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Volume 2
2004 ·1• · , r
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40
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1
~ 'º~ m~ iNV
DIVISÃO ODONTOLÓGICA
ÍNDICE
Capítulo 1
Biologia Pulpar ............................................................................ 1
José Antônio Poli Figueiredo
Carlos Alberto de Souza Costa
Josimery Hebling
Carlos Estrela
Capítulo 2
Estruturação do Diagnóstico Endodôntico ........................... 23
Carlos Estrela
Capítulo 3
Diagnóstico das Alterações da Polpa Dentária ..... ............... 57
Carlos Estrela
Capítulo 4
Tratamento da Polpa Dentária Inflamada ........................... 87
Carlos Estrela
Roberto Holland
Capítulo 5
Aspectos Microbiológicos em Endodontia ......................... 149
Lili Luschke Bammann
Carlos Estrela
Capítulo 6
Diagnóstico e Tratamento da Periodontite Apical ........... 175
Carlos Estrela
l
Capítulo 7
r. Planejamento do Tratamento Endodôntico ....................... 235
Carlos Estrela
) Cyntia R.A. Estrela
Julio Almeida Silva
A ugusto C. B. Hollanda
CIÊNCIA EN DOOÔNTICA
Capítulo 8
Controle de Infecção em Endodontia .......................................................................... 267
Cyntia R.A. Estrela
Carlos Estrela
Capítulo 9
Anatomia Interna e Preparo Coronário ....................................................................... 3 15
Carlos Estrela
Jesus Djalma Pécora
Augusto C.B. Hollanda
Daniel Almeida Decurcio
Capítulo 10
Preparo do Canal Radicular ........................................................................................... 363
Carlos Estrela
Capítulo 11
Hipoclorito de Sódio ........................................................................................................ 4 15
Jesus Djalma Pécora
Carlos Estrela
Capítulo 12
Hidróxido de Cálcio ......................................................................................................... 457
Carlos Estrela
1
Roberto Holland v
Capítulo 13
Obturação do Canal Radicular ....................................................................................... 5 39
Carlos Estrela
Capítulo 14
Diagnóstico do Insucesso Endodôntico ........................................................................ 589
Carlos Estrela
Lourdes Aguilar de Esponda
Capítulo 15
Tratamento do Insucesso Endodôntico ........................................................................ 6 19
Carlos Estrela
João Carlos Gabrielli Biffl
Rodrigo Ferreira Dirceu
Capítulo 16
Cirurgia P arendodôntica ................................................................................................. 657
Pedro Felício Estrada Bernabé
Roberto Holland
Capítulo 17
Lesões Traumáticas da Dentição Permanente ............................................................ 799
Maria Ilma de Souza Côrtes
Juliana Vilela Bastos
ÍNDICE
Capítulo 18
Processo de Reparação Tecidual Após o Tratamento Endodôntico ....................... 919
Elismauro Francisco de 1vfendonça
Carlos Estrela
Capítulo 19
Abordagem Contemporânea da Terapia Pulpar em Dentes Decíduos .................. 941
Fernando Borba de Araújo
Carla Moreira Pitoni
Alice Souza Pinto
Maria de Lourdes A . Massara
Capítulo 20
Princípios das Restaurações com Retenção Intra-radicular .................................... 991
Cláudio R. Leles
João Batista de Souza
Adair Luiz Stefanello Busato
• 1
I
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
CARLOS ESTRELA
ROBERTO HOLLAND
• INTRODUÇÃO
Associado a estes especiais habitantes pre- imedia tismo e no fator econômico, não comunga [ ,
~ I ·
sentes nas infecções endodônticas, observa-se com o necessário apoio obtido por fortes evidên-t ·:
que a morfologia da cavidade pulpar impõe difi- cias científicas, oriundas de pesquisas bem 01~i~n -\ ·:
culdades, o que torna complexo o acesso para ta das que se estruturaram ao longo de vanos · ,,
um adequado controle microbiano. A ação tera- anos. ·t
pêutica das substâncias anti microbianas empre- A polêmica de épocas passadas, vivida na
gadas corno auxiliares no preparo do canal radi- fase medicamentosa da endodontia, m1.1ito pro-
cular tem requerido determinado tempo para vavelmente foi justificada devido às indefinições
expressar maior efetividade. Na análise anatômi- nos conceitos de modelagem e sanificação. Poste-
ca, nota-se que por contato direto sobre os mi- riormente, com a melhoria e desenvolvimento
crorganismos presentes na luz do canal radicular, de novos materia is para a confecção de instru-
a efetividade antimicrobiana de uma substância mentos endodônticos, associados ao emprego de
química irrigadora é adequada para reduzir de substâncias químicas dotadas de excelentes pro-
modo expressivo a população microbiana, além priedades antimicrobianas, houve redução no
de favorecer o esvaziamento a partir da dissolu- imperioso destaque que vinha recebendo. Assim
ção tecidual, como acontece quapdo do emprego que foram vencidos obstáculos como esses, defi-
do hipoclorito de sódio. Porém, para uma ação niram -se condutas aplicáveis e funcionais, sendo
sobre os microrganismos que alcançaram e estão que os princípios biológicos da endodontia foram
alojados no interior dos túbulos dentinários, nas resguardados.
ramificações dcntinária s e cm espaços vazios pre- A identificação da microbiota presente nos
sentes em áreas do cemento apical (o que impõe canais radiculares infectados é fator decisivo na
a atividade por contato indireto), n ecessita -se seleção da medicação intracan al. O raciocínio 1 ·
optar por uma medica ção intracanal que possa atual direciona-se ao emprego de medicação in-
atuar à distância e por longo tempo. tracanal dotada de potencialidade de ação eficaz
Paralelo aos fatores decorrentes da complexa frente aos diferentes tipos respiratórios de mi-
morfologia interna e aos agentes agressores m i- crorganismos (aeróbios, microaerófilos e anae -
crobianos, dois renomados obstáculos a serem róbios). O foco de atenção para a eliminação ~
vencidos, ressalta-se a dinâmica e especial res- microbiana está voltado às condições determi-
posta do hospedeiro. Os fatores de suscetibilida- nantes ao crescimento e multiplicação, ou seja,
de de respostas do h ospedeiro jamais deve m ser que apresente influência na atividade enzimáti-
relegados a segundo plano. ca das bactérias, tais como: pR t emperatura,
A dinâmica existente entre microrganismo, pressão osmótica, concentração de oxigênio,
virulência e resposta orgânica incentivou o de- concentração de dióxido de carbono é concen-
senvolvimerno de pesquisas que proporcionam tração de substrato. Por conseguinte, estabelece
explicações e definições mais compreensíveis e um dos quesitos na escolha da medicação intra -
convincentes da Íntima relação entre microbiolo- canal, visto que, o outro quesito é derivado de
gia e patologia. A presença e distribuição de mi- sua inocuidade e favorecimento à reparação te-
crorganismos em canais radiculares infectados e cidual59.
sua influência como expressivo precursor das re- A neutralização de todas as formas de agres-
ações inflamatórias da polpa dentária e dos Leci- são microbiana no ca nal radicular e região peria-
dos periapicais permitiu estabelecer uma impor- pical, imposta pelo estabelecimento de métodos
tante associação de causa e efeito, definindo 1~e- de controle de microrganismos, valoriza o pro-
lhor alguns parâmetros de respostas a diferentes cesso de sanificação do sistema de túbulos denti-
agentes agressores . nários. A sanificação tem sido delegada à fa se do
Baseado na evid ência do papel dos micror- preparo do ca n al radicular - obtenção do esva -
ganismos no desenvolvimento e manutenção de ziamento e preparo da forma do canal radicular,
infecções no canal radicular e na região p eriapi- com a conseqüente neutralização do conteúdo
cal, parece oportuno reporta r que a presença de patogênico, que proporciona a eliminação de
microrganismos d1.irante o tratamento endodôn- restos de matéria orgânica e um grande contin-
tico pode não conduzir ao fracasso, mas certa- gente de microrganismos. Todavia, a instrumen-
mente sua ausência favorece o sucesso . O estabe- tação, isoladamente, não garan te a sua completa
lecimento de condutas simplistas, apoiadas no remoção.
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
1n Ca2+ =40,08
1"0H·= 17,0 - . 2"0H· = 34,0
Esquema do obtenção do hidróxido de cálcio.
1n Ca(OH)i =7 4,08
Estrela & Pesce 77 analisaram quimicamente a frente à ação de pa stas de h idróxido de cálcio,
liberação de íons hidroxila e íons cálcio de pastas de óxido de magnésio, de fluoreto de zinco e de
de hidróxido de cálcio, com veículos com carac- fluoreto de cálcio. Pôde-se reportar após período
terísticas ácido-base diferentes, na presença de de observação de 30 minutos a 60 dias, que no
tecido conjuntivo em subcutâneo de cão. Os va- período inicial a formação de dentina é vista pelo
lores das porcentagens de íons hidroxila e íons aparecimento de partículas extremamente finas,
cálcio, nos períodos de 7, 30, 45 e 60 dias, indi- com reação positiva à coloração de Von Kossa e
caram maior liberação iônica para as pastas com localizadas subjacentes à camada de n ecrose. Es-
veículos hidrossolúveis aquosos (solução fisioló- tas granulações observadas originam-se a partir
gica e anestésica), quando comparado aos valo- da reação do metal do material capeador com o
res da pasta com veículo hidrossolúvel viscoso dióxido de carbono tecidual. Além do mais, tan -
(propilenoglicol 400) (Gráficos 12.1 a 12.4). to o óxido de magnésio como o hidróxido de
Em outra análise, Estrela & Pesce 78 estuda- cálcio mostraram potente efeito sobre a forma-
ram a formação de carbonato de cálcio, em im- ção de nova dentina. No entanto, relativamente
plantes em subcutâneo de cão, de tubos conten- ao óxido de magnésio, Souza et al.3°0 , após estudo
do hidróxido de cálcio associado aos mesmos morfológico do comportamento da polpa dentá-
veículos hidrossolúveis descritos anteriormente. ria, após pulpotomia e proteção com óxido de
Nos períodos experimentais de 7, 30, 45 e 60 magnésio ou hidróxido de cálcio, relataram ser
dias observou-se que no momento da diminui- remota a possibilidade de obtenção de reparo
ção do processo inflamatório (correspondente quando do emprego do óxido de magnésio. Nas
ao ato cirúrgico para a implantação dos tubos polpas dentais protegidas com hidróxido de cál-
contendo as amostras experimentais) houve cio houve maior eficácia, o que testemunha con-
vestígios da paralisação de carbonato de cálcio tra falhas técnicas, que poderiam ter ocorrido
formado. Considerando esses fatores, pode-se com o tratamento de óxido de magnésio.
'
' ;r admitir, com todo cuidado, uma extrapolação Holland 133 analisou o processo de reparo da
i para a clínica. Uma vez ven cid os os períodos polpa dental após pulpotomia e proteção com
inflamatórios iniciais (como nos casos clínicos hidróxido de cálcio, em estudo morfológico e
de lesões exten sas, traumatismos dentários, api- hisroquímico em dentes de cães. Na zona granu-
cificações etc.), pode -se pensar no aumento dos losa superficial, interposta entre a zona de necro-
períodos de troca das pastas de hidróxido de se e a zona granulosa profunda, ocorreu a pre-
cálcio, como para intervalos de 60 dias (Gráfi- sença de granulações grosseiras, dotadas de sais
cos 12.5 e 12.6) . de cálcio, parte das quais constituída por carbo-
Outras particularidades químicas decorrentes nato de cálcio sob a forma de calcita, bem como
da dissociação iônica do hidróxido de cálcio fo- por complexos cálcio-proteínas. Nessa fração mi-
ram observadas em difer entes experimentos. neral, houve reação positiva ao ácido cloranílico
Sciaky & Pisanti276 e Pisanti & Sciaky251 verifica- e ao método de Von Kossa, evidenciando a parti-
ram a origem dos íons cálcio presentes na ponte cipação ativa dos íons cálcio do material capea-
dentinária, não conseguindo observá-los quando dor no novo tecido mineralizado. Resultados se-
da proteção de polpas dentais expostas de cães, melhantes foram obtidos, posteriormente, por
com hidróxido de cálcio contendo cálcio radioa- Seux et al. 282 .
tivo (Ca 45 ), nem quando da injeção intravenosa, Holland et a/.168 implantaram tubos de denti-
em cão, de solução contendo este mesmo hidró- na contendo óxido de zinco e eugenol ou hidró-
xido de cálcio radioativo. xido de cálcio, por 48 horas, em tecido subcutâ-
Vários trabalhos evidenciaram a participação neo de rato. Realizou -se também o preparo de
ativa dos íons cálcio do hidróxido de cálcio em cavidades em dentes de cães e forramento com
mineralizações (barreira de dentina) osteoce- os mesmos materiais por 48 horas. Posterior ao
m entárias (selamento biológico apical), nos tú- preparo das peças, sem descalcificar, procedeu-se
( bulos dentinários e em outras áreas envolvidas o exame com luz polarizada. No grupo contendo
em mineralizações 133 - 185 • óxido de zinco nada foi observado nas paredes
) Eda 57 estudou por meio de análise histoquí- dentinárias. No grupo contendo hidróxido de
mica, o mecanismo de formação de dentina após cálcio, ob servou-se granulações de calcita nos
proteções pulpares diretas em dentes de cães túbulos dentinários (Figuras 12.4 a 12.9).
CIÊNCIA ENDO OÕNTICA
• GRÁFICO 12.1
Liberaçóo de íons hidroxi!a.
/
• f.iR.ÁFICQ 12.2
Liberaçóo de íons hidroxila.
HI DRÓXIDO DE CÁL.CIO
• . GRÁFICO 12.3.
Liberação de íons cálcio.
) • GRÁFICO 1_2.4 ..
Liberação de íons cálcio.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
----·----·--·-----------------------.--------··---·-·-··--·-··-- -----·-·-·-···-----
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1.
• ffi_ti. 11.S __
Óxido de zinco implantado em subcutâneo de rato. Representação esquemático do experimento dos
Nodo foi obsetVodo nos paredes dentinárias. 48 horas implantes (Hol!and et ai 168).
(Hol!and et ai. 168J.
(
) • FIGS. 12.S _e 12.9 __________________________
Cavidades em dentes de cães. Granulações de colcito apenas no superfície dos túbu/os dentinários e não em
profundidade como na dentina em subcutâneo. 48 horas (Ho/lond et ai 168) .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
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• 1
• Fm.12.19
Dente humano obturado com
hidróxido de cálcio. Corte sem
descalcificar e examinado à luz po-
larizada. Mesmo corte da figura
anterior corado pela técnica de
Von Kossa. Áreas calcificadas
(Holland et ai. 14º).
CIÊNCIA EN DODÔNTICA .~
A importância dos íons cálcio do hidróxido Apenas na dentina protegida com hidróxido d~ ,
de cálcio mereceu destaq ue posteriormente cálcio foi observada urna estrutura altamente bit-·
aos r esultados h istoquímicos evidenciados por refringente à luz polarizada, no interior dos tiô.~-·
Holland 133 • Heithersay 130 admite que tais íons pos- bulos dentinários. Este resultado sugere que 'o:
sam reduzir a p ermeabilidade de novos capilares efeito do hidróxido d e cálcio na dentina é seme,:j,
. t
.
em tecido de granulação de dentes despolpados, lhante ao observado quando em contato com a
diminuindo a quan tidade de líquido intercelular. polpa dental.
Ainda mais, esclarece que uma alta concentração Pashley et al. 247 , estudando o efeito do h idró-
de íons cálcio pod e ativar a aceleração da piro- xido de cálcio na permeabilidade dentinária, evi-
fosfatase, membro do grupo das enzimas fosfata - denciaram que ocorre aumento da concentração
ses, que também constitui função importante no de íons cálcio, provenientes do hidróxido de cál-
1 •
havia ocorrido em todos os dentes, os canais ra - drossolúveis (solução fisiológica, solução anesté -
diculares foram instrumentados e preench idos sica, propilenoglicol 400). O expe rimento foi
com pasta de hidróxido de cálcio e solução Rin- conduzido em atmosfera inerte de nitrogênio.
ger. Os grupos controle foram constituídos de 8 Observou-se q u e em períodos de 7, 15, 30, 45 e
dentes que n ão receberam o tratamento do canal 60 dias, poucas foram as modificações do pH na
radicular e 5 ·dentes com polpas vitais. Após as lu z do canal radicular e na superfície externa do
extrações dos dentes nos diferentes períodos, de- cemento . Nas pastas cujos veícu los empregados
terminou-se, por m eio de indicadores de pH, o foram a solu ção fisiológica e anestésica, o pH a
pH dos tecidos dentais após a colocação da pasta. 2 mm do vértice apical e na superfície do cemen-
Verificaram que os dentes reim plantados e não to, aos 30 dias estava em torno de 7 a 8, mantida
reimplantados com formações radiculares com- assim até aos 60 dias. No grupo em que o veículo
pletas e tratados com pasta de hidróxido de cál- era o polietilenoglicol 400 observou -se um pH de
cio mostraram valores de pH, na dentina próxima 7 a 8 no cemento apicaL somente aos 45 dias,
à polpa, de 8,0 a l t 1 e, na dentina periférica, de sendo que, também em nada alterou aos 60 dias.
7,4 a 9,6 . Nos dentes com formações radiculares Internamente, na luz do canal radicu lar, todas as
incompletas, toda dentina mostrou pH 8,0 a 10,0 pastas utilizadas apresentaram-se com alto valor
e o cemento 6,4 a 7,0, ou seja, n ão influenciado de pH, por volta de 12,0 durante t odo o período
pelo hidróxido de cálcio . Nas áreas de reabsorção de observação (Gráfico 12. 7).
nas superfícies dentiná rias expostas, pH alcalino Estrela & Sydney84 analisaram a influência
entre 8,0 e 10,0 foi observado. Os dentes não do EDTA no pH da dentina radicular durante
tratados e com necrose pulpar apresentaram pH trocas de pasta de hidróxido de cálcio. Trinta in -
6,0 a 7,4 na polpa, dentina, cemento e ligamento cisivos centrais superiores de humanos foram
periodontal. Frente aos resultados, pode-se con - preparados e irrigados com o hipoclorito de sódio
cluir q ue a coloca ção de hidróxido de cálcio no a 1 %; após a secagem dos canais empregou-se
· ,: canal radicular poderia influen ciar as áreas de EDTA durante 3 minutos. A seguir, os canais fo-
i reabsorção, impossibilitar a atividade osteoclásti- ram novamente irrigados com hipoclorito de só-
ca e estimu lar o processo de reparação. A pre- dio e completamente preenchidos com pasta de
sença de íons cálcio é necessária para a atividade hidróxido de cálcio e solução fisiológica. A análi-
do sistema complemento na reação imunológica, se da difusão dentinária de íons hidroxila foi re-
e a abundância de íons cálcio ativa a ATPase alizada p9r meio do m étodo colorimétrico, utili-
1 (Adenosina trifosfata se) cálcio dependente, à zando solução indicadora universal. A análise foi
qual está associada a formação de tecido duro. feita em intervalos de 7, 15, 30, 45, 60 e 90 dias,
Nerwich et al.238 estudaram as mudanças de sendo que, após cada período realizou-se troca
, pH na dentina radicular de dentes humanos ex- da pasta de hidróxido de cálcio, e empregou -se
traídos, por período de tempo de 4 semanas, EDTA por 3 minutos\ antes do completo preen -
após a utilização do hidróxido de cálcio como chimento dos canais radiculares com a referida
medicação intra canal. Concluíram que esta subs- pasta. Os resultados mostraram mudan ças no pH
tância requer de 1 a 7 dias para alcançar a denti - de 6-7 para 7-8 após 30 dias, permanecendo
na radicular externa e que, no terço cervical. ob- inalterado até 90 dias nos terços apical e m édio .
servou-se valores mais altos de pH, quando com- No terço cervical a mudança de pH foi de 6-7
parado com o terço apical. para 7-8 após 30 dias, mantendo-se neste nível
Estrela et al.87 analisaram a partir de método até 60 dias, e alterando-se de valores 7-8 para 8-
colorimétrico e de uma solução indicadora uni- 9 até 90 dias. Não h ouve diferenças significativas
versal, a difusão dentinária de íons h idroxila de entre os terços e os tempos analisados (Gráfico
pastas de h idróxido de cálcio, com veículos hi- 12.8).
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CIÊNCIA ENDODÔ NTICA
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• GR}\FlCO 1l.1Ç
Condutividade molar de soluções contendo hidróxido de cálcio durante o
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período de 160 dias.
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6000
5000
4000
3000 -
2000
1000
o
20 40 60 80 100 120 140 160
-+- Lauril - -Tween Água
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f • . GRÁFICO 12.11
1 Condutividade molar de soluções contendo hidróxido de cálcio durante o
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período de 160 dias.
CIÊNCIA ENDODÔN TICA
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• <GRJ\flCO ·u:.12
Tensão superficial de misturas de hidróxido de cálcio com os veículos glicerina,
solução de Ringer, salina isotônico e soluçôo anestésico (Ôzcel,k et al.242).
• fl~tÁflCt) 12.n
Tensão superficial e o pH de diferentes substâncias químicas associadas ao
hidróxido de cálcio (Estrela et a!.71).
H IDRÓXIDO DE CÁLCIO
• GRÁFKO 1:l.14
Tensão superficial e o pH de diferentes veículos.
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1
• 1
C)
• FiG. 12.21
Anel de platina.
• FIG. 12.20
Tensiômetro.
CIÊN CIA ENDODÔNTJCA
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• GRÁFICO 1Z,15
Carbonato de cálcio em amostras de hidróxido de cálcio.
Quadro 12.1
/
DENSIDAD E DE PASTAS E D ENTI N A (VA LOR ES EXPRESSOS EM ALUMÍNIO/EQUIVALENTE/MM).
Pastas
Raízes Dentina
Ca(0Hl 2+ S Ca<OHl 2+ PEG Ca<OHl2 + PMCC
5 5 5 5
2 5 5 5 5
3 5 5 5 5
4 5 5 5 5
5 5 4 4 5
6 4 4 5 5
7 5 5 5 5
8 5 5 5 5
9 4 5 5 5
10 5 5 5 5
11 5 5 5 5
12 5 5 4 5
Averages 58 58 58 60
N Mean
Dentina 12 5,00000
Ca(0Hl2 + S 12 4,83333
Ca(OH\+ PEG 12 4.66667
Ca(OH\ + PMCC 12 4,83333
<Wilcoxon Matched-Pairs signed-ranks test)
no fraco não específico que é pobremente neutra- Como componente da parede celular das cê-( .
lizado por anticorpos, sendo capaz de ativar a cas- lulas Gram-positivas está o peptidioglicano, cuj,(',
cata do complemento. A ativação do complemen- contagem é 40% da massa das células, ligado def ,.
to envolve a formação de cininas, outro impor- modo covalente ao ácido lipoteicóico. Este é\.
tante mediador da inflamação. Além do mais, ati- composto por polímeros de fosfoglicerol com gli- "t
va plaquetas, mastócitos, basófilos e células endo- colipídeo no final, sendo potente modificador da
teliais. O LPS induz os macrofágos a secretarem resposta biológica. O glicolipídeo e o ácido lipo-
outras proteínas, as interleucinas (IL-1, IL-6 e 11- teicóico se ligam às membranas celulares, parti-
8), fator alfa de necrose t:umoral (TNFa), oxigênio cularmente de linfócitos e macrófagos, resultan-
reativo, nitrogênio intermediário (óxido nítrico), do em ativação celular. São capazes também de
interferon a, j3 e y, fatores ativadores de plaquetas ativar a cascata do complemento, induzindo a
e prostaglandinas. Estes são fatores importantes inflamação pu lpar e periapicaJ52, 53,93, 186,233,279,295,
que causam reabsorções ósseas nas lesões periapi- 313,314
cais. Mesmo quantidades pequenas de endotoxi- As Figuras 12.22 e 12.23 mostram esquema-
nas são capazes de induzir a resposta inflamatória ticamente uma representação do envelope celular
periapical. Uma possível explicação para a multi- das bactérias Gram-negativa e Gram-positiva.
plicidade de achados com endotoxinas é a variabi- Como característica específica da célula bac-
lidade genética do LPS de diferentes microrganis- teriana, ao se comparar com a célula humana,
mos. As endotoxinas são encontradas em maior observa-se a parede celular que, em conjunto
quantidade em dentes sintomáticos que naqueles com a membrana citoplasmática, forma o enve-
assi ntomá ticos35.186,239.295.321. lope celular das bactérias.
1 •
• .. ..FIGº
. ... 12.22
·"' ' " · ··· - ...
/
Envelope celular do bactéria Gram-negoti-
va (modificado de Tortoro et oi. 327).
• flG. 12.ll
Envelope celular do bactéria Grom-positivo
(modificado de Tortora et oi 3 27).
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
nio molecular, transformando-se em outro radi- tum; E. coli e Streptococcus sp.) durante intervalos
cal peróxido lipídico. A peroxidação lipídica pode de O, 1, 2, 6, 12, 24, 48, 7 2 horas e 7 dias. A
ser formada n ovamente a partir de um novo in- alteração da integridade da membrana citoplas-
dutor, íons hidroxila, que roubam átomos de hi- mática dos microrganismos analisados ocorreu
drogênio de um segundo ácido graxo insaturado, no período de 72 horas, o qu al possibilitou suas
resultando em outro peróxido lipídico e outro destruições, tanto em culturas puras quanto em
novo radical lipídico livre, transformando em mistas (Gráficos 12. 16 e 12.17). A inativação
uma reação em cadeia 266 . enzimática reversível pôde ser observada em ou-
Frente a todo o raciocínio sobre processos e tro estudo realizado por Estrela et al.81, que avalia-
atividades isoladas do pH em sítios enzimático s ram o efeito antimicrobiano indireto do hidróxi-
essenciais, corno acontece em nível de membra- do de cálcio em túbulos de ntinários infectados
na, torna-se mais esclarecedor associar o hidró- por diferentes m icrorganismos, em intervalos de
xido de cálcio, substância dotada de elevado pH, tempo de O, 48, 72 horas e 7 dias. Os resultados
a efeitos biológicos lesivos sobre a célula bacte- mostraram que o h idróxido de cálcio foi inefeti-
riana, para explicar seu mecanismo de ação. vo por ação à distância (ação indireta) no perío -
Com esta finalidade Estrela et al. 8 5 estudaram o do de 7 dias, sobre vários m icrorganismos (E.
efeito biológico do pH na atividade enzimática faecalis; S. aures; P aeruginosa e B. subtilis) (Gráfi-
de bactérias anaeróbias. Como a localização dos co 12. 18). Estudos adiciona is mostraram os efei-
sítios enzimáticos é na membrana citoplasmáti- tos antimicrob iano s do hidróxido de cál-
ca, e por esta ser responsável por funções essen- cio 13,33.36.56, 59·66, 70, 76,so.s 1. ?o.103.109.119.122, u o.131, 192_244.2ss,261-
ciais como o metabolismo, crescimento e divi- 21J,2ss,2s9-291,293,3o9,319 e O período de tempo ideal
são celular, e participar dos últimos estágios da para adequada efetividade10,so.suss.294_320,32s .
formação da parede celular, biossíntese de lipí- Além destas pesquisas, que respaldam a hi-
dios, transporte de elétrons, como enzimas en- pótese levantada, a difusão dentinária de íons
, ~ volvidas no processo de fosforilação oxidativa, h idroxila do hidróxido de cálcio, com a mudança
1
I acredita-se que os íons hidroxila do hidróxido de pH n a superfície da massa dentinária pode
de cálcio desenvolvem seu mecanismo de ação demorar (Gráficos 12 .7 e 12 .8).
em nível da membrana citoplasmática. O efeito A hidrossolubilidade ou não do veículo em -
do elevado pH do hidróxido de cálcio ( 12,6 ), pregado (diferença d e viscosidade ), a caracterís-
influenciado pela liberação de íons hidroxila, é t ica ácido-base, a maior ou menor permeabili-
capaz d e alterar a integridade da membrana ci- dade dentinária, o grau de calcificação presente
toplasmática por meio de agressões químicas podem influenciar a velocidade de dissociação e
aos componentes orgânicos e transporte de nu- difusão de íons hidro xila . Além do mais, alguns
triente s, ou por meio da destruição de fosfolipí- veículos podem alterar o pH do hidróxido de
dios ou ácidos graxos insaturados da membrana cálcio.
citoplasmática, observado pelo processo de pe- Outra forma de ação antimicrobiana do hi-
roxidação lipídica, sendo esta na realidade, um.a dróxido de cálcio foi demonstrada por Safavi &
reação de saponificação 86 . Nichols 2 69 -270 . Esses au tores, estuda ndo o efeito
A explicação do mecanismo de ação do pH do hidróxido de cálcio sobre o lipopolissacarídio
do hidróxido de cálcio no controle da atividade bacteriano, demonstraram que os íons hidroxila
enzimática bacteriana permitiu que Estrela et al.85 podem hidrolisar o LPS presente na parede celu-
levantassem a hipótese de uma inativação en zi- lar das bactérias, degra da n do o lipídio A e neu-
mática bacteriana irreversível, em condições ex- tralizando seu efeito residual após a lise celular.
tremas de pH, em longos períodos de tempo. E Essa propriedade do hidróxido de cálcio, de
também, uma inativação enzimática bacteriana hidrolisar o LPS, é fundam ental como agente
temporária, quando do retorno do pH ideal à antimicrobiano.
. ação enzimática, havendo volta à sua atividade O lipopolissacarídio é um componente da
l normal. A inativação enzimática irreversível foi parede celular das b actéri as Gram-negativas,
demonstrada por Estrela et af_RO que determina- com o privilégio de estar sup erficialmente locali-
ram in vitro o efeito antimicrobiano direto do hi- zado e ser dotado de ação tóxica, sendo muito
dróxido de cálcio sobre diferentes microrganis - apropriadamente, considerado a endotoxina des-
mos (M. luteus; S. aureus; P aeruginosa; F nuclea- sas bactérias. Além da ação demonstrada sobre o
C IÊNCIA ENDODÔNTICA
LPS, o hidróxido de cálcio inibe as enzimas da Todos esses estudos realizados contribuíram
membra n a citoplasmática tanto das bactérias de modo significativo para o entendimento de
Gram-negativas como Gram-positivas, indepen- que, para que o hidróxido de cálcio possa ex -
dentemente do efeito do oxigênio sobre seu me- pressar as propriedades desejáveis, seu pH deve
tabolismo, que as distribuem em aeróbias, micro- se manter o mais elevado possível. Por conse-
aerófilas e anaeróbias. guinte, o veículo que possibilita essa característi-
Outross im, considerando a discussão em ca deve ser h idrossol úvel (como a água destilada
questão, Estrela et al. 8 6 reportaram que o hidróxi- ou a solução fisiológica).
do de cálcio apresenta duas expressivas proprie- Anterior a toda essa análise antimicrobiana
dades enzimáticas, a de inibir enzimas bacteria- do hidróxido de cálcio, na busca de uma explica-
nas gerando efeito antimicrobiano e a de ativar ção com entendimento mais esclarecedor de seu
enzimas teciduais, corn o a íosfatase alcalina, con- mecanismo de ação, a capacidade desse medica-
duzindo ao efeito mineralizador. m ento de estimular a formação de uma barreira
Torna-se esclarecedor salientar que algumas de tecido duro (tecido mineralizado) foi demons-
bactérias mostram-se mais resistentes e preva- trada em várias pesquisas realizadas por Holland
lentes em determinadas infecções endodônticas et af.133 - 1s5_
(infecção primária, secundária ou persistente; in- O mecanismo de ação biológica do h idróxido
fecção sintomática ou assintomática). de cálcio em polpas dentárias foi estudado por
Os microrganismos são importantes fato res Holland 133 , em 1966. Esse mecanismo de ação,
etiológicos nos fracassos cn dodônticos. No en- anteriormente descrito no Capítulo 4, retrata
tanto, adicional à infecção intrarradicular e ex- uma análise morfológica e histoquímica do pro-
trarradicular, des tacam-se ainda, como agentes cesso de reparo da polpa dentária após pulpoto-
expressivos nos fraca ssos endodônticos, a reação mia e proteção pulpar. No momento em que o
de corpo estranho e cisto com cristais de coleste- hidróxido de cálcio entra em contato direto com
roF32-236 . o tecido, ocorre uma dissociação em íons cálcio e
O Enterococcus faecalis, bactéria facultativa, íons hidroxila. Esses íons hidroxila, à sua vez,
Gram-positiva, capaz de tolerar m eio ambiente produzem uma desnaturação protéica, dado ao /
com pH elevado ( 11 ), tem mostrado ser respon - seu elevado pH. A profun didade dessa atuação
sável por fracassos após o LraLamento endodônti- varia de acordo com o tipo de hidróxido de cál-
co 121. 227 -229. 232-236.240.3 l S • cio empregado (na forma de pó, pasta hidrosso-
Love 211 investigou o possível mecanismo ca- lúvel ou cimento ) e, também, em função do veí-
paz de explicar a capacidade do E. faecalis de so- culo utilizado. Em conj unto com esses ions hi-
breviver e crescer dentro dos túbulos dentinários droxila, penetram íons cálcio, que n o limite en -
e reinfectar um canal radicular obturado. Obser- tre o tecido desnaturado e o teci.do vivo, precipi-
vou-se que o fator de virulência do E. faecalis tam-se na forma de carbonato de cálcio (reação
pode estar relacionado à habilidade para invadir dos íons cálcio com o dióxido de carbono do teci-
os túbulos dentinários e aderir ao colágcno, mes- do), responsáveis pelas granulações de carbonato
mo na presença de soro humano. de cálcio, birrefringentes à luz polarizada. Essas
Um importante estudo sobre o mecanismo granulações de carbonato de cálcio, sob a forma
envolvido na resistência do E. faecalis ao hidróxi - de calcita, podem ser detectadas duas horas após
do de cálcio foi realizado por Evans et al.9º., O o contato do hidróxido de cálcio com o tecido.
estudo desses autores confirmou que o E. faecalis Observam-se também complexos cálcio-proteí-
é resistente ao hidróxido de cálcio em pH igual nas, abaixo dessas granulações de sais de cálcio,
ou inferior a 11, 1. Uma resposta adaptativa ao amorfas, caracterizan do uma área de calcificação
pH alcalino e a síntese de proteínas induzidas por distrófica. Nesse local está presente o material
stress parecem ter um papel menor na sobrevi- aprisionado, ou seja, célu las, vasos e fibras. Desta
vência celular, enquanto o funcionamento da forma, pode-se caracterizar cinco zonas, como
bomba de prótons, que tem a capacidade de aci- resultado do contato do h idróxido de cálcio com
dificar o citoplasma, m ostrou-se crítico à sobrevi- o tecido pulpar: l ) zona de necrose de coagula -
vência dessas bactérias em meios de elevado pH. ção (correspondente à área de desnaturação pro -
O hipoclorito de sódio mostrou -se eficaz para eli- téica do tecido pulpar); 2 ) zona granulosa super-
minar o E. faecalis. ficial (constituída por granulações grosseiras de
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
carbonato de cálcio); 3) zona granulosa profunda lar. Aos 30 dias o reparo está completo, estando
(exibe finas granulações de sais de cálcio e repre- presente dentina, pré-dentina e a camada odonto-
senta uma área de calcificação distrófica). A in- blástica organizada. A ponte de tecido duro for-
tervalos de 2 a 48 horas, as granulações de carbo- mada apresenta três camadas: granulações de car-
nato de cálcio aumentam em número e tamanho. bon ato de cálcio, área de calcificação distrófica e
Também na zona granulosa profunda, os sais de dentina; 4) zona de proliferação celular; 5) zona
cálcio continuam a ser depositados. É possível que de polpa normal.
com a desnaturação protéica da zona de necrose, Pelo exposto, percebe-se que os íons cálcio
ocorra à liberação de radicais ativos que atrairiam, participam ativamente do processo de reparação.
eletrostaticamente, sais de cálcio p ara sua proxi- As Figuras 12.24 e 12.25 exibem características
midade, contribuindo dessa forma para a precipi - de barreira de tecido duro (mineralizado), após e
tação de sais de cálcio na zona granulosa profun- emprego de hidróxido de cálcio em pulpotomia e
da . Dois dias após a aplicação do hidróxido de pulpectomia. Seux et al. 282 confirmaram esses re-
cálcio, na zona granulosa profunda e imediações, sultados, adicionando hidróxido de cálcio jun-
as fibras do tecido pulpar se dispõem paralela - to ao m eio de cultura para células, quando ob -
mente ao longo eixo do dente. Abaixo da zona servaram o aparecimento de granulações de car-
granulosa profunda surgem numerosas células jo- bonato de cálcio, as quais não surgiram na au -
vens em proliferação, sendo inclusive visíveis cé- sência desse produto. Nota-se desta forma, não
lulas em mitose. Aos 7 dias, as fibras paralelas ao só a participação dos íons cálcio do hidróxido d~
longo eixo do dente parecem torcidas lembrando cálcio na formação dessas granulações, 1 como
as fibras de Van Koff. Alguns odontoblastos jovens também esclarece o seu papel na diferenciação
podem ser visualizados, dispostos de modo irregu- das células da polpa em odontoblastos.
' .A'
• 1
{
· ·-GRÁFKO _12.16_.____________..__
t·
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
/
• . FIG•. 12.24 ·---· .. __ .....
Barreira de tecido mineralizado após pu/potomia (Holland, 2003J.
. flG. 12.ZS
Barreira de tecido mineralizado após pu/pectomia (Holland et ai. '5 º, 7998).
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
·. ~
Considera -se que, a Iosfatase alcalina sendo de taxonómica dos microrganismos encontrados ..,.;,.. •
uma enzima hidrolílica (fosio -hidrólise monoes- nas patologias pulpoperiodontais, o que contri-
ter ortofosfórica ), atua por meio da liberação de buiu de forma decisiva para se estabelecer o
fosfato inorgânico dos ésteres de fosfato. Acredi- plano de tratamento.
ta-se na sua relação com o processo de minerali- A determinação dos tipos de microrganismos
zação 112- 1 14.1 1,.2n . presentes e predominantes nas infecções dos ca-
O pH ótimo para a atuação da fosfa tase alca- nais radiculares e tecidos periapicais, representa
lin a varia de acordo com o tipo e a concentração fator imprescindível à adoção de condutas desti-
de substrato, com a temperatura e com a fonte de nadas ao controle microbiano e, conseqüente-
enzima, sendo que os limites estão por volta de um mente, estímulo ao reparo tecidual.
pH 8,6 a 10,3 116·323 . O conhecimento morfológico e fisiológico
Esta enzima p ode separar os ésteres fosfóricos dos microrganismos responsáveis por quadros ál-
de modo a liberar os íons fosfatos, que ficam li- gicos e destruição dos tecidos periapicais inspirou
vres, os quais reagem com os íons cálcio (proveni- algumas tendências terapêuticas, porém diversi-
entes da corrente sanguínea), para formar um ficadas, marcando os diferentes períodos históri-
precipitado na matriz orgânica, o fosfato de cálcio, cos, em que abordagens empíricas foram con-
que é a unidade molecular da hidroxiapatita 277 • frontadas com estratégias cientificamente sedi-
Neste contexto, o hidróxido de cálcio ativa a mentadas.
fosfatase alcalina a partir de seu elevado pH, o O processo evolutivo possibilitou um alicer-
que pode ini ciar ou favore cer a mineraliza- ce científico claro e preciso ao exercício da Endo-
ção221·323·326. Além dessa enzima, outras duas (a dontia, impondo métodos reprodutíveis, com-
adenosina trifosfatase e a pirofosfatase) cálcio- postos por resultados esclarecedores às diferentes
dcpendemes favorecem o mecanismo de repara - formas de pensamento, trocando opiniões cientí-
ção tecidual. O hidróxido de cálcio também pode ficas por fatos científicos que, uma vez não con-
ativá-las 129, 1,o. 1».1 36.12s. firmados, também se enquadrariam num con-
Atualmente nã o se questiona que o hidróxi- junto de ficções científicas, ou meramente no
do de cálcio representa a medicação intracanal campo das hipóteses improváveis. Os avanços /
mais empregada, estudada e discutida, em decor- conquistados e a confirmação pelo tempo mos -
rência, principalmente, de sua ação biológica e tram as tendências atuais para muitas mudanças
antimicrobiana. de conceitos e afirmações.
Desde a introdução do hidróxido de cálcio O primeiro passo para o estabelecimento do
na Odontologia por Hermann 13 1 em 1920, a ação tratamento endodôntico é o conhecimento da
biológica estabelecida po r criar um ambiente fa- inter-relação entre microrganismos e hospedeiro,
vorá vel para a reparação tecidual, tem sido de- em conjunto com a dinâmica química e biológica
monstrada por inúmeros trabalhos 2 c,- 2s, 3oAs -5 o. 57 . 133 - da medicação intracanal.
1ss,224,260.299 -304
Como é do conhecimento endodônlico, as
infecções características dos canais radiculares e
--
O HIDROXIDO DE CALCIO E tecidos periapicais são polimicrobianas, cujos
AS INFEfÇÕES componentes são dotados de acentuado potenci-
ENDODONTICAS al patogênico, com predomínio de bactérias anae-
e valoriza a importância de pesquisas com a fina- diográfico (ausência ou diminu ição de rarefação)
lidade de elucidar fatos ainda não evidenciados não é sinônimo de sucesso histológico.
ou equivocadamente explicados. Muitos estudos histopatológicos e microbio-
Os novos conceitos de modelagem e sanifi- lógicos em dentes com infecções endodônticas e
caçã o do sistema de canais radiculares permiti- periodontites apicais mostraram que o tratamen-
ram avanços expressivos n a conquista do su cesso to endodôntico em duas sessões conduz a me-
do tratamento endodôntico. O desenvolvimento lhores resultados quando comparados aos rea li-
de técnicas que respeitam a biologia periapical zados em sessão única4s.s3,152, 1s3,29s,333 _
em conjunto com o emprego de substâncias quí- Holland et aL 152 compararam, em dentes de
micas, dotadas de propriedades antimicrobianas cães com periodontite apica l, o tratamento endo-
e biológicas, valorizou e qualificou o tratamento dôntico realizado em uma e duas sessões. Qua-
endodôntico, o que p ermite definir e assumir renta e oito ca n ais radiculares (pré-molares e
condutas aplicáveis e funcionais. dentes anteriores) foram abertos e expostos ao
Os efeitos deletérios dos fatores de viru lência ambiente da cavidade bucal por 6 meses antes do
dos microrganismos sobre os tecidos periapi- início do tratamento. Posterior ao estabelecimen-
ca i 5 3.6, 14-20,24.31.n. 52.53,9t.93. 1oo. 11s- 120.196,2 13. 222.223,226- to das lesões periapicais, os dentes foram prepa -
229, 232,2 36,240,252,259.262.21 4 . 279.281- 292. 3 11 - 318. 329.331.345.348 O b-
rados até o limite CDC com uma lima de nº 40
serva dos após a necrose pulpar, motivaram pes- (K-File) e abundantemente irrigados com hipo-
quisas que investigaram a atividade terapêutica clorito de sódio a 2,5 % . Uma sobreinstrumenta-
de diferentes substâncias antimicrobianas i •4.9 - 11-13· ção foi realizada para alcançar o forame principal
15,29,33,36-43,49-50,56.60-66.69-70,76,80-82,89,90, 97,99,l 03-l 05. l 07-109,120- com a lima n º 20 (K-File). Os canais foram nova-
124. l 86, l 92, 200,202, 203,206,209,212,243.26 7 -27 l ,287 -29 4,31 9-32 l ,324 ,33 4
mente irrigados, secado s e preenchidos com
Muitos estudos demonstraram o íntimo envolvi- EDTA por 3 minutos. A seguir, fez-se nova irriga-
mento microbiano na etiologia das doenças peri- ção com hipoclorito de sódio e solução fisiológi-
~ apicais e suas conseqüências. As condições favo - ca, e após a secagem os espécimes foram distri-
I ráveis de baixa tensão de oxigênio, a viabilidade buídos de acordo com o tratamento. No grupo 1,
de nutrientes, as intera ções microb ianas consti- os canais radiculares foram obturados com a téc-
tuem fatores importantes para o estabelecimento nica da condensação lateral com gu ta-percha e
e manutenção de infecções polimicrobianas em Sealapex, em uma sessão; no grupo 2, empre-
dentes com p eriodontite apicaL gou-se pasta de hidróxido de cálcio por 7 dias,
Todavia, inúmeras evidências científicas fo- antes da obturação com guta -percha e Sea lapex;
ram mostradas pela literatura51.6s,10,109,152. I 53,29s,m, no grupo 3, realizou-se os mesmos procedimen-
quanto à necessidade do emprego de uma medi- tos, deixando a medicação intracanal por 14 dias,
cação intracanaL Porém, ainda se observa a defesa seguido da obturação com guta -percha e Sea la-
de tratamentos em sessão única de dentes com pex_ Como controle, doze raízes tiveram suas
infecções endodônticas, em que se valoriza ape - polpas dentárias removidas no início do trata-
nas o canal principal, a técnica endodôntica e o mento, Cento e oitenta dias após o tratamento,
silêncio clínico_ Aliás, silêncio clínico e ausên cia os animais foram sacrificados e as p eças foram
de rarefação periapical detectável por meio de ra- preparadas para a análise histológica _ Os resulta-
diografias n ão são sinônimos de sucesso absoluto_ dos mostraram que o uso do hidróxido de cálcio
Muitos profissionais erroneamente tentam simpli- como m edicação intracan al favorece m elhores
ficar demais todas as variáveis envolvidas no tra- resultados (p< 0,01 ) que o tratamento em urna
tamento endodôntico, em que se nota uma super- única sessão (Figuras 12.26 a 12.31),
valorização dos parâmetros clínicos, a ponto de Holland et al. 153 analisaram sob o ponto de
determinar aceitável uma conduta, Contudo, ob- vista h istológico, o resultado do tratamento en-
serva-se também ausência do emprego de meto- dodôntico em dentes de cães com periodontite
dologias pre cisas para estas análises clínicas, sendo apical realizado em uma e duas visitas_ Assim , os
l desprovidas de estudos longitudinais_ Um a vez dentes foram tratados em uma sessão, 7 e 14
1 que existe uma seqüência de testes de biocompa- dias após a coloca ção de hidróxido de cálcio, sen-
; tibilidade e estes são recomendados e aceitos, de- do o cimento obturador o Sealer 26. Cento e
veriam servir de parâmetro para estes estudos. oitenta dias após o tratamento, os animais foram
Deve-se entender de forma clara, que sucesso ra- sacrificados e as peça s fora m preparadas para a
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
análise histológica. Os resultados mostraram que sessão. Foram observados também melhores re-
o uso do hidróxido de cálcio como medicação sultados (p=005) com o emprego do hidróxido
intracanal favore ce melhores resultados de cálcio por 14 dias comparativamente a 7 dias
(p=0,001 %) que o tratamento em uma única (Figuras 12.32 a 12.38).
FIG.- . 12.27
- '-· -···-~---- -----~-----
• FIG. _12.28_-·
Cifü<;l<l c<1Gt,<1{e. - Áre.<rs cam reaásacc:,da cementána, Ca(OHJ 1 (4 dias - ComÇJleto fechamento do cana(
microabscessos, reação inflamatória crônica no espaço principal com cemento neoformado. H.E. TOOX (Holfand
periodontol. H.E. 40X (Hollond et oi. 152). et a1. 1s2y_
• FIG. 12.30 .. ....... . ... .. - !~G. ___12.31 ____ · ·--- ..... _....... -_________···--····-----------·----·------------
Ca(OH) 2_ 7 dias - Completo fechamento de canal Ca(OH)2 14 dias - Completo fechamento do canal
do deito opicol ausência de reação inflamatório no liga- principal com cemento neoformado, pequeno
mento periodontal. H.E 200X (Ho//ond et ai. 152)_ sobreobturoção_ HE TOOX (Holland et ai. 152)_
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
Ca(OH)2 - 14 dias. Selamento biológico completo, isento de células inflamatórias. H.E. !OOX (Holland et al. 153).
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
no do hidróxido de cálcio devem ser investiga- sente n o interior de canais radiculares de dentes
das, em primeira instância, quanto ao comporta- com polpa necrosada. O hidróxido de cálcio
mento direto, para posteriormente, dentre os mostrou-se extremamente efetivo como curativo
melhores, selecioná-los para análise indireta, ve - de demora, mas não eliminou totalmente E. fae -
rificando a difusibilidade da medicação e a sua calis e, in vitro, foi inibitório para todos os micror-
efetividade antimicrobiana no interior dos túbu- ganismos testad os, in cl uindo-se estes cocos
los e ramificações den tinárias, e a influ ência so- Gram-positivos. A presença de concentrações
bre os fatores de virulência dos microrganismos. subinibitórias desse fármaco reduziu significati-
Bystrom et al.36 avaliaram através de m éto- vamente a produção e/ou atividade de DNases,
dos bacteriólogicos o efeito do p aramonoclorofe- proteases e hemolisinas da microbiota e aumen -
nol canforado, fenol canforado e do hidróxido de tou a suscetibilidade dos isolados ao m etronida-
cálcio no tratamento de canais infectados. Ses- zol, eritromicina e penicilinas G e V, reduzindo a
senta e cinco dentes humanos unirradiculares produção e/ou ativida de de ~-lactamanes. A hi-
portadores de necrose pulpar e evidência radio- drofobicidade celula r, capacidade de hemoagluti-
gráfica de lesão periapical foram seleciona dos. n acão, produção de coagulase e cápsula, além da
Em 20 canais radiculares, a substância química sensibilidade antimicrobiana ao soro não foram
empregada durante preparo do canal foi o hipo- afetadas pela presença de hidróxido de cálcio em
clorito de sódio a 0,5 % e em 15 canais, solução concentrações subinibitórias .
de hipoclorito de sódio a 5 % . Os canais foram Holland et al. 137 estudaram o processo de re-
secos com cones de pap el absorvente e preenchi- paração em 60 raízes de dentes com lesão peria-
dos com pasta de hidróxido de cálcio (Calasept). pical frente ao emprego do hidróxido de cálcio
Os demais 30 dentes foram irrigados com solu- associado à solução fisiológica, ao paramon oclo-
ção de hipoclorito de sódio a 0,5% e desses, 15 rofenol canforado, do paramonoclorofenol asso-
dentes rece beram medicação intracanal de p ara- ciado ao furacin e do paramonoclorofenol canfo -
/f monoclorofenol canforado, e os outros 15, de fe- rado. Os canais radiculares ficaram expostos ao
nol canforado, sendo a seguir, a cavidade de meio bucal por 6 meses para que houvesse con -
acesso selada. Amostras bacterianas foram toma- taminação e in stalação de lesão periapical. Poste-
das após o preparo do canal radicular através de rior ao preparo do canal radicular, os dentes fo -
con es de p apel absorvente e t ra nsferidos para ram mantidos por 3 dias com as medicações in-
um tubo contendo o meio peptone yeast glucose tracanais descritas, sendo que, em um grupo o
(PYG). Os canais radiculares foram irrigados com tratamento endodôntico foi realizado em sessão
solução fisiológica e procedeu-se a coleta das única. Decorridos 6 meses, os animais foram sa-
amostras. Após a secagem, as cavidades de acesso crificados e os espécimes preparados para análise
foram seladas com cimento de óxido de zinco histopatológica. Dentre os parâmetros de análise,
com espessura superior a 3 mm. Em 5 dentes considerou-se três condições bem definidas: a)
medicados com o hidróxido de cálcio, os can ais Au sência de reparação - os espécimes se apre-
foram tratados com solução de EDTA por 10 mi- sentaram com tecido de granulação ocupando o
nutos antes do selamento. Posterior a 2 e 4 dias, espaço do ligamento periodontal apical, e espes-
nova coleta foi realizada como descrito anterior- sura média de 2,2 m m; característica da presença
mente. Todas as amostras foram cultivadas sob de infiltrado linfo-histioplasmocitário, numero-
condições de anaerobiose e o número de bacté- sos capilares e proliferação de fibroblastos; mi-
rias determinado. Os resultados mostraram que croabscessos, principalmente próximos aos fora-
nos casos em que o hidróxido de cálcio foi a mes dos canais em delta apical; áreas de reabsor-
medicação empregada, bactérias foram en contra - ção ativa e inativa no cemento apical; detritos
das em 1 dos 3 5 canais; n os dois outros medica- orgânicos na porção apical, com infiltrado neu-
mentos, bactérias foram observadas em 1O dos trofílico; b) Reparação parcial - processo inflama -
30 canais tratados. As bactérias isoladas foram tório crônico e ligamento periodontal apical de-
f . predominantemente Gram -positivas e anaeróbias. sorganizado, com espessura média de 600 µm ; a
Não houve indicação da presença de bactérias intensidade do processo inflama tório na maioria
) específicas, resistentes ao tratamento. das vezes era moderado; cemcnto ncoformado
Jardim-Jr 192 estudou a suscetibilidade ao hi- reparava áreas previamente reabsorvidas ou ape-
dróxido de cálcio da microbiota anfibiôntica pre- nas recobria o cemento preexistente; eventual-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
mente se observou p equenas áreas de reabsorção de cálcio associada ao PMCC a reparação completa
ativa próximas aos Iorames dos deltas apicais - foi de 20%, 70% de reparação parcial e 20% de
usualmente uma pequena invaginação de tecido ausência de reparação. Quando o tratamento foi
conjuntivo; deposição de cemento neoformado realizado em sessão única houve 40% de ausência
próximo às paredes de alguns canais do delta api- de reparação, 40% de reparação parcial e apenas
cal; c) Reparação Completa - ligamento p eriodon- 20% de reparação total. O Gráfico 12.19 descre-
tal com espessura m édia de 200 µm; ligamento ve os resultados encontrados em todos os grupos
periodontal organizado, com fibras inseridas no experimentais. As Figuras 12.39 a 12.42 mos-
cernento neoformado e osso; ausência de células tram os resultados histopatológicos do processo de
inflamatórias; cemento neoformado reparando to- reparo frente ao emprego da pasta de hidróxido
das as áreas de cemento preexistente; os canais de cálcio associada ao soro fisiológico e associada
em delta apical quando n ã o estavam obliterados ao PMCC.
por cemento neoformado, se observou invagina- Em outro estudo, Holland et al. 151 avaliaram a
ção de tecido conjuntivo, com deposição de neo- reparação dos tecidos periapicais com diferentes
cemento nas paredes dos canais; o tecido conj un- formulações de hidróxido de cálcio (Calen, Calen
tivo invaginado alcançava profundidades va riáveis com PMCC e Ca(OH) 2 com anestésico), em estudo
e terminava frente ao selamento biológico por em dentes de cães. Posterior a períodos de 6 me-
deposição de cemento ou mostrava uma cápsula ses para formação da lesão periapical e de 6 meses 1
fibrosa. Os resultados obtidos indicaram melhores para avaliação histopatológica após o tratamento,
resultados para a pasta de hidróxido de cálcio as- pode-se concluir que o acréscimo de PMCC ao
sociada à solução fisiológica com reparação com- Calen não determinou melhora nos resultados do ,
pleta em torno de 60 % e reparação parcial de tratamento, e que a média de reparo completo
40%, enquanto que para a pasta de hidróxido entre os três grupos foi de 50%.
• GRÁFIÇQ J2,19
Efeito de medicações intracanal no processo de reparo de dentes com lesões
periapicais (Holland et a/ 137, 1999).
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
• Jm.12.39 • nG.1:VW
Ca(OHJ 2 + Soro Fisiológico - Ligamento Co (OHJ 2 + Sor o Fisiológico - Ligamento
peliodontol organizado, ausência de células inflamatórios, periodontol organizado, ausência de células inflamatórios,
reparação completo com cemento neoformodo - H.E. reparação completo com cemento neoformodo - H.E.
40X (Hol/and et ol. 137, 7999). 40X (Holland et oi. 137, 1999).
;
• ;1
• 1
/
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
• GRÁFICO U.22
1
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• GRÁFICO U.24
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CIÊN C IA ENDODÔNTICA
• GRÍtFICO 12.26 __ _
A partir da ten tativa de explicação do meca- tinários), para que possa expressar seu real efeito
nismo antimicrobiano do h idróxido de cálcio, se controlador sobre os microrganismos 85•86 .
observa, como alvo vulnerável às alterações de Hasselgren et al. 126 utilizaram 70 peças de te-
•
pH, as enzimas presentes na m embrana citoplas- cido muscular de suínos, com o intuito de avaliar
mática, que podem ser levadas à inativação, re- os efeitos separados e combinados do hidróxido
versível ou irreversível, independente do efeito de cálcio e da solução de hipoclorito de sódio a
do oxigênio sobre seu metabolismo (anaeróbios, 0,5% na dissolução de tecido necrótico. As peças
microaerófilos, aeróbios), da reatividade à colo- foram usadas em grupos de 1O cada, de modo
ração de Gram (Gram-positivos e Gram-negati- que, no grupo 1, as peças eram armazenadas em
vos), ou da forma (cocos, bacilos, etc. ). É claro 20 ml de pasta de hidróxido de cálcio e água; nos
que o efeito antimicrobiano depende da veloci- grupos 2 e 3, armazenados em solução de hipo -
dade de liberação de íons hidroxila, do tempo de dorito de sódio a 0,5%, sendo que, no grupo 2, a
contato de ação direto ou indireto (difusi bilidade mesma solução foi mantida e, no 3, a solução era
destes íons hidroxila no interior dos túbulos den- renovada a cada 30 minutos até a completa dis-
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
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HI DRÓXIDO OE CÁLCIO
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• GRÁFICO 12.30
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CIÊNCIA ENDODÔNTICA
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• GRÁFICO 12.12
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
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Ca(OH)i
E. faecalis
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Teste por difusão em
ágar da pasta de hidróxido de
f cálcio sobre o E. faecolis.
CIÊNCIA EN OODÔNTICA
Frente aos resultados obtidos n este experi- No experimento anteriormente descrito 66,
mento, deve-se discutir a importância e a influên- os resultados mostraram que as medicações es-
cia da metodologia nos diferentes resultados. tudadas (Ca(OH) 2 + solução fisiológica; Ca(OH) 2
Nos ensaios, parâmetros similares para a atua- + poliecilenoglicol e Ca(OH) 2 + PMCC) foram
ção dessas substâncias antimicrobianas devem efetivas sobre os m icrorganismos testados. Po-
ser requeridos. Os testes de difusão em ágar, rém, no somatório das propriedades desejáveis
utilizando-se como referência parâmetros de de uma medicação, freme a parâmetros de ati-
medida dos ha los de inibição de crescimento vidade antimicrobiana, de comportamento bio -
microbiano, muitas vezes não oferecem condi - compatível e características químicas, não se ques-
ções de igualdade quando se comparam deter- tiona que o melhor veículo para se associar ao
minadas substâncias com solubilidade e difusi- hidróxido de cálcio deve ser hidrossolúvel aquoso
bilidade diferentes, além da execução correta da como a água destilada ou a solução fisiológica .
técnica microbiológica. Fatores como concen- Essa análise está de acordo a resultados obtidos
tração do ágar, temperatura, pH, ausência de em experimentos histológicos por Holland et
pré- incubação, ressecação do meio de cultura, a/. 137,1 51 .
manutenção em períodos que excedam os per- Georgopoulou et al. 105 estudaram compara-
mitidos para a correta análise favorecem a ob- tivamente, in vitro, a efetividade do hidróxido
tenção de resultados discutíveis. O teste de difu - de cálcio e do paramonoclorofenol (PMCC) so- 1
são em ágar não distingue propriedades bacterios- bre bactérias anaeróbias. Foram isolados e iden-
táticas e bactericida s dos materiais dentários; tificados Llm total de 30 microrganismos de ca-
não oferece informação sobre a viabilidade des- nais infectados de dentes humanos. Das 30 es - 1
te microrganismo; requer cuidado na padroni- pécies isoladas, 12 eram cocos e 18 bastonetes.
zação da densidade do inóculo; viscosidade do A resistência ao PMCC dos anaeróbios em 5
ágar; tamanho e número de espécimes por pla- minutos foi de 93,3 %, aos 15 minutos 60%, aos ;
ca79·324. Deve-se enfatizar as dificuldades na dis - 30 minutos 3,3%, enquanto que aos 60 minu-
sociação e difusão que determinadas substâncias tos, nenhum microrganismo foi identificado. De
demonstraram ter no ágar, não favorecendo ex- outra parte, a resistência ao hidróxido de cálcio /
pressar seu real efeito antimicrobiano. O méto- foi de 30% aos 5 minutos, 6,6% aos 15 minu-
do de avaliação através de testes de difusão em tos, ao passo que aos 30 e 60 minutos nenhum
ágar tem sua validade e é bastante empregado microrganismo foi identificado. Os resultados ·i
em microbiologia, porém, parece não estabelecer mostraram diferenças expressivas entre os dois
1:)'ciÚTl\'ê\iD:i 1)i'êC:\:iD:i Q1.YàTl\1D :,~ Tl~Cfi<:,\\a C:DID1)cl- m.eo\c:am.en'\.D:. nD \em.pD à.e':> m.1nu.\Ds, enq_u.an-
rar substâncias com diferentes características quí- to que aos 30 e 60 minutos não ho~ve diferen-
micas, como a capacidade de dissociação e difu- ças significativas. Analisando os resultados fren-
são no meio cm questão. O método é muito uti- te aos cocos, a resistência ao PMCC aos 5 minu-
lizado em microbiologia, e padrão para o antibio- tos foi de 91,6%, aos 15 minutos 50%, aos 30
grama. O problema é que é menos preciso para minutos 8,35% e zero aos 60 minutos. Quanto
este tipo de análise comparativa, não represen - ao hidróxido de cálcio, aos 5 minutos foi de
tando o método mais apropriado para se compa- 41,6% e nos intervalos seguintes nenhuma re -
rar medicações associadas a veículos hidrossolú- sistência foi observada. Aos 5 e 15 minu tos, o
veis aos que contém composto fenólico. hidróxido de cálcio estatisticamente mostrou-se
Em adição a este fato, resultados dos 'dife- mais efetivo contra os cocos do que o PMCC, e
rentes experimentos devem ser muito bem exa- aos 30 e 60 minutos não houve diferença signi -
minados e interpretados para não ser equivoca- ficativa. Fre nte à ação contra os bastonetes, o
damente e integralmente extrapolados para a PMC C m ostrou resultados de 94,4% aos 5 mi-
aplicação clínica. Jamais se pode esquecer que nutos, 58,8% aos 15 minutos, 11,7% aos 30
os microrganismos apresentam grande habilida- minutos e aos 60 minutos nenhum crescimen-
de para adquirir resistência. A metodologia em- to. O hidróxido de cálcio mostrou um índice de
pregada pode influenciar os resultados, e por 76,4% aos 5 minutos, 11,7% aos 15 minutos e
este motivo, o mod elo experirn.ental deve ser nenhuma resistência nos demais tempos. Ape-
muito bem selecionado, a ponto de não privile- nas no intervalo de 15 minutos houve diferença
giar nenhuma associação . estatística significante. Na ação contra as bacté-
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
rias Gram-positivas, o PMCC apresentou nos crobiana da pasta de hidróxido de cálcio, as pes-
tempos estudados os valores de 92,8%, 57,1 %, quisas indicariam e esclareceriam a melhor es-
21,4% respectivamente, com nenhuma bactéria colha. Todavia, os resultados das pesquisas ex-
sobrevivendo aos 60 minutos. Os valores obti- p erimentais e clínicas têm sinalizado que o veí-
dos com o h idróxido de cálcio nos dois primei- culo assume papel coadjuvante neste processo,
ros tempos foram de 64,3% e 7, 1 %, sendo que conferindo-lhe características químicas (disso-
em 15 minutos esta medicação foi significante - ciação, difusibilidade e capacidade de preenchi-
mente mais efetiva. Não se observou n enhuma mento) decisivas ao potencial antimicrobiano e
difere n ça n os demais tempos . Em relação às capacidade de reparação ·t~cidu al.
bactérias Gram-negativas, a resistên cia ocorreu Assim, o raciocínio sin aliza a necessidade,
apenas nos tempos de 5 e 15 minutos para o num primeiro momento ao se discutir medica-
PMCC, com índices de 93,75% e 43,7%, sendo ção intracanal, de se conhecer a microbiota do
que para o hidróxido de cálcio apenas no tempo canal radicular infectado e o mecanismo de
de 5 minutos tal fato foi encontrado com valo- ação do que se pretende utilizar corno medica-
res de 62,59%. Apenas nos dois primeiros inter- ção. No entanto, para que o efeito sej a letal
valos houve diferenças estatisticamente signifi- torna-se necessário que a medicação tenha tem -
cantes. Os resultados sugerem uma maior efeti- po hábil de ação para expressar sua efetividade
vidade do hidróxido de cálcio contra a microbi- antimicrobiana, seja capaz de atuar à distância e
ota anaeróbia do cana l radicu lar do que o de neutralizar os resíduos dos agentes agresso-
PMCC . res (fatores de virulência).
Aliás, diferentes estudos têm mostrado a ci- Considerando a invasão dos microrganis-
totoxicidade do PMCC44· 298, e se sabe que um mos no interior dos túbulos dentinários, torna-
dos quesitos na escolha de uma medicação para se necessário à medicação intracanal atu ar nes-
uso intracanal deveria recair na característica de tes locais, para tanto, deve-se considerar sua
; biocompatibilidade. ação por contato direto e indireto (à distância).
l Entre as características químicas dos veícu - É preciso para que o hidróxido de cálcio possa
los, a hidrossolubilidade favorece o aumento da expressar su a to tal detividade, a dissociação e
velocidade de dissociação e difusão iônica n o difusão dos íons hidroxila, necessitando assim,
interior dos túbulos dentinários, podendo in- do correto preen chimento do can al radicular e
flue nciar na ação antimicrobiana. O hidróxido qu e se aguarde o tempo necessário para sua
de cálcio P.A. j á apresenta esta propriedade, atuação . E para tanto, este deve estar preparado
com possibilidad e em uma associação com de- e ampliado para receber a medicação .
terminado veículo, pode n ão manifestar efeito Um problema que deve ser bem analisado
sin é rgico e, talvez, antagônico. A cânfor a quan- relaciona-se aos casos em que n ão se consegu e
do presente no PMC confere a este veículo uma ampliar bem o canal para a colocação da medi -
cara cterística oleosa, o que pode dificultar a dis- cação intracanaL quer em situações de rotina,
sociação iônica quando acrescido ao hidróxido quer n as urgê n cias em endodontia. No entanto,
de cálcio. Acresça -se ao exposto que o PMCC ao con siderar que a m edicação intracanal é r es-
apresenta-se com pH 5, 0 e quando a ssociado ao ponsável por potencializar o processo de sa nifi-
hidróxido de cálcio mostra-se com pH 7,8, com cação in icialmente conquistada pelo preparo do
evidente redução d o pH da pasta de hidróxido can al radicular, entende-se que o mesmo deve -
de cálcio. ria estar esvaziado, sanificado e p reparado. É
As caract erísticas biológicas do hidróxido de importante salientar que as urgências devem
cálcio, representadas pelo exemplar poder anti- ser entendidas como situações especiais, e qu e
microbiano e de re paração teciduaL o elege nem sempre a s condutas locais serão realizadas
como melhor opção te rapêutica como medica- a contento, ficando a terapêutica local, vincula-
ção intracanal. O acréscimo de veículos e subs - da, inicialm ente, às m edidas sist êmicas.
tâncias, com obj etivos de aumentar as reconhe - Para que o efeito seja letal torna-se n eces-
cidas propriedad es biológicas (antimicrobianas e sário que a m edicação tenha um tempo capaz
mineralizadoras), parece não demonstrar real de agir para que possa expressa r sua efetividade
significado 64 . Se realmente o veículo influen- antimicrobiana, e, também, seja capa z de atuar
ciasse de modo expressivo n a atividade antimi- à distância.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·--;
0rstavik et al. 244 avaliaram o efeito da ins- dias. Os resultados demo n straram que a com-
trumentação excessiva combinada com a medi- pleta eliminação dos microrganismos sob co ndi-
cação intracanal com hidróxido de cálcio. Os ções experimentais in vitro e sem a influência da
autores valeram-se de 23 dentes humanos com substância química irrigadora ocorreu no perío -
lesão periapical, sendo que após o prep aro con - do de 60 dias (Gráfico 12.34).
vencional e in strumentação excessiva, foram Sydney 3 2º identificou a presença de bacté -
medicados com hidróxido de cálcio por 7 dias. rias anaeróbias em canais radiculares de dentes
Amostras para exame bacteriológico foram cole- portadores de polpa necrótica e lesão periapical,
tadas na primeira sessão antes do preparo, e na após seu preparo e o emprego ou não de medi-
segunda após a remoção do hidróxido de cálcio, cação intracanal com pasta de hidróxido de cál-
e nova instrumentação. Os resultados evidencia- cio associada à solução fisiológica. Vinte dentes
ram amostras positivas em 14 dos 23 de ntes na humanos anteriores superiores foram utilizados
primeira, e 8 dos 23 dentes com crescimento e divididos em dois grupos. Nos dentes do gru-
detectável (infecção residual), no final da se- po 1 os microrganismos foram identificados
gunda, e que somente em 1 caso, as bactérias após coleta, transporte e processamento micro-
puderam ser quantificadas. Acrescentam ainda biológico, em que os canais foram instrumenta-
que o hidróxido de cálcio, usado como medica- dos e selados sem nenhum medicamento por
ção intracanal por uma semana após excessiva período de uma a seis semanas, quando novas
instrume ntação, reduz significativamente o coletas microbianas foram realizadas. Nos den-
crescimento bacteriano do canal radicular. tes do grupo 2, após identificação dos microrga-
Sjogren et al. 294 observaram que no período nismos, os canais foram instrumentados e rece-
de 7 dias o emprego de medicação com pasta de beram como medicação intracanal pasta de hi-
hidróxido de cálcio eliminou microrganismos dróxido de cálcio associado à solução fisiológica,
que sobreviveram por 10 minutos . Bystrbm et permanecendo por período de uma a seis sema-
a/. 37 · 39 e Sydney & Estrela 321 verificaram que o nas. Ao término de cada período, novas coletas
recurso exclusivo do preparo químico-mecâni- microbianas foram realizadas. Os resultados
co, mesmo empregando-se o hipoclorito de só- mostraram a importância do emprego da medi-
/
dio como substância irrigadora, n ão promove cação intracanal, tendo o hidróxido de cálcio
eliminação completa dos microrganismos pre - promovido urna redução de 77,8% de micror-
sentes em canais radi culares infectados de den- ganismos após sua permanência por urna sema-
tes humanos, o que impõe para um melhor se- na, e posterior a seis semanas, em apenas 1
larnento biológico do canal radicular o emprego caso, a bactéria identificada foi o E. faecalis.
de medicação intracanal à base d e hidróxido de Silveira 288 , analisando a ação do curativo de
cálcio 138 · 152 · 153 • Estrela et al.81 destacaram que o demora à base de hidróxido de cálcio em dentes
fator determinante da atividade antimicrobiana de cães com lesão periapical, relatou que os me-
da pasta de hidróxido de cálcio, no interior dos lhores resultados das culturas microbianas, após
túbulos e ramificações dentinárias, é a quanti- análises histopatológica e histomicrobiológica,
dade liberada d e íons hidroxila, corno ocorre ocorreram no período de 30 dias.
com os veículos hidrossolúveis, e que, em 7 Outrossim, percebe -se que o tempo é fun-
dias, os microrganismos p ermaneceram viáveis damental para que a medicação intracanal pos-
em túbulo s dentin ários infectados (Gráfico sa exercer sua completa atividade, atuando à
12.8). Em outro estudo, Estrela et al. 1º avalia- distância no interior dos túbulos dentinários e
ram, em túbulos dentinários infectados, o tem- por período prolongado, não apenas com vistas
po para que a pasta de hidróxido de cálcio possa ao efeito antimicrobiano, mas também, direcio-
expressar sua real efetividade sobre S . aureus, E. nado a estimular o processo de reparação teci-
faecalis, P. aeruginosa, B. subtillis, C. albicans e a dual, de atuação frente às reabsorções radicula-
mistura destes, em períodos de 1 minuto a 90 res, etc.
HI DRÓXIDO DE CÁLCIO
;
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. .. G.~flÇO 12.35
(Souza et ai. 302
J.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
• GRÁFICO 12.37
HID RÓXIDO OE CÁLCIO
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• f~ÇiS~ 12~4$A,~
Teste por difusão em ágar da pasta de hidróxido de cá/cio-iodofórmio sobre o E faecalis e 5. oureus, respectiva-
mente.
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1
• 1
Teste por difusão em ágar da pasta de iodofórmio sobre a mistura de microrganismos e sobre S. aureus, respecti-
vamente.
perimental. Três cav idades, cada uma medindo Holland et al. 171 avaliaram a reação do teci-
4 mm de profundidade e 4 m m de diâme tro, foram do conjuntivo do rato ao implante de tubos de
feita s em cada placa u sando um cilindro de cobre dentina obturados com agregado de trióxido
e, em seguida, foram completamente preenchi- mineral (MIA), cimento Portland ou hidróxido
das com os produtos a serem testados. As placas de cálcio. Os animais foram sacrificados após 7
foram pré-incubadas por 1 hora em temperatura ou 30 dias e os espécimes, não descalcificados,
ambiente e, a seguir, incubadas a 37°C por 48 foram preparados para análise histológica com
horas. Os diâmetros das zonas de inibição micro- luz polarizada e técnica de Von Kossa para teci-
biana e de difusão foram medidos. Am ostras dos dos mineralizados. Os resulta dos foram simila-
halos de difusão e inibição foram extraídos de res para os 3 materiais estudados. Próximo à s
cada placa e imersos em 7 mL de caldo BHI e aberturas dos tubos foram observadas granula-
incubados a 37º C p or 48 h oras. A análise quími- ções Von Kossa positivas, birrefringentes à luz
ca dos elementos presentes no MIA e em duas polarizada. Junto dessas granulações foi obser-
amostras de cimen tos Portland foi feita com um vado um tecido irregular na forma de uma pon-
Espectrômetro de Florescência de Raios-X. Os re- te, também Von Kossa positivo. As paredes de
sultados mostraram qu e a a tiv idade antimicro- dentina dos tubos exibiram uma estrutura alta-
biana da pasta de h idróxido de cálcio foi superior mente birrefringente à luz polarizada, no inte-
a todas as outras substâncias (MTA, cimento Por- rior dos túbulos, formando uma camada em di-
tland, Sealapex e Dycal), sobre todos os microrga- ferentes profundidades. Diante do observado, é
nismos testados, apresentando zonas de inibição possível que os mecanismos de ação dos mate-
com 6-9,5 mm e zonas de difusão com 10- 18 mm. riais estudados sejam similares entre si. Nova-
O MIA, o Cimento Portland e o Sealape x apre- mente, em outro estudo, Holland et al. 167 verifi-
sentaram somente zonas de difusão e, dentre es- caram resultados semelhantes entre si, quando
tes, o Sealapex aprese nto u a maior zona. O empregados diretamente na proteção da polpa ,
Dycal n ão apresentou halos de inibição, nem de dentária, após a re alização da pulpotomia.
difusão. Os cimentos Portland contém os m es- Vários estudos realizados mostraram de for-
m os elem en tos quím icos que o MI A, com a ex- m a clara a similaridade entre o MTA e o cimento '
ceção qu e o MTA também ap resenta, na su a Portland62, 167 , 16 9, 1n 1n 1s 1, 346 , Embora os dois 1nate- /
con sti tuição, o b ism uto . Os Gráficos 12.38 a riais apresentem excelente capacidade de esti-
12 .4 2 exibe m e ste s r es ultado s. As Figura s mular a formação de tecido mineralizado, torna -
12 .50A-D exibem por meio de teste de difusão se oport uno esclarecer, a partir de resultados ex -
em ágar o efeito an timicrobiano do MTA e ci- perimentais, que a capacidade antimicrobiana do
m ento Portlan d sobre o E . faecalis e P aeruginosa . hidróxido de cálcio é superior à do MTA.
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
• GRÁFICO 12.40
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• GRÁFICO 12.41
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CIÊNCIA ENDOOÔNTICA
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• GRÁF_IÇ0_1_2.42 _
MTA CIMENTO
E. foecolis E. faecalis
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Teste por difusão em ágar do MTA
e do cimento Portland sobre E. faecalis,
respectivamente .
• . Fl~~·-JJ..:_~OC\O
Teste por difusão em ágar do MTA
e do cimento Portland sobre P.
aeruginosa, respectivamente.
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
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Outra substância que tem sido empregada de por estas soluções em todos os períodos de obser-
modo isolado ou misturado ao hidróxido de cál- vação. A concentração inibitória mínima do di-
cio é a clorexidina, por apresentar propriedade glucona lo de clorexidina a 2 % foi igual a
antimicrobiana . Seu maior emprego está relacio- 0,000002% para S. aureus, 0,002% para P. aerugi-
nado à prevenção da placa dental, determinante nosa, 0,02 % para E. faecalis, B. subtilis, C. albicans
envolvido na etiopatogenia da cárie e doença pe- e para a mistura, e no teste por exposição direta,
riodontal1·11 5·2º7·263·264. O emprego, em Endodon- observou -se, em todos os períodos, efetividade
tia, da clorexidina tem sido mais enfatizado antimicrobiana sobre S. aureus, E. faecalis e C. al-
como substância irrigadora 88• 109 . Alguns trabalhos bicans, e inefetividade sobre P. aeruginosa, B. subti-
analisaram os efeitos antimicrobianos da clorexi- lis e a mistura. A solução de hidróxido de cálcio a
dina, isolados e associados ao hidróxido de cál- 1 % apresentou concentração inibitória mínima
cio43,64, 71,s2,s9,109, 121,1s9, 193,201.2so. igual a 1 % para P aeruginosa e, para os demais
Estrela 88 estudou a efetividade de diferentes microrganismos e a mistura. a concentração inibi-
soluções irrigadoras de canais radiculares (hipo - tória mínima foi maior que 1 % . A ação antimi-
clorito de sódio a 1 %, 2% e 5%, digluconato de crobiana por exposição direta foi evidenciada so-
clorexidina a 2 %, solução de hidróxido de cálcio bre S. aureus, E. faecalis e P aeruginosa no período
a 1% e solução de hidróxido de cálcio associada de 30 minutos, sen do que sobre B. subtilis, C. albi-
ao detergente - HCT 20) sobre: S. aureus, E. faeca- cans e a mistura, a solução de hidróxido de cálcio
lis, P aeruginosa, B. subtilis, C. albicans e a mistura a 1% foi inefetiva em todos os períodos. A solu-
destes microrganismos. Com o objetivo de deter- ção de hidróxido de cálcio associada ao detergente
m inar a concentração inibitória mínima (CIM) (HCT20) apresentou concentração inibitória míni-
das soluções estudadas, foi feita a diluição seria- ma igual a 4, 5 mL para S. aureus, P aeruginosa, B.
da na razão de 1 O. No teste de exposição direta, subtilis, C. albicans e a mistura, e concentração ini-
avaliou -se a ação antimicrobiana das soluções ir- bitória mínima maior que 4,5 mL para E. faecalis.
~ rigadoras nos intervalos de 5, 10, 15, 20 e 30 A efetividade antimicrobiana por exposição direta
minutos. Frente aos resultados obtidos, obser- foi verificada no período de 20 minutos para S.
vou -se qu e a concentração inibitória mínima do aureus e no período de 30 minutos para E. faecalis .
hipoclorito de sódio a 1%, 2% e 5% para S . Sobre os demais microrganismos (P aeruginosa, B.
aureus, E. faecalis, P aeruginosa e C. albicans foi subtilis, C. albicans e a mistura) apresentou inefeti-
igual a O, l %, para B. subtilis e a mistura foi igual vidade antimicrobiana, como expresso na Qua-
a 1% . Todos os microrganismos foram inativados dro 12.2 e nos Gráficos 12.43 a 12.48 .
• 1
• GRÁFICO 12.43
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
A clorexidina é um agente catiônico (grupo co característico. O íon potássio, sendo uma enti-
biguanida; 4-clorofenil radical ), o qual exibe ativi- dade pequena é a primeira substância a aparecer
dade antibacteriana. A natureza catiônica do com- quando a membrana citoplasmátíca é danificada.
posto promove conexão com o grupo aniônico na A alteração na permeabilidade da membrana cito-
superfície bacteriana (grupos fosfatos do ácido tei- plasmática promove precipitação de proteínas ci-
cóico nas bactérias Gram-positivas e lipopolissaca - toplasmáticas, por alterar o balanço osmótico da
rídio n as Gram-negativas), sendo capaz de alterar célula, interferir no metabolismo, crescimento, di-
sua integridade. Uma concentração apropriada de visão celular, inibir a membrana ATPase e inibir o
clorexidina causa infiltração em um grupo quími- processo anaeróbioss.1s9.193, 19 4,264 .
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H IDR ÓXIDO DE CÁLCIO
• 1
• GRÁFICO 12.48
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CIÊNC IA ENDODÔNTICA
Quadro 12.2
CONCENTRAÇÃO INI BITÓRIA MÍNIMA DE SOLUÇÕES IRRIGANTES
Microrganismos
I Irrigantes
S. aureus E. faecalis P. aeruginoso B. subti/is e olbicans Mistura
NaOCI 1% 0,1 OJo 0,1 O/o 0,1 O/o 1O/o 0,1 O/o 1O/o
Ca<OH\ 10/o > 10/o > 1 O/o 1 O/o > 10/o > 1% > 1O/o
(Estrela 88 )
A presença de bactérias no interior do canal macacos. Neste estudo, observou-se que a clore-
radicular e túbulos dentinários é imperativo para xidina reduziu a reação inflamatória no perio -
o desenvolvimento de reabsorções radiculares in- donto, porém, alguma inflamação persistiu n os
flamatórias, e o hidróxido de cálcio, em função de dentes tratados com clorexidina, o que pode ter
seu elevado pH constitui a medicação de eleição, duas explicações: a clorexidina apresentou al-
uma vez que cria um microambiente insalisfatório gum efeito antibacteriano no canal radiculqr,
para a atividade e multiplicação microbiana. mas não foi capaz de eliminar completamente1a
0rstavik & Haapasalo 24 3 analisaram o efeito influência dos gatilhos das reações inflamatórias
antibacteriano de soluções irrigadoras e medica - periodontais; o canal radicular foi medicado pór
ções intracanais (hidróxido de cálcio (Calasept), l mês com clorexidina, que pode ter sido um
PMC C, clorexidina (Hibitane), iodo-iodeto de po- curto ou longo período de exposição, dependen -
tássio, hipoclorito de sódio e EDTA), empregando do do período ideal para exercer seu efeito an9 -
dentina bovina, infectadas com E. faecalis, S. san - bacteriano.
guis, E. coli ou P. aeruginosa. As peças de dentina Silva287 determinou a efetividade antimicro-'
foram infectadas por períodos que variaram. de 3 a biana do hipoclorito de sódio a 1 % e da cloreJ-9-
6 semanas. Após a aplicação dos medicamentos, dina a 2%, como irrigantes endodônticos, usan-
os espécimes de dentina foram incubados a 37ºC do um modelo de estudo in vivo, em dentes corri
durante 7 dias. Os tubos que não apresentaram canais radiculares infectados. Qua'ndo o hipoclo -
crescimento bacteriano foram reinoculados e in- rito de sódio a 1 % foi utilizado como irrigante,
cubados por outros 7 dias. A eficácia dos vários 16,7% e 83,3% das culturas microbianas eviden-
medicamentos teve uma grande variação, de acor- ciaram resultado positivo no teste microbiológi-
do com a espécie bacteriana estudada. Conside- co, imediatamente e decorridos 7 dias do trata-
rando que a capacidade de infectar os túbulos mento; a irrigação com clorexidina a 2% garan -
dentinários variou de acordo com os microrganis- tiu 8, 3% e 41,7% de dados microbiológicos posi-
mos, os resultados mostraram que o paramono- tivos, no que diz respeito ao efeito imediato e
clorofenol canforado foi, de modo geral, mais efi- residual. Os resultados alcançados indicam que
ciente que o hidróxido de cálcio (Calasept). Den- ambos irrigantes possuem igual potencial antimi-
tre as soluções irrigadoras testadas, o iodo-iodeto crobiano, quando considerada a sua ,ação ime-
de potássio mostrou mais eficiente que o hipoclo- diata, entretanto a clorexidina é mais eficiente
rito de sódio e a clorexidina. O EDTA praticamen- na efetividade residual de 7 dias.
te não apresen tou ação antibacteriana. A presença Gomes et al. 108 analisaram in vitro a atividade
da smear layer diminuiu, mas não eliminou a ação antibacteriana de irrigantes endodônticos (NaO-
dos medicamentos testados. Cl a 0,5 %, 1%, 2,5%, 4% e 5,25%; digluconato
Lindskog et al. 208 estudaram o emprego da de clorexidina na forma líquida e gel a 0,2 %, 1 %
clorexidina como medicação intracanal por 4 se- e 2 % ) na eliminação do E. faecalis. Os resultados
manas no tratamento de reabsorções radiculares mostraram que todos os irrigantes apresentam
inflamatórias em polpas dentárias infectadas de atividade antibacteriana, e que o tempo para eli-
H I DRÓXIDO OE CÁL.CIO
: 1
• GRÁFICO 12,49
CIÊNCIA EN OOOÔNTICA
• FIG, 1Z.51A
Teste por difusão em ágar da clorexidina
sobre E. faecalis.
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HIDRÓXID O DE CÁLCIO
• FIG•..'í2.51 S
Teste por difusão em ágar do hipoclorito
de sódio sobre S. aureus.
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CIÊNCIA ENOODÔNTI CA
• FIG. 12,52
Selamento biológico. Barreira de tecido
duro completa (Holland et a/. 15~ 1998J.
• r'IG. 12.!'?
Endodontia em sessão única. Processo IÍ?-
llamatório crônico (Holland et ai. ,s1, 2003).
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
que os resultados estão demonstrad os no Gráfi- concluíram que a espiral lentulo mostrou os me-
co 12.51. lhores resultados, preenchend o em todo o com-
A avaliação das áreas pre enchidas, total ou primento de trabalho.
parcialmen te, com pastas de hidróxido de cálcio A técnica operatória está diretamente relacio-
foi realizada a partir da quantificaç ão de quadri- nada ao adestramen to do profissional , em asso-
culados com espaços vazios, observados na radio- ciação com a anatomia do canal radicular.
grafia com a tela milimetrad a, após os empregos O preenchime nto completo do canal radicu-
das técnicas. Foram considerado s somente os lar é fundamenta l, pois se enquadra em impor-
quadriculad os que mostraram completam ente tante propriedade físico-quím ica.
preenchido s, com au sência de espaços vazios de Consideran do uma discussão mais abran-
qualquer magnitude. Os resultados obtidos de- gente acerca do controle microbiano , a partir da
monstram que o preenchim ento com a última ação do hidróxido de cálcio nas condições in fec-
lima empregada no preparo do canal, auxiliado ções endodôntic as, cabe a inda mencionar que
por cone de papel absorvente e condensado r nas condições clínicas de vitalidade pulpar, que
vertical, promoveu menor número de esp aços não se conseg uiu completar o preparo e a obtu-
vazios nos três terços das raízes, comparada s ração na mesma sessão, pode-se optar por uma
com as outras técnicas. O terço apical é o mais medicação intracanal.
difícil de ser totalmente preenchido . Seguiu- se Holland et ai. 150 analisaram em dentes de
em ordem decrescente de preenchime nto, a co - cães os efeitos biológicos do hidróxido de cálcio e
locação com broca Lentulo e com o compacta- do corticosteró ide-antibiót ico (Otosporin) como
dor de McSpadden . medicação inrracanal em pulpectomi as, após so-
Outro fator que se deve levar em considera- bre-instrum entação, empregand o dois materiais
ção, é que a pasta d e hidróxido de cálcio utiliza- obturadore s - o óxido de zinco e eugenol e o
da não apresentav a substância radiopatiza nte, e Sealapex. Posterior à 180 dias, as interpretaçõ es
que para não haver espaços, realmente a pasta dos resultados permitiram chegar às seguintes
deve ria estar muito bem conden sada no canal conclusões: 1. Usando o Otosporin como medica-
radicular. ção intracanal, o fechamento b iológico do fora- /'
Como a pasta de hidróxido de cálcio utiliza- me apical principal foi observado em 73,35% dos
da apresentava -se como veículo a solução fisio- casos quando o material obturador foi o Seala-
lógica, que lh e atribui o caráter de hidrossolú- pex e 20% com o óxido de zinco e eu genol
vel, torna-se mais difícil sua inserção, fato este (Gráfico 12.52); 2. Usando o hidróxido de cálcio
que necessita do auxílio da compactaçã o com como medicação o fechamento biológico do fora-
cone de papel absorvente e condensado r verti- me apical foi observado em 80% dos canais ob-
cal. A consistência também é outro ponto im- turados com Sealapex (Figuras 12.54 a 12.56) e
portante, pois, na pasta que apresenta-s e como 40% com óxido de zinco e eugenol (Figuras
creme dental, mais espessa, na colocação com a 12.57 e 12.58); 3. Usando hidróxido de cálcio
lima nota-se clinicamen te melhor preenchi- como medicação, não foi observada diferenças
mento. Esta pasta quando é colocada com os em relação aos pequenos canais acessórios entre
instrument os rotatórios, observa-se maior pre- os dois cimentos obturadores ; 4. Quando a medi-
sença de espaços vazios. cação foi o Otosporin , os canais acessórios mos-
O grau de alargament o e a curvatura presen- traram alta incidência de fechamento quando o
•
te no canal radicular podem influenciar no com- material obturador foi o Sealapex; 5. Quando
pleto ou incompleto preenchime nto. É evidente partículas do Sealapex alcançaram o ligamento
que quanto mais dilatado e reto estiver o canal periodontal, elas cau saram suave reação inflama-
radicular, mais fácil será sua introdução. Esta situ- tória, caracterizad o principalme nte pela reação
ação justifica os resultados obtidos por Sigurdsson macrofágica . Na ausência do fechamento biológi-
et al.286 . Ao comparare m técnicas de colocação co o óxido de zinco e eugenol freqüentem ente
de pastas de hidróxido de cálcio, empregand o a produziu suave reação inflamatóri a crônica.
espiral lentulo, a lima endodôntic a e a seringa As Figuras 12.59 a 12. 76 demonstram casos
(Calasept paste system, Scania Dental, AB) , em clínicos em que a pasta de hidróxido de cálcio e
canais mesiovestib ulares de molares superiores, solução fisiológica foi utilizada como medicação
preparados até o instrument o de número 25, in tracanal.
HIDRÓXIDO DE CÁLCIO
• GRÁFKO 12.51
• 1
• GRÁFIC:.O 12.52
Fechamento biológico observa-
do nos grupos experimentais
(Hol!and et al. 15~ 7998).
. !'
t
CIÊNC IA ENDO DÓNTICA
• F!G. 12.55 /
Ca(OH\-Sealapex - Fecha-
mento biológico do forame princi-
pal. H. E. !OOX (Holland et ai. 15 ~
1998).
• . Fl<i. ]?,.S§_
Ca(OH)2 - Sealapex - Fecha-
mento biológico do forame princi-
pal. H.E. 100X (Holland et ai. 150,
1998).
HIDRÓXIDO OE CÁLCIO
• .~~ç;,. ·i2.s ·1 .
Co(OHJ 2 - Óxido de Zinco e
Eugenol neoformoção
cementário. HE 100X (Hoflond et
oi. 150, 1998).
~
1
• r~.~ .Jt~?ª
Co(OHJ 2 - Óxido de Zinco e
Eugenol - Presença de raspas de
dentina - Fechamento biológico do , ,
forome principal. HE. !OOX.
(Holland et ai 15 ~ 1998).
,...'
f .ê.
. ~.
Inicialmente, um dos estudos p ioneiros rea- res e capacidade de mineralização . Até que apa-
lizados por Hermann 131 em 1920 e, na seqüência, reçam outras alterna ti vas terapêuticas para se
uma linha de pesquisa dese nvolvida por Ho- empregar como me dicação intracanal nas infec-
lland133·185 (1966 - 2003) deixam claro a impor- ções endodônticas, que superem as qualidades
tância do hidróxido de cálcio em endodontia. do hidróxido de cálcio, avaliando-se seu s riscos e
O momento atual continua destacando o hi- benefícios, sem qualquer margem de dúvida e
dróxido de cálcio como a m edicação intracanal baseado em inúmeras evidê ncias científicas e clí-
que apresenta um m aior número de propr ieda - nicas, apresentadas longitudinalmente ao longo
des ideais, quer fren te ao combate às infecções do tempo, o hidróxido de cálcio representa a
endodônticas, controle de reabsorções rad ícula - melhor alternativa.
• fl@S.
. 1l.S9 a 12.6.l..
.. -
• ffGS.12.63 a l2.68
Periodontite apical assintomótica com
extensa rarefação óssea, em que trocas de
pasta de hidróxido de cálcio foram feitas
por 2 anos, com trocas a cada 60 dias.
/." Observa-se regressão da lesão óssea
i peliapical, com controle de 3 anos.
CIÊNCIA ENOOOÔNTICA
CANAL RADICULAR
/Í
1
1 CARLOS ESTRELA
INTRODUÇÃO
bom senso e a vivên cia. O asp ecto radiográfico Neste sentido, inúmeros trabalhos foram de-
apenas constitui um panorama clínico da quali- senvolvidos avaliando diferentes variáveis e fato-
dade do tratamento executado . res que interferem na eficácia do selamento en-
Em muitas situações, os passos operatórios dodôntico-coronário1·303.
anteriores à obturação fora m bem conduzidos, Todos os esp aços do canal preparado devem
porém, durante essa fase final que pode expres- ser bem preenchidos, evitando -se assim, possível
sar a glória do tratamento acaba por sinalizar os recontaminação. Nesse sentido, Holland et al. 12 7
pontos falhos. verificaram em tubos de dentina implantados em
Paralelo à preocupação científica com o p er- tecido conjuntivo, reação inflamatória intensa,
feito selamento endodôntico e com o objetivo de quando havia espaços vazios de 4 a 8 mm.
resguardá-lo frente a possíveis r einfecções, a Esses locais podem ser preenchidos por mi-
atenção no presente momento direciona-se, crorganismos e líquidos teciduais e representar
também, ao sela mento coronário, como quesito agentes irritantes aos tecidos periapicais 127·27 4 ·275 .
adicional e relevante ao sucesso pleno do trata- Os Esquemas 13.1 e 13.2 mostram, a partir de
mento executado . Vários estudos verificaram a representações esquemáticas, canais radiculares
efetividade do selamento coron ário, buscando obturados sem a presença de espaços vazios, e
explorar os diferentes fatores que pudessem in - canais em que permanecera m espaços vazios. As
fluenciar no su cesso da obturação endodônti- Figuras 13.1 e 13.2 exibem aspectos radiográfi-
c a s. 1 3 . 1 s. 2 1, 4 2 . s 2 . 8 0 , 8 3. s s. 1 02. 1 40 . 14 1, 11 1 -114 , 11 6 . 17 9 . 1 80 , 1 s 2 . cos de dentes adequadamente preparados e ade-
l 92 , l 97 ,224.2 2 5, 229, 238,2 4 6, 25 l ,2 52,260.270,272.276, 27 8 quadamente preenchidos, enquanto que as Fi -
Entende-se, atualmente, que a conclusão guras 13.3 e 13.4 exibem selamento biológico
técnica do tratamento endodôntico encerra-se completo com formação de tecido mineralizado.
após o perfeito selamento coronário . O término A obturação do can al radicular destaca-se
biológico da obturação vincula -se ao sucesso como responsável pelo controle microbiano, o que
majoritário auferido pelo completo processo de realça sua importante participação como contri-
reparo tecidual. buinte decisivo ao processo de reparo teciduaL O
Para que se possa alcançar o sucesso espera- material obturador, que deve estar contido unica-
/
do com o selamento en dodôntico, alguns fatores mente no interior do canal radicular, deve preen-
devem ser bem analisados e bem definidos, como chê-lo completamente, não ser irritante e de prefe-
os reais objetivos da obturação do canal radicu - rência, estimular a cura dos tecidos periapicais.
lar, o momento oportuno para realizá-la, os ma- O selamento endodôntico, além de apresentar
teriais obtura dores, a técnica obturadora e a in- capacidade de controlar os microrganismos, se pos-
fluência do selamento coronário no sucesso do sível, deve apresentar atividade antimicrobiana. O
tratamento endodôntico. papel da obturação é impedir a colonização e a
invasão dos microrganismos para os tecidos vizi-
IMPORTÂNCIA DO nhos e controlar seu potencial de virulência. Todo
• SELAMENTO ENDODÔNTICO espaço preparado deve ser ocupado por um mate-
rial inerte, que impeça a presença de fluído teci-
A obturação do canal radicular corresponde dual e microrganismos. Este fluido, em contato com
à fase final do tratame n to endodôntico, e expres- o cimento endodôntico, pode solubilizá-lo e permitir
sa a qualidade do m esmo p or meio do simples a infiltração. A degeneração do tecido ou fluido no
aspecto radiográfico, que embora de caráter limi- espaço criado estimula o processo inflamatório,
tado, constitui o único recurso disponível para o que por sua vez favorece o fenômeno da anacore-
momento. se, e permite a entrada de microrganismos. É con-
Muitos obj etivos para se preencher comple- senso universal que todo espaço da cavidade pul-
tamente o sistema de túbulos dentinários pode - par que foi submetida ao processo de sanificação e
riam ser enumerados, p orém, uma vez finalizado modelagem deve ser completamente obturado.
o processo de sanificação e modelagem endo- Considera -se que o processo de reparação
dôntica, resta ainda eliminar o espaço anterior- tecidual na região periapical ocorre com m aior
mente ocupado pela polpa de ntária, e impedir, dificuldade na presença de esp aços na obturação
dessa forma, que se transforme em albergu e ideal do canal radicular, uma vez que pode servir de
aos microrganismos. abrigo aos microrganismos.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR
I
• . flGS. 13.3 e 13.4 .
Se/omento biológico (Permissão Prof Holland, 2003).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Momento Oportuno para a co, admite -se que nessas situações pode-se reali-
Obturação zar na mesma sessão o completo esvaziamento,
preparo e obturação do canal radicular, sem ha-
O número de sessões necessárias para finali- ver comprometimento do processo de reparação
zar o tratamento endodôn tico, bem corno a n e- tecidual 117•127 .
cessidade ou não de medicação intracanal foram Relativamente à influência do cimento obtura-
discutidos anteriormente no capítulo de hidróxi- dor e do número de sessões sobre a prevalência de
do de cálcio. periodontite apical sintomática (traumática) em
Considera-se consenso a idéia de que o canal dentes com polpas vitais, Estrela et al. 65 relataram
deva estar limpo e modelado antes da obturação. que o Sealapex demonstrou menor percentual de
A modelagem realizada deve permitir a acomo- dor pós-operatória (87,5% e 88,6% de ausência
dação do material obturador em toda a extensão de dor, em 1 e 2 sessões) quando comparado com
do canal radicular. Além do mais, para que as o FillCanal (85,7% e 82,3% de ausência de dor,
propriedades físico-químicas ocorram normal- em 1 e 2 sessões), embora sem diferenças estatisti-
m ente o ca nal ·deve estar seco. Nos casos em que camente significativas (Gráficos 13.1 e 13.2).
há exsuda to persistente, a conduta requer n ova Nos casos de necrose pulpar, a situação mo -
colocação da medicação intracanal, e até mesmo difica-se completamente. Como discutido ante -
o emprego de uma medicação sistêmica. Estes riormente, em diferentes estudos realizados por
aspectos foram exaustivamente discutidos no ca- Holland et al.118· 119 , o selamento biológico com-
pítulo referente ao diagnóstico e tratamento da pleto por barreira de tecido mineralizado, ocorreu
periodontite apical. p osteriormente ao emprego da medicação intra -
Em dentes com polpa vital, independente da canal com h idróxido de cálcio, e obturação com
condição inflamatória, têm-se sugerido sempre Seala pex (Figuras 13.3 e 13.4).
que possível, preparar e obturar os canais radicu- O momento ideal para realizar a obturação
lares na mesma sessão. do canal radicular ocorre após a conclusão do
O índice de sucesso no caso de polpa vital processo de sanifica ção, limpeza e modelagem
não se modifica frente a obturação em uma ou do canal radicular. Acresça-se a esses aspectos a /
du as sessões. Sob o ponto de vista histopatológi- necessidade do canal estar seco e assintomático .
• GRÁFICO 13.1
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULA R
,,!
1
MATERIAIS OBTURADORES 6) não deve manchar a estrutura dentária;
1
7) deve ser bacteriostático ou, pelo menos, nã.o facilitar o
Cimentos endodônticos crescimento bacteriano;
8) deve tomar presa lentamente;
A literatura está repleta de trabalhos que 9) deve ser insolúvel frente aos flu idos bucais;
apresentaram e mostraram resultados de pesq ui- 10) deve ser bem tolerado p elos tecidos, isto é, não ser irri-
' sas avaliando diferentes propriedades (físico-quí- tante aos tecidos periapicais;
micas, biológicas e antimicrobianas) de vários 11) deve ser solúvel aos solventes comuns, caso seja neces-
mat eriais recomendados para a obtura ção dos sária a remoção da obturação do canal.
. , canais radiculares 1· 30 1 . A união de diferentes propriedades, especial-
O emprego do cimento e da guta -percha re- mente a adesividade e a compatibilidade biológi-
presenta consenso m undial quanto aos materiais ca, em um mesmo m aterial, ainda representa um
indicados para se obturar o canal radicu lar. ideal promissor. Um m aterial bem tolerado pelos
Várias diferenças de pesquisas são observa - tecidos sem boa capacidade seladora, ou aquele
das frente à seleção do material obturador e téc- que proporcione bom sela mento, porém, com
nica obt uradora ideal. ação irrita nte aos tecidos periapicais, n ão deve
Grossman91 alertou que, independentem en te ser considerado o m e lh or.
do seu tipo, o cimento deveria preencher os se - Wu et al.278 , frente a retrospectiva da literatu-
guintes requisitos: ra sobre estudos de infiltração, observaram que
1) deve ser homogêneo, quando manipulado, a fim de dos trabalhos publicados em endodontia, quase a
promover boa adesividade, entre ele e as paredes do metade se referia a esse tema, com resultados
canal, quando obtida a presa; variados e contraditórios, bem como a m etodolo -
2) deve promover um selamento hermético; gia utiliza da. Sab e-se que todos os dmentos en -
f 3) deve ser radiopaco, para que possa ser visualizado na
radiografia;
dodônticos permitem algum gra u de infiltração
de corante. O p eso e tamanho das moléculas dos
4) as partículas do pó devem ser bem finas, para que se corantes Rodamina B e azul de metileno são
misturem facilmente com o líquido; m enores que a célula bacteriana presente no ca-
5) não deve sofrer contração após o seu endurecimento; n al radicular.
CIÊN CIA ENOODÔNTICA
... ------------"----------------------------·--·-··-------·····----- ···-·---------·--··-----------------------~
-->
Considerando qu e, se o corante somente acrescido de delta-hidrocortisona (0,5 a 2%) e
penetra onde h á espaço, e se todos os cimentos ob servou que os melhores resultados foram as
permitem infiltração , o selamento hermético do grupo com concent ração de 2 % . O objetivo
do sistema de canais radiculares ainda faz parte do acréscimo do corticóid e foi o de minimizar
de um objetivo a ser alcançado. a reação inflamatória inicial2º6 •
Hovland & Dumsha 134 consideram q ue a Figueiredo 7 6 analisou a formação de t atua -
infiltra ção pode ocorrer n as interfaces do ci - gem em mucosa bucal de coelh os, a partir da
mento com a dentina, do cimento com o cone, inj eção submucosa de dois cimentos endodôn-
por en tr e o cimento endodôntico ou pela dis- ticos, o N-Rickert e o Rickert-SP (com e sem
solu ção do mesmo. Entende-se, dessa ma neira, prata precipitada). Posterior a o t erceiro mês de
que um dos pontos críticos está n o cimento observação, n aqu eles casos em que foi injetado
endodôntico. o N-Rickert, todos os e spécimes desenvolveram
Com o objetivo de se conseguir o selamento pigmentação gengival. Quando se inj etou o ci-
ideal surgiram diferentes ci mentos obturadores mento Rickert-SP, até o nono mês n ão foi ob -
de canais radiculares. Destacam -se entre estes serva da tatuagem. A presença de prata na
os preparados à base de óxido de zinco e eu ge- composição do cimento foi determinante para
nol (cimento de Rickert, N- Rickert, cimento de o aparecimento das pigmentações.
Grossman, FillCanal, EndoFill, Tubliseal, Endo - Frente à nova investigação, Figueiredo 77 , ·
Souza -Neto2 57 analisou o efeito da adição de O Sealapex, cuja composição descrita pelo
diferentes tipos de breus e resinas hidrogenadas fabricante está no Quadro 13 . 7 , demonstrou
ao pó do cimento de Grossman, sobre as seguin- biocompatibilidade e capacidade de induzir o
tes propriedades físico -químicas; escoamento, fechamento apical por deposição osteocemen-
tempo de endurecimento, estabilidade dimensio- tária 126 •
nal, solubilidade e desintegração, espessura do No que se refere à adesão, verifica-se nos
filme e adesividade. Entre os resultados encon- cimentos disponíveis no mercado, que na maio-
trados observou-se qu e os diferentes tipos de ria deles se obtém uma mistura homogênea, des-
breus e resinas hidrogenadas influenciam no de que corretamente manipulados. Entretanto, a
tempo de endurecimento dos cimentos. Quanto adesão ao tecido dentinário constitui tarefa mais
m ais ácido é o breu maior a velocidade da reação complexa . Os cimentos contendo ionômero de
de endurecimento do cimento. Os cimentos obti- vidro possuem boa capacidade de adesão à su-
dos a partir do breu apresentam maior adesivida- perfície dentinária. O mais conhecido desses ci-
de em relação aos cimentos obtidos a partir das mentos é o Ketac-Endo, cuja formulação está
resinas hidrogenadas. contida no Quadro 13.8.
As resinas sintéticas têm sido bem difundi- Os Quadros 13. 1 a 13.9 expressa m a s for-
das e empregadas em endodontia. O cimento mulações dos cimentos de Rickert, N -Rickert,
AH 26 constitui uma combinação macromole- cimento de Grossman , AH 26, AH Plus, Sealer
cular sintética do grupo das resinas epóxicas 249 , 26, Sealapex, Ketac-Endo e Apexit. As Figuras
tendo a composição descrita no Quadro 13.4. 13.5 a 13.16 evidenciam as apresentações co-
Outro tipo de cimento à base de resina epóxi merciais dos cimentos Sealapex®, Apexit®, Sea -
lançado pela Dentsply é o AH Plus, cujos com- ler 26®, EndoFill®, Kerr Pulp Ca nal Sealer®, AH
ponentes estão descritos no Quadro 13.5 . Plus® e Ketac Endo®.
O excelente comportamento do hidróxido
1
,,1
1
de cálcio sobre tecido conjuntivo, ch am o u a
I
atenção de Holland et al. 116• 1 18• 1 19• 126 •127, pela ca-
pacidade de estimular o selamento biológico, a Quadro 13.1
partir da formação de tecido m ineralizado. COMPOSIÇÃO DO CIMENTO DE RICKERT®
Berben' 9 avaliou histologicarneme o com-
portamen to dos tecidos apicais e periapicais em Pó
Prata ..................................................................... 24,74%
dentes de cães após pu lpectomia e obturação
Óxido de zinco ............................................... 34,00%
com AH 26, hidróxido de cálcio ou mistura de Bi-iodo de bi-ti mol <AristoD .......................... 10,55%
ambos. O comportamen to bi ológico do cimen- O leoresinas ......................................................... 30,71 %
• 1
to melhorou muito quando associado ao hidró -
xido de cálcio, sendo que a mist ura de 20% Líquido
Eugenol
dessa substância à composição ofereceu os me-
Bálsamo do Canadá
lhores resultados.
A partir desse estudo realizado por Ber-
bert, a Dentsply lanço u o cimento Sealer 26 ..
Trata-se de um cimento que contém h idróxido
de cálcio, óxido de bismuto, h exametilenote- Quadro 13.2
tramina e dióxido de titânio aglu tinados por COMPOSIÇÃO DO CIMENTO N-RICKERT
r esina epóxica bisfenol (Quadro 13 .6) . O Sea -
ler 26, frente à análise citotóxica 12, m ostrou Pó
apresentar b aixa citotoxicidade, quan do com- Óxido de zinco ................................................. 39,20g
Prata precipitada ............................................... 30,00g
parado com outros cimen tos, entre eles o Fill-
Delta-hidrocortisona ........................................... 2,00g
canal e o N -Rickert. Diiodo ti mo! (aristoD .............................. ... ... 12,80g
A necessidade dos cimentos apr esentarem Colofônia ............................................................ ,, 16,00g
compatibilid ade biológica é aceita pela maioria
dos estudiosos. Nesse sentido, houve o apareci- Líquido
Ó leo de cravo ........................................................ 78ml
mento de cimento s com boa compatibilidade
Bálsamo do Canadá ............................................ 22ml
biológica, a partir do hidróxido d e cálcio.
CIÊNCIA ENDODÔNT!CA
Quadro 13.3
CO MP O SIÇÃO DO CIMENTO DE G ROSSMAN
<VERSÕES COM ERCIALIZADAS - FILLCANAL,
Q uadro 13.7
ENDOFILL®, G ROSSCA N AL®, PULPFILL®)
CO MP O SIÇÃO DO CIMENTO SEALAPEX®
Pó
Óxido de cálcio .................................................. 25,0º/o
Protóxido de zinco ....... ..................................... 40,59
Sulfato de bário ................................................... 18,6%
Resina Hidrogenada ............................................... 28g
Óxido de zinco ..................................................... 6,50/o
Subcarbonato de bism uto .................................... 16g
Dióxido de titâ nio ................................................. 5,1O/o
Sulfato de bário ........................................................ 1Sg
Estearato de zinco ................................................ 1,0%
Borato de sódio anidro .............. 1 parte
Líquido
Quadro 13.5 Copolímero de ácido maleico e acríl ico
COM POS IÇÃO DO CIMENTO A H PLU S® /
Pasta A
Resina epóxica
Tungstênio de cálcio Quadro 13.9
Óxido de zircónio COMPO SIÇÃO DO CIMENTO A PEXIT®
Aerosil
Óxido de ferro Pasta-base
H idróxido de cálcio ........................................... 0,319g
Pasta B Colofónia hidrogenada .................................... 0,315g
Amina Adamantana Dióxido de silício silanizado altamente
N, N -Dibencil-5-oxanonano-diamina-1,9 disperso ......................................................... 0,081 g
TCD-Diamina Óxido de cálcio ................................................. 0,0569
Tungsteanato de zircónio Óxido de zinco ................................................. 0,0559
Aerosil Fosfato tricálcico ........................... ...................... 0,041 g
Óleo de silicone Polimetilsiloxano ................................................ 0,0259
Estearato de zinco ............................................ 0,0239
Resina
Epóxica bisfen ol
Sealapex
Polymerk Gdci.u.01
Uydro.xidc. Rool
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Keta c~-Endo
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\ • _flGi~ 13.16
Ketac Endo®
····················
·····: ..:·::::·::::: ..i:::
... (CapMix)_
• FIG. l!.15
Ketac Endo®.
l
O BTURAÇÃO DO CANAL RADICU LAR
Tagger et al. 265 es tudaram a liberação de íons mo de 24 horas, os espécimes · foram colocados '\ -~
cálcio e h idroxila d e cimentos contendo h idróxi- em água bi-destilada (pH = 6, 7) por 2 horas, tro- -~_.f_·
do de cálcio (Sealapex, CRCS e Herrnetic) . Bases cada a cada 15 min u tos. As m edidas de pH foram h
analisadas para liberação de íons hidroxila foram efetuadasdapós 15, ~O,d45, ~O, 75, 90, l,°5 e dl 20 ~-
incluídas para fins de comparação, como o Life e m inutos a _co1ocaçao os cimentos em agua es- .i
o Dycal. Os materiais foram manipulados de tilada. A liberação de cálcio e o pH exib idos pelo
acordo com os fabricantes, e produzidos 2 corpos Sealapex foi gradual e prolongado, como o Life e
de prova para cada material com aproximada- o Dycal. Decorridos 60 e 75 minutos, as amostras
mente 7 mm de diâmetro e 3 mm de profundida- de Life e Dycal se desintegraram (Quadros
de . Decorrido o endurecimento e o período míni- 13.10 e 13 .11) .
Quadro 13.10
*LIBERAÇÃO DE ÍONS CÁLCIO EM MG/DL
Material/tempo 15 30 45 60 75 90 105 12 0
(Tagger et al.26·' )
Quadro 13.11
/
*POTENCIAL DE ALCALINIZAÇÃO DOS MATERIAIS, MEDIDO EM pH <INICIAL DE 6,71
culturas de 5 a 7 dias. Foram analisados cimen- ocorreu anquilose e reabsorção por substituição.
tos recém espatulados ( 1, 7, e 14 dias após espa- No terço cervica l, cem ento neoformado estava
tulação). Os resultados evidenciaram que todos ausente em 6 espécimes, havendo apenas um
os cimentos recém espatulados causaram danos caso de fechamento total. Inflamação crônica
celulares significantes e severos. A citotoxicidade moderada estava presente em 10 casos.
do Sealer 26 e FS tendem a diminuir após 24 HolJand et al. 12 3 avaliaram a reação dos teci-
h oras quando comparados aos outros cimentos. dos periapicais de dentes de cães posterior à ob-
Holland et al.116 observaram a influência da turação com MTA ou Ketac-Endo. Trinta canais
cicatrização da ferida periodontal frente ao tipo radkulares de 2 cães foram usados no estudo. Os
do material obturador e a localização da lesão canais tiveram o forame apical perfurados e am-
periodontal. Foram utilizadas 24 raízes de 2 cães pliados até o instrumento de número 30, depois
adultos. O tratamento foi feito em duas sessões, um batente foi realizado O, 5 a 1 mm aquém do
e os canais obturados com cones de guta-percha ápice, e então os canais [oram instrumentados
e óxido de zin co e eugenol ou Sealapex, com a até a lima Kerr número 60 sob irrigação com
técnica de condensação lateral. As aberturas co- solução salina. Os canais foram então preenchi-
ronárias foram seladas com cimento de fosfato dos com Otosporin e selados por uma semana
de zinco e amálgama. Na segunda sessão, o teci- com cim ento provisório (IRM). Na segunda ses-
do ósseo foi exposto e duas cavidades foram rea- são os canais foram n ovamente irrigados com
lizadas através do osso, cemento e dentina, atin- solução salina, secos com cones de papel e obtu-
gindo o material obturador. Uma cavidade foi rados com cones de guta-percha e MTA ou Ke-
preparada no terço apical e outra entre o terço tac-Endo. Os cimentos fora m aplicados nos ca-
médio e cervical. As incisões foram suturadas e nais com lentulo e os dentes foram obturados
os animais sacrificados após 6 meses. Alguns es- com a técnica da condensação lateral. A câmara
pécimes foram então fixados, descalcificados e pulpar de cada dente foi coberta por uma cai:µa-
· ; preparados para análise microscópica. A análise da de cimento de óxido de zinco e eugenol e a
1
I dos resultados levou em consideração o cemento abertura coronária foi fechada com amálgama.
neoformado, ligamento periodontal, reação in- Em ·cada grupo experimental 15 dentes foram
flamatória e presença de debris do canal no liga- tratados. Após 180 dias os espécimes foram ana-
mento periodontal. No grupo do Sealapex, no lisados. Os resultados m ostraram ausência de rea-
terço apical, houve deposição cementária com ção inflamatória dos tecidos p eriapicais e o total
, fechamento total em 8 casos, sendo que em ape- fechamento do forame apical de todos os dentes
nas 2 casos não houve nenhuma deposição. O obturados com MIA. Nos dentes obturados com
ligamento periodontal estava livre de inflamação Ketac-Endo, em apenas 2 casos ocorreu fecha-
em 8 casos, e apresentou reação inflamatória m ento parcial e diferentes graus de reação infla-
crônica mediana nos outros casos. Em todos os matória crônica foram observados.
dentes, exceto em 3 casos, houve reinserção do Sacomani et al.2 34 investigaram o comporta-
ligamento periodontal. Em relação ao terço cer- mento dos tecidos periapicais de dentes de cães
vical, cemento neoformado estava ausente em após preparo e obturação com os cimentos Sealer
apenas 1 caso, sendo que em apenas 2 casos 26 e Sealer 26 modificado. Após o preparo os
houve fechamento total. O ligamento periodon- canais foram preenchidos com Otosporin. Decor-
tal estava livre de reação inflamatória na m etade ridos 7 dias, foram secos e obturados com a técni-
dos dentes, sendo que os outros apresentaram ca da condensação lateral de guta-percha e os ci-
reação crônica mediana um pouco mais extensa mentos obturadores. Decorridos 180 dias, os espé-
que o grupo anterior. A reinserção do ligamento cimes foram analisados. Os dois cimentos, quando
periodontal ocorreu em metade dos dentes. O levados aos tecidos periapicais, provocaram reação
grupo do óxido de zinco e eugenoL no terço api- inflamatória crônica observada 180 dias após a
~- cal, apresentou fechamento total por deposição obturação. Excluindo-se os espécimes com detri-
f· de cemento em 5 espécimes, sendo que 3 não tos, os resultados hisLornorfológicos dos dois ci-
demonstraram nenhuma deposição. Não houve m entos não mostraram diferenças significantes
inflamação em 8 casos, e os outros foram seme- entre si, o que leva a conclusão de que as altera-
lhantes ao grupo anterior. A reinserção perio- ções propostas para o cimento Sealer 26 não me-
dontal ocorreu em 5 casos, e em dois espécimes lhoraram suas p ropriedades biológicas.
_____________
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
,
Holland et al. 121 observaram a reação do teci- Lim & Tidmarsh 166 investigaram a infiltração
do conjuntivo subcutâneo de ratos ao implante de do Sealapex e do AH 26 por de longo período de
tubos de dentina preenchid9s com cimentos con- observação, utilizando-se técnica eletroquímica.
tendo hidróxido de cálcio. Tubos de dentina foram Dentes anteriores unirradiculares foram selecio-
preparados a partir de dentes h umanos, sendo ir- n ados, e suas coroas removidas. A técnica de
rigados com EDTA e hipoclorito de sódio, e então preparo foi padronizada, por m eio de uma ins-
lavados com água destilada antes de serem auto- trumentação até a lima nº 40, lmm aquém do
clavados. Os tubos foram então preenchidos com forame apical. Trinta dentes foram divididos em
MTA, Sealapex, CRCS, Sealer 26 e um cimento 2 grupos de 14, e 2 usados como controle. Os
experimental, Sealer Plus. Os tubos foram imedia- dentes foram então obturados através da técnica
tamente implantados na região dorsal de 60 ratos, de conden sação lateral, e desobt urados até per-
1 '
em dois locais diferentes, sendo que tubos vazios manecer 4 mm de obturação, simulando a neces-
foram usados como controle em 10 animais adi- sidade de colocação de pino intracanal. Os den-
cionais. Os animais foram sacrificados 7 e 30 dias tes usados com o controle não foram obturados,
após, o t ubo e tecido adjacente removido e prepa- sendo que o ápice do grupo controle positivo
rado para análise histológica. Algumas seções fo- não foi selado, e do n egativo tota lmente imper-
ram coradas de acordo com a técnica de Von Kos- meabilizado. Um fio de cobre isolado, com 1 mm
sa, e outras foram analisadas através de luz polari- no diâmetro, foi introduzido no canal até que , ·
zada em microscopia para se localizar o material sua extremidade entrasse em contato com o ma-
birrefringente. Algumas seções ainda foram des- terial obturador e fixado com cera, sendo que
calcificadas por 10 minutos em EDTA, arites de nos grupos controle, penetrou 4 mm no canal. Os
serem coradas. No grupo controle, após 7 dias, esp écimes foram então impermeabilizados exter- ,
uma camada de neutrófilos cobria os tubos, sen do namente com exceção do fora me apical, e imer-
observada, próximo a esta área, a presença de fi- sos em solução de cloreto de potássio a 1% junto '
broblastos e células inflamatórias crônicas. Trinta com uma tira do aço inoxidável que agisse como
dias após, os tubos foram preen chidos por tecido o cátodo. Em intervalos semanais, uma diferença
conj untivo e encapsulados por tecido fibroso . Nos potencial constante de 10 V foi aplicada através ~
grupos experimentais, o cimento CRCS foi o úni- do cátodo e ânodo projetados do canal. A corren-
co que não exibiu estruturas calcificadas: aos 7 te através de uma resistên cia externa de 1OOµA
dias, exibiu um exsudato com n eutrófilos ao re - foi observada em intervalos semanais, e os valo- ·1
dor do material, e aos 30 dias, fibroblastos e rea- res médios de fluxo em cada grupo experimental
ção inflamatória crônica. Todos os outros materiais foram determ inados e submetidos à análise esta-
testados exibiram estruturas calcificadas aos 7 e tística . O grupo controle positivo demonstrou
30 dias. A ú nica diferença foi a quantidade dessas correntes num máximo de 684 µA em 13 sema-
estruturas, que foi mais numerosa nos grupos do nas, e caiu devagar ao n ível zero, sendo que o
MTA e Sealapex. grupo controle negativo exibiu, após vários dias,
Pulgar et al. 221 determinaram se o cimento corrente de apenas 7 µA. Nos grup os experimen-
AH 26 e AH Plus possuem efeitos osteogênicos in tais, a an álise estatística não demon strou diferen-
vitro. Células de câncer de mam a MCF-7 foram ça sign ificante no período de 26 semanas, sendo
colocadas em placas com 24 compartimentos que ambos os materiais permitiram infiltração.
com concentração inicial de 10.000 células por Entretanto, considerando apenas as 12 primeiras
compartimento. As células foram deixadas para semanas, h ou ve uma pequena diferença entre os
se unir por .'.44 horas, sendo então diferentes con - mesmos, com menor infiltração para o Sealapex.
centrações dos materiais testados adicionados aos Holland et a/.t 15 estudaram o efeito de algu-
compartimentos das amostras (AH 26 e AH Plus mas variáveis no método de imersão dos dentes
em diluições de 11100 até 1/1 .000.000). O expe- com canais obturados n o corante, empregando
rimento foi observado após 144 h oras. Os auto- ou não o vácuo. Foram empregadas 40 raízes de
res observaram que apenas o cimento AH 26 de- dentes humanos unirradiculares, que tiveram
monstrou efeito osteogênico in vitro. suas coroas removidas. Realizou -se então o pre-
Outras investigações direcionaram à avalia- paro do canal, com sobre-instrume ntação até a
ções das propriedades físico -químicas dos cimen- lima nº 40 e escalonamento até a lima nº 80.
tos obturadores. Concluído o preparo, os dentes foram impermea-
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR
bilizados e obturados através da técnica da con- corridas 24 horas, m etade dos espécimes foi inte-
densação lateral com cones de guta-percha e ci- gralmente imersa em água por 75 dias, enquanto
m ento de óxido de zinco e eugenol. Terminada a que a outra metade foi subm etida à solução tra-
obturação, os dentes foram impermeabilizados çadora. Ambos os grupos, de 24 horas ou 75
também em sua porção coronária, ficando ape- dias, foram mergulhadas na solu ção de azul de
n as o forame apical sem ser impermeabilizado. metileno a 2 % sob vácuo. A bomba a vácuo era
Decorridas 24 horas, 10 espécimes foram mergu- acionada, deixando-a funcion ar por 10 minutos,
lhados em azul de metileno a 2 % por 24 horas. quando então os espécimes eram mergulhados
Os demais espécimes foram imersos no corante na solução traçadora e assim p ermaneciam por
em ambiente com vácuo, onde 3 variáveis foram 12 horas. Após esse período, os dentes eram tra-
analisadas: a) decorridos 10 minutos de vácuo, tados, seccionados e procedia-se então a medida
ainda com a bomba funcionando, os dentes fo- das infiltrações marginais ocorridas. A infiltração
ram mergulhados no corante; eliminava-se o vá - marginal aos 75 dias foi maior que a observada
cuo e os dentes permaneciam no corante por às 24 h oras, para todos os cimentos estudados. A
mais 3 horas; b) após os 10 minutos de vá cuo, os ordem de m en or para maior infiltração marginal
dentes foram mergulhados no corante e perma- no tempo de 24 horas, relacionando-se os cimen-
neciam por 1 hora em ambiente com vácuo; c) tos foi: Sealapex, cimento experimental, AH 26,
após os 10 m inutos de vácuo, os dentes foram New B2, CRCS, Rickert, OZE e FillCanal. Já no
mergulhados no corante, eliminou-se o vácuo e tempo pós-operatório de 75 dias, essa ordem foi:
os dentes permaneceram por 24 horas. Concluí- Sealapex, New B2, AH 26, CRCS, cimento expe -
dos os tempos, os dentes foram seccionados e rimental, Rickert, OZE e FillCanal.
analisados quanto à profundidade das infiltra - Limkangwalmongkol et al. 16 8 obse rvaram a
ções marginais ocorridas. Evidenciou-se que com capacida de de selamento dos cim entos endodôn-
o emprego do vácuo, em todas as variáveis estu- ticos - Apexit, Sea lapex, Tubliseal e AH26 - em
1 dadas, ocorreu uma maior infiltração marginal conjunto com a guta-percha condensada lateral-
I quando comparado ao não emprego deste recur- mente em 125 dentes unirradiculares humanos.
so. Já os resultados obtidos com o emprego do O terço apical foi prepa rado por limas que varia-
vácuo, mesmo variando o tempo de permanên- vam de n 2 30 ao n u 50 com escalonamento pro-
cia do espécime no corante, foram semelhantes gressivo. Os dentes foram obturados com a técni-
entre si. ca da condensação lateral e distribuídos em 5
Holland et al. 131 analisaram comparativamen- grupos: 1) Apexit; 2) Sealapex; 3) Tubliseal; 4)
te a eficiência do selamento marginal obtido após AH 26 e 5) Controle (nenhum cimento foi utili-
a obturação pela técnica da condensação lateral, zado). Foram obtidas duas radiografias finais (M -
utilizando-se cones de guta-percha e alguns ci- D e V-L), com o objetivo de verificar a qualidade
mentos obturadores, com ou sem hidróxido de da obturação. A abertura coronária foi selada
cálcio. Foram empregados 160 dentes humanos com Cavit, sendo qu e os dentes permaneceram
unirradiculares extraídos. Após a remoção da co- de 1 a 3 semanas, a 37ºC em 100% de umidade
roa dos dentes, os mesmos foram sobre-instru- relativa. A região externa foi então impermeabi-
mentados 1 mm além do forame até a lima n º lizada, com exceção dos 2 a 3 mm apicais. A
40, seguindo-se o preparo escalonado até a lima seguir, os dentes foram submersos em solução
nll 80. Os dentes foram irrigados com solução de azul de metileno a 2 %, por 3 minutos. Os dentes
Dakin, e concluído o preparo, foram impermea- foram removidos, lavados e incluídos em resina
bilizados respeitando-se a abertura coronária e epóxica, sendo e n tã o seccionados horizontal-
apical. Os dentes foram então divididos em 8 mente em intervalos de 0,5 mm. Nos grupos ex-
grupos de 20, de acordo com os cimentos utiliza- perimentais, em todos os espé cimes foi observa-
dos: Sealapex, CRCS, New B2, um cimento ex- da infiltração do corante, sendo que os menores
perimental desenvolvido pela disciplina de Endo- valores foram demonstrados com o AH 26.
dontia de Araçatuba, óxido de zinco e eugenol, Holland et al. 107 verificaram a propriedade
FillCanal, Pulp Canal Sealer e AH 26. Os canais seladora de alguns m ateriais seladores temporá-
foram então obturados pela técnica da condensa- rios, empregando-se ou não o vácuo, antes de
ção lateral, e depois imersos em água após serem mergulhar os espécim es em e studo na solução
impermeabilizadas suas porções coronárias. De- aquosa azul de m etileno a 2 %. Os materiais
CIÊNCIA END O DÕNTICA
Cimpat e Lumicon apresentaram melhor eficiên- Pilatti & Zardo 2 15 analisaram quantitativa-
cia de selarnento, não existindo diferença estatis- mente a infiltração apical em obturações de ca-
ticamente significante entre _os dois. Há diferença nais radiculares pela técnica da condensação la-
estatisticamente significame entre as médias dos tera l utilizando-se os cimentos Sealapex e Ketac
procedimentos utiliza dos, sendo que o procedi - Endo. Dentre os grupos experimentais, os esp é -
mento com vácuo é o que melhor avaliou a infil- cimes pertencentes ao grupo do Sealapex e irri-
tra ção existente. gação final à base de EDTA a 17 % , foram os
Limkangwalrnon gkol et al.167 estudaram a ca- que apresentaram menores índices de infiltra-
pacidade seladora de quatro cimentos endodôn- ção apical.
ticos (Apexit, Sealapex, Tubliseal e AH 26) em 50 Holland & Murata 109 observaram a efetivida-
dentes humanos unirradiculares. Houve penetra- de da obturação do sistema de canais radiculares
ção do corante em todos os espécimes estudados, com o cimento Sealapex em 30 dentes humanos
com exceção do grupo controle negativo. O menor · unirradiculares. Concluído o preparo simulou-se
nível de penetração ocorreu no grupo do AH 26, um canal lateral efetuando-se uma perfuração da
seguido pelo Apexit, Sealapex, Tubliscal e con- dimensão do instrumento de número 15 no sen -
trole positivo. Em análise estatística, houve dife- tido vestíbulo-lingual e em ângulo reto, do ce-
rença significante em todos os grupos, exceto mento ao interior do canal. Procedeu-se a seguir,
entre o Sealapex e o Tubliseal. nova irrigação e preenchimento do canal com , .
Estrela et al. 63 avaliaram o selamento apical EDTA por 3 minutos. Os canais foram então se-
de dentes obturados at ravés da técnica de con- cos e obturados pela técnica da condensação la-
densação lateral e de Nguyen (condensação late- teral, com cones de guta-percha e os seguintes
ral e vertical), por meio de corante azul de meti- cimentos: N-Rickert, Sealapex e Apexit. Os ci-
leno, utilizando o N-Rickert e o Sealapex. As téc- mentos foram preparados de acordo com os fa-
nicas de Nguyen e da condensação lateral apre- bricantes, e no caso do Sealapex, foi acrescido 1/3 '
sentaram médias de infiltração em torno de de iodorfórmio. Concluídas as obturações, os
0,783 mm e 0,935 mm, quando se empregou o dentes foram radiografados nos sentidos M-D e
N-Rickert, e 0, 76 5 mm e 0,959 mm, quando se V-L, e foram anotadas as penetrações observadas . '
/
empregou o Sealapex, respectivamente. Dos 1O espécimes testados para cada cimento,
Estrela et a l. 64 compararam a infiltração api- todos os cimentos foram capazes de obturar os
cal com azul de m etileno, de diferentes cimentos canais laterais em todos os espécimes, enquanto
endodônticos (FillCanal, N-Rickert, Sealapex e que em relação às ramificações apicais, o Seala-
AH 26) e as técnicas de obturação (condensação pex obtu rou -as em 9 espécimes, enquan to que o
lateral ativa e passiva). Todos os cimentos permi- Apexit e o N-Rickert obturaram -nas em 8 espéci-
tiram infiltração apical, sendo que não h ouve di - mes. Pôde-se concluir que os cimentos à base de
ferença estatisticamente significante entre os ci - hidróxido de cálcio aqui testados possuem escoa -
mentos. Quando se comparo u a infiltração apical mento suficiente para p enetrar no sistema de ca-
entre as técnicas de condensação lateral ativa e nais radiculares durante a obturação pela técnica
passiva, os cimentos FillCanaL Sealapex e AH 26 da condensação lateral.
demonstraram diferenças significantes, com me- Fidel et al.72 estudaram o tempo de endureci-
nores valores p ara a condensação ativa. Já o ci- mento de alguns cimentos en dodônticos conten-
m ento N-Rickert n ã o demonstrou diferenças es- do hidróxido de cálcio e suas fórmulas. Realiza-
tatisticamente significantes entre as técnicas. ram 3 testes para cada cimento testado e deter-
Fidel et al.73 estudaram in vitro a solubilidade minou-se o valor do tempo de endurecimento
dos seguintes cimentos endodônticos que contêm por meio da média aritmética dos 3 resultados
hidróxido de cálcio: Sealapex, CRCS, Sealer 26 e obtidos. O CRCS e o Apexit apresentaram tempo
Apexit. Os cim entos Sealer 26 e Apexit apresenta- médio de endurecimento curto, de 23 minutos e
ram baixo índice de solubilida de e de desintegra- 1 hora e 30 minutos, respectivamente. Já os ci-
ção (0,7 % ), sendo que o cimento Sealçi.pex apre- mentos Sealer 26 e Sealapex apresentaram tem-
sentou alto índice ( 13 % ), totalm ente fora da es- po de endurecimento longo, de 41 horas e 22
pecificação 57 da ADA. Já o cimento CRCS apre- minutos e 45 h oras e 34 minutos, respectiva-
sentou solubilidade e desintegração no limite m á- mente. Apenas o cimento CRCS apresentou tem-
ximo preconizado p ela ADA, ou seja, 3% . po de endurecimento de acordo com o informa -
OBTUR AÇÃO DO CANAL RADICULAR
do pelo fabricante, sendo singular na condição mentos CRCS e FillCanal, cujos resultados foram
de preencher a especificação 57 da ADA. considerados semelhantes entre si. Já a análise
Fidel et al.7 5 estudaram o pH de alguns ci- volumétrica evidenciou resultados semelhantes
mentos endodônticos qu e contêm hidróxido de entre o Sealer Plus e o FillCanal, porém melho-
cálcio em suas composições, no momento de sua res que os obtidos com o CRCS.
espatulação até uma semana após, quando imer- Em outros trabalhos, a preocupação foi dire-
sos no meio aquoso. Os cimentos avaliados fo- cionada à análise do efeito antimicrobiano.
ram o Sealer 26, CRCS, Sealapex e Apexit. Após Canalda & Pumarola 35 estudaram os efeitos
espatulados, mediu-se imediatamente o pH colo- inibitórios, por meio de teste de difusão em ágar,
cando-se 2 gramas do cimento em um tubo de produzidos pelo cimentos endodônticos conten-
ensaio contendo 9 mL de água destilada e deioni- do hidróxido de cálcio, em certas bactérias, com-
zada. Então, centrifugou-se e efetuou- se a medi- parando com os produzidos por outros cimentos
da. Posteriormente, confeccionaram-se corpos de com óxido de zinco e eugenol ou resina epóxi.
prova circulares com 20 mm de diâmetro interno Os cimentos estudados foram: Sealapex, CRCS,
e 1,5 mm de espessura, que foram mantidos em Endométhasone, Tubliseal e AH26, enquanto
ambiente a 37ºC e 95% de umidade relativa até que as seis bactérias u tilizadas foram: S. [3-hemolí-
seu completo endurecimento. Os mesmos foram tico, S . aureus, E. coli, C. albicans, Veillonella sp. e B.
então posicionados no interior de recipientes de fragilis. A leitura após 96 horas demonstrou que
vidro contendo 50 ml de água destilada e deio- a ação inibitória permaneceu no mesmo nível.
nizada, com um valor de pH de 6,3. Decorridas Apenas para S. {3-hemolítico com Endométhasone
3 horas, fazia-se a primeira medição de pH, to - e Tubliseal, e C. albicans para o Sealapex demons-
mando-se medidas subseqüentes a cada 24 horas traram diminuição n o processo inibitório.
por 1 semana . Fez-se a medição em 2 corpos de Estrela et al.61 analisaram comparativamente
prova para cada cimento, dos quais obteve-se a a ação antibacteriana, por m eio de teste de difu-
/1 média aritmética. Todos os cimentos testados são em ágar, de três cimentos obturadores (Sea-
I apresentaram pH alcalino, sendo que o Seala- lapex, Sealer 26 e Apexit), frente a culturas pu -
pex apresentou o pH mais elevado no momento ras de três bactérias aeróbias facultativas: Escheri-
da espatulação. O Sealapex e o Sealer apresenta- chia coli, Pseudomonas aeruginosa e Estreptococcus fa -
ram decréscimo de seus valores ao decorrer do ecalis. Os cimentos obturadores experimentados
tempo, enquanto o CRCS e Apexit apresentaram não evidenciaram potencial antibacteriano quan-
seu s valores entre 10 e 11,2 por todo o tempo do consideradas as bactérias indicadas.
decorrido do experimento. Siqueira-Jr & Gonçalves 25º compararam a ati-
Valera et al. 2 80 analisaram a morfologia das vidade antibacteriana de cim entos endodônticos
partículas dos cimentos Sealapex, Apexit, Sealer (FillCanal, Sealapex, Sealer 26 e Apexit) sobre
• 1
26 e Ketac Endo, através de microscopia de força bactérias anaeróbias (P. endodontalis, P gingivalis, A.
atômica para verificar as características de suas israelii, P acnes, F nucleatum e W recta), além de
partículas após obturação dos canais e após um duas anaeróbias facultativas (S. aureus e A. Naes-
período de seis meses de contato com o plasma lundii). Após a incubação, os diâmetros de inibi-
sangüíneo humano. Os autores observaram que ção foram mensurados em mm, e quatro placas
o plasma sangüíneo humano causou alteração foram utilizadas para cada bactéria testada. O ci-
nas estruturas de todos os cimentos. Entretanto, mento FillCanal demonstrou as maiores zonas de
o Sealer 26 apresentou desintegração mínima inibição para os cimentos testados, sendo que o
após 6 meses, enquanto que o Apexit apresentou Sealer 26 foi ineficaz sobre P endodontalis e P gin-
a maior perda de estrutura, seguido pelo Ketac givalis. Não houve diferença significante entre o
Endo e Sealapex. Sealapex e o hidróxido de cálcio, e o Apexit foi
Holland et ai. 110 observaram a qualidade do ineficiente sobre todas as bactérias testadas.
selamento marginal apical obtida com um novo Duarte et al. 54 avaliaram in vitro a capacidade
cimento à base de óxido de cálcio, o Sealer Plus, anti-séptica, empregando o método de difusão
analisando os resultados através dos métodos li- radial, de alguns materiais empregados na rotina
near e volumétrico. A análise estatística da infil- endodôntica, bem como verificaram se o acrésci-
tração marginal linear mostrou menor infiltração mo de hexametilenotetramina ao pó do cimento
com o cimento Sealer Plus, em relação aos ci- Sealer 26 melhoraria sua capacidade anti-séptica.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Os materiais obturadores analisados nesse traba- suspensão em cada uma das 30 placas de Petri
lho foram: Endomethasone, AH 26, Sealapex, contendo 20 mL de ágar BHI cada. Três cavida-
Sealer 26 e pasta de hidróxido de cálcio acrescido des, medindo 4 mm de profundidade por 4 mm
de soro fisiológico. Ao cimento Sealer 26, ainda de diâmetro foram realizadas e completamente
foram preparadas duas outras versões experi- preenchidas com os materiais testados. As placas
mentais, acrescendo 5% de hcxametilenotetra- foram pré-incubadas por 1 hora à temperatura
mina no grupo experimental 1 e 10% no grupo ambiente, e depois incubadas a 37ºC por 48 ho-
experimental 2. A avaliação foi feita através da ras. Os diâmetros das zonas de inibição foram
difusão radial em ágar, e os microrganismos utili- medidos, e então extraídas amostras dos halos de
zados foram: S. aureus, E. faecalis, S. mutans, P. difusão e inibição, que foram imersas em 7 mL
aeruginosa, Klebsiella s.p. e C. albicans. O cimento de caldo BHI e incubadas a 37ºC por 48 horas.
Endomethasone apresentou ação contra todos os Foram realizados controles positivos e negativos,
microrganismos testados, apresentando os me - e os testes foram realizados em triplicata. A pasta
lhores resultados. O cimento AH 26 foi mais efe- de hidróxido de cálcio demonstrou os melhores
tivo que o Sealer 26, e a adição de 5 ou 10% de resultados, demonstrando zonas de inibição varian-
hexametilenotetramina ao pó do Sealer 26 au- do de 6 a 9,5 mm e de difusão entre 10 e 18 mm. O
mentou seus valores de inibição, principalmente MIA, cimento Portland e Sealapex demonstra-
com 10%. O cimento Sealapex e a pasta de hi- ram apenas zonas de difusão, e entre esses, o
dróxido de cálcio não apresentaram halos de ini- Sealapex obteve as maiores zonas (10 a 18 mm).
bição em nenhum dos microrganismos testados. Já o Dycal não demonstrou zonas de inibição
Estrela et al.60 investigaram a ação antimicro- nem de difusão nos microrganismos testados
biana do MTA, cimento Portland, pasta de hidró- (Gráficos 13.3 a 13.7).
xido de cálcio, Sealapex e Dycal. Os materiais Carrascoza 37 analisou o efeito antimicrobia-
foram testados com os seguintes microrganismos: no de alguns cimentos endodônticos (Sealapex, 1
S. aureus, E. faecalis, P. aeruginosa, E. subtilis e C. Sealer 26, Sealer Plus, EndoFill e N-Rickert), por
albicans. Para o teste de difusão em ágar, os mi- meio de teste de difusão em ágar, sobre S. aureus,
crorganismos foram inoculados em 5 mL de ágar E. faecalis, P aeruginosa, B. subtillis e C.albicans. Os
/
BHI e incubados a 37ºC por 24 h oras. Foram resultados m ostraram que o Sealer 26 eviden-
então diluídas em suspensão salina até obter-se ciou zonas de difusão para todos os cimentos e
uma con centração final de 3 x 108 célu las/mL, e zonas de inibição para P aeruginosa e C. albicans.
1 rnL de uma dessas su spensões puras foi utiliza- O Sealer Plus mostrou zonas de inibição para o S.
da para se obter uma mistura dos microrganis- aureus, E. subtil/is e a mistura. Os demais cimen-
mos testados. Foi então inoculado 0,1 mL dessa tos exibiram apenas zonas de difusão.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR
• GRÁFICO 13.4
J • ~"
GRÁFICO
- 13.5-
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
/
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR
Duarte et al. 5 4 avaliaram a capacidade anti - bilidade e à relativa facilidade de colocação e re-
microbiana de alguns cimentos endodônticos moção durante o tratamento endodôntico232 • En-
(AH Plus, Sealer 26, Sealapex, Apexit e o Sea- tre as vantagens da guta-percha observa-se a
ler Plus). O método de escolha foi a difusão do possibilidade de condensação e adaptação às irre-
agente de forma radial no ágar. As bactérias gularidades dos canais radiculares, a capacidade
utilizadas foram: S. aureus, E. faecalis, P aerugi- de amolecimento pelo calor ou solventes, ser
nosa, B. subtilis e C. albicans. Os resultados mos- inerte, apresentar aceitável estabilidade dimen-
traram que o AH Plus apresentou a melhor sional, ser tolerada pelos tecidos, não alterar a
ação antimicrobiana, inibindo 4 dos microrga - coloração dentária, ser radiopaca e poder ser re-
nismos testados, seguido pelo Sealapex (inibiu movida do canal.
3 microrganismos) e pelo Sealer 26 (inibição A guta-percha é insolúvel à água, discreta-
de 2 tipos de microrganismos). O Apex it e o mente solúvel ao eucalipto!, solúvel ao éter, xi-
Sealer Plus não inibiram os microrganismos loL benzeno, halotano, terebentina e clorofór-
testados. mio. O capítulo referente às técnicas de retrata-
Miletic et al. 187 avaliaram a penetração de mento discute o emprego dos solventes de guta-
Candida albicans sozinha e uma combinação de percha.
bactérias (S. mutans, P melaninogenica e L. acido-
philus) através de canais obturados com guta- PROCEDIMENTOS PRÉVIOS À
percha e cimento endodôntico AH 26 ou AH Plus, OBTURAÇÃO
em 80 dentes. A infiltração nos dentes testados
ocorreu entre 14 e 87 dias. A infiltração esteve Alguns procedimentos são desenvolvidos
presente em 47% de todas as amostras, sendo previamente à obturação, como a remoção da
que as amostras obturadas com AH 26 infiltra- smear layer, a remoção da medicação intracanal,
ram em 45% com bactérias e 60% com fungos. etc. A remoção da smear layer, tema já discutido
·; Já as amostras com AH Plus, 50% infiltraram nos capítulos referentes ao preparo do canal ra-
com bactérias e 55% com fungos, o que demons- dicular e hipoclorito de sódio, deve ser realizada
trou não haver diferença estatisticamente signifi - anterior à colocação da medicação intracanal.
cante em relação à infiltração por bactérias e Assim sendo, ao remover essa medicação intra-
fungos entre os cimentos testados. can al (hidróxido de cálcio), pode-se realizar a
É inquestionável algumas divergências nos seguir a seleção do cone principal. Torna-se
resultados experimentais, porém é inegável a oportuno reportar que o remanescente do hidró-
importância que os cimentos representam no xido de cálcio pode contribuir reduzindo a per-
contexto do perfeito selamento endodôntico. O meabilidade dentinária 2º7 .
fator biológico deve ser entendido e valorizado
como essencial, pois de nada adianta impermea- Seleção do Cone Principal
bilizar b em e manter uma reação inflamatória
crôn ica. O adequado ajuste do cone principal na ca-
vidade pulpar preparada deve permitir o espaço
CONES DE GUTA- PERCHA mais reduzido para o cimento obturador, de tal
forma que esse material exerça sua única e ex-
A guta-percha é um material presente nos clusiva função de agente impermeabilizante e de
cones p ara a obturação de canais radiculares. A cimentação. O cone principal deveria ser confec-
gu ta-perch a con stitui uma substância vegetal, cionado com o diâmetro de ponta o mais próxi-
obtida a partir de uma árvore da família das Sa- mo do diâmetro do último instrumento que
potáceas, do gênero Pallaquium, existente na Su- atuou na região apical. Como é difícil uma pa-
matra e nas Filipinas. Foi acrescentado à sua fór- droniza ção, procurou-se desenvolver um confor-
mula inicial o óxido de zinco, o carbonato de mador para cones de guta-percha, para uma me-
cálcio, o sulfato de b ário e o sulfato de estrôncio, lhor padronização.
categute pulverizado, ceras, resinas, ácidos tôni- O maior problema dos cones principais rela-
cos, corantes e óleo de cravo. A guta-percha re- ciona-se à sua confecção. O tipo e padrão da fa-
presenta um material de escolha para o preen- bricação depende do rigor no controle de quali-
chimento do canal radicular dado à biocomp ati- dade (Figuras 13.17 a 13.22).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
O travamento do cone principal. ou a justeza mais maleáveis, podem ter seus diâmetros mais
do mesmo nas paredes do canal radicular, favo- facilmente alterados.
rece um melhor selamento endodôntico. O grau Durante a seleção do cone principal, deve-se
de alargamen to e a técnica de instrumentação introduzí-lo no canal inundado de solução irriga-
influenciam na adaptação do cone principal. Para dora. A adaptação. ou seja, o travamento no
que haja boa adaptação do cone principal, toma- comprimento de trabalh o deve proporcionar
se como referência o diâmetro compatível ao uma pressão apical, e oferecer certa resistência à
número do último instrumento utilizado. Toda- remoção. O cone, nessas condições, estará bem
via. o tempo de permanência de uma lima no ajustado.
canal radicular, após a mesma encontrar-se livre As Figuras 13.17 a 13.22 mostram cones
pode alterar essa relação cone-diâmetro do últi- principais e cones de papel absorvente, comer-
mo instrumento. O limite de contração e expan- cializados com diferentes conicidades. As Figu-
são do cone de guta-percha principal torna-se ras 13.23 a 13.28 exibem radiografias de seleção
crítico, pois. uma vez que estes se apresentam de cones principais.
1 .
• FIG. 13.17
Cones principais de guta-percha 1º Série. Cones principais de guta-percha 2º Série.
XF = R7
• FIG. U .2@
Cones acessórios. Cones principais, conicidade 0,04 e 0,06 mm.
OBTU RAÇÃO 00 CANAL RA D ICULAR
• FIG. 13.2.S
1
,)
Radiografia para
seleção de cone. • FIG. 1l.26
Radiografia para se/eçào de cones
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
sejada sem o auxílio do espaçador. Este, então, cones. Se o terço apical a presen tar espaços,
deve penetrar compactando o material obturador pode-se ainda melhorar, ou até remover todo o
contra as paredes de dentina. O espaço criado material obturador e repetir a operação. Os espa-
com a remoção do espaçador deve ser preenchi- ços nos terços cervical e médio podem ser corri-
do imediatamente com um cone acessório de di- gidos com mais conde nsação lateral e até verti-
âmetro condizente com o do espaçador. Repete - cal. Posterior à verifica ção da qualidade final da
se esse procedimento até que o espaçador não obturação, com um instrumento tipo Paiva
encontre espaço para penetrar além do terço cer- aquecido, cortam-se os cones na entrada dos ca-
vical. É conveniente que o cone principal não nais e, com condensadores frios, faz-se ligeira
seja mudado de posição a cada inserção de novos condensação vertical para acomodá-los no inte-
cones acessórios; ou seja, o ideal é que se ele for rior do canal radicular. Os Esquemas 13.3 a
mantido n a vestibular de um dente anterior, 13 .15 e as Figuras 13 .29 a 13.58 demonstram,
deve-se obedecer o mesmo ponto de introdução por meio de representações esquemáticas e as-
do espaçador, e dos cones acessórios. pectos radiográficos, canais radiculares obturados
A qualidade da obturação pode ser verificada por meio da técnica da condensa ção lateral e
por meio de uma radiografia, antes do corte dos vertical de guta-perch a.
- -~§QlJEMA 1.~.5 __
Obturação do canal com o téc-
nica da condensação lateral de guto-
percho.
• ESQUEMA 13.6
Obturação do canal com a téc-
nica do condensação lateral de g uta-
percha.
• [:SQUi~~ H',.?'f..
Obturaçào do canal com o téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR
• ESQUEMit 11.3
Obturação do cano/ com o téc-
nica da condensação lateral de guto-
percha.
;f
'
1
1
• 1
• ESQUEMA_13.9
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guto-
percho
( ·.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
1 •
• ESQUEMA 13.10
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.
• ESQUE~A 13.U
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.
• ESQUEMA 13.12
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guto-
percho.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
• ESQUEMA 13.13
Obturação do canal com a téc-
nica da condensação lateral de guta-
percha.
1 •
• E5-QlJ~M-~ J3.14 /
Aspectos radiográficos de obturações de canais radiculares com o técnico do condensação lateral e vertical de
guta-percha.
que associa a técnica da condensação lateral com Wu & Wesselink 294 discutiram a importân-
o uso do compactador de M cSpadden. A técnica cia de selamento coronário como fator determi-
da condensação lateral é levada até que o terço nante para o sucesso do tratamento endodônti-
apical fique repleto de cones secundários . O co. Essa investigação tomou como base a avalia-
compactador é então aciona do lentamente até ção de métodos semi-quantitativos e quantitati-
2 mm do comprimento de trabalho, com o cuidado vos. Os estudos utilizados nessa investigação
de ajustar o motor n o sentido horá rio. Com a avaliaram o fracasso dos tratamentos endodôn-
p lastificação da guta e sua pressão em sentido ticos em função de canais obturados parcial-
apical, o compactador gradualmente é empurra- mente ou pela instrumentação e sanificação
do para fora do canal. O resultado costuma ser inadequada dos mesmos. Os resultados, da maio-
uma obturação compacta e homogênea em toda ria dos estudos de infiltração in vitro, apresen-
a extensão do canal, em um tempo reduzido, e tam significância clínica questionável, pois a
com pequena quantidade de cones acessórios. técnica da condensação lateral utilizada clinica-
Deve-se realçar que o compactador selecionado mente apresenta-se com alto índice de sucesso,
deve ser dois diâmetros acima do cone principal porém resultados de estudos realizados in vitro
de guta-percha. revelam que cerca de 1/3 dos canais obturados
As espiras do compactador de McSpadden com essa técnica apresentam altos níveis de pene-
tiveram suas angulações reduzidas, o que fez tração de corante, variando de 4,16 a 9,25 mm. 1 '
com que a compactação ficasse mais delicada. A Para tentar reduzir as variações de metodologias
ponta tornou-se inativa, o que diminuiu o risco empregadas, o comprimento e anatomia de to-
de fratura do instrumento e de extrusão da guta- dos os dentes deveriam ser semelhantes, o ba-
percha para além do forame apical. tente e diâmetro do forame após a instrumenta-
Outros aparelhos e técnicas foram propos- ção devem ser controlados, o pH das soluções
tos, na tentativa de se valoriza r as vantagens da utilizadas conhecidos e preferencialmente neu -
termoplastificação da gu ta-percha, m esmo con - tros, a fim de se te ntar determinar a r elação
siderando os riscos, especialmente da ausên cia quantitativa entre a infiltração dos produtos
de controle do material plastificado. Entre os bacterianos da microbiota do canal radicular e a /
sistemas, com uso de pistolas com guta -p ercha inflamação do periápice.
termoplastificad a, en contram -se o sistema Ob - Ray & Trope224 avaliaram a relação existente
tura (Texaed -USA), sistema Ultrafil (Hygienic- entre a qu alidade da restauração coronária e da
USA). obturação do canal radicular, com a presença de
O Thermafil (Tulsa-US A) constitui-se de ou- ., patologia periapical. Selecionaram-se 1010 radio-
tra técnica muito difundida, desenvolvida a par- grafias, d e diferentes dentes tratados endodon-
tir de um núcleo sólido, envolto por guta -percha ticamente e portadores de restaurações definiti-
na fase alfa. Colocado em um forno especial, em vas. A avaliação foi realizada por três diferentes
pouco tempo a guta-percha torna -se aquecida, avaliad ores . Dentes portadores de pinos intrarra-
sendo a seguir levada ao interior do can al, após a diculares ou coroas foram excluídos. Os dentes,
colocação do cimento. O núcleo sólido (feito em após a avaliação, foram categorizados de acordo
plástico) é cortado na entrada do canal radicular. com a qualidade da restauração, da obturação
A falta de controle apical e a dificuldade no re- , endodôntica ou de ambos, segundo a seguinte
tratamento são as maiores limitações desse siste- escala: BE - boa endodontia (se todos os canais
ma. estão obturados sem lacunas e com o limite de
... obturação de O a 2 mm aquém do ápice radio-
IMPORTANCIA DO gráfico); EP - endodontia pobre (quando um dos
• SELAMENTO CORONÁRIO critérios de sucesso não puderam ser observa-
dos); BR - boa restauração (presença de sela-
É consenso atual que o tratamento endo- mento radiográfico); RP - restauração pobre (au -
dôntico finaliza com a restauração do dente, ou sência de selamento radiográfico, sobre-extensão
seja, com o selamento coronário definitivo . Por ou presença de cárie). A região do terço apical
conseguinte, considera -se qu e tão importante foi avaliada segundo os seguintes critérios: AIP -
quanto o selamento da região apical é o sela - a usência de inflamação periapical (p resença de
mento coronário. contorno ósseo periapiq 1l, espaço periodontal
OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR
normal e ausência de material obturador além de sucesso. Como avaliação final foi postulado
do ápice radiográfico); PIP - p resença de infla - que, sob o ponto de vista radiográfico, a q valida-
mação periapical (qu ando um dos critérios de de técnica do tratamento endodôntico foi mais
sucesso não puderam ser observados) . Os resul- imp ortante que a qualidade da restauração coro-
tados mostraram que 61,07% dos dentes avalia - n ária, quando a an álise da região periapical ser-
dos não ap resentaram inflamação periapical. A viu de critério de sucesso.
restauração boa resultou significativamente mais Kersten et al. 154 investigaram a capacidade da
casos de ausência de inflamação periapical quan- obturação em prevenir a infiltração de partículas
do comparados com dentes com boa endodontia de bactérias e de macromoléculas de proteínas, e
(80% versus 75,7% ). As restaurações pobres re - se a penetração de azul de metileno é compará-
sultaram significativamente em mais casos de vel com a de produtos metabólicos bacterianos
presença de inflamação periapical quando com- de tamanhos similares. A endotoxina utilizada
parado com a pobre endodontia (30,2% versus foi E. colí 055:BS lipopolissacarídeo . O ácido butí-
48,6%). A combinação entre boa restauração e rico é um produto metabólico dos microrganis-
boa endodontia resultou em 9 1,4% de casos de mos com poder citotóxico . As partículas de bac-
ausência de inflamação periapical, enquanto térias e macromoléculas de proteínas podem não
que, a combinação de endodontia pobre e res- infiltrar somente com a utilização de cimento e
tauração pobre resu ltou em 18, 1 % de ausência pressão no momento da obturação com guta-
de inflamação periapical. percha. Infiltração de pequenas moléculas, como
Tronstad et al.276 avaliaram a possível relação o ácido butírico, não pode ser evitada n este estu-
entre a qualidade da restauração coronária, a do, independente do m étodo de obturação utili-
qualidade da obturação endodôntica e a saúde zado e que a infiltração do ácido butírico provou
periapical em 1001 dentes tratados endodontica- ser comparável com o azul de metileno.
mente e portadores de restaurações coronárias. Sousa et al.2 56 descreveram através de uma
' j Dentes com e sem pinos foram considerados du- análise comparativa in vitro, a infiltração margi-
1
I rante a análise rad iográfi ca . Os dentes após ava- nal de alguns materiais encontrados no comér-
liação foram categorizados da seguinte maneira : cio, como o Cimpat B®, Cimpat R®, Coltosol®,
BE - boa endodontia (todos os can ais obturados, Restemp® e Zoecim® . Os resultados demonstra -
ausência de lacunas, limite de obturação entre 1 ram que o Cimpat B®, Cimpat R ®, Restemp®,
e 2 mm aquém do ápice radiográfico) ; EP - en- Coltosol®, Zoecim®, não apresenta ram diferença
; dodontia pobre (limite apical de obturação mais significante entre os grupos. Os autores concluí-
do que 2 mm aquém do ápice radiográfico, pre- ram que os cimentos testados não apresentaram
sença de lacuna ou obturação mal dimensionada diferenças estatísticas sendo q ue nenhum pôde
I
ou mal condensada); BR - boa restauração (res- impedir a infiltração marginal.
tauração aparentemente intacta radiografica - Barrieshi et al. 13 analisaram a infiltração bac-
mente); RP - restauração pobre (restaurações teriana coronária por anaeróbios em dentes pre -
com sinais de sobre-contorno, presença de cárie p arados para retentares intrarradiculares. Este
ou margens abertas) . A aparência da região peri- experimento teve com objetivo determinar o
apical loi verificada tom ando-se os seguintes cri- tipo de penetração de cada bactéria e a presença
térios: sucesso - espaço do ligame nto periodontal de bactérias nas paredes dos canais no terço api-
e osso periapical no rmais; insucesso - radiolu- cal. Foram utilizados 40 dentes humanos recém
cência periapical. Os resultados mos tra r am extraídos, preparados endodonticamente à 1 mm
67,4% de sucesso endodôntico . Dentes com pi- do ápice radicular até o instrumento de nº 40. Os
nos intrarradiculares apresentaram um sucesso dentes foram obturados com guta-percha e ci-
de 70, 7%, enq ua nto que aqueles sem pinos mento Roth's® na técnica da condensação lateral,
apresentaram 63,6%. As endodontias boas com- deixando -se 5 mm de remanescente de obtura -
,. _binada s com boas restaurações mostraram 81 % ção apical. Todos os dentes foram montados em
f ·de su cesso; boa endodontia combinada com res- um modelo experimental no qual a coroa dos
tauração pobre mostrou 71 % de sucesso; endo- dentes estava em contato com os microrganis-
) dontia pobre combinada com boa restauração mos e o ápice comunicava -se com um meio de
mostrou 56% de sucesso; endodontia pobre cultura bacteriana, de tal maneira que não hou -
combinada com restauração pobre mostrou 57% ve contato entre os dois ambientes. O selamento
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA
ram incapazes de evitar a infiltração bacteriana, dontista realize o preparo do canal para o reten-
sendo que o cimento AH Plus mostrou o menor tor íntrarradicular e se for o caso cimente o pino. '
percentual (5,3%), enquanto o maior foi encon- Um dos materiais que tem sido bem aceito
trado no Sealer 26 (41,2 % ). O período médio corno restaurador provisório é o ionômero de vi-
para ocorrência de infiltração nos canais radicu - dro (Figura 13.59). Os Esquemas 13.16 e 13.17 /
lares obturados com o Sealer 26 e Endofill foi de exibem restaurações definitivas após a endodon-
54 e 56 dias, resp ectivamente. tia, como finalização do tratamento.
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Mate.dai rest.:mrador/Recons1mctor
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A VUOlJotátJtWY JlÚÂ1t;
Material cJc re5taurnção e
reconstrução
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lonômero de vidro.
OBTURAÇÃO 00 CANAL RADICULAR
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Restauração após o tratamento endodôntico.
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Restauração após o trotamento endodôntico.
CIÊNCIA EN D O DÔNTICA
Endod 1998; 14:497-501. 24. Binnie WH, Mitchell DF. lnduced Calcification in
8. Anthony DR, Gordon TM , Dei Rio CE. The effcct of the subdermal ti.ssues oI the rat. J Dent Res 1973; 1
CARLOS ESTRELA
LOURDES C. AGUILAR DE ESPONDA
• INTRODUCÃO I
Quadro 14.1
ÍNDICES DE SUCESSO (O/o) EM CANAIS RADICULARES COM E SEM LESÃO PERIAPICAL
• FIGS. 14.1 e 14 .2
Periodontite apical assintomática no dente 12 com tratamento endodôntico, caracterizando o msucesso
tratamento.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
J
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
11
Lesão endodôntica e periodontal do dente 46. Tratamento endodôntico, intetVenção oi-úrgica, individualizando as
raízes, colocação de retentares intra-radiculares, e restauração. Reparação teodual com controle de 3 anos (Permissão
do Dr. Vítor Espondo e do Profa. Lourdes C. Agwlar de EspondaJ.
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENOOOÔNTICO
torno de um excesso de material de obturação. pical após um período de 3 anos e foi, portanto,
Espécimes de biópsia de três casos que não exibi- programado para cirurgia. Uma amostra bacterio-
ram sinal de cicatrização periapical foram analisa- lógica tirada da região períapical na operação
dos por método histológico. Dois destes espéci- mostrou crescimento de A ctínomyces odontolyticus,
mes, de dentes que estavam infectados no mo- Streptococcus constellatus, Propionibaderium acnes e
mento da obturação do canal, foram enviados uma espécie de Campylobacter. A microscopia dire-
para análise imunohistoquímica. Como bactérias ta da amostra revelou agregados bacterianos com
das espécies Actinomyces israelii foram isoladas dos filamentos interreticulados. Análise histológica da
canais radiculares no momento da obturação do ponta da raiz revelou que o canal radicular estava
canal, a presença da mesma bactéria foi estudada preenchido com guta-percha e que um dos canais
no tecido cirúrgico. O terceiro espécime foi obtido laterais na ponta da raíz estava obstruído com
de um caso onde nenhuma bactéria foi detectada bactérias. A avaliação do nível apical da obtura-
no momento da obturação do canal. O dente era ção radicular revelou ,que a maioria dos dentes
não vital e cariado com radiolucidez extensa no estavam obturados dentro de 2 mm do ápice. Em
periápice antes do tratamento. Após terapia endo- 1O dentes havia uma ligeira sobreobturação, mas
dôntica houve inicialmente uma leve redução no em cada um destes casos a extensão do excesso
tamanho, mas a lesão não mostrou qualquer sinal de material rto tecido periapical foi menos do
radiográfico de melhora após 3 anos, tal que o que 1 mm. Cinco dos dentes sobreobturados ti-
dente foi submetido a cirurgia apical. O dente per- nham amostras positivas e cinco tinham amos -
maneceu sem sintomas durante todo o período de tras negativas no momento da obturação. A leve
acompanhamento . Os resultados mostraram que sobreobturação pareceu não ter influência no re-
bactérias estavam inicialmente presentes nos ca- sultado, uma vez que todos os 1 O dentes obtura-
nais radiculares de todos os 55 dentes tratados. No dos com excessos foram bem sucedidos. O tama -
final da instrumentação, 22 canais radiculares nho, n o pré-operatório, da lesão periapical apa-
(40 % ) ainda continham bactérias recuperáveis e rente n ão teve influência no resultado do trata-
estas foram identificadas para espécies em nível mento. Estes achados enfatizam a importância de
de 20 de 22 canais radiculares. O número de es- se eliminar completamente ba ctérias do sistema
pécies nos canais radiculares com infecção persis- de canais radiculares ante s da obturação. Este
tente variou de 1 a 6, e 93% destas cepas eram objetivo não pode ser con fiadam ente alcançado
anaeróbias. Na maioria dos casos houve baixo num tratamento de uma visita porque não é pos-
número de células bacterianas na amostra, tal que sível erradicar toda a infecção do canal radicular
em oito casos, bactérias foram detectadas apenas sem o suporte de um curativo antimicrobiano
após crescimento enriquecido no meio da amostra entre sessões.
e em 9 outros casos o número de células bacte- Sundqvist et al. 119 determinaram a microbiota
rianas foi 102 -103 . Apenas três amostras tinham endodôntica posterior ao in sucesso do tratamen-
mais de 104 células bacterianas. Cinqüenta e três to endodôntíco em 54 dentes selecionados para
dentes (96%) puderam ser acompanhados. Qua- retratamento. Todos os dentes apresentavam-se
renta e quatro das lesões cicatrizaram completa- assintomáticos, previamente tratados, e com evi-
mente e em 9 casos, todos sem sintomas, foram dências radiográficas de lesão óssea periapical.
julgados serem falhos. Sete das falhas foram en- Os dente s apresentavam história de tratamento en-
contradas entre os 22 casos dos quais a bactéria dodôntico de 4 a 5 anos atrás; e m alguns casos,
tinha sido i,s olada no momento da obturação do os dentes tinham sido regularmente acompanhados
can al. Assim, a taxa de sucesso para dentes com por 2 anos, e durante esse tempo não houve sinal
amostras positivas do momento da obturação ra- de reparo. Exceto em um caso com obturação de-
dicular foi de 68% . A análise histológica dos casos ficiente, todos os dentes tinham obturações que
falhas revelou que microrganismos filamentosos, apresentavam um padrão radiográfico satisfatório.
os quais coraram positivamente com o anti-soro Cinco dos dentes tinham duas raízes com dois ca-
para A. israelii, estavam presentes no tecido peria- nais; os outros dentes tinh am apenas um canal.
pical. Vinte e nove de 31 dentes com amostras Exam es radiográficos foram tomados para deter-
negativas no momento da obturação radicular ci- minar o comprimento do canal e assegurar que a
catrizaram; uma taxa de sucesso de 94%. Um guta-percha tinha sido totalmente removida. O
caso mostrou nenhum sinal de cicatrização peria- canal foi então instrumentado para que a amostra
.,
• ,1
CIÉNCIA ENDODÔNTICA
pudesse ser coletada a partir das paredes. Uma nificantes. O índice de sucesso para os dentes nos
amostra bacteriológica inicial foi coletada do canal quais E. faecalis foi isolado depois da remoção da
por meio do embebimento no fluido com pontas obturação prévia, foi menor (66 % ) que a média
de papel. Os canais foram deixados vazios para para todo o m aterial. Em am ostras tiradas n o
permitir que qualquer bactéria sobrevivente no momento da obturação, microrganismos foram
canal se multiplicasse e chegasse a um nível de- recuperados em 6 canais. Quatro qas lesões asso-
tectável na próxima consulta. As cavidades foram ciadas com esses dentes n ão repararam, sendo
seladas com cimento de óxido de zinco e eugenol. que 3 desses dentes continham bactérias da espé-
Decorridos 7 dias, amostras bacteriológicas foram cie E. faecalis e o quarto Cc,mal abrigava Actinomyces
coletadas, os canais foram instrumentados com li- israelií. Nos 2 dentes em que houve reparo da le-
mas manuais e irrigação com solução de hipoclo- sã o periapical, cepas de E. faecalis foram isoladas
rito de sódio 0,5 %. Depois da irrigação final, os no momento da obturação. Dos dentes com mi-
canais foram preen chidos com pa sta de hidróxido crorganismos não recuperáveis no momento da
de cálcio e a seguir realizou-se o selamento coro- obturação, 35 de 44 dentes repararam - um índi-
nário. Na terceira consulta, 7 a 14 dias dep ois, o ce de sucesso de 80%. A diferença entre o tama-
curativo foi removido e coletou -se uma amostra nho das lesões que repararam e aquelas que não
pós-medicação. A seguir, os canais foram obtura- repa raram teve uma significância. Dos 50 casos
dos com guta -perch a por meio da técnica da con- que puderam ser acompanhados, a maioria (37 ) 1 •
densação lateral. Em 20 casos hav ia crescimento foi obturado entre O, 5 a 2 mm aquém do ápice
de ambas amostras retiradas na consulta inicial e radiográfico. Outros 9 foram obturados até o nível
na segunda consulta. Em um caso, bactérias (Pep- do ápice, e 4 tinham excesso de obturação com
tostreptococcus micros e Fusobacterium nucleatum), menos de 1 mm (Quadro 14.3).
cresceram a partir da amostra tirada na primeira
consulta, mas n ão nas amostras tiradas na segun- Quadro 14.3
da consulta. Em três casos, microrganismos foram MICRORGANISMOS RECUPERADOS DOS
recuperados a partir da amostra tirada na segunda CANAIS RADICULARES APÓS A REMOÇÃO
consulta, depois qu e o canal havia sido deixado DO MATERIAL OBTURADOR
/
vazio, mas n ão na amostra inicial. Os microrganis-
mos isolados a partir desses três canais foram Espécies Microbianas Número de Casos
Streptococcus intermedius, Streptococcus parasanguis, Enterococcus faecalis 9
Lactobacillus catenaforme, e Candida albicans. Em 19 Streptococcus anginosus 2
casos somente uma espécie estava presente, em Streptococcus constellatus
4 casos dois tipos de espécies estavam presentes Streptococcus inte,medius
(S. intermedius e L. catenaforme, Eubacterium alactoly- Streptococcus mitis
Streptococcus parasanguis 1
ticum e Propionibacterium acnes, P micros e Streptococ- Peptostreptococcus micros 2
cus mitis, P micros e F nucleatum), e em um caso Actinomyces israelii 3
havia uma infecção polim icrobiana que consistia Pseudoram1bacter alactolyticus
de 4 espécies (Streptococcus anginosus, Eubacterium Eubacterium timidum
timidum, Propionibacterium propionicum, e Bacteroi- Lactobaol/us cotenoforme
Propionibacterium acnes
des gracillis) . Em todos os 9 casos em que Enterococ- Propionibacterium propionicum 1
cus faecalis foi isolado, este foi o único microrganis- Fusobocterium nucleotum 1
mo presente no can al. Cinqüenta dos 54 casos Bacteroides graci/is 3
tratados (9 3 % ) estavam disponíveis para retorno. Candido a/bicans 2
1rinta e sete das lesões foram completamente re- (Su ndqvist et al. ' 19, 1998)
paradas e 13 casos foram tidos como insucessos -
um índice de sucesso de 74% . Dezoito dos 24 • Nair et al. 35 estudaram as respostas teciduais
dentes (75 %) dos quais bactérias foram isoladas ao colesterol e observaram se os cristais de coles-
após a remoção da obturação, repararam comple- terol podem induzir e sustentar uma reação teci-
tamente, e 19 dos 26 dentes dos quais não havia dual granulomatosa. Para tanto, valeram-se de 24
microrganismos cultiváveis, repararam - um índi- tubos implantados em 6 porcos da Índia. Jrês dos
ce de sucesso de 73 %. A diferença entre os resul- 4 tubos, foram preenchidos previamente por cris-
tados dos 2 grupos não foram estatisticamente sig- tais de colesterol misturados a solução salina e o
DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO
quarto tubo foi deixado va zio. Dois animais foram três bactérias foram capazes de invadir a dentina e
sacrificados a cada 2, 4 e 32 semanas, respectiva- se unir para imobilizar o colágeno . O soro huma-
mente. As condições histológicas dos grupos con- n o inibiu a invasão dentinária e a adesão do colá-
trole variaram de acordo com o tempo estudado. geno pelo S. gordonii e S. mutans, enquanto a inva-
Duas semanas após o implante, observou-se teci- são dentinária por E. faecalis foi reduzida na pre-
do conjuntivo rico em fibroblastos na região ex- sença de soro, mas não inibida, e a união ao colá -
terna, com crescimento· através das entradas dos geno foi intensificada. O fator de virulência do E.
tubos e uma cavidade central. O último grupo faecalis no fracasso de dentes tratados endodonti-
continha vasto número de eritrócitos e células camente pode estar relacionado à habilidade das
necróticas. Após 4 semanas, os t ubos foram com- células do E. faecalis manterem a capacidade para
pletamente preenchidos com tecido conjuntivo e invadir os túbulos dentinários e aderir ao coláge-
as estruturas contidas assemelhavam-se aos do no na presença de soro humano.
grupo de 32 semanas. Os cristais de colesterol, em
forma de cogumelo, apresentaram resposta teci- Quadro 14.4
dual granulomatosa bem circunscrita. Após duas CAUSAS RESPONSÁVEIS PELOS
semanas de observaçã o, fendas rombóides apare- FRACASSOS ENDODÔNTICOS
ceram no lúmem dos tubos cercadas periferica- Causas de Origem Microbiana
mente por tecido conjuntivo em crescimento . O
tamanho das fissuras pareciam estar "nuas" no 1. Fator Intra-radicular
interior da cavidade central. Após 4 e 32 semanas, Bactérias
as fendas formaram unidades bem circunscritas Fungos
2. Fator Extra-radicular
completamente cercadas por tecido conjuntivo
Actínomicose
delicado, com aparência saudável. Fibras coláge-
nas em alguns casos dirigiam-se às fendas. As fis- Causas de Origem Não Microbiana
/1 suras foram cercadas por numerosas células, que
faecalis em um meio de alto pH, CCCP foi usado sentes nas infecções secundárias, destaca-se a ele-
para fechar essa bomba. Os res ultados mostrarnm vada prevalência do Enterococcus faecalis e sua re-
que o fu ncionamento da bomba de prótons, que sistência ao tratamento com hidróxido de cálcio.
governa a entrada de próton s na célula para acidi-
ficar o citoplasma, é crítica para a sobrevivência do CONTROLE DE QUALIDADE DO
E. faecalis em meios altamente alcalinos. Presumi- TRATAMENTO ENDODÔNTICO
velmente, quando a alcalinidade do meio alcança
um pH igual ou superior a 11,5 esse mecanismo O estabelecimento de um padrão para o con -
salva -vidas é sufocado. Esse estudo confirmou que trole de q ualidade do tratamento endodôntico é
o E. faecalis é resistente à morte por hid róxido de importante ao se determinar o sucesso endodônti -
cálcio em pH igual ou inferio r a 11, 1. Uma resposta co. As condutas clínicas devem ser mo nitoradas
adaptativa ao pH alcalino e a síntese de proteínas por protocolos bem definidos, sedimentados por
induzidas por stress parecem ter um papel men or pesquisas bem estruturadas.
na sobrevivência celular, enquanto que o funcio- Um fator relevante a ser considerado, relacio-
namento da bom ba de prótons, que tem a capaci - na-se à seleção de casos. O diagnóstico clínico do
dade de acidificar o citoplasma, mostrou-se crítico à insucesso do tratamento endodôntico realizado
sobrevivência dessas bactérias em meios de elevado pela anamnese, exame clínico e radiográfico , de-
pH. O E. faecalis é eficientemente eliminado pelo termina condições que indicam as opções de tra-
hipoclorito de sódio. Esses achados contribuem tamento. Posterior à constatação do insucesso, o
para esclarecer o entendim ento sobre a resposta do retratamento representa a primeira opção para
E. faecalis a esses agentes antimicrobianos, auxilian- solucionar o problema.
do no signiiicativo processo de erradicação dessa Todavia, deve- se estabelecer parâmetros ao
bactéria de canais radiculares infectados durante o indicar o novo tratamento, dentro de apurada se-
moderno tratamento endodôntico. A sobrevivência leção de casos, evitando-se desta forma, o insuces-
do E. faecalis no hidróxido de cálcio parece não so do retratamento 3 5•36•61·63.
estar relacionada à síntese protéica, mas o funcio- Nas situações clínicas de dentes em que p er-
n amento da bomba de prótons é crítico para a so- dure a dúvida quanto ao sucesso, a opção poderá /
brevivência do E. faecalis em alto pH. recair em seu retratamento. Contudo, o provável
Frente a todos os aspectos analisados, baseado desafio frente a o novo tratamento endodôntico
em todas evidências cie ntíficas mostradas pela li- recai nas dificuldades e complicações inerentes à
teratura1 -140, u m dos asp ectos críticos e majoritá- desobstrução ou desobturação d o canal radicular.
rios a favor do fraca sso endodôntico é a presença O gra u de dificuldade depende do material
de microrganismos. Deve-se considerar também a presente (cimentos, pastas, pinos in trarradicula-
importância de se estabelecer um d etivo protoco- res), da anatomia da cavidade pulpar (anoma lias
lo de controle mi crobian o expressivo para cada de desen volvimento, dilacerações, calcificações,
tipo de infecção endodôntica. Assim, como apre - reabsorções, canal extra) e de iatrogeni as (de -
sentado por Nair 82 , a associação de fatores decor- graus, perfurações, instrumentos fraturados)_ Ali-
rentes dos agentes de virulência microbiana (enzi- a do aos aspectos dentários deve-se analisar o esta-
mas, toxinas, produtos m etabólicos, etc.), reações do de p atologias presentes (local) e o estado sistê-
tipo corpo estranho a materiais odontológicos e mico de saúde do paciente (geral). A vivência, o
agentes endógenos (cristais de colesterol, cisto) bom senso e a habilidade profissional, constituem
constituem as principais ca usas responsáveis pelos outros aspectos a serem considerados.
fracasso endodônticos. Pode-se verificar também Frente à necessidade de nova restauração co-
que é essencial ao su cesso nas infecções endodôn- ronária com presença de retent or intrarradicular,
ticas, o adequado processo de sanificação (esvazia - o retratamento endodôntico deve ser con siderado,
m ento e alargamento do ca nal radicular), o em- pois o insucesso pode ocorrer posterior à restaura-
prego de substâncias antimicrobiana s eficazes ção. Um sucesso aparente do tratamento é passí-
como o hipoclorito de sódio e o hidróxido de cál- vel de fraca ssar a qualquer moment o.
cio24-23_ Destaca-se também a necessidade de se A qualidade do tratamento end odôntico foi
estabelecer um tempo de atuação maior para que analisada en1 vários estudos1 0.1s.16,20.22.24,3l .33-37.39.41 -
o hidróxido de cálcio exerça suas funções com 44, 51,61 -63,71, 72, 75, 77, 78,81-87, 90, 92. 93, 91\, 99, l O 1- 108.110 -J13.115-
maior efetividade. Entre os m icrorganismos pre- 119,124,125.121,132,131-131,140. um aspecto que é considera-
DIAGNÓSTICO 00 INSUCESSO ENDODÔNTICO
do determinante ao sucesso endodôntico relacio- jun tos perfazem 55,6% . No Quadro 14.6, procu-
na-se ao perfeito selamento coronário9 ' · 129• 1' 2 • A rou-se avaliar as obturações endodônticas de den-
condição clínica do selamento coronário e a quali- tes portadores de retentores intrarradiculares que
dade dos retentores intrarradiculares também de- apresentavam lesões periapicais discerníveis radi-
vem ser bem verificados. ograficamente. No to tal de dent es avaliados,
Neste sentido, Lopes et al.68 analisaram radio- 59,4% (297) não apresentaram lesão p eriapical, e
graiicamente em retentores intrarradiculares, o 40,6% (203 ) apresentaram. Dos 203(40,6 % ) tra-
comprimento do pino e a condição da obturação tamentos com lesão periapícaL as obturações em
do canal radicular. Foram examinados 365 radio- 42 (8,4%) casos eram aparentem ente normais,
grafias em um a seleção de 500 dentes, que preen- em 125 (25'Yo), incorretas e em 36 (7,2 %) esta-
cheram as condições: 1. Unirradicular e portador vam ausentes. No Qu adro 14.7 v erifica -se os
de um único canal; 2. Presença de retentor fundi- comprimentos dos pinos. No total dos casos, os
do intra-canal; 3. Para o maxilar superior foram pinos foram considerados curtos em 58,4% (292) ,
escolhidos os incisivos e caninos e, para a mandí- médios em 22, 2% (111) e longos em apenas
bula, os incisivos, caninos e pré-molares. No Qua- 19,4% (97) . Os resultados obtidos de aco rdo com
dro 14.5 observa-se a presença de retentores in- as condições em que se realizou esta avaliação,
trarradiculares em relação aos dentes examinados. p ermitiram concluir que: 1. 80,6% dos casos, os
A predominância ocorreu no m axilar superior, comprimentos dos pinos eram incompatíveis com
cujo percentual atingiu 77%. Outro da do que o princípio de retenção dos retent ares íntrarradi-
deve ser ressaltado é que os dentes com maiores culares; 2. 50,4% dos casos, os retentores foram
incidências de retentares são os incisivos centrais confeccionados sem levar em consideração a con-
(29,4%) e os laterais superiores (26,2°,,·h ), que dição da obturação do ca nal radicular.
Quadro 14.5
DISTRIBUIÇÃO DE RETENTORES INTRA-RAD ICULARES EM R ELAÇÃO AO DENTE EXAMINADO
MAXILAR DENTE
Quadro 14.6
'1 AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA DA OBTURAÇÃO ENDODÔNTICA DE DENTES
PORTADORES DE RETENTORES INTRA-RADICULARES
PERIÁPICE OBTURAÇÃO
Quadro 14.7
COMPRIMENTO DO PI NO; CONDIÇÃO DA OBTURAÇÃO DO CANAL RAD ICULAR
OBTURAÇÃO COMPRIMENTO DO PINO
r
{
Curto Médio Longo Tota l
Alguns fatores merecem ser considerados no patológica atual, a condição periodontal , a condi-
que respeita ao favorecime nto da prevalência de ção oclusal, acidentes operatórios (perda do com-
sucesso frente ao retratament o. Merece destaque primento de trabalho - degrau; perfuração; fratu-
a verificação de diferentes aspectos: a anatomia ra de instrumento), estado geral de saúde do indi-
interna, a efetividade do processo de sanificação, víduo e capacidade e habilidade do profissional.
o limite e qualidade da modelagem e obturação O Quadro 14.8 relaciona vários fatores ope-
do canal, a efetividade do selamento coronário, a ratórios que podem interferir no sucesso ou fra-
condição pulpar anterior à endodontia , a condição casso endodôntic o.
Quadro 14.8
FATORES. OPERATÓR IOS QUE PODEM INTERFERIR NO
SUCESSO OU FRACASSO ENDODÔNT ICO
Dificuldades Anatômicas
- Canal calcificado
- Canal dilacerado
- Dente fora da posição
92
A ASSOCIAÇÃO A M ERICANA DE ENDODONT1A Os Esquemas 14.1 a 14.18 apresentam os
descreveu algumas normas para a garantia da aspectos clínicos freq ü entemente e n volvidos
qualidade do tratamento endodôntico, como com o fracasso endodôntico. As Figuras 14.29 a
adaptado nos Quadros 14.9 a 14.11. 14.56 exibem aspectos radiográficos de fracassos
endodônticos.
Quadro 14.10
CRITÉRIOS RADIOGRÁFICOS
Radiograficamente Aceitável
1. Espaço do ligamento periodontal normal a
Quadro 14.9 ligeiramente espesso (< 1 mm)
CRITÉRIOS CLÍNICOS 2. Desaparecimento de área radiotransparente anterior
3. Lâmina dura normal em relação aos dentes
Clinicamente Aceitável adiacentes
1. Nenhuma sensibilidade à percussão ou palpação 4. Ausência de reabsorção
2. Mobilidade normal 5. Obturação tridimensional densa do espaço visível
3. Ausência de fístula ou doença periodontal do canal dentro dos limites do espaço do canal atê
associada aproximadamente 1 mm aquém do ápice
4. Dente em função radiográfico
5. Ausência de sinais de infeçào ou edema
6. Nenhu ma evidência de desconforto subietivo Radiograficamente Questionável
1. Espaço do ligamento periodonta l aumentado
Clinicamente Questionável (< 2 m m)
1. Sintomas vagos esporádicos 2. Área radiotransparente de extensão semelhante ou
2. Sensaçào de pressão ligeira evidência de reparo
3. Baixo grau de desconforto após percussão, 3. Lâmina dura com espessura irregular em relação
palpação ou mastigação aos de ntes ad jacentes
4. Desconforto quando a pressão é aplicada pela 4 . Espaço na densidade da o bturação
língua 5. Extensão do material obturador alé m do ápice
5. Sinusite superposta à região do de nte tratado anatôm ico
6. Necessidade ocasioné!I de analgésicos para a liviar o
mínimo desconforto Radiograficamente Inaceitável
1. Espaço do ligamento periodontal aumentado
Clinicamente Inaceitável (> 2mm)
1. Sintomas persistentes 2. Ausência de reparo ósseo em uma rarefação
2. Fístu la o u edema recorrente periapica l, ou a umento da área rad iotransparente
3. Desconforto previsível com percussão ou palpação 3. Ausência de forma ção de nova lâmina d ura
4. Evidência de fratura irreparável do dente 4. Presença de radiotransparências ósseas em áreas
5. Mobilidade excessiva ou destruição periodontal periapicais onde anteriormente não existiam,
progressiva incluindo radiotransparências laterais
6. Impossibi lidade de mastigar com o dente 5. Espaço do canal visível e patente, que não foi
obturado ou apresenta vazios significativos na
(Adaptado das normas p ara garantia de qualidade obturação
da American Association of Endodontics, 199492 ) . 6. Extravasa me nto excessivo do material obturador,
com espaços visíveis no terço apical do canal
7. Evidência clara de reabsorção progressiva
)
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA
Quadro 14.11
CRITÉRIOS HISTOLÓGICOS
Histologicamente Aceitável
1. Ausência de inflamação
2. Regeneração das fibras periodontais adjacentes ao cemento saudável ou inseridas nele Cfibras de Sharpey)
3. Formação ou reparo do cemento com novo cemento na direção do forame apical ou através dele (raro)
4. Reparo ósseo evidente juntamente com osteoblastos saudáveis circundando o osso recém-formado
5. Ausência de reabsorção dentária; áreas que apresentavam reabsorção anteriormente demonstram formação de
cemento
Histologicamente Questionável
1. Presença de inflamação moderada
2. Áreas de cemento sofrendo reabsorção e reparo concomitantes
3. Ausência de organização das fibras periodontais
4. Reparo ósseo mínimo, com evidência de atividade osteoclástica
Histologicamente Inaceitável
1. Presença de inflamação intensa
2. Ausência de reparo com reabsorção concomitante do osso circun jacente
3. Reabsorção ativa do cemento sem evidência de reparo 1 .
(Adaptado das normas para garantia de qualidade da American Association of Endodontics, 199492) .
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DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNT!CO
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CIÊNCIA EN DODÔNTICA
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DIAGNÓSTICO DO INSUCESSO ENDODÔNTICO
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
I
DIAGNÓSTICO 00 INSUCESSO ENDODÓNTICO
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j
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f.
5. Baumgartner J C, Falkler WA. Bacteria in the apical dontic su rgical retreatment - a clinica! and hiscopato-
5 mm of infe cted root canais . J En dod 199 1; logic study. J Endod 1979; 3:1 0 1- 15.
) 17 :380 -83 . 11. Block RM, Pascon EA, Langeland K. Paste teclmi-
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Pathol 1996; 22:780-801. M ed O Pathol 1985; 6 0: 76 -93 .
TRATAMENTO DO
INSUCESSO
ENDODÔNTICO
' ;!
CARLOS ESTRELA
JOÃO CARLOS GABRIELLI BIFFI
RODRIGO FERREIRA DIRCEU
' 1
• INTRODUCÃO I
Outrossim, deve-se realçar as características cha; cimento e cone de prata, etc. De outra par-
clínicas e radiográficas do sucesso endodôntico. te, pode-se considerar, também, os fatores relati-
Os aspectos fundamentais que se relacionam ao vos ao paciente, como as características das doen-
sucesso endodôntico, podem ser sintetizados em: ças sistêmicas.
1. silêncio clínico (ausência de dor, edema, fístu- Observa-se que a maioria dos dentes indica-
la); 2. estrutura óssea p eriapical normal (unifor- dos para o retratamento endodôntico apresen-
midade da lâmina dura, espaço periodontal nor- tam-se restaurados. A presença de coroa e re-
mal, ausência ou redução de rarefação óssea, tentor intrarradicular obstrui e dificulta o acesso
ausência ou interrupção de reabsorção radicu- coronário. Para o retratamento, torna-se neces-
lar); 3. dente em função e presença de selamento sário, primeiramente, um novo acesso aos ca-
coronário perfeito . As Figuras 15.1 a 15 .8 apre- nais rad iculares, promovido pelo esvaziamento,
sentam um caso clínico de· periodontile apical que compreende a desobstrução e/ ou a desob-
assin tomática com expressiva destruição óssea turação.
periapical, que posterior ao tratamento endo- As restaurações coronárias em dentes trata -
dôntico, com utilizaçzío de hidróxido de cálcio dos endodonticamente podem ser de amálgama,
como medicação intra canal, apresentou sucesso resina composta, restauração metálica fundida,
clínico e radiográfico, posterior a 20 meses do coroa metálica ou de porcelana (com ou sem re-
início do tratamento. tentor intrarradicular), ou outro tipo de prótese .
Um aspecto que de ve r ecebe r atenção redo - As restaurações extensas, coroas e próteses fixas,
brada vincula-se à imperiosa seleção de casos. podem cobrir totalmente a coroa dentária, o que
Os cuidados inerentes a o paciente e ao caso clí- aumentam as possibilidades de acidentes durante
nico em questão, o bom senso, a intuição, a o preparo do coronário para o acesso 51, t t 9, 120 .
vivência e a habilidade profissional são caracte- Todo cuidado é pouco durante as manobras para
rísticas do profissional que devem sempre ser a obtenção de um novo acesso endodôntico,
valorizadas. pois, durante os esforços para remoção de uma
O retratamento endodô ntico, ao ser indica- restauração, de um retentor intrarradicular, sem-
do, deve ser submetido a urna apurada avaliação pre existe certo risco de perfuração do den- /
de riscos e benefícios. Deve -se realizar u m estu- te119,12º. Cuidado especial deve ser tomado toda
do do caso clínico, de ta l sorte que permita bom vez que um dente estiver fora da sua posição
planejamento das ações a serem executadas, ca- habitual.
pazes de se definir as opções terapêuticas mais Certamente, a anatomia do dente é melhor
oportunas, as quais certamente, podem evitar si- visualizada sem a presença da coroa. O preparo
tuações constrangedora s e desagradáveis. da cavidade endodôntica e a remoção da dentina
Os fatores responsáveis pelos insucessos en- cariada devem ser, preferencialmente, realizada
dodônticos e as possíveis a lterna tivas de trata- em dentes sem a coroa protética. O dente pode
mento tem sido bastante discutidos 1· 142 . estar com giroversão e o preparo da cavidade de
Destacam-se, entre os fatores locais que pos- acesso através da coroa pode ser complicada e
sibilitam viabilizar um p rognóstico duvidoso (ou conduzir a e rros, como desvio ou perfura-
que constituem impedimento à correta ação da ção53,ll9,1 20.
técnica endodôntica), os seguintes: 1- fatores É com um a necessidade do retratamento en-
anatomopatológicas (modificações da anatomia dodôntico em dentes portadores de pinos intrar-
interna; dilacerações excessivas; calcificações da radiculares. Sua remoção pode apresentar gran-
cavidade pulpar); 2- fatores decorrentes de aci- des dificuldades, como risco de fraturas dentárias
dentes endodônticos (perda do comprimento de ou perfurações radiculares, principalmente
trabalho - degrau; perfuração radicular; fratura quando existe pouca quantidade de estrutura
de instrumento endodôntico) ; 3- Insucessos en- dentária remanescente. Entretanto, com os re-
dodônticos (presença de pinos extensos; obtura - centes avanços técnicos e de equipamentos, têm
ções somente com cimentos; cimento e guta-per- minimizado essas seqüelas.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENDODÓNTKO
ções pode-se encontrar cimento à base de óxido n a dos com pequenos movimentos de rotação, ~····-;
de zinco e eugenol, cimento fosfa to de zinco, e valendo-se de lim as tipo Hedstróern, posterior ao ' .
até m esmo resinas autopolimerizáves. Deve-se emprego do trépano, ou das limas tipo K-flex,
estar aten to, pois os mais variados materiais já que abrira m a prim eira via de passagem. Nova -
foram encontrados obstruindo o canal radicular. mente, goteja -se algumas go tas de solvente na
Os cimentos normal mente são de consistência câmara plllpar e, com limas tipo K-flex (nº 15,
dura e requerem o emprego de solvente na ten- 20, 25), procura -se ven cer o material com
tativa de auxílio à degradação e solubilização. pressão apical e movimentos de cateterismo. Pos-
Este material oferece maiores dificuldades em te rior ao esp aço criado por essas limas, pode -se
sua remoção . Como recursos auxiliares para a te ntar a r emoção com auxílio das lima s tipo
remoção de cimento do interior d o canal radicu- Hedstroem (nº 20, 25 ou 30 ). Na região apical,
lar, pode-se valer inicialmente dos instrumentos principalmente nos 3 mm finais de obturação,
rotatórios, como brocas LN, limas modificadas deve-se evitar o emprego do solvente com o ob-
(trépanos/perfuratriz), ou brocas carbidc longas jetivo de se prevenir o possível extravasamento
para contra-ângulo. A utilização desses recursos do material obturador. A guta-percha extruída
impõe um acompanhamento radiográfico, passo para a região periapica l pode atuar como um
a passo, devido ao grande risco de perfuração. potencial irritante.
Outro recurso auxiliar é o emp rego do u ltra - Para os canais radiculares curvos, redobram-
som, como manobra isolada ou associada aos re- se os cuidados, uma vez q ue aumentam-se a s
cursos descritos. Nem todos casos preenchidos ch ances de criação de degra u s, p erfurações,
com cimentos são bem sucedidos em sua com- transportes foram inai s, fraturas de instrumentos. i
pleta remoção24 . Cuida do especial deve ser tomado com as
limas tipo Hcdstroem, pois podem travar nas pa-
Esvaziamento do canal com redes dos canais e fraturar. Nos casos de sobre -
guta-percha obturação, a guta-perch a é removida, como cita-
do anteriormente até 2 a 3 mm aquém do ápice.
O diagnóstico inicial reveste -se de significati- Tenta -se remover o remanescente de guta-per- /
va importância qua ndo se necessita remover cha, que é preserva do sólido, ou seja, sem rece-
guta-percha do canal. A avaliação clínica e radio- ber a influência do solvente, por meio de uma
gráfica da qualidade da obturação presente nos lima Hedstroem, após o emprego da lima K-flex.
três terços da raiz, e do limite apical de preenchi- Vencido o obstáculo uma lima tipo K-flex é leva-
mento do ma te rial obturador presente é essen- da até 0,5 a 1,0 mm além do ápice. Com um giro
cia l. controlado no sentido horário, tenta -se prender
A maioria dos casos mostra obturações con - firmemente na guta-percha, sendo lentamen te
densadas nos terços cervical e médio, com fa- removida. Deve-se tomar o cuidado com a sobre-
lhas no terço apical, com falta de preenchimen- obturação de cimento endodôntico, pois, nos ca-
t o adequado . Após os procedimentos normais sos de retratamentos, o batente apical não apre-
p ara a abertura coronária, emprega-se as b rocas senta-se definido 24 .
Gates-Glidden (alargadores cervicais), esp e cial-
mente n os terços cervical e início do terço mé - Esvaziamento do canal com
dio, o que reduz o volume de material obtu ra - cones de prata
dor. A seguir, utiliza-se um solvente, no espaço
relativo ao terço cervical (como o Xilol, Eucaliptol O acesso ao canal radicular em dente obtu-
ou óleo de laranjeira) e, com movimentos de rado com cones de prata, impõe uma necessida-
cateterismo, com limas tipo K-flex, pressiona-se de prévia de se remover a resta u ração e o m ate-
contra o reman escente de obturação, que está rial obturador presente na câmara coronária.
sob influência do solvente. Inicialmente, po de- Deve-se tomar cuidado para qu e as brocas não
se trabalhar com um trépano sob a ma ssa obtu- danifiquem os cones de prata. Posterior à remo -
radora presente, pois permite uma atuação com ção do selam ento coronário cm torno do cone
certa pressão. de prata, qu e urge ser cui dad oso, deve-se verifi -
Os cones de guta-percha oriundos de canais car se o mesmo está solto ou cimentado firme-
radiculares mal condensados podem ser tracio- mente no interior d o canal. Urna b oa sondagem
TRATAMENTO 00 INSUC!:SSO ENDODÔNTICO
com explorador endodôntico representa a me- sado para permitir a remoção durante o preparo
dida inicial. Se não estiver muito firme, o cone do canal ou o términ o do tratamento sem a sua
de prata deve ser apreendido, utilizando-se de remoção. A ultrapassagem do instrumento fratu -
pinça especial de ponta fina, e tracionado em rado pode ser feita utilizando limas tipo K-flex,
sentido coronário. Caso o cone de prata esteja trépanos ou vibração ultra -sônica . Quando o ca-
cimentado e bem retido no interior do canal, nal estiver preenchido por cone de prata, os cui-
deve-se utilizar o ultra -som para favorecer a dados podem seguir os mesmos indicados para os
desintegra ção do cimento, quando presente, a instrumentos fraturados. Utiliza-se um instru-
fim de facilitar sua retirada. Mesmo assim, após mento de pequeno calibre para ab rir espaço en-
o emprego do ultra -som, deve-se tentar ultra- tre as paredes do canal e o obj eto sólido, tentan-
passar o cone de prata com um instrumento de do ultrapassar o fragmento fraturado. Nos casos
ca libre fino, para que, a seguir realize seu tracio- de cones de prata cimentados, tenta-se desestru-
n amento. Todos os cuidados devem ser tomados turar o cimento com o ultra-som. Sempre pré-
para que o cone de prata não frature no interior curvar os instrumentos na curvaturas. À medida
do canal, o qu e complica mais ainda o caso dí- que se penetra no in terior do canal, abundante
nico24. irrigação-aspfração deve ser realizada e procede -
sc o acompanhamento do traje to do instrumento
Esvaziamento do canal com guia por meio de radiografias, com o objetivo de
instrumentos fraturados verificar possíveis desvios da luz do canal. Uma
vez ultrapassado o obj eto ou ao aproximar do
A fratura de instrumento endodôntico é um término do canal, radiografa-se novamente para
acidente que pode ser obstáculo ao prossegui- estabelecer a odontometria. Com o prossegui-
mento do tratamento, ou mesmo, colocar em ris- m ento do preparo do canal, a partir da lima de
co o sucesso. Os p rincípios que regulamentam o nQ 25, tipo K-flex, p ode-se tentar empregar as
;r correto processo de sanificação e modelagem dos limas tipo Hedstroem para auxiliar na remoção
:Cana is radiculares devem ser rigorosamente se- do fragmento da lima. Este consiste no primeiro
·. guidos, a fim de se evitar esse acidente. recurso para se tentar vencer esse difícil obstácu -
As causas mais comuns de fratura de instru - lo, uma vez que as outras opções foram apresen-
mentos constitu em n o seu manuseio inco rreto; tadas.
força desnecessária nas curvaturas e obstáculos; Outro dispositivo descrito pela literatura é o
; intervir sob premência do tempo; utilização de kit de Masserann. Consiste de um aparelho esca-
instrumento endodôntico fora da seqüência de vador que é aplicado e fechado ao redor do obje-
aum ento de calib re; ausência de inspeção a nte - to . Uma série de brocas cortantes são usadas n o
1
rior e posterior ao uso; emprego excessivo; acesso sentido anti-horário para promover o acesso ao
inade quado; e fa lha n a fabricação do instrumen- objeto. Corno as brocas são grandes e rígidas,
to B.1 ; ,21,31 -39, 53. 11s -1 20 . essa técn ica é restrita a raízes reta s e amplas. O
Con sidera-se, frente à presença de um ins - seu uso tem que ser controlado p or radiografias
trumento fraturado no interior do canal radicu - freqüentes. Essa técnica res ulta em sacrifício
lar, as possíveis op ções terapêuticas para solucio- considerável de dentina radicu lar e enfraquecj-
nar o p robl em a de acesso: a primeira tentati:va é mento do dente, além do risco de t rep an ação ser
de ultrapassar o instrumento fraturado e remo- muito alto15.34-31_
vê-lo; a segunda é de ultrapassá-lo e englobá-lo Se o objetivo al vo, a remoção do fragm ento
ao m aterial obtu rador; a terceira é de obturar até de lima presente n o canal, não for alcan çado
o instrum ento; e a qu arta é de optar por um a com nenhum dos métodos descritos anterior-
cirurgia parendodôntica, para solu cionar proble- mente, deve -se optar pela cirurgia parendodônti-
ma. Um fator importante duran te as tomadas de ca , como complemento do tratam ento.
.~ decisões, refere-se ao estado pré-opera tório da Os Esquemas de 15.1 a 15 .13 demonstram
t polpa dentária . uma seqüência de retra tam en to endodôntico,
Assim, um in strum ento m etálico que não com esvaziamento do canal pree n chido com co-
" possa ser fixado ou tracionado, deve ser ultrapas- n es de gu ta-percha e cimento .
CIÊNCIA EN DODÔNTICA
• ...E.~QlJ.Eh1A __
1S!t . ···--· .. . _
Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.
• ESQ~~M~ 1!>.2
Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.
• E!KlUEMA 15.3
---------·~··"-·-~~-------,.--.-.-..... .. .. .
Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.
TRATAMENTO DO INSUCE SSO ENDODÔN TI CO
• ESQUEMA iS.'-i .
Retromento endodôntico.
Esvaziamento do canal.
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1
i
• ESQUIEf\U. i5.S
Retromento endodôntico.
Obturação do canal.
• 1
• ESQUEMA 15.6
Retramento endodôntico.
Obturação do canal.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
• ~SQ~E.fllA .. 1~~7
Retramento endodôntico.
Esvaziamento do canal.
1 '
• ESQUEMA 15.S
Retramento endodôntico.
Esvaziamento do canal.
• - f;~QlJEfyit\JS.9
Retramento endodôntico,
Esvaziamento do canal.
TRATAMENTO DO IN SUCESSO ENDODÔNTICO
Retramento endodônrico.
Obturação do canal.
• ESQt.MI.tefMt ·ss.n
Retramento endodôntico.
Obturação do canal.
• 1
• ESQUEMA 15.1l
Retramento endodôntico.
Obturação do canal.
,,i
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
- - - - - - - - -- - - - - - - · - · - - - - - - · - - - --·-·-·-------·--------------·-······-··-·-··- ··-··-··-
• ESQUEMA 15.13
Retramento endodôntico.
Obturação do canal e restaura-
ção do dente.
11
Esquemas 15.15 e _15.16
SEQÜÊNCIA TÉCNICA DE UTILIZAÇÃO DO ULTRA-SOM
Esquema 15
1. Esquema simulando uma raiz com contenção intrarradicular;
2. Inicialmente, com brocas apropriadas desgasta-se o núcleo, ou seja, a porção da contenção e m nível coronário, com
a finalidade de remover o apoio deste na de ntina (seta), deixa ndo-o com o mesmo diâmetro do pino em nível
cervical;
3. Aspecto do núcleo após o desgaste. Nesse momento, passa-se a utilização do ultra-som;
4. Posições recomendadas para a ação do ultra-som: e m nível da lin ha de cimentação lateral e superior. O tempo de
ação do ultra-som deve ser limitado a um minuto por posição;
5. Tracionamento do pino com pinça hemostática ou alicate; no caso de pino pré-fabricado pode-se também tentar a
giroversão no sentido anti-horário.
Observação: Caso o pino não tenha sido removido até o momento, procede-se de maneira descrita no Esquema ·
seguinte.
Esquema 16
6. Com uma broca carbide 112, ou similar de pescoço longo procede-se o desgaste do pino, a brindo-se uma canaleta
no centro deste, evitando-se com isso o desgaste da dentina;
7. O espaço obtido pela broca servirá de apoio para a ponta do ultra-som, permitindo uma vibração m ais próxima da
linha de cimentação;
8. Devido a canaleta é possível por meio de uma sonda pontiaguda o deslocamento lateral de parte do pino, criando-
;, se um espaço entre o pino e a parede do canal;
t 9. Espaço obtido pelo deslocamento do pino;
10. Aplicação do ultra-som no espaço lateral obtido pelo deslocamento do pino.
J' Observação: Caso o pino não seja removido somente com a vibração ultra-sônica deve-se alternar a utilização da
broca com a vibração ultra-sônica e !racionamento.
CIÊN C IA EN D ODÔNTICA
A grande vantagem da técnica sugerida é a preservação do tecido dentinário nas paredes do canal,
durante os procedimentos cl ínicos.
• ESQU~MA 15.14
Retentor introrradicular.
• .. ESQ~EMA 15.15
Remoção de retentor intrarradi-
cular com ultra-som.
/
• .,
léSQUfMA
,. .-· - .
--··
15. •16.
Remoção de retentor introrradi-
cular com ultra-som.
TRATAMENTO DO INSUCESSO ENOODÔNTICO
Remoção com aparelho acionado preparadas nos três sentidos (mésio, orto e disto-
por mola radial), uma análise da inclinação do dente no
arco, um apurado controle de direção da broca, e
A remoção de retentares intrarradiculares boa refrigeração. A relação entre o diâmetro do
com sistema acionado por mola, baseia-se no canal e do pino, o comprimento do pino, o tama-
emprego de uma força mecânica de tração. Para nho da broca, são pon tos que devem ser bem
sua utilização, a remoção prévia da coroa protéti- analisados. A broca deve apresentar diâmetro in-
ca, assim como as manobras clínicas na superfí- ferior ao volume do pino in trarradicular, sendo
cie do pino metálico com vistas a facilitar o en - qu e, no momen to de sua ação deve estar direcio-
caixe da parte ativa do aparelho, se fazem neces- nada para o centro do pino. O desgaste deve ser
sárias. Confecciona-se pequenas canaletas hori- controlado e lento, devendo-se tomar muito cui-
zontais com cerca de 1 mm de profundidade, nas dado para se evitar desgaste desnecessário na
faces livres da porção coronária do pino metáli- dentina radicular. À medida que se aprofunda
co, por meio de brocas esféricas carbide, de diâ - em sentido apical, milímetro a milímetro, obser-
metro compatível com o volume coronário do va-se o sentido do desgaste. Torna-se fundamen-
pino, a ponto de permitir a adaptação e o ajuste tal o acompanhamento radiográfico, n o in tu ito
da referida ponta extratora. Este equipamento de possibilitar um controle do desgaste quanto à
consiste de uma haste com mola no seu interior; sua direção 135 .
na porção superior h á uma pequena mesa na Este m étodo por desgaste tem sido emprega-
qual a ponta extratora específica será rosqueada; do nos casos de pinos metálicos rosqueados, pi-
junto ao corpo há um gatilho, que libera a pres- nos não-metálicos, como os de fibras de carbono.
são da mola, sendo que esta permite diferentes Quando há coroas nas proximais do pino a
graus de força extratora a ser aplicada, depen- ser removido, fica m a is difícil o acesso da broca,
dendo da dificuldade de cada situação clínica, uma vez que a mesma pode tocar nas coroas
ti variando normalmente de 1 ou no máximo 2 adjacentes. Para tanto, estas manobras devem ser
1
I grau s. Previamente ao en caixe da parte extratora bem planejadas. As indicações são para as brocas
na can aleta horizontal, confeccionada na porção longas (de 28 mm) . Torna-se necessário destacar
coronária do pino, aciona-se a mola, a fim de qu e essas brocas apresentam elevado poder de
promover a separação da mesa em relação ao corte, sendo muitas vezes o desgaste dentinário
corpo do aparelho, graduando à força requerida totalmente imperceptível (Esquemas 15.17 e
I
para o caso. Graduada a pressão da mola, adap- 15.18).
ta-se a ponta extratora na canaleta previamente Em diferentes situações clínicas, as opções
confeccionada, procurando orientar o aparelho de remoção dos reten tares seguem as alternati -
no sentido do longo eixo do pino em relação à vas descritas.
raiz. A ponta extratora será estabilizada junto ao Para que se possa ter sucesso na remoção
pino por meio de leve pressão digital e o gatilho dos retentares intrarradiculares, alguns cuida-
qu e irá liberar a mola será acionado, gerando a dos devem ser observad os. O Quadro 15.1 e
força extra tora 135 • 15.2 estabelecem p rotocolos de esvaziamento
do canal radicular em diferentes situações clí-
Remoção com emprego de brocas nicas. As Figuras 15 .9 a 15 . 13 exibem um mo-
carbide delo de aparelho de u ltra -som, aparelho acio-
n ado por mola, pinça (alicate) de ponta fina,
O desgaste por meio de brocas de aço do tipo broca carbide de 28 m m para alta rotação. As
carbide representa um método acessível e tem se Figuras 15.14 a 15 .4 9 ap resentam casos clíni-
mostrado eficaz, pois, remove o pino por desgas- cos de retratamento endodôntico com remoção
te. Todavia, necessita de um minucioso estudo de diferentes materiais do interior do canal ra -
do aspecto radiográfico, valendo -se radiografias dicular.
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CIÊNCIA ENDODÔNTI CA '
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•• AE-200
• FIG. 15.11
Pinça de ponta fina (80 Esculap, USAJ.
• Fm.1s.12
Pinça de ponta fina (80 Esculap, USAJ.
• FIG. 15.U
Broca carbide - 28 mm (Kommer).
• ESQUEMA 15.11
Remoção de retentor intra,rndicular com broca.
11
• ESQUEMA 15.18
Remoção de retentor intrarradicu!ar.
·..i. .
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
Quadro 15.1
PROTOCOLO DE ESVAZIAMENTO DO CANAL RADICULAR SEM RETENTOR INTRARRADICULAR
Quadro 15.2
PROTOCOLO DE ESVAZIAMENTO DO CANAL RADICULAR COM RETENTOR INTRARRADICULAR
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• if~G. 15.lS
Retratamento endodôntico em dente'
com periodontite apicol.
• fiG, 15,39
Lesão persistente após o retrotamento
endodôntico.
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• FIG. 15.40
Cirurgia porendodôntico.
• FIG, 1S.41
Controle clínico e radiográfico, desa-
parecimento da rarefação óssea periapicol,
e ausência de sintomas.
; 1
1
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CIÊNCIA ENDODÓNTICA
1 .
.-i
Posteriormente ao esvaziamento da câmara (Esquemas 15.1 a 15.6). Como foi relatado an-
·~
coronária, introduz-se 3 a 5 gotas do solvente teriormente, deve-se tomar cuidado para que o ' .
(xilol, óleo de laranjeira etc.), aguarda-se alguns solvente não dissolva a guta -percha e essa massa l
minutos e inicia-se o processo de esvaziamento obturadora seja extruída para a região periapical. f-,
1-,
30m ~~-_-T-.--.----1
Ação antimicrobiana de solventes de guta-percha
E. faecalis
..., 1 1 1 1 1
1
0ml 1 1 1 1 1
::1 1 Halotano
i
Óleo de
Laranjeira
1 1 1 1
Ausência de Crescimento
XHoJ
Crescimento
Solução
Fisiológica
30m.-.-.--r.--.
B. s ubtilis
ISml 1 1 1 1 1
1
0ml 1 1 1 1 1
::1 1 Halotano ó leo de
Laranjeira
1 1 1 1
Eucalipto!
• Ausência de Crescimento
Xilol
Crescimento
Solução
Fisiológica
30m(-TTT--.----.
Mistura
ml 1 1 1 1 1
15
lOml 1 1 1 1 1
::1 1 Halotano Óleo de
Laranjeira
1 1 1 1
Eucalipto!
• Ausência de Crescimento
Xilol
Crescimento
Solução
Fisiológica
Um momento delicado que pode levar à per- Considerando que nesse Capítulo 16 foi re - ..; ..
furação dos dentes é o preparo do espaço para alizada uma extensa discussão e apresentação de
pino intrarradicular. Esse acidente é conseqüên- inúmeros estudos sobre esses materiais e o trata-
cia de desgastes exagerados ou mal direciona- mento dos problemas que requer sua utilização,
dos. Percebe-se que para a prevenção desse aci- cabe agora analisar somente as complicações.
dente é fundamental o cuidado durante os pro- O material reparador ideal é aquele que, além
cedimentos endodônticos, bem como o conheci- de promover excelente selamento, favorece a os-
mento adequado da anatomia interna e suas va- teogênese e cementogênese. A busca para alcan-
riações. çar este material é constante. O hidróxido de cál-
A perfuração durante o preparo dos canais cio tem mostrado excelentes respostas biológicas
radiculares pode ocorrer com certa freqüência na reparação tecidual, porém, necessita estar asso-
em canais curvos, quando não se observa o pré- ciado a outro material no caso do selamento de
curvamento das limas endodônticas de aço ino- perfurações, com melhores qualidades seladoras.
xidável, que, devido à sua capacidade de desdo- Um dos sérios problemas observados nos sela-
bramento, têm a tendência a retomar à posição mentos de perfurações tem sido a extrusão de
original. Outra situação comum de perfuração é material obturador, principalmente naqueles que
o desgaste exagerado durante o preparo, que não apresentam boas propriedades biológicas, pois
pode ser observado na parede distal da raiz me - poderia dificultar o reparo tecidual. ,·
sial de primeiros m olares inferiores, na parede Quando a perfuração ocorrer acima da crista
mesial de pré-molares superiores, e na parede dis- óssea ou nas proximidades desta, em que o epitélio
tal do canal mesiovestibular de primeiros mola- jm1cional foi atingido, uma das opções seria a ex- ,
res superiores28 . trusão dentária ou o aumento de coroa. A abertura
Outra situação comum, e que merece cui- artificial nesse caso seria deslocada para região
dado é o momento de se ultrapassar o degrau, que possibilitaria ser englobado na restauração.
ao encontrar canais calcificados, ao remover ci- Nas perfurações intra-ósseas laterais ocorri-
mentos durante os retratamentos. Cuidadó es- das durante a instrumentação do canal, o sela-
pecial deve ser tomado quando do emprego do mento deve ser o mais imediato possível, desde /
trépano. que a condição clírúca permita. Perfurações que
A prevenção das perfurações durante a ins- apresentem reabsorção de osso alveolar adjacen-
trumentação constitui terapê utica inteligente e te, são tratadas após a sanificação e modelagem,
ideal. Para os canais radiculares curvos, deve-se mantendo medicação intracanal com pasta de
optar por instrumentos flexíveis, e por uma téc- hidróxido de cálcio e solução fisiológica por pe-
nica adequada. A determinação precisa da odon- ríodo de 30 a 90 dias. Caso as condições clínicas
tometria evita sobre-instrumentação e desloca - estejam favoráveis, a medicação é removida, per-
mento foramínal. manecendo uma pequena porção desse mate-
As alternativas para tratamento das perfura- rial como matriz no local da perfuração, o canal
ções envolvem m étodos não cirúrgicos e méto - é secado, e preenche-se a cavidade perfurada
dos cirúrgicos, sendo que, a primeira opção, com o MTA - Mineral Trioxide Agregate. A seguir,
sempre que possível, é a não cirúrgica. A perfu- protege -se esse material com ionômero de vidro,
ração pode ser diagnosticada pelo aparecimento permanecendo como base para a restauração.
súbito de hemorragia no canal radicular ou por Quando a perfuração ocorrer devido à so-
sua persistência após a remoção do tecido pul- bre-instrumentação com alargamento acentuado
par; pela exploração clínica; p elo aspe cto radio- do forame apical, o tratamento consiste na deter-
gráfico mostrando a lima no periodonto; por minação do novo comprimento de trabalho, um
constatação de lesão lateral e pino direcionado pouco aquém do ápice, onde o cone principal vai
fora do longo eixo da raiz. ser travado . Deve-se manter o tampão apical
O Capítulo 16, referente à cirurgia paren- com hidróxido de cálcio, e obturar o restante do
dodôntica, discute a s diferentes características canal na técnica da condensação lateral e cimen -
dos materiais retro-obturadores (amálgama, óxi- to de hidróxido de cálcio. Nas condições em que
do de zinco e eugenol, hidróxido de cálcio, ci- a porção apical à perfuração não seja alcançada
mento de Rickert super EBA, EBA ionômero de pela obturação, pode-se acompanhar clínica e
vidro e o Mineral Trioxide Agregate). radiograficamente até a análise de sucesso ou
TRATAMENTO 00 INSUCESSO ENDODÔNTICO
não. Constatado o insucesso, resta ainda a opção to, ser extravasado além do ápice radicular. Caso
cirúrgica (cirurgia parendodôntica ). esse a cidente venha ocorrer, deve-se analisar o
Freqüentemente, as pefurações próximas ao tipo de material (pasta, cimento e /o u cones) e a
ápice apresentam o melhor prognóstico, sendo quantidade que ultrapassou . Em todas a s situa-
que, as de menores extensões são mais fáceis de ções, embora aceite-se uma boa tolerância teci-
serem seladas. O Quadro 15.3 apresenta uma dual para alguns m ateriais obturadores, alguma
classificação das perfurações quanto à localização resposta tecidual vai ocorrer, e a mais comum é
e as alternativas para seu tratamento. uma resposta inflamatória, cuja intensida de de-
É fundamental a análise intensiva de cada penderá de vários fatores (estado patológico peri-
caso em particular, v erificando a presença ou apical, tipo de material extruído, quantidade, es-
ausência de infecção, a extensão da perfuração, o tado sistémico do indivíduo) . Dificilmente, quan -
tempo decorrido para o selamento, o risco do do o material obtu rador extruído for cimento,
paciente à doen ça p eriodontal, visto interferir di- consegue-se u ma remoção via canal. Em alguns
retamente no prognóslico. casos quando o con e ultrapassa, consegue-se re-
Outra complicação passível de ocorrência é a m ovê -lo. Caso a irritação periapical ultrapasse os
sobre-obtura ção. Deve-se entender que o m ate - limites de tolerância, pode-se ainda removê -lo
rial obturador foi preparado para ser utilizado no cirurgicamente, o que não deixa de representar
interior do canal radicular, não devendo, portan - outro inconveniente.
Quadro 15.3
CLASSIFICAÇÃO DAS PERFURAÇÕES RADICULARES E AS ALTERN ATIVAS DE TRATAM ENTO
Assoalho da câmara Pasta de Ca<OH>2 + MTA + Assoalho da câmara Selamento com lonômero
coronária lonômero de vidro coronária de v idro e/ou Resina
Composta
Terço Médio Pasta de Ca<OHh ou Terço Médio Selam ento com lonômero
MTA + Obturação com (Recessão Gengival dado de vidro e/ou Resina
cimento de Ca(OHh e Tratamento PeriodontaD Composta
Cone de guta-percha
tracanal, a técnica de esvaziamento e instrumen- características clínicas condizentes com o fracasso .:~
tação, o material obturado r e o número de ses- do tratamento. Decorridos intervalos de 24 a 48
sões.
A periodontite apical assintomática pode ser
horas após o retratamento endodôntico, todos os
pacientes retornaram para a segunda consulta,
tf.
exacerbada em decorrência do aumento da viru- cm que se registrou a presença ou ausência de 1-,
lência de microrganismos associada à diminuição dor pós-operatória, de acordo com critérios: au-
das defesas orgânicas. A extrusão pelo forame sente, leve-moderada e severa. Após o desapare-
apical de microrganismos e seus subprodutos, cimento da sintomatologia, a medicação intraca-
raspas dentinárias contaminadas, substâncias nal era removida e o dente obturado definitiva-
medicamentosas, ma teriais obturadores, contri- mente. Nas situações de dentes com sintomato-
buem para a indução da dor pós-operatória. logia, apresentando dor moderada, era prescrito
Além desses aspectos, Seltzer & Naidorf 111 analgésico; nas de dor severa, administrava-se o
relacionam os seguintes fatores etiológicos das paracetamol associado à codeína, e antibiótico
manifestações agudas após o tratamento endo- (Penicilina ou Cefalosporina). Os Gráficos 15.7 e
dôntico: alteração da síndrome de adaptação lo- 15.8 demonstram a prevalência de dor pós-opera-
cal; mudanças na p ressão tecidua l periapical; fa - tória nos dentes submetidos ao retratamento com
tores microbianos; efe itos de nucleotídeos cícli- presença e ausência de sintomatologia. A ausência
cos; fenômenos imunológicos; e vários fatores de dor pós-operatória nos retratamentos endo- ,
psicológicos. dônticos dos dentes assin tomáticos foi elevada,
As situações clínicas de retratamento endo- 83,3%, 82,8%, 82%, indiferente do aspecto radio-
dôntico, impõem mui tas dificuldades na neutra- gráfico, ausência de rarefação óssea periapical,
lização do conteúdo séptico-tóxico presente, rarefação óssea periapical difusa e circunscrita,
qu er no momento da desobturação e/ou desobs- respectivamente. Nas situações clínicas onde o
trução, como a possibilidade de extrusão forami- processo inflam atório periapical agudo já mostra- '
nal de resíduos do m aterial obturador, raspas va -se em desenvolvimento, a ausência de dor pós-
dentinárias contamin adas e microrganismos: operatória foi regular, 59 %, 50 % e 54,5 % , corres-
Estrela et a!Y estudaram a prevalência de pondendo respectivamente aos aspectos radiográ - ~
dor pós-operatória n o retratamento endodônti- fico s descritos anteriormente. O percentual de pa-
co, considerando a presença ou a ausên cia de cientes com dor pós-operatória n os pacientes do ·
sintomatologia, o aspecto radiográfico periapical, sexo femin ino foi maior que no masculino . Quan-
a idade do paciente, o sexo e o preenchimento to à idade, a maior prevalência de dor esteve em
do canal radicular. O estudo envolveu 184 den- p acientes de 20 a 50 anos.
tes humanos que n ecessitavam de retratamento As exacerbações agudas após ou durante o
endodôntico. Os pacientes eram de ambos os gê- tratamento endodôntico têm demostrado que a
neros, com idade de 12 a 65 anos. Dos dentes p revalência flare-up é baixa 129 · 130 _ Vários fatores
analisados, 11 O apresentavam -se assintomáticos de ordem técnica têm sido relacionados como
(ausência total de dor) e 74 sintomáticos (dor sendo os responsáveis pelos proce ssos de exacer-
leve, m oderada, ou severa), sem edema aparen - bação de dor durante ou após o tratamento en-
te. A dor foi considerada leve quando o paciente dodôntico, como as substâncias qu ímicas, a me-
não relatava o uso de analgésico, moderada, uso dicaçã o intracanaL a técn ica de instrumentação,
não constante, severa quando o emprego era os materiais obturadores. Asso ciados a esses fato -
constante . Detectado o in su cesso do primeiro res, acrescentam-se os de ordem biológica, que
tratamento, avaliou-se a qualidade da obturação ta mbém são representativos como estimuladores
presente, sendo considerada incompleta quando do fenômeno doloroso: condição microbiana ine-
havia ausência de preen ch imento satisfatório rente à situação clínica quanto à presença e ou
(material radiopaco p reenchend o parcialmente o ausência de lesão periapical, presença de sinto-
canal, sendo este cimento, pasta e/ou guta-per- matologia, doenças sistémicas, idade, gênero.
cha). E, completa, quando havia um p reenchi- Torna-se oportuno referenciar que alguns
mento total do ca na l (presen ça de m aterial radio- dos trabalhos apresentados pela literatura são re-
paco em todo o canal rad icular), porém , em al- trospectivos, apresentando diferentes variáveis
guns casos com comprovação radiográfica de que poderiam interferir nos resultados, além do
manutenção de área de rarefação periapicaL ou pequeno universo de casos estudados. Desta for-
T RATAMENTO DO INSUCE SSO ENDODÔNTICO
ma, a análise da dor pós-operatória é um estudo meiras 24 horas após a obturação, que não há
complexo e difícil, pelo fato de haver uma soma- relação significativa com o estado de vitalidade
tória de fatores responsáveis pelo desenvolvi- pulpar, presença ou ausência de área radiolu-
mento ou exacerbação do processo inflamatório . cente periapical, número de raízes, tratamento
Harrison et al. 4 3, analisando a prevalência de prévio de emergência, ou o níve l da obturação,
dor associada à fatores clínicos durante e ap ós o embora, as obturações lmm aquém do ápice ra-
tratamento endodôntico, relataram que sua pre- diográfico tinham exibido índices menos eleva-
sença ocorre mais comumente durante as pri- dos de dor .pós-operatória.
• GRÁFK01S.1
/f
i
• GRÁFIC01S.8
Pode-se perceber que nas situações clínica s Deve -se levar em consideração os vanos
assintomátícas, a dor p ós-operatória é pequena. grupos p opulacionais estu dad os em conjunto
Este fato foi demonstrado tanto para os casos de com as diferentes variáveis estab elecidas apenas
retratamentos endodônticos, como n as situações pelas condutas clínicas adotadas . Out rossim, é
de tratamento de inflamações periapicais. Para as pruden te reafirmar que a correta obediência às
situações clínicas em que a sintomatologia já esta etapas operatórias é fundamental para o estabe-
i presente, os índices são maiores, tanto para os lecimento do sucesso q ue, muitas vezes, se inicia
I retratamentos, co1n o p ara os tratamen tos d e com o alívio da dor.
dentes com necrose pulpar com ou sem rarefa - As Figuras 15.50 a 15 .63 exibem casos clí-
ção óssea periapical26 . nicos de p erfuração radicular e sobre-obturação .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
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Retratamento endodôntico - Remoção de guta-
percho e cimento em dente sobreobturado.
CIÊNCIA EN OODÔ NTICA
1 •
Assim é que, conforme consenso no referido & Dixon4 to, a situação começou a se inverter. Isto
Seminário e acorde com Berbert et al.34 o termo porque esses autores tinham muito conhecimento
cirurgia parendodôntica ab rangeria, de modo ge- de bacteriologia e iniciaram um processo de aceita-
ral e preciso, todos os procedimentos cirúrgicos ção e divulgação da apicectomia como meio de eli-
que envolvessem as áreas do endodonto ou as minar a infecção focal de origem dentária.
raízes dentárias. Um fato importante é que essas técn icas se
As cirurgias parendodônticas englobam uma popularizaram entre os profissionais com certa ra -
série de procedimentos, cuja classificação é bas- prdez, tendo se difundido de tal modo que alguns
tante ampla. Assim é que, dentre as diversas profissionais passaram a usá-Ias de maneira indis-
modalidades, podemos citar: as drenagens cirúr- criminada, chegando a ponto de indicá-la para
gicas, envolvendo tecidos moles e/ou tecidos du- todos os casos de necrose pulpar275 .
ros, a fistulização artificial, curetagem periapical, Passada essa euforia, um novo período de
apicectomia, apicectomia e obturação retrógrada inércia aconteceu, para, logo em seguida, ressur-
convencional, tratamento en dodôntico simultâ- gir uma nova era, com a divulgação de outros
neo com o tratamento cirúrgico, tratamento en- recursos cirúrgicos, como o da obturação retrógra -
dodôntico via retrógrada, rizectomia parcial, he- da que, segundo Huober, teria sido introduzida
missecção dentária, cirurgia de cistos periapicais por Rhein, em 18904º9 .
e reimplante intencion al. No entanto, referência sobre essa nova moda-
É importante ressaltar que diante da grande lidade cirúrgica foi amplamente divulgada na
diversidade de modalidades cirúrgicas e, conside - América do Norte por Ottesen, em 1915, demons-
rando o limitado espaço disponível, não será trando uma obtu ração retrógrada efetuada com o
possível fazer uma abordagem de todas elas. amálgama. Ainda, em 1915, Garvin, no Canadá,
limitemo-nos apenas a fazer considerações a res - fez o primeiro relato dessa técnica, exibindo-a
peito daquelas que sabidamente são as mais fre- através de radiografia. Em 1920, o, mesmo Garvin
qüentemente indicadas pelos clínicos, a saber: divulga um acompanhamento radiográfi co efetu-
curetagem periapical, apicectomia, obturação re- ado após obturação retrógrada realizada em cerca
trógrada convencional e tratamento ;
en dodôntico de 964 casos 142 •
/
via retrógrada. Durante os anos seguintes, foram registradas
inúmeras referências a resp eito das cirurgias pa -
"'
RELATO HISTORICO rendodônticas, a maioria sempre preocupada com
as indicações e os princípios cirúrgicos. Por outro
Desde o rela to da primeira intervenção cirúr- lado, surgiram também aqueles que se interessa -
_gica, realizada há mais de 1.500 anos por Aetius, ram pela execução da técnica cirúrgica propria-
drenando um abscesso agudo com um pequeno mente dita, como foi o caso de Nichoolsm que
bisturi3°, e a descrição da primeira remoção da demonstrou amplas possibilidades de executar a
porção apical da raiz por Desirabode em 1843 4 36 , a obturação retrógrada através de dois tipos de pro -
' cirurgia parendodôntica passou por muita s fases cedimentos, ou seja, a obturação retrógrada pela
até atingir o estágio atual. Para complementar o técnica modificada ou pela técnica convencional.
tratamento dos processos patológicos periapicais Na verdade, o que se observa va é que a literatura.
que já consistiam m otivo de preocupação, desde o estava repleta de trabalhos que estudavam a téc-
ano de 1843, os autores Black, em 1886, e Rhein, nica da obturação retrógrada convencional,
em 1897, passaram a utilizar a Apicectomia. Ela preocupando-se tão somente com a capacidade
foi realizada , pela primeira vez na América do seladora in vitro dos diferentes materiais retrob -
Norte, por Fanar, no ano" de 18842 25 • turadores. São raros os estudos que avaliam o
No entanto, no início do século XX, com a comportamento biológico desses materiais e técni-
propagação da teoria da infecção focal, a div ulga- cas afins. Isto levou a grande maioria dos profis-
ção da apicectomia foi abandonada porque os pro- sionais a indicar diferentes técnicas parendoclônti-
fissionais daquela época contra-indicavam a con- cas e materiais retrobturadores, sem se preocupa -
servação de dentes portadores não só de lesões pe- rem com os possíveis danos que pudessem ocorrer
riapicais, como também com qualquer alteração em decorrência de inúmeros fatores até então
pulpar. Entretanto, com a div ulgação dos resulta- pouco estudados, e que interferem e comprome-
dos dos estudos efetuados por Lyon s e os de Rickert tem o sucesso do tratamento. Com o tempo foram
CIRURGIA i"ARENOODÓNl'!CA: COMO ?IV\TKÁ-LA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO
surgindo dúvidas sob re a real eficiência desses mesma penrnt1u uma desinfecção profunda alé m
procedimentos cirúrgicos. de favorecer uma obtu ração m ais hermética do
Em 1977, Bernab é36, preocupado com o fato canal radicular.
da indicação dos materiais retrobturadores não Ainda com relação à técnica do tratamento
p assarem por testes biológicos definidos, selecio- endodôntico via retrógrada, vários outros relatos
nou dois materiais retrobturadores através de ex- sobre ela for a m descritosl4.66.72,74,75,1 02,n6,151,1 55_
perimentação em tecido conjuntivo subcutâneo 247·361 ·4 39·482 • Entretamo, desde o primeiro relato de
de rato, e daí encontrou motivação para testá-los Duclos 112 , em 19 34, até nossos dias, a não ser os
em retrobturações realizadas em dentes in vivo. dados de Bernabé & Nunes 59 , em 1986, pratica-
Além disso, a escassez de trabalhos biológicos so- mente nenhum d eles havia sido desenvolvido
bre as obturações retrógradas convencionais con- para avaliar, sob o ponto de vista histopatológico,
tribuiu e estimulou Bernabé'7 a realizar, então, o desem pen ho da técnica do tratamento de canal
um dos primeiros t rab alhos histopatológicos com via retrógrada. Essa n ecessidade de analisá-la em
sistematização padronizada, empregan do uma diferentes condições experimentais, através de es-
metodologia inédita e que p rocurava sim ular uma tudos mais abrangentes e específicos, possibilita-
situação clínica. Nesse estudo, o referido a utor 52 riam assim um quadro ma is promissor quanto à
fez algumas avaliações h istopatológicas importan- indicação e utilização de determinados materiais
tes, como a que se relacionava com as dificuldades retrobturadores.
encontradas du ra nte o preparo das cavidades api- Daí, em 1994, surgiu um outro trabalho ori -
cais associadas com a pouca profundida de alcan- ginal sobre o assunto desenvolvido por Be rnabé'8 ,
çada pelos materiais re trobturadores; Bernabé37 que fez um estudo histopatológico abrangente so-
também verificou a possível instabilidade do sela- bre a técnica do tratamento endodôntico via re-
rnento m arginal p retendido, ao redor dessas cavi- trógrada, relatando vá rios eventos favoráveis que
dades apicais, provocada por reabsorções radícula- permitem, ao clínico, a execução dessa técnica com
, ;1 res que invariavelmente acon tecem nesse tipo de melhor desenvoltura, alicerçada em bases científi-
i procedimento, fato den unciado nos seus estu dos. ca s e não e mpíricas corno vinha ocorrendo.
Esses dados descritos por Bernabé3 7, que não Depreende-se, portanto, dessa progressão his-
haviam sido antes analisados em profundidade e tórica, que as cirurgias parendodônticas evoluí-
flagrados à luz da microscopia ótica comum, leva- ram principalmente à mercê dos estudos biológi -
ram a uma melhor reflexão sobre a real efetividade cos, que trouxeram novas luzes para o esclareci-
dessa técnica, surgindo daí o questionamento de mento das inúmeras dificuldades que envolvem a
sua validade e da necessidade de se empregar u ma realização desses tipos de procedime ntos. Se assim
outra que superasse esses fatores desfavoráveis. não fosse, a evolução tecnológica poderia se estag-
Em 1934, Duclos 11 2 descreve uma técnica de n ar, ou até desaparecer. Daí a necessidade impe-
tratamento de cana l via retrógrada, para solucio- riosa do contínuo estudo a respe ito, para consoli-
nar os casos cujos tratam entos endodônticos n ão dar, de vez, como um procedimento altamente
podiam ser realizados por via convencional ou eficiente, permitin do ao clín ico sua indicação de
coronária. A partir daí, apesar de surgirem outras modo mais amplo e com grande alcance social.
pu b Ji ca çõ e s a re sp eito t 6,34.227.245,294,321 .3s7.4oo,4o9,
4 1 21 71 75 76
0A A A A todas elas abordaram exclu sivam ente A. MODALIDADES
o tema sob o ponto de vista clínico-radiográfico. CIRÚRGICAS: QUANDO
Em 1986, para melhor analisar as suspeitas INDICAR E COMO
levantadas por Bernabé3 7, e no sentido de verificar REALIZÁ- LAS
as reais vantagens do tratamento endodôntico via
retrógrada, Bernabé & Nunes 59 d esenvolveram Na p rática odontológica, sabe-se que o trata-
um primeiro estudo histopatológico realizando a mento endodôntico deve proporcionar uma com -
. técnica da obturação retrógrada convencional, fa- pleta obliteração de todo o sistema de canais radi -
( zendo o preparo de uma caixa apical classe I, culares. O estabelecimento de um adequado sela-
comparando-a com o tratamento e ndodôntico via mento endodôntico objetiva impe dir que os mi-
/
retrógrada, sem o preparo de caixa apical. Obser- c::.-organismos e /ou endotoxinas atinjam os tecidos
varam, n esse estudo, a su perioridade do trata- apicais e periapicais, o que con stitui um dos prin-
mento endodôntico via retrógrada, uma vez que a cipais fatores para o sucesso dessa terapêutica.
CIE NCIA ENDODÔNTICA
A evolução dos conceitos e a prática de no- cedimento cirúrgico que tem a finalidade de remo-
vos métodos e técnicas, aliadas ao surgimento de ver o tecido patológico localizado no osso alveolar,
materiais com excelentes propriedades físicas e na região apical ou lateral de dentes necrosados.
biológicas, também têm sido fatores fundamen - Sabe -se também que pode ser indicada para a
tais para a obtenção de elevados índices de su- remoção de corpos estranhos localizados nessa
cesso, reduzindo significativamente a indicação área, de etiologia iatrogênica ou não e em dentes
de recursos cirúrgicos complementares. portadores ou não de lesões periapicais É indica -
Assim é que, recentemente, dentes portadores da ainda para dentes que sofreram tratamentos
de restaurações protéticas individuais ou muito ex- endodônticos, quer em casos de pulpite ou ne-
tensas, comendo pinos intra-radiculares, ainda cons- crose, mas que permanecem sintomáticos, mes-
tituíam situações de muita apreensão, mo após ter se esgotado todo os recursos endo-
contra -indicando, muitas vezes, o tratamento endo- dônticos convencionais e medicações sistémicas
dôntico convencional. No entanto, condutas clínicas afins. Portanto como se pode observar, quando
mais ousadas têm permitido retratamentos endo- da curetagem periapical, pode-se defrontar com
dônticos através das vias convencionais, em detri- duas situações clínicas extremas, uma com pre-
mento do emprego de terapêutica eminentemente sença de lesãó periapical já instituída e outra,
cirúrgica. Na verdade, é importante e necessário sem lesão. Sendo assim , o procedimento cirúrgi-
que, para a resolução dos problemas patológicos co seria o mesmo em ambas situações?
dessa natureza, concentremos esforços no sentido de Na verdade, a ausência de estudos histopatoló-
esgotar todos os recursos endodônticos de rotina, gicos a respeito, impedindo um diagnóstico preciso
considerando como último recurso àqueles métodos sobre os fatores que possam influenciar na repara-
mais traumatizantes e invasivos como é o cirúrgico. ção tecidual após a curetagem periapical, tem leva-
Entretanto, apesar de todos esses esforços, do muitos cirurgiões a fracassarem em suas condu-
existirá uma situação em que os tratamentos en- tas cirúrgicas. Assim é que, mesmo após um ade-
dodônticos convencionais se tornam impraticá- quado tratamento endodôntico e cuidadosa cureta-
veis para alcançar seus obje tivos . Canais radicu- gem da lesão periapical, eles se frustram com a
lares necessitando de esvaziamento e obturações recidiva da lesão periapical. Em acontecendo este
/
completas podem mostrar-se inacessíveis por via fato, não raro, insistem na realização de nova cirur-
coronária, em fun ção de vários fatores, quer se- gia, muitas vezes adotando a mesma conduta tera-
jam de ordem local, geral, ou mesmo iatrogêni- pêutica (somente a curetagem periapical), de prog-
cos. Nessas condições, a forma de contornar e nóstico ainda incerto e duvidoso.
solucionar o problema é a indicação da cirurgia No sentido de procurar responder a questão
parendodôntica. acima formu lada e também orienta r o clínico
Neste capítulo n ão pretende-se, obviamente quanto a prática de modalidades cirúrgicas com
pela sua complexidade e extensão, e considerando embasamento científico, orientando-o no conhe -
o reduzido espaço disponível, descrever minuciosa - cimento dos fatores que podem estar presentes
mente todos os passos cirúrgicos que envolvem a influenciando ou n ão a cura, a Disciplina de En-
execução dos inúmeros procedimentos parendo- dodontia de Araçatuba desde a década de 1970
dônticos. A intenção maior, no momento, é expor, v em desen volvendo uma série de trabalhos no
através de dados calcados e obtidos em experimen- campo das cirurgias parendodônticas.
tações científicas, o porquê indicar determinadas Num deles 332 •333 foi rea lizado um estudo expe-
modalidades cirúrgicas e descrever um resumo de rimental em dentes de cães, efetuando -se a cure-
como realizá-las. Como já mencionado, vamos nos tagem periapical em dentes portadores ou não de
limitar apenas ao ·estudo da curetagem periapical, lesão periapical. Os espécimes que possuíam le-
apicectomia, obturação retrógrada convencional e sões periapicais apresentaram piores resultados do
tratamento endodôntico via retrógrada. que aqueles espécimes cujas intervenções foram
realizadas em dentes com vitalidade pulpar, ou
1. Curetagem Periapical seja, sem lesão periapical. Esse resultado foi muito
significativo e de grande importância clínica, pois
Dentre as modalidades cirúrgicas que sugeri- no grupo onde foi realizada a curetagem periapi-
mos apresentar, a primeira delas é a Curetagem cal das lesões periapicais de dentes sem vitalidade,
Periapical. Trata-se, conceitualmente, de um pro- sem executar a apicectomia, a despeito da sua re-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PR ATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
moção total, nova lesão volto u a se ins talar, ca sos como esses, a despeito de se proceder a
concentrando-se o infiltrado inflamatório do tipo uma cureLagem periapical cuidadosa e m inucio -
crônico, princip almente j unto a os forames dos ca - sa, a não rem oção da porção apical da raiz, por-
nais do delta apical (Figuras 16.1 e 16.2) . Por tando essas ramificações, deltas e crateras ce-
quê? Para responder essa indagação e a anterior, m entárias (Figura 16.3 ) contaminados, favore-
é p reciso considerar que, na prática, é comum cem a recidiva da lesão periapical, sendo um
verificar-se qu e algumas lesões periapicais persis- fato praticam en te irreversível (Figura 16.4) .
tem após o tratamento dos canais radiculares, re- Nessas situações é importante realizar-se n ão
ceben do a den ominação de lesões refratárias458 • somem e a cure tagem perirradicular, mas tam -
Nessas situa ções as bact érias localizam-se pro- bém a apicectomia. Com esses procedim entos
fun dam en te nas ramificações do can al p rin- e liminam-se não só a lesão periapical, mas tam-
cipal e são constituídas principa lmente por bac- bém a porção apical com o seu conteúdo in de-
térias anaeróbias, q ue podem sobreviver fora do sejável, fato q ue foi demonstra do nos estudos
canal, na su perfície do ápice do dente em inti- desen volvidos por Otoboni-Filho 332· 333 , qu ando
m idade com a lesão periapical2 5 ·229A 59• 461 ·'162 . Em comparou dentes com e sem lesão periapical.
;I
!
Curetagem periapical em dente de cão com lesão Curetagem periapical em dente de cão. Lesão
periapical. Notar detalhe de um canal do delta apical periapical relacionada com presença de uma ramificação
onde está evidente área de reabsorção preenchida por contaminada (setas). Nota-se presença de reabsorção
tecido de granulação, que se estende pelo espaço junto à abertura dessa ramificação. H.E. 15X
periodontol. Pós operatório 180 dias. H.E 40X
I
• F~G . 16.3 • ftG, H,.4
Análise com M EV de ápice de dente humano com Curetagem peliapical em dente de cão com lesão
várias ramificações apicais, evidenciando as inúmeros periapicol. Recidiva da lesão relacionada com a presença
forominas apicais - MEV dos deltas e crateras cementárias contaminados. H.E JSX
CI ÊNCIA ENDODÔNTICA
Durante a obturação dos canais radiculares Assim é que, após os cuidados de anti-sepsia,
de dentes com v italidade, pode ocorrer o extra- anestesia, incisão e a divulsão do retalho mucope- ....
'. •
vasamento de material obturador para o interior riostal, a tábua óssea vestibular pode ou não estar
do ligamento periodon ta l com presença de sinto- íntegra. Quando o tecido ósseo vestibular estiver
matologia dolorosa pós-ope ratória intensa, prin- compacto, sem deiscência, necessário se faz adotar
cipalmente quando esses materiais são à base de procedimentos clínicos que tomem a localização
óxido de zinco e eugenol. Esse mesmo sintoma do mesmo de forma prática e segura, sem necessi-
pode também ser verifica do após intervenção dade de remoção excessiva desse tecido. Uma das
endodôntica em dentes com vitalidade, quando maneiras clássicas desse tipo de abordagem é a
devido à etiologia variada, se instala uma perio - realização de uma loja óssea pequena e superfi-
dontite apical sintomática . Em ambas situações cial, baseada ou não em odontometria anterior,
essa sintomatologia pode n ã o ser controlada com colocação de material radiopaco (pequena porção
medicação sistémica e n ecessitar, com urgência, de guta-percha) na depressão óssea e tornada ra-
de uma cirurgia endodôntica complementar, é diográfica da região (Figura 16.5). Na radiografia,
lógico esgotados todos os recursos terapêuticos a localização da imagem radiopaca da guta-percha
conservadores. Uma vez instituído o tratamento em relação à imagem do ápice radicular permite
cirúrgico nessas situações, mesmo não havendo orientar o profissional durante a ostectotornia e
presença da lesão periapical, o profissional d eve exposição do ápice radicular (Figura 16.6). Esse , ·
proceder como já mencionado ante riormente. procedimento é de fundamental importância, pois
Realizar não só a curetagem do material estra- toda a porção apical da raiz deve ficar exposta,
nho ou limpeza da região periapical no caso da facilitando sua visualização e curetagem das estru-
p eriodontite, mas também realizar a ressecção turas afins (Figura 16.7).
radicular ou apicecto m ia. Nessas situações os A ostectornia para exposição do ápice radicu-
dentes são portadores de deltas apicaís com con- lar pode ser realizado de diferentes maneiras.
teúdo vital, fato que nã o explicaria o porque da Urna delas e mais segura é o emprego de cinzéis
apicectomia. No entanto, em função dos procedi- manuais, principalmente quando a cortical óssea
mentos cirúrgicos realizados no local, poderá vestibular está intacta. Nesses casos, o emprego de /
ocorrer perda da vitalidade do tecido contido no cinzéis manuais em detrimento do uso de brocas é
interior desses deltas a pícais, favorecendo poste- importante, porque evitam desgastes desnecessá-
riormente a in stal açã o de uma lesão periapical. rios da broca sobre a superfície dental, como a
Essa apicectomia, na verdade um procedimento remoção de tecido cernentário e exposição de
preventivo, vai impedir, n o futuro, em ocorren- dentina, fatos que favorecem a reabsorção denti-
do esse fato, a realizaçã o de uma nova interven- nária conforme será discutido posteriormente.
ção cirúrgica, ao m en os que outros fatores, que Recentemente foi desenvolvido pelo Professor Os-
estudaremos na seqüên cia, acabem também por valdo M. Massi, da cidade do Rio de Janeiro (Bra-
perturbar o processo de reparo. sil), um cin zel movimentado pela ação do ultra-
Do que se depreende, é que a curetagem som (Figura 16.8) que tem uma série de vanta-
perirradicular é um procedimento técnico corri- gens, corno a de promover desgastes sem grandes
queiro e fundamental realiza do em conjunto traumas do tecido ósseo, remoção controlada do
com todas as outras modalidades parendodônti- volume e quantidade de tecido ósseo para utilizá-
cas, independentemente se os dentes são ou não lo no enxerto autógeno, além d e tornar um pro-
portadores de lesões periapicais. A curetagem ja- cedimento mais rápido e seguro do que quando
mais deve ser realizad a iso ladamente, mesmo realizado manualmente. Este cinzel foi desenvol-
que os canais radicula res, radiograficamente, es- vido para ser utilizado tanto no aparelho ultra-
tejam bem obturados. sônico da Gnatus como no da ENAC.
Os procedimentos clínicos para executar essa Nos casos clínicos onde os ápices dentais já
modalidade cirúrgica são simples. Basicamente, estão expostos devido à deiscência do tecido ós-
desde o início do preparo do paciente e meios seo, a ostectomia poderia até ser realizada mais
afins, corno o acesso cirúrgico à região periapical rapidamente com o emprego de brocas, mesmo
até o término da curetagem periapical propria- porque nesses casos dificilmente existe o perigo
mente dita, os passos cirúrgicos são os mesmos, de lesar a superfície do dente . Mas considerando
independentemente do tip o de cirurgia realizada. que o tecido ósseo desgastado pela ação das bro -
CIRURGIA PAR ENOODÔNTICA: COM O PRATICÁ-LA COM EM BASAM ENTO CIENTÍFICO
cas estaria sendo desperdiçado, seria mais pru- pode ser efetuado com auxíl io de curetas cirúrgi-
dente o emprego dos cinzéis. Este procedimento cas ou periodontais, de diferentes tamanhos e
permite a conservação de parte do tecido ósseo calibres. Durante esses procedimentos é preciso
removida, preservada em soro fisiológico para evitar uma curetagem exagerada ou intempesti-
em seguida ser recolocado na loja óssea (enxerto va n o sentido de não lesar as estruturas dentais e
autógeno ), em conjunto com o sulfato de cálcio, estruturas vizinhas, como plexo nervoso, o seio
conforme preconiza o Professor Osvaldo M. Massi maxilar, mucosa na sal. etc.
(Rio de Janeiro-RJ). Nos casos de curetagem de material estranho
Nos casos onde não existe lesão periapical, presente no ápice, constituído principalmente de
uma vez retirada a cortical óssea vestibular, a material obturador extravasado, deve-se promo-
remoção de parte do tecido ósseo esponjoso para ver freqüentes irrigações e aspira ções no sentido
exposição de todo o ápice radicular também de ajudar n a sua remoção .
• Fm . 16,5
Pequenos por-
ções de guto--percha
no interior dos de--
pressões ósseos, poro
' ;r,
orientar a localização
do ápice dental, du-
rante o exame radio-- · ·r1G. 16.6
gráfico Imagem radiopaco do guto--p ercha (seta) colocada
na depressão óssea e sua relação com a imagem dos
ápices radiculares permitem realizar uma abordagem ci-
rúrgico mais preciso e seguro.
' 1
2. Apicectomia
Classicamente a apicectomia tem sido indi-
cada diante de inúmeras situações clínicas, a sa-
ber: nos casos de raízes dilaceradas que impedem
um tratamento convencional adequado; quando
da retificação e/ou perfuração da raiz no terço
apical; em presença de ramificações apicais não
obturadas; instrumentos endodônticos fratura-
dos; fraturas radiculares que envolvem o terço
apical acompanhado ou não de lesão periapical e
em presença de reabsorções radiculares apicais
externas, cujos tratamentos foram incapazes de
• nG, 16.9 solucionar o problema via canal radicular.
Curetagem de toda lesão periapical através de À par dessas indicações, a ressecção radicular
curetas específicas (A a D). Consetvaçõo do mesma em ou apicectomia é um procedimento cirúrgico re-
solução própria para posterior análise histopatológica (D comendado por inúmeros autores288·292,434, não só
Notar a extensão do lesão removida (FJ. no sentido de facilitar a localização do canal radi-
cular, mas também para eliminar os deltas apicais,
nem sempre visíveis na radiografia e passíveis de
A realização da curetagem periapical como estarem contaminados ou abrigando material ne-
um procedimento cirúrgico complementar exe- crótico 16,113·288· 293 A 34 . Essas ramificações do canal
cutado em conjunto com outras modalidades pa- principal têm sido demonstradas por vários auto-
rendodô nticas visa remover completamente a le- reS6'252·'85, constituindo-se numa importante causa I
são p~riapical (Figura 16.9), possibilitando não de falhas após o tratamento endodôntico 210,21 1 .
só expor o ápice radicular como também coútri- Elas abrigam bactérias que se não forem des-
buindo para melhorar a hemostasia do campo truídas pelos procedimentos terapêuticos endo- /
operatório. Outro fato de fundamental impor- dôntico s, poderão manter a lesão presen-
tância é que essas lesões periapicais removidas te30·424,461 . Esse assunto tem sido muito explorado
jamais sejam descartadas, deve ndo ser acondicio- na atualidade, despertando grande preocupação
nadas em soluções adequadas para conservação diante da possibilidade de terapêuticas endodôn-
de tecido e enviadas para exame histopatológico, ticas modernas não terem êxito no combate à
permitindo assim o diagnóstico definitivo do tipo essas bactérias localizadas nas profundidades do
de lesão presente. sistema de canais radiculares. Daí serem alar-
Finalizando a curetagem p eriapical, mantes os dados com respeito à porcentagem de
realiza -se uma cuidadosa toiLet da loja óssea atra- sucesso após tratamento de dentes necrosados
vés de irrigações freqü entes com solução fisioló- com lesão periapical. Holland et al. 199 e Souza et
gica e aspiração, prepa rando-a para as interven° al. 413 admitem que a p ersistência da contamina-
ções operatórias que se fizerem necessárias em ção, em função de bactérias presentes nessas ra-
seqüência. Uma vez finalizados todos os proce- mificações e crateras apicais, constituem-se num
dimentos que foram planej ados e executados, dos mais severos fatores responsáveis pela gran-
promove o preenchimento da loj a óssea com co- de porcentagem de fracasso após o tratamento de
águlo sangüíneo, efetua -se a sutura do retalho canais radiculares de dentes portadores de lesões
com pontos interrompidos, utilizando-se de fios periapicais. Hess & Keller 174 demonstraram que
de seda 4-0, 5-0, de poliglactina 910 (vicryl) 4.0 essas ramificações, em média, estão presentes em
ou de nylon 5.0. 42 % dos dentes humanos permanentes (Figura
Não se deve esquecer das orientações básicas 16.10). Pode-se concluir, portanto, que em den-
a serem recomendadas aos pacientes com rela- tes portadores de lesões periapicais, essas ramifi -
ção, por exemplo, a observar repouso, cuidados cações apresentam-se geralmente repletas de te-
com a dieta, compressa s, higien e oral, etc., assim cido necrosado e contaminado, podendo influir
como a utilização correta de medicamentos pres- negativamente na reparação (Figuras 16.1, 16.2
critos. e 16.4).
CIRURGIA PA.R.ENDOOÔNTICA : COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
Reportando-se aos resultados histopatológi- os deltas apicais conta m inados foram removidos
cos obtidos por Otoboni-Filho 333 , os melhores fo- cirurgi camente, elimi na ndo-se com isto o fator
ram notados no grupo em que os dentes foram contaminante. Nessas situações, parece claro,
submetidos apenas a apicectomia ou após apicec- que as técnicas cirúrgicas que englobam maior
,'! tomia com a realização da obturação retrógrada quantidade de tecido de ntal (apicectomia) pro-
; convencional, quando comparados aos dos espé- duzem resultados m ais favoráveis (Figura
cimes que sofreram apenas curetagem da lesão 16.11) do que as que provocam menor desgaste
periapical. Nos dentes submetidos a apicectomia, (curetagem periapical) .
• 1
Considerando-se que geralmente os dentes presença de dentes com lesão periapicaL seja reali-
encaminhados p ara a realização de cirurgias pa- zado pelo menos a apicectomia e não apenas o
rendodônticas são casos de fracasso de tratamen - alisamento ou arredondamento do ápice radicu-
to endodôntico; que este fato guarda relação, lar (plastia apical), detalhe que Lambém aborda -
) dentre outros fatores, principalmente com apre- remos adiante.
sença de ramificações apicais do canal principal Após cuidadosa curetagem da lesão periapi-
contaminadas, recomenda -se que, sempre em cal (Figura 16.12) e ampla exposição da porção
CIÊNCIA ENDODÓNTICA
apical da raiz (Figura 16.7), a apicectomia então ca s ou até mesmo com o ultra -som , alcançam
é realizada com um a broca Zekrya n 2 I 5 1 da pouca profundidade. Com o ultra-som, em fun-
Maillefer (Figura 16. 13 ). ção do desenho dos insertos para o preparo re-
Uma das questões muito discutida refere-se trógrado, a profundidade m áxima conse gu id a
ao fato da realização ou não do biselamento da está em torno de 3 mm; com brocas, Bernabé et
superfície radicular apicectomizada. Essa mano- al.50, em 1990, em trabalho não publicado, verifi -
bra visa permitir que to da a superfície radicular caram que a proiundidade média das cavidades
seja exposta e 'visível, fa cilitando os procedimen- apicais não ultrapassava 1,3 9 mm (Figura
tos operatórios. Hoje, a tendência é evitar tanto 16. 14) . Em ambas situações, deve-se evitar o bi-
quanto o possível o biselame nto dessa superfície. se lamento das superfícies apicectomizadas, pois
De preferência, realizar esse corte p erpendicular existe o risco de contaminação dos tecidos perio-
ao lopgo eixo da raiz, variando-o apena s qua ndo dontais, via túbulos dentinários. Principalmente
situações anatômicas não permitirem visualiza- nas retrocavidades preparadas com brocas, e em
ção adequada e impedir o desenvolvimento da presença de biselamento da superfície dentinária,
técnica operatória instituída. Gilhean y et al. ' 5º em os túbulos dentinários que ficam abaixo da retro-
estudo in vitro, realizaram o seccioname nto da bturação, desprovidos de sela m ento, estabelecem
raiz com Oº (corte ho rizontal) , 30º ou 45 º (cortes uma comunicação desde o interior dos canais ra-
inclinados) . Observaram qu e o aumento do bise- diculares, provavelmente contaminados, com os
lamento radicular contribuiu significativamente tecidos periapicais (Figura 16. 15). Em clínica,
para o aum ento dos índi ces de infiltra ção margi- este fato, independente do tipo de material re -
n al, inclusive na superfície dentinária exposta. trobturador utilizado, propicia uma probabilida -
Na opinião deles, a ressecção realizada com 30° de maior de h aver recidiva da lesão periapical.
ou 4 5º expõe muito mais tú bulos dentinários do Entretanto, quando a técnica retrobturadora
que o co rte horizontal ou a Oº . Ou tra observação for o tratamento endodôntico via retrógrada, o
interessante dos autores é que quanto mais bise - biselamento poderá ser efetuado, sem grandes
lado for a superfície apicectom izada, mais pro- restrições. Nesses casos o preparo do canal radi-
funda deve ser a retrobturação . cular via retrógrada e a retrobturação são realiza-
/
Diante dessas observações, deduz-se que o dos mais profundamente, permitindo uma me -
biselamento pode até ser executado, desde que lhor limpeza e uma obturação mais extensa, im-
se considere o típo de técnica retrobturadora que pedindo que ocorra contaminação por e ssa via
será utilizada. Assim é que a técnica da obtura- (Figura 16. 16), conseqüentemente não penni-
ção retrógrada conven cional realizada com bro- tindo a recidiva da lesão.
• FIG, 16.12
Curetagem da lesão períapical (A e BJ e ampla
exposição do campo cirúrgico (CJ.
• FIG. 'S6.B
Apicetomio, por desgaste, realizada com broco
Zektya nº 757 (MailleferJ.
CIRURGIA PARE.NPODÔN''f!CA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• FiG. 1~,14
Gráfico evidenciando que a profundidade média
das retrocovidades preparadas com brocas (barros em
azul cloro) oting,iwn o valor máximo de 1,39 mm. Pre-
poras realizados em dentes humanos montados em ma-
nequim especialmente desenvolvido para simular as difi- Esquema demonstrando que o biselomento opicol
culdades encontrados em pacientes. expõe os túbulos dentinórios abaixo das retrobturações
estabelecendo uma comunicação do interior do canal
radicular (A) com os teodos periodontois (8), em nível do
superfície apicectomizoda, em razão do pouco profundi-
dade alcançada pelo material retrobturador (0
Outra questão, com relação ao ato da apicec- camada de smear layer favoreceu a deposição pre-
tomia, é a possibilidade de que essa possível per- coce e o aumento quantitativo de cemento sobre
meabilidade, mantida através dos túbulos denti- a superfície dentinária exposta.
nários, ser influenciada pela presença da smear Para tentar esclarecer esta questão, Bernabé
layer sobre a superfície apicectomizada . Alguns44 1 et al. 47 realizaram um trabalho experimental em
admitem que a presença da smear layer possa dentes de cães, onde os canais radiculares sofre-
reduzir essa permeabilidade e que com a sua ram tratamento endodôntico via re t rógrada ,
remoção h averia um aumento da infiltração quando foram retroinstrumentados e re trobtura-
marginal44 1 • Esse fato fo i contestado por Peters dos com cim e nto de óxido de zinco e eugenol
& Harrison 3~ 5 , admitindo que a remoção dessa consistente, a 1 mm aquém da superfície de cor-
camada através do emprego do ácido cítrico so- te, de acordo com as recomendações de Bernabé,
bre a superfície dentinária exposta pelo ato cirúr- em 199418 . A seguir, em dois terços dos espéci -
) gico não afetou o nível da infiltração marginal. mes estudados, realizaram a aplicação de ácido
Por sua vez, Craig & Harrison 98 observaram, após cítrico (113 ) ou EDTA trissódico (11 3 ) sobre a su-
curto período pós-operatório, qu e a remoção da perfície dentinária exposta durante o ato da res-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
1 .
• RG. 16.11
Resultado histopatológico após aplicação de EDTA
trissódico, por 3 minutos, para remoção do smear layer. • FIG. 16.10.
Nota-se reparo dentoalveolor completo. Tratamento Detalhe da aplicação do EDTA trissódico sobre a
endodôntico via retrógrada. Canais retrobturados com superfície dentinário apicectomizada, com auxílio do
cimento de OZE consistente a 1mm aquém da superfície microbrush embebido no fátmaco.
opicectomiz ada. H.E. 40X
Ainda com relação ao ato da rcssecção do dentinária está lisa e regular (Figura 16. 19). Ao
ápice radicular, efetuada com a broca Zekrya n º contrário, quando foram empregadas brocas dia-
151 da Maillefer (Figura 16.19), tem -se qu e mantadas ou de aço picotada, essa m esma super-
considerar o seguinte fato. A escolha recai sobre fície apresentava muitas ranhuras ou sulcos em
o emprego dessa s brocas de aço, acionadas à alta toda a sua extensão (Figura 16.20) . Durante
rotação, cm função da eficiência de corte, de essa manobra é importan te realizar, con comitan-
p ossuírem adequado comprimento e d a expe - temente, abundante irrigação de soro fisiológico
ri ên cia adquirida com o seu emprego desde o com o au xílio de seringa Lu er. Ao mesmo tempo,
lançamento dessa broca . Além do que, estudos recomendam-se cuidados especiais para evitar
alizados por Cruz Gonzalez (Guadalajara - Méxi- acidentes tais como p erfuração do seio maxilar
co), após seccionamento da porção radicular com (Figura 16.21), corte de plexo n ervoso, e m es -
este tipo de broca, observaram atra vés da micros- mo desgastes impróprios de e struturas dentais
copia eletrônica de varredura, que a su perfície vizinhas (Figura 16.22).
CIRURGIA PAREN OODÓNTICA: CO MO i'R ATICÂ-·LA COM EM BASAM ENTO CIENTÍFICO
' ;r
1
j
• ft!G. 10.21
Exposição do seio maxilar durante procedimento
• 1
oi-úrgico em dente pré-molar superior
• ff!IG.16.U
Desgaste da superfície radicular do dente 43 (seta),
durante procedimento cirúrgico que estava sendo reali-
zado no dente 42. Perigo de comprometimento do plexo
vasculonervoso.
Outra vantagem a ser mencionada com a tica obturação do canal radicular, adequadamen-
apicectomia, refere-se ao fato da mesma facilitar te realizada, sem falhas, detalhes nem sempre
o acesso às áreas da porção radicular que, via de visíveis radiograficamente . Na dúvida, o canal
regra, apresentam dificuldades durante a cureta- radicular deve ser re tratado, pois o sucesso desse
gem da lesão periapicaL melhorando assim o procedimento, além de o utros fatores importan-
.~ campo de visão e os demais procedimentos cirúr- tes, é dependente de u m eficiente selamento
( gicos. m arginal proporcionado pelo material obturador.
É importante relembrar que as técnicas da Um outro fator de fundamental importância
apicectomia e da curetagern periapical, quando quando se refere a ressecção da porção apical da
indicadas isoladamente, devem ser realizadas raiz, diz respeito à possibilidade de se realizar
apenas naqueles dentes que apresentem hermé- apicectomias irregulares ou incompletas. É fre-
CIÊNCIA ENDODÓNTICA
• _F.I~. J.~'. ?, ..
Tratamento endodôntico via retrógrada com OZE
consistente (AJ. Maior aumento (BJ mostrando tecido Tratamento endodôntico via retrógrada com OZE
coniumivo invoginodo no interior do canal radicular. Pre- consistente. Selamento biológico parcial do canal princi-
sença de delta apical (seta) e cemento celular remanes- pal por deposição de tecido cementário. Observo-se en-
cente, não removido pelo ato do apicectomio. H.E. 40X trada de canal do deito apical remanescente (seta), não
removido durante a apícectomía, obliterada pela deposi-
ção de tecido cementárío. H.E. 40X
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
Superfície dentinária seccionada mostrando área Corte histológico da figura anterior. Notar
com cementoplastos vazia (seta), não removido pelo cementoplastos (seta) com microrganismos Gram-negoti-
seccionamento apicaf. H.E TOOX vos. Brown e Brenn, 200X
A ocorrência dos deltas apicais re manescen- mente e com m uita atenção no sentido de que
tes contaminados, presentes no ápice dental, per- essas porções radiculares, que podem conter os
turbando a repara ção dentoalveolar, refere-se à deltas apicais, sej am totalmente rernovidas 38 .
, '1 possível influência do trabalho do operador nos Provavelmente, muitos dos insucessos relatados
I resultados do tratamento. Idêntico problema já n a literatura com respeito a dentes com lesões
h avia sido detecta do em outros trabalhos desen - periapicais e submetidos a cirurgias parendodôn-
volvido por Bernabé et al. 5 7 e Bernabé et al. 55 ticas, também guardam relação com a presen ça
onde foi evidente a constatação da presen ça des- da m aior contaminação qu e pode existir nos del-
ses deltas contaminados e que influenciaram, tas apicais e ramificações do terço apical do canal
significativamente, nos resultados finais do expe - principal e qu e não foram removidos (Figuras
rimento . Esse fato guarda relação com a execu- 16.23 e 16.24), conforme já salienta do. Lem-
ção de uma apicectomia insuficiente para remo- brando uma vez m ais que as contaminações qu e
vê-los tot almente. Como característica, eles são podem existir nos cementoplastos e expostos aos
visíveis principalmente n a porção lingual da raiz, tecidos periapicais (Figuras 16.25 e 16.26) po-
provavelmente em função da inclinação de corte dem influenciar n egativa mente sobre os índices
ser mais acentuada, involuntariam ente, para de sucesso e que infelizmente n ão são detectados
vestibular. Isto explicaria então a presença de nos trabalhos de cunho clínico/radiográficos, di-
bactérias Gram -n egativas não só nos deltas api- ferente do que estudam os e relatamos. Para con-
cais (Figuras 16.27 e 16.28), mas também nos firmar a opinião a respeito, reporta-se a Figura
túbulos dentinários (Figura 16.29) . Essas ramifi- 16.27 onde executou-se a retrocavidade com au-
cações, em função de apicectomias deficientes, xílio do u ltra-som e retrobturação com. o MTA.
podem ainda estar presentes sem contam inação, Pode-se notar deposição parcial de cemento so-
propiciando uma melhor reparação . Esse fato bre o MIA e presença de intenso processo in fl a-
pode ser observado na Figura 16.30, onde se matório crônico, quadro não comumente notado
nota presença de ramificação reman escente, no quando da realização de cirurgias com esse ma -
entanto com ocorrência de selamento biológico e terial e tipo de técnica. Conforme já comentado é
um tecido conj untivo organizado com poucas muito provável que esse quadro histopatológico
células inflamatórias. esteja relacion ado com a presença dos deltas api -
Esses detalh es servem para alertar os profis- ca is contaminados que não foram removidos du-
sionais a redobrarem os seus cuidados quando da rante a apicectomia, detalhes esses que não são
realização da apicectomia, realizando-a correta - observados clinicamente.
CIÊNCIA ENDOOÔ NTICA
.
·
-~
• FIG. 16.21
Em A observa-se cemento neofonnado recobrindo
o material obturador. Há canais da ramificação apical
não removidos intergralmente durante o seccionamento Mesmo caso da figura anterior mostrando ramifica-
apical H.E. 40X Mesmo caso (8) mostrando canais re- ção apical remanescente com microrganismos Gram-ne-
manescente e Ji1tenso infiltrado inflamatório do tipo crô- gativos. Brown e Brenn 400X
nico. H. E. !OOX
• FJG.16.:m
Bactérias Gram-negativas no interior de túbulos Ramificações do canal principal que não foram re-
dentiná,ios e detritos. Brown e Brenn, 200X movidas pelo opicectomia (setas), mostrando área com
cemento neoformodo e infiltrado inflamatório do tipo
crônico. H. E. !OOX
to. O autor relatou na época a hipótese do orga- mente poderá haver uma maior exposição de
nismo, diante da presença de arestas, promover material re trobturad or, conseqüentemente que-
reabsorções dessas áreas com o propósito de re- brando a eficiência do selamento m argin al p re-
modelar e deixar a raiz arredondada, ou seja, tendido com o mesmo, além da possibilidade de
com a anatomia aproximada daquela existente exposição de túbulos dentinários contaminados,
antes da realização da apicectomia. A luz de co- mantendo uma fonte de irritantes no local. Esses
nhecimentos mais atualizados e científicos acerca fenômenos ocorrendo, ainda mais em conjunto,
das causas dessas reabsorções, o mesmo autor podem levar o tratamento ao fracasso. Os fenô-
entende hoje que esse procedimento é desneces - menos inflamatórios qu e se instalam, além da
sário e desprovido de amparo científico. Na ver- infecção presente, nesses tipos de casos, criam
dade, esse desgaste das arestas ou plastia apical condições loca is para manutenção das reabsor-
irá expor uma maior área de dentina, acentuan- ções e que na maioria das vezes não são detecta-
do ainda mais o processo de reabsorção. Hoje se das pelos profissionais nos exames clínicos/radio-
sabe que as reabsorções dentinária s estariam re - gráficos, passando desapercebidas ou ignoradas .
lacionadas com os fenômenos que cara cterizam a Até o presente momento a postura clínica de
auto-imunidade e nã o com a presença de arestas não se desgastar essas arestas durante a realiza-
ou deformaçã o anatômica apical. Provavelmen- ção da plastia apical, deve -se ao respaldo científi-
te, entre a s proteínas dentinárias encontram-se co obtido em conseqüência de avaliações mais
numerosas m oléculas que podem ser considera - críticas efetuadas sobre os inúmeros espécimes
das como ve rdadei ros antígenos seqüestra- processados ao longo dos anos nos diferentes es-
dos94·97·176·367·367·467 e que expostas, desencadeiam tudos conduzidos por Bernabé et af. 39.4 3.4 7.43, 59 _
um processo de reabsorção . Considerando esses Além tam bém dos novos conheci m entos, confor-
conceitos, entende-se não ter sentido então ex- me já acentuado, acerca das possíveis causas des-
por uma nova quantidade de dentina junto aos sas reabsorções. Nota-se que as arestas que resta-
' ;; tecidos periapicais além daqu ela que já ocorre ram após o ato da apicectomia encontram-se in-
' quando do ato da apicectomia. Esse desgaste rea- tactas, sem evidências de reabsorção, mesmo de-
liza do durante a plastia apicaL biselando tôda a corrido o período pós-operatório de 180 dias,
borda externa (aresta) da superfície apicectomi- quando o reparo p raticamente se definiu (Figu-
zada, removeria então m aiores porções de ce- ra 16.31). No entanto, estamos cientes de que
m ento que protegem a dentin a do contato com o novos estudos sobre o assunto devam ser realiza -
I periodonto, agravando assim o quadro da reab- dos comparando essas variáveis à luz da m icros-
sorção dentinária apical. Dependendo da intensi- copia óptica, o que definitiv amente iria esclare-
dade com que esse fenômeno ocorra, lateral- cer as dúvidas ainda reinantes.
' 1
• FIG. 16.31
Em nível da superfície dentinória exposta, notar pre-
sença de arestas resultantes do ato da apicectomia e que
permaneceram intactos, sem serem reobso,vidos, após
complementação do reparo. H.E IOOX
(
A realização da apicectomia como u m proce- güentes, a obturação do canal convencional se
dimento parendodôntico isolado poderia ser in - torna problemático, necessitando de comple-
dicado em algumas situações especiais. Nos casos mentação cirúrgica. Então após prévio preparo
de exsudato persistente ou agudecimentos fre- do canal radicu lar, a obturação pode ser realiza-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
da durante o ato cirúrgico e a apicectomia exe- assim e Lltilizando a superfície dentinária apiccc-
..
. ~:t
cutada antes ou depois da obturação do canal. tomizada como referência, remove-se, via apical, ' ~·
Desde que possível, o profi ssion al ta m bém pode ao redor de 1 mm da obturação empregando-se o t
1
realizar a obturação do canal radicular em sessão condensador nll 5 (Figura 16.33) integran te do ~··
anterior à cirurgia, reduzin do a ssim o tempo ci- Kit Bernabé (Figura 16.32), especialmente dese- 1··
rúrgico. Nesses casos, n a sessão seguinte, exposto nhado para micro-cirurgia . Esse condensador (Fi-
cirurgicamente o ápice rad icular, realiza -se a api - gura 16.33) possui uma demarcação de 1 mm
cectomia. desde a sua extremidade, que após ser ligeiramen-
Deve ser considerado que nesse tipo de tra - te aquecido, é introduzido via retrógrada, remo-
tamento cirúrgico onde a apicectomia está sendo vendo parte da obturação do canal (I mm). Outro
realizada sem execução da obturação retrógrada, procedimento seria realizar inicialmente a desob-
é fundamental que haja acesso via coronária e turação via retrógrada com o auxilio de insertos
que os canais radiculares estejam obturados ade - ultra-sônicos (Figura 16.34), concluindo o acaba -
quadamente, sem falhas. Nesse momento deve - mento com os calcadores do Kit Bernabé (Figura
se alertar que se os ca na is radiculares forem ob - 16.33 ) . Recomendamos esse limite (Figura
turados por outro profissional e existirem dúvi- 16.35 ) porque Bernabé38 demonstrou, histopato-
das quanto à eficiência de ssa obtura ção, é essen - logicamente, que o prognóstico da reparação é
cial que os canais ra diculares sejam reobturados. mais favorável quando as retrobturações são reali- ,
Considerando que eventuais falhas podem ocor- zadas a 1 mm aquém da superfície dentinária sec-
rem após as obturações dos canais radiculares e cionada (Figuras 16.36 e 16.37). Ressalta-se que
que nem sempre são detectadas pelos exames esse tipo de procedimento só pode ser utilizado, 1
radiográficos; e m esmo considerando que essas além da situação clínica acima descrita, quando as
obturações tenham sido reali zadas sem ocorrên- retrobturações atingirem gran des profundidades,
cia de incidentes, particularmente temos indica - como é o caso do tratamento endodôntico via re-
do a realização da obtura ção retrógra da con ven- trógrada (Figura 16.38). Caso contrário, com o
cion al após a apicectomia, complem entando as- ocorre nas obtura ções retrógradas conven cionais
sim o tratamento instituído de form a mais ade - onde a profundidade da retrobturação é limitada, ~
quada e segura. Entretan to existem situações a remoção de 1 mm dessa retrobtura ção diminui a
ond e essa obturação retrógrada n ão é executada, extensão da mesm a no interior do can al radicular,
prin cipalmen te pelo fato do profissional confiar havendo assim o comprom etimen to do selam ento
na boa qualidade da obturação realizada, indi- marginal apical proporcionado pelo material re-
cando então som ente a apicectom ia. Em feito trobturador.
• !Fm. 16.&4
Detalhe do desobturoção, via retrógrado, com oux17io Demonstração in vitro da obturação situada à 1 mm
do ultra-som. Remoção do material obturador cerca de aquém do superfície dentinó1io apicectomizada.
1 mm aquém da superfície dentinária apicectomizada.
I Realizada a apicectomia, a exemplo dos de- mizada (Figuras 16 .39 e 16. 74). Em seguida
( ·mais procedimentos cirúrgicos, e após a limpeza preenche-se, por indução, a loja óssea com coá-
da cavidade óssea, segue-se à colocação de um gulo sangüíneo, reposição do reralho mucoperios-
) capuz de hidróxido de cálcio, conforme reco- L&l e sutura do mesmo . A remoção dos pontos,
menda Bernabé & Holland 52 , dentro do espaço couiorrne nosso protocolo, é efetuado decorridos
de 1 mm e também sobre a superfície apicecto - sete dias do ato operatório.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
• FIG. 16.39
3.1. Preparo dos Retrocovidodes Este estudo demonstrou que se o material retrobtu-
rador for colocado em uma cavidade com pouca
3.1.1. Retrocavidades preparadas com brocas profundidade, ele não estabelece um selamento
e ultra-som marginal adequado, facilitando a penetração de
bactérias e endotoxinas para junto dos tecidos peri-
O preparo de retrocavidades tem sido realiza- apicais impedindo assim um reparo adequado. Em
do com emprego de brocas convencionais movi- clínica, esta profundidade dificilmente é estendida
mentadas em alta ou baixa rotação, ou através de por razões essencialmente técnicas. As pontas dos
pontas ou insertos ultra-sônicos. Dentro deste con- aparelhos de alta ou baixa rotação convencionais são
texto deve-se observar que um dos fatores de fun- volumosas em relação às cavidades cirúrgicas, e a
damental importância refere-se à profundidade das colocação da broca, dentro dessas lojas ósseas, é pro-
cavidades apicais. Na verdade, com o emprego de blemática. Decorre daí que as cavidades são sempre
brocas, elas possuem uma profundidade relativa- confeccionadas inclinadas em relação ao longo eixo
mente pequena, não indo além de 2 mm 15· 16,26,J4.6o_ dos canais radiculares (Figura 16.40). Tal fato pode-
Bernabé et al. 50 realizaram um estudo in vitro prepa- ria ser contornado com o emprego de uma peça de
rando retrocavidades com brocas em um mane- mão em miniatura (Figura 16.41), mas mesmo as-
quim especialmente idealizado para simular todas sim, e inclusive considerando regiões de fácil acesso,
as dificuldades encontradas em clúúca durante um é difícil confeccionar essas cavidades em direção ao
ato operatório. Verificaram que as profundidades longo eixo, pois o contra -ângulo, apesar de diminu-
das cavidades apicais, nessas condições, não ultra - to, nem sempre se encaixa no interior das lojas ós-
passaram a medida de 1,39 mm, muito rasa consi- seas (Figura 16.42). Esse contra -ângulo, espeófico
derando que a média das infiltrações marginais re- para uso em cirurgia parendodôntica, desenvolvido
gistradas junto à maioria dos materiais rerrobtura- pela Kavo, é acompanhado de brocas tronco de cone
dores utilizados foram bem maiores (Figura 16.14). invertida ou esférica .
• 1
Como já foi salientado, as brocas quando tradas num exame radiográfico de rotina, mesmo
utilizadas para preparo das cavidades apicais, por que no local se estabeleça um processo inflama-
dificuldades técnicas de acesso à região apical, tório, pois essas alterações serão mascaradas pela
não são colocadas n o sentido do longo eixo do radiopacidade dos materiais retrobturadores e
canal radicular, proporcionando então a confec- pela estrutura dental. Além do que, nessas situa -
ção de retrocavidades inclinadas (Figura 16.40). ções é comum observar silêncio clínico. Acres-
Em função do acesso ocorrer no sentido de vesti- cente-se ainda que essa observação visual, mes-
bular para lingual, a inclin ação das cavidades mo com o auxílio do microscópio odontológico, /
a picais também ocorre em direção à parede lin - também pode ficar prejudicada pela condensação
gual das retrocavidades. Isto pode provocar aci- de detritos, muito comum de acontecer nesses
dentes, como a sua p erfuração, expon do o liga- casos e nessa região.
mento periodontal (Figura 16 .43) conforme foi Conforme já demonstrou Bernabé3 7 ( 1981)
demonstrado em estudos realizados por Bernabé48 em estudo histopatológico, o uso de brocas deve
em dentes de cães, comparando retrocavidades ser evitado, empregando-a somente em situa-
executadas com brocas ou com pontas ultra -sô- ções especiais. Durante o desenvolvimento do
nicas. Mesmo que esse preparo inclinado não ato cirúrgico podem acontecer problemas técni-
provoque exposição do ligamento periodontal, cos com o emprego do ultra -som, como por
danos aos tecidos podem acontecer. Preparando exemplo, uma pane elétrica ou mecânica, impe-
retrocavidades com brocas, Bernabé48 observou dindo o seu manejo. Nessas circun stâncias aso-
uma extensa reabsorção do cemento e da parede lução será o preparo de retrocavidades com bro -
lingual da retrocavidade, quase estabelecendo cas, quando então o paciente deve ser alertado
uma microexposição, provavelmente devido ao quanto ao prognóstico do tratamento. Sendo
calor gerado pela ação da broca, mesmo empre- assim a broca recomendada, quer com alta ou
gando refrigeração adequada . Nesse caso, é pro- baixa rotação, é a esférica nº 1 ou a tronco de
vável que o reparo tenha ocorrido em função de cone invertida nº 33 112, lembrando que a peça
se utilizar um material biocompatível, o MTA de mão em miniatura da Kavo, poderia oferece
(Figura 16.44). Esses detalhes levam a deduzir melhor oportunidade de realizar essas cavidades
que o tipo do material retrobturador utilizado é menos inclinadas em relação ao longo eixo do
muito importante, pois caso ele não tenha boas canal radicular. Para evitar desgaste excessivo
propriedades biológicas, o reparo poderá ser pre- de dentina com esse tipo de procedimento, re-
judicado e o insucesso será inevitável. Deve -se comenda-se cuidados especiais no sentido de
alertar que ocorrência s desse tipo e detectadas preparar cavidades apicais com a mesma fo rma
em nível h istoparológico, dificilmente são regis- original do canal radicular, prevenindo-se assim
CIRU RGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍFICO
- -~ç_;.__1_~11-~
11 Retrocovidade preparada com broco e
retrobturação com MTA. Detalhe histopatológico da per-
furação da parede lingual em função da inclinação do
Retrocavidade preparada com broca e inclinado em
I broca <AJ. Em B, maior aumento mostrando detalhe do
relação ao longo eixo do canal radicular (AJ. Notar
perfuraçao reparada pelo deposição de tecido
reabsorção da parede dentinária (8) quase levando a
cementario. Em C detalhe da perfuração em M.E V.
comunicação com o fundo da cavidade. Reparo pelo
deposição de novo tecido cementário e manutenção do
espessura do ligamento periodontal.
(
) Ainda com relação aos possíveis efeitos da nal, uma possível correlação entre a profundidade
pouca profundidade das cavidades apicais e incli- da caixa apical preparada para receber uma obtu-
nação das m esmas, Gilheany et a/. 15º procuraram ração retrógrada e o ângulo de biselamento radi-
estabelecer, através do nível de infiltração margi- cular. Concluíram que quanto maior for o ângulo
CIÊNCIA ENDODÕNTICA
de ressecção, maior deve ser a profundidade da mentais, presença desses detritos. Pode ser nota-
cavidade apical. Verificaram também que, aumen- do em alguns espécimes que essas raspas denti-
tando a profundidade da obturação retrógrada, nárias ou detritos estavam acompanhadas d e
em relação ao eixo do canal radicular, diminui-se processo inflamatório. É provável que as bacté -
significativamente o índice da infiltração marginal rias presentes nos túbulos dentinários, e que se
ao redor do material obturador. relacionam com esses detritos, possam proliferar
Ainda com relação aos p roblemas que po- e contaminar os referidos detritos, provocando
dem ocorrer com as obturações retrógradas con- assim essas reações (Figura 16.47). O fato que
vencionais, é preciso alertar que quando em pre- mais surpreende u o autor foi a ocorrência desses
sença de canais laterais, não removidos pela api- detritos também nos grupos onde o ultra -som foi
cectomia ou não alcançados pelo preparo da cai- utilizado, a despeito da abundante irrigação utili-
xa apical, poderá ocorrer um elo de comunicação zada e da sabida ação de limpeza proporcionada
entre os tecidos periodontais e os resíduos necró- p elo sistema ultra-sônico.
ticos presentes no interior dos canais radiculares
não obturados ou m esmo com obturações defi-
cientes . Através desse caminho, bactérias ou
suas toxinas poderão estimu lar o desenvolvi-
mento ou a manuten ção de lesões periapicais.
Bernabé 37 , num experimento histológico
inédito na época, estudou pela primeira vez al-
guns dos fatores que poderiam interferir sobre o
processo de reparo dos tecidos periapicais após a
realização de cirurgias parendodônticas. Um des-
ses fatores estudados e de fundamental impor-
tância no contexto parendodôntico refere-se ao
detrito. Estudando o comportamento dos tecidos
periapicais de dentes de cães, após obturação re- /
trógrada convencional com amálgama de prata
• nq. 16.46
ou guta-percha brunida a frio, Bernabé3 7 pôde
Presença de fragmentos de dentina entre o material
verificar, em alguns espécimes, que após o pre-
retrobturador e a parede da retrocavidade C4 e B - setas).
paro de cavidades classe I com brocas, a despeito
Na foto C obse,va-se invaginação de teodo coniuntivo
de todos os cuidados para limpeza do · interior entre as paredes da retrocavidade e a obturação retrógra-
dessas cavidades, permaneceram, em algumas da, com acentuado grau de reabsorção do raiz. Nota-se
áreas das retrocavidade, det ritos ou resíduos um infiltrado linfo-plosmo-histiocitário severo. HE.
dentinár ios (Figura 16.46 ). Eles, interpondo-se
entre o material retrobturador e as pare des den -
tinárias da cavidade apical, podem criar áreas
com falhas na adaptação do material selad or.
Como resultado, tem-se o au m ento da infiltração
marginal e possibilidad e do contato dos Lecidos
periapicais com áreas contaminadas do interior
do canal radicular, conseqüentemente prejudi-
cando o processo de reparação. Salienta-se mais
uma vez que e sses resíduos o u detritos dentinári-
os não são detectados com o auxílio do micros -
cópio odontológico, p ois suas dimensões são re -
duzidas (medidas em micrôm etros), sendo visí-
veis apenas com auxílio do m icroscópio óptico.
Num estudo recente realizado em dentes de
cães, com lesões periapicais, Bernabé48 compa- Presença de microrganismos Gram-negotivos e de-
rando retrocavidades preparadas com brocas e tritos adendos à parede da cavidade. Brown e Brenn.
ultra-som, verificou, em ambos os grupos experi- 400X
CIRURGIA PARENDODÔNTICA : COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
Esses detritos, segundo Bernabé 3 9 , não só com brocas, conseqüentemente com maior des-
contribuem para ocorrência de desadaptação das gaste de tecido dentinário, foram registradas as
retrobturações, como também criam um corre- menores médias de reabsorção . Na opinião do
dor propício para a proliferação bacteriana ga- autor, é possível que essa diferença nos índices
nhando assim os t ecidos p eriapicais e provocan- de reabsorções entre os grupos (com broca ou
do então reações inflamatórias indesejáveis. Sua ultra-som) estejam também relacionadas com a
presença, conforme denunciado, foi considerada permanência de deltas apicais contaminados, e
um dos fatores responsáveis pelos insucessos que não foram removidos integralmente durante
ocorridos, mesmo · após a utilização de vários o ato da apicectomia, além da presença de ce-
ma teria is retrobturadores considerados biocorn - mentoblastos contaminados em contato com os
patíveis (Figura 16.48). tecidos periapicais. No entanto, não se pode es-
Ainda em 1981, Bernabé 37 em seu trabalho quecer, conforme já comenta do anteriormente,
analisado à luz da microscopia óptica comum que as reabsorções também podem estar relacio-
descreveu outros fatores que ocorrem in vivo pas- nadas com fenômenos que caracterizam a auto-
síveis de interferirem sobre o processo de reparo . imunidade. Consolaro 9 • admite que a continui-
Um desses fatores, que ainda não havia sido rela- dade de processos reabsortivos em raízes subme-
cionado na literatura, foi a ocorrência de reab- tidas a cirurgias parendodônticas após algumas
sorções dentinárias externas, pós-operatórias, so- semanas ou meses pode indicar a presença de
bre a superfície dentinária seccionada e superfí- bactérias e seus produtos na área operada. Con-
cie lateral da raiz. O autor verificou, em alguns cordamos com o referido autor, pois as cirurgias
espécimes que, a despeito de colocar o material parendodônticas geralmente são realizadas em
retrobturador (amálgama de prata ou guta-per- dentes portadores de infecção. Considerando o
cha) no mesmo plano de corte da denlina, decor- grau ou intensidade com que as reabsorções pos-
ridos seis meses, esses materiais estavam projeta- sam ocorrer e em presença de obturações retró-
, ;1 dos em direção aos tecidos p eriapicais (Figura gradas pouco profundas, vislumbra-se sérios pro-
; 16.49). Apesar da hipótese desse fenôm eno ter blemas com o processo de reparação após a rea-
ocorrido em fun ção da expansão do material, lização de uma cirurgia parendodôntica, fato que
acredita-se que foram as reabsorções que ocorre- muitos profissionais desconhecem ou desconsi-
ram junto ao material obturador, que proporcio- deram.
naram esse quadro, ficando o material projetado
no interior do ligamento periodontal. Segundo
Bernabé 3 7 quando essas reabsorções ocorrem,
principalmente ao redor ou proximidade dessas
. , cavidades, aliada a pouca profundidade do mate-
rial, existe a possibilidade do comprometimento
ainda· maior do se lamento marginal pretendido
com o material retrobturador. Este quadro insta-
lado acaba expondo os tecidos periapicais a
agentes irritantes contidos no interior do canal
radicular (Figura 16.50), condição essa respon-
sável p elos insucessos tão freqüentes após as ob-
turações retrógradas convencionais.
Essas reabsorções, em diferentes intensidades,
t em sido observadas em quase todos os experi-
mentos que foram desenvolvidos por Bernabé 37•38
e Bernabé et al. 4 3A 8 -53•57•59 . Comparando cavidades • FIG. 16.48
., . apicais preparadas com brocas ou ultra-som num Retrobturação com o MTA. Apesar da deposição
t trabalho experimental realizado em cães, Bernabé48 parcial de cemento sobre o material retrobturador, ob-
1 verificou que as reabsorções apicais parecem não serva-se presença de extenso processo inflamató1io.
!
estar relacionadas somente com o tipo de prepa- Insucesso do trotamento provavelmente relacionado com
ro cavitário realizado. Verificou ainda qu e nos a presença de detritos interpondo-se entre a parede
grupos onde as retrocavidades foram preparadas cavitália e o material retrobturador
CIÊNCIA ENDODÓNTI CA
• FSG. 16.49
Obturação retrógrada convencional com guta- • FiG. '16.50
percha. Deposição de cemento neoformado recobrindo Notar áreas de reabsorção da superfície dentinária
toda a superfície den tinório reabsorvido. Fibras apicectomizado. Exposição de parte do material
periodontais d1i-igem-se do cemento neoformado ao teci- retrobturador, comprometendo o selamento marginal.
do ósseo, notando-se pequena "extrusão" da obturação H.E 40X
retrógrada para o espaço periodontol. H.E. 40X
Vale considerar ainda, que essas reabsor- co, necessitando muitas vezes d o emprego de
ções dificilmente são detectadas n os exames ra - um corante, como o azul de metileno ou o
diográficos, principa I mente considerando as va- azul de tripan, facilitando sua identificação e
riações de angulagcm prom ovidas pelo profis- definindo melhor sua anatomia. Quando existe /
sion al durante as tomadas radiográficas, quase uma contaminação, como ocorre na maioria
sempre sem p adronização. Isto to rna problemá- dos casos tratados, e a presença do istmo pas -
tico o diagnóstico das causas dos ins ucessos sar desapercebido ou os procedimentos para o
ocorridos após a realização das cirurgias paren- seu preparo não alcançarem os objetivos pro-
dodônticas. É muito importante ter conheci- postos, é muito provável que o reparo ficará
mento de que ela s ocorrem, qual o processo comprometido. Nesse particular uma ferra-
envolvido e como prcvcní-las ou pelo menos menta fundamental e de extremo valor é o
utili zar pro cedimentos que diminuam a sua in- microscópio odontológico, proporcionando fa-
cidência, como, por exemplo, o emprego de hi - cilidade para a localização do istmo e posterior
dróxido de cálcio sobre a superfície apicectomi- tratamento, impedindo desga stes desnecessários
zada e materia l retrob turador, conforme preco- e p e rigosos. Como o istmo normalmente está
nizam Bernabé & Holland 52 . situado numa área de estrangulamento da raiz,
A presença de uma conexão estreita exis- seu preparo envolve a confecção de uma cana-
tente entre dois canais e contendo tecido vital leta ou sulco, unindo os dois canais (Figura
ou necrosado denominado de istmo 23 7, é um 16.52). Nesse p articular, o instrumento ideal
outro fator que pode in te rferir no processo de para preparo do mesmo é o emprego de pontas
reparo, quando não devidamente identificado e ultra -sônicas, pois apresentam diâmetro menor
convenientemente preparado . É considerado do que as brocas. Para obter magnificação do
parte integrante do sistema de canais radicula- local a ser tratado, na ausência do microscópio
res e como tal de ve ser identificado (Figura odontológico, o profissional deverá lançar mão
16.5 1), englobando-o totalmente durante o pelo menos de uma lupa de cabeça, tornando
preparo das retrocavidades, ou seja, promover os procedimentos mais eficientes do que se rea -
limpeza, preparo adequado e finalmente obtu- lizados a olho nu.
rado (Figura 16.52) . Sua visualização, pelos Quando da realização da caixa apical para
métodos convencionais pode rá ser problemáti- abrigar o material retrobturador, é necessário
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA; COMO PRAT!CÁ-l.A COM EMBASAMENTO CI ENT ÍFICO
um minucioso exame clínico para detectar o nal radicular, se cônico ou achatado. Qualquer
número de canais radiculares presentes em cada preparo que não envolva todos os canais pre-
raiz. Além do que, também, será necessário um sen tes ou não englobe toda a extensão do canal,
rigoroso exame para se detectar a forma do ca - pode comprometer irremediavelm ente o reparo .
• FIG, 16,$1
Clivrgia Parendodôntica na raiz mesial de molar infe-
tior Uma vez identificado o istmo (A), o mesmo deve ser
• AG. 16.5'! preparado (8) através do uso de insertos ultra-sônicos e
Fotografia em MEV mostrando presença de istmo. convenientemente retrobturado (CJ, no caso, com o MTA.
A forma mais segura e prática d e preparar Atualmente, existe uma sene de aparelhos
a caixa apical é a u tilização da instrumentação ultra -sônicos com kits especiais, oferecendo dife -
ultra -sônica. Embora ela tenha sido desenvol- rentes pontas ou insertos para o auxílio do pre -
vida por Richman 3 62 , em 1957, para a r essec- p aro apical. Dentre eles destaca m -se os aparelhos
ção d e raízes e Bertrand 61 ter apresentado uma ultra-sônicos importados como os da Neosonic
adaptação no apare lho Cavitron (Dentsp ly) (Amadent, Ch erry Hill, N.J. ), o ENAC (Osada
para a preparação de cavidades apica is, a co- Electric Co., Los Angeles, CA), o da EIE (Excel-
m e rcia li za ção de instru mentos endodônticos lence in Endodontics, San Diego, CA), Spartan
ultra -sônicos, para serem utilizados nas cirurgias (Spartan /O btura ), EMS Miniendo (Analy tic
parendodônticas, somen te foi introduzida há Endo), P-5 (Satelec).
pou co tempo . Dentre os aparelhos nacionais, destacamos o
Inúmeros autoresl l6, J36,1 s7.1 65.411,422,4s3 têm se ultra- som comercializado pela Gnatus, o Multi
preocupado com a prática do ultra -som durante Sonic S (piezoelétrico) , substit uído pelo Jet Sonic
os proced iment os cirúrgicos parendodônticos, Four Plus. O referido aparelho tem aplicabilidade
desenvolvendo estudos in vitro, com o propósito múltipla, ou seja, utilizado em Periodontia, Próte-
de melhor estabelecer as sua s vantagens. Apesar se, Endodontia, destacando-se seu emprego tam-
dos estudos que se desenvolvem sobre o assunto bém em cirurgias p arendodônticas. Apresenta
para esclarecer a inda a s dúvidas existentes, na inúmeros insertos, com design próprio para o uso
verdade, o ultra-som está totalmente incorpora - nas retrocirurgias e qu e foram d esen volvidos
"~ do às práticas cirúrgicas parendodônticas. Qua n- para utilização em qualquer tipo de dentes ou
t do da adoção da técnica da obturação retrógrada quadrante. As pontas da linha P (Pl5 lisa ou dia -
convencional, que engloba o preparo de uma mantada) são mais finas e ind icadas para condu -
caixa apical sobre a superfície apicectomizada, tos mais estreitos (Figura 16.53) . A Gnatus apre-
não se concebe, na awalidade, que o seu preparo senta ainda insertos da linha S 13 lisa ou diaman-
não seja realizado com o ultra -som. tada, além de insertos de uso universal, com ân -
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
guio de ataque de 90° (Sl2/90° lisa ou diamanta- lizadas sem necessidade do emprego de pontas
da). Todos esses tipos de pontas são adaptadis endodônticas e mandril. A ponta A-120 se adapta
diretamente no transdutor por um sistema de ros- ao transdutor pelo sistema de rosqueamento,
queamento. Este sistema, no entan to, impedia a mesmo sistema utilizado para adaptação dos in-
utilização de outros tipos de insertos ultra-sônicos, sertos ultra-sônicos fabricados pela Gnatus.
principalmente os de haste fina . Para possibilitar o Recentemente a Dabi-Atlante lançou um
emprego de insertos deste tipo, ou seja, de hastes aparelho ultra-sônico para uso em retrocirurgias,
finas, a Gnatus lançou uma nova ponta denomi- além de outras múltiplas utilidades. Suas pontas
nada A-120 (Figura 16.54) . Desse modo é possí- ou insertos possuem diferentes conformações e
vel que pontas de haste fin a, práticas e eficientes, são de pontas lisas, sem diamante (pontas Retro
possam ser adaptadas nesse novo dispositivo e uti- A3, AS e Retro R3 e R5) (Figura 16.55).
1 •
• FIG. 16.53 /
lnsertos diomontodos para retroai-urgia, da marca
Gnotus (AJ. Avaliação em MEV dos pontas (8 e CJ,
mostrando o espaçamento existente entre os aistois de
diamante.
• FIG. 16.54
Ponta A-120 da Gnatus, que p ermite a adaptação
de pontas ultra-sônicas com haste.
• FIG. 16~SS
lnsertos ultra-sônicos de pontas lisa desenvovido
pela Dabi-Atlante, para ser uttlizodo em retrocirurgias.
. CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍF ICO
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Um dos aparelhos de ultra-som mais difun- para serem acopladas ao transdutor (Figura
dido sem dúvida é o ENAC (Osada Electric Co.), 16.578). Mais recen teme nte foram lançadas
que possui uma grande variedade de pontas novas pontas ultra-sônica s para uso em retroci-
para emprego em cirurgias parendodônticas. As rurgias da série ST 38, disponíveis em 90°, que
mais antigas são as pontas da série DF disponí- são acopladas ou rosqueadas diretamente à peça
veis em 60°, 90° e 120º , com 0,8 mm de diâme- de mão, sem necessidade dessas pontas e ndo-
tro e pontas com 3,0 ou 3,5 mm, diamantadas dônticas e do mandril. A OSADA (Enac) tam-
(Figura 16.56A e B) mas que necessitam de bém disponibiliza insertos u ltra-sônicos de pon-
pontas endodônticas STl 7 (Figura 16.57-1) e ta lisa AP4 com 60°, 90°, 12 0° graus de curvatu-
mandril (Endo Holder QEH - Figura 16.57- 2) ras (Figura l6.56C).
• wm. ·fü,.u
Foto A 1- ponta ST17 e Foto A2 - Quick Endo Holder
Ambas peças constituem a peça intermediaria que permite
1 • ym. 16.56 acoplar a ponta ultra-sônica no transdutor (Foto BJ
lnsertos ultra-sônicos diamantados DF-3.5 (A e 8) e
de ponta lisa AP4 (CJ desenvovido pela ENAC (Osada),
, para ser utilizado em retrocirurgias.
Em 1996, no INPE (INSTITUTO NACIONAL DE PES- cas possuem maior du rabili dade, menor retenção
QUISAS EsPAcws - São José dos Campos - Brasil), de raspas de dentina na ponta, permitindo a ob-
Trava Airoldi et al. 457 desenvolveram novas pon- tenção de paredes mais lisas e regulares. No ano
tas diamantadas denominadas CVD, onde o filme de 1999, o autor n os enviou amostras destas
de diamante é depositado diretamente na haste pontas (Figura 16.58A) para serem testadas cli-
metálica, a partir da fase a vapor (diamante CVD n icamente em pacientes (Figura 16.59), durante
- Chemical Vapor Deposilion ). Em 1999, a partir a realização do Curso Avançado em Cirurgia Pa -
desse novo conceito de fabricação de pontas de rendodôntica ministrado na Disciplina de Endo-
diamante, desenvolveram pontas CVD especiais dontia da Faculdade de Odontologia de Araçatuba
.t para serem utilizadas em retrocirurgias (Figura - UNESP. Os testes fo ram bem sucedidos, pois as
t 16.58A), diferente das pontas convencionais de pontas promoveram desgastes eficientes e homo-
ultra-som que são utilizadas em cirurgias paren- gêneos, resultando em cavidades limpas e regu-
1
(
d odônticas, pois elas possuem diamante com lares. Na época sugerimos que os diamantes coa-
granulações coalescentes (Figura l6.58C). Se- lescentes recobrissem apenas a parte ativa da
gundo os autores essas novas pontas ultra-sôni- ponta u!Lra-sõnica (Figura 16.58BL como são
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
'~
fabricadas na atualidade, e não se estendesse ram lançadas no comércio sendo que seu empre- ,•.
pela sua haste, fato que poderia provocar desgas- go deve ser feito em aparelhos ultra-sônicos que ;~
te da superfície dentinária apicectomizada. Re-
centemente as pontas ultra-sônicas em CVD fo-
utilizam pontas endodônticas e mandril ou então
acopladas ao dispositivo A-120 da Gnatus. f..
t
i·;
Dentre as inúmeras va ntagens com a utili- menor quantidade de tecido ó sseo da loja cirúr-
zação do ultra-som nas cirurgias parendodônti- gica, além de gerar menor quantidade de detri-
cas, podemos registrar qu e mesmo diante de di- tos. Segundo Sousa et al. 4 11 o ultra -som propici-
ficuldades anatômica s, é possível, na maior par- aria maior grau de limpeza das retrocavidades.
te dos casos, colocar a s pontas ultra-sônicas pa- Lembrando sempre que o preparo apicaL quan-
ralelas em relação a o longo eixo do canal radi- do realizado com brocas, provocam grandes
cular (Figura 16.60) tornando os preparos mais desgastes das paredes dentinárias, proporcio-
paralelos (Figura 16.61), permitindo menor nando a obtenção de cavidades com diâmetro
desgaste das paredes dentinárias, resultando em muito avantajado em relação ao da raiz. Devido
preparos mais cons ervadores e com paredes às peças de mãos ou canetas de alta e baixa
mais volumosas ou espessas (Figuras 16.45 e rotação serem de tamanho exagerado compara-
16.60 ). Além do que na confecção de cavidades tivamente às lojas ósseas, criando assim dificul-
apicais realizadas com o ultra-som consegue-se dades quanto ao acesso, as brocas penetram in-
um preparo mais p rofundo do que quando se clinadamente em relação ao longo eixo do canal
utilizam brocas convencionais (Figura 16.62). radicular. Com isso as cavidades ficam descen-
Num estudo experimental realizado in vitro, tradas, ligeiramente inclinadas para lingual, fa-
Bramante et al.77 também observaram que o cilitando a ocorrência de trepanações junto à
preparo de retrocavidades com ultra-som acom- parede lingual das mesmas.
panhando o seu longo eixo, possibilitava a ob- A preparação das retrocavidades desde que
tenção de cavidades apicais mais centradas e corretamente realizadas com as pontas ultra-sô-
mais regulares. O ultra-som permite ain da o nicas, especialmente desenvolvidas para esse fim,
acesso ao canal radicular com biselamento radi - tem por objetivo solucionar, de vez, os inconve-
cular reduzido ou mesmo ausente, remoção de nientes provocados pela ação das brocas.
CIRURGIA PARENDOOÔNTlCA; COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• flG. 16.6@
Preparo de retrocovidode com ultra-som, ut!lizondo
uma ponto diomontado do ENAC (Osodo Eletric Co. lnc.
Japão). Com esse tipo de ponto é possível realizar prepo-
ras apicais no sentido do longo eixo do canal radicular. • f j{ii. 16.61
Vistos com MEV de retrocavidades preparadas com
o ultra-som resultam em paredes dentinárias mais espes-
sas, paralelos em relação ao longo eixo do canal
radicular, além de serem mais profundos.
• FmG. 1&.~:l
Comparação através do exame radiográfico de
retrocovidodes preparadas com brocas (A) e com o ultra-
som (B). Nota-se que o preparo realizado com o
ultra-som é mais profundo do que aquele realizado
com as brocas.
dades apicais mais profundas, deve-se considerar dices de infiltração marginal ocorrida com al-
que essas reabsorções ocorrendo ao red or das re- guns materiais retrobturadores. Sendo assim,
trobturações, dependendo da sua intensidade e aconselha-se as industrias responsáveis pela
extensão podem prejudicar o selamento margi- confecção dessas pontas no sentido de produzi-
nal pretendido, fator esse também influenciado rem insertos mais compridos ou longos, algo em
pelo tipo de material retrobturador empregado. torno de 4 a 5 mm (Figura 16.65) , pontas
Lembrando sempre que essas reabsorções não essas já disponíveis no m ercado. Com certeza,
são observadas in vitro, fato que limita a interpre- quanto maior a profundidade alcança da pelo
tação dos resultados desse tipo de trabalho. Em preparo apical e inserção do material retrobtu-
algumas situações deve ser considerado também rador, estaremos mais seguros com respeito ao
que essa profundidade de 3,0 mm, conseguida selamento marginal proporcionado pelo mate-
nos preparos com o ultra -som, é muito próxima rial, mesmo em presença das reabsorções denti-
ou até pequena qua ndo comparadas com os ín- nárias apicais 37 .
• f~§. _16,6$
Pontas ultra-sônicas para retrocirurgia com compn"-
mento maior do que os insertos convencionais, pe,mitin-
do preparas apicais mais profundos e seguros.
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIEN'l'ÍFICO
Um detalhe interessante que se notou, anali- do à ação do diamante das pontas ultra-sônicas (Fi-
sando retrocavidades preparadas com o ultra-som, gura 16.66). Este fato, teoricamente, até poderia
sob a luz da MEV, foi a presença de ranhuras ou ajudar o embricamento mecânico do material retrob-
pequenos sulcos junto às paredes dentinárias devi- turador junto às paredes das cavidades apicais.
• FIG. 16,6~
Exame com MEV permite visualizar os sulcos provocados
pela ação das pontas ultra-sônicas diamantadas no interior das
retrocavidades.
Algumas investigações têm sido realizadas microfraturas sobre a supe rfície dentinária seccio-
nada4. 31. 110. 2s4. 211.296. Jss .
para avaliar a eficiência do uso do ultra -som no
preparo de cavidades apicais. Alguns d e- De acordo com Saunders et a!. 375 , os primeiros
les116•157·165 realizaram esses preparos com o uso autores a relatarem o desenvolvimento de trincas
do ultra-som comparados com o emprego de nas superfícies dentinárias após preparas cavitários
brocas convencionais, admitindo que a quantida- com o ultra-som, elas aumentariam as chances de
de residual de smear layer ou detritos é menor uma infiltração marginal apical. Min et al. 29 6 enten-
com o ultra-som. Preparas apicais com aparelhos dem que essas microfraturas poderiam servir de
sônicos também foram utilizados por Lloyd et meio de comunicação das bactérias que restarem
al. 273 que empregaram pontas especiais movi- no interior dos canais radiculares, com os tecidos
mentadas pelo aparelho sônico MM 1500. Verifi- periodontais. Além do que essas fendas proporcio-
caram que as preparações com o aparelho sônico nariam um nicho para o desenvolvimento bacteria-
produziram cavidades com qualidade inferior no e acúmulo de seus metabólicos tóxicos. Entre-
àquelas produzidas com brocas. Ainda com rela- tanto esses mesmos auto res296 revelaram que as
ção ao emprego do ultra-som, sua utilização tem fraturas têm uma maior tendência (maior freqüên-
sido recomendada por Sumi et al. 41 3 pela facilida- cia) de ficarem restritas somente às imediações das
de com que essas peças são introduzidas via api- paredes do canal radicular, muito raramente es-
cal, pela possibilidade de conservar maior quan- tendendo-se desde essa parede até a superfície ex-
tidade de tecido dental, e por permitirem fácil terna da raiz. Neste caso, ou seja, de fraturas ditas
limpeza e alargamento da porção apical do canal totais ou comunicantes, Rainwater et al. 358 relatam
radicular. que sua incidência estaria associada com a presen-
Apesar dos benefícios com o uso do ultra- ça de paredes dentinárias remanescentes muito fi -
som durante a realização das cirurgias parendo- nas, e que não resistiria m ao estresse da energia
dônticas, muitos trabalhos têm associado o pre- ultra-sônica, possibilitando assim a ocorrência de
paro apical ultra-sônico com o aparecimento de um caminho favorável a essas microinfiltrações.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Saunders et al. 375 acreditan1 que essas mi- a preparação dos espécimes para receber os re- "\ '~
Ainda com relação à presença ou não de fra- h istopatológicos avaliados pelo autor, vários de-
turas após a utilização do ultra-som , Bernabé48 les não apresentaram diferen ças significativas
. trabalhando em dentes de cães, conforme já foi considerando os dois tipos de preparas apicais.
I salientado, n ão observou diferenças de resulta- Pode -se citar, por exemplo, que independente-
dos empregando brocas ou ultra-som para o pre- mente dos procedimentos realizados (broca ou
paro de retrocavidades. Deve ser levado em con- ultra-som) ambos n ão apresentaram diferenças
sideração que os trabalhos demonstrando pre- significativas quanto ao aspecto do ligamento
sença das ranhuras ou marginal chipping e das periodontal qu e se mostraram organizados, com
microfraturas, foram realizados in vitro, enquan- espessura adequada, não sendo constatadas dife-
to o de Bemabé48 foi efetuado in vivo, não utili- renças quanto à intensidade de reabsorção denti-
zando nenhum tipo de análise para identificar n árias, óssea, assim como a intensidade e exten-
essas ocorrências, mesmo porque não conduziu são do processo inflamatório foram iguais. São
o trabalho para esta finalidade. Mesmo assim, o evidências de que, muito provavelmente, os pro-
autor, em função de seus resultados, acredita que cedimentos clínicos adotados por Bernabé 48 não
as fraturas ou trincas provavelmente não aconte- concorreram para que anormalidades como as
ceram e, em caso contrário, não influenciaram os ranhuras ou as microfraturas afetassem os resul-
seus resultados. É provável também que a hipó- tados, e que os autores consideram como even-
tese de Min et al. 296 quanto ao possível papel de- tos danosos para a concretização do esperado su-
sempenhado pelo ligamento pe riodontal, no cesso .
1
amortecimento do estress gerado durante a vi- Um outro fato interessa nte a ser registrado
t bração da ponta do ultra-som, prevenindo assim é que Gondim-Jr. 156 dem onstrou que as micro -
a presença de fraturas e geração de calor, possa fraturas ou trincas podem ocorrer próximas às
r ter até m esmo ocorrido no experimento desen- rnargens da cavidade apical, junto às bordas do
volvido por Bernabé 48 • Este argumento encontra canal radicular e que são de pequena extensão
respaldo no fato de que dentre os 21 quesitos (Figura 16.69) . Por outro lado sabe-se que as
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
reabsorções radiculares são ocorrências comuns Após a confecção da cavidade apical, inde - · ~
e acontecem sobre a superfície dentinária api - pendente do emprego de brocas ou de pontas )
cectomizada envolvendo também a s bordas das
cavidades apicais, conforme foi demonstrado
ultra-sônicas, procedem-se abundantes e fre -
qüentes irrigações com soro fisiológico. Consi - t·.
t
por Bernabé 37· 39 . Considerando então os dados de derando as condições de trabalho de nossos i,
·_\,
Bernabé 37· 39 e de Gondim-Jr. 156 é possível admitir profissionais, de modo geral aconselha-se o
que as microfraturas e ra nhuras ocorrendo pró - e mprego de irrigações utiliz an do equipamen-
x imas às bordas da cavidade, poderiam ser en - tos simples, mas eficientes. Uma das formas de
globadas p elo processo de reabsorção e assim se- irrigação é o emprego da seringas Luer (5 ml)
rem eliminadas, sem ca usar prejuízo com a com um intermediário ENDORI G (Fi gura
adaptação do material re trobturador, até mesmo 16.70B) , que possibilita a adaptação de uma
evitando uma possível infiltração marginal. As agulha para anestesia descartável (Figura
dúvidas ficariam por conta das fraturas que po- 16.70A), fina, sem bise] e pré -curvada, permi-
deriam ocorrer em toda a extensão da superfície tindo a sua total introdução no interior das re -
dentinária comunicando o interior do canal radi- trocavidades, tornando esse procedimento bas-
cular com o periodonto, as ditas microfraturas tante eficiente. Esse mesmo processo pode ser
comunicantes 358 , Val e ressaltar que exist em estu - facilmente realizado utilizando a seringa d e -
dos como o de Beling et al.31, demonstrando que senvolvida pelo Prof. Luiz Roberto Fava, que ,
na maioria dos casos essas microfraturas são do torna possível o emprego de agulhas anestési-
tipo intradentinário, raramente sendo observado cas d esca rtáveis a copladas à um seringa Luer.
microfraturas que se estendem desde as bordas Essas irrigações também são realizadas com so- 1
da cavidade retrógrada até o cemento radicular luções anestésicas, empregando-se uma serin- 1
(fratura s totais), Decorre, no entanto, qu e o as- ga carpule independe nte, com agulhas descar-
sunto a esse respeito ainda é cercado de muitas táveis finas (Figura 16. 71 ), sem bisei e pré- :
dúvidas e tem de ser mais b em explorado para curvadas. Nesse caso, esse procedimento aux i-
eliminar as incertezas existentes. lia inclusive a hemostasia em função da pre- .
sença perm anente dà solu ção anestésica na '
área. Mesmo considerando a eficácia das irri /
gações efetuadas com o próprio ultra-som (Fi-
gura 16. 72), aconselha- se o emprego de irriga -
ções complementares através de um dos méto -
dos acima descritos. Tal providência irá preve-
nir com maior segurança a presen ça de detritos
ou ras pas dentinárias junto às paredes cavitá-
rias, conforme descrito por Bernabé 37 . Na se-
qüência proced e-se a aspiração e secagem final
com auxílio de pontas de papel absorventes
(Figura 16.73) . A ausência de umidade d entro
das retrocavidades é de fundamental impor-
tância para proporcionar, dependendo do tipo
de material retrobturador empregado, uma
adesão mais e ficiente e segura com a s paredes
dentinárias. Após a realização da retrobtura-
ção, procede -se a colocação de um "capuz" de
hidróxido de cálcio (Figura 16.39) conforme
preconiza Bernabé & Holland 52 · independente -
mente do tipo de material retrobturador utili-
• FIG. 16,6% zado. Esse "capu z" de hidróxido de cálcio d eve
Presença de trinca (seta) após preparo retro- recobrir o material obturador e toda a superfí-
cavitário realizado em um incisivo lateral superior. cie dentinária apicectomizada (Figura 16. 74) ,
Gondim-Jr. 1s6, 1999. MEV 150x. evitando a sua colocação sobre o ligamento pe-
riodontal. ,
C IRURGIA PARlõNO O DÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENT ÍFICO
• ..FIG. 16.10 . .
Intermediário (ENDORIG - Foto BJ que possibilita a • flGº t~31
utilização de agulha anestésico descmtável, acoplada à
Agulha anestésico descartável para imgação dos
um seringa Luer (AJ_
canais via retrógrada durante a realização de preparas
ap,ca,s.
;I
1
i
'1
• RG. 16.n
Ponta ultra-sônica da Gnatus com irrigação próptia.
• !FIG. 16.73
Secagem do canal radicular via retrógrada com au-
xl7io de ponto de papel obso,vente .
• FiG. 16.14
e1 Representação in vitro demonstrando a colocação
/
rio "capuz" de hidróxido de cálcio sobre o material obtu-
rador e superfície dentinária opicectomizada.
CIÊNCIA ENDODÔNT ICA
Conforme demonstrou Bernabé3 7 inúmeros dos através de uma obturação cuja técn ica é li- ~
mirada em recursos, como é o caso da retrógrada )
são os fatores locais responsáveis pelos insuces-
sos que ocorrem após realização das obturações
retrógradas convencionais . Dois deles são fun-
convencional, cuja profundidade da retrobtura-
ção não vai além dos 3,0 ou 3,5 mm.
h·
damentais: a pouca profundidade da caixa api-
cal e conseqüentem ente do material retrobtura-
A técnica do tratamento endodôntico via
retrógrada, ou retroinstrumentação com retrob-
i'
dor. Este fato, aliado aos problemas que podem turação como querem outros, apesar de ter sido
ocorrer diante da presença de reabsorções den- relatada há cerca de sete décadas por Duclos 11 2,
tinárias ao redor das retrobturações, a despeito foi pouco explorada, principalmente por traba-
do emprego de materiais biocompatíveis, fazem lhos experimentais de cunho histológico, dificil-
das obturações retrógradas convencionais uma mente encontrados, no sentido de demonstrar
técnica com prognóstico duvidoso e de indica - sua eficiência, apesar de Anton & Matsas 16
ção limitada, principalmente quando realizadas considerarem-na ineficiente. Por essa razão, no
com brocas. Deve -se admitir que as obturações sentido de melhor verificar esse tipo de trata -
retrógradas convencionais realizadas com o ul- mento em um meio condizente e experimental-
tra-som representaram um grande avanço, e mente padronizado, um primeiro trabalho de
dentro desse contexto podem contornar os inú- cunho h istológico na literatura foi realizado por
meros problemas que surgiam com o emprego Bernabé & Nunes 59 que efetuaram uma análise ,
das brocas. Mas n ão se pode também deixar de comparativa entre a técnica do trata mento en-
admitir que mesmo sendo atualmente um pro- dodôntico via retrógrada com a da obturação
cedimento mais seguro, elas possam fracassar retrógrada convencional, na época realizada i
quanto aos seus objetivos, dependendo da in- com brocas. Esses autores verificaram, através1
tensidade dos eventos desfavoráveis que pos - dos resultados histopatológicos obtidos, em den -
sam ocorrer, considerando a sua profundidade. tes de cães com lesões periapicais, que a técnica'
Diante disso somos de opinião que a seleção da do tratamento endodôntico via retrógrada foi
técnica retrob turadora ideal seja aquela que superior à técnica da obturação retrógrada com··
preencha, senão todos, mas a maioria dos re- p reparo de cavidade classe I. Em nível histoló-~
quisitos físico s e biológicos e que são necessá- gico, inclusive, pode ser observado que a colo-
rios para favorecer a ocorrência do processo de cação do material obturador, nos casos do trata-
reparação. mento endodôntico via apical, era mais profun-
Dentre as técnicas cirúrgicas que se estudou da e esta va associada com quadros histopatoló-
à luz da microscopia ótica, observamos que gicos mais favoráveis (Figura 16. 75). Em fun-
aqu elas que proporcionam condições para a co- ção disso, mesmo em presença de reabsorções
lo cação do material retrobturador em maior radiculares e m ais raramente em presença de
profundidade favorecem o bom andamento do detritos, interpondo-se entre o m aterial obtura-
processo de reparação. Nesse sentido, o tratamen- dor e a parede dentinária, observou-se que tais
to endodôntico via retrógrada mereceu atenção e fatores foram insuficientes para alterar significa -
em função de seus resultados comparativamente tivamente a reparação. No entanto, nos casos
com outras modalidades cirúrgicas, tem sido reco- de obturações retrógradas com preparo d e caixa
mendado como primeira opção de tratamento na apical convencional, quando estes m esmos fato-
tentativa de solucionar problemas de dentes por- res ocorreram, notavam-se quadros histopatoló-
tadores de lesões periapicais refratárias aos trata - gicos mais desfavoráveis (Figura 16.76), muito
m entos endodônticos convencionais. provavelmente relacionados com o fato das ca-
vidades apicais serem pouco profundas, impe -
dindo um adequado selamento marginal. Do
4 . Tratamento endodôntico via ponto de vista histopatológico, o trabalho de-
retrógrada senvolvido por Bernabé & Nunes 59 demonstrou
que a realização de uma desinfecção e retrobtu-
O tratamento endodôntico via retrógrada, ração mais profundas oferecem maior seguran-
permitindo estender mais profundamente o ma- ça do que as técnicas, como a retrógrada con-
terial obt urador, parece proporcionar a obtenção vencional, com limpeza e retrobturação mais
de melhores resultados do que aqueles consegui- curtas.
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• FIG. 16.76 .
Retroinstrumentação e retrobturação com guta- Obturação retrógrada convencional, com guto-
percha. Tecido ósseo preenche toda a loio cirúrgico. Pre- percha (preparo de cav,dodeJ. Superfície dentinária
sença de cápsula fibrosa menos espessa e com pouco seccionada apresentando áreas de reabsorção e cápsula
população celula,: Observar presença de retrobturação fibrosa com maior concentração de fibras colágenas. Re-
mais profunda. H.E 40X paração ósseo parcial. H.E 40X
~
1
É comum nos dentes indicados para realiza - por acreditar que o tratamento e ndodôntico via
ção de uma obturação retrógrada convencional, retrógrada propicia urna limpeza mais eficiente
os canais radiculares apresentarem-se inadequa - dos irritantes alojados no interior dos canais,
damente obturados, geralmente associados a como também um selamento marginal apical
uma limpeza incompleta, o que reduz as chances mais satisfatório . Reit & Hirsch 361 após avaliarem
do sucesso da terapia empregada. Entretanto, clinicamente trinta e cinco casos de tratamento
I com a realização do tratamento endodôntico via endodôntico via retrógrada, assinalaram sobre o
retrógrada, uma retroinstrumentação cuidadosa potencial de sucesso que se obtém com esse tipo
possibilitará a remoção do conteúdo necrótico de tratamento, combinando a curetagem periapi-
contaminado localizado profundamente no ca- cal com a limpeza e obturação dos canais radicu-
nal, propiciando assim uma retrobturação com lares via cirúrgica. Wu et al.m verificaram que a
melhor qualidade e, portanto, um selamento qualidade do selam ento apical, proporcionado
apical mais ex tenso e profundo da porção apical por retrobturações efetuadas a uma profundida-
do canal radicular. Weine476 num estudo clínico/ de de 7 mm com guta-perchas termoplastifica-
radiográfico observou que muitos de seus fracas- das, foi significativamente mais eficiente do que
sos após as cirurgias parendodônticas eram ime- obturações retrógradas conven cionais, realizadas
diatos ou ocorriam antes dos cincos anos de com o amálgama de prata e inseridas em cavida-
pós-operatório. Dian te disso, ao invés da tradi- des apicais com apenas 2 mm de profundidade.
cional obturação retrógrada, onde ele denuncia Por outro lado, Kuga & Keine 247 e Tanomaru-
1 . que, de modo geral, não se conseguia um sela- Filho433 em estudos in vitro, não verificaram dife-
.f mento apical adequado, passou a optar pelo pre- renças sign ificativas entre as duas técnicas cirúr-
paro do canal radicular e obturação de canal atra-
,,
1
vés do acesso apical. Do mesmo m odo, Nygaard-
gicas, ou seja, a obturação do canal radicular via
retrógrada mostrou índi ces equivalentes de infil-
Ostby321 propõe a obturação do canal via apical, tração marginal em relação às obturações retró-
a o invés da obturação retrógrada convencional, gradas convencionais.
CIÊN CIA ENOODÔNTICA
.,
Um detalhe a ser observado é que os procedi- à base de fenol como forma de "esterilizar" o canal. ,, ·
mentos endodônticos empregados nessa técnica Neutralizava a ação dessa droga com o emprego "::,>
;,
cirúrgica são realizados considerando-se os mes- de bicarbonato de sódio, utilizando em seguida ;\
!
mos princípios básicos utilizados no tratamento um cimento obturador com propriedades também
endodôntico convencional, via ortógrada. Enten- anti-sépticas. Em 1946, Sommer4 1º, além dos pro- 1:,
de -se também que estudos mais abrangentes e es- cedimentos habituais por ele preconizado na ten-
pecíficos devam ser realizados de modo a adequá- tativa de sanear o canal via retrógrada, recomen -
los ao meio em que é realizado. Assim, um qua- dava, após a retrobturação, a aplicação do nitrato
dro mais promissor vislumbrar-se-ia para aqueles de prata sobre a superfície dentinária seccionada ,
dentes com sérios riscos de sobrevivência, após seguindo-se a aplicação de uma camada de euge-
serem submetidos a uma cirurgia parendodôntica. nol. Segundo esse autor, como seus canais eram
Deve ser salientado que indica-se como técnica de retrobturados com cones de prata, o eugenol pre-
primeira escolha baseado em dados relatados por cipitaria moléculas livres de prata para dentro dos
Bernabé3 7 e nos resultados obtidos na experimen- túbulos dentinários, expostos pelo ato de apicec-
tação de Bernabé & Nunes 59 e Bernabé3 8 • Esses tomia, criando um ambiente favorável para a de-
estudos analisados à luz da microscopia óptica re- posição de cemento e reparação do ligamento pe-
velaram resultados excelentes, denunciando riodontal. A partir daí, a técnica do tratamento de
grandes vantagens em relação à outras técnica s canal via retrógrada passou a acompanhar os I
parendodônticas. Na verdade, à luz dos bons re- mesmos procedimentos de rotina executados du-
sultados obtidos, o Lratamento endodôntico via rante um tratamento de canal convencional. Não
retrógrada seria contra -indicado apenas em pre- mais bouve referências, na literatura. de autores i
sença de limitações de acesso e que impeçam sua que fizessem uso de drogas de reconhecida potên- 1
execução de mod o adequado. eia antibacteriana e de efeitos deletérios aos teci-
I
Não existem dúvidas entre os auto - dos apicais, aplicando-os externamente na porção
res1 47·266·382·384·478, de que uma limpeza eficiente do apical apicectomizada com a intenção de .
canal radicular. seguida por uma adequada obtu- "esterilizá-los".
'
ração, represente um dos mais importantes re- Convém registrar que todos os passos cirúr- /
quisitos para a obtenção do sucesso endodôntico. gicos descritos, desde a realização da curetagem
Esses princípios são de importância fundamental da lesão periapical até a apicectomia, são os mes-
e não devem ser ign orados quando da realização mos a serem observados na técnica do tratamen-
do tratamento endodôntico via retrógrada 136·155 • to endodôntico via retrógrada. A partir da ressec-
Na sua execução vários são os procedimentos clí- ção da raiz é preciso complementar a remoção
nicos a serem observados, inclusive com algumas total da lesão periapical, no sentido de prevenir
adaptações que devem ser introduzidas, princi- uma possível ocorrência de hemorragia. A remo-
palmente em função das ca racterísticas ambien- ção incompleta da lesão periapical pode facilitar
tais não habituais. um sangramento pequeno, mas contínuo, que
É importante con siderar aqui alguns cuida- poderá prejudicar, sensivelmente, os procedi-
dos que os autores demonstravam com a técnica mentos operatórios posteriores. Porções micros-
desde as suas primeiras indicações. Assim é que, cópicas de restos de coágulo sangüíneo que fica-
a partir de 1 934, qu ando Duclos 112 descreveu o rem aderidas às paredes internas do canal radi-
tratamento de canal via retrógrada como forma cular, via retrógrada, podem perturbar a adapta-
alternativa para soluci onar os casos cujos trata- ção do material retrobturador, com conseqüente
mentos endodônticos não podiam ser efetuados comprometimento d.o selamento marginal. Estu-
por via convencional ou coronária, já se observa- dos efetuados por Negm 312 demonstraram que a
va uma grande preocupação com o estado bacte- profundidade da infiltração marginal do corante
riológico do ápice radicular. Tanto que, Duclos 11 2 ao redor dos cimentos obturadores foi maior
recomendava a "desinfecção química" da porção quando o contato ocorreu com o sangue huma-
apical da raiz, logo após sua exposição cirúrgica, no do que nos espécimes mergulhados na saliva,
relatando, porém, que sua eficácia seria duvidosa ou mantidos secos.
à medida que se aprofundava no canal. Na déca- Na seqüência do tratamento, com a remoção
da de 1940, Sommer410 preconizava, após a re- da lesão periapical e com o campo operatório
troinstrumentação, o emprego de uma substância exangue, iniciamos os procedimentos seguintes:
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-tA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• fr:IG. 16.17
Retro-odontometria - Exa-
me radiográfico evidenciando os
instrumentos endodônticos
posicionados em toda a extensão
do canal radicular (dentes 21 e
22), atingindo o pli10 intracanal
ou outro obstáculo qualquer
movimentos necessários para ampliar ou dilatar 16.79), pois sendo de pequeno tamanho, facilita
o diâmetro do canal radicular, podem ser mano- sua inserção em qualquer ângulo e não em uma
brados, presos numa pinça hemostática 16, 37 , 59, 74, direção pré-fixada .
lingual do canal radicular, quando se utilizam li- muito fina s e associadas com presença de pinos
mas com pré-curvatura suave e não pré-curvadas in tra-radiculares (Figura 16.84), existe maior
em ângulo reto . Clinicamente, se essas paredes probabilidade de ocorrer fraturas radiculares
dentinárias do canal radicular perma necerem pós-operatórias.
• FJG. J6/itl
Aspecto clínico do ápi-
ce dental e da abertura do
canal radicular após a
retroinstrumentação. Notar
espessura regular das pare-
des do canal radicular, sem
desgaste exagerado.
• fi_!i._J§~~1
Detalhe da forma do cano! radicular após o
retroinstrumentação. Notar que é mantido o aspecto
anatômico original. Paredes dentiná,ias com volume uni-
forme. SEM SOX (Gentileza do prof. Cruz- Gonzoles -
Guodalaiara - MéxicoJ. _ _FIG~ 16,82
Trotamento endodôntico via retrógrada de dente
com lesão periapicaf Retrobturação com cimento de
r" OZE consistente em nível da superfície dentinária
apicectomizada. Grande quantidade de osso alveolar
1
;' neoformado, reparando completamente o loja óssea ci-
rúrgica. Notar desgaste mais intenso da parede
dentinátia lingual. H.E. 75X
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
------· ------- ------· ------- ---·--· ··-···· ---..i
• FIG. 16.83
Idem a f igura anterior. Parede ling ual das
• FIG. _16.84:__
retrocavidodes muito fino (setas) em razão do desgos-
te acentuado efetuado pelos limas endodônticos nessa Radiografia de dente submetido o tratamento ,
região. endodôntico via retrógrada. Notar maior desgaste de .
uma dos paredes (seta) pelo ação do lima endodôntico.
Após um dente submeter-se a uma retroins- postos por seus vértices. Um cone apical cuja,
trumenta ção, ó canal radicular poderá apresen- base é voltada para a abertura apical do canal e O"
tar uma an atomia diferente daquela quando o vértice voltado para a coroa. Em continuaç ão, e I
preparo é realizado por via coronária . Segundo correspon dente à porção média do canal, pode
Bernabé 18 normalmente a forma geométrica fin al ficar configura do outro cone cujo vértice se jus-
do canal radicular, após as técn icas de preparo do tapõe com o vértice do cone apical e com a sua ,
canal convencio nais, é a de um cone alongado base voltada para a coroa dental (Figura 16.85 ).
com base para a coroa e o vértice voltado para o Essa conforma ção geométrica, quando presente,
ápice radicular. No tratament o endodônt ico v ia é importan te de ser dimensio nada, porque pode -
re trógrada, após a retroinstr umentação, depen- rá de terminar _alguns cuidados especiais depen-
dendo do volume da raiz do dente, poderá às dendo da técnica de obturação que se efetuará,
vezes, observar, a grosso modo, dois cones justa- via apical.
Durante toda a fase do preparo do canal ra- pelo Prof. Luiz Roberto Fava, que possibilita a
dicular, principalmente entre a utilização de uma utilização da agulha anestésica acoplada a uma
lima para outra, abundantes irrigações devem ser seringa Luer. Por ouLro lado existem profissio-
efetuadas . Segun do Reith & Hirsch 361 todo esfor- nais, conforme j á m encionado, que empregam
ço deve ser realizado para que o agente irrigador solução anestésica ou outros tipos de soluções
permaneça estritamente dentro do canal radicu- acondicionadas em tubos de anestésicos vazios
lar. A fase de irrigação do canal radicular via re- estéreis, utilizando-se de uma seringa carpu le in-
trógrada deve ser cuid adosa, pois sempre existe o dependente, com agul has descartáveis fina s, sem
risco de que o material necrosado infectado pos- bisel e pré -curvadas, obj etivando a remoção de
sa se espalhar para o interior dos tecidos periapi- detritos, via retrógrada. Após abundantes irriga-
cais, principalmente considerando que se está ções com o propósito de eliminar detritos e ras-
trabalhando em um campo cirúrgico aberto e pas de dentina oriundas do preparo do canal ra-
com amplas possibilidades de disseminação da dicular, outra importante fase é a que trata da _
infecção . secagem dos canais radi culares (Figura 16.86 -
Diversas soluções irrigadoras são indicadas inferior). Este ato, não sendo realizado com ex-
para serem utilizadas durante a fase da retroins - tremo cuidado e de modo correto, permitirá que
trumentação. Dentre elas podemos citar a água urna outra variável, a u midade, perturbe a ade-
oxigenada a 3% 321 , a água filtrada 136 , água esté- são ou adaptação do material obturador junto às
ril J02 , o peróxido de hidrogênio 14·22 6, o anestési- paredes dentinárias, em especial quando se utili-
: co42 1, solução salina aquecida 476 , solução salina zam as gutas-perchas termoplastificadas 279 • Du-
estéril 136·155 , o clorazene a 1 % 294, o hipoclorito de rante este procedimento, deve-se escolher uma
. sódio a 0,5% 361 ou a 3% 421 e o soro fisiológi- ponta de papel absorvente com grande poder de
co 38·59·74·154·155A21. Muito embora o emprego de absorção. Caso contrário, poderá haver manu-
substâncias com poder bactericida tenham p refe- tenção de umidade nas paredes dentinárias.
, rkncia em casos de canai s contaminados, a Além disso, a morosidade que se estabelece,
~~emplo dos hipocloritos de sódio, não devemos nessa fase, pelas sucessivas trocas de pontas de
nos esquecer que são também potencialmente papel pouco absorventes, podem retardar ainda
tóxicos 23· 313 · 386 • Assim é que, quando a preferên- mais o tempo cirúrgico, fator inconveniente
cia recair sobre os mesmos (0,5% ou 1 %), para o paciente.
qeve-se tomar cuidados especiais para que eles
s~ restrinjam exclusivamente ao interior do canal 4 .2 .2. Retroinstrumentação ultra-sônica
radicular. Além do soro fisiológico pod e-se tam-
bém fazer uso da água de cal, pois são substân- Outra forma de preparo do canal radicular,
çias não agressivas, que apresentam excelentes via retrógrada, é a utilização da retroinstrumen-
propriedades biológicas 225·376 • Convém lembrar tação sônica e ultra-sônica. Utilizando o CaviEn-
que a maior porção contaminante, as ramifica- do e o Endostar 5, Flath & Hicks 136 demonstra-
. ções apicais, foram eliminadas pelo ato da ressec- ram, clinicamente, que a retroinstrumentação
ção do ápice dental e que a substância irrigadora com limas possibilitou excelente limpeza e pre-
agiria mais como meio mecânico para eliminação paro do canal para receber uma retrobturação.
dos detritos. Para realizar a irrigação dos canais Os autores demonstraram que embora sejam
· radiculares via retrógrada, pode-se lançar mão aparelhos comumente u tilizados na terapia en-
de diferentes procedimentos. Um deles é o em- dodôntica não cirúrgica, adaptando-se os instru-
prego da seringa Lu er (5 ml) com um interme- m entos, no caso pré-curvá-los, pode-se conse-
diário ENDORIG, que possibilita a adaptação de guir um excelente acesso à porção apical do ca -
uma agulha para anestesia descartável (Figura n al radicular. Conforme já mencionado, atual-
16.70), fina, sem bisel e pré -curvada . Ou então mente existem instrumentos especiais (Retro-
,com auxílio de uma seringa Luer com agulha Tips) que foram desenvolvidos para melhorar e
t e ndodôntica fina (Figura 16.86 - superior), per- simplificar os preparos cavitários apicais nas re-
I mitindo introduzí-las profundamente em toda trógradas convencionais. No entanlo, a maioria
I
extensão do preparo via retrógrada, tornando deles possui ainda a extremidade apical ativa
esse procedimento bastante eficiente. Do mesmo muito curta, o que não permite uma p enetração
modo p ode -se empregar a seringa desenvolvida muito profunda no interior do canal, apesar de
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
sua eficácia no desgaste da dentina. Wu et al. 48 2 o preparo, através da instr umentação manual,
propõem o emprego do Endocursor 62, de ori- procurando sempre observar o volume da porção
gem Australiana, para efetuar, mecanicamente, o apical dà raiz, evitando desgastes excessivos .
preparo do canal radicular via retrógrada. A ins- Ainda considerando can ais de fácil acesso apicaL
trumentação sônica também tem sido utilizada a retroinstrumentação p ode também ser iniciada
n este propósito. Fong 118 descreveu a utilização de e finalizada somente com as limas endodônticas
um instrumento (Tips) desenvolvido para ser uti- tipo K de nº 25 ou 30 movimentadas com o ul-
lizado em uma peça de mão MM 1500, um siste- tra -som, modulando o canal sem provocar des-
ma sônico da Micro Mega. gastes exagerados, prevenindo assim ocorrências
Dependendo do caso e das condições locais, de trincas ou fraturas .
particularmente recomenda-se a retroinstrumen- Quando os canais radiculares, via retrógrada,
tação ultra-sônica, executada de diferentes ma - se apresentarem atresiados, realiza -se uma ex-
neiras. Uma delas é a retroinstrumentação pela plora ção inicial com espaçadores finos do Kit
técnica mista, ou seja, o emprego de limas endo- Bernabé (Figura 16.32 e 16.33). Se necessário
dônticas tipo K acionadas com o ultra -som con - recorre-se à utilização do azul de metileno ou
juntamente com a instrumentação manual. azul de Tripan para localizar e demarcar a posi-
Qu ando os canais se apresentarem acessíveis via ção correta do canal (Figura 16.89) . Em seguida
retrógrada pode-se realizar inicialmente o alarga- com limas Tipo K, inicialmente finas e que pene-
mento da entrada dos cana is radiculares empre- trem no canal, procede-se o preparo do canal
gando pontas ou insertos diamantados (Retro - radicular finalizando-o com limas tipo K de nu 25
Tips) (Figuras 16.64 e 16.87), os mesmos p ara o ou 30, estes com ajuda ou não do ultra-som.
preparo de retrocavidades (Potência 3 e posição Outra opção técnica empregada para casos de
Scaling) . Logo após, com limas endodôn ticas tipo canais de difícil acesso seria, após a localização
Kerr nº 25 ou 30, pré-curvadas (Figura 16.88) , do canal radicular, iniciar o seu alargamento com
adaptadas para ultra-som, realiza-se o início do o emprego de pontas ou insertos ultra-sônicos
preparo do canal radicular via retrógrada, procu - diamantados. Uma vez realizado esse preparo
rando introduzi-las até atingir o obstáculo intra- apical inicial, conclui-se a retroinstrumentação /
canal (por exemplo um pino intrarradicular). do restante do can al radicular com o emprego de
Nesses procedimentos utiliza -se o aparelho de limas endodônticas tipo K movimentadas com o
u ltra -som graduado na escala Endo e na potên- ultra-som ou manualmente ou at é mesmo em
cia 3 a 5. Em seguida, pode-se até complementar conjunto .
• FIG. 16Jl6
Foto superior - Fase da irrigação do canal radicular, via Preparo do canal radicular via retrógrada. Preparo
retrógrada, com soro fisiológico. Foto inferior - secagem inicial com pontas ou inse,10 diamantados, acionado pelo
final do canal radiculOJ; com pontas de papel obso,vente. ultra-som.
CIRURGIA PARENDODÓNTICA: COMO P RATICÁ-1.A COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• fKi 1.6,8~
Preparo do canal radicular via retrógrada, com
limas endodônticas pré-curvados, acionado pelo ultra- • &~$:;i. 1©.8«t
som.
Com auxílio de um microbrush embebido em azul
de mettleno o 2% (A e BJ, coro-se o superfície dentinário
apicectomizoda (8), localizando o entrada dos canais
rodiculores via retrógrada (C e DJ.
/Í
• fl(i~-.J.~ ?92__ _ _ --
Condensação final do oinento de OZE consistente,
via retrógrada, com auxílio do condensador apical do Kit
Bemabé, de maior calibre.
Nesta técnica, após o preparo do cimento es- consistência semelhante à massa de vidraceiro.
colhido, se à base de OZE ou h idróxido de cálcio, Para inserção do cimento via apical, pequenas
devem ser manipulados na consistência de "mas- porções são colocadas na abertura do canal radi-
sa de vidraceiro" (Figura 16.9 0). Com os cimen- cular e compactados com auxílio de condensado-
tos à base de OZE, deve -se utilizar maior propor- res especiais do Kit Bernabé (Figuras 16.32 e
ção de pó de óxido de zinco em relação ao euge- 16.33). No início, utiliza-se instrumentos mais
nol. Nos cimentos à base de hidróxido de cálcio, finos e longos (Figura 16.91), para diminuir a
como o cimento Sealapex, após o preparo do ci- possibilidade de formação de bolha s. Os instru-
mento pasta/pasta, acrescenta -se certa qu antida - mentos com maior calibre vão sendo utilizados à
de de pó de óxido de zinco até obter-se uma medida que aumenta a quantidade de cimento
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: CO MO PRATICÁ- LA COM EM BASAMENTO C IENTÍFICO
colocado (Figura 16.92), continuando essa con- ou ultra-som, quando as retrobturações não pas-
densação vertical, até obter-se, no final, uma sam dos 3,0 mm de profundidade. Nessas condi-
massa compacta do material obturador. ções, aliadas as reabsorções que podem afetar a
O nível das retrobturações nesta técnica adaptação do material obturador, este recu o po-
como para as demais a serem descritas, deve deria contribuir para a quebra definitiva do sela-
situar-se a l mm aquém da superfície apicecto- mento marginal proporcionado pela retrobtura-
mizada . Para tanto, basta finalizar a condensação ção, uma vez que a quantidade do material re-
vertical do material retrobturador assim que uma trobturador ficaria muito pequena e poderia
pequena marca (risco) existente na ponta de um comprometer a repa ração .
dos condensadores do Kit Bernabé, situada exa- Ao término da retrobturação, com auxílio de
tamente a 1 mm de sua extremidade (Figura curetas afiadas, efetua-se uma limpeza adequada
16.33 ), coincidir com a superfície dentinária api- da superfície apicectomizada, eliminando a pre-
cectomizada. As retrobturações são recomendadas sença de possíveis restos de material obturador.
nesse nível, ou seja, a l mm aquém das superfí- A seguir, r ealiza-se um exame radiogrcáfico para
cies apicectomizadas, porque encontra fundamen- avaliar a qualidade da retrobturação, seguindo -se
to biológico nos estudos realizados por Bernabé 38 , o alisamento da superfície do material com o
em 1994. Dentre inúmeras variáveis estudadas emprego de um brunidor nQ 5A da Duflex ou
nesse trabalho, uma delas foi o nível das retrobtu- similar.
rações. Os resultados obtidos p ermitiram ao autor Na seqüência, conforme preconiza Bernabé
concluir que as retrobturações realizadas a 1 mm & Holland 52 , procede-se à colocação de um capuz
aquém das superfícies dentinárias apicectomiza- de hidróxido de cálcio. Trata -se de uma técnica
das, comparativamente com aquelas realizadas onde se preenche o espaço daquele 1 mm deixa-
em nível dessa superfície, proporcionaram condi- do vazio no momento da retrobturação com um
ções mais favoráveis para a reparação. Esse recuo pasta de hidróxido de cálcio hidrossolúvel, ou
· ,;t da retrobturação deve ser considerado um detalhe seja, uma mistura de pó de hidróxido de cálcio
I de fundamental importância nas cirurgias paren- P.A. mais soro fisiológico. Esta pasta também é
dodônticas, influenciando significativamente no aplicada em roda extensão da superfície dentiná-
processo de reparação apical e periapical. O au- ria que ficou exposta p elo ato da apicectomia,
tor, a partir de então, têm recomendado esses assemelhando-se a um "capuz" (Figuras 16.74 e
procedimentos em todos os tipos de intervenção 16.93). Durante esse procedimento, procura-se
parendodôntica, com exceção das obturações re - evitar tanto quanto possível o contato da pasta
trógradas convencionais realizadas com brocas com o ligamento periodontal.
• 1
• RG, _16.93
Detalhe do "capuz" de hidróxido de cálcio
hidrossolúvel, colocado sobre os ápices rodiculores (su-
perfície dentinário e cimento retrobturodor) após os pro-
cedúnentos cirúrgicos porendodônticos.
C IÊNCIA EN DODÔNTICA
·.
A técnica de colocação desse "capuz" de hi- eia do grupo no qual foi empregado o "capuz" de .'.~
dróxido de cálcio sobre os ápices dentais apicec- hidróxido de cálcio hidrossolúvel apresentar re- ;-;
tomizados,- durante os procedimentos cirúrgicos sultado mais favorável do que o não hidrossolú- \.
parendodônticos, precon izado por Bernabé & vel. Outro dado relevante foi que o emprego do
Holland 52 , mas praticada pelos autores desde a "capuz" de hidróxido de cálcio proporcionou i-;
década de 1980, encontra embasamento científico melhores condições para ocorrência de maior in -
num trabalho experimental pioneiro desenvolvi- cidência de selamento biológico total e mesmo
do por Bernabé et al.44 • Os autores efetuaram um selamento parcial comparativamente com os
estudo em dentes de cães, em que aplicaram o grupos nos quais não foi realizada nenhuma
hidróxido de cálcio p elo período de apenas 1O aplicação de pasta de hidróxido de cálcio (Figura
minutos sobre o material retrobturador e super- 16. 94). Estes resultados, além de ratificarem os
fície dentinária apicectornizada, quando então foi achados de Bernabé et al. 4 4, quanto à diminuição
removido através de abundante irrigação com na incidência de reabsorções dentinárias apicais,
soro fisiológico. Comparativamente com os espé- demonstraram que no grupo onde foi utilizado o
cimes em que essa aplica ção não foi realizada, os hidróxido de cálcio hidrossolúvel (pó de hidróxi-
autores 57 observaram que havia uma ligeira ten- do de cálcio com soro fisiológico), ocorreu uma
dência daquelas reabsorções dentinárias denun- redução significativa quanto à freqüência de mi-
ciadas por Bernabé'1 ocorrerem com menor in- crorganismos. É muito provável que o tempo de I
tensidade no grupo em que o hidróxido de cálcio permanência dessa pasta no local, antes de ser
foi aplicado. Para m elh or analisar esse procedi- reabsorvida, seja suficiente para eliminar inclusi-
mento, Bernabé et al. 57 realizaram outro estudo ve a s bactérias presentes nos cementoblastos e I
experimental, agora aplicando dois tipos de hi- responsáveis por muitos insucessos após realiza- 1
dróxido de cálcio, um h idrossolúvel e outro não ção de cirurgias parendodônticas.
hidrossolúvel, ao contrário do trabalho ante- Na seqüência de nossos procedimentos cirúr- 1
rior44. Naquele 57 os autores deixaram essas pas- gicos, após a colocação do capuz de hidróxido de
tas de hidróxido de cálcio permanecerem em de- cálcio (Figuras 16.74 e 16.93) , deixando-o em ·
finitivo sobre as superfícies dentinárias e material definitivo no local, preenche-se a loja óssea com '
I
retrobturador, sem removê -las, e em seguida coágulo sangüíneo, obtido após suave curetagem
preencheram as loj as cirúrgicas com coágulo de suas paredes, procedendo-se à sutura do reta-
sangüíneo. Observaram que existiu um a tendên- lho, com fios de seda ou poliglactina 910 .
• _fiG. _1f./J4 _
Retrobturação com cimento de OZE consistente, 1
mm aquém da superfície apicectomizada. Aplicação defi-
nitiva da pasta de hidróxido de cálcio h1drossolúvel sobre
o ápice dental. Notar o tecido ósseo neoformado preen-
chendo totalmente a loja cirúrgico. Cemento eosinófilo
depositado sobre a superfície dentinório reabsorvido
·.-
' --. .
-~- .
(selamento biológico tota/J. H.E. 40X
' ·, '
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
43.1.2. Retrobturoçõo efetuada somente com 4.3. 1.3. Retrobturoçõo efetuada com
guta-percha aquectda guto-percha associada a um cimento obturador
Nesta técnica, após o preparo do canal radi- Os procedimentos clínicos que preconizados
cular via retrógrada, preconiza -se a retrobtura - assemelham -se à t écnica anterior, com a difercn -
ção dos canais radiculares, exclusivamente com ça que, antes de se iniciar a conde nsação vertical
guta-percha, de modo semelhante àquelas reali- da guta-percha aquecida , coloca-se previamente
zadas por Marlin & Shilder 284 para obturações um cimento endodôntico, espalhando-o p elas
endodônticas convencionais. Após o prévio amo- paredes do canal. Com o auxílio de lima endo-
lecimento de um cone de guta-percha com o ca- dôntica tipo Kerr ou m esmo espaçadores do Kit
lor de uma lamparina a álcool, coloca -se uma Bernabé (Figura 16.95 - Foto superior), leva-se
porção desse cone na entrada do canal radicular, o cimento obturador, de preferência à base de
via retrógrada, com auxílio de uma espátula Ho- hidróxido de cálcio (Sealapex) e na forma pasto-
llemback. Logo em seguida realiza-se sua con- sa, procurando "pin celar" todas as superfícies
densação vertical com um condensador do Kil dentinárias do interior do canal radicular. Em
Bernabé (Figuras 16.32 e 16.33) a frio, com diâ- seguida, do mesmo m odo ao realizado na técnica
metro apropriado e especialmente confeccionado anterior, procede-se à condensação vertical da
para esse fim. Logo após, coloca -se uma nova guta -percha aquecida, deixando-a também a l mm
porção de guta-percha, também ligeiramente aquém da superfície apicectomizada, conforme
plastificada no calor da chama, introduzindo-a preconiza Bernabé 38 . Após análise radiográfica da
imediatamente para o interior do can a l, qualidade da retrobturação, coloca-se o "capuz"
juntando-se com aquela camada de guta-percha de hidróxido de cálcio hidrossolúvel52 (Figu ras
anteriormente inserida. Na seqüência, com espa- 16. 74 e 16.93), promove o preen chimento indu-
çadores do Kit Bernabé (Figura 16.95 - Foto zido da loja cirúrgica com coágulo sangüíneo e
· ~ superior), ligeiramente aquecidos a uma peque- finalmente sutura do retalho obtido. Essa técnica
' na distância da chama de uma lamparina a álco- é preferível à anterior, pois tem a vantagem de
ol, plastifica-se toda essa massa de guta-percha. utilizar um cimento obturador, pre enchendo
De pronto, insere-se nova porção de guta-percha melhor os espaços, au x ilian do a adaptação da
aquecida, a qual é condensada verticalmente guta-percha e assim melhorando o pretendido
com os condensadores apicais do Kit Bernabé selamento marginal.
, (Figura 16.95 - Foto inferior) a frio. E assim
sucessivamente esses procedimentos vão sendo
repetidos até que, no final da retrobturação, re-
sulte uma massa única e compacta de
guta-percha. A colocação e condensação da guta-
percha plastificada cessam quando essa obtura -
ção estiver a 1 mm aquém da superfície de corte,
comprovada com o condensador com ponta de-
marcada (Kit Bernabé). Finalizando a condensa-
ção vertical, realiza-se o brunimento da superfí-
cie da guta-percha com instrumento a frio. Em
seguida, do mesmo modo já descrito, efetuam-se
tomadas radiográficas para verificar a qualidade
da retrobturação, procedendo-se à colocação do
"capuz" de hidróxido de cálcio (Figuras 16.74 e
16.93), sem removê -lo do local, conforme preco-
niza Bernabé & Holland 5 2 . Os passos cirúrgicos _ _fr.~. 16.95 .
( ·seguintes são os mesmos já relatados. Deve ser Detalhe dos pontos dos espoçodores e calcadores
ressaltado que essa técnica tem sido pouco utili- do Kit Bernabé, em aço inox, de diferentes calibres e
zada, pois dispõe-se, no momento, de materiais comprimentos, especialmente desenvolvidos para serem
que oferecem maior segurança quanto ao sela- utilizados durante a retrobturoção pela técnico da
mento marginal. condensação lateral ativa.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·,
A retrobturação pela técnica da conden sa- tação desse cone ele não deve ficar dema siada-
ção lateral ativa proposta por Bernabé3 8 é a se - m ente justo ou apresentar resistência para a sua
guinte: concluído o preparo do canal radicular retirada. Deve haver algum espaço para a colo-
via retrógrada, seleciona-se um cone de cação de cones secundários na seqüência da ob-
guta-percha principal (Figura 16.98), com diâ- turação. Uma avaliação radiográfica deve ser
metro igual ou um número acima da última efetuada para verificar o nível de penetração do
lima utilizada na retroinstrurnentação. Na adap- cone.
• FIG. i6.9ij
Cone de guta-percha
principal, selecionado e adap-
tado no interior do canal
radicular, via retrógrada.
' ~
1
Confirmada a seleção do cone principal, cones acessórios vão sendo utiJizados também
procede -se à obturação do canal radicular, via untados de cimento e o término da condensação
retrógrada, utilizando-se a técnica da condensa- latera l ativa acontece no momento em que o es-
ção lateral ativa clássica . Antes do início da retro- paçador do Kit Bernabé n ão penetre a porção
bturação pode-se levar, previam enLe, uma pe- mais apical da raiz, finalizando assim a colocação
quena quantidade do cimento obturador para o de cones secundários.
interior do canal radicular, com auxílio de limas Concluída a retrobturaçã o (Figura 16.99 e
endodônticas, em função da anatomia peculiar 16.100), os dentes devem ser radiografados e, se
do canal após a retroinstrumentação (Figura n ecessário, correção de eventuais falhas da obtu -
• 1
16.85). Tal procedimento é realizado com o obje- ração. Os con es de guta-percha, em excesso no
tivo de inserir, com maior segurança, cimento ápice dental, são elimin ados através do cone efe-
obturador até a porção m ais profunda do canal tuado com auxílio de condensadores apicais do
radicular, por via retrógrada, assim como nas pa- Kit Bernabé ligeiramente aquecido ao calor da
redes do canal radicular. Na seqüência o cone de chama de uma la mparina a álcool. Em seguida,
guta-percha principal, envolto por cimento, é in- com o auxílio de um condensador do Kit Berna -
troduzido no interior do canal com pequenos bé com ponta demarcada (Figura 16.33) , tam-
movimentos de bombeamento no sentido ápice/ bém ligeiramente aquecido, efetua-se a remoção
coroa. Para a condensação lateral dos cones de da retrobturação a uma profundidade de 1 mm
guta -percha acessórios é necessário utilizar os desde a superfície de corte 38 (Figura 16.101). No
espaçadores apicais do KiL Bernabé (Figura fin al, realiza -se uma condensação do material
16.95). Com dimensões reduzidas, permitem obturador p ara melhor acomodação da sua su-
que, no início da condensação, sua ponta atinja perfície empregando um calcador apical do Kit
maior profundidade, penetrando na porção mais Bernabé ou com aplicador de cimento de hidró-
I coronária do canal radicular, procurando atender xido de cálcio pediátrico (Golgran), ambos a frio.
assim as exigências de uma boa condensação la - Após a colocação do "capu z" de hidróxido de
) te ral9 • Os mesmos procedimentos de bombea - cálcio hidrossolúvel sobre o ápice radicular 57 (Fi-
mento efetuados com o cone principal também guras 16.74 e 16.93), os demais procedimentos
devem ser efetuados com os cones acessórios. Os se repetem conforme descrições anteriores.
CIÊN CIA ENDODÔNTICA
1 •
percha principal, acessórios e o cimento retrobturado1; final os excessos devem ser removidos.
em excessos, devem ser removidos desde 1mm aquém
da superfície apicectomizada.
/
• __ F_l§!.___!6.19L _, ____ _
Remoção dos excessos da obturação e de 1 mm da
retrobturação em relação à superfície dentinória
apicectomizada. Restos de mate,ial obturador sobre essa
superfície devem ser removidos em seguido.
Ressalta-se que, ante s da colocação do ca- espaço intra-canal (1 mm), deve ser eliminado
puz de Ca(OH) 2, qualquer que seja a técnica com auxílio de curetas, espaçadores apicais do
utilizada, todo resíduo de cimento obturador Kit Bernabé, limas endodôntica s tipo Kerr e até
que permaneça sobre a superfície den tinária mesmo com gaze esterilizado da Cramer (não
exposta, ou mesmo nas paredes dentinárias do libera fiapos).
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COM O P RATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
4.3 .3. Técnica retrobturadora efetuada com No sistema Ultrafil, um dos mais utilizados,
guta-percha termoplastífícada a guta-percha vem acondicionada no interior de
agulhas especiais e são plastificadas com o auxí-
A guta-percha, sem dúvida, tem sido um dos lio de um aquecedor elétrico portátil, a uma
materiais mais utilizados nas obturações dos ca- temperatura de 70º C. O sistema utiliza três ti-
nais radiculares via ortógrada, em virtude de sua pos de guta-percha, o Ultrafil Regula r Se t, o Ul-
excelente propriedade biológica. trafil Firm Set e o Ultrafil Endo Set. A inserção
Vários são os trabalhos promovendo a obtura- da guta-percha no interior do canal radicular,
ção do canal com o emprego de guta-percha, utili- via retrógrada, é efetuada com o auxílio de uma
zando o calor para a sua plastificação102.2s,,3o4,377,4s6_ seringa metálica do Kit Ultra fil, onde as agulhas
No entanto, a partir de 1984, Michanowicz & são acopladas em sua extremidade. Uma vez a
Czonstkowsky 295 relataram os primeiros estudos ponta da agulha posicionada na entrada do ca-
com o emprego de técnica da guta-percha ter- nal (Figura 16.102), a guta-percha plastificada
moplastificada à baixa temperatura (70°C), com é injetada para o interior do canal radicular (Fi-
o denominado Sistema Ultrafil (Hygenic Corpo- gura 16.103 ) através da pressão exercida por
ration, Akron, Ohio), desenvolvido na Escola de um êmbolo metálico, que é impulsionado
Medicina Oral da Universidade de Pittsburg. quando se aciona o gatilho da seringa metálica.
Seus resultados foram animadores, evidenciando No final, após o preenchimento do canal radi-
que elas proporcionavam excelente selamento cular com a guta-percha termoplastificada,
marginal. A partir daí a guta-percha termoplasti- deixando -a 1 mm aquém da superfície apicecto-
ficada também tem sido indicada nas retrobtura- mizada, realiza-se uma vigorosa condensação
ções por diversos autores 1º2 •12 º· 136·154·155 ·199 demons- vertical da mesma com o auxílio de um conden -
trando em seus relatos excelentes resultados, o sador apical do Kit Bernabé. Segue-se a coloca-
que sugere que tal procedimento seria exeqüível ção do "capuz" de hidróxido de cálcio 52 (Figu-
/f e prático. ras 16.74 e 16.93).
_ _f!_G_! 16~1Q2
Agulha do Ultrafi/1 adaptada na entrada do canal • FIG. 16.103·-- --
_,
( radicular, via retrógrada, pronta para orientar a inieção Aspecto radiográfico da agulha do Ultrafil
da guta-percha termoplastificada. posicionada no ápice dental. A guta-percha termo-
plastificada inietada preenche toda a extensão do canal
radicular retroinstrumentado.
CIÊN CIA ENDODÔNTICA
,. . . . . . . .,............,,.,...,. . . . . . ,~........__,.~.·--·-M--H·--~--------~~--·--- .. . . , ...._,...,.--,,_.~~-----,..... ......,.. . . .-.-............,._.,--,.
~
Bernabé et al. 56 realizaram um trabalho ex- apicectomizada. Um grande número dos e spé- "\
perimental em den tes de cães com lesões p e ri- cimes analisados evidenciou a formação de um. }.·.
apicais, retroinstrumentando os canais radicu- selamento biológico completo pela deposição i\
lares e retrobturando-os com a guta-percha de tecido cementário neoformado (Figura 16.104 J,
termoplastificada (tipo Endo-Set ), pelo sistema e 16.105), além de evidente reparo dentoalveo- I
Ultrafil, situ ando-a 1 mm aquém da superfície lar.
Um outro disposi tivo para inj eção de turação do canal radicular, com cimento obtura-
guta-percha termoplastificada é o sistema deno - dor, o autor prepara uma cavidade classe I na
minado Obtura, que difere do sistema Ultrafil, entrada do canal ràdicular efetuando-se a seguir
por necessitar tempera turas mais altas para plas- a obturação retrógrada convencional com o
tificar a mesma. Em função deste detalhe , como amálgama de prata. Nesse mesmo ano, Weine &
também dos resultados iniciais obtidos com o Gerstein 475 indicaram a retrobturação do canal
outro sistema, e também pela facilidade na aqui- radicular com um cimento obturador e cones de
si çã o e r eposição dos diferentes tipos de guta -percha. Caso persistisse qualquer dúvida
guta-percha, no momento, damos preferência ao com relação ao selamento apical, recomendavam
sistema Ultrafil. a confecção de uma cavidade na extremidade
apical e posterior obturação retrógrada.
4 .3.4. Técnica cirúrgica combinada ou mista: Na seqüência, surgiram outros auto -
retroinstrumentação e retrobtu ração res74·136·381A21 que recomendam, após a retroins-
combinada com a obturação retrógrada trumentação e a retrobturação, a realização da
convencional obturação retrógrada convencional. Na opinião
de Bramante et al. 75 , essa obturação retrógrada
Krakow246 num capítu lo de Cirurgia Endo- convencional objetiva o selamento marginal de-
dôntica editado em 1976, apresenta uma varia- finitivo do ápice radicular. Consideram que o se-
ção da técnica do tratamento endodôntico via lamento do canal dependeria do ajuste do cone
retrógrada. Após a retroinstrumentação e retrob- único e das características do cimento obturador,
CIRURGIA PARENDODÔNTICA ; COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENTÍFICO
fatores que possibilitariam a obtenção de fracas- como serem insolúveis aos fluídos tissulares e
sos pós-operatórios. Portanto com a realização da dimensionalmente estáveis. Ainda segundo o
retroinstrnmentação com retrobturação comple- autor, presença da umidade não deve afetar sua
mentada pela obturação retrógrada, na opinião habilidade seladora, além do que, devem ser de
deles, pode-se propiciar um bom selamento do fácil manipulação, e possuírem radiopacidade
canal, contribuindo para o êxito do tratamento. suficiente para facilita r sua identificação radio-
Finalizando este capítulo sobre a indicação e gráfica.
modo de executar algumas modalidades cirúrgi- Do que se nota n a literatura a respeito, cen-
cas, cabe salientar que, embora tenhamos tido tenas de materiais ob tu radores e outros afins
um grande avanço científico com os estudos ex- tem sido objeto desses estudos, no entanto,
perimentais efetuados, muita coisa necessita ser dentre os mais estuda dos po de-se citar: amálga-
melhor esclarecida. ma de prata com ou sem zin co, diferentes tipos
O desenvolvimento de novas investigações, de guta-perchas, cim entos de policarboxilatos
no âmbito das cirurgias parendodônticas, seria de zinco (Boston, PCA) , cimento de fosfato de
de fundamental importância para possibilitar o zinco, Cavit, cimento de óxido de zinco e eugenol,
aprimoramento dos procedimentos cirúrgicos/ cimentos à base de óxido de zinco e eugenol (IRM,
endodônticos atualmente utilizados. Super EBA, Kalzinol, Rickerl e N-Rickert), ionô-
meros de vidro, resin as compostas, adesivos
B. MATERIAL dentinários, cimentos à base de hidróxido de
RETROBTURADOR cálcio (Sealapex, Sealer 26) , mais recentemente
o MTA, e outros materiais tais com o o ouro coe-
Outro fator de fundamental importância no sivo, cones de prata, ciano a crilatos, teflon,
campo da cirurgia parendodôntica está relacio- hydron, polyHEMA, pinos rosqueáveis de tita-
nado com a escolha do material retrobturador, nium ou cerârn.ica.
' /! que além da sua capacidade seladora m arginal, De todos esses materiais, faremos referência
I
uma propriedade essencial, é preciso que o mes- apenas àqueles que possuem sustentação cientí-
mo seja, principalmente, biologicamente compa- fica e que foram objetos de estudos na disciplina
tível, pelo menos do nosso ponto de vista. Caso de Endodontia da Faculdade de Odontologia de
contrário, a despeito da sua excelente capacidade Araçaruba. São trabalhos desenvolvidos in vitro
seladora, ele poderá despertar a ocorrência de ou trabalhos experimentais realizados in vivo es-
uma série de eventos histopatológicos desfavorá- pecificamente em den tes de cã es, utilizando-se
veis, que poderão até levar o caso ao insucesso. dos seguintes materiais: o Amálgama de prata,
Acompanhando essa linha de raciocínio, vale guta -percha, cimento de OZE pastoso e consis-
• 1 considerar ainda que, mesmo que o material re- tente, cimento de Sealapex consistente, cimento
trobturador escolhido seja um que promova ex- IRM, cimento Super EBA e o MTA.
celente vedação apicaL as reabsorções radiculares
apicais externas, que podem acontecer, indepen- 1. Amálgama de Prata
dentemente do tipo de material utilizado 3 7, 38 , de-
finitivamente comprometem essa propriedade, Dentre os inúmeros m ateriais indicados para
conforme já discutido anteriormente. Não se serem utili.zados nas obturações retrógradas con-
pode jamais olvidar de que quartdô o material vencionais, sem dúvida, den tre todos, o que mais
retrobturador é colocado nas retrocavidades, es- recebeu preferência dos clínicos ao longo do
tará entrando em contato com os tecidos periapi- tempo foi o amálgama de prata.
cais moles e duros e ficará nesse local em defini- A indicação do amálgama de prata nas obtu-
tivo. Daí ser de fundamental importância que ele rações retrógradas se p rende aos fatos pressupos-
não seja tóxico, seja compatível com os tecidos tos dele ser facilmente adaptado em qualquer
vivos. De a cordo com Gartner & Dorn 148 , o mate- forma de cavidade sob a força de condensação,
rial retrobturador ideal deve prevenir iniiltração oferecer menor perigo de deslocamento para
de microrganismos e seus produtos para dentro dentro dos tecidos periapicais t69 · 242 , pela facilida-
,,
1
dos tecidos periapicais. Eles também devem ser de com que é levado na porção apical1 6 9 , por sua
atóxicos, não carcinogênicos, biocompatíveis ação bacteriostática durante a fase de endureci-
com os t ecidos que entrarão em contato, assim mento242, por proporcionar um bom selamento
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
marginal2 7· 105 , e por ser um material compatível reparo cementano parcia l sobre as superfícies
do ponto de vista biológico 28 1·286 • dentinárias desnudas pela apicectomia, espessa-
Considerando a vasta literatura sobre o em- mento aumentado do ligamento periodontal,
prego do amálgama de prata, não existia, até acentuado ainda mais quando em contato com o
1981, nenhum trabalho experimental in vivo que amálgama de prata (Figura 16.106). Outra parti-
fornecesse detalhes histopatológicos acerca de cularidade foi a ausência, em muitos casos, de
sua utilização, a não ser descrições de trabalhos uma cápsula fibrosa nítida, em contato com o
clínicos/radiográficos, demonstrando sua eficiên- amálgama, que, quando presente, era de espes-
cia c01no material retrobturador 272•2 77· 292-359 . sura variável exibindo, em seu interior, infiltrado
Assim sendo, Bernabé em 1981 37 realizou inflamatório de diferentes intensidades (Figura
obturações retrógradas convencionais em um es- 16.107). Poucos foram os casos analisados, onde
tudo experimental pioneiro em dentes de cães, as fibras periodontais restabeleciam funcional-
com e sem lesões periapicais, analisando o com- mente o ligamento periodontal. O infiltrado infla -
portamento dos tecidos periapicais, após retrob- matório do tipo linfo -histio-plasmocitário, na
turações com o amálgama de prata sem zinco, maioria dos espécimes, estava presente e era de in-
comparando -o à guta -p ercha brunida a frio. Nes- tensidade e extensão variáveis. Segundo Bemabé37 ,
te trabalho, para cada material utilizado havia naquela época, esses resultados demonstraram que
dois grupos de dentes: um com canais obturados o emprego do amálgama de prata devesse ser
e outro com canais vazios, con taminados. Neste reavaliado, e se possível substituído por outro
último, simularam-se os casos clínicos em que os que possuísse melhor comportamento biológico.
dentes se apresentam com obturações incomple- Somente em 1995, Torabinejad et al. 448 desenvol-
tas, canais geralmente contaminados e portado- veram um estudo, in vivo, em dentes de cães, e
res de lesões periapicais. Foi observado, em gran- observaram que o emprego do amálgama, como
de número de espécimes analisados, que a repa- material retrobturador, produzia intenso infiltrado
ração dentoalveolar com o amálgama de prata inflamatório, induzindo a uma reparação parcial
não se processou aos moldes ocorridos com a quando comparado com outro material, o MTA,
guta -percha. A mai oria deles apresentou reab- corroborando assim os resultados de Bernabé3 7 /
sorções cementárias de difere ntes intensidades, com relação ao amálgama de prata .
Weine476 , revisando casos de obturações re- seria o selamento marginal que se obtém após o
trógradas realizadas ao longo de dezenove anos, emprego do amálgama de prata.
principalmente com o amálgama de prata, e a O sucesso após a obturação retrógrada com o
maioria controlada por extensos períodos, obser- amálgama de prata estaria diretamente relacio-
vou um alto índice de fracasso . Os casos de su- nado com a efetividade do selamento apical. Foi
cesso estavam relacionados com dentes cujos ca- demonstrado in vitro que ele não impedia a ocor-
nais haviam sido obturados com guta-percha, rência de um certo grau de infiltração marginal,
momentos antes de realizar o tratamento cirúrgi- não oferecendo daí selamento marginal confiá-
co com ressecção àpical ao nível da porção bem vel26'1 52'm'2º4'3º8. Sabe-se que o amálgama de pra-
condensada da obturação. O autor, ante tal ob- ta quanto mais recentemente preparado é mais
servação, também acreditava que esse tipo de propenso à infiltração marginal2 6 · 32 e que ela re-
tratamento devesse ser reavaliado. duz ou termina completamente quando passados
Inúmeras desvantagens foram relacionadas 3 a 6 m eses 334 . Barry et al. 26 e Russo 369 admitiram
com o emprego do amálgama, tais como o fato que essa infiltração diminuía acentuadamente
do amálgama de prata ser de difícil manipulação, em tempos superiores a 48 horas. Segundo al-
podendo ocorrer contração e a ocorrência de guns autores 20,1º5·217 ,242, esse melhor selamento do
oxidação do estanho e do mercúrio durante a amálgama, com o passar do tempo, estaria r ela-
mistura401 . Esses autores, no entanto, admitiram cionado com a corrosão que o material sofre em
que a presença do zinco eliminaria o problema contato com a umidade ou fluidos tissulares.
da oxidação. Também estaria vinculada à tendência do amál-
Jorgensen23 º admitiu que o amálgama de pra- gama em se expandir após o endurecimento,
ta livre de zinco tendia a ser corroído mais rapida- contribuindo assim para uma melhor adaptação
mente do que o que contém zinco. Messing292, do amálgama às paredes cavitárias 2º· 242 ·347 •
, por sua vez, esclareceu a necessidade de se em - Todavia, Rud & Andreasen 368 sugeriram que
' ;1 pregar amálgama de prata com baixa quantida - tais alterações pudessem provocar desadaptações
, de de zinco, para diminuir a expansão e porosi- do amálgama junto às paredes da cavidade api-
dade, caso o amálgama fosse contaminado pelo cal. · Afirmaram qu e a propriedade seladora do
sangue durante a realização da obturação retró - amálgama de prata se alterava devido a proble-
grada. mas que ocorrem na estrutura do material quan-
Segundo Liggett et al. 267 , as reações teciduais do em contato com os tecidos vivos. Este fato foi
I adversas, a longo prazo, podiam ser atribuídas a confirmado por Moodnik et al. 301 e Tanzilli et al. 4 34
produtos de corrosão do amálgama de prata, que observaram falta de adaptação do amálgama
quando colocado em contato direto com os flui - com a parede cavitária, desadaptação esta que
dos tissulares. Delivanis & Tabibi 1º5 seis meses causou gra nde preocupação, pois são de dimen-
após realizarem obturações retrógradas com sões maiores do que o diâmetro de uma bactéria.
amálgama de prata, observaram sobre a sua su - ,Na opinião de Bemabé37 , essas observações
perfície uma fina película esbranquiçada, resulta- foram importantes e explicaram parte de seus
do da precipitação de produtos de corrosão. Ber- resultados. Segundo o autor, mesmo levando-se
nabé37 sugeriu que esse fenômeno pudesse ter em consideração que o amálgama de prata pu -
ocorrido em seu estudo. Observou nos dentes desse melhorar suas p ropriedades seladoras com
retrobturados com amálgama de prata com ca- o passar do tempo, acredita que tais fatores não
nais obturados assépticos, que o tecido ósseo re- levam à obtenção de bons resultados, no caso
parava a loja cirúrgica bem próxima à porção das obturações retrógradas convencionais. Isso
correspondente à superfície dentinária secciona- exposto e principalmente em razão dos resulta-
da. Porém, n a porção de contato com o amálga- dos inéditos do ponto de vista histológico e de-
ma de prata, observou um maior distanciamento nunciados por Bemabé3 7 em 1981, aboliu-se o
do tecido ósseo, aumentando o espaço periodon- emprego do amálgama de prata, procurando en-
tal e a reação inflamatória (Figura 16.106). contrar uma outra opção, um material que fosse
Um outro fator que poderia explicar a obten - compatível do ponto de vista biológico e que na
ção de resultados negativos, segundo Bernabé3 7 , época era a guta-percha.
C IÊN CIA ENDOOÔNTICA
-··-··----·---------·-"-"'""' ..... ·-.. -------·--·---- ··--·- ---·---·----·--·-·--·---·-·-·-·-·-·-·--..·-·· _....]
• 2. Guta-Percha frio apresentavam resultados mais favoráveis,
com os espécimes exibindo excelentes quadros
A guta-percha, um dos materiais mais utili- histopatológicos (Figuras 16.49 e 16. 108) com-
zado e estudado em endodontia, tem sido de- p arativamente com aqueles apresentados pelo
monstrado como um material não irritante, mos- amálgama de prata (Figuras 16.106 e 16.107).
trando-se muito bem tolerado quer pelo tecido Uma observação comum nesse experimento foi
conjuntivo subcutâneo de ratos 36·2º2·297·318.4 80 , pelo a presença de uma cápsula fibrosa em contato
tecido ósseo 131·224A 15 e pelos tecidos periapicais de direto com a guta-percha, cuja espessura era
dentes humanos7 1. 9 5 , variável para cada caso analisado, fato que ates-
Apesar da guta-percha ser um dos materiais ta o grau de tolerância da guta-percha pelos te-
indicados para obturação re t rógrada 281 • 3 19· 32 º, cidos periapicais, concordando com observações
poucos foram os trabalhos de cunho histológico feitas em experimentações realizadas por Lantz
que analisaram a mesma nessas condições. Mar- & Persson253, Marcotte et al.281 , Smith4 º5 . Otoboni
cotte et al. 28 1, após obturar canais radiculares com Filho 332·333 também utilizando em seu experi-
a guta-percha e realizar apicectomias em dentes mento somente a guta-percha como material de
de cães, puderam verificar o seu bom comporta- preenchimento das cavidades apicais prepa radas
mento tecidual. Num dos primeiros trabalhos sobre a superfície dentinária apicectomizada,
experimen tais que desenvolvemos sobre o as- apresentou resultados semelhantes àqueles ob-
sunto36, dentre outros materiais indicados para tidos por Bernabé 37 , comprovando assim o bom
retrobturações, analisou-se, histopatologicamen- comportamento biológico da guta-percha, já co-
te, a reação do tecido conjuntivo subcutâneo do nhecida, quando em contato com o tecido con-
rato frente ao implante da guta-perch a em bas - juntivo36·71·95·202A80. É evidente que os resultados
tão da S.S.White. Nesse trabalho, a guta-percha, utilizando somente a guta-percha como mate -
juntamente com o amálgama de prata, se desta- rial retrobturador causam espanto, em funçã o
cou com o um dos materiais mais bem tolerados d os estudos sempre classificarem -na como um
pelo tecido conjuntivo subcutâneo do ra to, fato péssimo selador marginal, a despeito de alguns
que nos alentou a estudá -la ainda m ais. d emonstrarem ao contrário 178·17 9 •2º3.429 . Essas di- /
Sendo assim, realizamos um estudo de cu - vergên cias de resulta dos estão rela cionadas a
nho histológico cm dentes de cães, com e sem uma série de fatores, tais como possíveis dife-
lesões periapicais 37 , j á citado anteriormente, ren.ças na com posição das guta -perchas, além
quando realiza-se obturações retrógradas com do que parte dos trabalhos que estudam as infil-
amálgama de prata e a guta -perch a. Nesse estu- trações margin ais, não simulam adequadamen-
do, Bernabé37 verificou que as obturações retró- t e as co ndições clínica s de e mprego da
gradas realizadas com a guta-percha brunida a guta-percha .
• _J!(i'.. ~&.~.19.s _
Obturação retr ógrada convencional, com guta-
percha. Notar a neoformaçõo óssea atingindo as proxi-
midades do obturação retrógrada e restabelecimento
funcional das fibras periodontais. H.E. 40X
CIRURGIA f'ARENDOOÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• Fm. _16.111
Trotamento endodôntico via retrógrado. Tatamento endodôntico via retrógrado. Retrob-
Retrobturação com cimento de OZE consistente em nível turação com cimento de OZE consistente em nível da
da superfície opicectomizoda. Notar reparo dento- superfície apicectomizada. Aspecto histopatológico seme-
olveolor, com deposição de tecido ósseo preenchendo lhante à figura anterior. O teodo ósseo preencheu total- 1 .
toda a loja cirúrgico em intimo contato com o material, mente o loja cirúrgica. H.E. 15X
interpondo-se entre eles uma fina cápsula fibrosa isento
de infiltrado inflamatório. H.E 15X
• HG. __ 16,11$
Trotamento endododôn tico via retrógrada. Trotamento endodôntico via retrógrada.
Retrobturação com cimento de OZE consistente 1 mm Retrobturação com cimento de OZE consistente, a 1 mm
aquém da superfície apicectomizodo, exibindo selomento aquém da superfície apicectomizada. Detalhe do
biológico obliterando parcialmente a entrada do canal selamento biológico ocorrido pela deposição de tecido
via retrógrada. H.E. 40X cementário neoformado, obliterando toda a entrado do
canal radicular via retrógrado H.E. 40X
• . Fi~:- J~~
-1..17.. _
Tratamento endodôntico via retrógrado.
Retrobturação com cimento de OZE consistente a 1 mm
aquém da superfície apicectomizado. Tecido ósseo com-
pacto neoformado preenchendo totalmente a loja cirúr-
gico e em íntimo contato com uma fina cápsula fibrosa.
H.E. 75X
CIRU RG IA PARENDODÔNTI CA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAME NTO CIENTÍF ICO
;
• ;!
. FIG, 16.US
Trotamento endodôntico vw retrógrada.
Retrobturação com cimento de OZE consistente a 1 mm
aquém da superfície apicectomizada. Reparo dento-
afveofar demonstrando tecido óss-eo neoformado preser-
vando o espaço perianto/ apical. Ausência de infiltrado
inflamatório. H.E. 40X • !RG. 16.119
Tratamento endodôntico via recrógrada.
Retrobturação com cimento de OZE consistente a 1 mm
aquém da superfície apicectomizada. Reabsorções
dentinárias reparadas por deposição de tecido
cementário. Tecido ósseo neoformado em íntimo contato
com o material retrobturador. Tecido cementário
neoformado nas paredes laterais do canal e reinserção
1 das fibras pe,iodontais. Ausência de infiltrado inflamató-
; rio. H.E. 40X
CIÊNCIA ENDODÓN TICA
• rm. 16.120
Tratamento endodôntico via retrógrada. Retrobtura- Tt·atomento endodôntico via retrógrada. Retrobtura-
ção com cimento de OZE consistente a 1 mm aquém da ção com cimento de OZE consistente em nível da super-
superfície opicectomizada. Quadro histopatológico seme- fície apicectomizoda. Neoformação de tecido ósseo e em
I
lhante ao da figura anterior, sendo nesse caso obse!Vado íntimo contato com o cimento de OZE, separados por .
presença de discreto processo inflamatório junto ao ma- uma fina cápsula fibroso isenta de processo inflamatólio.
terial retrobturador. H.E 40X H.E 15X
• FIG. 1~!g; __ _
Obturação retrógrada convencional com ultra-som. Obturação retrógrado convencional realizada com
Retrobturação realizada com cimento de OZE consisten- broca. Retrobturação com cimento de OZE consistente
te em nível do superfície apicectomizodo. Loja óssea re- em nível da superfície apicectomizada. Quadro
parada por neoformação de tecido ósseo em íntimo con- hitopatológico semelhante ao caso anterior. Fino cápsula
tato com material retrobturador, interpostos por uma fina fibrosa em contato com o material retrobturador isenta
cápsula fibrosa isenta de processo inflamatório. H.E. 40X de processo inflamatóno. H.E. 40X
CIRURGIA PARENDO DÔNTICA : COMO PRATICÁ-LA COM EMB.ASAMENTO CIENTiFICO
Na opinião de Bern ab é 37, esse qua dro repa - Bernabé3 7 con sidera ser de fun damen tal im-
racion al p arece estar em desacordo com os dados portância, nesse contexto, salien tar que os ci-
da grande ma ioria dos trab alhos q ue tratam do m en tos de OZE empregados pelos a utores, n as
emprego do óxido de zinco e eugen ol n os t rata- avaliações biológicas dos tratam en tos en dodônti-
m entos endodônticos conven cionais. O cimento cos via convencional, geralm ente são utilizados
de óxido de zin co e e ugen ol, assim como os ci- n a con sistên cia fluída ou cremosa . Mesm o n a
m entos endodônticos qu e os contêm , demo ns- con sistên cia crem osa, considerada clin icam ente
tram grande poder irritante, qu er em exp eri- ideal, facilitando o seu emprego durante a obtu-
m entações realizadas em tecido conjuntivo sub- ração do can al radicular, possui prop orções mais
cutâ n e o d e r ato 2 0 5, 2 9 7 , que r e m d e ntes d e elevadas de eu gen ol em relação a o óxido de zin-
cães76,19º·198 ·2º1· 208, dentes de ratos1 17 , dentes de ga- co. A m aioria dos a utores qu e analisam o cimen-
tos365, dentes humanos 265.487 e culturas de célu- to de óxido de zinco e eugenol, ou os compostos
las211·364. Contrariamente, algu ns autores têm al- que o contêm , é unânime em afirmar que a toxi-
can çado bons resultados histopatológicos, após cidade do cimento está relaciona da principal-
obturação convencional de can ais radiculares de m ente com a presen ça d o e u ge nol 206, 2 22, 2 7 1,
den tes human os com o cimento de óxido de zin- 30 0. 3o3,3o7,4 2s, O seu efeito farmacológico é comple-
co e eugenol, como é o caso de Baume et al.29 e xo e provavelmen te depende da con centração de
, . de Lambj erg-Han sen 251 . Talvez sej a interessante su a fra ção livre que ficará exposta aos tecidos. As
t salientar qu e um dos fatores que possa ter con- resp o stas farma coló gicas b ené fica s ocorrem
tribuído p ara essa observação, n o caso de Lam b - quando o tecido é exposto a baix as concentra-
.,r jerg-Hansen 251 foi a presen ça de raspas de denti- ções de eugen ol282 ,
na interpostas entre o tecido vivo e o cimento Realizan do considerações a resp eito dos ex -
obtu rador, em todos os casos. celentes resu ltados obtidos n o seu exp erimen to,
CIÊNCIA EN D O D Ô NTICA
empregando o cimento de óxido de zinco e eu- de óxido de zinco e eugenol, poderia também ,;~
·-;
genol consistente após tratamento endodôntico estar relacionado com o fato dele mostrar efetivo
via retrógrada, Bernabé 37 atribui esse fato, dentre
outros fatores, à proporção pó-líquido que utili-
selamento marginaF 3·119 ·257•325· 342 e notória pro-
priedade bactericida159·175·329. h,
,.
zou ( 1,0 g de óxido de zinco para 0,2 mL de Um fator desfavorável que tem sido aprego- j.
eugenol). Os canais radiculares foram retrobtu- ado ao cimento de OZE é que ele seria muito
rados com uma massa ba stante espessa, consis- frágil, quebradiço, tendo um longo tempo de
tente, assemelhando- se à massa de vidraceiro presa e o fato dele ser solúvel diante dos teci-
(Figura 16.90), praticamente impossível de ser dos335 . Essa última propriedade, no entanto, não
utilizada nas obturações de canais pelos méto - foi relatada no estudo de Bernabé 38. Ao contrá-
dos convencionais. Nessas condições, a presença rio, o autor em seu relato demonstra estar o
de eugenol foi bem m enor do que aquela que material presente em toda a extensão apical do
normalmente é utilizada, proporcionando, as- canal radicular e sempre em nível da superfície
sim, condições favoráveis para obtenção de re- dentinária apicectomizada, muito provavelmente
sultados biológicos mais satisfatórios em relação um sinal de sua não solubilidade. A ausência
àqueles do que se têm noticiado. Holland et dessa solubilização tem sido considerada como
al. 21 5· 212, implantando o cimento de óx ido de uma das características ideais que devem possuir
zinco e eugenol em tecido conjuntivo subcutâ- os materiais retrobturadores. Como eles são ex- 1
neo de ratos, relataram que a reação inflamató- postos aos fluídos tissulares da região periapical,
ria era mais intensa nos espécimes que recebe- é importante que esses materiais sejam resisten-
ram o cimento prepara do com maior quantida- tes à dissolução ou decomposição pelos fluídos ,
de de líquido. Tanto nos casos de proteção indi- teciduais 164.
reta da polpa dental1 66 , como em capeament o
I
de polpas dentais, expostas experimentalmen- 3.2. Cimentos à base de óxido de
te96·291, foi observa do que os resultados eram zinco e eugenol
melhores quando a proporção pó-líquido do ci-
mento de óxido d e zinco e eugenol empregada 3.2.1. Cimento IRM /
possuía menos eugen ol.
Portanto em função dessas considerações, 3.2.2. Cimento Super EBA
quando o cimento de óxido de zinco e eugenol
ou à base de OZE for utilizado em clínica, o mes- As descrições dos referidos cimentos serão
mo deve ser manipulado com menor quantidade realizadas em conjunto, pois facilitará a discussão
possível de eugenol, adicionando m aior quanti- dos trabalhos em que ambos são comparados,
dade de pó de óxido de zinco, deixando-o mais juntamente com o cimento de OZE e o próprio
espesso ou mais consistente, conforme foi utili- MIA.
zado por Bernabé em todos os trabalho aqui cita- Assim é que devido às desvantagens que se
dos. Na prática, essa con sistência ideal do cimen- tem demonstrado com o u so do amalgama de
to de OZE é obtida quando ao final do preparo prata como material retrobturador 1• 1º7A 56, assim
ele apresentar-se bastante espesso e com a sua como os problemas causados quanto à possibili-
massa parecida com a consistência da "massa de dade de reabsorção de outros materiais indica-
vidraceiro" ou seja, aquela utilizada para fixar dos, como, por exemplo, o Cavit 13 5, e do próprio
vidros. Outro detalhe, utilizando uma espátula OZE 335 , formas modificadas do cimento de óxido
de aço inox, num movimento de vai e vem, o de zinco e eugenol, ditos reforçados, tem sido
cimento vai sendo rolado ou deslizado sobre a sugerido com uma alternativa para serem utiliza-
placa de vidro, não aderindo ou deixando mar- dos nas retrobturações, destacando-se o IRM e o
cas de oleosidade acentuada sobre a mesma. Super EBA.
Desse modo consegue -se produzir vários peque- O IRM é um material odontológico bastante
nos porções ou filamentos do cimento, que faci- utilizado como selador temporário232 . Gartner &
litam a sua inserção nas retrocavidades. Dorn 148 demonstraram o emprego do IRM (Inter-
Ainda segun do relato de Bernabé 37, um ou- mediate Restorative Material) nas obturações re-
tro fator de fundam ental importância, com rela- trógradas, salientando ser um cimento com-
ção aos bons resultados que obteve com cimento posto de óxido de zinco (80 % ) reforçado com
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍFICO
20% de fibras de polimetilmetacrilato, para eli- nes, na Inglaterra, como cimento Stailine Super
minar o problema da reabsorção que se apregoa EBA, sem o óxido de alumínio.
ocorrer quando de sua utilização, assim como O cimento Super EBA, conhecido pela sua
para torná-lo mais resistente. O líquido é com- utilização na cimentação definitiva de próteses e
posto de uma mínima parcela de ácido acético como material restaurador temporário, vem sen-
( 1 % ) adicionado ao eugenol (99%). Dorn & do utilizado por Hendra como material para re-
Gartncr 107, num estudo clínico com proservação trobtu rações, desde 1970. Ele foi desenvolvido
de até l O anos, verificaram 91 % de sucesso após no sentido de melh orar as propriedades físicas
o emprego do IRM nas retrobturações. dos cimentos à base de OZE, como diminuição
A introdução do IRM nas cirurgias parendo- do tempo de presa e ser menos solúvel3 35 . Em
dônticas, segundo Owadally et a!. 335, também se sua apresentação original contém um frasco de
deveu à necessidade de substituir o amálgama de líquido e dois frascos de pó, sendo um com tem-
prata, em função de problemas relacionados com po de presa rápida e o outro de presa normal. Na
a sua toxicidade, corrosão, e outros inconvenien- fórmula comercial da Staincs (Inglaterra), o pó
tes físicos e mesmo biológicos. Essa incompatibi- do Stailine Super EBA é constituído de 60% de
lidade biológica do amálgama de prata como óxido de zinco, 34% de dióxido de silicone e 6%
material retrobturador havia sido demonstrada de resina n atural. O líquido por sua vez, é com-
num estudo histopatológico realizado por Bcrna- posto por 62, 5 % de ácido orto-etoxibenzóico
bé37, em dentes de cães, comparando-o com a (EBA) e 37,5% de eugenol. A partir de 1985,
guta-percha, em casos de canais assépticos ou Szeremeta-Browar et a!. 425 relatam urna modifi-
contaminados. Em nenhum momento pôde ser cação na fórmula do Stailine Super EBA, feita
observado resultado que encorajasse o emprego p ela Bosworth Co., através da substituição do di -
desse material, revelando sim, necessidade de óxido de silicone pelo óxido de alumínio (alumi-
,.
substituí-lo por outro mais biocompatível, con- na), na mesma proporção, e que, comercialmen-
,,r forme relato de Owadally et al. 335 . te, correspo nde ao Cime nto Super EBA da
Como acontece durante as retrobturações, os Bosworth Co., este sim disponível no m ercado
materia is são manipulados utilizando consistên- americano, e por nós utilizado . De acordo com
cia mais sólida, facilitando assim sua inserção nas Szerem eta -Browar et a/.425 , esses dois tipos de
retrocavidades. Quanto ao IRM, Civjan et al.9 1 cimentos Super EBA (Stailine e Bosworth) po-
verificaram que aumentando a proporção pó -lí- dem ser considerados equivalentes, baseado em
quido, havia um aumento da força de compres- declarações do Conselho da Associação America-
são do material, o tempo de presa diminuía, as- na de Produtos e Equipamentos Odontológicos.
sim como a sua solubilidade. Crooks et al. 9 9 reali- Segundo Oynick & Oynick m , o Super EBA é
•
1
zararn um estudo com o IRM, avaliando a infil- de fácil manipulação, adere às p ared es cavitárias,
tração marginal ocorrida após sua utilização em portanto não necessitando de retrocavidades re-
re rro bturações, e manipulado em diferentes pro - ten tivas, podendo também, ser utilizado mesmo
porções pó-líquido. Puderam verificar que não em casos em que não se obtém um campo total-
ocorreram infiltrações significantes, comparan- mente seco. Em função de sua plasticidade, pode
do-se as diferentes proporções utilizadas. Estes ser facilmente colocado mesmo quando a mistu~
dados sugerem que o emprego do IRM, com ra é pastosa. O tempo de endurecimento permite
ma ior proporção de pó ao líquido, é aceitável, sua utilização em tempo adequado e suficiente, e
não afeta a propriedade seladora do material e quando em contato com os tecidos tem a pro-
tem inúmeras vantagens, em relação à proporção priedade de rapidamente endurecer. Tal facilidade,
recomendada pelo fabricante. Segundo os auto- no entanto, é contestada por Szererneta -Browar
res, é mais prático e fácil de ser levado no inte- et al. 425 que considera ram o Super EBA um ci-
rior das retrocavidades, é menos tóxico, menos mento extremamente difícil de ser manipulado,
~ . solúvel e o seu tempo de presa é menor. necessitando de grandes quantidades de pó e lí-
t O outro material alternativo ou reforçado à quido para obter urna consistência ideal, grande
base de óxido de zinco e eugenol empregado nas dificuldade para levá-lo nas retrocavidades e pos-
retrobturações é o cimento Super EBA, este re - suir um tempo de presa muito rápido. Seu poder
forçado com o óxido de alumínio (alumina). Na de adesão nas paredes dentinárias, sendo muito
verdade, ele foi inicialmente lançado pela Stai- grande, dificulta não só a sua condensação, como
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
posterior remoção dos excessos presentes. Bon- comparado com amostras de cimento que foram ,.,
dra et al. 69 fazem referência ao fato de que as
variações de temperatura e umidade do dia a dia
imersos uma hora após a sua espatulação. No
entanto, os estudos de Arnold et al. 19 demonstra-
ram que, com o Super EBA, não havia diferenças t-
t>
alteram drasticamente o tempo de trabalho do
IRM e do Super EBA, em especial deste último. significativas nos níveis de solubilidade (perda de i··
De acordo com Oynick: & Oynick:337 e Szeremeta- peso do material) comparando-se as amostras
Browar et al. 425 a adição de outros componentes imersas 1O minutos após a mistura com aquelas
ao óxido de zinco e eugenol, tornando-o mais qu e foram imersas 1 hora após a espatulação.
reforçado, permite que esse material tenha a Esses autores puderam notar, no entanto, que a
propriedade de suportar elevada força de com- desintegração estava relacionada com o pH da
pressão, assim como ter aumentado sua capaci- solução: quanto menor o pH maior a desintegra-
dade de sofrer grandes tensões, além de possuir ção. Owadally & Pitt-Ford 336 , usando a micros-
pH neutro e apresentar baixa solubilidade. Oynick copia eletrônica de varredura, não observaram
& Oynick 337 relata ter mais de 14 anos de expe- sinais de deterioração do Super EBA, após esto-
riência clínica empregando o Super EBA como cá-lo durante seis meses, em fosfato tampão . Um
material retrobturador, e com bons resultados, outro fato importante, ainda a ser considerado
registrando, aproximadamente, 200 casos de do ponto de vista clínico, quando se trata da dis-
dentes humanos onde esse material foi utilizado. solução do material, é que, quando eles são colo- 1 •
Conforme já salientado os materiais retrob- cados nas retrocavidades, inicialmente são cober-
turadores são expostos aos fluídos tissulares da tos por coágulo sangüíneo e mais tarde por teci-
região periapical e dependendo do tipo de mate- do fibroso. Portanto, a capacidade dos fluídos tis- 1
rial considerado, seria importante que fossem sulares de atacá-lo é baixa. Ainda mais que, em ·
resistentes à dissolução ou decomposição pelos fluí- condições favoráveis, ele pode ser recoberto por
I
dos teciduais 164 • um novo tecido cem entá rio 19 • Reimplantando
Segundo as especificações nº 30 da ANSI/ dentes de macacos, retrobturados com diferen-
ADA 19 , um cimento pode perder até 1,5%, em tes materiais dentre eles o cimento de óxido d e ··
peso, após imersão por 24 horas em água desti - zinco e eugenol, IRM e Super EBA, Pitt-Ford et ~
lada. A desintegração do cimento Super EBA, à al.353 não verificaram nenhum sinal de dissolu-
base de óxido de zinco e eugenol, tem sido re- ção do material por células fagocitárias . Análise
gistrado variar de 0 % a 0, 2% 19 • Dos res ultados efetuada por Bernabé et al.58, após retrobtura- ·i
relatados por Torabinejad et al.446 , tanto o Super ções em dentes de cães com cimentos compos-
EBA como o MTA não m ostraram sinais de so- tos de óxido de zinco e eugenol, demonstraram
lubilização, após 21 dias em água, diferente do total ausência de sua solubilização. No e ntanto
que ocorreu com o IRM. Segundo Arnold et os espécimes retrobturados só com o cimento
al. 19 , quando da colocação dos m ateriais retrob- de OZE, evid enciaram sobre a sua superfície
turadores, a desintegração pode ser influenciada grande quantidade de células gigantes, e em al-
pelas alterações do pH e osmolaridade do am- guns espécimes, uma m aior quantidade de ma-
biente, p elo tempo decorrido após a sua espatu - terial dentro dos ma crófagos, quando compara-
lação e subseqüente contato com os fluído s tis - das com os outros cim entos à base de OZE, tais
sulares. Os autores afirmam que esses fluídos e como o IRM ou Super EBA.
os tecidos periapicais apresentam-se, fisiologica- Bernabé et al.58, realizou um estudo histopa-
mente, alterados. Mesmo na ausência de abs- tológico em dentes de cães com lesões periapicais
cesso, o material retrobturador ficará exposto, (dados n ão publicados) onde avaliaram os resul-
por um determinado período de tempo, num tados obtidos após retrobturações efetuadas com
m eio cujo pH é ácido, devido o estágio da infla- o IRM, Super EBA, cimento de OZE e o MTA.
mação aguda, que prece de a reparação. Arnold As retrocavidades foram executadas com brocas
et al. 19 relatam que o contato inicial do material e após período experimental de 180 dias, a aná-
com o coágulo sangüíneo ou a umidade pode lise estatística evidenciou que o MTA, o IRM (Fi-
t er efeito adverso sobre a solubilidade do mate - gura 16.126) e o Super EBA (Figura 16.127)
rial. Segundo esses autores, os cim entos imersos apresentaram resultados semelhantes, não apre -
em água, 10 minutos após a mistura, apr esen - sentando diferenças estatísticas significa ntes en-
tam um altíssim o gra u de infiltração quando tre eles, m as significantes em relação àqueles re-
CIRURGIA PAREN DODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA CO M EMBASAMENTO CIENTÍFICO
sultados apresentados pelo cimento de OZE con- considerar que, Pitt-Ford et al. 353 retrobturaram
sistente. Os autores acreditam que as diferenças dentes de macacos, com vários materiais retrob-
de resultados observadas entre os grupos do IRM turadores, dentre eles o IRM associado com ras-
e Super EBA em relação ao grupo do cimento de pas de dentina humana desmineralizadas. Nota-
OZE consistente, poderiam ser atribuídas à in- ram que, nas proximidades desse material, havia
tensa presença de detritos dentinários, detecta - poucas células inflamatórias, estando elas confi-
dos neste último grupo sendo inclusive estatisti- nadas numa pequena área, onde essas raspas já
camente significante, em relação aos demais. Já haviam sido reabsorvidas. Os achados demons-
discutiu -se os efeitos danosos, quando da pre- traram que não havia diferenças estatisticamente
sença desses detritos no interior das retrocavida- significantes, comparando-se as ocorrências his-
des, perturbando o próprio selamento marginal topatológicas entre o IRM, associado a essas ras-
do material e consequentemente a reparação. pas de dentina, com o Super EBA, o Cavit ou só
Muito provavelmente este seja o principal fator o IRM, sem raspas de dentina . Há de se conside-
responsável pelas diferenças entre eles, conside- rar que essas raspas não estavam conta1ninadas,
rando -se que os detritos muitas vezes estão asso- fato que difere do que comumente acontece
ciados à contaminação, ainda mais se levando quando do preparo das retrocavidades cujas pa-
em conta que esse estudo foi efetuado em canais redes dos canais (túbulos dentinários) geralmen-
radiculares contaminados. No entanto, há de se te se apresentam contaminados.
' 1
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... -- ·- .. l
• - -'=·-~~1.~-126 _--
Obturação retrógrada convencional com o cimento
IRM. Retrocovidade realizada com broca. Neofo1mação
ósseo preenchendo todo a loio cirúrgico e reparação dos
áreas reabsorvidos por novo tecido cementório, isento de
_ _JI_G. _16,127
processo inflamatório. H.E. 40X
Obturação retrógrada convencional com o cimento
Super EBA. Retrocovidade realizada com broca. Reparo
semelhante ao do figuro anterio,: Now-se fina cápsula
i'
t fibrosa inte,posto entre o material retrobturador e o teci-
do ósseo e ausência de infiltrado inflamatório. 40X
,,1
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Resultados histopatológicos obtidos com os caso apresentou células inflamatórias do tipo <;
't
cimentos IRM e Super EBA, semelhantes aos agudo. No entanto, as do tipo crônico ocorreram :-;,,
obtidos por Bernabé et al. 58, foram demonstrados ocasionalmente e, mesmo assim, pouco concen- i\
por Trope et al. 46 5. Os a utores após prepararem tr_adaus, sem perturbda rem o P:º_cesso dbe _repadra- {
retrocavidad es em dentes de cães e retrobturá-las çao. m novo teo o cementano reco na to as J
com vários materiais constataram, após 180 dias, as superfícies dentinárias seccionadas. Em conta-
que os melhores resultados foram obtidos com to com o IRM, havia um denso feixe de fibras
o Super EBA e o IRM, comparalivamente com o colágenas, caracterizando um encapsulamento,
amálgama de prata, ionômero de vidro e resina cujas fibras corriam paralelamente à superfície
composta. O cimento Super EBA foi o que apre- do material. Segundo os autores, os resultados
sentou os melhores resultados histopatológicos, apresentados pelos espécimes retrobturados com
sendo estatisticamente diferente dos outros ma- o amálgama de prata, foram exatamente idênti -
teriais. No entanto, quando comparado com o cos aos apresentados pelo IRM. Contrariamente
IRM, essa diferença não foi estatisticamente sig- ao que se tem noticiado, os autores relatam que,
nificante, embora os espécimes do Super EBA aparentemente, a presença do eugenol e outros
tenham exibido o menor número de células in- componentes químicos com potenciais irritantes,
flamatórias. presentes no cimento IRM, não foram fatores
Em dois estudos idênticos, Pitt- Ford et significantes para alterar o processo de cicatriza- r
ai. 35 1•152 estudaram os efeitos do reimplante de ção, nos períodos iniciais. Esses resultados tam-
molares inferiores de dentes de macacos, após bém contrariam aqueles verificados em estudos
submetê -los a retrobturações ou com o IRM ou in vitro, que demonstram um certo grau de cito- i
com o Super EBA. Concluíram que os eventos toxicidade do IRM, em avaliações em curto pra - :
histopatológicos exibidos pelo Super EBA foram zo2,1.4so.
I
claramente similares aos do IRM e que as respos- Trope et al. 465 analisando o comportamento
tas b iológicas foram significativamente melhores, dos tecidos periapicais de dentes de cães, subme- .
menos severas e menos exten sas do que com o tidos à obturações re trógradas, demonstraram a ,·
amálgama de prata. Procedimento semelhante presen ça de uma linha basófila, em íntimo con- /
foi realizado por Pitt-Ford et al. 3 54, reimplantando tato com o Super EBA. Relataram que esse fato
dentes de macacos retrobturados com os cimen - poderia ser interpretado como uma possível rea-
tos IRM ou OZE, associados com a gu ta -p ercha. bsorção do material, na junção com o tecido, ·1
Após oito semanas, os resultados exibidos de- embora não tenham relatado presen ça de macró-
monstraram que ambos, nessa situação, aprese n- fagos na área, fagocitando o material. Acreditam
ta ram excelente comportamento, superiores ao ainda, que esse achado histológico possa até ser a
amálgama de prata. O IRM tamb ém foi o mate- primeira indicação da forma ção de tecido duro,
rial utilizado por Dean et al. 104 para obturar perfu- no caso cem ento, ·que estaria sendo depositado
rações radiculares realizadas em dentes de cães, sobre o material. Segundo esses autores, uma li-
associado ou não à utilização de m embrana s de nha basófila similar já havia sido descrita por
regeneração tecidu al. Os espécimes, que foram Schroder & Granath 379 , em casos de cap eamento
avaliados após 24 sema nas, exibiram pequenas com o hidróxido de cálcio, como sendo um sin al
áreas de infil trado infla matório adjacentes ao histológico do início da formação de tecido duro.
material. No entanto, isso não foi m otivo para Os exames histopatológicos realizados por Ber-
perturbar a formação de novo tecido ósseo. Após nabé et al. 58 nos espécimes retrobturados com o
confeccionarem retrocavidades, utilizando bro- Super EBA não revelaram, em nenhum momen -
cas redondas com auxílio de micro contra-ângu- to, nada que se assemelhasse com essa linha b a -
lo, Harrison & Johnson 167 retrobturaram-nas s ó fila .
com o cimento IRM ou amálgama de prata . Suas Bernabé38 e Bernabé et al.58 têm atribuído os
observações foram realizadas 1O e 4 5 dias após bons resultados com o cimento de OZE consis-
execução do experimento. Os espécimes com 4 5 tente, dentre outros fatores, à proporção pó-lí-
dias já demonstravam acentuado reparo dento quido utilizado. Daí o a utor indicar n as retrobtu-
a lveolar e reparo ósseo significativo . O infiltrado rações, conforme já discutido, uma ma ssa bas-
inflamatório foi considerado p equeno, inclusive tante espessa, consistente, praticamente impossí-
au sente em grande núme ro de casos. Ne nhum vel de ser utilizada nas obturações de canais radi-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
-~--··-··- ··--------
......
culares pelos métodos convencionais. Vale ressal- contato com os fluídos ocorre. inicialmente, uma
tar que a proporção pó-líquido utilizada no estu- rápida e intensa liberação de eugenol, conforme
do conduzido por Bernabé et al.58, com relação os relatos de Hume22 1.223 , decrescendo assim que
aos cimentos IRM e o Super EBA, atenderam as o material endurece. Olsen et al.327 relatam ainda
especificações dos fabricantes . Portanto nada foi que a formação de um tecido fibroso, agindo
feito para que os mesmos pudessem ficar mais como uma barreira estabilizadora, mantendo
espessos ou mais consistentes, como aconteceu uma zona tampão, reduziriam a toxicidade que
com o cimento de OZE consistente. Isto poderia existe inicialmente. após emprego de cimentos à
até ser desnecessário, considerando-se os relatos base de OZE. As respostas inflamatórias ao Super
de Fitzpatrick & Steiman 134 , quando lembram EBA, nos períodos iniciais, atribuem-nas ao áci-
que o Super EBA é um cimento de OZE reforça- do orto-etoxibenzóico ou algum de seus compo-
do pelo óxido de alurrúnio (alumina) e que tam- nentes.
bém contém o ácido orto-etoxibenzóico. Segun- Do mesmo modo, Torabinejad et al. 450 acredi-
do eles, a adição desse ácido ajudaria reduzir a tam que a toxicidade dos cimentos à base de
quantidade de eugenol utilizado, tornando-o OZE, Super EBA e IRM, podem ser devido à pre-
mais tolerado quando em contato com os tecidos sença do eugenol livre na massa de sses compos-
periapicais. Chong et al. 90 também estudando o tos. Puderam verificar que, contrariamente ao
comportamento de cimentos à base de OZE, afir- ocorrido com o Super EBA, as amostras do IRM
mam que o eugenol, presente no IRM, sendo um endurecido foram mais citotóxicas, quando em
composto orgânico, poderia ter afinidade com o contato com células cultivadas em placas de Pe-
polimetilmetacrilato, um dos componentes desse tri, do que as amostras frescas ou recentemente
material, com isso, limitando a sua liberação. preparadas. No caso do Super EBA, notaram que
Acreditam também que a citotoxicidade dos ci- as amostras do cimento já endurecidas foram
mentos Super EBA e IRM estaria relacionada menos tóxicas do que as amostras recentemente
A com a presença do eugenol em suas formulações. preparadas. Atribuem essas diferenças à possível
; Implantando tubos de polietileno, preenchidos desintegração do cimento IRM, com liberação do
com o amálgama de prata, IRM e Super EBA, em eugenol de seu interior. Ainda nesse mesmo es-
tíbias de ratos, Olsen et al. 327 puderam atestar tudo, a toxicidade foi observada comparando-se
que, nos períodos iniciais de observação, as res- a lise celular através da liberação do cromo ra-
postas inflamatórias foram mais intensas, mas dioativo. Os dados dessa liberação mostraram
I passados os 100 dias de pós-operatório, o reparo que a toxicidade variava de suave a moderada,
ósseo se processou adequadamente. Notaram, comparando-se as amostras endurecidas ou re-
em alguns espécimes retrobturados com o IRM, centemente preparadas, após 4 horas de incuba-
. , que o tecido ósseo foi depositado em contato di- ção. No entanto, após 24 horas de incubação, o
reto com o material. Na opinião dos autores, a grau de citotoxicidade decresceu, sendo o me-
diminuição da resposta inflamatória, tanto com o lhor resultado obtido com o MTA, seguido pelo
IRM quanto o Super EBA, deveu-se a um pro- amálgama de prata, o Super EBA e o IRM. O
cesso químico, onde o eugenol livre (um com- IRM foi o mais tóxico, quer endurecido ou re-
posto fenólico) ou o ácido etoxibenzóico foram centemente preparado. Esses resultados corrobo-
seqüestrados pelo soro e proteínas extracelula- ram os de Bruce et al.79, os quais verificaram que
res. Fujiwasa & Masuhara 143 já haviam demons- os cimentos retrobturadores, dentre eles o Super
trado uma grande afinidade desses compostos EBA, quando expostos a determinados tipos de
com o soro bovino, em comparação com outros culturas de células, in vitro, tinham sua toxicida-
compostos orgânicos. Esta ligação seria uma in - de diminuída com o tempo.
teração eletrostática do ácido orto-etoxibenzóico Como esses, a toxicidade in vitro desses ma-
e do eugenol com grupos catiônicos ou aniônicos teriais retrobturadores tem sido investigado por
da proteína albumina. Acreditam que o perigo vários outros pesquisadores. Assim é que através
.t~ · representado pela liberação prolongada do euge- de estudos sobre células HeLa, Spângberg416 ana-
) nol, nos tecidos, diminui em função desse tipo
de ligação, associado com a limpeza do local,
lisou o efeito citotóxico de alguns deles, verifi-
cando que amostras frescas ou recentemente
provocada pelo fluxo sangüíneo. Quando prepa- preparadas do IRM produziam lise total dessas
rações recentes de cimento de OZE entram em células. Ao contrário, quando testou amostras
CIÊN CIA ENDODÔNTICA
'i
que haviam tomado presa desde 1 a 4 semanas, Ainda dentro deste contexto, os materiais ,; ·;
essa toxicidade decresceu significativamente. Re- retrobturadores também têm sido examinados ·-
sultado semelhante foi obtido por Wennberg & através de implantes efetuados em tecido con- ~~
Hasselgren477 demonstrando que a citotoxicidade juntivo subcutâneo ou tecido ósseo de pequenos I·, ,
do IRM e o OZE decresce com o passar do tem- 65
animais. Assim é que Blackman et al. implan- 1"
po. Bruce et al. 79 analisan do os efeitos do Super ~ tando o IRM em tecido ósseo e conjuntivo sub-
EBA desde 24 horas até 30 dias, sobre culturas cutâneo de rato, observaram aos 80 dias presen-
de células de rim de macacos, observaram que a ça de uma pequena fibrose junto aos tecidos ao
toxicidade ao material diminuiu a partir dos sete redor do material. Em 1990, Mcarre & Ellender 38
dias de incubação, m antendo-se assim até o final comparando a biocompatibilidade do Super EBA
do experimento. Tronstad & Wennberg463 , verifi- e do cimento de OZE após implantes por 100
caram que amostras de cimento de OZE pastoso dias em tecido conjuntivo subcutâneo de ratos,
ou consistente foram m oderadamente tóxicas. observaram presença de uma resposta inflamat.ó-
Em 1994, Chong et al. 90 determinaram os efeitos ria moderada. Na seqüência eles foram encapsu-
do IRM e do Super EBA sobre culturas de célu- lados por um tecido conjuntivo fibroso. Implan-
las, in vitro, utilizando amostras recentemente tando o IRM em mandibulc;is 'de porco pelo perío-
preparadas ou envelhecidas, após serem estoca- do de 4 e 12 semanas, Bhambhani & Bolanos62
das, por 72 horas, em água destilada. As amos- notaram formação de uma fina cápsula fibrosa, ,
tras do IRM, recentemente manipuladas, foram em cujo interior a inflamação estava ausente ou
as mais tóxicas, sendo e statisticamente signifi- se apresentava muito pequena. Olsen et al. 327
cante em relação a todos os outros materiais tes- avaliaram a reação do tecido ósseo da tíbia de ,
tados, com exceção do Kalzinol. O Super EBA, ratos ao implante de tubos de teflon contendo o I
envelhecido, que demonstro u resposta seme- IRM e o Super EBA, após períodos entre 7 e 100
lhante ao ionômero de vidro, segundo os auto- dias. Decorridos 56 dias notaram completo repa- '
res, é recomendado como material retrobturador ro ao redor dos tubos que continham o IRM. Ao
al.
por causar baixa toxicida de . Torabinejad et 450, redor dos tubos preenchidos com o Super EBA,
utilizando culturas de células de ratos, determi- observaram presença de uma inflamação mode- ~
naram, in vitro, a toxicidade do amálgama de rada. No entanto, quando passados os 100 dias,
prata, IRM, Super EBA e o MTA, utilizando ao redor dos tubos contendo o Super EBA, ob-
amostras frescas ou endurecidas. Observaram servaram presença de reparo completo. Segundo ·1
que amostras do MTA, recém preparadas ou já os autores, a biocompatibílidade demonstrada
endurecidas, foram menos tóxicas do que as do frente ao IRM e Super EBA, reforçam a necessi-
Super EBA e o IRM. No en tanto, amostras pre- dade da substituição do amalgama de prata por
paradas recenteme n te do Super EBA m ostra- ambos os materiais estudados. Torabinejad et
ram -se menos irritantes do que as do IRM, nas al. 111 implantaram ·tubos de teflon em mandíbu-
mesmas condições . Ain da, através do método las de porcos, contendo em seu interior o Super
da liberação de crom o radioativo, dependente EBA e o MTA. Os resultados analisados dois me-
do grau de toxicidad e do material, puderam ve- ses após permitiram concluir que ambos são bio-
rificar que as amostras recentemente prepara- compatíveis, apesar dos resultados histopatológi-
das são mais tóxicas do que as endurecidas. cos com o MTA serem ligeiramente superiores ao
Após 24 horas de incubação, ela decresceu, sen - Super EBA. Em 1997, Tassery et al. 435 realizaram
do o melhor resultado obtido com o MTA, e o implantes intra-ósseos do Super EBA e o Vitre-
pior com o IRM. Osório et al. 330 , utilizando cul- mer em coelhos. No período mais longo, de 12
tura de fibroblastos de gengiva humana, deter- semanas, os resultados demon straram que os re-
minaram os efeitos citotóxicos do Super EBA, sultados histopatológicos entre ambos foram se-
CRCS e do MTA, dentre outros materiais. Os melhantes. Pertot et al. 344 realizaram estudo se -
resultados demonstraram que o MTA não apre- melhante, implantando o Super EBA em tecido
sentava sinais de irrita ção, sendo que o Super ósseo de coelhos, comparando-o com o ionôme-
EBA exibiu altos níveis de toxicidade. Baseado ro de vidro. Puderam observar que o Super EBA
em seus resultados os a u tores concluíram que o possuía excelente comportamento biológico, ve-
MTA e o CRCS foram os materiais retrobturado- rificando que um tecido conjuntivo fibroso e es-
res menos irritantes. pesso freqüentemente interpunha-se entre o
~:: ~:-~:~~:d~s ~:~:~~~~~a=~~~:::~~~BSA
:~e:_:~:C:~N::~~O~
implantando o IRM em tecido conjuntivo sub-
cutâneo d e ratos observou que ele praticamen-
ocorridos n ão determinaram diferença s es tatis-
ticamente significantes. Freqü e ntemente, foi
te não despertava nenhuma inflama ção ou observado tecido conjuntivo fibroso, em íntimo
apenas uma suave inflamação após 90 dias de contato com esses dois últimos materiais.
observaçã o. Em 1998, St einbrunner et al.4 19 de - O selamento marginal proporcionado pelo
terminaram a biocompatibilidade e o potencial material retrobturador também tem importância
osteogênico do Super EBA, após implantes, em em função de sua habilidade de impedir ou não
tecido conjuntivo subcutâneo de ratos. As rea - o contato do interior do canal radicular contami-
ções estudadas microscopicarnente após 15, 30 nado com os tecidos periapicais. Bernabé et al.49
e 60 dias demonstraram que o Super EBA era realizaram um trabalho in vitro para avaliar o se-
bem tolerad o pelos t ecidos, mas destituído de lamento marginal proporcionado por cinco ma -
poder osteogênico ou de estimular calcificação teriais retrobturadores, MTA, IRM, Super EBA,
distrófica. Nesse mesmo ano, Torabinejad et Ionôm ero de Vidro e Amálgama de Prata com
a/. 4 52 realizaram, em mandíbulas e tíbias de por- verniz (Copalite) em retrocavidades preparadas
cos, implantes intra-ósseos d e tubos de teflon em dentes humanos. Os espécimes foram mer-
preenchidos com o MTA, Super EBA, IRM e gulh ados em azul de metileno a 2 % e submeti-
amálgama de prata. Os implantes, nas mandí- dos a vácuo durante quinze minutos, permane-
bulas, foram efetuados 10 dias após terem sido cendo por mais 24 horas no corante. A análise
realizados os implantes na tíbia, e os animais dos resultados mostrou diferença significante en-
sacrificados 80 dias depois . De todos eles, o tre os materiais, sendo que o MTA (Figura
MTA foi o que apresentou os resultados mais 16.128) aprese nLou o menor índice de infiltra-
favoráveis . Em ambos tipos de implantes, o ção. O Ionôm ero de Vidro (Figura 16.129), o
MTA foi o único que não apresentou infiltrado Amálgama de Prata (Figura 16.130) e o Super
,,; inflamatório nos tecidos adjacentes ao material, EBA (Figura 16.13 1) apresentaram resultados
inclusive mostrando, em vários esp écimes, que semelhantes entre si e o IRM mostrou o maior
o tecido ósseo estava em íntimo contato com índice de infiltraçã o (Figura 16.132) .
Obturação retrógrado convendonol com o MTA. Obturação retrógrada conven cional com o
Avaliação do selamento marginal através da infiltração ionômero de vidro. Avaliação do selamento morg,iwl
do corante azul de metileno. !OOX através do infiltração do corante azul de metileno. !OOX
)
CIÊNCIA ENDODÓNTICA
·---·-·-·----------·-··----···- ··-·-··-··----·--------------------------~---··--·- ------------------1
·;
• RG. 16.110
Obturação r etrógrada convencional com o
amálgama de prata. Avaliação do selamento marginal
através da infiltração do corante azul de metileno. 100X
Com o m esm o objetivo de avaliar o sela- ram os índices de infiltração marginal, tanto no
mento m argin al de materiais r etrob tu radores, sentido coronário com o apical, depois de 24 se-
Bondra et al. 69 verificaram que a penetração de manas. Observaram que os níveis de infiltração
corantes na interface material/parede den tinária, nos espécimes do grupo do IRM e ionômero de
após o emprego do cimento IRM e o Super EBA, vidro foram sem elhantes entre si e su periores ao
era significativam ente men or do que o verificado amálga m a de prata nos períodos iniciais. Período
com o amálgam a de prata, sendo que entre am - de observação m aior revelou qu e as diferen ças
bos não h avia diferenças. Dados semelhantes fo- não existiram entre eles. Entretanto, estudos
ram obtidos p or Higa et al. 177 , qu e também verifi - conduzidos p or Thirawat & Edmunds438 avalian -
ca ram a superioridade do IRM e do Super EBA, do a habilidade seladora de vários materiais re-
em relação ao amálgama de prata, o m esm o trobturadores, observaram que o Super EBA
acontecendo nos estudos in vitro, realizado por teve pior comportamento do que os cimentos de
Sm ee et al.4 0 4. Num estudo onde u tilizo u vários ionômero de vidro, resina composta m ais agente
m a teriais retrobturadores, Inou e et al.228 avalia- de união o u somente de agentes de união. Re-
CIRURGIA PAR ENOODÔNTICA: C O MO P RATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
sullados contrários a este foram relatados por King et al. 2 38 , estudando o índice de infiltra-
King et al. rn demonstrando melhores resultados ção marginal do Super EBA comparado com o
com o emprego do Super EBA quando compara- ionômero de vidro e outros materiais retrobtura-
do com o ionômero de vidro e outros materiais dores, relatou um dado interessante. Além do
retrobturadores. bom selamento proporcionado pelo Super EBA,
Os estudos de Inoue et al.228 demonstraram verificou que esse material não tende a se deterio-
sobre a superfície do IRM, presença de cristais à rar num período de até três meses. Owadally &
semelhança de uma folhagem ou folhas de uma Pitt-Ford 336 , estuda ndo as propriedades físicas do
plan ta que poderiam sugerir uma possível solu - IRM e o Super EBA verificaram que mesmo co-
bilidade do malerial. Acreditam que, in vivo, a locados em contato com soro bovino, p elo perío-
circulação de fluídos ao redor das retrobtura- do de até 6 m eses, n ão mostraram sinais signifi-
ções apicais poderia solubilizar o IRM. Caso isso cativos de desintegra ção. No e ntanto quando
aconteça, provavelmente possam ser responsá- uma certa quantidade de hidroxiapatita era adi-
veis por irritações e interferir sobre o processo cionada ao IRM, ocorria desin tegração do mate-
de reparo. Essa ocorrência com o IRM também rial. Num estudo anLerior, Owadally et al. 115 tam-
foi observada por Fitzpatrick & Steiman' 34, que bém puderam estudar a habilidade seladora do
atribuíram esse fenômeno a um artefato de téc- IRM agregado ou não a hidroxiapatita, compa -
nica, ou seja, pelo fato do brunidor ter sido en- rando-os ao Super EBA, amálgama de prata e o
volto com o pó do próprio material, com o obje- Kalzinol. Observaram que, independentemente
tivo de evitar que ele aderisse ao instrumento. da porcentagem de h idroxiapatita acrescentada
Nos espécimes onde as superfícies do material ao IRM, não ocorreu diferença nos índices de
retrobturador foram brunidas com auxílio de infiltração en tre ele e o Super EBA. No entanto,
brocas, isso n ão ocorreu. Na opinião desse au - as médias de infiltrações foram menores com o
tor, o significado clínico desses cristais ainda é cimento só de IRM, comparativamente com o
' ;1 desconhecido. amálgama de prata e o Kalzinol.
Utilizando o marcador Rodamina B fluores- MacDonald et al. 278 , utilizando-se das técni-
cente, Torabinejad et al. 4 56 verificaram que as ca- cas· de infiltração de corantes e da filtração de
vidades apicais retrobturadas com o MTA foram fluídos, realizaram um estud o com alguns mare-
as que apresentaram as menores infiltrações riais indicados para retrobturações, entre eles o
comparadas com o amálgama de prata e o Super amálgama de prata e o cimento Super EBA. O
EBA. Entre esses dois últimos, foi ob servado grupo do Super EBA foi divid ido em dois grupos:
maiores índices de infiltração com o amálgama um utilizado no interior de cavidades apica is se-
de prata. cas e noutro em cavidades úmidas. Comparativa-
• 1
Szeremeta-Browar et al. 42 5 utilizaram auto- mente com o amálgama de prata, o Super EBA
radiografias para avaliar in vitro, a infiltração permitiu menores índices de infiltrações margi-
marginal após a realização de diferenLes proce- nais. Na avaliação dos autores, entre os dois gru-
dimentos sobre o ápice radicular. Num grupo o pos do Super EBA (cavidades secas ou úmidas),
preparo d e cavida des apicais foi realizado com não h ouve diferença estatisticamente significan-
broca carbide t ronco-cônica invertida n º 33 112 te, em qualquer período analisado. No entanto,
em alta rotação e retrob turadas com o amálga - em cavidades secas, considerando-se os períodos
ma de prata e Super EBA. Noutro grupo, os iniciais de avaliação, a média dessa infiltração
canais radiculares foram apenas obturados pela marginal foi substancialmente maior.
técnica da condensação lateral, ou submetidos à Ainda, MacDonald et al. 278 afirmam que a
apicectomia, sem preparo de cavidades. Esse es- águ a é essencial para acelerar a reação de endu-
tudo demon strou que a condensação lateral foi recimento dos cimentos à base de OZE . Em am-
a que produziu o melhor selamento comparado bos grupos, o cimento Super EBA após ser colo-
com as técnicas retrobturadoras, porém não cado nas retrocavidades, foram imediatamente
sendo esta tisticamenle significante em relação expostos a 100% de umidade. O seu Lempo de
ao Super EBA. Este sim foi superior, também do endurecimento, após a mistura, é de cerca de 7 a
ponto de vista estatístico, àqueles grupos que 8 minutos. Para os autores, parece improvável
tiveram os ápices radiculares apenas apicecto- que um tempo de endurecimento acelerado pu -
mizados. desse ter qualquer efeito sobre as infiltrações to-
t
CIÊNC IA ENDOOÓNTICA ',
madas 6 ou 24 horas após. A água, presente nas índices de infiltração marginal, foram superiores
cavidades, reduzindo a tensão superficial, pode nos espécimes do IRM, comparativamente com
·~
ter permitido melhor adaptação do Super EBA. os do Super EBA. Fitzpatrick & Steiman 134 fize-
Segundo MacDonald et al. 278, este fato poderia ram um estudo para avaliar, através da SEM, a
explicar porque as infiltrações marginais ocorri- adaptação do IRM e do Super EBA, em retrobtu-
das, nos períodos iniciais, teriam sido menores rações, utilizando no final da operação diferentes
no grupo cujas retrobturações foram realizadas técnicas d e acabamento sobre o material retrob-
em cavidades apicais úmidas. Mas não explica o turador. Os espécimes que receberam polimento
que pode ter acon tecido nos espécimes que tive- da superfície do material retrobt urador, realizado
ram suas infiltrações marginais reduzidas, signifi- após o endurecimento do material com brocas
cativamente, após um mês. Ainda segundo esses carbides especiais para polimento, foram os que
autores,· os espécimes com o Super EBA foram os apresentaram as melhores adaptações junto às
que apresentaram maiores quantidades de infiltra- paredes cavitárias, tanto nos espécimes retrobtu -
ções com padrão irregular. Acreditam que isto rados com o IRM como o Super EBA, não regis-
ocorra em função da hidrólise da matriz do cimen- trando entre ambos diferenças significantes. Os
to, resultando na sua desintegração ou fragmenta- espécimes que sofreram brunimento com instru -
ção, provocando assim, maior acúmulo de detri- mentos, ou com bolinhas de algodão úmidas, fo-
tos e conseqüentemente facilidade para a infil- ram os que apresentaram as adaptações mais ir-
tração. Entretanto, relatam que no início é nor- regulares . Recentemente, Forte et al. 139 avaliaram
mal o Super EBA apresentar um mínimo de in- a capacidade seladora do Super EBA, realizando
filtração marginal, que decresce após 7 dias, esse acabamento sobre a superfície do material
mantendo-se assim, relativamente constante. retrobturador, com o emprego de brocas ou en-
Vale registrar também que o efetivo sela- tão um brunimento final, utilizando para isso
mento marginal proporcionada pelo Super EBA um instrumento apropriado (brunidor arredon -
foi demonstrado em uma série de outros estudos dado). As superfícies das retrobturações que re-
como os de Saunders et al. 375; O'Connor et al. 3 22; ceberam um acabamento final com broca apre-
Biggs et al.63; Reeh & Combe 360 ; Bohsali et al.68 ; sentaram nos períodos iniciais, infiltração margi- /
Chailertvanitkul et al. 89 , e Gagliani et al. 146 • nal significativamente maior do que quando a
Através da microscopia eletrônica de varre- superfície só brunida. No entanto, essa diferença
dura (SEM), Bramante et al.7 8 , puderam verificar desapareceu quanto maior era o período de ob-
que o cimento de N-Rickert e o Super EBA foram servação. Inoue et al. 228 , através da microscopia
os materiais retrobturadores que apresenta- eletrônica de varredura, avaliaram a adaptação
ram as melhores adaptações j unto às paredes ca- de vários materiais retrobturadores, dentre eles o
vitária apicais. O óxido de zinco e eugenol con- IRM. Os exames efetuados detectaram falhas na
sistente, o IRM e o amálgama de prata apresen- adaptação de todos os materiais junto às paredes
taram adaptação ligeiramente superior às apre- dentinárias, cujos espaços variaram de 5 a 10
sentadas pela guta-percha e o ionômero de vi- micrômetros.
dro, mas exibiram uma superfície muito irregu- Oynick & Oynick 337 que foram os pioneiros
lar. Os autores notaram que, nos espécimes re- na utilização do Super EBA nas obturações retró-
trobturados com o IRM não foi possível observar gradas, realizaram dezenas de tratamentos clíni-
adaptação marginal completa. Bernardinelli 60 , cos, e puderam constatar, através de exames ra-
avaliando os desajustes de vários materiais retrob- diográficos, que o mesmo apresentava excelente
turadores, pôde verificar que o cimento Super comportamento, superior ao obtido com o amál-
EBA foi o t erceiro melhor material a se adaptar gama de prata. Esses resultados, ínclusive, foram
às paredes cavitárias, sendo superior ao cimento atestados através de uma análise feita com auxí-
de ionômero de vidro. Abdal et al. 1 por sua vez, lio da microscopia eletrônica de varredura e ava-
observaram índice zero de desaj u ste e infiltração liação histopatológica. Outros estudos clínicos/
bastante reduzida com o ionômero de vidro, sen- radiográficos foram realizados, como os de Dorn
do esses dados significativamente superiores aos & Gartner 107 para verificar a porcentagem de su-
do cimento Super EBA e IRM, em relação a am- cesso alcançada após obturações retrógradas con-
bos aspectos avaliados. Contu do, constataram vencionais realizadas com o IRM, Super EBA e o
que os desajustes na adaptação, assim como os amálgama de prata. Foram analisados mais de
CIRURGIA PARENOODÓNT!CA: COMO PRATICÁ-LA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO
488 casos, com até 1 O anos de proservação. comércio, foram o CRCS e o Sealapex, estes na
Constataram que a porcentagem de sucesso al- década de oitenta. Seguira m-se depois os cimen-
cançado com o Super EBA foi ao redor de 95% e tos Sealer 26 e o Apexit. Esses materiais foram
com o IRM de 91 %, bem superiores aos 75% de objetos de urna série de tra balhos experimentais,
sucesso alcançado pelo amálgama de prata. Ba- que analisaram tanto suas propriedades físicas
seado em seus achados, puderam concluir que quanto biológicas 70,93 , i 3 u 99 .213,220. Um dos mais es-
tanto o IRM como o Super EBA apresentam con- tudados, sem dúvida, é o cim ento Sealapex, que
dições favoráveis para serem utilizados como tem mostrado ter a propriedade de estimular o
materiais seladores apicais. Pantschev er a/. 339 selamento biológico 213 , bem como evidenciar ser
analisaram mais de 100 pacientes que foram um bom selador marginal, igualando-se ou mes-
submetidos a tratamento cirúrgico, cujos dentes mo superando outros conhecidos cimentos obtu-
receberam o Super EBA ou o amálgama de prata radores220,26s.
como materiais retrobturadores. Os resultados da Em 1985, Holland & Souza 21 3, efetuaram um
avaliação clínico/radiográfica demonstraram que estudo pioneiro em dentes de cães e macacos
o sucesso alcançado com o Super EBA era ao com intenção de verilicar a capacidade do ci -
redor de 56% e, com o amálgama de prata mento Sealapex para induzir a formação de te-
51, 9%, sendo que, entre eles, não havia diferen- cido duro . Após 180 dias, observaram que o
ças estatisticamente significantes. Bogaerts67 tam- mesmo induziu a deposição de tecido minerali-
bém relatou excelentes resultados clínicos após o zado em nível apical, em 33 ,30% dos casos com
emprego do Super EBA, em casos de trepanações sobre-instrumentação e 70<Yo dos espécimes onde
radiculares, ocorridas durante o tratamento en- o limite de manipulação e obturação foi o CDC.
dodôntico. Wiscovitch & Wiscovitch479 descreve- Notaram que quando o m aterial obturador esta-
ram uma técnica de retrobturação onde o mate- va confinado no interior do canal radicular, não
rial escolhido foi o Super EBA, cujos resultados havia reação inflamatória do ligamento perio-
' Á demonstraram que ele é um material bastante dontal, evidenciando assim sua boa tolerância
promissor. tecidual.
· Esses dados também fo ram comprovados por
4. Cimento Sealapex consistente Silva 395 que estudando a biocompatibilidade dos
cimentos à base de hidróxido de cálcio, observou
Como já observado anteriormente, na práti - que o Sealapex foi aqu ele qu e melhor permitiu a
I ca, grande parte dos profissionais, na verdade, deposição de tecido mineralizado, sendo o único
uti1izam nas re trobturações os mesmos cimentos a apresentar selamento completo do ápice radi-
empregados nos tratamentos endodônticos con- cular em 37,5% dos ca sos. Por sua vez, Tagger &
• 1
vencionais, sendo a maioria deles à base do óxi- Tagger4 2 7, utilizando den tes de macacos, em con - ·
do de zinco e eugenol. No entanto, considerando dições experimentais semelhantes, observaram
essa linha de pensamento, entende-se a necessi- que com o Sealapex ocorreu selamento apical
dade de se lançar mão de um cimento obturador completo em 50% dos ca sos, como também no-
que tenha a propriedade de ser biologicamente taram ausência de infiltrado inflamatório no liga-
ativo. Dentro desse universo, incluí-se os cimen- mento periodontal, na região do forame apical.
tos à base de hidróxido de cálcio, que foram de- Especificamente p ara o cimento Sealapex,
senvolvidos devido às dificuldades e às próprias alguns trabalhos têm demonstrado que ele pro-
limitações que o hidróxido de cálcio apresentava duz um selamento marginal superior aos ci-
quanto às suas propriedades físicas para ser con - mentos à base de óxid o de zinco e euge-
siderado um material obturador permanente. Es - noF18L256·28º e aos cimen tos resinosos 268 • Prova-
ses cimentos têm sido relativamente bem estuda- velmente a melhor qualid ade seladora do Seala-
dos e os resultados apresentados tem estimulado pex ocorra em funçã o do fato de que ele possui
sua indicação, principalmente pelos excelentes óxido de cálcio em su a formulaçã o . Em contato
resultados biológicos até então apresentados, com a umidade, o óxido de cálcio reage com a
1
sendo considerados superiores aos cimentos à água dando origem a o hidróxido de cálcio .
/
base de óxido de zinco e eugenol. Como essa reação determ ina um aumento de
Os primeiros cimentos à base de hidróxido volume 8 1, isso ajudaria a m elhor adaptação do
de cálcio para a obturação de canal, lançados no material às paredes do can al.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Além disso, Guigand et al. 161 apontam mais de incubação, a s leituras evidenciaram maior ati-
uma vantagem do óxido de cálcio. Segundo os vidade antimicrobiana para os cimentos à base
autores, ele parece promover uma transformação de óxido de zinco e eugenol, quando comparada
ultra-estrutural na matriz dentinária não mine- aos cimentos que contém o h idróx ido de cálcio.
ralizada. Assim, nas superfícies dentinárias do No entanto, Canalda & Pumarola84 comparando
canal radicular não toca das pela instrumentação, o comportamento de cimentos à base de h idróxi-
o óxido de cálcio eliminaria a matriz extracelu - do de cálcio (C.R.C.S. e Sealapex) com alguns
lar, reduzindo ao mínimo a interface denti na - cimentos à base de óxido de zinco e eugenol
material obturador, produzindo um selamento (Tubliseal e Endomethasone) ou de resina (AH
mais eficiente. As observações dos autores mos- 26), frente a algumas espécies bacterian as obser-
tram a penetração no interior dos túbulos denti- varam que os halos de inibição por eles provoca-
nários de uma substância mineralizada nos den - dos foram similares.
tes obturados com óxido de cálcio, enquanto Convém ressaltar, contudo, que os testes na
que, nos dentes obturados com hidróxido de cál - maioria das vezes são efetuados através do con-
cio, esta penetração não ocorreu. tato direto dos corpos de prova com as bactérias
Outros trabalhos na literatura têm demons- semea das n o meio de cultura. Além disso, os pe-
trado a efetividade seladora do Sealapex compa- ríodos de incubação sempre são pequenos. Sabe-
rando-o com outros cimentos a base de hidróxi- se que, nos cimentos à base de óxido de zinco e
do de cálcio como o Sealer 26 e o Sealer 26 eugenol, a atividade antibacteriana é exercida
modificado, embora, de um modo geral, possa p rincipalmente pelo líqüido 323 . Sabe-se também
dizer-se que esses cimentos são bons seladores que, após a esparula ção do óxido de zinco com o
marginais. Assim, Sacomani3 70 relata resultados eugenol, permanece um resídu o de eugenol li-
iguais quanto à eficiência seladora apical propor- vre . Assim, provavelmente a ação antib acteriana
cionada pelo Sealapex e Sealer 26 Modificado. Já do m aterial se inicie logo após a sua adaptação
Favinha 130 observou melhor vedamento apical na placa contendo o meio de cultura inoculado e
com o Sealapex do que com o Sealer 26 Modifi- persiste, de maneira efetiva, até a inativação to-
cado . Valera et al. 469 notaram infiltração marginal tal do eugen ol livre. /
igual entre o Sealapex e o Sealer 26. Há também Por outro lado, a atividade antimicrobian a
quem tenha observado melhor vedamento com dos materiais à base de hidróx ido de cálcio de-
o AH 26 do que com o Sealapex269A 00 , ou ao pende principalmente da a tuação dos íons hidro-
contrário, melhor selamente com o Sealapex do xila1 2r, z39,367 _ Como a ionização é lenta e prolon-
qu e com o AH 26 8 5•268 • Evidentemente, diferen- gada395A26A64, é de se esperar que o Sealapex te-
ças de m etodologia experimental devem ter con- nha uma suave ação inibitória inicial, porém per-
tribuído para essas aparentes divergências de re- sistente. Essa hipótese parece ter sido comprova-
sultados, os quais, no entanto, denunciam bom da por Panzarini et al: 34 0 que, tra tando dentes de
vedamento dos cimentos Sealapex, Sealer 26 cães com lesões periapica is crônicas in duzidas
Modificado, Sealer 26 e AH 26. experimen talmente, detectaram menor presença
Outra propriedade do Sealapex que poderia de bactérias nas ramificações apicais do canal nos
contribuir para a obten ção de bons resul tados casos em que o cimento obturador foi o Sealapex
seri a o seu potencial anti bacteriano, que atuaria do que n os casos onde se empregou o óxido de
n a inativação das bactérias que resistem ao pre- zinco e eugenol.
paro do canal radicular. A literatura, no entanto Confirma também a h ipótese anteri ormente
tem demonstrado que os cimentos à base de óxi- m en cionada o trabalho in vitro d e Shalhav et
do de zinco e eugenol produzem resultados mais al. 393 , que testaram a atividade antimicrobiana
significativos do qu e os cimentos à base de hi- dos cimentos de Roth, C.R.C.S. e Sealapex sobre
dróxido de cálcio . Tem sido demonstrado que os o Streptococcus faeca lis. A análise das curvas do
cim e ntos à base de óxido de zin co e eugenol crescimento bacteriano d emonstrou que, uma
produzem um bom h a lo de inibição do cresci- hora após o preparo, os cimentos de Roth e o
m ento ba cteriano 1º6 • 324 ·356 A 20 • Al-Khatib et al.8 C.R.C .S. apresenta ram um efeito antimicrobiano
também analisaram o potencial antib acteriano significativamente superior ao cimento Sealapex.
de vários cimentos obturadores frente a algumas Vinte e quatro horas após o preparo, o cimento à
espécies de bactérias. Depois de vários períodos base de óxido de zinco e eu genol (Roth) apre-
..,.... CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
1
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sentou atividade superior aos cimentos à base de riapical dificultaria a sobrevivência de muitas
hidróxido de cálcio (CRCS e Sealapex) . Contudo, bactéria s anaeróbias. Esta possibilidade foi expe-
sete dias após o preparo dos cimentos, o Seala- rimentalmente demonstrada por Kontakiotis et
pex proporcionou um efeito antibacteriano signi- al.24 ' , apó s verificarem que o número de bacté-
ficativamente superior aos outros dois cimentos rias anaeróbia s faculta tivas ou estritas foi signifi-
testados. Concluíram os au tores que a atividade cativamen te m enor após a incubação dos micror-
antim icrobiana dos cimentos se altera de acordo ganismos em câmaras contendo hidróxido de
com o intervalo de tempo compreendido entre a cálcio do que em câmaras que não continham
mistura de seus componentes e o período de essa substância.
contato com as b actérias. Algun s autores admitem , também, que os
O crescimento da atividade antibacteriana íons hidroxilas provenientes do hidróxido de cál-
do Sealap ex, com o passar do tempo, tamb ém foi cio, além de sua ativida de antibacterian a, esti-
constatado por Heling & Chandler 17 1_ Os testes mularia m a deposição d a fosfa t ase alcali -
foram efetuados em tubos de denti na de dentes na64·88,458,464. Sabe -se que esta enzima, encontrada
de boi, previamente contaminados com Strepto- em áreas de m inerali zação e com pH compreen-
coccus faecalis . Observou os autores que o cimento dido entre 8,6 a l0,}3º9 · 419 , é capaz de induzir a
apresentou maior atividade sete dias após a apli- precipitação de fosfato de cálcio na matriz orgâ-
cação do que após 24 hora s_ nica que, reagindo com os íon s cálcio, originaria
Confo rme m en ciona do, os produtos qu e os cristais de hidroxiapatita 383 •
contêm ou que formam o hidróxido de cálcio Por isso, se por um lado o íon hidroxila libe-
atuam eficazmente sobre as bactérias através dos rado pelo hidróxido de cálcio que se forma na
íons h idroxílas liberados na decomposição de sua reação do óxido de cálcio, um dos componentes
molécu la. Segundo Estrela 12 1, o elevado pH pro- do Sealapex, com a umidade, é importante na
vocado pelos íons liberados desempenha duas m odificação do ambiente p eriapical de dentes
' ~ propriedades enzim áticas importantes: a inativa- portadores de lesões periapicais crônicas não me-
I ção de enzimas bacterianas, com efeito antibac- nos importante é a participação do íon cálcio na
teriano e a ativação enzimática tecidual, com formação de tecido m ineralizado.
efeito mineralizador. Desta ca, ainda, o referido Alguns dos estudos efetuados têm demons-
au tor que, provavelmente, o mecanismo de ação trando que não foi detectado poder bactericida
dos íons hidroxila n o controle da atividade enzi- de parte do Sealapex e do Sealer 26 123 . Duarte et
mática bacteriana é explicado a partir da existên- al. 11 0 comparando o Sealer 26 com o Sealapex
cia de um gradiente de pH na membrana cito- observaram que o Sealer 26 possu ía poder bacte-
plasmática, o que alteraria o transporte de nutri- ricida, o que não foi notado com o Sealapex.
;
1
entes e compon entes orgânicos para o interior da Pumarola et ai. 355 notaram pouca ação bactericida
célula . de parte do Sealapex. Komakioti s et al. 243 infor-
Ainda sobre a atividade antibacteriana do mam que o poder bactericida do Sealapex é fra -
hidróxido de cálcio, deve-se acrescentar que essa co. Sigueira-Jr. & Gonçalves 199 observaram ex-
substân cia atuaria não só sobre bactérias, m a s tensas áreas de inibição de crescimento bacteria-
como também sobre as endotoxinas bacterianas. no com o Sealer 2 6, enquanto o Sealapex exibiu
Essa atuação gan ha importância, porque se tem baixa atividade.
admitido que essas sub stâncias têm participação Com relação ao Sealer 26, Otoboni-Filho
fundamental na síntese e na libera ção da citoci- (2002) relata que o AH 26, por sua vez anteces-
na, principal ativador da osteoclasia. Demons- sor do Sealer 26, libera formalde ído após tomar
trou-se ainda que o hidróxido de cálcio, através presa 264 . Na sua opinião, considerando a seme -
do íon hidroxila, tem a capacidade de produzir a lhança de formulação com o Sealer 26, pode-se
degradação das endotoxinas, com reflexos bené- admitir a mesma liberação . É provável que a
fico s ao tratamento efetuado 372· 373 . p ropriedade bactericida do Sealer 26 tenha mais
Finalmente, a atividade antibacteriana do relação com a libera ção de formaldeído do que
hidróxido de cálcio pode ser completada indire- com os íons hidroxila e cálcio, uma vez que esse
tamente através da sua capacidade de absorção material após tomar presa é bem p ouco solúvel.
do dióxido de carbono92 ·338 • A redução desse gás Assim, Silva et al. 395 ob servaram, aos 30 dias, pH
no interior do canal radicular e no ambiente pe - 11,37 para o Sealapex e 9,64 para o Sealer 26,
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA
tendo sido, também, para o Sealapex maior a prazo, o Sealer 26 exerceria ação bactericida à
quantidade de cálcio liberado. Os mesmos auto- distância pela liberação de formaldeído. Não se \
res observaram, entre os quatro cimentos à base pode esquecer que paralelamente à liberação dos
de hidróxido de cálcio, que o Sealapex foi o que íons hidroxila ocorre liberação de íons cálcio que
evidenciou maior pH em todos os períodos estu - concorrem não só para a redução do gás carbôni-
dados. co local como também participam da reparação
A alcalinização do sistema de canais radicu- ao formar granulações de calcita.
lares pelos cimentos à base de hidróxido de cál- De prático, valendo-se da discussão dos vá -
cio é, evidentemente, mais problemática, princi- rios fatores que envolvem os cimentos a base de
palmente pela já mencionada ação tampão da hidróxido de cálcio encontrados no comércio,
dentina, que impõe resistência a mudanças de sem dúvida existem fortes razões para a escolha
pH. Esberard et az. us não observaram alcaliniza- do cimento Sealapex, na forma pastosa ou con-
ção externa da dentina diante do Sealapex e do sistente, dependendo da técnica retrobturadora
Sealer 26. Já Staehle et al. 417 observaram alcalini- empregada.
zação apenas do interior do canal. Fuss et al. 145, Assim é que se baseando nos excelentes re-
em estudo in vitro, observaram que a ação anti- sultados obtidos por Holland & Souza 213 , o ci-
bacteriana do Sealapex, no tempo de 1 a 7 dias, mento Sealapex também tem sido utilizado, há
evidenciou ser significantemente maior aos 7 alguns anos, durante o tratamento endodôntico r
dias. Também em experimentação in vitro Sha- via retrógrada na mesma consistência daquela
lhav et al.3 93 analisaram a atividade antibacteria- utilizada nos tratamentos endodônticos conven-
na dos cimentos Roth, CRCS e Sealapex sobre o cional, ou seja, na forma pastosa 40· 51 . Nessas pu- 1
Streptococcus faecalis. Os cimentos foram prepara- blicações os autores demonstraram um estudo ,
dos, e após os períodos de 1 hora, 24 horas e 7 piloto onde o cimento Sealapex, na forma pasto-
1
dias após a espatula ção, foi colocada em contato sa, proporcionou bom comportamento biológico,
com os cimentos obturadores uma susp ensão de demonstrando um reparo dentoalveolar excelen-
b actérias. A cada 30 minutos, durante 16 h oras, te (Figura 16.96), estimulando a sua indicação ·
foi avaliado o crescimento bacteriano. Nos tem- nas retrobturações, principalmente nos casos de ~
pos de 1 hora e 24 horas o cimento Sealapex tratamento endodôntico via retrógrada.
exibiu atividade antibacteriana inferior aos ou- Uma outra maneira de se u tilizar o cimento ·
tros dois cimentos. Contudo, aos 7 dias, propor- Sealapex nas retrobturações seria n a forma con-
cionou efeito antibacteriano significantemente sistente46·51.255A32, ou seja, mais espesso, contendo
superior aos dem ais cimentos estudados. O cres- uma maior quantidade de pó de óxido de zinco
cimento da atividade antibacteriana com o passar facilitando sobremaneira sua in serção na s cavi-
do tempo foi também evidenciado em experi- dades apicais. No entanto a literatura carecia de
mentação em tubos de dentina contaminados um trabalho experimental que avaliasse o com-
com S. faecalis . Assim, foi observado m aior ativi- portamento biológico do cimento Sealapex nessa
dade antibacteriana aos sete dias do que 24 ho- forma consistente, em cirurgia parendodôntica.
ras111_ Mesmo assim, retrobturações efetuada s com esse
Deve-se salientar q ue o Sealapex é mais so- material nessa consistência já vinham sendo re-
lúvel que o Sealer 26 e evidencia pH mais eleva- comendadas e utilizadas, desde 1987, na clínica
do. O Sea]apex possui em sua formulação o óx i- de Especialização da disciplina de Endodontia de
do de cálcio, que em contato com os fluidos do Araçatuba - UNESP com excelentes resultados do
t ecido converte-se em hidróxido de cálcio. Este ponto de vista clínico e radiográfico. Faltava ape -
último, continuando em contato com os fluidos nas a comprovação histopatológica. Com esse
tissulares, libera íons cálcio e hidroxila que se objetivo, Bernabé et al. 46 realizaram um estudo
difundiriam pelo sistema de canais ra diculares histopatológico em dentes cães, com lesões peri-
apical. Assim , do ponto de vista teórico, h avendo apicais, cujas retrocavidades foram preparadas
contato dos fluidos tissulares com o cimento, este com o auxílio do ultra-som e posteriormente re-
liberaria os íons referidos por tempo indetermi- trobturadas com o cimento Sealapex consistente,
nado, dado seu teor de solubilidade. Isso não à semelhança da "massa de vidraceiro", cont an-
ocorreria com o Sealer 26 por ser muito pouco do ou não com o auxílio do microscópio odonto-
solúvel. Além do que não se sabe se, a longo lógico (dados não publicados). Os resultados his -
r::~:::-m-:~:~~~~s~~~~~:::~~~~~~:~~;::~~:::~·~~~~:~~~·=~:o
gando o cimento nessa consistência foram consi- de cálcio, demonstraram resultados histopatoló-
derados excelentes, tendo alguns casos apresen- gicos que recomendam a sua utilização em clíni -
tado deposição parcial de cemento sobre o referi- ca, corroborando assim os res ulLados obtidos por
do material (Figuras 16.133,16.134 e 16.135). Bernabé et al. 5º; Bernabé 49 e Bernabé et al. 4 6 • Leal
Segundo o autor, esse quadro histopatológico & Bampa 255 também empregando o cimento Se-
evidenciado com o emprego do cimento Seala- alapex consistente ap resentaram uma série de
pex consistente dá o n ecessário respaldo científi- casos clínicos, cujos dentes tiveram suas cavida-
co para a sua utilização em dentes humanos. des apicais preparadas com b rocas e retrobtura-
Recentemente, Luiz27 6 também realizando reLro- das com esse material. Segun do os a utores o
bturações com o Sealapex na forma consistente, sucesso, do ponto de vista clínico /radiográfico,
pôde observar que esse material juntamente com foi elevado.
' ;l
1
• FIG. 16.as
Obturação retrógrada convencional com o cimento
5eolopex consistente. Retrocovidades preparados com o
ultra-som. Noto-se polte do selamento biológico parcial
separado do material obturador por uma cápsula fibrosa,
com destaque paro a presença de macrófagos contendo
partículas do material retrobturodor. 200X
CIÊNC IA ENDODÔNTICA
O cimento de Sealapex consistente, agrega- cálcio de induzir a deposição de tecido duro está .. ,
...·-
do ao pó de óxido de zin co, além de proporcio-
nar excelentes resulta dos em níveis histopatoló-
gicos4DA6·51, Bernabé et ai. 50 e Bernabé 40 e clínico-
vinculada à capacidade de liberação de íons cál- )
cio e hidroxila:' 6· 38 º·388 . Sendo assim, é provável
que os íons caldo, diretamente envolvidos no .:·
t
radiográficos255, também tem se revelado um ex - processo de mineralização, seriam liberados em i·;
celente selador marginal. Bernabé et al.50, em quantidades b em menores, com reflexos sobre a
1990, num estudo in vitro não publicado, realiza- qualidade do selamento apical pretendido, con-
ram obturações retrógradas com diversos mate- forme pode ser registrado n o estudo realizado
riais, dentre eles, o cimento Sealapex na forma por Bernabé et al. 46 •
pastosa ou consistente. Puderam observar que os Apesar das divergências, alguns estudos 39 5 .489
espécimes com cimento Sealapex na forma con- têm relatado que os cimentos à base de hidróxi-
sistente, com maior quantidade de pó de óxido do de cálcio apresentam um certo grau de desin-
de zinco, evidenciaram os menores índices de tegração, sendo por isso considerado um material
infiltração marginal (Fi gura 16.14). Observa-se com possibilidades de ser também reabsorvido.
na tabela que o nível de infiltração marginal foi É lógico que essa propriedade, para ser confirma-
quase zero (última barra horizontal) , comparati- da, ainda carece de novos estudos, principalmen -
vamente com o cimento Sealapex na forma pas- te pela divergência de resultados, considerando-
tosa que também demonstrou pouca infiltração se a prática de diferentes metodologias de estu- 1
marginal comparada com os demais materiais do. Quanto a esse assunto, dentre os cimentos de
retrobturadores estuda dos. Tanomaru-Filho et hidróxido de cálcio, o mais criticado tem sido o
al. 432 e Tanomaru-Filho 4 3 1 com o objetivo de ava- Sealapex, notadamente quanto a sua solubilida-
liar a capacidade do selam ento apical proporcio- de e reabsorção, fatos que comprometeriam a I
nado por diferentes m a teriais retrobturadores, eficiência do selamento marginal pretendido 195.
também observaram qu e o Sealapex consistente Assim, Zmener et al. 4 89 , em tecido conjuntivo
e o Sealer 26 apresentavam melhor selamento subcutâneo de ratos, notaram intensa reação
marginal em relação ao cimento de OZE. macrofágica, enquanto que Tronstad et al.460atra-
Um fato interessante notado por Bemabé et vés de implantes intra-ósseos de cimento Seala - ~
al. 46 estudando retrobturações efetuadas com o pex, em mandíbulas de cães, contido em peças
cimento Sealapex consistente em dentes de cães, de teflon, notaram reabsorção e dissolução de
foi que a deposição de cemento neoformado em parte do material implantado. Além de o Seala-
contato com esse cim en to era parcial, não tendo pex ter sido parcialmente solubilizado e na maio-
sido observado nenhum caso de selamento bio- ria dos casos substituído por tecido conjuntivo,
lógico apical completo. A ausência do selamento Tronstad et al.460 observaram ainda que os referi-
biológico total provavelmente esteja relacionada dos espécimes apresentavam um quadro histopa-
com a menor proporção de óxido cálcio rema - tológico com severa reação macrofágica e leve
nescente na massa do cimento após a adição de reação inflamatória. Diversos autores que reali-
maior quantidade do pó de óxido de zinco. Na zaram estudos sobre a biocompatibilidade do Se-
verdade, o cimento Sealapex contém em sua for- alapex70·213·395 também observaram, junto ao ci-
mulação o óxido de cálcio na proporção de 54% mento que havia extravasado, presença de ma-
e não o hidróxido de cálcio. Esse óxido de cálcio, crófagqs contendo material granular escuro, no
presente no cimento Sealapex, en trando em interior de seus citoplasmas.
contato com a umidade das paredes do canal ra- Essas reabsorções ocorridas com o cimento
dicular e dos tecidos periapicais, em absorvendo Sealapex, no entanto, não puderam ser observa-
essa água, dará origem ao hidróxido de cálcio das histologicamente em obturações de canal re-
sob expansão. Teoricamen te, essa expansão con- alizadas em dentes de cães e macacos70,196213 ,
tribuiria para aprimorar a qualidade seladora do quando o cimento se manteve dentro do canal,
cimento. É provável que aumentando a concen- b em como não se notaram alterações apreciáveis
tração de óxido de zinco na massa do cimento no selamento marginal, m esmo quando os espé-
ocorra diminuição proporcional da quantidade cimes obturados ficaram 75 dias imersos em
de óxido de cálcio, conseqüentemente originan- água 181 • De igual forma, segundo Holland et al.1 95 ,
do uma menor quantidade de hidróxido de cál- não têm sido observado dados radiográficos, de
cio. Sabe-se que a propriedade do hidróxido de controle à distância, que possam sugerir reabsor-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
ções do maLerial dentro do canal, fato também humanos em q ue empregou-se o cimento Seala-
relatado por Gutman & Fava 163 . pex como material retrobtura dor, evidencia ain-
No estudo histopatológico realizado em den- da o m aterial retrobturador no local (radiopaci-
tes de cães por Bernabé et al.46 também não foi dade) sem sinais de ter sido reabsorvido (Figu-
observada nenhuma evidência de reabsorção do ras 16.136 e 16.137). Ainda com relação ao fat o
material em questão e que pudessem compro- de alguns considerarem ser possível a reabsorção
meter os resultados. Como já mencionado, tem- do cim ento Sealapex de ntro do ca nal, num outro
se utilizado o cimento Sealapex agregado ou n ão estudo desenvolvido por Holland el al. 197 , os a u -
ao pó de óxido de zinco há mais de quinze anos, tores demonstraram que essa reabsorção não
e radiograficamente n ão observa -se nada que ocorria, apesar do tempo pós-operatório de um
confirmasse a reabsorção desse material. Pós- ano e do amplo contato dos tecidos periapicais
operatório radiográfico a longo prazo de dentes com o referido material.
• F!G. _16.116
Obturação retrógrada convencional com o cimento
' Sealapex pastoso realizado há quinze anos no dente 34.
Aspecto radiográfico do reparo ósseo pela presença de
• A(~. 16.'ilU
lâmina duro. Decorrido esse tempo, nota-se ainda sinal
radiopoco do material retrobturador, evidência de que Obturação retrógrado convencional com o cimento
ele não foi reabsorvido. Sealapex consistente realizado há oito anos no dente 12.
Também nesse caso o sinal radiopaco do material
retrobturador comprovo que o mesmo não foi
reabsorvido. Evidência radiográfica de reparo ósseo.
Holland & Souza213 observaram que nos ca- que o material esta va sendo reabsorvido. No en-
sos onde havia extravasamento do cimento Sea- tanto, em outros espécimes o material extravasa -
lapex jun to aos tecidos periapicais, os resultados do estava encapsulado por um tecido duro, além
1
/i. ··· histopatológicos eram diferentes. Em alguns es- do que as partículas do material também eram
pécimes havia ao redor do material presen ça de visualizadas como que enclausuradas dentro do
reação inflamatória crônica, com uma alta fre- covo tecido cementário formado, e aparente -
qüência de macrófagos, com partículas do mate- meute não reabsorvido. Esses resultados pude-
rial obturador dentro do citoplasma , su gerindo ram ser confirmados em outro experimento rea-
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
lizado por Holland et al. 197 , que observaram da, pois entende que os trabalhos utilizando tes- ./
ocorrência de deposição de tecido duro tanto tes de uso (usage test), no aspecto selamento api- ·'i
:: ;
em casos onde o cimento Sealapex estava conti- cal sdã_o. esc~sdis~f~, _e dsua correlação cdom Ntestes se- · \
do no interior do canal ou mesmo quando ul- cun anos e 101 e ser extrapo 1a a. os casos 1 ·
trapassava discretamente o forame apical. Em de canais contaminados e portadores de lesões i·,
1985, Holland & Souza21 3, efetuando um estudo periapicais, essa solubilização relativa seria ainda
em dentes de cães e macacos, para testar a capa- mais desejável para a atividade antimicrobiana,
cidade do cimento Sealapex quanto à indução de assim como para a neutralização do pH ácido da
formação de tecido duro, observaram em casos região.
de extravasamento do cimento, que nessa área Realizando implante de tubos de polietilie -
havia formação de um tecido osteóide ou então no, em tecido conjuntivo subcutâneo de ratos
reabsorção do material. preenchidos com diversos materiais obturadores,
Em 1989, Tagger & Tagger427 também verifi- dentre eles o Sealapex, pelo período de 14 e 90
caram que o cimento Sealapex havia sido, apa- dias, Valera470 verificou que o mesmo provocava
rentemente, solubilizado, sendo substituído por uma reação inflamatória com predomínio de cé-
um novo t ecido mineral izado. Esses autores lulas macrofágicas. Essas células interagiam in-
acreditam que essa solubilização do Sealapex tensamente e diretamente com o material e
seja benéfica, pois o cimento sendo substituído apresentavam seus citoplasmas carregados de r •
por tecido cementário, evitaria infiltração via fo - partículas negras, oriundas provavelmente, do
rame apical, pela obliteração do mesmo com material obturador. Reações semelhantes foram
material mineralizado. observadas por Leal et al. 256; Molloy et al. 299 , en- 1
Gutmann & Fava 163 relataram um caso clí- quanto que Holland & Souza 21 3 só observaram
nico onde após realizarem a obturação dos ca- essa reação quando esse cimento extravasava
nais radiculares de um incisivo central e lateral, para os tecidos periapicais em obturações de ca- 1
ocorreu extravasamento do cimento Sealapex. nais radiculares de dentes de cães. Já Valera 470
Decorridos 4 m eses, foram observados, radiogra- verificou que esse cimento permanecia no inte-
ficamente, completa dissolução do cimento Sea- rior dos tubos, onde apenas as partículas fagoci - ~
lapex e diminuição das áreas radiolúcidas peria- tadas foram carreadas pelos macrófagos. A auto-
picais. ra observou, ao redor deste cimento, uma maior
Já em 1991, Sleder et al.402 , após obturação concentração de macrófagos carregados de partí- ~
in vitro de dentes humanos, analisaram a solubi- culas do material, ampliando a área inflamatória,
lidade de um cimento à base de hidróxido de mas não dificultando o fibrosamento e a prolife-
cálcio, o Sealapex, comparado à do Tubli-Seal, ração fibroblástica, como havia observado no pe-
deixando-os submersos em solu ção salina. As ríodo pós-operatório de 90 dias.
soluções foram trocadas, semanalmente , para Segundo Valera 470, provavelmente as respos-
permitir a dissolução contínua dos cimentos e tas obtidas expliquem-se pela grande interação
para prevenir o estabelecimento de equilíbrio que os macrófagos têm com o cimento Sealapex.
entre a solução e o d mento. Os resultados mos- De acordo com Berbert & Consolaro 35 , os poli-
traram que o cimento Sealapex não apresentava morfonuclares em contato com o cimento
dissolução m aior que o Tubli-Seal, sugerindo que Sealapex liberam enzimas para o meio extracelu -
o Sealapex pode resistir às exposições aos fluidos lar, destruindo as proteínas estruturais do tecido.
teciduais, sem infiltração significante, o que pode É possível que essa lise tecidual possa atrair ma-
permitir tempo para a ação bioquímica do hidró- crófagos para esta região . Segundo Camargo8 3,
xido de cálcio. esse cimento interage com os macrófagos, propi-
Quanto à reabsorção do cimento Sealapex, ciando um,a renovação celular constante, requisi-
Silva 395 verificou a formação de tecido minerali- tada e estimulada pela morte celular presente.
zado entre o material extravasado, sugerindo Nesse mesmo estudo, através da microscopia
que uma possível solubilização do material tenha de força atômica, Valera470 observou que o ci-
sido substituída p elo tecido mineralizado. Essa m ento Sealapex apresentava uma grande desin-
solubilização do cimento Sealapex, que foi inter- tegração, que foi v ista após seis meses. Essa pro -
pretada por Barnett et al.24 como uma desvanta- priedade do cimento Sealapex implica em decor-
gem, na opinião de Silva 395 deveria ser repensa- rente liberação de produtos dessa desintegração.
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
Resultados semelhantes foram obtidos por Tagger na diferenciação celular e fibroplasia. A autora
et al. 1 26 , que relataram a solubilização desse ci- acredita que a quantidade de hidróxido de cálcio
mento, bem como sua capacidade de desintegra- contida nos cimentos à base de hidróxido de cál-
ção. Observaram também a liberação de íons cál- cio ocasiona uma maior ou menor quantidade de
cio e hidroxila, decorridos sessenta minutos de cálcio livre ou conjugado, porém, a quantidade
sua manipulação. Verificaram ainda o aumento de cálcio iônico foi exponencialmente diferente,
do pH com o passar do tempo. Leonardo et al. 263 em razão, possivelmente, de sua maior solubili-
concordam com os resultados de Tagger et al. 426 zação .
ao observarem que a liberação de íons do Seala - Esse fato é de relevância clínica, frente à
pex é elevada e muito rápida. Ainda de acordo afirmação de que a solubilidade é uma proprie -
com os estudos de Valera470, as alterações obser- dade inconveniente dos cimentos. Entretanto, no
vadas sobre a superfície do cimento Sealapex es- caso do cimento Sealapex, ela seria benéfica, do
tão relacionadas com a sua desintegração, quan- ponto de vista físico-químico, assim como do bio-
do detectou grandes alterações estruturais com o lógico. Essa maior cedên cia dos íons cálcio leva-
passar do tempo. Entretanto, após seis meses, a ria ao início do processo de m ine ralização, p ela
superfície do material atingiu uma característica formação ime diata de carbonato de cálcio, tam-
m ais uniforme sugerindo que a desintegração bém observado por Holla nd et ai. 167 , logo após a
sofrida pelo cimento possa ter diminuído ou até aplicação do hidróxido de cálcio sobre o tecido
mesmo estacionada. pulpar de dentes de cães. Ainda segundo Sil-
Fidel et al.132 realizaram um estudo in vitro va395, a continuidade de ionização do hidróxido
sobre a solubilidade e desintegração de cimentos de cálcio dependerá da composição e da solubili-
endodônticos à base de hidróxido de cálcio, o dade do material, e muito deverá influir na mi-
CRCS, Apexit, Sealer 26 e o Sealapex. Para cada neralização final do tecido . Hoje, sabe-se que
cimento foram confeccionados seis corpos de quando o canal radicular é obturado com um
· ,,; prova através de moldes de teflon. Após um pe- cimento à base de hidróxido de cálcio, é desejá-
ríodo três vezes maior que o tempo de endureci- vel que ocorra a dissociação de íons cálcio e hi-
mento do cimento, os corpos de prova foram sa- drcixila, que são estimuladores do processo de
cados do molde, pesados, colocados em recipien- selamento biológico apical.
te plástico contendo água destilada deionizada, No entanto, um outro material que tem me-
permanecendo na estufa por sete dias. Decorrido recido maior destaque, na atualidade, é o MTA
esse período as amostras foram lavadas, passan- (Mineral Trióxide Aggregate ou agregado trióxi-
do por um desumidificador por 24 horas, sendo do mineral), desenvolvido na Universidade de
então submetidas a uma segunda pesagem. A Loma Linda-Califórnia, Estados Unidos.
perda da massa de cada amostra era anotada e o
valor numérico considerado como sendo a solu-
bilidade e a desintegração do material. Os resul- S. MTA (Mineral Trióxide
tados foram baseados na especificação 57 da Aggregate)
ADA, onde os cimentos Apexit e Sealer 26 apre-
sentaram baixo índice de solubilidade e desinte- Periodicamente, o mundo se vê envolvido
gração; já o Sealapex, um alto índice . Quanto ao em grandes descobertas, que proporcionam be-
CRCS, a solubilidade e desintegração atingiram o nefícios à humanidade, trazendo, na área da saú-
limite máximo preconizado pela especificação da de, esperanças de cura para os diversos males
ADA. que nos assolam.
Num estudo, ín vítro, realizado por Silva 395 , Especificamente na Odontologia, grandes
analisando a concentração de cálcio iônico de descobertas acontecidas desd e o século passado
quatro cimentos à base de h idróxido de cálcio revolucionaram os m étodos e tipos de tratamen-
(Sealapex, CRCS, Apexit e Sealer 26), pôde-se to, tirando-a dos procedimentos empíricos e in-
inferir que a maior solubilidade ocorreu com o gressando -a na era biológica. Com isso, os trata-
Sealapex. Em tecido subcutâneo, essa solubilida- mentos ofe recidos começaram a ser empregados
)
de, promovendo a cedência de íons ca++ aos teci- com embasamento científico, permitindo que os
dos, com post erior eliminação do m aterial pela pacientes fossem tratados com mais dignidade e
atividade macrofágica, teve um papel importante senso profissional.
CIÊNCIA ENDO DÔNTICA
·;
E essa revolu çã o tamb ém aconteceu na área material, dessa vez de cor cinza. Na época (1996 ) .;,
dos materiais odontológicos, como por exemplo, questionado a respeito da diferença entre o MIA )
com o aparecimento das resinas compostas, de de cor branco e cinza, o Prof. Torabinejad infor- !.,
várias gerações. Esse movimento também pode mou que ambos eram iguais. Desde então, uma -,·,
ser sen tido com o su rgimento de n ovos equipa- série de experimentos de cunho biológico foram 1·
mentos, que tem m elh orado o diagnóstico e desenvolvidos no sentido de avaliar as suas pro-
também os procedimentos odontológicos. priedades assim como a possibilidade de desven-
No entanto, uma descoberta surgida n a área dar que tipo de material estávamos estudando.
da Endodontia está promovendo u m a grande re - Nesse questionamento, com os estudos realizados,
volução dentro da Odontologia. Em 1993, Lee et muitos segredos que envolviam esse material co-
al.261 publicaram o p rimeiro trabalho científico meçaram a ser esclarecidos, fa to que tro uxe signi-
empregando um novo m aterial: o MIA. Os auto- ficativa contribuição à classe odontológica.
res, através de um estudo in vitro, testa ram expe- É nossa intenção, portanto, oferecer uma
rime ntalm ente esse novo material em casos de contribu ição ao estudo do MIA (Agregado de
p erfuração radicula r lateral de molares humanos. Trióxido Mineral), fazendo referência às su as
Nesse experimento, os autores utilizaram ainda o propriedades físicas, químicas e biológicas. Inclu-
IRM e o amálgama de prata. As análises, realiza - sive mencionando as pesquisas que permitiram
das com auxílio de microscópio óptico, após relacioná-lo com o Cimento Portland (cimento ,
im ersão dos espécimes em azul de metileno por de construção) , fato que revolucionou e promo-
48 horas, demonstraram que o gru po do MTA veu grande discussão no campo das pesquisas
apresentava os menores índices de inliltração dos materiais odontológicos, notadamente no ,
marginal, sendo estatisticamente superior aos meio endodôntico.
demais materiais. Nesse mesmo ano, Torabinejad O Agregado de Trióxido Mineral (MTA) sur-
I
et al. 456 utilizando dentes hum anos, compararam giu no início dos anos 90, como um material
a habilid ade seladora do MIA com a do amálga- experimental desen volvido pelo Prof. Mahmoud
ma de prata e do IRM, através da infiltração Iorabinejad. Ele fo i elaborado na Universidade
marginal do Roda mina B fluorescente. Do mes - de Loma Linda - Califórnia, Estados Unidos, com ~
mo modo, puderam observar que o MTA apre- o objetivo de selar as comunicações entre o inte-
sentava h erméti co selamento marginal, sendo rior e exterior do dente. De acordo com Lee et ·
superior ao cimento Super EBA que, por sua a/.26 1, originariamente ele foi indicado após a re- ·i
vez, apresentou m enor grau de infiltração com - alização de cirurgias parendodônticas, como m a-
parativamente a o amálga ma de prata. terial retrobtu rador, e em casos de p erfurações
Daí seguiram uma série de outras experi- intrarradiculares e da furca.
mentações realizadas in vitro, in vivo, culturas de No entanto, o MIA também vem sendo pes-
células, culturas mi crobianas, todas no sen tido quisado e indica do e m outras diferentes condi-
de avaliar o comportamen to físico e biológico do ções clínicas: em perfurações resultantes de reab-
MTA. Praticamente em todos os estudos daqu ela sorções internas e externas comunicantes, no
época, esse novo m aterial se revelou superior aos tratamento conservador da polpa den tal (em ca-
demais materiais testados, fato que nos chamou sos de pulpotomias e cap eamento pulpar) e
a aten ção e curio sidade, favorecendo nossa como material estimulador da apecificação. Além
disposição em est udá-lo detalhadamente, princi- disso, tem sido u tilizado como barreira intracoro-
palmente quanto às suas ca racterísticas físicas e nária prévia ao clareamento dental e como tam-
biológicas. p ão apical em casos de dificuldades de travamen -
Assim é que em 1996, através da Profa. Dra. to do cone principal de guta-percha. Indicações
Yara Maria Lohmann Soares (FOUFS C) , que tra- mais ousadas incluem a sua utilização como ci-
balhou p or algum tempo com o Prof. Torabinejad, mento endodôntico no tratamento de dentes de-
recebemos a primeira amostra do MIA, de cor cíduos e permanentes. Na realidade, o que con-
branca. Nesse instante, iniciamos uma série de fere esse universo de indicações, é o fato do MTA
trabalhos experimen tais na área biológica e estu- poder ser utilizado em ambiente úmido, como é
dos in vitro. No entanto, quan do nosso estoque se o caso da maioria das indicações citadas, em fun-
esgotou, um contato foi mantido com o Prof. To- ção de sua composição e principalmente pela sua
rabinejad, que nos enviou uma n ova remessa do biocompatibilidade.
CIRURGIA PARENOODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
Segundo Lee et al. 26 1, o MTA endurece em Em 1998, o MTA foi avaliado e aprovado
presença de umidade, se apresenta como um pó pela FDA americano (U.S . FooD AND DRuGs ADMI-
(Figura 16.138) de finas partículas hidrofílicas NISTRATioN) e lançado comercialmente, em 1999,
que endurecem após a hidratação. O pó é com- como ProRoot MTA® (Dentsply Tulsa Dental,
posto principalmente de silicato tricálcico, alu- Oklahoma - USA). Do que se pode verificar, ao
minato tricálcico, óxido tricálcico e óxido de si- longo do tempo, as publicações a respeito faria_m
licato, além de pequena quantidade de outros referências à sua composição sempre intro-
óxidos minerais e da adição do óxido de bismu - duzindo algumas pequenas modificações, talvez
to, principal responsável pela radiopacidade do pelo fato de que não fosse intenção revelar a
material446 . verdadeira identidade do produto .
• ...flG. 16.138
Aspecto macroscópico do
pó de MTA de cor cinzo.
, A'
1
1
O ProRoot MTA® apresenta-se como um pó 87% de Cálcio, 2,47 % de sílica e o restante oxi-
cinza, composto principalmente de silicato tricál- gênio. As áreas da estrutura amorfa contêm 33%
cico (3 CaOSiOJ, silicato dicálcico (2 CaO -SiOJ, de cálcio, 49% de fosfato, 2% de Carbono, 3% de
aluminato tricálcico (3Ca0 -Alp), ferroalumina- cloreto e 6% de sílica. Através de en saios quími-
to tetracálcico (4Ca0-Alp 3 -Fe 2 0J, óxido de bis- cos e difração de Raios X, Herzog-Flores et al. 173
muto (Bi 2 0) e sulfato de cálcio dihidratado analisaram a composição físico -química do MTA
(CaS0 4 -2Hp). Segundo o fabricante, o ProRoot reportando que 18% dele é insolúvel em água,
MTA®pode ainda conter até 0,6 % de resíduos 0,36% corresponderia ao MgO e 90% de CaO,
insolúveis livres como a sílica cristalina e outros sendo sua estrutura 80 % cristalina. Através de
elementos livres como óxido de cálcio (CaO) e espectrofotômetro de absorção atômica quantifi-
óxido de magnésio (MgO), além de álcalis (Na 2 0 caram a liberação de íons cálcio do MTA em 24
e K 2 0) sob a forma de sulfatos. horas (8,8 ppm), 7 dias (10,08 ppm) e 15 dias
Ainda, segundo estudo de Torabin ejad et (10,10).
446
al. , as principais moléculas presentes no MTA Mais recentemente (início de 2001), o fabri-
são os íons Cálcio e Fósforo. Segundo esses auto- cante do ProRoot MTA® modificou algumas in-
res, corno esses íon s também são os principais formações contidas n o MSDS (Material Safety
componentes dos tecidos dentais, conferem ao Data Sheet) original, acrescentando que o mate-
MTA excelente biocompatibilidade, quando em rial é composto por 75% de cimento Portland,
t
contato com células e tecidos. As an álises efe- 20% de óxido de bismuto e 5% de sulfato de
t tuadas demonstraram que o MTA, após tornar cálcio <li-hidratado . Esse fato era omitido, até
presa, passa a ser constituído por óxido de cálcio então, nos trabalhos experimentais e bulas origi-
) na forma de cristais discretos e o fosfato de cál- nais, conforme pudemos atestar, via Internet,
cio, com uma estrutura amorfa, com aparência quando acessamos o site da Dentsply - Tulsa
granular. A composição média dos prismas é de Dental, em Março de 1999 .
..... CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·----··---------------..---·-----·- · -··--·---·-·----·- ·-·-·---- - - - - · - - , - · -
Na verdade a origem e composição do MTA Com o cimento Portland os resultados foram se-
sempre desp ertaram a curiosidade daqueles que m elhantes, tendo ocorrido 11 casos com pontes
se interessavam pelo material. Esse mistério co- completas e isenção de processo inflamatório
meçou a ser desvendado quando Wucherpfening (Figura 16.140). Os casos dos dois grupos expe-
& Green484 publicaram um abstract sobre o referi- rimentais que não exibiam pontes completas ti-
do material. Nesse pequeno resumo os autores veram problemas com selamento coronário ou
afirmam terem observado que esse material era simplesmente exibiram irregularidades e solução
qua se idêntico m acrosco picamente, mi - de continuidade na porção central da ponte. Os
croscopicamente e pela difração de Raios-X ao resultados obtidos com os dois materiais estuda-
cimento Portland (cimento empregado em cons- dos estão de acordo com resultados anteriores
truções) . Os autores acrescentam que esses dois observados com o MTA quando aplicado sobre a
materiais tiveram comportamento similar em polpa dentaP 29 . Além disso, esses resultados su-
cultura de células e também quando aplicados gerem que os dois m ateriais são similares e con-
em polpas de dentes de ratos. Curiosamente es- firmam o m esmo mecanismo de a ção demons-
sas observações n ão foram ainda publicadas, ten- trado por Holland et al. 192 em tecido subcutâneo
do se limitado a esse abstract. de rato.
No entanto, Estrela et al.122 estudaram a s pro- Com a finalidade de complementar os dois
priedades químicas e antibacterianas de alguns experimentos já executados com os citados ma-
materiais, inclusive do cimento Portland (Cimen- teriais, Holland et al. 182 realizaram obturações
to Itaú® MG) e MTA. El es observaram que o ci- de 20 canais radiculares de dentes de cães, sendo
mento Portland contém os mesmos elementos 1O p ara o MTA e 1O para o cimento Portland
químicos do MTA, exceto o bismuto (observação: (Cim ento Itaú ® - MG). Após o preparo do canal
o óxido de bismuto é acrescentado ao produto radicular os cimentos foram preparados com
para conferir-lhe radiopacidade adequada). Os soro fisiológico e levados ao interior do canal
autores observaram também que o cimento Por- com auxílio de uma broca Lentulo, procedendo-
tland tinha pH e atividade antibacteriana similar se, a seguir, a obturação pela técnica da conden-
ao MTA. sação lateral. Noventa dias após a obturação as /
Paralelamente, Holland et al. 192 estudaram o peças foram removidas e processadas para análi-
cimento Portland (Cimento ltaú® de Minas Ge - se histomorfológica. Com o MTA foram observa-
rais), o MTA e o hidróxido de cálcio quimica- dos oito casos de selamento biológico, por ce-
m e nte puro, preenchendo tubos de dentina e mento n eoformado, em diferentes níveis e com
implanta n do-os em tecido subcutâneo de ratos, a usência de infiltrado infla m atório (Figura
da mesma forma como já haviam feito com os 16.141) . Os outros dois espécimes exibiram sela -
dois últimos materiais191 • Os resultados foram mento parcial e ou ausência de selamento com
sem elhantes entre o MTA e cimento Portland, ou pequena sobreobturação e pequeno infiltrado in-
seja, foram observadas granulações de calcita em flamatório crônico em ambos os casos. Com o ci-
contato com os materiais estudados, e também mento Portland ocorreram sete casos de selamen-
dentro dos túbulos dentinár ios. Além disso, ob- to biológico completo em nível do forame apical
servam também presen ça de uma ponte de tecido (Figura 16.142) e um no interior do canal. Os
duro Von Kossa positiva. Diante dos resultados dois últimos casos tinham selamento biológico
obtidos os autores sugeriram que o mecanismo de parcial, um em nível do forame e outro intraca-
ação dos 3 materiais estudados é similar. Com o n al, exibindo ambos pequeno infiltrado inflama-
objetivo de confirmar esses dados, outros projetos tório do tipo crônico. O res ultado desse trabalho
experimentais foram desenvolvidos. confirmou os dados obtidos em outros dois expe-
Assim, Holland et ai. 185 realizaram pulpo- rimentos185'192 realizados em subcutân eo de ratos e
tomia em dentes de cães, protegendo 26 polpas polpa de dentes de cães. Saidon et al. 37 4 realizando
radiculares com MTA ou cimento Portland {Ci- implantes de ProRoot® MTA e Cimento Portlan d
m ento Itaú® - MG) . Sessenta dias após o tratamen- em mandíbulas de cobaias, verificaram após 2 e
to, as peças foram removidas e preparadas para 12 meses que o reparo ósseo, com processo infla-
análise histomorfológica. Com o MTA observa- matório mínimo, ocorria adjacente a ambos mate-
ram 1O casos com ponte de tecido duro completa riais, com provando que os m esmos são bem tole-
e polpa isenta de inflamação (Figura 16. 139). rados quan do implantados.
M------------------------------------------------------...................._.....................................................""""""""""""
C IRU RGIA PAREN OODÔNTICA: CO MO PRATICÁ-LA COM EMBASAME NTO CI ENTÍFIC O
;f
1
1
Obturação do canal radicular de dente de cão com Obturação do canal radicular de dente de cão com
o MTA - 90 dias. Cemento neoformado reparando área o Cimento Portlond - 90 dias. Idem o figuro anterior
de reabsorção e determinando ocorrência de se!amento (H.E. 100XJ.
biológico completo. Notar ligamento periodontal isento
de processo inflamatório (H.E. 100XJ.
• FIG. 1tU43
---I~§,:o,.t!,~1Ç~!\\%',\SS,''':. . .,
Retrobturação de dente de cão com MTA. Retrobturação de dente de cão com cimento
Cemento depositado sobre o superfície dentinário Portland. Idem ao aspecto hístopatológico anterior, no-
apicectomizada e matetial retrobturador, caracterizando tando-se espesso selamento ,biológico à altura da retro-
selamento biológico apical. Retrocav,dades preparadas cav,dade, preparada com ultra-som, e em contato direto
com o auxilio do ultra-som (H.E 40X). com o MTA (H.E 40XJ.
C IRURGIA PARENDODÔNTICA; COM O P RATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• __FIG._16.14~--
MTA-Â ngelus® - 7 dias após implante em subcutâ-
neo de rotos. Notar extensa área de tecido irregular
altamente positivo a técnico de Von Kossa no entrada do
tubo de dentina e em contato com o MTA. Cortes sem
descalcificação (700>0.
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA C O M EMBASAMENTO CIE NTÍFICO
Segundo Neville31 6, a mistura e a moagem das contra temperaturas progressivamente mais ele-
matérias primas podem ser realizadas tanto em vadas. Inicialmente, a água é eliminada e o dióxi-
água ou a seco, caracterizando as duas principais do de carbono (C0 2 ) é liberado pela chaminé.
linhas de operação: via seca e via úmida, depen- Durante a queima da farinha, as moléculas de
dendo da dureza e teor de umidade das matérias- carbonato de cálcio e de carbonato de magnésio
primas. Oliveira 326 discorre sobre as várias etapas se decompõem no forno seguindo a reação:
do processo de fabricação do cimento Portland, CaC03 7 CaO (combina-se para dar o clínquer +
para as duas principais linhas de operação: via C0 2 (saí pela chaminé), ocorrendo daí novo ar-
seca e via (unida. No processamenlo por via seca, ranjo molecular; em seguida, o material seco sofre
a matéria-prima é inicialmente conduzida a uma uma série de reações químicas até que, finalmen-
estufa, onde é convenientemente secada. Secos, te, na parte mais quente do forno, com tempera-
os materiais argilosos e calcários são proporciona- turas a cerca de 1450ºC, 20 % a 30% do material
dos e conduzidos aos moinhos e silos, onde se se funde e o calcário, a sílica e a alumina se
reduzem a grãos de pequeno tamanho em mistu- recombinam. A massa se funde, conforme já sali-
ra homogênea. Uúlizam-se para esse fim, moi- entado, em pelotas, com diâmetro aproximada-
nhos, usualmente de bolas, associados em série e mente entre 3 mm e 2 5 mm, conhecidas como
conjugados a separadores de peneira ou ciclones, clínquer (formação dos cristais de clínquer, con-
por cuja ação se conduz o processo na produção tendo o C3 A, C3 S, C2 S, C4 AF - Figuras 16.38 e
da mistura homogênea de grãos de pequeno ta- 16.39) . O clínquer cai em resfriadores, que podem
manho, intimamente misturados das matérias- ser de diversos tipos, u sualmente çonstituídos por
primas. Essa mistura é conduzida por via pneu - chapas metálicas que recebem ar frio, abaixando a
mática para os silos de homogeneização, onde a temperatura à cerca de 60º C rn,.
composição básica da mistura é quimicamente O clínqucr resfriado é conduzido a depósitos
controlada e eventualmente, são feitas as corre- apropriados, onde aguarda o processamento da
;! ções. A mistura homogênea é armazenada em si- moagem. A operação de moagem do clínquer é
' los apropriados, onde aguarda o momento de ser realizada em moinhos de bola conjugados a sepa-
conduzida ao forno para a queima . radores de ar. O clínquer entra no moinho já com
O forno é constituído por um longo tubo de a parcela de gesso adicionada para o controle de
chapa de aço, revestido internamente de alvena- pega do cimento . O clínqu er pulverizado é condu-
ria refratária, girando lentamente em tomo de seu zido pneumaticamente p ara os separadores de ar,
I eixo, levemente inclinado em relação horizontal, um ciclone qu e reconduz ao moinho os grãos de
tendo na extremidade mais baixa um maçarico tamanho grande e dirige os de menor tamanho, o
onde se processa a queima de combustível (car- cimento propriamente dito, para os silos de esto-
I vão, gás ou óleo) e recebendo por sua boca supe- cagem. O produto acabado é então ensacado em
rior a mistura crua também chamada de farinha . sacos de papel apropriados e en caminhado para
A mistura, em seu movimento forno abaixo, en- armazenagem e distribuição 3 16 •
• Fm. 'tf».~5©
Pelotas de c/ínquer obtidas após o processamento, Aspecto do clínquer obtido em MEV (500xJ.
em altas temperaturas, do calcário e argila.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·-····-··- - ·---- - - - - - - - - -
No caso da produçã o do MTA, ao moer o mais refinado e restrito as depe ndências do labo-
clínquer, os cristais (composto pelos C 3A, C3 S, ra tório. Antes de sua embalagem, o produto pas-
C2 S, C4 AF - Figura 16.1 52 ) são separados e ou sa por rigorosos testes para confirmação da sua
quebrados, tornando-se mais finos, conseqüente- composição, análise química quanto à presença
mente mais reativ os com a águ a , pro- de contaminantes, adição de radiopacificador e
porcionando assim maior resist ência. No entanto esterilização através de raios gama-cobalto. O
as propriedades químicas são mantidas durante a processo de fabricação do MTA é na verdade
moagem. A partir da obtenção do clínq uer é que muito mais complexo do que o exposto e exige
se inicia a produção d o MTA, como por exemplo, maiores cuidados, principalmente com relação
o MTA-Angelus®. De posse desse produto, o ao que se observa quando o clínquer vai para
mesmo é separado, selecionando-se um clínquer moagem e embalagem para venda comercial, um
de dimensões reduzidas, em forma de pequenas pouco diferente de como a contece com o cimen-
esferas, que passa por um p rocesso de moagem to de construção.
• FIG. 16.152
Pó do clínquer moído e
condensado visto pelo microscópico
ótico. A - Fase intersticial bronco é
de cristais de Aluminato tricálcico
e Ferroaluminato tetracálcico. B -
Cristais azuis e amarronzados são
de Alita (Silicato Tricálcico).
Ainda com relação a sua composiçã o, Mehta tais como os álcalis (Na 2 0 e K 2 0), que se encon-
& Monteiro290 relata m que, embora o cimento tram na forma de sulfatos, o óxido de magnésio
Portland consista essencialmente de vários com- (MgO), o óxido de cálcio livre (CaO) entre ou-
postos de cálcio, os resultados das aná lises quí- tros elementos traço.
micas de rotina são e xpressos em termos de óxi- Conforme se pode observar nos relatos de
dos dos elementos presentes. Alé m disso, costu- Vaidergorin4 68 e .de Mehta & Montei ro 290 , as des-
ma-se e xpressar os compostos individuais dos crições dos elementos componentes do cimento
óxidos do clínquer usando -se abreviações: CaO Portland confe rem com aquelas que se encon-
7 C; Si0 2 7 S; Al20 , 7 A; Fe2 0 3 7 F; MgO 7 tram na bula do ProRoot® MTA da Dentsply e
M; S0 3 7 S; H 2 0 7 H; 3Ca0 -Si0 2 7 C 3 S; 2 Caü - também coincidem com as informações de Lee et
Si0 2 7 C2 S; 3Ca0 - Al2 0 3 7 C3A; 4Ca0 - 3Al2 0 3 al. 26 1, Torabinejad et al.446 , Wucherpfening & Gre-
- Fe 2 0 3 7 C4 AF; 4Ca0 - 3AI2 0 3 -S0 3 7 C4A 3 S; en484, Estrela et al. 122, Deal et al. ' 09 e Funteas et
3Ca0 - 2Si0 2 - 3H2 0 7 C 3 S2H 3; CaS0 4 - 2H2 0 7 al. 144, evide nciando, uma vez mais, que o MTA
CSH2 • tem a mesma origem do Cimento Portland.
Segundo Vaidergorin468, os principais com- De acordo com Mehta & Monteiro2 9 0, a com-
postos de cimento Portland, calculados a partir posição química dos compostos presentes nos ci-
de constituintes maiores da análise química, são mentos industriais não é exatamente a que é
os seguintes: silicato tricálcico (3Ca0-SiOJ , sili- expressa pelas fórmulas comum ente utilizadas:
cato dicálcico (2Ca0 -Si0 2 ) , aluminato tricálcico C3 S, C2 S, C 3A, C4 AF. Isto ocorre porque nas altas
(3Ca0-Al 2 0 3 ) , ferroaluminato tetracálcico (4 Ca0 temperaturas que prevalecem durante a forma-
- Al 2 0 3 - Fe 2 0 3 ) e sulfato d e cálcio di-hidratado ção do clínquer, os elementos presentes no siste-
(Caso~ - 2H2 0). Além d estes, estão presentes no ma, inclusive impurezas como magnésio, sódio,
ciment o Portland alguns constituintes menores, potássio e enxofre possuem a capacidade de en-
CIRURGIA PARE NDOD Ô NTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
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trar em soluções sólidas com cada um dos princi- senvolvidos. Foi a partir do amplo domínio cien-
pais compostos do clínquer. Pequenas quanLida- Lífico e Lecnológico sobre o cimerno Ponland co-
des de impurezas em solução sólida podem não mum que tornou possível o desenvolvimento de
alterar significativamente a natureza cristalográ- outros tipos de cimento, com o obj etivo inicial de
fica e a reatividade de um composto com a água, atender a casos especiais. Com o tempo verifi-
porém, grandes quantidades sim. cou-se que alguns desses cimentos, inicialmente
No Brasil, são produzidos vários tipos de ci- imaginados como especiais, tinham desempenho
mento Portland, sendo normalizados e designa- equivalente ao do cimento Portland comum ori-
dos pela sigla e pela classe de resistência. As si- ginal, atendendo plenamente às necessidades da
glas correspondem ao prefixo CP acrescido dos maioria das aplicações usuais e apresentando,
algarismos romanos de I a V conforme o tipo de em muitos casos, inclusive, alguma vantagem
cimento, sendo as classes indicadas pelos núme- adicional. A partir dos bon s resultados dessas
ros 25, 32 e 40. As classes de resistência apontam conquistas e a exemplo de países tecnologi ca -
os valores mínimos de resistência à compressão mente mais avançados, como os da União Euro-
(expressos em megapascal - MPa), garantidos péia, surgiu no mercado bra sileiro, em 199 1, um
pelo fabricante, após 28 dias de cura22 • novo tipo de cimento, o cimento Portland com-
De acordo com as revisões das especificações posto, cuja composição é intermediária entre os
realizadas pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS cimentos Portland comuns e os cimentos Por-
TÉCNICAS, em 1 991, os cimentos Portland brasilei- tland com adições (alto -forno e pozolânico), es-
ros passaram a ter as seguintes designações 2 2 : tes últimos já dispon íveis há algumas décadas.
Atualmente os cimentos Portland compostos são
Cimento Portland Comum (NBR 5732): os mais encontrados n o mercado, respondendo
• CP I - Cimento Portland Comum por aproximadamente 70% da produção indus-
• CP I-S - Cimento Portland Comum com trial brasileira, sendo utilizados na maioria das
;f adição aplicações u suais, em substituição ao antigo CP.
I ~ Cimento Portland Composto (NBR 11 578): Apesar disso, o cimento Portland comum ainda é
• CP II-E - Cimento Portland Composto com produzido por algumas indústrias, visando o mer-
Escória cado internacional22. Existem ainda outros tipos
• CP Il-Z - Cimento Portland Composto com de cimento, para u sos específicos, mas os que
Pozolana mais se relacionam com os n ossos interesses são:
• CP II-F - Cimento Portland com Fíler
Cimento Portland de Alto -Forno (NBR ~ CimenLo Portland Branco (NBR 12989):
5735): CPIII • CPB - Cimento Portland Branco Estrutural
• 1
Cimento Portland Pozolânico (NBR 5736) : • CPB - Cimento Portla nd Branco Não Es-
CP IV tru LUral
~ Cimento Portland de Alta Resistência lnicí'a l
(NBR 5733): CP V-ARI De acordo com Mehta & Monteiro29º, o ci-
~ Cimento Portland Res istente a Sulfatos mento Portland branco é produzido pela pulveri-
(NBR 5737): RS zação de um clínquer de cimento Portland bran-
~ Cimento Portland de Baixo Calor de Hidra- co. A cor cinza do clínque r do cimento Portland
tação (NBR 13116): BC comum é devido a presença de ferro e manga-
~ Cimento para poços petrolíferos (NBR nês. Portanto, diminuindo-se o teor de ferro do
9831): CPP clínquer pode-se produzir cimentos de cores cla-
ras. Quando a quantidade to tal de ferro no clín-
O primeiro cimento Portland lançado no quer corresponde a menos de 0,5% de Fe 2 0 3, e o
mercado brasileiro foi o conhecido CP, corres- ferro é mantido no estado reduzido de Fe 2+, o
r . pondendo atualmente ao CP l, um tipo de ci- clínquer geralmente é bran co. Estas condições
i:-
, menta Portland comum sem quaisquer adições são alcançadas na fabricação do cimento usando-
além do gesso. Ele acabou sendo considerado na se argila e rochas carbonatadas sem ferro como
maioria das aplicações usuais como termo de re - matéria-prima, moinh os especiais de bolas com
ferência para comparação com as características e revestim entos e bolas de cerâmica para triturar a
propriedades dos cimentos posteriormente de- mistura da matéria-prima e um combustível lim-
C IÊNCIA ENDODÔNTICA •'
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po tal como óleo ou gás para a produção do clín - Portland obtido de um saco recentemente aberto
quer em atmosfera redu tora na zona de alta tem- e outro aberto há dois meses foi avaliada por
peratura do forno rotativo de cimento. Conse- Duarte et al. 1º8 • Os resultados demonstraram não
qüentemente, os cimentos brancos são aproxi- ter havido contaminação dos materiais, em fun-
madamente três vezes mais caros do que os ci- ção do fato da preparação do cimento ocorrer em
mentos Portland normais. temperaturas altíssimas, incompatíveis para o
Segundo a AssocIAçÃo BRASILEIRA DE CIMENTO crescimento bacteriano. Além do que o Cimento
PoRTLAND22 , o ciment o Portland branco é Portland possui alto pH, sendo essa alcalinidade
regulamentado pela n orma NBR 12989, sendo incompatível com a maioria dos microrganismos,
classificado em dois subtipos: cimento Portland promovendo uma inibição enzimática 124· 125 .
branco estrutural e cimento Portland branco não Independente desses dados é importante fri-
estrutural. O cimento Portland branco estrutural sar que utilizar o Cimento Portland diretamente
é usualmente aplicado em concretos brancos de sua embalagem comercial é inviável e emba-
para fins arquitetônicos, possuindo as classes de sado não só por princípios éticos, como também
resistência 25, 32 e 40, similares às dos outros o da sustentação jurídica, que existe quando o
cimentos. Já o cimento Portland branco não es- produto for registrado no MINISTÉRIO DA SAúDE, o
trutural não tem indicação de classe e é aplicado, que não acontece com o Cimento Portland da
por exemplo, no rejuntamento de azulejos e na forma como é distribuído enquanto material de 1 .
fabricação de lad rilh os hidráulicos, isto é, em construção.
aplicações não estruturais, sendo este aspecto Vale ressaltar ainda que o Cimento Portland
ressaltado na embalagem para evitar uso indevi- pode apresentar uma grande variação de compo-
do por parte do consumidor. nentes o que não acontece com o produto MIA,
Portanto, é importante con siderar que são cujo clínquer possui composição e percentual
vários os tipos de Cimento Portland, cada um dos elementos pré-determinados. Conforme já
com características e indicações especiais e quan- salientado, a adição de diferentes componentes
do do seu estudo, esses fatores devem ser le"va- ao cimento Portland como materiais carbonáti-
dos em conta. Conforme relata Almeida -Filho 11, cos, materiais pozolônicos, escórias (materiais
/
todo processo de produção industrial está asso- provenientes de subprodutos comerciais, resídu-
ciado a uma certa variabilidade das característi- os da combustão do carvão, escórias siderúrgicas
cas dos produtos acabados. No caso do cimento ácidas, rejeitos sílico-aluminosos do craquea-
pode-se citar as principais causas de variabilida- mento do petróleo, cinzas de resíduos vegetais e
de: a mudança de composição das matérias-pri- cinzas volantes) originam diferentes tipos de ci-
mas (jazida de calcário e de argila); procedimen- mento no comércio. Deal et ai. 10 3 relatam que a s
to de mistura e homogeneização; temperatura e análises efetua_das em vários tipos de cimentos de
tempo de clinquerização; tempo de moagem; va- MTA (ProRoot® e MTA experimental de presa
riação nas características das adições e natureza rápida) e com o cimento Portland, em algumas
do combustível1 7 º. Dessa forma parece funda- amostras (não menciona em qual deles) apresen-
mental que constantes avaliações das proprieda- taram traços de cromo, níquel e chumbo.
des químicas, físicas e biológicas sejam realizadas Outro elemento químico contaminante pes-
para o MTA, assim como para as experimenta- quisado nos cimentos é o arsênio. Admite-se que
ções com o cimento Portland, com o intuito de os alimentos podem conter até 3,5 ppm de arsê-
estabelecer médias comparativas de resultados, nio. Cosméticos como muges (blushes) não po-
fornecendo assim margens de confiabilidade dem conter mais do que 2 ppm de arsênio
dentre os materiais e marcas avaliadas. (AS 2 0). A presença desse elemento químico no
Outro aspecto de suma importância nesse MTA ® Ângelus, no ProRoot® MTA assim como
contexto a ser levado em consideração é que, nos cimentos Portland da Votoran, Ribeirão e o
apesar das pesquisas demonstrarem que o ci- Itaú branco, foi pesquisado por Duarte (comuni-
mento Portland constitui base do produto co- cação pessoal) empregando a espectrofotometria
mercial MTA, jamais se pode recomendar que de absorção atômica. O cimento Votoran apre-
esse material seja utilizado em pacientes, quando sentou maior índice de arsênio (0,0007 ppm
pego diretamente de sua embalagem comercial. para análise de 3 horas e 0,0003 ppm em 7 dias)
A contaminação bacteriana e fúngica do cimento em relação aos demais cimentos (0,0002 ppm
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
tanto nas análises com 3 horas e 7 dias). No pelo fato de a lguns trabalh os demonstrarem que
entanto, todos esses índices foram bem abaixo tanto o MTA como o Cimento Portland possuem
do mínimo recomendado para ser empregado a m esma composição 122 · 181 e o m esmo mecanis-
em seres humanos que é de 3,5 ppm. mo de ação 192 .
Essas adições na composição dos cimentos
de construção podem inclusive modificar a mi- * Análise do pH
croestrutura do cimento, como por exemplo, di- O pH do MIA foi analisado por Torabinejad
minuição da permeabilidade, difusibilidade iôni- et al. 4 46 , tendo sido constatado que logo após a
ca e a porosidade capilar, dentre outras proprie- sua hidratação com água destilada é de 10,2. No
dades. Para efeito de comparação, o cimento Vo- entanto após 3 horas esse valor sobe para 12,5 e
toran® apresenta composição diferente ao do se estabiliza.
cimento Itaú®. Este tem calcário com outras ca- Segundo Weidmann et al. 474 , o pH do ci-
racterísticas, menos magnésio, possui ainda em mento Portland aumenta bastante durante o pri-
sua composição o gesso e filler calcário, que o meiro minuto após a sua hidratação, atingindo o
torna mais lento em suas reações químicas. valor de 12,3 e continua aumentando a um valor
O tamanho das partículas do clínquer após a máximo de 12,9 após 3 horas. Segundo Iaylor437,
moagem pode influenciar nas reações subse- inicialmen te a matriz de cimento Portland de-
qüentes (pó + água). Partículas com mais de 50 senvolverá um pH por volta de 13,5 devido a
micrômetros não podem ser hidratadas comple- liberação de NaOH e KOH, até a formação de
tamente, não contribuindo para a resistência do novos compostos com a participação de sódio e
cimento. Partículas menores que dois micrôme- de potássio, geralmente a partir de reações com
tros não são hidraulicamente ativas e não produ- C3A e C2 S. Entretanto, com o desenvolvimento
zem material cimentante em proporção com sua da hidratação a significante reserva de hidróxido
superfície . O ideal seria que o tamanho dos grãos de cálcio formado tamponará o pH a um valor
~fosse ao redor de 25 micrômetros. Esse diâmetro por volta de 12,4.
1
permite uma hidratação otimizada das partículas, Duarte et al. 109 avaliaram os índices do pH e a
acarretando uma maior expansão de presa, por- liberação de íons cálcio do ProRoot MTA ® e
tanto maior adaptação marginal às paredes den- MTA-Ângelus®, nos períodos de 3, 24, 72 e 168
tinárias. O fato é que os cimentos Portland po- horas após a espatulação. Os res ultados demons -
dem apresentar o pó com as mais variadas di - traram que em todos os períodos (a maior libe-
;mensões. O pó do MTA sendo mais grosso reduz ração ocorreu no período de 3 horas) os valores
e controla a retração por secagem, redução de de cálcio liberado e o pH foram maiores para o
volume, enquanto a pasta ainda está úmida e MTA-Ângelus®. Esses autores acred itam que os
I
não endureceu totalmente. valores aferidos (pH não superior a 9, 52) fo -
Portanto, o conhecimento de todos esses fa - ram mais baixos para ambos os materiais estu -
tores e outros de igual importância, envolvendo dados em relação aos relatados com o MTA por
os diferentes tipos de cimento, são fortes argu- Torabinejad et al. 446, em função de diferenças
mentos que impedem, até o momento, o uso entre as metodologias utilizadas. Vale ressaltar,
indiscriminado de qualquer cimento de constru- no entanto, que Holland & Murara (resultados
ção em seres humanos, e que não t enham pas- não publicados - 2002 ) estuda ndo o MTA e Ci-
sado por rigorosos testes de biocompatibilidade. mento Portland, observaram valores de pH ao
redor de 12,5, coincidindo com os resultados de
5.1. Propriedades Físico-Químicas Torabinejad et al. 4 50 e diferentes aos divulgados
do MTA e Cimento Portland por Duarte et al. 109 . Com o mesmo propósito,
Deal et al. 1º3 estudaram um MTA experimenta l
Deve ser considerado que algumas das pro- com tempo de endurecimento mais rápido, ao
priedades a serem abordadas sobre o MTA. tem redor de 17 minutos, comparativamente com o
{ como referência trabalhos relacionados com as ProRoot® e Cimento Portland, verificando logo
propriedades do Cimento Portland (Cimento de após a sua manipulação um pH em torno de
construção), uma vez que, conforme relatamos 11,60, 11, 72 e 11, 74 respectivamente. No entan-
acima, o próprio fabricante do MIA admite sua to, cipós 30 minutos, o ProRoot® e Cimento Por-
presença na composição do produto e também tland atingiram ambos o pH de 12,3, sendo que
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
o pH do MTA experimental não foi medido devi- radiopacidade do que a guta-percha e a dentina,
..
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do ao seu estado sólido. ele é facilmente identificado nas radiografias (Fi-
gura 16.153). Esta radiopacidade é conferida ao
* Radiopacidade produto pela presença do óxido de bismuto em
Uma das características importantes que um sua composição (ao redor de 25%) .
material obturador deve possuir é que ele seja Quanto ao cimento Portland, nenhum estu-
radiopaco. Torabineja d et al. 446 verificaram que o do foi realizado avaliando a radiopacidade dos
MTA apresentava radiopacidade maior do que a vários tipos de cimento. No entanto, sabemos
apresentada pelo Super EBA ou IRM, sendo li- que radiograficamente ele é pouco visível, seme-
geiramente menos radiopaco do que o Kalzinol, lhante a radiopacidade da dentina (Figura
resultados que foram confirmados por Laghios et 16.154), pelo fato de não conter o óxido de
al. 2 50 • Em função do fato do MTA apresentar maior bismuto em sua composição original.
1 •
Deal et al. 103 estudaram um nov o material, ocorre o ressecamento desse cimento. Na prática é
um MTA de presa rápida, relatando que o mes- comum o profissional agregar mais água a mistura
mo toma presa depois de 17 minutos. Avaliou objetivando novamente a sua utilização. Con side -
também 6 cimento ProRoot®MTA constatando rando que o fabricante do ProRoot MIA0 admite
que o mesmo endurece em 156 minutos e o Ci- atualmente que o produ to é composto de 75 % de
m ento Portland com 15 9 minutos. Cimento Portland e que o MTA-Ân gelus®possui
Abdullah et al.2 levando em consideração que 80% do mesmo, faremos considerações a respeito
o tempo de presa prolongado é a p rincipal dessa propriedade também com base na literatura
desvantagem do MTA, adicionaram o CaC12 no referente ao Cimento Portla nd.
cimento Portland para acelerar a sua presa , e Quanto a essa característica, deve ser ressal-
com isso observar se haveria modificações quan- tado que a água utilizada para reação de hidrata -
to ao seu comportamento químico, físico e bioló- ção do MTA ou Cimento Ponland poderá influen-
gico. Essa adição [oi realizada no cimento Por- ciar suas propriedades químicas, físicas e biológi-
tland, produzindo duas variações do mesmo, ou cas 11. Segundo Silva 397 , algumas das impurezas
sej a, um cimento com 10% e o outro com 15% mais comuns encontradas na água podem afetar
de CaC12 . Como comparação, foi empregado um as propriedades físicas do cimento, dependendo
cimento Portland comum, um cimento de ionô - de sua concentração . Carbo na tos alcalinos acele-
mero de vidro, e o MTA (ProRoot). A adição de ram a pega. Bicarbonatos alcalinos podem acelerar
cloreto de cálcio diminuiu o tempo de presa e e re tardar a pega, e se s ua concentração for ele-
segundo o estudo, não alterou as formas dos vada também pode afetar a resistência. Cloretos
cristais qu ando analisadas com aquelas que são e sulfatos de sódio causam um elevado teor de
encontradas no cimento Portla nd comum. Essa sódio dissolvido, admitindo-se para os cloretos
observação demonstrou que o CaC12 não interfe- até 20 mil pp m e para os sulfatos 1O mil ppm .
riu na composição química do cimento Portland Carbonatos de cálcio e m agnésio aparecem geral-
original, cujos principais componentes são os m ente em águas tra ta das, são praticam en te inso -
1
, íons cálcio e fó sforo. lúveis, sendo admitida até 400 ppm. Sulfato e
cloreto de magnésio admitem teor m áximo de 4
* Proporção Pó - Líquido mil ppm. Cloreto de cálcio a c elera a pega,
Segundo o fabrican te do ProRoot MTA®, a principalmente n os p eríodos iniciais da hidrata-
m istura do pó com o líquido deve ser feito n a ção. Sais de ferro admi tem até 40 mil ppm. Sa is
proporção de 3:1, dando a mistura uma consistên- de zin co, cobre, manganês e titânio tole ram teor
cia arenosa , semelhante ao amálgama de prata, má ximo de 500 ppm . Entretanto, com o o MTA
porém úrnido (Figura 16.155). No entanto, de - u tiliza água destilada para a hid ratação n ão exis-
corridos alguns minutos após a homogeneização te a interferên cia destas imp urezas .
• FIG. 16.155
Consistência do M TA logo após a mistura do pó
( com o líquido, adqwá"ndo um aspecto arenoso, úmido.
f
CIÊNC IA ENDODÓNTICA
A molécula da água (H-0-H) possui uma liga- caso de pastas de cimento, se forem igualadas as
ção covalente. Devido à diferença nos centros de viscosidades, todos os ensaios acontecerão dentro
carga do lúdrogênio e do oxigênio, o próton do das mesmas condições. A viscosidade da pasta de
íon de hidrogênio positivamente carregado per- cimento e o seu valor padrão são dependentes de
tencente a uma molécula de água atrai os elétrons vários parâmetros, como a quantidade de água, a
negativamente carregados das moléculas de água finura do material, a composição mineralógica, ti-
vizinhas. Esta força de atração relativamente fra- pos e teores de adições entre outros. Portanto, a
ca, chamada de ligação de hidrogênio, é respon - consistência normal é característica de cada ci-
sável pela estrutura ordenada da água. A água à mento e sua determinação é feita por tentativas.
temperatura ambiente t em aproximadamente
50% das ligações de hidrogênio rompidas. Mate- * Hidratação
riais no estado de ligações rompidas têm cargas Como já foi relatada anteriormente a hidrata-
superficiais desequilibradas, que geram energia de ção do pó do MIA com água destilada resulta
superfície. Essa energia superficial em líquidos num gel coloidal que se solidifica em uma estru-
causa tensão superficial, a qual é responsável pela tura dura em aproximadamente 3 horas4 56 . A
tendência de um grande número de moléculas natureza hidrofílica das partículas do pó do MIA
aderirem entre si290 • Assim, como a tensão super- confere uma característica especial a esse produto,
ficial da água destilada é alta, a hidratação das podendo ser utilizado em presença de umidade, ,
partículas do pó p oderá ocorrer de forma não tal qual acontece durante os procedimentos clíni-
homogênea, podendo perman ecer partículas sem cos em casos de perfurações e cirurgia parendo-
serem hidratadas, comprometendo algumas das dôntica, não necessitando, portanto, de campo
excelentes propriedades do material. seco. Nessa situação, a umidade presente nos teci-
Desta forma, a utilização de um líquido ou dos age como um ativador da reação química des-
solução com uma menor tensão superficial, além te material. Outra vantagem ainda, no entender I
de proporcion ar u ma melhor ação umectante de Iorabinejad et al.4 55 é que a h abilidade seladora
também proporcionará uma melhor plasticidade, exibida pelo MIA, provavelmente deve-se a essa
m elhorando as condições de trabalho. Embora sua natureza hidrofílica e ligeira expansão quando ~
também possa causar alteração no seu tempo de ele é manipulado em ambiente úmido.
endurecimento. A reação de presa do cimento se baseia nas
reações dos compostos anidros do cimento com a
* Viscosidade água. Nessa reação os componentes individuais do
Até o momento ainda não foi realizado ne- cimento são atacados e se decompõem (reagem}
nhum ensaio para avaliar a viscosidade do MIA. formando compostos lúdratados. A hidratação é
Entretanto, desde a publicação dos primeiros tra- principalmente uma hidrólise d os silicatos, produ-
balhos tem sido sugerida uma proporção pó-líqui- zindo um lúdrato de silicato de cálcio (CHS gel)
do de 3: 1, ou rela ção água/ cimento igual a de m en or basicidade, liberando cal que se separa
0,33 261 , 283 • Segundo a Associação Brasileira de Ci- sob a forma de hidróxido de cálcio: Silicatos de
mento Portland21 , a análise da viscosidade ou aná- cálcio + H2 0 = CHS gel + Ca(OH)2 . A reação m ais
lise da proporção pó - líquido dos cimentos Por- interessante consiste na transformação de com-
tland é regulamentada por norma da ABNI (NBR postos anidros de superfície reduzida em um pro-
11580/91), sendo conhecida como determinação duto hidratado, parecido com gel e com superfície
da águ a de consistência normal. O índice de con - extremamente grande. Os produtos de hidratação
sistência normal de uma pasta de cimento Por- dos silicatos de cálcio no clínquer (C 3S e C 2S) são
tland representa uma mistura padronizada de ci- quimicamente idênticos: um hidrato de silicato de
mento e água, que apresenta proprieda de reológi- cálcio em forma de gel microcristalino e um hi-
ca constante, sendo u tilizado para a verificação de dróxido cristalino. A cómposição do hidrato de
duas características importantes do cimento: os cálcio é aproximadamente C3 S2H 3 e pode ser cha-
tempos de p ega e a instabilidade de volume . Para mado de Ioberm orita, isto porque estruturalmen -
que a execução dos ensaios seja u niforme para te é similar a um mineral n atural que tem esse
todos os cimentos, de maneira que os resultados n ome. A hidratação dos aluminatos tem relação
sej am comparáveis, é necessário que as pastas de direta com a presen ça do gesso . Na sua ausência a
cimento apresentem as m esmas características. No reação do aluminato tricálcico com a água é vio-
CIRURGIA PAREN DODÔNTI CA : COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
lenta, levando ao endurecimento imediato da pas- mesmo após 21 dias imerso em água. De acordo
ta. Na sua presença a reação de hidratação é dife- com o fabricante do ProRoot MTA®, a solubilida-
rente, não havendo pega instantânea. O gesso e o de em água do material está compreendida em
aluminato tricálcico reagem primeiro formando o O, 1 a 1,0%, sendo considerado ligeiramente solú-
trissulfato de cálcio de alurrúnio conhecido como vel. Segundo o MSDS (Materíal Safety Data Sheet)
Etringita. O cálcio não combinado (óxido de cál- de indústrias produtoras de Cimento Portland,
cio) e o periclásio não combinado (óxido de mag- constata-se que o Cimento Portland apresenta
nésio), quando se encontram em grande quanti- solubilidade compreendida em 0,1 a 1,0%, evi-
dade no cimento podem causar expansão devido denciando desta forma, a similaridade entre a
a uma reação lenta de hidratação depois da pega solubilidade de ambos materiais. Ainda baseado
do cimento. O grau real de expansão depende do nas informações do MSDS, os sulfatos de cálcio
estado (cristalização do Mg) e da distribuição dos hemi e <li-hidratado que compõe m o MTA apre-
óxidos dentro do cimento. Mais especificamente, sentam ligeira solubilidade em água (0,3g/l a
os cristais grandes de periclásio e cal livre produ- 25ºC e 0,26 gil a 25 °C, respectivamente), sendo
zem instabilidade. Terminada a hidratação ocorre que o óxido de bismuto (radiopacificador do
um grande aumento de superfície. MTA) é insolúvel1 1 • De acordo com dados de
Quando se misturam a água e o cimento, Evers & Smith 126 o óxido de cálcio, outro produ-
ocorre uma reação rápida, imediata, formando to encontrado no MTA possui solubilidade em
uma solução supersaturada (principalmente de água de O, 12 gil a 20°C .
Ca(OH) 2 ). Porém a reação rápida vai perdendo Segundo Herzog-Flores et al.1 73 que ava-
velocidade, devido à formação de "sulfoaluminato liaram a composição química do MTA através de
microcristalino" ao redor das partículas de alumi- ensaios analíticos e difração de Raios X, 18% do
natos. Depois de wn período de "descanso" com material é insolúvel em águ a e 0,36% corres-
pouca reação, a reação continua com maior rapi- ponde ao óxido de m agnésio . Estes resultados
;r dez, formando um gel de hidrato de silicato e a estão de acordo com as informações fornecidas
l pasta do cimento começa a endurecer. Na primei- pelo fabricante do ProRoot MTA®, uma vez que
ra etapa se forma etringita e um pouco de hidró- aproximadamente 20% do peso do material
xido de cálcio. Aproximadamente uma hora de- corresponde ao óxido de bismuto, que é insolú-
pois da mistura, durante a segunda fase, começa a vel e apresenta alto peso m olecular, equivalendo
precipitar a fase CSH na superfície dos silicatos a cerca de 15 a 17 % do volume do material.
anidros. Na terceira etapa se fecha o espaço entre Além do óxido de bismuto, o ProRoot MTA®
as partículas sólidas que se unem com o gel da pode ainda conter até 0,6 % de resíduos inso-
fase CSH. Deste modo, a matriz inicial composta lúveis livres como a sílica cristalina (quartzo) e
dos primeiros hidratos dos aluminatos e silicatos determinados argilominerais.
se torna mais densa, a porosidade diminui e a
resistência começa a desenvolver-se. O hidróxido * Densidade
de cálcio que se forma durante este processo em De acordo com o fabricante do ProRoot
cristais grandes integra-se à matriz do gel CSH, MTA®, o material apresenta uma densidade de 4 a
mas supõe-se que contribui muito pouco para a 4,5. Taylor437 indica que o cimento Portland arú-
resistência da pasta. O gel de CHS e o hidróxido dro apresenta densidade de 3 a 3,2. Esta diferença
de cálcio são os componentes principais do cimen- entre a densidade dos materiais estudados é pro-
to hidratado. O hidróxido de cálcio se encontra vavelmente devido à adição de 20% de óxido de
entrelaçado com a estrutura fibrosa do gel CSH. bismuto, que apresenta uma densidade de 8,76.
Ele pode reagir dentro do concreto com a sílica Com a hidratação dos vários componentes do
fina dispersa e com os materiais aluminosos, for- cimento Portland a densidade diminui, apresen-
mando compostos insolúveis que contribuem tando uma densidade de 2, 13 quando completa-
para a formação da resistência. mente hidratado. Segundo Taylor437, o volume fi-
nal do cimento Portland pode ser calculado pela
* Solubilidade diferença entre as densidades do cimento anidro e
,,l Outra informação interessante à respeito do completamente hidratado, sendo estimado que o
MTA é que ele tem se mostrado resistente à dis- volume de gel de cimento saturado é cerca de 2,2
solução ou decomposição pelos fluidos teciduais, vezes à do cimento anidro.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
taminadas com sangue, demonstrou excelente antimicrobiano do MTA2 19.45 3; e do MTA e cimento
habilidade seladora, pois a infiltração marginal Portland 122, evidenciando essa atividade com o
ocorrida na interface material/parede dentinária elevado pH alcalino e com a concentração de íons
foi núnima454• hidroxila. No entanto, a atividade antimicrobiana
Almeida-Filho 11 relata também que a exce- do MTA é inferior à do hidróxido de cálcio122 , pro-
lente capacidade seladora do MTA pode ser vavelmente devido à diminuição da difusibilidade
explicado analisando a estabilidade dimensional iônica dos produtos hidratados com o avançar do
do Cimento Portland (cimento de construção) tempo. Torabinejad et al. 449 compararam o efeito
após sua hidratação. As reações químicas entre o antimicrobiano do amálgama de prata, óxido de
Cimento Portland e a água, inicialmente produ- zinco e eugenoL Super EBA e MTA. Nenhum dos
zem um emijecimento da pasta e a seguir um materiais estudados demonstrou atividade antimi-
endurecimento. Estas reações químicas provocam crobiana sobre microrganismos anaeróbios estri-
ligeiras mudanças no volume da pasta de cimen- tos. No entanto com o MTA pôde se observar al-
to, ou seja, o volume absoluto do cimento soma- gum efeito em 5 dos 9 tipos de bactérias facultati-
do ao volume da água adicionada, quando mistu- vas estudadas. Hong et al. 219 evidenciaram o efeito
rados inicialmente, não é rigorosamente o mesmo antimicrobiano do MTA sobre algumas bactérias,
que aquele apresentado pela pasta após um certo possuindo um maior efeito sobre Lactobacillus sp,
tempo de hidratação. O volume final pode ser até Streptococcus mitis, Streptococcus mutans e Streptococcus
6% menor que o inicial, dep endendo das condi- salivarius e um menor efeito antibacteriano sobre
ções sob as quais se desenvolve a hidratação 21 . Streptococcus faecalis.
Esta redução de volume também é conhecida
como retração. A retração está diretamente relacio- * Mutagenicidade
nada à perda de água capilar e redução de volume Kettering & Torabinejad235 utilizando a Prova
dos produtos de hidratação. Quanto mais água de AMES, realizaram um estudo para avaliar o
;; houver na pasta de cimento Portland e quanto potencial mutagênico do MTA, Super EBA®,
I
mais porosa esta for, maior será a sua retração 149 • IRM®. Os resultados demonstraram que esses ma -
Entretanto, além da redução de volume des- teriàis não possuem potencial carcinogênico.
crita, pode existir simultaneamente um aumento
considerável do volume da pasta, ao longo do * Toxicidade
tempo, devido às r eações químicas de alguns Quanto à toxicidade do MTA, ela tem sido
compostos com a água. Esse aumento de volume investigada por vários pesquisadores, tanto em
não somente anula a contração, mas também experimentações levadas à efeito ín vítro (cultura
pode dar origem a um volume final ainda maior de células) como ín vivo (implantes em tecido ósseo
• 1
que o inicial. Se esta expansibilidade for exagera- de diferentes animais, em tecido conjuntivo subcu-
da, a indução de tensões internas de tração pode tâneo de ratos, dentes de cães, macacos etc.), todos
gerar desde trincas superficiais até uma desagrega- demonstrando que o mesmo apresenta excelente
ção completa da massa da pasta endurecida. As comportamento biológico444.447 • Pitt-Ford et al.349
substâncias que podem provocar estas instabilida- e Torabinejad et al. 443 relatam que o MTA tem de-
des de volume são principalmente: o óxido de monstrado habilidade de estimular a liberação de
cálcio livre, o sulfato de cálcio em dosagens muito citocinas dos osteoblastos, indicando que ele pro-
acima da necessária para regular o tempo de pega move ativamente a formação de tecido duro,
e o óxido de magnésio, em sua forma cristalizada, numa demonstração de que participa diretamente
conhecida como peridásio96· 16 (Figura 16.152). desse processo, muito mais do que um simples
material inerte. Por sua vez, Koh et al.24 1 , num
5.2. Propriedades Biológicas do MTA estudo citomorfológico em presença de osteoblas-
e Cimento Portland tos humanos, também relataram que o MTA pro-
porcionava uma estimulação na produção de cito-
t·" *Atividade Antimicrobiana cinas, pe rmitindo a aderência das células ao mate-
Dentre algumas das propriedades que um rial. Exames com microscopia eletrônica de
,,
1
material obturador deve possuir, uma delas é que varredura revelaram presença de células saudá -
ele apresente algum efeito bactericida ou bacterios- veis em contato com o MTA nos períodos de 1 e 3
tático. Alguns trabalhos demonstraram o potencial dias, além da presença de elevados níveis de inter-
CIÊNCIA EN DODÔNTICA '.i
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leucina e de osteocalcina. Thompson et al.440 ava- configuração permite uma integração tridirnensio- ··-~·
liaram a capacidade de uma cultura de cemento- nal com o tecido ósseo. -~
blastos em diferenciar-se na superfície do MTA, !\
através da observação da produção de marcadores 5.3. Mecanismo de ação do MTA
protéicos de mineralizaçã o. Os resultados de-
monstraram que o MTA promove a produção de Comparando a resposta tecidual ao MTA com
l
osteocalcina, estimulando, dessa forma a produção a que se obtém quando do emprego do hidróxido
de matriz mineralizada pelos cementoblastos. O de cálcio, observa -se alguma similaridade entre os
aumento da libera ção de interleucina também foi dois rnateriais 53 • Ambos parecem estimular a neo-
comprovado por Milche1l et al. 298 . A participação do formação de tecido duro (cemento e dentina). Lee
MTA em estimular a ativação da resposta celular, et al. 261 informaram que os principais componen-
segundo Koh et al. 240 se deve à fase de fosfato de tes presentes no MTA seriam o silicato tricálcico,
cálcio. Esta fase parece causar uma mudança no aluminato tricálcico, óxido tricálcico e óxido de
comportamento celular, estimulando a aderência silicato. Em adição aos trióxidos haveria outros
dos osteoblastos junto ao MTA. A citotoxicidade do óxidos minerais que seriam responsáveis pelas
MTA também foi objeto de estudo por Osório et propriedades químicas e físicas desse agregado.
al. 330, quando entre vários materiais indicados para Ainda segundo esses autores, o pó do MTA é
retrobturações, observou que o MTA possui o me- constituído por finas partículas hidrofílicas que r
nor IÚvel. Essa propriedade do MTA foi igualmente endurecem na presença de água. Dois anos mais
investigada por Zhu et al. 488 , que inserindo o MTA tarde, Torabinejad et al. 446 estudaram as proprie-
em culturas de células, puderam observar através dades físicas e químicas do MTA. Eles observaram i
da MEV, que os osteoblastos aderiam e se espa- que todo o MIA era dividido em duas fases espe- '
lhavam sobre a sua superfície. Keiser et a/. 2 34, tam- cíficas, constituídas pelo óxido de cálcio e fosfa to
bém estudando a citotoxicidade do MTA em cultu- de cálcio. Verificaram ainda que o óxido de cálcio I
ras de células do ligamento periodontal humano, apresentava-se como discretos cristais e o fosfato .
observaram que ele era biocornpatível, favorecen- de cálcio como uma estrutura amorfa. Sendo o 1
;f
!
Estas granulações de calcita são caracteriza- sua utilização. O produto vem em embalagens
das por apresentarem alta birrefringência, sendo hermeticamente seladas, e depois do uso devem
facilmente identificadas à luz polarizada. De ser novamente bem fechadas para evitar contato
acordo com Leinz & Campos 262 , a birrefringência com a umidade do ambiente . O pó deve ser mis-
da calcita é de 0,172. Além disso, estas granula- turado com água destilada esterilizada na pro-
ções também podem ser identificadas pelo méto- porção de 3:1 sobre uma placa de vidro ou papel,
do histoquímico de Von Kossa, que identifica o durante 30 segundos, com ajuda de uma espátu-
cálcio pela coloração preta. De acordo com Carr la de plástico ou metal, exibindo na seqüência
et al. 86 , o corante de Von Kossa é na realidade um uma consistência pastosa 26º.
corante de substituição que demonstra a presen- Torabinejad & Chivian44 5 recom endam que se
ça dos ânions de sais de cálcio insolúveis, como a área de aplicação do MTA for muito úmida, essa
PO/ e CO/ , mais do que o próprio cálcio. umidade extra poderá ser removida com uma
Conforme já mencionado, Seux et al.388 de- gaze seca ou esponja de gelfoan. Presença de umi-
monstraram, in vitro, que a fibronectina apresenta dade excessiva não só deixa o material muito
alta afinidade pelas granulações de carbonato de aquoso como também de difícil manipulação.
cálcio, evidenciada pela alta concentração de fi- Ainda segundo o autor, quando a mistura é muito
bronectina ao redor dos cristais de calcita. seca, m ais água deverá ser adicionada. Em função
A fibronectina pertence a um grupo de mo- de o MTA necessitar de umidade para endurecer,
léculas de adesão de substrato responsáveis pela deixando-se a mistura sobre a placa de vidro ou
migração, adesão e diferenciação celular, sendo papel, ocorrerá sua desidratação, transformando-a
produzida por fibroblastos, macrófagos e células com um aspecto de m istura arenosa. Para evitar
endoteliais466 . isso, tem-se recomendado a colocação de uma
Assim, a fibronectina seria a responsável pela gaze umedecida sobre a pasta de MTA.
migração e adesão de células pulpares e periodon- Através de comu nicação pessoal, o Dr. Os-
1 tais que sintetizariam e depositariam colágeno valdo M. Massi (Rio de Janeiro) utiliza uma boli -
I Tipo 1, formando a matriz orgânica extracelular. nha de ping-pong dividida ao meio e no interior
Além disso, a fibronectina induziria a diferencia- de uma das partes fixa uma esponja. Durante
ção de células pulpares em odontoblastos ou célu - toda a fa se da utilização do MTA, ou seja, nos
las do periodonto em cementoblastos, principais intervalos entre uma colocação e outra do mate-
responsáveis pela deposição de minerais 388 . rial nas retrocavidades, essa bolinha de ping-
pong com a esponja umedecida em água destila-
Necrose Superficial Tecidual da é colocada em contato com o MTA, impedin-
A fase líquida saturada de íons hidroxila do assim a sua desidratação.
também parece ser a responsável pela ligeira ca- Como já mencionado, o MTA deve ser colo-
mada de necrose superficial pulpar, situada entre cado, de preferência, cm local já devidamente
a ponte de tecido mineralizado e o material, e seco. No entanto em casos em que ocorra peque-
encontrada em poucos espécimes submetidos à na contaminação com sangue ou mesmo em
pulpotomia com MTA407 , pulpotomia com MTA ambiente em que exista alguma umidade, o ma-
ou cimento Portland 185 . Estas observações são terial não perde suas propriedades físicas, man-
um pouco diferentes das notadas com várias pas- tendo o nível de proteção quanto ao selamento
tas de hidróxido de cálcio submetidas às mesmas marginal454 .
condições 201 , 4 º7 . Cumpre ressaltar que essa necro- Segundo o fabricante (ProRoot MIA®Dents-
se superficial na maioria das vezes está ausente ply) o MIA, devido sua composição química,
e, quando presente, é bem mais delgada do que pode provocar a descoloração do dente. Daí a
a observada com o hidróxido de cálcio quimica- recomendação de que seja utilizado no espaço do
mente puro. canal radicular ou na câma ra pulpar abaixo da
linha gengival ou crista óssea . Recomendam ain-
5.4. Manipulação do MTA para uso da certas precauções quanto à manipulação do
clínico MTA, não permitindo que entre em contato com.
) os olhos, peles, mucosas, evitando sua inalação
De acordo com Torabinejad & Chivian44 5 o ou ingestão, pois pode haver irritação ou infla-
MTA deve ser preparado imediatamente antes de mação da área exposta ao contato.
CIÊNC IA ENDO DÔNTICA
de-se a importância do esforço a ser despendido, durante 1 ou 3 dias para continuar a solidifica-
clinicamente, para evitar a sobreobturação. ção do material. Pelo fa to do cimento apresentar
O emprego clínico do MTA em perfurações cura tardia, eles soliciLam aos pacientes que evi-
laterais ou de furca tem contribuído para a ob- tem esforços mastigatórios no local por pelo me-
tenção de excelentes resultados pelos profissio- nos 4 horas após o tratamento . Sluyk et al.40 3,
nais que dele têm feito uso. A par de obterem o investigando as propriedades e características do
desaparecimento de eventual sintomatologia clí- MTA como material obturador de perfurações de
nica, tem observado reparo radiográfico da área furca de molares humanos, verificaram que o
lesada. A literatura. revela que os profissionais tempo de trabalho é de apenas 4 minutos, tempo
lançam mão do MTA utilizando-se de diferentes quando o material começa a desidratar-se. Ob-
procedimentos clínicos, até mesmo sem o devido servaram que na perfuração, o MTA irá absorver
embasamento científico. umidade, mantendo uma consistência pastosa,
Nas perfurações de furca, Arens & Torabine- melhorando assim a fluidez, as características de
jad18 recomendam que a colocação do MTA deve umectação e sua m elhor adaptação junto às pa-
ser cautelosa, exercendo um mínimo de pressão, redes dentinárias. Na prática, não se adota esse
cobrindo posteriormente o MTA com uma boli- procedimento, ou seja, emprego temporário de
nha de algodão esterilizada úmida, deixando-a uma bolinha de algodão úmida sobre o MTA. A
este respeito, Sluyk et al. 401 estudando o MTA co-
locado em perfurações de furca, avaliaram as
condições de selamento coronário, colocando
uma bolinha de algodão úmida ou seca. Obser-
varam que não houve difere nças na resistência à
força de remoção do material diante dos dois ti-
pos de procedimentos, acreditando que a umida-
/Í
1
de no local da perfuração é adequada para man-
1 ter as necessidades h idrofílicas do pó do MTA.
; 1
• R(i, 1&.1~Z
Perfuração intra-radicular de dente de cão à-atado com
o M 7A - 3 O dias. Notar o esboço de uma barreira
cementório no local do perfuração, iunto ao MTA (HE 100XJ.
_ __FIG. 16.161
• flG, 16.164
Perfuração de turco de dente de cão tratado com o
)
MTA - 180 dias. Obliteração total do perfuração por teci-
do cementálio, em contato com o MTA. Notar ligamento
periodontal isento de processo inflamatório (H.E. JOOXJ.
CIÊNCIA ENDODÔ NTICA
Pitt-Ford et al.1 50 , em casos de perfurações de duais e outros corpos estranhos . Com esse proce-
furca, recomendam o selamento completo da ca - dimento a área cirúrgica fica limpa de detritos,
vidade com o MTA e restauração definitiva do sendo possível inclusive a visualização do tecido
dente somente um a sete dias depois. Pelo fato ósseo subj acente. A perfuração é preenchida com
do MTA ter maior resistência ao deslocamento o p ó do MTA, levado ao local com uma espátula,
após 72 horas do que em 24 horas, indicam que o argumentando o autor que a umidade presente
material colocado no local da perfuração seja pro- na loja irá hidratar todo o pó. Quando necessá-
tegido por uma restauração temporária, de presa rio, ele complementa essa h idratação com pe-
rápida, permanecendo por três dias sem tocá -lo. quenas quantidades de soro fisiológico via coro-
Em casos d e perfurações intrarradiculares nária. Outra recomendação de Melo (200 1), con -
acidentais, segundo Torabinejad & Chivian445 , a trariando as observações de Holland et al_l88 , é o
colocação do MTA deve ser realizada v ia canal extravasamento do MTA, que segundo ele deve
radicular com o auxílio de um porta-amálgama e preencher totalmente a loja óssea ou o local da
posteriormente con densado e a camado com um trepanação, invadindo o ligamento periodontal e
condensador endodôntico ou bolinhas de algo- formando, fora da raiz ou da câmara pulpar, um
dão, permanecendo p elo período de 3 a 4 horas. bloco único do material, justificado pelos b ons
Após esse p eríodo, ou mesmo em uma segunda resultados clínico-radiográficos. É importante sa-
intervenção, pode -se então realizar a obturação lientar que essas observações clínicas ainda n ão
definitiva do local ela trepanação. Quando o MTA têm respaldo histopatológico.
é colocado em perfurações cujo tecido apresenta
alto grau de inflamação, o cimento se mantém Aplicação Clínica
ainda mole m esmo após as 4 horas de espera. Na Na clínica, em casos de perfuração de lurca
opinião dos autores esse fenôm eno ocorre devi- (Figura 16.165B ), recomenda-se que o local da
do à presença de baixo p H, que impede a solidi- perfuração seja limpo com abundante irrigação e
fi cação do cimento. Nesse s casos, os pro- se necessário, remoção de resíduos ou detritos
cedimentos devem ser repetidos. com au xílio de curetas ou mesmo com o ultra -
Nas perfura ções ocasiona das por reabsorções som18 . Cessada a hemorragia, imediatamente co - /
internas Torabinejad & Chivian 445 relatam que o loca-se o MTA (Figura 16.165C) utilizando-se ele
preparo endodôntico é fundamental para remo- um ap licador tipo MAP SYSTEM (Figura
ção de tecido de granulação no local da comuni- 16.167E), curetas, espátula Hollemback ou o apli-
cação, auxiliado por irrigações com hipoclorito cador de cimento Dycal. Em casos de perfurações
de sódio e colocação do h idróxido de cálcio. amplas, essa colocação deve ser cuidadosa para
Posteriormente à limpeza que se segu e após re- evita r sobre-obturação com o cimento e ser ex e-
moção do curativo de demora, a obturação do cutada com pouco esforço compressivo. Caso seja
canal é realizada até o local da perfuração com difícil o controle ' do n ível da obturação com o
con es de guta-percha e cimento obturador. No MTA, pode-se até recorrer a um plug com o p ó de
ponto da perfuração é colocado o MTA com aju- hidróxido de cálcio, para contê-lo no interior da
da de condensadores e con es de papel, seguindo- cavidade. O hidróxido de cálcio é facilmente reab -
se a colocação de uma bolinha de algodão úmida sorvido, permitindo a posteriori o contato do tecido
por pelo m enos 3 a 4 horas e selamento t empo- conjuntivo periodontal com o MTA. Colocando-se
rário da cavidade. Após esse período remove-se ou não esse tampão de hidróxido de cálcio e uma
essa b olinha, procedendo-se a restauração defini- vez adaptado o MTA no local da perfuração, colo-
tiva do dente. ca-se uma camada de ion ôm ero de vidro definiti-
Em comunicação pessoal, o Dr. João Batista vo sobre o mesmo (Figura 16.166A). Essa me-
de Melo (Juiz de Fora - MG) relatou que antes dida visa proteger o local da comunicação durante
da colocação do MTA, em casos de perfurações, os procedimentos endodônticos que se seguirão
uma toilet deve ser realizada com curetas e pon- ao tratamento da p erfuração, evitando -se assim,
tas u ltra -sônicas, com abundante irrigação com que o tecido periodontal exposto no local sofra
hipoclorito de sódio. Em seguida procede-se à mais agressão . A coloca ção do material pode ser
colocação do hidróxido de cálcio, quantos curati - comprovada pelo exame radiográfico, pois o mes-
vos forem necessários, até que se consiga um mo é radiopaco devido à presença do óxido de
campo cirúrgico limpo de restos n ecróticos teci- bismuto (Figura 16.166B).
CIRURG IA PAR EN DODÔNTICA: COMO PRATICÁ- LA COM EMBASAMENTO CI ENTÍFICO
'
' /Í
• ~(;. 16.165_
Petfuração do assoalho do câmara pulpar do 47,
região de furco (8) e próximo ao canal distal (AJ. Coloca-
ção e acomodação do MTA com ligeira pressão (0.
• FIG. 16.166
Colocação do cimento de ionômero de vidro sobre
.l o MTA <AJ e comprovação radiográfica (8).
1
I
C IÊN CIA ENDODÔNTICA
Quando a reparação não se processa a con - caso . A segunda experimentação em polpa de den-
tento diante de uma perfuração intrarradicular tes de cães com o MTA foi realizada por Soares407 ,
ou de furca, não resta, senão, as intervenções que após realizar a pulpotomia, protegeu o re-
cirúrgicas, cuja colocação do MTA segue os mes- manescente com o hidróxido de cálcio pró-aná-
/
mos cuidados daqueles utilizados nas cirurgias lise ou MTA. Observou um alto índice de repara-
parendodônticas. ção com ambos materiais.
Faraco-Jr & Holland 129 realizaram exposi-
Emprego do MTA n a proteção direta da ções ex perimentais de polpas d e dentes de cães
polpa dental cap eando -as com MTA ou Dycal. Sessenta dias
A proteção direta da polpa dental é um as- após o tratamento, as peça s foram removidas e
sunto que vem sendo estudado de longa data. preparadas para análise histom orfológica. Ob-
Após o emprego empírico de diferentes substân - servaram formação de ponte de tecido duro e
cias, chegou-se fina lmente ao hidróxido de cál- ausência de inflamação em todos os casos estu-
cio, cuja indicação perdura até os dias de hoje. dados com o MTA (Figura 16.169) . Com o em-
Contudo, vários medicamentos ou produtos têm prego do Dycal foi notada ponte de tecido duro
sido indicados como uma op ção ao emprego do em 5 dos 15 casos tratados. Notaram, ainda,
hidróxido de cálcio. É o caso dos adesivos denti- presença de processo inflamatório crônico em
nários aplicados diretamente sobre a polpa, cujos 12 espécimes.
resultados n ão têm sido muito a nimadores, Holland et al.1 85 realizaram p ulpotomia em
quando analisados histologicamente 128· 184 . 13 raízes d e dentes de cães, protegendo os
Diante da s respostas teciduais ao MTA, como remanescentes pulpar es com MTA . Notaram,
o estímulo à deposição de cemento em perfura- após 60 dias, presen ça de ponte de tecido duro e
ções de furca e cm obturações retrógradas, pen- ausência de inflamação em 1O desses casos (Fi-
sou-se em sua utilizaçã o na proteção direta da gura 16.139). Todas as pontes de t ecido duro
polpa dental. Assim Pitt-Ford et al. 350 realizaram eram tubulares e em continuidade com a dentina
estudo protegendo diretamente polpas de dentes n eoformada lateralmente. Os três casos restantes
de macacos com MTA ou Dycal. Notaram forma- exibiram problemas com o selamento coronário,
ção de ponte de teci do duro em todos os .espéci- infiltração de microrganismos detectados p ela
m es e infiltrado inilamatório em apena s um técnica de Brown e Brenn, presença de pontes
CIRURGIA PARENDODÔNTICA: COMO PRATICÁ-·LA CO M EM BASAMENTO CIENTÍFICO
delgadas e parciais e também presença de infil- eosinófila e, portanto, diferente da do MTA (Fi-
trado inflamatório. Os a utores relatam a observa- gura 16.170). Essa estrutura foi também descrita
ção de um caso com ponte parcial, onde era evi- por Faraco-Jr 127 • Embora não se saiba exatamen-
dente a presença de urna estrutura irregular com te o que seja essa estrutura, Holland et al. 185 ad-
formas circulares pequenas e irregulares, pare - mitem a hipótese de ser uma alteração estrutural
cendo pequenos espaços vazios, lembrando a da camada profunda do MTA em direto contato
morfologia do próprio MTA, mas com coloração com o tecido pulpar.
Pelo exposto até aqui, depreende -se serem último, quando em contato com o tecido pulpar,
muito boas as respostas pulpares ao contato dire- produz cauterizações superficia is, determinando
to com o MTA. Esse material mostrou-se supe - a ocorrência de uma zona de necrose, pela pene -
rior ao cimento à base de hidróxido de cálcio tração dos íons hidroxila 21 5 • Essa área cauterizada
Dycal, contudo, os resultados foram similares aos eliminaria eventual contaminação superficial
do hidróxido de cálcio pró-análise. Isso tem (pelo pH 12,5) bem como atuaria como um "bis -
apoio em outras experimentações que mostra - turi" eliminando também a porção superficial
ram melhores resultados na proteção pulpar di - pulpar mais alterada . A deposição das granula-
reta com o hidróxido de cálcio pró-análise, com- ções de caleira e conseqüente formação da ponte
parativamente aos cimentos à base de hidróxido de tecido duro ocorreriam a p artir do limite en-
de cálcio i s,;.19s . tre a zona de n ecrose e o tecido pulpar vital. Essa
Um detalhe necessita ser aqui salientado. Os ocorrência seria particularmente bem vinda nos
resultados até então relatados com o MTA, na casos de tratamento conservador de polpas infla-
~ proteção direta da polpa dental, dizem respeito a m adas p ela técnica da pulpot omia . Já com o
t · capeamentos realizados em polpas sãs, e, portan- MTA praticamente não oco rre formação da zon a
to sem contaminação e sem inflama ção . Resta n ecrose, o que su gere pouca penetração dos íons
)
saber se, dja nte de uma polpa previamente ex- cálcio e hidroxila . Apoia essa afirm ativa a descri-
posta · ao meio oral, o comportamento seria o ção da presença de granulações de calcita em
mesmo do hidróxido de cálcio pró-análise. Este contato direto com o material p rotetor.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
--------·--- ·----·--·-·-·--..····--·----.. · - - - -
'\.
todos os espécimes (Figura 16.171). Esse sela- rial foi empregado após um curativo de hidróxido
mento ocorreu em diferentes níveis, podendo ser de cálcio por uma semana. Observaram comple-
observado em nível do forame ou um pouco mentação apical n otadamente por cemento neo-
aquém. Da mesma forma foi notado selamento formado. Poste riorm ente, Holland et al. 182 volta-
biológico das ramificaçõe s do canal p rincipal que ram a estudar o comportamento dos tecidos api-
constituem o delta apical Essas ocorrências esta - cais e periapicais de dentes de cães após obturação
vam aliadas à ausência de processo inflamatório de canal com MTA, agora 90 dias após o trata-
no ligam ento periodontal. Com o cimento Ketac- mento. Dos 1O casos tratados ocorreu selamento
Endo o correu selamento biológico parcial em 2 biológico completo em 8, aliado à ausência de
casos e total ausên cia nos demais. No ligamento processo inflamatório (Figura 16.141). Nos dois
periodontal ocorreu pe queno infiltrado inflama- casos restantes ocorreu um selamento biológico
tório do tipo crônico, principalmente junto ao parcial e no outro pequena sobreobturação. Em
material obturador extravasado . ambos casos notaram-se presença de p equeno in-
Shabahang et al.390 empregaram o MTA n o filtrado inflamatório do tipo crônico. Observa-se
tratamento endodôntico de dentes de cães com pelo exposto, que a resposta biológica ao MTA,
rizogênese incompleta e lesão p eriapical. O mate- como material obturador do canal, foi satisfatória.
• f~G. M1.11'~
Obturação do canal radicular de dente de cão com
MTA. 180 dias. Selamento biológico total do canal princi-
pal ·e deltas apicois com novo cemento. Ligamento
periodontol isento de processo inflamatório (H.E. 100X).
• 1
Aplicação Clínica oferecer um MTA com característi cas fís icas dis-
Com o já men cionado, o MTA n ão apresenta tintas do atual, p ossibilitando assim ao cirur-
propriedades físicas para esse fim . Para indicá-lo gião -de n tista um leque maior de indicações .
n essa situação, o material deveria apresentar, Excepcionalmente, caso o profissional se depare
dentre outras propriedades, escoam ento e vis- com uma situa ção em que ele faz opção pela
cosidade compatível com um cimento obtura- obturação do can al radicular, como por exem -
dor de canal, adquirir melhor plasticidade, ser plo, casos de rizogênese incom pleta, p resen ça
possível prepará -lo n a forma pastosa, possuir de dens in dents, os procedimen tos clínicos serão
maior finura, melhor h omogeneidade e condi - os m esmos descritos quando da ob tenção de um
ções de trabalho, maior tempo de pre sa , e p os - plug apical de MTA, que será descrito na se-
suir adesividade à dentina. No momento, exis- qüência. O MTA deve ser coloca do no interior
tem setores da indústria o dontológica que estão d o canal radicular com o auxílio de porta -amál-
estudando o MTA e introduzindo algum as mo - gamas especiais ou com a seringa contendo
dificações em sua composição, para que adquira a gulhas apropriadas do MAP SYSTEM® ou cal-
1 propriedades físicas ideais de modo a adequá -lo cadores de canal e cones de papel. À medida
/ às diversas situações clínicas, sem alterar uma 4 ue o MTA vai sendo levado em pequenas por-
de suas principais propriedades que é a biológi- ções, procede -se sua condensação vertical, a té
ca . Com certeza, em breve, o m ercado deverá obte r-se o comple to p reenchim ento do ca na l
CIÊN C IA ENDO DÔNTICA
radicular, não ultrapassando a linha da crista mara com uma bolinha de algodão úmida, sela -
óssea alveolar, prevenindo-se assim eventual se a cavidade com material restaurador provisó-
escurecimento do dente. Após a limpeza ade- rio e posteriormente obturação definitiva (Fi-
quada das paredes dentinárias, e limpeza da câ- guras 16.172 e 16.173).
• FIG. 16:172.
Dente 21 traumatizado com rizogênese incompleta,
e reabsorção interna (A). Obturação de todo canal
radicular com MTA, notando-se ligeiro extravasamento Dente 31 apresentando necrose pulpar e
do material no região opical (BJ. reabsorção interna expondo o canal radicular com o I
Emprego do MTA como plug apical nica-1 com o hidróxido de cálcio na formação de
Dos exce lentes res ultados obtidos por tecido duro em dentes de cães com rizogênese
Holland et al. 189 e Holland et al.1 82 empregando o incompleta. Notaram que o MTA produzia bar-
MTA em obturações de canais radiculares, mes- reiras de tecido duro com mais consistência que
mo sem apresentar características físicas ideais, os demais. No entanto, quanto à quantidade de
pode se vislumbrar daquele estudo a sua utiliza- barreiras, não houve diferenças significativas en-
ção corno plug apical, principalmente para aque- tre eles.
les casos onde se torna impraticável a adaptação
adequada do cone de guta-percha principal. Esse Aplicação Clínica
procedimento encontra embasamento nos re - Em casos de dentes necrosados, após a reali-
sultados dos referid os autores, pois como de- zação do curativo de demora e irrigação para re-
monstraram, o MTA entrando em contato com moção do mesmo, seca-se o canal radicular e
os tecidos periapicais estimulou a presença de procede-se à imediata colocação do MTA. O ma-
selarnento biológico junto ao fora.me principal terial será inserido na região apical com o em-
em praticamente todos os espécimes analisados. prego de instrumentos especiais (porta -amálga -
Torabineja d & Chivi an 445 assim como Titlle et ma de ponta fina, ou 1\11.AP SYSTEM®) ou m es-
a/.4 4 2 também indicam a realização do plug apical mo levado com auxílio de instrumentos endo-
no sentido de induzir a formação de uma barrei- dônticos de ponta romba, condensadores (plu-
ra de tecido duro, prevenindo assim a extrusão ggers) ou cone de papel. O material deve ser colo-
de material obturador em casos de obturação de cado numa extensão de até três mm e seu limite
dentes com rizogênese incompleta. Shabahang et apical comprovado por exame radiográfico. Se-
al. 389 realizaram um estudo comparativo para ve- gundo Torabinejad & Chivian 445, sobre o MTA
rificar a eficiência do MTA e a proteína osteogê- deve ser colocado uma bolinha de algodão úmi-
CIRURGIA PARENDOOÔNTICA: COMO PRATICÍH.. A COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
da pelo período de 3 a 4 dias, protegida por sela - ma cacos ao MTA e amálgama de prata. Após o
mento coronário, quando então se procede .ª ob- período de cinco m eses os autores notaram que
turação definitiva do canal radicular com cime n- dos seis espécim es an alisados com o MTA, cinco
to obturador e cones de guta-percha. apresentaram t ecido conjuntivo adj acente ao
Particularmente, para prevenir o extravasa- material isento de processo inflamatório e uma
mento do MTA durante a sua colocação em casos barreira completa de cemento depositado sobre
de forames dilatados, como ocorre em dentes ele. Esses resultados contrastarn com os do amál-
com rizogênese incompleta, procede-se à coloca- gama de prata, pois não ocorreu nenhum sela -
ção de u ma base apical de hidróxido de cálcio, mento e em todos os espécimes havia presença
junto aos tecidos periapicais. Podem.os realizar de processo inflamatório.
essa manobra de duas maneiras. Uma delas seria Da mesma forma Bernabé et al.58 , utilizando
empregando o hidróxido de cálcio a con dicionado dentes de cães com canais contaminados, realiza-
em tubetes de anestésicos (fórmula Endo-FOA, ram obturações retrógradas com o OZE consis-
1968). Com auxílio de uma seringa carpule e tente, IRM®, Super EBA® e o MTA. Decorridos
agulhas gauge 27, deposita-se uma pequena por- cento e oitenta dias, as análises histopatológicas
ção do material na região apical, acamando-o revelaram resultados semelhantes entre os mate-
com pontas de papel absorvente e comprovando- riais estu dados, com exceção do cimento de OZE
se a sua adaptação através do exame radiográfico consistente que apresentou piores resultados, e
(radiopacidade semelhante a da dentina). Em se- que foi atribuído ao fato desse grupo apresentar
guida o MTA é colocado conforme já descrito maior incidência de detritos. Nesse trabalho pôde
acima, com menores riscos de sobreobtura çã o. ser observado qu e o MTA foi o único material
O hidróxido de cálcio também pode ser leva - retrobturador utilizado que estimulou a deposi-
do à região apical em forma de pasta, m isturan- ção de tecido cementário em íntimo con tato,
do-se o pó de hidróxido de cálcio com soro fisio- proporcionando a obtenção do chamado "sela-
A lógico ou propilenoglicol e adicionando-se pe- mento biológico" (Figuras 16.145 e 16 .146), a
' quena porção de iodofórmio que lhe confere sem elhança do que foi relatado por Torabinejad
melhor radiopacidade. Com o auxílio de uma et ai. 448 e Torabin ejad et al.443 .
broca lentulo essa pasta é introduzida n o interior Com o propósito de estudar o comporta-
do canal radicular, na região apical, removendo- mento dos tecidos periapicais de dentes de cães
se posteriormente o excesso da mesma com li- submetidos à obturação retrógrada convencio-
mas e cones de papel úmido. Em seguida proce- nal, Bernabé et al. 41 investigaram a influência do
de-se a colocação do MTA, formando um tampão tipo de preparo apical (retrocavidades tipo classe
apical, aos moldes da maneira já descrita. 1) realizadas com o auxílio de broca rotatória ou
• 1
com ponta ultra-sônica para retrocirurgia. Essas
Emprego do MTA em Cirurgias Paren- cavidades apicais foram retrobturadas com o
dodônticas MTA e o cimento de OZE consistente. Os resu lta-
Estudos realizados por Pitt-Ford et al. 348 , em dos foram analisados cento e oitenta dias após,
dentes de cães empregando o amálgama de prata revelando mais uma vez a superioridade do
e o MTA, após períodos de 1O e 18 semanas, MTA, do ponto de vista biológico, como material
demonstraram que sobre o MTA havia formação retrobturador. Observou-se que ele foi o único
de tecido du ro assim como maior deposição de que estimulou deposição de tecido cementário
tecido ósseo adjacente a ele. Torabinejad et a l.448 em íntimo contato com o material selador,
também estudaram a resposta biológica dos teci- independentemente se as retrocavidades fossem
dos p eriapicais de dentes de cães após apicecto- preparadas com brocas ou ultra-som (Figuras
mia e obturação retrógrada com MTA. Notaram 16.174 e 16.175) . Considerando os resultados
que o cemento neoform ado era depositado não gerais os au tores ordenaram os rn.ateriais do me-
!: só sobre a dentina exposta pelo seccionamento lhor para o pior da seguinte forma: retrocavida-
r apical, como também sobre o material em estu- des com ultra -som e retrob tura das com MTA;
do, caracterizando um resultado satisfatório . Re- retrocavidades com broca e re trobturadas com
) sultados considerados eficientes também foram MTA; retrocavidades com ultra -som e retrobtu-
obtidos por Torabinejad et al. 44 3, que examinaram radas com OZE consistente; retrocavidades com
a resposta dos tecidos periapicais de dentes de brocas e retrobturadas com OZE consistente.
CltNCIA ENDODÔNTICA
·;
Recentemente foi desenvolvido um experi- para posteriormente fazê-lo com condensadores j
mento por Bernabé et al.11, onde os autores reali- mais calibrosos. Ao final, um ligeiro brunimento _:-_,;
zaram um estudo comparativo entre o MTA e o da superfície do material é realizado com a ponta ·\
Cimento Portland (Cimento Itaú®) empregando- de um aplicador para Dycal ou brunidor odon - .-·
os em retrocavidades preparadas com o ultra- topediátrico, exercendo uma ligeira pressão ver- i··
som. Puderam observar resultados semelhantes tical e lateralmente de encontro às paredes da
entre os dois tipos de materiais, caracterizados cavidade apical. O emprego do ultra-som tam-
também pela deposiçã o de tecido do tipo cemen- bém pode ser acionado para auxiliar na conden-
tário sobre eles, além de apresentarem, na maio- sação do material, a exemplo do que já foi des-
ria dos espécimes analisados, reparo dentoalveo- crito . Nesse momento nenhuma manobra para
lar completo (Figuras 16.176 e 16.177). irrigação da loja deve ser efetuada, devido aos
riscos do material ser removido. Segue-se a colo-
Aplicação Clínica cação de uma "capuz" de hidróxido de cálcio re-
Após contenção da hemorragia e secagem cobrindo a superfície dentinária e o cimento re-
das cavidades apicais com cones de papel, proce- trobturador (Figura 16.179). Esse capuz é em-
de-se a colocação do MTA. Sua inserção deve ser pregado com o objetivo de diminuir a magnitude
feita preferencialmente com instrumentos ade- da reabsorção dentinária que usualmente ocorre
quados como um porta-amálgama de metal de após a s apicectomias40• 5 u 2 _ Procede-se ao final o I
ponta pequena (Figura 16.1 78) ou então com o preenchimento da loja óssea com h emorragia
MAP SYSTEM. Com a p onta desse instrumento provocada ou, quando indicado, a colocação de
próximo à entrada das retrocavidades, o MTA é um implante ou enxerto ósseo associado ao em- 1
colocado suavemente, realizando-se a sua conden- prego de membrana ou barreira.
sação com calcadores especiais do Kit Bemabé 51 A avaliação radiográfica final, ou seja, logo
(Figuras 16.32 e 16.33). Para efeito prático e após a colocação do cimento e do "capuz" é I
evitar a formação de bolhas durante a inserção necessária, assim como a sua proservação, no .
do MTA, essa operação deve ser feita por partes, sentido de se comprovar a eficiência da opera -
ou seja, colocação de pequenas porções por vez e ção imediata e a longo prazo (Figuras 16.180 a ~
sua condensação, no início, com calcadores finos, 16.185).
Retrocavidade preparada com broca em dente de Retrocavidade preparado com ultra-som em dente
cão e retrobturada com MTA - 180 dias. Observar repa- de cão e retrobturada com MTA - 180 dias. Reparo
ro dentoolveolor completo. Extensa deposição de teodo completo com o tecido ósseo próximo ao material
cementário em contato com o MTA. Ausência de proces- retrobturador. Cemento neoformodo recobre o dentina
so inflamatório no periodonto apical (H.E. 40XJ. desnuda e o próprio MTA (H.E. 40XJ.
CIRURGIA PARENOOOÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA COM EMBASAMENTO CIENTÍFICO
• FIG. 16:f16 __ _
Retrobturoção com MTA em dente de cão - 80 dias. Retrobturação em dente de coo com Cimento
Reparo dentoa/veolar caracterizado por neoformação ós- Portland - 180 dias. Ligamento periodontal tecido ósseo
sea, reinserção de fibras periodontois, cemento e cemento neoformado em íntimo contato com o mate-
neoformado sobre a dentina e o material retrobturador. rial retrobturador. Preparo de retrocovidode com o ultra-
Preparo de retrocavidade com o ultra-som (HE. 40XJ. som (H.E. 40X).
• FIG. 16.180
Lesões periapicais envolvendo
ápices dos dentes 11, 21 e 22.
Retrotamento endodôntico do 21
com ligeiro extravasamento e indi-
cação de oi-urgia parendodôntica
obragendo todos os dentes.
• FIG. 16.181
Retrobturação do 11 com
ProRoot® M TA e os demais com o
1 Seolopex consistente. Controle
I
radiográfico 3 anos depois, eviden-
ciando reparo do ponto de vista clí-
nico-radiográfico.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
5.6. MTA: produtos disponíveis no 20% de óxido de bismuto, produto que lhe confe-
mercado re radiopacidade, e 5% de gesso. A embalagem
pode conter um ou dois envelopes de lg do pro-
Co nforme j á m e ncionado o mercado duto, além de uma seringa aplicadora e três pe-
odontológico dispõe de dois produtos de Agregado quenas bisnagas contendo água destilada.
Trióxido Mineral (MTA), o ProRoot®-MTA Cinza e O MTA-Ângelus® foi lançado no mercado
Branco (Figura 16.187A, B) e o MTA-Ângelus® brasileiro e fabricado pela Ângelus Odonto-Lógi-
(Figura 16.188), todos de coloração cinza. O pri- ka Ind. de Prod. Odontológicos Ltda com sede
meiro foi lançado no comércio americano pela em Londrina, PR, contendo em sua composição
Dentsply. Segundo o fabricante ele é composto 80% de cimento Portland e 20% de óxido de
aproximadamente de 75% de cimento Portland, bismuto. Portanto, o produto nacional não pos-
CIRURGIA PARENDODÔNTICA; COMO PRATICÁ-LA COM EM BASAMENTO CIENTÍFICO
sui em sua fórmula o sulfato de cálcio (gesso), tico, que não cria pontes dentre as partículas de
segundo o fabricante com o propósito de reduzir cimento, causando p ega (presa) instantânea. A
o tempo de presa, que se dá em 10 minutos, embalagem do MTA-Ângelu s® contém um frasco
minimizando os riscos de dissolução no local com duas gramas de MTA e uma pequena bisna-
aplicado . Segundo o fabricante, quando não se ga contendo água destilada, além de um dosador
coloca gesso se forma hidrato de aluminato espá- de plástico para dispensar o pó.
llmsuper
tratamento para
acíde.ptes e
complrcafúes
endodõ111icas.
- FIG. 16.183.
Embalagem comercial do MTA-Ângelus®
(Â.ngelusJ.
1
;
C IÊNCIA ENDOOÔNTICA
,.,-·--·-·••••"••···~ · -·•~·•-•w•-·---·-----••""'-'"''""-"""'"·"'"'"'º"_'_'"'w,,-o•--•-"•"""·•·•·--•·•-••••••" '"""·---i
..,
r·
•.
Ambos fabricantes de MTA fazem considera- gundo o fabricante do MTA-Ân gelus® n ão é ne-
ções simílares sobre a composição do produto, cessário aguardar que ocorra o endurecimento
assim corno as precau ções que se devem obser- do m esmo para se da r continuidade aos procedi-
var com a manipulação do produto tais como : mentos seguintes, pois uma das importantes ca-
após abrir as embalagens e retirada do pó, estas racterísticas do produto é a melhoria de suas
devem ser fechadas imediatamente e bem guar- propriedades em ambiente úmido.
dadas para evitar contato e degradação com a O fabricante do ProRoot® MTA recomenda
umidade. que ele, quando colocado em perfurações intrar-
Segundo o fabrican te do ProRoot®, a adição radiculares, não seja aplicado acim a do nível do
de líquido em excesso ou insuficiente p ode dimi- osso da crista alveolar devido ao fato do material,
nuir a resistência do p roduto. O líquido deve ser pela natureza de seus componentes, apresentar
incorporado gradualmente ao pó, misturando-os tendência para descolorir o dente.
por um minuto para garantir que todas as partí- Con cluindo, queremos crer que a introdução
culas do pó estejam hidratadas e assim obter do MTA na Odontologia constituiu -se num gran-
uma pasta de consistência espessa e cremosa. de avanço, p rincipalmente para solucionar o an-
Seu endurecimento a contece ao longo de um gustiante problema das trepanações radiculares e
período de quatro horas, m as o tempo de manu- as perspectivas de seu emprego em Odontopedi-
seio é de apenas cinco minutos . Todos os proce- atria. As outras aplicações tais como obturações
dimentos clínicos subseqüen tes, segundo o fabri- de canal de dentes com ou sem rizogênese in-
cante só podem ser realizados no mínimo quatro compl e ta , proteção direta da polpa d ental
horas após . Recomenda -se para isso a colocação (capeamento e pulpotomia) e mesmo as retrob-
de uma bolinha úmida sob re o MTA e agua rdar turações, constituem situações clínicas qu e vem
esse tempo mínimo, quando então o profissional sendo solucionadas de m odo satisfatório com
deve verificar se ele endureceu. Caso contrário, outros materiais. No entanto o êxito obtido com
afirmam ser necessário repetir a operação. Quan- esses outros materiais junto à polpa e tecidos
to ao MTA-Ângelu s®, esclarecem que o tempo de periapicais não vinha sendo reproduzido no caso ,
endurecim ento atualmente, sem adiçã o de gesso, de trepanações radiculares. O MTA, portanto, /
é de 1O minutos. Recomendam um tempo de preench e essa lacuna, além de ter utilidade em
trinta segundos pa ra espatulação do pó com o outras aplicações como já foi demonstrado e dis-
líquido antes de levá-lo ao local de ação. Se- cutido ao longo deste capítulo.
• REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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J 1999; 32: 197- 20 3. K Nagahama F, Yamasaki M . Clinica] study of re-
TRAUMATISMO
DENTÁRIO
• INTRODUCÃO
,
mente quando comparados aos inúmeros estu- cermos a etiologia dos traumatismos dentários,
dos de cárie e doen ça periodontal. As pesquisas os programas de prevenção e controle são reali-
no campo dos traumatismos dentários se con- zados de forma isolada e não causam o impacto
centraram basicamente nas questões biológicas e necessário para a real solução do proble -
nas alternativas de tratamento, enfatizando prin- ma11.12·13·14·99·1º6. Ü PROJETO DE EXTENSÃO, PESQUISA E
cipalmente as novas técnicas restauradoras dos ENSINO TRAUMATISMO DENTÁRIO da Faculdade de
dentes fraturados e novas alternativas para se Odontologia da UFMG vem se empenhando em
evitar a reabsorção radicular dos dentes reim- divulgar o tema junto à comunidade (Figuras
plantados6. Entretanto, n os últimos anos os Epi- 17 .1 a 17 .3) . Aliado à alta prevalência encontra -
demiologistas têm se preocupado com a n ecessi- se o alto impacto p sicossocial causado pelo com-
dade de se realizar levantamentos que permitam prometimento estético de incisivos centrais supe-
avanços no sentido de prevenir as conseqüências riores fraturados, dada a importância destes den-
desastrosas dos traumatismos dentários. Nos paí- tes na aparência da face 30 . O trauma psicológico
ses em desenvolvimento ainda existe muito que que se segue a uma fratura é, em muitos casos,
se fazer para o controle da doença cárie. Sendo subestimado e, às vezes, inteiramente ignorado.
assim, pouca importância vem sendo atribuída A tomada de consciência de "SER DIFERENTE",
ao p roblema de traumatismo dentário entre crian- a crítica a que a criança se expõe e o desaponta-
ças e adolescentes, embora os trabalhos publica- m ento da família diante da questão estética são
dos até o momento demonstrem uma alta preva- suficientes para causar mudanças de ordem emo-
lência (Quadros 17 .1 a 17.6). Apesar de conhe- cional em muitas crianças97 .
Quadro 17.1
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR AFRICA ("AFRO")
Quadro 17.2
PREVALÊNCIA DE LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR THE AMERICAS ("AMRO"J
Quadro 17.3
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR EASTER MEDITERRANEAN("EMRO"J
Quadro 17.4
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR EUROPE ("EURO "J
Quadro 17.S
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NOS PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR SOUTH EAST ASIA-"SEARO"
Quadro 17.6
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE NO S PAÍSES
DA REGIONAL OFFICE FOR WESTERN PACIFIC- ("WPRO "J
.,
t País (Cidade) Autor Faixa etária Amostra Prevalência(%)
' ;;:;:· 1
Maria lima de Souza C6rtes
,rvclWf!O·N '
J uliana Vilela Bastos
• . FIG. 1'1.1 _
Cartilha "E se m eu dente quebrar?". Material
educativo para orientação nas escolas sobre os pnineiros
socorros em coso de acidentes que envolvam
traumatismo dentário TRAUMATISMOS
DENTÁRIOS
Juliana V ilela Bast 05
Maria llm3 de Souza Côrtes
uFM. G FACULDADE DE
ODONTOLOGIA
CENTRO DE EXTENSÃO
"Manual para professores e agentes multipli-
cadores'~ Contém sugestões para que os professoras pos- 1
som realizar atividades com os crianças, inserindo-os nos
Traumatismos Dentários conteúdos curriculares e com os pais, por ocasião dos
reuniões escolares.
J !..._
TRAUMATISMO DENTÁRIO
,
r • GRÁFICO 11,1
)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Pelos motivos citados anteriormente é p reci- (P<0 ,0 01 ) (Gráfico 17.3 ) que tiveram mais
so cuidado ao se tentar estabelecer uma tendên - chance de apresentar lesão traumática do que
eia mundial através da observação dos resultados crianças do sexo feminino com um odds ratio de
de prevalência publicados em traumatismo den- 1,74 (IC 95 %= 1,41-2,16 ) (Quadros 17.18).
tário. As diferenças reportadas nestes estudos po- Dentre as 448 crianças que apresentarem alguma
dem ser devidas às condições socioculturais pe- evidência de traumatismo na dentição perma-
culiares a cada população e que irão influenciar nente, a lesão mais freqüente foi a fratura de
sobremaneira a exposição e susceptibilidad e às esmalte, seguida da fratura envolvendo dentina.
lesões tra umá ticasº7,os,16, 19,24,29, 32,33,37 ,38,43,44,45.5 1, 53,5 5, A maioria das crianças que receberam tratamen-
57,58,59,60,62,63,67,68, 70, 72, 7 6, 79,8 l , &4,85,86,87,92, 93, 10 l , l 02, l 03 , 104, l 0 5, 109, l 10
to em decorrência de lesões traumáticas apresen-
No levantamento realizado por Côrtes et tou restaurações estéticas com resina composta
al.29, a prevalência de lesões traumáticas variou (Gráfico 17.4). Os dentes mais afetados foram
de 8 % em crianças de 9 anos de idade até 16, 1 % os incisivos centrais superiores, não havendo di-
em crianças de 14 anos de idade (P<0,00 1) (Grá- ferença entre o lado direito e esquerdo, sendo
fico 17.2). Para todas as idades a prevalência foi que a maioria das crianças apresentou apenas
maior entre crianças d o sexo masculino um dente afetado. (Gráficos 17.5 e 17.6).
• GRÁFICO 17.2 .
/
TRAUMATISMO DENTÁRIO
• GRÁFICO 17.6
J
CIÊNCI A ENDODÔNTICA
- -- ---------------------------------------------·-·---
Quadro 17.18
DISTRIBUIÇÃO DA FREQÜÊNCIA E REGRESSÃO LOGÍSTICA SIMPLES E MÚLTIPLA DE STATUS
SOCIOECONÔMICO, MEDIDA DE OVERJET, PROTEÇÃO LABIAL E IDADE NA PRESENÇA
DE LESÃO TRAUMÁTICA DENTRE ESCOLARES DE BELO HORIZONTE-BRASIL (N=3461)
Status Socioeconômico
Baixo 264 (10,60/o) 2236 (89,40/o) 1 1
Alto 149 (15, 5%) 812 (84,50/o) 1,55 (1,25-1,92)*** 1,43 (1,15- 1, 79)**
Overiet
s 5 mm 281 (10,4%) 2432 (89,6%) 1
> 5 mm 132 (17,60/o) 616 (82,40/o) 1,85 (1,48-2,39)*** 1,37 (1,06-1,80)*
Proteção Labial
Inadequada 175 (17,90/o) 801 (82,1 O/o) 1 1
Adeguada 238 (9,6%) 2247 (90,40/o) 0,48 <0,39-0,60)*** 0,56 (0,44-0,72)***
Sexo
Feminino 167 (8,90/o) 1700 (91,1 O/o)
Masculino 246 (15,40/o) 1348 (84,60/o) 1,85 (1,51-2,29)*** 1,74 (1,41 - 2,16)***
1
Aj ustado para todas as variáveis listadas acima
*** P<0,001; ** P<0,01; * P<0,05
CLASSIFICACÃO DO S
TRAUMATISMOS DENTÁRIOS
Vários critérios de diagnóstico têm sido utili- nárias. Não é apropriada ao exame em "campo",
zados para estabelecer a prevalência das lesões uma vez que para o diagnóstico da Classe IV que
traumáticas na den tição permanente trazendo indica ausência de vitalidade pulpar há necessi-
certa dificuldade p ara a comparação dos resulta- dade da realização de provas de vitalidade e exa-
dos clínicos e epidemiológicos já que cada autor m e radiográfico. De forma semelhante, é neces-
adota os de sua preferênciaº6,1 s.2, ,3s.4s.63.1s.ss.102.103 . sária uma tomada radiográfica, de preferência,
A classificação de Ellis & Davey 35 se baseia no momento do acidente, para se realizar o diag-
em um sistema n umérico de Classe I a VIII que nóstico de Classe VI, fratura radicular e Classe
descreve a extensão anatômica da lesão e utiliza VII, deslocamento do dente. Não existem crité -
termos subjetivos como "fratura simples" e "fra- rios para classificar os tratamentos realizados em
tura extensa" den tre outros. Tem sido largamen- decorrência das lesões traumáticas nem tampou-
te utilizada em levantamentos epidemiológicos, co as seqüelas das mesmas, como mudança de
mas se limita ao diagnóstico de fraturas coro- coloração, fístula e edema (Quadro 17 . 7).
TRAUMATISMO DENTÁRIO
·------~~·--------- - - - - - - - - · - - -
·,
Quadro 17.7
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
Código Critério
Quadro 17.8
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
N 502.54 Fratura corono-radicular não complicada Fratura envolvendo esmalte, dentina e cemento,
sem exposição pulpar
Quadro 17.9
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
N 503.21 Luxação Intrusiva (deslocamento central) Deslocamento do dente para o interior do alvéolo. Esta
lesão é acompanhada de cominução ou fratura do
alvéolo
Nos levantamentos epidemiológicos conduzi- sua utilização em 1993 (Quadro 17.12). As modi-
dos no Reino Unido, foi adotado um índice desen- ficações realizadas ao longo destes três levanta-
volvido pelo Department of Dental Health - University mentos pemútem que hoje o índice seja aceitável
of Birmingham Dental School e Department of Child para emprego em levantamentos epidemiológicos. I
Dental Health - University of Newcastle Dental School A exclusão do critério "deslocamento" o torna mais
, º·
85 1 2 103
• Após sua primeira utilização pelo National aplicável a este tipo de estudo, uma vez que a iden-
Child Dental Health Survey em 1973 (Quadro 17.10) tificação de tal lesão deve ser realizada com o auxí-
o índice foi modificado com a exclusão do critério lio de radiografias e, de preferência, o exame clíni-
"deslocamento" e inclusão dos critérios "restaura- co deve ser realizado em momentos subseqüentes
ção com resina composta" e "prótese para substi- ao acidente, quando os sinais e sintomas ainda es-
tuição de dentes perdidos por trauma", que foi en- tão presentes. Acrescentar os critérios para restau-
tão utilizado no levantamento de 1983 (Quadro rações realizadas em decorrên cia de lesões traumá-
17.11). Pequenas modificações foram feitas para ticas permite identificar maior número de casos.
Quadro 17.10
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
Quadro 17.11
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
Todd & Dodd (1985): Children's Dental Health in the United' Kingdom
Quadro 17.12.
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
Garcia-Godoy (1981)
Naqvi & Ogidan 78 propuseram um mé todo classes apresentadas . A definição de mudança '
para o diagn óstico de lesões traumáticas que de coloração da coroa e/ou presença de fístula
segu ndo eles poderia ser utilizado em levanta - nas lesões de con cussão, luxação e desloca -
m entos epidemiológicos por ser simples, rápido m ento é imprópria, uma vez que estas seqüelas
I
e não n ecessitar de equipam entos sofisticados podem ocorrer também em outros tipos de le·
de diagnóstico. De forma semelhante à classifi- são e não apen as nestas a que se referem os
cação de Elli s & Davey 35 , o siste m a numérico autores. Nesta classificação o tratam ento das
para descrever a extensão anatômica da lesão lesões traumáticas n ão foi considerado (Qua-
dificulta ao e xaminador a memoriza ção das 8 dro 17.14) .
Quadro 17.14
CR ITÉRI OS DE DIAG NÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
o índice proposto pelo NATIONAL INSTITUTE OF considerada como lesão pulpar não tratada,
DENTAL RESEARCH (NIDR) 15 foi utilizado na primeira embora a melhor forma de se certificar de tal
fase de coleta dos dados de exame bucal do NA - diagnóstico seja através da prova de vitalidade
TIONAL HEALTH & NUTRITION EPIDEMIOLOGICAL SURVEY pulpar. Andreasen et al.º1 reportaram que o es-
(NHANES III) em uma amostra de indivíduos curecimento da coroa em traumatismo dentário
de 6- 50 anos de idade nos Estados Unidos63 • também se deve a eventos de cura, a exemplo
Nesta classificação, o critério denominado "re- da obliteração do canal radicular que se instala
paro pulpar" requer a verificação da presença mesmo em presença de polpa vital. Além disto,
de restauração lingual como sinal de tratamento um escurecimento transitório pode ocorrer
endodôntico, além de ser necessária uma con- como resultado de hemorragia pós-traumática
firmação de h istória de trauma pelo examinado. que se segue imediatamente a uma lesão por
O critério não é aplicável, uma vez que a forma luxação. Sendo assim a mudança de coloração
correta de se certificar da existência de trata- pode ser considerada com o sinal de lesão trau -
mento endodôntico, deveria ser uma tomada mática, mas nem sempre é indicativa de lesão
radiográfica . A coloração escurecida da coroa foi pu lpar (Quadro 17.15).
Quadro 17.15
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
National Institute of Dental Research (NIDR) (1989) índex; NHANES III (1996)
Como se pode observar, para que algumas Sendo assim, muitos levantamentos epidemio-
classificações descritas acima sejam utilizadas na lógicos se limitaram à descrição de sinais visuais das
íntegra, devem ser realizados os exames clínico e lesões traumáticas, principalmente fraturas coroná-
radiográfico, que não se aplicam a levantamen- rias08-16, enquanto outros identificaram seqüelas tais
tos epidemiológicos. Apesar disto, são indicados como mudança de coloração da coroa 37•36•63·8 5, 102- 1º3
para tal por parte de seus autores06·35.45-78 . Os es- e dentes perdidos devido ao trauma 29- 32 ·37·63·64•75 •6 5·
87• 1º2· 103, lll , Tratamento realizado em decorrência de
tudos de base populacional que utilizaram tais
classificaçõ es precisaram adaptá-las ou utilizá-las trau1na como coroas, restaurações e tratamento
apenas parcialmente. Outros índices se mostra - endodôntico foram incluídos em alguns estudos
{ ram mais apropriados para o exame em "cam- de base populacional37-53-57 ·6 u 5· 102 . Apesa r de total-
po", podendo ser utilizados na íntegra sem a n e- mente inadequado por necessitar exames comple-
; cessidade de exames complem entares. Os resul- m entares, o diagnóstico de concussão, luxação e
tados dos dados coletados através destes índices deslocamento foi realizado em alguns estudos epi-
foram comparáveis entre si1 5·29 ·63-85· 1º3. demiológicos42.43.44.4s.s,.s6.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA ..
~
I
Quadro 17.16
CRITÉR IOS DE DIAGNÓSTICO DA LESÃO TRAUMÁTICA DENTÁRIA
COM FINALIDADE EPIDEMIOLÓGICA
Côrtes (2000)
TRAUMATISMO DENTÁRIO
Quadro 17.17
PREVALÊNCIA DAS LESÕES TRAUMÁTICAS NA DENTIÇÃO PERMANENTE DE 3702 ESCOLARES,
D E 9 A 14 ANOS DE IDADE, UTILIZANDO DIFERENTES CLASSIFICAÇÕES; BELO HORIZONTE, BRASIL
Classificações
Idade Amostra Ellis & Todd Garcia- Todd & Bhat Naqvi & Andreasen O'Brien Kaste Côrtes
(anos) total (n) Davey Godoy Dodd et al Ogidan & et al
Andreasen
(1970) (1975) (1981) (1985) (1989) (1990) (1994) (1995) (1996) (2000)
Prevalência (O/o)
9 578 5,9 6,1 6,4 7,6 7,3 5,9 6,4 7,6 7,3 8,0
10 573 6,6 7,5 6,8 8,9 8,7 6,6 6,8 8,9 8,7 9,1
11 608 8,6 9,2 8,6 10,5 10,4 8,6 8,6 10,5 10,4 10,5
12 649 10,9 11,7 11,2 12,8 12,8 10,9 11,2 12,8 12,8 13,6
13 722 12,0 13,3 12,3 14,5 14,5 12,0 12,3 14,5 14,5 14,7
14 572 9,3 11,2 9,6 15,6 15,6 9,3 9,6 15,6 15,6 16,1
No que diz respeito à proteção labial a gran- levantam ento de Côrtes et al. 2001 29.: crianças
de variedade de medidas adotadas p ara definir a que apresentavam proteção labial adequada ti-
posição do lábio em relação aos dentes anteriores nham 0,56 (IC 95% = 0,44-0, 72) menos chance
dificulta as comparações. Forsberg & Tedestam 39 de apresentar lesão traumática quando compara-
afirmaram que ao se de terminar a proteção la- das a crianças com p roteção labial inadequada
bial, deve ser observada a extensão dos dentes (Quadro 17. 18). Para todas as idades foram ob-
coberta pelos lábios superiores. A maioria dos servadas diferenças (Gráfico 17.8). Baseado nes-
/
autores considerou proteção adequada para as tes achados aconselha -se uma atenção especial
crianças cujos lábios cobriam com ple tam ente na in dicação de tratamento ortodôntico, pois um
os dentes su periores em posição de repou- dos riscos relacionados a maloclusão é a lesão
so21,29A7.54·68·69·77·88·93. Uma associação estatistica- aos dentes e tecidos circunvizinhos em crianças
mente significativa foi encontrada entre a prote - com overjet muito acentuado, principalm ent e
ção labial e a presen ça de lesão traumática no quando a proteção labial é inadequada100 .
T RAUMATISMO OENTÁRIO
CONSIDERACÕES
, GERAIS cessárias 1º. Na realidade, a sua atuação deve se
iniciar já durante o primeiro contato telefônico
As lesões traumáticas têm representado um com o paciente, ou mais freqüentemente, com os
pesafio freqüente na clínica odontológica e devi- pais ou responsáveis. É fundamental que neste
do à natureza aguda, devem ser sempre conside- m omento sejam repassad as instruções relativas
radas como uma urgência. Estudos clínicos têm aos cuidados imediatos, tais como: orientações
demonstrado que estas lesões representam uma para um reimplante ou reposicionamento do ele-
idas causas mais comuns de procura dos serviços mento dentário, manuseio e meio de armazena-
de pronto atendimento 03•59· 1º7 · 124 . mento de dentes avulsionados, localização e ar-
A abordagem inicial do paciente tem papel mazenamenLo de fragmen tos. Em seguida, é im-
decisivo no sucesso do tratamento das lesões prescindível realizar uma avaliação clínica o mais
traumáticas, fato que confere uma grande res- rápido possível. Mesmo lesões dentárias que não
ponsabilidade ao profissional que presta este necessitem um tratamento imediato, podem re-
atendimento. Entretanto, segundo Barret & querer uma intervenção para alívio da dor ou
Kenny2 4, não estando habituado situações de ur- controle de quadros hemorrágicos e lesões de te-
gência numa área que está fora da sua prática cido mole. Por outro lado, o clínico deve ser ca -
rotineira, o clínico se baseia em suas raras expe- paz de reconhecer e encaminhar para um aten-
riências prévias para solucioná-las. Hamilton et dimento hospitalar, quadros que envolvam com-
al. 68 também concluíram que cirurgiões-dentistas prometimento neurológico, fraturas dos ossos da
envolvidos na atenção primária, apresentavam face e grandes lacerações de tecido mole.
1 um nível de conhecimento insuficiente para tra- Sendo assim, para que o atendimento de ur-
i"' tar as urgências em traumatismos dentários. gência seja adequado o profission al deve estar
1 Cabe ao profissional coletar um conjunto de atento à epidemiologia dos traumatismos dentá-
/ rios - sua prevalência, distribuição e suas impli-
informações subjetivas e clínico-radiográficas
que permitam identificar os vários componentes cações clínicas e psicossociais. É preciso também
da lesão para definir as medidas terapêuticas ne- conhecer a histopatologia das lesões traumáticas
818 CIÊNCIA ENDODÔNTICA
--------------------------------------·---------·-------------------'
.
e suas seqüelas. Finalmen te, mesmo que não Cabe ao profissional atuar em comuni -
29.4 2, 110 , 121 . <;
exista um consenso que contemple todos os as- dades específicas para motivar e orientar ativida- .:.(_-__
pectos envolvidos nas urgências, o clínico precisa des de educação em saúde que norteiem a aqui- "\
estar a par da evolução dos recursos terapêuticos sição de tais conhecimentos. A correta atitude ~:
disponíveis. É importante ressaltar ainda, que das p essoas leigas, em relação aos primeiros so- ,.,
nenhuma lesão traumática deve ser abandonada corros constitui fator importante no momento do
ao seu próprio curso. Após o atendimento de acidente. Um reimplante imediato ou o transpor-
urgência todos os casos devem ser acompanha- te em meio de conservação adequado, podem
dos a médio e longo prazo . SALVAR UM DENTE4,5,14,34,36,44,54,56,74,83,s5,96,1 15,122,125.
Essas considerações se to rnam particular- Da mesma forma, a colagem do fragmento - um
mente importantes num momento em que se procedimento tão aconselhado atualmente - só é
observa uma preocupação da classe odontoló- possível se o mesmo for localizado e transporta-
gica com o crescente número de processos do adequadamente ao local do atendimento de
contra cirurgiões -dentistas como muito bem urgência. Nas lesões que envolvem deslocamen-
ressaltou Ramos99 : "A evolução científica da tos dentários, o reposicionamento imediato pelo
Odontologia possibilita melhores probabilida- próprio acidentado ou por pessoas presentes ao
des de suc~ssos na terapêutica. Porém esta local do acidente pode ser importante para o
mesma evolução nos ensina que os bons resul- prognóstico.
tados terapêuticos dependem de múltiplos fa -
tores para o seu sucesso. Alguns deles são, sim, AVALIACÃO NEUROLÓGICA
de responsabilidade dos profissionais. O profis- • INICIAL,
sional deve se empenhar em não ser negligen-
te, isto é, não deixar de efetuar todos os proce- O exame do paciente deve se iniciar a partir
1
dimentos preconizados. Não deve ser impru- do momento em que o mesmo adentra o consul-
dente, isto é, afoito, precipitado, devendo pla- tório odontológico visando observar sinais como.
nejar com critério seus tratamentos; nem im- dificuldade de locomoção e equilíbrio, que po -,'
perito, isto é, re alizar procedimentos clínicos dem significar comprometimento neurológico.~
para os quais não esteja tecnicamente prepara- Além disto, outros sinais e sintomas devem ser
do, sem ter bom d omínio das técnicas. Se algu- avaliados: confusão mental, reação pupilar anor-
ma destas situações ocorrer se concretizará a mal, presença de sangrarnento ou fluido claro no
culpa do profissional. no sentido jurídico da ouvido e no nariz, história de vômitos, náuseas,
palavra." Esta afirmação nos chama a atenção dores de cabeça. A constatação de comprometi-
para o fato de qu e no atendimento de urgên- mento neurológico deve ser considerada como
cia, o profissional desempenha um papel chave prioridade em detrimento de qualquer lesão
na determinação do sucesso do tratamento. traumática, mesmo que esta seja uma avulsão
Sendo assim, deve ter um conhecimento am- dentária ou fraturas alveolodentárias e de outros
plo de todas as Áreas da Odontologia para que ossos da face.
possa realizar corretamente o diagnóstico e de-
terminar prontamente o planejamento de tra- EXAME SUBJETIVO
tamento mais adequado. Segundo Dewhurst 55
um diagnóstico correto e imediato além de um A anamnese durante o atendimento de ur-
atendimento emergencial apropriado, irão evi- gência dos traumatismos dentários é sucinta e
tar que esta população de pré -adolescentes es- dirigida para obter informações específicas perti-
teja perdendo seus incisivos numa fase precoce nentes ao acidente, história de traumatismos an-
da vida por diagnóstico incorreto do CD e tra - teriores e uma breve história médica.
tamento emergencial inadequado. QUAN1JO, ONDE E COMO OCORREU O
Vale à pena ressaltar ainda, que as pessoas ACIDENTE? - O intervalo entre o momento do
envolvidas diretamente no convívio da criança, acidente (QUANDO) e o tratamento influencia
principalmente na escola - professores e auxilia- significativamente o prognóstico das avulsões,
res de ensino, assistentes de enfermagem e ou- luxações e fraturas radiculares com deslocamen-
tras - devem ter conhecimento sobre as provi- to além de exposições pulpares (Figuras l 7.4A e
dências imediatas de primeiros so corros 26 · l 7.4B). A informação sobre o local do acidente
TRAUMATISMO DENTÁRIO
(ONDE) pode ser importante na indicação de localização anatômica das lesões . Um exemplo
profilaxia antitetânica, e permitir ainda a loca li- clássico é a pancada no mcnto que pode causar
zação de um dente avu lsionado ou de fragmen- fraturas de pré -molares e molares (Figuras
tos. Já os dados sobre a natureza do acidente l 7.5A e l 7.5B ), ramo da mandíbula e região
(COMO) podem fornecer pistas sobre o tipo e a condilar (Figuras 17 .6A a 17 .6D) .
' 1
·l
Uma questã o que merece atenção especial acidente. É importante que o profissional não se
está relacionada à identificação de lesões resul- limite ao tratamento da lesão, mas que se empe-
tantes da violência contra crianças e mulheres. nhe detectar o problema e orientar o paciente
Geralmente nestes casos existe uma discrepância quanto às condutas legais, encaminhando-o aos
entre os achados clínicos e o relato da história do setores adequados 12 º. No estudo de Naidoo 9 0 so -
~ ~c:ncia:esõ:s~=~:~:~~=-~=--~~t~:,;o~:cie:::~~u~:~=::::~s
coço em crianças que sofreram maus tratos na de urgência apresentam lesões de tecidos moles
África do Sul. as lesões de face foram as mais associadas 66•93 . Quanto à sua natureza, as mais
freqüentes, sendo diagnosticadas em 41 % das freqüentes são as contusões, as abrasões e as la-
crianças examinadas, sendo a bochecha o local cerações 16 •
mais comum. Espantosamente, o número de le- CONTUSÕES são lesões associadas a um
sões bucais reportadas neste estudo foi extrema- intenso quadro hemorrágico, com formação de
mente baixo (11 % ) se levarmos em consideração edema e hematoma, porém sem a ruptura da
a alta freqüência de lesões de face. Foram utiliza- pele ou mucosa (Figura 1 7.7). Suas implica-
dos dados retrospectivos coletados de prontuá- ções mais diretas estão relacionadas à dificul-
rios de pacientes atendidos em um período de 5 dade de manipulação da área devido à sinto-
anos. O fato de que o exame dos pacientes não matologia dolorosa e presença de edema. O
foi realizado por dentistas pode ter concorrido tratame nto se resume à aplicação de compres -
para que as lesões bucais fossem subestimadas sas frias e a prescrição d e medicação analgésica
neste estudo. A autora chama a atenção para a quando necessário.
importância destas lesões nas crianças maltrata-
das e recomenda um melhor treinamento de
médicos, dentistas e outros profissionais de saú-
de para o diagnóstico correto das mesmas, con -
tribuindo assim para o reconhecimento deste sé-
rio problema de saúde pública: as agressões a
crianças.
HISTÓRIAS DE LESÕES
· ;{ TRAUMÁTICAS PRÉVIAS
;i
• 1
1 .
j
_ _l:IG.___1_!,,ªA _
Diagnóstico clínico de fratura do processo alveolar -
a posição inadequada dos elementos 21 e 22 impede a
oclusão dos dentes
As fraturas na maxila e mandíbula estão asso- nal sendo que este deve incluir tomadas extra e
ciadas a um conjunto de sinais e sintomas que po- intra-orais. Radiografias oclusais (Figura 17.14)
dem ocorrer em conjunto ou isoladamente a saber: e periapicais - ortorradiais (Figuras l 7.15A a
presença de edemas, hematomas e assimetria facial; l 7.15F) e com distorçõ es m esial e distal, são im-
alterações na oclusão; dor e crepitação à palpação e portantes na identifica ção de fraturas das paredes
manipulação dos fragmentos; dor ocasionada pela do alvéolo e do processo alveolar. A radiografia
movirn.entação durante a fala ou mastigação. panorâmica é de especial valor para determinar
Em todos os casos, o exame radiográfico é o curso e a posição das lin has de fratura na ma-
indispensável para a conclusão do diagnóstico fi- xila e mandíbula (Figura 17.16) .
-';
1
• 1
• F~G. 11.153
Radiografia periapical para diagnóstico de fratura Radiografia periapical para diagnóstico de fratura na
) do processo alveolar - nota-se a linha de fratura acima região anterior da mandrbula - a área radiolúcida nos
dos ápices dos elementos 21 e 22. ápices dos elementos 32, 3 1 e 47 indico a linha de fratu-
ra do processo alveolar.
CIÊNCIA ENDO DÔNTICA
:y}\
• FIG. 17.16
Radiografia panorómtca
evidenciando fraturo no região
do menta, entre os elementos
33 e 34.
TRAU MATISMO DENTÁRIO
'11
• 1
• F!G. 11.11
Trinca coronário evidenciada pelo exame de
transluminaçõo.
f
• FIG . 17.19
t
Luxação intrusiva do elemento 27 - a visualização da
) pequeno porção coronário, somada ã informação do pa-
ciente sobre a semelhança de posição dos ü1cisivos cen-
trais, previamente ao aodente, auxiliam no diagnóstico.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
As condutas indicadas para o atendiment o Sendo assim, o tratamento das fraturas coronári-
da s lesões que precisam de uma interven ção as de esmalte e dentina consiste na reconstitui-
imediata, serão apresentad as a seguir. Vale a ção estética, o mais rapidament e possível. As res-
pena salientar que um mesmo paciente pode taurações adesivas diretas representam a melhor
apresentar um quadro complexo necessitand o de alternativa de tratamento para estes casos. Uma al-
vários procedimen tos concomitan tes. ternativa que tem se tornado mais viável, devido
à tecnologia das novas gerações de adesivos é a
FRATUR AS CORONÁ RIAS DE colagem · de fragmentos. Nada se compara ao
ESMALTE E DENTIN A aproveitam ento do dente natural, principalme n-
te no que concerne ao acabamento e à obtenção
As fraturas coronárias de esmalte e dentina se da forma, além da lisura e brilho do esmalte,
caracterizam pela perda de estrutura coronária leva ndo a uma estética melhor e mais duradou-
com exposição de túbulos dentinários (Figura ra. A manutençã o da guia anterior em estrutura
17.20). As informações atualmente disponíveis dental permite uma m elhor função através de
sobre as alterações pulpares resultantes, advêm uma técnica mais simples e rápida. Além disso,
principalme nte dos clássicos estudos Bran nstrorn 38 existe o fator emocional e social positivo, já que
na década de 1960, que serão discutidos na ses- o paciente mantém o seu próprio dente. A opção
são 3 n este capítulo. A presença da fratura, por si pela cola gem e a seleção da técnica devem consi-
só, n ão representa um fator det erminante da derar principalme nte o gra u de desidrataçã o do
ocorrência de necrose pulpar25 . Clinicamen te, fragmento, sua adaptação ao rema nescente den-
esta exposição pode determinar um quadro de tal, quantidade de den tina exposta, profundida -
sensibilidad e de ntinária durante a alimentação , a de da fratura e condições endodônticas do rema-
higienizaçã o e até mesmo a respiração. A sensibi- nescente dentaFJ (Figuras l7 .2IA e l7.21B;
lidade é aum entada em fraturas próximas à pol- 17.22A a 17.22G). Quando n ão é possível a co-
pa nos dentes permanentes jovens já que o nú - lagem, a restauração com sistemas adesivos dire-
mero e diâmetro dos túbulos dentinários é maior95 • tos é a segunda opção de tratamento (Figuras
Entretanto, na percepção do paciente, o com pro - l7.23A a 17.23D ). O prognóstico pulpar é favo-
/
metimento estético pode representar o principal rável, desde que as restauraçõe s ofereçam um
motivo da procura do atendimen to de urgência . selamento adequado ioo. 10 2 •
• FIG. 17.20
Fratura coronário de esmalte e dentina nos elemen-
tos 77 e 2 1 - se caracterizo pelo perda de estruturo
coronário com exposição de túbulos dentínórios.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
..__. • ,.._..,..._,,..--~~-....._r.....,..,-,..._.IV'>_U.,...,..,..,., ..,.~,........,......,..-,..., ..,.".,..._.,....,_., < , , ,.....,...........,.. •>>•·•~··-·-·~••-·•~-.-,,-•--·•-·•-·•--•--,...............,...,,,,......,.......,,.-,...,.,,...,._..,,., .. . . , _ . - . _ • _ Y _ ... ..__._u-•~~--·--~--·-,..~ - ···-·--·•..-4....
Fratura coronária de esmalte e dentina do ele- A colagem do fragmento representa a melhor alter-
mento 11. nativa de tratamento.
;I
A colagem de fragmentos foi a melhor opção nesta fratura coronária de esmalte e dentina dos elementos 11 e 21.
• 1
1 •
Exposição pulpar do elemento 21, submetido à colagem do fragmento com sistema adesivo, sem proteção. A
paciente se queixava <de dor intensa ao ingerir alimentos gelados até 1 semana após a colagem. Removido o fragmen-
to, observou-se o aspecto vermelho escuro do sangramento e ausência de flwdez normal. O TER foi o tratamento mais
indicado, devido à inflamação pulpar presente.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
• RG. U.U.A
Exposição pulpar 3 dias após o acidente. Aspecto do sangramento ve,melho escuro e ausên-
cia de flwdez normal durante o procedimento.
1• FIG. i1.27C
Coágulo formado após a abertura inicio!. Aspecto do tecido pulpar indicando processo infla-
matório irreversível.
O traumatismo dentário acomete crianças em ser feito para manter o tecido vital no interior do
idade escolar, atingindo principalmente os incisi- canal radicular. O objetivo do tratamento conser-
vos centrais superiores4 1 . O estágio de desen- vador é eliminar a fonte de infecção, obter uma
volvimento radicular é um fator decisivo para a barreira de tecido mineralizado no sítio da exposi-
escolha do tratamento conservador. Numa fase ção e p ermitir a continuidade do desenvolvi-
precoce do desenvolvimento, quando a polpa vital mento radicular, com maturação da dentina pelos
é exposta acidentalmente, o procedimento de es- odontoblastos em atividade 16 · 39 · 119 • O tratamento
,,. colha deverá ser aquele que permita a apecigêne- conservador representa a melhor alternativa para
(' se, removendo-se apenas da porção afetada da crianças e adolescentes uma vez que a remoção
polpa coronária e permitindo a continuidade de da polpa deixa paredes radiculares finas aumen-
) deposição fisiológica da dentina ao longo das pa - tan do assim o risco de posteriores fraturas radicu-
redes do canal, além da complementação do fe- lares na região cervicaP9 ·50· 11 9 (Figuras l 7.28A e
chamento do ápice radicular. Todo esforço deve 17.288; 17.29A e 17.298 ).
CIENCIA ENDODÔNTICA ~!
·,
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··,;
''
• FIG. 17.2SA
Verificação radiográfica da barreira
de tecido mineralizado apical após
apexificação.
• FIG. 17.288
Fratura radicular de terço cetvical
ocasionada por um segundo acidente no
período que antecedeu ao planeiamen-
to de obturação do SCR. Devido à posi-
ção da fratura o prognóstico é ruim.
1 .
• FIG, 17!29B
Fratura ocorrido após o obturação
do SCR do elemento 21.
víduos mais velhos, assim como a redução do desenvolvimento radicular, ausência de sinais
estroma pulpar por deposição de tecido minerali- radiográficos de lesões periapicais e reabsorções ra-
zado, diminuem a capacidade regenerativa da diculares inflamatórias e observação radiográfica
polpa3 u 7. i 11.1 14. Embora a opção mais segura para de barreira de tecido mineralizado 16•19· 81 (Figuras
indivíduos adultos seja o tratamento endodônti- l 7.30A a l 7.30C) . É evidente a importância do
co radical, a resposta ao tratamento conservador controle clínico radiográfico pós-trata mento a lon-
pode ser favorável desde que a polpa se apresen- go prazo (mínimo de 4 anos) para observação da
te normal 6 ' . A presença de alterações pulpares normalidade. O emprego do hidróxido de cálcio
degenerativas ou inflamatórias e de comprometi- está relacionado a esta grande freqüência de su-
mento periodontal contra-indicam estas condu- cesso do tratamento conservador, i 6 · 17 •39 ·48.49 , 65· 67•
tas conservadoras em pacientes idosos. Trabalhos 72
.s i. ro6 como se pode verificar no Capítulo 4.
experimentais em animais de laboratório de- Teuscher & Zander 1 12 e Zander 123 foram os primei-
monstraram uma resposta diferente à lesão ros a utores a indicar o hidróxido de cálcio com o
quando se comparou polpas de ratos jovens com mate rial para pulpotomia, sendo que a primeira
as de ratos velhos 87 •109 . Portanto, a seleção de ca- indicação da técnica foi apresentada por Kaiser76 e
sos de pacientes adultos deverá ser muito criterio- Frank 62 , mais tarde divulgada como a "técnica
sa e consciente, tanto por parte do profissional de Frank" 63 • Desde então vários estudos têm de-
quanto do paciente. monstrado ser este o m aterial ideal para p romo-
Tem sido relatado um alto índice de cura ver a formação de barreira de tecido mineralizado.
após tratamento conservador, com uma freqüên - O hidróxido de cálcio colocado sobre o tecido pul-
cia variando de 72 a 96% 33.40.4 5,49. 64.65,6 7. 1 3,81.10 1. 106 . par sadio promove uma necrose superficial que
Os critérios para avaliação de sucesso do trata- resulta em calcificação. As células da polpa res-
mento são ausência de sintomatologia, resposta pondem a essa irritação com a produção e secre-
positiva às provas de vitalidade pulpar (n os casos ção de uma matriz colágena posteriormente mi-
· ,de capeamento e curetagem ), continuidade de n eralizada dando origem à barreira 57 .
Algumas publicações defenderam a possibili- Receamos que, ao ser empregado em dentes ante-
dade de se realizar restaurações com sistema riores na região coronária, corantes inerentes à
adesivo diretamente sobre a polpa exposta por composição do material possam se desprender da
trauma 22 ·79•8º entretanto faltava maior embasa- mistura e penetrar através dos túbulos dentinários
mento, uma vez que a avaliação de resultados promovendo mudança da coloração. Estudos com
carecia de achados histopatológicos para uma in- metodologias apropriadas devem ser realizados
dicação precisa do tratamento proposto. Por ou- para a confirmação deste fato.
tro lado, estudos de Hebling70 , Lanza8 4 e Pereira A comprovação histológica de resultados po-
et al.9 7 demonstraram diferenças histológicas evi- sitivos com o uso do hidróxido de cálcio sobre
dentes na resposta pulpar a capeamento com hi- polpas expostas é evidente na literatura como
dróxido de cálcio e sistemas adesivos. Polpas sub- podemos observar na leitura do Capítulo 12. O
metidas ao capeamento com hidróxido de cálcio clínico p recisa estar atento ao embasamento ci-
apresentavam -se normais num período de 45 entífico presente na indicação de novos materiais
dias, enquanto as submetidas à ação do sistema para utilização diretamente sobre o tecido pul-
adesivo All Bond 2 demonstravam inflamação par. Resultados baseados apenas em aplicações
crônica em períodos de 7, 14, 30, 45 e 60 dias, clínicas de alguns poucos casos devem ser consi-
sugerindo que a resina no interior da polpa pro- derados com muita restrição, pois a Odontologia
vocava reação do tipo corpo estranho. Além dis- baseada em evidências biológicas é a grande alia- 1
• --~~~- 17.31 A.
Aspecto radiográfico de fraturo
coronária com exposição pulpar do
elemento 21.
• flG. 17.:.n ~
Capeamento direto do pequeno ponto de exposi-
ção pulpar e da dentina odiacente com pasta e cimento
hidróxido de cálcio, recoberto por cimento de ionômero
de vidro, ativado por luz visível.
• flG. 17.31 C
Aspecto radiográfico após a colagem do fragmento.
Nota-se a presença do material rodiopaco no interior da
canaleta confeccionada no fragmento fraturado.
Curetagem Pulpar
A curetagem pulpar está indicada em expo- tecido pulpar com curetas afiadas, a 2 mm abai-
sições pulpares cuja pequena extensão não jus- xo do sítio de exposição: supõe-se que a polpa
tifica a realização da pulpotomia, mas o tempo esteja livre de infe cção a este nível48 • Após he-
1
_ decorrido entre o mom ento do acidente e a pro- mostasia através da irrigação inicial com soro
f cura de tratamento contra-indica o capeamento fisiológico, seguida de solução de hidróxido de
direto, isto é, ultrapassa o tempo recomendado. cálcio, a área é seca com bolinhas de algodão.
) Consiste inicialmente na ampliação da área ex- Esta manobra tem p or objetivo expor tecido
posta com uma broca diamantada esférica sob pulpar sadio para então se proced er à colocação
refrigeração água/ar. Em seguida, remove-se o de pasta de hidróxido de cálcio PA veiculado em
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
água destilada, recoberta por um cimento à base por luz visível, quando a restauração for reali-
de hidróxido de cálcio e u ma camada de cimen - zada na mesma sessão (Figuras l 7.32A a
to de ionômero de vidro, de preferência ativado 17.35B).
------~
66 6 ( ···"'
+
água destilada
1
• FIG. 17.34E
Ilustração esquemática da restauração realizado
imediatamente após o tratamento conservador.
y'
• . flG. __17.lSA
Aspecto radiográfico de fratura coronária com ex- Imagem radiográfica do elemento 41 após
posição pulpor no elemento 41. curetagem pulpor e colagem do fragmento. Observo-se
que não houve necessidade de confeccionar canaleta no
fragmento, como no Figura 17.3 1 e
promover um deslocamento da mesma na região cido pulpar remanescente é protegido com pasta
apical. Isto determinaria uma lesão ao feixe vás- de hidróxido de cálcio PA veiculado em água
cu lo -nervoso apical com prejuízo para a circula- destilada e recoberta p or cimento à base de hi-
ção e conseqüentemente uma resposta inade- dróxido de cálcio e cimento de ionômero de vidro
quada a o tratamento conservador. Este procedi- a tivado por luz visível, preenchendo a câmara
mento deve ser acompanhado de irrigação abun- pulpar. De forma semelhante à curetagem, o
dante com soro fisiológico até que se obtenha procedimento restaurador deve ser realizado pre-
hemostasia e acompanhado da secagem com bo - fere ncialmente nesta mesma sessão. (Figuras
linhas de algodão esterilizadas . Em seguida, o te - 17.36A a 17.36K).
_ __ FIG. _17.368
Vista vestibular de uma fratura coronária com polpa Ilustração esquemática do acesso coronário para a
exposta e hipe,plásica. A extensão do tecido exposto e o realização do pulpotomia.
tempo decorrido após o trauma determinam a execução
I de uma pulpotomia.
1
• AG.
. 17.36E
··· ··•· ·-····
,,i J
, - ---
-~ ',
Hidróxido de câi::io PÀ
...
_ _FIG._ 17.36G________ .... água destilada
,•
Qmenlode
hidróxido de cábio
,.
1
e J
,,
t
As Figuras 17.37A a 17.37C mostram o as- fu ndamental qu e seja realizado um rigoroso con -
pecto radiográfico da barreira de tecido minerali- trole radiográfico por tempo mínimo de 4 an os
zado formada após tratamento conservador. É (Figuras 17.38A a 17.40C) .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
• FIGS. 17.38A
--·-- a-·· 17.38C
Seqüência de acompanhamento radiográfico até 7 anos após o tratamento conse,vador Noto-se obliteração do
canal radicular, sem comprometimento do sucesso do trotamento.
TRAUMATISMO OENTÁRIO
·i
....-~~~-,,~,.,.., ...,.~. •••••-'-"'ª''".....,........._._,,,.,._...,.,,..,.,., ..... ,....,.. ... ~ .. ,.., . .~.--. .-.,~,, .-, "-'"~-.-.,~w·. .-•~·- ;-,, •"W-•",..."•~-·u,>, .. , ., _.•.u , , "'" "'-'V'•• <•· ,..., " · ._,,.... •.~'-'· ,...,, •- , •• ,V , , ,.,H.•.,"<••'•J,,,-·,,.,..-,.-,
• FlG.t'.l'.â~
Seqüência de controle radiográfico até 4 anos
após tratamento conseJVador.
. ...r:ms.__t7.40A_a __17.40C.
{ Seqüência de controle radiográfico até 75 anos após tratamento conse1vador.
)
CI ÊNCIA ENDODÔNTI CA
• FIG. 17.41.!-
Vista vestibular de uma fratura corono,rndicular no Vista incisai da fratura - nota-se que embora deslo-
elemento 11 - observa-se a presença de exposição cado, o fragmento coronário permanece mantido pelas
pulpar evidenciada pelo nível da linha de fratura e inten- ftbras do ligamento periodontal do lado palatino.
so sangramento.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
• f!G. n'.42.l-.\.
Realização de pulpectomia imediata, uma vez que a
dor é um sintoma característico associado à movimenta-
ção do fragmento.
1
' ;l
Devido ao grande núniero de tecidos envolvi- lizado o controle clínico e radiográfico para ava-
dos, as fraturas radiculares apresentam padrões de liação da condição pulpar dos segmentos e da
cicatrização bastante complexos. Em função des te ocorrência ou não de cicatrização. Toda e qual-
fato, eram tidas como lesões de difícil ou até mes- quer intervenção endodôntica e/ou cirúrgica está
mo, impossível solução. Hoje em dia sabe-se que descartada até que haja urna definição do diag-
apresentam um prognóstico altamente positivo no nóstico de necrose pulpar6, 8•9• 19 ·7 6· 77 .
que concerne à consolidação dos fra gmentos, seja
através da deposição de tecido mineralizado seja
pela interposição de tecido conj untivo. Muitos es-
tudos têm demonstrado que a cicatrização das fra-
turas radiculares depende de certos fatores rela-
cionados ao momento do traumatismo - grau de
mobilidade e deslocamento do fragmento coroná-
rio - e às condutas adotadas durante o tratamento
imediato - realização ou não do reposicionamento
e imobilização além do tipo de fixação. Indepen-
dentemente da localização, o tratam ento imediato
das fraturas radiculares con siste no reposiciona-
mento do fragmento coronário através de firme
pressão digital. Após a verificação radiográfica da
correta redução da fra tura, o dent e deve ser imo-
bilizado utilizando-se fita de Ribbond ou fio de
aço para osteossíntese (O, 12" ou 0,30 mm) fix ado
com resina composta (Figuras 17.44A a 17.44G).
A oclusão deve ser checada e ajustada para corri-
gir toques prematuros. O tempo mínimo de imo- Radiografia periapicol poro diagnóstico do fraturo
bilização é de 2 meses, variando de acordo com a radicular de terço médio no elemento 11 - observa-se
localização da fratura . Durante este período é rea- ausência de deslocamento.
TRAUMATISMO DENTÁRI O
1
' ;1
• FIG. 17.45
Aspecto clínico de subluxaçõo nos elementos 11 e
21. Nota-se o sinal característico de sangramento no sul-
• FIº~ 17.46 ____
co gengival.
Observa-se ao exame radiográfico, um ligeiro
espessamento do espaço do ligamento periodontal na
região apical nos elementos 11 e 21.
• FI§_'- 11.47
lmob,'lizoção flexível dos elementos 11 e 21 porta-
dores de subluxaçõo utilizando fio para osteossíntese.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
- --··,----------·- --- · --- ------------·- - -·-·- - ----·--·--··-·---·- · - ·- - -·----------~
LUXACÃO EXTRUSIVA
I
xível. Quando o reposicionamento for realizado
pelo profissional, este deve ser atraumático,
As luxações extrusivas caracterizam-se pela através de pressão digital, delicada e contínua,
ruptura das fibras do ligamento periodontal, le- no sentido apical, com o obj etivo de deslocar
são de pontos esparsos da superfície radicular e gradualmente o coágulo formado entre o ápice
ruptura ou estiramento do feixe vasculonervoso radicular e o fundo do alvéolo . Após a verifica-
ao nível do ápice radicular6 · 1 1· 13 _ ção radiográfica da posição correta do dente,
Clinicamente observa-se a extrusão parcial procede-se à fixação flexível p or um período de
do dente no sentido oclusal, com eventual deslo- 2 semanas. Em todos os casos deve-se realizar
camento da coroa em direção lingual (Figura um alívio das interferências oclusais. Quando o
17.48). Além disso o dente apresenta-se com atendimento é tardio, o reposicionamento cor-
grande mobilidade horizontal e vertical, sensibi- reto é praticamente impossível. Nestes casos a
lidade aos testes de percussão e intenso sangra- m elhor opção é realizar o aj uste oclusal deixan-
mento na região cervical. O dente pode não res- do que a cicatrização ocorra mantendo o dente
ponder normalmente às provas de vitalidade sem em sua nova posição para posteriormente reali-
significar, entretanto, necrose pulpar. O achado zar o reposicionamen to através de aparelho or-
radiográfico característico deste tipo de lesão é o todôntico.
aumento do espaço do ligamento periodontal na
região apical. LUXAÇÃO LATERAL
• flCi. Jf..1J:9B__
Aspecto clínico de elemento 11 com diagnóstico de Radiografia oc/usal do elemento 11 evidenciando
luxação lateral ~ observa-se o deslocamento no sentido aumento do espaço do ligamento periodontal ~ observo-
incisai palatino provavelmente associado à fratura da se uma imagem encurtada e de maior radiopaodade do
parede vestibular do alvéolo. A coroo apresento-se elemento envolvido quando comparada com aquela
posicionada em direção lingual. do elemento 21.
Cuidados iniciais já podem ser tomados pelo reposicionamento deve -se realizar uma compres-
próprio paciente quando orientado pelo dentista são vestibular e lingual para assegurar a comple-
ao primeiro contato telefônico à semelhança do ta acomodação do dente no alvéolo e facilitar a
descrito para as luxações extrusivas. Entretanto, cicatrização dos tecidos periodontais. Em segui-
o reposicionamento imediato das luxações late- da, deve-se verificar radiograficamente a correta
rais pode ser muito traumático devido à fratura posição do dente e imobilizá-lo com fixação rígi-
I
do processo alveolar requerendo geralmente a da por um período de 3 a 4 semanas (Figuras
atuação do profissional. Deve- se realizar inicial- 17.490 a l 7.49G). Em todos os casos deve-se
mente uma firme pressão digital no fundo do realizar um ajuste das interferências oclusais.
vestíbulo em direção incisal, a fim de reconduzir Quando o atendimento é tardio, o reposiciona -
o ápice radicular a o alvéolo. Num segundo mo- mento correto é praticamente impossível. Nestes
mento o dente é pressionado em direção apical casos a melhor opção é realizar o ajuste oclusal
até o fundo do alvéolo (Figura 17.49C). Em si- deixando que a cicatrização ocorra mantendo o
tuações extremas pode-se utilizar um fórceps dente em sua nova posição para posteriormente
aplicado à coroa para extruir ligeiramente o den- realizar o reposicionamento através de aparelho
te e então reconduzi-lo ao seu alvéolo. Após o ortodôntico.
;f
• 1
-~
• 1
,
.. .·',
~--
:;.
i
i
• FIG. 17.SOE ____ __ ___ ________ __________________ _________ _________ _ • f l~. 1J.50f: -- --
Inserção delicada do elemento 11, exercendo ape- Uma compressão vestibular e lingual deve ser reali-
nas pressão suficiente para acomodá-lo no alvéolo. zada em toda a região, após o reposicionamento, com o
intuito de assegurar a completa adaptação dos dentes ao
alvéolo.
t
t
) • FIG. 17.SOG IIIILflG. 17.SOH _ _________
Vista da supedície vestibular após condicionamento Aplicação do adesivo sobre as supedícies condicio-
áodo do esmalte. nadas.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
1
' /Í
1
1
• 1
(·
t
)
lllll__!IGS. 17.51 A a _17.51 H --------------------.. ·-------
Caso de reimplante tardio em paciente de 7 anos de idade.
CIÊNCIA EN DODÔNTICA
1. lesões altamente contaminadas, cuja limpeza não paciente são de fundamental importância. Naque-
pode ser realizada satisfatoriamente; las situações de risco de infecção, uma dose da
2. realização tardia da limpeza da ferida (mais de 24 vacina é o suficiente para pacientes cuja imuniza-
horas); ção esteja em dia. Pacientes não imunizados, ou
3. quando há necessidade de redução cirúrgica de fratu- que estiverem no meio do esquema de vacinação
ras ósseas; devem receber primeiramente a imunização pas-
4. casos de debilidade sistêmica ou comprometimento siva e em seguida a vacina convencional 16 •
imunológico; O uso indiscriminado de an tiinflam atórios
5. feridas causadas por mordidas de humanos ou ani- após lesões traumáticas também não está justifi-
mais. cado, uma vez que os poucos estudos experi-
mentais disponíveis revelaram que são ineficazes
A profilaxia antitetânica deve ser sempre in- n o controle das reabsorções radiculares 118 • Além
dicada nos casos de lesões de tecidos moles ou disso, quadros inflamatórios agudos pulpares ou
dentes avulsionados contaminados. Neste contex- periapicais não representam um achado freqüen-
to, a informação de onde aconteceu o acidente te na evolução da con dição pulpar após o trau-
bem como dados sobre a imunização prévia do matismo.
' ; As lesões traumáticas dentárias se caracteri- cientemente espessas e fortes que permitam sua
'
i zam por sua natureza múltipla uma vez que po- função normal. Embora estudos tenham de-
dem acometer, simultaneamente tecidos como a m onstrado índices otimistas após o tratamento
polpa, os tecidos mineralizados do dente e seu endodôntico de dentes ' permanentes jovens -
aparato de sustentação. A freqüência com que entre 79 e 96% de sucesso, quando considerado
ocorrem, sua distribuição segundo faixa etária e regressão de lesões periapicais e formação de
etiologia bem como sua natureza, delineiam um barreira apical de tecido m ineralizado 56 ·94, 96· 113 , o
problema de tratamento complexo. prognóstico a longo prazo deste s dentes não é
tão favorável. A interru pção da deposição de
' 1
COMPROMETIMENTO PULPAR dentina após a remoção da polpa resulta em pa-
redes radiculares extremam ente finas que não
Uma das principais dificuldades no trata- suportam os esforços funcionais levando à uma
mento dos dentes traumatizados está relacionada grande ocorrência de frat uras cervicais . A ocor-
ao diagnóstico das alterações pulpares após o rência destas fraturas está diretamente relaciona-
trauma, ou seja: quando o tratamento endodôn- da à realização de tratamento endodôntico em
tico está realmente indicado? Esta questão se dentes cuja rizogênese se en contrava em estágios
agrava diante da responsabilidade de uma indi- iniciais ou dentes portadores de defeitos na raiz
cação precoce ou tardia da intervenção radical, resultantes da cicatrização de reabsorções radicu-
todas as duas extremamente prejudiciais em se lares externas inflamatórias 56 (Figura 17.52) .
tratando da faixa etária mais acometida, 7 a 14 Sendo assim, o diagnóstico pulpar após o trauma
anos. Se não podemos tardar neste diagnóstico, passa a ser um desafio pa ra o qual, infelizmente,
dada a velocidade com que progridem as reab- a maioria dos profissionais não está preparada.
sorções radiculares externas inflamatórias nestes Para vencer tal desafio é preciso primeiro, estar a
( dentes jovens, tampouco se justifica uma indica- par das possibilidades que uma polpa j ovem tem
ção precoce, "preventiva" do tratamento endo- de se regenerar. O fato da maioria dos nossos
)
dôntico radical, numa idade em que o dente ne- pacientes estar represen tada por crianças em ida-
cessita de sua polpa jovem e ativa para completar de escolar e adolescentes é um ponto a favor da
sua rizogênese e obter paredes radiculares sufi- recuperação pulpar em fun ção da característica
,..__
CIÊNCIA ENDODÓNTICA ••
· - - - --·--',
altamente vascularizada e celular destas jovens disponíveis. Estes detectam as variações da ativi-
polpas. É preciso também te r conhecimentos a dade nervosa sensorial da polpa não sendo sufi-
respeito da etiopatogenia das alterações pulpares cientemente sensíveis para identificar outras al-
pós-trauma que, na sua essência diferem daque- terações circulatórias decorrentes do trauma e
las ocasionadas pela cárie e suas seqüelas. Final- principalmente, são pontuais uma vez que iden-
mente, o profissional deve estar atento para as tificam um momento e não a evolução da condi-
limitações dos meios de diagnóstico atualmente ção pulpar no processo de regeneração.
1 •
• IFIG. 11.52
Aspecto radiográfico de fraturo cervical ocorrido em
região defeituoso do raiz resultante de reabsorção
radicular externo inflamatório.
fluxo do fluido dentinário representa uma bar- mente a manutenção do suprimento sanguíneo
reira contra a invasão bacteriana, diluindo as da polpa desempenhará um papel determ inante
toxinas bacterianas e distribuindo elementos de na evolução da resposta pulpar. Não havendo
defesa36,ss,127,137,139, l 55 . Por outro lado, a ocorrên- comprometimen to do feixe vásculo-nervoso peri-
cia de lesões por luxação concomitantes com- apical, a resposta inflamatória da polpa é prolife -
promete a manutenção da vitalidade pulpar, rativa e benigna e caracteriza-se pela formação de
uma vez que o distúrbio ao fornecimento de um tecido de granulação subjacente ao sítio da ex-
sangue à polpa inviabilizaria seus primeiros me- posição, independentemente do tamanho da área
canismos de defesa, além de e liminar a barreira exposta (Figura 17.53) . Estudos experimentais60
representad a pe la pressão hidrostática do fluxo em incisivos de macacos demonstraram que dois
do fluido dentinário. Também a ruptura dos te- dias após a exposição, o tecido pulpar apresentava
cidos pulpares, n o momento do trauma, levaria um tecido de granulação superficial rico em capi-
a áreas localizadas de necrose, que facilitariam lares sanguíneos, recoberto por um coágulo de
uma invasão microbiana 129-Bl.1 66 • 167 . fibrina e com infiltrado inflamatório moderado
subjacente, cuja profundidade não ultrapassava 2
RESPOSTA PULPAR APÓS mm. Uma semana após a exposição, observou-se
FRATURAS CORONÁRIAS COM uma maior hiperplasia do tecido pulpar projetan-
EXPOSIÇÃO PULPAR do-se atrnvés da fratura, mas o infiltrado inflama-
tório mantinha-se a níveis superficiais sendo que
Nas fraturas coronárias com expos1çao o tecido subjacente encontrava-se normal. Sendo
pulpar além da agressão representada pela expo- assim, embora o processo de cicatrização e cura
sição direta ao meio bucal, há uma dilaceração do não ocorra espontaneamente, esta resposta p roli-
tecido pulpar no local da fratura. As alterações ferativa superficial permite que, após a excisão
que se seguem são representadas pela hemorragia parcial do tecido hiperplasiado, tecido pulpar sau -
· / local e início do processo inflamatório provocado dável seja preservado através de técnicas endo-
pelo tecido lacerado e toxinas bacterianas. Nova- dônticas conservadoras .
• FIG. 17.Sl
Ilustração esquemática do resposta
pulpar após exposição traumático ca-
racterizada pela presença de infiltrado
inflamatório até 2 mm abaixo do sítio
de exposição e proliferação de tecido
de granulação.
)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
,.
. 1
• •
• f!G. 11.59.A
Ilustração esquemática do aspecto radiográfico da
consolidação de fratura radicular através da interposição de
tecido dentinó1de e cementóide: embora a linha de fratura
seja perceptível os fragmentos estão em íntimo contato e
• Fm, 11,59~
{ não há mdioluddez em relação à linha de fratura. Observa- Aspecto radiográfico da consolidação de fraturo
se cont1i1uidade da lâmina dura entre os dois fragmentos e radicular no elemento 77 através da interposição de teci-
,,
1. arredondamento das bordas da fratura. Detalhe 1- Ilustra- do dentinóide e cementóide. No elemento 21 observa-se
ção esquemática do aspecto histológico: observa-se a for- a não consoltdação da fratura devido à necrose pu!par
mação de um calo de dentina na pa,te interna da linha de do fragmento coronário e interposição de tecido de
fratura e a deposição de cemento na parte extema. granulação.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Nos casos em que a luxação do fragmento zação às porções mais coronárias do tecido pul-
coronário implica em deslocamento do mesmo e par. Enquanto o processo de regeneração pulpar
conseqüente comprometimento do seu supri- está em curso, grupos celulares oriundos do liga-
mento sanguíneo, instala-se na região da linha m ento periodontal adjacente povoam a superfí-
de fratura uma resposta inflamatória que tem cie da fratura e promovem a consolidação da fra-
como objetivo final a revascularização e substi- tura pela deposição de cemento na superfície dos
tuição do tecido pulpar isquêmico do fragmento fragm entos e interposição de fibra s colágenas
coronário. De form a semelhante ao que ocorre (Figuras 17 .60A e B). Este tipo de cicatrização
nas luxações, o sucesso deste processo depende corresponde à cicatrização com interposição de
basicamente das anastomoses rápidas que se es- tecido conjuntivo de Andreasen & Hj0rting-
tabelecem imediatamente após o trauma entre os Hansen25 e resulta na independência nutricional
vasos pulpares rompidos e os do ligamento perio- do fragmento coronário urna vez que a reyascu-
don tal adjacente. Entretanto, duas particularida- larização se dá as custas dos vasos do ligamento
des fazem com que o processo de revasculariza- periodontal e a formação de dentina secundária
ção seja mais bem sucedido após as fraturas radi- na linha de fratura cria um novo "forame apical".
culares: a própria presença da linha de fratura e Quando o trauma ocorre em paci entes jovens,
o fato de que só o fragmento coronário deva ser cujo crescimento do osso alveola r ainda não se
revascularizado. A linha de fratura representa completou, o fragmento coronário pode conti- 1 •
uma via de drenagem do edema formado, des- nuar sua erupção enquanto o fragmento apical
comprimindo o local e tornando mínima a pres- fica estacionado. Nestes casos ocorre a interposi-
são exercida sobre os vasos pulpares além de ção de tecido ósseo entre os dois fragmentos que I
possibilitar uma ampla interface polpa/periodon- possuem ligamento periodontal normal e inde-
to - ambiente propício para as anastomoses ini- pendente para cada um deles (Figuras l 7.61A e
ciais. Como só o fragmento coronário deve ser B ). Este tipo de cicatrização foi classificada como
revascularizado, seu menor comprimento permite interposição de tecido ósseo associado a conjun- .
um acesso mais rápido da frente de revasculari - tivo.
/
• fiei:...17.MJt..
Ilustração esquemática do aspecto radiográfico da
consolidação de fratura radicular através do 1iJterposição
de teodo ósseo: o tectdo ósseo é visto entre os fragmen-
tos, porém o espaço do lig amento periodontal apresenta-
se normal e em continuidade com as partes da membra-
na periodontal de cada um dos fragmentos separada-
mente. Observa-se arredondamento das bordas da fra-
turo e em alguns casos, o osso se estende paro dentro do
canal radicular dos fragmentos coronário e opico! Deta-
lhe 1- Ilustração esquemática do aspecto histológico -
Superfícies radiculares fraturadas recobertas por cemento
com fibras de tecido coniuntivo ligando o superfície do
fraturo ao osso alveolar inte,posto entre os fragmentos.
/Í
1
1
• r,:ac;, 17..6HL.
• 1
Aspecto radiográfico da consolida-
ção de fratura radicular no elemento 11
através do interposição de teodo ósseo.
.. p
Quando grandes deslocamentos do frag- ter a invasão bacteriana e em resposta aos agen-
mento coronário permitem a contaminação da tes agressores liberados pelo tecido pulpar ne-
( linha de fratura, o processo de revascularização crosado. Estes eventos correspondem à quarta
) é interrompido e há a necrose pulpar. Neste categoria proposta por Andreasen & Hj0rting-
caso, o processo de consolidação é comprometi- Hansen25 denominada não cicatrização com in -
do uma vez que se forma um tecido de granula - terposição de tecido de granulação (Figuras
ção entre os fragmentos numa tentativa de con- 17.62A e B).
CIÊN C IA ENDODÔNTICA
• J:~Çi. _17.62A
Ilustração esquemático do aspecto radiográfico do
não cicatrização de fraturo radicular devido à necrose 1 .
pulpar no fragmento coronário e interposição de tecido
granulação: caracteriza-se por um distanciamento dos • flG. 1J..6l~-
fragmentos e presença de área radiolúoda extenso no Aspecto radiográfico da não consolidação de fraturo
linha de fratura estendendo-se para o osso alveolar adja- radicular no elemento 11 devido à necrose do polpa do
cente. Detalhe 1- Ilustração esquemática do aspecto fragmento coronário e formação de tecido de
histológico - demonstra teodo de granulação entre os granulação entre os fragmentos e no osso alveolar adja-
fragmentos, como resultado de infecção do canal cente. No elemento 21 observa-se cicatrização com
radicular, geralmente no fragmento coronário. interposição de tecido ósseo.
sim como nas luxações, os processos de reparo padrões de cicatrização do tecido pulpar de den-
pulpar após um reimplante imediato iniciam-se tes reimplantados: no primeiro há a deposição
apicalmente pela proliferação de capilares, célu- de tecido mineralizado internamente nas pare-
las de defesa e células mesen quimais indiferen- des do cana l radicular levando à diminuição da
ciadas que, gradualmente, substituem o tecido luz do canal radicular e contin uidade do desen-
pulpar necrosado. Estudos experimentais realiza - vo l vimento radicular (Figuras l 7.64A a
dos em animais demon straram que este processo l 7.64D). No outro padrão descrito, os dentes
pode resultar em tipos distintos de cicatrização apresentaram paralisação da rizogên ese e depo-
pulpar, histologicamente descritas como: dentina sição de tecido mineralizado na cavidade pul-
reparativa com padrão tubular normal, dentina re- par, porém separado das p aredes d e dentina e
parativa com padrão tubular irregular ou au sen- em continuidade com o osso alveolar periapical
te, dentina reparativa com inclusões celulares ou (Figuras 17.65A e B) .
TRAU MATISMO D ENTÁRIO
• FIG. 'D'.63___
AVULSÃO: !-Ruptura do feixe vasculonervoso
apical. 2- Ruptura das fibras ao longo de todo o ligamen-
to pe,iodontol. A porte que fica aderido à parede do
alvéolo permanece viável pois recebe nutrientes dos va-
sos sanguíneos presentes no osso alveolat: 3-A parte das
fibras que pe,manecem aderidas à superfície do raiz após
o avulsào são privados do suprimento sanguíneo e logo
consomem seus metabólitos armazenados levando à
necrose generalizada do ligamento petiodontal.
;!
1
j
• 1
• fi5i:. 'f1.f.4A.
Seqüência de cicattizaçào pulpar após avulsào do Radiogroficamente observa.:se continuidade do de-
elemento 31. Reimplante realizado após 15min,- meio de sen volvim en to radicular e deposição de t ecido
armazenamento: leite. mineralizado internam ente nos paredes do canal
radicular.
)
CIÊN C IA ENDODÔNTICA
- w;iG •. 11.64(.:
1 ano após o reimplante observa-se complemen- Controle realizado 3 anos após o acidente demons-
tação do rizogênese e obliteração do canal radiculOJ: trando normalidade da região periopical. A paciente só
foi liberado para movimentação ortodôntica após diag-
nóstico de cicatnzação do ligamento periodontal e au-
sência de reabsorção radicular.
• flG. 11'.6SA
Cicatrização pulpar após avulsão - Ilustração
esquemática represen tando a deposição de tecido
mineralizado no cavidade pulpar em continwdade com o • AG... 11.~.~~ -· .
osso alveolar e separado das paredes dentinárias do ca- Cicatnzação pulpar após ovulsão do elemento 21 -
nal radicular. Aspecto radiográfico do deposição de tecido
mineralizado na cavidade pulpar em continwdade com o
osso alveolar e separado das paredes dentinários do ca-
no/ radicular por uma linha radiolúcida sugerindo o pre-
sença de membrana periodontal.
TRAUMATI SMO DENTÁRIO
experimentais demonstraram que as fibras ner- latada após lesões traumáticas em dentes perma-
·,
vosas regeneradas possuíam neuropeptídeos nentes, em freqüências que variam de 3,0 % a
como a SP e a CGRP que, entre outras proprie- 24%º9 ·3 6•5 º· 55 •67 ·8 u 4 o.i 72 _ Esta deposição acelerada de
dades, promovem a cicatrização tecidual uma dentina se deve a falhas na regulação neurológi-
vez que são vasoativos e funcionam como fatores ca da atividade secretora dos odontoblastos, du -
de crescimento para células endoteliais . Por ou- rante a reva scularização e reinerva ção que se se-
tro lado, a quantidade e distribuição das fibras gue à uma lesão traumática. A presença do pa-
nervosas cicatriciais depende do tipo celular pre - rassimpático na polpa foi descrita acompanhan-
dominante no tecido cicatricial qu e substitui a do o percurso do trigémeo, exercendo sobre o
polpa isquêmica sendo que a maior densidade simpático uma inibição da sua atividade estimu-
nervosa foi observada quando houve neoforma- ladora da função secretora dos odontoblastos, a
ção de odontoblastos capazes de depositar denti- deposição de dentina32-5 u 2 . Est a regulação tam-
na nas paredes do canal rad icular 1º4 • 105 • Esta inte- bém poderia ser realizada à distância, através de
ração entre a atividad e nervosa e a rem odelação elementos presentes no sangue 6 6• 159 . Como opa-
tecidual, conhecida como neurotropismo, foi de- rassimpático acomp anha o trajeto das fibras
monstrada em áreas de dentinogênese ativa e sensoriais do trigémeo e atua antagonicamente
explica a grande ocorrência de obliteração do ca- ao simpático, regulando a atividade secretora
nal radicular pós-traumática como resultado da dos odontobla st os 5 L 52 , uma lesão ao feixe ner-
cicatrização pulpar após traumatismos que en- voso apícal, quando de um tra uma, se manifes-
volvem o feixe vasculonervoso periapical. taria d e duas formas associadas: l) perda de
sensibilidade da polpa - resultante da lesão às I
OBLITERAÇÃO po CANAL fibras do trigémeo; 2) perda da inibição da ativi-
RADICULAR POS-TRAUMA - OCR dade sintetizadora de dentina pelos odontoblas-
tos, com con seqüente obliteração do canal radi -
A deposição de tecido min eralizado nas pare - cular - resultante da lesão das fibras parassim-
des do canal radicular é um processo fisiológico de páticas. Dependendo do mecani smo pelo qual o
envelhecimento ou de defesa da polpa vita l. Du- parassimpático atua, seu efeito inibido r sobre a ,.,
rante a rizogênese, esse ritmo é de 6,0 µm/d ia e atividade secr etora dos odon toblas tos só poderia
mais tarde, durante a deposição de dentina se- ser restaurado após a completa reinervação ou
cundária, de 0,8 µm /dia. A dentina terciária ou revascularização da polpa. O resultado deste
reacional é depositada localmente, em resposta a descon trole seria uma diminuição rápida da luz
um estímul o agressor, num ritmo de 3,5 ~tm/dia. do canal radicular ob servada radiograficamente
Esta resp osta p ode ser consideravelmente acele- n o período de a té um ano após o trauma, le -
rada após traumatismos dentários, autotrans- vando a uma obliteração da cavidade pulpar
p lames92·1ºº e tratamentos ortodônticos62 • que p ode ser parcial - OCRP - luz do canal
Embora existam na literatura referências à marcadamente diminuída, m as visível radiogra-
ocorrê ncia e natureza cicatricial b enign a das ficamente (Figura 17.67), ou total - OCRT -
"calcificaçõ es pulpares" após lesões traumáti- luz do canal n ão é observada radiograficamente
cas39·40·86·9º·112·133· 142, foram Andreasen e colabora- (Figura 17.68). A esta obliteração podem so -
dores09 que, em 1987, descreveram a deposição m ar-se a calcificação distrófica, estimulada pela
acelerada de tecido minerali za d o ao longo das resposta imune diante da presença de bactérias
pared es do canal radicular como uma con se - e ainda, a mineralização de trombos e coágulos
qüência do reparo pulpar após a lesão do feixe resultantes da h emorragia pós -tra uma. Entre -
vasculon ervoso apical, denominando-a oblitera - tanto, independentem ente do aspecto radiográ-
ção do can al radicular pós-tra umática (Figura fico, o espaço ocupado pelo tecido pulpar se
17 .66). Desde então esta ocorrência tem sido re- mantém histologicamente .
TRAUMATISMO DENTÁRIO
• flG 17.{!6'
Evolução de obliteração do
canal radicular observada radio-
" .•...,;-;,·
,.,.,.
graficamente 6 meses após sublu-
xação do elemento 22.
.. '
' ;r
1
i
Obliteração parcial do canal radicular - apesar de Obliteração total do canal radicular - luz do ca-
, 1 marcadamente diminuída, a luz do canal radicular do nal radicular do elemento 11 não é visível radiogrofi-
elemento 21 ainda é visível radiograficamente. camente.
A ocorrência de OCR foi relacionada com al- com base na observa ção de urna maior freqüência
guns fatores, tais como o tipo de lesão traumática de OCR após fixação com bandas ortodônticas
• • e o grau de desenvolvimento radicular no m o-
mento do acidente, Segundo dados obtidos de le-
quando comparada com a técnica de ataque ácido
e resina composta. Além disto, o completo reposi-
vantamentos clínicos, a OCR é comum após le- cionamento do dente deslocado resulta num au-
sões por luxação que afeten, o feixe va sculoner- mento da freqüência de OCR em relação à ausên-
voso, mas que permitam a sua revasculariza- cia ou reposicionamento incompleto.
ção38·9º·138·142·155. Com relação ao estágio de desen- Clin icamente os dentes portadores de OCR
f
volvimento radicular, é consenso na literatura que podem apresentar-se com um tom mais escuro
( a OCR é predominante em crianças com menos em relação ao adja ceme, gera lmente amarelado.
de 11 anos de idade, com rizogênese incomple- Esta alteração de cor se explica pela m aior espes-
) ta09·38·55·9º. Além disso, Andreasen et al. 09 também sura da camada de dentina que, tornando o den-
relataram o tipo de fixação e o grau de reposição te mais opaco, leva a uma maior reflexão de luz
do dente deslocado como fatores determinantes para a superfície 160 • A resposta às provas térmicas
CIÊNC IA ENDODÔNTICA
zado o tratamento endodôntico profilático, de- menos intermediários cujas características clíni-
monstrou que se tratavam de polpas viáveis, po- cas e radiográficas se confundem com aquelas
rém com características de senilidade 112 • Acompa- de dentes necrosados. A ausência de resposta
nhamentos clínicos de dentes portadores de OCR, aos testes de vitalidade pulpar representa um
realizados durante períodos de até 20 anos, relata- exemplo clássico, e tem sido freqüentemente
ram índices de altera ções periapicais que varia- rela ta da o3,os,os.33, 36,39,ss,s 1,ss , s9,127,135, us,1 s1, t s1, 114. Esta
vam de 7 a 16% 09, 1 5, 33, 9 º,14º·, demonstrando que, perda d e sensibilidade, descrita na literatura
embora a necrose pulpar represente uma compli- como um estado de choque pelo qual passa a
cação tardia da OCR, sua freqüência relativamen- polpa após o trauma, ainda que permanente, y'
te baixa não justifica a realização do tratamento não pode ser associada à n ecrose pulpar como
endodôntico radical profilático, principalmente demonstrado no estudo realizado por Bastos &
quando considerado o grupo de maior risco de Cortes 37 . Os resultados obtidos a partir de um
ocorrência de OCR: luxações moderadas em den- estudo prospectivo da r esposta às provas de vi -
tes com rizogênese incompleta. Quanto à dificul- Lalidade pulpar após lesões traumáticas na den-
dade técnica da intervenção radical, estudos de- tição permanente, permitiram confirmar a per-
monstraram que, embora a fase de acesso ao ca- da temporária de resposta à s provas de vitalida-
nal radicular seja trabalhosa e requ eira habilidade de pulpar como um fenômeno intermediário
e experiência, n ão representou empecilho para o durante a cicatrização pulpar pós -trauma, prin-
sucesso do tratamento endodôntico uma vez que cipalmente após lesões por luxação com deslo-
foram observados 80% de cicatrização periapical camento. O estudo de concordância entre o di-
após o tratamento endodôntico radical de dentes agnóstico in icial, realizado até 30 dias após o
com OCR portadores de lesão periapical5 7, l 4 7 • Ten- momento do trauma, e o diagnóstico final, r ea-
do em vista as considerações tecidas acima, o tra- lizado entre dois e 69 m eses após o trauma,
tamento endodôntico radical de dentes portadores demonstrou que houve uma modificação da
de OCR não se justifi ca e não é capaz de solucio- condição pulpar ao longo do período de acom -
nar alterações de cor já instaladas, decorrentes da panhamento, quando considerada a resposta às
maior espessura de dentina . Não obstante, quan - provas de vitalidade pulpar. Se por um la do, a
do o diagnóstico da obliteração se dá no seu iní- resposta inicial positiva representou um bom
cio, a realização ou não do TER deve levar em indicador de manutenção da vitalidade pulpar
consideração o tratamento restaurador, no caso de (valor pr editivo po sitivo = 91, 7 % ) (Figura
dentes portadores de fraturas, ou a opção dopa- l 7.69A) , a ausência de sensibilidade no p eríodo
ciente, devidamente esclarecido sobre os riscos de imediato após o trauma não pode ser relaciona-
alteração de cor ou de um tratamento endodônti- da à evolução de necrose (valor preditivo nega-
co radical futuro se necessário. tivo = 39,1 %) (Figura 17.69B).
TRAUMATISMO DENTÁRIO
VITAIS
68 dentes ~ .,.,,., VITAIS
87 dentes
VI TAIS
68 dentes
31 dentes (58,3%) VITAIS
87 dentes
RESPOSTA RESPOSTA
INOEFINIQOS lNOEFINIOOS
5.2 dentes 12 dentes (17,6%) 3 dentes NEGATIVA 3 dentes (6,2%) NEGATIVA
52 dentes 3 dentes
"
NECROSADOS 1 dente (100%)
~ NECROSADOS NECROSADOS ~
18 dentes (34,6%)
NECROSADOS
1 dente 31 dentes 1 dente 31 dentes
Valor Preditlvo Positivo = 82,40/o 70,8% a 90,20/o Valo< Predltlvo Negativo = 38,00/o 25,0% a 52,8%
A expli cação para tal fenô meno res ide n o api cais e reabsorções radiculares inflama rórias,
fato das provas de vitalidade pulpar indicarem a requerem um período mínimo para serem obser-
situação do contingente sensorial da polpa e n ão vados radiograficam ente. Entretan to, esta espera
do seu suprim en to san güíneo, responsável, em po r sinais m ais contundentes da n ecrose pulpar
última instân cia, pela nutrição e m e tabolism o pode colocar em risco a própria m anuten ção de
pu lpares. Como ap ós um traumatismo a revascu - dentes permanentes jovens em fun ção da fragili -
larização é um processo mais ráp ido e eficien te dade de su as paredes radiculares. A busca de
do que a recuperação do feixe n ervoso apical, o uma avaliação m ais obj etiva da con diçã o da cir-
• 1
resultado é um den te vital, m as in sensível difi- culação sangüínea da polpa res ultou n o desen-
cultando, desta forma, a avaliação da real condi- volvimen to de técnicas que se p ropunham a
ção pu lpar após o traumaH 8 •37 ·88 . Outro fator im- m edir o flu xo san guíneo pulpar. Destas, a utiliza-
p ortante a ser levado em con sideração d urante a ção da tecnologia dos raios laser - "FDL"- fluxo-
interpre tação das repostas obtidas das prova s de m etria d e laser doppler - fo i a m ais estudada
sensibilidade pulpar é o fat o das lesões traumáti- com o alternativa de registro de alterações do flu-
ca s acom eterem , na su a m aioria, dentes jovens xo sangüíneo em den tes hígidos e da revasculari-
• • ainda com rizogên ese incompleta e em fa se de
erupção que, sabidamente n ão resp ondem satis-
zação de dentes trau m atizados 11 · 116· 1 17· 130 . Esta téc-
nica u tiliza um feixe de luz a partir de um laser
fa toriamen te à s p rovas de vitalidade pulpar4 7· 69 . hélioln eon que, quando refletido p elas células
vermelhas circulan tes, sofre uma mudança de
FLUXOMETRIA PULPAR A LASER freqüên cia de acordo com o pr incípio doppler.
Essa fração da luz, devolvida com distorção, é
Conforme exposto anteriormente, embora o p rocessada para produzir um sinal qu e reflete o
progn óstico pulpar seja determinado por fatores fluxo de h em ácias e a velocidade média dessas
1
presentes no momento do trauma e no período células . Este registro é, então, utilizado como
! imediato, a definiçã o da con dição pulpar só p ode uma m edida do fluxo sangüíneo, sendo o valor
ser realizada a m édio e lon go prazo uma vez que exp resso com o u ma percentagem da escala com-
os sinais definitivos de necrose - alterações peri- pleta de deflexão. Estudos testaram a aplicabili-
CIÊNCIA ENDODÓNTICA
dade clínica des ta técnica no monitoramento da quemia pulpar que leva a uma maior permeabi-
vitalidade pulpar de den tes traumatizados e de- lidade vascular numa tentativa de repor o supri-
monstraram que, a n atureza do sinal obtido for- mento sangüíneo do tecido isquêmico. Outro fa-
nece dados sobre a situação da circulação sangüí- tor a ser considerado é o fato de que durante as
nea pulpar permitindo disti nguir precocemente fas es inicias da angiogênese, os vasos imaturos
dentes vitais ou necrosados. A partir desta s con- neoformados não possuem membrana basal fa -
clusões o faser doppler foi indicado como uma zendo com que haja um grande extravasamento
promissora técnica de determinação da v italidade de células sangüíneas para os tecidos adjacentes.
pulpar, quando comparada aos métod os indire- Seja em função da hemorragia intrapulpar pós- ,
tos disponíveis. As principais vantagens desta traumática, seja devido à perda de eritrócitos pe-
técnica seriam o fato de não ser invasiva, ser de los vasos neoformados, a presença de sangue na
utilização relativamente simples e fornecer um intimidade do tecido pulpar é vista através do
registro p reciso e reproduzível do fluxo sangüí- esmalte e da dentina, tornando a coroa rósea
neo pulpar 71 • 116·uº. Como desvantagens deve-se (Figura 17. 70). Uma vez restabelecida a circula -
ressaltar que é uma técnica dispendiosa, dificul- ção, a coroa retoma sua coloração normal. Este
tando seu uso na clínica, e o fato da p resença de fenômeno pode ser concomitante com a perda
alteração de cor da coroa impedir a leitura do temporária da sensibilidade pulpar e com altera-
aparelho8 2 · 125 . Sendo assim, até que surjam novos ções radiográficas transitórias significando, cada
métodos de avaliação do fluxo sangüíneo pulpar, uma destas manifestações clínicas, fases do pro-
a abordagem sintomática, radiográfica e visual cesso de cicatrização pulpar na ausência de infec-
permanece como o p rincipal m eio de diagnóstico ção. Por sua vez, a invasão do tecido pulpar isquê-
da s alterações pulpares pós-trauma. mico por bactérias e seus subprodutos pode le-
var à a lterações de cor definitivas da coroa em
ALTERAÇÕES DE COR DA COROA função da impregnação dos túbulos dentinários
p elo tecido pulpar n ecrosado e subprodutos de
As alterações de coloração da coroa são fre - sua autólise. Neste caso a coroa dental se torn a
qü entes após os traumatismos den tários, mas escurecida com uma tonalidade arro x eada,
/
n em sempre estão relacionadas com o diagn ósti - amarronzada, acinzentada ou mesmo azulada.
co de necrose uma vez que também podem ser (Figura 17.71 ). Outra a lteração de cor que não
transitórias. As alterações de cor transitórias de- deve ser confundida com aquela causada pela
correm de luxações moderadas que não são sufi- n ecrose pulpar é a tonalidade amarela decor-
cientes para ocasionar o rompimen to completo rente da obliteração do canal r adicular (Figura
do feixe vasculonervoso, mas causam uma is- 17.72 ).
. ,.Fi~. 17.11
Escurecimento progressivo e permanente do ele-
mento 11 resultante da impregnação dos túbulos
dentinórios pelo tecido pulpar necrosado e subprodutos
de sua autó//se.
• f~G. fl,11;
Tonalidade amarelo da coroa do elemento 27 ca-
racterístico de obliteração do canal radicular pós-trauma.
' ;! Esta alteração de cor se deve à maior espessura da
1
i
camada de dentina.
1 •
• i:IG• .'ff/l(t~
Seqüência de reabsorção apical
transitória - TAB após luxação extrusivo
do elemento 11: Aparecimento de pe-
quena área radiolúcida periapical 3 me-
ses após o trauma.
• FiG. 'fl.1fül
Completa cicatrização da região
-
apical 1 ano após o trauma.
As reabsorções radiculares internas, também gocitose e aquela oferecida pela dentina exposta
chamadas de reabsorções do canal radicular, fo- não é suficiente para sustentar o processo por
ram descritas por Andreasen & Andreasen 20 como mais de duas ou três semanas, é necessária a pre-
um achado raro após lesões traumáticas na denti- sença de um fator de manutenção para a progres-
ção permanente, tendo sido observadas numa fre- são da atividade osteoclástica . Na ausência deste
/ qüência de 2,0 % após luxações. Foram classifica- fator a reabsorção é transitória e seguida de repa-
I das em reabsorção do canal radicular por substi - ro. No caso das reabsorções internas inflamatórias
tuição e reabsorção inflamatória do canal radicu- progressivas a atividade de reabsorção é alimenta-
lar. Ambas dependem da p erda da camada odon- da pela infecção presente em · áreas de necrose
, toblástica e de pré-dentina para que as células parcial localizadas nas porções mais coronárias da
elásticas tenham acesso à superfície mineralizada polpa, subjacentes à urna área de inflamação pul-
da dentina. Entretanto diferem quanto à natureza par crônica, onde ocorre a atividade de reabsor-
do estímulo responsável pela manutenção da ati- ção161'17º. Radiograficamente observa-se um au-
vidade de reabsorção. Como os osteoclastos re- mento do tamanho do can al radicular de forma
• 1
qu erem uma estimulação contínua durante a fa- oval ou arredondada2 º·21 (Figura 17.77).
. ·)
• FIG. f1.11 .
Aspecto radiográfico do reabsorção interna inflama-
,. tória progressivo. Observo-se uma deformação do canal
t • radicular do elemento 27 na altura do terço médio.
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
A reabsorção interna transitória foi descrita e corresponde a uma das manifestações de "TAB"
na porção mais apical do canal radicular, associa- descritas por Andreasen5 •
da ao processo de revascularização, como resul- A reabsorção por substituição acontece a par-
tado da atividade osteoclástica necessária para a tir de uma metaplasia de células do tecido pulpar
reabsorção dos agen Les agressores dessa região, em células ósseas resu ltando na substituição da
representados pelos tecidos destruídos e por áre- dentina das paredes internas do canal radicular
as de pequena contaminação. Neste caso, seria por osteodentina. Radiograficamente observa-se a
um processo autolimitante, não raro seguido de princípio um aumento irregular do tamanho da
obliteração do canal radicular5 ·36• 17º·17l _ Também câmara pulpar, seguido da total obliteração do es-
foi denominada reabsorção de superfície interna paço do canal radicular (Figuras l 7.78A a D ).
• t ·i tiS. rr.ni~.a o
Seqüencia de reabsorção interna por substituição. Obsetva-se a deposi-
ção de teodo mineralizado na intimidade do tecido pulpar do elemento 21
após uma luxação extrusiva.
TRAUMAT ISMO DENTÁRIO
'
,..,.,.,...,J,.~__..~~.,,_.~-.v,.~,,<~........,..,_,,.......,....._.,.,~,._......_,,,,u.,°"""•""'"-'-'' . ,.,_, _ ,~,~,,......_u.,;,cn,<t'U.,.,.,..,_.,.,.,.,,- .-~~----··~-·-·---,...,,.,.,,...,,.,........,.,_..--,.,-~~~~· ......-......,_. ...._..,.,,.,,...,....,_..., ...,._,,,.,,...,..,,.,.,..,,..,._ .•. __ _~ - -
• FIG, _'.f1.2~14 __
Reabsorção radicular externa inllamatótia progressi-
va. Radiograficamente observa-se áreas radiolúodas irre-
gulares na superfície externa da raiz dos elementos 21 e
22. Estas áreas correspondem à perda de estrutura
radicular e óssea em função da presença de teodo de
granulação resultante da presença de infecção na luz do
canal radicular
' ;I
1
i
Quando grandes áreas do ligamento perio- ta por Andreasen & Hj0rling-Hansen 26·27 . A partir
dontal são removidas ou danificadas a cicatr ização de uma avaliação clínico-radiográfica e histológica
envolve processos distintos 'e competitivos entre de dentes reimplanta dos os autores descreveram
si, originados no ligamento periodontal e osso al- este tipo de reabsorção como sendo uma união
veolar adjacente, e tem como obj etivo o repovoa- direta entre o osso e a superfície da raiz seguida
mento da superfície radicular. A insuficiência de de reabsorção e substituição da estrutura radicular
células do ligamento periodontal viáveis, disponí- por tecido ósseo. Estudos experimentais posterio-
veis para esta cicatrização, leva à fusão entre teci- res13,16,28·74,124 reforçaram este mecanismo demons-
) dos mineralizados da raiz e do osso alveolar, pro- trando o papel de uma extensa lesão ao ligamento
movendo uma substituição gradual dos tecidos periodontal no desenvolvimento desta reabsorção
dentários por osso 75 (Figuras 17.81A e B). A rea- sendo que os conceitos de anquilose e reabsorção por
bsorção por substituição foi primeiramente descri- substituição foram utilizados como sinônimos.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Entretanto, estudos p osteriores7 5· 111 demonstraram Sendo assim, estes conceitos deveriam ser consi-
que a preservação da camada cementoblástica re- derados separadamente uma vez que anquilose é
presentava um fator decisivo na prevenção da rea- o resultado da perda do ligamento periodontal e a
bsorção por substituição originária da fusão entre reabsorção por substituição depende da perda da
o osso medular e a estrutura dentinária da raiz. camada cementoblástica.
I
íl
1
• f~§~..-1!'.f}I 8.
Ilustração esquemática da evolução da reabsorção radicular externa por substituição.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
Os primeiros meios de armazenamento suge- dental durante o período extra-oral, se constata ..;·~
...
ridos na literatura p ara a manutenção do dente na literatura várias tentativas de tratamento da
avulsionado foram a água, a saliva e o soro fisioló- superfície radicular com ligamento periodontal
gico. Entretanto, embora melhores do que o res- destruído ou necrosado, com o objetivo de dimi-
secamento da raiz 1H 5· 6 1 , o benefício proporciona- nuir o risco de reabsorção radicular. Entre outras
do por estes meios é limitado em função de sua foram propostas o tratamento da superfície radi-
baixa osmolaridade45 ·106·1º7, e não foi comprovado cular com vários tipos de soluções fluoreta-
em levantamentos clínicos longitudinais22·24 . da s4u3· 149·150, antibióticos 41 ·59 ' 149, solução de
A utilização de um invólucro de plástico ATP 68·175 e ácidos 176 para remover os restos de liga-
como um meio de proteger o dente avulsionado mento periodontal necrótico da superfície radi-
da desidratação gerada pelo período extra-alveo- cular e fa cilitar a adesão das fibras colágenas.
lar promoveu, em uma situação experimental43, Outras terapias ten taram substituir o ligamento
níveis de cicatrização periodontal semelhantes ao periodontal por m ateriais biocompatíveis80 ou
reimplante imediato. Estes resultados, entretanto, enxertos autógenos93 . Os melhores resultados fo -
também não foram confirmados clinicamente2 4. ram obtidos com a associa ção de fluoretos e anti-
Na busca de outros meios de armazenamen- bióticos41 ·149.
to superiores à água, saliva e à solução salina A participação da parte alveolar do ligamento
estéril, o uso o leite de vaca foi proposto para o periodontal na cicatrização de dentes reimplanta-
a rmazenamento de um dente avulsionado, devi- dos é controversa uma vez que os p oucos dados
do às suas propriedades fisiológicas - pH (6, 5- provenientes de estudos em animais são confli-
7,2) e osmolaridade simila r ao fluido extracelular tantes18·115. Sendo assim, o que se pode concluir
(250-270 mOsm Kg -1), à facilidade de sua ob- atualmente é que o tratamento do alvéolo não
tenção no local do acidente, e ao fato de ser interfere no prognóstico do reimplante 163 .
relativamente livre de bactérias. Entreta nto, os Até a década de 1970, a imobilização dental
benefícios do leite dependem do armazen am ento seguia os mesmos princípios da fixação dos ossos
relativamente rápido (dentro de 15min) do den- maxilares, embora já existisse, desde 1930, uma
te avulsion ado . Embora mantenha a osmolarida - tendência a períodos de imobilização m enores.
V
de e a produção de proteínas pelas células do Hoje em dia sabe-se que a imobilização rígida,
ligamento periodontal prevenindo sua morte ce- necessária a uma b oa con solidação das fraturas
lular42·7º·1º7·128·136·162 o leite é in capaz de repor os ósseas, pode levar a complicações indesejadas
metabólitos perdidos e resta urar a viabilidade ce- quando aplicadas aos dentes luxados ou avulsio -
lular. Sendo assim, faltam a estas células a ener- nados. Estudos experimentais têm demonstrado
gia e os íon s para que ocorra o "repovoamento" que uma movimentação fisiológica acelera e me-
do ligamento periodontal uma vez que não res- lhora a cicatrização do ligamento periodontal di-
tauram a morfologia normal e n ão recobram sua minuindo a ch ance de anquilose den tária 19,102 .
capacidade de diferenciar-se e sofrer mitose, ou Além da n atureza rígida ou flexível da imobiliza-
seja, sua capacidade clonogên ica 42·54•7 º· 1º 7· 162_ ção, outro ítem importante é a duração do perío-
Entre as soluções capazes de res ta urar a vita- do de fixação sendo que períodos mínimos dimi-
lidade das células do ligamento periodontal suge- nuem a ocorrência de anquilose e são suficientes
ridas n a literatura como meio de armazenamen - para p ropiciar a estabilidade n ecessária p ara que
to para dentes avulsionados estão os m eios de o dente avulsionado fique posicionado n o alvéo-
cultura celular como a solução sallna b alanceada lo sem n enhuma força externa incidindo sobre
de Hank - HBSS 42 ·6 M 5•95•132, 134 , 162, o meio de Eagle ele durante o período inicial de cicatrização do
35 1
o,4z e o ViaSpan , º6 · 162, além de um meio rico em ligamento periodontal1 21· 126· 168.
3
O tratamento endodôntico radical dos dentes madora da bainha epitelial radicular, assim com o a
portadores de lesão traumática é indicado nos ca- paralisação de deposição da dentina nas paredes do
sos em que não houve sucesso do tratamento canal observados na radiografia (Figuras l 7.82A e
conservador e/ou quando ocorre a n ecrose pul- 17.82B) . O exame radiográfico é de grande im-
p ar5·10·11·12·16·27. Esta é uma das complicações mais portân cia e nesta situação deve-se tomar o cuida-
• 1
freqüentes em dentes com diagnóstico de luxação, do para não se confundir a imagem do saco peri-
principalmente naqueles que apresentam rizogê- coronário com a presença de reabsorções apicais.
nese completa 1.4.22 . Atenção especial deve ser dada Quando ocorre a interrupção da rizogên ese o fo-
aos sinais e sintomas a serem observados para se rame se mantém aberto e as paredes radiculares
tomar uma decisão de tratamento. Vários fatores estão divergentes n a região apicaL o que inviabili-
já am plamente discutidos em sessão anterior são za o tratamento en dodôntico pelos m étodos con -
.• ·1 determinantes do diagnóstico e prognóstico, es- vencionais, dificultando a limpeza, formatação e
tando dire_tam en te relacionados ao tipo e severi- obturação do canal radicular 1º· 26 • Além disto o
dade da lesão assim como ao grau de rizogênese. tempo de tratamento é muito longo, principal-
Neste capítulo daremos ênfase ao tratamento m ente n os casos de pacientes m ais jovens.
dos dentes com rizogênese incompleta. Nesta Durante muitos anos, a indicação para den-
situação o diagnóstico de necrose pulpar é particu - tes imaturos com necessidade de tratamento en-
larmente delicado devido principalmente à dificul- dodôntico radical foi a cirurgia imediata com
dade de resposta aos testes de sensibilidade pulpar, obturação retrógrada. Entretanto este procedi-
pois as estruturas n ervosas da polpa ainda não es- mento está contra-indicado, uma vez que resulta
) tão completamente desenvolvidas. Fatores que au- em lesão a estruturas. vitais circunvizinhas, alé m
xiliam no diagnóstico são mudança de coloração da de acarretar um problema em ocional para o pa-
coroa e, principalmente a cessação da função for- ciente infantil3 7 •
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
• fiG.11.$313
Controle radiográfico realiz a-
do 15 dias após o reimplante do
elemento 21 mantido seco durante
20 minutos após a avulsão. Obser-
vam-se áreas radiolúcidos no su-
perfície externa da região apical in-
dicativas de reabsorção inflamató-
no e necrose.
• FIG.17.34
Controle radiográfico do ele-
mento 21 após subluxação. As pare-
des radiculares delgadas são mais
susceptíveis à reabsorção inflamató-
rio em coso de necrose.
Estobilizoçào do dique utilizando-se fio dental devido o expulsiv1dode do coroa de dentes iovens não totalmente
erupcionados.
ºTRAUMATISMO DENTÁRIO
• R G.... 11.$6
-----··-- ••"--·· ·
~··-···
Exemplo de estabilização do isolamento absoluto
sem a utilização de grampos.
A polpa de dentes com rizogênese incomple- êmbolo da seringa dura nte a irrigação, visando
ta é muito volumosa, apresenta um aspecto me- controlar o contato da solução irrigadora com os
nos consistente e deve ser removida com limas tecidos periapicais. A manutenção de tecido vital
tipo Hedstroem de 2ª série (Figuras 17 .87A e na região apical, pode melhorar a qualidade da
17.878). Em seguida, o canal deve ser irrigado barreira de tecido mineralizado, assim como sua
copiosamente com solução de hipoclorito de só- velocidade de formação 12 • Quando a polpa se
dio de b aixa concentração (0,5 a 1 %) . A solução apresenta necrosada, concomitante com a irriga-
t; não deverá ultrapassar o terço médio do canal, ção, deve ser realizado o esvaziamento do con-
uma vez que as paredes divergentes da região teúdo necrótico através da penetração progressi-
apical expõem o tecido p erirradicular ao contato va de limas tipo Kerr de 2ª ou 3ª- série de calibre
direto e esta solução pode lesá-lo. Todo o cuida- adequado ao amplo diâmetro do canal, até que
do deve ser tomado com a profundidade de pe- se a tinja o comprimento de trabalho provisório
netração da cânula irrigadora e a pressão no ( CTP) (Figuras 17 .88A a 17 .88C) .
• FIG. 17.8713
Polpa removida de dente jovem com o auxílio de Aspecto da fragilidade das paredes radicu!ares na
) lima Hedstr6em. região apical de dentes com rizogênese incompleta.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
l
' .
:r:
4
'_j
Depois de realizada a tomada radiográfica tanto mais longo que o vestíbulo-lingual. Baggett
para a odontometria, a medida d o comprimen - et al. 6, em seu estudo sobre a determinação do
to de trabalho (CT) deve obedecer a um limite de CT de dentes imaturos, sugeriram utilizar pontas
1 mm aquém do ápice radiográfico com o intuito de papel absorvente para defin ir a medida dos
de não danificar o tecido periapical que está em canais . Através da sen sação tátil é possível deter-
continuidade direta com o canal radicular (Figu- minar a resistência oferecida pelo tecido p eriapi-
ras 17.89A a 17.89C). Sabe-se que o linúte radio - cal não correndo o risco de ultrapassar. A técnica
gráfico não é fiel à medida do comprimento do foi considerada válida e confiáv el, pois em 95 %
canal, principalmente nos dentes imaturos onde dos 35 dentes utilizados, houve coincidência en-
a visualização é dificultada pela pe quena espes - tre o comprimento e stimado e a medida radio-
sura das estruturas dentárias mineralizadas do gráfica, quando observado por dois examinado -
ápice radicular. Lembramos ainda que a forma- res. Apesar de viável a alternativa apresentada, a
ção da raiz ocorre primeiramente no sentido que confirmação através da radiografia é sempre im-
observamos na radiografia, o mesiodistal, por- p rescindível.
TRAUMATISMO DENTÁRIO
• f~G. 1J.S9A
A determinação do comprimento de trabalho nos
dentes com rizogênese incompleta deve levar em consi-
deração o descompasso entre o desenvolvimento
radicular vesttbulo-linguol e o mesiodistal.
• W:IGS.
. --
fl.$9~
-·-
e . 17.89C
. -. ..
--
Para o saneamento adequado do canal radi - nenhuma res1stencia à ação dos instrumentos.
cular é essencial eliminar toda a dentina infec- Sendo assim recomenda-se uma instrumenta-
tada juntamente com os restos necróticos adj a- ção circunferencial utilizando instrumentos de
centes, sendo este o fator preponderante para o 3ª série (Figura 17.90), com movimentos deli-
fe chamen to apica!2°· 34 . Devido às paredes finas cados de limagem objetivando não enfraquecer
que circundam um canal radicular muito am- as paredes radiculares delgadas, nem agredir a
plo 12·23·34 não é possível utiliza r as técnicas con - região periapical. Recomendamos a utilização
vencionais, pois os instrumentos não se adap- de limas tipo Kerr. Concomitante à instrumen-
,~" tam às p aredes da dentina como ocorre nos tação, a irrigação deverá ser realizada inicial-
· r dentes formados . Nos dent:es imaturos os túbu - mente com solução hipoclorito de sódio de bai-
) los dentinários ainda não apresentam uma de- xa concentração, tornando-se os mesmos cuida -
posição adequada de dentina intertubular e a dos citados para que a solução irrigadora não
dentina peritubular, pois, não atingiu seu com- atinj a a região apical. Em seguida deve-se irrigar
pleto de senvolvimento, oferecendo pouca ou com solu ção con centrada de hidróxido de cá!-
CIÊNCIA ENDODÓNTI CA
cio, obtida a través da m istura de soro fisiológico diâmetro compatível, previament e medidas n o
e hidróxido de cálcio PA. Ao final do preparo do CT com o intuito de não ultrapassar o ápice,
sistema de canal radicular, a secagem deve ser podendo, às vezes, ser invertidas para se adap -
realizada com pontas de papel absorvente de tar ao diâmetro do canal (Figura 17.91).
· ·~FIG. 17.4}!_
Cones de papel absorvente com diâmetro compatí-
• FIG. 17.90
vel ao do canal radicular são utilizados poro o secagem
Limas tipo K de 3 a_ sen e utilizados poro prévia à colocaçâo do hidróxido de cálcio.
instrumentação de dentes permanentes i9vens.
Graças aos estudos de Hermann 17 na década devido ao seu pH extremame nte alcalino, com
de 20, o hidróxido de cá lcio (Ca lxyl) foi introdu- indução da formação de barreira mineralizad a
zido n a Odontologia como uma substância bio- (Capítulo 12). As técnicas recomenda das para
logicamente compatível com os tecidos pulpar e preenchime nto do canal com h idróxido de cálcio
periapical. Sendo assim, o material de escolha são variadas e fica a critério do profissional optar
para a medicação intracanal é o h idróxido de por aquela à qual m elh or se adapte, conquanto
cálcio e diversos veículos são recomendad os na con siga preencher densament e toda a exten são
literatura, com variações no tempo de ação e do can al. Podem ser utilizadas limas, brocas len-
conseqüen temente n a re novação do m esmo, tulo e seringas especiais. Recom endamos a utili-
conforme descrito n o Capítulo 12. Recomenda - zação dos condensado res tipo Schilder25 , cujo di-
se a utilização de água destilada ou propilenogli- âm etro deve ser determinad o de acordo com o
col, devendo a medicação manter íntimo contato do canal, d.e modo que o material seja conduzido
com os tecidos periapicais, com o objetivo de diretamente ao ápice e condensado para o pre-
promover uma ação direta sobre os mesmos. A enchimento do canal em toda sua extensão, até
preparaçã o da mistura deverá ser feita sobre a o nível cervical (Figura 17. 93 ). Os conden sado-
placa de vidro, até u ma consistên cia mais firme, res devem ser previament e selecionado s de acor-
qu e permita uma condensaçã o vertical adequa- do com o diâmetro das diferentes porções do ca-
da, com o mínimo escoamento em direção à co- nal a serem p reen chida s, sendo que o primeiro
roa do den te (Figuras 17.92A e 17.92B). Algu- deverá praticamen te ocupar a luz do can al a uma
mas das propriedad es do hidróxido de cálcio são distância aproximada de 2 a 3mm aquém do CT.
particularm ente favoráveis ao fechamento apical, Deve-se realizar uma conden sação vertical firm e,
dentre elas o acentu ado efeito antimicrobiano, sem no entanto forçar o conden sador contra as
TRAUMATISMO DENTÁRIO
• .w:ms.__1J.9?fi,I_~ 1z'.;,22
M anipulação de hidróxido de cálcio PA e água desttlada para obtenção da pasta a ser utilizada como medicação
intracanal.
• iffG. 11.93
Condensadores tipo Schilder utilizados para coloca-
) ção da pasta de hidróxido de cãlcio no interior do canal
radicular
CIÊNCIA ENDO DÔ NTICA
..
.:
,,,,.. .
...
água desfilada oo propileoogicol
tEm---- - - -~
O controle clínico e radiográfico deverá seguida as paredes devem ser raspadas com movi-
ser realizado em intervalos de 30 dias para a veri- mentos suaves de limagem, utilizando, se neces-
ficação da presença do hidróxido de cálcio no in- sário, limas mais calibrosas dependendo do diâ-
terior do canal, da integridade do selamento pro- metro do canal. Em seguida, o canal deve ser seco
visório e da condição dos tecidos na região peria- com pontas de papel absorvente e nova pasta de
pical. Via de regra, a troca da medicação poderá hidróxido de cálcio inserida no canal, seguindo os
, ser realizada entre 45 e 90 dias, ou sempre que a mesmos procedimentos já observados previamen-
Í radiografia demonstrar ausência do hidróxido de te. O tempo de tratamento varia de acordo com o
cálcio, p rincipalmente na região apical ou ainda, caso. e as trocas da m edicação deverão ser realiza -
for observada a presen ça de fístula e/ou tumefa- das até que se obtenha a formaçã o da barreira de
ção. Para tanto, o isolamento absoluto deve ser tecido mineralizado confirmada inicialmente p ela
realizado preferencialmente sem a aposição de radiografia. As Figuras 1 7.97A a 1 7. 97E; 17.98A
grampos. O hidróxido de cálcio deve ser removido a 17. 98E mostram o acompanhamento radiográfi-
com limas tipo K n º 40 e irrigação com soro fisio- co do tratamento endodôntico radical em dentes
lógico. Primeiramente a lima deve ser introduzida permanen tes joven s p ortadores de lesão traumáti-
no centro da pasta de hidróxido de cálcio e em ca e necrose pulpar.
-! . • FIG. 11.978
r· Radiografia mostrando regres-
) são da área radiolúoda periapica/ e
continuidade do desenvolvimento
radicular 3 meses depois.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
1 •
• FIG.__ 17.97C__ .
BotTeli·a mineralizado opicol após 1 ano.
• flG._J'1-i~?.'º _
Canal obturado pela moldagem do cone e técnica
da condensação ve,tical da 9uta-percho te,moplostificada
de Schilder.
_ __f l.§.,.1!,?.Jf;..
Após novo acidente houve fraturo coronálio acom-
panhada de subluxação. Foi realizada a colagem do
fragmento e imobilização flexível.
TRAUMATISMO DENTÁ.RIO
~
WoliMiii,il
' ;!
• ...fJ_~. 17.1_0Q___ ..
...
r Verificação radiográfica da adaptação apical após
moldagem do cone.
)
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
• AG. 11.101
Após o preparo do cone o obturação pode ser rea-
lizado pelo técnico de condensação lateral convenciono/.
• FIG. 11.102.l\
Aspecto radiográfico após o obturação pelo técnico Aspecto radiográfico após o obturação pelo técnico
hrbtido de Togger. da condensação vertical do guto-percho termoplos-
tificoda de Schilder.
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PROCESSO DE REPARO
APÓS O TRATAMENTO
ENDODÔNTICO
INTRODUCÃO
,
Com a remoção do agente untante, não é A região do periodonto apical do ponto de ... ·~
n ecessário esta manutenção da atividade flogísti- vista anatômico é compreendida pelo cemento,
ca, portanto, há uma evolução deste processo ligamento periodontal e osso alveolar.
crônico para o reparo definitivo da lesão. Cawson et al.2 afirmam que o cemento é um
De acordo com Trowbridge & Emling 39, os tecido semelhante ao osso que recobre a superfí-
eventos da reparação ocorrem um pouco mais cie externa das raízes. Há dois tipos de cemento:
tarde em relação a inflamação, entretanto, há acelular e celular. O primeiro recobre toda a su-
uma sobreposição, pois tanto na inflamação agu - perfície da raiz e o segundo, principalmente no
da e como a crônica já ocorre o processo de fago- terço apical, possui cementócitos incluídos em
citose, fundamental para a instalação do processo lacunas irregularmente distribuídas, lembrando
de reparo, bem como a fibroplasia e a angiogêne- osteócitos. Já o ligamento periodontal compre-
se comuns na fase crônica e também no reparo. ende grupos de fibras colágenas, que ligam o
É importante considerar que o processo de dente ao processo alveolar; e, finalmente, o osso
reparo só se inicia com a inflamação e somente alveolar, no qual se inserem as fibras colágenas
chega ao seu final com a retirada definitiva dos do ligamento periodontal. A câmara cribiforme
agentes irritantes que evocaram esta resposta in- ou perfurada dá passagem a vasos sangüíneos. A
flamatória do organismo. área óssea onde se inserem as fibras do ligamen-
Para o desenvolvimento da inflamação é im- to periodontal, chamadas fibras de Sharpey é
portante a presença dos seguintes fatores: san - mais rica em feixe de colágeno e denomina-se
gue, tecido conjunti vo e microcirculação, do osso fasciculado.
contrário é impossível ao organismo reagir pe- Da mesma maneira, pode ser observado que
rante os agentes flogógenos. nesta região anatômica encontra-se tecido con-
O reparo das lesões pode ocorrer por dois juntivo, também constituído por matriz extracelu-
processos: regeneração ou cicatrização, isto na lar, fibras colágenas e microcirculação (para o
dependência da capacidade regenerativa das cé- transporte do sangue). Diante de qualquer agres-
1u las afetadas, extensão da lesão e atividade pro - são neste local, a resposta de defesa será o apare-
liferativa do estroma conjuntivo 2º·34 •39•4 1 • cimento da inflamação, com finalidade de promo- y'
Regeneração, portanto, é o processo que leva à ver a cura ou o reparo desta área. Conforme pode
substituição do tecido lesado por células semelhan- ser verificado na Figura 18.1 .
tes àquelas perdidas, restituindo a forma e função As doenças mais freqüent es no periodonto
do tecido lesado. Já a cicatrização é caracterizada apical são de na tureza inflamatória promovidas
pela formação de um tecido com predomínio do pela morte total ou p arcial do tecido pulpar,
conjuntivo de origem fibroblástica . p rincipalm ente de etiologia bacteriana decor-
No processo de regeneração é importante a rentes da evolução da doença cárie. A cárie
característica das células envolvidas no reparo, quando não tratada gera o comprometimen to
podendo ser classificadas em lábeis, estáveis e per- do tecido pulpar coronário e radicular. As toxi-
manentes; de acordo com o seu tipo, pode res- nas bacterianas chegam à região periapical pro-
ponder ao processo de reparo. Por exemplo, as movendo alterações profundas no tecido con-
células lábeis se reproduzem por toda a vida como juntivo do ligamento perio~ontal, provocando a
no tecido epitelial e sangüíneo, outras apenas inflamação 32 · 33 •
quando lesadas. Como exemplo, têm-se os fibro- Com o trat amento endodôntico efetuado
blastos, osteoblastos, condroblastos, células mus- dentro dos princípios biológicos e em condições
culares lisas e células endoteliais, ou seja, células que promovam a sanificação do canal radicular
derivadas da linhagem mesenquimaL e no caso até o limite apicaL inicia-se o processo de reparo.
específico, presentes no tecido conjuntivo da re- Anteriormente , o reparo das lesões do tecido
gião do periodonto apical. conjuntivo era caracterizado com descrições mi-
As células denominadas permanentes não croscópicas de fibroplasia, síntese de colágeno e
são passíveis de mitose na vida pós-natal, como, neovascularização . Contudo, recentes pesquisas
por exemplo, os n eurônios 39 . em biologia celular têm proporcionado descri-
Neste capítulo será abordado a reparação ções mais acuradas dos mecanismos, tipos de cé-
pós-tratamento en dodôntico, portanto, a região lulas e agentes químicos que controlam e dire-
do periodonto apical com suas peculiaridades. cionam estas atividades. Incluídos neste grupo de
PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO
mediadores químicos estão vários fatores de cres- novo sistema vascular dentro de uma matriz de
cimento secretados por células que participam do tecido conjuntivo produzido pelo infiltrado infla-
processo de rep aro 41 • m atório.
Os eventos que compreendem o processo de No processo de reparo de uma lesão periapi-
reparo podem ser caracterizados em 4 fases: le- cal deve se considerar alguns aspectos: o primei-
são, inflamação, proliferação e remodelação. A ro aspecto é referente aos casos de pulpectomia,
injúria do ligamento periodontal inicia a fase in- quando a região do periápice apresenta prova-
flamatória, pela ativação de vários sistemas em velmente um tecido conjuntivo com áreas de
forma de cascatas, como o sistema da coagula- exsudação plasmática e pouca destruição óssea.
ção, complemento e cininas. Os sistemas de cas- O segundo aspecto a ser verificado são os casos
catas são processos dinâmicos que se interrelaci- de necrose pulpar em lesões de evolução crônica
onam e promovem alterações no microambiente, onde já se evidencia alise óssea. Quando da rea-
produzindo vasodilatação dos vasos adjacentes, lização do tratamento endodôntico, em que os
diminuindo o pH e a tensão de oxigênio e au- agentes irritantes foram suprimidos. De acordo
mentando a concentração local d e lacta -. com a pulpectomia ou a penetração desinfectan-
tos 2 º·27· 3º·33 · 34 .4 1• Como resultado destas atividades, te, o processo de reparo se iniciará a partir da
uma população de células começa a invadir a fase de evolução em que se encontra o processo
área lesada e a replicar, caracterizando a fase de inflamatório, sendo, portanto, a inflamação uma
proliferação. Um grande número de células infla - etapa .fundamental com as suas diferentes Iases
matórias, macrófagos da resposta inflamatória de evolução.
anterior, e células endoteliais, características do Outro fato a ser considerado é referen te ao
processo de reparo, constituem o tecido de gra- diagnóstico da lesão. Nas lesões crônicas, como
nulação. na periodontite apical assintomática (como o
A fase de remodelação tem início como pro- granuloma radicular), uma le são de evolução
/ duto biológico dessas células, sofrendo diferen- extremamente lenta, cessada a fonte de infec-
ciações para a formação do tecido regen erado, de ção do Cqnal radicular, o reparo se inicia a partir
acordo com a extensão da área lesada. do tecido de granulação já pré -existente no pe-
A esp ecificidade de células durante os dife- riápice.
re ntes est ágios do reparo sugere que há um m e - O reparo pós-tratamento endodôntico de le -
canismo receptor qu im iotáctico, responsável sões diagnosticadas radiograficamente como cisto
por esta especificidade, já que a produção e o radicular inflamatório, tem sido discutido por
aumento do número de células parece estar sob Nair 22 • Este autor considera dois tipos de cistos,
o controle de agentes estimulantes do cresci- reforçando o relato de Simon 3 5 qu e descreve a
mento ou mitógenos. Muitas das atividades qui- presen ça de cisto p eriapical na região apical,
miotáctica s e mitogênicas são mediadas através apresentando revestimento epitelial, e ntretanto,
de fatores de crescimento produzidos e libera- com a abertura p ara o canal radicular. Outra va-
dos por células recrutadas da fase inflamatória. riante de cisto radicular ma is conhecida, ap re-
Além do mais, o microambiente da lesão é tam - senta uma cavidade totalmente revestida pelo
bém de considerável importância para determi- epitelio e sem comunicação direta com o canal
nar os tipos de células presentes e seu respecti- radicular. O aspecto descrito por Simon 35 foi de-
. -~ vo número. nominado por Nair22 como "cisto em bolsa", con-
Os eventos, portanto, que compreendem os trário ao cisto radicular inflamatório verdadeiro .
diferentes estágios do rel')aro de uma lesão são: De acordo com Nair 22 , apenas os dentes que
resposta inicial à injúria tecidual; rea ção inflama- apresentam este tipo de cisto em bolsa possuem
tória e ativação do sistem a complemento; respos- a capacidade de reparo total após a terapêutica
ta vascular com a ativação do sistema de coagu- endodôntica22 .
lação (reação em cascata); a criação de um novo Há fortes eviden cias que reação tipo corpo
microambiente n a região p eriodontal; o apareci- estranho, com a· presença de células gigantes
mento de diferentes tipos de células sob a influên- m ultinucleadas, pode acontecer quando do ex-
cia de vários m e diadores químicos e agentes qui- travasamento de m aterial obturador para o espa-
m iotácticos; a replicação de células como um re - ço periodontal, levando ao desenvolvimento de
sultado dos mitógenos; e a elaboração de um lesões p eriapicais assintomáticas que podem per-
CIÊN CIA ENDODÔNTICA
, -~,,,.
,'
'
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'-.!'.LJ ,i
. .. FIG. 1a.1__________ _
Região apical com tecido conjuntivo, matriz extracelular, fibras colágenos e microcirculoçõo.
• F~~S. Jlt.~. ~ JS.ª· -··
Aspecto radiográfico de lesão pedapical
assintomática em incisivo lateral superior,
com e sem presença de extravasamento de
material obturador.
.;
(.·{~.·
l • FIG. 18•.! .
Infiltrado de células mononucleores com corpúsculos Maior aumento da Figura 18. 6 (H.EJ
hialinos de Russell (HEJ.
CIÊNC IA ENDODÔNTICA
- FiG.18.8
Resposta tecidua/ mediante ação de agentes liTitantes no periodonto apicaf.
PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMEN TO ENDODÔN TICO
mente, produtos ativados do complemento atuam área afetada através das ações quimiotáticas do
como fatores guimiotáticos para macrófagos, que FCDP e o FCP básico(FCFb). O FCFb é um po-
chegam até a área lesada. Fatores de crescimento tente agente quimiotático e mitogênico para cé-
secretados por macrófagos no local, estimulam a lulas endote liais. O FCT-B é também encontrado
migração de fibroblastos e secreção de diferentes nas plaquetas e exerce um efeito indireto na
,tipos de colágeno que, em combinação com o angiogênese por promover a liberação do fator
desenvolvimen to de novos vasos levam à for- de necrose tum oral a e interleucina -1 dos ma-
mação do tecido de granulação. crofágos.
O aparecimento dos fibroblastos e células Investigações mais recentes indicam que a
endoteliais, com suas respectivas fun ções em angiogênese é res ultante de um equilíbrio entre
atividade, constitui a base para o tecido de repa - reguladores positivos e negativos ou também
ro, e bem como nos outros eventos do processo, chamados estimuladores angiogênicos.
é criada urna interdependência entre formação A formação de novos vasos a partir dos va-
do tecido fibroso e o desenvolvimento de uma sos remanescentes começa com a ativ ação de
nova rede vascular. Por exemplo, o tecido fibro - enzimas hidrolíticas, tais como a colagenase, de -
so necessita dos nutrientes de uma rede vascu- nominada "estromolizina", e o plasminogênio.
lar normal e os vasos sanguíneos requerem su- Essas enzimas atuam nas paredes dos vasos dis-
porte e proteção da matriz para o desenvolvi- solvendo suas membranas ba sais e liberando cé- 1 .
do tecido ósseo de origem embrionário e neste fi brina e plaq u etas. As plaq u etas são fonte de
processo também estão envolvidas substâncias fato r es bio lo gicamen te a tiv os na p romoção do
biologicamente ativas, como já foi citado anterior- repa ro , liberados d os grânulos a que contém
mente, os fatores de crescimento e citocinas. De FCDP, FCF e FCT ~ que são quimio t áticos e
acordo com Goldbring & Golching 12 citocinas reguladores da ativida de celular. A presen ça
são definidas como produtos solúveis liberados destes fa tores atrai cél ulas para a área injuria-
de uma célula, que podem modular a atividade de da e ati va a s mesmas p ara exe rcerem sua s
outras células, com múltiplas atividades biológi- funçõe s r e pa rativas. Por exemp lo, passagem
ca s. As cito cin a s possuem p roprie dades funcio- d e célu las mesenquimais da fase G0 para a
nais comuns, por e xemplo, as in t e rl eucinas, fase G 1 é promovida pelo FCDP, conseq üente -
monocinas ou linfocinas. As citocinas também m e n te transfo rm ando e m célula competente .
p odem ser con sideradas como reguladores do A comp etên cia é o estágio q uando uma célula
crescimento e diferencia ção de células dos siste- torn a-se responsável pela mod u lação de fato -
mas imune e hematopoiético . res d e crescimen t o adicionais . O FCTf3 estimula
Os fatores de crescimento en vo lvidos no re- a progressão d e células de G 1 para a fas e S, e sti-
paro ósseo são descr itos a seguir: mulando as células a se dividirem. Outros com-
O fa tor de crescimento transformador beta p onentes decorrentes do coágulo podem incluir
(FCTf3) inclui 25 fatores molecular es, tais como célu las mesenquimais indiferenciadas, m acrófa -
as proteínas ósseas morfogenéticas. O FCTf-, é gos, leucócitos polim orfonucl eares, linfóci tos e
liberado nos sítios quando ocorre a degranula- mastócitos . Além dos compo nentes celula res, a
ção de plaq uetas, m acrófa go s e matriz extra ce- característica deste estágio é o rompim ento dos
lular. O FCTf3 é ativado pelo ambien te ácido da condutos vasculares para nutrição ó ssea. Este
área le sada e apresenta como funções estimular evento traumático le vará os osteoclastos a r e-
a atividade osteoblástica e a regeneração intra- mo ver a s margens n ecróticas, organizando a su -
/ óssea . perfície óssea . M acrófagos e ost eoclastos atuam
O fator de cre scim e n t o d erivad o das p la - n a remoção d e tecido não vital. Est e est ágio
que tas (FCDP) é liberado d as plaquetas dos grâ- pode se r den om inado de fase de d emolição .
nulos a e é um p otent e m itógen o, esp ecialme n - Além de sua ativida de de fagocitose e lim peza
te para fib roblasto s. É u m fa tor competen te que d a área, os m acrófagos expressam importantes
permite às células responderem a ou tros m edia - fatores r egulad o res, incluindo inte rle u cina -1 ,
d ores biológicos e a tua também m o dula ndo o n ecessária para angiogênese .e ativação de fibro -
fluxo san gu íneo, porta nto, t en do uma a ção sig- blastos, e células osteoprogenitoras.
nificativa n o reparo. Pelo terceiro e qui nto dia a p ós a lesão, célu -
• 1 Ou tros fa tores importantes são o fator de las e produtos do coágulo se conden sam. Células
crescimento dos fibroblastos (FCP) e o fator de cres- e n dote liais d erivadas dos vasos adjacen tes m i-
cimento insulina (FCI) . gra m , proliferam e formam novos capilares q ue
Após a inj úria do osso, inicia-se o processo p enetram no coágu lo. Um estímu lo p a ra a for-
inflamatório com ativação d o sist em a comple- m ação de n ovos vasos, parece ser a hipoxia lo -
m en to, rup tura dos va sos, formação d o coágu lo, cal; a d ireçã o n a qua l a angio gên ese ocorre é
com o n os casos de ciru rgia pare ndod ô ntica . A sob a orientação dos gradientes qu ímicos . Os
-~
,.. combinação d esses even tos produ z um micro- gradie n tes sã o estabelecidos e ntre a á rea central
• ambien te específico para células com função de com ba ixa con centração de oxigênio e as áreas
pro m over a limpeza de área s n ecróticas e pro- p erifé rica s, bem como também p elas ações q ui-
m over o reparo t ecidual. Este m icroam bien te m iotáctica s do FCDP e FCF. O pH d a área é
em su a fase in icia l não tem sido ca ract erizado ácid o e e st e p eríodo tamb ém é caracte ri za do
complet am en te, con tu do, apresentam um b aixo pela migração d os fibroblas tos no co águ lo . Os
gr adie n te de oxigênio e pH diminuído . Essas fibrobl astos formam , junto com os vasos prolife -
condições são fundamentais para a atuação dos rados, u ma rede de t ecido conjuntivo denomi-
leu cócitos, lin fócitos, m acrófago s e condrócitos . nado tecid o d e gran ulaçã o . A matriz do t ecido
O e x travasamento d e sangue, q u e oco rre conj u n tivo protege o desenvolvimento dos n o -
apó s a remoção d a lesão , consist e em compo- vos vasos e proporciona áre as para a ad esão das
n e ntes h ematogên icos ta is como , eritrócitos, célu las endoteliais.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
'
• FIG. 18.9
Processo de reparo.
f.
CIÊN C IA ENDODÔNTICA
l, Nutrição; riapical.
2. Etresse; Nos casos de necrose pulpar com rarefação
3. Estados debilitantes crônicos; óssea apical é importante que sejam realizados os I
4. Hormônios e vitaminas; procedimentos somente no interior dos canais
5. Desidratação e idade. radiculares,
Nos casos de extravasamento de materiais
para as áreas de rarefação, geralmente, o repa-
• FATORES LOCAIS ro é impedido até que o material seja reabsor-
vido. I
Infecção
Interferência com o suprimento
A infecção na regiã o periapical ou no interior sangüíneo
dos canais radiculares, decorrente da presença
de microrganismos, é um dos fatores que impe- Quanto mais vascularizado um tecido m e-
de a formação do tecido de granulação. Em al- lhor é a reação inflamatória com finalidade de
guns casos, com a finalidade de auxiliar o pro - cura. Portanto, tecidos com áreas isquêmicas ou
cesso de reparo, a drenagem ou debridamento com arteriosclerose, tendem a se tornar mais
da área lesada são imprescindíveis, com a finali- infectados, com maior destruição tecidual.
dade de reduzir ou eliminar os microrganismos. Um fator importante a ser considerado é que
Além destes procedimentos cirúrgicos algumas nos indivíduos jovens o processo de reparo se
vezes é necessária a utilização de agentes anti- desenvolve com mais facilidade que nos indiví-
microbianos, duos mais velhos.
L___. _ .____
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Irritações de origens químicas e mecânicas, cristais de colesterol puros foram implantados no
podem interferir no processo de reparo. Nos ca- subcutâneo de porcos da índia. As amostras fo-
sos de extravasamento de corpos estranhos, ram observadas 2, 4 e 32 semanas após o im-
quando o reparo ocorre é devido ao encapsula- plante, e processadas para microscopia óptica e
mento do objeto estranho por tecido conjuntivo eletrônica. Pode-se observar tecido conjuntivo
fibroso. Com referência às células fagocitárias do penetrando através das perfurações. Os cristais
processo inflamatório, Nyborg & Tullin 26 decla- estavam cercados por numerosos macrófagos e
ram que os macrófagos têm dificuldade para re - células gigantes multinucleadas formando uma
mover o excesso de guta-percha e é raro o ce - área bem circunscrita de reação tecidual. As cé-
mento ser depositado sobre a guta -percha. Por lulas, entretanto, fora m incapazes de eliminar os
este fato, é comum observar em exames radio- cristais durante o período de observação de 8
gráficos de rotina, reabsorções radiculares exter- meses. A congregação de macrófagos e célula s
nas apicais e a permanência intacta desses mate- gigantes, conhecidos como os principais fatores
riais obturadores. da inflamação apical e mediadores da reabsorção
A periodontite apical é causada inicialmente óssea, sugerem que o acúmulo de cristais de co-
por microrganismos que residem nos canais radi- lesterol pode ser um fator de insucesso em a lgu-
culares infectados. Existem evidências convin - mas lesões periapicais após tratamento endodôn-
centes de que outros fatores independentes po- tico conv encional2 5 .
dem afetar adversamente o sucesso da terapia
endodôntica convencional. Assim , evidência
morfológica é apresentada para confirmar o po- • FATORES SISTÊMICOS
tencial de dois fatores endógenos que podem in-
terferir com a cicatrização periapical após o trata- Os fatores sistémicos que podem interferir
mento endodôntico. Os espécimes consistem em no processo de reparo são relacionados a seguir:
' / biópsias cirúrgicas de lesões periapicais assinto- idade, fatores nutricionais, depleção de proteí-
; máticas que persistiram após um período de pro- nas, gorduras e carboidratos, doenças crônicas,
servação de 44 meses. As biópsias foram proces- tuherculose, diabetes, doenças r enais, discrasias
sadas através de microscopia ópitica e eletrônica. sanguíneas, alterações horm onais, avitaminoses,
A lesão foi caracterizada pela presença de um desidratação.
grande lume central delineado por epitélio esca- É certo que o prognostico de sucesso nos
moso estratificado. O aspecto mais interessante tratamentos endodônticos de pessoas idosas é
da lesão foi a presença de vasto número de cris- menor quando comparado com indivíduos jo-
tais de colesterol congregados ao tecido conjunti- vens. Há uma interrelação entre idade e fatores
;, vo que envolvia a cavidade cística. Uma investi- nutricionais. Em geral a suscetibilidade a agentes
gação microscópica (óptica e eletrônica) extensi- infecciosos é relativamente maior em indivíduos
va da região apical dos canais radiculares e da com mais idade associado a deficiência no siste-
lesão falharam na tentativa de revelar a presença ma imune. Portanto, a idade, estado nutricional
de microrganismos. Esses achados sugerem que e sistema imune, quando deficiente, interfere
fatores intrínsecos como produtos teciduais em substancialmente no processo de reparo.
-~ degeneração como cristais de colesterol, e a con- Pessoas, portanto, sofrendo de anorexia, ou
f' dição cística da lesão por si só podem afetar ad- trauma cirúrgico que res ulta em um negativo
t
versamente o processo de cicatrização do periá- balanço de nitrogênio são suscetíveis a supressão
pice após o tratamento endodôntico. Conse- de complemento, dimi nu indo a resistência a do-
qüentemente, as lesões apicais podem permane- enças e ao reparo. Associado a isto, lizosima , IgG
cer refratárias a terapia endodôntica convencio- e IgA secretora são diminuídos.
nal por longos períodos de tempo24 . A deficiência de proteínas também é um dos
A presença de cristais de colesterol pode ser fatore s que interfere n o processo de reparo.
um fator que interfere na cicatrização periapical Quando além da deficiência de proteínas no or-
após o tratamento endodôntico convencional. ganismo, há uma deficiên cia de Vitamina C, o
Nair et al. 2 5 observaram o papel dos cristais de processo de fibroplasia também é retardado. O
f'
·,:;. colesterol na cicatrização através da resposta teci- estresse, associado a estes fa tores acima citados,
dual, os quais foram implantados em animais . Os também interferem no processo de reparo 32 •33 .
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·.~
As doenças hepáticas interferem na síntese ....,..,
Os carboidratos e lipídeos são os fornecedores
de energia para o processo de reparo. Quando de proteínas e outros processo básicos do meta-
ocorre a carência de carboidratos no organismo, bolismo e mineraliza ção, sendo o reparo das le-
conseqüentemente há interferência no processo de sões periapicais adversamente afetado . Desta
reparo. Os ácidos graxos são precursores das pros- forma, pacientes portadores de cirrose hepática
taglandinas, mediadores quúnicos da inflamação, ou hepatite possuem baixos níveis de vitamina
importantes no processo de formação do coágulo. K, importantíssima ao processo de formação do
Doenças crônicas, como a tuberculose, dia- coágulo.
betes e outras doença s possuem um efeito debili- Entre as desordens do sangramento, a hemo-
tante, da mesma forma interferindo no desen- filia e a Doença de Willebrand, são as mais repre-
volvimento do reparo. sentativas. Terapia endodôntica que possa induzir
Nos pacientes portadores de tuberculose, a a sangramento, como cirurgias, não devem ser
oxigenação do sangue não é adequada, portanto, propostas, sem a indicação prévia de sangue, plas-
há deficiência na oxigenação tecidual e conse- ma, plasma ferese, ou agentes antifibrinolíticos
qüentemente um processo de reparo deficiente. seguidos da aplicação de produtos hemostáticos
Os pacientes diabéticos quando controlados tópicos para controlar hemorragia.
estão aptos a se submeter a tratamentos endo- As alterações hormonais podem afetar o re-
dônticos. paro das lesões periapicais, em virtude dos seus r •
Os indivíduos portadores de distúrbios renais efeitos no metabolismo ósseo. A osteoporose
reque rem atenção especial nos procedimentos constitui um destes efeitos que é caracterizado
endodônticos, principalmente pacientes renais por um distúrbio na formação da matriz óssea. Já I
crônicos que necessitam hemodiálise. Os linfóci- n a síndrome de Cushing, há diminuição excessi-
tos T estão reduzidos em número na corrente va da espessura da cortical óssea e os espaços
sangüínea e sangramento severo pode ser encon - trabeculares são reduzidos substancialmente. O '
trado . Este sangrarnento pode ser causado _por número de osteoblastos é reduzido e as áreas de
uma função plaquetária anormal, p or tromboci- osso neoformado demonstram redução da ativi-
topenia ou mesmo pelo uso de anticoagulantes. dade osteoblástica. !
Outro fator que deve ser considerado é o
Quando necessário tratamento endodôntico nes-
ses pacientes, medidas preventivas têm que ser estresse que promove uma série de alterações no i
tomadas, principalmente nos casos de cirurgia. organismo do indivíduo. A origem do stress pode
Dentre as discrasias sanguíneas, merecem estar relacionada a infecção, exaustão, distúrbios
atenção os pacientes portadores de anemia ou hormonais e distúrbios emocionais. Indivíduos
leucemia. Nos casos de anemia, o reparo se torna sob condições de estresse têm maior suscetibili-
inadequado pela deficiência no suprimento san- dade para o desenvolvimento de infecções, sen-
güíneo da região afetada. Os pacientes leucêmi- do o processo de cura mais deficiente.
cos possuem maior probabilidade a infecções, es - A carência de Vitamina C, principalmente
pecialmente nos casos de granulocitopenia. Nes- nas lesões intra -ósseas impede o bom desenvol-
ta situação, o uso de antibióticos profiláticos é vimento do reparo. Esta vitamina é necessária
necessário. Nos pacientes que receberam trata- para a formação do colágeno de Lodas esLruwras
mento quimioterápico são contra -indicados os teciduais fibrosas, ou seja, da matriz óssea, denti-
procedimentos endod ônticos, sendo necessário, na e cartilagem.
primeiro, o controle h ematológico, pois há baixa A deficiência de ácido ascórbico impede o
resistência a microrganismos, decorrente da su- desenvolvimento normal do tecido conjuntivo .
pressão da resposta imune. Tanto a formação do colágeno quanto as glicosa-
Os pacientes portadores de neoplasias malig- minoglicanas são afetadas. Os fibroblastos são
nas que receberam tratamento radioterápico em afetados, o que resulta na formação de fibras de-
altas doses também requerem cuidados especiais feituosas. Enfim, a avitaminose do tipo C leva a
nos casos de tratamentos endodônticos e, princi- uma diminuição da formação da matriz óssea,
palmente, nos casos de cirurgias parendodônti- conduzindo osteoporose.
cas, pois o suprimento sangüíneo nas área irradia - Deficiências de Vitamina K interferem n o
das é deficiente e, o que contribui para o insu- processo de formação do coágulo e as de vitami-
c/sso do processo de reparo . na D no processo de mineralização, representan -
PROCESSO DE REPARO APÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO
• ., . .. ...... .,,,., ~···,<• ......
(
INFLUENCIA DO HIDROXIDO
.. esteve em contato direto com o tecido, ocorreu
.. hiperplasia acentuada no conjuntivo, com a
DE CALCIO NO PROCESSO DE presença de numerosas células gigantes multi-
REPARO TECIDUAL nucleada s e algumas ilhas basófilas irregulares e
positivas ao método de Von Kossa . No grupo em
A análise do hidróxido de cálcio frente à in- que o hidróxido de cálcio foi separado do tecido
dução e favorecimento do processo de reparo por filtro de Millipore, não se observou nenhu-
periapical deve ser discutida a partir das con- ma reação significativa, levando a crer que o
dições clínicas existentes, como o tratamento hidróxido de cálcio poderia criar um meio fa -
endodôntico em popa vital (sã ou inflamada) e vorável para a forma ção de tecido duro, para
necrose pulpar com ou sem lesão periapical. que o processo n atural de cura seja acelerado.
/ O hidróxido de cálcio é uma base forte, que A influ ência do hidróxido de cálcio n a repa-
exerce suas propriedades a partir da dissocia - ração apica l pós-pulpectomia em dentes de cães
çã o em íons cálcio e íons hidroxila, e sua ativi- foi estudada por Holland et al. 16 . Neste estudo,
dade sobre os tecidos e microrganismos. Essa observou-se que o processo de reparo caracteri-
substância é obtida com a ca lcina ção do carbo- za-se na sua fase inicial (2 - 7 dias), pela deposi-
nato de cálcio, onde se ch ega ao óxido de cál- ção de sais de cálcio (birrefringentes à luz polari-
cio, qu e pela hidratação obtém -se o hidróxido zada). Acredita-se que essas granulações resul-
de cálcio. Esse hidróxido de cálcio na presença tem da reação do cálcio do hidróxido de cálcio
de dióxido de carbono tecidua l ou atmosférico, com o dióxido de carbono do tecido, constituin-
transforma-se novamente em carbonato de cál- do o carbonato de cálcio sob a forma de calcita.
cio, que agora como óxido ácido fraco, não Essas gra nulações sã o numerosas e basta nte va-
m ais apresenta as requisitadas propriedade s riadas . O aparecimento de sais de cálcio sob a for-
biológicas 4 . ma de caleira parece estimular o tecido conjunti-
O Capítulo 12 referente ao hidróx ido de vo abaixo a depositar fin as granulações de sais de
cálcio discute particularidades de suas proprieda- cálcio de natureza diferente e de pequeno tama -
des e de seu real mecanismo de ação. Nesse mo - nho, agora p rovenientes do organismo. O liga-
mento, será descrito somen te sua influência no m ento periodontal apica l apresenta-se necrosa-
processo de reparação tecidual. do, sendo que o restante mostra-se com vitalida -
Tomando-se como parâmetro os fa tores que de. A área de necrose é eosinófila e os detalhes
influenciam as atividades enzimáticas, teciduais celulares muito pou co nítidos, porém, obser-
e microbiana s, observa-se que o hidróxido de vam-se vasos hiperemiados . O tecido em conta -
cálcio exerce sobre esses referenciais expressiva to com a zona de n ecrose, contem células jo-
atividade. vens, e podem ser observados fibrócitos. O in-
Relativamente à sua açã o biológica em filtrado inflamatório é discreto, sendo e n con-
presença de tecido vitali zado, Mitche l & trados neutrófilos e fragmentos nuclea res. O li-
Shankwa lker 21 ana lisaram o potencial osteo - gamento periodontal geralmente está infiltra-
gênico do hidróxido de cálcio e de outros mate - do p or raros linfócitos e macrófagos. Posterior-
riais, por meio de implantes de cilindros n o te - m ente ( 15 a 30 dias), as células in flamatórias
CIÊNCIA ENDODÔNTI CA
desaparecem e inicia-se a apos1çao de cemento. Tronstad et al. 38, frente à análise de altera-
Em alguns locais é grande o número de cemen- ções do pH em tecidos dentários de macacos após
toblastos, e o cemento depositado é geralmente a obturação dos canais radiculares com hidróxi-
contínuo com o neoformado no interior do canal do de cálcio, esclarecem que, além do pH, outros
cementário. No tecido ósseo é bem menos fre- fatores são importantes para explicar o eleito re-
qüente a ocorrência de atividade osteoclástica; parador do hidróxido de cálcio na reabsorção in-
por outro lado, é comum a observação de n eo- flamatória. Além de observarem diferentes valo-
formação óssea. Quando decorridos 120 dias, o res de pH na massa dentinária, salientaram que a
aspecto morfológico é quase semelhante ao ob- presença de íons cálcio é necessária para a ativi-
servado com 15, 30 e 60 dias. Salienta -se apenas dade do sistema complemento na reação imuno-
a quantidade de cemento depositado que, na lógica e que a abundância de íons cálcio ativa a
maioria dos casos, é tra duzida por espessas bar- ATPase (Adenosina Trifosfatase) cálcio depen-
reiras. A superfície das barreiras é irregular e não dente, a qual está associada à forma ção de tecido
mais evidencia os detalhes nucleares das células duro.
que ficaram inclusas após a deposição de sais de Outro ponto a destacar é que o hidróxido de
cálcio, detectada a partir de 2 dias após o ato cálcio, pelo elevado pH, ativa a fosfatase alcali-
cirúrgico. A deposição de cemento é intensa nas na 1· 13· 28 · 37 A 2 e o pH ótimo para a atuação da fosfa -
paredes do canal. Aos 240 dias a deposição de tase alcalina varia com o tipo e concentração de
cemento é maior que a observada aos 120 dias. substrato, com a temperatura e com a fonte de enzi-
Os cortes seriados transversais revelam selamen- ma, sendo que os limites situam-se por volta de
to total pela deposição de tecido mineralizado 8,6 a 10,3 36 .
(osteocemento) em grande parte dos casos exa- A fosfatase alcalina é uma enzima hidrolítica
minados. Além do selamento biológico, observa- que atua por meio da liberação de fosfato inorgâ-
se ligamento periodontal não infiltrado por célu- nico dos ésteres de fosfato . Esta enzima pode se-
las inflamatórias, estando as fibras periodon_tais parar os ésteres fosfóricos, liberando os íons fos-
inseridas no cemento e tecido ósseo, com áreas fatos, que uma vez livres, reagem com os íons
de neoformação, não sendo visível qualquer ati- cálcio (provenientes da circulação sangüínea ) /
vidade osteoclástica. para formar um precipitado n a matriz orgânica,
Wakabayashi et al. 4 0 , servindo-se da micros- o fosfato de cálcio, que é a unidade molecular da
copia eletrônica de varredura e de um m icroana- hidroxiapatita3 3 •
lisador de dispersão de energia de Raios-X, avali- Frente ao exposto, nota-se a efetiva influên-
aram o mecanismo de calcificação distrófica in - cia do hidróxido de cálcio no favorecimento do
<luzida pelo hidróxido de cálcio no tecido con- processo de reparação tecidual pós-pulpectomia.
juntivo da câmara auricular de coelho. As intera- Na presença de necrose pulpar com ou sem
ções entre microvasos e o hidróxido de cálcio lesão periapical, o efeito antimicrobiano do hi-
foram observadas imediatamente após a aplica- dróxido de cálcio, quer por contato direto ou in-
ção e, continuamente por 14 semanas. Os resul- direto, a partir da liberação de íons hidroxila tem
tados revelaram, nas fases inciais da reação teci- sido verificado por várias pesquisas4 · 5-8 - 1º· 14· 2 º·2 2, 3 1.
dual, a formação de u ma camada necrótica e cal- Considerando o papel do microrganismo,
cificações vistas como precipitação rápida de cris- como necessário à m anutenção da agressão e do
tais por n eutralização e seu pronto crescimento processo inflamatório periapical, o hidróxido de
em uma barreira (calcificação distrófica ) . Obser- cálcio atua de modo efetivo na sua eliminação e
varam, ainda, que o cálcio e o fósforo adicionais paralelamente na estimulação à reparação 4 · 10 · 14 · 19 .
depositaram-se diretamente sobre as partículas Estrela 5 explica o mecanismo de ação do hi-
do precipitado. Ademais, constataram que os dróxido de cálcio sobre os microrganismos a par-
precipitados dos espécimes de 24 horas mostra- tir do estudo do efeito biológico do pH na ativi-
ram não somente um pico de cálcio como tam- dade enzimática. A ação do pH do hidróxido de
bém fracos picos de fósforo, enxofre e/ou mag- cálcio se processa nos sítios enzimáticos do mi-
nésio, nas porções fun didas entre os cristais e, crorganismo, como acontece em nível de mem -
sugerem que, tais precipitados teriam o potencial brana citoplasmática, causando efeitos biológicos
de induzir calcificação distrófica do tecido, o que lesivos sobre a célula bacteriana. Como a locali-
está de acordo com os achados de Holland et al. 15. zação dos sítios enzimáticos é na membrana cito-
PROCESSO D E REPARO APÓS ,O TRATAMENTO ENDODÔNTICO
plasmática, e por esta ser responsável por fun- que mostrou excelente capacidade seladora. Em-
ções essenciais, como o metabolismo, crescimen- bora o MTA tenha sido muito bem discutido nos
to e divisão celular, e pela participação dos últi- Capítulos 12 e 16, neste momento cabe ainda
mos estágios da formação da parede celular, bios- alguma análise, comparando -o ao hidróxido de
síntese de lipídios, transporte de elétrons, como cálcio.
enzimas envolvidas no processo de fosforilação Holland et al.18 observaram resultados bioló-
oxidativa, o autor reportou que os íons hidroxila gicos semelhantes entre o agregado de trióxido
do hidróxido de cálcio desenvolvem seu meca- mineral (MTA) e o hidróxido de cálcio, verifican-
nismo de ação a este nível em virtude da ativida - do que os mecanismos de ação destas substâncias
de destes íons neste local. O efeito do elevado pH são similares, quando do implante em subcutâ-
do hidróxido de cálcio 12 •6 , influenciado pela libe- neo de ratos .
ração de íons hidroxila, é capaz de alterar a inte - Estrela et al.6 investigaram a ação antimicro-
gridade da membrana citoplasmática através de biana e química do MTA, cimento Portland, pas-
injúrias químicas aos componentes orgânicos e ta de hidróxido de cálcio, Sealapex e Dycal. Os
transporte de nutrientes, ou por meio da destrui- indicadores biológicos utilizados foram: S. aureus,
ção de fosfolipídios ou ácidos graxos insaturados E. faecalis, P aeruginosa, B. subtilis, um fungo, e
da m e mbrana citoplasmática, observado p elo albicans, e uma mistura destes foi empregada.
processo d e peroxidação lipídica, sendo esta, Para a análise do potencial antimicrobiano estu-
uma reação de saponificação. dou -se por meio de teste por difusão em ágar. A
Como o sítio de ação dos íons hidroxila do análise química dos elementos presentes no MTA
hidróxido de cálcio envolve as enzimas presentes e em duas amostras de cimentos Portland foi fei-
na membrana citoplasmática, dependendo de ta com um Espectrômetro de Florescência de
su a quantidade, esta medicação deve possuir um Raios-X. Os res ultados mostraram que a ativida-
amplo espectro de ação, agindo, portanto, sobre de antimicrobiana da pasta de hidróxido de cál-
/ uma gama variada e diversa de microrganismos, cio foi superior a todas as outras substâncias
independente de sua capacidade metabólica 5•7 · 9 . (MTA, cimento Portland, Sealapex e Dycal), so-
Safavi & Nichols 30 mostraram um efeito es- bre todos os microrganismos testados, apresen-
pecífico dos íons hidroxila nas bactérias Gram- tando zonas de inibição com 6-9,5 mm e zonas
negativas, os quais poderiam hidrolisar o lipopo- de difusão com 10-18 mm. O MTA, o Cimento
lissacarídio presente, degradando o lipídio A e, Portland e o Sealapex apresentaram somente zo -
conseqüentemente, neutralizar seu efeito residual nas de difusão e, dentre estes, o Sealapex apre-
posterior à lise celular. sentou a maior zon a. O Dycal não apresentou
Além da atividade antimicrobiana, o efeito halos de inibição, nem de difusão. O cimento
residual na neutralização do lipopolissacarídio Portland contém os mesmos elementos químicos
dos microrganismos por atuação prolongada, fa- que o MTA, com a exceção que o MTA também
vorece as atividades de reparação tecidual. Uma apresenta, na sua constituição, o bismuto.
elevada concentração de íons cálcio do hidróxido Holland et al.17 avaliaram a reação do tecido
de cálcio exerce no tecido de granulação de den- conjuntivo do rato ao implante de tubos de denti-
tes despolpados, a diminuição da permeabilidade na obturados com agregado de trióxido mineral
vascular, levando a um efeito indireto antiinfla- (MTA), cimento Portland ou hidróxido de cálcio.
·i?• matório14·15.
O hidróxido de cálcio pelos fatores discutidos
Os animais foram sacrificados após 7 ou 30 dias e
os espécimes, não descalcificados, foram prepara-
exerce uma positiva e expressiva influência do dos para análise histológica com luz polarizada e
processo de reparação tecidual. Holland et al. 19 técnica de Von Kossa para tecidos mineralizados.
mostraram a excelente influência da utilização Os resultados foram similares para os 3 materiais
do hidróxido de cálcio no processo de cura de estudados. Próximo às aberturas dos tubos foram
lesões periapicais. observadas granulações Von Kossa positivas, bir-
O hidróxido de cálcio atua estimulando os refringentes à luz polarizada. Junto dessas granu-
tecidos periapicais no processo de reparação. No lações foi observado um tecido irregular na forma
entanto, na Universidade de Loma Linda (EUA), de uma ponte, também Von Kossa positivo. As
Torabinejad et al. 37, estudaram um novo material paredes de dentina dos tubos exibiram uma estru-
denominado de Mineral Trioxide Agregate (MTA), tura altamente birrefringente à luz polarizada, no
CIÊNCIA ENOODÔNTICA
interior dos túbulos, formando uma camada em Vários estudos real izados mostraram de for-
diferentes profundidades. Diante do observado, é ma clara a similaridade entre o MTA, o cimento
possível que os mecanismos de ação dos materiais Portland e o hidróxido de cálcio 6· 17 - 19•31 .
estudados sejam similares entre si. Em outro estu- As Figuras 18.10 a 18.19 evidenciam o pro-
do, Saidon et al.3' observaram que o MTA e o ci- cesso de reparo após o tratamento endodôntico
mento Portland não apresentaram cilotoxicidade. em dentes com periodontite apical assintomática.
1 •
• IF~G_S.J,6,12__~ 1$.13
Processo de reparo após o trotamento
endodôntico em dentes com periodontite
apical assintomática.
........................................................................................
~
• 1
• FIG. 19.l
Corte histológico corado em H.E. (aumento BSXJ,
• FIG. 19.1 mostrando porte do complexo dentinapo/po de um cani-
Camada de odontoblastos em nível de polpa no decídua com metade de rizólise. Dentina (1 J, pré-
coronária de um dente decídua em início de reabsorção. dentino (2), camada odontoblástica (3), zona acelular
Morfologia semelhante ã encontrado em tecidos iovens. (4), zona rica em células (5), e camada central do polpa
HE, aumento de ± 550X (Aroúio 6, 7982). (Moreiro 117 et oi, 7999J.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PU lPAR EM DEN TES DECÍOUOS
É importante salientar que, tanto em dentes so de rizólise, ocorre histometricamente uma pre-
decíduos hígidos, como naqueles que apresentam dominância celular, o que não indica um estado
lesão cariosa em dentina, ou seja, em situação de envelhecimento pulpar. Araújo6 ainda acres-
fisiológica ou patológica, ocorre uma diminuição centa qu e, morfologicamente, as células do tecido
progressiva do volume da câmara pulpar e canais conjuntivo pulpar apresentam características de
radiculares, em função da deposição fisiológica de alta atividade metabólica n esta fase . Com relação
dentina secundária, fenômeno que acontece in - às estruturas vasculares, apesar de se saber que
clusive na fase de rizólise 75 · 1º6 . Essa deposição con- diminuem em quantidade com a rizólise, morfo-
tínua durante toda a vida do dente decídua (Fi- logicamente ocorre um aumento compensatório
guras 19.3 a 19.6) evidencia a capacidade forma- no calibre das mesmas. Este acontecimento é sig-
tiva desses elementos dentais nas várias fases do nificativo em procedimentos clínicos nos quais o
ciclo vital to5 . Trabalhos como os de Camargo27 e tecido pulpar é estimulado depois de iniciada a
Araújo6 mostram que ainda na metade do proces- reabsorção fisiológica (Figuras 19.7 e 19.8).
• r:~G. 'ill\}.3
Em condições fisiológicas, o aspecto radiográfico do ... a diminuição do seu volume depois de 5 anos, /O
volume da câmara pulpar do segundo molar decídua com o primeti·o molar permanente em oclusão.
infenor esquerdo e. ..
• 1
• m:m. t9.6
• fiG. t•;u ... a sua situação radiográfica, 3 anos e 6 meses
após.
Em situações patológicas (presença de restaura-
ç6esJ, o aspecto radiográfico do volume da câmara
pulpar do dente 75 e ...
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Encaminhando o racio cínio para o aspecto também est á evidenciado o envelhecimento ce-
metabólico, sabe -se que a energia que a célula lular, representado por alterações citoplasmáti-
necessita para realizar suas funções é provenien - cas nos fibroblastos e dissociação das células e
te do glicogênio. Este é um carboidrato de reser- fibra s3 4 • Somente n essa fase do ciclo, a capaci -
va, prontamente disponível para o fornecimen- dade formativa do tecido pulpar estaria compro -
to de energia à célula, geralmente encontrado metida. Portanto, no caso de um comprometi-
em altas con cen trações em áreas onde existem mento pulpar, já estaria contra-indicado qual-
mecanismos de calcifi cação 12 , _ quer. tipo de tratamento conservador, cabendo
A partir do exposto acima, pode-se conside - então a exodontia do dente lesado 106 •
rar que as alteraçõe s qu e ocorrem no tecido Diante do exposto, compr eende -se que as
pulpar durante o estágio de rizólise do dente respostas indesej áveis do complexo dentina-
decíduo não podem ser consideradas como de- polpa frente a terapias pulpares conservadoras
generativas, apresentando a polpa um papel estariam relacionadas à presença de alterações
passivo frente ao processo de reab sorção radicu- patológicas e não de alterações fisiológicas 1º6 •
larG,169. Neste sentido, a u tilização de procedimentos
Somente na fas e linal da rizólise é que são menos invasivos, u tilizando-se medicamentos
observadas alt erações regressivas no tecido pul- que estimulem o potencial de defesa do orga-
par. O trauma mecânico causado pela mobilida- nismo, con stitui uma alternativa viável e perfei-
de facilita a penetra ção de microrganismos e to- tamente indicada para dentes decíduos, mesmo
xinas provenientes da cavidade bucal, provo- que estejam em processo de rizólise 106 , como
cando uma r eação in fla matória 70 . Nesta fase está exemplifica do n as Figuras 19.9 e 19.10.
ABORDAG EM CONT EMPORÂN EA DA TERAPIA PULPA R EM DENTES DECÍDUOS
..
~
Nos tópicos seguintes serão amplamente dis- O complexo dentino-pulpar reage ao proces-
cutidas as alterações clínicas e histológicas do te- so carioso por meio de três mecanismos princi-
cido pulpar de dentes decíduos frente ao proces- pais: 1) submetendo seus túbulos à esclerose; 2)
so carioso, uma vez qu e procedimentos conser- estabelecendo a formação de dentina reacional
vadores de proteção direta ou indireta da polpa na superfície interna; 3) induzindo o processo
têm o seu êxito relacionado à correta avaliação inflamatório no tecido pulpar29 ·51.
da condição pu lpar. Em estágios mais avançados, como em le-
• 1 sões médias ou profundas, observa-se, primeira -
HISTOPATOLOGIA DA LESÃO mente, a completa destruição da dentina peritu-
CARIOSA EM DENTINA bular e o alargamento dos túbulos, causados
pela invasão bacteriana 174, responsável pelo de-
Em relação à densidade tub ular (número de sencadeamento de al terações pulpares inflama-
túbulos dcntinários por mm2 ), Koutsi et al. 87 tórias irreversíveis 124. Os túbulos dentinários
constataram, em molares decíduos, uma m édia tornam-se, então, parcial ou completamente
de 17.433 túbulos na dentina superficial e até obliterados em fun ção da aceleração do proces-
26 .391 na dentina profunda. No que diz respeito so contínuo de formação de dentina esclerótica,
ao diâmetro tubular, observaram com média de especialmente afetada pe la desmineraliza-
O, 96 µm na dentina superficial e até 1,2 ~tm na ção1t3,174. Essa formação de dentina escleróti-
dentina profunda. Portanto, semelhante ao ob- ca109, considerada como uma tentativa de para-
servado em dentes permanentes, a permeabilida- lisação da atividade cariosa 29 , dificulta a pene-
de dentinária aumenta com a proximidade do tração de bactérias e seus produtos metabóli-
tecido pulpar. Soma-se a isso o fato de apresen- cos24.
tarem menor ár ea dentinária à adesão, pois Em relação à dentina reacional, sabe-se que
quanto mais profundo for o preparo cavitário, é considerada, por alguns autores, como uma es-
menor será a quantidade de dentina intertubu- trutura irregular, pobremente calcificada, conse-
lar173. qüente do processo intermitente de evolução da
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
cane dentária 28 • Sua formação também objetiva ciária, as paredes dos túbulos dentinários são es-
limitar a difusão de substâncias tóxicas para o pessas e os próprios túbulos são freqüentemente
interior do dente, uma vez que, ao longo da obstruídos com material semelhante à dentina
zona limite entre a dentina secundária e a ter- peritubular83 (Figuras 19.11 a 19.13).
De uma forma geral, lesões ativas são aque- muito profundas, quando o comprometimento
las estrutu ras compostas por uma primeira ca- pulpar pode se torna r irreversível1 21 .
mada de dentina infectada, com consistência Uma vez determinada a necessidade do tra-
amolecida e coloração amarelada ou marrom-pá- tamento restaurador, o entendimento clássico é
lida, constituída por tecido necrótico e desorga- que toda a dentina cariada deveria ser removida.
nizado, além da ausência quase total de preser- Entretanto, vá rios estudos têm demonstrado que
vação estrutural, não podendo ser assim remine- a abordagem do complexo dentina-polpa, dentro
ralizada. A segunda camada, remineralizável e de uma visão de promoção de saúde, não precisa
que pode ser mantida90· 1º6• 1º7, é formada por um ter por limite o tecido completamente hígido e
tecido conLaminado, no qual a consistência en- endurecido, mas apenas a remoção da porção ir-
contra-se parcialmente mantida, contendo apro- reversivelmente lesada. O tecido parcialrn.ente
ximadarrrerne O, 1 % das bactérias da zona infec- desmineralizado e pouco infectado da porção
tada. A partir da sua região mais superficial até a mais profunda da dentina é passível de remine-
polpa, essa camada é dividida em ~entina desmi- ra lização26.106. 107.129_
neralizada profunda e dentina hipermineraliza- Nesse sentido, uma das terapias pulpares
da, sendo esta última também divid ida em escle - conservadoras, o capeamento pulpar indireto,
rose dentinária e dentina reacional29 . Nesta ca- tem sido alvo de muitas opiniões controversas
mada, as concentrações de cálcio e fósforo, ainda quanto a sua viabilidade em dentes decíduos
que apresentando metade do peso de minerais, com lesões de cárie dentinária profundas. Este
quando comparadas à dentina normal, mostra- procedimento envolve a remoção parcial de teci-
ram-se maiores do que na camada superficial do do cariado, deixando-se uma camada delgada de
tecido cariado 98 . dentina cariada contaminada sobre o assoalho da
Também é sabido que o amolecimento do cavidade, evitando-se a exposição pulpar, e um
tecido dentinário precede a invasão de bactérias conseqüente tratamento mais invasivo.
respon sáveis pela sua desmineralização 1º2 e, m es- A decisão de empregar essa terapia exige,
mo na camada amolecida de lesões ativas, fibrilas preliminarmente, a adoção de um protocolo clí-
colágenas podem ser encontradas intactas, suge- ni co envolvendo a anamnese, os exam es clínico
rindo que apenas os estágios avançados de des- e radiog ráfico, bem como a avaliação de crilé -
truição tecidual e nvolvam a eliminação da rede rios de remoção de tecido cariado 12 º· 191 • A litera-
de colágeno 79· 1º6 • 107. tura aponta que urna série de ocorrências posi-
tivas passa a ser constatada ao se adotar este
tipo de tratamento, entre as quais pode-se citar
CAPEAMENTO PULPAR a redução drástica no número de bactérias viá-
INDIRETO EM DENTES veis4·26·42·84·95·121.l29, a ausência de sintomatologia
DECÍDUOS dolorosa, e de alterações pul pares observadas
pelos exames clínico e radiográfico de contro-
A cárie dentária, como r esponsável pela le48·74·ll9· 137· 172, além de características de remine-
grande maioria das perdas dentárias, tinha desde ralização da dentina cariada remanescente 107 .
os tempos mais remotos, o tratamento cirúrgico - Diante desses achados, torna-se desnecessá ria a
restaurador como única possibilidade de inter- intervenção posterior para a remoção do rema-
rupção de se u processo evolutivo. No entanto, nescente dentinário, desde que a restauração
evidências científicas permitem, a tualme nte, apresente um bom selam ento marginal 42· 119, as-
-uma outra abordagem mais conservadora no tra- sociado ao controle da atividade cariosa do indi-
tamento da lesão cariosa. A crescente compreen- víduo8.
são dos aspectos relacionados à su a etiopatogenia A evolução da lesão de cárie não é um pro-
tem possibilitado, além do controle da doen ça, a cesso contínuo, permitindo em determinadas si-
interrupção (,ia progressão da lesão de cárie, mes- tuações (dependendo do estímulo químico ou
mo qu ando· cavitada em esmalte ou com envol- mecânico) , uma resposta do complexo dentino-
vimento de· dentina 1 21 • pulpar, atrav és da formação de um tecido reacio-
; . o tratamento restaurador, n a maioria das nal. Na dentina cariada, as duas primeiras cama-
vezes, se faz necessário por razões estéticas, fun- das estão infectadas, sendo que a mais superfi-
cionais e em presença de cavidades retentivas ou cial caracteriza-se pela intensa invasão bacteria -
CIÊNCIA EN DO D Ô NTICA
na, extensa desmineralização e . degradação das númc;ro menor de microrganismos, fibras coláge-
fibras colágenas e dos processos odomoblásticos nas preservadas, processos odontoblásticos nor-
(Figura 19.14 e 19. 15). A segunda mostra um mais, podendo ser fisiologicamente remineraliza-
tecido parcialmente desmineralizado, com um da26·1º6·12º (Figura 19.16 e 19.17) .
1 •
• FIG. 19.17
• F!~: _1 9'.'6
Imagem, em microscopia eletrônico de varredura,
Aspecto clínico do mesma lesão anterior, depois de das camadas removidas a partir de curetagem de lesão
removido o camada mais superficial de dentina cariada e carioso em dentina de um molar decídua. Observa-se a
mantido o camada parcialmente desmineralizado. (Gen- zona de desmti1eralizoção, menos infectada. (Imagem
tilmente cedido pela Ora. Ana Eliza Lemes BressamJ. obtida pelo Prof!!. Ora. Matia de Lourdes de Andrade
MassaraJ.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES OECÍDUOS
As lesões dentinárias profundas apresen- vel. Essas variáveis devem ser levadas em con -
tam um baixo pH (média de 4, 9), predominan- sideração devido ao fato de que, ao se instituir
do o ácido lático, fator que caracteriza ativida- um tratamento restaurador convencional, are -
de da lesão. Outra característica de natureza moção compl eta de tecido cari ado é ainda ccm-
ativa de uma lesão cariosa diz respeito a sua siderada o procedimento de eleição no preparo
consistência, pois se a dentina for amolecida e da cav idade.
úmida, esta abriga um número significativa-
mente maior de bactérias do tipo estreptococos a) É necessário remover-se todo o
do grupo S. mutans e lactobacilos. Quanto à tecido cariado no tratamento de
coloração, que se constitui cm um outro crité- uma lesão carioso ativa em dentina
rio para avaliação de lesão paralisada ou não, profunda?
as lesõe s cariosas ativas se caracterizam por se-
rem de cor amarelo-clara 112 . A necessidade da instituição do tratamento
Com base nesses conh ecim entos, passa-se restaurador em lesões de cárie implica em um
a discutir as limitações e dificuldades da técni- preparo cavitário com remoção de tecido caria-
ca que, em essência, promove a conservação do. Todos os esforços deverão ser feitos para a
do tecido pulpar. conservação da maior qua ntidade possível das
A primeira dificuldade está relacionada à estruturas dentárias, durante os procedimentos
seleção de casos para tratamento. A não ocor- de remoção desses tecidos envolvidos no proces-
rência de quadro de dor espontânea (informa - so carioso. Nesse sentido, características bioquí-
ção obtida através da anamnese), associado à micas, microbiológica s e clínicas da dentina afe-
ausência de mobilidade patológica, de altera- tada por cárie são abordadas em vários estudos.
ções nos tecidos moles (fístulas e tumefações), O desafio é identificar a qualidade e a quantida-
de alterações de cor, bem como a possibilidade de da dentina que deve ser preservada, além da
/ de restauração do dente em questão, consti- preocupação fundamental com a progressão da
tuem os mais importantes critérios clínicos d e lesão cariosa sob a restauraçã o .
seleção. O exame radiográfico complementa O entendimento clássico pela literatura é
esta avaliação crite riosa, uma vez que fornece que bactérias deveriam ser totalmente removidas
dados essenciais para que uma terapia indireta durante o preparo cavitário, para não haver pro-
seja implementada, entre os quais a profundi- gressão da lesão 187 •
dade da lesão cariosa (sem envolver direta- No entanto, os critérios clínicos de dureza e
mente o tecido pulpar) e a ausência de sinais coloração não asseguram a re moção de toda a
que possam sugerir um comprometimento pul- dentina infectada. A coloração não é um parâ-
• 1
par irreversível (reabsorções internas ou exter- metro confiável, pois a de ntina pode apresentar-
nas não compatíveis com a rizólise, bem como se descolora da em casos de lesão inativa (colora-
áreas radiolúcidas n as r egiões inter e/ou pe- ção castanho- escura), devendo, nesses casos, ser
rirradicular) . preservada.
Com relação ao diagnóstico das condições Em relação à consistência, vários estudos
inflamatória s da polpa é n a clínica odontopedi- demonstram a ausência de relação entre a du-
átrica que se tem a m aior dificuldade d e reali- reza da dentina e a p rese n ça de bactérias
66. 153, 167, l 90
zar a anamnese, principalmente em crianças
de tenra idade, sendo que a mesma situação Para Consolaro 29 , seria inviável a distinção
pode ser constatada no aspecto radiográfico, clínica entre uma dentina com ou sem bacté -
pois existe maior limitação na obtenção de rias nos túbulos dentinários e, de uma forma
uma boa tomada radiográfica para avaliação e geral, a zona mais profunda da dentina desmi-
conseqüentemente decisão correta do caso em neralizada não apresentaria bactérias, enquan-
questão. to que a região anterior a esta camada, mos -
Um outro fato d e primordial importância, trar-se-ia infe ctada. Assim, alguns critérios de
porém difícil de ser estabelecido, diz respeito à remoção de tecido caria do devem ser reavalia-
quantidade de dentina cariada que pode ser uos para que o máximo de dentina cariada in-
deixada no final do preparo cavitário, junta- fectada seja r emovid a, preservando a camada
mente com o nível de infe cção residual aceitá- mais profunda, poi s nela observ a -se a presença
CIÊNCIA ENDOD ÔNTICA
va, desenvolvida para dentes decíduos, a cure- retagem da lesão cariosa de dentina 105 . Dentro
tagem superficial das lesões, sem anestesia, ob - desse raciocínio, fica claro que as terapias pulpa-
jetiva a retirada da maior parte do tecido amo- res indiretas dispensam a aplicação de produtos '
lecido, necrótico e desorganizado, mantendo-se químicos como corantes e solventes sobre o teci-
ainda o tecido desmineralizado, identificado ·cli- do dentinário, para guiarem a curetagem. As re -
nicamente por apresentar-se mais resistente à centes técnicas propostas para remoção químico- 1
instrumentação e em forma de lasca, escama ou mecânica de dentina cariada requerem mais es-
couro 22 ·1º5. Em seguida, é feito o selamento pro- tudos in vivo, com animais de laboratório, antes
visório das cavidades, "sepu ltando-se", então, as de serem aplicadas em seres humanos, pois não
bactérias remanescentes. O microambiente é apresentam até o momento resultados esclarece -
modificado em função da ação antimicrobiana dores relativos ao seu mecanismo de ação, à sua
do material utilizad o e/ou da dificuldade de se biocompatibilidade, à sua confiabilidade e às suas
obter o substrato, vindo do meio bu cal. Como vantagens 13· 99 .
conseqüência, redu z-se significativamente a Na Odomopediatria, a conduta menos in -
produção de ácido, paralisando-se a desminera- tervencionista se torna valiosa, poi s tem con -
lização e controlando-se a progressão da lesão. tribuído sobremaneira para a adaptação com -
Microrganismos que permanecerem viáveis portame ntal da criança, principalmente de be-
possivelmente darã o uma contribuição extre- bês, de criança s não cooperativas, desajustadas
mamente limitada p ara a destruição da estrutu- ou com comprometimento sistémico. Isso se
ra dentinária 177 • deve ao fato de ser indolor, de poder ser reali-
Estudos avaliaram a paralisação da pro- zada sem anestesias, isolamento absoluto e ins-
gressão de lesões cariosas com essa técnica de trumentos rotatórios (a n ão ser para ampliação
curetagem supe rficial de dentina e o selamento de lesões socavadas), além de não exigir uma
da cavidade. Os autores constataram a redução segunda intervenção a curto prazo 106 (Figuras
quantitativa ou m esmo a eliminação dos mi- 19. 18 a 19.25).
.ABORDAGEM CONTEM PORÂNEA DA TERAPIA PU LPAR EM DE NTES OECÍOUOS
Caso clínico mostrando a abordagem consetvadora de uma paciente de 9 anos de idade, com atividade de cárie
expressa por lesão carioso profunda no dente 75.
• 1
. -~
..,; .
• FIG. 19.21
Radiografia inte,proximal exibindo a profundidade
da lesão selada com IRM. Observa-se a proximidade • FIG. 19.22
com os cornos pulpores distais.
Aspecto clínico do lesão, 5 meses após o tratamen-
to, no momento da remoção do IRM. O teodo apresen-
tava-se muito endurecido e completamente resistente à
cureta.
• _Fi(i:. J?!2.4 .
Restauração utilizando-se a técnica de "sanduíche" Molar esfoliado, exibindo uma dentina de coloração
(cimento ionomérico e resina), na fase reabilitadora, mais escura, formada após a terapia, na área correspon-
quando o reequtlíbrio do 019anismo 10 havia se restabe- dente à parede pulpar da lesão carioso.
lecido. Não foram utilizados instrumentos rotató1ios.
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA P ULPAR EM DENTES DECÍDUOS
--------------·---------·----·---- ---·--·-----------------------·------
tão freqüente durante preparos cavitários con-
vencionais. Esta terapia limita, por conseguinte,
a necessidade de se submeter as crianças a capea -
mentas diretos, curetagens pulpares e pulpoto-
mias, procedimentos que podem, atualmente se
tornar raros na Clínica Odontopediátrica. Essa
afirmativa é reforçada pelos estudos de Dimaggio
et al. 35, King et al. 84 , Reeves & Stanley1 36, Jordan
& Suzuki80; Magnusson & Sundell1º', Leksell et
al. 92 , Bjorndal et al. 22 , que comprovaram o risco
de exposições pulpares desnecessárias quando
todo o tecido afetado é removido 106 .
Assim, os objetivos da proteção pulpar indi-
reta podem ser atingidos, os quais são: bloquear
as agressões que atingem a polpa através da le-
são cariosa, via túbulos dentinários; interromper
o circuito metabólico proporcionado pelos fluí-
dos bucais às bactérias do tecido cariado; inativar
• AG. _19.25 -----· -· _ --·----------------------- tais bactérias por ação bacteriostática ou bacteri-
1,mmpimento do dente 35, dois anos e meio após a cida do material; remineralizar parte da dentina
terapia. A criança não mais expressava atividade de cá- descalcificada remanescente; hipermineralizar a
rie (Caso clínico realizado pela Profº Ora Maria de dentina sadia subjacente e estimular a formação
Lourdes de Andrade Mossara). de dentina terciária ou reparadora 114 .
O bom senso e a experiência clínica do ope-
rador, aliados às características clínicas visuais do
tecido cariado remanescente e principalmente à
Outro ponto importante a ser considerado é adaptação comportamental do paciente são con-
que o uso rotineiro do capeamento pulpar indi- siderados fatores determinantes na escolha da
reto ou da escavação gradativa tem diminuído abordagem de lesões cariosas de dentina (Figu-
significativamente o risco de exposição pulpar, ras 19.26A a 19.298 ).
··l?'
Com o obj etivo de justifica r a execuçã o de teriais como o cimento de hidróxid o de cálcio e o
técnicas envolve ndo a remoção parcial do tecido cime nto de ionômer o de vidro diminua m com o
cariado de cavidade s profund as, Weerhei jm & tempo. Assim, os au tores concluír am que estes
Groen 187 revisa ra m a litera tura, consid erando fa tores isoladam ente não são suficient es para a
três medidas fundame ntais pa ra a realizaçã o des- inativaç ão do processo carioso, sendo essencial a
te tipo de tratamen to: 1) o isolamen to do proces- su a combi nação para o processo c1ínico do tra ta -
so carioso do ambient e bu cal, embora este proce- mento de rem oção parcia l do tecido cariado.
di mento não lenha proporcionado a eliminaç ão Além do hidróxido de cálcio, dois m ateriais
complet a de microrg anism os viáveis das cavida- se destacam na abordag em conserv adora de le-
des; 2) escavaçã o do tecido cariado dentinár io, sões cariosas profund a s de dentina: o cimento de
apesar da subjetivi dade do diagn óstico clínico, óxido de zinco e eugcnol m odificad o e os cimen-
dificulta ndo a con firmação clínica de ausência de tos ionoméricos (Figuras 19.30 a 19.33 ). Ambos
cárie residu al; 3) a utilizaçã o de materiais restau - apresen tam propried ades b iológica s que têm
radores cariostát icos aplicado s sobre o tecido re - atendido dois aspectos básicos dessa terapia: os
aspectos microbiológico e histológ ico º •
1 6
m anescen te, mesmo que as p roprieda des de m a -
O cimento de óxido de zinco e eugenol mo- liberação de flúor nas primeiras 24 horas favore-
dificado é um material já consagrado na Odonto- ce a eliminação de microrganismos presentes na
logia. Sua atividade bactericida tem sido reporta- cavidade. Por outro lado, sua capacidade de ade-
da, sendo efelivo na redução de microrganismos são físico -química à dentina, além de permitir
remanescentes na dentina. Essa ação antimicro - intervenções conservadoras, restritas à área afe-
biana pode ser explicada pela alta afinidade do tada pela doença cárie, dificulta a percolação
eugenol pela membrana p lasmática (solubilidade bacteriana pela interface dente/restauração, por
lipídica) e pela sua capacidade de inibir a respira- apresentar adequado vedamento marginal.
ção e a divisão celular 1º7. Assim, de acordo com os estudos de Starktveir
Outra propriedade relevante desse material et al.17°, Benelli et al.15, Di onysopoulos et al. 36 e
d.iz respeito a sua ação higroscópica. Ao ser aplica- Frencken et al. 52, lesões secundárias adjacentes a
do sobre a dentina, após a curetagem da lesão na esse material restaurador são raras, o que possi-
técnica de escavação gradativa, exibe uma capaci- velmente diminui sensivelmente a necessidade
dade de retirar a excessiva umidade presente nos de substituições de restaurações ou retratamento
túbulos, vinda do edema causado pela inflamação de dentes já restaurados. Esse raciocínio se torna
pulpar subjacente à área lesada. Permite, então, relevante, principalmente se aplicado ao atendi-
que o processo inflamatório regrida e o tecido mento público odontológico em nosso meio,
pulpar recupere sua capacidade de se defender onde as necessidades acumuladas ainda são mui-
diante do dano causado pelo processo carioso 1º7. to grandes 106 .
Markowitz et al.104, ao se referir à ação antiin- Somado à citada ação antimicrobiana, pode-
flamatória do cimento de óxido de zinco e euge- se dizer que a liberação de flúor pelos cimentos
nol, ressalta a sua capacidade de inibir a síntese ionoméricos potencializa a remineralização da
de prostaglandina , importante mediador do pro- estrutura dental, promovendo um endurecimen-
cesso, bem como de inibir a quimiotaxia de leu- to da camada de dentina desmineralizada, deixa-
cócitos, responsáveis pela liberação de superóxi- da após a curetagem da lesão 11 8, 130· 175·176 • O esmal-
dos, substâncias capazes de lesar o tecido. te presente em contato com o material nas bor-
Já em relação aos cimentos ionom éricos, um das da cavidade também se apresenta mais áci-
V
fator que contribui de maneira significativa para do-resistente, trazendo maior dificuldade para a
a paralisação da progressão de lesões cariosas em ocorrência de lesões secundárias.
dentina é sua propriedade antimicrobiana, atri- As Figuras 19.34 a 19.42 exemplificam o
buída principalmente ao fl úor liberado pelo ma- uso do cimento de ionômero de vidro na prote-
terial15·188. Segundo Tenuta et aL 176, a alta taxa de ção pulpar indireta .
• FIG. ,?.}ft .
Lesão carioso ativa de
dentina, no primeiro molar
decídua inferior direito de uma
criança de 4 anos.
• FIG~ 19.16 ..
Curetagem da lesão, removendo-se todo o teodo
amoleodo, sob isolamento relativo e sem anestesia.
r.
• f?I~~. 1-~·~
Aplicação da proteção, após remoção dos excessos Aspecto clínico final da restauração.
do material com lâmina de bisturi.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
·~
• tfG. 19.42
Aspecto rodiográfl.co pós-operatório. (Caso clínico
realizado pela Profº Oro Maria de Lourdes de Andrade
Mossara).
Recentemente u m estudo in vivo foi realiza - Em algumas áreas, as aberturas dos túbulos
do, com o objetivo de avaliar o efeito do cimen- dentinários apresentavam-se obliterados total
to de ionômero de vidro sobre dentina desmi- ou parcialmente (Figuras 19.47 e 19.48). Em
neralizada, três m eses apó s sua aplicação em outras, a presença de processos odontoblásticos
molares decíduos com lesões cariosa s profun- viáveis, considerada essencial para a reminerali-
das, de crianças de 3 a 7 an os de idade 1 º5 • Pode- zação, foi detectada (Figura 19.49). Provavel-
se constatar a remin eralização do tecido denti- mente esses prolongamentos forneceram cálcio
nário, p elo aumento estatisticamente significan- para a matriz dentinária, através de sua capta-
te do percentual de íons cálcio, compara do aos ção p elos corpos dos odontobla stos e seu trans-
valores obtidos a ntes da te rapia. Além diss o, porte via transcel ular. Em adição está o fato de
observou-se uma redução drástica na quantida - que íons cálcio encontram-se presentes no flui-
de de b actéria s sobre o tecido e uma maior V
do dentinário, o que facilita a sua pronta mobi-
união e condensação das fibras colágenas da liza ção para as áreas desmineralizadas (trans-
dentina intertubu lar (Figuras 19.43 a 19.46). porte via intercelular) 97 •
• i~~G. 1©..%5
Imagem obtido por microscopia eletrônica de varre- Detalhe da eletromicrografia ante1io1; evidenciando
dura, três meses após o tratamento restaurador do mes- a alteração ultraestrutural ocorrida no tecido dentinário.
mo molar da figura anterior A dentina apresenta redu- Observa-se uma imagem sugestiva de preenchimento
ção drástica de bactérias e com o motriz de colágeno dos espaços entre as fibras colágenas da matriz. 7500 )(
muito compacta. 2.000 )( barra= 10 µm ro 7. barra = 1 µm 107.
~~
'.L( ""
• 1
Micrografia eletrônica de varredura de uma amostra Detalhe de um túbulo totalmente obliterado (uma
de dentina obtida três meses após a aplicação do CIV A seta) e outro parcialmente fechado (duas setas). A tina-
superfície pouco infectada exibe túbulos total ou parcial- gem da obliteração dos túbulos é sugestiva de bactérias
mente obliterados, além de uma matriz compacta (MJ. calcificadas, o que foi confirmado pelo EDS 000% de
2.000 )( barra = 10 µm 106. cálcio, na análise pontuaD. 7500 )( barra = 1 wn 1 6. º
• F~~. 19,49
Eletromicrografia de uma amostra de dentina obti-
da 3 meses após a aplicação de C/V, mostrando dentina
intertubular mais compacta (O) e os processos
odontoblásticos expostos em alguns túbulos dentiná,ios
º
(setas). 7500 )( barra= 1 µm 1 6•
CIÊNCIA ENDODÔN TICA
radar ideal para a restauração de dentes sub- en tra em conflito com a proposta original do
metidos à técnica do capeamento pulpar indi- capeamento pulpar, que é extremamente con-
reto. No entanto, a evolução dos sistemas ade- servadora.
sivos e as performances clínicas bem sucedidas As Figuras 19.50 a 19.67 apresentam um
das r estaurações adesivas 137 fazem com que caso clínico de capeamento pulpar indireto com
esta sugestão tenha muito pouca su stentação cimento de hidróxido de cálcio após remoção
clínica, uma vez que a coroa de aço é uma parcial de tecido cariado, seguido de restauração
técnica extremamente invasiva e, portanto, com resina composta.
r.
/
• Fiti.19.5? • FIG. 19,S l
Colocação do dique de borracha, após profilaxia . Aspecto clínico da cavidade preparada, evidencian-
profissional e anestesia regional. Após exames clínico e do a remoção da den~ina intensamente desmineralizada
radiográfico prévios, optou-se por uma intervenção e infectada na parede pulpar.
invasiva conservadora, com remoção parcial de tecido
cariado.
1...,--.....;..lóll
• fiG. 19.6@ • fffG. 1qi,61
Colocação do SBMU Primer (3MJ em toda a ex- Aplicação do SBMU Adhesive (3MJ em todo o teci-
tensão da cavidade (esmalte e dentli10) durante 20 se- do previamente condicionado e...
gundos.
A BORDAGEM CONTEMPO RÂNEA DA TERA PIA P ULPAR EM DENTES DECÍDUOS
';
• 1
Aspecto radiográfico da lesão de cárie em dentina Aspecto radiográfico do mesmo dente 24 m eses
profundo no dente 85. depois, no qual foi utilizado o cimento de hidróxido de
cálcio sobre o dentina cariado remanescente.
TES OECÍOUOS
EA OA TER APIA PUl PAR EM DEN
ABO RDAG EM CON TEM POR ÂN
• FIG . '1'l."J1
• AG. 19.7 0 carioso em me-
es após o inter - Aspe cto radiográfico de uma lesão
Radiografia obtid a 4 anos e 6 mes 65 e ...
do proc edlin ento. Obser- tade intem a de dentina no dente
venção, caracterizando sucesso
or dista l evidenciando o
var a regressão do corno pulp
formação de dentina reaciona l.
• GIG. I9.7 2
e 65, com lesão
s depois. Aspecto radi ográ fico inicial do dent
... o aspecto radiográfico 4 anos e 17 mese
prof unda em dent ina.
-~
·,. • !'IG 1c:i.n
• FIG. 19.7 4
odo final de
... 4 anos e 71 meses após, já em perí
;x- Imag em radiográfico 24 meses após
o proc edim en-
•· esfoliação h'siológ ica. Obs etvo r o presença dos 3 pré-
,•. e. ..
:~ to
~-
,(
No terceiro trabalh o, Bressani26 avaliou a apenas para fins de controle em pesquisa) como
consistência, coloraçã o e contaminação da denti- materiais capeadores, mostrando ser o selamento
na remanescente antes e após (90 dias ) o capea- das cavidades (neste caso com resina composta )
mento pulpar indireto com remoção parcial de o fator mais importante (Figuras 19.78 e 19.79) .
tecido cariado em trinta molares decídu os huma - No entanto, o hidróxido de cálcio estimulou rea - ,
nos. Observou-se que o trata mento permite adi- ções teciduais mais expressivas, sendo mais favo- I
minuição da contaminação da dentina remanes- rável para o endurecimento e escurecimento da
cente, tanto com o u so de cimento de hidróxido dentina (sin ais de remineralização e possível
de cálcio quanto com um material inerte (cera, controle do processo ca rioso).
Desta forma, a terapia pulpar indireta deve acordo com a radiografia periapical, em dentes
ser considerada, principalmente em crianças de com até um terço ou com metade a dois terços
tenra idade, como uma alternativa do tratamen- de rizólise. O capeamento pulpar direto foi devi-
to conservador da polpa de forma segura, rápida damente realizado, in vivo, utilizando-se pasta de
e com grandes perspectivas de sucesso, devido a hidróxido de cálcio e soro fisiológico. Após três
a lta capacidade de resposta do complexo denti- meses, os dentes foram extraídos e avaliados his-
nopulpar frente a um estímulo n esta idade. tologicamente. Formação de pontes de dentina,
Os vários estudos anteriormente citados de- com espessuras, estruturas e estágios de matura-
monstraram que o procedimento de reabertura ção variados, foi observada em todos os dentes,
para remoção da dentina cariada residual pode que exibiram tecido pulpar adjacente vital. Os
ser desnecessário, se a restauração mantiver uma autores sugerem que não há diferença significati-
boa integridade marginal associada a um bom va entre os potenciais de repa ro de dentes decí-
controle clínico e radiográfico, principalmente duos e dentes permanentes.
pela previsibilidade de esfoliação fisiológica des- A exposição pulpar decorrente do processo
tes dentes 26 • carioso poderá ocorrer em duas situações clíni-
cas . A primeira acontece "acidentalmente" após
a remoção completa do tecido cariado das pare-
CAPEAMENTO PULPAR DIRETO des laterais da cavidade e no momento da finali-
zação da remoção de toda a dentina afetada da
A partir desta proposta mais conservadora parede pulpar, numa etapa final do procedimen-
de abordagem de lesões cariosas agudas profun- to. Já a segunda situação clínica envolve a expo-
das em dentina, o risco da exposição pulpar di- sição deliberada da polpa nos estágios iniciais de
minui consideravelmente. O êxito da proteção remoção de tecido cariado, o que contra-indica o
pulpar direta está diretamente envolvido com di- capeamento pulpar direto.
' ; versos fatores, entre os quais destacam-se o cor- Uma das maiores dificuldades, senão a mai-
reto diagn óstico de saúde do tecido pulpar e a or, no tratamento de lesões cariosas profundas
manutenção de adequado selamento da interface em dentes decíduos, é a elaboração de um diag-
dente-restauração. nóstico correto com relação à con.diçã-0 pulpar.
O capeamento pulpar direto é con ceituado Em pacientes menores, as dificuldades aumen-
como a colocação de um "revestimento biológi- tam, pela sua limitação em informar precisamen-
co" sobre a porção exposta da polpa, uma vez te os sintomas, acentuada também pelas dificul-
que dela depende a reparação biológica. O obje- dades que os responsáveis têm ao tentar passar
tivo é mantê-la com vitalidade até o período de informações sobre o quadro clínico que a criança
esfoliação fisiológica do dente decídua, sendo estaria viven ciando .
• 1
que o êxito do tratamento depende da prévia Schroder 157 reportou uma correlação de 83%
avaliação do estado patológico pulpar 122 • entre o diagnóstico clínico do estado inflamató-
rio da polpa com os respectivos achados histoló -
a) Critérios clínicos e biológicos para gicos em dentes decíduos portadores de lesões
a sua indicação. cariosas profundas em dentina . Faz-se n ecessá-
rio, portanto, um cuida doso e acurado exame
Por todas as razões apresentadas no início do trans-operatório da área exposta para a definição
capítulo, o capeamento direto está contra-indica- do diagnóstico. As condições satisfatórias para a
do apenas nos dentes em estágio final de rizólise, indicação da proteção pulpar direta envolvem a
quando não seria mais necessária sua manuten- abordagem de um tecido com sangramento, co-
ção n o arco. Não é o processo fisiológico de rea- loração e textura normais e principalmente isen-
bsorção radicular que afeta a forma ção de denti- tos de tecido cariado envolvendo diretam ente a
na reparadora (barreira de tecido duro ou ponte exposição. Além disso, os tecidos adjacentes de -
de dentina) na terapia pulpar direta, mas sim a verão se apresentar isf ntos de alterações de cor e
condição do tecido pulpar 1º6 . volume, como tumefações, edemas e/ou fístulas,
Este dado foi recentemente comprovado por indicativos de um processo agudo, além do dente
Sari et al. 151 . Os autores avaliaram 20 caninos apresentar mobilidade compatível com o seu es-
decíduos h ígidos, divididos em dois grupos, de tágio de rizólise.
CIENCIA ENDODÓNTICA
Outra avaliação clínica transoperatória im- do material capeador com o tecido pulpar, além
portante refere-se à hemostasia e ao tipo e volu- de provavelmente remover mais tecido inflama-
me de sangramento. Um sangramento abundan- do e facilitar a limpeza de raspas de dentina con-
te, vermelho escuro ou cianótico, bem como taminadas85.
uma polpa em estágio de liquefação, com secre- Tecnicamente, sabe-se que nos últimos está -
ção purulenta ou exsudato seroso representam gios de remoção de tecido cariado (quando esse é
sinais evidentes de degeneração do tecido. Se o propósito) raspas de dentina são invariavel-
houver dúvida qua nto a seu diagnóstico, seria mente colocadas em contato direto com o tecido
prudente evitar um tratamento conservador e pulpar e as mesmas podem interferir no seu re-
partir para uma abordagem mais radical. paro. Portanto seria prudente remover o tecido
Quando à avaliação radiográfica, o exame cariado da periferia para o centro da cavidade,
pré-operatório é indispensável no tratamento de quando uma exposição pulpar pudesse vir a
lesões cariosas profunda s em dentina, tanto em ocorrer86 .
situações de proteção indireta quanto direta do Uma vez removido to do o tecido cariado
tecido pulpar. Essas terapias estão indicadas nos com base em critérios visuais e táteis, irriga-se a
casos em qu e, na imagem radiográfica, é possível cavidade com uma solução biocompatível (soro
observar que a polpa não está envolvida pela fisiológico ou água destila da ). Esta irrigação com
lesão cariosa, como também não existam evi- solução sa lina permite também uma melhor ob-
dências de reabsorção interna, reabsorção exter- servação da hemostasia espontânea, estando
na patológica, aumento do espaço do ligamento contra-indicado o uso de substâncias hemostáti-
periodontal, descontinuidade da lâmina dura em cas ou irritantes para tal fim. A sefagem da cavi- 1
torno do germe do permanente sucessor e zonas dade é realizada com pequenas mechas de algo-
radiolúcidas periapicais ou inter-radiculares . dão autoclavadas, aplicando-as com um mínimo
de pressão, devendo-se evitar a formação de coá-
b) Proteção pulpar direta ou gulo no sítio da exposição, uma vez que ele po-
curetagem pulpar? derá interferir na reparação pulpar ao servir de
substrato para atrair bactérias que produziriam '
v
A curetagem pulpar se enquadra no mesmo infecção 85 •
raciocínio até agora estabelecido, sendo indicada Igualmente importante e necessário é utili -
nos casos de exposições pulpares acidentais, zar instrumental novo e esterilizado, como bro-
como fraturas coronárias e em outras situações cas e curetas, principalmente nos estágios finais
em que remanescentes de dentina cariada estão de remoção de tecido cariado.
presentes (exposição pulpar por cárie no estágio Apesar de se encontrar apoio na literatura
fin al de remoção intencional de tecido cariado) 39 • para a utilização da curetagem pulparl 1, há quem
Esta técnica possui a vantagem de fazer a remo- a veja com reservas para dentes decíduos . Em
ção de uma pequena parte da polpa inflamada, função da dificuldade de se avaliar clinicamente
proporcionando assim um melh or diagnóstico e a extensão do processo inflamatório presente no
con seqüente prognóstico. Clinicamente, a polpa tecido pulpar, pode-se realizar o tratamento atra -
poderá estar apresentando uma área maior de vés da pulpotomia, com a utilização de um cura-
exposição, certamente em função da agressão tivo antiflogístico, previamente à colocação do
pelo processo carioso e ainda com a presença de hidróxido de cálcio. A remoção total da polpa
uma pequena quantidade de tecido cariado adja - coronária permite retirar o tecido lesado com
cente . Uma outra situação clínica bastante co- uma maior margem de segurança, contribuindo
mum é quando diante de uma pequena exposi- para uma maior porcentagem de sucesso 1º6 •
ção pulpar, em presença de tecido cariado cir-
cunvizinho, pela dificuldade de se avaliar clinica- e) A escolha do material capeador
ment e a extens ão do processo in flamatório, ideal
opta-se pela ampliação do ponto de exposição
pulpar. Esta ampliação é realizada com uma pon- Muitos medicamentos e matena1s têm sido
ta diamantada esférica sob refrigeração com diâ - sugeridos para recobrir a polpa e induzir o pro-
metro não superior a 1 mm por medida de segu - cesso de cicatrização 85 • Por mu itos anos, o hidró-
ran ça, na tentativa de se ter um contato maior xido de cálcio tem sido eleito pela maioria dos
ABORDAGEM CONTEM PORÂNEA DA TERAP IA l"ULPAR EM DENTES DECÍDUOS
autores como o medicamento de escolha para matriz em quatro semanas, O grande benefício
polpas expostas4l,59,7s,1s1 , do uso deste material é estimular a formação de
Em coerência com o que foi descrito, a pre- uma ponte de dentina, provavelmente causada
ferência recai sobre o h idróxido de cálcio como pela irritação provocada em função da sua alta
material capeador de polpas expostas de dentes alcalinidade (pH 11 -12), Neste m eio alcalin o, a
decíduos, fosfatase alcalina é ativada, ocorre a liberação
Quando colocado em contato com o tecido de fosfatos inorgânicos, seguida da precipitação de
pulpar, o hidróxido de cálcio produz n ecrose te- fosfato de cálcio, contribuindo assim para a for-
cidua1, e abaixo desta zona, há uma diferencia - mação da barreira mineralizada (Figuras 19.80 a
ção celular em odontoblastos, que elaboram uma 19.870).
' /
_ _FIG._19.87A --·-
Aspecto radiográfico ,
de uma lesão carioso
profunda em dentina,
com risco de exposição .
pulpar.
•
• FiG. 11:J.870
Aspecto radiográfico
depois de concluída a
nova restauração, desta
vez com resina composto.
• FIG. 1~.if1..f .. .. .
Com uma lima endodôntica, observa-se a formação
de ponte de dentina no local da exposição.
Outro ponto positivo que leva ao reconheci- a exposição pulpar pouco acontece em condições
mento da superioridade do hidróx ido de cálcio "acidentais". Em geral, esta ocorre quando já
como material capeador é o seu grande potencial existe grande envolvimento do tecido pulpar
antibacteriano. pela lesão de cárie 1º6 .
A literatura falha ao tentar relacionar insu-
cessos como a reabsorção dentinária interna dJ Proservação
como uma das seqüelas do uso do hidróxido de
cálcio em dentes decíduos 134• 182 • O problema está Vários estudos têm reportado um alto grau
centralizado na dificuldade do diagnósticq do es- de sucesso com o capeamento pulpar direto em
tado inflamatório pulpar, contribuindo assim dentes decíduos, a partir de uma seleção criterio-
para o insucesso do caso em questão. Estes as- sa de casos acompanhada por uma cuidadosa
pectos serão mais profundamente discutidos técnica de trabalho 11 •77 •78 · 154 • 155 · 164· 181 • O tratamento
quando for abordada a pulpotomia em dentes será con siderado bem sucedido quando nenhum
decíduos. sinal clínico e radiográfico de lesão pulpar irre-
• 1
Clinicamente, o hidróxido de cálcio poderá versível for observado, como mobilidade patoló-
ser utilizado na forma de pó ou aglutinado com gica; alteração de cor; edema; fístula; obliteração
uma solu ção salina (soro fisiológico) ou ainda da câmara pulpar ou condutos por calcificação;
com uma solução não irritante, como o polietile- reabsorções internas e/ou externas não compatí-
no glicol 4004 º. Alguns autores 154· 155 · 131 dão prefe- veis com a rizólise; alterações ósseas na bi ou
rência para os cimentos comerciais, embora a trifurcação, como também na região apical.
técnica seja mais crítica quando em exposições
pulpares de maior diâmetro.
Assim, as técnicas de proteção pulpar direta PULPOTOMIA
em dentes decíduos representam uma opção de
tratamento para lesões cariosas profundas em A pulpotomia é um dos métodos conserva-
dentina, onde na tentativa de remoção completa dores mais amplamente utilizados na terapia
do tecido cariado, ocorre a exposição pulpar. No pulpar de dentes decíduos e consiste na remoção
entanto, em função do uso rotineiro da remoção total da polpa coronária, com subseqüente prote -
parcial da dentina afetada e da opção pela tera- ção dos filetes radiculares remanescentes. Apesar.
pia pulpar indireta, atualmente estimulada e va- de ser um procedimento realizado há mais de
lorizada, o capeamento direto tem se tornado um século, continua causando muitas controvér-
cada vez mais raro na prática odontológica, pois sias e discussões.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
Esta técnica está indicada para dentes decí- inexistência de técnicas anestésicas adequadas e
duos com exposição pulpar extensa, ocorrida du- da necessidade de se eliminar sintomatologia
rante a remoção de tecido cariado, em lesões cario- dolorosa 108 - 14' . Durante muito tempo su a aceita -
sas profundas de dentina. Os dentes devem apre- ção baseou-se em resultados de trabalhos quase
sentar ausência de fístula, mobilidade, edema, al- que exclusivamente clínicos e com alto índice
teração de cor, lesões periapicais e inter-radicula- de suce sso ' 3 4 .
res. No transoperatório, devem ser avaliados os A partir da década de 19 7 0 , começou a se
sinais clínicos como sangrarnento de coloração especular sobre os efeitos do form ocresol sobre o
normal. consistência tecidual no momento da organismo, e vários estudos mostraram sua cito-
amputação e facilidade de hemost:asia. Compreen- toxicidad e (bloqueio da síntese de proteí1_1as e
de -se, então, que a pulpotomia está indicada nos RNA e a supressão da atividade de enzimas res-
casos em que o processo inflamatório está limita- piratórias); alte rações n o sucessor permanente;
do à polpa coronária e a polpa radicular possui sua abso rção e distribuição sistémica e sua excre-
ainda condições para estabelecer o reparo . ção lenta; a forma ção de lesões císticas de caráter
A lesão de cárie constitui -se em fator de irri- imunogênico, além da aceleração do processo de
tação, provocando na polpa um p rocesso infla- rizólise dos dentes decíduos. Também se obser-
matório e, post eriormente, uma alteração dege - vou que não havia controle da penetração do
nerativa . Nas zonas pulpares m ais profundas ob- formocresol no tecido pulpar radicular, e que por
serva-se uma área de inflamação aguda e crôni- sua vez sempre apresentava inflamação atingin-
ca. Na ausência de tratamento adequado, a dege- do inclusive o te rço apical 10-82 -185 .
neração progride até alcançar os tecidos periapi- Frente a este p otencial tóxico e altamente
cais. Através da pulpotomia, tem-se a intenção irritante, o uso do formocresol foi sofrendo mu-
de remover todo o tecido em degeneração, com danças. Ao longo do tempo seu protocolo de uso
margem de segurança 143 • Se a degeneração teci- se modificou, desde um procedimento de visitas
dual já tiver alcançado a polpa radi cular, o que mCtltiplas até um a única aplicação de 5 minutos
se observa através das características clínicas da e de sua concentração original até a diluição a 1/ 5
polpa (já anteriormente discutidas), então este 134 141
· • Assim, sua vantagem original de completa
procedimento não está mais indicado, sendo ne- mumificação, sanificação e supressão metabólica
cessária a realização da pulpectomia. Portant o, o de todo o tecido pulpar remanescente foi altera-
correto diagnóstico do estado inflamatório pul - da, tornando sua aplicação su stentada por bases
par, definido na fase trans-operatória, é fator empíricas96 •
fundamenta l para o sucesso dessa terapia p ulpar A fórmula diluída é menos tóxica e possui
conservadora. propriedades sim ilares ao medicamento original,
De acordo com os objetivos propostos antes dem on strando resultados clínicos e radiográficos
do tratam en to, essa terapia pode ser classificada mais satisfatórios em dentes decíduos, quando
em desvitalização (mumificação ou fi xação ), pre- c01nparado com a fórmula original1º· 19 ·38· 55· 11 5. No
servação (mínima desvitalização, sem formação entanto, não fica restrito ao sistema de can al ra-
de tecido rep arador) e regeneração (indução, re- dicular, difundindo -se através da dentina e do
paração) 13 \ A desvitalização, conseguida através cem ento, podendo causar inflamação severa e
da ação do formo cresol é a técn ica mais aceita e necrose p ulpar 05 .
mais preconizada em todo o mundo 12- 133 , inclusi- Existem evidência s de que a aplicação do
ve no Brasil 89 . formocresol durante cinco minutos sobre o teci -
do pulpar, mesmo na sua formulação original,
a) Pulpotomia com form ocresol não promove a fixação da polpa e sim a perma-
nência de uma inflamação crônica. Quando o
A principal propriedade do formocresol con- medicamento é deixado em contato com a polpa
siste na fixação do tecido pulpar radicular rema- por 48 h oras, ocorre sua fixação superficial e,
n escente próximo ao corte, seguida por uma in- abaixo desta, observa-se uma zo n a de necrose e
flamação crônica no terço médio e a m anutenção outra de reação inflamatória 148 . A diminu ição da
de tecido vital n o terço apical. concentração e do tempo de aplicação fez com
Introduzido empiricamente em 1904, o for- que as vantagens da mumificação (supressão
mocresol começou a ser utilizado em função da metabólica e sanificação) fossem perdidas 134•
ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA TERAPIA PUlPAR EM DENTES DECÍDUOS
y
Quadro 19.1
ESTUDOS EM DENTES DECÍDUOS HUMANOS UTILIZANDO HIDRÓXIDO DE CÁLCIO COMO AGENTE
CAPEADOR EM PULPOTOMIAS, SEM APLICAÇÃO PRÉVIA DO AGENTE ANTIFLOGÍSTICO
1 ano 67
Schrõder, 1978 156 Clín ica/RX Cariados
2 anos 59
H eilig et ai., 1984 66
Clínica/RX Cariados 9 meses 88
terminada com uma colher de dentina afiada, cálcio 158 • Após obtenção da hemostasia, existem
para dar uniformidade ao corte, evitando a intro- dois protocolos possíveis a serem seguidos: a co-
dução de raspas de dentina na polpa rad icular. locação imediata do hidróxido de cálcio, finali-
Durante esta etapa, deve-se ter o cuidado de não zando assim a pulpotomia (técnica imediata), ou
desidratar o tecido pulpar, irrigando-o constante- a utilização de um curativo com corticóide-anti-
mente com soro fisiológico. Após a remoção do biótico durante 48 horas, e a finalização da técni-
conteúdo pulpar coronário, deve-se proceder a ca no próximo atendimento (técnica mediata).
irrigação abundante, para remover todas as ras- A utilização do corticóide-antibiótico é um
pas de dentina que superficialmente estejam pre- recurso utilizado por alguns autores na tentativa
sentes sobre o tecido pulpar radicular, pois estas de debelar um possível processo inflamatório
influenciam negativamente no resultado do tra- insta lado na polpa durante a pulpotomia, n os
tamento147. casos de exposição pulpar por lesão cario-
Semelhante ao que foi comentado para a sa1º6·1º8· 146. A literatura reporta que Ltm curativo
abordagem do capeamento pulpar direto, a he- com estes medicamentos auxiliam no processo
mostasia deve ocorrer espontaneamente, ates- de reparação 3 .
tando as condições favoráveis da polpa. Mechas A agilidade que a clínica odontopediátrica
de algodão esterilizadas embebidas em soro fisio- exige do profissional, leva a uma preferência
lógico podem ser colocadas dentro da câmara pela técnica imediata nos casos de exposição pul-
pulpar, sem pressão, para impedir a formação de par por trauma (fraturas não complicadas de co-
coágulo, pois seria essa uma das causas de reab- roa), finalizando o tratamento em uma única
sorção dentinária interna 162, interferindo na cica- consulta e liberando tempo para o tratamento de
trização pulpa r e provocando o desenvolvimento outras necessidades do pequeno paciente. Sendo
de u ma barreira de tecido mineralizado com es- uma opção cientificamente embasada 147 , a técni-
trutura alterada, com tecid o necrótico e sem ca imediata é uma opção que pode ser utilizada
I continuidade 159 • Provavelmente as fibrinas pre- principalmente nos casos em que a resolu ção rá-
sentes no coágulo exercem um efeito de quimio- pida do caso é fundamental como, por exemplo,
taxia nos leucócitos, que potencializam a leve em crianças de pouca idade (Figuras 19.88 a
rea ção inflamatória induzida pelo hidróxido de 19.92) .
• 1
• FIG. 19.92
y
Aspecto radiográfico 2 anos e 10 meses após as
inteJVenções pulpares. Obse,var a reabsorção radicular
normal dos dentes decíduos, o aspecto normal do
trabeculado ósseo inter-radicula1; e a diminuição do vo-
lume da cõmara pulpar do dente 75. Caso clínico reali-
zado pela Prof! Carla Moreira Pitoni e Ora Luciana
SchmidC residente da Disciplina de Odontopediatria da
FO-UFRGS.
Outro ponto p olêmico e também já aborda- do cimento de hidróxido de cálcio (Dycal), pasta
do na proteção pulpar direta está relacionado ao preparada comercialmente (contendo sulfato de
veículo para acompanhar o medicam ento. Apre- bário, dióxido de titânio e veículo resinoso) ou o
ferência é pela utili zação do medicamento em material em suspensão (em uma solução aquosa
forma de pasta, misturado ao soro fisiológico, de metil-celulose). Entretanto, os melhores re-
água destilada ou óleos essenciais. A colocação sultados foram obtidos com o material em sus-
do pó puro diretamente sobre os filetes radicula- pensão aquosa 128 . Sobre o medicamento, coloca-
res facilita a p en etração de partículas no interior se um material para protegê-lo e evitar dern.asia-
do corpo da polpa radicular, podendo gerar dege- da compressão do hidróxido de cálcio durante as
n erações cálcicas ou penetrar dentro das arterío- manobras restauradoras. Um dos materiais indi-
las, prejudicando o potencial de reação da polpa. cados é o cimento de hidróxido de cálcio (fórmu-
Um estudo comparando três diferentes pre- la comercial), ou uma lâmina de guta-percha.
parações do hidróxido de cálcio em pulpotomias Apesar de não ser um aspecto considerado
de dentes decíduos humanos demonstrou que é fundamental para o sucesso clínico e radiográfico
possível obter-se sucesso com a técnica utilizan- do caso 128, a formação de ponte de dentina é
ABORDAGEM CONTHl!PORÂNEA DA TERAPIA PULPAR EM DENTES DECÍDUOS
desejável, pois se trata de uma barreira protetora estratégica do dente na cavidade bucal, a presen-
do remanescente pulpar. A sua presença de - ça de reabsorções patol ógicas (internas ou exter-
monstra que a polpa está com potencial de rea- nas) que impeçam a realização da técnica e inte -
ção e recuperação, porém podem ser observados gridade da cripta óssea do germ e do dente per-
sinais de degeneração da polpa após a formação manente .
de alguma porção da ponte. Em exames histoló- O diagnóstico de um dente com necessidade
gicos observa -se que quando não há a formação de tratamento e n dodôn tico e stá baseado nas
de uma barreira mineralizada contínua, geral- mesmas colocações já discu tidas anteriormente.
mente há sinais demonstrando presença de pro-
cesso inflamatório na polpa adjacente e, portan- a) Aspectos Morfológicos
to, insucesso da técnica 16 3. A formação de ponte
de dentina após pulpotomias com hidróxido de A morfologia radicular dos dentes decíduos
cálcio foi demonstrada em diversos estudos, tan- tem sérias implicações n a técnica endodôntica.
to em humanos quanto em animais de laborató- Os incisivos e caninos possuem a morfologia
rio3·144·147·159·161·163. O estímulo para a formação da menos complexa, uma ve7 qu e apresentam um
barreira dentinária e diferenciação celular vem canal único e uniforme, e os últimos podem con -
de uma irritação leve causada pela zona de ne- tar com deltas apicaisin.
crose por coagulação inicialmente indu zida pelo Já nos molares, semelhante ao qu e ocorre
hidróxido de cálcio 158 • nos permanentes, en con tra -se uma gra nde varia -
Para garantir que a terapia pulpar seja bem ção n o número de canais, canais acessórios e ra-
sucedida, é necessário um selamento coronário mificações apicais69·178 . Os canais acessórios às
adequado que impeça a contaminação do tecido vezes at ravessam a pequena espessura da denti-
pulpar submet ido ao tratamento. na do assoalho da câmara pulpar 14 2, que somados
às foraminas existentes nessa região 88 , aumen-
/ TRATAMENTO ENDODÔNTICO tam a permeabilidade da área, formando um ca-
RADICAL minho para a difusão de b actérias e para a comu-
nicação com a região inter-radicular.
O tra tamento endodôntico de dentes decídu- A rizólise é outro fator' que traz limitações ao
os envolvendo a manipulação dos canais radicu- tratamento. Após o seu in ício, a reabsorção radi-
lares tem como principal objetivo permitir a ma- cular, fisiológica ou acelerada pela presença de
nutenção do dente no arco até a sua época nor- infecção, propicia u ma superfície irregular na
mal de esfoliação. Deste modo, o desenvolvi- furca, assim como limites irregulares nas porções
mento estomatognático, a mastigação, a forração apicais e laterais das raízes 60 •
e a harmonia facial não são prejudicados. Além A localização do germe do dente permanen-
disso, evita-se danos ao germe do dente perma- te sucessor (nosso principal foco de atenção
nente pela permanência de infecções periapicais/ quando da realização do tratamento endodôntico
inter-radiculares e alterações na cronologia e em dentes decíduos) , em relação íntima com as
eixo de erupção. raízes dos dentes decíduos, juntamente com os
Este tratamento está indicado nos estágios outros aspectos mo rfológico s acima relatados fi-
inflamatórios pulpares irreversíveis, necrose pul- zeram com que as primeiras técnicas de trata -
par causada por lesões de cárie ou traumatismos mento endodôntico de dentes decíduos com pol-
dento -alveolares e em insucessos em terapias pa necrosada se limitassem à remoção de detritos
pulpares conservadoras. Porém, deve -se observar da câmara pulpar e à utilização de medicarnen -
que quando a rizólise do dente decíduo e/ou a tos11·183 (Figuras 19 .61 e 19 .62).
rizogênese do dente permanente estão em está- Mesmo com estas dificuldades, diversos au-
gio avançado, o tratamento está contra -indicado, tores desenvolveram estu dos sobre tratamento
assim como nos casos de impossibilidade de res- endodôntico com a in tervenção e a desinfecção
tauração da coroa, comprometimento do assoa- dos canais radiculares. Trabalhos clínicos corno
lho pulpar, lesões periapicais/ inter-radiculares os de Rifkin 138 e de Guedes-Pinto et al. 6 5 , de-
extensas e saúde geral precária do paciente. Ou- monstraram relativo grau de sucesso clínico e
tros fatores importantes a serem considerados radiográfico ao realizarem tratamentos endodôn -
previam ente a o tratamento são a importância Licos em dentes decídu os envolvendo a instru-
CIÊNCIA ENDOOÔNTICA
mentação dos canais radiculares até limites pró- sa irrigação com soluções que auxiliem na sanifica-
ximos ao ápice. ção do canal e obturação com medicamentos bio-
Assim, parece consenso atual que o trata- compatíveis A instrumentação, neste caso, tem a
mento endodôntico busque a maior remoção função de remover o tecido pulpar, e não de des-
p ossível dos produtos tóxicos e microrganismos gastar as paredes de dentina, pois estas ainda não
contidos no interior dos canais radiculares4 5. estão intensamente infectadas, como ocorre com os
túbulos dentinários em casos de necrose pulpar.
b) Preparo do Canal Radicular O objetivo do preparo dos canais radiculares
é remover o tecido pulpar rem anescente vital ou
O preparo do canal radicular é considerado necrótico do interior dos canais, além de torná -
uma fase importante e essencial para a desinfec- los m ais regulares 17 e promover o alargamento
ção do sistema de canais ra di culares. A remoção dos canais principais, criando espaço p ara a colo-
dos restos necróticos apenas da câmara pulpar e cação do m ate rial obturador.
a utilização de medicamentos nesta área pode A utilização de substâncias auxiliares à instru-
controlar o quadro infeccioso por algum tempo, mentação promove melhor remoção dos detritos
mas a presença de bactérias no interior dos ca- e microrganismos do interior dos canais.
nais radiculares e túbulos de~tinários pode levar Uma das substân cias mais utilizadas em den-
à reagudização do processo .· tes permanentes é o hipoclorito de sódio, pelas
A anatomia complexa .d os canais radiculares suas propriedades antimicrobianas, neutralizado -
e a reabsorção fisiológi ca dificultam tanto a ins- ra de produtos tóxicos, capacidade de dissolução
trumentação quanto a odontomet:ria. No entan- tecid ual e dupla ação detergente93 , além de pro-
to, em 1982, Bengston 16 demonstrou a possibili- mover uma superfície radicular bastante lim-
dade de odontornetria de molares decíduos infe- pa 131 . Diversos autores recomendam o hipoclori-
riores. De acordo com seus resultados, a partir de to de sódio com o substância irrigadora para den-
uma radiografia inicial, obtém-se o comprimento tes decíduos 23,64,76, 106 . I39.u1 .
do dente e diminui- se de 1 a l,5rnm de sta medi- Em 1996, Faraco-Jr. 44 u tilizou o hipoclorito
da para obter-se uma medida segura para instru- de sódio a 0,5% e 1 % em duas técnL::as de trata- v
m entação. Já Russo 143 recomenda que em dentes mento endodôntico em um estu do realizado em
cujo processo de rizólise já te nha iniciado, deve- dentes decíduos de cães, com o objetivo de ob-
se proceder a uma análise cuidadosa da radiogra - servar a reação do periápice. Independente da
fia previam ente ao preparo . técnica utilizada, a reação p eriapical foi conside-
Após a odontometria, procede-se a abertura rada boa, quanto à intensidade de inflamação
da câmara pulpar é acesso aos canais radiculares. crônica e reabsorção dentinária externa.
Esta fase pode ser realizada com b rocas esféricas Apesa r de alguns autor es indicarem o uso
em baixa rotação, e irrigação da câmara com hi- de creme de Endo-PTC para auxiliar a instru-
poclorito de sódio. mentação de dentes decíduos 18, foi d emonstra -
A seguir, parte -se para o preparo do canal do em 1990 por Holla n d et al. 72, em um estudo
radicular, que compreende a instrumentação e a realizado em dentes permanentes, que · o creme
utilização de substâncias irrigadoras auxiliares. con trib ui para a condensação de d etritos na
A pulpectomia é um procedime nto radical, área apical.
mas que evita a manutenção de um tecido pul- Os dentes decíduos, assim como os dentes
par em degenera ção que levará a uma provável permanentes, possuem diversas áreas inacessíveis
n ecrose pulpar, com possibilidade de ocorrência à instrumentação, como os canais acessórios e os
de sintomatologia dolorosa, edema, fístula, e túbulos dentinários. A freqüên cia de canais radi-
conseqü en te infecção do can al radicular, dificul- culares atrésicos é bastante alta em dentes decí-
tando o t ratamento endodôntico. duos, devido à deposição constante de dentina se-
Quando está indicada a pulpectomia, os canais cundária à me dida que se aproxima o fim do seu
radiculares ainda estão preench idos por tecido pul- ciclo vital. Este fator reforça a importân cia da uti-
par vital (mesmo que em degeneração) e, p ortanto, lização de medicamentos com poder de penetra-
a infecção dos canais radiculares é limitada. Neste ção nos tecidos e que promovam a desin fecção
caso, o tratamento resume -se à remoção do tecido destas áreas. Hobson 70 e Brannstrom25 observa-
remanescente, por m eio da instrumentação, copio- ram que dentes com polpas infe ctadas (decíduos e
ABORDAGEM CO NTEMPORÂNEA DA TERAPIA PUlPAR EM DE:NTES DECÍDUOS
• w:m. 19.9 l
Eletromicrografia da dentina radicular de dente
decídua após instrumentação e Jirigação endodôntica
com hipoclorito de sódio a 1% (Pitoni131, 2001 ). • flG, f9.~4
Eletromicrografia da . dentina radicular de dente
•, ·, decíduo após instrumentação e inigação endodôntica
com hipoclorito de sódio a 1% segwdo de EDTA a 17%
(Pitoni131, 2001).
• Fm. 19.9$
Eletromicrografia da dentina radicular de dente
decídua após instrumentação e irrigação endodôntica
coni hipoc/orito de sódio a 1% seguido de ácido cítrico à
6% (Pitoni131, 2001 ).
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
-------------------------·-·----·,·----------··-··--·-··------···--···--·-·-
. _FIG. 19.98 _
Aspecto clínico do dente 85, ao término do sessão
de obturação do sistema de canais rodiculares, realizado
uma semana após a limagem e medicação intraconol
com hidróxido de cálcio. Observar o regressão da fístula,
sugerindo inclusive o possível extravasamento da pasta • FIG. 19.99
obturadora à base de hidróxido de cálcio (L&CJ. Radiografia pós-operatória mostrando o extravasa-
mento da pasta obturadora, seguindo o troto fistuloso em
direção à saída da fístula, localizada entre os dois mola-
res decíduos. A tinogem sugere comunicação do canal
distal com a região inter-radicular
• WijG, 19:mo
Imagem radiográfica obtida um ano após o trota-
mento endodôntico radico! Observar a reparação das
áreas inter e peniTadiculares, bem como a maior
rodiopocidade da lâmina duro sobre a coroa do ge,me
do dente 45.
• . FIG. 19.10,.2.__
Aspecto radiográfico do dente 85, exibindo necrose Imagem radiográfica obtida quatro meses após o
1. pulpar associada à rarefação óssea inter e perirradicular tratamento endodõntico radical tendo como medicação
intracanal a pasta de hidróxido de cálcio PA e soro fisio-
/
lógico e como posto obturadora o posto L8..C Observar a
r.eparoção do área lesada, incluindo-se a lâmina dura.
• 1
• . FIG.19.103 -·-..--.----------······--·-·-----------
Imagem radiográfica obtida 12 meses após o trata- Aspecto radiográfico 3 6 meses após o trotamento
mento endodôntico radical, registrando a manutenção endodõntico radical exibindo a reabsorção radicular fi-
da integridade das regiões inter e peri,rndicular Obser- siológica do dente decídua. Caso gentilmente cedido
var que a pasta não foi reabsorvida dentro dos canais. pelo Prof. Júlio Carlos Noronha.
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
4. Remoção do teto da câmara e da polpa coronária ou restos necróticos com brocas esféricas ou colheres de dentina;
6. Remoção da polpa ou restos necróticos dos canais radiculares com uma lima tipo K e irrigação com hipoclorito de
sódio;
7. Preparo do canal radicular utilizando-se todas as limas da primeira série, em todo o comprimento de trabalho,
intercaladas com irrigação abundante seguida de aspiração, até remover o máximo possível de detritos;
8. Irrigação dos canais radiculares com EDTA a 17% ou ácido cítrico a 60/o durante 1 minuto e agitação da solução
com uma lima dentro dos cana is durante 2 minutos, seguida de uma irrigação com hipoclorito de sódio;
9. Medicação intracanal (se necessário), com pasta composta por pó de hidróxido de cálcio p.a. e soro fisio lógico;
10. Remoção da medicação intracanal e nova irrigação com EDTA ou ácido cítrico, da mesma forma que explicado
anteriormente;
11. Obturação dos canais com pasta à base de hid1:óxido de cálcio, com auxílio de uma broca lentulo, lima ou
condensadores endodônticos;
12. Limpeza da câmara pulpar e selamento da entrada dos canais com guta percha em bastão;
COM RETENCÃO I
INTRA-RADICULAR
CLÁUDIO R. LELES
/
JOÃ() BATISTA DE SOUZA
ADAIR LUIZ STÉFANELLO BUSATO
• INTRODUCÃO
,
tético ou restaurador comum ente resulta em su- há possibilidade de se promover retenção e resis-
porte insuficiente para a restauração. Esses fato- tência suficientes para o núcleo de preenchimento
res determinam a necessidade de reconstituição coronário. Nessas condições, se tornam necessárias
coronária e promover uma adequada retenção da formas de retenção intra-radicular.
futura restauração . O dente com tratamento endodôntico que
Muitas vezes, um n úcleo para preenchimento necessita de retenção intra -radicular deverá rece-
do remanescente dentário, realizad o com mate - ber uma restauração estruturalmente constituída
riais restaurado res diretos, como resina composta, por componentes com funções específicas (Figu-
ionômero de vidro ou amálgama, é suficiente ra 20.1) . Numa relação direta de dependência
para reconstitu ir a parte coronária que servirá de funcional, a res tauração coron ária é retida pelo
suporte para uma coroa. Mas nos casos em que núcleo coronário, que por sua vez é retido pelo pino
h á perda considerável de estrutura coronária não intra-radicular.
• BG. 20.1
Partes componentes de um
sistema de retenção intro-rodiculm:
tratamento de escolha para canais excessivamen- nativos de alto módu lo de elasticidade podem ser
te expulsivos ou el ípticos, onde o pino pré-fabri- empregados por serem menos dispendiosos que
cado circular não se adapta firmemente às pare- as ligas de ouro e apresentarem resistência acei-
des do canal, resultando em maior espessura da tável, apesar de estarem mais sujeitos à corrosão.
camada de cimento. Essas características resul - A alta dureza dessas ligas também dificulta o pre-
tam em alta rigidez, espessura de cimento dimi- paro irnrabucal da parte coronária do núcleo.
nuída e características anti-rotacionais. Além dis- Como alternativa viável podem ser indicadas as
so, como a porção coronária do núcleo é parte ligas de prata-paládio que possuem característi-
inerente ao pino intra-radicular, não há o pro- cas semelhantes ao ouro e custo relativamente
blema de falha na união entre as partes coroná- menor 18•57.
ria e radicular74 . Os padrões para fundição podem ser obti-
Entretanto, apresentam como desvantagens dos diretamente na boca, moldagem com resina
a necessidade de duas sessões clínicas para a ob- acrílica autopolimerizável, ou indiretamente no
tenção do molde ou padrão de fundição e a ci- laboratório a partir de um modelo obtido com
mentação do núcleo, além de envolver custos um material de moldagem elastomérico . A téc-
laboratoriais 57 . Estudos in vitro sugerem que há nica de obtenção do núcle o fundido segue os
um maior risco de fratura radicular, pois a forma procedimentos tradicionais de hmdição 71 .
cônica do pino tem o potencial de exercer um A cimentação pode ser realizada com cimen-
efeito de cunha sobre a raiz81 , embora esse efeito to de fosfato de zinco, ionômero de vidro ou
não tenha sido definitivamente comprovado em cimento resinoso, sendo a decisão quanto ao tipo
estudos clínicos controlados 56 · 58 . de cimentação dependente, essencialmente, da
Um pino fundido é indicado nos casos em preferência do profissional7 4•8 2 . Entretanto, a ci-
que o alinhamento da futura coroa é muito mentação convencional com fosfato de zinco
diferente da inclinação do longo eixo do canal apresenta sucesso clínico comprovado a longo
/ radicular, o que é comumente observado nos prazo 1 1 e, desde que a s dimensões e adaptação
dentes anteriores. Sua conformação ainda per- do pino sejam adequadas, não há evidências que
m ite a correção da direção de inserção dos pre- comprovem diferença nc~ desempenho clínico de
paros da parte coronária do núcleo em casos diferentes cimentos para fixação de núcleos fun-
de dentes pilares múltiplos de uma prótese didos51.
fixa.
É importante ressaltar que na maioria dos Pinos intra- radiculares
dentes anteriores e em alguns pré-molares com pré-fabricados
nenhuma estrutura coronária remanescente, n ão
há espaço suficiente que permita um volmne Para a utilização de um pino pré-fabricado é
adequado de material de preenchimento para necessário um preparo suficiente para alojar as
formar uma unidade estrutural sólida, restringin- dimensões do pino. Ao contrário dos pinos fun-
do a indicação de pinos pré -fabricados associados didos, são adequadamente indicados e apresen-
a núcleos diretos. Nesses casos, o pino metálico tam melhor adaptação em canais circulares e d e
fundido é a opção de tratamento mais adequada. pequeno diâmetro.
J á nos molares, normalmente, há espaço sufici- Os sistemas de núcleos p ré -fabricados são
ente para acomodar um material de preenchi- constituídos por três componentes: ( 1) o pino
mento e a angulação do canal não é considerada pré -fabricado, (2) o material de cimentação e
um problema significativo. Nesse caso, a utiliza- (3) o material do núcleo coronário (Figura
ção de pinos pré-fabricados resulta em preparos 20.2). O grande número de combinações dos
mais conservadores qu e os fundidos, apresenta vários tipos desses componentes dos sistemas de
menor cu sto e maior facilidade e simplicidade de pinos e núcleos disponíveis no mercado a umen-
confecção. ta a complex ida de do processo de seleção do
Quando os pinos fundidos são usados, as li- sistema mais adequado para cada situação clíni-
gas de ouro tipo IV são as mais indicadas por ca específica . Como não há n enhum sistema
possuírem adequada resistência mecânica e baixa que se aplique a todas as situações clínicas e
corrosão 51.74 _ Também as ligas de m etal básico como a maioria das combinações possíveis são
como o níquel-cromo ou outros subslitutos alter- suportadas apenas por avaliações in vitro, sem
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Quadro 20.1 o... ::i o.. : z
PROPRIEDADES COMPARATIVAS DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PINOS PRÉ- FABRICADOS, o (D ""I ....;
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MATERIAIS PARA NÚCLEO CORONÁRIO E CIMENTAÇÃO DE PINOS >-;
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Tipo de material do pino Resistência mecânica Resistência à corrosão Estética Radiopacidade
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... Metálicos o >-< <
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... Aço inoxidável Alta Média Não Muito Alta o..
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... Amálgama não Alta Lento Alta Baixa Médio o o.. w ~
... lonômero de vidro Sim Baixa/Média Médio Alta Baixa Fácil (i) S; 8 ~
O. ro ~ ó
Espessura 3 8 o... ..
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Tipo de material para cimentação Adesão Resistência Solubilidade Microinfiltração Facilidade de uso ::i (/\
de película rt
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• FIG. 20.2
Partes componentes de um
sistema de pinos pré-fabricados.
MATERIAL DO PINO PRÉ- nico favo rável, embora o número de o utros sis-
FABRICADO temas disponíveis n o mercad o tenha aumenta-
/
do devido à demanda nas exigências estéticas
Os principais tipos de pinos pré-fabrica dos dos pacien tes. Para um desempenh o clínico sa-
podem ser classificado s em metálicos (aço ino- tisfatório, os pinos pré-fabricad os de vem combi -
xidável, titânio comercialm ente puro, liga de ti- nar propriedad es biom ecânicas como alta resis-
tânio-alu mín io-vanádio) e n ão m e tálicos (fibra tên cia, boa re tenção e distrib uição de estresses,
de carbono, cerâmicos e de fibra de vidro) (Fi - resistência à corrosão e possibilidad e de serem
gura 20.3 ). Os pinos m etálicos são os ma is co- instalados com mínimo risco de perfuração e
m um ente utilizados e apresentam histórico clí- m enor quantidade de preparo.
• FIG .. __20 .3
Tipos de pinos metálicos (aço inoxidável) e não
metálicos (fibra de vidro e fibra de carbono).
},.
:- ·· ·
CIÊNCIA ENDODÔNTICA f
O material que compõe o pino pré -fabricado uma matriz resinosa com carga, com proprieda-
tem influ ência na resistência à fratura da raiz, vis- des biomecânicas semelhantes à fibra de carbo-
to que existem pinos com diferentes níveis de rigi- n o, corno o baixo m ódulo de elasticidade, mas
dez (módulo de elasticidade) em relação à dentina com superioridade estética ideal para o uso asso-
radicular, o que altera a form a como as forças são ciado a resta ura ções livres de metal 1º·25 . Porém,
distribuídas ao longo da raiz. Pinos de fibra de estudos clínicos controlados são necessários para
carbono apresentam m enor módulo de elasticida- se confirmar o sucesso clínico em diferentes ní-
de, semelhan te à dentina, enquanto os pinos me- veis de reman escente dentário 10 .
tálicos apresentam rigidez m uito superior2•63 • Ou- Tanto os pinos de fibra de vidro quanto os
tra vantagem dos pinos de fibra de carbono é a de fibra de carbono apresentam a desvantagem de
facilidade de ajuste do comprimento dos pinos e serem radiolúcidos, embora alguns sistemas te- 1• ••
de remoção no caso de retratamento do canal nham sido desenvolvidos para apresentar menor
radicular. grau de radiolucidez. Já os pinos de titânio apre-
Estudos experimentais mostraram que den- sentam radiopacidade semelhant e à guta-percha.
tes restaurados com pin os de fibra de carbono
apresentam maior resistência à fratura em com- MATERIAL PARA O NÚCLEO
paraçã o com dentes que recebem pinos metálicos • CORONÁRIO
pré-fabricados ou fundidos 2 º· 25•3 5•65 . O efeito re-
sultante da menor rigidez do pi no é, provavel- A parte coronária do núcleo promove, por
mente, uma menor concent ração de estresse que sua vez, retenção e estabilidade à restauração fi-
leva à fratura radicular, ou seja, quando um sis- nal. A capacidade de distribuição de cargas do
tema com componentes de diferente rigidez é pino radicular é influenciada pelo material do nú-
submetido a carga (de ntina e pino ), o compo - cleo coronário, que deve apresentar como requisi-
nente com maior rigidez é capaz de resistir à tos ideais a facilidade técnica, tempo rápido de
maior força sem distorção. Já o compon ente com reação, alta resistên cia, estabilidade dimensional
m enor rigidez falha e libera o estresse aplicadci 25 . com mínimo risco de infiltração e um mecanismo
Esse efeito pode ser observado em testes in vitro, efetivo de adesão . Resina composta, amálgama e
V
quando dentes com diferentes tipos de n úcleo ionômero de vidro são os materiais de escolha
intra-radicular são submetidos à fratura por apli - para núcleos coronários de pinos pré -fabricados.
cação de carga, há uma t endência do pino fundi- A resin a composta e o am álgama podem ser
do resistir à maior carga, porém resultar em fra- considerados os materiais que melhor distribuem
nua da raiz, enquanto o pino de fibra de carbon o as cargas para a superfície ao redor do núcleo,
resulta em fratura do pino numa m enor carga, reduzindo significativamen te o estresse cervi-
m antendo a integridade da raiz e possibilitando a cal92. Por outro lado, a resistência do ionômero
restauração do de nte48 . de vidro é m enor em comparação com o amálga -
Os pinos cerâmicos (zircônia) e de fibra de ma e resina, e su a união à dentina é con siderada
vidro proporcionam p roprie dades ópticas seme - fra ca 51 . Devido às suas baixas propriedades m e -
lhantes às coroas cerâmicas livres de metal, o cân icas, o ionômero de vidro tem poucas van ta -
que lh es conferem p ropriedad es estéticas supe- gens que justifiquem sua indicaçã o como mate-
riores aos pinos m etálicos. Os pinos de zircônia rial para núcleo, sendo seu u so lim itado ao blo-
são biocompatíveis, radiopacos, possu em alta re- queio de pequenas áreas retentivas 14 • 15 ·5 1•
sistência mecânica e p odem ser indicados para O amálgama, apesar da alta resistência à
dentes anteriores e pré -molares onde a estética é compressão e baixo risco de infiltração, apresen-
fator essen cial3 4 · 39 _ São mais rígidos, porém me- ta tempo de cristalização retardado e au sência de
nos retentivos que os pinos de forma semelh ante propriedades adesivas. Além disso, núcleos com
de aço inoxidável 64 • Atualm ente estão disponí- pequena espessura são altamente suj eitos a fra-
veis diferen tes métodos de processamento labo- tura. É possível aumentar a resistência à fratura
ratorial de pinos de zircônia, através de métodos com o uso de técnicas a desiva s ao amálgaman ,
de prensagem que possibilitam a obtenção de um mas seu emprego é pouco recomendável para
sistema de pino e nú cleo em peça única 38, 39 . confecção de núcleos devido à natureza tempo-
Os pinos de fibra de vidro são constituídos rária da adesão e o tempo adicional do procedi-
por pinos cilíndricos ou cônicos envolvidos em m ento51.
PRINCÍPIOS DAS RESTAURAÇÕES COM RETENÇÃO INTRA-RADICULAR
A resina composta oferece resistência clini- por resina para cimentação de pinos i.ntracanais,
camente adequada, apesar de seu limite máximo e o risco de expansão após a presa pode ser um
de resistência ser inferior ao do amálgama. Apre - fator de risco de fratura da raizs7. 75.&6 .
senta contração de polimerização significativa, As resinas adesivas são relativamente insolú-
sua resistência à microinfiltração é quase total- veis e promovem maior retenção in vitro em
mente dependente do agente de adesão e a capa- comparação com os cimentos convencionais87. A
cidade do agente adesivo em impedir a microin- retençã o promovida pe lo cimento resinoso é
filtração a longo prazo é questionável 5 1 • Apesar menos influ enciada por espessuras maiores de
disso, a resistência satisfatória, o tempo clínico de cimento quando o pino não se adapta totalmente
confecção reduzido e a capacidade de adesão são ao canal, o que pode ocorrer no uso de pinos
propriedades que tornam a resina composta o pré-fabricados 5. Esses fatores tornaram bastante
material para núcleo mais utilizado em combina- comum o uso dos cime ntos resinosos para fixa-
çã o com a maioria dos sistemas de pinos pré - ção de pinos intra-ra diculares.
fabricados14A0·60. Contudo, há dois problemas potenciais em
rela ção a sua utilização: são mais sensíveis à téc-
• MATERIAL PARA CIMENTACÃO I
nica de manipulação e mais afetados adversa -
mente pelo preparo inadequado da superfície do
A finalidade do material para cimentação do canal radicular 52 ·86 • Foi sugerido que a adesão
pino intra -radicular é auxiliar na retenção, per- dentinária do cim en to poderia ser inibida pela
mitir o selamento ao longo do canal e promover presença de compon en tes fenó licos corno o eu-
uma camada de amortecimento que contribui genol contido na m aioria dos cimentos endodôn-
para a distribuição uniforme de estresse entre o ticos52·8º, embora n ã o tenha sido verificada dife-
pino e a parede do canal2 2•81 . Um cimento com rença na retenção de p inos cimentados com fos-
ótimas características deve apresentar alta resis- fato de zinco ou resina composta em cana is ob-
/ tência , p equena espessura de película, baixa so- turados com cimentos com e sem eugenol7 1 •
lubilidade, capacidade de adesão, facilidade de Cimentos resin osos à base de 4-META são os
manipulação e vedamento marginal que blo - que apresentam m aior resistên cia à remoção e
queie a microinfiltração 22·43 -57J5. promovem a m a ior res istência à fratura da
Os cimentos de fosfato de zinco, de ionôme- raiz53·8º. No entanto, o aumento da retenção com
ro de vidro (convencional e modificado) e resi- o u so de cim en tos resi n osos adesivos, comprova-
nosos (resina composta, resina sem carga e agen - da em testes in vitro, não assegura um m enor
te adesivo dentiná rio) são os mais em pregados risco de deslocame n to do pino e m co ndições clí-
na cimentação de pin os pré-fa bricados 57 . Há van- nicas normais 57 .
tagens e desvantagen s inerentes a cada um <les-
ses ciment os, e n enhum possui todas as p roprie- ASPECTOS MECÂNICOS
dades ideais re qu erid as p ara a cimentação de pi- RELACIONADOS À RETENÇÃO.
nos pré-fabricad os. INTRA- RADICULAR
O cimento de fosfato de zinco apresenta as
desvantage ns da alta solubilidade e falta de ade - A reten ção dos vários sistemas de pinos in -
são75. m as o longo histórico de sucesso clínico tra -radiculares é afetada por uma série de variá -
comprovado desse cimento torna seu uso indica- veis que incluem o comprimento, diâme tro e
do para cimentação de pinos fundidos ou pré - configuração superfi cial do pino, forma do canal,
fabricados com ó tima adaptação 22 . tipo e método de cimentação e localização do
O ionômero d e vidro tem adesão fraca à dente na arcada 86 .
dentina , é altamente susceptível à umidade e os
benefícios resultantes da capacidade de inibir cá- COMPRIMENTO DO PINO
rie em dentina devido à liberação de flúor ainda INTRA- RADICULAR
não foi comprovada clinicamente 57 ·75 • A retenção
de pinos promovida pelo ionômero de vidro não O comprimento do pino tem influên cia sig-
é superior à dos outros cimentos convencio - nificativa na reten ção intra -radicular. Desconsi-
nais41. Da m esma forma, não h á informações de- derando o utros fatores, quanto maior o compri -
finitivas da efetividade do ionômero modifi cado mento do pino, maior sua reten ção, ou seja, o
CIÊNCIA ENDODÔNTICA
deve ter o maior comprimento possível, 1. O comprimento do pino deve ser maior ou, no míni-
sem prejudicar o selamento apical da obturação mo, igual à dimensão oclusocervical ou incisocervical
endodôntica. Pinos demasiadamente curtos apre- da coroa do dente restaurado;
sentam alto risco de falha na retenção e promo- 2. O pino deve compreender pelo menos dois terços do
vem maior risco de fratura radicular. comprimento total da raiz do dente;
Não há regras rígidas, mas vários critérios 3. O pino deve alcançar pelo menos metade da distância
clínicos são recomendados para auxiliar na de- entre a crista óssea alveolar e o ápice radicular;
terminação do comprimento ideal de um pino 4. O pino deve ser o mais longo possível, mantendo um
intra-radicular. Esses critérios incluem os seguin- remanescente de obturação endodôntica mínimo de 4
tes parâmetros (Figura 20.4): ·a 5 milímetros.
• FIG. 20.4___
Parâmentos clínicos para de-
terminação do comprimento do
pino intra-radicular.
•
Dete,minação do diâmetro do
pino intra-radicular.
Um pino passivo não se adapta completa - maioria das situ ações clínicas. Estudos in vitro sã o
m ente e não apresenta retenção ativa na dentina os ma is comumente empregados para avaliação
durante a prova ou a inserção, sendo mantido dos diferentes sistema s de re tenção e variações
em posição por m eio do agente cimentante. Os técnicas relacionadas à abordagem clínica 25 . Mas
pinos com superfície lisa desenvolvem o m ínimo os resultados de pesquisas laboratoriais são, com
de estresse, mas promovem a menor retenção. freqüência, conflitantes e nem sempre aplicáveis
Em certos sistemas de pinos paralelos, as extre- clinicamente 3 1· 57 . Estudos clínicos, na sua maioria
midades são cônicas, o que pode ser benéfico se retrospectivos, também são encontrados na lite-
o ápice radicular for significantemente cônico. ratura, mas também não são suficientes para a
Portanto, a extremidade de todo pino passivo de definição de abordagens clínicas seguras e com
lados paralelos pode ser afilada durante o proce- efetividade comprovada 3 1 •
dimento clínico. Os pinos ativos são os mais re- Em 1993, Creugers et al.17 realizaram uma
tentivos, seguidos pelos passivos paralelos e pelos revisão sistemática para avaliação do sucesso do
passivos cônicos 82 . Idealmente, o cirurgião -den - tratamento com sistemas de pino, mas nenhum
tista deve ter disponível um sistema de pino pas- ensaio clínico randomizado controlado foi iden-
sivo para a maioria das situações clínicas e um tificado na literat ura da época . Além disso, a falta
sistema de pino ativo para raízes curtas. de definição clara de critérios de sucesso e de
falhas dificulta sobreman eira avaliações compa-
DESEMPENHO CLÍNICO DOS rativas entre diferentes estudos clínicos 17 •
DENTES COM RETENCÃO Um estudo longitudinal de Torbjorner et al.89
INTRA- RADICULAR , revelou que falha na retenção é o problema mais
comum em dentes com p inos intra-radiculares,
A grande disponibilidade de soluções clíni- tanto fun didos quanto p ré-fab ri cados, enquanto
cas aumenta consideravelmente as possibilida- a fratura da raiz foi o tipo de falha mais severa.
des de sucesso, mas pode gerar con fusão para o De fato, uma revisão sistem ática realizada por
clínico e resultar em emprego inadequado da Goodacre et al. 26 , que incl uiu estudos clínicos na
técnica. Da mesma forma, a decisão de prover avaliação de complicações posteriores à utiliza-
ou n ão retenção intra -radicular para um dente ção de pinos in tra-radiculares (Tabela 20. 1), en-
com tratamento endodôntico não é uma deci- controu uma incidência de 1O% de casos com
são simples. problemas associados ao deslocamento do pino
Apesar do grand e volume de informações (5%), fra tura radicular (3%), cá rie dentária
publicadas, não há diretrizes absolutas para a (2%) e envolvimento periodontal (2%).
Tabela 20.1
FREQÜÊNCIA DE COMPLICAÇÕES MAIS COMUNS ASSOCIADAS
AO USO DE PINOS INTRA- RADICULARES
ria dos sistemas de pinos pré-fabricados apresen - esses parâmetros devem ser considerados após
ta vantagens claras em relação a esses aspectos e um julgamento crítico cauteloso e cada caso de-
seu uso crescente tem simplificado sobremaneira ver ser avaliado em bases individuais.
as solu ções clínicas 12 •13 • Entretanto, a indicação Além dessas diretrizes clínicas, outros seis
de pinos pré-fabricados em dentes com ausência de princípios gerais devem ser considerados como
remanescente coronário deve ser considerada abordagen s seguras p ara a restauração de dentes
com cautela. tratados endodonticamente, com ou sem neces-
Uma conduta clínica normalmente praticada sidade de retenção intra-radicular72:
1
é indicar núcleos fundi dos para dentes anteriores l. Recobrimento de cúspides ou restaurações );
com perda de estrutura coronária moderada ou extracoronárias (por exemplo, coroa total)
severa. Por outro lado, em molares, o uso de devem ser indicados para todos os dentes
núcleos intra-radiculares é freqü entemente des- posteriores;
necessário devido à maior quantidade de dentina 2. Dentes anteriores com cristas marginais in-
remanescente e por estarem primariamente sub- tacta s e acesso endodôntico conservador de-
metidos a cargas axiais. Molares com perda míni - vem ser restaurados com m ateriais diretos
ma de estrutura coronária podem ser adequada- restritos ao preparo cavitário;
mente restaurad os com amálgama ou outro ma- 3. Quando uma restauração direta for a opção
terial restaurador direto6 • Molares com perda co- para dentes posteriores com quantidade
ronária significativa geralmente permitem reten- substancial de remanescente coronário, deve
ção satisfatória com a utilização de núcleo de ser indicada a resina composta e técnicas
preenchimento direto com retenção na câmara adesivas à dentina;
pulpar e porção mais coronária dos canais radi- 4 . Pinos intra-radiculares devem ser emprega-
culares, associado ou não a um ou m ais pinos dos apenas quando não h ouver e strutura
intra-radiculares pré- fabricado s. Pré-molares dentária remanescente suficiente para reter
com pouca ou nenhuma estrutura coronária re- o n úcleo coronário;
manescente podem ser restaurados tanto com 5. Pinos intra-radiculares são mais freqüente-
núcleos fundidos quanto pré -fabricados 57 • À me- mente requeridos em dentes anteriores do
dida que os dentes são primariam ente submeti- que posteriores;
dos a forças laterais, como nos incisivos e cani- 6. A restauração definitiva deve ser realizada,
nos, m aior é a possibilidade de se indicar reten- no máximo, pou cas semanas após o término
ção intra-radicular, desde que a quantidade de do tratamento endodôntico, para se reduzir
estrutura coronária remanescente esteja reduzi- a potencial infiltração microbiana resultante
da significativamente. Portanto, dentes u n irradi- da quebra do selamento coronário da restau-
culares (especialmente os incisivos) são submeti- ração provisória.
,~:.,(.~·~~',;.1~1;>··-t"~....l ......
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1
1
Quadro 20.2
CONDUTA CLÍNICA EM FUNÇÃO DA QUANTIDADE DE PERDA DA ESTRUTURA CORONÁRIA DO DENTE 1
j
'A PÓS O TRATAMENTO ENDODÔNTICO
,~
O•
Perda de mais da metade
da estrutura coronária
Geralmente necessita retenção
intra-radicular.
Desobturação do ca nal e preparo intra-
radicular e maior manutenção possível da
Núcleo intra-radicular fundido ou pré-
fabricado. A manutenção do remanescente ! :;:
estrutura coron ária remanescente. coronário promove um efeito anti- 18
·~
rotacional do núcleo e favorece a
retenção do conjunto pino-núcleo. .
.,,....
Desobturação do canal e preparo intra- Núcleo intra-radicular fundido
z
,(".I
Perda total da estrutura Sempre necessita retenção intra-radicu lar.
l>•
coronária radicular. o
z
-1
IV - ionômero de vidro; JVM - io nômero de vidro modificado por resina; RC - resina composta; Am - amálgama ::o
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CIÊNC IA ENDODÔNTICA
• FIG. ~Ml.6
Efeito de férula promovido
pelo abraçamento completo da cir-
cunferência do remanescente
coronólio pela restauração.
procedimento promove um aumento significati- em bases individuais e, embora não seja impres-
vo da resistência à fratura da raiz e minimiza o cindível em todos os casos, o uso de coroas totais
efeito negativo da ausência do efeito de férula 7 0 • é considerado com o um fator positivo para a ma-
Entretanto, estudos longitudinais a longo prazo nutenção do sucesso clínico a longo prazo 1•
são necessários para verificar a efetividade desse
tipo de conduta clínica. Qualidade da restauração
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