgaste dentinário
corpo do aparelho, graduando à força requerida totalmente imperceptível (Esquemas 15.17 e
I
para o caso. Graduada a pressão da mola, adap- 15.18).
ta-se a ponta extratora na canaleta previamente Em diferentes situações clínicas, as opções
confeccionada, procurando orientar o aparelho de remoção dos reten tares seguem as alternati -
no sentido do longo eixo do pino em relação à vas descritas.
raiz. A ponta extratora será estabilizada junto ao Para que se possa ter sucesso na remoção
pino por meio de leve pressão digital e o gatilho dos retentares intrarradiculares, alguns cuida-
qu e irá liberar a mola será acionado, gerando a dos devem ser observad os. O Quadro 15.1 e
força extra tora 135 • 15.2 estabelecem p rotocolos de esvaziamento
do canal radicular em diferentes situações clí-
Remoção com emprego de brocas nicas. As Figuras 15 .9 a 15 . 13 exibem um mo-
carbide delo de aparelho de u ltra -som, aparelho acio-
n ado por mola, pinça (alicate) de ponta fina,
O desgaste por meio de brocas de aço do tipo broca carbide de 28 m m para alta rotação. As
carbide representa um método acessível e tem se Figuras 15.14 a 15 .4 9 ap resentam casos clíni-
mostrado eficaz, pois, remove o pino por desgas- cos de retratamento endodôntico com remoção
te. Todavia, necessita de um minucioso estudo de diferentes materiais do interior do canal ra -
do aspecto radiográfico, valendo -se radiografias dicular.

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CIÊNCIA ENDODÔNTI CA '
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• AG. 15.9 • FIG. 15.10


Aparelho de Ultra-Som (ENAC Osada, Japão). Sistema acionado por mola (Otto Metalúrgica
Arminger, Brasil).

• FIG. 15.11
Pinça de ponta fina (80 Esculap, USAJ.
• Fm.1s.12
Pinça de ponta fina (80 Esculap, USAJ.

• FIG. 15.U
Broca carbide - 28 mm (Kommer).
• ESQUEMA 15.11
Remoção de retentor intra,rndicular com broca.
11

• ESQUEMA 15.18
Remoção de retentor intrarradicu!ar.
·..i. .
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

Quadro 15.1
PROTOCOLO DE ESVAZIAMENTO DO CANAL RADICULAR SEM RETENTOR INTRARRADICULAR

REGIÃO RECURSO OBJETIVO

Porção Coronária - Broca de aço (carbide) - Remover material


restaurador metálico ou plástico
- Remover prótese fixa

Porção Cervical - Broca Gates-Glidden - Remover guta-percha,


- Orifice Shaper cimento ou pasta
- LA Axxess

Porção Média - Broca Gates- Glidden - Remover guta-percha,


- Orifice Shaper cimento ou pasta
- Limas endodónticas
- Solvente de guta-percha

Porção Apical - Limas endodónticas - Remover guta-percha,


cimento ou pasta obturadora
- Esvaziamento do cana l

Quadro 15.2
PROTOCOLO DE ESVAZIAMENTO DO CANAL RADICULAR COM RETENTOR INTRARRADICULAR

REGIÃO RECURSO OBJETIVO

Porção Coronária - Broca de aço (carbide) - Remover material restau rador


metálico ou plástico
- Remover prótese fixa

Porção Cervical Retentor Fundido - Broca LN - (esvaziamento coronário,


- Ultra-som lateral ao retentor), remoçao
- Extrator com mola do retentor intrarrad icular
- Broca carbide
Retentor
Pré-fabricado - Ultra-som - Fragmentação do cimento

Porção Média Retentor Fundido - Ultra-som


- Extrator com mola - Remover retentor intrarradicular

Porção Apical - Limas endodônticas - Remover guta-percha,


cimento ou pasta obturadora.
- Esvaziamento do canal
cementário
TRATAMENTO 00 I N SUCESSO ENDODÔNTICO

• F~í.i§. 15.'i4 0 t5.'15:


Retratamento endodôntico - Remoção de guta-percha e instrumento fraturado.

;f

• FfG§, 15.m e 15.11


Retratamento endodôntico - Remoção de guta-percha e instrumento fraturado mantido no canal.

) • fiGS, 1!'U3 e 15,19


Retratamento endodôntico - Remoção de guta-percha e oinento (Curso de Especialização em Endodontia da
ABO- GOJ.
CI ÊNCIA EN D ODÔNTICA

• _fl_G S. _15.2'º--~ 15.21


Retrotamento endodôntico - Remoção
de guta-percha e broca fraturada.

1 .

• FIGS. 15.22 e 15.23


Retratamento endodôntico - Remoção
de guta-percha e pino intrarrodicu/ar.

• FIGS, _1.S.N e 15.25


Retratamento endodôntico - Remoção
de retentor intrarradicu/ar.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENOOOÔNTICO
-~ ·-1"~·-·· ......... , ... ~. . . .,~-·· ,.,. -d · ·~ - . . . • .,~ --- •.., ...•. ' - ·---· . - . ... ••.• · - - .. - ...~ · - .. · - -·· - - ···---···~· - - - - · -· ·· ~ - - ~ · · · · · - · - - - - · - - - · - - - · - -···· - . ·-----~--··-·-··--·-·-~··-·--

;!
1
j

• F!GS. 1s.:u, a ij.:l9


Retrotamento endodôntico - Remoção
de guto-percho e instrumento fraturado.

• FIGS. 15.30 e 15.31


,lf

t Retrotamento endodôntico - Remoção


de instrumento fraturado.
r'
y
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

..
.,.;J'
·, I

'~
l1..
-.." ·
X.
rç.,:
j;

• FIGS. 15.:n a iS.35


Retrotamento endodôntico - Remoção
· de instrumento fraturado.

••
....,_.
"'~
• ...

• wms. 1s.,a& "" 1s.:u


Retrotamento endodôntico - Remoção
de instrumento (Curso de Especialização em
endodontia ABOJ.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENDOOÔNTICO

• if~G. 15.lS
Retratamento endodôntico em dente'
com periodontite apicol.

• fiG, 15,39
Lesão persistente após o retrotamento
endodôntico.

;!
!
• FIG. 15.40
Cirurgia porendodôntico.

• FIG, 1S.41
Controle clínico e radiográfico, desa-
parecimento da rarefação óssea periapicol,
e ausência de sintomas.

; 1

• FIGS. 15.42 e 15.43


Retratamento endodôntico - Remo-
ção de instrumentos fraturados.

1
;'
CIÊNCIA ENDODÓNTICA

• !FiGS. 15.44 e 15.45


Retratamento endodôntico - Remoção de guta-percha e pino intrarradicular

1 .

• Fms. 15.4fJ> ~ is.41


Retratamento endodôntico - Remoção de guta-percha e cimento.

• FtGS, 15.43 e lS.49


Complicações endodônticos - Cimento obturador no canal mandibular, e fragmento de broca de Gates-Glidden
no terço apicol de canal mesiovestibular
'fRATAMENTO DO INS U CESSO !:;NDODÔNTICO

SOLVENTE pressão respiratória 142 • Hunter et ai. 50 esclarecem


que a alta vola tilidade do halotano pode ser de-
O solvente é uma substância que apresenta sejável, pois, diminui a quantidade de solvente
como objetivo a propriedade de auxiliar na ação residual que fica na região periapical e circulação
de solvên cia da guta-percha e/ou do cimento sistêmica. O halotano, apesar de poder ser um
endodôn tico utiliza do na obturação do canal ra- solvente indicado para dissolver a guta-per-
dicular. O amolecimento desses materiais favore- cha50·13\ ainda não é encontrado no comércio
ce o esvaziamemo do canal radicular. para uso clínico em endodontia .
Diferentes solventes têm sido indicados e Whitwonh & Boursin 137 analisaram a disso-
u tilizados para aplicação em endodontia, como lução dos cimentos (AH plus, Apexit, Tubli-seal e
o clorofórmio, o xiloL o eucalipto!, o halotano, Ketac endo) por solventes voláteis (clorofórmio e
a terebentina, o óleo de laranj eira, entre ou- halotano). Os autores verifica ram que o Ketac
tros . O clorofórmio solubiliza a guliJ -percha endo é efetivamente insolúvel no clorofórmio e
mais rapidamente que o eucalipto!, entretanto, no halotano; o Tubliseal apresentou baixa solubi-
tem sido r elatado como possível carcinóge- lidade no halotano e maior no clorofórmio; o AH
no57·142 e tem sido contra -indicado seu uso na plus mostrou alta solubilidade no clorofórmio e
Odontologia . O eucalipto! e o xilol são os sol- no halotano; o clorofórmio foi mais efetivo como
ventes ma is comumente empregados pelos pro- solvente para os cimentos endodônticos que o
fissionais. Wourms et al. 142 relataram qu e a des- halotano.
vamagem do eucalipto! é a necessidad e de ter Morais et al. 81 , avaliando o poder solvente de
que aquecê-lo para solubilizar a guta-percha. O guta-percha de quatro substância químicas (clo-
eucalipto! não aquecido dissolve a guta -percha rofórmio, xilol, eucalipto! e te rebentina), verifi -
lentamente, o que aumenta o tempo clínico re- caram que o clorofórmio e o xilol foram os mais
querido para a remoção da guta-percha. eficientes, sendo que estas substâncias não dis-
/1 Pécora et al. 9 2 sugerem a utilização de um solveram totalmente os cones de guta-percha,
i óleo essencial (obtido da laranjeira doce) como contudo, promoveram sua plastificação.
· solvente de cimento de óxido de zinco e euge- As situações clíni ca s de retratamento endo-
nol, o que facilita sua desintegração. dôntico, impõem muitas diiiculdades durante a
Alguns trabalhos estudaram a ação de dis- neutralização do conteúdo séptico-tóxico presen-
solução e a ação citotóxica de solventes endo - te, quer no momento da desobturação ou deso -
; dônticos4·57·58·71. 91·9 2 • A propriedade antimicrobia - bstrução . Um dos inconven ien tes é a possibilida-
' na dos solventes praticamente não é investigada de de extrusão foraminal de resíduos do material
por não constituir uma propriedade essencial. obturador, raspas dentinárias contaminadas e
Todavia, ao selecionar um solvente ideal, caso microrganismos . Assim, é fundamental a adoção
este apresente além d a capacidade solvente de de cuidados especiais, não apenas quanto à téc-
gu ta -percha e cimento, uni efeito antimicrobia - nica de retratamento endodôntico, mas também,
no, em mu ito poderia auxiliar o processo de quanto à seleção do solvente.
sanificação, desde o in ício da desobturação do Estrela et al.29 estudaram a a ção antimicrobi-
cana l radicular. ana de solventes de guta-percha (halotano, óleo
Kaplowitz 57 verificou que o óleo de tereben - de laranja, e ucalipto! e xilol), sobr e os m icrorga-
tina é fraco como solvente de gu ta -percha, o que nismos: S. aureus, E. faecalis, P aeruginosa, B. subti-
requer u m período de tempo maior, além de ne- lis, C. albicans, e urna mistura destes), em perío -
cessitar de aquecimento à temperatura de 71 ºC dos de 5, 10, 15 e 30 minutos. Os resultados
para dissolvê-la. O halotano, um hidrocarbono est ão descritos nas Gráficos 15.1 a 15.6. O halo -
fluorinatado rebtivamente não tóxico, volátil e tano mostrou efetividade antimicrobiana em to -
não in flamável, tem sido usado para a indução dos os tempos de análise para a C. a!bicans; a
de anestesia desde 1956. Ele tem odor adocicado, partir de 1O minutos para o E. faecalis e P aerugi-
l ·é levemente ma is solúvel nos tecidos qu e o éter, nosa; a partir de 15 minutos para o S. aureus; e foi
1
e tem solubilidade mínima no sangue. Apesar de inefetivo sobre o B. subtilis e sobre a mistura. Os
) não ser irritante respiratório deve ser manuseado ckmais solventes foram incfetivos sobre todos os
com cuidado para m inimizar sua exposição ao microrganismos testél dos, cm todos os períodos
a m b ient e, devido à capacidade de produzir de- de observação .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

.-i
Posteriormente ao esvaziamento da câmara (Esquemas 15.1 a 15.6). Como foi relatado an-
·~
coronária, introduz-se 3 a 5 gotas do solvente teriormente, deve-se tomar cuidado para que o ' .
(xilol, óleo de laranjeira etc.), aguarda-se alguns solvente não dissolva a guta -percha e essa massa l
minutos e inicia-se o processo de esvaziamento obturadora seja extruída para a região periapical. f-,
1-,

30m ~~-_-T-.--.----1
Ação antimicrobiana de solventes de guta-percha
E. faecalis

..., 1 1 1 1 1
1

0ml 1 1 1 1 1
::1 1 Halotano

i
Óleo de
Laranjeira
1 1 1 1
Ausência de Crescimento
XHoJ

Crescimento
Solução
Fisiológica

• GRÁFICO 15.1 • GRÃ.Fi_C<.ns.:i


Ação antimicrobiano de solventes sobre o 5. oureus. Ação antimicrobiano de solventes sobre o E foeco!is.

Ação antimicrobiana de solventes de guta-percha

30m.-.-.--r.--.
B. s ubtilis

ISml 1 1 1 1 1
1

0ml 1 1 1 1 1
::1 1 Halotano ó leo de
Laranjeira
1 1 1 1
Eucalipto!

• Ausência de Crescimento
Xilol

Crescimento
Solução
Fisiológica

• GRÁFICO 15.l • . GRÃFIC.O 15.4


Ação antimicrobiano de solventes sobre o P. Ação antimicrobiana de solventes sobre o B. subttlis.
oerugmoso.

Ação antimicrobiana de solventes de guta-percha

30m(-TTT--.----.
Mistura

ml 1 1 1 1 1
15

lOml 1 1 1 1 1
::1 1 Halotano Óleo de
Laranjeira
1 1 1 1
Eucalipto!

• Ausência de Crescimento
Xilol

Crescimento
Solução
Fisiológica

• GRÁft!X» 15,% • GRt\FiCO 15.6


Ação antimicrobiana de solventes sobre o C albicans. Ação antimicrobiana de solventes sobre o misturo.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENDO DÔNTICO

REMODELAGEM, MEDICACÃO dicular, sobre -obturação, fratura dentária e dor


INTRACANAL E OBTURAÇÃO após o retratamento podem ser esperadas.
A perfuração radicular representa um aci-
Toda vez que se refaz algum tipo de trata- dente de técnica q ue comunica a câmara pulpar
mento, previsivelmente, espera-se sempre a pos- ou os canais radiculares com o tecid o periodon-
sibilidade de algum desgaste adicional. Como tal, capaz de afetar o prognóstico do ret ratamen-
não poderia deixar de ser diferente, um novo to endodôntico. Frente a esse aciden le, o pacien-
p reparo do canal rad icular, em um retratame nto te deve ser informado imediatamente dos proce-
endodôntico, também acontece. Certamente, dimentos a serem seguidos, bem como das alter-
deve-se tomar cuidado quando à modelagem nativas de tratamento e o efeito no prognóstico.
tran sversal, especialmente em áreas de risco de Entre os fato res que afetam o prognóstico
perfuração. A preocupação durante o esvazia - nas perfurações radiculares, alg uns merecem
mento e o novo alargamento do canal direciona- consideração, como a localização em relação à
se à conqu ista de um efetivo processo de sanifi- crista óssea (intra-óssea ou supra-óssea); a con-
cação, principalmente, considerando uma situa - dição clínica da polpa dentária (vital ou necrosa -
ção de infecção secundária. Os princípios e desta- da); a extensão; a presença ou ausência de bolsa
q ues do preparo do canal radicular foram discuti- periodontal; o tempo decorrido entre a perfura-
dos no Capítulo 10, e va lem de modo similar ção e o tratamento; a compatibilidade biológica e
para esse momento. a capacidade seladora do material obturador. A
Os cu idados relativos ao emprego de uma ra pidez no selamento da perfuração radicular fa-
medicação intracanal, n essa situação clínica, vorece o prognóstico, devido ao menor período
ta mbém foram bem discutidos no Capítulo 12 de uma possível contaminação microbiana. As
sobre hidróxido de cálcio, e também no Capítu- perfurações iatrogênicas podem ser agrupadas de
lo 14 sobre o diagnóstico do insucesso endodôn- acordo com a localização, dependendo da relação
tico. Todavia, merece destaque especial o empre - com a crista óssea alveolar, em intra e extra-
go de uma m edicação intracanal como o h idróxi- alveolar.
do de cálcio, com a finalidad e de potencializar o As perfuraçõ es que ocorre m d u rante a
processo de sanificação anteriormente conquista - ab ertura coron ária, normalmente estão relacio-
do durante a fase de modelagem. Sempre que nadas à falta de observação da anatomia den tá -
possível, o tempo de permanência da p asta de ria. A câmara pu lpar pode-se ap resentar com
I h idróxido de cálcio deve ser m aior que o propos- volume r eduzido ou obstruída devido à deposi-
to em u m protocolo con vencional. ção de dentina r eparadora, con seqü ência de
Os cuidados no m omento da obturação, des - constantes agressões e/ou e nvelh ecim ento teci-
I tinam -se àquelas situações em que n ão existe dual. Pode-se observar ainda, ca lcifi cação total
m ais o batente apical, sendo real o risco de ocor- da câmara coronária e t erço cervical, o que difi-
rer sobre-obturação. Assim, deve-se relacio nar o culta a localização e o acesso à região apical.
mesmo protocolo p ara essa n ova obturação do Falhas na análise da radiografia in icial favore -
can al radicular, devendo-se an alisar muito bem o cem o aciden te. Desta maneira, é oportuno con -
prognóstico do caso em questão. siderar o gra u de inclinação axia l do den te e m
relação aos adj acentes e ao osso alveolar. Deve-
COMPLICACÕES DURANTE O se ter cuidado duran te a abe rtu ra coronária de
• ESVAZIAMÉNTO DO CANAL dentes mal posicionados, principalmente os se-
gun dos molares, quando ocorre a p erda do pri-
O processo de esvaziamen to do canal radicu - m eiro m olar. No dente com coroa metálica to-
lar, diagnosticado o insucesso end odôntico, pode tal, quando n ão for removida, a visualização da
ta nto representar uma conduta simples, como anatomia da câmara coronária p u lpar torna -se
uma boa reforma, como estar in iciando um muito d ifíci l. Com freqü ência a coroa p ode t er
l acontecim ento dos mais desagradáveis e marcan- corrigido a giroversão do de nte, sendo que, a
tes na vida do profissional. Deve -se estar sempre câ mara coron ária e a entrada dos canais n em
)
at en to para a imprevisibilidade que o tratamento sempre estarão localizados onde se esp era. Cáries
de uma infecção secundária p ode repr esentar. e reab sorções podem t ambém conduzir a perfu -
Nesse sentido, ocorrências do tipo perfuração ra- rações da cavidade pulpar.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Um momento delicado que pode levar à per- Considerando que nesse Capítulo 16 foi re - ..; ..
furação dos dentes é o preparo do espaço para alizada uma extensa discussão e apresentação de
pino intrarradicular. Esse acidente é conseqüên- inúmeros estudos sobre esses materiais e o trata-
cia de desgastes exagerados ou mal direciona- mento dos problemas que requer sua utilização,
dos. Percebe-se que para a prevenção desse aci- cabe agora analisar somente as complicações.
dente é fundamental o cuidado durante os pro- O material reparador ideal é aquele que, além
cedimentos endodônticos, bem como o conheci- de promover excelente selamento, favorece a os-
mento adequado da anatomia interna e suas va- teogênese e cementogênese. A busca para alcan-
riações. çar este material é constante. O hidróxido de cál-
A perfuração durante o preparo dos canais cio tem mostrado excelentes respostas biológicas
radiculares pode ocorrer com certa freqüência na reparação tecidual, porém, necessita estar asso-
em canais curvos, quando não se observa o pré- ciado a outro material no caso do selamento de
curvamento das limas endodônticas de aço ino- perfurações, com melhores qualidades seladoras.
xidável, que, devido à sua capacidade de desdo- Um dos sérios problemas observados nos sela-
bramento, têm a tendência a retomar à posição mentos de perfurações tem sido a extrusão de
original. Outra situação comum de perfuração é material obturador, principalmente naqueles que
o desgaste exagerado durante o preparo, que não apresentam boas propriedades biológicas, pois
pode ser observado na parede distal da raiz me - poderia dificultar o reparo tecidual. ,·
sial de primeiros m olares inferiores, na parede Quando a perfuração ocorrer acima da crista
mesial de pré-molares superiores, e na parede dis- óssea ou nas proximidades desta, em que o epitélio
tal do canal mesiovestibular de primeiros mola- jm1cional foi atingido, uma das opções seria a ex- ,
res superiores28 . trusão dentária ou o aumento de coroa. A abertura
Outra situação comum, e que merece cui- artificial nesse caso seria deslocada para região
dado é o momento de se ultrapassar o degrau, que possibilitaria ser englobado na restauração.
ao encontrar canais calcificados, ao remover ci- Nas perfurações intra-ósseas laterais ocorri-
mentos durante os retratamentos. Cuidadó es- das durante a instrumentação do canal, o sela-
pecial deve ser tomado quando do emprego do mento deve ser o mais imediato possível, desde /
trépano. que a condição clírúca permita. Perfurações que
A prevenção das perfurações durante a ins- apresentem reabsorção de osso alveolar adjacen-
trumentação constitui terapê utica inteligente e te, são tratadas após a sanificação e modelagem,
ideal. Para os canais radiculares curvos, deve-se mantendo medicação intracanal com pasta de
optar por instrumentos flexíveis, e por uma téc- hidróxido de cálcio e solução fisiológica por pe-
nica adequada. A determinação precisa da odon- ríodo de 30 a 90 dias. Caso as condições clínicas
tometria evita sobre-instrumentação e desloca - estejam favoráveis, a medicação é removida, per-
mento foramínal. manecendo uma pequena porção desse mate-
As alternativas para tratamento das perfura- rial como matriz no local da perfuração, o canal
ções envolvem m étodos não cirúrgicos e méto - é secado, e preenche-se a cavidade perfurada
dos cirúrgicos, sendo que, a primeira opção, com o MTA - Mineral Trioxide Agregate. A seguir,
sempre que possível, é a não cirúrgica. A perfu- protege -se esse material com ionômero de vidro,
ração pode ser diagnosticada pelo aparecimento permanecendo como base para a restauração.
súbito de hemorragia no canal radicular ou por Quando a perfuração ocorrer devido à so-
sua persistência após a remoção do tecido pul- bre-instrumentação com alargamento acentuado
par; pela exploração clínica; p elo aspe cto radio- do forame apical, o tratamento consiste na deter-
gráfico mostrando a lima no periodonto; por minação do novo comprimento de trabalho, um
constatação de lesão lateral e pino direcionado pouco aquém do ápice, onde o cone principal vai
fora do longo eixo da raiz. ser travado . Deve-se manter o tampão apical
O Capítulo 16, referente à cirurgia paren- com hidróxido de cálcio, e obturar o restante do
dodôntica, discute a s diferentes características canal na técnica da condensação lateral e cimen -
dos materiais retro-obturadores (amálgama, óxi- to de hidróxido de cálcio. Nas condições em que
do de zinco e eugenol, hidróxido de cálcio, ci- a porção apical à perfuração não seja alcançada
mento de Rickert super EBA, EBA ionômero de pela obturação, pode-se acompanhar clínica e
vidro e o Mineral Trioxide Agregate). radiograficamente até a análise de sucesso ou
TRATAMENTO 00 INSUCESSO ENDODÔNTICO

não. Constatado o insucesso, resta ainda a opção to, ser extravasado além do ápice radicular. Caso
cirúrgica (cirurgia parendodôntica ). esse a cidente venha ocorrer, deve-se analisar o
Freqüentemente, as pefurações próximas ao tipo de material (pasta, cimento e /o u cones) e a
ápice apresentam o melhor prognóstico, sendo quantidade que ultrapassou . Em todas a s situa-
que, as de menores extensões são mais fáceis de ções, embora aceite-se uma boa tolerância teci-
serem seladas. O Quadro 15.3 apresenta uma dual para alguns m ateriais obturadores, alguma
classificação das perfurações quanto à localização resposta tecidual vai ocorrer, e a mais comum é
e as alternativas para seu tratamento. uma resposta inflamatória, cuja intensida de de-
É fundamental a análise intensiva de cada penderá de vários fatores (estado patológico peri-
caso em particular, v erificando a presença ou apical, tipo de material extruído, quantidade, es-
ausência de infecção, a extensão da perfuração, o tado sistémico do indivíduo) . Dificilmente, quan -
tempo decorrido para o selamento, o risco do do o material obtu rador extruído for cimento,
paciente à doen ça p eriodontal, visto interferir di- consegue-se u ma remoção via canal. Em alguns
retamente no prognóslico. casos quando o con e ultrapassa, consegue-se re-
Outra complicação passível de ocorrência é a m ovê -lo. Caso a irritação periapical ultrapasse os
sobre-obtura ção. Deve-se entender que o m ate - limites de tolerância, pode-se ainda removê -lo
rial obturador foi preparado para ser utilizado no cirurgicamente, o que não deixa de representar
interior do canal radicular, não devendo, portan - outro inconveniente.

Quadro 15.3
CLASSIFICAÇÃO DAS PERFURAÇÕES RADICULARES E AS ALTERN ATIVAS DE TRATAM ENTO

INTRA-ÓSSEA EXTRA-Ó SSEA

Localização Opção de tratamento Localização O pção de tratamento

Assoalho da câmara Pasta de Ca<OH>2 + MTA + Assoalho da câmara Selamento com lonômero
coronária lonômero de vidro coronária de v idro e/ou Resina
Composta

Terço Cervical Extrusão dentária / Terço Cervical Selamento com lonômero


Aumento de coroa clínica / (Recessão Gengival dado de v idro e/ ou Resina
Pasta de Tratamento PeriodontaD Composta
• 1
Ca<OH)i + MTA +
lonômero de vidro

Terço Médio Pasta de Ca<OHh ou Terço Médio Selam ento com lonômero
MTA + Obturação com (Recessão Gengival dado de vidro e/ou Resina
cimento de Ca(OHh e Tratamento PeriodontaD Composta
Cone de guta-percha

Terço Apical Obturação com cimento de


Ca(OHh e Cone de
guta-percha

Certamen te, a complicação mais difícil de se Outro inconveniente imprevisível relaciona-


l re solver constitui a fratura dentária, quando da se à dor após o retratamento endodôntico. Mui-
remoção de um retentor intrarradicular. Dessa tos fatores podem ser responsáveis pela dor que
forma, deve-se sempre informar o paóente dos caracteriza a inflam ação periapical durante e
riscos e b enefícios quando da remoção de reten - após o tratamento en dodôntico e, entre estes,
tore s intrarradiculares. estão: as substâncias químicas, a medicação in-
CIÊN CIA E NDODÕNTICA

tracanal, a técnica de esvaziamento e instrumen- características clínicas condizentes com o fracasso .:~
tação, o material obturado r e o número de ses- do tratamento. Decorridos intervalos de 24 a 48
sões.
A periodontite apical assintomática pode ser
horas após o retratamento endodôntico, todos os
pacientes retornaram para a segunda consulta,
tf.
exacerbada em decorrência do aumento da viru- cm que se registrou a presença ou ausência de 1-,
lência de microrganismos associada à diminuição dor pós-operatória, de acordo com critérios: au-
das defesas orgânicas. A extrusão pelo forame sente, leve-moderada e severa. Após o desapare-
apical de microrganismos e seus subprodutos, cimento da sintomatologia, a medicação intraca-
raspas dentinárias contaminadas, substâncias nal era removida e o dente obturado definitiva-
medicamentosas, ma teriais obturadores, contri- mente. Nas situações de dentes com sintomato-
buem para a indução da dor pós-operatória. logia, apresentando dor moderada, era prescrito
Além desses aspectos, Seltzer & Naidorf 111 analgésico; nas de dor severa, administrava-se o
relacionam os seguintes fatores etiológicos das paracetamol associado à codeína, e antibiótico
manifestações agudas após o tratamento endo- (Penicilina ou Cefalosporina). Os Gráficos 15.7 e
dôntico: alteração da síndrome de adaptação lo- 15.8 demonstram a prevalência de dor pós-opera-
cal; mudanças na p ressão tecidua l periapical; fa - tória nos dentes submetidos ao retratamento com
tores microbianos; efe itos de nucleotídeos cícli- presença e ausência de sintomatologia. A ausência
cos; fenômenos imunológicos; e vários fatores de dor pós-operatória nos retratamentos endo- ,
psicológicos. dônticos dos dentes assin tomáticos foi elevada,
As situações clínicas de retratamento endo- 83,3%, 82,8%, 82%, indiferente do aspecto radio-
dôntico, impõem mui tas dificuldades na neutra- gráfico, ausência de rarefação óssea periapical,
lização do conteúdo séptico-tóxico presente, rarefação óssea periapical difusa e circunscrita,
qu er no momento da desobturação e/ou desobs- respectivamente. Nas situações clínicas onde o
trução, como a possibilidade de extrusão forami- processo inflam atório periapical agudo já mostra- '
nal de resíduos do m aterial obturador, raspas va -se em desenvolvimento, a ausência de dor pós-
dentinárias contamin adas e microrganismos: operatória foi regular, 59 %, 50 % e 54,5 % , corres-
Estrela et a!Y estudaram a prevalência de pondendo respectivamente aos aspectos radiográ - ~
dor pós-operatória n o retratamento endodônti- fico s descritos anteriormente. O percentual de pa-
co, considerando a presença ou a ausên cia de cientes com dor pós-operatória n os pacientes do ·
sintomatologia, o aspecto radiográfico periapical, sexo femin ino foi maior que no masculino . Quan-
a idade do paciente, o sexo e o preenchimento to à idade, a maior prevalência de dor esteve em
do canal radicular. O estudo envolveu 184 den- p acientes de 20 a 50 anos.
tes humanos que n ecessitavam de retratamento As exacerbações agudas após ou durante o
endodôntico. Os pacientes eram de ambos os gê- tratamento endodôntico têm demostrado que a
neros, com idade de 12 a 65 anos. Dos dentes p revalência flare-up é baixa 129 · 130 _ Vários fatores
analisados, 11 O apresentavam -se assintomáticos de ordem técnica têm sido relacionados como
(ausência total de dor) e 74 sintomáticos (dor sendo os responsáveis pelos proce ssos de exacer-
leve, m oderada, ou severa), sem edema aparen - bação de dor durante ou após o tratamento en-
te. A dor foi considerada leve quando o paciente dodôntico, como as substâncias qu ímicas, a me-
não relatava o uso de analgésico, moderada, uso dicaçã o intracanaL a técn ica de instrumentação,
não constante, severa quando o emprego era os materiais obturadores. Asso ciados a esses fato -
constante . Detectado o in su cesso do primeiro res, acrescentam-se os de ordem biológica, que
tratamento, avaliou-se a qualidade da obturação ta mbém são representativos como estimuladores
presente, sendo considerada incompleta quando do fenômeno doloroso: condição microbiana ine-
havia ausência de preen ch imento satisfatório rente à situação clínica quanto à presença e ou
(material radiopaco p reenchend o parcialmente o ausência de lesão periapical, presença de sinto-
canal, sendo este cimento, pasta e/ou guta-per- matologia, doenças sistémicas, idade, gênero.
cha). E, completa, quando havia um p reenchi- Torna-se oportuno referenciar que alguns
mento total do ca na l (presen ça de m aterial radio- dos trabalhos apresentados pela literatura são re-
paco em todo o canal rad icular), porém , em al- trospectivos, apresentando diferentes variáveis
guns casos com comprovação radiográfica de que poderiam interferir nos resultados, além do
manutenção de área de rarefação periapicaL ou pequeno universo de casos estudados. Desta for-
T RATAMENTO DO INSUCE SSO ENDODÔNTICO

ma, a análise da dor pós-operatória é um estudo meiras 24 horas após a obturação, que não há
complexo e difícil, pelo fato de haver uma soma- relação significativa com o estado de vitalidade
tória de fatores responsáveis pelo desenvolvi- pulpar, presença ou ausência de área radiolu-
mento ou exacerbação do processo inflamatório . cente periapical, número de raízes, tratamento
Harrison et al. 4 3, analisando a prevalência de prévio de emergência, ou o níve l da obturação,
dor associada à fatores clínicos durante e ap ós o embora, as obturações lmm aquém do ápice ra-
tratamento endodôntico, relataram que sua pre- diográfico tinham exibido índices menos eleva-
sença ocorre mais comumente durante as pri- dos de dor .pós-operatória.

• GRÁFK01S.1

/f
i

• GRÁFIC01S.8

Pode-se perceber que nas situações clínica s Deve -se levar em consideração os vanos
assintomátícas, a dor p ós-operatória é pequena. grupos p opulacionais estu dad os em conjunto
Este fato foi demonstrado tanto para os casos de com as diferentes variáveis estab elecidas apenas
retratamentos endodônticos, como n as situações pelas condutas clínicas adotadas . Out rossim, é
de tratamento de inflamações periapicais. Para as pruden te reafirmar que a correta obediência às
situações clínicas em que a sintomatologia já esta etapas operatórias é fundamental para o estabe-
i presente, os índices são maiores, tanto para os lecimento do sucesso q ue, muitas vezes, se inicia
I retratamentos, co1n o p ara os tratamen tos d e com o alívio da dor.
dentes com necrose pulpar com ou sem rarefa - As Figuras 15.50 a 15 .63 exibem casos clí-
ção óssea periapical26 . nicos de p erfuração radicular e sobre-obturação .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Perfuração durante o preparo do canal radicular.

• HGS. 1'5.52 e J;$, .... " r


•r ,
Perfuração durante o preparo do canal
radicular
.ílllliil,,
~ ·

• MG§. 1.5.3'~ l, 15;.5}


Aspecto radiográfico de incisivo lateral
com perfuração radicula,~ medicação
intracanal e seleção do cone.
·rn.ATAMENTO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO

• WK3S .. JN,5fa ie ·i$.S'. f


Aspecto radiográfico de obturação do
petfuração lateral

;I
!

_ _fl(:iS.,
.
1!L$2 e- ·tS:,;$9
-· - -,

Retratamento endodôntico - Remoção


de guto-percha e cimento em dente sobre-
obturado.

l
) • FUiS•.'iW,.60 @ '.!5.M
Retratamento endodôntico - Remoção de guta-
percho e cimento em dente sobreobturado.
CIÊNCIA EN OODÔ NTICA

• fiGS. 15.62 e 15.61


Retratamento endodôntico - Remoção
de 9uta-percha e cimento em dente sobre-
obturado. Controle clínico e radiográfico.

1 •

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CIRURGIA
PARENDODÔNTICA:
COMO PRATICÁ-LA
COM EMBASAMENTO
CIENTÍFICO
PEDRO FELÍCIO ESTRADA BERNABÉ
ROBERTO HOLLAND
• INTRODUCÃO
,

Uma das primeiras dúvidas que surgem quanto aos procedimentos


cirúrgicos em Endodontia está relacionada com o termo empregado para
designá-los.
Os termos cirurgia perirradicular ou cirurgia apical têm sido os m ais
empregados universalmente por todos que procuram englobar as cirurgias
laterais e apicais da porção radicular do dente, e foram consagrados pelo
emprego constante.
No entanto, é necessário alertar que os p rocedimentos cirúrgicos em
Endodontia não se restringem somente às obturações retrógradas, cureta-
gens e apicectomias, mas também , a uma série de outras intervenções
como as drenagens cirúrgica s, rizectomias parciais, reimplantes intencio-
nais, etc.
Berbert et a/. 34 empregam o termo Cirurgia Parendodôntica e não
Perirradicular, para abranger todos os tipos de intervenções cirúrgicas que
envolvam o endodonto. O emprego desta terminologia, cirurgia parendo-
'#
dôntica, foi amplamente discutido em 1979, no IV Congresso Internacio-
( nal do Rio de Janeiro, dura nte o Seminário sobre Cirurgia Perirradicular e
r chegou -se à conclusão que o termo introduzido por Berbert et al. 34 seria o
/ mais adequado. Segundo Kutller24 8 , o parendodonto é constituído da re-
gião periapical, zona perirradicular e regiões limítrofes, para as quais po-
dem se estender as complicações endodônticas.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Assim é que, conforme consenso no referido & Dixon4 to, a situação começou a se inverter. Isto
Seminário e acorde com Berbert et al.34 o termo porque esses autores tinham muito conhecimento
cirurgia parendodôntica ab rangeria, de modo ge- de bacteriologia e iniciaram um processo de aceita-
ral e preciso, todos os procedimentos cirúrgicos ção e divulgação da apicectomia como meio de eli-
que envolvessem as áreas do endodonto ou as minar a infecção focal de origem dentária.
raízes dentárias. Um fato importante é que essas técn icas se
As cirurgias parendodônticas englobam uma popularizaram entre os profissionais com certa ra -
série de procedimentos, cuja classificação é bas- prdez, tendo se difundido de tal modo que alguns
tante ampla. Assim é que, dentre as diversas profissionais passaram a usá-Ias de maneira indis-
modalidades, podemos citar: as drenagens cirúr- criminada, chegando a ponto de indicá-la para
gicas, envolvendo tecidos moles e/ou tecidos du- todos os casos de necrose pulpar275 .
ros, a fistulização artificial, curetagem periapical, Passada essa euforia, um novo período de
apicectomia, apicectomia e obturação retrógrada inércia aconteceu, para, logo em seguida, ressur-
convencional, tratamento en dodôntico simultâ- gir uma nova era, com a divulgação de outros
neo com o tratamento cirúrgico, tratamento en- recursos cirúrgicos, como o da obturação retrógra -
dodôntico via retrógrada, rizectomia parcial, he- da que, segundo Huober, teria sido introduzida
missecção dentária, cirurgia de cistos periapicais por Rhein, em 18904º9 .
e reimplante intencion al. No entanto, referência sobre essa nova moda-
É importante ressaltar que diante da grande lidade cirúrgica foi amplamente divulgada na
diversidade de modalidades cirúrgicas e, conside - América do Norte por Ottesen, em 1915, demons-
rando o limitado espaço disponível, não será trando uma obtu ração retrógrada efetuada com o
possível fazer uma abordagem de todas elas. amálgama. Ainda, em 1915, Garvin, no Canadá,
limitemo-nos apenas a fazer considerações a res - fez o primeiro relato dessa técnica, exibindo-a
peito daquelas que sabidamente são as mais fre- através de radiografia. Em 1920, o, mesmo Garvin
qüentemente indicadas pelos clínicos, a saber: divulga um acompanhamento radiográfi co efetu-
curetagem periapical, apicectomia, obturação re- ado após obturação retrógrada realizada em cerca
trógrada convencional e tratamento ;
en dodôntico de 964 casos 142 •
/
via retrógrada. Durante os anos seguintes, foram registradas
inúmeras referências a resp eito das cirurgias pa -
"'
RELATO HISTORICO rendodônticas, a maioria sempre preocupada com
as indicações e os princípios cirúrgicos. Por outro
Desde o rela to da primeira intervenção cirúr- lado, surgiram também aqueles que se interessa -
_gica, realizada há mais de 1.500 anos por Aetius, ram pela execução da técnica cirúrgica propria-
drenando um abscesso agudo com um pequeno mente dita, como foi o caso de Nichoolsm que
bisturi3°, e a descrição da primeira remoção da demonstrou amplas possibilidades de executar a
porção apical da raiz por Desirabode em 1843 4 36 , a obturação retrógrada através de dois tipos de pro -
' cirurgia parendodôntica passou por muita s fases cedimentos, ou seja, a obturação retrógrada pela
até atingir o estágio atual. Para complementar o técnica modificada ou pela técnica convencional.
tratamento dos processos patológicos periapicais Na verdade, o que se observa va é que a literatura.
que já consistiam m otivo de preocupação, desde o estava repleta de trabalhos que estudavam a téc-
ano de 1843, os autores Black, em 1886, e Rhein, nica da obturação retrógrada convencional,
em 1897, passaram a utilizar a Apicectomia. Ela preocupando-se tão somente com a capacidade
foi realizada , pela primeira vez na América do seladora in vitro dos diferentes materiais retrob -
Norte, por Fanar, no ano" de 18842 25 • turadores. São raros os estudos que avaliam o
No entanto, no início do século XX, com a comportamento biológico desses materiais e técni-
propagação da teoria da infecção focal, a div ulga- cas afins. Isto levou a grande maioria dos profis-
ção da apicectomia foi abandonada porque os pro- sionais a indicar diferentes técnicas parendoclônti-
fissionais daquela época contra-indicavam a con- cas e materiais retrobturadores, sem se preocupa -
servação de dentes portadores não só de lesões pe- rem com os possíveis danos que pudessem ocorrer
riapicais, como também com qualquer alteração em decorrência de inúmeros fatores até então
pulpar. Entretanto, com a div ulgação dos resulta- pouco estudados, e que interferem e comprome-
dos dos estudos efetuados por Lyon s e os de Rickert tem o sucesso do tratamento. Com o tempo foram
CIRURGIA i"ARENOODÓNl'!CA: COMO ?IV\TKÁ-LA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO

surgindo dúvidas sob re a real eficiência desses mesma penrnt1u uma desinfecção profunda alé m
procedimentos cirúrgicos. de favorecer uma obtu ração m ais hermética do
Em 1977, Bernab é36, preocupado com o fato canal radicular.
da indicação dos materiais retrobturadores não Ainda com relação à técnica do tratamento
p assarem por testes biológicos definidos, selecio- endodôntico via retrógrada, vários outros relatos
nou dois materiais retrobturadores através de ex- sobre ela for a m descritosl4.66.72,74,75,1 02,n6,151,1 55_
perimentação em tecido conjuntivo subcutâneo 247·361 ·4 39·482 • Entretamo, desde o primeiro relato de
de rato, e daí encontrou motivação para testá-los Duclos 112 , em 19 34, até nossos dias, a não ser os
em retrobturações realizadas em dentes in vivo. dados de Bernabé & Nunes 59 , em 1986, pratica-
Além disso, a escassez de trabalhos biológicos so- mente nenhum d eles havia sido desenvolvido
bre as obturações retrógradas convencionais con- para avaliar, sob o ponto de vista histopatológico,
tribuiu e estimulou Bernabé'7 a realizar, então, o desem pen ho da técnica do tratamento de canal
um dos primeiros t rab alhos histopatológicos com via retrógrada. Essa n ecessidade de analisá-la em
sistematização padronizada, empregan do uma diferentes condições experimentais, através de es-
metodologia inédita e que p rocurava sim ular uma tudos mais abrangentes e específicos, possibilita-
situação clínica. Nesse estudo, o referido a utor 52 riam assim um quadro ma is promissor quanto à
fez algumas avaliações h istopatológicas importan- indicação e utilização de determinados materiais
tes, como a que se relacionava com as dificuldades retrobturadores.
encontradas du ra nte o preparo das cavidades api- Daí, em 1994, surgiu um outro trabalho ori -
cais associadas com a pouca profundida de alcan- ginal sobre o assunto desenvolvido por Be rnabé'8 ,
çada pelos materiais re trobturadores; Bernabé37 que fez um estudo histopatológico abrangente so-
também verificou a possível instabilidade do sela- bre a técnica do tratamento endodôntico via re-
rnento m arginal p retendido, ao redor dessas cavi- trógrada, relatando vá rios eventos favoráveis que
dades apicais, provocada por reabsorções radícula- permitem, ao clínico, a execução dessa técnica com
, ;1 res que invariavelmente acon tecem nesse tipo de melhor desenvoltura, alicerçada em bases científi-
i procedimento, fato den unciado nos seus estu dos. ca s e não e mpíricas corno vinha ocorrendo.
Esses dados descritos por Bernabé3 7, que não Depreende-se, portanto, dessa progressão his-
haviam sido antes analisados em profundidade e tórica, que as cirurgias parendodônticas evoluí-
flagrados à luz da microscopia ótica comum, leva- ram principalmente à mercê dos estudos biológi -
ram a uma melhor reflexão sobre a real efetividade cos, que trouxeram novas luzes para o esclareci-
dessa técnica, surgindo daí o questionamento de mento das inúmeras dificuldades que envolvem a
sua validade e da necessidade de se empregar u ma realização desses tipos de procedime ntos. Se assim
outra que superasse esses fatores desfavoráveis. não fosse, a evolução tecnológica poderia se estag-
Em 1934, Duclos 11 2 descreve uma técnica de n ar, ou até desaparecer. Daí a necessidade impe-
tratamento de cana l via retrógrada, para solucio- riosa do contínuo estudo a respe ito, para consoli-
nar os casos cujos tratam entos endodônticos n ão dar, de vez, como um procedimento altamente
podiam ser realizados por via convencional ou eficiente, permitin do ao clín ico sua indicação de
coronária. A partir daí, apesar de surgirem outras modo mais amplo e com grande alcance social.
pu b Ji ca çõ e s a re sp eito t 6,34.227.245,294,321 .3s7.4oo,4o9,
4 1 21 71 75 76
0A A A A todas elas abordaram exclu sivam ente A. MODALIDADES
o tema sob o ponto de vista clínico-radiográfico. CIRÚRGICAS: QUANDO
Em 1986, para melhor analisar as suspeitas INDICAR E COMO
levantadas por Bernabé3 7, e no sentido de verificar REALIZÁ- LAS
as reais vantagens do tratamento endodôntico via
retrógrada, Bernabé & Nunes 59 d esenvolveram Na p rática odontológica, sabe-se que o trata-
um primeiro estudo histopatológico realizando a mento endodôntico deve proporcionar uma com -
. técnica da obturação retrógrada convencional, fa- pleta obliteração de todo o sistema de canais radi -
( zendo o preparo de uma caixa apical classe I, culares. O estabelecimento de um adequado sela-
comparando-a com o tratamento e ndodôntico via mento endodôntico objetiva impe dir que os mi-
/
retrógrada, sem o preparo de caixa apical. Obser- c::.-organismos e /ou endotoxinas atinjam os tecidos
varam, n esse estudo, a su perioridade do trata- apicais e periapicais, o que con stitui um dos prin-
mento endodôntico via retrógrada, uma vez que a cipais fatores para o sucesso dessa terapêutica.
CIE NCIA ENDODÔNTICA

A evolução dos conceitos e a prática de no- cedimento cirúrgico que tem a finalidade de remo-
vos métodos e técnicas, aliadas ao surgimento de ver o tecido patológico localizado no osso alveolar,
materiais com excelentes propriedades físicas e na região apical ou lateral de dentes necrosados.
biológicas, também têm sido fatores fundamen - Sabe -se também que pode ser indicada para a
tais para a obtenção de elevados índices de su- remoção de corpos estranhos localizados nessa
cesso, reduzindo significativamente a indicação área, de etiologia iatrogênica ou não e em dentes
de recursos cirúrgicos complementares. portadores ou não de lesões periapicais É indica -
Assim é que, recentemente, dentes portadores da ainda para dentes que sofreram tratamentos
de restaurações protéticas individuais ou muito ex- endodônticos, quer em casos de pulpite ou ne-
tensas, comendo pinos intra-radiculares, ainda cons- crose, mas que permanecem sintomáticos, mes-
tituíam situações de muita apreensão, mo após ter se esgotado todo os recursos endo-
contra -indicando, muitas vezes, o tratamento endo- dônticos convencionais e medicações sistémicas
dôntico convencional. No entanto, condutas clínicas afins. Portanto como se pode observar, quando
mais ousadas têm permitido retratamentos endo- da curetagem periapical, pode-se defrontar com
dônticos através das vias convencionais, em detri- duas situações clínicas extremas, uma com pre-
mento do emprego de terapêutica eminentemente sença de lesãó periapical já instituída e outra,
cirúrgica. Na verdade, é importante e necessário sem lesão. Sendo assim , o procedimento cirúrgi-
que, para a resolução dos problemas patológicos co seria o mesmo em ambas situações?
dessa natureza, concentremos esforços no sentido de Na verdade, a ausência de estudos histopatoló-
esgotar todos os recursos endodônticos de rotina, gicos a respeito, impedindo um diagnóstico preciso
considerando como último recurso àqueles métodos sobre os fatores que possam influenciar na repara-
mais traumatizantes e invasivos como é o cirúrgico. ção tecidual após a curetagem periapical, tem leva-
Entretanto, apesar de todos esses esforços, do muitos cirurgiões a fracassarem em suas condu-
existirá uma situação em que os tratamentos en- tas cirúrgicas. Assim é que, mesmo após um ade-
dodônticos convencionais se tornam impraticá- quado tratamento endodôntico e cuidadosa cureta-
veis para alcançar seus obje tivos . Canais radicu- gem da lesão periapical, eles se frustram com a
lares necessitando de esvaziamento e obturações recidiva da lesão periapical. Em acontecendo este
/
completas podem mostrar-se inacessíveis por via fato, não raro, insistem na realização de nova cirur-
coronária, em fun ção de vários fatores, quer se- gia, muitas vezes adotando a mesma conduta tera-
jam de ordem local, geral, ou mesmo iatrogêni- pêutica (somente a curetagem periapical), de prog-
cos. Nessas condições, a forma de contornar e nóstico ainda incerto e duvidoso.
solucionar o problema é a indicação da cirurgia No sentido de procurar responder a questão
parendodôntica. acima formu lada e também orienta r o clínico
Neste capítulo n ão pretende-se, obviamente quanto a prática de modalidades cirúrgicas com
pela sua complexidade e extensão, e considerando embasamento científico, orientando-o no conhe -
o reduzido espaço disponível, descrever minuciosa - cimento dos fatores que podem estar presentes
mente todos os passos cirúrgicos que envolvem a influenciando ou n ão a cura, a Disciplina de En-
execução dos inúmeros procedimentos parendo- dodontia de Araçatuba desde a década de 1970
dônticos. A intenção maior, no momento, é expor, v em desen volvendo uma série de trabalhos no
através de dados calcados e obtidos em experimen- campo das cirurgias parendodônticas.
tações científicas, o porquê indicar determinadas Num deles 332 •333 foi rea lizado um estudo expe-
modalidades cirúrgicas e descrever um resumo de rimental em dentes de cães, efetuando -se a cure-
como realizá-las. Como já mencionado, vamos nos tagem periapical em dentes portadores ou não de
limitar apenas ao ·estudo da curetagem periapical, lesão periapical. Os espécimes que possuíam le-
apicectomia, obturação retrógrada convencional e sões periapicais apresentaram piores resultados do
tratamento endodôntico via retrógrada. que aqueles espécimes cujas intervenções foram
realizadas em dentes com vitalidade pulpar, ou
1. Curetagem Periapical seja, sem lesão periapical. Esse resultado foi muito
significativo e de grande importância clínica, pois
Dentre as modalidades cirúrgicas que sugeri- no grupo onde foi realizada a curetagem periapi-
mos apresentar, a primeira delas é a Curetagem cal das lesões periapicais de dentes sem vitalidade,
Periapical. Trata-se, conceitualmente, de um pro- sem executar a apicectomia, a despeito da sua re-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PR ATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

moção total, nova lesão volto u a se ins talar, ca sos como esses, a despeito de se proceder a
concentrando-se o infiltrado inflamatório do tipo uma cureLagem periapical cuidadosa e m inucio -
crônico, princip almente j unto a os forames dos ca - sa, a não rem oção da porção apical da raiz, por-
nais do delta apical (Figuras 16.1 e 16.2) . Por tando essas ramificações, deltas e crateras ce-
quê? Para responder essa indagação e a anterior, m entárias (Figura 16.3 ) contaminados, favore-
é p reciso considerar que, na prática, é comum cem a recidiva da lesão periapical, sendo um
verificar-se qu e algumas lesões periapicais persis- fato praticam en te irreversível (Figura 16.4) .
tem após o tratamento dos canais radiculares, re- Nessas situações é importante realizar-se n ão
ceben do a den ominação de lesões refratárias458 • somem e a cure tagem perirradicular, mas tam -
Nessas situa ções as bact érias localizam-se pro- bém a apicectomia. Com esses procedim entos
fun dam en te nas ramificações do can al p rin- e liminam-se não só a lesão periapical, mas tam-
cipal e são constituídas principa lmente por bac- bém a porção apical com o seu conteúdo in de-
térias anaeróbias, q ue podem sobreviver fora do sejável, fato q ue foi demonstra do nos estudos
canal, na su perfície do ápice do dente em inti- desen volvidos por Otoboni-Filho 332· 333 , qu ando
m idade com a lesão periapical2 5 ·229A 59• 461 ·'162 . Em comparou dentes com e sem lesão periapical.

;I
!

Curetagem periapical em dente de cão com lesão Curetagem periapical em dente de cão. Lesão
periapical. Notar detalhe de um canal do delta apical periapical relacionada com presença de uma ramificação
onde está evidente área de reabsorção preenchida por contaminada (setas). Nota-se presença de reabsorção
tecido de granulação, que se estende pelo espaço junto à abertura dessa ramificação. H.E. 15X
periodontol. Pós operatório 180 dias. H.E 40X

I
• F~G . 16.3 • ftG, H,.4
Análise com M EV de ápice de dente humano com Curetagem peliapical em dente de cão com lesão
várias ramificações apicais, evidenciando as inúmeros periapicol. Recidiva da lesão relacionada com a presença
forominas apicais - MEV dos deltas e crateras cementárias contaminados. H.E JSX
CI ÊNCIA ENDODÔNTICA

Durante a obturação dos canais radiculares Assim é que, após os cuidados de anti-sepsia,
de dentes com v italidade, pode ocorrer o extra- anestesia, incisão e a divulsão do retalho mucope- ....
'. •

vasamento de material obturador para o interior riostal, a tábua óssea vestibular pode ou não estar
do ligamento periodon ta l com presença de sinto- íntegra. Quando o tecido ósseo vestibular estiver
matologia dolorosa pós-ope ratória intensa, prin- compacto, sem deiscência, necessário se faz adotar
cipalmente quando esses materiais são à base de procedimentos clínicos que tomem a localização
óxido de zinco e eugenol. Esse mesmo sintoma do mesmo de forma prática e segura, sem necessi-
pode também ser verifica do após intervenção dade de remoção excessiva desse tecido. Uma das
endodôntica em dentes com vitalidade, quando maneiras clássicas desse tipo de abordagem é a
devido à etiologia variada, se instala uma perio - realização de uma loja óssea pequena e superfi-
dontite apical sintomática . Em ambas situações cial, baseada ou não em odontometria anterior,
essa sintomatologia pode n ã o ser controlada com colocação de material radiopaco (pequena porção
medicação sistémica e n ecessitar, com urgência, de guta-percha) na depressão óssea e tornada ra-
de uma cirurgia endodôntica complementar, é diográfica da região (Figura 16.5). Na radiografia,
lógico esgotados todos os recursos terapêuticos a localização da imagem radiopaca da guta-percha
conservadores. Uma vez instituído o tratamento em relação à imagem do ápice radicular permite
cirúrgico nessas situações, mesmo não havendo orientar o profissional durante a ostectotornia e
presença da lesão periapical, o profissional d eve exposição do ápice radicular (Figura 16.6). Esse , ·
proceder como já mencionado ante riormente. procedimento é de fundamental importância, pois
Realizar não só a curetagem do material estra- toda a porção apical da raiz deve ficar exposta,
nho ou limpeza da região periapical no caso da facilitando sua visualização e curetagem das estru-
p eriodontite, mas também realizar a ressecção turas afins (Figura 16.7).
radicular ou apicecto m ia. Nessas situações os A ostectornia para exposição do ápice radicu-
dentes são portadores de deltas apicaís com con- lar pode ser realizado de diferentes maneiras.
teúdo vital, fato que nã o explicaria o porque da Urna delas e mais segura é o emprego de cinzéis
apicectomia. No entanto, em função dos procedi- manuais, principalmente quando a cortical óssea
mentos cirúrgicos realizados no local, poderá vestibular está intacta. Nesses casos, o emprego de /
ocorrer perda da vitalidade do tecido contido no cinzéis manuais em detrimento do uso de brocas é
interior desses deltas a pícais, favorecendo poste- importante, porque evitam desgastes desnecessá-
riormente a in stal açã o de uma lesão periapical. rios da broca sobre a superfície dental, como a
Essa apicectomia, na verdade um procedimento remoção de tecido cernentário e exposição de
preventivo, vai impedir, n o futuro, em ocorren- dentina, fatos que favorecem a reabsorção denti-
do esse fato, a realizaçã o de uma nova interven- nária conforme será discutido posteriormente.
ção cirúrgica, ao m en os que outros fatores, que Recentemente foi desenvolvido pelo Professor Os-
estudaremos na seqüên cia, acabem também por valdo M. Massi, da cidade do Rio de Janeiro (Bra-
perturbar o processo de reparo. sil), um cin zel movimentado pela ação do ultra-
Do que se depreende, é que a curetagem som (Figura 16.8) que tem uma série de vanta-
perirradicular é um procedimento técnico corri- gens, corno a de promover desgastes sem grandes
queiro e fundamental realiza do em conjunto traumas do tecido ósseo, remoção controlada do
com todas as outras modalidades parendodônti- volume e quantidade de tecido ósseo para utilizá-
cas, independentemente se os dentes são ou não lo no enxerto autógeno, além d e tornar um pro-
portadores de lesões periapicais. A curetagem ja- cedimento mais rápido e seguro do que quando
mais deve ser realizad a iso ladamente, mesmo realizado manualmente. Este cinzel foi desenvol-
que os canais radicula res, radiograficamente, es- vido para ser utilizado tanto no aparelho ultra-
tejam bem obturados. sônico da Gnatus como no da ENAC.
Os procedimentos clínicos para executar essa Nos casos clínicos onde os ápices dentais já
modalidade cirúrgica são simples. Basicamente, estão expostos devido à deiscência do tecido ós-
desde o início do preparo do paciente e meios seo, a ostectomia poderia até ser realizada mais
afins, corno o acesso cirúrgico à região periapical rapidamente com o emprego de brocas, mesmo
até o término da curetagem periapical propria- porque nesses casos dificilmente existe o perigo
mente dita, os passos cirúrgicos são os mesmos, de lesar a superfície do dente . Mas considerando
independentemente do tip o de cirurgia realizada. que o tecido ósseo desgastado pela ação das bro -
CIRURGIA PAR ENOODÔNTICA: COM O PRATICÁ-LA COM EM BASAM ENTO CIENTÍFICO

cas estaria sendo desperdiçado, seria mais pru- pode ser efetuado com auxíl io de curetas cirúrgi-
dente o emprego dos cinzéis. Este procedimento cas ou periodontais, de diferentes tamanhos e
permite a conservação de parte do tecido ósseo calibres. Durante esses procedimentos é preciso
removida, preservada em soro fisiológico para evitar uma curetagem exagerada ou intempesti-
em seguida ser recolocado na loja óssea (enxerto va n o sentido de não lesar as estruturas dentais e
autógeno ), em conjunto com o sulfato de cálcio, estruturas vizinhas, como plexo nervoso, o seio
conforme preconiza o Professor Osvaldo M. Massi maxilar, mucosa na sal. etc.
(Rio de Janeiro-RJ). Nos casos de curetagem de material estranho
Nos casos onde não existe lesão periapical, presente no ápice, constituído principalmente de
uma vez retirada a cortical óssea vestibular, a material obturador extravasado, deve-se promo-
remoção de parte do tecido ósseo esponjoso para ver freqüentes irrigações e aspira ções no sentido
exposição de todo o ápice radicular também de ajudar n a sua remoção .

• Fm . 16,5
Pequenos por-
ções de guto--percha
no interior dos de--
pressões ósseos, poro
' ;r,
orientar a localização
do ápice dental, du-
rante o exame radio-- · ·r1G. 16.6
gráfico Imagem radiopaco do guto--p ercha (seta) colocada
na depressão óssea e sua relação com a imagem dos
ápices radiculares permitem realizar uma abordagem ci-
rúrgico mais preciso e seguro.

' 1

r • . . FIG. 16.7 • FiG, 16.S


( . ..
,;
Ampla exposição do ápice dental poro facilitar os Cinzel cirúrgico desenvolvido pelo Prof Osvaldo M
procedimentos cirúrgicos no área. Massi -- RJ. Aspecto clínico da ação do cinzel ultra-sônico
durante o ato da ostectomia.
CIÊNCIA END O DÔNTICA

2. Apicectomia
Classicamente a apicectomia tem sido indi-
cada diante de inúmeras situações clínicas, a sa-
ber: nos casos de raízes dilaceradas que impedem
um tratamento convencional adequado; quando
da retificação e/ou perfuração da raiz no terço
apical; em presença de ramificações apicais não
obturadas; instrumentos endodônticos fratura-
dos; fraturas radiculares que envolvem o terço
apical acompanhado ou não de lesão periapical e
em presença de reabsorções radiculares apicais
externas, cujos tratamentos foram incapazes de
• nG, 16.9 solucionar o problema via canal radicular.
Curetagem de toda lesão periapical através de À par dessas indicações, a ressecção radicular
curetas específicas (A a D). Consetvaçõo do mesma em ou apicectomia é um procedimento cirúrgico re-
solução própria para posterior análise histopatológica (D comendado por inúmeros autores288·292,434, não só
Notar a extensão do lesão removida (FJ. no sentido de facilitar a localização do canal radi-
cular, mas também para eliminar os deltas apicais,
nem sempre visíveis na radiografia e passíveis de
A realização da curetagem periapical como estarem contaminados ou abrigando material ne-
um procedimento cirúrgico complementar exe- crótico 16,113·288· 293 A 34 . Essas ramificações do canal
cutado em conjunto com outras modalidades pa- principal têm sido demonstradas por vários auto-
rendodô nticas visa remover completamente a le- reS6'252·'85, constituindo-se numa importante causa I
são p~riapical (Figura 16.9), possibilitando não de falhas após o tratamento endodôntico 210,21 1 .
só expor o ápice radicular como também coútri- Elas abrigam bactérias que se não forem des-
buindo para melhorar a hemostasia do campo truídas pelos procedimentos terapêuticos endo- /
operatório. Outro fato de fundamental impor- dôntico s, poderão manter a lesão presen-
tância é que essas lesões periapicais removidas te30·424,461 . Esse assunto tem sido muito explorado
jamais sejam descartadas, deve ndo ser acondicio- na atualidade, despertando grande preocupação
nadas em soluções adequadas para conservação diante da possibilidade de terapêuticas endodôn-
de tecido e enviadas para exame histopatológico, ticas modernas não terem êxito no combate à
permitindo assim o diagnóstico definitivo do tipo essas bactérias localizadas nas profundidades do
de lesão presente. sistema de canais radiculares. Daí serem alar-
Finalizando a curetagem p eriapical, mantes os dados com respeito à porcentagem de
realiza -se uma cuidadosa toiLet da loja óssea atra- sucesso após tratamento de dentes necrosados
vés de irrigações freqü entes com solução fisioló- com lesão periapical. Holland et al. 199 e Souza et
gica e aspiração, prepa rando-a para as interven° al. 413 admitem que a p ersistência da contamina-
ções operatórias que se fizerem necessárias em ção, em função de bactérias presentes nessas ra-
seqüência. Uma vez finalizados todos os proce- mificações e crateras apicais, constituem-se num
dimentos que foram planej ados e executados, dos mais severos fatores responsáveis pela gran-
promove o preenchimento da loj a óssea com co- de porcentagem de fracasso após o tratamento de
águlo sangüíneo, efetua -se a sutura do retalho canais radiculares de dentes portadores de lesões
com pontos interrompidos, utilizando-se de fios periapicais. Hess & Keller 174 demonstraram que
de seda 4-0, 5-0, de poliglactina 910 (vicryl) 4.0 essas ramificações, em média, estão presentes em
ou de nylon 5.0. 42 % dos dentes humanos permanentes (Figura
Não se deve esquecer das orientações básicas 16.10). Pode-se concluir, portanto, que em den-
a serem recomendadas aos pacientes com rela- tes portadores de lesões periapicais, essas ramifi -
ção, por exemplo, a observar repouso, cuidados cações apresentam-se geralmente repletas de te-
com a dieta, compressa s, higien e oral, etc., assim cido necrosado e contaminado, podendo influir
como a utilização correta de medicamentos pres- negativamente na reparação (Figuras 16.1, 16.2
critos. e 16.4).
CIRURGIA PA.R.ENDOOÔNTICA : COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

Foto original do trabalho de Hess 8. Keller (1988) 174


demonstrando, por diafanizaçõo, as ramificações apicai's
de um dente humano.

Reportando-se aos resultados histopatológi- os deltas apicais conta m inados foram removidos
cos obtidos por Otoboni-Filho 333 , os melhores fo- cirurgi camente, elimi na ndo-se com isto o fator
ram notados no grupo em que os dentes foram contaminante. Nessas situações, parece claro,
submetidos apenas a apicectomia ou após apicec- que as técnicas cirúrgicas que englobam maior
,'! tomia com a realização da obturação retrógrada quantidade de tecido de ntal (apicectomia) pro-
; convencional, quando comparados aos dos espé- duzem resultados m ais favoráveis (Figura
cimes que sofreram apenas curetagem da lesão 16.11) do que as que provocam menor desgaste
periapical. Nos dentes submetidos a apicectomia, (curetagem periapical) .

• 1

Apicetomia em dentes com lesão periapical Remo-


ção do ápice dental com as ramificações contaminadas,
levou a resultados mais favoráveis, como a não reodiva
da lesão. Pós operatório 180 dias. H.E 40X

Considerando-se que geralmente os dentes presença de dentes com lesão periapicaL seja reali-
encaminhados p ara a realização de cirurgias pa- zado pelo menos a apicectomia e não apenas o
rendodônticas são casos de fracasso de tratamen - alisamento ou arredondamento do ápice radicu-
to endodôntico; que este fato guarda relação, lar (plastia apical), detalhe que Lambém aborda -
) dentre outros fatores, principalmente com apre- remos adiante.
sença de ramificações apicais do canal principal Após cuidadosa curetagem da lesão periapi-
contaminadas, recomenda -se que, sempre em cal (Figura 16.12) e ampla exposição da porção
CIÊNCIA ENDODÓNTICA

apical da raiz (Figura 16.7), a apicectomia então ca s ou até mesmo com o ultra -som , alcançam
é realizada com um a broca Zekrya n 2 I 5 1 da pouca profundidade. Com o ultra-som, em fun-
Maillefer (Figura 16. 13 ). ção do desenho dos insertos para o preparo re-
Uma das questões muito discutida refere-se trógrado, a profundidade m áxima conse gu id a
ao fato da realização ou não do biselamento da está em torno de 3 mm; com brocas, Bernabé et
superfície radicular apicectomizada. Essa mano- al.50, em 1990, em trabalho não publicado, verifi -
bra visa permitir que to da a superfície radicular caram que a proiundidade média das cavidades
seja exposta e 'visível, fa cilitando os procedimen- apicais não ultrapassava 1,3 9 mm (Figura
tos operatórios. Hoje, a tendência é evitar tanto 16. 14) . Em ambas situações, deve-se evitar o bi-
quanto o possível o biselame nto dessa superfície. se lamento das superfícies apicectomizadas, pois
De preferência, realizar esse corte p erpendicular existe o risco de contaminação dos tecidos perio-
ao lopgo eixo da raiz, variando-o apena s qua ndo dontais, via túbulos dentinários. Principalmente
situações anatômicas não permitirem visualiza- nas retrocavidades preparadas com brocas, e em
ção adequada e impedir o desenvolvimento da presença de biselamento da superfície dentinária,
técnica operatória instituída. Gilhean y et al. ' 5º em os túbulos dentinários que ficam abaixo da retro-
estudo in vitro, realizaram o seccioname nto da bturação, desprovidos de sela m ento, estabelecem
raiz com Oº (corte ho rizontal) , 30º ou 45 º (cortes uma comunicação desde o interior dos canais ra-
inclinados) . Observaram qu e o aumento do bise- diculares, provavelmente contaminados, com os
lamento radicular contribuiu significativamente tecidos periapicais (Figura 16. 15). Em clínica,
para o aum ento dos índi ces de infiltra ção margi- este fato, independente do tipo de material re -
n al, inclusive na superfície dentinária exposta. trobturador utilizado, propicia uma probabilida -
Na opinião deles, a ressecção realizada com 30° de maior de h aver recidiva da lesão periapical.
ou 4 5º expõe muito mais tú bulos dentinários do Entretanto, quando a técnica retrobturadora
que o co rte horizontal ou a Oº . Ou tra observação for o tratamento endodôntico via retrógrada, o
interessante dos autores é que quanto mais bise - biselamento poderá ser efetuado, sem grandes
lado for a superfície apicectom izada, mais pro- restrições. Nesses casos o preparo do canal radi-
funda deve ser a retrobturação . cular via retrógrada e a retrobturação são realiza-
/
Diante dessas observações, deduz-se que o dos mais profundamente, permitindo uma me -
biselamento pode até ser executado, desde que lhor limpeza e uma obturação mais extensa, im-
se considere o típo de técnica retrobturadora que pedindo que ocorra contaminação por e ssa via
será utilizada. Assim é que a técnica da obtura- (Figura 16. 16), conseqüentemente não penni-
ção retrógrada conven cional realizada com bro- tindo a recidiva da lesão.

• FIG, 16.12
Curetagem da lesão períapical (A e BJ e ampla
exposição do campo cirúrgico (CJ.
• FIG. 'S6.B
Apicetomio, por desgaste, realizada com broco
Zektya nº 757 (MailleferJ.
CIRURGIA PARE.NPODÔN''f!CA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

JNFILTRAÇ.:\.O MARGINAL APÓS OBTURAÇÃO RETRÓGRADA


C'A\'IDADES APICAIS REALIZADAS COi\l BROC:\.<;

• FiG. 1~,14
Gráfico evidenciando que a profundidade média
das retrocovidades preparadas com brocas (barros em
azul cloro) oting,iwn o valor máximo de 1,39 mm. Pre-
poras realizados em dentes humanos montados em ma-
nequim especialmente desenvolvido para simular as difi- Esquema demonstrando que o biselomento opicol
culdades encontrados em pacientes. expõe os túbulos dentinórios abaixo das retrobturações
estabelecendo uma comunicação do interior do canal
radicular (A) com os teodos periodontois (8), em nível do
superfície apicectomizoda, em razão do pouco profundi-
dade alcançada pelo material retrobturador (0

Esquema demonstrando que nas retrobturações


mais profundas, como no tratamento endodôntico via
retrógrada, mesmo em presença do biselamento apical
não ocorre comunicação via túbulos dentiná,ios do canal
' 1 radicular com os teodos periodontais.

Outra questão, com relação ao ato da apicec- camada de smear layer favoreceu a deposição pre-
tomia, é a possibilidade de que essa possível per- coce e o aumento quantitativo de cemento sobre
meabilidade, mantida através dos túbulos denti- a superfície dentinária exposta.
nários, ser influenciada pela presença da smear Para tentar esclarecer esta questão, Bernabé
layer sobre a superfície apicectomizada . Alguns44 1 et al. 47 realizaram um trabalho experimental em
admitem que a presença da smear layer possa dentes de cães, onde os canais radiculares sofre-
reduzir essa permeabilidade e que com a sua ram tratamento endodôntico via re t rógrada ,
remoção h averia um aumento da infiltração quando foram retroinstrumentados e re trobtura-
marginal44 1 • Esse fato fo i contestado por Peters dos com cim e nto de óxido de zinco e eugenol
& Harrison 3~ 5 , admitindo que a remoção dessa consistente, a 1 mm aquém da superfície de cor-
camada através do emprego do ácido cítrico so- te, de acordo com as recomendações de Bernabé,
bre a superfície dentinária exposta pelo ato cirúr- em 199418 . A seguir, em dois terços dos espéci -
) gico não afetou o nível da infiltração marginal. mes estudados, realizaram a aplicação de ácido
Por sua vez, Craig & Harrison 98 observaram, após cítrico (113 ) ou EDTA trissódico (11 3 ) sobre a su-
curto período pós-operatório, qu e a remoção da perfície dentinária exposta durante o ato da res-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

secção radicular. Os autores observaram que o um microbrush autoclavado (Figura 16.18 ) ou


processo de reparação dentoalveolar, decorrido pincel para primer, utilizado em dentística. Na
o período experimental de 180 dias, não foi per- seqüência, efetua-se abundante irrigação com
turbado, independente de se remover ou não a soro fisiológico assistida por aspiração, para re-
camada d e smear layer. quer seja empregando o moção de resíduos do fármaco. Particularmente
EDTA ou o ácido cítrico (Figura 16.17). Diante não se preconiza esse procedimento como roti-
dessa s observações, Bernabé et al. 47 acreditam na, fazendo-o somente em casos de retratamen-
que o emprego desse procedimento ainda deva to cirúrgico, quando devemos considerar pre-
ser mais bem ava li ado. No entanto, consideran- sença de contaminação da sup erfície radicular
do estes primeiros bons resultados, se, clinica - anteriormente apicectomizada. Com esse proce-
mente, a opção for pela remoção do smear layer, dimento é possível que a exposição dos túbulos
Bern abé et al.4 5 recomendam realizar a aplica- dentinários favoreceria ainda mais a ação do
ção do EDTA trissódico por 3 minu tos . Essa hidróxido de cálcio colocado sobre essa superfí-
aplicação deve se limitar tão somente à superfí- cie e material retrobturador, conforme técnica
cie dentinária exposta, evitando os tecidos pe- preconizada por Bernabé & Holland 52 (conside-
riodontais e ósseó, e realizada com o auxílio de rações a respeito na seqüência ).

1 .

• RG. 16.11
Resultado histopatológico após aplicação de EDTA
trissódico, por 3 minutos, para remoção do smear layer. • FIG. 16.10.
Nota-se reparo dentoalveolor completo. Tratamento Detalhe da aplicação do EDTA trissódico sobre a
endodôntico via retrógrada. Canais retrobturados com superfície dentinário apicectomizada, com auxílio do
cimento de OZE consistente a 1mm aquém da superfície microbrush embebido no fátmaco.
opicectomiz ada. H.E. 40X

Ainda com relação ao ato da rcssecção do dentinária está lisa e regular (Figura 16. 19). Ao
ápice radicular, efetuada com a broca Zekrya n º contrário, quando foram empregadas brocas dia-
151 da Maillefer (Figura 16.19), tem -se qu e mantadas ou de aço picotada, essa m esma super-
considerar o seguinte fato. A escolha recai sobre fície apresentava muitas ranhuras ou sulcos em
o emprego dessa s brocas de aço, acionadas à alta toda a sua extensão (Figura 16.20) . Durante
rotação, cm função da eficiência de corte, de essa manobra é importan te realizar, con comitan-
p ossuírem adequado comprimento e d a expe - temente, abundante irrigação de soro fisiológico
ri ên cia adquirida com o seu emprego desde o com o au xílio de seringa Lu er. Ao mesmo tempo,
lançamento dessa broca . Além do que, estudos recomendam-se cuidados especiais para evitar
alizados por Cruz Gonzalez (Guadalajara - Méxi- acidentes tais como p erfuração do seio maxilar
co), após seccionamento da porção radicular com (Figura 16.21), corte de plexo n ervoso, e m es -
este tipo de broca, observaram atra vés da micros- mo desgastes impróprios de e struturas dentais
copia eletrônica de varredura, que a su perfície vizinhas (Figura 16.22).
CIRURGIA PAREN OODÓNTICA: CO MO i'R ATICÂ-·LA COM EM BASAM ENTO CIENTÍFICO

• f~G. 1it.19 • HG. 16.l@


Vista da superfície dentJiJária apicectomizada, após Superfície dentinária apicectomizada, após corte
corte realizado com a broca Zekrya nº 151 (MailleferJ. com broca tronco-cônica diamantada, apresentando-se
Nota-se uma superfície lisa, sem ranhuras. ME V 75X irregular, com sulcos. ME V 75X

' ;r
1
j

• ft!G. 10.21
Exposição do seio maxilar durante procedimento
• 1
oi-úrgico em dente pré-molar superior
• ff!IG.16.U
Desgaste da superfície radicular do dente 43 (seta),
durante procedimento cirúrgico que estava sendo reali-
zado no dente 42. Perigo de comprometimento do plexo
vasculonervoso.

Outra vantagem a ser mencionada com a tica obturação do canal radicular, adequadamen-
apicectomia, refere-se ao fato da mesma facilitar te realizada, sem falhas, detalhes nem sempre
o acesso às áreas da porção radicular que, via de visíveis radiograficamente . Na dúvida, o canal
regra, apresentam dificuldades durante a cureta- radicular deve ser re tratado, pois o sucesso desse
gem da lesão periapicaL melhorando assim o procedimento, além de o utros fatores importan-
.~ campo de visão e os demais procedimentos cirúr- tes, é dependente de u m eficiente selamento
( gicos. m arginal proporcionado pelo material obturador.
É importante relembrar que as técnicas da Um outro fator de fundamental importância
apicectomia e da curetagern periapical, quando quando se refere a ressecção da porção apical da
indicadas isoladamente, devem ser realizadas raiz, diz respeito à possibilidade de se realizar
apenas naqueles dentes que apresentem hermé- apicectomias irregulares ou incompletas. É fre-
CIÊNCIA ENDODÓNTICA

qüente observar-se, principalmente em casos de cações e 40 % dos canais laterais. À 2 mm ocorre


retratamento cirúrgico, presença de ápices radi- redução desses eventos em 78 % e 86 % respectiva-
culares cujas apicectomi as foram mal executadas, mente. Quando a apicectomia é efetuada à 3 mm
com bisei acentuado, gerando um desgaste exa- do ápice radicular evidencia -se uma redução dos
gerado da face vestibular da raiz comparativa- canais laterais na ordem de 93 % e as ramifica-
mente com a parede li ngual. Nota -se ainda casos ções apicais são eliminadas em torno de 98 % .
onde essa apicectomia é realizada timidamente, Dado curioso demonstrado pelos autores revela
sem atingir ou envolver todas as áreas apica is, que se as ressecções forem maiores (4 mm) n ão
possíveis de conter ramificações. Tais procedi- existe nenhuma redução significativa na incidên-
mentos podem acontecer em função de dificul- cia dos eventos relatados.
dades ocorridas durante o ato operatório, muitas Bernabé et al. 48 puderam observar em alguns
vezes determinada pela falta de acesso, pela espécimes de dentes de cães portadores de lesões
complexidade anatômica presente e até mesmo apicais e submetidos à cirurgia parendodôntica,
por imperícia do operad or. Conforme já salien- ocorrência de reabsorções radiculares e presença
tamos, a porção apical . dos dent es humanos po- de infiltrado inflamatório junto aos tecidos peria-
dem ser portadores de ramificações ou deltas picais. Relacionaram esse quadro reparatório
apicais 174 (Figura 16. IO) , que contaminados po - desfavorável com a presença de deltas apicais
dem perturbar a reparação e estar relacionados contaminados, e que não foram removidos inte-
com a persistência de lesões periapicais. Wada et gralmente durante o ato da apicectomia (Figu-
al. 1º analisando histomorfologicamente os ápices ras 16.23 e 16.24), além da presença de cemen-
de dentes que apresentavam lesões refratárias ao top]astos contaminados (Figuras 16.25 e 16.26)
tratamento endodôntico, verificaram que 70% em contato com os tecidos periapicais. Salienta-
deles estavam relacionados à presença de ramifi- se que essas ocorrências infelizmente não são
cações apicais do canal radicular. Durante a ci- detectadas n os exames clínico /radiográficos, difi-
rurgia, conforme j á abordado, torna-se necessá- cultando o clínico estabelecer as causas dos insu-
ria então a remoção dessa porção apical em ·s ua cessos, principalmente se ele não tiver conheci-
totalidade. Nos seres humanos essa apicectomia mento desses fatos. Isto o leva a praticar procedi- /
deve ser algo em torno de 3 mm apicais, quando mentos incorretos que impedem a eliminação
então estaríamos isentando o ambiente periapi- dos fatores que interferem de modo negativo na
cal da presença dessas ramificações. Segundo reparação dento-alveolar desses dentes, resultan-
Kim et al. 237 as ressecções radiculares realizadas à do no fracasso do tratamento ou retratamento
I mm do ápice radicular reduz 52% das ramifi - cirúrgico instituído.

• _F.I~. J.~'. ?, ..
Tratamento endodôntico via retrógrada com OZE
consistente (AJ. Maior aumento (BJ mostrando tecido Tratamento endodôntico via retrógrada com OZE
coniumivo invoginodo no interior do canal radicular. Pre- consistente. Selamento biológico parcial do canal princi-
sença de delta apical (seta) e cemento celular remanes- pal por deposição de tecido cementário. Observo-se en-
cente, não removido pelo ato do apicectomio. H.E. 40X trada de canal do deito apical remanescente (seta), não
removido durante a apícectomía, obliterada pela deposi-
ção de tecido cementárío. H.E. 40X
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

• WIG. 16 .:.ZS • ~;;m_ i62t»

Superfície dentinária seccionada mostrando área Corte histológico da figura anterior. Notar
com cementoplastos vazia (seta), não removido pelo cementoplastos (seta) com microrganismos Gram-negoti-
seccionamento apicaf. H.E TOOX vos. Brown e Brenn, 200X

A ocorrência dos deltas apicais re manescen- mente e com m uita atenção no sentido de que
tes contaminados, presentes no ápice dental, per- essas porções radiculares, que podem conter os
turbando a repara ção dentoalveolar, refere-se à deltas apicais, sej am totalmente rernovidas 38 .
, '1 possível influência do trabalho do operador nos Provavelmente, muitos dos insucessos relatados
I resultados do tratamento. Idêntico problema já n a literatura com respeito a dentes com lesões
h avia sido detecta do em outros trabalhos desen - periapicais e submetidos a cirurgias parendodôn-
volvido por Bernabé et al. 5 7 e Bernabé et al. 55 ticas, também guardam relação com a presen ça
onde foi evidente a constatação da presen ça des- da m aior contaminação qu e pode existir nos del-
ses deltas contaminados e que influenciaram, tas apicais e ramificações do terço apical do canal
significativamente, nos resultados finais do expe - principal e qu e não foram removidos (Figuras
rimento . Esse fato guarda relação com a execu- 16.23 e 16.24), conforme já salienta do. Lem-
ção de uma apicectomia insuficiente para remo- brando uma vez m ais que as contaminações qu e
vê-los tot almente. Como característica, eles são podem existir nos cementoplastos e expostos aos
visíveis principalmente n a porção lingual da raiz, tecidos periapicais (Figuras 16.25 e 16.26) po-
provavelmente em função da inclinação de corte dem influenciar n egativa mente sobre os índices
ser mais acentuada, involuntariam ente, para de sucesso e que infelizmente n ão são detectados
vestibular. Isto explicaria então a presença de nos trabalhos de cunho clínico/radiográficos, di-
bactérias Gram -n egativas não só nos deltas api- ferente do que estudam os e relatamos. Para con-
cais (Figuras 16.27 e 16.28), mas também nos firmar a opinião a respeito, reporta-se a Figura
túbulos dentinários (Figura 16.29) . Essas ramifi- 16.27 onde executou-se a retrocavidade com au-
cações, em função de apicectomias deficientes, xílio do u ltra-som e retrobturação com. o MTA.
podem ainda estar presentes sem contam inação, Pode-se notar deposição parcial de cemento so-
propiciando uma melhor reparação . Esse fato bre o MIA e presença de intenso processo in fl a-
pode ser observado na Figura 16.30, onde se matório crônico, quadro não comumente notado
nota presença de ramificação reman escente, no quando da realização de cirurgias com esse ma -
entanto com ocorrência de selamento biológico e terial e tipo de técnica. Conforme já comentado é
um tecido conj untivo organizado com poucas muito provável que esse quadro histopatológico
células inflamatórias. esteja relacion ado com a presença dos deltas api -
Esses detalh es servem para alertar os profis- ca is contaminados que não foram removidos du-
sionais a redobrarem os seus cuidados quando da rante a apicectomia, detalhes esses que não são
realização da apicectomia, realizando-a correta - observados clinicamente.
CIÊNCIA ENDOOÔ NTICA

.
·

-~
• FIG. 16.21
Em A observa-se cemento neofonnado recobrindo
o material obturador. Há canais da ramificação apical
não removidos intergralmente durante o seccionamento Mesmo caso da figura anterior mostrando ramifica-
apical H.E. 40X Mesmo caso (8) mostrando canais re- ção apical remanescente com microrganismos Gram-ne-
manescente e Ji1tenso infiltrado inflamatório do tipo crô- gativos. Brown e Brenn 400X
nico. H. E. !OOX

• FJG.16.:m
Bactérias Gram-negativas no interior de túbulos Ramificações do canal principal que não foram re-
dentiná,ios e detritos. Brown e Brenn, 200X movidas pelo opicectomia (setas), mostrando área com
cemento neoformodo e infiltrado inflamatório do tipo
crônico. H. E. !OOX

Muito se comenta a respeito da n ecessidade abrandar ou eliminar as reabsorções dentinárias


de se remodelar ou aparar as arestas que restam que poderiam ocorrer em função da presença
nas bordas da superfície dentinária após a reali- dessas arestas, em toda a circunferência da raiz.
zação da apicectomia. Esse procedimento, um Tal desgaste foi difundido entre os profissionais,
desgaste realizado com auxílio de limas manuais principalmente aqui no Brasil, em virtude dos
ou diamantadas (Sistema Eva - Kavo) ou mesmo resultados do trabalho histológ ico realizado por
com brocas, seria recomendado n o sentido de Bernabé 37 em 1981 e seus comentários a respei-
CIRURGIA f'ARENDODÔNT!CA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

to. O autor relatou na época a hipótese do orga- mente poderá haver uma maior exposição de
nismo, diante da presença de arestas, promover material re trobturad or, conseqüentemente que-
reabsorções dessas áreas com o propósito de re- brando a eficiência do selamento m argin al p re-
modelar e deixar a raiz arredondada, ou seja, tendido com o mesmo, além da possibilidade de
com a anatomia aproximada daquela existente exposição de túbulos dentinários contaminados,
antes da realização da apicectomia. A luz de co- mantendo uma fonte de irritantes no local. Esses
nhecimentos mais atualizados e científicos acerca fenômenos ocorrendo, ainda mais em conjunto,
das causas dessas reabsorções, o mesmo autor podem levar o tratamento ao fracasso. Os fenô-
entende hoje que esse procedimento é desneces - menos inflamatórios qu e se instalam, além da
sário e desprovido de amparo científico. Na ver- infecção presente, nesses tipos de casos, criam
dade, esse desgaste das arestas ou plastia apical condições loca is para manutenção das reabsor-
irá expor uma maior área de dentina, acentuan- ções e que na maioria das vezes não são detecta-
do ainda mais o processo de reabsorção. Hoje se das pelos profissionais nos exames clínicos/radio-
sabe que as reabsorções dentinária s estariam re - gráficos, passando desapercebidas ou ignoradas .
lacionadas com os fenômenos que cara cterizam a Até o presente momento a postura clínica de
auto-imunidade e nã o com a presença de arestas não se desgastar essas arestas durante a realiza-
ou deformaçã o anatômica apical. Provavelmen- ção da plastia apical, deve -se ao respaldo científi-
te, entre a s proteínas dentinárias encontram-se co obtido em conseqüência de avaliações mais
numerosas m oléculas que podem ser considera - críticas efetuadas sobre os inúmeros espécimes
das como ve rdadei ros antígenos seqüestra- processados ao longo dos anos nos diferentes es-
dos94·97·176·367·367·467 e que expostas, desencadeiam tudos conduzidos por Bernabé et af. 39.4 3.4 7.43, 59 _
um processo de reabsorção . Considerando esses Além tam bém dos novos conheci m entos, confor-
conceitos, entende-se não ter sentido então ex- me já acentuado, acerca das possíveis causas des-
por uma nova quantidade de dentina junto aos sas reabsorções. Nota-se que as arestas que resta-
' ;; tecidos periapicais além daqu ela que já ocorre ram após o ato da apicectomia encontram-se in-
' quando do ato da apicectomia. Esse desgaste rea- tactas, sem evidências de reabsorção, mesmo de-
liza do durante a plastia apicaL biselando tôda a corrido o período pós-operatório de 180 dias,
borda externa (aresta) da superfície apicectomi- quando o reparo p raticamente se definiu (Figu-
zada, removeria então m aiores porções de ce- ra 16.31). No entanto, estamos cientes de que
m ento que protegem a dentin a do contato com o novos estudos sobre o assunto devam ser realiza -
I periodonto, agravando assim o quadro da reab- dos comparando essas variáveis à luz da m icros-
sorção dentinária apical. Dependendo da intensi- copia óptica, o que definitiv amente iria esclare-
dade com que esse fenômeno ocorra, lateral- cer as dúvidas ainda reinantes.
' 1

• FIG. 16.31
Em nível da superfície dentinória exposta, notar pre-
sença de arestas resultantes do ato da apicectomia e que
permaneceram intactos, sem serem reobso,vidos, após
complementação do reparo. H.E IOOX

(
A realização da apicectomia como u m proce- güentes, a obturação do canal convencional se
dimento parendodôntico isolado poderia ser in - torna problemático, necessitando de comple-
dicado em algumas situações especiais. Nos casos mentação cirúrgica. Então após prévio preparo
de exsudato persistente ou agudecimentos fre- do canal radicu lar, a obturação pode ser realiza-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

da durante o ato cirúrgico e a apicectomia exe- assim e Lltilizando a superfície dentinária apiccc-
..
. ~:t
cutada antes ou depois da obturação do canal. tomizada como referência, remove-se, via apical, ' ~·
Desde que possível, o profi ssion al ta m bém pode ao redor de 1 mm da obturação empregando-se o t
1
realizar a obturação do canal radicular em sessão condensador nll 5 (Figura 16.33) integran te do ~··

anterior à cirurgia, reduzin do a ssim o tempo ci- Kit Bernabé (Figura 16.32), especialmente dese- 1··
rúrgico. Nesses casos, n a sessão seguinte, exposto nhado para micro-cirurgia . Esse condensador (Fi-
cirurgicamente o ápice rad icular, realiza -se a api - gura 16.33) possui uma demarcação de 1 mm
cectomia. desde a sua extremidade, que após ser ligeiramen-
Deve ser considerado que nesse tipo de tra - te aquecido, é introduzido via retrógrada, remo-
tamento cirúrgico onde a apicectomia está sendo vendo parte da obturação do canal (I mm). Outro
realizada sem execução da obturação retrógrada, procedimento seria realizar inicialmente a desob-
é fundamental que haja acesso via coronária e turação via retrógrada com o auxilio de insertos
que os canais radiculares estejam obturados ade - ultra-sônicos (Figura 16.34), concluindo o acaba -
quadamente, sem falhas. Nesse momento deve - mento com os calcadores do Kit Bernabé (Figura
se alertar que se os ca na is radiculares forem ob - 16.33 ) . Recomendamos esse limite (Figura
turados por outro profissional e existirem dúvi- 16.35 ) porque Bernabé38 demonstrou, histopato-
das quanto à eficiência de ssa obtura ção, é essen - logicamente, que o prognóstico da reparação é
cial que os canais ra diculares sejam reobturados. mais favorável quando as retrobturações são reali- ,
Considerando que eventuais falhas podem ocor- zadas a 1 mm aquém da superfície dentinária sec-
rem após as obturações dos canais radiculares e cionada (Figuras 16.36 e 16.37). Ressalta-se que
que nem sempre são detectadas pelos exames esse tipo de procedimento só pode ser utilizado, 1
radiográficos; e m esmo considerando que essas além da situação clínica acima descrita, quando as
obturações tenham sido reali zadas sem ocorrên- retrobturações atingirem gran des profundidades,
cia de incidentes, particularmente temos indica - como é o caso do tratamento endodôntico via re-
do a realização da obtura ção retrógra da con ven- trógrada (Figura 16.38). Caso contrário, com o
cion al após a apicectomia, complem entando as- ocorre nas obtura ções retrógradas conven cionais
sim o tratamento instituído de form a mais ade - onde a profundidade da retrobturação é limitada, ~
quada e segura. Entretan to existem situações a remoção de 1 mm dessa retrobtura ção diminui a
ond e essa obturação retrógrada n ão é executada, extensão da mesm a no interior do can al radicular,
prin cipalmen te pelo fato do profissional confiar havendo assim o comprom etimen to do selam ento
na boa qualidade da obturação realizada, indi- marginal apical proporcionado pelo material re-
cando então som ente a apicectom ia. Em feito trobturador.

• FIG. H'i31 • !?f(i, füo]!


Kit Bemabé - Conjunt o de condensadores e Condensador nº 5 do Kit Bem abé com demarcação
espaçadores, em aço inox, especialmente desenvolvido (seta) paro orientar a remoção ou colocaçào de matelial
poro faolitar a colocação e condensação vertical do ma- retrobturador à 1 mm aquém da superfície dentinária
terial retrobturodor no interior do canal radiculOI~ via re- apicectomizada.
trógrada.
',~..., ....~-···~· CIRURGIA PARENDOOÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
.~-.~--,

• !Fm. 16.&4
Detalhe do desobturoção, via retrógrado, com oux17io Demonstração in vitro da obturação situada à 1 mm
do ultra-som. Remoção do material obturador cerca de aquém do superfície dentinó1io apicectomizada.
1 mm aquém da superfície dentinária apicectomizada.

• F'IG. 16.l!j • Fí!G. ~6.'3:/


Tratamento endodôntico via retrógrada com cimento Trotamento endodôntico via retró9rodo com guto-
de OZE consistente, realizado 1 mm aquém da superfíce percho, realizada à 1 mm aquém da superfície
apicectomizada. Notar espessa camada de cemento apicectomizada. Detalhe do reparo dentoalveolar caroc-
neoformado determinando selomento biológico parcial. telizodo pelo neoformação óssea preenchendo todo es-
paço do loja cirúrgica e tecido con1untivo periodontal
apical isento de processo inflamatório.

I Realizada a apicectomia, a exemplo dos de- mizada (Figuras 16 .39 e 16. 74). Em seguida
( ·mais procedimentos cirúrgicos, e após a limpeza preenche-se, por indução, a loja óssea com coá-
da cavidade óssea, segue-se à colocação de um gulo sangüíneo, reposição do reralho mucoperios-
) capuz de hidróxido de cálcio, conforme reco- L&l e sutura do mesmo . A remoção dos pontos,
menda Bernabé & Holland 52 , dentro do espaço couiorrne nosso protocolo, é efetuado decorridos
de 1 mm e também sobre a superfície apicecto - sete dias do ato operatório.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• FIG. 16.39

• FIG. 16.38 "Capuz" de hidróxido de cálcio colocado sobre o


material retrobturodor e todo o superfície dentinário ex- ' ·
Radiografia tomada de dentes com tratamento
posta pela apicectomia.
endodôntico via retrograda. Detalhe do espaço que per-
manece no região apicol (seta) quando o material
retrobturodor fico à 7 mm aquém do superfície
apicectomizada.

3. Obturação retrógrada Dentre elas, damos preferência pela realização ~


convencional da obturação retrógrada convencional que en-
globa o preparo de uma cavidade classe I num
Quando todos os procedimentos endodônti- segmento apical do canal e seu preenchimento ·J
cos convencionais n ão possibilitam um herméti- com material adequado, em espaço restrito.
co selamento, é imperioso que, a d espeito da Holland et al.204 realizaram um estudo in vitro
presen ça da obturação do can al, se realize o seu para verificar a eficiência quanto ao selamento
selamento, via retrógrada, ou seja, a obtura ção marginal proporcionado por ambas as técnicas.
retrógrada. Portanto, esse procedim e nto é um Verificaram que n a técnica da obturação retró-
recurso extremo, só aplicável quando o trata- grada convencional o nível de infiltração margi-
mento endodôntico convencional não ·a lcança n al foi bem m enor quando comparado com a
seus obj etivos. técnica da obturação retrógrada modificada. Nes-
As obturações retrógradas são indicada s em ta última, o material retrobturador é colocado no
casos onde os canais são inacessíveis via coroná- sentido perpendicular ao canal ra dicular, após a
ria, sendo essa obstrução representada pela pre- realização de uma perfuração, com broca, pela
sença incontornável de núcleo m etálico, frag- · face vestibular da raiz, até atingir o canal radicu-
mento de instrumento, calcificações, material lar. Posteriormente, o material obturador é con-
obturador, má formações, reabsorção interna ou densado horizontalmente até preencher toda a
defeito de instrumentaçã o. Esses fatores, impe- perfuração. Somente após estes procedimentos é
dindo o acesso ao canal radicular, comprometem realizada a apicectomia. Muito provavelmente, a
o resultado das cirurgias p arendodônticas mais maior infiltração com esta técnica modificada se
simples, como a curetagem periapical ou a api- deva ao fato da mesma propiciar piores condi-
cectomia. ções para a condensação dos materiais retrobtu -
Segundo Nichollsm, as obturações retrógra- radores, assim como existe po ssibilidade de ocor-
das podem ser classificadas em convencional e rer o deslocam ento do material durante o ato da
modificada. ressecção da raiz.
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ- LA C O M EMBASAMENTO CIENTÍFICO

3.1. Preparo dos Retrocovidodes Este estudo demonstrou que se o material retrobtu-
rador for colocado em uma cavidade com pouca
3.1.1. Retrocavidades preparadas com brocas profundidade, ele não estabelece um selamento
e ultra-som marginal adequado, facilitando a penetração de
bactérias e endotoxinas para junto dos tecidos peri-
O preparo de retrocavidades tem sido realiza- apicais impedindo assim um reparo adequado. Em
do com emprego de brocas convencionais movi- clínica, esta profundidade dificilmente é estendida
mentadas em alta ou baixa rotação, ou através de por razões essencialmente técnicas. As pontas dos
pontas ou insertos ultra-sônicos. Dentro deste con- aparelhos de alta ou baixa rotação convencionais são
texto deve-se observar que um dos fatores de fun- volumosas em relação às cavidades cirúrgicas, e a
damental importância refere-se à profundidade das colocação da broca, dentro dessas lojas ósseas, é pro-
cavidades apicais. Na verdade, com o emprego de blemática. Decorre daí que as cavidades são sempre
brocas, elas possuem uma profundidade relativa- confeccionadas inclinadas em relação ao longo eixo
mente pequena, não indo além de 2 mm 15· 16,26,J4.6o_ dos canais radiculares (Figura 16.40). Tal fato pode-
Bernabé et al. 50 realizaram um estudo in vitro prepa- ria ser contornado com o emprego de uma peça de
rando retrocavidades com brocas em um mane- mão em miniatura (Figura 16.41), mas mesmo as-
quim especialmente idealizado para simular todas sim, e inclusive considerando regiões de fácil acesso,
as dificuldades encontradas em clúúca durante um é difícil confeccionar essas cavidades em direção ao
ato operatório. Verificaram que as profundidades longo eixo, pois o contra -ângulo, apesar de diminu-
das cavidades apicais, nessas condições, não ultra - to, nem sempre se encaixa no interior das lojas ós-
passaram a medida de 1,39 mm, muito rasa consi- seas (Figura 16.42). Esse contra -ângulo, espeófico
derando que a média das infiltrações marginais re- para uso em cirurgia parendodôntica, desenvolvido
gistradas junto à maioria dos materiais rerrobtura- pela Kavo, é acompanhado de brocas tronco de cone
dores utilizados foram bem maiores (Figura 16.14). invertida ou esférica .

• 1

• ri~. 16.tto • FIG. 16.41


Fotos A e B - Aspecto histopatológico do ápice den- Contra-ângulo, em miniaturo (centro), desenvolvido
tal apicectomizado após preparo de uma cavidade classe pela Kavo, especial poro retrocirurgias. Notar sua dimen-
f com broca. Foto C - Idem, após análise com M EV são comparado com peços de mão convencionais, para
"" Obse,vo-se em todos o 1i1clinação da cavidade opicol em alto e baixo rotação.
t. relação ao longo eixo do canal radicular
CIÊN CIA ENDODÔNTICA
-----·--- ·~~,... _______ _____________ --~---···---·---~-------·--··---------------- --------____]
_.

Mini contra-ângulo da Kavo, utilizado no preparo


de retrocavidades classe I. Mesmo sendo miniatura, no-
tam-se dificuldades no preparo da caixa apical paralela
ao longo eixo do canal radiculOJ:

Como já foi salientado, as brocas quando tradas num exame radiográfico de rotina, mesmo
utilizadas para preparo das cavidades apicais, por que no local se estabeleça um processo inflama-
dificuldades técnicas de acesso à região apical, tório, pois essas alterações serão mascaradas pela
não são colocadas n o sentido do longo eixo do radiopacidade dos materiais retrobturadores e
canal radicular, proporcionando então a confec- pela estrutura dental. Além do que, nessas situa -
ção de retrocavidades inclinadas (Figura 16.40). ções é comum observar silêncio clínico. Acres-
Em função do acesso ocorrer no sentido de vesti- cente-se ainda que essa observação visual, mes-
bular para lingual, a inclin ação das cavidades mo com o auxílio do microscópio odontológico, /
a picais também ocorre em direção à parede lin - também pode ficar prejudicada pela condensação
gual das retrocavidades. Isto pode provocar aci- de detritos, muito comum de acontecer nesses
dentes, como a sua p erfuração, expon do o liga- casos e nessa região.
mento periodontal (Figura 16 .43) conforme foi Conforme já demonstrou Bernabé3 7 ( 1981)
demonstrado em estudos realizados por Bernabé48 em estudo histopatológico, o uso de brocas deve
em dentes de cães, comparando retrocavidades ser evitado, empregando-a somente em situa-
executadas com brocas ou com pontas ultra -sô- ções especiais. Durante o desenvolvimento do
nicas. Mesmo que esse preparo inclinado não ato cirúrgico podem acontecer problemas técni-
provoque exposição do ligamento periodontal, cos com o emprego do ultra -som, como por
danos aos tecidos podem acontecer. Preparando exemplo, uma pane elétrica ou mecânica, impe-
retrocavidades com brocas, Bernabé48 observou dindo o seu manejo. Nessas circun stâncias aso-
uma extensa reabsorção do cemento e da parede lução será o preparo de retrocavidades com bro -
lingual da retrocavidade, quase estabelecendo cas, quando então o paciente deve ser alertado
uma microexposição, provavelmente devido ao quanto ao prognóstico do tratamento. Sendo
calor gerado pela ação da broca, mesmo empre- assim a broca recomendada, quer com alta ou
gando refrigeração adequada . Nesse caso, é pro- baixa rotação, é a esférica nº 1 ou a tronco de
vável que o reparo tenha ocorrido em função de cone invertida nº 33 112, lembrando que a peça
se utilizar um material biocompatível, o MTA de mão em miniatura da Kavo, poderia oferece
(Figura 16.44). Esses detalhes levam a deduzir melhor oportunidade de realizar essas cavidades
que o tipo do material retrobturador utilizado é menos inclinadas em relação ao longo eixo do
muito importante, pois caso ele não tenha boas canal radicular. Para evitar desgaste excessivo
propriedades biológicas, o reparo poderá ser pre- de dentina com esse tipo de procedimento, re-
judicado e o insucesso será inevitável. Deve -se comenda-se cuidados especiais no sentido de
alertar que ocorrência s desse tipo e detectadas preparar cavidades apicais com a mesma fo rma
em nível h istoparológico, dificilmente são regis- original do canal radicular, prevenindo-se assim
CIRU RGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍFICO

a ocorrência de trepanações na face lingual do que as retrocavidades preparadas com o ultra-


preparo cavitário. Bernabé et al.43 demonstra - som, independente do emprego ou não do mi-
ram que o preparo de retrocavidades com bro- croscópio odontológico, proporcionou menor
cas e visualização através do microscópio odon- desgaste, economizando perda de estrutura
tológico, promove menor desgaste da estrutura dentinária, promovendo preparos apicais mais
dentinária quando comparadas com aquelas ca- centrados em relação ao longo eixo do canal
vidades preparadas a olho nu, sem o auxílio do radicular, comparativamente com o uso de bro-
microscópio. Nesse mesmo trabalho ficou claro cas (Figura 16.45).

- -~ç_;.__1_~11-~
11 Retrocovidade preparada com broco e
retrobturação com MTA. Detalhe histopatológico da per-
furação da parede lingual em função da inclinação do
Retrocavidade preparada com broca e inclinado em
I broca <AJ. Em B, maior aumento mostrando detalhe do
relação ao longo eixo do canal radicular (AJ. Notar
perfuraçao reparada pelo deposição de tecido
reabsorção da parede dentinária (8) quase levando a
cementario. Em C detalhe da perfuração em M.E V.
comunicação com o fundo da cavidade. Reparo pelo
deposição de novo tecido cementário e manutenção do
espessura do ligamento periodontal.

• ..FIG. 16,4:S ___


Preparo de retrocav1dades com brocas promovendo
grande desgaste da superfície dentinária exposta pelo
apicectomia <A e BJ. As retro-cavidades preparadas com
pontos ultra-sônicas soo mais centrados e com menor
perda de estrutura dental (C e O).

(
) Ainda com relação aos possíveis efeitos da nal, uma possível correlação entre a profundidade
pouca profundidade das cavidades apicais e incli- da caixa apical preparada para receber uma obtu-
nação das m esmas, Gilheany et a/. 15º procuraram ração retrógrada e o ângulo de biselamento radi-
estabelecer, através do nível de infiltração margi- cular. Concluíram que quanto maior for o ângulo
CIÊNCIA ENDODÕNTICA

de ressecção, maior deve ser a profundidade da mentais, presença desses detritos. Pode ser nota-
cavidade apical. Verificaram também que, aumen- do em alguns espécimes que essas raspas denti-
tando a profundidade da obturação retrógrada, nárias ou detritos estavam acompanhadas d e
em relação ao eixo do canal radicular, diminui-se processo inflamatório. É provável que as bacté -
significativamente o índice da infiltração marginal rias presentes nos túbulos dentinários, e que se
ao redor do material obturador. relacionam com esses detritos, possam proliferar
Ainda com relação aos p roblemas que po- e contaminar os referidos detritos, provocando
dem ocorrer com as obturações retrógradas con- assim essas reações (Figura 16.47). O fato que
vencionais, é preciso alertar que quando em pre- mais surpreende u o autor foi a ocorrência desses
sença de canais laterais, não removidos pela api- detritos também nos grupos onde o ultra -som foi
cectomia ou não alcançados pelo preparo da cai- utilizado, a despeito da abundante irrigação utili-
xa apical, poderá ocorrer um elo de comunicação zada e da sabida ação de limpeza proporcionada
entre os tecidos periodontais e os resíduos necró- p elo sistema ultra-sônico.
ticos presentes no interior dos canais radiculares
não obturados ou m esmo com obturações defi-
cientes . Através desse caminho, bactérias ou
suas toxinas poderão estimu lar o desenvolvi-
mento ou a manuten ção de lesões periapicais.
Bernabé 37 , num experimento histológico
inédito na época, estudou pela primeira vez al-
guns dos fatores que poderiam interferir sobre o
processo de reparo dos tecidos periapicais após a
realização de cirurgias parendodônticas. Um des-
ses fatores estudados e de fundamental impor-
tância no contexto parendodôntico refere-se ao
detrito. Estudando o comportamento dos tecidos
periapicais de dentes de cães, após obturação re- /
trógrada convencional com amálgama de prata
• nq. 16.46
ou guta-percha brunida a frio, Bernabé3 7 pôde
Presença de fragmentos de dentina entre o material
verificar, em alguns espécimes, que após o pre-
retrobturador e a parede da retrocavidade C4 e B - setas).
paro de cavidades classe I com brocas, a despeito
Na foto C obse,va-se invaginação de teodo coniuntivo
de todos os cuidados para limpeza do · interior entre as paredes da retrocavidade e a obturação retrógra-
dessas cavidades, permaneceram, em algumas da, com acentuado grau de reabsorção do raiz. Nota-se
áreas das retrocavidade, det ritos ou resíduos um infiltrado linfo-plosmo-histiocitário severo. HE.
dentinár ios (Figura 16.46 ). Eles, interpondo-se
entre o material retrobturador e as pare des den -
tinárias da cavidade apical, podem criar áreas
com falhas na adaptação do material selad or.
Como resultado, tem-se o au m ento da infiltração
marginal e possibilidad e do contato dos Lecidos
periapicais com áreas contaminadas do interior
do canal radicular, conseqüentemente prejudi-
cando o processo de reparação. Salienta-se mais
uma vez que e sses resíduos o u detritos dentinári-
os não são detectados com o auxílio do micros -
cópio odontológico, p ois suas dimensões são re -
duzidas (medidas em micrôm etros), sendo visí-
veis apenas com auxílio do m icroscópio óptico.
Num estudo recente realizado em dentes de
cães, com lesões periapicais, Bernabé48 compa- Presença de microrganismos Gram-negotivos e de-
rando retrocavidades preparadas com brocas e tritos adendos à parede da cavidade. Brown e Brenn.
ultra-som, verificou, em ambos os grupos experi- 400X
CIRURGIA PARENDODÔNTICA : COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

Esses detritos, segundo Bernabé 3 9 , não só com brocas, conseqüentemente com maior des-
contribuem para ocorrência de desadaptação das gaste de tecido dentinário, foram registradas as
retrobturações, como também criam um corre- menores médias de reabsorção . Na opinião do
dor propício para a proliferação bacteriana ga- autor, é possível que essa diferença nos índices
nhando assim os t ecidos p eriapicais e provocan- de reabsorções entre os grupos (com broca ou
do então reações inflamatórias indesejáveis. Sua ultra-som) estejam também relacionadas com a
presença, conforme denunciado, foi considerada permanência de deltas apicais contaminados, e
um dos fatores responsáveis pelos insucessos que não foram removidos integralmente durante
ocorridos, mesmo · após a utilização de vários o ato da apicectomia, além da presença de ce-
ma teria is retrobturadores considerados biocorn - mentoblastos contaminados em contato com os
patíveis (Figura 16.48). tecidos periapicais. No entanto, não se pode es-
Ainda em 1981, Bernabé 37 em seu trabalho quecer, conforme já comenta do anteriormente,
analisado à luz da microscopia óptica comum que as reabsorções também podem estar relacio-
descreveu outros fatores que ocorrem in vivo pas- nadas com fenômenos que caracterizam a auto-
síveis de interferirem sobre o processo de reparo . imunidade. Consolaro 9 • admite que a continui-
Um desses fatores, que ainda não havia sido rela- dade de processos reabsortivos em raízes subme-
cionado na literatura, foi a ocorrência de reab- tidas a cirurgias parendodônticas após algumas
sorções dentinárias externas, pós-operatórias, so- semanas ou meses pode indicar a presença de
bre a superfície dentinária seccionada e superfí- bactérias e seus produtos na área operada. Con-
cie lateral da raiz. O autor verificou, em alguns cordamos com o referido autor, pois as cirurgias
espécimes que, a despeito de colocar o material parendodônticas geralmente são realizadas em
retrobturador (amálgama de prata ou guta-per- dentes portadores de infecção. Considerando o
cha) no mesmo plano de corte da denlina, decor- grau ou intensidade com que as reabsorções pos-
ridos seis meses, esses materiais estavam projeta- sam ocorrer e em presença de obturações retró-
, ;1 dos em direção aos tecidos p eriapicais (Figura gradas pouco profundas, vislumbra-se sérios pro-
; 16.49). Apesar da hipótese desse fenôm eno ter blemas com o processo de reparação após a rea-
ocorrido em fun ção da expansão do material, lização de uma cirurgia parendodôntica, fato que
acredita-se que foram as reabsorções que ocorre- muitos profissionais desconhecem ou desconsi-
ram junto ao material obturador, que proporcio- deram.
naram esse quadro, ficando o material projetado
no interior do ligamento periodontal. Segundo
Bernabé 3 7 quando essas reabsorções ocorrem,
principalmente ao redor ou proximidade dessas
. , cavidades, aliada a pouca profundidade do mate-
rial, existe a possibilidade do comprometimento
ainda· maior do se lamento marginal pretendido
com o material retrobturador. Este quadro insta-
lado acaba expondo os tecidos periapicais a
agentes irritantes contidos no interior do canal
radicular (Figura 16.50), condição essa respon-
sável p elos insucessos tão freqüentes após as ob-
turações retrógradas convencionais.
Essas reabsorções, em diferentes intensidades,
t em sido observadas em quase todos os experi-
mentos que foram desenvolvidos por Bernabé 37•38
e Bernabé et al. 4 3A 8 -53•57•59 . Comparando cavidades • FIG. 16.48
., . apicais preparadas com brocas ou ultra-som num Retrobturação com o MTA. Apesar da deposição
t trabalho experimental realizado em cães, Bernabé48 parcial de cemento sobre o material retrobturador, ob-
1 verificou que as reabsorções apicais parecem não serva-se presença de extenso processo inflamató1io.
!
estar relacionadas somente com o tipo de prepa- Insucesso do trotamento provavelmente relacionado com
ro cavitário realizado. Verificou ainda qu e nos a presença de detritos interpondo-se entre a parede
grupos onde as retrocavidades foram preparadas cavitália e o material retrobturador
CIÊNCIA ENDODÓNTI CA

• FSG. 16.49
Obturação retrógrada convencional com guta- • FiG. '16.50
percha. Deposição de cemento neoformado recobrindo Notar áreas de reabsorção da superfície dentinária
toda a superfície den tinório reabsorvido. Fibras apicectomizado. Exposição de parte do material
periodontais d1i-igem-se do cemento neoformado ao teci- retrobturador, comprometendo o selamento marginal.
do ósseo, notando-se pequena "extrusão" da obturação H.E 40X
retrógrada para o espaço periodontol. H.E. 40X

Vale considerar ainda, que essas reabsor- co, necessitando muitas vezes d o emprego de
ções dificilmente são detectadas n os exames ra - um corante, como o azul de metileno ou o
diográficos, principa I mente considerando as va- azul de tripan, facilitando sua identificação e
riações de angulagcm prom ovidas pelo profis- definindo melhor sua anatomia. Quando existe /
sion al durante as tomadas radiográficas, quase uma contaminação, como ocorre na maioria
sempre sem p adronização. Isto to rna problemá- dos casos tratados, e a presença do istmo pas -
tico o diagnóstico das causas dos ins ucessos sar desapercebido ou os procedimentos para o
ocorridos após a realização das cirurgias paren- seu preparo não alcançarem os objetivos pro-
dodônticas. É muito importante ter conheci- postos, é muito provável que o reparo ficará
mento de que ela s ocorrem, qual o processo comprometido. Nesse particular uma ferra-
envolvido e como prcvcní-las ou pelo menos menta fundamental e de extremo valor é o
utili zar pro cedimentos que diminuam a sua in- microscópio odontológico, proporcionando fa-
cidência, como, por exemplo, o emprego de hi - cilidade para a localização do istmo e posterior
dróxido de cálcio sobre a superfície apicectomi- tratamento, impedindo desga stes desnecessários
zada e materia l retrob turador, conforme preco- e p e rigosos. Como o istmo normalmente está
nizam Bernabé & Holland 52 . situado numa área de estrangulamento da raiz,
A presença de uma conexão estreita exis- seu preparo envolve a confecção de uma cana-
tente entre dois canais e contendo tecido vital leta ou sulco, unindo os dois canais (Figura
ou necrosado denominado de istmo 23 7, é um 16.52). Nesse p articular, o instrumento ideal
outro fator que pode in te rferir no processo de para preparo do mesmo é o emprego de pontas
reparo, quando não devidamente identificado e ultra -sônicas, pois apresentam diâmetro menor
convenientemente preparado . É considerado do que as brocas. Para obter magnificação do
parte integrante do sistema de canais radicula- local a ser tratado, na ausência do microscópio
res e como tal de ve ser identificado (Figura odontológico, o profissional deverá lançar mão
16.5 1), englobando-o totalmente durante o pelo menos de uma lupa de cabeça, tornando
preparo das retrocavidades, ou seja, promover os procedimentos mais eficientes do que se rea -
limpeza, preparo adequado e finalmente obtu- lizados a olho nu.
rado (Figura 16.52) . Sua visualização, pelos Quando da realização da caixa apical para
métodos convencionais pode rá ser problemáti- abrigar o material retrobturador, é necessário
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA; COMO PRAT!CÁ-l.A COM EMBASAMENTO CI ENT ÍFICO

um minucioso exame clínico para detectar o nal radicular, se cônico ou achatado. Qualquer
número de canais radiculares presentes em cada preparo que não envolva todos os canais pre-
raiz. Além do que, também, será necessário um sen tes ou não englobe toda a extensão do canal,
rigoroso exame para se detectar a forma do ca - pode comprometer irremediavelm ente o reparo .

• FIG, 16,$1
Clivrgia Parendodôntica na raiz mesial de molar infe-
tior Uma vez identificado o istmo (A), o mesmo deve ser
• AG. 16.5'! preparado (8) através do uso de insertos ultra-sônicos e
Fotografia em MEV mostrando presença de istmo. convenientemente retrobturado (CJ, no caso, com o MTA.

A forma mais segura e prática d e preparar Atualmente, existe uma sene de aparelhos
a caixa apical é a u tilização da instrumentação ultra -sônicos com kits especiais, oferecendo dife -
ultra -sônica. Embora ela tenha sido desenvol- rentes pontas ou insertos para o auxílio do pre -
vida por Richman 3 62 , em 1957, para a r essec- p aro apical. Dentre eles destaca m -se os aparelhos
ção d e raízes e Bertrand 61 ter apresentado uma ultra-sônicos importados como os da Neosonic
adaptação no apare lho Cavitron (Dentsp ly) (Amadent, Ch erry Hill, N.J. ), o ENAC (Osada
para a preparação de cavidades apica is, a co- Electric Co., Los Angeles, CA), o da EIE (Excel-
m e rcia li za ção de instru mentos endodônticos lence in Endodontics, San Diego, CA), Spartan
ultra -sônicos, para serem utilizados nas cirurgias (Spartan /O btura ), EMS Miniendo (Analy tic
parendodônticas, somen te foi introduzida há Endo), P-5 (Satelec).
pou co tempo . Dentre os aparelhos nacionais, destacamos o
Inúmeros autoresl l6, J36,1 s7.1 65.411,422,4s3 têm se ultra- som comercializado pela Gnatus, o Multi
preocupado com a prática do ultra -som durante Sonic S (piezoelétrico) , substit uído pelo Jet Sonic
os proced iment os cirúrgicos parendodônticos, Four Plus. O referido aparelho tem aplicabilidade
desenvolvendo estudos in vitro, com o propósito múltipla, ou seja, utilizado em Periodontia, Próte-
de melhor estabelecer as sua s vantagens. Apesar se, Endodontia, destacando-se seu emprego tam-
dos estudos que se desenvolvem sobre o assunto bém em cirurgias p arendodônticas. Apresenta
para esclarecer a inda a s dúvidas existentes, na inúmeros insertos, com design próprio para o uso
verdade, o ultra-som está totalmente incorpora - nas retrocirurgias e qu e foram d esen volvidos
"~ do às práticas cirúrgicas parendodônticas. Qua n- para utilização em qualquer tipo de dentes ou
t do da adoção da técnica da obturação retrógrada quadrante. As pontas da linha P (Pl5 lisa ou dia -
convencional, que engloba o preparo de uma mantada) são mais finas e ind icadas para condu -
caixa apical sobre a superfície apicectomizada, tos mais estreitos (Figura 16.53) . A Gnatus apre-
não se concebe, na awalidade, que o seu preparo senta ainda insertos da linha S 13 lisa ou diaman-
não seja realizado com o ultra -som. tada, além de insertos de uso universal, com ân -
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

guio de ataque de 90° (Sl2/90° lisa ou diamanta- lizadas sem necessidade do emprego de pontas
da). Todos esses tipos de pontas são adaptadis endodônticas e mandril. A ponta A-120 se adapta
diretamente no transdutor por um sistema de ros- ao transdutor pelo sistema de rosqueamento,
queamento. Este sistema, no entan to, impedia a mesmo sistema utilizado para adaptação dos in-
utilização de outros tipos de insertos ultra-sônicos, sertos ultra-sônicos fabricados pela Gnatus.
principalmente os de haste fina . Para possibilitar o Recentemente a Dabi-Atlante lançou um
emprego de insertos deste tipo, ou seja, de hastes aparelho ultra-sônico para uso em retrocirurgias,
finas, a Gnatus lançou uma nova ponta denomi- além de outras múltiplas utilidades. Suas pontas
nada A-120 (Figura 16.54) . Desse modo é possí- ou insertos possuem diferentes conformações e
vel que pontas de haste fin a, práticas e eficientes, são de pontas lisas, sem diamante (pontas Retro
possam ser adaptadas nesse novo dispositivo e uti- A3, AS e Retro R3 e R5) (Figura 16.55).

1 •

• FIG. 16.53 /
lnsertos diomontodos para retroai-urgia, da marca
Gnotus (AJ. Avaliação em MEV dos pontas (8 e CJ,
mostrando o espaçamento existente entre os aistois de
diamante.
• FIG. 16.54
Ponta A-120 da Gnatus, que p ermite a adaptação
de pontas ultra-sônicas com haste.

• FIG. 16~SS
lnsertos ultra-sônicos de pontas lisa desenvovido
pela Dabi-Atlante, para ser uttlizodo em retrocirurgias.
. CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍF ICO
" ' • ' •' ,o.,u,..,.u,-.,....,_,.h.-...,., - ,....-~~,.,~,...-"'""""" _.,._,..,.,...,..,..,...._<,.,..,,_•_'-'"'"~'''~"«•,..--'><'"""°''"-'''......,,._,,..._.._,~"'--•""'•·.,c.o,,,.,-,,.,,.,.n.,,.,,,,.,.~,,_....,.., ..,.,..,,,,.,.-,., .,..,.,,. ·

Um dos aparelhos de ultra-som mais difun- para serem acopladas ao transdutor (Figura
dido sem dúvida é o ENAC (Osada Electric Co.), 16.578). Mais recen teme nte foram lançadas
que possui uma grande variedade de pontas novas pontas ultra-sônica s para uso em retroci-
para emprego em cirurgias parendodônticas. As rurgias da série ST 38, disponíveis em 90°, que
mais antigas são as pontas da série DF disponí- são acopladas ou rosqueadas diretamente à peça
veis em 60°, 90° e 120º , com 0,8 mm de diâme- de mão, sem necessidade dessas pontas e ndo-
tro e pontas com 3,0 ou 3,5 mm, diamantadas dônticas e do mandril. A OSADA (Enac) tam-
(Figura 16.56A e B) mas que necessitam de bém disponibiliza insertos u ltra-sônicos de pon-
pontas endodônticas STl 7 (Figura 16.57-1) e ta lisa AP4 com 60°, 90°, 12 0° graus de curvatu-
mandril (Endo Holder QEH - Figura 16.57- 2) ras (Figura l6.56C).

• wm. ·fü,.u
Foto A 1- ponta ST17 e Foto A2 - Quick Endo Holder
Ambas peças constituem a peça intermediaria que permite
1 • ym. 16.56 acoplar a ponta ultra-sônica no transdutor (Foto BJ
lnsertos ultra-sônicos diamantados DF-3.5 (A e 8) e
de ponta lisa AP4 (CJ desenvovido pela ENAC (Osada),
, para ser utilizado em retrocirurgias.

Em 1996, no INPE (INSTITUTO NACIONAL DE PES- cas possuem maior du rabili dade, menor retenção
QUISAS EsPAcws - São José dos Campos - Brasil), de raspas de dentina na ponta, permitindo a ob-
Trava Airoldi et al. 457 desenvolveram novas pon- tenção de paredes mais lisas e regulares. No ano
tas diamantadas denominadas CVD, onde o filme de 1999, o autor n os enviou amostras destas
de diamante é depositado diretamente na haste pontas (Figura 16.58A) para serem testadas cli-
metálica, a partir da fase a vapor (diamante CVD n icamente em pacientes (Figura 16.59), durante
- Chemical Vapor Deposilion ). Em 1999, a partir a realização do Curso Avançado em Cirurgia Pa -
desse novo conceito de fabricação de pontas de rendodôntica ministrado na Disciplina de Endo-
diamante, desenvolveram pontas CVD especiais dontia da Faculdade de Odontologia de Araçatuba
.t para serem utilizadas em retrocirurgias (Figura - UNESP. Os testes fo ram bem sucedidos, pois as
t 16.58A), diferente das pontas convencionais de pontas promoveram desgastes eficientes e homo-
ultra-som que são utilizadas em cirurgias paren- gêneos, resultando em cavidades limpas e regu-
1
(
d odônticas, pois elas possuem diamante com lares. Na época sugerimos que os diamantes coa-
granulações coalescentes (Figura l6.58C). Se- lescentes recobrissem apenas a parte ativa da
gundo os autores essas novas pontas ultra-sôni- ponta u!Lra-sõnica (Figura 16.58BL como são
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

'~
fabricadas na atualidade, e não se estendesse ram lançadas no comércio sendo que seu empre- ,•.
pela sua haste, fato que poderia provocar desgas- go deve ser feito em aparelhos ultra-sônicos que ;~
te da superfície dentinária apicectomizada. Re-
centemente as pontas ultra-sônicas em CVD fo-
utilizam pontas endodônticas e mandril ou então
acopladas ao dispositivo A-120 da Gnatus. f..
t
i·;

• flG. 16.$8 • FIG. 16.59 ...


Protótipo das pontas em CVD (AJ. Pontas Preparo de retro-cavidades com emprego de pon-
comercializadas com deposição de diamante apenas no tos ultra-sônicos CVD.
porte ativo (BJ. Aspecto em MEV mostrando diamante
com granulações coolescentes (CJ.
/

Dentre as inúmeras va ntagens com a utili- menor quantidade de tecido ó sseo da loja cirúr-
zação do ultra-som nas cirurgias parendodônti- gica, além de gerar menor quantidade de detri-
cas, podemos registrar qu e mesmo diante de di- tos. Segundo Sousa et al. 4 11 o ultra -som propici-
ficuldades anatômica s, é possível, na maior par- aria maior grau de limpeza das retrocavidades.
te dos casos, colocar a s pontas ultra-sônicas pa- Lembrando sempre que o preparo apicaL quan-
ralelas em relação a o longo eixo do canal radi- do realizado com brocas, provocam grandes
cular (Figura 16.60) tornando os preparos mais desgastes das paredes dentinárias, proporcio-
paralelos (Figura 16.61), permitindo menor nando a obtenção de cavidades com diâmetro
desgaste das paredes dentinárias, resultando em muito avantajado em relação ao da raiz. Devido
preparos mais cons ervadores e com paredes às peças de mãos ou canetas de alta e baixa
mais volumosas ou espessas (Figuras 16.45 e rotação serem de tamanho exagerado compara-
16.60 ). Além do que na confecção de cavidades tivamente às lojas ósseas, criando assim dificul-
apicais realizadas com o ultra-som consegue-se dades quanto ao acesso, as brocas penetram in-
um preparo mais p rofundo do que quando se clinadamente em relação ao longo eixo do canal
utilizam brocas convencionais (Figura 16.62). radicular. Com isso as cavidades ficam descen-
Num estudo experimental realizado in vitro, tradas, ligeiramente inclinadas para lingual, fa-
Bramante et al.77 também observaram que o cilitando a ocorrência de trepanações junto à
preparo de retrocavidades com ultra-som acom- parede lingual das mesmas.
panhando o seu longo eixo, possibilitava a ob- A preparação das retrocavidades desde que
tenção de cavidades apicais mais centradas e corretamente realizadas com as pontas ultra-sô-
mais regulares. O ultra-som permite ain da o nicas, especialmente desenvolvidas para esse fim,
acesso ao canal radicular com biselamento radi - tem por objetivo solucionar, de vez, os inconve-
cular reduzido ou mesmo ausente, remoção de nientes provocados pela ação das brocas.
CIRURGIA PARENDOOÔNTlCA; COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENTÍFICO

• flG. 16.6@
Preparo de retrocovidode com ultra-som, ut!lizondo
uma ponto diomontado do ENAC (Osodo Eletric Co. lnc.
Japão). Com esse tipo de ponto é possível realizar prepo-
ras apicais no sentido do longo eixo do canal radicular. • f j{ii. 16.61
Vistos com MEV de retrocavidades preparadas com
o ultra-som resultam em paredes dentinárias mais espes-
sas, paralelos em relação ao longo eixo do canal
radicular, além de serem mais profundos.

• FmG. 1&.~:l
Comparação através do exame radiográfico de
retrocovidodes preparadas com brocas (A) e com o ultra-
som (B). Nota-se que o preparo realizado com o
ultra-som é mais profundo do que aquele realizado
com as brocas.

Uma vantagem, já mencionada, no preparo Outra consideração re levante quando do


de retrocavidades com ultra-som refere-se ao emprego de pontas ultra-sônicas é que elas pro-
fato de que as lojas ósseas podem ser m enores do movem preparas retrocavitá rios mais profundos
que tradicionalmente se recomendava. Essas do que com o u so de brocas (Figura 16.62) , ou
p ontas possuem em torno de 3,0 a 3,5 mm de seja, em torno de 3,0 ou 3,5 mm, comprimento
comprim ento, daí n ão exigirem grandes sacrifí- da m aioria das pontas utilizadas nas cirurgias pa-
cios ou perdas desnecessárias da estrutura óssea rendodônticas. Em n ossa opinião, a despeito des-
(Figura 16.63), somente o suficiente para que as sa maior profundidade em relação àquelas alcan-
pontas possam ser colocadas paralelas ao sentido çadas com brocas, isto não é de tudo seguro. Há
' ~
do longo eixo dos canais radiculares (Figura de se con siderar que as reabsorções apicais que
t 16.64). No entanto, existem situações em que as ocorrem na região apical das superfícies apicec-
lesões periapicais já são volumosas ou extensas, tomizadas, já discutidas an teriormente, são um
exibindo também loj as ósseas extensas, não ne- evento comun1 de acontecer m
cessitando assim desgastes compen satórios para vivo37,3s.4 4 A 7 .4s. 55. 56· 57 •59 em função de diversos fato-
acomodar essa s pontas. res abordados. Embora o u ltra -som prepare cavi-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

dades apicais mais profundas, deve-se considerar dices de infiltração marginal ocorrida com al-
que essas reabsorções ocorrendo ao red or das re- guns materiais retrobturadores. Sendo assim,
trobturações, dependendo da sua intensidade e aconselha-se as industrias responsáveis pela
extensão podem prejudicar o selamento margi- confecção dessas pontas no sentido de produzi-
nal pretendido, fator esse também influenciado rem insertos mais compridos ou longos, algo em
pelo tipo de material retrobturador empregado. torno de 4 a 5 mm (Figura 16.65) , pontas
Lembrando sempre que essas reabsorções não essas já disponíveis no m ercado. Com certeza,
são observadas in vitro, fato que limita a interpre- quanto maior a profundidade alcança da pelo
tação dos resultados desse tipo de trabalho. Em preparo apical e inserção do material retrobtu-
algumas situações deve ser considerado também rador, estaremos mais seguros com respeito ao
que essa profundidade de 3,0 mm, conseguida selamento marginal proporcionado pelo mate-
nos preparos com o ultra -som, é muito próxima rial, mesmo em presença das reabsorções denti-
ou até pequena qua ndo comparadas com os ín- nárias apicais 37 .

. FIG. '16.63 • HG. 16º64


Obse,var que a dimensão da loja óssea (setas) é Retrocavidades preparadas com pontas ou insertos
pequena e suficiente para permitir a colocação do inserto ultra-sônicos paralelos em relação ao longo eixo do canal
ultra-sônico paralelo ao longo eixo do canal radicular radicular

• f~§. _16,6$
Pontas ultra-sônicas para retrocirurgia com compn"-
mento maior do que os insertos convencionais, pe,mitin-
do preparas apicais mais profundos e seguros.
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIEN'l'ÍFICO

Um detalhe interessante que se notou, anali- do à ação do diamante das pontas ultra-sônicas (Fi-
sando retrocavidades preparadas com o ultra-som, gura 16.66). Este fato, teoricamente, até poderia
sob a luz da MEV, foi a presença de ranhuras ou ajudar o embricamento mecânico do material retrob-
pequenos sulcos junto às paredes dentinárias devi- turador junto às paredes das cavidades apicais.

• FIG. 16,6~
Exame com MEV permite visualizar os sulcos provocados
pela ação das pontas ultra-sônicas diamantadas no interior das
retrocavidades.

Algumas investigações têm sido realizadas microfraturas sobre a supe rfície dentinária seccio-
nada4. 31. 110. 2s4. 211.296. Jss .
para avaliar a eficiência do uso do ultra -som no
preparo de cavidades apicais. Alguns d e- De acordo com Saunders et a!. 375 , os primeiros
les116•157·165 realizaram esses preparos com o uso autores a relatarem o desenvolvimento de trincas
do ultra-som comparados com o emprego de nas superfícies dentinárias após preparas cavitários
brocas convencionais, admitindo que a quantida- com o ultra-som, elas aumentariam as chances de
de residual de smear layer ou detritos é menor uma infiltração marginal apical. Min et al. 29 6 enten-
com o ultra-som. Preparas apicais com aparelhos dem que essas microfraturas poderiam servir de
sônicos também foram utilizados por Lloyd et meio de comunicação das bactérias que restarem
al. 273 que empregaram pontas especiais movi- no interior dos canais radiculares, com os tecidos
mentadas pelo aparelho sônico MM 1500. Verifi- periodontais. Além do que essas fendas proporcio-
caram que as preparações com o aparelho sônico nariam um nicho para o desenvolvimento bacteria-
produziram cavidades com qualidade inferior no e acúmulo de seus metabólicos tóxicos. Entre-
àquelas produzidas com brocas. Ainda com rela- tanto esses mesmos auto res296 revelaram que as
ção ao emprego do ultra-som, sua utilização tem fraturas têm uma maior tendência (maior freqüên-
sido recomendada por Sumi et al. 41 3 pela facilida- cia) de ficarem restritas somente às imediações das
de com que essas peças são introduzidas via api- paredes do canal radicular, muito raramente es-
cal, pela possibilidade de conservar maior quan- tendendo-se desde essa parede até a superfície ex-
tidade de tecido dental, e por permitirem fácil terna da raiz. Neste caso, ou seja, de fraturas ditas
limpeza e alargamento da porção apical do canal totais ou comunicantes, Rainwater et al. 358 relatam
radicular. que sua incidência estaria associada com a presen-
Apesar dos benefícios com o uso do ultra- ça de paredes dentinárias remanescentes muito fi -
som durante a realização das cirurgias parendo- nas, e que não resistiria m ao estresse da energia
dônticas, muitos trabalhos têm associado o pre- ultra-sônica, possibilitando assim a ocorrência de
paro apical ultra-sônico com o aparecimento de um caminho favorável a essas microinfiltrações.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Saunders et al. 375 acreditan1 que essas mi- a preparação dos espécimes para receber os re- "\ '~

crofraturas teriam origem desconhecida, mas


provavelmente surgiriam como resultado da
energia gerada pel os instrumentos ultra-sôni-
tropreparos 156 . Segundo relatos descritos por , .
Holcomb et al. 180, Lindauer et al.27° e Onnink et t
al.328 , as trincas ou a fratura vertical da raiz f...
cos quando utilizados com o aparelho funcio- podem acontecer até mesmo na fa se da obtu- i';
nando com sua escala em potência máxima. ração dos canais radiculares, durante a con-
Frank et al. 14 1, Waplington et al. 473, Min et a!. 296 d en sa ção la teral realizada em alguns tipos de
e Calzonetti et al.82 demo nstraram que o grau dentes, quando então podem ser submetidos a
de potência do apa relho está diretamente rela- forças excessivas.
cionada com a forma ção de microfrat u ras. Es- Na verdade, o que se observa atualmente é
tes autores, como Layton et al. 254 também rela - que existem controvérsias à respeito da presen -
cionam o tempo d espendido para o preparo ça dessas trincas ou microfraturas, pois a maio-
dessas cavidades como sendo um dos fatores ria dos estudos tem sido realizados em dentes
responsáveis pela sua incidência . Re comendam ex traídos, não afastando assim a hipótese delas
que as pontas ultra-sônicas sejam utilizadas no terem r ealmente ocorrido devido à artefatos de
má ximo por dois minutos . No e n tanto, estudos técnica. Isto tem levado alguns autores a qu es-
realizados por Frank et al. 141 e Gondim-Jr. 156 de- tionar os resultados obtidos e se os mesmos po -
monstraram qu e o emp rego de aparelhos deriam ser extrapolados para a clínica. Assim é
que geram menores vibrações, como o sistema que no intuito de evitar essas interferências du-
sônico, e que utilizam menores freqüência s rante as experimentações realiza das in vitro, ou
comparativamente com o sistema ultra-sô- seja, em dentes ex traídos, mais recentemente i
nico, também podem provocar o desenvolvi - tem sido rea lizados estudos em dentes de cadá- ,
mento dessas trincas. Gondim-Jr. 156 teve ainda veres, pois na opinião dos autores 82• 158 os resul-
a oportunidade de estudar a incidência de fra- tados obtidos nessas condições seriam mais rele- '
turas após a utilização do ultra-som conside- vantes do ponto de vista clínico.
rando o tamanho das raízes e diferentes grupos O sistema sônico, que possui menor quan- ·
de dentes, concluindo que não h aviam dife- tidade de vibração nas pontas em relação ao ~
renças estaticamente significantes consideran- sistema ultra-sônico, também demonstrou ser
do os referidos fatore s estudados. capaz de produzir microfraturas. Os autores 273
Segundo Gondim-Jr. 156 o ap a recime nto observaram que a incidência de fra turas ocor-
dessas trincas ou microfraturas podem estar re- ridas com o sistema sônico não foi significati-
lacionadas com vários fatores. Dentre eles cita vamente diferente quando comparado com
os diferentes processamentos laboratoriais que aquelas notadas com o emprego de broca esfé-
as peças dentais sã o submetidas durante o es- rica movimentada em baixa rotação, apesar
tudo in vitro e a excessiva manipulação das ra - desse grupo ter apresentado apenas um caso.
ízes , incluindo a remoção do esmalte com ins- Um outro even to que pode ocorrer sobre a
trumentos afiados , que poderiam contribuir superfície de ntinária como conseqüência do
para a formação de algumas destas microfratll - preparo apical, principalmente quando se utili-
ras. Elas também podem ocorrer quando da za o ultra- som é a presença d e ranhuras ou
extração dos dentes ou mesmo . qu ando da sua marginal chipping (Figura 16 .67). Lloyd et al. 27 3
esterilização em autoclave s devido à expansão foram os primeiros a relatar essa ocorrência
térmica e contração assim como ao estresse so - nas margens das cavidades retrógradas, utili-
frido pelos d entes duran te as extrações, os zando no preparo de retrocavidades um siste-
efeitos da desidratação e do m eio de armaze- ma sônico (MMl 500) comparado com o em -
namento296·306 . Deve ser considerado que a téc- prego de brocas esféricas, com e sem bisela-
nica de preparo das raízes para o exame em memo. Outros autores 158,473 , também demo ns -
microscopia eletrônica de varredura, em fun - traram presença dessas ranhuras, assim como
ção da desidratação e das baixas condições d e Gondim-Jr. 156 , que observou ser a incidência
vácuo eventualmente provocam essas trin- das mesmas uma constante , pois apareceram
cas273. Outro fator que po deria influ ir no apa- na maioria dos dentes estudados cujos prepa-
recimento das microfraturas seria a técnica uti- ros foram realizados com o ultra-som (Figura
lizada na secção dos ápices radi culares durante 16.68).
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRA"!"ICÁ-lA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO

• FIG. 16.67 • F~G. 'H:;,.68


Retrocovidode preparada com auxilio de ponto Presença de ranhura (marginal chipping- seta) após
ultra-sônica DF-608 do ENAC, mostrando presença de preparo retrocovitório realizado em um incisivo inferior
uma depressão (ranhura) localizado no face vestibular do com pontas K!S. Gondim-Jr. 156, 1999. MEV 150x.
superfície dentinó1io opicectomizodo.

Ainda com relação à presença ou não de fra- h istopatológicos avaliados pelo autor, vários de-
turas após a utilização do ultra-som , Bernabé48 les não apresentaram diferen ças significativas
. trabalhando em dentes de cães, conforme já foi considerando os dois tipos de preparas apicais.
I salientado, n ão observou diferenças de resulta- Pode -se citar, por exemplo, que independente-
dos empregando brocas ou ultra-som para o pre- mente dos procedimentos realizados (broca ou
paro de retrocavidades. Deve ser levado em con- ultra-som) ambos n ão apresentaram diferenças
sideração que os trabalhos demonstrando pre- significativas quanto ao aspecto do ligamento
sença das ranhuras ou marginal chipping e das periodontal qu e se mostraram organizados, com
microfraturas, foram realizados in vitro, enquan- espessura adequada, não sendo constatadas dife-
to o de Bemabé48 foi efetuado in vivo, não utili- renças quanto à intensidade de reabsorção denti-
zando nenhum tipo de análise para identificar n árias, óssea, assim como a intensidade e exten-
essas ocorrências, mesmo porque não conduziu são do processo inflamatório foram iguais. São
o trabalho para esta finalidade. Mesmo assim, o evidências de que, muito provavelmente, os pro-
autor, em função de seus resultados, acredita que cedimentos clínicos adotados por Bernabé 48 não
as fraturas ou trincas provavelmente não aconte- concorreram para que anormalidades como as
ceram e, em caso contrário, não influenciaram os ranhuras ou as microfraturas afetassem os resul-
seus resultados. É provável também que a hipó- tados, e que os autores consideram como even-
tese de Min et al. 296 quanto ao possível papel de- tos danosos para a concretização do esperado su-
sempenhado pelo ligamento pe riodontal, no cesso .
1
amortecimento do estress gerado durante a vi- Um outro fato interessa nte a ser registrado
t bração da ponta do ultra-som, prevenindo assim é que Gondim-Jr. 156 dem onstrou que as micro -
a presença de fraturas e geração de calor, possa fraturas ou trincas podem ocorrer próximas às
r ter até m esmo ocorrido no experimento desen- rnargens da cavidade apical, junto às bordas do
volvido por Bernabé 48 • Este argumento encontra canal radicular e que são de pequena extensão
respaldo no fato de que dentre os 21 quesitos (Figura 16.69) . Por outro lado sabe-se que as
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

reabsorções radiculares são ocorrências comuns Após a confecção da cavidade apical, inde - · ~
e acontecem sobre a superfície dentinária api - pendente do emprego de brocas ou de pontas )
cectomizada envolvendo também a s bordas das
cavidades apicais, conforme foi demonstrado
ultra-sônicas, procedem-se abundantes e fre -
qüentes irrigações com soro fisiológico. Consi - t·.
t
por Bernabé 37· 39 . Considerando então os dados de derando as condições de trabalho de nossos i,
·_\,
Bernabé 37· 39 e de Gondim-Jr. 156 é possível admitir profissionais, de modo geral aconselha-se o
que as microfraturas e ra nhuras ocorrendo pró - e mprego de irrigações utiliz an do equipamen-
x imas às bordas da cavidade, poderiam ser en - tos simples, mas eficientes. Uma das formas de
globadas p elo processo de reabsorção e assim se- irrigação é o emprego da seringas Luer (5 ml)
rem eliminadas, sem ca usar prejuízo com a com um intermediário ENDORI G (Fi gura
adaptação do material re trobturador, até mesmo 16.70B) , que possibilita a adaptação de uma
evitando uma possível infiltração marginal. As agulha para anestesia descartável (Figura
dúvidas ficariam por conta das fraturas que po- 16.70A), fina, sem bise] e pré -curvada, permi-
deriam ocorrer em toda a extensão da superfície tindo a sua total introdução no interior das re -
dentinária comunicando o interior do canal radi- trocavidades, tornando esse procedimento bas-
cular com o periodonto, as ditas microfraturas tante eficiente. Esse mesmo processo pode ser
comunicantes 358 , Val e ressaltar que exist em estu - facilmente realizado utilizando a seringa d e -
dos como o de Beling et al.31, demonstrando que senvolvida pelo Prof. Luiz Roberto Fava, que ,
na maioria dos casos essas microfraturas são do torna possível o emprego de agulhas anestési-
tipo intradentinário, raramente sendo observado cas d esca rtáveis a copladas à um seringa Luer.
microfraturas que se estendem desde as bordas Essas irrigações também são realizadas com so- 1
da cavidade retrógrada até o cemento radicular luções anestésicas, empregando-se uma serin- 1
(fratura s totais), Decorre, no entanto, qu e o as- ga carpule independe nte, com agulhas descar-
sunto a esse respeito ainda é cercado de muitas táveis finas (Figura 16. 71 ), sem bisei e pré- :
dúvidas e tem de ser mais b em explorado para curvadas. Nesse caso, esse procedimento aux i-
eliminar as incertezas existentes. lia inclusive a hemostasia em função da pre- .
sença perm anente dà solu ção anestésica na '
área. Mesmo considerando a eficácia das irri /
gações efetuadas com o próprio ultra-som (Fi-
gura 16. 72), aconselha- se o emprego de irriga -
ções complementares através de um dos méto -
dos acima descritos. Tal providência irá preve-
nir com maior segurança a presen ça de detritos
ou ras pas dentinárias junto às paredes cavitá-
rias, conforme descrito por Bernabé 37 . Na se-
qüência proced e-se a aspiração e secagem final
com auxílio de pontas de papel absorventes
(Figura 16.73) . A ausência de umidade d entro
das retrocavidades é de fundamental impor-
tância para proporcionar, dependendo do tipo
de material retrobturador empregado, uma
adesão mais e ficiente e segura com a s paredes
dentinárias. Após a realização da retrobtura-
ção, procede -se a colocação de um "capuz" de
hidróxido de cálcio (Figura 16.39) conforme
preconiza Bernabé & Holland 52 · independente -
mente do tipo de material retrobturador utili-
• FIG. 16,6% zado. Esse "capu z" de hidróxido de cálcio d eve
Presença de trinca (seta) após preparo retro- recobrir o material obturador e toda a superfí-
cavitário realizado em um incisivo lateral superior. cie dentinária apicectomizada (Figura 16. 74) ,
Gondim-Jr. 1s6, 1999. MEV 150x. evitando a sua colocação sobre o ligamento pe-
riodontal. ,
C IRURGIA PARlõNO O DÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENT ÍFICO

• ..FIG. 16.10 . .
Intermediário (ENDORIG - Foto BJ que possibilita a • flGº t~31
utilização de agulha anestésico descmtável, acoplada à
Agulha anestésico descartável para imgação dos
um seringa Luer (AJ_
canais via retrógrada durante a realização de preparas
ap,ca,s.

;I
1
i

'1
• RG. 16.n
Ponta ultra-sônica da Gnatus com irrigação próptia.

• !FIG. 16.73
Secagem do canal radicular via retrógrada com au-
xl7io de ponto de papel obso,vente .

• FiG. 16.14
e1 Representação in vitro demonstrando a colocação
/
rio "capuz" de hidróxido de cálcio sobre o material obtu-
rador e superfície dentinária opicectomizada.
CIÊNCIA ENDODÔNT ICA

Conforme demonstrou Bernabé3 7 inúmeros dos através de uma obturação cuja técn ica é li- ~
mirada em recursos, como é o caso da retrógrada )
são os fatores locais responsáveis pelos insuces-
sos que ocorrem após realização das obturações
retrógradas convencionais . Dois deles são fun-
convencional, cuja profundidade da retrobtura-
ção não vai além dos 3,0 ou 3,5 mm.

damentais: a pouca profundidade da caixa api-
cal e conseqüentem ente do material retrobtura-
A técnica do tratamento endodôntico via
retrógrada, ou retroinstrumentação com retrob-
i'
dor. Este fato, aliado aos problemas que podem turação como querem outros, apesar de ter sido
ocorrer diante da presença de reabsorções den- relatada há cerca de sete décadas por Duclos 11 2,
tinárias ao redor das retrobturações, a despeito foi pouco explorada, principalmente por traba-
do emprego de materiais biocompatíveis, fazem lhos experimentais de cunho histológico, dificil-
das obturações retrógradas convencionais uma mente encontrados, no sentido de demonstrar
técnica com prognóstico duvidoso e de indica - sua eficiência, apesar de Anton & Matsas 16
ção limitada, principalmente quando realizadas considerarem-na ineficiente. Por essa razão, no
com brocas. Deve -se admitir que as obturações sentido de melhor verificar esse tipo de trata -
retrógradas convencionais realizadas com o ul- mento em um meio condizente e experimental-
tra-som representaram um grande avanço, e mente padronizado, um primeiro trabalho de
dentro desse contexto podem contornar os inú- cunho h istológico na literatura foi realizado por
meros problemas que surgiam com o emprego Bernabé & Nunes 59 que efetuaram uma análise ,
das brocas. Mas n ão se pode também deixar de comparativa entre a técnica do trata mento en-
admitir que mesmo sendo atualmente um pro- dodôntico via retrógrada com a da obturação
cedimento mais seguro, elas possam fracassar retrógrada convencional, na época realizada i
quanto aos seus objetivos, dependendo da in- com brocas. Esses autores verificaram, através1
tensidade dos eventos desfavoráveis que pos - dos resultados histopatológicos obtidos, em den -
sam ocorrer, considerando a sua profundidade. tes de cães com lesões periapicais, que a técnica'
Diante disso somos de opinião que a seleção da do tratamento endodôntico via retrógrada foi
técnica retrob turadora ideal seja aquela que superior à técnica da obturação retrógrada com··
preencha, senão todos, mas a maioria dos re- p reparo de cavidade classe I. Em nível histoló-~
quisitos físico s e biológicos e que são necessá- gico, inclusive, pode ser observado que a colo-
rios para favorecer a ocorrência do processo de cação do material obturador, nos casos do trata-
reparação. mento endodôntico via apical, era mais profun-
Dentre as técnicas cirúrgicas que se estudou da e esta va associada com quadros histopatoló-
à luz da microscopia ótica, observamos que gicos mais favoráveis (Figura 16. 75). Em fun-
aqu elas que proporcionam condições para a co- ção disso, mesmo em presença de reabsorções
lo cação do material retrobturador em maior radiculares e m ais raramente em presença de
profundidade favorecem o bom andamento do detritos, interpondo-se entre o m aterial obtura-
processo de reparação. Nesse sentido, o tratamen- dor e a parede dentinária, observou-se que tais
to endodôntico via retrógrada mereceu atenção e fatores foram insuficientes para alterar significa -
em função de seus resultados comparativamente tivamente a reparação. No entanto, nos casos
com outras modalidades cirúrgicas, tem sido reco- de obturações retrógradas com preparo d e caixa
mendado como primeira opção de tratamento na apical convencional, quando estes m esmos fato-
tentativa de solucionar problemas de dentes por- res ocorreram, notavam-se quadros histopatoló-
tadores de lesões periapicais refratárias aos trata - gicos mais desfavoráveis (Figura 16.76), muito
m entos endodônticos convencionais. provavelmente relacionados com o fato das ca-
vidades apicais serem pouco profundas, impe -
dindo um adequado selamento marginal. Do
4 . Tratamento endodôntico via ponto de vista histopatológico, o trabalho de-
retrógrada senvolvido por Bernabé & Nunes 59 demonstrou
que a realização de uma desinfecção e retrobtu-
O tratamento endodôntico via retrógrada, ração mais profundas oferecem maior seguran-
permitindo estender mais profundamente o ma- ça do que as técnicas, como a retrógrada con-
terial obt urador, parece proporcionar a obtenção vencional, com limpeza e retrobturação mais
de melhores resultados do que aqueles consegui- curtas.
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

• FIG. 16.76 .
Retroinstrumentação e retrobturação com guta- Obturação retrógrada convencional, com guto-
percha. Tecido ósseo preenche toda a loio cirúrgico. Pre- percha (preparo de cav,dodeJ. Superfície dentinária
sença de cápsula fibrosa menos espessa e com pouco seccionada apresentando áreas de reabsorção e cápsula
população celula,: Observar presença de retrobturação fibrosa com maior concentração de fibras colágenas. Re-
mais profunda. H.E 40X paração ósseo parcial. H.E 40X
~
1

É comum nos dentes indicados para realiza - por acreditar que o tratamento e ndodôntico via
ção de uma obturação retrógrada convencional, retrógrada propicia urna limpeza mais eficiente
os canais radiculares apresentarem-se inadequa - dos irritantes alojados no interior dos canais,
damente obturados, geralmente associados a como também um selamento marginal apical
uma limpeza incompleta, o que reduz as chances mais satisfatório . Reit & Hirsch 361 após avaliarem
do sucesso da terapia empregada. Entretanto, clinicamente trinta e cinco casos de tratamento
I com a realização do tratamento endodôntico via endodôntico via retrógrada, assinalaram sobre o
retrógrada, uma retroinstrumentação cuidadosa potencial de sucesso que se obtém com esse tipo
possibilitará a remoção do conteúdo necrótico de tratamento, combinando a curetagem periapi-
contaminado localizado profundamente no ca- cal com a limpeza e obturação dos canais radicu-
nal, propiciando assim uma retrobturação com lares via cirúrgica. Wu et al.m verificaram que a
melhor qualidade e, portanto, um selamento qualidade do selam ento apical, proporcionado
apical mais ex tenso e profundo da porção apical por retrobturações efetuadas a uma profundida-
do canal radicular. Weine476 num estudo clínico/ de de 7 mm com guta-perchas termoplastifica-
radiográfico observou que muitos de seus fracas- das, foi significativamente mais eficiente do que
sos após as cirurgias parendodônticas eram ime- obturações retrógradas conven cionais, realizadas
diatos ou ocorriam antes dos cincos anos de com o amálgama de prata e inseridas em cavida-
pós-operatório. Dian te disso, ao invés da tradi- des apicais com apenas 2 mm de profundidade.
cional obturação retrógrada, onde ele denuncia Por outro lado, Kuga & Keine 247 e Tanomaru-
1 . que, de modo geral, não se conseguia um sela- Filho433 em estudos in vitro, não verificaram dife-
.f mento apical adequado, passou a optar pelo pre- renças sign ificativas entre as duas técnicas cirúr-
paro do canal radicular e obturação de canal atra-
,,
1
vés do acesso apical. Do mesmo m odo, Nygaard-
gicas, ou seja, a obturação do canal radicular via
retrógrada mostrou índi ces equivalentes de infil-
Ostby321 propõe a obturação do canal via apical, tração marginal em relação às obturações retró-
a o invés da obturação retrógrada convencional, gradas convencionais.
CIÊN CIA ENOODÔNTICA

.,
Um detalhe a ser observado é que os procedi- à base de fenol como forma de "esterilizar" o canal. ,, ·
mentos endodônticos empregados nessa técnica Neutralizava a ação dessa droga com o emprego "::,>
;,
cirúrgica são realizados considerando-se os mes- de bicarbonato de sódio, utilizando em seguida ;\
!
mos princípios básicos utilizados no tratamento um cimento obturador com propriedades também
endodôntico convencional, via ortógrada. Enten- anti-sépticas. Em 1946, Sommer4 1º, além dos pro- 1:,
de -se também que estudos mais abrangentes e es- cedimentos habituais por ele preconizado na ten-
pecíficos devam ser realizados de modo a adequá- tativa de sanear o canal via retrógrada, recomen -
los ao meio em que é realizado. Assim, um qua- dava, após a retrobturação, a aplicação do nitrato
dro mais promissor vislumbrar-se-ia para aqueles de prata sobre a superfície dentinária seccionada ,
dentes com sérios riscos de sobrevivência, após seguindo-se a aplicação de uma camada de euge-
serem submetidos a uma cirurgia parendodôntica. nol. Segundo esse autor, como seus canais eram
Deve ser salientado que indica-se como técnica de retrobturados com cones de prata, o eugenol pre-
primeira escolha baseado em dados relatados por cipitaria moléculas livres de prata para dentro dos
Bernabé3 7 e nos resultados obtidos na experimen- túbulos dentinários, expostos pelo ato de apicec-
tação de Bernabé & Nunes 59 e Bernabé3 8 • Esses tomia, criando um ambiente favorável para a de-
estudos analisados à luz da microscopia óptica re- posição de cemento e reparação do ligamento pe-
velaram resultados excelentes, denunciando riodontal. A partir daí, a técnica do tratamento de
grandes vantagens em relação à outras técnica s canal via retrógrada passou a acompanhar os I

parendodônticas. Na verdade, à luz dos bons re- mesmos procedimentos de rotina executados du-
sultados obtidos, o Lratamento endodôntico via rante um tratamento de canal convencional. Não
retrógrada seria contra -indicado apenas em pre- mais bouve referências, na literatura. de autores i
sença de limitações de acesso e que impeçam sua que fizessem uso de drogas de reconhecida potên- 1
execução de mod o adequado. eia antibacteriana e de efeitos deletérios aos teci-
I
Não existem dúvidas entre os auto - dos apicais, aplicando-os externamente na porção
res1 47·266·382·384·478, de que uma limpeza eficiente do apical apicectomizada com a intenção de .
canal radicular. seguida por uma adequada obtu- "esterilizá-los".
'
ração, represente um dos mais importantes re- Convém registrar que todos os passos cirúr- /
quisitos para a obtenção do sucesso endodôntico. gicos descritos, desde a realização da curetagem
Esses princípios são de importância fundamental da lesão periapical até a apicectomia, são os mes-
e não devem ser ign orados quando da realização mos a serem observados na técnica do tratamen-
do tratamento endodôntico via retrógrada 136·155 • to endodôntico via retrógrada. A partir da ressec-
Na sua execução vários são os procedimentos clí- ção da raiz é preciso complementar a remoção
nicos a serem observados, inclusive com algumas total da lesão periapical, no sentido de prevenir
adaptações que devem ser introduzidas, princi- uma possível ocorrência de hemorragia. A remo-
palmente em função das ca racterísticas ambien- ção incompleta da lesão periapical pode facilitar
tais não habituais. um sangramento pequeno, mas contínuo, que
É importante con siderar aqui alguns cuida- poderá prejudicar, sensivelmente, os procedi-
dos que os autores demonstravam com a técnica mentos operatórios posteriores. Porções micros-
desde as suas primeiras indicações. Assim é que, cópicas de restos de coágulo sangüíneo que fica-
a partir de 1 934, qu ando Duclos 112 descreveu o rem aderidas às paredes internas do canal radi-
tratamento de canal via retrógrada como forma cular, via retrógrada, podem perturbar a adapta-
alternativa para soluci onar os casos cujos trata- ção do material retrobturador, com conseqüente
mentos endodônticos não podiam ser efetuados comprometimento d.o selamento marginal. Estu-
por via convencional ou coronária, já se observa- dos efetuados por Negm 312 demonstraram que a
va uma grande preocupação com o estado bacte- profundidade da infiltração marginal do corante
riológico do ápice radicular. Tanto que, Duclos 11 2 ao redor dos cimentos obturadores foi maior
recomendava a "desinfecção química" da porção quando o contato ocorreu com o sangue huma-
apical da raiz, logo após sua exposição cirúrgica, no do que nos espécimes mergulhados na saliva,
relatando, porém, que sua eficácia seria duvidosa ou mantidos secos.
à medida que se aprofundava no canal. Na déca- Na seqüência do tratamento, com a remoção
da de 1940, Sommer410 preconizava, após a re- da lesão periapical e com o campo operatório
troinstrumentação, o emprego de uma substância exangue, iniciamos os procedimentos seguintes:
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-tA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

4.1. Retro - odontometria posicionando -a rente à superfície dentinária sec-


cionada. Em seguida faz-se a tomada radiográfi-
O próximo procedimento executado é a re - . ca. Essa retroodontometria é obtida fazendo-se a
troodontometria (Figura 16. 77). Ela permite medida da lima, desde a sua extremidade (pon-
que a profundidade do preparo do canal radicu- ta ) até a junção com a ponta da pinça hemostáti-
lar seja padronizada em toda a fase de dilatação ca, obtendo-se assim o comprimento da lima que
do canal radicular, procurando atingir todo espa- penetrou no interior do canal radicular, via re-
ço dele até o ponto onde exista um bloqueio, trógrada. Se necessário, após a avaliação radio-
podendo, por exemplo, ser um pino intrarradi- gráfica, novas med idas do comprimento e explo-
cular, um instrumento fraturado, restos de ci- ração do canal poderã o ser efetuadas. Esses pro-
mento obturador etc. Essa lima é posicionada no cedimentos visam facilitar a escolha do cone
interior do canal, via retrógrada com o auxílio de principal, orientan do o profissional no sentido de
uma pinça h emostática de ponta fina. Esse ins- que toda a extensão do canal preparado seja
trumento promove não só a fixação da lima ocupada p or esse cone, evitando a permanência
como também serve de limitador de penetração, de espaços vazios.

• fr:IG. 16.17
Retro-odontometria - Exa-
me radiográfico evidenciando os
instrumentos endodônticos
posicionados em toda a extensão
do canal radicular (dentes 21 e
22), atingindo o pli10 intracanal
ou outro obstáculo qualquer

4.2. Preparo do canal radicular, via bém utilizando-se de instrumentos endodônti-


apicai · cos tipo K, ou ainda pela combinação de ambas
as técnicas.
Uma vez determinado o comprimento do
canal radicular, via apical, segue -se a fase do pre- 4.2.1. Retroinstrumentação ma nual
paro do canal radicular via retrógrada ou tam-
bém denominada de retroinstrumentação. Esta Com relação a retroinstrumentação manual,
fase segue a mesma seqüência de instrumenta- a maior parte dos profissionais têm preferência
ção daquela executada durante o prep aro de um pelas limas tipo Kerr. Durante essa manobra, es-
l canal radicular por via ortógrada. ses instrum e nto s podem ser utilizados
I A retroinstrumentação pode ser realizada mantendo-se o cabo 38' 59 · 154' 387 (Figura 16. 78) ou
y
manualmente, através do emprego de limas não 14,7 5· 136 além do que, eles podem ser dobrados
endodônticas convencionais tipo Kerr, pela ou pré-curvados no sentido de facilitar sua intro-
instrumentação sônica ou ultra-sônica, tam- dução no canal radicular, via retrógrada.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Os instrumentos endodônticos, durante os , , de preferência de ponta fina (Figura


9 5 136 36 1 47 1
,

movimentos necessários para ampliar ou dilatar 16.79), pois sendo de pequeno tamanho, facilita
o diâmetro do canal radicular, podem ser mano- sua inserção em qualquer ângulo e não em uma
brados, presos numa pinça hemostática 16, 37 , 59, 74, direção pré-fixada .

• FIG. 16.78 Fase do preparo do canal radicular via retrógrada. ,


Limas tipo Kerr com cabo pré-cwvadas presas em Lima endodôntica tipo Kerr, presa na ponta de uma pin- /
pinças hemostóticas. ça hemostótica, permitindo executar com faolidade os
movimentos de "vai e vem''. A própria pinça hemostótica
se,ve de limitador de penetração.

Essa manobra, introdução de instrumentos instrumentos, menor a chance de que permane-


via apicaL a despeito da apicectomia, pode ser çam alojados tecidos contaminados e que possam
dificultosa. Serota & Krakow337 propõem que ao posteriormente continuar irritando os tecidos pe-
invés de reduzir em demasia o comprimento da riapicais. Tanto quanto possível, os instrurn.entos
raiz, deve-se reduzir em maior quantidade a al- devem ser levados até o bloqueio existente, que
tura do nível ósseo mais apical da loja óssea. n a grande maioria dos casos, trata -se de um pino
Reith & Hirsch 36 1 entendem que o preparo do intra-radicular.
canal radicular via r etrógrada, comparativa- Durante a fase da retroinstrumentação é
mente com os procedim entos cirúrgicos con- preciso que todas as paredes dentinárias do canal
vencionais, requer algumas vezes, uma rem o- radicular sejam atingidas pela ação dos instru-
ção mais ampla de tecido ósseo. Acreditam que mentos, para que, no final, a forma do canal
o tratamento endod ômico via retrógrada será permaneça com a sua anatomia original (Figu-
mais apropriado para regiões onde as raízes es- ras 16.80 e 16.81), sem desgastes excessivos.
tejam situadas mais próximas da cortical óssea Caso contrário, existe possibilidade de que uma
vestibular. porção da parede dentinária seja mais desgastada
A profundidade alcançada pelos instrumen - em detrimento de outra, pe rmanecendo uma
tos no interior do canal tem sido uma preocu pa- parede muito fina (Figuras 16.82 e 16.83). É
ção, pois quanto m ais profunda for a ação dos mais provável que isto possa acontecer na parede
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

lingual do canal radicular, quando se utilizam li- muito fina s e associadas com presença de pinos
mas com pré-curvatura suave e não pré-curvadas in tra-radiculares (Figura 16.84), existe maior
em ângulo reto . Clinicamente, se essas paredes probabilidade de ocorrer fraturas radiculares
dentinárias do canal radicular perma necerem pós-operatórias.

• FJG. J6/itl
Aspecto clínico do ápi-
ce dental e da abertura do
canal radicular após a
retroinstrumentação. Notar
espessura regular das pare-
des do canal radicular, sem
desgaste exagerado.

• fi_!i._J§~~1
Detalhe da forma do cano! radicular após o
retroinstrumentação. Notar que é mantido o aspecto
anatômico original. Paredes dentiná,ias com volume uni-
forme. SEM SOX (Gentileza do prof. Cruz- Gonzoles -
Guodalaiara - MéxicoJ. _ _FIG~ 16,82
Trotamento endodôntico via retrógrada de dente
com lesão periapicaf Retrobturação com cimento de
r" OZE consistente em nível da superfície dentinária
apicectomizada. Grande quantidade de osso alveolar
1
;' neoformado, reparando completamente o loja óssea ci-
rúrgica. Notar desgaste mais intenso da parede
dentinátia lingual. H.E. 75X
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
------· ------- ------· ------- ---·--· ··-···· ---..i

• FIG. 16.83
Idem a f igura anterior. Parede ling ual das
• FIG. _16.84:__
retrocavidodes muito fino (setas) em razão do desgos-
te acentuado efetuado pelos limas endodônticos nessa Radiografia de dente submetido o tratamento ,
região. endodôntico via retrógrada. Notar maior desgaste de .
uma dos paredes (seta) pelo ação do lima endodôntico.

Após um dente submeter-se a uma retroins- postos por seus vértices. Um cone apical cuja,
trumenta ção, ó canal radicular poderá apresen- base é voltada para a abertura apical do canal e O"
tar uma an atomia diferente daquela quando o vértice voltado para a coroa. Em continuaç ão, e I
preparo é realizado por via coronária . Segundo correspon dente à porção média do canal, pode
Bernabé 18 normalmente a forma geométrica fin al ficar configura do outro cone cujo vértice se jus-
do canal radicular, após as técn icas de preparo do tapõe com o vértice do cone apical e com a sua ,
canal convencio nais, é a de um cone alongado base voltada para a coroa dental (Figura 16.85 ).
com base para a coroa e o vértice voltado para o Essa conforma ção geométrica, quando presente,
ápice radicular. No tratament o endodônt ico v ia é importan te de ser dimensio nada, porque pode -
re trógrada, após a retroinstr umentação, depen- rá de terminar _alguns cuidados especiais depen-
dendo do volume da raiz do dente, poderá às dendo da técnica de obturação que se efetuará,
vezes, observar, a grosso modo, dois cones justa- via apical.

• FIG. _16.85 _____


Esquema do anatomia do canal radicular Lado es-
querdo: após preparo do cano/ radicular via ortógroda.
Lodo direito: após preparo do canal radicular via retró-
grada.
CI R URGIA PARENDO DÔ NTICA: CO MO PR ATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍFICO
.....................................,• . , •.,....,....._.•._.....,.,•.-.,_.._,,...•...,,,,,..,.,r.....,,s,,.,........,.....,."''"""""'"''q"ay'""w"w<,••v.....,v-<<s•A...-.,...,.,<,,.,,,. ,..,._.• ,,_..,. ,, ,.,.,...• .....,._,,.,,. ,,,,,-..,.,.,,,..,...,.-_.,._, •'-'•••• .-~A•·,,~.• .,,..,,,-.-,-,-,•,Y. .s•u"'~"·-, • ,.,.,.,·,-,, .~>u.••~•-"''"''·~-'-'«~< ..n,<.<,,~ ...~

Durante toda a fase do preparo do canal ra- pelo Prof. Luiz Roberto Fava, que possibilita a
dicular, principalmente entre a utilização de uma utilização da agulha anestésica acoplada a uma
lima para outra, abundantes irrigações devem ser seringa Luer. Por ouLro lado existem profissio-
efetuadas . Segun do Reith & Hirsch 361 todo esfor- nais, conforme j á m encionado, que empregam
ço deve ser realizado para que o agente irrigador solução anestésica ou outros tipos de soluções
permaneça estritamente dentro do canal radicu- acondicionadas em tubos de anestésicos vazios
lar. A fase de irrigação do canal radicular via re- estéreis, utilizando-se de uma seringa carpu le in-
trógrada deve ser cuid adosa, pois sempre existe o dependente, com agul has descartáveis fina s, sem
risco de que o material necrosado infectado pos- bisel e pré -curvadas, obj etivando a remoção de
sa se espalhar para o interior dos tecidos periapi- detritos, via retrógrada. Após abundantes irriga-
cais, principalmente considerando que se está ções com o propósito de eliminar detritos e ras-
trabalhando em um campo cirúrgico aberto e pas de dentina oriundas do preparo do canal ra-
com amplas possibilidades de disseminação da dicular, outra importante fase é a que trata da _
infecção . secagem dos canais radi culares (Figura 16.86 -
Diversas soluções irrigadoras são indicadas inferior). Este ato, não sendo realizado com ex-
para serem utilizadas durante a fase da retroins - tremo cuidado e de modo correto, permitirá que
trumentação. Dentre elas podemos citar a água urna outra variável, a u midade, perturbe a ade-
oxigenada a 3% 321 , a água filtrada 136 , água esté- são ou adaptação do material obturador junto às
ril J02 , o peróxido de hidrogênio 14·22 6, o anestési- paredes dentinárias, em especial quando se utili-
: co42 1, solução salina aquecida 476 , solução salina zam as gutas-perchas termoplastificadas 279 • Du-
estéril 136·155 , o clorazene a 1 % 294, o hipoclorito de rante este procedimento, deve-se escolher uma
. sódio a 0,5% 361 ou a 3% 421 e o soro fisiológi- ponta de papel absorvente com grande poder de
co 38·59·74·154·155A21. Muito embora o emprego de absorção. Caso contrário, poderá haver manu-
substâncias com poder bactericida tenham p refe- tenção de umidade nas paredes dentinárias.
, rkncia em casos de canai s contaminados, a Além disso, a morosidade que se estabelece,
~~emplo dos hipocloritos de sódio, não devemos nessa fase, pelas sucessivas trocas de pontas de
nos esquecer que são também potencialmente papel pouco absorventes, podem retardar ainda
tóxicos 23· 313 · 386 • Assim é que, quando a preferên- mais o tempo cirúrgico, fator inconveniente
cia recair sobre os mesmos (0,5% ou 1 %), para o paciente.
qeve-se tomar cuidados especiais para que eles
s~ restrinjam exclusivamente ao interior do canal 4 .2 .2. Retroinstrumentação ultra-sônica
radicular. Além do soro fisiológico pod e-se tam-
bém fazer uso da água de cal, pois são substân- Outra forma de preparo do canal radicular,
çias não agressivas, que apresentam excelentes via retrógrada, é a utilização da retroinstrumen-
propriedades biológicas 225·376 • Convém lembrar tação sônica e ultra-sônica. Utilizando o CaviEn-
que a maior porção contaminante, as ramifica- do e o Endostar 5, Flath & Hicks 136 demonstra-
. ções apicais, foram eliminadas pelo ato da ressec- ram, clinicamente, que a retroinstrumentação
ção do ápice dental e que a substância irrigadora com limas possibilitou excelente limpeza e pre-
agiria mais como meio mecânico para eliminação paro do canal para receber uma retrobturação.
dos detritos. Para realizar a irrigação dos canais Os autores demonstraram que embora sejam
· radiculares via retrógrada, pode-se lançar mão aparelhos comumente u tilizados na terapia en-
de diferentes procedimentos. Um deles é o em- dodôntica não cirúrgica, adaptando-se os instru-
prego da seringa Lu er (5 ml) com um interme- m entos, no caso pré-curvá-los, pode-se conse-
diário ENDORIG, que possibilita a adaptação de guir um excelente acesso à porção apical do ca -
uma agulha para anestesia descartável (Figura n al radicular. Conforme já mencionado, atual-
16.70), fina, sem bisel e pré -curvada . Ou então mente existem instrumentos especiais (Retro-
,com auxílio de uma seringa Luer com agulha Tips) que foram desenvolvidos para melhorar e
t e ndodôntica fina (Figura 16.86 - superior), per- simplificar os preparos cavitários apicais nas re-
I mitindo introduzí-las profundamente em toda trógradas convencionais. No entanlo, a maioria
I
extensão do preparo via retrógrada, tornando deles possui ainda a extremidade apical ativa
esse procedimento bastante eficiente. Do mesmo muito curta, o que não permite uma p enetração
modo p ode -se empregar a seringa desenvolvida muito profunda no interior do canal, apesar de
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

sua eficácia no desgaste da dentina. Wu et al. 48 2 o preparo, através da instr umentação manual,
propõem o emprego do Endocursor 62, de ori- procurando sempre observar o volume da porção
gem Australiana, para efetuar, mecanicamente, o apical dà raiz, evitando desgastes excessivos .
preparo do canal radicular via retrógrada. A ins- Ainda considerando can ais de fácil acesso apicaL
trumentação sônica também tem sido utilizada a retroinstrumentação p ode também ser iniciada
n este propósito. Fong 118 descreveu a utilização de e finalizada somente com as limas endodônticas
um instrumento (Tips) desenvolvido para ser uti- tipo K de nº 25 ou 30 movimentadas com o ul-
lizado em uma peça de mão MM 1500, um siste- tra -som, modulando o canal sem provocar des-
ma sônico da Micro Mega. gastes exagerados, prevenindo assim ocorrências
Dependendo do caso e das condições locais, de trincas ou fraturas .
particularmente recomenda-se a retroinstrumen- Quando os canais radiculares, via retrógrada,
tação ultra-sônica, executada de diferentes ma - se apresentarem atresiados, realiza -se uma ex-
neiras. Uma delas é a retroinstrumentação pela plora ção inicial com espaçadores finos do Kit
técnica mista, ou seja, o emprego de limas endo- Bernabé (Figura 16.32 e 16.33). Se necessário
dônticas tipo K acionadas com o ultra -som con - recorre-se à utilização do azul de metileno ou
juntamente com a instrumentação manual. azul de Tripan para localizar e demarcar a posi-
Qu ando os canais se apresentarem acessíveis via ção correta do canal (Figura 16.89) . Em seguida
retrógrada pode-se realizar inicialmente o alarga- com limas Tipo K, inicialmente finas e que pene-
mento da entrada dos cana is radiculares empre- trem no canal, procede-se o preparo do canal
gando pontas ou insertos diamantados (Retro - radicular finalizando-o com limas tipo K de nu 25
Tips) (Figuras 16.64 e 16.87), os mesmos p ara o ou 30, estes com ajuda ou não do ultra-som.
preparo de retrocavidades (Potência 3 e posição Outra opção técnica empregada para casos de
Scaling) . Logo após, com limas endodôn ticas tipo canais de difícil acesso seria, após a localização
Kerr nº 25 ou 30, pré-curvadas (Figura 16.88) , do canal radicular, iniciar o seu alargamento com
adaptadas para ultra-som, realiza-se o início do o emprego de pontas ou insertos ultra-sônicos
preparo do canal radicular via retrógrada, procu - diamantados. Uma vez realizado esse preparo
rando introduzi-las até atingir o obstáculo intra- apical inicial, conclui-se a retroinstrumentação /
canal (por exemplo um pino intrarradicular). do restante do can al radicular com o emprego de
Nesses procedimentos utiliza -se o aparelho de limas endodônticas tipo K movimentadas com o
u ltra -som graduado na escala Endo e na potên- ultra-som ou manualmente ou at é mesmo em
cia 3 a 5. Em seguida, pode-se até complementar conjunto .

• FIG. 16Jl6
Foto superior - Fase da irrigação do canal radicular, via Preparo do canal radicular via retrógrada. Preparo
retrógrada, com soro fisiológico. Foto inferior - secagem inicial com pontas ou inse,10 diamantados, acionado pelo
final do canal radiculOJ; com pontas de papel obso,vente. ultra-som.
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO P RATICÁ-1.A COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

• fKi 1.6,8~
Preparo do canal radicular via retrógrada, com
limas endodônticas pré-curvados, acionado pelo ultra- • &~$:;i. 1©.8«t
som.
Com auxílio de um microbrush embebido em azul
de mettleno o 2% (A e BJ, coro-se o superfície dentinário
apicectomizoda (8), localizando o entrada dos canais
rodiculores via retrógrada (C e DJ.

4.3. Obturação dos canais retrógrada, fez referência ao uso de um cimento


radiculares via retrógrada obturador durante as rctrob turações, com con-
sistência de patê. Daí um ponto em comum en-
Na seqüência, após a retroinstrumentação, tre a maioria dos autores foi a adoção de um
um dos passos importantes é a fase da retrobtu - cimento obturador em associação ou não a um
ração dos canais radiculares. Basicamente classi- material sólido, que poderia ser a guta-percha
ficamo s as técnicas de obturação dos canais radi- ou o cone de prata. No entanto, conforme se
culares, via retrógrada, do seguinte modo: pode n otar, existem técnicas retrobturadoras,
em que o cimento obturador também pode não
4.3.1. Técnica retrobturadora efetuada através da ser utilizado.
condensação vertical:
4.3.1 .1. Somente com cimento obturador
4.3.1.2. Somente com guta-percha aquecida 4.3.1 Retrobturação pela técnica da
4.3.1.3. Guta-percha associada a um cimento condensação vertical
obturador
4.3.2. Técnica retrobturadora efetuada através da 4.3.1.1. Retrobturaçõo efetuada somente com
condensação lateral ativa um címento obturador
4.3.3. Técnica retrobturadora efetuada com guta-
percha termoplastificada Entre os profissionais que realizam cirurgia
4.3.4. Técnica retrobturadora combinada ou mista parendodôntica o m aterial retrobturador prefe-
rido da maioria é o cimento de OZE ou à base
Do que se observa desta classificação, o clí- de óxido de zinco e eugenol. No entanto uma
)
nico tem opção por diferentes técnicas retrobtu - outra ótima opção, considerando as suas pro-
radoras. Duclos 112 , em 1934, quando relatou priedades biológicas são os cimentos a base de
pela primeira vez o preparo do canal por v ia hidróxido de cálcio.
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA

• J'i~. 16.~Ç ---


Preparo do cimento de óxido de zinco e eugenol na
consistência de "massa de vidraceiro '~ No final da prepa-
ração, a massa deve apresentar aspecto brilhante, e não
aderir a placa de viqro.

Condensação do cimento de OZE consistente, via


retrógrada, com auxílio do condensador apical do Kit
Bemabé.

• fl(i~-.J.~ ?92__ _ _ --
Condensação final do oinento de OZE consistente,
via retrógrada, com auxílio do condensador apical do Kit
Bemabé, de maior calibre.

Nesta técnica, após o preparo do cimento es- consistência semelhante à massa de vidraceiro.
colhido, se à base de OZE ou h idróxido de cálcio, Para inserção do cimento via apical, pequenas
devem ser manipulados na consistência de "mas- porções são colocadas na abertura do canal radi-
sa de vidraceiro" (Figura 16.9 0). Com os cimen- cular e compactados com auxílio de condensado-
tos à base de OZE, deve -se utilizar maior propor- res especiais do Kit Bernabé (Figuras 16.32 e
ção de pó de óxido de zinco em relação ao euge- 16.33). No início, utiliza-se instrumentos mais
nol. Nos cimentos à base de hidróxido de cálcio, finos e longos (Figura 16.91), para diminuir a
como o cimento Sealapex, após o preparo do ci- possibilidade de formação de bolha s. Os instru-
mento pasta/pasta, acrescenta -se certa qu antida - mentos com maior calibre vão sendo utilizados à
de de pó de óxido de zinco até obter-se uma medida que aumenta a quantidade de cimento
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: CO MO PRATICÁ- LA COM EM BASAMENTO C IENTÍFICO

colocado (Figura 16.92), continuando essa con- ou ultra-som, quando as retrobturações não pas-
densação vertical, até obter-se, no final, uma sam dos 3,0 mm de profundidade. Nessas condi-
massa compacta do material obturador. ções, aliadas as reabsorções que podem afetar a
O nível das retrobturações nesta técnica adaptação do material obturador, este recu o po-
como para as demais a serem descritas, deve deria contribuir para a quebra definitiva do sela-
situar-se a l mm aquém da superfície apicecto- mento marginal proporcionado pela retrobtura-
mizada . Para tanto, basta finalizar a condensação ção, uma vez que a quantidade do material re-
vertical do material retrobturador assim que uma trobturador ficaria muito pequena e poderia
pequena marca (risco) existente na ponta de um comprometer a repa ração .
dos condensadores do Kit Bernabé, situada exa- Ao término da retrobturação, com auxílio de
tamente a 1 mm de sua extremidade (Figura curetas afiadas, efetua-se uma limpeza adequada
16.33 ), coincidir com a superfície dentinária api- da superfície apicectomizada, eliminando a pre-
cectomizada. As retrobturações são recomendadas sença de possíveis restos de material obturador.
nesse nível, ou seja, a l mm aquém das superfí- A seguir, r ealiza-se um exame radiogrcáfico para
cies apicectomizadas, porque encontra fundamen- avaliar a qualidade da retrobturação, seguindo -se
to biológico nos estudos realizados por Bernabé 38 , o alisamento da superfície do material com o
em 1994. Dentre inúmeras variáveis estudadas emprego de um brunidor nQ 5A da Duflex ou
nesse trabalho, uma delas foi o nível das retrobtu- similar.
rações. Os resultados obtidos p ermitiram ao autor Na seqüência, conforme preconiza Bernabé
concluir que as retrobturações realizadas a 1 mm & Holland 52 , procede-se à colocação de um capuz
aquém das superfícies dentinárias apicectomiza- de hidróxido de cálcio. Trata -se de uma técnica
das, comparativamente com aquelas realizadas onde se preenche o espaço daquele 1 mm deixa-
em nível dessa superfície, proporcionaram condi- do vazio no momento da retrobturação com um
ções mais favoráveis para a reparação. Esse recuo pasta de hidróxido de cálcio hidrossolúvel, ou
· ,;t da retrobturação deve ser considerado um detalhe seja, uma mistura de pó de hidróxido de cálcio
I de fundamental importância nas cirurgias paren- P.A. mais soro fisiológico. Esta pasta também é
dodônticas, influenciando significativamente no aplicada em roda extensão da superfície dentiná-
processo de reparação apical e periapical. O au- ria que ficou exposta p elo ato da apicectomia,
tor, a partir de então, têm recomendado esses assemelhando-se a um "capuz" (Figuras 16.74 e
procedimentos em todos os tipos de intervenção 16.93). Durante esse procedimento, procura-se
parendodôntica, com exceção das obturações re - evitar tanto quanto possível o contato da pasta
trógradas convencionais realizadas com brocas com o ligamento periodontal.

• 1

• RG, _16.93
Detalhe do "capuz" de hidróxido de cálcio
hidrossolúvel, colocado sobre os ápices rodiculores (su-
perfície dentinário e cimento retrobturodor) após os pro-
cedúnentos cirúrgicos porendodônticos.
C IÊNCIA EN DODÔNTICA

·.
A técnica de colocação desse "capuz" de hi- eia do grupo no qual foi empregado o "capuz" de .'.~
dróxido de cálcio sobre os ápices dentais apicec- hidróxido de cálcio hidrossolúvel apresentar re- ;-;
tomizados,- durante os procedimentos cirúrgicos sultado mais favorável do que o não hidrossolú- \.
parendodônticos, precon izado por Bernabé & vel. Outro dado relevante foi que o emprego do
Holland 52 , mas praticada pelos autores desde a "capuz" de hidróxido de cálcio proporcionou i-;
década de 1980, encontra embasamento científico melhores condições para ocorrência de maior in -
num trabalho experimental pioneiro desenvolvi- cidência de selamento biológico total e mesmo
do por Bernabé et al.44 • Os autores efetuaram um selamento parcial comparativamente com os
estudo em dentes de cães, em que aplicaram o grupos nos quais não foi realizada nenhuma
hidróxido de cálcio p elo período de apenas 1O aplicação de pasta de hidróxido de cálcio (Figura
minutos sobre o material retrobturador e super- 16. 94). Estes resultados, além de ratificarem os
fície dentinária apicectornizada, quando então foi achados de Bernabé et al. 4 4, quanto à diminuição
removido através de abundante irrigação com na incidência de reabsorções dentinárias apicais,
soro fisiológico. Comparativamente com os espé- demonstraram que no grupo onde foi utilizado o
cimes em que essa aplica ção não foi realizada, os hidróxido de cálcio hidrossolúvel (pó de hidróxi-
autores 57 observaram que havia uma ligeira ten- do de cálcio com soro fisiológico), ocorreu uma
dência daquelas reabsorções dentinárias denun- redução significativa quanto à freqüência de mi-
ciadas por Bernabé'1 ocorrerem com menor in- crorganismos. É muito provável que o tempo de I
tensidade no grupo em que o hidróxido de cálcio permanência dessa pasta no local, antes de ser
foi aplicado. Para m elh or analisar esse procedi- reabsorvida, seja suficiente para eliminar inclusi-
mento, Bernabé et al. 57 realizaram outro estudo ve a s bactérias presentes nos cementoblastos e I
experimental, agora aplicando dois tipos de hi- responsáveis por muitos insucessos após realiza- 1
dróxido de cálcio, um h idrossolúvel e outro não ção de cirurgias parendodônticas.
hidrossolúvel, ao contrário do trabalho ante- Na seqüência de nossos procedimentos cirúr- 1

rior44. Naquele 57 os autores deixaram essas pas- gicos, após a colocação do capuz de hidróxido de
tas de hidróxido de cálcio permanecerem em de- cálcio (Figuras 16.74 e 16.93) , deixando-o em ·
finitivo sobre as superfícies dentinárias e material definitivo no local, preenche-se a loja óssea com '
I
retrobturador, sem removê -las, e em seguida coágulo sangüíneo, obtido após suave curetagem
preencheram as loj as cirúrgicas com coágulo de suas paredes, procedendo-se à sutura do reta-
sangüíneo. Observaram que existiu um a tendên- lho, com fios de seda ou poliglactina 910 .

• _fiG. _1f./J4 _
Retrobturação com cimento de OZE consistente, 1
mm aquém da superfície apicectomizada. Aplicação defi-
nitiva da pasta de hidróxido de cálcio h1drossolúvel sobre
o ápice dental. Notar o tecido ósseo neoformado preen-
chendo totalmente a loja cirúrgico. Cemento eosinófilo
depositado sobre a superfície dentinório reabsorvido
·.-
' --. .
-~- .
(selamento biológico tota/J. H.E. 40X
' ·, '
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

43.1.2. Retrobturoçõo efetuada somente com 4.3. 1.3. Retrobturoçõo efetuada com
guta-percha aquectda guto-percha associada a um cimento obturador

Nesta técnica, após o preparo do canal radi- Os procedimentos clínicos que preconizados
cular via retrógrada, preconiza -se a retrobtura - assemelham -se à t écnica anterior, com a difercn -
ção dos canais radiculares, exclusivamente com ça que, antes de se iniciar a conde nsação vertical
guta-percha, de modo semelhante àquelas reali- da guta-percha aquecida , coloca-se previamente
zadas por Marlin & Shilder 284 para obturações um cimento endodôntico, espalhando-o p elas
endodônticas convencionais. Após o prévio amo- paredes do canal. Com o auxílio de lima endo-
lecimento de um cone de guta-percha com o ca- dôntica tipo Kerr ou m esmo espaçadores do Kit
lor de uma lamparina a álcool, coloca -se uma Bernabé (Figura 16.95 - Foto superior), leva-se
porção desse cone na entrada do canal radicular, o cimento obturador, de preferência à base de
via retrógrada, com auxílio de uma espátula Ho- hidróxido de cálcio (Sealapex) e na forma pasto-
llemback. Logo em seguida realiza-se sua con- sa, procurando "pin celar" todas as superfícies
densação vertical com um condensador do Kil dentinárias do interior do canal radicular. Em
Bernabé (Figuras 16.32 e 16.33) a frio, com diâ- seguida, do mesmo m odo ao realizado na técnica
metro apropriado e especialmente confeccionado anterior, procede-se à condensação vertical da
para esse fim. Logo após, coloca -se uma nova guta -percha aquecida, deixando-a também a l mm
porção de guta-percha, também ligeiramente aquém da superfície apicectomizada, conforme
plastificada no calor da chama, introduzindo-a preconiza Bernabé 38 . Após análise radiográfica da
imediatamente para o interior do can a l, qualidade da retrobturação, coloca-se o "capuz"
juntando-se com aquela camada de guta-percha de hidróxido de cálcio hidrossolúvel52 (Figu ras
anteriormente inserida. Na seqüência, com espa- 16. 74 e 16.93), promove o preen chimento indu-
çadores do Kit Bernabé (Figura 16.95 - Foto zido da loja cirúrgica com coágulo sangüíneo e
· ~ superior), ligeiramente aquecidos a uma peque- finalmente sutura do retalho obtido. Essa técnica
' na distância da chama de uma lamparina a álco- é preferível à anterior, pois tem a vantagem de
ol, plastifica-se toda essa massa de guta-percha. utilizar um cimento obturador, pre enchendo
De pronto, insere-se nova porção de guta-percha melhor os espaços, au x ilian do a adaptação da
aquecida, a qual é condensada verticalmente guta-percha e assim melhorando o pretendido
com os condensadores apicais do Kit Bernabé selamento marginal.
, (Figura 16.95 - Foto inferior) a frio. E assim
sucessivamente esses procedimentos vão sendo
repetidos até que, no final da retrobturação, re-
sulte uma massa única e compacta de
guta-percha. A colocação e condensação da guta-
percha plastificada cessam quando essa obtura -
ção estiver a 1 mm aquém da superfície de corte,
comprovada com o condensador com ponta de-
marcada (Kit Bernabé). Finalizando a condensa-
ção vertical, realiza-se o brunimento da superfí-
cie da guta-percha com instrumento a frio. Em
seguida, do mesmo modo já descrito, efetuam-se
tomadas radiográficas para verificar a qualidade
da retrobturação, procedendo-se à colocação do
"capuz" de hidróxido de cálcio (Figuras 16.74 e
16.93), sem removê -lo do local, conforme preco-
niza Bernabé & Holland 5 2 . Os passos cirúrgicos _ _fr.~. 16.95 .
( ·seguintes são os mesmos já relatados. Deve ser Detalhe dos pontos dos espoçodores e calcadores
ressaltado que essa técnica tem sido pouco utili- do Kit Bernabé, em aço inox, de diferentes calibres e
zada, pois dispõe-se, no momento, de materiais comprimentos, especialmente desenvolvidos para serem
que oferecem maior segurança quanto ao sela- utilizados durante a retrobturoção pela técnico da
mento marginal. condensação lateral ativa.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

·,

4.3.2. Técnica retrobturadora efetuada cies apicectomizadas e demonstraram resultados :~


·~
através da condensação lateral ativa

De maneira semelhante à técnica da obtura-


bastante animadores (Figura 16.96). Mesmo re-
conhec1ehndo qu ~ do cimento de sealapedx ddevess~
ser me or ava 11a o, por exemp1o, estu an o -o a
t
ção dos canais radiculares pelo sistema conven- l mm aquém das superfícies dentinárias expostas ,, .i
cional, preconiza-se esta retrobturação utilizan- pelo seccionamento, esses resultados parecem fa-
do também um material sólido e outro pastoso. vorecer seu uso ao invés do emprego de cimentos
Dentre os materiais sólidos, a preferência recai à base de óxido de zinco e eugenol na forma pas-
sobre os cones de gu ta -percha, principais e aces- tosa, ainda mais se atentarmos para os resultados
sórios. obtidos por Bernabé38, em 1994. Neste estudo, o
Em nossa opinião, para este tipo de procedi- autor avaliou, em dentes de cães, o desempenho
m ento, o cimento obturador recomendado seria de várias técnicas retrobturadoras, dentre elas, a
à base de hidróxido de cálcio, no caso, o Seala- técnica da condensação lateral ativa, via retrógra-
pex na forma pastosa, cujas propriedades biológi- da, empregando cones de guta -percha e o cimen-
cas são bastante conhecidas, despertando exce- to de OZE pastoso, ou seja, na mesma consistên-
lente comportamento biológico quando utilizado cia preconizada para as obturações de canais ortó-
nos tratamentos endodônticos convencionais 2 13 • gradas. Seus resultados demonstraram que, usado
Bernabé et al., em 1991 (resultados não divulga- nessas condições, o cimento de OZE na forma I
dos) avaliaram os resultados de um experimento pastosa contém maior quantidade de eugenol.
realizado em dentes de cães com lesões periapi- Este fato proporciona maior liberação de eugenol
ca is após tratamento endodôntico via retrógrada Jivre236 levando à obtenção de eventos histopato- 1
e empregando o Sealapex como material retrob- lógicos mais desfavoráveis em relação às demais !
turador, na forma pastosa, em nível das superfí- técnicas empregadas (Figura 16.97).

Retrobturação com guto-percho mais cimento de


OZE no consistência pastoso, ou seja, maior quantidade
• . ~fG'. __16.~6 de eugenol (técnica do condensação lateral ativo). No
Retrobturação com cimento Sealapex pastoso, con- altura do material retrobturodor, grande espessamento
sistêncía normal, em nível do superfície opicectomizodo. do ligamento periodontol e presença de infiltrado infla-
Notar excelente reparo dentoolveolor HE 40X matório do tipo crônico. H.E. 15X
CIRURGIA PAR.ENDOOÔNTICA: CO M O PRATICÁ-LA COM EM BA SAMENTO CIENTÍFICO

A retrobturação pela técnica da conden sa- tação desse cone ele não deve ficar dema siada-
ção lateral ativa proposta por Bernabé3 8 é a se - m ente justo ou apresentar resistência para a sua
guinte: concluído o preparo do canal radicular retirada. Deve haver algum espaço para a colo-
via retrógrada, seleciona-se um cone de cação de cones secundários na seqüência da ob-
guta-percha principal (Figura 16.98), com diâ- turação. Uma avaliação radiográfica deve ser
metro igual ou um número acima da última efetuada para verificar o nível de penetração do
lima utilizada na retroinstrurnentação. Na adap- cone.

• FIG. i6.9ij
Cone de guta-percha
principal, selecionado e adap-
tado no interior do canal
radicular, via retrógrada.

' ~
1
Confirmada a seleção do cone principal, cones acessórios vão sendo utiJizados também
procede -se à obturação do canal radicular, via untados de cimento e o término da condensação
retrógrada, utilizando-se a técnica da condensa- latera l ativa acontece no momento em que o es-
ção lateral ativa clássica . Antes do início da retro- paçador do Kit Bernabé n ão penetre a porção
bturação pode-se levar, previam enLe, uma pe- mais apical da raiz, finalizando assim a colocação
quena quantidade do cimento obturador para o de cones secundários.
interior do canal radicular, com auxílio de limas Concluída a retrobturaçã o (Figura 16.99 e
endodônticas, em função da anatomia peculiar 16.100), os dentes devem ser radiografados e, se
do canal após a retroinstrumentação (Figura n ecessário, correção de eventuais falhas da obtu -
• 1
16.85). Tal procedimento é realizado com o obje- ração. Os con es de guta-percha, em excesso no
tivo de inserir, com maior segurança, cimento ápice dental, são elimin ados através do cone efe-
obturador até a porção m ais profunda do canal tuado com auxílio de condensadores apicais do
radicular, por via retrógrada, assim como nas pa- Kit Bernabé ligeiramente aquecido ao calor da
redes do canal radicular. Na seqüência o cone de chama de uma la mparina a álcool. Em seguida,
guta-percha principal, envolto por cimento, é in- com o auxílio de um condensador do Kit Berna -
troduzido no interior do canal com pequenos bé com ponta demarcada (Figura 16.33) , tam-
movimentos de bombeamento no sentido ápice/ bém ligeiramente aquecido, efetua-se a remoção
coroa. Para a condensação lateral dos cones de da retrobturação a uma profundidade de 1 mm
guta -percha acessórios é necessário utilizar os desde a superfície de corte 38 (Figura 16.101). No
espaçadores apicais do KiL Bernabé (Figura fin al, realiza -se uma condensação do material
16.95). Com dimensões reduzidas, permitem obturador p ara melhor acomodação da sua su-
que, no início da condensação, sua ponta atinja perfície empregando um calcador apical do Kit
maior profundidade, penetrando na porção mais Bernabé ou com aplicador de cimento de hidró-
I coronária do canal radicular, procurando atender xido de cálcio pediátrico (Golgran), ambos a frio.
assim as exigências de uma boa condensação la - Após a colocação do "capu z" de hidróxido de
) te ral9 • Os mesmos procedimentos de bombea - cálcio hidrossolúvel sobre o ápice radicular 57 (Fi-
mento efetuados com o cone principal também guras 16.74 e 16.93), os demais procedimentos
devem ser efetuados com os cones acessórios. Os se repetem conforme descrições anteriores.
CIÊN CIA ENDODÔNTICA

1 •

• Fi~_.__16.99 • flGi ..16~'º°----


I
Detalhe da retrobturação realizada pela técnica da ldem o figura anterior, realizando a condensação
condensação lateral ativa. Nà ápice, os cones de guta- lateral ativo com o espoçodor apical do Kit Bemabé. No
1

percha principal, acessórios e o cimento retrobturado1; final os excessos devem ser removidos.
em excessos, devem ser removidos desde 1mm aquém
da superfície apicectomizada.
/

• __ F_l§!.___!6.19L _, ____ _
Remoção dos excessos da obturação e de 1 mm da
retrobturação em relação à superfície dentinória
apicectomizada. Restos de mate,ial obturador sobre essa
superfície devem ser removidos em seguido.

Ressalta-se que, ante s da colocação do ca- espaço intra-canal (1 mm), deve ser eliminado
puz de Ca(OH) 2, qualquer que seja a técnica com auxílio de curetas, espaçadores apicais do
utilizada, todo resíduo de cimento obturador Kit Bernabé, limas endodôntica s tipo Kerr e até
que permaneça sobre a superfície den tinária mesmo com gaze esterilizado da Cramer (não
exposta, ou mesmo nas paredes dentinárias do libera fiapos).
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COM O P RATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

4.3 .3. Técnica retrobturadora efetuada com No sistema Ultrafil, um dos mais utilizados,
guta-percha termoplastífícada a guta-percha vem acondicionada no interior de
agulhas especiais e são plastificadas com o auxí-
A guta-percha, sem dúvida, tem sido um dos lio de um aquecedor elétrico portátil, a uma
materiais mais utilizados nas obturações dos ca- temperatura de 70º C. O sistema utiliza três ti-
nais radiculares via ortógrada, em virtude de sua pos de guta-percha, o Ultrafil Regula r Se t, o Ul-
excelente propriedade biológica. trafil Firm Set e o Ultrafil Endo Set. A inserção
Vários são os trabalhos promovendo a obtura- da guta-percha no interior do canal radicular,
ção do canal com o emprego de guta-percha, utili- via retrógrada, é efetuada com o auxílio de uma
zando o calor para a sua plastificação102.2s,,3o4,377,4s6_ seringa metálica do Kit Ultra fil, onde as agulhas
No entanto, a partir de 1984, Michanowicz & são acopladas em sua extremidade. Uma vez a
Czonstkowsky 295 relataram os primeiros estudos ponta da agulha posicionada na entrada do ca-
com o emprego de técnica da guta-percha ter- nal (Figura 16.102), a guta-percha plastificada
moplastificada à baixa temperatura (70°C), com é injetada para o interior do canal radicular (Fi-
o denominado Sistema Ultrafil (Hygenic Corpo- gura 16.103 ) através da pressão exercida por
ration, Akron, Ohio), desenvolvido na Escola de um êmbolo metálico, que é impulsionado
Medicina Oral da Universidade de Pittsburg. quando se aciona o gatilho da seringa metálica.
Seus resultados foram animadores, evidenciando No final, após o preenchimento do canal radi-
que elas proporcionavam excelente selamento cular com a guta-percha termoplastificada,
marginal. A partir daí a guta-percha termoplasti- deixando -a 1 mm aquém da superfície apicecto-
ficada também tem sido indicada nas retrobtura- mizada, realiza-se uma vigorosa condensação
ções por diversos autores 1º2 •12 º· 136·154·155 ·199 demons- vertical da mesma com o auxílio de um conden -
trando em seus relatos excelentes resultados, o sador apical do Kit Bernabé. Segue-se a coloca-
que sugere que tal procedimento seria exeqüível ção do "capuz" de hidróxido de cálcio 52 (Figu-
/f e prático. ras 16.74 e 16.93).

_ _f!_G_! 16~1Q2
Agulha do Ultrafi/1 adaptada na entrada do canal • FIG. 16.103·-- --
_,

( radicular, via retrógrada, pronta para orientar a inieção Aspecto radiográfico da agulha do Ultrafil
da guta-percha termoplastificada. posicionada no ápice dental. A guta-percha termo-
plastificada inietada preenche toda a extensão do canal
radicular retroinstrumentado.
CIÊN CIA ENDODÔNTICA
,. . . . . . . .,............,,.,...,. . . . . . ,~........__,.~.·--·-M--H·--~--------~~--·--- .. . . , ...._,...,.--,,_.~~-----,..... ......,.. . . .-.-............,._.,--,.
~

Bernabé et al. 56 realizaram um trabalho ex- apicectomizada. Um grande número dos e spé- "\
perimental em den tes de cães com lesões p e ri- cimes analisados evidenciou a formação de um. }.·.
apicais, retroinstrumentando os canais radicu- selamento biológico completo pela deposição i\
lares e retrobturando-os com a guta-percha de tecido cementário neoformado (Figura 16.104 J,
termoplastificada (tipo Endo-Set ), pelo sistema e 16.105), além de evidente reparo dentoalveo- I
Ultrafil, situ ando-a 1 mm aquém da superfície lar.

• FIG. 16.104 • FIG. 1~!1.0 5


Trotamento endodôntico via retrógrado. Idem ao coso anterior No detalhe, selomento bioló-
Retrobturação com guta-percha termoplastificoda. pelo gico parcial obliterando porte do entrado do canal .
sistema Ultrofil, 1mm aquém da superfície opicec- radicular Teado periodontal apicol isento de processo ,·
tomizoda. No detalhe, selam ento biológico total, inflamatório. H.E 40X /
obliterando o entrado do canal radicular e excelente
reparação dentoalveolor H.E 40X

Um outro disposi tivo para inj eção de turação do canal radicular, com cimento obtura-
guta-percha termoplastificada é o sistema deno - dor, o autor prepara uma cavidade classe I na
minado Obtura, que difere do sistema Ultrafil, entrada do canal ràdicular efetuando-se a seguir
por necessitar tempera turas mais altas para plas- a obturação retrógrada convencional com o
tificar a mesma. Em função deste detalhe , como amálgama de prata. Nesse mesmo ano, Weine &
também dos resultados iniciais obtidos com o Gerstein 475 indicaram a retrobturação do canal
outro sistema, e também pela facilidade na aqui- radicular com um cimento obturador e cones de
si çã o e r eposição dos diferentes tipos de guta -percha. Caso persistisse qualquer dúvida
guta-percha, no momento, damos preferência ao com relação ao selamento apical, recomendavam
sistema Ultrafil. a confecção de uma cavidade na extremidade
apical e posterior obturação retrógrada.
4 .3.4. Técnica cirúrgica combinada ou mista: Na seqüência, surgiram outros auto -
retroinstrumentação e retrobtu ração res74·136·381A21 que recomendam, após a retroins-
combinada com a obturação retrógrada trumentação e a retrobturação, a realização da
convencional obturação retrógrada convencional. Na opinião
de Bramante et al. 75 , essa obturação retrógrada
Krakow246 num capítu lo de Cirurgia Endo- convencional objetiva o selamento marginal de-
dôntica editado em 1976, apresenta uma varia- finitivo do ápice radicular. Consideram que o se-
ção da técnica do tratamento endodôntico via lamento do canal dependeria do ajuste do cone
retrógrada. Após a retroinstrumentação e retrob- único e das características do cimento obturador,
CIRURGIA PARENDODÔNTICA ; COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENTÍFICO

fatores que possibilitariam a obtenção de fracas- como serem insolúveis aos fluídos tissulares e
sos pós-operatórios. Portanto com a realização da dimensionalmente estáveis. Ainda segundo o
retroinstrnmentação com retrobturação comple- autor, presença da umidade não deve afetar sua
mentada pela obturação retrógrada, na opinião habilidade seladora, além do que, devem ser de
deles, pode-se propiciar um bom selamento do fácil manipulação, e possuírem radiopacidade
canal, contribuindo para o êxito do tratamento. suficiente para facilita r sua identificação radio-
Finalizando este capítulo sobre a indicação e gráfica.
modo de executar algumas modalidades cirúrgi- Do que se nota n a literatura a respeito, cen-
cas, cabe salientar que, embora tenhamos tido tenas de materiais ob tu radores e outros afins
um grande avanço científico com os estudos ex- tem sido objeto desses estudos, no entanto,
perimentais efetuados, muita coisa necessita ser dentre os mais estuda dos po de-se citar: amálga-
melhor esclarecida. ma de prata com ou sem zin co, diferentes tipos
O desenvolvimento de novas investigações, de guta-perchas, cim entos de policarboxilatos
no âmbito das cirurgias parendodônticas, seria de zinco (Boston, PCA) , cimento de fosfato de
de fundamental importância para possibilitar o zinco, Cavit, cimento de óxido de zinco e eugenol,
aprimoramento dos procedimentos cirúrgicos/ cimentos à base de óxido de zinco e eugenol (IRM,
endodônticos atualmente utilizados. Super EBA, Kalzinol, Rickerl e N-Rickert), ionô-
meros de vidro, resin as compostas, adesivos
B. MATERIAL dentinários, cimentos à base de hidróxido de
RETROBTURADOR cálcio (Sealapex, Sealer 26) , mais recentemente
o MTA, e outros materiais tais com o o ouro coe-
Outro fator de fundamental importância no sivo, cones de prata, ciano a crilatos, teflon,
campo da cirurgia parendodôntica está relacio- hydron, polyHEMA, pinos rosqueáveis de tita-
nado com a escolha do material retrobturador, nium ou cerârn.ica.
' /! que além da sua capacidade seladora m arginal, De todos esses materiais, faremos referência
I
uma propriedade essencial, é preciso que o mes- apenas àqueles que possuem sustentação cientí-
mo seja, principalmente, biologicamente compa- fica e que foram objetos de estudos na disciplina
tível, pelo menos do nosso ponto de vista. Caso de Endodontia da Faculdade de Odontologia de
contrário, a despeito da sua excelente capacidade Araçaruba. São trabalhos desenvolvidos in vitro
seladora, ele poderá despertar a ocorrência de ou trabalhos experimentais realizados in vivo es-
uma série de eventos histopatológicos desfavorá- pecificamente em den tes de cã es, utilizando-se
veis, que poderão até levar o caso ao insucesso. dos seguintes materiais: o Amálgama de prata,
Acompanhando essa linha de raciocínio, vale guta -percha, cimento de OZE pastoso e consis-
• 1 considerar ainda que, mesmo que o material re- tente, cimento de Sealapex consistente, cimento
trobturador escolhido seja um que promova ex- IRM, cimento Super EBA e o MTA.
celente vedação apicaL as reabsorções radiculares
apicais externas, que podem acontecer, indepen- 1. Amálgama de Prata
dentemente do tipo de material utilizado 3 7, 38 , de-
finitivamente comprometem essa propriedade, Dentre os inúmeros m ateriais indicados para
conforme já discutido anteriormente. Não se serem utili.zados nas obturações retrógradas con-
pode jamais olvidar de que quartdô o material vencionais, sem dúvida, den tre todos, o que mais
retrobturador é colocado nas retrocavidades, es- recebeu preferência dos clínicos ao longo do
tará entrando em contato com os tecidos periapi- tempo foi o amálgama de prata.
cais moles e duros e ficará nesse local em defini- A indicação do amálgama de prata nas obtu-
tivo. Daí ser de fundamental importância que ele rações retrógradas se p rende aos fatos pressupos-
não seja tóxico, seja compatível com os tecidos tos dele ser facilmente adaptado em qualquer
vivos. De a cordo com Gartner & Dorn 148 , o mate- forma de cavidade sob a força de condensação,
rial retrobturador ideal deve prevenir iniiltração oferecer menor perigo de deslocamento para
de microrganismos e seus produtos para dentro dentro dos tecidos periapicais t69 · 242 , pela facilida-
,,
1

dos tecidos periapicais. Eles também devem ser de com que é levado na porção apical1 6 9 , por sua
atóxicos, não carcinogênicos, biocompatíveis ação bacteriostática durante a fase de endureci-
com os t ecidos que entrarão em contato, assim mento242, por proporcionar um bom selamento
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

marginal2 7· 105 , e por ser um material compatível reparo cementano parcia l sobre as superfícies
do ponto de vista biológico 28 1·286 • dentinárias desnudas pela apicectomia, espessa-
Considerando a vasta literatura sobre o em- mento aumentado do ligamento periodontal,
prego do amálgama de prata, não existia, até acentuado ainda mais quando em contato com o
1981, nenhum trabalho experimental in vivo que amálgama de prata (Figura 16.106). Outra parti-
fornecesse detalhes histopatológicos acerca de cularidade foi a ausência, em muitos casos, de
sua utilização, a não ser descrições de trabalhos uma cápsula fibrosa nítida, em contato com o
clínicos/radiográficos, demonstrando sua eficiên- amálgama, que, quando presente, era de espes-
cia c01no material retrobturador 272•2 77· 292-359 . sura variável exibindo, em seu interior, infiltrado
Assim sendo, Bernabé em 1981 37 realizou inflamatório de diferentes intensidades (Figura
obturações retrógradas convencionais em um es- 16.107). Poucos foram os casos analisados, onde
tudo experimental pioneiro em dentes de cães, as fibras periodontais restabeleciam funcional-
com e sem lesões periapicais, analisando o com- mente o ligamento periodontal. O infiltrado infla -
portamento dos tecidos periapicais, após retrob- matório do tipo linfo -histio-plasmocitário, na
turações com o amálgama de prata sem zinco, maioria dos espécimes, estava presente e era de in-
comparando -o à guta -p ercha brunida a frio. Nes- tensidade e extensão variáveis. Segundo Bemabé37 ,
te trabalho, para cada material utilizado havia naquela época, esses resultados demonstraram que
dois grupos de dentes: um com canais obturados o emprego do amálgama de prata devesse ser
e outro com canais vazios, con taminados. Neste reavaliado, e se possível substituído por outro
último, simularam-se os casos clínicos em que os que possuísse melhor comportamento biológico.
dentes se apresentam com obturações incomple- Somente em 1995, Torabinejad et al. 448 desenvol-
tas, canais geralmente contaminados e portado- veram um estudo, in vivo, em dentes de cães, e
res de lesões periapicais. Foi observado, em gran- observaram que o emprego do amálgama, como
de número de espécimes analisados, que a repa- material retrobturador, produzia intenso infiltrado
ração dentoalveolar com o amálgama de prata inflamatório, induzindo a uma reparação parcial
não se processou aos moldes ocorridos com a quando comparado com outro material, o MTA,
guta -percha. A mai oria deles apresentou reab- corroborando assim os resultados de Bernabé3 7 /
sorções cementárias de difere ntes intensidades, com relação ao amálgama de prata .

• . AG, __16.106 ··-.


Obturação retrógrada convencional, com amál- Obturação retrógrada convencional, com amál-
gama de prata. Reparação óssea parcial. Ausência de gama de prata. Notar presença de cápsula fibrosa em
cápsula fibrosa e inflamação severa em contato com o contato com o material retrobturadot: Tecido conjuntivo
material retrobturador H.E 40X periapical apresenta reação inflamatória do tipo crônico.
H.E 40X
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

Weine476 , revisando casos de obturações re- seria o selamento marginal que se obtém após o
trógradas realizadas ao longo de dezenove anos, emprego do amálgama de prata.
principalmente com o amálgama de prata, e a O sucesso após a obturação retrógrada com o
maioria controlada por extensos períodos, obser- amálgama de prata estaria diretamente relacio-
vou um alto índice de fracasso . Os casos de su- nado com a efetividade do selamento apical. Foi
cesso estavam relacionados com dentes cujos ca- demonstrado in vitro que ele não impedia a ocor-
nais haviam sido obturados com guta-percha, rência de um certo grau de infiltração marginal,
momentos antes de realizar o tratamento cirúrgi- não oferecendo daí selamento marginal confiá-
co com ressecção àpical ao nível da porção bem vel26'1 52'm'2º4'3º8. Sabe-se que o amálgama de pra-
condensada da obturação. O autor, ante tal ob- ta quanto mais recentemente preparado é mais
servação, também acreditava que esse tipo de propenso à infiltração marginal2 6 · 32 e que ela re-
tratamento devesse ser reavaliado. duz ou termina completamente quando passados
Inúmeras desvantagens foram relacionadas 3 a 6 m eses 334 . Barry et al. 26 e Russo 369 admitiram
com o emprego do amálgama, tais como o fato que essa infiltração diminuía acentuadamente
do amálgama de prata ser de difícil manipulação, em tempos superiores a 48 horas. Segundo al-
podendo ocorrer contração e a ocorrência de guns autores 20,1º5·217 ,242, esse melhor selamento do
oxidação do estanho e do mercúrio durante a amálgama, com o passar do tempo, estaria r ela-
mistura401 . Esses autores, no entanto, admitiram cionado com a corrosão que o material sofre em
que a presença do zinco eliminaria o problema contato com a umidade ou fluidos tissulares.
da oxidação. Também estaria vinculada à tendência do amál-
Jorgensen23 º admitiu que o amálgama de pra- gama em se expandir após o endurecimento,
ta livre de zinco tendia a ser corroído mais rapida- contribuindo assim para uma melhor adaptação
mente do que o que contém zinco. Messing292, do amálgama às paredes cavitárias 2º· 242 ·347 •
, por sua vez, esclareceu a necessidade de se em - Todavia, Rud & Andreasen 368 sugeriram que
' ;1 pregar amálgama de prata com baixa quantida - tais alterações pudessem provocar desadaptações
, de de zinco, para diminuir a expansão e porosi- do amálgama junto às paredes da cavidade api-
dade, caso o amálgama fosse contaminado pelo cal. · Afirmaram qu e a propriedade seladora do
sangue durante a realização da obturação retró - amálgama de prata se alterava devido a proble-
grada. mas que ocorrem na estrutura do material quan-
Segundo Liggett et al. 267 , as reações teciduais do em contato com os tecidos vivos. Este fato foi
I adversas, a longo prazo, podiam ser atribuídas a confirmado por Moodnik et al. 301 e Tanzilli et al. 4 34
produtos de corrosão do amálgama de prata, que observaram falta de adaptação do amálgama
quando colocado em contato direto com os flui - com a parede cavitária, desadaptação esta que
dos tissulares. Delivanis & Tabibi 1º5 seis meses causou gra nde preocupação, pois são de dimen-
após realizarem obturações retrógradas com sões maiores do que o diâmetro de uma bactéria.
amálgama de prata, observaram sobre a sua su - ,Na opinião de Bemabé37 , essas observações
perfície uma fina película esbranquiçada, resulta- foram importantes e explicaram parte de seus
do da precipitação de produtos de corrosão. Ber- resultados. Segundo o autor, mesmo levando-se
nabé37 sugeriu que esse fenômeno pudesse ter em consideração que o amálgama de prata pu -
ocorrido em seu estudo. Observou nos dentes desse melhorar suas p ropriedades seladoras com
retrobturados com amálgama de prata com ca- o passar do tempo, acredita que tais fatores não
nais obturados assépticos, que o tecido ósseo re- levam à obtenção de bons resultados, no caso
parava a loja cirúrgica bem próxima à porção das obturações retrógradas convencionais. Isso
correspondente à superfície dentinária secciona- exposto e principalmente em razão dos resulta-
da. Porém, n a porção de contato com o amálga- dos inéditos do ponto de vista histológico e de-
ma de prata, observou um maior distanciamento nunciados por Bemabé3 7 em 1981, aboliu-se o
do tecido ósseo, aumentando o espaço periodon- emprego do amálgama de prata, procurando en-
tal e a reação inflamatória (Figura 16.106). contrar uma outra opção, um material que fosse
Um outro fator que poderia explicar a obten - compatível do ponto de vista biológico e que na
ção de resultados negativos, segundo Bernabé3 7 , época era a guta-percha.
C IÊN CIA ENDOOÔNTICA
-··-··----·---------·-"-"'""' ..... ·-.. -------·--·---- ··--·- ---·---·----·--·-·--·---·-·-·-·-·-·-·--..·-·· _....]
• 2. Guta-Percha frio apresentavam resultados mais favoráveis,
com os espécimes exibindo excelentes quadros
A guta-percha, um dos materiais mais utili- histopatológicos (Figuras 16.49 e 16. 108) com-
zado e estudado em endodontia, tem sido de- p arativamente com aqueles apresentados pelo
monstrado como um material não irritante, mos- amálgama de prata (Figuras 16.106 e 16.107).
trando-se muito bem tolerado quer pelo tecido Uma observação comum nesse experimento foi
conjuntivo subcutâneo de ratos 36·2º2·297·318.4 80 , pelo a presença de uma cápsula fibrosa em contato
tecido ósseo 131·224A 15 e pelos tecidos periapicais de direto com a guta-percha, cuja espessura era
dentes humanos7 1. 9 5 , variável para cada caso analisado, fato que ates-
Apesar da guta-percha ser um dos materiais ta o grau de tolerância da guta-percha pelos te-
indicados para obturação re t rógrada 281 • 3 19· 32 º, cidos periapicais, concordando com observações
poucos foram os trabalhos de cunho histológico feitas em experimentações realizadas por Lantz
que analisaram a mesma nessas condições. Mar- & Persson253, Marcotte et al.281 , Smith4 º5 . Otoboni
cotte et al. 28 1, após obturar canais radiculares com Filho 332·333 também utilizando em seu experi-
a guta-percha e realizar apicectomias em dentes mento somente a guta-percha como material de
de cães, puderam verificar o seu bom comporta- preenchimento das cavidades apicais prepa radas
mento tecidual. Num dos primeiros trabalhos sobre a superfície dentinária apicectomizada,
experimen tais que desenvolvemos sobre o as- apresentou resultados semelhantes àqueles ob-
sunto36, dentre outros materiais indicados para tidos por Bernabé 37 , comprovando assim o bom
retrobturações, analisou-se, histopatologicamen- comportamento biológico da guta-percha, já co-
te, a reação do tecido conjuntivo subcutâneo do nhecida, quando em contato com o tecido con-
rato frente ao implante da guta-perch a em bas - juntivo36·71·95·202A80. É evidente que os resultados
tão da S.S.White. Nesse trabalho, a guta-percha, utilizando somente a guta-percha como mate -
juntamente com o amálgama de prata, se desta- rial retrobturador causam espanto, em funçã o
cou com o um dos materiais mais bem tolerados d os estudos sempre classificarem -na como um
pelo tecido conjuntivo subcutâneo do ra to, fato péssimo selador marginal, a despeito de alguns
que nos alentou a estudá -la ainda m ais. d emonstrarem ao contrário 178·17 9 •2º3.429 . Essas di- /
Sendo assim, realizamos um estudo de cu - vergên cias de resulta dos estão rela cionadas a
nho histológico cm dentes de cães, com e sem uma série de fatores, tais como possíveis dife-
lesões periapicais 37 , j á citado anteriormente, ren.ças na com posição das guta -perchas, além
quando realiza-se obturações retrógradas com do que parte dos trabalhos que estudam as infil-
amálgama de prata e a guta -perch a. Nesse estu- trações margin ais, não simulam adequadamen-
do, Bernabé37 verificou que as obturações retró- t e as co ndições clínica s de e mprego da
gradas realizadas com a guta-percha brunida a guta-percha .

.,......,,,,.~ ~~ ~ ..,,.,---~7 · --~~~~~~~~~~


'
"

• _J!(i'.. ~&.~.19.s _
Obturação retr ógrada convencional, com guta-
percha. Notar a neoformaçõo óssea atingindo as proxi-
midades do obturação retrógrada e restabelecimento
funcional das fibras periodontais. H.E. 40X
CIRURGIA f'ARENDOOÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

Outro detalhe a considerar é que a Quando comprimida oferecia melhor selamento


guta-percha é testada muitas vezes em condições marginal do que quando tracionada. Há de se
diferentes ao fim que se propõe na cirurgia pa- considerar que quando da inserção da guta-per-
rendodôntica. Imagina-se que seu uso restringe cha nas cavidades retrógradas, ela era colocada
ao selamento temporário de cavidades expostas comprimida, através da condensação vertical, fato
ao meio bucal, entre sessões. Nestas condições, a que favorecia sua adaptação e m elhor selamento
guta-percha sofre ação não só de alterações de marginal.
temperatura, mas principalmente dos esforços da Deve-se levar em consideração os resultados
mastigação, fatores que contribuem fortemente observados nos experimentos de Bernabé 37 e
para a ocorrência de deslocamento do material. Otoboni Filho 332 · 333, muito significativo para com -
Nessas condições, é possível constatar sua inca- preender o emprego da gura-percha como mate -
pacidade para selar adequadam ente uma cavida- rial rctrobturador. As reações inflamatórias ob-
de. Evidentemente esses fatos não acontecem servadas junto as retrobturaçõcs realizadas pelos
numa obturação retrógrada convencional. autores com a guta-percha, poderiam na verdade
Na verdade o emprego da guta-percha nas estar relacionadas às iníiltrações marginais e às
retrobturações perdurou por muito tempo. No reabsorções radiculares, pois os mesmos realiza-
entanto, em função das fortes críticas quanto às ram as retrocavidades com brocas, portanto pou -
suas propriedades seladoras, de resultados contro- co profundas, passíveis de problemas, conforme
versos, e também pelas dificuldades de adaptação já comentado. Atesta essa hipótese, os trabalhos
e de manipulação em ambiente úmido, como os realizados por Bernabé & Nunes 59 e Bernabé 37
que ocorrem nas cirurgias parendodônticas, mui- que também utilizaram a guta -percha num dos
tos profissionais acabaram por abandonar a sua grupos experim entais. Eles realizaram o trata-
indkação. Possivelmente um fator que contribuiu mento endodôntico via retrógrada e retrobtura-
para gerar crítica quanto à utilização da guta-per- ção com esse material justamente em preparas
,,1 cha como material retrobturador, foi o resultado apicais profundos. Os resultados foram animado-
1
do experimento desenvolvido por Holland et al.209 • res com relação ao tipo do material empregado, e
Os autores estudando um determinado tipo de muito provavelmente os bons resultados guar-
guta-percha demonstraram a ocorrência de um dam relação com a profundidade atingida pela
acentuado processo inflamatório, acompanhado guta-percha, proporcionando selamento margi-
de uma extensa reação de corpo estranho. Na se- nal mais adequado, além de s ua reconhecida
qüência foi demonstrado que tal reação era devi- compatibilidade biológ ica (Figuras 16.109,
do à presença do talco que havia sido incorporado 16.110, 16.111 e 16.112).
em sua massa durante a confecção dos cones de Na verdade também não mais se utiliza a
• 1 guta-percha. Apesar desse fato ter sido isolado guta-percha sozinha como material retrobtura-
apenas com uma determinada marca de guta-per- dor, mesmo porque, na atualidade, existem ou-
cha, levantou-se suspeitas de que isso poderia es- tros materiais de excelentes propriedades e que
tar ocorrendo com outras tipos e marcas de guta - atendem mais amplamente os critérios biológicos
percha. Na época considerou-se irrelevante essa que adotados. Além do que alguns deles têm
informação no sentido de contra-indicá-la, pois uma participação direta no processo de repara-
esse evento não foi observado com outras marcas ção, fator essencial para que o reparo dentoal-
de guta-perchas. O tipo de acabamento que se veolar ocorra adequadamente.
realizava sobre a superfície da guta-percha após No presente, a relação de materiais indicados
sua inserção nas retrocavidades foi um outro fator para as retrobturações é ainda mais extensa e,
de discussão e que colocava em dú vida a sua efici- dentre eles, podemos citar: o cimento de óxido
ência nessas situações. Tanzilli et al. 4 34 demonstra- de zinco e eugenol consistente; os cimentos à
ram que o calor promovia desadaptações da guta- base de OZE como o cimento Super EBA e o
percha junto às paredes dentinárias e formação de cimento IRM; resinas compostas; resinas com-
bolhas ou espaços vazios junto a essas paredes, postas fotopolimerizáveis; adesivos dentinários;
,,f comprometendo assim o selamento marginal da
mesma. Peter & Cunninghan 346 também relata-
cimentos de ionômero de vidro; cimentos à base
de hidróxido de cálcio (Sealapex e Sealer 26);
ram que ela sofria alterações dimensionais depen- cimento de Rickert; cimento N -Rickert e, mais
dendo do modo pelo qual ela era manipulada. modernamente, o MTA.
CIÊNC IA END ODÔ NTICA

• FIG. 16.109 • FIG. 16.110


Trotamento endodôntico via retrógrado com guto- Retrobturação com guta-percha a 1 mm aquém da
percho, em nível da superfície dentinário seccionada. Te- superfície opicectomizoda. Tecido ósseo neofo,mado re-
cido ósseo neoformodo preencheu toda a Joio cirúrgica. parando a Joia cirúrgica e invaginando para o interior do
Cápsula fibroso em íntimo contato com o material canal radicular H.E 15X
retrobturador e restabelecimento funcional das fibras
periodontais. H.E 40X /

. fiº'.. 16.1!1 ... . .FIG. 16.Hl


Trotamento endodôntico via retrógrada com guta- Obturação retrógrada convencional com guta-
percha, 1 mm aquém da superfície dentinária percha. Reparo dentoalveolar completo, notando tecido
seccionada. Invaginação do tecido ósseo neoformado ósseo neoformado atingindo as proximidades do obtura-
para o intetior do canal radicular, restabelecendo o liga- ção retrógrada e restabelecimento funciono/ dos fibras
mento periodontof Notar tecido pe,iodontal apical com periodontais. H. E 100X
ausência de processo inflamatório. H.E 100X
... _

CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

3. Cimentos contendo Óxido de ou seja, com menor quantidade de eugenol. Des-


Zinco e Eugenol se modo uma maior quantidade de pó de óxido
de zinco é adicionada à pasta desse cimento, dei-
3.1. Cimento de óxido de zinco e xando-o consistente, semelhante à "massa de vi-
eugenol (S.S. White) draceiro" (Figura 16.90). Para d efinir melhor o
assunto, esse autor realizou um primeiro traba-
Dentre todos os materiais retrobturadores lho experimental inédito 37 utilizando o cimento
utilizados, sem dúvida, os cimentos compostos de óxido de zinco e eugenol consistente da S.S.
de óxido de zinco e eugenol são os mais utiliza- White, após tratamento endodôntico via retró-
dos em cirurgias parendodônlicas. Isso se deve grada, deixando-o rente à superfície dentinária
ao fato já mencionado, de que a maioria dos apicectomizada ou à 1 mm aquém dessa superfí-
profissionais escolhe como material retrobtura- cie . Na maioria dos espécimes ocorreu reparo
dor aquele mesmo cimento que ele seleciona dento-alveolar completo, ca racterizado pela neo-
para a obturação convencional dos canais radicu- formação óssea, preenchimento de toda a loja
lares. que era ocupada pela lesão periapicaL reinserção
Os cimentos de óxido de zinco e eugenol de novas fibras periodontais, deposição de tecido
(OZE) são largamente utilizados na Odontolo - cementário sobre a dentina exposta pela apicec-
gia e em especial na Endodon tia, principal - tomia, assim como a formação de uma cápsula
mente como material obturador de canal radi- fibrosa em contato direto com o material retrob-
cular. Leal et al. 258 e Simões-Filho 393 analisando turador isento de processo inflamatório (Figuras
os dados de seus levantamentos, puderam 16. 113 e 16. 114) . No entanto, no grupo onde o
constatar que o cimento original de OZE e al- cimento de óxido de zinco e eugenol consistente
guns cimentos que possuíam em sua composi- foi colocado até 1 mm aquém da superfície api-
ção o eugenol e o óxido de zinco eram os mais cectomizada, notou -se presença de selamento
' ,,r utilizados para obturação dos canais radicula- biológico pela deposição de novo t ecido cemen-
I res. Ainda segundo relato de Leal2 59 o cimento tário, obliterando a entrada do canal radicular,
de óxido de zinco e eugenol possui aspectos via retrógrada, detalhe qu e ainda não havia sido
físico-químicos bem razoáveis, tais como im- registrado na literatura daquela época (Figuras
permeabili da de, constância de volume, solubi - 16. 115 e 16.116). Bernabé3 7 ainda evidenciou
lidade, desintegração, consistência, apresenta em seu experimento que o cimento de óxido de
I baixo custo, simplicidade e eficácia. Esses fato- zinco e eugenol consistente comportava-se me-
res seriam, na opinião de Leal2 59 os responsá- lhor, do pont o de v ista bio lógico (Figura
veis por ser um dos cimentos mais difundidos e 16.117) , do que a guta-percha (Figura 16.110)
. , empregados n a Odontologia, fato que a inda ou a guta-percha associada ao cimento de óxido
perdura até hoje. de zinco e eugenol na consistência pastosa (Fi-
Essas propriedades fizeram com que ele fosse gura 16.97), principalmente, quando as re trob-
indicado para retrobturações por Nicholls 317 prin- turações eram realizadas a 1 mm aquém da su-
cipalmente, pelos bons resultados clínicos-radio- perfície de corte .
gráficos que obteve, e por não requerer habilida- Outros trabalh os expe rimentais realizados
de para a sua inserção nas retrocavidades. Weine em dentes de cães e desenvolvidos na disciplina
& Gerstein475 preferem utilizá-lo ao invés do de Endodontia de Araçatuba -UNESP (dados não
amálgama de prata, em obturações retrógradas publicados ) utilizaram o cimento de OZE consis-
ou selamento de perfurações. Berbert et al. 33 tente em diferentes técnicas parendodônticas,
também fizeram referências ao seu emprego, re- como durante o tratamento endodôntico via re-
latando ser um material de fácil trabalho, agir trógrada44A7-5557 e também após obturação retró -
como um isolante elétrico e de ser um material grada convencional realizada com broca ou ul-
impermeabilizante. tra-som48,58. Do mesmo m odo, como já havia
O emprego do cimento de óxido de zinco e sido demonstrado por Bernabé 3 8 em 1994, os
1 eugenol também tem sido indicado por Berna- experimentos acima anunciados confirmaram a
)
bé37 em cirurgias parendodôncicas, mas numa boa biocompatibilidade do cimento de OZE con-
consistência mais espessa do que aquela utilizada sistente (Figu ra 16.118, 16 . 11 9, 16.120, 16. 121,
em tratamentos endodônticos via convencional, 16. 122 e 16 .123).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• Fm. _16.111
Trotamento endodôntico via retrógrado. Tatamento endodôntico via retrógrado. Retrob-
Retrobturação com cimento de OZE consistente em nível turação com cimento de OZE consistente em nível da
da superfície opicectomizoda. Notar reparo dento- superfície apicectomizada. Aspecto histopatológico seme-
olveolor, com deposição de tecido ósseo preenchendo lhante à figura anterior. O teodo ósseo preencheu total- 1 .
toda a loja cirúrgico em intimo contato com o material, mente o loja cirúrgica. H.E. 15X
interpondo-se entre eles uma fina cápsula fibrosa isento
de infiltrado inflamatório. H.E 15X

• HG. __ 16,11$
Trotamento endododôn tico via retrógrada. Trotamento endodôntico via retrógrada.
Retrobturação com cimento de OZE consistente 1 mm Retrobturação com cimento de OZE consistente, a 1 mm
aquém da superfície apicectomizodo, exibindo selomento aquém da superfície apicectomizada. Detalhe do
biológico obliterando parcialmente a entrada do canal selamento biológico ocorrido pela deposição de tecido
via retrógrada. H.E. 40X cementário neoformado, obliterando toda a entrado do
canal radicular via retrógrado H.E. 40X

• . Fi~:- J~~
-1..17.. _
Tratamento endodôntico via retrógrado.
Retrobturação com cimento de OZE consistente a 1 mm
aquém da superfície apicectomizado. Tecido ósseo com-
pacto neoformado preenchendo totalmente a loja cirúr-
gico e em íntimo contato com uma fina cápsula fibrosa.
H.E. 75X
CIRU RG IA PARENDODÔNTI CA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAME NTO CIENTÍF ICO

Realizando também três trabalhos inéditos houve um aumento da incidência de selamento


sobre o assunto44 · 55•57 os autores obtiveram exce- biológico. Esse melhor quadro rcparacional foi
lentes resultados com o cimento de OZE consis- assim classificado, pois ocorreu a deposição de
tente, utilizando-o no tratamento endodôntico um tecido do tipo cementário que recobriu todo
via retrógrada (dados não publicados). Em um o cimento e a superfície dentinária exposta pela
dos grupos experimentais de cada um dos traba- apicectomia, além da diminuição da presença
lhos citados, após a retroinstrumentação e colo- bacteriana na região.
cação do cimento de OZE consistente, esse mate- Salienta -se uma vez mais que a deposição de
rial assim corno a superfíci e dentinária exposta tecido duro sobre o cimento de OZE consistente
pela apicectornia foram recobertas com um ca- caracterizando um selamento biológico, na ver-
puz de hidróxido de cálcio, idêntico ao observa - dade, aconteceu num pequeno número de espé-
do nas Figuras 16.74 e 16.93 . Nos espécimes cimes quando então as retrobturações com esse
onde foi empregado o capuz de hidróxido de cál- cimento situavam -se à 1 mm aquém da superfí-
cio houve uma melhora acentuada do comporta- cie dentinária apicectomizada 38 · 55' 57 • No entanto,
mento biológico do cimento de OZE consistente esse fenômeno ocorreu cm maior número de ca-
(Figura 16.124) comparativamente com os espé- sos, naqueles espécimes onde o "capuz" de hi-
cimes dos grupos onde esse capuz não foi utiliza- dróxido de cálcio foi aplicado sobre o cimento de
do (Figura 16.125), pois no grupo com capuz OZE consistente 55, 5 7 •

;
• ;!

. FIG, 16.US
Trotamento endodôntico vw retrógrada.
Retrobturação com cimento de OZE consistente a 1 mm
aquém da superfície apicectomizada. Reparo dento-
afveofar demonstrando tecido óss-eo neoformado preser-
vando o espaço perianto/ apical. Ausência de infiltrado
inflamatório. H.E. 40X • !RG. 16.119
Tratamento endodôntico via recrógrada.
Retrobturação com cimento de OZE consistente a 1 mm
aquém da superfície apicectomizada. Reabsorções
dentinárias reparadas por deposição de tecido
cementário. Tecido ósseo neoformado em íntimo contato
com o material retrobturador. Tecido cementário
neoformado nas paredes laterais do canal e reinserção
1 das fibras pe,iodontais. Ausência de infiltrado inflamató-
; rio. H.E. 40X
CIÊNCIA ENDODÓN TICA

• rm. 16.120
Tratamento endodôntico via retrógrada. Retrobtura- Tt·atomento endodôntico via retrógrada. Retrobtura-
ção com cimento de OZE consistente a 1 mm aquém da ção com cimento de OZE consistente em nível da super-
superfície opicectomizada. Quadro histopatológico seme- fície apicectomizoda. Neoformação de tecido ósseo e em
I
lhante ao da figura anterior, sendo nesse caso obse!Vado íntimo contato com o cimento de OZE, separados por .
presença de discreto processo inflamatório junto ao ma- uma fina cápsula fibroso isenta de processo inflamatólio.
terial retrobturador. H.E 40X H.E 15X

• FIG. 1~!g; __ _
Obturação retrógrada convencional com ultra-som. Obturação retrógrado convencional realizada com
Retrobturação realizada com cimento de OZE consisten- broca. Retrobturação com cimento de OZE consistente
te em nível do superfície apicectomizodo. Loja óssea re- em nível da superfície apicectomizada. Quadro
parada por neoformação de tecido ósseo em íntimo con- hitopatológico semelhante ao caso anterior. Fino cápsula
tato com material retrobturador, interpostos por uma fina fibrosa em contato com o material retrobturador isenta
cápsula fibrosa isenta de processo inflamatório. H.E. 40X de processo inflamatóno. H.E. 40X
CIRURGIA PARENDO DÔNTICA : COMO PRATICÁ-LA COM EMB.ASAMENTO CIENTiFICO

. _RG.J~.~24 ---- --- · ···· .......... .


Tratamento endodôntico via retrógrado. Retrobtura- Tratamento endodôntico via retrógrada. Retrobtura-
ção com cimento de OZE consistente situado a 1 mm çôo com cimento de OZE consistente a 1 mm aquém da
aquém da superfície apicectomizado. Aplicação de capuz superfície apicectomizado. Sem aplicação de capuz de
de hidróxido de cálcio sobre o material retrobturador e hidróxido de cálcio. Reparo dentoalveolar excelente, se-
superfície dentinária apicectomizado. Notar selamento melhante ao caso anterior, notando-se apenas ausência
biológico por deposição de tecido cementário. Espessura de selomento biológico. H.E 40X
do ligamento periodontol prese,vado e isento de proces-
so inflamatório. H.E 40X

Na opinião de Bern ab é 37, esse qua dro repa - Bernabé3 7 con sidera ser de fun damen tal im-
racion al p arece estar em desacordo com os dados portância, nesse contexto, salien tar que os ci-
da grande ma ioria dos trab alhos q ue tratam do m en tos de OZE empregados pelos a utores, n as
emprego do óxido de zinco e eugen ol n os t rata- avaliações biológicas dos tratam en tos en dodônti-
m entos endodônticos conven cionais. O cimento cos via convencional, geralm ente são utilizados
de óxido de zin co e e ugen ol, assim como os ci- n a con sistên cia fluída ou cremosa . Mesm o n a
m entos endodônticos qu e os contêm , demo ns- con sistên cia crem osa, considerada clin icam ente
tram grande poder irritante, qu er em exp eri- ideal, facilitando o seu emprego durante a obtu-
m entações realizadas em tecido conjuntivo sub- ração do can al radicular, possui prop orções mais
cutâ n e o d e r ato 2 0 5, 2 9 7 , que r e m d e ntes d e elevadas de eu gen ol em relação a o óxido de zin-
cães76,19º·198 ·2º1· 208, dentes de ratos1 17 , dentes de ga- co. A m aioria dos a utores qu e analisam o cimen-
tos365, dentes humanos 265.487 e culturas de célu- to de óxido de zinco e eugenol, ou os compostos
las211·364. Contrariamente, algu ns autores têm al- que o contêm , é unânime em afirmar que a toxi-
can çado bons resultados histopatológicos, após cidade do cimento está relaciona da principal-
obturação convencional de can ais radiculares de m ente com a presen ça d o e u ge nol 206, 2 22, 2 7 1,
den tes human os com o cimento de óxido de zin- 30 0. 3o3,3o7,4 2s, O seu efeito farmacológico é comple-
co e eugenol, como é o caso de Baume et al.29 e xo e provavelmen te depende da con centração de
, . de Lambj erg-Han sen 251 . Talvez sej a interessante su a fra ção livre que ficará exposta aos tecidos. As
t salientar qu e um dos fatores que possa ter con- resp o stas farma coló gicas b ené fica s ocorrem
tribuído p ara essa observação, n o caso de Lam b - quando o tecido é exposto a baix as concentra-
.,r jerg-Hansen 251 foi a presen ça de raspas de denti- ções de eugen ol282 ,
na interpostas entre o tecido vivo e o cimento Realizan do considerações a resp eito dos ex -
obtu rador, em todos os casos. celentes resu ltados obtidos n o seu exp erimen to,
CIÊNCIA EN D O D Ô NTICA

empregando o cimento de óxido de zinco e eu- de óxido de zinco e eugenol, poderia também ,;~
·-;
genol consistente após tratamento endodôntico estar relacionado com o fato dele mostrar efetivo
via retrógrada, Bernabé 37 atribui esse fato, dentre
outros fatores, à proporção pó-líquido que utili-
selamento marginaF 3·119 ·257•325· 342 e notória pro-
priedade bactericida159·175·329. h,
,.
zou ( 1,0 g de óxido de zinco para 0,2 mL de Um fator desfavorável que tem sido aprego- j.
eugenol). Os canais radiculares foram retrobtu- ado ao cimento de OZE é que ele seria muito
rados com uma massa ba stante espessa, consis- frágil, quebradiço, tendo um longo tempo de
tente, assemelhando- se à massa de vidraceiro presa e o fato dele ser solúvel diante dos teci-
(Figura 16.90), praticamente impossível de ser dos335 . Essa última propriedade, no entanto, não
utilizada nas obturações de canais pelos méto - foi relatada no estudo de Bernabé 38. Ao contrá-
dos convencionais. Nessas condições, a presença rio, o autor em seu relato demonstra estar o
de eugenol foi bem m enor do que aquela que material presente em toda a extensão apical do
normalmente é utilizada, proporcionando, as- canal radicular e sempre em nível da superfície
sim, condições favoráveis para obtenção de re- dentinária apicectomizada, muito provavelmente
sultados biológicos mais satisfatórios em relação um sinal de sua não solubilidade. A ausência
àqueles do que se têm noticiado. Holland et dessa solubilização tem sido considerada como
al. 21 5· 212, implantando o cimento de óx ido de uma das características ideais que devem possuir
zinco e eugenol em tecido conjuntivo subcutâ- os materiais retrobturadores. Como eles são ex- 1

neo de ratos, relataram que a reação inflamató- postos aos fluídos tissulares da região periapical,
ria era mais intensa nos espécimes que recebe- é importante que esses materiais sejam resisten-
ram o cimento prepara do com maior quantida- tes à dissolução ou decomposição pelos fluídos ,
de de líquido. Tanto nos casos de proteção indi- teciduais 164.
reta da polpa dental1 66 , como em capeament o
I
de polpas dentais, expostas experimentalmen- 3.2. Cimentos à base de óxido de
te96·291, foi observa do que os resultados eram zinco e eugenol
melhores quando a proporção pó-líquido do ci-
mento de óxido d e zinco e eugenol empregada 3.2.1. Cimento IRM /
possuía menos eugen ol.
Portanto em função dessas considerações, 3.2.2. Cimento Super EBA
quando o cimento de óxido de zinco e eugenol
ou à base de OZE for utilizado em clínica, o mes- As descrições dos referidos cimentos serão
mo deve ser manipulado com menor quantidade realizadas em conjunto, pois facilitará a discussão
possível de eugenol, adicionando m aior quanti- dos trabalhos em que ambos são comparados,
dade de pó de óxido de zinco, deixando-o mais juntamente com o cimento de OZE e o próprio
espesso ou mais consistente, conforme foi utili- MIA.
zado por Bernabé em todos os trabalho aqui cita- Assim é que devido às desvantagens que se
dos. Na prática, essa con sistência ideal do cimen- tem demonstrado com o u so do amalgama de
to de OZE é obtida quando ao final do preparo prata como material retrobturador 1• 1º7A 56, assim
ele apresentar-se bastante espesso e com a sua como os problemas causados quanto à possibili-
massa parecida com a consistência da "massa de dade de reabsorção de outros materiais indica-
vidraceiro" ou seja, aquela utilizada para fixar dos, como, por exemplo, o Cavit 13 5, e do próprio
vidros. Outro detalhe, utilizando uma espátula OZE 335 , formas modificadas do cimento de óxido
de aço inox, num movimento de vai e vem, o de zinco e eugenol, ditos reforçados, tem sido
cimento vai sendo rolado ou deslizado sobre a sugerido com uma alternativa para serem utiliza-
placa de vidro, não aderindo ou deixando mar- dos nas retrobturações, destacando-se o IRM e o
cas de oleosidade acentuada sobre a mesma. Super EBA.
Desse modo consegue -se produzir vários peque- O IRM é um material odontológico bastante
nos porções ou filamentos do cimento, que faci- utilizado como selador temporário232 . Gartner &
litam a sua inserção nas retrocavidades. Dorn 148 demonstraram o emprego do IRM (Inter-
Ainda segun do relato de Bernabé 37, um ou- mediate Restorative Material) nas obturações re-
tro fator de fundam ental importância, com rela- trógradas, salientando ser um cimento com-
ção aos bons resultados que obteve com cimento posto de óxido de zinco (80 % ) reforçado com
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍFICO

20% de fibras de polimetilmetacrilato, para eli- nes, na Inglaterra, como cimento Stailine Super
minar o problema da reabsorção que se apregoa EBA, sem o óxido de alumínio.
ocorrer quando de sua utilização, assim como O cimento Super EBA, conhecido pela sua
para torná-lo mais resistente. O líquido é com- utilização na cimentação definitiva de próteses e
posto de uma mínima parcela de ácido acético como material restaurador temporário, vem sen-
( 1 % ) adicionado ao eugenol (99%). Dorn & do utilizado por Hendra como material para re-
Gartncr 107, num estudo clínico com proservação trobtu rações, desde 1970. Ele foi desenvolvido
de até l O anos, verificaram 91 % de sucesso após no sentido de melh orar as propriedades físicas
o emprego do IRM nas retrobturações. dos cimentos à base de OZE, como diminuição
A introdução do IRM nas cirurgias parendo- do tempo de presa e ser menos solúvel3 35 . Em
dônticas, segundo Owadally et a!. 335, também se sua apresentação original contém um frasco de
deveu à necessidade de substituir o amálgama de líquido e dois frascos de pó, sendo um com tem-
prata, em função de problemas relacionados com po de presa rápida e o outro de presa normal. Na
a sua toxicidade, corrosão, e outros inconvenien- fórmula comercial da Staincs (Inglaterra), o pó
tes físicos e mesmo biológicos. Essa incompatibi- do Stailine Super EBA é constituído de 60% de
lidade biológica do amálgama de prata como óxido de zinco, 34% de dióxido de silicone e 6%
material retrobturador havia sido demonstrada de resina n atural. O líquido por sua vez, é com-
num estudo histopatológico realizado por Bcrna- posto por 62, 5 % de ácido orto-etoxibenzóico
bé37, em dentes de cães, comparando-o com a (EBA) e 37,5% de eugenol. A partir de 1985,
guta-percha, em casos de canais assépticos ou Szeremeta-Browar et a!. 425 relatam urna modifi-
contaminados. Em nenhum momento pôde ser cação na fórmula do Stailine Super EBA, feita
observado resultado que encorajasse o emprego p ela Bosworth Co., através da substituição do di -
desse material, revelando sim, necessidade de óxido de silicone pelo óxido de alumínio (alumi-
,.
substituí-lo por outro mais biocompatível, con- na), na mesma proporção, e que, comercialmen-
,,r forme relato de Owadally et al. 335 . te, correspo nde ao Cime nto Super EBA da
Como acontece durante as retrobturações, os Bosworth Co., este sim disponível no m ercado
materia is são manipulados utilizando consistên- americano, e por nós utilizado . De acordo com
cia mais sólida, facilitando assim sua inserção nas Szerem eta -Browar et a/.425 , esses dois tipos de
retrocavidades. Quanto ao IRM, Civjan et al.9 1 cimentos Super EBA (Stailine e Bosworth) po-
verificaram que aumentando a proporção pó -lí- dem ser considerados equivalentes, baseado em
quido, havia um aumento da força de compres- declarações do Conselho da Associação America-
são do material, o tempo de presa diminuía, as- na de Produtos e Equipamentos Odontológicos.
sim como a sua solubilidade. Crooks et al. 9 9 reali- Segundo Oynick & Oynick m , o Super EBA é

1
zararn um estudo com o IRM, avaliando a infil- de fácil manipulação, adere às p ared es cavitárias,
tração marginal ocorrida após sua utilização em portanto não necessitando de retrocavidades re-
re rro bturações, e manipulado em diferentes pro - ten tivas, podendo também, ser utilizado mesmo
porções pó-líquido. Puderam verificar que não em casos em que não se obtém um campo total-
ocorreram infiltrações significantes, comparan- mente seco. Em função de sua plasticidade, pode
do-se as diferentes proporções utilizadas. Estes ser facilmente colocado mesmo quando a mistu~
dados sugerem que o emprego do IRM, com ra é pastosa. O tempo de endurecimento permite
ma ior proporção de pó ao líquido, é aceitável, sua utilização em tempo adequado e suficiente, e
não afeta a propriedade seladora do material e quando em contato com os tecidos tem a pro-
tem inúmeras vantagens, em relação à proporção priedade de rapidamente endurecer. Tal facilidade,
recomendada pelo fabricante. Segundo os auto- no entanto, é contestada por Szererneta -Browar
res, é mais prático e fácil de ser levado no inte- et al. 425 que considera ram o Super EBA um ci-
rior das retrocavidades, é menos tóxico, menos mento extremamente difícil de ser manipulado,
~ . solúvel e o seu tempo de presa é menor. necessitando de grandes quantidades de pó e lí-
t O outro material alternativo ou reforçado à quido para obter urna consistência ideal, grande
base de óxido de zinco e eugenol empregado nas dificuldade para levá-lo nas retrocavidades e pos-
retrobturações é o cimento Super EBA, este re - suir um tempo de presa muito rápido. Seu poder
forçado com o óxido de alumínio (alumina). Na de adesão nas paredes dentinárias, sendo muito
verdade, ele foi inicialmente lançado pela Stai- grande, dificulta não só a sua condensação, como
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

posterior remoção dos excessos presentes. Bon- comparado com amostras de cimento que foram ,.,
dra et al. 69 fazem referência ao fato de que as
variações de temperatura e umidade do dia a dia
imersos uma hora após a sua espatulação. No
entanto, os estudos de Arnold et al. 19 demonstra-
ram que, com o Super EBA, não havia diferenças t-
t>
alteram drasticamente o tempo de trabalho do
IRM e do Super EBA, em especial deste último. significativas nos níveis de solubilidade (perda de i··
De acordo com Oynick: & Oynick:337 e Szeremeta- peso do material) comparando-se as amostras
Browar et al. 425 a adição de outros componentes imersas 1O minutos após a mistura com aquelas
ao óxido de zinco e eugenol, tornando-o mais qu e foram imersas 1 hora após a espatulação.
reforçado, permite que esse material tenha a Esses autores puderam notar, no entanto, que a
propriedade de suportar elevada força de com- desintegração estava relacionada com o pH da
pressão, assim como ter aumentado sua capaci- solução: quanto menor o pH maior a desintegra-
dade de sofrer grandes tensões, além de possuir ção. Owadally & Pitt-Ford 336 , usando a micros-
pH neutro e apresentar baixa solubilidade. Oynick copia eletrônica de varredura, não observaram
& Oynick 337 relata ter mais de 14 anos de expe- sinais de deterioração do Super EBA, após esto-
riência clínica empregando o Super EBA como cá-lo durante seis meses, em fosfato tampão . Um
material retrobturador, e com bons resultados, outro fato importante, ainda a ser considerado
registrando, aproximadamente, 200 casos de do ponto de vista clínico, quando se trata da dis-
dentes humanos onde esse material foi utilizado. solução do material, é que, quando eles são colo- 1 •

Conforme já salientado os materiais retrob- cados nas retrocavidades, inicialmente são cober-
turadores são expostos aos fluídos tissulares da tos por coágulo sangüíneo e mais tarde por teci-
região periapical e dependendo do tipo de mate- do fibroso. Portanto, a capacidade dos fluídos tis- 1
rial considerado, seria importante que fossem sulares de atacá-lo é baixa. Ainda mais que, em ·
resistentes à dissolução ou decomposição pelos fluí- condições favoráveis, ele pode ser recoberto por
I
dos teciduais 164 • um novo tecido cem entá rio 19 • Reimplantando
Segundo as especificações nº 30 da ANSI/ dentes de macacos, retrobturados com diferen-
ADA 19 , um cimento pode perder até 1,5%, em tes materiais dentre eles o cimento de óxido d e ··
peso, após imersão por 24 horas em água desti - zinco e eugenol, IRM e Super EBA, Pitt-Ford et ~
lada. A desintegração do cimento Super EBA, à al.353 não verificaram nenhum sinal de dissolu-
base de óxido de zinco e eugenol, tem sido re- ção do material por células fagocitárias . Análise
gistrado variar de 0 % a 0, 2% 19 • Dos res ultados efetuada por Bernabé et al.58, após retrobtura- ·i
relatados por Torabinejad et al.446 , tanto o Super ções em dentes de cães com cimentos compos-
EBA como o MTA não m ostraram sinais de so- tos de óxido de zinco e eugenol, demonstraram
lubilização, após 21 dias em água, diferente do total ausência de sua solubilização. No e ntanto
que ocorreu com o IRM. Segundo Arnold et os espécimes retrobturados só com o cimento
al. 19 , quando da colocação dos m ateriais retrob- de OZE, evid enciaram sobre a sua superfície
turadores, a desintegração pode ser influenciada grande quantidade de células gigantes, e em al-
pelas alterações do pH e osmolaridade do am- guns espécimes, uma m aior quantidade de ma-
biente, p elo tempo decorrido após a sua espatu - terial dentro dos ma crófagos, quando compara-
lação e subseqüente contato com os fluído s tis - das com os outros cim entos à base de OZE, tais
sulares. Os autores afirmam que esses fluídos e como o IRM ou Super EBA.
os tecidos periapicais apresentam-se, fisiologica- Bernabé et al.58, realizou um estudo histopa-
mente, alterados. Mesmo na ausência de abs- tológico em dentes de cães com lesões periapicais
cesso, o material retrobturador ficará exposto, (dados n ão publicados) onde avaliaram os resul-
por um determinado período de tempo, num tados obtidos após retrobturações efetuadas com
m eio cujo pH é ácido, devido o estágio da infla- o IRM, Super EBA, cimento de OZE e o MTA.
mação aguda, que prece de a reparação. Arnold As retrocavidades foram executadas com brocas
et al. 19 relatam que o contato inicial do material e após período experimental de 180 dias, a aná-
com o coágulo sangüíneo ou a umidade pode lise estatística evidenciou que o MTA, o IRM (Fi-
t er efeito adverso sobre a solubilidade do mate - gura 16.126) e o Super EBA (Figura 16.127)
rial. Segundo esses autores, os cim entos imersos apresentaram resultados semelhantes, não apre -
em água, 10 minutos após a mistura, apr esen - sentando diferenças estatísticas significa ntes en-
tam um altíssim o gra u de infiltração quando tre eles, m as significantes em relação àqueles re-
CIRURGIA PAREN DODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENTÍFICO

sultados apresentados pelo cimento de OZE con- considerar que, Pitt-Ford et al. 353 retrobturaram
sistente. Os autores acreditam que as diferenças dentes de macacos, com vários materiais retrob-
de resultados observadas entre os grupos do IRM turadores, dentre eles o IRM associado com ras-
e Super EBA em relação ao grupo do cimento de pas de dentina humana desmineralizadas. Nota-
OZE consistente, poderiam ser atribuídas à in- ram que, nas proximidades desse material, havia
tensa presença de detritos dentinários, detecta - poucas células inflamatórias, estando elas confi-
dos neste último grupo sendo inclusive estatisti- nadas numa pequena área, onde essas raspas já
camente significante, em relação aos demais. Já haviam sido reabsorvidas. Os achados demons-
discutiu -se os efeitos danosos, quando da pre- traram que não havia diferenças estatisticamente
sença desses detritos no interior das retrocavida- significantes, comparando-se as ocorrências his-
des, perturbando o próprio selamento marginal topatológicas entre o IRM, associado a essas ras-
do material e consequentemente a reparação. pas de dentina, com o Super EBA, o Cavit ou só
Muito provavelmente este seja o principal fator o IRM, sem raspas de dentina . Há de se conside-
responsável pelas diferenças entre eles, conside- rar que essas raspas não estavam conta1ninadas,
rando -se que os detritos muitas vezes estão asso- fato que difere do que comumente acontece
ciados à contaminação, ainda mais se levando quando do preparo das retrocavidades cujas pa-
em conta que esse estudo foi efetuado em canais redes dos canais (túbulos dentinários) geralmen-
radiculares contaminados. No entanto, há de se te se apresentam contaminados.

' 1

v .,_,"f·
.. • -. 1
... -- ·- .. l

• - -'=·-~~1.~-126 _--
Obturação retrógrada convencional com o cimento
IRM. Retrocovidade realizada com broca. Neofo1mação
ósseo preenchendo todo a loio cirúrgico e reparação dos
áreas reabsorvidos por novo tecido cementório, isento de
_ _JI_G. _16,127
processo inflamatório. H.E. 40X
Obturação retrógrada convencional com o cimento
Super EBA. Retrocovidade realizada com broca. Reparo
semelhante ao do figuro anterio,: Now-se fina cápsula
i'
t fibrosa inte,posto entre o material retrobturador e o teci-
do ósseo e ausência de infiltrado inflamatório. 40X
,,1
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Resultados histopatológicos obtidos com os caso apresentou células inflamatórias do tipo <;
't

cimentos IRM e Super EBA, semelhantes aos agudo. No entanto, as do tipo crônico ocorreram :-;,,
obtidos por Bernabé et al. 58, foram demonstrados ocasionalmente e, mesmo assim, pouco concen- i\
por Trope et al. 46 5. Os a utores após prepararem tr_adaus, sem perturbda rem o P:º_cesso dbe _repadra- {
retrocavidad es em dentes de cães e retrobturá-las çao. m novo teo o cementano reco na to as J
com vários materiais constataram, após 180 dias, as superfícies dentinárias seccionadas. Em conta-
que os melhores resultados foram obtidos com to com o IRM, havia um denso feixe de fibras
o Super EBA e o IRM, comparalivamente com o colágenas, caracterizando um encapsulamento,
amálgama de prata, ionômero de vidro e resina cujas fibras corriam paralelamente à superfície
composta. O cimento Super EBA foi o que apre- do material. Segundo os autores, os resultados
sentou os melhores resultados histopatológicos, apresentados pelos espécimes retrobturados com
sendo estatisticamente diferente dos outros ma- o amálgama de prata, foram exatamente idênti -
teriais. No entanto, quando comparado com o cos aos apresentados pelo IRM. Contrariamente
IRM, essa diferença não foi estatisticamente sig- ao que se tem noticiado, os autores relatam que,
nificante, embora os espécimes do Super EBA aparentemente, a presença do eugenol e outros
tenham exibido o menor número de células in- componentes químicos com potenciais irritantes,
flamatórias. presentes no cimento IRM, não foram fatores
Em dois estudos idênticos, Pitt- Ford et significantes para alterar o processo de cicatriza- r
ai. 35 1•152 estudaram os efeitos do reimplante de ção, nos períodos iniciais. Esses resultados tam-
molares inferiores de dentes de macacos, após bém contrariam aqueles verificados em estudos
submetê -los a retrobturações ou com o IRM ou in vitro, que demonstram um certo grau de cito- i
com o Super EBA. Concluíram que os eventos toxicidade do IRM, em avaliações em curto pra - :
histopatológicos exibidos pelo Super EBA foram zo2,1.4so.
I
claramente similares aos do IRM e que as respos- Trope et al. 465 analisando o comportamento
tas b iológicas foram significativamente melhores, dos tecidos periapicais de dentes de cães, subme- .
menos severas e menos exten sas do que com o tidos à obturações re trógradas, demonstraram a ,·
amálgama de prata. Procedimento semelhante presen ça de uma linha basófila, em íntimo con- /
foi realizado por Pitt-Ford et al. 3 54, reimplantando tato com o Super EBA. Relataram que esse fato
dentes de macacos retrobturados com os cimen - poderia ser interpretado como uma possível rea-
tos IRM ou OZE, associados com a gu ta -p ercha. bsorção do material, na junção com o tecido, ·1
Após oito semanas, os resultados exibidos de- embora não tenham relatado presen ça de macró-
monstraram que ambos, nessa situação, aprese n- fagos na área, fagocitando o material. Acreditam
ta ram excelente comportamento, superiores ao ainda, que esse achado histológico possa até ser a
amálgama de prata. O IRM tamb ém foi o mate- primeira indicação da forma ção de tecido duro,
rial utilizado por Dean et al. 104 para obturar perfu- no caso cem ento, ·que estaria sendo depositado
rações radiculares realizadas em dentes de cães, sobre o material. Segundo esses autores, uma li-
associado ou não à utilização de m embrana s de nha basófila similar já havia sido descrita por
regeneração tecidu al. Os espécimes, que foram Schroder & Granath 379 , em casos de cap eamento
avaliados após 24 sema nas, exibiram pequenas com o hidróxido de cálcio, como sendo um sin al
áreas de infil trado infla matório adjacentes ao histológico do início da formação de tecido duro.
material. No entanto, isso não foi m otivo para Os exames histopatológicos realizados por Ber-
perturbar a formação de novo tecido ósseo. Após nabé et al. 58 nos espécimes retrobturados com o
confeccionarem retrocavidades, utilizando bro- Super EBA não revelaram, em nenhum momen -
cas redondas com auxílio de micro contra-ângu- to, nada que se assemelhasse com essa linha b a -
lo, Harrison & Johnson 167 retrobturaram-nas s ó fila .
com o cimento IRM ou amálgama de prata . Suas Bernabé38 e Bernabé et al.58 têm atribuído os
observações foram realizadas 1O e 4 5 dias após bons resultados com o cimento de OZE consis-
execução do experimento. Os espécimes com 4 5 tente, dentre outros fatores, à proporção pó-lí-
dias já demonstravam acentuado reparo dento quido utilizado. Daí o a utor indicar n as retrobtu-
a lveolar e reparo ósseo significativo . O infiltrado rações, conforme já discutido, uma ma ssa bas-
inflamatório foi considerado p equeno, inclusive tante espessa, consistente, praticamente impossí-
au sente em grande núme ro de casos. Ne nhum vel de ser utilizada nas obturações de canais radi-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
-~--··-··- ··--------
......

culares pelos métodos convencionais. Vale ressal- contato com os fluídos ocorre. inicialmente, uma
tar que a proporção pó-líquido utilizada no estu- rápida e intensa liberação de eugenol, conforme
do conduzido por Bernabé et al.58, com relação os relatos de Hume22 1.223 , decrescendo assim que
aos cimentos IRM e o Super EBA, atenderam as o material endurece. Olsen et al.327 relatam ainda
especificações dos fabricantes . Portanto nada foi que a formação de um tecido fibroso, agindo
feito para que os mesmos pudessem ficar mais como uma barreira estabilizadora, mantendo
espessos ou mais consistentes, como aconteceu uma zona tampão, reduziriam a toxicidade que
com o cimento de OZE consistente. Isto poderia existe inicialmente. após emprego de cimentos à
até ser desnecessário, considerando-se os relatos base de OZE. As respostas inflamatórias ao Super
de Fitzpatrick & Steiman 134 , quando lembram EBA, nos períodos iniciais, atribuem-nas ao áci-
que o Super EBA é um cimento de OZE reforça- do orto-etoxibenzóico ou algum de seus compo-
do pelo óxido de alurrúnio (alumina) e que tam- nentes.
bém contém o ácido orto-etoxibenzóico. Segun- Do mesmo modo, Torabinejad et al. 450 acredi-
do eles, a adição desse ácido ajudaria reduzir a tam que a toxicidade dos cimentos à base de
quantidade de eugenol utilizado, tornando-o OZE, Super EBA e IRM, podem ser devido à pre-
mais tolerado quando em contato com os tecidos sença do eugenol livre na massa de sses compos-
periapicais. Chong et al. 90 também estudando o tos. Puderam verificar que, contrariamente ao
comportamento de cimentos à base de OZE, afir- ocorrido com o Super EBA, as amostras do IRM
mam que o eugenol, presente no IRM, sendo um endurecido foram mais citotóxicas, quando em
composto orgânico, poderia ter afinidade com o contato com células cultivadas em placas de Pe-
polimetilmetacrilato, um dos componentes desse tri, do que as amostras frescas ou recentemente
material, com isso, limitando a sua liberação. preparadas. No caso do Super EBA, notaram que
Acreditam também que a citotoxicidade dos ci- as amostras do cimento já endurecidas foram
mentos Super EBA e IRM estaria relacionada menos tóxicas do que as amostras recentemente
A com a presença do eugenol em suas formulações. preparadas. Atribuem essas diferenças à possível
; Implantando tubos de polietileno, preenchidos desintegração do cimento IRM, com liberação do
com o amálgama de prata, IRM e Super EBA, em eugenol de seu interior. Ainda nesse mesmo es-
tíbias de ratos, Olsen et al. 327 puderam atestar tudo, a toxicidade foi observada comparando-se
que, nos períodos iniciais de observação, as res- a lise celular através da liberação do cromo ra-
postas inflamatórias foram mais intensas, mas dioativo. Os dados dessa liberação mostraram
I passados os 100 dias de pós-operatório, o reparo que a toxicidade variava de suave a moderada,
ósseo se processou adequadamente. Notaram, comparando-se as amostras endurecidas ou re-
em alguns espécimes retrobturados com o IRM, centemente preparadas, após 4 horas de incuba-
. , que o tecido ósseo foi depositado em contato di- ção. No entanto, após 24 horas de incubação, o
reto com o material. Na opinião dos autores, a grau de citotoxicidade decresceu, sendo o me-
diminuição da resposta inflamatória, tanto com o lhor resultado obtido com o MTA, seguido pelo
IRM quanto o Super EBA, deveu-se a um pro- amálgama de prata, o Super EBA e o IRM. O
cesso químico, onde o eugenol livre (um com- IRM foi o mais tóxico, quer endurecido ou re-
posto fenólico) ou o ácido etoxibenzóico foram centemente preparado. Esses resultados corrobo-
seqüestrados pelo soro e proteínas extracelula- ram os de Bruce et al.79, os quais verificaram que
res. Fujiwasa & Masuhara 143 já haviam demons- os cimentos retrobturadores, dentre eles o Super
trado uma grande afinidade desses compostos EBA, quando expostos a determinados tipos de
com o soro bovino, em comparação com outros culturas de células, in vitro, tinham sua toxicida-
compostos orgânicos. Esta ligação seria uma in - de diminuída com o tempo.
teração eletrostática do ácido orto-etoxibenzóico Como esses, a toxicidade in vitro desses ma-
e do eugenol com grupos catiônicos ou aniônicos teriais retrobturadores tem sido investigado por
da proteína albumina. Acreditam que o perigo vários outros pesquisadores. Assim é que através
.t~ · representado pela liberação prolongada do euge- de estudos sobre células HeLa, Spângberg416 ana-
) nol, nos tecidos, diminui em função desse tipo
de ligação, associado com a limpeza do local,
lisou o efeito citotóxico de alguns deles, verifi-
cando que amostras frescas ou recentemente
provocada pelo fluxo sangüíneo. Quando prepa- preparadas do IRM produziam lise total dessas
rações recentes de cimento de OZE entram em células. Ao contrário, quando testou amostras
CIÊN CIA ENDODÔNTICA

'i
que haviam tomado presa desde 1 a 4 semanas, Ainda dentro deste contexto, os materiais ,; ·;
essa toxicidade decresceu significativamente. Re- retrobturadores também têm sido examinados ·-
sultado semelhante foi obtido por Wennberg & através de implantes efetuados em tecido con- ~~
Hasselgren477 demonstrando que a citotoxicidade juntivo subcutâneo ou tecido ósseo de pequenos I·, ,
do IRM e o OZE decresce com o passar do tem- 65
animais. Assim é que Blackman et al. implan- 1"
po. Bruce et al. 79 analisan do os efeitos do Super ~ tando o IRM em tecido ósseo e conjuntivo sub-
EBA desde 24 horas até 30 dias, sobre culturas cutâneo de rato, observaram aos 80 dias presen-
de células de rim de macacos, observaram que a ça de uma pequena fibrose junto aos tecidos ao
toxicidade ao material diminuiu a partir dos sete redor do material. Em 1990, Mcarre & Ellender 38
dias de incubação, m antendo-se assim até o final comparando a biocompatibilidade do Super EBA
do experimento. Tronstad & Wennberg463 , verifi- e do cimento de OZE após implantes por 100
caram que amostras de cimento de OZE pastoso dias em tecido conjuntivo subcutâneo de ratos,
ou consistente foram m oderadamente tóxicas. observaram presença de uma resposta inflamat.ó-
Em 1994, Chong et al. 90 determinaram os efeitos ria moderada. Na seqüência eles foram encapsu-
do IRM e do Super EBA sobre culturas de célu- lados por um tecido conjuntivo fibroso. Implan-
las, in vitro, utilizando amostras recentemente tando o IRM em mandibulc;is 'de porco pelo perío-
preparadas ou envelhecidas, após serem estoca- do de 4 e 12 semanas, Bhambhani & Bolanos62
das, por 72 horas, em água destilada. As amos- notaram formação de uma fina cápsula fibrosa, ,
tras do IRM, recentemente manipuladas, foram em cujo interior a inflamação estava ausente ou
as mais tóxicas, sendo e statisticamente signifi- se apresentava muito pequena. Olsen et al. 327
cante em relação a todos os outros materiais tes- avaliaram a reação do tecido ósseo da tíbia de ,
tados, com exceção do Kalzinol. O Super EBA, ratos ao implante de tubos de teflon contendo o I
envelhecido, que demonstro u resposta seme- IRM e o Super EBA, após períodos entre 7 e 100
lhante ao ionômero de vidro, segundo os auto- dias. Decorridos 56 dias notaram completo repa- '
res, é recomendado como material retrobturador ro ao redor dos tubos que continham o IRM. Ao
al.
por causar baixa toxicida de . Torabinejad et 450, redor dos tubos preenchidos com o Super EBA,
utilizando culturas de células de ratos, determi- observaram presença de uma inflamação mode- ~
naram, in vitro, a toxicidade do amálgama de rada. No entanto, quando passados os 100 dias,
prata, IRM, Super EBA e o MTA, utilizando ao redor dos tubos contendo o Super EBA, ob-
amostras frescas ou endurecidas. Observaram servaram presença de reparo completo. Segundo ·1
que amostras do MTA, recém preparadas ou já os autores, a biocompatibílidade demonstrada
endurecidas, foram menos tóxicas do que as do frente ao IRM e Super EBA, reforçam a necessi-
Super EBA e o IRM. No en tanto, amostras pre- dade da substituição do amalgama de prata por
paradas recenteme n te do Super EBA m ostra- ambos os materiais estudados. Torabinejad et
ram -se menos irritantes do que as do IRM, nas al. 111 implantaram ·tubos de teflon em mandíbu-
mesmas condições . Ain da, através do método las de porcos, contendo em seu interior o Super
da liberação de crom o radioativo, dependente EBA e o MTA. Os resultados analisados dois me-
do grau de toxicidad e do material, puderam ve- ses após permitiram concluir que ambos são bio-
rificar que as amostras recentemente prepara- compatíveis, apesar dos resultados histopatológi-
das são mais tóxicas do que as endurecidas. cos com o MTA serem ligeiramente superiores ao
Após 24 horas de incubação, ela decresceu, sen - Super EBA. Em 1997, Tassery et al. 435 realizaram
do o melhor resultado obtido com o MTA, e o implantes intra-ósseos do Super EBA e o Vitre-
pior com o IRM. Osório et al. 330 , utilizando cul- mer em coelhos. No período mais longo, de 12
tura de fibroblastos de gengiva humana, deter- semanas, os resultados demon straram que os re-
minaram os efeitos citotóxicos do Super EBA, sultados histopatológicos entre ambos foram se-
CRCS e do MTA, dentre outros materiais. Os melhantes. Pertot et al. 344 realizaram estudo se -
resultados demonstraram que o MTA não apre- melhante, implantando o Super EBA em tecido
sentava sinais de irrita ção, sendo que o Super ósseo de coelhos, comparando-o com o ionôme-
EBA exibiu altos níveis de toxicidade. Baseado ro de vidro. Puderam observar que o Super EBA
em seus resultados os a u tores concluíram que o possuía excelente comportamento biológico, ve-
MTA e o CRCS foram os materiais retrobturado- rificando que um tecido conjuntivo fibroso e es-
res menos irritantes. pesso freqüentemente interpunha-se entre o
~:: ~:-~:~~:d~s ~:~:~~~~~a=~~~:::~~~BSA
:~e:_:~:C:~N::~~O~
implantando o IRM em tecido conjuntivo sub-
cutâneo d e ratos observou que ele praticamen-
ocorridos n ão determinaram diferença s es tatis-
ticamente significantes. Freqü e ntemente, foi
te não despertava nenhuma inflama ção ou observado tecido conjuntivo fibroso, em íntimo
apenas uma suave inflamação após 90 dias de contato com esses dois últimos materiais.
observaçã o. Em 1998, St einbrunner et al.4 19 de - O selamento marginal proporcionado pelo
terminaram a biocompatibilidade e o potencial material retrobturador também tem importância
osteogênico do Super EBA, após implantes, em em função de sua habilidade de impedir ou não
tecido conjuntivo subcutâneo de ratos. As rea - o contato do interior do canal radicular contami-
ções estudadas microscopicarnente após 15, 30 nado com os tecidos periapicais. Bernabé et al.49
e 60 dias demonstraram que o Super EBA era realizaram um trabalho in vitro para avaliar o se-
bem tolerad o pelos t ecidos, mas destituído de lamento marginal proporcionado por cinco ma -
poder osteogênico ou de estimular calcificação teriais retrobturadores, MTA, IRM, Super EBA,
distrófica. Nesse mesmo ano, Torabinejad et Ionôm ero de Vidro e Amálgama de Prata com
a/. 4 52 realizaram, em mandíbulas e tíbias de por- verniz (Copalite) em retrocavidades preparadas
cos, implantes intra-ósseos d e tubos de teflon em dentes humanos. Os espécimes foram mer-
preenchidos com o MTA, Super EBA, IRM e gulh ados em azul de metileno a 2 % e submeti-
amálgama de prata. Os implantes, nas mandí- dos a vácuo durante quinze minutos, permane-
bulas, foram efetuados 10 dias após terem sido cendo por mais 24 horas no corante. A análise
realizados os implantes na tíbia, e os animais dos resultados mostrou diferença significante en-
sacrificados 80 dias depois . De todos eles, o tre os materiais, sendo que o MTA (Figura
MTA foi o que apresentou os resultados mais 16.128) aprese nLou o menor índice de infiltra-
favoráveis . Em ambos tipos de implantes, o ção. O Ionôm ero de Vidro (Figura 16.129), o
MTA foi o único que não apresentou infiltrado Amálgama de Prata (Figura 16.130) e o Super
,,; inflamatório nos tecidos adjacentes ao material, EBA (Figura 16.13 1) apresentaram resultados
inclusive mostrando, em vários esp écimes, que semelhantes entre si e o IRM mostrou o maior
o tecido ósseo estava em íntimo contato com índice de infiltraçã o (Figura 16.132) .

• __fl(,;.J~.1:rn . • FmG. 16.129 ..

Obturação retrógrado convendonol com o MTA. Obturação retrógrada conven cional com o
Avaliação do selamento marginal através da infiltração ionômero de vidro. Avaliação do selamento morg,iwl
do corante azul de metileno. !OOX através do infiltração do corante azul de metileno. !OOX
)
CIÊNCIA ENDODÓNTICA
·---·-·-·----------·-··----···- ··-·-··-··----·--------------------------~---··--·- ------------------1
·;

• RG. 16.110
Obturação r etrógrada convencional com o
amálgama de prata. Avaliação do selamento marginal
através da infiltração do corante azul de metileno. 100X

• FIG._ 16.131 ___ . --- ------- ··-··--·····------· ···-·- ..........


Obturação retrógrada convencional com o cimento
Super EBA. Avaliação do selomento marginal através do
infiltração do corante azul de metileno. roox

• _FIG. _16.132 -----·-·-···-·-·---- ---··-·········--··--·- --- ---···--


Obturação retrógrado convenciono/ com o cimento
IRM. Avaliação do selamento marginal através da infil-
tração do corante azul de metileno. 100X

Com o m esm o objetivo de avaliar o sela- ram os índices de infiltração marginal, tanto no
mento m argin al de materiais r etrob tu radores, sentido coronário com o apical, depois de 24 se-
Bondra et al. 69 verificaram que a penetração de manas. Observaram que os níveis de infiltração
corantes na interface material/parede den tinária, nos espécimes do grupo do IRM e ionômero de
após o emprego do cimento IRM e o Super EBA, vidro foram sem elhantes entre si e su periores ao
era significativam ente men or do que o verificado amálga m a de prata nos períodos iniciais. Período
com o amálgam a de prata, sendo que entre am - de observação m aior revelou qu e as diferen ças
bos não h avia diferenças. Dados semelhantes fo- não existiram entre eles. Entretanto, estudos
ram obtidos p or Higa et al. 177 , qu e também verifi - conduzidos p or Thirawat & Edmunds438 avalian -
ca ram a superioridade do IRM e do Super EBA, do a habilidade seladora de vários materiais re-
em relação ao amálgama de prata, o m esm o trobturadores, observaram que o Super EBA
acontecendo nos estudos in vitro, realizado por teve pior comportamento do que os cimentos de
Sm ee et al.4 0 4. Num estudo onde u tilizo u vários ionômero de vidro, resina composta m ais agente
m a teriais retrobturadores, Inou e et al.228 avalia- de união o u somente de agentes de união. Re-
CIRURGIA PAR ENOODÔNTICA: C O MO P RATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

sullados contrários a este foram relatados por King et al. 2 38 , estudando o índice de infiltra-
King et al. rn demonstrando melhores resultados ção marginal do Super EBA comparado com o
com o emprego do Super EBA quando compara- ionômero de vidro e outros materiais retrobtura-
do com o ionômero de vidro e outros materiais dores, relatou um dado interessante. Além do
retrobturadores. bom selamento proporcionado pelo Super EBA,
Os estudos de Inoue et al.228 demonstraram verificou que esse material não tende a se deterio-
sobre a superfície do IRM, presença de cristais à rar num período de até três meses. Owadally &
semelhança de uma folhagem ou folhas de uma Pitt-Ford 336 , estuda ndo as propriedades físicas do
plan ta que poderiam sugerir uma possível solu - IRM e o Super EBA verificaram que mesmo co-
bilidade do malerial. Acreditam que, in vivo, a locados em contato com soro bovino, p elo perío-
circulação de fluídos ao redor das retrobtura- do de até 6 m eses, n ão mostraram sinais signifi-
ções apicais poderia solubilizar o IRM. Caso isso cativos de desintegra ção. No e ntanto quando
aconteça, provavelmente possam ser responsá- uma certa quantidade de hidroxiapatita era adi-
veis por irritações e interferir sobre o processo cionada ao IRM, ocorria desin tegração do mate-
de reparo. Essa ocorrência com o IRM também rial. Num estudo anLerior, Owadally et al. 115 tam-
foi observada por Fitzpatrick & Steiman' 34, que bém puderam estudar a habilidade seladora do
atribuíram esse fenômeno a um artefato de téc- IRM agregado ou não a hidroxiapatita, compa -
nica, ou seja, pelo fato do brunidor ter sido en- rando-os ao Super EBA, amálgama de prata e o
volto com o pó do próprio material, com o obje- Kalzinol. Observaram que, independentemente
tivo de evitar que ele aderisse ao instrumento. da porcentagem de h idroxiapatita acrescentada
Nos espécimes onde as superfícies do material ao IRM, não ocorreu diferença nos índices de
retrobturador foram brunidas com auxílio de infiltração en tre ele e o Super EBA. No entanto,
brocas, isso n ão ocorreu. Na opinião desse au - as médias de infiltrações foram menores com o
tor, o significado clínico desses cristais ainda é cimento só de IRM, comparativamente com o
' ;1 desconhecido. amálgama de prata e o Kalzinol.
Utilizando o marcador Rodamina B fluores- MacDonald et al. 278 , utilizando-se das técni-
cente, Torabinejad et al. 4 56 verificaram que as ca- cas· de infiltração de corantes e da filtração de
vidades apicais retrobturadas com o MTA foram fluídos, realizaram um estud o com alguns mare-
as que apresentaram as menores infiltrações riais indicados para retrobturações, entre eles o
comparadas com o amálgama de prata e o Super amálgama de prata e o cimento Super EBA. O
EBA. Entre esses dois últimos, foi ob servado grupo do Super EBA foi divid ido em dois grupos:
maiores índices de infiltração com o amálgama um utilizado no interior de cavidades apica is se-
de prata. cas e noutro em cavidades úmidas. Comparativa-
• 1
Szeremeta-Browar et al. 42 5 utilizaram auto- mente com o amálgama de prata, o Super EBA
radiografias para avaliar in vitro, a infiltração permitiu menores índices de infiltrações margi-
marginal após a realização de diferenLes proce- nais. Na avaliação dos autores, entre os dois gru-
dimentos sobre o ápice radicular. Num grupo o pos do Super EBA (cavidades secas ou úmidas),
preparo d e cavida des apicais foi realizado com não h ouve diferença estatisticamente significan-
broca carbide t ronco-cônica invertida n º 33 112 te, em qualquer período analisado. No entanto,
em alta rotação e retrob turadas com o amálga - em cavidades secas, considerando-se os períodos
ma de prata e Super EBA. Noutro grupo, os iniciais de avaliação, a média dessa infiltração
canais radiculares foram apenas obturados pela marginal foi substancialmente maior.
técnica da condensação lateral, ou submetidos à Ainda, MacDonald et al. 278 afirmam que a
apicectomia, sem preparo de cavidades. Esse es- águ a é essencial para acelerar a reação de endu-
tudo demon strou que a condensação lateral foi recimento dos cimentos à base de OZE . Em am-
a que produziu o melhor selamento comparado bos grupos, o cimento Super EBA após ser colo-
com as técnicas retrobturadoras, porém não cado nas retrocavidades, foram imediatamente
sendo esta tisticamenle significante em relação expostos a 100% de umidade. O seu Lempo de
ao Super EBA. Este sim foi superior, também do endurecimento, após a mistura, é de cerca de 7 a
ponto de vista estatístico, àqueles grupos que 8 minutos. Para os autores, parece improvável
tiveram os ápices radiculares apenas apicecto- que um tempo de endurecimento acelerado pu -
mizados. desse ter qualquer efeito sobre as infiltrações to-
t
CIÊNC IA ENDOOÓNTICA ',

madas 6 ou 24 horas após. A água, presente nas índices de infiltração marginal, foram superiores
cavidades, reduzindo a tensão superficial, pode nos espécimes do IRM, comparativamente com
·~
ter permitido melhor adaptação do Super EBA. os do Super EBA. Fitzpatrick & Steiman 134 fize-
Segundo MacDonald et al. 278, este fato poderia ram um estudo para avaliar, através da SEM, a
explicar porque as infiltrações marginais ocorri- adaptação do IRM e do Super EBA, em retrobtu-
das, nos períodos iniciais, teriam sido menores rações, utilizando no final da operação diferentes
no grupo cujas retrobturações foram realizadas técnicas d e acabamento sobre o material retrob-
em cavidades apicais úmidas. Mas não explica o turador. Os espécimes que receberam polimento
que pode ter acon tecido nos espécimes que tive- da superfície do material retrobt urador, realizado
ram suas infiltrações marginais reduzidas, signifi- após o endurecimento do material com brocas
cativamente, após um mês. Ainda segundo esses carbides especiais para polimento, foram os que
autores,· os espécimes com o Super EBA foram os apresentaram as melhores adaptações junto às
que apresentaram maiores quantidades de infiltra- paredes cavitárias, tanto nos espécimes retrobtu -
ções com padrão irregular. Acreditam que isto rados com o IRM como o Super EBA, não regis-
ocorra em função da hidrólise da matriz do cimen- trando entre ambos diferenças significantes. Os
to, resultando na sua desintegração ou fragmenta- espécimes que sofreram brunimento com instru -
ção, provocando assim, maior acúmulo de detri- mentos, ou com bolinhas de algodão úmidas, fo-
tos e conseqüentemente facilidade para a infil- ram os que apresentaram as adaptações mais ir-
tração. Entretanto, relatam que no início é nor- regulares . Recentemente, Forte et al. 139 avaliaram
mal o Super EBA apresentar um mínimo de in- a capacidade seladora do Super EBA, realizando
filtração marginal, que decresce após 7 dias, esse acabamento sobre a superfície do material
mantendo-se assim, relativamente constante. retrobturador, com o emprego de brocas ou en-
Vale registrar também que o efetivo sela- tão um brunimento final, utilizando para isso
mento marginal proporcionada pelo Super EBA um instrumento apropriado (brunidor arredon -
foi demonstrado em uma série de outros estudos dado). As superfícies das retrobturações que re-
como os de Saunders et al. 375; O'Connor et al. 3 22; ceberam um acabamento final com broca apre-
Biggs et al.63; Reeh & Combe 360 ; Bohsali et al.68 ; sentaram nos períodos iniciais, infiltração margi- /
Chailertvanitkul et al. 89 , e Gagliani et al. 146 • nal significativamente maior do que quando a
Através da microscopia eletrônica de varre- superfície só brunida. No entanto, essa diferença
dura (SEM), Bramante et al.7 8 , puderam verificar desapareceu quanto maior era o período de ob-
que o cimento de N-Rickert e o Super EBA foram servação. Inoue et al. 228 , através da microscopia
os materiais retrobturadores que apresenta- eletrônica de varredura, avaliaram a adaptação
ram as melhores adaptações j unto às paredes ca- de vários materiais retrobturadores, dentre eles o
vitária apicais. O óxido de zinco e eugenol con- IRM. Os exames efetuados detectaram falhas na
sistente, o IRM e o amálgama de prata apresen- adaptação de todos os materiais junto às paredes
taram adaptação ligeiramente superior às apre- dentinárias, cujos espaços variaram de 5 a 10
sentadas pela guta-percha e o ionômero de vi- micrômetros.
dro, mas exibiram uma superfície muito irregu- Oynick & Oynick 337 que foram os pioneiros
lar. Os autores notaram que, nos espécimes re- na utilização do Super EBA nas obturações retró-
trobturados com o IRM não foi possível observar gradas, realizaram dezenas de tratamentos clíni-
adaptação marginal completa. Bernardinelli 60 , cos, e puderam constatar, através de exames ra-
avaliando os desajustes de vários materiais retrob- diográficos, que o mesmo apresentava excelente
turadores, pôde verificar que o cimento Super comportamento, superior ao obtido com o amál-
EBA foi o t erceiro melhor material a se adaptar gama de prata. Esses resultados, ínclusive, foram
às paredes cavitárias, sendo superior ao cimento atestados através de uma análise feita com auxí-
de ionômero de vidro. Abdal et al. 1 por sua vez, lio da microscopia eletrônica de varredura e ava-
observaram índice zero de desaj u ste e infiltração liação histopatológica. Outros estudos clínicos/
bastante reduzida com o ionômero de vidro, sen- radiográficos foram realizados, como os de Dorn
do esses dados significativamente superiores aos & Gartner 107 para verificar a porcentagem de su-
do cimento Super EBA e IRM, em relação a am- cesso alcançada após obturações retrógradas con-
bos aspectos avaliados. Contu do, constataram vencionais realizadas com o IRM, Super EBA e o
que os desajustes na adaptação, assim como os amálgama de prata. Foram analisados mais de
CIRURGIA PARENOODÓNT!CA: COMO PRATICÁ-LA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO

488 casos, com até 1 O anos de proservação. comércio, foram o CRCS e o Sealapex, estes na
Constataram que a porcentagem de sucesso al- década de oitenta. Seguira m-se depois os cimen-
cançado com o Super EBA foi ao redor de 95% e tos Sealer 26 e o Apexit. Esses materiais foram
com o IRM de 91 %, bem superiores aos 75% de objetos de urna série de tra balhos experimentais,
sucesso alcançado pelo amálgama de prata. Ba- que analisaram tanto suas propriedades físicas
seado em seus achados, puderam concluir que quanto biológicas 70,93 , i 3 u 99 .213,220. Um dos mais es-
tanto o IRM como o Super EBA apresentam con- tudados, sem dúvida, é o cim ento Sealapex, que
dições favoráveis para serem utilizados como tem mostrado ter a propriedade de estimular o
materiais seladores apicais. Pantschev er a/. 339 selamento biológico 213 , bem como evidenciar ser
analisaram mais de 100 pacientes que foram um bom selador marginal, igualando-se ou mes-
submetidos a tratamento cirúrgico, cujos dentes mo superando outros conhecidos cimentos obtu-
receberam o Super EBA ou o amálgama de prata radores220,26s.
como materiais retrobturadores. Os resultados da Em 1985, Holland & Souza 21 3, efetuaram um
avaliação clínico/radiográfica demonstraram que estudo pioneiro em dentes de cães e macacos
o sucesso alcançado com o Super EBA era ao com intenção de verilicar a capacidade do ci -
redor de 56% e, com o amálgama de prata mento Sealapex para induzir a formação de te-
51, 9%, sendo que, entre eles, não havia diferen- cido duro . Após 180 dias, observaram que o
ças estatisticamente significantes. Bogaerts67 tam- mesmo induziu a deposição de tecido minerali-
bém relatou excelentes resultados clínicos após o zado em nível apical, em 33 ,30% dos casos com
emprego do Super EBA, em casos de trepanações sobre-instrumentação e 70<Yo dos espécimes onde
radiculares, ocorridas durante o tratamento en- o limite de manipulação e obturação foi o CDC.
dodôntico. Wiscovitch & Wiscovitch479 descreve- Notaram que quando o m aterial obturador esta-
ram uma técnica de retrobturação onde o mate- va confinado no interior do canal radicular, não
rial escolhido foi o Super EBA, cujos resultados havia reação inflamatória do ligamento perio-
' Á demonstraram que ele é um material bastante dontal, evidenciando assim sua boa tolerância
promissor. tecidual.
· Esses dados também fo ram comprovados por
4. Cimento Sealapex consistente Silva 395 que estudando a biocompatibilidade dos
cimentos à base de hidróxido de cálcio, observou
Como já observado anteriormente, na práti - que o Sealapex foi aqu ele qu e melhor permitiu a
I ca, grande parte dos profissionais, na verdade, deposição de tecido mineralizado, sendo o único
uti1izam nas re trobturações os mesmos cimentos a apresentar selamento completo do ápice radi-
empregados nos tratamentos endodônticos con- cular em 37,5% dos ca sos. Por sua vez, Tagger &
• 1
vencionais, sendo a maioria deles à base do óxi- Tagger4 2 7, utilizando den tes de macacos, em con - ·
do de zinco e eugenol. No entanto, considerando dições experimentais semelhantes, observaram
essa linha de pensamento, entende-se a necessi- que com o Sealapex ocorreu selamento apical
dade de se lançar mão de um cimento obturador completo em 50% dos ca sos, como também no-
que tenha a propriedade de ser biologicamente taram ausência de infiltrado inflamatório no liga-
ativo. Dentro desse universo, incluí-se os cimen- mento periodontal, na região do forame apical.
tos à base de hidróxido de cálcio, que foram de- Especificamente p ara o cimento Sealapex,
senvolvidos devido às dificuldades e às próprias alguns trabalhos têm demonstrado que ele pro-
limitações que o hidróxido de cálcio apresentava duz um selamento marginal superior aos ci-
quanto às suas propriedades físicas para ser con - mentos à base de óxid o de zinco e euge-
siderado um material obturador permanente. Es - noF18L256·28º e aos cimen tos resinosos 268 • Prova-
ses cimentos têm sido relativamente bem estuda- velmente a melhor qualid ade seladora do Seala-
dos e os resultados apresentados tem estimulado pex ocorra em funçã o do fato de que ele possui
sua indicação, principalmente pelos excelentes óxido de cálcio em su a formulaçã o . Em contato
resultados biológicos até então apresentados, com a umidade, o óxido de cálcio reage com a
1
sendo considerados superiores aos cimentos à água dando origem a o hidróxido de cálcio .
/
base de óxido de zinco e eugenol. Como essa reação determ ina um aumento de
Os primeiros cimentos à base de hidróxido volume 8 1, isso ajudaria a m elhor adaptação do
de cálcio para a obturação de canal, lançados no material às paredes do can al.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Além disso, Guigand et al. 161 apontam mais de incubação, a s leituras evidenciaram maior ati-
uma vantagem do óxido de cálcio. Segundo os vidade antimicrobiana para os cimentos à base
autores, ele parece promover uma transformação de óxido de zinco e eugenol, quando comparada
ultra-estrutural na matriz dentinária não mine- aos cimentos que contém o h idróx ido de cálcio.
ralizada. Assim, nas superfícies dentinárias do No entanto, Canalda & Pumarola84 comparando
canal radicular não toca das pela instrumentação, o comportamento de cimentos à base de h idróxi-
o óxido de cálcio eliminaria a matriz extracelu - do de cálcio (C.R.C.S. e Sealapex) com alguns
lar, reduzindo ao mínimo a interface denti na - cimentos à base de óxido de zinco e eugenol
material obturador, produzindo um selamento (Tubliseal e Endomethasone) ou de resina (AH
mais eficiente. As observações dos autores mos- 26), frente a algumas espécies bacterian as obser-
tram a penetração no interior dos túbulos denti- varam que os halos de inibição por eles provoca-
nários de uma substância mineralizada nos den - dos foram similares.
tes obturados com óxido de cálcio, enquanto Convém ressaltar, contudo, que os testes na
que, nos dentes obturados com hidróxido de cál - maioria das vezes são efetuados através do con-
cio, esta penetração não ocorreu. tato direto dos corpos de prova com as bactérias
Outros trabalhos na literatura têm demons- semea das n o meio de cultura. Além disso, os pe-
trado a efetividade seladora do Sealapex compa- ríodos de incubação sempre são pequenos. Sabe-
rando-o com outros cimentos a base de hidróxi- se que, nos cimentos à base de óxido de zinco e
do de cálcio como o Sealer 26 e o Sealer 26 eugenol, a atividade antibacteriana é exercida
modificado, embora, de um modo geral, possa p rincipalmente pelo líqüido 323 . Sabe-se também
dizer-se que esses cimentos são bons seladores que, após a esparula ção do óxido de zinco com o
marginais. Assim, Sacomani3 70 relata resultados eugenol, permanece um resídu o de eugenol li-
iguais quanto à eficiência seladora apical propor- vre . Assim, provavelmente a ação antib acteriana
cionada pelo Sealapex e Sealer 26 Modificado. Já do m aterial se inicie logo após a sua adaptação
Favinha 130 observou melhor vedamento apical na placa contendo o meio de cultura inoculado e
com o Sealapex do que com o Sealer 26 Modifi- persiste, de maneira efetiva, até a inativação to-
cado . Valera et al. 469 notaram infiltração marginal tal do eugen ol livre. /
igual entre o Sealapex e o Sealer 26. Há também Por outro lado, a atividade antimicrobian a
quem tenha observado melhor vedamento com dos materiais à base de hidróx ido de cálcio de-
o AH 26 do que com o Sealapex269A 00 , ou ao pende principalmente da a tuação dos íons hidro-
contrário, melhor selamente com o Sealapex do xila1 2r, z39,367 _ Como a ionização é lenta e prolon-
qu e com o AH 26 8 5•268 • Evidentemente, diferen- gada395A26A64, é de se esperar que o Sealapex te-
ças de m etodologia experimental devem ter con- nha uma suave ação inibitória inicial, porém per-
tribuído para essas aparentes divergências de re- sistente. Essa hipótese parece ter sido comprova-
sultados, os quais, no entanto, denunciam bom da por Panzarini et al: 34 0 que, tra tando dentes de
vedamento dos cimentos Sealapex, Sealer 26 cães com lesões periapica is crônicas in duzidas
Modificado, Sealer 26 e AH 26. experimen talmente, detectaram menor presença
Outra propriedade do Sealapex que poderia de bactérias nas ramificações apicais do canal nos
contribuir para a obten ção de bons resul tados casos em que o cimento obturador foi o Sealapex
seri a o seu potencial anti bacteriano, que atuaria do que n os casos onde se empregou o óxido de
n a inativação das bactérias que resistem ao pre- zinco e eugenol.
paro do canal radicular. A literatura, no entanto Confirma também a h ipótese anteri ormente
tem demonstrado que os cimentos à base de óxi- m en cionada o trabalho in vitro d e Shalhav et
do de zinco e eugenol produzem resultados mais al. 393 , que testaram a atividade antimicrobiana
significativos do qu e os cimentos à base de hi- dos cimentos de Roth, C.R.C.S. e Sealapex sobre
dróxido de cálcio . Tem sido demonstrado que os o Streptococcus faeca lis. A análise das curvas do
cim e ntos à base de óxido de zin co e eugenol crescimento bacteriano d emonstrou que, uma
produzem um bom h a lo de inibição do cresci- hora após o preparo, os cimentos de Roth e o
m ento ba cteriano 1º6 • 324 ·356 A 20 • Al-Khatib et al.8 C.R.C .S. apresenta ram um efeito antimicrobiano
também analisaram o potencial antib acteriano significativamente superior ao cimento Sealapex.
de vários cimentos obturadores frente a algumas Vinte e quatro horas após o preparo, o cimento à
espécies de bactérias. Depois de vários períodos base de óxido de zinco e eu genol (Roth) apre-
..,.... CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

1
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sentou atividade superior aos cimentos à base de riapical dificultaria a sobrevivência de muitas
hidróxido de cálcio (CRCS e Sealapex) . Contudo, bactéria s anaeróbias. Esta possibilidade foi expe-
sete dias após o preparo dos cimentos, o Seala- rimentalmente demonstrada por Kontakiotis et
pex proporcionou um efeito antibacteriano signi- al.24 ' , apó s verificarem que o número de bacté-
ficativamente superior aos outros dois cimentos rias anaeróbia s faculta tivas ou estritas foi signifi-
testados. Concluíram os au tores que a atividade cativamen te m enor após a incubação dos micror-
antim icrobiana dos cimentos se altera de acordo ganismos em câmaras contendo hidróxido de
com o intervalo de tempo compreendido entre a cálcio do que em câmaras que não continham
mistura de seus componentes e o período de essa substância.
contato com as b actérias. Algun s autores admitem , também, que os
O crescimento da atividade antibacteriana íons hidroxilas provenientes do hidróxido de cál-
do Sealap ex, com o passar do tempo, tamb ém foi cio, além de sua ativida de antibacterian a, esti-
constatado por Heling & Chandler 17 1_ Os testes mularia m a deposição d a fosfa t ase alcali -
foram efetuados em tubos de denti na de dentes na64·88,458,464. Sabe -se que esta enzima, encontrada
de boi, previamente contaminados com Strepto- em áreas de m inerali zação e com pH compreen-
coccus faecalis . Observou os autores que o cimento dido entre 8,6 a l0,}3º9 · 419 , é capaz de induzir a
apresentou maior atividade sete dias após a apli- precipitação de fosfato de cálcio na matriz orgâ-
cação do que após 24 hora s_ nica que, reagindo com os íon s cálcio, originaria
Confo rme m en ciona do, os produtos qu e os cristais de hidroxiapatita 383 •
contêm ou que formam o hidróxido de cálcio Por isso, se por um lado o íon hidroxila libe-
atuam eficazmente sobre as bactérias através dos rado pelo hidróxido de cálcio que se forma na
íons h idroxílas liberados na decomposição de sua reação do óxido de cálcio, um dos componentes
molécu la. Segundo Estrela 12 1, o elevado pH pro- do Sealapex, com a umidade, é importante na
vocado pelos íons liberados desempenha duas m odificação do ambiente p eriapical de dentes
' ~ propriedades enzim áticas importantes: a inativa- portadores de lesões periapicais crônicas não me-
I ção de enzimas bacterianas, com efeito antibac- nos importante é a participação do íon cálcio na
teriano e a ativação enzimática tecidual, com formação de tecido m ineralizado.
efeito mineralizador. Desta ca, ainda, o referido Alguns dos estudos efetuados têm demons-
au tor que, provavelmente, o mecanismo de ação trando que não foi detectado poder bactericida
dos íons hidroxila n o controle da atividade enzi- de parte do Sealapex e do Sealer 26 123 . Duarte et
mática bacteriana é explicado a partir da existên- al. 11 0 comparando o Sealer 26 com o Sealapex
cia de um gradiente de pH na membrana cito- observaram que o Sealer 26 possu ía poder bacte-
plasmática, o que alteraria o transporte de nutri- ricida, o que não foi notado com o Sealapex.
;
1
entes e compon entes orgânicos para o interior da Pumarola et ai. 355 notaram pouca ação bactericida
célula . de parte do Sealapex. Komakioti s et al. 243 infor-
Ainda sobre a atividade antibacteriana do mam que o poder bactericida do Sealapex é fra -
hidróxido de cálcio, deve-se acrescentar que essa co. Sigueira-Jr. & Gonçalves 199 observaram ex-
substân cia atuaria não só sobre bactérias, m a s tensas áreas de inibição de crescimento bacteria-
como também sobre as endotoxinas bacterianas. no com o Sealer 2 6, enquanto o Sealapex exibiu
Essa atuação gan ha importância, porque se tem baixa atividade.
admitido que essas sub stâncias têm participação Com relação ao Sealer 26, Otoboni-Filho
fundamental na síntese e na libera ção da citoci- (2002) relata que o AH 26, por sua vez anteces-
na, principal ativador da osteoclasia. Demons- sor do Sealer 26, libera formalde ído após tomar
trou-se ainda que o hidróxido de cálcio, através presa 264 . Na sua opinião, considerando a seme -
do íon hidroxila, tem a capacidade de produzir a lhança de formulação com o Sealer 26, pode-se
degradação das endotoxinas, com reflexos bené- admitir a mesma liberação . É provável que a
fico s ao tratamento efetuado 372· 373 . p ropriedade bactericida do Sealer 26 tenha mais
Finalmente, a atividade antibacteriana do relação com a libera ção de formaldeído do que
hidróxido de cálcio pode ser completada indire- com os íons hidroxila e cálcio, uma vez que esse
tamente através da sua capacidade de absorção material após tomar presa é bem p ouco solúvel.
do dióxido de carbono92 ·338 • A redução desse gás Assim, Silva et al. 395 ob servaram, aos 30 dias, pH
no interior do canal radicular e no ambiente pe - 11,37 para o Sealapex e 9,64 para o Sealer 26,
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA

tendo sido, também, para o Sealapex maior a prazo, o Sealer 26 exerceria ação bactericida à
quantidade de cálcio liberado. Os mesmos auto- distância pela liberação de formaldeído. Não se \
res observaram, entre os quatro cimentos à base pode esquecer que paralelamente à liberação dos
de hidróxido de cálcio, que o Sealapex foi o que íons hidroxila ocorre liberação de íons cálcio que
evidenciou maior pH em todos os períodos estu - concorrem não só para a redução do gás carbôni-
dados. co local como também participam da reparação
A alcalinização do sistema de canais radicu- ao formar granulações de calcita.
lares pelos cimentos à base de hidróxido de cál- De prático, valendo-se da discussão dos vá -
cio é, evidentemente, mais problemática, princi- rios fatores que envolvem os cimentos a base de
palmente pela já mencionada ação tampão da hidróxido de cálcio encontrados no comércio,
dentina, que impõe resistência a mudanças de sem dúvida existem fortes razões para a escolha
pH. Esberard et az. us não observaram alcaliniza- do cimento Sealapex, na forma pastosa ou con-
ção externa da dentina diante do Sealapex e do sistente, dependendo da técnica retrobturadora
Sealer 26. Já Staehle et al. 417 observaram alcalini- empregada.
zação apenas do interior do canal. Fuss et al. 145, Assim é que se baseando nos excelentes re-
em estudo in vitro, observaram que a ação anti- sultados obtidos por Holland & Souza 213 , o ci-
bacteriana do Sealapex, no tempo de 1 a 7 dias, mento Sealapex também tem sido utilizado, há
evidenciou ser significantemente maior aos 7 alguns anos, durante o tratamento endodôntico r
dias. Também em experimentação in vitro Sha- via retrógrada na mesma consistência daquela
lhav et al.3 93 analisaram a atividade antibacteria- utilizada nos tratamentos endodônticos conven-
na dos cimentos Roth, CRCS e Sealapex sobre o cional, ou seja, na forma pastosa 40· 51 . Nessas pu- 1
Streptococcus faecalis. Os cimentos foram prepara- blicações os autores demonstraram um estudo ,
dos, e após os períodos de 1 hora, 24 horas e 7 piloto onde o cimento Sealapex, na forma pasto-
1
dias após a espatula ção, foi colocada em contato sa, proporcionou bom comportamento biológico,
com os cimentos obturadores uma susp ensão de demonstrando um reparo dentoalveolar excelen-
b actérias. A cada 30 minutos, durante 16 h oras, te (Figura 16.96), estimulando a sua indicação ·
foi avaliado o crescimento bacteriano. Nos tem- nas retrobturações, principalmente nos casos de ~
pos de 1 hora e 24 horas o cimento Sealapex tratamento endodôntico via retrógrada.
exibiu atividade antibacteriana inferior aos ou- Uma outra maneira de se u tilizar o cimento ·
tros dois cimentos. Contudo, aos 7 dias, propor- Sealapex nas retrobturações seria n a forma con-
cionou efeito antibacteriano significantemente sistente46·51.255A32, ou seja, mais espesso, contendo
superior aos dem ais cimentos estudados. O cres- uma maior quantidade de pó de óxido de zinco
cimento da atividade antibacteriana com o passar facilitando sobremaneira sua in serção na s cavi-
do tempo foi também evidenciado em experi- dades apicais. No entanto a literatura carecia de
mentação em tubos de dentina contaminados um trabalho experimental que avaliasse o com-
com S. faecalis . Assim, foi observado m aior ativi- portamento biológico do cimento Sealapex nessa
dade antibacteriana aos sete dias do que 24 ho- forma consistente, em cirurgia parendodôntica.
ras111_ Mesmo assim, retrobturações efetuada s com esse
Deve-se salientar q ue o Sealapex é mais so- material nessa consistência já vinham sendo re-
lúvel que o Sealer 26 e evidencia pH mais eleva- comendadas e utilizadas, desde 1987, na clínica
do. O Sea]apex possui em sua formulação o óx i- de Especialização da disciplina de Endodontia de
do de cálcio, que em contato com os fluidos do Araçatuba - UNESP com excelentes resultados do
t ecido converte-se em hidróxido de cálcio. Este ponto de vista clínico e radiográfico. Faltava ape -
último, continuando em contato com os fluidos nas a comprovação histopatológica. Com esse
tissulares, libera íons cálcio e hidroxila que se objetivo, Bernabé et al. 46 realizaram um estudo
difundiriam pelo sistema de canais ra diculares histopatológico em dentes cães, com lesões peri-
apical. Assim , do ponto de vista teórico, h avendo apicais, cujas retrocavidades foram preparadas
contato dos fluidos tissulares com o cimento, este com o auxílio do ultra-som e posteriormente re-
liberaria os íons referidos por tempo indetermi- trobturadas com o cimento Sealapex consistente,
nado, dado seu teor de solubilidade. Isso não à semelhança da "massa de vidraceiro", cont an-
ocorreria com o Sealer 26 por ser muito pouco do ou não com o auxílio do microscópio odonto-
solúvel. Além do que não se sabe se, a longo lógico (dados não publicados). Os resultados his -
r::~:::-m-:~:~~~~s~~~~~:::~~~~~~:~~;::~~:::~·~~~~:~~~·=~:o
gando o cimento nessa consistência foram consi- de cálcio, demonstraram resultados histopatoló-
derados excelentes, tendo alguns casos apresen- gicos que recomendam a sua utilização em clíni -
tado deposição parcial de cemento sobre o referi- ca, corroborando assim os res ulLados obtidos por
do material (Figuras 16.133,16.134 e 16.135). Bernabé et al. 5º; Bernabé 49 e Bernabé et al. 4 6 • Leal
Segundo o autor, esse quadro histopatológico & Bampa 255 também empregando o cimento Se-
evidenciado com o emprego do cimento Seala- alapex consistente ap resentaram uma série de
pex consistente dá o n ecessário respaldo científi- casos clínicos, cujos dentes tiveram suas cavida-
co para a sua utilização em dentes humanos. des apicais preparadas com b rocas e retrobtura-
Recentemente, Luiz27 6 também realizando reLro- das com esse material. Segun do os a utores o
bturações com o Sealapex na forma consistente, sucesso, do ponto de vista clínico /radiográfico,
pôde observar que esse material juntamente com foi elevado.

' ;l
1

. _FIG._J6.13:3 __,,.. ___


'
Obturação retrógrado convencional com o cimento Obturação retrógrada convencio~al com o cimento
Seolopex consistente. Retrocov,dades preparadas com o Seolapex consistente. Retrocovidades preparados com o
ultra-som. Material retrobturador em nível do superfície ultra-som. O cemento neoformodo recobre o dentina
dentinório seccionada, exibindo dentina recoberta por desnuda e promove selamento biológico parcial. 40X
'1
tecido cementório neoformodo. Cápsula fibrosa em ínti-
mo contato com o material obturador. 40X

• FIG. 16.as
Obturação retrógrada convencional com o cimento
5eolopex consistente. Retrocovidades preparados com o
ultra-som. Noto-se polte do selamento biológico parcial
separado do material obturador por uma cápsula fibrosa,
com destaque paro a presença de macrófagos contendo
partículas do material retrobturodor. 200X
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

O cimento de Sealapex consistente, agrega- cálcio de induzir a deposição de tecido duro está .. ,
...·-
do ao pó de óxido de zin co, além de proporcio-
nar excelentes resulta dos em níveis histopatoló-
gicos4DA6·51, Bernabé et ai. 50 e Bernabé 40 e clínico-
vinculada à capacidade de liberação de íons cál- )
cio e hidroxila:' 6· 38 º·388 . Sendo assim, é provável
que os íons caldo, diretamente envolvidos no .:·
t
radiográficos255, também tem se revelado um ex - processo de mineralização, seriam liberados em i·;
celente selador marginal. Bernabé et al.50, em quantidades b em menores, com reflexos sobre a
1990, num estudo in vitro não publicado, realiza- qualidade do selamento apical pretendido, con-
ram obturações retrógradas com diversos mate- forme pode ser registrado n o estudo realizado
riais, dentre eles, o cimento Sealapex na forma por Bernabé et al. 46 •
pastosa ou consistente. Puderam observar que os Apesar das divergências, alguns estudos 39 5 .489
espécimes com cimento Sealapex na forma con- têm relatado que os cimentos à base de hidróxi-
sistente, com maior quantidade de pó de óxido do de cálcio apresentam um certo grau de desin-
de zinco, evidenciaram os menores índices de tegração, sendo por isso considerado um material
infiltração marginal (Fi gura 16.14). Observa-se com possibilidades de ser também reabsorvido.
na tabela que o nível de infiltração marginal foi É lógico que essa propriedade, para ser confirma-
quase zero (última barra horizontal) , comparati- da, ainda carece de novos estudos, principalmen -
vamente com o cimento Sealapex na forma pas- te pela divergência de resultados, considerando-
tosa que também demonstrou pouca infiltração se a prática de diferentes metodologias de estu- 1

marginal comparada com os demais materiais do. Quanto a esse assunto, dentre os cimentos de
retrobturadores estuda dos. Tanomaru-Filho et hidróxido de cálcio, o mais criticado tem sido o
al. 432 e Tanomaru-Filho 4 3 1 com o objetivo de ava- Sealapex, notadamente quanto a sua solubilida-
liar a capacidade do selam ento apical proporcio- de e reabsorção, fatos que comprometeriam a I
nado por diferentes m a teriais retrobturadores, eficiência do selamento marginal pretendido 195.
também observaram qu e o Sealapex consistente Assim, Zmener et al. 4 89 , em tecido conjuntivo
e o Sealer 26 apresentavam melhor selamento subcutâneo de ratos, notaram intensa reação
marginal em relação ao cimento de OZE. macrofágica, enquanto que Tronstad et al.460atra-
Um fato interessante notado por Bemabé et vés de implantes intra-ósseos de cimento Seala - ~
al. 46 estudando retrobturações efetuadas com o pex, em mandíbulas de cães, contido em peças
cimento Sealapex consistente em dentes de cães, de teflon, notaram reabsorção e dissolução de
foi que a deposição de cemento neoformado em parte do material implantado. Além de o Seala-
contato com esse cim en to era parcial, não tendo pex ter sido parcialmente solubilizado e na maio-
sido observado nenhum caso de selamento bio- ria dos casos substituído por tecido conjuntivo,
lógico apical completo. A ausência do selamento Tronstad et al.460 observaram ainda que os referi-
biológico total provavelmente esteja relacionada dos espécimes apresentavam um quadro histopa-
com a menor proporção de óxido cálcio rema - tológico com severa reação macrofágica e leve
nescente na massa do cimento após a adição de reação inflamatória. Diversos autores que reali-
maior quantidade do pó de óxido de zinco. Na zaram estudos sobre a biocompatibilidade do Se-
verdade, o cimento Sealapex contém em sua for- alapex70·213·395 também observaram, junto ao ci-
mulação o óxido de cálcio na proporção de 54% mento que havia extravasado, presença de ma-
e não o hidróxido de cálcio. Esse óxido de cálcio, crófagqs contendo material granular escuro, no
presente no cimento Sealapex, en trando em interior de seus citoplasmas.
contato com a umidade das paredes do canal ra- Essas reabsorções ocorridas com o cimento
dicular e dos tecidos periapicais, em absorvendo Sealapex, no entanto, não puderam ser observa-
essa água, dará origem ao hidróxido de cálcio das histologicamente em obturações de canal re-
sob expansão. Teoricamen te, essa expansão con- alizadas em dentes de cães e macacos70,196213 ,
tribuiria para aprimorar a qualidade seladora do quando o cimento se manteve dentro do canal,
cimento. É provável que aumentando a concen- b em como não se notaram alterações apreciáveis
tração de óxido de zinco na massa do cimento no selamento marginal, m esmo quando os espé-
ocorra diminuição proporcional da quantidade cimes obturados ficaram 75 dias imersos em
de óxido de cálcio, conseqüentemente originan- água 181 • De igual forma, segundo Holland et al.1 95 ,
do uma menor quantidade de hidróxido de cál- não têm sido observado dados radiográficos, de
cio. Sabe-se que a propriedade do hidróxido de controle à distância, que possam sugerir reabsor-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

ções do maLerial dentro do canal, fato também humanos em q ue empregou-se o cimento Seala-
relatado por Gutman & Fava 163 . pex como material retrobtura dor, evidencia ain-
No estudo histopatológico realizado em den- da o m aterial retrobturador no local (radiopaci-
tes de cães por Bernabé et al.46 também não foi dade) sem sinais de ter sido reabsorvido (Figu-
observada nenhuma evidência de reabsorção do ras 16.136 e 16.137). Ainda com relação ao fat o
material em questão e que pudessem compro- de alguns considerarem ser possível a reabsorção
meter os resultados. Como já mencionado, tem- do cim ento Sealapex de ntro do ca nal, num outro
se utilizado o cimento Sealapex agregado ou n ão estudo desenvolvido por Holland el al. 197 , os a u -
ao pó de óxido de zinco há mais de quinze anos, tores demonstraram que essa reabsorção não
e radiograficamente n ão observa -se nada que ocorria, apesar do tempo pós-operatório de um
confirmasse a reabsorção desse material. Pós- ano e do amplo contato dos tecidos periapicais
operatório radiográfico a longo prazo de dentes com o referido material.

• F!G. _16.116
Obturação retrógrada convencional com o cimento
' Sealapex pastoso realizado há quinze anos no dente 34.
Aspecto radiográfico do reparo ósseo pela presença de
• A(~. 16.'ilU
lâmina duro. Decorrido esse tempo, nota-se ainda sinal
radiopoco do material retrobturador, evidência de que Obturação retrógrado convencional com o cimento
ele não foi reabsorvido. Sealapex consistente realizado há oito anos no dente 12.
Também nesse caso o sinal radiopaco do material
retrobturador comprovo que o mesmo não foi
reabsorvido. Evidência radiográfica de reparo ósseo.

Holland & Souza213 observaram que nos ca- que o material esta va sendo reabsorvido. No en-
sos onde havia extravasamento do cimento Sea- tanto, em outros espécimes o material extravasa -
lapex jun to aos tecidos periapicais, os resultados do estava encapsulado por um tecido duro, além
1
/i. ··· histopatológicos eram diferentes. Em alguns es- do que as partículas do material também eram
pécimes havia ao redor do material presen ça de visualizadas como que enclausuradas dentro do
reação inflamatória crônica, com uma alta fre- covo tecido cementário formado, e aparente -
qüência de macrófagos, com partículas do mate- meute não reabsorvido. Esses resultados pude-
rial obturador dentro do citoplasma , su gerindo ram ser confirmados em outro experimento rea-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

lizado por Holland et al. 197 , que observaram da, pois entende que os trabalhos utilizando tes- ./
ocorrência de deposição de tecido duro tanto tes de uso (usage test), no aspecto selamento api- ·'i
:: ;
em casos onde o cimento Sealapex estava conti- cal sdã_o. esc~sdis~f~, _e dsua correlação cdom Ntestes se- · \
do no interior do canal ou mesmo quando ul- cun anos e 101 e ser extrapo 1a a. os casos 1 ·
trapassava discretamente o forame apical. Em de canais contaminados e portadores de lesões i·,
1985, Holland & Souza21 3, efetuando um estudo periapicais, essa solubilização relativa seria ainda
em dentes de cães e macacos, para testar a capa- mais desejável para a atividade antimicrobiana,
cidade do cimento Sealapex quanto à indução de assim como para a neutralização do pH ácido da
formação de tecido duro, observaram em casos região.
de extravasamento do cimento, que nessa área Realizando implante de tubos de polietilie -
havia formação de um tecido osteóide ou então no, em tecido conjuntivo subcutâneo de ratos
reabsorção do material. preenchidos com diversos materiais obturadores,
Em 1989, Tagger & Tagger427 também verifi- dentre eles o Sealapex, pelo período de 14 e 90
caram que o cimento Sealapex havia sido, apa- dias, Valera470 verificou que o mesmo provocava
rentemente, solubilizado, sendo substituído por uma reação inflamatória com predomínio de cé-
um novo t ecido mineral izado. Esses autores lulas macrofágicas. Essas células interagiam in-
acreditam que essa solubilização do Sealapex tensamente e diretamente com o material e
seja benéfica, pois o cimento sendo substituído apresentavam seus citoplasmas carregados de r •
por tecido cementário, evitaria infiltração via fo - partículas negras, oriundas provavelmente, do
rame apical, pela obliteração do mesmo com material obturador. Reações semelhantes foram
material mineralizado. observadas por Leal et al. 256; Molloy et al. 299 , en- 1
Gutmann & Fava 163 relataram um caso clí- quanto que Holland & Souza 21 3 só observaram
nico onde após realizarem a obturação dos ca- essa reação quando esse cimento extravasava
nais radiculares de um incisivo central e lateral, para os tecidos periapicais em obturações de ca- 1

ocorreu extravasamento do cimento Sealapex. nais radiculares de dentes de cães. Já Valera 470
Decorridos 4 m eses, foram observados, radiogra- verificou que esse cimento permanecia no inte-
ficamente, completa dissolução do cimento Sea- rior dos tubos, onde apenas as partículas fagoci - ~
lapex e diminuição das áreas radiolúcidas peria- tadas foram carreadas pelos macrófagos. A auto-
picais. ra observou, ao redor deste cimento, uma maior
Já em 1991, Sleder et al.402 , após obturação concentração de macrófagos carregados de partí- ~
in vitro de dentes humanos, analisaram a solubi- culas do material, ampliando a área inflamatória,
lidade de um cimento à base de hidróxido de mas não dificultando o fibrosamento e a prolife-
cálcio, o Sealapex, comparado à do Tubli-Seal, ração fibroblástica, como havia observado no pe-
deixando-os submersos em solu ção salina. As ríodo pós-operatório de 90 dias.
soluções foram trocadas, semanalmente , para Segundo Valera 470, provavelmente as respos-
permitir a dissolução contínua dos cimentos e tas obtidas expliquem-se pela grande interação
para prevenir o estabelecimento de equilíbrio que os macrófagos têm com o cimento Sealapex.
entre a solução e o d mento. Os resultados mos- De acordo com Berbert & Consolaro 35 , os poli-
traram que o cimento Sealapex não apresentava morfonuclares em contato com o cimento
dissolução m aior que o Tubli-Seal, sugerindo que Sealapex liberam enzimas para o meio extracelu -
o Sealapex pode resistir às exposições aos fluidos lar, destruindo as proteínas estruturais do tecido.
teciduais, sem infiltração significante, o que pode É possível que essa lise tecidual possa atrair ma-
permitir tempo para a ação bioquímica do hidró- crófagos para esta região . Segundo Camargo8 3,
xido de cálcio. esse cimento interage com os macrófagos, propi-
Quanto à reabsorção do cimento Sealapex, ciando um,a renovação celular constante, requisi-
Silva 395 verificou a formação de tecido minerali- tada e estimulada pela morte celular presente.
zado entre o material extravasado, sugerindo Nesse mesmo estudo, através da microscopia
que uma possível solubilização do material tenha de força atômica, Valera470 observou que o ci-
sido substituída p elo tecido mineralizado. Essa m ento Sealapex apresentava uma grande desin-
solubilização do cimento Sealapex, que foi inter- tegração, que foi v ista após seis meses. Essa pro -
pretada por Barnett et al.24 como uma desvanta- priedade do cimento Sealapex implica em decor-
gem, na opinião de Silva 395 deveria ser repensa- rente liberação de produtos dessa desintegração.
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

Resultados semelhantes foram obtidos por Tagger na diferenciação celular e fibroplasia. A autora
et al. 1 26 , que relataram a solubilização desse ci- acredita que a quantidade de hidróxido de cálcio
mento, bem como sua capacidade de desintegra- contida nos cimentos à base de hidróxido de cál-
ção. Observaram também a liberação de íons cál- cio ocasiona uma maior ou menor quantidade de
cio e hidroxila, decorridos sessenta minutos de cálcio livre ou conjugado, porém, a quantidade
sua manipulação. Verificaram ainda o aumento de cálcio iônico foi exponencialmente diferente,
do pH com o passar do tempo. Leonardo et al. 263 em razão, possivelmente, de sua maior solubili-
concordam com os resultados de Tagger et al. 426 zação .
ao observarem que a liberação de íons do Seala - Esse fato é de relevância clínica, frente à
pex é elevada e muito rápida. Ainda de acordo afirmação de que a solubilidade é uma proprie -
com os estudos de Valera470, as alterações obser- dade inconveniente dos cimentos. Entretanto, no
vadas sobre a superfície do cimento Sealapex es- caso do cimento Sealapex, ela seria benéfica, do
tão relacionadas com a sua desintegração, quan- ponto de vista físico-químico, assim como do bio-
do detectou grandes alterações estruturais com o lógico. Essa maior cedên cia dos íons cálcio leva-
passar do tempo. Entretanto, após seis meses, a ria ao início do processo de m ine ralização, p ela
superfície do material atingiu uma característica formação ime diata de carbonato de cálcio, tam-
m ais uniforme sugerindo que a desintegração bém observado por Holla nd et ai. 167 , logo após a
sofrida pelo cimento possa ter diminuído ou até aplicação do hidróxido de cálcio sobre o tecido
mesmo estacionada. pulpar de dentes de cães. Ainda segundo Sil-
Fidel et al.132 realizaram um estudo in vitro va395, a continuidade de ionização do hidróxido
sobre a solubilidade e desintegração de cimentos de cálcio dependerá da composição e da solubili-
endodônticos à base de hidróxido de cálcio, o dade do material, e muito deverá influir na mi-
CRCS, Apexit, Sealer 26 e o Sealapex. Para cada neralização final do tecido . Hoje, sabe-se que
cimento foram confeccionados seis corpos de quando o canal radicular é obturado com um
· ,,; prova através de moldes de teflon. Após um pe- cimento à base de hidróxido de cálcio, é desejá-
ríodo três vezes maior que o tempo de endureci- vel que ocorra a dissociação de íons cálcio e hi-
mento do cimento, os corpos de prova foram sa- drcixila, que são estimuladores do processo de
cados do molde, pesados, colocados em recipien- selamento biológico apical.
te plástico contendo água destilada deionizada, No entanto, um outro material que tem me-
permanecendo na estufa por sete dias. Decorrido recido maior destaque, na atualidade, é o MTA
esse período as amostras foram lavadas, passan- (Mineral Trióxide Aggregate ou agregado trióxi-
do por um desumidificador por 24 horas, sendo do mineral), desenvolvido na Universidade de
então submetidas a uma segunda pesagem. A Loma Linda-Califórnia, Estados Unidos.
perda da massa de cada amostra era anotada e o
valor numérico considerado como sendo a solu-
bilidade e a desintegração do material. Os resul- S. MTA (Mineral Trióxide
tados foram baseados na especificação 57 da Aggregate)
ADA, onde os cimentos Apexit e Sealer 26 apre-
sentaram baixo índice de solubilidade e desinte- Periodicamente, o mundo se vê envolvido
gração; já o Sealapex, um alto índice . Quanto ao em grandes descobertas, que proporcionam be-
CRCS, a solubilidade e desintegração atingiram o nefícios à humanidade, trazendo, na área da saú-
limite máximo preconizado pela especificação da de, esperanças de cura para os diversos males
ADA. que nos assolam.
Num estudo, ín vítro, realizado por Silva 395 , Especificamente na Odontologia, grandes
analisando a concentração de cálcio iônico de descobertas acontecidas desd e o século passado
quatro cimentos à base de h idróxido de cálcio revolucionaram os m étodos e tipos de tratamen-
(Sealapex, CRCS, Apexit e Sealer 26), pôde-se to, tirando-a dos procedimentos empíricos e in-
inferir que a maior solubilidade ocorreu com o gressando -a na era biológica. Com isso, os trata-
Sealapex. Em tecido subcutâneo, essa solubilida- mentos ofe recidos começaram a ser empregados
)
de, promovendo a cedência de íons ca++ aos teci- com embasamento científico, permitindo que os
dos, com post erior eliminação do m aterial pela pacientes fossem tratados com mais dignidade e
atividade macrofágica, teve um papel importante senso profissional.
CIÊNCIA ENDO DÔNTICA

·;
E essa revolu çã o tamb ém aconteceu na área material, dessa vez de cor cinza. Na época (1996 ) .;,
dos materiais odontológicos, como por exemplo, questionado a respeito da diferença entre o MIA )
com o aparecimento das resinas compostas, de de cor branco e cinza, o Prof. Torabinejad infor- !.,
várias gerações. Esse movimento também pode mou que ambos eram iguais. Desde então, uma -,·,
ser sen tido com o su rgimento de n ovos equipa- série de experimentos de cunho biológico foram 1·
mentos, que tem m elh orado o diagnóstico e desenvolvidos no sentido de avaliar as suas pro-
também os procedimentos odontológicos. priedades assim como a possibilidade de desven-
No entanto, uma descoberta surgida n a área dar que tipo de material estávamos estudando.
da Endodontia está promovendo u m a grande re - Nesse questionamento, com os estudos realizados,
volução dentro da Odontologia. Em 1993, Lee et muitos segredos que envolviam esse material co-
al.261 publicaram o p rimeiro trabalho científico meçaram a ser esclarecidos, fa to que tro uxe signi-
empregando um novo m aterial: o MIA. Os auto- ficativa contribuição à classe odontológica.
res, através de um estudo in vitro, testa ram expe- É nossa intenção, portanto, oferecer uma
rime ntalm ente esse novo material em casos de contribu ição ao estudo do MIA (Agregado de
p erfuração radicula r lateral de molares humanos. Trióxido Mineral), fazendo referência às su as
Nesse experimento, os autores utilizaram ainda o propriedades físicas, químicas e biológicas. Inclu-
IRM e o amálgama de prata. As análises, realiza - sive mencionando as pesquisas que permitiram
das com auxílio de microscópio óptico, após relacioná-lo com o Cimento Portland (cimento ,
im ersão dos espécimes em azul de metileno por de construção) , fato que revolucionou e promo-
48 horas, demonstraram que o gru po do MTA veu grande discussão no campo das pesquisas
apresentava os menores índices de inliltração dos materiais odontológicos, notadamente no ,
marginal, sendo estatisticamente superior aos meio endodôntico.
demais materiais. Nesse mesmo ano, Torabinejad O Agregado de Trióxido Mineral (MTA) sur-
I
et al. 456 utilizando dentes hum anos, compararam giu no início dos anos 90, como um material
a habilid ade seladora do MIA com a do amálga- experimental desen volvido pelo Prof. Mahmoud
ma de prata e do IRM, através da infiltração Iorabinejad. Ele fo i elaborado na Universidade
marginal do Roda mina B fluorescente. Do mes - de Loma Linda - Califórnia, Estados Unidos, com ~
mo modo, puderam observar que o MTA apre- o objetivo de selar as comunicações entre o inte-
sentava h erméti co selamento marginal, sendo rior e exterior do dente. De acordo com Lee et ·
superior ao cimento Super EBA que, por sua a/.26 1, originariamente ele foi indicado após a re- ·i
vez, apresentou m enor grau de infiltração com - alização de cirurgias parendodônticas, como m a-
parativamente a o amálga ma de prata. terial retrobtu rador, e em casos de p erfurações
Daí seguiram uma série de outras experi- intrarradiculares e da furca.
mentações realizadas in vitro, in vivo, culturas de No entanto, o MIA também vem sendo pes-
células, culturas mi crobianas, todas no sen tido quisado e indica do e m outras diferentes condi-
de avaliar o comportamen to físico e biológico do ções clínicas: em perfurações resultantes de reab-
MTA. Praticamente em todos os estudos daqu ela sorções internas e externas comunicantes, no
época, esse novo m aterial se revelou superior aos tratamento conservador da polpa den tal (em ca-
demais materiais testados, fato que nos chamou sos de pulpotomias e cap eamento pulpar) e
a aten ção e curio sidade, favorecendo nossa como material estimulador da apecificação. Além
disposição em est udá-lo detalhadamente, princi- disso, tem sido u tilizado como barreira intracoro-
palmente quanto às suas ca racterísticas físicas e nária prévia ao clareamento dental e como tam-
biológicas. p ão apical em casos de dificuldades de travamen -
Assim é que em 1996, através da Profa. Dra. to do cone principal de guta-percha. Indicações
Yara Maria Lohmann Soares (FOUFS C) , que tra- mais ousadas incluem a sua utilização como ci-
balhou p or algum tempo com o Prof. Torabinejad, mento endodôntico no tratamento de dentes de-
recebemos a primeira amostra do MIA, de cor cíduos e permanentes. Na realidade, o que con-
branca. Nesse instante, iniciamos uma série de fere esse universo de indicações, é o fato do MTA
trabalhos experimen tais na área biológica e estu- poder ser utilizado em ambiente úmido, como é
dos in vitro. No entanto, quan do nosso estoque se o caso da maioria das indicações citadas, em fun-
esgotou, um contato foi mantido com o Prof. To- ção de sua composição e principalmente pela sua
rabinejad, que nos enviou uma n ova remessa do biocompatibilidade.
CIRURGIA PARENOODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

Segundo Lee et al. 26 1, o MTA endurece em Em 1998, o MTA foi avaliado e aprovado
presença de umidade, se apresenta como um pó pela FDA americano (U.S . FooD AND DRuGs ADMI-
(Figura 16.138) de finas partículas hidrofílicas NISTRATioN) e lançado comercialmente, em 1999,
que endurecem após a hidratação. O pó é com- como ProRoot MTA® (Dentsply Tulsa Dental,
posto principalmente de silicato tricálcico, alu- Oklahoma - USA). Do que se pode verificar, ao
minato tricálcico, óxido tricálcico e óxido de si- longo do tempo, as publicações a respeito faria_m
licato, além de pequena quantidade de outros referências à sua composição sempre intro-
óxidos minerais e da adição do óxido de bismu - duzindo algumas pequenas modificações, talvez
to, principal responsável pela radiopacidade do pelo fato de que não fosse intenção revelar a
material446 . verdadeira identidade do produto .

• ...flG. 16.138
Aspecto macroscópico do
pó de MTA de cor cinzo.

, A'
1
1

O ProRoot MTA® apresenta-se como um pó 87% de Cálcio, 2,47 % de sílica e o restante oxi-
cinza, composto principalmente de silicato tricál- gênio. As áreas da estrutura amorfa contêm 33%
cico (3 CaOSiOJ, silicato dicálcico (2 CaO -SiOJ, de cálcio, 49% de fosfato, 2% de Carbono, 3% de
aluminato tricálcico (3Ca0 -Alp), ferroalumina- cloreto e 6% de sílica. Através de en saios quími-
to tetracálcico (4Ca0-Alp 3 -Fe 2 0J, óxido de bis- cos e difração de Raios X, Herzog-Flores et al. 173
muto (Bi 2 0) e sulfato de cálcio dihidratado analisaram a composição físico -química do MTA
(CaS0 4 -2Hp). Segundo o fabricante, o ProRoot reportando que 18% dele é insolúvel em água,
MTA®pode ainda conter até 0,6 % de resíduos 0,36% corresponderia ao MgO e 90% de CaO,
insolúveis livres como a sílica cristalina e outros sendo sua estrutura 80 % cristalina. Através de
elementos livres como óxido de cálcio (CaO) e espectrofotômetro de absorção atômica quantifi-
óxido de magnésio (MgO), além de álcalis (Na 2 0 caram a liberação de íons cálcio do MTA em 24
e K 2 0) sob a forma de sulfatos. horas (8,8 ppm), 7 dias (10,08 ppm) e 15 dias
Ainda, segundo estudo de Torabin ejad et (10,10).
446
al. , as principais moléculas presentes no MTA Mais recentemente (início de 2001), o fabri-
são os íons Cálcio e Fósforo. Segundo esses auto- cante do ProRoot MTA® modificou algumas in-
res, corno esses íon s também são os principais formações contidas n o MSDS (Material Safety
componentes dos tecidos dentais, conferem ao Data Sheet) original, acrescentando que o mate-
MTA excelente biocompatibilidade, quando em rial é composto por 75% de cimento Portland,
t
contato com células e tecidos. As an álises efe- 20% de óxido de bismuto e 5% de sulfato de
t tuadas demonstraram que o MTA, após tornar cálcio <li-hidratado . Esse fato era omitido, até
presa, passa a ser constituído por óxido de cálcio então, nos trabalhos experimentais e bulas origi-
) na forma de cristais discretos e o fosfato de cál- nais, conforme pudemos atestar, via Internet,
cio, com uma estrutura amorfa, com aparência quando acessamos o site da Dentsply - Tulsa
granular. A composição média dos prismas é de Dental, em Março de 1999 .
..... CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·----··---------------..---·-----·- · -··--·---·-·----·- ·-·-·---- - - - - · - - , - · -
Na verdade a origem e composição do MTA Com o cimento Portland os resultados foram se-
sempre desp ertaram a curiosidade daqueles que m elhantes, tendo ocorrido 11 casos com pontes
se interessavam pelo material. Esse mistério co- completas e isenção de processo inflamatório
meçou a ser desvendado quando Wucherpfening (Figura 16.140). Os casos dos dois grupos expe-
& Green484 publicaram um abstract sobre o referi- rimentais que não exibiam pontes completas ti-
do material. Nesse pequeno resumo os autores veram problemas com selamento coronário ou
afirmam terem observado que esse material era simplesmente exibiram irregularidades e solução
qua se idêntico m acrosco picamente, mi - de continuidade na porção central da ponte. Os
croscopicamente e pela difração de Raios-X ao resultados obtidos com os dois materiais estuda-
cimento Portland (cimento empregado em cons- dos estão de acordo com resultados anteriores
truções) . Os autores acrescentam que esses dois observados com o MTA quando aplicado sobre a
materiais tiveram comportamento similar em polpa dentaP 29 . Além disso, esses resultados su-
cultura de células e também quando aplicados gerem que os dois m ateriais são similares e con-
em polpas de dentes de ratos. Curiosamente es- firmam o m esmo mecanismo de a ção demons-
sas observações n ão foram ainda publicadas, ten- trado por Holland et al. 192 em tecido subcutâneo
do se limitado a esse abstract. de rato.
No entanto, Estrela et al.122 estudaram a s pro- Com a finalidade de complementar os dois
priedades químicas e antibacterianas de alguns experimentos já executados com os citados ma-
materiais, inclusive do cimento Portland (Cimen- teriais, Holland et al. 182 realizaram obturações
to Itaú® MG) e MTA. El es observaram que o ci- de 20 canais radiculares de dentes de cães, sendo
mento Portland contém os mesmos elementos 1O p ara o MTA e 1O para o cimento Portland
químicos do MTA, exceto o bismuto (observação: (Cim ento Itaú ® - MG). Após o preparo do canal
o óxido de bismuto é acrescentado ao produto radicular os cimentos foram preparados com
para conferir-lhe radiopacidade adequada). Os soro fisiológico e levados ao interior do canal
autores observaram também que o cimento Por- com auxílio de uma broca Lentulo, procedendo-
tland tinha pH e atividade antibacteriana similar se, a seguir, a obturação pela técnica da conden-
ao MTA. sação lateral. Noventa dias após a obturação as /
Paralelamente, Holland et al. 192 estudaram o peças foram removidas e processadas para análi-
cimento Portland (Cimento ltaú® de Minas Ge - se histomorfológica. Com o MTA foram observa-
rais), o MTA e o hidróxido de cálcio quimica- dos oito casos de selamento biológico, por ce-
m e nte puro, preenchendo tubos de dentina e mento n eoformado, em diferentes níveis e com
implanta n do-os em tecido subcutâneo de ratos, a usência de infiltrado infla m atório (Figura
da mesma forma como já haviam feito com os 16.141) . Os outros dois espécimes exibiram sela -
dois últimos materiais191 • Os resultados foram mento parcial e ou ausência de selamento com
sem elhantes entre o MTA e cimento Portland, ou pequena sobreobturação e pequeno infiltrado in-
seja, foram observadas granulações de calcita em flamatório crônico em ambos os casos. Com o ci-
contato com os materiais estudados, e também mento Portland ocorreram sete casos de selamen-
dentro dos túbulos dentinár ios. Além disso, ob- to biológico completo em nível do forame apical
servam também presen ça de uma ponte de tecido (Figura 16.142) e um no interior do canal. Os
duro Von Kossa positiva. Diante dos resultados dois últimos casos tinham selamento biológico
obtidos os autores sugeriram que o mecanismo de parcial, um em nível do forame e outro intraca-
ação dos 3 materiais estudados é similar. Com o n al, exibindo ambos pequeno infiltrado inflama-
objetivo de confirmar esses dados, outros projetos tório do tipo crônico. O res ultado desse trabalho
experimentais foram desenvolvidos. confirmou os dados obtidos em outros dois expe-
Assim, Holland et ai. 185 realizaram pulpo- rimentos185'192 realizados em subcutân eo de ratos e
tomia em dentes de cães, protegendo 26 polpas polpa de dentes de cães. Saidon et al. 37 4 realizando
radiculares com MTA ou cimento Portland {Ci- implantes de ProRoot® MTA e Cimento Portlan d
m ento Itaú® - MG) . Sessenta dias após o tratamen- em mandíbulas de cobaias, verificaram após 2 e
to, as peças foram removidas e preparadas para 12 meses que o reparo ósseo, com processo infla-
análise histomorfológica. Com o MTA observa- matório mínimo, ocorria adjacente a ambos mate-
ram 1O casos com ponte de tecido duro completa riais, com provando que os m esmos são bem tole-
e polpa isenta de inflamação (Figura 16. 139). rados quan do implantados.
M------------------------------------------------------...................._.....................................................""""""""""""
C IRU RGIA PAREN OODÔNTICA: CO MO PRATICÁ-LA COM EMBASAME NTO CI ENTÍFIC O

• FIG._16.139 ..... - ...... _., ________ ·___ --·-·····- ..·--· __ ....


Pulpotomio em dente de cão e proteção com MTA Pulpotomia em dente de cão e proteção com Ci-
- 60 dias. Notar barreiro de teCJdo duro completo e mento Port!and - 60 dias. Barreiro de tecido duro com-
polpa dental com vitalidade isenta de processo inflamató- pleto com inclusões de raspas de dentina. Observar pol-
rio (H.E. 40XJ. pa dento! isenta de processo inflamatório (H.E. 40XJ.

;f
1
1

_ _FIG. _16.142 ______ _

Obturação do canal radicular de dente de cão com Obturação do canal radicular de dente de cão com
o MTA - 90 dias. Cemento neoformado reparando área o Cimento Portlond - 90 dias. Idem o figuro anterior
de reabsorção e determinando ocorrência de se!amento (H.E. 100XJ.
biológico completo. Notar ligamento periodontal isento
de processo inflamatório (H.E. 100XJ.

Bernabé et al.42 utilizando canais radiculares caracterizando o selamento biol.ógico (Figura


de dentes de cães contaminados rea lizaram 16.143 e 16.144). Resulta dos semelhantes já ha-
retrobturações com o MIA e Cimento Portland viam sido observados por Bernabé et aL. 58 , nas
(Cimento Itaú® - MG). Após o período de cento e m esmas condições experimentais, empregando o
oitenta dias, puderam observar resultados simila - MIA comparativamente com o IRM®, Super
res entre os dois produtos, cuja análise histopa- EBA® e o OZE consistente (Figura 16.145 e
,,1 tológica demonstrou, em grande parte dos espé- 16.146).
cimes analisados, deposição de tecido cementário Do que se depreende acima descrito, obser-
em contato direto com o material retrobturador, va-se que todos os expe rim entos mencionados
., .
CIÊNCIA EN D O D ÔNTICA f'.
--·---- -------- ·---- -----·------- --·------
apoiam os resultados relatados por Wucherpfening a lém da presença de vasos congestos, linfócitos e
& Green 484 e Estrela et al. 122 que sugerem que o células gigantes em algumas amostras de cimen-
MIA e o cimento Portland são materiais simi- to Portland. Moraes et al. 3 02 implantando tubos
lares. de polietileno preenchidos com cimento Portland
Há de se mencionar ainda os estudos de Safavi (Cimento Votoran®) em tecido conjuntivo sub-
& Nichols371 comparando os efeitos do MTA e cutâneo de ratos, pelo período de 7, 12 e 60 dias,
cimento Portland na secreção de PGE 2 de monó- observaram que o mesmo era biocompatível.
citos. Esses autores demonstraram que os produ- Com o propósito de encontrar uma nova alter-
tos solúveis do MTA e cimento Portland apresen- nativa com relação ao estudo do MTA, Abdullah
taram um efeito inibitório similar sobre a secre - et al.2 desenvolveram um experimento em cultu -
ção de PGE2 de monócitos. Franco 140 estudou a ras de células, com um novo tipo de Cimento
reação do tecid o da área de filtro de dez ratos ao Portland com tempo de presa acelerado compa-
implante de tubos de polietileno preenchidos rativamente com um cimento de ionômero de
com MTA (ProRoot MTA®) e cimento Portland vidro, MTA e o Cimento Portland não modifica-
(Cimento Zebu®). Os resu ltados demonstraram do. Os resultados coletados após observações re-
que a resposta tecidual em 2 semanas foi similar alizadas com 12, 24, 48 e 72 horas, demonstra-
para ambos materiais, sendo caracterizada por ram que ambas as variações de Cimento Portland
reação inflamatória aguda, sensivelmente mais não foram tóxicos e possuem potencial para pro- 1 .
branda para o ProRoot MTA®; com predominân- mover reparação óssea. Verificaram que a adição
cia de tecido fibroso, fibrina e vasos congestos, de cloreto de cálcio (10% e 15%), como agente
presença de fibroblastos e m acrófagos, além da acelerado, não produziu nenhum efeito adverso,
presença de neutrófilos para o cimento Portland. melhorando inclusive a biocompatibilidade do
Em 12 semanas, demonstrou-se uma tendência a material. Estes estudos abrem perspectivas para
cronificação para ambos cimentos, com a presen- viabilizar a produção de um material para res-
ça de tecido fibroso, fibroblastos e macrófagos, tauração dental e também p ara u so ortopédico.

• FIG. 1tU43
---I~§,:o,.t!,~1Ç~!\\%',\SS,''':. . .,
Retrobturação de dente de cão com MTA. Retrobturação de dente de cão com cimento
Cemento depositado sobre o superfície dentinário Portland. Idem ao aspecto hístopatológico anterior, no-
apicectomizada e matetial retrobturador, caracterizando tando-se espesso selamento ,biológico à altura da retro-
selamento biológico apical. Retrocav,dades preparadas cav,dade, preparada com ultra-som, e em contato direto
com o auxilio do ultra-som (H.E 40X). com o MTA (H.E 40XJ.
C IRURGIA PARENDODÔNTICA; COM O P RATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

_ __ _fiq._1_~il4~-- _____ _ • tr:m. 16 .146


Retrobturação de dente de cão com MTA. Reparo Retrobturação de dente de cão com MTA. Aspecto
completo com o tecido ósseo próximo ao material do cemento depositado sobre o material retrobturador,
retrobturodor. O cemento neoformodo recobriu o caracterizando o selamento biológico total. Ligamento
dentina desnuda e o próprio material retrobturador (HE periodontal isento de processo inflamatório (H.E 200XJ.
40XJ.

Baseados n a série de estudos realizados com Levando-se em consideração os resultados


o MTA, bem como nos estudos que compara- dos trabalhos mencionados, de que o MTA e o
I ram o MTA com o cimento Portland, a empresa Cimento Portland comportam-se de maneira se-
Ângelus® da cidade de Londrina-Pr, realizou melhante, serão feita s consid erações acerca do
uma série d e análises até chegar a fórmula de Cimento Portland (Cimento de construção) e
um MTA nacional, lançando no comércio com a que é a base dos produtos comerciais lançados
denominação de MTA-Ângelus®, concorrendo no Brasil, o ProRoot MTA® e o MTA-Angelus®.
com o Pro-Root MTA® da Dentsply. Holland et Tais con sid erações são impo rta nte s para se
ai. (trabalho não publicado) implantaram o conhecer melhor esse material que revolucionou
MTA-Ângelus® em te cido conjuntivo subcutâ- o meio odontológico, e desse conhecimento po-
neo de ratos, após ser introduzido em tubos de de r ente nde r o seu comportamento e propor me-
dentina, obj etivando observar se o comporta- lhorias a partir do seu potencial tanto quanto às
mento tecidual era semelhante ao observado propriedades físicas como b iológicas.
com o Pro -Root MTA®. A análise com auxílio de
luz polarizada e reação de Von Kossa demons- Cimento Portland
trou comportamento tecidual idêntico ao já rela- Almeida-Filho 11 discorreu sobre diversas ca-
tado para o cimento Pro -Root MTA®da Dentsply. racterísticas desse material. Assim relatou que ci-
Assim, foram observadas granulações de calcita m e nto, na acepção geral da palavra, pode ser
junto ao mate rial (Figura 16.147) e no interior considerado todo m ateria l com propriedades
dos túbulos dentinários (Figura 16.148). Junto adesivas e coesivas, capaz de unir fragmentos
ao material na luz do tubo, além das granulações entre si de modo a formar um todo compacto.
) de calcita, foi também observada a formação de Cimento Portland é a denominação convencio-
uma ponte de tecido duro Von Kossa positiva nada mundialmente para o material usualmente
(Figura 16.149). conhecido na construção civil como cimento.
CIÊNCIA ENDODÔN TICA
------ ·-· -
O nome técnico Cimento Portland foi criado 1450ºC . Nessa tempera tura, o material sofre fu-
por Joseph Aspdin, construto r e químico britâni- são incipient e formando pelotas, conh ecidas
co, qu e em 21 de outubro de 1824 patenteou o como clínquer (Figuras 16.150 e 16.151 ). O
primeiro processo de fabricação do cimento, ao clínquer é resfria do e moído até um pó bem fino
qual chamou de Portland, devido às semelhan ças com a adição de um pouco de gesso e o produto
na cor e dureza de sua invenção com as pedras final é o cimento Portland comercial, utilizado
encontra das na ilha de Portland (Inglaterr a). em todo o mundo.
Essa denomina ção oficial permanec e até hoje. Mehta & Monteiro 290 relatam que as matérias-
O cimento Portland pode ser definido como primas para a produção de cimento Portland con-
o aglomera nte obtido pela pulverização do clín- sistem principalm ente de materiais de carbonato
quer resultante da calcina ção, até fusão incipien - de cálcio (CaC0 3 ), como a pedra calcária, giz,
te, de uma mistura íntima e convenie ntemente mármore e conchas do mar e de alumina (Al 0 ),
2 3
proporcio nada de ma teriais calcários e a rgilosos, sílica (Si0 2 ) e óxido de ferro (Fep ), encontrados
3
sem adição, após a calcinação, de outras substân- nas argilas e xistos argilosos. Os autores observam
cias a não ser água e gesso 12· 396 -472 • qu e, para facilitar a formação dos compostos dese-
Segun do Neville 316 , o processo de fabricação jados no clínquer de cimento Portland é necessá-
do cimento Portland consiste essencialm ente em rio que a mistura de matérias- primas esteja bem
moer a matéria-p rima (calcário e argila), mistu- h omogenei zada antes do tratament o térmico. Isto
rá -la intimame nte nas proporções adequada s (fa- explica porque os materiais extraídos têm que ser
rinh a) e queimar essa mistura em um grande submetido s a uma série de operações de britagem,
forno rotativo até uma temperatu ra de cerca de moagem e mistura.

• ...f!Çi. _1_!;.147___ • FI~-- !6,148_


MTA-Ângelus® - 30 dias após implante em subcutâ- MTA-Ângelus® - 7 dias após tinplante em subcutâ-
neo de rotos. Notar granulações birrefringentes à luz neo de rotos. Notar estruturo birrefringente à luz polari-
polarizado em contato com o material. Cortes sem zada no interior do túbulos dentinários. Cortes sem
descalcificação (luz polarizado, JOOXJ. descolcificoção (luz polarizada, 100XJ.

• __FIG._16.14~--
MTA-Â ngelus® - 7 dias após implante em subcutâ-
neo de rotos. Notar extensa área de tecido irregular
altamente positivo a técnico de Von Kossa no entrada do
tubo de dentina e em contato com o MTA. Cortes sem
descalcificação (700>0.
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA C O M EMBASAMENTO CIE NTÍFICO

Segundo Neville31 6, a mistura e a moagem das contra temperaturas progressivamente mais ele-
matérias primas podem ser realizadas tanto em vadas. Inicialmente, a água é eliminada e o dióxi-
água ou a seco, caracterizando as duas principais do de carbono (C0 2 ) é liberado pela chaminé.
linhas de operação: via seca e via úmida, depen- Durante a queima da farinha, as moléculas de
dendo da dureza e teor de umidade das matérias- carbonato de cálcio e de carbonato de magnésio
primas. Oliveira 326 discorre sobre as várias etapas se decompõem no forno seguindo a reação:
do processo de fabricação do cimento Portland, CaC03 7 CaO (combina-se para dar o clínquer +
para as duas principais linhas de operação: via C0 2 (saí pela chaminé), ocorrendo daí novo ar-
seca e via (unida. No processamenlo por via seca, ranjo molecular; em seguida, o material seco sofre
a matéria-prima é inicialmente conduzida a uma uma série de reações químicas até que, finalmen-
estufa, onde é convenientemente secada. Secos, te, na parte mais quente do forno, com tempera-
os materiais argilosos e calcários são proporciona- turas a cerca de 1450ºC, 20 % a 30% do material
dos e conduzidos aos moinhos e silos, onde se se funde e o calcário, a sílica e a alumina se
reduzem a grãos de pequeno tamanho em mistu- recombinam. A massa se funde, conforme já sali-
ra homogênea. Uúlizam-se para esse fim, moi- entado, em pelotas, com diâmetro aproximada-
nhos, usualmente de bolas, associados em série e mente entre 3 mm e 2 5 mm, conhecidas como
conjugados a separadores de peneira ou ciclones, clínquer (formação dos cristais de clínquer, con-
por cuja ação se conduz o processo na produção tendo o C3 A, C3 S, C2 S, C4 AF - Figuras 16.38 e
da mistura homogênea de grãos de pequeno ta- 16.39) . O clínquer cai em resfriadores, que podem
manho, intimamente misturados das matérias- ser de diversos tipos, u sualmente çonstituídos por
primas. Essa mistura é conduzida por via pneu - chapas metálicas que recebem ar frio, abaixando a
mática para os silos de homogeneização, onde a temperatura à cerca de 60º C rn,.
composição básica da mistura é quimicamente O clínqucr resfriado é conduzido a depósitos
controlada e eventualmente, são feitas as corre- apropriados, onde aguarda o processamento da
;! ções. A mistura homogênea é armazenada em si- moagem. A operação de moagem do clínquer é
' los apropriados, onde aguarda o momento de ser realizada em moinhos de bola conjugados a sepa-
conduzida ao forno para a queima . radores de ar. O clínquer entra no moinho já com
O forno é constituído por um longo tubo de a parcela de gesso adicionada para o controle de
chapa de aço, revestido internamente de alvena- pega do cimento . O clínqu er pulverizado é condu-
ria refratária, girando lentamente em tomo de seu zido pneumaticamente p ara os separadores de ar,
I eixo, levemente inclinado em relação horizontal, um ciclone qu e reconduz ao moinho os grãos de
tendo na extremidade mais baixa um maçarico tamanho grande e dirige os de menor tamanho, o
onde se processa a queima de combustível (car- cimento propriamente dito, para os silos de esto-
I vão, gás ou óleo) e recebendo por sua boca supe- cagem. O produto acabado é então ensacado em
rior a mistura crua também chamada de farinha . sacos de papel apropriados e en caminhado para
A mistura, em seu movimento forno abaixo, en- armazenagem e distribuição 3 16 •

• Fm. 'tf».~5©
Pelotas de c/ínquer obtidas após o processamento, Aspecto do clínquer obtido em MEV (500xJ.
em altas temperaturas, do calcário e argila.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·-····-··- - ·---- - - - - - - - - -

No caso da produçã o do MTA, ao moer o mais refinado e restrito as depe ndências do labo-
clínquer, os cristais (composto pelos C 3A, C3 S, ra tório. Antes de sua embalagem, o produto pas-
C2 S, C4 AF - Figura 16.1 52 ) são separados e ou sa por rigorosos testes para confirmação da sua
quebrados, tornando-se mais finos, conseqüente- composição, análise química quanto à presença
mente mais reativ os com a águ a , pro- de contaminantes, adição de radiopacificador e
porcionando assim maior resist ência. No entanto esterilização através de raios gama-cobalto. O
as propriedades químicas são mantidas durante a processo de fabricação do MTA é na verdade
moagem. A partir da obtenção do clínq uer é que muito mais complexo do que o exposto e exige
se inicia a produção d o MTA, como por exemplo, maiores cuidados, principalmente com relação
o MTA-Angelus®. De posse desse produto, o ao que se observa quando o clínquer vai para
mesmo é separado, selecionando-se um clínquer moagem e embalagem para venda comercial, um
de dimensões reduzidas, em forma de pequenas pouco diferente de como a contece com o cimen-
esferas, que passa por um p rocesso de moagem to de construção.

• FIG. 16.152
Pó do clínquer moído e
condensado visto pelo microscópico
ótico. A - Fase intersticial bronco é
de cristais de Aluminato tricálcico
e Ferroaluminato tetracálcico. B -
Cristais azuis e amarronzados são
de Alita (Silicato Tricálcico).

Ainda com relação a sua composiçã o, Mehta tais como os álcalis (Na 2 0 e K 2 0), que se encon-
& Monteiro290 relata m que, embora o cimento tram na forma de sulfatos, o óxido de magnésio
Portland consista essencialmente de vários com- (MgO), o óxido de cálcio livre (CaO) entre ou-
postos de cálcio, os resultados das aná lises quí- tros elementos traço.
micas de rotina são e xpressos em termos de óxi- Conforme se pode observar nos relatos de
dos dos elementos presentes. Alé m disso, costu- Vaidergorin4 68 e .de Mehta & Montei ro 290 , as des-
ma-se e xpressar os compostos individuais dos crições dos elementos componentes do cimento
óxidos do clínquer usando -se abreviações: CaO Portland confe rem com aquelas que se encon-
7 C; Si0 2 7 S; Al20 , 7 A; Fe2 0 3 7 F; MgO 7 tram na bula do ProRoot® MTA da Dentsply e
M; S0 3 7 S; H 2 0 7 H; 3Ca0 -Si0 2 7 C 3 S; 2 Caü - também coincidem com as informações de Lee et
Si0 2 7 C2 S; 3Ca0 - Al2 0 3 7 C3A; 4Ca0 - 3Al2 0 3 al. 26 1, Torabinejad et al.446 , Wucherpfening & Gre-
- Fe 2 0 3 7 C4 AF; 4Ca0 - 3AI2 0 3 -S0 3 7 C4A 3 S; en484, Estrela et al. 122, Deal et al. ' 09 e Funteas et
3Ca0 - 2Si0 2 - 3H2 0 7 C 3 S2H 3; CaS0 4 - 2H2 0 7 al. 144, evide nciando, uma vez mais, que o MTA
CSH2 • tem a mesma origem do Cimento Portland.
Segundo Vaidergorin468, os principais com- De acordo com Mehta & Monteiro2 9 0, a com-
postos de cimento Portland, calculados a partir posição química dos compostos presentes nos ci-
de constituintes maiores da análise química, são mentos industriais não é exatamente a que é
os seguintes: silicato tricálcico (3Ca0-SiOJ , sili- expressa pelas fórmulas comum ente utilizadas:
cato dicálcico (2Ca0 -Si0 2 ) , aluminato tricálcico C3 S, C2 S, C 3A, C4 AF. Isto ocorre porque nas altas
(3Ca0-Al 2 0 3 ) , ferroaluminato tetracálcico (4 Ca0 temperaturas que prevalecem durante a forma-
- Al 2 0 3 - Fe 2 0 3 ) e sulfato d e cálcio di-hidratado ção do clínquer, os elementos presentes no siste-
(Caso~ - 2H2 0). Além d estes, estão presentes no ma, inclusive impurezas como magnésio, sódio,
ciment o Portland alguns constituintes menores, potássio e enxofre possuem a capacidade de en-
CIRURGIA PARE NDOD Ô NTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
'
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trar em soluções sólidas com cada um dos princi- senvolvidos. Foi a partir do amplo domínio cien-
pais compostos do clínquer. Pequenas quanLida- Lífico e Lecnológico sobre o cimerno Ponland co-
des de impurezas em solução sólida podem não mum que tornou possível o desenvolvimento de
alterar significativamente a natureza cristalográ- outros tipos de cimento, com o obj etivo inicial de
fica e a reatividade de um composto com a água, atender a casos especiais. Com o tempo verifi-
porém, grandes quantidades sim. cou-se que alguns desses cimentos, inicialmente
No Brasil, são produzidos vários tipos de ci- imaginados como especiais, tinham desempenho
mento Portland, sendo normalizados e designa- equivalente ao do cimento Portland comum ori-
dos pela sigla e pela classe de resistência. As si- ginal, atendendo plenamente às necessidades da
glas correspondem ao prefixo CP acrescido dos maioria das aplicações usuais e apresentando,
algarismos romanos de I a V conforme o tipo de em muitos casos, inclusive, alguma vantagem
cimento, sendo as classes indicadas pelos núme- adicional. A partir dos bon s resultados dessas
ros 25, 32 e 40. As classes de resistência apontam conquistas e a exemplo de países tecnologi ca -
os valores mínimos de resistência à compressão mente mais avançados, como os da União Euro-
(expressos em megapascal - MPa), garantidos péia, surgiu no mercado bra sileiro, em 199 1, um
pelo fabricante, após 28 dias de cura22 • novo tipo de cimento, o cimento Portland com-
De acordo com as revisões das especificações posto, cuja composição é intermediária entre os
realizadas pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS cimentos Portland comuns e os cimentos Por-
TÉCNICAS, em 1 991, os cimentos Portland brasilei- tland com adições (alto -forno e pozolânico), es-
ros passaram a ter as seguintes designações 2 2 : tes últimos já dispon íveis há algumas décadas.
Atualmente os cimentos Portland compostos são
Cimento Portland Comum (NBR 5732): os mais encontrados n o mercado, respondendo
• CP I - Cimento Portland Comum por aproximadamente 70% da produção indus-
• CP I-S - Cimento Portland Comum com trial brasileira, sendo utilizados na maioria das
;f adição aplicações u suais, em substituição ao antigo CP.
I ~ Cimento Portland Composto (NBR 11 578): Apesar disso, o cimento Portland comum ainda é
• CP II-E - Cimento Portland Composto com produzido por algumas indústrias, visando o mer-
Escória cado internacional22. Existem ainda outros tipos
• CP Il-Z - Cimento Portland Composto com de cimento, para u sos específicos, mas os que
Pozolana mais se relacionam com os n ossos interesses são:
• CP II-F - Cimento Portland com Fíler
Cimento Portland de Alto -Forno (NBR ~ CimenLo Portland Branco (NBR 12989):
5735): CPIII • CPB - Cimento Portland Branco Estrutural
• 1
Cimento Portland Pozolânico (NBR 5736) : • CPB - Cimento Portla nd Branco Não Es-
CP IV tru LUral
~ Cimento Portland de Alta Resistência lnicí'a l
(NBR 5733): CP V-ARI De acordo com Mehta & Monteiro29º, o ci-
~ Cimento Portland Res istente a Sulfatos mento Portland branco é produzido pela pulveri-
(NBR 5737): RS zação de um clínquer de cimento Portland bran-
~ Cimento Portland de Baixo Calor de Hidra- co. A cor cinza do clínque r do cimento Portland
tação (NBR 13116): BC comum é devido a presença de ferro e manga-
~ Cimento para poços petrolíferos (NBR nês. Portanto, diminuindo-se o teor de ferro do
9831): CPP clínquer pode-se produzir cimentos de cores cla-
ras. Quando a quantidade to tal de ferro no clín-
O primeiro cimento Portland lançado no quer corresponde a menos de 0,5% de Fe 2 0 3, e o
mercado brasileiro foi o conhecido CP, corres- ferro é mantido no estado reduzido de Fe 2+, o
r . pondendo atualmente ao CP l, um tipo de ci- clínquer geralmente é bran co. Estas condições
i:-
, menta Portland comum sem quaisquer adições são alcançadas na fabricação do cimento usando-
além do gesso. Ele acabou sendo considerado na se argila e rochas carbonatadas sem ferro como
maioria das aplicações usuais como termo de re - matéria-prima, moinh os especiais de bolas com
ferência para comparação com as características e revestim entos e bolas de cerâmica para triturar a
propriedades dos cimentos posteriormente de- mistura da matéria-prima e um combustível lim-
C IÊNCIA ENDODÔNTICA •'
-------·-----------·
po tal como óleo ou gás para a produção do clín - Portland obtido de um saco recentemente aberto
quer em atmosfera redu tora na zona de alta tem- e outro aberto há dois meses foi avaliada por
peratura do forno rotativo de cimento. Conse- Duarte et al. 1º8 • Os resultados demonstraram não
qüentemente, os cimentos brancos são aproxi- ter havido contaminação dos materiais, em fun-
madamente três vezes mais caros do que os ci- ção do fato da preparação do cimento ocorrer em
mentos Portland normais. temperaturas altíssimas, incompatíveis para o
Segundo a AssocIAçÃo BRASILEIRA DE CIMENTO crescimento bacteriano. Além do que o Cimento
PoRTLAND22 , o ciment o Portland branco é Portland possui alto pH, sendo essa alcalinidade
regulamentado pela n orma NBR 12989, sendo incompatível com a maioria dos microrganismos,
classificado em dois subtipos: cimento Portland promovendo uma inibição enzimática 124· 125 .
branco estrutural e cimento Portland branco não Independente desses dados é importante fri-
estrutural. O cimento Portland branco estrutural sar que utilizar o Cimento Portland diretamente
é usualmente aplicado em concretos brancos de sua embalagem comercial é inviável e emba-
para fins arquitetônicos, possuindo as classes de sado não só por princípios éticos, como também
resistência 25, 32 e 40, similares às dos outros o da sustentação jurídica, que existe quando o
cimentos. Já o cimento Portland branco não es- produto for registrado no MINISTÉRIO DA SAúDE, o
trutural não tem indicação de classe e é aplicado, que não acontece com o Cimento Portland da
por exemplo, no rejuntamento de azulejos e na forma como é distribuído enquanto material de 1 .
fabricação de lad rilh os hidráulicos, isto é, em construção.
aplicações não estruturais, sendo este aspecto Vale ressaltar ainda que o Cimento Portland
ressaltado na embalagem para evitar uso indevi- pode apresentar uma grande variação de compo-
do por parte do consumidor. nentes o que não acontece com o produto MIA,
Portanto, é importante con siderar que são cujo clínquer possui composição e percentual
vários os tipos de Cimento Portland, cada um dos elementos pré-determinados. Conforme já
com características e indicações especiais e quan- salientado, a adição de diferentes componentes
do do seu estudo, esses fatores devem ser le"va- ao cimento Portland como materiais carbonáti-
dos em conta. Conforme relata Almeida -Filho 11, cos, materiais pozolônicos, escórias (materiais
/
todo processo de produção industrial está asso- provenientes de subprodutos comerciais, resídu-
ciado a uma certa variabilidade das característi- os da combustão do carvão, escórias siderúrgicas
cas dos produtos acabados. No caso do cimento ácidas, rejeitos sílico-aluminosos do craquea-
pode-se citar as principais causas de variabilida- mento do petróleo, cinzas de resíduos vegetais e
de: a mudança de composição das matérias-pri- cinzas volantes) originam diferentes tipos de ci-
mas (jazida de calcário e de argila); procedimen- mento no comércio. Deal et ai. 10 3 relatam que a s
to de mistura e homogeneização; temperatura e análises efetua_das em vários tipos de cimentos de
tempo de clinquerização; tempo de moagem; va- MTA (ProRoot® e MTA experimental de presa
riação nas características das adições e natureza rápida) e com o cimento Portland, em algumas
do combustível1 7 º. Dessa forma parece funda- amostras (não menciona em qual deles) apresen-
mental que constantes avaliações das proprieda- taram traços de cromo, níquel e chumbo.
des químicas, físicas e biológicas sejam realizadas Outro elemento químico contaminante pes-
para o MTA, assim como para as experimenta- quisado nos cimentos é o arsênio. Admite-se que
ções com o cimento Portland, com o intuito de os alimentos podem conter até 3,5 ppm de arsê-
estabelecer médias comparativas de resultados, nio. Cosméticos como muges (blushes) não po-
fornecendo assim margens de confiabilidade dem conter mais do que 2 ppm de arsênio
dentre os materiais e marcas avaliadas. (AS 2 0). A presença desse elemento químico no
Outro aspecto de suma importância nesse MTA ® Ângelus, no ProRoot® MTA assim como
contexto a ser levado em consideração é que, nos cimentos Portland da Votoran, Ribeirão e o
apesar das pesquisas demonstrarem que o ci- Itaú branco, foi pesquisado por Duarte (comuni-
mento Portland constitui base do produto co- cação pessoal) empregando a espectrofotometria
mercial MTA, jamais se pode recomendar que de absorção atômica. O cimento Votoran apre-
esse material seja utilizado em pacientes, quando sentou maior índice de arsênio (0,0007 ppm
pego diretamente de sua embalagem comercial. para análise de 3 horas e 0,0003 ppm em 7 dias)
A contaminação bacteriana e fúngica do cimento em relação aos demais cimentos (0,0002 ppm
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

tanto nas análises com 3 horas e 7 dias). No pelo fato de a lguns trabalh os demonstrarem que
entanto, todos esses índices foram bem abaixo tanto o MTA como o Cimento Portland possuem
do mínimo recomendado para ser empregado a m esma composição 122 · 181 e o m esmo mecanis-
em seres humanos que é de 3,5 ppm. mo de ação 192 .
Essas adições na composição dos cimentos
de construção podem inclusive modificar a mi- * Análise do pH
croestrutura do cimento, como por exemplo, di- O pH do MIA foi analisado por Torabinejad
minuição da permeabilidade, difusibilidade iôni- et al. 4 46 , tendo sido constatado que logo após a
ca e a porosidade capilar, dentre outras proprie- sua hidratação com água destilada é de 10,2. No
dades. Para efeito de comparação, o cimento Vo- entanto após 3 horas esse valor sobe para 12,5 e
toran® apresenta composição diferente ao do se estabiliza.
cimento Itaú®. Este tem calcário com outras ca- Segundo Weidmann et al. 474 , o pH do ci-
racterísticas, menos magnésio, possui ainda em mento Portland aumenta bastante durante o pri-
sua composição o gesso e filler calcário, que o meiro minuto após a sua hidratação, atingindo o
torna mais lento em suas reações químicas. valor de 12,3 e continua aumentando a um valor
O tamanho das partículas do clínquer após a máximo de 12,9 após 3 horas. Segundo Iaylor437,
moagem pode influenciar nas reações subse- inicialmen te a matriz de cimento Portland de-
qüentes (pó + água). Partículas com mais de 50 senvolverá um pH por volta de 13,5 devido a
micrômetros não podem ser hidratadas comple- liberação de NaOH e KOH, até a formação de
tamente, não contribuindo para a resistência do novos compostos com a participação de sódio e
cimento. Partículas menores que dois micrôme- de potássio, geralmente a partir de reações com
tros não são hidraulicamente ativas e não produ- C3A e C2 S. Entretanto, com o desenvolvimento
zem material cimentante em proporção com sua da hidratação a significante reserva de hidróxido
superfície . O ideal seria que o tamanho dos grãos de cálcio formado tamponará o pH a um valor
~fosse ao redor de 25 micrômetros. Esse diâmetro por volta de 12,4.
1
permite uma hidratação otimizada das partículas, Duarte et al. 109 avaliaram os índices do pH e a
acarretando uma maior expansão de presa, por- liberação de íons cálcio do ProRoot MTA ® e
tanto maior adaptação marginal às paredes den- MTA-Ângelus®, nos períodos de 3, 24, 72 e 168
tinárias. O fato é que os cimentos Portland po- horas após a espatulação. Os res ultados demons -
dem apresentar o pó com as mais variadas di - traram que em todos os períodos (a maior libe-
;mensões. O pó do MTA sendo mais grosso reduz ração ocorreu no período de 3 horas) os valores
e controla a retração por secagem, redução de de cálcio liberado e o pH foram maiores para o
volume, enquanto a pasta ainda está úmida e MTA-Ângelus®. Esses autores acred itam que os
I
não endureceu totalmente. valores aferidos (pH não superior a 9, 52) fo -
Portanto, o conhecimento de todos esses fa - ram mais baixos para ambos os materiais estu -
tores e outros de igual importância, envolvendo dados em relação aos relatados com o MTA por
os diferentes tipos de cimento, são fortes argu- Torabinejad et al. 446, em função de diferenças
mentos que impedem, até o momento, o uso entre as metodologias utilizadas. Vale ressaltar,
indiscriminado de qualquer cimento de constru- no entanto, que Holland & Murara (resultados
ção em seres humanos, e que não t enham pas- não publicados - 2002 ) estuda ndo o MTA e Ci-
sado por rigorosos testes de biocompatibilidade. mento Portland, observaram valores de pH ao
redor de 12,5, coincidindo com os resultados de
5.1. Propriedades Físico-Químicas Torabinejad et al. 4 50 e diferentes aos divulgados
do MTA e Cimento Portland por Duarte et al. 109 . Com o mesmo propósito,
Deal et al. 1º3 estudaram um MTA experimenta l
Deve ser considerado que algumas das pro- com tempo de endurecimento mais rápido, ao
priedades a serem abordadas sobre o MTA. tem redor de 17 minutos, comparativamente com o
{ como referência trabalhos relacionados com as ProRoot® e Cimento Portland, verificando logo
propriedades do Cimento Portland (Cimento de após a sua manipulação um pH em torno de
construção), uma vez que, conforme relatamos 11,60, 11, 72 e 11, 74 respectivamente. No entan-
acima, o próprio fabricante do MIA admite sua to, cipós 30 minutos, o ProRoot® e Cimento Por-
presença na composição do produto e também tland atingiram ambos o pH de 12,3, sendo que
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

o pH do MTA experimental não foi medido devi- radiopacidade do que a guta-percha e a dentina,
..
'
do ao seu estado sólido. ele é facilmente identificado nas radiografias (Fi-
gura 16.153). Esta radiopacidade é conferida ao
* Radiopacidade produto pela presença do óxido de bismuto em
Uma das características importantes que um sua composição (ao redor de 25%) .
material obturador deve possuir é que ele seja Quanto ao cimento Portland, nenhum estu-
radiopaco. Torabineja d et al. 446 verificaram que o do foi realizado avaliando a radiopacidade dos
MTA apresentava radiopacidade maior do que a vários tipos de cimento. No entanto, sabemos
apresentada pelo Super EBA ou IRM, sendo li- que radiograficamente ele é pouco visível, seme-
geiramente menos radiopaco do que o Kalzinol, lhante a radiopacidade da dentina (Figura
resultados que foram confirmados por Laghios et 16.154), pelo fato de não conter o óxido de
al. 2 50 • Em função do fato do MTA apresentar maior bismuto em sua composição original.

1 •

• _F!G... 1~.154_____________________________ __--- --- ···


Notar que o MTA colocado no retrocovidode é Porção opicol do canal radicular preenchido com o
rodiopaco, devido presença de óxido de bismuto. Cimento Po,tland (distância A o BJ. Possui rodiopacidode
semelhante a da dentina.

* Tempo de Endurecimento (presa) é de 9 minutos, do IRM de 6 minutos. Portanto


Como resultado da hidratação do pó do MTA, como se verifica, o tempo de presa do MTA é um
forma-se um gel coloidal que se solidifica em m e- dos mais longos entre os materiais retrobturado-
nos de 3 horas, numa estrutura dura e resistente. res. É desejável que o material endureça o mais
As caractelisticas desse agregado dependem do ta- rápido possível, evitando-se que sofra contrações
manho das partículas, da proporção pó/líquido significantes. Nesse propósito o MTA-Ângelus (fa-
utilizada, da temperatura e da presença de bricado pelo Laboratório Ângelus - Londrina - PR)
água456 . Nesse estudo o MTA revelou maior tempo não apresenta em sua composição o sulfato de
de presa, ou seja, 2 h oras e 30 minutos, compara- cálcio (gesso), diferentemente do que acontece
do ao amálgama de prata que é de 4 minutos. com o ProRoot MTA® - Dentsply, fato que lhe
Comparativamente com outros materiais pode- confere a propriedade de endurecer mais rapida-
mos verificar que o tempo de presa do Super EBA mente, ao redor de 1O minutos.
CIRURGIA PARENOODÔNTICA: COMO PRATICÁ-tA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

Deal et al. 103 estudaram um nov o material, ocorre o ressecamento desse cimento. Na prática é
um MTA de presa rápida, relatando que o mes- comum o profissional agregar mais água a mistura
mo toma presa depois de 17 minutos. Avaliou objetivando novamente a sua utilização. Con side -
também 6 cimento ProRoot®MTA constatando rando que o fabricante do ProRoot MIA0 admite
que o mesmo endurece em 156 minutos e o Ci- atualmente que o produ to é composto de 75 % de
m ento Portland com 15 9 minutos. Cimento Portland e que o MTA-Ân gelus®possui
Abdullah et al.2 levando em consideração que 80% do mesmo, faremos considerações a respeito
o tempo de presa prolongado é a p rincipal dessa propriedade também com base na literatura
desvantagem do MTA, adicionaram o CaC12 no referente ao Cimento Portla nd.
cimento Portland para acelerar a sua presa , e Quanto a essa característica, deve ser ressal-
com isso observar se haveria modificações quan- tado que a água utilizada para reação de hidrata -
to ao seu comportamento químico, físico e bioló- ção do MTA ou Cimento Ponland poderá influen-
gico. Essa adição [oi realizada no cimento Por- ciar suas propriedades químicas, físicas e biológi-
tland, produzindo duas variações do mesmo, ou cas 11. Segundo Silva 397 , algumas das impurezas
sej a, um cimento com 10% e o outro com 15% mais comuns encontradas na água podem afetar
de CaC12 . Como comparação, foi empregado um as propriedades físicas do cimento, dependendo
cimento Portland comum, um cimento de ionô - de sua concentração . Carbo na tos alcalinos acele-
mero de vidro, e o MTA (ProRoot). A adição de ram a pega. Bicarbonatos alcalinos podem acelerar
cloreto de cálcio diminuiu o tempo de presa e e re tardar a pega, e se s ua concentração for ele-
segundo o estudo, não alterou as formas dos vada também pode afetar a resistência. Cloretos
cristais qu ando analisadas com aquelas que são e sulfatos de sódio causam um elevado teor de
encontradas no cimento Portla nd comum. Essa sódio dissolvido, admitindo-se para os cloretos
observação demonstrou que o CaC12 não interfe- até 20 mil pp m e para os sulfatos 1O mil ppm .
riu na composição química do cimento Portland Carbonatos de cálcio e m agnésio aparecem geral-
original, cujos principais componentes são os m ente em águas tra ta das, são praticam en te inso -
1
, íons cálcio e fó sforo. lúveis, sendo admitida até 400 ppm. Sulfato e
cloreto de magnésio admitem teor m áximo de 4
* Proporção Pó - Líquido mil ppm. Cloreto de cálcio a c elera a pega,
Segundo o fabrican te do ProRoot MTA®, a principalmente n os p eríodos iniciais da hidrata-
m istura do pó com o líquido deve ser feito n a ção. Sais de ferro admi tem até 40 mil ppm. Sa is
proporção de 3:1, dando a mistura uma consistên- de zin co, cobre, manganês e titânio tole ram teor
cia arenosa , semelhante ao amálgama de prata, má ximo de 500 ppm . Entretanto, com o o MTA
porém úrnido (Figura 16.155). No entanto, de - u tiliza água destilada para a hid ratação n ão exis-
corridos alguns minutos após a homogeneização te a interferên cia destas imp urezas .

• FIG. 16.155
Consistência do M TA logo após a mistura do pó
( com o líquido, adqwá"ndo um aspecto arenoso, úmido.

f
CIÊNC IA ENDODÓNTICA

A molécula da água (H-0-H) possui uma liga- caso de pastas de cimento, se forem igualadas as
ção covalente. Devido à diferença nos centros de viscosidades, todos os ensaios acontecerão dentro
carga do lúdrogênio e do oxigênio, o próton do das mesmas condições. A viscosidade da pasta de
íon de hidrogênio positivamente carregado per- cimento e o seu valor padrão são dependentes de
tencente a uma molécula de água atrai os elétrons vários parâmetros, como a quantidade de água, a
negativamente carregados das moléculas de água finura do material, a composição mineralógica, ti-
vizinhas. Esta força de atração relativamente fra- pos e teores de adições entre outros. Portanto, a
ca, chamada de ligação de hidrogênio, é respon - consistência normal é característica de cada ci-
sável pela estrutura ordenada da água. A água à mento e sua determinação é feita por tentativas.
temperatura ambiente t em aproximadamente
50% das ligações de hidrogênio rompidas. Mate- * Hidratação
riais no estado de ligações rompidas têm cargas Como já foi relatada anteriormente a hidrata-
superficiais desequilibradas, que geram energia de ção do pó do MIA com água destilada resulta
superfície. Essa energia superficial em líquidos num gel coloidal que se solidifica em uma estru-
causa tensão superficial, a qual é responsável pela tura dura em aproximadamente 3 horas4 56 . A
tendência de um grande número de moléculas natureza hidrofílica das partículas do pó do MIA
aderirem entre si290 • Assim, como a tensão super- confere uma característica especial a esse produto,
ficial da água destilada é alta, a hidratação das podendo ser utilizado em presença de umidade, ,
partículas do pó p oderá ocorrer de forma não tal qual acontece durante os procedimentos clíni-
homogênea, podendo perman ecer partículas sem cos em casos de perfurações e cirurgia parendo-
serem hidratadas, comprometendo algumas das dôntica, não necessitando, portanto, de campo
excelentes propriedades do material. seco. Nessa situação, a umidade presente nos teci-
Desta forma, a utilização de um líquido ou dos age como um ativador da reação química des-
solução com uma menor tensão superficial, além te material. Outra vantagem ainda, no entender I
de proporcion ar u ma melhor ação umectante de Iorabinejad et al.4 55 é que a h abilidade seladora
também proporcionará uma melhor plasticidade, exibida pelo MIA, provavelmente deve-se a essa
m elhorando as condições de trabalho. Embora sua natureza hidrofílica e ligeira expansão quando ~
também possa causar alteração no seu tempo de ele é manipulado em ambiente úmido.
endurecimento. A reação de presa do cimento se baseia nas
reações dos compostos anidros do cimento com a
* Viscosidade água. Nessa reação os componentes individuais do
Até o momento ainda não foi realizado ne- cimento são atacados e se decompõem (reagem}
nhum ensaio para avaliar a viscosidade do MIA. formando compostos lúdratados. A hidratação é
Entretanto, desde a publicação dos primeiros tra- principalmente uma hidrólise d os silicatos, produ-
balhos tem sido sugerida uma proporção pó-líqui- zindo um lúdrato de silicato de cálcio (CHS gel)
do de 3: 1, ou rela ção água/ cimento igual a de m en or basicidade, liberando cal que se separa
0,33 261 , 283 • Segundo a Associação Brasileira de Ci- sob a forma de hidróxido de cálcio: Silicatos de
mento Portland21 , a análise da viscosidade ou aná- cálcio + H2 0 = CHS gel + Ca(OH)2 . A reação m ais
lise da proporção pó - líquido dos cimentos Por- interessante consiste na transformação de com-
tland é regulamentada por norma da ABNI (NBR postos anidros de superfície reduzida em um pro-
11580/91), sendo conhecida como determinação duto hidratado, parecido com gel e com superfície
da águ a de consistência normal. O índice de con - extremamente grande. Os produtos de hidratação
sistência normal de uma pasta de cimento Por- dos silicatos de cálcio no clínquer (C 3S e C 2S) são
tland representa uma mistura padronizada de ci- quimicamente idênticos: um hidrato de silicato de
mento e água, que apresenta proprieda de reológi- cálcio em forma de gel microcristalino e um hi-
ca constante, sendo u tilizado para a verificação de dróxido cristalino. A cómposição do hidrato de
duas características importantes do cimento: os cálcio é aproximadamente C3 S2H 3 e pode ser cha-
tempos de p ega e a instabilidade de volume . Para mado de Ioberm orita, isto porque estruturalmen -
que a execução dos ensaios seja u niforme para te é similar a um mineral n atural que tem esse
todos os cimentos, de maneira que os resultados n ome. A hidratação dos aluminatos tem relação
sej am comparáveis, é necessário que as pastas de direta com a presen ça do gesso . Na sua ausência a
cimento apresentem as m esmas características. No reação do aluminato tricálcico com a água é vio-
CIRURGIA PAREN DODÔNTI CA : COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

lenta, levando ao endurecimento imediato da pas- mesmo após 21 dias imerso em água. De acordo
ta. Na sua presença a reação de hidratação é dife- com o fabricante do ProRoot MTA®, a solubilida-
rente, não havendo pega instantânea. O gesso e o de em água do material está compreendida em
aluminato tricálcico reagem primeiro formando o O, 1 a 1,0%, sendo considerado ligeiramente solú-
trissulfato de cálcio de alurrúnio conhecido como vel. Segundo o MSDS (Materíal Safety Data Sheet)
Etringita. O cálcio não combinado (óxido de cál- de indústrias produtoras de Cimento Portland,
cio) e o periclásio não combinado (óxido de mag- constata-se que o Cimento Portland apresenta
nésio), quando se encontram em grande quanti- solubilidade compreendida em 0,1 a 1,0%, evi-
dade no cimento podem causar expansão devido denciando desta forma, a similaridade entre a
a uma reação lenta de hidratação depois da pega solubilidade de ambos materiais. Ainda baseado
do cimento. O grau real de expansão depende do nas informações do MSDS, os sulfatos de cálcio
estado (cristalização do Mg) e da distribuição dos hemi e <li-hidratado que compõe m o MTA apre-
óxidos dentro do cimento. Mais especificamente, sentam ligeira solubilidade em água (0,3g/l a
os cristais grandes de periclásio e cal livre produ- 25ºC e 0,26 gil a 25 °C, respectivamente), sendo
zem instabilidade. Terminada a hidratação ocorre que o óxido de bismuto (radiopacificador do
um grande aumento de superfície. MTA) é insolúvel1 1 • De acordo com dados de
Quando se misturam a água e o cimento, Evers & Smith 126 o óxido de cálcio, outro produ-
ocorre uma reação rápida, imediata, formando to encontrado no MTA possui solubilidade em
uma solução supersaturada (principalmente de água de O, 12 gil a 20°C .
Ca(OH) 2 ). Porém a reação rápida vai perdendo Segundo Herzog-Flores et al.1 73 que ava-
velocidade, devido à formação de "sulfoaluminato liaram a composição química do MTA através de
microcristalino" ao redor das partículas de alumi- ensaios analíticos e difração de Raios X, 18% do
natos. Depois de wn período de "descanso" com material é insolúvel em águ a e 0,36% corres-
pouca reação, a reação continua com maior rapi- ponde ao óxido de m agnésio . Estes resultados
;r dez, formando um gel de hidrato de silicato e a estão de acordo com as informações fornecidas
l pasta do cimento começa a endurecer. Na primei- pelo fabricante do ProRoot MTA®, uma vez que
ra etapa se forma etringita e um pouco de hidró- aproximadamente 20% do peso do material
xido de cálcio. Aproximadamente uma hora de- corresponde ao óxido de bismuto, que é insolú-
pois da mistura, durante a segunda fase, começa a vel e apresenta alto peso m olecular, equivalendo
precipitar a fase CSH na superfície dos silicatos a cerca de 15 a 17 % do volume do material.
anidros. Na terceira etapa se fecha o espaço entre Além do óxido de bismuto, o ProRoot MTA®
as partículas sólidas que se unem com o gel da pode ainda conter até 0,6 % de resíduos inso-
fase CSH. Deste modo, a matriz inicial composta lúveis livres como a sílica cristalina (quartzo) e
dos primeiros hidratos dos aluminatos e silicatos determinados argilominerais.
se torna mais densa, a porosidade diminui e a
resistência começa a desenvolver-se. O hidróxido * Densidade
de cálcio que se forma durante este processo em De acordo com o fabricante do ProRoot
cristais grandes integra-se à matriz do gel CSH, MTA®, o material apresenta uma densidade de 4 a
mas supõe-se que contribui muito pouco para a 4,5. Taylor437 indica que o cimento Portland arú-
resistência da pasta. O gel de CHS e o hidróxido dro apresenta densidade de 3 a 3,2. Esta diferença
de cálcio são os componentes principais do cimen- entre a densidade dos materiais estudados é pro-
to hidratado. O hidróxido de cálcio se encontra vavelmente devido à adição de 20% de óxido de
entrelaçado com a estrutura fibrosa do gel CSH. bismuto, que apresenta uma densidade de 8,76.
Ele pode reagir dentro do concreto com a sílica Com a hidratação dos vários componentes do
fina dispersa e com os materiais aluminosos, for- cimento Portland a densidade diminui, apresen-
mando compostos insolúveis que contribuem tando uma densidade de 2, 13 quando completa-
para a formação da resistência. mente hidratado. Segundo Taylor437, o volume fi-
nal do cimento Portland pode ser calculado pela
* Solubilidade diferença entre as densidades do cimento anidro e
,,l Outra informação interessante à respeito do completamente hidratado, sendo estimado que o
MTA é que ele tem se mostrado resistente à dis- volume de gel de cimento saturado é cerca de 2,2
solução ou decomposição pelos fluidos teciduais, vezes à do cimento anidro.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

* Temperatura Kwak et al. 249 realizaram um estudo in vitro


A temperatura ambiente va i exercer influên - para avaliar se a espessura do plug apical de MTA
cia sobre quase todas as propriedades do MTA ou tem influência quando submetido à obturação do
do cimento Portland, da alteração da tensão su- canal radicular logo após a sua colocação ou vinte
perficial da água destilada passando por alterações e quatro horas depois. Observaram que a obtura-
na velocidade de hidratação, na reatividade e so- ção do canal radicular imediatamente após a utili-
lubilidade dos compostos entre outras modifica- zação do plug apical de MTA não prejudicou a
ções. Por exemplo, com o a umemo da tempe- capacidade seladora do material. Além do que
ratura, a tensão superficial da ág ua diminui, a hi- notaram que a espessura do plug apical de MTA
dratação e o tempo de presa serão mais rápidos e também não influía no selamento marginal, nem
a solubilidade do hidróxido de cálcio diminuirá. mesmo havendo deslocamento do plug.
Segundo Mehta & Monteiro 290, a resistência à Loxley et al. 27 4, em perfurações realizadas em
compressão inicialmente aumentará até l O ou 15 dentes bovinos, avaliaram a resistência à tração
dias, entretanto, com 28 dias geralmente apresen- do MTA, IRM® e Super EBA® quando submetidos
tarão menor resistência à compressão que em a ação de quatro materiais de u so intra canal em-
condições de temperatura m ais baixas. pregados para o clareamento dental. Quando os
materiais não foram submetido s à ação de agentes
* Resistência Mecânica clareadores, o MTA foi significativamente menos I
Apesar da resistência à compressão não ser resistente ao deslocamento do que o Super EBA®
um fator tão importante quan do colocado em ca- ou IRM®. Quando expostos à ação do Perborato
vidades que não suportam cargas oclusais (retro de Sódio por sete dias, a força de resistência à t
cavidades), deve-se considerar que em determina- tração foi menor para todos os grupos estudados.
das situações, como por exemplo, em perfurações No entanto o MTA foi significativamente menos
de furca de molares, essa ca rga poderá ser signifi- resistente ao deslocamento do que o TRM®.
cativa. Com relação à resistência à compressão, o Deve ser considerado que esses bons resulta-
MTA apresenta nos tempos iniciais menores valo- dos com o emprego do MTA quanto à resistência
res e que com o passar do tempo aumenta consi- ao deslocamento e à tração, estão diretamente re- /
deravelmente. Vinte e um dias após a sua mani- !acionados aos princípios mecânicos de retenção
pulação o valor da força de compressão do MTA cavitária e não especificamente às propriedades
que era ao redor de 40 MPa, subiu p ara 67 MPa adesivas do material.
(megapascal), comparável ao do IRM® e Super
EBA®, porém significativamente men or do que o * Selamento Marginal
amálgama de prata q ue é de 3 11 MPa 116 . Estudos sobre a capacidade seladora marginal
A literatura registra ainda alguns trabalhos que ocorrida com o emprego do MTA, comparativa-
foram realizados no sentido de avaliar a resistência mente a outros materiais, após a utilização de co-
à tração e ao deslocamento do MTA. Assim é que rantes ou m esmo penetração de bactérias, tem
Sluyk et al.403 avaliaram as características de reten- evidenciado que ele é o mais efetivo.
ção e propriedades de presa do MTA quando utili- Uma série de trabalhos tem demonstrado a
zado como material selador de perfurações de furca excelente capacidade seladora marginal do MTA
de dentes humanos extraídos. Os autores concluí- como material selador em perfurações radicula-
ram que o MTA resistiu ao deslocamento a um resªº·261; como material selador em perfura ções de
rúvel significativamente maior em 72 horas do que furca 311 ; como material retrobturador em cirurgias
em 24 horas e qu e, quando um ligeiro des- parendodônticas 11. 28.49, 133. 131.2s5.3ó6.430.453.456,481; como
locamento ocorreu no período de 24 horas, o ma- barreira intracoronária prévia ao clareamento
terial demonstrou capacidade de restabelecer resis- denta11°0; e como material selado r coronário406 •
tência ao deslocamento das paredes dentinárias. A Essa habilidade seladora exibida pelo MTA
presença de alguma umidade após o selamento provavelmente deve-se à sua natureza hidrofílica
representou melhoria na adaptação do MTA às pare- e suave expansão quando é manipulado em am-
des da perfuração, entretanto, não houve diferença bi ente úmido 446 prevenindo a mkroinfiltração
significativa na retenção do MTA quando bolinhas bacteriana' e a infiltração de endotoxinas4 30 . Inte-
de algodão secas e úmidas foram colocadas na câ- ressante notar que o MTA, mesmo quando colo-
mara pulpar durante o período experimental. cado experimentalmente em retrocavidades con-
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

taminadas com sangue, demonstrou excelente antimicrobiano do MTA2 19.45 3; e do MTA e cimento
habilidade seladora, pois a infiltração marginal Portland 122, evidenciando essa atividade com o
ocorrida na interface material/parede dentinária elevado pH alcalino e com a concentração de íons
foi núnima454• hidroxila. No entanto, a atividade antimicrobiana
Almeida-Filho 11 relata também que a exce- do MTA é inferior à do hidróxido de cálcio122 , pro-
lente capacidade seladora do MTA pode ser vavelmente devido à diminuição da difusibilidade
explicado analisando a estabilidade dimensional iônica dos produtos hidratados com o avançar do
do Cimento Portland (cimento de construção) tempo. Torabinejad et al. 449 compararam o efeito
após sua hidratação. As reações químicas entre o antimicrobiano do amálgama de prata, óxido de
Cimento Portland e a água, inicialmente produ- zinco e eugenoL Super EBA e MTA. Nenhum dos
zem um emijecimento da pasta e a seguir um materiais estudados demonstrou atividade antimi-
endurecimento. Estas reações químicas provocam crobiana sobre microrganismos anaeróbios estri-
ligeiras mudanças no volume da pasta de cimen- tos. No entanto com o MTA pôde se observar al-
to, ou seja, o volume absoluto do cimento soma- gum efeito em 5 dos 9 tipos de bactérias facultati-
do ao volume da água adicionada, quando mistu- vas estudadas. Hong et al. 219 evidenciaram o efeito
rados inicialmente, não é rigorosamente o mesmo antimicrobiano do MTA sobre algumas bactérias,
que aquele apresentado pela pasta após um certo possuindo um maior efeito sobre Lactobacillus sp,
tempo de hidratação. O volume final pode ser até Streptococcus mitis, Streptococcus mutans e Streptococcus
6% menor que o inicial, dep endendo das condi- salivarius e um menor efeito antibacteriano sobre
ções sob as quais se desenvolve a hidratação 21 . Streptococcus faecalis.
Esta redução de volume também é conhecida
como retração. A retração está diretamente relacio- * Mutagenicidade
nada à perda de água capilar e redução de volume Kettering & Torabinejad235 utilizando a Prova
dos produtos de hidratação. Quanto mais água de AMES, realizaram um estudo para avaliar o
;; houver na pasta de cimento Portland e quanto potencial mutagênico do MTA, Super EBA®,
I
mais porosa esta for, maior será a sua retração 149 • IRM®. Os resultados demonstraram que esses ma -
Entretanto, além da redução de volume des- teriàis não possuem potencial carcinogênico.
crita, pode existir simultaneamente um aumento
considerável do volume da pasta, ao longo do * Toxicidade
tempo, devido às r eações químicas de alguns Quanto à toxicidade do MTA, ela tem sido
compostos com a água. Esse aumento de volume investigada por vários pesquisadores, tanto em
não somente anula a contração, mas também experimentações levadas à efeito ín vítro (cultura
pode dar origem a um volume final ainda maior de células) como ín vivo (implantes em tecido ósseo
• 1
que o inicial. Se esta expansibilidade for exagera- de diferentes animais, em tecido conjuntivo subcu-
da, a indução de tensões internas de tração pode tâneo de ratos, dentes de cães, macacos etc.), todos
gerar desde trincas superficiais até uma desagrega- demonstrando que o mesmo apresenta excelente
ção completa da massa da pasta endurecida. As comportamento biológico444.447 • Pitt-Ford et al.349
substâncias que podem provocar estas instabilida- e Torabinejad et al. 443 relatam que o MTA tem de-
des de volume são principalmente: o óxido de monstrado habilidade de estimular a liberação de
cálcio livre, o sulfato de cálcio em dosagens muito citocinas dos osteoblastos, indicando que ele pro-
acima da necessária para regular o tempo de pega move ativamente a formação de tecido duro,
e o óxido de magnésio, em sua forma cristalizada, numa demonstração de que participa diretamente
conhecida como peridásio96· 16 (Figura 16.152). desse processo, muito mais do que um simples
material inerte. Por sua vez, Koh et al.24 1 , num
5.2. Propriedades Biológicas do MTA estudo citomorfológico em presença de osteoblas-
e Cimento Portland tos humanos, também relataram que o MTA pro-
porcionava uma estimulação na produção de cito-
t·" *Atividade Antimicrobiana cinas, pe rmitindo a aderência das células ao mate-
Dentre algumas das propriedades que um rial. Exames com microscopia eletrônica de
,,
1
material obturador deve possuir, uma delas é que varredura revelaram presença de células saudá -
ele apresente algum efeito bactericida ou bacterios- veis em contato com o MTA nos períodos de 1 e 3
tático. Alguns trabalhos demonstraram o potencial dias, além da presença de elevados níveis de inter-
CIÊNCIA EN DODÔNTICA '.i
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leucina e de osteocalcina. Thompson et al.440 ava- configuração permite uma integração tridirnensio- ··-~·
liaram a capacidade de uma cultura de cemento- nal com o tecido ósseo. -~
blastos em diferenciar-se na superfície do MTA, !\
através da observação da produção de marcadores 5.3. Mecanismo de ação do MTA
protéicos de mineralizaçã o. Os resultados de-
monstraram que o MTA promove a produção de Comparando a resposta tecidual ao MTA com
l
osteocalcina, estimulando, dessa forma a produção a que se obtém quando do emprego do hidróxido
de matriz mineralizada pelos cementoblastos. O de cálcio, observa -se alguma similaridade entre os
aumento da libera ção de interleucina também foi dois rnateriais 53 • Ambos parecem estimular a neo-
comprovado por Milche1l et al. 298 . A participação do formação de tecido duro (cemento e dentina). Lee
MTA em estimular a ativação da resposta celular, et al. 261 informaram que os principais componen-
segundo Koh et al. 240 se deve à fase de fosfato de tes presentes no MTA seriam o silicato tricálcico,
cálcio. Esta fase parece causar uma mudança no aluminato tricálcico, óxido tricálcico e óxido de
comportamento celular, estimulando a aderência silicato. Em adição aos trióxidos haveria outros
dos osteoblastos junto ao MTA. A citotoxicidade do óxidos minerais que seriam responsáveis pelas
MTA também foi objeto de estudo por Osório et propriedades químicas e físicas desse agregado.
al. 330, quando entre vários materiais indicados para Ainda segundo esses autores, o pó do MTA é
retrobturações, observou que o MTA possui o me- constituído por finas partículas hidrofílicas que r
nor IÚvel. Essa propriedade do MTA foi igualmente endurecem na presença de água. Dois anos mais
investigada por Zhu et al. 488 , que inserindo o MTA tarde, Torabinejad et al. 446 estudaram as proprie-
em culturas de células, puderam observar através dades físicas e químicas do MTA. Eles observaram i
da MEV, que os osteoblastos aderiam e se espa- que todo o MIA era dividido em duas fases espe- '
lhavam sobre a sua superfície. Keiser et a/. 2 34, tam- cíficas, constituídas pelo óxido de cálcio e fosfa to
bém estudando a citotoxicidade do MTA em cultu- de cálcio. Verificaram ainda que o óxido de cálcio I
ras de células do ligamento periodontal humano, apresentava-se como discretos cristais e o fosfato .
observaram que ele era biocornpatível, favorecen- de cálcio como uma estrutura amorfa. Sendo o 1

do sua indicação em retrobturações. Moretton et óxido de cálcio um dos componentes do MTA, /


al.3°5 , baseado em seus resultados com o MTA, estaria teoricamente explicada a similaridade de
após implantes intra-ósseo e tecido conjuntivo sub- ação do MIA com a do hidróxido de cálcio.
cutâneo de ratos, relatam que esse material seria Com a finalidade de melhor analisar o assunto, •
osteocondutor e não osteoindutor. Recentemente, Holland et al. 191 implantaram n o tecido subcutâneo
Abdullah et al.2 estudando o MTA, o Cimento Por- de ratos tubos de dentina preenchidos com hidró-
tland e duas variações de cimento Portland com a xido de cálcio ou MTA. As peças foram removidas
adição de cloreto de cálcio (a 10% e 15% ), no sen- após 7 e 30 dias e processadas sem descalcificar.
tido de acelerar a sua presa, puderam verificar altos Assim, cortes obtidos através de um micrótomo de
níveis de liberação de citocina e osteocalcina. Com tecido duro foram analisados com auxilio de luz
o MTA observaram que os índices de liberação de polarizada e coloração de Von Kossa para sais de
citocina e osteocakina mantêm-se numa progres- cálcio. Notaram que, com o hidróxido de cálcio,
são até 48 horas, para em seguida ocorrer redução h avia formação de granulações de calcita, birrefrin-
desses mveis. No entanto com o cimento Portland gentes à luz polarizada, junto à luz do tubo (Figu-
modificado (com cloreto de cálcio), notaram que as ra 16.156) . Abaixo dessas granulações formou-se
concentrações de citocina e da osteocalcina ainda urna ponte de tecido duro Von Kossa positiva (Fi-
se mantinham elevadas até 72 h oras. Foi evidente gura 16.157). Além disso, foi também observada a
também significativo crescimento celular sobre a presença de granulações de caleira, birrefringentes
superfície desses materiais, cobrindo-a totalmente, à luz polarizada, no interior dos túbulos dentiná-
numa demonstração de sua biocompatibilidade. Na rios (Figura 16.158). Com o MTA o mesmo foi
opinião dos amores, as células encontradas sobre a observado, notando-se apenas que o número de
superfície do cimento Portland modificado (com granulações de calcita era um pouco menor que o
cloreto de cálcio) sugere que a superfície do mate- observado com o hidróxido de cálcio e que essas
rial n ão é irritante e n ão afeta a integridade estru- granulações estavam em contato com o material
tural da célula, mantendo as suas extensões cito- estudado, o que não ocorria com o hidróxido de
plasmáticas, importante no sentido de que essa cálcio (Figuras 16.159, 16.160 e 16.161).
CIRURGIA PARENDODÔNT ICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAM ENTO CIENTÍFICO

• FIG, 1ta.156 • FIG. 16.1:ií


Hidróxido de cálcio - 7 dias após implante em sub- Hidróxido de cálcio - 7 dias após implante em sub-
cutâneo de ratos. Junto à luz do tubo, granulações de cutâneo de ratos. Granulações, iunto à luz do tubo de
calcita, birrefrigentes à luz polarizada. Cortes sem dentina, von Kossa posdivas. Cortes sem descalôficação
descalcificação OOOXJ. (40XJ.

;f
!

• flG. 16.158 ... . ·-· ... • fij(;, 16.159


Hidróxido de cálcio - 7 dias após implante em sub- MTA - 30 dias após implante em subcutâneo de
cutâneo de ratos. Notar túbulos dentinários contendo ratos. Notar granulações birrefringentes à luz polarizada
granulações birrefringentes à luz polarizada. Cortes sem em contato direto com o material. Cortes sem
descalcificação ( 100XJ. descalcificação OOOXJ.

• FI.G~. J6i.1~.c.l • FIG. 16.161


1 MTA - 7 dias após implante em subcutâneo de MTA - 7 dias após implante em subcutâneo de
,'
ratos. Notar tecido irregular, von Kossa positivo, na en- ratos. Notar granulações birrefringentes à luz polarizada
trada do tubo. Cortes sem descalcificação (40XJ. no interior dos túbulos dentinários em menor quantidade
comparadas aos da Figura 16.156. Cortes sem
descalcificação (40XJ.
CIÊN CIA EN DODÔNTICA
- - --- -- - - - - - · - -
Vários estudos, que analisaram o hidróxido de hidratados (50 a 60%), hidróxido de cálcio (20 a . ..,
cálcio, mostraram presença de granulações de 25 % ) e sulfoaluminatos de cálcio (15 a 20%), os
calcita em tecido conjuntivo subcutâneo41 2, polpa principais compostos da pasta hidratada29º.
dental1 87' 215 e tecidos periapicais 190, 207 . Segundo Dependendo das constantes mudanças de
Holland2 15, essas granulações formam-se através da saturação iônica, o hidróxido de cálcio formado
reação do cálcio do hidróxido de cálcio com o gás ainda pode solubilizar-se e dissociar-se em íons
carbônico do tecido. As mesmas granulações foram cálcio (Ca2 +) e hidroxila (OH"), que são os princi-
descritas por Seux et al. 388 em experimentação in pais responsáveis pelo mecanismo de ação do
vitro. Além disso, esses autores notaram acúmulo material2 15 •
de fibronectina, uma glicoproteína, em íntimo con- O dióxido de carbono (COJ produzido como
tato com esses cristais de calcita, em meio de cultu- resultado do catabolismo de nossas células solu-
ra sem células. Quando colocavam células da polpa biliza-se, difundindo-se para os líquidos intersti-
em contato com esse ambiente, havia neoformação ciais e destes para o sangue, sendo conduzido na
de células com aspecto morfológico de odonto- corrente sangüínea até os pulmões, onde read-
blastos. Na ausência das granulações de calcita ha- quire os estados gasosos, sendo finalmente exa-
via apenas proliferação de fibroblastos. Seux et al.3 88 lado. O dióxido de carbono (C0 2 ) em solução
concluíram que seus achados constituíram forte aquosa, como os líquidos intersticiais ou plasma
evidência do papel das granulações de calcita e da sangüíneo, funciona como um tampão biológico, 1
fibronectina como um ponto de partida inicial na sofrendo uma série de reações, inclusive com a
formação de uma barreira de tecido duro. participação da enzima anidrase carbônica, com
O estudo de Holland et al. 191 , em tecido sub- a finalidade de regularizar o pH do meio onde se i
cutâneo de ratos, m ostrou a similaridade de resul- encontram, podendo ser encontrado sob várias
tados entre o hidróxido de cálcio e o MTA. Ambos formas: C0 2 (dióxido de carbono), H2 C0 3 (ácido
materiais determinam a formação de granulações carbônico), HC0 3 · (íon bicarbonato), C0 3 · (íon
de calcita e uma ponte de tecido duro subjacente. carbonato) 114, 391•392 • O pH da polpa e dos tecidos
Portanto, o mecanismo de ação do MTA seria o periapicais será influenciado por seu e stágio
mesmo do hidróxido de cálcio . O óxido de cálcio inflamatório, ou seja, em condições de normali- /
do pó do MTA, ao realizar-se a preparação da pas- dade, o pH é neutro ou levemente alcalino (7,2 a
ta com água, seria convertido em hidróxido de 7,4). Em inflamações agudas o pH cai, tornando-
cálcio. Este, por sua vez, em contato com os fluí- se ácido (6,5 ou menos) devido ao ácido lático
dos tissulares se dissociaria em íons cálcio e hidro- proveniente da glicólise anaeróbia das células in-
xila. Os íons cálcio, reagindo com o gás carbônico flamatórias e devido ao acúmulo de C0 2 no lo-
dos tecidos, dariam origem às granulações de cal- cal, decorrente da estase sangüínea. No entanto,
cita. Junto à essas granulações haveria acúmulo em inflamações crônicas, o pH retorna a neutra-
de fibronectina, a qual permitiria adesão e dife- lidade (7,0 a 7, 2) devido ao aumento da vascula-
renciação celular. Na seqüência teríamos for- ridade tecidual289 • Além disso, deve-se ressaltar
mação de uma ponte de tecido duro. que a utilização tópica de su bstâncias e medica-
Reação tecidual semelhante à do MTA pode mentos também poderá alterar o pH tecidual.
ser observada com o cimento obturador Sealapex. Desta forma, ao se utilizar um material de pH
Esse cimento contém em sua formulação o óxido alcalino como o hidróxido de cálcio, MTA ou ci-
de cálcio. Implantando o Sealapex, também conti- mento Portland, sobre a polpa ou em contato com
do em tubos de dentina, em subcutâneo de ratos, os tecidos periapicais, o pH tecidual local será ele-
foram observados os mesmos resultados descritos vado devido à solução saturada de íons hidroxila
para o MTA 192, ou seja, ocorreu formação de gra- (OH"). Como forma de reequilibrar o pH do meio,
nulações de calcita e ponte de tecido duro 183 . Essa o dióxido de carbono (C0 2 ), o ácido carbônico
observação com o Sealapex reforça a validade do (H2 C0 3 ) ou os íons bicarbonato (HCOJ, presen-
mecanismo de ação descrito para o MTA. tes no meio, reagirão com os íons hidroxila, au-
Aprofundando n essa questão, podería salien- mentando consideravelmente a concentração de
tar que após a hidratação do MTA, a solução fica- íons carbonato (CO/ ). Estes, por sua vez, reagi-
rá saturada em íons cálcio (Ca 2 +) e íons hidroxila rão com os íons cálcio em solução (Ca 2+) forman-
(OH") que irão recombinar-se com íons sulfato, do granulações de carbonato de cálcio sob a forma
silicato e aluminato, formando silicatos de cálcio de calcita (CaC0 3 ) no tecido2 15 .
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO C IENT Í~ICO

Estas granulações de calcita são caracteriza- sua utilização. O produto vem em embalagens
das por apresentarem alta birrefringência, sendo hermeticamente seladas, e depois do uso devem
facilmente identificadas à luz polarizada. De ser novamente bem fechadas para evitar contato
acordo com Leinz & Campos 262 , a birrefringência com a umidade do ambiente . O pó deve ser mis-
da calcita é de 0,172. Além disso, estas granula- turado com água destilada esterilizada na pro-
ções também podem ser identificadas pelo méto- porção de 3:1 sobre uma placa de vidro ou papel,
do histoquímico de Von Kossa, que identifica o durante 30 segundos, com ajuda de uma espátu-
cálcio pela coloração preta. De acordo com Carr la de plástico ou metal, exibindo na seqüência
et al. 86 , o corante de Von Kossa é na realidade um uma consistência pastosa 26º.
corante de substituição que demonstra a presen- Torabinejad & Chivian44 5 recom endam que se
ça dos ânions de sais de cálcio insolúveis, como a área de aplicação do MTA for muito úmida, essa
PO/ e CO/ , mais do que o próprio cálcio. umidade extra poderá ser removida com uma
Conforme já mencionado, Seux et al.388 de- gaze seca ou esponja de gelfoan. Presença de umi-
monstraram, in vitro, que a fibronectina apresenta dade excessiva não só deixa o material muito
alta afinidade pelas granulações de carbonato de aquoso como também de difícil manipulação.
cálcio, evidenciada pela alta concentração de fi- Ainda segundo o autor, quando a mistura é muito
bronectina ao redor dos cristais de calcita. seca, m ais água deverá ser adicionada. Em função
A fibronectina pertence a um grupo de mo- de o MTA necessitar de umidade para endurecer,
léculas de adesão de substrato responsáveis pela deixando-se a mistura sobre a placa de vidro ou
migração, adesão e diferenciação celular, sendo papel, ocorrerá sua desidratação, transformando-a
produzida por fibroblastos, macrófagos e células com um aspecto de m istura arenosa. Para evitar
endoteliais466 . isso, tem-se recomendado a colocação de uma
Assim, a fibronectina seria a responsável pela gaze umedecida sobre a pasta de MTA.
migração e adesão de células pulpares e periodon- Através de comu nicação pessoal, o Dr. Os-
1 tais que sintetizariam e depositariam colágeno valdo M. Massi (Rio de Janeiro) utiliza uma boli -
I Tipo 1, formando a matriz orgânica extracelular. nha de ping-pong dividida ao meio e no interior
Além disso, a fibronectina induziria a diferencia- de uma das partes fixa uma esponja. Durante
ção de células pulpares em odontoblastos ou célu - toda a fa se da utilização do MTA, ou seja, nos
las do periodonto em cementoblastos, principais intervalos entre uma colocação e outra do mate-
responsáveis pela deposição de minerais 388 . rial nas retrocavidades, essa bolinha de ping-
pong com a esponja umedecida em água destila-
Necrose Superficial Tecidual da é colocada em contato com o MTA, impedin-
A fase líquida saturada de íons hidroxila do assim a sua desidratação.
também parece ser a responsável pela ligeira ca- Como já mencionado, o MTA deve ser colo-
mada de necrose superficial pulpar, situada entre cado, de preferência, cm local já devidamente
a ponte de tecido mineralizado e o material, e seco. No entanto em casos em que ocorra peque-
encontrada em poucos espécimes submetidos à na contaminação com sangue ou mesmo em
pulpotomia com MTA407 , pulpotomia com MTA ambiente em que exista alguma umidade, o ma-
ou cimento Portland 185 . Estas observações são terial não perde suas propriedades físicas, man-
um pouco diferentes das notadas com várias pas- tendo o nível de proteção quanto ao selamento
tas de hidróxido de cálcio submetidas às mesmas marginal454 .
condições 201 , 4 º7 . Cumpre ressaltar que essa necro- Segundo o fabricante (ProRoot MIA®Dents-
se superficial na maioria das vezes está ausente ply) o MIA, devido sua composição química,
e, quando presente, é bem mais delgada do que pode provocar a descoloração do dente. Daí a
a observada com o hidróxido de cálcio quimica- recomendação de que seja utilizado no espaço do
mente puro. canal radicular ou na câma ra pulpar abaixo da
linha gengival ou crista óssea . Recomendam ain-
5.4. Manipulação do MTA para uso da certas precauções quanto à manipulação do
clínico MTA, não permitindo que entre em contato com.
) os olhos, peles, mucosas, evitando sua inalação
De acordo com Torabinejad & Chivian44 5 o ou ingestão, pois pode haver irritação ou infla-
MTA deve ser preparado imediatamente antes de mação da área exposta ao contato.
CIÊNC IA ENDO DÔNTICA

5.5. Indicações clínicas do MTA biocompatível44M 5º e induz a osteogênese e a ce-


mentogênese 51'54· 183· 192 . Diante dessas proprie-
Várias pesquisas têm demonstrado os exce- dades, Pitt-Ford et al.3 50 fizeram perfurações expe-
lentes resultados do MTA como material selador rimentais em furcas de dentes de cães, selando-as
em perfurações radi culares 18 , 188 , 261 e de fur- com o material em questão. Observaram que na
ca218'311'350; como material selador de perfurações ausência de contaminação ocorreu presença de
resultantes de reabsorções internas e externas periodonto isento de inflamação, aliado à deposi-
comunicantes381 .4 53 ; como material rctrobturador ção de cemento neoformado, na maioria dos ca-
em cirurgias parendodônticas 58 A 43A 53 .454A 56 ; como sos. De modo similar alguns relatos de casos clini-
material capeador em tratamentos conservadores cas m ostram resultados exitosos de dentes com
da polpa3,127,129,231,310,319,363,37SA07; como material de trepanações tratadas com o MTA. Tem sido relata-
apecificação 389 ·390,442 ; como barreira intracoroná- do que esse material promove o reparo ósseo e
ria prév ia ao clareamento den ta l 100; como elimina a sintomatologia clínica18,381 .
material obturador do sistema de canais radicula- Holland et al. 188 desenvolveram um trabalho
res de dentes decíduos 314' 331 e permanentes 189 ; experimental em dentes de cães fazendo perfura-
como material reparado r de fraturas radiculares ções experimentais na porção lateral da raiz e, por-
verticais 445 e horizontais 381 e com o plug apical249 . tanto, não na furca como fizeram Pitt-Ford et al.3 50 •
Vale ressaltar que ampla indicação do MTA e os Essas perfurações foram seladas com Sealapex ou
procedimentos clínicos correspondentes foram MTA, sendo os resultados analisados histologica-
relatados por Torabinejad & Chivian445 . mente, após 30 e 180 dias. Os melhores resultados
A Disciplina de Endodontia de Araçatuba - foram observados com o emprego do MTA, tendo
UNESP, interessada no estudo do MTA desde a ocorrido vários casos de selamento por deposição
divulgação dos prim eiros trabalhos a respeito, de cemento neoformado, aliado à ausência de in-
desenvolveu e vem desenvolvendo uma série de flamação no ligamento periodontal (Figuras
trabalhos experimentais com o objetivo de estu- 16.162 e 16.163 ). Pequenas áreas de anquilose
dar o MTA em diferentes condições clínicas e que também foram observadas, porém apenas no tem-
passaremos a descrever, corroborando outros re- po de 30 dias. Com o Sealapex foi notada presença /
alizados no mesmo sentido. de inflamação crônica em todos os espécimes e pe-
quena deposição de cemento neoformado sobre o
Emprego do MTA no tratamento de material em apenas três casos. Portanto, os resulta- 1
perfurações radiculares dos foram bem melhores com o emprego do MTA.
As perfurações intrarradiculares podem ser Também realizou-se, experimentalmente, al-
ocasionadas durante um p reparo para pino ou guns casos de perfurações em nível de furca (da-
como conseqüência de uma reabsorção interna . dos não publicados), tendo observado resultados
Nessas situações o acesso é obtido via canal ou similares aos das perfurações laterais, ou seja, ce-
através de interven ção cirúrgica . No caso das m ento neoformado em contato com o MTA, se-
perfurações de turca geralmente o acesso é feito lando a perfuração (Figura 16.164).
via coronária, dispensando intervenção cirúrgica Dentre todos os casos analisados por Holland
na maioria dos casos. et al. 188, os piores resultados foram assinalados na -
Vários materiais foram utilizados com o pro- queles com sobreobturação e o maior número de
pósito de selar perfurações radiculares, porém, sobreobturações foi observado quando do empre-
nenhum deles atendeu as características desejadas go do Sealapex. Admitiu-se que o maior número
de um material ideal como: bom selamento, bio- de sobreobturações ocorridas com o Sealapex teve
compatibilidade e habilidade para induzir osteogê- como causa o maior escoamento desse material.
n ese e cementogênese 168' 4º3 , Em tempo relativa- Os piores resultados observados com o Sealapex
mente recente foi proposto o emprego do MIA em trepanações, comparativamente ao que foi
p ara selar essas p erfurações, devido às suas pro- observado em obturações de canal, talvez tenha
priedades demonstradas em diferentes circunstân- relação com a maior área de contato com os teci-
cias. Assim, foi salientado que o MTA é superior dos periodontais, no caso da trepanação 188, 213 •
ao amálgama, IRM e Super EBA, na prevenção de Considerando que os melhores resultados com o
infiltração do azul de metileno, Fusobacterium nu- MTA foram obtidos quando o material foi manti-
cleatum e endotoxina 26 1' 311' 430 . Além disso, o MIA é do dentro da cavidade de trepanação, compreen-
CIRU RGIA PARENOODÔNTICA: CO MO PRAT ICÁ-LA C OM EM BASAMENTO C IENTÍFICO

de-se a importância do esforço a ser despendido, durante 1 ou 3 dias para continuar a solidifica-
clinicamente, para evitar a sobreobturação. ção do material. Pelo fa to do cimento apresentar
O emprego clínico do MTA em perfurações cura tardia, eles soliciLam aos pacientes que evi-
laterais ou de furca tem contribuído para a ob- tem esforços mastigatórios no local por pelo me-
tenção de excelentes resultados pelos profissio- nos 4 horas após o tratamento . Sluyk et al.40 3,
nais que dele têm feito uso. A par de obterem o investigando as propriedades e características do
desaparecimento de eventual sintomatologia clí- MTA como material obturador de perfurações de
nica, tem observado reparo radiográfico da área furca de molares humanos, verificaram que o
lesada. A literatura. revela que os profissionais tempo de trabalho é de apenas 4 minutos, tempo
lançam mão do MTA utilizando-se de diferentes quando o material começa a desidratar-se. Ob-
procedimentos clínicos, até mesmo sem o devido servaram que na perfuração, o MTA irá absorver
embasamento científico. umidade, mantendo uma consistência pastosa,
Nas perfurações de furca, Arens & Torabine- melhorando assim a fluidez, as características de
jad18 recomendam que a colocação do MTA deve umectação e sua m elhor adaptação junto às pa-
ser cautelosa, exercendo um mínimo de pressão, redes dentinárias. Na prática, não se adota esse
cobrindo posteriormente o MTA com uma boli- procedimento, ou seja, emprego temporário de
nha de algodão esterilizada úmida, deixando-a uma bolinha de algodão úmida sobre o MTA. A
este respeito, Sluyk et al. 401 estudando o MTA co-
locado em perfurações de furca, avaliaram as
condições de selamento coronário, colocando
uma bolinha de algodão úmida ou seca. Obser-
varam que não houve difere nças na resistência à
força de remoção do material diante dos dois ti-
pos de procedimentos, acreditando que a umida-

1
de no local da perfuração é adequada para man-
1 ter as necessidades h idrofílicas do pó do MTA.

; 1

• R(i, 1&.1~Z
Perfuração intra-radicular de dente de cão à-atado com
o M 7A - 3 O dias. Notar o esboço de uma barreira
cementório no local do perfuração, iunto ao MTA (HE 100XJ.
_ __FIG. 16.161

Perfuração intra-radicular de dente de cão trotado


com o MTA - 180 dias. Tecido cementário obliterando o
perfuração e em íntimo contato com o MTA (H.E. 100XJ.

• flG, 16.164
Perfuração de turco de dente de cão tratado com o
)
MTA - 180 dias. Obliteração total do perfuração por teci-
do cementálio, em contato com o MTA. Notar ligamento
periodontal isento de processo inflamatório (H.E. JOOXJ.
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA

Pitt-Ford et al.1 50 , em casos de perfurações de duais e outros corpos estranhos . Com esse proce-
furca, recomendam o selamento completo da ca - dimento a área cirúrgica fica limpa de detritos,
vidade com o MTA e restauração definitiva do sendo possível inclusive a visualização do tecido
dente somente um a sete dias depois. Pelo fato ósseo subj acente. A perfuração é preenchida com
do MTA ter maior resistência ao deslocamento o p ó do MTA, levado ao local com uma espátula,
após 72 horas do que em 24 horas, indicam que o argumentando o autor que a umidade presente
material colocado no local da perfuração seja pro- na loja irá hidratar todo o pó. Quando necessá-
tegido por uma restauração temporária, de presa rio, ele complementa essa h idratação com pe-
rápida, permanecendo por três dias sem tocá -lo. quenas quantidades de soro fisiológico via coro-
Em casos d e perfurações intrarradiculares nária. Outra recomendação de Melo (200 1), con -
acidentais, segundo Torabinejad & Chivian445 , a trariando as observações de Holland et al_l88 , é o
colocação do MTA deve ser realizada v ia canal extravasamento do MTA, que segundo ele deve
radicular com o auxílio de um porta-amálgama e preencher totalmente a loja óssea ou o local da
posteriormente con densado e a camado com um trepanação, invadindo o ligamento periodontal e
condensador endodôntico ou bolinhas de algo- formando, fora da raiz ou da câmara pulpar, um
dão, permanecendo p elo período de 3 a 4 horas. bloco único do material, justificado pelos b ons
Após esse p eríodo, ou mesmo em uma segunda resultados clínico-radiográficos. É importante sa-
intervenção, pode -se então realizar a obturação lientar que essas observações clínicas ainda n ão
definitiva do local ela trepanação. Quando o MTA têm respaldo histopatológico.
é colocado em perfurações cujo tecido apresenta
alto grau de inflamação, o cimento se mantém Aplicação Clínica
ainda mole m esmo após as 4 horas de espera. Na Na clínica, em casos de perfuração de lurca
opinião dos autores esse fenôm eno ocorre devi- (Figura 16.165B ), recomenda-se que o local da
do à presença de baixo p H, que impede a solidi- perfuração seja limpo com abundante irrigação e
fi cação do cimento. Nesse s casos, os pro- se necessário, remoção de resíduos ou detritos
cedimentos devem ser repetidos. com au xílio de curetas ou mesmo com o ultra -
Nas perfura ções ocasiona das por reabsorções som18 . Cessada a hemorragia, imediatamente co - /
internas Torabinejad & Chivian 445 relatam que o loca-se o MTA (Figura 16.165C) utilizando-se ele
preparo endodôntico é fundamental para remo- um ap licador tipo MAP SYSTEM (Figura
ção de tecido de granulação no local da comuni- 16.167E), curetas, espátula Hollemback ou o apli-
cação, auxiliado por irrigações com hipoclorito cador de cimento Dycal. Em casos de perfurações
de sódio e colocação do h idróxido de cálcio. amplas, essa colocação deve ser cuidadosa para
Posteriormente à limpeza que se segu e após re- evita r sobre-obturação com o cimento e ser ex e-
moção do curativo de demora, a obturação do cutada com pouco esforço compressivo. Caso seja
canal é realizada até o local da perfuração com difícil o controle ' do n ível da obturação com o
con es de guta-percha e cimento obturador. No MTA, pode-se até recorrer a um plug com o p ó de
ponto da perfuração é colocado o MTA com aju- hidróxido de cálcio, para contê-lo no interior da
da de condensadores e con es de papel, seguindo- cavidade. O hidróxido de cálcio é facilmente reab -
se a colocação de uma bolinha de algodão úmida sorvido, permitindo a posteriori o contato do tecido
por pelo m enos 3 a 4 horas e selamento t empo- conjuntivo periodontal com o MTA. Colocando-se
rário da cavidade. Após esse período remove-se ou não esse tampão de hidróxido de cálcio e uma
essa b olinha, procedendo-se a restauração defini- vez adaptado o MTA no local da perfuração, colo-
tiva do dente. ca-se uma camada de ion ôm ero de vidro definiti-
Em comunicação pessoal, o Dr. João Batista vo sobre o mesmo (Figura 16.166A). Essa me-
de Melo (Juiz de Fora - MG) relatou que antes dida visa proteger o local da comunicação durante
da colocação do MTA, em casos de perfurações, os procedimentos endodônticos que se seguirão
uma toilet deve ser realizada com curetas e pon- ao tratamento da p erfuração, evitando -se assim,
tas u ltra -sônicas, com abundante irrigação com que o tecido periodontal exposto no local sofra
hipoclorito de sódio. Em seguida procede-se à mais agressão . A coloca ção do material pode ser
colocação do hidróxido de cálcio, quantos curati - comprovada pelo exame radiográfico, pois o mes-
vos forem necessários, até que se consiga um mo é radiopaco devido à presença do óxido de
campo cirúrgico limpo de restos n ecróticos teci- bismuto (Figura 16.166B).
CIRURG IA PAR EN DODÔNTICA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍFICO

Em nossa opinião, achamos dispensável a co- sobreobturação ou excesso de MTA no ligamento


locação de uma bolinha de algodão úmido sobre o periodontal, uma porçã o de hidróxido de cálcio
MTA, pelo período de pelo menos 4 horas, confor- pode ser depositada sobre o local da perfuração
me recomendam alguns autores 18A 45 , pois enten- com o MAP SYSTEM (16.167C), servindo de
de-se que na prática este procedimento pode se base ou anteparo. Urna vez acamado esse hidró-
tornar inviável tanto para o profissional como xido de cálcio, pequenas porções do MTA são
para o paciente. Se atentarmos para as observa- levadas ao local da perfuração intrarradicular
ções de Sluyk et al. 40 3, estes cuidados se tornam também com o auxílio do MAP SYSTEM (Figura
desnecessários. Acredita-se que a hidratação do 16.167D), seguindo-se a sua adaptação e con-
material, necessária para o seu endurecimento, se densação com instrumentos endodônticos de
faz também pelo contato com os tecidos perio- ponta rornba, calcadores endodônticos ou cones
dontais. Deve ser lembrada urna vez mais que, de papel. Antecedendo os procedimentos endo-
após a colocação do MTA, o local não deve ser dônticos convencionais, sobre o MTA é colocado
irrigado, para evitar o deslocamento do material. o cimento de ionômero de vidro, visando ofere-
Nos casos de perfurações intrarradiculares cer adequada pro teção ao MTA (Figuras
(16.167A e B), o ideal é levar o MTA com auxí- 16.168A, B e C) .
lio de calcadores endodônticos, porta-amálgama Quer nos casos de perfurações de furca ou
especiais ou então com um aplicador do tipo perfurações intrarradiculares, a condensação do
MAP SYSTEM® que possui uma pequena seringa MTA também pode ser auxiliada com o emprego
m etálica com agulhas NITI de pequeno calibre e de limas endodônticas de ponta romba ou m es-
diferentes curvaturas (16. 167E). Esse sistema mo com pontas apropriadas, ambas acionadas
muito prático permite a colocação do material pelo ultra-som calibrado na intensidade média e
com bastante precisão, sem excessos. Para evitar sem irrigação.

'
' /Í

• ~(;. 16.165_
Petfuração do assoalho do câmara pulpar do 47,
região de furco (8) e próximo ao canal distal (AJ. Coloca-
ção e acomodação do MTA com ligeira pressão (0.
• FIG. 16.166
Colocação do cimento de ionômero de vidro sobre
.l o MTA <AJ e comprovação radiográfica (8).
1
I
C IÊN CIA ENDODÔNTICA

• JI<;~ 1~:1§1 • fl<L16,~!t8 _______ ........ ______..


Perfuração intra-radicular profunda (A e B - setas) Colocação do cimento de ionômero de vidro sobre
tratado com aux17io do microscópio odontológico. Colo- o MTA (A, B e CJ reconstruindo parte do parede do
cação do hidróxido de cálcio (C - seta) e do MTA (0 - canal radicular. Em D, o seta indico o canal radicular
seta) com o MAP SYSTEM (E), oloiondo-os diretamente (guto-percha) já liberado poro o r etrotamento
no local do perfuração. endodôntico.

Quando a reparação não se processa a con - caso . A segunda experimentação em polpa de den-
tento diante de uma perfuração intrarradicular tes de cães com o MTA foi realizada por Soares407 ,
ou de furca, não resta, senão, as intervenções que após realizar a pulpotomia, protegeu o re-
cirúrgicas, cuja colocação do MTA segue os mes- manescente com o hidróxido de cálcio pró-aná-
/
mos cuidados daqueles utilizados nas cirurgias lise ou MTA. Observou um alto índice de repara-
parendodônticas. ção com ambos materiais.
Faraco-Jr & Holland 129 realizaram exposi-
Emprego do MTA n a proteção direta da ções ex perimentais de polpas d e dentes de cães
polpa dental cap eando -as com MTA ou Dycal. Sessenta dias
A proteção direta da polpa dental é um as- após o tratamento, as peça s foram removidas e
sunto que vem sendo estudado de longa data. preparadas para análise histom orfológica. Ob-
Após o emprego empírico de diferentes substân - servaram formação de ponte de tecido duro e
cias, chegou-se fina lmente ao hidróxido de cál- ausência de inflamação em todos os casos estu-
cio, cuja indicação perdura até os dias de hoje. dados com o MTA (Figura 16.169) . Com o em-
Contudo, vários medicamentos ou produtos têm prego do Dycal foi notada ponte de tecido duro
sido indicados como uma op ção ao emprego do em 5 dos 15 casos tratados. Notaram, ainda,
hidróxido de cálcio. É o caso dos adesivos denti- presença de processo inflamatório crônico em
nários aplicados diretamente sobre a polpa, cujos 12 espécimes.
resultados n ão têm sido muito a nimadores, Holland et al.1 85 realizaram p ulpotomia em
quando analisados histologicamente 128· 184 . 13 raízes d e dentes de cães, protegendo os
Diante da s respostas teciduais ao MTA, como remanescentes pulpar es com MTA . Notaram,
o estímulo à deposição de cemento em perfura- após 60 dias, presen ça de ponte de tecido duro e
ções de furca e cm obturações retrógradas, pen- ausência de inflamação em 1O desses casos (Fi-
sou-se em sua utilizaçã o na proteção direta da gura 16.139). Todas as pontes de t ecido duro
polpa dental. Assim Pitt-Ford et al. 350 realizaram eram tubulares e em continuidade com a dentina
estudo protegendo diretamente polpas de dentes n eoformada lateralmente. Os três casos restantes
de macacos com MTA ou Dycal. Notaram forma- exibiram problemas com o selamento coronário,
ção de ponte de teci do duro em todos os .espéci- infiltração de microrganismos detectados p ela
m es e infiltrado inilamatório em apena s um técnica de Brown e Brenn, presença de pontes
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-·LA CO M EM BASAMENTO CIENTÍFICO

delgadas e parciais e também presença de infil- eosinófila e, portanto, diferente da do MTA (Fi-
trado inflamatório. Os a utores relatam a observa- gura 16.170). Essa estrutura foi também descrita
ção de um caso com ponte parcial, onde era evi- por Faraco-Jr 127 • Embora não se saiba exatamen-
dente a presença de urna estrutura irregular com te o que seja essa estrutura, Holland et al. 185 ad-
formas circulares pequenas e irregulares, pare - mitem a hipótese de ser uma alteração estrutural
cendo pequenos espaços vazios, lembrando a da camada profunda do MTA em direto contato
morfologia do próprio MTA, mas com coloração com o tecido pulpar.

,~ • 11.Çi!_J~.1~~ ,, • Fm. 16.1'1@


Capeamento pulpar de dente de cão com o MTA. Capeamento pulpor de dente de cão com o MTA -
60 dias. Completo e espessa baITeira de teC1do duro 60 dias. Barreira parcial protegendo o teC1do pulpor
iunto à abertura da exposição pulpar, exibindo um tecido subiacente. Em contato éom o material presença de uma
pulpor isento de processo inflamatório (HE 40XJ. área irregular, eosinófi!a, com aparentes espaços vazios,
lembrando a motfo!ogío do M TA (H.E JOOXJ.

Pelo exposto até aqui, depreende -se serem último, quando em contato com o tecido pulpar,
muito boas as respostas pulpares ao contato dire- produz cauterizações superficia is, determinando
to com o MTA. Esse material mostrou-se supe - a ocorrência de uma zona de necrose, pela pene -
rior ao cimento à base de hidróxido de cálcio tração dos íons hidroxila 21 5 • Essa área cauterizada
Dycal, contudo, os resultados foram similares aos eliminaria eventual contaminação superficial
do hidróxido de cálcio pró-análise. Isso tem (pelo pH 12,5) bem como atuaria como um "bis -
apoio em outras experimentações que mostra - turi" eliminando também a porção superficial
ram melhores resultados na proteção pulpar di - pulpar mais alterada . A deposição das granula-
reta com o hidróxido de cálcio pró-análise, com- ções de caleira e conseqüente formação da ponte
parativamente aos cimentos à base de hidróxido de tecido duro ocorreriam a p artir do limite en-
de cálcio i s,;.19s . tre a zona de n ecrose e o tecido pulpar vital. Essa
Um detalhe necessita ser aqui salientado. Os ocorrência seria particularmente bem vinda nos
resultados até então relatados com o MTA, na casos de tratamento conservador de polpas infla-
~ proteção direta da polpa dental, dizem respeito a m adas p ela técnica da pulpot omia . Já com o
t · capeamentos realizados em polpas sãs, e, portan- MTA praticamente não oco rre formação da zon a
to sem contaminação e sem inflama ção . Resta n ecrose, o que su gere pouca penetração dos íons
)
saber se, dja nte de uma polpa previamente ex- cálcio e hidroxila . Apoia essa afirm ativa a descri-
posta · ao meio oral, o comportamento seria o ção da presença de granulações de calcita em
mesmo do hidróxido de cálcio pró-análise. Este contato direto com o material p rotetor.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
--------·--- ·----·--·-·-·--..····--·----.. · - - - -
'\.

Também deve-se considerar a técnica da tro- Aplicação Clínica ;~,;


ca do hidróxido de cákio 194 . Quando o hidróxido Quando do emprego do MTA diretamente ~t··
de cálcio é aplicado sobre polpas, notadamente sobre o tecido pulpar é importante a contenção e '\
inflamadas, podem ocorrer defeitos em forma de p erfeito controle da hemorragia, procurando evi- ;(
túnel ou mesmo pontes de tecido duro parciais. tar presença de coágulo sangüíneo, para que o Í'
Holland et a/. 194 realizaram trabalho experimental MTA seja aplicado diretamente sobre o tecido pul-
em dentes de macacos, tendo demonstrado que a par. Sua acamação pode ser feita com uma boli-
troca do hidróxido de cálcio 30 dias após a prote- nha de algodão umedecida, removendo-se exces-
ção direta da polpa, em casos de pulpotomia, le - sos das paredes dentinárias. Segue o emprego de
vava a correção de defeitos em forma de túnel e um material selador sobre o MTA, que pode ser
complementação de pontes parciais. Esses resul- um ionômero de vidro e, na seqüência, a restaura-
tados acabaram por motivar a definição de uma ção definitiva do dente. Já Torabinejad & Chivian445
técnica de tratamento para dentes humanos. adotam outro tipo de procedimento. Após o con-
Evidentemente, esse procedimento não seria viá- trole da hemorragia que se segue as amputações
vel com o emprego do MIA, se for considerado da polpa, colocam sobre o MTA uma bolinha de
que a ponte de tecido duro estaria praticamente algodão úmida e restauram temporariamente a
aderida ao material protetor. Durante a remoção cavidade . Em determinadas situações os autores
do MTA poderiam haver ruptura s na barreira for- recomendam o preenchimento total da cavidade r •
mada, danificando-a. Portanto, julgamos que na com o MTA, colocando uma gaze úmida entre os
técnica referida o ideal seria a utilização do hidró- dentes (superior e inferior) por 3 a 4 horas, solici-
xido de cálcio quimicamente puro. Também o tando ao paciente evitar a mastigação nesse perío- 1
emprego do MTA sobre polpas contaminadas e do. Como o MTA tem uma resistência à compres- ,
inflamadas necessita ser estudado. são muito baixa, não podendo ser utilizado como
O MTA disponível no mercado, para ser em- material permanente, uma semana depois ele I
pregado no capeam ento p ulpar, possui urna co- deve ser removido em 3 a 4 mm·, efetuando-se o
loração cinza. Glickm an & Kochh 1 chamàm a preenchimento do restante .da cavidade com um ·.
atenção para o fato de que essa coloração pode- material obturador definitivo. '
/
ria constituir-se em inconveniência do ponto de
vista estético. Muito provavelmente por esse * Emprego do MTA na obturação doca-
motivo acaba de ser lançado nos Estados Unidos nal radicular
o MTA de coloração branca, o ProRoot MTA Re- O MTA não possui propriedades físicas ade-
fills (New tooth colored formula - Dentsp]y). Com quadas para ser empregado como material obtu-
esse mesmo objetivo a Ângelus® do Brasil tam- rador de canal. Contudo, considerando suas boas
bém estuda a possibilidade do lançamento do propriedades seladoras e biológicas e consideran-
MTA de coloração branca. Diante disso, Holland do que ele estimula a neoformação de tecido
et al. 193 realizaram um trabalho experimental em duro, teoricamente poderia constituir-se em um
tecido subcutâneo de ratos para verificar se o bom material obturador, cujas propriedades físi-
mecanismo de ação do MTA branco seria seme- cas seriam corrigidas oportunamente. Sendo as-
lhante ao observado com o MTA cinza. Notaram sim, Holland et al. 1 89 desenvolveram um trabalho
resultados semelhantes aos já descritos em traba - experimental em dentes de cães. Trinta canais
lhos anteriores 19 u 9 2 • Da mesma forma, Faraco- radiculares foram preparados e obturados pela
Jr127 n ot ou resultados semelhantes entre o MTA técnica da condensação lateral com cones de
branco e o MTA cinza, no capeamento de polpa guta-percha e MTA ou Ketac-Endo. O MTA foi
de dentes de cães. No entanto, piores resultados levado ao canal radicular com auxílio de uma
foram relatados com o MTA cinza comparativa- broca Lentulo, o cone principal foi rapidamente
mente com o MTA branco, após capeamento colocado em posição e procedida a condensação
pulpar realizado em dentes de ratos 87. Perez & lateral, O mesmo foi executado com o Ketac-
Al-Awadhi'>4 3 puderam observar, em culturas de Endo. Cento e oitenta dias após o tratamento os
células, que o MTA branco era mais irritante do espécimes foram coletados e preparados para
que o ProRoot®. Notaram que osteoblastos jo- análise histomorfológica.
vens não sobreviviam sobre a superfície do MTA Os resultados mostraram que o MTA promo-
branco pelo menos por 13 dias. veu selamento biológico do canal principal em
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICt'.··LA COM EMBASAMfMlO Clf.NTÍFlCO

todos os espécimes (Figura 16.171). Esse sela- rial foi empregado após um curativo de hidróxido
mento ocorreu em diferentes níveis, podendo ser de cálcio por uma semana. Observaram comple-
observado em nível do forame ou um pouco mentação apical n otadamente por cemento neo-
aquém. Da mesma forma foi notado selamento formado. Poste riorm ente, Holland et al. 182 volta-
biológico das ramificaçõe s do canal p rincipal que ram a estudar o comportamento dos tecidos api-
constituem o delta apical Essas ocorrências esta - cais e periapicais de dentes de cães após obturação
vam aliadas à ausência de processo inflamatório de canal com MTA, agora 90 dias após o trata-
no ligam ento periodontal. Com o cimento Ketac- mento. Dos 1O casos tratados ocorreu selamento
Endo o correu selamento biológico parcial em 2 biológico completo em 8, aliado à ausência de
casos e total ausên cia nos demais. No ligamento processo inflamatório (Figura 16.141). Nos dois
periodontal ocorreu pe queno infiltrado inflama- casos restantes ocorreu um selamento biológico
tório do tipo crônico, principalmente junto ao parcial e no outro pequena sobreobturação. Em
material obturador extravasado . ambos casos notaram-se presença de p equeno in-
Shabahang et al.390 empregaram o MTA n o filtrado inflamatório do tipo crônico. Observa-se
tratamento endodôntico de dentes de cães com pelo exposto, que a resposta biológica ao MTA,
rizogênese incompleta e lesão p eriapical. O mate- como material obturador do canal, foi satisfatória.

• f~G. M1.11'~
Obturação do canal radicular de dente de cão com
MTA. 180 dias. Selamento biológico total do canal princi-
pal ·e deltas apicois com novo cemento. Ligamento
periodontol isento de processo inflamatório (H.E. 100X).

• 1

Aplicação Clínica oferecer um MTA com característi cas fís icas dis-
Com o já men cionado, o MTA n ão apresenta tintas do atual, p ossibilitando assim ao cirur-
propriedades físicas para esse fim . Para indicá-lo gião -de n tista um leque maior de indicações .
n essa situação, o material deveria apresentar, Excepcionalmente, caso o profissional se depare
dentre outras propriedades, escoam ento e vis- com uma situa ção em que ele faz opção pela
cosidade compatível com um cimento obtura- obturação do can al radicular, como por exem -
dor de canal, adquirir melhor plasticidade, ser plo, casos de rizogênese incom pleta, p resen ça
possível prepará -lo n a forma pastosa, possuir de dens in dents, os procedimen tos clínicos serão
maior finura, melhor h omogeneidade e condi - os m esmos descritos quando da ob tenção de um
ções de trabalho, maior tempo de pre sa , e p os - plug apical de MTA, que será descrito na se-
suir adesividade à dentina. No momento, exis- qüência. O MTA deve ser coloca do no interior
tem setores da indústria o dontológica que estão d o canal radicular com o auxílio de porta -amál-
estudando o MTA e introduzindo algum as mo - gamas especiais ou com a seringa contendo
dificações em sua composição, para que adquira a gulhas apropriadas do MAP SYSTEM® ou cal-
1 propriedades físicas ideais de modo a adequá -lo cadores de canal e cones de papel. À medida
/ às diversas situações clínicas, sem alterar uma 4 ue o MTA vai sendo levado em pequenas por-
de suas principais propriedades que é a biológi- ções, procede -se sua condensação vertical, a té
ca . Com certeza, em breve, o m ercado deverá obte r-se o comple to p reenchim ento do ca na l
CIÊN C IA ENDO DÔNTICA

radicular, não ultrapassando a linha da crista mara com uma bolinha de algodão úmida, sela -
óssea alveolar, prevenindo-se assim eventual se a cavidade com material restaurador provisó-
escurecimento do dente. Após a limpeza ade- rio e posteriormente obturação definitiva (Fi-
quada das paredes dentinárias, e limpeza da câ- guras 16.172 e 16.173).

• FIG. 16:172.
Dente 21 traumatizado com rizogênese incompleta,
e reabsorção interna (A). Obturação de todo canal
radicular com MTA, notando-se ligeiro extravasamento Dente 31 apresentando necrose pulpar e
do material no região opical (BJ. reabsorção interna expondo o canal radicular com o I

pe,iodonto lateral. Obturação do canal radicular com o


MTA.

Emprego do MTA como plug apical nica-1 com o hidróxido de cálcio na formação de
Dos exce lentes res ultados obtidos por tecido duro em dentes de cães com rizogênese
Holland et al. 189 e Holland et al.1 82 empregando o incompleta. Notaram que o MTA produzia bar-
MTA em obturações de canais radiculares, mes- reiras de tecido duro com mais consistência que
mo sem apresentar características físicas ideais, os demais. No entanto, quanto à quantidade de
pode se vislumbrar daquele estudo a sua utiliza- barreiras, não houve diferenças significativas en-
ção corno plug apical, principalmente para aque- tre eles.
les casos onde se torna impraticável a adaptação
adequada do cone de guta-percha principal. Esse Aplicação Clínica
procedimento encontra embasamento nos re - Em casos de dentes necrosados, após a reali-
sultados dos referid os autores, pois como de- zação do curativo de demora e irrigação para re-
monstraram, o MTA entrando em contato com moção do mesmo, seca-se o canal radicular e
os tecidos periapicais estimulou a presença de procede-se à imediata colocação do MTA. O ma-
selarnento biológico junto ao fora.me principal terial será inserido na região apical com o em-
em praticamente todos os espécimes analisados. prego de instrumentos especiais (porta -amálga -
Torabineja d & Chivi an 445 assim como Titlle et ma de ponta fina, ou 1\11.AP SYSTEM®) ou m es-
a/.4 4 2 também indicam a realização do plug apical mo levado com auxílio de instrumentos endo-
no sentido de induzir a formação de uma barrei- dônticos de ponta romba, condensadores (plu-
ra de tecido duro, prevenindo assim a extrusão ggers) ou cone de papel. O material deve ser colo-
de material obturador em casos de obturação de cado numa extensão de até três mm e seu limite
dentes com rizogênese incompleta. Shabahang et apical comprovado por exame radiográfico. Se-
al. 389 realizaram um estudo comparativo para ve- gundo Torabinejad & Chivian 445, sobre o MTA
rificar a eficiência do MTA e a proteína osteogê- deve ser colocado uma bolinha de algodão úmi-
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA: COMO PRATICÍH.. A COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

da pelo período de 3 a 4 dias, protegida por sela - ma cacos ao MTA e amálgama de prata. Após o
mento coronário, quando então se procede .ª ob- período de cinco m eses os autores notaram que
turação definitiva do canal radicular com cime n- dos seis espécim es an alisados com o MTA, cinco
to obturador e cones de guta-percha. apresentaram t ecido conjuntivo adj acente ao
Particularmente, para prevenir o extravasa- material isento de processo inflamatório e uma
mento do MTA durante a sua colocação em casos barreira completa de cemento depositado sobre
de forames dilatados, como ocorre em dentes ele. Esses resultados contrastarn com os do amál-
com rizogênese incompleta, procede-se à coloca- gama de prata, pois não ocorreu nenhum sela -
ção de u ma base apical de hidróxido de cálcio, mento e em todos os espécimes havia presença
junto aos tecidos periapicais. Podem.os realizar de processo inflamatório.
essa manobra de duas maneiras. Uma delas seria Da mesma forma Bernabé et al.58 , utilizando
empregando o hidróxido de cálcio a con dicionado dentes de cães com canais contaminados, realiza-
em tubetes de anestésicos (fórmula Endo-FOA, ram obturações retrógradas com o OZE consis-
1968). Com auxílio de uma seringa carpule e tente, IRM®, Super EBA® e o MTA. Decorridos
agulhas gauge 27, deposita-se uma pequena por- cento e oitenta dias, as análises histopatológicas
ção do material na região apical, acamando-o revelaram resultados semelhantes entre os mate-
com pontas de papel absorvente e comprovando- riais estu dados, com exceção do cimento de OZE
se a sua adaptação através do exame radiográfico consistente que apresentou piores resultados, e
(radiopacidade semelhante a da dentina). Em se- que foi atribuído ao fato desse grupo apresentar
guida o MTA é colocado conforme já descrito maior incidência de detritos. Nesse trabalho pôde
acima, com menores riscos de sobreobtura çã o. ser observado qu e o MTA foi o único material
O hidróxido de cálcio também pode ser leva - retrobturador utilizado que estimulou a deposi-
do à região apical em forma de pasta, m isturan- ção de tecido cementário em íntimo con tato,
do-se o pó de hidróxido de cálcio com soro fisio- proporcionando a obtenção do chamado "sela-
A lógico ou propilenoglicol e adicionando-se pe- mento biológico" (Figuras 16.145 e 16 .146), a
' quena porção de iodofórmio que lhe confere sem elhança do que foi relatado por Torabinejad
melhor radiopacidade. Com o auxílio de uma et ai. 448 e Torabin ejad et al.443 .
broca lentulo essa pasta é introduzida n o interior Com o propósito de estudar o comporta-
do canal radicular, na região apical, removendo- mento dos tecidos periapicais de dentes de cães
se posteriormente o excesso da mesma com li- submetidos à obturação retrógrada convencio-
mas e cones de papel úmido. Em seguida proce- nal, Bernabé et al. 41 investigaram a influência do
de-se a colocação do MTA, formando um tampão tipo de preparo apical (retrocavidades tipo classe
apical, aos moldes da maneira já descrita. 1) realizadas com o auxílio de broca rotatória ou
• 1
com ponta ultra-sônica para retrocirurgia. Essas
Emprego do MTA em Cirurgias Paren- cavidades apicais foram retrobturadas com o
dodônticas MTA e o cimento de OZE consistente. Os resu lta-
Estudos realizados por Pitt-Ford et al. 348 , em dos foram analisados cento e oitenta dias após,
dentes de cães empregando o amálgama de prata revelando mais uma vez a superioridade do
e o MTA, após períodos de 1O e 18 semanas, MTA, do ponto de vista biológico, como material
demonstraram que sobre o MTA havia formação retrobturador. Observou-se que ele foi o único
de tecido du ro assim como maior deposição de que estimulou deposição de tecido cementário
tecido ósseo adjacente a ele. Torabinejad et a l.448 em íntimo contato com o material selador,
também estudaram a resposta biológica dos teci- independentemente se as retrocavidades fossem
dos p eriapicais de dentes de cães após apicecto- preparadas com brocas ou ultra-som (Figuras
mia e obturação retrógrada com MTA. Notaram 16.174 e 16.175) . Considerando os resultados
que o cemento neoform ado era depositado não gerais os au tores ordenaram os rn.ateriais do me-
!: só sobre a dentina exposta pelo seccionamento lhor para o pior da seguinte forma: retrocavida-
r apical, como também sobre o material em estu- des com ultra -som e retrob tura das com MTA;
do, caracterizando um resultado satisfatório . Re- retrocavidades com broca e re trobturadas com
) sultados considerados eficientes também foram MTA; retrocavidades com ultra -som e retrobtu-
obtidos por Torabinejad et al. 44 3, que examinaram radas com OZE consistente; retrocavidades com
a resposta dos tecidos periapicais de dentes de brocas e retrobturadas com OZE consistente.
CltNCIA ENDODÔNTICA

·;
Recentemente foi desenvolvido um experi- para posteriormente fazê-lo com condensadores j
mento por Bernabé et al.11, onde os autores reali- mais calibrosos. Ao final, um ligeiro brunimento _:-_,;
zaram um estudo comparativo entre o MTA e o da superfície do material é realizado com a ponta ·\
Cimento Portland (Cimento Itaú®) empregando- de um aplicador para Dycal ou brunidor odon - .-·
os em retrocavidades preparadas com o ultra- topediátrico, exercendo uma ligeira pressão ver- i··
som. Puderam observar resultados semelhantes tical e lateralmente de encontro às paredes da
entre os dois tipos de materiais, caracterizados cavidade apical. O emprego do ultra-som tam-
também pela deposiçã o de tecido do tipo cemen- bém pode ser acionado para auxiliar na conden-
tário sobre eles, além de apresentarem, na maio- sação do material, a exemplo do que já foi des-
ria dos espécimes analisados, reparo dentoalveo- crito . Nesse momento nenhuma manobra para
lar completo (Figuras 16.176 e 16.177). irrigação da loja deve ser efetuada, devido aos
riscos do material ser removido. Segue-se a colo-
Aplicação Clínica cação de uma "capuz" de hidróxido de cálcio re-
Após contenção da hemorragia e secagem cobrindo a superfície dentinária e o cimento re-
das cavidades apicais com cones de papel, proce- trobturador (Figura 16.179). Esse capuz é em-
de-se a colocação do MTA. Sua inserção deve ser pregado com o objetivo de diminuir a magnitude
feita preferencialmente com instrumentos ade- da reabsorção dentinária que usualmente ocorre
quados como um porta-amálgama de metal de após a s apicectomias40• 5 u 2 _ Procede-se ao final o I
ponta pequena (Figura 16.1 78) ou então com o preenchimento da loja óssea com h emorragia
MAP SYSTEM. Com a p onta desse instrumento provocada ou, quando indicado, a colocação de
próximo à entrada das retrocavidades, o MTA é um implante ou enxerto ósseo associado ao em- 1
colocado suavemente, realizando-se a sua conden- prego de membrana ou barreira.
sação com calcadores especiais do Kit Bemabé 51 A avaliação radiográfica final, ou seja, logo
(Figuras 16.32 e 16.33). Para efeito prático e após a colocação do cimento e do "capuz" é I
evitar a formação de bolhas durante a inserção necessária, assim como a sua proservação, no .
do MTA, essa operação deve ser feita por partes, sentido de se comprovar a eficiência da opera -
ou seja, colocação de pequenas porções por vez e ção imediata e a longo prazo (Figuras 16.180 a ~
sua condensação, no início, com calcadores finos, 16.185).

Retrocavidade preparada com broca em dente de Retrocavidade preparado com ultra-som em dente
cão e retrobturada com MTA - 180 dias. Observar repa- de cão e retrobturada com MTA - 180 dias. Reparo
ro dentoolveolor completo. Extensa deposição de teodo completo com o tecido ósseo próximo ao material
cementário em contato com o MTA. Ausência de proces- retrobturador. Cemento neoformodo recobre o dentina
so inflamatório no periodonto apical (H.E. 40XJ. desnuda e o próprio MTA (H.E. 40XJ.
CIRURGIA PARENOOOÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO

• FIG. 16:f16 __ _
Retrobturoção com MTA em dente de cão - 80 dias. Retrobturação em dente de coo com Cimento
Reparo dentoa/veolar caracterizado por neoformação ós- Portland - 180 dias. Ligamento periodontal tecido ósseo
sea, reinserção de fibras periodontois, cemento e cemento neoformado em íntimo contato com o mate-
neoformado sobre a dentina e o material retrobturador. rial retrobturador. Preparo de retrocovidode com o ultra-
Preparo de retrocavidade com o ultra-som (HE. 40XJ. som (H.E. 40X).

• _FIG. __ 16.178 ___________ _ • FIG, 16,119


Colocação do MTA próximo o entrada da cavidade Capuz de hidróxido de cálcio colocado sobre a su-
apical com ouxl7io de porta-amá/gomo, prevenindo que- perfície dentinária apicectomizodo e material
do do material no loio óssea. retrobturodor.

• FIG. 16.180
Lesões periapicais envolvendo
ápices dos dentes 11, 21 e 22.
Retrotamento endodôntico do 21
com ligeiro extravasamento e indi-
cação de oi-urgia parendodôntica
obragendo todos os dentes.

• FIG. 16.181
Retrobturação do 11 com
ProRoot® M TA e os demais com o
1 Seolopex consistente. Controle
I
radiográfico 3 anos depois, eviden-
ciando reparo do ponto de vista clí-
nico-radiográfico.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

_ _FIG. 16.183______ - ··-·--·····


Dente 3 6, com canais m esiais calcificados. Preparo Dente 36. Retrobturação com o MTA-Ângelus®.
de retrocav,dades com o ultra-som e retrobturação com Proservação realizada 5 meses após evidenciando repa-
o MTA-Ângelus®. ro clínico-radiográfico.

IIIIIJIG. _ 16.tM __ . • FIG. __16.185 ···-··--··--·· _ -···--·-·- .


Retrobturação com o MTA-Ângelus" nos dentes 21 Retrobturação com o MTA-Ângelus®. Pós-operató-
e 22: Cavidades apicais realizados com o oux,1io do rio com 1 ano e meio, evidenciando reparo completo do
ultra-som. ponto de vista dínico-radiográfico.
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO
- ~ ' "'" • - •·«·-•oow• ,., _,._os_, __ ,_ , «•w , . . -- _,_,_,_,mo,
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Em função das dificuldades de se manusear decídua. A falta de estudos experimentais que


o material e no sentido de facilitar a colocação investigassem um cimento que tivesse esse perfil
do MTA nas retrocavidades, Lee 260 desenvolveu biológico levou a grande maioria dos odontope-
um sistema original que consiste na realização de diatras a utilizarem, para obturação dos canais
sulcos na superfície de um bloco de resina com radiculares, pastas reabsorvíveis pelo fato de se-
uma broca de fissura n 2 169. Após o preparo do rem mais rapidamente eliminadas. No entanto
MTA com uma espátula, ele é imediatamente em clínica, existe grande preocupação com a
colocado nesses sulcos. O material em excesso, existência de infiltração margin al , que pode
para fora do sulco; deve ser removido com um ocorrer através da via coronária. Diante dessa
cotonete de algodão úmido, esfregando-o sobre a possibilidade e caso ela ocorra, muito provavel-
superfície do bloco de resina. O MTA colocado mente haverá progressiva contaminação do ca -
no sulco é então removido com a ponta de uma na! radicular. Com essa perspectiva, se ao invés
espátula tipo Hollemback e depositado direta- de uma pasta fosse utilizado um cimento obtura-
m ente n a retrocavidade e em seguida condensa- dor, que tomasse presa, a situação poderia ser
do. Segundo o autor, dependendo da amplitude diferente. Para qu e tal aconteça, é fundamental
da retrocavidade e do tam anho das porções de que o cimento obturador utilizado seja então bio-
MTA colocadas em cada sulco, pode ser necessá- logicamente ativo e principalmente, seja rcabsor-
ria a utilização de 3 a 5 porções do material. vível287 •
Diante da possibilidade de se utilizar um ci-
Emprego do MTA em Odontopediatria mento para obturação de canais radiculares de
Há muito se questiona a indicação de trata- dentes decíduos, que endurecesse e fosse reab-
mento dos canais radiculares de dentes decíduos sorvido, Nery 315 realizou um estudo experimen-
em função de possuírem um complexo sistema tal em dentes decíduos de cães, av aliando a ação
de canais radiculares. Essa postura baseava-se na de duas pastas obturadoras (Pasta Guedes Pinto,
;1
1
informação de que, principalmente os molares Pasta de Hidróxido de Cálcio p.a. associado ao
I propile n oglicol) e de um cimento obturador
decíduos não favoreceriam a terapêutica dos ca-
nais radiculares, em face da complexidade topo- muito utilizado em dentes permanentes, o Seala-
gráfica dos mesmos. Daí até um passado recente pex. Apesar disso, o cimento Sealapex, além de
os autores restringiam a indica ção do tratamento não impedir a ocorrência da rizólise, mostrou ser
endodôntico apenas para dentes decíduos ante- reabsorvido durante esse p rocesso.
I riores. Entretanto alguns deles indiferen tes às di- Esse resultado abriu a perspectiva para reali-
ficuldades apresentadas, e na ânsia de resolver os zação de n ovos experim entos e m dentes decí-
problemas clínicos pendentes, tomaram p ara si duos, buscando encontrar outros cimentos obtu -
esta responsabilidade e relataram excelentes re - radores com a capacidade de endurecer após a
sultados clínicos, após a realização do tratamento espatulação, ser biologicamente compatível e ser
endodôntico completo dos canais radiculares de reabsorvido durante o processo da rizólise. Assim
dentes decíduos 13, 3 57A 18 • Dentro dessa postu ra, o é que Nery3 14 desenvolveu um outro experimen-
tratamento dos canais radiculares de dentes decí- to realizando a obturação de canais radiculares
duos foi submetido a novos estudos, importantes de dentes decíduos de cães com o propósito de
para demonstrar a importância das medicações verificar a resposta biológica dos tecidos periapi-
empregadas e a necessidade de se ter um can al cais frente à alguns cim entos obturadores de ca-
radicular densa mente_ obturado e n ão apenas nais radiculares à ba se de óxido de cálcio (Seala -
preen chido com uma pasta, agu ardando o m o- pex e Sealer Plus) e o MTA. Decorrido 30 dias,
m ento de sua esfoliação. verificou que os três cimentos contribuíram p ara
Respeitando as várias propriedades que um a ocorrência de selamento biológico do forame
cimento obturador de canal radicular deve pos- apical, fato n ão observado no grupo controle,
suir, em se tratando de dentes decíduos, a esco - cujos can ais radiculares permaneceram vazios,
lha deve recair sobre aquele que seja compatível sem obturação, mas com selamento coronário.
biologicamente, nã o interfira no p rocesso de re- Quanto à reabsorção do cimento Sealapex, ocor-
paração apical e também junto ao germe do su- rida n esse estudo, durante o processo de rizólise,
cessor permanente, e principalmente não interfi- n ão cau sou n enhu ma surpresa, uma vez que
ra no p rocesso de rizólise fisiológica da dentição essa ob servação já havia sido notada em estudo
CIÊN CIA ENDODÔNTICA
-------------------··-·----
anterior 315 • Sem dú vida, na avaliação desses normal, sem dúvida, modifica muitos conceitos e
resultados, o fato que mais chamou atenção foi a paradigmas que acercam esse assunto, motivan-
reabsorção ocorrida com o MTA durante o pro- do a realização de novos estudos à respeito.
cesso de rizólise (Figura 16.186), pois não exis- Quanto ao emprego do MTA em pulpoto-
te, na literatura, registro de reabsorção desse ma- mias de dentes decíduos, Eidelman et al. 115 rela-
terial quando utilizado em dentes permanentes. taram os resultados de um estudo realizado em
Dos materiais estudados, o cimento Sealer Plus 4 5 dentes decídu os humanos de 26 crianças,
mostrou menor evidência de ser reabsorvido após proteção da polpa dental com o MTA ou
durante a rizólise, comparativamente ao cimento formocresol. Após períodos que variaram de
Sealapex e o MTA. O'Sullivan & Hartwell 331 rela- seis a trinta meses, os autores observaram que
taram um caso de sucesso radiográfico após a as polpas dentais dos dentes decíduos tratados
obturação do canal radicular de um molar inferior com o MTA não apresentavam qualquer indício
decídua humano retido, com o MTA. Salientam de patologia através de avaliação clínico-radio -
que esse tipo de tratamento foi possível devido à gráfico, demonstrando grande potencial para
ausência do sucessor p erman ente, mas não reco- substituir o forrnocresol. Rocha et al.3 63 realiza-
mendam esse procedimento na rotina. ram pulpotomias em molares decíduos de pacien-
Depreende-se desses estudos qu e o trata- tes entre quatro e sete anos de idade utilizando
mento endodôntico radical de dentes decíduos, o hidróxido de cálcio e o MTA. Os resultado
utilizando um m aterial compatível do p onto de clínicos-ra diográficos realizados após 3, 6 e 9
vista biológico e que não interfira nos processos meses, através da observação de uma série de
de reabsorção fisiológica dos dentes decíduos, eventos clínicos, demonstraram com o MTA,
permitindo que a sua esfoliação siga o seu curso 100% de sucesso.

- . AG•.. _16.186 ------···- ------- ··- ... -····· · __ .


Canal radicular de dente decídua de cão obturado
com MTA. A reabsorção lateral da raiz permitiu que o
teodo conjuntivo e células inflamatórias invadissem o es-
paço ocupado pelo material obturador, configurando as-
sim a sua reabsorção (H.E 100xJ.

5.6. MTA: produtos disponíveis no 20% de óxido de bismuto, produto que lhe confe-
mercado re radiopacidade, e 5% de gesso. A embalagem
pode conter um ou dois envelopes de lg do pro-
Co nforme j á m e ncionado o mercado duto, além de uma seringa aplicadora e três pe-
odontológico dispõe de dois produtos de Agregado quenas bisnagas contendo água destilada.
Trióxido Mineral (MTA), o ProRoot®-MTA Cinza e O MTA-Ângelus® foi lançado no mercado
Branco (Figura 16.187A, B) e o MTA-Ângelus® brasileiro e fabricado pela Ângelus Odonto-Lógi-
(Figura 16.188), todos de coloração cinza. O pri- ka Ind. de Prod. Odontológicos Ltda com sede
meiro foi lançado no comércio americano pela em Londrina, PR, contendo em sua composição
Dentsply. Segundo o fabricante ele é composto 80% de cimento Portland e 20% de óxido de
aproximadamente de 75% de cimento Portland, bismuto. Portanto, o produto nacional não pos-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO

sui em sua fórmula o sulfato de cálcio (gesso), tico, que não cria pontes dentre as partículas de
segundo o fabricante com o propósito de reduzir cimento, causando p ega (presa) instantânea. A
o tempo de presa, que se dá em 10 minutos, embalagem do MTA-Ângelu s® contém um frasco
minimizando os riscos de dissolução no local com duas gramas de MTA e uma pequena bisna-
aplicado . Segundo o fabricante, quando não se ga contendo água destilada, além de um dosador
coloca gesso se forma hidrato de aluminato espá- de plástico para dispensar o pó.

111\.~G Li.CJ (J L.-MTA


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ProRoot® MTA Branco (OentsplyJ.

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tratamento para
acíde.ptes e
complrcafúes
endodõ111icas.

- FIG. 16.183.
Embalagem comercial do MTA-Ângelus®
(Â.ngelusJ.

1
;
C IÊNCIA ENDOOÔNTICA
,.,-·--·-·••••"••···~ · -·•~·•-•w•-·---·-----••""'-'"''""-"""'"·"'"'"'º"_'_'"'w,,-o•--•-"•"""·•·•·--•·•-••••••" '"""·---i
..,

•.
Ambos fabricantes de MTA fazem considera- gundo o fabricante do MTA-Ân gelus® n ão é ne-
ções simílares sobre a composição do produto, cessário aguardar que ocorra o endurecimento
assim corno as precau ções que se devem obser- do m esmo para se da r continuidade aos procedi-
var com a manipulação do produto tais como : mentos seguintes, pois uma das importantes ca-
após abrir as embalagens e retirada do pó, estas racterísticas do produto é a melhoria de suas
devem ser fechadas imediatamente e bem guar- propriedades em ambiente úmido.
dadas para evitar contato e degradação com a O fabricante do ProRoot® MTA recomenda
umidade. que ele, quando colocado em perfurações intrar-
Segundo o fabrican te do ProRoot®, a adição radiculares, não seja aplicado acim a do nível do
de líquido em excesso ou insuficiente p ode dimi- osso da crista alveolar devido ao fato do material,
nuir a resistência do p roduto. O líquido deve ser pela natureza de seus componentes, apresentar
incorporado gradualmente ao pó, misturando-os tendência para descolorir o dente.
por um minuto para garantir que todas as partí- Con cluindo, queremos crer que a introdução
culas do pó estejam hidratadas e assim obter do MTA na Odontologia constituiu -se num gran-
uma pasta de consistência espessa e cremosa. de avanço, p rincipalmente para solucionar o an-
Seu endurecimento a contece ao longo de um gustiante problema das trepanações radiculares e
período de quatro horas, m as o tempo de manu- as perspectivas de seu emprego em Odontopedi-
seio é de apenas cinco minutos . Todos os proce- atria. As outras aplicações tais como obturações
dimentos clínicos subseqüen tes, segundo o fabri- de canal de dentes com ou sem rizogênese in-
cante só podem ser realizados no mínimo quatro compl e ta , proteção direta da polpa d ental
horas após . Recomenda -se para isso a colocação (capeamento e pulpotomia) e mesmo as retrob-
de uma bolinha úmida sob re o MTA e agua rdar turações, constituem situações clínicas qu e vem
esse tempo mínimo, quando então o profissional sendo solucionadas de m odo satisfatório com
deve verificar se ele endureceu. Caso contrário, outros materiais. No entanto o êxito obtido com
afirmam ser necessário repetir a operação. Quan- esses outros materiais junto à polpa e tecidos
to ao MTA-Ângelu s®, esclarecem que o tempo de periapicais não vinha sendo reproduzido no caso ,
endurecim ento atualmente, sem adiçã o de gesso, de trepanações radiculares. O MTA, portanto, /
é de 1O minutos. Recomendam um tempo de preench e essa lacuna, além de ter utilidade em
trinta segundos pa ra espatulação do pó com o outras aplicações como já foi demonstrado e dis-
líquido antes de levá-lo ao local de ação. Se- cutido ao longo deste capítulo.

• REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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J 1999; 32: 197- 20 3. K Nagahama F, Yamasaki M . Clinica] study of re-
TRAUMATISMO
DENTÁRIO

MARIA ILMA DE SOUZA CÔRTES


;!
i JULIANA VILELA BASTOS

PARTE 1 - EPIDEMIOLOGIA, CLASSIFICAÇÃO E IMPACTO


PSICOSSOCIAL DAS LESÕES TRAUMÁTICAS

• INTRODUCÃO
,

Os traumatismos dentários representam um dos mais sérios proble-


mas de saúde pública entre crian ças e adolescentes. Isto se explica devido
a sua alta prevalência reportada em estudos popula cionais, seu alto im-
pacto psicossocial, e a possibilidade de estabelecer programas de preven-
ção e controle, já que suas causas são amplamente conhecidas 5· 68•69• 7º· 83· 1º4.
Além disto, segu ndo Glendor et al.4 9 o traumatismo da dentição perma-
nente resulta em alto custo, pois somando-se aos gastos com o tratamento
inicial, está a necessidade um controle pós-tratamento, qu e estende por
muitos anos os cuidados com o paciente. Borum & Andreasen20 reporta-
ram que o tratamento das lesões traumáticas consome grande parte dos
recursos com serviços de saúde na Dinamarca, na grande maioria, aplica-
dos no tratament o dos dentes permanentes. Cabe ressaltar que um declí-
nio significativo da prevalência e severidade da cárie em muitos paí-
) ses1º·22.48·91 faz com qu e as atenções se voltem para as questões relativas ao
traumatismo dentário. Apesar disto, levantamentos epidemiológicos que
incluam o diagnóstico de traumatismo dentário são escassos, tan to em
países em desenvolvimento quanto em países industrializados, particular-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

mente quando comparados aos inúmeros estu- cermos a etiologia dos traumatismos dentários,
dos de cárie e doen ça periodontal. As pesquisas os programas de prevenção e controle são reali-
no campo dos traumatismos dentários se con- zados de forma isolada e não causam o impacto
centraram basicamente nas questões biológicas e necessário para a real solução do proble -
nas alternativas de tratamento, enfatizando prin- ma11.12·13·14·99·1º6. Ü PROJETO DE EXTENSÃO, PESQUISA E
cipalmente as novas técnicas restauradoras dos ENSINO TRAUMATISMO DENTÁRIO da Faculdade de
dentes fraturados e novas alternativas para se Odontologia da UFMG vem se empenhando em
evitar a reabsorção radicular dos dentes reim- divulgar o tema junto à comunidade (Figuras
plantados6. Entretanto, n os últimos anos os Epi- 17 .1 a 17 .3) . Aliado à alta prevalência encontra -
demiologistas têm se preocupado com a n ecessi- se o alto impacto p sicossocial causado pelo com-
dade de se realizar levantamentos que permitam prometimento estético de incisivos centrais supe-
avanços no sentido de prevenir as conseqüências riores fraturados, dada a importância destes den-
desastrosas dos traumatismos dentários. Nos paí- tes na aparência da face 30 . O trauma psicológico
ses em desenvolvimento ainda existe muito que que se segue a uma fratura é, em muitos casos,
se fazer para o controle da doença cárie. Sendo subestimado e, às vezes, inteiramente ignorado.
assim, pouca importância vem sendo atribuída A tomada de consciência de "SER DIFERENTE",
ao p roblema de traumatismo dentário entre crian- a crítica a que a criança se expõe e o desaponta-
ças e adolescentes, embora os trabalhos publica- m ento da família diante da questão estética são
dos até o momento demonstrem uma alta preva- suficientes para causar mudanças de ordem emo-
lência (Quadros 17 .1 a 17.6). Apesar de conhe- cional em muitas crianças97 .

Quadro 17.1
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR AFRICA ("AFRO")

País (Cidade) Autor Faixa etária Amostra Preva lência(O/o) /

Kênia Ng'ang'a & Va lderhaugh (1988) 13-15 250 16,8


Nigéria (lbadan) Falo mo (1986) 10-17 250 16,0
Nigéria (~eninl Naqvi & Ogidan (1990) 9-16 1102 19,1

Quadro 17.2
PREVALÊNCIA DE LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR THE AMERICAS ("AMRO"J

País (Cidade) Autor Faixa etária Amostra Prevalência(%)

Brasil (Bauru) Bijella FB (1972) 7-15 15675 6,0


Brasil <Belo Horizonte) Côrtes et ai (2001) 9- 14 3702 12,1
Brasil (Blumenau) Marcenes et ai (2001) 12 652 58,6
Brasil {Cianorte) Nicolau et ai (2001) 13 764 20,4
Brasil <Florianópolis) Traebert et ai (2003) 12 307 18,9
Brasil Uaraguá do Sul> Marcenes et ai. (2000) 12 476 15,3
EUA Macko et ai (1979) 1L->15 1314 19,1
EUA Oluwole & Leverett (1986) 11 -21 5000 5.0
EUA Kaste et ai. {1996) 6-20 3337 18,4
República Dominicana Garcia-Godoy et ai. (1981) 7-14 596 18,1
(Santo Domingo)
República Dominicana Garcia-Godoy et ai. (1985) 6-17 1200 12,2
(Santo Domingo)
República Dominicana Garcia-Godoy et ai. (1986) 7- 16 596 18,9
(Santo Domingo)
T RAUMATISMO D ENTÁRIO

Quadro 17.3
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR EASTER MEDITERRANEAN("EMRO"J

País (Cidade) Autor Faixa etária Amostra Prevalência(%)

Iraque Baghdady et ai. (1981) 6-12 6090 7,7


Jordânia CAmman) Jamani &. Fayyad (1991) 7-12 3041 10,5
Jordânia <Amman) área urbana Hamdan & Rock (1995) 10-12 234 19,2
Jordânia (Ammanl área rura l Hamdan & Rock (199 5) 10- 12 225 15,5
Sudão Baghdady et ai. (1981) 6-12 305 7 5,5
Síria (Damasco) Marcenes et oi. (1999) 9- 12 1087

Quadro 17.4
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR EUROPE ("EURO "J

País (Cidade) Autor Faixa Etária Amostra Prevalência(%)

Dinamarca Andreasen & Ravn (1 972) 9- 17 487 22,0


Espanha (Mostoles) Tapias et ai. (2003) 10 470 17,4
Fin landia Jarvinen ( 1979) 6-16 1614 19,8
França Delattre et ai. (1994) 6-15 2020 13,6
Inglaterra Clarkson et ai. (1973) 11 - 17 756 9,8
Inglaterra /País de Gales Todd (1975) 5-15 12952
Inglaterra (Manchester) H amilton et ai. (1997) 11 - 14 2022 34,4
;
Inglaterra (Londres/Newham) Marcenes &. Murray (2001) 14 2684 27,3
A Inglaterra (Londres/Newhaml Marcenes &. Murray (2002) 14 411 43,8
Irlanda O'Mullane (1972) 6-19 2792 13,0
Irlanda Holland et ai. (1988) 8;12; 15 7171
Irlanda Holland et ai. (1994) 16-24 400 14,0
Israel Zadick et ai. (1972) 6- 14 10903 8,7
País de Gales Hunter et ai. (1990) 11 - 12 968 15,3
Suécia (área urbana) Forsberg &. Tedestam (1990) 7-15 1635 18,0
Suécia (área rural) Josefsson &. Karlander (1994) 7- 17 750 11,7
Suécia (Vasterbotten) Borssen & Holm ( 1997) 16 3007 35,0
Reino Unido Todd and Dodd (1985) 8- 15 22 375
Reino Unido O'Brien (1995) 8- 15 188 69

Quadro 17.S
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR SOUTH EAST ASIA-"SEARO"

País (C idade) Autor Faixa etária Amostra Prevalência(%)

Índia <South Kanara) 13,8


Área urbana e rural
Gupta et ai. (2003) 8-14 2100

Quadro 17.6
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NO S PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR WESTERN PACIFIC- ("WPRO "J
.,
t País (Cidade) Autor Faixa etária Amostra Prevalência(%)

) Malásia Meon (1986) 7- 12 1635 3,9


Malásia Nik- Hussein (2001 ) 16 4085 4,1
Japão Uji (1988) 6-1 8 15822 21,8
CIÊNCIA ENDOOÔNTICA

' ;;:;:· 1
Maria lima de Souza C6rtes
,rvclWf!O·N '
J uliana Vilela Bastos

• . FIG. 1'1.1 _
Cartilha "E se m eu dente quebrar?". Material
educativo para orientação nas escolas sobre os pnineiros
socorros em coso de acidentes que envolvam
traumatismo dentário TRAUMATISMOS
DENTÁRIOS
Juliana V ilela Bast 05
Maria llm3 de Souza Côrtes

uFM. G FACULDADE DE
ODONTOLOGIA

CENTRO DE EXTENSÃO
"Manual para professores e agentes multipli-
cadores'~ Contém sugestões para que os professoras pos- 1
som realizar atividades com os crianças, inserindo-os nos
Traumatismos Dentários conteúdos curriculares e com os pais, por ocasião dos
reuniões escolares.

VOCÊ PODE SALVAR SEU


DENTE !

Folheto uttlizodo nos ações do UFMG com a comu-


nidade: "Domingo no Compus'; "Férias no Museu''. "Ca-
ravana da Alterosa'; "Semana da criança" dentre outros,
que acontecem ao longo do ano em épocas específicas.
Podem ainda ser uttlizodos em atividades de entidades
de classe e outros Universidades conforme solicitação.

J !..._
TRAUMATISMO DENTÁRIO

ESTUDOS DE PREVALÊNCIA uma prevalência variando entre 3,9% a 58,6%


DOS TRAUMATISMOS (Quadros 17.1 a 17.6). Nos países europeus a
DENTÁRIOS variação encontrada foi de 8, 7% a 43,8 % (Qu a-
dro 17.4). Pesquisadores da América Latina de-
A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAúDE107 enfatizou monstraram também uma alta prevalência vari-
que o relato da prevalência das doenças em dife- ando entre 5,0% e 58, 6 % (Quadro 17.2), sendo
rentes populações é importante para se fazer que dos levantamentos realizados temos conheci-
comparações e deve ser utilizado para monitorar mento de, pelo menos 6 no Brasil (Gráfico 17.1).
o estado de saúde, observar as tendências dos Esta grande variação observada nos estudos reali-
diversos países e entre eles, estabelecer o plane- zados em diversos pontos do Universo pode real-
jamento dos serviços de saúde e programas de m ente refletir as diferenças culturais que englo-
prevenção e controle das doenças, além de servir bam diferen ças ambientais e comportamentais, ou
como base para pesquisas futuras. No campo da é o resultado das diferentes metodologias adota-
saúde bucal infantil e do adole scente, o avanço é das para a coleta dos dados. Os estudos populacio-
evidente no que diz respeito aos dados de cárie. nais em tra umatismo dentário apresentam limi-
Desde m eados dos anos 1970 os resultados dos tações tais como ausência de um padrão determi -
levantamentos epidemiológicos demonstram um nado para exame e u m a classificação definida
declínio na prevalência da cárie dentária nesta para o diagnóstico das lesões. Além disto, não se-
faixa etária principalmente nos paíse s industriali- guem um pa drão de definição da faix a etária, do
zados48·73.14,so. Entretanto existem populações n as sexo, do tipo de dentes examinados, etiologia e
quais a cárie é um grave problema, principal- local de ocorrência do trauma . Muitos estudos de
. mente aquelas menos favorecidas 36· 5º e que ainda prevalên cia não especificam o m étodo de seleção
adotam uma dieta cariogênica 17 . da amostra, gerando dúvidas sobre sua represen-
, Por outro lado, resultados relativos à preva- tatividade08·23·37A6. Com relação aos métodos de
, 'ilência das lesões traumáticas são escassos, não exame, observa-se que uma luz artificial facilita a
.1 sendo possível realizar n enhum tipo de compara- visualização das estruturas dentárias e conseqüen-
. ção, nem estabelecer uma tendência clara no âm- temente sua correta iden tificação. Além disto, é
bito mundial devido à falta de padronização de essencial para a observação de lesões como trincas
métodos para coleta de dados04 . Esta observação já de esmalte e mudança de coloração da coroa. Es-
87 tudos que adotaram a lu z natural durante o exa-
I havia sido feita por O'Mullane , enfatizando que
1"apesar da importância dada na literatura ao as- me podem ter subestimado a real prevalência das
sunto traumatismo dentário em crianças e adoles- lesões traumáticasº8· 37· 4 1·42 A 3A 4 . 53. 56 · 59· 6º. Recomenda-
centes, e studos de prevalência são poucos eva- mos o uso de uma lâmpada tipo Petzl Zoom E04 ou
• 1 riam consideravelmente em seus resultados e con- similar durante o exame clínico em levantamen-
clusões". Estudos populacionais demonstraram tos epidemiológicos de traumatismo dentário 27 •

,
r • GRÁFICO 11,1

)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Pelos motivos citados anteriormente é p reci- (P<0 ,0 01 ) (Gráfico 17.3 ) que tiveram mais
so cuidado ao se tentar estabelecer uma tendên - chance de apresentar lesão traumática do que
eia mundial através da observação dos resultados crianças do sexo feminino com um odds ratio de
de prevalência publicados em traumatismo den- 1,74 (IC 95 %= 1,41-2,16 ) (Quadros 17.18).
tário. As diferenças reportadas nestes estudos po- Dentre as 448 crianças que apresentarem alguma
dem ser devidas às condições socioculturais pe- evidência de traumatismo na dentição perma-
culiares a cada população e que irão influenciar nente, a lesão mais freqüente foi a fratura de
sobremaneira a exposição e susceptibilidad e às esmalte, seguida da fratura envolvendo dentina.
lesões tra umá ticasº7,os,16, 19,24,29, 32,33,37 ,38,43,44,45.5 1, 53,5 5, A maioria das crianças que receberam tratamen-
57,58,59,60,62,63,67,68, 70, 72, 7 6, 79,8 l , &4,85,86,87,92, 93, 10 l , l 02, l 03 , 104, l 0 5, 109, l 10
to em decorrência de lesões traumáticas apresen-
No levantamento realizado por Côrtes et tou restaurações estéticas com resina composta
al.29, a prevalência de lesões traumáticas variou (Gráfico 17.4). Os dentes mais afetados foram
de 8 % em crianças de 9 anos de idade até 16, 1 % os incisivos centrais superiores, não havendo di-
em crianças de 14 anos de idade (P<0,00 1) (Grá- ferença entre o lado direito e esquerdo, sendo
fico 17.2). Para todas as idades a prevalência foi que a maioria das crianças apresentou apenas
maior entre crianças d o sexo masculino um dente afetado. (Gráficos 17.5 e 17.6).

• GRÁFICO 17.2 .

/
TRAUMATISMO DENTÁRIO

• GRÁFICO 17.6

J
CIÊNCI A ENDODÔNTICA
- -- ---------------------------------------------·-·---

Quadro 17.18
DISTRIBUIÇÃO DA FREQÜÊNCIA E REGRESSÃO LOGÍSTICA SIMPLES E MÚLTIPLA DE STATUS
SOCIOECONÔMICO, MEDIDA DE OVERJET, PROTEÇÃO LABIAL E IDADE NA PRESENÇA
DE LESÃO TRAUMÁTICA DENTRE ESCOLARES DE BELO HORIZONTE-BRASIL (N=3461)

Presença de Ausência de Odds ratio Não Odds ratio Ajustado1


Lesão Traumática Lesão Traumática Ajustado CI.C 950/o) (I.C. 950/o)

Status Socioeconômico
Baixo 264 (10,60/o) 2236 (89,40/o) 1 1
Alto 149 (15, 5%) 812 (84,50/o) 1,55 (1,25-1,92)*** 1,43 (1,15- 1, 79)**

Overiet
s 5 mm 281 (10,4%) 2432 (89,6%) 1
> 5 mm 132 (17,60/o) 616 (82,40/o) 1,85 (1,48-2,39)*** 1,37 (1,06-1,80)*

Proteção Labial
Inadequada 175 (17,90/o) 801 (82,1 O/o) 1 1
Adeguada 238 (9,6%) 2247 (90,40/o) 0,48 <0,39-0,60)*** 0,56 (0,44-0,72)***

Sexo
Feminino 167 (8,90/o) 1700 (91,1 O/o)
Masculino 246 (15,40/o) 1348 (84,60/o) 1,85 (1,51-2,29)*** 1,74 (1,41 - 2,16)***

Idade - incremento de 1 ano 1,16 (1,09-1,24)*** 1,18 (1,11-1,26)***


/

1
Aj ustado para todas as variáveis listadas acima
*** P<0,001; ** P<0,01; * P<0,05

CLASSIFICACÃO DO S
TRAUMATISMOS DENTÁRIOS

Vários critérios de diagnóstico têm sido utili- nárias. Não é apropriada ao exame em "campo",
zados para estabelecer a prevalência das lesões uma vez que para o diagnóstico da Classe IV que
traumáticas na den tição permanente trazendo indica ausência de vitalidade pulpar há necessi-
certa dificuldade p ara a comparação dos resulta- dade da realização de provas de vitalidade e exa-
dos clínicos e epidemiológicos já que cada autor m e radiográfico. De forma semelhante, é neces-
adota os de sua preferênciaº6,1 s.2, ,3s.4s.63.1s.ss.102.103 . sária uma tomada radiográfica, de preferência,
A classificação de Ellis & Davey 35 se baseia no momento do acidente, para se realizar o diag-
em um sistema n umérico de Classe I a VIII que nóstico de Classe VI, fratura radicular e Classe
descreve a extensão anatômica da lesão e utiliza VII, deslocamento do dente. Não existem crité -
termos subjetivos como "fratura simples" e "fra- rios para classificar os tratamentos realizados em
tura extensa" den tre outros. Tem sido largamen- decorrência das lesões traumáticas nem tampou-
te utilizada em levantamentos epidemiológicos, co as seqüelas das mesmas, como mudança de
mas se limita ao diagnóstico de fraturas coro- coloração, fístula e edema (Quadro 17 . 7).
TRAUMATISMO DENTÁRIO
·------~~·--------- - - - - - - - - · - - -
·,
Quadro 17.7
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério

Classe I Fratura simples da coroa, envolvendo pouca ou nenhuma estrutura dentínária


Classe li Fratura extensa da coroa, envolvendo considerável estrutura dentinária, mas não a polpa
Classe Ili Fratura extensa da coroa, envolvendo considerável estrutura dentinária, com exposição pulpar
Classe IV Ausência de vitalidade, com ou sem perda de estrutura coronária
Classe V Perda do elemento dental
Classe VI Fratura da raiz, com ou sem perda de estrutura coronária
Classe VII Deslocamento dental com fratura da coroa ou raiz
Classe VIII Fratura coronária "en mosse" e sua reconstituição

Ellis & Davey (1970)

Andreasen & Andreasen°6 modificaram o sis- zação é inviável em um levantamento epidemio-


tema adotado pela OMS para Classificação Inter- lógico. De forma semelhante à classificação de
nacional das Doenças para Odontologia e Esto- Ellis & Davey35 não permite identificar tratamen-
matologia. Esta classificação é válida para exame to e seqüelas das lesões traumáticas. O grande
e diagnóstico clínico das lesões traumáticas, in- valor desta classificação está no fato de ser com-
cluindo tecidos mineralizados dos dentes, polpa e pleta para o diagnóstico no momento do primei-
periodonto, além de osso, gengiva e mucosa. Al- ro exame do paciente com traumatismo, permi-
guns termos utilizados, como "fratura complica- tindo traçar o plano de tratamento adequado e
da" e "fratura não complicada" são subjetivos. estabelecer o prognóstico, se baseando nas estru-
· ~ Além disto, para o diagnóstico de alguns tipos de turas lesadas. Entretanto não se aplica na íntegra
i lesão como fratura de cemento, fratura radicular, a estudos epidemiológicos já que necessita de
lesões aos tecidos periodontais e osso de suporte equipamentos apropriados para diagnóstico de
há n ecessidade de exame radiográfico, cuja reali- determinadas lesões (Quadros 17.8 e 1 7. 9).

Quadro 17.8
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério Descrição

N 502.50 Infração do esmalte Fratura incompleta (trinca) do esmalte, sem perda de


substância

N 502.50 Fratura de esmalte Fratura com perda de substância dentári_a _confinada ao


(fratura coronária não complicada) esmalte

N 502.51 Fratura de esmalte-dentina Fratura com perda de substância, confinada ao esmalte


(fratura coronária não complicada) e dentina, mas não envolvendo a polpa

N 502.52 Fratura complicada da coroa Fratura envolvendo esmalte-dentina-polpa

N 502.54 Fratura corono-radicular não complicada Fratura envolvendo esmalte, dentina e cemento,
sem exposição pulpar

,, N 503.54 Fratura complicada da coroa Fratura envolvendo esmalte, dentina e cemento,


( com exposição pulpar

) N 502.53 Fratura radicular Fratura envolvendo dentina, cemento e polpa

Andreasen & Andreasen (1994): Lesões aos tecidos mineralizados e pulpares


CIÊNCIA ENDODÔ NTICA

Quadro 17.9
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério Descrição

N 503.20 Concussão Lesão às estruturas de suporte sem mobilidade anormal


nem deslocamento do dente, mas evidente reação à
percussão

N 503.20 Subluxação (mobilidade) Lesão às estruturas de suporte com mobilidade anormal,

N 503.20 Luxação Extrusiva (deslocamento


mas sem deslocamento do dente

Deslocamento parcial do dente para fora do alvéolo


,/
1

periférico, ou avulsão parcial)

N 503.20 Luxação Lateral Deslocamento do dente em outra direção que não a


axial. Esta lesão é acompanhada de cominução ou
fratura do alvéolo

N 503.21 Luxação Intrusiva (deslocamento central) Deslocamento do dente para o interior do alvéolo. Esta
lesão é acompanhada de cominução ou fratura do
alvéolo

N 502.22 Avulsão (exarticulação) Deslocamento completo do dente para fora do alvéolo

Andreasen & Andreasen (1 994) : Lesões ao tecido períodontal

Nos levantamentos epidemiológicos conduzi- sua utilização em 1993 (Quadro 17.12). As modi-
dos no Reino Unido, foi adotado um índice desen- ficações realizadas ao longo destes três levanta-
volvido pelo Department of Dental Health - University mentos pemútem que hoje o índice seja aceitável
of Birmingham Dental School e Department of Child para emprego em levantamentos epidemiológicos. I
Dental Health - University of Newcastle Dental School A exclusão do critério "deslocamento" o torna mais
, º·
85 1 2 103
• Após sua primeira utilização pelo National aplicável a este tipo de estudo, uma vez que a iden-
Child Dental Health Survey em 1973 (Quadro 17.10) tificação de tal lesão deve ser realizada com o auxí-
o índice foi modificado com a exclusão do critério lio de radiografias e, de preferência, o exame clíni-
"deslocamento" e inclusão dos critérios "restaura- co deve ser realizado em momentos subseqüentes
ção com resina composta" e "prótese para substi- ao acidente, quando os sinais e sintomas ainda es-
tuição de dentes perdidos por trauma", que foi en- tão presentes. Acrescentar os critérios para restau-
tão utilizado no levantamento de 1983 (Quadro rações realizadas em decorrên cia de lesões traumá-
17.11). Pequenas modificações foram feitas para ticas permite identificar maior número de casos.

Quadro 17.10
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério · Descrição

Código 1 Mudança de coloração Auto-explicativo


Código 2 Fratura envolvendo esmalte Auto-explicativo
Código 3 Fratura envolvendo e.smalte e dentina Auto-explicativo
Código 4 Fratura envolvendo esmalte e dentina e polpa Auto-explicativo
Código 5 Perda do elemento dental Auto-explicativo
Código 6 Coroa provisória Refere-se a qualquer reconstituição coronária imediata
Código 7 Restauração permanente ou semi-permanente Refere-se a coroas do tipo Veneer, coroas com núcleos, etc.
Cód igo 8 Deslocamento Auto-explicativo
Cód igo X Ausência de lesão traumática Auto-explicativo

Todd (1 975) : Children's Dental Health in the United Kingdom


TRAUMATISMO DENTÁRIO

Quadro 17.11
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério Descrição

Código O Ausência de traum a


Código 1 Mudança de coloração
Código 2 Fratura (esmalte) Fratura envolvendo esmalte
Código 3 Fratura <esmalte e dentina) Fratura envolvendo esmalte e dentina
Código 4 Fratura (envolvendo a polpa) Fratura envolvendo esmalte, dentina e polpa
Códigos Dente ausente devido a trauma Dente perdido por trauma
Código 6 Restauração com resina composta Restauração composta com ataque ácido
Código 7 Coroa permanente Incluindo jaquetas e coroas fixadas a pino, quer de
porcelana ou acrílico
Código 8 Outras restaurações Outras restaurações permanentes ou semi-permanentes,
tais como coroas de aço, pinch bandas, coroas de acetato etc.
Código 9 Aparelho móvel devido a trauma Aparelho móvel devido à perda do elemento dentário

Todd & Dodd (1985): Children's Dental Health in the United' Kingdom

Quadro 17.12.
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério Descrição

Código O Ausência de lesão traumática


Código 1 Mudança de coloração
Código 2 Esmalte Fratura envolvendo esmalte
• 1 Código 3 Esmalte e dentina Fratura envolvendo esmalte e dentina
Código 4 Esmalte e dentina e polpa Fratura envolvendo esmalte e dentina e polpa
Código 5 Ausência devido a tra uma Ausência devido a trauma
Código 6 Restauração composta com ataque ácido Restauração composta com ataque ácido
Código 7 Recolocação permanente Recolocação permanente com coroa, com aparelho
móvel ou ponte
Código 8 Restaurações temporárias Restaurações temporárias
Código 9 Exame não realizado Exame não realizado

O'Brien (1995): Children's Dental Health in the Un ited Kingdom

A classificação formulada por Garcia-Godoy et deslocamento lateral, intrusão e extrusão necessi-


al.45 e que foi definida para exame clínico e epide- tam dados radiográficos para seu diagnóstico, além
( miológico, falta critérios para a identificação de se- de um exame clínico criterioso preferentemente no
/ qüelas das lesões traumáticas assim como trata- momento do acidente. Conseqüentemente isto res-
mento realizado. Além disto, lesões como fratura tringe sua aplicação em levantamentos epidemioló-
de cemento, fratura radicular, concussão, luxação, gicos (Quadro 17.13) .
CI ÊNCIA ENDODÔNTICA
··------- ---------
Quadro 17.13
CRITÉ RIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério Descrição

Classe O Trinca coronária Fratura incompleta do esmalte, sem perda de substância


Classe 1 Fratura de esmalte Fratura de esmalte com perda de substãncia, sem
envolvimento pulpar
Classe 2 Fratura de esmalte e dentina, sem exposição pulpar Fratura de esmalte e dentina, sem envolvimento pulpar
Classe 3 Fratura de esmalte e dentina, com exposição pulpar Fratura de esma lte e dentina, com envolvimento pll~ ar
Classe 4 Fratura de esmalte, dentina e cemento, sem exposição Fratura de esmalte, dentina e cemento, sem \
pulpar exposição pulpar \
Classe 5 Fratura de esmalte, dentina e cemento, com exposição Fratura de esmalte, dentina e cemento, com exposição
pulpar pulpar
Classe 6 Fratura radicular Fratura envolvendo cemento, dentina e polpa
Classe 7 Concussão Lesão dentária sem mobilidade anormal ou deslocamen-
to mas com resposta altamente positiva à percussão
Classe 8 Luxação (mobilidade) Lesão dentária com mobilidade anormal, mas sem
deslocamento
Classe 9 Deslocamento lateral Deslocamento do dente em direção diferente da axial
Classe 10 Intrusão Deslocamento do dente em direção ao osso alveolar
Classe 11 Extrusão Deslocamento parcial do dente do interior do seu
alvéolo
Classe 12 Avulsão Deslocamento completo do dente do interior do alvéolo

Garcia-Godoy (1981)

Naqvi & Ogidan 78 propuseram um mé todo classes apresentadas . A definição de mudança '
para o diagn óstico de lesões traumáticas que de coloração da coroa e/ou presença de fístula
segu ndo eles poderia ser utilizado em levanta - nas lesões de con cussão, luxação e desloca -
m entos epidemiológicos por ser simples, rápido m ento é imprópria, uma vez que estas seqüelas
I
e não n ecessitar de equipam entos sofisticados podem ocorrer também em outros tipos de le·
de diagnóstico. De forma semelhante à classifi- são e não apen as nestas a que se referem os
cação de Elli s & Davey 35 , o siste m a numérico autores. Nesta classificação o tratam ento das
para descrever a extensão anatômica da lesão lesões traumáticas n ão foi considerado (Qua-
dificulta ao e xaminador a memoriza ção das 8 dro 17.14) .

Quadro 17.14
CR ITÉRI OS DE DIAG NÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critério Descrição

Classe I Fratura de esmalte Perda de esmalte apenas


Classe li Fratura de esmalte e dentina, Perda de esmalte e dentina sem exposição da polpa
sem exposição pulpar
Classe Ili Fratura de esmalte-dentina-polpa Perda de esmalte e dentina resultando em exposição pulpar
Classe IV Fratura de esmalte·dentina·cemento· Perda de toda a coroa até o sulco gengival, ou parte da coroa e
polpa cemento na região do sulco
Classe V Concussão Lesão sem mobilidade anormal ou deslocamento mas com
evidente reação à percussão. Algum tempo após a lesão pode se
manifestar com mudança de coloração da coroa e/ou fístula.
Classe V I Luxação Lesão dentária com mobilidade anormal, mas sem deslocamento.
Algum tempo após a lesão pode se m anifesta r com mudança
de coloração da coroa e/ou fístula.
Classe V II Deslocamento Posição anormal do dente como resultado de trauma. Algum
tem po após a lesão pode se manifestar com mudança de
coloração da coroa e/ou fístula.
Classe V III Avulsão Perda do dente devido a lesão traumática

Naqvi & Ogidan (1 990)


TRAUMATISMO DEN TÁRIO

o índice proposto pelo NATIONAL INSTITUTE OF considerada como lesão pulpar não tratada,
DENTAL RESEARCH (NIDR) 15 foi utilizado na primeira embora a melhor forma de se certificar de tal
fase de coleta dos dados de exame bucal do NA - diagnóstico seja através da prova de vitalidade
TIONAL HEALTH & NUTRITION EPIDEMIOLOGICAL SURVEY pulpar. Andreasen et al.º1 reportaram que o es-
(NHANES III) em uma amostra de indivíduos curecimento da coroa em traumatismo dentário
de 6- 50 anos de idade nos Estados Unidos63 • também se deve a eventos de cura, a exemplo
Nesta classificação, o critério denominado "re- da obliteração do canal radicular que se instala
paro pulpar" requer a verificação da presença mesmo em presença de polpa vital. Além disto,
de restauração lingual como sinal de tratamento um escurecimento transitório pode ocorrer
endodôntico, além de ser necessária uma con- como resultado de hemorragia pós-traumática
firmação de h istória de trauma pelo examinado. que se segue imediatamente a uma lesão por
O critério não é aplicável, uma vez que a forma luxação. Sendo assim a mudança de coloração
correta de se certificar da existência de trata- pode ser considerada com o sinal de lesão trau -
mento endodôntico, deveria ser uma tomada mática, mas nem sempre é indicativa de lesão
radiográfica . A coloração escurecida da coroa foi pu lpar (Quadro 17.15).

Quadro 17.15
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA

Código Critêrio Descrição

Código O Ausência de trauma Nenhuma evidência de lesão traumática


Código 1 Esmalte Fratura de esma lte não restaurada sem envolvimento de dentina
Código 2 Dentina Fratura não restaurada envolvendo a dentina
/f Código 3 Lesão pulpar Lesão não tratada evidenciada por uma das seguintes pistas:
a) Coloração escura quando comparada com o elemento dentário vizinho saudável,
ê considerada sinal de lesão ou presença de edema e/ou fístula, ou
b) presença de edema e/ou fístula no vestíbulo labial e/ ou no vestíbulo lingual
adjacente a um dente saudável
Código 4 Reparo Fratura restaurada, com coroa total ou restauração menos extensa. Pode ser
necessário questionar o indivíduo sobre a razão da restauração.
Código 5 Reparo pulpar Presença de restauração lingual como sinal de tratamento endodôntico e histôria
positiva do indivíduo sobre o tratamento realizado após lesão traumática.
Código 6 Dente perdido Dente perdido devido a trauma
Código Y Sem escore Qualquer dente ou espaço que não se aplique às outras categorias anteriores

National Institute of Dental Research (NIDR) (1989) índex; NHANES III (1996)

Como se pode observar, para que algumas Sendo assim, muitos levantamentos epidemio-
classificações descritas acima sejam utilizadas na lógicos se limitaram à descrição de sinais visuais das
íntegra, devem ser realizados os exames clínico e lesões traumáticas, principalmente fraturas coroná-
radiográfico, que não se aplicam a levantamen- rias08-16, enquanto outros identificaram seqüelas tais
tos epidemiológicos. Apesar disto, são indicados como mudança de coloração da coroa 37•36•63·8 5, 102- 1º3
para tal por parte de seus autores06·35.45-78 . Os es- e dentes perdidos devido ao trauma 29- 32 ·37·63·64•75 •6 5·
87• 1º2· 103, lll , Tratamento realizado em decorrência de
tudos de base populacional que utilizaram tais
classificaçõ es precisaram adaptá-las ou utilizá-las trau1na como coroas, restaurações e tratamento
apenas parcialmente. Outros índices se mostra - endodôntico foram incluídos em alguns estudos
{ ram mais apropriados para o exame em "cam- de base populacional37-53-57 ·6 u 5· 102 . Apesa r de total-
po", podendo ser utilizados na íntegra sem a n e- mente inadequado por necessitar exames comple-
; cessidade de exames complem entares. Os resul- m entares, o diagnóstico de concussão, luxação e
tados dos dados coletados através destes índices deslocamento foi realizado em alguns estudos epi-
foram comparáveis entre si1 5·29 ·63-85· 1º3. demiológicos42.43.44.4s.s,.s6.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA ..
~

Uma classificação desenvolvida especifica- bestimado a prevalência de lesões traumáticas.


mente para levantamento s epidemiológicos de Recomendamos que para estudos de base popula-
lesões traumáticas foi proposta por Côrtes 27 e va- cional, a classificação a ser empregada deva cobrir
lidada em um estudo de base populacional na todos os possíveis sinais de traumatismo dentário,
cidade de Belo Horizon te29 • Os critérios sugeridos tais como, a lesão traumática em si, o tratamento
são aplicáveis a tais levantamentos já que incluem proposto em decorrência de lesões traumáticas e
aquelas lesões que p odem ser identificadas sem a as seqüelas resultantes destas lesões (Quadro
necessidade de radiografias, provas de vitalidade 17.16). Além disto, utilizar um padrão de classifi-
pulpar ou outro equipa mento odontológico. cação, irá contribuir para modificar a atual situa-
Além disto, id entificam os tratamentos realizados ção dos estudos epidemiológicos em traumatismo
em decorrência de lesões traumáticas assim dentário, fazendo com que o~esultados possam
como as seqüelas resultantes das mesmas (Qua- ser comparados em todo o ffÍundo, a exemplo do
dro 17.16). Os dados coletados no exame de que pode ser visto em relação a outros problemas
3702 crianças de 9 a 14 anos de idade, utilizando de saúde bucal como a cárie e doença periodontal.
a classificação proposta foram comparados a ou- Sendo assim, os dados poderão ser reportados de
tros índices encontra dos n a literatura. Os resulta- maneira uniforme, permitindo que os programas
dos desta análise comparativa, demonstram de prevenção e controle em traumatismo dentário
grande semelhança com a s classificações propos- utilizados por locais que apresentem menor pre- 1 .
tas por de Todd & Doddl03, Bhat et al.15, O'Brien85 valência, possam ser aplicados em outras comuni-
e Kaste et al.63 . Entretanto uma m enor prevalên- dades. Existe a necessidade de discutir e substan-
cia de traumatismo dentário foi observada quan- ciar a escolha de uma classificação m ais completa
do se realizou a análise comparand o às classifica- e apropriada para os levantamentos epidemiológi-
ções de Ellis & Davey3 5 ; Todd 1º2 ; Garcia-Godoy4 5; cos com vistas ao atendimento da exigência da
Naqvi & Ogidan 79 e Andreasen & Andreaseo 06 OMS no sentido de observar as tendências dos
(Quadro 17.17). Isto demonstra que os estudos diversos países e estabelecer comparações entre os
que utilizaram estas classificações podem ter su- m esmos.

I
Quadro 17.16
CRITÉR IOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
COM FINALIDADE EPIDEMIOLÓGICA

Código Critério Descrição

Código O Ausência de lesão traumática Nenhum tipo de lesão traumática presente


Código 1 M udança de coloração da coroa Mudança de coloração da coroa variando do amarelo ao cinza
escuro (quando comparada aos dentes adjacentes)
Código 2 Trinca de esmalte Fratura incompleta do esmalte ou trinca, sem perda de substância
Código 3 Fratura de esmalte Perda de pequena porção da coroa envolvendo apenas esmalte
Código 4 Fratu ra de esmalte e dentina Perda de porção maior da coroa envolvendo esmalte e dentina
Código 5 Fratura de esmalte e dentina com Perda de esmalte e dentina e/ou cemento com exposição pulpa r
exposição pulpar
Código 6 Ausência do elemento dental devido Ausência do elemento dental devido a total exarticulaç.ão
a trauma
Código 7 Restauração estética com compósito Restauração estética devido à fratura coronária e/ou restauração
no lado palatino da coroa
Código 8 Colagem de fragmento Colagem do fragmento devido à fratura coronária
Código 9 Coroa total permanente · Restauração permanente envolvendo a completa reconstituição
da coroa
Código 10 Restauração provisória Q ualquer tipo de coroa, prótese móvel ou fixa (pôntico) colocada
provisoriamente devido a perda do elem ento dentário
Código 11 Ponte fixa (pôntico) ou móvel Restauração definitiva com ponte fixa (pôntico) ou móvel devido
à perda do elemento dentário
Código 12 Fístula ou edema Presença de fístula ou edema relacionado a dentes com ausência
de cárie
Código 99 Exame não realizado Sinais de traumatismo dentário que não puderam ser anotados
devido a uso de aparelho ortodôntico ou outro motivo.

Côrtes (2000)
TRAUMATISMO DENTÁRIO

Quadro 17.17
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE DE 3702 ESCOLARES,
D E 9 A 14 ANOS DE IDADE, UTILIZANDO DIFERENTES CLASSIFICAÇÕES; BELO HORIZONTE, BRASIL

Classificações

Idade Amostra Ellis & Todd Garcia- Todd & Bhat Naqvi & Andreasen O'Brien Kaste Côrtes
(anos) total (n) Davey Godoy Dodd et al Ogidan & et al
Andreasen
(1970) (1975) (1981) (1985) (1989) (1990) (1994) (1995) (1996) (2000)

Prevalência (O/o)

9 578 5,9 6,1 6,4 7,6 7,3 5,9 6,4 7,6 7,3 8,0
10 573 6,6 7,5 6,8 8,9 8,7 6,6 6,8 8,9 8,7 9,1
11 608 8,6 9,2 8,6 10,5 10,4 8,6 8,6 10,5 10,4 10,5
12 649 10,9 11,7 11,2 12,8 12,8 10,9 11,2 12,8 12,8 13,6
13 722 12,0 13,3 12,3 14,5 14,5 12,0 12,3 14,5 14,5 14,7
14 572 9,3 11,2 9,6 15,6 15,6 9,3 9,6 15,6 15,6 16,1

ETIOLOGIA DOS ma nas diferentes populações para planejar sua


TRAUMATISMOS DENTÁRIOS prevenção.

A etiologia das lesões traumáticas é bem co - FATORES CLÍNICOS


nhecida, podendo existir alguma variação, de- PREDISPONENTES
, ~ pendendo do local de coleta dos dados, m as os
I autores são unânimes em afirm ar que as quedas, Existem evidências claras que crianças com
colisões contra obj etos ou pessoas, práticas es- overjet acentuado, ou protrusão dos incisivos supe-
portivas, violência e acidentes automobilísticos riores são mais susceptíveis às lesões traumáticas
são as principais causas0 6· 52, 105 . Em levantamento do que aquelas que apresentam uma medida de
realizado n a Clínica de traumatismo dentário da overjet normal21.29,34.39.45,46,53, 54, 57.61. 7,.a2.ss,s6,88,89, 103. En -
FO-UFMG, foram identificadas as violências em tretanto, Marcenes et al.68, Marcen es et al.69 repor-
brincadeiras, quedas de bicicleta ou originadas taram apenas uma tendência de crianças com over-
de escorregões e tropeções, além de colisão con - jet maior que 5 mm apresentarem lesões traumáti-
tra objetos ou pessoas . Causas menos comuns cas . Novamente ressaltamos que os resultados dos
se con stituíram de atividades esportivas e aci- diversos estudos devem ser comparados com mui-
dentes autom obilísticos 28 • Poucos estudos popu- ta precaução no tocante ao que os autores consi-
lacionais foram realizados e 'apo ntaram aciden - deram overjet acentuado . A definição de overjet
tes de bicicleta, violên cia, acid en tes de trânsito, acentuado na literatura consultada variou de
esport es e qu edas como a s principais cau sas 3,5 mm21, 4,0 mm ou mais86 , 5,0 mm 103, maior
53,68.69. 83.92,93,101.104. A queda também foi a p rincipal que 5, 0 mm29•53· 54•57 ·77 e 6,0 mm60 • Uma m eta-
etiologia em duas comunidades indígenas. Os an álise realizada por Nguyen et al. 82 utilizando 11
resultados d emon straram qu e na comunidade artigos publicados entre 1966 e 1996 que satisfa-
que j á tem contato com a civilização de n ão ziam critérios previamente definidos, demonstrou
índios as quedas ocorreram durante as brincadei- qu e crianças com overjet maior que 3 mm tinham
ras e, na comunidade mais primitiva, as quedas um risco de aproximadamente duas vezes maior
ocorreram durante as cavalgadas 25· 26 • É impor- de apresentar alguma lesão traumática do qu e cri-
tan te ressaltar qu e as quedas se referem a uma an ças com overjet menor que 3 mm. Os resultados
#
r ampla categoria que pode mascarar out ras cau - de Côrtes et al.29 demonstraram que crianças com
sas, como a violên cia observada nas quedas por overjet maior que 5 mm tiveram maior chance de
) empurrão ou oriundas de brincadeiras agressivas apresentar lesão traumática do que crianças com
praticadas por crianças e adolescentes70 • É n eces- overjet menor que 5 mm cujo odds ratio foi 1,37
sário identificar corretam ente a etiologia do trau- (IC 95% =l,06-1,80) (Quadro 17.18 e Gráfico 17.7).
CIÊNCIA EN OODÔNTICA '' •

• GRÁFICO 11.7 _---,----,---

No que diz respeito à proteção labial a gran- levantam ento de Côrtes et al. 2001 29.: crianças
de variedade de medidas adotadas p ara definir a que apresentavam proteção labial adequada ti-
posição do lábio em relação aos dentes anteriores nham 0,56 (IC 95% = 0,44-0, 72) menos chance
dificulta as comparações. Forsberg & Tedestam 39 de apresentar lesão traumática quando compara-
afirmaram que ao se de terminar a proteção la- das a crianças com p roteção labial inadequada
bial, deve ser observada a extensão dos dentes (Quadro 17. 18). Para todas as idades foram ob-
coberta pelos lábios superiores. A maioria dos servadas diferenças (Gráfico 17.8). Baseado nes-
/
autores considerou proteção adequada para as tes achados aconselha -se uma atenção especial
crianças cujos lábios cobriam com ple tam ente na in dicação de tratamento ortodôntico, pois um
os dentes su periores em posição de repou- dos riscos relacionados a maloclusão é a lesão
so21,29A7.54·68·69·77·88·93. Uma associação estatistica- aos dentes e tecidos circunvizinhos em crianças
mente significativa foi encontrada entre a prote - com overjet muito acentuado, principalm ent e
ção labial e a presen ça de lesão traumática no quando a proteção labial é inadequada100 .
T RAUMATISMO OENTÁRIO

STATUS SOCIOECONÔMICO com piscinas e toboágua, estão mais predispostos


<SSE> OU CLASSE SOCIAL aos traumatismos dentários do que as crianças de
status socioeconómico baixo que não têm acesso a
A relação entre classe social, status socioeco- tais meios de diversão. Sendo assim, o risco de
nômico ou poder de compra, e a ocorrência das acidentes é maior para crianças de status socioeco-
lesões traumáticas não é clara. Diferentes medi - nômico alto que têm acesso a diversões que ofe-
das de classe social são adotadas nos levanta- recem riscos, brincam nas praças públicas, par-
mentos epidemiológicos que tentaram correla- ques e clubes que não possuem infra-estrutura
cionar status socioeconómico à prevalência dos adequada para prevenir a ocorrência das lesões
traumatismos dentários. Os resultados dos pou- traumáticas.
cos estudos realizados são controversos, de- Em Belo Horizonte, utilizando o índice ABA-
monstrando uma relação positiva ora com status ABIPEMEº2, que estabelece o poder aquisitivo das
socioeconômico baixo, ora com status socioeco- pessoas, ficou demonstrado que crianças com alto
nômico alto 29 A 3. 54. 59 . 71 • Fatores ambientais, cultu- status sócio-econômico tinham mais chance de
rais e comportamentais ligados à condição so- apresentar uma lesão traumática do que crianças
cioeconômica das pessoas podem ser os princi- de baixo SSE 27 com odds ratio 1,4 (IC 95% = 1,15-
pais determinantes das diferenças encontradas 1,79) (Quadro 17.18). Freire40, em dados coleta-
nestes estudos4 3•59 . Entretanto nenhum estudo dos entre escolares·de l 5 anos de idade na cidade
foi realizado para demonstrar o impacto ambien - de Goiânia também correlacionou a ocorrência de
tal e sócio-cultural sobre a etiologia das lesões lesões traumáticas às crianças de classe alta. En-
traumáticas. tretanto em um estudo conduzido em Jaraguá do
Petersen90 descreveu a teoria materialista e Sul, o status socioeconómico não estava significati-
estruturalista que explica a relação entre saúde e vamente associado à presença de lesão traumáti-
, desigualdade social enfatizando o papel do meio ca69. Embora não utilizando medida adequada de
' ;t ambiente, isto é, as condições em que as pessoas classe social, mas adotando o tipo de escola fre-
1
· vivem e trabalham. Grupos perten centes às clas- qüentada pela criança - particular ou pública -
ses sociais mais baixas estão expostos a ambientes Garcia-Godoy et al. 43 demonstraram que a preva -
menos saudáveis, de privação material, resultan- lência de lesões traumáticas foi maior nas crianças
do então em comportamento de risco. Extrapo- que freqüentavam escola particular, que corres-
lando seu pensamento para a questão do trauma- ponde a crianças de classe alta na República Do-
tismo dentário, pode-se especular que estes mes- minicana. Os autores especularam que estas crian-
mos grupos desconhecem as medidas de proteção ças tinham mais acesso a bicicletas, piscinas, roll~r
contra acidentes e não adotam m edidas de pre- skates, skateboards e equipamentos para a prática
I venção adequadas. Isto justifica a alta prevalência de baseball, o que poderia ter sido responsável pe-
de traumatismo dentário em áreas desprovidas 5 5·7 1 los resultados do estudo .
e em crianças de classe social baixa 59 observada
nos países industrializados. Na maioria destes paí- IMPACTO PSICOSSOCIAL
ses são adotadas medidas de segurança, e o am -
biente no qual a criança de classe alta vive, princi- A literatura pertinente aos aspectos psicos-
palmente aquele onde realizam suas brincadeiras, sociais das lesões trau máticas está repleta de es -
.• 1
é estruturado convenientemente par reduzir o ris- p eculações, não substanciadas por dados confiá-
co de acidentes. Sendo assim, crianças de classe so- vies de p esquisa experimental. Apenas estudos
cial alta são mais protegidas qu e as de classe social de casos foram publicados isoladamente 97 . Pou-
baixa, adicionalmente por conhecerem e usa rem co se sabe sobre a consciência que as crianças
equipamentos de proteção adequados, principal- têm de seu s dentes a nteriores fraturados e sobre
mente para a prática de esportes. Já nos países as possíveis conseqüências do impacto emocio-
( e m desen volvimen to as estratégias de prevenção nal e p sicológico sobre o seu comportamento.
ainda não foram implem entadas, pois apesar de Pode -se também especular sobre um possível
1
conhecidos os equipamentos de proteção contra complexo de inferioridade causado pela presença
I
acidentes, seu uso não é encorajado. Crianças de de restaurações inadequadas de dentes anterio-
famílias com alto poder aquisitivo que possuem res fra turados, que pode ser considerado como
bicicletas, patins, roller-skates e freqüe ntam clubes um fator importante para o sucesso desta criança
CIÊNC IA ENDODÔNTICA
...
no fu turo. Segundo Linn 65 a maioria dos jovens questão da aparência e da estética facial, refleti-
entrevistados em um estudo, relatou ser a apa- da pelo pensamento que a melhor saúde bucal é
rência dos dentes um fator muito importante conseguida através da cosmética dental. Apesar
para as atividades tais como namorar, conseguir do conhecimento sobre a preocupação dos ado -
emprego e fazer amigos. Apenas 15% não consi- lescentes com a estética facial, o papel dos as-
derou que a aparência fosse algo importante na pectos sociais, culturais, e psicológico ainda não
vida diária. Para os adolescentes a aparência foi estão claros. O modelo biopsicossocial de saúde
considerada mais importante que a função ou bucal tem sido mais amplamente utilizado nos
saúde periodontal, quando perguntados sobre a dias atuais oferecendo maior compreensão para
razão para terem uma boa higiene oral. medir o estado de saúde oral e não apenas a
Sabe -se que a saúde em geral e a aparência presença ou ausência da doença em si98 • Os in-
em particular, estão entre os principais aspectos dicadores sociodentais que se baseiam nos efei-
relacionados ao comportamento dos adolescen- tos s o ~ psicológicos culturais e econômicos
tes94. A aparência do corpo, especialmente a da dos :problemas bucais são subjetivos e informam
face, desempenha um papel importante nas rela- o impacto das doenças e condições bucais e a
ções humanas 106, sendo os olhos e a boca os necessidade percebida do indivíduo 31 · 66 ·96 . Basea-
componentes mais comumente associados à dos nisto, Côrtes et al.30 avaliaram o impacto
atração física, atuando como elementos chave psicossocial das fraturas de esmalte e dentina
nas interações sociais e na determinação do su - não restauradas, na vida diária dos escolares d e
cesso pessoalº9 . Belo Horizon te. O índice utilizado foi o Oral
O significado da perda de dentes permanen - lmpact on Daily Performances (OIDP) que pareceu
res for ilustrado por Richardson 95 através do rela - aplicável a esta faixa etária, por ser conciso e
to de um episódio pitoresco. Um evento narrado facilmente administrado sob a forma de entre -
por Blixen18 em seu livro "Out of Africa " demons- vista01. Os resultados demonstraram que o trau-
trou graves conseqüências p rovenientes da p erda matismo dentário apresentou grande impacto
de dois dentes anteriores permanentes numa na qualidade de vida das crianças, causando li-
criança de 1O anos de idade, causada por uma mitações em suas a tivid ades diárias. Con se- /
pedrada recebida de outra criança de uma tribo qüentemente, crianças portadoras de fratura de
diferente. É interessante notar que o assunto esmalte e dentina estavam mais insatisfeitas
·I
provocou tamanho incidente que foi discutido com a aparência dos seus dentes ante riores
até mesmo p elas autoridades das duas tribos . A apresentando ainda, dificuldade para morder os
justificativa para tanta preocupação foi tratar-se alimentos e pronunciar determinadas palavras.
de um problema estético cujas conseqüê ncias Além dist o, por comprometer a estética, o trau-
para a aparência da criança poderiam prejudicar matismo levou a problemas emocionais, limitou
até mesmo seu casamento no futuro. o convívio social, fazendo com que a criança
Sla ck & Jones 9 7 chamaram a atenção para a evitasse principalmente sorrir e mostrar seus
necessidade de se restaurar prontamente a estéti- dentes 30 (Gráfico 17.9). Sendo assim este le-
ca de um dente anterior fraturado. Os autores se vantamento vem trazer uma grande contribui-
basearam num relato de caso de trauma psicoló- ção para o planejamento dos serviços de saúde:
gico em u ma criança de 8 anos idade causado sugerimos que os programas de assistência
por fratura de esmalte e dentina nos in cisivos odontológica a criança s e adolescentes priori-
centrais superiores . Entretanto, resultados res- zem o tratamento das lesões traumáticas, prin-
paldados em dados populacionais só foram obti- cipalmente a realização de restaurações estéticas
dos recentemente a p artir de um estudo de caso para os casos de fratura coron ária de esmalte e
controle pareado 30 . dentina; além disto incluam campanhas de edu -
Baldwin°9 criticou a maneira simplista e cação em saúde com ênfase aos primeiros socor-
pragmática como a classe odontológica encara a ros em casos de acidentes.
1

TRAUMATISM O DENTÁRIO 817

PARTE 2 - PROCEDIMENTOS DE URGÊNCIA EM TRAUMATISMO DENTÁRIO


1
' /.

CONSIDERACÕES
, GERAIS cessárias 1º. Na realidade, a sua atuação deve se
iniciar já durante o primeiro contato telefônico
As lesões traumáticas têm representado um com o paciente, ou mais freqüentemente, com os
pesafio freqüente na clínica odontológica e devi- pais ou responsáveis. É fundamental que neste
do à natureza aguda, devem ser sempre conside- m omento sejam repassad as instruções relativas
radas como uma urgência. Estudos clínicos têm aos cuidados imediatos, tais como: orientações
demonstrado que estas lesões representam uma para um reimplante ou reposicionamento do ele-
idas causas mais comuns de procura dos serviços mento dentário, manuseio e meio de armazena-
de pronto atendimento 03•59· 1º7 · 124 . mento de dentes avulsionados, localização e ar-
A abordagem inicial do paciente tem papel mazenamenLo de fragmen tos. Em seguida, é im-
decisivo no sucesso do tratamento das lesões prescindível realizar uma avaliação clínica o mais
traumáticas, fato que confere uma grande res- rápido possível. Mesmo lesões dentárias que não
ponsabilidade ao profissional que presta este necessitem um tratamento imediato, podem re-
atendimento. Entretanto, segundo Barret & querer uma intervenção para alívio da dor ou
Kenny2 4, não estando habituado situações de ur- controle de quadros hemorrágicos e lesões de te-
gência numa área que está fora da sua prática cido mole. Por outro lado, o clínico deve ser ca -
rotineira, o clínico se baseia em suas raras expe- paz de reconhecer e encaminhar para um aten-
riências prévias para solucioná-las. Hamilton et dimento hospitalar, quadros que envolvam com-
al. 68 também concluíram que cirurgiões-dentistas prometimento neurológico, fraturas dos ossos da
envolvidos na atenção primária, apresentavam face e grandes lacerações de tecido mole.
1 um nível de conhecimento insuficiente para tra- Sendo assim, para que o atendimento de ur-
i"' tar as urgências em traumatismos dentários. gência seja adequado o profission al deve estar
1 Cabe ao profissional coletar um conjunto de atento à epidemiologia dos traumatismos dentá-
/ rios - sua prevalência, distribuição e suas impli-
informações subjetivas e clínico-radiográficas
que permitam identificar os vários componentes cações clínicas e psicossociais. É preciso também
da lesão para definir as medidas terapêuticas ne- conhecer a histopatologia das lesões traumáticas
818 CIÊNCIA ENDODÔNTICA
--------------------------------------·---------·-------------------'
.
e suas seqüelas. Finalmen te, mesmo que não Cabe ao profissional atuar em comuni -
29.4 2, 110 , 121 . <;
exista um consenso que contemple todos os as- dades específicas para motivar e orientar ativida- .:.(_-__
pectos envolvidos nas urgências, o clínico precisa des de educação em saúde que norteiem a aqui- "\
estar a par da evolução dos recursos terapêuticos sição de tais conhecimentos. A correta atitude ~:
disponíveis. É importante ressaltar ainda, que das p essoas leigas, em relação aos primeiros so- ,.,
nenhuma lesão traumática deve ser abandonada corros constitui fator importante no momento do
ao seu próprio curso. Após o atendimento de acidente. Um reimplante imediato ou o transpor-
urgência todos os casos devem ser acompanha- te em meio de conservação adequado, podem
dos a médio e longo prazo . SALVAR UM DENTE4,5,14,34,36,44,54,56,74,83,s5,96,1 15,122,125.
Essas considerações se to rnam particular- Da mesma forma, a colagem do fragmento - um
mente importantes num momento em que se procedimento tão aconselhado atualmente - só é
observa uma preocupação da classe odontoló- possível se o mesmo for localizado e transporta-
gica com o crescente número de processos do adequadamente ao local do atendimento de
contra cirurgiões -dentistas como muito bem urgência. Nas lesões que envolvem deslocamen-
ressaltou Ramos99 : "A evolução científica da tos dentários, o reposicionamento imediato pelo
Odontologia possibilita melhores probabilida- próprio acidentado ou por pessoas presentes ao
des de suc~ssos na terapêutica. Porém esta local do acidente pode ser importante para o
mesma evolução nos ensina que os bons resul- prognóstico.
tados terapêuticos dependem de múltiplos fa -
tores para o seu sucesso. Alguns deles são, sim, AVALIACÃO NEUROLÓGICA
de responsabilidade dos profissionais. O profis- • INICIAL,
sional deve se empenhar em não ser negligen-
te, isto é, não deixar de efetuar todos os proce- O exame do paciente deve se iniciar a partir
1
dimentos preconizados. Não deve ser impru- do momento em que o mesmo adentra o consul-
dente, isto é, afoito, precipitado, devendo pla- tório odontológico visando observar sinais como.
nejar com critério seus tratamentos; nem im- dificuldade de locomoção e equilíbrio, que po -,'
perito, isto é, re alizar procedimentos clínicos dem significar comprometimento neurológico.~
para os quais não esteja tecnicamente prepara- Além disto, outros sinais e sintomas devem ser
do, sem ter bom d omínio das técnicas. Se algu- avaliados: confusão mental, reação pupilar anor-
ma destas situações ocorrer se concretizará a mal, presença de sangrarnento ou fluido claro no
culpa do profissional. no sentido jurídico da ouvido e no nariz, história de vômitos, náuseas,
palavra." Esta afirmação nos chama a atenção dores de cabeça. A constatação de comprometi-
para o fato de qu e no atendimento de urgên- mento neurológico deve ser considerada como
cia, o profissional desempenha um papel chave prioridade em detrimento de qualquer lesão
na determinação do sucesso do tratamento. traumática, mesmo que esta seja uma avulsão
Sendo assim, deve ter um conhecimento am- dentária ou fraturas alveolodentárias e de outros
plo de todas as Áreas da Odontologia para que ossos da face.
possa realizar corretamente o diagnóstico e de-
terminar prontamente o planejamento de tra- EXAME SUBJETIVO
tamento mais adequado. Segundo Dewhurst 55
um diagnóstico correto e imediato além de um A anamnese durante o atendimento de ur-
atendimento emergencial apropriado, irão evi- gência dos traumatismos dentários é sucinta e
tar que esta população de pré -adolescentes es- dirigida para obter informações específicas perti-
teja perdendo seus incisivos numa fase precoce nentes ao acidente, história de traumatismos an-
da vida por diagnóstico incorreto do CD e tra - teriores e uma breve história médica.
tamento emergencial inadequado. QUAN1JO, ONDE E COMO OCORREU O
Vale à pena ressaltar ainda, que as pessoas ACIDENTE? - O intervalo entre o momento do
envolvidas diretamente no convívio da criança, acidente (QUANDO) e o tratamento influencia
principalmente na escola - professores e auxilia- significativamente o prognóstico das avulsões,
res de ensino, assistentes de enfermagem e ou- luxações e fraturas radiculares com deslocamen-
tras - devem ter conhecimento sobre as provi- to além de exposições pulpares (Figuras l 7.4A e
dências imediatas de primeiros so corros 26 · l 7.4B). A informação sobre o local do acidente
TRAUMATISMO DENTÁRIO

(ONDE) pode ser importante na indicação de localização anatômica das lesões . Um exemplo
profilaxia antitetânica, e permitir ainda a loca li- clássico é a pancada no mcnto que pode causar
zação de um dente avu lsionado ou de fragmen- fraturas de pré -molares e molares (Figuras
tos. Já os dados sobre a natureza do acidente l 7.5A e l 7.5B ), ramo da mandíbula e região
(COMO) podem fornecer pistas sobre o tipo e a condilar (Figuras 17 .6A a 17 .6D) .

• flt:i, 11.48' • WfG. ·tFA,fil;


Exposição pulpar após curto período de tempo nos Exposição pulpor nos elementos 11 e 21, após longo
, ;1 elementos 11 e 21. Existe sempre a chance de se realizar período de tempo. Alterações pulpares inflamatórias po-
I um tratamento conservador. dem contra-indicar a realização de um tratamento con-
servador.

' 1

Uma lesão no mento poderá resultar em Traumatismo indireto: fratura coronorradicular no


traumatismo indireto em outras estruturas dentários ou elemento 14 e fraturo de esmalte e dentina nos elemen-
( ósseas. tos 75 e 16 causados pelo pancada no menta demons-
trada na Figura 77. 5A.
)
CIÊNC IA ENDODÔNTICA
..
;-,-

·l

• J =;G. 17.6!\__ • Fl<i. 17.61!


Limitação de abertura de boca em uma criança de Radiografia panorâmica como exame complemen-
9 anos de idade, após fratura dos dois côndilos causada tar para diagnóstico de fraturo condilar em paciente de
por pancada no menta. 10 anos de idade. Observa-se a imagem de fraturo no
côndilo do lado esquerdo.

• .. F~~:. 17.6'('. ____ ... • FIG. fi.61l


Obse1va-se a imagem no,mal do côndilo direito Observa-se a imagem diferente do côndilo esquer-
posicionado no cavidade 9lenóide. do em comparaçôo à fotografia 17 6C, confi,mando sua
fraturo.

Uma questã o que merece atenção especial acidente. É importante que o profissional não se
está relacionada à identificação de lesões resul- limite ao tratamento da lesão, mas que se empe-
tantes da violência contra crianças e mulheres. nhe detectar o problema e orientar o paciente
Geralmente nestes casos existe uma discrepância quanto às condutas legais, encaminhando-o aos
entre os achados clínicos e o relato da história do setores adequados 12 º. No estudo de Naidoo 9 0 so -
~ ~c:ncia:esõ:s~=~:~:~~=-~=--~~t~:,;o~:cie:::~~u~:~=::::~s
coço em crianças que sofreram maus tratos na de urgência apresentam lesões de tecidos moles
África do Sul. as lesões de face foram as mais associadas 66•93 . Quanto à sua natureza, as mais
freqüentes, sendo diagnosticadas em 41 % das freqüentes são as contusões, as abrasões e as la-
crianças examinadas, sendo a bochecha o local cerações 16 •
mais comum. Espantosamente, o número de le- CONTUSÕES são lesões associadas a um
sões bucais reportadas neste estudo foi extrema- intenso quadro hemorrágico, com formação de
mente baixo (11 % ) se levarmos em consideração edema e hematoma, porém sem a ruptura da
a alta freqüência de lesões de face. Foram utiliza- pele ou mucosa (Figura 1 7.7). Suas implica-
dos dados retrospectivos coletados de prontuá- ções mais diretas estão relacionadas à dificul-
rios de pacientes atendidos em um período de 5 dade de manipulação da área devido à sinto-
anos. O fato de que o exame dos pacientes não matologia dolorosa e presença de edema. O
foi realizado por dentistas pode ter concorrido tratame nto se resume à aplicação de compres -
para que as lesões bucais fossem subestimadas sas frias e a prescrição d e medicação analgésica
neste estudo. A autora chama a atenção para a quando necessário.
importância destas lesões nas crianças maltrata-
das e recomenda um melhor treinamento de
médicos, dentistas e outros profissionais de saú-
de para o diagnóstico correto das mesmas, con -
tribuindo assim para o reconhecimento deste sé-
rio problema de saúde pública: as agressões a
crianças.

HISTÓRIAS DE LESÕES
· ;{ TRAUMÁTICAS PRÉVIAS

Estas informações são importantes uma vez


que podem explicar achados clínicos e radiográ-
ficos que não são observados logo após o trau -
matismo, como por exemplo, obliteração do ca-
nal radicular ou paralisação da rizogênese. Além
disso, traumatismos anteriores podem influenciar
no plano de tratamento e prognóstico. • flG. 11.1
Edema e hematoma característicos de contusão.
BREVE HISTÓRIA MÉDICA DO
PACIENTE

A despeito da importância de se conhecer a


história médico/odontológica completa do paci- ABRASÕES se caracterizam pela exposição
ente, neste momento são coletadas apenas infor- de uma densa rede capilar e de terminações ner-
mações essenciais sobre sangramento e cicatriza- vosas livres do conjunto subcutâneo. Um achado
ção, uso de medicamentos, intolerância a anesté- freqüente associado a este tipo de lesão é a pre-
sicos e outros fármacos, além de comprometi- sença de sujeira oriunda do local do acidente,
m entos sistêmicos relevantes. provavelmente contaminada. Estas pequenas
partículas podem ser incorporadas durante o
AVALIACÃO E TRATAMENTO processo de cicatrização ca usando manchas, fe-
DAS LESÕES DE TECIDO MOLE nômeno conhecido como tatuagem. Sendo as-
sim, recomenda-se a limpeza da área com gaze
1 O atendimento do paciente vítima de trau - embebida em solução salina ou anti-séptica (Fi-
! guras 17 .8A e 17 .8B ). Em alguns casos a raspa-
matismos se inicia com um exame completo e
abrangente das feridas extra e intra-orais. Deve- gem com uma lâmina de bisturi pode ser indica -
se atentar para o fato de que aproximadamente da (Figuras 17.9A e 17.9B) .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
------ ----- - ------------------·-- ___________ ______
.,_

• .. FIG._17.SA ... • Fl(,;!.J!..J3Ç ..


Partículas de asfalto podem ser incorporadas durcm- Limpeza do área com gaze embebida em solução 1 •

te o processo de cicatnzaçõo e, se deixadas, poderão salina ou anti-séptico.


causar tatuagem.

• ..F1Çi~J?!9-.~ ·-··· .. • FI.G,.1!.-?!t .


Partículas de asfalto já incorporadas ao processo de Remoção das partículas de asfalto através de raspa-
cicatrização. gem utilizando-se uma lâmina de bistun:

LACERAÇÕES envolvem camadas mais mento consiste na limpeza e remoção cuidadosa


profundas do tecido conjuntivo e geralmente es- de todos os fragmentos, irrigação da ferida com
tão associadas à ruptura de vasos mais calibrosos solução salina e sutura por planos (Figuras
com quadros hemorrágicos intensos. Além disso 17 .12A a 17 .12C). Estes procedimentos devem
é comum se observar a inclusão de corpos estra- ser realizados sob anestesia local complementada
nhos na intimidade do tecido, principalmente na pela injeção de anestésico contendo adrenalina
região labial. Fragmentos de dente, vidro, madei- no interior da ferida. Entretanto, o clínico deve
ra, entre outros, podem ser identificados e locali- ter em mente que, dependendo de sua magnitu -
zados através do exame visual, palpação e exame de, as lacerações devem ser tratadas em âmbito
radiográfico (Figuras 17 .10 e 17 .11). O trata- hospitalar.
L________________ _ _._________________ TRAUMATISMO DENTÁRIO

_ ___RG. _17.10 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - • FIG. 17.11__ ------------- ____ .. _____________


Fragmentos de dentes identificados e localizados no Verificação de fragmentos de dentes atrj vés do
lábio inferior através do exame visual e palpação. exame radiográfico.

;i

• 1

• FIGS. 17.12!\ a 17.12C


Seqüência de remoção cirúrgica de fragmentos no
t' lábio.
1
/
CIÊNCIA EN D O DÔNTICA
------·-·--------------
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO e luxações com deslocamento. Clinicamente po- ·;;_,
DAS FRATURAS DOS OSSOS dem ser diagnosticadas através da crepitação du- J
DA FACE rante o exame de palpação simultâneo ao teste de ~\
mobilidade dos dentes envolvidos. Seu tratamen- r.
As fraturas dos ossos da face geralmente de- to será descrito na seção que trata das luxações. 1:
correm de acidentes automobilísticos ou de vio- As fraturas do processo alveolar geralmettI
lência. Devido à sua gra vidade e natureza múlti- se localizam além do ápice radicular, mas eve -
pla o mais comum é que o paciente procure um tualmente envolvem as paredes do alvéolo . ão
pronto atendimento h ospitalar. Todavia, nas ra- facilmente diagnosticadas ao exame clínico devi-
ras ocasiões em que é o primeiro profissional a do à movimentação simultânea de um grupo de
ser procurado, o clínico deve ser capaz de reco- dentes quando da realização do teste de mobili-
nhecer estas lesões e avaliar a necessidade de se dade. O tratamento consiste na redução da fratu-
encaminhar o paciente para um cirurgião buco- ra e imobilização rígida, mantida por um período
maxilofacial, dependend o de sua extensão. mínimo de 2 meses, semelhante à descrita adian-
As fraturas das p aredes do alvéolo represen- te para as fraturas radiculares (Figuras l 7.13A a
tam um achado freqüen te relacionado às avulsões l 7.13C).

1 .

j
_ _l:IG.___1_!,,ªA _
Diagnóstico clínico de fratura do processo alveolar -
a posição inadequada dos elementos 21 e 22 impede a
oclusão dos dentes

• -_MG. _17.1313_____________ ----·--- ____


Tratamento da fratura do processo alveolar através
do adaptação da tábua óssea vestibular juntamente com
o reposicionamento dos elementos envolvidos

_ __AG. _11.1_3 C -----------------------------------------------------------


Imobilização rígido do fratura do processo alveolar,
utilizando fita de Ribbond de 3 mm.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

As fraturas na maxila e mandíbula estão asso- nal sendo que este deve incluir tomadas extra e
ciadas a um conjunto de sinais e sintomas que po- intra-orais. Radiografias oclusais (Figura 17.14)
dem ocorrer em conjunto ou isoladamente a saber: e periapicais - ortorradiais (Figuras l 7.15A a
presença de edemas, hematomas e assimetria facial; l 7.15F) e com distorçõ es m esial e distal, são im-
alterações na oclusão; dor e crepitação à palpação e portantes na identifica ção de fraturas das paredes
manipulação dos fragmentos; dor ocasionada pela do alvéolo e do processo alveolar. A radiografia
movirn.entação durante a fala ou mastigação. panorâmica é de especial valor para determinar
Em todos os casos, o exame radiográfico é o curso e a posição das lin has de fratura na ma-
indispensável para a conclusão do diagnóstico fi- xila e mandíbula (Figura 17.16) .

Vista parcial da radiografia oc/usal para identificação


de fratura do processo alveolar, acima dos ápices dos
elementos 21 e 22.

-';
1

• 1

• F~G. 11.153
Radiografia periapical para diagnóstico de fratura Radiografia periapical para diagnóstico de fratura na
) do processo alveolar - nota-se a linha de fratura acima região anterior da mandrbula - a área radiolúcida nos
dos ápices dos elementos 21 e 22. ápices dos elementos 32, 3 1 e 47 indico a linha de fratu-
ra do processo alveolar.
CIÊNCIA ENDO DÔNTICA

:y}\

• FIG$. 17.1SC e 17.1SD


Radiografias periapicais na região de molares paro diagnóstico de fraturo do processo alveolar. Observo-se a linho
de fratura no altura de pré-molares e tangenciando os raízes do primeiro molar. Nenhuma intervenção foi necessário
pois não havia mobilidade nem deslocamento. Apenas foi recomendada restrição mastigatório no região afetado. 1 .

• Fi!GS. 'f1.1SE e 11otiF


Cicatrização completa no região da fratura do processo alveolar obseNada 4 meses após.

• FIG. 17.16
Radiografia panorómtca
evidenciando fraturo no região
do menta, entre os elementos
33 e 34.
TRAU MATISMO DENTÁRIO

AVALIACÃO E TRATAMENTO mentos dentários e fraturas radiculares, depende


DAS LESÕES DENTÁRIAS da realização de radiografias com diferentes ângu-
los de incidência do feixe de radiação.
O exame clínico dos dentes acometidos deve Nem todas as lesões requerem uma inter-
ser precedido por uma limpeza cuidadosa da região venção imediata durante o atendimento de ur-
envolvida com o intuito de se remover coágulos e gência. Algu mas por representarem um risco mí-
debris. Através da inspeção visual, palpação, testes nimo de comprometimento pulpar, periodontal e
de percussão vertical e horizontal e de mobilidade, estético, como é o caso das trincas (Figura 17.17),
deve-se avaliar a presença e extensão de fraturas e fraturas coronárias de esmalte (Figura 17.18) e a
luxações dentárias. As provas de vitalidade não de- concussão. Já nas luxações intrusivas (Figura
vem ser realizadas logo após o traumatismo, pois 17.19), qualquer tentativa de reposicionamento
não refletem a real condjção pulpar neste momen- imediato do elemento dental provocará maiores
to. As mudanças de coloração da coroa também danos aos tecidos de sustentação.
devem ser consideradas com critério uma vez que Isto porque a re-erupção é possível, princi-
podem ser transitórias. A ausência de um elemento palmente nos dentes com rizogênese incompleta.
dentário deve ser avaliada com atenção devido à Entretanto o controle clínico e radiográfico deve-
possibilidade de aspiração ou deglutição do mesmo. rá ser realizado com muito critério a fim de se
Por fim, o exame radiográfico irá fornecer dados determinar o momento exato para indicação de
importantes para o diagnóstico e prognóstico tais um tracionamento ortodôntico e/ou do trata-
como grau de rizogênese, fraturas radiculares, le- mento endodôntico radical. Caso de intrusão to -
sões das estruturas de suporte e deslocamentos tal devem ser avaliados individualmente, pois,
dentários. Segundo Andreasen & Andreasen°7 , a na maioria das vezes, o reposicionamento ime-
determinação da presença e direção de desloca- diato é a única opção.

'11

• 1

• F!G. 11.11
Trinca coronário evidenciada pelo exame de
transluminaçõo.

Fratura de esmalte que represento um risco mínimo


de comprometimento pulpO!; periodontal e estético.

f
• FIG . 17.19
t
Luxação intrusiva do elemento 27 - a visualização da
) pequeno porção coronário, somada ã informação do pa-
ciente sobre a semelhança de posição dos ü1cisivos cen-
trais, previamente ao aodente, auxiliam no diagnóstico.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

As condutas indicadas para o atendiment o Sendo assim, o tratamento das fraturas coronári-
da s lesões que precisam de uma interven ção as de esmalte e dentina consiste na reconstitui-
imediata, serão apresentad as a seguir. Vale a ção estética, o mais rapidament e possível. As res-
pena salientar que um mesmo paciente pode taurações adesivas diretas representam a melhor
apresentar um quadro complexo necessitand o de alternativa de tratamento para estes casos. Uma al-
vários procedimen tos concomitan tes. ternativa que tem se tornado mais viável, devido
à tecnologia das novas gerações de adesivos é a
FRATUR AS CORONÁ RIAS DE colagem · de fragmentos. Nada se compara ao
ESMALTE E DENTIN A aproveitam ento do dente natural, principalme n-
te no que concerne ao acabamento e à obtenção
As fraturas coronárias de esmalte e dentina se da forma, além da lisura e brilho do esmalte,
caracterizam pela perda de estrutura coronária leva ndo a uma estética melhor e mais duradou-
com exposição de túbulos dentinários (Figura ra. A manutençã o da guia anterior em estrutura
17.20). As informações atualmente disponíveis dental permite uma m elhor função através de
sobre as alterações pulpares resultantes, advêm uma técnica mais simples e rápida. Além disso,
principalme nte dos clássicos estudos Bran nstrorn 38 existe o fator emocional e social positivo, já que
na década de 1960, que serão discutidos na ses- o paciente mantém o seu próprio dente. A opção
são 3 n este capítulo. A presença da fratura, por si pela cola gem e a seleção da técnica devem consi-
só, n ão representa um fator det erminante da derar principalme nte o gra u de desidrataçã o do
ocorrência de necrose pulpar25 . Clinicamen te, fragmento, sua adaptação ao rema nescente den-
esta exposição pode determinar um quadro de tal, quantidade de den tina exposta, profundida -
sensibilidad e de ntinária durante a alimentação , a de da fratura e condições endodônticas do rema-
higienizaçã o e até mesmo a respiração. A sensibi- nescente dentaFJ (Figuras l7 .2IA e l7.21B;
lidade é aum entada em fraturas próximas à pol- 17.22A a 17.22G). Quando n ão é possível a co-
pa nos dentes permanentes jovens já que o nú - lagem, a restauração com sistemas adesivos dire-
mero e diâmetro dos túbulos dentinários é maior95 • tos é a segunda opção de tratamento (Figuras
Entretanto, na percepção do paciente, o com pro - l7.23A a 17.23D ). O prognóstico pulpar é favo-
/
metimento estético pode representar o principal rável, desde que as restauraçõe s ofereçam um
motivo da procura do atendimen to de urgência . selamento adequado ioo. 10 2 •

• FIG. 17.20
Fratura coronário de esmalte e dentina nos elemen-
tos 77 e 2 1 - se caracterizo pelo perda de estruturo
coronário com exposição de túbulos dentínórios.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
..__. • ,.._..,..._,,..--~~-....._r.....,..,-,..._.IV'>_U.,...,..,..,., ..,.~,........,......,..-,..., ..,.".,..._.,....,_., < , , ,.....,...........,.. •>>•·•~··-·-·~••-·•~-.-,,-•--·•-·•-·•--•--,...............,...,,,,......,.......,,.-,...,.,,...,._..,,., .. . . , _ . - . _ • _ Y _ ... ..__._u-•~~--·--~--·-,..~ - ···-·--·•..-4....

_ __flG. 17:21 ~ ....

Fratura coronária de esmalte e dentina do ele- A colagem do fragmento representa a melhor alter-
mento 11. nativa de tratamento.

;I

A colagem de fragmentos foi a melhor opção nesta fratura coronária de esmalte e dentina dos elementos 11 e 21.
• 1

• _FICiS. 17.22C ª ~z.i.D . _________


Aspecto radiográfico de fratura
coronária nos elementos 71 e 27 com
atendimento imediatamente após o aci-

rl· dente. Através do radiografia, obsetva-


se pequeno ponto de exposição no ele-
) mento 11.
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

1 •

• FIGS. 17.22E ,aU.22G .


Aspecto clínico e radiográfico de colagem com ex-
celente adaptação dos fragmentos 4 meses após. Na
I
radiografia observa-se a imagem do material protetor
pulpar (curetogem) no elemento 11 e normalidade das
estruturas rodículores.

. ...RG. 17.2313 -----------·····-·······-·---··- -----·-----------· .. ----·-


Isolamento absoluto e preparo do bisei numa fratura Restauração com resino composta finalizada.
coronária de esmalte e dentina do elemento 11.
TRAUMATI SMO DENTÁRIO

• FIG. '1!7.2:JC e 17.2'3@


Restauração com resina composta na fratura de esmalte e dentina dos elementos 31 e 41.

/( Caso a restauração não possa ser executada FRATURAS CORONÁRIAS COM


i imediatamente o profissional deverá realizar a EXPOSICÃO
, PULPAR
proteção da dentina exposta com o objetivo de
impedir a penetração de bactérias e difusão de Nas fraturas coronanas com envolvimento
suas toxinas, além de evitar a sensibilidade den- da polpa, além da perda de estrutura dentária,
tinária. Tal proteção poderá ser realizada empre- ocorre uma dilaceração do t ecido pulpar e sua
gando-se cimento de ionômero de vidro até o exposição direta ao m eio bucal (Figura 17 .25).
momento oportuno que deve ocorrer em curto No período logo após a exposição acidental, a
período de tempo (Figura 17.24). polpa desenvolve uma re sposta inflamatória,
• 1 comum a todo t ecido conjuntivo, desencadeada
p or agentes bacterianos e subprodutos da dila-
ceração t ecidual. Este processo resulta na for-
mação de um tecido hiperplásico no local da
exposição numa t entativa de isolar os agentes
agressores, trauma mecânico e irritação micro -
biana51. Esta tentativa é bem sucedida, uma vez
que a polpa exposta, acidentalmente, constitui-
se num tecido normal. Além disso, esse tipo de
fratura permit e a drenagem do edema inflama-
tório, minimizando a pre ssão infrapulparB.
Longos períodos de exposição, por sua vez, po-
dem levar a um quadro inflamatório mais in-
t enso, se estendendo ma is profu ndamente no
.l ' tecido pulpar, com fo rm ação de micro-abcessos
• flG. 'ff.?"1 ... e eventual necrose. Sendo assim, o tratamento
) Fratura coronária de esmalte e dentina - proteção de urgência destas lesões deve ser realizado o
da dentina exposta empregando-se cimento de mais im ediato possível, já que tem como objeti-
ionômero de vidro. vo principal a preservação de tecido pulpar vital
CIÊNC IA ENDODÔN T ICA
- - ------------
e em condições de formar uma barreira biológi- dos em consideração. Além disto, o aspecto clí-
ca de tecido mineralizado. Embora seja satisfa- nico do sangramento, incluindo a fluidez e co-
tório o resultado do tratamento conservador da loração pode ser decisivo na indicação do trata -
polpa, alguns fatores tais como o desenvolvi- mento e deve sempre ser levado em considera-
mento radicular, a presença de luxações conco- ção durante o ato operatório (Figuras l 7.26A e
mitantes e a idade do p aciente, devem ser leva - 17.26B; 17.27A a 17.27D ).

• __FIG. __ 17.2 5 .. -----------·-····--· ......... -----·-·-····- -··--------·-- .,..________ __


Fratura coronótio de esmalte e dentina com exposi-
ção pulpor no elemento 11 - além da perda de estruturo
dentá1ia, ocotTe uma dilaceração do tecido e sua exposi-
ção direta ao meio bucal.

Exposição pulpar do elemento 21, submetido à colagem do fragmento com sistema adesivo, sem proteção. A
paciente se queixava <de dor intensa ao ingerir alimentos gelados até 1 semana após a colagem. Removido o fragmen-
to, observou-se o aspecto vermelho escuro do sangramento e ausência de flwdez normal. O TER foi o tratamento mais
indicado, devido à inflamação pulpar presente.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

• RG. U.U.A
Exposição pulpar 3 dias após o acidente. Aspecto do sangramento ve,melho escuro e ausên-
cia de flwdez normal durante o procedimento.

1• FIG. i1.27C
Coágulo formado após a abertura inicio!. Aspecto do tecido pulpar indicando processo infla-
matório irreversível.

O traumatismo dentário acomete crianças em ser feito para manter o tecido vital no interior do
idade escolar, atingindo principalmente os incisi- canal radicular. O objetivo do tratamento conser-
vos centrais superiores4 1 . O estágio de desen- vador é eliminar a fonte de infecção, obter uma
volvimento radicular é um fator decisivo para a barreira de tecido mineralizado no sítio da exposi-
escolha do tratamento conservador. Numa fase ção e p ermitir a continuidade do desenvolvi-
precoce do desenvolvimento, quando a polpa vital mento radicular, com maturação da dentina pelos
é exposta acidentalmente, o procedimento de es- odontoblastos em atividade 16 · 39 · 119 • O tratamento
,,. colha deverá ser aquele que permita a apecigêne- conservador representa a melhor alternativa para
(' se, removendo-se apenas da porção afetada da crianças e adolescentes uma vez que a remoção
polpa coronária e permitindo a continuidade de da polpa deixa paredes radiculares finas aumen-
) deposição fisiológica da dentina ao longo das pa - tan do assim o risco de posteriores fraturas radicu-
redes do canal, além da complementação do fe- lares na região cervicaP9 ·50· 11 9 (Figuras l 7.28A e
chamento do ápice radicular. Todo esforço deve 17.288; 17.29A e 17.298 ).
CIENCIA ENDODÔNTICA ~!

·,
'. ~
··,;
''

• FIG. 17.2SA
Verificação radiográfica da barreira
de tecido mineralizado apical após
apexificação.

• FIG. 17.288
Fratura radicular de terço cetvical
ocasionada por um segundo acidente no
período que antecedeu ao planeiamen-
to de obturação do SCR. Devido à posi-
ção da fratura o prognóstico é ruim.

1 .

' • _FIG. 17.29A ..


Fratura de terço ce,vicol nos ele-
mentos 11 e 21, durante o tratamento ·.
endodôntico radical.
I

• FIG, 17!29B
Fratura ocorrido após o obturação
do SCR do elemento 21.

As luxações concomitantes contra-indi- liferativa do folículo e papila dental nos dentes


cam, a princípio, o tratamento conservador, uma permanentes jovens, permitem o reparo, favore-
vez que afetam o feixe vasculonervoso apical cendo a manutenção da vitalidade. Porém, essa
comprometendo assim o suprimento sangüíneo revascularização do tecido pulpar não ocorre nos
pulpar. Este comprometimento, no entanto, de- dentes maduros com forame completamente for-
termina um prognósti co diferenciado para os mado, contra-indicando assim, o tratamento
dentes que apresentam rizogênese completa e os conservador.
dentes imaturos. Estes últimos, por possuírem o Existem controvérsias no que se refere ao
ápice incompletamente formado, apresentam limite de idade para indicação do tratamento
uma grande capacidade de manutenção da vitali- conservador, mas sabe-se qu e polpas jovens
dade pulpar, favorecendo a conduta mais conser- apresentam sempre grande capacidade de reparo
vadora. Sendo assim, a escolha do tratamento devido a sua riqueza em células e capilares, além
depende, da gravidade da lesão aos tecidos de de um forame apical amplo que permite uma
sustentação e do grau de rizogênese 1 Ll 2, 16 . As di- resposta favorável. O aumento do número de fi-
mensões do forame e a alta atividade celular pro- bras em substituição às células pulpares em indi-
TRAUMATISMO DENTÁRIO

víduos mais velhos, assim como a redução do desenvolvimento radicular, ausência de sinais
estroma pulpar por deposição de tecido minerali- radiográficos de lesões periapicais e reabsorções ra-
zado, diminuem a capacidade regenerativa da diculares inflamatórias e observação radiográfica
polpa3 u 7. i 11.1 14. Embora a opção mais segura para de barreira de tecido mineralizado 16•19· 81 (Figuras
indivíduos adultos seja o tratamento endodônti- l 7.30A a l 7.30C) . É evidente a importância do
co radical, a resposta ao tratamento conservador controle clínico radiográfico pós-trata mento a lon-
pode ser favorável desde que a polpa se apresen- go prazo (mínimo de 4 anos) para observação da
te normal 6 ' . A presença de alterações pulpares normalidade. O emprego do hidróxido de cálcio
degenerativas ou inflamatórias e de comprometi- está relacionado a esta grande freqüência de su-
mento periodontal contra-indicam estas condu- cesso do tratamento conservador, i 6 · 17 •39 ·48.49 , 65· 67•
tas conservadoras em pacientes idosos. Trabalhos 72
.s i. ro6 como se pode verificar no Capítulo 4.
experimentais em animais de laboratório de- Teuscher & Zander 1 12 e Zander 123 foram os primei-
monstraram uma resposta diferente à lesão ros a utores a indicar o hidróxido de cálcio com o
quando se comparou polpas de ratos jovens com mate rial para pulpotomia, sendo que a primeira
as de ratos velhos 87 •109 . Portanto, a seleção de ca- indicação da técnica foi apresentada por Kaiser76 e
sos de pacientes adultos deverá ser muito criterio- Frank 62 , mais tarde divulgada como a "técnica
sa e consciente, tanto por parte do profissional de Frank" 63 • Desde então vários estudos têm de-
quanto do paciente. monstrado ser este o m aterial ideal para p romo-
Tem sido relatado um alto índice de cura ver a formação de barreira de tecido mineralizado.
após tratamento conservador, com uma freqüên - O hidróxido de cálcio colocado sobre o tecido pul-
cia variando de 72 a 96% 33.40.4 5,49. 64.65,6 7. 1 3,81.10 1. 106 . par sadio promove uma necrose superficial que
Os critérios para avaliação de sucesso do trata- resulta em calcificação. As células da polpa res-
mento são ausência de sintomatologia, resposta pondem a essa irritação com a produção e secre-
positiva às provas de vitalidade pulpar (n os casos ção de uma matriz colágena posteriormente mi-
· ,de capeamento e curetagem ), continuidade de n eralizada dando origem à barreira 57 .

• . Fl~... 17.;!0A • FIG. 17.30º • FIG. 17.30(


Aspecto radiográfico do ele- Aspecto radiográfico 2 meses A specto radiográfico 2 anos
{ n1ento 21 após pulpotomio em de- após. Observa-se a continuidade do após. Observa-se a continuidade da
, corrência de exposição pulpar aci- desenvolvimento radicular e área formação radicular com fechamento
) dental. O paciente foi encaminhado radiopaca na região cervical indi- apical e maturação quando ocorreu
poro trotamento 1 hora após o oci- cando formação da barreira de teci- nova fraturo coronário.
dente. Observa-se a rizogênese in- do mineralizado.
completa com forame aberto.
CIÊN C IA ENDODÔNTICA

Algumas publicações defenderam a possibili- Receamos que, ao ser empregado em dentes ante-
dade de se realizar restaurações com sistema riores na região coronária, corantes inerentes à
adesivo diretamente sobre a polpa exposta por composição do material possam se desprender da
trauma 22 ·79•8º entretanto faltava maior embasa- mistura e penetrar através dos túbulos dentinários
mento, uma vez que a avaliação de resultados promovendo mudança da coloração. Estudos com
carecia de achados histopatológicos para uma in- metodologias apropriadas devem ser realizados
dicação precisa do tratamento proposto. Por ou- para a confirmação deste fato.
tro lado, estudos de Hebling70 , Lanza8 4 e Pereira A comprovação histológica de resultados po-
et al.9 7 demonstraram diferenças histológicas evi- sitivos com o uso do hidróxido de cálcio sobre
dentes na resposta pulpar a capeamento com hi- polpas expostas é evidente na literatura como
dróxido de cálcio e sistemas adesivos. Polpas sub- podemos observar na leitura do Capítulo 12. O
metidas ao capeamento com hidróxido de cálcio clínico p recisa estar atento ao embasamento ci-
apresentavam -se normais num período de 45 entífico presente na indicação de novos materiais
dias, enquanto as submetidas à ação do sistema para utilização diretamente sobre o tecido pul-
adesivo All Bond 2 demonstravam inflamação par. Resultados baseados apenas em aplicações
crônica em períodos de 7, 14, 30, 45 e 60 dias, clínicas de alguns poucos casos devem ser consi-
sugerindo que a resina no interior da polpa pro- derados com muita restrição, pois a Odontologia
vocava reação do tipo corpo estranho. Além dis- baseada em evidências biológicas é a grande alia- 1

to houve ausência de barreira de tecido minera- da do sucesso profissional.


lizado nos casos submetidos à ação do adesivo70 •
Todos estes novos materiais têm sido testados • Capeamento Direto
para utilização em capeamento pulpar direto, sen-
do a maioria dos resultados baseados em observa - O capeamento direto pode ser indicado em pe-
ções histológicas em animais de laboratório. Estu- quenas exposições pulpares tratadas poucas horas I
dos realizados em dentes de primatas e ratos reve- após o trauma. Em trabalhos experimentais estepe-
laram cicatrização pulpar e formação de ponte de ríodo foi definido como sendo de no máximo 24 ··
dentina. Embora estes resultados sejam favoráveis horas46•11 •98 • Após aposição do dique de borracha, 1
JI
no tocante à formação de barreira de tecido mine- preferencialmente sem a utilização de grampos, a
ralizado, ainda existe a necessidade de outras in- área exposta é limpa com solução de hidróxido de ·
vestigações antes que se possa utilizá-los em den- cálcio até a completa hemostasia, e seca com boli-
tes humanos. Uma revisão recente constatou que nhas de algodão. Em seguida procede-se à proteção
os sistemas adesivos são bem aceitos quando apli- com pasta de hidróxido de cálcio pró-análise (PA),
cados sobre a dentina de dentes humanos, mas veiculado em água destilada soro fisiológico, reco-
quando aplicados diretamente sobre a polpa pro- berta por um cimento a base de hidróxido de cálcio,
movem inflamação, retardam a cicatrização, além seguido de ionômero de vidro. Acredita-se que nas
de não permitirem a formação de barreira de teci- pequenas exposições tratadas após um curto perío-
do mineralizado. A aplicação de materiais adesi- do de tempo, a necrose superficial causada pelo hi-
vos diretamente sobre a polpa exposta é muito dróxido de cálcio não seja afetada pela presença do
controversa, pois os resultados observados em tecido de granulação resultante da dilaceração teci-
dentes de animais não podem ser extrapolados dual e da exposição ao meio bucal. Sendo assim o
para as condições clínicas dos dentes humanos. hidróxido de cálcio atua sobre o tecido pulpar sadio,
Sendo assim, os autores concluem que substân- além de ebminar bactérias presentes no local da
cias ácidas e adesivos são contra-indicados para exposição. Entretanto, a indicação do capeamento
apbcação direta sobre a polpa vital43 . direto é restrita devido ao fato do material capeador
Os estudos sobre o MIA (Mineral Trioxide interferir na adaptação dos fragmentos, quando a
Aggregate) para utilização diretamente sobre a polpa témica de escolha é a colagem, podendo ainda
exposta parecem promissores, uma vez que o ma- comprometer a estética das restaurações com resi-
terial permite a formação da barreira de tecido mi- na, dependendo da espessura do referido material.
neralizadoº1·º2·21·58·6º· 105 · 113 · 116 , entretanto a aplicação Nos casos em que a melhor indicação seja o capea-
clínica das marcas apresentadas até o momento no mento, deve-se confeccionar uma canaleta no
mercado se torna ainda inviável devido à coloração fragmento para acomodar o material colocado no re-
escura do material (Pro-root MTA e MTA Ângelus). manescente dental (Figuras 17.3 1A a 17.31C) .
TRAUMATISMO D ENT ÁRIO

• --~~~- 17.31 A.
Aspecto radiográfico de fraturo
coronária com exposição pulpar do
elemento 21.
• flG. 17.:.n ~
Capeamento direto do pequeno ponto de exposi-
ção pulpar e da dentina odiacente com pasta e cimento
hidróxido de cálcio, recoberto por cimento de ionômero
de vidro, ativado por luz visível.

• flG. 17.31 C
Aspecto radiográfico após a colagem do fragmento.
Nota-se a presença do material rodiopaco no interior da
canaleta confeccionada no fragmento fraturado.

Curetagem Pulpar

A curetagem pulpar está indicada em expo- tecido pulpar com curetas afiadas, a 2 mm abai-
sições pulpares cuja pequena extensão não jus- xo do sítio de exposição: supõe-se que a polpa
tifica a realização da pulpotomia, mas o tempo esteja livre de infe cção a este nível48 • Após he-
1
_ decorrido entre o mom ento do acidente e a pro- mostasia através da irrigação inicial com soro
f cura de tratamento contra-indica o capeamento fisiológico, seguida de solução de hidróxido de
direto, isto é, ultrapassa o tempo recomendado. cálcio, a área é seca com bolinhas de algodão.
) Consiste inicialmente na ampliação da área ex- Esta manobra tem p or objetivo expor tecido
posta com uma broca diamantada esférica sob pulpar sadio para então se proced er à colocação
refrigeração água/ar. Em seguida, remove-se o de pasta de hidróxido de cálcio PA veiculado em
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

água destilada, recoberta por um cimento à base por luz visível, quando a restauração for reali-
de hidróxido de cálcio e u ma camada de cimen - zada na mesma sessão (Figuras l 7.32A a
to de ionômero de vidro, de preferência ativado 17.35B).

- FIG. _17.3ZA ___ ,. ________________________


Ilustração esquemática da exploração e subseqüen-
te ampliação do área exposta com broca diamontoda
esférico poro realização da curetagem pulpar.

• FIG~ 17~3~0 • . HG. 17.UC________________________________________ ___ ··-···


Vista incisai de uma fratura coronária evidenciando Ampliação da exposição realizada com broca esféri-
clinicamente a presença de pequena exposição pulpar ca diamantada para permitir a penetração do cureta.
tratada em curto período de tempo após o aodente.

------~

Ilustração esquemática de curetogem do polpa, aprofundando-se a um nível aproximado de 2 mm do sítio de


exposição. Após irrigação com soro fisiológico inicialmente e, em seguida, solução de hidróxido de cálcio, o teodo pulpor
deverã ser seco com algodão esterilizado.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
·· -------- --- ·---------··--------

• . FIG. 17.33C -- - --·--·-------


Visualização do teodo pu/par
após corte com cureta afiada.

66 6 ( ···"'

+
água destilada
1

IIILflG._17.34A ___________________________ _ • .. FIG. 17.34B ___________


I Ilustração esquemática da colocação do hidróxido Uma camada de posta contendo hidróxido de cál-
Ide cálcio PA sobre o tecido pulpar. Todo o excesso de cio PA. é colocado sobre o tecido pulpar. Em segwdo
material deverá ser removido para evitar influência sobre aplico-se uma camada de cimento de hidróxido de cálcio
o adaptação da restauração. poro melhor vedomento e proteção do área exposta.

Omento de iooõmero de -.idro


~
i:-
1
L - - - -- - -- --.....J
·,

) • . FIG. 17.34C -------·· _ _ _ m._FIG. 17.340 · - ----------·--·-·-··-----·------


Ilustração esquemática da colocação do cimento de Com um cimento de ionômero fotopolimerizóvel é
hidróxido de cálcio e o cimento de ionômero de vidro feita a restauração provisória.
ativado por luz visível
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
----------------·---·------------ ---·-·----···---

• FIG. 17.34E
Ilustração esquemática da restauração realizado
imediatamente após o tratamento conservador.

y'

• . flG. __17.lSA
Aspecto radiográfico de fratura coronária com ex- Imagem radiográfica do elemento 41 após
posição pulpor no elemento 41. curetagem pulpor e colagem do fragmento. Observo-se
que não houve necessidade de confeccionar canaleta no
fragmento, como no Figura 17.3 1 e

Pulpotomia te devidamente isolado, é realizada a abertura é


limpa toda câmara pulpar. Em seguida procede -
A indicação da pulpotom ia se faz nos casos se à remoção do tecido pulpar utilizando-se cu-
cm que ocorre exposição de u ma maior área de retas afiadas cuj o design permita realizar um cor-
tecido pulp ar e o tempo decorrido até o momen - te preciso a aproximadamente l mm abaixo do
to do tratamento seja compatível com a preser- nível cervical. Anatomicamente os incisivos não
vação de tecido pulpar sadio. Aconselha-se que apresen tam uma delimitação definida entre câ -
este período de tempo seja o mais breve possível, mara pulpar e canal radicular. Devido a isto exis-
ten do-se sempre em m ente que quanto maior, te a necessidade de mu ita precisão no corte da
mai s reduzida s às ch ances de reparo. Com o den - polpa para que o operador não corra o risco de
TRAUMATISMO DENTÁRIO

promover um deslocamento da mesma na região cido pulpar remanescente é protegido com pasta
apical. Isto determinaria uma lesão ao feixe vás- de hidróxido de cálcio PA veiculado em água
cu lo -nervoso apical com prejuízo para a circula- destilada e recoberta p or cimento à base de hi-
ção e conseqüentemente uma resposta inade- dróxido de cálcio e cimento de ionômero de vidro
quada a o tratamento conservador. Este procedi- a tivado por luz visível, preenchendo a câmara
mento deve ser acompanhado de irrigação abun- pulpar. De forma semelhante à curetagem, o
dante com soro fisiológico até que se obtenha procedimento restaurador deve ser realizado pre-
hemostasia e acompanhado da secagem com bo - fere ncialmente nesta mesma sessão. (Figuras
linhas de algodão esterilizadas . Em seguida, o te - 17.36A a 17.36K).

_ __ FIG. _17.368

Vista vestibular de uma fratura coronária com polpa Ilustração esquemática do acesso coronário para a
exposta e hipe,plásica. A extensão do tecido exposto e o realização do pulpotomia.
tempo decorrido após o trauma determinam a execução
I de uma pulpotomia.
1

t" -IIL FIG.__17.l6C___ ------- ------------------------------


Realização de acesso à cãmara pulpar removendo- Ilustração esquemática do corte do tecido pulpor até
) .se todos os divertículos do teto, em um dente portador o limite cervical e irrigação concomitante para evitar o
de exposição pulpar extensa. acúmulo de sangue no interior da câmara pulpar.
C IÊNCIA ENDODÔNTICA ~-
- - - · · - - - · ·-·· ------·----------------

• AG.
. 17.36E
··· ··•· ·-····

Corte do teC1do pulp ar abaixo do nível ce1v1cal utili- 1 .


zando-se cureta extremamente afiada, específica para tal
fim. Neste momento pode-se observar o sangramento • __FIG. 17.lóf __ --------·····------- ........
vermelho vivo.
Ilustração esquemática da hemostasia obtida com
irrigação abundante e compressão com bolinhas de algo-
dão estenlizadas.

,,i J

, - ---
-~ ',
Hidróxido de câi::io PÀ
...
_ _FIG._ 17.36G________ .... água destilada

Aspecto do tecido pulpar após a obtenção da


hemostasia.
_ __ FIG. J7.l6H ___ ___ _____________________ .... _______
Ilustração esquemática da colocação de posto de
hidróxido de cálcio PA veiculado em água destilada so-
bre o teodo pulpar.
TRAUMATISMO D EN TÁRIO

,•

Qmenlode
hidróxido de cábio
,.

Proteção do tecido remanescente com pasto de


hidróxido de cálcio PA veiculado em água destilado
J
recoberta por uma camada de cimento de hidróxido de
cálcio seguida de ionômero de vidro fotopolimerizóvel. • flG. 11.l{\J
Ilustração esquemática demonstrando a camada de
cimento de hidróxido de cálcio segwdo do preenchimen-
to do câmara pulpar com cimento de ionômero de vidro.

Ilustração esquemática do restauração, que deverá


ser realizada preferencialmente na mesma sessão.

1
e J

,,
t
As Figuras 17.37A a 17.37C mostram o as- fu ndamental qu e seja realizado um rigoroso con -
pecto radiográfico da barreira de tecido minerali- trole radiográfico por tempo mínimo de 4 an os
zado formada após tratamento conservador. É (Figuras 17.38A a 17.40C) .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• FIGS. 17.l7A a 17.37C


Imagens radiográficos de barreiro de teodo mineralizado formado em período aproximado de dois meses após
tratamento conse,vodo,:

• FIGS. 17.38A
--·-- a-·· 17.38C
Seqüência de acompanhamento radiográfico até 7 anos após o tratamento conse,vador Noto-se obliteração do
canal radicular, sem comprometimento do sucesso do trotamento.
TRAUMATISMO OENTÁRIO
·i
....-~~~-,,~,.,.., ...,.~. •••••-'-"'ª''".....,........._._,,,.,._...,.,,..,.,., ..... ,....,.. ... ~ .. ,.., . .~.--. .-.,~,, .-, "-'"~-.-.,~w·. .-•~·- ;-,, •"W-•",..."•~-·u,>, .. , ., _.•.u , , "'" "'-'V'•• <•· ,..., " · ._,,.... •.~'-'· ,...,, •- , •• ,V , , ,.,H.•.,"<••'•J,,,-·,,.,..-,.-,

• FlG.t'.l'.â~
Seqüência de controle radiográfico até 4 anos
após tratamento conseJVador.

. ...r:ms.__t7.40A_a __17.40C.
{ Seqüência de controle radiográfico até 75 anos após tratamento conse1vador.

)
CI ÊNCIA ENDODÔNTI CA

Tratamen to Restaurador dontal, podendo estar associadas ou não a uma


exposição pulpar. Caracteriza m -se pela invasão
As alternativas de restauração para este tipo do espaço biológico e acometem, além do s
de lesão seguem os mesmos padrões citados para dentes anteriores, os pré -molares e molares no
as fraturas de esmalte e dentina e devem, e de caso de trau ma tismos indiretos. O fragmento
preferência devem ser realizadas imediatame nte coron ário geralmente permanece mantido pe-
após a terapia pulpar. Somente um vedamento la s fibras do ligamento periodonta l apresentan -
marginal adequado irá garantir o sucesso do trata- do d eslocamen to e mobilidad e (Figu ras
mento conservador89. Havendo impedimen tos tais 17.41A e 17.418). Quando ocorre a exposição
como : falta de tempo hábil, quadros hemorrágicos pulpar a dor é um sintoma característi co asso-
oriundos de lesões associadas (tecidos moles ou de ciado à movimenta ção do fragme nto . Nestes
sustentação), estresse e condição psicológica desfa- casos, o tratamento de urgência consiste na
vorável, o profissional deverá realizar uma restau- realização da pulpectom ia, e man utenção do
ração provisória u tilizando material q ue promova fragmento em posição através da colagem pro-
um excelente vedamento marginal. Nestas situa- visória com resina composta (Figuras l 7.42A
ções a proteção do hidróxido de cálcio e da denti- e l 7.42B). Não havendo a exposição pulpar, a
na exposta remanescen te com cimento de ionô- intervençã o se limita à imobilizaçã o do frag-
mero de vidro, de preferência ativado por luz visí- mento. Tal manobra tem como objetivo impe-
vel, é de suma importância para o sucesso do tra - dir a invagin ação de tecido d e granulação para
tamento uma vez que impede a infiltração margi- o interior da linha de fratura, melh orando as-
nal de bactérias e a difusão de suas toxinas 3º·47•94 . sim a condição para realizar procedime ntos
restaurador es futuros. A maior dificuldade no
FRATURAS tratamento destas lesões é a restituição das dis-
CORONO RRADICULARES tâncias biológicas o q ue muitas vezes, deman-
da cirurgias periodontais ou tratamento s orto -
As frat u ras coronorradiculares comprome - dônticos para viabilizar uma reconstitui ção es-
tem os tecidos da coroa, raiz, ligam ento perio - tética definitiva . 1
V

• FIG. 17.41.!-
Vista vestibular de uma fratura corono,rndicular no Vista incisai da fratura - nota-se que embora deslo-
elemento 11 - observa-se a presença de exposição cado, o fragmento coronário permanece mantido pelas
pulpar evidenciada pelo nível da linha de fratura e inten- ftbras do ligamento periodontal do lado palatino.
so sangramento.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

• f!G. n'.42.l-.\.
Realização de pulpectomia imediata, uma vez que a
dor é um sintoma característico associado à movimenta-
ção do fragmento.

1
' ;l

• ~G'.11~'*?ª ·- ·-··- · · --·-··--·-·


Reposicionamento do fragmento para p osterior
colagem provisória com resina composta.

FRATURAS RADICULARES bilidade do fragmento coronário. Embora o d iag-


n óstico radiográfico seja facilitado pela direção
As fraturas radiculares causam lesão aos teci- geralmente oblíqua da linha de fratura, esta n em
dos min eralizados (dentina e cem ento), às fibras sempre é identificada logo após o traum atism o,
do ligamento periodontal e às estruturas pulpa- mesmo com o emprego de múltiplas exposições.
res. Podem ser classificadas quanto a su a direção Radiografias tomadas posteriormente poderão
em h orizontais, verticais e oblíquas; quanto ao revelar a área de fratura devido ao deslocamento
número em simples ou múltiplas, e ainda, quan- incisai do fragmento coronário em função de
to a su a localização, em fraturas de terço apical, uma hemorragia, edema ou formação de tecido
médio e cervical1 6 . O diagn óstico das fraturas ra - de granulação. Na interpretação das radiografias
diculares é essencialmente radiográfico uma vez deve-se levar em conta ainda, que as variações
)
que podem apresentar as mesmas características no ân gulo vertical do raio central podem produ -
clínicas das luxações extrusivas e laterais; ligeira zir uma imagem elipsoidal simulando frat uras
extrusão, deslocamento no sentido lingual e mo- múltiplas (Figuras l 7.43A, B e C).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• FIG. 17.43.A • FIG. 11.436 • _flG.17.43Ç ..


Imagem elipsoidal de uma úni- Alterações no ângulo verti-- Imagem radiográfica irregular
co linho de fraturo radicular Figuro cal de incidência do feixe de ra- de fraturo radicular múltiplo.
17.448. diação revelam uma único linho
de fraturo radicular transversal.

Devido ao grande núniero de tecidos envolvi- lizado o controle clínico e radiográfico para ava-
dos, as fraturas radiculares apresentam padrões de liação da condição pulpar dos segmentos e da
cicatrização bastante complexos. Em função des te ocorrência ou não de cicatrização. Toda e qual-
fato, eram tidas como lesões de difícil ou até mes- quer intervenção endodôntica e/ou cirúrgica está
mo, impossível solução. Hoje em dia sabe-se que descartada até que haja urna definição do diag-
apresentam um prognóstico altamente positivo no nóstico de necrose pulpar6, 8•9• 19 ·7 6· 77 .
que concerne à consolidação dos fra gmentos, seja
através da deposição de tecido mineralizado seja
pela interposição de tecido conj untivo. Muitos es-
tudos têm demonstrado que a cicatrização das fra-
turas radiculares depende de certos fatores rela-
cionados ao momento do traumatismo - grau de
mobilidade e deslocamento do fragmento coroná-
rio - e às condutas adotadas durante o tratamento
imediato - realização ou não do reposicionamento
e imobilização além do tipo de fixação. Indepen-
dentemente da localização, o tratam ento imediato
das fraturas radiculares con siste no reposiciona-
mento do fragmento coronário através de firme
pressão digital. Após a verificação radiográfica da
correta redução da fra tura, o dent e deve ser imo-
bilizado utilizando-se fita de Ribbond ou fio de
aço para osteossíntese (O, 12" ou 0,30 mm) fix ado
com resina composta (Figuras 17.44A a 17.44G).
A oclusão deve ser checada e ajustada para corri-
gir toques prematuros. O tempo mínimo de imo- Radiografia periapicol poro diagnóstico do fraturo
bilização é de 2 meses, variando de acordo com a radicular de terço médio no elemento 11 - observa-se
localização da fratura . Durante este período é rea- ausência de deslocamento.
TRAUMATISMO DENTÁRI O

• R t".;;. 11.itA fJ • fi{;i. 17.44,C .


Elemento 11 com fratura radicular de terço médio Isolamento absoluto paro imobilização com fita de
sem deslocamento. Ribbond.

1
' ;1

• .~(;.'. 1]:44º·- . • rm. H/t4E


Colocação de resina composta fotopolimeriz ável de Fita de Ribbond, após tratamento com adesivo,
cor incisai após ataque ácido e aplicação do adesivo, sem posicionada sobre a resina composta. Depois de adapta-
polimerização. da a fita, faz-se a polimerização.

) • FIG. U.44F • FIG. 11.44G


i
Colocação de resina sobre a fita de Ribbond após a Concluída a fixação ve,ifica-se a presença de toques
polimerização da mesmo. prematuros no movimento de protusão.
CIÊNCIA ENDODÔNTI CA

SUBLUXAÇÃO ção de edema na região do ligamento periodon -


tal pode afetar o suprimento sanguíneo devido à
As subluxaçõe s são lesões que afetam tanto compressão de vasos6 • 12 · 13 •
os tecidos de sustentação quanto as estruturas Clinicamen te observa-se grande mobilida-
pulpares. Caracteriza m-se pela laceração de fi- de, sensibilida de à percussão vertical e, geral-
bra s do ligamento periodomal , com conseqüent e mente, intenso san gramento na região do sulco
sangrament o e formaçã o de edema. Embora haja gengival (Figura 17.45 ). O dente pode não res-
ruptura de um grande número de fibras, não é o ponder normalmen te às provas de vit alidade
suficiente para provocar deslocamen to do ele- sem significar, e n tretanto, necrose pulpar.
mento dentário 1 1 . O compromet imento pulpar Eventualm ente pode -se observar ao exame ra-
ocorre devido ao estiramento ou, mais raramen- diográfico, um ligeiro espessamen to do espaço
te, à ruptura do feixe vasculonerv oso apical no do ligamento periodonta l na região apical (Fi-
momento do traumatismo. Além disso, a forma- gura 17.46) .

• FIG. 17.45
Aspecto clínico de subluxaçõo nos elementos 11 e
21. Nota-se o sinal característico de sangramento no sul-
• FIº~ 17.46 ____
co gengival.
Observa-se ao exame radiográfico, um ligeiro
espessamento do espaço do ligamento periodontal na
região apical nos elementos 11 e 21.

Nos pacientes muito jovens as subluxaçõe s


podem apresentar alto grau de mobilidade sendo
n ecessária imobilização flexível por um período
máximo de 15 dias (Figura 17.47). Este tratamen-
ro tem como objetivo a estabilização do elemento
para possibilitar a regeneração das fibras perio-
dontais além de propiciar maior conforto ao pa-
ciente durante esta fase. Em todos os casos deve-
se realizar um alívio das interferênci as oclusais.

• FI§_'- 11.47
lmob,'lizoção flexível dos elementos 11 e 21 porta-
dores de subluxaçõo utilizando fio para osteossíntese.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
- --··,----------·- --- · --- ------------·- - -·-·- - ----·--·--··-·---·- · - ·- - -·----------~
LUXACÃO EXTRUSIVA
I
xível. Quando o reposicionamento for realizado
pelo profissional, este deve ser atraumático,
As luxações extrusivas caracterizam-se pela através de pressão digital, delicada e contínua,
ruptura das fibras do ligamento periodontal, le- no sentido apical, com o obj etivo de deslocar
são de pontos esparsos da superfície radicular e gradualmente o coágulo formado entre o ápice
ruptura ou estiramento do feixe vasculonervoso radicular e o fundo do alvéolo . Após a verifica-
ao nível do ápice radicular6 · 1 1· 13 _ ção radiográfica da posição correta do dente,
Clinicamente observa-se a extrusão parcial procede-se à fixação flexível p or um período de
do dente no sentido oclusal, com eventual deslo- 2 semanas. Em todos os casos deve-se realizar
camento da coroa em direção lingual (Figura um alívio das interferências oclusais. Quando o
17.48). Além disso o dente apresenta-se com atendimento é tardio, o reposicionamento cor-
grande mobilidade horizontal e vertical, sensibi- reto é praticamente impossível. Nestes casos a
lidade aos testes de percussão e intenso sangra- m elhor opção é realizar o aj uste oclusal deixan-
mento na região cervical. O dente pode não res- do que a cicatrização ocorra mantendo o dente
ponder normalmente às provas de vitalidade sem em sua nova posição para posteriormente reali-
significar, entretanto, necrose pulpar. O achado zar o reposicionamen to através de aparelho or-
radiográfico característico deste tipo de lesão é o todôntico.
aumento do espaço do ligamento periodontal na
região apical. LUXAÇÃO LATERAL

As luxações laterais representam uma lesão


complexa que envolve rup tu ra e laceração das
fibras do ligamento p eriodontal, lesão de exten-
sas áreas da superfície radicular e do osso alveo-
lar. Ao n ível do foram e apical ocorre um estran-
gulamento e ruptura do feixe v asculonervoso
6.11 -Ü

Clinicamente observa -se o deslocamento


excêntrico no sentido oclusal e palatino (Figu-
ra l 7.49A ), geralmente associado à fratura da
parede vestibular do alvéolo. Nestes casos, a
coroa apresenta -se posicion ada em direção lin-
gual, e a raiz desliza sobre a supe rfície vestibu-
lar da parede alveolar em dir eção apical, man-
tendo o dente firmem ente preso em sua nova
Luxação extrusiva - clinicamente observa-se a
posição. A dor à percussão vertical e horizontal
extrusão parcial do dente no sentido oc!usal.
não representa um a chado freqüen te, mas a
palpação no fundo do vestíbulo geralmente é
dolorosa e permite perceber a fratura do pro -
Cuidados iniciais j á podem ser tomados cesso alveolar e a posição vestibularizada do
. l
pelo próprio paciente quando orientado pelo ci- ápice radicular. O achado radiográfico caracte-
rurgião-dentista ao primeiro contato telefônico: rístico deste tipo de lesão é a imagem encurta-
reposicionar o dent e sob leve pressão digital e da e de maior radiopacida de do elemento en -
mantê-lo em posição mordendo uma gaze, algo- volvido quando comparad a com aquela dos
dão ou p edaço de tecido limpo até o atendi- dentes adjacentes normais (Figura l 7.49B). A
mento pelo cirurgião -dentista. Esta manobra mudança na direção do longo eixo do dente
.1 melhora sobremaneira o prognóstico quando com deslocamento lateral, faz com que haja
t realizada imediatamente após o traumatismo. A uma alteração no ângu lo vertical de incidência
) conduta a ser adotada pelo clínico nesta situa- do feixe de radiação. Além disso, pode -se ob-
ção consiste em avaliar clínica e radiografica- servar um aumento do esp aço do ligamento
mente a posição do elemento dental, realizar as periodontal evidenci ad o numa tomada radio-
correções necessárias e fazer a imobilização fle- gráfica oclu sal.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
--------»·---·-------'"-----------------

• flCi. Jf..1J:9B__
Aspecto clínico de elemento 11 com diagnóstico de Radiografia oc/usal do elemento 11 evidenciando
luxação lateral ~ observa-se o deslocamento no sentido aumento do espaço do ligamento periodontal ~ observo-
incisai palatino provavelmente associado à fratura da se uma imagem encurtada e de maior radiopaodade do
parede vestibular do alvéolo. A coroo apresento-se elemento envolvido quando comparada com aquela
posicionada em direção lingual. do elemento 21.

Cuidados iniciais já podem ser tomados pelo reposicionamento deve -se realizar uma compres-
próprio paciente quando orientado pelo dentista são vestibular e lingual para assegurar a comple-
ao primeiro contato telefônico à semelhança do ta acomodação do dente no alvéolo e facilitar a
descrito para as luxações extrusivas. Entretanto, cicatrização dos tecidos periodontais. Em segui-
o reposicionamento imediato das luxações late- da, deve-se verificar radiograficamente a correta
rais pode ser muito traumático devido à fratura posição do dente e imobilizá-lo com fixação rígi-
I
do processo alveolar requerendo geralmente a da por um período de 3 a 4 semanas (Figuras
atuação do profissional. Deve- se realizar inicial- 17.490 a l 7.49G). Em todos os casos deve-se
mente uma firme pressão digital no fundo do realizar um ajuste das interferências oclusais.
vestíbulo em direção incisal, a fim de reconduzir Quando o atendimento é tardio, o reposiciona -
o ápice radicular a o alvéolo. Num segundo mo- mento correto é praticamente impossível. Nestes
mento o dente é pressionado em direção apical casos a melhor opção é realizar o ajuste oclusal
até o fundo do alvéolo (Figura 17.49C). Em si- deixando que a cicatrização ocorra mantendo o
tuações extremas pode-se utilizar um fórceps dente em sua nova posição para posteriormente
aplicado à coroa para extruir ligeiramente o den- realizar o reposicionamento através de aparelho
te e então reconduzi-lo ao seu alvéolo. Após o ortodôntico.

O dente é pressionado delicadamente em dfi·eçào


apical até o fundo do alvéolo.
. . __
-~~·----·~··-~--h••~----,o,•.-v-_....,._ _..,..._,,,_......,,.___., _.__~_.......,___~ · - - ~ - · - - - - - · - • - , . , ., . . . , , _ u_,.-...-..,,,_.,.,._.._._.,,...,_.,,_..,_.,~<.•""""·••""''"•~--•-·'--
TRAU MATISMO DENTÁRIO

• F_IG. 'l1Vl9Q . • fiG. -n~tJ9E


Fixação do fio para osteossíntese torcido, nos dente Tomada radiográfica, antes do imobilização do dente
adiacentes, utilizando resino composta. afetado para verificação da correta posição do mesmo.

;f

• 1

-~

• f'l<.i.f1.49F • FIG. 17.49G


Conclusão da imobilização com colocação de resina Radiografia para verificação do reposicionamento
composta no elemento 11 - a fixação tigida deverá ser do elem ento 11. A tomada da esquerda mostra o ele~
{ mantido por um período mínimo de 3 a 4 semanas. menta dental no momento do diagnóstico de luxação
lateral e a tomada da direita mostra a posição correta do
) dente no alvéolo.
• AVULSÃO gurando-o pela coroa; não esfregar a raiz nem
utilizar qualquer tipo de produto; recolocar o
A avulsão se caracteriza pelo completo des- dente no seu alvéolo imediatamente; morder
locamento do dente de seu alvéolo acarretando uma gaze, algodão ou pedaço de tecido limpo e
ruptura total do feixe vasculonervoso apical e dirigir-se ao consultório odontológico. Havendo
das fibras do ligamento periodontal, além de le- impedimentos de natureza técnica ou emocional
são à camada cementoblástica. A interrupção do por parte do responsável pelo reimplante, o den-
aporte sangüíneo resulta na necrose uma vez te deve ser acondicionado em meio de armaze-
que a revascularização da polpa em toda a sua namento adequado até que o paciente possa ser
extensão é um fenômeno possível, mas pouco atendido por um profissional2 8- 2 9 . Meios de arma-
provável. Para que ela ocorra, são necessárias zenamento especiais tais como HESS, Meio de Ea-
condições ótimas de período extra-oral e fatores gle, Viaspan e Conditioned Medium são ideais para a
anatômicos muito específicos relativos ao grau manutenção ou revitalização das células do liga -
de rizogênese 53 • Sendo assim, este tipo de cicatri - mento periodontal e por isso deveriam estar dis-
zação só deve ser esperado em dentes imaturos poníveis em locais onde os acidentes geralmente
cujo reimplante aconteceu em condições ideais ocorrem: escolas, ginásios de esportes, ambulân-
de período ex tra-oral. cias, hospitais e serviços de pronto atendimento
Quando um dente é avulsionado o ligamen- odontológico 36·74· 7 5· 115 . Deve-se reconhecer, po_..
to periodontal é rompido sendo que parte das rém, que o leite é um excelente meio de armaze-
fibras permanece aderida às paredes alveolares e namento desde que o reimplante seja realizado
parte é levada junto da superfície radicular. A par- dentro de seis horas. Suas propriedades fisiológi-
te que permanece n o alvéolo se mantém viável cas, incluindo seu pH (6,5 -7,2) e osmolaridade
sem n enhum tratamento adicional porque é nu- similar ao fluido extracelular (250-270 müsm
trida pelo osso alveolar adjacente . Já as fibras Kg·1), a sua facilidade de obtenção e o fato de ser
que permanecem n a superfície radicular só se relativamente livre de bactérias justificam seu
mantêm viáveis em períodos extra-orais míni- uso como meio de armazenamento para dentes
mos ou condições de armazenamento adequa - avulsionados 34•36 . Embora a solução salina tenha v
das. A cicatrização do ligamento periodontal de- apresentado um desempenho melhor do que o
pende da manutençã o da vitalidade destas fibras armazenamento a seco, só deve ser utilizada
remanescentes na superfície radicular 14 · 56•75 ·86 . A quando da ausência absoluta dos meios supraci-
perda da integridade do ligamento resulta em tados14. A utilização da saliva como meio de ar-
rápida osteogênese no alvéolo, favorecendo a mazenamento, através da colocação do dente
ocorrência de reabsorções radiculares externas. avulsionado debaixo da língua ou no vestíbulo
Diante do exposto verifica-se que o reim- bucal do próprio paciente ou dos pais, está con-
plante imediato representa a melhor opção de tra-indicada em função do risco de deglutição do
tratamento após avulsões traumáticas, principal- mesmo pela criança e de infecção cruzada. Além
mente quando consid erada a faixa etária mais disso, a presença de microrganismos e sua baixa
acometida. Apesar da literatura ser unânime osmolaridade afetam a viabilidade das células do
quanto às vantagens do reimplante imediato, a ligamento periodontal diminuindo sua atividade
observação diária demonstra que este é uma ex- donogênica34.s2.ss.só.
ceção. Na maioria das vezes, os dentes avulsiona- Naqueles casos em que o paciente se apre-
dos não são encontrados ou são mantidos fora sente no consultório com o dente já reimplanta-
do alvéolo por períodos excessivos e em meios do, cabe ao profissional avaliar clínica e radiogra-
inadequados. ficamente a posição do elemento dentário, reali-
Para que o reimplante ocorra o mais rápido zar as correções necessárias e fazer a imobiliza-
possível, esta manobra deve ser realizada de pre- ção flexível.
ferência pelo próprio paciente ou outra pessoa
no local do acidente. Neste sentido é fundamen- Manuseio do Dente - Tratam ento
tal que já no primeiro contato telefônico o pro- da Superfície da Raiz
fissional repasse orientações relativas à execução
do reimplante: localizar o dente e, se necessário, Quando o paciente chega com o dente fora
lavá-lo com soro fisiológico ou água corrente se- do alvéolo, o profissional deve acondicioná-lo
imediatamente num m eio que, além de manter a devem ser destacados com o auxílio de um ins-
vitalidade das células do ligamento periodontal, trumento tipo holemback. Nos casos de reimplan-
seja capaz de repor os nutrientes celulares perdi- te tardio tentativas de tratamento da superfície
dos. Este armazenamento deve durar somente o radicular têm sido feitas com soluções fluoreta-
período necessário para a preparação do pacien - das, enzimas e ácidos. O objetivo desta manobra
te. Recomenda-se a solução salina balanceada de é remover restos de ligamento periodontal ne-
Hank (HESS) por seu custo relativamente baixo, crótico e modificar a superfície radicular tornan-
além de ter validade de aproximadamente 2 do-a mais resistente à reabsorção e facilitando a
anos quando mantida em temperatura ambiente. adesão das fibras colágenas . Embora a associação
A superfície da raiz deve ser examinada para ve- de fluoretos e antibióticos tenha apresentado os
rificar a existência de fraturas radiculares e a pre- melhores resultados 32• 108, a s pesquisas atuais não
sença de partículas de sujeira ou fragmentos ós- são conclusivas. Sendo assim este procedimento
seos aderidos. O dente deve ser então enxaguado não está indicado uma vez que estudos adicio-
com um jato de solução salina até sua limpeza nais são necessários para fundamentar seu em-
completa. Embora qualquer procedimento que prego na clínica. Nestes casos recomenda-se ape-
envolva o manuseio da superfície radicular seja nas a limpeza rigorosa com gaze umedecida em
contra-indicado, caso o enxágüe não seja eficaz, soro fisiológico, com o intuito de remover as fi-
uma gaze umedecida em solução salina deve ser bras do ligamento periodontal que se encontram
cuidadosamente utilizada. Os fragmentos ósseos necrosadas (Figura 17.50A) .

Dentes avulsionados antes do reimplante tardio (12


horas após a ovulsõoJ. A limpeza da supetfície radicular
foi realizada com gaze embebida em solução salina.

• 1

Preparo do Paciente - Tratamento fisiológica (Figura 17 .500 ). Este procedimento


do Alvéolo diminuiria o risco de inflamação resultante de
corpos estranhos presentes no alvéolo e ajuda -
O preparo do paciente para a realização do ria a produzir um íntimo contato entre o dente
reimplante se inicia com um exame cuidadoso e o osso alveolar 16 • O alvéolo deve ser então
da cavidade bucal e alvéolo, seguido de radio- inspeciona do e caso se constate presença de fra-
grafias periapicais para se avaliar a presença de turas é fundamental reposicionar o osso fratu -
r.l corpos estranhos ou fraturas (Figuras 17.508 e rado, modelando -o com o auxílio de um instru-
j l 7.50C). Tem sido sugerido que o coágulo san - m ento, contrabalançado por uma pressão digital
/
güíneo seja removido antes do reposicionamen- feita n a região vestibular. Neste s casos podem
to do elemento dental através do uso delicado ser necessários o reposicionamento e sutura das
de uma cureta e irrigação com solução salina lacerações gengivais.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

,
.. .·',
~--

:;.
i
i

IIL FIG. _17.SOB


Situação do alvéolo após a avulsão dos elementos
11 e 21. É necessário realizar uma inspeção cuidadosa
com a finalidade de detectar possíveis fraturas do proces-
so alveolar ou co1pos estranhos.

A radiografia periapical também pode auxiliar na


inspeção do alvéolo com relação a possíveis fraturas ou
presença de corpos estranhos.
I

O coágulo sangüíneo deve ser removido antes do


reposicionamento, utilizando delicadamente de curetas e
irrigação do alvéolo com solução fisiológica. Este procedi-
mento diminui o risco de inflamação resultante da pre-
sença de corpos estranhos e aiuda a produzir um íntimo
contato entre o dente e o osso alveolar

Reposicionamento encontrada resistência, o dente deve ser coloca-


do novamente no meio de armazenamento, en-
Após o preparo inicial, o dente deve ser quanto o alvéolo é reexaminado. Caso haja al-
mantido pela coroa e reposicionado através de gum fragmento ósseo deslocado, o mesmo de-
pressão digital lenta e gradual, até gue seja in- verá ser reposicionado. Ao final da manobra
troduzido em toda a sua extensão dentro do uma compressão vestibular e lingual assegura a
alvéolo (Figura 17.SOE). Esta p ressão deve ser sua completa adaptação e garante um afluxo de
delicada para permitir a percepção tátil de even- sangue sobre toda a superfície radicular (Figura
tuais remanescentes na luz do alvéolo. Se for l 7.50F ).
TRAUMATI SMO DENTÁRIO

• FIG. 17.SOE ____ __ ___ ________ __________________ _________ _________ _ • f l~. 1J.50f: -- --
Inserção delicada do elemento 11, exercendo ape- Uma compressão vestibular e lingual deve ser reali-
nas pressão suficiente para acomodá-lo no alvéolo. zada em toda a região, após o reposicionamento, com o
intuito de assegurar a completa adaptação dos dentes ao
alvéolo.

Imobilização bilizado utilizando-se fio de aço para osteossínte -


se (0,10" ou 0,25mm) duplo, ligeiramente torci-
A imobilização de dentes reimplantados do fixado com resina composta (Figuras l 7.50G
deve ser realizada logo após o reposicionamento a K). Estudos experimentais têm demonstrado
e tem como objetivo propiciar estabilidade no que períodos de imobilização menores, 15 a 21
período inicial de cicatrização do ligamento perio - dias, favorecem a cicatrização normal do liga-
dontal. Sendo assim, exceto n os casos em que h á m ento periodontal, uma vez que diminui o risco
fratura óssea associada, recomenda -se uma imo- de anquilose 88•9 1• 117 • Para os casos de fratura do
bilização flexível, que mantenha o dente em processo alveolar associada, a imobilização deve
sua posição original, sem interferências oclusais, ser rígida e deve permanecer por períodos mais
mas que permita a sua movimentação fisiológica, prolongados, de 40 a 60 dias92 •
evitando que locais de anquilose se tornem per- As Figuras 17.5 IA a H ilustram um caso
manentes92 . Após a verificação radiográfica do de reimplante tardio em um paciente de 7 anos de
• 1
correto reposicionamento, o dente deve ser imo- idade.

t
t
) • FIG. 17.SOG IIIILflG. 17.SOH _ _________
Vista da supedície vestibular após condicionamento Aplicação do adesivo sobre as supedícies condicio-
áodo do esmalte. nadas.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

mJ:IG. __11.SOI ____ ________ _


Material utilizado para confecção do sp/int_- 2 pinças
para sutura; fio para osteossíntese 0,12':· alicate cortante.

O fio deverá ser duplo, preso nas extremidades com


as pinças e torcido de modo o se manter flexível.

• .FIG. 17.SOK -- ------------~------------- ---------------------------- ---


Coso concluído após colocação de resina. Neste '
coso, o pulpectomio foi realizado na mesma sessão por I
se trotar de dentes com rizogênese completo. Os canais
foram abundantemente irrigados com solução de
hipoclorito de sódio, seguido do selamento provisório. A
continuidade do tratamento com hidróxido de cálcio de-
verá se dar 1 semana após.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

1
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1
1

• 1

t
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lllll__!IGS. 17.51 A a _17.51 H --------------------.. ·-------
Caso de reimplante tardio em paciente de 7 anos de idade.
CIÊNCIA EN DODÔNTICA

• Tratame nto Endodôntico Radical hipoclorito de sódio (rizogênese completa) ou so-


lução salina (rizogênese incompleta) e seco com
O levantamento clínico realizado por Andreasen cones de papel absorvente. Em seguida uma boli-
& Hj0rting-Hansen2 º representou um marco na nha de algodão esterilizada deve ser colocada no
compreensão dos fenômenos relacionados à cicatri- interior da câmara pulpar e o selamento provisó-
zação após o reimplante de dentes avulsionados. rio realizado com cimento de óxido de zinco e
Os autores foram os primeiros a correlacionar os eugenol. Cada caso deve ser avaliado in dividual-
processos de reabsorção radicular nos dentes reim- mente, mas via de regra o curativo de hidróxido
plantados ao seu período extra-oral. Seus achados de cálcio pode ser realizado no espaço de uma a
demonstraram que reimplantes realizados em um duas semanas.
período de até trinta minutos, apresentaram me-
lhores índices de sucesso do que aqueles realizados MEDICACÃO SISTÊMICA
após longo período extra-oral. A partir destes resul- ASSOCIÁDA AO ATENDIMENTO
tados, os autores revolucionaram o tratamento de DAS URGÊNCIAS EM
dentes avulsionados, recomendando o reimplante TRAUMATISMO DENTÁRIO
imediato e o posterior tratamento endodôntico ra-
dical que, até então, era realizado fora da boca. A A terapia medicamentosa sistêmica mais fre-
conduta por eles recomendada passou a ser ampla- qüentemente empregada no tratamento de ur-
mente adotada e, no qu e concerne ao atendimento gência das lesões traumáticas consiste na admi-
de urgência, dois aspectos merecem consideração: nistração de antibióticos, de analgésicos e antiin-
o momento de se realizar a pulpectomia e o mo- flamatórios, além da profilaxia antitetânica.
mento de se colocar a medicação intracanal de hi- Embora o emprego da antibioticoterapia sistê-
dróxido de cálcio. mica seja amplamente indicado após reimplantes
A remoção da polpa e o subseqüente trata- dentários, esta conduta carece de fundamentação
mento endodôntico, logo após o reimplante, re- científica principalmente quanto à droga de esco-
presentam um fator decisivo no prognóstico de lha e duração do tratamento. Pouco se sabe atual-
dentes reimplantados. Sabendo-se que a revascu- mente sobre o valor efetivo dos antibióticos na
I
larização da polpa em toda a sua extensão é um cicatrização periodontal e pulpar 18•52· 5 3·'º3 , 104 • Os
fenômeno pouco p rovável, principalmente n os únicos resultados positivos advêm dos estudos ex-
dentes com rizogênese completa. O tratamento perimentais de Hammarstrom et al. 69 , mas n ão
endodômico só poderia ser postergado nos dentes podem ser aplicados ao tratamento de pacientes
imaturos, reimplantados em condições ideais de devido à via e período de administração da droga
período cxtra-oral5 2•53. Sendo assim, o m om ento utilizados pelo autor. Considerando-se as poucas
em que se inicia o tratamento endodôntico radical evidências científicas atualmente disponíveis, é
é crítico p ara a prevenção e tratamento da reab- questionável o benefício da antibioticoterapia sis-
sorção radicular inflamatória e deve ser realizado témica na evolução das lesões traumáticas, até
num período máximo de duas a três semanas mesmo n os casos de reimplantes. Da m esma for-
após o reimplante. Entretanto, se por um lado a ma, é surpreendente o quanto é escassa a literatu -
pulpectomia é de fundamental importância para ra n o que diz respeito ao efeito da antibioticotera-
se evitar a propagação de produtos tóxicos da pol- pia sistémica n a cicatrização das lesões de tecido
pa necrótica para os tecidos adjacentes, o emprego mole. De um modo geral, acredita-se que todas
do hidróxido de cálcio n este momento deveria ser estas feridas sejam contaminadas, razão pela qual
evitado. O extravasamento do material através do o uso profilático de antibióticos tem sido indicado
forame apical seria m aléfico para a cicatrização, no manuseio de tais lesões. Porém , não foi com-
uma vez que o hidróxido de cálcio é citotóxico provado nenhum beneficio desta terapia no trata-
para as células do ligamento periodontal, que es- mento de lesões cutâneas ou de mucosas. Além
tão repovoando a superfície radicular 15 . Cuidado disso, os resultados são contraditórios n o que se
especial deve ser tomado nos dentes com rizogê- refere às lesões mais profundas.
nese incompleta e forame aberto (Figuras l 7.51E Segundo Andreasen 16 o antibiótico de esco-
e F). Sendo assim, recomenda-se qu e, quando lha no tratamento das lesões de tecido mole é a
possível, a pulpectomia deve ser realizada logo Penicilina, seguido da Eritromicina, e deve se
após o reimplante. O canal deve ser irrigado com restringir às seguintes situações:
TRAUMATISMO DENTÁRIO

1. lesões altamente contaminadas, cuja limpeza não paciente são de fundamental importância. Naque-
pode ser realizada satisfatoriamente; las situações de risco de infecção, uma dose da
2. realização tardia da limpeza da ferida (mais de 24 vacina é o suficiente para pacientes cuja imuniza-
horas); ção esteja em dia. Pacientes não imunizados, ou
3. quando há necessidade de redução cirúrgica de fratu- que estiverem no meio do esquema de vacinação
ras ósseas; devem receber primeiramente a imunização pas-
4. casos de debilidade sistêmica ou comprometimento siva e em seguida a vacina convencional 16 •
imunológico; O uso indiscriminado de an tiinflam atórios
5. feridas causadas por mordidas de humanos ou ani- após lesões traumáticas também não está justifi-
mais. cado, uma vez que os poucos estudos experi-
mentais disponíveis revelaram que são ineficazes
A profilaxia antitetânica deve ser sempre in- n o controle das reabsorções radiculares 118 • Além
dicada nos casos de lesões de tecidos moles ou disso, quadros inflamatórios agudos pulpares ou
dentes avulsionados contaminados. Neste contex- periapicais não representam um achado freqüen-
to, a informação de onde aconteceu o acidente te na evolução da con dição pulpar após o trau-
bem como dados sobre a imunização prévia do matismo.

PARTE 3 - FISIOPATOLOG IA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS

' ; As lesões traumáticas dentárias se caracteri- cientemente espessas e fortes que permitam sua
'
i zam por sua natureza múltipla uma vez que po- função normal. Embora estudos tenham de-
dem acometer, simultaneamente tecidos como a m onstrado índices otimistas após o tratamento
polpa, os tecidos mineralizados do dente e seu endodôntico de dentes ' permanentes jovens -
aparato de sustentação. A freqüência com que entre 79 e 96% de sucesso, quando considerado
ocorrem, sua distribuição segundo faixa etária e regressão de lesões periapicais e formação de
etiologia bem como sua natureza, delineiam um barreira apical de tecido m ineralizado 56 ·94, 96· 113 , o
problema de tratamento complexo. prognóstico a longo prazo deste s dentes não é
tão favorável. A interru pção da deposição de
' 1
COMPROMETIMENTO PULPAR dentina após a remoção da polpa resulta em pa-
redes radiculares extremam ente finas que não
Uma das principais dificuldades no trata- suportam os esforços funcionais levando à uma
mento dos dentes traumatizados está relacionada grande ocorrência de frat uras cervicais . A ocor-
ao diagnóstico das alterações pulpares após o rência destas fraturas está diretamente relaciona-
trauma, ou seja: quando o tratamento endodôn- da à realização de tratamento endodôntico em
tico está realmente indicado? Esta questão se dentes cuja rizogênese se en contrava em estágios
agrava diante da responsabilidade de uma indi- iniciais ou dentes portadores de defeitos na raiz
cação precoce ou tardia da intervenção radical, resultantes da cicatrização de reabsorções radicu-
todas as duas extremamente prejudiciais em se lares externas inflamatórias 56 (Figura 17.52) .
tratando da faixa etária mais acometida, 7 a 14 Sendo assim, o diagnóstico pulpar após o trauma
anos. Se não podemos tardar neste diagnóstico, passa a ser um desafio pa ra o qual, infelizmente,
dada a velocidade com que progridem as reab- a maioria dos profissionais não está preparada.
sorções radiculares externas inflamatórias nestes Para vencer tal desafio é preciso primeiro, estar a
( dentes jovens, tampouco se justifica uma indica- par das possibilidades que uma polpa j ovem tem
ção precoce, "preventiva" do tratamento endo- de se regenerar. O fato da maioria dos nossos
)
dôntico radical, numa idade em que o dente ne- pacientes estar represen tada por crianças em ida-
cessita de sua polpa jovem e ativa para completar de escolar e adolescentes é um ponto a favor da
sua rizogênese e obter paredes radiculares sufi- recuperação pulpar em fun ção da característica
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CIÊNCIA ENDODÓNTICA ••
· - - - --·--',

altamente vascularizada e celular destas jovens disponíveis. Estes detectam as variações da ativi-
polpas. É preciso também te r conhecimentos a dade nervosa sensorial da polpa não sendo sufi-
respeito da etiopatogenia das alterações pulpares cientemente sensíveis para identificar outras al-
pós-trauma que, na sua essência diferem daque- terações circulatórias decorrentes do trauma e
las ocasionadas pela cárie e suas seqüelas. Final- principalmente, são pontuais uma vez que iden-
mente, o profissional deve estar atento para as tificam um momento e não a evolução da condi-
limitações dos meios de diagnóstico atualmente ção pulpar no processo de regeneração.

1 •

• IFIG. 11.52
Aspecto radiográfico de fraturo cervical ocorrido em
região defeituoso do raiz resultante de reabsorção
radicular externo inflamatório.

Fisiopatologia das Alterações com eventual aspiração dos corpos celulares, ou


Pulpares seus remanescentes, para dentro dos túbulos.
Poucos dias após a exposição da superfície den-
No contexto de um tra umatismo, a principal tinária, esta se apresentaria recoberta por uma
causa das alterações pulpares é a lesão ao feixe fina camada de placa bacteriana resultante de
vasculonervoso apical e o conseqüente compro- uma limpeza deficiente d evido à sensibilidade
metimento do suprimento sanguíneo. Sendo as- da dentina exposta. Bactérias originárias dessa
sim, a manutenção da vitalidade pulpar vai de- placa e , principalmente, seus produtos invadi-
pender da ocorrência ou não de lesão a esta es- riam os túbulos, levando à perda da camada
trutura e da sua capacidade de revascularização - odontoblástica. Haveria, então, uma difusão de
o que é uma função da extensão do dano ao anticorpos, leucócitos e outras células, além
feixe vasculonervoso apical, do grau de rizogêne- de proteínas plasmáticas através do fluido den-
se, e da presença de infecção. tinário, em direção à abertura dos túbulos. Fi-
nalmente, células da camada central da polpa se
RESPOSTA PULPAR APÓS diferenciariam e~ novos odontoblastos e inicia-
FRATURAS CORONÁRIAS DE riam a deposição de dentina reparativa. Esses
ESMALTE E DENTINA achados favoráveis, relativos à resolução da in-
flamação pulpar decorrente da exposição da
As alt erações pulpares que se seguem às dentina e contaminação com saliva, dependeri-
fraturas que envolvem e xposição de denti- am, entretanto, de um suprimento vascular in-
na foram descritas pelos clássicos estudos de tacto e da inibição de invasão microbiana adi-
Brannstrõm 4 M 9 . O autor m ostrou alterações in- cional. Sendo assim, quando ocorrem isoladas,
flamatórias transitórias associadas à agressão as fraturas de esmalte e dentina trazem pouco
aos odontoblastos subjacentes às áreas expostas, risco de complicações para a polpa, uma vez que o
TRAUMATIS MO DENTÁRIO

fluxo do fluido dentinário representa uma bar- mente a manutenção do suprimento sanguíneo
reira contra a invasão bacteriana, diluindo as da polpa desempenhará um papel determ inante
toxinas bacterianas e distribuindo elementos de na evolução da resposta pulpar. Não havendo
defesa36,ss,127,137,139, l 55 . Por outro lado, a ocorrên- comprometimen to do feixe vásculo-nervoso peri-
cia de lesões por luxação concomitantes com- apical, a resposta inflamatória da polpa é prolife -
promete a manutenção da vitalidade pulpar, rativa e benigna e caracteriza-se pela formação de
uma vez que o distúrbio ao fornecimento de um tecido de granulação subjacente ao sítio da ex-
sangue à polpa inviabilizaria seus primeiros me- posição, independentemente do tamanho da área
canismos de defesa, além de e liminar a barreira exposta (Figura 17.53) . Estudos experimentais60
representad a pe la pressão hidrostática do fluxo em incisivos de macacos demonstraram que dois
do fluido dentinário. Também a ruptura dos te- dias após a exposição, o tecido pulpar apresentava
cidos pulpares, n o momento do trauma, levaria um tecido de granulação superficial rico em capi-
a áreas localizadas de necrose, que facilitariam lares sanguíneos, recoberto por um coágulo de
uma invasão microbiana 129-Bl.1 66 • 167 . fibrina e com infiltrado inflamatório moderado
subjacente, cuja profundidade não ultrapassava 2
RESPOSTA PULPAR APÓS mm. Uma semana após a exposição, observou-se
FRATURAS CORONÁRIAS COM uma maior hiperplasia do tecido pulpar projetan-
EXPOSIÇÃO PULPAR do-se atrnvés da fratura, mas o infiltrado inflama-
tório mantinha-se a níveis superficiais sendo que
Nas fraturas coronárias com expos1çao o tecido subjacente encontrava-se normal. Sendo
pulpar além da agressão representada pela expo- assim, embora o processo de cicatrização e cura
sição direta ao meio bucal, há uma dilaceração do não ocorra espontaneamente, esta resposta p roli-
tecido pulpar no local da fratura. As alterações ferativa superficial permite que, após a excisão
que se seguem são representadas pela hemorragia parcial do tecido hiperplasiado, tecido pulpar sau -
· / local e início do processo inflamatório provocado dável seja preservado através de técnicas endo-
pelo tecido lacerado e toxinas bacterianas. Nova- dônticas conservadoras .

• FIG. 17.Sl
Ilustração esquemática do resposta
pulpar após exposição traumático ca-
racterizada pela presença de infiltrado
inflamatório até 2 mm abaixo do sítio
de exposição e proliferação de tecido
de granulação.

)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

RESPOSTA PULPAR APÓS trização pulpar 152 . O confinamento em paredes


LUXAÇÕES mineralizadas limita a difusão de nutrientes
oriundos dos tecidos vizinhos e sua extensão im-
Nas lesões por l uxação as alterações pulpa- pede que a neoformação vascular, cuja velocida-
res decorrem da lesão ao feixe vasculonervoso de na polpa é de aproximadamente 0,5 mm/dia,
apical que pode ser comprimido, lacerado ou atinja as porções coronárias a tempo de evitar a
rompido levando à necrose isquêmica do tecido degeneração celular definitiva. Sendo assim, o
pulpar devido à interrupção abrupta e completa sucesso da revascularização pulpar após as lesões
da circulação. Os fen ômenos regenerativos que por luxação depende de condições que permitam
se seguem consistem na substituição do tecido a ocorrência das anastomoses entre os vasos pul-
pulpar danificado por célu las de defesa e células pares e aquele s do tecido periodontal apical. Es-
mesenquimais indiferenciadas além da tentativa tas condições são determinadas pelo tipo de le-
de recomposição do suprimento sanguíneo e re- são, p elo grau de rizogênese e pela presença de
generação nervosa. A revascularização do teci- infecção.
do pulpar isquêmico se dá através da invagina- O tipo de lesão traduz n ão só o grau de
ção de vasos neoformados para o interior do teci- comprometimento do feixe vasculonervoso pul-
do pulpar e de anastomoses do tipo end-to-end par, mas também o comprometimento dos teci-
entre os vasos pulpares preexistentes e aqueles dos de su stentação, responsáveis por fornecer
neoformados ou do ligamento periodontal. O vasos, células e outros elementos de defesa res-
processo de neoformação vascular é conhecido ponsáveis pela cicatrização pulpar. O grau de
como angiogênese e envolve a migração direta complexidade crescente expresso na classificação I
de células endoteliais, sua proliferação e a forma - proposta por Andreasen 12 é um bom indicador
ção da luz vascular. Estudos experimentais de- do prognóstico pulpar uma vez que se baseia n a
monstraram que os n ov os capilares se formam a extensão da lesão. Na concussão (Figura 17.54),
partir do estímulo de fatores angiogênicos, libe- e sub-luxação (Figura 17.55) a lesão se restringe
rados durante a resposta inflamatória, que indu- às fibras do ligamento periodontal, não sendo su- ,
zem a proliferação de células endoteliais na pare- ficiente para deslocar o elemento dental. Sendo /
de de vênulas. Estas células liberam enzimas que assim, a lesão ao feixe vasculonerv oso é mínima,
degradam a membrana basal subjacente, criando na maioria das vezes resultante do edema que se
uma via de migração cm direção aos estímulos forma no espaço do ligamento periodontal rom-
angiogênicos. Esta frente proliferativa continua pido. Na luxação extrusiva (Figura 17.56) ocor-
avançando até encontrar outros brotos endo- re o deslocamento parcial do dente no sentido
teliais ou vasos m arginais com os quais se unem, oclusal devido à ruptura de um número maior
formando novas alças capilares ou anastomoses de fibras, sem que haja, entretanto, lesão do osso
com o tecido circunvizinho . Estabelecidas estas alveolar ou da superfície da raiz. Neste caso o
conexões, as células endoteliais se dividem e di- comprometimento pulpar se deve à ruptura ou
ferenciam formando o lúmem vascular e permi- estiramento do feixe vasculonervoso, ao nível do
tindo a circulação de sangue, embora ainda haja ápice radicular, durante o deslocamento dentá-
uma grande perda de células sanguíneas para o rio. Nas luxações lateral (Figura 17.57 ) e intru -
meio extravascular devido à ausência da mem- siva (Figura 17.58) , a lesão ao ligamento perio-
brana basal. Uma nova membrana basal só será dontal se estende ao osso alveolar, apical ou late -
depositada à m edida que as células dos novos ralmente, e ao cemento radicular, contribuindo
vasos amadurecerem e forem capazes de secretar para o maior dano ao complexo vascular apical
os componentes da m atriz extracelular. Este pro- que, além de sofrer uma ruptura, é macerado
cesso depende da atividade fibroblástica e só devido à direção do deslocamento realizado pelo
avança na presença de suporte de colágeno. As elemento dental. No que tange à ocorrência de
anastomoses rápidas que se estabelecem na re- necrose pulpar a literatura é unânime em apon-
gião apical desempenham um papel fundamental tar o deslocamento como principal fator determi-
no processo de revascularização durante a cica- nanteºs.36,ss,64,1 19,120,121,112,
TRAUMATISMO DE NTÁRIO

,.

• . FIG. 17.54 • AG. H.55


CONCUSSÃO: 1- Preservação do feixe vasculo- SUBLUXAÇÃO: 1- Estiramento e/ou compressão
nervoso apical. 2 e 3- Lesão das estruturas de sustenta- do feixe vasculonervoso apical causada pelo edema for-
ção restrita à ruptura de alguns feixes de fibras do liga- mado no espaço do ligamento periodontol. 2- Ruptura
mento periodontal que não são suficientes para causar de feixes de fibras do ligamento periodontol levando à
; mobilidade anormal ou deslocamento do elemento mobJ/Jdade anormal. 3- Presença de sangramento atra-
;: dental. vés do sulco gengival.

. 1

• FIG.11.56 • FIG. H.57


( LUXAÇÃO EXTRUSIVA: 7-Estiramento e/ou ruptu- LUXAÇÃO LATERAL: 1- Ruptura do feixe vasculo-
ra total do feixe vasculonervoso apical. 2- Ruptura de nervoso apical. 2 -Ruptura de feixes de fibras ao longo de
) feixes de fibras ao longo de todo o ligamento periodontal todo o ligamento periodontal. 3- Remoção do camada
devido ao deslocamento parcial do elemento dental em cementoblástica em alguns pontos da superfície radicular
direção incisai. 3- Presença de sangramento através do devido ao deslocamento excêntrico do elemento dental.
sulco gengival.
CIÊN CIA ENOODÔNTICA

• _FIG. __17.58 ...... ...............-- ----·-------·--------~ ___ ......


LUXAÇÃO INTRUSIVA: 1- Ruptura do feixe
vasculonervoso periapical. 2- Remoção da camada
cementoblástica ao longo da superfície radicular devido
ao deslocamento axial do elemento dental. 3- Laceração
das fibras ao longo de todo o ligamento periodonta/.

O estágio de desenvolvimento radicular mente o mecanismo mais importante no p ronto


é um importante fator determinante do prognós - restabelecimento do suprimento sangüíneo pul-
tico pulpar após lesões por luxação sendo qu e, par. O outro fator determinante é o menor com-
no que toca à resposta pulpar, dentes permanen- primento da raiz que facilita o acesso da frente
tes jovtns apresentam altos índices de cicatriza- de revascularização às porções mais coronárias
ção. Dentre os fatores que contribuem para o do canal radicular, e das células mesenquimais ,
grande potencial de reparo dos dentes jovens in diferenciadas responsáveis pela substituição do I
podem ser citados a natureza e constituição do tecido pulpar necrosado antes que se torne infec-
complexo odontogênico apical formado pela pa- tado.
pila dentária, altamente vascularizada, rica em A presença da infecção pode comprome -
células mesenquimais indiferenciadas com gran- ter definitivamente o processo de revasculariza-
de atividade mitótica e de histodiferenciação, e ção e regeneração do tecido pulpar isquêmico
pela bainha epitelial radicular, sabidamente resis- após lesões por luxação. No caso de fraturas co -
tente às condições adversas de um processo in- ronárias associadas, está bem demonstrado que
flamatório. Além disso, a natureza mucosa da os túbulos dentinários representam a principal
papila dentária n a região apical bem como a pre- via de acesso para a invasão de bactérias e/ou
sença de uma densa rede de arteríolas e vênulas suas toxinas. O efeito dessa invasão sobre os teci-
confere ao complexo odontogênico uma caracte- dos pulpares depende da presença e velocidade
rística resiliente responsável pelo amortecimento do fluxo do fluido dentinário, da espessura da
do impacto da lesão traumática, o que evitaria a camada de dentina e da condição do tecido pul-
total ruptura desse tecido e minimizaria os efei- par subjacente4 M 9•129•13 L 166•167 . Já no caso de coro-
tos dos deslocamentos nos dentes jovens. Apre- as intactas, as prováveis vias seriam a anacorética
sen ça desta s estruturas confere aos dentes per- e através do ligamento periodontal lesado - de-
manentes jovens uma extraordinária capacidade monstradas por estudos que encontraram floras
regenerativa. Do ponto de vista anatômico, os similares dentro do canal radicular e em bolsas
dentes joven s apresentam duas características periodontais adjacentes73 ·95• 156 . Se o tecido pulpar
que favorecem a revascularização do tecido pul- for infectado numa situação de isquemia, o pro-
par após a lesão do feixe vasculonervoso apical. cesso de substituição do tecido pulpar necrótico e
O amplo diâmetro do for ame apical, que permite de revascularização é definitivamente compro-
uma maior interface com o tecido periodontal metido uma vez que se forma um infiltrado leu-
intacto viabilizando a ocorrência de anastomoses cocitário e uma resposta imune é estruturada na
rápidas com os vasos pulpares rompidos, sabida- tentativa de conter a invasão bacteriana.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

CICATRIZACÃO DAS FRATURAS menos envolvidos no processo de r eparo das fra-


RADICULARES turas radiculares . Baseados na classificação pro-
posta por Schindler 14ª e em observações radiográ-
As fraturas radiculares são lesões que en- fica s e h istológicas, os autores propuseram quatro
volvem tanto as estruturas de suporte do dente categorias clássicas de evolução das fraturas radi-
(ligamento periodontal, superfície radicular e osso culares: cicatrização com deposição de tecido mi-
alveolar) quanto as suas estruturas pLLlpares e te- neralizado, com deposiçã o de tecido conjuntivo,
cidos mineralizados (dentina e cemento) . Embora com deposição de tecido ósseo e tecido conjuntivo
envolvam padrões de cicatrização bastante com- e a não cicatrização com interposição de tecido de
plexos, devido ao grande número de estruturas granulação na linha de fratura.
envolvidas, as fraturas radiculares apresentam um Nos casos em que não há luxação do frag-
prognóstico favorável quanto à consolidação dos mento coronário ou esta é mínima, o tecido pul-
fragmentos, o que pode ser constatado pelos altos par permanece intacto e sua cicatrização ocorre
índices de cicatrização sem intervenção endodôn- de forma análoga àquela observada nas fraturas
tica - 56% a 78%, relatados em vários acompa- coronárias. Células de defesa e células m esenqui-
nhamentos clínicosº4,01.2s.40,so,91,11s.1n t 73. Segundo mais in diferenciadas progenitoras dos odonto-
Andreasen et al. 07 , este p rognóstico positivo se blastos migram para o sítio da fratura onde depo-
deve ao fato da força da p an cada ser dissipada na sitam uma ponte de tecid o m ineralizado denti-
linha de fratura preservando desta forma a região n óide que une o fragmento apical e o coronário.
do forame e conseqüentemente o feixe vasculo- Esta ponte forma um calo inicial que estabiliza a
nervoso apical. O tecido pulpar na região da fratu- fratura e é seguido pela invaginação de tecido
ra pode p ermanecer intacto ou ser comprimido, periodontal responsável pela deposição do ce-
lacerado ou rompido, uma vez que as fraturas memo que preen che a linha da fratura. Este tipo
radiculares envolvem, na m aioria das vezes, al- de cicatrização depende da man ute n ção da vitali-
, 1gum tipo de luxação do fragmento coron ário. O dade pulpar em ambos os fragmentos07 e,corres-
' trabalho de Andreasen & Hj0rting-Hansen 25 re- ponde à cicatrização com interposição de tecido
presentou um m arco na compreensão dos fenô- mineralizado 25 (Figuras 17.59A e B).

• •
• f!G. 11.59.A
Ilustração esquemática do aspecto radiográfico da
consolidação de fratura radicular através da interposição de
tecido dentinó1de e cementóide: embora a linha de fratura
seja perceptível os fragmentos estão em íntimo contato e
• Fm, 11,59~
{ não há mdioluddez em relação à linha de fratura. Observa- Aspecto radiográfico da consolidação de fraturo
se cont1i1uidade da lâmina dura entre os dois fragmentos e radicular no elemento 77 através da interposição de teci-
,,
1. arredondamento das bordas da fratura. Detalhe 1- Ilustra- do dentinóide e cementóide. No elemento 21 observa-se
ção esquemática do aspecto histológico: observa-se a for- a não consoltdação da fratura devido à necrose pu!par
mação de um calo de dentina na pa,te interna da linha de do fragmento coronário e interposição de tecido de
fratura e a deposição de cemento na parte extema. granulação.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Nos casos em que a luxação do fragmento zação às porções mais coronárias do tecido pul-
coronário implica em deslocamento do mesmo e par. Enquanto o processo de regeneração pulpar
conseqüente comprometimento do seu supri- está em curso, grupos celulares oriundos do liga-
mento sanguíneo, instala-se na região da linha m ento periodontal adjacente povoam a superfí-
de fratura uma resposta inflamatória que tem cie da fratura e promovem a consolidação da fra-
como objetivo final a revascularização e substi- tura pela deposição de cemento na superfície dos
tuição do tecido pulpar isquêmico do fragmento fragm entos e interposição de fibra s colágenas
coronário. De form a semelhante ao que ocorre (Figuras 17 .60A e B). Este tipo de cicatrização
nas luxações, o sucesso deste processo depende corresponde à cicatrização com interposição de
basicamente das anastomoses rápidas que se es- tecido conjuntivo de Andreasen & Hj0rting-
tabelecem imediatamente após o trauma entre os Hansen25 e resulta na independência nutricional
vasos pulpares rompidos e os do ligamento perio- do fragmento coronário urna vez que a reyascu-
don tal adjacente. Entretanto, duas particularida- larização se dá as custas dos vasos do ligamento
des fazem com que o processo de revasculariza- periodontal e a formação de dentina secundária
ção seja mais bem sucedido após as fraturas radi- na linha de fratura cria um novo "forame apical".
culares: a própria presença da linha de fratura e Quando o trauma ocorre em paci entes jovens,
o fato de que só o fragmento coronário deva ser cujo crescimento do osso alveola r ainda não se
revascularizado. A linha de fratura representa completou, o fragmento coronário pode conti- 1 •

uma via de drenagem do edema formado, des- nuar sua erupção enquanto o fragmento apical
comprimindo o local e tornando mínima a pres- fica estacionado. Nestes casos ocorre a interposi-
são exercida sobre os vasos pulpares além de ção de tecido ósseo entre os dois fragmentos que I
possibilitar uma ampla interface polpa/periodon- possuem ligamento periodontal normal e inde-
to - ambiente propício para as anastomoses ini- pendente para cada um deles (Figuras l 7.61A e
ciais. Como só o fragmento coronário deve ser B ). Este tipo de cicatrização foi classificada como
revascularizado, seu menor comprimento permite interposição de tecido ósseo associado a conjun- .
um acesso mais rápido da frente de revasculari - tivo.
/

Ilustração esquemático do aspecto radiográfico da


consohdação de fratura radicular através da interposição
de tecido conjuntivo: linho de fraturo perceptível com
uma estreita faixa radiolúcida separando os segmentos.
_ _FIG, U.60~
Obse1va-se continuidade da lâmina dura entre os dois
fragmentos e 01Tedondomento dos bordos da fratura. Aspecto radiográfico do consolidação de fratura
Detalhe 1- Ilustração esquemático do aspecto histológico radicular no elemento 21 através da interposição de teci-
- Superfícies radiculares fraturadas recobertas por do coniuntivo.
cemento com fibras de teodo conjuntivo paralelas à su-
perfície da fratura ou de um fragmento o outro.
.
- ··--~ ....~ .,,.,.,,..,_~ _.,,,--.,.,-... - ..~·--· - ~· •- ..,.,......... .. . ...,.. ,...,.. ... .-,-.. .-.-..,,. ...,..,. ,« ,w,-.-. ...,w• . ,, • . ~~ - • ···~ · · - - - ~ . - , . . ._ · • •·•· --.,..........__.. ,~ ,.,.,,Y.,. -~ ··•
TRAUMATISMO DENTÃRIO

• fiei:...17.MJt..
Ilustração esquemática do aspecto radiográfico da
consolidação de fratura radicular através do 1iJterposição
de teodo ósseo: o tectdo ósseo é visto entre os fragmen-
tos, porém o espaço do lig amento periodontal apresenta-
se normal e em continuidade com as partes da membra-
na periodontal de cada um dos fragmentos separada-
mente. Observa-se arredondamento das bordas da fra-
turo e em alguns casos, o osso se estende paro dentro do
canal radicular dos fragmentos coronário e opico! Deta-
lhe 1- Ilustração esquemática do aspecto histológico -
Superfícies radiculares fraturadas recobertas por cemento
com fibras de tecido coniuntivo ligando o superfície do
fraturo ao osso alveolar inte,posto entre os fragmentos.


1
1

• r,:ac;, 17..6HL.
• 1
Aspecto radiográfico da consolida-
ção de fratura radicular no elemento 11
através do interposição de teodo ósseo.

.. p

Quando grandes deslocamentos do frag- ter a invasão bacteriana e em resposta aos agen-
mento coronário permitem a contaminação da tes agressores liberados pelo tecido pulpar ne-
( linha de fratura, o processo de revascularização crosado. Estes eventos correspondem à quarta
) é interrompido e há a necrose pulpar. Neste categoria proposta por Andreasen & Hj0rting-
caso, o processo de consolidação é comprometi- Hansen25 denominada não cicatrização com in -
do uma vez que se forma um tecido de granula - terposição de tecido de granulação (Figuras
ção entre os fragmentos numa tentativa de con- 17.62A e B).
CIÊN C IA ENDODÔNTICA

• J:~Çi. _17.62A
Ilustração esquemático do aspecto radiográfico do
não cicatrização de fraturo radicular devido à necrose 1 .
pulpar no fragmento coronário e interposição de tecido
granulação: caracteriza-se por um distanciamento dos • flG. 1J..6l~-
fragmentos e presença de área radiolúoda extenso no Aspecto radiográfico da não consolidação de fraturo
linha de fratura estendendo-se para o osso alveolar adja- radicular no elemento 11 devido à necrose do polpa do
cente. Detalhe 1- Ilustração esquemática do aspecto fragmento coronário e formação de tecido de
histológico - demonstra teodo de granulação entre os granulação entre os fragmentos e no osso alveolar adja-
fragmentos, como resultado de infecção do canal cente. No elemento 21 observa-se cicatrização com
radicular, geralmente no fragmento coronário. interposição de tecido ósseo.

RESPOSTA PULPAR APÓS osteodentina, osso imaturo irregular, osso ou ce -


AVULSÕES mento maduro com padrão lamelar, reabsorção
interna e necrose pulpar58· 59 •1º5· 1 52• 153 . Embora não
A avulsão dentária ca u sa a ruptura ime - seja possível extrapolar totalmente estes resulta -
diata de todas as fibras do ligamento periodontaL dos para humanos, levantamentos clínicos e es-
dos vasos sanguíneos e linfáticos e do feixe ner- tudos experimentais demonstraram que a cicatri-
voso na altura do forame apical resultando em zação pulpar é possível em dentes com rizogên e -
uma interrupção abrupta e completa da circula - se incompleta, mas representa um evento raro
ção, bloqueio neurovascular e degeneração de após reimplantes de dentes maduros, com diâ -
todas as populações celulares na polpa, principal- metro apical m enor do que lmm 13,22 ,n 26, 29, 58-59-
mente na porção coronária (Figura 17.63 ). As- - 97' 1º1 . Radiograficamente foram descritos dois

sim como nas luxações, os processos de reparo padrões de cicatrização do tecido pulpar de den-
pulpar após um reimplante imediato iniciam-se tes reimplantados: no primeiro há a deposição
apicalmente pela proliferação de capilares, célu- de tecido mineralizado internamente nas pare-
las de defesa e células mesen quimais indiferen- des do cana l radicular levando à diminuição da
ciadas que, gradualmente, substituem o tecido luz do canal radicular e contin uidade do desen-
pulpar necrosado. Estudos experimentais realiza - vo l vimento radicular (Figuras l 7.64A a
dos em animais demon straram que este processo l 7.64D). No outro padrão descrito, os dentes
pode resultar em tipos distintos de cicatrização apresentaram paralisação da rizogên ese e depo-
pulpar, histologicamente descritas como: dentina sição de tecido mineralizado na cavidade pul-
reparativa com padrão tubular normal, dentina re- par, porém separado das p aredes d e dentina e
parativa com padrão tubular irregular ou au sen- em continuidade com o osso alveolar periapical
te, dentina reparativa com inclusões celulares ou (Figuras 17.65A e B) .
TRAU MATISMO D ENTÁRIO

• FIG. 'D'.63___
AVULSÃO: !-Ruptura do feixe vasculonervoso
apical. 2- Ruptura das fibras ao longo de todo o ligamen-
to pe,iodontol. A porte que fica aderido à parede do
alvéolo permanece viável pois recebe nutrientes dos va-
sos sanguíneos presentes no osso alveolat: 3-A parte das
fibras que pe,manecem aderidas à superfície do raiz após
o avulsào são privados do suprimento sanguíneo e logo
consomem seus metabólitos armazenados levando à
necrose generalizada do ligamento petiodontal.

;!
1
j

• 1

• fi5i:. 'f1.f.4A.
Seqüência de cicattizaçào pulpar após avulsào do Radiogroficamente observa.:se continuidade do de-
elemento 31. Reimplante realizado após 15min,- meio de sen volvim en to radicular e deposição de t ecido
armazenamento: leite. mineralizado internam ente nos paredes do canal
radicular.
)
CIÊN C IA ENDODÔNTICA

- w;iG •. 11.64(.:
1 ano após o reimplante observa-se complemen- Controle realizado 3 anos após o acidente demons-
tação do rizogênese e obliteração do canal radiculOJ: trando normalidade da região periopical. A paciente só
foi liberado para movimentação ortodôntica após diag-
nóstico de cicatnzação do ligamento periodontal e au-
sência de reabsorção radicular.

• flG. 11'.6SA
Cicatrização pulpar após avulsão - Ilustração
esquemática represen tando a deposição de tecido
mineralizado no cavidade pulpar em continwdade com o • AG... 11.~.~~ -· .
osso alveolar e separado das paredes dentinárias do ca- Cicatnzação pulpar após ovulsão do elemento 21 -
nal radicular. Aspecto radiográfico do deposição de tecido
mineralizado na cavidade pulpar em continwdade com o
osso alveolar e separado das paredes dentinários do ca-
no/ radicular por uma linha radiolúcida sugerindo o pre-
sença de membrana periodontal.
TRAUMATI SMO DENTÁRIO

Novamente, a capacidade de revasculari- Enquanto o efeito do meio de armazenamen-


zação através de anastomoses e neoformação to e do período extra-oral na cicatrização do liga-
vascular será determinante do sucesso da cica- mento periodontal após o reimplante de dentes
trização pulpar. Neste sentido, o forame apical avulsionados está bem demonstrado por urna ex -
amplo de dentes jovens explica a maior chance tensa literatura clínicao1,24.26,27.35,65.9s.114,123.145 e expe-
de cicatrização pulpar uma vez que a maior in- rimentaJ13,16,42,4J,63,7o,s5,s7,106,12s,134,162, os poucos tra-
terface polpa/periodonto permite que anasto- balhos que avaliaram o papel destes fatores na
moses rápidas se estabeleçam entre os vasos revascularização do tecido pulpar não apresentam
sanguíneos dos dois tecidos garantindo que cé- resultados consensuais23•97 . A permanência em
lulas do sistema imune tenham acesso imediato meio seco parece afetar principalmente a parte
ao tecido pulpar isquêmico 1º1·152 ·153 . Estudos ex- mais periférica na região apical da polpa llllla vez
perimentais em ratos demonstraram que, em que o restante do tecido pulpar está relativamente
molares reimplantados, as células de defesa, protegido pelas paredes radiculares. Como as es-
contrariamente ao que acontece com odonto- truturas apicais são fun damentais nas fases iniciais
blastos e outras células pu lpares, resistem às do processo de revascularização, o ressecamento
condições isquêmicas e respondem prontamen- destas estruturas traz complicações imediatas para
te atuando no controle da invasão bacteriana, a cicatrização de todo o tecido pulpar. Sendo as-
remoção de restos teciduais e estímulo do repa- sim, m eios de armazenamento úmidos protege -
ro pulpar 143. Estes mecanismos iniciais de con- riam a região mais apical do tecido pulpar do res-
trole da infecção assumem uma importância secamento favorecendo desta forma, o processo de
fundamental quando considerados os efeitos revascularização. Entretanto, diferentemente do
deletérios da presença de microorganismos no que ocorre com o ligamento periodontal, este
sucesso do processo de revascularização pul- efeito benéfico independe do tipo de meio úmido
par1 7·58·59. Estudos experimentais demonstraram e está limitado pelo período de permanência ex-
/f que a presença de microrganismos no canal le- tra-oral ou seja, se esta região for contaminada
i vou à formação de microabscessos entre o teci- por bactérias do m eio de armazenamento ou do
do pulpar isqu êmico e a frente de cicatrização próprio m eio oral, o meio de armazenamento
oriu nda da região apical comprometendo o pro- úmido pode favorecer a sobrevivência bacteriana
cesso de revascularização do tecido pulpar 58 . e comprometer o processo de cicatrização.
Entretanto, mesmo dentes com rizogênese
incompleta apresentam discrepâncias nos índices REGENERACÃONERVOSA
de cicatrização pulpar quando comparados os le- PÓS-TRAUMA
vantamentos clínicos e os estudos experimentais,
sendo que estes últimos apresentam os melhores Outro importante aspecto a ser considerado
resultados. Evidências su gerem que, em dentes na cicatrização pulpar após lesões com desloca-
p erman entes joven s, outros aspectos tais como o mento, que envolvem a ruptura do feixe vascu-
comprimento da raiz, e fatores relacion ados ao lonervoso apical, é a regeneração das fibras n er-
meio e período de . armazenamento extra-oral, vosas. Estudos experimentais em gatos e ratos
também participam na evolução da cicatrização demonstraram que a reinervação pulpar após o
pulpar após o reimplante23 • reimplan te dental, acontece sempre que há a re -
O comprimento do tecido pulpar apresen- vascularização e regeneração do tecido pulpar
tou-se como um forte determinante da ocorrên- embora se saiba que a densidade n ervosa nunca
cia de re vascularizaçã o após reimplantes 23 e retorna aos níveis norrnais 14 uo4,10 s. Também aqui,
auto-transplantes 29 . Como a cicatrização do teci- à semelhança do que ocorre n a revascularização,
do pulpar é o resultado da competição entre a o tecido pulpar pode ser reinervado pela cicatri-
frente de cicatrização que se inicia no ápice e a zação das próprias fibras o riginais, rompidas du-
invasão b acteriana que se dá a partir da superfí- rante o deslocamento dental, ou pela prolifera-
cie da raiz contaminada, pela via an acorética ou ção de axônios colaterais originados de fibras da
ainda através da região cervical danificada, nos região adjacente ao forame apical1 41 • Este fenô-
/ dentes com rizogênese completa a invasão bacte- meno da regeneração nervosa, ao m esmo tempo
riana é favorecida devido à distância e relativa que é dep endente da revascularização do tecido
lentidão da frente de revascularização 1º·23 . pulpar, influencia n a sua cicatrização. Estudos
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

experimentais demonstraram que as fibras ner- latada após lesões traumáticas em dentes perma-
·,
vosas regeneradas possuíam neuropeptídeos nentes, em freqüências que variam de 3,0 % a
como a SP e a CGRP que, entre outras proprie- 24%º9 ·3 6•5 º· 55 •67 ·8 u 4 o.i 72 _ Esta deposição acelerada de
dades, promovem a cicatrização tecidual uma dentina se deve a falhas na regulação neurológi-
vez que são vasoativos e funcionam como fatores ca da atividade secretora dos odontoblastos, du -
de crescimento para células endoteliais . Por ou- rante a reva scularização e reinerva ção que se se-
tro lado, a quantidade e distribuição das fibras gue à uma lesão traumática. A presença do pa-
nervosas cicatriciais depende do tipo celular pre - rassimpático na polpa foi descrita acompanhan-
dominante no tecido cicatricial qu e substitui a do o percurso do trigémeo, exercendo sobre o
polpa isquêmica sendo que a maior densidade simpático uma inibição da sua atividade estimu-
nervosa foi observada quando houve neoforma- ladora da função secretora dos odontoblastos, a
ção de odontoblastos capazes de depositar denti- deposição de dentina32-5 u 2 . Est a regulação tam-
na nas paredes do canal rad icular 1º4 • 105 • Esta inte- bém poderia ser realizada à distância, através de
ração entre a atividad e nervosa e a rem odelação elementos presentes no sangue 6 6• 159 . Como opa-
tecidual, conhecida como neurotropismo, foi de- rassimpático acomp anha o trajeto das fibras
monstrada em áreas de dentinogênese ativa e sensoriais do trigémeo e atua antagonicamente
explica a grande ocorrência de obliteração do ca- ao simpático, regulando a atividade secretora
nal radicular pós-traumática como resultado da dos odontobla st os 5 L 52 , uma lesão ao feixe ner-
cicatrização pulpar após traumatismos que en- voso apícal, quando de um tra uma, se manifes-
volvem o feixe vasculonervoso periapical. taria d e duas formas associadas: l) perda de
sensibilidade da polpa - resultante da lesão às I
OBLITERAÇÃO po CANAL fibras do trigémeo; 2) perda da inibição da ativi-
RADICULAR POS-TRAUMA - OCR dade sintetizadora de dentina pelos odontoblas-
tos, com con seqüente obliteração do canal radi -
A deposição de tecido min eralizado nas pare - cular - resultante da lesão das fibras parassim-
des do canal radicular é um processo fisiológico de páticas. Dependendo do mecani smo pelo qual o
envelhecimento ou de defesa da polpa vita l. Du- parassimpático atua, seu efeito inibido r sobre a ,.,
rante a rizogênese, esse ritmo é de 6,0 µm/d ia e atividade secr etora dos odon toblas tos só poderia
mais tarde, durante a deposição de dentina se- ser restaurado após a completa reinervação ou
cundária, de 0,8 µm /dia. A dentina terciária ou revascularização da polpa. O resultado deste
reacional é depositada localmente, em resposta a descon trole seria uma diminuição rápida da luz
um estímul o agressor, num ritmo de 3,5 ~tm/dia. do canal radicular ob servada radiograficamente
Esta resp osta p ode ser consideravelmente acele- n o período de a té um ano após o trauma, le -
rada após traumatismos dentários, autotrans- vando a uma obliteração da cavidade pulpar
p lames92·1ºº e tratamentos ortodônticos62 • que p ode ser parcial - OCRP - luz do canal
Embora existam na literatura referências à marcadamente diminuída, m as visível radiogra-
ocorrê ncia e natureza cicatricial b enign a das ficamente (Figura 17.67), ou total - OCRT -
"calcificaçõ es pulpares" após lesões traumáti- luz do canal n ão é observada radiograficamente
cas39·40·86·9º·112·133· 142, foram Andreasen e colabora- (Figura 17.68). A esta obliteração podem so -
dores09 que, em 1987, descreveram a deposição m ar-se a calcificação distrófica, estimulada pela
acelerada de tecido minerali za d o ao longo das resposta imune diante da presença de bactérias
pared es do canal radicular como uma con se - e ainda, a mineralização de trombos e coágulos
qüência do reparo pulpar após a lesão do feixe resultantes da h emorragia pós -tra uma. Entre -
vasculon ervoso apical, denominando-a oblitera - tanto, independentem ente do aspecto radiográ-
ção do can al radicular pós-tra umática (Figura fico, o espaço ocupado pelo tecido pulpar se
17 .66). Desde então esta ocorrência tem sido re- mantém histologicamente .
TRAUMATISMO DENTÁRIO

• flG 17.{!6'
Evolução de obliteração do
canal radicular observada radio-

" .•...,;-;,·
,.,.,.
graficamente 6 meses após sublu-
xação do elemento 22.

.. '

' ;r
1
i

• rm. r1.61 • fij([í. 'i'1.fz,Q

Obliteração parcial do canal radicular - apesar de Obliteração total do canal radicular - luz do ca-
, 1 marcadamente diminuída, a luz do canal radicular do nal radicular do elemento 11 não é visível radiogrofi-
elemento 21 ainda é visível radiograficamente. camente.

A ocorrência de OCR foi relacionada com al- com base na observa ção de urna maior freqüência
guns fatores, tais como o tipo de lesão traumática de OCR após fixação com bandas ortodônticas
• • e o grau de desenvolvimento radicular no m o-
mento do acidente, Segundo dados obtidos de le-
quando comparada com a técnica de ataque ácido
e resina composta. Além disto, o completo reposi-
vantamentos clínicos, a OCR é comum após le- cionamento do dente deslocado resulta num au-
sões por luxação que afeten, o feixe va sculoner- mento da freqüência de OCR em relação à ausên-
voso, mas que permitam a sua revasculariza- cia ou reposicionamento incompleto.
ção38·9º·138·142·155. Com relação ao estágio de desen- Clin icamente os dentes portadores de OCR
f
volvimento radicular, é consenso na literatura que podem apresentar-se com um tom mais escuro
( a OCR é predominante em crianças com menos em relação ao adja ceme, gera lmente amarelado.
de 11 anos de idade, com rizogênese incomple- Esta alteração de cor se explica pela m aior espes-
) ta09·38·55·9º. Além disso, Andreasen et al. 09 também sura da camada de dentina que, tornando o den-
relataram o tipo de fixação e o grau de reposição te mais opaco, leva a uma maior reflexão de luz
do dente deslocado como fatores determinantes para a superfície 160 • A resposta às provas térmicas
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

de vitalidade pulpar geralmente é negativa. Já a Diagnóstico Das Alterações


resposta à prova elétrica é positiva embora apre- • Pulpares Pós-Trauma
sente limiares mais altos, principalmente nos ca-
sos de obliteração generalizada e após longos pe - PROVAS DE VITALIDADE PULPAR
ríodos de observaçãoº 9 ·38, 9 º.
Durante muitos anos a mera observação ra- A definição da condição pulpar pós-trauma
diográfica da diminuição da luz do canal represen- tem encontrado dificuldades relacionadas prin-
tou motivo p~ra a realização do tratamento endo- cipalmente às limitações das técnicas de exame
dôntico radical. Esta indicação se baseava na pre- e diagnóstico atualmente disponíveis uma vez .
missa de que as alterações pulpares responsáveis que são indiretas, cronologicamente isoladas e
pela obliteração fatalmente levariam à necrose refletem somente alguns parâmetros do proces-
pulpar e que a oblitera ção total do canal radicular so de reparo. Estas deficiências se tornam críti-
inviabilizaria um futuro acesso ao mesmo caso a cas, principalmente no período imediato após o
intervenção endodôntica se tornasse necessária. trauma, quando existe uma premência de se
Entretanto, não existem evidências científicas, clí- planejar um tratamento que res tabeleça, o mais
nicas ou experimentais, que sustentem estas pre- cedo possível, a estética e a função dos dentes
missas . A análise histológica de polpas removidas envolvidos. Entretanto, é justamente nesta fase
de dentes portadores de OCR nos quais fo i reali- que a cicatrização pulpar pode apresentar fenô - 1 .

zado o tratamento endodôntico profilático, de- menos intermediários cujas características clíni-
monstrou que se tratavam de polpas viáveis, po- cas e radiográficas se confundem com aquelas
rém com características de senilidade 112 • Acompa- de dentes necrosados. A ausência de resposta
nhamentos clínicos de dentes portadores de OCR, aos testes de vitalidade pulpar representa um
realizados durante períodos de até 20 anos, relata- exemplo clássico, e tem sido freqüentemente
ram índices de altera ções periapicais que varia- rela ta da o3,os,os.33, 36,39,ss,s 1,ss , s9,127,135, us,1 s1, t s1, 114. Esta
vam de 7 a 16% 09, 1 5, 33, 9 º,14º·, demonstrando que, perda d e sensibilidade, descrita na literatura
embora a necrose pulpar represente uma compli- como um estado de choque pelo qual passa a
cação tardia da OCR, sua freqüência relativamen- polpa após o trauma, ainda que permanente, y'
te baixa não justifica a realização do tratamento não pode ser associada à n ecrose pulpar como
endodôntico radical profilático, principalmente demonstrado no estudo realizado por Bastos &
quando considerado o grupo de maior risco de Cortes 37 . Os resultados obtidos a partir de um
ocorrência de OCR: luxações moderadas em den- estudo prospectivo da r esposta às provas de vi -
tes com rizogênese incompleta. Quanto à dificul- Lalidade pulpar após lesões traumáticas na den-
dade técnica da intervenção radical, estudos de- tição permanente, permitiram confirmar a per-
monstraram que, embora a fase de acesso ao ca- da temporária de resposta à s provas de vitalida-
nal radicular seja trabalhosa e requ eira habilidade de pulpar como um fenômeno intermediário
e experiência, n ão representou empecilho para o durante a cicatrização pulpar pós -trauma, prin-
sucesso do tratamento endodôntico uma vez que cipalmente após lesões por luxação com deslo-
foram observados 80% de cicatrização periapical camento. O estudo de concordância entre o di-
após o tratamento endodôntico radical de dentes agnóstico in icial, realizado até 30 dias após o
com OCR portadores de lesão periapical5 7, l 4 7 • Ten- momento do trauma, e o diagnóstico final, r ea-
do em vista as considerações tecidas acima, o tra- lizado entre dois e 69 m eses após o trauma,
tamento endodôntico radical de dentes portadores demonstrou que houve uma modificação da
de OCR não se justifi ca e não é capaz de solucio- condição pulpar ao longo do período de acom -
nar alterações de cor já instaladas, decorrentes da panhamento, quando considerada a resposta às
maior espessura de dentina . Não obstante, quan - provas de vitalidade pulpar. Se por um la do, a
do o diagnóstico da obliteração se dá no seu iní- resposta inicial positiva representou um bom
cio, a realização ou não do TER deve levar em indicador de manutenção da vitalidade pulpar
consideração o tratamento restaurador, no caso de (valor pr editivo po sitivo = 91, 7 % ) (Figura
dentes portadores de fraturas, ou a opção dopa- l 7.69A) , a ausência de sensibilidade no p eríodo
ciente, devidamente esclarecido sobre os riscos de imediato após o trauma não pode ser relaciona-
alteração de cor ou de um tratamento endodônti- da à evolução de necrose (valor preditivo nega-
co radical futuro se necessário. tivo = 39,1 %) (Figura 17.69B).
TRAUMATISMO DENTÁRIO

NTROLE FINAL CONTROLE OLEFINAL

VITAIS
68 dentes ~ .,.,,., VITAIS
87 dentes
VI TAIS
68 dentes
31 dentes (58,3%) VITAIS
87 dentes

RESPOSTA RESPOSTA
INOEFINIQOS lNOEFINIOOS
5.2 dentes 12 dentes (17,6%) 3 dentes NEGATIVA 3 dentes (6,2%) NEGATIVA
52 dentes 3 dentes
"
NECROSADOS 1 dente (100%)
~ NECROSADOS NECROSADOS ~
18 dentes (34,6%)
NECROSADOS
1 dente 31 dentes 1 dente 31 dentes

Valor Preditlvo Positivo = 82,40/o 70,8% a 90,20/o Valo< Predltlvo Negativo = 38,00/o 25,0% a 52,8%

• FIG. 'q.6~.A • !F~G. 11'.ía1193


A presença de sensib11idade pulpar, no período ime- A perda de sensibilidade pu!par no pe,iodo imediato
diato após o trauma, represento um bom indicativo de após o trauma, pode representar um fenômeno interme-
manutenção do vitalidade pulpar a médio e longo prazo diário do processo de cicat,izoção não podendo ser asso-
uma vez que o maioria dos casos que apresentavam ciado à evolução de necrose pu!pa,: Observa-se que a
resposta positiva no primeiro exame manteve esta res- maioria dos casos que iniâalmente não respondia às provas
posta ao longo do segmento. Fonte: Bastos 8. Côrtes, de vitalidade pulpar voltaram a responder positivamente ao
2000. longo do segmento. Fonte: Bastos 8. Côrtes, 2000

A expli cação para tal fenô meno res ide n o api cais e reabsorções radiculares inflama rórias,
fato das provas de vitalidade pulpar indicarem a requerem um período mínimo para serem obser-
situação do contingente sensorial da polpa e n ão vados radiograficam ente. Entretan to, esta espera
do seu suprim en to san güíneo, responsável, em po r sinais m ais contundentes da n ecrose pulpar
última instân cia, pela nutrição e m e tabolism o pode colocar em risco a própria m anuten ção de
pu lpares. Como ap ós um traumatismo a revascu - dentes permanentes jovens em fun ção da fragili -
larização é um processo mais ráp ido e eficien te dade de su as paredes radiculares. A busca de
do que a recuperação do feixe n ervoso apical, o uma avaliação m ais obj etiva da con diçã o da cir-
• 1
resultado é um den te vital, m as in sensível difi- culação sangüínea da polpa res ultou n o desen-
cultando, desta forma, a avaliação da real condi- volvimen to de técnicas que se p ropunham a
ção pu lpar após o traumaH 8 •37 ·88 . Outro fator im- m edir o flu xo san guíneo pulpar. Destas, a utiliza-
p ortante a ser levado em con sideração d urante a ção da tecnologia dos raios laser - "FDL"- fluxo-
interpre tação das repostas obtidas das prova s de m etria d e laser doppler - fo i a m ais estudada
sensibilidade pulpar é o fat o das lesões traumáti- com o alternativa de registro de alterações do flu-
ca s acom eterem , na su a m aioria, dentes jovens xo sangüíneo em den tes hígidos e da revasculari-
• • ainda com rizogên ese incompleta e em fa se de
erupção que, sabidamente n ão resp ondem satis-
zação de dentes trau m atizados 11 · 116· 1 17· 130 . Esta téc-
nica u tiliza um feixe de luz a partir de um laser
fa toriamen te à s p rovas de vitalidade pulpar4 7· 69 . hélioln eon que, quando refletido p elas células
vermelhas circulan tes, sofre uma mudança de
FLUXOMETRIA PULPAR A LASER freqüên cia de acordo com o pr incípio doppler.
Essa fração da luz, devolvida com distorção, é
Conforme exposto anteriormente, embora o p rocessada para produzir um sinal qu e reflete o
progn óstico pulpar seja determinado por fatores fluxo de h em ácias e a velocidade média dessas
1
presentes no momento do trauma e no período células . Este registro é, então, utilizado como
! imediato, a definiçã o da con dição pulpar só p ode uma m edida do fluxo sangüíneo, sendo o valor
ser realizada a m édio e lon go prazo uma vez que exp resso com o u ma percentagem da escala com-
os sinais definitivos de necrose - alterações peri- pleta de deflexão. Estudos testaram a aplicabili-
CIÊNCIA ENDODÓNTICA

dade clínica des ta técnica no monitoramento da quemia pulpar que leva a uma maior permeabi-
vitalidade pulpar de den tes traumatizados e de- lidade vascular numa tentativa de repor o supri-
monstraram que, a n atureza do sinal obtido for- mento sangüíneo do tecido isquêmico. Outro fa-
nece dados sobre a situação da circulação sangüí- tor a ser considerado é o fato de que durante as
nea pulpar permitindo disti nguir precocemente fas es inicias da angiogênese, os vasos imaturos
dentes vitais ou necrosados. A partir desta s con- neoformados não possuem membrana basal fa -
clusões o faser doppler foi indicado como uma zendo com que haja um grande extravasamento
promissora técnica de determinação da v italidade de células sangüíneas para os tecidos adjacentes.
pulpar, quando comparada aos métod os indire- Seja em função da hemorragia intrapulpar pós- ,
tos disponíveis. As principais vantagens desta traumática, seja devido à perda de eritrócitos pe-
técnica seriam o fato de não ser invasiva, ser de los vasos neoformados, a presença de sangue na
utilização relativamente simples e fornecer um intimidade do tecido pulpar é vista através do
registro p reciso e reproduzível do fluxo sangüí- esmalte e da dentina, tornando a coroa rósea
neo pulpar 71 • 116·uº. Como desvantagens deve-se (Figura 17. 70). Uma vez restabelecida a circula -
ressaltar que é uma técnica dispendiosa, dificul- ção, a coroa retoma sua coloração normal. Este
tando seu uso na clínica, e o fato da p resença de fenômeno pode ser concomitante com a perda
alteração de cor da coroa impedir a leitura do temporária da sensibilidade pulpar e com altera-
aparelho8 2 · 125 . Sendo assim, até que surjam novos ções radiográficas transitórias significando, cada
métodos de avaliação do fluxo sangüíneo pulpar, uma destas manifestações clínicas, fases do pro-
a abordagem sintomática, radiográfica e visual cesso de cicatrização pulpar na ausência de infec-
permanece como o p rincipal m eio de diagnóstico ção. Por sua vez, a invasão do tecido pulpar isquê-
da s alterações pulpares pós-trauma. mico por bactérias e seus subprodutos pode le-
var à a lterações de cor definitivas da coroa em
ALTERAÇÕES DE COR DA COROA função da impregnação dos túbulos dentinários
p elo tecido pulpar n ecrosado e subprodutos de
As alterações de coloração da coroa são fre - sua autólise. Neste caso a coroa dental se torn a
qü entes após os traumatismos den tários, mas escurecida com uma tonalidade arro x eada,
/
n em sempre estão relacionadas com o diagn ósti - amarronzada, acinzentada ou mesmo azulada.
co de necrose uma vez que também podem ser (Figura 17.71 ). Outra a lteração de cor que não
transitórias. As alterações de cor transitórias de- deve ser confundida com aquela causada pela
correm de luxações moderadas que não são sufi- n ecrose pulpar é a tonalidade amarela decor-
cientes para ocasionar o rompimen to completo rente da obliteração do canal r adicular (Figura
do feixe vasculonervoso, mas causam uma is- 17.72 ).

Tonalidade rósea da coroa do e/emento 21 resultan-


te de hemo,mgia intra-pulpar pós-trauma Uma vez
restabelecida o circulação a coroa retomo suo coloração
normal.
TRAUMATISMO DENTÁR IO

. ,.Fi~. 17.11
Escurecimento progressivo e permanente do ele-
mento 11 resultante da impregnação dos túbulos
dentinórios pelo tecido pulpar necrosado e subprodutos
de sua autó//se.

• f~G. fl,11;
Tonalidade amarelo da coroa do elemento 27 ca-
racterístico de obliteração do canal radicular pós-trauma.
' ;! Esta alteração de cor se deve à maior espessura da
1
i
camada de dentina.

ALTERAÇÕES RADIOGRÁFICAS ruptura dos tecidos periapicais desencadeia uma


resposta inflamatória local, cujos mediadores
As alterações radiográficas tradicionalmente estimulam a atividade elástica necessária para a
associadas ao diagnóstico de n ecrose pulpar são : remoção dos agentes agressores e subprodutos
presença de rarefação óssea periapical (Figura da inflamação. Este estímulo também pode se
17. 73), presença de reabsorções radiculares ex- dar pela reação à uma infecção transitória que
ternas inflamatórias (Figura 17.74) e paralisa- se instala no periápice. Esta fase seria identifica-
ção da rizogênese (Figura 17.75). Não obstan- da, radiograficamente, por áreas radiolúcidas no
te, áreas radiolúcidas periapicais também po - periápice e na porção apical do canal radicular.
dem representar manifestações transitórias as - O controle do a gente agresso r conduz a resposta
sociada s ao processo de reparo pulpar após lu- inflamatória p ara sua fase proliferativa, que
xaçõe s em dentes com rizogênese comple- n este caso leva à cicatrização através da deposi-
ta 5·36·46. Est e fenômeno foi primeiro descrito por ção de tecido mineralizado. A esta fase corres-
Andreasen 5 que o denominou reabsorção apical ponde a normalização radiográfica e, não raro,
transitória ou "TAB" do inglês: transient apical a deposição continuada de tecido mineralizado
breakdown. Evidências obtidas de levantamen- representada pela OCR. Como o exame radio -
tos clínicos 05 e estu dos experimentais 17º· 17 1 indi- gráfico mostra o resultado final da atividade os-
cam que este processo está rela cionado ao re- teoblá stica e osteoclá stica adjacente à superfície
paro pulpar e periapical após a lesão do feixe radicular, mas não o contexto em que ocorrem,
vasculonervoso de dentes permanentes jovens estas poderiam ser erroneamente associadas à
mas com o ápice já completamente formado. A necrose pulpar (Figuras 17. 76A a D).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

1 •

• FIG., 11.'ll • fm. 11.14 • FIG. __17.75


Aspecto radiográfico de reab- Aspecto radiográfico de Paralisação do rizogênese do
sorção ósseo periapicol nos ele- reabsorção radicular externa infla- elemento 21 em decorrência de
mentos 72, 71 e 21 característico matório progressivo relacionado à necrose pulpar.
de necrose pulpo1: presença de infecção do canal
radiCLt!ar no elemento 11.

• i:IG• .'ff/l(t~
Seqüência de reabsorção apical
transitória - TAB após luxação extrusivo
do elemento 11: Aparecimento de pe-
quena área radiolúcida periapical 3 me-
ses após o trauma.

• FIG ... 11.163 __ .


Controle radiográfico realizado 6
meses após o trauma revelando que não
houve aumento da área radiolúoda.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

9 meses após o trauma inicia-se a


cicatrização da região apical sem que
nenhuma inte,vençõo endodôntica te-
nha sido realizada.

• FiG. 'fl.1fül
Completa cicatrização da região

-
apical 1 ano após o trauma.

As reabsorções radiculares internas, também gocitose e aquela oferecida pela dentina exposta
chamadas de reabsorções do canal radicular, fo- não é suficiente para sustentar o processo por
ram descritas por Andreasen & Andreasen 20 como mais de duas ou três semanas, é necessária a pre-
um achado raro após lesões traumáticas na denti- sença de um fator de manutenção para a progres-
ção permanente, tendo sido observadas numa fre- são da atividade osteoclástica . Na ausência deste
/ qüência de 2,0 % após luxações. Foram classifica- fator a reabsorção é transitória e seguida de repa-
I das em reabsorção do canal radicular por substi - ro. No caso das reabsorções internas inflamatórias
tuição e reabsorção inflamatória do canal radicu- progressivas a atividade de reabsorção é alimenta-
lar. Ambas dependem da p erda da camada odon- da pela infecção presente em · áreas de necrose
, toblástica e de pré-dentina para que as células parcial localizadas nas porções mais coronárias da
elásticas tenham acesso à superfície mineralizada polpa, subjacentes à urna área de inflamação pul-
da dentina. Entretanto diferem quanto à natureza par crônica, onde ocorre a atividade de reabsor-
do estímulo responsável pela manutenção da ati- ção161'17º. Radiograficamente observa-se um au-
vidade de reabsorção. Como os osteoclastos re- mento do tamanho do can al radicular de forma
• 1
qu erem uma estimulação contínua durante a fa- oval ou arredondada2 º·21 (Figura 17.77).

. ·)

• FIG. f1.11 .
Aspecto radiográfico do reabsorção interna inflama-
,. tória progressivo. Observo-se uma deformação do canal
t • radicular do elemento 27 na altura do terço médio.
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

A reabsorção interna transitória foi descrita e corresponde a uma das manifestações de "TAB"
na porção mais apical do canal radicular, associa- descritas por Andreasen5 •
da ao processo de revascularização, como resul- A reabsorção por substituição acontece a par-
tado da atividade osteoclástica necessária para a tir de uma metaplasia de células do tecido pulpar
reabsorção dos agen Les agressores dessa região, em células ósseas resu ltando na substituição da
representados pelos tecidos destruídos e por áre- dentina das paredes internas do canal radicular
as de pequena contaminação. Neste caso, seria por osteodentina. Radiograficamente observa-se a
um processo autolimitante, não raro seguido de princípio um aumento irregular do tamanho da
obliteração do canal radicular5 ·36• 17º·17l _ Também câmara pulpar, seguido da total obliteração do es-
foi denominada reabsorção de superfície interna paço do canal radicular (Figuras l 7.78A a D ).

• t ·i tiS. rr.ni~.a o
Seqüencia de reabsorção interna por substituição. Obsetva-se a deposi-
ção de teodo mineralizado na intimidade do tecido pulpar do elemento 21
após uma luxação extrusiva.
TRAUMAT ISMO DENTÁRIO
'
,..,.,.,...,J,.~__..~~.,,_.~-.v,.~,,<~........,..,_,,.......,....._.,.,~,._......_,,,,u.,°"""•""'"-'-'' . ,.,_, _ ,~,~,,......_u.,;,cn,<t'U.,.,.,..,_.,.,.,.,,- .-~~----··~-·-·---,...,,.,.,,...,,.,........,.,_..--,.,-~~~~· ......-......,_. ...._..,.,,.,,...,....,_..., ...,._,,,.,,...,..,,.,.,..,,..,._ .•. __ _~ - -

COMPROMETIMENTO zem durante a cicatrização e remodelação do li-


PERIODONTAL PÓS-TRAUMA gamento periodontal. Além disso, ao contrário
do osso e do ligamento periodontal, o cemento
A lesão das estruturas de sustentação conco- não é vascularizado, e é geralmente mais resis-
m itante com a lesão do feixe vásculo-nervoso tente à reabsorção. Duas estruturas podem ser
apical é característica das lesões por luxação. Este relacionadas à esta menor susceptibilidade à rea-
comprometimento tanto pode se res tringir à rup- bsorção: a camada mais externa constituída pelos
tura das fibras do ligamento periodontal, como cementoblastos que n ão respondem ao parator-
nas concussões e sub:luxações, quanto pode se mônio - PTH, um potente mediador da reabsor-
estender à superfície da raiz e osso alveolar como ção óssea 109 , e a camada mais interna, sem estru-
nas luxações com deslocamento parcial ou total tura, altamente mineralizada , com cerca de
(avulsão) do elemento dental. Sendo assim, da lüµm de espessura, descrita como camada hi-
natureza e extensão da lesão à cada uma das alina de Hoper-Well-Smith ou como cemento in-
estruturas que compõem o aparato de sustenta- termediári o. Um estudo do seu desenvolvimento
ção dentária dependerá a qualidade da cicatriza- sugere que ela não é nem dentina e nem cemen-
ção periodontal das lesões por luxação. to; ao contrário, uma forma de esmalte secretado
O ligamento periodontal é uma fina ca- pelas células da bainha epitelial radicular e sua
mada (:; 200 µm) de t ecido conjuntivo especia- função seria a união do cemento com a denti-
lizado que circunda a raiz dentária formando na79. A integridade desta camada tem um papel
uma barreira protetora entre o cemento e o osso central na prevenção das reabsorções inflamató-
alveolar. Consiste de fibroblastos e de uma densa rias uma vez que atua como uma barreira efetiva
rede de fibras colágenas responsáveis pela anco- selando externamente a abertura dos túbulos
ragem do dente ao osso alveolar. Dispersos nesta dentinários no seu contato com a camada ce-
I
rede de fibras encontram-se numerosos vasos mentoblástica . Além das características descritas
' sanguíneos, fibras nervosas e os restos epiteliais acima, estudos experimentais identificaram um
da bainha epitelial radicular, os restos epiteliais de inibidor de protease que pode ter sua origem no
Malassez que também formam uma rede ao re- ligamento periodontal e/ou na camada cemento-
dor da raiz. O tecido ósseo, em condições nor- blástica11º.
mais, não invade o espaço do ligamento perio- O processo alveolar é a região dos maxila -
dontal, respeita-o embora ambos sejam bastante res que contém os alvéolos para os dentes e
dinâmicos e estejam em constante remodelação. constitui-se das tábuas corticais externas, de uma
Não existem teorias definitiva s para explicar esta esponjosa central e do osso alveolar propriamen-
convivência harmônica mas sabe-se que quando te dito . O osso alveolar propriamente dito corres-
ÇJ ligamento periodontaL ou partes dele estão ponde à lâmina dura observada radiograficamen-
. ausentes, estabelece-se uma condição extrema- te e consiste em uma lâmina óssea perfurada na
mente propícia ao aparecimento das reabsorções qual estão inseridas as fibras periodontais e por
· dentárias79 . onde chega o suprimento sanguíneo do ligamen-
O cemento dentário é um tecido conjunti- to periodontal. As corticais são ca madas superfi -
vo duro, muito semelhante ao osso, que recobre ciais de osso lamelar com fibras delgadas susten-
as raízes do dente e tem como principal função a tadas por osso compacto. O osso esponjoso que
·}inserção das fibras do ligam ento periodontal. Ele ocupa a p arte central do processo alveolar é um
tem uma matriz orgânica constituída em grande osso m embranoso disposto em trabéculas reves-
part e de colágeno e substância fundamental tidas externamente por uma fina camada de cé -
amorfa, e é 50% mineralizadà com hidroxiapati- lulas conjuntivas chamada endósteo, e ocupa-
ta. Sua matriz orgânica é constituída de fibras das internamente pela medula óssea que tem
colágenas intrínsecas, secretadas pelos próprios um importante papel hematop oiético e na
,,cementob1ast os, além das fibras extrínsecas, co - odontogénese . É importante ressaltar qu e o
t nhecidas como fibras de Sharpey, que são for- osso alveolar possui uma plasticidade muito
I madas por fibroblastos do ligamento p eriodontal grande e está em constante estado d e remodela -
I e incluídas na m atriz do colágeno durante a rizo- ção ~ atividades destrutiva e formativa coorde-
gênese. Como o cemento não tem a capacidade nada, para responder às suas demandas funcio-
de remodelação as fibras de Sharpey não se refa- nais e nutricionais.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
------- - ----- ·----·-·
Reabsorções Radiculares Externas

As reabsorções radiculares extern as repre -


sentam urna das principais complicações do pro-
cesso de reparo das estruturas de su stentação
podendo levar, muitas vezes, à perda do elemen -
to dentaJ2,6,s.14,16,20,26,3s,ss,77.s1.121. As reabsorções ex-
ternas pós-traumáticas podem ser classificadas
em dois grandes grupos: inflamatórias e por
substituição . O fator desencadeante, que estabe-
lece condições propícias à atividade elástica na
superfície radicular é o mesmo em ambos os ti-
pos, ou seja, a lesão da camada cementoblástica.
Dependendo da presença de um fator de m anu -
tenção que estimule continuamente as células
elásticas, ambas as reabsorções poderão ser pro-
gressivas ou transitórias. As diferenças no meca -
nisrno de manutenção do processo reabsortivo _ _JIG. _17. 79 __ _______
definirá a natureza da reabsorção, se inflamató-
Reabsorção radicular externa de superfície.
ria ou por substitui ção.
Radiograficamente observa-se a cicatrização de um de-
Nas luxações mais brandas em que o dano se feito resultante da atividade dóstica na superfície da raiz
restringe ao ligamento periodontal, a compressão, do elemento 21.
estiramento ou ruptura das fibras periodontais
leva a urn quadro hemorrágico, formação de ede-
ma e estruturação de urna rep osta inflamatória
que, após a remoção do tecido lacerado, culmina Nas luxações mais severas - luxação extru si-
r
com a restauração da arquitetura normal do liga- va e lateral, a ruptura do feixe vasculonervoso ;,
mento periodontal. As reações inflamatórias no leva à n ecrose pulpar e a lesão às estruturas de
ligamento periodontal provocam a liberação de sustentação atinge extensões maiores do liga-
mediadores químicos da inflamação que atuam mento periodontal, da superfície ra dicular e,
estimulando a atividade elástica nos pontos da su - eventualmente do osso alveolar adjacente. Nes-
perfície radicular adjacente em que houve lesão tes casos, o atrito gerado pelo deslocamento do
da camada cementoblástica e de pré-cemento. eleme nto de ntal den tro do seu alvéolo é respon -
Neste contexto, a reabsorção da superfície radicu- sável pela remoção mecânica de grandes áreas da
lar está relacionada a uma lesão localizada na ca- cam ada cem entoblástica levand o à exposição dos
mada cem entoblástica, associada a pequenas áreas túbulos dentinários. Cria-se assim, uma via de
de n ecrose no ligamento periodontal, que não são acesso para bactérias e su as toxinas, oriundas do
suficientes para manter a continuidade do proces- ambiente intracanal infectado, atingindo a super-
so de reabsorção. Sem um estímulo con tínuo, a fície ext erna da raiz, onde serão responsáveis
atividade osteoclástica cessa e a reabsorção pára. pela manutenção de um quadro inflamatório
Outra possibilidade seria que o estímulo sendo que resulta em perda de estrutura óssea e radi-
p equ eno, as células elásticas n ão se sobressairiam cular chamada reabsorção inflamatória progressi-
à um fator de inibição de reabsorção presente na va77-161 (Figuras 17.SOA e B). Acredita-se que o
dentina 169 . Embora a denominação reabsorção de principal mecan ismo de indu ção da reabsorção
superfície esteja consagrada na literatura científica radicular frente à infecção está relacionado com
(Figura 17.79), é importante salientar que ela a capacidade das endotoxin as da parede bacteria-
também é um processo inflamatório, porém auto- na de desen cadear a liberação de fatores ativado -
limitante, por n ão estar associada a outros fatores res da atividade osteoclástica 122 embora muito
de m anutenção da atividade elá stica. Por este p ou co se saiba sobre a resposta dos cementoblas-
motivo, tarnbérn foi chamada de reabsorção infla- tos às citocinas pró -inflamatórias e outros possí-
m atória tran sitória 161 e de reabsorção radicular as- veis fatores locais envolvidos n a m odulação da
sociada à uma necrose mínirna 78 • reabsorção radicular79 .
TRAUMATISMO DENTÁR IO
'
_ . . , . • •.,..,..,.,-~,,..-......~ •........ •-••Y~--·~•• >~ .........,_.~_..,.».ah-••· ~ •.,..,..,,.,_,_,w.,,~.•~·~-·-"'~'"'"~'-"'n~··-··--~V•...,•••·~"'_,,.., ._...........-._.___._ •·~·~--- - · ~ • -••'-•-•--""•'.-,.,,,-,,· ~

• FIG, _'.f1.2~14 __
Reabsorção radicular externa inllamatótia progressi-
va. Radiograficamente observa-se áreas radiolúodas irre-
gulares na superfície externa da raiz dos elementos 21 e
22. Estas áreas correspondem à perda de estrutura
radicular e óssea em função da presença de teodo de
granulação resultante da presença de infecção na luz do
canal radicular

' ;I
1
i

_ __ RG._ n'.808 --·---·----·----- -·-- -- ..


Ilustração esquemática da evolução da reabsorção radicular externa inflamatória progressiva.

Quando grandes áreas do ligamento perio- ta por Andreasen & Hj0rling-Hansen 26·27 . A partir
dontal são removidas ou danificadas a cicatr ização de uma avaliação clínico-radiográfica e histológica
envolve processos distintos 'e competitivos entre de dentes reimplanta dos os autores descreveram
si, originados no ligamento periodontal e osso al- este tipo de reabsorção como sendo uma união
veolar adjacente, e tem como obj etivo o repovoa- direta entre o osso e a superfície da raiz seguida
mento da superfície radicular. A insuficiência de de reabsorção e substituição da estrutura radicular
células do ligamento periodontal viáveis, disponí- por tecido ósseo. Estudos experimentais posterio-
veis para esta cicatrização, leva à fusão entre teci- res13,16,28·74,124 reforçaram este mecanismo demons-
) dos mineralizados da raiz e do osso alveolar, pro- trando o papel de uma extensa lesão ao ligamento
movendo uma substituição gradual dos tecidos periodontal no desenvolvimento desta reabsorção
dentários por osso 75 (Figuras 17.81A e B). A rea- sendo que os conceitos de anquilose e reabsorção por
bsorção por substituição foi primeiramente descri- substituição foram utilizados como sinônimos.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Entretanto, estudos p osteriores7 5· 111 demonstraram Sendo assim, estes conceitos deveriam ser consi-
que a preservação da camada cementoblástica re- derados separadamente uma vez que anquilose é
presentava um fator decisivo na prevenção da rea- o resultado da perda do ligamento periodontal e a
bsorção por substituição originária da fusão entre reabsorção por substituição depende da perda da
o osso medular e a estrutura dentinária da raiz. camada cementoblástica.

Reabsorção radicular externa por substituição.


Radiograficamente observa-se substituição gradual
dos tecidos dentários da raiz do elemento 71 por tecido
ósseo.

I
íl
1

• f~§~..-1!'.f}I 8.
Ilustração esquemática da evolução da reabsorção radicular externa por substituição.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

Os mecanismos indutores e reguladores des- de perda de dentes reimplantad o s. Nas avulsões


te processo, ou seja, os fatores de manutenção da dentárias, além da ruptura total das fibras do li-
reabsorção por substituição, ainda não são co- gam ento periodontal e de dan os à camada ce-
nhecidos plenos e detalhadamente. Acredita-se rnentoblástica, fatores relacion ados ao período e
que, ao perder a camada cementoblástica a su- meio de armazenamento extra-o ral também po -
perfície dentinária da raiz é colonizada por osteo- dem acrescen tar da nos adicionais às fibras do li-
blastos e osteocla stos que normalmente reco- gamento periodontal remanescentes n a supe rfí-
brem o osso medular. Nesta situação, os osteo- cie radicular do dente avulsionado 16 • Além disso,
blastos, em resposta ao estímulo do PTH e das aspectos relacionados ao tratamento imediato e
PGEs, assumem uma forma alongada, com n u - seqüencial também podem inte rferir na cicatriza-
m erosas microvilosidades, e aumentam seus es- ção dos dentes reimplantados. Desde que Andrea-
paços intercelulares, expondo a matriz dentiná- sen & Hj0rting-Hansen26 ·27 correlacionaram os
ria para a fixação dos osteoclastos e desencade- processos de reabsorção e a duração do período
ando o processo de reabsorção da estrutura den- extra-oral, a conduta de se realizar o reimplante
tinária, à semelhança do que ocorre durante a imediato e o posterior tratam ento endodôntico
remodelação fisiológica do tecido ósseo. Este tipo radical tem sido amplamente empregada e diver-
de reabsorção também foi chamado de reabsor- sos estudos experimentais 13· 1º7 · 154 e levantamen-
ção radicular endóstea75 • tos clínicosºl.2 2· 23•34 · 35 •53 ·72· 146 confirmaram a relação
Alguns trabalhos t êm sugerido que existe entre prolongados períodos extra -alveolares a
um mecanismo imunopatológico nas reabsorções seco e a maior ocorrência de reabsorção radicu -
radiculares devido a um possível potencial imu- lar. Sendo assim, o melhor lugar para armazenar
nogênico da dentina8 3• 84 • O fato das proteínas um dente av ulsionado é o seu próprio alvéolo.
dentinárias estarem, desde a odontogên ese, con- Após uma av ulsão as células do ligamento perio-
finadas e isoladas 3 1.1 5s pode caracterizá-las como dontal reman escentes na superfície da raiz são
' 1 antígenos seqüestrados ou seja, antíge nos que privadas do suprimento sanguíneo e perdem
; pela su a localização especial ou formação tardia, seu s m etabólitos celulares armazenados. Isto se
não são apresentados ao sistema imunológico deve à alta permeabilidade das células animais à
d urante o desenvolvimento da tolerância natural água, fazendo com que estas se comportem
ou "construção da memória". Quando expostos corno osm ômetros, inchando em m e io hipotô-
ao sistema imunológico já em atividade, desen- nico e diminuindo em meio hipertônico, de
cadeiam respostas imunopatológicas como é o acordo com o movimento osmótico da água
caso do cristalino e dos espermatozóides . Ao ser sendo que, ta n to o aumento quanto a diminui-
exposta pela lesão da camada cementoblástica ção de líquido são críticos . Para mante r um

1
após um traumatismo, a dentina atuaria como metaboli smo celular fisiológico e proteger as cé-
um antígeno seqüestrado induzindo uma reação lulas contra lesões adicionais da permanência
imunopat ológica responsável, entre outros fato- extra -alveolar prolongada, estes nutrientes de-
res, pela reabsorção radicular. Ex istem pou cos vem ser repostos o mais rápido possível através
trabalhos a respeito do assunto na literatura e o do reimplante imediato ou do armazenamento
tema suscita controvérsias. biológico 3º· u .4s. Em decorrência disto, vários
meios d e armazenamento tem sido propostos
Fatores Determinantes com o obje tivo de repor metabólitos celulares e
Da Cicatrizacão Periodontal propiciar um pH e p ressão osmótica fisiológicos.
Após ReimpÍantes Dentários Teoricame nte, a im ersão do dente em um meio
enriquecido antes do reimplante permitiria a la-
Embora as reabsorções radiculares externas vagem das células n ecróticas e dos debris, mini-
representem uma seqüela da cicatrização perio- mizando a reabsorção inflamatória. Além disso,
dontal de qualquer lesão em que haja o compro- revitalizaria as células sobreviventes, reduzindo
rt metimento das estruturas d e sustentação do ele- a incidência e severidade da reabsorção por
mento dental, sua ocorrência é especialmente substituição, uma vez que células com potencial
)
relevante após os reimplantes dentários uma vez de adesão poderiam estar p resentes para repo-
que se constituem na seqüela mais freqüente - voar a superfície radicular desnuda antes da in-
entre 74 e 96% e representam a principal causa vasão d e células ósseas 134 •
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Os primeiros meios de armazenamento suge- dental durante o período extra-oral, se constata ..;·~
...
ridos na literatura p ara a manutenção do dente na literatura várias tentativas de tratamento da
avulsionado foram a água, a saliva e o soro fisioló- superfície radicular com ligamento periodontal
gico. Entretanto, embora melhores do que o res- destruído ou necrosado, com o objetivo de dimi-
secamento da raiz 1H 5· 6 1 , o benefício proporciona- nuir o risco de reabsorção radicular. Entre outras
do por estes meios é limitado em função de sua foram propostas o tratamento da superfície radi-
baixa osmolaridade45 ·106·1º7, e não foi comprovado cular com vários tipos de soluções fluoreta-
em levantamentos clínicos longitudinais22·24 . da s4u3· 149·150, antibióticos 41 ·59 ' 149, solução de
A utilização de um invólucro de plástico ATP 68·175 e ácidos 176 para remover os restos de liga-
como um meio de proteger o dente avulsionado mento periodontal necrótico da superfície radi-
da desidratação gerada pelo período extra-alveo- cular e fa cilitar a adesão das fibras colágenas.
lar promoveu, em uma situação experimental43, Outras terapias ten taram substituir o ligamento
níveis de cicatrização periodontal semelhantes ao periodontal por m ateriais biocompatíveis80 ou
reimplante imediato. Estes resultados, entretanto, enxertos autógenos93 . Os melhores resultados fo -
também não foram confirmados clinicamente2 4. ram obtidos com a associa ção de fluoretos e anti-
Na busca de outros meios de armazenamen- bióticos41 ·149.
to superiores à água, saliva e à solução salina A participação da parte alveolar do ligamento
estéril, o uso o leite de vaca foi proposto para o periodontal na cicatrização de dentes reimplanta-
a rmazenamento de um dente avulsionado, devi- dos é controversa uma vez que os p oucos dados
do às suas propriedades fisiológicas - pH (6, 5- provenientes de estudos em animais são confli-
7,2) e osmolaridade simila r ao fluido extracelular tantes18·115. Sendo assim, o que se pode concluir
(250-270 mOsm Kg -1), à facilidade de sua ob- atualmente é que o tratamento do alvéolo não
tenção no local do acidente, e ao fato de ser interfere no prognóstico do reimplante 163 .
relativamente livre de bactérias. Entreta nto, os Até a década de 1970, a imobilização dental
benefícios do leite dependem do armazen am ento seguia os mesmos princípios da fixação dos ossos
relativamente rápido (dentro de 15min) do den- maxilares, embora já existisse, desde 1930, uma
te avulsion ado . Embora mantenha a osmolarida - tendência a períodos de imobilização m enores.
V
de e a produção de proteínas pelas células do Hoje em dia sabe-se que a imobilização rígida,
ligamento periodontal prevenindo sua morte ce- necessária a uma b oa con solidação das fraturas
lular42·7º·1º7·128·136·162 o leite é in capaz de repor os ósseas, pode levar a complicações indesejadas
metabólitos perdidos e resta urar a viabilidade ce- quando aplicadas aos dentes luxados ou avulsio -
lular. Sendo assim, faltam a estas células a ener- nados. Estudos experimentais têm demonstrado
gia e os íon s para que ocorra o "repovoamento" que uma movimentação fisiológica acelera e me-
do ligamento periodontal uma vez que não res- lhora a cicatrização do ligamento periodontal di-
tauram a morfologia normal e n ão recobram sua minuindo a ch ance de anquilose den tária 19,102 .
capacidade de diferenciar-se e sofrer mitose, ou Além da n atureza rígida ou flexível da imobiliza-
seja, sua capacidade clonogên ica 42·54•7 º· 1º 7· 162_ ção, outro ítem importante é a duração do perío-
Entre as soluções capazes de res ta urar a vita- do de fixação sendo que períodos mínimos dimi-
lidade das células do ligamento periodontal suge- nuem a ocorrência de anquilose e são suficientes
ridas n a literatura como meio de armazenamen - para p ropiciar a estabilidade n ecessária p ara que
to para dentes avulsionados estão os m eios de o dente avulsionado fique posicionado n o alvéo-
cultura celular como a solução sallna b alanceada lo sem n enhuma força externa incidindo sobre
de Hank - HBSS 42 ·6 M 5•95•132, 134 , 162, o meio de Eagle ele durante o período inicial de cicatrização do
35 1
o,4z e o ViaSpan , º6 · 162, além de um meio rico em ligamento periodontal1 21· 126· 168.
3

fatores de crescimento, obtido a partir do sobre - O tratamento com antibioticoterapia sistêmi-


nadante de uma cultura de fibroblastos perio- ca tem sido su gerido após o reimplante de dentes
dontais humanos87·134. Os resultados de estudos avulsionados com o obj etiv o de se diminuir a
experimentais confirmam que estes m e ios de ar- contaminação da superfície radicular e com isso
m azenamento são ideais para a manutenção ou diminuir a atividade de reabsorção inflamatória.
revitalização das células do ligamento periodon- Além disso, outro efeito do antibiótico seria o
tal. Além da p esquisa de meios de armazena- controle da população bacteriana no alvéolo, o
m ento ideais para a manutenção do elemento qu e é importante no padrão de cicatrização dos
TRAUMATISMO DENTÁRIO

dentes reimplantados, principalmente após um prevenção e tratamento da reabsorção radicular


período extra-oral extenso. Um único estudo ex- externa inflamatória uma vez que esta depende
perimental observo u que a administração p aren- da associação entre a presença de bactérias no
teral de penicilina antes da extração e imediata- interior do canal radicular e túb ulos dentinários
mente após o reimplante dentário resultou em e a lesão ao periodonto e superfície da raiz. Sen-
menor ocorrência de reabsorção inflamatória de - do assim, o tratamento endodôntico radical deve
vido à diminuição das bactérias na superfície ra- ser iniciado dentro de duas a três semanas após o
dicular e na polpa 76 . Estudos posteriores utilizan- reimplante de dentes com rizogênese completa
do doxiciclina 58 e tetraciclina 144·145 observaram para se evitar a propagação de produtos tóxicos
porém, que a administração sistêmica destes an- da polpa necrótica para os tecidos periodontais
tibióticos pouco contribuiu para prevenir a reab- vizinhos 1 1.1 65. A utilização de curativ o a base de
sorção radicular. Os resultados de levantamentos hidróxido de cálcio tem sido recomendada devi-
clínicos também não confirmam o efeito da anti- do às suas propriedades a ntibacterianas, impor-
bioticoterapia sistémica sobre a cicatrização perio- tantes na preven ção da s reabsorções inflamató-
dontal24. rias, e à sua atuação no controle e cicatrização de
Realizado o reimplante, a remoção da polpa quadros de reabsorção inflamatória já estabeleci-
e a limpeza do canal radicular são críticos para a dos 11.44,77. 1os.164 _

PARTE 4 - TRATAMENTO ENDODÓNTICO RADICAL DOS DENTES


A
1
PORTADORES DE LESÃO TRAUMÁTICA
1

O tratamento endodôntico radical dos dentes madora da bainha epitelial radicular, assim com o a
portadores de lesão traumática é indicado nos ca- paralisação de deposição da dentina nas paredes do
sos em que não houve sucesso do tratamento canal observados na radiografia (Figuras l 7.82A e
conservador e/ou quando ocorre a n ecrose pul- 17.82B) . O exame radiográfico é de grande im-
p ar5·10·11·12·16·27. Esta é uma das complicações mais portân cia e nesta situação deve-se tomar o cuida-
• 1

freqüentes em dentes com diagnóstico de luxação, do para não se confundir a imagem do saco peri-
principalmente naqueles que apresentam rizogê- coronário com a presença de reabsorções apicais.
nese completa 1.4.22 . Atenção especial deve ser dada Quando ocorre a interrupção da rizogên ese o fo-
aos sinais e sintomas a serem observados para se rame se mantém aberto e as paredes radiculares
tomar uma decisão de tratamento. Vários fatores estão divergentes n a região apicaL o que inviabili-
já am plamente discutidos em sessão anterior são za o tratamento en dodôntico pelos m étodos con -
.• ·1 determinantes do diagnóstico e prognóstico, es- vencionais, dificultando a limpeza, formatação e
tando dire_tam en te relacionados ao tipo e severi- obturação do canal radicular 1º· 26 • Além disto o
dade da lesão assim como ao grau de rizogênese. tempo de tratamento é muito longo, principal-
Neste capítulo daremos ênfase ao tratamento m ente n os casos de pacientes m ais jovens.
dos dentes com rizogênese incompleta. Nesta Durante muitos anos, a indicação para den-
situação o diagnóstico de necrose pulpar é particu - tes imaturos com necessidade de tratamento en-
larmente delicado devido principalmente à dificul- dodôntico radical foi a cirurgia imediata com
dade de resposta aos testes de sensibilidade pulpar, obturação retrógrada. Entretanto este procedi-
pois as estruturas n ervosas da polpa ainda não es- mento está contra-indicado, uma vez que resulta
) tão completamente desenvolvidas. Fatores que au- em lesão a estruturas. vitais circunvizinhas, alé m
xiliam no diagnóstico são mudança de coloração da de acarretar um problema em ocional para o pa-
coroa e, principalmente a cessação da função for- ciente infantil3 7 •
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• . FIG. f1.82A. __ • _JI~. 17.82~


Elemento 21 apresenta mudança de coloração da A imagem radiográfico revela paralisação da
coroa 3 meses após fratura de esmalte e dentina associa- rizogênese. Observa-se que o diâmetro do canal e
da a subluxação. forame do elemento 21 apresentam diferença em rela-
ção ao elemento 11 com vitalidade. Além disto, nota-se
rarefação óssea penopical no elemento 21.

Sabe-se que a revascularização é um fenôme- sença de áreas radiolúcidas indicativas de reabsor-


n o provável, fato este que contra-in dica o trata- ção inflamatória externa são de fundamental im-
m ento endodôntico ra dical imediatamente após o portância para definir a presença da necrose pul-
traumaL2, 3,4 ·7 . É prudente realizar uma observação par (Figuras 17.83A e 17.83B). Quando indica-
cuidadosa que p ode obedecer a um período inicial do, o tratamento endodôntico deve se iniciar o
de 2 em 2 semanas nos primeiros 3 meses; pas- mais breve possível pois uma vez instalada a reab-
sando à periodicidade trimestral durante um 1 sorção radicular inflamatória nos dentes imaturos,
ano, que é, na maioria das vezes, suficiente para sua progressão é rápida devido à delicadeza das
se definir o diagnóstico 7 . Os dados radiográficos de paredes dentinárias, podendo levar à sua destrui-
paralisação do desenvolvimento radicular e a pre- ção em curto espaço de tempo (Figura 17.84).

. _FIG. 17.83,A~-------·--··· -·--· .... .


Imagem radiográfico dos ele-
mentos 11 e 12 com diagnóstico de
fratura coronária de esmalte e
dentina e subluxação, examinados 2
meses após o ocidente. Observam-
se áreas radiolúcídas na superfície
das raízes, indicativas de reabsorção
inflamatório e necrose.
T RAUMATISMO DENTÁRIO

• fiG.11.$313
Controle radiográfico realiz a-
do 15 dias após o reimplante do
elemento 21 mantido seco durante
20 minutos após a avulsão. Obser-
vam-se áreas radiolúcidos no su-
perfície externa da região apical in-
dicativas de reabsorção inflamató-
no e necrose.

• FIG.17.34
Controle radiográfico do ele-
mento 21 após subluxação. As pare-
des radiculares delgadas são mais
susceptíveis à reabsorção inflamató-
rio em coso de necrose.

Os métodos de tratamento preconizados pulpar, sabendo-se que nos dentes imaturos os


para os dentes permanentes jovens têm por obje - cornos pulpares se encontram numa posição
tivo promover o fechamento apicaL através da mais incisai e necessitam ser removidos a fim de
formação de uma barreira de tecido mineraliza - evitar a muda nça de coloração da coroa causada
• 1
do, que viabiliza a obturação do canal pelos mé- por restos pulpares ali alojados . Portanto a aber-
todos con vencionais8 ·9 · 2 u 2· 38· 18 · 19· 37 Esta barreira tura coronária tende a ser mais extensa que nos
pode ser sintetizada como a produção celular de dentes de pacientes adultos tomando-se cuidado
uma matriz orgânica passível de ser mineraliza- especial com a remoção dos divertículos (Figu-
da, com requisito de atividade da fosfatase alcali- ras 17.85A e 17.85B). O isolamento absoluto
na, bem como, um suprimento sanguíneo ade- deve ser realizado preferencialmente sem a apo-
quado. A barreira mineralizada r esultante da sição de grampos, devido à fragilidade da s estru-
apexificação pode ser formada por tecido seme- turas radiculares, principalmente na região cervi-
lhante ao cemento 16 ·29 , osteodentina 13· 34 ou à ca l. Recomendamos perfurar o dique de borra-
mistura de tecido conjuntivo, osso e partículas de ch a na região dos dentes vizinhos e lançar mãos
hidróxido de cálcio juntamente com a nova por- de afastadores de borrach a no espaço interdental
ção de raiz formada por tecidos normais: polpa, ou amarrias com fio dental para estabilizar o iso-
odontoblastos, pré-dentina, cemento e forame lamento. Esta manobra é particularmente difi-
.. apicaP 6 • O Capítulo 12 detalha sobre a ação do cultada nos dentes semi-erupcionados em crian-
t hidróxido de cálcio sobre os tecidos periapicais. ças de 7 anos de idade, onde a expulsividade
O tratamento endodôntico radical dos den- da coroa e a ausência de definição anatômica da
)
tes com rizogênese incompleta requer métodos região cervical impedem a invaginação da borra-
especiais que serão descritos a seguir. O acesso cha no sulco gengival (Figuras 17 .86A a
coronário deve obedecer à extensão da câmara l 7.86E).
CIÊNC IA ENDO OÔ NTICA

• f!_G! _11\SSA • .JiG. 11.3._


Si.L ..
Abertura coronário deve acompanhar todo a exten- Atençào especial deve ser dado à remoção dos
são do câmara pulpor. divertículos presentes no teto do câmara pulpar. A limpe-
za do câmara pulpar deve ser cuidadoso para se evitar
alterações de cor do coroo.

• FIGS. _17.86A e 11.868


Isolamento absoluto realizado sem a aposição de grampos. Vedamento realizado com posto zinco-enólico.

_ __l:_IGS_~ ~.!:~§C e 17.86D

Estobilizoçào do dique utilizando-se fio dental devido o expulsiv1dode do coroa de dentes iovens não totalmente
erupcionados.
ºTRAUMATISMO DENTÁRIO

• R G.... 11.$6
-----··-- ••"--·· ·
~··-···
Exemplo de estabilização do isolamento absoluto
sem a utilização de grampos.

A polpa de dentes com rizogênese incomple- êmbolo da seringa dura nte a irrigação, visando
ta é muito volumosa, apresenta um aspecto me- controlar o contato da solução irrigadora com os
nos consistente e deve ser removida com limas tecidos periapicais. A manutenção de tecido vital
tipo Hedstroem de 2ª série (Figuras 17 .87A e na região apical, pode melhorar a qualidade da
17.878). Em seguida, o canal deve ser irrigado barreira de tecido mineralizado, assim como sua
copiosamente com solução de hipoclorito de só- velocidade de formação 12 • Quando a polpa se
dio de b aixa concentração (0,5 a 1 %) . A solução apresenta necrosada, concomitante com a irriga-
t; não deverá ultrapassar o terço médio do canal, ção, deve ser realizado o esvaziamento do con-
uma vez que as paredes divergentes da região teúdo necrótico através da penetração progressi-
apical expõem o tecido p erirradicular ao contato va de limas tipo Kerr de 2ª ou 3ª- série de calibre
direto e esta solução pode lesá-lo. Todo o cuida- adequado ao amplo diâmetro do canal, até que
do deve ser tomado com a profundidade de pe- se a tinja o comprimento de trabalho provisório
netração da cânula irrigadora e a pressão no ( CTP) (Figuras 17 .88A a 17 .88C) .

• FIG. 17.8713
Polpa removida de dente jovem com o auxílio de Aspecto da fragilidade das paredes radicu!ares na
) lima Hedstr6em. região apical de dentes com rizogênese incompleta.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

l
' .
:r:
4
'_j

• - FIGS. 17.SSA a. 17.88C - ..--·-·---·- .. ... __ _ _ _ JI'

Esvaziamento do conteúdo necrótico através da


penetração progressiva com lima tipo K até o compri-
mento de trabalho provisório (CTPJ e irrigação abun-
dante.

Depois de realizada a tomada radiográfica tanto mais longo que o vestíbulo-lingual. Baggett
para a odontometria, a medida d o comprimen - et al. 6, em seu estudo sobre a determinação do
to de trabalho (CT) deve obedecer a um limite de CT de dentes imaturos, sugeriram utilizar pontas
1 mm aquém do ápice radiográfico com o intuito de papel absorvente para defin ir a medida dos
de não danificar o tecido periapical que está em canais . Através da sen sação tátil é possível deter-
continuidade direta com o canal radicular (Figu- minar a resistência oferecida pelo tecido p eriapi-
ras 17.89A a 17.89C). Sabe-se que o linúte radio - cal não correndo o risco de ultrapassar. A técnica
gráfico não é fiel à medida do comprimento do foi considerada válida e confiáv el, pois em 95 %
canal, principalmente nos dentes imaturos onde dos 35 dentes utilizados, houve coincidência en-
a visualização é dificultada pela pe quena espes - tre o comprimento e stimado e a medida radio-
sura das estruturas dentárias mineralizadas do gráfica, quando observado por dois examinado -
ápice radicular. Lembramos ainda que a forma- res. Apesar de viável a alternativa apresentada, a
ção da raiz ocorre primeiramente no sentido que confirmação através da radiografia é sempre im-
observamos na radiografia, o mesiodistal, por- p rescindível.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

• f~G. 1J.S9A
A determinação do comprimento de trabalho nos
dentes com rizogênese incompleta deve levar em consi-
deração o descompasso entre o desenvolvimento
radicular vesttbulo-linguol e o mesiodistal.

• W:IGS.
. --
fl.$9~
-·-
e . 17.89C
. -. ..
--

Determinação radiográfica do comp,imento de tra-


i bolho nos dentes com rizogênese incompleta 1 mm
aquém do limite apical da raiz.

Para o saneamento adequado do canal radi - nenhuma res1stencia à ação dos instrumentos.
cular é essencial eliminar toda a dentina infec- Sendo assim recomenda-se uma instrumenta-
tada juntamente com os restos necróticos adj a- ção circunferencial utilizando instrumentos de
centes, sendo este o fator preponderante para o 3ª série (Figura 17.90), com movimentos deli-
fe chamen to apica!2°· 34 . Devido às paredes finas cados de limagem objetivando não enfraquecer
que circundam um canal radicular muito am- as paredes radiculares delgadas, nem agredir a
plo 12·23·34 não é possível utiliza r as técnicas con - região periapical. Recomendamos a utilização
vencionais, pois os instrumentos não se adap- de limas tipo Kerr. Concomitante à instrumen-
,~" tam às p aredes da dentina como ocorre nos tação, a irrigação deverá ser realizada inicial-
· r dentes formados . Nos dent:es imaturos os túbu - mente com solução hipoclorito de sódio de bai-
) los dentinários ainda não apresentam uma de- xa concentração, tornando-se os mesmos cuida -
posição adequada de dentina intertubular e a dos citados para que a solução irrigadora não
dentina peritubular, pois, não atingiu seu com- atinj a a região apical. Em seguida deve-se irrigar
pleto de senvolvimento, oferecendo pouca ou com solu ção con centrada de hidróxido de cá!-
CIÊNCIA ENDODÓNTI CA

cio, obtida a través da m istura de soro fisiológico diâmetro compatível, previament e medidas n o
e hidróxido de cálcio PA. Ao final do preparo do CT com o intuito de não ultrapassar o ápice,
sistema de canal radicular, a secagem deve ser podendo, às vezes, ser invertidas para se adap -
realizada com pontas de papel absorvente de tar ao diâmetro do canal (Figura 17.91).

· ·~FIG. 17.4}!_
Cones de papel absorvente com diâmetro compatí-
• FIG. 17.90
vel ao do canal radicular são utilizados poro o secagem
Limas tipo K de 3 a_ sen e utilizados poro prévia à colocaçâo do hidróxido de cálcio.
instrumentação de dentes permanentes i9vens.

Graças aos estudos de Hermann 17 na década devido ao seu pH extremame nte alcalino, com
de 20, o hidróxido de cá lcio (Ca lxyl) foi introdu- indução da formação de barreira mineralizad a
zido n a Odontologia como uma substância bio- (Capítulo 12). As técnicas recomenda das para
logicamente compatível com os tecidos pulpar e preenchime nto do canal com h idróxido de cálcio
periapical. Sendo assim, o material de escolha são variadas e fica a critério do profissional optar
para a medicação intracanal é o h idróxido de por aquela à qual m elh or se adapte, conquanto
cálcio e diversos veículos são recomendad os na con siga preencher densament e toda a exten são
literatura, com variações no tempo de ação e do can al. Podem ser utilizadas limas, brocas len-
conseqüen temente n a re novação do m esmo, tulo e seringas especiais. Recom endamos a utili-
conforme descrito n o Capítulo 12. Recomenda - zação dos condensado res tipo Schilder25 , cujo di-
se a utilização de água destilada ou propilenogli- âm etro deve ser determinad o de acordo com o
col, devendo a medicação manter íntimo contato do canal, d.e modo que o material seja conduzido
com os tecidos periapicais, com o objetivo de diretamente ao ápice e condensado para o pre-
promover uma ação direta sobre os mesmos. A enchimento do canal em toda sua extensão, até
preparaçã o da mistura deverá ser feita sobre a o nível cervical (Figura 17. 93 ). Os conden sado-
placa de vidro, até u ma consistên cia mais firme, res devem ser previament e selecionado s de acor-
qu e permita uma condensaçã o vertical adequa- do com o diâmetro das diferentes porções do ca-
da, com o mínimo escoamento em direção à co- nal a serem p reen chida s, sendo que o primeiro
roa do den te (Figuras 17.92A e 17.92B). Algu- deverá praticamen te ocupar a luz do can al a uma
mas das propriedad es do hidróxido de cálcio são distância aproximada de 2 a 3mm aquém do CT.
particularm ente favoráveis ao fechamento apical, Deve-se realizar uma conden sação vertical firm e,
dentre elas o acentu ado efeito antimicrobiano, sem no entanto forçar o conden sador contra as
TRAUMATISMO DENTÁRIO

paredes do canal, a fim de prevenir a fratura na adaptação do material de selamento provisó -


das paredes radiculares frágeis. Da mesma forma, rio. Em seguida a câmara será preenchida com
a pressão de condensação deve ser controlada uma bolinha de algodão esterilizada e o selamen-
com o intuito de evitar que o material ultrapasse to provisório será realizado com o material de
o limite a pi cal (Figuras 17. 94A a 17. 94C). Nos escolha, numa espessu ra mínima de 4 mm para
dentes que apresentem exsudato purulento reco- que impeça a microinfiltração. Vários são os ma-
mendamos não condensar o hidróxido de cálcio teriais empregados, tais como cimentos de óxido
nas primeiras sessões até que haja o controle da de zinco e eugenol, cimentos de policarboxilato de
drenagem. É recomendada a realização de uma zinco, cimentos de fosfato de zinco, cimentos
tomada radiográfica antes do selamento provisó- de ionômero de vidro, resinas fotopolimerizáveis
rio para certificar-se do preenchimento adequado e materiais endurecidos pela umidade. Tendo-se
do canal em toda sua extensão, da região apical em vista o longo tempo determinado para o retor-
até a cervical. A imagem do correto preenchimen- no do paciente, recomendamos o cimento de io-
to se assemelha à de uma obliteração do canal, já nôrnero de vidro tipo II (restaurador) já que apre-
que o h idróxido de cálcio apresenta densidade ra- senta bom selamento marginal por possuir adesão
diográfica semelhante à da dentina (Figura s química com a dentina, baixa solubilidade, além
17.95A e 17.95B). A câmara pulpar deverá ser de liberar flúor para as estruturas circunvizinhas.
limpa com escavadores de dentina e bolinhas São mais aconselháveis os ionômeros fotoativa-
de algodão, para a completa remoção da pasta de dos, mas seu alto custo pode in viabilizar sua esco-
hidróxido de cálcio que, se deixada, irá interferir lha (Fig uras 17 .96A e 17.968) .

• .w:ms.__1J.9?fi,I_~ 1z'.;,22
M anipulação de hidróxido de cálcio PA e água desttlada para obtenção da pasta a ser utilizada como medicação
intracanal.

• iffG. 11.93
Condensadores tipo Schilder utilizados para coloca-
) ção da pasta de hidróxido de cãlcio no interior do canal
radicular
CIÊNCIA ENDO DÔ NTICA
..
.:

,,,,.. .

...
água desfilada oo propileoogicol

tEm---- - - -~

• Fl!,i_~.__1!.94A a 1J~~~Ç ___ _ _


Seqiiência de preenchimento com hidróxido de cál-
cio, utilizando-se condensador de calibre compatível com
o diâmetro do canal nos seus vá1ios segmentos. O pri- '
me1i"o incremento deverá se situar em íntimo contato v
com o teado sem entretanto ultrapassar o limite apical.

Imagem radiográfico do preen-


chimento com hidróxido de cálcio
que apresenta densidade radiográfica
semelhante à do dentina.
TRAUMATISMO DENTÁRIO

Selomento provisório com cimento de ionômero de vidro.

O controle clínico e radiográfico deverá seguida as paredes devem ser raspadas com movi-
ser realizado em intervalos de 30 dias para a veri- mentos suaves de limagem, utilizando, se neces-
ficação da presença do hidróxido de cálcio no in- sário, limas mais calibrosas dependendo do diâ-
terior do canal, da integridade do selamento pro- metro do canal. Em seguida, o canal deve ser seco
visório e da condição dos tecidos na região peria- com pontas de papel absorvente e nova pasta de
pical. Via de regra, a troca da medicação poderá hidróxido de cálcio inserida no canal, seguindo os
, ser realizada entre 45 e 90 dias, ou sempre que a mesmos procedimentos já observados previamen-
Í radiografia demonstrar ausência do hidróxido de te. O tempo de tratamento varia de acordo com o
cálcio, p rincipalmente na região apical ou ainda, caso. e as trocas da m edicação deverão ser realiza -
for observada a presen ça de fístula e/ou tumefa- das até que se obtenha a formaçã o da barreira de
ção. Para tanto, o isolamento absoluto deve ser tecido mineralizado confirmada inicialmente p ela
realizado preferencialmente sem a aposição de radiografia. As Figuras 1 7.97A a 1 7. 97E; 17.98A
grampos. O hidróxido de cálcio deve ser removido a 17. 98E mostram o acompanhamento radiográfi-
com limas tipo K n º 40 e irrigação com soro fisio- co do tratamento endodôntico radical em dentes
lógico. Primeiramente a lima deve ser introduzida permanen tes joven s p ortadores de lesão traumáti-
no centro da pasta de hidróxido de cálcio e em ca e necrose pulpar.

•--·"- FIG. 17.97A .


. )
Aspecto radiográfico do ele-
mento 11 após tração ortodôntica
subseqi.iente à luxação intrusiva e
fratura coronário extenso na pacien-
te com 7 anos de idade.

-! . • FIG. 11.978
r· Radiografia mostrando regres-
) são da área radiolúoda periapica/ e
continuidade do desenvolvimento
radicular 3 meses depois.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

1 •

• FIG.__ 17.97C__ .
BotTeli·a mineralizado opicol após 1 ano.

• flG._J'1-i~?.'º _
Canal obturado pela moldagem do cone e técnica
da condensação ve,tical da 9uta-percho te,moplostificada
de Schilder.

_ __f l.§.,.1!,?.Jf;..
Após novo acidente houve fraturo coronálio acom-
panhada de subluxação. Foi realizada a colagem do
fragmento e imobilização flexível.
TRAUMATISMO DENTÁ.RIO

~
WoliMiii,il

• flGlmAS 11.9BA a .7.98E


Seqüência de tratamento endodôntico radical de
dente com rizogênese incompleta até a formação de
barreira mineralizada apical e obturação do canal
radicular pela técnica híbnda de Ta99er com moldagem
do cone.
)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
--------··--···-·--··-----------------·-·-··-------.-·--------··--·------···-..····--····-·..-·

Apesar de clássica a indicação de apexifica- O maior diâmetro apical e a s irregularidades


ção pelo do uso de hidróxido de cálcio, existem das paredes do canal impedem muitas vezes a
dificuldades inerentes à técnica que levam a um adaptação até mesmo do cone principal, m ais ca-
longo tempo de tratamento e risco de fraturas libroso (nº 140). Sendo assim, recomendamos a
radiculares cervicais que podem levar ao insuces- técnica de moldagem do cone através da plastifi-
so. A introdução do Mineral Trioxide Aggregate cação de sua ponta, utilizando uma espátula
(MTA) na Odontologia vem trazer novas possibi- aquecida (Figuras 17.99A a 17.99D). Depois de
lidades, já que sua açã o é semelhante à do hidró- plastificado, o cone deverá ser inserido no canal
xido de cálcio 14•28·35 . Sendo assim, a utilização do umedecido com soro fisiológico e forçado em di-
MTA para o selamento apical dos dentes com ri- reção apical, devendo -se aguardar alguns segun-
zogênese incompleta traz a possibilidade de se dos para seu completo resfriamento. Uma toma-
realizar em uma única sessão um tratamento da radiográfica deverá confirmar a adaptação do
que também induz ao reparo. Além disto, a ob- cone em toda a extensão da barreira mineraliza -
turação destes dentes em menor espaço de tem- da apical (Figura 17.100) . Com relação à técnica
po permite sua restauração imediata através do de obturação aconselhamos a condensação verti-
reforço com pinos intra-radiculares, protegendo- cal da guta-percha termoplastificada de Schil-
os de fraturas 30 . Alguns autores relatam sucesso der25, a híbrida de Tagger 31 ou a condensação la-
de tratamento na apexificação utilizando este teral (Figura 17.101). As duas primeiras são
novo material2 4•33•38, entretanto novas pesquisas mais adequadas para canais muito amplos e di-
serão necessárias para estabelecer a evidência cien- vergentes que apresentem paredes dentinárias
tífica de que o MTA deva substituir o hidróxido muito frágeis. Para todas elas, entretanto, reco-
de cálcio no tratamento dos dentes com rizogê- mendamos total controle da pressão exercida na
nese incompleta. Hachmeister et al. 15 observou condensação da guta-percha a fim de evitar o
que a espessura da camada de MTA posicionada rompimento da barreira e/ou fratura radicular. A
em contato com a região apical é importante força do espaçador na técnica de condensação
para o sucesso do tratamento pois a 4 mm ·de- lateral pode levar à fratura da raiz. Quando a
monstrou uma maior resistência que a 1 mm. barreira formada oferece segurança principal- 1
Sendo assim, até que o protocolo mais adequado mente em relação à sua espessura e resistência é
seja estabelecido com evidência científica é preci- melhor realizar técnicas de injeção da guta-per-
so aguardar para se definir o que fazer. Reco- cha termoplastificada como Obtura II (Obtura
menda -se a leitura do Capítulo 16 para melhor Corporation). Em qualquer técnica de obturação
entendimento sobre o MTA. emptegada devemos sempre estar atentos à fra-
A obturação do canal de dentes com ri- gilidade radicular dos dentes com rizogênese in-
zogênese incompleta deverá ser realizada após completa, tomando todos os cuidados necessá-
se confirmar clínica e radiograficamente a pre- rios para a preservação do elemento dental. A
sença da barreira de tecido mineralizado. Para Figura l 7.102A apresenta uma obturação reali-
tanto, após a completa remoção da pasta de hi- zada pela técnica de condensação lateral e a Fi-
dróxido de cálcio, um instrumento de pequeno gura l 7.102B pela técnica da condensação verti-
calibre deverá ser levado no interior do canal cal da guta-percha termoplastificada de Schilder
com uma medida l a 2 mm menor que o CT, com após reforço intrarradicular com pinos de fibra
a finalidade de tocar a porção mineralizada api- de vidro . O selamemo quando provisório deverá
cal. A pr esença da barreira deverá ser confirma- ser realizado de preferência com cimento de io-
da p ela radiografia periapical logo em seguida. nômero de vidro fotoativado (Figura 17.103).
• AGS, 11.99.A s 11.998
Plastificação da ponta do cone de guta-percha para moldagem da região apical do canal radicular após a
formação de barreira.

' ;!

• _f.lG • .'f·M~?Ç_______ _________. • . FIG. 17-??1>.


Aspecto da ponta do cone de guta-percha após a No momento da obturação o cone deve ser intro-
moldagem da região apical. duzido na mesma posição em que foi moldado com o
auxl7io de pinças com trava.

• ...fJ_~. 17.1_0Q___ ..
...
r Verificação radiográfica da adaptação apical após
moldagem do cone.
)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• AG. 11.101
Após o preparo do cone o obturação pode ser rea-
lizado pelo técnico de condensação lateral convenciono/.

• FIG. 11.102.l\
Aspecto radiográfico após o obturação pelo técnico Aspecto radiográfico após o obturação pelo técnico
hrbtido de Togger. da condensação vertical do guto-percho termoplos-
tificoda de Schilder.

5elomento provisório com ionômero de vidro após


obturação do canal rodiculw
.--A•-..'.a~······---~....•••""""'. . ,._,. . . . . . .,...............___.~,~--·~~--·-~--~----------·--<,------•-••-<'"-•-----""'-•• •••·-·-- ---~---~----~"_,,_.,.__..,.. . . . . . . .__
TRAUMATISMO DENTÁRIO

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PROCESSO DE REPARO
APÓS O TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

ELISMAURO FRANCISCO DE MENDONÇA


/
CARLOS ESTRELA

INTRODUCÃO
,

O processo de reparo ou cicatrização é uma seqü ência de eventos que


• 1
ocorre após a remoção dos agentes desencadea ntes de uma reação básica
de defesa do organismo, ou seja, a inflamação. Este mecanismo de defesa
poderá ser originado por agentes infecciosos como, por exemplo, bacté-
rias, fungos e vírus; e por agentes externos ou não infecciosos, como
traumatismos e, até mesmo, decorrentes de procedimentos iatrogênicos
desenvolvidos opor cirurgiões-dentistas quando do tratamento odontoló-
gico23,32,34 .
., -~ A inflamação é caracterizada em fases distintas de acordo com suas
características clínicas locais e/ou sistêmicas. Envolve aspectos semiológi-
cos com referência a sinais e sintomas, e aspectos microscópicos das popu-
lações celulares localizadas nas determinadas fases de evolução da reação,
podendo assim, em associação com estas características, determinar as
fases aguda e crônica do processo, passando por uma fase intermediária
subaguda ou subcrônica.
A permanência da fase crônica da inflamação demonstra que o agente
flogógeno que deu origem ao processo de defesa ainda permanece no
local da lesão, e mantém a atividade flogística ou inflamatória na região,
indicando, naquele local, a necessidade da chegada de células de defesa
para identificação e eliminação do possível agente flogógeno 39 •
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

Com a remoção do agente untante, não é A região do periodonto apical do ponto de ... ·~
n ecessário esta manutenção da atividade flogísti- vista anatômico é compreendida pelo cemento,
ca, portanto, há uma evolução deste processo ligamento periodontal e osso alveolar.
crônico para o reparo definitivo da lesão. Cawson et al.2 afirmam que o cemento é um
De acordo com Trowbridge & Emling 39, os tecido semelhante ao osso que recobre a superfí-
eventos da reparação ocorrem um pouco mais cie externa das raízes. Há dois tipos de cemento:
tarde em relação a inflamação, entretanto, há acelular e celular. O primeiro recobre toda a su-
uma sobreposição, pois tanto na inflamação agu - perfície da raiz e o segundo, principalmente no
da e como a crônica já ocorre o processo de fago- terço apical, possui cementócitos incluídos em
citose, fundamental para a instalação do processo lacunas irregularmente distribuídas, lembrando
de reparo, bem como a fibroplasia e a angiogêne- osteócitos. Já o ligamento periodontal compre-
se comuns na fase crônica e também no reparo. ende grupos de fibras colágenas, que ligam o
É importante considerar que o processo de dente ao processo alveolar; e, finalmente, o osso
reparo só se inicia com a inflamação e somente alveolar, no qual se inserem as fibras colágenas
chega ao seu final com a retirada definitiva dos do ligamento periodontal. A câmara cribiforme
agentes irritantes que evocaram esta resposta in- ou perfurada dá passagem a vasos sangüíneos. A
flamatória do organismo. área óssea onde se inserem as fibras do ligamen-
Para o desenvolvimento da inflamação é im- to periodontal, chamadas fibras de Sharpey é
portante a presença dos seguintes fatores: san - mais rica em feixe de colágeno e denomina-se
gue, tecido conjunti vo e microcirculação, do osso fasciculado.
contrário é impossível ao organismo reagir pe- Da mesma maneira, pode ser observado que
rante os agentes flogógenos. nesta região anatômica encontra-se tecido con-
O reparo das lesões pode ocorrer por dois juntivo, também constituído por matriz extracelu-
processos: regeneração ou cicatrização, isto na lar, fibras colágenas e microcirculação (para o
dependência da capacidade regenerativa das cé- transporte do sangue). Diante de qualquer agres-
1u las afetadas, extensão da lesão e atividade pro - são neste local, a resposta de defesa será o apare-
liferativa do estroma conjuntivo 2º·34 •39•4 1 • cimento da inflamação, com finalidade de promo- y'
Regeneração, portanto, é o processo que leva à ver a cura ou o reparo desta área. Conforme pode
substituição do tecido lesado por células semelhan- ser verificado na Figura 18.1 .
tes àquelas perdidas, restituindo a forma e função As doenças mais freqüent es no periodonto
do tecido lesado. Já a cicatrização é caracterizada apical são de na tureza inflamatória promovidas
pela formação de um tecido com predomínio do pela morte total ou p arcial do tecido pulpar,
conjuntivo de origem fibroblástica . p rincipalm ente de etiologia bacteriana decor-
No processo de regeneração é importante a rentes da evolução da doença cárie. A cárie
característica das células envolvidas no reparo, quando não tratada gera o comprometimen to
podendo ser classificadas em lábeis, estáveis e per- do tecido pulpar coronário e radicular. As toxi-
manentes; de acordo com o seu tipo, pode res- nas bacterianas chegam à região periapical pro-
ponder ao processo de reparo. Por exemplo, as movendo alterações profundas no tecido con-
células lábeis se reproduzem por toda a vida como juntivo do ligamento perio~ontal, provocando a
no tecido epitelial e sangüíneo, outras apenas inflamação 32 · 33 •
quando lesadas. Como exemplo, têm-se os fibro- Com o trat amento endodôntico efetuado
blastos, osteoblastos, condroblastos, células mus- dentro dos princípios biológicos e em condições
culares lisas e células endoteliais, ou seja, células que promovam a sanificação do canal radicular
derivadas da linhagem mesenquimaL e no caso até o limite apicaL inicia-se o processo de reparo.
específico, presentes no tecido conjuntivo da re- Anteriormente , o reparo das lesões do tecido
gião do periodonto apical. conjuntivo era caracterizado com descrições mi-
As células denominadas permanentes não croscópicas de fibroplasia, síntese de colágeno e
são passíveis de mitose na vida pós-natal, como, neovascularização . Contudo, recentes pesquisas
por exemplo, os n eurônios 39 . em biologia celular têm proporcionado descri-
Neste capítulo será abordado a reparação ções mais acuradas dos mecanismos, tipos de cé-
pós-tratamento en dodôntico, portanto, a região lulas e agentes químicos que controlam e dire-
do periodonto apical com suas peculiaridades. cionam estas atividades. Incluídos neste grupo de
PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO

mediadores químicos estão vários fatores de cres- novo sistema vascular dentro de uma matriz de
cimento secretados por células que participam do tecido conjuntivo produzido pelo infiltrado infla-
processo de rep aro 41 • m atório.
Os eventos que compreendem o processo de No processo de reparo de uma lesão periapi-
reparo podem ser caracterizados em 4 fases: le- cal deve se considerar alguns aspectos: o primei-
são, inflamação, proliferação e remodelação. A ro aspecto é referente aos casos de pulpectomia,
injúria do ligamento periodontal inicia a fase in- quando a região do periápice apresenta prova-
flamatória, pela ativação de vários sistemas em velmente um tecido conjuntivo com áreas de
forma de cascatas, como o sistema da coagula- exsudação plasmática e pouca destruição óssea.
ção, complemento e cininas. Os sistemas de cas- O segundo aspecto a ser verificado são os casos
catas são processos dinâmicos que se interrelaci- de necrose pulpar em lesões de evolução crônica
onam e promovem alterações no microambiente, onde já se evidencia alise óssea. Quando da rea-
produzindo vasodilatação dos vasos adjacentes, lização do tratamento endodôntico, em que os
diminuindo o pH e a tensão de oxigênio e au- agentes irritantes foram suprimidos. De acordo
mentando a concentração local d e lacta -. com a pulpectomia ou a penetração desinfectan-
tos 2 º·27· 3º·33 · 34 .4 1• Como resultado destas atividades, te, o processo de reparo se iniciará a partir da
uma população de células começa a invadir a fase de evolução em que se encontra o processo
área lesada e a replicar, caracterizando a fase de inflamatório, sendo, portanto, a inflamação uma
proliferação. Um grande número de células infla - etapa .fundamental com as suas diferentes Iases
matórias, macrófagos da resposta inflamatória de evolução.
anterior, e células endoteliais, características do Outro fato a ser considerado é referen te ao
processo de reparo, constituem o tecido de gra- diagnóstico da lesão. Nas lesões crônicas, como
nulação. na periodontite apical assintomática (como o
A fase de remodelação tem início como pro- granuloma radicular), uma le são de evolução
/ duto biológico dessas células, sofrendo diferen- extremamente lenta, cessada a fonte de infec-
ciações para a formação do tecido regen erado, de ção do Cqnal radicular, o reparo se inicia a partir
acordo com a extensão da área lesada. do tecido de granulação já pré -existente no pe-
A esp ecificidade de células durante os dife- riápice.
re ntes est ágios do reparo sugere que há um m e - O reparo pós-tratamento endodôntico de le -
canismo receptor qu im iotáctico, responsável sões diagnosticadas radiograficamente como cisto
por esta especificidade, já que a produção e o radicular inflamatório, tem sido discutido por
aumento do número de células parece estar sob Nair 22 • Este autor considera dois tipos de cistos,
o controle de agentes estimulantes do cresci- reforçando o relato de Simon 3 5 qu e descreve a
mento ou mitógenos. Muitas das atividades qui- presen ça de cisto p eriapical na região apical,
miotáctica s e mitogênicas são mediadas através apresentando revestimento epitelial, e ntretanto,
de fatores de crescimento produzidos e libera- com a abertura p ara o canal radicular. Outra va-
dos por células recrutadas da fase inflamatória. riante de cisto radicular ma is conhecida, ap re-
Além do mais, o microambiente da lesão é tam - senta uma cavidade totalmente revestida pelo
bém de considerável importância para determi- epitelio e sem comunicação direta com o canal
nar os tipos de células presentes e seu respecti- radicular. O aspecto descrito por Simon 35 foi de-
. -~ vo número. nominado por Nair22 como "cisto em bolsa", con-
Os eventos, portanto, que compreendem os trário ao cisto radicular inflamatório verdadeiro .
diferentes estágios do rel')aro de uma lesão são: De acordo com Nair 22 , apenas os dentes que
resposta inicial à injúria tecidual; rea ção inflama- apresentam este tipo de cisto em bolsa possuem
tória e ativação do sistem a complemento; respos- a capacidade de reparo total após a terapêutica
ta vascular com a ativação do sistema de coagu- endodôntica22 .
lação (reação em cascata); a criação de um novo Há fortes eviden cias que reação tipo corpo
microambiente n a região p eriodontal; o apareci- estranho, com a· presença de células gigantes
mento de diferentes tipos de células sob a influên- m ultinucleadas, pode acontecer quando do ex-
cia de vários m e diadores químicos e agentes qui- travasamento de m aterial obturador para o espa-
m iotácticos; a replicação de células como um re - ço periodontal, levando ao desenvolvimento de
sultado dos mitógenos; e a elaboração de um lesões p eriapicais assintomáticas que podem per-
CIÊN CIA ENDODÔNTICA

manecer refratárias à terapia endodôntica por da; o procedimento terapêutico, pulpectomia ou


longo período de tempo 23 . penetração desinfetante, e as fases básicas pelas
As Figuras 18.2 a 18. 7 exibem os aspectos quais passam o processo inflamatório, de agudo
radiográficos e histopatológicos de um caso clíni- .-a crônico, com a sua população celular, infiltrado
co de lesão periapical persistente, contendo ex- inflamatório, tecido conjuntivo e mediadores
travasamento de ma te rial obturador. - químicos e mitogênicos relacionados às células
Concluindo portanto esta parte, deve -se que constituem o processo de reparo: injúria -
considerar o diagnóstico da patologia a ser trata- inflamação - proliferação - remodelação2 º·3 2,39A 1 _

, -~,,,.
,'
'
:_":
'-.!'.LJ ,i

. .. FIG. 1a.1__________ _
Região apical com tecido conjuntivo, matriz extracelular, fibras colágenos e microcirculoçõo.
• F~~S. Jlt.~. ~ JS.ª· -··
Aspecto radiográfico de lesão pedapical
assintomática em incisivo lateral superior,
com e sem presença de extravasamento de
material obturador.

• .. FIG. _18.4 ____ ·---··----···--·------·-·-··----- -· • FIG. 18.5


Aspecto radiográfico do lesão apresentado no Figu- Maior aumento da Figura 18.4 (H.EJ.
ro 18.2. Discreto infiltrado inflamatório crônico
mononuc/ear com célula gigante multinuc/eodo em um
estromo con1untivo fibroso. Vide a presença de fibras
colágenos (processo de reparo com insucessoHHEJ

.;
(.·{~.·
l • FIG. 18•.! .
Infiltrado de células mononucleores com corpúsculos Maior aumento da Figura 18. 6 (H.EJ
hialinos de Russell (HEJ.
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

INFLAMACÃO NO da área periodontal lesada . Este exsudato infla-


• PERIODONTO APICAL matório permite a diluição das toxinas bacteria-
nas e auxilia na remoção dos agentes irritantes
Após a lesão na região do periápice inicia -se presentes na área. A destruição tecidual resulta
a resposta inflamatória com a função básica de na liberação de uma substância parecida com a
defesa, com manifestações locais e sistêmicas, histamina, que, conseqüentemente, leva à vaso-
dependentes da extensão da agressão. A sua dilatação dos capilares e arteríolas na região da
f<tse inicial é caracterizada pela forma ção de ex- lesão. A vasodilatação também é promovida pe -
sudato tecidual que possui uma função impor- los produtos biológicos da ativação do sistema
tante qe recrutar células capazes de produzi r os complemento e sistema das cininas (Figura
mediadores químicos necessários à reconstrução 18.8).

- FiG.18.8
Resposta tecidua/ mediante ação de agentes liTitantes no periodonto apicaf.
PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMEN TO ENDODÔN TICO

O sistema complem ento envolve 20 ou aumentada e o fluxo sangüíneo na região agredi-


mais proteínas que circulam no sangue de for- da é reduzido. Durante este processo, células in-
ma inativa. Com a injúria n a região periodontal dividuais se coalescem irreversiv elmente, por um
e o extravasamento do plasma, ocorre a ativa- processo de adesão, coesão e fusão; e, quando
ção do sistema complem ento que produz uma combinad as com a fibrina, formam trombos de
va rieda de de proteín as que possu em importân - plaquetas que ocluem os capilares terminais.
cia fundame ntal no processo de reparo. Por Pesquisas contempo râneas têm revelado que as
exemplo, C5ª é quimiotático para neutrófilos e plaquetas não somente participam na h emosta-
macrófag os, q ue são essenciais no processo de sia, mas também contêm uma série de substâncias
fagocitose, promove ndo a eliminaçã o dos agen- farmacolo gicamente ativas envo lvidas n a infla-
mação e no desenvolv imento do reparo º·41 .
2
tes e produtos microbian os. Estas células tam-
bém expressam vários fatores de crescimen to Algumas das substânci as encontrad as nas
que modulam o processo de reparo. Já C30 e C4.l plaquetas são enzimas, tais como a Adenosin a
estimulam mastócito s e basófilos a liberar hista- tri fosfato, que possui papel fundamen tal na ge-
mina, importan tíssima na man utenção da per- ra ção de energia para o reparo . As aminas va-
meabilida de vascular e na constituiç ão do exsu- soativas, adrena lina, noradren alina e hi stami-
dato inflamató rio. O sistema de cin inas é o res- n a são também encontrad as na s plaquetas e
ponsável pela transform ação de uma enzima constitue m potentes mediador es da reação in -
in ativa, a kalicrcína , presente tanto no sangu e flamatóri a. Fatores d e crescime nto liberados da
quanto no tecido, para sua forma ativa, bradici- degranul ação plaquetár ia de grânulos a, tais
nina. A bradicinin a, também, contribui para a como FCD P, promove m o reparo através da
produção do exsudato inflamató rio por promo- atração dos fibroblast os, células endotelia is e
ver a vasodilata ção e o a ume nto da permeabi li- monócito s.
dade vascu la r20·3º· 39 ·11 . Outro compone nte importan te após a ati -
Associado à bradicini na e a ou tros compo- vação do sistema de coagulaçã o é a formação
/
nent es das cininas, por exemplo kalidina e leu- do coágulo. Até a formação do coágulo ocor-
cotaxina e sistema complem ento, está reunido rem um número de reações responsáv e is pela
um conjunto de agentes químicos e enzimáti- conversã o de Fibrina a partir de seu precursor
cos que reforçam o aumento da permeabilida- o Fibrinogê n io. A produção de fib rina envolve
de da parede endoteliaL facilitand o a sa ída das a clivagem de uma molécula inativa de fibrino -
proteínas do plasma, leucócitos· e células ver- gênio para en zima denomin ada trombina utili-
m elhas. Esses agentes incl uem fatores globulí- zando -se de duas vias: trombina intrín seca e
nicos de permeabi lidade, fator Hageman , pros- e xtrínseca . A extrínseca é dev ida a lesão teci-
tagla n dinas e AMP cíclico. A diapedese dos dual através da liberação de urn complexo de -
leucócito s para os tecidos ocorre em d ecorrên- n ominado trombo plastina e a via intrínsec a
cia da presença de fatores q ui mio táticos li bera - ocorre pela injúria de vasos através da intera -
dos no tecido conjuntiv o intersticia l como re - ção de plaquetas e o fator Hageman (Fator
s ultado da injúria do ligam ento periodon tal e XII). Ambas as vias levam à formação de pro-
osso alveolar. trombina a tivada que converte a protromb ina
Com referência à lesão de vasos, quando em trombina .
ocorrer sobre-ins trumenta ção durante o prepa- A formação do coágu lo possui papel pre-
ro do canal, principalm ente nos casos de pul- ponderan te no processo de reparo, principal -
pectomia , a reação vascular ao trauma diferirá me nte nos casos de lesões periapica is crônicas
de acordo com o tamanho ou extensão da área que requerem tratamen to cirúrgico para remo-
envolvida.· Na região do periápice existem vasos ção da patologia. Após a exérese da lesão, o
que inicialme nte se contraem estimulad os por leito cirúrgico é preench ido por sangue e o pro-
substânci as vasoativa s que atuam sobre os mio- cesso inflamató rio se instala com a ativação do
filamento s de suas paredes en do teliais. Estas sistema de coagulaçã o e, conseqüe nte, formação
su bstâncias in cluem as catecolam inas que são do coágu lo, que possui a função básica de su s-
liberadas das plaquetas e do plasma duran te o tentar a reparação .
processo inflamató rio. Como o volume intra- Inicia-se ou tra fase, que pode ser denomina -
vascular é redu zido, a viscosida de do sangue é da de proliferação. Como já relatado ante rior-
CIÊN CIA ENDODÔNTICA

mente, produtos ativados do complemento atuam área afetada através das ações quimiotáticas do
como fatores guimiotáticos para macrófagos, que FCDP e o FCP básico(FCFb). O FCFb é um po-
chegam até a área lesada. Fatores de crescimento tente agente quimiotático e mitogênico para cé-
secretados por macrófagos no local, estimulam a lulas endote liais. O FCT-B é também encontrado
migração de fibroblastos e secreção de diferentes nas plaquetas e exerce um efeito indireto na
,tipos de colágeno que, em combinação com o angiogênese por promover a liberação do fator
desenvolvimen to de novos vasos levam à for- de necrose tum oral a e interleucina -1 dos ma-
mação do tecido de granulação. crofágos.
O aparecimento dos fibroblastos e células Investigações mais recentes indicam que a
endoteliais, com suas respectivas fun ções em angiogênese é res ultante de um equilíbrio entre
atividade, constitui a base para o tecido de repa - reguladores positivos e negativos ou também
ro, e bem como nos outros eventos do processo, chamados estimuladores angiogênicos.
é criada urna interdependência entre formação A formação de novos vasos a partir dos va-
do tecido fibroso e o desenvolvimento de uma sos remanescentes começa com a ativ ação de
nova rede vascular. Por exemplo, o tecido fibro - enzimas hidrolíticas, tais como a colagenase, de -
so necessita dos nutrientes de uma rede vascu- nominada "estromolizina", e o plasminogênio.
lar normal e os vasos sanguíneos requerem su- Essas enzimas atuam nas paredes dos vasos dis-
porte e proteção da matriz para o desenvolvi- solvendo suas membranas ba sais e liberando cé- 1 .

m ento e extensão da rede vascular. lulas endoteliais. As células endoteliais então


O tecido conjun tivo na área em reparo é ge- migram através da área destruída, sob a influência
ralmente composto pelos colágenos tipo I e III, de um gradiente quimiotáctico. Nas áreas de
células, vasos e matriz que contém glicoproteínas hipóxia tecidual as células formam lúmens e se
e proteoglicanas. Colágeno é secretado por fibro- fusionam em condutos para permitirem um flu-
blasros que tenham sido atra ídos para a área e xo contínuo de sangue. Células mesenquimais
estimulados por uma multiplicidade de fatores de próximas aos novos vasos são importantes, pois
crescimento, tais como FCDP (fator de cresci- algumas tornam-se intimamente associadas com
mento derivado das plaquetas), FCT-[3 (fator de a rede vascular e são conhecidas como pericitos. /
crescimento transformador f3) , FCF (fator de cres- Estas células desempenham um papel impor-
cimento dos fibroblastos), FCE (fator de cresci- tante na inibição do crescimento de células en-
mento epidérmico) e FCI-1 (fator de crescimento doteliais adjacentes, consequentemente regu-
insulina). A fibronectina é uma proteína (fator lando a angiogênese. Outras t êm sido implica-
tecidual) que também estimula a produção de das como responsáveis pela diferenciação em
colágeno por fibroblastos. A formação do coláge- osteoblastos sob a influência de proteínas mor-
no envolve uma série de reações enzimáticas e fogênicas do osso promovendo a osteogênese.
vários cofatores controlam o seu progresso. A Após a oxigenação tecidual e consequente res-
matriz de colágeno formada facilita a angiogêne- tabelecimento da homeostase, há redução do
se de várias maneiras, funciona como proteção número de células como macrofágos e dos fato-
estrutural para os vasos novos friáveis e propor-. res liberados pela ativação das plaquetas.
ciona o tempo necessário para a formação de Os diferentes colágenos em combinação com
anastomoses. Componentes adicionais da matriz as glicosaminoglicanas, hialuronas e os fatores de
secretados por fibroblastos, denominados fatores adesão como fibronectina e integrinas são com-
de aderência, controlam o desenvolvimento das ponentes da matriz extracelular. Entre os papéis
células endoteliais promovendo a aderência des- da matriz se inclui a adesão e direção da migra-
sas células à membrana basal de colágeno. A la - ção celular bem como a polaridade e orientação
minina é uma dessas glicoproteínas que possui celular. Outra característica do estágio de prolife-
esta função. ração inclui elevado conteúdo de água e onúme-
A angiogênese ocorre em resposta ao estado ro au1nentado de vasos41 •
de hipóxia criado p ela destruição tecidual, bem Com referência específica ao tecido ósseo,
como por fatores liberados das células durante a quanto à reparação, nesta fase de proliferação,
injúria. A responsabilidade primária pelo início as células mesenquimais podem se diferenciar
da formação dos n ovos vasos é das plaquetas. em osteoblastos que produzirão matriz óssea.
As plaquetas ativadas atraem macrófa gos para a Na maioria das vezes de maneira indistínguível
PROCESSO DE IU.PARO A.PÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO

do tecido ósseo de origem embrionário e neste fi brina e plaq u etas. As plaq u etas são fonte de
processo também estão envolvidas substâncias fato r es bio lo gicamen te a tiv os na p romoção do
biologicamente ativas, como já foi citado anterior- repa ro , liberados d os grânulos a que contém
mente, os fatores de crescimento e citocinas. De FCDP, FCF e FCT ~ que são quimio t áticos e
acordo com Goldbring & Golching 12 citocinas reguladores da ativida de celular. A presen ça
são definidas como produtos solúveis liberados destes fa tores atrai cél ulas para a área injuria-
de uma célula, que podem modular a atividade de da e ati va a s mesmas p ara exe rcerem sua s
outras células, com múltiplas atividades biológi- funçõe s r e pa rativas. Por exemp lo, passagem
ca s. As cito cin a s possuem p roprie dades funcio- d e célu las mesenquimais da fase G0 para a
nais comuns, por e xemplo, as in t e rl eucinas, fase G 1 é promovida pelo FCDP, conseq üente -
monocinas ou linfocinas. As citocinas também m e n te transfo rm ando e m célula competente .
p odem ser con sideradas como reguladores do A comp etên cia é o estágio q uando uma célula
crescimento e diferencia ção de células dos siste- torn a-se responsável pela mod u lação de fato -
mas imune e hematopoiético . res d e crescimen t o adicionais . O FCTf3 estimula
Os fatores de crescimento en vo lvidos no re- a progressão d e células de G 1 para a fas e S, e sti-
paro ósseo são descr itos a seguir: mulando as células a se dividirem. Outros com-
O fa tor de crescimento transformador beta p onentes decorrentes do coágulo podem incluir
(FCTf3) inclui 25 fatores molecular es, tais como célu las mesenquimais indiferenciadas, m acrófa -
as proteínas ósseas morfogenéticas. O FCTf-, é gos, leucócitos polim orfonucl eares, linfóci tos e
liberado nos sítios quando ocorre a degranula- mastócitos . Além dos compo nentes celula res, a
ção de plaq uetas, m acrófa go s e matriz extra ce- característica deste estágio é o rompim ento dos
lular. O FCTf3 é ativado pelo ambien te ácido da condutos vasculares para nutrição ó ssea. Este
área le sada e apresenta como funções estimular evento traumático le vará os osteoclastos a r e-
a atividade osteoblástica e a regeneração intra- mo ver a s margens n ecróticas, organizando a su -
/ óssea . perfície óssea . M acrófagos e ost eoclastos atuam
O fator de cre scim e n t o d erivad o das p la - n a remoção d e tecido não vital. Est e est ágio
que tas (FCDP) é liberado d as plaquetas dos grâ- pode se r den om inado de fase de d emolição .
nulos a e é um p otent e m itógen o, esp ecialme n - Além de sua ativida de de fagocitose e lim peza
te para fib roblasto s. É u m fa tor competen te que d a área, os m acrófagos expressam importantes
permite às células responderem a ou tros m edia - fatores r egulad o res, incluindo inte rle u cina -1 ,
d ores biológicos e a tua também m o dula ndo o n ecessária para angiogênese .e ativação de fibro -
fluxo san gu íneo, porta nto, t en do uma a ção sig- blastos, e células osteoprogenitoras.
nificativa n o reparo. Pelo terceiro e qui nto dia a p ós a lesão, célu -
• 1 Ou tros fa tores importantes são o fator de las e produtos do coágulo se conden sam. Células
crescimento dos fibroblastos (FCP) e o fator de cres- e n dote liais d erivadas dos vasos adjacen tes m i-
cimento insulina (FCI) . gra m , proliferam e formam novos capilares q ue
Após a inj úria do osso, inicia-se o processo p enetram no coágu lo. Um estímu lo p a ra a for-
inflamatório com ativação d o sist em a comple- m ação de n ovos vasos, parece ser a hipoxia lo -
m en to, rup tura dos va sos, formação d o coágu lo, cal; a d ireçã o n a qua l a angio gên ese ocorre é
com o n os casos de ciru rgia pare ndod ô ntica . A sob a orientação dos gradientes qu ímicos . Os
-~
,.. combinação d esses even tos produ z um micro- gradie n tes sã o estabelecidos e ntre a á rea central
• ambien te específico para células com função de com ba ixa con centração de oxigênio e as áreas
pro m over a limpeza de área s n ecróticas e pro- p erifé rica s, bem como também p elas ações q ui-
m over o reparo t ecidual. Este m icroam bien te m iotáctica s do FCDP e FCF. O pH d a área é
em su a fase in icia l não tem sido ca ract erizado ácid o e e st e p eríodo tamb ém é caracte ri za do
complet am en te, con tu do, apresentam um b aixo pela migração d os fibroblas tos no co águ lo . Os
gr adie n te de oxigênio e pH diminuído . Essas fibrobl astos formam , junto com os vasos prolife -
condições são fundamentais para a atuação dos rados, u ma rede de t ecido conjuntivo denomi-
leu cócitos, lin fócitos, m acrófago s e condrócitos . nado tecid o d e gran ulaçã o . A matriz do t ecido
O e x travasamento d e sangue, q u e oco rre conj u n tivo protege o desenvolvimento dos n o -
apó s a remoção d a lesão , consist e em compo- vos vasos e proporciona áre as para a ad esão das
n e ntes h ematogên icos ta is como , eritrócitos, célu las endoteliais.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

As células osteoprogenitoras aparecem no mente rodeando um canal central que contém


terceiro dia e são de dois tipos: determinadas e vasos linfáticos e sangüíneos . Os osteócitos de-
induzidas . As células osteoprogenitoras são deri- pendem deste sistema para as necessidades m e -
vadas do periósteo e células de linhagem medu- tabólicas e viabilidade da m atriz óssea neofor-
lar~ Como conseqüência da união com o FCTB, mada. Quando ocorre a interrupção do supri-
essas células podem expressar um fenótipo de mento sangüíneo, ocorre a morte do osteócito,
osteoblasto. Já as células osteoprogenitoras indu - necrose do osso e reabsorção.
zidas, são células que migram para a lesão pelos A reparação do cemento resulta da diferen-
vasos sanguíneos e são referidas como pericitos. ciação de cemen toblastos das células indiferen-
Células tipo mesenquimais indiferenciadas tam- ciadas do tecido de granulação ou de cél ulas do
bém podem ser consideradas como células osteo- ligamento periodontal.
progenitoras induzidas e em conjunção com a De acordo com Seltzer 32, o processo de re -
POM (proteína óssea morfogêni ca) podem ser paro do periodonto apical, em linhas gerais, po-
convertidas para osteoblastos 32 . deria se dar da seguinte maneira:

• Remodelação 1. Além do tecido ósseo, o cemento é elaborado e depo-


sitado na área de cemento apical reabsorvido;
Nesta fase de acordo com a área destruída e 2. Novo osso é formado na periferia do trabeculado ós-
o tecido de granula ção sendo transformado, seo remanescente em substituição ao tecido ósseo
tem-se início o processo de osteogênese e poste- afetado;
rior mineralizaçã o . 3. Células inflamatórias e capilares são reduzidas;
4. Fibras colágenas do tecido de granulação são substi-
• Osteogênese e mineralização tuídas com novo osso trabecular;
5. Espaço periodontal é conseqüentemente reduzido.
A formação do osso pelos osteobla stos _in-
clui a síntese e processamento intracelular do A Figura 18.9 ilustra as fases principais do ,
colágeno tipo 1. O colágeno tipo I é expressado processo de reparo no periodonto . ,;
pelos osteoblastos que se modificam extracelu - Atualmente tem sido utilizadas substâncias
larmente, formando moléculas de tropocoláge- que estimulam o processo de reparo. Regenera-
no que se unem para formar as fibrilas culáge - ção gu iada por tecido (RGT) é uma nova opção
nas. A deposição de cristais de hidroxiapatita que tornou-se disponível para a correção de de-
tem inicio dez dias após o começo do processo feitos apicomarginais. Tem sido demonstrado
de reparo . Es te estágio tem sido associado com a que vários fatores relacion ados a dente, influen-
eleva ção do pH, provavelmente por causa da ciam o prognóstico de cirurgia parendodôntica,
enzima fosfatase alcalina. Tem sido especulado entre eles, a quantidade e localização da perda
que esta enzima promova a precipitação do fos - óssea. Alguns estudos indicaram que o prognós -
fato de cálcio, iniciando o processo d e minerali- tico é substancialmente r eduzido nos d entes
zação . A deposição mineral ocorre ao longo das com perda total localizada de osso marginal.
fibras colágen as, talvez ocorrendo às expensas Nesta técnica, uma membrana de colágeno reab-
da fosfatase alcalina. A mineralização é limitada sorvível e osso inorgânico mineral de origem
pelo espaço físico disponível entre as fibrilas de bovina são utili zados . Entre ta nto, h á a n ecessi-
colágeno arranjadas longitudinalmente. Osteoí- dade de mais estudos p ara se demonstrar a real
de é o termo aplica do p ara d.escrever a matriz efetividade destas t écnicas 3 •
orgânica expressada pelos osteoblastos antes da Em um estudo anterior desenvolvid o por
m ineralização. Garret et al. 1 1, comparando a utilização d e uma
No processo de reparo é fundam enta l o su - membrana bioreabsrovível como guia para o re-
primento sanguíneo para a região, sendo, o sis- paro de lesões periapicais com um grupo con-
tema h aversiano importantíssimo para o desen- trole em que n ão se utilizou t al procedimento,
volvimento do reparo . Este sistema consiste de os autores constataram que n ão houve nenhum
anéis e osso lamelar organizados concentrica- efeito benéfico.
PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO

'

• FIG. 18.9
Processo de reparo.
f.
CIÊN C IA ENDODÔNTICA

FATORES QUE INTERFEREM Além da inclusão de hemorragia decorrente


• NO PROCESSO DE REPARO da sobreinstrumentação, há ainda a possibilidade
da contaminação bacteriana da área periodontal,
O reparo de lesões periapicais, após procedi- inclusive com bacteremia no local.
mentos de Endodontia é dependente da influên-
cia de fatores sistêmi cos e locais, ou seja, o pro- Agressão tecidual
cesso de reparo evoluirá para o sucesso na de-
pendência da existência ou não de tais fatores, A extensão e severidade da injúria também
influenciando a reparação 30 · 34, 39 , são fatores que impedem o desenvolvimento do
reparo. Quanto menor a intensidade do trauma,
Fatores locais: mais rápido se instala o processo de reparo. A
1. Infecção; destruição tecidual, com morte celular favorece a
2. Hem orragia; colonização de microrganismos, podendo gerar
3. Destruição tecidual; um processo infeccioso no local.
4. Deficiência no suprimento sangüíneo; A destruição tecidual ou injúria é comum
5. Presença de corpos estranhos nos tecidos periodontais. durante os procedimentos de extirpação do teci-
do pulpar e durante o preparo do canal radicular,
Fatores sistêmicos: principalmente nos casos de extravasamento pe- 1 •

l, Nutrição; riapical.
2. Etresse; Nos casos de necrose pulpar com rarefação
3. Estados debilitantes crônicos; óssea apical é importante que sejam realizados os I
4. Hormônios e vitaminas; procedimentos somente no interior dos canais
5. Desidratação e idade. radiculares,
Nos casos de extravasamento de materiais
para as áreas de rarefação, geralmente, o repa-
• FATORES LOCAIS ro é impedido até que o material seja reabsor-
vido. I
Infecção
Interferência com o suprimento
A infecção na regiã o periapical ou no interior sangüíneo
dos canais radiculares, decorrente da presença
de microrganismos, é um dos fatores que impe- Quanto mais vascularizado um tecido m e-
de a formação do tecido de granulação. Em al- lhor é a reação inflamatória com finalidade de
guns casos, com a finalidade de auxiliar o pro - cura. Portanto, tecidos com áreas isquêmicas ou
cesso de reparo, a drenagem ou debridamento com arteriosclerose, tendem a se tornar mais
da área lesada são imprescindíveis, com a finali- infectados, com maior destruição tecidual.
dade de reduzir ou eliminar os microrganismos. Um fator importante a ser considerado é que
Além destes procedimentos cirúrgicos algumas nos indivíduos jovens o processo de reparo se
vezes é necessária a utilização de agentes anti- desenvolve com mais facilidade que nos indiví-
microbianos, duos mais velhos.

Hemorragia B Obietos estranhos

A hemorragia e a formação do coágulo são Como já relatado anteriormente, o extrava-


fundamentais para o processo de reparo. Entre- samento de materiais no espaço periodontal,
tanto, o sangramento ex cessivo causa periodon- como cones de guta-p ercha, cimentos obturado-
tite na região periapical pela compressão das es- res, fibras de algodão ou produtos químicos im-
truturas locais. Além do mais, a formação de pedem o desenvolvimento do reparo, Algumas
coágulo sangüíneo decorrente de procedimentos vezes, a repercussão dessas ia trogenias podem
iatrogênicos no limite apical atrasa o início do aparecer até vários anos após o término do trata-
processo de reparo, pois é necessário, primeiro, a mento endodôntico, ou permanecerem como le-
reabsorção do coágulo . sões inflamatórias crônicas,
- ~ ~ ~ ~ ~ ~~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~~ ~ ~ ~ ~ ~ ~-=========e-===============-=-~,.....--;;;;;

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Irritações de origens químicas e mecânicas, cristais de colesterol puros foram implantados no
podem interferir no processo de reparo. Nos ca- subcutâneo de porcos da índia. As amostras fo-
sos de extravasamento de corpos estranhos, ram observadas 2, 4 e 32 semanas após o im-
quando o reparo ocorre é devido ao encapsula- plante, e processadas para microscopia óptica e
mento do objeto estranho por tecido conjuntivo eletrônica. Pode-se observar tecido conjuntivo
fibroso. Com referência às células fagocitárias do penetrando através das perfurações. Os cristais
processo inflamatório, Nyborg & Tullin 26 decla- estavam cercados por numerosos macrófagos e
ram que os macrófagos têm dificuldade para re - células gigantes multinucleadas formando uma
mover o excesso de guta-percha e é raro o ce - área bem circunscrita de reação tecidual. As cé-
mento ser depositado sobre a guta -percha. Por lulas, entretanto, fora m incapazes de eliminar os
este fato, é comum observar em exames radio- cristais durante o período de observação de 8
gráficos de rotina, reabsorções radiculares exter- meses. A congregação de macrófagos e célula s
nas apicais e a permanência intacta desses mate- gigantes, conhecidos como os principais fatores
riais obturadores. da inflamação apical e mediadores da reabsorção
A periodontite apical é causada inicialmente óssea, sugerem que o acúmulo de cristais de co-
por microrganismos que residem nos canais radi- lesterol pode ser um fator de insucesso em a lgu-
culares infectados. Existem evidências convin - mas lesões periapicais após tratamento endodôn-
centes de que outros fatores independentes po- tico conv encional2 5 .
dem afetar adversamente o sucesso da terapia
endodôntica convencional. Assim , evidência
morfológica é apresentada para confirmar o po- • FATORES SISTÊMICOS
tencial de dois fatores endógenos que podem in-
terferir com a cicatrização periapical após o trata- Os fatores sistémicos que podem interferir
mento endodôntico. Os espécimes consistem em no processo de reparo são relacionados a seguir:
' / biópsias cirúrgicas de lesões periapicais assinto- idade, fatores nutricionais, depleção de proteí-
; máticas que persistiram após um período de pro- nas, gorduras e carboidratos, doenças crônicas,
servação de 44 meses. As biópsias foram proces- tuherculose, diabetes, doenças r enais, discrasias
sadas através de microscopia ópitica e eletrônica. sanguíneas, alterações horm onais, avitaminoses,
A lesão foi caracterizada pela presença de um desidratação.
grande lume central delineado por epitélio esca- É certo que o prognostico de sucesso nos
moso estratificado. O aspecto mais interessante tratamentos endodônticos de pessoas idosas é
da lesão foi a presença de vasto número de cris- menor quando comparado com indivíduos jo-
tais de colesterol congregados ao tecido conjunti- vens. Há uma interrelação entre idade e fatores
;, vo que envolvia a cavidade cística. Uma investi- nutricionais. Em geral a suscetibilidade a agentes
gação microscópica (óptica e eletrônica) extensi- infecciosos é relativamente maior em indivíduos
va da região apical dos canais radiculares e da com mais idade associado a deficiência no siste-
lesão falharam na tentativa de revelar a presença ma imune. Portanto, a idade, estado nutricional
de microrganismos. Esses achados sugerem que e sistema imune, quando deficiente, interfere
fatores intrínsecos como produtos teciduais em substancialmente no processo de reparo.
-~ degeneração como cristais de colesterol, e a con- Pessoas, portanto, sofrendo de anorexia, ou
f' dição cística da lesão por si só podem afetar ad- trauma cirúrgico que res ulta em um negativo
t
versamente o processo de cicatrização do periá- balanço de nitrogênio são suscetíveis a supressão
pice após o tratamento endodôntico. Conse- de complemento, dimi nu indo a resistência a do-
qüentemente, as lesões apicais podem permane- enças e ao reparo. Associado a isto, lizosima , IgG
cer refratárias a terapia endodôntica convencio- e IgA secretora são diminuídos.
nal por longos períodos de tempo24 . A deficiência de proteínas também é um dos
A presença de cristais de colesterol pode ser fatore s que interfere n o processo de reparo.
um fator que interfere na cicatrização periapical Quando além da deficiência de proteínas no or-
após o tratamento endodôntico convencional. ganismo, há uma deficiên cia de Vitamina C, o
Nair et al. 2 5 observaram o papel dos cristais de processo de fibroplasia também é retardado. O
f'
·,:;. colesterol na cicatrização através da resposta teci- estresse, associado a estes fa tores acima citados,
dual, os quais foram implantados em animais . Os também interferem no processo de reparo 32 •33 .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

·.~
As doenças hepáticas interferem na síntese ....,..,
Os carboidratos e lipídeos são os fornecedores
de energia para o processo de reparo. Quando de proteínas e outros processo básicos do meta-
ocorre a carência de carboidratos no organismo, bolismo e mineraliza ção, sendo o reparo das le-
conseqüentemente há interferência no processo de sões periapicais adversamente afetado . Desta
reparo. Os ácidos graxos são precursores das pros- forma, pacientes portadores de cirrose hepática
taglandinas, mediadores quúnicos da inflamação, ou hepatite possuem baixos níveis de vitamina
importantes no processo de formação do coágulo. K, importantíssima ao processo de formação do
Doenças crônicas, como a tuberculose, dia- coágulo.
betes e outras doença s possuem um efeito debili- Entre as desordens do sangramento, a hemo-
tante, da mesma forma interferindo no desen- filia e a Doença de Willebrand, são as mais repre-
volvimento do reparo. sentativas. Terapia endodôntica que possa induzir
Nos pacientes portadores de tuberculose, a a sangramento, como cirurgias, não devem ser
oxigenação do sangue não é adequada, portanto, propostas, sem a indicação prévia de sangue, plas-
há deficiência na oxigenação tecidual e conse- ma, plasma ferese, ou agentes antifibrinolíticos
qüentemente um processo de reparo deficiente. seguidos da aplicação de produtos hemostáticos
Os pacientes diabéticos quando controlados tópicos para controlar hemorragia.
estão aptos a se submeter a tratamentos endo- As alterações hormonais podem afetar o re-
dônticos. paro das lesões periapicais, em virtude dos seus r •
Os indivíduos portadores de distúrbios renais efeitos no metabolismo ósseo. A osteoporose
reque rem atenção especial nos procedimentos constitui um destes efeitos que é caracterizado
endodônticos, principalmente pacientes renais por um distúrbio na formação da matriz óssea. Já I
crônicos que necessitam hemodiálise. Os linfóci- n a síndrome de Cushing, há diminuição excessi-
tos T estão reduzidos em número na corrente va da espessura da cortical óssea e os espaços
sangüínea e sangramento severo pode ser encon - trabeculares são reduzidos substancialmente. O '
trado . Este sangrarnento pode ser causado _por número de osteoblastos é reduzido e as áreas de
uma função plaquetária anormal, p or tromboci- osso neoformado demonstram redução da ativi-
topenia ou mesmo pelo uso de anticoagulantes. dade osteoblástica. !
Outro fator que deve ser considerado é o
Quando necessário tratamento endodôntico nes-
ses pacientes, medidas preventivas têm que ser estresse que promove uma série de alterações no i
tomadas, principalmente nos casos de cirurgia. organismo do indivíduo. A origem do stress pode
Dentre as discrasias sanguíneas, merecem estar relacionada a infecção, exaustão, distúrbios
atenção os pacientes portadores de anemia ou hormonais e distúrbios emocionais. Indivíduos
leucemia. Nos casos de anemia, o reparo se torna sob condições de estresse têm maior suscetibili-
inadequado pela deficiência no suprimento san- dade para o desenvolvimento de infecções, sen-
güíneo da região afetada. Os pacientes leucêmi- do o processo de cura mais deficiente.
cos possuem maior probabilidade a infecções, es - A carência de Vitamina C, principalmente
pecialmente nos casos de granulocitopenia. Nes- nas lesões intra -ósseas impede o bom desenvol-
ta situação, o uso de antibióticos profiláticos é vimento do reparo. Esta vitamina é necessária
necessário. Nos pacientes que receberam trata- para a formação do colágeno de Lodas esLruwras
mento quimioterápico são contra -indicados os teciduais fibrosas, ou seja, da matriz óssea, denti-
procedimentos endod ônticos, sendo necessário, na e cartilagem.
primeiro, o controle h ematológico, pois há baixa A deficiência de ácido ascórbico impede o
resistência a microrganismos, decorrente da su- desenvolvimento normal do tecido conjuntivo .
pressão da resposta imune. Tanto a formação do colágeno quanto as glicosa-
Os pacientes portadores de neoplasias malig- minoglicanas são afetadas. Os fibroblastos são
nas que receberam tratamento radioterápico em afetados, o que resulta na formação de fibras de-
altas doses também requerem cuidados especiais feituosas. Enfim, a avitaminose do tipo C leva a
nos casos de tratamentos endodônticos e, princi- uma diminuição da formação da matriz óssea,
palmente, nos casos de cirurgias parendodônti- conduzindo osteoporose.
cas, pois o suprimento sangüíneo nas área irradia - Deficiências de Vitamina K interferem n o
das é deficiente e, o que contribui para o insu- processo de formação do coágulo e as de vitami-
c/sso do processo de reparo . na D no processo de mineralização, representan -
PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO
• ., . .. ...... .,,,., ~···,<• ......
(

do situações importantes no processo de cura de cido conjuntivo subcutâneo de ratos. Ao exame


inj úrias teciduais. bistopatológico, realizado a parür do décimo
Finalizando, torna-se importante relatar a dia após o implante, observaram a presença de
desidratação como um dos fatores que prejudica calcificações heterotópicas ao redor dos cilin-
o desenvolvimento, pois, a perda de água no dros contendo hidróxido de cálcio. Outros tra-
sangue aumenta a viscosidade e conseqüente es- balhos mostraram mineralizações ectópicas
tagnação nos capilares, impedindo as trocas de após o implante de hidróxido de cálcio em sub-
nutrientes e atividade flogística na região. cutâneo de ratos l. 28 .
A histórica médica e odontológica do pacien- Rasmussen & Mjor 28 avaliaram a eficiência
te, durante o inventário de saúde é fundamental do hidróxido de cálcio como indutor ectôpico de
para se estabelecer o prognóstico e vislumbrar o osso, com o auxílio de implantes subcutâneos ou
sucesso do tratamento endodôntico através de intraperitoneais em ratos. Decorridas 6 a 18 se-
uma boa evolução do processo de reparo. manas, no grupo em que o hidróxido de cálcio
~

INFLUENCIA DO HIDROXIDO
.. esteve em contato direto com o tecido, ocorreu
.. hiperplasia acentuada no conjuntivo, com a
DE CALCIO NO PROCESSO DE presença de numerosas células gigantes multi-
REPARO TECIDUAL nucleada s e algumas ilhas basófilas irregulares e
positivas ao método de Von Kossa . No grupo em
A análise do hidróxido de cálcio frente à in- que o hidróxido de cálcio foi separado do tecido
dução e favorecimento do processo de reparo por filtro de Millipore, não se observou nenhu-
periapical deve ser discutida a partir das con- ma reação significativa, levando a crer que o
dições clínicas existentes, como o tratamento hidróxido de cálcio poderia criar um meio fa -
endodôntico em popa vital (sã ou inflamada) e vorável para a forma ção de tecido duro, para
necrose pulpar com ou sem lesão periapical. que o processo n atural de cura seja acelerado.
/ O hidróxido de cálcio é uma base forte, que A influ ência do hidróxido de cálcio n a repa-
exerce suas propriedades a partir da dissocia - ração apica l pós-pulpectomia em dentes de cães
çã o em íons cálcio e íons hidroxila, e sua ativi- foi estudada por Holland et al. 16 . Neste estudo,
dade sobre os tecidos e microrganismos. Essa observou-se que o processo de reparo caracteri-
substância é obtida com a ca lcina ção do carbo- za-se na sua fase inicial (2 - 7 dias), pela deposi-
nato de cálcio, onde se ch ega ao óxido de cál- ção de sais de cálcio (birrefringentes à luz polari-
cio, qu e pela hidratação obtém -se o hidróxido zada). Acredita-se que essas granulações resul-
de cálcio. Esse hidróxido de cálcio na presença tem da reação do cálcio do hidróxido de cálcio
de dióxido de carbono tecidua l ou atmosférico, com o dióxido de carbono do tecido, constituin-
transforma-se novamente em carbonato de cál- do o carbonato de cálcio sob a forma de calcita.
cio, que agora como óxido ácido fraco, não Essas gra nulações sã o numerosas e basta nte va-
m ais apresenta as requisitadas propriedade s riadas . O aparecimento de sais de cálcio sob a for-
biológicas 4 . ma de caleira parece estimular o tecido conjunti-
O Capítulo 12 referente ao hidróx ido de vo abaixo a depositar fin as granulações de sais de
cálcio discute particularidades de suas proprieda- cálcio de natureza diferente e de pequeno tama -
des e de seu real mecanismo de ação. Nesse mo - nho, agora p rovenientes do organismo. O liga-
mento, será descrito somen te sua influência no m ento periodontal apica l apresenta-se necrosa-
processo de reparação tecidual. do, sendo que o restante mostra-se com vitalida -
Tomando-se como parâmetro os fa tores que de. A área de necrose é eosinófila e os detalhes
influenciam as atividades enzimáticas, teciduais celulares muito pou co nítidos, porém, obser-
e microbiana s, observa-se que o hidróxido de vam-se vasos hiperemiados . O tecido em conta -
cálcio exerce sobre esses referenciais expressiva to com a zona de n ecrose, contem células jo-
atividade. vens, e podem ser observados fibrócitos. O in-
Relativamente à sua açã o biológica em filtrado inflamatório é discreto, sendo e n con-
presença de tecido vitali zado, Mitche l & trados neutrófilos e fragmentos nuclea res. O li-
Shankwa lker 21 ana lisaram o potencial osteo - gamento periodontal geralmente está infiltra-
gênico do hidróxido de cálcio e de outros mate - do p or raros linfócitos e macrófagos. Posterior-
riais, por meio de implantes de cilindros n o te - m ente ( 15 a 30 dias), as células in flamatórias
CIÊNCIA ENDODÔNTI CA

desaparecem e inicia-se a apos1çao de cemento. Tronstad et al. 38, frente à análise de altera-
Em alguns locais é grande o número de cemen- ções do pH em tecidos dentários de macacos após
toblastos, e o cemento depositado é geralmente a obturação dos canais radiculares com hidróxi-
contínuo com o neoformado no interior do canal do de cálcio, esclarecem que, além do pH, outros
cementário. No tecido ósseo é bem menos fre- fatores são importantes para explicar o eleito re-
qüente a ocorrência de atividade osteoclástica; parador do hidróxido de cálcio na reabsorção in-
por outro lado, é comum a observação de n eo- flamatória. Além de observarem diferentes valo-
formação óssea. Quando decorridos 120 dias, o res de pH na massa dentinária, salientaram que a
aspecto morfológico é quase semelhante ao ob- presença de íons cálcio é necessária para a ativi-
servado com 15, 30 e 60 dias. Salienta -se apenas dade do sistema complemento na reação imuno-
a quantidade de cemento depositado que, na lógica e que a abundância de íons cálcio ativa a
maioria dos casos, é tra duzida por espessas bar- ATPase (Adenosina Trifosfatase) cálcio depen-
reiras. A superfície das barreiras é irregular e não dente, a qual está associada à forma ção de tecido
mais evidencia os detalhes nucleares das células duro.
que ficaram inclusas após a deposição de sais de Outro ponto a destacar é que o hidróxido de
cálcio, detectada a partir de 2 dias após o ato cálcio, pelo elevado pH, ativa a fosfatase alcali-
cirúrgico. A deposição de cemento é intensa nas na 1· 13· 28 · 37 A 2 e o pH ótimo para a atuação da fosfa -
paredes do canal. Aos 240 dias a deposição de tase alcalina varia com o tipo e concentração de
cemento é maior que a observada aos 120 dias. substrato, com a temperatura e com a fonte de enzi-
Os cortes seriados transversais revelam selamen- ma, sendo que os limites situam-se por volta de
to total pela deposição de tecido mineralizado 8,6 a 10,3 36 .
(osteocemento) em grande parte dos casos exa- A fosfatase alcalina é uma enzima hidrolítica
minados. Além do selamento biológico, observa- que atua por meio da liberação de fosfato inorgâ-
se ligamento periodontal não infiltrado por célu- nico dos ésteres de fosfato . Esta enzima pode se-
las inflamatórias, estando as fibras periodon_tais parar os ésteres fosfóricos, liberando os íons fos-
inseridas no cemento e tecido ósseo, com áreas fatos, que uma vez livres, reagem com os íons
de neoformação, não sendo visível qualquer ati- cálcio (provenientes da circulação sangüínea ) /
vidade osteoclástica. para formar um precipitado n a matriz orgânica,
Wakabayashi et al. 4 0 , servindo-se da micros- o fosfato de cálcio, que é a unidade molecular da
copia eletrônica de varredura e de um m icroana- hidroxiapatita3 3 •
lisador de dispersão de energia de Raios-X, avali- Frente ao exposto, nota-se a efetiva influên-
aram o mecanismo de calcificação distrófica in - cia do hidróxido de cálcio no favorecimento do
<luzida pelo hidróxido de cálcio no tecido con- processo de reparação tecidual pós-pulpectomia.
juntivo da câmara auricular de coelho. As intera- Na presença de necrose pulpar com ou sem
ções entre microvasos e o hidróxido de cálcio lesão periapical, o efeito antimicrobiano do hi-
foram observadas imediatamente após a aplica- dróxido de cálcio, quer por contato direto ou in-
ção e, continuamente por 14 semanas. Os resul- direto, a partir da liberação de íons hidroxila tem
tados revelaram, nas fases inciais da reação teci- sido verificado por várias pesquisas4 · 5-8 - 1º· 14· 2 º·2 2, 3 1.
dual, a formação de u ma camada necrótica e cal- Considerando o papel do microrganismo,
cificações vistas como precipitação rápida de cris- como necessário à m anutenção da agressão e do
tais por n eutralização e seu pronto crescimento processo inflamatório periapical, o hidróxido de
em uma barreira (calcificação distrófica ) . Obser- cálcio atua de modo efetivo na sua eliminação e
varam, ainda, que o cálcio e o fósforo adicionais paralelamente na estimulação à reparação 4 · 10 · 14 · 19 .
depositaram-se diretamente sobre as partículas Estrela 5 explica o mecanismo de ação do hi-
do precipitado. Ademais, constataram que os dróxido de cálcio sobre os microrganismos a par-
precipitados dos espécimes de 24 horas mostra- tir do estudo do efeito biológico do pH na ativi-
ram não somente um pico de cálcio como tam- dade enzimática. A ação do pH do hidróxido de
bém fracos picos de fósforo, enxofre e/ou mag- cálcio se processa nos sítios enzimáticos do mi-
nésio, nas porções fun didas entre os cristais e, crorganismo, como acontece em nível de mem -
sugerem que, tais precipitados teriam o potencial brana citoplasmática, causando efeitos biológicos
de induzir calcificação distrófica do tecido, o que lesivos sobre a célula bacteriana. Como a locali-
está de acordo com os achados de Holland et al. 15. zação dos sítios enzimáticos é na membrana cito-
PROCESSO D E REPARO APÓS ,O TRATAMENTO ENDODÔNTICO

plasmática, e por esta ser responsável por fun- que mostrou excelente capacidade seladora. Em-
ções essenciais, como o metabolismo, crescimen- bora o MTA tenha sido muito bem discutido nos
to e divisão celular, e pela participação dos últi- Capítulos 12 e 16, neste momento cabe ainda
mos estágios da formação da parede celular, bios- alguma análise, comparando -o ao hidróxido de
síntese de lipídios, transporte de elétrons, como cálcio.
enzimas envolvidas no processo de fosforilação Holland et al.18 observaram resultados bioló-
oxidativa, o autor reportou que os íons hidroxila gicos semelhantes entre o agregado de trióxido
do hidróxido de cálcio desenvolvem seu meca- mineral (MTA) e o hidróxido de cálcio, verifican-
nismo de ação a este nível em virtude da ativida - do que os mecanismos de ação destas substâncias
de destes íons neste local. O efeito do elevado pH são similares, quando do implante em subcutâ-
do hidróxido de cálcio 12 •6 , influenciado pela libe- neo de ratos .
ração de íons hidroxila, é capaz de alterar a inte - Estrela et al.6 investigaram a ação antimicro-
gridade da membrana citoplasmática através de biana e química do MTA, cimento Portland, pas-
injúrias químicas aos componentes orgânicos e ta de hidróxido de cálcio, Sealapex e Dycal. Os
transporte de nutrientes, ou por meio da destrui- indicadores biológicos utilizados foram: S. aureus,
ção de fosfolipídios ou ácidos graxos insaturados E. faecalis, P aeruginosa, B. subtilis, um fungo, e
da m e mbrana citoplasmática, observado p elo albicans, e uma mistura destes foi empregada.
processo d e peroxidação lipídica, sendo esta, Para a análise do potencial antimicrobiano estu-
uma reação de saponificação. dou -se por meio de teste por difusão em ágar. A
Como o sítio de ação dos íons hidroxila do análise química dos elementos presentes no MTA
hidróxido de cálcio envolve as enzimas presentes e em duas amostras de cimentos Portland foi fei-
na membrana citoplasmática, dependendo de ta com um Espectrômetro de Florescência de
su a quantidade, esta medicação deve possuir um Raios-X. Os res ultados mostraram que a ativida-
amplo espectro de ação, agindo, portanto, sobre de antimicrobiana da pasta de hidróxido de cál-
/ uma gama variada e diversa de microrganismos, cio foi superior a todas as outras substâncias
independente de sua capacidade metabólica 5•7 · 9 . (MTA, cimento Portland, Sealapex e Dycal), so-
Safavi & Nichols 30 mostraram um efeito es- bre todos os microrganismos testados, apresen-
pecífico dos íons hidroxila nas bactérias Gram- tando zonas de inibição com 6-9,5 mm e zonas
negativas, os quais poderiam hidrolisar o lipopo- de difusão com 10-18 mm. O MTA, o Cimento
lissacarídio presente, degradando o lipídio A e, Portland e o Sealapex apresentaram somente zo -
conseqüentemente, neutralizar seu efeito residual nas de difusão e, dentre estes, o Sealapex apre-
posterior à lise celular. sentou a maior zon a. O Dycal não apresentou
Além da atividade antimicrobiana, o efeito halos de inibição, nem de difusão. O cimento
residual na neutralização do lipopolissacarídio Portland contém os mesmos elementos químicos
dos microrganismos por atuação prolongada, fa- que o MTA, com a exceção que o MTA também
vorece as atividades de reparação tecidual. Uma apresenta, na sua constituição, o bismuto.
elevada concentração de íons cálcio do hidróxido Holland et al.17 avaliaram a reação do tecido
de cálcio exerce no tecido de granulação de den- conjuntivo do rato ao implante de tubos de denti-
tes despolpados, a diminuição da permeabilidade na obturados com agregado de trióxido mineral
vascular, levando a um efeito indireto antiinfla- (MTA), cimento Portland ou hidróxido de cálcio.
·i?• matório14·15.
O hidróxido de cálcio pelos fatores discutidos
Os animais foram sacrificados após 7 ou 30 dias e
os espécimes, não descalcificados, foram prepara-
exerce uma positiva e expressiva influência do dos para análise histológica com luz polarizada e
processo de reparação tecidual. Holland et al. 19 técnica de Von Kossa para tecidos mineralizados.
mostraram a excelente influência da utilização Os resultados foram similares para os 3 materiais
do hidróxido de cálcio no processo de cura de estudados. Próximo às aberturas dos tubos foram
lesões periapicais. observadas granulações Von Kossa positivas, bir-
O hidróxido de cálcio atua estimulando os refringentes à luz polarizada. Junto dessas granu-
tecidos periapicais no processo de reparação. No lações foi observado um tecido irregular na forma
entanto, na Universidade de Loma Linda (EUA), de uma ponte, também Von Kossa positivo. As
Torabinejad et al. 37, estudaram um novo material paredes de dentina dos tubos exibiram uma estru-
denominado de Mineral Trioxide Agregate (MTA), tura altamente birrefringente à luz polarizada, no
CIÊNCIA ENOODÔNTICA

interior dos túbulos, formando uma camada em Vários estudos real izados mostraram de for-
diferentes profundidades. Diante do observado, é ma clara a similaridade entre o MTA, o cimento
possível que os mecanismos de ação dos materiais Portland e o hidróxido de cálcio 6· 17 - 19•31 .
estudados sejam similares entre si. Em outro estu- As Figuras 18.10 a 18.19 evidenciam o pro-
do, Saidon et al.3' observaram que o MTA e o ci- cesso de reparo após o tratamento endodôntico
mento Portland não apresentaram cilotoxicidade. em dentes com periodontite apical assintomática.

1 •

• FIGS. nuo e 1s.u


Processo de reparo após o tratamento
endodôntico em dentes com penodontite
apicol assintomótico.

• IF~G_S.J,6,12__~ 1$.13
Processo de reparo após o trotamento
endodôntico em dentes com periodontite
apical assintomática.
........................................................................................
~

PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO

- FIGS. __ 18.14 e18.1S ·-·-···-·-·--·-·-


Processo de reparo após o tratamento
endodôntico em dentes com periodontite
apicol assintomático.

• __fl_GS. 18.16 ~ JIJ.1:1..... ........._.. _____


Processo de reparo após o trotamento
endodôntico em dentes com periodontite
opical assintomática.

• 1

• FIGS. 18.18 e 18.19 ----------- .... .


Processo de reparo após o tratamento
endodôntico em dentes com periodontite
apico/ ossintomática.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
.
!

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ABORDAGEM
CONTEMPORÂNEA DA
TERAPIA PU LPAR EM
DENTES DECÍDUOS
FERNANDO BORBA DE ARAÚJO
/
CARLA MOREIRA PITONI
ALICE SOUZA PINTO
MARIA DE LOURDES A. MASSARA
• INTRODUÇÃO

O conhecimento cada vez mais amplo sobre a etiologia da cárie den-


tária tem sido respon sável pelo declíni o da sua incidência, na medida em
• 1
que fatores associados ao aparecimento da doença podem , atualmente, ser
m elhor identificados e controlados . O conjunto de ações aplicadas para
este fim está inserido em uma proposta de trabalho que envolve não só o
diagn óstico precoce da doença, mas também a utilização de procedimen-
tos terapêuticos menos in vasivos.
A importância da compreensão e da aplicação destes princípios n a
clínica odontopediá trica tem uma forte repercussão na biologia do cresci-
m ento e desenvolvimento dentário e esquelético. Com base nestas asserti-
vas, pode-se referenciar a situação clínica de um preparo conservador, na
qual uma maior integridade da estru tura dentária é preservada, contri-
buindo decisivamente para uma m aior manutenção daquela estrutura
dentária afetada, ideal para o melh or desempenho funcional e estético.
Em relação a situações clínicas que en volvam direta ou indiretamente
o órgão pulpar, a oportunidade de se evitar a endodontia convencion al
em um dente decídua seria de suma importância, uma vez qu e é conh e-
cida a sua relação direta com as alterações clínicas que podem surgir em
função da aceleração de sua rizólise.
Para a aplicação destes conceitos na clínica odontopediátrica, procura -
..
..
"':, se, den tro da linha de pen_sam ento acima descrita, desenvolver neste capí-
CIENCIA ENDO D ÔNTICA

tulo primeiramente as considerações referentes à têm a capacidade de se diferenciar em qualquer


estrutura e à fisiologia da polpa do dente decí- outro tipo de célula, principalm_e nte em odonto-
duo, relacionando-as com os aspectos clínicos, blastos, desempenhando um papel fundamenta l
para assim dar o suporte necessário às manobras no processo de reparação 6 .
dirigidas à proteção direta ou indireta do com- Com relação a esse aspecto estrutural, a pol-
plexo dentinopulpar. pa dos dentes decíduos com até 2/3 de rizólise é
semelhante a dos dentes permanentes jo-
HISTOFISIOLOGIA PULPAR DE vens33·54·7º·1 16. Os aspectos da arquitetura pulpar,
DENTES DECÍDUOS sob microscopia ótica, estão ilustrados na Figu-
ras 19.1 e 19.2. Na primeira fase do ciclo vital, o
O dente decíduo apresenta um ciclo vital ca- processo fisiológico de rizogênese pouco interfere
racterístico, no qual se observa três fases distin- na morfologia do tecido pulpar do dente decí-
tas: rizogênese incompleta, rizogênese completa dua, seja com relação à histometria dos seus
e rizólíse. Essas fases são m arcadas por intensas componentes predominantemente celular, ou à
variações morfológicas e metabólicas6 • própria morfologia6· 5º.
Ao levantar a literatura refe rente às caracte- Com relação ao componente fibroso, sabe-
rísticas do tecido pulpar, poucas são as citações se que, com o evoluir da idade, ocorre o aumen-
relacionadas aos dentes decíduos. No entanto, os to no número de fibra s colágenas presente no
poucos dados encontrados revelam a semelhança tecido pulpar. Neste momento, d eve-se fazer um
com os dentes permanentes, no que tange à sua questionamento sobre qual a razão do dente de-
estrutura, composição e capacidade reacional. cíduo apresentar um "envelhecimento" de seu
Para facilitar a compreensão desse assunto, tecido pulpar em um período de vida biológica
decidiu-se abordar di stinta mente as alterações da criança em que existe uma alta atividade me -
morfológicas e metabólicas da polpa dos dentes tabólica relacionada ao crescimento e desenvol-
decíduos. vimento esquelético, sem se ter a predominância
O tecido pulpar jovem caracteriza-se p·o r fibrosa em outros tecidos conjuntivos do organis-
apresentar predominância celular, com poucas mo.
fibras e um rico suprimento sangüíneo. O grupo
celular está identificado principalmente pelos fi-
broblastos, fibrócitos e células mesenquimais in-
diferenciadas, estando este último grupamento
representado por uma população celular muito
importante para a histologia pulpar. Estas células

• FIG. 19.l
Corte histológico corado em H.E. (aumento BSXJ,
• FIG. 19.1 mostrando porte do complexo dentinapo/po de um cani-
Camada de odontoblastos em nível de polpa no decídua com metade de rizólise. Dentina (1 J, pré-
coronária de um dente decídua em início de reabsorção. dentino (2), camada odontoblástica (3), zona acelular
Morfologia semelhante ã encontrado em tecidos iovens. (4), zona rica em células (5), e camada central do polpa
HE, aumento de ± 550X (Aroúio 6, 7982). (Moreiro 117 et oi, 7999J.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PU lPAR EM DEN TES DECÍOUOS

É importante salientar que, tanto em dentes so de rizólise, ocorre histometricamente uma pre-
decíduos hígidos, como naqueles que apresentam dominância celular, o que não indica um estado
lesão cariosa em dentina, ou seja, em situação de envelhecimento pulpar. Araújo6 ainda acres-
fisiológica ou patológica, ocorre uma diminuição centa qu e, morfologicamente, as células do tecido
progressiva do volume da câmara pulpar e canais conjuntivo pulpar apresentam características de
radiculares, em função da deposição fisiológica de alta atividade metabólica n esta fase . Com relação
dentina secundária, fenômeno que acontece in - às estruturas vasculares, apesar de se saber que
clusive na fase de rizólise 75 · 1º6 . Essa deposição con- diminuem em quantidade com a rizólise, morfo-
tínua durante toda a vida do dente decídua (Fi- logicamente ocorre um aumento compensatório
guras 19.3 a 19.6) evidencia a capacidade forma- no calibre das mesmas. Este acontecimento é sig-
tiva desses elementos dentais nas várias fases do nificativo em procedimentos clínicos nos quais o
ciclo vital to5 . Trabalhos como os de Camargo27 e tecido pulpar é estimulado depois de iniciada a
Araújo6 mostram que ainda na metade do proces- reabsorção fisiológica (Figuras 19.7 e 19.8).

• r:~G. 'ill\}.3
Em condições fisiológicas, o aspecto radiográfico do ... a diminuição do seu volume depois de 5 anos, /O
volume da câmara pulpar do segundo molar decídua com o primeti·o molar permanente em oclusão.
infenor esquerdo e. ..

• 1

• m:m. t9.6
• fiG. t•;u ... a sua situação radiográfica, 3 anos e 6 meses
após.
Em situações patológicas (presença de restaura-
ç6esJ, o aspecto radiográfico do volume da câmara
pulpar do dente 75 e ...
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Aspecto morfológico do polpa radicular de um den-


te decídua em início de reabsorção, com algumas fibras
colágenas dispostas longitudinalmente. Tricrômio de
Mallory. Aumento de ± 140X (Aroújo 6, 1982).
• _FIG. 19.8
Formação de feixes de colágeno com orientação
definida e intensa vascularização no polpa radicular de
um dente decídua em metade de reabsorção. Tricrômio
de Mol/01y Aumento de ± 140X <Aroújo6, 1982).

Encaminhando o racio cínio para o aspecto também est á evidenciado o envelhecimento ce-
metabólico, sabe -se que a energia que a célula lular, representado por alterações citoplasmáti-
necessita para realizar suas funções é provenien - cas nos fibroblastos e dissociação das células e
te do glicogênio. Este é um carboidrato de reser- fibra s3 4 • Somente n essa fase do ciclo, a capaci -
va, prontamente disponível para o fornecimen- dade formativa do tecido pulpar estaria compro -
to de energia à célula, geralmente encontrado metida. Portanto, no caso de um comprometi-
em altas con cen trações em áreas onde existem mento pulpar, já estaria contra-indicado qual-
mecanismos de calcifi cação 12 , _ quer. tipo de tratamento conservador, cabendo
A partir do exposto acima, pode-se conside - então a exodontia do dente lesado 106 •
rar que as alteraçõe s qu e ocorrem no tecido Diante do exposto, compr eende -se que as
pulpar durante o estágio de rizólise do dente respostas indesej áveis do complexo dentina-
decíduo não podem ser consideradas como de- polpa frente a terapias pulpares conservadoras
generativas, apresentando a polpa um papel estariam relacionadas à presença de alterações
passivo frente ao processo de reab sorção radicu- patológicas e não de alterações fisiológicas 1º6 •
larG,169. Neste sentido, a u tilização de procedimentos
Somente na fas e linal da rizólise é que são menos invasivos, u tilizando-se medicamentos
observadas alt erações regressivas no tecido pul- que estimulem o potencial de defesa do orga-
par. O trauma mecânico causado pela mobilida- nismo, con stitui uma alternativa viável e perfei-
de facilita a penetra ção de microrganismos e to- tamente indicada para dentes decíduos, mesmo
xinas provenientes da cavidade bucal, provo- que estejam em processo de rizólise 106 , como
cando uma r eação in fla matória 70 . Nesta fase está exemplifica do n as Figuras 19.9 e 19.10.
ABORDAG EM CONT EMPORÂN EA DA TERAPIA PULPA R EM DENTES DECÍDUOS

..
~

• F~G~ 19.<Jp • F~G. 19.10


Dentina reacional depositada nas paredes laterais Detalhe da figura anteriOJ; na qual observa-se a
de uma exposição pulpar, com ausência de vedamento presença de um capilar (0 entre as camadas de dentina
no local do capeamento pulpar direto. HE, aumento de reparadora (DR), caracterizan do ausência de
± 64X Gentilmente cedido pelo Prof Carlos Alberto de vedamento. Dente decídua em fase fliwl de reabsorção.
Souza Costa (UNESP/Araraquara - SPJ. Gentilmente cedido pelo Prof Carlos Alberto de Souza
Costa (UNESP/Aroroquara - SPJ.

Nos tópicos seguintes serão amplamente dis- O complexo dentino-pulpar reage ao proces-
cutidas as alterações clínicas e histológicas do te- so carioso por meio de três mecanismos princi-
cido pulpar de dentes decíduos frente ao proces- pais: 1) submetendo seus túbulos à esclerose; 2)
so carioso, uma vez qu e procedimentos conser- estabelecendo a formação de dentina reacional
vadores de proteção direta ou indireta da polpa na superfície interna; 3) induzindo o processo
têm o seu êxito relacionado à correta avaliação inflamatório no tecido pulpar29 ·51.
da condição pu lpar. Em estágios mais avançados, como em le-
• 1 sões médias ou profundas, observa-se, primeira -
HISTOPATOLOGIA DA LESÃO mente, a completa destruição da dentina peritu-
CARIOSA EM DENTINA bular e o alargamento dos túbulos, causados
pela invasão bacteriana 174, responsável pelo de-
Em relação à densidade tub ular (número de sencadeamento de al terações pulpares inflama-
túbulos dcntinários por mm2 ), Koutsi et al. 87 tórias irreversíveis 124. Os túbulos dentinários
constataram, em molares decíduos, uma m édia tornam-se, então, parcial ou completamente
de 17.433 túbulos na dentina superficial e até obliterados em fun ção da aceleração do proces-
26 .391 na dentina profunda. No que diz respeito so contínuo de formação de dentina esclerótica,
ao diâmetro tubular, observaram com média de especialmente afetada pe la desmineraliza-
O, 96 µm na dentina superficial e até 1,2 ~tm na ção1t3,174. Essa formação de dentina escleróti-
dentina profunda. Portanto, semelhante ao ob- ca109, considerada como uma tentativa de para-
servado em dentes permanentes, a permeabilida- lisação da atividade cariosa 29 , dificulta a pene-
de dentinária aumenta com a proximidade do tração de bactérias e seus produtos metabóli-
tecido pulpar. Soma-se a isso o fato de apresen- cos24.
tarem menor ár ea dentinária à adesão, pois Em relação à dentina reacional, sabe-se que
quanto mais profundo for o preparo cavitário, é considerada, por alguns autores, como uma es-
menor será a quantidade de dentina intertubu- trutura irregular, pobremente calcificada, conse-
lar173. qüente do processo intermitente de evolução da
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

cane dentária 28 • Sua formação também objetiva ciária, as paredes dos túbulos dentinários são es-
limitar a difusão de substâncias tóxicas para o pessas e os próprios túbulos são freqüentemente
interior do dente, uma vez que, ao longo da obstruídos com material semelhante à dentina
zona limite entre a dentina secundária e a ter- peritubular83 (Figuras 19.11 a 19.13).

• F,G. J9~_11 ___


\lt"são detalhada de lesões cariosas de natureza crõ-
nica, em dentina, nas superfícies vestibulares dos dentes
51 e 61, em uma criança de 4 anos de idade.

Visão aproximada de lesões cariosas inativas em r


dentina nos dentes 52 e... v

• - FIG.__ 19.13_______ ___ --·-··--··---·-"·-·----·---- ---------·····-··-


··· 62 (consistência dura).

Estudos histológicos ilustram que, mesmo No entanto, embora microrganismos como


após o término do preparo cavitário, túbulos den- lactobacilos, estreptococos e algumas formas de
tinários podem perm anecer infectados no assoa- anaeróbios permaneçam viáveis por certo perío-
lho das cavidades, apesar da utilização de rigoro- do, acabam perdendo gradualmente a sua ativi-
sos métodos para a remoção da dentina amoleci- dade cariogênica, desde que restaurações ade-
da32·167·168, sendo que, quanto mais profunda for a quadas com relação à interface dente-restaura-
lesão de cárie, m enores são as chances de elimina- ção sejam feitas 167·168 .
ção completa de bactérias do seu interior 165 • Esta Existem vários critérios clínicos e histológi-
situação ocorre mais comumente em dentes decí- cos utilizados para a classificação de lesões cario-
duos do que em dentes permanentes, devido à sas ativas em dentina 29•112•152 , importantes para o
maior permeabilidade desses dentes e da sua me- estabelecimento de parâmetros entre o que deve
nor mineralização, tornando mais rápida a veloci- ser removido e o que pode ser mantido no pre-
dade de progressão do processo carioso 19º. paro cavitário 29 •
ABORDAG EM CONTEMPORÂNEA DA 'TER APIA f'Ul.PAR EM DENTES DECÍDUOS

De uma forma geral, lesões ativas são aque- muito profundas, quando o comprometimento
las estrutu ras compostas por uma primeira ca- pulpar pode se torna r irreversível1 21 .
mada de dentina infectada, com consistência Uma vez determinada a necessidade do tra-
amolecida e coloração amarelada ou marrom-pá- tamento restaurador, o entendimento clássico é
lida, constituída por tecido necrótico e desorga- que toda a dentina cariada deveria ser removida.
nizado, além da ausência quase total de preser- Entretanto, vá rios estudos têm demonstrado que
vação estrutural, não podendo ser assim remine- a abordagem do complexo dentina-polpa, dentro
ralizada. A segunda camada, remineralizável e de uma visão de promoção de saúde, não precisa
que pode ser mantida90· 1º6• 1º7, é formada por um ter por limite o tecido completamente hígido e
tecido conLaminado, no qual a consistência en- endurecido, mas apenas a remoção da porção ir-
contra-se parcialmente mantida, contendo apro- reversivelmente lesada. O tecido parcialrn.ente
ximadarrrerne O, 1 % das bactérias da zona infec- desmineralizado e pouco infectado da porção
tada. A partir da sua região mais superficial até a mais profunda da dentina é passível de remine-
polpa, essa camada é dividida em ~entina desmi- ra lização26.106. 107.129_
neralizada profunda e dentina hipermineraliza- Nesse sentido, uma das terapias pulpares
da, sendo esta última também divid ida em escle - conservadoras, o capeamento pulpar indireto,
rose dentinária e dentina reacional29 . Nesta ca- tem sido alvo de muitas opiniões controversas
mada, as concentrações de cálcio e fósforo, ainda quanto a sua viabilidade em dentes decíduos
que apresentando metade do peso de minerais, com lesões de cárie dentinária profundas. Este
quando comparadas à dentina normal, mostra- procedimento envolve a remoção parcial de teci-
ram-se maiores do que na camada superficial do do cariado, deixando-se uma camada delgada de
tecido cariado 98 . dentina cariada contaminada sobre o assoalho da
Também é sabido que o amolecimento do cavidade, evitando-se a exposição pulpar, e um
tecido dentinário precede a invasão de bactérias conseqüente tratamento mais invasivo.
respon sáveis pela sua desmineralização 1º2 e, m es- A decisão de empregar essa terapia exige,
mo na camada amolecida de lesões ativas, fibrilas preliminarmente, a adoção de um protocolo clí-
colágenas podem ser encontradas intactas, suge- ni co envolvendo a anamnese, os exam es clínico
rindo que apenas os estágios avançados de des- e radiog ráfico, bem como a avaliação de crilé -
truição tecidual e nvolvam a eliminação da rede rios de remoção de tecido cariado 12 º· 191 • A litera-
de colágeno 79· 1º6 • 107. tura aponta que urna série de ocorrências posi-
tivas passa a ser constatada ao se adotar este
tipo de tratamento, entre as quais pode-se citar
CAPEAMENTO PULPAR a redução drástica no número de bactérias viá-
INDIRETO EM DENTES veis4·26·42·84·95·121.l29, a ausência de sintomatologia
DECÍDUOS dolorosa, e de alterações pul pares observadas
pelos exames clínico e radiográfico de contro-
A cárie dentária, como r esponsável pela le48·74·ll9· 137· 172, além de características de remine-
grande maioria das perdas dentárias, tinha desde ralização da dentina cariada remanescente 107 .
os tempos mais remotos, o tratamento cirúrgico - Diante desses achados, torna-se desnecessá ria a
restaurador como única possibilidade de inter- intervenção posterior para a remoção do rema-
rupção de se u processo evolutivo. No entanto, nescente dentinário, desde que a restauração
evidências científicas permitem, a tualme nte, apresente um bom selam ento marginal 42· 119, as-
-uma outra abordagem mais conservadora no tra- sociado ao controle da atividade cariosa do indi-
tamento da lesão cariosa. A crescente compreen- víduo8.
são dos aspectos relacionados à su a etiopatogenia A evolução da lesão de cárie não é um pro-
tem possibilitado, além do controle da doen ça, a cesso contínuo, permitindo em determinadas si-
interrupção (,ia progressão da lesão de cárie, mes- tuações (dependendo do estímulo químico ou
mo qu ando· cavitada em esmalte ou com envol- mecânico) , uma resposta do complexo dentino-
vimento de· dentina 1 21 • pulpar, atrav és da formação de um tecido reacio-
; . o tratamento restaurador, n a maioria das nal. Na dentina cariada, as duas primeiras cama-
vezes, se faz necessário por razões estéticas, fun- das estão infectadas, sendo que a mais superfi-
cionais e em presença de cavidades retentivas ou cial caracteriza-se pela intensa invasão bacteria -
CIÊNCIA EN DO D Ô NTICA

na, extensa desmineralização e . degradação das númc;ro menor de microrganismos, fibras coláge-
fibras colágenas e dos processos odomoblásticos nas preservadas, processos odontoblásticos nor-
(Figura 19.14 e 19. 15). A segunda mostra um mais, podendo ser fisiologicamente remineraliza-
tecido parcialmente desmineralizado, com um da26·1º6·12º (Figura 19.16 e 19.17) .

1 •

. _ FlG. _19.14____ • .f.iG. 19.15


Aspecto clínico de uma lesão carioso ativo em Imagem, em microscopia eletrônico de varredura,
dentina reamado mais supelficioO. Gentilmente cedido dos camadas superficiais removidas a partir de
pelo Oro. Ano Elizo Lemes Bressoni. curetagem de lesão carioso em dentina de um molar
decídua. Observo-se o zona de invasão microbiana
(biomassa microbiana cariogênicoJ. Imagem obtida pelo ,
ProfJ-. Ora. Maria de Lourdes de Andrade Mossara. /

• FIG. 19.17
• F!~: _1 9'.'6
Imagem, em microscopia eletrônico de varredura,
Aspecto clínico do mesma lesão anterior, depois de das camadas removidas a partir de curetagem de lesão
removido o camada mais superficial de dentina cariada e carioso em dentina de um molar decídua. Observa-se a
mantido o camada parcialmente desmineralizado. (Gen- zona de desmti1eralizoção, menos infectada. (Imagem
tilmente cedido pela Ora. Ana Eliza Lemes BressamJ. obtida pelo Prof!!. Ora. Matia de Lourdes de Andrade
MassaraJ.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES OECÍDUOS

As lesões dentinárias profundas apresen- vel. Essas variáveis devem ser levadas em con -
tam um baixo pH (média de 4, 9), predominan- sideração devido ao fato de que, ao se instituir
do o ácido lático, fator que caracteriza ativida- um tratamento restaurador convencional, are -
de da lesão. Outra característica de natureza moção compl eta de tecido cari ado é ainda ccm-
ativa de uma lesão cariosa diz respeito a sua siderada o procedimento de eleição no preparo
consistência, pois se a dentina for amolecida e da cav idade.
úmida, esta abriga um número significativa-
mente maior de bactérias do tipo estreptococos a) É necessário remover-se todo o
do grupo S. mutans e lactobacilos. Quanto à tecido cariado no tratamento de
coloração, que se constitui cm um outro crité- uma lesão carioso ativa em dentina
rio para avaliação de lesão paralisada ou não, profunda?
as lesõe s cariosas ativas se caracterizam por se-
rem de cor amarelo-clara 112 . A necessidade da instituição do tratamento
Com base nesses conh ecim entos, passa-se restaurador em lesões de cárie implica em um
a discutir as limitações e dificuldades da técni- preparo cavitário com remoção de tecido caria-
ca que, em essência, promove a conservação do. Todos os esforços deverão ser feitos para a
do tecido pulpar. conservação da maior qua ntidade possível das
A primeira dificuldade está relacionada à estruturas dentárias, durante os procedimentos
seleção de casos para tratamento. A não ocor- de remoção desses tecidos envolvidos no proces-
rência de quadro de dor espontânea (informa - so carioso. Nesse sentido, características bioquí-
ção obtida através da anamnese), associado à micas, microbiológica s e clínicas da dentina afe-
ausência de mobilidade patológica, de altera- tada por cárie são abordadas em vários estudos.
ções nos tecidos moles (fístulas e tumefações), O desafio é identificar a qualidade e a quantida-
de alterações de cor, bem como a possibilidade de da dentina que deve ser preservada, além da
/ de restauração do dente em questão, consti- preocupação fundamental com a progressão da
tuem os mais importantes critérios clínicos d e lesão cariosa sob a restauraçã o .
seleção. O exame radiográfico complementa O entendimento clássico pela literatura é
esta avaliação crite riosa, uma vez que fornece que bactérias deveriam ser totalmente removidas
dados essenciais para que uma terapia indireta durante o preparo cavitário, para não haver pro-
seja implementada, entre os quais a profundi- gressão da lesão 187 •
dade da lesão cariosa (sem envolver direta- No entanto, os critérios clínicos de dureza e
mente o tecido pulpar) e a ausência de sinais coloração não asseguram a re moção de toda a
que possam sugerir um comprometimento pul- dentina infectada. A coloração não é um parâ-
• 1
par irreversível (reabsorções internas ou exter- metro confiável, pois a de ntina pode apresentar-
nas não compatíveis com a rizólise, bem como se descolora da em casos de lesão inativa (colora-
áreas radiolúcidas n as r egiões inter e/ou pe- ção castanho- escura), devendo, nesses casos, ser
rirradicular) . preservada.
Com relação ao diagnóstico das condições Em relação à consistência, vários estudos
inflamatória s da polpa é n a clínica odontopedi- demonstram a ausência de relação entre a du-
átrica que se tem a m aior dificuldade d e reali- reza da dentina e a p rese n ça de bactérias
66. 153, 167, l 90
zar a anamnese, principalmente em crianças
de tenra idade, sendo que a mesma situação Para Consolaro 29 , seria inviável a distinção
pode ser constatada no aspecto radiográfico, clínica entre uma dentina com ou sem bacté -
pois existe maior limitação na obtenção de rias nos túbulos dentinários e, de uma forma
uma boa tomada radiográfica para avaliação e geral, a zona mais profunda da dentina desmi-
conseqüentemente decisão correta do caso em neralizada não apresentaria bactérias, enquan-
questão. to que a região anterior a esta camada, mos -
Um outro fato d e primordial importância, trar-se-ia infe ctada. Assim, alguns critérios de
porém difícil de ser estabelecido, diz respeito à remoção de tecido caria do devem ser reavalia-
quantidade de dentina cariada que pode ser uos para que o máximo de dentina cariada in-
deixada no final do preparo cavitário, junta- fectada seja r emovid a, preservando a camada
mente com o nível de infe cção residual aceitá- mais profunda, poi s nela observ a -se a presença
CIÊNCIA ENDOD ÔNTICA

de um número red uzido de bactérias ou de crorganismos, a diminuição da virulên cia des-


bactérias não-viáveisº;·84. ses microrganismos, além da alteração na tex-
Tradicionalmente, o capeamento pulpar in- tura do tecido dentinário, que passou a se
direto ou tratamento expectante é realizado sob apresentar 1nais e nd u r e ci d o 2 0 -21.2 2 . 2 6 -42 ,80.84.
anestesia local e isolamento absoluto, com utili- 105, 129, 13 º-167 ,184. Co1n esses resultados, a tendên-
zação de instrumentos rotatórios (alta e baixa cia a tual é considera r que o mais importante
rotação), retirando-se todo o tecido infectado e não é remover totalmente a d entina contami-
afetado das paredes circundantes e deixando-se nada, mas assegurar a remoção satisfató ria da
apenas uma delgada camada de dentina afetada dentina irreversivelmente lesada e não mine-
no assoalho da cavidade, sobre o tecido pulpar. ralizável 1º6.
Após um período de 45 a 60 dias, o dente é . A curetagem restrita da dentina amolecida
reaberto e a dentina do assoalho da cavidade é superficial provavelmente permite a remoção da
reavaliada. Somente após a confirmação do en- matriz de colágeno cujas ligações intermolecula-
durecimento do tecido dentinário, a restauração res se encontram irreversivelmente quebradas,
definitiva é realizada. conservando-se a camada mais interna, que for-
Entretanto, os estudos desenvolvidos a par- maria um arcabouço, em cujas ligações os íons
tir de técnicas nas qu ais ocorre mínima inter- cálcio se unem22,s,.5s.105,16s_
venção no complexo dentina -polpa, permitem O aspecto (como couro, saindo em forma de
considerar que a abordagem de lesões dentin á- lasca ou escama) e a textura (mais resistente à
r ias não precisa ter por limite o tecido comple - instrumentação) do tecido dentinário parecem
tamente hígido . Na chamada escavação gradati- ser critérios clínicos confiáveis para limitar a cu- 1

va, desenvolvida para dentes decíduos, a cure- retagem da lesão cariosa de dentina 105 . Dentro
tagem superficial das lesões, sem anestesia, ob - desse raciocínio, fica claro que as terapias pulpa-
jetiva a retirada da maior parte do tecido amo- res indiretas dispensam a aplicação de produtos '
lecido, necrótico e desorganizado, mantendo-se químicos como corantes e solventes sobre o teci-
ainda o tecido desmineralizado, identificado ·cli- do dentinário, para guiarem a curetagem. As re -
nicamente por apresentar-se mais resistente à centes técnicas propostas para remoção químico- 1
instrumentação e em forma de lasca, escama ou mecânica de dentina cariada requerem mais es-
couro 22 ·1º5. Em seguida, é feito o selamento pro- tudos in vivo, com animais de laboratório, antes
visório das cavidades, "sepu ltando-se", então, as de serem aplicadas em seres humanos, pois não
bactérias remanescentes. O microambiente é apresentam até o momento resultados esclarece -
modificado em função da ação antimicrobiana dores relativos ao seu mecanismo de ação, à sua
do material utilizad o e/ou da dificuldade de se biocompatibilidade, à sua confiabilidade e às suas
obter o substrato, vindo do meio bu cal. Como vantagens 13· 99 .
conseqüência, redu z-se significativamente a Na Odomopediatria, a conduta menos in -
produção de ácido, paralisando-se a desminera- tervencionista se torna valiosa, poi s tem con -
lização e controlando-se a progressão da lesão. tribuído sobremaneira para a adaptação com -
Microrganismos que permanecerem viáveis portame ntal da criança, principalmente de be-
possivelmente darã o uma contribuição extre- bês, de criança s não cooperativas, desajustadas
mamente limitada p ara a destruição da estrutu- ou com comprometimento sistémico. Isso se
ra dentinária 177 • deve ao fato de ser indolor, de poder ser reali-
Estudos avaliaram a paralisação da pro- zada sem anestesias, isolamento absoluto e ins-
gressão de lesões cariosas com essa técnica de trumentos rotatórios (a n ão ser para ampliação
curetagem supe rficial de dentina e o selamento de lesões socavadas), além de não exigir uma
da cavidade. Os autores constataram a redução segunda intervenção a curto prazo 106 (Figuras
quantitativa ou m esmo a eliminação dos mi- 19. 18 a 19.25).
.ABORDAGEM CONTEM PORÂNEA DA TERAPIA PU LPAR EM DE NTES OECÍOUOS

SEQÜÊNCIA DE PROTEÇÃO PULPAR INDIRETA UTILI ZANDO


ÓXIDO DE ZINCO E EUGENOL CIRM>

• .... ., .e.-. 19.13A


Fms. 11-u8
· ·-- ·- ·· - ··· ··· --· ··

Caso clínico mostrando a abordagem consetvadora de uma paciente de 9 anos de idade, com atividade de cárie
expressa por lesão carioso profunda no dente 75.

• 1

. -~

• FIG. 19.19. • FIG. 19 .20


Após remoção do esmalte sem sustentação, com Aspecto clínico do assoalho da cavidade, após a
instrumento em alta rotação, curetagem da lesão, sem curetagem, mantendo-se o teodo que poderia ser remo-
anestesia, removendo-se a dentina necrótica e desorga- vido em lascas ou escamas.
nizada juntamente com a biomassa microbiana
canógênica.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

..,; .

• FIG. 19.21
Radiografia inte,proximal exibindo a profundidade
da lesão selada com IRM. Observa-se a proximidade • FIG. 19.22
com os cornos pulpores distais.
Aspecto clínico do lesão, 5 meses após o tratamen-
to, no momento da remoção do IRM. O teodo apresen-
tava-se muito endurecido e completamente resistente à
cureta.

• _Fi(i:. J?!2.4 .
Restauração utilizando-se a técnica de "sanduíche" Molar esfoliado, exibindo uma dentina de coloração
(cimento ionomérico e resina), na fase reabilitadora, mais escura, formada após a terapia, na área correspon-
quando o reequtlíbrio do 019anismo 10 havia se restabe- dente à parede pulpar da lesão carioso.
lecido. Não foram utilizados instrumentos rotató1ios.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA P ULPAR EM DENTES DECÍDUOS
--------------·---------·----·---- ---·--·-----------------------·------
tão freqüente durante preparos cavitários con-
vencionais. Esta terapia limita, por conseguinte,
a necessidade de se submeter as crianças a capea -
mentas diretos, curetagens pulpares e pulpoto-
mias, procedimentos que podem, atualmente se
tornar raros na Clínica Odontopediátrica. Essa
afirmativa é reforçada pelos estudos de Dimaggio
et al. 35, King et al. 84 , Reeves & Stanley1 36, Jordan
& Suzuki80; Magnusson & Sundell1º', Leksell et
al. 92 , Bjorndal et al. 22 , que comprovaram o risco
de exposições pulpares desnecessárias quando
todo o tecido afetado é removido 106 .
Assim, os objetivos da proteção pulpar indi-
reta podem ser atingidos, os quais são: bloquear
as agressões que atingem a polpa através da le-
são cariosa, via túbulos dentinários; interromper
o circuito metabólico proporcionado pelos fluí-
dos bucais às bactérias do tecido cariado; inativar
• AG. _19.25 -----· -· _ --·----------------------- tais bactérias por ação bacteriostática ou bacteri-
1,mmpimento do dente 35, dois anos e meio após a cida do material; remineralizar parte da dentina
terapia. A criança não mais expressava atividade de cá- descalcificada remanescente; hipermineralizar a
rie (Caso clínico realizado pela Profº Ora Maria de dentina sadia subjacente e estimular a formação
Lourdes de Andrade Mossara). de dentina terciária ou reparadora 114 .
O bom senso e a experiência clínica do ope-
rador, aliados às características clínicas visuais do
tecido cariado remanescente e principalmente à
Outro ponto importante a ser considerado é adaptação comportamental do paciente são con-
que o uso rotineiro do capeamento pulpar indi- siderados fatores determinantes na escolha da
reto ou da escavação gradativa tem diminuído abordagem de lesões cariosas de dentina (Figu-
significativamente o risco de exposição pulpar, ras 19.26A a 19.298 ).

··l?'

• FIG. __ 19,26A __ • FIG. _19.2613 ___


Aspecto clínico inicial de um segundo molar decídua Visão aproximada da lesão sob isolamento absoluto.
,·;--.'~
~ superior com lesão carioso cavitada profunda em
dentina.
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

• flG. 19.27 • FIG. 19.28


Sob anestesia e isolamento absoluto, foi realizado o Após avaliação do remanescente dentinário
remoção total do tecido cariado das paredes laterais e cariado, foi colocado uma sub base de cimento de
parcial da parede pulp0t: hidróxido de cá/ao sobre este tecido.

• fiG. 19.Z9A • F~G. 19.29B


Restauração adesiva imediata com resina composta Aspecto radiográfico imediatamente após a restau-
(5MP e Z25 0, 3MJ. ração concluída. (Caso clínico realizado pelo Prof Dr.
Fernando Borba de AroúJo e Prof!. Carla M ore1i'a PitonD.

bJ Qual o material capeador ideal? endurecida e com coloração escura (característi-


cas de uma lesão remineralizad a) têm sido asso -
Com relação ao tipo de proteçã o a ser colo- ciadas ao uso do hidróxido de cálcio 26· 129 .
cada sobre o remanescente den tinário cariado, o Em I 994 , Cox & Suzuki31, com o objetivo
hidróxido de cálcio tem sido referen cia do como de estudar a relação existente entre a utilização de
o m aterial de eleição p or suas características qu í- m ateriais forrador es com hidróxido de cálcio e a
micas, tanto n o capeamen to indireto tra dicio- proteçã o pulpar, verificaram qu e os materiais
nal04,42A8·84· 11 9 , quanto na escavação grad ati- contendo esta substância teriam vantagen s em
va 22.n .103 . função da sua ação bactericida ou bacteriostática,
Um declínio n o n úmero de bactérias, bem além da capacidade de estimular o reparo tecidual,
como a observação de uma dentin a cariada re- de n eutraliza r o pH ácido do meio e de estimular
m an escente com ap arência m ais seca, brilhan te, a obliteração dos túbulos dentinários.
DECÍDUO S
ABORDA GEM CONTEM PORÂNE A DA TERAPIA PUI.PAR EM DENTES

Com o obj etivo de justifica r a execuçã o de teriais como o cimento de hidróxid o de cálcio e o
técnicas envolve ndo a remoção parcial do tecido cime nto de ionômer o de vidro diminua m com o
cariado de cavidade s profund as, Weerhei jm & tempo. Assim, os au tores concluír am que estes
Groen 187 revisa ra m a litera tura, consid erando fa tores isoladam ente não são suficient es para a
três medidas fundame ntais pa ra a realizaçã o des- inativaç ão do processo carioso, sendo essencial a
te tipo de tratamen to: 1) o isolamen to do proces- su a combi nação para o processo c1ínico do tra ta -
so carioso do ambient e bu cal, embora este proce- mento de rem oção parcia l do tecido cariado.
di mento não lenha proporcionado a eliminaç ão Além do hidróxido de cálcio, dois m ateriais
complet a de microrg anism os viáveis das cavida- se destacam na abordag em conserv adora de le-
des; 2) escavaçã o do tecido cariado dentinár io, sões cariosas profund a s de dentina: o cimento de
apesar da subjetivi dade do diagn óstico clínico, óxido de zinco e eugcnol m odificad o e os cimen-
dificulta ndo a con firmação clínica de ausência de tos ionoméricos (Figuras 19.30 a 19.33 ). Ambos
cárie residu al; 3) a utilizaçã o de materiais restau - apresen tam propried ades b iológica s que têm
radores cariostát icos aplicado s sobre o tecido re - atendido dois aspectos básicos dessa terapia: os
aspectos microbiológico e histológ ico º •
1 6
m anescen te, mesmo que as p roprieda des de m a -

• flGS. 19.30 e- 19.31


pulpar indireto com CIV, trotados
Lesões coriosas profundas nos dentes 65 e 75, antes e 78 meses após a proteção
conforme descrito no capítulo.

• FiGS. 19.:U e 19,33


molares decíduos, antes e após
Lesões co1iosas envolvendo o terço médio (dente 75) e terço interno (dente 74) de
do motelial coJTespondente à dentina
a proteção p ulp or indireta com C/V Obse,var em 33 o área rodiolúcido abaixo
a curetagem . Obse,var também a maior radiopacidade do dentina
parcialmente desmineralizado mantida após
subjacente, como reação pulpar ao trotamento realizado.
CIÊN CIA ENDODÔNTICA

O cimento de óxido de zinco e eugenol mo- liberação de flúor nas primeiras 24 horas favore-
dificado é um material já consagrado na Odonto- ce a eliminação de microrganismos presentes na
logia. Sua atividade bactericida tem sido reporta- cavidade. Por outro lado, sua capacidade de ade-
da, sendo efelivo na redução de microrganismos são físico -química à dentina, além de permitir
remanescentes na dentina. Essa ação antimicro - intervenções conservadoras, restritas à área afe-
biana pode ser explicada pela alta afinidade do tada pela doença cárie, dificulta a percolação
eugenol pela membrana p lasmática (solubilidade bacteriana pela interface dente/restauração, por
lipídica) e pela sua capacidade de inibir a respira- apresentar adequado vedamento marginal.
ção e a divisão celular 1º7. Assim, de acordo com os estudos de Starktveir
Outra propriedade relevante desse material et al.17°, Benelli et al.15, Di onysopoulos et al. 36 e
d.iz respeito a sua ação higroscópica. Ao ser aplica- Frencken et al. 52, lesões secundárias adjacentes a
do sobre a dentina, após a curetagem da lesão na esse material restaurador são raras, o que possi-
técnica de escavação gradativa, exibe uma capaci- velmente diminui sensivelmente a necessidade
dade de retirar a excessiva umidade presente nos de substituições de restaurações ou retratamento
túbulos, vinda do edema causado pela inflamação de dentes já restaurados. Esse raciocínio se torna
pulpar subjacente à área lesada. Permite, então, relevante, principalmente se aplicado ao atendi-
que o processo inflamatório regrida e o tecido mento público odontológico em nosso meio,
pulpar recupere sua capacidade de se defender onde as necessidades acumuladas ainda são mui-
diante do dano causado pelo processo carioso 1º7. to grandes 106 .
Markowitz et al.104, ao se referir à ação antiin- Somado à citada ação antimicrobiana, pode-
flamatória do cimento de óxido de zinco e euge- se dizer que a liberação de flúor pelos cimentos
nol, ressalta a sua capacidade de inibir a síntese ionoméricos potencializa a remineralização da
de prostaglandina , importante mediador do pro- estrutura dental, promovendo um endurecimen-
cesso, bem como de inibir a quimiotaxia de leu- to da camada de dentina desmineralizada, deixa-
cócitos, responsáveis pela liberação de superóxi- da após a curetagem da lesão 11 8, 130· 175·176 • O esmal-
dos, substâncias capazes de lesar o tecido. te presente em contato com o material nas bor-
Já em relação aos cimentos ionom éricos, um das da cavidade também se apresenta mais áci-
V
fator que contribui de maneira significativa para do-resistente, trazendo maior dificuldade para a
a paralisação da progressão de lesões cariosas em ocorrência de lesões secundárias.
dentina é sua propriedade antimicrobiana, atri- As Figuras 19.34 a 19.42 exemplificam o
buída principalmente ao fl úor liberado pelo ma- uso do cimento de ionômero de vidro na prote-
terial15·188. Segundo Tenuta et aL 176, a alta taxa de ção pulpar indireta .

• FIG. ,?.}ft .
Lesão carioso ativa de
dentina, no primeiro molar
decídua inferior direito de uma
criança de 4 anos.

• i=ICi•. 19.35 -------·-- ·-··----


Aspecto radiográfico pré-opera-
tório do primeiro molar da figuro an-
tenor, mostrando uma lesão oc!usal
profunda, por envolver o terço interno
da espessura do dentina.
• f'CG. 19.37 ..
Aspecto clínico da cavida-
de, após curetagem da lesão,
interrompido quando o tecido
começou a ser removido em
lascas ou escamas.

• FIG~ 19.16 ..
Curetagem da lesão, removendo-se todo o teodo
amoleodo, sob isolamento relativo e sem anestesia.

r.

• RG, 19.lS • FIG. 19.39


Aplicação, com seringa centrix, do CIV manipulado Compressão digital do material contra o cavidade,
segundo recomendação do fabricante . poro melhor adaptação às suas paredes.

• f?I~~. 1-~·~
Aplicação da proteção, após remoção dos excessos Aspecto clínico final da restauração.
do material com lâmina de bisturi.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

·~

• tfG. 19.42
Aspecto rodiográfl.co pós-operatório. (Caso clínico
realizado pela Profº Oro Maria de Lourdes de Andrade
Mossara).

Recentemente u m estudo in vivo foi realiza - Em algumas áreas, as aberturas dos túbulos
do, com o objetivo de avaliar o efeito do cimen- dentinários apresentavam-se obliterados total
to de ionômero de vidro sobre dentina desmi- ou parcialmente (Figuras 19.47 e 19.48). Em
neralizada, três m eses apó s sua aplicação em outras, a presença de processos odontoblásticos
molares decíduos com lesões cariosa s profun- viáveis, considerada essencial para a reminerali-
das, de crianças de 3 a 7 an os de idade 1 º5 • Pode- zação, foi detectada (Figura 19.49). Provavel-
se constatar a remin eralização do tecido denti- mente esses prolongamentos forneceram cálcio
nário, p elo aumento estatisticamente significan- para a matriz dentinária, através de sua capta-
te do percentual de íons cálcio, compara do aos ção p elos corpos dos odontobla stos e seu trans-
valores obtidos a ntes da te rapia. Além diss o, porte via transcel ular. Em adição está o fato de
observou-se uma redução drástica na quantida - que íons cálcio encontram-se presentes no flui-
de de b actéria s sobre o tecido e uma maior V
do dentinário, o que facilita a sua pronta mobi-
união e condensação das fibras colágenas da liza ção para as áreas desmineralizadas (trans-
dentina intertubu lar (Figuras 19.43 a 19.46). porte via intercelular) 97 •

• FIG. 19.4l • Fm. 19.44


Eletromicrografia de uma área de amostra de Detalhe da figuro anteliOJ; evidenciando a rede de
dentina, retirada antes da aplicação do CIV. Obse,var a fibras co/ágenas (F) e o preenchimento das entradas dos
dentina inte,tubulor rica em fibras cológenas expostas túbulos dentinórios infectados por bactérias (8). 7.500 X
frouxamente (FJ e muitos túbu/os dentinários, cujas entra- baJTa = 1 µm 107•
das estavam preenchidas por bactérias (BJ. 2.000 X bar-
ro = 10 µm 107.
. J ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA H:RAPIA PULPAR EM DENTES OECÍDUOS

• i~~G. 1©..%5
Imagem obtido por microscopia eletrônica de varre- Detalhe da eletromicrografia ante1io1; evidenciando
dura, três meses após o tratamento restaurador do mes- a alteração ultraestrutural ocorrida no tecido dentinário.
mo molar da figura anterior A dentina apresenta redu- Observa-se uma imagem sugestiva de preenchimento
ção drástica de bactérias e com o motriz de colágeno dos espaços entre as fibras colágenas da matriz. 7500 )(
muito compacta. 2.000 )( barra= 10 µm ro 7. barra = 1 µm 107.

~~
'.L( ""

• 1

Micrografia eletrônica de varredura de uma amostra Detalhe de um túbulo totalmente obliterado (uma
de dentina obtida três meses após a aplicação do CIV A seta) e outro parcialmente fechado (duas setas). A tina-
superfície pouco infectada exibe túbulos total ou parcial- gem da obliteração dos túbulos é sugestiva de bactérias
mente obliterados, além de uma matriz compacta (MJ. calcificadas, o que foi confirmado pelo EDS 000% de
2.000 )( barra = 10 µm 106. cálcio, na análise pontuaD. 7500 )( barra = 1 wn 1 6. º

• F~~. 19,49
Eletromicrografia de uma amostra de dentina obti-
da 3 meses após a aplicação de C/V, mostrando dentina
intertubular mais compacta (O) e os processos
odontoblásticos expostos em alguns túbulos dentiná,ios
º
(setas). 7500 )( barra= 1 µm 1 6•
CIÊNCIA ENDODÔN TICA

Em um trabalho realizado em dentes decídu - remanescente de lesões profundas precisa ser


os, no qual um sistema adesivo foi colocado dire- melhor estudado. Por enquanto, a literatura nos
tamente sobre dentina cariada, Ribeiro et al. 137 dá suporte para o uso de materiais capeadores
não determinaram clínica e radiograficamente si- como o hidróxido de cálcio, os cimentos de ionô -
nais sugestivos de progressão de cárie em 75 % mero de vidro e o óxido de zinco e eugenol mo-
da sua amostra no período de um ano. Obser- dificado, sendo os materiais adesivos utilizados
vou-se também que o m aterial aplicado sobre a para o selamento das cavidades, garantindo o
dentina infectada não afetou a performance clí- vedamento marginal e a ausência de contato da
nica das restaurações7 - 15 -11 s. dentina cariada com o meio bucal.
Recentemente, os sistemas ade sivos vêm
sendo sugeridos como alternativas aos materiais e) Qual o material restaurador
forradores colocados sobre a porção desminerali- indicado para este tipo de
zada e contaminada da dentina 43 . Mantendo-se o inte,venção?
mesmo princípio de adesão nas paredes laterais
hígidas do preparo cavitário, a formação de uma A respeito do tratamento restaurador, deve
"zona híbrida alterada" tem sido relatada como haver um esforço para a obtenção de um bom
mais uma garantia de adesão, inviabilizando o selamento das restaurações, fato considerado im-
substrato bacteri ano n a dentina cariada rema- portante para o controle clínico da infiltração
nescente do preparo cavitário. marginal. Para tal, deve-se redobrar os cuidados
No entanto, apesar da evolução das técnicas para a remoção de toda a dentina cariada das
de condicionamento ácido da dentina e dos siste - paredes laterais da cavidade cariosa, pois a remo-
mas adesivos, alguns estudos nos mostram uma ção deficiente desta pode dificultar a obtenção de
série de limitações desses materiais, bem como bom selamento marginal, e a conseqüência será
denunciam a possibilidade de estímulos indesejá- a ocorrência de falhas adesivas. Uma vez estabe-
veis ao complexo dentina-polpa 106 A dificuldade lecido que a adesão será às expensas dos substra-
de sua completa interação com o tecido m inera- tos sadios de esm alte e dentina das p aredes la te-
lizado, o desempenh o clínico insuficiente para rais43,74,11º·137,191, a cuidadosa observação deste e v
bloquear a infiltração marginal, o aumento da dos fatores acima abordados em relação às difi-
permeabilidade dentinária e a interferência no culdades e limitação da técnica do capeamento
mecanismo imunológico da polpa, com possível pulpar indireto, é essencial para que a indicação
comprometimento de sua função metabólica, são desta t erapia esteja bem suportada, favorecendo
alguns exemplos3o,91,114,126_ sobrem aneira um prognóstico positivo.
Assim, o uso de sistemas adesivos e resina Alguns trabalhos em de ntes decíduos suge -
composta diretamente sobre a dentina cariada rem a coroa de aço com o um m aterial restau -

• f!G. 19,SO • FIG. 19.51


Aspecto clínico do dente 75, apresentando lesão Detalhe do lesão carioso do dente 75.
carioso profunda em dentina, de natureza ativa.
ABORDAG EM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES DECÍDUOS

radar ideal para a restauração de dentes sub- en tra em conflito com a proposta original do
metidos à técnica do capeamento pulpar indi- capeamento pulpar, que é extremamente con-
reto. No entanto, a evolução dos sistemas ade- servadora.
sivos e as performances clínicas bem sucedidas As Figuras 19.50 a 19.67 apresentam um
das r estaurações adesivas 137 fazem com que caso clínico de capeamento pulpar indireto com
esta sugestão tenha muito pouca su stentação cimento de hidróxido de cálcio após remoção
clínica, uma vez que a coroa de aço é uma parcial de tecido cariado, seguido de restauração
técnica extremamente invasiva e, portanto, com resina composta.

r.

/
• Fiti.19.5? • FIG. 19,S l
Colocação do dique de borracha, após profilaxia . Aspecto clínico da cavidade preparada, evidencian-
profissional e anestesia regional. Após exames clínico e do a remoção da den~ina intensamente desmineralizada
radiográfico prévios, optou-se por uma intervenção e infectada na parede pulpar.
invasiva conservadora, com remoção parcial de tecido
cariado.

• Fl<i•. ~~_.54 • FIG. 19.55


Detalhe da manutenção de uma dentina afetada Colocação de uma base de ómento de hidróxido
por cárie, desmineralizada e ainda contaminada, passível de cálcio (Dycal, Caulk DentisplyJ sobre a dentina
de remineralização na parede pulpar, com ausência total cariada.
de tecido cariado nas paredes laterais.
CIÊNCIA EN DOOÔ NTICA

• FiG. 19.56 • FiG. 19.57


Detalhe da lisura e espessura do material, essencial Condicionamento ácido do esmalte com H 3PO 4 a
para que o condicionamento áodo, próx,ino passo a ser 10% (Acigel - SSWhiteJ durante os pnme,i-os 8 segun-
executado, não interfira na sua integridade como material dos e ...
de base.

• r:m. ~9.ili® • wm. 19.59


... a partir deste tempo, condicionamento na dentina Lavagem abundante da cavidade condicionada du-
decídua por 7 segundos, totalizando 75 segundos no es- rante 15 segundos e subseqi.iente secagem com bolinhas
malte. de algodão autoclavadas, essencial para a manutenção
de um substrato úmido para a adesão com um sistema
adesivo com primer hidrofífico.

1...,--.....;..lóll
• fiG. 19.6@ • fffG. 1qi,61
Colocação do SBMU Primer (3MJ em toda a ex- Aplicação do SBMU Adhesive (3MJ em todo o teci-
tensão da cavidade (esmalte e dentli10) durante 20 se- do previamente condicionado e...
gundos.
A BORDAGEM CONTEMPO RÂNEA DA TERA PIA P ULPAR EM DENTES DECÍDUOS

. . JJ<a. J9.~2 • FIG, 19.63


Suo subseqüente polimerização por 20 segundos. Primeiro incremento de resina colocado...

';

• . FIG. 19.64.... ···-· ....... ____ --- -·--- ____ --~·


... e depois de vários incrementas o restauração conduído Aspecto final imediato da restauração concluída.
com resino composto microh,brido Z250, cor A 1, (3M).

• 1

_ __ FIG. 19,66 • FIG. 19,6._7 _ .....


Exame radiográfico pré-operatório, no qual chamo Exame rodíogrófico pós-operatório imediato (Prof
o atenção o extensão do lesão carioso em dentina, cor- Dr. Fernando Borba de Araúio e Prof. Luciano
rendo-se o risco de uma exposição pulpor diante de uma Casagrande, Mestre em Clínica Odontológica -
técnica convencional de remoção total de tecido cariado. Odontopedíatrío, pelo FO-UFRGS).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

d) Critérios clínicos e radiográficos de um período compreendido entre quatro e sete


sucesso deste tratamento meses, alterações significativas foram encontra -
das quanto à coloração e consistência, em que o
Os critérios utilizados para considerar o tra - tecido, inicialmente amarelado e amolecido,
tamento bem sucedido estão concentrados prin- mostrou -se predominantemente castanho-escu -
cipalmente em evidên cia s clínica s de reminerali- ro e endurecido. Em relação às unidades form a-
zação da dentina amolecida remanescente, au- doras de colônia, observou -se uma redu ção ex -
sência de dor e/ou sensibilidade espontânea ou pressiva no número de la ctobacilos, estreptoco-
provocada, com a conseqüente constatação da cos do grupo S. mutans e no total de bactérias
vitalidade pulpar. A integridade m arginal da res- viáveis em aerobiose e em anaerobiose. Ao exa-
tauração também p assa a ser um critério clínico me radiográfico, onde se avaliou a diferença de
bastante significativo p ara o estabelecimento des- densidade radiográfica por meio do método de sub-
se resultado positivo, a longo prazo . tração de imagem , não se encon trou alterações
Já para o estabelecimento dos critérios radio- significativas. Assim, a autora concluiu que a
gráficos de sucesso, pode -se citar, além do aumen- inativação do processo carioso foi possível após o
to da radiopacida de na den tina cariada remanes- selamento das cavidad es de cárie, ind ependente
cente, a diminuição da altura da câmara pulpar da utilização do cimento de hidróxido de cálcio
decorrente da formação de dentina terciária ou como material forrador.
reacional, a ausência de área radiolúcida na região No segundo trabalho, Falster et al. 4 3 avalia -
da furca ou do periápice, a n ormalidade do espaço ram o comportamento da técn ica do capeamento
do ligamento periodontal, bem como a ausência de pulpar indireto de lesões de cárie profundas em i
reabsorção dentinária interna e/ou externa não molares decíduos por um período de 48 meses.
compatível com o gra u de rizólise . Uma b ase de cimento de hidróxido de cálcio apli-
Recentemente, três trabalhos com expressi - cada em 24 dentes e um sistem a adesivo utiliza-
vos resultados em dentes decíduos suportam ain- do diretamente sobre a dentina cariada em igual
da mais o que foi descrito . No primeiro, Pinto 129 número de dentes compuseram a amostra deste
avaliou e sta técnica clínica, microbiológica e ra - estudo . Foram observados índices de sucesso de t
diograficamente em 42 molares decíduos com le- 82,6 1 % no grupo do hidróxido de cálcio e 96%
sões cariosa s p rofu ndas, resta urados com resin a no grupo do material adesivo (ScotchBond Multi
composta e divididos em dois grupos, de acordo Purpose, 3M) (Figuras 19.68 a 19.77). A análise
com o material forra dor utilizado sobre o tecido dos resultados deste estu do clínico e radiográfico
cariado remanescen te, cimento de h idróxido de corroboram com os ach ados de outros estudos
cálcio ou um m aterial inerte (guta -percha) . Após realizados em dentes decíduos8 1· 11 9 · 137 •

• flti., 19,62 • FílG, 't9,,t69

Aspecto radiográfico da lesão de cárie em dentina Aspecto radiográfico do mesmo dente 24 m eses
profundo no dente 85. depois, no qual foi utilizado o cimento de hidróxido de
cálcio sobre o dentina cariado remanescente.
TES OECÍOUOS
EA OA TER APIA PUl PAR EM DEN
ABO RDAG EM CON TEM POR ÂN

• FIG . '1'l."J1
• AG. 19.7 0 carioso em me-
es após o inter - Aspe cto radiográfico de uma lesão
Radiografia obtid a 4 anos e 6 mes 65 e ...
do proc edlin ento. Obser- tade intem a de dentina no dente
venção, caracterizando sucesso
or dista l evidenciando o
var a regressão do corno pulp
formação de dentina reaciona l.

• GIG. I9.7 2
e 65, com lesão
s depois. Aspecto radi ográ fico inicial do dent
... o aspecto radiográfico 4 anos e 17 mese
prof unda em dent ina.

-~
·,. • !'IG 1c:i.n
• FIG. 19.7 4
odo final de
... 4 anos e 71 meses após, já em perí
;x- Imag em radiográfico 24 meses após
o proc edim en-
•· esfoliação h'siológ ica. Obs etvo r o presença dos 3 pré-
,•. e. ..
:~ to
~-
,(

mol ares em boca.


CIÊNCIA ENOODÔNTICA

• FIG. 19.76. • F!G. 19.77


Aspecto radiográfico de uma lesão de cá1ie profun- ... e o resultado do tratamento 4 anos e 7 meses
do em dentina no dente 85, em uma criança de 4 anos depois. Observar o primeiro mofar permanente em
de idade... ocfusão e os pré-molares superiores em erupção. Estes
achados sugerem que o técnica não provoco alterações
no cronologia de erupção.

No terceiro trabalh o, Bressani26 avaliou a apenas para fins de controle em pesquisa) como
consistência, coloraçã o e contaminação da denti- materiais capeadores, mostrando ser o selamento
na remanescente antes e após (90 dias ) o capea- das cavidades (neste caso com resina composta )
mento pulpar indireto com remoção parcial de o fator mais importante (Figuras 19.78 e 19.79) .
tecido cariado em trinta molares decídu os huma - No entanto, o hidróxido de cálcio estimulou rea - ,
nos. Observou-se que o trata mento permite adi- ções teciduais mais expressivas, sendo mais favo- I
minuição da contaminação da dentina remanes- rável para o endurecimento e escurecimento da
cente, tanto com o u so de cimento de hidróxido dentina (sin ais de remineralização e possível
de cálcio quanto com um material inerte (cera, controle do processo ca rioso).

• FIG. 19.1$ • f~«,;, .19,1~


Eletromicro9rafia da dentina remanescente após re- Eletromicrogrofia do dentina remanescente após o
moção parcial do teodo cariado, antes do capeamento capeamento pulpor Ji1direto (90 dias, mesmo caso ante-
pulpor indireto. Dentina muito contaminado. (Bressont2 6, rior). Dentina com pouco contaminação. (Bresson,2 6,
2003; Gentilmente cedido pela Ora. Ana Elizo Lemes 2003; Gentilmente cedido pelo Oro. Ana Elizo Lemes
BressonD. BressantJ.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA T ERAPIA PULPAR EM DENTES OECÍDUOS

Desta forma, a terapia pulpar indireta deve acordo com a radiografia periapical, em dentes
ser considerada, principalmente em crianças de com até um terço ou com metade a dois terços
tenra idade, como uma alternativa do tratamen- de rizólise. O capeamento pulpar direto foi devi-
to conservador da polpa de forma segura, rápida damente realizado, in vivo, utilizando-se pasta de
e com grandes perspectivas de sucesso, devido a hidróxido de cálcio e soro fisiológico. Após três
a lta capacidade de resposta do complexo denti- meses, os dentes foram extraídos e avaliados his-
nopulpar frente a um estímulo n esta idade. tologicamente. Formação de pontes de dentina,
Os vários estudos anteriormente citados de- com espessuras, estruturas e estágios de matura-
monstraram que o procedimento de reabertura ção variados, foi observada em todos os dentes,
para remoção da dentina cariada residual pode que exibiram tecido pulpar adjacente vital. Os
ser desnecessário, se a restauração mantiver uma autores sugerem que não há diferença significati-
boa integridade marginal associada a um bom va entre os potenciais de repa ro de dentes decí-
controle clínico e radiográfico, principalmente duos e dentes permanentes.
pela previsibilidade de esfoliação fisiológica des- A exposição pulpar decorrente do processo
tes dentes 26 • carioso poderá ocorrer em duas situações clíni-
cas . A primeira acontece "acidentalmente" após
a remoção completa do tecido cariado das pare-
CAPEAMENTO PULPAR DIRETO des laterais da cavidade e no momento da finali-
zação da remoção de toda a dentina afetada da
A partir desta proposta mais conservadora parede pulpar, numa etapa final do procedimen-
de abordagem de lesões cariosas agudas profun- to. Já a segunda situação clínica envolve a expo-
das em dentina, o risco da exposição pulpar di- sição deliberada da polpa nos estágios iniciais de
minui consideravelmente. O êxito da proteção remoção de tecido cariado, o que contra-indica o
pulpar direta está diretamente envolvido com di- capeamento pulpar direto.
' ; versos fatores, entre os quais destacam-se o cor- Uma das maiores dificuldades, senão a mai-
reto diagn óstico de saúde do tecido pulpar e a or, no tratamento de lesões cariosas profundas
manutenção de adequado selamento da interface em dentes decíduos, é a elaboração de um diag-
dente-restauração. nóstico correto com relação à con.diçã-0 pulpar.
O capeamento pulpar direto é con ceituado Em pacientes menores, as dificuldades aumen-
como a colocação de um "revestimento biológi- tam, pela sua limitação em informar precisamen-
co" sobre a porção exposta da polpa, uma vez te os sintomas, acentuada também pelas dificul-
que dela depende a reparação biológica. O obje- dades que os responsáveis têm ao tentar passar
tivo é mantê-la com vitalidade até o período de informações sobre o quadro clínico que a criança
esfoliação fisiológica do dente decídua, sendo estaria viven ciando .
• 1

que o êxito do tratamento depende da prévia Schroder 157 reportou uma correlação de 83%
avaliação do estado patológico pulpar 122 • entre o diagnóstico clínico do estado inflamató-
rio da polpa com os respectivos achados histoló -
a) Critérios clínicos e biológicos para gicos em dentes decíduos portadores de lesões
a sua indicação. cariosas profundas em dentina . Faz-se n ecessá-
rio, portanto, um cuida doso e acurado exame
Por todas as razões apresentadas no início do trans-operatório da área exposta para a definição
capítulo, o capeamento direto está contra-indica- do diagnóstico. As condições satisfatórias para a
do apenas nos dentes em estágio final de rizólise, indicação da proteção pulpar direta envolvem a
quando não seria mais necessária sua manuten- abordagem de um tecido com sangramento, co-
ção n o arco. Não é o processo fisiológico de rea- loração e textura normais e principalmente isen-
bsorção radicular que afeta a forma ção de denti- tos de tecido cariado envolvendo diretam ente a
na reparadora (barreira de tecido duro ou ponte exposição. Além disso, os tecidos adjacentes de -
de dentina) na terapia pulpar direta, mas sim a verão se apresentar isf ntos de alterações de cor e
condição do tecido pulpar 1º6 . volume, como tumefações, edemas e/ou fístulas,
Este dado foi recentemente comprovado por indicativos de um processo agudo, além do dente
Sari et al. 151 . Os autores avaliaram 20 caninos apresentar mobilidade compatível com o seu es-
decíduos h ígidos, divididos em dois grupos, de tágio de rizólise.
CIENCIA ENDODÓNTICA

Outra avaliação clínica transoperatória im- do material capeador com o tecido pulpar, além
portante refere-se à hemostasia e ao tipo e volu- de provavelmente remover mais tecido inflama-
me de sangramento. Um sangramento abundan- do e facilitar a limpeza de raspas de dentina con-
te, vermelho escuro ou cianótico, bem como taminadas85.
uma polpa em estágio de liquefação, com secre- Tecnicamente, sabe-se que nos últimos está -
ção purulenta ou exsudato seroso representam gios de remoção de tecido cariado (quando esse é
sinais evidentes de degeneração do tecido. Se o propósito) raspas de dentina são invariavel-
houver dúvida qua nto a seu diagnóstico, seria mente colocadas em contato direto com o tecido
prudente evitar um tratamento conservador e pulpar e as mesmas podem interferir no seu re-
partir para uma abordagem mais radical. paro. Portanto seria prudente remover o tecido
Quando à avaliação radiográfica, o exame cariado da periferia para o centro da cavidade,
pré-operatório é indispensável no tratamento de quando uma exposição pulpar pudesse vir a
lesões cariosas profunda s em dentina, tanto em ocorrer86 .
situações de proteção indireta quanto direta do Uma vez removido to do o tecido cariado
tecido pulpar. Essas terapias estão indicadas nos com base em critérios visuais e táteis, irriga-se a
casos em qu e, na imagem radiográfica, é possível cavidade com uma solução biocompatível (soro
observar que a polpa não está envolvida pela fisiológico ou água destila da ). Esta irrigação com
lesão cariosa, como também não existam evi- solução sa lina permite também uma melhor ob-
dências de reabsorção interna, reabsorção exter- servação da hemostasia espontânea, estando
na patológica, aumento do espaço do ligamento contra-indicado o uso de substâncias hemostáti-
periodontal, descontinuidade da lâmina dura em cas ou irritantes para tal fim. A sefagem da cavi- 1

torno do germe do permanente sucessor e zonas dade é realizada com pequenas mechas de algo-
radiolúcidas periapicais ou inter-radiculares . dão autoclavadas, aplicando-as com um mínimo
de pressão, devendo-se evitar a formação de coá-
b) Proteção pulpar direta ou gulo no sítio da exposição, uma vez que ele po-
curetagem pulpar? derá interferir na reparação pulpar ao servir de
substrato para atrair bactérias que produziriam '
v
A curetagem pulpar se enquadra no mesmo infecção 85 •
raciocínio até agora estabelecido, sendo indicada Igualmente importante e necessário é utili -
nos casos de exposições pulpares acidentais, zar instrumental novo e esterilizado, como bro-
como fraturas coronárias e em outras situações cas e curetas, principalmente nos estágios finais
em que remanescentes de dentina cariada estão de remoção de tecido cariado.
presentes (exposição pulpar por cárie no estágio Apesar de se encontrar apoio na literatura
fin al de remoção intencional de tecido cariado) 39 • para a utilização da curetagem pulparl 1, há quem
Esta técnica possui a vantagem de fazer a remo- a veja com reservas para dentes decíduos . Em
ção de uma pequena parte da polpa inflamada, função da dificuldade de se avaliar clinicamente
proporcionando assim um melh or diagnóstico e a extensão do processo inflamatório presente no
con seqüente prognóstico. Clinicamente, a polpa tecido pulpar, pode-se realizar o tratamento atra -
poderá estar apresentando uma área maior de vés da pulpotomia, com a utilização de um cura-
exposição, certamente em função da agressão tivo antiflogístico, previamente à colocação do
pelo processo carioso e ainda com a presença de hidróxido de cálcio. A remoção total da polpa
uma pequena quantidade de tecido cariado adja - coronária permite retirar o tecido lesado com
cente . Uma outra situação clínica bastante co- uma maior margem de segurança, contribuindo
mum é quando diante de uma pequena exposi- para uma maior porcentagem de sucesso 1º6 •
ção pulpar, em presença de tecido cariado cir-
cunvizinho, pela dificuldade de se avaliar clinica- e) A escolha do material capeador
ment e a extens ão do processo in flamatório, ideal
opta-se pela ampliação do ponto de exposição
pulpar. Esta ampliação é realizada com uma pon- Muitos medicamentos e matena1s têm sido
ta diamantada esférica sob refrigeração com diâ - sugeridos para recobrir a polpa e induzir o pro-
metro não superior a 1 mm por medida de segu - cesso de cicatrização 85 • Por mu itos anos, o hidró-
ran ça, na tentativa de se ter um contato maior xido de cálcio tem sido eleito pela maioria dos
ABORDAGEM CONTEM PORÂNEA DA TERAP IA l"ULPAR EM DENTES DECÍDUOS

autores como o medicamento de escolha para matriz em quatro semanas, O grande benefício
polpas expostas4l,59,7s,1s1 , do uso deste material é estimular a formação de
Em coerência com o que foi descrito, a pre- uma ponte de dentina, provavelmente causada
ferência recai sobre o h idróxido de cálcio como pela irritação provocada em função da sua alta
material capeador de polpas expostas de dentes alcalinidade (pH 11 -12), Neste m eio alcalin o, a
decíduos, fosfatase alcalina é ativada, ocorre a liberação
Quando colocado em contato com o tecido de fosfatos inorgânicos, seguida da precipitação de
pulpar, o hidróxido de cálcio produz n ecrose te- fosfato de cálcio, contribuindo assim para a for-
cidua1, e abaixo desta zona, há uma diferencia - mação da barreira mineralizada (Figuras 19.80 a
ção celular em odontoblastos, que elaboram uma 19.870).

' /

• wm. 19.so • flG. 19.81


Aspecto clínico de formação de ponte de dentina subseqi.iente proteção com cimento de hidróxido de
em um primeiro molar decídua inferior direito após 3 cálcio paro a realização da restauração.
meses da intetvenção pulpar (curetagem pulparJ e,,,

• FIG. 19.82 • FIG. 19.83


Aspecto radiográfico do caso anteriormente des- Aspecto clínico de formação de ponte de dentina
oito, 720 dias após a remoção total do tecido cariado e
curetagem pulpar, numa abordagem consetVadoro de
preparo cavitário,
CIÊNCIA ENDODÓNTICA

• FIG •. 19.84 ··-· .


Aspecto clínico de uma restauração com ionômero
de vidro reforçado com prata (CERMETJ, em um molar
decídua inferior e...

... na sua substituição, a possibi/Jdocje de avaliação


da ponte de dentina formada na porção mesiol da polpa
coronário removida.

• ... FIG._19.86 ___________________ ..... .. ... .


Aspecto radiográfico do dente em questão.

_ _FIG._19.87A --·-
Aspecto radiográfico ,
de uma lesão carioso
profunda em dentina,
com risco de exposição .
pulpar.

Aspecto clínico da restauração de cimento de


ionômero de vidro, 2 anos após o suo realização no
dente 85, no qual foi efetuada uma curetagem pulpor.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES DE.CÍDUOS


• FiG. 11:J.870
Aspecto radiográfico
depois de concluída a
nova restauração, desta
vez com resina composto.

• FIG. 1~.if1..f .. .. .
Com uma lima endodôntica, observa-se a formação
de ponte de dentina no local da exposição.

Outro ponto positivo que leva ao reconheci- a exposição pulpar pouco acontece em condições
mento da superioridade do hidróx ido de cálcio "acidentais". Em geral, esta ocorre quando já
como material capeador é o seu grande potencial existe grande envolvimento do tecido pulpar
antibacteriano. pela lesão de cárie 1º6 .
A literatura falha ao tentar relacionar insu-
cessos como a reabsorção dentinária interna dJ Proservação
como uma das seqüelas do uso do hidróxido de
cálcio em dentes decíduos 134• 182 • O problema está Vários estudos têm reportado um alto grau
centralizado na dificuldade do diagnósticq do es- de sucesso com o capeamento pulpar direto em
tado inflamatório pulpar, contribuindo assim dentes decíduos, a partir de uma seleção criterio-
para o insucesso do caso em questão. Estes as- sa de casos acompanhada por uma cuidadosa
pectos serão mais profundamente discutidos técnica de trabalho 11 •77 •78 · 154 • 155 · 164· 181 • O tratamento
quando for abordada a pulpotomia em dentes será con siderado bem sucedido quando nenhum
decíduos. sinal clínico e radiográfico de lesão pulpar irre-
• 1
Clinicamente, o hidróxido de cálcio poderá versível for observado, como mobilidade patoló-
ser utilizado na forma de pó ou aglutinado com gica; alteração de cor; edema; fístula; obliteração
uma solu ção salina (soro fisiológico) ou ainda da câmara pulpar ou condutos por calcificação;
com uma solução não irritante, como o polietile- reabsorções internas e/ou externas não compatí-
no glicol 4004 º. Alguns autores 154· 155 · 131 dão prefe- veis com a rizólise; alterações ósseas na bi ou
rência para os cimentos comerciais, embora a trifurcação, como também na região apical.
técnica seja mais crítica quando em exposições
pulpares de maior diâmetro.
Assim, as técnicas de proteção pulpar direta PULPOTOMIA
em dentes decíduos representam uma opção de
tratamento para lesões cariosas profundas em A pulpotomia é um dos métodos conserva-
dentina, onde na tentativa de remoção completa dores mais amplamente utilizados na terapia
do tecido cariado, ocorre a exposição pulpar. No pulpar de dentes decíduos e consiste na remoção
entanto, em função do uso rotineiro da remoção total da polpa coronária, com subseqüente prote -
parcial da dentina afetada e da opção pela tera- ção dos filetes radiculares remanescentes. Apesar.
pia pulpar indireta, atualmente estimulada e va- de ser um procedimento realizado há mais de
lorizada, o capeamento direto tem se tornado um século, continua causando muitas controvér-
cada vez mais raro na prática odontológica, pois sias e discussões.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Esta técnica está indicada para dentes decí- inexistência de técnicas anestésicas adequadas e
duos com exposição pulpar extensa, ocorrida du- da necessidade de se eliminar sintomatologia
rante a remoção de tecido cariado, em lesões cario- dolorosa 108 - 14' . Durante muito tempo su a aceita -
sas profundas de dentina. Os dentes devem apre- ção baseou-se em resultados de trabalhos quase
sentar ausência de fístula, mobilidade, edema, al- que exclusivamente clínicos e com alto índice
teração de cor, lesões periapicais e inter-radicula- de suce sso ' 3 4 .
res. No transoperatório, devem ser avaliados os A partir da década de 19 7 0 , começou a se
sinais clínicos como sangrarnento de coloração especular sobre os efeitos do form ocresol sobre o
normal. consistência tecidual no momento da organismo, e vários estudos mostraram sua cito-
amputação e facilidade de hemost:asia. Compreen- toxicidad e (bloqueio da síntese de proteí1_1as e
de -se, então, que a pulpotomia está indicada nos RNA e a supressão da atividade de enzimas res-
casos em que o processo inflamatório está limita- piratórias); alte rações n o sucessor permanente;
do à polpa coronária e a polpa radicular possui sua abso rção e distribuição sistémica e sua excre-
ainda condições para estabelecer o reparo . ção lenta; a forma ção de lesões císticas de caráter
A lesão de cárie constitui -se em fator de irri- imunogênico, além da aceleração do processo de
tação, provocando na polpa um p rocesso infla- rizólise dos dentes decíduos. Também se obser-
matório e, post eriormente, uma alteração dege - vou que não havia controle da penetração do
nerativa . Nas zonas pulpares m ais profundas ob- formocresol no tecido pulpar radicular, e que por
serva-se uma área de inflamação aguda e crôni- sua vez sempre apresentava inflamação atingin-
ca. Na ausência de tratamento adequado, a dege- do inclusive o te rço apical 10-82 -185 .
neração progride até alcançar os tecidos periapi- Frente a este p otencial tóxico e altamente
cais. Através da pulpotomia, tem-se a intenção irritante, o uso do formocresol foi sofrendo mu-
de remover todo o tecido em degeneração, com danças. Ao longo do tempo seu protocolo de uso
margem de segurança 143 • Se a degeneração teci- se modificou, desde um procedimento de visitas
dual já tiver alcançado a polpa radi cular, o que mCtltiplas até um a única aplicação de 5 minutos
se observa através das características clínicas da e de sua concentração original até a diluição a 1/ 5
polpa (já anteriormente discutidas), então este 134 141
· • Assim, sua vantagem original de completa

procedimento não está mais indicado, sendo ne- mumificação, sanificação e supressão metabólica
cessária a realização da pulpectomia. Portant o, o de todo o tecido pulpar remanescente foi altera-
correto diagnóstico do estado inflamatório pul - da, tornando sua aplicação su stentada por bases
par, definido na fase trans-operatória, é fator empíricas96 •
fundamenta l para o sucesso dessa terapia p ulpar A fórmula diluída é menos tóxica e possui
conservadora. propriedades sim ilares ao medicamento original,
De acordo com os objetivos propostos antes dem on strando resultados clínicos e radiográficos
do tratam en to, essa terapia pode ser classificada mais satisfatórios em dentes decíduos, quando
em desvitalização (mumificação ou fi xação ), pre- c01nparado com a fórmula original1º· 19 ·38· 55· 11 5. No
servação (mínima desvitalização, sem formação entanto, não fica restrito ao sistema de can al ra-
de tecido rep arador) e regeneração (indução, re- dicular, difundindo -se através da dentina e do
paração) 13 \ A desvitalização, conseguida através cem ento, podendo causar inflamação severa e
da ação do formo cresol é a técn ica mais aceita e necrose p ulpar 05 .
mais preconizada em todo o mundo 12- 133 , inclusi- Existem evidência s de que a aplicação do
ve no Brasil 89 . formocresol durante cinco minutos sobre o teci -
do pulpar, mesmo na sua formulação original,
a) Pulpotomia com form ocresol não promove a fixação da polpa e sim a perma-
nência de uma inflamação crônica. Quando o
A principal propriedade do formocresol con- medicamento é deixado em contato com a polpa
siste na fixação do tecido pulpar radicular rema- por 48 h oras, ocorre sua fixação superficial e,
n escente próximo ao corte, seguida por uma in- abaixo desta, observa-se uma zo n a de necrose e
flamação crônica no terço médio e a m anutenção outra de reação inflamatória 148 . A diminu ição da
de tecido vital n o terço apical. concentração e do tempo de aplicação fez com
Introduzido empiricamente em 1904, o for- que as vantagens da mumificação (supressão
mocresol começou a ser utilizado em função da metabólica e sanificação) fossem perdidas 134•
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PUlPAR EM DENTES DECÍDUOS

Se clinica mente os estudos demonstram que b) Pulpotomia com hidróxido de cálcio


a pulpotomia com formocresol alcança alto índi-
ce de sucesso clínico e radiográfico 19· 18 5, o aspecto A técnica de pulpotomia id eal seria aquela
histológico dos den tes decíduos submetidos à que mantivesse a polpa radicular vital e compatí-
pulpotomia com este fármaco n ão é compatível vel com a normalidade, completamente protegi-
com o que se entende por manutenção da polpa da por tecido mineralizado 134. Contrariamente ao
sem degeneração. A observação histológica mais tratamento com formocresol, a pulpotomia com
constante nos dentes tratados com formocresol é hidróxido de cálcio pode ser considerada uma
a permanência de um processo inflamatório na abordagem realmente biológica, pois estimula a
zona pulpar abaix o do tecido que entrou em reparação do teci do pulpar remanescen -
contato com o fármaco, além da ausência de si - te1º~·108,147·160, sem efeitos tóxicos, mutagênicos e
nais de reparação 3• 144 · 148 • Estas características pro - carcinogênicos .
vocam uma diminuição no índice de sucesso à Colocado em contato direto com o tecido
medida que aumenta o tempo de acompanha- pulpar, o hidróxido de cálcio promove desnatu-
mento dos dentes tratados47 . ração protéica superficial. Reagindo com o gás
Apesar de todas essas evidências, a pulpoto- carbônico do tecido, ocorre precipitação de gra-
mia utilizando -se formocresol continua sendo re- nulações superficiais grosseiras de carbonato de
alizada no atendimento odontopediátrico porque cálcio. Essas granulações estimu lam o tecido pul-
muito raramente causa sintomas subjetivos ou par a depositar granula ções mais finas e mais
objetivos, sendo este fato mais um agravante da profundas de sais de cálcio 71 .
sua utilização. Este "silêncio clínico" n em sempre Posteriormente, observa-se um processo in-
é acompanhado por polpas e reações periapicais flamatório moderado instalado, seguido de mi-
histologicamente norm ais (inflamação crônica gração e proliferação de células pulpares para a
pode manter-se sem sinais e sintomas clinicamen- zona adjacente à área de necrose. Depois de qua-
te detectáveis56 • Portanto, o aspecto clínico n ão é tro dias, já se observa focos de mineralização na
o parâmetro m ais confiável para concluir que zona mais profunda de necrose, que coalescem
houve sucesso no tratamento 106 • até formarem uma calcificação h omogên ea em
No final do século passado, questões foram contato com tecido v ital. Em um m ês este tecido
levantada s a respeito da continuidade de u tiliza- forma uma barreira mineralizada, com a p arte
ção do fo rmocresol: "Com o conhecimento atual interna semelhante à pré -dentina, inclusive com
acerca dos efeitos do formocresol e do potencia l a presen ça de células adjacen tes. Após três me-
de defesa do tecido pulp ar de dentes decíduos, ses, o tecido já tem ca racterísticas de ntinóides,
anteriormente discutido, não seria melhor lançar com lóbulos irregulares e novos odontoblastos
m ão de uma terapia capaz de criar um ambiente margeando -o após a proteção com hidróxido de
• 1

propício para a cura, estimulando o potencial de cálcio 161 •


defesa e a reparação do organismo? Na dentição Apesar do alto índice de sucesso do hidróxi-
permanente utilizamos uma técnica que preserva do de cálcio em pulpotomias executadas em den -
o tecido radicular vital, normal, a partir da utili- tes permanentes humanos, como também expe-
zação do hidróxido de cálcio. Por que essa técni- rimentalmente em dentes decíduos e permanen -
ca é tão debatida e controvertida para dentes de - tes de animais, poucas escolas de Odontologia no
' ·1 cíduos? Será que ainda se justifica o uso de um Brasil e no mundo utiliza m -no rotineiramente
medicamento com potencial tão tóxico como o em dentes decíduos. No entanto, este é o medi-
formocreso l, no organism o de uma criança ?" 106 • camento de e leição n as escolas escandinavas 12• 89 •
Concordamos com a afirmativa de Lewis96 de Buscando compreender os receios de sua
que h á motivos suficientes para banir este fárma - utilização em dentes temporários, Massa ra et al.
co da odontologia. 108
revisaram as pesquisas referentes ao tema, e
Propriedades indesejáveis do formocresol es - identificaram , nos trabalhos mais influentes, vá-
timulam a busca de um fármaco m ais biocompa - rios erros de m etodologia que poten cialm ente
tível e que promova a reparação do Lecido pul- contribuíram para os ba ixos índices de sucesso,
par. O medicamen to atualmente disponíve l e levando os autores a conclusões errôn eas relati-
que mais se aproxima destes pré-requisitos é o vas ao emprego dessa técnica. Nenhuma explica-
'
.. hidróxido de cálcio. ção científica foi encontrada para que o hidróxi-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

do de cálcio fosse contra-indicado na primeira de dor espontânea, fístula ou edema, rarefação


dentição, o que permanece até os nossos dias. periapical ou inter-radicular e reabsorção denti-
O importante estudo de Via 182 , por exem- nária interna ou externa não compatível com a
plo, obteve fracasso após pulpotomias em demes rizólise, além das características clínicas da polpa
decíduos com este fármaco, principalmente pela no trans-operatório, que demonstrem que um
presença constante de reabsorções dentinárias caso é favorável ao tratamento conservador pul-
internas . No entanto, diversos outros fatores, par. Ou seja, não pode haver sinais ou sintomas
como anestesia intrapulpar, presença de sinto - a ssociados a processos inflamatórios irreversíveis
matoJogia pré-operatória e uso de vasoconstri to- e degenerações atingindo todo o conteúdo pul-
res para controlar o sangramento da polpa, cer- par, culminando na necrose pulpar do tecido.
tamente influenciaram os resultados deste traba - O sucesso da técnica diminui em tecidos in-
lho, e as causas dos insucessos não poderiam ser flamados 147. A diferenciação de novos odonto-
atribuídas soment e ao material capeador. blastos no tecido pulpar está relacionada ao tipo
Russo 143 afirmou que a reabsorção dentiná- de células presentes na polpa durante o trata-
ria interna é uma enti dade comumente encon- mento, e não ao hidróxido de cálcio por si só. Se
trada em dentes decídu os com polpa inflamada, a polpa está inflamada, esta situação será exacer-
m esmo naqueles que não sofreram qualquer bada pela resposta inflamatória inicial causada
tipo de intervençã o. As respostas pulpares não pelo contato com o medicamento, prejudicando
dependem somente do medicamento utilizado, a cicatrização 158 . Quando todos os critérios bási-
mas sim da situa ção inflamatória crônica da cos para a utilização de hidróxido de cálcio em
polpa 158 . pulpotomias são compreendidos e respeitados,
Diante destes fatos, os critérios de diagnósti- cria-se condições para que o potencial de defesa
co e seleção de vem ser bem observados, como do organismo seja estimulado 1º8 e o sucesso seja
mobilidade compatível com a rizólise, ausência alcançado (Quadro 19.1 ).

y
Quadro 19.1
ESTUDOS EM DENTES DECÍDUOS HUMANOS UTILIZANDO HIDRÓXIDO DE CÁLCIO COMO AGENTE
CAPEADOR EM PULPOTOMIAS, SEM APLICAÇÃO PRÉVIA DO AGENTE ANTIFLOGÍSTICO

Autor/ano Tipo de Situação % Sucesso


avaliação clinica prévia Tempo Clínico/RX

1 ano 67
Schrõder, 1978 156 Clín ica/RX Cariados
2 anos 59
H eilig et ai., 1984 66
Clínica/RX Cariados 9 meses 88

Gruythuysen e 1 ano 75,5


Smiths, 1995 62 Clínica/RX Cariados
2 anos 61,9
Gruythuysen e 1 ano 87,7
Weerheijm, 199763 Clínica/RX Cariados
2 anos 80,4

Os p assos clínicos da técnica de pulpotomia campo operatório. A remoção da polpa coronária


com hidróxido de cálcio deve m ser executados deve ser completa, com especial atenção aos cor-
com muita cautela, pois são fundamentais no nos pulpares, pois a permanência de remanes-
su cesso da terapia. O tecido cariado deve ser re - centes pulpares dificulta a h emostasia espontâ-
movido completamente antes da entrada na câ- n ea. Ela deve ser executada com pontas diaman-
mara pulpar, para evitar maior contamina ção do tadas novas, em alta rotação sob refrigeração, e
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES DECÍDUOS

terminada com uma colher de dentina afiada, cálcio 158 • Após obtenção da hemostasia, existem
para dar uniformidade ao corte, evitando a intro- dois protocolos possíveis a serem seguidos: a co-
dução de raspas de dentina na polpa rad icular. locação imediata do hidróxido de cálcio, finali-
Durante esta etapa, deve-se ter o cuidado de não zando assim a pulpotomia (técnica imediata), ou
desidratar o tecido pulpar, irrigando-o constante- a utilização de um curativo com corticóide-anti-
mente com soro fisiológico. Após a remoção do biótico durante 48 horas, e a finalização da técni-
conteúdo pulpar coronário, deve-se proceder a ca no próximo atendimento (técnica mediata).
irrigação abundante, para remover todas as ras- A utilização do corticóide-antibiótico é um
pas de dentina que superficialmente estejam pre- recurso utilizado por alguns autores na tentativa
sentes sobre o tecido pulpar radicular, pois estas de debelar um possível processo inflamatório
influenciam negativamente no resultado do tra- insta lado na polpa durante a pulpotomia, n os
tamento147. casos de exposição pulpar por lesão cario-
Semelhante ao que foi comentado para a sa1º6·1º8· 146. A literatura reporta que Ltm curativo
abordagem do capeamento pulpar direto, a he- com estes medicamentos auxiliam no processo
mostasia deve ocorrer espontaneamente, ates- de reparação 3 .
tando as condições favoráveis da polpa. Mechas A agilidade que a clínica odontopediátrica
de algodão esterilizadas embebidas em soro fisio- exige do profissional, leva a uma preferência
lógico podem ser colocadas dentro da câmara pela técnica imediata nos casos de exposição pul-
pulpar, sem pressão, para impedir a formação de par por trauma (fraturas não complicadas de co-
coágulo, pois seria essa uma das causas de reab- roa), finalizando o tratamento em uma única
sorção dentinária interna 162, interferindo na cica- consulta e liberando tempo para o tratamento de
trização pulpa r e provocando o desenvolvimento outras necessidades do pequeno paciente. Sendo
de u ma barreira de tecido mineralizado com es- uma opção cientificamente embasada 147 , a técni-
trutura alterada, com tecid o necrótico e sem ca imediata é uma opção que pode ser utilizada
I continuidade 159 • Provavelmente as fibrinas pre- principalmente nos casos em que a resolu ção rá-
sentes no coágulo exercem um efeito de quimio- pida do caso é fundamental como, por exemplo,
taxia nos leucócitos, que potencializam a leve em crianças de pouca idade (Figuras 19.88 a
rea ção inflamatória induzida pelo hidróxido de 19.92) .

• 1

• nG. 19.83 • Fm, 19.a~


Exame radiográfico 1i11âa/ dos dentes 74 e 75, com Aspecto radiográfico imediatamente após
lesões cariosas profundas em dentina, em uma criança pu/potomia com posto à base de hidróxido de cálcio no
com 3 anos de idade. dente 74 e curetagem pulpar com subseqüente proteção
com pasta de hidróxido de cálcio no dente 75 e restau-
ração de ambos com cimento de ionômero de vidro
resinoso modificado (V!treme1; 3MJ.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

• F!G, 19.,90 • FIG. 19.91


Aspecto radiográfico 4 meses após as inteJVenções Aspecto radiográfico 2 anos após as inteJVenções
pulpares. pulpares.

• FIG. 19.92
y
Aspecto radiográfico 2 anos e 10 meses após as
inteJVenções pulpares. Obse,var a reabsorção radicular
normal dos dentes decíduos, o aspecto normal do
trabeculado ósseo inter-radicula1; e a diminuição do vo-
lume da cõmara pulpar do dente 75. Caso clínico reali-
zado pela Prof! Carla Moreira Pitoni e Ora Luciana
SchmidC residente da Disciplina de Odontopediatria da
FO-UFRGS.

Outro ponto p olêmico e também já aborda- do cimento de hidróxido de cálcio (Dycal), pasta
do na proteção pulpar direta está relacionado ao preparada comercialmente (contendo sulfato de
veículo para acompanhar o medicam ento. Apre- bário, dióxido de titânio e veículo resinoso) ou o
ferência é pela utili zação do medicamento em material em suspensão (em uma solução aquosa
forma de pasta, misturado ao soro fisiológico, de metil-celulose). Entretanto, os melhores re-
água destilada ou óleos essenciais. A colocação sultados foram obtidos com o material em sus-
do pó puro diretamente sobre os filetes radicula- pensão aquosa 128 . Sobre o medicamento, coloca-
res facilita a p en etração de partículas no interior se um material para protegê-lo e evitar dern.asia-
do corpo da polpa radicular, podendo gerar dege- da compressão do hidróxido de cálcio durante as
n erações cálcicas ou penetrar dentro das arterío- manobras restauradoras. Um dos materiais indi-
las, prejudicando o potencial de reação da polpa. cados é o cimento de hidróxido de cálcio (fórmu-
Um estudo comparando três diferentes pre- la comercial), ou uma lâmina de guta-percha.
parações do hidróxido de cálcio em pulpotomias Apesar de não ser um aspecto considerado
de dentes decíduos humanos demonstrou que é fundamental para o sucesso clínico e radiográfico
possível obter-se sucesso com a técnica utilizan- do caso 128, a formação de ponte de dentina é
ABORDAGEM CONTHl!PORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES DECÍDUOS

desejável, pois se trata de uma barreira protetora estratégica do dente na cavidade bucal, a presen-
do remanescente pulpar. A sua presença de - ça de reabsorções patol ógicas (internas ou exter-
monstra que a polpa está com potencial de rea- nas) que impeçam a realização da técnica e inte -
ção e recuperação, porém podem ser observados gridade da cripta óssea do germ e do dente per-
sinais de degeneração da polpa após a formação manente .
de alguma porção da ponte. Em exames histoló- O diagnóstico de um dente com necessidade
gicos observa -se que quando não há a formação de tratamento e n dodôn tico e stá baseado nas
de uma barreira mineralizada contínua, geral- mesmas colocações já discu tidas anteriormente.
mente há sinais demonstrando presença de pro-
cesso inflamatório na polpa adjacente e, portan- a) Aspectos Morfológicos
to, insucesso da técnica 16 3. A formação de ponte
de dentina após pulpotomias com hidróxido de A morfologia radicular dos dentes decíduos
cálcio foi demonstrada em diversos estudos, tan- tem sérias implicações n a técnica endodôntica.
to em humanos quanto em animais de laborató- Os incisivos e caninos possuem a morfologia
rio3·144·147·159·161·163. O estímulo para a formação da menos complexa, uma ve7 qu e apresentam um
barreira dentinária e diferenciação celular vem canal único e uniforme, e os últimos podem con -
de uma irritação leve causada pela zona de ne- tar com deltas apicaisin.
crose por coagulação inicialmente indu zida pelo Já nos molares, semelhante ao qu e ocorre
hidróxido de cálcio 158 • nos permanentes, en con tra -se uma gra nde varia -
Para garantir que a terapia pulpar seja bem ção n o número de canais, canais acessórios e ra-
sucedida, é necessário um selamento coronário mificações apicais69·178 . Os canais acessórios às
adequado que impeça a contaminação do tecido vezes at ravessam a pequena espessura da denti-
pulpar submet ido ao tratamento. na do assoalho da câmara pulpar 14 2, que somados
às foraminas existentes nessa região 88 , aumen-
/ TRATAMENTO ENDODÔNTICO tam a permeabilidade da área, formando um ca-
RADICAL minho para a difusão de b actérias e para a comu-
nicação com a região inter-radicular.
O tra tamento endodôntico de dentes decídu- A rizólise é outro fator' que traz limitações ao
os envolvendo a manipulação dos canais radicu- tratamento. Após o seu in ício, a reabsorção radi-
lares tem como principal objetivo permitir a ma- cular, fisiológica ou acelerada pela presença de
nutenção do dente no arco até a sua época nor- infecção, propicia u ma superfície irregular na
mal de esfoliação. Deste modo, o desenvolvi- furca, assim como limites irregulares nas porções
mento estomatognático, a mastigação, a forração apicais e laterais das raízes 60 •
e a harmonia facial não são prejudicados. Além A localização do germe do dente permanen-
disso, evita-se danos ao germe do dente perma- te sucessor (nosso principal foco de atenção
nente pela permanência de infecções periapicais/ quando da realização do tratamento endodôntico
inter-radiculares e alterações na cronologia e em dentes decíduos) , em relação íntima com as
eixo de erupção. raízes dos dentes decíduos, juntamente com os
Este tratamento está indicado nos estágios outros aspectos mo rfológico s acima relatados fi-
inflamatórios pulpares irreversíveis, necrose pul- zeram com que as primeiras técnicas de trata -
par causada por lesões de cárie ou traumatismos mento endodôntico de dentes decíduos com pol-
dento -alveolares e em insucessos em terapias pa necrosada se limitassem à remoção de detritos
pulpares conservadoras. Porém, deve -se observar da câmara pulpar e à utilização de medicarnen -
que quando a rizólise do dente decíduo e/ou a tos11·183 (Figuras 19 .61 e 19 .62).
rizogênese do dente permanente estão em está- Mesmo com estas dificuldades, diversos au-
gio avançado, o tratamento está contra -indicado, tores desenvolveram estu dos sobre tratamento
assim como nos casos de impossibilidade de res- endodôntico com a in tervenção e a desinfecção
tauração da coroa, comprometimento do assoa- dos canais radiculares. Trabalhos clínicos corno
lho pulpar, lesões periapicais/ inter-radiculares os de Rifkin 138 e de Guedes-Pinto et al. 6 5 , de-
extensas e saúde geral precária do paciente. Ou- monstraram relativo grau de sucesso clínico e
tros fatores importantes a serem considerados radiográfico ao realizarem tratamentos endodôn -
previam ente a o tratamento são a importância Licos em dentes decídu os envolvendo a instru-
CIÊNCIA ENDOOÔNTICA

mentação dos canais radiculares até limites pró- sa irrigação com soluções que auxiliem na sanifica-
ximos ao ápice. ção do canal e obturação com medicamentos bio-
Assim, parece consenso atual que o trata- compatíveis A instrumentação, neste caso, tem a
mento endodôntico busque a maior remoção função de remover o tecido pulpar, e não de des-
p ossível dos produtos tóxicos e microrganismos gastar as paredes de dentina, pois estas ainda não
contidos no interior dos canais radiculares4 5. estão intensamente infectadas, como ocorre com os
túbulos dentinários em casos de necrose pulpar.
b) Preparo do Canal Radicular O objetivo do preparo dos canais radiculares
é remover o tecido pulpar rem anescente vital ou
O preparo do canal radicular é considerado necrótico do interior dos canais, além de torná -
uma fase importante e essencial para a desinfec- los m ais regulares 17 e promover o alargamento
ção do sistema de canais ra di culares. A remoção dos canais principais, criando espaço p ara a colo-
dos restos necróticos apenas da câmara pulpar e cação do m ate rial obturador.
a utilização de medicamentos nesta área pode A utilização de substâncias auxiliares à instru-
controlar o quadro infeccioso por algum tempo, mentação promove melhor remoção dos detritos
mas a presença de bactérias no interior dos ca- e microrganismos do interior dos canais.
nais radiculares e túbulos de~tinários pode levar Uma das substân cias mais utilizadas em den-
à reagudização do processo .· tes permanentes é o hipoclorito de sódio, pelas
A anatomia complexa .d os canais radiculares suas propriedades antimicrobianas, neutralizado -
e a reabsorção fisiológi ca dificultam tanto a ins- ra de produtos tóxicos, capacidade de dissolução
trumentação quanto a odontomet:ria. No entan- tecid ual e dupla ação detergente93 , além de pro-
to, em 1982, Bengston 16 demonstrou a possibili- mover uma superfície radicular bastante lim-
dade de odontornetria de molares decíduos infe- pa 131 . Diversos autores recomendam o hipoclori-
riores. De acordo com seus resultados, a partir de to de sódio com o substância irrigadora para den-
uma radiografia inicial, obtém-se o comprimento tes decíduos 23,64,76, 106 . I39.u1 .
do dente e diminui- se de 1 a l,5rnm de sta medi- Em 1996, Faraco-Jr. 44 u tilizou o hipoclorito
da para obter-se uma medida segura para instru- de sódio a 0,5% e 1 % em duas técnL::as de trata- v
m entação. Já Russo 143 recomenda que em dentes mento endodôntico em um estu do realizado em
cujo processo de rizólise já te nha iniciado, deve- dentes decíduos de cães, com o objetivo de ob-
se proceder a uma análise cuidadosa da radiogra - servar a reação do periápice. Independente da
fia previam ente ao preparo . técnica utilizada, a reação p eriapical foi conside-
Após a odontometria, procede-se a abertura rada boa, quanto à intensidade de inflamação
da câmara pulpar é acesso aos canais radiculares. crônica e reabsorção dentinária externa.
Esta fase pode ser realizada com b rocas esféricas Apesa r de alguns autor es indicarem o uso
em baixa rotação, e irrigação da câmara com hi- de creme de Endo-PTC para auxiliar a instru-
poclorito de sódio. mentação de dentes decíduos 18, foi d emonstra -
A seguir, parte -se para o preparo do canal do em 1990 por Holla n d et al. 72, em um estudo
radicular, que compreende a instrumentação e a realizado em dentes permanentes, que · o creme
utilização de substâncias irrigadoras auxiliares. con trib ui para a condensação de d etritos na
A pulpectomia é um procedime nto radical, área apical.
mas que evita a manutenção de um tecido pul- Os dentes decíduos, assim como os dentes
par em degenera ção que levará a uma provável permanentes, possuem diversas áreas inacessíveis
n ecrose pulpar, com possibilidade de ocorrência à instrumentação, como os canais acessórios e os
de sintomatologia dolorosa, edema, fístula, e túbulos dentinários. A freqüên cia de canais radi-
conseqü en te infecção do can al radicular, dificul- culares atrésicos é bastante alta em dentes decí-
tando o t ratamento endodôntico. duos, devido à deposição constante de dentina se-
Quando está indicada a pulpectomia, os canais cundária à me dida que se aproxima o fim do seu
radiculares ainda estão preench idos por tecido pul- ciclo vital. Este fator reforça a importân cia da uti-
par vital (mesmo que em degeneração) e, p ortanto, lização de medicamentos com poder de penetra-
a infecção dos canais radiculares é limitada. Neste ção nos tecidos e que promovam a desin fecção
caso, o tratamento resume -se à remoção do tecido destas áreas. Hobson 70 e Brannstrom25 observa-
remanescente, por m eio da instrumentação, copio- ram que dentes com polpas infe ctadas (decíduos e
ABORDAGEM CO NTEMPORÂNEA DA TERAPIA PUlPAR EM DE:NTES DECÍDUOS

permanentes, respectivamente) podem abrigar


microrganismos dentro dos túbulos dentinários.
Uma opção para melh orar o saneamento do
tores verificaram que após a instrumentação e a
irrigação do canal radicular com esta solução, ob-
tcm-sc uma superfície dentinária livre de smear

canal é utilizar soluções que removam a lama layer, com túbulos dentinários desobstruídos.
dentinária, uma camada residual provocada pelo Em 200 1, Pitoni 13 1 estudo u a micromorfolo-
contato dos instrumentos com as paredes dentí- gia da den tina radicular após instrumentação e
nárias125, que obstrui os túbulos dentinários e di- irrigação endodôntica com diferentes soluções
minui a difusão de medicamentos através da auxiliares. Neste esLudo verificou-se que a partir
dentina radicular. Esta é uma técnica bastante da instrumentação dos canais radicularcs exclu-
utilizada em dentes permanentes, mas que ape- sivamente com hipoclorito de sódio a l % obtem-
nas há pouco tempo vem sendo estudada em se um superfície dentinária bastante regular, po-
dentes decíduos. rém com túbu los dentinários obstruídos por
Em 1992, Alacam 1 observou que na ausên- lama dentinária. Ao incluir-se uma irrigação fi-
cia da lama dentinária ocorre penetração de pas- nal com soluções de EDTA a 17% ou ácido cítri-
ta obturadora à base de óxido de zinco e eugenol co a 6%, consegue-se remove r a lama dentinária
nos túbulos dentinários de dentes decíduos. e expor os túbulos. O aspecto da dentina radicu-
Salama & Abdelmegid' 5 º e Primo 132 estudaram lar após a irrigação com diferentes soluções está
a eficácia do ácido cítrico a 6 % e 10% , respectiva- exemplificado nas Figuras 19.93 a 19.95.
mente, na remoção da lama dentinária do canal Esta técnica é considerada promissora para
radicular de dentes deáduos extraídos e examina- auxiliar o preparo do canal ra dicular de dentes
dos ao microscópio eletrônico de varredura . Os au - decíduos.

• w:m. 19.9 l
Eletromicrografia da dentina radicular de dente
decídua após instrumentação e Jirigação endodôntica
com hipoclorito de sódio a 1% (Pitoni131, 2001 ). • flG, f9.~4
Eletromicrografia da . dentina radicular de dente
•, ·, decíduo após instrumentação e inigação endodôntica
com hipoclorito de sódio a 1% segwdo de EDTA a 17%
(Pitoni131, 2001).

• Fm. 19.9$
Eletromicrografia da dentina radicular de dente
decídua após instrumentação e irrigação endodôntica
coni hipoc/orito de sódio a 1% seguido de ácido cítrico à
6% (Pitoni131, 2001 ).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

e) Medicação lntracanal Considerando o potencial citotóxico dos agen-


tes fenólicos e aldeídos, bem como a superioridade
Outro procedimento indispensável na desin- do hidróxido de cálcio quando aplicados nos canais
fecção do sistema de canais radiculares é a utili- radiculares de dentes permanentes, o hidrôxido de
zação de curativos de demora entre as sessões de cálcio parece ser, até o momento, o melhor medica-
tratamento. Em relação à endodontia de dentes mento disponível para ser utilizado num organismo
temporários, a litera tu ra é muito escassa no que jovem como o de nossos pequenos pacientes 1º6 •
se refere à medicação intracanal. Um importante trabalho que trouxe um pouco
Na clínica de odontopediatria, a m edicação de luz ao assunto foi o de Faria46 • Neste trabalho, a
intracanal tem sido indicada em situações nas quais autora observou que os canais radiculares de dentes
não se consegue obter uma condição ideal para a deáduos com necrose pulpar e lesão periapical são
obturação dos canais, tais como permanência de intensamente infectados por microrganismos seme-
sangramento ou exsudato, além da ocorrência lhantes aos encontrados em den tes permanentes
de dor trans-operatória ou dificuldade de manu- com necrose pulpar, e que o preparo do canal radirn -
tenção do condicionamento da criança. Massara 106 lar com hipoclorito de sódio a 2, 5 % isoladamente é
evidencia sua importância nos casos em que, ao pouco eficaz na eliminação dos microrganismos dos
exame radiográfico, áreas radiolúcidas nas regiões canais. A utilização de uma medicação intracanal
inter ou perirradiculares são observadas. com uma pasta de hidróxido de cálcio em conjunto
Em canais com p olpa viva, mesmo que sem com a instrumentação eleva significativamente a re-
condições de realização de tratamento conservador, moção dos microrganismos, sendo portanto recomen-
a infecção dos túbulos dentinários é menor do que dável seu uso em dentes com esta situação clinica.
nas situações de necrose pulpar, como já abordado
anteriormente. Assim, estes casos seriam de eleição d) Obturação
para o tratamento em sessão única.
Nos casos de presença de infecção, existem diver- A obturação dos canais radiculares é a etapa
sos medicamentos que são utilizados na prática, inas complementar do tratamentQ endodôntico dos
que carecem de evidências cientificas. Na literatura, dentes decíduos. Os medicamentos utilizados na '
encontra-se trabalhos utilizando desde o fo1mocresol, obturação tem fundamental importância para o
v
passando pelo paramonoclorofenol canforado, até sucesso do tratamento, devendo manter as condi-
chegar às próprias pastas obturadoras disponíveis para ções de limpeza e desinfecção conseguidas d mante
dentes deóduo, utilizadas como medicação intracanal. o preparo do canal radicular.
Apesar da escassez de investigações envolvendo Uma pasta obturadora para os canais radicula -
a utilização de materiais à base de hidróxido de cálcio res de dentes deóduos deve ter algumas caracterís-
em dentes temporários, inúmeros são os estudos que ticas: ser reabsorvida simultaneamente à rizólise;
o apontam como o m edicamento essencial para a não ser prejudicial aos tecidos pcriapicais e ao ger-
desinfecção do sistema de canais radiculares em den- me do sucessor permanente; deve ser radiopaca,
tes pennanentes. Massara 106 destacou as principais antisséptica e facilmente removível, e não deve alte-
bases científicas para essa escolha: a) su a atuação rar a cor da coroa dentária 118 • Como todas estas
contra todos os agentes envolvidos nos processos pa- características dificilmente são encontradas em ape-
tológicos presentes no sistema de canais radiculares e nas um medicamento, é comum a associação de
nas regiões inter-radicular e periapica167•17 1; b) sua ca- diversos componentes em um.a pasta.
pacidade de neutralizar o meio ácido promovido Devido às suas excelentes propriedades bioló-
pela atividade osteoclástica, numa lesão periapical gicas já citadas anteriormente, o hidróxido de cál-
ou inter-radicular, criando um ambiente propício cio vem sendo estudado como material obturador
para a reparação óssea 41 ; c) seu efeito sobre os li- para dentes decíduos. Russo et al. 145, em 1976, es-
popolissacarídios (componentes da parede celular tudaram a reação dos tecidos periapicais a materiais
de bactérias gram-negativas), envolvidos no proces- obtura dores de dentes decíduos de cães, e observa -
so patológico de reabsorção óssea 53 · 127• 149 ; d) sua ram que nos casos em que foi utilizada a pasta de
ação mineralizadora a partir da ativação da fosfatase hidróxido de cálcio ocorreu a formação de um sela-
alcalina4 L49 ; e) sua habilidade de desnaturar tecido mento apical com tecido duro e praticamente a
orgânico, tomando-o mais suscetível à dissolução ausência de infiltrado inflamatório (poucos casos
de material necrótico pelo hipodorito de sódio 171 . com infiltrado inflamatório crônico e ausência de
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA T ERAPIA PU!..PAR EM D ENTES DECÍDUO S

selamento apical). Toledo 179 , Faraco-Jr44, Faraco-Jr


& Percinoto4 5 e Amédée & Peret2 confirmam a
qualidade deste material para dentes decíduos.
A avaliação radiográfica constitui um exame
complementar indispen sável, esp ecialm ente nos
casos de lesões periapicais e/ou irner-radiculares. É

O hidróxido de cálcio tem elevado pH e capaci- o recurso de que dispoc para se certificar se houve
dade de ceder Ca+2 aos tecidos, o que lhe confere ou não reparação da área lesada, bem como da
características antimicrobianas e de indução de mi- continuidade da formação do sucessor permanen-
ncralização40. te. Estas radiografias de controle devem ser feitas
Em 1994, Rosendabl & Weinert-Grodd14º publi- 3, 6, 12 e 24 meses após o tratamento. Após este
caram um relato de dois casos clínicos de tratamento período mínimo, outras poderão ser realizadas a
de dentes deóduos com polpa necrosada, obturando cada dois anos, se necessário (Figuras 19.96 a
os canais com pasta a base de hidróxido de cálcio. 19.100) .
Após 36 meses de avaliação, os autores afumaram que
este é o material de escolha para a obturação de canais
de dentes dedduos, em função do sucesso alcançado
nestes casos. Ressalta-se este estudo em função da
escassa literatura de proservação em dentes decíduos
tratados endodonticamente
A literatura apresenta diferentes fonnulações de
pastas à base de hidróxido de cálcio:
~ Pasta sugerida por Holland7 1, com a seguinte
composição: hidróxido de cálcio quimicamente
puro (5g), propilenoglicol (veículo que permite
pequena solubilidade e lenta liberação de íons)
(SmL) e óxido de zinco quimicamente puro (é
I radiopaco e diminui a velocidade de reabsorção
da pasta) (2g);
~ Pasta proposta por Leonardo et ai. 9 4, composta • 1'%G. 19,9 6
por hidróxido de cálcio pró-análise (2,5g), Sul- Segundo molar inferior d!Í-eito de uma menina de 4
fato de bário (0,05g), colofônia (0,05g) e propi- anos de idade com abscesso periapical agudo.
lenoclicol 400 (l,75mL);
~ Pasta preconizada por Lopes et ai. 100 , en contra-
da no mercado com o nome comercial de pasta
L&C (pó e líquido - marca HERPO), que tem
na composição do pó 2 g de hidróxido de cálcio
p.a., l g de carbonato de bismuto (inerte, não
altera o pH da p asta, confere boa fluid ez e óti-
m a radiopacidade a mesma) e 0,05 g de colofô-
nia (resina vegetal que dá escoamento, adesivi-
dade, corpo e endurecimento à pasta obturado-
ra) . O líquido é azeite de oliva puro (biodegra-
dáveL insolúvel em água, atua n o crescimento
e mineralização ósseos e promove uma libera-
ção mais lenta de íons cálcio e hldroxila).

e) Prosetvação • FHi, 19.97


Radiografia do mesmo dente, confirmando o relato
O acompanhamento dos casos tratados é de
da mãe de que uma tentativa de tratamento foi realiza-
suma importância no sucesso do tratamento geral da por outro profissional, sem sucesso, devido a falta de
do paciente. O exame clínico deve ser feito em adaptação comportam ental da criança. Observam-se
todas as consultas de manuten ção p eriódica profis- áreas radiolúcidas nas regiões inter e perirradicular (raiz
i'
',...-~·~ sional, de acordo com o plano de tratamento ela- dista/). Imagem discreta da lâmina duro sobre o germe
borado para cada paciente. do pré-molar correspondente.
·;,t.

CIÊNCIA ENDODÔNTICA
-------------------------·-·----·,·----------··-··--·-··------···--···--·-·-

. _FIG. 19.98 _
Aspecto clínico do dente 85, ao término do sessão
de obturação do sistema de canais rodiculares, realizado
uma semana após a limagem e medicação intraconol
com hidróxido de cálcio. Observar o regressão da fístula,
sugerindo inclusive o possível extravasamento da pasta • FIG. 19.99
obturadora à base de hidróxido de cálcio (L&CJ. Radiografia pós-operatória mostrando o extravasa-
mento da pasta obturadora, seguindo o troto fistuloso em
direção à saída da fístula, localizada entre os dois mola-
res decíduos. A tinogem sugere comunicação do canal
distal com a região inter-radicular

• WijG, 19:mo
Imagem radiográfica obtida um ano após o trota-
mento endodôntico radico! Observar a reparação das
áreas inter e peniTadiculares, bem como a maior
rodiopocidade da lâmina duro sobre a coroa do ge,me
do dente 45.

Em relação ao tratamento endodôntico, considerados como fracassos os casos em que


existem alguns critérios que podem ser utilizados estes não ocorrerem. Se a rizólise do dente de -
para definir se houve sucesso ou insucesso no cídua já iniciou, então o organismo está biolo-
tratamento: ausência de dor ou sensibilidade; re- gicamente preparado para reabsorver as raízes
gressão da fístula; aspecto radiográfico normal do e o osso alveolar (através da liberação de fosfa-
germe do dente permanente; ausência de reab- ta se ácida ) estabelecendo -se uma situação difí-
sorção não compatível com a rizólise (Figuras cil para a neoformação óssea. Deste mod o,
19.101 a 19.104). pode haver a manutenção da mobilidade e, da
A redução da mobilida de e a reparação da radiolucidez da lesão, desde que aliados ao su-
lesão são desejáveis, porém não d evem ser cesso clínico do caso.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES DECÍDUOS

• . FIG. 19.10,.2.__
Aspecto radiográfico do dente 85, exibindo necrose Imagem radiográfica obtida quatro meses após o
1. pulpar associada à rarefação óssea inter e perirradicular tratamento endodõntico radical tendo como medicação
intracanal a pasta de hidróxido de cálcio PA e soro fisio-
/
lógico e como posto obturadora o posto L8..C Observar a
r.eparoção do área lesada, incluindo-se a lâmina dura.

• 1

• . FIG.19.103 -·-..--.----------······--·-·-----------
Imagem radiográfica obtida 12 meses após o trata- Aspecto radiográfico 3 6 meses após o trotamento
mento endodôntico radical, registrando a manutenção endodõntico radical exibindo a reabsorção radicular fi-
da integridade das regiões inter e peri,rndicular Obser- siológica do dente decídua. Caso gentilmente cedido
var que a pasta não foi reabsorvida dentro dos canais. pelo Prof. Júlio Carlos Noronha.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

SUGESTÃO DE PROTOCOLO PARA TRATAMENTO DE


DENTES DECÍDUOS COM NECROSE PULPAR

1. Radiografia de diagnóstico e odontometria;

2. Anestesia e isolamento absoluto;

3. Remoção da dentina cariada e acesso à cãmara pulpar;

4. Remoção do teto da câmara e da polpa coronária ou restos necróticos com brocas esféricas ou colheres de dentina;

5. Irrigação da câmara com hipoclorito de sódio a 1%;

6. Remoção da polpa ou restos necróticos dos canais radiculares com uma lima tipo K e irrigação com hipoclorito de
sódio;

7. Preparo do canal radicular utilizando-se todas as limas da primeira série, em todo o comprimento de trabalho,
intercaladas com irrigação abundante seguida de aspiração, até remover o máximo possível de detritos;

8. Irrigação dos canais radiculares com EDTA a 17% ou ácido cítrico a 60/o durante 1 minuto e agitação da solução
com uma lima dentro dos cana is durante 2 minutos, seguida de uma irrigação com hipoclorito de sódio;

9. Medicação intracanal (se necessário), com pasta composta por pó de hidróxido de cálcio p.a. e soro fisio lógico;

10. Remoção da medicação intracanal e nova irrigação com EDTA ou ácido cítrico, da mesma forma que explicado
anteriormente;

11. Obturação dos canais com pasta à base de hid1:óxido de cálcio, com auxílio de uma broca lentulo, lima ou
condensadores endodônticos;

12. Limpeza da câmara pulpar e selamento da entrada dos canais com guta percha em bastão;

13. Restauração provisória ou definitiva;

14. Radiografia pós-operatória;

15. Exames clínicos e radiográficos periódicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS com medicamentos bio compatíveis, procuran-


do sempre respeitar o potencial de reparação
Baseados em evidências d emonst ra da s em ex presso pelo organismo do paciente, princi-
vá rios estudos, consi deramos que: a dentina é palmente quando o fator etiológico do des e-
um tecido vital que ap resenta possibilidades quilíbrio do meio bucal foi removido . E na im -
reais de defesa fren te às lesõe s de cárie, associa- possibilidade da indicação de tratamento s ccm -
da ao grande poten cial de r eparo da polpa do servadores, o profissional deve ter segurança
dente decídua. Os critérios de remoção de de realizar tratamentos mais invasivos, na bus -
dentina cariada (visuais ou táteis) não assegu- ca da manutenção do dente decíduo na cavida-
ram a esterilidade da dentina; as bactérias re- de bucal em condições de saúde até a época de
manescentes não causam a progressão da le- sua esfolia ção fisiológica.
são; as lesões ativas de cárie dentinária podem O profissional precisa refletir e revisar criti-
ser estacionadas se isoladas do meio ambiente camente alguns conceitos emitidos já há algumas
bucal. Portanto, devemos concentrar nossa décadas, que ainda perpetuam e atualmente são
atenção para t écnicas de abo rdagem à lesão de carentes da base científica que continuaria os
cárie profunda em dentin a menos invasivas, sustentando .
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES DECÍDUOS

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PRINCÍPIOS DAS
-
RESTAURACOES I

COM RETENCÃO I

INTRA-RADICULAR
CLÁUDIO R. LELES
/
JOÃ() BATISTA DE SOUZA
ADAIR LUIZ STÉFANELLO BUSATO

• INTRODUCÃO
,

O tratamento endodôntico possibilita o restabelecimento funcional de


dentes acometidos por inúmeras alterações patológicas com envolvimento
pulpar e/ ou periapical, aumentando consideravelmente a viabilidade da
manutenção de dentes que, no passado, poderiam ser extraídos. No en-
tanto, a recuperação definitiva do dente com tratamento endodôntico só
ocorre ao final do tratamento restaurador.
A res tauração desses dentes muitas vezes se torna complexa em razão
da maior parte ou a totalidade da coroa do dente ter sido perdida, seja por
cárie, traumatismo ou presença de restaurações extensas. Existe uma im-
portante relação entre a quantidade de estrutura dentária perdida e a
capacidade do dente em resistir a forças oclusais . Quanto maior a quanti-
dade de estrutura dentária perdida, menor a resistência estrutural do den-
te e maior o risco de fratura 55 • O procedimento endodôntico reduz a
resistência do dente em cerca de 5%, às custas apenas da perda de estru-
tura decorrente do acesso endodômico, a associação com um preparo
MOD reduz a resistência à fratura das cúspides em até 60% 67 . Portanto, a
perda das cristas marginais é o fator contribuinte mais importante para
a perda da resistência estrutural do dente.
A perda de estrutura dentária adicional durante os procedimentos
endodônticos, associada à redução dentária promovida pelo preparo pro-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

tético ou restaurador comum ente resulta em su- há possibilidade de se promover retenção e resis-
porte insuficiente para a restauração. Esses fato- tência suficientes para o núcleo de preenchimento
res determinam a necessidade de reconstituição coronário. Nessas condições, se tornam necessárias
coronária e promover uma adequada retenção da formas de retenção intra-radicular.
futura restauração . O dente com tratamento endodôntico que
Muitas vezes, um n úcleo para preenchimento necessita de retenção intra -radicular deverá rece-
do remanescente dentário, realizad o com mate - ber uma restauração estruturalmente constituída
riais restaurado res diretos, como resina composta, por componentes com funções específicas (Figu-
ionômero de vidro ou amálgama, é suficiente ra 20.1) . Numa relação direta de dependência
para reconstitu ir a parte coronária que servirá de funcional, a res tauração coron ária é retida pelo
suporte para uma coroa. Mas nos casos em que núcleo coronário, que por sua vez é retido pelo pino
h á perda considerável de estrutura coronária não intra-radicular.

• BG. 20.1
Partes componentes de um
sistema de retenção intro-rodiculm:

Portanto, a restauração final é uma uni dade SELECÃO DO


complementar confeccionada sobre um núcleo SISTEMA DE RETENCÃO
que se divide em duas p orções: coronária e radi- INTRA-RADICULAR,
cular. A parte rad icular, chamada de pino intra-
radicular, pode forma r uma única estrutura que As duas formas básicas de pinos intra-radi-
se estende até a parte coronária, na fo rma de um culares, fundidos e pré-fabricados, apresentam
núcl eo fundido, ou ser uma estrutura pré-fabri- inúmeras variações quanto ao mat erial, técnica
cada distinta, unida à porção coronária por meio de confecção, características morfológicas e bio-
de um material de preenchimento apli cado dire- m ecânicas e aplicação clínica .
tamente sobre o conjunto pino -dente reman es-
cente. Pinos intra-radiculares fundidos
Por muito tempo utilizo u -se a forma do con-
junto formado pela coroa e núcleo intra-radicu- Os pinos intra-radiculares fundidos foram,
lar por meio de uma única p eça, conhecida como por muito tempo, considerados o tratamento pa-
"coroa de Richmond". Esse sistema, no entanto, drão para dentes com remanescente coronário
foi substituído pela estrutura do pino intra-radi- reduzido. Sua utilização tem longo histórico de
cular e núcleo coronário separado da coroa, que sucesso comprovado clinicamente9.
apresenta as vantagen s de melhorar a adaptação Os pinos fundidos possuem uma versatilida-
marginal, não limitar a direção de inserção da de de indicação que permite seu emprego em
coroa àquela permitida pelo longo eixo do dente virtualmente todos os casos. Apresentam como '
e possibilitar a substituição de coroas insatisfató- vantagens a melhor adaptação ao canal, uma vez
rias sem exigir necessariamente a remoção do que o núcleo é construído para se adaptar com-
núcleo 32· 75 • pletamente ao espaço endodôntico. Por isso, é o
PRIN CÍPIOS DAS RESTAURAÇÕES COM RETENÇÃO INTRA-RADICULAR

tratamento de escolha para canais excessivamen- nativos de alto módu lo de elasticidade podem ser
te expulsivos ou el ípticos, onde o pino pré-fabri- empregados por serem menos dispendiosos que
cado circular não se adapta firmemente às pare- as ligas de ouro e apresentarem resistência acei-
des do canal, resultando em maior espessura da tável, apesar de estarem mais sujeitos à corrosão.
camada de cimento. Essas características resul - A alta dureza dessas ligas também dificulta o pre-
tam em alta rigidez, espessura de cimento dimi- paro irnrabucal da parte coronária do núcleo.
nuída e características anti-rotacionais. Além dis- Como alternativa viável podem ser indicadas as
so, como a porção coronária do núcleo é parte ligas de prata-paládio que possuem característi-
inerente ao pino intra-radicular, não há o pro- cas semelhantes ao ouro e custo relativamente
blema de falha na união entre as partes coroná- menor 18•57.
ria e radicular74 . Os padrões para fundição podem ser obti-
Entretanto, apresentam como desvantagens dos diretamente na boca, moldagem com resina
a necessidade de duas sessões clínicas para a ob- acrílica autopolimerizável, ou indiretamente no
tenção do molde ou padrão de fundição e a ci- laboratório a partir de um modelo obtido com
mentação do núcleo, além de envolver custos um material de moldagem elastomérico . A téc-
laboratoriais 57 . Estudos in vitro sugerem que há nica de obtenção do núcle o fundido segue os
um maior risco de fratura radicular, pois a forma procedimentos tradicionais de hmdição 71 .
cônica do pino tem o potencial de exercer um A cimentação pode ser realizada com cimen-
efeito de cunha sobre a raiz81 , embora esse efeito to de fosfato de zinco, ionômero de vidro ou
não tenha sido definitivamente comprovado em cimento resinoso, sendo a decisão quanto ao tipo
estudos clínicos controlados 56 · 58 . de cimentação dependente, essencialmente, da
Um pino fundido é indicado nos casos em preferência do profissional7 4•8 2 . Entretanto, a ci-
que o alinhamento da futura coroa é muito mentação convencional com fosfato de zinco
diferente da inclinação do longo eixo do canal apresenta sucesso clínico comprovado a longo
/ radicular, o que é comumente observado nos prazo 1 1 e, desde que a s dimensões e adaptação
dentes anteriores. Sua conformação ainda per- do pino sejam adequadas, não há evidências que
m ite a correção da direção de inserção dos pre- comprovem diferença nc~ desempenho clínico de
paros da parte coronária do núcleo em casos diferentes cimentos para fixação de núcleos fun-
de dentes pilares múltiplos de uma prótese didos51.
fixa.
É importante ressaltar que na maioria dos Pinos intra- radiculares
dentes anteriores e em alguns pré-molares com pré-fabricados
nenhuma estrutura coronária remanescente, n ão
há espaço suficiente que permita um volmne Para a utilização de um pino pré-fabricado é
adequado de material de preenchimento para necessário um preparo suficiente para alojar as
formar uma unidade estrutural sólida, restringin- dimensões do pino. Ao contrário dos pinos fun-
do a indicação de pinos pré -fabricados associados didos, são adequadamente indicados e apresen-
a núcleos diretos. Nesses casos, o pino metálico tam melhor adaptação em canais circulares e d e
fundido é a opção de tratamento mais adequada. pequeno diâmetro.
J á nos molares, normalmente, há espaço sufici- Os sistemas de núcleos p ré -fabricados são
ente para acomodar um material de preenchi- constituídos por três componentes: ( 1) o pino
mento e a angulação do canal não é considerada pré -fabricado, (2) o material de cimentação e
um problema significativo. Nesse caso, a utiliza- (3) o material do núcleo coronário (Figura
ção de pinos pré-fabricados resulta em preparos 20.2). O grande número de combinações dos
mais conservadores qu e os fundidos, apresenta vários tipos desses componentes dos sistemas de
menor cu sto e maior facilidade e simplicidade de pinos e núcleos disponíveis no mercado a umen-
confecção. ta a complex ida de do processo de seleção do
Quando os pinos fundidos são usados, as li- sistema mais adequado para cada situação clíni-
gas de ouro tipo IV são as mais indicadas por ca específica . Como não há n enhum sistema
possuírem adequada resistência mecânica e baixa que se aplique a todas as situações clínicas e
corrosão 51.74 _ Também as ligas de m etal básico como a maioria das combinações possíveis são
como o níquel-cromo ou outros subslitutos alter- suportadas apenas por avaliações in vitro, sem
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Quadro 20.1 o... ::i o.. : z
PROPRIEDADES COMPARATIVAS DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PINOS PRÉ- FABRICADOS, o (D ""I ....;

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MATERIAIS PARA NÚCLEO CORONÁRIO E CIMENTAÇÃO DE PINOS >-;
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Tipo de material do pino Resistência mecânica Resistência à corrosão Estética Radiopacidade
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... Metálicos o >-< <
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... Aço inoxidável Alta Média Não Muito Alta o..
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... Titânio Média Alta Nâo Média ()w 8 1l1


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... Titânio-Alumínio-Vanádio Média Alta Nâo Média
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... Cerâmicos Alta Alta A lta Alta ô (l) (i)
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... Fibra de vidro Baixa Alta Alta Baixa

Tempo de Estabilidade 'f>-<ü ~ 8PJ


Tipo de material do núcleo coronário Adesão Resistência M icroinfiltração Facilidade de uso O,)
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reação dimensional 1

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... Resinoso Alta Alta Espessa Baixa Média Difícil ~· ~


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... Fosfato de zinco Não tem Aceitável Adequada Baixa/Média Alta Fácil 'O \'.::'.
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• FIG. 20.2
Partes componentes de um
sistema de pinos pré-fabricados.

MATERIAL DO PINO PRÉ- nico favo rável, embora o número de o utros sis-
FABRICADO temas disponíveis n o mercad o tenha aumenta-
/
do devido à demanda nas exigências estéticas
Os principais tipos de pinos pré-fabrica dos dos pacien tes. Para um desempenh o clínico sa-
podem ser classificado s em metálicos (aço ino- tisfatório, os pinos pré-fabricad os de vem combi -
xidável, titânio comercialm ente puro, liga de ti- nar propriedad es biom ecânicas como alta resis-
tânio-alu mín io-vanádio) e n ão m e tálicos (fibra tên cia, boa re tenção e distrib uição de estresses,
de carbono, cerâmicos e de fibra de vidro) (Fi - resistência à corrosão e possibilidad e de serem
gura 20.3 ). Os pinos m etálicos são os ma is co- instalados com mínimo risco de perfuração e
m um ente utilizados e apresentam histórico clí- m enor quantidade de preparo.

• FIG .. __20 .3
Tipos de pinos metálicos (aço inoxidável) e não
metálicos (fibra de vidro e fibra de carbono).

},.
:- ·· ·

CIÊNCIA ENDODÔNTICA f

O material que compõe o pino pré -fabricado uma matriz resinosa com carga, com proprieda-
tem influ ência na resistência à fratura da raiz, vis- des biomecânicas semelhantes à fibra de carbo-
to que existem pinos com diferentes níveis de rigi- n o, corno o baixo m ódulo de elasticidade, mas
dez (módulo de elasticidade) em relação à dentina com superioridade estética ideal para o uso asso-
radicular, o que altera a form a como as forças são ciado a resta ura ções livres de metal 1º·25 . Porém,
distribuídas ao longo da raiz. Pinos de fibra de estudos clínicos controlados são necessários para
carbono apresentam m enor módulo de elasticida- se confirmar o sucesso clínico em diferentes ní-
de, semelhan te à dentina, enquanto os pinos me- veis de reman escente dentário 10 .
tálicos apresentam rigidez m uito superior2•63 • Ou- Tanto os pinos de fibra de vidro quanto os
tra vantagem dos pinos de fibra de carbono é a de fibra de carbono apresentam a desvantagem de
facilidade de ajuste do comprimento dos pinos e serem radiolúcidos, embora alguns sistemas te- 1• ••

de remoção no caso de retratamento do canal nham sido desenvolvidos para apresentar menor
radicular. grau de radiolucidez. Já os pinos de titânio apre-
Estudos experimentais mostraram que den- sentam radiopacidade semelhant e à guta-percha.
tes restaurados com pin os de fibra de carbono
apresentam maior resistência à fratura em com- MATERIAL PARA O NÚCLEO
paraçã o com dentes que recebem pinos metálicos • CORONÁRIO
pré-fabricados ou fundidos 2 º· 25•3 5•65 . O efeito re-
sultante da menor rigidez do pi no é, provavel- A parte coronária do núcleo promove, por
mente, uma menor concent ração de estresse que sua vez, retenção e estabilidade à restauração fi-
leva à fratura radicular, ou seja, quando um sis- nal. A capacidade de distribuição de cargas do
tema com componentes de diferente rigidez é pino radicular é influenciada pelo material do nú-
submetido a carga (de ntina e pino ), o compo - cleo coronário, que deve apresentar como requisi-
nente com maior rigidez é capaz de resistir à tos ideais a facilidade técnica, tempo rápido de
maior força sem distorção. Já o compon ente com reação, alta resistên cia, estabilidade dimensional
m enor rigidez falha e libera o estresse aplicadci 25 . com mínimo risco de infiltração e um mecanismo
Esse efeito pode ser observado em testes in vitro, efetivo de adesão . Resina composta, amálgama e
V
quando dentes com diferentes tipos de n úcleo ionômero de vidro são os materiais de escolha
intra-radicular são submetidos à fratura por apli - para núcleos coronários de pinos pré -fabricados.
cação de carga, há uma t endência do pino fundi- A resin a composta e o am álgama podem ser
do resistir à maior carga, porém resultar em fra- considerados os materiais que melhor distribuem
nua da raiz, enquanto o pino de fibra de carbon o as cargas para a superfície ao redor do núcleo,
resulta em fratura do pino numa m enor carga, reduzindo significativamen te o estresse cervi-
m antendo a integridade da raiz e possibilitando a cal92. Por outro lado, a resistência do ionômero
restauração do de nte48 . de vidro é m enor em comparação com o amálga -
Os pinos cerâmicos (zircônia) e de fibra de ma e resina, e su a união à dentina é con siderada
vidro proporcionam p roprie dades ópticas seme - fra ca 51 . Devido às suas baixas propriedades m e -
lhantes às coroas cerâmicas livres de metal, o cân icas, o ionômero de vidro tem poucas van ta -
que lh es conferem p ropriedad es estéticas supe- gens que justifiquem sua indicaçã o como mate-
riores aos pinos m etálicos. Os pinos de zircônia rial para núcleo, sendo seu u so lim itado ao blo-
são biocompatíveis, radiopacos, possu em alta re- queio de pequenas áreas retentivas 14 • 15 ·5 1•
sistência mecânica e p odem ser indicados para O amálgama, apesar da alta resistência à
dentes anteriores e pré -molares onde a estética é compressão e baixo risco de infiltração, apresen-
fator essen cial3 4 · 39 _ São mais rígidos, porém me- ta tempo de cristalização retardado e au sência de
nos retentivos que os pinos de forma semelh ante propriedades adesivas. Além disso, núcleos com
de aço inoxidável 64 • Atualm ente estão disponí- pequena espessura são altamente suj eitos a fra-
veis diferen tes métodos de processamento labo- tura. É possível aumentar a resistência à fratura
ratorial de pinos de zircônia, através de métodos com o uso de técnicas a desiva s ao amálgaman ,
de prensagem que possibilitam a obtenção de um mas seu emprego é pouco recomendável para
sistema de pino e nú cleo em peça única 38, 39 . confecção de núcleos devido à natureza tempo-
Os pinos de fibra de vidro são constituídos rária da adesão e o tempo adicional do procedi-
por pinos cilíndricos ou cônicos envolvidos em m ento51.
PRINCÍPIOS DAS RESTAURAÇÕES COM RETENÇÃO INTRA-RADICULAR

A resina composta oferece resistência clini- por resina para cimentação de pinos i.ntracanais,
camente adequada, apesar de seu limite máximo e o risco de expansão após a presa pode ser um
de resistência ser inferior ao do amálgama. Apre - fator de risco de fratura da raizs7. 75.&6 .
senta contração de polimerização significativa, As resinas adesivas são relativamente insolú-
sua resistência à microinfiltração é quase total- veis e promovem maior retenção in vitro em
mente dependente do agente de adesão e a capa- comparação com os cimentos convencionais87. A
cidade do agente adesivo em impedir a microin- retençã o promovida pe lo cimento resinoso é
filtração a longo prazo é questionável 5 1 • Apesar menos influ enciada por espessuras maiores de
disso, a resistência satisfatória, o tempo clínico de cimento quando o pino não se adapta totalmente
confecção reduzido e a capacidade de adesão são ao canal, o que pode ocorrer no uso de pinos
propriedades que tornam a resina composta o pré-fabricados 5. Esses fatores tornaram bastante
material para núcleo mais utilizado em combina- comum o uso dos cime ntos resinosos para fixa-
çã o com a maioria dos sistemas de pinos pré - ção de pinos intra-ra diculares.
fabricados14A0·60. Contudo, há dois problemas potenciais em
rela ção a sua utilização: são mais sensíveis à téc-
• MATERIAL PARA CIMENTACÃO I
nica de manipulação e mais afetados adversa -
mente pelo preparo inadequado da superfície do
A finalidade do material para cimentação do canal radicular 52 ·86 • Foi sugerido que a adesão
pino intra -radicular é auxiliar na retenção, per- dentinária do cim en to poderia ser inibida pela
mitir o selamento ao longo do canal e promover presença de compon en tes fenó licos corno o eu-
uma camada de amortecimento que contribui genol contido na m aioria dos cimentos endodôn-
para a distribuição uniforme de estresse entre o ticos52·8º, embora n ã o tenha sido verificada dife-
pino e a parede do canal2 2•81 . Um cimento com rença na retenção de p inos cimentados com fos-
ótimas características deve apresentar alta resis- fato de zinco ou resina composta em cana is ob-
/ tência , p equena espessura de película, baixa so- turados com cimentos com e sem eugenol7 1 •
lubilidade, capacidade de adesão, facilidade de Cimentos resin osos à base de 4-META são os
manipulação e vedamento marginal que blo - que apresentam m aior resistên cia à remoção e
queie a microinfiltração 22·43 -57J5. promovem a m a ior res istência à fratura da
Os cimentos de fosfato de zinco, de ionôme- raiz53·8º. No entanto, o aumento da retenção com
ro de vidro (convencional e modificado) e resi- o u so de cim en tos resi n osos adesivos, comprova-
nosos (resina composta, resina sem carga e agen - da em testes in vitro, não assegura um m enor
te adesivo dentiná rio) são os mais em pregados risco de deslocame n to do pino e m co ndições clí-
na cimentação de pin os pré-fa bricados 57 . Há van- nicas normais 57 .
tagens e desvantagen s inerentes a cada um <les-
ses ciment os, e n enhum possui todas as p roprie- ASPECTOS MECÂNICOS
dades ideais re qu erid as p ara a cimentação de pi- RELACIONADOS À RETENÇÃO.
nos pré-fabricad os. INTRA- RADICULAR
O cimento de fosfato de zinco apresenta as
desvantage ns da alta solubilidade e falta de ade - A reten ção dos vários sistemas de pinos in -
são75. m as o longo histórico de sucesso clínico tra -radiculares é afetada por uma série de variá -
comprovado desse cimento torna seu uso indica- veis que incluem o comprimento, diâme tro e
do para cimentação de pinos fundidos ou pré - configuração superfi cial do pino, forma do canal,
fabricados com ó tima adaptação 22 . tipo e método de cimentação e localização do
O ionômero d e vidro tem adesão fraca à dente na arcada 86 .
dentina , é altamente susceptível à umidade e os
benefícios resultantes da capacidade de inibir cá- COMPRIMENTO DO PINO
rie em dentina devido à liberação de flúor ainda INTRA- RADICULAR
não foi comprovada clinicamente 57 ·75 • A retenção
de pinos promovida pelo ionômero de vidro não O comprimento do pino tem influên cia sig-
é superior à dos outros cimentos convencio - nificativa na reten ção intra -radicular. Desconsi-
nais41. Da m esma forma, não h á informações de- derando o utros fatores, quanto maior o compri -
finitivas da efetividade do ionômero modifi cado mento do pino, maior sua reten ção, ou seja, o
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

deve ter o maior comprimento possível, 1. O comprimento do pino deve ser maior ou, no míni-
sem prejudicar o selamento apical da obturação mo, igual à dimensão oclusocervical ou incisocervical
endodôntica. Pinos demasiadamente curtos apre- da coroa do dente restaurado;
sentam alto risco de falha na retenção e promo- 2. O pino deve compreender pelo menos dois terços do
vem maior risco de fratura radicular. comprimento total da raiz do dente;
Não há regras rígidas, mas vários critérios 3. O pino deve alcançar pelo menos metade da distância
clínicos são recomendados para auxiliar na de- entre a crista óssea alveolar e o ápice radicular;
terminação do comprimento ideal de um pino 4. O pino deve ser o mais longo possível, mantendo um
intra-radicular. Esses critérios incluem os seguin- remanescente de obturação endodôntica mínimo de 4
tes parâmetros (Figura 20.4): ·a 5 milímetros.

• FIG. 20.4___
Parâmentos clínicos para de-
terminação do comprimento do
pino intra-radicular.

Embora o maior comprimento do pino au- aumento do comprimento é mais importante


mente a retenção, por outro lado aumenta-se o que o aumento do diâmetro para se obter maior
risco de perfuração radicular durante o preparo resistência à remoção 49•59 • O aumento na resis-
do canal. O comprimento máximo, então, nor- tência do pino ocorre às custas da redução da
malmente é limitado pela necessidade de se resistência à fratura da raiz como conseqüência
manter aproximadamente 4 milímetros de obtu- da diminuição do remanescente dentinário 91 .
ração apical. · A definição do diâmetro do pino deve ser
No caso dos pinos pré-fabricados, um com- compatível com a preservação da dentina radicu-
primento de 7 a 11 milímetros geralm ente é su- lar, redução do risco de fratura e de perfuração
ficiente para prover retenção ade quada37 • Mas o radicular. As seguintes condutas são recomenda-
comprimento máximo do pino pode ser, em cer- das (Figura 20.5):
tos casos, restringido devido a fatores clínicos
como a presença de curvatura das raízes, calcifi- 1. O diâmetro do pino não deve exceder um terço do
cações, dilacerações e ramificações dos canais93 • diâmetro total da raiz em todo seu comprimento;
2. O diâmetro do pino deve ser de no máximo 1 milíme-•
~ Diâmetro do pino tro em sua extremidade mais apical;
O aumento no diâmetro não aumenta sig- 3. Não aumentar o espaço para o pino muito além do
nificativamente a retenção do pino 82, ou seja, o diâmetro do preparo endodôntico original.
PRINCÍPIOS DAS RESTAURAÇÕES COM RETENÇÃO INTRA-RADICULAR


Dete,minação do diâmetro do
pino intra-radicular.

~ Configuração da superfície e forma de melhor assentamento e, conseqüentemente, me-


retenção do pino nor redução da estrutura dental nesta região25 •
O formato do pino intracanal normalmente Os pinos ativos se caracterizam pelo seu ros-
é ditado pelo formato do canal radicular, pois a queamento durante a sua inserção. As roscas pe-
adaptação do pino às paredes do canal é um fa- netram nas paredes de dentina do preparo do
/ tor importante para a retenção. Deve-se utilizar canal, auxiliando na retenção do pino 16, 27 ·81 • A
um pino fundido individualizado para canais utilização de pinos com um grande espaçamento
ovóides e elípticos e utilizar um pino intracanal entre as roscas apresenta menor risco do que pi-
pré-fabricado para canais retos e paralelos. nos com um número maior de roscas e um pe-
Modificações foram incorporadas aos pinos queno espaçamento entre elas21 • A observação
pré-fabricados com o objetivo de aumentar a for- do espaçamento entre as roscas torna-se impor-
ma de retenção e resistência e, ao mesmo tempo, tante, pois a presença de um número maior de
diminuir o estresse gerado na estrutura remanes- roscas gera riscos com a potencialização do es-
cente86. tresse. Para minimizar o estresse induzido nas
Os pinos pré-fabricados podem ser classifica- paredes durante a inserção dos pinos ativos é
dos de acordo com a sua configuração ou forma indicada a criação prévia de roscas na dentin.a,
de retenção. Quanto à sua configuração podem antes de sua inserção, seleção de pinos com me-
ser cônicos, paralelos ou uma combinação para - nor diâmetro e menor quantidade de roscas, bem
leio -cônico. Quanto à forma de retenção são como o desrosqueamento de um quarto de volta,
classificados em ativos ou passivos25 • após a sua inserção21 •69 . Os pinos ativos são indi-
Os pinos cônicos apresentam uma maior con- cados para raízes curtas, nos casos de defeitos
centração de estresse na porção coronária e uma anatômicos ou devido a causas acidentais que
baixa concentração na região apical1 9•81 • A menor proporcionem pouca profundidade para a colo-
concentração do estresse induzido na região apical cação de um pino. Nesses casos há a necessidade
dos pinos cônicos é devida à ausência da forma de se obter o m áximo de retenção possível. En -
angulada e da conservação da estrutura dental25. tretanto, os pinos ativos podem induzir mais ten-
A configuração cônica pode favorecer o efeito de são nas paredes do preparo do que os pinos pas-
cunha transmitido à estrutura remanescente76 . sivos. Os pinos rosqueavéis são os mais retenti-
Os pinos paralelos dispersam o estresse uni- vos, porém são os que mais desenvolvem estres-
formemente ao longo do seu comprimento, exce- se quando inseridos ativamente36 • Pin os rosquea-
to n a região apical, onde há uma concentração de dos fendidos minimizam o estresse residual devi-
estresse. 68 Este fato levou ao desenvolvimento da do à ação da fenda durante o rosqueamento até
forma angulada do ápice do pino, permitindo um o seu assentamento finaP 6 .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA

Um pino passivo não se adapta completa - maioria das situ ações clínicas. Estudos in vitro sã o
m ente e não apresenta retenção ativa na dentina os ma is comumente empregados para avaliação
durante a prova ou a inserção, sendo mantido dos diferentes sistema s de re tenção e variações
em posição por m eio do agente cimentante. Os técnicas relacionadas à abordagem clínica 25 . Mas
pinos com superfície lisa desenvolvem o m ínimo os resultados de pesquisas laboratoriais são, com
de estresse, mas promovem a menor retenção. freqüência, conflitantes e nem sempre aplicáveis
Em certos sistemas de pinos paralelos, as extre- clinicamente 3 1· 57 . Estudos clínicos, na sua maioria
midades são cônicas, o que pode ser benéfico se retrospectivos, também são encontrados na lite-
o ápice radicular for significantemente cônico. ratura, mas também não são suficientes para a
Portanto, a extremidade de todo pino passivo de definição de abordagens clínicas seguras e com
lados paralelos pode ser afilada durante o proce- efetividade comprovada 3 1 •
dimento clínico. Os pinos ativos são os mais re- Em 1993, Creugers et al.17 realizaram uma
tentivos, seguidos pelos passivos paralelos e pelos revisão sistemática para avaliação do sucesso do
passivos cônicos 82 . Idealmente, o cirurgião -den - tratamento com sistemas de pino, mas nenhum
tista deve ter disponível um sistema de pino pas- ensaio clínico randomizado controlado foi iden-
sivo para a maioria das situações clínicas e um tificado na literat ura da época . Além disso, a falta
sistema de pino ativo para raízes curtas. de definição clara de critérios de sucesso e de
falhas dificulta sobreman eira avaliações compa-
DESEMPENHO CLÍNICO DOS rativas entre diferentes estudos clínicos 17 •
DENTES COM RETENCÃO Um estudo longitudinal de Torbjorner et al.89
INTRA- RADICULAR , revelou que falha na retenção é o problema mais
comum em dentes com p inos intra-radiculares,
A grande disponibilidade de soluções clíni- tanto fun didos quanto p ré-fab ri cados, enquanto
cas aumenta consideravelmente as possibilida- a fratura da raiz foi o tipo de falha mais severa.
des de sucesso, mas pode gerar con fusão para o De fato, uma revisão sistem ática realizada por
clínico e resultar em emprego inadequado da Goodacre et al. 26 , que incl uiu estudos clínicos na
técnica. Da mesma forma, a decisão de prover avaliação de complicações posteriores à utiliza-
ou n ão retenção intra -radicular para um dente ção de pinos in tra-radiculares (Tabela 20. 1), en-
com tratamento endodôntico não é uma deci- controu uma incidência de 1O% de casos com
são simples. problemas associados ao deslocamento do pino
Apesar do grand e volume de informações (5%), fra tura radicular (3%), cá rie dentária
publicadas, não há diretrizes absolutas para a (2%) e envolvimento periodontal (2%).

Tabela 20.1
FREQÜÊNCIA DE COMPLICAÇÕES MAIS COMUNS ASSOCIADAS
AO USO DE PINOS INTRA- RADICULARES

Complicação Número estudos Número de casos Freqüência de


incluídos na revisão avaliados complicações
n º/o

Deslocamento do pino 11 2596 135 5,20


Fratura rad icular 13 3043 95 3,12
Cárie dentária 4 1047 16 1,53
Envolvimento periodontal 3 283 6 2,12

(Goodacre et al.26, 2003 ).


PRINCÍPIOS DAS RESTAURAÇÕES COM RETENÇÃO INTRA-RADICULAR
li
Uma revisão sistemática com metanálise foi des de perda de estrutura coronana e menor
realizada por Heydecke & Peters 3 1 para compara- quantidade de dentina remanescente, os quais
ção do desempenho clínico e in vitro de núcleos apreseJ1Lam, conseqüentemente, maior potencial
fundidos e pré-fabricados na restauração de den - de insucesso e pior prognóstico em relação à fra-
tes anteriores. A partir de uma busca e avaliação tura57.
bibliográfica com critérios de inclusão pré-defini- Reconhecidamente, os núcleos fundidos en-
dos, um total de dez estudos in vitro e seis in vivo volvem maior tempo clínico, custo comparativa-
foram incluídos na metanálise. A comparação da mente maior e, em condições clínicas semelhan-
resistência e modo de fratura in vitro não revelou tes, os núcleos diretos reduzem significativamen-
diferenças entre os dois sistemas de núcleo. A te o Lempo de LraLan1en to e os custos para o
avaliação do desempenho clínico de dentes trata- paciente. Porém, estudos clínicos controlados
dos com núcleos diretos em três estudos selecio- ainda são escassos e não são conclusivos na sele-
nados apresentou uma estimativa de longevida- ção da melhor alternativa de tratamento para di-
de entre 86 e 88 %, após 6 anos 31 . ferentes graus de perda de es trutura dentinária.
Um estudo clínico prospectivo realizado por
Ellner et al24., em 2003, comparou a efetividade CRITÉRIOS CLÍNICOS PARA
de quatro diferentes sistemas de pino intra-radi- INDICACÃO DE RETENCÃO
cular, fundidos e pré-fabricados, por um período INTRA- RADICULAR ,
de até 1 O anos. A porcentagem total de falhas foi
de 6 % e não foi identificada diferença significati- Dois fatores são essenciais n a seleção do sis-
va entre os sistemas. tema mais apropria do para cada situação clínica:
Poucas evidências clínicas são disponív eis a maximização da retenção e minimização do risco
partir de tratamentos com diferentes sistemas de de lraLura radicular' 7 • O advento de sistem as de
núcleos realizados em condições clínicas usuais. pinos n ão-metálicos e o contínuo desenvolvi-
I Esse fato, combinado com os resultados contradi- m ento do processo de a desão e dos m a teriais
tó rios de estu dos publicados, torna inconsistente para núcleo deram origem a m udanças con cei-
qualque r inferência definitiva a favor ou contra a tuais e práticas na u tiliza ção de pin os e núcleos
utilização de núcleos fundidos ou pré -fabricados. nos últimos anos.
Ambas opções de tratam ento são recom endadas Entretanto, a quantidade de den tina rema -
desde qu e sejam aplicadas dentro de suas indica- n escen te pode ser conside ra da como o fator m ais
ções e com os cuidados clínicos durante su a exe- importante para a m an utcn ção da resistên cia es-
cuçã o31 . trut ural do dente e redu ção do risco de fratura
Outra limitação importante dos estudos clí- radicula r4 7 ' 56 . Quando há uma adequada p reser-
• 1
nicos retrospectivos se refere ao controle de variá- vação de estrut ura dentária, a seleção do pino
veis clínicas relacionadas aos m étodos de trata- tem pouca ou n enhuma influência sobre a resis-
m ento, normalmente sujeitas a vieses. Por exem - tên cia à fratura da raiz 54.
plo, a decisão clínica p elo tratam ento com núcle- Ao contrário do conceito de qu e o pino in-
os fundidos se baseia p rimariamente n a quanti- tra -radicu lar seria sempre necessário para "refor-
dade de remanescente coronário, ou seja, dentes çar" o den te após o tratamento endodôntico42•61,
com m ínima ou nenhuma estrutura coron á ria evidên cias e xp erimentais m o stram que o núcleo
remanescente são preferencialmente restaurados intra -ra dicular n ão a umen ta a resistência do
com núcleos fundidos, enquanto dentes com dente à fratura 4 ' 29 ' 78 ' 91 .
quantidade substancial de estrutura coronária A dentina é o tecido que confere resistência
recebem núcleos pré-fabricados ou apen as nú- ao den te, suporta e transmite as cargas funcio-
cleos de preen chimento coronário. O prognóstico n ais ao periodonto de sustentação e base óssea .
do dente está intimamen te relacionado à quanti- Assim, o pino in tracanal n ão aumenta a resis-
dade de dentina remanescente, seguindo-se esse tência da raiz, e pode até enfraquecê -la, de vido
protocolo, dentes restaurados com núcleos fun - aos preparas inadequados, pois o próprio prepa-
didos apresentam maior risco potencial de falha, ro de alargamento do canal p ara receber o pino
n ão propriamen te por problem as inerentes ao resulta em perda adicional d e dentina o que di-
tratam en to, m as porque o profission al indica su a minui a resistência estrutural do dente, assim
utilizaçã o para den tes com as m aiores quantida- como ·a cont ece em relação à porção coronária 3 .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·--------------
Portanto, é essencial proporcionar p r eparas dos a cargas não axiais, resultando em maior es-
conservadores para não enfraquecer o d ente tresse quando cargas funcionais são exercidas.
desnecessariamente 3 ·28 • Outros fatores complicadores também de-
Além do desgaste dcntinário para o preparo vem ser considerados, referente s a situações em
do canal para receber o pino, que pode aumen- que uma carga adicional excessiva possa incidir
tar o risco de fratura radicular, outros problemas sobre o dente. Dentes que participam das guias
potenciais podem se relacionar à retenção intra- de desoclusão, dentes pilares de prótese fixa ou
radicular, como a necessidade de retratamento removível, ou dentes sujeitos a cargas parafun-
endodôntico ou de substituição da prótese asso- cionais podem exigir abordagens restauradoras
ciada à remoção do núcleo, fratura radicular, ris- mais cautelosas na elaboração do plano de trata-
co de perfuração da raiz durante o preparo ou mento.
remoção do retentor e deslocamento do retentor A Quadro 20.2 orienta a conduta clínica em
devido a falh a na retenção. relação à indicação ou não de retenção intra-
Outros fatores que influenciam a seleção do radicular, em função da quantidade de perda da
sistema de retenção intra-radicular estão relacio- estrutura coronária do dente após o tratamento
nados a questões clínicas práticas como a redu- endodôntico. É importante ressaltar, no entanto,
ção do tempo de atendimento clínico, simplifica- que existem evidências conflitantes e vários pon-
ção da técnica e diminuição dos custos. A maio - tos na literatura não são conclusivos. Portanto, 1 •

ria dos sistemas de pinos pré-fabricados apresen - esses parâmetros devem ser considerados após
ta vantagens claras em relação a esses aspectos e um julgamento crítico cauteloso e cada caso de-
seu uso crescente tem simplificado sobremaneira ver ser avaliado em bases individuais.
as solu ções clínicas 12 •13 • Entretanto, a indicação Além dessas diretrizes clínicas, outros seis
de pinos pré-fabricados em dentes com ausência de princípios gerais devem ser considerados como
remanescente coronário deve ser considerada abordagen s seguras p ara a restauração de dentes
com cautela. tratados endodonticamente, com ou sem neces-
Uma conduta clínica normalmente praticada sidade de retenção intra-radicular72:
1
é indicar núcleos fundi dos para dentes anteriores l. Recobrimento de cúspides ou restaurações );
com perda de estrutura coronária moderada ou extracoronárias (por exemplo, coroa total)
severa. Por outro lado, em molares, o uso de devem ser indicados para todos os dentes
núcleos intra-radiculares é freqü entemente des- posteriores;
necessário devido à maior quantidade de dentina 2. Dentes anteriores com cristas marginais in-
remanescente e por estarem primariamente sub- tacta s e acesso endodôntico conservador de-
metidos a cargas axiais. Molares com perda míni - vem ser restaurados com m ateriais diretos
ma de estrutura coronária podem ser adequada- restritos ao preparo cavitário;
mente restaurad os com amálgama ou outro ma- 3. Quando uma restauração direta for a opção
terial restaurador direto6 • Molares com perda co- para dentes posteriores com quantidade
ronária significativa geralmente permitem reten- substancial de remanescente coronário, deve
ção satisfatória com a utilização de núcleo de ser indicada a resina composta e técnicas
preenchimento direto com retenção na câmara adesivas à dentina;
pulpar e porção mais coronária dos canais radi- 4 . Pinos intra-radiculares devem ser emprega-
culares, associado ou não a um ou m ais pinos dos apenas quando não h ouver e strutura
intra-radiculares pré- fabricado s. Pré-molares dentária remanescente suficiente para reter
com pouca ou nenhuma estrutura coronária re- o n úcleo coronário;
manescente podem ser restaurados tanto com 5. Pinos intra-radiculares são mais freqüente-
núcleos fundidos quanto pré -fabricados 57 • À me- mente requeridos em dentes anteriores do
dida que os dentes são primariam ente submeti- que posteriores;
dos a forças laterais, como nos incisivos e cani- 6. A restauração definitiva deve ser realizada,
nos, m aior é a possibilidade de se indicar reten- no máximo, pou cas semanas após o término
ção intra-radicular, desde que a quantidade de do tratamento endodôntico, para se reduzir
estrutura coronária remanescente esteja reduzi- a potencial infiltração microbiana resultante
da significativamente. Portanto, dentes u n irradi- da quebra do selamento coronário da restau-
culares (especialmente os incisivos) são submeti- ração provisória.
,~:.,(.~·~~',;.1~1;>··-t"~....l ......

- ';.

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!
1
1
Quadro 20.2
CONDUTA CLÍNICA EM FUNÇÃO DA QUANTIDADE DE PERDA DA ESTRUTURA CORONÁRIA DO DENTE 1
j
'A PÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO

Quantidade de perda de Necessidade de retenção intra-radicular Tipo de preparo Necessidades restauradoras


l
estrutura coronária
I~
Perda mínima de estr utura Não necessita Manutenção da obturação endodôntica até Restauração do preparo para o acesso !.' -:X,z
o nível ósseo. O preparo dental se limita endodôntico OV, lVM, RC, Am) l n
coronária
ao preparo para acesso endodôntico.

Restau ração do preparo para o acesso


l ~·
i c
Manutenção da obturação endodôntica até
Perda de até metade da Geralmente não necessita, a menos que l>
!~
o dente seja submetido a estresses laterais o nível ósseo. O preparo dental é resultado endodôntico e recomposição do dente
estrutura coronária
significativos (dentes anteriores). Pré-mo- dq acesso endodôntico e promove (IV, lVM, RC, Am), ou núcleo de
lares e molares raramente necessitam. retenção para o núcl eo. preenchimento coronário (IVM, RO < VI

e restauração indireta 1.inlaylonlay l ~


i e:
ou coroa total> ' ::;:J
.i ,('\
>
l.

,~
O•
Perda de mais da metade
da estrutura coronária
Geralmente necessita retenção
intra-radicular.
Desobturação do ca nal e preparo intra-
radicular e maior manutenção possível da
Núcleo intra-radicular fundido ou pré-
fabricado. A manutenção do remanescente ! :;:
estrutura coron ária remanescente. coronário promove um efeito anti- 18
·~
rotacional do núcleo e favorece a
retenção do conjunto pino-núcleo. .
.,,....
Desobturação do canal e preparo intra- Núcleo intra-radicular fundido
z
,(".I
Perda total da estrutura Sempre necessita retenção intra-radicu lar.
l>•
coronária radicular. o
z
-1
IV - ionômero de vidro; JVM - io nômero de vidro modificado por resina; RC - resina composta; Am - amálgama ::o
l>
::o'
l>
e
;::;
....e
l>
"
CIÊNC IA ENDODÔNTICA

CARACTERÍSTICAS DA ças oclusais intra-radicÚlarmente, causando um


RESTAURACÃO FINALI
efeito de cunha e predispondo a raiz à fratura
vertical8.76 • Uma restauração definitiva que se es-
mO efeito de férula tenda por pelo menos 1,5 a 2 milímetros apical-
mcnte à junção entre o núcleo coronário e a
O efeito de férula é definido como um colar estrutura dentária remanescente é suficiente
metálico que abraça cm 36 0 graus a estrutura para promover o efeito de férula, reduzir o risco
coronária ao redor de paredes paralelas de denti- de fratura da raiz 50· 57 •76 e do material do núcleo
na qµe se estendem coronalmente ao término do coronário62 (Figura 20.6). Quando um pino de
preparo do dente, aumentando a resistência à fibra de carbono é utilizado em dentes com au -
fratura da raiz73· 76•83 • sência do efeito de fé rula, cargas oclusais podem
Essa ação de abraçamento é promovida por causar micromovimentação da coroa, rompi-
uma restaura ção do tipo coroa total que reduz a mento do selamento marginal da restauração e
tendência do pino e n úcleo em transferir as for- conseqüente infiltração marginal57 •

• FIG. ~Ml.6
Efeito de férula promovido
pelo abraçamento completo da cir-
cunferência do remanescente
coronólio pela restauração.

Adicionalmente, uma espessura mmuna de a obtenção do efeito de férula, o prognóstico da


estrutura coronária , entre a parede interna do sobrevida do dente deve ser considerado com
canal e a superfície externa do preparo da coroa, extrema cautela 57 . Finalmente, em dentes com
é clinicamente desejável7 6 ·8 8 . Quanto maior a es- comprometimento estrutural coronorradicular
pessura de dentina coronária remanescente, me- severo, em função do prognóstico do tratamento,
nor a probabilida de de falha por fratura da raiz a extração do dente e a sua reposição com próte-
caso ocorra o deslocamento do pino 33 · 5º. se convencional ou irnplantossuportada pode ser
A maior preservação possível de estrutura considerada a abordagem mais v iável e previsível
coronária durante o preparo dentário para coroa a longo prazo 56 .
total potencializa ao m áximo o efeito de férula e Uma proposta para melhorar o prognóstico
melhora significativamente o prognóstico do de raízes com paredes remanescentes finas é o
dente 56 . Em dentes extremamente destruídos, ci- reforço intra-radicular por meio do aumento da
rurgia para aumento de coroa clínica e/ou extru- espessura radicular interna, com restauração
são ortodôntica podem ser indicadas para expor adesiva de resina composta associada ao uso de
estrutura dentária hígi da a dicional necessária pinos transmissores de luz para polimerização
para promover a possibilida de de abraçamento interna , e con seqüente redução do diâmetro do
cervical. Nessas situações, caso seja impraticável canal44 . Uma avaliação in vitro mostrou que este
PRIN<'.:IP!OS DAS RESTAURAÇÕES COM RETENÇÃO INTRA-RADICULAR

procedimento promove um aumento significati- em bases individuais e, embora não seja impres-
vo da resistência à fratura da raiz e minimiza o cindível em todos os casos, o uso de coroas totais
efeito negativo da ausência do efeito de férula 7 0 • é considerado com o um fator positivo para a ma-
Entretanto, estudos longitudinais a longo prazo nutenção do sucesso clínico a longo prazo 1•
são necessários para verificar a efetividade desse
tipo de conduta clínica. Qualidade da restauração

O tipo de restauração final Do ponto de vista do sucesso endodônrico, a


qualidade da restauração final é um fator que
Estudos clínicos comprovam que a colorn - não deve ser negligenciado. Uma atenção espe-
ção de um pino intra-radicular não tem efeito cial deve ser dada ao potencial de uma possível
significativo na sobrevida de dentes tratados e n- infiltração da restauração final causar falha do
dodonticamente, mas sugerem que o tipo de tratamento endodôntico inicialmente aceitá -
restauração final influencia o sucesso clínico do vel46·66'9º. A infiltração microbiana cervicoapical,
tratamento 77 •78 •79 • Esse conceito se generalizou a ao longo da obturação do canal radicular quando
ponto do recobrimento coronário total se tornar o selamento coronário não for efetivo, compro-
a conduta mais u su al para se reduzir o risco de rn.ete o sucesso a longo prazo.
fratura, tanto em dentes anteriores quanto pos-
teriores7. OUTROS PROCEDIMENTOS
Uma forte associação entre o tipo de restau- CLÍNICOS RELACIONADOS AOS
ração final e a sobrevida de dentes tratados en- PINOS INTRA- RADICULARES
dodonticamente foi observada por Aquilino &
Caplan 1, em 2002, num estudo coorte retrospec- A determinação do comprimento do preparo
tivo, no qual outros fatores clínicos foram con- para retentor intra-radicular está relacionada es-
trolados. Dentre as variáveis clínicas estudadas, pecialmente ao remanescente de d entina coro-
foi observa do prognóstico significativamente in- n ári a, ao comprimento radicular, à altura da cris-
ferior para dentes com cárie dentária no momen- . ta óssea e à quantidade de canais radiculares pre-
to do a cesso endodôntico (p=0,0016) , segundos sentes.
m olares (p=0,0075), dentes sem pinos intra-radi- Os m étodos para se remover a ma ssa obtura -
culares (p=0,01 11 ) e dentes que foram p repara - dora presente em canais radiculares que necessi-
dos menos de 8 dias após a obturação do canal ta de nova intervenção e ndo dôntica ou que se-
(p =0,029 5). Dentes que não receberam coroas rão preparados para receber retentor intra-radi-
totais apresentaram uma ta xa de insucesso 6 ve- cular estão discutidos no Capitulo 15, que abor-
zes maior que dentes restaurados com coroas to- da fatores relacionados ao retratamento endo-
tais (IC 9 5%= 3,2 - 11,3) 1• dôntico. No entanto, deve-se con siderar, durante
Outras formas d e restauração com ou sem a remoção da obturação presente, o fato do den-
recobrimento oclusal, como resina composta di- te ser preparado imediatamen te após a obturação
reta e indircta 45 , inlays de porcelana8 5 e restaura - ou posteriormente a ela. O ideal é que o próprio
ção complexa de amálgama 6, 84 também foram endodontista, assim que concluir a obturação
testadas em vários níveis de remanescent e coro- do canal aproveite a oportunidade e faça ele pró-
nário de dentes posteriores. Entretanto, não há prio o preparo. Neste momento, a massa obtu -
dados seguros que comprovem uma efetividade rad ora pode ser rebaixada com o aquecimento
comparável ao recobrimento com coroas totais 1 . d e conde nsado res ve rticais (Tipo Paiva), ou
Ap esar de existir uma associação positiva m esmo com instrumentos rotatórios como as
entre o recobrimento coronário total e a sobrevi- brocas Gates -Glidden. Quando o material for re-
da de dentes com tratamento e ndodôntico, n ão movido tard iamente à o bturação, a remoção da
h á uma relação estabelecida de causa e efeito, m assa obturadora por m eio de sistema de aqu e-
que somente poderia ser verificada por meio de cimento, nem sempre é detiva, o que impõe a
ensaios clínicos alea tórios controlados 1 • Além n ecessidade da u tilização de brocas.
disso, estudos prospectivos qu e incluam análises Atualme nte, o arsenal de instrumentos do
de custo-efetividade sã o necessários. Portanto, en dodontist a está composto por vários modelos
recomendações de tratamento devem ser feitas de instrumentos (ou sistemas rotatórios), capazes
CIÊNCIA ENDODÔN TICA
---- ---- ---- ------ - --
de preparar um canal radicular com eficiência, 5. O formato do preparo, alterando a morfolo-
em menor período de tempo e com pouco estres- gia do canal e a estabilida de do re te ntor, des-
se. O surgimen to de instrume ntos flexíveis valorizan do o formato cônico-afunilado con-
como os de níquel -titânio, movidos a motor tínuo em sentido apical.
elétrico com rotação contínua, e com conicida - As medidas para manutenç ão da técnica as-
des variáveis, favoreceu não ape n as o preparo séptica durante o preparo para receber o pino
apical do canal radicular, mas primordi almen- intra-radi cular devem sempre ser valorizada s.
te, o prep aro cervical. Nesse sentido, a adoção Após a remoção da porção cervical da obturação ,
do alargame nto em direção cérvico -apical, que o canal apresenta diferentes condições de desen-
é ·aceito como consenso em todo o mundo, volvimen to de microrgan ism os que podem per-
permite um a manuten çã o da forma apical, manecer nos túbulos dentin ários ou penetrar no
bem como define previame nte o preparo para canal durante o prepa ro para o pino ou, ainda,
receber um rete n tor intra -radicular . No Capí- através de restauraçõ es com infiltração 30 • A eli-
tulo 10, são apresenta dos diferente s in stru- minação desses microrgan ismos deve ser realiza-
mentos indicados para o prepa ro cervical, en- da com a utilização de agentes antimicro bianos .
tre eles: alarga dor de orifício - ( Grifice Shaper, O hipoclorit o de sódio e a clorexidin a são poten-
Coronal Shaper, Grifice Gpener, Line-Angle Axxess), tes agentes antimicro bianos, sendo n ecessárias
brocas Gates- Glidden e brocas Largo. Estes ins - irrigações durante o preparo com vistas ao con-
trum entos ro tatórios, des tinados ao preparo trole microbian o. Concluído o preparo, pode-se
cervical dura nte a realização da endodont ia, u sar EDTA para eliminar a smear layer dentinári a,
deixam essa região praticam ente preparad a o que favorece uma melhor união mecânica do
para receber o retentor intra-rad icular. O refi- cimento a ser utilizado com as paredes denti.nárias.
namento e a conclusão do preparo intra-rad i- Outras substân cias empregad as como medicaçã o
cular, após a endodont i a, será definido poste - intracana l durante o tratamen to endodônt ico,
riorment e ao plan ejame nto frent e ao tipo de como o hidróxido de cálcio, também podem ser
restauraçã o (e, conseqüe ntemente ao tipo de piri.o utilizadas, embora o tempo de perman ência é
intra-radi cular ) a ser seleciona da como m elhor fator determina nte para sua efetivida de.
opção . É importan te o uso da m edicação intracana l
Outrossim , alguns fato res devem sempre entre u m a sessã.o e outra, a fim de controlar a
m erecer cuidados durante o preparo para reten- contamin ação dos túbulos e ramificaç ões. Os ca-
tor, como: n ais laterais, em sua maioria, não são obturados
durante o tratament o e ndodôntic o. Dessa forma
l. A inclinação dos dentes no arco; é essencial q ue o pino intra-radicular e/o u ci-
2. O volume das raízes (estrutura s radiculare s mento preencha m todo o espaço esvazia do no
de pequen a espessura , ou delgadas, com preparo. Um espaço vazio favorece a comunica -
presença de zonas de risco ); ção com periodont o através do canal lateral e,
3. A profundi dade longitudi nal do preparo, conseqüe ntem ente, p o derá originar patologia s
com conseqü ente remoção do material obtu - periapicais.
rador mais do que aceitável para um perfeito Da m esma forma, a presença de u ma restau-
selamento endodônt ico; ração provisória com retenção intra-radi cular é
4. O preparo tran sversal do canal, com desgas- essencial para manter o relaciona men to inter-
tes exagerad os, comprom etendo o dente dentário proximal e oclusal, e restabelec er a fun-
(suscetibi lidad e a perfuraçã o e fratura radi- ção e estética do dente até que a restauraç ão
cular); definitiva seja confeccio nada.
PRINCÍPIOS DAS RESTAURAÇÕES CO M RETENÇÃO INTRA-RADICULJ...R

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